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Orientada por
Carlos Manuel Monteiro Correia de Sá
AGRADECIMENTOS
APRESENTAÇÃO
ABSTRACT
In chapters II, III and IV we will present the Babylonian, Attic and Hindu
numerical systems, will analyse the conceptions that those civilizations have of number
and will study the main characteristics of each one of those systems.
We will present the annexes I and II which will briefly approach the Egyptian
hieroglyphic and the Roman systems, respectively.
.
vii
Índice
AGRADECIMENTOS ii
APRESENTAÇÃO iii
ABSTRACT v
ÍNDICE vii
3.1.3. Concepções 44
3.2. Os números na Matemática Grega 45
3.2.1. Sistemas de numeração usados pelos gregos 45
3.2.2. Os incomensuráveis 48
3.2.3. O misticismo numérico 49
3.3. Caracterização do sistema ático 51
3.3.1. Os sistemas monetários 55
3.4. Os problemas e as limitações do sistema 56
BIBLIOGRAFI A 94
1
CAPÍTULO I
A IMPORTÂNCIA DA NUMERAÇÃO
A Ciência pode ser encarada sob dois aspectos diferentes. Ou se olha para
ela tal como vem exposta nos livros de ensino, como coisa criada (…), ou se
procura acompanhá-la no seu desenvolvimento progressivo, assistir à
maneira como foi sendo elaborada, e o aspecto é totalmente diferente –
2
perpetuar sem o auxílio do suporte escrito (Santillana, 1961). E até que a escrita se
desenvolvesse, as narrativas disseminaram-se, difundindo desta forma as informações
relativas ao conhecimento.
É razoável admitir que a espécie humana nas épocas mais primitivas tivesse
algum entendimento numérico, reconhecendo minimamente os actos de acrescentar e de
retirar objectos de uma pequena colecção (Eves, 1997).
O pensamento formula-se na linguagem, e isto faz que sem nomes não possa
haver conceitos. O símbolo é também um nome, só que não é oral mas sim
escrito e apresenta-se na mente na forma de uma imagem visível.
(Aleksandrov, 1982, p. 28)
A aplicação do número, como um pensamento abstracto (abstracto no sentido de
que não tem de estar relacionado com um objecto físico em particular), foi
indubitavelmente um dos maiores progressos na história do pensamento (Kline, 1982).
5
enquanto que toda a gente concorda que falar sobre os números depende do
estado do nosso conhecimento, parecerá, (…) no entanto, que aquilo que um
número é, e que números existem num determinado momento da história,
também depende do estado de conhecimento nessa época e daquilo que os
seres humanos fizeram (p. 1).
Possuir o sentido de número implicará “perceber que os números podem ser
usados em diferentes contextos e com diferentes significados" (Serrazina, 2005, p. 30).
Segundo Stewart (1995), os números estão ligados de forma tão próxima à
realidade, que temos tendência a pensar neles como qualquer coisa única e quase física.
Só após uma análise mais profunda, se torna claro que são uma invenção do espírito
humano, “um método através do qual o nosso cérebro consegue modelar certos aspectos
da natureza. Eles próprios não são a natureza.” (p. 46)
Para que uma notação numérica seja perfeitamente adaptada à prática das
operações escritas é necessário, não somente que ela repouse sobre o
princípio de posição, mas que possua também símbolos significativos
distintos (…) Outra condição fundamental para que um sistema de
numeração seja tão perfeito e eficaz é possuir o zero. Enquanto outros povos
usaram numerações não posicionais, a necessidade desse conceito não se fez
sentir. (Ifrah, 1997, p. 684)
Fora a base, a criação de uma numeração estruturalmente idêntica à nossa será
totalmente independente dos símbolos utilizados. Pouco importa, com efeito, a natureza
dos símbolos escolhidos, desde que os sinais adoptados não sejam ambíguos, que o
sistema repouse sobre o princípio de posição e que tenha um símbolo para representar o
vazio – o zero.
A matemática, tal como defende Bruckheimer (2000), deve ser apresentada como
uma actividade dinâmica em expansão e poderá fomentar-se a compreensão dos
conceitos quando os compararmos e contrastarmos com as suas formas prévias.
C A P Í T U LO I I
O SISTEMA BABILÓNICO
A Mesopotâmia, “terra entre rios” (do grego, mesos e potamos), nome que os
gregos deram ao território situado entre as bacias dos rios Tigre e Eufrates, e os seus
afluentes, ficou inserida na região do Crescente Fértil (por ter o formato de uma Lua
crescente e ter um solo fértil), ocupando territórios onde actualmente se situam o Iraque,
parte do Irão e parte da Síria até ao Golfo Pérsico. Foi aí que as primeiras sociedades
urbanas surgiram e onde, um pouco antes do fim do IV milénio a.C., apareceu a
primeira escrita. Esta grande mudança na organização social teve consequências
importantes na história da matemática.
Os mesopotâmicos não se caracterizaram pela construção de uma unidade
política. Entre eles sempre predominaram os pequenos Estados que tinham o seu centro
político nas cidades. Este modelo de cidades-estado foi uma das formas de governação
característica no princípio da civilização sendo constituído por uma cidade e pela zona
rural envolvente (Eves, 1997).
