Você está na página 1de 8

91

Revista Brasileira de Nutrição Esportiva


ISSN 1981-9927 versão eletrônica
P e r i ó d i c o do I n s t i t u t o B r a s i l e i r o d e P e sq u i s a e E n si n o e m F i s i o l o gi a do E x e r c í c i o
w w w . i b p e f e x . c o m . b r / w w w . r b n e . c o m . b r

A CREATINA COMO RECURSO ERGOGÊNICO EM EXERCÍCIOS DE ALTA INTENSIDADE E


CURTA DURAÇÃO: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA

Germana Terenzi1

RESUMO ABSTRACT

Vários estudos relatam a ação ergogênica da Creatine as an ergogenic resource in high-


creatina em diversas modalidades esportivas. intensity interval training: a systematic review
Sendo assim, o objetivo deste trabalho foi
verificar, através de uma revisão sistemática, Several studies report creatine’s ergogenic
os efeitos ergogênicos da suplementação de action in various types of sports. Therefore, the
creatina em exercícios de alta intensidade e purpose of this work is to verify, through a
curta duração. Foi realizada uma revisão systematic review, the possible ergogenic
sistemática composta por 16 artigos originais, effects of creatine supplementation in high-
nacionais e internacionais, publicados a partir intensity interval training. A systematic review
do ano 2000. A maior parte dos estudos foi was performed, consisting of 16 original
experimental com creatina e placebo e a essays, both in Brazil and abroad, published
população da amostra foi seletiva em sua from year 2000 on. Most of the studies were
maioria com indivíduos fisicamente ativos do experimental, with the use of creatine and a
sexo masculino. O protocolo de placebo, and the sample’s population was
suplementação foi distinto nos estudos, composed, mostly, of physically active male
variando entre 2g e 30g e a duração dos individuals. The supplement protocol was
experimentos também foi diversificada, com diversified in the studies, varying from 2 to 30
períodos entre 24 horas e 10 semanas de g, as well as the experiment durations, with
intervenção. Os testes mais usados para periods from 24 h to 10 weeks of intervention.
avaliar a melhora do desempenho foram o The tests mostly used to assess performance
Teste de Wingate, o teste de força máxima, improvement were Wingate test, maximum
corrida e natação. A maioria dos estudos strength test, running and swimming. Most of
demonstrou que a suplementação de creatina the studies demonstrated that creatine
apresentou resultados positivos no supplementation presented positive results in
desempenho anaeróbio, no aumento da anaerobic performance, in the increase of the
capacidade de repetição máxima no teste de maximum repetition capacity in the maximum
força máxima, aumento da força isométrica strength test, in the increase of the maximum
máxima, redução da fadiga e aumento de isometric strength, in fatigue reduction and in
massa magra. Os resultados encontrados nos the increase of lean body mass. The results
estudos indicam que a suplementação de found in the studies show that creatine
creatina, feita de forma adequada, pode supplementation, when properly done, may
exercer efeitos ergogênicos e melhorar o have ergogenic effects and improve
desempenho em exercícios de alta intensidade performance in high-intensity interval training.
e curta duração.
Key words: Creatine, Creatine
Palavras-chave: Creatina, Suplementação de supplementation, Creatine and training,
creatina, Creatina e exercício, Suplementação Creatine supplementation, Training.
de creatina, Exercício.

E-mail:
germanaterenzi@yahoo.com.br

1-Programa de Pós-Graduação Lato Sensu da Endereço para correspondência:


Universidade Gama Filho – Bases Nutricionais Rua Alemanha 76 - apto 304
da Atividade Física: Nutrição Esportiva. Bairro Glória - Contagem - MG
CEP: 32340-060

Revista Brasileira de Nutrição Esportiva, São Paulo. v. 7. n. 38. p.91-98. Mar/Abr. 2013. ISSN 1981-9927.
92

Revista Brasileira de Nutrição Esportiva


ISSN 1981-9927 versão eletrônica
P e r i ó d i c o do I n s t i t u t o B r a s i l e i r o d e P e sq u i s a e E n si n o e m F i s i o l o gi a do E x e r c í c i o
w w w . i b p e f e x . c o m . b r / w w w . r b n e . c o m . b r

