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@descomplicafoucault

GUIA
PRIMEIROS
PASSOS
NA OBRA DE MICHEL FOUCAULT

Situe-se no
pensamento foucaultiano.

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Olá!

Sinta-se bem vindo(a) ao universo


Descomplica Foucault!

Encontre um lugar tranquilo, relaxe e tome


um café, um chocolate quente ou um chá
(você escolhe!).

Aproveite esta leitura, que é uma conversa


entre você e eu.

Aqui, vou guiar os seus passos em uma


caminhada introdutória pelo pensamento
foucaultiano.

Eu quero que, ao final desta nossa jornada,


você se sinta fortemente capaz de
compreender com clareza as futuras
leituras que você fará dos livros do próprio
Foucault.

Você está preparado(a)?

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Iniciar as leituras sobre Michel Foucault
pode ser algo bastante desafiador. Se você
se sente assim, fique tranquilo(a).

Muitas pessoas sentem isso, porque não


sabem muito bem por onde começar a ler a
obra do autor. Esse sentimento é muito
compreensível, já que Foucault deixou um
extenso legado de livros, textos, entrevistas,
muitos dos quais ainda nem chegaram a
ser traduzidos para o nosso idioma.

Depois de anos estudando sobre Foucault,


errando, acertando, enfrentando e
superando dificuldades no estudo da obra
do autor, digo com convicção que uma
excelente maneira de começar a ler
Foucault é por um livro introdutório sobre o
pensamento foucaultiano como um todo.

Este guia existe justamente para você que


deseja começar a ler Foucault. É para quem
quer situar-se no pensamento do autor e
sentir-se mais preparado(a) ao iniciar ou
aprofundar as suas leituras dos textos do
próprio Foucault.

Vamos juntos(as)?

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Eu sou a
Nathássia

Sou graduada em Psicologia pela Universidade de


Fortaleza, com mestrado e doutorado em
Psicologia pela Universidade Federal do Ceará.

Desenvolvo pesquisas acadêmicas com o


referencial teórico e metodológico foucaultiano há
mais de 10 anos.

Venho trabalhando como professora universitária


desde 2016 e sou apaixonada por compartilhar
conhecimento e pelo pensamento de Michel
Foucault.

Dessas duas paixões, nasceu a iniciativa


Descomplica Foucault, que iniciou como um perfil
no Instagram que hoje conta com mais de 6 mil
pessoas curiosas e apaixonadas por Michel
Foucault.

@descomplicafoucault ou
@nathassia.medeiros
Clique aqui para
acessar meu Lattes

contato@descomplicafoucault.com.br

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Toda grande caminhada
começa com um simples
passo.

Buda

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Mapa da jornada

Passo 1: Desconstruindo as verdades absolutas 7

Passo 2: Desenquadrando Foucault 11

Passo 3: Conhecendo a arqueologia do saber 22

Passo 4: Conhecendo a genealogia do poder 35

Passo 5: Conhecendo os estudos sobre a ética 54

Passo 6: Embaçando as fronteiras 66

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Cronograma de leitura
do Guia Primeiros Passos
Planeje o seu ritmo de leitura do Guia:

Dia Horário Quantidade de páginas

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Passo 1
Desconstruindo as verdades
absolutas

Antes de tudo, eu preciso dizer: o que vou


expor para você aqui não é o único modo
de olhar para a obra de Michel Foucault.
Como tudo nesta vida, existem óticas
diferentes sobre as idas e vindas do
pensamento foucaultiano.

Nós, eu e você, enquanto pessoas


apaixonadas e inspiradas pela obra de
Michel Foucault, não podemos deixar de
fazer um dos exercícios primordiais que os
escritos foucaultianos nos provocam a
colocar em prática: destronar aquilo que
está no pedestal da verdade.

"Mas o que é filosofar hoje em dia - quero dizer, a


atividade filosófica - senão o trabalho crítico do
pensamento sobre o pensamento? Se não
consistir em tentar saber de que maneira e até
onde seria possível pensar diferentemente em
vez de legitimar o que já se sabe?"

MICHEL FOUCAULT

7
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Passo 1

Então, é importante que você não tome


como verdade absoluta o modo de situar os
escritos de Michel Foucault que vou
apresentar aqui. Esta é uma forma de ver e
ler Foucault, entre outras formas possíveis.

No entanto, esta é uma forma na qual eu,


junto a muitas outras pesquisadoras e
pesquisadores da obra foucaultiana,
acredito.

Esta é forma que eu adotei nos meus mais


de 10 anos de estudos da obra do autor e
que me ajudou a situar as leituras que
venho fazendo desde que eu era uma
curiosa estudante da graduação em
Psicologia. E acredito que ela pode te
ajudar também.

Vamos lá?

8
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Passo 1

É comum que se divida a obra do autor em


três fases, ou registros.

No entanto, quanto mais nos


aprofundamos no pensamento do autor,
mais percebemos que as fronteiras entre
uma fase e outra não são tão nítidas assim.

Porém, essa "divisão" em fases funciona


como um artifício didático muito útil para
contextualizar e dar clareza às transições
no pensamento foucaultiano.

Ao longo desta jornada, veremos juntos(as)


cada uma dessas fases e as diferenças
fundamentais entre elas. Mas vou adiantar
algo, para você já ir "sentindo o gostinho": a
fase do "primeiro Foucault" chama-se
arqueologia, do "segundo Foucault"
chama-se genealogia e do "terceiro
Foucault" chama-se ética.

Mas, antes de adentrarmos no universo de


cada uma dessas fases, temos alguns
pontos importantes para explorar. Vamos
dar um passo de cada vez...

Preparados(as)?

9
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Não me pergunte quem
sou e não me diga para
permanecer o mesmo.

MICHEL FOUCAULT

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Passo 2
Desenquadrando Foucault

É possível classificar Foucault?


O que você acha?

Eu não sei qual foi o contato que você já


teve com Foucault até este exato
momento. Talvez...

Você tenha ouvido falar sobre o autor em


uma ou mais disciplinas da sua graduação.

Você precisou ou precisa ler Foucault para


utilizá-lo de algum modo em uma pesquisa
da sua vida acadêmica.

Você seja uma pessoa curiosa que ama ler


sobre coisas diferentes e tenha tido
vontade de aproximar-se dos escritos
foucaultianos.

Ou, ainda, nenhuma das hipóteses


mencionadas acima.

11
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Passo 2

Mas, uma coisa que eu sei é que as pessoas


que leem Foucault são das mais diversas
áreas do conhecimento. No perfil do
Descomplica Foucault no Instagram,
chegam até mim relatos de pessoas da
matemática, biologia, engenharia,
psicologia, filosofia, letras, nutrição,
jornalismo, enfim, de praticamente todas as
áreas. Isso já nos dá a primeira pista sobre
como é difícil colocar o pensamento
foucaultiano em uma caixinha.

Porém, alguns estudiosos ainda se dedicam


a essa tarefa classificatória. Vamos entender
mais sobre isso?

Muitos consideram que Foucault é um


teórico da corrente do pensamento
estruturalista, devido às concepções de teor
idealista e estruturalista da linguagem
presentes nas suas obras da década de
1960, como As Palavras e as Coisas e A
Arqueologia do Saber¹. Entretanto, há
características do estruturalismo, como o
uso de estruturas universais, que vão na
contramão do modo de pensar de Foucault.

¹ FISHER, Rosa Maria Bueno. Foucault e a análise do discurso em


educação. Cadernos de Pesquisa, São Luís, n. 114, p. 197-223, nov.
2001.
12
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Passo 2
Você já ouviu falar que Foucault é pós-
estruturalista? De fato, há quem aponte
Foucault como pós-estruturalista devido ao
teor anti-humanista e não essencialista de
seus pensamentos.

Outros já o chamam de pós-modernista,


pelo fato de seus escritos serem marcados
por desconstruções dos regimes de
verdade e análises do poder².