Povos de diferentes etnias ocuparam a Mesopotâmia, destacando-se os Sumérios,
por volta de 4000 a.C., os Acádios, cerca de 2400 a.C. e, posteriormente, os Amoritas,
Hititas, Hurritas, Assírios, Elamitas, Cassitas, Medos e Persas (Cousquer, 1994; Ifrah,
1997).
Convém no entanto focar aqui que nunca foi uma prioridade da cultura
paleobabilónica obter uma modelação matemática apurada do mundo real, embora a
evidência dos métodos matemáticos continue ainda vaga e imprecisa (Robson, 2000).
No entanto temos de estar cientes, segundo Devlin (1998), que a adopção de uma
representação simbólica de certa quantidade de cereais não significa por si só um
reconhecimento explícito do conceito de número, no sentido que lhe é atribuído nos dias
de hoje, isto é, considerados como coisas, como objectos abstractos. “É difícil dizer,
exactamente, em que altura a humanidade conseguiu tal proeza” (Devlin, 1998, p. 18).
Nos textos matemáticos babilónicos o procedimento geral nunca era apontado. As
soluções dos problemas eram apresentadas mas os métodos utilizados para a obtenção
dessas soluções não eram descritos (Melville, 2002). Em alguns casos, na opinião de
Høyrup (referido em Radford, 2000), parece que estaria subjacente aos problemas
propostos uma configuração geométrica, na qual se basearia a solução apresentada. No
entanto, todos os textos se limitavam a expor um conjunto de procedimentos a partir de
um exemplo apresentado. Tal como questiona Cousquer (1994) “o procedimento geral
deveria ser intuído a partir dos exemplos? Não o sei.” (p.12)
Podemos assim constatar que a matemática desenvolvida assentava
exclusivamente em exemplos numéricos. “A ênfase inicial foi dada naturalmente à
aritmética prática e à medição” (Struik, 1992, p. 47).
14
Por volta de 2000 a.C. o império de Ur III foi aniquilado sob os golpes dos
elamitas (a leste) e dos amoritas (a oeste). A civilização suméria
desapareceu enquanto tal para todo o sempre, deixando lugar a uma cultura
nova: a do mundo assírio-babilónico. Semitas vindos do oeste (…)
fundaram a cidade de Babilónia. (Bottero citado em Ifrah, 1997, p. 268)
A região constitui-se um grande e unificado império que tinha como centro
administrativo a cidade de Babilónia. O soberano que mais se destacou foi Hammurabi,
que viveu entre 1792 e 1750 a.C., elaborando leis que ficaram conhecidas como Código
de Hammurabi.
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Para se ter uma ideia do grau de apuro alcançado pela astronomia babilónica
basta referir que, estudando o movimento da Lua, calcularam o respectivo
período de rotação com erro da ordem de 1 segundo. E, já no século IV a.C.,
podiam prever os eclipses com relativa precisão. (Guimarãis, 1972, p. 23)
A astronomia serviu muitos propósitos, tal como a necessidade de manter um
calendário, o qual era determinado pela posição do Sol, da Lua e das estrelas. Assim
sendo, o ano, o mês e o dia eram quantidades astronómicas. Conforme também realça
Garnier (1985), não podemos ignorar que uma parte do interesse pela astronomia
provinha do facto de na época ela constituir um pujante instrumento de poder sobre o
povo.
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Os sumérios recorreram a um sistema de numeração cuja base era 60. Foram aliás
o único povo na história que criou e utilizou um sistema sexagesimal. Os símbolos
numéricos eram esculpidos em pequenas placas de argila, que serviam de base de
“impressão” da escrita cuneiforme. Eram usados os seguintes pictogramas:
Encontraram-se também representações para 600 (60 ×10), para 3 600 (602), para
36 000 (602 × 10) e para 216 000 (603). Todavia, essas representações eram conseguidas
através de composições recorrendo aos pictogramas atrás apresentados.
• 216 000 unidades combinando o polígono de 3 600 unidades com o prego das
sessenta unidades.
18
Teão de Alexandria alude a que o número elevado de divisores de 60, apesar deste
número ainda ser relativamente baixo, é uma vantagem. Afirma que, por estas razões, a
base 60 é a mais cómoda de todas.
Jonh Wallis (referido em Ifrah, 1997) invoca a favor da base 60 o facto de possuir
a propriedade de ter por factores os seis primeiros números inteiros.
Para Moritz Cantor (referido em Ifrah, 1997) o sistema teria na sua origem
considerações puramente “naturais”, tais como o número de dias do ano, arredondado
para 360, o que teria originado a divisão do círculo em 360 partes (para corrigirem a
contagem solar dos dias adoptada, entre duas sequências de seis anos os babilónios
intercalavam um décimo terceiro mês). Alegava ainda Cantor o facto de parecer
evidente que os babilónios tinham já conhecimento de que a corda do sextante (isto é,
1/6 do círculo) é igual ao raio correspondente, tendo esse número engendrado a divisão
do círculo em seis partes iguais, o que teria desde então privilegiado sessenta como
unidade de contagem.
