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Ministério da Educação - MEC

Universidade Aberta do Brasil


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará
Diretoria de Educação a Distância

LICENCIATURA EM MATEMÁTICA
Marcos Antônio de Macedo

Geometria
Analítica Vetorial
FORTALEZA

2008
Créditos
Presidente Diemano Bruno Lima Nóbrega
Luis Inácio Lula da Silva Germano José Barros Pinheiro
Hommel Almeida de Barros Lima
Ministro da Educação José Albério Beserra
Fernando Haddad
José Stelio Sampaio Bastos Neto
Secretário da SEED Larissa Miranda Cunha
Carlos Eduardo Bielschowsky Marco Augusto M. Oliveira Júnior
Diretor de Educação a Distância Navar de Medeiros Mendonça e Nascimento
Celso Costa Renato Furtado de Mesquita
Roland Gabriel Nogueira Molina
Reitor do IFCE
Cláudio Ricardo Gomes de Lima Equipe Web
Aline Mariana Bispo de Lima
Pró-Reitor de Ensino Antonio de Pádua Madeiros Alves Filho
Gilmar Lopes Ribeiro Benghson da Silveira Dantas
Diretora de EAD/IFCE e Coordenadora Fabrice Marc Joye
UAB/IFCE Luiz Alfredo Pereira Lima
Cassandra Ribeiro Joye Lucas do Amaral Saboya
Vice-Coordenadora UAB Marcos do Nascimento Portela
Régia Talina Silva Araujo Ricardo Werlang
Samantha Onofre Lóssio
Coordenador do Curso de Tibério Bezerra Soares
Tecnologia em Hotelaria Thuan Saraiva Nabuco
José Solon Sales e Silva
Revisão Textual
Coordenador do Curso de Aurea Suely Zavam
Licenciatura em Matemática Nukácia Meyre Araujo de Almeida
Zelalber Gondim Guimarães
Revisão Web
Elaboração do conteúdo Débora Liberato Arruda Hissa
Marcos Antônio de Macedo Saulo Garcia
Equipe Pedagógica e Design Instrucional Logística
Ana Claúdia Uchôa Araújo Francisco Roberto Dias de Aguiar
Andrea Maria Rocha Rodrigues
Cristiane Borges Braga Secretários
Eliana Moreira de Oliveira Breno Giovanni Silva Araujo
Gina Maria Porto de Aguiar Vieira Francisca Venâncio da Silva
Jane Fontes Guedes Auxiliar
Lívia Maria de Lima Santiago Zuila Sâmea Vieira de Araújo
Luciana Andrade Rodrigues Maria Tatiana Gomes da Silva
Regina Santos Young Carla Anaíle Moreira de Oliveira
Equipe Arte, Criação e Produção Visual
Benghson da Silveira Dantas
Davi Jucimon Monteiro
Catalogação na Fonte: Etelvina Marques (CRB 3 – Nº 615)

M141g Macedo, Marcos Antônio de


Geometria analítica vetorial: semestre III/ Marcos Antônio de
Macedo; Coordenação Cassandra Ribeiro Joye. - Fortaleza: UAB/
IFCE, 2008.
130p. : il. ; 27cm.

1. GEOMETRIA ANALÍTICA 2. VETORES (MATEMÁTICA) I. Sil-


va, Cassandra Ribeiro de Oliveira e. (Coord.) II. Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará - IFCE III. Universidade
Aberta do Brasil IV. Título

CDD – 516.3
Sumário
Apresentação 6
Aula 1 - Introdução a Vetores 7
Tópico 1 - Sistema de Coordenadas Tridimensional 8
Tópico 2 - Introdução a Vetores 14
Tópico 3 - Decomposição no plano e no espaço 20

Aula 2 - Produto Interno 29


Tópico 1 - Representação Geométrica do Produto Interno 30
Tópico 2 - Expressão Cartesiana do Produto Interno 34
Tópico 3 - Duas Aplicações Tradicionais do Produto Interno 40

Aula 3 - Produto Vetorial 45


Tópico 1 - Produto Vetorial 46
Tópico 2 - Produto Misto 52
Tópico 3 - Demonstrações das Propriedades 58

Aula 4 - Reta 63
Tópico 1 - Equações da Reta 64
Tópico 2 - Posições Relativas Entre Duas Retas 70

Aula 5 - Plano 75
Tópico 1 - Equações do Plano 76
Tópico 2 - Complemento Sobre Planos 84
Aula 6 - Distâncias 89
Tópico 1 - Distância Envolvendo Ponto e Reta 90
Tópico 2 - Distâncias Envolvendo Ponto e Plano 96

Aula 7 - Cônicas 101


Tópico 1 - Elipse e Círculo 102
Tópico 2 - Hipérbole e Parábola 108

Aula 8 - Transformação de Coordenadas 115


Tópico 1 - Translação de Eixos de Coordenadas 116
Tópico 2 - Rotação de Eixos de Coordenadas 120

Referências Bibliográficas 129


Currículo 130
Apresentação
Caros alunos,

A disciplina Geometria Analítica e Vetores tem como objetivo familiarizar o aluno com os conceitos
fundamentais da Geometria Analítica e Vetores, fornecendo-lhe um conjunto de ferramentas que
permitam avançar nas disciplinas de Cálculo Diferencial e Integral, Física e Álgebra Linear.

A disciplina está estruturada em duas partes: vetores e geometria analítica. Na primeira parte, são in-
troduzidas as propriedades e operações com vetores de maior relevância, considerando que o estudo
desses elementos é de fundamental importância para compreensão e entendimento da geometria
analítica.

Na segunda parte, é realizado um estudo acerca das retas e dos planos no espaço tridimensional,
utilizando-se como ferramentas básicas as principais operações e propriedades dos vetores, além de
uma abordagem sobre transformação de coordenadas.

No desenvolvimento dos conteúdos, procuramos seguir sempre uma ordem lógica na apresentação
dos temas. Dessa forma, pretendemos facilitar e fornecer condições para que os próprios alunos avan-
cem de modo progressivo no domínio da disciplina.

Como parte de sua avaliação, o aluno deverá resolver, ao final de cada aula, um conjunto de exer-
cícios cujo grau de complexidade aumenta de forma gradativa desde os conceitos mais básicos aos
mais complexos.

A partir de agora, convido-os a viajar nesse mundo da geometria analítica.

Bons estudos!

Marcos Antônio de Macedo


Aula 1
Introdução a Vetores
Caro(a) aluno(a),

Nesta aula será introduzido o conceito geométrico e analítico de vetores, os quais


serão utilizados como ferramenta imprescindível nas aulas subseqüentes, permitin-
do a você, a formação de uma visão espacial dentro da geometria analítica tridimen-
sional.

Objetivos:
• Introduzir a linguagem geométrica de vetores coligada às técnicas algébricas que envolvem
coordenadas.
• Desenvolver uma visão integrada com os problemas de geometria resolvidos por meio de
técnicas de algébricas.

7
01
TÓPICO
SISTEMA DE COORDENADAS
TRIDIMENSIONAL

OBJETIVOS
··Apresentar a ferramenta básica para o estudo da
geometria analítica e vetores.
··Identificar um ponto no sistema de coordenadas
tridimensionais.

N este tópico será abordado o sistema de coordenadas retangulares tridi-


mensionais (ou sistema de coordenadas cartesianas), elemento básico e
ferramenta fundamental no estudo da geometria analítica.
A palavra “cartesiano” se deve a René Descartes, conhecido como Cartesus. No sis-
tema cartesiano, “x” recebe o nome de abscissa, “y” de ordenada e “z” o nome de cota.

1.1 SISTEMA COORDENADO RETANGULAR TRIDIMENSIONAL


Vimos na geometria analítica plana que, para localizar um ponto no plano, são
necessários dois números reais, ou seja, qualquer ponto do plano pode ser facil-
mente representado como um par ordenado (a,b) de
números reais, onde a é a coordenada x e b é a co-
ordenada y. Para localizar um ponto no espaço, pre-
cisamos de três números reais (a, b, c).
SAIBA MAIS!
Para representar um ponto no espaço, precisa-
Conheça mais sobre o renomado mos, primeiramente, fixar um ponto 0, chamado de
matemático acessando ao site disponível no
origem, e três retas orientadas ortogonais entre si
material web.
passando por 0, que denominamos eixos coorde-
nados 0x, 0y e 0z, como ilustrado na Figura 1.

8 Licenciatura em Matemática
A
Figura 1 – Sistema de eixos cartesianos
1
Cada dupla de eixos determina um plano coordenado. Portanto temos três planos T
coordenados: o pano x0y ou xy, o plano x0z ou xz e o plano y0z ou yz, como mostra 1
a Figura 2. Os três planos se interceptam dividindo o espaço em oito regiões, cada
uma delas chamada octante. O primeiro octante é determinado pelos eixos positi-
vos (Figura 2).

Figura 2 - Planos coordenados


A cada ponto P do espaço vai corresponder uma terna (a, b, c) de números reais,
chamadas coordenadas de P e denominadas abscissa, ordenada e cota, respectiva-
mente. Para se determinar as coordenadas de P, procedemos da seguinte forma:
Baixamos por P uma perpendicular ao plano xy determinando o ponto P’ (proje-
ção ortogonal de P sobre o plano xy). As coordenadas de P’ no plano xy representam
as duas primeiras coordenadas de P que são a e b. A terceira coordenada de P (coor-
denada c) marcada no eixo z a partir da origem representa a distância de P ao plano
xy, como mostra a Figura 3.

Figura 3 – Coordenadas de um ponto no espaço

Geometria Analítica Vetorial 9


O produto  x  x  = {(x, y, z) x, y, z ∈  } é o conjunto de todas as tri-
plas ordenadas de números reais e é denotado por  3. Existe uma correspondência
bijetora entre cada ponto P do espaço e triplas ordenadas (x, y, z) no  3, que é cha-
mado sistema coordenado retangular tridimensional.
Note que, se um ponto pertence a um plano co-
ordenado, uma de suas componentes é nula. Em
A particular:
1 GUARDE BEM ISSO!
• O ponto (0, y, z) pertence ao plano yz.
T Em geometria analítica bidimensional, o
gráfico de uma equação envolvendo x e y • O ponto (x, 0, z) pertence ao plano xz.
1 é uma curva em ²; na geometria analítica
tridimensional, uma equação que envolve x, • O ponto (x, y, 0) pertence ao plano xy.
y e z representa uma superfície em ³. Se o ponto pertence a um eixo coordenado, duas
de suas componentes é nula. Em particular:
• O ponto (0, 0, z) pertence ao eixo 0z.

• O ponto (x, 0, 0) pertence ao eixo 0x.

• O ponto (0, y, 0) pertence ao eixo 0y.


Vejamos os exercícios resolvidos a seguir.

Exercícios resolvidos
1- Que superfícies de  3 são representadas pelas seguintes equações?
a) x = 4 b) z = 5

Solução:
a) a equação x = 4 representa o conjunto {(x,y,z) / x = 4} que é o conjunto de
todos os pontos de  3 com coordenada x = 4 . Isso representa um plano paralelo ao
plano yz interceptando o eixo x no ponto (x, 0, 0), como mostra a Figura 4a.
b) a equação z = 5 representa o todos os pontos de  3 com coordenada z = 5 .
Isso representa um plano paralelo ao plano xy interceptando o eixo z no ponto (0,
0, z), como mostra a Figura 4b.

Figura 4-a – O plano intercepta o eixo x no ponto (4,0,0). Figura 4-b – O plano intercepta o eixo x
no ponto (0,0,5)

10 Licenciatura em Matemática
1.2 DISTÂNCIA DE DOIS PONTOS
A fórmula bastante conhecida para a distância entre dois pontos em um plano
pode ser estendida para a seguinte fórmula tridimensional.
d(A,B) = AB = Dx2 + Dy2 + Dz2 em que A(x1 , y1 , z1 ) e B(x2 , y2 , z 2 )
Para justificar esta fórmula, vamos construir um paralelepípedo, onde A e B são
vértices opostos e as faces são paralelas aos planos coordenados. Se A(x1 , y1 , z1 ) e
B(x2 , y2 , z 2 ) são vértices do poliedro (como indica a Figura 5), então temos: A
AC = x2 - x1 CD = y2 - y1 BD = z2 - z1
1
T
1

Figura 5 – Distância entre A e B no espaço


Como os triângulos ABD e ACD são retângulos, duas aplicações do teorema de
Pitágoras nos fornecem:
2 2
AB = AD + BD 2

2 2 2
AD = AC + CD
Combinando as duas equações, vem...
AB 2= AC 2
+ CD 2
+ BD 2

AB 2= x2 - x1 2
+ y2 - y1 2
+ z2 - z1 2

AB = x2 - x1 2
+ y2 - y1 2
+ z2 - z1 2

fazendo Dx = x2 - x1 , Dy = y2 - y1 e Dz = z2 - z1 temos,

AB = Dx 2 + Dy 2 + Dz 2

Exercícios resolvidos
1. Qual a distância do ponto A(2, -1, 7) ao ponto B(1, -3, 5)?

Solução:

AB = (2 - 1) 2 + ( - 1 + 3) 2 + (7-5) 2

AB = 1 + 4 + 4 =3
2. Determine a equação da esfera de centro no ponto C(a, b, c) e raio r.

Geometria Analítica Vetorial 11


Solução:
A esfera, por definição, é o conjunto de todos os pontos P(x, y, z) cuja distância
a um ponto fixo C é uma constante r.
O ponto C pertence à esfera se, e somente se, PC = r , ou seja

r = (x - a) 2 + (y - b) 2 + (z - c) 2

(x - a) 2 + (y - b) 2 + (z - c) 2 = r 2
A
1 Em particular, se o centro é o ponto (0, 0, 0), a equação da esfera fica
x 2 + y 2 + z 2= r 2
T
1 Vimos como identificar um ponto no sistema de coordenadas tridimensionais
através de suas coordenadas e também como calcular a distância entre dois pontos
no espaço.
A seguir faremos uma introdução a uma outra ferramenta imprescindível no es-
tudo da nossa disciplina.

12 Licenciatura em Matemática
02
TÓPICO

INTRODUÇÃO A VETORES

OBJETIVOS
··Introduzir a noção de vetor.
··Identificar e realizar operações básicas com
vetores no plano.

N este tópico apresentaremos o conceito de vetor e faremos uma abordagem,


ainda que superficial, de suas operações do ponto de vista geométrico.
O termo vetor surgiu na mecânica com o engenheiro Flamengo Simon Ste-
vin (“O Arquimedes Holandês”) quando apresentou,
em 1586, o problema da composição de forças e enun-
ciou uma regra através de experimentos para se de-
SAIBA MAIS! terminar a soma de duas forças aplicadas a um mesmo
corpo, conhecida hoje como regra do paralelogramo.
Acesse ao site disponível no material web
para conhecer mais sobre a vida de Simon Assim como a força, certas grandezas, além de
Stevin. um número real para indicar sua intensidade, pre-
cisam de uma direção e um sentido ( Por exemplo:
velocidade, aceleração, etc. ) Tais grandezas são denominadas grandezas vetoriais.

14 Licenciatura em Matemática
Outras grandezas ficam bem definidas apenas por um número real, acompanhado lo-
gicamente de sua unidade de medida correspondente (exemplo: 13 kg de massa, 30ºc
de temperatura etc). Tais grandezas são denominadas grandezas escalares.

2.1 DEFINIÇÕES
i) Em um segmento orientado XY, chama-se ve-
®
tor v (Figura 6) o conjunto infinito de todos os seg- A
mentos eqüipolentes a XY. Cada segmento orienta- ATENÇÃO! 1
do do conjunto é chamado imagem geométrica ou
representante do vetor. Dois segmentos são eqüipolentes quando T
têm a mesma direção, o mesmo sentido e o 2
mesmo comprimento.

SAIBA MAIS!
Figura 6 – Conjunto de segmentos eqüipolentes
O Matemático Hermann Grassmann
é conhecido pela sua contribuição no
NOTAÇÕES
desenvolvimento do Cálculo Vetorial Geral,
que possibilita o uso de um número qualquer
1. Uma seta em cima de uma letra minúscula.
de dimensões.
® ® ® ® ®
Exemplos: a, b , c , . . . v, w

2. Uma letra minúscula sobrelinhada. Exemplos: a, b , c, ... v , w .

3. Dois pontos que são origem e extremidade do vetor.


Figura 7- Na representação xy = x − y , x é a origem e y a extremidade do representante do vetor v

Essa última notação é devida ao matemático alemão H. Grassmann (1809-1877) e apre-


senta uma certa vantagem na prática das aplicações das operações algébricas com vetores.
®
4. Uma terna ordenada de números reais v = ( x1 , y1 , z1 ) que representa a ex-
tremidade de um vetor cuja origem é o ponto 0(0, 0, 0) do sistema de coordenadas
tridimensionais.

Geometria Analítica Vetorial 15


ATENÇÃO!

Quando já estiver fixado o sistema de


coordenadas, o representante de um vetor
é aquele cuja origem coincida com a origem
A

do sistema. Figura 8 - v = ( x1 , y1 , z1 )
1
T ®
2 ii) Módulo de um vetor v , indicado por v , representa o comprimento do ve-
tor. Por exemplo:

Figura 9 - v = 6 u.c

iii) Vetor nulo apresenta direção e sentido arbitrários e módulo igual a zero. O
vetor nulo tem coordenadas (0, 0, 0) e sua representação geométrica é a origem do
sistema de coordenadas.
iv) Vetor unitário é o vetor de módulo igual a 1.
® ®
v) Versor de um vetor v é o vetor unitário de mesma direção e sentido de v .

® ®
Figura 10 – u é o versor de v
® ®
v ® ® ® ® v
Observe que u = . Generalizando temos: Se u é versor de v , então u = .
3 v
® ® ®
vi) O Vetor oposto de AB é o vetor BA indicado por - AB . Em outras pala-
® ®
vras, o vetor oposto de AB possui mesmo comprimento e direção de AB , porém
sentido contrário.

 
BA = −AB
→ ®
Figura 11 −
- AB é o oposto de BA

16 Licenciatura em Matemática
vii) Dois vetores são colineares quando apresentam mesma direção.
De acordo com o exposto até o presente momento, concluímos que podemos as-
sociar o conceito de vetor à idéia de translação. A mesma idéia não se transfere para
retas paralelas, tendo em vista que elas apresentam posições fixas. Portanto duas re-
tas paralelas e distintas jamais serão colineares.
® ® ®
viii) Três vetores u, v e w são coplanares quando tiverem representantes pa-
ralelos ao mesmo plano.
A
1
T
2

® ® ® ® ® ®
Figura 12 – u , v e w são coplanares. Figura 13 – u , v e w não são coplanares

2.2 OPERAÇÕES COM VETORES DO


PONTO DE VISTA GEOMÉTRICO GUARDE BEM ISSO!
As operações envolvendo vetores são tradicio-
Dois vetores são sempre coplanares,
nalmente efetuadas de duas formas equivalentes. enquanto três vetores podem ou não ser
Uma delas, mais analítica, veremos no tópico 3 desta coplanares.
aula. A segunda, com um caráter mais geométrico Convenção: O vetor nulo é paralelo a
que apresentaremos a seguir. qualquer vetor e coplanar a qualquer
conjunto de vetores coplanares.
2.2.1 MULTIPLICAÇÃO POR ESCALAR
®
Seja uma constante K e um vetor v . O produto da constante pelo vetor é o vetor
®
k v , que possui as seguintes características:
®
a) Se k>0, o vetor k v terá a mesma direção e sentido de v e terá módulo igual a
k . v (cf. Figura 14).
®
b) Se k<0, o vetor k v terá a mesma direção, porém sentido contrário de v e terá

módulo igual a k . v (cf. Figura 15).

→ → → →
Figura 14 – u = 3. v Figura 15 – u = −3. v
(mesma direção e sentido) (mesma direção e sentido contrários)

Geometria Analítica Vetorial 17


2.2.2 ADIÇÃO DE VETORES
® ®
Geometricamente, a soma de dois vetores u e v
® ® ®
ATENÇÃO! é o vetor s = u + v com origem na origem de um
dos vetores e extremidade na extremidade do outro
Sabemos que o paralelogramo apresenta
vetor, como mostra a Figura 16.
duas diagonais distintas. Para a “regra
do paralelogramo” determinado pelas
A representantes de e de mesma origem A,
adota-se a diagonal que contém o ponto A.
1 A “Regra do Paralelogramo” é muito utilizada
na composição de forças em Física.
T
2 ®
Figura 16 – A soma s representa a diagonal de um paralelogramo cujos lados são os vetores u e v

2.2.3 DIFERENÇA DE VETORES


® ® ® ®
A diferença entre os vetores u e v é igual à soma de u com o oposto de v , ou
® ® ® ® ®
seja: u - v = s = u + (- v ). Veja o esquema na figura abaixo.

Figura 17– Representação geométrica da diferença de dois vetores

Exercícios resolvidos
® ®
1- Dados os vetores u e v da figura, mostrar um representante do vetor:
® ®
a) u - v
® ®
b) v - u
® ®
c) u - 2 v

Solução:
a) b)

18 Licenciatura em Matemática
c)

A
1
® ®
2- Determine o módulo do vetor soma dos vetores u e v , ortogonais, tais que T
® ® 2
u =3 e v =4.

Solução:
Tendo em vista que os vetores são ortogonais, consideremos dois representantes
® ®
de u e v de mesma origem e em seguida aplicamos a regra do paralelogramo.

Aplicando o Teorema de Pitágoras no triângulo ABC, vem


® ® ® ®
2 2 2
u+ v = u + v Þ
® ® ® ®
2
u+ v = 42 + 32 = 25 Þ u+ v = 25
ATENÇÃO!
Estudamos vetores do ponto de vista geométri-
Quando os vetores não forem ortogonais,
co, no caso, eles eram representados por segmen- basta usar a lei dos co-senos.
tos de reta orientados. A partir do próximo tópico,
apresentaremos uma outra forma de representá-los: os segmentos orientados estarão
relacionados com os sistemas de eixos cartesianos do espaço.

Geometria Analítica Vetorial 19


03
TÓPICO

DECOMPOSIÇÃO NO PLANO E NO ESPAÇO

A
1 OBJETIVOS
··Definir combinação linear.
T ··Introduzir o conceito de base canônica.
2 ··Definir operações com vetores representados por
ponto no plano e no espaço.

O conceito de combinação linear é central tanto na geometria analítica quan-


to na álgebra linear e dele dependem vários outros conceitos, inclusive
o conceito de decomposição de vetores no plano, que é uma ferramenta
bastante utilizada na Física quando se pretende determinar as componentes de uma
força que atua num corpo.

3.1 DECOMPOSIÇÃO DE UM VETOR NO PLANO


® ® →
Dados dois vetores v1 e v2 , não colineares, qualquer vetor v do plano pode
® ®
ser decomposto segundo as direções de v1 e v2 , ou seja, existem dois números re-
® ® ®
ais k1 e k2 tais que v = k1 v1 + k2 v2 , como mostra a figura abaixo.

20 Licenciatura em Matemática
® ® ®
Observe que v é uma combinação linear dos vetores v1 e v2 , e o conjunto

{v , v } é chamado de base do plano. Assim, qualquer conjunto {e , e } de


® ® ® ®
1 2 1 2

vetores não colineares constitui uma base do plano.

A
1
T
3
® ® ®
Figura 18 – Decomposição de v nas direções de v 1 e v 2

3.2 COMBINAÇÃO LINEAR DE VETORES


® ® ® ®
Sejam os vetores v1 , v2 , v3 , . . ., v n e os números reais k1 , k 2 , k3 , . . . , k n .
® ® ® ® ® ® ® ®
Diz-se que v é combinação linear de v1 , v2 , v3 , .. , v n se v = k1 v1 + k2 v2 +...+
® ® ®
k n v n . Observe que v representa a soma vetorial dos múltiplos escalares de v1 ,
® ® ®
v2 , v3 , . . ., v n .
® ® ® ® ® ®
Por exemplo, se v = 2v1 + 3v2 - 5v3 , então v é combinação linear de v1 ,
® ®
v2 e v3 .
Uma base é dita Ortonormal, se seus vetores forem ortogonais e unitários. Há
infinitas bases ortonormais no plano x0y e, vale destacar, uma delas chamada base
canônica (Figura 19). A base canônica é formada por vetores cujos representantes
têm origem em 0 e extremidades nos pontos (1, 0) e (0, 1), cujas representações são
® ®
i e j , respectivamente.

