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Universidade Federal de Uberlândia

Faculdade de Engenharia Elétrica

Circuitos magnéticos
parte 01

Prof. Dr. Pedro José dos Santos Neto


pedro.jsn@ufu.br

1
• Introdução
• Campos eletromagnéticos são fundamentais na conversão eletromecânica
de energia;
• Transformadores e Máquinas Elétricas funcionam com base na formação de
campos eletromagnéticos;
• Teorias do eletromagnetismo empregadas:
• Lei de Ampère;
• Lei de Gauss;
• Lei de Faraday;
• Propriedades magnéticas;
• Conceitos básicos para o entendimento do processo de conversão de
energia e de máquinas elétricas;

2
• Leis de Ampère
• Teoria fundamentada nas Equações de Maxwell.
• Lei de Ampère:

 Hdl =  JdA dA
C S

• A intensidade de campo H em um contorno fechado C é igual a densidade de


corrente J que a travessa a superfície S delimitada por esse contorno;
• Lei de Gauss:

 S
BdA = 0

• Em uma superfície fechada, a densidade de fluxo B se conserva;


3
• Circuitos magnéticos
• Consequências da leis de Ampère e Gauss:

• Campos magnéticos são sempre formados em bipolos (N-S);


• Campos magnéticos são determinados por valores instantâneos de corrente;
• Campos magnéticos variam no tempo apenas quando a fonte de corrente varia;
• Problemas em estruturas complexas (3D) podem ser reduzidos a circuitos
equivalentes unidimensionais;

• Circuitos magnéticos
• Estrutura composta por materiais magnético de permeabilidade (μ) elevada;
• Permeabilidade elevada permite confinar o fluxo magnético no material;
• Facilita o estudo da conversão eletromecânica de energia;

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• Vídeo – produção do campo magnético

5
• Circuitos magnéticos

• Permeabilidade do vácuo: 0 = 4 10−7 H/m


• Permeabilidade relativa: r =
0

 ar = 1,00000037  0 , 2000   ferro  6000 →  ferro ar


6
• Circuitos magnéticos

• Fluxo magnético:

 =  BdA [Weber-Wb], Campo uniforme →  = BA [Weber-Wb],


S

• Força Magneto Motriz (FMM):


• Sentindo do fluxo dado
=  Hdl = Ni [A-espira] pela regra da mão direita.

= Hl [A-espira] 7
• Circuitos magnéticos

• Densidade de Fluxo:
  Wb 
B=  B  =  2  = Tesla − T  ,
A m 

• Relação entre Densidade de Fluxo e Intensidade de Campo:


 A.esp 
B = H   
H =
 m  8
• Circuitos magnéticos
 
• Relação entre Força magnetomotriz e Fluxo Bc = , Bg = ,
Ac Ag

Bc Bg
= H clc + H g lg → = lc + lg
 o
 lc lg 
→ = +
 A  A  
 c g o 

lc lg  A  esp 
• Relutância - oposição à circulação de fluxo magnético: c = , g =  = 
Ac  Ag 0  Wb 

→ = Ni =  ( c +  g ) = total

• Entreferro: espaço de ar utilizado para movimentação de peças mecânicas. Ar ou outro


material de baixa permeabilidade podem ainda ser utilizados para aumentar a relutância
do circuito e, consequentemente, regular a relação corrente-fluxo (ou B-H).
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• Circuitos magnéticos
• Equivalência entre circuitos elétricos e circuitos magnéticos:

=  ( c +  g ) V
I= → =
R1 + R2 1 +  2
• Permeância – inverso da relutância:

1
= →=
total
total total

10
• Circuitos magnéticos
• Equivalência entre circuitos elétricos e circuitos magnéticos:
−1
 1 1  1 2
total = +  =
 1  2  1 +  2

Ni ( 1 +  2 )
= → =
total 1 2

• As leis de Kirchhoff são válidas para circuitos magnéticos:


N N
• Em um nó:  k =0 • Em um laço: =  H k lk
k =1 k =1

11
• Circuitos magnéticos
• Campos de espraiamento:

 0 Ag   0 Ag 
→ = , g c →   →   g  →   Ni  g 
c +  g g    

• O efeito do espraiamento é aumentar a área efetiva da seção reta do entreferro (Ag);


• Mitigação do espraiamento: aumentar ligeiramente a área do entreferro;
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• Exemplos
• Ex.1:

a ) Cálculo das Relutâncias:

c =
lc
→ c =
( 0,3m ) = 3,79  10 3 A  esp

Ac  ( 9  10−4 m2 ) ( 70000 ) ( 4 10−7 ) Wb

g =
lg
→ g =
( 5  10 m )
−4

= 4, 42  10 5 A  esp
Ag 0 ( 9 10 m )( 4 10 )
−4 2 −7
Wb

b) Cálculo do fluxo:
 = Bc A →  = (1,0T ) ( 9  10 −4 m 2 ) = 9  10 −4 Wb

c ) Cálculo da corrente:

=  ( c +  g )→ = ( 9  10−4 )( 3,79  103 + 4, 42  105 ) = 400,65 A  esp


400,65
= Ni → i = = 0,801 A
500
13
• Exemplos
• Ex.2:

Cálculo das Relutâncias:


l1
→ 1 =
( 0, 45m ) = 14,3  103
A  esp
1 =
A1 1 (100 10 m ) ( 2500 ) ( 4 10 )
−4 2 −7
Wb

2 =
l2
→ g =
(130  10 −2 m )
= 27,6  10 3 A  esp
A2  2 (150 10−4 m2 ) ( 2500 ) ( 4 10−7 ) Wb

Cálculo do fluxo:

= Ni → = ( 200 esp )(1 A ) = 200 A  esp

=  ( 1 +  2 ) →  = → =
( 200 A  esp ) = 0,0048 Wb
( 1 + 2 ) (14,3 + 27,6 )  103
14
• Exemplos
• Ex.3:

Cálculo das Relutâncias:

ls
→ estator =
( 0,50m ) =  3 A  esp
estator = 166 10
As  s (12 10−4 m2 ) ( 2000 ) ( 4 10−7 ) Wb

lrot
→  rotor =
( 0,05m ) = 
A  esp
 rotor =
3
16,6 10
Arot  rot (12 10−4 m2 ) ( 2000 ) ( 4 10−7 ) Wb

g =
lg
→ g =
( 5  10 m )
−4

= 284  10 3 A  esp
Ag 0 (14  10 −4
m ) (
(
2
1) 4  10 ) −7
Wb

A  esp
total = estator +  g + rotor +  g = 751 103
Wb
15
• Exemplos
• Ex.3 (cont):

A  esp
total = 751  103
Wb

Cálculo do Fluxo:
= Ni → = ( 200 esp )(1 A ) = 200 A  esp

=  ( total ) →  = → =
( 200 A  esp ) = 0,00266 Wb
( total ) 751  103

Cálculo da densidade de fluxo:


 0,00266 Wb
 = Bg Ag → Bg = → Bg = → Bg = 0,19 T
Ag (14 10 m )
−4 2

16
• Exemplos
• Ex.4: A figura representa o circuito magnético de um relé eletromecânico. A bobina possui 500 espiras e o caminho
médio do núcleo tem 360 mm. Considere que o entreferro mede 1,5 mm cada e uma densidade de fluxo de 0,8 T é
necessária para fazer o relé atuar. A curva de magnetização do aço fundido (cast steel) é mostrada. Calcular a corrente
que deve ser aplicada na bobina para ativação do relé.

Bc = 0,8 T → H C = 510 A.e/m

Fc = H clc → FC = ( 510 A.e/m )  ( 0,36 m ) → FC = 184 A.e

−3 (
1,5  10−3 ) → Fg = 955 A.e
Bg 0,8
Fg = H g lg → Fg = lg → Fg =
0 4  10

Ft = Fc + 2 Fg → Ft = 184 + 2 ( 955 ) → Ft = 2094 A.e

Ft 2094
Ft = Ni → i = →i = → i = 4, 2 A
N 500

Observações:
• A maioria da FMM (Ft) é utilizada no entreferro;
• Quanto menor o entreferro, menor a FMM e, portanto,
menor a corrente necessária para ativar o relé.
• Tamanho do entreferro é limitado pela qualidade do projeto
do relé (impacto no preço do dispositivo);

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• Lei de Faraday/Lenz
• Quando um campo magnético varia no tempo, produz-se um campo
elétrico segundo a Lei de Faraday/Lenz:

 C
E  ds =  BdA
S

• Tensão induzida nos terminais de um enrolamento:


d ( t ) d 
e=N = [Volts-V]
dt dt

• O Fluxo concatenado enlaça todas as espiras:


 = N [Weber  espira - Wb-esp

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• Indutância
• Em um circuito magnético de permeabilidade constante a relação entre
fluxo e corrente é constante;
• A Indutância expressa a relação linear entre fluxo concatenado e corrente:

