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Figueiredo Lacerda, Ana Carolina; Massato Takemoto, Ricardo; Perez Lizama, Maria de los Angeles;
Pavanelli, Gilberto Cezar
Copépodes parasitas nas fossas nasais de cinco espécies de peixes (Characiformes) do alto rio Paraná
várzea, Paraná, Brasil
Acta Scientiarum. Ciências Biológicas, vol. 29, nº. 4, 2007, pp.
Universidade Estadual de Maringá
. png, Brasil
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Copépodes parasitas nas fossas nasais de cinco espécies de peixes
(Characiformes) da planície de inundação do alto rio Paraná, Paraná, Brasil
Ana Carolina Figueiredo Lacerda*, Ricardo Massato Takemoto, Maria de los Angeles
Perez Lizama e Gilberto Cezar Pavanelli
Núcleo de Pesquisa em Limnologia, Ictiologia e Aqüicultura, Departamento de Biologia, Universidade Estadual de Maringá, Av.
Colombo, 5790, 87020-900, Maringá, Paraná, Brasil. *Autor para correspondência. E-mail: ana-carol-lacerda@hotmail.com
ABSTRATO. O presente trabalho teve como objetivo estudar copépodes parasitas nas fossas
nasais de peixes da planície de inundação do alto rio Paraná. Os peixes foram capturados
em diferentes locais da várzea nos meses de março, junho e setembro de 2004. Foram
coletados 73 exemplares (Characiformes), pertencentes a 4 famílias distintas e 5 espécies:
Acestrorhynchus lacustris (Acestrorhynchidae), Schizodon borellii (Anostomidae),
Prochilodus lineatus (Prochilodontidae), Serrasalmus marginatus e Serrasalmus maculatus
(Serrasalmidae). Dos 73 peixes examinados, 53 estavam parasitados por copépodes das
fossas nasais, variando de 1 a 146 parasitas por hospedeiro. Os parasitas encontrados
pertenciam a 3 espécies conhecidas: Gamidactylus jaraquensis Thatcher & Boeger, 1984;
Gamispatulus schizodontis Thatcher & Boeger, 1984; e Rhinergasilus piranhus Boeger &
Thatcher, 1988. Houve diferenças nas medidas corporais dos parasitas e na quantidade de
parasitas por hospedeiro em relação aos parasitas copépodes da região amazônica. O
presente estudo constitui um dos poucos estudos de identificação de copépodes parasitas
nas fossas nasais de peixes da região Sul do Brasil.
Palavras-chave: copépodes, Ergasilidae, Vaigamidae, ictioparasitas, Characiformes, Paraná, Brasil.
formas vivas não apresentam. Nestes grupos, apenas as fossas. Os índices de parasitismo são apresentados na
fêmeas estão ligadas aos peixes, enquanto os machos Tabela 2. As medidas corporais dos copépodes estudados
fazem parte do zooplâncton (Thatcher, 1991). Os efeitos na região Amazônica e na planície de inundação do alto rio
observados de copépodes parasitando peixes são: graves Paraná são apresentadas na Tabela 3.
danos ao epitélio das narinas causados por seus
órgãos de fixação e interrupção do fluxo normal de Tabela 1. Espécies hospedeiras examinadas, prevalência, número de parasitas
observados, intensidade média e espécies de copépodes observadas no
água, interferindo no olfato dos peixes (Kabata,
planície de inundação do alto rio Paraná em março, junho e setembro de 2004.
1985).
Prevalência Total
Os peixes estudados no presente trabalho são Espécies hospedeiras Significar Copépodes
% Nº de intensidade
Characiformes, ordem que compreende a maioria copépodes e alcance
de espécies de peixes de água doce e está restrito à S. marginatus 68 (24/35) 181 7,5 (1-36) G. esquizodontis
S.maculatus 75 (3/4) 27 9 (4-19) G. esquizodontis
América do Sul e à África. Este grupo contém espécies A. lacustris 83 (10/12) 23 2,3 (1-7) R. piranhas
de grande interesse econômico para aquariofilia e S. borellii 88 (15/17) 636 42,4 (2-146) G. esquizodontis
P.lineatus 20 (1/5) 2 2 G. jaraquensis
alimentação (Ferreira et al., 1998). Autores como Total: 5 espécies 72 (53/73) 869 16,4 (1-146)
Boeger e Thatcher (1988), Thatcher (1991) e Varella e
Malta (1995) estudou copépodes parasitas de Tabela 2. Índices de parasitismo de copépodes observados em 73 peixes
Caraciformes. Porém, considerando que este grupo é da planície de inundação do alto rio Paraná em março, junho e
muito grande e heterogêneo, ainda existem muitas setembro de 2004.
