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NADERE REFORMATIE PUBLICAÇÕES

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Título:

OBEDIÊNCIA EVANGÉLICA:

Introdução ao Comentário dos Dez Mandamentos

Thomas Watson

2019

Disponível em: < http://gracegems.org/Watson/ten_commandments.htm >.

Todas as citações bíblicas são retiradas da versão Almeida Revista e Atualizada, exceto

indicação contrária.

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Editor: Christopher Vicente

Tradutor: Hudson Thiago

Revisor: Christopher Vicente

WATSON, Thomas. Obediência Evangélica. Natal: Nadere Reformatie Publicações, 2019.


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OBEDIÊNCIA EVANGÉLICA

Thomas Watson
ÍNDICE

1. OBEDIÊNCIA .....................................................................................................................7
2. AMOR ................................................................................................................................ 16
3. O PREFÁCIO AOS MANDAMENTOS .....................Erro! Indicador não definido.
4. O ENTENDIMENTO CORRETO DA LEI .................Erro! Indicador não definido.
PREFÁCIO

Thomas Watson (1620 – 1686) foi um puritano presbiteriano inglês. Conhecido como o “doce

puritano”, por sua ternura e abordagem pastoral; ou ainda, o “imagético puritano” por sua

simplicidade e abundância de ilustrações na exposição da Palavra de Deus, tornando a

verdade de Deus acessível a todos. Isso pode ser percebido e sentido em todas as suas obras.

Esta que você lê, não é diferente.

O presente e-book é um recorte de seu clássico comentário aos Dez Mandamentos. É o

primeiro capítulo, o introdutório, que discorre sobre a doutrina da obediência bíblica.

Optamos por intitulá-la de “Obediência Evangélica” (tomando o clássico conceito de

“evangélico”, isto é, relativo a ou de conformidade com o evangelho; e não o conceito moderno

ligado ao evangelicalismo) por dois motivos: (1) Primeiro, queremos mostrar o princípio

fundamental para Watson de que a verdadeira obediência flui do evangelho; (2) Segundo,

a obediência do crente à Lei de Deus (Lei Moral, Dez Mandamentos), após a justificação pela

fé somente, é da natureza do evangelho e não contrária a ele como afirmam antinomianos e

suas variações/gradações modernas.

Thomas Watson diz: “Não fiz tudo o que devo fazer, mas fiz tudo o que posso fazer; e no

que minha obediência é pequena, olho para a perfeita justiça e obediência de Cristo, e espero

perdão através do Seu sangue”. Que esse material seja um instrumento de edificação, da

parte do Senhor, para sua vida, leitor.

Christopher Vicente, Editor

03 de abril de 2019
1. OBEDIÊNCIA
“Fique atento, e ouve, ó Israel; neste dia tornaste o povo do Senhor, teu Deus.

Portanto, obedecerás à voz do Senhor, teu Deus, e cumprireis os seus

mandamentos” (Deuteronômio 27: 9, 10).

Qual é o dever que Deus exige do homem?

Obediência à sua vontade revelada. Não é suficiente ouvir a voz de Deus,

devemos, também, obedecer. A obediência é uma parte da honra que devemos a

Deus. “Se eu for Pai, onde está minha honra?” (Malaquias 1:6). A obediência

carrega a condição vital da religião. “Obedece a voz do Senhor Deus”, e cumpre

os seus mandamentos.

A obediência sem conhecimento é cega, e o conhecimento sem obediência é coxo.

Rachel foi considerada justa, porém, sendo estéril, disse: “Me dê filhos, ou eu

morro”; da mesma forma, se o conhecimento não gerar o filho da obediência, ele

morrerá. “Obedecer é melhor do que sacrificar” (1 Samuel 15:22). Saul pensou

que era suficiente para ele oferecer sacrifícios, contudo, ele desobedeceu ao

mandamento de Deus. Entretanto, “obedecer é melhor do que o sacrifício”. Deus

rejeita o sacrifício, se estiver faltando a obediência. “Porque nada falei a vossos

pais, no dia em que os tirei da terra do Egito, nem lhes ordenei coisa alguma

acerca de holocaustos ou sacrifícios” (Jeremias 7:22). Todavia, Deus impôs

aqueles ritos religiosos de adoração; porém, o significado é que Ele olhou,

principalmente, para a obediência – sem a qual, o sacrifício era apenas uma tolice

devotada. O objetivo pelo qual Deus nos deu suas leis é a obediência. “Fareis

segundo os meus juízos e os meus estatutos guardareis, para andardes neles. Eu

sou o SENHOR, vosso Deus” (Levítico 18:4). Por que um rei publica um edito, se

não fosse para ser observado?

