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"Um dos maravilhosos privilégios da arte é que a expressão de horror e dor

pelo artista, se rítmica e cadenciada, enche de calmo júbilo o espírito."


Charles Baudelaire

o patoá de Albi, Bebê lou Pouliot significa “bebê lindo”. O


N apelido, dado a Henri Toulouse-Lautrec quando nasceu, diz
como ele foi uma criança esperada e encantadora. O pintor
nasceu em 24 de novembro de 1864, no coração da cidade
medieval de Albi, sudoeste da França. As duas avós de Henri
eram irmãs e, assim, o nascimento dele fortaleceu o vínculo que
já unia as duas famílias mais aristocráticas e ricas da região,
Toulouse-Lautrec e Tkpié de Céleyran. O nome de batismo
homenageava Henrique V, herdeiro presuntivo do trono da
França. Menino bonito e vivaz, sua personalidade calorosa e
amável encantava toda a família. ' 'Henri cricrila o dia todo'',
escreveu uma de suas avós. "Parece um grilo que alegra a casa.
Toda vez que se ausenta, sentimos enorme vazio, porque ele
vale por vinte pessoas aqui."
Rico e mimado assim, Lautrec cresceu numa atmosfera de
luxo, onde nada lhe era negado. Além disso, ninguém nas
famílias Tapié e Lautrec trabalhava para viver; em vez disso,
cada um cultivava seus interesses com talento e inteligência. O
pai, escultor, passava boa parte do ano em Paris, onde se tornou
perspicaz observador de gente exótica e seus costumes.
Verdadeiro excêntrico. Um dia voltou a Albi vestido como
nativo da tribo Kirghiz e morou certo tempo numa tenda, para
compreender algo do estilo de vida desse povo asiático.
Henri conservou o charme, a vivacidade e a inteligência
enquanto crescia. Recebeu fina educação. Passava os dias em
confortável deleite, desenhando, cavalgando e estudando inglês
e latim com a mãe. Depois, mandado a Paris para continuar os Mulher-Nua ao Espelho -1897. Coleção particular, EUA.
estudos, conheceu no Lycée Condorcet outro estudante,
Maurice Joyant, de quem seria amigo a vida toda. Embora
amasse atividade esportiva ao ar livre, aos dez anos já tinha
saúde vulnerável, e por isto os pais decidiram que o clima
quente de Nice lhe seria mais saudável que o de Paris.
A despeito da saúde delicada, o brilho da personalidade de
Henri não esmaeceu. Durante a estada em Nice, sua avó
escreveu à mãe dele que "sua animada disposição não o
abandonou, ele se mantém de bom humor até quando sozinho.
Ainda é muito jovem para ir à caça com os cavalheiros daqui,
embora, resoluto e alerta, nunca se intimide ante obstáculos
grandes demais para ele".
Nesse período, o desentendimento entre os pais se acentuou a Cormon: "Nunca o vi cometer um erro no julgamento de cada
ponto de tornar inevitável a separação. Henri deve ter sofrido um de nós. Era incrivelmente perceptivo, nunca indulgente,
muito com isso, embora tenha escrito, em co- mentário de duplo exceto com aqueles pelos quais sentia certa amizade. Tratava os
sentido: "Meu pai, o conde, se excede apenas no café com leite". outros com franqueza quase cruel. Quando queria, suas maneiras
Em 1878 Henri quebrou a perna numa queda e, quinze meses eram impecáveis, mostrava acurado senso de decoro, compatível
depois, noutro acidente, sofreu fratura parecida. Ficaria aleijado com o ambiente. Nunca o vi exaltado ou prisioneiro da ambição.
pelo resto da vida. Em carta a um amigo ele contou: "Caí de uma Era, antes de tudo, um artista".
cadeira baixa e quebrei o fêmur esquerdo. Mas agora, graças a No mesmo ateliê, Toulouse-Lautrec conheceu Vincent van
Deus, [o osso] soldou-se e começo a andar de muleta, com ajuda Gogh, com o qual também faria amizade por toda a vida.
de alguém''. A respeito da segunda fratura seu pai escreveu que Diferente dos impressionistas, Lautrec não se sentia nada atraído
"foi causada por uma queda não muito mais grave, durante um por paisagens; o tema quase exclusivo de sua pintura era a figura
passeio com a mãe. Caiu numa ravina que não tinha mais de humana, porque, segundo o crítico Jacques Lassaigner, ''ela
metro e meio de profundidade. Enquanto a mãe foi buscar um oferecia a ele a liberdade de usar seu dom de observação e sua
médico, ele se manteve calmo e contido. Ficou sentado no chão verve. A pincelada magnificamente tensa, nervosa, assim como
e, com as mãos, manteve a perna reta". seu talento de colorista, deram-lhe meios de uma exploração
Xá realidade os acidentes parecem ter sido causados por uma essencialmente psicológica, penetrante, às vezes severa, ou
doença então pouco conhecida: distrofia poliepifiseal, certa mesmo implacável. Sua pintura não dá sinal de compaixão, mas
anomalia que torna os ossos quebradiços. Aos treze anos Henri sim um senso de reserva. Se por acaso se sentisse embaraçado,
era um rapaz de estatura média, quase metro e meio. Adulto, escapava pela saída da ironia. De todos os seus trabalhos, apenas
media poucos centímetros mais. os retratos de sua mãe mostram a secreta vibração que trai seu in-
Sua força de caráter surpreendeu. Longe de afundar-se no tenso amor por ela".
desespero, depois da inevitável operação, ele escreveu a um No mesmo período, Toulouse-Lautrec e outros pintores fre-
amigo: "O crime cirúrgico foi perpetrado segunda-feira e a qüentavam cabarés, especialmente o do cantor Aristide Bruant,
fratura, tão admirável do ponto de vista médico (não do meu, que os deliciava com seu humor.
deixe-se claro), viu a luz do dia. O médico estava radiante e
deixou-me em paz até esta manhã. Então, com o falso pretexto Seu bando de abortos e tolos de meia-tigela!
de me pôr de pé, dobrou-me a perna em ângulo reto, o que me Que mestiços são vocês, como se ela,
