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Ursos polares depois da hora de dormir


Copyright © 1998 do texto: Mary Pope Osborne
Copyright © 1998 das ilustrações: Sal Murdocca
Copyright©2013 da edição brasileira: Farol Literário
Esta tradução foi publicada por intermédio da Random House Children´s Books, divisão da Random House, Inc.

Título originalmente publicado nos Estados Unidos como: Polar Bears Past Bedtime

DIRETOR EDITORIAL: Raul Maia Junior


EDITORA DE LITERATURA: Daniela Padilha
EDITORA ASSISTENTE: Eliana Gagliotti
TRADUÇÃO: Luciano Machado
PREPARAÇÃO DE TEXTO: Luciana Garcia
REVISÃO DE PROVAS: Elisa Martins/ Danielle Sales
ILUSTRAÇÕES: Sal Murdocca
PROJETO GRÁFICO: Silvia Massaro
DIAGRAMAÇÃO E ARTE-FINAL: Globaltec
CAPA: Globaltec com ilustrações de Sal Murdocca
PRODUÇÃO DIGITAL: Estúdio Editores.com

Texto em conformidade com as novas regras ortográficas do Acordo da Língua


Portuguesa

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Osborne, Mary Pope.


Ursos polares depois da hora de dormir [livro eletrônico] / Mary Pope Osborne; ilustrações
de Sal Murdocca; tradução de Luciano Machado. – São Paulo : Farol literário, 2013.

ISBN 978-85-8277-025-2

1. Urso polar - regiões árticas - literatura juvenil. 2. Ártico - literatura juvenil. 3. Literatura
infantojuvenil. 4. Literatura infantojuvenilinglesa.5. Histórias infantojuvenis.
I. Murdocca, Sal, il. II. Machado, Luciano, trad.III. Título.

O82u CDD 808.899282

Índices para catálogo sistemático:


1. Ficção : Literatura infantil 028.5
2. Ficção : Literatura infantojuvenil 028.5
Farol Literário
Uma empresa do Grupo DCL – Difusão Cultural do Livro
Rua Manuel Pinto de Carvalho, 80 – Bairro do Limão
CEP 02712-120 – São Paulo – SP
Tel.: (0xx11) 3932-5223
www.editoradcl.com.br
Ursos polares depois da hora de
dormir
Mary Pope Osborne

Ilustrações de Sal Murdocca


Tradução de Luciano Machado
Vejam o que as crianças têm a dizer a Mary Pope Osborne,
autora da coleção A Casa da Árvore Mágica:

Os seus livros são tão, tão mágicos, que eu me recuso a


pegar qualquer outro livro na biblioteca.
Ben H.

Eu amo os livros da Casa da Árvore Mágica. O papai e eu
lemos todos eles.
Kevin F.

Eu e a mamãe gostamos muito mesmo dos seus livros.
Julie P.

Toda vez que eu termino de ler os seus livros, quero ler e
reler tudo de novo, porque são muito divertidos.
Soo Jin K.

Quando eu crescer, vou escrever igualzinho a você.
Raul A.

De todos os livros do mundo, os seus são os melhores.
Espero que seus livros nunca acabem.
Karina D.

Você consegue ler os meus pensamentos: para qualquer
lugar que o João e a Aninha vão, eu também quero ir.
Matthew D.

Pais e professores também gostam dos livros da Casa da


Árvore Mágica!

Gostaria de lhe agradecer por criar essa série, pois você deu
a todo professor apaixonado pela leitura um veículo para
levar os alunos a descobrir a magia dos livros.
K. Salkaln

Meus alunos amam os seus livros da Casa da Árvore
Mágica. Na verdade, há uma verdadeira paixão pela leitura
em nossa classe, graças aos seus livros maravilhosos.
S. Tcherepnin

Eu gostaria de dizer que seus livros são maravilhosos.
Nunca encontrei outros livros educativos que fossem tão
interessantes para meus alunos.
C. Brewer

Kevin comprou dois de seus livros com um vale-brinde. Ele
ficou lendo durante todo o trajeto para casa e não parou nem
para tomar fôlego enquanto não terminou os dois.
K. Trostle

Eu passei anos procurando um livro de que os alunos
gostassem e que despertasse uma verdadeira paixão. A
maioria dos livros não prende a atenção dos alunos da forma
como os seus o fazem. Até o meu filho diz: “Por favor, não
pare de ler”. É um prazer encontrar uma leitura agradável,
sadia e proveitosa para os alunos.
L. Kirl

Para alguns, você abriu a porta para aventuras; outros
querem seguir seus passos, tornando-se escritores.
Obrigado por criar e partilhar esse mundo mágico da
imaginação.
M. Hjort

