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Universidade Federal do Pará

Instituto de Ciências Biológicas


Faculdade de Biotecnologia
Curso de Engenharia de Bioprocessos

TERMODINÂMICA APLICADA I
PRIMEIRA LEI DA TERMODINÂMICA

Professor: Edilson Marques Magalhães


TRABALHO DE FRONTEIRA MÓVEL

Uma forma de trabalho mecânico frequentemente


encontrada em situações práticas está associada à
expansão ou compressão de um gás em um
arranjo pistão-cilindro.
Durante esse processo, parte da fronteira (a superfície
interna do pistão) se move para cima ou para baixo.
Portanto, o trabalho de expansão e compressão geralmente
é chamado de trabalho de fronteira móvel ou simplesmente
trabalho de fronteira.
TRABALHO DE FRONTEIRA MÓVEL
- O trabalho de fronteira móvel é a forma primária
de trabalho encontrada em motores de automóveis;

- Durante sua expansão, os gases de combustão


forçam o pistão a se mover, o que, por sua vez,
força o virabrequim a girar;
- O trabalho de fronteira móvel associado a motores ou compressores
reais não pode ser determinado de maneira exata apenas por uma
análise termodinâmica, porque o pistão geralmente se move a
velocidades muito altas, dificultando a manutenção do gás interno em
estados de equilíbrio.
TRABALHO DE FRONTEIRA MÓVEL
Assim, os estados pelos quais o sistema passa
durante o processo não podem ser especificados e
nenhuma trajetória pode ser traçada.
- O trabalho, sendo uma função da trajetória, não
pode ser determinado analiticamente sem o
conhecimento da mesma.
- Dessa forma, o trabalho de fronteira em motores
ou compressores reais é determinado por medições
diretas.
TRABALHO DE FRONTEIRA MÓVEL
Nesta seção, analisamos o trabalho de fronteira
móvel de um processo de quase-equilíbrio, um
processo durante o qual o sistema permanece
aproximadamente em equilíbrio durante todo o
tempo.
Um processo de quase-equilíbrio, também chamado
de processo quase-estático, é uma boa aproximação
para motores reais, especialmente quando o pistão
se move em baixa velocidade.
TRABALHO DE FRONTEIRA MÓVEL

Sob condições idênticas, percebe-se que o


trabalho produzido pelos motores é máximo e que
o consumo de trabalho nos compressores é
mínimo quando são usados processos de quase-
equilíbrio, em vez de processos de não equilíbrio.
A seguir, o trabalho associado a uma fronteira
móvel é avaliado para um processo de quase-
equilíbrio.
TRABALHO DE FRONTEIRA MÓVEL
Considere o gás confinado no arranjo
pistão-cilindro. A pressão inicial do gás é P,
o volume total é V e a área da seção
transversal do pistão é A. Se o pistão se
deslocar de uma distância ds em quase-
equilíbrio, o trabalho diferencial realizado
durante esse processo é:

W f  Fds  PAds  PdV (1 )


Ou seja, o trabalho de fronteira na forma diferencial é igual ao produto da pressão absoluta P
pela variação diferencial no volume dV do sistema. Essa expressão também explica por que o
trabalho de fronteira móvel é chamado às vezes de trabalho P dV.
TRABALHO DE FRONTEIRA MÓVEL
Observe na Eq. 1 que P é a pressão absoluta, que é sempre
positiva. Entretanto, a variação de volume dV é positiva
durante um processo de expansão (aumento de volume) e
negativa durante um processo de compressão (diminuição
de volume).
Assim, o trabalho de fronteira é positivo durante um
processo de expansão e negativo durante um processo de
compressão. Portanto, a Eq. 1 pode ser vista como uma
expressão para a saída de trabalho de fronteira, Wf,sai. Um
resultado negativo indica entrada de trabalho de fronteira
(compressão).
TRABALHO DE FRONTEIRA MÓVEL
O trabalho de fronteira total realizado durante o processo
completo de movimentação do pistão é obtido pela soma de
todos os trabalhos diferenciais do estado inicial até o estado
final:
2
W f =  PdV (k J) (2 )
1
Essa integral pode ser avaliada somente se soubermos a relação
funcional entre P e V durante o processo. Ou seja, P = f(V) deve estar
disponível. Observe que P = f(V) é simplesmente a equação da trajetória
do processo em um diagrama P-V.
TRABALHO DE FRONTEIRA MÓVEL
O processo de expansão em quase-equilíbrio
descrito é mostrado em um diagrama P-V na
Fig. 1. Nesse diagrama, a área diferencial dA
é igual a PdV, que é o trabalho diferencial. A
área total A sob a curva de processo 1-2 é
obtida pela adição destas áreas diferenciais:
2 2
A =  d A =  P d V (3 )
1 1
Uma comparação dessa equação com a Eq.2 revela que a área sob a curva de
processo em um diagrama P-V é igual, em magnitude, ao trabalho realizado
durante um processo de compressão ou de expansão em quase-equilíbrio de um
sistema fechado. (No diagrama P-v, a área representa o trabalho de fronteira
realizado por unidade de massa.)
TRABALHO DE FRONTEIRA MÓVEL
Um gás pode seguir diversas trajetórias diferentes O trabalho produzido por
quando se expande do estado 1 para o estado 2. esses dispositivos durante
Em geral, cada trajetória tem uma área diferente uma parte do ciclo teria de
abaixo dela e, como essa área representa a ser consumido durante outra
magnitude do trabalho, o trabalho realizado será parte e não haveria nenhuma
diferente para cada processo. produção líquida de trabalho.

