Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
16 17 PB
16 17 PB
MORFOLOGIA
URBANA
Revista da Rede Lusófona de Morfologia Urbana
2021
Volume 9
Número1
Equipe editorial
Editores-chefes: Júlio Celso Vargas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil
Renato T. de Saboya, Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil
Vinicius M. Netto, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Os autores são os únicos responsáveis pelas opiniões expressas nos textos publicados na ‘Revista
de Morfologia Urbana’. Os Artigos (que não deverão exceder as 8.000 palavras, devendo ainda
incluir um resumo com um máximo de 200 palavras), as Perspetivas (que não deverão exceder as
1.000 palavras), os Relatórios e as Notícias referentes a eventos futuros deverão ser submetidos
pelo sistema da Revista, mediante cadastro do autor correspondente e login na plataforma. As
normas para contributos encontram-se nas diretrizes para autores.
Desenho original da capa - Karl Kropf. Desenho das figuras - Vítor Oliveira
SEÇÃO ABERTA
Editorial
Revista de Morfologia Urbana: transição para um novo modo
de publicação científica
Renato T. de Saboya
Vinicius M. Netto
Fernanda Careta Ventorim
Editores da Revista de Morfologia Urbana
https://doi.org/10.47235/rmu.v9i1.237
Revista de MorfologiaUrbana (2021) 9(1): e00237 Rede Lusófona de Morfologia Urbana ISSN 2182-7214
Editorial 2/2
Revista de MorfologiaUrbana (2021) 9(1): e00237 Rede Lusófona de Morfologia Urbana ISSN 2182-7214
SEÇÃO ABERTA
Artigos científicos em fluxo contínuo
Envelopamento vegetal em cânions urbanos:
análise da aplicação de superfícies vegetadas em
edificações dos setores estruturais de Curitiba, Paraná
a
Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Escola de Belas Artes, Programa de Pós-Gradua-
ção em Gestão Urbana, Curso de Arquitetura e Urbanismo, Curitiba, PR, Brasil.
E-mail: marlos.hardt@pucpr.br
b
Massachusetts Institute of Technology, Senseable CityLab, Cambridge, MA, EUA; Pontifícia
Universidade Católica do Paraná, Escola de Belas Artes, Programa de Pós-Graduação em Ges-
tão Urbana, Curitiba, PR, Brasil. E-mail: duarte.fabio@pucpr.br
Revista de Morfologia Urbana (2021) 9(1): e00152 Rede Lusófona de Morfologia Urbana ISSN 2182-7214
Envelopamento vegetal em cânions urbanos 2
destinados ao BRT – denominados eixos es- nomina de Envelopamento Vegetal, que po-
truturais (Curitiba, 2000, Artigo 16). A utili- dem ser divididos em jardins verticais auto-
zação dessa estratégia definiu a configuração portantes e modulares ou coberturas vegetadas
espacial de Curitiba, e permanece até hoje intensivas ou extensivas.
como o conceito fundamental de seu planeja-
Neste artigo, analisamos os cânions urbanos
mento, sendo replicado em outros locais e na
resultantes da estruturação morfológica dos
própria cidade, que mais recentemente apro-
eixos estruturais de Curitiba. Para isto, esco-
veitou o antigo traçado da rodovia federal
lhemos trechos em avançado estágio de con-
BR116, transformando-a em eixo metropolita-
solidação, com a maioria dos lotes já ocupa-
no tendo como propulsor de seu desenvolvi-
dos aproveitando os parâmetros máximos de
mento imobiliário um corredor de BRT, deno-
ocupação do solo. Mais do que identificar o
minado Linha Verde.
problema dos cânions urbanos, este estudo
Os eixos estruturais possuem parâmetros ur- pretende focar numa possível medida de ame-
banísticos específicos, determinados pelo cha- nização de alguns de seus efeitos. Esta medida
mado Plano Massa, caracterizado especial- é a inserção de vegetação urbana através de
mente pelo embasamento comercial na totali- superfícies vegetadas, denominada aqui de en-
dade da projeção edilícia no terreno, elevado velopamento vegetal de edificações, aplicada
coeficiente de aproveitamento e altura livre como forma de parâmetros de ocupação do
das edificações. Desde 2000, há ainda obriga- solo.
toriedade de recuos laterais, equivalentes, no
mínimo, à sua sexta parte da altura do edifí- Cânions Urbanos
cio, conhecido como H/6, onde H significa Do ponto de vista morfológico, cânions urba-
height, ou altura) (Curitiba, 2000). nos são vias urbanas ladeadas por edificações
Se, por um lado, a configuração dos eixos com alta verticalização em relação à largura
estruturais tende a incentivar o uso do da via, contíguas ou com estreitos intervalos
transporte público e minimizar o de veículos entre elas (Oke, 1978). Podem ser caracteriza-
particulares – e, com isso, suas decorrentes dos a partir da razão entre a altura (H = height)
implicações ambientais deletérias –, por outro, dos edifícios, a largura (W = width) e o com-
uma das consequências morfológicas é a primento (L = lenght) da via (Panão, Gonçal-
constituição de cânions urbanos – que, por sua ves e Ferrão, 2009; Georgakis e Santamouris,
vez, têm consequências negativas, dentre as 2006). Além disso, o comportamento ambien-
quais se destacam os impactos tal dos cânions poderá variar tanto pelo com-
microclimáticos. primento, quanto pelos afastamentos laterais
das edificações (R).
Em relação ao microclima, Romero (2016)
ressalta efeitos relacionados às superfícies ce- A relação entre esses componentes influencia-
gas, as quais geralmente apresentam proprie- rá características de conforto ambiental urba-
dades que podem gerar desconforto em termos no, tais como ventilação, acústica, desempe-
visuais, por ofuscamento; de ordem térmica, nho térmico, qualidade do ar e iluminação
pelo fenômeno conhecido como “ilha de ca- (Lobaccaro et. al., 2019). Segundo Sapata
lor”; e de âmbito acústico, por reflexão, entre (2010), a acentuação da pressão sonora, espe-
outros. Segundo a autora, muitos desses efei- cialmente proveniente do ruído de tráfego,
tos podem ser minimizados com a presença de ocorre especialmente em cânions urbanos com
vegetação no ambiente urbano. razão H/W elevadas.
É relevante notar, porém, que existem poucos Em estudo realizado nos cânions urbanos for-
mecanismos legais de índices urbanísticos que mados pelos corredores estruturais de trans-
considerem a presença da vegetação no espa- porte de Curitiba, Suga (2005) verificou que
ço urbano intralote, seja em Curitiba ou em trechos com relação H/W maior que 0,66 re-
outras cidades brasileiras. Em geral, o que se cebem pouca, ou em alguns casos, nenhuma
encontra são índices de permeabilidade que incidência direta de luz solar. Às alterações
não garantem, em essência, a inserção do ver- microclimáticas pode ser associado o fato de
de. Por outro lado, Hardt (2013) apresenta di- que as edificações urbanas arranjadas sob a
ferentes mecanismos para aplicação de com- forma de cânions criam barreiras físicas que
ponentes vegetais em edifícios, aos quais de- tendem a alterar a intensidade e a direção de
Revista de Morfologia Urbana (2021) 9(1): e00152 Rede Lusófona de Morfologia Urbana ISSN 2182-7214
Envelopamento vegetal em cânions urbanos 3
massas de ar, gerando corredores de vento redor do mundo. Os autores concluem que
(Guerra; Cunha, 2005). Outro fenômeno co- para todos os climas examinados, as
mum aos cânions urbanos são as ilhas de calor superfícies verticais vegetadas são mais
urbanas, que segundo Oke (1978), são acentu- eficazes do que as horizontais.
adas em cânions com razão H/W elevadas.
A vegetação resfria edificações e arredores
Para Georgakis e Santamouris (2006), as por meio tanto do sombreamento, reduzindo o
condições microclimáticas num cânion urbano calor refletido, quanto da evapotranspiração1.
impactam o balanço térmico de edificações. Por outro lado, em locais muito frios, a
Portanto, a velocidade e direção dos ventos, vegetação auxilia na manutenção da
assim como a distribuição térmica dentro dos temperatura interna das edificações, podendo
cânions é importante para o correto atingir um ganho térmico, segundo Johnston e
dimensionamento desses espaços urbanos. Newton (2004), de até 30% em relação à
externa. Segundo Valesan (2009), ocorre
Com a combinação dos fatores de ventilação e
também o controle da umidade do ar e da
da quantidade de fontes poluentes – como re-
oxigenação do espaço pelo processo biológico
síduos veiculares – os cânions urbanos com
das plantas.
elevada razão H/W possuem, usualmente, alta
concentração de poluentes e baixa capacidade Apesar de o controle térmico depender de
de dispersão (Ferrari et al., 2019). Duas for- vários fatores, como clima, distância entre
mas de mitigação dessas situações são a mu- edificações, orientação dos edifícios, tipo do
dança da geometria urbana, aumentando o flu- envelope e densidade da cobertura vegetal (Di
xo de ar dentro do cânion, e a inclusão de ve- Nubila et. al., 2019), é possível afirmar que,
getação, funcionando como filtro natural des- por intermédio das plantas, os espaços
tes poluentes (Speak et al., 2012). internos tornam-se menos dependentes de
sistemas de calefação e resfriamento,
Como na grande maioria dos casos a alteração
possibilitando menor consumo energético
de geometria se torna inviável, a inserção de
(Mutani; Todeschi, 2020). A vegetação na
vegetação nos espaços edificados passa a ver
fachada pode criar uma camada de ar no
uma alternativa aplicável para regiões com
interior da massa vegetal, isolando-a das
características de cânions urbanos. Porém, à
condições externas, podendo tanto reduzir a
medida que não se pode alterar a geometria
temperatura ambiente a partir do
das cidades com facilidade, também não há
sombreamento e dos processos de
espaço disponível para o plantio de espécies
evapotranspiração, quanto criar uma proteção
vegetais diretamente conectadas ao solo, razão
contra o vento durante os meses de inverno
pela qual o envelopamento vegetal de
(Alexandri; Jones, 2008).
edifícios torna-se o objeto desta pesquisa.
Com relação ao conforto acústico, Ngan
Envelopamento Vegetal de Edifícios (2004) cita que superfícies vegetadas
Envelopamento vegetal é o revestimento de absorvem o som por meio da irregularidade da
edificações com vegetação, possibilitando a vegetação e do substrato, não permitindo,
melhoria da eficiência ambiental do edifício assim, a reverberação das ondas sonoras.
(Hardt, 2013). O envelopamento vegetal Os materiais convencionais utilizados como
engloba superfícies horizontais e verticais, revestimentos refletem em média de 30% a
como coberturas vegetadas – planas ou 70% da luz neles incidente, enquanto
inclinadas – e fachadas revestidas com plantas superfícies vegetadas refletem cerca de 20%,
trepadeiras ou a sistemas tecnológicos de o que contribui para o conforto luminoso
módulos ou muros vegetais. (Dias, 2016).
