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revista

kzm
Acrobacia | Aikidô | ALONGAMENTO | BALLET INFANTIL | Boxe inglês | DANÇA
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COMO CHEGAR FALE CONOSCO

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I N F O R M E S
de MARçO

NOVAS TURMAS

ACROBACIA DEFESA PESSOAL BOXE INGLÊS BOXE JUVENIL


SEG E QUA | 18:00 FEMININA SEG E QUA| 07:00 TER E QUI | 16:00
SAB | 10:00

KICKBOXING ALONGAMENTO KARATÊ JIU-JITSU


SEG E QUA | 07:00 SEG E QUA | 16:00 SAB | 09:00 SEG E QUA | 21:00

JIU-JITSU
TER E QUI | 21:00

CALENDÁRIO

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EM COMEMORAÇÃO AO DIA DA MULHER, A KIZAME ESTÁ OFERTANDO
1 MÊS GRATUITO EM UMA MODALIDADE PARA TODAS AS MULHERES,
ALUNAS* E NOVAS ALUNAS. *EM UMA NOVA MODALIDADE

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TREINÃO DE AIKIDO |09:00 ÀS 11:00
R$40,00 SAIBA MAIS em p.13

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KZM REUNION |UM SÓ TATAMI
GRATUITO SAIBA MAIS em p.25

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EDITORIAL

Neste mês celebramos o Dia Inter- onde as mulheres se apoiam e se for-


nacional da Mulher, uma data que nos talecem mutuamente. É um espaço se-
lembra da importância da luta femi- guro, onde podem se expressar livre-
nina pelos direitos e pela igualdade. mente e se empoderar. E é também um
E, para nós, é crucial destacar que as espaço de desafios, onde podem testar
mulheres estão cada vez mais presen- limites e superar medos.
tes nesse ambiente de resistência e su- Mas para que mais mulheres des-
peração. cubram esses benefícios e se sintam
A luta é uma prática que vai além incentivadas a praticar a luta, é pre-
dos golpes e técnicas. É uma atividade ciso que haja uma mudança na for-
que trabalha a mente e o corpo, pro- ma como a sociedade vê as mulheres
porcionando benefícios que vão desde nesse ambiente. Não podemos mais
a melhora da autoestima até a preven- aceitar a objetificação e o assédio que
ção de doenças físicas e mentais. E é muitas vezes ocorrem nos em certos
exatamente por isso que é tão impor- âmbitos da luta, por exemplo. É preci-
tante que as mulheres ocupem esse es- so que os responsáveis e investidores
paço. adotem medidas de proteção e respei-
Ainda vivemos em uma sociedade to às mulheres, para que elas se sintam
machista, que insiste em limitar as acolhidas e valorizadas. Mais que isso,
mulheres e em dizer que são frágeis é importante que as mulheres tenham
ou incapazes. Mas quando praticamos espaço de voz, de ação, e não apenas
a luta, mostramos que as mulheres são ocupem uma quota mercadológica.
sim fortes, corajosas e determinadas. Por isso, nossa revista está repleta de
E isso é um poderoso instrumento de relatos das mulheres poderosas que
transformação pessoal e social. treinam com a gente! Aproveitem!
Além disso, a luta é um ambiente

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ELEUTHERIA | A LIBERDADE DE SE MOVER
Stephanie Tausch

A liberdade pode que de fato estava fazendo algo por ser li-
ser entendida de vá- vre? Pode até parecer que vivemos de acor-
rias formas, depen- do com o que queremos, mas as vezes para
dendo do c ontexto equilibrar as relações de forma geral, nos
e situação que ima- apagamos um pouquinho para evitar uma
ginamos. Mas, de discussão, evitar um mal estar – mas quem
forma bem simples acaba vivendo incomodada somos nós.
e objetiva, seria a au- Mesmo sendo uma mulher na luta e que
tonomia de escolher vive dela, sinto e vejo o quanto outras mu-
agir ou ser de acordo lheres lutam muito contra si mesmas para
com sua própria von- ocupar um ambiente ainda predominan-
tade. Porém, já sabe- temente masculino. Não necessariamente
mos que, de acordo isso nos assusta hoje em dia, mas estrutu-
com a sociedade e ralmente é um lugar que incomoda quem
cultura que vivemos, não entende, e como toda mudança, faz ba-
essa “própria” vonta- rulho, agita e surpreende quando tocado.
de já se modula, e as- Até peças se encaixarem, é preciso mexer
sim vai se afunilando o tabuleiro e tentar de diferentes formas
de acordo com o es- para montar o que se quer, por isso parece
treitamento das comunidades e relações que ser difícil mexer no que já é estabelecido.
estamos inseridas. Claro, ao longo da história Só que imagine se estivéssemos no mes-
muita coisa mudou, já nos sentimos muito mo campo de 100 anos atrás? Ainda esta-
mais livres. Realmente nos sentimos e somos ríamos tendo que treinar escondidas. Por
seres participantes ativos no meio que vive- isso, pouco a pouco podemos ver o jogo se
mos. Por exemplo: não precisamos buscar equilibrando. Um lugar já não é predomi-
provar que mulheres merecem votar, me- nantemente de uma forma só, tem sempre
recem trabalhar, merecem viver e não ape- uma pecinha nova descobrindo que tam-
nas sobreviver - mas ainda precisamos lutar bém se encaixa ali.
para que todos vejam o valor de todos esses Assim, acredito que o tatame é um dos
passos dados. Infelizmente, ainda precisa- lugares que mais pode inspirar mulheres
mos conviver com muitos caminhos contra para enxergarem, reconhecerem e goza-
essas conquistas. Mas, será que entendemos rem ainda mais dessa liberdade. E uma
que realmente somos livres para fazer o que das definições que mais gosto e que é bem
quisermos? Entendemos que podemos dei- parecido com todo o desenvolvimento que
xar de lado os pensamentos que nos julgam e nos une vem do grego Eleutheria: possibi-
fazer o que nos inspira? Que dentro da nossa lidade do corpo poder se mover sem resis-
liberdade e ação de ser livre, também mora a tência. Isso que buscamos quando quere-
prova de quem realmente somos e como nos mos no sentir mais fortes, mais ágeis, mais
entendemos? táticas e autônomas de nossa própria defe-
Com os aprendizados e quase inconsciên- sa. O nosso movimento poder existir e ser
cia dos compromissos diários, nos desconec- livre. Afinal, tem uma, duas, várias mulhe-
tamos de prazeres que nos fazem ser e nos res ao meu lado se superando e mostrando
fazem sentido. Apesar de escolhermos tra- toda sua potência. E que pensam, vivem e
balhos que nos representam, esquecemos de entendem exatamente o que se passa aqui
todo o conjunto que nos forma. Vou mudar o dentro. Assim vamos evoluindo, inspiran-
famoso clichê de “quando você fez algo pela do, se inspirando e nos libertando.
primeira vez?” para quando foi a última vez

