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UNIVERSIDADE AGOSTINHO NETO

FACULDADE DE CIÊNCIAS
DEPARTAMENTO DE ENSINO E INVESTIGAÇÃO DE GEOLOGIA

Disciplina: GEOQUÍMICA
INTRODUÇÃO

GEOQUÍMICA
É o ramo da ciência geológica que estuda a química do planeta. A
geoquímica utiliza as leis da química para entender os processos que
governam a abundância e distribuição dos elementos nas diversas
partes da Terra e nos corpos celestes (cosmoquímica), assim como nos
diversos materiais que compõem o interior e a superfície da Terra:
magmas, rochas, minerais, minérios, água, ar, etc.
GEOQUÍMICA
É a ciência que estuda de forma qualitativa e quantitativa as geosferas internas
(núcleo e manto) e externas (litosfera, atmosfera, hidrosfera e biosfera) que
formam a Terra, e as leis que controlam a distribuição dos elementos químicos e
seus isótopos em cada uma dessas partes e entre elas.

❖Determinar a abundância absoluta e relativa dos elementos e suas espécies químicas nos
diferentes sistemas naturais da Terra.
❖Estudar a distribuição e migração dos elementos nas diferentes partes que compõem a Terra
(litosfera, atmosfera, hidrosfera e biosfera), com o objectivo de obter informação sobre os
princípios que governam a migração e distribuição dos elementos (entre os diferentes sistemas
naturais).
EVOLUÇÃO HISTÓRICA

❖Até o século XVI, a matéria era considerada como


constituída por quatro elementos: Terra, Água, Fogo e Ar.
❖Essa teoria, concebida por Empédocles (490-435 AC),
considerava que as menores partículas do elemento Terra
eram cubos, do elemento Água, icosaedros, do elemento
Fogo, tetraedros e do elemento Ar, octaedros.

❖Já se conheciam, na Idade Média, metais como ouro, prata,


cobre, ferro, estanho, mercúrio e chumbo e substâncias como
enxofre e carbono, mas não eram considerados como
elementos. Substâncias como antimônio, arsênico, bismuto e
fósforo eram estudadas pelos alquimistas.

❖Com o desenvolvimento da Química Analítica no século


XVIII, dá-se início à descoberta de novos elementos. Lavoisier
publicou em 1789, a obra “Traité Élémentaire de Chimie”,
onde diferencia elementos de compostos químicos e
A descoberta de outros elementos desde o fim do século XVIII
até o fim do século XIX pode ser assim sumarizada:
Evolução do conceito
❖Christian Friedrich Schönbein: Geoquímica é o estudo químico
dos materiais geológicos
❖Vladimir Ivanovich Vernadsky (1929): A geoquímica estuda os
elementos químicos na crosta terrestre e, até onde seja possível,
em todo o globo terrestre.
❖Alexander Fersman (1934-39): A finalidade da geoquímica é o
estudo do elemento-átomo nas condições existentes na crusta
terrestre (assim como nas partes do Cosmos acessíveis a nossas
observações exatas).
❖Victor Moritz Goldschmidt (1922-30): O principal objectivo da
geoquímica é, por um lado, determinar de forma quantitativa a
composição da Terra e suas partes e, por outro, descobrir as leis
que controlam a distribuição individual dos elementos
❖Brian Harold Mason (1952): A geoquímica pode ser definida
como a ciência que trata da química da Terra como um todo e de
suas partes componentes. A geoquímica trata da distribuição e da
migração dos elementos químicos dentro da Terra no espaço e no
tempo
Evolução do Conceito
A Geoquímica é uma disciplina em constante evolução, que pode
ser condensada em quatro objectivos abrangentes:

❖Conhecer a distribuição dos elementos químicos na Terra e no


Sistema solar.
❖Descobrir as causas para as composições químicas observadas
em materiais terrestres e extraterrestres
❖Estudar as reações químicas na superfície da Terra, em seu
interior e no Sistema Solar.
❖Reunir essas informações em ciclos geoquímicos e
aprender/entender como esses ciclos funcionaram no passado
geológico e como eles podem ser alterados no futuro.
A GEOQUÍMICA MODERNA E SUAS RAMIFICAÇÕES