causou uma dor feroz". a mãe, não tivesse tetas, nem o pai ferramenta?
E quando alguém se condoia, ele brincava: "Não vale a pena Para serem tão ocucros, mamaram jumenta?
chorar por mim. Não mereço. Fui tão desastrado! Tenho recebido Desse naipe aqui não entra ninguém,
tanta visita que estou ficando mimado''. sem os pais pra mostrar suas coisas também!
Em julho de 1881, em Paris, depois de uma de suas muitas
estadas no litoral, tentou os exames de bacharelado, mas não Com cançonetas burlescas deste tipo, Bruant recebia seus
passou. Voltou a estudar com rigor durante as férias, tentou outra fregueses em Lê Mirliton, cabaré no Boulevard de Roche-
vez no outono e foi aprovado. Em carta a um amigo, contou: chouart, onde também cantava, com voz ressonante, baladas
"Colhido no redemoinho do bacharelado, desta vez consegui sentimentais e hinos anarquistas. Lautrec decorou o cabaré com
passar. Deixei de lado os amigos, a pintura e tudo mais que vale figuras que ilustravam as canções de Bruant. Por exemplo, Nini-
alguma coisa neste mundo para enfiar-me em dicionários e livros peau-de-chien ("Nini-pele-de-cão"), a heroína da cançoneta À Ia
escolares. Por fim, a banca de Tbulouse me achou aceitável, Bastille.
apesar das respostas incoerentes que balbuciei na argüição. Fiz Lautrec não estava nada interessado em modelos profis-
citações fictícias de Lucrécio e o professor, querendo parecer sionais, o que o inspirava e atraía era a vida. "Certo dia, quando
erudito, engoliu tudo. Mas acabou-se. Você achará minha prosa ele e Rachou iam a caminho de Boivains para almoçar", escreveu
um tanto relaxada, é o afrouxamento que se segue à tensão das Gauzi, "passaram por uma jovem vestida com simplicidade de
provas. Esperemos melhora". operária, mas de cabelo tão impressionantemente ruivo que
Aos dezesseis anos, desenhar já era paixão para ele. Seu Lautrec estacou e, muito agitado, exclamou: 'Ela é fantástica!
primeiro professor foi René Princeteau, amigo da família e artista Veja como brilha! Seria maravilhoso se posasse para mim, você
especializado na pintura de cavalos. Em pouco tempo o aluno tem de pedir isto a ela!' ". Chamava-se Carmen Gaudin, moça
mostrava mais talento que o professor. Este, honestamente, gentil e trabalhadeira, mas um tanto frágil. Lautrec, que a
aconselhou então a família a encaminhar Henri ao ateliê de Léon imaginara uma grosseira devassa, surpreendeu-se ao saber que o
Bonnat, um dos mais festejados pintores de Paris na época, com amante lhe deixava marcas de pancada. Era muito pontual e
quem o rapaz poderia aperfeiçoar-se. Descrevendo sua continuaria a ser o modelo favorito de Lautrec por muito tempo.
experiência com Bonnat, Lautrec escreveu a seu tio Charles: Pela mão dele, ela se tornaria uma esplêndida Lavadeira e tam-
"Você com certeza está curioso a respeito do tipo de incentivo bém Rose Ia Rouge, heroína de outra canção de Bruant, À
que Bonnat me oferece. Ele diz: 'Sua pintura não é tão má; é um Montrouge.
tanto moderninha, mas não chega a ser má. Já seu desenho é Graças a Maurice Joyant, que se tornara marchand e também
chocante'. E eu devo sujeitar-me, começar de novo e seguir editor da revista Paris Illustré, Lautrec se tornou colaborador
trabalhando". regular do Lê Courrier Français. Ele e Joyant trabalhariam juntos
Quando tinha dezoito anos, Henri passou ao ateliê de Cor- também em outras atividades artísticas, inclusive experimentos
mon. pintor então em evidência e cujo Caim, quadro aca-dêmico na técnica de impressão.
inspirado em A Lenda dos Séculos, de Victor Hugo, tivera O trabalho sério, contudo, não aplacava o ritmo noturno de
ressonante sucesso no Salão (oficial) de 1880. Henri Rachou, um Lautrec e seus amigos. Embora não tivessem deixado de
dos amigos de Lautrec no ateliê, escreveu a respeito de freqüentar Lê Mirliton, eles também eram vistos no Moulin
de la Galette, que se tornara uma arena de prostitutas baratas e reapresentação no Jardin de Paris, e ainda n um terceiro cartaz,
seus cáftens, uma casa muito diferente da que tinha sido no de um show que não alcançou muito sucesso, em Londres.
tempo de Renoir. O grupo aparecia ainda no Chat Noir, bar mais May Belfort seria o modelo seguinte de Lautrec. Não era
sofisticado, de poetas e cancioneiros, ou numa casa recém- bonita como Jane, mas sua forte feição era um tanto inco-mum.
inaugurada no Boulevard de Clichy, sopé de Montmartre: o Por fim, a grande Loie Fuller tomou seu lugar na pintura de
Moulin Rouge. Neste cabaré havia shows bizarros, como os de Lautrec. Dançava ondulando véus em longas varetas, num halo
"Cha-U-Kao", palhaça de aparato japonês e nome trocadilhesco de luzes coloridas e cambiantes jorradas de projetores elétricos.
(chahut, "tumulto", "algazarra"; e chãos, ' 'caos''); ou da acróbata Para seu pôster, Lautrec inventou uma técnica de impressão
do Circo Macarona, da qual Lautrec faria tantos retratos, Jane litográfica: coloria a gravura a mão e a polvilhava com pó de
Avril, apelidada também "La Mélinite" (nome de um explosivo ouro, de modo que apenas as sombras da cabeça e das mãos da
mais potente que a dinamite). Joyant disse que Jane dançava dançarina eram visíveis no brilho iridescente dos véus inflados.
"como uma orquídea em êxtase". Apesar do sucesso como criador de posters, Lautrec não
Ainda mais popular era Louise Weber, La Goulue ("a gulosa' esquecia seu amor pela pintura. Os laços com Cormon tinham
'), que tinha 16 anos quando Lautrec a viu dançar pela primeira afrouxado, mas ele continuava a expor: no cabaré de Bruant, em