Qual é a regra da obediência?


A palavra escrita. Essa é a devida obediência que a Palavra exige; nossa

obediência deve corresponder com a Palavra, como uma cópia [corresponde] ao

original. Parecer zeloso, sem estar em conformidade com a Palavra, não é

obediência, e sim adoração de si mesmo. As tradições papistas que não têm

fundamento na palavra são abomináveis; e Deus dirá: Quis quaesivit haec (Quem

pediu)? “quem vos requereu o só pisardes os meus átrios?” (Isaías 1:12). O

apóstolo condena a adoração dos anjos, o qual demonstrou humildade

(Colossenses 2:18). Os judeus podiam dizer que eram relutantes em serem tão

ousados em ir a Deus em pessoa; eles poderiam ser mais humildes, caso se

prostrarem diante dos anjos, e pedissem que apresentassem suas petições a Deus.

Mas essa demonstração de humildade foi odiosa para Deus, porque não havia

nenhuma palavra para justificar isso.

Quais são os componentes em nossa obediência que a tornam aceitável?

(1) Isto deve ser livre e alegre, ou seria penitência, não sacrifício. “Se quiserdes

e me ouvirdes, comereis o melhor desta terra” (Isaías 1:19). Embora sirvamos a

Deus com fraqueza, devemos estar com disposição. Você gosta de ver seus

criados irem, alegremente, às suas tarefas. De acordo com a lei, Deus receberá

uma oferta voluntária (Deuteronômio 16:10). Os hipócritas obedecem a Deus de

má vontade e contra sua vontade; facere bonum, mas no velle [eles fazem o bem,

mas não de bom grado]. Caim trouxe seu sacrifício, mas não seu coração. É uma

verdadeira regra, Quicquid cor non facit, non fit [O que o coração não faz, não é

feito]. A vontade é a alma da obediência. Deus, por vezes, aceita a disposição sem

a obra, mas nunca a obra sem disposição. A alegria mostra que há amor no dever;

e o amor é para nossos serviços o que o sol é para frutas: adoça e amadurece, e os

faz sair com um melhor sabor.

(2) A obediência deve ser devotada e fervorosa. “Fervent in spirit” (Romanos

12:11). Quae ebullit prae ardore [e desfazem em desejo ardente]. Assim como a água

que ferve, assim também, o coração deve ferver com os quentes afetos ao serviço
de Deus. Os anjos gloriosos, que, por queimarem em fervor e devoção, são

chamados serafins, são escolhidos por Deus para servi-lo no céu. O caramujo,

quando debaixo da lei, era imundo, porque é uma criatura aborrecida e

preguiçosa. Obediência sem fervor, é como um sacrifício sem fogo.

Por que nossa obediência deve ser viva e fervorosa? Deus merece o desabrochar

e a força de nossas afeições. Domiciano não teve sua estátua esculpida em

madeira ou ferro, mas foi feita de ouro. Afeições vivas tornam o serviço dourado.

É o fervor que torna aceitável a obediência. Elias era fervoroso em espírito, e sua

oração abriu e fechou o céu. E novamente ele orou, e o fogo caiu sobre seus

inimigos (2 Reis 1:10). A oração de Elias tirou fogo do céu, porque, sendo

fervorosa, levou fogo ao céu; quicquid decorum ex fide proficiscitur

[convenientemente, o que é da fé ele começou] (Agostinho).

(3) A obediência deve ser extensa, deve alcançar todos os mandamentos de

Deus. “Então, não terei de que me envergonhar, (ou, como é no hebraico, lo ehosh)

quando considerar em todos os teus mandamentos” (Salmo 119:6). Quicquid

propter Deum fit aequaliter fit [Todos os requisitos de Deus exigem igual esforço].

Há um selo de autoridade divina sobre todos os mandamentos de Deus; e se eu

obedecer a um preceito, porque Deus ordena, então, devo obedecer a todos.