Já Otto Neugebauer (referido em Wilder, 1968) considera que na origem desta
base estaria a metrologia (ciência que trata da medição das grandezas físicas e dos
sistemas de unidades) tendo assim ocorrido uma fusão dos diversos sistemas de medidas
em uso.
Struik (1992) também alega que na origem da escolha da base 60 esteve uma
tentativa de unificação de vários sistemas de numeração, tendo também tido influência
nesta escolha a circunstância de 60 ter muitos divisores.
Georges Ifrah (1997) considera que na génese da base 60 está uma simbiose entre
duas culturas diferentes, uma praticando uma contagem digital de base 5 e uma outra
que utilizaria um sistema de contagem das doze falanges de uma mão pelo polegar
oposto. A base 60 ter-se-ia assim imposto como uma grande unidade de contagem
graças à combinação dos dois sistemas manuais.
Outras hipóteses foram também anunciadas, mas na realidade nenhuma delas se
revelou completamente esclarecedora. Nenhuma das explicações até hoje apresentadas
recolheu a unanimidade dos historiadores.
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Os Babilónios usaram o princípio da posição, mas este não foi mais usado
noutras culturas até cerca de 300 a.C. (Dubisch, 1952, p.17).
Para Neugebauer, citado em Wilder (1968, p. 47), a invenção do sistema de
numeração posicional foi “indubitavelmente uma das criações mais férteis da
humanidade” a qual pode ser comparada “à invenção do alfabeto em contraste com o
uso de pictogramas”.
O sistema dos eruditos mesopotâmicos foi engendrado a partir da antiga
numeração sexagesimal suméria, diferindo, não na natureza da sua base, mas no modo
de formação dos números. Diferentes assiriólogos encontraram exemplos desta
numeração em várias tábuas, que remontam ao final da I Dinastia Babilónica, tábuas
essas de carácter exclusivamente científico: tábuas destinadas a facilitarem a prática do
cálculo numérico (tábuas de multiplicação, divisão, inversos, quadrados, raízes
quadradas, cubos, razões cúbicas, etc.); tábuas astronómicas; colectâneas de exercícios
de aritmética prática ou de geometria elementar; listas de problemas matemáticos; etc.
Nestas tábuas encontramos, conforme salienta Ritter (1991b), dois tipos distintos
de textos: textos de procedimento “que ensinavam ao utilizador os meios para resolver
um dado problema”; tabelas às quais se referiam os textos anteriormente citados a título
de índice ou para consumar cálculos. Estaremos deste modo perante um matemática
prática e empírica.
Como já foi referido estas tábuas desvendaram uma numeração científica
posicional babilónica alicerçada numa base sexagesimal. Queremos com isto dizer que
sessenta unidades de uma certa ordem eram equivalentes a uma unidade de ordem
imediatamente superior.
Os números de 1 a 59 formavam então as unidades simples ou unidades da 1.ª
ordem; os múltiplos de 60, as “sessentenas”, constituíam as unidades da 2.ª ordem; os
múltiplos de 60 2 (ou "sessentenas de sessentenas") correspondiam às unidades da 3.ª
ordem; os múltiplos de 216 000 ( = 60 3 ) formavam as unidades da 4.ª ordem, e assim
por diante. (Ifrah, 1997)
Os babilónios utilizavam apenas dois símbolos, um “prego” vertical que
representava a unidade e uma “viga” associada às dez unidades, o que os obrigava a
usar um sistema repetitivo, para representar os elementos componentes de cada ordem
de números (Cousquer, 1994; Ifrah, 1997; Estrada, 2000b).
23
Fig. 2.6.
Fig. 2.7.
1859 = 30 × 60 + 59
… não tinham nenhum símbolo para o zero; para obviar essa dificuldade,
eles deixavam algumas vezes um espaço em branco quando não havia
unidades de certa ordem, mas nunca esse espaço em branco aparecia no fim
da representação de números (Estrada, 2000b, p. 71).
O princípio de posição, contudo, não é suficiente por ele mesmo. Terá de ser
inventado um método de denotar a ausência de unidades. Isto constituirá um
segundo estádio de desenvolvimento da presente notação para escrever
números (…) Tanto quanto se sabe, não foi usado um tal símbolo pelos
babilónios até cerca de 400 a.C. (Dubisch, 1952, p.18).
Como podemos então verificar, um símbolo para o zero nem sempre foi usado
pelos babilónios. Na notação posicional o papel do zero é a de um sinal marcando um
hiato, um vazio (van der Waerden, 1976a).