Meu filho sempre resistiu à leitura. Agora que descobriu seus
livros, mostra um grande desejo de ler.
M. Casameny
Para Mallory Loehr, com reconhecimento por trilhar o caminho doze
vezes
Sumário
1. Está falando sério?
2. O uivo
3. Avante!
4. Casa de neve
5. Peguei você!
6. Ursos voadores
7. Luzes ou espíritos?
8. Enigma solucionado
9. Essa não, mais um!
10. Mestres Bibliotecários
1
Está falando sério?
Uhhh. O estranho som veio de fora da janela aberta.
João abriu os olhos. Estava escuro.
Outra vez o som. Uhhh.
João sentou-se, acendeu a luz e colocou os óculos. Em seguida,
pegou a lanterna que estava na mesa e apontou a luz para fora da
janela.
Havia uma coruja branca como a neve pousada no galho de uma
árvore.
— Uhhh — fez a coruja novamente. Os olhos grandes e amarelos
olhavam bem dentro dos olhos de João.
O que será que ela quer?, João se perguntou. Será que a coruja é
um sinal, assim como o coelho e o cervo?
Um coelho de pernas compridas e um cervo tinham guiado João e
Aninha à casa da árvore mágica nas duas últimas aventuras.
— Uhhh.
— Espere só um pouquinho — disse João à coruja. — Vou
chamar Aninha.
Aninha, a irmã de João, sempre parecia saber o que as aves e os
outros animais diziam.
João saiu rapidinho da cama e correu até o quarto de Aninha. Ela
dormia profundamente.
João a sacudiu e ela se mexeu.
— O que foi? — perguntou Aninha.
— Venha até o meu quarto — sussurrou João. — Acho que a
Morgana mandou outro sinal.
Em uma fração de segundo, Aninha estava em pé. Ela e João
correram para o quarto dele.
João a levou até a janela. A coruja cor de neve ainda estava lá.
— Uhhh — fez a coruja. Depois, ergueu as asas alvas e levantou
voo noite adentro.
— Ela quer que a gente vá para a mata — disse Aninha.
— Foi o que eu pensei — disse João. — Vamos trocar de roupa e
depois nos encontramos lá embaixo.
— Não, não. Ela disse para irmos já. Agorinha — alertou Aninha.
— Vamos de pijama mesmo.
— Eu preciso colocar o tênis — lembrou João.
— Tá bom, também vou colocar o meu. Encontro você lá embaixo
— disse Aninha.
João calçou o tênis, jogou o caderno na mochila, pegou a lanterna
e desceu na ponta dos pés.
Aninha ficou esperando na porta da frente. Eles saíram de casa
de mansinho, sem fazer barulho.
A brisa noturna estava morna. Mariposas bailavam em volta da
luz acesa na varanda.
— Estou me sentindo estranho — disse João. — Vou voltar e
vestir roupas de verdade.
— Não dá — disse Aninha. — A coruja disse agorinha mesmo.
Eles deram um salto da varanda ao quintal escuro.
João resmungou. Como é que Aninha sabia exatamente o que a
coruja tinha dito?, ele se perguntou.
De qualquer forma, não queria ser deixado para trás. Então tratou
de segui-la.
A lua iluminava o caminho enquanto eles corriam rua abaixo.
Quando entraram na mata de Riacho do Sapo, João acendeu a
lanterna. A luz revelou sombras e galhos balançando.
João e Aninha deram um passo à frente e se viram entre as
árvores. Ficaram bem perto um do outro.
— Uhhh.
Assustado, João deu um pulo.
— É só a coruja branca — disse Aninha. — Está em algum lugar
por aqui.
— A mata está assustadora — disse João.
— É mesmo — concordou Aninha. — No escuro, nem parece que
é a nossa mata.
De repente, pertinho deles, a coruja bateu as asas.
— Ai! — assustou-se Aninha.
João apontou a lanterna para a ave branca quando ela levantou
voo. A coruja pousou no galho de uma árvore – bem ao lado da
casa da árvore mágica.
E lá estava a fada Morgana, a bibliotecária mágica. Sua longa
cabeleira branca cintilava sob a luz da lanterna de João.
— Olá — Morgana os cumprimentou delicadamente com voz
suave. — Subam.
João usou a lanterna para encontrar a escada de cordas. Então,
ele e Aninha subiram para a casa da árvore.
Morgana tinha três rolos de papel nas mãos. Cada um continha a
resposta para um enigma antigo que João e Aninha já haviam
resolvido.
— Vocês se aventuraram pelo oceano, pelo Oeste Selvagem e
pela África para encontrar as respostas destes três enigmas —
disse Morgana. — Estão prontos para mais uma aventura?
— Sim! — responderam João e Aninha em uma só voz.
Morgana retirou das pregas de seu vestido um quarto rolo de
papel e o entregou a Aninha.
— Depois de resolvermos este enigma, vamos nos tornar Mestres
Bibliotecários? — perguntou Aninha.
— E vamos ajudar você a recolher livros através do tempo e do
espaço? — indagou João.
— Quase... — respondeu Morgana.
Antes que João conseguisse perguntar o que Morgana queria
dizer com aquilo, ela pegou um livro e o entregou a ele.
— Para você pesquisar — disse ela.
João e Aninha leram o título do livro: AVENTURA NO ÁRTICO.
— Uau, o Ártico! — exclamou Aninha.
— Ártico? — estranhou João. Ele se voltou para Morgana. — Está
falando sério?
— Claro — respondeu ela. — E vocês precisam se apressar.
— Eu gostaria que fôssemos para este lugar — disse Aninha,
apontando para a capa.
— Espere! Espere aí! Vamos morrer congelados! — exclamou
João.
— Não tenham medo — disse Morgana. — Estou enviando
alguém para encontrá-los.
O vento começou a soprar.
— Para nos encontrar? Quem? — perguntou João.
— Uhhh? — fez a coruja cor de neve.
Antes que Morgana pudesse responder, a casa da árvore
começou a girar.
Ela girava cada vez mais rápido.
Então tudo ficou quieto.
Absolutamente quieto.
2
O uivo

O ar estava seco e gélido.


João e Aninha se arrepiaram. Eles olharam pela janela e viram
um céu cinza-escuro.
A casa da árvore estava no chão. Não havia casas, nem árvores;
somente uma imensidão de neve e gelo. Morgana e a coruja não
estavam mais lá.
— L-l-leia o enigma — pediu Aninha, batendo os dentes.
João desenrolou o rolo de papel. Ele leu:
Encubro o que é real
Escondo a verdade,
Mas às vezes desperto em você
A coragem e a hombridade.
Quem sou eu?

— É melhor eu anotar isso — disse João, tremendo de frio.


Ele pegou o caderno e copiou o enigma. Depois abriu o livro e,
nele, encontrou a imagem de um campo branco e árido. Então, leu
em voz alta:

A tundra ártica é uma planície sem


árvores. Durante o sombrio inverno,
fica coberta de neve e gelo. No início da
primavera, ainda cai neve, mas o céu
começa a ficar mais claro. No verão, a
neve e o gelo derretem e o sol brilha 24
horas por dia.

— Agora já devemos estar no início da primavera — disse João.


— Tem neve, mas até que o céu não está tão escuro.
Ele virou a página. Havia a foto de um homem usando um casaco
com capuz e adornos de peles.
— Olhe só esse cara — disse João, mostrando a foto para
Aninha.
— Precisamos do casaco dele — disse Aninha.
— É — respondeu João. — Escute só...
Ele leu em voz alta o que estava escrito:
Este caçador de focas usa roupa de
pele de foca para se proteger dos
ventos gélidos. Antes dos tempos
modernos, os habitantes do Ártico
viviam da caça de focas, de alces, de
ursos polares e de baleias.

João pegou o caderno e escreveu:

O Ártico

• caçadores de focas usam roupas de pele de foca

Estava frio demais para continuar escrevendo.