espécies de peixes a serem estudadas. Além disso, a Copépodes Prevalência Total Significar Abundância
formalina 1:4000 e o líquido analisado em estereomicroscópio. G. jaraquensis 435 147 620 240
Corpo* (410-470) (130-160)
Os copépodes foram fixados e conservados em álcool 70ºGL, e G. esquizodontis 425 155 537 221
clarificados em ácido lático para lâminas provisórias; para Corpo* (380-470) (140-170) (450-620) (123-260)
R. piranha 263 98 380 187
lâminas permanentes, foram clarificadas com lactofenol de Corpo* (237-282) (95-102) (170-204)
Amman e preservadas em meio de Hoyer. Os espécimes foram Corpo (menos cerdas caudais).
identificados de acordo com Thatcher e Boeger (1984a eb) e
Boeger e Thatcher (1988). As medidas são expressas em Alguns estudos foram realizados na Amazônia com
milímetros; média e intervalo entre parênteses. A terminologia ergasiloides, incluindo as famílias Ergasilidae e
ecológica utilizada ao longo deste estudo é de Bush et al. Vaigamidae, que parasitam diversos grupos de peixes. Na
(1997). As espécies de peixes estudadas foram: planície de inundação do alto rio Paraná, os estudos de
Acestrorhynchus lacustris (Acestrorhynchidae), Prochilodus identificação são raros. A Figura 4 mostra gêneros
lineatus (Prochilodontidae), Serrasalmus marginatus
observados na América do Sul e sua distribuição.
(Serrasalmidae), S. maculatus (Serrasalmidae) e Schizodon
Doze gêneros de Ergasilidae e Vaigamidae são
borellii (Anostomidae).
observados no Brasil: Acusicola, Amplexibranchius,
Brasergasilus, Ergasilus, Gamidactylus, Gamispatulus,
Gamispinus, Prehendorastrus, Pseudovaigamo,
Resultados e discussão
Rhinergasilus, Therodamas e Vaigamus. Com exceção do
Os parasitas encontrados pertenciam a 3 espécies Ergasilus, que é cosmopolita, esses copépodes só foram
conhecidas: Gamidactylus jaraquensis Thatcher & Boeger, observados na Amazônia, talvez por falta de estudos em
1984 (Figura 1); Gamispatulus schizodontis Thatcher & outras regiões. Segundo Amado et al. (1995), esta alta
Boeger, 1984 (Figura 2) e Rhinergasilus piranhus Boeger & diversidade (50% dos gêneros conhecidos são da
Thatcher, 1988 (Figura 3). Amazônia) sugere que os ergasilídeos devem ter evoluído
Cada espécie de peixe examinada (Tabela 1) apresentou apenas na bacia amazônica, provavelmente em associação com
uma espécie de copépode parasitando sua região nasal. uma evolução semelhante de seus peixes hospedeiros.
Copépodes parasitas nas fossas nasais de peixes 431
Figura 1. Gamidactylus jaraquensis. A- Vista dorsal de todo o espécime. B- Antênula. C- Antena. D- Peças bucais. E- Retroestilete. F-Segmento
genital, abdômen e urópodes. G- Perna 1. H- Perna 2. I- Perna 3. J- Pernas 4 e 5.
432 Lacerda e cols.
Figura 2. Gamispatulus schizodontis. A- Vista dorsal de todo o espécime. B- Antênula. C- Projeção rostral em vista ventral. D- Antena. E-
Retroestilete. F- Peças bucais. G- Perna 1. H- Perna 2 = 3. I- Perna 4. J- Segmento genital, abdômen e urópodes.
