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ESTRUTURAS DE MADEIRA

Prof. Tiago da Silva Balbino


Engenheiro Civil – FEG/Unesp
Especialista Estruturas FESP e USP

1
ESTRUTURAS DE MADEIRA
Referências Bibliográficas

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas, NBR 7190/1997 – Projeto de


Estruturas de Madeira, Rio de Janeiro.

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas, NBR 8681/1984 – Ações e


Segurança nas Estruturas, Rio de Janeiro.

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas, NBR 6123/1988 – Forças Devidas


ao Vento em Edificações, Rio de Janeiro.

MOLITERNO, A. Caderno de Projetos de Telhados em Estruturas de Madeira, Ed.


Edgard Blücher Ltda., São Paulo, 1980.

PFEIL, W., PFEIL, M.S. Estruturas de Madeira, 6a Edição, LTC- Livros Técnicos e
Científicos Editora AS, Rio de Janeiro, 2003.
3.2.4 Particularidades para estruturas de madeira

3.2.4.1 Classes de resistência

Seguindo o EURODE 5, a norma brasileira introduziu o sistema de Classes de


Resistência para simplificar a especificação do material na fase do projeto. Não é
preciso adotar a madeira, que varia muito em resistência com a espécie, disponibilidade
de mercado e região de construção. O proprietário da obra e seu fornecedor de madeira
deverão se adequar à classe definida em projeto. Seguem as tabelas.
Tabela 6 – Classes de resistência para espécies Coníferas (na condição padrão de
referência de umidade U=12%)
Classes fcok fvk Eco,m bas,m aparente
(MPa) (MPa) (MPa) (kg/m3) (kg/m3)
C 20 20 4 3 500 400 500
C 25 25 5 8 500 450 550
C 30 30 6 14 500 500 600

Tabela 7 – Classes de resistência para espécies Dicotiledôneas (na condição padrão de


referência de umidade U=12%)
Classes fcok fvk Eco,m bas,m aparente
(MPa) (MPa) (MPa) (kg/m3) (kg/m3)

C 20 20 4 9 500 500 650


C 30 30 5 14 500 650 800
C 40 40 6 19 500 750 950
C 60 60 8 24 500 800 1 000
3.2.4.2 Coeficientes de ponderação e coeficientes modificadores

Uma forma alternativa, utilizada na norma de estruturas de madeira, para se obter a


resistência de cálculo é:
fk
f d  K mod
w
onde w é o coeficiente de ponderação da resistência da madeira, conforme a tabela 8.

Tabela 8 – coeficientes de ponderação da resistência da madeira para estados limites


últimos
Compressão paralela às fibras wc = 1,4

Tração paralela às fibras wt = 1,8

Cisalhamento paralelo às fibras wv = 1,8

Estados Limites de utilização w = 1,0


O coeficiente modificador é o produto de 3 coeficientes:
K mod  K mod,1 K mod, 2 K mod,3
onde o primeiro leva em conta o efeito da duração do carregamento, o segundo a
umidade do meio ambiente e o terceiro a categoria da madeira, conforme tabelas que se
seguem.

Tabela 9 – Kmod,1 : efeito da duração do carregamento

Classes de carregamento Tipos de madeira

Madeira serrada Madeira


Madeira colada recomposta
Madeira compensada
Permanente 0,60 0,30

Longa duração 0,70 0,45

média duração 0,80 0,65

Curta duração 0,90 0,90

instantânea 1,10 1,10


Tabela 10 – Kmod,2 : efeito da umidade do meio ambiente
Classes de umidade Umidade relativa do ambiente Umidade de equilíbrio da
Uamb madeira Ueq

1 Uamb <= 65% 12%


2 65% < Uamb <= 75% 15%
3 75% < Uamb <= 85% 18%
4 Uamb > 85% >= 25%

Classes de umidade Madeira serrada Madeira recomposta


Madeira colada
Madeira compensada
1e2 1,0 1,0

3e4 0,8 0,9


Tabela 11 – Kmod,3 : efeito da categoria da madeira

Madeira de 1a categoria 1,0

Madeira de 2a categoria 0,8


3.2.4.4 Módulo de elasticidade

Na verificação de Estados Limites Últimos em que os esforços dependam da rigidez


da madeira (estruturas hiperestáticas) adota-se valor efetivo do módulo de
elasticidade na direção das fibras em função de seu valor médio em ensaios de
compressão:
Ec , ef  K mod,1 K mod,2 K mod,3 Ec

Esse valor também pode ser obtido a partir de ensaios de flexão como:

EM  0,85 Ec
3.2.4.4 Valores típicos para algumas espécies
Tabela 13 – Dicotiledôneas
Nome apa(12%) fc ft fv Ec
(kg/m3) (MPa) (MPa) (MPa) (MPa)

Angelim-ferro 1170 79,5 117,8 11,8 20827


Canafístula 871 52 84,9 11,1 14613
Eucalipto Citr. 999 62 123,6 10,7 23002

Ipê 1068 76 96,8 16,1 18011


Jatobá 1074 93,3 157,5 15,7 23607
Sucupira 1106 95,2 123,4 11,8 21724
Tabela 14 – Coníferas

Nome apa(12% fc ft fv Ec
(kg/m3) (MPa) (MPa) (MPa) (MPa)

Pinho-do-Paraná 580 40,9 93,1 8,8 15225

Pinus Elliottii 560 40,4 66 7,4 11889


Ações e Segurança nas Estruturas deMadeira
1 Definições

1.1 Estados limites de uma estrutura

Estados a partir dos quais a estrutura apresenta desempenho inadequado às finalidades


da construção

1.2 Estados limites últimos

Estados que pela sua simples ocorrência determinam a paralisação, no todo ou em


parte, do uso da construção.

1.3 Estados limites de utilização

Estados que por sua ocorrência, repetição ou duração causam efeitos estruturais que
não respeitam as condições especificadas para uso normal da construção, ou que são
indícios de comprometimento da durabilidade da estrutura.
1.4 Ações
Ações são as causas que provocam os esforços ou deformações nas estruturas. Do
ponto de vista prático, as forças e as deformações impostas pelas ações são
consideradas como as próprias ações. As deformações impostas são por vezes
designadas por ações indiretas e as forças, por ações diretas.

1.5 Ações permanentes


Ações permanentes são as que ocorrem com valores constantes ou de pequena variação
em torno de sua média, durante praticamente toda a vida da construção. A variabilidade
das ações permanentes é medida num conjunto de construções análogas.

1.6 Ações variáveis


Ações variáveis são as que ocorrem com valores que apresentam variações
significativas em torno de sua média, durante a vida da construção. Cargas acidentais
são as ações variáveis que atuam nas construções em função de seu uso (pessoas,
mobiliário, veículos, materiais diversos, etc.).

1.7 Ações excepcionais


Ações excepcionais são as que têm duração extremamente curta e muito baixa
probabilidade de ocorrência durante a vida da construção, mas que devem ser
consideradas nos projetos de determinadas estruturas.
2.2.3 Valores de cálculo das ações

Os valores de cálculo (design) Fd das ações são obtidos dos valores representativos,
multiplicando-os pelos respectivos coeficientes de ponderação f .

2.2.3.1 Coeficientes de ponderação para estados limites últimos

Os coeficientes de ponderação das ações f levam em conta tanto a variabilidade das


ações como os possíveis erros de avaliação das mesmas, seja por problemas
construtivos como pelo deficiência do método de cálculo. Tendo em vista os diversos
tipos de ações, o índice do coeficiente pode ser modificada para identificar a ação
considerada: g para ações permanentes, q para ações diretas variáveis, p para
protensão, e para ações indiretas.

2.2.3.2 Coeficientes de ponderação para estados limites de utilização

Quando se consideram estados limites de utilização. Os coeficientes de ponderação das


ações são tomados com valor f = 1, salvo exigência em contrário.
2.3.3 Critérios de combinação das ações

2.3.3.1 Critérios gerais

Devem ser sempre consideradas todas as combinações que possam acarretar os feitos
mais desfavoráveis nas seções críticas da estrutura.

As ações permanentes devem ser consideradas em sua posição mais desfavoráveis. A


aplicação de ações variáveis móveis devem ser consideradas em sua posição mais
desfavorável para a segurança.

As ações incluídas em cada uma dessas combinações devem ser consideradas com seus
valores representativos multiplicados pelos respectivos coeficientes de ponderação das
ações.
3.1.3 Combinações últimas das ações

3.1.3.1 Combinações últimas normais


m  n 
Fd    gi FGi ,k   q  FQ1,k   0 j FQj ,k 
i 1  j 2 
No caso do VENTO ser a ação variável principal, sua solicitação deve ser multiplicada
por 0,75.

