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DANIEL LUCAS ANDRADE DE SOUZA

TRABALHO DE GEOGRAFIA E
ARQUEOLOGIA BÍBLICA

Resenha do livro História de Israel, de


John Bright, para a disciplina Geografia e
Arqueologia Bíblica sob ministração do
prof. Rev. Wilson Santana

Seminário Teológico Presbiteriano


Rev. José Manoel da Conceição - JMC

São Paulo – SP
Junho/2018
ÍNDICE

INTRODUÇÃO......................................................................................................3

O PRÓLOGO: O ANTIGO ORIENTE ANTES DO ANO 2000 a.C.......................5

O CAPÍTULO 1: O MUNDO DAS ORIGENS DE ISRAEL...................................9

O CAPÍTULO 2: OS PATRIARCAS....................................................................12

O CAPÍTULO 3: ÊXODO E CONQUISTA..........................................................15

O CAPÍTULO 4: A CONSTITUIÇÃO E A RELIGIÃO DO


ISRAEL PRIMITIVO............................................................................................19

O CAPÍTULO 5: DA CONFEDERAÇÃO TRIBAL AO


ESTADO DINÁSTICO.........................................................................................22

O CAPÍTULO 6: OS REINOS INDEPENDENTES


DE ISRAEL E JUDÁ............................................................................................26

O CAPÍTULO 7: O PERÍODO DA CONQUISTA


ASSÍRIA..............................................................................................................30

O CAPÍTULO 8: O REINO DE JUDÁ.................................................................34

BIBLIOGRAFIA...................................................................................................38

II
INTRODUÇÃO

Este trabalho apresenta uma resenha da obra “HISTÓRIA DE ISRAEL”,


de John Bright, para a disciplina Geografia e Arqueologia Bíblica do Seminário
Teológico Presbiteriano “Rev. José Manoel da Conceição”, ministrada pelo Rev.
Wilson Santana.

O livro de Bright é divido em: prefácios às edições anteriores e à atual,


introdução, prólogo, doze capítulos subdivididos em seis partes, um epílogo e
um apêndice com as atualizações de sua pesquisa. Para o presente trabalho,
foram avaliados o prólogo e os oito primeiros capítulos (quatro primeiras
partes). O prólogo trada do antigo oriente antes do ano 2000 a.C.
aproximadamente e serve como contextualização para as migrações
patriarcais. A primeira parte (capítulos 1 e 2) trata dos patriarcas de Israel. A
segunda parte (capítulos 3 e 4) aborda o período de formação do Israel
primitivo, discorrendo sobre o Êxodo e o assentamento na Palestina com a liga
tribal. A terceira parte (capítulos 5 e 6) apresenta a transição do sistema tribal
clássico (carismático) para o sistema monárquico (dinástico), bem como a
conseguinte divisão do reino em Israel (ao norte) e Judá (ao sul). A quarta parte
(capítulos 7 e 8) apresenta a queda de Israel e a posterior queda de Judá,
Resenha de História de Israel, de John Bright
Geografia e Arqueologia Bíblica – Prof. Rev. Wilson Santana 4
Aluno Daniel L. A. de Souza – Junho/2018

rumo ao exílio babilônico. A quinta parte (capítulos 9 e 10) trata do período de


exílio e da comunidade judaica após o retorno à Palestina. A sexta e última
parte (capítulos 11 e 12) apresenta o fim do período do Antigo Testamento e o
judaísmo nesse mesmo período.

A resenha apresentada neste trabalho aborda o Prólogo e as quatro


primeiras partes do livro (capítulos 1 a 8).
O PRÓLOGO:
O ANTIGO ORIENTE ANTES DO ANO 2000 a.C.

A obra de John Bright é iniciada com a apresentação do Antigo Oriente


antes do ano 2000 a.C., aproximadamente. A justificativa de Bright é que:

numa época qualquer durante a primeira metade do segundo milênio a.C., é que
propriamente tem início a nossa história. Entretanto, começar com o ano 2000
a.C., como se nada tivesse acontecido antes desse tempo, seria insensatez 1

A primeira das duas seções com as quais dividiu seu prólogo, intitulada
“ANTES DA HISTÓRIA: FUNDAMENTOS DA CIVILIZAÇÃO NO ANTIGO
ORIENTE”, Bright defende a visão de que os mais antigos aldeamentos
conhecidos surgem por volta do fim da Idade da Pedra, entre o oitavo e o
sétimo milênio a.C., e que antes disso os homens viviam majoritariamente em
cavernas. A transição para a vida em aldeamentos teria se iniciado quando, por
volta do nono milênio a.C., na era Mesolítica, a última idade do gelo teria
terminado, permitindo ao homem arriscar a vida numa economia de produção
de alimentos. Nesse período de transição, ter-se-ia também iniciado a

1
BRIGHT, John. História de Israel. São Paulo: Paulus, 2003, p. 41.
Resenha de História de Israel, de John Bright
Geografia e Arqueologia Bíblica – Prof. Rev. Wilson Santana 6
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domesticação de animais. Entretanto, apenas no período Neolítico é que a


transição para vida sedentária teria se completado. 2

Avaliando as evidências arqueológicas, Bright, ao falar sobre Jericó, diz


que teria sido fundada, aparentemente, no fim do oitavo milênio a.C. e teria
durado no mínimo até o fim do sétimo sem que se possa chamá-la primitiva,
pois haveria, entre outras, evidências de ossos de animas domesticados, de
sistemas de irrigação bem desenvolvidos e de instrumentos que
testemunhariam uma Jericó Neolítica com habitantes, ainda que
desconhecidos, na vanguarda da marcha para civilização. Tudo isso mais de
cinco mil anos antes de Abraão.3

Bright não se atém apenas a Jericó e apresenta as evidências que


apontam para a existência de muitas culturas permanentes estabelecidas em
todo o mundo bíblico já no sétimo milênio a.C. Nesse ponto são apresentados
os vestígios que indicam a presença do homem no Egito como remontando
“aos começos da era Paleolítica, quando o delta do Nilo estava abaixo do nível
do mar e seus vales eram um matagal pantanoso”. 4 Segundo Bright, “no Egito,
como em toda parte, a civilização começava a nascer – e isso uns dois mil e
quinhentos anos antes de Abraão.5

Em seguida, Bright apresenta como se deu o desenvolvimento cultural na


Mesopotâmia, durante a Era Calcolítica (Idade da Pedra e do Cobre), entre o
quinto e o terceiro milênio a.C., quando teria havido uma surpreendente
floração cultural.6 O autor apresenta, nesse período, o desenvolvimento de
antigas culturas de cerâmicas pintadas (marca distintiva do período Calcolítico),
a sequência de culturas pré-dinásticas na Baixa Mesopotâmia e o período
Protoliterário, que teria ocorrido entre os séculos XXXIII e XXIX a.C., trazendo
surto de progresso raro na história do mundo.7

No fim da apresentação da Era Calcolítica, Bright fala sobre os Sumérios,


como sendo povo de origem misteriosa e criadores da civilização na Baixa

2
Cf. BRIGHT, John. História de Israel. São Paulo: Paulus, 2003, p. 42.
3
Cf. Ibid., pp.44-45.
4
Ibid., p. 46.
5
Cf. BRIGHT, Loc. cit.
6
Cf. Ibid., p. 47.
7
Cf. Ibid., p. 49.
Resenha de História de Israel, de John Bright
Geografia e Arqueologia Bíblica – Prof. Rev. Wilson Santana 7
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Mesopotâmia. Esse povo teria estado na Mesopotâmia por volta da metade do


quarto milênio e, presumivelmente, teriam introduzido a escrita (os textos mais
antigos conhecidos estão em sumério).8

Bright finaliza a seção falando mais especificamente do Egito e da


Palestina no quarto milênio. Ele apresenta as culturas calcolíticas na Palestina
(que evidenciam os primeiros aldeamentos na região) 9, as culturas pré-
dinásticas do Egito (que teriam sido os precursores da desenvolvida cultura
egípcia posterior, mas que, à época, eram muito pobres se comparadas com as
da Mesopotâmia) e as relações internacionais da época, com trocas culturais e
comerciais que teriam levado a influências mútuas em todo o oriente. 10