Isso é esperado, visto que o trabalho é uma


função de trajetória (isto é, depende da trajetória
seguida, assim como dos estados inicial e final).

Se o trabalho não fosse uma função de trajetória


(ou de linha), nenhum dispositivo cíclico motores
de automóveis, usinas de potência) poderia
funcionar como dispositivos produtores de
trabalho.
TRABALHO DE FRONTEIRA MÓVEL
O ciclo mostrado na Fig. 3 produz um trabalho Mas sempre podemos traçar o
líquido positivo porque o trabalho realizado pelo diagrama P-V do processo
sistema durante o processo de expansão (área usando os pontos experimentais
sob a trajetória A) é maior do que o trabalho e calcular graficamente a área
realizado sobre o sistema durante a parte de sob a curva para determinar o
compressão do ciclo (área sob a trajetória B), e trabalho realizado.
a diferença entre esses dois é o trabalho líquido
realizado durante o ciclo (a área colorida).

Se a relação entre P e V durante um processo


de expansão ou compressão for dada em
termos de dados experimentais, e não na forma
funcional, obviamente não poderemos realizar a
integração de maneira analítica.
TRABALHO DE FRONTEIRA MÓVEL
De forma rigorosa, a pressão P na Eq. 2 é a Portanto, podemos generalizar a
pressão na superfície interna do pistão. Ela é equação para o trabalho de
igual à pressão do gás no cilindro se o processo fronteira expressando-o na
for de quase-equilíbrio e, assim, todo o gás do forma:
2
cilindro está à mesma pressão em cada
W f =  Pi dV (4)
instante.
1
A Eq. 2 também pode ser usada para processos onde Pi é a pressão na face
de não equilíbrio desde que a pressão na face interna do pistão. Observe que
interna do pistão seja usada para P. (Além disso, trabalho é um mecanismo de
não podemos falar de pressão de um sistema interação de energia entre um
durante um processo de não equilíbrio, pois as sistema e sua vizinhança.
propriedades são definidas somente para
estados de equilíbrio.)
TRABALHO DE FRONTEIRA MÓVEL
Wf representa a quantidade de energia transferida do sistema durante um
processo de expansão (ou para o sistema, durante um processo de
compressão). Assim, ele tem que aparecer em algum outro lugar e
devemos ser capazes de localizá-lo, visto que a energia é conservada.

Em um motor de automóvel, por exemplo, o trabalho de fronteira realizado


pela expansão dos gases quentes é utilizado para superar o atrito entre o
pistão e o cilindro, para deslocar o ar atmosférico e para girar o
virabrequim. Assim:

2
 
W f =Watrito  Watm  Wvirabrequim   Fatrito  Patm A  Fvirabrequim dx (5)
1
PROCESSO POLITRÓPICO
Durante os processos reais de expansão e compressão de
gases, a pressão e o volume são frequentemente
relacionados por: PV n  C onde C e n são constantes.

Um processo desse tipo é denominado processo politrópico.

Desenvolvemos a seguir uma expressão geral para o


trabalho realizado durante um processo politrópico.

A pressão durante um processo politrópico pode ser


expressa por:

P  CV n (6)
PROCESSO POLITRÓPICO
Substituindo a relação 6 na Eq. 2, obtemos
2 2  n 1  n 1
V  V P V  P1V1
W f =  PdV   C V  n dV  C 2 1 = 2 2 (7)
n  1 1 n
1 1

Uma vez que C  P1V1n = P2V 2n .Para um gás ideal PV  m RT

Logo, a Eq. 7, pode ser escrita como:


m R T2  T1 
Wf = n 1 (8)
1 n
Para o caso especial em que n=1, o trabalho de fronteira
resulta em: 2 2
 V2 
1
W f =  P dV   CV dV  P V ln  
V
 1 
1 1
BALANÇO DE ENERGIA PARA UM CICLO
Em um sistema fechado executando um ciclo, os estados
inicial e final são idênticos e, portanto:  E sistem a  E 2  E1  0

Assim, o balanço de energia em um ciclo pode ser


simplificado como: E ent  E sai  0

Observando que em um sistema fechado não existe fluxo de


massa através de suas fronteiras, o balanço de energia em
um ciclo pode ser expresso pelas interações entre calor e
trabalho como:
W liq ,sai  Q liq ,ent ou W liq ,sai  Q liq ,ent  para um ciclo  (10)
BALANÇO DE ENERGIA PARA UM CICLO
Ou seja, a saída líquida de trabalho durante um ciclo é igual à
entrada líquida de calor.

Considerando o ciclo  E  0 e Q W

Resumo das várias formas da equação da primeira lei


para sistemas fechados:

E  Q  W

U  Q  W

e  q  w

de   q   w
REFERÊNCIAS

• SMITH, J. M.; VAN NESS, H. C., ABBOTT, M.M. Introdução à


Termodinâmica da Engenharia Química . 7a Ed., LTC, 2007.

• SONNTAG, R. E.; BORGNAKKE, C.; VAN WYLEN, J.


Fundamentos da Termodinâmica. LTC, 7a Ed., 2009.

• KORETSKY, M. D. Termodinâmica para Engenharia Química.


Ed. LTC 2007.

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