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AGRADECIMENTO

A tod@s que de alguma forma incentivaram, apoiaram, contribuíram, torceram e/ou desejaram
que esta história fosse publicada. E às que solicitaram e tornaram essa segunda edição possível.
Em especial:
Manuela Neves, querida parceira de sonhos e loucuras, qualquer coisa que eu diga será pouco...
Palavras são absolutamente insuficientes neste caso, mas... Vou esboçar uma tentativa: Sem você
não seria possível. Obrigadíssima por fazer parte da minha vida!
Da mesma forma, minhas amigas muito amadas que sempre apoiaram, torceram e sofreram
comigo, insubstituíveis “Azamigah”: Nádia Lopes, Socorro Medeiros, Célia Tapety e Carla Gentil.
Meu mestre da vida, Daisaku Ikeda. O daimoku é tudo! NAM MYOHO RENGE KYO, Sensei!
Wind Rose, minha Khaleesi gaúcha, meu amor... Com você, a realidade é sempre muito melhor do
que a ficção.
APRESENTAÇÃO
Por Manuela Neves
É por linhas tênues que transitam as personagens de “Amor às Avessas”, de Diedra Roiz.
Pelas margens entre amor e ódio. Paixão e desprezo. Desejo e desdém. Vontade de recomeço,
mágoa e rancor.
Mas não são somente esses sentimentos – aparentemente inversos – que separam Dani e Mel:
são, principalmente, as contradições que elas mesmas apresentam uma para outra, como polos
opostos de um imã.
Que se atraem.
Mas abandonar antigos princípios pode ser difícil – e isso elas descobrem a duras penas,
tencionando as linhas que separam as oposições até reconhecerem os seus limites.
Antes que elas se rompam.
E, como se isso já não fizesse deste um romance completo em si, Diedra ainda nos presenteia
com um maravilhoso tour pelo Rio de Janeiro: os bares, as baladas, os restaurantes. O chope
durante o dia, o pôr do sol no píer da Lagoa, a caipivodka de madrugada. A vida carioca como
ela é, descrita por quem a viveu por anos e vivida por duas personagens que sabem aproveitá-la.
A autora nos mostra que “o Rio de Janeiro continua lindo” e nos deixa com um gostinho de “quero
mais”.
Um romance leve, mas que carrega as suas bandeiras. A “arte pela arte” dá lugar a uma
literatura engajada pela visibilidade, sem idealizações: as personagens se mostram para o leitor
com seus vícios e virtudes, por inteiro, sem disfarces.
Assim, elas não só se apaixonam entre si, mas nos seduzem e nos deixam apaixonadas, lendo
cada linha sem ter tempo para respirar.
E, então, embarcamos com elas na tumultuosa e deliciosa história de suas vidas.
UM DESAFETO ANTIGO
– Ah, não, Raq, que mal eu fiz pra vocês?!
Raquel controlou a vontade de rir da reação da amiga, que quase derramou o chope todo na
mesa.
– Nossa, Dani, também não é assim, né? Já faz séculos!
– É assim, sim! Eu nunca suportei essa garota! Esqueceu o que ela fez comigo? Tem noção do que
é entrar no colégio no meio do ano, sem conhecer ninguém, e ainda ter uma patricinha fazendo
campanha contra você? Por um acaso só porque você e a Deca tão namorando, eu tenho que
aguentar ela?
Pra falar a verdade, Dani ainda não conseguia entender como é que Raquel e Andreia, que se
conheciam desde o segundo grau, depois de mais de dez anos tinham se esbarrado numa festa e,
de repente, do nada, ficado tão loucamente apaixonadas a ponto de começarem um daqueles
namoros bem grudentos, em que nunca se vê uma sem a outra.
Até estranhou quando a amiga marcou de sair sozinha com ela. Agora estava começando a
entender...
– A Mel é a melhor amiga da Deca, você tá careca de saber. Por favor, amiga, sem você essa
viagem não vai ser a mesma coisa... Além disso, a Deca convidou uma amiga dela super gata, a
Paulinha...
Tinham combinado passar o Réveillon na casa da Deca em Itaipava. Depois de uma exaustiva e
financeiramente nada lucrativa temporada de dois meses em cartaz com o último espetáculo que
tinha feito, Dani estava precisando muito espairecer. Além disso, não ia perder a chance de
conferir pessoalmente o quanto a tal Paulinha era gata...
– Tudo bem... Mas você fica me devendo uma!
– Eu não vou. Não vou e não vou mesmo!
Mel continuou balançando a cabeça dizendo não mesmo depois de terminar a frase. Parou por
um momento, levou a mão de forma inconsciente ao nariz e logo depois voltou a mover
negativamente a cabeça.
– Que bobagem, Mel! Por que não?
– Por que não? Ai, Deca, porque essa menina quebrou o meu nariz, esqueceu?
– Isso já faz muito tempo...
– Não interessa!
– Além disso, se você não tivesse pichado “Fora, Dani, odiamos você!” em todos os banheiros,
provavelmente ela não te acertaria com a bola de handball, né?
Esse episódio – sem dúvida o pior e mais dramático de toda a vida de Mel – ela queria
esquecer. A professora de educação física tinha declarado que “Daniele não tinha culpa, foi um
acidente, podia acontecer com qualquer um”, mas Mel sabia perfeitamente que não tinha sido
acidente coisíssima nenhuma. Estava ali parada defendendo o gol, e Dani tinha mirado e atirado a
bola com toda força e de propósito em seu nariz sim!
Achava ótimo Deca estar namorando Raquel, que sempre tinha sido uma fofa, mas infelizmente
tinha o mau gosto de ter como melhor amiga aquela insuportável, quebradora de narizes.
– Mas então, Mel? Vamos, por favor... Além disso, a Raq também convidou outra amiga dela, a
Bia, super legal, bem o seu tipo...
Mel pensou nos prós e nos contras. Já tinha combinado tudo com PH, seu primo preferido e
quase irmão. Ele ia levando João, seu mais novo namorado. Mel não tinha como deixar de ir. Além
disso, quem sabe a tal Bia valia a pena?
– Tudo bem. Por você eu faço o sacrifício.
FOGO CRUZADO
A indignação de Mel chegou ao limite do suportável:
– Gente, é o fim da picada! Quanto tempo vamos esperar por essa menina?
Parecia brincadeira. Estavam ela, PH, Pedro, Bia, Paulinha, Deca e Raq, todos plantados em
frente à casa de Deca esperando Dani há mais de quarenta e cinco minutos.
Apesar de Mel ser o tipo de pessoa que nunca chegava atrasada, estava acostumada com o
fato de a maioria das pessoas não ser pontual.
Mas atraso era coisa de dez minutos, quinze no máximo... Um atraso como esse – e ela nunca
tinha visto coisa igual – de quase uma hora era uma falta total de consideração e de respeito!
Foi quando a viu atravessando a rua.
Existem pessoas que têm presença. Uma energia, um brilho sem explicação. Basta entrarem em
um ambiente para todos os olhares se voltarem para elas. Assim era Daniele.
Usava uma faixa colorida nos cabelos pretos muito lisos, calça jeans de cintura baixa com rasgos
estratégicos, camiseta preta justinha e tênis All Star. Esbanjou charme e simpatia enquanto dizia:
– Desculpa, gente... Tudo acontece em Elizabeth Town... Meu despertador não tocou, daí tive que
fazer minha mala correndo e, pra completar, o ônibus não passava, fiquei mais de vinte minutos no
ponto...
Mas o encantamento dela nunca tinha surtido efeito em Mel:
– Sorte sua, Daniele, porque nós estamos aqui te esperando há... – Olhou para o relógio de
pulso para poder completar com exatidão: – Cinquenta e quatro minutos.
Dani olhou para a figura de cabelos dourados volumosos muito bem tratados, óculos escuros,
blusinha, calça corsário e sandália de salto alto... Abusivamente linda... E totalmente intragável.
– Oi pra você também, Melissa...
Uma das coisas que Mel mais detestava era que a chamassem pelo nome completo.
Rapidamente, prevendo o desastre iminente, Deca e Raq interferiram:
– Dani, essa aqui é a Paulinha.
Raq não tinha exagerado. Paulinha era uma morena de cabelo preto escorrido, corpinho de
parar o trânsito e um sorriso lindo. Dani a presenteou com seu sorriso mais sedutor, fazendo
Paulinha se derreter:
– Oi...
– Oi...
– Bom, esse é o PH, primo da Mel. O João, namorado do PH. A Bia e a Mel você já conhece.
– Oi Bia!
– Oi, Dani.
Virou a cara para Mel acintosamente, e o clima voltou a ficar pesado. Deca suspirou, olhou para
Raq. As duas sabiam que estavam pensando a mesma coisa: “Esse Réveillon não vai ser fácil.”
Raq propôs:
– Gente, vamos indo?
Entraram Dani, Bia e Raq no carro de Deca. Paulinha, PH e João no carro de Mel, e partiram.
A casa era maravilhosa. A cozinha imensa, a sala tinha uma verdadeira videoteca, o salão de
jogos com mesa de pingue-pongue, totó e sinuca e, do lado de fora, duas redes, uma
churrasqueira e a piscina.
Chegando ao segundo andar, dividiram os quatro quartos da seguinte forma: Deca com Raq –
lógico! –, PH com João – óbvio também... Dani com Paulinha e Mel com Bia – para evitar confusão
e também na intenção de que rolasse alguma coisa entre elas.
Depois do almoço, foram assistir a um filme. PH e João queriam ver “Minha vida em cor de
rosa”, mas foram voto vencido. Escolheram “Imagine eu e você”, que todas já tinham visto, mas era
tão fofo que ninguém cansava de ver.
Os meninos acabaram resolvendo ir namorar na rede. Deca e Raq se sentaram juntas na mesma
poltrona, Raq no colo de Deca, deixando claro que não pretendiam assistir muita coisa do filme.
Paulinha puxou Dani para um dos sofás e conseguiu prender a atenção dela cruzando e
descruzando as maravilhosas pernas morenas. Enquanto isso, no outro sofá, Mel e Bia conversavam
baixinho, num clima de flerte bem olho no olho.
O filme foi passando sem problemas, até que Mel comentou sobre uma das personagens:
– Essa Luce é uma coisa, hein?
– O nome da atriz é Lena Headey – Dani respondeu, com um sorrisinho irônico. Mel respirou
fundo e contou até dez para não começar uma discussão.
Então veio a tão esperada cena do beijo. Todas concordavam que a cena era maravilhosa, e
Dani acrescentou, da forma carismática de sempre:
– Essa cena é perfeita! Quando ela vira e a outra entra pela porta e as mãos e as bocas se
encaixam direto... Nossa! O tempo das atrizes, a sincronia delas... É perfeito!
Dessa vez, Mel não aguentou:
– Uma cena linda dessas e a outra me faz um discurso técnico sobre o tempo e a sincronia das
atrizes... Realmente...
Foi o bastante para começarem uma discussão sem fim. Ninguém mais conseguiu ver o filme e o
barulho foi tão grande que até os meninos voltaram:
– Meninas, que é isso? Por favor...
– É essa idiota! – Mel e Dani falaram juntinhas.
PH e João saíram seguidos por Bia e Paulinha. Deca já estava sem paciência:
– Olha só, vocês vão ficar estragando a diversão de todo mundo o tempo inteiro, é?
– Fala isso pra ela! – Mel e Dani falaram, juntas novamente.
Raq puxou Dani para um canto. Deca fez o mesmo com Mel.
– Dani, fala sério... Parece que você tá mais interessada em brigar com a Mel do que em ficar
com a Paulinha...
– Tá louca, Raq? Ela é que fica me provocando o tempo inteiro.
– Sei. Você é uma santa... Quem não te conhece que te compre... Falando nisso, vamos procurar
a Paulinha.
– Que é isso, Mel? Desde quando você é barraqueira, amiga?
– Essa menina me tira do sério!
– Não sei não... Se eu não te conhecesse bem, ia até pensar que essa tensão toda entre vocês é
outra coisa...
– Nem que ela fosse a última mulher na face da terra, Deca! E quer saber? Vamos ver onde tá a
Bia...
Quando chegaram do lado de fora da casa, descobriram que Paulinha e Bia tinham saído,
declarando que, já que Mel e Dani não tinham olhos para mais ninguém, iam dar uma volta
sozinhas.
PH desafiou as meninas para jogar sinuca, mas ninguém queria. Então implicou:
– Vamos lá, gente, é o jogo de vocês!
– Comentário ridículo! – disse Mel.
– Pronto, a princesa já ficou ofendida... – Dani não perdeu a chance.
Antes que começassem mais uma briga, Raq disse de uma forma nada amigável:
– Chega, né? Todo mundo já tá de saco cheio dessa briguinha de vocês. Vamos pra piscina?
Mel foi a última a chegar na piscina. Quando apareceu, Dani ficou feliz por estar de óculos
escuros, porque não conseguia tirar os olhos dela. Era insuportável, mas...
“Que corpinho!”
Assustou-se com o pensamento, antes de concluir que o que estava mesmo precisando era se
acertar com a Paulinha. Mas, enquanto ela não voltava, o único jeito era entrar na água fria.
Mel escolheu a cadeira mais longe de Dani possível. PH e João logo se sentaram ao lado dela.
– Prima, pena que você e a Dani não se topam, né? Porque até eu sou obrigado a dizer que ela
não é de se jogar fora...
Enquanto passava filtro solar, Mel olhou disfarçadamente para Dani. Ela estava saindo da
piscina, a água escorrendo pelo corpo bem definido, com tudo no lugar certo... Isso sem contar a
aura de sensualidade que a envolvia.
Nesse instante Dani a olhou e, percebendo o olhar dela, piscou provocando. Mel desviou os
olhos, sentindo-se louca por achar a outra atraente.
“Nem que fosse a última mulher da face da terra!”, reafirmou, como se precisasse se convencer.
E falou para o primo com um sorriso sarcástico, alto o bastante para Dani ouvir:
– Que adianta a embalagem ser bonita se por dentro é vazia?
Definitivamente, nunca tinha encontrado alguém tão insuportável na vida!
Dani resolveu fingir que não tinha escutado a última provocação de Mel. Respirou fundo e contou
até cinquenta... Até dez não seria suficiente.
Raq e Deca já estavam chateadas, e não ia mais dar o gostinho de permitir que a outra a
tirasse do sério. Prometeu a si mesma que, dali para frente, ia fingir que Mel não existia.
Nesse exato momento, Paulinha e Bia voltaram, de mãos dadas e parecendo muito mais íntimas
do que quando tinham saído.
Bia chamou Dani num canto:
– Olha só, amiga, eu sei que você tava interessada na Paulinha, mas rolou um clima entre a
gente, nós ficamos, e... Bem, acho que eu tô apaixonada!
– Assim, do nada?
– Você me desculpa? Não fica chateada comigo?
– Ai, Bia, claro que não. Até parece que não me conhece.
– Só que tem uma outra coisinha, amiga...
– Quando você começa com essa história de amiga pra cá, amiga pra lá, já sei que vem bomba!
Fala logo! O que é?
– É que eu e ela queremos... Ah, você sabe... Dormir juntas...
– Você quer que eu durma onde? No quarto daquela patricinha infame?
– Ai, por favor, amiga, não seja tão melodramática... Quebra esse galho pra mim... Por favor,
vai...
Bia já tinha ajudado Dani em momentos muito piores do que aquele. Não tinha como dizer não.
– Tá, tudo bem.
Bia deu um abraço tão apertado nela que quase a sufocou.
– Ai, Mel, por favor!
– Paulinha, você fica com a menina que eu tava a fim e ainda quer que eu divida o quarto com
a insuportável da Dani?
– Por favor! Pela nossa amizade, vai... Eu juro que tô apaixonada, Mel... Me dá essa força, por
favor...
Mel tinha um coração de manteiga derretida com as amigas. Simplesmente não conseguia dizer
não, e Paulinha sabia muito bem disso.
– Tá bom. Você sabe que não consigo dizer não...
Recebeu de Paulinha um abraço de quebrar os ossos.
MULHERES À BEIRA DE UM ATAQUE DE NERVOS
De noite, resolveram sair. Como Paulinha e Bia não se largavam mais, Dani foi obrigada a ir no
carro da Mel. PH e João se sentaram juntos no banco de trás, e ela não teve escolha: sentou no
banco do carona ao lado dela.
Quando estava colocando o cinto de segurança, teve o pensamento mais bizarro do mundo: que
estavam sentadas ali como se fossem namoradas. Mais bizarro ainda foi o pulo que deu quando a
mão de Mel acidentalmente encostou em sua perna ao passar a marcha. Definitivamente, estava
com libido em excesso.
Mel estava tão concentrada em não perder o carro de Deca de vista que acabou roçando a
mão na perna de Dani. Levou um susto com a reação da outra, que praticamente deu um salto.
Não estava acostumada a causar uma repulsa tão grande em alguém. Menos acostumada ainda
estava a se arrepiar daquele jeito com um contato tão breve e simples. Felizmente, logo chegaram,
pondo fim àquele suplício.
Era um ambiente muito charmoso. Rústico, de madeira, pouco iluminado, ideal para casais
apaixonados, que, diga-se de passagem, era o que não faltava naquela mesa... Pediram duas
pizzas grandes logo de cara. Raq falou baixinho para Dani:
– Não olha agora, mas aquela mulher no canto que não desgruda os olhos de você... Não é a
Fabiana?
Fabiana era uma loira com quem Dani tinha ficado duas vezes. A primeira, tinha sido levada
pela bebida. A segunda, porque Fabiana insistira muito. Nas duas vezes, tinha se arrependido.
Daquela ali, Dani só queria uma coisa: distância.
Mel percebeu quando Raq sussurrou alguma coisa para Dani. Olhou na direção que elas
olharam e viu uma loira de tirar o fôlego que olhava para Dani fixamente.
A conversa fluiu animada enquanto bebiam e comiam. De vez em quando, os olhos de Mel
cruzavam com os de Dani. Quando isso acontecia, ambas desviavam o olhar rapidamente.
Mas, aos poucos, conforme iam bebendo, Mel começou a ter a impressão que os olhos das duas
se encontravam com mais e mais frequência. E o pior: estava longe de não gostar daquilo... De
duas uma: ou tinha bebido demais, ou estava ficando maluca.
De repente, Dani se levantou e caminhou até o banheiro. Mel viu a loira se levantar e ir atrás
dela e se assustou ao perceber que isso a incomodava.
Dani não conseguia evitar que seus olhos toda hora buscassem os de Mel. E percebeu que, toda
vez que a olhava, os olhos de Mel também estavam buscando os seus.
Aquela troca de olhares era a coisa mais louca, totalmente sem sentido... Só podia estar bêbada.
Levantou-se para ir ao banheiro, disposta a passar um pouco de água no rosto. Nem percebeu
quando Fabiana a seguiu.
Bia comentou com Raq:
– Aquela é a Fabiana?
Com uma cara estranha, Raq fez que sim.
– O que ela tá fazendo aqui?
– Deve ter vindo atrás da Dani. A mulher é louca por ela!
Deca sugeriu:
– Amor, não é melhor você ir ver se a Dani tá bem?
– Depois do que eu vi da última vez que eu fui atrás dela num banheiro, eu não entro lá nem
morta!
Todos riram... Mel começou a sentir uma inquietação por dentro... Pediu um refrigerante. Isso, com
certeza, daria jeito. Mas Deca continuou:
– A Dani precisa deixar de ser tão galinha...
Raq defendeu a amiga:
– Que maldade, amor! Ela não tem culpa da mulherada correr atrás dela...
– É verdade, elas se jogam! – completou Bia, e todos riram.
Com uma raiva enorme, sabe-se lá por qual razão, Mel quase gritou:
– Que exagero! Ela nem é tão bonita assim!
Ao que Bia imediatamente respondeu:
– Não é uma questão de beleza, baby... É uma questão de ter aquilo que os franceses chamam
de quelque chose... E isso, meu amor, ela tem de sobra!
Mel bebeu todo o refrigerante porque estava tão bêbada que concordava em gênero, número
e grau.
Assim que Dani abriu a torneira da pia, Fabiana entrou no banheiro. Não teve tempo de dizer
nada, porque a loira simplesmente a atacou. Grudou Dani na parede, beijando-a e enfiando as
mãos por dentro da blusa dela.
Dani teve que fazer um esforço enorme para conseguir se soltar porque a mulher parecia fora
de si.
– Tá louca?
– Tô louca sim, muito louca por você, gostosa!
E, dizendo isso, agarrou-a de novo, passando as mãos pelo corpo de Dani inteiro, parecendo um
polvo.
Ao sentir a boca da outra em seu pescoço, num chupão que com certeza ia deixar marca, a
raiva de Dani foi tão grande que empurrou Fabiana com força, fazendo-a cair no chão. Nem
ajudou a loira a se levantar. Saiu do banheiro praguejando, com a mão no pescoço dolorido.
Assim que Dani se aproximou da mesa, Mel viu o vermelhão no pescoço dela. Era grande o
bastante para que todos reparassem:
– Nossa, Dani! Você já viu o seu pescoço?
Dani sentou, irritadíssima. Disfarçadamente olhou para Mel, mas ela não a estava mais olhando.
Pelo contrário, parecia querer evitar que os olhos das suas se encontrassem novamente.
Teve uma estranha necessidade de explicar:
– A maluca me agarrou no banheiro. Me atacou mesmo! Tive que jogar ela no chão pra me
livrar!
Todos riram, menos Mel, que se virou e puxou assunto com o primo e o namorado. Do canto onde
estava sentada, Fabiana mantinha os olhos fixos em Dani. Exasperada, ela sugeriu:
– Vamos embora?
A volta não foi das mais animadas. Enquanto PH e João se atracavam no banco de trás, Mel
mantinha a cara fechada. Ligou o rádio e, por coincidência, estava tocando Happy Together, a
mesma música do filme que tinham assistido de tarde.
Mel fez menção de mudar de estação, mas Dani a impediu, tocando de leve na mão dela. Mel
estremeceu... E tirou a mão bruscamente.
Dani deu de ombros e pediu, com o jeitinho magnético de sempre:
– Não muda... Adoro essa música...
– Jura? Eu nunca ia imaginar... Não seria romântica demais pra você? – Foi a resposta sarcástica
dela. Mas deixou a música tocar até o fim.
O último dia do ano foi muito quente e abafado. Passaram o dia inteiro na piscina, bebendo
cerveja e tentando conversar. Tentando porque, graças às farpas, alfinetadas e palavras
sarcásticas trocadas por Dani e Mel, isso se tornava muito difícil.
Jantaram um lombinho com arroz à grega maravilhoso que Deca e Raq tinham preparado. Isso
sem falar da magnífica torta alemã de sobremesa... Até Dani foi obrigada a concordar com Mel:
– Meninas, vocês se superaram!
