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8

Capítulo
H I D R O L O G I A

Regularização de vazão

A variabilidade temporal da precipitação e, conseqüentemente, da vazão dos


rios freqüentemente origina situações de déficit hídrico, quando a vazão dos
rios é inferior à necessária para atender determinado uso. Em outras
situações ocorre o contrário, ou seja, há excesso de vazão. A solução
encontrada para reduzir a variabilidade temporal da vazão é a regularização através
da utilização de um ou mais reservatórios. Os reservatórios têm por objetivo
acumular parte das águas disponíveis nos períodos chuvosos para compensar as
deficiências nos períodos de estiagem, exercendo um efeito regularizador das vazões
naturais.

Em geral os reservatórios são formados por meio de barragens implantadas nos


cursos d‘água. Suas características físicas, especialmente a capacidade de
armazenamento, dependem das características topográficas do vale em que estão
inseridos, bem como da altura da barragem.

Características dos reservatórios


Um reservatório pode ser descrito por seus níveis e volumes característicos: o volume
morto; o volume máximo; o volume útil; o nível mínimo operacional; o nível
máximo operacional; o nível máximo maximorum. Outras características
importantes são as estruturas de saída de água, eclusas para navegação, escadas de
peixes, tomadas de água para irrigação ou para abastecimento, e eventuais estruturas
de aproveitamento para lazer e recreação.

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Vertedores
Os vertedores são o principal tipo de estrutura de saída de água. Destinam-se a liberar
o excesso de água que não pode ser aproveitado para geração de energia elétrica,
abastecimento ou irrigação. Os vertedores são dimensionados para permitir a
passagem de uma cheia rara (alto tempo de retorno) com segurança.

Um vertedor pode ser livre ou controlado por comportas. O tipo mais comum de
vertedor apresenta um perfil de rampa, para que a água escoe em alta velocidade, e a
jusante do vertedor é construída uma estrutura de dissipação de energia, para evitar a
erosão excessiva.

Nas fotografias da figura abaixo é possível ver o vertedor da barragem de Itaipu em


operação. Na outra fotografia o vertedor da barragem Norris, nos EUA, não está
operando, o que significa que toda a vazão está passando através das turbinas.

Figura 8. 1: As barragens Norris (Clinch River, Tenessee, EUA) e Itaipu (Rio Paraná, Brasil-Paraguai).

A vazão de um vertedor livre (não controlado por comportas) é dependente da altura


da água sobre a soleira, conforme a Figura 8. 2 e a equação abaixo:

Q = C ⋅L⋅h
3
2

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onde Q é a vazão do vertedor (m3.s-1); L é o comprimento da soleira (m); h é a altura
da lâmina de água sobre a soleira (m); e C é um coeficiente com valores entre 1,4 e
1,8. É importante destacar que a vazão tem uma relação não linear com o nível da
água.

Figura 8. 2: Vertedor de soleira livre.

Figura 8. 3: Curva de vazão do vertedor da usina Corumbá III nas situações de comportas completamente ou parcialmente abertas.

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Descarregadores de fundo
Descarregadores de fundo podem ser utilizados como estruturas de saída de água de
reservatórios, especialmente para atender usos da água existentes a jusante. A equação
de vazão de um descarregador de fundo é semelhante à equação de vazão de um
orifício, apresentada abaixo:

Q = C ⋅ A⋅ 2 ⋅ g ⋅ h

onde A é a área da seção transversal do orifício (m2); g é a aceleração da gravidade


(m.s-2); h é a altura da água desde a superfície até o centro do orifício (m) e C é um
coeficiente empírico com valor próximo a 0,6.

Semelhante à equação do vertedor, destaca-se que a vazão de um orifício tem uma


relação não linear com o nível da água.

Curva cota – área - volume


A relação entre nível da água, área da superfície inundada e volume armazenado de
um reservatório é importante para o seu dimensionamento e para a sua operação. O
volume armazenado em diferentes níveis define a capacidade de regularização do
reservatório, enquanto a área da superfície está relacionada diretamente à perda de
água por evaporação. A Tabela 8. 1 apresenta a relação cota – área – volume do
reservatório da usina Corumbá III, construída recentemente no rio Corumbá, no
Estado de Goiás.

Devido às características topográficas da área inundada, a relação entre cota e área


não é, em geral, linear. Da mesma forma, a relação entre cota e volume também não
é linear.

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Tabela 8. 1: Relação cota – área – volume do reservatório Corumbá III, em Goiás.

Cota (m) Área (km2) Volume (hm³)


772,00 0,00 0,00
775,00 0,94 0,94
780,00 2,39 8,97
785,00 4,71 26,40
790,00 8,15 58,16
795,00 12,84 110,19
800,00 19,88 191,30
805,00 29,70 314,39
810,00 43,58 496,50
815,00 58,01 749,62
820,00 74,23 1.079,39
825,00 92,29 1.494,88
830,00 113,89 2.009,38
835,00 139,59 2.642,00
840,00 164,59 3.401,09
845,00 191,44 4.289,81

Volume morto e nível mínimo operacional


O Volume Morto é a parcela de volume do reservatório que não está disponível para
uso. Corresponde ao volume de água no reservatório quando o nível é igual ao
mínimo operacional. Abaixo deste nível as tomadas de água para as turbinas de uma
usina hidrelétrica não funcionam, seja porque começam a engolir ar além de água, o
que provoca cavitação nas turbinas (diminuindo sua vida útil), ou porque o controle
de vazão e pressão sobre a turbina começa a ficar muito instável.

O tamanho do volume morto é definido no projeto da barragem e do reservatório,


mas pode ser alterado com o tempo em função do assoreamento.

Em reservatórios de abastecimento de água o volume morto é o que se encontra


abaixo da tomada de água de bombeamento.

Volume máximo e nível máximo operacional


O nível máximo operacional corresponde à cota máxima permitida para operações
normais no reservatório. Níveis superiores ao nível máximo operacional podem
ocorrer em situações extraordinárias, mas comprometem a segurança da barragem.

Geralmente o nível máximo operacional concide com o nível da crista do vertedor


ou com o limite superior de capacidade das comportas do vertedor.

O nível máximo operacional define o volume máximo do reservatório.

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Volume útil
A diferença entre o volume máximo de um reservatório e o volume morto é o
volume útil, ou seja, a parcela do volume que pode ser efetivamente utilizada para
regularização de vazão.

Nível máximo maximorum


Durante eventos de cheia excepcionais admite-se que o nível da água no reservatório
supere o nível máximo operacional por um curto período de tempo. A barragem e
suas estruturas de saída (vertedor) são dimensionados para uma cheia com tempo de
retorno alto, normalmente 10 mil anos no caso de barragens médias e grandes, e na
hipótese de ocorrer uma cheia igual à utilizada no dimensionamento das estruturas
de saída o nível máximo atingido é o nível máximo maximorum.

