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CAPÍTULO II

Estratégias para o desenvolvimento


econômico do setor agropecuário
em situações de escassez hídrica:
o caso do estado do Ceará

Autor
Sílvio Carlos Ribeiro Vieira Lima
Secretário Executivo do Agronegócio do Ceará
AGRICULTURA IRRIGADA: um breve olhar

Mensagem principal do capítulo


O Estado do Ceará possui um grande potencial para o crescimento da
agricultura irrigada, principalmente com foco na produção de frutas,
flores e hortaliças. Esta apresentação abordou novas possibilidades
de oferta de água, com a transferência de água do rio São Francisco
e de eficiência no uso da água com ações inovadoras como incentivo
ao uso de cultivos que tenham melhores indicadores e critérios para
definir a prioridade. Além disso, abordamos monitoramento de áreas
irrigadas e sistemas de comunicação entre usuários e gestores de
recursos hídricos.

Introdução
Localizado na região Nordeste do Brasil, mesmo com período chu-
voso restrito a cerca de quatro meses do ano, o estado do Ceará pos-
sui um setor agropecuário em crescimento. O segmento primário da
agropecuária cearense é composto por atividades de agricultura de
sequeiro, agricultura irrigada, pecuária e aqüicultura em conjunto,
sustentam os empregos diretos no campo e geram renda no meio
rural, contribuindo ainda para o setor industrial e sendo responsável
por boa parte das exportações cearenses. De acordo com o último
censo realizado pelo IBGE em 2017/2018, o pessoal ocupado no se-
tor agropecuário do Ceará é de 929 mil pessoas, que vivem em 394,3
mil propriedades em 6,9 milhões de hectares.

A Secretaria do Desenvolvimento Econômico e Trabalho – SEDET do


Governo do Estado do Ceará possui quatro Secretarias Executivas
que são elas: Secretaria Executiva da Indústria, do trabalho e em-
preendedorismo, do comércio, serviços e inovação e do agronegó-
cio. Esta última possui três objetivos principais:

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1) Aumentar o PIB no setor agropecuário cearense;

2) Gerar emprego no setor;

3) Aumentar a renda média no campo.

Esses objetivos somente serão alcançados com as seguintes


estratégias:
a) Aumentar a eficiência no uso da água no setor;
b) Desenvolver pesquisas e transferências de tecnologia para no-
vas culturas que possuem alto valor agregado;
c) Implantar um serviço de assessoramento ao Irrigante;
d) Ter uma defesa agropecuária moderna e eficiente;
e) Otimização da logística estadual de portos, aeroportos e
rodovias;

f) Trabalhar a promoção do setor e a atração de investimentos.

Embora seja o mais recente setor da agropecuária cearense, a agri-


cultura irrigada é o mais dinâmico, pois representa apenas 5% da
área plantada total no Estado, mas responde por cerca de 50% do
Valor Bruto da Produção – VBP.

Precisamos aproveitar as oportunidades que temos de clima favorá-


vel, localização geográfica estratégica no Oceano Atlântico que faci-
lita a exportação, logística moderna, áreas livres de pragas que per-
mitem a aceitação de seus produtos em diversas partes do mundo e
novos mercados conquistados nos últimos anos no exterior, princi-
palmente Ásia e oriente médio, mas o limitante continua sendo água
para a produção. Somente assim, o número de 73 mil ha produzidos
com irrigação em 2019 possa chegar aos 286 mil ha estimados pela
Agência Nacional de Águas – ANA para ser irrigado no Ceará.

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Visão do capítulo
Em um momento de seca vivenciado nos últimos anos, uma ação
teve como principal objetivo otimizar o uso da água no setor agrope-
cuário cearense a partir da definição de indicadores e critérios, tendo
início pelas bacias do Médio e Baixo Jaguaribe. O “Estudo técnico
para a alocação de água destinada à irrigação” foi idealizado pela
Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará ADECE a partir de
demanda da Câmara Setorial de Frutas, da Secretaria de Agricultura,
Pesca e Aquicultura - SEAPA e da Companhia de Gestão de Recursos
Hídricos - COGERH, sendo concluído em novembro de 2015. Teve
como objetivo definir critérios para o uso da água para o setor agro-
pecuário e propor um plano de monitoramento climático da área cul-
tivada ao longo das bacias do médio e baixo jaguaribe, servindo tam-
bém como forma de assessoramento ao agricultor/usuário de água.

O projeto utilizou a tecnologia do Sistema de Assessoramento ao


Irrigante – S@I, software desenvolvido em parceria com diversas
empresas e instituições de pesquisas nacionais e que é uma ferra-
menta importante para o uso racional da água na agricultura. Neste
projeto, foi desenvolvido também uma nova ferramenta computacio-
nal, o Sistema de Assessoramento às bacias hidrográficas - S@BH,
para realizar simulações e apresentar cenários, trabalhando os dados
dos indicadores encontrados e critérios do uso da água.

