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Capítulo 6 - Usinas Hidroelétricas

Uma instalação hidroelétrica utiliza a energia potencial da água quando


existem condições geográficas adequadas, tais como altura de queda d'água
e vazão disponível. A usina Hidroelétrica de Itaipu contem 18 unidades
geradoras , passando em cada uma, uma vazão de 630 m 3/s. A barragem ,
além de represar a água para garantir o funcionamento regular da usina,
estabelece um desnível de 130 m entre os reservatórios de montante e de
jusante. A partir destes dois dados iniciais pode-se fazer uma estimativa da
capacidade geradora desta água, através da seguinte equação:

.Q.H
N Re s
 (kW)
1000

  peso 
3
específico da água 10.000´N / m

Q  vazão 
3
630 m / s
H  130m

10.000x 630x130
Re sulta : R Re s
  819.000 kW
1.000

Admitindo-se, cerca de 18% de perdas na tubulação, na turbina e no


gerador elétrico, pode-se fazer uma avaliação da potência na saída do
gerador.

Nelé = 819.000x( 1,00 – 0,18 ) = 671.580 kW

O cálculo acima permite que se faça, uma avaliação


preliminar do potencial de geração hidroelétrica de um reservatório que,
mesmo de forma simplificada, fornece valores bem próximos da realidade.
No caso da Usina da Itaipu, este potencial, para cada unidade geradora é
avaliado em 819.000 kW. Se forem subtraídas as perdas que ocorrem nas
tubulações, na turbina e no gerador, pode-se ter uma avaliação bem precisa da
potencia elétrica produzida. A potência de 671.580 kW, acima estimada, está
muito próxima do valor nominal da Usina que é de 700.000 kW para cada
unidade geradora, perfazendo 12.600.000 kW para a instalação completa.
73

Quando se faz uma estimativa de geração hidroelétrica, as seguintes


perdas são adotadas, com base em valores experimentais:

 Na tubulação de adução estima-se uma perda de carga equivalente a


5% da altura total de queda d’água. No caso da Usina de Itaipú , pode-se
adotar 6,5 m de perda de carga para os cálculos preliminares.

 As curvas de rendimento de turbinas hidráulicas de grande porte,


fornecidas pelos fabricantes, apresentam valores máximos em torno de 90%.
Pode-se, portanto, adotar entre 8% e 12% , a perda de energia que ocorre
dentro das turbinas, medida em relação à energia contida na água na sua
entrada. São perdas de natureza hidráulica, produzidas pelo movimento da
água dentro da turbina e as perdas de natureza mecânica, que ocorrem nos
mancais.

 Os equipamentos de grande porte de conversão de energia mecânica


em elétrica e vice-versa, apresentam rendimentos elevados, estimados em
torno de 95%. Pode-se, portanto supor que 5% da energia que a turbina
entrega ao gerador são perdidas pela geração do calor produzido pela
passagem da corrente elétrica e pelo atrito dos mancais do gerador.

6 1 - Capacidade de vazão do reservatório

A capacidade de fornecimento de água de um reservatório pode ser


avaliada através dos seguintes fatores:
 Vazão média anual dos rios que alimentam o reservatório.
 Índice anual de chuvas da região.
 Índice médio anual de evaporação.
 Capacidade de bombeamento de água de um reservatório auxiliar para
o reservatório principal.
 O fator de capacidade da usina ( FC ) é definido como a relação entre
a quantidade anual de energia prevista e a capacidade total de geração de
energia da usina, admitindo-se o funcionamento da instalação durante o ano
todo em plena carga. Pode-se, portanto entender o fator de capacidade como
a relação entre as horas efetivas de funcionamento durante o ano e o número
total de horas do ano. Um fator de capacidade de 70% equivale ao
funcionamento efetivo da instalação, em plena carga durante 70% das horas
anuais.
74

Exercício 6.1 - O reservatório da figura 6.1 deverá alimentar uma usina


hidroelétrica situada a 320 m abaixo da superfície livre da sua água. Um
reservatório auxiliar, localizado 52 m abaixo, despeja suas águas no
reservatório principal através de um sistema de bombeamento. Admitindo-se
um fator de capacidade de 75% para as turbinas e de 50% para as bombas,
calcular:

1 - Volume total de água acumulado durante um ano.


2 - Vazão de água disponível para as turbinas
3 - Potência consumida pela estação de bombeamento.
4 - Potência elétrica gerada pelas turbinas.
5 - Rendimento da instalação.

Dados:

52 m Rendimentos
Bombas: b = 85%
B Turbinas T = 90%
Bombas
320 m Geradores G = 94%
Motores: m = 94%

Índices
Chuva: ich = 860 mm/ano
Evaporação: ievap = 0,23l/m2.dia
T Área do reservatório: 120 km2

Turbinas Perda de carga nas tubulações das


turbinas e das bombas: 5% da
Figura 6.1 altura
Vazão média anual do rio: 5,2 m3/s
Vazão das bombas: 12,6 m3/s

Solução

Volume anual de água que o rio despeja no reservatório

 Q (3600x 24x365)  5,2x3600x 24x365 


6 3
V Rio Rio
163,99x10 m / ano
Volume de água bombeada para o reservatório principal
75

 Q (3600x 24x365) xFC  12,6x3600x 24x365x 0,50 


6 3
V Bomba B
198,68x10 m / ano
Volume de água das chuvas sobre o reservatório

 iCh x A Re s  0,86x120x10 
6 6 3
V Chuva
103,20x10 m / ano

Volume de água perdida por evaporação

3 3
 iEvap x10 x10 365  0,23x10 x120x10 x365 
6 6 6 3
V Evap A Re s
10,07 x10 m / ano
Volume de água disponível para as turbinas

 V Rio  V Bomba  VChuva  V Evap  455,89x10


6 3
V turbina m / ano
Vazão disponível para as turbinas

Q  V Turbinas

455,89 x10
 19,27 m / s
3
Total 3600 x 24 x365xFC 3600 x 24 x365x0,75

Potência consumida pela estação de bombeamento

Vazão que passa pelas bombas

Q  V BOmbas

198.680.000
 11,45 m / s
3
B 3600x 24 x365.FC 3600x 24 x365x0,55

Altura manométrica das bombas

Como valor preliminar, adota-se uma perda de carga de 5% em relação


à altura de bombeamento, resultando uma altura manométrica HB = 1,05x52
76

 .Q . H B 10000 x11,45 x1,05 x52


W B
  7824 kW
Bombas
1000 . . 1000 x0,85 x0,94
B motor

Potência elétrica gerada pelas turbinas

 .Q
Turbina H . .
T T ger

100000x19,27 x0,95x320 x0,90 x0,94
 49.559kW
W Turbinas
1000 1000

6.2 - Rendimento da instalação

Define-se o rendimento da instalação como energia líquida produzida


pela instalação, dividida pela energia disponível no reservatório, durante a
mesma unidade de tempo.

(W Turbina  W Bomba).tempo
 Instalação

 .V Turbinas .h

1000 x(49.559 x0,75  7824 x0,55) x3600 x 24 x365


 Instalação

10000x 455.890.000 x320
x100  71,05%

6.3 - Potências e rendimentos

A figura 6.2 representa um conjunto moto-bomba, através do qual se


pode definir o rendimento da bomba e do motor, conforme foi visto no capítulo
1. Nesta figura, a energia líquida que a bomba transmita para a água é
representada por W B e a energia elétrica que alimenta o motor por W e.
77

Na figura seguinte, os fluxo de água e de energia foram invertidos e, desta


forma pode-se representar uma turbina ligada a um gerador de energia elétrica.
A energia disponível na água na entrada da turbina é representada por W T e
a energia elétrica produzida pelo gerador, por W e. Representando por h a
altura de queda d’água disponível em um aproveitamento hidroelétrico, pode-se
definir:

6.3.1 - Potencial do reservatório ( WRES )

Esta grandeza fornece o valor correto da capacidade de geração deste


reservatório, considerando-se a disponibilidade anual de água e a altura total
de queda, sem descontar as perdas que ocorrem em toda a instalação. Esse
potencial pode ser calculado para cada unidade geradora. No caso da Usina
Hidroelétrica Henry-Borden de Cubatão, cada turbina recebe 9,5m3/s e está
sujeita a uma queda d’água aproximada de 680m.

 .Q.h
W 
Re s 1000
  peso água  10000 N / m
3
específico da

Q  vazão media anual disponível para as turbinas

h  altura total de queda d ' água

No caso da Usina Hidroelétrica Henry-Borden de Cubatão, cada turbina


recebe 9,5m3/s e está sujeita a uma queda d’água aproximada de 700m.

10000 x9,5 x680


W Re s
 64.600kW
1000
Água WB

78

Motor água
We
Welé
Weixo

Figura 6.2

6.3.2 - Potência na entrada da turbina ( WT )

Neste caso, descontando-se a perda de carga que ocorre na tubulação


das turbinas, estimada em 5% da altura, pode-se calcular esta potência através
da seguinte equação:

Água WT

Gerador
We
Welé água

Weixo

Figura 6.3
79

 .Q .0,95h
W T
 T

1000

Para cada turbina da Usina de Cubatão, pode-se dizer que a potência da


água na entrada é:

10000x9,5 x.0,95 x680


W T
  61.370kW
1000

6.3.3 - Potência no eixo da turbina ( Weixo )

Quando a água passa através da turbina, o atrito provocado pelas altas


velocidades provoca perda de energia. Esta perda aparece na forma de calor,
mas devido à grande massa de água, a sua temperatura quase não se altera.
Por outro lado, a velocidade de saída da água também se traduz em perda de
potência. Essas duas parcelas são conhecidas como perdas hidráulicas.
Uma parcela de perda, também contabilizada para a turbina ocorre nos
mancais ou rolamentos. Essas são conhecidas como perdas mecânicas.
Quando se faz uma avaliação do rendimento da turbina, são
contabilizadas as perdas mecânicas e hidráulicas. Essas perdas equivalem à
diferença entre a potência da água na entrada da turbina e a potência no seu
eixo.

