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Farmacologia Iii
Farmacologia Iii
Metabolização de Fármacos
Revisão Textual:
Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesarin
Metabolização de Fármacos
• Introdução;
• Reações de Fase 1;
• Reações de Fase 2;
• Doenças que Afetam o Metabolismo dos Fármacos;
• Interações Medicamentosas.
OBJETIVO DE APRENDIZADO
• Conceitos aprofundados de metabolização dos fármacos e seus mecanismos, reações de bio-
transformação, cálculo de meia vida, interações medicamentosas.
UNIDADE Metabolização de Fármacos
Introdução
Vamos retomar nossos estudos em farmacocinética? Lembram-se das fases farmaco-
cinéticas de administração de um fármaco?
Os fármacos administrados por Via Oral (VO) são absorvidos pelo trato gastrintestinal
e liberados no fígado pela veia porta. Essa via possibilita ao fígado metabolizá-los antes de
alcançarem a circulação sistêmica, processo responsável pelo efeito de primeira passagem.
Para iniciarmos, vamos pensar num caso clínico: a Srta. C. V. B., 33 anos, possui his-
tórico de atividade sexual com diversos parceiros, uso inconstante de preservativo e admi-
nistração contínua de anticoncepcionais orais durante os últimos anos. Após atendimento,
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tem o diagnóstico de infecção por HIV, confirmado pela análise com reação em cadeia
da polimerase (PCR). Em uso de lopinavir, um inibidor de protease. Nos últimos 5 dias,
queixou-se de dor de garganta e dificuldade na deglutição, além de tosse crônica persisten-
te. Foi tratada com antifúngico (cetoconazol) e também foi diagnosticada com tuberculose,
utilizando, assim, o esquema padrão.
Durante esse processo, a molécula pode ser inativada ou ainda sofrer bioativação,
transformando-se em metabólitos ativos, propriedade muitas vezes utilizada intencio-
nalmente, ou seja, alguns fármacos podem ser administrados na sua forma inativa e
precisam sofrer uma reação, catalisada por uma enzima para se transformado em
fármaco ativo.
Importante!
Acabamos de falar sobre o conceito de pró-fármaco! Eles são aqueles fármacos adminis-
trados sob a forma inativa e ativados por meio de uma reação química. Normalmente,
essa forma de fármacos é útil para melhorar a absorção ou a ação do ativo, ou para
possibilitar a administração de produtos instáveis em sua forma ativa.
Fármaco
Biotransformação
Pró-Fármaco Pró-Fármaco Fármaco ativo
Barreira celular
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UNIDADE Metabolização de Fármacos
As reações que acontecem com o fármaco dentro do nosso organismo são divididas
em dois grandes grupos, identificados como reações de Fase 1 e Fase 2.
Figura 3
Fonte: Adaptada de CLARK, 2013
Reações de Fase 1
As reações de Fase 1 convertem moléculas lipofílicas em moléculas mais polares
(hidrofílicas), introduzindo ou desmascarando um grupo funcional polar, como hidroxila
(–OH) ou amônio (–NH2).
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As reações de Fase 1, também denominadas biotransformação de Fase 1, podem
aumentar, diminuir ou deixar inalterada a atividade do fármaco.
As reações de Fase 1 são, com mais frequência, catalisadas pelo sistema P450 (tam-
bém denominado oxidases microssomais de função mista).
Existe uma superfamília de proteínas (enzimas) do citocromo (CYP) P450 que estão
em diversos tecidos, mas, principalmente, no fígado e no trato gastrintestinal.
Como há vários genes diferentes que codificam múltiplas enzimas diferentes, existem
várias isoformas P450.
Essas enzimas têm a capacidade de modificar muitos substratos estruturalmente dis-
tintos. Além disso, um fármaco individual pode ser substrato para mais de uma isozima.
Quatro isozimas são responsáveis pela maioria das reações catalisadas pelo sistema
P450: CYP3A4/5, CYP2D6, CYP2C8/9 e CYP1A2.
A CYP3A4 está presente em grande quantidade no intestino (mucosa intestinal), sen-
do responsável pela biotransformação de primeira passagem dos fármacos, como, por
exemplo, clonazepam e clorpromazina.
A variabilidade genética faz com que existam diferenças entre indivíduos e grupos.
