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Boletim Academia Paulista de Psicologia, São Paulo, Brasil - V. 41, nº100, p.

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TREINO DE CONTROLE DO STRESS DE LIPP:


UMA REVISÃO INTEGRATIVA DE LITERATURA
Lipp’s Stress Control Training: An Integrative Literature Review
Capacitación sobre el control del estrés de Lipp: una revisión de la literatura integradora
Ana Luísa da Silva Ramalho Cavalcanti14
Maria Fernanda Bagarollo15
Marilda E. Novaes Lipp (Cad.7)16
Ana Carolina Constantini17

Resumo: O stress em excesso pode ser prejudicial. Com o intuito de capacitar as pessoas a manejarem o stress de
forma saudável, o Treino de Controle do Stress de Lipp foi desenvolvido. Vários estudos foram realizados utilizando
este modelo, mas não se encontrou na literatura uma revisão que tratasse da sua eficácia em diversas populações. O
objetivo deste trabalho foi de realizar uma revisão integrativa da literatura sobre o Treino de Controle do Stress de Lipp
para verificar sua eficácia. Fez-se uso das bases de dados Scientific Eletronic Library Online (SciELO), Literatura Latino-A-
mericana e do Caribe em Ciências da Saúde e US National Library of Medicine National Institutes of Health, utilizando
dois descritores em saúde “estresse psicológico” e “terapia cognitiva” e a palavra-chave “Treino de Controle do Stress”.
Os resultados são compostos por cinco artigos e neles, pode-se observar que o Treino de Controle do Stress de Lipp foi
aplicado em populações distintas, sofreu adaptações e foi eficaz na redução do stress. Conclui-se que é um modelo útil
para o tratamento do stress. Ressalta-se a importância de psicólogos clínicos, que utilizam o protocolo, publicarem seus
dados para que se tenha uma compreensão mais profunda do mecanismo pelo qual o stress é reduzido.

Palavras-chave: estresse; stress psicológico; Terapia Cognitivo-Comportamental; treino de controle do stress.

Abstract: Excessive stress can be prejudicial. Lipp’s Stress Control Training was developed with a view to preparing indi-
viduals to deal with stress in a healthy way. Various studies have been conducted using this model, however, no reviews
have been found in the literature addressing its efficacy across different populations. The aim of this paper is to conduct
an integrative review of the literature on Lipp’s Stress Control Training to ascertain its efficacy. A search of the following
databases was conducted: Scientific Electronic Library Online (SciELO), Latin American and Caribbean Health Sciences
Literature (LILACS) and the US National Library of Medicine National Institutes of Health, utilizing two health descriptors,
namely “psychological stress” and “cognitive therapy” and the keyword “Stress Control Training”. The result was a total
of five articles in which it can be seen that Lipp’s Stress Control Training has been applied to different populations, albeit
with some modifications, and that it was indeed effective in reducing stress. It may be concluded that it is a useful model
for treating stress. It is fundamental that clinical psychologists who use this protocol publish their data so that a more
profound understanding of the mechanism through which stress is diminished can be obtained.

Keywords: stress; psychological stress; Cognitive Behavioral Therapy; stress management training.

Resumen: El estrés excesivo puede ser perjudicial. Con la intención de capacitar a las personas para que manejen el
estrés de manera segura, se desarrolló el Entrenamiento de Control del Estrés de Lipp. Después de la creación de este
protocolo, se realizaron varios estudios utilizando este modelo, pero no se encontró en la literatura una revisión que
abordara su efectividad en diferentes poblaciones. El objetivo de este trabajo es realizar una revisión integradora de la
literatura sobre el Entrenamiento de Control del Estrés de Lipp para verificar su efectividad. Se utilizaron las bases de
datos Scientific Electronic Library Online, Literatura Latinoamericana y del Caribe en Ciencias de la Salud y US National
Library of Medicine National Institutes of Health, utilizando dos descriptores de salud, “estrés psicológico” y “terapia
cognitiva” y la palabra clave, “entrenamiento de control del estrés”. Los resultados se componen de cinco artículos, y en
ellos, se puede observar que el Entrenamiento de Control del Estrés de Lipp se aplicó en diferentes poblaciones, sufrió
adaptaciones y fue eficaz en la reducción del estrés. Se concluyó que es un modelo útil para el tratamiento del estrés. Es
14
Universidade Estadual de Campinas, Campinas, Brasil. Endereço: Avenida Senador Salgado Filho, 1656, Tirol, Natal, RN. Condomínio Tirol Way Stylo, apto.403.
CEP: 59022-000. E-mail: analuisadasilvaramalho@gmail.com. ORCID https://orcid.org/0000-0002-5650-7009.
15
Universidade Estadual de Campinas, Campinas, Brasil. Endereço: Avenida Santino Faraone, 1200, Iate Clube de São Paulo, Americana, SP. Rua A, casa 94.
CEP: 13475-600. E-mail: mbagarollo@fcm.unicamp.br.
16
PhD em Psicologia pela George Washington University, Pós-doutorado pelo National Institute of Health em estresse social, membro da Academia Paulista de Psicologia
(Cadeira número 7 Oscar Freire). Endereço: Rua Camargo Paes, 538 Guanabara, Campinas, SP. E-mail: mlipp@estresse.com.br . ORCID: 0000-0002-9118-3169.
17
Universidade Estadual de Campinas, Campinas, Brasil. Endereço: Avenida Tessália Vieira de Camargo, 126, Cidade Universitária, Campinas, SP. CEP: 13083-887.
E-mail: aconstantini@fcm.unicamp.br. ORCID https://orcid.org/0000-0002-0387-5166.
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importante mencionar la importancia de psicólogos clínicos, que utilizan el protocolo, publicaren sus datos para se tener
una comprensión más profunda del mecanismo por el cual el estrés es reducido.