vez. Yvette Guilbert, talentosa atriz e cantora, amiga sincera de Lê Mirliton, em Lê Tambourin com Van Gogh, no exclusivo
Lautrec, fez dela esta vivida descrição: ' 'Usava meias de seda Cercle Volney ê também na Bélgica.
pretas e, segurando um pé calçado em cetim preto, esvoaçava As companhias de Lautrec eram muito variadas. Em primeiro
seis metros de anáguas rendadas num rodopio que deixava à lugar, a mãe, a quem ele amava muito e que morava num
mostra a calcinha. Nesta, um coração caprichosamente bordado apartamento três chie da Rue Victor Mace, não muito longe do
recobria seu delicado bumbum quando ela se curvava para estúdio. Muitas vezes Lautrec ia jantar com ela e levava amigos.
agradecer os aplausos; suas pernas adoráveis, ágeis, dinâmicas e Depois vinham os bordéis. O pintor de vez em quando deixava
tentadoras apareciam e desapareciam nos tufos de fitas cor-de- seu apartamento com uma bagagem de malas e baús, como se de
rosa dos joelhos e numa espuma de rendas que chegavam aos partida para uma volta ao mundo. Mas a carruagem de aluguel
tornozelos esguios. Derrubava com gracioso chute o chapéu do pararia menos de um quilômetro depois, na Rue Richelieu ou na
parceiro e, então, fazia splits [passos acrobáticos em que a Rue dês Moulins, diante de alguma daquelas ''maisons" que a
dançarina senta com perna-s voltadas para direções opostas] — moralidade burguesa fingia desaprovar e onde ele bem poderia
torso ereto, blusa justa azul-celeste, a saia de cetim preto aberta passar umas duas semanas.
em redor dela como um guarda-chuva com cinco metros de "Como é que você pode morar nesses lugares?", perguntou-
diâmetro. Ela era assombrosa! Linda e brejeiramente espirituosa lhe certo dia um homem de alta posição, que jantava com a
na aparência, loura, franja cacheada que chegava às amante numa mesa próxima à de Lautrec. A resposta: "Quem
sobrancelhas, usava o cabelo torcido para o alto e preso à nuca sabe o senhor prefere esse tipo de companhia em sua própria
para não se desprender durante o número. Cachos clássicos casa?".
caíam-lhe das têmporas sobre as orelhas, em pequenos caracóis. O pintor amava as moradoras das tais "maisons". O herdeiro
De Paris a Nova York, passando pelas favelas da Zona Leste de uma das mais aristocráticas estirpes da nobreza francesa não
londrina, todas as moças da época desejavam usar o cabelo como via diferença, do ângulo social, entre uma prostituta e uma
o dela, e a mesma fita colorida atada ao pescoço". nouveau-riche. Nos quadros que pintou dessas casas não havia
Quando o Moulin Rouge encomendou seu novo pôster a nada vulgar ou de gosto duvidoso, nenhuma intenção de chocar.
Lautrec, ele tinha 26 anos e nenhuma experiência nessa forma de Para as mulheres ele era apenas "Monsieur Henri, o pintor".
arte. O desenho mostrava La Goulue em primeiro plano e, em "Entre elas", escreveu Francis Jourdan, "Lautrec é um tipo de
letras vistosas, o nome ''Moulin Rouge'' repetido três vezes. criança mimada, docemente tirânica. Essas mulheres valorizam
Imagens simples e chamativas, elementos conceptuais da sua simplicidade, a pouca importância que dá a sua fama
moderna propaganda. ascendente e a seu ilustre nome de família. Elas se sentiriam
Em 1892 Bruant estrelava num café-concerto de acesso embaraçadas se percebessem nele condescendência ou o desejo
exclusivo nos Champs-Elysées, Lês Ambassadeurs. A seu ridículo de bancar o sujeito duro, o gangs-ter. Ele é o que é."
pedido, coube a seu amigo Lautrec — então já bem-sucedido A favorita de Lautrec era Mireille. Ela aparece de perfil no
criador de posters — desenhar o anúncio do show. Mas o gerente primeiro plano de um grande quadro, No Salão. "Estão tentando
do café, Ducare, não gostou nada do resultado. Quando viu o enganar-me'', confidenciou certa vez a Gauzi. ' 'Escondem
cartaz pela primeira vez, exclamou: "Arranquem já esta coisa Mireille quando pergunto por ela, mesmo que eu tenha decidido
medonha, este lixo!". pagar-lhe um dia todo. Quando lhe escrevo, ela nunca deixa de
Bruant respondeu: "Meu querido, você vai deixar este pôster vir. Esteve aqui ontem." Apontou um buquê de violetas: "Coisa
no lugar em que está. E mais: vai colocar um em cada lado do de Mireille. Comprou o buquê a caminho daqui e gentilmente o
palco. E ouça bem: se até um quarto para as oito — e note que trouxe para mim".
não digo às 8 horas — isso não tiver sido feito, não continuo! O período em que freqüentou as "maisons" foi o mais
Está claro?". produtivo e também aquele em que pintou as obras mais
"Na hora marcada", escreveu Joyant, "o pôster estava afixado importantes. Além dos quadros" sua produção de 1892 a 1894
no palco, ladeando Bruant. Tanto o cantor quanto o cartaz inclui litografias, os melhores posters, ilustrações para livros e
fizeram enorme sucesso. E, depois do show, Ducare admitiu que periódicos e ainda cenários de palco.
tinha errado. Nessa mesma ocasião, seu amigo de infância Maurice Jo-
Jane Avril aparece em primeiro plano no pôster que Lautrec yant sucedeu a Theo van Gogh (irmão de Vincent) como
desenhou para a casa de espetáculos chamada Divan Japonais. gerente da Galeria Goupil. Depois de muita hesitação, Lau-
Ele usou outra vez a imagem dela num pôster que anunciava sua trec finalmente concordou em fazer ali sua primeira exposi-
ção. Para sua surpresa, a imprensa não lhe foi hostil e o evento Deram-lhe alta quinze dias depois, sob condição de não deixar
chegou a ser prestigiado com a visita de Degas. ''Certa tarde, às 6 o quarto. Feliz por ganhar alguma liberdade, retomou o trabalho.