A geoquímica moderna tem suas raízes nos trabalhos de


Fersman e inicia-se a partir de 1950, quando os
geoquímicos voltam-se aos estudos das reações
químicas usando os conceitos de termodinâmica para
estudar a estabilidade
dos minerais.
A SUBDIVISÃO DA GEOQUÍMICA
A geoquímica hoje pode, por sua vez, ser dividida em
diversas subdisciplinas: Cristaloquímica, Geoquímica de Alta
Temperatura, Geoquímica de Baixa Temperatura
(geoquímica dos processos exógenos), Geoquímica
Oceânica, Geoquímica Orgânica, Geoquímica dos Isótopos,
Geoquímica Ambiental e Geoquímica de Exploração Mineral
ou Prospecção Geoquímica .
-Geoquímica Inorgânica, que se dedica ao estudo da
composição química de minerais e rochas, baseado nas
propriedades físicas e químicas dos elementos e seus
átomos;
PETROLOGIA ÍGNEA
❖Processos de fraccionamento: Série de Bowen
PETROLOGIA METAMÓRFICA

❖Paragêneses:
- Litogeoquímica, dedica se ao estudo da composição química das
rochas ígneas, metamórficas e sedimentares;

As linhas de pesquisa principais


são:
❖Modelagem matemática de
processos ígneos de fracionamento
das rochas.
❖Estudo de formação de minerais
e rochas através de diagramas de
fases.
GEOQUÍMICA ORGÂNICA
Dedica-se ao estudo da distribuição da matéria orgânica na
terra e aos processos que a controlam. As linhas de
investigação nessa área são:
❖Gênese, migração e exploração de hidrocarbonetos.
❖Estudo da origem, distribuição e caracterização de carvões.
HIDROGEOQUÍMICA
Relaciona-se ao estudo da origem e composição das águas superficiais e
subterrâneas. As principais linhas de pesquisa são:
❖Evolução química das águas subterrâneas.
❖Classificação e especiação química das águas.
❖Avaliação da qualidade da água para abastecimento público, uso
industrial e agrícola
❖Estudos de impactos ambientais.
GEOQUÍMICA MÉDICA

Dedica-se ao estudo da distribuição e migração de


elementos tóxicos no ambiente, e das relações entre o
ambiente geoquímico e as doenças causadas pela
abundância ou déficit de um dado elemento.
GEOQUÍMICA ISOTÓPICA

Dedica-se ao estudo da variação da composição


isotópica em materiais naturais. As linhas de
pesquisa nessa área são:

❖Geoquímica isotópica para datação de


minerais e rochas.
❖Geoquímica de isótopos estáveis.
A Geoquímica de Exploração Mineral, ou Prospecção
Geoquímica, utiliza os princípios da distribuição dos
elementos na natureza na busca de indicações para a
localização de depósitos minerais de valor económico.

No campo da pesquisa científica básica a geoquímica é


fundamental nos estudo da gênese e evolução das rochas
ígneas, metamórficas e sedimentares; no estudo da
distribuição e migração dos elementos e seus isótopos entre
as diversas partes que compõem o planeta, assim como na
A geoquímica ambiental tem uma história mais recente, porém de
grande desenvolvimento nas últimas décadas. Seu campo é vasto,
abrangendo o estudo da química dos oceanos, desde o fluxo de
poluentes nas zonas costeiras, aos efeitos hidrotermais nas zonas
profundas; o estudo da distribuição do dióxido de carbono e outras
substâncias na atmosfera, como, por exemplo, as emissões industriais
que provocam as chuvas ácidas; o estudo das águas superficiais de
lagos e rios e das águas subterrâneas, importante na determinação da
qualidade das águas para consumo humano; e o estudo dos efeitos
nocivos à saúde humana dos resíduos urbanos e dos defensivos
agrícolas
Técnicas geoquímicas de amostragem, análise e estatística de
águas e sedimentos superficiais permitem separar anomalias
geoquímicas naturais de anomalias oriundas de actividades
humanas e assim auxiliar na prevenção ou remediação de
danos ecológicos.
De uma forma geral, a geoquímica, entre algumas de suas
aplicações, serve para conhecer a distribuição dos elementos
químicos na Terra e em outros planetas, descobrir causas para
as composições químicas observadas em materiais do Sistema
Solar (incluindo a Terra), estudar as reações químicas na
superfície e no interior do nosso planeta, além de outros
planetas e, finalmente, reunir essas informações em ciclos
geoquímicos e assim entender como esses ciclos funcionaram
no passado e como eles podem ser alterados no futuro.
ORIGEM DOS ELEMENTOS QUÍMICOS