Palabras-clave: estrés; estrés psicológico; Terapia Cognitivo-Conductual; entrenamiento para manejo del estrés.

Introdução eventos que quebrem a homeostase interna do indi-


víduo. Porém, o mesmo evento pode ou não se cons-
O conceito do stress é antigo, desenvolvido por tituir em um estressor para cada indivíduo, devido
Selye em 1936. Sua manifestação se dá quando o a uma série de fatores, inclusive a interpretação que
indivíduo ultrapassa seus limites de suportar os a ele é dada (Lazarus, 1999). Além da interpretação,
agentes estressores, sejam eles internos ou externos outros determinantes do desenvolvimento do stress
(Selye, 1976). Mesmo antes de uma conceituação incluem: o repertório de estratégias de coping, a con-
cientificamente definida e do próprio surgimento do dição física e mental da pessoa no momento, experi-
termo “stress”, os seres humanos compartilhavam a ência prévia com situações semelhantes, entre outros
experiência de sintomas em comum e percebiam a di- (Lipp,2017). O stress pode ser oriundo de fontes ex-
ferença no seu bem-estar ao enfrentar determinadas ternas ou internas. As externas são originadas por
situações, como doenças, trabalho excessivo e outras ocorrências do cotidiano ou por pessoas que fazem
(Selye 1976). Em suas pesquisas, Selye (1946,1950) parte da vida da pessoa, como por exemplo, doenças,
denominou essa sintomatologia de “Síndrome de problemas familiares, acidentes, trabalho exaustivo
Adaptação Geral” (SAG), na qual observou que o cor- e outros (Lipp, 1998). Importante ressaltar que não
po não apresenta capacidade adaptativa infinita, ou são somente os eventos negativos que ocasionam o
seja, em determinado momento perde a capacidade stress. Alguns positivos também, uma vez que exigem
de se adaptar, o que gera consequências negativas adaptações, sendo fontes externas positivas de stress
na saúde do indivíduo. O interesse nos conhecimen- (Lipp, 2000b).
tos aprofundados sobre stress cresceu em virtude da As fontes internas surgem da forma como se pen-
primeira e segunda Guerra Mundial, principalmen- sa e do modo como se percebe e interpreta os aconte-
te devido à preocupação com relação ao bem-estar e cimentos. Referem-se às crenças, valores e persona-
o desempenho dos soldados nos campos (Lazarus, lidade totalmente estabelecidas pela própria pessoa,
1999). Porém, a definição do termo “stress” nem sem- constituindo o seu modo de ser (Lipp, 1996). Lipp,
pre ocorreu de forma clara, havendo inconsistências Pereira e Sadir (2005), indicam que as crenças não
entre o senso comum e o que propunha a literatura saudáveis têm grande influência na geração de stress,
especializada oferece. Selye (1956) propôs que stress como fontes internas. Essas autoras indicam que há
pode ser definido como uma resposta não específica uma maior dificuldade em se perceber os estressores
do organismo a qualquer demanda, uma vez que não internos, pelo fato deles não serem facilmente apa-
existe vida sem uma demanda energética que gera o rentes e também porque muitas vezes, os indivíduos
stress. Mais recentemente, Lipp (2017) definiu stress não conseguem identificar que sua visão de mundo
como uma condição de desequilíbrio das funções ge- pode não ser saudável e, assim, se tornar uma fonte
rais corpóreas, desenvolvida por situações difíceis e de stress.
particulares vivenciadas por cada indivíduo. O stress Selye (1956) identificou três estágios referentes
surge como uma tentativa de resistir à uma ameaça, a Síndrome de Adaptação Geral (SAG): alarme, resis-
seja ela real ou imaginária, buscando alcançar o equi- tência e exaustão; dando origem ao modelo trifási-
líbrio corporal e mental (Lipp, 2017). O desequilíbrio co do stress. Lipp (2000a, 2004; Lipp, M. & Lipp, L,
leva o organismo a fazer uso dos seus recursos psi- 2019) desenvolveu um modelo quadrifásico do stress,
cológicos e biológicos com o objetivo de lidar com a acrescentando uma nova fase ao modelo estabeleci-
demanda existente. Porém, quando não se consegue do por Selye e criando, assim, o modelo quadrifásico
mais lidar de forma saudável com o desafio, o orga- com as etapas: (1) alerta; (2) resistência; (3) quase-
nismo pode sofrer prejuízos a sua saúde global (Lipp, -exaustão; e (4) exaustão.
2017). Lipp, M. e Lipp, L. (2019), apontam que a fase de
As situações desafiadoras ou agentes estressores, quase exaustão se localiza entre a resistência (quan-
ou seja, tudo o que gera stress, podem ser quaisquer do a pessoa de um modo ou de outro consegue lidar
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com os estressores presentes) e a fase mais grave de observações de vários anos de pesquisa clínica so-
exaustão (quando não se tem mais recursos adapta- bre stress e estilos de vida estressantes. O TCS se
tivos disponíveis). A quase exaustão, de acordo com fundamenta na identificação e modificação das fon-
estes autores, representa o limiar do adoecimento. tes internas de stress através de uma reestruturação
No Manual Diagnóstico e Estatístico dos Trans- cognitiva e tem por objetivo geral mudar os hábitos
tornos Mentais, American Psychiatry Association de vida e padrões cognitivos e comportamentais pre-
(APA, 2014), o stress, como visto no presente artigo, judiciais à saúde, baseando-se em quatro dimensões:
recebe a designação de transtorno de adaptação de atividade física, nutrição antistress, treino de relaxa-
acordo com critérios diagnósticos específicos. Os tra- mento, tanto físico quanto mental, e regulação emo-
tamentos de stress citados na literatura variam, indo cional que envolve mudança em padrões cognitivos e
desde os baseados na medicina tradicional chinesa, comportamentais. Trata-se de um tratamento focal
como acupuntura e ventosa terapia, terapias alterna- de duração breve, variando de 8 a 12 sessões, indi-
tivas e tratamentos psicológicos. Sousa (2019) alega viduais ou em grupo (Lipp, 2017). Sua base teórica e
que a ventosaterapia é capaz de reduzir os sintomas prática se enquadra no âmbito da terapia cognitivo-
do stress do paciente, pois promove sensação de -comportamental. O pressuposto do TCS é que mo-
bem-estar e relaxamento, assim como a acupuntura dos estereotipados, inflexíveis e ilógicos de pensar
também foi considerada eficaz na redução dos sinto- poderiam ser fontes geradoras de conflitos, de stress
mas do stress (Zatesko, & Ribas-Silva, 2016). Doria, e de distúrbios emocionais e/ou transtornos mentais
Lipp e Silva (2012) também relatam que a acupun- capazes de produzir doenças psicofisiológicas, de-
tura reduz os sintomas do stress, visando os efeitos pendendo das vulnerabilidades genéticas existentes.
imediatos, mas que é também importante trabalhar Assim, o TCS se fundamenta na identificação e mo-
a causa do stress e equipar a pessoa com estratégias dificação das fontes internas de stress através de uma
de enfrentamento. Abreu, Souza e Fagundes (2012) reestruturação cognitiva. Especificamente, o TCS de
indicam os benefícios da massoterapia na redução do Lipp tem caráter educativo e objetiva levar o indiví-
stress, mas também afirmam serem necessários mais duo a: (1) entender o que é o stress e identificar seus
estudos na área. sintomas; (2) reconhecer as fontes internas e exter-
O stress, quando severo e crônico pode ser o ele- nas de stress e tentar eliminá-las; (3) reestruturar a