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DEFESA PESSOAL FEMININA

A IMPORTÂNCIA DA DPF NA MINHA VIDA mento como poucas substâncias são capazes, é
um fator motivador, após um dia de muitos com-
LUCIMAR LIAL
promissos, afinal de contas ser mulher realizada
A DPF (Defesa Pessoal Feminina) começou a em diversas áreas não é uma tarefa fácil.
fazer parte da minha rotina de atividades físicas Logo, a DPF é uma aula ótima de empodera-
obrigatórias de maneira despretensiosa, isto por- mento feminino porque além de promover mu-
que a motivação de conhecer a proposta da aca- danças internas, contribui para o aprimoramen-
demia Kizame foi a busca de uma academia que to do condicionamento físico, por que quem não
oferecesse Karatê para a minha filha. Júlia, após quer aprender a executar uns chutes e socos bo-
algumas pesquisas, estava decidida que precisa- nitos e precisos? Além da satisfação pessoal e au-
va aprender esta arte marcial, e é claro que eu toconhecimento que tenho usufruído desde que
adorei, pois é sabido da importância da prática eu comecei essa aventura.
de exercício para as crianças e, além dos benefí- Sem demagogia, cabe destacar que a dedica-
cios à saúde, esse estilo de esporte contribui para ção da professora é outro diferencial, uma vez
o desenvolvimento do autoconhecimento, disci- que ela consegue nos entender e desenvolver
plina e concentração. aulas personalizadas para que possamos crescer
Em fevereiro de 2022 Júlia começou a prati- juntas como um grupo. Todavia, sempre respei-
car Karatê e eu a aguardava sentada no banco tando os limites e estado de espírito de cada uma.
de espera da academia, após um dia cansativo de Por fim, de acordo com Felipe Lima, uma das
trabalho; era o momento em que eu conseguia melhores formas de começar, persistir e termi-
participar um pouco da rotina dela e isto me dei- nar algo na vida é fazer isso junto com alguém,
xava muito feliz como mãe. Dessa forma, ao mes- assim ao treinar junto com outra pessoa as chan-
mo tempo em que eu a admirava e observava o ces de persistir nos dias de treino são maiores.
seu aprendizado e evolução eu pude presenciar Desse modo, já que a proposta da DPF é ser uma
na aula ao lado um grupo de mulheres pratican- prática de exercício em grupo, que tal TREINAR-
do, o que até então era desconhecido para mim MOS JUNTAS?
(a aula de DPF); então eu pensei que seria uma
oportunidade enorme aproveitar esse momento Felipe Lima: Imunidade Emocional: Mente Blindada, Mind-
também para praticar uma aula tão peculiar, que set Inabalável, 2018.
até então só estava acostumada com musculação
e corrida.
Assim, começou essa aventura minha e de Jú- muito mais do que um treino físico
lia de toda terça e quinta chegarmos correndo Alice Lima
em casa, eu do trabalho e ela da escola, e nos pre-
pararmos para mais uma aula de DPF e de Kara-
A defesa pessoal vai muito além de uma ati-
tê. Esse novo estilo de vida tem nos ajudado em
vidade física. É autoconfiança, empoderamento
vários aspectos, dentre os quais, destaco o pro-
e aprendizados novos a cada treino. É saber que
cesso evolutivo de transformações internas e ex-
toda vez que saímos de casa, situações de risco
ternas que temos conseguido conquistar porque,
podem surgir e vamos estar preparadas para
enquanto Júlia fica feliz em executar o “kata”,
elas. Boate, bar, na rua, no ambiente de trabalho
eu saio da aula renovada por ter conseguido me
ou dentro da própria casa. Nunca sabemos quan-
concentrar nos movimentos apresentados pela
do e onde podemos ser violadas ou assediadas.
Stephanie, isto é, literalmente desligada de ou-
Além de treinar o corpo, a defesa pessoal me
tros a fazeres. O revigoramento físico e mental é
preparou mentalmente para lidar melhor com as
incrível!
situações do meu dia-a-dia. Encontrei na aula um
A manutenção da endorfina, que é liberada
ambiente acolhedor, onde posso trocar experiên-
em abundância durante a prática de exercícios
cias e me fortalecer. Aprendi sobre disciplina e
físicos e leva a um estado de felicidade e relaxa-
cuidados com o outro. Entendi que nem sempre

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podemos controlar todas as situações, mas pode-
mos nos preparar para elas.
Depois que escolhi praticar luta, percebi que
a defesa pessoal era o lugar certo para mim. Per-
cebi que a luta é diária, para além dos tatames.
Hoje, posso dizer que os treinos já fazem parte
da minha rotina e são fundamentais para o meu Uma jornada de fortalecimento físico e
bem-estar e desenvolvimento pessoal.
emocional
Rode Schuab

É sempre bom saber se defender, mas, infeliz-


consciência corporal e superação de mente, para a mulher no nosso país é necessário.
A defesa pessoal entrou na minha vida em um
medos momento de grande fragilidade emocional; estar
entre mulheres, nos incentivando e nos fortale-
Bruna Bonvini cendo física e mentalmente foi de grande ajuda.
Stephanie está sempre preocupada em criar um
Entrei na Defesa Pessoal Feminina como uma ambiente de acolhimento e desenvolvimento e
forma de passar o tempo com minha irmã que já também atenta as nossas dificuldades, dúvidas
tanto gostava e participava das aulas. Porém, o e pontos fortes. É uma experiência que nos pro-
que era para ser um mês se tornaram três, que porcionaenriquecimento e confiança em vários
se tornaram seis... e assim fui ficando. Em cada níveis.
aula, fui totalmente conquistada pela professora
e seu cuidado com as alunas. Em pouco, em pou-
co fui conhecendo melhor meus limites físicos,
minhas apreensões e meus medos, sempre com
muito suporte e atenção. Mas, além dos aprendi-
zados de técnica, acho que o que mais me marcou
foi a questão da consciência corporal tão traba-
lhada, porque, assim, descobri como são minhas
reações em situação de conflito, estresse ou pres-
são. Acredito que isso meu tornou alguém mais
confiante e segura quanto ao meu corpo, força
e capacidade de me proteger. Enfim, sou muito
grata todo empoderamento que me trouxe e por
desenvolvimento físico.

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yonamine chiru| a pioneira
Guilherme Alonso

tarde ficaria conhecido como o avô do kara-


te moderno e que na época já era conhecido
como um dos melhores lutadores de Oki-
nawa.
Segundo a lenda, Chiru tinha uma boa po-
sição social como primeira filha de uma rica
família de comerciantes, mas seus pais não
conseguiam encontrar um marido que ela
quisesse, pois ela não admitia se casar com
um homem que ela pudesse derrotar. Seus
pais aumentaram cada vez mais o dote para
tentar encontrar um parceiro para Chiru,
mas sem sucesso, até que Matsumura soube
dela. Impressionado com suas habilidades
e seu interesse comum em artes marciais, o
lutador resolveu pedir a mão de Chiru em
casamento, que respondeu com um kake-da-
meshi (uma disputa de luta tradicional, para
se testar a habilidade dos participantes). A
disputa teria acabado em empate, e Chiru
aceitado se casar com Matsumura. Algumas
No universo do karatê, muitas vezes ouvi-
variações da lenda afirmam que, notando o
mos falar sobre grandes mestres do passado
e suas façanhas, mas hoje vamos falar sob- empate, ela teria sido quem pediu a mão de
re uma figura pouco mencionada: Yonamine Matsumura.
Chiru, a mulher mais famosa na história an- Outra lenda que se conta é que, preocupa-
tiga do karate no reino de Ryukyu. do com o hábito de Chiru em voltar sozinha
De acordo com Gichin Funakoshi, aos 16 ou para casa à noite, Matsumura resolveu se fin-
17 anos, Tsuru (como Chiru era conhecida na gir de rufião para assustar a esposa. Mascara-
juventude) foi atacada por um bandido que do e escondido nos arbustos, ele esperou por
tentou roubá-la. Embora tenha conseguido sua esposa, esperou até que passasse e só en-
escapar sem ferimentos, ela decidiu apren- tão saiu do esconderijo, agarrando-a por trás.
der artes marciais. Foi aceita como discípula Chiru rapidamente se defendeu do ataque e
de um professor famoso, treinou diligente- desferiu dois chutes antes de bater-lhe na ca-
mente e progrediu para um nível superior, beça, deixando-o semi-consciente. Chiru te-
sendo amplamente reconhecida como uma ria, então, amarrado-o em uma árvore para
artista marcial de alto nível, especialmen- só então descobrir que era seu marido disfar-
te nas artes de grappling de Okinawa, como çado. Incomodada com a postura do marido,
muto e tegumi. Chiru o teria deixado lá. Horas depois, tendo
Embora existam poucos documentos con- sido solto por conhecidos, Matsumura teria
fiáveis sobre a história de Chiru, não faltam chegado em casa, explicando a ausência com
lendas sobre essa guerreira poderosa, divul- a desculpa de ter sido assaltado e roubado.
gadas pelos discípulos de Sokon Matsumura Chiru teria fingido acreditar na história e o
ou pelos discípulos de seus discípulos. A mais aconselhado a tomar mais cuidado e treinar
conhecida é sobre como Chiru conheceu seu mais.
marido, Sokon "Bushi" Matsumura, que mais As histórias de Chiru e Matsumura são lem-