Ele apertou a mochila contra o peito e soprou os dedos. Como
queria estar em casa, em sua cama!
— A Morgana disse que alguém viria nos encontrar — comentou
Aninha.
— Se não vierem logo, morreremos congelados — alertou João.
— Está anoitecendo e ficando mais frio.
— Psiu. Ouça — disse Aninha.
Eles ouviram uivos ao longe... depois mais uivos... e então muitos
uivos.
— O que é isso? — perguntou João.
Eles olharam pela janela. A neve estava caindo. Não dava para
enxergar direito.
O som ficou mais alto. Ouviam-se latidos também. João e Aninha
viram vultos na neve, aproximando-se. Pareciam estar correndo em
direção à casa da árvore.
— Lobos? — arriscou Aninha.
— Ótimo. Era tudo de que a gente precisava — debochou João.
— Como se não bastasse estarmos morrendo de frio, agora um
bando de lobos está vindo atrás de nós.
João puxou Aninha para um canto da casa. Eles ficaram bem
juntinhos.
Os uivos ficavam cada vez mais altos. Davam a impressão de que
os lobos estavam cercando a casa da árvore. Eles uivavam e
uivavam.
João não aguentava mais. Ele apanhou o livro sobre o Ártico.
— Talvez isto possa nos ajudar — disse ele.
Ele procurou figuras de lobos.
— Ah, olá! — disse Aninha.
João olhou e ficou sem ar.
Um homem estava olhando pela janela da casa da árvore. O rosto
dele, envolto em peles.
Era o caçador de focas do livro sobre o Ártico.
3
Avante!
— Você veio com os lobos? — perguntou Aninha.
O caçador parecia confuso.
— Foi a Morgana quem mandou você nos procurar? — perguntou
João.
— Eu tive um sonho — disse o homem. — Vocês estavam nele. E
precisavam de ajuda.
Aninha sorriu.
— A Morgana às vezes manda sonhos — ela explicou. — Nós
viemos na casa da árvore de Morgana. É uma casa que voa através
do tempo.
Minha nossa, pensou João. Quem vai acreditar numa coisa
dessas?
O caçador sorriu como se não tivesse ficado nem um pouco
surpreso.
— Precisamos mesmo de ajuda — disse João. — Es-est-estamos
congelando.
O caçador de focas concordou e saiu da janela. Ele voltou logo
depois com dois casacos pequenos, chamados parcas, parecidos
com o dele. As parcas eram feitas de peles grossas e escuras, e
tinham peles em volta do capuz.
Ele deu uma a Aninha e outra a João.
— Obrigado! — disseram João e Aninha.
Eles vestiram as parcas.
— Oba! — comemorou Aninha. — Está quentinho agora!
— É! — concordou João. — Elas são feitas de pele de foca.
— Coitadinhas das focas... — disse Aninha.
— Não pense nisso — disse João, cobrindo a cabeça com o
capuz. A cabeça e a parte de cima do corpo dele ficaram bem
agasalhadas. Mas as pernas, as mãos e os pés ainda estavam
congelando.
— Oh, obrigada! — disse Aninha.
João viu o caçador de focas dando a Aninha uma calça de peles.
Depois ele também deu uma a João.
— Obrigado — disse João. E rapidinho vestiu a calça por cima do
pijama.
Depois, o caçador deu a cada um deles um par de botas e de
luvas.
João tirou o tênis e colocou as botas. E enfiou os dedos
congelados dentro das luvas quentinhas.
— Preciso fazer uma perguntinha — disse João ao caçador. —
Você sabe a resposta deste enigma?
Ele abriu o caderno e leu:

Encubro o que é real


Escondo a verdade,
Mas às vezes desperto em você
A coragem e a hombridade.
Quem sou eu?

O caçador de focas balançou a cabeça para indicar que não


sabia.
— Venham — disse ele a João e Aninha. Depois, desapareceu da
janela.
— E aqueles lobos lá fora? — perguntou João.
Mas o caçador de focas não respondeu.
João pegou o livro sobre o Ártico e procurou uma imagem do
caçador de focas.
Quando encontrou o desenho, sorriu. O caçador de focas estava
ao lado de um trenó puxado por cães.
João leu:

Quando faz frio, o caçador de focas se


locomove em um trenó. Huskies
siberianos geralmente uivam como
lobos. Um cão líder controla os demais.
Em alguns casos, as lâminas do trenó
são feitas de peixes congelados
envoltos em pele de foca.

— Ei, Aninha, não são lobos! — disse João. — São... — Ele


levantou os olhos do livro.
Aninha tinha sumido.
João jogou o livro e o caderno dentro da mochila. Mas estava tão
gordo nas roupas de pele que não conseguia ajustar a mochila nos
ombros. Ele afrouxou as alças da mochila, tentou novamente e
conseguiu.
João olhou para a janelinha. Seria difícil passar por ali também.
Primeiro, ele colocou a cabeça para fora; depois, espremeu-se todo
para conseguir passar o corpo.
João caiu no chão coberto de neve. A neve continuava caindo.
Havia uma névoa branca no ar.
João ouviu latidos e uivos. Andou com cuidado em direção ao
som.
No início, ele não conseguia enxergar o trenó. Mas, quando
chegou mais perto, contou nove huskies siberianos. Tinham pelo
grosso, cabeças grandes e orelhas pontudas.
O cão líder latiu para ele.
João parou.
— Ele está mandando você subir! — exclamou Aninha.
Ela estava em pé, na parte de trás do trenó. O caçador de focas
estava ao lado dela.
João subiu no trenó e se acomodou ao lado de Aninha.
O caçador de focas pegou um chicote comprido e bateu com ele
no chão.
— Avante! — gritou ele.
Os huskies saíram em disparada, deixando para trás um
remoinho de neve.
Acima deles, voava uma coruja cor de neve.
4
Casa de neve

O trenó deslizava silenciosamente na tundra congelada. O


caçador de focas corria ao lado dele. Às vezes, batia o chicote no
gelo.
O sol se escondia atrás dos montes congelados, e os montes de
neve pareciam enormes esculturas brancas. Então, a lua cheia, cor
de laranja, despontou no céu.
O luar iluminou, logo adiante, um iglu pequeno e redondo. Os
cães diminuíram a velocidade, depois pararam.
João desceu do trenó. Aninha foi ajudar a soltar os cães. João
pegou seu livro e começou a ler sobre iglus:

A palavra “iglu” significa “casa” na


língua dos nativos do Ártico. A casa é
construída com blocos de neve. Neve
seca é um bom material para paredes,
pois não deixa o calor sair. A
temperatura dentro de um iglu pode ser
18 graus mais alta que a temperatura
exterior.

João pegou o caderno e tirou a luva só por tempo suficiente para


escrever:

• iglu significa casa

— Vamos, João! — chamou Aninha.


Ela e o caçador de focas esperavam João na frente do iglu. Os
cães estavam amarrados uns aos outros do lado de fora.
João correu ao encontro deles. O caçador afastou para um lado
as peles de animais que cobriam a entrada. Eles entraram.
Havia uma grande vela acesa. Sombras dançavam nas paredes
de gelo e neve.
João e Aninha sentaram-se em uma plataforma coberta de peles.
Eles ficaram observando os movimentos do caçador de focas.
Primeiro, ele acendeu um pequeno fogareiro. Depois, saiu do iglu
e voltou com uma bola de neve e pedaços de carne congelada.
Ele pôs a bola de neve em uma panela sobre o fogareiro. Depois
colocou também a carne.
— O que ele está fazendo? — perguntou Aninha.
João pegou o livro e nele encontrou uma figura de um caçador
cozinhando. Ele e Aninha leram, em silêncio, as palavras:

Houve uma época em que praticamente


toda comida, roupa e ferramenta do
povo do Ártico vinha dos animais,
principalmente da foca. Quase todas as
partes da foca eram comestíveis. As
lamparinas eram acesas com a gordura
da foca. As roupas eram de pele de
foca. As facas e as agulhas eram feitas
de ossos de foca.