Na segunda e última seção, chamada “O Oriente Antigo no terceiro


Milênio a.C”, Bright fala da Mesopotâmia antiga, com detalhes sobre a dinastia
antiga sumeriana, onde a terra era organizada em cidades-Estados, cada uma
com seu Deus e seu templo. Não existia a unificação total da terra, a vida
econômica local era organizada em torno dos templos e o período teria sido de
relativa paz, durante o qual a vida econômica floresceu. 11

A religião dos sumérios teria sido uma forma de politeísmo altamente


desenvolvido, com um panteão complexo e de relativa estabilidade. Bright diz
que “as leis humanas eram reflexo das leis divinas” e que “como acontece em
todo paganismo, os sumérios faziam pouca distinção entre as ofensas morais e
as ofensas puramente rituais”.12

Os semitas na Mesopotâmia durante esse período, os acádios, não teriam


sido absolutamente recém-chegados na região (talvez lá desde o quarto
milênio) e predominavam no norte. Sua língua, o acádio, teria emprestado da
língua suméria a escrita silábica. Dentre eles, Sargão teria sido o fundador do
primeiro verdadeiro império da história (império de Acad – 2360-2180 a.C
aproximadamente), que dominava a Alta Mesopotâmia e promoveu a
ascendência da língua acádia.13

8
BRIGHT, John. História de Israel. São Paulo: Paulus, 2003, p. 51.
9
Ibid., p. 51.
10
Ibid., pp. 53-54.
11
Ibid., pp. 54-55.
12
Ibid., p. 56.
13
Ibid., p. 58.
Resenha de História de Israel, de John Bright
Geografia e Arqueologia Bíblica – Prof. Rev. Wilson Santana 8
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Quanto ao Egito e Ásia Ocidental no terceiro milênio, Bright fala primeiro


do império antigo egípcio, onde aparecem as primeiras dinastias e o
florescimento clássico: foi a idade das pirâmides. Nesse período, o Egito estava
em fase crescente e mantinha presença em toda a região de Canaã. Em sua
religião, o faraó era deus e, além disso, nunca se descobriu um código de lei no
Egito: bastava o decreto do rei-deus. 14 Em seguida, Bright apresenta a
Palestina da Idade do Bronze antiga, durante o terceiro milênio, na qual houve
um progresso admirável: muitas das cidades foram construídas pela primeira
vez e eram bem construídas e muito bem fortificadas.15

No final da seção, Bright apresenta, como componentes do Antigo Oriente


pouco antes da idade patriarcal, a Mesopotâmia com a transição do império
acádio para o sumério (com surgimento da terceira dinastia de Ur – 2060 a
1950, aproximadamente), o Egito com o seu primeiro período intermediário
(entre sec. XXII a XXI a.C., onde havia desordem e administradores provinciais
tornam-se reis locais) e a Palestina recebendo invasores nômades na última
parte do terceiro milênio.16

Bright encerra o prólogo dizendo, sobre esses invasores nômades, que


“talvez, se nossos olhos fossem apenas um pouco mais penetrantes,
poderíamos discernir entre eles […] as figuras de Abraão, Isaac e Jacó”. 17

Curiosa e infelizmente, nenhuma menção a evidências (ou a ausência


delas) relacionadas ao dilúvio é apresentada por Bright. Desde o Prólogo, fica
patente a abordagem do autor, com predominância de uma visão humana e
mundana, com explicações sociológicas, políticas e até naturais (materialistas)
e sem qualquer consideração da interferência sobrenatural de Deus.

14
BRIGHT, John. História de Israel. São Paulo: Paulus, 2003, pp. 59-62.
15
Ibid., pp. 62-63.
16
Ibid., pp. 63-66.
17
Ibid., p.67.
O CAPÍTULO 1:
O MUNDO DAS ORIGENS DE ISRAEL

No Capítulo 1, Bright inicia a discussão sobre as origens do povo de Israel


propriamente dito, isto é, aquele que tomou a forma tribal clássica na terra de
Canaã. Para isso, o autor divide o capítulo em duas seções que cobrem a
primeira metade do segundo milênio a.C., ao qual Bright se refere como
“período patriarcal”.18 São elas “O ANTIGO ORIENTE NOS ANOS 2000-1750
a.C. APROXIMADAMENTE” e “O ANTIGO ORIENTE NOS ANOS 1750-1550
a.C. APROXIMADAMENTE”.

Na primeira seção, começando pela Mesopotâmia, Bright associa a queda


do império de Ur III com a grande manifestação semítica, em todo o Crescente
Fértil, de um povo denominado “amoritas” (possivelmente significando
“orientais”). Estes teriam estado presentes em toda a Palestina e Alta
Mesopotâmia, exercendo grande influência no povo de Mari (responsável pela
queda de Ur III). Com a queda de Ur, surge na Mesopotâmia uma situação
confusa, em que outros Estados aparecem. Entre eles, a cidade de Babilônia
surge com uma dinastia amorita (I Babilônia), que dura até 1830 a.C. Sem o

18
BRIGHT, John. História de Israel. São Paulo: Paulus, 2003, p. 70.
Resenha de História de Israel, de John Bright
Geografia e Arqueologia Bíblica – Prof. Rev. Wilson Santana 10
Aluno Daniel L. A. de Souza – Junho/2018

império de Ur e com o desenvolvimento dos Estados de Mari, Assíria e


Babilônia, segundo Bright, a “luta pelo poder estava esquentando e muito em
breve chegaria a ferver”.19

Segundo Bright, é nesse período que surgem dois conhecidos códigos de


leis: um em sumério (Lipit-Ishtar de Isin) e outro em acádio (do reino
Eshnunna). Estes precedem o famoso código de Hamurabi. Bright também os
associa ao código da Aliança da Bíblia, explicando que todos eles teriam
surgido por influência de tradições legais mais antigas. Aqui o autor não
procura defender nenhum tipo de exclusividade ou diferenciação entre o código
de leis dado por Deus e os demais.

O Egito, que se encontrava no primeiro período intermediário (de


confusão e depressão), adentrava o segundo milênio com o início do Médio
Império, sob a décima segunda dinastia, onde se desenvolveu muito e “gozou
de um dos mais notáveis períodos de estabilidade de toda a sua história”. 20
Porém, no final desse período, haveria novo declínio. 21 Nesse período, o
império egípcio aumentou, ainda que pacificamente, tanto Nilo acima quanto na
Palestina. Os chamados Textos das Execrações testemunham a presença
egípcia nessa região. Também nesse período, a Palestina, com o término da
Idade do Bronze antiga, começava a se recuperar com o “impulso de uma
influência cultural jovem e vigorosa” dos amoritas, que tomavam a região
reestabelecendo a vida sedentária em muitos lugares.

Depois de apresentar as regiões acima no primeiro quarto do segundo


milênio, Bright inicia a segunda seção do capítulo falando sobre a luta pelo
poder na Mesopotâmia:

Enquanto o Médio Império estava desmoronando no Egito, vinha começando a


formar-se uma luta pelo poder na Mesopotâmia, que viria a culminar com o triunfo
de Babilônia, sob o grande Hamurabi. Os principais atores deste drama, além da
própria Babilônia, foram Larsa, Assíria e Mari.22

19
BRIGHT, John. História de Israel. São Paulo: Paulus, 2003, p. 76.
20
Ibid., p. 77.
21
Ibid., p. 81.
22
Loc.cit.
Resenha de História de Israel, de John Bright
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Após a expansão dos Estados de Mari e da Assíria, esta sobrepujou


aquela, porém, ao final, Mari sai vitoriosa. Segundo Bright, Mari era uma
grande cidade e, em suas escavações, foram encontrados muitas informações
preciosas sobre o período antigo. Entre elas, estão as famosas Cartas de Mari.
Mas ainda que os Estados da Assíria e de Mari ganhassem proeminência, é o
Estado de Babilônia, sob Hamurabi, que triunfa no final do período. Com
Hamurabi, entre outras coisas, “Babilônia desfrutou um notável florescimento
cultural”.23 Sob seu governo é que apareceu o famoso código de leis chamado
Código de Hamurabi.