Essas diferenças podem afetar significativamente a eficácia e as reações adversas a fár-
macos. Por exemplo, mutações na CYP2D6 fazem com que alguns indivíduos não res-
pondam à utilização de codeína (analgésico opioide), pois não são capazes de ativar este
fármaco por meio da O-desmetilação (reação de biotransformação).
As reações de FASE 1 são reações de oxidação, redução e hidrólise.
As reações de oxidação de fármacos, catalisadas pelas enzimas do citocromo P450
podem ser descritas da seguinte maneira:
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UNIDADE Metabolização de Fármacos
Isso pode ser medido por meio da área sob a curva (AUC ou ASC), que vimos na
unidade de título “Farmacocinética – Absorção, Distribuição e Excreção”, e por uma
diminuição do efeito farmacológico.
Exemplificando
Um paciente HIV positivo, em uso contínuo de um inibidor de proteases, que está em
uso de um fármaco para tuberculose (rifampicina), pode ter, devido à interação me-
dicamentosa, a diminuição da concentração plasmática dos inibidores de protease e,
consequentemente, um aumento da carga viral. Isso acontece porque a rifampicina
é um potente indutor do Sistema Enzimático do citocromo P450, ao induzir a ativi-
dade enzimática, ela faz com que enzima “trabalhe mais” metabolizando o inibidor
de proteases que é inativado mais rapidamente, portanto tem seu efeito diminuído.
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Normalmente, essas interações se dão pela competição pela mesma enzima. Entre-
tanto, alguns fármacos inibem reações para as quais nem são substratos, como, por
exemplo, o antifúngico cetoconazol.
Outro exemplo, é a varfarina, que pode inibir uma ou mais vias de biotransformação,
causando inúmeras interações medicamentosas, com consequências graves.
O omeprazol é um inibidor importante de três das isozimas da CYP responsável pela
biotransformação da varfarina. Assim, a utilização concomitante aumenta o risco da ini-
bição da coagulação, aumentando o risco de hemorragias e outros sangramentos graves.
Importante!
Os inibidores CYP mais importantes são eritromicina, cetoconazol e ritonavir, pois eles
inibem várias isozimas da CYP.
Por essa Figura, podemos visualizar como ocorre a inibição da atividade enzimática
ou a indução da expressão do citocromo P450.
À esquerda, vemos o aumento da síntese dessas enzimas, e assim, sua indução. Nes-
se exemplo, o fármaco A ativa o receptor de Pregnano X (PXR), que sofre heterodime-
rização com o receptor de retinoide X (RxR) e forma um complexo com coativadores,
dando início à transcrição da enzima P450.
À direita, vemos o fármaco D penetrando na célula e é hidroxilado por uma en-
zima P450.
Essa pode ser inibida por um segundo fármaco que atua como inibidor competitivo
(fármaco C) ou irreversível (fármaco I).
O mecanismo pelo qual um fármaco inibe as enzimas P450 não é necessariamente
previsível com base na estrutura química do fármaco; ele só pode ser determinado de
modo experimental (GOLAN et al., 2014)
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UNIDADE Metabolização de Fármacos
Reações de Fase 2
Esta fase consiste em reações de conjugação. Se o metabólito resultante da Fase 1 é
suficientemente polar, ele pode ser excretado pelos rins.
Contudo, vários metabólitos de Fase 1 ainda são apolares (lipofílicos), para serem
retidos nos túbulos renais necessitando, assim, sofre nova reação na tentativa de tornar
este xenobiótico mais polar.
D-Glicuronato
D
D-Acetato
Fármaco ou
metabólico de fase 1 D-Glicina Excreção
NH2 OH D-Sulfato
D D D-Glutationa
D-Metila
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São sintomas característicos vômitos, disten-
são abdominal, letargia, cianose, hipotensão, Os fármacos que possuem um gru-
respiração irregular e pode levar ao óbito. O clo- po –OH, –NH2 ou –COOH podem
entrar diretamente na Fase 2 e po-
ranfenicol pode atravessar a barreira placentária
dem ser conjugados sem necessida-
e o leite materno, devendo ser evitado inclusive de de uma reação de Fase 1 prévia.
em gestantes e lactentes.
