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 ATENDIMENTO 24H

 ARTIGO

 Área consolidada, Termo de embargo ambiental


 16 jun às 07:57  9 Comentários

Saiba o que é Área


Rural Consolidada e
para que serve
 Escrito por

Diovane Franco
Advogado especialista em Direito Ambiental, do Agronegócio
e Tributário Ambiental.

O escritório tem recebido muitos casos de


autuações em “área rural consolidada”.
Entretanto, muitas vezes os clientes apenas
alegam: “Mas Doutor, minha área é
consolidada. Eu não poderia ser multado”.
Será mesmo?

Bom, meu nome é Diovane Franco,


especialista em Direito Ambiental e sócio
do escritório Farenzena & Franco
Advocacia Ambiental, e hoje irei
destrinchar a questão das áreas
consolidadas com você, nosso colega
leitor, cliente e parceiro de profissão.

O que é a área
consolidada?
Por “área rural consolidada” entende-se
aquela propriedade rural que possuía
ocupação antrópica (humana)
anteriormente a 22 de julho de 2008, com
edificações, benfeitorias ou atividades
agrossilvipastoris.

É dizer: é aquela área em que em


22.07.2008 já se encontrava em efetivo
uso.

Neste último caso, o que seriam as


atividades agrossilvipastoris? É a
atividade de agricultura, pastoril (equinos,
bovinos, suínos, ovinos e outros que se
utilizam pasto.

Por sua vez, as atividades de silvicultura


também se enquadram neste conceito,
sendo estas consideradas todas as
atividades relativas ao manejo das florestas
e produção de seus derivados.

Assim, o manejo sustentável, por exemplo,


é apto a caracterizar a Área Rural
Consolidada.

Mas qual a razão de


ser 22.07.2008, e não
outra data?
Essa data é publicação do Decreto
6.514/2008. Por sua vez, a área rural
consolidada foi prevista no Código
Florestal de 2012 (Lei 12.651/2012).

A data de 22.07.2008 se deve ao fato de


que antes dele não havia previsão legal de
infrações administrativas ambientais, de
modo que seriam considerados ilícitos tão
somente os atos praticados contra o
ambiente a partir da mencionada data
(MILARÉ; Machado, 2012).

Em verdade, entendemos que houve


desconsideração do Decreto anterior, qual
seja o 3.179/99, com um precípuo objetivo
de anistia àqueles que não tivessem
Reserva Legal e Áreas de Preservação
Permanente nos termos do novo Código, já
que houve “restrição”.

À exemplo, em área amazônica,


anteriormente o percentual de reserva legal
era de 50%, passando a ser 20% com o
novo Código. Por isso então a “anistia”.
Mas veremos que não se trata de “anistia”,
como muitos alegam.

O regime legal da área


consolidada:
sistemática e
funcionamento
Conforme é cediço, o Código Florestal
criou regras de transição para desmates
ocorridos antes de 22/07/2008.

De acordo com o artigo 66 da lei de


regência, “o proprietário ou possuidor de
imóvel rural que detinha, em 22 de julho
de 2008, área de Reserva Legal em
extensão inferior ao estabelecido no art.
12, poderá regularizar sua situação,
independentemente da adesão ao PRA,
adotando as seguintes alternativas: […]”.

E aí passa o artigo a falar nas formas de


regularização: recomposição, permissão de
regeneração da vegetação ou
compensação.

Além da instituição de formas gradativas de


regularização das áreas em questão, o
Código Florestal também estabeleceu
critérios para a conversão das multas
aplicadas em decorrência da supressão da
vegetação nativa dessas áreas.

A esse respeito, o §4º do art. 59, da Lei n.


12.651/12, determina que, no período
entre a publicação do Código Florestal e a
implantação do PRA – programa de
regularização ambiental –, em cada
Estado, o proprietário ou possuidor do
imóvel não poderá ser autuado por
infrações ambientais ocorridas antes de
22 de julho de 2008, relativas à
supressão irregular de vegetação.

É aqui que reside o grande ponto da


questão. O dispositivo legal em comento
prevê que, após a adesão do
interessado ao PRA e enquanto estiver
sendo cumprido o termo de
compromisso, o proprietário ou possuidor
não poderá ser autuado por infrações
cometidas antes de 22 de julho de 2008,
relativas à supressão irregular de vegetação
em Áreas de Preservação Permanente, de
Reserva Legal e de uso restrito.

Já o § 5º do artigo 59, da Lei n.


12.651/2012, estabelece que:

“a partir da assinatura do termo de


compromisso, serão suspensas as
sanções decorrentes das infrações
mencionadas no § 4º deste artigo e,
cumpridas as obrigações
estabelecidas no PRA ou no termo de
compromisso para a regularização
ambiental das exigências desta Lei,
nos prazos e condições neles
estabelecidos, as multas referidas
neste artigo serão consideradas como
convertidas em serviços de
preservação, melhoria e recuperação
da qualidade do meio ambiente,
regularizando o uso de áreas rurais
consolidadas conforme definido no
PRA.”