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bradas até hoje no Japão como um exemplo
de coragem e determinação feminina. Chiru
se tornou um ícone feminista, inspirando
outras mulheres a lutar por seus direitos e a BIBLIOGRAFIA:
não se deixarem intimidar por homens que
tentam controlá-las. A lenda diz, ainda, que · FUNAKOSHI, Gichin. Karate-do: My Way of
ela se tornou uma grande mestre em artes Life. Tradução de Miguel Arenhart. São Pau-
marciais e passou a ensinar outras mulheres lo: Cultrix, 1999.
a se defenderem também. · BISHOP, M. (1999). Okinawan Karate: Tea-
Para além de contar a história dessa vene- chers, Styles, and Secret Techniques. Tuttle
rável mulher, a história de Chiru também nos Publishing.
faz refletir sobre a violência contra as mulhe- · HAINES, B. (1995). Karate's History and Tra-
res, que infelizmente ainda é uma realidade ditions. Tuttle Publishing.
em nossa sociedade. Além disso, a lenda da
disputa de luta entre Chiru e Matsumura
também nos faz pensar sobre a igualdade de
gênero nas artes marciais. É triste perceber
que, naquela época, os pais de Chiru estavam
mais preocupados em encontrar um marido
rico e poderoso para ela do que em respeitar
suas habilidades e desejos.
Outra questão que surge da história de Chi-
ru é a invisibilidade das mulheres nas nar-
rativas históricas. Muitas vezes, as mulheres
são apagadas da história ou têm suas realiza-
ções minimizadas, o que contribui para per-
petuar estereótipos de gênero e desigualda-
des. É importante resgatar histórias como a
de Chiru e dar visibilidade às mulheres que
contribuíram para a construção do karate
e de outras artes marciais. Para alguns, por
exemplo, Chiru teria auxiliado Matsumura
em seus estudos, como por exemplo na orga-
nização da versão ortodoxa do kata seisan.
Por fim, a história de Chiru nos inspira a
continuar lutando por uma sociedade mais
igualitária e justa para as mulheres. Ainda há
muito a ser feito para garantir que as mulhe-
res possam desfrutar de seus direitos e liber-
dades plenas, sem serem vítimas de violência
ou discriminação. Devemos nos inspirar em
mulheres como Chiru e continuar lutando
por um mundo melhor para todas as pessoas,
independentemente do gênero.

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lutadorA
o “lugar de mulher” no tatame e o desafio entre cuidar e atacar
Ana Clara Ruas

Crescida e criada numa casa com pai e irmão performance de feminilidade que exige delicade-
mais velho de idade bem próxima, a luta esteve za, baixo tom de voz, submissão, responsabilida-
presente na minha vida desde muito cedo. Na de de cuidar (da casa, dos parceiros, da família,
primeira infância, apresentava-se como brinca- etc.), vestidos, maquiagens, unhas grandes e pin-
deira cotidiana entre irmãos e assim seguiu sen- tadas, cabelos longos arrumados e por aí vai. Para
do até a idade da pré-adolescência, momento de meninas, bonecas e itens de cozinha desde cedo,
virada em que começou a ser apresentada a mim, incentivando-se o ato de cuidar. Profissões como
pelo meu próprio pai, num lugar de necessidade, a minha (psicóloga), do âmbito da saúde, com ex-
enquanto defesa pessoal; o simples fato de ser ceção da medicina (tida como lugar de prestígio
menina, tornando-me mulher, era justificativa e poder) são ocupadas majoritariamente por mu-
o suficiente para apontar a necessidade de que lheres e não por coincidência. E, quase nada do
“você precisa saber se defender sozinha, para que foi citado costuma, tradicionalmente, combi-
caso precisar”. Então, por volta dos 12 anos, co- nar, ser bem visto ou bem vindo no ambiente das
nheci e iniciei o karatê. artes marciais.
Permaneci nas aulas por volta de uns 2 anos, De nós, além do zelo, é esperado pouca ou ne-
passei por 3 graduações, amava treinar bases, nhuma agressividade, portanto, é esperado que
golpes (kihon) e katas. Amava o karatê. Contudo, ocupemos outros espaços que não os de luta. Fe-
o momento de lutar efetivamente (kumite) era lizmente tenho vivido para ver e para ser agente
solitário, rodeado de receios, e eu fazia de tudo ativo do processo de mudança. Na verdade, mui-
para fugir dele; lutava ‘pra valer’ apenas no exa- tas mulheres nunca sequer aceitaram esse lugar
me de faixa. A justificativa que eu mais usava? que nos é falsamente dado como oferecido e ver-
Não havia meninas pra treinar comigo; tinha dadeiramente imposto. Com isso, podemos pre-
medo dos meninos que não sabem o que é a dor senciar espaços que rompem com essa estrutura
do peito crescendo ao acertarem os meus, por e se tornam mais acolhedores, como a Kizame,
exemplo. E muito medo de falhar. Teimosa que por exemplo.
só, batia o pé e não fazia. Em algum momento, Apesar disso, nós mulheres, ainda carrega-
cansei; bati o pé e não fiz mais nada. Apesar de mos internamente a bagagem desse recorte so-
gostar muito, larguei o karatê. cial e de todas essas demandas silenciosas e co-
Dado contexto, levanto as seguintes questões: ercitivas. O ato de chegar no ambiente de artes
Qual lugar da agressividade para quem, assim marciais e matricular-se já carrega em si o ato
como eu, foi socializada enquanto mulher*? Por de muitas barreiras vencidas, de preconceitos in-
que se faz importante, para nós, saber se defen- ternos e externos que precisam ser enfrentados
der sozinha? E qual lugar podemos ter dentro para que possamos chegar; permanecer então,
dos tatames, dojos, ringues, etc., espaços histo- nem se fala. Cada ‘oss’, cada caminhada ao tata-
ricamente dominados por homens*? Já na fase me é um revisitar dessas barreiras derrubadas. É
adulta, perpassando por diversos temas em es- cotidianamente dizer, para si, que podemos sim
tudos, pude começar a dar ‘nome aos bois' para estar ali ocupando esse lugar, sendo agressivas,
a sensação de compreensão confusa que sentia, batendo de frente, disputando com e, inclusive,
quando mais nova, ao ouvir meu pai falar da ne- ‘vencendo’ homens.
cessidade de saber me defender. Antes mesmo da Ao entrar no tatame, internamente, é essa his-
compreensão racional têm coisas, referentes ao torinha que preciso contar de novo e de novo
lugar social que ocupamos, que compreendem-se para mim mesma, para que consiga permanecer,
de maneira sensível, no corpo,. ainda que com medo, para que eu possa acreditar
Enquanto mulher cisgênero**, criada num que sou capaz de mais do que apenas me subme-
contexto embranquecido, entendo que ocupo um ter e/ou cuidar, posso atacar. E essa não é tarefa
lugar social muito bem demarcado: espera-se a fácil de se fazer; por mais que eu viva em am-

