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Contribuições da literatura infantil

para o desenvolvimento moral

Ana Clara Mariano Valentin,

Eliézer Luan Correa,

Giovana de Souza Almeida,

Ryan Mascarello,

Vanessa Camargo de Moraes

1. Introdução

O desenvolvimento de habilidades morais nas crianças não apenas as ajuda a se


tornarem indivíduos éticos e compassivos, mas também contribui para o
fortalecimento de relações saudáveis e para a construção de uma sociedade mais
justa e equitativa. Portanto, é fundamental iniciar esse processo desde a infância, a
crescente complexidade das interações sociais e a rápida evolução da sociedade
moderna destacam a importância crucial do desenvolvimento moral na infância.
Compreender como as crianças internalizam e aplicam conceitos éticos não é apenas
fundamental para a formação individual, mas também para a construção de uma
sociedade coesa e justa.

2. Desenvolvimento

2.1. Base teórica

Jean Piaget, um dos psicólogos mais influentes no estudo do desenvolvimento infantil,


contribuiu significativamente para nossa compreensão do desenvolvimento moral das
crianças. Piaget enfatizou que o desenvolvimento moral é um processo interno e
progressivo que se desenvolve à medida que a criança amadurece cognitivamente.
No período dos 6 aos 12 anos, que corresponde à sua fase de operações concretas.
A Heteronomia Moral (ou Moral Heterônoma) é o estágio que ocorre por volta dos 6
aos 10 anos. As crianças nesta fase tendem a ver a moralidade como algo imposto
de fora, geralmente pelas figuras de autoridade, como pais e professores. Elas
acreditam que as regras são absolutas e não podem ser alteradas. Neste estágio, as
crianças seguem as regras sem questionar, baseando-se em evitar punições.

Transição para a Autonomia Moral (ou Moral de Cooperação) é a transição para o


próximo estágio (adolescência), que acontece entre os 10 e 12 anos, envolve o
desenvolvimento da capacidade de considerar diferentes perspectivas e entender
que as regras podem ser flexíveis. As crianças começam a entender que as regras
são estabelecidas para manter a ordem e promover a justiça, em vez de serem
simplesmente impostas. Elas aprendem a negociar, considerar diferentes pontos
de vista e resolver conflitos de forma mais cooperativa.

Logo, a Autonomia Moral é o estágio final, geralmente após os 12 anos, as crianças


desenvolvem uma compreensão mais autônoma e reflexiva da moralidade. Elas são
capazes de refletir sobre o que é certo e errado com base em seus próprios princípios
e valores, e não apenas nas regras externas. Neste estágio, a moralidade é uma
questão de princípios e valores pessoais.
Piaget enfatizou que o desenvolvimento moral não ocorre naturalmente, mas é
influenciado pelas experiências e interações da criança com seu ambiente. Ele
acreditava que as crianças precisavam de oportunidades para discutir, debater e
refletir sobre questões morais para progredir em direção à autonomia moral. Os
adultos desempenham um papel importante ao fornecer um ambiente que promove a
exploração moral, oferecendo oportunidades para discussões éticas e ajudando as
crianças a entenderem as consequências de suas ações.

Em síntese, de acordo com Piaget, o desenvolvimento moral das crianças entre os 6


e 12 anos envolve uma transição da heteronomia moral, onde as regras são vistas
como absolutas e impostas, para a autonomia moral, onde as crianças desenvolvem
um senso de responsabilidade moral baseado em princípios e valores pessoais, ao
invés de apenas conformidade com regras externas.

2.2 Contexto Histórico

A literatura infantil é uma parte importante da literatura que se dedica a crianças e


jovens, proporcionando-lhes histórias cativantes, moralidades e conhecimentos. Ela
tem uma rica história que remonta a vários séculos e passou por diversas mudanças
ao longo do tempo.

O surgimento da literatura infantil como a conhecemos hoje começou a ganhar forma


a partir do século XVII. Antes disso, as crianças eram vistas como adultos em
miniatura e participavam da vida adulta, havia histórias transmitidas oralmente e
alguns manuscritos escritos para crianças, mas não existiam histórias e livros
específicos para essa fase e a literatura veiculada para crianças e adultos era
exatamente a mesma. Com o Iluminismo, a ideia da infância como uma fase
distinta da vida começou a se desenvolver, e a literatura voltada para crianças
começou a emergir.