Continuaram bebendo e, por volta das onze e meia, ninguém mais aguentava a implicância das
duas. Dessa vez a briga tinha começado com Mel afirmando que Nova York era o melhor lugar do
mundo. Dani, é lógico, discordava: para ela, Paris e Amsterdã eram incomparáveis.
PH e João se trancaram no quarto, Paulinha e Bia sumiram dentro de uma das redes e Deca e
Raq se atracaram num sofá, deixando Dani e Mel discutindo sozinhas.
Quando o assunto terminou, para variar sem que chegassem à conclusão alguma, as duas
ficaram paradas em silêncio na varanda, olhando a chuva torrencial que tinha começado a cair. Só
então se deram conta de que estavam a sós.
Dani se virou para Mel com um olhar que já tinha derrubado muita gente:
– Parece que agora somos só eu e você...
Mel achou que Dani só podia estar brincando.
“Que papo furado é esse?”
Respondeu mal humorada, irritada, exasperada mesmo:
– Infelizmente.
– Sinceramente? O que foi que eu te fiz?
– Além de existir?
Aquilo foi demais para Dani. Não ia romper o ano brigando com Mel. Não mesmo. Foi se
afastando da casa, sentindo a alma lavada.
Mel ficou olhando Dani se afastar na chuva, com um ódio crescente. Num impulso, foi atrás dela,
o salto fino afundando na terra molhada e a fazendo avançar com dificuldade.
Dani viu Mel se aproximando. Molhado, o seu vestido branco tinha grudado no corpo. Uma forte
pontada de desejo a fez estremecer.
A fúria que Mel sentia a deixava cega, mas não a ponto de não ver que a roupa branca de
Dani estava totalmente transparente. O que sentiu foi tão forte que tropeçou e teria caído se não
tivesse se segurado em Dani.
Apesar da chuva torrencial, um calor intenso explodiu entre as duas, como a erupção de um
vulcão adormecido por muito tempo. Eram da mesma altura, e podiam sentir no rosto o hálito
quente uma da outra. Mas Dani não ia perder a oportunidade de provocar:
– Não basta ficar me perseguindo, vai ficar me agarrando também?
Mel abriu e fechou a boca várias vezes antes de conseguir responder:
– Você até pode se achar irresistível, mas não é!
Dani deu um riso gostoso, rouco, íntimo, antes de dizer:
– Confessa que tá louca por mim...
Mel não sabia o que a fazia tremer mais, o frio ou a verdade nas palavras dela:
– Você... Você sabe ser cretina!
A voz de Dani se tornou absolutamente sedutora:
– Sei ser o que você quiser...
E, antes que Mel pudesse dizer ou fazer qualquer coisa, Dani a segurou pela cintura e
mergulhou os lábios nos dela.
Bem que Mel tentou resistir, mas aquela boca era tentadora demais, experiente demais, gostosa
demais... E a venceu com uma facilidade humilhante. Com a respiração alterada e o coração
dando pulos no peito, passou os braços ao redor do pescoço de Dani e correspondeu da mesma
forma devastadora e derradeira.
Então foi loucura, uma explosão irrefreável, como subir à tona e respirar novamente, como se
existir dependesse única e exclusivamente das línguas e bocas que, naquele momento, se
exploravam...
Os primeiros fogos explodiram no céu, anunciando que o ano tinha virado...
Mas elas nem perceberam.
Foram as vozes vindas da casa que finalmente as trouxeram de volta à razão.
– Feliz 2007!
Paradas ali, no meio do temporal, completamente ensopadas pela chuva que continuava
implacável, as duas se encararam em silêncio.
Dani tinha um sorriso vitorioso nos lábios. Mel olhou bem dentro dos olhos dela e retribuiu... Com
uma forte bofetada.
À FLOR DA PELE
Dani nunca tinha sido esbofeteada antes. Não de verdade. Só no teatro, quando tudo era
combinado para que o tapa fizesse apenas o rosto dela se virar e então depois, lentamente, ela o
voltava novamente para frente, causando na plateia o resultado desejado.
Mas Mel a acertou com tanta força que seu corpo todo se desequilibrou e ela quase caiu.
Quando se recompôs, Mel já tinha voltado para a casa.
Dani ficou ali parada, com a mão no rosto, em parte porque estava doendo, em parte porque
Mel a tinha deixado total e surpreendentemente excitada.
Ela a tinha beijado e estapeado com fúria, fazendo Dani perceber que, por trás daquela
aparência de brisa morna, existia um verdadeiro vendaval.
Sorriu, pensando milhares de besteiras, desejando descobrir se o que imaginava era verdadeiro,
querendo desvendar todos os mistérios daquela mulher, provar seu corpo inteiro... Acabar de vez
com aquele estranho tormento. Assustou-se com a intensidade desses pensamentos. Ela a estava
enlouquecendo. Aliás, como sempre. Só que dessa vez, de uma forma bem diferente. Nem a chuva
conseguia apagar o incêndio que aquele tapa na cara tinha provocado.
Depois de respirar fundo, Dani caminhou na direção da casa.
Assim que entrou na sala, Mel foi abraçada pelo primo:
– Feliz ano novo, Melzinha!
Abraçou o resto das pessoas e foi correndo para o quarto. Queria mudar de roupa antes que
Dani voltasse, precisava colocar os pensamentos em ordem.
Estava apavorada com as sensações desconhecidas que aquela mulher conseguia arrancar dela.
O beijo que trocaram – ou, seria melhor dizer, com que se devoraram? – tinha sido de uma
entrega desmedida, uma fome que exigia ser saciada sem pudor, uma quase dor que a deixava
fraca e entorpecida. Mel nunca tinha experimentado um beijo assim... Tinha se deixado levar pelos
encantos dela. Sim, porque não tinha como negar, estava totalmente encantada, enfeitiçada,
seduzida por aquela mulher.
Tirou o vestido e pegou uma toalha para se enxugar. Foi nesse exato momento que Dani entrou
no quarto.
Dani ficou paralisada quando abriu a porta. Mel só não estava nua por causa da calcinha
branca que usava. Ela se cobriu, colocando a tolha que segurava na frente do corpo, e Dani teria
dado meia volta e saído se não tivesse visto nos olhos de Mel a sequência de emoções que
rapidamente passaram por ela: surpresa, desejo e, então... Rendição. Quase um convite...
Dani fechou a porta, tirou a toalha da mão dela e a beijou.
Mel tinha acabado de se enxugar quando a porta se abriu. Instintivamente se tapou com a
toalha.
Não teve como deixar de percorrer o corpo de Dani com os olhos. Ela continuava com a roupa
toda molhada, colada no corpo, praticamente nua.
Queria se entregar àquela mulher hipnotizante, mergulhar sem restrições na atração
incontrolável que Dani exercia.
Sem ter consciência de que tinha um olhar suplicante, Mel achou que Dani tivesse lido seus
pensamentos quando fechou a porta, aproximou-se e a livrou da toalha.
Se a tivesse beijado com o ímpeto de antes, talvez Mel pudesse resistir. Mas o beijo longo,
atordoante, narcotizante, derrubou todas as defesas dela.
Dani não sabia de onde vinha essa doçura, essa vontade de saborear Mel lentamente, provar
cada pedacinho daquela mulher.
Acariciou o rosto, o pescoço, os ombros, o colo dela, provocando tremores e suspiros...Desceu a
boca seguindo o mesmo caminho que as mãos tinham percorrido. Então voltou a beijá-la, as mãos
passeando pelas costas, causando arrepios.
Mel suspirou, o corpo estremecendo de prazer. As carícias sem pressa despertaram uma ânsia
incontrolável, que a fez arrancar a blusa de Dani e colar o corpo no dela, puxando-a com
urgência.
As mãos de Mel se tornaram incansáveis, deliciando-se ao descobrirem que o simples fato de
tocar a pele de Dani produzia um efeito de corrente elétrica nas duas. Desceu a boca pelo
pescoço, beijando, lambendo, sugando, deleitando-se em provocar alguns gemidos.
Quando as mãos de Dani tocaram seus seios, foi a vez de Mel gemer.
Então acabou toda a delicadeza. Mel praticamente arrancou a calça de Dani e a jogou na
cama, deitando-se por cima, ansiando por um maior contato dos corpos, das peles.
Enfiou a perna entre as dela, abrindo-as lentamente, pressionando o corpo no de Dani de uma
forma absolutamente provocante.
Dani soltou outro gemido antes de colar a boca em um dos seios de Mel, chupando e lambendo
com voracidade.
Nem perceberam a porta se abrir:
– Meninas, vocês não vão... Ops!... Ai, Desculpa...
Com a mesma rapidez que entrou, Deca fechou a porta e saiu, totalmente sem graça.
Com o susto, elas pularam e se afastaram. Sem dizer uma palavra, evitando o olhar de Dani,
Mel pegou o vestido no chão, vestiu, e saiu apressadamente do quarto.
Dani ficou um tempo parada, olhando para a porta, como se estivesse esperando que ela
voltasse. Frustrada, xingando a si mesma por não ter trancado a maldita porta, começou a se
vestir.
Só de olhar para a cara de Deca, Raq percebeu que alguma coisa tinha acontecido.
– Que foi, amor?
Deca sussurrou no ouvido de Raq, que levou a mão à boca, surpresa. Mas não teve nem tempo
de comentar, porque Mel entrou na sala e saiu puxando Deca. Raq subiu as escadas correndo e
entrou no quarto onde Dani estava.
Dani nem precisou olhar para a cara da amiga para saber o que ela ia perguntar.
– As notícias aqui correm rápido...
– Menina, o que foi aquilo? – Deca continuou: – Pensei que você fosse contra sexo casual...
– E sou!
Na verdade, a experiência sexual de Mel se resumia às quatro namoradas. Não acreditava em
sexo sem envolvimento emocional. Nunca tinha sentido a menor vontade. Gostava de namoros
duradouros e pouco turbulentos. Sexo casual era uma coisa que não cogitava. Até aquele momento.
– Mas rolou... Fazer o quê?
– É, parecia que você tava gostando...
Deca riu, provocando a amiga. Mel a empurrou, rindo também:
– Ai, cala a boca! Como é que você me entra daquele jeito, sem bater?
– Como é que eu ia saber? Nunca ia imaginar, né? Logo vocês...
– Você é uma empata foda, sabia?
Riram muito antes de voltarem para a sala.
– Dani, você se supera a cada dia! Não acredito! A Mel?
Raq estranhou a amiga. Normalmente Dani ia rir, contar todos os detalhes sórdidos, comentar as
coisas mais absurdas e íntimas. Era assim que sempre tinha se comportado, desde que a conhecia.
Mas dessa vez, se limitou a um simples:
– Sem comentários...
ALTA TENSÃO
Mel e Dani não trocaram mais nenhuma palavra naquela noite. Para falar a verdade, nem se
olharam.
Quando entraram no quarto, trocaram de roupa uma de costas para a outra. Deitaram-se,
apagaram as luzes e demoraram muito para adormecer.
Dani acordou no meio da noite sufocando. Tentava puxar o ar e não conseguia, o peito chiava
como um apito.
Tinha asma desde criança, mas era uma daquelas coisas horríveis com as quais nunca se
acostuma. Considerava esta a maior de todas as suas fraquezas, por isso detestava que as
pessoas soubessem.
Levantou, tateando a bolsa à procura da bombinha. Quando percebeu, Mel tinha acendido a luz
e estava em pé ao seu lado, a mão em seu ombro, com uma expressão preocupadíssima.
Mel foi acordada por um barulho estranho que vinha da cama de Dani. Acendeu a luz, e ela
estava de pé, remexendo na bolsa. Respirava com dificuldade... Parecia tão frágil, bem diferente
da imagem de autossuficiência, sarcasmo e sedução que Mel fazia dela. Tocou o ombro de Dani,
perguntando:
– O que você tá procurando?
Dani fez um sinal com a mão e Mel entendeu na hora. Fez com que Dani sentasse na cama e
começou a revirar a mala, procurando. Não demorou muito para encontrar a bombinha. Entregou
para Dani e ajoelhou ao lado dela na cama. Obedecendo à vontade irresistível que sentia,
abraçou-a.
Depois de usar a bombinha, Dani foi sentindo os pulmões voltarem a se abrir, o ar entrando, o
chiado passando. Já estava se sentindo melhor, mas não queria se mexer, queria continuar
aproveitando o perfume delicioso, o calor gostoso do abraço de Mel. Uma sensação de entrega,
de proteção... Sentimentos dos quais normalmente fugia, mas, naquele momento, tinha um desejo
insensato de curtir.
Mel acariciou os cabelos dela, perguntando:
– Tá melhor?
Dani não tinha como mentir. Acenou com a cabeça dizendo que sim. Estranhamente, Mel não se
afastou.
Dani se arrepiou só de perceber como a pele de Mel estava quente... Os olhos se encontraram,
questionaram-se, responderam-se. O olhar de Dani desceu para os lábios tão próximos dos dela.
Bastava se aproximar um pouco para que se tocassem. Os olhos de Dani brilharam de
contentamento, louca para saciar o desejo pelos prazeres que aquela boca prometia.
Dani estava ali, parecendo tão desprotegida. Ela a olhou nos olhos, tocando Mel de uma forma
profunda. Estremeceu ao perceber que Dani ia beijá-la e sentiu um desejo insano de beijá-la
também, mas, então, houve uma mudança nos olhos de Dani e o olhar de predadora que Mel
odiava voltou a brilhar.
Mel estava decidida a não ser mais uma na imensa lista de conquistas dela. Desviou a boca dos
lábios que já roçavam nos seus e falou baixinho no ouvido de Dani:
– Você acha mesmo que pode comigo?
Uma raiva fria a movia. Empurrou-a com força, obrigando-a a se deitar. Sentou em cima de
Dani, imobilizando-a com o corpo e também com o olhar. Beijou o pescoço de forma
deliberadamente provocante, as mãos acariciando os seios debaixo do baby doll. Então, passou a
língua lentamente no biquinho de um dos seios, antes de colocá-lo na boca e sugá-lo por inteiro.
Isso bastou para que a crise de asma voltasse. Dani voltou a respirar com dificuldade, ofegando,
tentando puxar o ar sem conseguir. Mel pegou a bombinha, colocou na boca de Dani, apertou três
vezes, como a tinha visto fazer, tudo isso sorrindo ironicamente. Depois disse, com um ar vitorioso:
– Tá vendo? Sabia que você não aguentava...
Mel voltou para a própria cama e apagou a luz, deixando Dani imóvel, estática, morrendo de
ódio. Não estava acostumada a se render daquele jeito. Muito menos a ser rejeitada. E, entre
todas as mulheres do mundo, isso tinha que acontecer justo com essa.
Mel a tinha provocado, dominado e derrotado de uma forma vergonhosa.
Mas, se ela queria jogar, tudo bem. No dia seguinte, sem a desvantagem da asma, seria
completamente diferente. Nesse tipo de jogo, Dani não admitia perder para ninguém.
Quando Dani acordou, já eram mais de onze horas. Mel dormia tranquilamente na cama ao
lado. A primeira reação, ao olhar para ela, foi puramente física. O coração acelerou enquanto
contemplava as coxas que a camisola curta não conseguia esconder, o pedacinho dos seios que o
decote generoso deixava à mostra...
Mas logo depois olhou para o rosto dela. Mel tinha um sorriso satisfeito nos lábios e toda a
raiva da noite anterior voltou. Se pensava que ia ficar por isso mesmo, estava muito enganada.
Vestiu um short bem curtinho por cima do biquíni e saiu do quarto. Andou pela casa inteira sem
encontrar ninguém. Quando chegou na cozinha, encontrou um bilhete pregado na geladeira
dizendo:
“Queridas Dani e Mel,
Por motivos óbvios, não tivemos coragem de entrar no quarto de vocês... rs...
Agora sério: batemos na porta, mas vocês não responderam.
Esperamos que, caso tenham se matado, tenha sido fazendo aquilo que a Deca viu... rs, muitos
rs...
Fomos levar o pessoal numa cachoeira, voltamos com o almoço, qualquer coisa liga pro nosso
cel.
Beijokas,
Raq e Deca”
Depois de ler, Dani amassou o papel e o jogou no lixo. Estava tomando café quando Mel
apareceu, de biquíni, saia curtinha e óculos escuros na cabeça. Deliciosamente perfeita.
A última coisa que Mel queria era ficar sozinha com Dani. Ficou desconfiada com o estranho
sorriso de prazer com que foi recebida. Mais ainda quando ela disse, saboreando cada palavra:
– E aqui estamos novamente... Só eu e você...
Dani andou ao redor de Mel, a usual sedução que dela emanava realçada por um olhar
assustadoramente intenso.
Mel já tinha ouvido a expressão “ser despida com os olhos”, mas não sabia que um simples olhar
podia fazê-la se sentir assim... Devorada, abusada, invadida.
Dani sorriu satisfeita com a reação de Mel. Estava apenas começando.
Mel estava completamente consciente do perigo que estava correndo. Sabia muito bem que Dani
não deixaria barato o que tinha acontecido na noite anterior.
Seria muito fácil sair dali, se não fosse um pequeno detalhe: suas pernas já estavam totalmente
bambas. Estava sentindo na pele o poder que todos diziam que Dani exercia. Não conseguia
desviar os olhos dela, absolutamente poderosa e linda.
Tão grande era a atração que emanava, um verdadeiro campo magnético, que dava a
impressão de que era Mel a girar em torno de Dani, e não o contrário.
Então ela parou atrás de Mel, o corpo tão próximo que podia sentir seu calor. A respiração de
Dani mexia propositalmente com os cabelos da nuca de Mel, fazendo-a se arrepiar inteira. A mão
direita envolveu a cintura dela e foi pousar na nudez do estômago, logo abaixo da parte de cima
do biquíni. Os músculos de Mel se contraíram com o contato ardente e íntimo, sua respiração ficou
difícil. Dani encostou a boca no ouvido dela, a voz provocante causando mais tremores:
– Agora vamos ver se você pode comigo...
Mel sentiu uma fraqueza tão grande que parecia que ia desfalecer. Agindo impulsivamente,
recostou-se em Dani, jogando a cabeça para trás, deixando o pescoço ao alcance da boca, que
desceu queimando sua pele.
A partir do momento em que Mel se rendeu, oferecendo languidamente o pescoço, Dani teve que
fazer um esforço enorme para não perder o controle de vez.
Passeou a boca pelo pescoço e pela nuca dela, beijando, chupando, mordendo, arrancando
arrepios, suspiros e gemidos. Afastou a parte de cima do biquíni para que as mãos famintas
pudessem tocar os seios bem feitos. Mel pegou a mão direita de Dani e a levou à boca. Chupou os
dedos sensualmente, deixando Dani ofegante.
Dani manteve a mão esquerda acariciando o seio, e desceu a outra pelas coxas, saboreando a
quentura da pele. Levantando a saia, enfiou a mão dentro do biquíni, deleitando-se ao sentir o
quanto Mel estava molhada.
Estavam em frente ao balcão da pia. Dani fez Mel apoiar as mãos no mármore e, então,
penetrou-a com os dedos, a outra mão a segurando com firmeza abaixo do umbigo, fazendo Mel
se derreter.
Mel não podia nem queria resistir, queria apenas se entregar a todo e qualquer tipo de prazer
que a mulher que manipulava seu corpo com maestria lhe desse. Abriu mais as pernas, empinando
a bunda, rebolando e gemendo para ela...
O único arrependimento de Dani era não ter feito aquilo há mais tempo. Os gemidos de Mel
eram aveludados, quase ronronados. Ela mexia deliciosamente os quadris, a bunda roçando no
sexo de Dani, deixando-a enlouquecida.
Dani ofegou e gemeu em seu ouvido, mordiscando a orelha dela, esfregando-se em Mel com
volúpia, dizendo coisas que a levaram a um estado de excitação quase insuportável.
O corpo de Mel foi sacudido por espasmos, os músculos apertando os dedos de Dani. Ela gemeu
mais e mais alto até estremecer violentamente, fazendo Dani gozar também.
Mel quase não conseguia manter-se de pé. Como se adivinhasse, Dani a virou, levantou-a e
sentou-a em cima do balcão.
E, então, Dani já estava no meio das pernas dela, a boca colada em um dos seios de Mel,
lambendo e chupando com sofreguidão, querendo devorar aquela mulher.
Mel desconhecia essa força que a impelia a se entregar à tempestade de sensações que
dominava todos os seus sentidos. A única coisa que importava era corresponder na mesma medida.
Desceu do balcão, escorregando pelo corpo dela. Enfiou uma mão da nuca de Dani. A outra
subiu para acariciar um dos seios.
Mel tocou o seio de Dani por baixo do biquíni, arrancando suspiros. Puxou Dani com força pelos
cabelos, obrigando-a a parar a brincadeira com o seio. E foi a vez de Mel mergulhar a boca nos
seios dela, mordiscando de leve os biquinhos, depois sugando com força, enquanto a livrava do
shortinho.
Dani tentou conter os gemidos, mas quando Mel a tocou entre as pernas, foi impossível.
Aquele gemido arrancado à força despertou em Mel um incontrolável desejo de saborear Dani
inteira. Então a girou e, encostando-a no balcão, ajoelhou-se e mergulhou a boca no sexo de Dani,
dessa vez provocando vários gemidos.
Mel a provocou de uma forma que fez Dani perder a noção de qualquer outra coisa que não
fosse a língua que a explorava, penetrava, devorava sem pena. Quando pensava que não ia mais
aguentar, sentiu os dedos de Mel dentro dela, a língua acompanhando os movimentos rápidos,
fazendo-a gritar, dominada por um gozo intenso.
Dani ficou ali, fraca, as pernas bambas, a respiração alterada, apoiando-se no balcão para
não cair.
Mel então se levantou, endireitou o biquíni, olhou Dani nos olhos e disse, com o mesmo sorrisinho
irônico da noite anterior:
– Eu não disse que você não aguentava?
Foi saindo vitoriosa, mas só conseguiu chegar até a porta da sala.
Dani foi atrás dela, puxou-a, segurou-a pelos cabelos e disse, com um brilho dominador
irresistível nos olhos, que fez Mel tremer inteira:
– Quem disse que acabou?
DEPOIS DAQUELE BEIJO
Dani a beijou com paixão, a língua invadindo a boca de Mel com uma avidez desmedida... Entre
as labaredas que a consumiam, Mel percebeu que, até aquele momento, ainda não tinham se
beijado.
E o beijo – os lábios se aderindo, as línguas cálidas se fundindo, as respirações mesclando sua
arritmia – pareceu muito mais íntimo que todo o resto. Como se Dani pudesse sugar sua vontade,
seu ser, sua alma...
Dani estava assustada. Não contava com as milhares de sensações que aquele simples beijo
podia causar. Como se fosse a primeira vez que realmente se tocavam.