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Note-se que na ausência de tal sinal, o zero, o valor posicional tinha que ser
deduzido em cada caso a partir do contexto. Por exemplo:
1 × 60 2 + 0 × 60 + 35
No III séc. a.C. um carácter da forma de duas vigas ligadas, foi utilizado
para marcar um espaço em falta no meio de números; este carácter não era
utilizado à direita de um número para precisar uma ordem de grandeza; a
notação continuou assim ambígua. (Cousquer, 1994, p.6)
Podemos aqui mostrar um exemplo, referido por Ifrah (1997), que foi encontrado
numa tábua astronómica datando da época selêucida, onde surge o número:
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2 × 60 4 + 0 × 60 3 + 25 × 60 2 + 38 × 60 + 4
o qual, recorrendo à escrita cuneiforme, assumiria a seguinte configuração:
Mas o problema nem por isso foi resolvido. Esse espaço era frequentemente
omitido pelos escribas “distraídos ou pouco conscienciosos”(Ifrah, 1997, p. 685). Por
outro lado, era complicado, nessas condições, simbolizar a ausência de duas ou mais
ordens de unidades consecutivas.
5 5 × 52 125 4 4× 2 8
finitas. Como exemplos temos: = 2 = = 1,25 ; = = = 0,8
2 2 ×5
2 2
100 5 5 × 2 10
Assim sendo, todas as outras fracções que não estejam nestas condições, são
equivalentes a dízimas infinitas periódicas, como por exemplo:
2 5
= 0, (6 ) ; = 0,8 (3) , etc.
3 6
Se aplicarmos este princípio ao sistema sexagesimal, como 60 = 2 2 × 3 × 5 , temos
que na base 60 todas as fracções cujos denominadores são do tipo 2α × 3 β × 5δ com
α , β , δ ∈ IN 0 são representáveis por expressões sexagesimais finitas.
20 ou 20 × 60 ou 20 ou 20 , etc.
60 60 2
Mais uma vez uma ambiguidade era introduzida.
Fig. 2.10.
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Uma das razões que conduziram à "invenção" do sistema erudito babilónio é fácil
de compreender. É explicada por esse "acidente", segundo Cousquer (1994), que foi a
própria fonte de uma das maiores dificuldades da numeração cuneiforme suméria, pela
33
qual a unidade e as sessenta unidades eram representadas por um mesmo sinal, a saber,
o “prego” vertical.
O sistema passou a ter um outro potencial problema, uma vez que 2 também é
representado por dois caracteres cada um deles representando a unidade, e 61 é
representado por um carácter para sessenta unidades, no primeiro lugar, e um segundo
carácter idêntico para uma unidade no segundo lugar. Assim sendo os números
babilónicos 2 e 61 têm essencialmente a mesma representação. Os dois “pregos”
C A P Í T U LO I I I
O SISTEMA ÁTICO
A cidade de Atenas foi erguida na Ática (Grécia central) numa região montanhosa
e pouco fértil. O solo da Ática não permitia cultivar cereais suficientes e assim sendo
Atenas não permaneceu um estado predominantemente agrário.
A Ática era uma pequena península da antiga Grécia, banhada a sul e a este pelo
mar Egeu. Cerca de metade do solo era ocupado por agrestes cadeias montanhosas, que
alternam com colinas nuas, por entre as quais se desenvolviam quatro modestas colinas
cultiváveis: a de Atenas, a de Mesogeia, a de Maratona e a de Elêusis. O litoral, apesar
do difícil acesso, dispunha de bastantes abrigos favoráveis à navegação e à pesca: as
baías de Salamina e de Elêusis, os portos de Pireu e de Zea, a enseada de Falera, etc.
A recortada costa da Ática facilitou e impulsionou o rápido desenvolvimento das
actividades marítimas e do comércio. Verificou-se então a expansão de um comércio
próspero e uma cultura essencialmente urbana foi implementada. A riqueza alcançada
através do comércio tornou Atenas uma das cidades mais ricas do seu tempo.
“Jónicos, Pitagóricos e intelectuais de um modo geral foram atraídos para
Atenas”, (Kline, 1972, p. 37). Estaremos perante “a idade de ouro da Grécia” (Struik,
1997, p. 75).
A vida em Atenas contrastou de maneira notória com a da maior parte das outras
civilizações. Uma das suas principais características foi o elevado grau de igualdade
social e económica que prevaleceu entre os seus habitantes. É unanimemente
reconhecido que a democracia ateniense atingiu a sua mais alta perfeição na época de
Péricles (461- 429 a.C.).
Sob o domínio de Péricles, Atenas tornou-se o principal centro da vida política e
cultural da Grécia. “Esta grande cidade, muito grande para aquela época, contava cerca
de 200 mil habitantes, era um centro de fermentação intelectual” (Manfred, 1981, p.
65).
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Tal como refere Guimarãis (1972), ocorreu uma disseminação geográfica dos
gregos através do Mediterrâneo, povo de marinheiros e mercadores, que erigiu várias
colónias em múltiplos pontos da costa mediterrânea, desde o sul de Itália até às ilhas e
angras que ladeavam o litoral da Ásia Menor, e mesmo até ao Mar Negro. À medida
que os gregos se estabeleciam iam desenvolvendo relações comerciais com os Egípcios
e os Babilónios.