A última parte do período patriarcal, segundo Bright:

foi um tempo de confusão. Mesmo quando Hamurabi levou Babilônia ao apogeu


de seu poder, começava a cair sobre o mundo antigo uma noite escura. Por toda a
Mesopotâmia, a Síria e Palestina, há provas de que havia povos em movimento. O
Egito entrava num período de dominação estrangeira, durante o qual as inscrições
nativas contemporâneas virtualmente desapareceram e em Babilônia as glórias de
Hamurabi se evanesceram rapidamente.24

Bright então apresenta o período de dominação do Egito pelos hicsos,


que seriam povos semitas, entre os quais os antepassados de Israel poderiam
ter estado. Simultaneamente, houve movimentos de povos também na
Mesopotâmia, dentre os quais se destacam os hurrianos, que, ao final do
período, encontravam-se em todo o Crescente Fértil. A Palestina, que fazia
parte do império hicso, nesse período também recebe uma infusão de povos,
dentre os quais estavam os mesmos hurrianos. No final do período patriarcal, o
Egito finalmente expulsa os hicos e o Reino Hitita, povo de origem debatida
que ocupava o leste e o centro da Ásia Menor, derruba o império Babilônio da
dinastia de Hamurabi.

Bright encerra o capítulo tendo apresentado o que ele entende como


sendo o cenário em em “devem ser colocadas todas as narrativas dos capítulos
12 a 50 de Gênesis”.25

23
BRIGHT, John. História de Israel. São Paulo: Paulus, 2003, p. 85.
24
Ibid., pp. 85-86.
25
Ibid., p. 93.
O CAPÍTULO 2:
OS PATRIARCAS

O capítulo 2 é dividido por Bright em três seções: “NARRATIVAS


PATRIARCAIS: O PROBLEMA E O MÉTODO SEGUIDO”, “O AMBIENTE
HISTÓRICO DAS NARRATIVAS PATRIARCAIS” e “OS ANTEPASSADOS
HEBREUS E A HISTÓRIA”.

Na primeira seção, Bright preocupa-se em dar o uso devido às narrativas


patriarcais da Bíblia para a reconstrução histórica. Ele reconhece o caráter
único da narrativa bíblica, dizendo que “pela riqueza de detalhes, beleza
literária e profundidade teológica, elas não têm paralelo com as tradições desse
tipo na história”.26 Entretanto, sem dar maiores detalhes, Bright diz que “é
impossível relacionar as narrativas bíblicas, ainda que com precisão
aproximada, com os acontecimentos da história contemporânea” 27 e que, por
isso, surge o problema, que, “numa palavra, refere-se ao grau segundo o qual
podemos usar estas tradições primitivas como base para reconstituir os
acontecimentos históricos”.28 Para responder a tal problema, Bright discute a

26
BRIGHT, John. História de Israel. São Paulo: Paulus, 2003, p. 94.
27
Loc.cit.
28
Loc.cit.
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Hipótese Documentária, apresenta aspectos culturais contemporâneos que


estariam alinhados com a narrativa patriarcal e, por fim, chama o argumento da
plausibilidade, alegando ser inesperado que um autor exílico retratasse seus
antepassados com eventos vergonhosos a menos que houvesse algum
comprometimento com a verdade.29

Bright diz também que as evidências possuem limitações. Como exemplo,


diz que nenhuma figura histórica de Gênesis pôde até hoje ser identificada.
Entretanto, diz também que não há nenhuma evidência contrária à existência
de tais figuras históricas. Levando em consideração que a Bíblia foi
divinamente “guiada”30, Bright não desmerece a narrativa bíblica, mas a
apresenta como insuficiente para traçar com detalhes as vidas dos patriarcas.
Segundo o autor, as histórias reais foram muito mais complexas do que o relato
bíblico nos traz e, ao final, diz que:

O único método seguro e certo está num exame equilibrado das tradições contra o
cenário do mundo da época, e, a esta luz, emitir juízos positivos permitidos pela
evidência. […] Mas também pode ser dito o bastante para nos certificar de que as
tradições patriarcais estão firmemente ancoradas na história. 31

Na segunda seção do capítulo, Bright apresenta os patriarcas no contexto


da primeira metade do segundo milênio a.C. abordando os registros de nomes
hebraicos primitivos, os costumes e as peregrinações patriarcais. Tudo isso
comparado ao que se sabe a partir de evidências extra bíblicas da época em
que os patriarcas viveram. Segundo Bright, os nomes citados nas narrativas
dos patriarcas aparecem em registros encontrados na Palestina e
Mesopotâmia no período correlato. O mesmo se dá com diversos costumes
citados nas narrativas bem como alguns detalhes dados sobre as
peregrinações. Esses fatos corroboram com a confiabilidade bíblica.

No final da segunda seção Bright aborda a questão da data dos patriarcas


de Israel alegando que os vários eventos da narrativa estão alinhados com
muitas evidências arqueológicas datadas da primeira metade do segundo
milênio.32 A abordagem de Bright é muito favorável à historicidade das

29
BRIGHT, John. História de Israel. São Paulo: Paulus, 2003, p. 102.
30
Ibid., p. 104.
31
Ibid., p. 105.
32
Ibid., p. 115.
Resenha de História de Israel, de John Bright
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narrativas bíblicas sobre os patriarcas de Israel, mas, segundo ele, por


exemplo, não se pode dizer com certeza qual foi o faraó que tratou bem a José
ou qual foi o que não o conheceu. Abrindo mão da contagem de tempo literal
bíblica, afirma que seria impossível dizer com precisão a data da entrada de
Israel no Egito.33

No fim do capítulo, na última seção, Bright analisa a migração dos


patriarcas, como figuras históricas, e sua religião. Avaliando a tradição bíblica à
luz da evidência, o autor identifica certas semelhanças com narrativas dos
textos de Mari, o que atestaria a plausibilidade da narrativa bíblica. Bright
também analisa os antepassados dos patriarcas citados na Bíblia e os
correlaciona com os povos contemporâneos de forma a apontar também para a
plausibilidade da narrativa. Além disso, diz que a narrativa dos patriarcas como
chefes de grandes clãs também estaria alinhada com as evidências e
menciona os ‘Apirus como povos entre os quais os patriarcas teriam sido
encontrados.34

Finalmente, Bright analisa a religião dos patriarcas deixando claro que


nisso se encontraria “nosso interesse particular por eles”. 35 Discorrendo sobre
quem seria o Deus dos patriarcas, qual sua religião e ligação com a fé de
Israel, Bright aponta para o caráter único da religião desse povo e ressalta
Abraão como de fato sendo o antepassado da fé de Israel:

Abraão, Isaac e Jacó permanecem, no mais verdadeiro sentido, no começo da


história e da religião de Israel. Eles não representam apenas aquele movimento de
trouxe os membros de Israel para a Palestina; também suas crenças peculiares
ajudaram a dar forma à religião de Israel, como ela deveria ser mais tarde. 36

Assim, indiretamente, Bright aponta para um mesmo Deus por trás das
histórias dos patriarcas.

33
BRIGHT, John. História de Israel. São Paulo: Paulus, 2003, p. 117.
34
Ibid., p. 127.
35
Ibid., p. 129.
36
Ibid., p. 136.
O CAPÍTULO 3:
ÊXODO E CONQUISTA

O capítulo 3 aborda a saída do povo de Israel até a conquista da terra


prometida, entre 1550-1200 a.C. segundo Bright. É aqui que a nação de Israel
como a conhecemos teria suas origens. O capítulo é composto por três seções:
“A ÁSIA OCIDENTAL DA ÚLTIMA IDADE DO BRONZE (1550-1200): O
IMPÉRIO EGÍPCIO”, “AS TRADIÇÕES BÍBLICAS A LUZ DAS EVIDÊNCIAS
ARQUEOLÓGICAS” e “A FORMAÇÃO DO POVO DE ISRAEL”.