mento catalizador de várias doenças físicas e mentais forma de pensar e ver o mundo; (4) lidar com a an-
(Araújo, Mattos, Almeida, & Santos, 2016). Consi- siedade; (5) ser assertivo, sem experimentar descon-
derando as consequências negativas que o stress de forto; (6) aprender a diminuir a excitabilidade física
forma continuada e grave pode trazer, é essencial e emocional, por meio da prática de respiração pro-
entender formas de prevenir e tratá-lo visando não funda e relaxamento; (7) aprender técnicas de mane-
somente a redução da tensão física e mental, como jo do stress para usá-las quando não se pode evitar a
é o foco da acupuntura, massagens e outros técnicas fonte do stress; (8) fazer uso do stress ao seu favor;
(Lipp, Malagris, & Novais, 2007). Principalmente (9) reconhecer os próprios limites e respeitá-los; e,
porque a sensibilidade ao stress acontece, na maioria (10) estabelecer prioridades e melhorar a qualidade
das vezes, de acordo com o modo como se interpreta de vida de modo geral (Lipp, 2017). Dificilmente,
os eventos que ocorrem na vida de cada um, sendo o stress é causado por um único fator. Geralmente é
assim, o tratamento psicológico torna-se indispensá- o efeito cumulativo de anos de diversos estressores
vel (Lipp, 2017). O modelo de tratamento do stress que desencadeiam o estado de tensão mental e física.
a ser discutido neste artigo foi inicialmente proposto Quando não se tem como eliminar a fonte principal
por Lipp em 1984 e intitula-se Treino de Controle do de geração de stress, o Treino de Controle do Stress
Stress (TCS). de Lipp envolve eliminar as outras fontes, mesmo es-
sas não sendo as mais relevantes, pois a carga de ten-
O Treino de Controle do Stress são presente será diminuída do nível total de stress.
(TCS) Quando não se tem como eliminar a fonte princi-
pal, a pessoa necessita encontrar meios de aceitá-la,
O TCS foi elaborado com base no treino de ino- pois isso faz parte do manejo do stress (Lipp, 2017).
culação de stress, de Meichenbaun (1985), da tera- O Treino de Controle do Stress de Lipp já foi utili-
pia racional-emotiva, de Ellis (1973) e em dados e zado em várias dissertações de mestrado e teses de
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doutorado (Brasio, 2000; Vilela, 2001; Tanganelli, Treino de Controle do Stress de Lipp, trabalhando ao
2001; Torrezan, 2009; Caversan, 2015), bem como fim, somente com os artigos que abordavam sobre o
várias outras pesquisas (Lipp, 2007). O objetivo ge- Treino de Controle do Stress de Lipp como um meio
ral deste artigo é apresentar uma revisão integrativa de tratamento para o stress. Em virtude da restrita
da literatura sobre o Treino de Controle do Stress de quantidade de artigos referentes ao Treino de Con-
Lipp para verificar a eficácia deste modelo terapêuti- trole do Stress de Lipp nessas bases, não foram utili-
co nas populações participantes dos estudos. zados os operadores booleanos para combinação dos
descritores da saúde (“Terapia Cognitiva” AND “Cog-
Método nitive Therapy” AND “Terapia Cognitiva” OR ‘Estresse
Psicológico’ AND ‘Stress, Psychological’ AND ‘Estrés
O presente artigo é uma revisão integrativa da li- Psicológico’), pois restringia ainda mais o acesso aos
teratura sobre a aplicação e eficácia do TCS de Lipp. artigos sobre o Treino de Controle do Stress de Lipp.
Foram realizadas duas etapas de seleção, sendo na
primeira, selecionados artigos referentes ao controle Resultados
do stress e na segunda artigos que falavam especifi-
camente do TCS de Lipp. Fez-se uso de dois descri- Com o uso do descritor da saúde “Estresse psi-
tores da saúde e de uma palavra-chave, nas bases de cológico” encontrou-se, na Scientific Eletronic Library
dados Scientific Eletronic Library Online, Literatura Online, 221 artigos. Destes, 10 são referentes ao con-
Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde trole do stress e nenhum sobre o Treino de Controle
e US National Library of Medicine National Institutes do Stress de Lipp. Na Literatura Latino-Americana e
of Health. A consulta foi realizada nos meses de mar- do Caribe em Ciências da Saúde, foram encontrados
ço e abril do ano de 2019. Os descritores de saúde 2820 artigos, sendo 57 sobre o controle do stress e
utilizados foram “estresse psicológico” e “terapia 1 referente ao Treino de Controle do Stress de Lipp.
cognitiva”. Em virtude de não haver algum descritor Na US National Library of Medicine National Institutes
referente especificamente ao Treino de Controle do of Health, foram encontrados 2 artigos com o descri-
Stress, utilizamos essa terminologia como palavra- tor, mas nenhum sobre o controle do stress e sobre o
-chave. Como critérios de inclusão da primeira eta- Treino de Controle do Stress de Lipp. Com o descri-
pa, os artigos podiam ser referentes a qualquer ano, tor da saúde “Terapia Cognitiva”, foram encontrados
qualquer língua, relacionados ao tema de controle do 49 artigos na Scientific Eletronic Library Online, sendo
stress, que estivessem disponíveis nas bases de dados 1 sobre o controle do stress e nenhum referente ao
citadas acima e que fossem possíveis ter acesso ao Treino de Controle do Stress de Lipp. Na Literatura
texto completo de forma gratuita pela Universidade Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saú-
Estadual de Campinas. A segunda etapa foi composta de, a busca resultou em 1093 artigos, sendo 8 rela-
por selecionar somente os artigos referentes a aplica- cionados ao controle do stress e 1 sobre o Treino de
ção do TCS em alguma população. Como critérios de Controle do Stress de Lipp. Na US National Library of
exclusão, não entraram artigos referentes ao Trans- Medicine National Institutes of Health, encontrou-se
torno de Estresse Pós-Traumático, pois o foco era so- 20 artigos, porém nenhum sobre controle do stress
bre o transtorno de adaptação não devido a traumas e ou o Treino de Controle do Stress de Lipp.
não entraram artigos de revisão da literatura. Utilizando as palavras-chave “Treino de Controle
Nas fases de busca e seleção dos artigos, iniciou- do Stress”, na Scientific Eletronic Library Online encon-
-se por pesquisar artigos fazendo uso dos descritores trou-se 1 artigo, referente tanto ao controle do stress
de saúde e palavras-chave citadas, nas bases de dados quanto ao Treino de Controle do Stress de Lipp. Na
mencionadas acima. Depois, os artigos foram sele- Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências
cionados com base nos critérios de inclusão e exclu- da Saúde, encontrou-se 23 artigos, sendo 8 sobre o
são estabelecidos acima, por meio da leitura e do re- controle do stress e 6 sobre o Treino de Controle do
sumo. Por fim, os artigos repetidos foram excluídos. Stress de Lipp. Na US National Library of Medicine Na-
Todas as etapas foram feitas por duas pesquisadoras tional Institutes of Health, capturou 4 artigos, porém
em computadores diferentes e em dias distintos. Op- nenhum deles fazia relação com o controle do stress e
tou-se por fazer duas etapas de seleções para conse- com o Treino de Controle do Stress de Lipp.
guir coletar o máximo de artigos possíveis sobre o Ao final da coleta, com base nos critérios de
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inclusão e exclusão e eliminando as duplicidades en- os resultados e discussão. A Tabela 1 discrimina os