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bientes que muitas pessoas partilham do mesmo tra, faixa preta - por si só, já implica outro tom
ponto de vista que o meu (de que não é preciso para esse espaço comumente hostil aos nossos
atendermos às expectativas sociais que nos são corpos. Diariamente nos incentivamos a não per-
impostas, cada qual em seu recorte) ainda somos der treinos, a não entrar de cabeça baixa, a não
minoria em expressividade. Ainda existem mui- deixar de tentar; trocamos sobre essas insegu-
tos outros e toda uma estrutura que seguirá nos ranças que atravessam somente a nós, mulheres;
oferecendo a narrativa silenciosa de que não é falamos e escutamos, nos apoiamos e tiramos for-
ali que deveríamos estar. E é muito simples de ças umas das outras para seguir. Assim, pude per-
cairmos novamente neste lugar esperado pois, ceber que fugir da luta lá com os meus 12 anos,
apesar de doloroso, exige muito menos esforço nos primeiros treinos, foi o que foi possível sen-
do que colocar-se contra ele. do tão nova num espaço que não me ofereceu o
Por isso, ao meu ver, quando num dojo sendo acolhimento que eu necessitava, em que não me
mulher, já há essa luta invariavelmente travada sentia compreendida ou escutada, em que eu não
e que, ainda que treinando sozinhas, estamos me sentia disponível, nem segura para me colo-
buscando vencer. Nos momentos de estudo de car ali sendo forte e vulnerável - mais do que eu
combate, kumite, sparring… é esse plano de fun- podia compreender que já estava sendo apenas
do que vem junto. Ali, precisamos enfrentar opo- por ali estar.
nentes, anseios pessoais e expectativas sociais. Honra, realização e gratidão são os sentimen-
O Guilherme (sensei) costuma dizer que, no mo- tos que prevalecem hoje, aos 25, há um ano que
mento do combate, precisamos nos despir dessas escolhi voltar e começar novamente. Lutar já não
ansiedades, pois entrar lutando com elas é entrar me parece mais tão ameaçador assim e desistir já
lutando com no mínimo contra dois: o oponen- não é mais opção. Sigo vencendo coletivamente
te e nossa própria cabeça; e dois contra um, é minhas lutas, sendo apoiada e assistindo às que
entrar em desvantagem. Se somarmos mais um me acompanham à vencerem junto a mim. Sem
nessa conta, de todo o peso social que é estar ali, que nenhuma de nós desista por achar que não
a derrota é quase certa. Entretanto, não acredi- pode ou não consegue, admirando e me inspiran-
to que seja uma luta que possamos abdicar, essa do nas que vieram antes, pavimentando o cami-
do contexto social, pois querendo ou não, ela me nho para as que estão chegando, para que seja
acompanha na pele. mais fácil para as próximas do que foi para mim.
De onde tirar forças então para ultrapassar O “lugar de mulher” no tatame é justamente
essa sensação de não pertencimento, esse medo o de romper com ele enquanto algo imposto. E
de assumir uma postura agressiva e acabar se o desafio? Está dado, mas que possamos beber
machucando ou, pior, machucando ao outro - da agressividade para encará-lo e lançar mão do
àqueles que nos ensinaram que deveríamos cui- cuidado entre nós para que possamos sempre re-
dar e não ferir? Temo em dizer que essa resposta tornar, cada vez mais fortes e seguras de que ser
talvez não exista ou ao menos não está dada. É no agressiva, tanto quanto zelosas, poderá e irá ca-
caso a caso que encontramos, mas isso não preci- ber em nós sempre que for preciso.
sa - e, acredito eu, que nem se deve - ser sinônimo *Nesse texto, todas as vezes que me refiro a
de fazer só. “mulheres” e “homens” falo sobre o recorte de
A minha aposta é sempre no coletivo e cer- pessoas cisgêneros, apenas.
tamente esse foi um dos fortes motivos que me **Cisgênero é o indivíduo que se identifica
fez entrar na Kizame e me faz permanecer. Aqui com o sexo biológico com o qual nasceu.
na academia, presenciamos cotidianamente mu-
lheres fazendo parte de todas as modalidades de
luta. E se isso significa um embate silencioso para
cada uma delas, significa também um exemplo,
um abraço, um “vai que dá” silencioso pra mim -
e muitas outras.
Dividir tatame com outras alunas na turma e,
principalmente, com a Stephanie - mulher mes-

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Quebrando moldes e Clareando a mente e
enfrentando desafios com amor fortalecendo o corpo
Vitória Fernanda Luíza Ferreira

Desde que tive a oportunidade de experimen- Foi uma mulher quem guiou meu primeiro
tar o karatê por algumas semanas aos meus 10 treino de karate. E só depois que me avisaram
anos, estar nos tatames sempre foi um sonho. No que o sensei era um homem... de qualquer for-
pouco contato que tive na infância, pude expe- ma, foi inspirador ver uma mulher na posição de
rimentar a possibilidade de me mostrar forte e instrutora. Treinei durante 3 anos com uma mé-
capaz de enfrentar todos os desafios na frente de dia de 3 alunas mulheres, além da Stephanie que
muitas pessoas que, em sua maioria, não espera- já era faixa preta. E depois, devido a quarente-
vam isso de mim. na, parei de treinar. Quando voltei tinham muito
Lutar hoje, aos 25 anos, significa muito mais do mais mulheres treinando do que antes. Esse au-
que apenas desferir golpes. Significa não desistir mento me fortaleceu, porque acredito que vendo
de mim mesma, significa não me deixar paralisar e lutando com mulheres que admiro consigo en-
pelo medo, levantar a cabeça e ir com medo mes- xergar mais força em mim.
mo. Acreditar que com esforço e treinamento eu Mas, antes de continuar com as histórias de
consigo enfrentar qualquer situação e, entender dentro do tatame, gostaria de contar um pouco
que mesmo quando eu saio machucada eu ainda da minha infância com esportes. Meu pai sem-
estou aprendendo, me capacita para enfrentar pre me colocou para praticar em turmas mistas.
medos e inseguranças em qualquer esfera do co- E como ele sempre foi muito fã de esportes, tive
tidiano, dentro e fora do tatame. ótimos professores que valorizavam muito a téc-
Ser mulher no tatame é todo dia quebrar o nica. Com isso, acabei sempre associando que um
molde do que a sociedade espera de mim e, às bom chute de futebol, ou uma boa cortada no vô-
vezes que eu mesma me imponho, para tentar lei, acontecem por causa de uma técnica muito
construir algo novo. É dolorido. Às vezes só que- bem executada e não somente pela força.
ro chorar, há momentos que quero fugir e outros E agora voltando ao tatame, e ao karate, que
que me questiono o motivo de me colocar nes- é uma arte marcial que preza muito pelo funda-
sa condição, porém no fim a resposta é sempre mento da técnica; mantive meu pensamento de
o amor. Amor a mim e, a todos que também tor- que com uma prática valorizando a execução da
cem e evoluem ao meu lado diariamente, princi- técnica poderia "suprir" uma possível falta de
palmente às outras mulheres que compartilham força em relação aos homens. Porém, o que mais
comigo esse espaço, e por vezes os mesmos sen- me surpreende treinando é que não preciso de
timentos. um físico muito bom e de uma técnica perfeita
para poder lutar de igual para igual com um ho-