No que concerne à temperatura, as superfícies Temperaturas elevadas em ambientes urbanos,
vegetadas possuem dois benefícios diretos: a aliadas ao aumento do número de veículos,
diminuição do efeito de ilha de calor e a condicionadores de ar e emissões industriais,
melhoria do conforto térmico das edificações têm promovido o aumento de óxidos de
(Chun; Guldmann, 2018). Alexandri e Jones nitrogênio (NOx), óxidos de enxofre (SOx),
(2008) afirmam a sua importância para a compostos orgânicos voláteis (VOCs),
redução da temperatura do ar em cânions monóxidos de carbono (CO) e materiais
urbanos em Brasília e outras 10 cidades ao
Revista de Morfologia Urbana (2021) 9(1): e00152 Rede Lusófona de Morfologia Urbana ISSN 2182-7214
Envelopamento vegetal em cânions urbanos 4
Quadro 1. Motivações para a definição de legislações sobre superfícies vegetadas (fonte: elabo-
rado com base em Azevedo, 2011; Berlin, 2019; Gutteridge, 2003; London, 2008 e Seattle,
2007).
Eficiên-
Agricul- Gestão Quali- Quali- Biodi- Paisa-
CIDADE / cia Ilhas de Espaços
tura ur- das dade do dade de versi- gem Ur-
PAÍS energé- calor verdes
bana águas ar vida dade bana
tica
Montreal
Toronto
Vancouver
Chicago
Nova York
Portland
Seattle
Basel
Berlim
Munster
Stutgart
Tóquio
Cingapura
Londres
Durban
Curitiba
Nota: os sombreamentos indicam as motivações e justificativas de cada cidade para a elaboração de leis
relacionadas às superfícies vegetadas.
Segundo Ansel e Appl (2010), muitas cidades direto (Ngan, 2004), que compreende
oferecem incentivos para a implementação do subsídios aplicados diretamente sobre os
envelopamento vegetal, para edifícios novos custos da implantação das superfícies
ou reformados. Em outros casos, o vegetadas. São, por exemplo, benefícios
envelopamento vegetal é compulsório a partir fiscais sobre produtos e serviços relacionados
de mecanismos legais, como regulações à implantação do jardim. A principal
complementares às leis de uso e ocupação do limitação deste incentivo é a oneração de
solo. municípios com orçamentos muito limitados.
As políticas de envelopamento vegetal podem Um segundo mecanismo é o incentivo
ser divididas em quatro grupos (London, financeiro indireto, como é o caso de
2008). O primeiro é o incentivo financeiro benefícios fiscais em impostos municipais
Revista de Morfologia Urbana (2021) 9(1): e00152 Rede Lusófona de Morfologia Urbana ISSN 2182-7214
Envelopamento vegetal em cânions urbanos 5
Revista de Morfologia Urbana (2021) 9(1): e00152 Rede Lusófona de Morfologia Urbana ISSN 2182-7214
Envelopamento vegetal em cânions urbanos 6
Figura 1. Prancha de mapeamento das edificações de uma quadra no trecho (fonte: elaborada
pelos autores).
Revista de Morfologia Urbana (2021) 9(1): e00152 Rede Lusófona de Morfologia Urbana ISSN 2182-7214
Envelopamento vegetal em cânions urbanos 7
Figura 2. Representação esquemática das skylines dos trechos analisados no espaço específico
de análise (fonte: elaborada pelos autores).
Como critério para posterior interpretação de mesmas razões apontadas acima. Obteve-se,
potencial de aplicação de superfícies verticais então, a área útil horizontal (AUH).
vegetadas, foram mapeadas todas as fachadas
Com base nos dados levantados, tornou-se
da edificação. Em situações em que não foi
possível a medição do fator limite de
possível o acesso visual a determinada
aplicação de superfícies vegetadas nos
superfície, adotou-se o critério da similaridade
edifícios localizados nos cânions urbanos do
desta com a fachada imediatamente oposta. A
Eixo Estrutural Centro. Levando-se em
soma das áreas resultou na área total vertical
consideração algumas legislações analisadas,
(ATV).
guardadas suas peculiares de fórmulas e
O passo seguinte consistiu na determinação da elementos de cálculo, o fator varia de 0,3 para
área líquida aproveitável da fachada. Para áreas comerciais em Berlim, atingindo 0,6 nas
tanto, foram descontadas da ATV, as aberturas áreas residenciais da mesma cidade (Berlin,
(janelas, portas, respiros e outros vãos), os 2019); 0,5 para zonas urbanísticas
componentes de infraestrutura (antenas, semelhantes ao trecho de estudo em Seattle
nichos de ar-condicionado etc.), as superfícies (Seattle, 2007) e Malmö, na Suécia (Malmö,
com largura inferior a 30 centímetros e 2019).
superfícies envidraçadas, pela impossibilidade
Porém, para estas cidades, o valor base da
de aplicação da maior parte das tecnologias de
equação para determinação do índice é a área
superfícies vegetadas nessas condições.
do lote, desconsiderando, assim, a área de
Obteve-se, como resultado, a área útil vertical
fachadas e cobertura para efeito de cálculo.
(AUV).
Esta diferença se dá, provavelmente, pela
Para a determinação do potencial de aplicação consideração do benefício “gestão das águas”
de superfícies horizontais vegetadas, foram como prioritário nestas leis, o que não é o
inicialmente mapeadas as coberturas das caso desta pesquisa.
edificações com base em imagens aéreas,
A presente pesquisa leva em consideração,
resultando na área total horizontal (ATH).
como sugestão de índice próprio, o conjunto
Foram, então, descontadas da ATH as aberturas
das áreas totais de superfícies verticais e
(coberturas de vidro, zenitais etc.), assim
horizontais, visando à determinação do índice
como os componentes de infraestrutura
ideal para o Fator de Envelopamento Vegetal
(antenas, aparelhos de ar-condicionado, caixas
(FEV) de Curitiba.
d’água, piscinas etc.) e as superfícies com
largura inferior a 30 centímetros, pelas
Revista de Morfologia Urbana (2021) 9(1): e00152 Rede Lusófona de Morfologia Urbana ISSN 2182-7214
Envelopamento vegetal em cânions urbanos 8
Portanto, a área total considerada Neste caso, utiliza-se a área líquida do lote, e
correspondeu à seguinte equação: não sua área total, para evitar duplicidade de
somatória, uma vez que a área total horizontal
ATG = ATV+ATH+ALL corresponde à projeção da edificação sobre o
lote. Os fatores de multiplicação de área
Onde: foram utilizados com base no cruzamento
ATG = área total geral daqueles constantes das três leis supracitadas,
ATV = área total vertical conforme evidenciado na Tabela 1.
ATH = área total horizontal
ALL = área livre do lote
[ ]
cânions urbanos.
n
( A UV + A UH )∗0,7 + A LV + A AI
F EV =∑
i i i i
Revista de Morfologia Urbana (2021) 9(1): e00152 Rede Lusófona de Morfologia Urbana ISSN 2182-7214
Envelopamento vegetal em cânions urbanos 9
Revista de Morfologia Urbana (2021) 9(1): e00152 Rede Lusófona de Morfologia Urbana ISSN 2182-7214
Envelopamento vegetal em cânions urbanos 10
Gráfico 1. Relação entre altura dos edifícios e porcentagem de área potencial para envelopa-
mento vegetal vertical no espaço específico de análise (fonte: elaborado pelos autores).
Assim, diagnostica-se que as fachadas dos efeitos de ilha de calor no setor estrutural es-
edifícios mais altos e mais baixos possuem tudado, assim como Pugh et al. (2012) consi-
maior potencial de envelopamento. No caso deram que 80% – porcentagem média de po-
das edificações com altura inferior a 15 me- tencial de envelopamento vegetal para todas
tros, esta alta porcentagem deve-se à grande as edificações – poderia contribuir para a mi-
quantidade de muros presentes nos lotes, que nimização da quantidade de partículas suspen-
não seguem os preceitos do Plano Massa pre- sas PM10 na ordem de 40% para cânions com
visto para a área. Para as edificações com razão H/W=2 e de 15% para aqueles com ra-
mais de 60 metros de altura, atribui-se a pro- zão H/W=1. Vale ressaltar novamente a com-
porção à existência de grandes empenas cegas plexidade morfológica do cânion urbano da
e de outras fachadas com reduzidas aberturas, área de estudo. Portanto, os dados obtidos são
com exceção às torres de vidro, cujas fachadas referenciais.
envidraçadas foram consideradas não envelo-
Quanto à proporção de área potencial para en-
páveis.
velopamento vegetal horizontal, os edifícios
De acordo com Alexandri e Jones (2008), os possuem as relações apresentadas no Gráfico
valores acima descritos poderiam reduzir os 2.
Revista de Morfologia Urbana (2021) 9(1): e00152 Rede Lusófona de Morfologia Urbana ISSN 2182-7214
Envelopamento vegetal em cânions urbanos 11
A cobertura do solo com vegetação é pouco Os edifícios destinados a serviços são os mais
observada em todo o trecho, por ser dispensa- incentivados pela legislação municipal (Curi-
da nas torres projetadas de acordo com os pa- tiba, 2000), o que amplia o potencial constru-
râmetros do Plano Massa. Porém, é constatada tivo do lote em uma vez e meia para edifica-
em edificações de baixa altura, que não ado- ções que utilizem a torre para escritórios; po-
tam esses parâmetros. Ressalta-se, entretanto, rém, percebe-se que, mesmo que em sua mai-
que grande parte dessas edificações são anteri- oria sejam altos (H/W>1), possuem baixo FEV,
ores ao zoneamento de uso e ocupação do solo especialmente por se tratarem de torres com
em vigência (CURITIBA, 2000), sendo várias elevadas taxas de revestimento em vidro. Ou-
delas destinadas a estacionamentos térreos. tro fato constatado é que, mesmo que sejam os
No que concerne à relação do Fator de Enve- mais incentivados, esses usos não são os mais
lopamento Vegetal com os usos das edifica- recorrentes, uma vez que totalizam 12 edifí-
ções, verifica-se os seguintes fatores médios: cios, equivalendo, portanto, a 16%.
a) comercial – 0,48; O uso residencial, detentor do maior FEV den-
b) residencial – 0,61; tre as destinações dos edifícios, representa em
c) comunitário – 0,56; torno de 15% do total e, em sua maioria, têm
d) misto – 0,54; baixa altura, salvo em casos particulares de
e) serviços – 0,50. torres de apartamentos sem embasamento co-
mercial. O uso menos recorrente no trecho é o
Os usos mistos e comerciais são os mais re-
comunitário, representando aproximadamente
correntes no trecho, com 24 edifícios cada, ou
5% das edificações.