Nível meta
Na operação normal de um reservatório costumam ser utilizadas referências de nível
de água que devem ser seguidas para atingir certos objetivos de geração energia e de
segurança da barragem. O nível meta é tal que se o nível da água é superior ao nível
meta, deve ser aumentada o vertimento de vazão, para reduzir o nível da água no
reservatório, que deverá retornar ao nível meta.

Curva guia
A curva guia é semelhante ao nível meta, porém indica um nível da água no
reservatório variável ao longo do ano, que serve de base para a tomada de decisão na
operação. Uma curva guia pode indicar, por exemplo, o limite entre o uso normal da
água, quando o nível da água está acima do nível indicado pela curva guia, e o
racionamento, quando o nível da água está abaixo da curva guia.

Volume de espera
O volume de espera, ou volume para controle de cheias, corresponde à parcela do
volume útil destinada ao amortecimento das cheias. O volume de espera é variável ao
longo do ano e é definido pelo volume do reservatório entre o nível da água máximo
operacional e o nível meta.

Se um reservatório tem o uso exclusivo para controle de cheias, então o volume de


espera é maximizado, podendo ser igual ao volume total, ou igual ao volume útil. Se
um reservatório tem múltiplos usos, há um conflito entre a utilização para controle
de cheias e os outros usos.

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A geração de energia elétrica é particularmente conflitante com o controle de cheias


porque a criação do volume de espera reduz o volume disponível para regularizar a
vazão, o que reduz a vazão que pode ser regularizada, afetando a potência, ou energia
firme. Além disso, a operação com um volume de espera, e com nível meta inferior
ao nível máximo operacional, reduz a diferença de altura (queda), que está
diretamente relacionada à potência da usina.

Cota da crista do barramento


A cota da crista do barramento é definida a partir do nível da água máximo
maximorum somado a uma sobrelevação denominada borda livre (free board) cujo
objetivo é impedir que ondas formadas pelo vento ultrapassem a crista da barragem.

A figura a seguir apresenta um esquema com os diferentes níveis e volumes que


caracterizam um reservatório.

Tipos de centrais hidrelétricas


Quanto ao uso das vazões naturais, as usinas hidrelétricas podem ser: centrais a fio
d’água; centrais com reservatório de acumulação ou centrais reversíveis.

Usinas hidrelétricas com reservatórios cujo volume é pequeno em relação à vazão


afluente, são denominadas usinas a fio d’água, porque a energia que podem gerar
depende diretamente da vazão do rio. A regularização de vazão proporcionada por
reservatórios de usinas a fio d’água é desprezível. Nestes casos a barragem é
construída para aumentar a diferença de nível da água (queda) entre a tomada de
água e a turbina. Esta situação é típica das Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs).

Uma usina com reservatório de acumulação dispõe de um reservatório de tamanho


suficiente para acumular água na época das cheias para uso na época de estiagem e,
portanto, pode dispor de uma vazão substancialmente maior do que a vazão mínima
natural.

Uma usina reversível é utilizada para gerar energia durante o período em que ocorre
o pico da demanda no sistema elétrico, utilizando água previamente bombeada para
um reservatório temporário, aproveitando o excesso de oferta de energia nos períodos
que não coincidem com o pico de demanda.

Quanto à potência as centrais hidrelétricas podem ser classificadas em:

• Micro – Potência inferior a 100 kW

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• Mini – Potência entre 100 e 1000 kW

• Pequenas - Potência entre 1000 e 10000 ou 20000 kW

• Médias – Potência entre 10 e 100 MW

• Grandes – Potência maior do que 100 MW

Quanto à altura de queda da água (H) as centrais hidrelétricas podem ser classificadas
em:

• Baixíssima queda – H < 10 m

• Baixa queda – 10 < H < 50 m

• Média queda – 50 < H < 250 m

• Alta queda – H > 250 m

Balanço hídrico de reservatórios


A equação de continuidade aplicada a um reservatório é dada por:

∂S
= I −Q
∂t

onde S é o volume (m3); t é o tempo (s); I é a vazão afluente (m3.s-1) e Q é a vazão de


saída do reservatório (m3.s-1), incluindo perdas por evaporação, retiradas para
abastecimento, vazão turbinada e vertida.

Esta equação pode ser reescrita em intervalos discretos como:

St +∆t − St
= I −Q
∆t

onde I e Q representam valores médios da vazão afluente e defluente do


reservatório ao longo do intervalo de tempo ∆t.

Considerando uma variação linear de I e Q ao longo de ∆t, a equação pode ser


reescrita como:

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St +∆t − St I t + I t +∆t Qt + Qt +∆t


= −
∆t 2 2

onde It ; It+∆t ; Qt ; Qt+∆t são os valores no início e no final do intervalo de tempo.


Esta equação é utilizada quando o intervalo de tempo é relativamente pequeno (1 dia
ou menos), especialmente no caso de análise de propagação de cheias em
reservatórios.

Quando o intervalo de tempo é longo (um mês, por exemplo) a equação é


simplificada para:

St +∆t = St + entradas − saídas

onde as saídas representam todo o volume retirado do reservatório ao longo do


intervalo de tempo.

Esta equação pode ser utilizada para dimensionamento e análise de operação de um


reservatório.

Propagação de cheias em reservatórios


Considerando um reservatório com vertedor livre, em que a vazão de saída é uma
função do nível da água no reservatório, a equação abaixo pode ser aplicada
recursivamente.

St +∆t − St I t + I t +∆t Qt + Qt +∆t


= −
∆t 2 2

Nesta equação, em cada intervalo de tempo são conhecidas a vazão de entrada no


tempo t e em t+∆t; a vazão de saída no intervalo de tempo t; e o volume armazenado
no intervalo t. Não são conhecidos os termos St+∆t e Qt+∆t , e ambos dependem do
nível da água.

Como tanto St+∆t e Qt+∆t são funções não lineares de ht+∆t , a equação de balanço pode
ser resolvida utilizando a técnica iterativa de Newton-Raphson, ou o método de
bissecção, a cada intervalo de tempo.

Uma forma mais simples de calcular a propagação de vazão num reservatório é o


método conhecido como Puls modificado. Neste método a equação acima é reescrita
como:

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2 ⋅ St +∆t 2 ⋅ St
+ Qt +∆t = I t + I t +∆t + − Qt
∆t ∆t

onde os termos desconhecidos aparecem no lado esquerdo e os termos conhecidos


aparecem no lado direito.

Uma tabela da relação entre Qt+∆t e 2.(St+∆t )/∆t pode ser gerada a partir da relação
cota – área – volume do reservatório e através da relação entre a cota e a vazão, por
exemplo para uma equação de vertedor.