ALÉM DAS BARREIRAS mem, como se precisasse sempre treinar mais


para compensar o fato de ser mulher.
Atualmente prefiro pensar somente em me-
Nathália Mattos lhorar minha técnica para melhorar minha luta.
Quando entrei para o karate, tive que lidar Porque, afinal de contas, não é verdade que pre-
com o medo de errar e demostrar fraqueza em ciso estar nesses ambientes sempre "compensan-
um ambiente predominante masculino, e apren- do" por ser mulher. Porque hoje em dia tenho
der a desafiar meus limites mentais e físicos. Mas mulheres perto de mim que são fortes e consigo
sempre com a ajuda das minhas companheiras reconhecer essa força nelas, e se essa força existe
de tatame. Hoje, temos o mesmo número de ho- nelas ela também está em mim.
mens e mulheres em um ambiente respeitoso e
acolhedor, onde me sinto preparada para enca-
rar e quebrar barreiras.

12
TREINO
x--x==
11/03
09h

DE AIKIDO

No dia 11/03, celebraremos um marco muito especial na trajetória do nosso querido mes-
tre Silvio Meirelles, 5º Dan de Aikido, que completará 37 anos de dedicação e prática desta
arte marcial japonesa fascinante. Em homenagem a essa data memorável, convidamos a to-
dos para se juntarem a nós às 09:00h para um treino especial, onde teremos a oportunidade
de reunir amigos, treinar juntos e aprimorar ainda mais nossos conhecimentos nessa arte.
O Aikido é uma arte marcial japonesa que se concentra no uso eficaz da energia e movi-
mento do oponente para imobilizá-lo ou lançá-lo ao chão. Ao contrário de outras artes mar-
ciais que se concentram na força e agressão, o Aikido enfatiza a harmonia e a não-resistên-
cia, permitindo que indivíduos de todas as idades e habilidades participem.
Além de sua eficácia como técnica de defesa pessoal, o Aikido é uma prática que beneficia
o corpo e a mente. Através do treinamento regular, os praticantes de Aikido desenvolvem
sua flexibilidade, força, equilíbrio e coordenação, ao mesmo tempo em que aumentam sua
concentração, autoconfiança e tranquilidade interior.
Não perca esta chance única de celebrar a paixão e o compromisso de um verdadeiro mes-
tre em uma atmosfera acolhedora e inspiradora. Esperamos você!

INSCREVA-SE

13
sufrajitsu | a luta das sufragistas
Guilherme Alonso

O Baritsu ficou conhecido através das histó- de mulher forte e combativa, o que contri-
rias do escritor britânico Arthur Conan Doyle buía para o fortalecimento emocional e psi-
em seus romances de Sherlock Holmes, nos cológico das mulheres. Ao se engajarem em
quais o termo se referia a um estilo de luta atividades que eram consideradas mascu-
que a personagem Holmes teria aprendido linas e desafiarem as normas de gênero, as
durante suas viagens ao exterior. Todavia, mulheres do movimento sufragista estavam
não é todo mundo que sabe que Doyle se ins- construindo uma nova narrativa sobre o que
pirou em uma luta organizada por Edward significava ser uma mulher. Essa narrativa
William Barton-Wright, que uniu técnicas enfatizava a força, a coragem e a determi-
de Boxe, Savate, Canne de Combat e Jiu-jitsu nação, atributos que eram vistos essenciais
japonês. Portanto, menos gente ainda tem para a luta política e social.
conhecimento do impacto dessa prática nos Além disso, a prática de lutas era uma for-
ma de se proteger das agressões físicas que
as mulheres do movimento sufragista en-
frentavam por parte das autoridades e de
grupos antifeministas. Durante as manifes-
tações e protestos, as mulheres muitas vezes
eram alvo de violência policial e de ataques

movimentos feministas da era Vitoriana.


O início do século XX foi um período de mu-
danças significativas na Europa e nos Estados
Unidos, com o surgimento de movimentos
sociais e políticos feministas, que defendiam
a igualdade de direitos entre homens e mu-
lheres, sendo o movimento sufragista um dos de grupos contrários ao movimento sufragis-
principais movimentos desse período. Con- ta. Aprender técnicas de autodefesa permi-
tudo, a luta política e social, de uma forma tia que as mulheres se defendessem dessas
ou de outra, atravessa códigos, imaginários e agressões e se protegessem de maneira mais
arquétipos construídos socialmente e todas efetiva.
essas estruturas estavam sendo, finalmente, Assim sendo, o Baritsu era uma boa opção
questionadas. por condensar técnicas simples e eficazes de
Nesse sentido, a prática de lutas também diferentes estilos, inclusive de boxe e savate –
era uma forma de construir uma identidade lutas vistas como ainda mais masculinizadas.

14
Praticar Baritsu não era apenas se fortalecer
fisicamente, mas também causar um impac-
to político. Além disso, mulheres passaram
a participar de certas competições e eventos
esportivos, desafiando as normas sociais que
as limitavam a papéis domésticos e de sub-
missão.
As mulheres ainda enfrentam desigualda-
des de gênero em várias áreas, incluindo o
mercado de trabalho, a política e a cultura. A
luta pela igualdade e pelos direitos das mu-
lheres é uma batalha contínua e persistente
que ainda não foi completamente vencida.
No entanto, a história do Baritsu e sua rela-
ção com o movimento sufragista nos mos-
tram que a resistência e o empoderamento
das mulheres podem ser encontrados em
muitas formas e lugares inesperados. A prá-
tica de artes marciais, por exemplo, pode ser
uma maneira importante para as mulheres
se fortalecerem e se protegerem em um mun-
do ainda marcado pela violência de gênero.

BIBLIOGRAFIA:

·Barton-Wright, Edward William. Self-De-


fence for Ladies and Gentlemen: A Ninete-
enth-Century Treatise on Boxing, Kicking,
Grappling, and Fencing with the Cane and
Quarterstaff. Blue Snake Books, 2014.
·Casdagli, Helen. "Bartitsu and the Suffraget-
tes: Women's Self-Defence in Edwardian En-
gland." Martial Arts Studies, vol. 2, 2016.
·Evans, Caroline. "The Struggle for the Vote:
Women's Martial Arts and the Militant Suf-
frage Movement." Martial Arts Studies, vol. 6,
2018.
·Krieger, Joanne B. "The Art of Self-Defen-
se: Women, Boxing, and the Suffrage Move-
ment." Journal of Sport History, vol. 15, no. 3,
1988.
·Thomas, Wendy R. "A 'New Style of Femini-
nity': The Introduction and Reception of Jiu-
-Jitsu in Britain and the Empire, c.1895-1908."
Gender & History, vol. 28, no. 1, 2016.