L= [Henry-H]
i

 ( N ) → L =   → L =
N N ( Ni ) → L=
N 2

L= →L=  
i i i  i  
• Indutância é proporcional ao quadrado do número de espiras e
inversamente proporcional à relutância;

 g   nucleo N2 N2 N 2 0 Ag
→L= →L= → L=
g ( lg / 0 Ag ) lg
19
• Exemplo
• Ex.5: O núcleo toroidal circular de chapa de aço silício mostrado na Figura possui 250 espiras. O raio interno
mede 20 cm, enquanto o raio externo mede 25 cm. A curva de magnetização do núcleo é dada. Se a corrente
na bobina for 2,5 A, calcule: a) a densidade de fluxo; b) a indutância obtida.
1
a ) F = Hl , H=
Ni
, l = 2 r , r= ( ri + re )
l 2

→H =
( 250 )( 2,5 )
→ H = 442,3 A-e/m → B = 1, 225 T
2 0,5 ( 25 + 20 )  10 −2 

 re − ri 
2

b) L = ,  = N ,  = BA, A =  r → A =   2 
2

i  
2
 25  10 −2 − 20  10 −2 
→  = (1, 225 )    −4
 → = 24  10 Wb
 2 
→  = ( 250 ) ( 24  10 −4 Wb ) →  = 0,601 Wb-esp
0,601
→L= → L = 240, 4 mH
2,5

2
0
• Exemplo
• Ex.6:

a ) a )→  significa que  núcleo → 0, logo  g   núcleo


lg1 A  esp l A  esp  = 1 2
1 = , 2 = g2 , total
A10 Wb A2 0 Wb 1 +  2

 lg1 lg2   lg1 lg2   lg1 lg2 






A1 A2 02 



A1 A2 02   0 
→ total = → total = → total =
 lg1 lg 2   lg1 A2 + lg 2 A1  lg1 A2 + lg2 A1
 +   
 A10 A2 0   A1 A2 0 
 
  1  A2 A1 
1  lg1 lg2  → total = N2
→ total = , L = → L = N 2
 0 + H
0       lg1 
 A2 A1  A
0  + 
2 A1  l
 lg lg  + 
total g2

2  
 1
 lg 2 lg1    lg 2 lg1 

1 Ni Ni  A10  N 0i
b) B1 = → B1 = → B1 = → B1 =   → B1 = T 2
A1 1 A1 1 A1 A1  lg1  l g1 1
• Circuito magnético com múltiplos enrolamentos
=  → = N1i1  N 2i2 →  = N1i1  N 2i2
• Força magnetomotriz resultante: R 1 2 R

Assumindo  g   núcleo e A g = Ac
lg
→=
0 Ac
lg  0 Ac 
→ = N1i1  N 2i2 →  = ( N1i1  N 2i2 ) 
0 Ac  l 
 g 
 0 Ac   0 Ac 
1 = N1 → 1 = N1 i1 
2
  N1 N 2i2  
l
 g  l
 g 
N 2 0 Ag
L= → 1 = L11i1  L12i2
lg
• L11 - Indutância própria (ou autoindutância): Relação entre o fluxo
concatenado pela bobina 1 devido à sua própria corrente;
• L12 – Indutância mútua: Relação entre o fluxo concatenado pela bobina 1
devido à corrente da outra bobina;
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• Circuito magnético com múltiplos enrolamentos
=  → = N1i1  N 2i2 →  = N1i1  N 2i2
• Força magnetomotriz resultante: R 1 2 R

Assumindo  g   núcleo e A g = Ac
lg
→=
0 Ac
lg  0 Ac 
→ = N1i1  N 2i2 →  = ( N1i1  N 2i2 ) 
0 Ac  l 
 g 
 0 Ac   0 Ac 
1 = N1 → 1 = N1 i1 
2
  N1 N 2i2  
l
 g  l
 g 
N 2 0 Ag
L= → 1 = L11i1  L12i2
lg
• L11 - Indutância própria (ou autoindutância): Relação entre o fluxo
concatenado pela bobina 1 devido à sua própria corrente;
• L12 – Indutância mútua: Relação entre o fluxo concatenado pela bobina 1
devido à corrente da outra bobina;
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• Circuito magnético com múltiplos enrolamentos
• De forma análoga:  0 Ac 
 = ( N1i1  N 2i2 )   , 2 = N 2
 l
 g 
 0 Ac   0 Ac 
→ 2 = N1 N 2i1    N 2 i2 
2
 → 2 = L21i1  L22i2
 l
 g   lg 
L22 - Indutância própria (ou autoindutância): Relação entre o
fluxo concatenado pela bobina 2 devido à sua própria corrente;
L21 – Indutância mútua: Relação entre o fluxo concatenado pela
bobina 2 devido à corrente da outra bobina. Além disso,

