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Projeto acadêmico não lucrativo, desenvolvido pela iniciativa Acesso Aberto
PSICOLOGÍA POSITIVA, NUEVAS TECNOLOGÍAS Y REALIDAD ACTUAL
Kraus, Teresa,
Professora Adjunta. Escola Superior de Saúde de Leiria – IPL, doutoranda em Enfermagem na
Universidade Católica Portuguesa e bolseira da Fundação para a Ciência e Tecnologia.
Dixe, Maria dos Anjos
Professora Coordenadora. Escola Superior de Saúde de Leiria – IPL
Rodrigues, Manuel
Professor Coordenador c/ Agregação, ESEnfC; Coordenador Científico da UICISA-dE; Editor Chefe da
Revista Referência
RESUMEN
Introdução: Modelos teóricos de transmissão do impulso nociceptivo evidenciam o carácter
multidimensional e altamente subjectivo da dor.
Frankl afirma que o homem não se destrói por sofrer mas, por sofrer sem sentido. Focaliza a
capacidade de integrar o sofrimento na vida e define depressão como, sofrimento sem sentido.
Objectivo: Avaliar o índice de sentido de vida, ansiedade/depressão e auto-eficácia em doentes
com dor reumática, e identificar factores preditivos de vida com sentido.
Métodos: Estudo correlacional, realizado numa amostra de 93 participantes (sexo: feminino
59,1%; masculino 40,9%), que frequentam o Serviço de Reumatologia de um Hospital de Lisboa.
Os instrumentos aplicados foram as versões portuguesas do The Purpose in life test (PIL), o
Teste dos Objectivos/Sentido de Vida; do Chronic Pain Self-Efficacy Scale (CPSS) a Escala da Auto-
eficácia para o controlo da dor crónica e a Hospital Anxiety and Depression Scale (HADS), a Escala
da Ansiedade e Depressão Hospitalar.
Resultados: Os 93 participantes, têm uma média de idades de 49,8 anos (SD=11,7), em média
não estão deprimidos, mas apresentam uma ansiedade ligeira e uma auto-eficácia moderada.
Relativamente ao valor médio de sentido de vida, apresentam um nível de objectivos de vida médio
(=99,7; SD=14,8), ou seja, alcançaram um sentido de vida comum e adequado ao contexto da rea-
lidade.
Constatamos ainda que o sexo não é preditivo de vida com sentido (p>0,05). No entanto verifi-
camos que os participantes com maior índice de sentido de vida são mais novos, apresentam níveis
mais baixos de ansiedade/depressão e mais elevados de auto-eficácia (p<0,001).
Conclusão: Confirma-se que a variável Objectivos/Sentido de Vida está positivamente rela-
cionada com o bem-estar.
ABSTRACT
Meaning of life in patients with chronic pain
Introduction: Theoretical models for nociceptive impulse transmission are multi-dimensional in
character and highly subjective of the pain.
Frankl says that people are not destroyed by suffering but by suffering without meaning. He
focuses on the ability to incorporate suffering in life and defines depression as suffering without
meaning.
Objective: To assess the life meaning index, anxiety/depression and self-efficacy in patients with
rheumatic pain and to identify predictive factors for a life with meaning.
Methods: A correlational study conducted on sample of 93 participants (gender: female 59.1%;
male 40.9%), attending the rheumatology service at a Lisbon hospital.
The Portuguese versions of The Purpose in life test (PIL), the Chronic Pain Self-Efficacy Scale
(CPSS) and the Hospital Anxiety and Depression Scale (HADS) were the instruments used.
Results: The average age of the 93 participants was 49.8 years (SD=11.7). They were not
depressed but exhibited slight anxiety and moderate self-efficacy. In relation to the average
figure for life meaning, they had an average level of life goals (=99.7; SD=14.8), i.e. they had a aver-
age level of life meaning, appropriate to their actual context.
We further found that gender is not predictive of life meaning (p>0.05). But we ascertained that
the participants with the highest life meaning are the younger ones, who had the lowest indexes of
anxiety/depression and the highest indexes of self-efficacy (p<0.001).