Na primeira seção, Bright aborda a situação da Ásia Ocidental no período


chamado “Última Idade do Bronze” ou “Idade do Bronze Recente”. 37 São
apresentados relatos sobre o Império Egípcio com a décima oitava dinastia, na
qual são expulsos os hicsos e o Egito trona-se uma potência mundial. 38 Bright
também menciona o Reino de Mitanni e apresenta as disputas de poder entre
eles e os egípcios, com a existência de um Tratado de Paz entre ambos. 39 A
seguir, avança na história narrando o domínio egípcio sobre a Ásia Ocidental
até o final da décima oitava dinastia. Em seguida, narra os eventos da décima

37
BRIGHT, John. História de Israel. São Paulo: Paulus, 2003, p. 139.
38
Ibid., p. 140.
39
Ibid., p. 142.
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nona dinastia e os atritos com os povos vizinhos e povos do mar. Ao final do


período, a Assíria está preocupada com Babilônia e o império Hitita havia caído
pelos Povos do Mar, que também afligiam o Egito. Desse modo, Canaã estava
livre de incursões por impérios estrangeiros por um bom período. Segundo
Bright, “a luta pelo poder na Idade do Bronze recente terminou com a morte ou
esgotamento de todos os contentores”.40

Bright também analisa Canaã neste mesmo período, abordando sua


população, cultura, religião e aspectos políticos. Segundo Bright, a população
de Canaã era predominantemente semítica, com presença de pessoas de
vários povos (hititas, hicos, povos do mar, mesopotâmios, etc). 41 Havia rica
cultura material, com exportação de madeira e tecidos. A religião era pagã com
cultos à deusa da fertilidade (orgias, homossexualidade como oferta aos
deuses e deusa) e celebravam a morte e ressurreição de Baal. 42 Sob o império
Egípcio corrupto, desenvolveram-se muitas cidades-estados, mas havia saques
e pilhagem dos soldados, o que teria levado ao empobrecimento da Palestina.
Foi uma sociedade feudal que caiu rapidamente devido a um Egito
enfraquecido. Com as cidades-estados fracas, Bright passa a ideia de uma
conquista humanamente possível, diante de um Império enfraquecido. 43

Na segunda seção, Bright aborda a escravidão no Egito, a peregrinação


pelo deserto e a conquista da Palestina à luz da evidência. O primeiro
argumento interessante de Bright é o da “fé a priori”. Segundo ele, “nenhum
povo poderia inventar uma tradição desta espécie” 44, dando a entender que as
narrativas apresentam origens vergonhosas tais que não seria esperado uma
invenção deste tipo.

Quanto ao Êxodo, Bright, diz não haver nenhuma evidência extra bíblica,
porém ressalta o fato de que os faraós não registravam derrotas e de que o
testemunho bíblico é muito forte e consistente, pois “a libertação do povo das
mãos do Egito está no centro da confissão de fé desde o começo”. 45 A Data do

40
BRIGHT, John. História de Israel. São Paulo: Paulus, 2003, p. 149.
41
Ibid., p. 150.
42
Ibid., pp. 151-152.
43
Ibid., p. 154.
44
Ibid., p. 155.
45
Ibid., p. 156.
Resenha de História de Israel, de John Bright
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Êxodo, segundo Bright, não pode ser fixada e nem se pode “ter certeza no
reino de qual dos faraós ele aconteceu. Mas uma data no século treze, talvez
na fase final do reinado de Ramsés II, parece plausível”. 46 Bright, assim, se
posiciona contrário à contagem de tempo literal apresentada na Bíblia. 47

Com relação à peregrinação pelo deserto, Bright diz que a localização do


Monte Sinai é incerta, mas que isso não tem importância crucial para a história
de Israel.48 Por outro lado, Bright enfatiza o papel de Moisés na origem do
Javismo, alegando não haver nenhuma referência anterior a essa religião na
Palestina ou qualquer outro lugar. A historicidade de Moisés é reforçada pela
consistência do relato bíblico. Segundo Bright, não há motivos para se duvidar
da existência de Moisés, pois “uma religião tão peculiar como a de Israel exige
um fundador como exige o Cristianismo ou Islamismo. 49

Por fim, na última seção, Bright analisa a conquista da terra de Canaã


pelos Israelitas. Longe de defender um evento único, violento e súbito, Bright
diz que a conquista foi muito mais complexa do que a forma como o relato
bíblico o apresenta.50 Bright critica o número de pessoas que teriam saído do
Egito como sendo absurdo se tomados literalmente, o que, segundo o autor,
não deve ser feito.51 Bright afirma também que o povo que saiu do Egito teria
sido um misto de gente e que novos membros teriam sido agregados ao longo
do caminho.52 Durante a conquista, muitos fatores teriam estado em cena,
como, por exemplo, povos com alguma afinidade com as primícias de Israel
que saíra do Egito. Estes teriam se rebelado contra seus cabeças, ajudando na
derrota das cidades conquistadas. Outros, por temor, teriam se rendido,
levando a conquistas pacíficas. E, noutros casos, a tomada teria sido violenta e
bélica. 53 Entretanto, segundo Bright:
não há nenhuma razão para se duvidar de que, como o descreve a Bíblia, foi um
acontecimento brutal e sanguinolento. Foi a guerra santa de Iahweh, com a qual
ele deu a seu poco a Terra Prometida.54

46
BRIGHT, John. História de Israel. São Paulo: Paulus, 2003, p. 159.
47
De acordo com 1Rs 6.1, passaram-se 480 anos entre o Êxodo e 4º ano do reinado de
Salomão (c. 961-922 a.C.), o que colocaria o Êxodo em meados do século XV a.C.
48
BRIGHT, John. História de Israel. São Paulo: Paulus, 2003, pp. 159-160.
49
Ibid., p. 162.
50
Ibid., p. 169.
51
Ibid., p. 170.
52
Ibid., pp. 171-172.
53
Ibid., pp. 173-177
54
Ibid., pp. 179-180.
Resenha de História de Israel, de John Bright
Geografia e Arqueologia Bíblica – Prof. Rev. Wilson Santana 18
Aluno Daniel L. A. de Souza – Junho/2018

Bright encerra o capítulo com um breve panorama da terra conquistada:


Logo depois que a conquista se concluiu, os representantes de Israel – tanto os
que haviam adorado Iahweh no deserto como os hebreus da Palestina que se
tinham juntado a eles mais recentemente – encontraram-se em Siquém e ali,
numa aliança solene, se comprometeram a ser o povo de Iahweh e adorar
unicamente a ele. […] a estrutura tribal de Israel assumiu a sua forma clássica,
podendo-se, mesmo, dizer que [este acontecimento] deu início à história de Israel
como um povo.55

55
BRIGHT, John. História de Israel. São Paulo: Paulus, 2003, p. 181.
O CAPÍTULO 4:
A CONSTITUIÇÃO E A RELIGIÃO
DO ISRAEL PRIMITIVO

O capítulo 4 apresenta o que Bright chama de Israel Primitivo: o


assentamento das tribos de Israel na terra conquistada numa liga tribal prévia à
monarquia. Está dividido em 4 seções: “O PROBLEMA E O MÉTODO DE
PROCEDIMENTO”, “A RELIGIÃO DO ISRAEL PRIMITIVO”, “A
CONSTITUIÇÃO DO ISRAEL PRIMITIVO: A LIGA TRIBAL E SUAS
INSTITUIÇÕES” e “A HISTÓRIA DA LIGA TRIBAL: O PERÍODO DOS JUÍZES”.

Na primeira seção, Bright combate a tese de que a religião de Israel


Primitivo seria uma forma de henoteísmo (crença num deus supremo que não
nega a existência de outros deuses), indicando que novas descobertas não
suportam tal teoria. Diante das evidências, segundo Bright, somos obrigados a
remontar todas as linhas principais da religião de Israel ao deserto e a
Moisés56, atribuindo assim confiabilidade às narrativas sobre a constituição de
Israel.