31%, sendo que esses últimos se referem ge-
ralmente à relação H/W<0,5 e os primeiros a Em termos de proporção de área potencial
H/W>1. para envelopamento por superfície vertical,
têm-se os resultados apresentados no Gráfico
3.
Revista de Morfologia Urbana (2021) 9(1): e00152 Rede Lusófona de Morfologia Urbana ISSN 2182-7214
Envelopamento vegetal em cânions urbanos 12
Revista de Morfologia Urbana (2021) 9(1): e00152 Rede Lusófona de Morfologia Urbana ISSN 2182-7214
Envelopamento vegetal em cânions urbanos 13
os eixos estruturais (Curitiba, 2000), a simula- nions urbanos fica comprometida, uma vez
ção do potencial máximo de envelopamento que o afastamento lateral de H/6, ou seja, um
considerando o Plano Massa (Curitiba, 2000), sexto da altura da edificação, inviabiliza edifí-
com usos mistos e de serviços, adotando-se os cios com mais de 24 metros, enquadrados,
potenciais construtivos adicionais para o se- desta maneira, na razão H/W menos observa-
gundo caso. da na área. Portanto, adotou-se a utilização de
dois lotes mínimos, com testada de 30 metros
A simulação levou em consideração os parâ-
e área total do lote de 900m², aplicando-se so-
metros estabelecidos para testada e área míni-
bre ele os parâmetros de coeficiente de apro-
mas do lote (15 m e 450 m², respectivamente).
veitamento, taxa de ocupação e afastamentos
Porém, observou-se que, com estes parâme-
laterais previstos em lei (Figura 4).
tros mínimos de lote, a configuração dos câ-
Figura 4. Representação volumétrica de edifícios com potencial construtivo básico para uso
misto e serviços previsto no Plano Massa dos setores estruturais de Curitiba (fonte: elaborada
pelos autores).
No primeiro caso, ao edifício de uso misto, do uso misto, ou seja, com potencial de enve-
com embasamento comercial e torre residen- lopamento vegetal vertical de 82% e horizon-
cial, foi atribuído o coeficiente de aproveita- tal de 74%, sendo a área livre vegetável do
mento equivalente a 4, referente ao embasa- lote igual a zero, em função dos parâmetros
mento mais 11 pavimentos, totalizando uma previstos em lei.
altura de 42 metros, sendo, assim, enquadrado
O mesmo raciocínio foi utilizado para o uso
na razão 2>H/W≥1, cujo potencial médio de
de serviços, com torre de escritórios e coefici-
envelopamento para fachada é de 79% e para
ente de aproveitamento igual a 6, referente ao
cobertura é de 86%. Por meio de média arit-
embasamento mais 17 pavimentos, totalizan-
mética, estes valores foram cruzados com os
do uma altura de 60 metros, enquadrado, as-
Revista de Morfologia Urbana (2021) 9(1): e00152 Rede Lusófona de Morfologia Urbana ISSN 2182-7214
Envelopamento vegetal em cânions urbanos 14
sim, na razão 2≤H/W, cujo potencial médio de Considerando estes números, o Fator de Enve-
envelopamento para fachada é de 81% e para lopamento Vegetal da edificação padrão nas
cobertura é de 59%. Estes valores foram cru- duas situações é calculado da seguinte manei-
zados com os do uso de serviços, ou seja, com ra, com seus componentes detalhados na Ta-
potencial de envelopamento vegetal vertical bela 2:
de 78% e horizontal de 79%, sendo a área li-
vre vegetável do lote igual a zero, em função
dos parâmetros previstos em lei.
( A UV + A UH )∗0,7 + A LV + A AI
F EV =
A TV + A TH + A ❑
Revista de Morfologia Urbana (2021) 9(1): e00152 Rede Lusófona de Morfologia Urbana ISSN 2182-7214
Envelopamento vegetal em cânions urbanos 15
Neste artigo mostramos que o envelopamento dem de 0,7, enquanto os mais baixos ficam
vegetal constitui uma medida viável para po- em torno de 0,2.
líticas públicas voltadas à mitigação de efeitos
Visando à interpretação das diferenças entre o
ambientais negativos dos cânions urbanos,
trecho estudado e as áreas a serem consolida-
uma vez que existe por um lado existe área
das nos eixos estruturais de Curitiba, especial-
suficiente nas edificações para incorporação
mente em função das novas regras urbanísti-
de vegetação, e por outro, compatibilidade dos
cas citadas, a avaliação do potencial de aplica-
parâmetros urbanísticos atuais com uma even-
ção de superfícies vegetadas em simulações
tual incorporação de um fator verde da manei-
de ocupação realizadas com base nos potenci-
ra como foi proposto por esse estudo.
ais construtivos básicos do setor urbanístico
Ainda que a seleção do espaço específico de em questão, permite concluir que o fator
análise, compreendendo oito quadras consecu- máximo de envelopamento vegetal de edifica-
tivas da Avenida Sete de Setembro, tenha sido ções nos setores estruturais de Curitiba são da
baseada na máxima intensidade prevista para ordem de 0,54 para edifícios de uso misto (re-
ocupação do solo em Curitiba, ela ainda não sidencial e comercial) e de 0,58 para aqueles
está completamente consolidada. A heteroge- destinados a serviços (torres de escritórios).
neidade morfológica no trecho estudado é de-
Por fim, ressalta-se aqui que a utilização dessa
corrente de se tratar de uma área antiga, com
técnica de mapeamento manual das
edifícios anteriores à legislação vigente, e
edificações se deu visando analisá-las em suas
também decorrente de recentes alterações de
particularidades e relações com o eixo da
uso e ocupação do solo, que introduziu, por
Avenida 7 de Setembro. Porém, se mostrou
exemplo, recuos progressivos da edificação
pouco eficaz, imaginando a replicabilidade do
proporcionais à sua altura.
processo, por conta da necessidade de
Mesmo diante da heterogeneidade morfológi- desenhar os edifícios isoladamente. Numa
ca diagnosticada, os fatores referentes a po- eventual reprodução da técnica para escalas
tenciais de envelopamento das edificações do maiores, o método pode ser substituído pela
Eixo Estrutural Centro são paradoxalmente si- utilização de ferramentas de Sistema de
milares para os diversos trechos analisados, Informações Geográficas, ou ainda
levando à conclusão sobre a validade do esta- mapeamentos digitais.
belecimento de índices específicos para essa
Nesse sentido, afirmamos que a incorporação
finalidade.
de um fator verde aos parâmetros urbanísticos
Assim, novamente depreende-se a forte inge- convencionais é uma medida viável não só
rência das normas legais vigentes, que privile- para Curitiba, mas também para outras cida-
giam a ampliação do potencial construtivo des brasileiras que possuam configuração
para uso comercial e de serviços, com conse- morfológica de Cânions Urbanos, ou ainda
quente ampliação de superfícies passíveis de problemas acarretados pela escassez de vege-
recepção de vegetação, especialmente verti- tação no meio urbano. Para isso, aventa-se a
cais. possibilidade de adoção de outros métodos e
técnicas de investigação, na busca da simplifi-
A proposta apresentada de criação de fator de
cação de procedimentos para o incentivo à sua
envelopamento vegetal levou em consideração
ampla utilização, mesmo por municipalidades
não só a extensão do lote, mas também as
ainda não plenamente capacitadas para o ade-
áreas de fachada e de cobertura, diferenci-
quado processo de gestão urbana.
ando-se, assim, dos índices pesquisados.
Para Curitiba, os resultados refletem potencial Notas
de envelopamento vegetal de até 80% e 75% 1
A evapotranspiração é o conjunto de dois proces-
das superfícies verticais e horizontais, respec- sos – evaporação, transformação de calor sensível
tivamente, excluindo-se aberturas de janelas em latente pela perda de água pelo solo, e transpi-
ou portas, áreas envidraçadas e componentes ração, pela redução hídrica da vegetação através
de infraestrutura instalados que impossibili- das folhas pelos estômatos –, os quais ocorrem
tem a aplicação dessas superfícies. Da mesma concomitantemente (Silva et al., 2011).
forma, os fatores máximos de envelopamento
encontrados no trecho pesquisado são da or-
Revista de Morfologia Urbana (2021) 9(1): e00152 Rede Lusófona de Morfologia Urbana ISSN 2182-7214
Envelopamento vegetal em cânions urbanos 16
Revista de Morfologia Urbana (2021) 9(1): e00152 Rede Lusófona de Morfologia Urbana ISSN 2182-7214
Envelopamento vegetal em cânions urbanos 17
concepção do espaço urbano. 519f. Tese de infrastructure for improvement of air quality in
Doutoramento em Gestão Urbana, Pontifícia urban street canyons. Environmental Science &
Universidade Católica do Paraná, Curitiba. Technologie. 46(14), 7692–7699. Disponível em:
Disponível em: https://doi.org/10.1021/es300826w.
https://archivum.grupomarista.org.br/pergamumwe
Rogers, R. e Gumuchdjian, P. (eds.) (2016)
b/vinculos//00007f/00007ffc.pdf.
Cidades para um pequeno planeta. Tradução de
Johnston, J. e Newton, J. (2004) Building green: a Anita Regina Di Marco. 2.ed. Barcelona, Gustavo
guide to using plants on roofs, walls and Gili. (Publicado originalmente em 1995)
pavements. Londres, London Ecology Unit.
Romero, M. A. B. (2016) Arquitetura bioclimática
(Publicado originalmente em 1993)
do espaço público. 4.ed. Brasília, Editora da
Lobaccaro, G., Acero, J., Padro, A., Laburu, T. e Universidade Nacional de Brasília – UnB.
Fernandez, G. (2019) Effects of Orientations, (Publicado originalmente em 2000)
Aspect Ratios, Pavement Materials and Vegetation
Sapata, A. M. A. (2010) Monitoramento,
Elements on Thermal Stress inside Typical Urban
modelagem e simulação dos impactos e efeitos do
Canyons. International Journal of Environmental
ruído de tráfego em trecho de cânion urbano da
Research and Public Health, 16(19), 3574.
Avenida Horácio Racanello da cidade de Maringá
Disponível em:
– PR. 120f. Dissertação de Mestrado em
https://doi.org/10.3390/ijerph16193574.
Engenharia Urbana, Universidade Estadual de
London City (2008) Living roofs and walls Maringá – UEM, Maringá. Disponível em
technical report: supporting London Plan Policy. http://www.peu.uem.br/Ana2.pdf.
Londres, Greater London Authority. Disponível
Seattle City (2007) Green Factor. Disponível em:
em :
http://www.seattle.gov/
https://www.london.gov.uk/sites/default/files/livin
dpd/cityplanning/completeprojectslist/greenfactor/
g-roofs.pdf. [Consultado em: 15 de março de
documents/default.htm. [Consultado em: 20 de
2019].
março de 2019].