A influência dos Egípcios e dos Babilónios sentiu-se essencialmente em Mileto,
cidade da Ásia Menor e local de nascimento de alguns dos primeiros filósofos e
matemáticos gregos. Mileto era uma grande e opulenta cidade de comércio no
Mediterrâneo. Navios oriundos do continente grego, da Fenícia e do Egipto chegavam
aos seus portos. Rotas de caravanas estabeleciam a ligação com a Mesopotâmia,
segundo Kline (1972).
Por volta de 775 a.C., segundo Kline (1972), os gregos substituíram vários
sistemas hieroglíficos de escrita pelo alfabeto fenício, o qual também era usado pelos
hebreus, e fizeram um novo e muito mais eficaz instrumento de escrita, mediante a
introdução de vogais.
A adopção de um alfabeto percorreu várias etapas ao longo do tempo, tendo-se
inclusivamente verificado a existência de diferentes variantes regionais. Assim
subsistiram, inicialmente, um grande número de alfabetos locais, divergindo estes
segundo o número dos seus caracteres e segundo as suas particularidades.
Uma das grandes realizações dos gregos foi, na opinião de Burns (1977), o
desenvolvimento da filosofia num sentido mais vasto do que ela tivera até então. Antes
do fim do século VI a.C. a filosofia grega adquirira uma orientação metafísica, isto é,
deixou de se ocupar com os problemas do mundo físico e transferiu a sua atenção para
questões abstrusas como a natureza do ser, o sentido da verdade, a posição do divino no
esquema das coisas. Foi dada ênfase ao raciocínio abstracto, tendo-se estabelecido como
objectivo estender o domínio da razão sobre toda a natureza e o homem.
Em coerência com esta nova forma de pensar, os pitagóricos sustentaram que a
essência das coisas não seria uma substância material, mas sim um princípio abstracto, o
número. Segundo a filosofia dos pitagóricos
Os pitagóricos eram por assim dizer não só activos como escola matemática
muito influente, onde foram os primeiros a elevar o requisito de uma
matemática exacta e onde insistiam numa rígida educação em aritmética,
geometria, astronomia e música para os seus membros, mas
cumulativamente a isto tudo eles comprometiam-se a um estilo de vida
ordeiro (Mainzer, 1990b, p. 28).
Efectivamente, a escola pitagórica propôs-se explicar todas as coisas, partindo da
noção de número que lhes constituiria a essência. (Guimarãis, 1972)
43
3.1.3. Concepções
O interesse dos gregos pela matemática não se alicerçou no seu carácter utilitário.
Pelo contrário, tal como acentua Devlin (1998), os gregos encaravam a matemática
como uma actividade intelectual que integrava elementos tanto de natureza estética
como religiosa.
3.2.2. Os incomensuráveis
representa duzentas e trinta e quatro unidades. Note-se que a ordem dos termos é
irrelevante para um eventual cálculo do número representado, pois o valor está ligado
aos próprios símbolos e não depende da posição que estes tomam na sequência. Assim
bastará somar os valores que cada um deles simboliza para se obter o número em
questão. Contudo, e de um modo geral, a convenção adoptada foi ordenar os símbolos
por ordem decrescente do seu valor da esquerda para a direita, o que parece lógico pois
corresponde à forma de escrita grega.
No quadro seguinte poderemos observar os números de um a dez seguindo o
princípio da representação ática:
53
Uma dificuldade surge aqui, pois, se recorrermos à base dez, num sistema de
numeração que é aditivo, serão necessários vários caracteres para expressar
determinadas quantidades como, por exemplo, o caso de 9999 o qual requereria 36
símbolos. A situação aqui contemplada constituía efectivamente um obstáculo que no
entanto foi superado.
Quanto aos sinais respectivamente associados aos números 50, 500, 5 000,
50 000, são visivelmente compostos … segundo o princípio multiplicativo.
Noutras palavras, no sistema ático, para quintuplicar o valor de uma das
letras-numerais ∆, H, X e M bastava colocá-la no interior da letra Г = 5.
(Ifrah, 1997, p. 384)
Podemos observar no quadro seguinte alguns exemplos onde se aplicou este
princípio multiplicativo, dando assim origem a uma representação reduzida de valores
mais elevados:
Sintetizando tudo aquilo que até agora foi dito, poderemos dizer que o sistema de
numeração ático constituiu um sistema de contagem de agrupamentos simples de base
10, conforme o recordam Eves (1997) e Struik (1997). Contudo, este sistema de
agrupamento simples, em determinados momentos, evoluía para um tipo de numeração
que poderemos designar por um sistema de agrupamento multiplicativo. “Neste sistema
teremos cifras para o grupo básico e uma segunda classe de símbolos para um grupo
mais elevado. As cifras serão então usadas de uma forma multiplicativa” (van der
Waerden, 1976a, p. 18).
Estamos então perante um sistema do tipo aditivo, em que cada algarismo
possuirá um valor próprio independentemente de sua posição nas representações. O
sistema de numeração ático, porém, apresenta uma característica peculiar: alicerçado
numa base decimal, recorrendo ao princípio da adição, apresenta um símbolo particular
para cada um dos números 1, 10, 100, 1 000, bem como para cada um dos números: 5,
50, 500, 5 000, e assim continuadamente.
