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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

BRUNA DE MATTOS PELLIN


LARISSA BRUNETTA GUZZI
LUANA IZIDIO FLORES
MATEUS OLTRAMARI TOLEDO
PATRICIA CRISTINA PAGNONCELLI
STELA MAZIERO GAZABINE

FLUIDIZAÇÃO: UM ESTUDO PRÁTICO

CURITIBA
2018
BRUNA DE MATTOS PELLIN
LARISSA BRUNETTA GUZZI
LUANA IZIDIO FLORES
MATEUS OLTRAMARI TOLEDO
PATRICIA CRISTINA PAGNONCELLI
STELA MAZIERO GAZABINE

FLUIDIZAÇÃO: UM ESTUDO PRÁTICO

Relatório Técnico apresentado, conforme a


norma ABNT NBR 10719:2015, como parte
da avaliação referente à Disciplina TQ026.
Orientador: Prof. Dr. Alexandre Knesebeck

CURITIBA
2018
Resumo
Diversas são as atividades industriais que empregam a técnica de leito fluidizado. Em
face do aumento da área de contato sólido-fluido, que propicia uma grande melhoria nas
taxas de transferência associadas à fenômenos físicos e químicos, sua utilização cresceu
exponencialmente desde a década de 1940. Tendo em vista a importância do assunto, foi
conduzido um estudo prático, em escala piloto, a partir da fluidização com água líquida
de um leito formado por partículas irregulares de areia. Dados experimentais de relação
entre perda de carga e velocidade superficial foram utilizados para obtenção da velocidade
mínima de fluidização, bem como as equações empíricas de Leva e Ergun – sendo que aquela
apresentou excelente predição de valores; a porosidade do leito foi associada à velocidade
superficial experimentalmente e as relações de Richardson-Zaki, Rowe e Massarani foram
utilizadas, comprovando a lei de potência que associa as duas variáveis.

Palavras-chave: leito fluidizado. velocidade mínima de fluidização. porosidade. perda de


carga em leitos fluidos.
Lista de ilustrações

Figura 1 – Perda de Carga Durante a Fluidização . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20


Figura 2 – Variação de  com Re . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
Figura 3 – Adimensionais Cd Re2t e Re Cd
t
como Função de Ret . . . . . . . . . . . . . 28
Figura 4 – Representação Esquemática da Montagem de Equipamentos – Fora de
Escala . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
Figura 5 – Perdas de Carga (∆P ) como Funções da Velocidade Superficial (vs ):
Através de Valores Experimentais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
Figura 6 – Determinação do Ponto Crítico de Fluidização: Através de Valores
Experimentais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
Figura 7 – Porosidade Obtida pela Equação 2.5 em Função da Velocidade Superfi-
cial (vs ) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
Figura 8 – Velocidade Superficial (vs ) Durante a Fluidização – Resultados Experi-
mentais e Previstos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
Figura 9 – Perda de Carga do Leito Fixo – Comparação com as Correlações de
Leva e Ergun . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
Figura 10 – Ajuste da Potência m0 em Regime de Fluidização para Equação de Leva
Modificada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
Lista de tabelas

Tabela 1 – Parâmetro n = n(Ret , Dr ) para correlação de Richardson-Zaki (baseado


em partículas esféricas) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
Tabela 2 – Parâmetros m e β para Diferentes Regimes de Escoamento . . . . . . . 25
Tabela 3 – Fatores de Forma (Leva) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
Tabela 4 – Propriedades Fornecidas do Sólido Particulado (Areia) . . . . . . . . . 31
Tabela 5 – Tarefas Atribuídas e Escolhidas pelos Membros da Equipe . . . . . . . 31
Tabela 6 – Dados Teóricos e Experimentais Úteis na Determinação da Dependência
vs = vs () . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
Tabela 7 – Ponto Crítico de Fluidização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
Tabela 8 – Dados Experimentais do Funcionamento da Coluna Preenchida . . . . 47
Tabela 9 – Dados Experimentais do Funcionamento da Coluna sem Sólidos Parti-
culados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
Tabela 10 – Perdas de Carga do Leito Fixo (kPa) – Valores Comparativos para
Equação de Ergun . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
Lista de abreviaturas e siglas

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas

NBR Norma Brasileira aprovada pela Associação Brasileira de Normas Técni-


cas
Lista de símbolos

A Área de seção transversal da coluna

Cd Coeficiente de arrasto

D Diâmetro interno da coluna

Dp Diâmetro (médio) das partículas

Dr Razão entre o diâmetro da partícula e o interno da coluna

Ds Diâmetro da esfera de mesmo volume que a partícula

f Fator de perda de carga

g Aceleração da gravidade

Mp Massa de sólido particulado presente no leito

n Expoente da equação de Lewis-Bowerman

Re Número de Reynolds

Ret Número de Reynolds para velocidade terminal da partícula

Reψ Número de Reynolds associado com a esfericidade

vm Velocidade mínima de fluidização

vs Velocidade superficial do fluido

V̇ Vazão volumétrica

Vf Volume ocupado pelo fluido

Vp Volume ocupado pelo sólido particulado

∆P Perda de carga ao longo do leito

 Porosidade do leito

λ Fator de forma das partículas

λL Fator de forma de Leva

µ Viscosidade do fluido
ρf Densidade do fluido

ρo Densidade aparente durante a operação do leito fluido

ρp Densidade do sólido

ψ Esfericidade da partícula

ψa Fator de forma para a área da partícula

ψv Fator de forma para o volume da partícula


Sumário

Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

1 OBJETIVOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
1.1 Objetivo Geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
1.2 Objetivos Específicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
2.1 Fluidização de Sólidos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
2.2 Regime de Fluidização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
2.3 Variáveis de Importância e Cálculos Associados à Fluidização . . . . 21
2.3.1 Velocidade Superficial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
2.3.2 Porosidade do Leito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
2.3.3 Perda de Carga . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
2.3.4 Velocidade Mínima de Fluidização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27

3 MATERIAIS E MÉTODOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
3.1 Procedimento Experimental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
3.2 Divisão de Tarefas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33