Mas, o que Foucault tem a nos dizer sobre


tudo isto?

O fato é que o próprio Foucault não se


considerava nem mesmo um teórico, muito
menos um estruturalista, pós-estruturalista
ou pós-moderno.

"Sou um experimentador, e não um teórico.


Chamo de teórico aquele que constrói um
sistema global, seja de dedução, seja de
análise, e o aplica de maneira uniforme a
campos diferentes. Não é o meu caso. Sou um
experimentador no sentido em que escrevo
para mudar a mim mesmo e não mais pensar
na mesma coisa que antes."

MICHEL FOUCAULT

² NOGUEIRA, Conceição. Análise(s) do Discurso: Diferentes


Concepções na Prática de Pesquisa em Psicologia Social. Psicologia:
Teoria e Pesquisa, Brasília, v. 244, n. 2, p. 235-242, jun. 2008.

13
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Passo 2

O pensamento de Michel Foucault se afasta


da tradição da ciência moderna, que busca
sempre elaborar teorias e métodos que
cheguem à verdade sobre as coisas do
mundo. A ciência tradicional busca chegar
à teoria das teorias e ao método dos
métodos.

Para Foucault, o método não é algo que


possa dar segurança e previsibilidade ao
caminho que será percorrido para quem
investiga algo. O começo, o meio e,
principalmente, o fim de uma pesquisa
nunca estão garantidos de antemão.
Pesquisar, para Foucault, é mudar o modo
de pensar do pesquisador.

Se eu tivesse de escrever um livro para


comunicar o que já penso, antes de
começar a escrevê-lo, não teria jamais a
coragem de empreendê-lo. Só o escrevo
porque não sei, ainda, exatamente o
que pensar sobre essa coisa em que
tanto gostaria de pensar.

MICHEL FOUCAULT

14
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Passo 2
A racionalidade moderna também é posta
em questão por Foucault no que diz
respeito a um conhecimento
transcendental. Ao descartar a ideia do
sujeito transcendental, racional e fundante,
Foucault também descarta o sentido
formal e moderno de método³.

Podemos dizer então que Foucault não


encarava a sua forma de trabalhar como
um método fechado, cheio de regras e
instruções, aplicável a todo e qualquer
objeto de pesquisa. O seu trabalho é uma
atividade, uma maneira de analisar as
coisas. É assim que ele se refere à
arqueologia, à genealogia e aos seus
estudos sobre a ética.

Mas atenção! Apesar de Foucault não


formular teoria e método fechados, isso não
impede que tomemos os estudos
foucaultianos como perspectiva teórica e
modo de pesquisar. Contudo, precisamos
encará-los mais como uma caixa de
ferramentas, como cuidados
metodológicos ou como recomendações
estratégicas que evitam as universalidades
e os objetos pré-concebidos.

³ VEIGA-NETO, Alfredo. Teoria e Método em Michel Foucault:


(im)possibilidades. Cadernos de Educação, Pelotas, n. 34, p. 85-94,
set./dez. 2009.

15
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Passo 2

Foucault nos apresenta uma nova forma de


entender a história, considerando que esta
é construída pelas práticas sociais.

Isso significa que ele entende que não há


algo racional ou metafísico que guie o
desenrolar da história. Ela é tecida por
estratégias e táticas de diversos jogos de
poder e saber, que podem ser encontradas
tanto nas operações estatais quanto nas
situações mais cotidianas.

Foucault critica a busca pela verdade na


história e a consideração exclusiva de
documentos oficiais do Estado, pois a
realidade, para o autor, é uma construção
discursiva multideterminada. Tanto o
homem quanto a realidade são inventados
de diferentes formas ao longo do tempo.⁴

⁴ PINTO, Luciano Rocha. A história como jogo: contribuições de


Michel Foucault para o ensino da história. História & Ensino,
Londrina, v. 17, n. 1, p. 149-165, jan./jun. 2011.
16
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Passo 2
Ao lançar luz sobre a historicidade das
coisas, o pensamento foucaultiano nos
instiga a olhar para a naturalidade dos
objetos com um olhar que duvida e
questiona. Ajuda-nos a sair da passividade
de quem não faz um exercício crítico sobre
a realidade. Passamos a nos perguntar
sobre como as coisas chegaram a ser como
são e como elas poderiam ser diferentes em
outra sociedade ou tempo histórico.

Há autores que chamam o que Foucault faz


de uma ontologia histórica⁵ do tempo
presente. Ontologia histórica? Como assim?
Ontologia porque se ocupa da realidade,
das práticas, das empiricidades. É histórica
porque pensa a partir de acontecimentos,
de documentos. Trata-se de articular uma
relação entre acontecimento e história,
pensando o acontecimento como algo que
irrompe e marca uma descontinuidade na
história.

O próprio Foucault⁶ fala sobre a ontologia


histórica, afirmando que esta é uma
interrogação filosófica que problematiza a
relação entre o presente, o modo de ser
histórico e a constituição de si como sujeito
autônomo.

⁵ DÍAZ, Esther. A filosofia de Michel Foucault. São Paulo: Unesp, 2012.


⁶ FOUCAULT, Michel. O Que São as Luzes? In: FOUCAULT, Michel.
Ditos e Escritos II: Arqueologia das Ciências e História dos Sistemas
de Pensamento. Rio de Janeiro: Editora Forense Universitária, 2005.
17
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Passo 2

Vamos visualizar as características do


pensamento foucaultiano?

Não trabalha com


universalidades
e pré-concepções

Rompe com a
tradição de ciência Desloca o
conceito de
método

Pensamento de
Michel Foucault

Exercício
crítico

Ontologia
histórica
Inclassificável

História é produto de
jogos de poder-saber

18
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Passo 2

Deu para ver como o pensamento do


Foucault é ousado e mutável, não é? De
fato, ele permitiu-se mudar, ao longo da sua
obra, tanto os seus objetos de investigação
quanto os seus modos de investigar.

No entanto, nessas mudanças é possível


identificar certas regularidades. Na
primeira fase do seu pensamento, que
resultou nas suas publicações ao longo dos
anos 1960, suas pesquisas giraram em torno
da questão do surgimento dos saberes
sobre diferentes objetos: a loucura, a clínica
médica, etc. Na segunda fase, a genealogia,
a análise do poder em articulação com o
saber entra em foco. Na terceira fase, dos
estudos sobre a ética, Foucault investiga
principalmente os modos através dos quais
nos tornamos sujeitos.

Arqueologia Genealogia Ética


Saber Poder Sujeito
Década de Década de Década de
1960 1970 1980

Vamos lá conhecer cada uma dessas fases?

19
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Eu sou um pirotécnico.
Fabrico alguma coisa que
serve, finalmente, para um
cerco, uma guerra, uma
destruição. Não sou a favor
da destruição, mas sou a
favor de que se possa
passar, de que se possa
avançar, de que se possa
fazer caírem os muros.

MICHEL FOUCAULT

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Passo 2

Reflita e anote o que você


aprendeu até agora sobre o
pensamento de Foucault:

21
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Passo 3
Conhecendo a arqueologia do
saber

Arqueologia: termo que Foucault escolheu


para nomear o seu modo de pesquisar nas
suas primeiras obras. Este é o momento
inicial da obra do autor, que muitos
chamam de “primeiro Foucault”.

Durante a década de 1960, ele produziu


intensamente, tendo deixado para nós,
além de textos e entrevistas, quatro
grandes obras arqueológicas:

História da Loucura na Idade Clássica (1961)

O Nascimento da Clínica (1963)

As Palavras e as Coisas (1966)

A Arqueologia do Saber (1969)

Neste último livro, Foucault esmiúça a


arqueologia, detalhando o seu modo de
trabalho das obras dos anos anteriores.

22
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Passo 3

Antes de explorarmos o que é a


arqueologia, precisamos entender o
que ela NÃO É.