Conclusion: It was confirmed that the life meaning variable is positively related to well-being.
Descriptors: Life meaning; chronic pain; self-efficacy; anxiety and depression.
INTRODUÇÃO
Sendo a presença da dor uma das experiências mais temidas pelo ser humano, mas também
uma das mais experimentadas, ela surge nos mais variados cenários da vida e manifesta uma hete-
rogeneidade, mutável de acordo com as configurações sociais, pluralidade de domínios e caracte-
rísticas do estado doloroso (Wall, 2002). A dor crónica e o sofrimento a ela associada são mais que
sintomas, a sua presença constante e duração prolongada são causa de muitas perturbações nas
actividades físicas, no sono, na vida sexual, no humor, resultando em baixa auto-estima, pensa-
mentos negativos, percepção desesperançada da vida, relações familiares/sociais/laborais confli-
tuosas. Neste contexto, a pessoa manifesta frequentemente a percepção de incapacidade para lidar
com a situação e encontrar razões validas que dêem sentido à vida (Portugal, 2008).
Um estudo levado a cabo em 25 países europeus pelo centro de investigação britânico The Work
Foundation, concluiu que 100 milhões de europeus sofrem de dor crónica não maligna, nomeada-
mente de doença músculo-esqueléticas crónicas, sendo que 40 milhões são trabalhadores e cerca
de 40% têm de abandonar a actividade laboral devido à doença. Demonstra ainda que as doenças
músculo-esqueléticas são responsáveis por cerca de metade (49%) do absentismo laborais, 60%
das situações de incapacidade permanente na União Europeia, acarretando, juntamente com danos
associados às consequências da doença, custos acima de 240 mil milhões de euros aos europeus
(Ciênciaptportugal, 2009).
As doenças reumáticas, no seu conjunto, são as principais responsáveis pelos custos com a
saúde. O Ministério da Saúde, na tentativa nacional de inverter a tendência de crescimento das doen-
ças reumáticas e contribuir para o movimento internacional “Década do Osso e da Articulação 2000-
2010”, criado por iniciativa da Organização das Nações Unidas e apoio da Organização Mundial de
Saúde, desenvolveu o Programa Nacional Contra as Doenças Reumáticas (Portugal, 2004).
As doenças reumáticas podem definir-se como doenças e alterações funcionais do sistema
musculoesquelético de causa não traumática, constituindo um grupo com mais de uma centena de
entidades agudas, recorrentes ou crónicas, atingindo pessoas de todas as idades. As manifestações
clínicas das doenças reumáticas como, por exemplo, a dor, a tumefação e a limitação da mobilida-
de, são muito frequentes na população em geral.
A prevalência desta sintomatologia é maior no sexo feminino e nas pessoas mais idosas, bem
como nas que têm menores rendimentos e menor escolaridade, sendo esta sintomatologia devida,
mais frequentemente, a osteoartrose, raquialgias, doenças reumáticas periarticulares, incluindo as
lesões musculoesqueléticas ligadas ao trabalho, osteoporose, fibromialgia, artropatias microcrista-
linas, artrite reumatóide, espondilartro-patias, doenças reumáticas sistémicas e artrites idiopáticas
juvenis.
Sendo da responsabilidade dos profissionais de saúde o acompanhamento sistematizado, orien-
tado para a facilitação do processo de transição da pessoa que vivencia a dor reumática (Portugal,
2008), importa evidenciar que a dor reumática, musculoesquelética, mereceu o recolhimento de
foco de atenção da prática de Enfermagem, constando na lista de categorias de diagnóstico da
Associação Norte-Americana dos Diagnósticos de Enfermagem assim e integra a Classificação
Internacional para a Prática de Enfermagem.
A possibilidade de serem implementadas intervenções autónomas e colaborativas de
Enfermagem, baseadas num corpo de conhecimentos bem fundamentado, é outra condição para o
seu reconhecimento enquanto resposta a um problema de saúde real ou potencial, ou ao processo
de vida, responsabiliza o profissional de Enfermagem pelas medidas tendentes à sua resolução.