5 CONCLUSÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43

REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45

APÊNDICE A – DADOS SUPLEMENTARES . . . . . . . . . . . . 47


15

Introdução

Leitos fluidizados são amplamente utilizados em indústrias de processos químicos


para separação, transferência [veloz] de massa e calor, e reações catalíticas (KOPELEVICH,
2017). Desde 1926, a aplicação de leitos fluidizados em escala industrial passou a ter grande
importância técnica e científica no ramo da engenharia química. Trabalhando na Alemanha,
Fritz Winkler foi o pioneiro na implantação destes sistemas em um processo de gaseificação
do carvão (DECHSIRI, 2004). Por volta de 1940 diversas operações envolvendo a produção
de derivados do petróleo, através de unidades de craqueamento catalítico em leito fluidizado
(FCCU – fluidized catalytic cracking unit), surgiram no mercado de indústrias químicas.
Atualmente, cerca de três-quartos de todas as poliolefinas são produzidas através de
processos envolvendo leitos fluidizados (COCCO; KARRI; KNOWLTON, 2014).
Uma coluna contendo partículas sólidas sujeita a um fluxo de certo fluido (gás ou
líquido) classifica-se como um leito fluidizado à medida que a velocidade do fluido se torna
suficiente para suspender, ou fluidizar, tais partículas. A ocorrência deste fenômeno aumenta
a área de contato sólido-fluido, promovendo, assim, melhores taxas de transferência. As
condições propícias a uma boa fluidização dependem do estado físico do fluido e das
características do sólido, principalmente sua densidade e granulometria (GOMIDE, 1983).
O objetivo-chave fica associado com a otimização da vazão, para que o leito fluido possa
oferecer bons resultados em um projeto; no entanto, a complexidade dinâmica do sistema
faz desta tarefa um grande desafio (KOPELEVICH, 2017). Como disse Geldart (1986),
“The arrival time of a space probe traveling to Saturn can be predicted more accurately
than the behavior of a fluidized bed reactor!”.
Gomide (1983) ressalta a vasta aplicabilidade da técnica de leito fluidizado através
de exemplos envolvendo a indústria do petróleo (craqueamento catalítico, produção de
anidrido ftálico e conversão do metano à monóxido de carbono e hidrogênio), ustulação de
piritas, sulfeto de zinco e de minérios de ouro, calcinação do calcáreo, pelotização, secagem
de sólidos, limpeza de gases, entre outros.
O estudo prático de um leito fluidizado [formado por água líquida e partículas
irregulares de areia] é de grande interesse, bem como a obtenção de parâmetros associados
à operação do sistema – relações entre perda de carga, porosidade e a velocidade superficial
na coluna, além da velocidade mínima de fluidização. Diversos foram os exemplos dados
que justificam a necessidade de tal vivência, de modo a complementar a formação e a
fixação de conceitos no âmbito da engenharia química e das operações unitárias.
17

1 Objetivos

1.1 Objetivo Geral


O experimento realizado tem por objetivo principal reforçar, de maneira prática e
em escala piloto, os conceitos envolvidos na operação unitária de fluidização.

1.2 Objetivos Específicos


Através da análise dos dados experimentais coletados, os objetivos específicos desta
prática são:
a) Obter a relação entre a perda de carga total, da coluna e do leito fluido como
funções da velocidade superficial;
b) Representar a dependência da porosidade com a velocidade superficial de
escoamento do fluido (água líquida) – comparando-a com os modelos téoricos
propostos por Richardson e Zaki (1954) e Politis e Massarani (1989);
c) Determinar a velocidade mínima de fluidização a partir de dados experimentais
e correlações empíricas propostas por Ergun (1952) e Leva et al. (1948).
19

2 Revisão Bibliográfica

2.1 Fluidização de Sólidos


A fluidização é uma técnica que envolve a suspensão de sólidos particulados finos
em uma corrente ascendente de fluido, cuja velocidade é superficialmente alta para causar a
fluidização e movimentação vigorosa das partículas. O sistema fluidizado é uma suspensão
que possui a maioria das características normalmente apresentada pelos fluidos verdadeiros,
podendo passar de um recipiente para outro por diferença de pressão hidrostática e através
de dutos e válvulas (GOMIDE, 1983).
Os tipos de regimes fluidodinâmicos na fluidização dependem das características
físicas da fase particulada, como por exemplo a distribuição granulométrica, tamanho
médio das partículas, forma e massa específica e das propriedades da fase fluida como
a viscosidade dinâmica e massa específica, assim como das condições operacionais como
temperatura, vazão da fase fluida, entre outros parâmetros (CREMASCO, 2012).
O funcionamento de um leito fluidizado pode ser melhor compreendido se examinado
o comportamento de um sólido finamente dividido quando pelo seu interior passa um
fluido (GOMIDE, 1983).
Ao transpor o leito poroso (fixo) a baixa velocidade, o fluido percorre pequenos
e tortuosos canais, perdendo pressão, mas não movimentando as partículas. Com um
aumento da velocidade, a perda de pressão também aumenta; esse acréscimo ocorre até que
as partículas sólidas estejam separadas umas das outras – nesta situação a perda de carga
é suficiente para equilibrar o peso aparente das partículas –, caracterizando um leito calmo
ou tranquilo (do inglês, quiescent bed). Caso a velocidade continue a aumentar o mesmo
acontecerá com a perda de carga, ao passo que ocorre uma expansão do leito. Em seguida,
as partículas separam-se umas das outras, começando a se movimentar de forma análoga
a um líquido em ebulição, daí o termo leito em ebulição. Mesmo que algumas partículas
finas sejam arrastadas, grande parte do sólido permanece no leito – caracteriza-se esta
situação como uma fluidização em batelada (GOMIDE, 1983).
A expansão do leito continuará, à medida que a velocidade e, consequentemente,
a perda de carga aumentam. Regiões de alta e baixa concentração de sólidos surgem,
enquanto estas sobem pelo leito de maneira semelhante à bolhas de vapor. A partir de
certa velocidade a porosidade do leito tende ao valor unitário, indicando a relevância do
arraste de partículas. Quando todo sólido passa a ser arrastado pelo fluido diz-se que o
regime de fluidização contínua foi atingido (GOMIDE, 1983).
Ao plotar um gráfico do logarítmo da perda de carga (∆P ) como função da
20 Capítulo 2. Revisão Bibliográfica

velocidade superficial (vs ) do fluido, aquela associada ao escoamento livre dentro da coluna,
algo semelhante à Figura 1 é obtido.

Figura 1 – Perda de Carga Durante a Fluidização

Fonte: Gomide (1983).