Muitos confundem o que Foucault faz com


uma epistemologia. Porém, desde a
arqueologia, fase inicial do pensamento
foucaultiano, é possível demarcar
divergências fundamentais entre o que
Foucault faz e uma epistemologia. Vamos
conhecer as diferenças principais entre as
duas?

Epistemologia: Estudo da
ciência e sua história.

Em breves palavras, podemos dizer que a


epistemologia preocupa-se com a
avaliação, fundamentação e justificação
dos embasamentos conceituais dos
saberes. É um tipo de estudo que só se
ocupa de saberes científicos.

23
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Passo 3

Em um estudo epistemológico, investiga-se


o progresso da razão ao longo da história
das ciências, verificando a produção da
verdade científica.

Epistemologia:

Volta-se ao saber científico.

Avalia a fundamentação científica dos saberes.

Investiga a verdade científica.

São justamente nesses principais pontos


acima que a arqueologia diferencia-se da
epistemologia.

Podemos dizer que a arqueologia é uma


análise dos saberes sobre determinado
objeto. A História da Loucura (obra
arqueológica do Foucault), por exemplo, é
uma análise dos saberes sobre o louco em
determinadas épocas históricas. ⁷

⁷ MACHADO, Roberto. Foucault, a ciência e o saber. 4. ed. Rio de


Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2009.

24
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Passo 3

A arqueologia preocupa-se com as


condições de possibilidade da emergência
dos saberes enquanto verdades. São
analisadas as condições históricas, sociais e
discursivas de seus surgimentos. Nessa
análise, ela não aponta um saber como
mais verdadeiro que o outro. Não se trata
de uma análise do grau de confiabilidade
científica dos saberes. Até porque a
arqueologia analisa todos os tipos de
discursos que circulam no meio social e
não apenas os discursos científicos.

A arqueologia pensa as mudanças


históricas como rupturas e deslocamentos
e não como uma linha continua e
ascendente, como acontece na história
tradicional. Foucault não buscava a verdade
na história e não trabalhava com a
consideração exclusiva de documentos
oficiais ou dos grandes nomes e
acontecimentos. O que Foucault sempre
fez foi uma história microfísica, do
cotidiano.

"É que o saber não é feito para compreender. Ele


é feito para cortar."

MICHEL FOUCAULT

25
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Passo 3

No quadro abaixo, você consegue ter uma


visão mais esquemática das diferenças aqui
destacadas entre epistemologia e
arqueologia.

EPISTEMOLOGIA ARQUEOLOGIA

Estuda a Estuda o
ciência saber

Analisa as
Avalia a
condições de
confiabilidade
surgimento
científica
dos saberes

Entende a
Busca
verdade como
alcançar a
uma
verdade do
construção
saber
histórico-
científico
social

26
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Passo 3

A arqueologia tem preocupação em


analisar o saber e a verdade em articulação
com o sujeito. Trata-se de uma análise do
sujeito enquanto sujeito de saber. Ou seja,
Foucault faz uma ontologia histórica de nós
mesmos em relação à verdade.

Os estudos arqueológicos do Foucault estão


principalmente voltados à construção de
redes de saber e ao discurso enquanto
instrumento de veiculação dessas redes.

A arqueologia baliza e descreve os tipos de


discursos, no sentido de explorar as
condições históricas, políticas e
econômicas do surgimento dos mesmos.

Discurso: é um agrupamento de
enunciados que se apoiam na mesma
formação discursiva.

Formação discursiva: é o feixe de relações


que configura as regras de funcionamento
das práticas discursivas.

Práticas discursivas: são enunciados


enquanto práticas sociais que se situam em
formações discursivas.

27
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O discurso, assim concebido,
não é a manifestação,
majestosamente desenvolvida,
de um sujeito que pensa, que
conhece, e que o diz: é, ao
contrário, um conjunto em que
podem ser determinadas a
dispersão do sujeito e sua
descontinuidade em relação a
si mesmo. É um espaço de
exterioridade em que se
desenvolve uma rede de
lugares distintos.

MICHEL FOUCAULT

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Passo 3

Anote isto: para Foucault, todo discurso é


uma prática.

Foucault considera os discursos como


práticas e a sua intenção foi observar o
funcionamento destes em configurações de
saber de determinados momentos da
história.⁸

Considerar o discurso enquanto prática


significa entender que a linguagem não é
representativa da realidade, mas, ao
contrário, cria-a e modifica-a. Ela cria e
modifica, inclusive, o sujeito.

As práticas sociais são produzidas


discursivamente e também são
produtoras de discursos.

Vejamos então, na próxima página, um


quadro geral do que caracteriza a
arqueologia...

⁸ ARAUJO, Inês Lacerda. A noção de discurso em Foucault. In:


ARAÚJO, Inês Lacerda. Do signo ao discurso: introdução à filosofia da
linguagem. São Paulo: Parábola, 2004. p. 215-244.

29
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Passo 3

ARQUEOLOGIA

Não privilegia a ciência em detrimento


de outros saberes.

Rompe com a ideia de progresso


cumulativo da ciência.

Considera a verdade como uma


construção histórica.

Investiga as condições de
estabelecimento dos discursos
enquanto verdades.

Descreve a formação dos saberes.

Pensa na articulação do saber com as


instituições que lhe reafirmam.

Analisa o sujeito enquanto um objeto


para o saber.

Faz crítica à ideia de sujeito racional.

30
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Passo 3

Transição do pensamento

No final dos anos de 1960 e início de 1970,


Foucault vai deslocando o seu modo de
abordar seus objetos de estudo.

Em 2 de dezembro de 1970, Foucault


ministra sua aula inaugural no renomado
Collège de France, em Paris.

Esta aula foi traduzida e publicada em


português em formato de um pequeno
livro chamado A Ordem do Discurso.

Esta aula-texto encontra-se na transição do


pensamento foucaultiano entre a
arqueologia e a genealogia.

Em A Ordem do Discurso Foucault ainda


possui uma noção negativa do poder, pois o
pensa agindo através da lei, da proibição,
da exclusão.

Negativo refere-se a exclusão, repressão,


subtração.
Positivo refere-se à produção, criação,
adição.

31
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Passo 3

Após esta aula, em suas obras seguintes,


Foucault vai redimensionar sua noção de
poder, pensando-o a partir de sua
positividade, ou seja, de suas tecnologias e
produções.

Nessa aula, Foucault fala que em nossa


civilização parece haver um medo dos
perigos, da proliferação e da desordem dos
discursos.

Por tal motivo, meios para dominar os


discursos são desenvolvidos e a produção
discursiva é controlada por alguns
procedimentos, que podem ser externos ou
internos ao discurso.

Algumas dessas formas de controle


discursivo são definidas por Foucault em A
Ordem do Discurso já com o objetivo de
explorar a ordem do não discursivo, algo
que irá ocupar o autor mais intensamente
na fase genealógica de seu pensamento.

Você já leu A Ordem do Discurso? Se ainda


não leu, espero que tenha ficado curiosa(o)
para ler! É um livro pequeno, embora
interessante e provocador de muitas
reflexões. Quer sentir o gostinho desse livro?
Olha só essa frase retirada dele...

32
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O discurso não é
simplesmente aquilo
que traduz as lutas ou os
sistemas de dominação,
mas aquilo porque, pelo
que se luta, o poder do
qual nos queremos
apoderar.

MICHEL FOUCAULT

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Passo 3

Reflita e resuma o que você


aprendeu até agora sobre a
arqueologia de Foucault:

34
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Passo 4
Conhecendo a genealogia do
poder

Vimos que, desde a arqueologia, a questão


da análise de discursos é central no
trabalho foucaultiano. Na genealogia, o
discurso segue com a sua importância, mas
o modo de análise modifica-se.

Nos estudos genealógicos, a preocupação


de Foucault volta-se à articulação entre
discurso e relações de poder. A genealogia
analisa as relações de poder que tornam
possível determinado tipo de discurso.

