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PARECER JURÍDICO

EMENTA
PORTADOR DE TRANSTORNO BIPOLAR. CAPACIDADE PARA ATOS DA
VIDA CIVIL. NEXO DE CAUSALIDADE ENTRE A PATOLOGIA E O SERVIÇO
PÚBLICO.

INTERESSADO(A):

DATA: 30/06/2022

1. RELATÓRIO

Cuida-se de solicitação de análise jurídica relativa à candidato


portador de transtorno bibolar para ingresso em cargos públicos.

As condições da presente análise envolvem indicar casos


análogos perante o Poder Judiciário e demais elementos que impactam o
problema apresentado.

É o que basta relatar.

2. FUNDAMENTOS JURÍDICOS

Em primeiro lugar, cumpre trazer a baila que a ampla


acessibilidade a cargos, empregos e funções públicas é assegurada
expressamente em nosso sistema constitucional (art. 37, I), como corolário
do princípio da isonomia, da participação política e o da eficiência
administrativa.
Nesse contexto, deflui-se que a Constituição da República
erigiu a exigência de concurso público para provimento de cargos públicos
como verdadeiro pilar de moralidade e impessoalidade no serviço público,
assegurando à Administração a seleção dos melhores e mais preparados
candidatos e aos administrados chances isonômicas de demonstrar
conhecimento e de buscar o acesso a esses cargos.

Outrossim, serve à inquirição das habilidades intelectual,


física e psíquica dos interessados, sempre amparado pelos princípios da
igualdade, moralidade administrativa e competição.

Vale destacar também que, o edital é a lei que rege o concurso


e, em regra, deve prevalecer em homenagem ao princípio da legalidade,
competindo à Administração Pública, desde que obedeça ao princípio da
isonomia, prever as limitações incapacitantes no edital do concurso, diante
de seu poder discricionário.

Nessa perspectiva, ao edital incumbe a tarefa de normatizar e


definir os critérios que serão adotados para avaliar os candidatos em
igualdade de condições, garantindo, assim, a necessária lisura, moralidade,
transparência e isonomia entre os participantes.

Dessa forma, cabe aos candidatos observarem as condições


exigidas pelo edital que regulamentou o concurso, no tocante à avaliação
médica, física e psicológica.

No entanto, para que ocorra a anulação em exame realizado


pela Administração Pública, é necessária a clara demonstração de eventual
ilegalidade ou irregularidade no procedimento.
Além disso, é resguardado o direito aos candidatos que se
sentirem lesados quando do momento de sua exclusão indevida de um
processo de concurso público por motivo de doença, recorram à Justiça para
reverter esta situação e com isso retornarem ao concurso.

No caso em análise, deve-se verificar se o transtorno afetivo, a


depender do grau, é uma incapacidade definitiva que gere quadro de
invalidez.

Sabemos que o transtorno de humor bipolar apresenta-se com


sintomas de humor de forma aguda, os quais variam entre depressão e
mania (agitação), os quais podem obter melhora clínica com tratamento
medicamentoso.

Diante desses casos, somente com a prova técnica (pericial) é


que será conclusiva para certificar se o candidato estará apto ou não para o
exercício do cargo.

Aliás, trazendo à baila casos análogos de candidatos


portadores de transtorno bipolar, foi possível reverter reprovação do exame
médico, ante a realização de perícia judicial:

Apelação. Concurso Público. Aprovação. Transtorno


Bipolar. Inaptidão em exame médico. Doença não
incapacitante. Direito à posse. Comprovado mediante
perícia médica que a doença psicológica que acomete a
candidata não é incapacitante, a qual se encontra em
tratamento, e estável há longo tempo, deve ser garantida
sua posse no cargo em que foi aprovada.(TJ-RO - APL:
00145099520108220001 RO 0014509-
95.2010.822.0001, Relator: Desembargador Renato
Mimessi, 2ª Câmara Especial, Data de Publicação:
Processo publicado no Diário Oficial em 12/02/2014.)