2.2 Regime de Fluidização


Pode-se dividir a fluidização em três grandes grupos: fluidização homogênea, fluidi-
zação heterogênea e fluidização com transporte ou arraste de partículas. Harker, Richardson
e Backhurst (2002) argumentam que o adimensional de Froude (Fr)
vs2
Fr ≡ (2.1)
gDp
é um indicativo do tipo de fluidização; em que g é a aceleração da gravidade e Dp
o diâmetro da partícula. Gomide (1983) sugere que quando Fr < 1, a fluidização é
particulada (homogênea), sendo agregativa (heterogênea) quando Fr > 1.

a) Fluidização Homogênea
A fluidização homogênea ou particulada ocorre quando o sólido e o fluido
possuem densidades próximas, se não iguais em fluidização com líquidos, ou
quando as partículas são muito grandes. Neste caso não há expansão significativa
do leito estático antes da fluidização e a densidade do leito permanece uniforme
(GOMIDE, 1983).
b) Fluidização Heterogênea
A fluidização heterogênea, agregativa ou particulada ocorre quando a diferença
entre as densidades do fluido e dos sólidos é expressiva (fluidização com gases),
2.3. Variáveis de Importância e Cálculos Associados à Fluidização 21

ou quando as partículas são pequenas, acarretando em uma velocidade do gás


no leito elevada. Parte do fluido passa pelo leito na forma de bolhas, como um
líquido em ebulição.

Para leitos de grande profundidade e pequeno diâmetro pode ocorrer a passagem


do gás em forma de bolhas que atingem o diâmetro do leito. Por conta disso,
ocorre a coalescência de bolhas menores, ocasionando o slugging – situação que
deve ser evitada.

c) Fluidização com Transporte ou Arraste

Nesta situação a porosidade já se encontra próxima da unidade. A diferença de


pressão começa a diminuir, por conta do aumento da porosidade. Esta queda
continua até o momento em que a velocidade é alta o suficiente para que o
transporte do material seja significativo, a perda de carga volta a aumentar
devido às forças dissipativas, associadas à parede do tubo, que atuam no fluido
(HARKER; RICHARDSON; BACKHURST, 2002).

2.3 Variáveis de Importância e Cálculos Associados à Fluidização


Algumas considerações, feitas por Cremasco (2012), são importantes para dar
continuidade ao texto. Elas representam as hipóteses adotadas nos cálculos e expressões
que virão a seguir.

a) A fase fluida comporta-se como fluido newtoniano e incompressível;

b) Regime permanente;

c) Meio poroso isotrópico (porosidade constante ao longo do leito);

d) Escoamento uniforme e estabelecido (campo de velocidades uniforme);

e) Uniformidade do campo de velocidade da fase particulada;

f) Escoamento unidimensional.

2.3.1 Velocidade Superficial


Se o escoamento do fluido no interior do leito não fosse alterado pela presença de
sólidos sua velocidade seria a superficial. Isto é, ela corresponde ao escoamento livre. Basta
associar a área de seção transversal da coluna (A) com a vazão volumétrica do caso (V̇ ):

V̇ 4V̇
vs = = (2.2)
A πD2

em que D representa o diâmetro interno da coluna.


22 Capítulo 2. Revisão Bibliográfica

O número de Reynolds para um escoamento com as características apresentadas


neste relatório fica definido pela Equação 2.3.

ρf vs Dp
Re ≡ (2.3)
µ

em que ρf representa a densidade do fluido e µ sua viscosidade.

2.3.2 Porosidade do Leito


As propriedades de sólidos particulados que caracterizam o leito [formado pelo
sólido granular] dependem de alguns parâmetros como a porosidade. Ela é definida pela
relação entre o volume de “vazios” da amostra e o volume total1 . Ou seja, é a razão entre
o volume de fluido no leito e o volume total (ocupado pelo fluido e pelas partículas):

Vf
= (2.4)
Vf + Vp

A granulometria e a forma das partículas afetam a porosidade do leito estático (e ).


No início da fluidização o valor da porosidade do leito recém formado é designado como
porosidade mínima (m ). Gomide (1983) indica que a porosidade mínima coincide com
a estática, desde que a fluidização seja particulada. À medida que o leito se expande a
porosidade tende ao valor unitário, em especial no caso da fluidização contínua. Observando
a Figura 2 é possível notar a dependência linear entre a porosidade e o logarítmo do
número de Reynolds, durante a fluidização em batelada.

Figura 2 – Variação de  com Re

Fonte: Gomide (1983).

1
Do inglês, void-fraction.
2.3. Variáveis de Importância e Cálculos Associados à Fluidização 23

Gomide (1983) sugere: na fluidização com líquidos é preferível um gráfico em escalas


logarítmicas de  em função de vs .
Conhecendo-se a massa total de sólidos particulados (Mp ) presente no leito é possível
obter a porosidade para diferentes alturas L. Basta equacionar um balanço material de
partículas:
Mp = ρp Vp = ρp (Vf + Vp )(1 − ) = ρp AL(1 − )

em que ρp é a densidade do sólido,

4Mp
=1− (2.5)
ρp πD2 L

Tal relação permite o cálculo da densidade aparente, ou densidade de operação,


durante a fluidização:
ρo = ρf + (1 − )ρp (2.6)

Pode-se contabilizar a relação entre porosidade e velocidade superficial durante a


fluidização. Como mostrado na Figura 2 tal relação não é linear, mas logarítmica. Em
geral, a maioria das correlações e modelos são baseados na Equação 2.7, proposta por
Lewis e Bowerman (1952):
vs = vt n (2.7)

na qual vt é a velocidade terminal da partícula livre e n um fator que pode depender do


número de Reynolds terminal (Ret ), do diâmetro da partícula e do leito.
Diversas são as correlações que permitem obter relações satisfatórias para o fator
n. Algumas delas estão explícitas a seguir:

a) Modelo de Richardson e Zaki (1954)

Tabela 1 – Parâmetro n = n(Ret , Dr ) para correlação de Richardson-Zaki (baseado em


partículas esféricas)
Intervalo de Ret n = n(Ret , Dr )
Ret < 0.2 4.65 + 19.5Dr
0.2 < Ret < 1 (4.35 + 17.5Dr )Re−0.03
t
1 < Ret < 200 (4.45 + 18Dr )Ret−0.1
200 < Ret < 500 4.45Ret−0.1
Ret > 500 2.39

Fonte: Adaptado de Richardson e Zaki (1954).