Malmö Stad (2019) Quality Programme Bo01 City
Silva, A. C., Lima, L. A., Evangelista, A. W. P. e
of Tomorrow. Disponível em:
Martins, C. P. (2011) Evapotranspiração e
http://www.malmo.se/download/18.4a2cec6a10d0
coeficiente de cultura do cafeeiro irrigado por pivô
ba37c0b800012615/kvalprog_bo01_dn_eng.pdf.
central. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola
[Consultado em: 20 de janeiro de 2019].
e Ambiental. 15(12), 1215–1221. Disponível em:
Mutani, G. e Todeschi, V. (2020) The Effects of https://doi.org/10.1590/s1415-
Green Roofs on Outdoor Thermal Comfort, Urban 43662011001200001.
Heat Island Mitigation and Energy Savings.
Speak, A. F., Rothwell, J. J., Lindley, S. J., Smith,
Atmosphere, 11(2), p.123. Disponível em:
C. L (2012) Urban particulate pollution reduction
https://doi.org/10.3390/atmos11020123.
by four species of green roof vegetation in a UK
Ngan, G. (2004) Green roof policies: tools for city. Atmospheric Environment, 61(1), 283-293.
encouraging sustainable design. Toronto, Disponível em:
Landscape Architecture Canada Foundation – https://doi.org/10.1016/j.atmosenv.2012.07.043.
LACF.
Suga, M. (2005) Avaliação do potencial de
Oke, T. R. (1978) Boundary layer climates. New aproveitamento de luz natural em cânions urbanos:
York, Methuen. estudo realizado nos eixos estruturais de Curitiba.
211f. Dissertação de Mestrado em Tecnologia,
Panão, M. J. N. O., Gonçalves, H. J. P. e Ferrão. P.
Universidade Tecnológica Federal do Paraná –
M. C. (2009) Numerical analysis of the street
UTFPR, Curitiba. Disponível em:
canyon thermal conductance to improve urban
http://www.utfpr.edu.br/cursos/coordenacoes/strict
design and climate. Building and Environment,
o-sensu/ppgte/defesas/ppgte-mestrado-mauro-suga
44(1), 177-187. Disponível em:
https://doi.org/10.1016/j.buildenv.2008.02.004. Valesan, M. (2009) Percepção Ambiental de
moradores de edificações residenciais com pele-
PMC – Prefeitura Municipal de Curitiba. (2010).
verde em Porto Alegre. 178f. Dissertação de
Planta cadastral do município de Curitiba.
Mestrado em Engenharia Civil, Universidade
Curitiba, Prefeitura Municipal de Curitiba.
Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.
Pugh, T. A. M., Mackenzie, R. A., Whyatt, D. J. e Disponível em
Hewitt, N. C. (2012) Effectiveness of green https://lume.ufrgs.br/handle/10183/23933.
Revista de Morfologia Urbana (2021) 9(1): e00152 Rede Lusófona de Morfologia Urbana ISSN 2182-7214
Envelopamento vegetal em cânions urbanos 18
Revista de Morfologia Urbana (2021) 9(1): e00152 Rede Lusófona de Morfologia Urbana ISSN 2182-7214
Deteção remota: possibilidades para uma abordagem
dinâmica e integrada do ecossistema urbano
Revista de Morfologia Urbana (2021) 9(1): e00155 Rede Lusófona de Morfologia Urbana ISSN 2182-7214
Deteção remota 2
Revista de Morfologia Urbana (2021) 9(1): e00155 Rede Lusófona de Morfologia Urbana ISSN 2182-7214
Deteção remota 3
Revista de Morfologia Urbana (2021) 9(1): e00155 Rede Lusófona de Morfologia Urbana ISSN 2182-7214
Deteção remota 4
Revista de Morfologia Urbana (2021) 9(1): e00155 Rede Lusófona de Morfologia Urbana ISSN 2182-7214
Deteção remota 5
Revista de Morfologia Urbana (2021) 9(1): e00155 Rede Lusófona de Morfologia Urbana ISSN 2182-7214
Deteção remota 6
sido Rao (1972) o primeiro autor a manutenção dos fluxos de matéria e energia
demonstrar que tal era possível. Verdade seja (e.g., água), através de estruturas contínuas,
dita, a Ts é praticamente a única variável ou em algumas situações elementos
relevante que se encontra ampla e descontínuos (Magalhães, 2007).
explicitamente disponível para estudos
climáticos com enfoque cronogeográfico Aplicação da Deteção Remota ao
(Miller e Small, 2003), pelo que constitui um planeamento territorial
dos parâmetros biofísicos mais utilizados na O processamento das imagens captadas pela
determinação dos impactes da urbanização constelação de satélites destinados à
(Sharma et al., 2013; Pinheiro et al., 2016; Observação da Terra fornece, per si ou em
Amorim, 2017; Pinheiro e Laranjeira, 2020). conjunto com outras fontes, um
Noutro cômputo, e em número mais conhecimento sem precedentes sobre as
reduzido, os dados diurnos e noturnos dos múltiplas dimensões do fenómeno urbano
satélites têm sido utilizados para a realização (Chrysoulakis et al., 2014; Kadhim et al.,
de estimativas populacionais, no que se 2016). Esta informação, mais do que
refere ao seu tamanho, densidade e aplicável à resolução de problemas
distribuição espacial. Esta análise científicos, revela-se fundamental para a
quantitativa revela-se especialmente elaboração de estratégias de gestão ambiental
importante em países que não possuem dados e medidas de planeamento e ordenamento do
de censos da população recentes e fiáveis, território, particularmente à escala local onde
esperando-se que no futuro a informação o detalhe espacial e temporal dos dados se
derivada a partir das imagens de satélite revela quase sempre insuficiente. Tanto mais
possa contribuir para estimativas que, as mudanças no território, presenciadas
intercensitárias, particularmente nos países a um ritmo sem precedentes na história
que verificam um crescimento populacional (Mayaux et al., 2008; Seto et al., 2010),
muito acelerado. obrigam a constantes atualizações das bases
de dados.
Ainda no domínio das Ciências Sociais
(Urbanas), a investigação com recurso à Note-se que, as imagens de satélite
Deteção Remota tem-se voltado para a apresentam cobertura temporal contínua e
compreensão da relação do ambiente físico sincrónica (e.g., no Landsat a captura ocorre
urbano (no qual se incluem os espaços por volta das 10h/11h), pelo que ao contrário
verdes) com os diversos aspetos, dos registos tradicionais que efetuam
designadamente: (i) processos demográficos medições pontuais, sobre as quais é
(e.g., Huang et al., 2011), (ii) temáticas necessário efetuar generalizações e
sociais, como a qualidade de vida (e.g., Fung correções, apresentam valores homogéneos
e Siu, 2000) ou a criminalidade (e.g., Al- para a seu grau de resolução, captados numa
Awar e El-Baz, 2010); (iii) questões de saúde fração de segundos. A ausência de custo na
pública (e.g., Dousset et al., 2011; Depietri et aquisição da quase totalidade dos arquivos da
al., 2013); e, (iv) situações de (in)justiça NASA e da Agência Espacial Europeia,
ambiental, como o acesso a espaços verdes somada à periodicidade da captura (e.g., 16
(e.g Dadvand et al., 2014). dias no Landsat, quatro vezes ao dia no
MODIS), facilita a atualização da
Outrossim, a visão sincrónica que a Deteção
informação. Este update é particularmente
Remota fornece do ecossistema urbano
importante em situações de catástrofe – e.g.,
propicia uma avaliação das implicações que
terramotos, inundações, incêndios florestais,
as decisões de planeamento urbano – e.g., o
ondas de calor – uma vez que permite avaliar
zonamento funcional (Wilson et al., 2003,
os danos e direcionar de modo mais eficaz os
Pinheiro e Laranjeira, 2020) – têm no
meios de socorro. Por certo, esta informação
ambiente. Deste modo, auxilia na resposta a
poder ser aplicada antes, durante ou depois
um dos principais desafios que os atores
da ocorrência destes eventos, focando na
envolvidos no processo de planeamento
prevenção, gestão e recuperação destas
territorial enfrentam, especificamente como
situações, respetivamente. Assim, é possível
equilibrar as demandas do crescimento
avaliar não só as áreas urbanas, como
urbano com o correto funcionamento
também a sua envolvente, sem os
ecológico do território, dependente da
Revista de Morfologia Urbana (2021) 9(1): e00155 Rede Lusófona de Morfologia Urbana ISSN 2182-7214
Deteção remota 7
Revista de Morfologia Urbana (2021) 9(1): e00155 Rede Lusófona de Morfologia Urbana ISSN 2182-7214
Deteção remota 8
Batty, M. (2012) Building a science of cities. spaces, and pregnant women: roles of ethnicity and
Cities. 29, S9-S16. Disponível em: individual and neighbourhood socioeconomic
https://doi.org/10.1016/j.cities.2011.11.008. status. Environment International. 71, 101-108.
Disponível em:
Batty, M., Longley, P. (1994) Fractal Cities:
https://doi.org/10.1016/j.envint.2014.06.010.
geometry of form and function. London, Academic
Press. Dahal, K. R., Benner, S., Lindquist, E. (2017)
Urban hypotheses and spatiotemporal
Beaujeu-Garnier, J. (1995) Géographie Urbaine.
characterization of urban growth in the Treasure
Paris, Armand Colin Éditeur.
Valley of Idaho, USA. Applied Geography. 79, 11-
Bhata, B. (2010) Analysis of Urban Growth and 25. Disponível em:
Sprawl from Remote Sensing Data. Heidelberg, https://doi.org/10.1016/j.apgeog.2016.12.002.
Dordrecht, London, New York, Springer.
Depietri, Y., Welle, T., Renaud, F. G. (2013)
Cao, X., MacNaughton, P., Deng, Z., Yin, J., Social vulnerability assessment of the Cologne
Zhang, X., Allen, J. G. (2018) Using twitter to urban area (Germany) to heat waves: links to
better understand the spatiotemporal patterns of ecosystem services. International Journal of
public sentiment: a case study in Massachusetts, Disaster Risk Reduction. 6, 98-117. Disponível
USA. International Journal of Environmental em: https://doi.org/10.1016/j.ijdrr.2013.10.001.
Research and Public Health. 15(2), 250.
Dietzel, C., Herold, M., Hemphill, J., Clarke, K.
Disponível em:
(2005a) Spatio‐temporal dynamics in California's
https://doi.org/10.3390/ijerph15020250.
Central Valley: Empirical links to urban theory.
Carlson, T., Arthur, S. (2000) The impact of land International Journal of Geographical Information
use-land cover changes due to urbanization on Science. 19(2), 175-195. Disponível em:
surface microclimate and hydrology: a satellite https://doi.org/10.1080/13658810410001713407.
perspective. Global and Planetary Change. 25(1),
Dietzel, C., Oguz, H., Hemphill, J. J., Clarke, K.