Podemos então dizer que os discursos são


preocupação constante de Foucault em
seus trabalhos: discurso médico, discurso
sobre a loucura, sobre o homem, sobre a
sexualidade, entre outros. É o modo de
analisar os discursos que se modifica.

Arqueologia Saber
Discurso
Genealogia Poder

35
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Passo 4

Na fase genealógica de seu pensamento,


Foucault pensa a implicação dos discursos
com as relações de poder que estes fazem
operar, sempre em uma perspectiva
histórica e tendo o sujeito como grande
preocupação.

Na genealogia, Foucault passa a preocupar-


se mais com os modos de incitação aos
discursos do que com os modos de
exclusão destes, principalmente no
primeiro volume da História da
Sexualidade, chamado A Vontade de Saber.

Nesse livro, Foucault marca que, ao se


construir a análise da sexualidade que ele
próprio realiza, é preciso atentar ao que ele
chama de regra da polivalência tática dos
discursos. Segundo essa regra, os discursos
sobre o sexo não são apenas projeções dos
mecanismos de poder, pois neles se
articulam saber e poder.

Portanto, os discursos devem ser


considerados como polivalentes em relação
às suas táticas, pois eles podem ser, ao
mesmo tempo, instrumentos e efeitos de
poder, ou até resistência.

36
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Não há relação de poder
sem constituição
correlativa de um campo
de saber, nem saber que
não suponha e não
constitua ao mesmo
tempo relações de
poder.

MICHEL FOUCAULT

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Passo 4
Além das numerosas entrevistas, textos
publicados na imprensa, entre outras
produções de menor porte, Foucault nos
deixou muitas obras genealógicas, entre
elas livros e Cursos do Collège de France.

Foucault ocupava, no Collège de


France, a cátedra chamada "História
dos sistemas de pensamento".

Aulas Sobre a Vontade de Saber (1970-1971)

Teorias e Instituições Penais (1971-1972)

A Sociedade Punitiva (1972-1973)

O Poder Psiquiátrico (1973-1974)

Os Anormais (1974-1975)

Vigiar e Punir (1975)

Em Defesa da Sociedade (1975-1976)

História da Sexualidade 1: A Vontade de


Saber (1976)

Segurança, Território, População (1977 -


1978)

Nascimento da Biopolítica (1978-1979)

38
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Passo 4

A escolha de Foucault de utilizar o termo


genealogia já sinaliza a influência de
Nietzsche sobre o autor.

Friedrich Nietzsche (1844-1900):


Filósofo alemão. Escreveu o livro
Genealogia da Moral, entre outros.

Foucault, em um texto seu chamado


"Nietzsche, a genealogia e a história", afirma
que a genealogia trabalha com
documentos e que ela vai na contramão
das pesquisas sobre a origem das coisas,
assim como o Nietzsche genealogista
também recusou as pesquisas da origem.
Isso porque as pesquisas sobre a origem
buscam a essência das coisas, entendendo
os desníveis na história como acidentes. É
uma postura metafísica, que entende que
as coisas escondem uma essência, que seria
perfeita e portadora de uma verdade
irrefutável.

“A genealogia é cinza; ela é meticulosa e pacientemente


documentária. Ela trabalha com pergaminhos
embaralhados, riscados, várias vezes reescritos.”

MICHEL FOUCAULT

39
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Passo 4

O genealogista escuta a história e afasta-se


da metafísica, pois entende que as coisas
não possuem essência, mas sim uma
historicidade. Historicidade esta que não é
linear, mas sim cheia de incidentes.

Na genealogia, não se busca o que unifica o


sujeito, mas sim o emaranhado das suas
diversas marcas singulares. Busca-se
dissociar o Eu e reencontrar os diversos
acontecimentos que formam o sujeito e as
coisas que existem no mundo.

Recua-se no tempo não para apontar uma


continuidade, mas sim para manter o
passado na sua dispersão. Esse tipo de
análise não busca fundar algo, mas sim
desalojar o que está acomodado,
desmontar o que está coeso.

A genealogia desconstrói o que era tido


como constante, reintroduzindo o
descontinuo do homem, se aprofundando
no que está repousando. As forças que
estão em jogo na história estão entregues
ao acaso da luta e não a uma destinação. E
essas forças sempre surgem no acaso
singular do acontecimento.

40
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Passo 4

A história genealógica não se apoia em


constâncias, pois nem mesmo o corpo
humano é constante. O corpo não é pura
fisiologia, pois ele não escapa à história.

A genealogia também relaciona-se com o


corpo, pois o corpo e tudo o que lhe diz
respeito se conectam aos acontecimentos
passados. É no corpo que os
acontecimentos da história se inscrevem.

A genealogia, como análise da


proveniência, está, portanto, no ponto
de articulação do corpo com a história.
Ela deve mostrar o corpo inteiramente
marcado de história e a história
arruinando o corpo.

MICHEL FOUCAULT

41
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Passo 4

Então, as pesquisas genealógicas podem


ser entendidas como histórias críticas das
coisas.

A genealogia olha para o passado não para


apontar certa evolução ou
desencadeamento natural dos fatos, mas
sim para manter a história na sua dispersão,
como produto de lutas de forças.

A partir deste prisma genealógico,


investiga-se quais são os diversos
dispositivos de poder que se efetivam na
sociedade, quais são os seus efeitos e as
relações que estabelecem

Assim, a genealogia ocupa-se


prioritariamente das relações de poder.

Enquanto a arqueologia privilegiou a


análise do discursivo, a genealogia vai
pensar na relação entre práticas
discursivas e não-discursivas.

42
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Passo 4

Enquanto a arqueologia possuía as redes de


saberes enquanto objetos de descrição, a
genealogia possui o dispositivo. O conceito
de dispositivo desenvolvido por Foucault
vem justamente dar conta da necessidade
da análise da relação entre o discursivo e o
não-discursivo.⁹

Foucault utiliza o termo dispositivo na


tentativa de demarcar um conjunto de
elementos, ditos e não ditos, tais como:
discursos, instituições, enunciados
científicos, leis, organizações
arquitetônicas, etc. É também uma
tentativa de demarcar a natureza da
relação existente entre esses elementos.
Foucault entende ainda dispositivo como
uma formação que responde a alguma
urgência histórica e que possui uma função
estratégica.

Foucault fala em dispositivo de


sexualidade, dispositivo de aliança,
dispositivo de saber, dispositivo disciplinar,
entre outros.

⁹ CASTRO, Eduardo. Vocabulário de Foucault: um percurso pelos


seus temas, conceitos e autores. Belo Horizonte: Autêntica Editora,
2009.

43
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Passo 4

Com a genealogia, Foucault explora a


função das relações de poder na produção
do sujeito moderno.

Em sua analise das relações de poder, ele


aponta duas tecnologias de poder
operacionalizadas na modernidade, que se
complementam: as disciplinas (poder
disciplinar) e a biopolítica.

As disciplinas são técnicas de poder


centradas nos corpos individuais,
organizando-os e tornando-os visíveis e
úteis. Elas aparecem no ocidente nos
séculos XVII e XVIII.

“Esses métodos que permitem o controle


minucioso das operações do corpo, que
realizam a sujeição constante de suas
forças e lhes impõem uma relação de
docilidade-utilidade, são o que podemos
chamar as ‘disciplinas’.”

MICHEL FOUCAULT

44
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Passo 4

Por volta da segunda metade do século


XVIII, começa a surgir outra tecnologia de
poder, a biopolítica, que se dirige ao corpo
da espécie humana como um todo, da
população e interessa-se pela vida.

Os mecanismos desse tipo de poder


diferem dos mecanismos disciplinares, uma
vez que não lidam com os fenômenos no
nível individual, mas sim no nível global.

“[...]
deveríamos falar de ‘bio-política’ para
designar o que faz com que a vida e seus
mecanismos entrem no domínio dos
cálculos explícitos, e faz do poder-saber um
agente de transformação da vida humana
[...]”

