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C H A R L I E M AC K E S Y

o mundo em que preciso viver é este aqui.


mas o mundo em que sonho viver é esse que

O M E N I N O , A T O U P E I R A , A R A P O S A E O C AVA L O
charlie mackesy criou.
– elizabeth gilbert

“amor, amizade e bondade –


este livro fala uma língua universal.”
– bear grylls

“um maravilhoso trabalho de arte e uma


maravilhosa janela para o coração humano.”
– richard curtis

“é simples: o mundo precisa do livro de


charlie agora mesmo.”
– miranda hart

ISBN 978-85-431-0993-0

9 788543 109930

www.sextante.com.br

O menino a toupeira a raposa e o cavalo_SIMULACAO.indd 1 27/10/20 18:32


Este livro é dedicado à minha
linda e bondosa mãe e aoDill,
meu maravilhosocão.
o m e n i n o , a t o u p e i r a , a r a p o sa e o c ava l o
Olá
Você começou doinício, oque é
impressionante. Costumo começar pelomeio e
nunca leio introduções . É surpreendente
que eu tenha conseguidoescrever um
livroporque nãosou muitochegado
à leitura. A verdade é que precisode
ilustrações . Elassão como ilhas, lugares
aonde ir num mar de palavr a s.
Este é um livro para todos, t enha você
8 ou 80 anos. Sintoàsvezes que tenho as
duasidades. Gostaria que olivro fosse de um
jei to que você pudesse mergulhar nele em
qualquer lugar, a qualquer momento; até começar
pelo meio, se preferir . Rabisque, dobre os
cantosda página, deixe sin ais de que o
manuseou bastante . Os desenhossão
basicamente de um
menino, uma toupeira,
uma raposa e um cavalo. Contarei um pouco
sobre eles, embora você vá ver coisasque
eu nãovi. Por isso, serei bre ve.
O meninoestá solitárioquandoa
toupeira aparece pela primeira vez. Eles
pas sam um tempojuntos, contemplando
o desconhecido. Achoque o desconhecido
é um poucoparecido com a vida –
assustador àsvezes, maslindo .
Durant e suasper ambulações, eles
encontram a raposa. Nunca é f ácil
encontrar uma raposa q uando se é
uma toupeira .
O menino tem um monte de
perguntas; a toupeira está doida para
comer bolo . A raposa fica a maior parte
dotempo em silêncio, cautelosa ,
porque já se machucou
bastante nessa vida .
O cavaloé a maior criatura que eles
já encontraram , e também a mais gent il .
Sãot odos diferentes, como nós, e cada
um te m seus pontos fracos. Consigo me ver
nosq uat ro. Talvez você também consiga.
S uas aventuras acontecem na
primavera, quando a neve cai de repente e,

no momento seguinte, o sol brilha – o


que também s e par ece um pouco com
a vida: ela pode se transformar num
estalar de dedos .
Espero que este livro oinspire a
viver corajosamente, com mais gentileza em
relação a si mesmo e aos outros. E que o
incentive a pedir ajuda quandonecessário
– oque é sempre um gestode coragem.
Quandoestava preparando este livro,
eu costumava me perguntar: por que
diabos estou fazendo isso? Mascomo diz
ocavalo:
– A verdade é que todomundo está
tentando aprender a voar.

Então abra bem asasase siga seus


sonhos– este livroé um dosmeus. Espero
que oaprecie e que receba todoomeu amor.
Obrigado . Charlie
– Olá
– Sou tãopequena –
disse a toupeira.
– É verdade –
concordou
o menino –,
masfaz uma
grande diferença .
– O que quer s er
quando crescer?

– Quero ser bom –


disse o menino .
– O que é sucessopara você? –
perguntou o menino.

– Am ar – re spondeu
a toupeira.
– U aa au
– Vo cê tem um ditadofavori to? –
per gu ntou o meni no.
– Tenho, sim – respondeu a toupeira .
– Q ual é?
– Se não c onsegu ir de primeira,
coma um pedaço de bolo.
– Entendi. E funciona?
– S em pre .
– Só um
pedacinho
– Arranjei um bolo delicioso
para você – contou a toupeira .
– V erdade?
– É.
– Cadê?
– Eu comi – disse ela.
– Ah.
– Masarranjei ou tro .
– É? E onde está?
– Parece ter acontecidoa
mesma coisa.
– Para você, qual é a maior
perda de tempo?

– Ficar se comparandocom
os outros – falou a toupeira.
– Será que existe uma escola
para a gente desaprender?
– A maioria das toupeiras
v elh asq ue conheçoqueria ter
o u v idomais seussonhos do
que seusme do s.
– O que tem lá l onge?

– O desconhecido – revelou a
toupeira. – Não tenha medo.
– Imagine como seríamos se
tivéssemosmenosmedo.
– N ãoestou com medo–
disse a toupeira.