contradas, tomou-se como resultado das buscas 5 ar- cinco artigos selecionados que serão analisados no
tigos sobre o TCS de Lipp que servirão de base para presente artigo.

Tabela 1: Artigos selecionados na revisão integrativa da literatura


Título, ano, local e Objetivo População Treino de Duração do Resultado Discussão
revista Controle do Treino de
Stress indivi- Controle do
dual ou grupal Stress
Lipp, M. E. N., O TCS para hiperten- Verificar a eficácia do 20 homens e Em grupo 5 sessões Eficaz na redução Há aumento da
Alcino, A. B., sos: uma contribuição TCS na redução da mulheres entre (10 pessoas por semanais de da reatividade pressão arterial
Bignotto, M. M., para a medicina com- reatividade cardiovas- 35 e 50 anos, grupo) 2:30h cada. cardiovascular de quando o indi-
& Malagris, L. E. portamental (1998); cular de hipertensos, hipertensos.12 hipertensos ao víduo é sujeito a
N. (1998). Campinas- SP; Revista gerada pelo stress de do sexo feminino stress social. um stress social.
Estudos de Psicologia. contatos interpes- e 8 do sexo
soais. masculino.

Brasio, K. M., Comparação entre três Comparar a eficácia 21 mulheres Em grupo 8 sessões Todas foram efi- Fatores psicoló-
Laloni, D. T., técnicas de inter- de três técnicas de in- acima de 20 anos, semanais de cazes na redução gicos podem ter
Fernandes, Q. P., venção psicológica tervenção psicológica: sendo 6 subme- 90 minutos do nível de stress, influência na ori-
& Bezerra, T. L. para tratamento da TCS, Relaxamento tidas ao Treino cada. na diminuição gem da doença
(2003). fibromialgia: TCS, rela- Progressivo e Reestru- de Controle do da ansiedade e e o stress pode
xamento progressivo e turação Cognitiva, Stress. depressão e no ser um fator
reestruturação cogniti- no tratamento da desenvolvimento coadjuvante.
va (2003); Campinas fibromialgia e stress, da assertividade.
– SP; Revista Ciências ansiedade, depressão,
Médicas. assertividade e cren-
ças irracionais.