INTRODUÇÃO O guanidinoacetato circula até o


fígado para receber um grupo metil,
A utilização de suplementos proveniente da metionina, levando à formação
nutricionais é uma estratégia bastante comum do ácido metil-guanidinoacético (Donatto e
no cotidiano de indivíduos fisicamente ativos, colaboradores, 2007).
alcançando índices de 40%, 60% e 100% Além do ácido metil-guanidinoacético
entre praticantes de atividade física não ser produzido no organismo, ele pode ser
atletas, atletas de maneira geral e continuamente absorvido através da ingestão
fisiculturistas (Medeiros e colaboradores, de alimentos, principalmente carnes, ou de
2010). suplementos nutricionais (Garrido e
Na busca incessante pela melhora do colaboradores, 2008).
desempenho, várias pessoas utilizam estes Segundo Wilder e colaboradores
produtos com o intuito de atingir seus objetivos (2001), o armazenamento de creatina no corpo
em curto prazo (Domingues e Marins, 2007). humano alcança 120g. Aproximadamente 95%
Dentre estes suplementos, destaca-se encontram-se na musculatura esquelética e,
a creatina, que vem sendo usada ao longo de dessa quantidade, 60% estão na forma
mais de duas décadas, devido aos seus fosforilada, creatina fosfato (CP).
possíveis efeitos ergogênicos sobre o Durante exercícios de alta intensidade
desempenho anaeróbio (Molina, Rocco e e curta duração, a hidrólise da adenosina
Fontana, 2009). trifosfato (ATP) para a geração de energia é
Segundo Rosário e colaboradores extremamente elevada (Altimari e
(2006), qualquer substância, processo ou colaboradores, 2010). A energia necessária
procedimento que pode, ou que é percebido para ressintetizar o ATP provém
como tal, melhorar o rendimento a partir de um predominantemente dos estoques de creatina
aumento de força, velocidade ou endurance fosfato. Quando os estoques de CP estão
(resistência) do atleta é conhecido como esgotados, o desempenho reduz devido à
recurso ergogênico. incapacidade da via glicolítica em manter a
Para Hunger e colaboradores (2009), ressíntese de ATP na mesma velocidade do
recurso ergogênico é qualquer substância que sistema CP (Batista Júnior e colaboradores,
pode potencializar a capacidade de realizar 2005).
trabalho. Estudos sugerem que o aumento das
Diversos estudos examinam os efeitos reservas musculares de creatina total e
da suplementação de creatina na creatina fosfato, induzido pela suplementação
performance, principalmente em exercícios de de creatina, possam acelerar a taxa de
alta intensidade (Cooke e colaboradores, refosforilação da adenosina difosfato em
2009). adenosina trifosfato, pela enzima creatina
Foi demonstrado efeito ergogênico da quinase, durante o exercício físico,
suplementação em exercícios intermitentes favorecendo a melhora do desempenho em
máximos e também em sprints de alta exercícios de alta intensidade e curta duração
intensidade em ciclo ergômetro (Mckenna e (Izquierdo e colaboradores, 2002; Souza
colaboradores, 1999). Júnior e colaboradores, 2011).
Segundo Aoki (2004), o efeito Portanto, o objetivo deste trabalho é
ergogênico também é observado em investigar, através de uma revisão sistemática,
atividades como remo, corrida, saltos múltiplos os efeitos ergogênicos da suplementação de
e séries de repetição máxima no exercício de creatina em exercícios de alta intensidade e
força. curta duração.
A creatina é uma combinação dos
aminoácidos glicina, arginina e metionina, MATERIAIS E MÉTODOS
conhecida como ácido metil-guanidinoacético
(Moraes e colaboradores, 2004). A revisão sistemática é uma forma de
A síntese de creatina no organismo pesquisa que utiliza como fonte de dados a
acontece da seguinte forma: no rim, glicina e literatura sobre determinado tema. Esse tipo
arginina são transformadas em de investigação disponibiliza um resumo das
guanidinoacetato, pela enzima transaminidase. evidências relacionadas a uma forma de
intervenção específica, através da aplicação

Revista Brasileira de Nutrição Esportiva, São Paulo. v. 7. n. 38. p.91-98. Mar/Abr. 2013. ISSN 1981-9927.
93

Revista Brasileira de Nutrição Esportiva


ISSN 1981-9927 versão eletrônica
P e r i ó d i c o do I n s t i t u t o B r a s i l e i r o d e P e sq u i s a e E n si n o e m F i s i o l o gi a do E x e r c í c i o
w w w . i b p e f e x . c o m . b r / w w w . r b n e . c o m . b r