EXEMPLO

1) Calcule o hidrograma de saída de um reservatório com um vertedor de 25 m


de comprimento de soleira, com a soleira na cota 120 m, considerando a
seguinte tabela cota –volume para o reservatório e o hidrograma de entrada
apresentado na tabela abaixo, e considerando que nível da água no
reservatório está inicialmente na cota 120 m.

Tabela 8. 2: Relação cota volume do reservatório do exemplo.

Cota (m) Volume (104 m3)

115 1900
120 2000
121 2008
122 2038
123 2102
124 2208
125 2362
126 2569
127 2834
128 3163
129 3560

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130 4029

Tabela 8. 3: Hidrograma de entrada no reservatório.

Tempo (h) Vazão (m3.s-1)

0 0
1 350
2 720
3 940
4 1090
5 1060
6 930
7 750
8 580
9 470
10 380
11 310
12 270
13 220
14 200
15 180
16 150
17 120
18 100
19 80
20 70

O primeiro passo da solução é criar uma tabela relacionando a vazão de saída com a cota.
Considerando um vertedor livre, com coeficiente C = 1,5 e soleira na cota 120 m, a relação é
dada pela tabela que segue:

Tabela A

H (m) Q (m3/s)
120 0.0
121 37.5
122 106.1
123 194.9
124 300.0
125 419.3
126 551.1
127 694.5
128 848.5
129 1012.5
130 1185.9

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Esta tabela pode ser combinada à tabela cota – volume, acrescentando uma coluna com o valor
do termo 2.(St+∆t )/∆t , considerando o intervalo de tempo igual a 1 hora:

Tabela B

Volume (S) Q 2.S/∆t+Q


H (m) (104 m3) (m3/s) (m3/s)
120 2000 0.0 11111
121 2008 37.5 11193
122 2038 106.1 11428
123 2102 194.9 11873
124 2208 300.0 12567
125 2362 419.3 13542
126 2569 551.1 14823
127 2834 694.5 16439
128 3163 848.5 18421
129 3560 1012.5 20790
130 4029 1185.9 23569

No primeiro intervalo de tempo o nível da água no reservatório é de 120 m, e a vazão de


saída é zero. O volume acumulado (S) no reservatório é 2000.104 m3. O valor de 2.S-Q para o
primeiro intervalo de tempo é 11111 m3.s-1. Para cada intervalo de tempo seguinte a vazão
de saída pode ser calculada pelos seguintes passos:

a) calcular It + It+∆t

b) com o resultado do passo (a) e com base no valor de 2.(St)/∆t - Qt para o intervalo
anterior, calcular 2.(St+∆t)/∆t + Qt+∆t pela equação

2 ⋅ St +∆t 2 ⋅ St
+ Qt +∆t = I t + I t +∆t + − Qt
∆t ∆t

c) obter o valor de Qt+∆t pela tabela B, a partir da interpolação com o valor conhecido
de 2.(St+∆t)/∆t + Qt+∆t calculado no passo (b)

d) calcular o valor de 2.(St+∆t)/∆t - Qt+∆t a partir da equação abaixo e seguir para o


próximo passo de tempo, repetindo os passos de (a) até (d)

⎛ 2 ⋅ S t + ∆t ⎞ ⎛ 2 ⋅ S t + ∆t ⎞
⎜ − Qt + ∆t ⎟ = ⎜ + Qt + ∆t ⎟ − 2(Qt + ∆t )
⎝ ∆t ⎠ ⎝ ∆t ⎠

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Os resultados são apresentados na tabela abaixo:

Tempo (h) I (m3.s-1) I1+I2 2S/dt-Q 2S/dt+Q Q


0 0 350 11111 11111 0
1 350 1070 11236 11461 113
2 720 1660 11785 12306 260
3 940 2030 12630 13445 407
4 1090 2150 13591 14660 534
5 1060 1990 14476 15741 633
6 930 1680 15073 16466 697
7 750 1330 15315 16753 719
8 580 1050 15224 16645 711
9 470 850 14914 16274 680
10 380 690 14495 15764 635
11 310 580 14019 15185 583
12 270 490 13543 14599 528
13 220 420 13093 14033 470
14 200 380 12682 13513 416
15 180 330 12341 13062 361
16 150 270 12045 12671 313
17 120 220 11791 12315 262
18 100 180 11580 12011 216
19 80 150 11415 11760 172
20 70 70 11298 11565 133
A figura abaixo mostra os hidrogramas de entrada e saída do reservatório.

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O exemplo mostra que o reservatório tende a suavizar o hidrograma, reduzindo a


vazão de pico, embora sem alterar o volume total do hidrograma. É interessante
observar que no caso do exemplo, em que o reservatório tem um vertedor livre, a
vazão máxima de saída ocorre no momento em que a vazão de entrada e de saída são
iguais.

O cálculo de propagação de vazões em reservatórios, como apresentado neste


exemplo, pode ser utilizado para dimensionamento de reservatórios de controle de
cheias, e para análise de operação de reservatórios em geral. Mediante algumas
adaptações o método pode ser aplicado para reservatórios com vertedores
controlados por comportas e para outras estruturas de saída.

Dimensionamento de um reservatório
O dimensionamento de um reservatório pode ser realizado com base na equação:

St +∆t = St + entradas − saídas

sujeita às restrições 0 < St+∆t < Vmax; onde Vmax é o volume útil do reservatório.

Neste caso as entradas são as vazões afluentes estimadas para o local em que se deseja
construir o reservatório e as saídas são incluem a demanda de água e as perdas.

Se o problema é dimensionar um reservatório com o volume necessário para


regularizar uma vazão D, os passos são:

a) Faça uma estimativa inicial do valor de Vmax

b) Aplique a equação abaixo para cada mês do período de dados de vazão


disponível (é desejável que a série tenha várias décadas). As perdas por
evaporação (E) variam com o mês e podem ser estimadas por dados de
tanque classe A. A demanda D pode variar com a época do ano. A vazão
vertida Qt é diferente de zero apenas quando a equação indica que o volume
máximo será superado.

S t + ∆t = S t + I t − Dt − Et − Qt

c) Em um mês qualquer, se St+∆t for menor que zero, a demanda Dt deve ser
reduzida até que St+∆t seja igual a zero, e é computada uma falha de
antendimento.

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d) Calcule a probabilidade de falha dividindo o número de meses com falha


pelo número total de meses. Se esta probabilidade for considerada inaceitável,
aumente o valor do volume máximo Vmax e reinicie o processo.

Algumas hipóteses são feitas neste tipo de simulação:

1) o reservatório está inicialmente cheio;

2) as vazões observadas no passado são representativas do que irá acontecer no


futuro.