— Ele deve estar cozinhando carne de foca — disse João.


— Coitadinhas das focas... — lamentou Aninha.
O caçador de focas olhou para eles.
— Coitadas, não — ele comentou. — Elas nos ajudam por
saberem que, sem elas, nós morreríamos.
— Oh — fez Aninha.
— Em troca, nós sempre agradecemos aos espíritos dos animais
— disse o caçador de focas.
— Como vocês fazem isso? — perguntou João.
— Temos muitas cerimônias especiais — disse o caçador de
focas.
Ele tirou duas máscaras de madeira de sob a plataforma coberta
de peles.
— Em breve, haverá uma cerimônia para homenagear o espírito
do urso polar — explicou ele. — Esculpi estas máscaras para a
cerimônia.
— Ursos polares? — indagou Aninha.

— É — respondeu o caçador. — Assim como a foca nos tem dado


muitos presentes, o urso polar também.
— Que tipo de presente? — quis saber João.
— Há muito tempo, o urso polar nos ensinou a sobreviver no gelo
e na neve — contou o caçador.
— Ensinou a vocês? — estranhou João. — Como assim?
O caçador sorriu.
— Sim — ele respondeu. — Os ursos polares capturam as focas
quando elas sobem até a superfície para respirar por um furo no
gelo. Os antigos caçadores de focas observaram os ursos polares e
aprenderam. E foi dessa forma que meu pai me ensinou a caçar
focas, assim como o pai dele ensinou a ele.
— É um bom exemplo — disse João.
— O meu povo, há muito tempo, aprendeu a fazer iglus com os
ursos polares — explicou o caçador. — As casas dos ursos polares
são cavernas que eles cavam nos montes de neve.
— Outro bom exemplo — disse João.
— Às vezes, os ursos polares podem até ensinar as pessoas a
voar — observou o caçador.
— Esse é um exemplo impressionante! — disse Aninha.
João sorriu.
— O resto me pareceu bem verdadeiro — disse ele —, mas tenho
certeza de que isso é invenção.
O caçador simplesmente riu, e depois voltou a cozinhar.
Por isso ele não se surpreendeu com a casa da árvore, pensou
João. Se ele acredita que ursos polares voam, provavelmente
acredita em qualquer coisa.
O caçador tirou alguns pedaços de carne de foca cozida da
panela, colocou-os em um balde de madeira e o entregou a Aninha.
— Vamos dar comida aos cachorros — ele disse.
— Puxa! — exclamou Aninha. O caçador saiu do iglu e ela o
seguiu, balançando o balde na mão.
João jogou o caderno e o livro na mochila e foi atrás deles. E
então viu as duas máscaras de urso.
Ele as segurou para vê-las mais de perto.
Ambas tinham a forma de cara de urso polar. Tinham orelhas
arredondadas e focinho achatado. Havia dois buracos no lugar dos
olhos e uma tira que servia para prendê-las na cabeça.
De repente, uivos cortaram o ar. Os cães latiam e rosnavam.
Aninha deu um grito.
Será que os cães estão atacando a Aninha?, João se perguntou.
— Aninha!
Ainda segurando as máscaras, João precipitou-se para fora do
iglu.
5
Peguei você!
Os cães latiam feito loucos para duas pequenas criaturas que
brincavam ao luar.
— Filhotes de urso polar! – exclamou Aninha.
Um filhote rechonchudo pulou sobre o outro. Os dois rolaram na
neve.
— Oi, ursinhos! — disse Aninha.
Os bebês levantaram-se de um salto e se sacudiram, como fazem
os cãezinhos quando estão molhados. Então eles correram em
direção a Aninha, que também correu para saudá-los.
— Oi, oi, oi! — exclamou ela.
— Espere aí! — gritou João. — Onde está a mãe deles?
Ele olhou em volta, procurando a mamãe ursa, mas não viu nem
sinal dela. Talvez sejam órfãos, pensou.
João olhou novamente para Aninha. Ela rolava na neve com os
filhotes de urso, morrendo de rir.
João começou a rir também. Com todo o cuidado, colocou as
máscaras de urso na mochila. Depois correu ao encontro de Aninha.
Ela corria com os filhotes na tundra coberta de neve. Um deles
saiu correndo atrás dela, alcançou-a e disparou na frente. Aninha
correu atrás dele e o alcançou.
— Peguei! — disse ela.
João e o outro filhote entraram na brincadeira. Logo João, Aninha
e os dois filhotes estavam brincando de pega-pega na neve
enluarada.
Eles correram até que os dois filhotes caíram um pouco à frente
de João e Aninha. Os ursinhos ficaram estendidos no chão,
completamente imóveis.
Ofegantes, João e Aninha olhavam para eles.
— Será que eles se machucaram? — Aninha se perguntou em
voz alta.
João e Aninha correram até eles.
Assim que se abaixaram para ver se os ursinhos estavam bem, os
dois filhotes deram um salto, empurraram João e Aninha e saíram
em disparada.
— Eles estavam fingindo! — disse João, dando uma gargalhada.
João e Aninha partiram correndo atrás dos filhotes. Correram na
tundra branca até que chegaram ao mar congelado.
João olhou em volta.