56
BRIGHT, John. História de Israel. São Paulo: Paulus, 2003, p. 186.
Resenha de História de Israel, de John Bright
Geografia e Arqueologia Bíblica – Prof. Rev. Wilson Santana 20
Aluno Daniel L. A. de Souza – Junho/2018

Na segunda seção, Bright trata do povo de Israel como o Povo de Iahweh


e uma Sociedade da Aliança: “A noção que Israel tinha de Deus era única no
mundo antigo, constituindo um fenômeno que desafia qualquer explicação
racional”.57 Bright desenvolve os conceitos de Eleição e de Aliança como sendo
fundamentais na religião de Israel, estando presentes desde seus primórdios e
entre seus antepassados. A fórmula da Aliança é também comparada com os
tratados de suserania da antiguidade. A preocupação de Bright é por
demonstrar que os relatos bíblicos são realmente antigos, pois tais fórmulas de
aliança deixaram de aparecer com tamanha semelhança em momentos
posteriores ao final do segundo milênio. 58 Bright também ressalta que a Aliança
mosaica apontava para o reinado de Iahweh, que deveria ser o único suserano.
Iahweh era o Deus da Aliança. Em seguida, Bright discorre brevemente sobre o
significado do nome de Deus (Iahweh), sobre o seu caráter único e sem
precedentes diante dos deuses pagãos e também sobre o monoteísmo da
religião mosaica. Chama também a atenção para o fato de que Iahweh tinha
poder sobre toda a natureza, que “Israel nunca considerou realmente o culto
como técnica para fazer pressão sobre a vontade divina” 59 e que a religião de
Israel foi “a única do mundo antigo que teve um senso profundo do propósito
divino na história.”60

Na terceira seção, Bright analisa a Liga Tribal Israelita. Ele a compara


com outros tipos de ligas tribais e ressalta o seu caráter único, para o qual “a
única explicação satisfatória real é que isso deve ter ocorrido mediante alguma
cerimônia solene de ‘conversão em massa’ como a grande aliança em Siquém,
descrita em Josué 24”.61 Em seguida, Bright, expõe os diversos elementos do
funcionamento do sistema tribal, discorrendo sobre o funcionamento do templo
e sua localização, a presença ou não de todas as tribos, as autoridades
carismáticas (juízes) e suas instituições tangíveis: o templo, o clero, o culto e a
Lei da Aliança.62

57
BRIGHT, John. História de Israel. São Paulo: Paulus, 2003, p. 186.
58
Ibid., p. 190.
59
Ibid., p. 202.
60
Loc.cit.
61
Ibid., p. 206.
62
Ibid., pp. 210-214.
Resenha de História de Israel, de John Bright
Geografia e Arqueologia Bíblica – Prof. Rev. Wilson Santana 21
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Por fim, na última seção, Bright apresenta a situação mundial entre 1200
e 1050 a.C. aproximadamente, falando do fim do Império Egípcio com a
vigésima dinastia, de cujo declínio nunca mais se recuperaria 63, da Ásia
Ocidental nos séculos doze e onze, onde o Império Hitita deixara de existir, da
Assíria, que entrava em declínio, e da Babilônia, agora novamente governada
por uma dinastia nativa.64 Canaã não estava mais sobre a proteção egípcia e
foi dominada pelo povo do Êxodo (Israelitas) e polos Povos do Mar no litoral. 65

Sobre a ocupação da terra pelos Israelitas, Bright afirma que o


conhecimento “vem quase que inteiramente do Livro dos Juízes” 66. Entretanto,
segundo ele, a narrativa “concorda perfeitamente com as evidências
arqueológicas que mostram que os séculos doze e onze foram séculos de
grandes perturbações, como nunca houve na história da Palestina”. 67 Bright,
apresenta então os dois primeiros séculos de domínio, discorrendo sobre um
período inicial de adaptação e normalização seguido pelo domínio do carisma,
onde líderes chamados juízes surgiam para salvar Israel de seus inimigos. 68
Por fim, Bright diz que, apesar da ausência de uma máquina Estatal, havia uma
notável tenacidade entre as tribos, que só poderiam advir de um
comprometimento solene aliancista.69

63
BRIGHT, John. História de Israel. São Paulo: Paulus, 2003, p. 217.
64
Ibid., p. 218.
65
Loc.cit.
66
Ibid., p. 219.
67
Loc.cit.
68
Ibid., pp. 220-222.
69
Ibid., pp. 224-226.
O CAPÍTULO 5:
DA CONFEDERAÇÃO TRIBAL
AO ESTADO DINÁSTICO

O capítulo 5 trata da transição do sistema tribal de Israel para o sistema


dinástico da monarquia. Bright divide o capítulo em 3 seções: “PRIMEIROS
PASSOS PARA A MONARQUIA: SAUL”, “MONARQUIA UNIDA DE ISRAEL:
REI DAVI” e “UNIDADE MONÁRQUICA DE ISRAEL: SALOMÃO”. Nessas
seções, Bright descreve a transição do sistema tribal, caracterizado pelos
juízes carismáticos, até o sistema monárquico, onde o carisma deu lugar à
dinastia.

Na primeira seção, Bright aponta para a investida dos filisteus como um


fator de extrema relevância para a eleição do primeiro rei: Saul. Bright descreve
como os filisteus, que eram guerreiros formidáveis 70, avançaram pelo território
de Israel e tomaram os israelitas sob seu jugo, capturando inclusive a Arca da
Aliança.71 Durante essa época, em torno de 1050 a.C., a situação era tal que:
“os clãs não estavam mais à altura de desferir um golpe decisivo, indispensável

70
BRIGHT, John. História de Israel. São Paulo: Paulus, 2003, p. 230.
71
Ibid., p. 231.
Resenha de História de Israel, de John Bright
Geografia e Arqueologia Bíblica – Prof. Rev. Wilson Santana 23
Aluno Daniel L. A. de Souza – Junho/2018

para expulsar o invasor da terra. Muitos israelitas devem ter pensado que seu
problema seria insolúvel se não encontrassem uma liderança mais forte”. 72 É
nesse período que surge Samuel, que viria a ser o último líder carismático da
antiga ordem73, e também Saul, que se destaca com grandes vitórias nas lutas
contra os filisteus e outros inimigos, sendo assim elevado “como um herói
carismático à maneira antiga”.74 Saul então, após suas conquistas militares, é
elevado a rei por “designação profética e por aclamação popular” 75 e trouxe
alguma estabilidade no embate contra os filisteus. Essa estabilidade, porém,
não durou muito e as causas estariam no próprio Saul, que teria rompido seu
relacionamento com Samuel76 e tomado diversas atitudes tolas por ciúmes de
Davi77, que aparecera como um jovem herói. O fim de Saul se deu numa
batalha que, segundo Bright, “estava perdida antes mesmo do encontro” 78, por
ter sido motivada principalmente pela obsessão por destruir Davi. Em nenhum
momento Bright aponta a desobediência às instruções divinas como causa de
sua ruína. Pelo contrário, em todo o capítulo, Bright aponta os sucessos e
fracassos dos três primeiros reis de Israel de uma perspectiva essencialmente
humana e mundana.

Na segunda seção, Bright trata de Davi que, tendo sido ungido rei por
Samuel, com a morte de Saul, assume o trono em Judá “com o consentimento
dos filisteus”.79 Gradualmente Davi conduz o povo à libertação do jugo dos
filisteus, dando mostras de ser um “homem sobre quem o Espírito de Iahweh”
descansava. Assim, Davi assume o reinado sobre todo Israel de um mondo que
ainda remetia ao antigo sistema (o de líderes carismáticos). Bright ressalta
diversos movimentos de Davi que teriam sido muito acertados, como a
mudança da capital para uma cidade em local neutro, entre as tribos do sul e
do norte (Jerusalém), e a mudança do local da Arca da Aliança também para
Jerusalém (o que Bright chama de “golpe de mestre” 80). Davi também

72
BRIGHT, John. História de Israel. São Paulo: Paulus, 2003, p. 233.
73
Ibid., p. 232.
74
Ibid., p. 236.
75
Ibid., p. 234.
76
Ibid., p. 237.
77
Ibid., pp. 237-240.
78
Ibid., p. 241
79
Ibid., p. 243.
80
Ibid., p. 248.
Resenha de História de Israel, de John Bright
Geografia e Arqueologia Bíblica – Prof. Rev. Wilson Santana 24
Aluno Daniel L. A. de Souza – Junho/2018

organizou o território e conquistou a libertação aparentemente definitiva do jugo


dos filisteus. Segundo Bright, essa consolidação do Estado:

[…] representou grande expansão do território de Israel. Foi realmente o término


da conquista de Canaã. O nome “Israel”, propriamente a designação de uma
confederação tribal, cujos membros ocupavam somente uma parte da área da
Palestina, representava agora uma entidade geográfica, abrangendo praticamente
toda a região.81

Assim, com Davi, o Estado de Israel teve o seu início e, “no fim, Davi era
senhor de um considerável império” 82, que viria a ser a maior potência da
Palestina e da Síria da época.83

É interessante notar que, por mais humana e mundana que sua análise
aparente ser, Bright chama atenção para um ponto essencialmente teológico
sobre o caráter do Estado de Davi. Segundo Bright:

O centro deste novo Israel era realmente o próprio Davi. A união do norte de Israel
com Judá, onde ele começou, era uma união na pessoa de Davi. A capital era a
possessão pessoal de Davi. A população canaanita anexada a Israel estava sujeita
à coroa, não às tribos israelitas como tais. O império estrangeiro tinha sido
conquistado e era mantido graças sobretudo ao exército profissional de Davi, não
pelas tropas tribais de Israel. Embora estes últimos fossem utilizados […], as
conquistas de Davi teriam sido impossíveis se contasse comente com eles. Todas
as terras subjugadas, por meio de vários acordos, deviam submissão a Davi e
tinham de ser administradas por ele. Israel tinha sido transformado de acordo com
o novo padrão.84

Ainda que Bright esteja focando na transformação de Israel de uma


confederação tribal para um estado monárquico e dinástico, é inevitável atribuir
à visão acima a tipologia de Cristo, que transformou o mundo e tem todas as
coisas debaixo de Seu poder.