MICHEL FOUCAULT

Uma tecnologia não vai substituir


completamente a outra. A biopolítica não
substitui o poder disciplinar. Elas
caminham lado a lado e, muitas vezes,
entrecruzam-se nas estratégias de controle
que são colocadas em prática no cotidiano.

45
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Passo 4

Disciplinas e biopolítica são duas faces de


uma mesma moeda: o biopoder.

O nome biopoder deve-se ao fato de que se


trata de um poder sobre a vida (bio = vida).

“As disciplinas do corpo e as regulações da


população constituem os dois pólos em
torno dos quais se desenvolveu a
organização do poder sobre a vida.”

MICHEL FOUCAULT

O biopoder é uma modalidade de poder


que surge no Ocidente a partir do século
XVIII, articulando as tecnologias de poder
das disciplinas e as da biopolítica.

Seu advento foi fundamental para o


desenvolvimento do capitalismo, pois
significou o estabelecimento da vida como
alvo de controle de saber e de poder, ou
seja, o biológico passou a fazer parte do
político.

Venho falando aqui para você sobre o


poder, mas é preciso entender o que
Foucault quer dizer exatamente quando
usa essa palavra...
46
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Passo 4
A concepção de poder em Foucault é bem
específica e mereceria um segundo guia
como este que você está lendo agora só
para esmiuçá-la. O poder, para Foucault,
exerce-se na microfísica, nas
microrrelações cotidianas, em todos os
espaços sociais.

Foucault ressalta também que a vida não é


completamente envolta pelo controle do
poder, pois ela sempre escapa de alguma
forma. Sempre há resistência ao poder.

Vamos elencar algumas características do


poder segundo a análise foucaultiana.

Não se possui,
mas sim exerce-se.

Não é propriedade, Não é localizável, é


é estratégia. difuso na microfísica.

PODER

É operatório e É produtor antes


não essencial. de ser repressor.

É relação e não
atributo.

47
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Passo 4
Transição do pensamento

Em 1978-1979, Foucault ministra um Curso


no Collège de France chamado O
Nascimento da Biopolítica. Nesse curso, é
possível observar um deslocamento do foco
do conceito de poder para o de governo,
expandindo-se a genealogia foucaultiana.

A noção de governamentalidade
desenvolvida por Foucault nesse período
permite que ele alargue a sua concepção
de poder em vigência até então em sua
obra. O estudo sobre a governamentalidade
permite que o autor ultrapasse a análise do
aspecto microfísico do poder e passe a
fazer uma análise do poder da política de
Estado operacionalizada na modernidade¹⁰,

Em um texto que foi publicado com o título


"A governamentalidade", Foucault define
governamentalidade como o conjunto de
instrumentos, formas e táticas que tornam
possível o exercício desse tipo de poder,
que se pode chamar de governo, que possui
a população como alvo, a economia política
como um de seus saberes e os dispositivos
de segurança como instrumentos técnicos.

¹⁰ OKSALA, Johanna. Como ler Foucault. Rio de Janeiro: Zahar, 2011.


48
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Passo 4

CURIOSIDADE

Em uma entrevista publicada com o título


"Eu sou um pirotécnico", Foucault fala sobre
como a sua vivência dos sistemas políticos
praticados na Polônia e na Tunísia
influenciaram a virada genealógica no seu
pensamento.

Ele fala sobre como as opressões e


violências que presenciou ao viver em
ambos os países abriram os seus olhos para
a importância do exercício de poder e para
como são relevantes as articulações entre o
corpo, a vida, o discurso e o poder político.

"[...] atravessei uma espécie de experiência


física do poder, das relações entre o corpo e
o poder.", Michel Foucault.

Vamos então recapitular as definições e


características da genealogia sobre as quais
conversamos aqui...

49
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Passo 4

GENEALOGIA

Foco na análise dos exercícios de poder.

Situa o saber no campo das relações de


poder.

Considera que o sujeito é objetivado


tanto por saberes quanto por práticas.

Investiga a dimensão político-social do


discurso.

Analisa o poder em seus efeitos


produtivos.

Faz uma história crítica das coisas.

Analisa as articulações entre corpo e


história.

Entende a história como produto de


lutas de forças.

Tem o dispositivo como objeto de


descrição.

50
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Passo 4
É importante reforçar que arqueologia e
genealogia não se excluem, elas se
complementam. São apenas focos
diferentes do olhar foucaultiano, mas há
um pouco de genealogia nas obras
arqueológicas e vice versa. Vamos olhar
para ambas, lado a lado, no quadro abaixo.

ARQUEOLOGIA GENEALOGIA

Descreve a Descreve a
formação dos relação entre
saberes saber e poder

O sujeito é
O sujeito é objetivado pelo
objetivado pelo saber e por
saber práticas
normativas

Foco nas
Foco nas
exclusões
proliferações de
sofridas por
determinados
determinados
discursos
discursos

Articulação entre
Foco no
discursivo e não-
discursivo
discursivo

51
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A verdade é deste
mundo; ela é produzida
nele graças a múltiplas
coerções e nele produz
efeitos regulamentados
de poder.

MICHEL FOUCAULT

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Passo 4

Reflita e resuma o que você


aprendeu até agora sobre a
genealogia de Foucault:

53
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Passo 5
Conhecendo os estudos sobre
a ética

Durante a década de 1980, temos um novo


e o último ponto de inflexão na obra
foucaultiana.

Justamente em 1980, Foucault ministra um


Curso no Collège de France intitulado Do
Governo dos Vivos. Por conta de seu título,
muitos pensaram que o curso continuaria a
dar foco à questão da governamentalidade,
tratada no Curso anterior ministrado por
Foucault.

No entanto, em Do Governo dos Vivos, entra


no pensamento foucaultiano a
problemática da verdade e da
subjetivação, temas que passariam a estar
em foco nos livros e demais produções
foucaultianas nos anos seguintes até o seu
falecimento em 1984.

"O que é esse jogo do eu mesmo ou esse jogo do si


mesmo no interior de procedimentos de verdade?"

MICHEL FOUCAULT

54
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Passo 5

Essa nova transição no pensamento de


Foucault também é notória na série de
livros História da Sexualidade.

Após o primeiro volume da História da


Sexualidade, A Vontade de Saber (1976), os
demais volumes dessa série apresentam
diferenças importantes em relação ao foco
de análise do primeiro volume, que ainda
repousava sobre a questão da analítica do
biopoder e do dispositivo.

Enquanto A Vontade de Saber ainda trata


fortemente da questão dos exercícios de
poder sobre a vida, nos demais volumes a
questão da ética do sujeito ganha o foco do
olhar de Foucault.

Volumes História da Sexualidade

HS 1 HS 2 HS 3 HS 4

A vontade O uso dos O cuidado As confissões


de saber prazeres de si da carne

55
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Passo 5

Em virtude do falecimento de Foucault em 1984, o volume 4


da História da Sexualidade, chamado As Confissões da
Carne, foi deixado inacabado. Posteriormente, o livro foi
organizado e publicado, já estando disponível em português.

Além dos volumes da História da


Sexualidade, os Cursos do Collège de
France são a grande fonte de leitura desse
último momento do pensamento
foucaultiano.

Vejamos os títulos das obras produzidas


nesta fase:

Do Governo dos Vivos (1979-1980)

Subjetividade e Verdade (1980-1981)

Maldizer, Dizer Verdadeiro (1981)

A Hermenêutica do Sujeito (1981-1982)

História da Sexualidade 2: O Uso dos


Prazeres (1984)

História da Sexualidade 3: O Cuidado de Si


(1984)

História da Sexualidade 4: As Confissões da


Carne (2018)

56
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Passo 5

Nesse terceiro e último momento do seu


pensamento, Foucault dedica-se a fazer
uma história genealógica do sujeito moral,
o que o fez pesquisar sobre os modos de
subjetivação na Grécia, Roma e
Cristianismo antigos.