de métodos sistematizados de busca, análise e outro estudo utilizou somente a creatina, não
crítica e síntese da informação selecionada. houve, portanto, o grupo controle (Donatto e
As revisões sistemáticas são colaboradores, 2007).
particularmente úteis para integrar as
informações de um conjunto de estudos População
realizados de forma separada sobre
determinada terapêutica/intervenção, que A maior parte dos experimentos
podem apresentar resultados conflitantes e/ou apresentou o gênero masculino, sendo 2
coincidentes, bem como identificar temas que estudos com população feminina (Gomes e
precisam de evidência, auxiliando na Aoki, 2005; Medeiros e colaboradores, 2010) e
orientação para pesquisas futuras (Sampaio e somente um experimento foi misto (Moraes e
Mancini, 2007). colaboradores, 2004).
Realizou-se uma revisão sistemática A maioria dos estudos com creatina
utilizando-se estratégia de busca em base de envolve jovens do sexo masculino, pois,
dados computadorizada no Scielo, PubMed e segundo Medeiros e colaboradores (2010), é
Google Acadêmico. sugerido que as mulheres apresentam maiores
Foram utilizadas palavras-chave respostas a ação ergogênica da creatina
isoladas e combinadas entre si, relacionadas à quando comparadas aos homens, devido a
“creatina, suplementação de creatina, creatina possível menor saturação desse composto no
e exercício e suplementação de creatina e músculo proveniente da dieta.
exercício”. A amostra dos experimentos foi
A busca bibliográfica resultou em 249 composta por pessoas de condicionamento
artigos e de acordo com os objetivos do físico variado: 2 estudos tiveram a participação
estudo e dos critérios de inclusão, foram de pessoas sedentárias (Altimari e
selecionados 16 artigos originais, 13 nacionais colaboradores, 2006; Altimari e colaboradores,
e 3 internacionais, publicados a partir do ano 2010), 6 estudos foram feitos com uma
2000. Os critérios de inclusão dos artigos amostra fisicamente ativa (Fontana, 2006;
foram os possíveis efeitos ergogênicos da Gomes e Aoki, 2005; Hoffman e
suplementação de creatina em exercícios de colaboradores, 2005; Medeiros e
alta intensidade e curta duração. colaboradores, 2010; Rosário e colaboradores,
Foram coletados artigos científicos 2006; Rosene e colaboradores, 2009).
encontrados nas revistas: Revista Brasileira de Em 4 experimentos a amostra tinha
Medicina do Esporte, Revista Brasileira experiência mínima de 1 ano em treinamento
Ciência e Movimento, Revista Brasileira de de força (Aoki, 2004; Donatto e colaboradores,
Ciências Farmacêuticas, Revista Brasileira de 2007; Souza Júnior e colaboradores, 2007;
Nutrição Esportiva, Revista de Educação Wilder e colaboradores, 2001).
Física, Motriz, EFDesportes.com, Revista Foram realizados, ainda, experimentos
Digital, Journal of Sports Science and com atletas de beisebol (Batista Júnior e
Medicine, Journal of Athletic Training, Journal colaboradores, 2005), de ciclismo (Molina,
of Strength and Conditioning Research. Rocco e Fontana, 2009), da natação (Moraes
e colaboradores, 2004) e de basquetebol
RESULTADOS E DISCUSSÃO (Prado e colaboradores, 2007).
Segundo Altimari e colaboradores
Os resultados dos estudos que (2006), diferenças no condicionamento físico
analisaram a suplementação da creatina em podem produzir diferentes resultados sobre o
exercícios de alta intensidade e curta duração desempenho físico, dificultando a comparação
estão descritos abaixo e sintetizados no entre os grupos nos diferentes momentos do
quadro 1. estudo.
A idade média dos participantes dos
Tipo de estudo experimentos variou entre 18 e 35 anos,
somente 2 estudos selecionaram amostras
Dos 16 artigos analisados no quadro com idade entre 14 e 18 anos (Batista Júnior e
1, 14 são experimentais com creatina e colaboradores, 2005; Moraes e colaboradores,
placebo, um estudo é experimental com 2004).
creatina, glutamina e placebo (Fontana, 2006)

Revista Brasileira de Nutrição Esportiva, São Paulo. v. 7. n. 38. p.91-98. Mar/Abr. 2013. ISSN 1981-9927.
94

Revista Brasileira de Nutrição Esportiva


ISSN 1981-9927 versão eletrônica
P e r i ó d i c o do I n s t i t u t o B r a s i l e i r o d e P e sq u i s a e E n si n o e m F i s i o l o gi a do E x e r c í c i o
w w w . i b p e f e x . c o m . b r / w w w . r b n e . c o m . b r