6.3.4 - Rendimento da turbina

De acordo com a figura 6.3 define-se o rendimento da turbina como a


relação entre a potência no seu eixo e a potência da água na sua entrada.

  W eixo
Turbina
W T
80

As turbinas da Usina da Cubatão apresentam rendimentos em torno de


90%. Pode-se então avaliar a potência no eixo em

W eixo
 61 .300 x0,90  55 .170 kW

A potência perdida nesta turbina através da água e dos mancais


equivale a:

W P
 (1  ) xW eixo  0,10 x61 .300  6130 kW
T

Para que se tenha uma idéia do efeito deste calor sobre a temperatura
da água, façamos um pequeno cálculo, admitindo-se que também o calor
gerado nos mancais seja transferido para a água. Sabendo que cada litro de
água equivale a 1 kg e que o calor específico da água é 1,0 kcal/kg. 0C e
conhecendo a conversão 1KW = 860 kcal/h, calcula-se:

Calor  W p  M água .c a .t

6130 x860  9500 x3600 x1,0 xt t  0,150C

6.3.5 - Potência elétrica na saída do gerador

O rendimento do gerador é definido como a relação entre a potência


elétrica gerada e a potência mecânica no eixo da turbina.

  W e
ger
W
eixo

Os geradores de grande porte têm rendimentos em torno de 94% e


desta forma pode-se avaliar a potência de cada turbina da usina da Cubatão,
em

W e
 0,95 x55 .170  51 .860 kW
81

A diferença entre a potência no eixo e a potência elétrica do gerador


corresponde às perdas que ocorrem na passagem da corrente elétrica dentro
do gerador e nos seus mancais. No caso da Usina de Cubatão essas perdas
são estimadas em : 55170-51860 = 3310 kW. Este calor é retirado do gerador
através do sistema de um resfriamento, muitas vezes feito através de
hidrogênio circulando dentro do gerador. O resfriamento dos mancais é feito
indiretamente, resfriando-se o óleo de lubrificação, por meio de um sistema de
água.

6.4 - Princípio de funcionamento de uma turbina hidráulica

As turbinas são basicamente máquinas que convertem a energia cinética da


água em energia mecânica, através do movimento de um eixo. A equação da
quantidade de movimento estudada na Mecânica dos Fluidos é a que
representa esta transformação. A figura 6.4 mostra um jato de água que se
choca contra um dispositivo, sofrendo um desvio na sua velocidade, dando
origem a uma força que provoca o seu movimento. Este princípio é utilizado no
funcionamento de uma turbina onde as pás são colocadas em seqüência em
torno de uma roda, conforme mostra a figura ....
A força gerada pela ação da água sobre as pás de uma turbina é regulada
através da equação da quantidade de movimento, conforme segue.

Q  M .V2
m
J

Q  fluxo de energia cinética ( J / s)


m

M  vazão de água (kg / s )

V J
 velocidade do jato de água (m / s)
2

Q m  s x m2  s . 2 .m  s .m  s  W
kg kg m N J
s s
W2
y
Rx 82
R

VJ Ry

VP

W1

x
Figura 6.4

De acordo com a figura 6.4 , pode-se definir as seguintes velocidades:

VP = Velocidade do rotor da turbina, medida no centro das pás.


VJ = Velocidade do jato de água na saída do bocal.
V1 = Velocidade absoluta da água na entrada da turbina, V 1 = VJ.
W1 = Velocidade relativa da água na entrada das pás. Ela mede a diferença
entre a velocidade absoluta da água e a velocidade do rotor, representando a
velocidade de impacto da água sobre as pás. W 1 = VJ - VP.
W2 = Velocidade relativa da água na saída das pás. Admitindo-se que o
diâmetro do jato seja mantido durante a passagem pela pá, pode-se concluir
que as velocidades relativas de entrada e de saída sejam iguais. W2 = W 1.

6.5 - Equação da quantidade de movimento

Quantidade de movimento é uma grandeza definida pelo produto da


massa de um corpo pela sua velocidade. Quando se trata de um fluido, define-
se o fluxo da quantidade de movimento pelo produto da vazão em massa pela
velocidade do fluido.


 kg m m
 M .V ( .  kg. 2  F )
 QM s s s
Através das unidades acima representadas, pode-se concluir que o
fluxo da quantidade de movimento tem a dimensão de uma força.
83

A figura 6.4 mostra um jato de água na pá de uma turbina, que


provoca um desvio de um ângulo  no sentido da sua velocidade. Essa
reversão de velocidade é provocada por uma força da pá sobre o jato, gerando
uma força de reação, igual em sentido contrário, representada na figura.
A equação da quantidade de movimento estabelece que uma força
agindo sobre um fluxo provoca a variação de sua velocidade e que essa força
é igual à variação da quantidade de movimento do fluido.

     
F  M.(V2 V1) R  M.(V1  V2)

A equação acima pode ainda ser representada na forma escalar, onde


os vetores são projetados nas direções x e y , de acordo com os eixos da
figura 6.4.

R x
 M (V1x  V 2 x )

A figura 6.5 mostra a composição da velocidade de saída da água ,


medida em relação à pá W2 , somada com a velocidade da pá Vp dá origem
à velocidade absoluta da água V2.

W2
V2
Na equação da quantidade de
movimento a vazão é representada por
M = .A.VJ sendo A a área do jato na
saída do bocal. Nesta equação, as
 velocidades W2 = W1 = (Vj - VP)

Resulta:
VP
R =.A.VJ [ V1 – VP - W2.cos]
R =.A.VJ [ V1 – VP - ( VJ – VP ).cos
VP ]
W2.cos
A.VJ = Q = Vazão em volume

R = .Q. ( VJ – VP )( 1 - cos )
V2x = VP + W2.cos

Figura 6.5
84

Exercício 6.2 - Um jato de água de 0,35 m3/s incide sobre a pá de uma


turbina, que tem um ângulo de 600 em relação à velocidade do jato. A p[a da
turbina se movimenta com a velocidade de 30 m/s e o jato tem a velocidade de
60 m/s. Sabendo que a massa específica da água é de 1000 kg/m 3, calcuilar:
1 - Potência do jato
2 - Força que o jato exerce sobre a pá, na direção do seu movimento
3 - Potência que o jato transfere para a pá da turbina

Solução:

A potência do jato é o fluxo de energia cinética do jato de água na


saída do bocal, conforme equação abaixo:

2 2 2

W Jato
 M. V J
 .Q. V J
 1000x 0,35x 60  630.000W
2 2 2

A força exercida pela água sobre a pá da turbina pode é calculada or


meio da equação da quantidade de movimento projetada na direção do eixo x .

R = .Q. ( VJ – VP )( 1 - cos ) = 1000x0,35.( 60 - 30 ).(1 - cos 60 ) = 5.250 N

A potência transmitida pela água para a pá desta turbina é obtida pelo


produto da força pela velocidade da pá.

WRotor = .Q. ( VJ – VP )( 1 - cos ).VP = 5.250x30 = 157.500 W

6.6 - Variação da potência da turbina

WRotor = .Q. ( VJ – VP )( 1 - cos ).VP

Através da equação acima , pode-se fazer uma avaliação da


potência da pá de uma turbina em função das seguintes variáveis:

Velocidade da água na entrada do rotor


Vazão de água que alimenta a turbina
Velocidade das pás da turbina
Ângulo de desvio da pá.
85

6.6.1 - Velocidade da água

A equação da energia, aplicada entre o nível do reservatório e a saída


da água do bocal , resulta na velocidade da água que deverá entrar na turbina.

2 2
P 0
 z0 V 0
P atm
 z1 V Jato
 HPerdas
 2g  2g

Resulta:
2
V Jato
 h  H Perdas  h  0,05h  0,95h
2g

V Jato
 2.g.0,95h

Sendo a altura de queda d'água praticamente uma constante,


conclui-se -se que a velocidade do jato também é constante, não podendo
influir na potência da turbina.

6.6.2 - fluência da vazão no controle da potência

A vazão que alimenta a turbina é controlada por meio da abertura do


bocal. A equação abaixo representa a vazão que sai de um bocal em função
da velocidade do jato e do seu diâmetro. Como a velocidade do jato é
praticamente constante, o controle da vazão somente poderá ser feito através
da variação da abertura do bocal, representada pelo diâmetro D J.

Q  V . D Jato
Jato

Velocidade das pás da turbina

A velocidade das pás VP comparece duas vêzes na equação da


potência, podendo influir de formas diferentes.
86

Rx = .Q. ( VJ – VP )( 1 - cos )

WRotor = Rx.VP

WRotor = .Q. ( VJ – VP )( 1 - cos ).VP

 Quando a velocidade Vp é igual a zero, resulta a força máxima agindo


sobre as pás da turbina, indicando que o jato atinge as pás com toda a sua
velocidade: Rmax = .Q. ( VJ )( 1 - cos ). Entretanto, nessas condições, a
potência é nula porque as pás não se movimentam, como se houvesse um
freio impedindo a sua rotação.