Tirou a saia e o biquíni de Mel e a fez deitar no sofá carinhosamente. Mel permitiu com total
passividade, olhando-a como se estivesse hipnotizada.
Era a primeira vez que Dani a via assim, completamente nua. Linda, tão linda que chegava a
doer... Livrou-se do biquíni, ficando nua também, e deitou em cima dela, descendo a boca pelos
seios, pondo-se a lamber, chupar, provar, devorar... Já não pensava direito, apenas seguia a
enorme vontade de dar e receber prazer.
O simples fato de Dani estar nua em cima dela tirou Mel do torpor em que se encontrava.
Aquela mulher a deixava num transe de loucura. Ela era incrivelmente sexy, linda, intensa... Total e
deliciosamente irresistível.
Naquele momento, Mel teria implorado para que ela a tocasse. Mas Dani também parecia
tomada pela mesma insanidade que fazia Mel passar as mãos na pele dela, apertar e arranhar
as costas com volúpia, acariciar e provar aquele corpo tão desejado.
As duas se fitaram durante um breve momento revelador. Sem precisar de palavras. A troca de
olhares deixando clara a trégua oferecida.
Os lábios de Mel procuraram os de Dani, abriram-se nos dela, com uma entrega sem restrições.
Foi nesse momento que Dani finalmente se rendeu.
Amaram-se sensualmente, Dani entre as pernas de Mel, bocas e corpos colados, os sexos
pulsando juntos, de forma quase desesperadora. Mel passando as mãos nas costas, na nuca de
Dani, incansavelmente. As bocas não conseguiam se separar. Os sussurros e gemidos abafados
foram aumentando, seguindo os movimentos dos corpos que aceleravam. Então Mel disse que ia
gozar e, fazendo com que Dani a acompanhasse numa palpitante vertigem dos sentidos, pediu:
– Goza comigo...
Depois do orgasmo arrebatador, que as deixou completamente exaustas e sem fôlego, Dani
ficou deitada em cima de Mel, o rosto enfiado nos cabelos dourados.
Aos poucos, foi voltando a si, apavorada com a facilidade com que se tinha deixado levar e
com a intensidade do que tinha sentido.
Ela, que evitava qualquer tipo de envolvimento. E tinha sido logo com a única pessoa com quem
isso nunca poderia acontecer.
Sentiu-se fraca, vencida e incapaz de olhar para Mel, porque, se voltasse a ver o sorriso irônico
e o ar vitorioso com que ela sempre a desafiava, não teria como revidar.
Mel ficou deitada, adorando sentir o peso do corpo de Dani, a pele quente e suada contra a
sua, o hálito em seu pescoço, o coração tão descompassado quanto o dela.
Tinham feito amor, e isso era ao mesmo tempo surpreendente, maravilhoso e assustador. Porque
sempre tinha pensado que Dani era o tipo de mulher sensual, sedutora, devastadora, com quem se
podia fazer sexo e nada mais. Mas não tinha sido assim.
Do nada, sentiu todos os músculos de Dani se tencionarem. Percebeu que, durante alguns
segundos, ela prendeu a respiração, como que tomando coragem, e então se levantou, os olhos
evitando os de Mel.
Dani vestiu o biquíni sem olhar para ela. Depois saiu da sala, o coração doendo só de se
afastar de Mel. Quase correu até a piscina, onde mergulhou de cabeça na água gelada.
Mel ficou observando Dani se vestir em silêncio e sair da sala sem olhar para ela. Vestiu o
biquíni sentindo os olhos embaçarem. Tinha um nó por dentro. Sentou novamente no sofá e deixou
as lágrimas escorrerem. Perdeu a noção do tempo, deixou-se ficar ali chorando, o rosto entre as
mãos abafando os soluços.
Então uma mão gelada tocou o seu braço. Ela levantou os olhos e deu de cara com Dani,
ajoelhada na sua frente, os cabelos molhados deixando-a ainda mais atraente e linda.
Dani atravessou a piscina inteira debaixo d’água, tentando colocar os pensamentos e sentimentos
em ordem, sem resultado. A vontade insana que sentia era de voltar para a sala, pegar Mel nos
braços, beijá-la e começar tudo novamente.
Mas era esse recomeçar que a incomodava, porque não tinha ideia do que estava querendo, só
sabia que não era apenas sexo e se recusava terminantemente a assumir ou se permitir algo mais.
Resolveu ir até a cozinha buscar o short que tinha deixado no chão. Quando passou pela porta
da sala, ouviu um choro abafado.
Mel estava sentada no sofá, com a cabeça baixa, o rosto tapado pelas mãos. Dani sentiu uma
pontada de dor quando a viu chorando. Sem pensar nem questionar o que estava fazendo,
ajoelhou-se na frente dela e a tocou.
Mel levantou a cabeça e a olhou com os olhos mais magoados que Dani já tinha visto. Quase
gritou:
– O que você quer? Será que já não fez o bastante?
Pela primeira vez em toda a sua vida, Dani não soube o que dizer. E o silêncio dela irritou Mel
mais do que tudo.
– Você é a pessoa mais detestável, mais grosseira, mais... Metida à besta que eu conheço! Odeio
você!
Dani pegou a mão dela e a levou aos lábios, beijando a palma. Mel estremeceu com o contato,
a irritação começando a dar lugar a um sentimento que preferiu não nomear... Dani quase
sussurrou, o coração dando pulos no peito:
– Queria que todas os meus desafetos me odiassem do jeito delicioso que você me odeia,
principalmente as lindas como você...
O jeito que Dani a olhou fez Mel se arrepiar inteira. Ela era uma mestra na arte da sedução,
resistir se tornava quase impossível.
Quase, porque Mel estava sentindo o coração acuado, doendo, em perigo, e não podia se dar
ao luxo de se deixar levar pelo poder enfeitiçante que Dani usava indiscriminadamente contra
todas as mulheres.
Precisava esclarecer o que tinha acontecido entre elas. Soltou a mão que ainda estava presa na
de Dani, e respondeu:
– E eu queria que você realmente fosse a mulher que fez amor comigo.
Dani levantou, passando a mão nos cabelos, visivelmente desconfortável. Mel conseguiu ver o
exato momento em que as defesas dela se ergueram, trazendo de volta a mulher detestável que
conhecia tão bem:
– Nós trepamos, gata. Não complique aquilo que é tão simples. Foi só isso, não se engane. Não
quero nada mais.
A negação maldosa do que tinham sentido, o jeito frio, irônico, quase agressivo de Dani, fizeram
o sangue de Mel ferver:
– E quem disse que eu quero, Daniele? Com quem você pensa que tá falando? Olha bem pra
mim! Sei muito bem quem você é! Por trás dessa fachada de mulher fatal, de grande artista, se
esconde uma mulher patética, incapaz de construir qualquer coisa que realmente valha a pena. E
quer mesmo saber? Nem trepando você acompanha o meu ritmo!
Quando terminou de falar, Mel estava ofegante de raiva. Ficou parada na frente de Dani
olhando-a desafiadoramente. Mas, pela segunda vez, tinha conseguido deixar a outra totalmente
sem palavras.
Foi então que ouviram o carro de Deca buzinando. Em questão de minutos entraram todos na
sala, animadíssimos.
– Nossa, vocês perderam! Fomos numa cachoeira muito linda!
O almoço decorreu tranquilo, e todos estranharam. Dani e Mel não discutiram, não se
alfinetaram, não discordaram em nada, sequer trocaram uma farpa.
Na verdade, as duas estavam muito caladas, limitando-se a frases monossilábicas.
Deca e Raq conheciam bem as amigas, sabiam que tinha algo no ar.
Aproveitando o momento em que todos foram para o salão de jogos, Deca puxou Mel para uma
das redes:
– Que foi, amiga?
Mel balançou a cabeça, disse que não era nada, mas não conseguiu evitar que seus olhos se
enchessem de lágrimas.
– Não confia mais em mim? Fala, vai...
Mel enxugou os olhos, respirou fundo e disse da forma mais seca que conseguiu:
– Transei com a Dani.
Não estava disposta a revelar mais do que isso. Deca olhou para a amiga por um momento,
antes de perguntar:
– Só isso?
– Sim, o que mais?
Mas a resposta de Mel foi tensa demais. Ao ver a dúvida nos olhos de Deca, completou:
– Você me conhece, é a primeira vez que eu faço sexo por sexo, acho que, sei lá, me deixou um
pouco abalada...
– Defina abalada.
– Confusa... Um pouco culpada...
– Arrependida?
– Ai, Deca, isso é um interrogatório? Você tá pensando o quê? Que eu fiquei apaixonada, por
acaso? – Mel falou desviando os olhos, com medo de que Deca pudesse ver alguma coisa neles.
Deca observou bem a amiga. Ela parecia estranhamente perturbada. Deixando a desconfiança de
lado, tentou animar Mel:
– Veja o lado bom da coisa: a melhor forma de se tornar amiga da Dani é trepando com ela.
Aliás, pra ser amiga da Dani, esse é um requisito fundamental.
– Como é que é? Quer dizer que a Daniele... Com a Raq... Elas já...?
Deca riu do espanto de Mel. Jurava que a amiga soubesse o que todos sabiam:
– Sim. E com a Bia, e comigo, e com a torcida do Flamengo. Bem-vinda ao clube, queridinha!
Mel queria morrer. Mas se obrigou a dar um sorriso. Aquilo que realmente sentia ela nunca iria
deixar transparecer.
Dani estava jogando sinuca com Raq, perdendo feio. Não conseguia se concentrar porque tinha
toda a atenção voltada para Mel. Ela estava sentada na rede, conversando com Deca, como se
Dani não existisse.
Querendo chamar a atenção dela, começou a jogar charme. Inclinava o corpo sensualmente
cada vez que ia acertar a bola, bebia da latinha de cerveja e apoiava o taco no chão de uma
forma provocante. Mas nada disso deu resultado. Tudo o que conseguiu foi um olharzinho de
desprezo quando Mel se levantou da rede e foi até a mesa de totó, onde o primo estava com o
namorado.
Por outro lado, Paulinha não tirava os olhos de Dani, de uma forma tão acintosa que ouviu Bia
dizer bem alto, antes das duas começarem a discutir:
– Será que dá pra parar de babar?
Depois dessa, resolveu maneirar. Naquele momento, mais confusão era tudo o que não
precisava.
Raq achava que conhecia Dani como a palma da sua mão. Mas não estava conseguindo
acompanhar aquele movimento.
Dani direcionou todo o seu poder de sedução para Mel enquanto jogavam. O estranho disso
tudo é que, antes, Raq tinha certeza que elas já tinham transado. Pela forma que as duas se
olhavam e porque a tensão que antes existia entre elas tinha dado lugar a outra coisa, algo que
Raq não conseguia definir.
Mas se realmente já tivesse rolado, Dani não estaria jogando charme para Mel. A menos que...
Não, impossível! Já era difícil Dani trepar duas vezes com a mesma mulher. Envolver-se, então, era
uma hipótese inacreditável! A verdade é que não estava mais entendendo nada. Só tinha uma
certeza: a amiga estava agindo de forma totalmente inesperada.
Naquele mesmo dia, voltaram para o Rio de Janeiro. Depois da discussão que Bia e Paulinha
tiveram, foram em carros separados, exatamente como tinham chegado.
Nunca uma briga de casal tinha deixado Mel e Dani tão aliviadas.
OPOSTOS QUE SE ATRAEM
Depois de deixar Paulinha, PH e João em casa, Mel passou no apartamento dos pais para
pegar Nicole, sua cachorrinha pug. A mãe a recebeu na porta com mil abraços e beijos:
– Feliz ano novo, Melzinha! Como foi a viagem? Se divertiu?
– Muito.
Nicole veio correndo, fazendo muita festa, louca de saudades. Mel também tinha sentido muita
falta dela:
– Oi, Niní! Lindinha da mamãe! Vem cá...
Mel pegou Nicole no colo e a beijou. Foi até à sala, onde sabia que o pai estaria assistindo o
noticiário.
– Oi, papai.
Deu um beijo estalado no pai, que a puxou e obrigou a se sentar no colo dele como sempre
fazia. E não adiantava Mel reclamar, dizendo que não era mais criança. Ela era a caçulinha, única
filha mulher no meio de dois filhos e três netos homens, por isso o pai continuava tratando-a como
sua garotinha.
– Senti falta da minha princesinha! Como foi o ano novo? Arrasou muitos corações?
Não precisa nem dizer que, para os pais, Mel nunca tinha saído do armário. De vez em quando,
ela levava um amigo gay para jantar e apresentava como namorado. E ficava por isso mesmo,
sem eles nunca terem desconfiado.
A mãe insistiu muito, mas muito mesmo para que ela ficasse. Apesar do apartamento de Mel ser
bem perto dali, às vezes ela dormia no quarto que tinha sido dela antes de se mudar, e que
continuava exatamente como tinha deixado.
“Caso um dia você resolva voltar”, era o que a mãe sempre dizia.
Mel já tinha saído de casa há quatro anos, e os pais ainda não aceitavam. Mas, para Mel, o dia
que se mudou foi um dos mais felizes de toda a sua vida. Não que não se desse bem na casa dos
pais, pelo contrário, lá tinha todo o tipo de mordomia possível. Mas nada era mais valioso que sua
tão sonhada independência.
Querendo colocar a cabeça no lugar, resolveu ir para casa. Despediu-se dos pais recebendo
mais alguns milhares de beijos e recomendações. Chegou na rua Nascimento Silva em menos de
cinco minutos, parou em frente ao prédio e entrou na garagem.
A primeira coisa que fez quando entrou em casa foi ficar descalça. O chão era de madeira
clarinha, e Mel não deixava ninguém entrar sem tirar os sapatos.
Aliás, diga-se de passagem, a casa de Mel era impecável. Tudo no lugar certinho, absolutamente
arrumado. Era assim que ela gostava.
Mel era louca por fotografias, por isso o apartamento era cheio de porta-retratos. A maioria
com fotos dos três sobrinhos, que Mel adorava.
Abriu as janelas, encheu a banheira, jogou sais de banho dentro – estava precisando e
merecendo – e se deixou ficar ali deitada, imersa na água quente e nos próprios pensamentos.
E seus pensamentos resumiam-se a uma única coisa, ou melhor, pessoa: Daniele... Tinha sido o pior
ano novo de todos os tempos.
Magoada, triste, desesperada... Era como se sentia. Porque estava louca e irreversivelmente
apaixonada. Pela única pessoa por quem jamais poderia se apaixonar.
Se, pelo menos, nunca mais a encontrasse, tudo seria mais fácil. Mas, se o mundo é pequeno, o
mundo gay é um ovo e, apesar do Rio ser uma cidade imensa, era fácil duas pessoas com amigos
em comum viverem se esbarrando o tempo todo.
Resolveu dar uma de Scarlett O’Hara: “Amanhã eu penso nisso...” e foi se deitar. Ficou um bom
tempo rolando na cama antes de adormecer.
No dia seguinte, acordou atrasada. Saiu correndo e não soube como conseguiu chegar na hora
na firma de arquitetura onde trabalhava. Passou o dia com a cabeça nas nuvens, sem conseguir
fazer nada direito, mal conseguindo terminar uma planta que precisava entregar.
E, assim, os dias passaram. Evitava sair para lugares GLS e, durante o mês inteiro, conseguiu não
cruzar com Dani.
E, então, chegou fevereiro...
E, com ele, o inevitável reencontro, a menos que Mel se trancasse em casa, coisa que não estava
disposta a fazer, porque... Era Carnaval.
Deca e Raq deixaram Dani em Botafogo, na portaria do prédio em que morava. Assim que
abriu a porta de casa deu de cara com Gisa e Ed bebendo cerveja na sala.
Eram amigos desde a Unirio, tinham sido da mesma turma na faculdade de teatro e, desde
aquela época, dividiam o aluguel daquele bom e velho apartamento de três quartos. Dava muito
certo, porque Gisa era tão hétero quanto Dani e Ed eram gays. Como ninguém comia ninguém, a
coisa funcionava muito bem, obrigado. A ponto de ganharem o apelido de “Santíssima Trindade”.
Para qualquer pessoa que entrasse, o apartamento parecia para lá de bagunçado, mas, como
Dani gostava de dizer, era “apenas uma zona organizada”.
Por isso mesmo, Dani nem se incomodou em perguntar por que o chão estava cheio de papel
cortado. Algum trabalho manual ou sei lá o que... Contanto que ela não tivesse que limpar, tudo
bem.
Pegou uma cerveja na geladeira e se jogou no sofá. Ed começou, todo animadinho:
– E aí, amiga? Como foi seu Réveillon? Beijou muito na boca?
– Um pouco.
Estranharam a resposta lacônica:
– Nossa, que bicho te mordeu?
– Só tô cansada... E precisando de dinheiro, como sempre... E não tô querendo pedir pro meu
pai.
A mãe de Dani tinha falecido quando ela tinha quinze anos. Isso tinha feito o mundo de Dani
desabar. Como se não bastasse a dor impossível de se descrever com simples palavras, tinha ido
morar com o pai, sendo obrigada a mudar de colégio e se separar da namorada, seu primeiro e
único amor.
Talvez esse acúmulo de perdas fosse o responsável pelo pavor que Dani tinha de sofrer. Mas
quem poderia saber? O fato é que depois disso ela nunca mais tinha se envolvido com ninguém.
O pai de Dani era um sujeito diferente, isso para não dizer excêntrico. Professor de Literatura,
poeta e absolutamente liberal.
Tanto que, depois da primeira vez que Dani fez sexo com uma mulher, entrou muito sem graça no
quarto dele:
– Pai, aconteceu uma coisa horrível!
– O que foi, minha filha? Fala! – Ele ficou assustado, dava para perceber.
– Eu... Transei... Com uma mulher.
– Ah, mas é só isso? Isso não é horrível, minha filha, isso acontece. Horrível é sua mãe ter
morrido... – Foi a resposta dele.
Já a irmã mais nova de Dani tinha descoberto da pior maneira possível: olhando pelo buraco da
fechadura do quarto e vendo Dani... Com a boca na botija.
Depois disso, tinha passado vários dias fazendo o seguinte: sempre que via Dani, começava a
dizer que não tinha nada contra homossexuais, que achava ótimo e coisas assim. Dani sempre
fingindo que não era com ela, até o dia que recebeu uma que, mais direta, impossível:
– Dani, eu sei que você é lésbica.
Dani engasgou. Ficou branca, roxa, azul, vermelha, um verdadeiro arco-íris... Mas a menina
continuou:
– Poxa, você não ia me contar? Por quê? Tá pensando que eu sou preconceituosa, é? Eu te amo,
boba! – disse, abraçando Dani com força. E, depois, com uma cara muito safadinha: – Me conta,
vai! Tô louca de curiosidade pra saber como é!...
– Alô! Terra chamando Dani!
Dani nem tinha percebido o quanto seus pensamentos tinham ido longe... Ed continuou, assim que
voltou a ter a atenção dela:
– Sorria, amiga, porque tenho um negócio pra você.
– Ai, Ed, você e as suas roubadas...
Já tinha perdido a conta das vezes que ele a tinha feito pagar mico: vestida de Branca de Neve
em festas de aniversário, de palhaça em plena Cinelândia e, a última e sem dúvida pior de todas:
na inauguração de uma loja de colchões no Largo do Machado, vestida de funkeira e tendo que
executar uma coisa horrorosa chamada “Dança do Créu”.
– Não, dessa vez vai ser legal. É pra uma faculdade de medicina. Topa?
– Tem outro jeito? Bom, o papo tá muito bom, mas tô morta! Vou tomar um banho e me deitar.
Entrou debaixo do chuveiro quente. Não conseguia tirar Mel da cabeça. E tudo o que Dani
queria era poder esquecer.
Mentira... O que realmente queria era ouvir aquela voz, provar novamente aqueles beijos.
Parou por aí porque, só de pensar, o coração já batia como um bumbo no peito... Nunca, jamais
tinha sentido uma coisa tão forte assim. E logo pela pessoa mais errada.
Mas não devia ser difícil resolver. Alguns beijos na boca, umas boas trepadas e Mel seria coisa
do passado. Ainda pensando nela, rolou na cama até amanhecer.
O tal trabalho na faculdade de medicina até que foi razoável. Eles tinham que simular serem
vítimas de um acidente numa fábrica. Receberam umas fichas com os sintomas e machucados que
tinham que ter, maquiaram-se e deitaram cada um numa maca. Os estudantes do primeiro ano
entravam e tinham que descobrir pelos sintomas o que fazer.
E foi hilário porque eles fizeram tudo tão perfeitamente que uma estudante desmaiou, outro
resolveu largar a faculdade e uma terceira esqueceu que era tudo de mentira e ficava dizendo
pra Dani:
– Calma! Calma! Você vai ficar bem!
Difícil mesmo era não dar risada. Principalmente vendo Ed gemendo naquela maca. Um
daqueles momentos inesquecíveis, impagáveis.
O mês passou rápido. Dani saiu e bebeu muito, beijou e transou mais ainda, mas não conseguiu
se esquecer de Mel.
E então chegou a época do ano que Dani mais gostava: o Carnaval. Entre Banda de Ipanema,
terreirão do samba e “outras cositas mais”, Dani tinha certeza que não seria difícil mandar Mel
para o espaço.
Rio de Janeiro. Sábado de Carnaval. Banda de Ipanema. Precisa dizer mais alguma coisa?
Raq e Deca foram seguindo meio de lado, evitando a confusão e, assim que a banda virou na
Vieira Souto, não viram mais Dani, que estava enfiada no meio da muvuca mesmo. Antes de se
perderem já a tinham visto beijar pelo menos cinco bocas.
Só foram se reencontrar na Farme. Foi quando o celular de Deca tocou. Ela atendeu, fazendo
um esforço enorme para escutar. Era Mel, dizendo que tinha acabado de chegar com PH e João.
Queria saber onde elas estavam. Deca avisou, antes de desligar:
– A Dani tá aqui.
– E daí? – Foi a resposta mal humorada dela.
– Ah, sei lá, pensei que pudesse te incomodar.
– Como assim? Tá maluca?
Mel falou com tanta verdade que ela mesma quase acreditou.
– Daqui a pouquinho tô aí.
Desligou o celular com uma cara que fez PH se assustar:
– Credo! Que foi?
– Ela tá lá.
Não precisava dizer quem. PH era o único em quem Mel tinha confiado para contar a verdade.
– Quer ficar por aqui?
– Não, já disse pra Deca que a gente vai pra lá.
Foram. No primeiro momento, Mel não viu Dani. PH e João encontraram alguns amigos e se
afastaram.
Enquanto conversava com Deca e Raq, os olhos de Mel a procuravam. Não tinha como evitar.
Então a viu. Só de biquíni e um short micro, deliciosamente suada, com a barriguinha perfeita de
fora... Ela estava muito... Muito... Mel nem sabia como definir. O coração disparou, as mãos ficaram
geladas e ela ficou parada de boca aberta sem conseguir tirar os olhos de Dani, sentindo-se uma
perfeita idiota.