Trabelbee (1979) reforça a necessidade desta prática ser orientada para a consciencialização da
dimensão espiritual e visar a descoberta de um sentido firme e duradouro, promotor de emocionais
positivas (Waidaman, Elsen, & Marconi, 2006). Também Patrícia Starck defende que o sentido de
vida facilita a integração de contextos desfavoráveis, encarando-os como desafios, que, pela liber-
dade para a tomada de decisão e responsabilidade promotora de confiança quanto à auto-eficácia,
promove competências de controlo (coping) sobre as consequências (Starck, 2008).
O conceito de controlo da dor, refere-se a um elemento integrante do tratamento da dor, funda-
mental para a humanização das unidades de saúde, em que o seu controlo eficaz, assume a direc-
tiva de dever para os profissionais e de direito para os doentes que dela padecem (Portugal, 2003).
O objectivo do controlo da dor não é apenas o aliviar da dor mas também, o alívio do sofrimento
e da incapacidade que a dor provoca (Diamond & Coniam, 1999).
Sofrimento “(…) é um estado de desconforto que envolve uma perda ou uma ameaça de perda
de nível de identidade e integridade do individuo e uma alteração da sua percepção perante o futu-
ro.” (Mcintyre, 1995, p. 17-31).
Muitos autores têm mencionado a capacidade humana de integrar o sofrimento na vida. Frankl
(1987) define depressão como sofrimento sem sentido; Florence Nightingale, chama a atenção de
que “O importante não é o que nos faz o destino, mas sim o que nós fazemos dele” (Duval, 1994,
p. 91). Lukas (1986, p. 20) afirma que: “Lutar contra o destino quando não há saída, leva à deses-
perança”. Moos & Schaefer (1986, p. 9-10) afirmam que “os episódios stressantes da vida podem
enriquecer os valores e as crenças da pessoa ao exigir a integração de novas experiências (...) incen-
tivando ao desenvolvimento de novas competências cognitivas e pessoais “. Bandura (1977b) cita-
do por Asghari & Nicholas (2001), concluiu que as crenças de auto-eficácia e o controle cognitivo
da dor podem ser mediados quer por mecanismos opioides, quer mecanismos não opioides.
O interesse pelo estudo do “sentido da vida” tem encontrado eco no contexto das Ciências da
Saúde, especificamente na Enfermagem, por se tratar de uma variável com efeito terapêutico posi-
tivo, capaz de integrar o sofrimento inevitável, associados à vivência da doença crónica (Kraus,
Rodrigues, & Dixe, 2009). Não se trata, apenas de responder em abstracto, àquela que Albert Camus
considerava ser a pergunta fundamental da filosofia mas, dar-lhe uma resposta no concreto da exis-
tência individual quotidiana (Camus, 1942).
O significado, consciente ou não, que a Pessoa atribui à sua dor, resulta de processos mentais
dependentes de factores sócio-culturais, da história pessoal e familiar, da educação, da profissão,
da natureza da causa responsável pela dor, das circunstâncias em que a dor sobrevém, assim como
de eventuais benefícios primários, ou secundários. A Teoria Cognitivo-Comportamental tem eviden-
ciado a importância do conhecimento e da acção terapêutica sobre os pensamentos, emoções, com-
portamentos e atitudes dos doentes, procurando contribuir para o controle da dor crónica, o bem-
estar dos indivíduos (Portugal, 2004).
Enquanto experiência de vida individual, para além das dimensões biológica, psicológica e
social, a dor envolve a dimensão espiritual (Reed, 2008). A ansiedade e a depressão, tantas vezes
resultantes de sentimentos de ausência de sentido durante a experiência traumáticas arrastada, limi-
tam a capacidade humana para o desenvolvimento pessoal. Significado/sentido, identidade pessoal
e percepção da dor, operacionalizam-se nas atitudes e nos comportamentos de resposta à dor. Para
explicar o processo fisiológico da dor (teoria de transmissão do impulso nocicecptivo) que melhor
integra os componentes envolvidos, o neurocientista, Patrick Wall, descreve desenvolve a Teoria do
Controlo Portão da qual é co-autor (Wall, 2002).