49-65. Disponível em:
C., Gazulis, N. (2005b) Diffusion and coalescence
https://doi.org/10.1016/S0921-8181(00)00021-7.
of the Houston Metropolitan Area: evidence
Chen, L., Ren, C., Zhang, B., Wang, Z., Liu, M. supporting a new urban theory. Environment and
(2018) Quantifying Urban Land Sprawl and its Planning B: Planning and Design. 32(2), 231-246.
Driving Forces in Northeast China from 1990 to Disponível em: https://doi.org/10.1068/2Fb31148.
2015. Sustainability. 10(1), 188. Disponível em:
Dousset, B., Gourmelon, F., Laaidi, K., Zeghnoun,
https://doi.org/10.3390/su10010188.
A., Giraudet, E., Bretin, P., ... Vandentorren, S.
Chrysoulakis, N., Feigenwinter, C., (2011) Satellite monitoring of summer heat waves
Triantakonstantis, D., Penyevskiy, I., Tal, A., in the Paris metropolitan area. International
Parlow, E., ... Marconcini, M. (2014) A conceptual Journal of Climatology. 31(2), 313-323.
list of indicators for urban planning and Disponível em: https://doi.org/10.1002/joc.2222.
management based on earth observation. ISPRS
Fan, C., Myint, S. (2014) A comparison of spatial
International Journal of Geo-Information. 3(3),
autocorrelation indices and landscape metrics in
980-1002. Disponível em:
measuring urban landscape fragmentation.
https://doi.org/10.1016/S0921-8181(00)00021-7.
Landscape and Urban Planning. 121, 117-128.
Coppin, P., Jonckheere, I., Nackaerts, K., Muys, Disponível em:
B., Lambin, E. (2004) Review Article – Digital https://doi.org/10.1016/j.landurbplan.2013.10.002.
change detection methods in ecosystem
Ferrão, J. (2014) O Ordenamento do Território
monitoring: a review. International Journal of
como Política Pública. Lisboa, Fundação Calouste
Remote Sensing. 25(9), 1565-1596. Disponível em:
Gulbenkian.
https://doi.org/10.1080/0143116031000101675.
Forman, R. (1995) Land Mosaics: The ecology of
Czamanski, D., Benenson, I., Malkinson, D.,
landscapes and regions. Cambridge, Cambridge
Marinov, M., Roth, R., Wittenberg, L. (2008)
University Press.
Urban sprawl and ecosystems–can nature survive.
International Review of Environmental and Fugate, D., Tarnavsky, E., Stow, D. (2010) A
Resource Economics. 2(4), 321-366. Disponível survey of the evolution of remote sensing imaging
em: systems and urban remote sensing applications.
https://ideas.repec.org/a/now/jirere/101.00000019. Em: Rashed, T. e Jürgens, C. (eds.) Remote
html. [Consultado em: 15 de dezembro de 2020]. Sensing of Urban and Suburban Areas.
Heidelberg, Dordrecht, London & New York,
Dadvand, P., Wright, J., Martinez, D., Basagaña,
Springer, pp. 119-140.
X., McEachan, R. R., Cirach, M., ...
Nieuwenhuijsen, M. J. (2014) Inequality, green
Revista de Morfologia Urbana (2021) 9(1): e00155 Rede Lusófona de Morfologia Urbana ISSN 2182-7214
Deteção remota 9
Fung, T., Siu, W. (2000) Environmental quality Earth Observation of Global Change. Dordrecht,
and its changes, an analysis using NDVI. Springer, pp. 85-108.
International Journal of Remote Sensing. 21(5),
Meneses, B., Reis, E., Pereira, S., Vale, M., Reis,
1011-1024. Disponível em:
R. (2017) Understanding driving forces and
https://doi.org/10.1080/014311600210407.
implications associated with the land use and land
García-Cueto, O., Jauregui-Ostos, E., Toudert, D., cover changes in Portugal. Sustainability. 9(3),
Tejeda-Martinez, A. (2007) Detection of the urban 351. Disponível em:
heat island in Mexicali, BC, México and its https://doi.org/10.3390/su9030351
relationship with land use. Atmósfera. 20(2), 111-
Miller, R., Small, C. (2003) Cities from space:
131.
potential applications of remote sensing in urban
Gluch, R., Ridd, M. (2010) The VIS model: environmental research and policy. Environmental
quantifying the urban environment. Em: Rashed, Science & Policy. 6(2), 129-137. Disponível em:
T. e Jürgens, C. (eds.) Remote Sensing of Urban https://doi.org/10.1016/j.scs.2015.04.001.
and Suburban Areas. Heidelberg, Dordrecht,
Netzband, M., Stefanov, W., Redman, C. (2007)
London & New York, Springer, pp.85-116.
Remote sensing as a tool for urban planning and
Herold, M., Hemphill, J., Dietzel, C., Clarke, K. sustainability. Em Stefanov, W e Redman, C.
(2005) Remote sensing derived mapping to support (eds.) Applied remote sensing for urban planning,
urban growth theory. 3rd International Symposium governance and sustainability. Berlin/Heidelberg,
Remote Sensing and Data Fusion Over Urban Springer, pp. 1-23.
Areas (URBAN 2005) and 5th International
Parker, J., Baro, M. (2019) Green Infrastructure in
Symposium Remote Sensing of Urban Areas (URS
the Urban Environment: A Systematic Quantitative
2005). 7pp.
Review. Sustainability. 11(3182). 20pp.
Huang, Y., Yuan, M., Lu, Y. (2019) Spatially Disponível em
varying relationships between surface urban heat https://doi.org/10.3390/su11113182.
islands and driving factors across cities in China.
Pinheiro, C., Laranjeira, M. (2020) Avaliação por
Environment and Planning B: Urban Analytics
deteção remota da influência ambiental do
and City Science. 46(2), 377-394. Disponível em:
zonamento no ecossistema urbano de Baga. Em:
https://doi.org/
Remoaldo, P., Caldeira, M., Teles, V., Scalabrini,
https://doi.org/10.1177%2F2399808317716935.
E., e Fernandes, J. (eds.) Livro de Atas do XII
Kádár, B. (2014) Measuring tourist activities in Congresso da Geografia Portuguesa, “Geografias
cities using geotagged photography. Tourism De Transição Para A Sustentabilidade”, 13 a 15
Geographies. 16(1), 88-104. Disponível em: de novembro de 2019. Guimarães, Universidade
https://doi.org/10.1080/14616688.2013.868029. do Minho e Associação Portuguesa de Geógrafos.
pp.127-132.
Kadhim, N., Mourshed, M., Bray, M. (2016)
Advances in remote sensing applications for urban Pinheiro, C., Laranjeira, M., Bandeira, M. (2016)
sustainability. Euro-Mediterranean Journal for Mudança no Ambiente Térmico em Guimarães
Environmental Integration. 1(1), 7. Disponível em: (1984-2014): o impacte da urbanização difusa.
https://doi.org/10.1007/s41207-016-0007-4. Em: Correia, J., e Bandeira, M. (eds.) ‘Os Espaços
da Morfologia Urbana’ – Atas da 5ª Conferência
Liu, T., & Yang, X. (2015) Monitoring land
Internacional da Rede Lusófona de Morfologia
changes in an urban area using satellite imagery,
Urbana, PNUM 2016., 15 a 16 de julho de 2016.
GIS and landscape metrics. Applied Geography.
Guimarães, Escola de Arquitectura da
56, 42-54.
Universidade do Minho/ Laboratório de Paisagens,
https://doi.org/10.1016/j.apgeog.2014.10.002.
Património e Território (Lab2PT). pp.409-415.
Liu, X., Li, X., Chen, Y., Tan, Z., Li, S., Ai, B.
Pinheiro, C., Laranjeira, M., Bandeira, M. (2018)
(2010) A new landscape index for quantifying
Observação da área urbana de Braga e Guimarães
urban expansion using multi-temporal remotely
pelo Landsat: mudanças espaciotemporais nas
sensed data. Landscape Ecology. 25(5), 671-682.
componentes biofísicas (1984-2016). Em: Vieira,
Disponível em: https://doi.org/10.1007/s10980-
A., Gonçalves, A., e Costa, F. (eds.) Atas do II
010-9454-5.
Encontro Luso-Afro-Americano de Geografia
Magalhães, M. (Coord.) (2007). Estrutura Física e Ambiente – “Desafios Para Afirmar a
Ecológica da Paisagem, Conceitos e Delimitação Lusofonia na Geografia Física e Ambiente, 4 a 8
– Escala Regional e Municipal. Lisboa, IsaPress. de junho de 2018. Guimarães, CEGOT-UMinho.
pp., 751-758.
Mayaux, P., Eva, H., Brink, A., Achard, F.,
Belward, A. (2008) Remote sensing of land-cover Rao, P. (1972) Remote sensing of urban heat
and land-use dynamics. Em: Chuvieco, E. (ed.) islands from an environmental satellite. Bulletin of
the American Meteorological Society. 53, 647-648.
Revista de Morfologia Urbana (2021) 9(1): e00155 Rede Lusófona de Morfologia Urbana ISSN 2182-7214
Deteção remota 10
Ridd, M. (1995) Exploring a V-I-S (vegetation- Viana, C., Oliveira, S., Oliveira, S., Rocha, J.
impervious surface-soil) model for urban (2019) Land use/land cover change detection and
ecosystem analysis through remote sensing: urban sprawl analysis. Em Pourghasemi, H., e
comparative anatomy for cities. International Gokceoglu, C (eds.) Spatial Modeling in GIS and
Journal of Remote Sensing. 16, 2165-2185. R for Earth and Environmental Sciences. Elsevier,
Disponível em: pp. 621-651. Disponível em:
https://doi.org/10.1080/01431169508954549. https://doi.org/10.1016/B978-0-12-815226-
3.00029-6
Rocha, J., Sousa, P. (2007) Integração de dados
estatísticos na classificação de imagens de satélite. Weeks, J. (2010) Defining Urban Areas. Em:
Lisboa, Centro de Estudos Geográficos da Rashed, T. e Jürgens, C. (eds.) Remote Sensing of
Universidade de Lisboa. Urban and Suburban Areas. Heidelberg,
Dordrecht, London & New York, Springer, pp.33-
Rocha, J., Tenedório, J., Estanqueiro, R. Sousa, P.
46.
(2007) Classificação de uso do solo urbano através
da análise linear de mistura espectral com imagens Weng, Q. (2011) Remote Sensing of Urban
de satélite. Finisterra. XLII(83), 47-62. Disponível Biophysical Environments. Em Weng, Q. (ed.)
em: https://doi.org/10.18055/Finis1438. Advances in Environmental Remote Sensing:
Sensors, Algorithms, and Applications. New York,
Roth, M. (2013) Urban heat islands. Em:
CRC Press, pp.503-516.