Figura 19 – Base canônica


Vimos que umas das formas de se representar um vetor é através das coordena-
das do ponto de sua extremidade quando a origem é o ponto 0 do plano cartesiano.
® ®
Assim, temos i = (1, 0) e j =( 0, 1).

Geometria Analítica Vetorial 21


Seguindo essa linha de raciocínio, podemos concluir que qualquer vetor do pla-
® ®
no x0y é uma combinação linear dos vetores i e j . Vejamos a Figura 20:

A
1
T → → →
Figura 20 – ( v = x i + y j )
3 ® ® ® ® ®
x i é a projeção ortogonal de v na direção i e y j a projeção de v na direção
®
de j .
® ® ® ® ® ®
v = x i + y j ( v como combinação linear de i e j )
® ®
v =(x, y) (expressão analítica de v1 )

3.3 OPERAÇÕES
® ®
Seja v1 = (x1 ,y1 ) , v 2 = (x2 ,y2 ) e k um número real diferente de zero.
a) Adição
→ ®
v 1 + v2 = (x1 ,y1 ) + (x2 ,y2 ) = (x1 + x2 , x2 + y2 )
Exemplo:
(2, -3) + (1, -2) = [(2 + 1) , (-3-2)] = (3, -5)
b) Multiplicação por k
k (x1 , x2 ) = (kx1 , kx2 )
c) Igualdade
v 1 =v 2 ⇒ (x1 ,y1 ) = (x2 ,y2 ) Þ x1 = x2 e y1 = y2
Exercício resolvido
® ® ® ® ®
Sejam v1 = ( 5, 2 ) e v 2 = ( 1, 6 ) , calcule s = v1 + v2 e represente no pla-
no cartesiano.

Solução:
® ® ® ®
s = v1 + v2 Þ ( 5, 2 ) + ( 1, 6 ) Þ ( 6, 8 ) Þ s = ( 6, 8 )

22 Licenciatura em Matemática
A
® ® 1
Figura 21 - Diagonal do paralelogramo formado pelos vetores v1 e v2
®
Observe que s é a diagonal do paralelogramo. T
3
3.4 VETOR DEFINIDO POR DOIS PONTOS
Em algumas situações, o vetor é representado por um segmento orientado que
não parte da origem do sistema de coordenadas.
® ®
Sejam os vetores OA = (x1 , y1 ) e OB = (x2 , y2 ) não colineares. De acordo com
a figura abaixo, temos:
® ® ® ® ® ® ®
OB = OA+ AB Þ AB = OB - OA Þ AB = (x2 , y2 ) - (x1 , y1 )
®
Þ AB = (x2 - x1 , y2 - y1 )

Figura 22 – Vetor definido por dois pontos


®
Observe que o vetor AB em que A( 1, 3 ) e B(3, -2) não possui origem no ponto
®
O do sistema. Então, para se determinar um representante de v com origem em O
® ®
do plano cartesiano, fazemos v = (3 - 1, - 2 - 3 ) Þ v = (2, -5 ) .

®
Figura 23- representação geométrica de v

Geometria Analítica Vetorial 23


Observe que os dois segmentos representam o mesmo vetor.

Exercícios resolvidos
® ® ® 1® ® ®
1- Determine o vetor w na expressão 3w+ 2u = v+ w tal que u = (3, - 1)
® 2
e v = ( - 2, 4) .

Solução:
® ® 1® ®
A equação 3w+ 2u = v+ w pode ser resolvida como uma equação numérica:
A 2
1 ® ® ®
6w+ 4 u = v+ 2w
®

T
® ® ® ®
6w- 2w = v- 4 u
3 ® ®
4 w = v- 4 u
®

®
® 1 ®
w = v- u
4
® ®
Substituindo u e v na equação, temos

® 1
w = (-2, 4) - ( 3, -1)
4
® 1
w = ( - , 1) - ( 3, -1)
2
® 7
w = ( - , 2)
2

2- Dados os pontos A(-1, 2), B(4, 3) e C(1, 5), determine D(x, y) de tal forma
® 1 ®
que CD = AB .
3
Solução:
®
CD = C - D = (1, 5) - (x, y) = ( 1 - x, 5-y )
®
AB = B - A = (4, 3) - ( - 1, 2) = ( 4 + 1, 3 - 2 ) = ( 5, 1 )
Logo
1
(1 - x, 5 - y) = (5, 1)
3
æ5 1ö ìï
(1 - x, 5 - y) = çç , ÷÷÷ ïï 1 - x = 5
è3 3 ø
ïï 3
pela condição de igualdade, vem í ï
ïï
ïï 1
ïï 5 - y =
ïî 3
2 14 æ 2 14 ö
Resolvendo o sistema encontramos x = - e y = , daí D çç- , ÷÷÷ .
3 3 è 3 3ø

24 Licenciatura em Matemática
3.5 DECOMPOSIÇÃO NO ESPAÇO

{v , v } de vetores, não colineares, represen-


® ®
Vimos que qualquer conjunto 1 2


ta uma base do plano. Então, qualquer vetor v do plano é combinação linear dos
®® ®® ®®
vetores v1v, 1ev
, 2v 2e. eNo
v 3v 3espaço, qualquer conjunto

{v , } A
® ® ®
1 v 2 , v 3 de vetores não coplanares represen-
®
ATENÇÃO! 1
ta uma base, portanto qualquer vetor v do espaço
® ® ®
Coplanares - figuras geométricas que T
é uma combinação linear de v1 , v 2 e v 3 , ou seja, pertencem ao mesmo plano.
3
sempre existem os números m1 , m 2 e m 3 tais que
® ® ® ®
v = m1 v1 + m 2 v 2 + m 3 v 3 .

{i, }
® ® ®
A base canônica j, k é uma base ortonormal (vetores unitários e orto-

gonais entre si), cujos vetores possuem as direções dos eixos coordenados. Assim,
® ® ®
qualquer vetor do espaço é uma combinação linear dos vetores i , j e k , como
mostra a Figura 24.

Figura 24– Base canônica no espaço tridimensional

® ® ® ® → ® ® ®
v = x i + y j + z k ( v como combinação linear dos vetores i , j , k )
® →
v = (x, y, z) (expressão analítica de v )

3.6 OPERAÇÕES
® ®
Sejam os vetores v1 = (x1 , y1 , z1 ) , v 2 = (x2 , y2 , z2 ) em um número real
® ®
a) v1 + v 2 = (x1 + x2 , y1 + y2 , z1 + z2 )
®
b) m. v1 = (mx1 , my1 , mz1 )
® ®
c) v1 = v 2 Þ x1 = x2 , y1 = y2 e z1 = z2

Geometria Analítica Vetorial 25


Exercícios resolvidos
®
1- Dados dois pontos A(0, 1, -1 ) e B(1, 2, -1 ) e os vetores u = (-2, -1, 1 ) ,
® ®
v = (3, 0, -1 ) e w = (-2, 2, 2 ) , verifique se existem os números a1 , a 2 e a 3 tais
® ® ® ®
que w = a1 AB + a 2 u + a 3 v .

Solução:
®
A Temos: AB = B - A = ( 1, 2, - 1) - ( 0, 1, - 1) = ( 1-0, 2 + ( - 1), - 1 + 1)
1 = ( 1, 1, 0) .
Substituindo os vetores na igualdade dada, resulta:
T ( - 2, 2, 2) = a1 .(1, 1, 0) + a 2 .(-2, - 1, 1) + a 3 .(3, 0, - 1)
3 ou
( - 2, 2, 2) = (a1 , a1 , 0) + (-2a 2 , -a 2 , a 2 ) + (3a 3 , 0, - a 3 )
Somando os três vetores do segundo membro, temos:
( - 2, 2, 2) = (a1 - 2a 2 + 3a 3, a1 - a 2 , a 2 - a 3 )
pela condição de igualdade de vetores, obteremos o sistema:
ïìï a1 - 2a 2 + 3a 3 = -2
ï
íï a1 - a 2 = 2
ïï
ïïî a2 - a3 = 2
cuja solução é a1 = 3, a 2 = 1 e a 3 = -1

3.7 VETORES COLINEARES


® ®
Em (2.2.1) vimos que os vetores k.v e v têm a mesma direção. Assim se dois ve-
® ®
tores u = (x1 , y1 , z1 ) e v = (x2 , y2 , z2 ) são colineares (têm a mesma direção), en-
® ®
tão u = k.v em que k é um número real, ou seja:
(x1 , y1 , z1 ) = k.(x2 , y2 , z2 ) ou (x1 , y1 , z1 ) = (kx2 , ky2 , kz2 )
x1 y1 z1
Assim, x1 = kx2 , y1 = ky2 e z1 = kz2 ou = = .
x 2 y 2 z2
Esta é a condição de paralelismo de dois vetores, ou seja, dois vetores são para-
lelos ou colineares quando suas componentes correspondentes são proporcionais.

Exemplo:
®
Determine os valores de p e q para que sejam paralelos os vetores u = (p + 1, 3, 1 )
®
e u = (4, 2, 2q-1 ) .

Solução
De acordo com a condição de paralelismo de vetores, temos

26 Licenciatura em Matemática
p +1 3 1 ïì 2(p + 1) = 12 5
= = ou ïí resolvendo o sistema vem p = 5 e q =
4 2 2q - 1 ïïî 3(2q - 1) = 2 6

Vimos, neste tópico, que qualquer vetor do plano ou do espaço pode ser expresso
como combinação linear da base canônica-elemento que estará presente em pratica-
mente todas as aulas do nosso curso.
A próxima aula será dedicada ao estudo do produto interno de vetores, que re- A
presenta uma outra forma de multiplicação de vetores, além desta vista nesta aula.
1
T
3

Geometria Analítica Vetorial 27


Aula 2
Produto Interno
Caro (a) aluno (a),

Estudamos na aula anterior a multiplicação de um vetor por um número real (multi-


plicação por escalar). Além desse tipo de produto, pudemos também definir multi-
plicações ou produto de vetores entre si.

Nesta aula será apresentada uma nova modalidade de multiplicação entre vetores,
cujo resultado é definido como “Produto escalar” ou “Produto interno” entre dois
vetores.

   
O produto interno (ou escalar) entre dois vetores u e v , denotado por “ u . v ” ou
 
“ u, v ”, e que nos fornece como resultado um número real, possui grande aplica-
bilidade nas diversas áreas afins. Na matemática, por exemplo, entre outras aplica-
ções, o produto interno pode ser usado para resolver muitos problemas de natureza
geométrica.

Objetivos:
• Introduzir o conceito geométrico e cartesiano de produto escalar.
• Apresentar aplicações do produto interno, tanto no cálculo de projeções de vetores como
no cálculo de ângulos diretores de um vetor.

29
01
TÓPICO
REPRESENTAÇÃO GEOMÉTRICA
DO PRODUTO INTERNO

A
1 OBJETIVOS
··Definir produto interno sob o ponto de vista
T geométrico.

4 ··Usar o produto interno para resolver problemas


geométricos.

N este tópico será introduzido o conceito de produto escalar dando-lhe um


significado geométrico. Com isso pretendemos proporcionar a você, uma
visão geométrica dessa ferramenta no intuito de facilitar suas aplicações
nas diversas áreas afins.

DEFINIÇÃO
® ®
Dados os vetores não nulos u e v , chama-se produto interno (ou escalar)
® ® ® ®  
dos vetores u e v , denotado por “ u . v ” ou “ u,v ” (lê-se “u escalar v”), o
número real obtido pela multiplicação do módulo de um dos vetores (digamos
® ® ®
u ) pelo módulo da projeção ortogonal de v na direção de u (veja Figura 1).

30 Licenciatura em Matemática
® ®
Projeção de v na direção de u

  ® ®
u,v = u . v . cos q

A
2
T
1
® ® ®
Figura 1 - AC Projeção de v na direção de u

® ®
v . cos q = projeção ortogonal de v na dire-
®
ção de u .
® ® ® VOCÊ SABIA?
AC é a projeção ortogonal de v na direção de u ,
® ®
ou seja, AC = proj v . A operação de multiplicação escalar, de
® ® importância fundamental em muitas áreas
Assim proj v = u . cos q da Matemática e da Física, foi criada por
Grassmann e por isso leva o seu nome.
® ®
Observe que se q é o ângulo entre u e v :
π ® ®
i) Se 0 < θ < , cos q > 0 Þ u , v > 0;
2
π ® ®
ii) Se < θ < π , cos q < 0 Þ u , v < 0;
2 SAIBA MAIS!
π π ® ®
iii) Se θ = , cos = 0 Þ u , v = 0. Você pode conhecer um pouco da história
2 2 dos vetores e da contribuição de Hermann
A partir da observação (iii), podemos concluir Grassmann lendo o texto sobre esse assunto
® ®
que, se os vetores u e v são ortogonais, ou se um disponível no material web.

dos vetores é nulo, o produto interno a eles é nulo.


Por exemplo:
® ®
Os vetores i e j das bases canônicas são unitárias e ortogonais, daí:
® ® ® ®
i . j = i . j . cos q , mas q = 90º (cos 90º = 0)
® ®
i. j =1.1.0=0

Geometria Analítica Vetorial 31


1.2 PROPRIEDADES
® ®
Sejam u e v dois vetores e k um número real diferente de zero:
® ® ® ®
®
® ®
®
® ®
a) u , v =u , uuv ,, u
vv , v(comutativo);
® ® ® ® ® ®
b) k. u , v = k.u , v = u , k.v (associativo em relação a uma constante k);
® ® ® ® ® ®
c) u , v+w = u,v + u,w ;
A ®
d) u . u = u .
® ® 2

2 Esta última pode ser facilmente demonstrada usando a definição de produto in-
T terno
1 ® ® ®
u . u = u . u . cos q .
®

Os vetores são colineares, portanto q = 0 e cos q = 1, logo:


® ® ® ® ® 2 ® ®
u . u = u . u .1 Þ u = u . u

Exercícios resolvidos
® ® ®
1.Calcule u , v tendo em vista que u = (0, 3, 4)
®
ATENÇÃO! e v = (2, 3, 6).

→ → →2 ®
Solução:
u⋅ u ≠ u , pois u não é um número real, Observe que os vetores são colineares (compo-
→ 2   nentes correspondentes proporcionais), daí q = 0
enquanto u = u ⋅ u
e cos q = 1.
®
u = 22 + 32 + 62 = 25 = 5
®
v = 22 + 32 + 62 = 49 = 7
Assim,
® ® ® ®
uv = u . v .cos q
® ®
u v = 5 . 7 . 1 = 35

2. Demonstre a lei dos cossenos: a 2 = b2 + c2 - 2bc.cosèq .

Figura 2 - a2 = b2 + c 2 − 2bc ⋅ cos q (lei dos cossenos)

32 Licenciatura em Matemática
Solução:
® ® ®
Sejam a = CB , b = AC e c = AB .
® ® ®
Pela definição de diferença de dois vetores (cf. Aula 01) CB = AB- AC .
®
Multiplicando os dois lados da equação por CB , vem:
® ® ® ® ® ® ® ® ® 2 ® ®
CB . CB = ( AB - AC ) . CB , mas CB = ( AB - AC ), então CB = AB . AB - 2.
® ® ® ®
AB . AC + AC . AC
2 2 2
A
2
® ® ® ® ®
CB = AB + AC - 2. AB . AC .
Mas, pela definição de produto interno, temos:
T
1
® ® ® ®
AB . AC = AB . AC . cos q , Daí:
® 2 ® 2 ® 2 ® ®
CB = AB + AC - 2 . AB . AC . cos q .
® ® ®
Tendo em vista que a = CB , b = AC e c = AB , temos:

a 2 = b2 + c2 - 2bc.cos èq .

® ® ® ® ® ®
3. Se a = 4 e b = 10, calcule a . b , sabendo que o ângulo entre a e b é
120.

Solução:
1
cos 120º = - cos (180°-120°) = - cos 60º = -
2
® ® ® ® ® ® æ 1 ö÷ ® ®
a . b = a . b . cos q Þ a . b = 4 . 10 . ç- ÷ Þ a . b = -20.
èç 2 ø÷

Vimos, neste tópico, que o produto interno de dois vetores está diretamente re-
lacionado ao ângulo por eles formado e pode ser calculado multiplicando o módulo
de um deles pelo módulo da projeção do outro sobre ele. No próximo tópico apre-
sentaremos um método usado no calculo do produto interno a partir de suas formas
analíticas.

Geometria Analítica Vetorial 33


02
TÓPICO
EXPRESSÃO CARTESIANA
DO PRODUTO INTERNO
A
2 OBJETIVO
Definir o produto interno a partir de suas formas
T cartesianas.

N este tópico mostraremos que é possível calcular o produto interno de


dois vetores sem o auxílio do ângulo entre eles, ou seja, usando apenas
os pontos do plano ou espaço que representam as extremidades dos re-
presentantes dos vetores.

DEFINIÇÃO:
® ® ® ® ® ® ® ®
Sejam os vetores u = x1 i + y1 j + z1 k e v = x 2 i + y 2 j + z2 k ,
® ®
o produto interno dos vetores u e v em termos de coordenadas é dado por
x1x2 + y1y2 + z1z2 .

34 Licenciatura em Matemática
 
(x i + y ) ( )
® ® ® ® ® ® ® ®
Observe que u, v = u . v = 1 1 j + z1 k . x2 i + y2 j + z2 k , daí
→ →
  ® ® ® ® ® ® ® ®
u ,v= x1x2 i . i + x1y2 i . j + x1z2 i .k + y1x 2 j . i + y1y2 j . j +
® ®   ® ® ® ®
y1z2 j. k + z1x2 k × i + z1y2 k . j + z1z2 k .k .
Tendo em vista que:
→ →  A
i . i = 1 
→ →
 2
i . j = 1  Vetores colineares
→ →


T
k . k = 1 
 2
→ → 
i . j = 0 
→ →

i . k = 0  Vetores ortogonais

→ →

j . k = 0 

então:
 
u, v = x1x2 + y1y2 + z1z2
Observe que, em termos de coordenadas, o produto interno é igual à soma dos
® ®
produtos das componentes correspondentes dos vetores u e v .

2.1 DEMONSTRAÇÃO DAS PROPRIEDADES


® ® 
Sejam u = (x1 , y1 , z1 ) , v = (x2 , y2 , z2 ) , w = (x1 , y1 , z1 ) e k um número real
diferente de zero.
   
1) u, v = v, u

De fato:
  ® ® ® ®  
u,v = u. v =x1x2 + y1y2 + z1z2 = x2 x1 + y2 y1 + z2 z1 = v. u = v,u

     
2) k. u, v = k u, v = u, kv
De fato:
® ® ® ®
k.(u. v) = k.(x1 ,y1 ,z1 ).(x2 ,y2 ,z2 ) = (kx1 ,ky1 ,kz1 ).(x 2 ,y2 ,z2 ) = ( k u.v ).
Da mesma forma:
   
( ) (
k u ⋅ v = k (x1 , y1 , z1 ) ⋅ (x2 , y2 , z2 ) = (x1 , y1 , z1 ) ⋅ (kx2 , ky2 , kz2 ) = u,kv )
      
3) u, v + w = u,v + u,w
De fato:

Geometria Analítica Vetorial 35


® ® ®
u.(v+ w) = (x1 , y1, z1 ) . (x2 + x3 , y2 + y3 , z2 + z3 )
= x1 .(x2 + x3 ) + y1 .(y2 + y3 ) + z1 .(z2 + z3 ) =
(x1x2 + x1x3 ) + (y1y2 + y1y3 ) + (z1z2 + z1z3 )
(x1x2 + y1y2 + z1z2 ) ⋅ (x1x3 + y1y3 + z1z3 )
® ® ® ®    
e (x1x2 + y1y2 + z1z2 ) ⋅ (x1x3 + y1y3 + z1z3 ) = (u. v) + (u. w) ou u,v + u,w
A
2
4) Deixamos a demonstração da propriedade 4 a seu cargo. Vamos lá?
T Exercícios resolvidos
2   ® ® ® ®
1) Determine o produto interno u, v , sendo u = 2 i + 3 j- 2 k e
 ® ® ®
v = i -3 j+ k .

Solução:
 
u, v = 2, 3, - 2 . 1, -3, 1 = 2.1 + 3.(-3) + (-2).1 = -9
® ®
2) Calcule o ângulo entre os vetores u = ( 2, 3, -1) e v = ( 1, -3, 1 )

Solução:
® ®
® ® u.v
u. v = u . v . cos q Þ cos q =  
u . v
( 2, 3, -1 ) . (1, -3, 1)
Þ cos q =
2 + 32 + (-1)2 . 12 + (-3)2 + 12
2

2 - 9 -1 -8 -8
Þ cos q = Þ cos q = Þ q = arc cos
14 . 11 151 151

3) Prove que o triângulo A( 2, 3, 1), B( 2, 1, -1 ) e C( 2, 2, -2 ) é um triângulo re-


tângulo.

Solução:
A forma mais simples de provar a existência de um ângulo reto no triangulo é
mostrar que o produto escalar de dois vetores que representam os lados do triângu-
lo é nulo.
®
AB = ( 0, - 2, -2 )
®
AC = ( 0, -1, -3 )
®
BC = ( 0, 1, -1 )
Calculemos:

36 Licenciatura em Matemática
® ®
AB . AC = ( 0, -2, -2 ) . ( 0, -1, -3 ) = 0 + 2 + 6 = 8 ¹ 0
® ®
AB . BC = ( 0, -2, -2 ) . ( 0, -1, -1 ) = 0 - 2 + 2 = 0
® ® ® ®
Observando que AB . BC = 0 , o ângulo formado pelos vetores AB e BC é
reto. Logo DABC é retângulo.

® ®
4) Determine um vetor ortogonal a u = ( 1, -1, 0) e v = ( 1, 0, 1) . A
2
Solução:
® 
Seja w = ( x, y, z) o vetor procurado. Para que w seja ortogonal aos vetores T
® ® 2
u e v , devemos ter:
® ® ® ®
w . u = 0 e w . v = 0 . Assim:
® ®
w . u = ( x, y, z ) . ( 1, -1, 0 ) = 0 Þ x - y = 0
® ®
w . v = ( x, y, z ) . ( 1, 0, 1 ) = 0 Þ x + z = 0
ïì x - y = 0
Podemos concluir que o sistema ïí é indeterminado e sua solução é:
ïïî x + z = 0
y=x
z = -x
® ®
Isto significa que os vetores ortogonais a u e v são do tipo (x, x -x) . Para se
determinar um deles, basta atribuir um número real a x. Assim, para x=2, temos
(2, 2, -2).

    ® ® ®
5) Os vetores u e v são colineares. Calcule v , conhecendo-se u = 2 i + j + k e
® ®
u . v=3

Solução:
®
Seja v = ( x, y, z ) , então temos:
® ®
a) Se u e v são colineares suas componentes correspondentes são proporcio-
nais, logo:
x y z
= = Þ x = 2y , y = z e x=2z [I]
2 1 1
® ®
b) u . v = 3 Þ ( 2, 1, 1 ) . ( x, y, z ) = 3 Þ 2x + y + z = 3 [II]
Substituindo I em II, resulta:
1
2. (2y) + y + y = 3 Þ y=
2

Geometria Analítica Vetorial 37


De x = 2y , vem x = 1
1
De y = z, concluímos que z =
2
® æ 1 1 ö÷ → → 1→ 1→
Portanto, v = çç1, , ÷÷ ou v = i + j+ k
è 2 2 ø 2 2

6) Achar os vetores v = ( x , y
, z ) tais que:
A i)
®
v = 6
2 ® 
ii) v é ortogonal a u = ( 3, -3, 0 )
T ® 
iii) v é ortogonal a w = ( 0, 2, - 1 )
2
Solução:
De (i) vem:
® ® ®
v= v.v Þ v = (x, y, z ) . ( x, y, z ) Þ v= x 2 + y 2 + z2
Þ 6 = x 2 + y 2 + z2 Þ 6 = x 2 + y 2 + z2 [I]
® ®
De (ii) vem: v . u = 0 Þ (x, y, z ) . ( 3, -3, 0 ) = 0 Þ 3x - 3y = 0
Þ x=y [II]
® ®
De (iii) vem : v . w = 0 Þ (x, y, z ) . ( 0, 2, -1 ) = 0 Þ 2y - z = 0
Þ z = 2y [III]
Substituindo II e III em I vem:
6 = x2 + y2 + z2 Þ y2 + y2 + (2y)2 = 6 Þ y=± 1
De I e II temos: x = ± 1 e z = ± 2

Então: v = (± 1, ± 1, ± 2 )

Observamos, neste tópico, que o produto interno de dois vetores pode ser facil-
mente obtido pela soma dos produtos das componentes correspondentes dos vetores.
No próximo tópico, abordaremos duas aplicações tradicionais do produto interno.