— Estamos bem longe do iglu. Não estou mais ouvindo os


huskies — comentou ele. — Talvez seja melhor voltar.
— Daqui a pouco — disse Aninha. — Olhe!
Os filhotes tinham escalado um banco de neve. Estavam deitados
de costas, escorregando no banco e caindo no mar coberto de gelo.
João e Aninha riram.
— É como um escorregador! — disse Aninha. — Vamos
experimentar!
— Está bem — disse João. — Mas depois precisamos voltar.
João seguiu Aninha até o cume do banco de neve e apertou a
mochila contra a barriga.
Aninha deitou-se de costas. Ela gritou enquanto escorregava.
João desceu depois dela.
— Cuidado aí embaixo! — gritou ele.
Os ursinhos estavam no pé do banco de neve. Um deles bateu a
patinha de leve no rosto de João e se deitou.
— Também estou cansada — disse Aninha.
— É — concordou João. — Vamos descansar só um pouquinho.
Deitados ao lado dos filhotes, João e Aninha olharam a lua, que
estava alaranjada. Eles só ouviam o barulho do vento e a respiração
tranquila dos ursinhos.
— Foi muito divertido — comentou Aninha.
— Foi mesmo — admitiu João. — Mas é melhor voltarmos para o
iglu. O caçador de focas deve estar procurando a gente. Além do
mais, precisamos resolver o enigma.
João rolou para o lado e tentou ficar em pé.
Crac.
— Oh-oh — fez ele. João abaixou-se novamente e se ajoelhou. —
Acho que estamos numa camada fina de gelo.
— Como assim? — perguntou Aninha. Ela tentou ficar em pé.
Ouviu-se outro crac.
— Oh-oh — fez Aninha.
Com todo o cuidado, ela se deitou novamente.
Os filhotes se aproximaram de João e Aninha, fazendo um
barulhinho que parecia choro.
A vontade de João era de chorar também. Mas ele respirou fundo.
— Vejamos o que diz o nosso livro — disse João.
Ele enfiou a mão na mochila para pegar o livro. Primeiro, tirou as
máscaras e entregou-as a Aninha.
— Peguei do iglu sem querer — explicou ele.
Enquanto tentava tirar o livro da mochila, ouviu outro estalo, o
mais alto de todos.
CRAC!
— Não estamos nem nos movendo e o gelo está quebrando —
disse Aninha.
Foi então que ouviram um som diferente, baixo, como o de
alguém bufando. Vinha do alto do banco de neve, a uns quinze
metros de distância.
João olhou para cima.
Uma ursa polar gigante estava de olho neles.
— A mamãe ursa — sussurrou Aninha.
6
Ursos voadores
Os filhotes choramingaram mais alto.
— Eles querem ir até ela, mas estão com medo do gelo —
sussurrou João.
Aninha acariciou os filhotes.
— Não tenham medo — disse a eles. — Logo, logo vocês estarão
com a mamãe de novo.
A enorme ursa polar rosnou. Ela andava de um lado para o outro,
farejando o ar.
Aninha continuou acariciando os filhotes e sussurrando palavras
reconfortantes para eles.
João procurou no livro alguma coisa que pudesse ajudar.
Finalmente encontrou algo:

Uma fêmea de urso polar chega a pesar


cerca de 350 quilos. Ainda assim,
equilibrando o próprio peso e
deslizando as patas, ela consegue se
deslocar sobre uma camada de gelo tão
fina que não aguentaria nem o peso de
uma pessoa.

— Caramba, isso é incrível! — sussurrou João.


Ele observou a mamãe ursa descer do banco de neve.
Com suas patas grandes e silenciosas, ela avançou até a beira do
mar congelado.
A ursa tentou pisar no gelo, mas, a cada tentativa, o gelo rachava
e ela precisava recuar. Por fim, achou um ponto firme.
Então ela esticou as quatro patas e se deitou no gelo. Bem
devagar, ela se deslocou para a frente, impulsionando o corpo com
as garras.
— Ela está vindo atrás dos filhotes? — perguntou João. — Ou de
nós?
— Não sei — respondeu Aninha. — Ei, vamos colocar as
máscaras.
— Pra quê? — perguntou João.
— Talvez elas nos protejam — disse Aninha. — Talvez ela pense
que somos ursos polares também.
— Só me faltava essa... — disse João.
Aninha lhe deu uma das máscaras de urso. Ele tirou os óculos e
colocou a máscara no rosto.
João olhou pelos buracos da máscara. Era difícil enxergar a
enorme ursa branca deslizando sobre o mar congelado. Estreitando
os olhos, ele conseguiu ver melhor.
A ursa olhou para os filhotes e soltou um gemido profundo e
choroso.
Com muito cuidado, os ursinhos se moveram até a mãe. Ela os
lambeu e encostou o focinho no deles. Depois, eles subiram nas
costas dela.
— Agora eles estão salvos — disse João. — Mesmo que o gelo
quebre, a mãe conseguirá nadar com eles até a borda.
— É, eu só queria que ela não nos deixasse para trás — disse
Aninha.
Com movimentos suaves, a mãe ursa virou o corpo para o outro
lado e deu um impulso com as patas traseiras. Com os filhotes às
costas, ela começou a deslizar.
— Vamos tentar imitar o jeito como ela faz — disse Aninha.
— Mas podemos quebrar o gelo, e aí vamos morrer congelados
— disse João.
— Se ficarmos aqui parados, vamos morrer também —
argumentou Aninha. — Lembre-se de que o caçador de focas disse
que o povo dele aprendeu com os ursos polares.
João respirou fundo.
— Está bem, vamos tentar.
Ele se deitou de bruços e abriu os braços e as pernas. Então
imitou os movimentos da ursa.

Com as luvas, deu um impulso e, deslizando os pés, começou a


avançar lentamente.
Por incrível que pareça, não se ouviu nenhum estalo.
— Grrr — rosnou ele. E deu outro impulso.
João ouviu Aninha deslizando atrás dele e seguiu em frente. Dava
um impulso e deslizava. Dava mais um impulso e deslizava outra
vez.
João repetiu os movimentos até que aconteceu uma coisa
incrível: ele não se sentia mais como um garoto. Era como se fosse
um urso polar.
Então ele sentiu algo ainda mais estranho. Sentiu que era um
urso polar voador. Era como se os braços e as pernas dele fossem
asas gigantes — e o mar de gelo iluminado pela luz da lua, um céu
de vidro.
Ele se lembrou do que o caçador de focas havia dito: Ursos
polares conseguem voar.
7
Luzes ou espíritos?
— João, agora você já pode se levantar — disse Aninha.
João abriu os olhos. Aninha estava em pé ao lado dele, ainda de
máscara.
— Estamos em terreno firme — disse ela.
João tinha a impressão de ter sonhado. Olhou em volta. Eles
tinham chegado à tundra, à beira do mar congelado.
Ao longe, os filhotes brincavam, cheios de energia. Mas a mamãe
ursa estava ali perto, observando João e Aninha.
— Ela esperou para ter certeza de que estaríamos seguros —
explicou Aninha.
João lançou à ursa um olhar cheio de admiração e respeito. As
palavras do caçador de focas vieram à sua mente: Agradeça
sempre aos espíritos dos animais.
— Agora precisamos agradecer ao espírito do urso polar — disse
ele.
— Claro — respondeu Aninha.
João se pôs de pé, sem muita firmeza. Ainda com a máscara de
urso, ficou diante da ursa, de mãos postas.
— Agradecemos a você — disse ele, inclinando o corpo para a
frente em sinal de reverência.
— Sim, somos eternamente gratos — disse Aninha, curvando-se
também.
— Agradecemos a você diante da lua e das estrelas —
acrescentou João.
— E diante do mar profundo — completou Aninha.
Então ela ergueu os braços e começou a girar. João fez o mesmo.
Os dois dançaram na neve em homenagem à ursa. Por fim, pararam
e se curvaram pela última vez.
Quando endireitaram o corpo, a ursa polar se levantou, apoiando-
se nas patas traseiras. Ela tinha o dobro da altura de João. Ela
abaixou a cabeça gigante, como se retribuísse a reverência.
Nesse momento, o céu explodiu. A noite virou um turbilhão de
luzes vermelhas, verdes e roxas. Parecia um gênio saindo da
lâmpada mágica.
Aquela visão deixou João sem fôlego. Hipnotizado, ele olhava as
luzes ofuscantes iluminando a tundra.
— É o espírito do urso polar? — perguntou Aninha baixinho.
Até onde João conseguia enxergar, o céu e a neve cintilavam. Até
o pelo da ursa brilhava sob aquela luz estranha.
— Não, não é um espírito — respondeu João. — Deve existir uma
explicação científica para isso. Vou descobrir.
Trêmulo, ele enfiou a mão na mochila e pegou o livro sobre o
Ártico. Ele tirou a máscara de urso e colocou os óculos.
À luz esverdeada, João encontrou uma figura das luzes do céu. A
imagem não chegava nem perto do que era na realidade. Ele leu em
voz alta:

Uma das visões mais deslumbrantes do


Ártico é a aurora boreal. O turbilhão de
cores é causado por partículas
eletricamente carregadas, vindas do
sol, que se chocam com átomos e
moléculas da atmosfera da Terra.
— Viu?! Existe uma explicação científica! — disse João. — Não
são os espíritos.
De repente, todas as luzes dançantes se foram, como se alguém
tivesse apagado uma vela.
A mágica tinha acabado.
8
Enigma solucionado
Agora só a lua brilhava na neve.
João olhou em volta, procurando a ursa.
Ela havia sumido.
— Para onde ela foi? — perguntou Aninha.
— Não sei — respondeu João. Ele contemplou a tundra. Nenhum
sinal da ursa gigante nem de seus filhotes.
— Talvez ela não esteja interessada em explicações científicas —
disse João.
Aninha suspirou. Ela tirou a máscara de urso e a entregou a João.
Ele pôs as duas máscaras dentro da mochila.
— E agora? — perguntou Aninha.
Eles olharam ao redor. Além dos campos vastos de neve havia
somente a escuridão. João não fazia a menor ideia de onde
estavam.
Ele sacudiu os ombros.
— Acho que a única coisa a fazer é andar e esperar que dê certo.
— Espere! Ouça! — disse Aninha.
Ouviram uivos ao longe. O som foi ficando cada vez mais alto.
— Oba! Não precisaremos esperar muito! — Aninha disse. — Os
huskies estão vindo!
Quando o trenó apareceu, os uivos ecoaram na noite.
O caçador de focas corria ao lado do trenó.
— Estamos aqui! Aqui, olhe! — gritou João, correndo em direção
ao trenó. Aninha o seguiu.
— Temi que vocês estivessem perdidos — disse o caçador de
focas.
— E estávamos! — disse Aninha. — E ficamos presos sobre o
gelo fino também! Mas uma ursa polar nos ajudou.
— É! — exclamou João. — Nós usamos as suas máscaras e nos
fingimos de ursos.
— É, as máscaras nos deram coragem — disse Aninha,
recuperando o fôlego.
— Puxa, espere aí! — disse João. As palavras de Aninha
pareceram familiares.
Ele pegou o caderno e leu o enigma de Morgana em voz alta:

Encubro o que é real


Escondo a verdade,
Mas às vezes desperto em você
A coragem e a hombridade.
Quem sou eu?

— Uma máscara! — disseram João e Aninha ao mesmo tempo.


O caçador de focas sorriu.
— Você sabia! — disse Aninha.
— Era para vocês descobrirem, não eu! — disse o caçador.
João tirou as máscaras da mochila.
— Aqui estão — disse ele. — Muito obrigado.
O caçador pegou as máscaras e colocou-as dentro de sua parca.
— Agora podemos voltar para casa — disse João.
— Será que você pode levar a gente de volta à casa da árvore?
— perguntou Aninha.
O caçador concordou.
— Subam — disse ele.
João e Aninha subiram no trenó.
— Avante! — disse o caçador.
— Avante! — repetiu Aninha.
— Avante! — disse João também.
A neve começou a cair quando eles partiram em meio à escuridão
gelada.
9
Essa não, mais um!
Quando o trenó chegou à casa da árvore, a nevasca estava bem
mais forte.
— Você pode esperar só um pouquinho? — perguntou João ao
caçador de focas. — Para a gente verificar uma coisa?
O caçador concordou. Os cachorros ganiram quando João e
Aninha entraram pela janela da casa da árvore.
João pegou o rolo de papel que continha o enigma. Ele o
desenrolou. O enigma não estava mais lá. No lugar dele, havia uma
palavra cintilante:
MÁSCARA
— Conseguimos! — disse Aninha. — A casa da árvore nos levará
para casa agora.
— Ótimo! — exclamou João. — Vamos nos despedir do caçador
de focas e devolver as roupas.
Rapidamente, eles tiraram as roupas feitas de pele de foca e as
botas.
— Obrigado por nos emprestar! — gritou João pela janela.
O caçador caminhou até a casa da árvore e pegou as roupas das
mãos de João e Aninha. Eles ficaram tremendo de frio, vestidos só
de pijama e com os pés descalços.
— Obr-br-brigada por tudo! — disse Aninha, batendo os dentes.
O caçador de focas acenou para eles e andou até o trenó, em
meio à neve que rodopiava no ar.
— Avante! — gritou ele.
Os cães partiram pela noite tempestuosa.
— Vamos embora daqui! — disse João. Ele abraçou o corpo para
se aquecer. — Antes que a gente morra de frio!
Aninha pegou o livro sobre a Pensilvânia que sempre os levava
para casa. Ela apontou para uma figura da mata do Riacho do Sapo.
— Queremos ir para lá! — disse ela.
Eles esperaram a casa da árvore começar a girar.
Nada aconteceu.
João sentiu um arrepio.
— Queremos ir para lá! — disse Aninha novamente.
E, de novo, nada aconteceu.
— O q-qu-que está acontecendo? — perguntou João.
Ele olhou em volta da casa. Os rolos de papel com os enigmas
respondidos estavam em um cantinho.
Foi então que ele viu um quinto rolo de papel.
— De on-onde ve-veio isso? — gaguejou ele.
João pegou o papel e o desenrolou. Nele se liam as seguintes
palavras:

Olhem as Letras:
A segunda Maiúscula; não as demais.
Descubram o Lugar
De que vocês gostam Mais.