Fernando, H. (ed.) Handbook of Environmental
Fluid Dynamics - Volume Two. New York, CRC Weng, Q. (2012) Remote sensing of impervious
Press/Taylor & Francis Group, pp. 143-162. surfaces in the urban areas: Requirements,
methods, and trends. Remote Sensing of
Ryznar, R., Wagner, T. (2001) Using remotely
Environment. 117, 34-49. Disponível em:
sensed imagery to detect urban change: Viewing
https://doi.org/10.1016/j.rse.2011.02.030.
Detroit from space. Journal of the American
Planning Association. 67(3), 327-336. Disponível Wentz, E., Quattrochi, D., Netzband, M., Myint, S.
em: https://doi.org/10.1080/01944360108976239. (2012). Synthesizing urban remote sensing through
application, scale, data and case studies. Geocarto
Seto, K., Sánchez-Rodríguez, R., Fragkias, M.
International. 27(5), 425-442. Disponível em:
(2010) The new geography of contemporary
https://doi.org/10.1080/10106049.2012.687400.
urbanization and the environment. Annual Review
of Environment and Resources. 35, 167-194. Wilson, A. (2010) Remote sensing as the ‘X-ray
Disponível em: https://doi.org/10.1146/annurev- crystallography’for urban ‘DNA’. International
environ-100809-125336. Journal of Remote Sensing. 31(22), 5993-6003.
Disponível em:
Sharma, R., Ghosh, A., Joshi, P. (2013) Spatio-
https://doi.org/10.1080/01431161.2010.512308.
temporal footprints of urbanisation in Surat, the
Diamond City of India (1990–2009). Wilson, J., Clay, M., Martin, E., Stuckey, D.,
Environmental Monitoring and Assessment. Vedder-Risch, K. (2003) Evaluating environmental
185(4), 3313-3325. Disponível em: influences of zoning in urban ecosystems with
https://doi.org/10.1007/s10661-012-2792-9. remote sensing. Remote Sensing of Environment.
86(3), 303-321. Disponível em:
Stefanov, W., Netzband, M. (2010)
https://doi.org/10.1016/S0034-4257(03)00084-1.
Characterization and Monitoring of Urban/Peri-
urban Ecological Function and Landscape Xiao, H. Weng, Q. (2016) A tale of two cities:
Structure Using Satellite Data. Em: Rashed, T. e Urbanization in Greensboro, North Carolina, USA,
Jürgens, C. (eds.) Remote Sensing of Urban and and Guiyang, Guizhou, China. Em: Weng, Q. (ed.)
Suburban Areas. Heidelberg, Dordrecht, London Remote Sensing for Sustainability. New York,
& New York, Springer, pp. 219-244. CRC Press, pp.81-99.
Sui, D. (2011) Rethinking progress in urban Yang, M., Rim, H. (2014) Identifying interesting
analysis and modeling: models, metaphors, and Twitter contents using topical analysis. Expert
meaning. Em: Yang. X (ed.) Urban remote Systems with Applications. 41(9), 4330-4336.
sensing: Monitoring, synthesis and modelling in Disponível em:
the urban environment. New Jersey, John Wiley & https://doi.org/10.1016/j.eswa.2013.12.051.
Sons, pp.372-382.
Zhao, C., Fu, G., Liu, X., Fu, F. (2011). Urban
Veldkamp, A., Lambin, E. (2001) Predicting land- planning indicators, morphology and climate
use change. Agriculture, Ecosystems & indicators: A case study for a north-south transect
Environment. 85(1-3), 1-6. Disponível em: of Beijing, China. Building and Environment.
https://doi.org/10.1016/S0167-8809(01)00199-2 46(5), 1174-1183. Disponível em:
https://doi.org/10.1016/j.buildenv.2010.12.009
Revista de Morfologia Urbana (2021) 9(1): e00155 Rede Lusófona de Morfologia Urbana ISSN 2182-7214
Deteção remota 11
Revista de Morfologia Urbana (2021) 9(1): e00155 Rede Lusófona de Morfologia Urbana ISSN 2182-7214
Villas e Casas de Catálogo no sítio do Primeiro Loteamento de
Pelotas-RS: relações entre tipologia arquitetônica e
morfologia urbana
Revista de MorfologiaUrbana (2021) 9(1): e00181 Rede Lusófona de Morfologia Urbana ISSN 2182-7214
Villas e Casas de Catálogo no sítio do Primeiro Loteamento de Pelotas-RS 2 / 16
peculiaridade de sua implantação isolada no Segundo Lamas existe uma relação dialética
lote, em meio a recuos frontais e laterais. nesse contexto, em que “a forma urbana é
resultado, produto, e simultaneamente
geradora da tipologia edificada” (Lamas,
1992, p.86). O estudo de Costa e Gimmler
Netto (2015) também aborda essa relação de
interdependência entre a morfologia urbana e
o tipo edilício.
Dessa forma, o principal questionamento que
motivou este estudo foi a busca por
compreender de que maneira essa tipologia,
que se encontrava em um período de
transição, foi implantada no loteamento mais
Figura 1. Esquema do contexto de localização
antigo da cidade de Pelotas. Esta
(fonte: elaborado pelas autoras).
investigação parte do pressuposto de que as
principais características do sítio e do tipo
A experiência adquirida pela equipe do edilício são conflitantes, já que essa tipologia
Núcleo de Estudos de Arquitetura Brasileira tradicionalmente se insere em meio a grandes
(NEAB), situado na Faculdade de jardins, e os lotes desse tecido urbano são
Arquitetura e Urbanismo da Universidade conhecidos pela característica de serem
Federal de Pelotas (FAUrb/UFPel), que ao estreitos e compridos. Nessa perspectiva, as
longo dos últimos trinta anos estudou os inquietações se voltaram para entender o
centros urbanos historicizados de cerca de quanto o tipo contribuiu para alterações na
quatorze cidades da região geoeducacional da forma urbana, e o quanto a forma urbana
UFPel, motivou essa investigação (Jantzen et existente condicionou essa arquitetura.
al., 2010; Oliveira et al., 2013; Alves et al.,
2014). Neste momento, o interesse da equipe O método de trabalho consistiu na revisão
bibliográfica, que se debruçou sobre
volta-se para a compreensão das relações
entre morfologia e tipologia, aplicadas a um temáticas como tipologia arquitetônica,
recorte específico, as villas e casas de morfologia urbana e ecletismo. O referencial
teórico contemplou a leitura de autores como
catálogo.
Lamas (1992), Costa e Gimmler Netto
Este ensaio propõe uma reflexão sobre essa (2015), com o intuito de embasar a discussão
arquitetura do início do século XX e sua sobre morfologia urbana. As leituras de
inserção na cidade de Pelotas-RS, em Aragão (2006, 2008), Schlee (1993), Moura e
especial sua implantação no sítio do Primeiro Schlee (1998) foram voltadas para a
Loteamento da cidade (Figura 2), localizado compreensão de tipologias arquitetônicas e
na Área de Especial Interesse do Ambiente das transformações da arquitetura do período.
Cultural (AEIAC), Zona de Preservação do As investigações de Yunes (1999) e de
Patrimônio Cultural (ZPPC) (PELOTAS, Oliveira (2011) subsidiaram a compreensão
2008). A temática apresentada pretende do traçado das cidades do Sul do Rio Grande
contribuir para o entendimento da produção do Sul. O estudo de Jantzen et al. (2010) foi o
arquitetônica desse período, a partir da suporte para o entendimento das tipologias
relação entre tipologia edilícia e morfologia arquitetônicas recorrentes nessa região.
urbana.
Nessa perspectiva, o presente artigo propõe
uma caracterização morfológica da área de
estudo (sítio do Primeiro Loteamento), uma
discussão sobre as tipologias arquitetônicas
das primeiras décadas do século XX (villas e
casas de catálogo) e um debate sobre as
relações morfo-tipológicas que se
estabeleceram entre a cidade e arquitetura.
Os resultados buscaram compreender a
Figura 2. Esquema de localização da área de inserção dessas edificações na área estudada,
estudo (fonte: elaborado pelas autoras). apontando inquietações para o
desenvolvimento de outros estudos sobre o
tema.
Revista de MorfologiaUrbana (2021) 9(1): e00181 Rede Lusófona de Morfologia Urbana ISSN 2182-7214
Villas e Casas de Catálogo no sítio do Primeiro Loteamento de Pelotas-RS 3 / 16
Revista de MorfologiaUrbana (2021) 9(1): e00181 Rede Lusófona de Morfologia Urbana ISSN 2182-7214
Villas e Casas de Catálogo no sítio do Primeiro Loteamento de Pelotas-RS 4 / 16
O traçado reticulado e regular foi alterado em uma malha regular e retilínea. O pavimento e
frente ao largo onde implantou-se a primeira os revestimentos também são expressivos na
capela da povoação, em homenagem a São leitura da paisagem urbana sendo, porém, os
Francisco de Paula. O viajante Augusto de elementos mais suscetíveis às alterações.
Pinho, ao percorrer o sul da província na Nessa região ainda é possível identificar
segunda metade do século XIX, já relatava a alguns pavimentos do século XIX: os leitos
expansão da cidade rumo ao sul, ao descrever das ruas calçadas com pedra de granito,
que: regular ou irregular, os meios-fios executados
no mesmo material e as calçadas, em grande
o arruamento de Pelotas é talvez o parte, revestidas com tapetes de ladrilhos
mais bem traçado que possui o Império hidráulicos.
do Brasil, e bem poucas cidades da
Europa o terão tão perfeito e regular. Os edifícios possuem um papel importante no
Dezoito ruas de boa largura e quatro conceito do autor, o qual considera que são
praças muito bem alinhadas são o que eles que dão forma à cidade e aos outros
por enquanto formam o que se pode elementos desse espaço, como por exemplo a
chamar de cidade (Pinho, 1869, apud rua e a praça. As características desse
Magalhães, 2000, p.150). elemento (o edifício) são construtoras da
paisagem da cidade e, consequentemente,
Na ocupação inicial o destaque era a determinantes da forma urbana.
edificação da capela primitiva que, segundo
Também para Costa e Gimmler Netto (2015),
Rossi (1999), configura-se como um fato
a interpretação do ambiente construído
urbano. No terreno aos fundos da capela
começa na análise da escala do edifício, que
localizava-se o antigo cemitério (Aires,
podem ser classificados em “tipos edilícios
2018), elemento também importante na
especializados” (que têm uma função
composição urbana desse período.
diferenciada) ou “tipos edilícios básicos”
A leitura morfológica desse trecho da cidade (representados pelas residências
foi realizada a partir da análise da planta multifamiliares e unifamiliares).
urbana e do referencial teórico proposto por
Outro conceito abordado por Lamas (1992) é
Lamas (1992) e por Costa e Gimmler Netto
a definição de lote. O lote é o resultado do
(2015). As características determinantes
parcelamento dos quarteirões (elemento
desse sítio são compreendidas por Lamas
mínimo), fundamental na concepção da
(1992) como componentes da dimensão
separação entre espaço público e privado. É
espacial na morfologia urbana, mais
também um elemento condicionante da
especificamente a escala do bairro. Essa
edificação e, por consequência, da cidade. Os
escala compreende as partes homogêneas
lotes do sítio do Primeiro Loteamento da
identificáveis da cidade, como no caso do
cidade de Pelotas tiveram seu parcelamento
trecho urbano aqui estudado. Lamas (1992)
original regular, a partir da divisão de
especifica que a escala do bairro é formada
quarteirões homogêneos.