38 Licenciatura em Matemática
A
2
T
2
03
TÓPICO
DUAS APLICAÇÕES TRADICIONAIS
DO PRODUTO INTERNO

A
2 OBJETIVOS
··Determinar o ângulo diretor de um vetor, bem
T como conhecer suas propriedades.

3 ··Usar o produto interno para calcular a projeção


de um vetor na direção de outro.

N este tópico daremos total atenção a duas aplicações tradicionais do pro-


duto interno. Uma delas é o calculo dos ângulos diretores de um vetor e
a outra consiste numa ferramenta que utilizaremos nas aulas posteriores,
que é a projeção de um vetor.

3.1 ÂNGULOS DIRETORES E COSSENOS DIRETORES


®
Os ângulos diretores de um vetor não nulo v são os ângulos a , b e g no in-
®
tervalo ( 0, p ) que v forma com os eixos coordenados x, y e z (veja Figura 3 ).
Os cossenos diretores desses ângulos diretores, cos a , cos b e cos g , são os
®
cossenos diretores de v .

40 Licenciatura em Matemática
A
®
2
Figura 3 - Ângulos diretores de v
T
 →
a é o ângulo entre i e v 3
® ®
b é o ângulo entre j e v
® ®
g é o ângulo entre k e v
®
Seja v = ( x, y, z ) e, baseando-nos na definição de ângulos diretores, temos:
® ®
i .v (1, 0, 0) . (x, y, z ) x
cos a =   Þ cos a =  Þ cos a = 
i . v v v
® ®
j .v (0, 1, 0) . (x, y, z ) y
cos b =   Þ cos b =  Þ cos b = 
j . v v v
→ →
j .v (0, 0, 1) . (x, y, z ) z
cos γ =   Þ cos g =  Þ cos g = 
j . v v v

3.2 PROPRIEDADES
®  ®
1) As componentes do versor u de um vetor v são os cossenos diretores de v .
® ®
Seja u o versor de um vetor v = (x, y, z ), então:
®
 v  (x,y,z)  æ x y z ÷÷ö ou seja:
u=  Þ u=  Þ u = ççç , , ÷
v v èç v v v ø÷
®
u = (cos a , cos b e cos g )
 ®
2) Tendo em vista que o versor de u é um vetor unitário, então u = 1 , ou seja:
®
u = (cos a , cos b e cos g ) = 1
mas:
®
u = cos2 a + cos 2 b + cos2 g = 1

Geometria Analítica Vetorial 41


então:
cos 2a + cos 2 b + cos 2 g = 1

Exercícios resolvidos
1) Dados os pontos A(2, 2, -3 ) e B(3, 1, -3) , calcule os ângulos diretores do ve-
®
tor AB .

Solução:
A
2
®
AB = B - A = (1, -1, 0 )
®
T AB = (-1)2 + 12 + 02 = 2
3 x -1
cos a = ®
Þ cos a = Þ a = 45°
AB 2

y -1 2
cos b = ®
Þ cos b = =- Þ b = 135°
AB 2 2

z 0
cos g = ®
Þ cos g = =0 Þ g = 90°
AB 2
®
Podemos observar que, como g = 90° , o vetor AB é ortogonal ao eixo z ou ao

vetor k da base canônica. Assim, sempre que a terceira componente de um vetor
for nula, ele é ortogonal ao eixo z. De modo semelhante, o vetor do tipo (0, y, z ) é
ortogonal ao eixo x e o vetor do tipo (x, 0, z) é ortogonal ao eixo y.

  
2) Determine o versor de v = 6 j + 8k

Solução:
  
Seja u o vetor de v , assim u = (cos a , cos b, cos g) . Por outro lado

v = 0 + 62 + 82 = 10
x 0
cos a =  Þ cos a = Þ cos a = 0
v 10
y 6 3
cos b =  Þ cos b = Þ cos b =
v 10 5
z 8 4
cos g =  Þ cos g = Þ cos g =
v 10 5
 æ 3 4ö
Assim, u = çç0, , ÷÷÷ .
è 5 5ø
  
Observe que u = 1 já que u é versor de v . Confira você mesmo!

42 Licenciatura em Matemática
3.3 PROJEÇÃO DE UM VETOR
® ®
Dados dois vetores não nulos u e v e q o ângulos entre eles. O nosso objetivo
® ®
é determinar em termos de coordenadas a projeção de v na direção do vetor u .

A
2
® ® ®
T
Figura 4 – O vetor w é projeção ortogonal de v na direção de u 3
® ® ® ® ®
Uma vez que w é a projeção de v na direção de u , escrevemos w = proj ® v.
U
Do triângulo retângulo ABC, vem:
® ® ® ®
® ® ® u.v ® u.v
w = v .cos q Þ w = v . ® ®
Þ w =. ®
[I]
u . v u
® ®
w e u são colineares, daí:
® ®
w = k u ( k é um número real)
Segue-se que:
® ® ®
1
w =. k . u Þ k = w . ®
[II]
u
Substituindo (I) em (II), vem:
® ® ® ®
u.v 1 u .v
k = ®
. ®
Þ k= ® 2
u u u
® ®
De w =k u . vem:
æ® ® ö÷ æ ® ® ö÷ ®
® çç u . v ÷÷ ® ® çu . v
w = çç ® 2 ÷÷ . u ou w = çç ® ® ÷÷÷ . u
ç ÷ çç ÷
èç u ø÷ è u . u ÷ø
® ®
Portanto, o vetor que representa a projeção de v na direção de u é:
æ® ® ö÷ ®
® ® çu . v ÷÷ . u
w = proj v = çç ® ® ÷÷
®
U çç ÷ø
èu . u

Exercício resolvido
®
1) Determine o módulo do vetor projeção de v = ( 2, 1, 1 ) na direção do vetor
®
u = ( 3 , -2, 0 ) .

Geometria Analítica Vetorial 43


Solução:
Podemos resolver este problema de duas formas:
® ®
Determinamos a projeção de v sobre u usando a fórmula
æ ® ® ö÷ ®
® ® çu . v
w = proj v = çç ® ® ÷÷÷ . u , em seguida, calculamos o seu módulo. Vejamos:
®
çç ÷
è u . u ÷ø
U

æ (3, -2, 0 ) . ( 2, 1, 1) ö÷
A proj
®
v = ççç ÷÷ . ( 3, -2, 0 )
2 èç ( 3, -2, 0 ). ( 3, -2, 0 ) ø÷
®
U

® æ 6 -2 + 0 ö ® 4
T Þ proj ® v = ççç ÷÷÷ . ( 3, -2, 4 ) Þ proj ®U v = . ( 3, -2, 0 )
U è 9 + 4+ 0 ø 13
3 ® æ 12 8 ö
Þ proj ® v = çç , - , 0 ÷÷÷
U è 13 13 ø
®
Calculando o módulo de proj ® v , temos:
U

2 2
® æ12 ÷ö æ 8 ÷ö ® 208 4 13
proj® v = ç ÷ + çç ÷ + 0 Þ proj® v = =
U çè13 ÷ø è13 ÷ø U 169 13
® ®
® u.v
b) Calculando o módulo diretamente pela fórmula w =. ®
ou
® ® u
® u.v
proj® v = . ®
, temos:
U
u
® ®
® u.v ® ( 3, -2, 0 ). (2, 1, 1 )
proj® v = . ®
Þ proj® v = .
U
u
U ( 3, -2, 0 )

® 6-2 + 0 4 4 13
proj® v = = . = =
U 9+4 13 13

Vimos nesta aula que o produto escalar está diretamente relacionado ao ângulo de
dois vetores. Assim, muitos problemas geométricos podem ser resolvidos e fórmulas
generalizadas, com o auxilio dessa ferramenta. Na próxima aula estudaremos uma ou-
tra modalidade de produto entre vetores, que é o chamada “Produto vetorial”.

44 Licenciatura em Matemática
Aula 3 A
2
Produto Vetorial T
Caro (a) aluno (a), 3

Nesta aula abordaremos mais dois conceitos relacionados à multiplicação de veto-


res – Produto vetorial e Produto misto –, elementos imprescindíveis ao estudo de
disciplinas posteriores e suporte necessário para o estudo do conteúdo das aulas
subsequentes.

Os tópicos I e II trazem uma análise bastante objetiva desses elementos, já o tópico


III volta-se para as demonstrações de algumas propriedades desses produtos.

Objetivos:
• Familiarizar o aluno com os produtos de vetores e suas aplicações práticas em cálculos de
áreas e volumes.
• Proporcionar ao aluno suporte para calcular o produto escalar, o produto vetorial e misto,
entre vetores, bem como utilizar as respectivas interpretações geométricas.

45
01
TÓPICO

PRODUTO VETORIAL
A
2 OBJETIVOS
··Introduzir a noção de produto vetorial do ponto
T de vista geométrico e analítico.

3 ··Descrever algumas propriedades e aplicações do


produto vetorial.

N o presente tópico, estudaremos uma das modalidades de produto entre


vetores que diferentemente do produto interno, é limitada a espaços tri-
dimensionais e tem com como representação geométrica um vetor. O pro-
duto vetorial possui grande aplicabilidade nas áreas afins, principalmente na Física,
pelo uso freqüente de grandezas vetoriais.

OBSERVAÇÕES IMPORTANTES:
A multiplicação vetorial foi criada por J. Gibbs.
Os seguintes produtos vetoriais merecem atenção especial:
® ® ® ®
u.v = u . v . cos q (verdadeiro)
® ® ® ®
u x v = u . v . sen qè (falso)
® ®
u x v = u . v . sen è
q (verdadeiro)

1.1 DEFINIÇÃO
® ®
O produto vetorial de dois vetores u e v não
SAIBA MAIS!
colineares, (tomados nesta ordem) representado
® ®
Acesse o site disponível no material web e por u x v , é um terceiro vetor com as seguintes
conheça mais sobre o matemático Josiah
Williard Gibbs, criador do produto externo características:
(ou vetorial). ® ®
i) Direção: O vetor u x v é perpendicular aos
® ®
vetores u e v simultaneamente;
® ® ® ®
ii) Sentido: Os vetores u , v e u x v , nesta ordem, formam um triedro positivo;

46 Licenciatura em Matemática
® ® ® ®
iii) Módulo: u x v = u . v . sen q , onde q é a medida do ângulo entre
® ®
u e v.

A
3
Figura 1 – Representação geométrica do produto vetorial u + v
  T
1
1.2 PROPRIEDADES
® ®
1. u x u = 0.
® ®
2. u x v = 0 se:
a) um dos vetores for nulo.
® ®
b) u e v forem colineares, pois sen q = 0 quando q = 0 ou 180º.
® ® ® ®
3. O produto vetorial é anticomutativo, ou seja, u x v = - v x u . Porém,
→ → → →
uxv = vxu.
® ® ® ®
4. Associativo: m ( u x v ) = (m u ) x v = ATENÇÃO!
® ®
u x (m v). As demonstrações das propriedades acima
® ® ® estão no tópico 3.
5. Os vetores i , j e k , nesta ordem, represen-

tam um triedro positivo (como mostra a Figura 2).

Figura 2 – Triedro positivo


® ® ® ® ® ® ® ® ®
Assim, k = i x j , j=k x i, i= jx k .
® ® ® ® ® ® ® ® ®
Como consequência temos: - k = j x i , - j= i x k e - i =k x j.
® ® ® ® ® ® ® ® ®
Casos particulares: i x i = 0, j x j = 0 e kxk = 0.
® ® ® ® ® ® ®
6. u x ( v+ w ) = u x v + u x w.

Geometria Analítica Vetorial 47


® ® ® ®
7. u x v é ortogonal simultaneamente a u e v.
® ® ® ® ® ® ® ®
8. Se u ¹ 0 e èq é ângulo dos vetores u e v , então: u x v = u . v . sen q .
® ® ® ® ® ®
9. u x ( v x w) ¹ ( u x v) x w , o produto vetorial não é associativo.

1.3 EXPRESSÃO CARTESIANA DO PRODUTO VETORIAL


A Veremos, agora, como determinar o produto vetorial de dois vetores quando são
3 conhecidos suas expressões cartesianas.

T
® ® ® ® ® ® ®
Dados: u = x1 i + y1 j + z1 k e v = x 2 i + y 2 j + z2 k .
1 ® ® → ® ® ® ® ®
u x v = ( x1 i + y1 j + z 1 k ) x ( x2 i + y2 j + z2 k ) Þ
® ® ® → ® ® ® → ®
u x v = x1 x2 ( i x i ) + x1 y2 ( i x j ) + x1 z2 ( i x k ) + x2 y1 ( j x
® ® ® → ® → ® ® ®
i ) + y1 y2 ( j x j ) + y1 z2 ( j x k ) + x 2 z 1 ( k x i ) + y2 z 1 ( k x j ) +
® ®
z 1 z2 ( k x k ). (*)
® → ® ® ® ® ® ® ® ® ® ®
Considerando que i x i = 0, i x j = k, i x k= - j , j x i = -k, jx
® ® ® ® ® ® ® ® ® ® ® ® ® ®
j = 0, j x k = i , k x i = j , k x j = - i e k x k = 0 e colocando i , j e
®
k em evidência na equação (*), temos:
® ® ® ® ®
u x v = ( y1 z2 - y2 z 1 ) i + ( x2 z 1 - x1 z2 ) j + ( x1 y2 - x2 y1 ) k
y1 y2 x1 x2
Observe que y1 z2 - y2 z 1 = , x2 z 1 - x1 z2 = e x1
z1 z2 z1 z2
x1 x2
y2 - x2 - y1 =
y1 y2
® ® y1 y2 ® x1 x2 ® x1 x2 ®
Assim, u x v = . i - . j + . k
z1 z2 z1 z2 y1 y2
Uma maneira fácil de memorizar esta fórmula é recorrer à utilização da notação
® ® ®
i j k
® ®
u x v = x1 y1 z1
x2 y2 z2

Na verdade, o símbolo à direita da igualdade, baseado no Teorema de Laplace,


não representa um determinante, tendo em vista que a primeira linha não são núme-
ros reais, e sim vetores. No entanto, usaremos esta notação pela facilidade com que
a fórmula pode ser memorizada.

48 Licenciatura em Matemática
Exercícios resolvidos
® ® ® ® ® → ® ®
1. Sendo u = 2 i + 3 j – k e v = i - j + 2 k ,
® ® ® ®
calcule u x v e v x u . SAIBA MAIS!
Solução:
Revise o Teorema de Laplace acessando o
® ® ®
i j k site disponível no material web.
®
a) u x v = 2 3
®
-1 =
3 -1 →
.i - A
1 -1 2
-1 2 3
2 -1 ® 2 3
T
®
.j + . k
1 2 1 -1
1
® ® → ® ® ® ® → ® ®
u x v = (6 – 1) i - (4 + 1) j + (-2 – 3) k Þ u x v = 5 i - 5 j - 5k
® ® ®
i j k
® ® -1 2 ® 1 2 ® 1 -1 ®
b) v x u = 1 -1 2 = . i - . j + . k
3 -1 2 -1 2 3
2 3 -1

® ® → ® ® ® ® → ® ®
v x u = (1 - 6) i - (-1 – 4) j + (3 + 2) k Þ v x u = -5 i + 5 j + 5 k
® ® ® ® ® ® ® ®
Observe que u x v = - v x u , ou seja, os vetores u x v e v x u , são opostos,
o que significa dizer que o produto vetorial é anticomutativo como vimos acima, na
propriedade 3.
® ® ® ®
2. Calcule o versor de u x v onde u = ( 2, 3, -1 ) e v = ( 2, 1, 0 ).

Solução:
® ® ®
i j k
® ® æ 3 -1 2 -1 2 3 ö÷
u x v = 2 3 -1 = ççç , - , ÷
èç 1 0 2 0 2 1 ø÷÷
2 1 0
® ® ® ®
u x v =(0+1,-(0+2),2–6) Þ u x v = ( 1, -2, -4 )
® ®
® ® u x v
O versor u x v é o vetor ® ®
(veja aula 1).
uxv
® ®
u x v ( 1, -2, -4 ) æ 1 -2 -4 ö÷
= = çç , , ÷÷
® ® çè
2 2
21 21 21 ø
uxv 12 + ( -2) + ( -4)

1.4 INTERPRETAÇÃO GEOMÉTRICA DO MÓDULO DO PRODUTO VETORIAL


® ®
Geometricamente o módulo do produto vetorial de dois vetores u e v mede a
® ® ® ®
área do paralelogramo cujos lados são os vetores AB = u e AD = v , como mostra a

Geometria Analítica Vetorial 49


Figura 3:

® ®

A Figura 3 - Módulo de u x v = área do paralelogramo ABCD

3 Observe que a área ABCD = u . h


®

T Considerando que h =
®
v . sen è
q , temos: área de ABCD = u .
® ®
v . sen è
q
1 ® ® ® ® ® ®
Mas u x v = u . v . senèq (propriedade 9), então: área de ABCD = u x v .

Exercícios resolvidos
® ®
1. Calcule a área do paralelogramo cujos lados são os vetores u = ( 2, 3, -1 ) e v
= ( 1, 4, 3 ).

Solução:

® ® ®
i j k
® ® æ 3 -1 2 -1 2 3 ö÷
u x v = 2 3 -1 = ççç , - , ÷
èç 4 3 1 3 1 4 ø÷÷
1 4 3

® ® ® ®
u x v = ( 9 + 4 , - ( 6 + 1 ), 8 + 3 ) Þ u x v = ( 13, -7, 11 ) Þ
® ®
Área = u x v = 132 + (-7)2 + 112 = 339
2. Determinar a área de um triângulo cujos vértices são os pontos A (2, 1, 0 ),
B ( -1, 3, 2 ) e C (0, 1, 2 ), como mostra a Figura 4.

Figura 4 - Área do triângulo ABC = metade da área do paralelogramo ABCD

Solução:
Observe que a área do triângulo ABC é igual à metade da área do paralelogramo
ABCD.
Assim temos:
1 ® ®
Área do triângulo = . AC x AB
2
®
AC = C - A = ( 0, 1, 2 ) - ( 2, 1, 0 ) = ( -2, 0, 2 )

50 Licenciatura em Matemática
®
e AB = B - A = ( -1, 3, 2 ) - ( 2, 1, 0 ) = ( -3, 2, 2 )
® ® ®
i j k
® ® æ 0 2 -2 2 -2 0 ö÷
AC x AB = -2 0 2 = ççç , - , ÷÷
èç 2 2 -3 2 -3 2 ø÷
-3 2 2

A
® ® ® ®
AC x AB = ( -4, -2, -4 ) Þ AC x AB = (-4)2 + (-2)2 + (-4)2 =
36 = 6 3
Área =
1 ® ®
. AC x AB Þ Área =
1
. 6 Þ Área = 3 T
2 2
®
1
3. Determine um vetor unitário simultaneamente ortogonal aos vetores u = ( 2, -6, 3 )
®
e v = ( 4, 3, 1 ).

Solução:
® ® ® ® ® ®
Se u x v e v x w são simultaneamente ortogonais a u e v , então os versores
® ® ® ®
de u x v e de v x u constituem a solução do problema:
® ® ®
i j k
® ® -6 3 ® 2 3 ® 2 -6 ®
u x v = 2 -6 3 = i - j + .k ou
3 1 4 1 4 3
4 3 1

® ® ® ® ® ® ® ® ®
u x v = -15 i + 10 j + 30 k , isto é, u x v = ( -15, 10, 30 ) e v x w=
( 15, -10, -30 ).
® ® ® ® ® ®
Assim, se a e b são os versores de u x v e v x u , respectivamente, então:
® ®
® u x v ( -15, 10, 30 ) ( -15, 10, 30 ) 1
a= ® ®
= = = ( -15, 10, 30 )
uxv
2
(-15) + 10 + 30 2 2 1225 35

æ 3 2 6 ÷ö
= çç - , , ÷
è 7 7 7 ÷ø
® ®
® v x u æ 3 2 6 ö÷
b= = çç ,- , ÷
®
è 7
®
7 7 ø÷
vxu
® ®
Observe que os vetores a e b são unitários.
Vimos que o produto vetorial de dois vetores é representado por um terceiro ve-
tor simultaneamente ortogonal a esses dois vetores e que possui sentido de um trie-
dro positivo. No próximo tópico, estudaremos um tipo de produto que envolve o
escalar e o vetorial numa mesma expressão.

Geometria Analítica Vetorial 51


02
TÓPICO

PRODUTO MISTO
A
3 OBJETIVOS
··Introduzir a noção de produto misto do ponto de
T vista analítico.

2 ··Descrever algumas propriedades e aplicações do


produto misto.

O produto misto é uma espécie de produto que envolve o produto interno


(estudado na aula 2) e o vetorial numa única expressão. Tendo em vista
que o produto vetorial é representado por um vetor e o produto interno
por um número real, podemos concluir que o produto misto também é representado
por um número real.

2.1 DEFINIÇÃO
→ ® ®
Chama-se produto misto dos vetores u , v e w , tomados nesta ordem e re-
® ® ® → ® ®
presentado por ( u, v, w ) , o número real u . ( v x w ).

52 Licenciatura em Matemática
® → ® ® ® ® ® ® ®
Se u = x1 i + y1 j + z1 k , v = x 2 i + y 2 j + z2 k e w =
® ® ®
x3 i + y3 j + z3 k , temos:

® ® ®
i j k
→ ® ®
u . ( v x w ) = (x1 , y1 , z1 ) . x2 y2 z2
x3 y3 z3 A
3
→ → æ y z x z x y ö
u . ( v x w ) = (x1 , y1 , z1 ) . ççç 2 2 , - 2 2 , 2 2 ÷÷÷
®

èç y3 z3 x3 z3 x3 y3 ø÷ T
→ ® ® y2 z2 x2 z2 x2 y2
2
u . ( v x w ) = x1 . - y1 . + z1 .
y3 z3 x3 z3 x3 y3
De acordo com o Teorema de Laplace, temos:
x1 y1 z1
→ ® ®
u . ( v x w ) = x2 y2 z2
x3 y3 z3

Exercícios resolvidos
→ ® ®
1. Sejam os vetores u = ( 2, 1, -1 ), v = ( 2, 0, 4 ) e w = ( 1, 1, -2 ), calcule:
→ ® ® ® ® →
a) ( u , v , w ) b) ( v , w , u )

Solução:
2 1 -1
→ ® ® 0 4 2 4 2 0
a) ( u , v , w ) = 2 0 4 = 2 . -1. + (-1) .
1 -2 1 -2 1 1
1 1 -2
→ ® ®
(u ,v ,w) = - 8 + 8 – 2 = - 2
2 0 4
® ® → 1 -2 1 -2 1 1
b) ( v , w , u ) = 1 1 -2 = 2 . -0. + 4.
1 -1 2 -1 2 1
2 1 -1
® ® →
(v ,w,u ) = 2 – 0 – 4 = - 2
® ® ®
2. Dados os pontos A (1, 2, 3 ), B ( -1, 0, 3 ) e C ( 4, 2, -1 ), calcule ( AB , BC , AC ).

Solução:
®
AB = B – A = ( -1, 0, 3 ) – ( 1, 2, 3 ) = ( -2, -2, 0 )
®
BC = C – B = ( 4, 2, -1 ) – ( -1, 0, 3 ) = ( 5, 2, -4 )

Geometria Analítica Vetorial 53


®
AC = C – A = ( 4, 2, -1 ) – ( 1, 2, 3 ) = ( 3, 2, -4)
-2 -2 0
® ® ® 2 -4 5 -4 5 2
( AB , BC , AC ) = 5 2 -4 = - 2 . - ( - 2) . +0.
0 -4 3 -4 3 0
3 0 -4

A 2.2 PROPRIEDADES
3 → ® ®
1. ( u , v , w ) = 0 se:
T a) um dos vetores for nulo.
2 b) nenhum dos vetores é nulo, mas dois são colineares.
c) os três são coplanares (cf. Figura 5 ).