Existem muitas teorias sobre a origem do universo; a mais aceita até


hoje é a do big-bag, que significa a grande explosão, ocorrida há
aproximadamente 15 bilhões de anos. Inicialmente havia apenas
átomos de hidrogênio, que se chocaram nos três primeiros minutos,
originando átomos de Helio, surgindo assim as estrelas e galáxias. A
medida que as estrelas se formavam, os átomos de hidrogênio
fundiam-se aos de Helio, do seu interior, gerando átomos de lítio, que,
por sua vez, colidiam com os átomos de hidrogênio, produzindo o
berílio.
ORIGEM DOS ELEMENTOS QUÍMICOS

Dessa forma, hidrogênio e Helio primordiais, foram convertidos em


outros elementos.Os elementos mais pesados, após o ferro, formam
formados nas regiões mais externas das estrelas, pela captura de
nêutrons,. Há 4 ou 5 bilhões de anos, estes elementos foram carregados
por nuvens de gás, condensaram-se e começaram a formar o planeta
Terra. Os elementos, mais voláteis, devido ao intenso calor inicial,
escaparam, produzindo a atmosfera, enquanto silício, oxigênio e
alumínio formaram as rochas da superfície, e elementos mais densos,
como ferro e níquel, afundaram para o centro do planeta.
Origem dos elementos

A formação dos elementos está associada a evolução das estrelas, como mostra a Fig. 1.5,
diagrama de Hertzsprung-Russel (H-R).
A maioria das estrelas situa-se perto da curva representada, desde o canto infeirior direito
(baixa temperatura e baixa luminosidade) até o canto superior esquerdo (alta temperatura e
alta luminosidade). Esta região do diagrama é denominada Sequência Principal, com a estrela
de massa unitária (Sol = 1M0) ocupa a posição central.
Uma concentração de estrelas aparece acima e para a direita da Sequência Principal, enquanto
apenas algumas aparecem abaixo dela.
Quando uma estrela nasce, seu material está ainda muito diluído e expandido. Sua
temperatura superficial é baixa, de modo a situar-se na porção inferior direita do Diagrama H-
R.
Com a sua contração, temperatura e luminosidade aumentam e a estrela vai ocupando
posições sucessivamente e mais para a esquerda no diagrama.
A queima de Hidrogênio – a reacção termonuclear característica das
estrelas que se situam na Sequência Principal, em que pela fusão de
quatro núcleos de Hidrogênio forma-se um de 4He – inicia-se quando as
temperaturas centrais da estrela em formação atigem 107 K .
A queima do H no centro das estrelas, onde a temperatura é máxima,
produz He, elemento que permanece onde é formado, visto que o calor
produzido é transferido para as camadas mais externas por radiação, e
não por convecção.
A acumulação de He forma um núcleo que cresce, com o H em ignição,
confinado a uma camada concêntrica externa a esse núcleo
Com o do núcleo, a parte externa da e3strela expande muito, a sua
superfície resfria, assumindo uma coloração vermelha.
É a fase denominada Gigante Vermelha
Nesta fase o núcleo se contrai novamente pela atracção gravitacional, e a
temperatura central aumenta muito, para valores da ordem de 10 K.
Inicia-se a queima do He, que pode durar muitos milhões de anos,
formando C pela fusão de três partículas alfa. Em seguida, com
esgotamento do He, nova contração do núcleo e novo aumento da
temperatura acarreta uma enorme expansão da estrela.
Trata-se da fase de Supergigante vermelha.
Em estrelas de tamanho médio, como é o caso do Sol, o núcleo de C é
quente, mas não o suficiente para produzir fusões nucleares, de modo
que cessam as reacções produtoras de energia. Como resultado, o
núcleo contrai ulteriormente, e a sua densidade aumenta originando
uma anã Branca .
Tais tipos de estrelas perdem sua energia residual continuamente, por
radiação, resfriando durante outros bilhões de anos, transformando-se em
Anãs Marrons, e finalmente, em Anãs Negras.
Estrelas cujo tamanho é pelo menos oito vezes maior que o sol, em suas
fases de supergigantes vermelhas, a temperatura do núcleo de C é
suficiente para produzir O, Ne, Mg pela adição da partícula alfa, e
posteriormente fundir O, formando Si e outros nuclídeos de número de
As reacções nucleares cessam quando o elemento Fe é sintetizado visto que
este elemento é mais estável de sua região na curva de energia de ligação, e
por isso uma fusão nuclear ulterior consumiria energia ao invés de produzi-la.

