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Para falar de Elegba, tenho que começar a falar do princípio da vida física
ou da matéria que ganha vida, do universo, do planeta e do princípio da vida
humana no ayê.
Elegba, hoje cultuado como um orixá nos ritos de cabinda, tem seu culto
inicial nos povos jejes, sendo na realidade uma divindade vodun. Não vou aqui me
aprofundar nessa parte teórica, pois meu intuito é falar sobre conhecimento sem
causar debate sobre o tema, uma vez que o lado Cabinda é considerado Nagô por
alguns e Bantu por outros. Como os povos nagôs cultuam Orixá como divindade,
acredito que quando esse vodun passou a ser cultuado por povos nagôs, passou a
ser cultuado como orixá, chamado de Exu Elegbá e mesmo tendo uma mescla de
culto entre vodun e orixá mantém sua legitimidade natural e espiritual, que passo a
seguir.
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Elegbá ou Exu Elegbá, princípio fundamental que está presente em
todas as manifestações ativas e quentes, energia dinâmica que permeia o universo
físico, é o princípio masculino, permitindo que o material tenha animação,
movimento, ordem e vitalidade.
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chega, Ikú corta esses caminhos de comunicação entre o Ayê e o Orum, e dessa
forma a energia de orum perde a comunicação com com Ayê, e a matéria, massa,
sem receber a energia de Orum, deixa de vibrar a vida, fica estática, parada, sem
vida, morta.
Elegbá
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Seguindo sobre Elegbara, quando nosso planeta começa a se formar,
ainda na era do caos, sem movimento de rotação ou translação, sem dia e noite
definido, sendo bombardeado por meteoros, enfim a terra na época de sua formação
recebe a energia de
Elegba como princípio masculino. Elegba permeia o planeta e permite que a vida
planetária se inicie, coloca ordem no caos. Elegba passa a ser obará do nosso
planeta. Elegba fazendo a comunicação entre o Orun e o Aiyê, faz do nosso planeta
um organismo ordenado, consciente e vivo, permitindo a movimentação e a vida do
planeta. A comunicação entre o dualismo que se faz necessária para vida acontecer,
existe em nosso planeta. A terra como princípio feminino, passivo e material, recebe
a energia ativa do orum através dos caminhos de Elegbá, que coloca na ordem a
energia vital que possibilita o fluxo e a vida.
Os Orixás passaram a habitar nosso planeta através da vida na natureza,
onde outro itan nos conta que "Olorum manda Oxalá à Terra, fazer oferendas aos
Orixás e chegando no Aye, Oxalá encontra Exu”. Imaginamos então que quando
Oxalá, o ar se manifesta no Aye, Exu ou Elegba já habita esse mudo, já havia
permitido a vida acontecer, sendo conhecedor de todos os caminhos do planeta.
Então, quando a terra ganha vida e ordem, Elegba já havia colocado ordem em todo
o universo.
A terra então, se torna um ser vivo, possibilitando a materialização da
energia de cada orixá fragmentado na natureza deste planeta. E nesse entrelaço
entre Elegba e a terra, cria-se a vida humana, a materialização de Olorum, onde ori
também pode se materializar em vidas humanas no planeta.
O homem é o 3° reino de vida na terra, reino hominal, ainda que todos os
reinos de vida anteriores possuírem consciência, apenas o reino hominal consegue
ter a inteligência provida do ori, que é constituído por partículas de luz, partículas de
olorun, energia ativa e criativa. Mas quando a vida humana se faz na terra, a energia
ou força de Elegbá é muito forte para ser Obara dos homens. Os corpos humanos
físicos não aguentam a força e potência de Elegba e então Elegba adentra o planeta
e se divide em várias partes. Em sua divisão espiritual, uma de suas partes é
conhecida como Buruku, exu guardião de todos os portais do submundo, de todos
os portais entre o mundo espiritual e material, por isso Buruku é o exu dos
caminhos espirituais, das feitiçarias, dos espíritos, etc… Até Ikú, para chegar no
caminho de alguém, pede para Buruku direcioná-lo, pois Ikú vem do mundo
espiritual para o material apanhar a energia vital de cada ser humano (Obara)
quando então chega o momento de sua morte.