Examinando então este tipo de sistemas, após a escolha de um número m , que
constituirá a base, verificamos que se designam símbolos para 1 , m , m 2 , m 3 , etc.
Posteriormente, qualquer número será expresso pelo uso desses símbolos de uma forma
aditiva, repetindo-se cada um deles o número de vezes necessário. Podemos então,
formalmente, sintetizar o que aqui foi dito do seguinte modo, seguindo a síntese de Ifrah
(1997):
Designemos por k o divisor da base m , representando k uma base auxiliar e m
a base principal. Teremos então, no caso específico do sistema ático, m = 10 e k = 5 .
Será assim possível observar que este sistema atribui um algarismo particular não
somente a cada potência da base (1, m , m 2 , m 3 , …), mas também ao produto de k por
cada uma delas ( k , km , km 2 , km 3 , …).
No quadro seguinte, sugerido por Ifrah (1997, p. 695), pode-se observar a
estrutura matemática que se encontra na progressão regular dos algarismos da
numeração ática:
Numeração grega ática (m = 10 e k = 5)
1 k m km m2 km 2 m3 km 3 …
1 5 10 5 × 10 10 2 5 × 10 2 10 5 × 10 3 …
55
700 talentos
520 dracmas
30 talentos
300 dracmas
Fig. 3.1. - Pilar da estátua de Atena (imagens extraídas de Roux, 1988, p. 60)
Fig. 3.2. – Ábaco de Salamis – (imagem extraída Fig. 3.3. - Reprodução do ábaco de
de Ifrah, 1997, p. 425) Salamis – (imagem extraída de
Bouat, 1996, p. 234)
Fig. 3.4. - Detalhe de um vaso de Dario 350 a.C. (proveniência: Canossa, Itália do
Sul). Peça do Museu Arqueológico Nacional de Nápoles. (imagem extraída de
Ifrah, 1997, p. 424)
Contudo podem referir-se outras dificuldades inerentes ao sistema ático. Uma
delas reside num inconveniente do princípio aditivo adoptado, o qual requeria um uso
enorme de símbolos, idênticos, mesmo após a introdução do princípio multiplicativo,
como já referimos, para a representação de determinados valores. Podemos aqui
mencionar, como exemplo, a representação do número 7699, a qual exigia o recurso a
15 símbolos do sistema ático.
Um outro facto reside na circunstância de os gregos não possuírem o zero,
conjuntura que resulta de um sistema de numeração aditivo como o ático.
C A P Í T U LO I V
O SISTEMA HINDU
A partir das ruínas dos edifícios públicos, a partir dos sistemas de canais de
rega e drenagem e a partir das pinturas em artigos de cerâmica, concluímos
indirectamente que uma certa quantidade de conhecimentos matemáticos foi
um dos elementos que proporcionaram uma cultura tão elevada. (van der
Waerden, 1976a, p. 33)
O nível de desenvolvimento das tribos dravídicas terá sido semelhante ao da
sociedade sumero-acádica. Tudo indica que a população se dedicava essencialmente ao
cultivo de terras irrigadas e à criação de gado. A existência de escrita revela que um
nível avançado de desenvolvimento terá ocorrido.
Porém não se sabe o fim que esse povo teve, salienta Eves (1997). Alguns séculos
mais tarde, por volta de 1500 a.C., os indo-europeus arianos, designação que provém da
palavra sânscrita que significa “nobre” ou “proprietário de terras”, invadiram o vale do
Indo, e dispersaram-se pela região do rio Ganges, impondo-se sobre as populações que
lá habitavam, “e forçaram-nas à condição de castas inferiores e servis.” (Menninger,
1969, p. 393). Era
4.1.1. A escrita
O sânscrito foi a língua que serviu de suporte aos registos hindus, sendo a sua
origem desconhecida, mas crê-se que terá sido introduzido pelos guerreiros arianos, isto
é, no séc. XVI a.C. O sânscrito é uma das mais antigas línguas da família Indo-Europeia
e também uma das línguas oficiais da Índia actual. O seu alfabeto original era o
devanagari, “a escrita da cidade dos deuses”. Posteriormente, o sânscrito ter-se-á
ramificado em duas variantes: o védico e o clássico. Um facto interessante e importante
que realçamos aqui, reside na circunstância de o sânscrito ter influenciado praticamente
todos os idiomas ocidentais.
64
No período Védico (1500-600 a.C.) foi composto o Rig Veda, o documento mais
antigo da civilização indo-europeia, no qual poderemos encontrar uma colecção de
hinos numa forma arcaica do sânscrito, que se centravam no ritual védico.
estes recorreram a materiais muito perecíveis para suporte dos seus registos escritos, tais
como cascas de árvore e de bambu. Não temos contudo qualquer dúvida de que no séc.
VIII a.C. já havia actividade matemática. Serão dessa altura os textos mais antigos,
denominados Sulvasutras, como adiante referiremos, os quais apresentam um conjunto
de regras sob a forma de versos. Contudo, e assim o salienta Cousquer (1994), a
tradição matemática é descontínua, o que por sua vez coloca uma dificuldade adicional
na datação dos textos.