No final do século XVIII e durante o século XIX, autores notáveis, como os irmãos
Grimm, Hans Christian Andersen e Lewis Carroll, criaram histórias que se tornaram
clássicos da literatura infantil, introduzindo elementos de fantasia, moralidade e
aventura. Durante esse período, a literatura infantil também foi influenciada pela
crescente importância da educação e da escolarização.
No século XX, a literatura infantil passou por uma evolução significativa, com autores
como Dr. Seuss e Maurice Sendak, que trouxeram inovação e diversidade aos livros
infantis. Além disso, houve uma maior conscientização sobre a representação de
diferentes culturas, gêneros e perspectivas na literatura infantil.

Hoje, a literatura infantil continua a evoluir, abordando questões contemporâneas e


refletindo a sociedade em constante mudança. Ela desempenha um papel
fundamental no desenvolvimento da imaginação, educação e moral das crianças, e é
uma parte essencial da experiência de crescimento e aprendizado.

2.3 O Desenvolvimento Psicossocial Moral na Infância

As crianças aprendem sobre moralidade com o passar do tempo, começando pela


socialização primária na família. A socialização primária, que ocorre
principalmente na família, é onde as crianças são introduzidas aos valores,
crenças e normas morais. Os pais desempenham um papel fundamental ao modelar
o comportamento moral e fornecer orientação ética. As crianças observam como seus
pais lidam com situações morais, como respeito, empatia, honestidade e cooperação,
e aprendem por meio do exemplo e das interações familiares.
A socialização secundária na escola e em outros ambientes também influencia a
formação moral das crianças. Na escola, as crianças interagem com colegas,
professores e funcionários, e são expostas a diferentes perspectivas e valores. Elas
aprendem a trabalhar em grupo, a seguir regras e a lidar com conflitos, o que contribui
para o desenvolvimento de habilidades sociais e éticas. Além disso, a literatura
infantil, como mencionado anteriormente, também desempenha um papel importante
na educação moral, fornecendo histórias e narrativas que exploram questões éticas
e ajudam as crianças a refletirem sobre valores e tomada de decisões.

Segundo estudos de Silvia Lorenzoni Perim Seabra e Claudia Broetto Rossetti (2016),
sua pesquisa buscou examinar os aspectos do desenvolvimento cognitivo e moral de
crianças de 6-7 e 10-11 anos, utilizando o conto de fadas "João e Maria" em formato
multimídia. A análise cognitiva empregou os modos de reconstituição do conto
propostos por Souza (1990), enquanto a avaliação do desenvolvimento moral baseou-
se nos estágios de anomia, heteronomia e autonomia de Piaget (1994). Os resultados
indicam que a maioria das crianças, em ambas as faixas etárias, teve respostas
predominantemente concretas, sugerindo uma estruturação de pensamento menos
complexa. A análise moral revelou uma tendência para julgamentos heterônomos,
especialmente nas crianças mais jovens, enquanto as mais velhas demonstraram
uma capacidade crescente de considerar perspectivas e adotar posicionamentos
mais autônomos. Esses achados ressaltam a importância da idade na estruturação
do pensamento e na compreensão moral das crianças em relação a narrativas
literárias.
Em suma, o desenvolvimento moral das crianças é muito influenciado pela
socialização primária na família, bem como pela socialização secundária na escola e
em outros ambientes. A literatura infantil desempenha um papel crucial ao oferecer
histórias que promovem valores, tomada de decisões éticas e empatia, enriquecendo
a formação moral das crianças.

2.4 A Literatura Infantil


A literatura infantil contribui para o desenvolvimento social e moral das crianças de
várias maneiras. Ela oferece histórias que frequentemente exploram temas morais e
éticos, permitindo que as crianças identifiquem personagens e situações em que
valores, tomada de decisões éticas e empatia desempenham papéis
importantes. As histórias podem apresentar dilemas morais, questionamentos sobre
o certo e o errado e as consequências das ações. Ao se envolver com essas histórias,
através das escolas, pais ou responsáveis, as crianças têm a oportunidade de refletir
sobre esses temas, discutir questões morais e desenvolver um senso de ética. Além
disso, a literatura infantil também pode mostrar a importância da empatia, uma vez
que as crianças podem se identificar com os personagens e entender melhor os
sentimentos e as perspectivas dos outros. Através da leitura de livros, as crianças
podem aprender a considerar os valores, a tomar decisões éticas e a compreender
as consequências de suas ações, promovendo assim o desenvolvimento moral.
“Poucos são os momentos em que, na escola, a literatura infantil é compreendida em
afinidade com os desejos e sensações. A sua instrumentalização, seja para dar conta de
conteúdo, seja para distração, seja para condução do sujeito moral – acaba por interromper
a sua potência enquanto formação ética e estética”. (GHIGGI, CHAVES, SCHNEIDER,
2018)