Dani estava flertando abertamente com três mulheres ao mesmo tempo. Elas riam e a rodeavam,
competindo para ver quem chamava mais atenção. Mel pensou em sair dali antes que ela a visse,
mas então já era tarde. Os olhos de Dani passaram por ela, depois voltaram, parecendo
surpresos, e se fixaram em Mel.
Três das muitas bocas que Dani tinha beijado tinham parado em volta dela. Cercada de
mulheres bonitas, com uma latinha de cerveja na mão... Era para ela estar ótima, se não fosse um
sentimento esquisito de insatisfação.
Tentou se concentrar no que diziam, sem muito resultado. Correu os olhos avaliando as pessoas
em volta – hábito adquirido na noite, para ver se tinha alguma mulher mais interessante do que
aquela ou aquelas com quem estava – e pensou ver... Os olhos voltaram rápido e... Era ela mesma.
Esquecendo todo o resto, seus olhos encontraram os de Mel.
Ela estava linda demais. Parecendo recém saída do banho, com uma camisetinha branca, um
shortinho azul marinho, os cabelos presos num rabo de cavalo. Dani sentiu uma vontade
incontrolável de soltar aqueles cabelos, enfiar a mão neles, beijar aquela boca. Largou as três
mulheres falando sozinhas e caminhou na direção de Mel, quase como se estivesse hipnotizada.
Quando ela se aproximou, Mel sentiu as pernas tremerem. Dani estava vindo em sua direção,
com os olhos fixos nela. Se Mel quisesse, poderia ter fugido, desviado os olhos, feito qualquer
coisa, mas, na verdade, tudo o que queria era ficar com ela, é claro. E o que aconteceu foi
inevitável.
Dani parou na frente de Mel, tão próxima que dava para sentir que ela cheirava cerveja, praia
e um cheiro gostoso de... Daniele.
Sem dizer uma palavra, Dani segurou o rosto dela com as duas mãos e a beijou. O contato dos
lábios teve um efeito imediato em Mel, que correspondeu sem hesitar. Ficaram ali se beijando,
matando a saudade, saciando a vontade que não conseguiam mais negar.
Deca e Raq se assustaram. Não acreditavam no que estavam vendo. Era a coisa mais louca de
todos os tempos. Ficaram ali, sem dizer nada, não querendo atrapalhar. PH e João também quase
caíram duros, mas também ficaram bem longe para não perturbar.
Não souberam quanto tempo ficaram ali se beijando, se acariciando, se pegando. Muito tempo,
porque a rua já estava praticamente vazia quando Deca e Raq se aproximaram muito sem graça,
fazendo com que elas descolassem os lábios, mas não que se soltassem.
– A gente leva o PH e o João.
– Tá bom...
Mel respondeu com dificuldade, porque Dani já estava com a boca em seu pescoço. Mal viu as
amigas, o primo e o namorado irem embora. Só tinha olhos, ouvidos, boca, pele... Todos os sentidos
voltados para Dani.
Sussurrou no ouvido dela:
– Eu moro aqui pertinho.
Dani se deixou puxar pela mão, foi seguindo Mel docilmente e em questão de minutos já
estavam na portaria.
Agarraram-se no elevador, ignorando a câmera de vigilância. Da mesma forma, atravessaram o
corredor aos beijos, sem se desgrudarem. Mel nem soube como conseguiu abrir a porta.
Ainda estavam aos beijos quando Nicole pulou em cima das duas. Dani fez festa com a
cachorrinha de lacinho rosa:
– Que fofa! Qual o nome dela?
– Nicole.
Mas, naquele momento, Mel não estava muito para conversa. Puxou Dani de volta e, com a boca
colada na dela, empurrou-a para o quarto.
COISAS FEITAS PELO CORAÇÃO
Despiram-se lentamente antes de se deitarem na cama. Dani mergulhou os lábios nos de Mel
numa série de beijos longos, saboreando a doçura daquela boca. O jeito lânguido e entregue com
que Dani a beijava só aumentava a vontade de Mel.
Dani desceu a boca pelo pescoço de Mel, arrancando pequenos gemidos. As mãos de Mel
passeavam por suas costas, fazendo-a se arrepiar por inteiro. Então se enfiaram nos cabelos de
Dani e a puxaram para baixo, exigindo que a boca tocasse seus seios. Dani lambeu, depois passou
a sugar com volúpia. Desceu as mãos pela barriga, acariciou as coxas e Mel abriu as pernas,
suspirando. Quando Dani tocou o seu sexo, ela gemeu alto. Estava muito mais do que pronta, Dani
penetrou-a com facilidade. As bocas se colaram novamente, as respirações entrecortadas.
Mel a puxou, a mão direita apertando a nuca de Dani com força. Levantou um pouco a coxa,
pressionando-a contra o sexo de Dani, deliciando-se com os gemidos tão excitados quanto os dela.
Dani se esfregava de uma forma deliciosa, deslizando na perna de Mel... Como era gostosa
aquela mulher.
Colou a boca no ouvido de Dani:
– Quero sentir você gozando...
A voz de Mel, rouca, ofegante, quase suplicante, foi demais para Dani. Gozaram juntas, os
suspiros e gemidos se misturando. Ficaram um tempo abraçadas, beijando-se preguiçosamente.
– Daniele...
– Quê?
– Tô morrendo de fome, e você?
Mel não esperou a resposta. Num impulso, virou e ficou em cima de Dani. Deu um beijo estalado
nos lábios dela antes de levantar da cama e sair do quarto rindo e chamando-a. Dani sorriu e
seguiu-a.
Dani se espantou com a cozinha de Mel. Era arrumadíssima, quase resplandecente de tão limpa!
Mel abriu a geladeira, pegou várias coisas e, sempre perguntando para Dani o que ela gostava
ou não, fez rapidamente dois sanduíches. Mais do que enormes: gigantes! Dani a olhava, totalmente
seduzida.
– Qual você prefere?
Dani não teve como deixar de sorrir. Estava encantada com a mulher linda, deliciosa que tinha
na sua frente. Mel estava nua, parada com a porta da geladeira aberta, segurando uma garrafa
de refrigerante numa mão e uma caixa de suco na outra. A luz da geladeira a iluminava por trás,
criando uma aura em volta dela. Mel levantou uma das sobrancelhas e cortou os pensamentos de
Dani, perguntando:
– Qual é a graça?
Impulsivamente, Dani a abraçou pela cintura e encostou os lábios nos de Mel:
– A graça é você... Uma graça mesmo...
Mel deu um sorriso radiante que fez Dani se derreter ainda mais:
– Tão linda... Gostosa demais...
Então a boca de Dani já estava no pescoço de Mel, no colo, nos seios, fazendo as pernas de Mel
bambearem. Dani tirou as coisas da mão dela, empurrou-as junto com as que estavam em cima da
mesa para um canto, e sentou Mel no espaço vazio que se abriu.
Mel enfiou as mãos nos cabelos de Dani e a puxou para entre suas pernas. Dani colocou o seio
de Mel na boca, chupando-o com força. Ao mesmo tempo, acariciou o sexo dela, explorando,
provocando, insinuando, arrancando gemidos.
Com uma lentidão torturante, desceu a boca pelo corpo de Mel, beijando e lambendo cada
pedacinho de pele antes de finalmente chegar ao ponto que buscava... Passou a língua devagar,
sem pressa, saboreando...
Mel se contorcia, gemendo alto e implorando por mais, fazendo Dani mergulhar a boca nela com
todo seu desejo, aumentando o ritmo da língua, querendo fazê-la e senti-la gozar.
Mas Mel a puxou de novo pelos cabelos, obrigando-a a se levantar, e a fez sentar em uma das
cadeiras. Sentou-se virada para ela, com Dani entre as pernas. Beijou a orelha de Dani, lambendo,
provocando, arrepiando-a... Desceu a boca pelo pescoço, as mãos acariciando os seios antes de
tocá-la entre as pernas, arrancando um gemido. Disse no ouvido de Dani:
– Adoro gozar junto...
E a penetrou com os dedos. Dani gemeu e... Fez a vontade de Mel. Mel começou a se mover nos
dedos de Dani de uma forma tão excitante que a deixou louca. Não demorou muito, Dani a seguiu
num orgasmo violento, gemendo alto e adorando o prazer de fazer Mel gozar.
O coração de Dani batia como o de Mel, incontrolavelmente. Mel a puxou, colando os corpos
totalmente, abraçando-a com os braços e as pernas, beijando-a com paixão.
Quando as pulsações começaram a voltar ao normal, Mel disse, rindo, com os lábios ainda
grudados nos de Dani:
– Assim você vai me matar de fome!
Comeram os sanduíches – quer dizer, Dani só aguentou metade, enquanto Mel devorou o dela
inteiro e a metade que sobrou de Dani.
Conversaram e riram, entre carinhos e beijos. Voltaram de mãos dadas para o quarto e se
amaram a noite inteira.
Na manhã seguinte, Dani acordou com uma alegria imensa. Mel estava dormindo com a cabeça
encostada em seu ombro, as pernas enroscadas nas dela. Estranhamente isso não a incomodou,
pelo contrário.
Era a primeira vez que se permitia dormir e acordar com alguém daquele jeito. Normalmente
dormia afastada, gostava de espaço, achava que essa coisa de passar a noite inteira grudada só
era bom nos filmes.
Mas ter Mel nos braços fazia seu coração entoar uma canção feliz. Ficou quietinha olhando-a
dormir. Passou a mão nos cabelos dourados, acariciou o rosto admirando-a, achando-a linda...
Foi então que ouviu o celular tocar. Em princípio não atendeu, mas a pessoa insistiu duas, três,
quatro vezes, fazendo tanto barulho que Mel começou a se mexer, acordando. Com cuidado, tirou
o ombro debaixo dela, sentou na cama e pegou o celular na mesinha de cabeceira.
– Alô? Oi, pai. Agora? Onde? Tá bom, já tô indo.
Mel se espreguiçou, depois se ajoelhou atrás de Dani, abraçando-a por trás e dando um
beijinho em seu pescoço, causando um pequeno arrepio:
– Ah, não... Você tem mesmo que ir?
Dani se virou e a beijou apaixonadamente. Mel correspondeu enfiando a língua na boca de
Dani e apertando o corpo contra o dela. De repente, Dani se afastou, lembrando:
– Preciso ir. Minha sobrinha tá nascendo.
Levantou e começou a catar as roupas espalhadas pelo chão. Em um segundo já estava vestida,
fazendo Mel rir, porque não fazia muita diferença...
– Acho que não vão te deixar entrar no hospital despida desse jeito...
Depois de emprestar uma roupa para Dani, Mel também se vestiu e disse:
– Te deixo lá.
Desde a morte da mãe, Dani sempre ficava nervosa quando entrava em hospitais. Sabia que o
risco do parto da irmã era mínimo, mas ainda assim sentia um medo irracional só de pensar que
alguma coisa pudesse dar errado.
Mel percebeu que Dani estava ansiosa. Podia até jurar que as mãos dela tremiam. Parou o carro
em frente à Casa de Saúde São José, no Humaitá, e viu que ela hesitava em sair dele. Segurou a
mão dela, Dani estava suando frio... E olhou-a com uns olhinhos desprotegidos, fazendo Mel
perguntar impulsivamente:
– Quer que eu entre com você?
Para surpresa de Mel, Dani fez que sim. Com um alívio que não era normal. Pelo menos, não
para ela. Mas Dani não queria saber. Porque a mão de Mel na sua transmitia uma incrível
sensação de tranquilidade.
Estacionaram o carro e subiram para o 4º andar sem dizer mais nada. Quando entraram no
quarto, o pai de Dani estava lá, sozinho. Dani abraçou e beijou o pai, que informou:
– Eles já foram pra sala de parto.
Reparando a presença de Mel, olhou interrogativamente para Dani.
– Pai, essa aqui é a Mel. Mel, esse é o meu pai.
– Muito prazer, Mel. Eu sou o Roberto. Nada de senhor, só Roberto mesmo.
Mel sorriu e trocou dois beijinhos com o pai de Dani. Ele a examinou de cima a baixo. Mel não se
importou. Dani ficou muito sem graça.
Para alívio de Dani, não demorou para uma enfermeira entrar trazendo a irmã numa maca.
Junto também vieram o cunhado e outra enfermeira carregando uma trouxinha que ela estava
louca para ver mais de perto. Todos se aproximaram e ficaram em volta da cama da irmã de
Dani, encantados com aquela que, para eles, era a bebezinha mais linda da face da terra.
Naquele momento, para Dani, pareceu que segurar a mão de Mel era a coisa mais natural do
mundo.
Mel ficou inacreditavelmente feliz. Sentiu uma pontinha de esperança. Já não queria mais negar
nem esconder que estava apaixonada. Se, até o dia anterior, namorar aquela mulher parecia
impossível, de repente tinha começado a se mostrar quase ao seu alcance. Especialmente naquele
momento, com a mão calidamente unida à de Dani.
Mel ficou tão entretida conversando que, quando percebeu, passava de uma hora da tarde.
Domingo era o dia que almoçava com os pais e já estava atrasada. Pediu desculpas e se despediu
carinhosamente de todos.
A Dani que levou Mel até o elevador não era a mesma que conhecia. Parecia carinhosa, meiga,
quase tímida:
– Você foi muito... Foi maravilhosa... Quer dizer, vindo comigo e tudo mais... Eu só queria te
dizer... Obrigada...
Disse isso meio olhando para o chão, meio para os lados, sem encarar Mel, que abriu um enorme
sorriso:
– Eu gostei de ter vindo. Sua família é ótima.
Isso fez Dani olhar para ela e sorrir de volta:
– Eles também gostaram de você.
Então o elevador chegou, e Mel ficou segurando a porta. Escreveu alguma coisa num cartão e
entregou para Dani, que nem olhou. Não conseguia desviar os olhos dos de Mel. Foi Dani quem
falou primeiro:
– Bom, então é isso...
Mel deu um beijo rápido nos lábios de Dani, antes de dizer:
– Eu adorei...
Mel entrou no elevador. Dani ficou olhando para ela enquanto a porta se fechava... Para
aqueles olhos brilhantes e aquele sorriso lindo que a faziam sentir uma felicidade boba.
Só então olhou para o papel que estava segurando: “Mel Rodrigues – arquiteta”.
Era o cartão dela, com todos os contatos, telefone de casa, trabalho, celular, e-mail, endereço... E
atrás Mel tinha escrito – e Dani achou a letra tão linda quanto ela: “Me liga!”
Nunca uma frase tão simples pareceu tão perfeita. Dani atravessou o corredor com um sorriso
teimando em brilhar em seu rosto.
ACERTANDO O PASSO
Quando Dani entrou de novo no quarto, não precisou de muito esforço para perceber que
estavam falando sobre ela. Todos ficaram em silêncio e a irmã a olhou com um sorrisinho malicioso.
– Eu, hein? Que foi, gente?
Foi a irmã quem falou:
– Dani, você tá apaixonada! Que bonitinha!
Dani imediatamente ficou vermelha e negou, sem muita convicção:
– Que absurdo! Ela é minha amiga, só isso...
Aí mesmo que a irmã não perdoou:
– Desde quando você fica de mãozinha dada com suas amigas? E o jeito que olhava pra ela,
então?! Quase peguei um dos babadores da sua sobrinha!
O pai de Dani abraçou a filha, dizendo:
– Não liga pra sua irmã, ela só está implicando porque ficamos surpresos. Você nunca apareceu
com uma namorada antes... Mas pode ficar tranquila, filha, essa tá aprovadíssima!
Dani ficou quieta. Não disse nada. Assustada demais com o fato de gostar que pensassem que
Mel e ela eram namoradas.
O almoço foi bom, apesar dos pensamentos de Mel estarem muito distantes dali.
Chegou em casa por volta das seis da tarde, tomou um banho e ficou andando de um lado para
o outro na sala.
Tinha dado o cartão num impulso, e agora tinha medo que ela não ligasse. Queria investir no
que sentia, mas, em se tratando de Dani, não sabia bem que efeito as horas aparentemente
maravilhosas que tinham passado juntas teria. Sim, porque Dani tinha deixado bem claro que o que
havia entre elas era apenas sexo e nada mais. Mas não era assim que se comportava.
Ou era Mel quem estava interpretando tudo errado?
Deca estava com Raq, assistindo a um filme abraçadinhas, quando seu celular tocou. Na mesma
hora, o celular de Raq também tocou. Lado a lado na cama de casal, as duas atenderam ao
mesmo tempo:
– Alô?
– Oi Deca!
– Mel?
– Alô?
– Oi Raq!
– Dani?
Olharam-se espantadas, percebendo que as duas tinham ligado ao mesmo tempo.
Deca saiu rapidamente do quarto:
– Fala, amiga.
– Ai, Deca, tô confusa, precisando conversar... A Dani dormiu aqui em casa ontem, e...
– E...?
– Dormimos abraçadinhas...
– Abraçadinha? A Dani?
– A sobrinha dela nasceu hoje de manhã, e fui no hospital com ela, conheci a família dela
inteira...
– Ela te levou pra conhecer a família?
– Ela tava... Sei lá, diferente...
– Tem certeza que tamos falando da mesma pessoa? Menina, o que você fez? Não, por favor,
me ensina! Você tem noção? Você conseguiu o impossível!
– Ai, Deca, não é assim... Aconteceu tudo meio que sem querer... Tô morrendo de medo... Não sei
o que pensar. Tô muito apaixonada, e ela... Bem, ela é a Dani.
– Olha só, amiga, você precisa ir com calma... Sabe como a Dani é... Mas uma coisa eu te digo, e
não tô falando só pra te animar: parece que ela também tá apaixonada por você.
– Não sei...
Deca percebeu que do outro lado da linha, Mel começou a chorar baixinho. Então disse:
– Vamos fazer o seguinte? Te encontro no Sindicato da Farme, daqui a uns 40 minutos.
– Raq, tô precisando falar com você.
– Nossa, que voz é essa? Aconteceu alguma coisa?
– Não sei como começar...
– É por causa da Mel, né?
– Você me conhece mesmo, né?
– Qual é o problema, linda?
– Não sei o que tá acontecendo comigo... Ontem eu não consegui me controlar, me deu uma
vontade louca de ficar com ela, e daí... Bom, você viu...
– Vi, e não entendi nada, ou melhor, entendi tudo.
– Como assim?
– Dani, meu amor, você tá apaixonada.
– Ai, Raq, tudo menos isso!
– Qual é o problema? Tá na cara que ela também tá louquinha por você.
– Você acha?
O tom de Dani, um misto de felicidade e insegurança, fez Raq dar algumas risadas antes de
dizer:
– Nossa, você tá apaixonada mesmo, hein?
– Eu tô é apavorada! Fora de mim! Não tô me reconhecendo! Dormi abraçada com ela! Minha
família pensa que somos namoradas! Tem noção?
– Você levou a Mel pra conhecer seu pai e sua irmã?
– É, mas foi sem querer...
– Ah, sei... Sem querer...
– Raq, para de me sacanear, eu realmente não sei o que fazer!
– Simples, amiga, faça o que tiver vontade.
– Eu não sei...
– Então descobre rápido!
Raq estava acabando de se despedir de Dani quando Deca voltou para o quarto. As duas se
olharam e começaram a rir.
– Amor, que loucura isso, hein? Elas tão completamente...
– Apaixonadas! É, eu sei... Quem ia imaginar?
Dani estava deitada em seu quarto, com o cartão de Mel em uma das mãos e o celular na outra.
Não conseguia se decidir. A vontade que tinha? Pegar o maldito celular e ligar para ela. Várias
vezes chegou a apertar a sequência de números no teclado, mas parou antes de terminar... Porque
essa vontade louca, estranha, totalmente irracional e sem sentido a deixava apavorada.
Leu pela milionésima vez a frase escrita no verso: “Me liga!”. E, com um frio na barriga, tomou
uma decisão.
Deca e Raq estavam sentadas com Mel no Sindicato do Chopp. A conversa estava animada, mas
toda hora Mel olhava disfarçadamente para o celular que tinha deixado em cima da mesa.
Quando já tinha desistido de esperar, ele começou a tocar. Atendeu com tanta ansiedade que
nem olhou para ver se reconhecia o número no visor:
– Alô?
O coração veio na boca quando ouviu a voz deliciosa do outro lado:
– Mel?
– Daniele?
Dani não gostava que a chamassem assim, mas Mel saboreava seu nome como se fosse um
doce... No começo, não conseguiu dizer nada que prestasse:
– Oi... Tudo bem?
Mel respondeu com um sorriso na voz:
– Tudo... Que bom que você me ligou...
Dani sorriu. Se a operadora cobrasse os pulsos do seu coração, como sairia caro aquele
telefonema... Pôs um fim nos rodeios:
– Quero te ver.
O coração de Mel quase parou de bater... Até gaguejou para responder:
– Eu... Eu tô... Na Farme... No Sindicato...
Dani não a deixou completar a frase:
– Tô indo praí.
Quando Mel desligou o telefone, tinha um sorriso de orelha a orelha no rosto:
– Ela tá vindo.
Raq e Deca estavam para lá de surpresas. Deca não aguentou:
– Não acredito, Mel! A Dani não só te ligou como ainda por cima vem te encontrar aqui? Hoje é
domingo de Carnaval, sabia? Se outra pessoa me contasse, eu ia dizer que isso era totalmente
impossível!
Raq, como sempre, defendeu a amiga:
– Ai, amor! Você tem uma implicância com a Dani, hein!?
– Ah, é? E por um acaso alguma vez você já viu a Dani fazer isso?
– Não. Mas pra tudo tem uma primeira vez. Olha só, Mel, só posso te dizer que acho que você e
a Dani são um casal lindo!
Mel sorriu. Não sabia dizer se algum dia ela e Dani seriam um casal. Querer ela bem que
queria...
Deca e Raq se despediram, dizendo que não queriam atrapalhar, e saíram. Logo depois Dani
chegou. Abriu um sorriso enorme assim que viu Mel.
Dani estava um pouco nervosa; aliás, um pouco não: bastante nervosa. Era até engraçado, logo
ela, ficar com as mãos geladas por causa de uma mulher. Parou na frente de Mel, ainda na
calçada do lado de fora, e disse:
– Oi...
– Oi... Tá calor, né?
Na mesma hora, Mel pensou que não tinha no mundo coisa mais idiota, nem bandeira maior de
nervosismo, do que falar sobre o tempo...
Dani riu, parecendo saber exatamente o que ela estava pensando, e respondeu, rindo com
aquele arzinho safado de sempre:
– Agora então... Mais quente ainda...
Mel sorriu. Em qualquer outra situação, acharia aquela frase o fim da picada, mas... Naquele
momento, estava achando tudo lindo.
