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RESUMO PREFÁCIO HISTÓRIA DA LOUCURA (FOLIE ET DÉRAISON -

LOUCURA E DESRAZÃO)
No primeiro prefácio de sua obra “História da loucura na idade clássica” (1961),
Michael Foucault define pontos iniciais acerca da forma e intuito com qual aborda sua
tese. É explicado que em sua obra se avalia o momento de separação entre loucura e
razão, intuindo não uma observação dos resultados de tal movimento ou então da
ciência que daí surge, mas sim do gesto separador em si. Uma ressalva feita é que,
mesmo estudada a separação entre razão e aquilo que não o é, não devem daí serem
retiradas conclusões terminais, mas sim a evidenciação desse processo em sua repetição
histórica.
Assim, Foucault entende que é possível enxergar esse momento inicial, no qual
razão e loucura teriam sido fundidas, indissociáveis; nesse momento, suas existências
poderiam ser negadas, já que surgiriam como tais apenas a partir do processo de
separação. Em seguida, explica que foi no século XVIII que a separação total e o fim do
diálogo entre razão e loucura se dá, na medida em que nesse período é que a loucura é
apreendida discursivamente enquanto doença mental.
Adiante, se faz uma análise histórica em que se evidencia a diferença da relação
entre razão e desrazão na sociedade europeia medieval e a grega antiga. Para o autor, na
Grécia a primeira não possuía um contrário e seu contato com a segunda estendia-se
para além da condenação; à essa conceituação Foucault contrapõe a noção medieval, a
qual possuiria tais traços. A partir desse momento, é levantada a questão acerca de onde
se chegaria com uma investigação que opusesse a cultura com aquilo que ela nega e
exterioriza, movimento este que seria constitutivo de sua própria história.
Nesse sentido, Foucault exemplifica algumas outras divisões constitutivas da
cultura nas quais enxerga origens, exemplificando o caso da cisão entre Ocidente e
Oriente, a conexão entre o sonho e o questionamento humano de sua verdade e a
história dos interditos sexuais.
Acerca da própria existência da cultura e história ocidentais, no prefácio em
questão, Foucault entende que ambas são produto de uma negação originária, a qual
lhes conformaria não apenas o surgimento, mas também sua estrutura e condições. Para
o autor, é no silenciamento das produções de uma entidade declarada como diferente de
si própria que a história se forma plena. Logo, a razão fundamenta-se na loucura, na
recusa de algo que, posteriormente, é tachado de sem-sentido, e é esse movimento que o
autor pretende tomar como objeto de sua obra. Isto posto, a tese objetiva o estudo das
estruturas, instituições, medidas jurídicas e policiais e conceitos científicos os quais,
ainda que não permitem observar a Loucura em seu estado primitivo anterior à sua cisão
da Razão, o fazem com o confronto histórico que separa as duas.
A partir dessa constatação, Foucault vai mais além, e delimita um período de
transição no qual a desrazão teria se transformado, passando de uma concepção
humanista para a visão atual, que confinaria a loucura como doença mental; esse
período se inicia na idade Média e se estende aos dias atuais. Aqui, o autor declara que é
a partir do momento em que a loucura é diminuída a mera desviante da razão que a
relação do ser humano consigo mesmo criaria as condições necessárias para o
surgimento da própria psicologia.
Ao fim, Foucault volta a explicar aspectos da forma de abordagem de seu objeto.
O filósofo deixa claro que dar voz às obras ou produções recusadas por essa razão
ocidental faz parte de sua tese, e que, para tanto, lança mão de uma linguagem que
objetive distanciar a moralização inerente à própria história ocidental. Ou seja, Foucault
busca sempre referenciar Razão e Loucura uma a partir da outra, de uma forma relativa,
pois é isto que possibilitaria construir uma teoria válida do que é racional, logo o Ser
Humano pode conhecer se tiver como objeto a loucura. Logo o que se tem é uma crítica
a como o método científico moderno lida com a loucura, para que possa se ter a loucura
como uma mediadora entre a razão e a verdade, para que assim se possa retirar as
ilusões que os saberes acabam por criar.

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