Malagris, L. E. Evidências Avaliar o efeito do 69 mulheres de Grupo 12 sessões Reduziu o stress O stress e a
N., Brunini, T. Biológicas do Treino TCS em um grupo de 30 a 65 anos, em hipertensas es- diminuição
M. C., Moss, M. de Controle do Stress pacientes hipertensas. porém só 14 tressadas e restau- do transpor
B., Silva, P. J. A. em Pacientes com fizeram parte do rou o transporte de L-arginina
S., Esposito, B. Hipertensão (2009); Treino de Contro- de L-arginina. contribuem para
R., & Ribeiro, A. Rio de Janeiro – RJ; le do Stress. o aumento da
C. M. (2009). Revista Psicologia: pressão arterial.
Reflexão e crítica.

Lipp, M. N., & Influência do treino de Verificar a eficácia do 17 pessoas 17 treino em 10 sessões Foi eficaz na As relações
Sadir, M. A. controle do estresse TCS – adaptado para fizeram parte do grupo e 12 em grupais de 90 redução do nível interpessoais
(2013). nas relações inter- relações interpesso- TCS em grupo treino individual minutos cada e de stress, princi- tendem a gerar
pessoais no trabalho ais no trabalho e se (12 mulheres e 5 10 individuais palmente na apli- stress se não
(2013); Campinas – há diferença na sua homens) e 12 do de 60 minutos cação individual, houver habili-
SP; Revista o Mundo aplicação individual e TCS individual cada. de ansiedade, na dades sociais
da Saúde. em grupo. (8 mulheres e 4 reestruturação de suficiente para
homens). A faixa crenças irracionais lidar com elas.
etária variou de e para o treino
21 a 45 anos. assertivo.

Moxotó,G.F.A., Avaliação de Treino Investigar a eficácia 20 mulheres Individual 12 sessões O Treino de As demandas
& Malaris, de Controle do Stress de uma adaptação do entre 20 e 50 semanais de 60 Controle do inerentes a
L.E,N, para Mães de Crianças TCS para mães Crian- anos, sendo 10 minutos cada. Stress para Mães cuidar de um
(2015). com Transtorno do Es- ças com Transtorno submetida ao de Crianças com filho doente
pectro Autista (2015); do Espectro Autista Treino de Contro- Transtorno do são potenciais
Rio de Janeiro - RJ; na redução do stress le do Stress. Espectro Autista de geração de
Revista Psicologia: desta população. foi eficaz na redu- stress.
Reflexão e crítica. ção do stress das
mães de crianças
autistas.

Os temas das populações submetidas ao Treino de Controle do Stress foram hipertensão, fibromialgia,
relações interpessoais do trabalho e transtorno do espectro autista. O Treino de Controle do Stress foi aplica-
do predominantemente em mulheres, com uma população de idade mínima de 20 anos e máxima de 65 anos.
A quantidade de pessoas submetidas ao Treino de Controle do Stress variou de 6 a 29. No tempo de aplicação,
a duração dos estudos variou de 1,5 a 3 meses, com o tempo das sessões variando de 60 minutos a 2 horas e
30 minutos. Quatro estudos foram realizados em grupos e um individual.
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Discussão haver, contudo, pouco embasamento à época sobre o