— Essa não! — disse Aninha. — Outro enigma!


— Tudo bem, tudo bem. Vamos manter a calma — disse João,
trêmulo. — Olhem as letras: a segunda maiúscula; não as demais.
Bem, as segundas letras maiúsculas neste enigma são L – M – L –
M...
— Isso não faz o menor sentido — interrompeu Aninha.
Rajadas de vento gelado bateram nas paredes da casa da árvore.
Um pouco de neve espirrou para dentro.
— Precisamos nos apressar! — exclamou Aninha.
João estava congelando. Ele olhou em volta, desesperado.
— Letras, letras, letras. Quais letras? — indagou ele.
Seu olhar se fixou nos rolos de papel que estavam em um canto
da casa.
— T-talvez essas letras maiúsculas sejam só para despistar;
talvez a gente devesse dar uma olhada nas letras das respostas! —
disse ele.
— Isso — concordou Aninha.
Os dois começaram a desenrolar os papéis.
O rolo de papel da aventura no fundo do mar dizia:
OSTRA
O da viagem ao Oeste Selvagem dizia:
ECO
O da viagem à África dizia:
MEL DE ABELHA
O do Ártico dizia:
MÁSCARA
— OSTRA, ECO, MEL DE ABELHA, MÁSCARA — disse João.
— A segunda letra maiúscula de cada uma é: S-C-A-A.
— Continua não fazendo o menor sentido — disse Aninha.
— É, mas talvez seja preciso colocar as letras em ordem — disse
João. — S, C, A, A... elas poderiam formar a palavra saca.
— Ou casa! — exclamou João.
— CASA! — exclamou Aninha. É o lugar de que mais gostamos!
João tornou a desenrolar o quinto rolo de papel. O enigma tinha
sumido. No lugar dele, havia uma única palavra, cintilante:
CASA
— É isso! — comemorou Aninha. Ela pegou o livro sobre a
Pensilvânia. Queremos ir para casa! CASA! CASA! CASA!
A casa da árvore começou a girar.
Girava cada vez mais rápido.
Então tudo ficou quieto.
Absolutamente quieto.
10
Mestres Bibliotecários
Um ar quente envolveu João. Foi uma sensação maravilhosa.
— Vocês foram bem-sucedidos nessa expedição — disse uma
voz suave. — Estão contentes por estar em casa?
João abriu os olhos. Lá estava a fada Morgana, banhada em luar.
— Sim — respondeu ele.
— Resolvemos os enigmas — disse Aninha.
— Exatamente — disse Morgana. — Vocês provaram que
conseguem encontrar respostas para charadas muito difíceis.
Ela retirou das dobras do vestido dois finos pedaços de madeira.
— Um cartão da biblioteca mágica para cada um de vocês —
disse ela.
Ela deu um a Aninha e outro a João.
— Uau! — exclamou João, analisando o cartão.
Os cartões de madeira eram tão finos e lisos quanto um cartão
comum de biblioteca. Na superfície deles, cintilavam as letras M e B.
— Esses são os seus cartões de Mestres Bibliotecários — disse
Morgana. — Vocês são os mais novos membros da Antiga
Sociedade de Mestres Bibliotecários.
— O que fazemos com eles? — perguntou João.
— Levem com vocês em suas futuras viagens — respondeu
Morgana. — Só uma pessoa muito sábia ou outro Mestre
Bibliotecário será capaz de enxergar as letras. Essas pessoas
poderão ajudar vocês.
— Uau! — exclamou Aninha. — Podemos partir para mais uma
missão agora mesmo?
— Agora vocês precisam ir para casa descansar — disse
Morgana. — Em breve eu os procurarei novamente.
João e Aninha colocaram seus cartões secretos nos bolsos.
Então, João pegou o livro sobre o Ártico e colocou-o com os outros.
— Tchau — ele se despediu.
— Até logo — disse Aninha a Morgana.
Morgana fez um leve aceno.
João e Aninha desceram pela escada de corda.
Assim que pisaram no chão escuro, ouviram um estrondo.
Olharam para cima. Viram um borrão de vento e luz lá no alto do
carvalho.
Depois tudo ficou em silêncio.
Morgana e sua casa da árvore mágica tinham desaparecido.
João procurou no bolso o cartão da biblioteca mágica. Quando o
sentiu em contato com a pele, teve certeza de que aventuras
incríveis estavam por vir.
— Vamos — disse.
Ele ligou a lanterna.
— A mata não está mais assustadora como antes — comentou
Aninha enquanto eles andavam por entre as árvores. — Não estou
mais com medo.
— Nem eu — disse João.
— Ei, a escuridão é como uma máscara — disse Aninha.
— É! — concordou João. — Esconde o dia, mas nos dá coragem.
Eles saíram da mata.
João avistou a casa deles ao longe. Parecia estar quentinha e
aconchegante.
A luz da varanda continuava acesa. A lua brilhava no céu.
— Casa — ele sussurrou.
— Casa — disse Aninha.
Ela disparou a correr. João partiu atrás dela, correndo para o lugar
que eles mais amavam.

FATOS QUE JOÃO DESCOBRIU


SOBRE O ÁRTICO
No verão o sol nunca se põe.
No inverno o sol nunca nasce.
Caçadores de focas usam roupas de pele de foca.
Huskies siberianos puxam trenós.
“Iglu” significa “casa”.
As pessoas podem aprender com os animais.
Os ursos polares conseguem se mover sobre camadas
de gelo finas demais para aguentar o peso de uma
pessoa.
A aurora boreal é um espetáculo extraordinário.
Viaje na

CASA DA ÁRVORE MÁGICA


DINOSSAUROS ANTES DO ANOITECER

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coleção A CASA DA ÁRVORE MÁGICA!

De onde veio a casa da árvore?

Antes que João e Aninha percebessem o que estava acontecendo,


foram levados pela misteriosa casa da árvore para a pré-história!
Agora, eles têm de dar um jeito de voltar para casa. Será que
conseguirão voltar antes do anoitecer? Ou vão terminar virando
almoço de dinossauro?
Muita aventura espera por você em

A CASA DA ÁRVORE MÁGICA 1


DINOSSAUROS ANTES DO ANOITECER

O CAVALEIRO AO AMANHECER

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Castelo, guardas e uma passagem secreta

Desta vez, a casa da árvore mágica leva Aninha e João para a


Idade Média. Eles entram num castelo medieval e se metem numa
confusão danada. São presos pelos guardas do palácio e têm de
dar um jeito de fugir. Aninha tem uma ideia genial e eles conseguem
inverter a situação. Encontram uma passagem secreta e, aí, a coisa
aperta!...