Na última seção, Bright aborda o reinado de Salomão, que “não poderia


nem mesmo pretender a posse de dons carismáticos” 85. Bright ressalta que “o
carisma e a designação divina tinham, teoricamente, sido transferidos
perpetuamente do indivíduo para a dinastia” 86, o que pode explicar a
expectativa dos judeus por um messias que fosse um grande rei que trouxesse

81
BRIGHT, John. História de Israel. São Paulo: Paulus, 2003, p. 249.
82
Ibid., p. 250.
83
Ibid., p. 252.
84
Ibid., p. 253.
85
Ibid., p. 260.
86
Ibid., p. 276.
Resenha de História de Israel, de John Bright
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Aluno Daniel L. A. de Souza – Junho/2018

a mesma prosperidade de Davi e Salomão. Entretanto, apesar da grande


prosperidade de Israel durante o reinado de Salomão, havia também muitos
problemas. A monarquia não apenas sobrecarregava os habitantes com
impostos e trabalhos forçados, mas também apresentava dificuldades
teológicas, pois “alguns acreditavam ser uma dádiva divina e […] outros
achavam intolerável”.87 Segundo Bright, “a monarquia […] nunca se livrou da
tensão” e “antes da morte de Salomão, as tribos do norte já tinham sido
completamente afastadas da Casa de Davi.” 88

87
BRIGHT, John. História de Israel. São Paulo: Paulus, 2003, p. 275.
88
Ibid., p. 280.
O CAPÍTULO 6:
OS REINOS INDEPENDENTES DE
ISRAEL E JUDÁ

O capítulo 6 trata do período que vai desde o cisma que deu origem aos
reinos de Israel (norte) e Judá (sul), em 922 a.C., até as vésperas da queda de
Israel, em 722 a.C. sob os Assírios. Está dividido em três seções: “A
MONARQUIA DIVIDIDA: OS PRIMEIROS CINQUENTA ANOS (922-876)”,
“ISRAEL E JUDÁ DA ASCENSÃO DE AMRI ATÉ O EXPURGO DE JEÚ (876-
843/2)” e “ISRAEL E JUDÁ DOS MEADOS DO SÉCULO NONO AOS MEADOS
DO SÉCULO OITAVO”.

Bright inicia a primeira seção retomando a tensão que existia na


monarquia sob Salomão. Com a morte deste, tal tensão culminou na separação
do império de Davi-Salomão nos dois reinos do norte e do sul. Segundo Bright,
Salomão tinha uma “política opressiva” e, com sua saída, seria normal que o
“ressentimento contido tenha explodido, desmembrando Israel”. 89 Bright
defende que havia, no norte, um desejo pelo retorno à “tradição de liderança

89
BRIGHT, John. História de Israel. São Paulo: Paulus, 2003, p. 282.
Resenha de História de Israel, de John Bright
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mais antiga”90 que havia sido reprimido, mas que se manifestava por “certos
profetas”91, que certamente consideravam o tratamento severo de Salomão e
sua inclusão de cultos a outros deuses como “graves violações da aliança com
Iahweh”.92 Para ilustrar esse desejo, Bright apresenta o fato que Jeroboão,
sucessor de Salomão, fora elevado ao poder à moda tradicional, tal como Saul:
por designação profética (Aías) seguida de aclamação popular.

Em seguida Bright discorre sobre a primeira geração do reino dividido,


iniciando pelas gerras internas que ocorreram entre Israel (sob Jeroboão) e
Judá (Roboão), suas disputas pelo território de Benjamin (onde fica Jerusalém)
e outros problemas advindos do cisma do reino. Eventualmente, diante do
grande desgaste advindo dessas disputas e da necessidade de combater
problemas externos, “prevalecendo uma resolução prudente, cessaram a
guerra e logo abandonaram completamente qualquer ideia de hostilidade”. 93
Em seguida, Bright apresenta, dentre os negócios internos de ambos estados,
o trabalho de Jeroboão, ao norte, que teve que criar toda uma estrutura onde
não existia (pois a capital e o Templo haviam ficado em Judá). Certa ênfase é
dada às instituições religiosas feitas por Jeroboão, a fim de rivalizar com
Jerusalém. Nesse momento, Bright chega a criticar o autor dos livros dos Reis
como sendo “um pouco injusto”94 com Israel, pois o caso dos bezerros de ouro
que Jeroboão mandara fazer não seriam em si mesmos imagens de Iahweh,
mas sim “pedestais” sobre os quais Iahweh se manifestaria ou seria
entronizado. Desse modo, Bright, reconhece o problema dos bezerros – entre
outros, que teriam, sim, sido idolatrados por alguns – mas, sem isentar Israel
de sua corrupção religiosa, diz que tais bezerros seriam equivalentes ao
querubim do Templo de Jerusalém. 95 A crítica ao autor do livro dos Reis é
certamente muito dura aos ouvidos de qualquer adepto da doutrina da
inspiração e inerrância da Bíblia.

Na segunda seção, Bright discorre sobre a Casa de Amri, que teve um


papel preponderante na história do Reino do Norte, pois, sob sua dinastia,

90
BRIGHT, John. História de Israel. São Paulo: Paulus, 2003, p. 283.
91
Loc.cit.
92
Ibid., p. 283.
93
Ibid., p. 288.
94
Ibid., p. 291.
95
Loc.cit.
Resenha de História de Israel, de John Bright
Geografia e Arqueologia Bíblica – Prof. Rev. Wilson Santana 28
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Israel se recuperou. Essa recuperação se deu, porém, por táticas aliancistas. O


principal evento, nesse sentido, foi a união com o reino de Tiro pelo casamento
de Acab com Jezabel. Houve também aliança com Judá, pelo casamento de
Jorão com Atalia (filha de Acab e Jezabel). Bright salienta que, por meio dessas
alianças, veio a adoração ao deus Baal, de Tiro, levando à corrupção religiosa
tanto em Israel quanto em Judá96. Essa corrupção foi muito maior em Israel e
levou à destruição da Casa de Amri pelo sangrento expurgo de Jeú. 97 Neste
ponto vale salientar que o autor retrata o que seriam os profetas leais ao Deus
da aliança, pois sob a influência idólatra de Jezabel, houve séria perseguição
aos javistas leais98 e a descrição de Bright daqueles que seriam os
“representantes da tradição carismática da liga tribal” 99 é encorajadora para a
igreja atual. Ele explicita que a atuação desses profetas se assemelhava
“psicologicamente” ao cristianismo 100 num esforço para o êxtase no javismo.
Também, segundo Bright, apesar de patriotas, “reservavam-se o direito de
criticar livremente o rei e o Estado de acordo com a aliança e a lei de
Iahweh”101, citando, como exemplo, a censura de Natã ao rei Davi. Ao final da
descrição desses profetas, Bright diz que “sempre tinham considerado as
tradições e as instituições da ordem antiga de Israel como normativas, e por
elas tinham procurado corrigir o Estado”.102