Nota-se que o Código Florestal trata de


forma distinta as infrações ambientais de
supressão de vegetação nativa ocorridas
antes de 22 de julho de 2008, inclusive no
âmbito sancionador, apartando
expressamente a aplicação de medidas de
caráter punitivo para solução do caso e
dando espaço a medidas que visem à
regularização gradativa dos passivos
ambientais, ao prever a possibilidade de
afastamento da multa condicionada à
recuperação do dano ambiental praticado
antes de 22 de julho de 2008, por meio da
adesão ao programa de regularização
ambiental, assinatura do termo de
compromisso e cumprimento das
condições impostas no curso do programa
em destaque.

Portanto, as conclusões que chegamos são


as seguintes:

a. Desmates anteriores a 22.07.2008: o


proprietário não poderá ser
autuado por infrações ambientais
ocorridas entre a publicação do
Código Florestal e a implantação do
sistema PRA;
b. Desmates anteriores a 22.07.2008
com adesão ao PRA: em caso de
infrações cometidas anteriormente a
esta data e havendo adesão ao PRA,
com a assinatura do termo de
compromisso ambiental, serão
suspensas as sanções.
c. Desmates posteriores a 22.07.2008:
será autuado normalmente. A área
deverá ficar embargada até que haja a
regeneração, retornando ao status quo
ante.

Percebe-se, facilmente, portanto, os


requisitos: desmate anterior a 22.07.2008
+ CAR + adesão ao PRA + assinatura do
termo de compromisso.

Ocorre que muitos estados, à exemplo do


Mato Grosso, não está como sistema do
PRA definitivamente implantado.

Nesses casos, a justiça tem decidido que o


registro da propriedade no CAR, acrescido
da adesão ao PRA, é suficiente para que
haja a suspensão da sanção, não sendo
impossível prejudicar o administrado por
ineficiência da máquina pública.

E as propriedades cuja
área sejam inferiores a
quatro módulos
fiscais?
Neste caso, o Código Florestal tratou de
modo ainda mais especial a situação das
propriedades com área inferior a quatro
módulos fiscais.

Com efeito, a Lei n. 12.651/2012, em seu


art. 67, é clara ao dispor que “nos imóveis
rurais que detinham, em 22 de julho de
2008, área de até 4 (quatro) módulos
fiscais e que possuam remanescente de
vegetação nativa em percentuais inferiores
ao previsto no art. 12, a Reserva Legal
será constituída com a área ocupada
com a vegetação nativa existente em
22 de julho de 2008, vedadas novas
conversões para uso alternativo do
solo.”

Portanto, não houve a imposição de


regularização do passivo ambiental das
propriedades que se enquadrem no
conceito de pequena propriedade
rural, não houve a exigência de
solução, ainda que gradativa, do dano
ambiental, diversamente do que
ocorreu em relação a propriedades
maiores que quatro módulos fiscais que
possuíam, em 22/07/2008, percentual
de reserva legal inferior ao previsto em
lei.

Conclui-se, diante da leitura do artigo 67,


que a intenção do legislador foi conceder
uma espécie de “anistia” em relação à
supressão de vegetação nativa ocorrida
antes de 22/07/2008 em área inferior a
quatro módulos, anistia essa que alcançou
não só o dever de reparar o dano, mas
também as sanções administrativas
correlatas.

Isso porque, no caso das propriedades


rurais em que há mais de quatro módulos
fiscais, o Código Florestal previu o
afastamento da multa, considerando-se
satisfeita tal sanção tão só com a
regularização do dano ambiental em
propriedades em que é exigida a
recuperação do dano ambiental anterior a
22/07/2008.

O legislador contentou-se no caso das


propriedades rurais acima de quatro
módulos fiscais, portanto, com a
recuperação do passivo ambiental,
deixando de lado a cobrança da sanção
pecuniária.

Ora, se na situação de maior relevância,


que são as propriedades maiores do que
quatro módulos fiscais, em que o Código
Florestal impôs a recuperação do passivo
ambiental, previu-se a possibilidade de
“perdão” da sanção pecuniária, não faz
sentido cobrar a multa daquele cujo dano
ambiental foi “anistiado” pelo legislador,
com relação ao qual não houve interesse
em cobrar-lhe a adesão ao PRA, assinatura
de termo de compromisso, ou qualquer
outra medida tendente à regularização do
dano ambiental.

Considerações finais e
benefícios
Conforme mencionado, o Código Florestal
tratou de forma diversa as situações
anteriores a 22/07/2008, afastando
expressamente medidas de caráter punitivo,
para dar lugar a medidas gradativas de
regularização das áreas degradadas antes
do marco temporal em discussão.

Analisando-se sob essa ótica, a manutenção


da sanção pecuniária nos casos de
supressão de vegetação, que o legislador
sequer revelou interesse em buscar a
recuperação, inverte a lógica estabelecida
pelo referido diploma legal.