controle do stress e a relação com a melhora da pres-
Dentre os cinco artigos selecionados, o primeiro, são arterial. Citam ainda a criação do Treino de Con-
publicado em 1998, foi voltado para a hipertensão trole do Stress, bem como a alta prevalência de casos
arterial. O intuito foi investigar se o Treino de Con- de hipertensão arterial na década de 90 (V Diretrizes
trole do Stress teria impacto na redução da reativi- Brasileiras de Hipertensão Arterial, 2006), sendo as
dade cardiovascular de hipertensos gerada pelo stress mais altas em Araraquara em 1990, 43,9% e em Co-
de contatos interpessoais (Lipp, Alcino, Bignotto, & tia em 1997 de 44%. Soma-se o fato de o III Consen-
Malagris, 1998). Ao longo dos anos e com respostas so Brasileiro de Hipertensão Arterial, publicado em
positivas na avaliação da eficácia do Treino de Con- 1998, demonstrar existir evidências de uma relação
trole do Stress de Lipp em pacientes hipertensos, seu do stress psicossocial na pressão arterial, apontando
uso foi ampliado para outras populações como em o fato de ainda não ter sido definido o papel do tra-
pacientes com retocolite ulcerativa (Brasio, 2000), tamento antiestresse e a utilização de técnicas com
relacionamento conjugal (Vilela, 2001), em mulheres o objetivo de modificar as respostas comportamen-
chefes de família (Tanganelli, 2001), em pessoas com tais em tratamentos de pacientes hipertensos. Isso
fibromialgia (Brasio, Laloni, Fernandes, & Bezerra, pode ter sido o motivador das autoras (Lipp, et al.,
2003), no impacto do resultado da gravidez (Torre- 1998) optarem por esse tema de estudo. Outro estu-
zan, 2009), em questões interpessoais nas relações do, dentre os coletados, também abordou a hiperten-
de trabalho (Lipp, & Sadir, 2013), em mulheres com são arterial. Nele os autores investigavam se o Treino
síndrome metabólica (Malagris, & Lipp, 2014), em de Controle do Stress provocaria evidência biológica
mães com filhos com o Transtorno do Espectro Au- nas pacientes hipertensas, aprofundando mais sobre
tista (Moxotó, & Malagris, 2015), em pacientes com esse tema (Malagris et al., 2009).
hepatite C em tratamento medicamentoso (Caver- Referente à escolha dos pesquisadores pelos te-
san, 2015), em mulheres idosas com síndrome me- mas dos artigos coletados, levanta-se a hipótese de
tabólica (Lipp, 2019) e em mulheres grávidas (Silva, que as condições abordadas representam fatores
& Lipp, 2019). Algumas hipóteses sobre o motivo dos capazes de gerar níveis altos de stress, como a fibro-
recortes populacionais feitos pelos autores podem mialgia (Ferreira, Marques, Matsutani, Vasconcellos,
ser levantadas. No artigo sobre a hipertensão na dé- & Mendonça, 2002); as relações interpessoais no tra-
cada de 90 as autoras (Lipp et al., 1998) apontam que balho (Camelo, & Angerami, 2008) e o diagnóstico de
os estudos de cientistas comportamentais, à época, Transtorno do Espectro Autista (Norte, 2017; Posar,
se voltam para tratamento e prevenção de patolo- & Visconti, 2017).
gias. Portanto, esse artigo traz uma contribuição da As áreas de pesquisa em que o TCS de Lipp foi
ciência do comportamento para a medicina compor- aplicado nos artigos coletados são fontes intensas de
tamental. stress. Uma vez que não é possível excluí-las da vida
É possível também que a escolha por esse tema de certos indivíduos, torna-se necessário instrumen-
tenha relação com o livro escrito em 1996 por Lipp talizá-las, por meio do Treino de Controle do Stress,
e Rocha (1996), o qual faz referência ao Treino de para a aceitação dos estressores impossíveis de se-
Controle do Stress de Lipp para hipertensos. Tal livro rem eliminados e em meios eficazes de manejá-los de
discorre sobre a hipertensão em seus diversos aspec- modo a ter uma vida de melhor qualidade. A título de
tos e sobre o tratamento não farmacológico da hiper- exemplo, o TCS foi aplicado em uma paciente grávida
tensão. Nele, se propõe um tratamento que é consti- (Silva, & Lipp, 2019), que já apresentava stress ligado
tuído de diversas etapas, com o objetivo de primeiro a demandas do dia a dia e que também o apresentou
ensinar o paciente hipertenso a reconhecer suas fon- na lide com a gravidez. Sintomas negativos começa-
tes internas e externas de stress e, em segundo lugar, ram a surgir, como ansiedade, dificuldade em con-
oferecer ao paciente estratégias para ou eliminar as trolar o peso, impulsividade e outros. A gravidez é
possíveis fontes do stress ou para aceitá-las, lidando um fato da vida, que pode ser interpretado de modo
com elas da forma mais saudável possível. positivo ou não. Vários fatores podem interferir
Além disso, Amodeo e Lima em 1996 relatam a nessa interpretação, internos e externos. O estudo
relação do stress com o aumento do estímulo simpá- aplicou o treino de controle de stress para gestan-
tico, podendo modificar a pressão arterial. Afirmam tes, objetivando o gerenciamento do stress e, assim
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contribuindo para uma gestação harmônica e sau- TCS permaneceu o mesmo em todos os estudos. Ou-
dável. Lipp, Malagris e Novais (2007) afirmam que tro fator comum aos estudos analisados é que em to-
certos eventos ocasionam mais stress em uma pessoa dos foi feita uma avaliação pré e pós TCS que permi-
do que em outras e cada indivíduo irá responder de tiu avaliar o nível de eficácia do mesmo. As avaliações
forma particular, assim, não necessariamente o que psicológicas feitas antes e após TCS fizeram uso dos
ocasiona stress para uma pessoa, o faz para outra. seguintes instrumentos: Inventário de Sintomas do
Na presente pesquisa, as fontes externas de stress Stress para Adultos (Lipp,2000), entrevista semies-
mencionadas nos artigos selecionados não obriga- truturada, materiais laboratoriais necessários para
toriamente foram geradoras do stress em todos os investigar o transporte de L-arginina em hemácias
indivíduos que as vivenciaram. Lipp, Malagris e No- (Malagris et al., 2009); Inventário de Habilidades so-
vais (2007) enfatizam que algumas doenças podem ciais (A Del Prette & Z Del Prette, 2018), Beck Anxie-
estar associadas ao stress. Essa afirmação conta com ty Inventory (Beck, Epstein, Brown, & Steer, 1988),
evidências científicas que apontam para a relação de inventário de crenças irracionais, inventário de afe-
stress mental com o desenvolvimento da hiperten- tividade, roteiro para entrevista para averiguação de
são arterial (Nóbrega, Castro, & Souza, 2007), da fi- habilidade social (Lipp, & Sadir, 2013) e no estudo
bromialgia e stress, não sendo esse a causa, mas sim de Brasio (2003) foi usado também um questionário
decorridos pela forma como a paciente está lidando para avaliar a dor . Estes instrumentos foram utiliza-
com a doença (Ferreira et al., 2002), das dificuldades dos em todos os estudos antes e após o TCS possibili-
interpessoais como fontes geradoras de stress no am- tando uma análise comparativa dos resultados antes
biente de trabalho (Sadir, & Lipp, 2009) e de pais de e após a intervenção. No estudo de Lipp (1998), após
crianças com Transtorno do Espectro Autista como a avaliação psicológica pré tratamento, foram realiza-
fonte de stress a eles, ocasionando uma sobrecarga das sessões experimentais para verificar a relação da
emocional (Fávero, & Santos, 2005). (in)assertividade com a pressão arterial dos partici-
Os artigos foram desenvolvidos por autoras rela- pantes. Para tal, foram utilizados monitores para ve-
cionados a Universidade Federal do Rio de Janeiro e a rificar a pressão, a escala de assertividade de Rathus,
Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Duas três fitas com descrições das cenas provocadoras de