A verdadeira obediência percorre todos os deveres da religião, como o sangue

através de todas as veias, ou o sol através de todos os signos do zodíaco. Um bom

cristão faz a piedade do evangelho e a equidade moral beijarem-se. Aqui, alguns

descobrem sua hipocrisia: eles obedecerão a Deus em algumas coisas que são

mais fáceis e que elevarão sua reputação; mas outras coisas, deixam por fazer.

"Uma coisa te falta” (Marcos 10:21). Herodes poderia ouvir João Batista, mas não

deixaria seu incesto. Alguns orarão, mas não dão esmola; outros darão esmolas,

mas não orarão. “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque dais o dízimo†

da hortelã, do endro e do cominho e tendes negligenciado os preceitos mais

importantes da Lei: a justiça, a misericórdia e a fé; devíeis, porém, fazer estas


coisas, sem omitir aquelas!” (Mateus 23:23). O texugo tem um pé mais curto que

o outro; estes [os hipócritas, como o texugo] são mais defeituosos em alguns

deveres do que em outros. Deus não gosta de tais servos parciais, que fazem parte

da obra que Ele mandou, e deixam a outra incompleta.

(4) A obediência deve ser sincera. Devemos apontar para a glória de Deus

através da sinceridade. Finis specificat actionem; na religião, a fim é tudo. O fim de

nossa obediência não deve ser calar a boca da consciência, nem ganhar aplausos

ou preferências; mas que possamos crescer mais parecidos com Deus e lhe trazer

mais glória. “Fazei tudo para a glória de Deus” (1 Coríntios 10:31). Aquilo que

estragou muitas obras gloriosas e as fez perder a recompensa foi que os objetivos

dos homens estavam errados. Os fariseus davam esmola, mas tocavam uma

trombeta para que tivessem a glória dos homens (Mateus 6:2). A esmola deve

brilhar, mas não queimar. Jeú fez bem em destruir os adoradores de Baal, e Deus

o recompensou por isso; mas, porque seus objetivos não eram bons (pois ele tinha

como objetivo se estabelecer no reino), Deus não o considerou melhor do um

assassino. “castigarei, pelo sangue de Jezreel, a casa de Jeú” (Oseias 1:4). Que

olhemos para os nossos fins em obediência; é possível que a ação seja correta,

mas não o coração (2 Crônicas 25:2). Ele fez o que era reto aos olhos do Senhor,

mas não o fez com coração perfeito. Duas coisas devem ser primeiramente

observadas na obediência: o princípio e o fim. Embora um filho de Deus dê

passos curtos em sua obediência, ele toma um caminho correto.

(5) A obediência deve ser em e através de Cristo. “Ele nos concedeu

gratuitamente no Amado” (Efésios 1:6). Não a nossa obediência, mas os méritos

de Cristo adquirem a aceitação. Em todas as partes da adoração, devemos

apresentar Cristo a Deus nos braços da nossa fé. A não ser que sirvamos a Deus

assim, com esperança e confiança dos méritos de Cristo, nós mais O provocamos

do que O agradamos. Como quando o rei Uzias oferecesse incenso sem um


sacerdote, Deus estava irado com ele e o feriu com lepra (2 Crônicas 26:20). Então,

quando não chegamos a Deus em e através de Cristo, oferecemos incenso a Ele

sem um sacerdote, e o que podemos esperar, além de repreensões severas?

(6) A obediência deve ser constante. “Bem-aventurados os que guardam a

retidão e o que pratica a justiça em todo tempo” (Salmo 106:3). A verdadeira

obediência não é como uma vermelhidão na face, quando envergonhado, mas

uma pela firme. É como o fogo no altar, que sempre estava queimando (Levítico

6:13). A obediência dos hipócritas só dura uma temporada. É como o trabalho em

gesso, que logo é desgastado. Mas a verdadeira obediência é constante. Embora

nos encontremos em aflição, devemos continuar em nossa obediência. “Contudo,

o justo segue o seu caminho, e o puro de mãos cresce mais e mais em força” (Jó

17:9). Nós prometemos constância; nós prometemos renunciar às pompas e

vaidades do mundo, e lutar sob a bandeira de Cristo até a morte. Quando um

servo entra em um pacto com seu mestre, e os contratos são selados, ele não pode

voltar, ele deve cumprir o seu tempo. Então, há pactos feitos no batismo e na Ceia

do Senhor, os pactos são renovados e reafirmados por nossa parte, para que

fiquemos fiéis e constantes em nossa obediência. Portanto, devemos imitar a

Cristo, que se tornou obediente até a morte (Filipenses 2:8). A coroa está fixa na

cabeça da perseverança. “Ao vencedor, que guardar até ao fim as minhas obras,

[...] dar-lhe-ei ainda a estrela da manhã” (Apocalipse 2:26, 28).