EXEMPLO

1) Um reservatório com volume útil de 500 hectômetros cúbicos (milhões


de m3) pode garantir uma vazão regularizada de 55 m3.s-1, considerando a
seqüência de vazões de entrada da tabela abaixo? Considere o reservatório
inicialmente cheio, a evaporação nula e que cada mês tem 2,592 milhões
de segundos.

mês Vazão (m3/s)


jan 60
fev 20
mar 10
abr 5
mai 12
jun 13
jul 24
ago 58
set 90
out 102
nov 120
dez 78

A solução é obtida montando a tabela que resulta da aplicação sucessiva da equação

S t + ∆t = S t + I t − Dt − Et − Qt

com It dado pela tabela acima; Et igual a zero e Qt igual a zero, exceto quando é necessário
verter.

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A demanda de 55 m3.s-1 é igual a 143 hm3 por mês. No primeiro mês observa-se que sobra
água. No segundo mês a demanda é maior do que a vazão de entrada e o volume no
reservatório começa a diminuir. O volume no início do terceiro mês é dado por
S t + ∆t = 500 + 52 − 143 = 409 e assim por diante.

No início do mês de agosto o volume calculado é negativo, o que rompe a restrição, portanto o
reservatório não é capaz de regularizar a vazão de 55 m3.s-1.

Mês S (hm3) I (hm3) D (hm3) Q (hm3)


Jan 500 156 143 13
Fev 500 52 143 0
Mar 409 26 143 0
Abr 293 13 143 0
Mai 163 31 143 0
Jul 52 34 143 0
Ago -57 62 143 0

Em uma planilha eletrônica ou uma calculadora científica é fácil repetir o cálculo até
que o volume atenda a vazão regularizada desejada.

Da mesma forma é fácil determinar em uma planilha eletrônica qual é a maior vazão
que pode ser regularizada com um dado volume de reservatório.

Teoricamente, a máxima vazão que pode ser regularizada é a vazão média do rio no
local em que está a barragem. Este valor máximo é impossível de ser atingido porque
a criação do reservatório aumenta a perda de água por evaporação.

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Figura 8. 4: Relação entre o volume do reservatório e a vazão regularizada em uma bacia cuja vazão média é 25,4 m3.s-1, sem
considerar a evaporação do reservatório.

Operação de reservatórios

Restrições de operação:

Volume máximo e mínimo; nível máximo e mínimo.

Em muitos casos os reservatórios têm múltiplos usos, como no caso da combinação


de uso para geração de energia elétrica e para controle de cheias. No exemplo da
figura a seguir, o reservatório R é operado para gerar energia nas turbinas, e para
evitar inundações na cidade C. A cidade começa a ficar inundada quando o rio em C
supera a vazão de 6000 m3.s-1. Existe um acordo entre o governo local e a empresa
que opera a usina para que o vertimento do reservatório seja controlado para evitar
que se supere este valor limite, o que caracteriza uma restrição à operação do
reservatório. Normalmente esta situação é complicada pela existência de um ou mais
afluentes (como o afluente A da figura) cuja vazão não é controlada pelo reservatório.
Portanto, a vazão que pode ser liberada pelo reservatório R depende do valor
máximo que pode escoar na seção em frente à cidade C e da vazão que está chegando
pelo afluente A, isto é, a restrição é variável no tempo.

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Figura 8. 5: Reservatório R operando com restrição de vazão que pode ser liberada para jusante, para evitar a inundação na cidade
C.

Impactos ambientais de reservatórios


No passado considerava-se que a geração hidrelétrica era uma forma de produção de
eletricidade com mínimos impactos ambientais. Atualmente, essa visão tem sido
questionada, embora em diversos aspectos os impactos ambientais são relativamente
pequenos em relação às formas alternativas normalmente utilizadas: usinas térmicas a
carvão ou nucleares.

Apesar destes impactos, a população muitas vezes vê com bons olhos a construção de
uma usina hidrelétrica na área de seu município. Isto ocorre porque existe uma
compensação financeira obrigatória, em que parte dos rendimentos auferidos na
geração de energia elétrica são pagos ao município, de acordo com o tamanho da
área inundada e com a potência da usina. Entre os impactos ambientais importantes
das usinas hidrelétricas encontram-se impactos sociais; impactos sobre a flora e a
fauna do local inundado; impactos sobre a fauna do rio a jusante; impactos sobre o
sistema de transportes; impactos sobre a geração de gases de efeito estufa.

Impactos sociais
Os impactos sociais mais evidentes da implantação de uma usina hidrelétrica
decorrem da remoção das pessoas que habitam a área inundada pelo reservatório. Os
impactos deste tipo iniciam mesmo antes da construção da obra em si, já que a
perspectiva da inundação futura reprime ou não incentiva o investimento no local.
Esta situação pode se estender por vários anos, em função de indefinições sobre a
construção ou não da obra. Durante este período as localidades sujeitas a inundação
experimentam um estado de estagnação.

129
H I D R O L O G I A

Finalmente, quando a obra inicia e a inundação da área habitada passa a ser certa,
surgem dúvidas e discussões sobre o valor da indenização. Embora o valor comercial
da terra possa ser estimado de forma razoável, o apego dos habitantes à terra também
é devido a um valor afetivo, por questões históricas, que é intangível, ou seja,
dificilmente quantificável. Nesta situação é comum o surgimento de especulações e
de confrontos de cunho político.

Entre os impactos sociais também podem ser incluídos impactos culturais, como a
perda, provavelmente para sempre, de sítios arqueológicos, ou eventualmente de
lugares sagrados para culturas indígenas.

Durante a construção ocorrem alguns impactos sociais positivos, devido ao aumento


de oferta de emprego, e o aumento de consumo local, em função do grande número
de trabalhadores. Após a conclusão da obra, porém, surge um impacto negativo
porque muitos trabalhadores perdem seus empregos mas não deixam imediatamente
o local.

Impactos sobre a fauna e a flora do local inundado


Os impactos sobre a flora e a fauna do local inundado por um reservatório são os
que ganham maior atenção da mídia. Isto ocorre porque durante o primeiro
enchimento do reservatório a área seca vai se tornando restrita e os animais ficam
concentrados em pequenas ilhas. Campanhas de resgate de fauna são organizadas em
que os animais são capturados e levados para um novo habitat, após um período de
adaptação. A sua sobrevivência neste novo hábitat é incerta, uma vez que o espaço
provavelmente já está ocupado por outros indivíduos da mesma espécie, e os recursos
dos quais a espécie depende são limitados.