Todavia Cousquer afirma, sem qualquer tipo de dúvida, que:
Foi no norte da Índia, por volta do séc. V da nossa era, que nasceu o
antepassado do nosso sistema de numeração e onde foram estabelecidas as
bases do cálculo escrito que conhecemos hoje (Cousquer, 1994, p. 46).
Mas esta certeza não foi partilhada por todos os estudiosos ao longo do tempo. Na
realidade não existem documentos hindus que nos testemunhem, com exactidão, quando
e como os hindus chegaram ao sistema de numeração decimal posicional. Alguns
estudiosos desta questão chegaram a defender que os hindus teriam ido buscar os
princípios do sistema de numeração aos gregos, segundo Cousquer (1994), quando no
século IV a.C., a parte noroeste do país foi conquistada por Alexandre Magno.
Obviamente que o contacto entre os conquistadores e a população local facultou a troca
de conhecimentos entre as culturas grega e indiana, conforme o salienta Manfred
(1981). Todavia hoje em dia existe uma concordância geral na comunidade científica
quando se atribui aos hindus a proveniência do nosso sistema de numeração. Cousquer
(1994) reforça esta ideia ao referir o testemunho de autores sírios, em 662, e chineses,
em 718, os quais certificam a origem desta numeração. A referência de Cousquer é
também reiterada por Struik quando nos recorda que
no início deste período. Tal facto pode deduzir-se das palavras do astrónomo hindu
Varãhamihira quando ele afirma que
Foi também Bhaskara que considerou que uma quantidade tal como a deveria
0
ser considerada como infinita. Podemos aqui notar que a concepção de uma colecção
infinita era conhecida na Índia
1 4 10 20 100
representa 122
representa 274
Essas primeiras amostras não contêm nenhum zero e não utilizam a notação
posicional (Eves, 1997, p. 40).
Também, segundo Eves (1997), encontraram-se registos talhados, por volta do
início do séc. I a.C., nas paredes de uma caverna situada numa colina perto de Poona,
assim como algumas inscrições, que datam do ano 200 d.C., gravadas nas cavernas de
Nasik.
Os numerais brahmi foram usados durante mais de 2000 anos, ou ainda mais
no Sri Lanka (Ceilão), onde eles chegaram ao mesmo tempo que o budismo
e estiveram em uso até ao séc. XIX (van der Waerden, 1976a, p. 37).
O alfabeto brahmi é historicamente mais importante do que o kharosthi, com o
qual contrasta, pois é escrito da esquerda para a direita. Desde o tempo de Asoka (séc.
III a.C.), inscrições brahmi têm sido encontradas em quase todo o subcontinente
indiano. No que diz respeito à sua origem, alguns estudiosos consideram que esta terá
sido nativa, enquanto outros sustentam que será originário do grupo de alfabetos
semíticos.
Este sistema de numeração, de base decimal, atribuía um símbolo a cada uma das
unidades, das dezenas, das centenas, dos milhares, das dezenas de milhar, “seguindo o
mesmo princípio da numeração grega” (Cousquer, 1994, p. 47). Estamos perante um
sistema sem a notação de valor de posição.
72
No entanto, pela primeira vez na história, este sistema adquire uma característica
que vários autores destacam: as unidades não são mais construídas pela lei da
acumulação ou agrupamento que vimos noutros sistemas de numeração. Achamos pois
ser pertinente destacar aqui algumas das observações efectuadas:
Destaca-se o facto de cada unidade não ser constituída por mera agregação
de símbolos, mas sim designada por um único símbolo, e também a
existência de um símbolo especial para os números de um a nove (Silva,
2000, p. 394).
Efectivamente, esta particularidade que o sistema de numeração brahmi adquiriu
irá facilitar mais tarde a transição para um sistema de numeração posicional.
Os numerais brahmi exibiam, no séc. III a.C., na época do rei Asoka, símbolos
diferentes para os números um, quatro … nove, dez, vinte, trinta, … cem, duzentos,
trezentos, … mil, …
Este sistema era por isso limitado para escrever números grandes, tal como
precisavam os astrónomos (Cousquer, 1994, p. 47).
Em vários documentos da época, de carácter religioso, alusivos ao Buda, é usual
depararmo-nos com referências, por palavras, a números muito grandes, o que por si só
revela que existiam algumas especulações místicas que recorriam aos números. Estas
especulações mostram-nos que a sequência dos números hindus é decimal há já muito
tempo. Em sânscrito há palavras para 1 … 9, para 10, 100, e outras mais potências de
10.
A sua primeira ocorrência na Índia encontra-se num prato do ano 595, onde
a data 346 é escrita na notação do sistema decimal de posição. Os Hindus,
muito antes destes registos epigráficos, tinham um sistema para expressar
grandes números através de palavras agrupadas de acordo com o método do
valor de posição. (Struik, 1997, p. 118)
“De onde é que surgiu esta alteração para um sistema posicional?” (Menninger,
1969, p. 397). Existem algumas divergências em torno desta questão. Investigadores,
sobretudo indianos, sustentam que este sistema se terá desenvolvido na Índia sem que
tenham existido para tal influências exteriores. Não existirá contudo nenhuma evidência
que permita certificar solidamente esta posição. Mas também não se conhecem
evidências que suportem as posições que advogam a existência de uma influência
externa.