Achando tudo lindo, até Dani ser interceptada por uma moreninha de cabelos curtinhos –
sorridente demais para o gosto de Mel – assim que entrou no restaurante:
– Dani! Baby, você sumiu...
Dani não fazia a menor ideia de quem era a menina. Queria mesmo era livrar-se o mais rápido
possível. Ainda mais quando viu a reação de Mel. A moreninha entregou um papelzinho com seus
telefones, dizendo:
– Me liga pra gente repetir...
De onde estava sentada, Mel acompanhou toda a cena. Respirou fundo, contou até dez, mas,
ainda assim, continuou irritadíssima.
Quando Dani sentou na frente de Mel, ela estava de cara fechada. Os olhos fuzilaram o
papelzinho que Dani ainda segurava:
– As mulheres sempre te dão o telefone?
Dani não se irritou, nem ficou surpresa. Parecia estar num momento iluminado, porque até
entendeu a raiva dela. Amassou e jogou o papelzinho dentro do cinzeiro. Depois abriu o mais
sedutor de todos os sorrisos, dizendo:
– O único que guardei foi o seu...
Mel até deu um sorrisinho, mas estava começando a perceber que algumas coisas iam ser muito
difíceis. Naquele momento, por mais fofa que tivesse sido a resposta de Dani, continuava se
corroendo de ciúmes!
Dani respirou fundo. Nunca na vida tinha tido tanta certeza do que queria. Se não fosse assim,
teria levantado e saído, porque detestava qualquer tipo de cobrança. Mas isso era antes, quando
não queria pertencer a ninguém. Quando não sentia o que sentia por Mel:
– Olha só... Vamos deixar tudo bem claro. Eu já fiz muita putaria... Tudo que você já ouviu falar
de mim, e mais um pouco, é verdade... Só que eu nunca tinha me interessado por ninguém, nunca
tinha tido vontade de namorar ninguém... E com você eu tenho... De verdade... Quero muito...
Tentar... Com você.
Não foi a declaração mais romântica e apaixonada do mundo, mas, vindo de Dani, Mel ficou até
emocionada.
Mel segurou a mão dela por cima da mesa e a olhou fundo nos olhos. E Dani entendeu. É
engraçado como tem horas assim, quando as palavras são absolutamente irrelevantes e o melhor é
nada dizer.
Ficaram um tempo caladas, apenas se olhando e sorrindo de mãos dadas. Foi Mel quem
finalmente quebrou o silêncio:
– Daniele...
A voz de Mel estava deliciosamente sedutora:
– Tô louca pra te levar pra minha casa e te beijar inteira...
Dani riu, adorando a ideia. A resposta foi imediata:
– Tá esperando o quê?
Não deram a menor atenção para Nicole. Assim que Mel fechou a porta, começaram a se beijar
e se despir, as roupas deixando um rastro no chão a caminho do quarto.
Mel empurrou Dani, praticamente jogando-a na cama, e se deitou em cima dela. Esfregou o
corpo no de Dani, beijando-a com sofreguidão. As mãos de Dani estavam nas costas de Mel,
arranhando sensualmente e depois puxando-a contra si para sentir melhor o roçar dos seios.
Mel suspirou e jogou a cabeça para trás para dar maior acesso à língua que passeava em seu
pescoço. A boca faminta desceu para os seios, e Mel gemeu deliciosamente. Os sexos se
friccionavam, Mel rebolava no meio das pernas de Dani, deixando-a cada vez mais molhada.
Poderiam gozar fácil, mas queriam aproveitar, prolongar o momento...
Mel desceu a boca nos seios de Dani, que gemeu, arqueando o corpo para ela. A língua
brincou, circulando o biquinho, antes dos lábios se fecharem sobre ele. Durante um tempo
torturante, Mel lambeu e chupou aquele seio, deleitando-se sem pressa. Depois foi descendo
lentamente até o meio das pernas de Dani. Arrancou um gemido mais alto quando encostou a boca
no sexo dela. Mel a chupou de leve, depois lambeu com vontade, tocando-a com a pontinha dos
dedos e então penetrando vagarosamente. Dani a puxou pelos cabelos, fazendo-a olhar para ela:
– Quero te fazer gozar também... Vira pra cá...
Não precisou falar duas vezes. Mel virou o corpo, posicionando-se em cima de Dani, que a
segurou pelas nádegas e enfiou a língua em seu sexo. Mel gemeu e continuou a chupar Dani com
vontade. As bocas famintas faziam-nas pulsar juntas, os dedos entrando e saindo ao mesmo tempo,
os gemidos e sussurros aumentando unidos, conforme se saboreavam, devoravam-se
demoradamente. Quando o orgasmo veio, provocou uma corrente elétrica perfeita, que circulava
nos dois corpos fazendo-as estremecer intensamente. As línguas ainda continuaram se
movimentando por um tempo, desejosas pelo gosto daquele gozo perfeito.
Então Mel se largou na cama e ficou deitada ao lado de Dani, com um sorriso satisfeito nos
lábios. Dani abriu um enorme sorriso também. Aquela era a sua posição preferida. Com Mel, tinha
gostado ainda mais.
Deitou-se em cima de Mel, que a recebeu com um beijo longo, demorado, transbordando
sensualidade. Imediatamente, Dani sentiu o desejo aflorar de novo. Escorregou as pernas entre as
dela, abrindo-as. Mel correspondeu, subindo a mão para os seios de Dani.
Dani desceu a boca sobre o pescoço de Mel, chupando com vontade aquela pele deliciosa que
parecia se derreter para ela. Mel apenas gemia... E dizia coisas sussurradas, fazendo Dani sentir a
umidade entre as pernas aumentar.
Admirou os seios – tão lindos! – antes de colocar um deles na boca. Dani sugou o seio com
voracidade, acariciando o outro com a mão, estimulando o biquinho a níveis mais altos de desejo,
fazendo Mel arquear o corpo, ofegante, querendo mais. Dani deslizou a mão pela barriga dela,
descendo para o ventre, chegando nas coxas... Tocou-a entre as pernas, Mel estava completamente
molhada... Acariciou o sexo inchado com movimentos suaves. Mel deu um gemido mais alto, fazendo
Dani acelerar o ritmo dos dedos e descer a boca pelo mesmo caminho que tinha percorrido com as
mãos. As coxas de Mel estavam deliciosamente quentes, e Dani se demorou muito tempo por ali,
beijando, lambendo, chupando e fazendo Mel empurrar a cabeça dela em direção a seu sexo,
pedindo:
– Põe essa boca em mim, vai...
Dani riu e aproveitou para continuar a tortura. Passou a língua demoradamente no ponto rígido,
intumescido que se oferecia para ela.
Mel puxou os cabelos de Dani, quase desesperada, já não conseguindo respirar direito. Então,
finalmente, a boca de Dani mergulhou faminta, lambendo com força, chupando de uma forma tão
intensa que fez Mel pensar que ia gozar rapidamente.
Mas Dani não deixou. Quando a sentia estremecer mais forte, parava, depois voltava a chupar
com uma lentidão enlouquecedora. Fez isso várias vezes. Mel só gemia, totalmente rendida nas
mãos de Dani, deixando-se levar a um nível de prazer quase insuportável.
Quando Dani sentiu que Mel estava começando a gozar, penetrou-a fundo com os dedos,
deliciando-se com o prazer dela.
Mel continuou um tempo de olhos fechados, a respiração alterada... Então puxou Dani, fazendo-
a se deitar sobre ela. Beijou-a com sofreguidão, ronronando como uma gatinha satisfeita.
Então a girou, trocando rapidamente de posição. Querendo devorar Dani, desceu a boca direto
para o sexo dela, passando a língua e sugando com urgência. Dani gemeu, contorceu-se,
estremeceu e se entregou totalmente àquela língua que a saboreava com pressa. A fome que Mel
sentia parecia insaciável. Só parou quando Dani finalmente pediu arrego, depois de gozar na
boca e nos dedos de Mel várias e repetidas vezes.
NO INÍCIO, TUDO SÃO FLORES
E foi assim a noite toda e o resto do Carnaval, as duas se entregando completamente à paixão
recém-descoberta, amando-se pelo apartamento inteiro de Mel.
No começo, Mel ficava tensa cada vez que o celular de Dani tocava ou recebia mensagens – e
não foram poucas vezes –, mas depois relaxou, afinal de contas, ela não estava respondendo
mesmo...
Estava absurdamente feliz. Dani correspondia a cada frase, cada gesto, cada beijo da mesma
forma apaixonada. Mas, ainda assim, sabia que era melhor ir devagar. Sufocou várias vezes as
palavras que sem querer queriam saltar de sua boca. Não sabia como Dani poderia reagir, era
muito cedo. Ainda precisava de tempo para poder dizer “eu amo você” sem medo.
Para Dani, tudo era novidade. Nunca tinha ficado com a mesma mulher tanto tempo. Também
nunca tinha sentido aquele desejo que não se esgotava, só ficava cada vez mais intenso. Achava
Mel a mulher mais linda, doce, carinhosa, meiga, gostosa e incansável do mundo inteiro... Estava tão
apaixonada que por várias vezes quase soltou um “eu te amo” sem querer. Era uma frase que
nunca tinha dito para ninguém. Uma frase que não se permitiu dizer.
Na quinta-feira de manhã, separaram-se com dificuldade. Mas Mel não tinha como deixar de ir
para o trabalho, tinha uma reunião importante com um novo cliente.
Deixou Dani em casa. Parou o carro na frente da portaria dela, e se despediram com um beijo
longo, ardente, que fez o porteiro quase cair da cadeira.
Dani entrou em casa flutuando de tão contente. Ed e Gisa estranharam, ela estava visivelmente
diferente. Ed ficou tão curioso que soltou:
– A farra foi boa, hein? Desde domingo que você não aparece! Quantas você pegou?
Dani se jogou no sofá, pensando em Mel... Tão linda, tão única, tão sua... O coração batia mais
forte só de lembrar dos olhos, do gosto, do cheiro, do corpo daquela mulher inteiramente incrível.
Soltou um suspiro audível... E disse com um sorriso imenso no rosto:
– Na verdade, só uma...
Ed e Gisa se entreolharam, totalmente surpresos, só então compreendendo:
– Gisa, me belisca! Não acredito no que os meus olhos tão vendo! Dani Quadros apaixonada! É
o fim do mundo, gente!
Mel passou o dia inteirinho trocando torpedos com Dani. Cada vez que o celular apitava, o rosto
se iluminava e o coração dava pulos no peito. Algumas mensagens de Dani eram provocantes e
ardentes, outras doces e meigas. Mel se derretia com todas e cada uma delas.
Quando faltavam 10 minutos para ir embora, enviou:
“Tô saindo do trabalho agora, louca pra te ver.”
E obteve a seguinte resposta:
“Só ver? Pensei que quisesse mais...”
Mel riu tão alto que a secretária do lado de fora da sala olhou para ela. Escreveu:
“Tá convidando?”
Dani foi direta:
“Não, tô intimando: vem dormir aqui!”
Mel ficou um pouco chocada com a bagunça que era o apartamento de Dani, mas, obviamente,
não falou nada. Os amigos de Dani foram simpáticos, mas, na verdade, só teve o tempo de uma
cerveja para conversar com eles, porque Dani tinha pressa em levá-la para o quarto.
Ela pediu para que Mel esperasse na porta, entrou e, depois de um tempo, voltou dizendo que
podiam entrar.
A primeira coisa que Mel sentiu foi um aroma suave de incenso. As luzes estavam apagadas, e
Dani tinha espalhado velas em posições estratégicas do quarto. Mel não esperava por essa. Ficou
totalmente encantada, sem saber o que dizer, e acabou deixando escapar sem querer:
– Você é uma caixinha de surpresas...
Dani já estava atrás de Mel, abraçando-a pela cintura, e parou de beijá-la no pescoço por um
momento:
– Não gostou?
Mel riu da insegurança na voz de Dani. Virou-se, enlaçou-a pelo pescoço e a olhou com o mais
lindo de todos os sorrisos:
– Eu adorei!
As bocas se colaram, famintas. Dani abriu os botões da blusa de Mel, beijando cada pedaço de
pele que ficava descoberto. Tocou os seios antes de desabotoar e tirar o sutiã. A língua explorou
com agilidade um dos mamilos, fazendo-a gemer. Tirou as calças de Mel, a mão tocando-a por
cima da calcinha, e sentiu-a amolecer... Deitou-a na cama e se encaixou entre as pernas dela.
Começou a passar os lábios e a língua pelo pescoço, saboreando a pele deliciosamente quente.
Mel tirou a camiseta de Dani para as mãos famintas poderem acariciar os seios, apertando os
bicos delicadamente, deliciando-se com os gemidos que causava.
Voltaram a se beijar, as línguas se devorando mutuamente. Dani desceu a mão pelo corpo de
Mel, fazendo-a se arrepiar. Tocou o sexo dela, primeiro por cima da calcinha e depois enfiando os
dedos pelos lados, antes de despi-la. Deixou escapar um gemido quando sentiu o quanto ela
estava úmida, pulsante, ardente em suas mãos.
Mel gemeu quando sentiu os dedos de Dani entrando. Mexeu os quadris, rebolando para ela,
dizendo palavras provocantes no ouvido de Dani, fazendo-a penetrá-la com mais força.
Dani adorava aquele jeito entregue, apaixonado de Mel. Durante o dia todo tinha sentido falta
dela. Acelerou o ritmo, fazendo-a gemer mais. Mel revirou os olhos e estremeceu. Dani sentiu que
Mel estava gozando, colou a boca no ouvido dela e sussurrou, o coração acelerado no peito:
– Eu amo você.
Na mesma hora, Mel explodiu de prazer, gemendo alto, quase gritando, tremendo intensa e
demoradamente. Aos poucos, relaxou o corpo, ainda ofegante, e beijou Dani com paixão.
Impossível descrever a emoção que sentia naquele momento. Pensava que iria esperar muito tempo,
mas agora que Dani surpreendentemente tinha dito, podia dizer sem medo:
– Eu também te amo.
Dani abriu um sorriso absolutamente deslumbrante. Mel passou a mão pelos seus cabelos,
segurou-a pela nuca e, sem parar de beijá-la, ajudou-a a tirar o resto das roupas. Puxou Dani de
volta para o meio de suas pernas, fazendo os sexos pulsarem um contra o outro.
Dessa vez, amaram-se sem pressa, com uma entrega sem reservas. Gozaram juntas, como Mel
gostava, os olhos irradiando um amor tão grande que fizeram os de Dani se encherem de
lágrimas.
Ficou deitada em cima de Mel, o rosto enfiado nos cabelos dourados, sentindo aquele perfume
maravilhoso que era o cheiro dela... Sem fôlego, sem defesas, totalmente rendida, porque Mel não
a tinha tocado apenas fisicamente... Nunca tinha sentido nada parecido. Estava emocionada, tinha
no peito uma felicidade tão grande que não cabia dentro de si. Não tentou conter o choro, deixou
as lágrimas escorrerem em silêncio.
Mel apenas a abraçou, beijando Dani no rosto, acariciando-a carinhosamente, os olhos também
se enchendo de lágrimas ao entender que tinha rompido a última barreira dela.
Se começasse a chorar seria uma choradeira, então ao invés disso brincou:
– Foi tão ruim assim?
Dani passou do choro para o riso. Mel tinha realmente o incrível poder de fazê-la feliz. Olhou-a
bem nos olhos, fazendo Mel estremecer com a intensidade daquele olhar:
– Te amo muito, sabia? Te amo demais!
Mel não conseguia parar de sorrir. Beijou Dani várias vezes antes de dizer:
– Não mais do que eu amo você...
No começo foi inevitável que as pessoas estranhassem. Ed foi o primeiro a dizer:
– Nossa, é uma coisa meio “Eduardo e Mônica”, sabe? Vocês duas parecem não ter nada a ver...
Mas, no final, todos se acostumaram. PH e João viviam dizendo que elas se completavam.
Mel e Dani não tinham tempo para pensar nisso, ocupadas demais em aproveitar todos os
momentos possíveis.
E, se antes Dani achava o namoro de Deca e Raq grudento, acabou indo pelo mesmo caminho.
Não suportava dormir longe de Mel, e vice-versa. Assim, alternavam uma noite em cada
apartamento.
Também tiveram algumas surpresas: Mel adorou descobrir que Dani cozinhava maravilhosamente
bem e adorava escrever bilhetinhos carinhosos.
Dani também não imaginava que Mel desenhasse como ninguém. Fez vários desenhos de Dani,
tão perfeitos que foi difícil escolher um para pendurar na cortiça de fotos que Dani tinha no
quarto.
Entre idas ao teatro – Dani sempre tinha um amigo no elenco e conseguia convites –, sessões de
cinema, algumas festas muito loucas do pessoal que Dani conhecia, praias, boates, barzinhos e
restaurantes, muitos restaurantes – churrascarias, rodízios de crepes, de massas, de pizzas, de
comida japonesa e até de petiscos; Mel era a rainha dos rodízios, e Dani não entendia para onde
ia tanta comida... –, os três primeiros meses de namoro passaram rapidamente sem problemas.
Infelizmente, a perfeição é apenas uma abstração inexistente...
PEDRAS NO CAMINHO
O dia começou como todos os outros. Mel acordou, tomou café, um banho rápido e se vestiu.
Enquanto escovava os dentes, ficou olhando para Dani ainda adormecida, nua debaixo do lençol.
Ela estava deitada de bruços, com um sorriso adorável nos lábios. Mel suspirou... Tinha uma
dificuldade enorme todas as manhãs: levantar da cama deixando Daniele.
Deitou em cima de Dani, pressionando o corpo contra o dela, beijando-a no pescoço... Dani deu
um gemido, ainda sem acordar. Mel a beijou na boca e ela correspondeu preguiçosamente, sem
abrir os olhos. Balançou a cabeça concordando quando Mel disse:
– Amor, já tô indo... Vou morrer de saudade...
Mel beijou-a mais uma vez e, usando toda a sua força de vontade, saiu sem olhar para trás,
porque todas as manhãs em que tinha caído na besteira de fazê-lo, havia voltado para a cama,
chegando terrivelmente atrasada no trabalho.
Dani acordou bem mais tarde. Espreguiçou-se e rolou para o lado de Mel da cama, enfiando o
rosto no travesseiro que ainda estava com o perfume dela. Deu um suspiro e levantou, desejando
que fosse sábado ou domingo, quando podiam ficar juntas na cama até tarde.
Foi até a cozinha, onde Mel tinha deixado o café da manhã pronto para ela na mesa, junto com
um bilhetinho que dizia:
“Bom dia, meu amor! Queria estar aí com você...”
Como sempre fazia.
Mel era assim, romântica, meiga, carinhosa, absolutamente linda e adorável... Quando terminou
de comer, Dani lavou e guardou as coisas com o maior esmero possível, mesmo sabendo que,
quando chegasse, Mel ia arrumar tudo de novo do seu jeito. Da mesma forma, fez a cama, apesar
de ter certeza de que Mel ia refazê-la também. Não que Mel reclamasse, pelo contrário, nunca
tinha dito nada. Mas ficava claro que o que para Dani estava muito bem arrumado não chegava
nem perto da organização perfeita dela. Tudo bem, isso às vezes irritava Dani um pouco, mas não
o bastante para que precisasse falar.
Levou Nicole para passear rapidinho. Ia fazer um teste para um comercial de jornal, com um
cachê para lá de tentador. Tomou um banho demorado, passando o texto em voz alta. Arrumou-se
toda, maquiando-se cuidadosamente.
Mandou um torpedo para Mel, dizendo:
“Amor, já tô saindo, torce por mim!”
Quando saiu, trancando a porta com a chave que Mel tinha feito para ela, recebeu a resposta,
como sempre perfeita:
“Se depender da minha torcida, já é seu!”
Encontrou várias pessoas conhecidas no teste. Fez o melhor possível e saiu com a impressão de
que fora muito bem. Estava enviando um torpedo para Mel contando como tinha sido, quando uma
loirinha empolgadíssima parou na sua frente:
– Dani Quadros! Não acredito! Não te vejo desde os tempos da Unirio! Você não mudou nada,
hein? Continua o mesmo pedaço de mau caminho!
Abraçaram-se, trocando dois beijinhos. Bel tinha sido da turma de Dani. Nunca tinham se falado
muito, até o 4o período, quando Bel a convidou para fazer a cena final de interpretação com ela.
A cena que tinha escolhido era a primeira de “Álbum de Família” de Nelson Rodrigues. Bel fazendo
Teresa, e Dani como Glória. O que Dani não sabia era que Bel estava cheia de más intenções.
Durante os ensaios, quando chegava na hora do segundo beijo, Bel enfiava a língua na boca de
Dani com vontade. Fazendo o maior esforço para ser profissional, Dani ficava na dela, fingindo
não perceber. Foi uma semana inteira de tortura. Na apresentação para a banca, Dani
correspondeu, colando a língua na dela com a mesma intensidade. O beijo durou mais de dois
minutos – tempo absurdamente longo para uma cena tão pequena. Os outros alunos assobiaram,
aplaudiram. A nota delas caiu para nove por causa do tempo excedido, e as duas acabaram
passando o próximo tempo de aula inteiro trepando no banheiro do 3o andar. Depois disso,
ficaram amigas – por conta de Dani, é claro –, apesar de Bel querer muito repetir.
Bel disparou, só parando de falar quando ria:
– Você foi a primeira mulher que eu beijei na boca, sabia? Claro que depois eu não parei mais...
Que cena foi aquela nossa, hein? Se não foi a melhor que eu já fiz, com certeza foi a mais
gostosa... Caramba, mas que coincidência, Dani! Tava mesmo pensando em você... Hoje tem um teste
para uma montagem de “Senhora dos Afogados”, você tem que fazer! A peça tem patrocínio, vai
pagar até os ensaios. Acho que tem tudo a ver com você, né, “menina de Nelson”?
Dani tinha conseguido esse apelido depois de fazer duas disciplinas de prática de montagem
interpretando personagens “Rodrigueanas”: Glorinha de “Perdoa-me por te traíres” e Moema de
“Senhora dos Afogados”.
O convite era irrecusável. Além do dinheiro, era uma de suas peças favoritas. Anotou o endereço
e o horário do teste. Tinha que apresentar uma cena de expressão corporal e uma cena com texto.
Voltou para casa e passou o resto da tarde se preparando. Mel ficou toda contente, deu a maior
força quando soube. Com o incentivo dela, Dani fez tudo sem nenhum esforço.
Chegou para o teste no Teatro do Jockey pontualmente. Não estava muito cheio, sinal de que
tinha sido pouco divulgado. Qualquer outra pessoa acharia bem melhor, pois assim teria menos
concorrência, mas para Dani era indiferente. Era muito boa no que fazia e tinha plena consciência
disso.