A vegetação inundada não apenas é extinta, como também pode provocar sérios
problemas de qualidade de água no lago, durante a sua decomposição. Isto ocorre
porque o oxigênio dissolvido (OD) na água é consumido durante o processo de
decomposição, e a concentração de OD é reduzida para níveis inferiores ao limite
para a sobrevivência dos peixes. Assim, o processo de enchimento pode resultar
numa grande mortandade de peixes e outras espécies aquáticas ou que dependem dos
peixes para sobreviver, como as aves.

Impactos sobre a fauna e a flora do rio a jusante


Os impactos da criação de um reservatório sobre a área inundada são fáceis de
perceber, e têm sido, há muitos anos, considerados na análise de viabilidade de um
empreendimento. Os impactos no rio a jusante começaram a ser reconhecidos a
menos tempo, e surgiram a partir da constatação de que a presença de certas espécies
de peixes, por exemplo, diminuía após alguns anos da existência do reservatório.

Os impactos no rio a jusante decorrem, entre outras causas, do obstáculo imposto


pela barragem à migração dos peixes, o que pode ser apenas parcialmente contornado
pela construção de uma escada de peixes.

130
H I D R O L O G I A

Mais importante que isto é a alteração do regime hidrológico (sucessão de cheias e


estiagens), que modifica o habitat do rio a jusante.

Grandes reservatórios modificam, também, o fluxo de sedimentos e de nutrientes de


um rio. O melhor exemplo disso no Brasil ocorre no rio São Francisco, onde a
construção de uma série de usinas hidrelétricas, especialmente a de Sobradinho, com
um enorme reservatório, interrompeu o fluxo de sedimentos que ficam depositados
no reservatório e não atingem mais a foz. Em função disso, o equilíbrio entre a
erosão marinha na costa e o aporte de areia pelo rio foi alterado, resultando num
recuo de centenas de metros da linha da praia. Uma pequena vila de pescadores já foi
destruída e o processo não parece estar estabilizado ainda.

Os nutrientes básicos que mantém a cadeia alimentar na água são o nitrogênio e o


fósforo. Estes nutrientes estão dissolvidos na ou adsorvidos aos sedimentos, e são
retidos, em grande parte, nos grandes reservatórios. Em conseqüência disso, menos
nutrientes chegam até a região do estuário deste rio, o que limita o desenvolvimento
do fitoplâncton, que é a base da cadeia alimentar. Em conseqüência disso, a
população que vivia da pesca artesanal junto à foz do rio não mais consegue
sobreviver desta atividade.

Exercícios
1) Qual é a perda de energia na usina de Sobradinho devida à evaporação direta
do lago? Considere que a altura de queda H = 27,2 m; a eficiência e = 0,90; e
que uma evaporação de 10 mm por dia ocorre sobre a área da superfície do
lago, que corresponde a 4200 km2.

2) Um reservatório com volume útil de 500 hectômetros cúbicos (milhões de


m3) pode garantir uma vazão regularizada de 25 m3.s-1, considerando a
seqüência de vazões de entrada da tabela abaixo? Considere o reservatório
inicialmente cheio, a evaporação constante de 200 mm por mês, área
superficial e que cada mês tem 2,592 milhões de segundos.

Mês Vazão (m3/s)


Jan 55
Fev 27
mar 10
abr 5
mai 12
jun 13
jul 24
ago 51
set 78

131
H I D R O L O G I A

Out 102
Nov 128
Dez 73

3) Um reservatório com volume útil de 150 hectômetros cúbicos é suficiente para


regularizar a vazão de 28 m3.s-1 num rio que apresenta a seqüência de vazões
da tabela abaixo para um determinado período crítico? Considere o
reservatório inicialmente cheio, 200 km2 de área superficial constante e que
cada mês tem 2,592 milhões de segundos. Os dados de evaporação de tanque
classe A são dados na tabela (veja capítulo 5).

Mês jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
Vazão 98 45 32 27 24 20 19 18 17 14 78 130
(m3/s)
Evaporação 100 110 120 130 140 135 130 120 110 105 100 100
tanque
classe A
(mm/mês)

132
9
Capítulo
H I D R O L O G I A

Qualidade da água

A água é um elemento vital para as atividades humanas e para a manutenção


da vida. Para satisfazer as necessidades humanas e ambientais, é necessário
que a água tenha certas características qualitativas, e as exigências com
relação à pureza da água variam com o seu uso. A água utilizada para
análises clínicas, por exemplo, deve ser tanto quanto possível isenta de sais e outras
substâncias em solução ou suspensão. Já para a navegação e para a geração de energia,
por exemplo, a água deve apenas atender ao requisito de não ser excessivamente
agressiva às estruturas. Para os processos biológicos incluindo a manutenção dos
ecossistemas, a alimentação humana e a dessedentação animal, as exigências são
intermediárias.

Massa, concentração e fluxo


Aspectos fundamentais da qualidade da água são, normalmente, apresentados em
termos de concentração de substâncias na água. A concentração é expressa como a
massa da substância por volume de água, em mg.l-1, ou g.m-3. Por exemplo, ao
acrescentar e dissolver 12 mg de sal em um litro de água pura, obtém-se água com
uma concentração de 12 mg.l-1.

De forma semelhante, quando são misturados volumes de água com concentrações


diferentes, a concentração final equivale a uma média ponderada das concentrações
originais, o mesmo ocorrendo no caso de vazões. Assim, se um rio com vazão QR e
concentração CR recebe a entrada de um afluente com vazão QA e com concentração
CA. Admitindo uma rápida e completa mistura das águas, a concentração final é dada
por:

QR ⋅ C R + Q A ⋅ C A
CF =
QR + Q A

133
H I D R O L O G I A

EXEMPLO

1) Uma cidade coleta todo o esgoto cloacal, mas não tem estação de tratamento.
Assim, a vazão de esgoto de 0,5 m3.s-1 com uma concentração de 50 mg.l-1 de
Nitrogênio Total é lançada em um rio com uma vazão de 23 m3.s-1 e com
uma concentração de 1 mg.l-1 de Nitrogênio Total. Considerando mistura
completa qual é a concentração final no rio a jusante da entrada do esgoto.

A concentração final, considerando mistura completa e imediata é

QR ⋅ C R + Q A ⋅ C A 23 ⋅ 1 + 0,5 ⋅ 50
CF = ou seja C F = = 2,04
QR + Q A 23,5

portanto a concentração final é de 2,04 mg.l-1.

A carga ou fluxo de um poluente ou substância é dada pelo produto entre a vazão e a


concentração. No exemplo anterior, o fluxo de Nitrogênio Total no rio, a jusante da
entrada de esgoto é dado por:

m 3 ⋅ mg Kg
WF = QF ⋅ C F = 23,5 ⋅ 2,04 = 23,5 ⋅ 2,04 = 48Kg .s −1
s ⋅l s

Parâmetros de qualidade de água


A qualidade da água é avaliada de acordo com a concentração de substâncias
denominados parâmetros de qualidade de água. As concentrações destes parâmetros
são importantes para a caracterização da água frente aos usos a que ela se destina. Por
exemplo, para ser bebida a água não pode ter uma concentração excessiva de sais.