PRIMEIRO USO. Isso condena aqueles que vivem em contradição com o texto e

expulsam o jugo da obediência. “Quanto à palavra que nos anunciaste em nome

do SENHOR, não te obedeceremos a ti” (Jeremias 44:16). Deus ordena que os

homens orem em suas famílias, mas eles vivem na total negligência disto; Ele os

ordena que santifiquem o sábado, mas eles seguem seus prazeres naquele dia;

Ele os ordena a se absterem da aparência do pecado, mas eles não se abstêm do

ato; Eles vivem no ato de vingança e impureza. Este é um alto desprezo de Deus.

É rebelião; e rebelião é como o pecado da feitiçaria.


Por que os homens não obedecem a Deus? Eles sabem o seu dever, porém não

o fazem.

(1) São desobedientes porque lhes falta fé. Quis credidit? "Quem creu em nossa

pregação?" (Isaías 53:1). Os homens que acreditavam que o pecado era tão amargo,

que o inferno segue seus calcanhares, irão pecar? [Se] eles acreditassem que havia

uma recompensa para os justos, que a piedade era lucro; eles não a perseguiriam?

Contudo são ateus, não totalmente trazidos à crença dessas coisas; por isso é que

eles não obedecem. A obra-prima de Satanás, sua rede pela qual ele arrasta

milhões para o inferno, é mantê-los na infidelidade. Ele sabe, pois, se pode evitar

que eles creiam na verdade, ele, certamente, evitará que eles obedeçam.

(2) São desobedientes por falta de autonegação. Deus ordena uma coisa, e os

desejos dos homens ordenam outra. Eles preferem morrer a negar suas

concupiscências. Se a luxúria não pode ser negada, Deus não pode ser obedecido.

SEGUNDO USO. Obedeça a voz de Deus. Esta é a beleza de um cristão.

Quais são os grandes argumentos ou incentivos à obediência?

(1) Obediência torna-nos preciosos para Deus, seus favoritos. “Agora, pois, se

diligentemente ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, então, sereis

a minha propriedade peculiar dentre todos os povos; porque toda a terra é

minha” (Êxodo 19:5). “dei o Egito por teu resgate e a Etiópia e Sebá, por ti” (Isaías

43:3).

(2) Não há nada perdido pela obediência. Obedecer a vontade de Deus é o

caminho para ter nossa vontade. [1] Queremos uma benção em nossas posses?

Que obedeçamos a Deus! "1 Se atentamente ouvires a voz do SENHOR, teu Deus,

tendo cuidado de guardar todos os seus mandamentos que hoje te ordeno, o

SENHOR, teu Deus, te exaltará sobre todas as nações da terra. 2 Se ouvires a voz

do SENHOR, teu Deus, virão sobre ti e te alcançarão todas estas bênçãos:

3 Bendito serás tu na cidade e bendito serás no campo. 4 Bendito o fruto do teu


ventre, e o fruto da tua terra, e o fruto dos teus animais, e as crias das tuas vacas

e das tuas ovelhas. 5 Bendito o teu cesto e a tua amassadeira. 6 Bendito serás ao

entrares e bendito, ao saíres” (Deuteronômio 28:1-5). Obedecer é a melhor

maneira de prosperar em nossas posses. [2] Queremos ter uma benção em nossas

almas? Que obedeçamos! Obedeça, e eu serei seu Deus (Jeremias 7:23). Meu

Espírito será seu guia, santificador e consolador. Cristo “tornou-se o Autor da

salvação eterna para todos os que lhe obedecem” (Hebreus 5:9). Enquanto

agradamos a Deus, agradamos a nós mesmos. Enquanto nós lhe damos o dever,

ele nos dá o dote. Podemos dizer, como Amazias, “que se fará, pois, dos cem

talentos de prata que dei às tropas de Israel?” (2 Crônicas 25:9). Você não perde

por obedecer. O filho obediente tem a herança estabelecida nele. Obedeça, e você

terá um reino. “Vosso Pai se agradou em dar-vos o seu reino” (Lucas 12:32).