Elegbara surge na crosta terrestre dividido em 4 partes, Olode, Olonã,
Dagué e Ijelu, literalmente se tornando o cruzeiro com 4 caminhos em sua
subdivisão e dessa forma os homens podem ter seu Obara (exu internamente) com
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menos força e violência, permitindo que cada um tenha seu próprio caminho e
comunicação do seu Ará com seu Orí, ou seja, a ligação do espiritual com o
material.
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E isso fica explícito no início de um batuque de Cabinda, onde inicia a
roda com todos de lado um para o outro e de frente para o centro da roda enquanto
os Alabês tocam e cantam para Elegba e Buruku, se recria a origem da terra, no
início onde ainda não havia vida humana, nem caminhos, e quando inicia o toque a
Olode, então todos da roda se viram e em fila e dançam, um atrás do outro,
simbolizando o caminho, pois a partir daí já existem os caminhos da vida humana.
Sigo falando dessas qualidades no decorrer.
Voltamos a Elegba.
Elegba é o único ser que conhece todos os caminhos da terra, dos mais
elevados e evoluídos aos mais estáticos, por isso o ditado que diz “que Exu faz o
erro virar acerto e o acerto virar erro”.
Um ser humano, após sua partida, sua morte, seu “Ará volta à terra",
onde com e degeneração física, suas partículas vão retornando ao estado natural
mineral, o primeiro reino de vida na terra, seu orí retorna a Olorun, reconectando ao
Todo, chamado "a massa de origem", e sua alma ou o Egum, que é a memória de
sua existência, que muitos chamam de espírito, carrega em si uma carga energética,
uma consciência, que é a união de suas memórias emocionais com tudo aquilo que
fez durante a vida física, ganhando ou perdendo luz. Muitos desses espíritos, almas
ou eguns, que fizeram sua passagem praticamente sem luz, ou com pouca luz e
com o passar do tempo foram perdendo vibração, caem num limbo ou como se diz,
a terra da solidão, um local abaixo da crosta terrestre onde tudo é escuro e inerte, é
onde as partículas passam por longas épocas até conseguirem degenerar igual ao
corpo físico, deixando de existir, perdendo definitivamente suas memórias e
experiências anteriores de vida e voltando à vida através do mundo mineral (Há um
capítulo explicando bem isso, o que é egun, egungun, Babá egun e alma).
Inclusive nesse local, Elegba além de saber onde fica, é o único Orixá
que adentra, nesse caso não mais como Orixá e sim como uma entidade, a segunda
face de Elegba, chamado de Zambirá. Em Igbo Zambirá, “Zan bi ra” significa “eu
vou seguir”.
Achamos assentamentos de Elegba também como Zambirá em alguns
Igbalés ou em locais abaixo da terra, fazendo assim com que Elegba seja o único
Exú a adentrar, além da terra da solidão aos Igbalés, lembrando que Igbalé nada
tem a ver com a terra da solidão.
Essas consciências pouco vibrantes, almas perdidas ou eguns
esquecidos, podemos chamar de Anjos, Anjos caídos, Anjos da solidão, Anjos da
morte, etc. São esses seres que cultuamos como Anjos. Esse culto tem seu início na
cidade de Gravataí/RS (não tenho certeza dos nomes nem da veracidade dessa
história, pois ouvi numa conversa em Viamão/RS na casa de uma senhora que não
recordo o nome, mas me faz sentido). Uma senhora, espírita e clarividente, da
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cidade de Gravataí, um dia diz a seu marido afro religioso, filho de Ogum, que na
igreja de Nossa Senhora dos Anjos, bem como em cemitérios existiam grandes
portais para a terra da solidão, e que verdadeiros mendigos espirituais ali nessa
Igreja imploravam por um pouco de luz para não caírem na terra da solidão. E que
qualquer feiticeiro poderia usar deles para seus pedidos que, com certeza, em nome
de ganharem um pouco de luz, eles atenderiam. Numa busca de comunicação com
esses seres, a pedido de seu marido, essa senhora descobre que dentro da terra da
solidão, as consciências já esquecidas poderiam trabalhar mais e melhor que esses
mendigos e isso se daria através de Isina, que significa em Igbo Isi Cabeça
(consciência) e Ina significa “em um” ou "clareza". IsiIna, Sina, Zina ou Tzina como
quiserem chamar, é a dor da mãe que perde um filho, seria a parte contrária da
alegria da vida, a dor da morte, a terra que perde seu filho para escuridão,
resumindo Isina é a própria dor de uma mãe que perde um filho, um ciclo que
acontece ao contrário da naturalidade. E que quando despertada essa consciência
de Isina, ou essa entidade, enfim quando através dela se oferta algo à algum filho
dela, ela se torna eternamente grata a essa pessoa ou feiticeiro, e pela luz recebida
ao despertá-la, ela consegue trazer de volta algum ou alguns de seus filhos,
chamados de Anjos, e esses passam a trabalhar para quem despertou Isina, de
modo a ganharem cada vez mais luz apenas por serem lembrados em seus
trabalhos e a eles ofertados ebós.