Com esse estudo histórico, Foucault analisa


as condições de possibilidade da nossa
moral.

Ele analisa a questão do desejo na


articulação entre corpo e ética e entre sexo
e ética.

Nessa fase de seu pensamento, Foucault faz


um estudo histórico-crítico sobre o sujeito
de desejo.

Ou seja, a sua investigação baseou-se em


analisar como, historicamente, o homem foi
levado a encontrar no desejo a verdade
sobre si mesmo.¹¹

¹¹ DÍAZ, Ester. A filosofia de Michel Foucault. São Paulo: Editora


Unesp, 2012.

57
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Passo 5
A ética da qual Foucault trata nas suas
últimas obras diz respeito à relação do
sujeito consigo mesmo.

Ética Relação consigo mesmo

Isso significa que o "Foucault da ética" ou o


"Terceiro Foucault" dedica-se a estudar a
história das maneiras pelas quais o
indivíduo se constitui como sujeito moral
de suas próprias ações.

Ou seja, ele investiga as questões éticas


sobre a produção de si. Esse terceiro e
último momento do seu pensamento trata-
se, então, de uma análise histórica das
técnicas de si.

Foucault fala que as técnicas de si existem


em todas as civilizações.

As técnicas de si são...

“[...] pressupostos ou prescritos aos indivíduos


para fixar sua identidade, mantê-la ou
transformá-la em função de determinados
fins, e isso graças a relações de domínio de si
sobre si ou de conhecimento de si por si.”.
MICHEL FOUCAULT
58
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Passo 5
Essas tecnologias do eu funcionam a partir
da crença de que é possível uma
enunciação da verdade sobre si mesmo.

Nesse processo de enunciação de si, a


pessoa não apenas se descreve, mas
constrói a si própria.

As técnicas de si recolocam a questão do


conhece-se a si mesmo e questiona sobre o
que fazer de si mesmo, que trabalho operar
sobre si, como se governar.

No Curso Subjetividade e Verdade, Foucault


diz que, ao estudar as técnicas de si, ele
empreende uma nova forma de realizar a
história da subjetividade.

Não se trata mais apenas de identificar os


efeitos da objetivação científica e da
individuação das práticas e discursos. Trata-
se também de reconhecer as relações dos
sujeitos consigo mesmos, com seus efeitos
de saber-poder e de tornar relevante o
papel das relações com o outro nesse
processo.

Essa perspectiva leva Foucault a abordar


por uma nova ótica a questão da
governamentalidade. Ele fala mais sobre
isso nessa citação que está na próxima
página...

59
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Passo 5
"Seria possível, assim, retomar num outro
aspecto a questão da ‘governamentalidade’:
o governo de si por si na sua articulação com
as relações com o outro (como é encontrado
na pedagogia, nos conselhos de conduta, na
direção espiritual, na prescrição dos modelos
de vida, etc.)."

MICHEL FOUCAULT

Nos cursos do Collège de France intitulados


em português de Subjetividade e Verdade e
A Hermenêutica do Sujeito, Foucault segue
tratando dessa nova forma de pensar a
subjetividade, própria da terceira fase de
seu pensamento, através do estudo do
cuidado de si.

Trata-se aqui, através do cuidado de si, de


pensar em outra dimensão da produção de
subjetividade além da sujeição advinda da
relação saber/poder.
60
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Passo 5
Foucault realiza um estudo do significado
do cuidado de si a partir da Grécia antiga.

A noção de epimeleïa heautou, ou seja, de


“cuidar de si mesmo” é estudada
inicialmente em Sócrates. Entretanto, oito
séculos depois, em Gregório de Nícia, essa
noção ainda permanece. Isso demonstra
que o cuidado de si não foi só uma ideia na
época Socrática, mas tornou-se uma prática
que perdurou até oito séculos mais tarde.

Contudo, não se deve pensar que essa é


uma noção que se restringiu ao campo da
filosofia. Na verdade, cuidar de si era algo
privilegiado e praticado pela sociedade
Grega e Romana.

Na Grécia antiga, o conhecer-se a si mesmo


diferia do cuidar-se de si mesmo. Para a
filosofia antiga, o cuidado de si vinha
sempre à frente do conhecimento de si.

Ao descrever o cuidado de si, Foucault não


indica que havia uma moral individualista,
que escapava do social. O cuidado de si não
é uma atividade solitária, mas sim
institucional e comunitária. O cuidado de si,
inclusive, supõe a presença do outro.

61
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Passo 5

O cuidado de si coloca certa distância entre


o sujeito e o mundo, mas esta constitui a
ação do sujeito, que é refletida e regulada.
Trata-se de uma dimensão ativa do sujeito.
A maioria dos exercícios de cuidado de si
vão justamente buscar garantir que haja
uma congruência entre o que o sujeito diz
que deve ser feito e o que o sujeito faz.

Essa consideração da dimensão do cuidado


de si na produção de subjetividades implica
pensar a subjetividade como irredutível a
uma substância e a determinações
transcendentais. Implica pensar que a
construção da subjetividade se remete a
uma reflexividade prática através de uma
relação de si para consigo.¹²

Vamos então recapitular os pontos


principais desse terceiro momento do
pensamento de Michel Foucault...

¹² GROS, Frédéric. Situação do Curso. In: FOUCAULT, Michel. A


hermenêutica no sujeito. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006.

62
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Passo 5

ESTUDOS SOBRE A ÉTICA

Foco na ética do sujeito.

Estuda a articulação entre subjetivação,


verdade e desejo.

Faz uma história genealógica do sujeito


moral.

Análise histórica das técnicas de si.

Aborda a questão do governo de si em


articulação com as relações com os
outros.

Estuda o significado do cuidado de si.

63
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E há um outro lado das
prescrições morais, que na
maioria das vezes não está
isolado como tal, mas que é,
acredito, muito importante: o
tipo de relação que se deve
ter consigo mesmo, rapport à
soi, que eu chamo de ética e
que determina a maneira
pela qual o indivíduo deve se
constituir como o sujeito
moral de suas próprias ações.

MICHEL FOUCAULT

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Passo 5

Reflita e resuma o que você


aprendeu até agora sobre o
"terceiro Foucault".

65
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Passo 6
Embaçando as fronteiras

Apesar de Foucault ter ficado amplamente


conhecido como um "filósofo" do poder,
acredito que tenha ficado claro como a sua
obra é muito mais ampla do que a questão
da análise das relações de poder.

É o próprio Foucault que fala, em um texto


chamado "O sujeito e o poder", que o seu
grande objeto de análise sempre foi o
sujeito.

Toda a sua obra gira em torno da análise


crítica do sujeito moderno e, para essa
análise, foi preciso investigar os discursos,
as instituições, as práticas, as relações de
poder cotidianas, a ética do desejo, entre
outras dimensões.

“Assim, não é o poder, mas o sujeito, que


constitui o tema geral de minha pesquisa.”

MICHEL FOUCAULT

66
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Passo 6

Vimos aqui que à medida em que Foucault


avançava na sua análise da produção do
sujeito moderno, o seu foco ia sendo
modificado.

No entanto, é preciso que relativizemos as


fronteiras que dividem esses territórios:
arqueologia, genealogia e ética.

O próprio Foucault, em uma entrevista com


Dreyfus e Rabinow¹³, afirma que a
genealogia, enquanto ontologia histórica
de nós mesmos, está presente desde as

suas obras arqueológicas até as obras sobre
falamos
sobre este a ética.
termo na
página 17, Nesta entrevista, Foucault fala que a
lembra?
genealogia possui 3 eixos, ao fazer uma
ontologia histórica de nós mesmos: o eixo
da verdade/saber, o eixo do poder e o eixo
da ética. Ele identifica então em quais obras
podemos encontrar cada um desses eixos.