horas", escreveu Joyant, "Degas apareceu em seu inverness [tipo Produziu em seu quarto de enfermo uma série de ilustrações
de casaco com cinto, pelerine curta para os ombros e gola justa]. circenses, a craiom colorido, encomendada por Joyant.
Começou a examinar com cuidado todas as obras, entoando uma Impressionados com o progresso, os médicos escreveram: "M.
melodia baixinho, de lábios fechados. Percorreu toda a exposição Henri de Toulouse-Lautrec acalmou-se muito, acha-se em estado
sem dizer palavra. Já estava descendo a estreita escada em muito diferente daquele em que o encontramos nas visitas
espiral quando parou. Com apenas cabeça e ombros acima do anteriores. [Mas] essa melhora só pode durar se o paciente for
nível do poço da escada, encarou Lautrec, que o olhava tímido e mantido por várias semanas nas mesmas condições de higiene
ansioso, e disse: 'Bem, Lautrec, vejo que você é um dos nossos'. física e mental". E em 17 de maio: "O paciente continua a
Ainda posso ver Lautrec irradiando satisfação interior com esse melhorar, física e mentalmente... Os sintomas do deliriurn não
aceno casual de aprovação." voltaram a manifestar-se. Os sinais de intoxicação alcoólica mal
Para evitar escândalo, os quadros que tinham por tema as podem ser notados, exceto por leve tremor das mãos... Mas, por
"maisons" foram separados numa sala interditada ao público, e à causa da amnésia, do caráter instável e da falta de força de
qual só tinham acesso amigos, convidados especiais e outras vontade, é necessário mantê-lo sob constante observação''.
pessoas com permissão prévia. Liberado por fim, em 20 de maio, Lautrec viajou para a
Um ano depois, por ocasião de uma exposição de Manet, Normandia para convalescer. Ficou quatro semanas em Lê Havre
Durand-Ruel incluiu nela um conjunto de litografias de Lautrec. e, no fim de julho, seguiu para Bordéus, para passar uns meses
A última exposição do artista enquanto vivo foi a promovida pela com a mãe no Château de Malromé, em Gi-ronde. No outono,
filial londrina da Goupil, em 1898. retornou a Paris. A partir daí, até o início de 1900, trabalhou com
Vinho e bebidas mais fortes, noites insones e vida disso-luta afinco. Sua técnica mudara per-ceptivelmente: usava agora
acabaram por comprometer a vulnerável saúde de Tou-louse- encorpado empastamento em painéis de madeira e tela, a paleta
Lautrec. Certa manhã, depois de uma noite de orgia, ele escurecera. Um de seus modelos era Madame Poupoule, demi-
despertou num quarto de janelas gradeadas e porta trancada, mondaine gorducha que ele retratou na penteadeira e de pé junto
numa clínica psiquiátrica de Neuilly. Estava longe de à cama. Mas sua predileção estava na jovem e linda namorada de
enlouquecer, mas a família e os amigos tinham tomado por Joyant, Louise. A respeito da influência feminina sobre o pintor,
demência a excitabilidade anormal que vinha mostrando fazia já o poeta Paul Leclercq escreveu: "Lautrec adorava a companhia
algum tempo. de mulheres; quanto mais ilógicas, desmioladas, impulsivas e
No Lês Ambassadeurs. Gravura multicolorida. Lê Figaro malucas, mais elas lhe agradavam, desde que naturais. Gostava
Dlustré, julho de 1893. de expor a personalidade de cada uma; o frescor e a ingenuidade
Contudo, sem dúvida a saúde se deteriorava. Em fevereiro de das imagens formadas por mentes pequenas o interessavam e
1899, num acesso de deliriurn tremens, caíra e quebrara a divertiam. A amante passageira de um amigo foi por muito
clavícula. Parecia urgente desintoxicá-lo. O único amigo a tempo uma de suas companhias mais íntimas. Era costureira e
discordar disso era Joyant, aliás em vão. Quando o pintor voltou modelo (margouin, na gíria parisiense), com luxuriante cabeleira
a si, na clínica, a angústia o dominou. Escreveu ao pai: "Papai, loura e graciosa carinha de esquilo. Ele a chamava de 'Croque-si-
aqui está sua chance de um feito cavalheiresco. Estou Margouin', 'margouin tão apetitosa'. Eram como duas crianças
aprisionado, e tudo que é preso acaba morrendo''. Mas o pai brincando juntas. Compreendiam-se. O que sentia pelas amigas
não ousou interferir, a luta teria de continuar na solidão. era uma estranha mistura de camaradagem jovial e desejo
reprimido. Tinha consciência da própria inferioridade [física],
mas, como Cyrano, era incapaz de ciumeira mesquinha; quando
amava uma mulher, dissimulava o real sentimento; sua maior
alegria era a de saber que um dos amigos a apreciava, no sentido
pleno da palavra''.
Em 1900 uma recessão no mercado de vinho forçou sua mãe a
reduzir-lhe a pensão, o que lhe trouxe certa humilhação e
dificuldade. Naquele ano, partiu para a Normandia pouco antes
do que costumava. Ilustrou em Honfleur seu último programa de
teatro, a pedido de Lucien Guitry. Verão de ócio na baía de
Arcachon restaurou-lhe energia suficiente para voltar a Paris,
estar com os amigos, pôr em ordem o apartamento. Buscava
lugares e pessoas que mais tinha amado, parecia pressentir o fim.
Quando retornou a Arcachon, em julho, ninguém duvidava, era o
adeus. Em agosto, regressou com a mãe, semi-paralítico, ao
Château de Malromé, pois era nos caramanches da juventude que
l'fs iífstaünnís rt Irs tfiifré-tfoiunls dfs tfhiimps-íplijsffs
desejava passar os últimos dias.
PAR GI STAVK IIRKFROY
Henri de Toulouse-Lautrec morreu com 36 anos, em 9 de
setembro de 1901.
1. Auto-retrato de Henri de Toulouse-Lautrec —
1880. Musée Henri de Ibulouse-Lautrec, Albi —
Pintado quando o artista tinha dezessete anos, este
auto-retrato mostra seu talento precoce. Lautrec
dedicou-se até o fim, com entusiasmo e
originalidade, à vocação que nele se manifestara
desde a infância.