Segundo Moraes e colaboradores Um estudo apresentou duas


(2004), os adolescentes apresentam menor suplementações diferentes de creatina
lactacidemia, quando comparado a adultos, o monoidratada: um grupo recebeu 3g/d durante
que poderia reduzir a possível influência da 10 semanas e o outro grupo recebeu 20g/d
suplementação de creatina sobre a resposta durante a 1ª semana e 5g/d durante 9
da lactacidemia nestes indivíduos após a semanas (Wilder e colaboradores, 2001).
suplementação. O estudo de Rosene e colaboradores
(2009), usou 20g/d de creatina monoidratada
Instrumento de coleta de dados durante 7 dias e 6g/d durante 23 dias.
O estudo de Batista Júnior e
Os instrumentos de coleta mais colaboradores (2005), usou 4 doses de 5g de
usados nos experimentos foram balança, creatina associado à 80g de carboidrato
estadiômetro, fita métrica, adipômetro, durante 5 dias, seguido de 2g de creatina
dinamômetro, cicloergômetro e bioimpedância. associado à 80g de carboidrato durante 15
dias.
Protocolo de suplementação Segundo estudos publicados
anteriormente, há evidências suficientes de
A dosagem de suplementação de que a ingestão de 20g de creatina por dia,
creatina monoidratada foi de 20g/d, dividida durante 5 dias, aumenta a concentração de
em 4 doses ao longo do dia, durante os 5 creatina fosfato muscular em
primeiros dias do experimento, seguido de 2 a aproximadamente 20% (Hickner e
3g/d durante os 7 dias restantes (Aoki, 2004; colaboradores, 2010; Torres-Leal e
Gomes e Aoki, 2005). colaboradores, 2010).
Outros estudos usaram 20g de
creatina monoidratada dividida em 4 doses, Duração dos experimentos
durante 5 dias, seguido de 3g durante 51 dias,
associado à uma bebida carboidratada O estudo de Rosário e colaboradores
(Altimari e colaboradores, 2006; Altimari e (2006) teve duração de 24 horas. Cinco
colaboradores, 2010). estudos tiveram duração entre 5 e 7 dias
Também foram usados 20g de (Donatto e colaboradores, 2007; Hoffman e
creatina, dividida em 4 doses, durante 5 a 6 colaboradores, 2005; Medeiros e
dias, associado à carboidratos (Donatto e colaboradores, 2010; Molina, Rocco e
colaboradores, 2007; Medeiros e Fontana, 2009; Moraes e colaboradores,
colaboradores, 2010; Moraes e colaboradores, 2004).
2004). Outros 3 estudos tiveram duração
O estudo de Molina, Rocco e Fontana entre 10 e 13 dias (Aoki, 2004; Gomes e Aoki,
(2009), usou dose de 0,3g/Kg de creatina 2005; Prado e colaboradores, 2007). O estudo
monoidratada durante 7 dias, divididos em 3 de Batista Júnior e colaboradores (2005) teve
doses ao longo do dia, associado à duração de 20 dias.
carboidratos. Já o estudo de Rosene e
Fontana (2006), usou 0,3g/Kg de colaboradores (2009), teve duração de 30
cretina monoidratada, dividida em 3 doses dias. Três estudos duraram 56 dias (Altimari e
durante 7 dias e 0,03g/Kg durante 7 semanas. colaboradores, 2006; Altimari e colaboradores,
Outro estudo usou dose de 30g de 2010; Fontana, 2006). O estudo de Wilder e
creatina associada a carboidratos, dividida em colaboradores (2001) duraram 10 semanas.
6 doses ao longo de 1 dia (Rosário e Segundo o estudo de Hoffman e
colaboradores, 2006). colaboradores (2005), tem sido mostrado que
Dois estudos usaram entre 25 e 30g a suplementação eleva a concentração de
de creatina durante 5 a 7 dias, divididos em 5 creatina em 20% e a maior captação muscular
doses ao longo do dia, seguido de 5g nos dias parece ocorrer-nos 2 primeiros dias de
restantes do estudo (Prado e colaboradores, suplementação.
2007; Souza Júnior e colaboradores, 2007).
O estudo de Hoffman e colaboradores
(2005), usou 6g creatina monoidratada durante
6 dias.

Revista Brasileira de Nutrição Esportiva, São Paulo. v. 7. n. 38. p.91-98. Mar/Abr. 2013. ISSN 1981-9927.
95

Revista Brasileira de Nutrição Esportiva


ISSN 1981-9927 versão eletrônica
P e r i ó d i c o do I n s t i t u t o B r a s i l e i r o d e P e sq u i s a e E n si n o e m F i s i o l o gi a do E x e r c í c i o
w w w . i b p e f e x . c o m . b r / w w w . r b n e . c o m . b r

Testes usados para analisar a performance de fosfocreatina neste tipo de esforço é