Vejamos esses eixos no mapa da próxima


página...

¹³ FOUCAULT, Michel. Michel Foucault entrevistado por Hubert L.


Dreyfus e Paul Rabinow. In: DREYFUS, Hubert L. Michel Foucault:
uma trajetória filosófica: para além do estruturalismo e da
hermenêutica. 2. ed. rev. Rio de Janeiro? Forense Universitária, 2010.p.
296-342. 67
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Passo 6

Eixos da genealogia

Ontologia histórica - O Nascimento


presente da Clínica
de nós mesmos em
em: - As Palavras e
relação à verdade
as Coisas
Nós: sujeitos de
- A História da
saber
Loucura

Ontologia histórica - A História da


presente Loucura
de nós mesmos em
em: - Vigiar e Punir
relação ao poder
Nós: sujeitos de
ação sobre os
outros

Ontologia histórica - A História da


presente Loucura
de nós mesmos em
em: - História da
relação à ética
Sexualidade
Nós: agentes
morais

68
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Três domínios da genealogia são
possíveis. Primeiro, uma ontologia
histórica de nós mesmos em
relação à verdade através da qual
nos constituímos como sujeitos de
saber; segundo, uma ontologia
histórica de nós mesmos em
relação a um campo de poder
através do qual nos constituímos
como sujeitos de ação sobre os
outros; terceiro, uma ontologia
histórica em relação à ética
através da qual nos constituímos
como agentes morais.

MICHEL FOUCAULT

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Bônus! Linha do tempo dos
1 grandes livros e cursos
de Michel Foucault

Doença Mental e Psicologia História da Loucura na Idade


(1954) Clássica (1961)

O Nascimento da Clínica (1963) As Palavras e as Coisas (1966)

A Arqueologia do Saber (1969) A Ordem do Discurso (1970)

Aulas Sobre a Vontade de Teorias e Instituições Penais


Saber (1970-1971) (1971-1972)

A Sociedade Punitiva (1972- O Poder Psiquiátrico (1973-


1973) 1974)

Os Anormais (1974-1975) Vigiar e Punir (1975)

Em Defesa da Sociedade (1975- História da Sexualidade I: A


1976) Vontade de Saber (1976)

Segurança,Território,População Nascimento da Biopolítica


(1977 - 1978) (1978-1979)

Do Governo dos Vivos (1979- Subjetividade e Verdade (1980-


1980) 1981)

Maldizer, Dizer Verdadeiro A Hermenêutica do Sujeito


(1981) (1981-1982)

O Governo de Si e dos Outros A Coragem da Verdade (1984)


(1983)

História da Sexualidade II: O História da Sexualidade III: O


Uso dos Prazeres (1984) Cuidado de Si (1984)

História da Sexualidade IV: As


Confissões da Carne (2018)
70
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Bônus! Desafio de Leitura
2 Próximos Passos

Você pode estar se perguntando: "E agora?


Por onde eu começo a ler Foucault?"

A resposta para esta pergunta é: por onde


você desejar!

Porém, se você quer uma sugestão de


alguns textos que vão complementar a
leitura que você acaba de fazer deste Guia
Primeiros Passos, eu vou ajudar.

Este é o Desafio de Leitura Próximos


Passos. Eu selecionei 8 textos do Foucault
que você encontra facilmente na internet.

O desafio é o seguinte: ao finalizar cada


texto do desafio, você posta a sua leitura
nos seus stories do Instagram, marcando o
perfil do @descomplicafoucault, e eu vou
compartilhar os seus stories.

Assim, todos que estão lendo este guia vão


acompanhar o progresso de leitura uns dos
outros dentro do desafio. Muito bom, não é?

Espero você no Instagram!

71
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Da Arqueologia
à Dinástica
Verdade
e Poder
1

2 Nietzsche, a
Genealogia e
Sobre a Arqueologia 4
a História
das Ciências
Resposta ao círculo
O Uso dos
de Epistemologia 5 Prazeres e as
Técnicas de Si
Poder-Corpo 7

6
8
A governamentalidade
A Ética do
Cuidado de Si
Como Prática
de Liberdade

1. FOUCAULT, M. Da arqueologia à dinástica. In: FOUCAULT, M. Ditos e Escritos IV: estratégia, poder-
saber. 3 ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2012. p. 46-58.
2. FOUCAULT, M. Sobre a Arqueologia das Ciências. Resposta ao círculo de Epistemologia. In:
FOUCAULT, M. Ditos e Escritos II: Arqueologia das ciências e história dos sistemas de
pensamento. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2005. p. 82-118.
3. FOUCAULT, M. Verdade e Poder. In: FOUCAULT, M. Microfísica do Poder. 27. ed. São Paulo: Graal,
2013. p. 35-54.
4. FOUCAULT, M. Nietzsche, a Genealogia e a História. In: FOUCAULT, M. Microfísica do Poder. 27. ed.
São Paulo: Graal, 2013. p. 55-86.
5. FOUCAULT, M. Poder-Corpo. In: FOUCAULT, M. Microfísica do Poder. 27. ed. São Paulo: Graal, 2013.
6. FOUCAULT, M. A governamentalidade. In: FOUCAULT, M. Microfísica do Poder. 27. ed. São Paulo:
Graal, 2013. p. 407-431.
7. FOUCAULT, M. O Uso dos Prazeres e as Técnicas de Si. In: FOUCAULT, M. Ditos e Escritos V: ética,
sexualidade, política. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2012. p. 187-211.
8. FOUCAULT, M. A Ética do Cuidado de Si como Prática de Liberdade. In: FOUCAULT, M. Ditos e
Escritos V: ética, sexualidade, política. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2012. p. 258-280.

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Parabéns! Você cruzou a linha de chegada
desta jornada!

Respire fundo e sinta essa sensação de dever


cumprido.

Fico muito feliz que você se dedicou a ler o


que eu me dediquei a escrever para você.
Você tem nas mãos uma criação cheia de
empenho, cuidado e sonhos.

Obrigada por fazer parte disto. Estou


enviando daqui a minha gratidão e carinho
para você.

Desejo que esta leitura tenha motivado você


a querer aprender ainda mais sobre Foucault
daqui para frente.

Vou adorar se você me enviar um direct ou


email contando o que este livro digital fez por
você. O seu feedback é fundamental!

Abraços,

Nathássia, do Descomplica Foucault.

Email: contato@descomplicafoucault.com.br

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Caderno de citações de Michel Foucault
utilizadas no Guia Primeiros Passos

Página 7
"Mas o que é filosofar hoje em dia - quero dizer, a
atividade filosófica - senão o trabalho crítico do
pensamento sobre o pensamento? Se não consistir
em tentar saber de que maneira e até onde seria
possível pensar diferentemente em vez de legitimar o
que já se sabe?" (FOUCAULT, 2020, p. 14).
FOUCAULT, Michel. História da sexualidade II: o uso
dos prazeres. 8. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2020.

Página 10
“Não me pergunte quem sou e não me diga para
permanecer o mesmo.” (FOUCAULT, 2002, p. 20).
FOUCAULT, Michel. Arqueologia do saber. 6. ed. Rio de
Janeiro: Forense Universitária, 2002.

Página 13
"Sou um experimentador, e não um teórico. Chamo
de teórico aquele que constrói um sistema global,
seja de dedução, seja de análise, e o aplica de maneira
uniforme a campos diferentes. Não é o meu caso. Sou
um experimentador no sentido em que escrevo para
mudar a mim mesmo e não mais pensar na mesma
coisa que antes." (FOUCAULT, 2010, p. 290).
FOUCAULT, Michel. Ditos e escritos, volume VI:
repensar a política. Rio de Janeiro: Forense
Universitária, 2010.