2. O Conde Alphonse de Toulouse-Lautrec


Conduzindo seu Carro Postal — 1881. Musée du
Petit Falais, Paris - Já aos dezesseis anos
Toulouse-Lautrec manifestava seu estilo natural
em obras como este dinâmico retrato do pai.
Nessa época estudava com René Prince-teau,
amigo da família e grande especialista na pintura
de cavalos.

3. A Condessa de Toulouse-Lautrec no Café da


Manhã
- 1883. Musée Henri de Toulouse-Lautrec, Albi -
Toulouse-Lautrec pintou este retrato de sua mãe
em Malromé, num verão em que ele estudava
com Bon-nat. Os diferentes planos visuais da
figura ampla e simples acentuam sua expressão
serena e o ar pensa-tivo. A veneração do pintor
transparece na obra.

4. Cavalo na Guia — c. 1881. Coleção particular,


Paris — O primeiro professor de Toulouse-Lautrec f
oi de fato Princeteau. No tempo em que trabalhou
com ele, Lautrec produziu pinturas e desenhos
que representavam cavalos ou temas associados a
eles, como jóqueis, carruagens e corridas.

5. Circo Fernando, a Amazona — 1880. The Art


Insti-tute of Chicago — Primeiro da série dedicada
ao circo, este quadro é também um- dos primeiros
exemplos de certos recursos artísticos adotados
pelo pintor: ponto de vista elevado, silhuetas
captadas em momentos dinâmicos, contornos
sintéticos, cor aplicada em áreas planas e
uniformes.
6. A Lavadeira — 1889. Coleção particular, Paris -
Atraído pelos temas do cotidiano, Toulouse-Lau-
trec não gostava de pintar modelos profissionais.
Esta é Carmen Gaudin, operária que o encantara
desde que a viu pela primeira vez, numa rua mo-
vimentada. Pelo pincel do artista ela se tornou esta
esplêndida lavadeira, e também Rose Ia Rouge,
heroína da canção de Aristide Bruant À Montrouge.

7. Moça de Cabelo Ruivo — 1889. Coleção Bührle,


Zurique — Este é um dos vários retratos que o pin-
tor produziu num parque, em Montmartre. O am-
biente natural serve apenas de fundo, mas a ex-
pressão da moça mostra a vibrante sensibilidade do
pintor. Os modelos de Toulouse-Lautrec raramente
eram profissionais, pois ele preferia deixar-se
seduzir pelos que encontrava por acaso.

8. O Pintor Henri Rachou — c. 1882. Coleção Al-


gur H. Meadows, Dallas – Embora não tivesse
abandonado o método de seu mestre, Cormon, nes-
sa época Toulouse-Lautrec discutia outras idéias
com seus colegas de ateliê. Este quadro mostra a
influência de outros jovens pintores, que então
emergiam como importantes forças da pintura
moderna francesa.

9. Hélène Vary, Modelo de Ateliê — 1888. Kunst-


halle, Bremen — A diferença de estilo entre Lau-
trec e outros impressionistas emerge mais evidente
nos retratos. Ele não era atraído pelos efeitos cam-
biantes da luz na natureza; em vez disso, preferia
dedicar-se ao ser humano e aos ambientes que este
cria.

10. Condessa de Toulouse-Lautrec — 1887. Musée


Henri de Toulouse-Lautrec, Albi — Aqui o artista
retrata a mãe num momento de tranqüilidade do-
méstica. Detalhes de ambientação acentuam o con-
teúdo psicológico do quadro.
11. A Trupe de Mlle. Églantine - 1896-97. Coleção
particular, Turim – Toulouse-Lautrec usou apenas
rápidas pinceladas retocadas com pastel para captar
o movimento frenético das dançarinas do cancã.
Focalizava elementos essenciais do desenho, havia
já alguns anos, à custa do colorido. Com as cores
leves, suas obras mais importantes do período
parecem as menos acabadas.

12. Jane Avril Dançando — c. 1893. Musée d'0rsay,


Paris — A atriz e dançarina Jane Avril foi uma das
maiores amigas de Toulouse-Lautrec e também um
de seus temas favoritos. O pintor era atraído pela
sutil melancolia, a sensibilidade e o ar de refina-
mento da artista, uma personalidade em contraste
direto com a de várias outras estrelas célebres da
época, especialmente La Goulue.