15
Lugar de Mulher é na luta
Carolina Bouchardet

bém um outro lado, mais cotidiano e interno,


da prática das artes marciais por mulheres.
O treino de artes marciais é capaz de operar
mudanças não apenas externas – na rotina e
no corpo das praticantes – mas também na
relação da mulher consigo mesma.
Em primeiro lugar, a prática da luta exige
o cultivo da autodisciplina: é preciso cuidar
do material de treino, organizar tudo para o
horário da aula, acordar cedo ou ir dormir
mais tarde, se alimentar bem, descansar, de-
senvolver uma rotina de treinos e gerenciar
todas as outras obrigações do nosso dia-a-
-dia para conseguir comparecer à academia
e evoluir. Em segundo lugar, a luta também
exige um senso de curiosidade: despertar o
próprio interesse em aprender mais, obser-
Como se sabe, na Inglaterra do século XIX, var, trocar com o professor, estudar novas
o movimento sufragista lutava por direitos técnicas, analisar a movimentação do opo-
políticos básicos para as mulheres, como o di- nente, ser lógica e estratégica – enfim, tentar
reito ao voto. Um dos aspectos mais interes- encontrar qual movimento corporal precisa
santes dessa etapa histórica de reivindicação ser ajustado para otimizar a potência de um
de direitos das mulheres é que um segmento golpe. No fim das contas, lutar é aprender
das sufragistas inglesas aprendia técnicas de mais sobre si mesma.
autodefesa. Alunas de Edith Garruth na dé- É por isso que a maior mudança propicia-
cada de 1910, elas se reuniam para aprender da pela prática de artes marciais por mulhe-
movimentos que integravam técnicas de imo- res é interna. Lutar, para nós, é conhecer a
bilização com situações reais pelas quais as potência e os limites do próprio corpo – um
militantes passavam durante manifestações corpo historicamente significado como pas-
públicas. Assim, por exemplo, aprendiam sivo, objetificado, retirado de nossa posse
a usar as posições de luta em policiais que e de nosso conhecimento. Aprender artes
tentassem impedir seus protestos, ou para marciais é aprender a usar a força do outro
se protegerem umas às outras. A autodefesa como resposta, usar a técnica para resistir a
que elas aprendiam era instrumental: servia tentativas de invadir nosso espaço, signifi-
à coletividade das mulheres sufragistas para car o próprio corpo como plenamente capaz
garantir que pudessem lutar pelos seus direi- de se defender. Mas lutar, também, é passar
tos políticos nos espaços públicos. tempo de qualidade com os amigos de treino,
Séculos depois, as artes marciais, agora encontrar o lazer em outros lugares tradicio-
amplamente difundidas entre as mulheres, nalmente relegados aos homens, descobrir
continuam úteis à autoproteção em situações diversão no impulso agressivo – negado à
de risco. Principalmente considerando que o concepção mais conservadora de feminilida-
corpo feminino é historicamente objetifica- de – é se expandir e se cultivar cada vez mais
do, o conhecimento marcial é fundamental na técnica da autodefesa. Praticar artes mar-
para fugir de tentativas de submeter nossos ciais como mulher, é, enfim, criar uma nova
corpos ao controle do outro. Mas existe tam- relação com o próprio corpo.

16
Tornando-se forte
as lições do Savate para Além da Luta
Carolina Berriel Ana Luíza Rizzo
Na minha primeira aula me neguei a ba- Minha experiência na luta é, ao mesmo
ter. As aulas seguintes não foram muito me- tempo, surpreendente e algo que eu já espe-
lhores. Eu passava grande parte apanhando rava. Explico. Por um lado, apesar de nunca
e de vez em quando fazendo um golpe mal ter feito uma aula de luta sequer antes de en-
feito. Depois de apanhar muito e começar a trar para o Savate na Kizame, eu já imagina-
ficar com raiva, eu ia para cima com tudo, va que o esporte seria algo que eu me identi-
sem ligar para técnica e sequência, o que me ficaria. Não só por nunca ter sido uma pessoa
fazia apanhar mais. Uma das grandes lições muito delicada, mas também pelo espírito
que aprendi foi a controlar os sentimentos, competitivo e por gostar da busca pela evo-
ver a situação de uma forma objetiva e traçar lução. Por outro lado, eu me deparei com um
uma estratégia. Com o tempo fui ganhando outro viés da luta que eu não imaginava. O
confiança e percebendo que eu tinha tanto que aprendemos e lidamos ali, dentro do ta-
potencial quanto qualquer pessoa ali, inde- tame, vai muito além da arte marcial em si…
pende de tamanho e gênero. Levamos para todos os aspectos de nossas vi-
Não só meu físico, como o meu psicológico, das. Eu comecei a fazer o Savate em 2020. De
são trabalhados em todas as aulas. Lidar com lá para cá, aprendi a me impor mais (tanto
frustração, medo, raiva e outras emoções não no ambiente de trabalho, quanto nas minhas
é fácil, mas me tornou alguém mais forte. O relações pessoais), a não ter medo ou vergo-
Savate me trouxe uma confiança para além nha da minha força e da minha potência. Até
das aulas. Explorar o meu limite e sair da mesmo, a lidar melhor quando as coisas não
zona de conforto durante as aulas me ajudou saem como esperado e a como agir a partir
a fazer o mesmo no meu dia a dia. Entrar em daí.
uma sala de aula lotada, uma entrevista de
estágio ou qualquer outra situação que antes
me deixaria nervosa, ansiosa e desconfortá-
vel, passou a ser apenas mais um round, que
Além dos Limites
se eu fosse confiante e racional, conseguiria
ganhar. Desafiar Estereótipos e Superar
Como mulher, saber me defender faz com
que eu me sinta mais segura e independen-
Barreiras
Aline Cardoso
te. Infelizmente, já passei por algumas situ-
ações desconfortáveis apenas por conta do Ser mulher nas artes marciais pode ser
meu gênero, e a sensação de vulnerabilidade uma experiência única e desafiadora. Mesmo
é gigante. Saber lutar não quer dizer que eu em um ambiente cada vez mais inclusivo, a
estou protegida do mundo e posso me defen- maioria das artes marciais ainda é domina-
der de tudo, mas me mostrou que ser uma da por homens, o que pode criar uma sensa-
mulher não me torna fraca ou limitada. ção de isolamento ou inadequação para nós
mulheres. Às vezes esse sentimento pode ex-
trapolar nos fazendo sentir que precisamos
trabalhar duas vezes mais do que nossos co-
legas homens para sermos levadas a sério ou
sermos respeitadas durante o treino.

17
No entanto, para alguém que nunca ima- busca de reconhecimento foi árduo e ainda é
ginou se tornar uma estudante de artes mar- até os dias atuais; dessa maneira, quebrar o
ciais, fazer parte desse mundo tem sido uma paradigma de corpo frágil e permanecer no
experiência empolgante e enriquecedora. ambiente das lutas é também uma forma de
Mesmo sabendo que o caminho nas artes romper com o sexismo e as barreiras sociais.
marciais é uma jornada longa e difícil, na Ki-
zame aprendi que essa caminhada pode ser Ainda há um longo caminho a percorrer,
feita no meu próprio ritmo e em equipe. Não mas seguimos caminhando (e lutando, no
há pressão para se tornar uma atleta ou para sentido literal da palavra)
competir. O objetivo principal é a autodes-
coberta e o desenvolvimento pessoal, e isso
pode ser libertador para nós, mulheres, que
muitas vezes enfrentamos expectativas so-
ciais rígidas em relação à aparência, compor-
tamento e desempenho.