3.1.3.2 Combinações últimas especiais ou de construção


m  n 
Fd    gi FGi ,k   q  FQ1,k   0 j ,ef FQj ,k 
i 1  j 2 
3.1.3.3 Combinações últimas excepcionais
m n
Fd    gi FGi ,k  FQ ,ex   q  0 j , ef FQj ,k
i 1 j 1
3.1.3.4 Combinações em estados limites de utilização

Longa duração
m n
Fd ,util   FGi , k   2j FQj , k
i 1 j 1

Média duração
m n
Fd ,util   FGi , k   1FQ1, k   2j FQj , k
i 1 j 2
Curta duração
m n
Fd ,util   FGi ,k  FQ1,k   1j FQj ,k
i 1 j 2
Duração instantânea
m n
Fd , util   FGi , k  FQ , especial   2j FQj , k
i 1 j 2
3.1.4 Coeficientes de ponderação para combinações últimas

3.1.4.1 Coeficiente de ponderação para as ações permanentes

a) ações permanentes de grande variabilidade, são as do peso da própria estrutura, dos


elementos construttivos permanentes não estruturais e dos equipamentos fixos, quando
o peso próprio da estrutura não supera 75% do total desses pesos;

Tabela 1 – ações permanentes de grande variabilidade

Combinações Para efeitos


desfavoráveis favoráveis
Normais g = 1,4 g = 0,9
Especiais ou de construção g = 1,3 g = 0,9
Excepcionais g = 1,2 g = 0,9
b) ações permanentes de pequena variabilidade, quando o peso próprio da estrutura
supera 75% do total dos pesos permanentes;

Tabela 2 – ações permanentes de pequena variabilidade

Combinações Para efeitos

desfavoráveis favoráveis

Normais g = 1,3 g = 1,0

Especiais ou de construção g = 1,2 g = 1,0

Excepcionais g = 1,1 g = 1,0


c) efeitos de recalques de apoio e retração dos materiais

Tabela 3 – efeitos de recalques de apoio e retração dos materiais

Combinações Para efeitos

desfavoráveis favoráveis

Normais  = 1,2  = 1,0

Especiais ou de construção  = 1,2  = 1,0

Excepcionais  = 0  = 0
3.1.4.2 Coeficientes de ponderação para ações variáveis

Só se consideram ações variáveis que provocam efeitos desfavoráveis.

Tabela 4 – Coeficientes de ponderação para ações variáveis

Combinações Ações variáveis em Efeitos de temperatura


geral incluída as cargas
acidentais móveis

Normais q = 1,4  = 1,2

Especiais ou de q = 1,2 = 1,0


construção

Excepcionais q = 1,0  = 0
3.1.4.3 Valores dos fatores de combinação e fatores de redução referentes às
combinações de utilização
Tabela 5 – Valores dos fatores de combinação e dos fatores de utilização
Ações em geral   
-Variações uniformes de temperatura em relação à média anual local 0,6 0,5 0,3

-Pressão dinâmica do vento nas estruturas em geral 0,5 0,2 0


- Pressão dinâmica do vento nas estruturas em que a ação variável principal tem 0,6 0,2 0
pequena variabilidade no tempo
Cargas acidentais dos edifícios   
- Locais em que não há predominância de pesos e de equipamentos que 0,4 0,3 0,2
permanecem fixos por longos períodos de tempo, nem elevadas concentrações
de pessoas
- Locais em que há predominância de pesos e de equipamentos que 0,7 0,6 0,4
permanecem fixos por longos períodos de tempo, nem elevadas concentrações
de pessoas
- bibliotecas, arquivos, oficinas e garagens 0,8 0,7 0,6
Cargas móveis e seus efeitos dinâmicos   
- Pontes de pedestre 0,4 0,3 0,2
- Pontes rodoviárias 0,6 0,4 0,2
- Pontes ferroviárias 0,8 0,6 0,4
ESTRUTURAS DE MADEIRA

Verificação a Solicitações Normais


1.1 Resistências usuais de cálculo

Retomando o Capítulo 1, os valores de cálculo das resistências são dados por


f wk
f wd  K mod
w
onde as resistências características podem ser dadas por resultados de ensaios
padronizados ou, mais usualmente, adotando-se valores padronizados das
classes definidas em Norma.