Os contos de fadas têm uma contribuição significativa para o desenvolvimento


psicossocial infantil. Eles estimulam a imaginação das crianças, ajudam a
compreender emoções, promovem a conscientização moral, desenvolvem
habilidades de resolução de problemas, expandem o vocabulário, fortalecem os
vínculos familiares e podem ser introduzidos em diferentes fases do desenvolvimento
da criança. A adaptação das histórias à idade da criança e discussões com os pais
ou cuidadores são essenciais para maximizar seus benefícios. A estrutura narrativa
típica dos contos de fadas inclui um início, meio e fim, embora nem todos sigam essa
estrutura rigidamente.

A Turma da Mônica, como literatura contemporânea, desempenha um papel


importante no desenvolvimento psicossocial infantil. As histórias em quadrinhos
podem ser uma ferramenta valiosa para estimular a leitura desde uma idade precoce,
permitindo que as crianças se identifiquem com os personagens e compreendam
suas emoções e desafios. As lições morais frequentemente presentes nas histórias
da Turma da Mônica promovem valores como amizade, respeito e honestidade,
que podem ser discutidos com as crianças. Além disso, as aventuras no mundo
fantástico da Turma da Mônica estimulam a imaginação, enquanto as habilidades de
leitura e interpretação são fortalecidas ao ler quadrinhos. Também é uma maneira de
introduzir as crianças à cultura brasileira, uma vez que muitas histórias exploram
aspectos culturais do Brasil. Dessa forma, a Turma da Mônica pode ser usada como
uma ferramenta educativa e de entretenimento que enriquece o desenvolvimento
psicossocial das crianças.

3. Conclusão

Em conclusão, a literatura infantil emerge como uma ferramenta indispensável no


desenvolvimento psicossocial moral das crianças. Ao oferecer histórias envolventes
e personagens cativantes, ela não apenas permite que as crianças explorem
questões éticas, dilemas morais e valores fundamentais, mas também as capacita a
desenvolver empatia e compreensão de perspectivas diversas. Diante desse cenário,
é imperativo que pais e responsáveis leiam regularmente para as crianças,
incentivando-as a explorar o mundo mágico da literatura infantil, a ler por conta própria
à medida que crescem, pois é uma fonte poderosa de enriquecimento para o
desenvolvimento moral e cognitivo das futuras gerações.

Bibliografia
FIGUEIREDO, R.P.; DA SILVA, R.B. Contribuição dos contos de fadas para o
desenvolvimento Psicossocial infantil. Revista Mosaico, v.12, n.1, p. 48-52, 2021.

GHIGGI , Gomercindo; CHAVES, Priscila Monteiro; SCHNEIDER, Daniela da Cruz. A


literatura infantil entre a experiência estética e a educação moral. Educação (Porto
Alegre), [S. l.], v. 41, p. 437-445, 28 jun. 2018.

PEREIRA, Denise Rocha; MORAIS, Alessandra. DESENVOLVIMENTO MORAL: O QUE A


EDUCAÇÃO INFANTIL TEM A VER COM ISSO. Disponível em:
https://revistas.marilia.unesp.br/index.php/scheme/article/view/6642

SEABRA, Silvia Lorenzoni Perim; ROSSETTI, Claudia Broetto. Aspectos cognitivos e morais
do desenvolvimento infantil: investigação por meio de um conto de fadas em versão
multimídia. Constr. psicopedag., São Paulo , v. 24, n. 25, p. 133-148, 2016 . Disponível
em<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-
69542016000100010&lng=pt&nrm=iso>.

Queiroz, S. S., Ronchi, J. P. & Tokumaru, R. S. (2009). Constituição das Regras e o


Desenvolvimento Moral na Teoria de Piaget: Uma reflexão Kantiana.

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