Na última seção, Bright apresenta um retrato dos efeitos do sangrento


expurgo de Jeú em Israel. Bright, deixa claro que houve grande progresso após
“limpeza” realizada por Jeú e que essa remoção da idolatria não foi completa,
mas não emite nenhum parecer sobre a mão de Deus na história. Como
sempre, sua descrição se dá por uma perspectiva humana e mundana. Não há
menção sobre qualquer intervenção de Deus por haver se agradado ou
desagradado das ações ou motivações dos reis que se seguiram a Jeú.
Entretanto, Bright também deixa evidente que, no norte, o zelo para com a
Aliança com Iahweh era negligenciada ou pouco valorizada e que a corrupção
teológica era generalizada inclusive entre os profetas. 103 Por fim, no final da
96
BRIGHT, John. História de Israel. São Paulo: Paulus, 2003, p. 299.
97
Ibid., pp. 305-306.
98
Ibid., pp. 299-301.
99
Ibid., pp. 304.
100
Loc.cit.
101
Loc.cit.
102
Loc.cit.
103
Ibid., pp. 317-320.
Resenha de História de Israel, de John Bright
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última seção, Bright destaca o papel dos profetas clássicos defendendo


claramente (de forma magnífica) sua historicidade e contemporaneidade,
combatendo qualquer ideia de que tais profetas teriam inovado em suas
mensagens a fim de se adequar às tragédias que teriam se seguido, mas sim
que, em oposição à “venalidade dos profetas profissionais” 104, eram homens
que:

Consultando as tradições normativas, eles acharam a base da existência de Israel


nos favores de Iahweh para com a nação e no pacto solene de aceitar sua
liderança, independentemente de qualquer outro deus e obedecendo
rigorosamente à sua justa lei em todas as duas injunções, quer na vida particular,
quer na vida pública. Toda a sua mensagem girava em torno de um profundo
conhecimento da aliança com Iahweh e de suas exigências. 105

Este talvez seja um dos momentos em que Bright mais claramente


defende a verdade bíblica.

104
BRIGHT, John. História de Israel. São Paulo: Paulus, 2003, p. 321.
105
Ibid., p. 323.
O CAPÍTULO 7:
O PERÍODO DA CONQUISTA ASSÍRIA

O capítulo 7 trata do período em que o reino do norte, Israel, entra em


decadência e finalmente é eliminado pela Assíria enquanto Judá perdura,
porém como “satélite” do mesmo império. Dividido em três seções, o capítulo
trata aborda: o “AVANÇO ASSÍRIO: A QUEDA DE ISRAEL E A SUBJUGAÇÃO
DE JUDÁ”, “A LUTA PELA INDEPENDÊNCIA: EZEQUIAS (715-687/6)” e “OS
PROFETAS DO FIM DO SÉCULO OITAVO EM JUDÁ”. Ao final, há também um
apêndice, “O PROBLEMA DAS CAMPANHAS DE SENAQUERIB NA
PALESTINA”, no qual Bright justifica sua escolha dentre as diversas
possibilidades de reconstrução histórica para o trecho de 2Rs 18.13-19,37 e Is
36ss (a discussão é se os trechos tratam de apenas um encontro entre
Ezequias e Senaquerib ou se tratam de mais de um encontro). Essa última
seção não será abortada neste trabalho.

Bright inicia a primeira seção logo após relembrar que, apesar de toda
dificuldade que os Estados de Israel e de Judá haviam passado, ele “nunca
tinham perdido sua autonomia”, 106 apontando para o que viria a ocorrer no

106
BRIGHT, John. História de Israel. São Paulo: Paulus, 2003, p. 327.
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período abordado. Tendo discorrido sobre o ressurgimento da Assíria sob


Teglatfalasar III e sobre possíveis coincidências nominais entre achados
arqueológicos e a Bíblia 107, Bright mais uma vez dá impressões de não
considerar Deus como Aquele que intervém e controla todas as coisas.
Explicando a situação que Israel (ao norte) teria que enfrentar, afirma que
“mesmo uma nação forte e abençoada, com o mais sábio governo, não teria
podido sobreviver àquela ameaça”.108 Se sua ênfase estava na gravidade da
situação, suas palavras talvez tenham sido infelizes.

Entrando nos últimos dias de Israel, depois de expor a decadência e a


corrupção da sociedade Israelita do norte, explicita, entre outros, que em sua
“desintegração interna”109 “o paganismo, que existira, continuava a existir” e
que havia “restado muito pouca coisa da severa moralidade do javismo”, 110
Bright deixa claro que a queda de Israel era inevitável e que “somente uma
sabedoria incomum poderia talvez ter salvo Israel de seu estado
desesperador”.111 A seguir, fala sobre a “coalisão araméia-israelita” 112 que se
insurgiu contra Judá, sob o reinado de Acaz. Este havia sido fortemente
admoestado por Isaías a não buscar ajuda da Assíria, mas a confiar em Deus.
O rei não acatou e, diante da vitória de Teglatfalar sobre a coalisão, que teria
vindo ainda que Acaz não o houvesse chamado, Bright diz que Isaías
“provavelmente estivesse certo”.113 Por fim, Bright discorre sobre a resistência
de Judá, que permaneceu ainda por mais de um século após a queda de
Samaria (no Norte) em 722 a.C., porém em situação não muito melhor.
Segundo Bright, “numa palavra, se a situação [em Judá] não era tão má como
tinha sido em Israel, a diferença era apenas de grau”. 114

Na segunda seção, Bright apresenta Judá sob o reinado de Ezequias e


sua luta pela independência. Ocupada demais com outros inimigos fronteiriços,
a Assíria deixou de ser ameça por algum tempo, durante o qual Ezequias
aplicou suas reformas e reergueu Judá. Bright discorre sobre o caso em que

107
BRIGHT, John. História de Israel. São Paulo: Paulus, 2003, p. 329.
108
Ibid., p. 329.
109
Ibid., p. 330.
110
Ibid., p. 331.
111
Ibid., p. 332.
112
Loc.cit.
113
Ibid., p. 333.
114
Ibid., p. 338.
Resenha de História de Israel, de John Bright
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Isaías recomenda a Ezequias não associar-se com o Egito na rebelião contra a


Assíria dizendo que “com certeza, as palavras de Isaías e daqueles que com
ele concordavam eram ouvidas” 115 e que “provavelmente ele [Ezequias] não
tomou parte na revolta”.116 Ao final desta seção, comentando sobre um, de
possivelmente dois encontros entre Ezequias e Senaquerib, da Assíria, Bright
chama de “epidemia” o evento que Bíblia claramente atribui à ação do Anjo do
Senhor (2Rs 19.35). Mais uma vez a visão humana e mundana na abordagem
de Bright fica evidente, mas sua confiança na veracidade bíblica aparece
quando afirma que, sobre esse assunto, “deve-se supor alguma notável
preservação, pelo menos em virtude dos oráculos de Isaías, que prediziam que
ela [Judá] seria preservada”117.

Na última seção, Bright, ao falar dos profetas do período, apresenta-os de


maneira admirável. A teologia da época é apresentada como tendo sua
centralidade deslocada da aliança de Iahweh para o Estado. Ainda, a crença na
aliança com Davi era tal que não se podia “criticar fundamentalmente o Estado
ou acreditar que ele pudesse cair”.118 A tendência era pagã: realizar os atos de
culto para satisfazer Iahweh a fim de que a nação fosse preservada. Bright
então apresenta a pregação profética de Isaías e Miquéias como anúncios da
conciliação das promessas de Deus a Davi e Sua Aliança feita no Sinai. Se a
promessa de Deus a Davi apontava para preservação incondicional:

[…] a aliança do Sinai se harmoniza com a aliança de Davi pela ênfase na


possibilidade de castigo inerente nesta última (2Sm 7.14; Sl 89.30-32), o que a
teologia oficial tinha pensado evitar com atividade de culto. Isaías encarava a
humilhação da nação como o castigo divino do seu pecado. E, precisamente por
tratar-se de castigo, não implicava a revogação das promessas. 119

Ao final, Bright defende, mais uma vez, a confiabilidade bíblica ao explicar


como os escritos de Isaías e outros profetas teriam sido preservados
“carinhosamente”120 por seus discípulos, combatendo assim qualquer ideia de
escrita tardia (apesar de, logo em seguida, fazer uso da hipótese documentária

115
BRIGHT, John. História de Israel. São Paulo: Paulus, 2003, p. 342.
116
Loc.cit.
117
Ibid., p. 349.
118
Ibid., p. 351.
119
Ibid., p. 358.
120
Ibid., p. 359.
Resenha de História de Israel, de John Bright
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para explicar a edição tardia de Deuteronômio a partir de fontes de Israel, ao


norte).121

Apresentando com muita propriedade o teor das pregações proféticas de


Isaías e Miquéias diante da corrupção teológica, Bright diz que esses profetas
criam na preservação de uma parte do povo, que retornaria.