APELAÇÃO CÍVEL E REMESSA NECESSÁRIA. MANDADO


DE SEGURANÇA. CONCURSO PÚBLICO. EDUCADORA
INFANTIL. SEGUNDA FASE. ELIMINADA NA AVALIAÇÃO
PSICOLÓGICA. CANDIDATA SUBMETIDA A NOVO EXAME.
CONCLUSÃO PELA APTIDÃO. MANUTENÇÃO DA
ELIMINAÇÃO PELA BANCA. SENTENÇA QUE DENEGOU A
SEGURANÇA. ATO ADMINISTRATIVO NULO. SENTENÇA
REFORMADA. DIREITO LIQUIDO E CERTO
CONFIGURADO. CONCESSÃO DA SEGURANÇA.
REEXAME NECESSÁRIO NÃO CONHECIDO E RECURSO
DE APELAÇÃO PROVIDO. (TJPR - 4ª C. Cível - 0005031-
30.2017.8.16.0116 - Matinhos - Rel.: DESEMBARGADORA
REGINA HELENA AFONSO DE OLIVEIRA PORTES - J.
18.02.2020. (TJ-PR - REEX: 00050313020178160116
Matinhos 0005031-30.2017.8.16.0116 (Acórdão), Relator:
Regina Helena Afonso de Oliveira Portes, Data de
Julgamento: 18/02/2020, 4ª Câmara Cível, Data de
Publicação: 21/02/2020)

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO ORDINÁRIA -


CONCURSO PÚBLICO - PMMG - EDITAL DRH/CRS Nº
01/2008 - CURSO TÉCNICO DE SEGURANÇA PÚBLICA
DA POLÍCIA MILITAR - EXAME PSICOLÓGICO -
CONTRAINDICAÇÃO DA CANDIDATA - POSSIBILIDADE DE
REVISÃO DO ATO ADMINISTRATIVO PELO PODER
JUDICIÁRIO - PERÍCIA LIMITADA AO REEXAME DAS
FICHAS TÉCNICAS - CONTRAINDICAÇÃO DA CANDIDATA
- RECURSO NÃO PROVIDO. I. Este Tribunal fixou, na
ocasião do julgamento do IRDR 1.0024.12.105255-9/002,
a tese de que o Poder Judiciário pode anular o ato
administrativo de reprovação do candidato em exame
psicológico, com base em laudo pericial novo; mas que a
nova perícia deve ficar restrita à reavaliação psicológica do
candidato no momento da realização do exame oficial,
limitada ao exame das fichas técnicas para detectar vícios
interpretativos ou legais. II. Inexistindo ilegalidade na
aplicação do teste denominado "PMK" à época do certame,
bem como quaisquer vícios legais ou interpretativos na
contraindicação da candidata, a confirmação da sentença
é medida que se impõe. (TJ-MG - AC:
10480091254312001 MG, Relator: Carlos Roberto de
Faria, Data de Julgamento: 28/08/2020, Data de
Publicação: 31/08/2020).

Frente aos argumentos tecidos, a melhor orientação é no


sentido de que, caso haja algum diagnóstico patológico ao candidato que
indique incapacidade, a melhor saída será buscar a perícia técnica a fim de
verificar as limitações, tempo de tratamento, condições para exercício das
atividades do cargo e se a incapacidade é total ou parcial.

Nesse compasso, se o candidato deu início e mantém o


tratamento adequado à estabilização do transtorno, isso não pode servir de
justificativa para a exclusão do candidato, sobretudo quando sua condição
não o inabilita à função pública nem a nenhuma atividade profissional,
tampouco afetando a sua autodeterminação ou consciência acerca dos fatos
da vida de modo a comprometer a sua vida pessoal, social ou familiar, o que,
naturalmente, deverá ser apurado em sede de PERÍCIA TÉCNICA.
3. CONCLUSÕES

Considerando todo o abordado, tem-se como conclusão ao


presente parecer que o mais indicado, pela análise jurídica realizada, é que
CABERÁ ao laudo de exame pericial certificar pela aptidão ou inaptidão do
candidato para o exercício do cargo. Além disso, o tratamento do transtorno
bipolar pode garantir que o paciente viva uma vida normal.

Assim, respondendo aos quesitos solicitados:

1. Poderia assumir o cargo?


R: Dependerá de prova pericial.

2. É possível conseguir êxito na fase de investigação social


e no exame psicológico?
R: Poderá ser possível de acordo com progressividade do
tratamento e também com os exames médicos (perícia).

Desta forma, aprovamos a possibilidade da candidata realizar


concursos públicos, nesse caso, a depender do cargo almejado, caberá a
prova técnica concluir a aptidão de sua capacidade.

Salvo melhor entendimento, é o parecer.

Cidade/estado, 30 de junho de 2022.

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