Alguns dos principais parâmetros de qualidade de água são apresentados a seguir.

Temperatura
A temperatura é uma das características mais importantes da água de um rio. A
temperatura exerce um efeito sobre as reações químicas e a atividade biológica na
água. A velocidade das reações químicas duplica para cada 10º. C de aumento de
temperatura da água. A temperatura também controla a concentração máxima de
oxigênio dissolvido na água (Benetti e Bidone, 1993).

Oxigênio Dissolvido
O Oxigênio Dissolvido (OD) é necessário para manter as condições de vida dos seres
que vivem na água, e, portanto, é um parâmetro importante na análise da poluição

134
H I D R O L O G I A

de um rio. O OD é consumido pelos seres vivos, especialmente os organismos


decompositores de matéria orgânica. A concentração de OD na água aumenta por
fotossíntese de plantas e algas aquáticas ou por reareação, no contato com a
atmosfera. O OD tem uma concentração máxima para dadas condições de
temperatura e salinidade da água, que é conhecida como concentração de saturação.
A concentração de saturação aumenta com a redução da temperatura da água.

pH
O pH expressa o grau de acidez ou alcalinidade da água, em valores de 0 a 14, sendo
que valores inferiores a 7 indicam águas ácidas e valores superiores a 7 indicam águas
alcalinas (Benetti e Bidone, 1993).

DBO
A água dos rios e de esgotos cloacais e industriais contém matéria orgânica. Esta
matéria orgânica é decomposta por microorganismos que, em geral, consomem
oxigênio no processo de decomposição. A DBO, ou Demanda Bioquímica de
Oxigênio, representa o consumo potencial de oxigênio para decompor a matéria
orgânica existente na água.

Usos da água e qualidade da água


A recente tendência mundial de aumento da escassez de água tem acentuado os
conflitos pelos diversos usos desse bem, tais como: abastecimento da população,
irrigação de lavouras, dessedentação de animais, pesca, indústria, navegação, geração
de energia, lazer, diluição de esgoto, preservação de ecossistemas, entre outros.

Tabela XX: Faixa de valores típicos e observados de alguns parâmetros de qualidade


de água em rios (adaptado de McCutcheon et al., 1993).

Parâmetro Valores típicos Valores observados Unidades


o
Temperatura 0 a 30 C
pH 4.5 a 8.5 1a9
Oxigênio Dissolvido
Nitrogênio Total
Nitrogênio Orgânico
Amônia
Nitrito
Nitrato

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H I D R O L O G I A

Fósforo Total
Ortofosfato
Carbono orgânico total
DBO
DQO
Dureza
Cor
Condutividade
Sólidos Suspensos Totais
Ferro
Alumínio
Níquel
Cobre
Cromo
Chumbo
Mercúrio

Exercícios
1) Uma usina termoelétrica será instalada às margens do rio Azul, em um local
em que a curva de permanência é apresentada na figura abaixo. A
temperatura da água do rio é de 17oC e uma vazão água utilizada para
resfriamento, de 1,3 m3.s-1 será lançada pela usina termelétrica, com
temperatura de 43 oC. Qual será a temperatura final do rio a jusante do
lançamento considerando mistura completa? Considere como referência a
Q95.

136
H I D R O L O G I A

137
10
Capítulo
H I D R O L O G I A

138
D E S I G N C U S T O M I Z A T I O N

Aspectos da legislação e gestão dos


recursos hídricos

A escassez da água já atinge cerca de 80 países, envolvendo cerca de 40% da


população do globo, condição que se reflete na produção agrícola, no
desenvolvimento urbano e industrial e, em particular, no acesso das pessoas
à água potável.

Essa escassez tem acentuado os conflitos pelos diversos usos desse bem, tais como:
abastecimento da população, irrigação de lavouras, dessedentação de animais, pesca,
indústria, navegação, geração de energia, lazer, diluição de esgoto, preservação de
ecossistemas, entre outros.

No Brasil, a Constituição Federal de 1988 definiu as águas como bens públicos e


colocou os corpos d’água sob os domínios Federal e Estadual. São Estaduais os rios
que nascem e têm foz em território de um Estado e as águas subterrâneas. Os demais
corpos d’água encontram-se sob o domínio da União (como a legislação diz respeito
à água e não à Bacia Hidrográfica, podem ocorrer casos em que o rio está sob
domínio federa e estadual, como é o caso do Rio Uruguai). Assim, tanto estados
brasileiros como a União vêm desenvolvendo o Sistema de Gestão de Recursos
Hídricos.

Esses Sistemas são fruto da criação de modelos de gestão que abrigam entidades
gerenciais organizadas em torno da Bacia Hidrográfica como unidade ideal de
planejamento, gestão e intervenção. No âmbito da União foi aprovada a Lei
9.433/97, que instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos e criou o Sistema
Nacional de Gestão de Recursos Hídricos e, mais recentemente, a Lei 9.984/00 criou
a Agência Nacional de Águas (ANA), que tem como atribuição implementar os
instrumentos da política nacional. No que diz respeito ao Rio Grande do Sul, a
Constituição Estadual de 1989 e a Lei 10.350/94 estabeleceram a gestão das águas sob
seu domínio.

A Lei 10.350/94 regulamentou o Sistema Estadual de Recursos Hídricos (SERH), que


já era contemplado na Constituição Estadual de 1989. Desde então, o SERH vem
sendo implementado nas 23 bacias hidrográficas do Estado (figura 10.1), através da
H I D R O L O G I A

criação de comitês de gerenciamento de bacias hidrográficas, e da gradativa


implementação dos instrumentos de planejamento (Planos de Bacia e Plano Estadual)
e gestão (outorga, tarifação e rateio de custos) previstos na legislação. A seguir são
descritos brevemente o SERH e os instrumentos de planejamento e gestão.

Figura 10.1: Bacias hidrográficas do Rio Grande do Sul


(Fonte: SEMA/RS, 2005)

O Sistema Estadual de Recursos Hídricos


O SERH se fundamenta num modelo de gerenciamento caracterizado pela
descentralização das decisões e pela ampla participação da sociedade organizada em
Comitês de Bacia. Assim, mesmo que o Estado seja o detentor do domínio das águas
(superficiais e subterrâneas) de seu território, conforme determina a Constituição
Federal, ele compartilha a sua gestão com a população envolvida.