Cada estágio sucessivo de queima, desde o H até o Fe, libera menos energia
que o anterior.

Assim, os elementos constituintes do Universo foram formados em parte


durante a nucleogenese, nos tempos que se sucederam ao Big Bang
(basicamente H e He), ou foram sintetizados no interior das estrelas em
processos denominados genericamente de nucleossítese. Aqueles com
número atómico intermedíario entre o He e o Fe formaram-se durante a
evolução das estrelas, nas partes centrais das gigantes vermelhas.
Enquanto aqueles com número atómico superior ao Fe originaram-se
unicamente naqueles instantes mágicos das explosões das supernovas.
Existe uma relação íntima entre a origem do Universo e a dinâmica das
estrelas, por um lado, e abundância dos elementos nos sistemas
estelares, por outros.
Explosão de supernovas têm como consequência importante que os
novos elementos formados, principalmente no interior da estrela, e
posteriormente durante a explosão, são devolvidos ao espaço e
misturados ao meio interstelar, essencialmente constituido no início
de H e He.
As novas estrelas a se formarem a partir de tal mistura já começariam a
sua evolução com um complemento de elementos pesados, incluindo-se
aí os isótopos radiotivos de meia-vida longa, como U e Th.
Este seria o mecanismo pelo qual o Universo se torna progressivamente
mais rico em elementos pesados.
Estrelas formadas recentemente possuem cerca de 100 a 1000 vezes
mais Fe e outros elementos mais pesados do que aquelas mais antigas,
formadas em épocas mais próximas da origem do Universo.
O sistema Solar

O sistema solar é constituído por Planetas, Satélites, Asteróides,


cometas, além de poeira e gás. Todos estes corpos formaram-se ao
mesmo tempo que sua estrela central.
A massa do sistema (99,8%) concentra-se no Sol, e os planetas giram em
seu redor e órbitas elípticas de pequena excentricidade, virtualmente
coplanares, segundo um plano básico denominado eclíptica.
Planetas do Sistema Solar

Os planetas podem ser classificadas em Internos (ou terrestre s, ou telúricos)


e Externos (ou jovianos).
Diferentes parâmetros físicos dos planetas do Sistema Solar, segundo a tabela 1.3.
As diferenças fundamentais entre planetas Internos e Externos podem ser atribuidas pela sua
evolução química primitiva.
Os últimos são gigantes gasosos , com constituição química similar a da nebulosa solar,
enquanto que os Internos são constituidos de materiais mais denso.
Portanto deduz se que tais diferenças, a partir de uma química inicial similar, se devem a um
evento de alta temperatura que ocorreu numa fase precoce da evolução dos sistemas
planetários, responsável pela perda de elementos voláteis pelos planetas Internos.
Finalmente, após os eventos relacionados com sua acresção, os
planetas Internos passaram por um estágio de fusão, condicionado pelo
aumento de temperatura ocorrido em seu interior , com o intenso calor
produzido pelos isótopos radioativos existentes em quantidades
relevante nas épocas mais antigas da evolução planetária.

Com seu material em grande parte no estado líquido, cada planeta


sofreu diferenciação química e seus elementos agregaram-se de acordo
com as afinidades químicas resultando num núcleo metálico
internovconstituído essencialmente de Fe e Ni envolto por um espesso
manto de composição silicática.
No caso dos planetas externos, além de conterem H e He, ao lado de outros compostos voláteis
em suas atmosferas exteriores acredita-se que têm núcleos interiores sólidos em que
predominam compostos silicáticos.
Tanto no caso da acresção planetária como neste diferenciação geoquímica, são cruciais os
conhecimentos dos meteorítos.

METEORITOS
São fragmentos de vmatéria sólida provenientes do espaço. A intensa maioria, de tamanho
diminuto, é destruída e volatilizada pelo atrito, por ocasião de seu ingresso na atmosfera da
Terra. Os meteoros (estrelas cadentes) – estrias luminosas que sulcam o céu e são observadas
em noites escuras e sem nuvens – são os efeitos visíveis da sua chegada.
Apenas os meteoritos maiores conseguem atingir a superfície da terra.

Os meteoritos subdividem-se em classes e subclasses, de acordo com suas estruturas internas,


composiçãoicas e mineralogia (Tabela.1.4).

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