evidente.
Foi usado o Teste de Wingate em 5
experimentos (Altimari e colaboradores, 2006; Efeitos da suplementação de cretina na
Altimari e colaboradores, 2010; Fontana, 2006; performance
Hoffman e colaboradores, 2005; Molina, Rocco
e Fontana, 2009). Dos 16 estudos incluídos nesta
O teste de força máxima (1-RM) foi revisão sistemática, foram observados, em sua
usado em 5 estudos (Aoki, 2004; Donatto e maioria, efeitos positivos como: melhora de
colaboradores, 2007; Rosene e colaboradores, desempenho anaeróbio (Altimari e
2009; Souza Júnior e colaboradores, 2007; colaboradores, 2006; Molina, Rocco e
Wilder e colaboradores, 2001). Fontana, 2009; Prado e colaboradores, 2007),
No estudo de Batista Júnior e aumento na capacidade de repetição máxima
colaboradores (2005), foi usado para avaliar a no teste de força máxima (Aoki, 2004; Gomes
performance 15 repetições de swing e 5 séries e Aoki, 2005; Souza Júnior e colaboradores,
de corrida de bases (home base – 3ª base). 2007), redução da fadiga (Hoffman e
O estudo de Gomes e Aoki (2005) colaboradores, 2005), aumento da força
usou um teste misto, envolvendo 20 minutos isométrica máxima (Medeiros e colaboradores,
de corrida e teste de força máxima a 80% de 2010; Rosene e colaboradores, 2009) e
1-RM. aumento da massa magra (Moraes e
O estudo de Medeiros e colaboradores colaboradores, 2004; Souza Júnior e
(2010) usaram como teste contrações colaboradores, 2007).
isométricas máximas da extensão unilateral do Segundo Moraes e colaboradores
joelho. (2004), a creatina pode ligar-se a uma
O estudo de Prado e colaboradores molécula de fosfato, formando a creatina
(2007), avaliou o desempenho por meio de 6 fosfato (CP), que é fundamental para a
sprints consecutivos de 30 metros. ressíntese da adenosina trifosfato (ATP).
Houve ainda como teste, a natação Esta ressíntese é mediada pela
(Moraes e colaboradores, 2004) e um tiro de enzima creatina quinase que quebra a CP,
400 metros rasos (Rosário e colaboradores, disponibilizando o fosfato para formação de
2006). nova molécula de ATP a partir da adenosina
Segundo Altimari e colaboradores difosfato (ADP). Este sistema, denominado
(2010), indivíduos com níveis semelhantes de anaeróbio alático, é fundamental para a
condicionamento físico e que fazem uso de ressíntese de ATP durante contrações
creatina, quando submetidos a esforços de musculares intensas e de duração inferior a 10
alta intensidade e curta duração em uma única segundos.
série, podem usar suas reservas de A suplementação de creatina pode,
fosfocreatina para a ressíntese de ATP na então, aumentar a taxa de ressíntese de ATP
mesma proporção que indivíduos não e melhorar o desempenho em exercícios de
suplementados, pois as reservas destes alta intensidade e curta duração. Acredita-se,
indivíduos (não suplementados) parecem ser ainda, que o aumento das reservas de CP
suficientes para suportar um esforço único. possa favorecer o tamponamento da
Sendo assim, acredita-se que a concentração de íons H+, retardando o
suplementação possa ser realmente eficiente aparecimento da fadiga, uma vez que a CP
em esforços de alta intensidade e curta atua na conversão de ADP em ATP, também
duração que envolva múltiplas séries, mediada pela ação da enzima creatina fosfato
contribuindo na aceleração da ressíntese de (Altimari e colaboradores, 2010).
ATP, uma vez que a degradação das reservas

Revista Brasileira de Nutrição Esportiva, São Paulo. v. 7. n. 38. p.91-98. Mar/Abr. 2013. ISSN 1981-9927.
96

Revista Brasileira de Nutrição Esportiva


ISSN 1981-9927 versão eletrônica
P e r i ó d i c o do I n s t i t u t o B r a s i l e i r o d e P e sq u i s a e E n si n o e m F i s i o l o gi a do E x e r c í c i o
w w w . i b p e f e x . c o m . b r / w w w . r b n e . c o m . b r

Quadro 1 - Suplementação de creatina em exercícios de alta intensidade e curta duração.