(3) Desobediência é um grande pecado!

[1] É um pecado irracional. Não somos capazes de resistir, desafiando a Deus.

"Somos mais fortes do que ele?" O pecador irá medir armas com Deus? (1

Crônicas 10:22). Ele é o Pai Todo-Poderoso, que pode comandar legiões. Se não

temos forças para resistir a Ele, é irracional desobedecê-lo. É um pecado

irracional, pois é contra toda lei e equidade. Nós temos nossa subsistência diária

dEle; nEle vivemos e nos movemos. Já que vivemos apenas por causa dEle, não

deveríamos viver para Ele? Já que Ele nos dá o nosso subsídio, então, não

deveríamos dar-lhe nossa fidelidade?

[2] É um pecado destrutivo. "Quando do céu se manifestar o Senhor Jesus com os

anjos do seu poder, em chama de fogo, tomando vingança contra os que não

conhecem a Deus e contra os que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor

Jesus” (2 Tessalonicenses 1:7-8). Aquele que se recusa a obedecer a vontade de

Deus em seus mandamentos, deve ter certeza de que obedecerá a sua vontade na

punição. Enquanto o pecador pensa desatar o nó da obediência, ele torcia o

cordão de sua própria condenação, e, sem desculpas, ele perece. “Aquele servo,
porém, que conheceu a vontade de seu senhor e não se aprontou, nem fez

segundo a sua vontade será punido com muitos açoites” (Lucas 12:47). Deus dirá:

'Por que você não obedeceu? você sabia como fazer o bem, mas não o fez.

Portanto, seu sangue está sobre sua própria cabeça.

TERCEIRO USO. Que meios devemos usar para que possamos obedecer?

(1) Consideração séria. Considere que os mandamentos de Deus não são

penosos: Ele não ordena nada de irracional (1 João 5:3). É mais fácil obedecer aos

mandamentos de Deus do que ao pecado. Os comandos do pecado são pesados

– deixe um homem estar sob o poder de qualquer luxúria, como ele se cansa! Que

perigo ele corre, até pôr em risco sua saúde e alma, para que possa satisfazer suas

concupiscências! Que jornadas tediosas Antíoco Epifânio levou em perseguir os

judeus! "Eles se cansaram de cometer iniquidade"; e os mandamentos de Deus

não são mais fáceis de obedecer? Crisóstomo diz que a virtude é mais fácil do que

o vício; a temperança é menos onerosa do que a embriaguez. Alguns passaram

com menos dores para o céu, do que outros para o inferno.

Deus não ordena senão o que é benéfico. "E agora, Israel, o que o Senhor exige de

ti, além de temer ao Senhor teu Deus, e guardar os seus estatutos, que eu hoje te

ordeno, para o teu bem?" (Deuteronômio 10:12-13). Obedecer a Deus, é tanto

nosso dever quanto nosso privilégio; seus mandamentos carregam comida na

boca deles. Ele nos pede arrependimento; e para quê? Para que nossos pecados

possam ser apagados (Atos 3:19). Ele nos ordena a acreditar; e para quê? Para que

possamos ser salvos (Atos 16:31). Há amor em todos os mandamentos: como se

um rei ordenasse a um dos seus súditos que escavasse uma mina de ouro, e

depois pegasse o ouro para si mesmo.

(2) Súplica Sincera. Implore a ajuda do Espírito para levá-lo em obediência. O

Espírito de Deus torna a obediência fácil e deliciosa. Se o imã atrair o ferro, não é

difícil para ele se mover; então, se o Espírito de Deus vivifica e atrai o coração,

não é difícil obedecer. Quando a ventania do Espírito sopra, velejaremos em


obediência. Transforme sua promessa em uma oração. “Porei dentro de vós o

meu Espírito e farei que andeis nos meus estatutos, guardeis os meus juízos e os

observeis” (Ezequiel 36:27). A promessa nos encoraja, o Espírito nos permite

obedecer.
2. AMOR
Sendo a regra da obediência a Lei Moral, compreendida nos Dez Mandamentos,

a próxima pergunta é:

Qual é a totalidade dos Dez Mandamentos?