13. Bailarina de Pé — 1890. Coleção particular, Pa-


ris — Este esboço mostra o uso moderado de cor,
típico de Toulouse-Lautrec. Com apenas algum
sombreado básico, ele consegue criar um sentido
original de espaço. No período, ele usava tons cada
vez mais claros no que produzia.

14. Mulher Bebendo — 1889. Musée Henri de Tou-


louse-Lautrec, Albi — Neste estudo para o retrato
de Suzanne Valadier (um dos muitos motivos ti-
rados por ele da vida cotidiana), Toulouse-Lautrec
mostra a aptidão de captar a expressão de uma
figura complexa com o realce de poucos traços. O
quadro, precedido por croquis preparatórios como
este, saiu no Courrier Français de 21 de abril de
1889.

15. Baile no Moulin de Ia Galette — 1889. Coleção


de Mr. e Mrs. Lewis L. Coburn, The Art Institute of
Chicago — Nesta obra o observador sente-se parte
da dança. Lautrec consegue isto ao colocá-lo
imagina-riamente no primeiro plano do quadro,
com o que preenche o vazio entre o observador e a
ação observada. A tela f oi apresentada no Salão
des lndépen-dants no mesmo ano em que Lautrec a
pintou.
16. O Ator Henri Samary — 1889. Coleção J. Laro-
che, Paris — Esta obra extraordinária mostra o mo-
do altamente pessoal como o pintor capta aspectos
mais significativos da personalidade de uma figura,
analisa movimentos e recria atmosfera.

17. A Toalete — 1896. Musée d'0rsay, Paris — A


percepção especial e a sensibilidade do artista
permitiram-lhe captar o profundo abatimento desta
mulher, a quem ele chamava de "Solidão". É um
dos poucos quadros em que Toulouse-Lautrec dis-
pensa a fisionomia do modelo. "Solidão" é mos-
trada de costas, sentada, despida até a cintura, o
longo cabelo ruivo atado em coque na nuca.

18. Mulher de Perfil -- 1885. Coleção particular,


Paris — Esta obra, parte de uma série pintada du-
rante a década de 1890, é um exemplo indicativo
da aptidão de Lautrec para captar a personalidade
com apenas algumas poucas linhas, rápidas e
precisas. ' 'O que existe é apenas afigura'', disse ele
certa vez a seu amigo Maurice Joyant, "a paisagem
é, e deve ser, meramente acessória."

19. La Goulue Entrando no Moulin Rouge — 1892.


Museum of Modern Art, doação de Mrs. David M.
Levy, Nova York — O talento de Lautrec para o pôs-
ter contribuiu para a popularidade e o imenso su-
cesso de La Goulue, ao colocar a imagem exube-
rante da artista em cada esquina de Paris.

20. O Inglês no Moulin Rouge — 1892. Metropolitan


Museum of Art, doação de Miss Adelaide Milton de
Groot, Nova York — Este desenho exemplifica a
riqueza dos estudos psicológicos que Toulouse-
Lautrec deixou. Cada um desses estudos capta uma
faceta diferente da natureza humana. Este mostra
certo Mr. Warner com duas acompanhantes não
identificadas.
21.0 Começo da Quadrilha — 1892. Musée du Lou-
vre, Paris — Este é o segundo dos dois painéis pin-
tados para o cabaré que La Goulue chamava de '
'cabana''. Aqui, afigura da dançarina tem o efeito de
atrair o olhar para dentro da pintura. Quando
começava a "quadrilha indígena”, o público
elegante tomava lugar às mesas e deixava o espaço
do salão para os profissionais.

22. Jane Avril Deixando o Moulin Rouge — 1892.


Wadsworth Atheneum, Hartford (Connecticut) -
Com o declínio da popularidade, que antes fora
promovida pelos muitos posters, desenhos e lito-
grafias que Lautrec fez dela, Jane Avril foi prati-
camente excluída do Moulin Rouge. Neste desenho
o pintor intensifica o clima depressivo pela imer-
são da figura num halo de luz.

23. No Moulin Rouge — 1892. The Art Institute of


Chicago — Adivinha-se uma história por trás de
cada pessoa nesta cena do famoso cabaré, o Moulin
Rouge: os freqüentadores à esquerda, La Goulue,
uma dançarina de costas diante do espelho e a
jovem à direita, banhada por luz tênue e azulada.

24. Dança no Moulin Rouge — 1890. Coleção Henry


McLhenny, Filadélfia -- Aqui, Toulouse-Lautrec
capta a excitante atmosfera do Moulin Rouge, aon-
de o atraía esta mistura de dançarinas, artistas e
freqüentadores. No meio do salão, La Goulue
dança com Valentin-le-Désossé ("Valentin, o De-
sossado", alusão a dotes contorcionistas). Há quem
diga que o homem, de barba branca, ao fundo, é o
pai do pintor.

25. A Palhaça Cha-U-Kao — 1895. Coleção Oskar


Reinhart am Römerholz, Winterthur — Afigura
sedutora e vivaz de Cha-U-Kao domina a cena des-
ta composição de extraordinário equilíbrio
cromático: o contraste de amarelo e marrom, no
primeiro plano, e o do vestido rosa, à direita,
sobressaem das cores intensas do fundo.
26. La Goulue Valsando — 1894. Musée Henri de
Toulouse-Lautrec, Albi — Aos 26 anos, Lautrec co-
meçou a produzir posters de estilo revolucionário,
que rapidamente lhe propagaram a fama. Durante
toda a vida ele desprezou os conceitos temáticos de
La Belle Peinture, a pintura acadêmica, para
ocupar-se com a captação de imagens realistas
como a desta obra.