A variável adimensional Dr representa a razão entre o diâmetro da partícula e


do leito:
Dp
Dr ≡ (2.8)
D
24 Capítulo 2. Revisão Bibliográfica

além disso, o número de Reynolds é dado em função da velocidade terminal,

ρf vt Dp
Ret ≡ (2.9)
µ

No caso de partículas não-esféricas com diâmetro médio maior que 100 mícrons,
Richardson e Zaki (1954) argumentam que n tem dependência apenas do formato
da partícula.
!0.16
πDs3
n = 2.7 (2.10)
6Dp3
em que Ds é o diâmetro da esfera de mesmo volume da partícula.

b) Modelo de Rowe (1987)

4.7 − n
= 0.175Ret0.75 (2.11)
n − 2.35

Possui um desvio padrão de ±0.02 na predição de valores para partículas


esféricas.

c) Modelo de Politis e Massarani (1989)

Foi construído com base em partículas irregulares (areia, hematita, itabirito,


dolomita e quartzo).
n = 5.93Re−0.14
t +1 (2.12)

desde que 9.5 < Ret < 700 e a esfericidade (ψ) pertença ao seguinte intervalo:
[0.47 : 0.80]. Mais informações podem ser encontradas em Massarani (2002).

Deve ser feito um pequeno adendo ao final desta subseção: o método de cálculo
para velocidade terminal. A estratégia sugerida por Cardoso (2018) será utilizada; ela se
baseia no cálculo do adimensional Cd Re2t , para não-esferas:

8ψv Dp3 g(ρp − ρf )ρf


Cd Re2t = (2.13)
πµ2

em que Cd é o coeficiente de arrasto e ψv é o fator de forma para o volume. A Figura 3


traz a relação entre tal adimensional e o número de Reynolds terminal.
O regime de escoamento pode, então, ser determinado a partir do valor [aproximado]
de Ret . A velocidade terminal (vt ) é expressa por:
1
4(ρp − ρf )ρm−1 gDpm+1
" # 2−m
f
vt = (2.14)
3βµm

em que m e β são coeficientes associados com o regime de escoamento, expostos na


Tabela 2.
2.3. Variáveis de Importância e Cálculos Associados à Fluidização 25

Tabela 2 – Parâmetros m e β para Diferentes Regimes de Escoamento


Regime Intervalo de Ret m β
Viscoso (Stokes) Ret < 1 1 24
Intermediário 1 < Ret < 500 0.6 18.5
Hidráulico (Newton) 500 < Ret < 2 × 105 0 0.44
“Turbulento” Ret > 2 × 105 0 0.2

Fonte: Adaptado de Cardoso (2018).

2.3.3 Perda de Carga


A energia perdida pelo fluido ao atravessar o leito de partículas pode ser contabili-
zada como um decréscimo de pressão, também conhecido como perda de carga (∆P ). Ela
é aproximadamente igual quando se utilizam fluxos ascendentes ou descendentes de fluido
a baixa vazão. Isso, porém, ocorre até o fluido atingir a velocidade mínima de fluidização,
quando a força de arraste se iguala ao peso aparente no fluxo ascendente e o leito começa
sua expansão – fenômeno caracterizado por uma transição entre as situações de leito fixo
e fluidizado.
Uma vez que a perda de carga no início da fluidização é suficiente para suspender
os sólidos no leito:
∆Pm = (1 − m )(ρp − ρf )Lm g (2.15)

já que o balanço de forças deve ser satisfeito em um elemento do leito. Na Equação 2.15,
o sub-índice m representa a condição de início da fluidização. Gomide (1983) comenta
que a perda de carga durante a fluidização em batelada fica aproximadamente constante,
mantendo o valor de ∆Pm . De qualquer forma, a Equação 2.15 pode ser escrita para
quaisquer outras condições durante a fluidização – constituindo-se em um bom elemento
para se calcular a porosidade e a densidade do leito nas condições de operação (GOMIDE,
1983):
∆P
=1− (2.16)
(ρp − ρf )Lg

Observa-se que a Equação 2.16 é uma outra alternativa à Equação 2.5 para o
cálculo experimental da porosidade. Enquanto esta tem dependência apenas de L, a altura
do leito, aquela também agrega a dependência da perda de carga, que, ao que tudo indica,
varia pouco durante a fluidização em batelada.
O cálculo teórico da perda de carga em um leito fluido tem amparo de muitas
correlações empíricas. Duas delas, de Leva et al. (1948) e (ERGUN, 1952), serão adotadas
neste estudo, sendo que ambas são válidas para leitos fixos e fluidizados – além de se
basearem na equação de Fanning:

2f Lvs2 ρf
∆P = (2.17)
ψDp
26 Capítulo 2. Revisão Bibliográfica

a) Equação de Leva et al. (1948)


Obtida através do número de Reynolds definido pela Equação 2.3 e uma equação
de Fanning (2.17) modificada, em conjunto com um parâmetro de forma proposto
por Leva et al. (1948).

2fL Lvs2 ρf (1 − )2 λ2L


∆P = ·
Dp 3
(2.18)
ψa
λL = 0.25 2/3
ψv
em que fL é o fator de perda de carga para equação de Leva, obtido das Figuras
VIII.3 e VIII.4 de (GOMIDE, 1983, p. 250–253), e λL o fator de forma de Leva
(ver Tabela 3). Caso Re < 10 é recomendado fazer uso da seguinte expressão:
100
fL = (2.19)
Re

Tabela 3 – Fatores de Forma (Leva)


Material Natureza das partículas λL
Areia média — 1.33
Areia fina angulosa Irregular 1.50–1.54
Areia arredondada Arredondadas 1.16–1.20
Cortiça — 1.37
Pó de carvão — 1.82
Agregados irregulares 1.82
Fumos de combustão
Partículas esféricas 1.12
Mica Flocos 3.54

Fonte: Retirado de Gomide (1983).

b) Equação de Ergun (1952)


Assim como a equação de Leva, esta também utiliza o número de Reynolds com
a esfericidade (REψ ) e uma equação de Fanning modificada. A diferença é que
Ergun alterou o fator de atrito f :
" #
1− 150(1 − )

2f = + 1.75
3 Re
(2.20)
ρf vs ψDp
Reψ =
µ

Substituindo a Equação 2.20 na Equação 2.17:


150µLvs (1 − )2 1.75Lvs2 ρf (1 − )
∆P = · + · (2.21)
ψ 2 Dp2 3 ψDp 3

Na equação acima utiliza-se o fator λ/6 para obter a equação de ∆P com


ψDp , isso refina a representação da partícula na equação (λ é o fator de
2.3. Variáveis de Importância e Cálculos Associados à Fluidização 27

forma da partícula, a razão entre o fator de forma para a área (ψa ) e para o
volume (ψv )). Segundo Gomide (1983), a primeira parcela da Equação 2.21
corresponde às perdas por atrito superficial do fluido com as partículas sólidas.
A segunda corresponde às perdas cinéticas, provocadas pelas mudanças de
direção, expansões e contrações pelo interior do leito.
Uma vantagem da equação proposta por Ergun (1952) é não necessitar de tabelas
ou gráficos adicionais para busca de parâmetros. Entretanto, ser generalizada,
com base na esfericidade, pode ser uma desvantagem na previsão de valores.
c) Equação de Leva modificada
Gomide (1983) expõe a seguinte equação, válida tanto para leitos fixos como
fluidizados – em regime laminar:
" #m0
200µLvs 3
∆P = (2.22)
ψ 2 Dp2 (1 − )2

Há pouca diferença entre a Equação 2.18 e esta apresentada. Nota-se que houve
substituição do fator de forma pelo termo de esfericidade e a inserção de um
parâmetro m0 para contabilizar a dependência da porosidade. Para leitos fixos
m0 assume o valor de −1.

2.3.4 Velocidade Mínima de Fluidização


Como comentado anteriormente, a velocidade de gás ou líquido necessária para ven-
cer a força peso aparente, suportando as partículas fluidizadas sem arrastá-las corresponde
à velocidade mínima de fluidização (vm ). Abaixo desta velocidade não há fluidização de
partículas no leito, e muito acima acaba ocorrendo o arraste de sólidos para fora do leito.
Desta forma, igualando a perda de carga expressa pela Equação 2.15 com aquelas
fornecidas pelas correlações de Leva et al. (1948) e Ergun (1952):
" ! #1/2
ρp gDp 3m
vm = −1 · (2.23)
ρf 2fL (1 − m )λ2L

para equação de Leva, e


1.75ρf 2 150µ(1 − m )
· vm + · vm − (ρp − ρf )g = 0 (2.24)
ψDp 3m ψ 2 Dp2 3m

para a correlação de Ergun, em que se obtém uma equação do 2o grau – passível de


resolução.
Experimentalmente, a velocidade mínima de fluidização pode ser encontrada a
partir do ponto em que as curvas de perda de carga do leito fixo e fluidizado se encontram
– em um gráfico semelhante ao apresentado na Figura 1.
28 Capítulo 2. Revisão Bibliográfica

Figura 3 – Adimensionais Cd Re2t e Cd


Ret
como Função de Ret

Fonte: Harker, Richardson e Backhurst (2002).


29

3 Materiais e Métodos

3.1 Procedimento Experimental


A Figura 4 exibe os componentes principais utilizados no experimento.

Figura 4 – Representação Esquemática da Montagem de Equipamentos – Fora de Escala

Fonte: Os Autores (2018).

Uma linha conectada à distribuição de água comum é acoplada a uma coluna de


água (1) – a finalidade de tal instrumento é providenciar uma pressão constante na entrada
da coluna de fluidização (3) (D = 3.08 cm) aberta à atmosfera, dentro desta coluna uma
certa massa de areia é inserida.
A água que escoa para fora da coluna [de água] é controlada e direcionada para a
coluna de fluidização e para um tubo, também aberto à atmosfera (2). A partir da altura
do nível de água no tubo aberto, em relação ao topo da coluna fluidizada, é possível aferir a
perda de carga total da coluna – isto é, dos componentes, como o difusor, paredes e junções,
e do leito fluido. No topo da coluna de fluidização há uma espécie de copo, permitindo
com que o nível fique sempre constante e apenas o que transbordar seja retirado para um
recipiente coletor (4).
30 Capítulo 3. Materiais e Métodos

As medidas da massa de água no recipiente coletor, em um certo intervalo de


tempo, permitem a obtenção da vazão volumétrica, bem como da velocidade superficial da
água na coluna. Além disso, há dois barbantes amarrados ao elemento (2) – permitindo
que seja aferida a altura do leito, conforme a vazão é regulada.
Uma segunda etapa consiste na execução análoga do experimento, mas sem a massa
de areia no interior de coluna. Isto permite contabilizar, para diferentes vazões, a perda de
carga associada à coluna de fluidização e seus acessórios. Assim, a perda de carga do leito
fica determinada:
∆P (leito) = ∆P (total) − ∆P (coluna) (3.1)
já que o leito é considerado como o sistema cujas bordas são delimitadas pelo contorno de
areia.
Plota-se, então, as duas perdas de carga envolvidas, juntamente com a perda total,
como funções da velocidade superficial. Ajusta-se uma função para a perda de carga da
coluna. Em seguida, funções são ajustadas para o regime de leito fixo e de leito fluido. Por
fim, o ponto de início da fluidização pode ser visualizado a partir dos ajustes feitos – no
local geométrico de encontro entre as funções associados ao leito fixo e fluido.
As medidas de altura do leito e de perda de carga podem ser utilizadas, conforme
descrito na seção 2.3, para obter gráficos experimentais da porosidade do leito em função
da velocidade superficial.
É importante aferir a temperatura da água durante a realização do experimento,
para que as propriedades físicas associadas (viscosidade e densidade) sejam, corretamente,
obtidas. Em síntese, os materiais utilizados estão listados abaixo:
a) Água da rede de distribuição local;
b) Areia;
c) Barbantes;
d) Coluna de água para equalização da pressão;
e) Coluna de fluidização (feita de vidro, para visualização do experimento) com
difusor e placa retentora;
f) Conexão em “T” para mangueiras;
g) Cronômetro;
h) Mangueiras de conexão;
i) Manômetro (tubo aberto);
j) Pote plástico coletor;
k) Régua;
l) Válvulas reguláveis;
3.2. Divisão de Tarefas 31

Algumas propriedades da areia utilizada se encontram na Tabela 4.

Tabela 4 – Propriedades Fornecidas do Sólido Particulado (Areia)


Mp (g) ρp (g/cm3 ) Dp (µm) ψ
148.95 2.706 150–212 0.72

Fonte: Os Autores (2018).

A viscosidade da água pode ser obtida através de uma correlação indicada pelo
professor:
247.8
µ [cP] = 0.02414 × 10 T [K]−140 (3.2)

3.2 Divisão de Tarefas


A Tabela 5 identifica a tarefa atribuída a cada membro da equipe.