das autoras possuíam relação com o Laboratório de stress e roteiro para sessões de role play. Algumas
Estudos Psicofisiológicos do Stress. Na Pontifícia das alterações realizadas no TCS, necessárias para
Universidade Católica, a responsável pela elaboração a população aplicada, foram: acréscimo do tema da
do Treino de Controle do Stress, Lipp, integrava o la- orientação sobre fibromialgia em Brasio et al. (2003),
boratório no qual os artigos foram desenvolvidos e a inclusão de dinâmicas que facilitassem a reflexão
outra autora trabalhava na Universidade Federal do dos temas pelos participantes, psicoeducação sobre
Rio de Janeiro. É possível perceber pela leitura dos Transtorno do Espectro Austista, explicações sobre o
artigos coletados, tanto os nacionais como os inter- modelo duplo ABC-X de adaptação familiar, ativida-
nacionais (Lipp, 2019; Malagris, & Lipp, 2014; Silva des físicas adaptadas à rotina peculiar de cada grupo,
e Lipp. 2019) que o Treino de Controle do Stress de treino de comunicação (Moxotó, & Malagris , 2015).
Lipp sofreu adaptações específicas para cada estudo, As características populacionais foram similares,
tais como: o tempo de duração total do TCS, a du- sendo o Treino de Controle do Stress aplicado em
ração da sessão, a abrangência, individual ou grupal adultos, com idade mínima de 20 anos e máxima de
e a quantidade de pessoas submetidas. Em alguns 65 anos. Foi direcionado para ambos os sexos, po-
estudos a duração total do Treino de Controle do rém com a predominância em mulheres. Em relação
Stress foi de um mês e meio, em outros chegou a três à qualidade metodológica, alguns artigos não espe-
meses, com o tempo das sessões variando de 60 mi- cificaram alguns itens como ser em grupo ou indivi-
nutos a duas horas e 30 minutos e a quantidade de dual e a reaplicação dos elementos pré e pós Treino
participantes variando de 6 a 29 pessoas. Acredita- de Controle do Stress, subentendendo-se pela leitu-
-se que essa variação ocorreu devido à necessidade ra que tais medidas haviam sido feitas. Além disso,
de adaptação do TCS à cada população específica e ao não houve uma padronização do TCS em termos de
ambiente no qual se encontravam para desenvolver alguns detalhes, pois, cada pesquisador o adaptou a
o Treino de Controle do Stress. Importante enfatizar sua população, no que se refere a uma certa quanti-
que, apesar dessas adaptações, o conteúdo clinico do dade de sessões e tempo de duração da sessão, além
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de incrementar outros temas nas sessões que antes transporte aos níveis semelhantes aos das hiperten-
não estavam estipuladas no TCS. Porém, todos os sas não estressadas. Afirmam que o Treino de Con-
artigos foram fiéis à metodologia cientifica desen- trole do Stress pode ser um importante tratamento
volvida, utilizando inteiramente o conteúdo do TCS, coadjuvante ao medicamentoso para hipertensos. O
o que produziu uma boa aplicabilidade e resultados estudo confirma a relação do stress com a hiperten-
eficazes. são. Com o Treino de Controle do Stress, houve a re-
Em relação as limitações longitudinais, somente dução do stress nas pessoas hipertensas, das 14 que
um artigo (Malagris et al., 2009) menciona que vá- participaram, 71.4% deixaram de apresentar stress.
rias pacientes não aderiram ao Treino de Controle do Na pesquisa de Lipp e Sadir (2013), sobre relacio-
Stress por conta da duração. Relatando que das hi- namentos interpessoais, o TCS se mostrou eficaz na
pertensas estressadas só 14 dentre as 32 avaliadas se redução do nível de stress, de ansiedade, na reestru-
prontificaram a comparecer as 12 sessões do Treino turação de crenças irracionais e no comportamento
de Controle do Stress. Os demais artigos não men- assertivo. Houve melhora significativa na habilidade
cionam nenhuma limitação longitudinal. Um artigo social. O TCS foi eficaz para melhorar os relaciona-
internacional sobre o Treino de Controle do Stress mentos interpessoais e as habilidades sociais de for-
(Malagris, & Lipp, 2014), aborda que 7 pacientes ma geral e diminuir o stress. Na pesquisa intitulada
dentre as 39 do estudo não concluíram o Treino. Treino de Controle do Stress com Mães de crianças
A eficácia do Treino foi demonstrada em todos os com Transtorno do Espectro Autista (Moxotó, & Ma-
artigos. Na pesquisa de Lipp et al. (1998) foi verifi- lagris, 2015), foi possível verificar que das dez parti-
cado que o stress social pode afetar a pessoa hiper- cipantes do grupo experimental, uma estava em fase
tensa e que o TCS ajuda na redução da relatividade de resistência (10%) e nove estavam em fase de quase
cardiovascular. Após o TCS, a pressão arterial foi exaustão (90%). Já no grupo controle, cinco partici-
significantemente menor do que antes do Treino de pantes estavam em fase de resistência (50%) e cinco
Controle do Stress. Além disso, os pacientes conse- em fase de quase exaustão (50%). Após o Treino de
guiram normalizar a pressão arterial durante os 10 Controle do Stress, dentre as dez participantes do
minutos finais do estudo, mostrando que o Treino grupo experimental, sete estavam sem stress (70%) e
de Controle do Stress foi eficaz na redução da excita- três estavam em resistência (30%). Já no grupo con-
bilidade emocional durante o stress social. O Treino trole, as dez participantes continuavam estressadas,
de Controle do Stress é eficaz na redução da reativi- sendo seis em fase de resistência (60%) e quatro em
dade cardiovascular de hipertensos ao stress social fase de quase exaustão (40%). Foi possível observar a
e auxilia a reduzir o tempo de recuperação após os redução nas fases do stress dentre as participantes do
episódios de stress. Em Brasio et al. (2003), no item grupo experimental. Quanto às avaliações de follow
reestruturar cognitivamente as crenças irracionais e up, somente cinco participantes que haviam sido
no que se refere à assertividade, os objetivos foram diagnosticadas sem stress após a intervenção, com-
alcançados. Os pacientes começaram a apresentar pareceram para a primeira avaliação e só quatro fo-
respostas mais assertivas, indicando que o Treino de ram para a segunda e todas elas se mantiveram sem
Controle do Stress proporcionou o início de uma mu- stress. O objetivo do estudo foi atingido, pois houve
dança dos comportamentos desadaptados. Na pes- redução do stress em mães de filhos com Transtorno
quisa de Brasio et al. (2003), o Treino de Controle do do Espectro Autista por meio do Treino de Controle
Stress atingiu o objetivo de reduzir o nível de stress do Stress -Mães de crianças com Transtorno do Es-
dos pacientes com fibromialgia, sendo parcialmente pectro Autista.
eficaz no tratamento da fibromialgia. A revisão de literatura realizada colaborou para
Malagris et al. (2009) concluíram que o Treino demonstrar a eficácia do método intitulado Treino
de Controle do Stress foi efetivo no que se refere a de Controle do Stress na eliminação ou redução do
produzir alterações biológicas favoráveis ao nível de stress, em diferentes populações, apesar das variações
transporte celular do aminoácido L-arginina, pre- na sua aplicação. É importante observar que se con-
cursor do óxido nítrico, que é um vasodilatador. Os siderando o método escolhido e as bases de pesquisa
resultados obtidos demostram que o stress reduziu consultadas, obteve-se uma restrita quantidade de
o transporte de L-arginina em eritrócitos das hi- artigos publicados sobre a aplicação do TCS, sendo
pertensas estressadas e que o TCS recuperou esse selecionados somente cinco artigos. Porém, tem-se o
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conhecimento de várias teses, dissertações, capítu- Conclusão