Estava entregando currículo e foto para o rapaz encarregado quando Bel veio correndo para
perto dela:
– Que bom que você veio! Peguei uma senha para você...
Dani agradeceu e foi se trocar no banheiro. Vestiu uma roupa de malha preta. Quando acabou
de aquecer corpo e voz, chamaram o seu número.
Dani entrou e se posicionou no meio do palco. Os refletores a impediam de ver a dona da voz
que perguntou seu nome. Respondeu já sentindo o friozinho na barriga que adorava. Sabia muito
bem parecer totalmente calma e controlada para quem olhava. Além disso, usava como ninguém a
adrenalina para aumentar a energia que precisava no palco.
Fez a cena com toda a verdade e intensidade que possuía e saiu com a certeza de que tinha
arrasado. Assim que trocou de roupa e saiu do banheiro, ouviu o rapaz que distribuía as senhas
dizendo que a diretora ia conversar com algumas pessoas que ela havia pré-selecionado. Ou seja,
quem não fosse chamado estava fora. Ele disse apenas cinco nomes, entre eles os de Dani e Bel.
Quando Bel voltou lá de dentro, tinha um sorriso safado no rosto:
– Nossa! Acho que tô apaixonada! Que mulher é essa, meu Deus?!
E então já era a vez de Dani. Dessa vez, a diretora estava sentada numa das cadeiras da
primeira fila da plateia, fazendo anotações num papel. Sem levantar a cabeça, pediu para que
Dani se sentasse na cadeira em frente a ela.
Dani a observou atentamente. Cabelos castanhos escuros lisos cortados na altura das orelhas,
calça jeans, blusa preta, as pernas cruzadas em posição de lótus em cima da cadeira... Nada de
mais. Mas Bel sempre tinha sido meio exagerada mesmo. Foi então que a mulher levantou a cabeça
e a fitou, com os olhos azuis num tom quase violeta a olhando tão profundamente que Dani
estremeceu.
A mulher sorriu, parecendo acostumada com a reação das pessoas ao seu olhar, e disse:
– Você é exatamente o que eu tava procurando. – Vendo a expressão surpresa de Dani,
continuou: – Seu teste não deixou dúvidas: você é minha Moema. O papel é seu, parabéns!
Apesar de ter conseguido o papel principal, Dani não estava nada satisfeita. Sentia-se insegura
e confusa, porque desde que tinha começado a namorar Mel, não tinha mais sentido atração por
nenhuma outra mulher. Como nunca tinha se apaixonado antes, pensava que era assim mesmo, mas
agora estava preocupada. Porque tudo na mulher na sua frente a deixava excitada: a voz, o jeito
de olhar, os gestos... Estava se controlando para não devorá-la com os olhos.
Sabia que era um perigo, porque, em primeiro lugar, ela era a diretora do espetáculo. Ou seja,
qualquer tipo de envolvimento era encrenca na certa. Em segundo lugar, e mais importante que
tudo, porque havia Mel. Amava-a, era loucamente apaixonada por ela. Tinha certeza.
Como podia então achar a outra tão interessante?
Percebeu que tinha parado de ouvir o que a mulher dizia. Esforçou-se para voltar a se
concentrar:
– Bom, Dani, então bem-vinda a bordo! O Fábio vai te passar todas as informações que você
precisa. Começamos segunda-feira. Tenho certeza que vamos fazer um ótimo trabalho juntas!
Estendeu a mão para Dani, que a apertou de leve. A outra segurou a mão dela com firmeza, o
contato das peles causando uma espécie de choque em Dani. A mulher olhou fixamente para ela, e
Dani não conseguiu definir o significado daquele olhar. Apenas disse:
– Então, até segunda-feira.
Só depois lembrou que ainda não sabia o seu nome. Como se lesse pensamentos, ela disse:
– Denise.
Dani tirou a mão que ainda estava na dela, despediu-se e saiu dali o mais depressa possível.
Aparentemente, as coisas estavam correndo bem. Além dos ensaios, Dani gravou o comercial do
jornal. Mel adorou, ficou toda orgulhosa da namorada. Deixava a televisão ligada só para poder
ver o maior número de vezes. Até porque já não estavam mais se vendo tanto como antes. Pelo
menos, não quando estavam acordadas. Os horários não batiam.
Quando Mel chegava do trabalho, Dani estava saindo para o ensaio. Quando Dani voltava do
ensaio, por volta de 2h da manhã, Mel já estava dormindo. E, quando Mel saía de manhã, era Dani
quem dormia.
Sobrava o final de semana, quando nenhuma das duas trabalhava, mas Dani já tinha avisado
que, nas duas últimas semanas antes da estreia, nem isso teriam...
Mel ficou um pouco chateada, mas seriam apenas três meses, e Dani estava tão feliz...
Compensava procurando fazer parte, ajudando no que podia.
Não era esforço nenhum. Tudo que dizia respeito à namorada a interessava e muito.
Além disso, durante a semana, Dani ia todos os dias depois do ensaio para o apartamento de
Mel, para poderem dormir juntas. Nas sextas-feiras, Mel a buscava no final do ensaio, e passavam
o final de semana no apartamento que Dani dividia com os amigos. Era praticamente um
casamento, e Mel começou a pensar seriamente em conversar com Dani sobre isso assim que a
peça estreasse.
Deixou de ir aos almoços de família, não queria se separar de Dani no domingo. Os pais
reclamaram tanto que acabou resolvendo levar Dani junto. Era uma decisão inédita. Nunca tinha
levado nenhuma de suas namoradas na casa dos pais. Mas Dani era diferente, queria compartilhar
com ela toda a sua vida...
Em princípio, Dani não quis ir, alegando que a mãe de Mel perceberia assim que as visse juntas,
mas Mel insistiu tanto que acabou concordando.
No começo, Dani ficou muito sem graça. A mãe de Mel não tirava os olhos dela, exatamente
como tinha previsto. Deu-se muito bem com o pai, os irmãos e as cunhadas de Mel, como sempre
esbanjando charme e simpatia.
Mas o que aqueceu o coração de Mel foi o carinho e a atenção que Dani deu às crianças,
fazendo os sobrinhos de Mel ficarem apaixonados por ela.
Sem conseguir disfarçar, Mel ficou olhando abobada para Dani. O pequenininho não saía por
nada do colo dela, enquanto os outros dois a rodeavam, conversando sobre o último livro de
“Harry Potter”. Dani parecia adorar e saber tudo sobre o assunto. Os meninos, que eram fanáticos
pelo bruxinho, estavam empolgadíssimos.
A mãe de Mel chamou a filha no escritório, com cara de poucos amigos. Fechou a porta e disse:
– O que você tem com essa moça, Melissa?
Mel ficou lívida. Demorou um tempo para responder:
– Como assim, mamãe?
A mãe a olhou friamente, antes de dizer:
– Você acha que consegue me enganar? Não que você tenha tentado... A forma como você olha
pra ela... Poderia pelo menos disfarçar! Assim que bati os olhos em vocês duas, eu percebi.
Mel ainda tentou negar:
– Ela é minha amiga.
Mas a mãe foi direta:
– Não adianta negar, tá na cara. O que eu fiz de errado, me diz? Minha única filha, meu Deus!
Eu não aceito isso, tá ouvindo? Muito menos dentro da minha casa! Quero essa menina fora daqui
agora. Tá entendido?
As lágrimas escorriam dos olhos de Mel, quando ela disse:
– Que absurdo, mamãe! Que coisa mais ridícula! Fique sabendo que “essa menina” é a mulher
que eu amo. Expulsar ela da sua casa é a mesma coisa que me expulsar também. Se ela não pode
ficar, eu também não venho mais aqui.
Saiu uma fera do escritório. Entrou como um furacão na sala. Pegou Dani pela mão, dizendo:
– Vamos embora.
Dani se levantou, confusa, e foi sendo puxada por Mel, com as crianças atrás e os adultos
olhando sem entender nada. Saíram sem se despedir de ninguém. Mel sequer olhou para trás.
Quando entraram no carro, Mel desabou. Abraçou Dani, contando o que tinha acontecido,
chorando sem parar.
Dani ficou acariciando os cabelos dourados, abraçando-a, ouvindo tudo em silêncio. Um tristeza
imensa a invadia. Não queria ver Mel sofrendo, brigando com a mãe por causa dela... Só o que
conseguiu dizer foi:
– Eu sinto muito, amor. Não queria que isso tivesse acontecido.
Tentou convencê-la a fazer as pazes com a mãe, mas Mel era terrivelmente cabeça dura. Disse
que só voltaria a falar com a mãe se ela pedisse desculpas. E, com isso, encerrou o assunto.
A vida de Dani estava uma correria. Se Mel não fosse tão compreensiva, com certeza o namoro
já teria ido por água a baixo. Mesmo com elas tendo menos tempo juntas, Mel a ajudava a
decorar o texto e ouvia pacientemente Dani falar sobre o espetáculo e a personagem que fazia.
Por isso, Dani fazia questão de dormir todos os dias no apartamento dela. Quando chegava do
ensaio, cansada, mas ligada demais para conseguir dormir, encontrava Mel deitada na cama, uma
delícia...
Tomava um banho rápido e tentava acordá-la com beijos e carícias. Nem sempre conseguia. Isso
a deixava um pouco frustrada, mas procurava compensar tudo nos sábados e domingos.
Mel não tinha voltado a falar com a mãe, isso a preocupava muitíssimo. Dani, mais do que
ninguém, sabia a falta que uma mãe fazia. Foram nas casas dos irmãos de Mel algumas vezes,
eles nada comentaram. Se sabiam de alguma coisa, fingiam que não, e tratavam Dani muito bem,
mas apenas como amiga da irmã.
Os ensaios estavam sendo maravilhosos, a não ser por um pequeno detalhe chamado Denise. A
mulher a deixava perturbada. Não que ela desse alguma atenção diferenciada para Dani. Mas,
com certeza, a olhava de um jeito que chegava a deixar Dani inacreditavelmente inibida.
Sonhou com ela várias vezes, sonhos quentes, eróticos, inconfessáveis. Depois acordava, sempre
com Mel a abraçando e se sentia culpada. Mas não tinha como controlar o inconsciente, tinha?
Denise sempre fazia exercícios de improvisação onde interferia chegando perto dos atores e
falando com eles no ouvido. Cada vez que aquela boca chegava perto da orelha de Dani, ela
ficava completamente tensa. Mas não passava disso.
E, assim, três meses voaram, e a semana da estreia chegou. O resto do elenco saiu para beber,
por isso Dani estava sozinha no ponto de ônibus quando um Celta Verde parou na frente dela. A
janela se abriu e Denise a olhou lá de dentro com aqueles olhos azuis absurdos:
– Tô indo pra Ipanema, quer uma carona?
Dani pensou em recusar, mas estava cansada, já era tarde, estava indo exatamente para o
mesmo lugar que ela, então acabou aceitando.
Foram conversando sobre o espetáculo, Denise elogiando Dani e dando alguns toques, nada de
sério, apenas detalhes. Ela era minuciosa ao extremo, exatamente o tipo de direção que Dani
adorava.
Quando chegaram na esquina de Mel, Dani agradeceu, tirou o cinto e já ia abrindo a porta
quando sentiu uma mão segurar seu braço. Virou-se para Denise, que a olhou dentro dos olhos.
Dani estremeceu. Os olhos azuis passaram para sua boca, dizendo:
– Tenho resistido com todas as minhas forças... Mas cada dia tem sido mais difícil... Você é um
tesão, menina...
A boca de Denise foi se aproximando da de Dani. Apesar da atração forte, irresistível que
aquela mulher exercia sobre ela, Dani queria fugir. Recuou, grudou as costas na porta, mas não
adiantou. Denise avançou e colou a boca com violência na dela. Foi um beijo sem delicadeza
nenhuma, bruto, quase rude, extravasando meses de desejo reprimido. Ficaram alguns minutos
assim, ofegantes, as línguas se devorando, as mãos avidamente se percorrendo por cima das
roupas, as peles parecendo queimar de tão quentes.
Quando a mão de Denise tocou um dos seios de Dani, ela rapidamente voltou a si. Pensou em
Mel, dormindo sozinha, esperando por ela, e foi o que bastou para que empurrasse a outra
bruscamente, dizendo:
– Eu não posso.
Mas as duas sabiam que não tinha dito que não queria. Saiu quase correndo, sem se despedir.
Entrou no apartamento com o coração ainda acelerado. Demorou alguns minutos para se recompor
e entrar no quarto. Mel estava deitada, adormecida, com um dos braços debaixo do travesseiro,
os lábios entreabertos, tão linda...
Dani estava começando a achar que não a merecia.
Tomou um banho frio demorado, sem conseguir evitar de lembrar o beijo no carro, a sensação
daqueles lábios quentes e macios, as mãos da outra despertando nela um desejo impossível...
Xingando-se mentalmente, sentou ao lado de Mel na cama. Deitou atrás dela, deliciando-se com
o perfume doce da namorada, colando o corpo no de Mel. Ela soltou um som de satisfação bem
baixinho. Dani imediatamente se esqueceu de Denise.
Beijou o pescoço de Mel, a mão subindo, acariciando os quadris, a barriga. Tocou um dos seios,
apertou com suavidade o biquinho que imediatamente endureceu.
Mel suspirou, ainda dormindo... Dani desceu os dedos até o meio das pernas de Mel, e
habilmente acariciou o ponto que se tornou pulsante, intumescido, molhado em suas mãos. Mel já
estava acordada... Deixou escapar um gemido, virou-se para Dani e colou a boca
apaixonadamente na dela.
Dani não teve como deixar de comparar os dois beijos. Eram totalmente diferentes em
intensidade, gosto, jeito...
Mel achou Dani estranha, mas pensou que fosse nervosismo por causa da peça. Interrompeu o
beijo, perguntando:
– Que foi?
Dani se assustou com a pergunta. Arregalou os olhos, abriu e fechou a boca várias vezes como
se fosse falar, mas nada disse. Mel riu e completou:
– Calma, amor... Tá tensa com a estreia, né?
As mãos de Mel já estavam nos seios de Dani, acariciando lentamente, fazendo-a gemer:
– Pode deixar que eu sei como relaxar você...
Desceu a boca sobre o pescoço de Dani, beijou a parte mais sensível, causando arrepios.
Mordeu a nuca dela, o joelho se enfiando entre as pernas, abrindo-as.
Dani acariciou as costas de Mel com as mãos. Colocou um seio na boca, chupou-o com força,
arrancando vários gemidos. Depois passou para o outro seio, lambendo, sugando o biquinho,
fazendo-o ficar cada vez mais rígido.
Mel movia os quadris sensualmente, esfregando o sexo molhado no de Dani.
Dani sentiu que Mel estava quase gozando, mas estava completamente travada, não ia
conseguir gozar junto com ela. Sem tirar a boca do seio, desceu a mão pela barriga até o ventre,
acariciou o sexo de Mel, enfiando os dedos, tirando, acariciando novamente... Mel gemia alto,
rebolando na mão de Dani, cada vez mais rápido. Dani acompanhou o ritmo, até Mel estremecer e
depois desabar em cima dela.
Mel não sabia o porquê, mas Dani estava estranhamente tensa, quase em outra sintonia.
Suspirou fundo. Estava disposta a reverter aquela situação. Olhou Dani nos olhos e a beijou
demoradamente. Desceu a boca pelo pescoço, saboreou os seios com uma lentidão desesperadora.
Tocou, beijou, lambeu e chupou cada pedacinho do corpo de Dani sem pressa, arrancando
gemidos, suspiros e palavras desconexas.
Fez Dani ficar bem entregue antes de mergulhar a boca em seu sexo, passando a língua com
vontade, fazendo-a gritar alto e explodir em tremores e espasmos. Depois deitou-se ao lado dela,
que logo adormeceu, inteiramente mole, relaxada e rendida em seus braços.
Quando Dani acordou no dia seguinte, estava se sentindo muito culpada. O cheiro de Mel estava
no lençol, no travesseiro, em sua pele, em seus dedos... Tinha uma mulher maravilhosa, perfeita.
Mas não conseguia se sentir tranquila, porque a lembrança do beijo trocado com Denise ainda a
atormentava. Passou o dia inteiro nervosa, sem conseguir fazer nada direito, morrendo de medo de
encontrar com a outra no ensaio.
Mel mandou vários torpedos fofos, preocupada com a namorada. Isso só aumentou o remorso
que Dani sentia.
Chegou ao teatro um pouco atrasada. Trocou de roupa rapidamente no camarim, sem olhar nem
falar com ninguém. Bel estranhou:
– Dani, você tá bem?
– Essa estreia tá me deixando louca.
– Relaxa, linda! Você tá arrebentando!
O assistente de direção avisou que Denise estava querendo todos no palco. Dani ficou
agradecida pelos refletores em cima deles. Mal conseguia distinguir Denise, sentada no fundo da
arquibancada, cercada pela equipe técnica inteira.
Era o ensaio geral, último antes da estreia, e ela estava fazendo as últimas críticas, mudanças e
observações.
O elenco estava muito entrosado, e tudo correu perfeitamente bem. Quando acabou, Dani
estava aliviada, louca para sair dali. Já ia trocar de roupa quando Denise disse:
– Quero passar o final mais uma vez. Quem não estiver na cena pode ir.
Dani ficou paralisada. O final era só ela.
Sem poder fazer nada, viu todas as pessoas saírem. Até o assistente ela dispensou. Ficaram as
duas sozinhas.
Denise desceu a arquibancada, e se sentou no meio da primeira fila, olhando para Dani
fixamente. Dani perguntou, com uma raiva evidente na voz:
– De onde?
– Da última fala de Misael.
Dani fez a cena. Quando acabou, Denise apenas disse:
– De novo!
Dani fez toda a cena novamente.
– Outra vez!
Foi só o que Denise falou. Dani repetiu, respirando fundo para afastar o ódio que estava
sentindo. Quando acabou e Denise mandou-a repetir mais uma vez, perdeu a paciência:
– Vou ficar repetindo a noite inteira?
Denise respondeu com um sorriso provocante:
– Se eu quiser, sim.
Dani olhou para ela de cara fechada:
– Não vai me dizer o que quer que eu corrija?
Denise se levantou, aproximou-se de Dani, olhou-a bem dentro dos olhos e disse:
– Nada. A cena tá perfeita. Te mandei ficar por isso...
Colou a boca na de Dani, os braços já em volta da cintura dela. Dani foi pega de surpresa e,
quando percebeu, a língua da outra já estava enroscada na sua, as mãos dela levantando o
vestido do figurino, percorrendo suas coxas, fazendo-a perder o pouco de vontade própria que
tinha. Pensou em Mel, tentando se controlar, fazendo um esforço enorme para resistir... Sem forças
para lutar, sentiu os dedos que se enfiavam pela lateral de sua calcinha. Quando Denise tocou o
sexo de Dani, ela começou a respirar com dificuldade. Não de tesão, como Denise queria, mas por
causa da asma.
Dani empurrou Denise, correu para o camarim, pegou a bombinha na bolsa e a aspirou três
vezes. Nunca uma crise asmática a tinha deixado tão feliz. Sentou numa das cadeiras, quase rindo,
e esperou a respiração voltar ao normal.
Denise apareceu na porta:
– Tudo bem com você?
Dani não a olhou, apenas balançou a cabeça dizendo que sim.
– Quer uma carona?
– Não – respondeu na mesma hora. A outra ainda insistiu:
– Deixa de besteira... Vamos.
– Já disse que não.
Denise deu de ombros:
– Como quiser, então.
E saiu. Dani respirou aliviada. Tinha tido muita, mas muita sorte mesmo. Jurou para si mesma que
aquilo não ia se repetir. Sairia da peça se fosse preciso.
Nesse exato momento, viu uma luzinha piscando na lateral da bolsa. Tinha deixado o celular no
silencioso, e alguém estava ligando. Atendeu o mais rápido que pode, porque era Mel:
– Amor, onde você tá?
Estranhou ela ligar àquela hora, normalmente já estaria dormindo:
– No teatro ainda.
Mel parecia muito preocupada:
– Tá tudo bem?
Por alguns instantes, Dani cogitou a possibilidade dela saber o que tinha acontecido. Sabia que
era impossível, mas gaguejou quando respondeu:
– Tu... Tudo... Por quê?
– Não sei... Tô com uma sensação esquisita, não tô conseguindo dormir... Tá tudo bem mesmo?
Sua voz tá tão estranha...
Dani apertou a bombinha três vezes por puro nervosismo. Mel imediatamente perguntou:
– Que barulho é esse? Tá usando a bombinha, amor?
Dani teve que dizer:
– Tô sim, mas...
Antes que Dani pudesse falar qualquer outra coisa, disse:
– Vou te buscar. Me espera aí.
E desligou. Dani abaixou a cabeça e deixou escapar um gemido. Não merecia a mulher que
tinha.
CAUSA E EFEITO
No dia seguinte, Dani acordou com uma ressaca moral horrível. Mel não só a tinha buscado no
teatro, como também a enchera de cuidados e mimos. Tinha dormido com a cabeça apoiada no
peito dela, com o coração de Mel batendo em seu ouvido.
Era o dia da estreia, mas a ansiedade de Dani não era por causa disso.
Passou o texto mentalmente na cabeça várias vezes. Chegou ao teatro duas horas antes, fez um
aquecimento corporal intenso e, quando voltou ao camarim para se maquiar, Bel veio correndo em
sua direção, quase gritando:
– Adivinha? Você recebeu flores!
Tinha um magnífico buquê de flores de cores vivas junto com as coisas dela. Dani abriu e leu o
cartão sorrindo:
“Muita merda pra vc, meu amor!
Da sua maior fã, que te ama muito, muito, muito... E muito!”
E a assinatura de Mel, com a caligrafia impecável dela.
Dani tinha contado sobre a superstição que todas as pessoas de teatro tem: desejar boa sorte
dava azar. Por isso, deseja-se merda. Gracinha como sempre, Mel tinha lembrado. As flores eram
lindas, e Dani amou, é claro.
Maquiou-se e vestiu-se com uma alegria enorme no coração. Quando já estava pronta, ligou
para ela:
– Oi, amor! Amei as flores, são lindas! Claro que você é muito mais...
Quase podia vê-la sorrindo só pelo tom de voz:
– Não, você é mais...
As duas riram, felizes. Dani perguntou:
– Já chegou?
– Já. Tá todo mundo aqui: a Deca, a Raq, a Gisa, o Ed, o João e o PH. Estamos esperando a
porta abrir.
O assistente chamou o elenco para o palco.
– Amor, tenho que ir...
– Arrasa, tá? Te amo! Beijo...
– Te amo! Beijo...
Desligou, guardou o celular e correu para o palco. Todos já estavam lá. Denise pediu que
fizessem uma roda, de mãos dadas:
– A direita dá e a esquerda recebe.