→ → →
Figura 5 - v× w e u são coplanares
→ ® ®
2. A ordem cíclica dos vetores não altera o produto misto. Assim, ( u , v , w ) = (
® ® → ® → ®
v , w , u ) = ( w , u , v ).
→ ® ® ® → ® ® → ® ®
3. ( u , v , w + r ) = ( u , v , w ) + ( u , v , r ) (propriedade dos determinantes).

Exercícios resolvidos
→ ®
1. Utilize o produto misto para mostrar que os vetores u = ( 1, 4, -7 ), v = ( 2, -1,
®
4 ) e w = ( 0, -9, 18) são coplanares.

Solução:
Tendo em vista que dois vetores não são colineares (não possuem coordenadas
→ ® ® → ® →
correspondentes proporcionais), se ( u , v , w ) = 0 , então u , v e w são coplanares.
1 4 -7
→ ® ® -1 4 2 4 2 -1
Se ( u , v , w ) = 2 -1 4 = 1 . -4. -7.
-9 18 0 18 0 -9
0 -9 18
→ ® ®
( u , v , w ) = 1 . (18) – 4 (36) – 7 (-18) = 0.
→ ® ®
Isso significa dizer que u , v e w são coplanares.
® ® ®
Determine o volume do paralelepípedo cujas arestas são AB , AC , AD , conside-
rando A ( 1, 3, 4 ) , B (-1, 2, 0 ) , C ( 1, 1, 2 ).

Solução:

54 Licenciatura em Matemática
Figura 6– Paralelepípedo para cálculo de volume
®
AB = B – A = ( -1, 2, 0 ) – ( 1, 3, 4 ) = ( -2, -1, -4 )
® A
AC = C – A = ( 1, 1, 2 ) – ( 1, 3, 4 ) = ( 0, -2, -2 )
®
3
AD = D – A = ( -1, 2, 3 ) – ( 1, 3, 4 ) = ( -2, -1, -1 )
T
( )
® ® ®
Volume = AB , AC , AD 2
-2 -1 -4
® ® ® -2 -2 0 -2
( AB , AC , AD ) = 0 -2 -2 = - 2 . - ( - 1) . + ( - 4) .
-1 -1 -2 -1
-2 -1 -1
0 -2
-2 -1
® ® ®
( AB , AC , AD ) = -2 . 0 – 4 + 16 = 12
® ® ®
( AB , AC , AD ) = 12 = 12

2.3 INTERPRETAÇÃO GEOMÉTRICA DO MÓDULO DO PRODUTO MISTO


→ ® ®
Geometricamente, o módulo do produto misto ( u , v , w ) é igual ao volume de
→ ® ®
um paralelepípedo cujas arestas são representadas pelos vetores u , v e w , confor-
me Figura 7.

  
Figura 7 - Paralelepípedo cujos lados são os vetores u , v e w
Sabemos que o volume de um paralelepípedo é dado pela expressão:

V = (área da base) ⋅ (altura) ou V = Ab . h


® ®
mas: Ab = v x u
® ® ®
sendo q o ângulo entre os vetores u e v x w , a altura do paralelepípedo é

Geometria Analítica Vetorial 55


dada por:
®
h = u . cos q .
É necessário considerar o valor absoluto de cos q , pois q pode ser obtuso. As-
sim, o volume do paralelepípedo é:
® ® ®
V= u . v x w . cos q
® ® ® ® ®
Fazendo v x w = a , temos: V = u . a . cos q (I)
A mas, de acordo com a definição de produto interno:
3 ® ® ® ® ® ® ® ®
u .a = u . a . cos q Þ u.a = u . a . cos q (II)
T
2 Comparando I e II, temos V=
® ®
u. a ou V=
® ® ®
u . ( v x w) ou
® ® ®
V= ( u, v, w ) .

Vimos neste tópico que o produto misto é uma espécie de mistura (daí o nome)
de um produto escalar (interno) com o produto vetorial e tem como resultado uma
escalar. Vimos ainda que este tipo de produto é igual, em valor absoluto, ao volume
de um paralelepípedo, cujas arestas são os vetores que compõem o produto.

56 Licenciatura em Matemática
A
3
T
2
03
TÓPICO

DEMONSTRAÇÕES DAS PROPRIEDADES

A
3 OBJETIVO
Realizar as demonstrações de algumas propriedades
T dos produtos vetorial e misto.

R eservamos este tópico para as demonstra-


ções de algumas propriedades dos produ-
tos vetorial e misto considerando o grau
de sua importância.

SAIBA MAIS! Considerando que propriedades do produto ve-


torial e produto misto estão intimamente relacio-
Faça uma revisão da Regra de Sarrus,
nadas com as propriedades dos determinantes, uti-
acessando ao site disponível no material web.
lizaremos, em algumas ocasiões, os princípios do
Teorema de Laplace (pela sua praticidade), muito
embora o determinante de 3ª ordem possa ser resolvido pela regra de Sarrus.

58 Licenciatura em Matemática
3.1 PROPRIEDADES DO PRODUTO VETORIAL (DEMONSTRAÇÕES)
® → ® ® ® ® ® ®
Sejam os vetores u = x1 i + y1 j + z1 k , v = x2 i + y2 j + z2 k e
® ® ® ®
w = x3 i + y3 j + z3 k e “m” um número real diferente de zero.
 
1. u x u = 0
® ® ®
i j k
® ® A
u x u = x1 y1 z1 = 0 (propriedade dos determinantes: duas filas para-
3
lelas iguais) x2 y2 z2
T
3
® ® ® ® ® ®
conseqüências: i x i = 0 , j x j = 0 e k x k = 0
 
2. u x v = 0
® ®
a) u = 0 ou v = 0
® ® ® ®
b) u e v são colineares. Assim u = m v
® ® ® ® ® ®
i j k i j k
® ®
u x v = mx2 my2 mz2 = m x2 y2 z2 = m . 0 = 0
x2 y2 z2 x2 y2 z2
   
3. u x v = −v x u
® ® ® ® ® ®
i j k i j k
® ® ® ®
u x v = x1 y1 z1 = - x2 y2 z2 = -v x u
x2 y2 z2 x1 y1 z1
Consequência:
® ® ® ® ® ® ® ® ® ® ® ®
i x j = - j x i , i xk= - kx i e j xk= - kx j .
   
4. (m u ) x v = m ( u x v )=
®
(m u ) = ( m x1 , m y1 , m z 1 )
® ® ®
i j k
® ®
(m u ) x v = mx1 my1 mz1
x2 y2 z2

De acordo com a propriedade dos determinantes:


® ® ® ® ® ®
i j k i j k
® ® ® ®
(m u ) x v = mx1 my1 mz1 = m . x1 y1 z1 = m ( u x v )
x2 y2 z2 x2 y2 z2

Geometria Analítica Vetorial 59


5. O comentário sobre a propriedade 5 se encontra no tópico 1 desta aula.
      
(
6. u x v + w = u x v + u x w )
® ®
Tendo em vista que ( v + w) = ( x2 + x3 , y2 + y3 , z2 + z3 )
® ® ®
i j k
® ® ®
u x ( v+ w ) = x1 y1 z1
A x2 + x3 y2 + y3 z2 + z3
3 De acordo com a propriedade dos determinantes:
T i
®
j
®
k
®
i
® ®
j
®
k i
® ®
j
®
k
3 x1 y1 z1 = x1 y1 z1 + x1 y1 z1
x2 + x3 y2 + y3 z2 + z3 x2 y2 z2 x3 y3 z3
® ® ® ® ® ® ®
Assim, u x ( v+ w ) = u x v + u x w .
   
7. u x v =
é ortogonal simultaneamente a u e v
® ® ® ® ® ®
u x v é ortogonal a v . Assim v . ( u x v ) = 0
® ® ®
i j k
® ® ®
v . ( u x v ) = ( x2 , y2 , z2 ) . x1 y1 z1 =
x2 y2 z2

æ y1 z1 x1 z1 x1 y1 ö÷
( x2 , y2 , z2 ) . ççç ,- , ÷÷
èç y2 z2 x2 z2 x2 y2 ø÷
® ® ® y1 z1 x1 z1 x1 y1
Þ v .( u x v ) = x2 - y2 + z2
y2 z2 x2 z2 x2 y2
De acordo com o Teorema de Laplace, temos:
x2 y2 z2
® ® ®
v .( u x v ) = x1 y1 z1 = 0
x2 y2 z2
® ® ® ® ® ®
b) u x v é ortogonal a u . Assim u . ( u x v ) = 0
® ® ®
i j k
® ® ®
u . ( u x v ) = ( x1 , y1 , z 1 ) . x1 y1 z1 =
x2 y2 z2

æ y1 z1 x1 z1 x1 y1 ö÷
( x1 , y1 , z 1 ) . ççç ,- , ÷÷
èç y2 z2 x2 z2 x2 y2 ø÷

60 Licenciatura em Matemática
® ® ® y1 z1 x1 z1 x1 y1 ® ® ®
Þ u . ( u x v ) = x1 - y1 + z1 Þ u. ( u x v)
y2 z2 x2 z2 x2 y2
x1 y1 z1
= x1 y1 z1 = 0
x2 y2 z2
   
8. u x v = u ⋅ v ⋅ sen q A
® ® ® 3
i j k
æ y1 z1 x1 z1 x1 y1 ö÷
T
® ®
u x v = x1 y1 z1 = ççç ,- , ÷÷
èç y2 z2 x2 z2 x2 y2 ø÷
x2 y2 z2 3
® ®
u x v = ( y1z2 - y2 z1 ) - ( x1z2 - x2 z1 ) + (x1y2 - x2 y1 )
→ →
2 2
uxv = (y1z2 - y2 z1 ) + ( x1z2 - x2z1 ) + ( x1y2 - x2y1 )
2

® ®
2
u x v = ( y1z2 - y2 z1 )2 + ( x1z2 - x2 z1 )2 + (x1y2 - x2 y1 )2
Desenvolvendo os quadrados, somando e subtraindo x12 y12 ,
x22 y22 e z12 z22 no segundo membro, e considerando a relação
2
( a + b + c ) = a 2 + b2 + c2 + 2ac + 2bc + 2ab , temos:
® ®
= ( x12 + y12 + z12 ) . ( x22 + y22 + z22 ) - ( x1x2 + y1y2 + z1z2 ) ,
2 2
uxv
® ® ® ®
mas u
2
. v
2
= ( x12 + y12 + z12 ) . ( x22 + y 2 2 + z2 2 ) e (u.v)2 =
® ® ® ® ® ®
2
( x1x2 + y1y2 + z1z2 ) , então: u x v 2 = u 2 . v 2 - ( u . v ) 2 . (esta última re-
lação é conhecida como Identidade de Legrange)
® ® ® ®
Observe que u . v = u . v . cos a .
Assim, ATENÇÃO!
® ® ® ® 2
æ ® ® ö
= u . v - çç u . v - cos a ÷÷÷
2 2 2 → → → →
uxv 2 2 2
® ®
è ø A relação u x v = u . v − ( u . v )²
® ® ® ®
2 2 2 é conhecida como Identidade de Lagrange.
uxv = u . v ( 1 - cos 2 a )
Essa identidade é gerada a partir do produto
® ® ® ®    
2 2 2 interno dos vetores u x v e u x v , ou seja:
uxv = u . v . sen a e finalmente   
   u,u u,v
® ® ® ® u × v,u × v =    =
u x v = u . v . sen q . v,u v,v
   
u ² . v ² - u,v . v,u =
     
9. Observe na figura abaixo que u x (v x w ) u ² . v ² - (u.v ) ²

Geometria Analítica Vetorial 61


      
é coplanar com v e w , e (u x v ) x w é coplanar com u e v . Assim
     
(
u x v xw ≠ u xv x w.) ( )

A
3
T   
Figura 8 - u x (v x w) é coplanar a v e w
 
3
3.2 PROPRIEDADES DO PRODUTO MISTO (DEMONSTRAÇÕES)
→ ® ®
1. ( u , v e w ) = 0, se:
a) um dos vetores for nulo
b) dois deles forem colineares
c) os três forem coplanares.
®
a) Se u = 0 então:
0 0 0
→ ® ®
( u , v e w ) = x2 y2 z 2 = 0 (propriedades do determinante: fila nula)
x3 y3 z3
→ ®
b) Supondo u e v colineares, então:
→ ®
u = m v ou ( x1 , y1 , z 1 ) = (m x2 , m y2 , m z2 )
mx2 my2 mz2 x2 y2 z2
® ® ®
( u, v, w ) = x2 y2 z2 = m . x 2 y2 z2 = m . 0 = 0
x3 y3 z3 x3 y3 z3
c) Os três são coplanares
® ® ® ®
Observe na figura 5 que ( v x w ) é ortogonal a v e w (segundo a definição de
→ ® ® → ® ®
produto vetorial). Se u . ( v x w ) = ( u , v , w ) = 0, concluímos, pela definição de
→ ® ® →
produto interno, que u e v x w são ortogonais. Assim u está no mesmo plano que
® ®
v e w.
Com essas demonstrações, chegamos ao final do estudo de vetores. Alguns con-
ceitos e propriedades estudados nas aulas 1, 2 e 3 servirão como base para o desen-
volvimento do estudo de elementos abordados nas aulas subseqüentes, como reta,
plano e superfícies.

62 Licenciatura em Matemática
Aula 4
Reta
Caro(a) aluno(a),

O conhecimento que obtivemos sobre vetores nas aulas anteriores constitui parte
fundamental para o estudo das aulas subsequentes. Nesta aula iremos estudar as
equações da reta no espaço tridimensional, bem como as características e particu-
laridades de cada uma delas.

Objetivos:
• Reconhecer, interpretar e operar com cada tipo de equação de reta no espaço bem como
analisar suas posições relativas.
• Resolver problemas relacionados a retas no espaço tridimensional.

63
01
TÓPICO

EQUAÇÕES DA RETA

A
3 OBJETIVOS
··Determinar as equações vetoriais, paramétricas e
T simétricas de uma reta do espaço.

1 ··Conhecer, interpretar e operar com cada formato


de equação da reta no espaço.

A s curvas no espaço ou no plano estão associadas a uma equação que rela-


ciona as coordenadas (x, y) no plano ou (x, y, z) no espaço. Tal equação
pode se apresentar sob diversos formatos e cada um com suas caracterís-
ticas próprias. Na geometria analítica, no plano, por exemplo, vimos que uma reta
pode ser representada pelas equações reduzida, geral segmentária ou paramétrica,
porém cada uma com sua particularidade. O coeficiente angular a, por exemplo,
aparece de forma explícita no formato y = ax + b (equação reduzida da reta no pla-

no). Porém, se pretendemos conhecer a ordenada do ponto em que a reta intercepta


x y
o eixo 0y, podemos recorrer à equação segmentária + = 1 em que q é o elemen-
p q
to procurado.
No espaço, equações da reta vêm configuradas para três variáveis x, y e z. São
elas: equação vetorial, equações simétricas, equações paramétricas e equações redu-
zidas. Construiremos os formatos das equações baseados no conhecimento de veto-
res estudados na aula anterior.

64 Licenciatura em Matemática
1.1 EQUAÇÃO VETORIAL DA RETA
Considere uma reta r que contém o ponto A(x1 , y1 , z1 ) e tem a direção de um
®
vetor v = (a,b, c) . Para que um ponto P(x,y,z) do espaço pertença à reta r, é ne-
® ®
cessário e suficiente que os vetores AP e v sejam colineares, como mostra a figura
a seguir:

A
4
T
1

®
Figura 1 – Reta AP com ponto A e direção do vetor v
Assim,
® ® ® ®
AP = t v ou P - A = t v (t Î R) Þ P = A + t v ou (x,y,z) = (x1 , y1 , z1 )
® ®
+ t v onde o vetor v = (a,b, c) é chamado vetor diretor da reta r e t é chamado pa-
râmetro. Observe que existe uma correspondência biunívoca entre cada número real t
e um ponto da reta, ou seja, para cada número atribuído a t, temos um ponto da reta.

Exemplo:
Vamos determinar a equação vetorial da reta que passa pelo ponto
® ® ® ®
A(2, -1, 3) e possui a direção do vetor v = i + 2 j -4 k .

Considerando que P(x,y,z) é um ponto qualquer dessa reta, temos:


® ®
AP = t v Þ (x,y,z) = (2, - 1, 3) + t.(1, 2 ,-4)

Para cada valor de t, temos um ponto da reta. Assim, para t = 2 , temos:


(x,y,z) = (2, - 1, 3) + 2.(1, 2 ,-4) Þ (x,y,z) = (2, - 1, 3) + (2, 4 ,-8)
Þ (x,y,z) = (2, - 1, 3)

O ponto P (2, - 1, 3) é um ponto da reta r.

1.2 EQUAÇÕES PARAMÉTRICAS DA RETA


® ® ® ®
Sejam P(x,y,z) , A(x1 , y1 , z1 ) e v = a i + b j + c k um ponto genérico, um
ponto conhecido e o vetor diretor da reta r, respectivamente.
® ®
Da equação vetorial de r AP = t v ou (x,y,z) = (x1 , y1 , z1 ) + t.(a, b, c) ,

Geometria Analítica Vetorial 65


ìï x = x1 + at
ïï
temos: (x,y,z) = (x1 , y1 , z1 ) + (at, bt, ct) Þ ïíy = y1 + bt
ïï
ïïî z = z1 + ct
Estas equaçõess, nas quais a, b e c não são todos nulos, são chamadas equações
paramétricas da reta.
A
4 Exemplos:
As equações paramétricas da reta r, que contém o ponto A(2, - 1, 3) e possui a
T ® ® ® ®
direção do vetor v = 2i + 2 j -5k , são dadas por:
1
ïìï x = 2 + 2.t
ïï
íy = -1 + 2.t
ïï
ïïî z = 3 - 5.t
Para se obter um ponto da reta r atribui-se um valor real para t. Assim, para t=3,
temos:
ìï x = 8
ïï
ïí y = 5 ou seja, (8, 5, - 12) é um ponto da reta r.
ïï
ïïîz = -12

1.3 EQUAÇÕES SIMÉTRICAS DA RETA


Uma outra maneira de descrever uma reta é eliminar o parâmetro t das equações
paramétricas. Se nenhum dos números a, b ou c é 0, podemos resolver cada uma das
equações para t.
x - x1 y-y1 z-z
t= , t= e t= 1
a b c
e igualar o resultado, obtendo
x - x1 y-y1 z-z1
= =
a b c
Estas equações são chamadas equações simétricas da reta que contém o ponto
®
A(x1 , y1 , z1 ) e a direção do vetor v = (a,b, c) . Mesmo que um dos componentes
desse vetor seja nulo, podemos eliminar o parâmetro t. Por exemplo, se a = 0 , po-
demos escrever as equações da reta como:
y-y1 z-z1
x = x1 =
b c
Isso indica que a reta é paralela ao plano yz, tendo em vista que o vetor
®
v = (O,b, c) é paralelo ao plano coordenado yz (veja Figura 2 )

66 Licenciatura em Matemática
A
Figura 2 – Reta paralela ao plano yz
4
®
Assim, se a reta é paralela ao plano xz, seu vetor diretor é do tipo v = (a, o b) e T
suas equações simétricas ficam: 1
ìï z = z 1
ïï
x-x1 z-z1 ï
r1 = e ïí se a reta for paralela ao plano coor-
a c ïï x - x1 y - y1
ïï =
ïî a b
denado xy, como mostram as figuras seguintes.

Figura 3 – Reta paralela ao plano xz Figura 4 – Reta paralela ao plano xy

Seguindo esse raciocínio, não é difícil concluir que, se a reta é paralela a um dos
eixos coordenados, o vetor diretor dessa reta possui duas componentes nulas. As-
®
sim, por exemplo, se a reta for paralela ao eixo x, seu vetor é do tipo v = (a, 0, 0 )
e suas equações ficam:
ìï y = y 1
ïï
ïí z = z
ïï 1

ïïî x = x1 + at

Exercícios resolvidos
1) Determine as equações paramétricas e simétricas da reta que passa pelo ponto
A( 2, 4, - 3) e A( 3,-1, 1) .

Solução:
Não nos foi dado de forma explícita o vetor paralelo à reta (vetor diretor da

Geometria Analítica Vetorial 67


® ®
reta), mas observe que o vetor v com representação AB é paralelo à reta e
® ®
v = (3 - 2, -1-4, 1-(-3)) ou v = ( 1, -5, 4 ) .
Então os componentes do vetor diretor são a = 1, b = -5 e c = 4 . Assim, toman-
®
do o ponto A( 2, 4, - 3) e o vetor v = ( 1, -5, 4 ) , as equações paramétricas ficam:
ìï x = 2 + t
ïï
A ïí y = 4 - 5t
ïï
4 ïïî z = -3 + 4 t

T e as equações simétricas são:

1 x -2
=
y-4
=
z+3
1 -5 4
2) Qual a interseção dessa reta com o plano xy?

Solução:
A reta intercepta o plano xy quando z = 0 . Tomando z = 0 nas equações simé-
tricas obtemos:
x -2 y-4 3
= =
1 -5 4
11 1
Resolvendo as equações, temos x = e y = . Portanto a reta intercepta o
4 4
æ11 1 ö
plano xy no ponto çç , , 0÷÷÷ .
è4 4 ø
ìï x = 3 + t
ïï
3) Calcule o ângulo entre as retas r : ïí y = t
ïï
x+2 y-3 z ïïî z = -1 - 2t
e s: = = .
-2 1 1
Solução:
®
Os vetores que definem as direções de r e s são, respectivamente, v 1 = ( 1, 1, -2 )
®
e v 2 = (-2, 1, 1) . Tendo em vista que o ângulo entre as retas é o mesmo ângulo en-

tre os vetores diretores, chegamos a:


→ →
v1 . v2 (1, 1, -2 ) . ( -2, 1, 1 ) 1
cos θ = → →
= = ,
v1 . v2 12 + 12 + (-2)2 x (-2)2 + 12 + 12 2
1
logo θ = arc cos   .
2

Vimos que cada reta no espaço está relacionada a um conjunto de equações em que
figuram as variáveis x, y e z, e que traz consigo informações importantes da reta. No pró-
ximo tópico, estudaremos as posições particulares que duas retas assumem no espaço.

68 Licenciatura em Matemática
A
4
T
1
02
TÓPICO

POSIÇÕES RELATIVAS ENTRE DUAS RETAS

OBJETIVO
Conhecer e determinar as diversas posições relativas
entre duas retas no espaço.

U ma vez que já estudamos as equações das retas, veremos, neste tópico, co-
mo usá-las para que possamos determinar as posições relativas que duas
retas podem assumir no espaço.

2.1 CONDIÇÃO DE PARALELISMO DE DUAS RETAS


® ® ®
Sejam duas retas v1 e v2 cujos vetores diretores são v 1 = ( a1 , b1 , c1 ) e
®
v 2 = ( a 2 , b2 , c2 ) respectivamente. Se r e s são paralelas, seus vetores diretores
® ® a1 b1 c1
são colineares. Assim, v1 = k v2 ou = = =k.
a 2 b2 c2
Exemplo:
A reta r1 , que passa pelos pontos A1 (2, 2, - 1) e B1 (4, 3, 2) , e a reta r2 que

70 Licenciatura em Matemática
passa pelos pontos A2 (-6, 1, - 5) e B2 (-2, 3, 1) são paralelas. De fato:
® 
a) A direção de r 1 é dada pelo vetor v1 = A1B1

= (2, 1, 3); ATENÇÃO!


® ® ®
b) A direção de v2 é dada pelo vetor v2 = A2 Seja uma reta r 1 , que contém o ponto
® A 1( x 1 , y 1 , z 1 ) e possui a direção
B2 = (4, 2, 6);
de um vetor

v 1 = ( a 1 , b1 , c 1 ) ,
A
c) De acordo com a condição de paralelismo de
4
representada pelas equações

duas retas
a1 b c
= 1 = 1 , as retas r 1 e r2 são pa-
x − x1
=
y-y1
=
z-z1
. Qualquer reta T
a2 b2 c2 a1 b1 c1 2
2 1 3 r2 , paralela a r 1 , tem parâmetros diretores
ralelas, pois = = .
4 2 6 a2 , b2 , c2 proporcionais aos parâmetros
diretores a1, b1, c1 . Dessa forma, a1, b1, c1
2.2 CONDIÇÃO DE ORTOGONALIDADE são parâmetros diretores de qualquer reta
DE DUAS RETAS paralela a r 1 . Assim, se A 2 ( x 2 , y 2 , z2 ) é um
® ponto qualquer do espaço, as equações da
Duas retas r e s de direções v1 = ( a1 , b1 , c1 ) reta paralela à r 1 , que passa por A 2 , são:
®
e v2 =( a 2 , b2 , c2 ), respectivamente, são or- x − x2 y-y 2 z-z2 .
= =
® ® a1 b1 c1
togonais se os vetores v1 e v2 também o forem,
® ®
ou seja, r e s são ortogonais se v1 .v 2 = 0 ou

a1 . a 2 + b1 . b2 + c1 . c2 = 0 .