→ L21 = L12 = Lm

• Observação: a superposição de efeitos de efeitos é válida para uma relação


linear entre fluxo e FMM (materiais de permeabilidade constante);
24
• Exemplo
• Ex.7:

g1 g
Solução: 1 = ,  2 = 2 , 1 = N11 , 2 = N 22 , F1 = N1i1 , F2 = N 2i2
0 A1 0 A2
1 = F1  1 1 
Usando superposição: Desligando F2 :  1 = F1  + ,
 1 2   
   1 2 
 1 +  2 
Desligando F1: 1 = F2 2 , 1 = 1 + 1

 1 1   1   A1 A2   A2 
 1 = N12  + 1i + N1 2
N  2  L11 = N1 0  +  , 12
i 2
L = N N 
1 2 0 

 1  2  
 2  1
g g 2   g 2 

Para 2 : Desligando F1: 2 = F2 2 Desligando F2 : 2 = F1 2 , 2 = 2 + 2

 1   1   A2   A2 
 2 = N 22  2i + N1 2
N 1i  L = N 2

2 0  , L = N N   ,
 2   2 
22 21 1 2 0
 g2   g2 
2
5
• Exemplo
• Ex.8:

lA l l2 g
a)  A = , 1 = 1 , 2 = , g =
 Ac  Ac  Ac o Ac

 A ( 1 +  2 +  g ) N2
Para FA, desligando as demais fontes: t ,F =  A + → LAA =
A
 A + ( 1 +  2 +  g ) t ,FA
N2
Para FB, desligando as demais fontes: t ,FB = t ,FB → LBB =
t ,FA
 A  N12
Para F1, desligando as demais fontes: t ,F =  + ( 1 +  2 +  g ) → L11 = 
1
 2  t , F1

b) Desafio!
1 = ?, A = ?,B = ?
Lembrar que: 1 = N11 = L11i1 + L1 AiA + L1B iB , L1 A = LA1
 A = N A A = LA1i1 + LAAiA + LAB iB , L1B = LB1
2
B = N BB = LB1i1 + LBAiA + LBB iB , LAB = LBA 6
• Tensão induzida e indutância
• Para L constante:
di ( t )
, e = d  → e =  ( ) → e = L
 d  Li t 
L=
i dt dt dt

• Para L variando no tempo:


d d  L ( t ) i ( t )  → e = L ( t ) di ( t ) + i ( t ) dL ( t )
e= →e= dt dt
dt dt

• Para L variando no tempo e múltiplos enrolamentos:


d 1 d  L11 ( t ) i1 ( t ) + L12i2 ( t )  → e = d  L11 ( t ) i1 ( t )  + d  L12i2 ( t ) 
e1 = → e1 = 1
dt dt dt dt

 di1 ( t ) dL11 ( t )   di2 ( t ) dL12 ( t ) 


→ e1 =  L11 ( t ) + i1 ( t )  +  L12 ( t ) + i2 ( t ) 
 dt dt   dt dt 
27
• Potência e Energia
• Potência elétrica:
d d
p = ie W = Watts  , e = → p = i
dt dt

• Variação de energia:

 d 
t2 t2

→ W =  pdt  J = Joule  → W =  i 
dW 2

p=  dt → W =  id 
t1 
dt t1 dt  1

• Enrolamento único e indutância constante:


2 2

W =  id  → W =    d  →  W =
1
( 2 2 − 12 ) 1 = 0
1 
1
L 2L
( Li )
2
 2
1 2
1 = 0 → W = → W = → W = Li
2L 2L 2 28
• Exemplo
• Ex.9:

a ) c =
lc
→ c =
( 0,3m ) = 3,79  10 3 A  esp

Ac  ( 9  10−4 m2 ) ( 70000 ) ( 4 10−7 ) Wb

g =
lg
→ g =
( 5  10 m )
−4

= 4, 42  10 5 A  esp
Ag 0 ( 9  10−4
m 2
)( 4  −7
10 ) Wb


N2 → L=
5002
= 0,56 H
L= =
i total ( 3,79  10 3
+ 4, 42  10 5
)

b) W = Li 2 ,  = Bc A →  = (1,0T ) ( 9  10−4 m 2 ) = 9  10 −4 Wb, = total = ( 9  10−4 )( 3,79  103 + 4, 42  105 ) = 400,65 A  esp
1
2
400,65 1
→W = ( 0,56 )( 0,801) → W = 0,18 J
2
= Ni → i = = 0,801 A,
500 2
d (1,0 sen377t ) → e = ( 500 ) 9  10 −4 ( 377 ) cos ( 377t )
c) e =
d
→e=
Nd
→ e = NAc c → e = NAc c → e = ( 500 ) ( 9  10 −4 )
dB dB
( )
dt dt dt dt dt
2
→ e = 170cos ( 377t ) V 9
30

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