Fazem parte do SERH os seguintes departamentos:


- Conselho de Recursos Hídricos (CRH);
- Departamento de Recursos Hídricos (DRH);

140
H I D R O L O G I A

- Comitês de Gerenciamento de Bacias Hidrográficas (CGBH);


- Agências de Regiões Hidrográficas (ARH);
- Fundação Estadual de Proteção Ambiental (FEPAM).

O Conselho de Recursos Hídricos


O CRH é um órgão colegiado constituído por Secretários de Estado, representantes
de Comitês de Bacias, Sistemas Nacionais de Recursos Hídricos e do Meio Ambiente,
que tem o papel de instância deliberativa superior do Sistema. É atualmente
presidido pelo Secretário Estadual do Meio Ambiente.

Os demais órgãos estatais que integram o sistema são: Obras Públicas e Saneamento,
com a vice-presidência do CRH; Agricultura e Abastecimento; Coordenação e
Planejamento; Saúde; Energia, Minas e Comunicações; Ciência e Tecnologia;
Transportes; Casa Civil; e Secretaria do Desenvolvimento e dos Assuntos
Internacionais.

São atribuídas ao CRH as seguintes funções:

• Propor alterações na Política Estadual de Recursos Hídricos;


• Opinar sobre qualquer proposta de alteração na Política Estadual de Recursos
Hídricos;
• Apreciar o anteprojeto de Lei do Plano Estadual de Recursos Hídricos;
• Aprovar relatórios anuais sobre a situação dos recursos hídricos;
• Aprovar critérios de outorga do uso da água;
• Aprovar os regimentos internos dos Comitês de Bacias;
• Decidir os conflitos de uso da água em última instância;
• Representar o Governo Estadual, através do seu Presidente, junto a órgãos federais
e internacionais, em questões relativas a recursos hídricos;
• Elaborar o seu Regimento Interno.

O Departamento de Recursos Hídricos


O DRH é o órgão responsável pela integração do Sistema Estadual de Recursos
Hídricos. É o DRH que concede a outorga do uso da água e subsidia tecnicamente o
CRH.

Ao DRH são atribuídas as seguintes funções:

141
H I D R O L O G I A

• Elaborar o anteprojeto de lei do Plano Estadual de Recursos Hídricos;


• Coordenar e acompanhar a execução do Plano Estadual de Recursos Hídricos;
• Propor ao Conselho de Recursos Hídricos critérios para a outorga do uso da água
e expedir as respectivas autorizações de uso;
• Regulamentar a operação e uso dos equipamentos e mecanismos de gestão dos
recursos hídricos;
• Elaborar Relatório Anual sobre a situação dos recursos hídricos no Estado;
• Assistir tecnicamente o CRH.

Os Comitês de Gerenciamento de Bacias Hidrográficas


Os CGBH representam a instância básica de participação da sociedade no Sistema.
Tratam-se de colegiados instituídos oficialmente pelo Governo do Estado. Exercem
poder deliberativo, uma vez que é no seu âmbito que são estabelecidas as prioridades
de uso e as intervenções necessárias à gestão das águas de uma bacia hidrográfica,
bem como devem ser dirimidos, em primeira instância, os eventuais conflitos.

Fazem parte do CGBH pessoas que têm diferentes interesses com relação ao bem
água: os usuários (são as pessoas que têm interesse “utilitário-econômico-social”); a
população (tem interesses difusos, vinculados ao desenvolvimento sócio-econômico,
aspectos culturais ou políticos e proteção ambiental); o poder público (detentor do
domínio das águas).

A Lei 10.350, de 30 de dezembro de 1994, estabelece a proporção de


representatividade nos comitê. Segundo a referida Lei, os CGBH devem ser formados
por 40% de representantes dos usuários da água, 40% dos representantes da
população e 20% dos representantes de órgãos públicos da administração direta
estadual e federal.

Ao CGBH cabem as seguintes atribuições:

• Encaminhar ao DRH proposta relativa à própria bacia para ser incluída no


anteprojeto de lei do Plano Estadual de Recursos Hídricos;
• Conhecer e manifestar-se sobre o anteprojeto de lei do Plano Estadual de Recursos
Hídricos;
• Aprovar o Plano da respectiva bacia e acompanhar a sua implementação;
• Apreciar o relatório anual sobre a situação dos recursos hídricos, no Estado;
• Propor ao órgão competente o enquadramento dos corpos de água da bacia;
• Aprovar os valores a serem cobrados pelo uso da água;

142
H I D R O L O G I A

• Realizar o rateio do custo das obras a serem executadas na bacia;


• Aprovar os programas anuais e plurianuais de investimentos em serviços e obras
da bacia;
• Compatibilizar os interesses dos diferentes usuários e resolver eventuais conflitos
em primeira instância.

As Agências de Regiões Hidrográficas


O CRH dividiu o Estado, para efeito de gerenciamento de Bacia Hidrográfica, em
três regiões hidrográficas: a da Bacia do Uruguai, a da Bacia do Guaíba e a das Bacias
Litorâneas (figura 10.2). Cada uma dessas regiões hidrográficas conta com uma ARH.

À ARH cabe assessorar tecnicamente os CGBH na elaboração de propostas relativas


ao Plano Estadual de Recursos Hídricos, no preparo dos Planos de Bacia e na
tomada de decisões que demandem estudos técnicos. A ARH também pode auxiliar
os CGBH no enquadramento dos corpos d’água, operar os mecanismos de gestão,
arrecadar e aplicar os valores correspondentes à cobrança pelo uso da água.

Figura 10.2 - Agências de Regiões Hidrográficas


(Fonte: SEMA/RS, 2005)

143
H I D R O L O G I A

Fundação Estadual de Proteção Ambiental


A FEPAM é o órgão ambiental do Estado que integra o Sistema Estadual de Recursos
Hídricos com o Sistema Estadual de Meio Ambiente. Cabe à FEPAM a concessão de
outorga quando se trata de um uso d’água que afeta as condições qualitativas dos
recursos hídricos.

Compete também à FEPAM a aprovação do enquadramento dos corpos de água, de


acordo com os objetivos de qualidade, com base na proposta elaborada pelos comitês
de bacias.

Instrumentos de Planejamento
Enquadramento
O enquadramento as águas brasileiras em classes de uso foi estabelecido pela
Resolução nº 020/86 do Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA. Assim,
para as águas doces foram definidas cinco classes: especial e de 1 a 4. Para as águas
salobras e salinas foram definidas duas classes: 5 e 6; e 7 e 8, respectivamente. Uma
vez que estabelece o nível de qualidade a ser alcançado e/ou mantido em um
determinado segmento de um corpo de água, ao longo do tempo, o enquadramento
é considerado um instrumento de planejamento do meio ambiente.