Exercícios resolvidos
ïìïx = 3t ïìïy = 3
ï ïí
1) Verifique se as retas r1 : ïíy = -1 + 5t e s: x-3 t + 1 são ortogonais.
ïï ïï =
ïïîz = 3 + 4t îï 8 -6
Solução:
®
A direção de r é v1 = (3, 5, 4);
®
A direção de s é v2 = (8, 0, -6);

A condição de ortogonalidade de duas retas é: a1 b2 + b1 b2 + c1 c2 = 0.


Neste caso:
3 . 8 + 5 . 0 + 9 ( -6 ) = 0, que prova serem ortogonais as retas r e s.
ìïx = 1 + 3t
ïìy = kx + 1 ïï
2) Calcule o valor de k para que as retas r: ïí e s: ïíy = 2-2t
ïïîz = -2x ïï
sejam ortogonais. ïïîz = 5t

Geometria Analítica Vetorial 71


Solução:
® ®
Os vetores v1 = ( 1, k, -2 ) e v2 = ( 3, -2, 5 ) são vetores diretores de r e s, res-
pectivamente.
A condição de ortogonalidade permite escrever:
7
1 . 3 + k . (-2 ) + ( -2) . 5 = 0, daí -2k = 10 – 3 Þ k = - .
2

A 2.3 CONDIÇÃO DE COOPLANARIDADE DE DUAS RETAS


4 ®
Duas retas r1 que contêm um ponto A1 ( x1 , y1 , z1 ) e têm a direção de um ve-
T ® ®
tor v 1 = ( a1 , b1 , c1 ) e r2 que contém o ponto A2 ( x2 , y2 , z2 ) e a direção de um
2 ® ® ® ®
v 2 = ( a 2 , b2 , c2 ) são cooplanares se os vetores v1 , v2 e A 1 A2 forem coopla-
nares, ou seja:
a1 b1 c1
® ® ® ®
( v1 , v2 , A1 , A2 ) = a2 b2 c2 =0
x2 - x1 y2 - y1 z2 - z1

Figura 5 – Retas r1 e r2 cooplanares (pertencem ao mesmo plano)

Exercícios resolvidos
1) Verifique se r1 e r2 são cooplanares, sendo r 1 : { x1- 1 = y 2+ 1 = z1- 3 e
ïìï x = -5 - t
ï
r2 : ïíy = -3 + t
ïï
ïïîz = 6 + 3t

Solução:
® ®
1. A reta r1 passa pelo ponto A1 ( 2, -1, 3 ) e possui a direção do vetor v1 = ( 2,
2, 1);
® ®
2. A reta r2 passa pelo ponto A2 ( -5, -3, 6 ) e o vetor diretor é v2 = ( -1, 1, 3 );
® ® ® ®
3. O vetor A1 A2 = A2 - A1 = ( -5, -3, 6 ) – ( 1, -1, 3 ) ou A1 A2 = ( -6, -2, 3);
4. A condição de cooplanaridade das retas r1 e r2 é que seja nulo o produto misto
® ® ® ®
( v1 , v2 , A1 , A2 ).
1 2 1
® ® ® ®
Assim, ( v1 , v2 , A1 , A2 ) = -1 1 3 = -13 ¹ 0 , o que prova não serem
-6 -2 3
cooplanares as retas r 1 e r2 .

72 Licenciatura em Matemática
x y -2 z +1
2) Calcule o valor de k para que as retas r : = = e s:
1 k 3
ïìï x = t
ïï
í y = 1 + 2t sejam cooplanares.
ïï
ïïî z = -2t

Solução:
®
1. A reta r é definida pelo ponto A1 ( 0, 2, -1 ) e pelo vetor v1 = ( 1, k, 3 ) ; A
® 4
2. A reta s é definida pelo ponto A2 ( 0, 1, 0 ) e pelo vetor v2 = ( 1, 2, -2 ) ;
¾¾
®
3. O vetor A1A 2 = ( 0, -1, 1 ) ;
T
® ® ¾¾
® 2
4. De acordo com a condição de cooplanaridade ( v1 , v2 , A1A2 ) = 0 .
1 k 3
Assim, 1 2 -2 =0 Þ k = -3 .
0 -1 1
Para que as retas r e s sejam coplanares, k= -3.

2.4 POSIÇÕES RELATIVAS DE DUAS RETAS


Duas retas r e s, no espaço podem ser:
ATENÇÃO!
a) cooplanares, quando estão situadas no mes-
mo plano. Neste caso elas ainda poderão ser: Duas retas são concorrentes se elas têm um
i) concorrentes, quando existe um único ponto ponto em comum. As retas perpendiculares
são retas concorrentes que formam entre si
em comum;
um ângulo reto.
ii) paralelas, quando não possuem ponto comum.

Figura 6 – Retas r1 e r2 concorrentes. Figura 7 – Retas r1 e r2 paralelas.

b) reversas, quando não pertencem ao mesmo plano.

Figura 8 - Retas r1 e r2 reversas

Geometria Analítica Vetorial 73


Duas retas são ditas reversas quando uma não
tem interseção com a outra e elas não são paralelas.
Isto significa que elas estão em planos diferentes.
SAIBA MAIS! Pode-se pensar de uma reta r desenhada no chão de
uma casa e uma reta s, não paralela a r, desenhada
- Uma reta r é paralela a um plano no espaço
no teto dessa mesma casa.
³, se existe uma reta s inteiramente contida
A no plano que é paralela à reta dada.
4 - Uma reta é perpendicular a um plano no
espaço ³, se ela intersecta o plano em um
] Exercícios resolvidos
T ponto P e todo segmento de reta contido 1) Estude a posição relativa das retas r:
2 no plano que tem P como uma de suas ïìï x = 2t
extremidades é perpendicular à reta. ïï x-2 y z-1
í y = 1-t e s: = =
ïï -4 2 -2
ïïî z = t

Solução:
® ®
v 1 = ( 2, -1, 1 ) e v 2 = ( -4, 2, -2 ) são vetores de r e s, respectivamente.
® ®
Observe que as componentes são proporcionais, daí v 1 // v2 e r // s .
ìï x = 2 + 2t
ïï x -5 y -2 z -7
2) Estude a posição relativa das retas r: ïí y = 3 t e s: = =
ïï 1 -1 -2
ïïî z = 5 + 4t
Solução:
®
Tendo em vista que os vetores diretores de r e s são v 1 = ( 2, 3, 4 ) e
® 1 -1 -2
v 2 = ( 1, -1, -2 ) , as retas não são paralelas, pois ¹ ¹ .
2 3 4
® ® ® ®
Calculemos o produto misto ( v1 , v2 , A1 , A2 ), sendo A 1 ( 2, 0, 5 ) e
A 2 ( 5, 2, 7 ) .
Assim,
2 3 4
® ® ® ®
( v1 , v2 , A1 , A2 ) = 1 -1 -2 = 0 , o que quer dizer que as retas são copla-
3 2 2
nares e, portanto, concorrentes.

Vimos nesta aula que, assim como no plano, no espaço tridimensional, as retas
são representadas por equações (neste caso com três variáveis) que trazem todas as
informações da reta, como, por exemplo, direção e posição no espaço.

74 Licenciatura em Matemática
Aula 5 A
4
Plano T
Caro(a) aluno(a), 2

Na aula anterior (aula 4 – Retas), estudamos retas no espaço tridimensional e vimos


que qualquer reta pode ser representada por um conjunto de equações que relacio-
na as coordenadas x, y e z de cada ponto da reta, possibilitando utilizarmos métodos
algébricos na resolução de problemas geométricos.

Nesta aula, vamos usar o mesmo raciocínio no estudo do plano no espaço tridi-
mensional. Veremos que qualquer plano pode, também, ser representado por uma
equação. Isso vai nos permitir, assim como no estudo das retas, analisar e interpretar
o plano através dessa equação, determinando ângulos entre dois planos, conhecen-
do as posições particulares que dois planos podem assumir no espaço tridimensio-
nal e calculando ângulo entre reta e plano.

Objetivos:
• Conhecer, interpretar e analisar as equações de um plano.
• Resolver problemas que envolvem retas e planos.

75
01
TÓPICO

EQUAÇÕES DO PLANO
A
5 OBJETIVOS
··Conhecer os vários meios de determinação de
T equações do plano.

1 ··Interpretar geometricamente equações do plano


quando estes assumem posições particulares no
espaço.

V imos, na aula 4, que a direção de uma reta fica perfeitamente fixada por
um vetor que indica sua direção (vetor diretor). Em relação ao plano, um
vetor paralelo a esse plano não é suficiente para fixar a direção de um pla-
no, tendo em vista que existem infinitos planos paralelos a um determinado vetor,
porém um vetor perpendicular a esse plano define de modo completo sua “direção”.
Dessa forma, um plano no espaço fica determinado se conhecermos um ponto desse
plano e um vetor que seja ortogonal ao plano.

1.1 EQUAÇÃO GERAL DO PLANO


® ®
Seja A= ( x1 , y1 , z1 ) um ponto conhecido de um plano l e n = (a, b, c) , n ¹
( 0, 0, 0 ) , um vetor normal (ortogonal) ao plano. Podemos definir o plano l como

76 Licenciatura em Matemática
® ®
sendo o conjunto de todos os pontos P (x, y, z) do espaço tais que AP. n = 0 (cf.
Figura 1).

VOCÊ SABIA?
A
Um vetor é ortogonal a um plano quando 5
forma com esse um ângulo reto.
T
®
Figura 1 - O vetor n é ortogonal ao plano 1
® ®
Tendo em vista que n = (a, b, c) e AP = P-A = (x- x1 , y- y1 , z- z1 ), a equação
® ®
AP.n = 0 fica:
(a, b, c) . (x- x1 , y- y1 , z- z1 ) = 0 ou ax + by + cz - a x1 - b y1 - c z1 = 0.
Tomando d = - a x1 - b y1 - c z1 , vem:
ax + by + cz + d = 0.
Esta é a equação do plano que contém o ponto A(x1 , y1 , z1 ) e é ortogonal ao ve-
®
tor n = (a, b, c) .

Exercícios resolvidos
1. Determine a equação geral do plano l que GUARDE BEM ISSO!
®
passa pelo ponto A(3, -1, 2), sendo n = (2, 1, 5) um
®
vetor normal a p . a) Se um vetor n = (a, b, c) é normal (ortogonal)
a l , kn, k Î IR*, é também ortogonal a esse
Solução: ®

®
plano. Assim qualquer vetor do tipo kn = (ak,
Se n = (2, 1, 5) é normal aos planos l , sua equa-
bk, ck) com k ¹ 0 é normal desse plano.
ção é do tipo: 2x + y 5z + d = 0. b) É importante observar, também, que
Tendo em vista que o ponto A = (3, -1, 2) per- os três coeficientes a, b, c da equação
tence ao plano, suas coordenadas devem verificar a ax + by + cz + d = 0 representam as
componentes de um vetor normal ao plano.
equação, ou seja: 2(3) + (-1) + 5(2) + d = 0 Þ 2 – 1
Por exemplo: Se um plano l é dado por
+ 10 + d = 0 Þ d = -11.
2x + 5y − 4z + 1 = 0 , uma de suas normais é
Assim, a equação do plano fica: →
o vetor n = ( 2, 5, 4 ) e qualquer vetor do tipo
2x + y + 5z – 11 = 0
(2k, 5k, -4k), K Î IR* é também normal a l .

2. Escreva a equação geral do plano p1 que con-


tém o ponto A(-2, 1, 4) e é paralelo ao plano ðp22 : 3x + 2y - 4z + 1 = 0

Geometria Analítica Vetorial 77


Solução:
®
Sendo p1 // p2 , o vetor n2 = (3, 2, -4) normal a p1 é também normal a p2 . Assim
a equação de p1 é do tipo:
3x + 2y – 4z + d = 0
Se A(-2, 1, 4) pertence a p1 , devemos ter 3(-2) + 2(1) – 4(4) + d = 0 Þ d = 20
Assim a equação do plano p1 fica 3x + 2y – 4z + 20 = 0
A 3. Determine a equação geral do plano p que passa pelo ponto A = (2, 1, -2) e é
5 ìïx = -4 + 3t
ïï
perpendicular a reta r: ïíy = 1 + 2t
T ïï
ïïîz = t
1
Solução:
Um vetor normal a esse plano é o próprio ve-
®
tor diretor v (3, 2, 1) desta reta. Logo, a equação
SAIBA MAIS! do plano p é do tipo 3x + 2y + z + d = 0. Consi-
derando que o ponto A(2, 1, -2) pertence ao plano,
Para se obter pontos de um plano, basta
atribuir valores arbitrários a duas variáveis e então 3(2) + 2(1) + (-2) + d = 0 Þ d = -6. Assim,
calcular a terceira na equação. Por exemplo, a equação fica 3x + y + z – 6 = 0
considere x = 2 e y = 4. Calculando z na
equação 3x + 2y + z + d = 0 , temos 3 .(2 )
4. Determine a equação geral do plano que passa
+ 2 .(4) + z – 6 = 0; z = -8. Assim, o ponto ®
(2, 4, - 8) pertence ao plano 3x + y + z – pelo ponto A = (2, 1, 3) e é paralelo aos vetores v1
®
6 = 0. = (3, 1, 0) e v 2 = (-1, 3, 2).

Solução:
® ® ® ® ®
Os vetores-base do plano são v1 e v 2 , então um vetor normal ao plano é n = v1 x v 2 .
® ® ®
i j k
® ®
v1 x v 2 = 3 1 0 = (2, -6, 10)
-1 3 2
A equação do plano é do tipo 2x – 6y + 10z + d = 0.
O ponto A(2, 1, 3) pertence ao plano, assim 2(2) - 6(1) + 10(3) + d = 0 Þ d =
-28. A equação do plano fica 2x – 6y + 10z – 28 = 0.

5. Estabeleça a equação geral do plano determinado pelos pontos A( 3, 1, 2 ) ,


B( -1, 4, 0 ) e C( 2, 1 , -3) .

Solução:
Observe que, de acordo com a Figura 2 abaixo, um ponto P(x, y, z) pertence ao
  ®
plano l se os vetores, AB , AC e AP forem cooplanares. Na aula 4, vimos que três

78 Licenciatura em Matemática
vetores são coplanares se o produto misto desses vetores for nulo.

® ® ®
Figura 2 - Os vetores AB , AC e AP são coplanares

Considerando que AB = B - A = (-4, 3, -2), = C – A = (-1, 0, -5), A
®   ®
-4 3 -2 5
AP = P - A = (x-3, y-1, z-2 ) e fazendo ( AB , AC e AP ) = -1 0 -5
x - 3 y -1 z - 2
T
= 0 chegamos à equação -15x-18y + 3z + 57 = 0 . 1
x -1 y+2
6. Estabeleça a equação geral do plano que contém a reta r: = =
2 3
z-3
e o ponto B(-1, 3, 1).
2
Solução:
® ®
A reta tem direção v = (2, 3, 2) e contém o ponto A(1, -2, 3). Assim a normal n
® ® ®
do plano é um vetor simultaneamente ortogonal a v e A, ou seja, n = v x A (cf.
Figura 3).
 ®
Dessa forma, se AB = B – A = (-2, 5, -2) e n
i j k
® ®
= v x A = 2 3 2 Þ n = (-16, 0, 16). A VOCÊ SABIA?
-2 5 -2 Existe uma analogia entre a reta no plano
equação do plano é do tipo -16x+0y+16z+d=0, o e o plano no espaço. No plano, a equação
de uma reta pode ser determinada se
ponto B(-1, 3, 1) pertence ao plano. Assim, -16(-1)
conhecermos sua inclinação e um ponto
+ 0(3) + 16(1) + d = 0 Þ d = -32. A equação fica dessa reta. No espaço, a inclinação de um
-16x + 16z – 32 = 0. plano é dada por um vetor ortogonal a ele
Observe que a variável y não figura na equação, (normal), e a equação de um plano pode ser
determinada se forem dados a normal e um
o que significa dizer que esse plano é paralelo ao de seus pontos.
plano coordenado xz.

® ® ®
Figura 3 – A normal n é ortogonal simultaneamente a v e AB

Geometria Analítica Vetorial 79


1.2 CASO PARTICULAR
A equação ax + by + cz + d = 0 na qual a, b e c não são todos nulos representa
®
a equação de um plano p cuja normal é o vetor n = ( a, b, c ). Quando uma ou duas
®
componentes de n são nulas ou d = 0 , estamos diante de casos particulares descri-
tos a seguir.

1.2.1 PLANO QUE PASSA PELA ORIGEM


A Se o plano lð:ax + by + cz + d = 0 passa pela origem, então contém o ponto (0,
5 0, 0). Assim a.0 + b.0 + c.0 + d = 0 Þ d = 0. A equação fica ax + by + cz = 0 , que
T representa a equação de um plano que passa pela origem.
1
1.3 PLANOS PARALELOS A EIXOS COORDENADOS
®
Se apenas uma das componentes de n for nula, o vetor é ortogonal a um dos ei-
®
xos coordenados, e, portanto, o plano l é paralelo ao mesmo eixo. Se a = 0, n =(o,
®
b, c), que é ortogonal ao eixo ox. Assim o plano cuja normal é n é paralelo ao eixo
ox. Veja alguns exemplos:
® ®
10y + 6z – 30 = 0; observe que n = (0, 10, 6), logo n é ortogonal a ox e o plano
é paralelo a ox. (cf. Figura 4)
®
2x + 3y + 5 = 0; neste caso n = (2, 3, 0) é um vetor ortogonal ao eixo oz. Assim
o plano p é paralelo a oz.
®
3y + 4x = 0; neste caso n = (4, 3, 0) e além disso d = 0 , portanto o plano é pa-
ralelo ao eixo oz e passa pela origem.
Concluímos, dessa forma, que a variável ausente na equação indica que o plano
é paralelo ao eixo dessa variável.

Figura 4 – Plano π é paralelo ao eixo x

1.4 PLANOS PARALELOS A PLANOS COORDENADOS


® ®
Se duas componentes de n forem nulas, o vetor n é ortogonal a um plano coor-
®
denado. Assim o plano cuja normal é n é paralelo a esse eixo coordenado.

80 Licenciatura em Matemática
®
Observe que, se a = b = 0, n = (0, 0, c) é ortogonal ao plano xy. Assim o plano
®
cuja normal é n é paralelo ao plano xy.

Exemplo:
®
3y -15 = 0 ou y = 5; note que n = (0, 2, 0) é um vetor ortogonal ao plano xz.
Assim o plano l é paralelo ao plano coordenado xz e intercepta o eixo ox no ponto
(0, 5, 0). (cf. Figura 5)
®
A
2x + 8 = 0 ou x = -4; neste caso n = (2, 0, 0 ) representa um vetor ortogonal ao 5
plano coordenado yz. Assim o plano l é paralelo ao plano coordenado yz e inter-
cepta o eixo 0x no ponto (-4, 0, 0).
T
1

Figura 5- O plano é paralelo ao plano coordenado xz


Em síntese:
d
ax + d = 0 ou x = - é equação de um plano paralelo ao plano coordenado yz e
a
d
intercepta o eixo ox no ponto (- , 0 , 0 ) ( a ¹ 0) (cf. Figura 5).
a
d
by + d = 0 ou y = - representa a equação de um plano paralelo ao plano coor-
b
d
denado xz e intercepta o eixo oy no ponto ( 0, - , 0 ) ( b ¹ 0 ) (cf. Figura 5).
b
d
Cz + d = 0 ou z = - ( c ¹ 0 ) representa a equação de um plano paralelo ao pla-
c
d
no coordenado xy e intercepta o eixo oz no ponto ( 0, 0, - )
c
Podemos concluir que os planos coordenados xy, yz, xz têm equações z = 0, x = 0
e y = 0 respectivamente.

Exercício resolvido
1. Determine a equação de um plano l que é perpendicular ao eixo z e que con-
tém o ponto A(2, - 1, 3) .

Solução:
®
Se o plano é perpendicular ao eixo oz, a normal é colinear ao vetor k = (0, 0, 1
®
). Assim qualquer vetor do tipo v = ( 0, 0, k) é normal de p . Em particular, seja

Geometria Analítica Vetorial 81


®
n = ( 0, 0, 2 ), a equação de p é do tipo ax + by + cz + d = 0.Assim: 0 . 2 + 0 .(-1) + 2 .
3+d=0 Þ d = -6, então a equação fica 0x + 0y + 2z + (-6) = 0 Þ 2z – 6 =
0 ou z = 3, que representa um plano paralelo ao plano coordenado xoy e que inter-
cepta o eixo ou no ponto ( 0, 0, 3 ).

®
2. Determine a equação de um plano que contém o ponto A( 2, 3, 4 ) e normal n
A = (2, 3, 0).
5
Solução:
T ®
Substituindo as componentes de n e as coordenadas de A na forma ax + by + cz
1 + d = 0, temos: 2.2 + 3.3 + 0.4 + d = 0 Þ d = -13. Assim a equação fica 2x +
3y – 13 = 0, que representa um plano paralelo ao eixo oz.

Neste tópico, estudamos as condições necessárias e suficientes para determinação


da equação de um plano no espaço, além de mostrar, através de suas equações, as po-
sições particulares que eles podem assumir no espaço. No próximo tópico, comple-
taremos nosso estudo sobre plano deduzindo fórmulas que nos permitirão calcular
ângulo entre reta e plano e ângulo entre dois planos.

82 Licenciatura em Matemática
A
5
T
1
02
TÓPICO

COMPLEMENTO SOBRE PLANOS

A
5 OBJETIVOS
··Calcular o ângulo entre dois planos e entre reta e
T plano.

2 ··Determinar a interseção de dois planos.

U ma vez que já conhecemos as equações de um plano, focaremos, neste


tópico, alguns elementos que complementarão nosso estudo sobre plano
que são: ângulo entre dois planos, ângulo entre reta e plano e interseção
de dois planos.

2.1 ÂNGULO DE DOIS PLANOS


Consideremos dois planos quaisquer p1 e p2 de equações
a1x + b1y + c1z + d1 = 0 e a 2 x + b2 y + c2 z + d2 = 0 , respectivamente. Dessa forma
® ®
n1 = ( a1, b1 , c1 ) e n2 = ( a 2, b2 , c2 ) são suas normais. O ângulo entre p1 e p2 é
zero se eles forem paralelos ou coincidentes. Caso contrário, sejam q o ângulo entre
® ®
n1 e n 2 e g ângulo entre os planos p1 e p2 . De acordo com a Figura 6, β + θ = 90 º

84 Licenciatura em Matemática
e γ + β = 90 º, isto é, α = θ . Assim, o ângulo entre dois planos é igual ao ângulo
entre suas normais, ou seja:
→ →

cos θ =
n1 .n2
ou cos θ =
(a1 , b1 , c1 ). (a2 , b2 , c2 ) ou ainda
→ →
n1 . n2 a12 + b12 + c12 . a 22 + b22 + c22
a1 a 2 + b1 + b2 + c1c2
cos θ =
a12 + b12 + c12 . a 22 + b22 + c22 A
5
T
2

Figura 6 – O ângulo entre os planos é o mesmo entre suas normais

Exercício resolvido
1. Determine o ângulo entre os planos p1 e p2 ATENÇÃO!
de equações 2x + 3y + 2z – 1 = 0 e x + 2y – 4z = 0,
A condição de paralelismo e
respectivamente.
perpendicularismo de dois planos são as
Solução: mesmas de seus respectivos vetores normais,
® ® →
Suas normais são: n1 = ( 2, 3, 2 ) e n 2 = (1, 2, -4), ou seja, considerando que n1 = ( a1, b1, c1 )

e n2 = ( a2 , b2 , c2 ) , vetores normais de p1
então, se q é o ângulo entre as normais,
e p2 , respectivamente).
→ →
a 1 b1 c
n1 .n2 Se p1 // p2 Þ = = 1
cos θ = → → Þ a2 b2 c2
n1 . n2 b) Se p1 ^ p2 :
(2, 3, 2 ).( 1, 2, − 4) Þ a 1 ⋅ a 2 + b1 ⋅ b 2 + c 1 ⋅ c 2 = 0
cos θ = Þ
22 + 32 + 22 . 12 + 22 + (−4)2 c) Se, além da igualdade do item a, d1 = d2 ,
π p1 e p2 são coincidentes.
cos θ = 0 , ou seja, θ = . Assim, os planos p1
2
e p2 são ortogonais.