27. No Moulin Rouge, La Goulue — 1891. Musée


Henri de Toulouse-Lautrec, Albi — Neste estudo pa-
ra pôster, como em tantos outros trabalhos seus, o
artista f az o observador sentir-se parte da cena
observada. O perfil da dançarina, ao centro, atrai o
observador para dentro do mundo representado.

28. Yvette Guilbert -- 1894. Musée Henri de Tou-


louse-Lautrec, Albi — Embora a princípio a atriz
fosse indiferente ao interesse dele, Toulouse-Lau-
trec dedicou a Yvette Guilbert toda uma série de
posters, como o deste projeto, que muito contribuí-
ram para o sucesso dela. Mais tarde ela passou a
valorizar a amizade do pintor e também o estilo
sutil com que ele interpretava sua personalidade.

29. Yvette Guilbert Saudando o Público — 1894.


Musée Henri de Toulouse-Lautrec, Albi - - Tou-
louse-Lautrec conheceu essa atriz em 1894 e logo
se tornou admirador incondicional de seu talento,
do espírito irônico e da- capacidade de ela se fazer
amiga de todo tipo de gente. Estudou-a muito e
esforçou-se por representar, em vários retratos, o
perturbador enigma de sua personalidade.

30. O Dr. Gabriel Tapié de Céleyran num Corredor da


Comédie Française – 1894. Musée Henri de Tou-
louse-Lautrec, Albi – Neste retrato de seu primo,
Lautrec acentuou com uso de cor sua característica
economia de linhas. Quando pintou o quadro, o
artista acabara de fazer uma exposição no Salão de
Libre Esthétique, em Bruxelas, e fora convidado
pelo diretor de Lê Rire a ser colaborador regular da
revista.
31. A Cama - 1892. Musée d'0rsay, Paris - Esta
obra singular mostra o fascínio de Toulouse-Lau-
trec pela vida particular das pessoas, em contraste
com a apaixonada preferência de outros impres-
sionistas por temas da natureza. A partir de 1891,
sua busca da realidade social levou-o a morar em
bordéis por alguns períodos, de modo a melhor
captar a atmosfera que então representaria.

32. "Basta Querer Algo Apaixonadamente?" (O


Bom Jóquei), publicado no Figaro Illustré, julho
de 1895. — Numa fase de intensa atividade, que
foi de 1890 a 1900, Toulouse-Lautrec produziu
muitas ilustrações para periódicos e livros. Este é
um desenho com que ele ilustrou a peça O Bom
Jóquei, de R. Coolus.

33. Chocolat Dançando no Bar de Achille — 1896.


Musée Henri de Toulouse-Lautrec, Albi — O artista
exprime 'neste desenho famoso toda a dinâmica
vitalidade e a tensão da cena representada. Lautrec
o produziu como parte de um conjunto de obras
descritivas do mundo de prazeres e sensações de
Montmartre.

34. A Toalete: Madame Poupoule — 1899. Musée


Henri de Toulouse-Lautrec, Albi — Esta obra mos-
tra a maturidade plena do talento do artista no uso
de cores, bem como sua sensibilidade em relação
ao tema e à ambientação. A harmonia da
composição baseia-se na relação entre as cores um
tanto quentes do estojo cilíndrico, em primeiro pla-
no, e as da penteadeira.

35. Marcelle Lender Dançando o Bolero em Chil-


péric — c. 1897, Coleção J. H. Whitney, Nova York -
Empolgado com o desempenho da atriz Marcelle
Lender na opereta Chilpéric, Lautrec voltava ao
teatro todas as noites para pintá-la durante o
espetáculo. Fez centenas de esboços no esforço de
captar o ritmo explosivo e o colorido da dança da
artista.
36. Cabana de La Goulue: a Dança Mourisca (de-
talhe) — 1895. Musée d'0rsay, Paris — Este pai-
nel, em que La Goulue aparece dançando sob o
calor das luzes do palco, foi um dos mais celebra-
dos trabalhos produzidos por Lautrec. Seus críticos,
porém, diziam que o sucesso dele, como o do
cabaré, derivava apenas da popularidade de artistas
como La Goulue.

37. A Dança de La Goulue e Valentin-le-Désossé -


1895. Musée du Louvre, Paris — Em parte, o segre-
do do talento de Toulouse-Lautrec está no modo
como ele representa pathos, a qualidade daquilo
que toca a inconsciente angustia da condição
humana, mesmo em aspectos da realidade que
aparentemente a negam. O que o fazia popular era
o efeito desse contraste nos posters em que
figurava a gente que ele mais amava: dançarinos,
cantores, atores.

38. No Salão (Rue dês Moulins) — 1894. Musée Hen-ri


de Toulouse-Lautrec, Albi — Esta é a mais notável
das muitas obras de Lautrec inspiradas pela vida
nas ' 'maisons''. A densa atmosfera do salão
espaçoso, de cores violentas, é quase sufocante.
Afigura rígida da "Madame", com suas feições
nítidas, contrasta distintamente com as das "moças"
refesteladas.

39. A Passageira Desconhecida da Cabine 54 -


1896. Litografia -- Toulouse-Lautrec introduziu
nas artes, gráficas e na propaganda inovações que
ainda hoje são válidas. O enfoque incomum e di-
reto do motivo e seu conceito de linha e colorido
mínimos fazem parte da estética moderna.

40. A Inglesa do Star em Lê Havre — 1899. Musée


Henri de Toulouse-Lautrec, Albi — O Star era um
bar de Lê Havre onde o pintor conheceu a jovem
inglesa deste retrato, uma das obras-primas do pe-
ríodo. Aqui ele reverte à combinação 'de linhas
imediatas e cores agressivas, mas preenche o fundo
com formas geométricas mínimas.
41. No Bar: a Caixa Clorótica — 1898. Kunsthaus,
Zurique — Duas pessoas anônimas são imortali-
zadas pelos esboços incrivelmente hábeis do pintor.
Lautrec conseguia esboçar e pintar a bico de pena
ao mesmo tempo. Poucas caracterizações podem
ter produzido efeito como o desta cara florida,
justaposta ao perfil emaciado que os bofes brancos
acentuam na mulher. (Clorose é um tipo de anemia.