Portanto, a pequena propriedade rural,


considerada aquela inferior a quatro
módulos fiscais, que possuía em
22.07.2008 remanescente de
vegetação nativa em percentuais
inferiores ao previsto no art. 12 do
Código Florestal, está “anistiada”, não
devendo recuperar o passivo ambiental
e, muito menos, pagar qualquer multa.

Conclui-se, portanto, que a área rural


consolidada traz diversos benefícios aos
proprietários de áreas rurais, já que a regra
é a suspensão das sanções para as
infrações anteriores a 22.07.2008 e, em se
tratando de pequena propriedade rural,
uma verdadeira anistia.

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Diovane Franco
Advogado especialista em Direito Ambiental, do Agronegócio
e Tributário Ambiental.

9 Comentários. Deixe novo

Roberto Oliveira
16 de agosto de 2023 17:59

E no caso da pequena propriedade rural (até 4


módulos fiscais) que não possuía mais nenhum
percentual de RL, anteriormente a 22/07/2008.
Como fica?
Responder

Cláudio Farenzena - Advogado


Ambiental
16 de agosto de 2023 18:55

Nesse caso é desnecessária a compensação


de Reserva Legal – RL, conforme prevê o
artigo 67 do Código Florestal, lembrando
que esse dispositivo foi declarado
constitucional pelo Supremo Tribunal Federal
– STF quando do julgamento das ADIs:

Art. 67. Nos imóveis rurais que detinham, em


22 de julho de 2008, área de até 4 (quatro)
módulos fiscais e que possuam
remanescente de vegetação nativa em
percentuais inferiores ao previsto no art. 12,
a Reserva Legal será constituída com a área
ocupada com a vegetação nativa existente
em 22 de julho de 2008, vedadas novas
conversões para uso alternativo do solo.

Qualquer dúvida estamos à disposição.


Responder

Arthur
14 de agosto de 2023 00:31

Comprei uma chácara apenas com contrato de


gaveta. Em 2020 fiz uma barragem com dispensa
de licença, após a construção da barragem, os
fiscais do Meio Ambiente da Prefeitura foram
fiscalizar e emitiram um laudo de que estava
regular e que a área se tratava de área rural
consolidada. Construí uma casa em 2021, porém,
o córrego passa nos fundos a menos de 20
metros. Agora, estudando sobre o assunto, vi que
talvez minha situação não esteja regular… há
possibilidade de eu ser multado por ter
construído a casa mesmo o laudo dizer que a
área é consolidada?
Responder

Cláudio Farenzena - Advogado


Ambiental
14 de agosto de 2023 06:07

Arthur, há uma série de elementos que


teríamos que analisar para dar um parecer.
Mas posso adiantar de que se a área é de
fato consolidada, sendo o curso d’água com
largura inferior a 10 metros e a propriedade
é pequena, segundo o Código Florestal de
2012 a área de preservação permanente é
de 5 metros. Mas como eu disse,
precisaríamos analisar o se caso através de
fotos, documentos, CAR, etc.
Responder

Roberto Belchior da Silveira


3 de agosto de 2023 19:10

Por favor, preciso de uma orientação e ficarei


muito grato se puder me ajudar.

Estou sendo obrigado a cercar uma área de


pastagem utilizada há muitos anos na
propriedade.

Passa um curso de água que só tem umidade.

Estão me obrigando a cercar 30 metros de cada


lado.

Não seria área consolidada?


Responder

Cláudio Farenzena - Advogado


Ambiental
4 de agosto de 2023 15:22

Roberto, não consigo emitir um parecer


apenas com base nestas informações. É
necessário analisar a área e documentos para
verificar se a sua propriedade rural se
enquadra no conceito de área rural
consolidada, bem como se foi feito o
Cadastro Ambiental Rural – CAR e assinado
o PRA. Se você quiser uma análise do seu
caso, entre em contato com conosco pelo
botão do WhatsApp aqui ao lado ou envie
um e-mail para
contato@advambiental.com.br. Fico à
disposição.
Responder

Ada Lucia Vieira Luiz


12 de abril de 2023 09:32

Como que se pode provar que a área é


consolidada?? visto que o proprietário pode usar
desse argumento para não ser multado, existe
algum documento que ele pode apresentar caso
seja multado, para comprovar que usava a área
antes de 22/07/2008.
Responder

Cláudio Farenzena - Advogado


Ambiental
13 de abril de 2023 11:42

Ada Lucia, há diversas formas de comprovar


que a área rural é consolidada, seja através
de imagens de satélite, notas de produtor
rural, de compra de insumos, e até mesmo
um laudo elaborado por engenheiro
ambiental, florestal ou outro técnico com
qualificação para atestar a situação de área
consolidada.
Responder

Rui Sergio Leme Strini


7 de dezembro de 2022 08:23

Interpretação sucinta e esclarecedora sobre área


rural consolidada e possíveis sanções
Obrigado
Responder

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