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Página 14
“Se eu tivesse de escrever um livro para comunicar o
que já penso, antes de começar a escrevê-lo, não teria
jamais a coragem de empreendê-lo. Só o escrevo
porque não sei, ainda, exatamente o que pensar sobre
essa coisa em que tanto gostaria de pensar.”
(FOUCAULT, 2010, p. 289).
FOUCAULT, Michel. Ditos e escritos, volume VI:
repensar a política. Rio de Janeiro: Forense
Universitária, 2010.

Página 20
"Eu sou um pirotécnico. Fabrico alguma coisa que
serve, finalmente, para um cerco, uma guerra, uma
destruição. Não sou a favor da destruição, mas sou a
favor de que se possa passar, de que se possa avançar,
de que se possa fazer caírem os muros." (FOUCAULT,
2006, p. 69).
FOUCAULT, Michel. Eu sou um pirotécnico. In:
FOUCAULT, Michel. Entrevistas Roger Pol-Droit. São
Paulo: Graal, 2006. p. 69-100.

Página 25
"É que o saber não é feito para compreender. Ele é
feito para cortar." (FOUCAULT, 2013, p. 73).
FOUCAULT, Michel. Nietzsche, a genealogia e a história.
In: FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. 27. ed. São
Paulo: Graal, 2013. P. 55-86.

75
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Página 28
“O discurso, assim concebido, não é a manifestação,
majestosamente desenvolvida, de um sujeito que
pensa, que conhece, e que o diz: é, ao contrário, um
conjunto em que podem ser determinadas a
dispersão do sujeito e sua descontinuidade em
relação a si mesmo. É um espaço de exterioridade em
que se desenvolve uma rede de lugares distintos.”
(FOUCAULT, 2013, p. 66).
FOUCAULT, Michel. A arqueologia do saber. 8. ed. Rio
de Janeiro: Forense Universitária, 2013.

Página 33
“O discurso não é simplesmente aquilo que traduz as
lutas ou os sistemas de dominação, mas aquilo
porque, pelo que se luta, o poder do qual nos
queremos apoderar.” (FOUCAULT, 1996, p. 10-11)
FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. São Paulo:
Loyola, 1996.

Página 37
“Não há relação de poder sem constituição correlativa
de um campo de saber, nem saber que não suponha e
não constitua ao mesmo tempo relações de poder.”
(FOUCAULT, 2010, p.30).
FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da
prisão. 38. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010.

76
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Página 39
“A genealogia é cinza; ela é meticulosa e
pacientemente documentária. Ela trabalha com
pergaminhos embaralhados, riscados, várias vezes
reescritos.” (FOUCAULT, 2013, p. 55).
FOUCAULT, Michel. Nietzsche, a genealogia e a história.
In: FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. 27. ed. São
Paulo: Graal, 2013. P. 55-86.

Página 41
“A genealogia, como análise da proveniência, está,
portanto, no ponto de articulação do corpo com a
história. Ela deve mostrar o corpo inteiramente
marcado de história e a história arruinando o corpo.”
(FOUCAULT, 2013, p. 65).
FOUCAULT, Michel. Nietzsche, a genealogia e a história.
In: FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. 27. ed. São
Paulo: Graal, 2013. P. 55-86.

Página 44
“Esses métodos que permitem o controle minucioso
das operações do corpo, que realizam a sujeição
constante de suas forças e lhes impõem uma relação
de docilidade utilidade, são o que podemos chamar
as ‘disciplinas’.” (FOUCAULT, 2010, p.133).
FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da
prisão. 38. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010.

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Página 45
“[...] deveríamos falar de ‘bio-política’ para designar o
que faz com que a vida e seus mecanismos entrem no
domínio dos cálculos explícitos, e faz do poder-saber
um agente de transformação da vida humana [...]”
(FOUCAULT, 1988, p. 155).
FOUCAULT, Michel. História da sexualidade I: a
vontade de saber. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1988.

Página 46
“As disciplinas do corpo e as regulações da população
constituem os dois pólos em torno dos quais se
desenvolveu a organização do poder sobre a vida.”
(FOUCAULT, 2012, p. 131).
FOUCAULT, Michel. História da sexualidade I: a
vontade do saber. 22. ed. Rio de Janeiro: Graal, 2012.

Página 49
"[...] atravessei uma espécie de experiência física do
poder, das relações entre o corpo e o poder."
(FOUCAULT, 2016, p. 89)
FOUCAULT, Michel. Entrevistas Roger Pol-Droit. São
Paulo: Graal, 2016.

78
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Página 52
“A verdade é deste mundo; ela é produzida nele
graças a múltiplas coerções e nele produz efeitos
regulamentados de poder.” (FOUCAULT, 2013, p. 52).
FOUCAULT, Michel. Verdade e Poder. In: FOUCAULT,
Michel. Microfísica do Poder. 27. ed. São Paulo: Graal,
2013. p. 35-54

Página 54
"O que é esse jogo do eu mesmo ou esse jogo do si
mesmo no interior de procedimentos de verdade?"
(FOUCAULT, 2014, p. 63).
FOUCAULT, Michel. Do governo dos vivos: curso no
Collège de France (1979-1980). São Paulo: Editora WMF
Martins Fontes, 2014.

Página 58
“[...] pressupostos ou prescritos aos indivíduos para
fixar sua identidade, mantê-la ou transformá-la em
função de determinados fins, e isso graças a relações
de domínio de si sobre si ou de conhecimento de si
por si.” (FOUCAULT, 1997, p.109).
FOUCAULT, Michel. Resumo dos cursos do Collège de
France (1970-1982). Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora,
1997.

79
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Página 60
"Seria possível, assim, retomar num outro aspecto a
questão da ‘governamentalidade’: o governo de si por si
na sua articulação com as relações com o outro (como é
encontrado na pedagogia, nos conselhos de conduta, na
direção espiritual, na prescrição dos modelos de vida
etc.)." (FOUCAULT, 1997, p. 111).
FOUCAULT, Michel. Resumo dos cursos do Collège de
France (1970-1982). Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora,
1997.

Página 64
“E há um outro lado das prescrições morais, que na
maioria das vezes não está isolado como tal, mas que é,
acredito, muito importante: o tipo de relação que se deve
ter consigo mesmo, rapport à soi, que eu chamo de ética e
que determina a maneira pela qual o indivíduo deve se
constituir como o sujeito moral de suas próprias ações.”
(FOUCAULT, 2010, p.307).
FOUCAULT, Michel. Michel Foucault entrevistado por
Hubert L. Dreyfus e Paul Rabinow. In: DREYFUS, Hubert L.
Michel Foucault: uma trajetória filosófica: para além do
estruturalismo e da hermenêutica. 2. ed. rev. Rio de
Janeiro? Forense Universitária, 2010.p. 296-342.

80
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Página 66
“Assim, não é o poder, mas o sujeito, que constitui o
tema geral de minha pesquisa.” (FOUCAULT, 2010,
p.274).
FOUCAULT, Michel. O sujeito e o poder. In: DREYFUS,
Hubert L. Michel Foucault: uma trajetória filosófica:
para além do estruturalismo e da hermenêutica. 2. ed.
rev. Rio de Janeiro? Forense Universitária, 2010.p. 273-
295.

Página 69
“Três domínios da genealogia são possíveis. Primeiro,
uma ontologia histórica de nós mesmos em relação à
verdade através da qual nos constituímos como
sujeitos de saber; segundo, uma ontologia histórica
de nós mesmos em relação a um campo de poder
através do qual nos constituímos como sujeitos de
ação sobre os outros; terceiro, uma ontologia
histórica em relação à ética através da qual nos
constituímos como agentes morais.” (FOUCAULT,
2010, p.307).
FOUCAULT, Michel. Michel Foucault entrevistado por
Hubert L. Dreyfus e Paul Rabinow. In: DREYFUS, Hubert
L. Michel Foucault: uma trajetória filosófica: para além
do estruturalismo e da hermenêutica. 2. ed. rev. Rio de
Janeiro? Forense Universitária, 2010.p. 296-342.

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