Existe uma associação do culto de Isina com "Aizã'', cujo nome significa
"a esteira da terra" é um vodum feminino dos mais importantes na cosmologia fom.
Ela é considerada a dona dos mercados e dos espaços públicos, onde as pessoas
se encontram e interagem. Para alguns, ela é considerada a primeira divindade
cultuada pelo primeiro ancestral. A ela também é atribuído o dom da palavra e da
comunicação e desta forma está estritamente ligada à Elegba, a quem muitas vezes
é associada como mãe ou esposa. Sua representação é um montículo de terra
colocado no meio das praças de mercado coberto de muitas rodilhas de dezan
(palmas ainda verdes e desfiadas de dendezeiro), onde os comerciantes fazem
oferendas.
Aizã também é cultuada nos humpame, onde é responsável pelos
neófitos em processo de educação, sendo seu montículo sagrado colocado no
abaçá (espaço mais externo ou ante-câmara), ou no abaji (espaço mais interno) dos
conventos. O culto de Aizã é de origem hwedá e é forte sobretudo na região de
Uidá, no Benim (fonte Wikipedia).
Nessa associação, Isina pode ser a parte de Aizã que perdeu seus filhos.
Existe também uma associação de Isina com Oyá ou Oyá Timboa, pela
aproximação desse Orixá ser considerada a donas dos Eguns ou também a Mãe de
Ikú, Mãe de Egum, enfim, várias aproximações dessa entidade com esse Orixá.
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Mas Isina é a dor da Mãe que perde seus filhos que vai te agradecer por
lembrar e salvar seus filhos, dito por essa clarividente de gravataí, que ao trazer
todo o conhecimento desse culto, ensinando desde cantigas, comidas, modo de
culto até a oração para recolher em Igrejas e cemitérios essas entidades para serem
cultuadas em casas religiosas de magia.
O conselho dessa senhora era apenas que se achasse um sacerdote que
lidasse com sacralização de animais, tivesse o assentamento de Elegba e soubesse
lidar com Eguns, mas teria que ser um sacerdote de muita responsabilidade para
que esse culto não caísse em mãos de feiticeiros errôneos, que fossem usar desse
culto apenas para seu próprio crescimento material e esquecendo do propósito
inicial que seria a evolução dessas consciências ou anjos, pois Isina é muito
perigosa, uma mãe que sabe agradecer mas sabe ser severa, e muitos feiticeiros
poderiam perder tudo ao invés de ganhar tendo o conhecimento desse culto, o que
de fato aconteceu com alguns sacerdotes. Na época então, recorrem a uma grande
sacerdotisa de Cabinda, filha de Oxum, que junto a essa senhora faz todos os
preceitos e ritos e realmente descobre a grande benção que é ter esse fundamento
como auxílio espiritual. Desde então, muitas especulações e grandes estórias foram
inventadas em volta desses fundamentos que ao mesmo tempo em que são simples
também são muito complexos.
Para Isina, existe apenas um assentamento, mas existem várias
representações para tê-la em casa sem a necessidade do assentamento, pois Isina
tem nove filhos, nove anjos, e para fazer o assentamento de Isina, precisa fazer o
assentamento dos nove anjos juntos, numa casinha chamada de morofungbalé.
Geralmente cultua-se Isina através de vultos, recolhidos de cemitério com oração,
ebós e horários específicos.
Já os nove anjos, podem ser divididos em 3 cultos ou formas de cultuar.