Neste novo sistema 933 já não é escrito 900´30´3´ tal como na forma
Brahmi, mas somente com as unidades numa notação posicional
(Menninger, 1969, p. 397).
Podemos observar o registo do número 933 [ ] na linha do topo, assinalado
por um ponto na imagem seguinte, onde se pode observar a inscrição de Gvalior:
Por volta de 600 d.C. eles reverteram aos velhos símbolos Brahmi, se bem
que a forma precisa desses símbolos se tenha alterado ao longo dos tempos
(Kline, 1972, p.185).
A civilização hindu conseguiu reunir num sistema completo e coeso todo um
conjunto das condições necessárias para chegar a uma numeração aprovisionada das
mesmas potencialidades do nosso sistema actual. Os sinais gráficos que utilizou eram
“livres de qualquer intuição sensível, evocando visualmente apenas o número de
unidades representadas” (Ifrah, 1994, p. 690), o valor dos algarismos passou a variar em
consonância com o lugar ocupado na representação numérica e criou-se uma
representação para o zero, que permitiu substituir o vazio das unidades em falta.
Mas este «produto final», que agora utilizamos, é resultado de uma evolução
lenta de conceitos e notações que passa por vários e significativos estádios
de desenvolvimento como, por exemplo, pela ideia de usar letras para
representar números e de atribuir ao mesmo algarismo valores diferentes
consoante a posição que ocupe na representação do número. (Silva, 2000, p.
394)
Esta história da Índia na sua grande parte está para lá da nossa capacidade
de compreensão. Contudo devemos estar familiarizados pelo menos com os
seus pontos altos, para que possamos ter a consciência completa de quão
tarde, quando comparado com o Egipto e a Babilónia, e também com a
Grécia, a Índia finalmente fez a sua grande contribuição para o
78
Vimos também que o símbolo para o zero existia no sistema decimal hindu.
Este surgimento de um símbolo para o zero originalmente significava nada
mais do que a necessidade de representar um espaço vazio, apesar de mais
tarde o zero ser olhado como um número para fins operacionais e ainda
posteriormente tornar-se um número no sentido conceptual. (Flegg, 1974b,
p. 15)
Wilder (1968) reforça esta ideia, quando nos diz que o zero se torna um número
no sentido operacional, uma vez que é usado como qualquer outro número nas
operações.
Por mais novos e misteriosos que eles tenham parecido para aqueles que se
familiarizaram com eles pela primeira vez, eles continuaram a assemelhar-
-se às suas formas originais! (Menninger, 1969, p. 418)
80
Fig. 4.9. Árvore da família dos numerais indianos – (imagem extraída de Flegg, 1974a, p. 19)
81
ANEXO I
Fig. I.1. - Símbolos do sistema hieroglífico (imagem extraída de Gullberg, 1997, p. 34)
Cada símbolo podia ser repetido até nove vezes, exprimindo adição. Num
sistema deste tipo a ordem dos símbolos não tem consequências, mas os
egípcios usualmente escreviam os símbolos por ordem decrescente, ou da
esquerda para a direita ou da direita para a esquerda. (Gullberg, 1997, P. 34)
84
1º Grupo de ordem
2º Grupo de ordem
3º Grupo de ordem
4º Grupo de ordem
218 ; 2018
O sinal era usado para indicar que os símbolos dos números colocados por
baixo dele representavam o denominador de uma fracção unitária, segundo Mainzer
(1990a).
1 1 2 3
= ; = ; ou = ; =
4 2 3 4
Fig. I.5. – Detalhe do papiro de Rhind (imagem extraída de Ifrah, 1997, p. 358)
pensando-se que elas não usam ou exibem novos princípios. (…) Isto
constituiu uma interpretação errada da notação egípcia e dos princípios
fundamentais da numeração. (van der Waerden, 1976a, p. 7)
De facto os símbolos numéricos hieráticos não têm, na sua grande maioria,
nenhum ponto em comum com os seus correspondentes símbolos hieróglifos e “não
parecem corresponder ao mesmo princípio” (Ifrah, 1997, p. 364).
ANEXO I I
O SISTEMA ROMANO
Que saibamos, a mais antiga inscrição romana, atribuindo a letra L para 50,
data apenas de 44 a.C. Quanto à primeira menção conhecida do emprego
das letras numerais M e D , figura numa inscrição latina datada de 89 a.C.
(Ifrah, 1997, p. 397)
Foram encontrados grafismos diferentes dos que se apresentam na Fig. II.1., como
símbolos representativos dos valores 50, 500 e 1000. Originalmente os símbolos
tiveram o seguinte aspecto gráfico:
5000
1000
10 000
50 000
100 000
1 000 000
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