Viktor Emil Frankl, filósofo humanista-existencialista-teísta, psiquiatra e neurologista austríaco,
define sentido de vida como o para quê, o motivo e a razão, o que motiva para lutar por alguma coisa
ou para ser de uma determinada maneira, ou seja, o que nos orienta e nos guia. Propõe uma visão
de homem distinta das concepções vigentes na época, por procurar compreender a existência do
ser humano através da componente intrinsecamente humana, a componente espiritual, sendo a
vivência religiosa uma das muitas manifestações desta dimensão. O autor compreende esta dimen-
são como não-determinada mas determinante da existência. É graças à responsabilidade inerente à
liberdade que a pessoa, não enquanto objectivo da sua conduta mas em consequência desta, encon-
tra a felicidade(Frankl, 1992).
Os teóricos são unânimes em assumir o sentido de vida, como uma variável crucial para o
desenvolvimento humano, promotor de esperança, particularmente em contextos trágicos inevitá-
veis (Acevedo, 2000, p. 17), como o a vivência da dor crónica (Kraus, et al., 2009).
Assim, o estudo do sentido de vida em correlação com a auto-eficácia dos sujeitos torna-se per-
tinente. A literatura científica dá-nos as seguintes indicações: “Auto-eficácia” está relacionada com
a percepção da dor e com a funcionalidade física e psíquica dos doentes com dor crónica; Estudos
mostraram correlação inversa entre “Auto-eficácia” e comportamentos dolorosos, depressão e inca-
pacidade; Pessoas com “Auto-eficácia” elevada apresentaram melhor funcionalidade, humor mais
positivo, menos comportamentos dolorosos, menos sintomas depressivos, menos desesperança e
menos angústia emocional
O conceito de auto-eficácia foi desenvolvido por Bandura em 1986 e refere-se à crença sobre a
habilidade pessoal de desempenhar com sucesso determinadas tarefas ou comportamentos para
produzir um resultado desejável (Asghari & Nicholas, 2001).
Os conceitos básicos do autor sobre a crença de auto-eficácia são os seguintes:
Aprende-se pela observação do comportamento dos outros, analisando-se os seus anteceden-
tes e consequências. O autor destaca que mais do que as consequências por si só, a atribuição de
significado, isto é, o sentido que se dá às consequências (processo cognitivo) é que determinará se
o comportamento será mantido, reforçado ou extinto. Uma consequência pode ser ou não vista
como positiva (Bandura, 1977a, 1977b)
É a auto-eficácia de um indivíduo que determina o tipo de actividade que este vai realizar, a quan-
tidade de esforço que vai despender e quanto tempo passa antes de desistir (Anderson, Dowds,
Pelletz, Edwards, & Peeters-Asdourian, 1995).
As perturbações emocionais como a ansiedade e a depressão, associados ao sentimento de falta
de controlo e desesperança, frequente no doente com doença reumática, precisa ser contrariado
com a retoma de controlo nas áreas em que a pessoa continua a ter capacidade (poder) pessoal e
isso acontece nas escolhas que faz de posturas e vivências emocionai, de atitudes e de comporta-
mentos. Frankl (1992) designa a frustração, de falta de sentido, que se caracteriza por um sofrer de
vazio interior, tédio, falta de interesse pelo mundo, indiferença e falta de iniciativa para modificar a
situação. Considera essa vivência como neurose sociogênica e indica que ela pode motivar com-
portamentos destrutivos, como abuso de drogas, depressão profunda e até suicídio (tríade trágica).
Neste sentido, vários estudos têm demonstrado que o estado emocional está estreitamente rela-
cionado com a capacidade de encontrar objectivos/sentido e controlo do contexto. Por exemplo, um
menor nível de Objectivos/Sentido de Vida tem sido associado a um maior nível de ansiedade e
depressão (Débats & Wezeman, 1993), assim se tem comprovado que, um maior nível de
Objectivos/Sentido de Vida, está associado a um maior nível de felicidade (Débats & Wezeman,
1993), competência para o coping adaptativo (Park & Folkman, 1997) e vivência de afectos positi-
vos (Ryff & Singer, 1998).