Como valores usuais de cálculo, adotando-se madeira de segunda qualidade


ou madeira laminada colada, sob carregamento de longa duração, apresenta-
se a tabela a seguir.
Tabela 1 – Valores usuais para carregamentos de longa duração

Situação duradoura de projeto para carregamentos de longa duração (K mod,1 = 0,7)


Madeira serrada (2a categoria: Kmod,3 = 0,8)

Classe de umidade (1) e (2) Kmod = 0,7 x 1,0 x 0,8 = 0,56


Classe de umidade (3) e (4) Kmod = 0,7 x 0,8 x 0,8 = 0,45

wc = 1,4 f wN , k ,12  0,70 f wN , m,12

wt = 1,8
f wV , k ,12  0,54 f wV , m,12
 3(U %  12 
f12  fU % 1  
wv = 1,8  100

f c 90, d  0,25 f c 0, d  n f t 0, d  f c 0, d f e90, d  0,25 f c 0, d  e

coníferas: f v 0, d  0,12 f c 0, d
dicotiledôneas: f v 0, d  0,10 f c 0, d
1.2 Resistência a tensões normais inclinadas em relação às fibras da madeira

Permite´se ignorar a influência da inclinação  das tensões normais em relação às


fibras da madeira até o ângulo  = 6o . Para inclinações maiores, usa-se a fórmula de
Hankinson:

f 0 f 90
f 
f 0 sen 2   f 90 cos 2 
2. Solicitações normais

2.1 Tração

Condição de segurança:
 td  f td

se  > 6o , f td  f t ,d

dada pela fórmula de Hankinson.


2.2 Compressão ( < 40)

Definição de esbelteza:
L0 I min
 , imin 
imin A

onde o comprimento teórico de referência L0 é o comprimento da barra quando as


extremidades são fixas e 2 vezes o comprimento quando engastada e livre.

Nas barras curtas comprimidas axialmente a condição de segurança é


 cd  f cd
se  > 6o ,
f cd  f c , d
dada pela fórmula de Hankinson.
Na compressão normal às fibras
 cd  f c 90, d
com

f c 90, d  0,25 f c 0, d  n

f e 90,d  0,25 f c 0,d  e


O coeficiente n para correção da resistência normal às fibras é igual a 1 quando a
extensão da área de aplicação da carga na direção das fibras for maior ou igual a 15cm.
Quando menor, e a carga estiver afastada pelo menos 7,5 cm da extremidade da peça,
usa-se a tabela a seguir, que também se aplica ao caso de arruelas, tomando-se a
extensão da carga seu diâmetro ou lado.

Tabela 2 – Valores de n

Extensão da carga normal às n


fibras,medida paralelamente a estas (cm)

1 2,00
2 1,70
3 1,55
4 1,40
5 1,30
7,5 1,15
10 1,10
15 1,00
Quando a carga atuar na extremidade da peça o de modo distribuído, usa-se o valor
1,00.

Os coeficiente e para o caso de embutimento de pinos depende de seus diâmetros,


conforme tabela.

Tabela 3 – Valores de e

D <=0, 0,95 1,25 1,6 1,9 2,2 2,5 3,1 3,8 4,4 5,0 >=7,
(cm) 62 5

e 2,5 1,95 1,68 1,52 1,41 1,33 1,27 1,19 1,14 1,1 1,07 1,00
4. Estabilidade

Nas peças comprimidas com esbelteza igual ou superior a 40, a verificação deve
ser por flexo compressão admitindo-se que a força normal seja aplicada com uma
excentricidade que leva em conta as excentricidades acidentais da peça e do
carregamento e os acréscimos em decorrência dos efeitos de segunda ordem e,
nas peças esbeltas, a fluência da madeira.

A excentricidade acidental mínima é de


L0
ea 
300
e a excentricidade inicial devida ao carregamento
M 1d
ei 
Nd
calculada com o momento de primeira ordem, se presente, e não menor que h/30,
as quais somadas dão a excentricidade de primeira ordem

e1  ei  ea
4.1 Peças medianamente esbeltas

Definidas por

40    80
A verificação do estado limite último de instabilidade é feita por
 Nd  Md
 1
f c 0, d f c 0, d
aplicada para os planos de rigidez mínima e máxima da peça, onde
M d  N d ed
com
 FE 
ed  e1  
 FE  N d 

definida a carga de Euler


 2 Ec 0, ef I
FE 
L20
4.2 Peças esbeltas

Definidas por

80    140
A verificação do estado limite último de instabilidade é feita por
 Nd  Md
 1
f c 0, d f c 0, d

aplicada para os planos de rigidez mínima e máxima da peça, onde


 FE 
M d  N d e1, ef  
 FE  N d 
com a excentricidade de primeira ordem efetiva dada por
e1, ef  e1  ec  ei  ea  ec
levando em conta a fluência da madeira, com a fórmula:
  [ N gk  ( 1  2 ) N qk ] 
 
 FE [ N gk  ( 1  2 ) N qk ] 
ec  (eig  ea ) {e  
 1}

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