Todos sabiam o que queria dizer: a palma da mão direita virada para baixo e a da esquerda
para cima, formando um circuito de energia fechado e perfeito. Deu algumas últimas instruções,
incentivou todos, olhou nos olhos de um por um enquanto dizia:
– Vamos fazer com humor e sensualidade. Concentração, foco, energia. Ritmo – concluiu, sorrindo,
apertando as mãos nas dela com mais força e sendo imitada por todos:
– Seguro minha mão na sua para que juntos possamos fazer aquilo que eu não posso fazer
sozinho.
Puxou um vocalize parecido com um mantra:
– Uhm...
As vozes subindo em um crescendo, em sintonia, até gritarem em uníssono:
– Merda!
Bateram palmas. Alguns se abraçaram e, só depois que o palco ficou vazio, Denise ordenou:
– Pode abrir!
Impossível descrever esse momento em que o burburinho do público entrando chega ao ouvido
dos atores, confirmando que, em questão de minutos, vão entrar em cena. Por mais experiência que
se tenha, é um friozinho inevitável. O primeiro sinal tocou, e o segundo um pouco depois. A
gravação de agradecimento aos patrocinadores entrou...
Na coxia, Dani fez um último aquecimento vocal, e estava totalmente concentrada quando o
terceiro sinal soou.
O espetáculo começou com um black-out. Apenas uma música de fundo baixinha que aos poucos
foi aumentando conforme a luz ia surgindo e mostrando os atores no meio do cenário.
No centro do palco estava Dani. Os olhos de Mel não conseguiam se desgrudar dela. No
começo, pensou que era porque era a mulher que amava, mas aos poucos foi percebendo o
silêncio absoluto que se fazia cada vez que ela entrava em cena.
Ela era muito mais do que boa, era incrível... Deixava a plateia hipnotizada, dominada com
cada gesto, cada palavra. Apesar da personagem não ser nem de longe uma mocinha, nem
estabelecer nenhum tipo de empatia, tinha o público em suas mãos.
Não que Mel tivesse alguma dúvida sobre o talento de Dani antes disso, mas ainda não a tinha
visto atuar. Se fosse possível, se apaixonaria de novo por ela naquele instante.
O final do espetáculo era Dani sozinha em cena, mas o palco parecia totalmente preenchido.
Depois de uma interpretação intensa, emocionante, a luz foi caindo, novo black-out e as palmas
explodiram.
Dani se juntou ao resto do elenco, que formou um paredão no fundo do palco antes da luz voltar
a acender. O agradecimento também era ensaiado, e Dani era a última a ir para frente.
O público estava todo aplaudindo de pé, outra emoção indescritível... Impossível não abrir um
sorriso, o coração batendo forte no peito, o corpo totalmente quente, suado, a energia pulsando,
muito parecido com o que se sente depois de sexo bem feito.
Procurou Mel com o olhar. Ela estava com os olhos brilhantes, fixos em Dani, sorrindo daquele
jeitinho que fazia Dani achar que a vida fazia sentido. Dani jogou um beijo para ela, fazendo
crescer o sorriso.
Avançou, sentindo que os aplausos aumentavam e se curvou agradecendo. Depois o elenco todo
se juntou a ela, deram as mãos e agradeceram juntos antes de sair.
Denise foi ao camarim, elogiando todos. Dani nem a olhou. Estavam todos combinando de sair
para comemorar a estreia, mas Dani não tinha a menor intenção de levar Mel para um lugar onde
Denise estivesse. Tirou a maquiagem e trocou de roupa rapidamente, pegou a bolsa, o buquê de
flores, e saiu quase correndo. Quando chegou ao foyer do teatro, não parou para falar com
ninguém no caminho, foi direto para Mel, que estava conversando na rodinha formada pelos
amigos. Dani tocou-a suavemente no ombro. Mel se virou e se atirou nos braços de Dani,
abraçando-a com força, dizendo:
– Você tava maravilhosa! Adorei! – E depois, baixinho no ouvido dela: – Ai, amor, você é um
tesão em cena!
Dani brincou:
– Tá apaixonada pela Moema, é?
– Fala baixo, minha namorada é muito ciumenta!
Elas riram e se abraçaram novamente.
Dani olhou para a sua direita e gelou, porque até então não tinha percebido Denise parada ao
lado de Mel, que disse:
– Amor, a sua diretora tava aqui convidando a gente pra comemorar a estreia, parece que o
elenco vai todo pro Pizza Park do Humaitá.
Denise completou:
– Nosso apoiador. E a atriz principal não pode deixar de ir.
Dani ia dar uma desculpa, quando Mel passou na sua frente:
– Nós vamos, né, amor?
E Dani não teve opção senão responder a contra gosto:
– Claro...
Na pizzaria foi tudo tranquilo. A mesa era grande demais, e Dani se sentou no meio dos amigos,
bem longe de Denise. Estava feliz, foi muito elogiada e todos tinham gostado muito do espetáculo.
Ficou de mãos dadas com Mel o tempo inteiro. Estava louca para chegar em casa, jogá-la na
cama, devorá-la inteira... Mel a olhava com um sorrisinho provocante, safado, fazendo-a saber que
estava pensando a mesma coisa que ela.
Foi quando Bel chegou perto delas dizendo:
– A galera decidiu ir na Fosfobox dançar um pouco.
Dani não queria abusar da sorte. Rapidamente respondeu:
– Não, tô cansada, e amanhã tem peça. Vamos pra casa, né, amor?
Antes que Mel pudesse responder, Ed interferiu:
– Meninas, hoje é sexta-feira e faz séculos que vocês não saem com a gente!
Gisa apoiou:
– Mel, dá uma força pra gente, vai...
Mel então sugeriu, por livre e espontânea pressão:
– Só um pouquinho, amor. Não vamos ficar muito tempo.
Dani não queria ir de jeito nenhum. Com um aperto no peito, quase um mau pressentimento,
concordou. Só porque Mel tinha pedido.
Deca e Raq decidiram não ir. Dani e Mel se despediram e foram para Copacabana levando Ed,
Gisa, PH e João.
A boate estava cheia. Dani foi direto ao bar falar com Eve, ex-namorada de uma amiga da
Unirio e, sem dúvida, a melhor bar woman da cidade. Apresentou Mel, e ficaram namorando por ali
mesmo.
Para alívio de Dani, o pessoal da peça se espalhou, ficando fora de vista. Ainda assim, ela fez o
máximo de esforço para não ir ao banheiro, sabidamente um lugar perigoso com Denise por perto.
Mas teve uma hora que não aguentou. Gisa tinha sumido, Mel não quis ir com ela, preferiu
dançar um pouco com o primo. Não tendo outro jeito, foi ao banheiro sozinha.
Quando saiu do reservado, Denise estava na porta. Empurrou-a para dentro e encostou Dani na
parede, comprimindo o corpo no dela. O beijo foi inevitável.
Dani resistiu bravamente, uma luta travada dentro de si. Nunca tinha tentado se controlar assim.
Jamais tinha deixado de seguir seus desejos e instintos. Mas também nunca tinha amado ninguém
antes. E, apesar da língua que invadia sua boca e da atração insana que sentia por aquela
mulher, conseguiu se afastar e dizer não.
Denise ficou surpresa com a firmeza de Dani. Olhou-a interrogativamente. Dani apenas disse:
– Eu não quero.
Quando saiu do reservado, gelou. Deu de cara com Mel:
– Mudei de ideia, amor. Devia ter vindo com você, né?
Um momento em que uma única ação pode mudar tudo. Mas Dani ficou paralisada e não
conseguiu reagir a tempo de evitar que Mel a puxasse pela mão para entrarem juntas no
reservado, dando de cara com Denise.
Mel olhou de uma para a outra. Denise apenas abaixou a cabeça. Dani a olhou com desespero,
medo, uma verdadeira confissão de culpa...
Mel passou por Dani, sem nada dizer, mas Dani a impediu de sair do banheiro. Mel se soltou,
dizendo:
– Eu devia te matar de pancada! Mas quer saber? Nem isso você merece!
E saiu do banheiro. Dani foi atrás correndo:
– Espera, Mel... Me deixa explicar...
Mel se virou para ela. Dani nunca tinha visto olhos mais frios em toda a sua vida:
– Não, deixa eu explicar pra você: acabou. Entendeu?
Dani tentou pegar as mãos dela, mas Mel não deixou:
– Presta atenção no que eu vou te dizer, Dani Quadros. Isso que você faz qualquer uma pode
fazer. Sexo é a coisa mais fácil de se conseguir, meu amor. O que a gente tinha, o que eu te dei,
era especial. Mas você não deu valor, jogou fora como se fosse lixo. Aliás, tudo que você toca vira
lixo.
Dani estava desesperada. As lágrimas escorriam dos olhos dela, uma dor profunda a fez quase
gritar:
– Eu te amo, Mel! Você sabe disso... Por favor, me perdoa... Eu amo muito você!
Mel olhou Dani nos olhos, com uma raiva imensa:
– Você não me conhece mesmo... Acha que é só dizer que me ama, pedir desculpas e fica tudo
bem?
Dani não sabia o que fazer. Não conseguia parar de chorar, não conseguia pensar direito,
estava perdendo para sempre a mulher que amava... Abraçou Mel, beijou-a no pescoço, no rosto,
na boca...
Mel se manteve dura, rígida, sem corresponder. Apenas desviou o rosto e afastou Dani com uma
indiferença assustadora:
– Acho que você ainda não entendeu.
– Mel, não faz isso... Por favor... Você... Você não é assim...
Mel sorriu. Um sorriso nada doce. Cheio de ironia e desprezo:
– Vou te dizer como eu sou, meu amor: quando eu quero ser boa, sou ótima. Mas quando quero
ser má, eu sou melhor ainda!
Deu as costas, indo em direção à pista de dança. Entrou no meio das pessoas dançando, se
juntou a PH e João movida pela raiva, dizendo:
– Tô na pista!
Dani ficou ali parada sozinha, olhando, totalmente sem ação. Parecia que estava vendo Mel pela
primeira vez na vida. Ela era linda dançando provocante, sensual, excitante. O coração de Dani
doía só de cogitar que a tinha perdido para sempre.
Viu quando ela foi para o bar, pegou uma bebida e uma mulher com um enorme sorriso se
encostou ao lado dela.
Mel olhou para a mulher sorridente e abusivamente bonita. Dani quase morreu. Não conseguia
ouvir o que elas conversavam, mas nem precisava, pelos olhares que trocavam.
A mulher se inclinou e falou alguma coisa no ouvido de Mel, que riu. Depois, entregou um
papelzinho para ela, inclinou o rosto bem perto de Mel, os lábios quase se tocando.
Dani não conseguiu se conter. Aproximou-se das duas e parou na frente de Mel, que continuou
como se ela não existisse. A mulher recuou e olhou para Mel interrogativamente. Mel balançou a
cabeça como quem diz “Não liga não”, pegou a mulher pela mão e foi voltando para a pista. As
duas começaram a dançar juntas, os corpos se encostando de forma cada vez mais insinuante.
Dani não conseguia desviar os olhos... Viu quando os braços de Mel envolveram o pescoço da
outra, que a segurou pela cintura. Devagar, em câmera lenta sob o ponto de vista torturante de
Dani, as bocas se encostaram.
Ficar olhando Mel aos beijos com outra a fez sentir uma onda de calor abrasiva, incontrolável.
Dani nunca tinha sentido aquilo na vida, um ciúme que a deixava cega, irracional.
Foi até elas, puxou Mel pelo braço e a arrancou dos braços da mulher. Agarrou-a à força,
enfiando a língua naquela boca antes tão receptiva, mas que agora tentava se livrar da dela.
Mel se debatia nos braços de Dani e a esmurrava, tentando empurrá-la, mas Dani não a
soltava. Conhecia Mel muito bem... Começou a senti-la amolecer com seus toques.
Por mais que Mel desejasse Dani, não ia se render. Não depois do que ela tinha feito. Mordeu o
lábio inferior de Dani com força, chegando a sentir um gostinho de sangue, mas nem assim Dani a
soltou.
Foram interrompidas por um dos seguranças, que pediu para que Dani o acompanhasse. Antes
de sair, disse para Mel:
– Te espero na sua casa.
Mel olhou significativamente para a outra, agora ao seu lado, respondendo:
– Não vou pra casa hoje.
O segurança pegou Dani pelo braço e a fez pagar a comanda e se retirar. Ficou um tempo na
porta da boate, ligou para Mel, mas ela não atendeu. Então mandou vários torpedos para ela,
implorando, humilhando-se, rastejando mesmo. Não ligava. A única coisa que importava era ter Mel
de volta. Mas não obteve uma resposta sequer.
Só quando finalmente resolveu atravessar a rua, viu o celta verde parado na sua frente. A
janela se abriu, e Denise sorriu para ela, dizendo:
– Entra. Quero conversar com você.
Dani a ignorou e começou a andar. Denise saiu do carro e a segurou pelo braço:
– Vai me fazer correr atrás de você pela cidade inteira?
Assim que Dani saiu, Mel decidiu ir embora. Mas não para casa. Muito menos com a mulher que
tinha beijado. Não era chegada a sexo casual mesmo.
No entanto, não queria encontrar com Dani, então resolveu ir para a casa do primo. Ofereceu
uma carona para a mulher apenas por educação, mas a outra aceitou, claro.
Saiu da boate ao lado dela, seguida de PH e João. Viu Dani a uns poucos metros de distância,
com Denise. Quando Dani a viu, correu atrás de Mel, sem se importar com o resto das pessoas:
– Mel, por favor... Eu preciso conversar com você...
Mel não respondeu, sequer diminuiu o passo. Dani se colocou na frente dela, chorando, mas Mel
não a olhava.
– Mel, eu te amo... Me desculpa... Por favor... Eu não quero te perder...
PH e João se afastaram, constrangidos. A mulher da boate não arredou do lado de Mel. Dani
implorou, suplicou, aos prantos, desprovida de qualquer tipo de orgulho, amor próprio, dignidade
ou qualquer outra coisa que não fosse um profundo desespero. Mel apenas disse:
– Pensasse nisso antes, meu bem.
Dani continuou, soluçando:
– Me perdoa... Mel, você... Você é tudo pra mim... Eu... Eu não vivo sem você...
Se Mel não tivesse visto Dani com Denise depois de tudo que tinha acontecido, teria se comovido.
Mas sentia um ódio profundo naquele momento que a fez dizer:
– Então você é muito mais burra do que eu pensei.
Mel passou por Dani, entrou no carro e foi embora, com a outra mulher ao lado dela no banco
da frente.
Dani sentiu um vazio, uma dor por dentro, como se uma febre gelada ardesse em seu ventre,
abdômen e peito... Chorou compulsivamente, o corpo sacudido por soluços. Rapidamente os pulmões
reagiram se fechando e a deixando sem ar. Caiu ajoelhada na calçada, mas não estava se
importando. Pelo contrário, desejou ardentemente apenas poder parar de respirar.
Denise se aproximou e se abaixou ao lado de Dani, a preocupação evidente na voz:
– Cadê sua bombinha?
Dani apenas tentava puxar o ar, sem responder. Denise a sacudiu, quase gritando:
– Fala, Dani! Onde tá?
Pegou a bolsa de Dani, abriu, procurou, sem conseguir encontrar. A bombinha estava com Mel.
Mas Dani não conseguia falar. Denise a levantou, ajudou-a a caminhar até o carro, com muita
dificuldade colocou-a no banco de trás e correu para o hospital mais próximo.
Mel deixou a outra mulher em casa e, depois de muita insistência, acabou dando seu cartão
para ela. Quando chegou ao prédio do primo, mudou de ideia:
– Vou pra casa.
PH apenas concordou com a cabeça:
– Fica bem, Melzinha. Qualquer coisa me liga!
Voltou para casa com a cabeça a mil. Entrou no apartamento e se decepcionou, porque Dani
não estava lá. Cada cantinho a fazia se lembrar dela. Só então se permitiu desabar. Depois que
começou, não conseguiu mais parar de chorar. Ficou acordada a noite inteira e cada vez que
ouvia o som do elevador subindo tinha a esperança de que fosse ela. Mas Dani não apareceu.
Dani foi atendida rapidamente. Pediu para Denise ligar para o pai dela. Ele chegou esbaforido,
de chinelos, estranhando a ausência de Mel. Não tinha ido ver o espetáculo porque detestava
aquele frisson de estreia.
Depois de medicada e de ter feito nebulização, Dani já estava se sentindo um pouco melhor. O
único problema era a fraqueza. Mal conseguia manter os olhos abertos, precisava descansar. Foi
para a casa do pai, onde apagou e dormiu a noite inteira.
O dia seguinte era sábado e Mel ficou sozinha em casa, as recordações a corroendo.
Normalmente preparava um café caprichado e levava para Dani na cama. Dani reclamava
querendo dormir mais e depois se espreguiçava fazendo o lençol escorregar de propósito. Mel
então colocava a bandeja na mesinha de cabeceira, pulava em cima de Dani e faziam amor a
manhã inteira.
Além de estar com o rosto inchado de tanto chorar, Mel não tinha fome nem sono nenhum. Depois
de um banho quente demorado, tomou um remédio para dormir. Deitou-se na cama e, abraçada
com o travesseiro de Dani, finalmente adormeceu.
Dani acordou na casa do pai. Não conseguiu esconder a tristeza. Ele apenas perguntou:
– Dani, cadê a Mel?
– Ela... Eu...
Não conseguiu responder. Os soluços subiram por sua garganta, incontrolavelmente. O pai
apenas a abraçou, dizendo:
– Calma, filha. Pra tudo tem jeito.
Mas Dani estava começando a achar que não. Ligou para Mel várias vezes, no telefone de casa
e no celular, mas ela não atendeu.
Foi direto para a casa dela. Nicole a recebeu na porta, toda feliz. Mel estava deitada na cama
com uma camisola curtinha, abraçada num travesseiro, dormindo profundamente. A vontade de
Dani era simplesmente poder retornar, recuperar o que tinha antes da noite anterior. Poder
apenas... Tirar a roupa, deitar-se ao lado de Mel, despertá-la com as mãos, com a língua, com a
boca... Ajoelhou-se no chão na frente da cama. Tirou uma mecha de cabelos dourados que caía
em seu rosto e a beijou levemente nos lábios. Mel suspirou, ainda dormindo...
Dani ficou olhando para ela, tão linda, seu amor. Beijou-a de novo, dessa vez apaixonadamente.
Mel correspondeu, e Dani aprofundou o beijo, enfiando a língua entre os lábios incrivelmente
receptivos.
Mel gemeu, ainda em um estado semiadormecido. Aos poucos, foi tomando consciência de que o
beijo era real, não estava mais sonhando. Como se tomasse um choque, empurrou-a.
Dani caiu sentada no chão e a fitou. Os olhos de Mel tão sérios que Dani recuou.
Mel levantou da cama, fuzilando Dani com os olhos:
– O que você pensa que tá fazendo?
E, sem dar tempo de Dani dizer ou fazer qualquer coisa, caminhou até o armário e o abriu.
Foi tirando todas as roupas de Dani que estavam lá dentro, jogando-as com força em cima dela:
– Aproveita e leva tudo com você.
Para Dani, aquilo foi a gota d’água. Perdeu completamente a cabeça. Ficou de pé quase num
salto, chutando as roupas no chão antes de se aproximar de Mel.
Mel continuou parada, ofegante, os olhos brilhando de raiva. Por um momento, elas se fitaram, a
poucos centímetros de distância, desafiando-se. Exatamente como antes.
Moveram-se com uma sincronia perfeita, exatamente ao mesmo tempo, uma em direção à outra,
se agarrando com loucura, colando os lábios num beijo irracional, faminto, cheio de desespero.
Dani se entregou ao beijo, uma pontinha de esperança aparecendo... Tocando Mel com todo seu
amor, paixão, desejo. Sentindo que ela estava se entregando, correspondendo.
Mel se odiou por estar cedendo, não podia se deixar levar pelo que sentia por Dani, queria
arrancar aquilo de dentro dela. Lembrou-se de Denise dentro do banheiro, imaginou quantas vezes
as duas tinham ficado juntas, pensou em tudo que Dani devia ter feito com a outra.
As mãos de Mel deixaram de acariciar, passaram a tocar com fúria. Dani tentou fugir do beijo
que se tornou agressivo, brutal, punitivo, da língua que se enfiava em sua boca com violência. Não
queria daquele jeito, mas Mel a segurou com força, obrigando-a a suportar até o fim. Quando
terminou, empurrou-a para longe, dizendo:
– Pega as suas roupas e sai daqui.
Sentindo-se totalmente perdida, Dani juntou as roupas no chão, as lágrimas escorrendo de forma
incontrolável.
Aquela desconhecida não era a sua Mel. A mulher que amava tinha desaparecido, talvez para
sempre.
Sem olhar novamente para ela, colocou tudo numa sacola e já estava saindo quando ouviu:
– Quero a minha chave de volta.
Tirou a chave do chaveiro, com o coração rasgando dentro do peito...
Recordou o dia em que ganhara aquela chave. Mel entregando-a com um sorriso lindo e
deslumbrante, sussurrando no ouvido de Dani:
– Pra você se sentir em casa, amor...
Devolveu a chave com uma dor tão grande nos olhos que Mel até sentiu pena. Sentiu pena, mas
se controlou, porque a raiva que sentia por ter sido traída era muito maior.
Dani saiu, e Mel fechou a porta.
Dani ficou parada no corredor, em frente à porta fechada, sem conseguir se mover. A impressão
que tinha era que uma névoa cinzenta encobria sua visão, sugando sua energia vital, deixando-a
apática, totalmente vencida.
Só depois de algum tempo conseguiu caminhar como um autômato até o elevador, sair do prédio
e vagar pela rua sem destino.
Do lado de dentro, Mel apoiou as mãos na porta, encostando a testa na madeira, respirando
com dificuldade, um choro silencioso sacudindo seu corpo inteiro.
Não soube dizer quanto tempo ficou ali, deixando as lágrimas descerem livremente. A angústia
se tornou tão grande que esqueceu tudo que não fosse a vontade que sentia de Dani.
Num impulso, chegou a abrir a porta, mas era tarde demais. O corredor já estava
completamente vazio.
PERSISTÊNCIA É A ALMA DO NEGÓCIO
Até aquele momento, Dani não sabia o que era depressão. Nunca na vida tinha sentido essa
falta de energia que a deixava prostrada, sem vontade de nada.
Durante as duas semanas seguintes, arrastou-se para o teatro, fazendo o espetáculo de forma
automática, quase não falando com as pessoas do elenco.
Denise tentou conversar com ela algumas vezes, mas depois de Dani se recusar terminantemente,
deixou-a em paz.
Passava o resto do tempo trancada no quarto sem falar com ninguém, deixando o celular
sempre desligado.