2. Determine o ângulo entre os planos pð11 :2x + y - 3z + 1 = 0 e


p
ð2 : 4x + 2y - 6z + 3 = 0 .

Geometria Analítica Vetorial 85


Solução:
® ®
As normais de p1 e p2 são n 1 = (2, 1, - 3) e n 2 = (4, 2, - 6) , respectiva-
2.4 + 1.2 + (-3).(-6) 28
mente. Portanto, cos θ = = = 1 , ou seja,
2 + 1 + (−3) . 4 + 2 + (−6)
2 2 2 2 2 2
784

θ = arc cos 1 = 0 o , o que significa que os planos são paralelos, ou seja, se uma reta
¾¾
®

A perpendicular aos planos p1 e p2 intercepta-os nos pontos A1 e A2 , então A1A2


5 representa a distância entre esses planos. Mas esse é um assunto para próxima aula.

T
2 2.2 ÂNGULO ENTRE RETA E PLANO
® ®
Considere uma reta r com direção do vetor v e um plano p , sendo n um vetor
normal a p conforme mostra a Figura 7.

Figura 7 - q é o ângulo entre a reta e o plano

O ângulo de reta r com plano p é o complemento do ângulo a que a reta forma


p
com a normal do plano. Tendo em vista que q + a = , então cos a = sen a . As-
2
® ® → →
v.n v.n π
sim, se cos a = ® ®
, então sen θ = → → , 0≤θ≤ .
v . n v . n 2

Exercício resolvido
x -1 y z-3
Determine o ângulo que a reta r: = = forma com o plano p : x
-2 -1 1
+ y – 5 = 0.

Solução:
® ®
A reta r tem direção do vetor v (-2, -1, 1) e n = (1, 1, 0) é um vetor de p . Assim,
→ →
v.n (-2, -1, 1 ) (1, 1, 0 ) 3
sen θ = → → Þ sen q = Þ sen θ =
v . n (-2) + (-1) + 1 .
2 2 2
1 +12 2 2

3 p
Þ θ = arc sen Þ q= .
2 3

2.3 INTERSEÇÃO DE DOIS PLANOS


Sabemos que a intersecção de dois planos não paralelos é uma reta. Um ponto per-

86 Licenciatura em Matemática
tence à reta intersecção se suas coordenadas satisfazem simultaneamente a equação
dos dois planos. Assim, a intersecção de dois planos π1 = a1x + b1y + c1z + d1 = 0
e π2 = a 2 x + b2 y + c2 z + d2 = 0 é o conjunto de todos os pontos do tipo (x,
ïìïx = x1 + at
ï
y, z ) em que ïíy = y1 + bt (t ∈  ) , o que representa a solução do sistema
ïï
ïïîz = z1 + ct
ìïïa1x + b1y + c1z + d1 = 0 A
í
ïïîa 2 x + b2 y + c2 z + d2 = 0 5
Exercício resolvido
T
2
1. Determine a intersecção dos planos p1 e p2 de equações 2x - 5y - 7z + 1 = 0
e x-4y + z + 2 = 0 , respectivamente.

Solução
ïì2x-5y - 7z + 1 = 0
Vamos resolver o sistema ïí
ïïî x - 4y + z + 2 = 0
Observe que o sistema é indeterminado, ou seja, possui infinitas soluções e cada
solução representa um ponto da reta interseção. Assim, tomando z = t com t Î IR,
chegamos a:
ïìï 2x -5 y = 7t - 1 (I)
í
ïïî x - 4y = -t-2 (II)
Multiplicando a equação (II) por (-2) e somando com a equação (I), chegamos a:
3y = 9t + 3 Þ y = 1 + 3 t
Da equação (II) temos:
x-4.(1 + 3t) = -t - 2 ou x = 2 + 11t ìïx = 2 + 11t
ïï
Assim, a interseção dos planos p1 e p2 é a reta de equação ïíy = 1 + 3t
ïï
ïïîz = t
®
Logo, a reta interseção dos planos p1 e p2 tem direção v = (11, 3, 1) e contém
o ponto A( 2, 1, 0 ) . Observe que o ponto A( 2, 1, 0 ) satisfaz as duas equações
2x - 5y - 7z + 1 = 0 e x-4y + z + 2 = 0 .

Aprendemos nesta aula como encontrar a equação de um plano que satisfaz cer-
tas condições geométricas e resolver problemas usando simultaneamente retas e pla-
nas no espaço tridimensional através das técnicas estudadas.
Na próxima aula nos restringiremos ao espaço bidimensional para o estudo de
algumas curvas planas como circulo, elipse parábola e hipérbole que terá um papel
fundamental nas aulas subseqüentes.

Geometria Analítica Vetorial 87


A
5
T
2
Aula 6 A
5
Distâncias T
Caro(a) aluno(a), 2

Após termos estudado as principais equações de reta e plano, vamos procurar, nesta
aula, utilizar nosso conhecimento sobre vetores e desenvolver fórmulas que nos
permitam calcular distâncias que envolvam pontos retas e planos no espaço.

Objetivo:
• Calcular distâncias relacionadas a ponto reta e plano.

89
01
TÓPICO

DISTÂNCIA ENVOLVENDO PONTO E RETA

A
6 OBJETIVOS
··Obter distâncias entre ponto e reta.
T ··Obter distâncias entre retas paralelas e distâncias
1 entre retas reversas.

N este tópico abordaremos as demonstrações e aplicações de algumas fór-


mulas que nos permitem calcular distâncias entre ponto e reta e distância
entre retas reversas.

1.1 DISTÂNCIA DE UM PONTO P A UMA RETA R


Dados um ponto P e uma reta r, a distância do ponto P à reta é o menor com-
primento do segmento PQ onde Q é um ponto da
reta r. Esse menor comprimento é atingido quando
¾¾
®
o vetor PQ é ortogonal ao vetor diretor da reta r.
SAIBA MAIS!
Observe que, neste caso, considerando um ponto R
Para saber mais sobre distâncias entre ponto da reta r, os pontos P, Q e R formam um triângulo
e reta, acesse o site disponível no material
retângulo em que PQ e RQ são os catetos. Assim, se
web.
q é o ângulo entre RQ e RP , temos:


PQ ¾¾
® ¾¾
®
sen θ = 

ou PQ = RP . sen q
RP
¾¾
® ¾¾
®
Tendo em vista que sen q £ 1 , então PQ £ RP , o que prova nossa afirmação.

90 Licenciatura em Matemática
Vejamos agora como determinar a distância entre um ponto e uma reta no espaço.
Para tanto consideremos uma reta r que contém o ponto R ( x1 , y1 , z1 ) e direção
®
do vetor v = ( a, b, c ) e seja P ( x 0 , y 0 , z0 ) um ponto qualquer do espaço. Ob-
® ®
serve na figura 1 que os vetores v e RP representam os lados de um paralelogramo
cuja altura é a distância do ponto P à reta r.

A
6
T
1


Figura 1 – PQ representa a distância entre o ponto P e a reta r

Tendo em vista que a área do paralelogramo é


dada pelo produto da base pela altura:
®
( I ) Área = v .d
Vimos na aula 4 que a área do paralelogramo po-
SAIBA MAIS!
de ser representada pelo módulo do produto veto- Relembre os conceitos de paralelogramo,
rial dos vetores que representam os lados desse po- acessando o site disponível no material web.
lígono. Assim:
® ®
( II ) Área = v x RP
Comparando as expressões ( I ) e ( II ):
® ® ® ®
® ® ® v x RP v x RP
v .d = v x RP Þ d = ®
ou d ( P, r ) = ®
v v

Exercícios resolvidos
1. Calcule a distância ente o ponto P ( 2, -3, 1 ) e a reta r de equação:
ïìïx = 2 + t
ïï
íy = 1 - 2t
ïï
ïïîz = 4

Solução:
®
Considere R ( 2, 1, 4 ) um ponto da reta r e v = ( 1, -2, 0 ) sua direção.
®
RP = P - R = ( 0, -4, -3 )

Geometria Analítica Vetorial 91


i j k
® ®
v x RP = 1 -2 0 = ( 6, 3, -4 )
0 -4 -3

Assim,
( 6, 3, -4 ) 61 61
d ( P, r ) = = =
( 1, -2, 0 ) 5 5
A
6 2. Calcule a área do triângulo cujos vértices são os pontos A ( 1, 2, 3 ) , B ( -2, 0, 5 )
e C ( 2, 4, 1 ).
T
1 Solução:
___ ®
A reta suporte do lado BC tem direção do vetor BC = C - B = ( 4, 4, -4 ) .
___
Assim, a equação da reta BC que passa pelo ponto B e tem direção do vetor
ìïx = -2 + 4t
® ïï
BC = ( 4, 4, -4 ) e ïíy = 4t
ïï
ïïîz = 5 - 4t
___
A altura h do triângulo ABC, relativa ao lado BC , é a distância do ponto A à reta
___
BC , ou seja:
® ®
« BC x BA
h = d ( A, BC ) = ®
BC
®
Considerando que BA = A - B = ( 3, 2, -2 ) :
i j k
® ®
BC x BA = 4 4 -4 = ( 0, -4, -4 )
3 2 -2
« ( 0, -4, -4 ) 32 2
Assim, h = d ( A, BC ) = = =
( 4, 4, -4 )) 48 3
A área do triângulo é a metade do produto da base pela altura. Considerando a
®
2
altura h = e a base BC = 48 , temos:
3
2 2
48 . 4 3.
Área = =3 = 2 2 3
2 2
Uma outra maneira de resolver esse problema é dividir por 2 o módulo do produ-
® ®
to vetorial dos vetores AB e AC , ou seja:
® ®
AB x AC ® ®
Área D = , tendo em vista que AB x AC nos dá a área do para-
2

92 Licenciatura em Matemática
® ®
lelogramo de lados AB e AC .
Sendo:
®
ATENÇÃO!
AB = B - A = ( -3, -2, 2 ) ,
®
A distância entre dois pontos A e B
AC = C - A = ( 1, 2, -2 ) , temos: →
corresponde ao módulo do vetor AB , ou
→
i j k
® ®
seja: d ( A,B) = AB .
A
AB x AC = = ( 0, -4, -4 )
-3 -2 2
6
1 2 -2
® ® T
Substituindo na fórmula Área D =
AB x AC
, chega-se a: 1
2
( 0, -4, -4 ) 16 + 16 32
Área D = = = = 2 2
2 2 2

1.2 DISTÂNCIA ENTRE DUAS RETAS


® ®
Sejam P e Q pontos das retas r e s, respectivamente, e u e v os vetores diretores
de r e s, respectivamente.
Suponhamos, inicialmente, que as retas r e s sejam paralelas. Neste caso a dis-
tância d entre elas é igual à distância de um ponto qualquer P de uma delas a outra
reta, isto é:
d (r, s) = d (P, s ) se P Î r ou d (r, s) = d (P, r) se P Î s
Observe que o cálculo da distância entre duas retas paralelas se reduz ao cálculo
de um ponto a uma reta.

Exercício resolvido ïìï x = 3 + 2t ïìï x = 1 + 4t


ïï ï
Calcule a distância entre as retas r í y = 1 + 3t e s ïí y = 2 + 6t
ïï ïï
ïïî z = 4- t ïïî z = -1 - 2t

Solução:
®
As retas são paralelas, pois um vetor diretor de r é u = (2, 3, - 1) e um vetor di-
 ® ®
retor de s é v = (4, 6,−2) . Assim, v = 2u .
Calculemos a distância entre r e s por d (r, s) = d (P, s ) .
Um ponto de r é P ( 3, 1, 4 ) e s passa por Q ( 1, 2,- 1 ) e tem direção do vetor

v = (4, 6,−2) . Assim:
® ®
v x QP
d ( P,s ) = ®
, como mostra a figura 2.
v

Geometria Analítica Vetorial 93


®
Tendo em vista que QP = P - Q = (-2, 1, -5) , temos:
(4, 6, -2) x (-2, 1, -5) (-28, 16, 16) 36
d ( P,s ) = = =
(4, 6, -2) (4, 6, -2) 2 14
9 14
ou d ( P,s ) =
7
A
6
T
1
Figura 2 – Distância do ponto P à reta s
Suponhamos agora que as retas r e s sejam reversas. Seja r definida por um
®
ponto Q1 (x1 , y1 , z1 ) e pelo vetor v1 = (a1 , b1 , c1 ) e a reta s definida pelo ponto
®
Q2 (x2 , y2 , z2 ) e pelo vetor diretor v2 = (a 2 , b2 , c2 ) . Observe na figura 3 que os
® ® ¾¾
®
vetores v1 , v2 e Q1Q2 determinam um paralelepípedo cuja base é definida pelos
® ®
vetores v1 , v2 e a altura corresponde à distância d entre as retas r e s ou entre os
planos paralelos que as contêm.

VOCÊ SABIA?

Duas retas são ditas reversas quando uma


não tem interseção com a outra e elas não
são paralelas. Neste caso elas estão em
planos diferentes. Podemos pensar em uma
reta r desenhada no chão de uma casa e uma Figura 3 - d representa a distância entre as retas reversas r e s
reta s, não paralela a r, desenhada no teto O volume V do paralelepípedo da figura 3 é da-
dessa mesma casa.
do por:
I ) V = (Área da abase) . ( altura )
® ® ¾¾
®
II ) V = v1 , v2 , Q1Q 2 (veja na aula 4)
® ®
Tendo em vista que (Área da abase) . ( altura ) = v1 x v 2 . d e comparando I
® ® ¾¾
®
® ® ® ® ¾¾
® v1 , v2 , Q1Q 2
e II, chega-se a: v1 x v2 . d = v1 , v2 , Q1Q 2 ou d= ® ®
v1 x v2

94 Licenciatura em Matemática
Exercício resolvido
ïìï x = 1-3t ïìï x = -2 + 5t
ïï ï
Calcule a distância entre as retas r í y = 3-6t e s ïí y = 2 - t
ïï ïï
ïïî z = 3-4t ïïî z = -1 + 3t
Solução:
®
A reta r passa pelo ponto Q1 ( 1, 3, 3 ) e tem direção do vetor v1 = (-3, - 6, - 4) ,
®
e a reta s passa pelo ponto Q2 ( -2, 2, -1 ) e tem direção do vetor v2 = ( 5, - 1, 3 ) .
A
¾¾
®
Assim, Q1Q2 = Q2 - Q1 = (-3, -1, -4) . 6
® ®
i j k T
v1 x v2 = -3 -6 -4 = (-22, 11, 33) 1
5 -1 3 VOCÊ SABIA?

i j k Se calcularmos a distância
® ®
(I) v1 x v2 = -3 -6 -4 = (-22, 11, 33) entre duas retas concorrentes,
o resultado será zero, pois a
5 -1 3
menor distância entre duas retas
concorrentes é calculada no ponto
= (-22)2 + 112 + 332 = 1694 = 11 14 (II)
de concorrência.
-3 -6 -4
® ® ¾¾
®
v1 , v2 , Q1Q2 = 5 -1 3 = -55 = 55 ( III )
-3 -1 -4
® ® ¾¾
®
v1 , v2 , Q1Q 2
Substituindo (I), ( II ), e ( III ) na fórmula d (r,s) = ® ®
, temos:
v1 x v2
55 5 5 14
d (r,s) = = =
11 1 4 14 14

Este problema também pode ser resolvido calculando-se a distância de um ponto


qualquer de uma das retas ao plano que contém a outra reta, tendo em vista que os
planos que contêm cada uma delas são paralelos.
No caso apresentado no exercício anterior, estaríamos calculando a distância en-
tre ponto e reta, assunto do nosso próximo tópico.

Geometria Analítica Vetorial 95


02
TÓPICO

DISTÂNCIAS ENVOLVENDO PONTO E PLANO

A
6 OBJETIVOS
··Obter distâncias entre ponto e plano.
T ··Obter distâncias entre retas e planos.
2

N este tópico focaremos nosso estudo em distâncias relacionadas a ponto e


planos e retas e planos quando os mesmos são paralelos.

2. 1 DISTÂNCIA DE UM PONTO P A UM PLANO


Considere um plano p , um ponto P fora desse plano e um vetor ortogonal a esse
plano (vetor normal ao plano). A distância entre o ponto P e o plano p é a menor
das distâncias entre P e Q, onde Q é um ponto desse plano. Assim como no caso da
distância de um ponto a uma reta (tópico 1), essa menor distância ocorre quando o
¾¾
® ¾¾
®
vetor QP é ortogonal ao plano, ou seja, quando o vetor QP é paralelo a normal
do plano p .

96 Licenciatura em Matemática
®
Assim, sejam P (x1 , y1 , z1 ) , A (x, y, z) e n = ( a, b, c ) um ponto conhecido,
um ponto qualquer e a normal do plano, respectivamente, a distância d (P, p) entre
®
o ponto P e o plano p é representada pelo módulo da projeção ortogonal de AP na
®
direção de n , como mostra a figura 4.

A
6
T
2
®
Figura 4 - PQ representa a distância do ponto ao plano

Assim, temos:
® ®
® AP . n
d (P, p) = proj ® AP = ®
,
n
n VOCÊ SABIA?
®
com AP = P - A = ( x1 - x, y1 - y, z1 - z ) .
® A A geodésica é uma curva de
AP = ( x1 - x, y1 - y, z1 - z 1 )
Substituindo
6 e comprimento mínimo que une
dois pontos. No espaço euclidiano
®
n = ( a, b, c ) na equação acima, temos:
T (geometria plana), essa curva é
um segmento de reta, mas, na
(x1 -x, y1 - y, z1 - z ). ( a, b,2c )
d (P, p) = geometria riemaniana, a curva de
(a, b, c ) menor distância entre dois pontos
pode não ser uma reta.
a.( x1 -x ) + b ( y1 - y) + c ( z1 - z )
d (P, p) =
a 2 + b2 + c2
ax1 + by1 + cz1 - ax - by - cz
d (P, p) =
a 2 + b2 + c2
ax1 + by1 + cz1 + d
Mas ax - by - cz = d , assim d (P, p) = .
a 2 + b2 + c2
Observe que o numerador é o módulo do número que se obtém substituindo x,
y e z, na equação do plano, por x1 , y1 , e z1 e o denominador é o módulo do vetor
®
n (normal do plano).

Exercícios resolvidos
1 Calcule a distância do ponto P ( -4, -2, 5 ) ao plano de equação
2 x-y +2 z +8 = 0 .

Geometria Analítica Vetorial 97


Solução:
Neste caso temos:
a) As coordenadas do ponto P são: x1 = -4 , y1 = -2 e z1 = 5
®
b) As componentes da normal n são: a = 2 , b = -1 e c = 2
ax1 + by1 + cz1 + d
Substituindo esses números na equação d (P, p) = , te-
a 2 + b2 + c2
mos:
A 2.(-4) + (-1).(-2) + 2.5 + 8
6 d (P, p) =
22 + (-1)2 + 22
T ATENÇÃO! -8 + 2 + 10 + 8 12
2 d (P, p) =
4 +1 + 4
=
3
Qualquer uma das alturas de um tetraedro d (P, p) = 4
pode ser obtida calculando-se a distância de
um dos seus vértices ao plano da face oposta 2. Calcule a distância da origem ( 0, 0, 0) ao

plano de equação 2x + 3y - z + 5 = 0 .

Solução:
De modo semelhante ao exemplo anterior, temos:
a.0 + b.0 + c.0 + d
d (0, p) =
22 + 32 + (-1)2
5 5
d (0, p) = =
14 14
Observe que, se o ponto P for a origem ( 0, 0, 0) , a fórmula da distancia se re-
d
sume a d (P, p) = .
a + b2 + c2
2

2.2 DISTÂNCIA DE UMA RETA A UM PLANO


A distância entre uma reta e um plano somente é definida quando a reta é parale-
la ao plano. Assim, se uma reta é paralela a um plano, a distância d da reta ao plano
corresponde à distância de um ponto dessa reta ao plano. Dessa forma:
d (r, p ) = d(P, p ) quando P Î r ( cf. Figura 5 )

Figura 5 – A distância da reta r ao plano é a distância de P ao plano

98 Licenciatura em Matemática
Exercício resolvido
ïìï x = 1 + 2t
ï
Calcule a distância da reta r ïí y = t e o plano
ïï
p : 3x-2y-z + 3 = 0 ïïî z = -2 + 4t

Solução: VOCÊ SABIA?


Observe que a reta r é paralela ao plano dado, já que o
®
Se calcularmos a distância entre
vetor diretor da reta v = ( 2, 1, 4 ) é ortogonal à normal uma reta e um plano não paralelos, A
® ®
n = ( 3, - 2, - 1 ) , ou seja, n . v = 0 .
® o resultado será zero, pois a menor
distância entre uma reta e um plano
6
Um ponto da reta é P (1, 0, -2 ) . Assim, calculando a não paralelos é calculada no ponto
de interseção.
T
distância do ponto P ao plano p , temos:
2
3 . (1) + (-2 ).(0) + (-1).(-2) + 3
d (P, p) =
32 + (-2)2 + (-1)2
3 +0+2+3 8 4 14
d (P, p) = , d (P, p) = =
9 + 4 +1 14 7
Observe que, se tomarmos um outro ponto da reta, o resultado será o mesmo.
Veja:
Substituindo t = 1 , na equação da reta, encontramos um outro ponto P' ( 3, 1, 2 )
3.x1 + ( -
3.(3) −2)y
2).(11 )++(-
(−1)z
1).(1 2+) +
33
que, quando substituído na equação dd(P(P,’, π
p) = , nos
33 ++(-
22
(−2)2) ++(-
22
(−1)1)
22
dá:
3.(3) + ( − 2).(1) + (−1).(2) + 3
d (P ’, π) =
32 + (−2)2 + (−1)2

9 −2−2 + 3 8 4. 14
d (P ’, π) = = =
9 + 4 +1 14 7

2.3 DISTÂNCIA ENTRE DOIS PLANOS


A distância entre dois planos paralelos p1 e p2 é igual à distância de um ponto
qualquer de um dos planos ao outro. Dessa forma a distância entre dois planos se
reduz à distância de um ponto a um plano. Assim:
d (p1 , p2 ) = d(P1 , p2 ) quando P1 Î p1 ou
d (p1 , p2 ) = d(P2 , p1 ) quando P2 Î p2 ( cf. Figura 6 )

Figura 6 – A distância entre dois planos é definida apenas para planos paralelos

Geometria Analítica Vetorial 99


Exercícios resolvidos
1. Calcule a distância entre os planos:
p1 : 2x - y + 3z + 1 = 0
SAIBA MAIS! p2 : 6 x - 3y + 9z - 5 = 0

Leia o texto “Retas e planos”, da Universidade Solução:


Federal de Minas Gerais, e obtenha mais Veja que os planos p1 e p2 são paralelos, pois
A informações sobre este assunto. Link ® ®
n2 = 3.n1 .
6 disponível no material web.
Para escolher um ponto de um dos planos (diga-
T mos do plano p1 ), atribuímos dois valores a duas variáveis quaisquer na equação
2 p1 : 2x - y + 3z + 1 = 0 e encontramos a terceira coordenada.
Tomando, por exemplo, x = 2 e z = -3 e substituindo na equação do plano p1 ,
encontramos y = -4. Assim o ponto P1 ( 2,-4, - 3 ) pertence a p1 .
Calculando d (p1 , p2 ) = d(P1 , p2 ) , temos:
6 . (2) + (-3 ).(-4) + 9(-3) - 5
d (P1 , p2 ) =
62 + (-3)2 + 92
12 + 12 - 27 - 5
d (P1 , p2 ) =
36 + 9 + 81
12 + 12 - 27 - 5
d (P1 , p2 ) =
36 + 9 + 81
8 8
d (P1 , p2 ) = =
126 3 14

Nesse tópico estudamos e conhecemos as fórmulas e conceitos necessários para


o cálculo das distâncias entre ponto e reta, reta e plano. Em nossa próxima aula, es-
tudaremos as curvas planas.