Protocolo de Duração
Referência Amostra Idade Teste Mudança
suplementação diário do estudo
Grupo A = 3g de creatina Não houve alteração no
Teste de força com
Wilder e 25 homens durante 10 semanas e teste de 1-RM e
10 séries realizadas
Colaboradores fisicamente 18-20 Grupo B = 20g de creatina percentual de gordura
semanas entre 50% e 100%
(2001) ativos durante 7 dias + 5g de corporal para nenhum
de 1-RM
creatina por 9 semanas dos grupos
Aumento na capacidade
21 homens 20g de creatina durante 5 2 séries de repetição
de repetição máxima com
Aoki (2004) fisicamente 20-35 dias e 2g de creatina 13 dias máxima no supino a
intervalos maiores que 60
ativos durante 7 dias 70% de 1-RM
segundos
10 homens
Nado crawl: 2 séries
Moraes e e2 Aumento do peso e
20g de creatina + 200g de de 25m; 2 séries de
Colaboradores mulheres 14-17 5 dias massa magra.
maltodextrina 100ml; e 1 série de
(2004) atletas de Desempenho inalterado
700m
natação
4 doses de 5g de creatina 15 repetições de
Batista Júnior 14 homens
+ 80g de carboidrato swing e 5 séries de
e da seleção Não houve melhora de
16-18 durante 5 dias e 2g de 20 dias corrida de bases
Colaboradores brasileira de desempenho
creatina + 80g de (home base – 3ª
(2005) beisebol
carboidrato durante 15 dias base)
20 minutos de
16 O número repetições
20g de creatina durante 5 corrida e 3 séries de
Gomes e Aoki mulheres máximas realizadas pelo
18-22 dias e 3g de creatina 12 dias repetições máximas
(2005) fisicamente grupo suplementado foi
durante 7 dias no leg press 45º a
ativas superior ao grupo placebo
80% de 1-RM
Hoffman e 40 homens 3 sprints de 15
Houve redução da fadiga
colaboradores fisicamente 19-24 6g de creatina 6 dias segundos no
no grupo suplementado
(2005) ativos cicloergômetro
20g de creatina durante 5
26 homens
Altimari e dias e 3g de creatina
sedentários 3 sprints no Melhora do desempenho
Colaboradores 18-30 durante 51 dias associado 56 dias
e pouco cicloergômetro anaeróbio
(2006) à uma bebida
ativos
carboidratada
1 sprint de 30 Não houve efeito na
Fontana 32 homens 0,3g/Kg na 1ª semana e
18-24 56 dias segundos no potência anaeróbia
(2006) saudáveis 0,03g/Kg por 7 semanas
cicloergômetro
Rosário e 10 homens
6 doses de 5g de creatina Não houve melhora do
colaboradores fisicamente 18-25 24 horas 1 tiro de 400m rasos
+ 95g de carboidrato rendimento
(2006) ativos
Não houve mudança
Donatto e 10 homens
20g de creatina associado 1-RM no exercício de significativa na
Colaboradores fisicamente 18-25 5 dias
a carboidratos supino composição corporal e
(2007) ativos
execução de 1-RM
Prado e 16 homens 25g de creatina durante 5
6 sprints
Colaboradores atletas de 18 dias e 5g de creatina 10 dias Melhora do desempenho
consecutivos de 30m
(2007) basquetebol durante 5 dias
Souza Júnior Teste de força com
18 homens 30g de creatina na 3ª Aumento da massa isenta
e séries realizadas
fisicamente 19-25 semana e 5g de creatina 56 dias de gordura e aumento da
Colaboradores entre 50% e 80% de
ativos da 4ª a 8ª semana. força máxima dinâmica
(2007) 1-AMVMD
Molina, Rocco 20 homens 1 sprint de 30
0,3g/Kg de creatina Aumento da resistência
e Fontana atletas de 18-34 7 dias segundos no
associado a carboidratos anaeróbia
(2009) ciclismo cicloergômetro
7 séries de 10
Rosene e 20 homens 20g de creatina durante 7 Aumento da força
repetições da
Colaboradores fisicamente 20-23 dias e 6g de creatina 30 dias isométrica máxima na
extensão do joelho a
(2009) ativos durante 23 dias suplementação crônica
150% de 1-RM
20g de creatina durante 5
Altimari e
26 homens dias e 3g de creatina 1 sprint no Não houve melhora do
Colaboradores 20-26 56 dias
sedentários durante 51 dias associado cicloergômetro desempenho anaeróbio
(2010)
à carboidrato
27 3 contrações
Medeiros e
mulheres 20g de creatina + 20g de isométricas máximas Aumento da força
Colaboradores 20-27 6 dias
fisicamente maltodextrina da extensão isométrica máxima.
(2010)
ativas unilateral do joelho

Revista Brasileira de Nutrição Esportiva, São Paulo. v. 7. n. 38. p.91-98. Mar/Abr. 2013. ISSN 1981-9927.
97

Revista Brasileira de Nutrição Esportiva


ISSN 1981-9927 versão eletrônica
P e r i ó d i c o do I n s t i t u t o B r a s i l e i r o d e P e sq u i s a e E n si n o e m F i s i o l o gi a do E x e r c í c i o
w w w . i b p e f e x . c o m . b r / w w w . r b n e . c o m . b r