“Amarás, pois, o SENHOR, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e

de toda a tua força” (Deuteronômio 6:5).

A soma dos Dez Mandamentos é amar o Senhor nosso Deus com todo o nosso

coração, com toda a nossa alma, com todas as nossas forças, e com toda a nossa

mente e nosso próximo como a nós mesmos.

O dever exigido é o amor, sim, a força do amor, "com todo o seu coração". Deus

não perderá nosso amor. O amor é a alma da religião, e aquilo que constitui um

verdadeiro cristão. O amor é a rainha das graças; Ele brilha e cintila nos olhos de

Deus, como as pedras preciosas no peitoral de Aarão.

O que é amor?

É um fogo sagrado aceso nas afeições, pelo qual um cristão é levado a cabo

fortemente até Deus como o bem supremo.

Qual é o antecedente do amor a Deus?

O antecedente do amor é o conhecimento. O Espírito brilha sobre o entendimento

e revela as belezas da sabedoria, da santidade e da misericórdia em Deus. Estes

são os imãs para atrair e trazer o amor a Deus. Ignoti nulla cupido: aquele que não

conhece a Deus, não pode amá-lO. Se o sol se pôr no entendimento, haverá uma

noite nas afeições.

Em o que consiste a natureza formal do amor?

A natureza do amor consiste em se deliciar em um objeto. Complacentia amantis

em amato [O deleite do amante em seu amado] (Aquino). Isto é amar a Deus,


deleitar-se nEle. “Agrada-te do SENHOR, e ele satisfará os desejos do teu

coração” (Salmo 37:4), como uma noiva deleita-se em suas joias. A graça muda

os objetivos e deleites de um cristão.

Como o nosso amor a Deus deve ser qualificado?

(1) Se é um amor sincero, amamos a Deus com todo nosso coração. “Amarás,

pois, o SENHOR, teu Deus, de todo o teu coração”. Deus terá todo o coração. Não

devemos dividir nosso amor entre ele e o pecado. A verdadeira mãe não dividiria

o filho, nem Deus dividiria o coração; deve ser todo o coração.

(2) Devemos amar a Deus por si mesmo, por suas próprias excelências

intrínsecas. Devemos amá-lO por Sua beleza. Meretricius est amor plus annulum

quam sponsum amare: “É amor de uma prostituta amar a porção mais do que a

pessoa”. Hipócritas amam a Deus porque lhes dá milho e vinho; devemos amar

a Deus por si mesmo; por aquelas perfeições brilhantes que estão nEle. O ouro é

amado por si mesmo.

(3) Devemos amar a Deus com todas as nossas forças, no texto hebraico, nossa

veemência. Devemos amar Deus, Quod Posse, tanto quanto possamos. Os cristãos

devem ser como serafins, em chamas no amor santo. Nós nunca podemos amar

a Deus tanto quanto Ele merece. Os anjos no céu não podem amar a Deus tanto

quanto Ele merece.

(4) O amor a Deus deve ser ativo em sua esfera. O amor é um afeto laborioso;

Ele estabelece que a cabeça estude para Deus, as mãos trabalhem, os pés corram

nos caminhos de Seus mandamentos. Isto é chamado de trabalho de amor (1 Ts

1:3). Maria Madalena amou Cristo e derramou seus unguentos sobre Ele. Nós

pensamos que nunca fazemos o suficiente para a pessoa a quem amamos.

(5) O amor a Deus deve ser superlativo. Deus é a essência da beleza, um paraíso

inteiro de prazer; Ele deve ter uma prioridade em nosso amor. Nosso amor a

Deus deve estar acima de todas as coisas, como o óleo fica acima da água.
Devemos amar a Deus acima do patrimônio e dos relacionamentos. Ótimo é o

amor aos relacionamentos. Há uma história na Academia Francesa, de uma filha

que, quando seu pai estava condenado a morrer de fome, deu-lhe de mamar com

seus próprios seios. Mas nosso amor a Deus deve estar acima de pai e mãe

(Mateus 10:37). Podemos dar à criatura o leite do nosso amor, mas Deus deve ter

a nata. A esposa mantém o suco de suas romãs para Cristo (Cânticos de Salomão

8:2).