42. Messalina — 1900. The Art Institute of Chicago


— Toulouse-Lautrec deleitava-se com os motivos
que achava no teatro lírico de Bordéus. Lá ele
pintou Mlle. Cocyte em La Belle Hélène e também
Mlle. Ganne em Messalina, esta uma ópera hoje
esquecida.

43. O Botequim — 1900. Coleção de Mrs. Florence


Gould — Lautrec produziu este cartaz de teatro, no
ano anterior ao de sua morte, como anúncio da
peça L’Assomoir (“O Botequim”), de Émile Zola,
que seria encenada no dia 1º de novembro de 1900
no Théâtre de Ia Porte Saint-Martin. Quem
encomendou o cartaz foi Lucien Guitry, diretor da
peça.

44. Exame na Faculdade de Medicina de Paris -


1901. Musée Henri de Toulouse-Lautrec, Albi — Esta
é a última obra importante do artista, que a
começou poucos meses antes de morrer. O trabalho
indica que Lautrec parecia estar desenvolvendo
nova técnica, que joga com massas sombrias e
cores densas.
Auto-Retrato de Henri de Toulouse-Lautrec – 1880. Musée Henri de Toulouse-Lautrec, Albi
O Conde Alphonse de Tousouse-Lautrec Conduzindo seu Carro Postal – 1881. Musée du
Petiti Palais, Paris

A Condessa de Toulouse-Lautrec no Café da Manhã –


1883. Musée Henri de Toulouse-Lautrec, Albi
Cavalo na Guia – c. 1881. Coleção particular, Paris Circo Fernando, a Amazona – 1880. The Art Institute of
Chicago

A Lavadeira – 1889. Coleção particular, Paris


Moça de Cabelo Ruivo – 1889. Coleção bührle, Hélène Vary, Modelo de Ateliê – 1888. Kunsthalle,
Zurique Bremen

Condessa de Tousouse-Lautrec – 1887. Musée Henri Jane Avril Dançando – c. 1893. Musée d’Orsay,
de Toulouse-Lautrec, Albi Paris
O Pintor Henri Rachou – c. 1882. Coleção Algur H. Meadows, Dallas

A Trupe de Mlle. Églantine – 1896-97. Coleção particular,


Turim
A Bailarina em Pé – 1890. Coleção particular, Paris O Ator Henri Samary – 1889. Coleção J.
Larouche, Paris

Mulher Bebendo – 1889. Musée Henri de Toulouse-Lautrec, Albi


Baile no Moulin de la Galette – 1889. Coleção de Mr. e Mrs. Lewis L. Coburn,
The Art Institute of Chicago

A Toalete – 1896. Musée d’Orsay, Paris


A Mulher de Perfil – 1895. Coleção particular, Paris La Goulue Entrando no Moulin Rouge – 1892. Museum of
Modern Art, doação de Mrs. David M. Lwevy, Nova York

O Inglês no Moulin Rouge – 1892. Metropolitan


Museum of Art, doação de Miss Adelaide Milton de O Começo da Quadrilha – 1892. Musée du Louvre,
Groor, Nova York Paris
Jane Avril Deixando o Moulin Rouge – 1892. Wadsworth Atheneum, Hartford (Connecticut)

No Moulin Rouge – 1892. The Art Institute of Chicago


Dança no Moulin Rouge – 1890. Coleção Henry McLhenny, Filadélfia

A Palhaça Cha-U-Kao – 1895. Coleção Oskar La Goulue Valsando – 1894. Musée Henri
Reinhart am Römerholz, Winterthur de Toulouse-Lautrec, Albi
No Moulin Rouge, La Goulue – 1891. Musée Henri de Yvette Guilbert – 1894. Musée Henri de Toulouse-
Toulouse-Lautrec, Albi Lautrec, Albi

Yvette Saudando o Público – 1894. O Dr. Gabriel Tapié de Céleyran num Corredor
Musée Henri de Toulouse-Lautrec, da Comédie Française – 1894. Musée Henri de
Albi Tousouse-Lautrec, Albi
A Cama – 1892. Musée d’Dorsay, Paris

“Basta Querer Algo Apaixonadamente?” (O Bom Jóquei), publicado no Figaro Illustré, julho de 1895
Chocolat Dançando no Bar de Achille – 1896. Musée A Toalete: Madame Poupoule – 1899. Musée Henri
Henri de Toulouse-Lautrec, Albi de Toulouse-Lautrec, Albi

Marcelle Lender Dançando o Bolero em Chilpéric – A Passageira Desconhecida da Cabine 54 –


c.1897. Coleção J.H. Wihitney, Nova York 1896. Litografia
Cabana de La Goulue: a Dança Mourisca (Detalhe) – 1895. Musée
d’Orsay, Paris

A Dança de La Goulue e Valentin-le-Désossé – 1895. Musée du Louvre,


Paris
No Salão (Rue des Moulins) – 1894. Musée Henri de Toulouse-Lautrec, Albi

A Inglesa do Star em Le Havre – 1899. Musée Messalina – 1900. The Art Institute of Chicago
Henri de Toulouse-Lautrec
No Bar: A Caixa Clorótica – 1898. Kunsthaus, Zurique
O Botequim – 1900. Coleçãode Mrs. Florence Gould
Exame na Faculdade de Medicina de Paris – 1901. Musée Henri de Toulouse-Lautrec, Albi

Fim

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