Os fármacos conjugados que continuam com características apolares e que não apre-
sentam características para serem eliminados pelos rins, podem, então, ser excretados por
outras vias como as fezes, liberados junto com a bile para a luz do trato gastrointestinal.
Embora o fígado seja quantitativamente o órgão mais importante no metabolismo dos fár-
macos, os outros tecidos do corpo são capazes de metabolizá-los, em certo grau. Os locais
ativos em particular incluem pele, pulmões, trato gastrintestinal e rins.
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Assim, nesse metabolismo mais lento, os níveis das formas ativas de muitos fármacos po-
dem atingir valores mais altos do que o desejado, causando efeitos tóxicos. Por conseguinte,
talvez seja necessário reduzir as doses de muitos fármacos em pacientes com hepatopatia.
Além disso, alguns agentes anti-hipertensivos reduzem de modo seletivo o fluxo san-
guíneo para o fígado e, assim, podem aumentar a meia-vida de um fármaco como a
lidocaína, resultando em níveis potencialmente tóxicos.
O hormônio tireoidiano regula o metabolismo basal do corpo, que, por sua vez, afeta
o metabolismo dos fármacos.
Interações Medicamentosas
Já falamos um pouco sobre fármacos indutores e inibidores e suas consequências na
homeostase do organismo, e agora vamos tratar de um assunto muito importante para
a prática farmacêutica, as interações medicamentosas.
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Além disso, as interações medicamentosas podem ser classificadas em físico-químicas
(antes da administração), farmacocinéticas e farmacodinâmicas (após administração).
Nesta Unidade, abordaremos apenas alguns aspectos das interações medicamentosas
farmacocinéticas.
O tipo de processo cinético envolvido é determinante. Caso apresente cinética de
ordem zero (eliminação saturável, decaimento da concentração a velocidade constante),
o fármaco exercerá mais intensa e rapidamente suas ações nos tecidos suscetíveis.
Esse mecanismo de interação não repercute nas concentrações de equilíbrio dos
fármacos com cinética de primeira ordem (velocidade de eliminação proporcional ao
decaimento da concentração).
É na biotransformação que os fatores farmacogenéticos exercem maior influência, como
já falamos, quando as enzimas do citocromo CYP450 podem sofrer indução ou inibição.
Um fármaco pode induzir ou inibir enzimas metabolizadoras de outro e, ainda, competir
pelos mesmos sítios de metabolização, alterando a quantidade disponível da forma ativa.
O Quadro a seguir (Quadro 1) lista os principais fármacos potencialmente envolvidos
em interações farmacocinéticas e que devem ser observados para o manejo clínico.
CYP2C19 Omeprazol.
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Livros
Farmacologia Clínica
FUCHS, F. D.; WANNMACHER, L. Farmacologia Clínica. 4.ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2010.
Vídeos
Cytochrome P450
Veja como as enzimas do citocromo P450 funcionam.
https://youtu.be/rUSOtkvZx_k
Metabolismo de Fármacos – Q.F
Veja o vídeo disponível no link a seguir para resumir os conceitos desta Unidade.
https://youtu.be/vwpWEmccrb4
Resumão de Farmacocinética – Aula do Prof. Felipe Magalhães
https://youtu.be/42tBnQZjRq0
Leitura
Interações medicamentosas de fitoterápicos e fármacos: Hypericumperforatum e Piper methysticum
Leia este Artigo para complementar as informações sobre interações medicamen-
tosas e fitoterápicos.
https://bit.ly/3lxyBVK
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Referências
CLARK, M. A. et al. Farmacologia ilustrada. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013. 611p.
KATZUNG, B. G. Farmacologia Básica e Clínica. 12.ed. Porto Alegre: Mc Graw Hill, 2013.
Sites Visitados
BRASIL. Glossário da Resolução RDC nº 04/2009. Anvisa. Brasília: Ministério da Saú-
de, 2009. Disponível em: <http://antigo.anvisa.gov.br/documents/33868/2894051/Gloss
%C3%A1rio+da+Resolu%C3%A7%C3%A3o+RDC+n%C2%BA+4%2C+de+10+de+fever
eiro+de+2009/61110af5-1749-47b4-9d81-ea5c6c1f322a>. Acesso em: 19/03/2021.
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