CONCLUSÃO 6-Domingues, S. F.; Marins, J. C. B. Utilização


de Recursos Ergogênicos e Suplementos
De acordo com os resultados Alimentares por Praticantes de Musculação
encontrados, conclui-se a que a em Belo Horizonte – MG. Revista Fitness e
suplementação de creatina exerce efeitos Performance. Rio de Janeiro. Vol. 6. Num. 4.
ergogênicos em exercícios de alta intensidade 2007. p. 218-226.
e curta duração, melhorando o desempenho
anaeróbio, aumentando a capacidade de 7- Donatto, F.; Prestes, J.; Silva, F. G.; Capra,
repetição máxima no teste de força máxima e E.; Navarro, F. Efeito da Suplementação
a força isométrica máxima, além de reduzir a Aguda de Creatina sobre os Parâmetros de
fadiga. Força e Composição Corporal de Praticantes
de Musculação. Revista Brasileira de Nutrição
REFERÊNCIAS Esportiva. São Paulo. Vol. 1. Num. 2. 2007. p.
38-44. Disponível em:
1-Altimari, L. R.; Okano, A. H.; Trindade, M. C. <http://www.rbne.com.br/index.php/rbne/article
C.; Cyrino, E. S.; Tirapegui, J. Efeito de Oito /view/16/15>
Semanas de Suplementação com Creatina
Monoidratada sobre o Trabalho Total Relativo 8-Fontana, K. E. Efeito do Exercício Resistido
em Esforços Intermitentes Máximos no Associado à Suplementação de Creatina ou
Cicloergômetro de Homens Treinados. Revista Glutamina na Potência Anaeróbia. Revista
Brasileira de Ciências Farmacêuticas. São Brasileira Ciência e Movimento. Brasília. Vol.
Paulo. Vol. 42. Num. 2. 2006. p. 237-244. 14. Num. 3. 2006. p. 79-86.

2-Altimari, L. R.; Tirapegui, J.; Okano, A. H.; 9-Garrido, R. G.; Farias, T. C.; Brito, C. E.;
Franchini, E.; Takito, M. Y.; Avelar, A.; Altimari, Macedo, I.O. Suplementação de Creatina por
J. M.; Cyrino, E. S. Efeitos da Suplementação Praticantes de Musculação de Vitória da
Prolongada de Creatina Mono-Hidratada sobre Conquista/BA. Revista Brasileira Ciência e
o Desempenho Anaeróbio de Adultos Jovens Movimento. Brasília. Vol. 16. Num. 4. 2008.
Treinados. Revista Brasileira de Medicina do
Esporte. Niterói. Vol. 16. Num. 3. 2010. p. 186- 10-Gomes, R. V.; Aoki, M. S. Suplementação
190. de Creatina Anula o Efeito Adverso do
Exercício de Endurance sobre o Subsequente
3-Aoki, M. S. Suplementação de Creatina e Desempenho de Força. Revista Brasileira de
Treinamento de Força: Efeito do Tempo de Medicina do Esporte. Niterói. Vol. 11. Num. 2.
Recuperação Entre as Séries. Revista 2005. p. 131-134.
Brasileira Ciência e Movimento. Brasília. Vol.
12. Num. 4. 2004. p. 39-44. 11-Hickner, R. C.; Dyck, D. J.; Sklar, J.; Hatley,
H.; Byrd, P. Effect of 28 Days of Creatine
4-Batista Júnior, M. L.; Franchini, E.; Uchida, Ingestion on Muscle Metabolism and
M. C.; Rosa, L. F. B. P. C. Efeito da Performance of a Simulated Cycling Road
Suplementação de Creatina sobre o Race. Journal of the International Society of
Desempenho na Velocidade do Swing e no Sports Nutrition. Vol. 7. Num. 26. 2010.
Tempo para Percorrer Três Bases (Home
Base – Terceira Base) em Atletas da Seleção 12-Hoffman, J. R.; Stout, J. R.; Falvo, M. J.;
Brasileira de Beisebol Juvenil (16 a 18 Anos). Kang, J.; Ratamess, N. A. Effect of Low-Dose,
Revista Brasileira Ciência e Movimento. Short-Duration Creatine Supplementation on
Brasília. Vol. 13. Num. 4. 2005. p. 85-92. Anaerobic Exercise Performance. Journal of
Strength and Conditioning Research. Vol. 19.
5-Cooke, M. B.; Rybalka, E.; Williams, A. D.; Num. 2. 2005. p. 260-264.
Cribb, P. J.; Hayes, A. Creatine
Supplementation Enhances Muscle Force 13-Hunger, M. S.; Prestes, J.; Leite, R. D.;
Recovery after eccentrically-induced muscle Pereira, G. B.; Cavaglieri, C. R. Efeitos de
damage in healthy individuals. Journal of the Diferentes Doses de Suplementação de
International Society of Sports Nutrition. Vol. Creatina sobre a Composição Corporal e
6. Num. 13. 2009.

Revista Brasileira de Nutrição Esportiva, São Paulo. v. 7. n. 38. p.91-98. Mar/Abr. 2013. ISSN 1981-9927.
98

Revista Brasileira de Nutrição Esportiva


ISSN 1981-9927 versão eletrônica
P e r i ó d i c o do I n s t i t u t o B r a s i l e i r o d e P e sq u i s a e E n si n o e m F i s i o l o gi a do E x e r c í c i o
w w w . i b p e f e x . c o m . b r / w w w . r b n e . c o m . b r