pelo conjunto de quarteirões com
características comuns. Esses, por sua vez, A unidade morfológica do quarteirão, que
são formados pelos elementos morfológicos agrega e organiza a malha urbana (Lamas,
do espaço urbano. 1992), é um elemento que possibilita uma
leitura nítida do sítio de estudo. A retícula
Os elementos morfológicos apontados por
regular projetada nos primeiros anos da
Lamas (1992) que permitiram uma
freguesia, e que hoje configura o centro da
compreensão da área de estudo foram o solo,
cidade, ainda conserva muitas das
o edifício, o lote, o quarteirão, a fachada, o
características do traçado original que é
traçado da rua, a praça e a vegetação. Esses
identificado inclusive pela própria população
elementos constituíram as categorias de
com essa atribuição.
análise da morfologia urbana da área de
estudo - Sítio do Primeiro Loteamento. No limiar entre o espaço público e o privado
encontra-se o elemento que proporciona a
Segundo Lamas (1992) o solo e sua
identificação do edifício: a fachada. Ela é
topografia desenham as cidades e, a partir
divisão e também comunicação entre o
deles, já é possível identificar elementos
exterior e interior, e por trás dela o programa
morfológicos urbanos. No caso de Pelotas, o
da edificação se desenrola de diversas
terreno plano possibilitou a implantação de
formas. No caso do Primeiro Loteamento,
Revista de MorfologiaUrbana (2021) 9(1): e00181 Rede Lusófona de Morfologia Urbana ISSN 2182-7214
Villas e Casas de Catálogo no sítio do Primeiro Loteamento de Pelotas-RS 5 / 16
muitas vezes, as fachadas dos prédios são ZPPC 1 é, até os dias de hoje, uma área com
também o limite do lote, característica do pouca ocorrência de vegetação nas vias
contexto urbano e construtivo no qual o sítio públicas. As ruas e calçadas estreitas
surgiu. A conformação de edificações dificultam a inserção das massas vegetais. No
implantadas no alinhamento predial é entanto, essa característica faz com que se
marcante nessa configuração urbana. Essa destaquem a Praça José Bonifácio, o Parque
característica é inclusive reforçada pela Dom Antônio Zattera e a Avenida Bento
legislação municipal de preservação do Gonçalves, as quais ainda hoje conservam
patrimônio cultural, que incentiva a sua vegetação. A Rua General Osório, que se
manutenção dessa implantação no local sobressai pelo seu gabarito, foi uma avenida
(Pelotas, 2008). com canteiro central arborizado, que perdeu
essa característica em prol de melhoramentos
O traçado é um dos elementos morfológicos
viários.
mais resistentes à alterações, sendo comum
sua persistência com o passar do tempo. É ele Os elementos morfológicos descritos por
que delimita as escalas e níveis, as direções Lamas (1992) auxiliam a leitura da
de expansão e é o orientador dos transeuntes. conformação da área de estudo. Atualmente,
No sítio de estudo esse elemento se manteve o sítio do Primeiro Loteamento abriga uma
pouco alterado, preservando não só a série de edificações de diferentes
conformação regular do traçado, mas também temporalidades. Apesar da preservação de
a largura das ruas. muitas das características morfológicas
iniciais, é possível caminhar pela localidade e
A praça é um elemento importante na zona
encontrar edificações de pequeno e grande
de estudo, pois é o elemento morfológico
portes e de temporalidades distintas. Essa
central do primeiro plano urbano da
particularidade reforça um dos conceitos da
localidade, a partir do qual se organizam e
Escola Inglesa de Morfologia Urbana, que M.
distribuem as demais ruas e quarteirões.
R. G. Conzen denomina de palimpsesto. As
Conhecida popularmente como Praça da
autoras destacam que para Conzen “quanto
Catedral, a Praça José Bonifácio (antiga
maior for o número das camadas envolvidas
Praça da Matriz) foi elemento fundamental
maior será a quantidade de períodos
na elaboração do Primeiro Loteamento.
sucessivos que inscreveram suas formas na
Em torno da capela primitiva, que paisagem urbana, como um palimpsesto”
posteriormente foi elevada à catedral, (Costa e Gimmler Netto, 2015, p.65).
formou-se o contexto da primeira malha
A investigação proposta busca compreender
urbana da cidade. Esse edifício-monumento é
como esse sítio fortemente historicizado
um elemento marcante da ambiência do sítio.
recebeu a tipologia de edificações das villas e
O interesse desse edifício para o estudo
casas de catálogo, sobre as quais as análises
ocorre pela sua importância como polo
deste estudo se debruçaram.
estruturante do traçado da zona estudada. Já
para Rossi (1999), esse elemento pode ser
Caracterização da tipologia: as villas e
interpretado como um fato urbano, uma
casas de catálogo
edificação/monumento que evoca a memória
coletiva e toma forma como a “alma da As transformações urbanísticas e as
cidade” (Rossi, 1999, p. 17). Nos instalações de redes de infraestrutura urbana
entendimentos da Escola Italiana de que ocorreram na virada do século XIX para
Morfologia Urbana, esse elemento é o século XX mudaram a forma de construir e
interpretado como um tipo edilício habitar. O período marcado pelos grandes
especializado, pois além de sua função planos urbanos higienistas e pelo sanitarismo
específica, é um marco da paisagem urbana, nas grandes capitais repercutiu em Pelotas,
que contrasta com o tipo básico, que são os período em que a cidade também passou por
edifícios residenciais (Costa e Gimmler essas transformações (Soares, 2000).
Netto, 2015). A rua, que no Brasil daquela época era mero
A vegetação é um elemento morfológico resultado das edificações nela alinhadas e de
importante que, no entanto, se destaca pela seus usos, passou a ganhar relevância nesse
sua escassez na área de estudo. Apesar do processo de “reeuropeização” (Freyre, 2003),
caráter da vegetação como componente de e não só as praças eram foco de qualificação,
sentido organizador e estético da paisagem, a mas a própria rua passou a ser pavimentada e
Revista de MorfologiaUrbana (2021) 9(1): e00181 Rede Lusófona de Morfologia Urbana ISSN 2182-7214
Villas e Casas de Catálogo no sítio do Primeiro Loteamento de Pelotas-RS 6 / 16
iluminada. Uma nova forma de viver o A definição de tipo edilício foi expressa
espaço urbano estava se instaurando, e com formalmente pela primeira vez no início do
ela um novo modo de pensar a edificação. século XIX por Quincy com a publicação do
terceiro volume de Encyclopédie Méthodique
As mudanças no âmbito residencial
- Architecture (Pereira, 2008). O autor faz
ocorreram quando essas transformações do
uma vasta reflexão sobre a simbologia e os
urbano chegaram ao lote: a urbanidade
significados do termo. Em suma, o tipo é um
transpôs o limite do público-privado e mudou
elemento fundamental que imprime o caráter
a vida doméstica. O pensamento sanitizador
distintivo aos edifícios (Pereira, 2008).
trouxe a busca pela iluminação e aeração
natural das residências, que se tornou cada Ainda para Oliveira e Seibt (2005), o critério
vez mais presente. Essas modificações das características tipológicas é definido
ocorreram não só pela ressonância de pelos tipos construídos, as quais, por sua vez
intervenções sanitárias decorrentes das são condicionados pelas características do
epidemias, que assolavam os centros urbanos lote, da função, das técnicas, dos materiais
(Soares, 2001), mas também pelo caráter empregados, do clima, da topografia, da
estético idealizado das villas europeias e das situação, da distribuição do programa de
casas de campo e veraneio Brasil afora. necessidades na planta baixa, pelas normas
construtivas e condições financeiras do
A casa no alinhamento predial, com pouca
proprietário.
luz e ventilação naturais, já não condizia
mais com a cidade que se modernizava. A Costa e Gimmler Netto (2015) indicam que
moradia nesse momento buscava os ares Muratori aponta a existência de uma maneira
salutares e românticos dos jardins, que de edificar, concebida pela sociedade através
deixaram de ser apenas o jardim-horta-pomar de sua herança cultural e intrínseca ao seu
da casa brasileira do século XIX, descrita por saber. Esse conceito de "tipo", desenvolvido
Aragão (2008) e viraram um adereço da casa, pela Escola Italiana de Morfologia Urbana,
como explica a autora: interpreta o modelo de edificações
produzidas em determinado tempo e em
No interior do lote, para que os determinado local, como um modo de
dormitórios recebessem iluminação e construir que é manifestado às pessoas
fossem melhor ventilados, estabeleceu- através da "consciência espontânea".
se o recuo de um ou de ambos os lados
da construção; para garantir maior Ainda para Muratori, a construção de
privacidade aos moradores, a casa edificações que representam o "tipo", podem
afastou-se da rua, por meio do ser explicadas por meio de uma analogia com
estabelecimento do recuo frontal – o próprio ser humano (Costa e Gimmler
ideal para a implantação do jardim em Netto, 2015). Nesse sentido, é possível
frente à residência como elemento de interpretar esse processo com a analogia de
valorização da arquitetura. A passagem que a edificação faz parte do indivíduo, de
do jardim dos fundos para o jardim forma que as transformações do tipo ao longo
lateral ou frontal levou também a do tempo são correspondentes a mutações
alterações na concepção desse espaço biológicas.
livre, que deixou de estar misturado às Os estudos de Jantzen et al. (2010),
hortas e pomares, tornando-se fundamentados no legado de Muratori,
fundamentalmente ornamental debruçaram-se sobre as tipologias recorrentes
(Aragão, 2008, p.2). no Sul do Rio Grande do Sul. Essas
investigações apontaram que os tipos
Essas transformações nas mais diversas
edilícios mais encontrados foram as casas de
escalas, que repercutiram em modificações
porta e janela, corredor lateral e corredor
no ambiente urbano e domiciliar, levaram ao
central, em linguagens luso-brasileira,
surgimento de uma nova tipologia edilícia
eclética e proto-moderna, que formam a
nas cidades. O estudo dos tipos edilícios é
maioria do tecido (ou arquitetura de
prática recorrente nas pesquisas em
acompanhamento) das cidades estudadas.
Arquitetura e Urbanismo no Brasil. A
Nos estudos que antecederam este trabalho,
primeira menção ao termo, no sentido o qual
foram identificadas algumas villas e casas de
conhecemos atualmente, é atribuída ao
catálogo, que motivaram a pesquisa sobre
teórico Quatremère de Quincy (Pereira,
esse recorte tipológico ainda pouco estudado.
2008).