(6) Nosso amor a Deus deve ser constante, como o fogo que as virgens vestais

mantiveram em Roma, que não extinguia. O amor deve ser como o movimento

do pulso, que bate enquanto há vida. “As muitas águas não poderiam apagar o

amor”, nem as águas da perseguição (Cânticos de Salomão 8:7). “Vós arraigados

e alicerçados em amor” (Efésios 3:17). Um ramo que não cresce em uma raiz,

murcha. Então o amor, que não pode morrer, deve estar bem enraizado.

Quais são os sinais visíveis do nosso amor a Deus?

Se amamos a Deus, nosso desejo será segui-lO. “No teu nome e na tua memória

está o desejo da nossa alma” (Isaías 26:8). Aquele que ama a Deus suspira por

seguir em comunhão com Ele. “A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo”

(Salmo 42:2). As pessoas apaixonadas desejam estar juntas frequentemente.

Aquele que ama a Deus deseja muito estar na Sua presença. Ele ama os

mandamentos: são o cristal onde a glória de Deus resplandece; nos mandamentos

nos encontramos com Aquele a quem nossas almas amam. Nós temos sorrisos e

sussurros de Deus, e alguns antegostos do céu. Quando não há desejo pelos

mandamentos, não há amor para com Deus.

O segundo sinal visível é que aquele que ama a Deus não pode encontrar

satisfação em nada sem Ele. Dê a um hipócrita, que finge amar Deus, milho e

vinho, e ele pode se contentar sem Deus. Mas uma alma incendiada com amor a

Deus, não pode estar sem Ele. Os amantes desmaiam se não tiveram a visão do
objeto amado. Uma alma graciosa pode viver sem saúde, mas não pode viver

sem Deus, que é a saúde de seu semblante (Salmo 43:5). Se Deus dissesse a uma

alma que o ama inteiramente: "Receba seu alívio, nade no prazer, consola-te nas

delícias do mundo, mas você não apreciará minha presença”, isso não iria

satisfazê-lo. Nem se Deus dissesse: "Deixarei você ser levado para o céu, mas vou

me aposentar em outra sala, e tu não verás o meu rosto". Isso não iria satisfazer a

alma. É o inferno estar sem Deus. O filósofo diz que não pode haver ouro sem a

influência do sol; certamente, não pode haver alegria de ouro na alma sem a doce

presença e influência de Deus.

O terceiro sinal visível é: aquele que ama a Deus odeia aquilo que o separaria de

Deus, e isto é, o pecado. O pecado faz Deus esconder o rosto dEle. É como ter um

incendiário entre seus melhores amigos. Portanto, a avidez do ódio de um cristão

é contra o pecado. “Aborreço todo caminho de falsidade” (Salmo 119:128).

Antipatias nunca podem ser reconciliadas. Alguém não pode amar a saúde a

menos que odeie veneno, então não podemos amar a Deus, se não odiamos o

pecado – que destruirá nossa comunhão com Ele.

O quarto sinal visível é simpatia. Amigos que se amam, sofrem conjuntamente

com os males que se sucedem. Homero, descrevendo o sofrimento de Agamenon,

quando foi forçado a sacrificar sua filha, traz todos os seus amigos chorando com

ele e acompanhando-o ao sacrifício, em luto. Os amantes se afligem juntos. Se

temos o amor verdadeiro a Deus em nosso coração, não podemos deixar de

lamentar as coisas que O machucam. Levaremos em consideração essas desonras;

o luxo, a embriaguez, o desprezo a Deus e à religião. “Torrentes de água nascem

dos meus olhos” (Salmo 119:136). Alguns falam dos pecados dos outros e riem

com eles. Mas eles, certamente, não têm amor a Deus, pois podem rir do que faz

seu Espírito sofrer! Se ele ama seu pai como pode rir ao ouvir Ele sendo

difamado?

O quinto sinal visível é: aquele que ama a Deus trabalha para torná-lO adorável
aos outros. Ele não só admira Deus, mas fala em seus louvores, para que ele possa

fascinar e atrair os outros a fim de que fiquem apaixonados por Deus. Aquela,

que está apaixonada, elogiará seu amado. A esposa apaixonada exalta Cristo, ela

faz uma oração em louvor de sua dignidade, para persuadir os outros a

apaixonarem-se por Ele. “A sua cabeça é como o ouro mais apurado” (Cânticos

de Salomão 5:11). O verdadeiro amor a Deus não pode ficar em silêncio, será

eloquente ao estabelecer Seu bom nome. Não há melhor sinal do amor a Deus do

que fazê-lO parecer adorável e atrair convertidos para Ele.