– Se eu nãoestivesse presa ne sta


armadilha , eu mataria você –
rosnou a raposa.
– Se continuar presa aí, você
morrerá – afirmou a toupeira.

Entãoa toupeira roeu o arame


com seusden tinhos.
– Uma dasnossas
maiore s liberdade s
é escolher como
reagimosàs
coisas.
– Aprendi a viver o
moment opre sente.
– Como? – perguntou omenino.
– Encontro um lugar tranquilo,
fecho osolhose re spiro .

– Legal. E depois?
– Depois eu me concentro .
– Você se concentra em quê?
– Em bolo– disse a toupeira .
– Nãoé esquisi to?
Sópodemos nosver por fora,
mas quase tudoacontece do
ladode dentro.
– Cuidado
para nãoca. . .

. . . ir.
– Há tanta beleza de que
precisamos cuidar.
– Ser gentil com você mesmo é
uma dasmaioresgentilezas–
ponderou a toupeira.
– A gente costuma esperar pela
gentileza. . . masser gentil com
v ocê mesmopode começar agora
– comple tou ela .
– O maisdif ícil de
tudoé perdoar a
si mesmo .
– Àsvezes me sintoperdido –
comentou o menino.

– Eu também – disse a
toupeira –, mas amamos
você e esse amor otraz de
volta para casa.
– Achoque todo mundoestá
apen as tentando vol tar para
casa – r efletiu a toupeira.
– Ol á
– Olá
– Fazer nada com os amigosnunca
é fazer nada, nãoé? –
perguntou omenino.

– Não– respondeu a toupeira.


– Você caiu, massegurei você.
– Todo mundosente medo–
observou ocavalo .

– Masjuntossomoscorajos os .
– Aslágrimas
caem por um
motivoe
sãosin al
de força,
nãode
fraqueza.
– Q ual é a coisa mais corajosa
que você já disse? – perguntou
o menino .

– Socorro – respondeu ocavalo .


– Quando você se sentiu mais
forte? – perguntou o menino.
– Quandotive coragem de
mostrar minhas fr aquezas.
– Pedir ajuda nãoé a mesma coisa
que de sistir – afirmou ocavalo .

– É se recusar a de sistir.
– Às vezes ficocom medo
de vocês descobr irem que
eu sou sem graça – disse
o menino.

– O amor n ão exige
que você seja ex traordinário –
tranquilizou-oa toupeira .
– Todo mundo precisa de uma razão
para seguir em frente – falou ocavalo.
– Qual é a sua?

– Vocês três– respondeu a raposa.

– Voltar para casa – disse o menino .


– Bolo – acrescentou a toupeira .
– Descobri uma coisa melhor
do que bolo.
– Não acredi to – disse
o menino.
– Descobri, sim – afirmou a toupeira.
– E o que é?
– Um abraço. Demora mais
para acabar.
– Nada supera a gentileza –
refletiu o cavalo. – Ela permanece
tra nquilamente por tr ás de
todas as coisas.
– Àsv ezes. . . – disse o cavalo .
– Às vezes oq uê? – perguntou o menino.
– Às vezes o simples atode se levantar
e seguir em frente é algocor ajoso
e grandioso.
– Como elesconseguem parecer
tãounidos e perfei tos? –
perguntou o menino.

– Estão r emando
loucamente s ob a super fície
– explicou o cavalo.
– A maior ilusão –
comentou a toupeira

– é que a vid a
deveria ser perfeita .

Meu cachorro pisou nodesenho –


claramente tentando dizer alguma coisa sobre isso.
– É a Lua? – perguntou
o menino.

– É a mancha de
uma xícara de chá –
respondeu a toupeira .
– E onde tem chá tem bolo.
Seja curioso.
– A vida é difícil,
masv ocê é amado.
– Vocês sabem tudo sobre mim? –
perguntou o menino .
– Sabem os – re spondeu o cavalo .
– E me amam mesmoassi m?
– N ós o amamos mais ainda.
– Às vezes acho que vocês
acr editam em mim mais do
que eu mesmo –
disse o menino .

– Você chega lá –
af irmou o cav alo.
– A raposa nunca fala nada –
sussurrou o menino .

– Ver da
de. Mesmo assim é ótimo
que ela esteja conosco –
disse ocavalo.
– Para ser sincera , àsvezesacho
que nãotenhonada de interessa nte
para dizer – confessou a raposa .

– Ser sincero é sempre interessante –


disse ocavalo.
– Tem uma coisa que nunca contei a
vocês – revelou ocavalo .
– O que é? – perguntou omenino.
– Possovoar, mas par ei por que os
ou troscavalosfica vam com inveja.
– Sabe de uma coisa?