100 Licenciatura em Matemática


Aula 7 A
6
Cônicas T
Caro(a) aluno(a), 2

Todas as equações que estudamos nas aulas anteriores envolvem termos do primei-
ro grau nas variáveis x, y e z. Nesta aula, estudaremos as curvas planas, representa-
das por equações do segundo grau apenas nas variáveis x e y, denominadas: círculo,
elipse, parábola e hipérbole.

Objetivo:
• Identificar, interpretar e analisar as cônicas através de suas equações.

101
01
TÓPICO

ELIPSE E CÍRCULO
A
7 OBJETIVOS
··Descrever a elipse e o círculo como lugar
T geométrico.

1 ··Esboçar o gráfico do círculo e da elipse a partir de


suas equações.
··Identificar os parâmetros a, b e c, da elipse, e a sua
excentricidade.
··Determinar as coordenadas dos focos e dos
vértices de uma elipse a partir de sua equação.

VOCÊ SABIA?

Por volta do ano 200 a.C., o matemático


grego Apolônio deixou registrado o primeiro
estudo a respeito das propriedades da
elipse, hipérbole e parábola em seu trabalho
chamado As cônicas. Apolônio chamou de
cônicas as curvas que podem ser obtidas
N
cartesiano.
este tópico estudaremos as elipses e os
círculos, através de suas equações, quan-
do possuírem centro na origem do plano

quando um plano intercepta um cone reto


duplo. Apolônio estudou as cônicas apenas
pelo simples prazer de pesquisa. Durante 1.1 ELIPSE
aproximadamente 18 séculos, não houve
estudos detalhado sobre aplicações das DEFINIÇÃO:
cônicas no mundo físico. Porém, pesquisas
Elipse é o lugar geométrico de todos os pontos
de físicos e astrônomos foram mostrando
aplicações do estudo de Apolônio no mundo p ( x, y ) do plano cuja soma das distâncias a dois
em que vivemos. pontos fixos F 1 e F 2 do mesmo plano é constante.

102 Licenciatura em Matemática


Assim, se 2c for a distância entre F 1 e F 1 e considerando P
um ponto qualquer do plano, a desigualdade triangular nos
¾¾
® ¾¾
® ¾¾
®
garante que F 1F 2 £ F 1P + F2 P (veja Figura 1). Dessa SAIBA MAIS!
¾¾
® ¾¾
®
forma a equação F 1P + F2 P = 2a é a equação de uma Acesse o site disponível no material
web e saiba mais sobre as figuras
elipse com focos nos pontos F 1 e F 1 se, e somente se, a > c . geométricas que representam um A
lugar geométrico. 7
T
1

SAIBA MAIS!
Figura 1- Elipse de focos F1 e F2 Conheça mais sobre as Leis de
Kepler acessando o site disponível
no material web.
• F 1 e F 2 são os focos

®
• F1 F2 = 2c é a distância focal

• A1A2 = 2a é o eixo maior

• B1B2 = 2b é o eixo menor

• A1 ,A2 , B1 e B2, são os vértices VOCÊ SABIA?


c
• e = é a excentricidade ( 0 < e < 1 ) A elipse está associada à órbita
a dos planetas em torno do Sol.
Essa figura se relaciona com as
• a 2 = b2 + c2 (triângulo F1 0B ) três leis da Astronomia, as leis dos
® ®
movimentos dos planetas, que
• F1 P e F2 P são os raios focais. revolucionaram o pensamento
científico da época e permitiram,
inclusive, o desenvolvimento da
1.2 EQUAÇÕES DA ELIPSE COM EIXOS Teoria da Gravitação Universal
por Izaac Newton. Essas leis foram
CONTIDOS NOS EIXOS COORDENADOS E O descobertas pelo matemático,
CENTRO NA ORIGEM físico e astrônomo alemão Johannes
Determinaremos uma equação para elipse no caso parti- Kepler (1571-1727).
cular em que os eixos estão contidos nos eixos coordenados.
Neste caso temos duas possibilidades:

Geometria Analítica Vetorial 103


a) O eixo maior está contido no eixo 0x (cf. Figura 2)

A
7
Figura 2 – Elipse com focos no eixo 0x
T
1 Dessa forma F 1 ( - c, 0) e F 2 ( c, 0) , e a equação
®
F1 P +
®
F2 P = 2a

pode ser escrita como (x + c)2 + y2 + (x - c)2 + y2 = 2a ou


(x + c)2 + y2 = 2a - (x - c)2 + y2 .
Elevando ao quadrado os dois membros da equação, temos:
(x + c)2 + y2 = 4a 2 - 4a (x - c)2 + y2 + (x - c)2 + y2 .
Simplificando, chegamos a:
4 cx - 4a 2 = -4 a (x - c)2 + y2 .
Dividindo os dois membros da equação por 4, elevando ao quadrado novamente
e considerando que a 2 = b2 + c2 ou b = a 2 - c2 , chegamos a b2 x2 + a 2 y2 = a 2b2
x2 y2
ou + = 1 , que representa a equação da elipse.
a2 b2
Examinando esta equação, concluímos que:
i) A elipse de focos nos pontos ( - c , 0 ) , ( c , 0 ) é simétrica em relação aos ei-
xos 0x e 0y , ou seja, se (x , y) pertence à elipse, então os pontos (-x , y) , (x , -y)
e (-x ,- y) pertencem também à elipse;
ii) Os eixos 0x e 0y interceptam a elipse nos pontos A1 ( -a , 0 ) , A2 ( a , 0 ) ,
B1 ( 0 , -b ) e B2 ( 0 , b ) , respectivamente, que são os vértices da elipse;
iii) Se F1 = F2 = C , então a elipse reduz-se ao círculo de centro no ponto C e raio
a. Além disso, a excentricidade e = 0 .

b) O eixo maior está contido no eixo 0y .


Neste caso os focos F 1 e F 2 pertencem ao eixo 0y . Assim, F 1 (0, - c) e
F 2 ( 0, c) .
® ®
De modo análogo ao anterior, substituindo F 1 e F 2 em F1 P + F2 P = 2a ,
2 2
x y
chegamos a + = 1.
b2 a2

104 Licenciatura em Matemática


Note que a > b, pois a 2 = b2 + c2 .

1.3 CÍRCULO

DEFINIÇÃO: GUARDE BEM ISSO!


O círculo (ou circunferência) de raio r e centro

Na elipse, a equação
x2 y2 c
+ 2 se b = = 0 ,
A
c ( a, b ) é o lugar geométrico dos pontos p ( x, y ) a 2
b a 7
®
então c = 0 . Assim a = b , e a equação
do plano que satisfazem a equação p c = r , ou
x2 y2 x2 y2 T
seja:
+
a2 b2
=1 fica +
a2 a2
=1 ou
1
x 2 + y 2 = a2 , que representa a equação de
( x - a, y - b ) = r
um círculo de raio a.
ou
2
( x - a ) + ( y - b ) = r2 .
2

Se o centro é o ponto ( 0, 0 ) , a equação fica x2 + y2 = r2 .

Se o centro do círculo é o ponto C(h, k), por meio de uma translação de eixos (te-
ma abordado na aula 8) chegamos à equação (x - h)2 + (y - k)2 = r2 .

Exercícios resolvidos
1. Encontre os centros e o raio dos seguintes círculos:
a) x2 + y2 + 6x - 8y = 0
b) x2 + y2 - 6y = 0

Solução:
a)xx2 2 ++yy2 2 ++6x Þ ( (xx2 2 ++6x
8y==00 Þ
6x- -8y 6x++99) )++( (yy2 2- -8y
8y++1616) ) ==2525

y2 - 8y + 16 ) = 25
Fatorando os trinômios, temos:
( x + 3 )2 + ( y - 4 )2 = 52 .
Portanto o centro é o ponto ( -3, 4 ) e raio r = 5 .
b) x2 + y2 - 6y = 0 Þ x2 + ( y2 - 6x + 9 ) = 9
A equação acima fatorada tem a forma:
( x2 - 0 ) + ( y2 - 3 ) = 32 , que representa a equação de um círculo de centro
no ponto ( 0, 3 ) e raio r = 3 .
2. Seja a elipse de focos F1 ( 6, 0 ) e F2 ( -6, 0 ) e eixo menor de comprimento 10,
obtenha a equação da elipse.

Geometria Analítica Vetorial 105


Solução:
x2 y2
A elipse tem equação + = 1.
a2 b2
2 b = 10 Þ b = 5
®
2c = F1F2 Þ c = 12

Tendo em vista que b2 = c 2 - a 2 ou a 2 = b2 + c 2 , temos


A a = 5 + 12
2 2 2
Þ a = -13 ou a = + 13 ( -13 não serve, pois a > 0 ). En-
7 tão fica:
x2 y2 x2 y2
T 132
+
52
= 1 ou
169
+
25
= 1
1

3. Seja a elipse com eixo maior de extremidade A1 ( 0, 10 ) e A2 ( 0, -10 ) e eixo


menor de extremidade B1 ( 8, 0 ) e B2 (- 8, 0 ) , determine a equação dessa elipse.

Solução:
x2 y2
A1A2 é o eixo y. Assim a elipse tem equação + = 1
b2 a2
®
2a = A1A2 Þ 2a = 20 Þ a = 10
®
2b = B1B2 Þ 2b = 16 Þ b = 8
x2 y2
Então a equação da elipse é + = 1.
64 100

Neste tópico focamos nosso estudo nas elipses com centro na origem do plano
cartesiano e eixos (eixo maior e eixo menor) paralelos aos eixos coordenados. Na au-
la 8, veremos que podemos obter, por meio de uma translação ou rotação de eixos, a
equação de uma elipse com centro fora da origem do plano cartesiano e eixos oblí-
quos aos eixos coordenados, onde suas equações se apresentam de uma forma mais
completa.

106 Licenciatura em Matemática


A
7
T
1
02
TÓPICO

HIPÉRBOLE E PARÁBOLA

A
7 OBJETIVOS
··Descrever a hipérbole e a parábola como lugar
T geométrico.

2 ··Esboçar o gráfico da hipérbole e parábola a partir


de suas equações.
··Determinar as coordenadas dos focos e dos
vértices de uma hipérbole a partir de sua equação.

N este tópico estudaremos as parábolas e hipérboles, através de suas equa-


ções nas formas mais simples, ou seja, quando possuírem centro na ori-
gem do plano cartesiano. A forma completa da equação do segundo grau
representa uma cônica com centro fora da origem do plano cartesiano e cujo eixo de
simetria não é paralelo a nenhum dos eixos coordenados, mas esse assunto deixare-
mos para próxima aula.

2.1 HIPÉRBOLE
Chama-se hipérbole com focos F 1 e F 2 o lugar geométrico dos pontos P do
¾¾
® ¾¾
®
plano, tais que F1P - F2 P é uma constante (veja figura 1).
No triângulo F1PF2 (Figura 1), a desigualdade triangular nos permite concluir

108 Licenciatura em Matemática


¾¾
® ¾¾
® ¾¾
® ¾¾
® ¾¾
® ¾¾
®
que F2 P + F1F2 ³ F1P ou F1P - F2 P £ F1F2 .
¾¾
® ¾¾
® ¾¾
®
Fazendo F1F2 = 2c , então F1P - F2 P = ±2a é a equação da hipérbole com
focos F 1 e F 2 se, e somente se, 0 < a < c .

A
7
T
ATENÇÃO! 2
Figura 3 – Hipérbole de focos F1 e F2 A hipérbole, ao rodar em torno de um dos
eixos de simetria, gera uma superfície que
tem o nome de hiperbolóide de revolução.
Os elementos da hipérbole são:
Acesse o site disponível no material web e
• F 1 e F 2 são os focos obtenha mais informações sobre as principais
¾¾
® superfícies de revolução.
• F1F2 é a distância focal

• A1 ,A2 , B1 e B2, são os vértices

• A1A2 = 2a é o eixo real

• B1B2 = 2b é o eixo imaginário se, e somente se, c2 = a 2 + b2

• O ponto médio de F1F2 é o centro da hipérbole


c
• e = é a excentricidade ( c > a \ e > 1 )
a
¾¾® ¾¾®
• F1P e F2 P são os raios focais.

2.2 EQUAÇÕES DA HIPÉRBOLE COM EIXOS CONTIDOS NOS EIXOS


COORDENADOS E CENTRO NA ORIGEM
Temos dois casos a considerar:
a) Os focos estão sobre o eixo 0x (cf. figura 3)
Neste caso F1 ( - c , 0 ) , F2 ( c , 0 ) e P( x , y ) um ponto qualquer do plano.
¾¾
® ¾¾
®
A equação F1P - F2 P = ±2a nos dá (x + c)2 + y2 - (x - c)2 + y2 = ± 2a .
Efetuando os cálculos semelhantes aos da dedução da equação da elipse e consi-
x2 y2
derando que c2 = a 2 + b2 , chegamos à equação 2 - 2 = 1 .
a b

Geometria Analítica Vetorial 109


Examinando esta equação, concluímos que:
i) A hipérbole de focos nos pontos ( - c , 0 ) , ( c , 0 ) é simétrica em relação aos
eixos 0x e 0y , ou seja, se (x , y) pertence à hipérbole, então os pontos (-x , y) ,
(x , -y) e (-x ,- y) pertencem também à hipérbole;
ii) O eixo 0x intercepta a hipérbole nos pontos A1 ( -a , 0 ) e A2 ( a , 0 ) , que
são os vértices da hipérbole. O eixo 0y não intercepta a cônica, pois a equação nos
A diz que x2 ³ a 2 .
7
O eixo maior está contido no eixo 0y
T Neste caso, os focos F 1 e F pertencem ao eixo 0y . Assim F 1 (0, - c) e
2 F 2 ( 0, c) .
2

® ®
De modo análogo ao item a, substituindo F 1 e F 2 em F1 P - F2 P = ± 2a ,
2 2
y x
chegamos a - = 10.
a2 b2

2.3 ASSÍNTOTAS DA HIPÉRBOLE


Considere um retângulo com centro na origem do plano cartesiano e lados de
comprimentos 2a e 2b. As retas que contêm as diagonais desse retângulo são chama-
das de assìntotas da hipérbole (veja figura 2).

GUARDE BEM ISSO!


Figura 4 – Representação das assíntotas da hipérbole
A excentricidade da hipérbole está
diretamente relacionada com a sua abertura,
ou seja, quanto maior a excentricidade, mais À medida que x cresce, a hipérbole se aproxi-
abertos estarão os ramos da hipérbole. ma de suas assíntotas, ou seja, os ramos da hipérbole
se aproximam dessas retas, mas sem tangenciá-las ou
interceptá-las.
b b
As assíntotas são retas representadas pelas equações y = x e y = - x .
a a
Exercícios resolvidos
1. Seja a hipérbole de focos F 1 (-5, 0 ) e F 2 ( 5, 0 ) e eixo real de comprimen-
to 8,
a) Determine a equação dessa hipérbole;

110 Licenciatura em Matemática


b) Esboce a hipérbole e obtenha os extremos dos eixos real e imaginário.

Solução:
x2 y2
A hipérbole tem equação do tipo 2
- 2 = 1 , pois os focos estão conti-
a b
dos no eixo 0x .
Assim,
¾¾
®
2c = F1F2 = 10 Þ c = 5
A
2a = 8 Þ a = 4
7
Substituindo c = 5 e a = 4 em c2 = a 2 + b2 , encontramos b = -3 (não serve,
pois b > 0 ) ou b = 3 . T
Logo, a hipérbole tem equação
x2
-
y2
= 1. 2
16 9

Figura 5 – O eixo real mede 8 e o imaginário mede 6

Observe na figura que o eixo real tem extremos A1 (-4, 0) e A2 (4, 0) e o eixo ima-
ginário tem extremos B1 (-3, 0) e B2 (3, 0) .

2. Seja a hipérbole de equação 9x2 - 7y2 - 63 = 0 , determine:


a) a medida dos semieixos.
b) os vértices
c) os focos
d) a excentricidade
e) as equações das assíntotas

Solução:
x2 y2
Inicialmente vamos colocar a equação na forma - 2 = 1
2 2
a2 b
y x
ou - 2 = 1 . Para isso dividimos todos os termos da equação
a2 b
9x2 - 7y2 - 63 = 0 por 63.

9x2 7y2 63 x2 y2
- - = 0 ou - = 1 , que representa a equação de uma hipér-
63 63 63 7 9
bole com eixo real sobre o eixo x e centro na origem.

Geometria Analítica Vetorial 111


a) cálculo das medidas dos semieixos
a2 = 7 \ a= 7
b =9
2
\ b=3
b) vértices
A1 ( -a , 0 ) , A2 ( a , 0 ) , B1 ( 0 , -b ) e B2 ( 0 , b ) ou A1 ( - 7 , 0 ) , A2 ( 7, 0 ) ,
B1 ( 0 , -3 ) e B2 ( 0 , 3 )
A c) focos
7 Para determinar os focos, precisamos do valor de c:
c2 = a 2 + b2 Þ c2 = 7 + 9 ou c = 4
T Logo, os focos são F 1 (-4, 0 ) e F 2 ( 4, 0 )
2
d) excentricidade
c 4
e= =
a 7
e) equação da assíntota
b b 3
y = x e y =- x \ y=± x ou ±3x - 7y = 0
a a 7

2.4 PARÁBOLA
Seja uma reta r e F um ponto não situado sobre r, ambos no mesmo plano. Chama-
-se parábola com diretriz r e foco F o lugar geométrico dos pontos P equidistantes
de r e F (veja figura 4). Assim, um ponto P pertence à parábola se, e somente se,
¾¾
® ¾¾
®
PF = PD .

Figura 6 – Parábola de foco F e vértice V

GUARDE BEM ISSO! Os elementos da parábola são:


F é o foco;
A parábola, ao rodar em torno do seu eixo de
D é a diretriz (reta fixa);
simetria, gera uma superfície parabólica ou
¾¾
®
parabolóide. DV é o eixo de simetria;
V é o vértice (ponto médio de FV , FV / / r ).

112 Licenciatura em Matemática


2.5 EQUAÇÕES DA PARÁBOLA COM FOCO NO EIXO
COORDENADO
Determinaremos uma equação no caso particular em que o eixo da parábola está
contido no eixo coordenado.Temos, então, duas possibilidades:
a) O eixo de simetria da parábola está contido no eixo 0x e o vértice é o ponto
V(0, 0), como mostra a figura 5.
A
7
T
2

Figura 7 – Parábola de vértice na origem e foco no eixo 0x

¾¾
® ¾¾
®
Neste caso, F( a, 0 ) , P(x, y) e D( - a, y ) (figura 5). Da equação FP = DP ,
temos:
(x - a)2 + (y - 0)2 = (x + a)2 + (y - y)2
x2 - 2ax + a 2 + y2 = x2 + 2ax + a 2
Reduzindo os termos semelhantes, chegamos à equação:
y2 = 4ax
Examinando esta equação, concluímos que:
i) Se o foco está à direita da diretriz, então a > 0 e, portanto, x ³ 0 . Dessa forma
a parábola está situada à direita do eixo y;
ii) Se o foco está à esquerda da diretriz, então a < 0 e, portanto, x £ 0 . Dessa
forma a parábola está situada à esquerda do eixo y;
iii) O eixo x corta a parábola em seu vértice C(0, 0).

b) O eixo de simetria da parábola está contido no eixo 0y e o vértice é o ponto


V(0, 0), como mostra a figura 6.

Figura 6 – Parábola com vértice na origem e foco no eixo 0y

Geometria Analítica Vetorial 113


¾¾
® ¾¾
®
Neste caso F( 0, a ) , P(x, y) e D( x, -a ) (Figura 6). Da equação FP = DP ,

temos (x - x)2 + (y + a 2
= (x - 0)2 + (y - a)2 .
Simplificando a equação, chegamos a x2 = 4ay .

Exercícios resolvidos
A 1. Determine o foco e a equação da diretriz das parábolas x2 = 8y e y2 = -2x .
7 Solução:
a) x2 = 8y
T
A equação é da forma x2 = 4ay . Assim 4a = 8 ou a = 2 , portanto se F(0, a)
2
, então F(0, 2)
diretriz: x = -2
b) y2 = -4x
A equação é da forma y2 = 4ax . Assim 4a = -4 ou a = -1, portanto se F(a, 0) ,
então F(-1, 0) .
diretriz: x = 1
Observe que a equação da diretriz da parábola
com vértice na origem é do tipo x = -a ou y = -a
com eixo de simetria no eixo 0x e 0y, respectiva-
SAIBA MAIS! mente.
2. Determine a equação de cada uma das pará-
Para aprender um pouco mais sobre as
bolas.
cônicas que estudamos nesta aula, consulte
o site disponível no material web. a) Vértice V(0, 0) e foco F(2, 0)
b) Vértice V(0, 0) e diretriz y = 3
c) Vértice V(0, 0) , passa pelo ponto P(-2, 5) e concavidade voltada para cima.

Solução:
a) A equação, por ter foco no eixo 0x, é do tipo y2 = 4ax
Sendo a = 2 , a equação y2 = 4ax fica y2 = 8x .
b) A equação é do tipo x2 = 4ay .
Se a = -3 , então a equação x2 = 4ay fica x2 = -12y .
c) A concavidade é voltada para cima, assim a equação é do tipo x2 = 4ay .
O ponto P(-2, 5) pertence à cônica. Dessa forma, substituindo x = -2 e y = 5
na equação x2 = 4ay , temos ( - 2)2 = 4a(5) . Resolvendo esta última equação, che-
1 æ 1 ö÷
gamos a a = . Portanto a equação desejada é x2 = 4 çç ÷ y ou 5x2 - 4y = 0 .
5 è 5 ø÷

114 Licenciatura em Matemática


Aula 8 A
7
Transformação de Coordenadas T
Caro (a) aluno (a), 2

À medida que estudamos as propriedades e configurações geométricas das curvas,


suas equações se tornam mais complexas e menos fáceis de serem analisadas. Assim,
se faz cada vez mais necessária, em alguns casos, a utilização de novos mecanismos
que tornem menos difícil o estudo dessas curvas. Pensando assim, introduziremos
a noção de transformação de coordenadas, que consiste em mecanismos utilizados
na simplificação de equações de algumas curvas, sem, no entanto, modificar suas
características geométricas.

Objetivo:
• Utilizar de forma correta as equações de rotação e translação de eixos para simplificar
equações de curvas.

115
01
TÓPICO
TRANSLAÇÃO DE EIXOS
DE COORDENADAS
A
8 OBJETIVOS
··Simplificar equação de segundo grau usando
T translação de eixos coordenados.

1 ··Usar a translação de eixos para construção de


gráficos de curvas.

ATENÇÃO!

O processo de translação consiste em definir


U ma translação é um deslocamento de fi-
guras do plano, nas direções horizontal
e/ ou vertical, que tem a finalidade de
simplificar suas equações. Obviamente esse des-
locamento não mudará a estrutura geométrica de
um novo sistema cartesiano mudando a
uma curva, e sim da equação, tornando-a mais sim-
origem e conservando as direções e os
sentidos dos eixos coordenados. ples de ser manipulada. Por exemplo: as equações
x2 + y2 = 9 e x2 + y2 - 4x - 2y - 4 = 0 , embora
tenham aspectos distintos, representam uma mesma curva, que consiste numa cir-
cunferência de raio 3. É evidente que ambas têm as mesmas propriedades geomé-
tricas e é mais interessante trabalhar com a primeira equação pela sua simplicidade.

116 Licenciatura em Matemática


1.1 EQUAÇÕES DE TRANSLAÇÃO
Considere dois sistemas de coordenadas x 0 y e x 0 y , de modo que os eixos
0 x e 0 y tenham mesma direção e sentido de 0x e 0y , respectivamente (ver Fi-
gura 1).

A
GUARDE BEM ISSO! 8
Conhecendo-se a curva dada pela equação
y = f (x) , um bom recurso para construção
T
do gráfico de curvas do tipo y − k = f (x − h) 1
é a translação de eixos.