 Admitindo-se um aumento gradativo da velocidade das pás VP até atingir


a velocidade do jato VJ , potência também sofre um aumento gradativo e
novamente se reduz a zero. Nessa situação limite, a água não atinge as pás da
turbina resultando a força Rx igual a zero:

Rx = .Q. ( VJ – VJ )( 1 - cos ) = 0

 Podemos então efetuar a derivada da função W Rotor em relação à


velocidade VP para encontrar o máximo desta função, igualando-se esta
derivada a zero. Vamos então concluir que a velocidade VP sendo igual
à metade de VJ conduz a função da potência para o seu valor máximo.
d
Q(V J  V P )(1  cos )V P
dV P

d d
 Q(1  cos ) (V J  V P )V P
dV P dV P

d
 Q(1  cox )(V J  2V P )  0 V J
 2V P  0
dV P

Re sulta : V P
VJ
2
87

6.6.3 - Ângulo de desvio das pás

Através da equação da potência, pode-se facilmente concluir que ela


atinge o máximo valor quando o ângulo  é igual a 1800 , pois resulta o
cos180 = -1 .

WMax = .Q. ( VJ – VP )( 1 – cos180 ).VP

WMax = 2.Q. ( VJ – VP ).

6.7 - Estudo de uma pá ideal

A figura 6.6 mostra um pá de turbina em condições


ideais, que deve satisfazer às seguintes condições:

 O ângulo de desvio do jato é de 180 0, exatamente conforme mostra a


figura 6.6.

 A velocidade relativa da água é constante dentro da pá ( W 2 = W1 ).


Esta condição indica que não se verifica perda de energia da água na sua
passagem pela pá, devido à ausência de atrito.

 A velocidade da pá é igual à metade da velocidade do jato: VP = VJ/2

6.7.1 - Rendimento hidráulico das pás de uma turbina

O rendimento hidráulico da pá de uma turbina é uma parcela do


rendimento da turbina definido anteriormente. Define-se o rendimento
hidráulico como a relação entre a potência transmitida à pá através da água e
a potência do jato, imediatamente antes da pá.
88

2 2

W Jato
 MV Jato
 Q V Jato

2 2

W Pá
 F .Vx Pá
 Q(V J  V P ).(1  cos ).V P

Q V Jato

  W Pá
 2 1

W Jato
Q(V J  V J / 2)(1  1)V J / 2

Através da equação acima pode-se concluir que em condições ideais, o


aproveitamento do jato de água é total, resultando o rendimento de 100%.

Em seguida apresentamos um outro caminho que mostra o


aproveitamento total do jato .Atendendo às condições ideais podemos efetuar
as seguintes simplificações, lembrando que a velocidade relativa é sempre a
diferença entre a velocidade absoluta e a velocidade da pá. Obedecidos os
sentidos das velocidades da figura, resulta;

V2 = W 2 - VP W 1 = VJ - VP W 1 = VJ - VJ/2

W2 = W1

Conclusão:

V V V
V V  V p V V  0
j j j
2 j 2 j
2 2 2

Esta conclusão indica que houve um aproveitamento total da água


dentro da pá, porque a energia da água que sai da pá da turbina é nula.
equação da energia pode ser aplicada entre a entrada e a saída das
pás da turbina, representando a energia que as pás recebem da água.
89

2 2
V z  P H
1 1
V 2
 z2  P 2

2g  1 Pá
2g 

2 2 2 2

H Pá
V 1
V 2
 V 1
V Jato
 H Jato
2g 2g 2g 2g

A equação acima indica que a energia do jato é integralmente transferida


para a pá da turbina ideal, indicando que o rendimento é 100%.

y
W1

VJ = V 1

Fx VP

V2

W2

Figura 6.6 x

6.8 - Estudo da pá de uma turbina em condições reais

 Em primeiro lugar, não se pode ter um escoamento de um fluido sem


que ocorram perdas provocadas pela viscosidade. Quando se admite que a
velocidade relativa da água permanece constante na sua passagem pela
turbina, significa tratar-se de um fluido ideal. Como esta condição não existe, a
velocidade relativa W diminui na passagem pela pá da turbina, resultando W 2
menor que W 1. Esse é representado na equação da força através de um fator k
denominado coeficiente de perda de carga nas pás, conforme mostra a
equação abaixo:
90

F x
 Q(V J  V P ).(1  k . cos )

 Uma outra situação que não ocorre na prática é o ângulo de desvio do


jato, que teoricamente deveria ser de 1890. Nessa situação, o jato que sai da
turbina se voltaria contra aquele que chega e, por esta razão, na prática adota-
se o ângulo  = 1720 .

 A velocidade ideal da pá VP = VJ/2 é válida em uma condição ideal em


que a curva de potência atinge o seu valor máximo. Na prática, verifica-se que
o máximo da função real da potência em função da velocidade das pás , ocorre
no ponto em que esta velocidade vale aproximadamente VP = 0,45VJ.

 Todas essas condições interferem no rendimento da turbina e não são


contabilizadas separadamente. As perdas são mensuradas integralmente
quando se define o rendimento da turbina que é feito através de processo
experimental. O rendimento de uma turbina já foi definido como a relação entre
a potência no eixo e a potência do jato. Por meio de um dinamômetro pode-se
efetuar a medida do torque no eixo e, consequentemente, a potência no eixo
desde que se conheça a rotação da turbina. A potência do jato calcula-se por
meio do fluxo de energia cinética.

  W eixo   W eixo
2
Turbina
W Jato
Turbina
Q V Jato

Exercício 6.3 - Uma turbina Pelton está situada a 450 m abaixo do nível de
um reservatório que fornece uma vazão média anual de 6,4 m 3/s. Adotando os
valores usuais de projeto, calcular:

1 - Velocidade da água que sai do bocal e potência do jato


2 - Força exercida pela água nas pás da turbina
3 - Potência no eixo e rendimento da turbina
4- Potência perdida: na tubulação, na turbina, no gerador
5 - Rendimento da instalação
91

Dados:
rotação: n = 600 rpm
massa específica da água:  = 1000 kg/m3
coeficiente de perda de carga nas pás: k = 0,816
rendimento do gerador: G = 96%

Solução:

Velocidade do jato, considerando 5% de perda de carga na tubulação

V Jato
 2 g .0,95h  2 x9,8 x0,95 x 450  91,54m / s

2 2

 Q V Jato 
91,54  26.814.629W
W Jato
2
1000 x6,4 x
2

W Jato
 26.815kW

Força nas pás da turbina, na direção tangencial

F x
 Q(V J  V P ).(1  k . cos )

F x
1000 x6,4(91,54  0,45 x91,54).(1  0,816 x cos172)

F x
 582.594 N
92

Potência no eixo da turbina e rendimento da turbina

W Eixo
 F .V x pá
 582.594 x0,45 x91,54  23.998.784W

W Eixo
 23.999kW

  W Eixo
23.999
 x100  89,50%
Turbina
W Jato
26.815

6.9 - Potência perdida

Rendimento da instalação

Define-se o rendimento da instalação como a relação entre a potência


elétrica e o potencial do reservatório, conforme mostra a equação abaixo:

W Elétrica
 W Eixo .  23.999 x0,96  23.039k
gerador

  W ´elétrica

23.039

23.039
x100  81,63%
instalação
WRe servatório
1000 x9,8 x6,4 x 450 / 1000 28.224

Conferindo : W Pinst
 (1  0,8163) x 28.224  5.184kW

6.10 - Tipos de Turbina

A figura 6.7 mostra o tipo se turbina mais simples, no ponto de vista


didático, pois é fundamentado apenas no principio da ação de um jato de água,
sem pressão, que transmite sua energia cinética para as pás da turbina. Por
esta razão este tipo de rotor é conhecido como turbina de ação.
93

As turbinas de reação são aquelas nas quais a água entra com


pressão positiva e, dentro do rotor verifica-se a transformação desta pressão
em energia cinética, sendo esta transferida para as pás do rotor. Neste estudo
vamos abordar Os três tipos principais de rotores de turbinas, que constituem
a maior parte das instalações hidroelétricas.

V
V
J
P

Figura 6.7

6.10.1 - Turbina Pelton

A figura 6.8 representa um rotor de uma turbina e jato de água


proveniente de um reservatório situado acima do nível da turbina. A altura do
nível deste reservatório proporciona uma velocidade elevada da água na saída
do bocal. A energia cinética desta água é transferida para as pás da turbina
provocando a sua rotação. A água sai destas pás com velocidade quase nula,
indicando que houve um aproveitamento elevado da energia cinética da água
na sua passagem pela turbina. Neste tipo de rotor, a água chega na turbina
sujeita à pressão atmosférica, não se registrando variação de pressão dentro
do rotor da turbina.

.
água

VP 94

Figura 6.8
95

Vista frontal da pá de uma turbina Pelton

b
c

a
DJ

A A

Corte A -A

Figura 6.9

VJ
96

Este tipo de máquina hidráulica denomina-se turbina de ação, pois a


pressão não interfere no seu funcionamento. A figura 6.9 mostra uma pá deste
rotor, vista de frente, isto é, no ponto de vista de um observador situado jato
de água que se dirige para a turbina.