Tabela 5 – Tarefas Atribuídas e Escolhidas pelos Membros da Equipe


Aluno/Membro Tarefa
Bruna M. P. Medidas de vazão
Larissa B. G. Medidas de altura do leito
Luana I. F. Registro dos dados
Mateus O. T. Medidas de altura do leito
Patricia C. P. Medidas de altura do manômetro
Stela M. G. Regulagem de vazão

Fonte: Os Autores (2018).


33

4 Resultados e Discussão

A partir das alturas medidas1 pelo “manômetro” (∆h) foi possível contabilizar as
perdas de carga,

∆P = ρf g∆h (4.1)

associando-as com as velocidades superficiais obtidas através da Equação 2.2. As perdas


referentes ao conjunto coluna + leito estão indicadas por pontos vermelhos na Figura 5,
enquanto aquelas provenientes apenas da coluna (e seus acessórios) podem ser vistas como
pontos verdes.

Figura 5 – Perdas de Carga (∆P ) como Funções da Velocidade Superficial (vs ): Através
de Valores Experimentais

∆P (total) ∆P (leito)
∆P (coluna) Ajuste
2.5

2
∆P (kPa)

1.5

0.5

0
0 1 2 3 4 5 6
vs (mm/s)

Fonte: Os Autores (2018).

Ajustou-se um polinômio de segunda ordem aos pontos experimentais relacionados


às perdas da coluna (Equação 4.2). Força-se a nulidade do coeficiente de ordem zero, de
modo que a equação adquire significado físico – afinal, caso não haja escoamento (vs = 0)
não há perda de carga. Houve excelente representação, com um coeficiente de determinação

1
Todos os dados experimentais se encontram no Apêndice A
34 Capítulo 4. Resultados e Discussão

próximo da unidade (r2 = 0.99997).

! !
kPa · s2 kPa · s
∆P (coluna) = 0.01826 · vs2 + 0.1278 · vs (4.2)
mm2 mm

O ajuste quadrático se justifica pela presença dos obstáculos à passagem de fluido


na coluna, que geram uma perda de carga proporcional ao quadrado da velocidade – por
mais que o regime de escoamento da prática se caracterizasse como laminar, no qual a
dependência é linear. A partir da Equação 3.1 os pontos experimentais da perda de carga
do leito foram obtidos, na Figura 5 eles estão representados por círculos azuis.
As tendências observadas na Figura 5 concordam com aquelas apresentadas na
literatura (ver Figura 1). No caso estudado não há uma corcova nítida (zona de expansão)
antes do ponto de fluidização, uma vez que a diferença de densidades do sólido particulado
e do fluido é pequena. Além disso, as zonas de leito fixo e fluido podem ser facilmente dife-
renciadas – sendo que aquela apresenta uma perda de carga crescente e aproximadamente
linear, enquanto esta uma perda aproximadamente constante.
Algum desvio experimental ocorreu com os dois últimos valores, que ficam fora da
tendência observada. Outro ponto importante que merece destaque é a perda de carga
da coluna, que cresce rapidamente com a velocidade da água – nos primeiros pontos as
perdas associadas ao conjunto (total) são praticamente iguais àquelas do leito.
Para obter o ponto crítico de fluidização duas retas (Equação 4.3) foram ajustadas
à perda de carga do leito: uma na região de leito fixo (6 primeiros pontos) e outra na
região de leito fluido. O ponto em que ocorre a intersecção das retas caracteriza o início
da fluidização. A Figura 6 ilustra o procedimento de cálculo e expõe as retas obtidas.
!
kPa · s
∆P (fixo) = 5.7712 · vs + 0.03459 (kPa)
mm
! (4.3)
kPa · s
∆P (fluido) = 0.03532 · vs + 1.2920 (kPa)
mm

Como citado anteriormente, os dois últimos pontos apresentam-se fora da tendência


– o que ficou claro durante a regressão linear feita. O coeficiente de determinação da
primeira reta (leito fixo) foi de 0.99696, enquanto o da segunda (leito fluido) foi de 0.46021;
por conta disso uma segunda regressão foi feita, nela foram descartados os dois últimos
pontos: !
kPa · s
∆P (fluido) = 0.27734 · vs + 1.1875 (kPa) (4.4)
mm
esta apresentou um coeficiente r2 = 0.99477, evidenciando a tendência linear.
Foram obtidos, então, dois pontos correspondentes ao início da fluidização. O
primeiro a partir da regressão feita com todos os pontos experimentais, o segundo com a
35

exclusão dos dois últimos pontos. Entretanto, os valores diferiram em menos de 5%, como
pode ser observado:

vm,1 = 0.21922 mm/s ∆Pm,1 = 1.2977 kPa

vm,2 = 0.20985 mm/s ∆Pm,2 = 1.2457 kPa

Figura 6 – Determinação do Ponto Crítico de Fluidização: Através de Valores Experimen-


tais

Leito fixo Ponto Crítico


Leito fluido ∆P (leito)
1.6

1.4

1.2
∆P (kPa)

0.8

0.6

0.4

0.2
0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5
vs (mm/s)

Fonte: Os Autores (2018).

Dado o baixo desvio foi assumido como valor experimental a média entre os dois
obtidos:
vm = 0.21453 mm/s ∆Pm = 1.2727 kPa

Tais valores indicam que a perda de carga mínima na fluidização está associada a
uma coluna de água com cerca de 13 cm de altura e uma vazão de 9.6 mL/min.
Os números de Froude (Equação 2.1) foram calculados para todas as velocidades
superficiais medidas experimentalmente. Todos ficaram muito abaixo de um – o maior
valor apresentado foi de 0.012 –, indicando uma fluidização particulada. Tal constatação
concorda com a teoria exposta por Gomide (1983), sendo que a pequena diferença de
densidades entre a areia e a água é, mais uma vez, a responsável por tal comportamento.
Na Figura 7 a relação entre a porosidade experimental, calculada pela Equação 2.5,
e a velocidade superficial pode ser visualizada. Nela foram plotados os pontos referentes
tanto ao leito fixo quanto ao leito fluido.
36 Capítulo 4. Resultados e Discussão

Figura 7 – Porosidade Obtida pela Equação 2.5 em Função da Velocidade Superficial (vs )

0.8

0.75

0.7

0.65

0.6


0.55

0.5

0.45

0.4
0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5
vs (mm/s)

Fonte: Os Autores (2018).