Descubra o que acontece em

A CASA DA ÁRVORE MÁGICA 2


O CAVALEIRO AO AMANHECER

MÚMIAS DE MANHÃ

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O Egito antigo
É para onde vão Aninha e João nesta viagem da casa da árvore
mágica! Lá eles encontram múmias de faraós e uma rainha morta
há muito tempo, que precisa da ajuda deles. Será que João e
Aninha conseguirão resolver o enigma para salvá-la, ou acabarão
virando múmias também?

Embarque na aventura em

A CASA DA ÁRVORE MÁGICA 3


MÚMIAS DE MANHÃ

PIRATAS DEPOIS DO MEIO-DIA

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Um tesouro no Caribe

Desta vez, a casa da árvore carrega João e Aninha para uma linda
ilha deserta no Caribe. Estava muito bom até que os piratas
apareceram... O que será que vai acontecer com as crianças?

Embarque na aventura em

A CASA DA ÁRVORE MÁGICA 4


PIRATAS DEPOIS DO MEIO-DIA

A NOITE DOS NINJAS

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Você já deu de cara com um ninja de verdade?


João e Aninha encontram ninjas quando a casa da árvore mágica
os leva para o Japão antigo, onde eles se veem na presença de um
mestre ninja. Será que eles vão aprender os segredos dos ninjas?
Ou antes disso serão capturados pelos samurais?

Descubra alguns segredos dos ninjas em

A CASA DA ÁRVORE MÁGICA 5


A NOITE DOS NINJAS

UMA TARDE NA AMAZÔNIA

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Uma aventura em plena floresta!


A casa da árvore mágica leva João e Aninha a se embrenhar na
mata, onde muitos animais os esperam: uma assustadora onça-
pintada, milhões de formigas carnívoras, uma sucuri e um jacaré
que dão o maior susto! Para piorar as coisas, os dois estão
completamente perdidos. E um macaco encrenqueiro parece querer
dizer algo. O que será?

Isso você só saberá ao ler

A CASA DA ÁRVORE MÁGICA 6


UMA TARDE NA AMAZÔNIA

TIGRE-DENTES-DE-SABRE AO PÔR DO SOL

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Um pôr do sol gelado!

João e Aninha quase congelam quando são levados pela casa da


árvore para a Era Glacial. Para piorar, eles caem numa armadilha
preparada pelos homens das cavernas. E ainda dão de cara com
um temível tigre-dentes-de-sabre!

O que poderá ajudá-los a escapar dessa verdadeira fria?

Conheça a Era Glacial em

A CASA DA ÁRVORE MÁGICA 7


TIGRE-DENTES-DE-SABRE AO PÔR DO SOL

MEIA-NOITE NA LUA
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coleção A CASA DA ÁRVORE MÁGICA!

Longe da terra

Aninha e João vão parar no lugar mais distante em que já


estiveram: a Lua... no futuro! Vestindo roupas espaciais, eles
dirigem um carro pela superfície lunar e conhecem um misterioso
astronauta. Quando decidem voltar à base, o caminho está
bloqueado. Conseguirão voltar antes que acabe o oxigênio? Quem
será o homem da Lua?

Desvende os mistérios lunares em

CASA DA ÁRVORE MÁGICA 8


MEIA-NOITE NA LUA

GOLFINHOS AO ALVORECER
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coleção A CASA DA ÁRVORE MÁGICA!

É nadar ou afundar!

A Casa da Árvore Mágica leva João e Aninha para o meio do


oceano. Felizmente, eles encontram um submarino num recife de
coral. Porém, eles logo vão se deparar com um polvo gigante e um
tubarão muito faminto. Será que os golfinhos os salvarão? Ou será
que João e Aninha serão o jantar?

Divirta-se e descubra o que acontece em

A CASA DA ÁRVORE MÁGICA 9


GOLFINHOS AO ALVORECER

CIDADE-FANTASMA AO ENTARDECER
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coleção A CASA DA ÁRVORE MÁGICA!

Esta cidade é mal-assombrada?

É o que João e Aninha se perguntam quando a Casa da Árvore


Mágica os leva para o Oeste Selvagem. Mas antes que possam
dizer “Buu!”, eles mergulham numa aventura cheia de ladrões de
cavalos, um potro perdido, cascavéis e um caubói chamado Magro.
Será que João e Aninha terão tempo de resolver o próximo enigma
da Casa da Árvore? Ou viverão para sempre numa cidade-
fantasma?

Você vai se divertir um bocado lendo


A CASA DA ÁRVORE MÁGICA 10
CIDADE-FANTASMA AO ENTARDECER

UMA MANHÃ NA ÁFRICA

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“Onde estão os leões?”

João se pergunta quando a Casa da Árvore Mágica o leva, com sua


irmã, para as vastas planícies da África. Antes que ele perceba,
Aninha começa a ajudar

centenas de gnus a atravessar um rio impetuoso. Depois eles


seguem um passarinho até uma colmeia e se deparam com um
terrível guerreiro Masai. João torce para não dar de cara com leões.
Ele vai ficar muito decepcionado...

Mas você não se decepcionará ao ler

A CASA DA ÁRVORE MÁGICA 11


UMA MANHÃ NA ÁFRICA

URSOS POLARES DEPOIS DA HORA DE DORMIR

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Está fazendo um frio de rachar...

quando a Casa da Árvore Mágica leva João e Aninha ao Ártico


gelado. Felizmente, um homem empresta roupas quentes para eles.
Infelizmente, eles ficam presos no gelo prestes a quebrar! Será que
a ursa polar gigante os salvará? Ou será que João e Aninha serão
transformados em comida congelada? Isso você só saberá ao ler.

Embarque na nova aventura de

A CASA DA ÁRVORE MÁGICA 12


URSOS POLARES DEPOIS DA HORA DE DORMIR
A AUTORA

Paul Coughlin

Mary Pope Osborne é autora premiada de mais de 50 livros para


jovens, entre os quais as coleções American Tall Tales, Favorite
Greek Myths, os livros de mistério Spider Kane e One World, além
de Many Religions, que recebeu a láurea Orbis Pictus Honor Book.
Recentemente, ela completou duas gestões à frente da Authors
Guild, a organização de escritores mais importante dos Estados
Unidos. Mary Pope vive em Nova York com o marido Will e o
cachorro Bailey. Eles têm um chalé na Pensilvânia — a mesma
região onde nossos amigos João e Aninha moram.
A possibilidade de Mary viajar junto dos irmãos João e Aninha por
diferentes locais e épocas entusiasma a autora! Ela nunca havia
pensado que poderia visitar tantos lugares por meio da sua
imaginação.

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