6.10.2 - Turbina Francis

água água

Figura 6.10
97

A figura 6.10 mostra um tipo de turbina constituído por um rotor


contendo pás entre as quais passa a água proveniente de um reservatório.
Esta atinge o rotor através de um conduto fechado sujeita a uma pressão
positiva. O espaço formado entre duas pás deste rotor tem a forma de um
bocal convergente, provocando a elevação da velocidade da água. Pelo
princípio da variação da quantidade de movimento, pode-se concluir que o
aumento da velocidade da água provoca uma força de reação em sentido
contrário sobre as pás da turbina. Esta força tem uma componente tangencial
provoca o movimento de rotação da turbina. Este rotor entra na classificação
de turbina de reação pois a variação de pressão que ocorre dentro do rotor é a
responsável pelo movimento da turbina.
Quanto à direção do fluxo de água dentro do rotor, as turbinas do
tipo Francis são classificadas em rotores de fluxo radial, misto e axial. As
turbinas do tipo radial têm a forma achatada, direcionando o fluxo radialmente,
na maior parte de sua trajetória. O rotor deste tipo tem a forma semelhante à
de uma bomba centrífuga, deferindo desta, somente no sentido do movimento
da água. Nas bombas a água se movimenta para fora, devido à ação da força
centrífuga gerada pela rotação e, nas turbinas o movimento é de fora para
dentro. Por esta razão, as turbinas do tipo Francis são reversíveis, podendo
funcionar como turbinas ou como bombas, da mesma forma como um
gerador elétrico pode também atuar como motor.
Na medida em que a forma do rotor fica mais alongada, o fluxo
deixa de ser predominantemente radial tendendo para a predominância axial,
passando por uma fase intermediária denominada de fluxo misto. A escolha do
tipo mais adequado de cada tipo de turbina será analisada no item seguinte
com base no estudo de semelhança entre turbinas.

6.10.3 - Turbina Kaplan

Seguindo a tendência de variação do fluxo, quando este se torna


totalmente axial, a forma de turbina também é alterada. As turbinas do tipo
Francis, quando alongadas, tendem para a forma de uma superfície helicoidal
dando origem às turbinas axiais, representadas na figura 6.11. O fluxo chega
ao rotor através de um conduto fechado pelas laterais e logo em seguida
assume a direção axial, que predomina na maior parte da sua trajetória.
Neste tipo de rotor, a água também chega com pressão positiva,
sendo acelerada dento do rotor e originando as forças de reação como ocorre
nas Turbinas Francis. Estas turbinas são também reversíveis, podendo atuar
como turbina ou bomba
98

As bombas axiais funcionam no sentido inverso ao


das Turbinas Kaplan. Como exemplo podemos citar a hélice de um navio que
nada mais é que uma bomba axial que movimenta a água para trás do navio,
dando origem a uma força de reação que o impele para a frente. Se por algum
fator provocarmos o movimento da água do mar , no sentido contrário
atingindo as pás da hélice do navio, esta entra em rotação funcionando como
um motor hidráulico que nada mais é que uma turbina.

água água

Figura 6.11
99

6.11 - Escolha do tipo mais adequado de turbina

DJ

VJ
VP

Figura 6.12

6.11.1..- Estudo de semelhança entre modelo e protótipo

Dois conceitos de semelhança são definidos entre turbinas , quando


se pretende estudar o comportamento de uma e fazer uma previsão do
comportamento da outra. Em primeiro lugar, o estudo somente é válido quando
as duas turbinas que guardam entre si uma semelhança geométrica. O
presente estudo é feito utilizando a geometria de uma turbina Pelton , mas é
válido para qualquer tipo de turbina, desde que sejam semelhantes entre si.

Semelhança geométrica

Duas turbinas são geometricamente semelhantes quando suas


dimensões são proporcionais. Adotando-se como base a proporcionalidade
entre o diâmetro do rotor ( D ) e o diâmetro do jato ( D J ) e, admitindo-se que a
maior seja denominada protótipo ( turbina 2 ) e a menor seja o modelo
( turbina 1 ), pode-se concluir que:
100

D 1
 D J1
equação 6.9.1
D 2 D J2

Semelhança dinâmica

Duas turbinas geometricamente semelhantes entre si apresentam


semelhança dinâmica , quando todas as velocidades envolvidas sejam
proporcionais. De acordo com a figura 6.12, as velocidades do jato e da pá da
turbina devem ser proporcionais, resultando, entre protótipo e modelo a
relação:

V P1
 V J1 equação 6.9.2
V P2 V J2

Relação entre as velocidades

Aplicando-se a equação da energia entre a superfície da água no


reservatório e a saída da água do bocal, em condições ideais, resulta:

2 2
P 0
 z0 V 0
 P  z V
1 J

 2g  1
2g

V J
 2 gh

Entre duas instalações com alturas diferentes de queda d’água,


denominadas modelo ( 1 ) e protótipo ( 2 ) , pode-se estabelecer a seguinte
relação entre as velocidades e as respectivas alturas:
101

1/ 2

V   1 
H

V  H 2 
J1
equação 6.9.3
j2

Relação entre as vazões

Q V  D j1 
Q  V .A  1 j1
x
Q V  D j2 
2
  j2

1/ 2 2

Q  H1   D1 
  x
Q  H 2   
1
equação 6.9.4
2  D2 

Relação entre potências

1/ 2 2

N Q H  H1   D1  H
N  QH 1
 x 1 1
   x
  x H
1

N 2 Q H 2 2
 H2  D2  2

2 3/ 2

N  D1   H1 

  x
 
1
equação 6.9.5
N 2
 D2   H2

Relação entre rotações


102

2n D nD
V P
 R  x 
60 2 60

1/ 2

V n xD V V  H1 
   
j1

P1 1 1 P1
da equaação 6.9.3
V P2 n D
2 2 V P2 V j2
 H2
1/ 2 1/ 2
 H1  n xD n  D x  H 1 
Re sulta :   
 n D  H 2 
1 1 1 2
equação 6.9.6
 H2 n D
2 2 2 1

6.11.2 - Rotação Específica

No estudo comparativo entre duas turbinas semelhantes, adota-se


como referência uma turbina modelo que desenvolve a potência de 1kW
quando sujeita a uma altura de queda de 1 m, definida como turbina
unidade. Vamos então estabelecer uma relação entre a turbina que se
deseja calcular, considerada como protótipo e a turbina unidade tomada como
modelo., conforme apresenta a tabela abaixo:

Turbina unidade Turbina protótipo


(1) (2)

Altura de queda 1m H
Potência 1 kW N
Diâmetro D1 D
Rotação n1 N
Vazão Q1 Q

Através da equação 6.9.6 pode-se estabelecer a relação entre a


rotação da turbina unidade e o protótipo, utilizando os valores da tabela acima:
103

1/ 2

n  D x  H 1 
1/ 2

resulta
 n  D x  1 
n D  H 2 
2 1

2 1
n D H  1

Da equação 6.9.5 tira  se a relação entre os diâmetros :

2 3/ 2

N   D1   H1 
2

1  D1  x 1 1/ 2

x   N
D
   
N  D2  
1 resulta resulta
3/ 2 3/ 4
2
 H2
N
  H
D D H 1

1/ 2 1/ 2
n  N n nN
1 1
Re sulta : 3/ 4
x 1/ 2 1 5/4
equação 6.9.7
n H H H

A equação 6.9.7 define a rotação da turbina unidade que representa


um modelo para o cálculo de uma turbina protótipo. Define-se então a
rotação específica de uma turbina protótipo como a rotação da turbina
unidade semelhante , Desta forma, pode-se calcular a rotação específica de
várias turbinas conhecidas , sujeitas a diferentes alturas de queda d’água,
utilizando os dados reais de operação.

Exercício 6.4 - Calcular a rotação específica de uma turbina Pelton


instalada na Usina Henry Borden subterrânea da Cidade de Cubatão em São
Paulo que apresenta as seguintes características:

Fabricante: Charmilles
Altura de queda: 719,5 m
Potência: 45.295 kW
Rotação: 360 rpm
Vazão 9,0 m3/s
Número de jatos: 2
Posição do eixo: Horizontal

1/ 2

n  360 x 45.295
1 5/4
 20 .6rpm
719,5
104

Exercício 6.5 - Calcular a rotação específica de uma turbina Pelton instalada


na Usina Henry Borden externa da Cidade de Cubatão em São Paulo que
apresenta as seguintes características:

Fabricante: Charmilles
Altura de queda: 684 m
Potência: 65.317 kW
Rotação: 450 rpm
Vazão: 12,7 m3/s
Número de jatos: 4
Posição do eixo: Vertical

1/ 2

n  450x 65317
1 5/4
 32,8rpm
684

Exercício 6.6 - Calcular a rotação específica de uma turbina Pelton instalada


na Usina Guaricana no Rio Arraial, que apresenta as seguintes características
de funcionamento:

Fabricante: Hitachi
Altura de queda: 313,6 m
Potência: 17.275 kW
Rotação: 450 rpm
1/ 2

n  450 x17.275
1 5/4
 44,8rpm
313,6

Exercício 6.7 - Calcular a rotação específica de uma turbina Francis


instalada na Usina de Itaipu no Rio Paraná que apresenta as seguintes
características de funcionamento:

Fabricante: Voith /Neyrpic


Altura de queda: 118,4 m
Potência: 715.000 kW
Rotação: 92,3 rpm
Freqüência: 60 cps
105

Vazão: 660 m3/s

1/ 2

n  92,3x 715.000
1 5/4
 199 ,8rpm
118,4

Exercício 6.8 - Calcular a rotação específica de uma turbina Francis


instalada na Usina de Tucuruí no Rio Tocantins que apresenta as seguintes
características de funcionamento:

Fabricante: Neyrpic/GE
Altura de queda: 60,8 m
Potência: 314.760 kW
Rotação: 84 rpm
Vazão: 576 m3/s

1/ 2

n  84 x 314.760
1 5/4
 277 ,6rpm
60,8
Exercício 6.9 - Calcular a rotação específica de uma turbina Francis
instalada na Usina de Ilha Solteira no Rio Paraná que apresenta as seguintes
características de funcionamento:

Fabricante: Voith/Eletromecânica
Altura de queda: 46 m
Potência: 164.700 kW
Rotação: 85,7 rpm
Vazão: 389 m3/s

1/ 2

n  85,7 x164.700
1 5/4
 290,3rpm
46

Exercício 6.10 - Calcular a rotação específica de uma turbina Kaplan


instalada na Usina de Cachoeira Dourada no Rio Paranaíba que apresenta as
seguintes características de funcionamento:

Fabricante: Voith/Neyrpic
106

Altura de queda: 33,5 m


Potência: 84.539 kW
Rotação: 82 rpm
Vazão: 307 m3/s

1/ 2

n  82 x 84.539
1 5/4
 295 ,8rpm
33,5

Exercício 6.11 - Calcular a rotação específica de uma turbina Kaplan


instalada na Usina de Jupiá no Rio Paraná que apresenta as seguintes
características de funcionamento:

Fabricante: Calzoni/Escher Wyss


Altura de queda: 23,0 m
Potência: 102.480 kW
Rotação: 78 rpm
Vazão: 462 m3/s

1/ 2

n  78x102.480
1 5/4
 495,7rpm
23

Exercício 6.12 - Calcular a rotação específica de uma turbina Kaplan


instalada na Usina de Porto Primavera no Rio Paraná que apresenta as
seguintes características de funcionamento:

Fabricante: Mecânica pesada


Altura de queda: 19,2 m
Potência: 129.564 kW
Rotação: 67 rpm

1/ 2

n1  67 x129.564
5/4
 600 rpm
19,2
107

Nome da usina Altura de queda Rotação Tipo de turbina


d’água específica
(m) ( rpm )
Henry Borden 719,5 20,6 Pelton
Henry Borden 684,0 32,8 Pelton
Guaricana 313,6 44,8 Pelton

Itaipu 118,4 199,8 Francis


Tucuruí 60,8 277,6 Francis
Ilha Solteira 46,0 290,3 Francis

Cachoeira Dourada 33,5 295,8 Kaplan


Jupiá 23,0 495,7 Kaplan
Porto Primavera 19,2 600,0 Kaplan

A tabela acima foi obtida a partir de dados operacionais de turbinas que


estão funcionando durante muitos anos , cujo desempenho já foi consagrado
pela experiência. Uma análise desta tabela permite as seguintes conclusões:

 Para grandes alturas de queda d’água a turbina mais adequada é


a do tipo Pelton com reduzidos valores da rotação específica.
 Para alturas intermediárias, o uso de turbinas do tipo Francis é
mais adequado, com rotações específicas menores.
 Para baixos valores de altura de queda d1água, a turbina mais
adequada é a do tipo Kaplan com os maiores valores da rotação
específica.

As grandes empresas construtoras de turbina elaboraram um gráfico,


com base nas condições de funcionamento de muitas turbinas e obtiveram
duas curvas contínuas representando a altura de queda d’água em função da
rotação específica. A primeira curva indica que a turbina Francis constitui uma
variação da Pelton. Nesta, o jato tem a direção tangencial e na outra o jato
começa com predominância radial e se transforma quase em axial. A partir
desse gráfico, abaixo representado, pode-se atribuir os seguintes valores
aproximados para as condições de operação das turbinas hidráulicas:
108

Altura de queda Rotação específica


Tipo de turbina d’água ( rpm )
(m)

Pelton Acima de 100 Abaixo de 250

Francis 30 - 400 80 - 420

Kaplan Abaixo de 70 Acima de 320

6.12 - Dimensionamento de uma turbina Pelton

As condições iniciais para a escolha e o dimensionamento de uma


turbina são a altura de queda d’água e a vazão. O gráfico da figura 6.13
mostra que a altura adequada para turbinas Pelton fica acima de 100 m .
Admitamos um reservatório a uma altura de 250 m que fornece uma vazão
média de 1,35 m3/s. Para esta altura, o gráfico recomenda a rotação
específica de 115 rpm. A partir destes valores, pode-se fazer uma estimativa
da rotação da turbina através da equação 6.9.7 abaixo representada.

1/ 2 5/4

n1  n N 5/4
n  n1 H 1 / 2
H N

N   .Q.H   10000 x1,35 x0,95 x 250 x0,89  2.584.000W


B

N  2.584kW

5/4

n  115 x 250 '1 / 2


 2249rpm.
2584
109

6.12.1 - Rotação síncrona

A rotação da turbina está condicionada à do gerador e esta depende da


freqüência do sistema elétrico e do número de pólos do gerador. A rotação
síncrona é calculada através da equação abaixo:

60 f
n f  60cps p  número de pares de pólos
p

60 x60
p  2,0 adota  se 2 pares de pólos e calcula  se :
2249

60 x60
n  1800rpm
2

6.12.2 - Velocidades do jato e das pás

V j
 2 gx0,95h  2 x9,8 x0,95 x 250  68,2m / s

velocidade das pás : V p


 0,45V j  0,45 x52,8  30,7m / s

6.12.3 - do jato ( admitindo-se a vazão total divida em 4 jatos )

4Q 4 x1,35
2

Q V .A V .
D j

j
 4  0,079m  7,9cm
j j j j
4 D j
V 3,14 x68,2
j
110

6.12.4 - Dimensões principais das pás

As principais dimensões das pás de uma turbina Pelton são


especificadas em função do diâmetro do jato, representadas na tabela abaixo,
por meio de relações fornecidas pela experiência.

Comprimento das pás ( a ) 2,25Dj a 2,80Dj

Largura das pás ( b ) 2,00Dj a 3.00Dj

Largura do rasgo ( c ) 1,20Dj a 1,25Dj

Profundidade das pás ( d ) 0,80Dj a 1,00Dj

Vamos adotar os valores médios da tabela acima:

Comprimento das pás: a = 2,52x7,9 = 19,9 cm


Largura das pás: b = 2,50x7,9 = 19,7 cm
Largura do rasgo: c = 1,22x7,9 = 9,6 cm
Frofundidade das pás d = 0,90x7,9 = 7,0 cm

6.12.5 - Diâmetro do rotor

Inicialmente calcula-se o diâmetro no ponto onde o jato encontra as pás,


onde se conhece o valor da velocidade. A velocidade das pás está relacionada
com a rotação através da equação:
111

2nR nD
V p
 R  
60 60

60V 60 x30,7
D   0,32m D  32cm
p

n 3,14 x1800

a
Diâmetro total do rotor : D total
 D2  32  19,9  51,9cm
2

6.13 - Custo de geração da energia elétrica

O custo da energia elétrica produzida em uma instalação é um fator


fundamental para o estudo de sua viabilidade econômica. O principal
componente do custo de geração são as despesas de financiamento
contraídas por ocasião da construção da usina. Adota-se como premissa que
todas a despesas de construção serão feitas através de financiamento
bancário de agentes internacionais, realizado em dólares, com juros
contabilizados anualmente.
Estima-se um investimento global para a instalação completa, o qual
será obtido por empréstimo, efetuado em parcelas anuais a partir do início da
construção ( ano 1 ), finalizando com a última parcela no início da operação da
usina ( ano n )
Admitindo-se que a instalação será construída em 4 anos com custo
total estimado em 150 milhões de dólares, a primeira parcela de 30 milhões
de dólares será concedida no início da construção devendo acumular juros
anuais durante os 4 anos. A segunda parcela de mesmo valor será concedida
no início do segundo ano, acumulando juros durante os três anos restantes. As
demais parcelas seguirão a mesma sistemática, culminando com a última,
concedida por ocasião do início do último ano de construção.
Seguem os cálculos do valor acumulado em quatro anos, da dívida
referente à primeira parcela de 30 milhões de dólares, calculado com juros de
12% ao ano.

Dívida Juros durante o ano Dívida acumulada


Data acumulada ( US$ )x106 no final do ano
( US$ )x106 ( US$ )x106
Início do ao ( 1 ) 30 30x0,12 30(1+0,12 )
Início do ao ( 2 ) 30(1+0,12) 30(1+0,12)i 30(1+0,12)2
Início do ano (3) 30(1+0,12)2 30(1+0,12)2 i 30(1+0,12)3
Início do ano (4) 30(1+0,12)3 30(1+0,12)3 i 30(1+0,12)4
Início do ano (5) 30(1+0,12)4
112

Dívida acumulada no final do quarto ano, referente à primeira parcela de


30 milhões de dólares. Essa quantidade acumulada denomina-se valor futuro
desta parcela referida ao ano do início da operação da usina.

f1 = 30.000.000x(1,12)4 = 47.205.581 dólares

Seguem os calculas do valor acumulado em quatro anos, da dívida


referente à segunda parcela de 30 milhões de dólares, calculado com juros
de 12% ao ano.