Observa-se que, para baixas velocidades superficiais, a porosidade se mantém


praticamente constante – indicando a região de leito fixo. Pequenas variações na altura
do leito foram observadas nesta região (ver Apêndice A); elas podem ser atribuídas a um
processo de acomodação das partículas à medida que o escoamento ocorre. Isso porque o
leito foi operado anteriormente em regime fluidizado, sendo plausível a hipótese de que as
partículas, ao sedimentarem, não ocuparam uma configuração que minimizasse a altura
do leito e a porosidade.
Acima da velocidade mínima de fluidização a porosidade passa a crescer de forma
significativa, com tendência próxima a uma lei de potência. Isso era esperado, conforme
discutido na subseção 2.3.2. Foi, também, observado experimentalmente o movimento
ascendente e descendente de correntes que carregavam as partículas – caracterizando,
assim, a ocorrência da fluidização e de alguns caminhos preferenciais no leito.
A equação proposta por Lewis e Bowerman (1952) (Equação 2.7) foi ajustada aos
dados experimentais (r2 = 0.99806). A velocidade terminal das partículas de areia e os
valores de n foram obtidos através das correlações apresentadas na subseção 2.3.2. Tais
resultados podem ser vistos de forma gráfica na Figura 8.
Percebe-se uma excelente predição da função vs = vs (), durante a fluidização, pelo
modelo de Politis e Massarani (1989) (rmsd = 0.17)2 . Comprova-se, então, a validade
2
Foi utilizada a função root mean square deviation como um estimador do caráter preditivo dos modelos,
37

da equação, já que a partícula se encontrava na classificação daquelas estudadas por


Massarani. O modelo de Richardson e Zaki (1954) acaba prevendo velocidades que chegam
a ser maiores que o dobro das experimentais, sendo que o mesmo ocorre com a correlação
proposta por Rowe (1987).

Figura 8 – Velocidade Superficial (vs ) Durante a Fluidização – Resultados Experimentais


e Previstos

8
Experimental
Ajuste
7 Richardson-Zaki
Rowe
6 Massarani

5
vs (mm/s)

0
0.45 0.5 0.55 0.6 0.65 0.7 0.75 0.8


Fonte: Os Autores (2018).

A proximidade dos modelos de Rowe e Richardson-Zaki é um fator que corrobora


com a proposta de Rowe (1987): utilizar apenas uma equação para contabilizar n em
toda faixa de Ret , eliminando as incoerências e descontinuidades das funções definidas
por partes de Richardson e Zaki (1954). Os desvios podem ser justificados pela classe de
partículas que tais correlações se aplicam: esferas. O modelo de Richardson-Zaki para
não-esferas não pôde ser aplicado devido à falta de dados para os fatores de forma da areia
(de modo a permitir uma relação entre Dp e Ds – ver Equação 2.10).
Valores pertinentes ao estudo da velocidade superficial em função da porosidade
se encontram na Tabela 6. O valor teórico da velocidade terminal foi obtido através do
procedimento exposto na subseção 2.3.2 – a partícula teve seu regime classificado como
intermediário (Ret = 3.48); todos os modelos foram calculados com base na velocidade
terminal teórica encontrada.

quando diversos pontos foram avaliados.


38 Capítulo 4. Resultados e Discussão

Verifica-se uma excelente concordância entre a velocidade terminal teórica e aquela


encontrada experimentalmente, através do ajuste. O desvio apresentado é inferior a 3%,
mesmo sendo o procedimento teórico aplicável a esferas. Um argumento plausível é que,
devido ao pequeno tamanho e à esfericidade próxima de 1, em velocidades próximas
à terminal as linhas de corrente ao redor da partícula muito se assemelham àquelas
apresentadas em uma esfera.

Tabela 6 – Dados Teóricos e Experimentais Úteis na Determinação da Dependência vs =


vs ()
Variável Ajuste Richardson Rowe Massarani
vt (mm/s) 22.011 21.475 21.475 21.475
n 5.8562 4.0216 3.9753 5.9800
rmsd 0.0960 2.1466 2.2229 0.1688

Fonte: Os Autores (2018).

A expressão ajustada permitiu o cálculo da porosidade e da altura do leito (Equa-


ção 2.5) mínimas de fluidização, uma vez que se conhecia o valor experimental de vm :

m = 0.4535 Lm = 0.1352 m

Como critério comparativo as Figuras VIII.10 e VIII.13 de Gomide (1983) foram


adotadas: para uma partícula com Dp = 0.181 mm a porosidade mínima de fluidização
fica entre 0.45 (areia arredondada λ = 0.86) e 0.53 (areia angulosa λ = 0.67). Pela Fig.
VIII.10 o valor encontrado experimentalmente fica entre a areia e a areia arredondada
(ψ = 0.86). Isto ressalta a esfericidade da areia utilizada, que é próxima à unidade, além
de fornecer credibilidade ao resultado obtido.
As perdas de carga teóricas foram calculadas para os seis primeiros pontos, corres-
pondentes ao regime de leito fixo. O comportamento das três equações apresentadas na
subseção 2.3.2 pode ser observado na Figura 9.
Foram utilizados três fatores de forma (λL ) para a Equação 2.183 : uma média entre
a faixa para a areia fina angulosa (λL = 1.520), uma média entre a média para a areia
fina angulosa e o valor para areia média (λL = 1.425) e um terceiro que foi ajustado de
modo a predizer a perda de carga experimental (λL = 1.424, r2 = 0.9903). O terceiro valor
muito se assimilou ao segundo; por conta disso sua curva foi omitida na Figura 9, para
uma melhor visualização.
A semelhança entre o valor ajustado e aquele considerado a partir das médias dá
uma boa indicação da natureza da partícula: apesar de ser classificada, de acordo com a
ABNT NBR 6502:1995, como areia fina sua perda de carga equivale àquela apresentada
3
ver Tabela 3
39

Figura 9 – Perda de Carga do Leito Fixo – Comparação com as Correlações de Leva e


Ergun

1.4
Experimental
Leva (λL = 1.520)
1.2 Leva (λL = 1.425)
Leva Modificado
Ergun
1
∆P (kPa)

0.8

0.6

0.4

0.2
0.04 0.06 0.08 0.1 0.12 0.14 0.16 0.18 0.2
vs (mm/s)

Fonte: Os Autores (2018).