Superando o Sexismo
e Promovendo o
Autoconhecimento
Beatriz Di Sessa
Esportes de luta são comumente vistos
como espaços onde predominam a compe-
tição e a violência, com rituais que indicam
formas de aumentar a virilidade e atingir
uma masculinidade ideal; um local onde se
despreza a dor e fomenta a vontade de ven-
cer.
Confesso que, com um histórico de vio-
lência doméstica, perceber a arte marcial
para além do contato físico me parecia um
grande desafio. No entanto, estar na Kizame
– um ambiente que promove diariamente os
princípios filosóficos da luta, abordando o
respeito, a disciplina e o autoconhecimento
– foi essencial para me proporcionar outra
perspectiva, e a partir daí pude compreender
melhor a arte marcial e o lugar que ocupo no
tatame – e na vida.
A história feminina é marcada por ruptu-
ras, transgressões, avanços e preconceitos. O
percurso que a mulher fez na sociedade em

18
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pequenas lesões são inevitáveis em um treinamento


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19
Acupuntura e a regulação da energia vital no
tratamento da dor
Marcella Coppo

Frequentemente, ouvimos falar que acu- bem comum nos tempos que vivemos. Repro-
puntura é boa no tratamento da dor. Mas duções e atualizações lisérgicas das fotogra-
como a inserção de agulhas, muitas vezes co- fias Kirlian. Mas propomos um exercício de
locadas em partes do corpo que não dói, pode imaginação: imaginemos que cada neurônio
fazer com que essa dor melhore ou até mes- possui o seu Qi, cada glândula secretando
mo passe de um segundo a outro? hormônios está sendo capaz disso através do
Existem muitas maneiras de responder seu Qi, cada piscada que os olhos dão, a cada
essa pergunta, bem como existem muitas for- arrancada onde nossos musculos das pernas
mas de fazer essa mesma pergunta. Então, e quadril se contraem para dar o impulso de
escolhemos um caminho que diferencia e ex- um chute… todos os nossos processos são e
plica de maneira mais ampla o que envolve a dependem da quantidade e da qualidade de
Medicina Oriental como conhecimento único Qi disponível. Assim uma criança possui mui-
na Saúde. to mais Qi do que um idoso, sim. Bem como
Muito se fala em “energia”, não é verdade? um adolescente tem seu Qi mais desorganiza-
Hoje existem muitas figuras de linguagem do pela nova leva de hormônios a qual está
com essa palavra e muitos novos sentidos e sendo exposto, uma mulher grávida saudá-
conotações foram adicionados a mesma. Em vel também é um ser abundante em Qi, ape-
Medicina Chinesa, bem como nas Artes Mar- sar dos pormenores que acompanham essa
ciais, existem alguns tipos de Energia. Ressal- condição falando em energia vital.
tamos que talvez essa seja uma das a princi- Então o que as agulhas fazem quando inse-
pais diferenças entre a Medicina Ocidental e ridas nos pontos certos, é fazer com que o seu
a Medicina Oriental. A Medicina Oriental tra- corpo se autorregule, entre em homeostase,
balha com os aspectos físicos, mas sobretudo possibilitando assim uma melhor condição
trabalha com a Energia Qi ou Ki (japonês). de ação do seu próprio organismo e assim
A Energia Qi, ou apenas o Qi, é a energia também suas curas “milagrosas”. É uma me-
vital. Essa que mantém nossos órgãos fun- dicina inteligentíssima, cada vez mais dispo-
cionando 24h por dia desde a nossa chega- nível e conhecida!
da a esse mundo. O Qi é que faz o coração
pulsar, que faz os pulmões se encherem e se
esvaziarem, que faz a comida ser digerida,
que faz com que sintamos cheiro, sabores e
vejamos as cores. Isso é a Energia Vital, Qi,
tudo que acontece após o nosso nascimento.
É essa mesma energia que se trabalha nas ar-
tes marciais através da respiração, dos movi-
mentos nos katas, na percepção aguçada que
o tatame proporciona aos seus adeptos. Pra-
ticar Artes Marciais é, por si só, uma maneira
de curar e elevar o seu Qi, a sua Energia Vital.
Uma imagem mental muito comum de
“energia” são modelos humanos em 3D, com
um campo áurico colorido, essa é uma ideia

20
x--x==

DE OLHO
NO EXERCÍCIO

O burpee conjugado com salto lateral so- to lateral sobre o step é que ele pode ajudar
bre o step é um exercício que combina mo- a minimizar o abalo muscular - quando os
vimentos de agachamento, flexão de braços músculos são submetidos a movimentos re-
e salto lateral em um único movimento. Este petitivos ou de alta intensidade e não têm
exercício é conhecido por melhorar a resis- tempo suficiente para se recuperar comple-
tência cardiovascular, força, potência e agi- tamente. Como nessa dinâmica os músculos
lidade, tornando-o uma excelente escolha são esticados rapidamente e então encurta-
para atletas que praticam artes marciais. dos rapidamente, pode ser uma ´ótima fer-
Esse exercício é um excelente treino plio- ramenta para ajudar a minimizar os efeitos
métrico, que envolve saltos explosivos e mo- de fadiga do abalo muscular e a promover a
vimentos rápidos, o que pode ajudar a me- recuperação muscular adequada
lhorar a potência muscular. Realizar essa Por fim, esse exercício também também
sequência requer que o atleta se mova rapi- pode ajudar a desenvolver a capacidade de
damente, pulando lateralmente sobre o step, realizar mudanças de direção em alta velo-
o que pode ajudar a melhorar a coordenação cidade, o que é crucial para muitos esportes
e a capacidade de resposta em situações de de combate. A habilidade de mudar rapida-
combate. Isso pode ser especialmente útil em mente de direção pode ajudar a confundir o
artes marciais, onde a velocidade e a capa- oponente e criar oportunidades de ataque ou
cidade de reagir rapidamente são essenciais. defesa.
Além disso, do burpee conjugado com sal-

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judo feminino | empoderamento e superação
Marvin Pio - 2º dan de Judô