Dívida Juros durante o ano Dívida acumulada


Data acumulada ( US$ )x106 no final do ano
( US$ )x106 ( US$ )x106
Início do ao ( 2 ) 30 30x0,12 30(1+0,12 )
Início do ao ( 3 ) 30(1+0,12) 30(1+0,12)i 30(1+0,12)2
Início do ano (4) 30(1+0,12)2 30(1+0,12)2 i 30(1+0,12)3
Início do ano (5) 30(1+0,12)3

Dívida acumulada no final do quarto ano, referente à segunda parcela


de 30 milhões de dólares. Essa quantidade acumulada denomina-se valor
futuro desta parcela da dívida no ano do início da operação da usina.

f2 = 30.000.000x(1,12)3 = 42.147.840 dólares

Seguem os calculas do valor acumulado em quatro anos, da dívida


referente à terceira parcela de 30 milhões de dólares, calculado com juros de
12% ao ano.

Dívida Juros durante o ano Dívida acumulada


Data acumulada ( US$ )x106 no final do ano
( US$ )x106 ( US$ )x106
Início do ao ( 3 ) 30 30x0,12 30(1+0,12 )
Início do ao ( 4 ) 30(1+0,12) 30(1+0,12)i 30(1+0,12)2
Início do ano (5 ) 30(1+0,12)2
113

Dívida acumulada no final do quarto ano, referente à terceira parcela de


30 milhões de dólares. Essa quantidade acumulada denomina-se valor futuro
desta parcela da dívida no ano do início da operação da usina.

f3 = 30.000.000x(1,12)2 = 37.632.000 dólares

Segue o cálculo do valor acumulado em quatro anos, da dívida


referente à quarta parcela de 30 milhões de dólares, calculado com juros de
12% ao ano.

Dívida Juros durante o ano Dívida acumulada


Data acumulada ( US$ )x106 no final do ano
( US$ )x106 ( US$ )x106
Início do ao ( 4 ) 30 30x0,12 30(1+0,12 )
Início do ao ( 5 ) 30(1+0,12)

Dívida acumulada no final do quarto ano, referente à quarta parcela de


30 milhões de dólares. Essa quantidade acumulada denomina-se valor futuro
desta parcela da dívida no ano do início da operação da usina.

f4 = 30.000.000x(1,12) = 33.600.000 dólares

6.13.1 - Valor futuro do investimento total ( F )

A soma das quatro parcelas acima, representa o valor da dívida


acumulada no final da obra de construção, sendo este o início de operação
desta usina. Este número representa o Valor Futuro do Investimento, que
deverá ser amortizado em parcelas anuais, a primeira parcela, um ano depois
após o início de funcionamento da usina. Isto significa que a dívida acumulada
tem ainda uma carência de um ano, para que possa ser paga com a receita
obtida com a venda da energia elétrica.
114

F = f1 + f2 + f3 + f4

F = US$ 160.585.420

A seqüência de cálculos pode dar origem a uma única fórmula que


permite o cálculo do valor futuro, em função dos seguintes parâmetros:
 Tempo de construção da usina em anos ( n = 4 anos )
 Taxa de juros contratada ( i = 12% ao ano )
 Valor das parcelas iguais do investimento obtido por empréstimo
( I = 30.000.000 dólares )


F  I
1 i  1 x1  i 
n

 i 
 


F  30.000.000 x 
1 0,12  1 x1  0,12  30.000.000x5,35285
4

 0,12 
 

F  US $ 160.585.420

Em vista do valor atualizado do investimento e da potência elétrica


instalada, pode-se definir um parâmetro conhecido com custo unitário do
investimento através da relação:

F 160.585.420
c I
 c I
  1889US $ / kW
W elétrica
85.000

Este parâmetro pode ser encontrado nos relatórios de bancos


internacionais de investimento que conhecem, para cada instalação
financiada, o valor da dívida referida ao início de funcionamento e a potência
elétrica instalada.
115

Desta forma, quando se deseja fazer um projeto de viabilidade


econômica e financeira de um empreendimento, os valores do custo unitário
fornecem uma idéia inicial, próxima da realidade, do custo total da obra.

6.13.2 - Amortização do em parcelas iguais ( Prestação )

A dívida atualizada para a data de início da construção da usina deverá


ser amortizada em parcelas anuais iguais, calculadas com a taxa de juros
contratada no mercado internacional. A primeira parcela deverá ser paga um
ano após o início de operação da usina. Os seguintes parâmetros são
definidos:
 Valor prestação anual, conhecida como prestação da dívida ( P )
 Prazo de pagamento, ou número de parcelas anuais ( n )
 Valor futuro do Investimento ( F )
 Taxa de Recuperação do Capital ( TRC )
 Taxa de juros anuais ( i )

Admite-se que, cada parcela da prestação ( P ) seja atualizada para a


data do início de operação, obedecendo à seguinte sistemática:

Valor futuro da primeira parcela que será paga um ano após o início de
operação:

P
x  1  i 
1

Valor futuro da segunda parcela que será paga dois anos após o início de
operação:

P

x 2
1 i 2

Valor futuro da última parcela que será paga n anos após o início de
operação:
116

P

x n
1 i  n

A soma dos valores atualizados é o valor futuro do investimento,


calculado no item anterior

F x x x
1 2 3
 ............... x n

 
1 1 1 1
F  P    ............. 
 1  i 
 1 i 11 2 3
1 i  n

A equação acima pode ser multiplicada e dividida por (1+i)n resultando:


F  P
1

1
  .............
1 1 i  1

x
n

 1  i 
 1 i  11 2
1 i  1 i 
3 n


n

F  P 1 i  n 1
 1 i  n2
 .............1  i   1 x
1
1 i 
]

 
 n

Vejamos como se pode efetuar a somatória da série acima.

Somatória S   1 i
   n 1
 1 i  n2
 .............1  i   1



S .1  i   S . 1 i
   1 i 
n n 1
 ..................1  i 



S .1  i   S   1 i
   1
n



 1 i   1
n


S .i   1 i
   1
n
S  
i

Retornando à equação do vapor futuro, resulta:


117

   1 i
F  P  1 i
n 1 n2
 .............1  i   1 x
1
 
1 i n


F  P
 
1 i  1.
n
1
AP

 1  
i
n
i



i 
 1 i n

 1 i n
 1


Na equação acima, a relação entre a prestação ( P ) e o valor futuro do


capital tomado por em préstimo é conhecido como Taxa de Retorno de
Capital ( TRC )

P



 1 i
n
i



  TRC
F 



1 i  1
n

Através desta taxa pode-se construir a Tabela Price, que constitui uma
forma de calcular o pagamento de uma dívida em ( n ) parcelas iguais ( P ) ,
em função da taxa de juros no período ( i ) e o prazo de pagamento ( n ).

Retornando ao valor futuro da dívida, US$ 160.585.420,00 calcula-se o


valor da prestação a ser paga um ano após o início de funcionamento da
usina. O pagamento deverá ser efetuado em 15 parcelas iguais com a taxa de
juros contratada de 12% ao ano.

TRC 

 
15

 1,12 
 x0,12
 0,1468

 
 1,12
15
1 


US $
P  0,1468x160.585.420  U $23.573.940
ano
118

6.13.3 - Custos, manutenção e de pessoal

Estes custos também fazem parte da composição de despesas que


entram no cálculo do de geração. Tal como o custo de investimentos, aqui
também se faz uma estimativa, admitindo-se que uma porcentagem do
investimento , com base no seu valor futuro, é utilizada para manutenção e
pessoal. Para uma usina hidroelétrica, admite-se que anualmente se gasta
cerca de 2,5% em manutenção e pessoal

US $
c p , m, a
 0,025F
ano

Na presente questão, vamos estimar esse custo em:

C p, m, a
 0,025 x160.585.420

C p, m, a
 U $4.014.635 US $ / ano

6.13.4 - Fator de carga da instalação

A figura 6.13 mostra a potência produzida por uma instalação, resultante


das solicitações do sistema consumidor. A potência de 20.000 kW gerada a
zero hora indica que a instalação está funcionando para atender basicamente
ao consumo de eletricidade para iluminação. Durante a noite a consumo
permanece quase inalterado, mas a partir da 6 horas da manhã, começa a
crescer continuamente, indicando o início das atividades domésticas,
comerciais e industriais dos consumidores. Por volta do meio dia, as atividades
sofrem uma pequena redução, em virtude do horário do almoço em que as
atividades diminuem.
119

Curva de demanda de uma instalação

80000

70000

60000

50000
Potência ( kW )

40000

30000

20000

10000

0
0 6 12 18 24

Horas do dia ( h )

Figura 6.14

O consumo aumenta depois do almoço, atingindo o máximo por volta


das 18 horas quando a maioria dos trabalhadores volta para casa e liga os
chuveiros e as luzes domésticas e públicas são acesas. O consumo volta a
cair até as 24 horas, dando início a um novo ciclo.
A energia produzida por essa instalação é representada por meio da
área do gráfico da figura 6.13 situada abaixo da curva de potência que pode
ser medida em kWh/dia ou em MWh/dia. Admitindo-se que a instalação
tenha uma potência instalada de 80.000 kW a área total do gráfico representa a
máxima quantidade de energia que ela pode produzir diariamente, funcionando
em plena carga, sem intervalo, medida em MWhmax/dia.
A relação entre estas duas quantidades de energia denomina-se fator de
carga da instalação.
120

Energia produzida anualmente


FC   E a
 MWh Atual

Capacidade máxima anual E


Max MWh
máxima

E a
 W instalada
x24 x365FC

E max
 W instalada
x24 x365

Pode-se, portanto entender que o fator de carga de uma instalação


é a porcentagem de energia elétrica que ela produz durante o ano, em
relação à máxima quantidade que ela poderia produzir se operasse
continuamente durante o ano inteiro, com sua máxima capacidade.