Copépodes parasitas nas fossas nasais de peixes 433
Figura 3. Rhinergasilus piranhus. A- Vista dorsal de todo o espécime. B- Antênula. C- Antena. D - Peças bucais. E- Perna 1. F- Perna 2. G - Perna
3. H- Segmento genital, abdômen e urópodes.
434 Lacerda e cols.
foi adicionado de acordo com o presente estudo. O gênero cada espécie hospedeira apresentou apenas uma espécie
Rhinergasilus Boeger & Thatcher, 1988 é caracterizado por de parasita. Segundo Krebs (1986), as regiões equatoriais
possuir antênula com seis segmentos, antenas com tendem a apresentar grande variedade e quantidade de
quatro segmentos e pernas V e VI reduzidas a cerdas espécies dominantes, permitindo maior riqueza de
simples. O gênero possui apenas uma espécie, espécies e controlando a dinâmica e o crescimento de
Rhinergasilus piranhus Boeger & Thatcher, 1988, descrita diferentes populações. Na Amazônia é possível observar a
como parasitando Serrasalmus nattereri da região presença de mais de uma espécie de parasita por peixe,
amazônica. Posteriormente, foi observado em evidenciando maior diversidade no microhabitat de
Acestrorhynchus falcirostris por Varella (1992).
parasitas. Por outro lado, regiões distantes da região
Rhinergasilus piranhus é geralmente observado em seu
equatorial, como a planície de inundação do alto rio
hospedeiro junto com outros gêneros como Gamidactylus
Paraná, tendem a apresentar um pequeno número de
e Gamispatulus (Varella e Malta, 1995). No entanto, todos
espécies dominantes que conseguem se desenvolver mais
os peixes examinados apresentaram apenas uma espécie
que outras. Este paradigma pode explicar maiores
de parasita por hospedeiro e por espécie de peixe.
medidas corporais (biomassa) de parasitas copépodes
Gamidactylus jaraquensis foi descrito por Thatcher nesta região e o fato de apenas uma espécie de parasita
e Boeger (1984a) parasitando Serrasalmus insignis. Os estar presente em uma única espécie de peixe.
principais caracteres do gênero são retroestiletes
laterais simples presentes no cefalotórax, garra
antenal dupla e espinho rostral ausente. Esse Conclusão
a espécie é caracterizada por dois espinhos nos Além de sua importância na diversidade biológica,
primeiros exópodes das patas 1 a 3, e basípodes 1 os copépodes parasitas das fossas nasais dos peixes
e 3 sem ornamentação. Foi observado em são importantes por atuarem diretamente sobre a
Serrasalmus nattereri por Boeger e Thatcher (1988) ictiofauna. Assim, copépodes com maiores dimensões
e em S. altuvi por Leão et al. (1991). Varella (1992) e populações poderiam causar maiores danos ao
registrou G. jaraquensis em Prochilodus nigricans, epitélio das fossas nasais de seus hospedeiros. Além
Mylossoma duriventris e Hemiodus microlepis, disso, foram observados 146 parasitas em apenas um
todos da região Amazônica. No alto rio Paraná peixe, o que representa um elevado número de
Copépodes parasitas nas fossas nasais de peixes 435
parasitas ocupando um local tão pequeno como as Negro. Rev. Brasil. Biol., São Carlos, v. 3, pág. 545-553,
fossas nasais. Portanto, o presente trabalho pode 1991.
corroborar a identificação de potenciais causas de LIZAMA, MLA et al. Influência do sexo e da idade do hospedeiro
problemas no olfato dos peixes. nas infracomunidades de metazoários parasitos de
Prochilodus lineatus (Valenciennes, 1836) (Prochilodontidae) da
planície de inundação do Alto Rio Paraná, Brasil. Parasita, Paris,
Agradecimentos
v. 4, pág. 299-304, 2003.
Gostaríamos de agradecer ao Nupélia/ TANAKA, LK Aspectos ecológicos dos parasitos de Serrasalmus
Universidade Estadual de Maringá (Núcleo de marginatus Valenciennes, 1847 e Serrasalmus spilopleura Kner,
Pesquisa em Limnologia, Ictiologia e Aquicultura) 1860 (Characiformes, Serrasalmidae) do Rio Baía, causadas por
pelo apoio financeiro e logístico. RM Takemoto e inundação do alto rio Paraná, MS. 2000. Dissertação (Mestrado em
Ecologia de Ambientes Aquáticos Continentais) – Universidade
GC Pavanelli foram apoiados por bolsa de pesquisa
Estadual de Maringá, Maringá, 2000.
do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento
Thatcher, VE Parasitas de peixes amazônicos. Amazoniana,
Científico e Tecnológico).
Manaus, v. 3, pág. 443-447, 1991.
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