O sexto sinal visível é: aquele que ama Deus, chora amargamente por sua

ausência. Maria veio chorando: “levaram o meu Senhor” (João 20:13). Um chora:

“Minha saúde se foi!”; outro, “Minha propriedade se foi!”. Mas aquele que é ama

a Deus, grita: “Meu Deus se foi! Não posso desfrutar dAquele a quem amo. O

que todos os confortos mundanos podem me fazer quando Deus está ausente? É

como num banquete em funeral, onde há muita carne, mas não há alegria”.

“Ando de luto, sem a luz do sol” (Jó 30:28). Se Rachel lamentou muito pela perda

de seus filhos, o que pode afastar a tristeza desse cristão que perdeu a doce

presença de Deus? Tal alma derrama inundações de lágrimas; e enquanto estar

lamentando, parece dizer assim a Deus: “Senhor, estás no céu, ouvindo as

melodiosas canções e o triunfo dos anjos. Mas eu me sento aqui, no vale das

lágrimas, chorando porque você se foi. Oh, quando Tu vieres a mim e me reviver

com a luz do seu semblante! Oh, Senhor, se não quiseres vir até mim, deixe-me ir

até Ti, onde eu vou ter um sorriso perpétuo de Teu rosto no céu e nunca mais me

queixarei: ‘Meu amado se retirou’”.

O sétimo sinal visível é: aquele que ama a Deus está disposto a fazer e a sofrer

por Ele. Ele subscreve os mandamentos de Deus, se submete à vontade dEle. Ele

subscreve Seus mandamentos. Se Deus o ordena a mortificar o pecado ou amar

aos seus inimigos, ou ser crucificado para o mundo – tal homem obedece. É uma

coisa vã para um homem dizer que ama a Deus, porém menospreza seus
mandamentos. Ele se submete à Sua vontade. Se Deus quiser que ele sofra por

Sua causa, ele não discute, mas obedece. “[O amor] tudo suporta” (1 Coríntios

13:7). O amor fez Cristo sofrer por nós; o amor nos fará sofrer por Ele. É verdade

que todo cristão não é um mártir, mas ele tem, nele, um espírito de martírio. Ele

tem disposição para sofrer, se Deus o chamar. “estou sendo já oferecido por

libação” (2 Timóteo 4:6). Não só os sofrimentos estavam preparados para Paulo,

mas ele estava preparado para os sofrimentos. Orígenes preferia viver

desprezado em Alexandria, do que viver com Plotino e negar a fé, se tornando

grande no favor do príncipe (Apocalipse 12:11). Muitos dizem que amam a Deus,

mas não perderiam nada por Ele. Se Cristo tivesse nos dito: “Eu te amo muito, és

querido para mim, porém não posso sofrer por ti, não posso dar minha vida por

ti", questionaríamos muito seu amor; e não poderia o Senhor questionar o nosso

amor, quando fingimos amá-lO, mas não suportamos nada por causa dele?

PRIMEIRO USO. O que devemos dizer àqueles que não têm uma dracma de

amor a Deus em seus corações? Eles têm a vida graças a Ele, mas não O amam.

Ele prepara sua mesa todos os dias, mas eles não O amam. Os pecadores temem

Deus como um juiz, mas não O amam como pai. Toda a força dos anjos não pode

fazer o coração amar a Deus; os juízos não o farão; somente a graça onipotente

pode fazer de um coração pedregoso, derretido no amor. Quão triste é ser vazio

de amor a Deus. Quando o corpo está frio e não tem calor, é sinal de morte; então,

aquele que está, espiritualmente, morto não tem calor de amor a Deus em seu

coração. Viverá com Deus aquele que não O ama? Será que Deus colocará um

inimigo no Seu seio? Eles ficarão acorrentados nas trevas e não serão atraídos

com as cordas de amor – mas serão presos com as correntes das trevas.

SEGUNDO USO. Fiquemos persuadidos a amar a Deus com todo o nosso

coração e força. Que tiremos nosso amor de outras coisas e o coloquemos em

Deus. O amor é o coração da religião, a gordura da oferta; é a graça que Cristo

mais requer. “Simão, filho de João, amas-me mais do que estes outros?”
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