A esperança nacional era assim mantida – mas ganhava uma dimensão mais
ampla. A promessa não era somente promessa. Era, com efeito, promessa a um
Israel novo e obediente, que ainda não existia.122

121
BRIGHT, John. História de Israel. São Paulo: Paulus, 2003, p. 359.
122
Ibid., p. 360.
O CAPÍTULO 8:
O REINO DE JUDÁ

O capítulo 8 trata do período final de Judá, isto é, de meados do século


sétimo até 587 a.C., quando finalmente chega a seu fim. Está dividido em três
seções: “O FIM DO DOMÍNIO ASSÍRIO: JUDÁ READQUIRE
INDEPENDÊNCIA”, “O IMPÉRIO NEOBABILÔNICO E OS ÚLTIMOS DIAS DE
JUDÁ” e “OS PROFETAS DOS ÚLTIMOS DIAS DE JUDÁ”.

Bright inicia a primeira seção apresentando o cenário de Judá em meados


do século sétimo. O império assírio, sob Asaradon, estava em seu ápice e
mantinha todos os povos conquistados sob seu controle. Entre esses povos,
estava Judá, governada por Manassés. Este teria permanecido um vassalo leal
à Assíria durante seu longo reinado 123 e teria promovido um verdadeiro
retrocesso nas reformas políticas e teológicas de Ezequias, voltando às
práticas de Acaz.124 Bright aponta que isso levou ao declínio social, com
paganismos tais como, no limite, sacrifícios humanos. 125

123
BRIGHT, John. História de Israel. São Paulo: Paulus, 2003, p. 375.
124
Ibid., p. 376.
125
Ibid., pp. 376-377.
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A Assíria, entretanto, entraria em declínio por causa, de acordo com


Bright, de suas constantes lutas para manter o império coeso (com batalhas
internas e externas)126 e seu fim coincidiria com o retorno de Judá à
independência com Josias, em torno de 622 a.C. 127 Sob Josias, Judá teria
prosperado novamente devido às reformas implementadas. Com relação ao
relato bíblico de que a reforma de Josias teria se desencadeado pela
redescoberta da Lei Mosaica, Bright aponta para “a solene impressão de que
essa lei foi a base das várias medidas que ele tomou e que todas elas foram
levadas a efeito no mesmo ano”128, mas deixa “claro que apenas o livro da lei
não pode explicar a reforma”.129 Mantendo seu padrão de explicar os
acontecimentos sob a ótica humana e mundana, Bright levanta elementos
políticos (a repulsa por qualquer elemento assírio que havia sido imposto nos
cultos de Judá durante seu período como vassalo 130) e sociais (a presença de
um sentimento global de insegurança que levava os povos do oriente próximo à
busca por seus deuses e religiosidades originais 131) para justificar o porquê de
a reforma de Josias ter alcançado tamanho sucesso. Bright, num movimento
que pede por investigação, cita G. von Rad para, sobre a lei deuteronômica,
dizer que “naturalmente, transmitida no norte de Israel, certamente ela foi
trazida para Jerusalém depois da queda de Samaria e lá, entre Ezequias e
Josias, reformulada e transformada em programa para a reforma”. 132 Bright
aponta para dois aspectos interessantes da reforma de Josias, dizendo que
“mesmo depois de sua [Jerusalém] destruição, as pessoas (do norte de Israel!)
continuavam a fazer peregrinação” 133 e também que, após a reforma, houve a
instituição do que ele chamou de “monopólio sacerdotal em Jerusalém”. 134

Na segunda seção, Bright traça um paralelo entre o fim do reinado de


Josias (que morrera em combate contra o Egito em Meguido) e o
ressurgimento da Babilônia, o império Neobabilônico, que teria subjugado
definitivamente a Assíria sob Nabopolassar e Nabucodonosor, seu filho. Bright

126
BRIGHT, John. História de Israel. São Paulo: Paulus, 2003, pp. 379-381.
127
Ibid., pp. 381-382.
128
Ibid., p. 383.
129
Ibid., p. 385.
130
Ibid., pp. 385-386.
131
Ibid., p. 386.
132
Ibid., p. 387.
133
Ibid., p. 388.
134
Ibid., p. 389.
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atribui parte da causa da queda de Judá ao rompimento com as reformas de


Josias que seus sucessores, Joacaz e Joaquim, realizaram. Esse rompimento
teria sido apoiado por insatisfações por parte daqueles que “consideravam a
reforma um erro”135, e que, por sua vez, corroboraram para a insubmissão de
Joaquim como vassalo da Babilônia (que teria dominado Judá e o tornado seu
vassalo em 605 a.C.136). Essa insubordinação de Joaquim levou à nova invasão
da Babilônia a Judá, retirada de Joaquim do trono e elevação de Sedecias,
parente de Joaquim, como governador vassalo. Por fim, sob Sedecias, que “a
julgar por suas repetidas consultas com Jeremias, não estava muito certo e
firme no seu pensamento, mas não era capaz de resistir ao entusiasmo dos
seus nobres”137, Judá se rebelou novamente contra a Babilônia e, por conta
disso, foi nova e definitivamente dominada. Sedecias foi morto e Jerusalém
destruída em 587 a.C. “O Estado de Judá acabara para sempre.” 138

Na última seção, Bright aborda o papel profético do período:

[…] deve-se notar aqui que a sobrevivência [prolongada de Judá] só foi possível
porque os profetas que se dirigiram à nação na hora da sua mais cruel agonia, já
antes da tragédia, haviam localizado os problemas teológicos nela envolvidos e
lhes dado uma resposta com base na religião ancestral de Israel. 139

Bright defende novamente que a confiança do povo estava numa aliança


de Iahweh com o trono e, diante de sua inegável e humilhante queda sob a
Babilônia, a teologia nacional ficava agora sem respostas. 140 Procurando
retratar a mensagem contemporânea dos profetas, Bright diz que:

[…] podemos mencionar os livros históricos Reis e o “corpus” histórico


deuteronômico (Dt-2 Rs), que foram compostos provavelmente por esse tempo. O
autor dessa obra investigou a teologia oficial até a teologia da aliança do Sinai
como vem expressa no Deuteronômio e, articulando as tradições históricas do
povo com a estrutura do argumento, procurou mostrar que essa teologia tinha sido
confirmada pelos acontecimentos e que não somente o futuro da nação, mas
também todas as vicissitudes de duas histórias dependiam diretamente da sua
lealdada ou deslealdade em relação às estipulações de aliança com Iahweh. 141

135
BRIGHT, John. História de Israel. São Paulo: Paulus, 2003, p. 392.
136
Loc.cit.
137
Ibid., p. 396.
138
Ibid., p. 397.
139
Ibid., pp. 398-399.
140
Ibid., pp. 399-400.
141
Ibid., pp. 400-401.
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Por fim, Bright aprofunda-se nas mensagens de Jeremias e Ezequiel


apontando para o aspecto individual de suas exortações:

Assim, ambos os profetas encorajavam os judeus, perdidos e desesperados, a ser


individualmente leais à vocação de Iahweh, que era ainda, mesmo nesse caso,
Senhor Soberano.142

Defendendo que “Iahweh chamaria novamente seu povo […] e faria com
ele uma nova aliança, escrevendo a lei desta aliança em seus corações” 143,
esses profetas esperavam “ansiosamente a restauração de um Israel unido sob
o governo de Davi”144 que seria “realizado por Iahweh, o bom pastor de suas
ovelhas.”145

142
BRIGHT, John. História de Israel. São Paulo: Paulus, 2003, p. 407.
143
Loc.cit.
144
Loc.cit.
145
Loc.cit.
BIBLIOGRAFIA

BRIGHT, John. História de Israel. Tradução de Waldyr Carvalho Luz. São


Paulo: Casa Editora Presbiteriana S/C, 1990.

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