A metodologia utilizada para definir indicadores está apresentada


por Frizzone et al. (2020) e pode ser observada a seguir:

Os indicadores socioeconômicos são parâmetros importantes para


se ter uma perspectiva da influência da produção, receita, consumo
hídrico e geração de empregos das culturas irrigadas na sub-bacia do
Baixo Jaguaribe. Para analisar o desempenho das culturas irrigadas
nesta bacia devem ser utilizados indicadores de desempenho socioe-
conômicos agrupados em quatro quesitos, cada um composto por
dois indicadores (Tabela 1).

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Tabela 1. Quesitos de análise e os respectivos indicadores

Quesitos Indicador 1 Indicador 2


Segurança produtiva kg ha-1 kg m-3
Segurança econômica R$ ha-1 R$ m-3
Segurança social Empregos ha-1 Empregos m-3
Segurança hídrica m3 ha-1 Ciclo do cultivo

O Estudo realizado propôs e foi aprovada em 10 de janeiro de 2017 a


Resolução CONERH N° 02.2017 que cria no âmbito do conselho de
Recursos Hídricos do Ceara – CONERH a câmara técnica para acom-
panhamento do uso da água na agropecuária. Esta Câmara definirá
os critérios de prioridade do uso da água a ser aplicado em cada
bacia hidrográfica do estado do Ceará.

Além dessa conquista, o Estudo também contribuiu para a criação da


Câmara Temática Água e Desenvolvimento no âmbito da Agência de
Desenvolvimento do Estado do Ceará – ADECE com a participação
de todos os setores produtivos e das câmaras setoriais e de diversas
Instituições (Publicado no DOE em 5 de setembro de 2017).

Os resultados obtidos no primeiro projeto no que se refere aos in-


dicadores e critérios, com a consequente criação da Câmara Técnica
para o Uso da Água na Agropecuária, demonstram a necessidade de
detalhamento das demandas hídricas do setor agropecuário cearen-
se, especialmente das regiões hidrográficas beneficiadas pela trans-
posição do Rio São Francisco, por ser considerado primordial e de
caráter estratégico para subsidiar a formulação de políticas públicas,
que irão impactar, direta ou indiretamente, na expansão, no aprimo-
ramento e no desenvolvimento sustentável do setor do agronegócio
cearense nas bacias hidrográficas cearenses.

Em 2018, um novo Estudo foi realizado pela ADECE, desta vez con-
templando cinco bacias (Alto, Médio e Baixo Jaguaribe, Banabuiú e

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Salgado) disponibilizando uma maior gama de informações sobre os


indicadores da região. Também em 2018 foi apresentada e discutida
a execução de propostas desenvolvidas pelo programa para compor
o empréstimo do Banco Mundial que visa reforçar a segurança hídri-
ca no Estado.

A irrigação deve dar maior valor para a água aplicada neste setor com
a introdução de novas culturas que possuem maior valor agregado,
menor consumo de água e maior geração de empregos. Podemos
observar na Figura 1 o estado do Ceará e seus pólos de produção.
O Pólo do Jaguaribe que mesmo com uma área irrigada um pouco
maior do que a o Pólo da Ibiapaba, tem menor VBP. A razão é que
no Jaguaribe possui culturas de menor valor agregado, além de apro-
ximadamente ter 2.000 ha de arroz. Na Ibiapaba, essa área possui
hortaliças, frutas e flores que geram, além de maior riqueza, maior
geração de emprego e menor consumo de água, tanto pelo clima,
mas também por várias áreas em ambiente protegido. Este é o foco
atual do Estado traduzido no programa de eficiência no uso da água
no setor agropecuário no Estado do Ceará.

Figura 1. Impacto das culturas de alto valor agregado no VBP em 2018.


Fonte: SEDET.

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Conclusão
O Ceará tem sido ágil na ampliação da infraestrutura de oferta hí-
drica que dê suporte aos novos investimentos de capital, público
e privado, que se instalaram nessa nova fase de desenvolvimento
da economia. Entretanto, esta demanda crescente, fruto da política
de fomento do poder público ao desenvolvimento de diversos seto-
res da economia, tornou-se necessário o estabelecimento de novas
metodologias de gerenciamento das águas do estado. Com vistas a
otimizar a gestão dos recursos hídricos do Estado do Ceará, surgiu
a necessidade do desenvolvimento de ferramentas baseadas em pro-
cesso decisório, capazes de contribuir para um melhor planejamento
e gerenciamento dos recursos hídricos, com o propósito de contri-
buir para a melhoria e definição de estratégias de gestão pública,
dentro dos interesses socioeconômicos do Estado.

Acreditamos que após as ações propostas neste documento serem


realizadas, teremos um aumento do Vbp e maior geração de em-
prego e aumento da renda média no campo com desenvolvimento
econômico do meio rural do Ceará que pode servir de modelo para
regiões semiáridas no Brasil.

Referências
FRIZZONE, J. A.; LIMA, S. C. R. V.; CAMARGO, D. C.; COSTA, F. R. B.; MAGALHÃES, J. S. B.;
MELO, V. G. M. L. Indicators and criteria to define the priority for irrigation water use in the
Baixo Jaguaribe basin, Brazil. Revista Brasileira de Agricultura Irrigada, v. 14, p. 3875-3888,
2020. http://dx.doi.org/10.7127/rbai.v14n1001103.

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