No Rio Grande do Sul o enquadramento é feito através de um processo de discussão


com os usuários e a população de uma dada bacia hidrográfica, no âmbito do
CGBH podendo contar também com o auxílio da ARH.

O enquadramento também pode ser considerado como um Instrumento de


Planejamento estratégico, visto que podem ser estabelecidas metas de enquadramento
de um corpo hídrico a longo prazo.

Plano de Bacia Hidrográfica


Os Planos de Bacia Hidrográfica (PBH) são elaborados pelas ARH e sujeitos à
aprovação dos CGBH. Os PBH têm por finalidade operacionalizar, no âmbito, de
cada bacia hidrográfica, por um período de 4 anos, com atualizações periódicas a
cada 2 anos, as disposições do Plano Estadual de Recursos Hídricos.

O PBH deve compatibilizar os aspectos quantitativos e qualitativos, de modo a


assegurar que as metas e usos previstos pelo Plano Estadual de Recursos Hídricos
sejam alcançados simultaneamente com melhorias sensíveis e contínuas dos aspectos
qualitativos dos corpos de água.

144
H I D R O L O G I A

Dentro do PBH devem ser contemplados os programas de intervenções estruturais e


não-estruturais e sua distribuição espacial., bem como o esquema de financiamento
desses programas.

Plano Estadual de Recursos Hídricos


O Plano Estadual de Recursos Hídricos (PERH) tem abrangência estadual com
detalhamento por Bacia Hidrográfica. O PERH é elaborado com base nas propostas
encaminhadas pelos CGBH o pode considerar ainda: propostas individuais ou
coletivas dos usuários da água; planos setoriais ou regionais de desenvolvimento;
tratados internacionais; estudos, pesquisas, entre outros.

No Plano Estadual de Recursos Hídricos, são apresentados os seguintes elementos:


metas especificadas na Política Estadual de Recursos Hídricos, a serem atingidas em
prazos determinados; inventário da disponibilidade hídrica; inventário dos usos e
conflitos; projeções de usos, disponibilidades e conflitos potenciais; definição e
análise de áreas críticas, atuais e potenciais; diretrizes para outorga do uso da água;
diretrizes para cobrança; e limite mínimo para a fixação de valores a serem cobrados.
O PERH contempla os programas de desenvolvimento nos municípios e considera a
variável ambiental, mediante a incorporação de Estudos de Impacto Ambiental e
correspondentes Relatórios de Impacto Ambiental, no âmbito do planejamento de
cada bacia hidrográfica.

Instrumentos de Gestão
A Outorga de Uso
A outorga consiste no “consentimento, concessão, aprovação” do direito de uso da
água. Ela representa um instrumento, através do qual o Poder Público autoriza,
concede ou ainda permite ao usuário fazer o uso deste bem público. É através deste
que o Estado exerce, efetivamente, o domínio das águas preconizado pela
Constituição Federal. É através da outorga que é regulando o compartilhamento
entre os diversos usuários, visto que o principal objetivo da outorga é assegurar o
controle qualitativo e quantitativo dos usos da água.

A Lei 10.350, de 30 de dezembro de 1994, em seu artigo 29, explica que qualquer
empreendimento ou atividade que alterar as condições quantitativas e/ou qualitativas
das águas, superficiais ou subterrâneas, tendo como base o Plano Estadual de
Recursos Hídricos e os Planos de Bacia Hidrográfica, dependerá de outorga. Caberá
ao Departamento de Recursos Hídricos a emissão de outorga para os usos que
alterem as condições quantitativas das águas.

145
H I D R O L O G I A

O Decreto nº 37.033, de 21 de novembro de 1996, regulamentou este instrumento,


estabelecendo os critérios para a concessão, "licença de uso" e "autorização", bem
como para a dispensa. O Decreto nº 42.047, de 26 de dezembro de 2002, regulamenta
disposições da Lei nº 10.350, de 30 de dezembro de 1994, com alterações, relativas ao
gerenciamento e à conservação das águas subterrâneas e dos aqüíferos no Estado do
Rio Grande do Sul.

De forma geral, estão sujeitos à outorga os seguintes usos dos recursos hídricos:

I) derivação ou captação de parcela de água existente em um corpo d’água para


consumo final, inclusive abastecimento público ou insumo produtivo;
II) extração de água de aqüífero subterrâneo para consumo final de processo
produtivo;
III) lançamento em corpo d’água de esgotos e demais resíduos líquidos ou gasosos,
tratados ou não, com fim de sua diluição, transporte, ou disposição final;
IV) aproveitamento dos potenciais hidrelétricos;
V) outros usos que alterem o regime, a quantidade ou a qualidade da água existente
em um corpo d’água.
No site da SEMA/RS (www.sema.rs.gov.br) é possível encontrar os formulários e
termos de referência para as diferentes modalidades de autorização prévia e outorga.
Encontram-se disponíveis formulários para águas subterrâneas (autorização,
regularização e outorga) e superficial (regularização e reserva de disponibilidade).

A Cobrança pelo Uso


A cobrança pelo uso do recurso hídrico tem alguns objetivos como reconhecer a água
como bem econômico e dar ao usuário uma indicação de seu real valor, incentivar a
racionalização do uso da água, e obter recursos financeiros para o financiamento dos
programas e intervenções contemplados no Plano de Bacia Hidrográfica.

A cobrança pelo uso da água fica sujeita à outorga, pois não pode haver cobrança de
atividades e obras clandestinas ou cujos usos não tenham sido outorgados. A
utilização a cobrança é uma forma de aplicação do princípio usuário-poluidor-
pagador, uma vez que o poluidor, deve assumir os custos de poluição.

O valor da cobrança é estabelecido nos Planos de Bacia Hidrográfica, obedecendo as


seguintes diretrizes gerais:

I) na cobrança pela derivação da água são considerados: o uso a que a derivação se


destina, o volume captado e seu regime de variação, o consumo efetivo, a classe de
uso preponderante em que estiver enquadrado o corpo de água onde se localiza a
captação.

146
H I D R O L O G I A

II) na cobrança pelo lançamento de efluentes de qualquer espécie, são considerados: a


natureza da atividade geradora do efluente, a carga lançada e seu regime de variação,
sendo ponderados na sua caracterização, parâmetros físicos, químicos, biológicos e
toxicidade dos efluentes, a classe de uso preponderante em que estiver enquadrado o
corpo de água receptor, o regime e variação quantitativa e qualitativa do corpo de
água receptor.

Os valores arrecadados na cobrança pelo uso da água são destinados a aplicações


exclusivas (intervenções estruturais e não-estruturais) e não transferíveis na gestão dos
recursos hídricos da bacia hidrográfica de origem.

147
Bibliografia
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