Figura 1- Sistemas x 0 y e x 0 y
Observe que:
a ) O ponto 0 (h , k) do sistema x 0 y é a origem do sistema x 0 y ;
b) O ponto P tem coordenadas ( x, y ) em relação ao sistema x 0 y e ( x, y ) em
relação ao sistema x 0 y .
Podemos observar na figura 1 que:
x = x+ h e y = y+ k ou x = x-h
ATENÇÃO!
e y = y-k
Assim, As características geométricas ou forma de
ìïx = x + h uma curva não são afetadas pela posição dos
ï é a fórmula de mudanças do siste- eixos coordenados, no entanto sua equação
í
ïïy = y + k é modificada.
î
ma xoy para x 0 y .

ìï x = x - h
ï é a fórmula de mudança do sistema x 0 y para x 0 y .
í
ïï y = y - k
î

Exercícios resolvidos
1. Transforme a equação 7xy - 14x - 21y - 13 = 0 em outra equação sem os ter-
mos do 1º grau e sem, obviamente, alterar a estrutura da curva, usando uma trans-
lação de eixos.

Solução:
Substituindo x = x + h e y = y + k na equação 7xy - 14x - 21y - 13 = 0 ,
chegamos a:
7( x + h )( y + k ) - 14 ( x + h ) - 21( y + k ) - 13 = 0
7( x y + k x + h y + h k ) - 14 x - 14 h - 21 y- 21 k - 13 = 0

Geometria Analítica Vetorial 117


7 x y + 7 k x + 7 h y + 7 h k - 14 x- 14 h - 21x- 21 k - 13 = 0 .
Pondo em evidência x e y nos termos do 1º grau:
7 x y + x ( 7k - 14) + y ( 7h- 21 ) + 7hk- 14h -21k - 13 = 0 .
Para que a equação não configure os termos do 1º grau, é necessário que:
7k - 14 = 0 e 7h- 21 = 0 . Assim,
ïìï7h - 21 = 0
A í
ïïî7k - 14 = 0
Þ h = 3 e k = 2 ou 0 ( 3 , 2 ) .
8 Substituindo h = 3 e k = 2 na equação:
T 7 x y + x ( 7k - 14) + y ( 7h- 21 ) + 7hk- 14h -21k - 13 = 0 , temos
1 7x y - 55 = 0 .

2. Elimine os termos do 1º grau da equação x2 + y2 -4x - 2y + 4 = 0

Solução:
Observe que a equação x2 + y2 -4x - 2y + 4 = 0 corresponde a
(x- 2 ) + ( y - 1 ) = 1 , ou seja, representa uma circunferência de centro no pon-
2 2

to ( 2, 1 ) e raio r = 1 .
Substituindo x = x + h e y = y + k na equação
x + y -4x - 2y + 4 = 0 , temos:
2 2

( x + h )2 + ( y + k )2 -4 ( x + h ) - 2 ( y + k ) + 4 = 0
x 2 + 2 h x + h2 + y 2 + 2 k y + k2 - 4 x - 4 h - 2 y - 2 k + 4 = 0 .
Pondo os termos do 1º grau em evidência, temos:
x 2 + y 2 + x ( 2 h -4 ) + y ( 2 k - 2 ) + h2 + k2 - 4 h - 2 k + 4 = 0
ïì2 h - 4 = 0
Fazendo ïí Þ h = 2 e k = 1 e substituindo h = 2 e
ïïî2 k - 2 = 0
k = 1 na equação acima, encontramos:
x2 + y 2
= 1, que representa a mesma circunferência da equação
(x- 2 ) + ( y - 1 )2 = 1 , porém com centro no ponto ( 0 , 0 ) .
2

Figura 2 – Centro da circunferência no sistema x 0 y ( 2, 1)


Observe que, no sistema x o y , o centro é o ponto ( 2, 1 ) ; e, no sistema x 0 y ,
o centro é a origem do sistema.

118 Licenciatura em Matemática


3. Dada a equação y + 2 - x - 1 = 0 , encontre a equação da curva em relação
ao sistema x 0 y , após uma translação de eixos em que a nova origem é o ponto
0 = ( 1 , - 2 ) e esboce o gráfico.

Solução:
x = x + h = x + 1 e y = y + k = y-2
Substituindo na equação dada, temos: A
y-2 + 2 - x + 1 - 1 = 0 ou y = x , como mostra a figura 3. 8
T
1

Figura 3 – Representação da curva x 0 y no sistema x 0 y

4. Obtenha a equação da curva y = x + 1 em relação ao sistema x 0 y cuja


origem é o ponto 0 (-1, 0 ).

Solução:
Substituindo x = x + h = x - 1 e y = y + h = y + 0 na equação y = x + 1 ,
temos:
y + 0 = x-1 + 1 Þ y = x (veja figura 4).

Figura 4 – Representação da curva y = x +1 no sistema xoy

Vimos neste tópico que podemos usar o recurso translação de eixos coordenados para
simplificar equações de curvas. Observamos que, geometricamente esse processo é re-
alizado a partir de um deslocamento de figuras do plano, nas direções horizontal e/ ou
vertical. A seguir estudaremos outro mecanismo que também pode ser usado para sim-
plificar equações de curvas, conhecido como rotação de eixos coordenados.

Geometria Analítica Vetorial 119


02
TÓPICO
ROTAÇÃO DE EIXOS
DE COORDENADAS
A
8 OBJETIVOS
··Simplificar equações do 2º grau completas
T eliminando o termo cruzado por meio de uma

2 rotação de eixos.
··Utilizar a rotação de eixos para construir gráficos
de curvas.

ATENÇÃO!

O processo de rotação é realizado mudando


U ma rotação de eixos no plano significa
uma rotação de figuras do plano, de um
ângulo q , em torno da origem do siste-
ma. Por meio de uma rotação, podemos fazer com
que os eixos de elipses, parábolas e hipérboles fi-
a direção dos eixos coordenados e mantendo
fixa a origem.
quem paralelos aos eixos coordenados e, desta for-
ma, simplificamos suas equações. Por exemplo: as
2 2
x y
equações + = 1 e 17x2 + 17y2 - 30xy - 32 = 0 representam a
16 1
mesma curva que consiste numa elipse. No primeiro caso, os eixos da elipse são pa-
ralelos aos eixos coordenados; no segundo caso, os eixos da cônica formam um ân-
gulo de 45º no sentido anti-horário com os eixos coordenados.

120 Licenciatura em Matemática


2.1 EQUAÇÕES DE ROTAÇÃO
Considere dois sistemas cartesianos x 0 y e x 0 y com a mesma origem, com
o sistemas x 0 y passando a ser obtido pela rotação do sistema x 0 y no sentido
anti-horário em torno da origem de um ângulo q (cf. figura 5).

A
8
T
2

Figura 5 – Sistema x 0 y obtido a partir de x 0 y por uma rotação

Se ( x, y ) são as coordenadas do sistema x 0 y e ( x, y ) são as coordenadas do


mesmo ponto no sistema x 0 y , então:

x = x cos θ - y sen θ




y = x sen θ + y cos θ

SAIBA MAIS!
Demonstração:
Considere o sistema x 0 y determinado a partir do sis- Relembre o assunto de adição e
tema x 0 y por meio de uma rotação de q 0 em torno da ori- subtração de arcos, acessando o
«
site disponível no material web.
gem e b ângulo entre o eixo 0 x e a reta OP . Considere,
ainda, um ponto P de coordenadas (x , y) no sistema x 0 y
e ( x, y ) no sistema x 0 y , como mostra a figura 5.
 cos (θ + β) = x
 OP

 x
Assim, ( I )  cos β =
 OP

 y
 sen β = OP

Da trigonometria, sabemos que cos (θ + β) = cosθ . cosβ - senθ . senβ ( II )
Substituindo ( I ) em ( II ), encontramos:
x x y
= cos θ . - sen θ .
OP OP OP .
Multiplicando os dois lados da equação por OP , chegamos à equação
x = x . cosθ - y . senθ .

Geometria Analítica Vetorial 121


De modo semelhante, usando a relação:

sen (θ + β) = sen θ . cos β + sen β . cos θ em ( I ) e tendo em vista que


y
sen (θ + β) = , concluímos que y = x . senθ + cosβ , ou, determinando x
OP
e y em função de x e y, temos:

x = x . cos θ + y . senθ


A 

8 y = - x . sen θ + y . cosθ

T Exercícios resolvidos
2 1. Determine a equação da elipse
x2
+
y2
= 1 após uma rotação de 45º no
4 1
sentido anti-horário em torno da origem:

Solução:
As equações de rotação ficam:
ìï 2
ïïx = .(x + y)
ìïx = x . cos 45º + y . sen 45º ïï
ï ou 2
í í
ïïy = - x . sen 45º + y . sen 45º ïï 2
î ïïy = . ( -x + y )
ïî 2
x2 y2
Substituindo estas equações na equação + = 1 , chega-se a:
4 1
2 2
é 2 ù é 2 ù
ê ( x + y )ú ê ( - x + y )ú
ê 2 ú ê 2 ú
ë û + ë û = 1
4 1
1 é 2 ù
( x2 + 2xy + y2 ) + 4 ê ( x2 - 2xy + y2 )ú = 4
2 ëê 4 ûú
1
( x2 + 2xy + y2 ) + 2 ( x2 - 2xy + y2 ) = 4
2
x2 + 2xy + y2 + 4x2 - 8xy + 4y2 = 8
5x2 + 5y2 - 6xy - 8 = 0 .
Observe que o termo cruzado xy aparece na equação quando o eixo de simetria
da cônica não é paralelo a nenhum eixo coordenado (ver figura 6).

x2 y2
Figura 6 – Elipse de equação + = 1 após uma rotação de 45º
4 1

122 Licenciatura em Matemática


x2 y2
2. Determine a equação da cônica + = 1 após um giro de 30º no sentido
4 1
anti-horário em torno da origem do sistema de coordenadas.

Solução:
x2 y2
A nova equação é do tipo + = 1 no sistema x 0 y cujo eixo 0 x for-
4 1
ma 30º com o eixo coordenado 0x .  x = x cos θ + y sen θ
A

Aplicando as fórmulas de rotação de eixos  , temos: 8
 y = −x sen θ + y cos θ
ìï x = x cos 30º + y sen 30º
T
ï
í
ïï y = -x sen 30º + y cos 30º
ou x =
3 1
x+ y e y =- x+
1 3
y. 2
î 2 2 2 2
x2 y2
Substituindo estas equações em + = 1 , encontramos:
4 1
2 2
æ 3 1 ö÷ æ 1 3 ö÷
çç ÷ ç y÷
çè 2 x + 2 y÷ø÷ çç- x +
è 2 2 ÷ø÷
+ = 1 ou
4 1
2 2
æ 3 1 ÷ö æ 1 3 ÷ö
çç ÷ ç ÷
çèç 2 x + 2 y÷÷ø + 4 çççè- 2 x + 2 y÷÷ø = 4

Desenvolvendo os quadrados, chegamos à equação:


3 2 1 1
x + 3 xy + y2 + x2 - 2 3 xy + 3y2 = 4 ou
4 2 4
3x2 + 2 3 xy + y2 + 4x2 - 8 3 xy + 12y2 = 16
E finalmente, reduzindo os termos semelhantes, chegamos à equação:
7x2 - 6 3 xy + 13y2 - 16 = 0

2.2 SIMPLIFICANDO UMA EQUAÇÃO DO SEGUNDO GRAU


MEDIANTE ROTAÇÃO DE EIXOS
Na equação do segundo grau Ax2 + Bxy + Cy2 + Dx + Ey + F = 0 em que A, B,
1 1
C, D, E e F são constantes, observe que, se A = 2
, B=0, C= 2 , D=0 , E=0
a b
x2 y2
e F = -1 , obtemos + = 1 , que representa a equação de uma elipse. De mo-
a 2 b2
1 1
do semelhante, se A = 2 , B = 0 , C = - 2 , D = 0 , E = 0 e F = -1 , obtém-
a b
2 2
x y
se 2 - 2 = 1 , que é a equação de uma hipérbole. E, finalmente, fazendo A = 1 ,
a b
B = 0 , C = 0 , D = 0 , E = -4p e F = 0 , obtém-se x2 = 4py , que representa a

Geometria Analítica Vetorial 123


equação de uma parábola.
Assim, a equação de uma cônica é um caso específico
GUARDE BEM ISSO! da equação Ax2 + Bxy + Cy2 + Dx + Ey + F = 0 . (*)

Uma equação do tipo Quando o termo cruzado xy aparece na equação


2 2
Ax + Bxy + Cy + Dx + Ey + F = 0
dependendo dos valores que os coeficientes do segundo grau (*) ( B ¹ 0 ), o eixo de simetria da
A A, B, C, D, E ou F assumem, pode representar cônica é oblíquo aos eixos coordenados. Mostrare-
8 um conjunto vazio, ou uma reta, ou uma
circunferência, ou uma parábola, ou uma
mos a seguir que é possível eliminar o termo cruza-
do xy mediante uma rotação de eixos coordenados.
T elipse, ou uma hipérbole.

2 um conjunto vazio: x 2 + 1 = 0 , 3x 2 + 1 = 0 ,
x 2 − 2x + y 2 − 6y + 15 = 0 ; 2.3 ELIMINANDO O TERMO CRUZADO
uma reta: x + y − 1 = 0 , x + 2 = 0 , Se um sistema de coordenadas xy é girado, em
x −3 = 0 , x 2 − 2x + 1 = 0 , torno de sua origem, de um ângulo q para se ob-
2 2
x + y + 2xy = 0 ;
ter um sistema x 0 y , então a curva de equação
2 2
uma circunferência: x + y − 2x-2y = 0 ;
Ax2 + Bxy + Cy2 + Dx + Ey + F = 0 terá uma nova
2 2
uma hipérbole: x − y − 2x-2y-1 = 0 ;
equação Ax 2 + B x y + C y 2 + D.x + Ey + F = 0
uma elipse: x 2 + 4y 2 − 2x + 16y + 13 = 0
; B
uma parábola: x 2 -y = 0 . em que B = 0 se, e somente se, tg 2q = .
A-C
Para sabermos que tipo de curva representa Demonstração:
as equações acima, efetuamos uma rotação
ou translação de eixos a fim de obtermos a Substituindo as fórmulas de rotação
forma mais simples da equação.
ìï x = x cos q - y sen q
ï em
í
ï
îï y = x sen q + y cos q
Ax2 + Bxy + Cy2 + Dx + Ey + F = 0 , obtém-se:
A( x cos q - y sen q )2 +
B( x cos q - y sen q ).(x sen q + y cos q ) + C (x sen q + y cos q )2 +
D( x cos q - y sen q ) + E( x sen q + y cos q ) + F = 0 .
Desenvolvendo os produtos acima e tendo em vista que:
2 sen q cos q = sen 2 q e cos2 q - sen2 q = cos 2q , temos:
A ( x 2cos2 q - 2 x y sen q cos q + y 2sen 2 q ) +
B ( x 2 sen q cos q + x y cos 2q - y 2sen q cos q ) +
C ( x 2sen2 q + x y sen 2q + y 2cos2 q ) + D( x cos q - y sen q ) +
E( x sen q + y cos q ) + F = 0 .
Efetuando os produtos acima, pondo xy em evidência e considerando que a nova
equação é do tipo Ax 2 + B x y + C y 2 + D.x + Ey + F = 0 , chegamos a:

124 Licenciatura em Matemática


B x y = (-A sen 2q + B cos 2q + C sen 2q ) x y .
Para que o termo cruzado seja eliminado, devemos ter B = 0 , ou seja:
-A sen 2q + B cos 2q + C sen 2q = 0 ou (A - C) sen 2q = B cos 2q .
Dividindo os dois membros por cos 2q , encontramos:
sen 2q B B
= ou tg 2q = .
cos 2q A - C A-C
A
Exercícios resolvidos 8
1. Elimine o termo cruzado da equação 5x2 + 5y2 - 6xy - 8 = 0 por meio de
T
uma rotação de eixos conveniente.
2
Solução:
O termo cruzado xy pode ser eliminado por uma rotação do sistema, de um ân-
p BB A-C
gulo q (0 < q < ) de modo que tg tg22qq=
= ou cotg 2q = .
2 A-C
A-C B
5-5
Considerando que A = 5, B = -6 e C = 5 , então cotg 2 q = = 0 . Assim
-6
p p
2q = ou q = .
2 4 ìï
ïï x = 2 x - 2 y
ìï x = x cos q - y sen q ï
Pelas equações de rotação ïí 2 2
, temos ïí
ïï y = x sen q + y cos q ïï 2 2
î ïï y = x+ y
ïî 2 2
ìï
ïï x = 2 (x - y )
ïï 2
ou í . Substituindo estas expressões na equação
ïï 2
ïï y = (x + y )
ïî 2
5x2 + 5y2 - 6xy - 8 = 0 , temos:
2 2
é 2 ù é 2 ù é 2 ù é 2 ù
5 ê (x - y ú +)5 ê (x + y)ú - 6 ê ( x - y)ú . ê (x + y)ú - 8 = 0 .
ê 2 ú ê 2 ú ê 2 ú ê 2 ú
ë û ë û ë û ë û
Simplificando a equação acima, encontramos:
5 5
( x - y )2 + ( x + y )2 - 3 ( x - y ).( x + y ) - 8 = 0 .
2 2
Desenvolvendo os produtos e reduzindo os termos semelhantes, chegamos a:
4x 2
+ 16y 2 - 16 = 0 ou 4 x 2 + 16 y 2 = 16 .
x2 y2
Dividindo os dois membros da equação acima por 16, encontramos + = 1,
4 1
que representa a equação de uma elipse de semi-eixos 2 e 1, como mostra a figura 7.

Geometria Analítica Vetorial 125


A
8
T
2 Figura 7 - Cônica após uma rotação de 45º no sentido anti-horário

Observe que, em relação ao sistema x0y, a equa-

GUARDE BEM ISSO! ção da cônica é 5x2 + 5y2 - 6xy - 8 = 0 e, em re-

x2 y2
Para visualizar uma rotação ou translação lação ao sistema x0y , a equação é + = 1.
de eixos coordenados, você pode recorrer 4 1
o software winplot, que pode ser baixado
diretamente do site www.baixaki.com.br. 2. Esboce o gráfico da cônica de equação
x + 4xy + y2 - 6 = 0 .
2

Solução:
Precisamos saber de que cônica se trata, para tanto é necessário eliminar o termo
cruzado.
A-C 1 - 1 p p
cotg 2q = = = 0 ,ou seja, 2q = ou q = .
B 4 2 4
ìï
ïï x = 2 (x - y)
ìï x = x cos q - y sen q ï
Pelas equações de rotação ïí ou ïí 2
ï ïï
îï y = x sen q + y cos q ïï y =
2
(x + y)
ïî 2
Substituindo estas expressões por x e y na equação x2 + 4xy + y2 - 6 = 0 , te-
2 2
é 2 ù é 2 ù é 2 ù é 2 ù
mos ê (x - y )ú - 4 ê (x - y )ú . ê ( x + y)úú + êê ( x + y )úú - 6 = 0 .
ê 2 ú ê 2 ú ê 2
ë û ë û ë û ë 2 û
Simplificando a equação acima, encontramos:
1 2 1 2
( x - y ) - 2 ( x - y ) ( x + y ) + (x + y ) = 6 ou
2 2
1 1
( x 2 - 2 x y + y 2 ) - 2 ( x 2 -y 2 ) + ( x 2 + 2 x y + y 2 )
2
=6.
2 2

126 Licenciatura em Matemática


Reduzindo os termos semelhantes da equação acima, obtemos -x 2 + 3 y 2 = 6
y2 x2
ou - = 1 , que é uma hipérbole cuja representação geométrica encontra-se
2 6
representada na figura 8:

A
8
T
2

Figura 8 – Hipérbole após uma rotação de 45º no sentido anti-horário

Observe que, em relação ao sistema x0y, a equação da cônica é x2 + 4xy + y2 - 6 = 0


y2 x2
e, em relação ao sistema x 0 y , a equação é - = 1 4.
2 6

3. Gire os eixos coordenados para eliminar o termo cruzado da cônica de equação


8x - 4xy + 5y2 = 144 .
2

Solução:
A-C 8 - 5 3
cotg 2q = = = - . Assim, da trigonometria, temos:
B -4 4
3 3 3
cotg 2q - - -
cos 2q = = 4 = 4 = 4 = -3
cotg 2q + 1
2
æ 3 ö÷
2
9 5 5
ç- ÷ + 1 +1
çè 4 ÷ø 16 4
æqö 1 - cosq
Tendo em vista as fórmulas do arco metade: sen çç ÷÷÷ = e
è2ø 2
æ q ö÷ 1 + cosq
cos çç ÷÷ = , temos:
è2ø 2
3
1-
1 + cos 2q 5= 2 1 5
cos q = = = = e
2 2 10 5 5

3
1+
1-cos 2q 5= 8 4 2 5
sen q = = = =
2 2 10 5 5

Geometria Analítica Vetorial 127


5 2 5 2 5 5
Substituindo x= x - y e y= x + y na equação
5 5 5 5
8x2 - 4xy + 5y2 = 144 , temos:
2
 5 2 5   5 2 5  2 5 5 
8  x - y − 4  x - y  x + y
 5 5   5 5   5 5 
A 2 5 5 
2

8 +5  x + y = 144
 5 5 

T Simplificando esta equação, chegamos a 4 x 2 + 9 y 2


= 144 . Dividindo os dois
2 y2 x2
membros por 144, temos a equação + = 1 , que representa uma elipse.
36 16

Neste tópico, vimos que o termo kxy (k ¹ 0) aparece na equação do segundo grau
quando o eixo de simetria da cônica representada por essa equação, não é paralelo a
nenhum eixo coordenado, porém tal termo pode ser eliminado mediante uma rota-
ção de eixos no sentido anti-horário. Como podemos observar, a equação sofre uma
alteração, mas as características geométricas da curva bem como a relação entre as
coordenadas de cada ponto dessa curva, é mantida.

128 Licenciatura em Matemática


Referências
BOULOS, P. Geometria analítica: Um tratamento vetorial, 3º edição, Pearson Education do
Brasil, São Paulo, 2005.
BOULOS, P.; OLIVEIRA, I. C. Geometria analítica: um tratamento vetorial. 2.ed. São Paulo:
MacGraw-Hill, 2000.
IEZZI, G. Fundamentos de matemática elementar. Vol. 7. São Paulo: Atual, 1985. v.7. A
MUNEM, M. A. Cálculo. Rio de Janeiro. São Paulo: LTC, 1982. 8
SANTOS, N. M. Vetores e matrizes: uma introdução a álgebra linear. 4. ed. rev. e amp. São T
Paulo Editora Thomson, 2007. 2
SANTOS, R. J. Matrizes vetores e geometria analítica. Belo Horizonte: Imprensa Universitária
da UFMG, 2006.
SCHWAB, C. e MIGLIANO, A. C. Geometria analítica. Disponível em: <http://www2.braz-
cubas.br/professores1/arquivos/9_migliano/Apostilas/Apostila_GAV_2002.pdf>. Acesso
em: 17 jun. 2009.
SILVA, V. E REIS, G.L., Geometria analítica, Livros Técnicos e Científicos, Rio de Janeiro, 1985
STEINBRUCH, A.; WINTERLE, P. Geometria analítica. 2. ed. São Paulo: Mc Graw-Hill, 1987.
VENTURI, J. J. Álgebra Vetorial e Geometria analítica, 8ª. Ed. Curitiba
Marcos Antônio de Macedo

Possui graduação em ciências pela Universidade Regional do cariri-URCA (1997), gra-


duação em matemática (Licenciatura plena) pela Universidade Regional do Cariri-URCA
(2001), concluiu em 2002 especialização “Lato Sensu” (Turma I) em Matemática apli-
cada pela Universidade Regional do Cariri-URCA. Atualmente é professor substituto do
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia-IFETCE onde leciona no curso de
matemática desde agosto de 2004 e servidor público estadual pela 19ª Coordenadoria
Regional de Desenvolvimento e Educação- 19ª CREDE, onde leciona a disciplina de
Matemática no ensino médio desde 1998. Tem experiência na área de matemática, com
ênfase em Cálculo Diferencial Integral, Geometria Analítica Espacial e Álgebra Linear.
Tem atuado principlamente nos seguintes disciplinas: Calculo I, Calculo II, Álgebra Li-
near, Geometria Analítica e Vetores, Geometria Descritiva, Construções Geométricas e
Geometria Euclidiana.

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