Revista de MorfologiaUrbana (2021) 9(1): e00181 Rede Lusófona de Morfologia Urbana ISSN 2182-7214
Villas e Casas de Catálogo no sítio do Primeiro Loteamento de Pelotas-RS 7 / 16
Revista de MorfologiaUrbana (2021) 9(1): e00181 Rede Lusófona de Morfologia Urbana ISSN 2182-7214
Villas e Casas de Catálogo no sítio do Primeiro Loteamento de Pelotas-RS 8 / 16
Revista de MorfologiaUrbana (2021) 9(1): e00181 Rede Lusófona de Morfologia Urbana ISSN 2182-7214
Villas e Casas de Catálogo no sítio do Primeiro Loteamento de Pelotas-RS 10 / 16
Revista de MorfologiaUrbana (2021) 9(1): e00181 Rede Lusófona de Morfologia Urbana ISSN 2182-7214
Villas e Casas de Catálogo no sítio do Primeiro Loteamento de Pelotas-RS 12 / 16
Figura 18. Gráfico das testadas dos lotes estudados com base nos parâmetros de Oliveira (2012) (fonte:
elaborado pelas autoras).
Figura 19. Gráfico das profundidades dos lotes estudados com base nos parâmetros de Oliveira (2012)
(fonte: elaborado pelas autoras).
A análise das profundidades (Figura 19) foi 4568/2000 concluiu-se, após esse
realizada da mesma forma, e o cruzamento levantamento, que uma parte considerável
dos parâmetros revela novamente uma dos exemplares estudados não é contemplada
predominância dos lotes de profundidade de com essa forma de proteção patrimonial
tamanho médio, entre 20m e 50,5m. (Figura 20).
Sobre a existência de instrumentos de Uma questão que merece atenção nesse item
salvaguarda para os bens de interesse de análise é a semelhança entre os bens de
localizados nessa área, foi efetuada uma interesse protegidos pelo instrumento legal e
consulta junto à documentação os que não possuem proteção. Essa
disponibilizada pela Secretaria de Cultura do inquietação pauta-se no questionamento
município (SeCult) acerca da vigência de sobre quais os critérios de seleção foram
proteção legal através de tombamento e/ou de escolhidos para identificar os bens a serem
inventário municipal. Nenhum imóvel salvaguardados, já que se observa obras
identificado pela pesquisa encontra-se muito semelhantes que não possuem o
tombado em âmbito municipal, estadual ou mesmo reconhecimento (Figuras 21 e 22).
federal. Sobre os imóveis inventariados no
âmbito municipal através da Lei nº
Revista de MorfologiaUrbana (2021) 9(1): e00181 Rede Lusófona de Morfologia Urbana ISSN 2182-7214
Villas e Casas de Catálogo no sítio do Primeiro Loteamento de Pelotas-RS 13 / 16
de estudo está intimamente vinculada às Ruas o quanto a malha urbana se relaciona com a
Gonçalves Chaves e Almirante Barroso, e à tipologia arquitetônica. Uma das alternativas
Avenida Bento Gonçalves. A referida para manter a intenção compositiva do
avenida é representada em cartografias da período foi a implantação de casas geminadas
época como limite norte da expansão urbana que, apesar de pertencerem a proprietários
da cidade, local do Passeio Público. independentes, são percebidas como uma
Possivelmente, o parcelamento tardio desses única construção (Figura 12).
logradouros viabilizou a consolidação de
Outra estratégia projetual para a implantação
lotes de maiores dimensões, conformando
dessa tipologia em terrenos estreitos parece
assim localizações atrativas para a
ser a proposição de edificações em dois
implantação de villas.
pavimentos, que se destacam em relação às
As casas de catálogo tratam-se de exemplares térreas e que, de certa forma, liberam uma
da mesma tipologia arquitetônica, que parcela da ocupação do lote para inserção dos
passaram por variações sincrônicas, no recuos através da sobreposição dos
entendimento de Costa e Gimmler Netto pavimentos.
(2015). Nesse sentido, é possível interpretar
A sistematização dos dados coletados
que essas modificações se referem às
possibilitou ainda inquietações em relação
variações citadas por essas autoras, nas quais
aos critérios para a seleção das edificações
o tipo básico é modificado para se adaptar às
que possuem instrumentos legais de proteção.
especificidades da malha urbana em que se
A ferramenta do Google Street View permitiu
implanta, nesse caso, o Sítio do Primeiro
uma abordagem de investigação que não
Loteamento.
estava prevista inicialmente, já que
A relação tipo-morfológica apontou que os possibilitou a identificação das
bens de interesse localizados na área de descaracterizações e substituições das villas e
estudo encontravam-se, principalmente, em casas de catálogo ao longo do tempo.
terrenos com dimensões médias de testada e
Através deste estudo, foi possível constatar
profundidade. Essa característica deve-se ao
que a tipologia estudada está presente não
período de ocupação da área, em princípios
somente próxima aos limites urbanos (no
do século XIX, que remete a um
período de sua consolidação), mas que esses
parcelamento que ainda traz ressonâncias do
exemplares também foram inseridos na
período luso-brasileiro, com lotes estreitos e
malha urbana consolidada da cidade, a partir
compridos. A particularidade desses lotes
das adaptações apontadas anteriormente
dificulta a implantação de edificações
como estratégias de inserção. Assim como
isoladas no terreno, limitando o recuo a
outras linguagens ou temporalidades que
somente uma das laterais (Figuras 6, 12 e
possuem bens salvaguardados (como o
22).
ecletismo e o luso-brasileiro), aponta-se a
Dessa forma, as obras que se aproximam dos importância da realização de um estudo mais
estudos de referência localizam-se detalhado sobre essas obras, para que possam
principalmente nas bordas do sítio. Nos ser identificados exemplares significativos
demais casos, a implantação ainda se mantém que possuem valor cultural e que merecem
vinculada a uma das faces do lote, indicando ser patrimonializados.
Revista de MorfologiaUrbana (2021) 9(1): e00181 Rede Lusófona de Morfologia Urbana ISSN 2182-7214
Villas e Casas de Catálogo no sítio do Primeiro Loteamento de Pelotas-RS 15 / 16
Referências
Jantzen, S. A. D. et al. (2010) Architectural
Aires, A. (2018) A cidade cemiterial: Patrimony in Urban Areas: Methodology and
Cemitério da Santa Casa de Misericórdia de Case Studies of the South of Rio Grande do
Pelotas (1855-1976). Dissertação de Sul, Brazil. Em: 17th Conference
mestrado, Universidade Federal de Pelotas, International Seminar on Urban Form -
Brasil. ISUF, 2010, Hamburgo and Lübeck. Full
Alves, I., Paula, V., Silveira, A. e Oliveira, Paper CD. Hamburgo: University of
A. (2014) O NEAB e a preservação Hamburg, 2010.
patrimonial: três décadas de cadastramento e
registro do patrimônio das cidades do distrito Lamas, J. M. R. Garcia. (1992) Morfologia
geoeducacional da UFPel. Em: II Seminário urbana e desenho da cidade. Lisboa,
História e Patrimônio, 2014. Anais Fundação Calouste Gulbekian.
eletrônicos do II Seminário de História e Magalhães, M. O. (1993) Opulência e
Patrimônio. Diálogos e perspectivas, 2014, Cultura na Província de São Pedro do Rio
Rio Grande, Brasil. Rio Grande, FURG, 575- Grande do Sul: um estudo sobre a história de
584. Pelotas (1860-1890). Pelotas, Editora
Aragão, S. (2006) O estudo dos tipos- Universitária UFPel.
interfaces entre tipologia e morfologia urbana Magalhães, M.O. (2000) Pelotas: toda prosa
e contribuições para o entendimento da – 1º volume (1809 – 1871). Pelotas, Editora
paisagem. Geosul, 42, 29-43. Armazém Literário.
Aragão, S. (2008) A casa, o jardim e a rua no Moura, R. M. G. R.; Schlee, A. R. (1998)
Brasil do século XIX. Em tempo de histórias 100 Imagens da Arquitetura Pelotense.
- Publicação do Programa de Pós-graduação Pelotas, Palloti.
em História PPG-HIS/UNB, n.12, 151-162.
Oliveira, A. L. C. (2012) O portal meridional
Costa, S. de A. P.; Gimmler Netto, M. do Brasil: Rio Grande, São José do Norte e
M. (2015) Fundamentos de Morfologia Pelotas no período colonial (1737-1822).
Urbana. Belo Horizonte, C/Arte. Tese de doutorado, Universidade Federal do
Cruz, G. P. (1992) Pelotas, espaço construído Rio Grande do Sul, Brasil. 350. Disponível
no início da República. Em: Weimer, G. em: http://hdl.handle.net/10183/55510.
Urbanismo no Rio Grande do Sul. Porto [Consultado em: 17 ago. 2020].
Alegre, Editora Universidade UFRGS, 109- Oliveira, A. L. C; Jantzen, S. A. D; Silveira,
134. A. M. (2013) A ação do NEAB/FAUrb na
Freyre, G. (2003) Sobrados e Mucambos. 14ª preservação dos centros históricos da região
ed. revista. São Paulo, Global. sul do estado do Rio Grande do Sul. Em:
Michelon, F.F. Patrimônio Cultural
Gutierrez, E. J. B. (2001) Negros, Edificado da Universidade Federal de
charqueadas e olarias: um estudo sobre o Pelotas: primeiro estudo. 1ª ed. Pelotas,
espaço pelotense. 2ª ed. Pelotas, Editora Editora Universitária UFPel, 27-29.
Universitária UFPEL.
Oliveira, A. L. C; SEIBT, M. B. (2005)
Homem, M. C. N. (1993) Mudanças Programa de Revitalização Integrada de
Espaciais na Casa Republicana - A Higiene Jaguarão. Pelotas, Editora Universitária
Pública e Outras Novidades. Revista do UFPel.
Programa de Pós-graduação em Arquitetura
e Urbanismo da FAU/USP, 3, 5-18. Pelotas. (2008) Plano Diretor Municipal de
Pelotas. Disponível em:
IPHAN. (2018) Política do Patrimônio https://leismunicipais.com.br/plano-diretor-
Cultural Material. Brasília, IPHAN. pelotas-rs. [Consultado em: 20 ago. 2020].
Disponível em:
http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/183 Pereira, F. F. (2020) A arquitetura Feminina:
7[Consultado em: 17 ago. 2020]. Os ambientes femininos residenciais nas
Villas e Casas de Catálogo em Pelotas-RS,
nas primeiras décadas do século XX. Dossiê
Revista de MorfologiaUrbana (2021) 9(1): e00181 Rede Lusófona de Morfologia Urbana ISSN 2182-7214
Villas e Casas de Catálogo no sítio do Primeiro Loteamento de Pelotas-RS 16 / 16
Revista de MorfologiaUrbana (2021) 9(1): e00181 Rede Lusófona de Morfologia Urbana ISSN 2182-7214