Desta forma, quando se faz uma estimativa da energia anual que a


usina hidroelétrica deverá produzir, deve-se ter em mente o valor aproximado
do seu fator de carga ( FC ). Este é portanto, um parâmetro inicial da análise
de viabilidade econômica de um investimento em geração elétrica, levando-se
em conta a finalidade da instalação.
Se a missão da usina for atender às solicitações de pico de carga, o
seu fator de carga será baixo, em torno de 25%. Por outro lado, se a missão for
o atendimento da demanda de base, o seu fator de carga poderá chegar a
valores acima de 85%, restando apenas 15% para paradas programadas para
manutenção.

6.13.5 - Estimativa do custo de geração

A partir dos resultados de custo calculados neste item, pode-se fazer


uma estimativa do custo da energia elétrica produzida pela instalação. Todos
os valores são referidos ao ano, porque os empréstimos são feitos em dólares,
em bancos internacionais com amortizações anuais, conforme abaixo
relacionados:

 Custo anual do investimento: prestação a ser paga em 15 anos com


taxa de 12% ao ano: P = 23.573.920 US$/ano
 Custo anual de pessoal e de manutenção: Cpma = 4.014.635 US$/ano
 Custo total anual: CTa = 27.588.555 US$/ano
 Energia gerada anualmente, considerando uma hidroelétrica com
85.000 MW instalados, operando com fator de carga de 85%.
121

 Ea = 85(MW )x(24horas/dia)x(365dias/ano)x0,85 = 632.910 MWh/ano

CG  C Ta 
27.588.555US $ / ano
Custo de geração :  43,6US $ / MWh
E a
632.910MWh / ano

CG = 43,6 USW/MWh

6. 14 - Exercícios

Ex. 6.14.1 - Uma usina hidroelétrica é alimentada por um reservatório que


tem uma área de 64 km2. O turbo - gerador produz a potência elétrica de
5600 kW , e funciona com fator de capacidade de 60%. O suprimento da
usina deve ser complementado por uma bomba que alimenta o reservatório ,
funcionando 6 horas por dia.
Calcular:
1 - Volume de água anual necessário para alimentar a turbina.
2 - Volume de água anual que deverá ser bombeado para complementar as
necessidades da turbina.
3 - Potência do motor da bomba.
4 - Custo energético anual de bombeamento, sabendo que a tarifa paga é
de 75 R$/MWh
5 - Energia líquida anual produzida pela instalação completa.
Dados:
Índice de chuva : 25 cm/ano
Índice de evaporação: 0,35 l/ dia . m2
Vazão do rio: 0,3 m3/s
Rendimento da turbina e da bomba: 86,4%
Rendimento do gerador e do motor: 96%
Altura de bombeamento: 50 m
Altura de queda de água: 320 m

Solução:

1 - Volume de água que a turbina necessita em 1 ano

Wéle = ( . Q T. HT . T . G . 0,735 ) / 75
122

5600 = ( 10.000.QT . 0,95x320x0,864x0,96 ) /1000

QT = 2,22 m3 / s

VT = 2,22x( 3600x24x365 )x0,60 = 38,03 . 106 m3 / ano

VT = 42,00 . 106 m3 / ano

2 - Volume de água bombeada em 1 ano

VT = VRIO + VB + VCH - VEV

VRIO = 0,3 . ( 3600 . 24 . 365 ) = 9,46 . 106 m3 / ano

VCH = 0,25 . 64 . 106 = 16 . 106 m3 / ano

VEV = 0,35 . 10-3 . 64 . 106 . 365 = 8,18 . 106 m3 /ano

VB = VT - VRIO - VCH + VEV

VB = ( 42,00 - 9,46 - 16,00 + 8,18 ) . 106 m3 / ano

VB = 24,72 . 106 m3 / ano

3 - Potência do motor da bomba

Wmotor = (  QB HB ). B . M

QB = 24,72x106 / 3600x6x365 = 3,13 m3 / s

Wmotor = ( 10.000x3,13x1,05x50 )/ 1000x0,864x0,96

Wmotor = 1 980 kW
123

4 - Custo energético anual da energia elétrica

CE = 75x( 1980x 6x365 ) = 325.215 R$ / ano

5 - Energia anual líquida produzida pela instalação

EL = E G - EM

EG = energia gerada = 5.600 x24x365x0,60/1000 = 29 434 MWh / ano

EM = Energia consumida pelo motor da bomba

EM = 1980x6x365/1000 = 4.336 MWh /ano

EL = Energia líquida gerada pelo sistema

EL = 29.434 - 4.336 = 25.097 MWh / ano

EL = 25.097 MWh / ano

Ex. 6.14.2 - Uma usina hidroelétrica opera com uma turbina cuja vazão é de
33,4 m3/s funcionando com 60% de fator de carga e produzindo no gerador a
potência de 120.000 kW.
O reservatório recebe a água de uma bomba cujo motor consome a
potência de 55.000 kW. Além da bomba, um rio que tem uma vazão média
anual de 5,6 m3/s , também alimenta o reservatório, cuja área é de 162 km 2. O
índice de chuva na região é de 0,42 m por ano e o índice de evaporação é de
0,34 l/m2xdia.
Sabendo que o custo unitário, referido ao valor futuro das instalações, é
de 1850 US$/kW para a turbina e de 650 US$/kW para a bomba e que custo de
geração é 85 US$/MWh,
124

Calcular:

1 - Custo anual da energia elétrica consumida pelo sistema de bombeamento.


2 - Fator de capacidade do sistema de bombeamento.
3 - Vazão de água que passa pela bomba.

Dados:
Prazo de amortização: 20 anos
Taxa de juros anual: 10%
Custo de pessoal e de manutenção anual: 4,25x106 US$/ano
Tarifa da energia elétrica consumida pelas bombas: 52 US$/MWh
Solução:
1 - Custo anual da energia elétrica consumida pela bomba
A  C pm, a  C energia
CG 
E anual

A  prestação anual do investimento

P  TRCxF (taxa de retorno de capital) x(valor presente)

TRC 

  .i  
 1 i   1,10
n



20
x0,10
 
 0,1175

 
 1
n
1 


 1,10
20
1
 
F  120.000 x1850  55.000 x650  257,75 x10 US $
6

P  0,1175x 257,75 x10  30;28 x10 US $


6 6

C pm , a
 custo de pessoal e de manutenção anual

 4,25 x10 US $
6
C pm , a
125

120.000
E anual
 x(24 x365) x0,60  630.720MWh / ano
1000

30.280.000  4.250.000  C energia


CG  85 
630.720

C  19.081.200US $ / ano
energia

2 - Fator de capacidade do sistema de bombeamento

Conhecendo-se o custo anual da eletricidade consumida pela bomba e a


tarifa, pode-se calcular o número de horas que a bomba operou durante o ano.

C energia
 tarifa..W motor (24 x365).FC

55.000
19.081.200  52 x x(24 x365).FC FC  0,76
1000

3 - Vazão de água que passa pela bomba

Pode-se estabelecer uma igualdade entre os volumes anuais de água


que entram e saem do reservatório, por meio da equação da continuidade em
regime permanente:

V Rio
 V Chuva  V Bomba  V Evaporação  V Turbina

 5,6 x(3600 x 24 x365)  176.601.600 m / ano


3
V Rio

 0,42 x162 x10  68.040.000 m / ano


6 3
V Chuva
3
 0,34 x10 (365 x162 x10 )  20.104.200 m / ano
6 3
V Evaporação

 33,4 x(3600 x 24 x365) x0,60  631.981.440 m / ano


3
V Turbina

 407.444.040 m / ano
3
V Bomba
126

Conhecendo o fator de capacidade do sistema de bombeamento e o


volume total bombeado em um ano, pode-se calcular a vazão:

 V Bomba 
407.444.040
 17,0 m / s
3
Q Bomba
t anual
(3600x 24 x365) x0,76

Ex. 6.14.3 - Uma usina hidroelétrica sujeita a uma queda d'água de 360 m
opera com três turbinas do tipo Francis. O reservatório superior recebe a água
de um rio cuja vazão média anual é de 15,6 m 3/s . A região tem um índice de
chuvas de 25 cm por ano e um índice de evaporação de 0,22 l/m 2.dia. Sabendo
que a área do reservatório é de 135 km2, Calcular:

1 - Vazão de água disponível para cada turbina, cujo fator de capacidade é de


70%.
2 - Potência elétrica produzida pelo gerador de cada turbina.
3 - Rotação das turbinas.
4 - Deseja-se aumentar a capacidade desta usina, instalando-se mais uma
turbina igual às demais. A água adicional será suprida por uma estação
contendo duas bombas iguais, localizadas a 50 m abaixo do nível do
reservatório das turbinas. A estação de bombeamento deverá funcionar 6
horas diárias, durante o ano inteiro. Calcular a potência de cada bomba.