Quanto ao risco do diagnóstico tardio e do tratamento inadequado das doenças reumáticas,
podem ocasionar graves e desnecessárias repercussões físicas, psicológicas (ansiedade e/ou
depressão), familiares, sociais e económicas (Portugal, 2004, p. 35).
Com a intenção de alcançar subsídios para a reflexão sobre a problemática da orientação e apoio
à Pessoa com dor reumática crónica, a encontrar um sentido, capazes de, em cada momento, moti-
varem ao desenvolvimento pessoal, definimos para o presente estudo os objectivos de avaliar o índi-
ce de sentido de vida, ansiedade/depressão e auto-eficácia ; identificar factores preditivos de vida
com sentido.
MÉTODO
De seguida descreve-se todos os processos metodológicos deste estudo correlacionado
Participantes
A população-alvo do estudo corresponde a todos os doentes com dor crónica não maligna,
nomeadamente, com doenças reumáticas. As razões que determinaram esta escolha relacionam-se
com o impacto que estas doenças, no seu conjunto, provocam, a nível individual, familiar e social,
sendo as principais responsáveis pelos custos com a saúde (Portugal, 2004).
A partir desta população, foi constituída uma amostra de 93 doentes, seleccionada através de
técnica de amostragem não probabilística, intencional e acidental, dos doentes acompanhados no
Hospital de Dia e a Consulta Externa do Serviço de Reumatologia de um Hospital de Lisboa.
Convencionou-se, como critério de inclusão os seguintes: ter, há 6 ou mais meses, diagnóstico
médico de pelo menos uma das seguintes subcategorias de dor: artrite reumatóide, espondilite
anquilosante, artrite psoriática e fibromialgia; ser seguido no Serviço de Hospital de Dia de
Reumatologia ou de Consultas Externas de Reumatologia do Hospital; saber ler e escrever portu-
guês e queres participar no estudo.
Instrumentos
Utilizou-se um inquérito por questionário auto-administrado, que inclui a versão portuguesa dos
três seguintes instrumentos de avaliação:
Teste dos Objectivos de Vida (Adaptação e validada para a língua portuguesa por Elizabeth
Peralta (2006);
Escala de Auto-Eficácia da Dor Crónica (Adaptada e validada para a língua portuguesa por
Domingos & Cruz (2005);
Escala de Ansiedade e Depressão Hospitalar (Adaptada e validada para a língua portuguesa por
Pais-Ribeiro et al em 2007);
Procedimentos
Solicitou-se a autorização aos autores que ainda não tinham publicado na íntegra os respecti-
vos instrumentos de avaliação, Domingos & Cruz (2005) e Elizabeth Peralta (2006), para os poder
utilizar no âmbito do presente estudo. Obtivemos parecer favorável.
Os dados foram recolhidos, entre Janeiro e Fevereiro de 2010, através de questionário auto
preenchidos, antes e após as consultas e durante o tempo de tratamento. Todos os participantes
foram prévia e individualmente abordados e apenas iniciaram sua participação após comprovação
do consentimento esclarecido.
Tratamentos de dados
Para sistematizar e realçar a informação fornecida pelos dados recorreu-se a técnicas de esta-
tística descritiva: frequências (absolutas e relativas), medidas de tendência central (medianas e
médias aritméticas), medidas de dispersão e variabilidade (desvio padrão) e de estatística inferen-
cial como o teste t de student e correlação de Pearson.
RESULTADOS
De seguida apresentam-se e discutem-se os resultados tendo presente os dois objectivos defi-
nidos anteriormente.
Verificou-se que dos 93 doentes que participaram no estudo, 59,1% eram do sexo feminino e
40,9% do sexo masculino.
Para facilitar a interpretação dos quadros juntam-se os valores de referência das respectivas
escalas.