Voandoou não, nós o amamos.


– Tudo bem.
– Seu copo está meio cheioou
meio vazio? – indagou a toupeira .
– Acho que sou gratopor ter
um copo – respondeu o menino .
– Nãosabemos odia de amanhã –
disse o cavalo. – Tudoque
precisamos saber é que nos amamos.
– Quando asnuvens
escurasaparecer em. . .

. . . continue segu indo


em frente.
– Quan doas coisasgrandesparecerem e star
fora de controle. . .

. . . concent re-se no que você ama e


está bem debaixodo seu nar iz.
– A tempestade vai passar.
Depois da tempestade
– Temos um caminhotãolongo
pela fr ente... – suspir ou omenino .
– Sim, masveja como já
chegamos longe –
disse o cavalo .
– Às vezes tenho vontade de
dizer que amotodos vocês– disse
a toupeira –, m as achodifícil.
– Acha? – indagou o menino .
– Acho . Então digo alguma coisa
do tipo: “Estou feliz por estarmos
juntos aq ui.”
– Tudo bem – falou o menino .
– Estou feliz por estarmos
juntos aqui.

– Estamosmuitof elizespor você


estar aqui também.
– Qual f oi a sua maior
descoberta? – perguntou
a toupeira.

– Que basta ser do jeito


que eu sou – r espondeu
o menino.
– Descobr i por que estamos aqui –
sussur rou o menino.
– Para comer bolo? – a nimou-se
a toupeira.

– Para amar – falou ele.


– E para sermos ama dos –
completou ocavalo.
– O que fazemosquando nosso
coração dói? – pergunt ou o menino.

– Nós oacolhemos com amiza de,


lágrimas compartilhadas e tempo,
até que ele volte a despertar
esperançosoe feliz.
– Tem mais algum conselho? –
perguntou o menino .

– Nãomeça seu valor pela


for ma comoos outr os otratam –
d i sse o cavalo.
– Lembre-se sempre de que você
é importante. Você é amadoe
traz para este mundo

coisas que ninguém m ais é


capaz de tr azer.
A casa ne m sempre
é um lugar, nãoé?
– Obri gado.
Fim
Veja como
chegamos
longe.
– Àsvezes sóouvimosfalar de
ódio, mas há mais
amor neste
mundodoque
você poderia
imaginar.
Este li vro é sobre a amizade, e eu
não poder ia ter feitonada sem meus amigos.
Por isso, obrigadoa vocês, Mat thew, Grace,
Bear, Phil, Miranda, Amy, Emma, Scar lett,
Charlie, Richard e Helen, para mencionar
apenasalgunscujasconversase amor estão
mu itopresentesnestas páginas.
Obrigado a Colm, o brilhante
irlandês que ajudou a costurar este
livro, muitas vezesnoite a dentro.
Obrigadoa todosna Penguin, entr e eles
Gail, Joel, Tess, Becky, Lucy, Alice, Rae, Beth e Nat;
e especialmente Laura, que lidou comigo e com
meusdesenhos bagunça doscom tanta gentileza.
E muitoobrigadoa vocês, nas redes
s ociais, que me incentivaram em tudo.
Obrigadoa Sara, Daisy e Christopher pelo
amor e pelas intermináveis xícaras de chá
e aosmeus cães, Dill e Barney .
título original: the boy, the mole, the fox and the horse
copyright © 2019 por charlie mackesy
copyright da fonte de capa e miolo © charlie mackesy
o direito moral do autor foi assegurado

todos os direitos reservados. nenhuma parte deste livro pode


ser utilizada ou reproduzida sob quaisquer meios existentes
sem autorização por escrito dos editores.

publicado originalmente como the boy, the mole, the fox and
the horse pela ebury press, selo da ebury publishing. a ebury
publishing é parte do grupo penguin random house.

tradução: livia de almeida


preparo de originais: hermínia totti
produção editorial: livia cabrini
revisão: flávia midori e luíza côrtes
design: colm roche | imagist
adaptação de capa: gustavo cardozo
diagramação: ana paula daudt brandão e gustavo cardozo
criação da tipologia de capa e miolo: william collins
capa: charlie mackesy
e-book: marcelo morais

cip-brasil. catalogação na publicação


sindicato nacional dos editores de livros, rj

m143m mackesy, charlie


o menino, a toupeira, a raposa e o cavalo / charlie
mackesy; tradução de livia de almeida. rio de
janeiro: sextante, 2020.
128 p.: il; 16,5 x 21,5 cm.
tradução de: the boy, the mole, the fox and the
horse
isbn 978-85-431-0994-7
1. ficção inglesa. i. almeida, livia de. ii. título.
20-62834 cdd: 823
cdu: 82-3(410.1)

todos os direitos reservados, no brasil, por


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