por uma areia de caráter intermediário entre a fina e a média. Além disso, concorda com
os valores apresentados por Leva et al. (1948).
Interessante é o comportamento da equação de Leva modificada (Equação 2.22):
a substituição do parâmetro de forma (λL ) pela esfericidade (ψ) e a inserção de uma
potência (m0 = −1) no termo da porosidade parece representar igualmente bem a perda
de carga em um leito fixo.
Tanto a equação de Ergun quanto a de Leva com o fator de forma para areia fina
angulosa tiveram uma má predição, mas que não deixa de ser razoável. A estimativa
superior da perda de carga fornecida pela equação de Leva se deve à consideração de
não-esfericidade das partículas, que provavelmente é levada a um extremo pelo fator de
forma; o que também indica a compatibilidade do segundo fator utilizado, que atenua o
caráter “anguloso” das partículas. Apesar da equação de Ergun não representar bem o
comportamento observado os valores apresentados foram coerentes, sendo que o termo de
perdas viscosas teve influência majoritária no resultado obtido – ver Apêndice A.
Por fim, foi previsto o ponto crítico de fluidização pelas equações anteriormente
avaliadas – todos os resultados obtidos são coerentes frente aos dados experimentais
(Tabela 7 4 ). Novamente o maior desvio apresentado é relacionado à equação de Ergun.
4
Os valores de rmsd estão associados com os desvios apresentados para o leito fixo.
40 Capítulo 4. Resultados e Discussão

Não foram encontradas justificativas para o desvio apresentado pela equação de Ergun.

Tabela 7 – Ponto Crítico de Fluidização


Equação vm (mm/s) ∆Pm (kPa) rmsd
Experimental 0.21453 1.2727 –
Leva (λL = 1.520) 0.18123 1.2344 0.11267
Leva (λL = 1.425) 0.20620 1.0849 0.02707
Leva (λL = 1.424) 0.20644 1.0837 0.02706
Leva Modificado 0.21706 1.0307 0.04702
Ergun 0.28921 1.2344 0.22680

Fonte: Os Autores (2018).

O desvio apresentado em ∆Pm se deve ao método utilizado para encontrá-lo.


Devido à grande variação da perda de carga do leito fixo frente às mudanças da velocidade
superficial os erros experimentais podem se tornar significativos.
Para o caso da fluidização foi ajustado o parâmetro m0 da Equação 2.22, o coeficiente
de determinação encontrado foi de 0.9931 – indicando uma boa correlação. A Figura 10
expõe a reta encontrada, através de uma regressão linear em escalas logarítmicas.

Figura 10 – Ajuste da Potência m0 em Regime de Fluidização para Equação de Leva


Modificada

3.5
Experimental
Ajuste de m0
3

2.5

2

1−
vs

1.5

ln

0.5
(1−)2
  h i
vs
0 ln 1−
= 0.61024 − 1.1631 ln 3

−0.5
−2.5 −2 −1.5 −1h −0.5 0 0.5 1
2
i
ln (1−)
3

Fonte: Os Autores (2018).

Tal procedimento é feito notando-se que:


∆P
= (1 − )(ρp − ρf )g;
L
41

ao substituir tal expressão na Equação 2.22 encontra-se:


#m0
(ρp − ρf )gDp2 ψ 2 (1 − )2
"
vs
= (4.5)
1− 200µ 3

De acordo com Lewis e Bowerman (1952) e com a Fig. VIII.9 de Gomide (1983) o
resultado obtido para m0 fica próximo daqueles apresentados em fluidizações com líquidos.
O bom ajuste também ressalta a aplicabilidade da equação de Leva modificada, não só
para leitos fixos, mas também para leitos fluidos.
43

5 Conclusão

Diversos foram os resultados obtidos através do estudo experimental realizado em


escala piloto. Tanto a natureza do sólido particulado (areia) quanto do fluido utilizado
(água) são de grande influência na determinação das propriedades do leito, bem como as
dimensões e o material da coluna. Verificou-se a linearidade da perda de carga do leito fixo
com a velocidade superficial, por conta do regime laminar; para a região de fluidização
houve certa constância, com alguns desvios experimentais. A consistência dos dados
coletados pôde ser verificada através de comparações com correlações empíricas, sendo que
aquelas propostas por Leva tiveram uma excelente representação (rmsd < 5%); o mesmo
não pode ser dito da equação de Ergun, que apresentou desvios elevados (rmsd > 20%).
Comprovou-se a lei de potência que relaciona a porosidade do leito fluidizado com a
velocidade superficial – com destaque para correlação de Massarani, capaz de fornecer uma
ótima previsão teórica. Muito foi agregado a partir deste estudo, permitindo a conexão
entre o teórico e o prático – exercitando, assim, a capacidade de trabalhar em equipe e de
investigar o fenômeno sob outra ótica.
45

Referências

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RICHARDSON, J. F.; ZAKI, W. N. Sedimentation and fluidisation: Part i. Transactions


of the Institution of Chemical Engineers, v. 32, p. 35–53, 1954. Citado 4 vezes nas
páginas 17, 23, 24 e 37.

ROWE, P. N. A convenient empirical equation for estimation of the richardson-zaki


exponent. Chemical Engineering Science, v. 42, n. 11, p. 2795–2796, 1987. ISSN
0009-2509. Citado 2 vezes nas páginas 24 e 37.
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APÊNDICE A – Dados Suplementares

Tabela 8 – Dados Experimentais do Funcionamento da Coluna Preenchida


∆h (cm) L (cm) ∆V (mL) ∆t (s)
4.00 13.60 12.5 286.29
5.45 13.60 12.5 192.97
7.00 13.60 15.0 183.28
8.80 13.60 15.0 140.78
9.70 13.40 15.0 133.22
11.80 13.45 15.0 106.09
13.15 14.35 15.0 63.18
14.40 17.00 15.0 27.53
15.80 19.30 20.0 19.54
17.50 21.75 87.0 58.81
19.10 23.35 119.0 65.37
21.00 25.60 144.0 63.50
22.60 29.60 197.0 64.97
24.20 32.35 207.0 60.59

Fonte: Os Autores (2018).

Tabela 9 – Dados Experimentais do Funcionamento da Coluna sem Sólidos Particulados


∆h (cm) ∆V (mL) ∆t (s)
2.60 71.5 60.03
5.10 92.0 44.21
7.60 168.0 59.56
10.10 245.0 70.84
12.50 220.0 54.72

Fonte: Os Autores (2018).

Tabela 10 – Perdas de Carga do Leito Fixo (kPa) – Valores Comparativos para Equação
de Ergun
vs (mm/s) Viscosas Cinéticas Total
0.059 243.16 0.04 243.19
0.087 360.75 0.08 360.83
0.110 455.79 0.13 455.91
0.143 593.38 0.21 593.60
0.151 671.55 0.25 671.80
0.190 828.73 0.39 829.12

Fonte: Os Autores (2018).

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