O universo das lu- de um sistema feudal para a modernidade; a


tas sempre foi um lu- classe dos samurais estava em extinção e o
gar onde predomina jujutsu, que tinha mais de 2 mil estilos espal-
a figura masculina hados por todo o Japão, estava caindo em de-
e as mulheres não suso; a sociedade nipônica precisava de uma
tinham espaço nessa modalidade que tivesse um propósito adequ-
área pois a sociedade ado com os tempos modernos. O Mestre Jigo-
cria um estereótipo e ro Kano estudou diversos estilos de jujutsu e
preconceito em cima se especializou em duas escolas, a kito ryu e
da imagem feminina que são julgadas como tenjin shinyo, e começou a estruturar o seu
sexo frágil, dependente, fraca, submissa e próprio estilo que era chamado de Kano ryu
acolhedora. jujutsu. Como o nome jujutsu estava associado
Na cultura japonesa existia algumas artes a uma arte voltada para guerra, Jigoro Kano,
que eram melhor aceitas pela sociedade para em maio de 1882, consolidou a sua arte cha-
o público feminino, como o kyudō (arte do mando-a de judô, que em japonês quer dizer
arco e flecha), shadō (cerimônia do chá), na- caminho suave, e justificou sua arte marcial
ginata-dō (arte da naginata), a formação de como um caminho para o desenvolvimento
gueixa (arte do entretenimento) e onna bu- pessoal, buscando harmonia e unidade entre
gueixa (a mulher samurai) e etc. as pessoas, buscando agregar para a socieda-
No Japão feudal existiam as mulheres sa- de, e fazendo com que o judô não seja somen-
murais conhecidas como onna bugueixa, que te uma luta, mas uma filosofia de vida com
tinham uma formação onde eram forjadas valores morais e éticos, um esporte e ainda
guerreiras com o propósito de defesa do lar e um sistema de defesa pessoal.
pessoal, em ocasiões específicas poderiam ir Jigoro Kano sempre pensou em usar o judô
para o campo de batalha junto dos samurais como ferramenta de desenvolvimento pesso-
homens. Uma guerreira conhecida e bastante al de uma maneira plural, visto que a socie-
importante para o Japão foi a imperatriz Jin- dade pouco incluía as mulheres na área das
gū Kōgō que foi a primeira onna bugueixa, lutas - além do preconceito, havia um estudo
que se tem registro, consorte do 14° Impera- ultrapassado que dizia que a constituição bi-
dor do Japão, o Imperador Chuai que teve um ológica da mulher não suportava certas pra-
curto reinado, do ano 192 ao ano 200. ticas esportivas. Com o conhecimento que
Jingū Kōgō se tornou a Imperatriz regente tinha-se na época, Jigoro Kano pensou em
até que seu filho Ōjin tivesse idade suficiente incentivar a prática marcial de forma segura
para assumir o trono do país. Ela foi capaz de para o público feminino e criou a escola Jos-
se manter no trono japonês a princípio por hibu - divisão feminina de judô.
possuir um par de jóias consideradas divi- Na Joshibu as mulheres tinham um tipo de
nas. Mais tarde, suas façanhas militares dis- treinamento que era específico para elas, nos
pensavam quaisquer adornos sagrados, pois quais faziam bastante kata com baixa inten-
em seu governo ela mostrou-se ser uma boa sidade ou sem projeção, e o randori que é um
estrategista conquistando a Coreia em menos treinamento de estudo de combate, que qu-
de um ano e consolidou a hegemonia nipôni- ando acontecia era bem modulado para que
ca nessas terras. não tivesse tanta intensidade; este tipo de
O Judô é uma arte marcial que nasceu após treinamento deixava a desejar no ponto de
a restauração Meiji, que foi um período onde vista onde as mulheres não se sentiam moti-
o Japão estava em transição cultural e social vadas a dar continuidade por isso o público
era pequeno, e quando elas chegavam à faixa

22
preta a mesma vinha com uma linha longitu- mens; a atleta teve que cortar o seu cabelo
dinal branca que entendia-se que a formação e se disfarçar de homem. Ao ganhar a com-
feminina não era completa igual a masculi- petição, ela foi descoberta e após esse feito o
na. cenário do judô feminino começou a andar
de forma favorável.
A parte desportiva do judô feminino pas- Kanokogi viajou para o Japão e foi a pri-
sou a ser aceita em seu mais alto nível, os meira mulher a treinar junto com homens
jogos olímpicos, só no ano de 1992 e antes dentro do Kodokan.
disso a penetração do público feminino no
esporte foi forjada com muita luta de verda-
de e alguns nomes são importantes como a
japonesa Keiko Fukuda, que é neta do mestre
Hachinosuke Fukuda, que foi um dos prime-
iros mestres de J.Kano, a Keiko F. Foi a mul-
her mais graduada e única que conquistou o
10° dan (pós morte). Ela tinha uma frase que
marcou parte da sua luta: "Ser gentil, amável
e bonita, ainda firme e forte, mentalmente e
fisicamente."
Teve outra personalidade importante na
luta do judô feminino que foi a Rusty Kano-
kogi. Esta mulher tem uma história incrível
de combate não só dentro do dojo, mas tam-
bém fora, como mulher lutadora. Kanokogi
sempre gostou de treinar junto dos homens,
pois não tinha tantas mulheres nos treina- Outra mulher importante para o desenvol-
mentos, num período onde tinham pouquís- vimento do judô esportivo feminino é a britâ-
simas competições para o gênero feminino nica Sarah Mayer, que assim como Kanokogi,
Kanokogi fez seu nome na luta contra o pre- conseguiu treinar junto com homens no Ko-
conceito quando participou numa compe- dokan e foi a primeira mulher a ter a faixa
tição por equipes que era somente para ho- preta sem a linha longitudinal branca; a par-
tir disso o público feminino passou a treinar
junto com os homens dentro do dojo.

23
Como o judô mudou minha vida?
Joyce Raquel Toba

Sou descendente de japoneses e amo a cul-


tura japonesa, o que explica o interesse pelo
judô! Meus objetivos, com a prática, eram,
inicialmente, trabalhar corpo, mente e espí-
rito, melhorar a coordenação motora e a con-
centração, aprender a me proteger em caso
de queda no dia-a-dia. Porém, sempre tive
um pouco de receio, devido ao meu biotipo
corporal, pois sou magra e de baixa estatu-
ra... Ainda hoje, há um estereótipo e um pre-
conceito em relação à participação do públi-
co feminino no judô...
O fato é que, após progredir no treina-
mento funcional, finalmente, criei coragem e
marquei uma aula experimental na Kizame
Team. Foi amor à primeira vista! Surpreen-
di-me positivamente com o quanto os prin-
cípios do judô estendem-se às nossas vidas!
Desde a primeira aula, vi, na prática, a apli-
cação do princípio 自他共栄 (jita-kyoei), pros-
peridade e benefício mútuos. O espírito de
cooperatividade dos judocas é algo incrivel-
mente acolhedor!
O judô é, na verdade, muito democrático,
pois pessoas de diferentes gêneros, idades e
biotipos corporais podem praticar. Marvin-
-Sensei tem muita didática e paciência! Sem-
pre nos inspira, explicando os princípios fi-
losóficos do judô, além de dar um feedback
sobre aspectos que precisamos melhorar. As-
sim, em poucas aulas, não só tive meus obje-
tivos atingidos, como ganhei autoconfiança e
senti um significativo alívio do estresse!
O judô tem me tornado uma pessoa me-
lhor, por isso, sou muito grata ao Marvin-
-Sensei e à Kizame Team! Incentivo outras
meninas e mulheres a libertarem-se de seus
receios e praticarem! Os benefícios, com cer-
teza, superam os riscos!

24
UM SÓ TATAMI
KZM REUNION
Que tal nos reunirmos para uma roda de conversa sobre a importância de criar um
ambiente mais inclusivo e igualitário nas artes marciais? Como mulher, sei que mui-
tas de nós nos sentimos desmotivadas ou com medo de se entregar completamente ao
treino devido às barreiras estruturais aprendidas socio-culturalmente. Infelizmente, o
machismo é uma dessas barreiras que afeta diretamente a nossa participação e o de-
senvolvimento nas artes marciais.

Contudo, não devemos mudar isso sozinhas. Precisamos da conscientização de todos,


incluindo os homens. É fundamental que todos entendam como as questões de gênero
afetam a nossa participação no esporte e trabalhem ativamente para mudar essa cul-
tura machista. Não se trata apenas de dar oportunidades iguais às mulheres, mas tam-
bém de criar uma cultura de respeito e igualdade.

Portanto, convido a todos, homens e mulheres, para essa roda de conversa, onde po-
deremos debater e entender como podemos juntos mudar esse cenário. Vamos inspirar
e encorajar um ao outro a criarmos um ambiente mais inclusivo e respeitoso para as
mulheres nas artes marciais e em outros esportes. Espero vocês lá!

Nosso encontro será no dia 25/03 começando as 11:00h!

Stephanie Tausch

25
Relação de vídeos disponíveis nessa edição:

Página 21: https://kizame.com.br/revista/03-2023/vetor.mp4

@kizameteam

21 2608-3987

Rua Joaquim Távora,

72, loja 101, Icaraí,

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