Dados:
Rendimento das turbinas: 89%
Rendimento dos geradores: 95%
Rendimento das bombas: 70%
Rendimento dos motores: 95%
Freqüência do sistema elétrico: 60 cps
127

Solução:

1 - Vazão de água disponível para cada turbina

V Rio
 V Chuva  V Evaporação  V Turbina

 15,6 x(3600 x 24 x365)  491.961.600 m / ano


3
V Rio

 0,25 x135x10  33.750.000 m / ano


6 3
V Chuva
3
 0,22 x10 (365 x135 x10 )  10.840.500 m / ano
6 3
V Evaporação

 (491,96  33,75  10,84) x10  514,87 x10


6 6 3
V Turbina m / ano
514.870.000 1
x  7,77m / s
3
Q 
Turbina 3600 x 24 x365 x0,70 3

2 - Potência elétrica de cada gerador

 .Q .0,95H
. .
10.000 x7,77 x0,95 x360
N eoé
 T
 x0,89 x0,95
1000 T ger 1000

N elé
 22.468kW

3 - Rotação das turbinas

Do gráfico da Tecnoexport de Praga , conhcendo a altura de queda


d’água, pode-se tirar a rotação específica aproximada da turbina do tipo
Francis
n1 = 90 rpm
128

1/ 2 5/4 5/4

n1  n N 5/4
n  n1 H 1 / 2 n  90 x 360 1/ 2
 941rpm
H N 22.468
120 f 120 x60
n p  7,65 p8 pólos
p 941

120 x60
Re sulta : n  900rpm
8

4 - Estudo do aumento de potência

O volume de água necessário para adicionar uma turbina igual às demais é:

514.870.000
  171.623.300 m / ano
3
V T
3

Esta quantidade de água deverá ser suprida por duas bombas iguais, a
partir de um reservatório situado a 50 m abaixo do principal, resultando para
cada bomba a vazão:

1 171.634.300
  10,88 m / s
3
Q B
x
2 3600x6 x365

A potência do motor de cada bomba será:

 .Q.1,05.H 10.000 x10,88 x1,05x50


N    8589kW
motor
1000. . 1000 x0,70 x0,93
B m

Ex. 6.14.4 - Uma usina reversível será construída para funcionar no pico de
carga, que dura seis horas por dia, durante o ano inteiro. O gerador elétrico
funciona também como motor e apresenta a potência de 135.000 kW. O rotor
da bomba é o do tipo Francis e atua também como turbina, bastando, para isso,
129

inverter o sentido do fluxo de água. Sabendo que o desnível entre os dois


reservatórios é de 130 m , calcular:

1 - Vazão de água que passa pela usina, primeiramente funcionando como


turbina e, em seguida funcionando como bomba.
Rendimento da bomba e da turbina: 90%
Rendimento do gerador e do motor: 96%
2 - Volume de água bombeada , para atender à solicitação da turbina.
Vazão do rio: 16 m3/s
Índice de chuvas: 35 cm por ano
Índice de evaporação: 0,39 l/m2xdia
Área do reservatório: 527 km2.
3 - Fator de capacidade da estação de bombeamento.
4 - Despesa anual com o sistema de bombeamento. ( US$/ano )
Investimento no sistema de bombeamento: 625 US$/kW
Custo anual de manutenção e de pessoal: 640.000 US$/ano ( somente
bombeamento)
TRC: 0,1339
Custo da eletricidade para movimentar a bomba: 15 US$/MWh
5 - Verificar se a usina reversível é economicamente viável, sabendo que a
eletricidade será vendida a 130 US$/MWh.
Custo de manutenção e de pessoal do sistema de geração:
640.000US$/anoCusto do investimento do sistema de geração: 1250 US$/kW
TRC = 0,1339

Solução:

1 - Vazão de água que passa pela turbina e pela bomba


130

W elé
  .Q.0,95.H . .
T G

10.000
135.000  x Q x0,95 x130 x0,90 x0,95
1000 T

 127,8 m / s
3
Q T

 .Q .1,05.H
W  B
motor
 .
B m

10.000 x Q x1,05 x130


135.000  B

1000 x0,90 x0,96

 85,45 m / s
3
Q B

1 - Volume de água bombeada

V Chuva
 V Bomba  V Rio  V Turbina  V Evaporação

 0,35 x527 x10  184.450.000 m / ano


6 3
V Chuva

 16 x(3600 x 24 x365)  504.576.000 m / ano


3
V Rio

 127,8 x(3600 x6 x365)  1.007.575.200 m / ano


3
V Turbina
3
 0,39 x10 x527 x10 x365  75.018.450 m / aano
6 3
V Evaporação

 393.567.650 m / ano
3
V Bomba

2 - Fator da capacidade da estação de bombeamento


131

V Bomba
 Q .(24 x3600 x365 ).FC
B

363.567.650  85,45 x 24 x3600 x365.FC

FC  0,146

4 - Despesa anual com o sistema de bombeamento

Energia anual consumida pela bomba

135.000
E W
B motor
.(24 x365x0,146) 
1000
x 24 x365x0,146  172.660MWh / ano

Custo anual do sistema de bombeamento

C B
 P C
B pm , a
 C eletricidade

P B
 0,1339 x625 x135.000  11.297.800US $ / ano

C pm , a
 640.000US $ / ano

C eletricidade
 172.660 x15  2.589.900US $ / ano

C B
 11.297.800  640.000  2.589.900  14.527.700US $ / ano

5 - Verificação da viabilidade econômica da usina

Custo de geração desta usina


132

P  C pm, a  C eletricidade
CG 
E anual

A P P T B
 0,1339 x135.000 x1250  11.297.800  33.893.400US $ / ano

C pm , a
 640.000  640.000  1.280.000US $ / ano

C eletricidade
 2.589.900US $ / ano
135.000
E anual
 x6 x365  295.650MWh / ano
1000

33.893.400  1.280.000  2.589.900


CG   127,8US $ / MWh
295.650

Ex. 6.14.5 - Calcular o custo de geração de energia elétrica de uma usina


hidroelétrica reversível, que funciona 6 horas por dia como bomba e 12 horas
por dia como turbina, apresentando os seguintes dados:

Potência das bombas: 25.000 kW


Potência das turbinas: 85.000 kW
Custo da instalação de bombeamento: 650 US$/kW
Custo das instalação geradora: 1250 US$/kW
Prazo de amortização do investimento: 20 anos
Taxa de juros: 12% ao ano
Custo anual de manutenção de ambas as estações: 3% do investimento de cada
uma.
Custo da energia elétrica utilizada pelas bombas: 25 US$/MWh

Ex. 6.14.6 - Uma usina hidroelétrica é alimentada por um reservatório de 90


km2 que recebe água de um rio e de uma estação de bombeamento. Pede-se
calcular:
133

1 - O volume anual de água que será bombeada para o reservatório, sabendo


que o motor da bomba consome 5359 kW, funcionando com fator de capacidade
de 70%.
2 - O volume de água que alimenta a turbina
3 - A potência elétrica do gerador, sabendo que o fator de capacidade da
estação geradora é de 60% .
Dados :
Índice de evaporação: 0,24 l/m2.dia
Índice de chuva: 36 cm/ano
Rendimento do motor e do gerador: 96%
Rendimento da bomba: 60%
Rendimento da turbina: 90%
Altura de bombeamento: 50 m
Altura de queda de água: 320 m
3
Vazão do rio: 4,5 m /s

Ex. 6.14.7 - Calcular o custo de geração da instalação, sabendo que os custos


de investimento são 1200 US$/kW para a estação geradora e 850 US$/kW para
a estação de bombeamento.
Dados:
TRC = 0,1339
Custo de pessoal e de manutenção, anual : 2,5% do investimento
Custo da eletricidade consumida pela estação de bombeamento: 35
US$/MWh
Potência da estação de bombeamento: 5359 kW
Potência da estação geradora: 40 624 kW
Fator de capacidade da estação geradora: 60%
Fator da capacidade da estação de bombeamento: 70%

Ex. 6.14.8 - Uma usina hidroelétrica sujeita a uma queda d'água de 360 m
opera com três turbinas do tipo Francis. O reservatório superior recebe a água
de um rio cuja vazão média anual é de 15,6 m 3/s . A região tem um índice de
chuvas de 25 cm por ano e um índice de evaporação de 0,22 l/m 2.dia. Sabendo
que a área do reservatório é de 135 km2, Calcular:
134

1 - Vazão de água disponível para cada turbina, cujo fator de capacidade


é de 70%.
2 - Potência elétrica produzida pelo gerador de cada turbina.
3 - Rotação das turbinas.
4 - Deseja-se aumentar a capacidade desta usina, instalando-se mais uma
turbina igual às demais. A água adicional será suprida por uma estação
contendo duas bombas iguais, localizadas a 50 m abaixo do nível do
reservatório das turbinas. A estação de bombeamento deverá funcionar 6
horas diárias, durante o ano inteiro. Calcular a potência de cada bomba.
Dados:
Rendimento das turbinas: 89%
Rendimento dos geradores: 95%
Rendimento das bombas: 70%
Rendimento dos motores: 95%
Freqüência do sistema elétrico: 60 cps

Ex. 6.14.9 - Calcular o custo de geração de energia elétrica de uma usina


hidroelétrica reversível, que funciona 6 horas por dia como bomba e 12 horas
por dia como turbina, apresentando os seguintes dados:

Potência das bombas: 25.000 kW


Potência das turbinas: 85.000 kW
Custo da instalação de bombeamento: 650 US$/kW
Custo da instalação geradora: 1250 US$/kW
Prazo de amortização do investimento: 20 anos
Taxa de juros: 12% ao ano
Custo anual de manutenção de ambas as estações: 3% do investimento.
Custo da energia elétrica utilizada pelas bombas: 25 US$/MWh
135

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