Força Máxima Dinâmica. Revista da Educação 21-Rosene, J.; Matthews, T.; Ryan, C.;
Física. Maringá. Vol. 20. Num. 2. 2009. Belmore, K.; Bergsten, A.; Blaissdell, J.;
Gaylord, J.; Love, R.; Marrone, M.; Ward, K.;
14-Izquierdo, M.; Ibañez, J.; González-Badillo, Wilson, E. Short and Longer-Term Effects of
J. J.; Gorostiaga, E. M. Effects of Creatine Creatine Supplementation on Exercise Induced
Supplementation on Muscle Power, Muscle Damage. Journal of Sports Science
Endurance, and Sprint Performance. Medicine and Medicine. Vol. 8. 2009. p. 89-96.
Science in Sports and Exercise. Vol. 34. Num.
2. 2002. p. 332-343. 22-Sampaio, R. F.; Mancini, M. C. Estudos de
Revisão Sistemática: Um Guia para Síntese
15-Mckenna, M. J.; Morton, J.; Selig, S. E.; Criteriosa da Evidência Científica. Revista
Snow, R. J. Creatine Supplementation Brasileira de Fisioterapia. São Carlos. Vol. 11.
Increases Muscle Total Creatine but not Num. 1. 2007. p. 83-89.
Maximal Intermittent Exercise Performance.
Journal of Applied Physiology. Vol. 87. Num. 6. 23-Souza Júnior, T. P.; Dubas, J. P.; Pereira,
1999. p. 2244-2252. B.; Oliveira, P. R. Suplementação de Creatina
e Treinamento de Força: Alterações na
16-Medeiros, R. J. D.; Santos, A. A.; Ferreira, Resultante de Força Máxima Dinâmica e
A. C. D.; Ferreira, J. J. A.; Carvalho, L. C.; Variáveis Antropométricas em Universitários
Souza, M. S. C. Efeitos da Suplementação de Submetidos a Oito Semanas de Treinamento
Creatina na Força Máxima e na Amplitude do de Força (Hipertrofia). Revista Brasileira de
Eletromiograma de Mulheres Fisicamente Medicina do Esporte. Niterói. Vol. 13. Num. 5.
Ativas. Revista Brasileira de Medicina do 2007. p. 303-309.
Esporte. Niterói. Vol. 16. Num. 5. 2010. p. 353-
357. 24-Souza Junior, T. P.; Willardson, J. M.;
Bloomer, R.; Leite, R. D.; Fleck, S. J.; Oliveira,
17-Molina, G. E.; Rocco, G. F.; Fontana, K. E. P. R.; Simão, R. Strength and Hypertrophy
Desempenho da Potência Anaeróbia em Responses to Constant and Decreasing Rest
Atletas de Elite do Mountain Bike Submetidos Intervals in Trained Men Using Creatine
à Suplementação Aguda com Creatina. Supplementation. Journal of the International
Revista Brasileira de Medicina do Esporte. Society of Sports Nutrition. Vol. 8. Num. 17.
Niterói. Vol. 15. Num. 5. 2009. p. 374-377. 2011.

18-Moraes, M.R.; Simões, H.G.; Campbell, 25-Torres-Leal, F. L.; Silva, M. T. B.; Neto, E.
C.S.G.; Baldissera, V. Suplementação de M. M.; Figueiredo, R. G.; Rodrigues, G. P.;
Monoidrato de Creatina: Efeitos sobre a Araújo, D. M. E.; Marreiro, D. N. Effect of
Composição Corporal, Lactacidemia e Creatine Monohydrate on Power and Fatigue
Desempenho de Nadadores Jovens. Motriz. Production During Anaerobic Sprints in Soccer
Rio Claro. Vol. 10. Num.1. 2004. p. 15-24. Players. Brazilian Journal of Health. São
Paulo. Vol. 1. Num. 2. 2010. p. 156-164.
19-Prado, R.G.; Bacurau, R.F.P.; Rose Jr, D.;
Aoki, M.S. Suplementação de Creatina 26-Wilder, N.; Deivert, R. G.; Hagerman, F.;
Potencializa o Desempenho de Sprints Gilders, R. The Effects of Low-Dose Creatine
Consecutivos em Jogadores de Basquetebol. Supplementation Versus Creatine Loading in
Revista Brasileira Ciência e Movimento. Collegiate Football Players. Journal of Athletic
Brasília. Vol. 15. Num. 1. 2007. p. 23-28. Training. Vol. 36. Num. 2. 2001. p. 124-129.

20-Rosário, W.C.; Kemper, C.; Marra, C.A.C.;


Souza, P.F. Os Efeitos da Suplementação de
Creatina no Desempenho de Corrida de 400m
Rasos. www.efdeportes.com. Revista Digital. Recebido para publicação em 02/03/2012
Buenos Aires. Vol. 11. Num. 97. 2006. Aceito em 10/07/2013

Revista Brasileira de Nutrição Esportiva, São Paulo. v. 7. n. 38. p.91-98. Mar/Abr. 2013. ISSN 1981-9927.

Você também pode gostar