los de livros e artigos internacionais sobre o tema.
Alguns artigos internacionais de relevância que, por Com base na coleta de dados realizada no presen-
não constarem das bases pesquisadas no presente es- te trabalho, com o método escolhido, foi encontrado
tudo, não entraram na presente análise, como, por um número restrito de artigos referentes à aplicação
exemplo, a aplicação do Treino de Controle do Stress do Treino de Controle do Stress de Lipp. Os artigos
em mulheres com síndrome metabólica (Malagris, & mostraram que o Treino de Controle do Stress de
Lipp, 2014), que teve o intuito de verificar se o Treino Lipp foi aplicado em populações diversas, composta
de Controle do Stress traria alterações benéficas nos por ambos os sexos, embora tenha sido predominan-
fatores de risco da síndrome, como sedentarismo, te a presença de mulheres, e foi eficaz na redução ou
stress excessivo, dieta inadequada e outros. Obteve- eliminação dos sintomas do stress. Nos artigos estu-
-se resultados positivos após o Treino de Controle do dados, foi possível observar que não há um padrão no
Stress, com a redução dos fatores de risco da síndro- uso do Treino de Controle do Stress de Lipp, sendo os
me, se tornando um importante tratamento psico- protocolos adaptados por cada autor, com sua pró-
pria duração e aprimoramento para cada população.
lógico na prevenção de doença arterial coronariana.
Porém, em 2017, Lipp publicou um modelo de Trei-
O TCS também foi aplicado em mulheres idosas com
no de Controle do Stress em grupo para hipertensão,
síndrome metabólica e também foi eficaz na redução
no qual estabelece o número mínimo e máximo de
de alguns fatores de risco (Lipp, 2019). Outro exem-
sessões, a frequência semanal, o número máximo de
plo é o da aplicação do Treino de Controle do Stress
participantes e a duração do TCS em grupo forne-
em mulheres grávidas, no qual o objetivo foi de pre-
cendo, de tal forma que o TCS ganhou um formato
venir o stress negativo e de ensinar estratégias para
mais definido e padronizado que pode ser utilizado
lidar com o stress no pré-natal. O nível de stress foi para trabalhos em grupo. A revisão integrativa rea-
reduzido e isso pode ter contribuído para um maior lizada sobre as aplicações do Treino de Controle do
conforto no puerpério (Silva, & Lipp, 2019). Stress de Lipp foi importante para explanar a eficácia
O Treino de Controle do Stress de Lipp já foi do TCS e a sua adaptabilidade a diferentes popula-
adaptado para diversas populações e trouxe benefí- ções. Mostrou também que ele é um recurso eficaz
cios em todas, não somente na diminuição do stress, para o tratamento do stress de forma efetiva e glo-
mas em fatores biológicos, como foi possível verificar bal. O TCS é um modelo de tratamento baseado nos
na parte dos resultados obtidos nos artigos. Sendo princípios da terapia cognitivo comportamental e,
assim, é um importante instrumento psicológico por isto, é muito usado em clínica. Seria interessante
para ser utilizado, inclusive em conjunto a tratamen- que os psicólogos clínicos que utilizam este protoco-
tos médicos, se necessário. Seus efeitos são positivos lo de tratamento também publicassem seus dados de
e contribuem significativamente para uma melhor modo a enriquecerem o conhecimento sobre o tema,
saúde, física e psicológica, dos indivíduos que parti- principalmente após o modelo padronizado ter sido
cipam dele. publicado.

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