Existem três anjos que são assentados junto à Elegba, como guardiões,
conhecidos como anjos caídos (dois homens e uma mulher), cada um com seu
nome. Antigamente eram assentados para serem os guardiões de uma casa
religiosa que não cultua exu quimbandeiro (catiço). Em alguns casos, inclusive,
Elegba era assentado em vulto, imagem de anjo ou santo. Um desses anjos seria a
representação de Isina. Geralmente levam o nome de Dein, Nein e Adesun. Tendo
Adesun com a representação de Isina. Adê significa coroa ou cabeça, Sun significa
dormir, então, cabeça que dorme. São cultuados para guarnecer e defender casas e
filhos de santo contra feitiçarias de baixa vibração lançadas contra as casas que os
acolhem e os tratam.
Em outro culto, busca-se dois vultos, duas imagens de anjo: uma na
igreja e outra no cemitério. Neste culto seriam os Anjos da Solidão, que juntos
trabalham sendo o equilíbrio, por isso alguns sacerdotes associam esse culto a
Xangô ou ao próprio Kamuka. São os Anjos do equilíbrio, pois o anjo da igreja,
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olhando para baixo carrega em si a abundância, a riqueza e a prosperidade,
enquanto o anjo do cemitério, olhando para cima, carrega na sua essência a
escassez, a pobreza e a miséria. Tratando dessas consciências, teríamos o
equilíbrio em tudo que se pede, também despertados por IsiIna. Há orações, ebós e
horários específicos para seu culto e rituais. Com nomes de Aloim e Dezin, para
alguns sacerdotes, e Dein e Nein para outros. Seu culto tem que ter o mesmo
tratamento para ambos, pois para um ser rico e ganhar, o outro tem que perder. Aqui
existe esse grande mistério, em que muitos se perdem. Os dois anjos precisam ser
tratados iguais, com mesmo carinho, e com a mesma quantidade de ebós, o que
muda é a qualidade: um ganha o melhor e mais caro enquanto o outro ganha o pior
e mais barato, mas sempre na mesma quantidade.
O anjo que ganha melhor estará satisfeito e dividirá com seu feitor ou
cuidador, enquanto o que ganha o pior, vai trazer muito para ganhar o melhor.
Parece ser desonesto isso, mas não é, nem pode ter pena do pobre e nem agradar
mais o rico ou eles próprios não vão trabalhar de forma adequada e a seu cuidador
pode ter muitas perdas ao invés de ganhos com esse culto. Alguns sacerdotes os
cultuam como crianças, dando em seus ebós apenas doces e mamadeiras,
enquanto outros os cultuam como seres mais velhos, oferecendo-lhes cigarros e
bebidas alcoólicas, além de seus ebós diferentes aos que cultuam como crianças.
Existe ainda um terceiro culto, o menos conhecido e mais perigoso,
conhecidos como o Anjo da Morte, associado ao culto de Xapanã e Eguns. Nesse
culto, busca-se um vulto de anjo que seja oco, com dia, horário e oração
específicos. Esse vulto também representará Isina (aqui, prefiro não comentar o
nome desse anjo). O ritual segue na busca de elementos de três consciências de
pessoas que morreram de mortes específicas, também com orações e horários
específicos, onde se batiza esses elementos em missas dentro de igrejas. Após, são
colocados todos os elementos dentro do vulto, feitos os rituais e depois lacrado o
vulto. Esse culto, precisamente, lida com a morte e a desgraça, seja para
aproximá-las ou afastá-las de alguém. O culto menos falado e ensinado, pois é
muito perigoso, ainda mais em mãos de feiticeiros despreparados de egos
gigantescos.
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* Esse é o início de um livro que estou escrevendo, sobre Exus, Bará, Ori, Bori,Eguns e Vida
humana.
* Não tenho o objetivo de passar fundamentos ou modo de feituras, nem oferendas ou
formas de culto, meu intuito foi de passar meu conhecimento sobre o tema, o que são, como
fazer acredito que cabe a cada família ter seu fundamento e forma de fazer, não existindo
uma forma exclusiva ou fundamento absoluto, uma vez que conheço várias formas e todas
dando grandes respostas a quem tenha esses fundamentos.
* Espero que apreciem a leitura e deixo meu contato para qualquer esclarecimento,
54-999261736. Pai Nado de Oxalá
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