Escala da Auto-Eficácia:
Baixa (10-30); Moderada (40-60) e Elevada (70-100), (Anderson, et al., 1995).
Escala da Ansiedade e Depressão:
Normal (0-7); Ligeira (8-10); Moderada (11-14) e Severa (15-21) (Pais Ribeiro, 2004).
Escala de Objectivos/Sentido de Vida:
Valores Médios inferiores a (91) - Nível de Objectivos/Sentido de Vida reduzidos. Caracterizado
por indivíduos com perda de interesse pela vida, sentimentos de tédio, apatia e vazio existencial;
Valores Médios entre (92-112) - Nível de Objectivos/Sentido de Vida médio. Caracterizado por indi-
víduos que alcançaram um Sentido de Vida comum e adequado ao contexto da realidade; Valores
Médios superiores a (113) - Nível de Objectivos/Sentido de Vida elevados. Caracterizado por indiví-
duos com sentimentos de realização existencial e plenitude pessoal (Peralta & Silva, 2006).
SD=3,9), mas apresentam uma ansiedade ligeira (=8,7; SD=3,8) e uma auto-eficácia moderada
(=50,8; SD=18,5).
Os resultados comprovam o postulado de Bandura referente, à relação positiva existente entre
as crenças de auto-eficácia e o controle cognitivo da dor, assim como, à repercussão dessa relação
sobre o estado emocional do doente com dor crónica (Asghari e Nicholas, (2001).
Outros autores têm igualmente demonstrado que a ansiedade e a depressão, resultam de sen-
timentos de ausência de significado útil relativa à experiência traumáticas, podendo constituir uma
limitação à recuperação. Entre estes, o neurocientista Patrick Wall, explica e justifica o processo
fisiológico do impulso nocicecptivo com integração do significado da experiência na percepção da
dor e a operacionalização desta percepção através de atitudes e comportamentos de resposta à
dor(Débats & Wezeman, 1993; Wall, 2002).
Relativamente à variável Objectivos/Sentido de Vida, os participantes apresentam um nível
médio (=99,7; SD=14,8), o que significa que alcançaram um sentido de vida comum e adequado ao
contexto da realidade.
Em coerência com a revisão da literatura e os resultados já discutidos, constatamos que a
amostra em estudo, replica as características das relações esperadas entre as variáveis (ansiedade,
auto-eficácia para o controlo da dorcrónica e a vida com sentido) no que se refere ao sentido da rela-
ção e da sua intensidade, isto é, sentido positiva e relação homogénea entre níveis de auto-eficácia
para o controlo da dor crónica e o sentido de vida, em oposição ao sentido negativa mas relação
aproximadamente homogénea face à ansiedade.
Esta coerência é bem focalizada por Patrícia Starck, ao defender que o sentido de vida, com base
na liberdade para a tomada de decisão, facilita a integração de contextos desfavoráveis, transfor-
mando-os em desafios. É a tomada de consciência da responsabilidade individual face às conse-
quências que promove sentimentos coerentes de confiança e auto-eficácia para o controlo (coping)
e (Starck, 2008)
Objectivos/ Idade
Sentido de Vida R p
Dimensão Vivencial -0,34 0,00
Dimensão Existencial -0,04 0,69
Objectivos/
Sentido de Vida -0,29 0,00
TOTAL
CONCLUSÃO
Os resultados do estudo estão em conformidade com a definição de sentido de vida apresenta-
da por Kraus, Rodrigues e Dixe (2009. p 86), reforçando que se trata de um do conceito “…alta-
mente subjectivo, preditor e indicador de saúde mental positiva e sustentador da vida sob forma de
compromisso”. Quando associado a valores actitudinais, a presença de Sentido de vida facilita a
integração de contextos trágicos, inevitáveis; conferindo significado existencial; promovendo a rea-
lização pessoal e devolvendo dignidade à vida e à morte.
Concluímos que o estudo da variável, sentido de vida, no contexto da vivência da doença reu-
mática, se apresenta como constructo relevante e actual para a investigação das Ciências da Saúde
em Portugal.
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