Sentia falta de Mel o tempo inteiro. Da presença e de pequenos detalhes. Coisas bobas como o
fato de Mel sempre pegar comida do prato de Dani – apesar do próprio prato ainda estar cheio
– e do jeito como Mel a abraçava por trás, olhava para o espelho e sorria vendo as duas juntas
enquanto Dani escovava os dentes no banheiro...
As lembranças, assim como as lágrimas, eram muitas. Incansáveis, intermináveis...
Ed e Gisa ficaram preocupados, escutavam-na chorando no quarto, mas não conseguiam fazer
nada, batiam na porta e Dani pedia que a deixassem sozinha.
Com Raq, por outro lado, não teve conversa. Esmurrou a porta de Dani, gritando:
– Não saio daqui enquanto você não abrir!
Dani entreabriu a porta e Raq a empurrou, entrando no quarto. Foi logo dizendo:
– Esse quarto tá fedendo!
Olhou para Dani. A aparência dela não poderia ser pior. Os olhos inchados, cheios de olheiras,
o cabelo sujo, ensebado mesmo...
– Você tá horrível! Acha que vai reconquistar a Mel assim?
Dani riu e se largou na cama, dizendo:
– A Mel me odeia.
Dessa vez foi Raq quem riu:
– Odeia sim. Do mesmo jeito que você odeia ela! Pelo amor de Deus, Dani! Você pisou na bola
feio e agora vai ter que correr atrás do prejuízo, meu bem!
Dani sacudiu a cabeça negativamente:
– Não tem nada que eu possa fazer.
Raq suspirou e olhou para cima, já sem paciência:
– Não tô te reconhecendo... Vai desistir fácil assim?
Dani olhou a amiga parada na sua frente com as duas mãos na cintura e respondeu:
– Eu não sei correr atrás de ninguém...
A frase reticente de Dani enfureceu Raq:
– Afinal de contas, qual é a sua? Você ama ou não ama essa mulher?
Dessa vez não houve hesitação nem dúvida:
– Amo. Mais do que tudo. A Mel é a mulher da minha vida.
Raq sentou do lado de Dani, despenteando os cabelos da amiga com a mão:
– Tá esperando o quê, então? Faça por merecer! Cadê aquela Dani sedutora, irresistível,
conquistadora, hein?
Dani olhou para Raq e sorriu, começando a pensar no que fazer.
Mel estava arrasada, mas não se permitia pensar nisso. Não se dava tempo. Procurou se ocupar
o dia inteiro, trabalhando dobrado, levando trabalho para casa, visitando os irmãos com mais
frequência, saindo com os amigos e até entrando num curso de pintura no Parque Laje.
Mas nada disso a fazia esquecer. Quando fechava a porta do apartamento e se deitava na
cama sozinha, era impossível não pensar em Dani. E, por mais cansativo que tivesse sido o dia,
perdia o sono completamente. Depois de duas noites em claro, passou a tomar remédio para
dormir regularmente.
A mulher da boate ligou diversas vezes. Mel deu várias desculpas, até que ela entendeu a falta
de interesse e desistiu.
Numa quarta feira depois do trabalho, Mel foi para uma aula no Parque Laje. Entrou na sala,
cumprimentou Marina, amiga dos tempos da faculdade que também estava fazendo o curso, e se
sentaram em frente aos cavaletes mais próximos do praticável onde ficaria o modelo vivo.
Mel estava distraída, apontando o lápis, por isso não reparou logo de cara. Quando levantou os
olhos, deu de cara com Dani em cima do praticável, vestindo apenas um roupão. O professor
trocou algumas palavras com ela, explicando a pose que deveria ser feita. Dani olhou Mel nos
olhos e tirou o roupão.
Dani já tinha posado de modelo vivo antes. Nunca tinha tido problemas em ficar nua no palco, já
tinha feito isso várias vezes. Para ela, não tinha mistério, nem nenhum tipo de vergonha ou pudor.
Fazia isso com uma facilidade invejável.
Por isso foi fácil se inscrever para posar nua no curso que Mel estava fazendo. Informação
dada por Raq, com a promessa de que Mel jamais ficaria sabendo quem tinha contado.
Mel a olhava fixamente, e foi para ela que Dani ficou nua, com um brilho provocante nos olhos.
Mel olhou para o corpo dela e... Mil recordações a fizeram sentir um arrepio na espinha. A
simples presença de Dani a deixava perturbada, arrepiada, excitada... Se o professor pudesse ler
os pensamentos dela naquele momento, com certeza a expulsaria da sala. Aquilo era totalmente
antiético, sempre tinha desenhado todas as modelos com a indiferença necessária, mas com Dani
era impossível.
Ficou alguns minutos parada, devorando Dani com os olhos, o lápis no ar, sem conseguir começar.
Marina perguntou, estranhando:
– Que foi? Alguma coisa errada?
Mel negou com a cabeça. Respirou fundo. E começou o desenho. A coisa mais fácil para ela era
esboçar os contornos de Dani... Cada centímetro do corpo dela estava gravado em sua mente, em
sua pele, em sua alma...
Extravasou tudo o que sentia. A cada traço, o desenho da mulher na sua frente ia tomando vida.
Quando terminou, espantou-se com o resultado. Parecia ter captado a essência de Dani. A aura
carismática que dela emanava, o olhar magnético, diversos detalhes que para Mel eram um
tormento...
O professor passou por elas e parou admirando o trabalho de Mel.
– Muito bom, mas muito bom mesmo! Até agora, esse foi de longe o seu melhor trabalho!
Dani já tinha perdido a noção do tempo. Era um trabalho exaustivo, ficar de vinte a trinta
minutos parada, sem se mexer. Mas não naquele dia.
Durante todo o tempo, manteve os olhos em Mel. Ela a olhou durante um tempo, com um olhar
quente, cheio de desejo. Aquele olhar que fazia Dani se arrepiar e se derreter inteira. De repente,
começou a rabiscar o papel.
Fazia isso com vigor, parecia tomada por alguma estranha força muito parecida com a que Dani
sentia no palco.
Quando Mel terminou, o professor a elogiou, atiçando a curiosidade de Dani, deixando-a louca
para ver como Mel a tinha retratado.
Assim que a aula acabou, Mel pegou suas coisas e saiu rapidamente, sem nem se despedir de
Marina.
Dani vestiu o roupão, pegou a bolsa, e quase correu atrás dela.
– Mel! Espera...
Mel parou, virou-se e a olhou da forma mais fria do mundo, como se não a conhecesse.
Dani não se deixou abater. Sorriu sedutoramente e pediu:
– Posso ver seu desenho?
Mel sorriu ironicamente. Arrancou a folha do bloco e praticamente jogou em cima de Dani:
– Fica pra você.
Já ia saindo quando Dani a fez virar de volta:
– Você não precisa do desenho... Sabe que a modelo é sua mesmo...
A provocação de Dani a pegou totalmente de surpresa. Mas nunca a deixaria notar o quanto
ainda mexia com ela. Olhou Dani de cima a baixo, antes de dizer, com desprezo:
– A modelo não pertence a ninguém. É do mundo inteiro...
Dani respondeu baixinho, colando a boca no ouvido de Mel:
– Meu mundo é você...
Virou as costas e entrou no banheiro. Por uma questão de segundos, Mel ficou parada. Então,
num impulso, foi atrás de Dani.
Dani estava entrando num dos reservados para se vestir. Mel entrou, trancou a porta e a
empurrou contra a divisória.
Olhando-a nos olhos, abriu o roupão de Dani, que estremeceu quando Mel percorreu seu corpo
com os olhos, mordendo o lábio inferior e a olhando com desejo.
Mel encostou o corpo no de Dani, pressionando-a contra a parede. Beijou-a no pescoço e no
queixo antes de colar a boca na dela. Dani correspondeu imediatamente, a língua faminta pela de
Mel, as duas respirando com dificuldade, tocando-se com saudade.
Os lábios de Mel desceram para o seio de Dani, sugando, primeiro com suavidade e depois
chupando e lambendo com paixão. Dani enfiou as mãos nos cabelos dourados, beijou e mordeu a
nuca de Mel com vontade, fazendo-a gemer.
Sem tirar a boca do seio, Mel enfiou a mão entre as coxas de Dani, tocando o sexo dela,
sorrindo de prazer ao ver o quanto ela estava molhada. Dessa vez foi Dani quem gemeu, com os
dedos de Mel já se movimentando dentro dela.
Mel levantou a cabeça e sussurrou no ouvido de Dani:
– Você trepa com todo mundo...
Aumentou o ritmo, fazendo Dani revirar os olhos, arquejar e estremecer antes de responder:
– Não é verdade... Sou só sua...
– É coisa nenhuma... Você não vale o ar que respira...
Foi a resposta sarcástica de Mel. Mel não deixou mais Dani falar. Calou-a com um beijo.
Provocou-a, excitou-a sem pressa. Sem deixar Dani tocá-la.
Usou os dedos para torturar, enfiando com força, parando quando sentia que Dani estava
quase gozando... Depois tirava, acariciando-a, estimulando-a a um nível quase insuportável de
desejo, querendo que Dani implorasse.
Mas entre os gemidos, Dani apenas sussurrava:
– Te amo muito, Mel... Eu amo você...
Mel a beijou novamente, a língua explorando cada recanto daquela boca. Estava dominada
pela paixão, tão ofegante e excitada quanto Dani. Apesar de amar Dani loucamente, conseguiu
dizer:
– Eu não te quero mais.
Dani hesitou, as palavras dela a acertaram em cheio. Mas a forma como Mel a beijou, ofegante,
tremendo, mostrava o oposto do que tinha dito.
Mel acelerou o ritmo, deliciando-se em arrancar de Dani mais e mais gemidos, fazendo Dani
finalmente gozar, o corpo sacudido por espasmos, o sexo pulsando ao redor dos dedos dela.
Ficaram um momento abraçadas, Dani adorando sentir o perfume de Mel, a boca deliciosa
mordiscando sua orelha...
Fazendo um esforço enorme, Mel a soltou. Afastou-se e limpou os dedos na pele de Dani.
Dani a puxou pela cintura, as mãos ávidas em tocarem o corpo dela também, a boca tentando
beijá-la, faminta...
Mas Mel apenas se afastou e balançou a cabeça negativamente, dizendo:
– Chega.
E saiu altivamente do banheiro, deixando Dani mais uma vez perplexa e sem saber o que fazer.
Mel saiu daquele banheiro quase correndo. Era muito difícil se controlar com Dani por perto. Se
ficasse mais um minuto, seria capaz de esquecer de todo o resto.
Voltou para casa perturbada, com o cheiro de Dani impregnado nas mãos, nos dedos, na pele...
Acabou ultrapassando um sinal vermelho, quase batendo o carro.
Ao entrar no prédio, o porteiro a chamou. Tinha uma encomenda para ela. Subiu ainda
lembrando da voz de Dani gemendo, dizendo que a amava em seu ouvido.
Só abriu o pacote quando entrou em casa. Era uma caixa enorme de bombons da Kopenhagen,
os preferidos de Mel.
Provavelmente tinha custado uma pequena fortuna. Abriu o cartão e leu:
“Doubt thou the stars are fire
(Duvide que as estrelas são chamas)
doubt that the sun doth move
(duvide que o sol se move)
doubt truth to be a liar
(duvide da verdade)
but never doubt I love…”
(mas nunca duvide que amo…)
(Hamlet – William Shakespeare)
Não pôde deixar de sorrir... Dani a conhecia mesmo. Sabia que, se mandasse flores,
provavelmente Mel jogaria fora. Mas aos bombons não tinha como resistir. Era louca por
chocolate...
Apertou a secretária e riu, porque Dani tinha deixado três mensagens. A primeira:
– Oi... Só pra dizer que tô pensando em você...
A segunda:
– Continuo pensando...
E a terceira:
– Só penso em você... Te amo!
No dia seguinte de manhã, quando saiu para passear com Nicole antes do trabalho, deu de
cara com ela em frente à portaria. Dani abriu um enorme sorriso quando a viu:
– Oi... Bom dia!
Nicole pulou em cima de Dani, balançando o rabo e fazendo a maior festa. Dani agachou e
acariciou a cachorrinha. Mel não poderia estar mais surpresa:
– O que você tá fazendo aqui a essa hora?
Dani nunca, jamais acordava tão cedo. Primeiro Mel pensou que ela estivesse virada, voltando
da noite, mas Dani parecia descansada, como se tivesse dormido a noite inteira.
Dani levantou e falou, passando a mão nos cabelos, usando e abusando de todo o seu charme:
– Vim te ver! E também... Tenho uma coisa pra falar com você.
Mel a olhou, fazendo força para não sorrir. Levantou uma sobrancelha:
– Ok, você venceu. Fala, tô te ouvindo.
Dani sugeriu, com um olhar sedutor:
– Não vai me convidar pra subir?
Mel já estava rindo:
– Não abusa da sorte, Dani...
– Não gosto quando você me chama de Dani...
Dani fez uma carinha meio triste. Tão fofa, que Mel cedeu:
– Tudo bem. Daniele. Tá bom assim?
Dani sentiu um arrepio. Adorava a forma como Mel dizia seu nome. Chegou bem pertinho dela,
olhando-a dentro dos olhos enquanto dizia com a voz totalmente sedutora:
– Ai, Mel... Só você fala meu nome gostoso assim... Mas eu queria mesmo era que você me
chamasse de amor...
Mel estremeceu e se afastou. Quando falou, foi com uma mágoa quase doce na voz:
– Depois do que você fez? Nos seus sonhos, meu am...
Mel cortou a palavra no meio, lutando contra o poder hipnótico de Dani sobre ela. Tinha saído
sem querer. Aquilo estava começando a ficar fora do controle. Mudou o tom de voz
completamente:
– Fala logo o que veio me dizer.
Dani disfarçou a felicidade que sentia o melhor que pôde. Não queria irritar Mel. Rapidamente
falou:
– Lembra quando eu prometi pros seus sobrinhos que a gente ia levar eles na estreia do novo
filme do “Harry Potter”?
Mel a olhou desconfiada:
– Lembro. Que é que tem?
Dani fez um arzinho sapeca, levantando os ombros ao dizer:
– É hoje...
Mel rapidamente a dispensou:
– Não precisa se preocupar... Eu levo eles.
Dani insistiu, com a cara mais inocente do mundo:
– Já tá tudo lotado, não tem mais ingressos.
Mel já estava perdendo a paciência:
– E você veio aqui só pra me dizer isso?
– Na verdade, eu comprei os ingressos antecipados... Você não quer decepcionar os meninos,
né?
Dani piscou para ela. Mel não teve como deixar de rir:
– Tá bom... Mas só por causa dos meninos...
Dani a presenteou com o mais radiante de todos os sorrisos.
Mel saiu do trabalho mais cedo para pegar os sobrinhos, que ficaram loucos quando chegaram
ao cinema e viram Dani. O filme foi ótimo, apesar de Mel ter perdido várias partes porque não
conseguia parar de olhar para Dani, sentada no meio dos dois meninos, segurando um pacote
enorme de pipoca. Os três completamente felizes e entretidos pelo filme.
De vez em quando, Dani olhava para ela, sorrindo de um jeito que fazia o coração de Mel
bater mais forte.
Depois de deixarem os meninos em casa, um silêncio sepulcral tomou conta do carro.
Se, por um lado, Dani não falou nada, aproveitou para colocar a perna estrategicamente perto
da marcha. Cada vez que a mão de Mel roçava nela, Dani suspirava. Mel fingiu não perceber
nada. Ligou o som e o CD começou a tocar... Happy Together.
Dani riu, antes de dizer:
– É a nossa música!
Mel apertou o volante, tensa. Estava se tornando cada vez mais difícil controlar a vontade que
tinha de agarrar Dani. Ela começou a cantar a música, olhando significativamente para Mel cada
vez que repetia o refrão...
Em frente à portaria de Dani, Mel encostou o carro. Dani tirou o cinto, mas não desceu. Segurou
o rosto de Mel com as duas mãos, olhando-a fundo nos olhos. Mel parou de respirar por um
momento, pega totalmente de surpresa. Os olhos de Dani desceram para os lábios dela. Mel os
umedeceu de forma sedutora. Dani a olhou de novo nos olhos e a beijou sensualmente.
Dani sentiu a língua de Mel invadindo sua boca, correspondendo... Um beijo intenso, apaixonado,
delicioso... Mas que infelizmente durou pouco tempo.
Fazendo um esforço enorme para se controlar, Mel colocou as mãos nos ombros de Dani e a
afastou. Na mesma hora em que os lábios se separaram, teve vontade de puxar Dani de volta.
Segurou o volante com força, como se tivesse medo que as mãos não a obedecessem. Evitou olhar
para ela, sabendo que, se os olhos voltassem a se encontrar, a beijaria novamente.
Dani a observou atentamente. Viu que Mel estava nervosa e não a olhava nos olhos. Encostou a
mão na dela, num carinho preocupado, sincero. Mel suspirou e depois se esquivou, dizendo com
uma voz muito, mas muito triste mesmo:
– Sai do carro, por favor...
Dani ficou em silêncio por algum tempo e então falou:
– Eu saio... Se você disser que não me quer... Se disser que não me ama mais.
Mel a fitou, com os olhos marejados:
– Você estragou tudo.
Dani acariciou o rosto de Mel, enxugando as lágrimas que já escorriam:
– Não fala assim...
Mel abaixou a cabeça e enxugou o rosto com as mãos. Quando voltou a olhar para Dani, seus
olhos estavam secos e frios novamente:
– É a verdade.
Dani sacudiu a cabeça negativamente, antes de responder:
– Me dá uma chance...
Dani segurou a mão de Mel, que imediatamente se desvencilhou, irada:
– Chance de quê? De você me fazer sofrer um pouquinho mais? Não, muito obrigada! Agora,
por favor, essa conversa já foi longe demais... Eu quero que você saia do meu carro!
O olhar de Mel fuzilava. Dani a fitou profundamente, com um brilho triste nos olhos. Na mesma
hora, os de Mel se amenizaram.
Dani abriu a porta, desceu e deu a volta no carro. Parou na janela de Mel, com um sorriso
obstinado:
– Não vou desistir de você... Te amo demais!
O jeito que Dani falou e a olhou deixou Mel arrepiada, com o coração dando saltos. Mas não
disse nada. Apenas arrancou com o carro.
Quando finalmente chegou o sábado, Mel se deixou ficar deitada. Era 12 de setembro, dia do
seu aniversário. Mas a mente estava em outro lugar.
Tinha saído com Raq e Deca na véspera. Tinham ido na Choperia Brazooka, ao lado do Teatro
Odisséia na Lapa, lugar que Mel adorava porque, além de ter caipivodkas e caipirinhas
maravilhosas de vários sabores, também tinha sanduíches enormes, inacreditáveis.
Ficaram conversando e bebendo e, quando faltavam dois minutos para a meia-noite, o celular
de Mel apitou.
Era uma mensagem de Dani: “Parabéns, meu amor! Quero ser a primeira a te desejar feliz
aniversário... Pessoalmente, é claro...”
Quando levantou os olhos, Dani estava parada à sua frente. Ela estendeu um botão de rosa
vermelho para Mel com um sorriso gigante nos lábios.
Mel aceitou a flor, o rosto corado, um pouco pela surpresa, em parte pelo prazer que a
presença de Dani sempre causava.
Dani sentou na frente dela, ao lado de Raq, e ficou olhando fixamente para Mel.
Depois de um tempo de silêncio absoluto na mesa, Deca e Raq levantaram e se despediram
dizendo que iam embora porque não queriam atrapalhar.
Quando ficaram sozinhas, Dani disse, com seu melhor sorriso, aquele que Mel achava lindo,
sedutor, infalível:
– Seu presente vou te dar depois...
Mel já tinha tomado no mínimo umas três caipivodkas. Não teve como deixar de sorrir. Dani
aproveitou a receptividade que teve para colocar a mão sobre a dela. Mel também não reagiu.
Dani então disse:
– Trégua? Pra comemorar seu aniversário...
Mel começou a rir:
– Você é terrível... Não desiste, né?
Dani fez que não com a cabeça, com um sorriso safado. Mel riu mais ainda, antes de segurar a
mão de Dani com força:
– Então dessa vez não vou resistir...
Foi quando uma menina baixinha, de cabelos curtos, parou na frente das duas, dizendo:
– Dani! Que houve? Fiquei sabendo que você saiu carregada naquele dia...
Mel imediatamente a reconheceu: Eve, a amiga de Dani, bar woman da Fosfobox.
Dani desconversou:
– Lembra da Mel? Hoje é aniversário dela.
Eve deu dois beijinhos em Mel, dizendo:
– Parabéns! Desculpe ter interrompido, mas tava preocupada com você... Bom, tô vendo que não
foi nada, né?
Piscou para as duas, despediu-se e saiu. Mel nem se importou por Dani estar visivelmente sem
graça:
– Saiu carregada, é?
Dani abaixou a cabeça, sem responder. Mel continuou:
– Disse que ia me esperar em casa e saiu carregada. Bem típico de você! Carregada por quem?
Pela sua diretorazinha?
Fez que ia levantar, mas Dani a segurou pelo braço com força, obrigando Mel a ficar:
– Senta aí! Dessa vez você vai me escutar!
Os olhares se encontraram, num verdadeiro fogo cruzado. A tensão entre as duas era quase
palpável, como se o pequeno espaço entre elas faiscasse:
– Naquele dia tive uma crise de asma. Você tava com a minha bombinha. Tive que ir pro hospital
e dormi no meu pai. Fui pra sua casa assim que acordei, mas você me expulsou de lá. Satisfeita?
Dessa vez foi Dani quem tentou se levantar. Mas Mel também a impediu, colocando a mão em
cima da dela e olhando-a daquele jeito que nunca mais tinha olhado, e que fazia Dani ficar de
quatro:
– Daniele... Espera... – Dani se sentou, com um suspiro. Mel continuou: – Desculpa... Eu não sabia...
– Tem várias coisas que você não sabe. Até hoje não quis me ouvir...
Mel ficou pensativa por um momento. Realmente, tinha ficado com tanta raiva que não tinha
deixado Dani falar. Apesar de Dani ter implorado, suplicado, se humilhado, rastejado na noite da
boate. Naquele momento, resolveu finalmente dar uma chance para Dani se explicar:
– Tem razão. Não quis te escutar. Mas agora tô disposta a ouvir tudo que tiver pra me dizer.
Dani olhou para a mulher sentada à sua frente. A reação dela tinha sido totalmente inesperada.
Mel a olhava ansiosa e tensa, mas estava ali, esperando, parecendo disposta a acreditar no que
Dani falasse.
Dani a amava demais para mentir. Contou tudo, sem omitir nada. O beijo no carro, o assédio no
ensaio geral, o episódio do banheiro da boate e a decisão final que tinha tomado antes de Mel
aparecer.
Mel escutou o tempo todo sem interromper. Quando Dani terminou, continuou um tempo ainda
calada. Depois disse:
– Não sei o que me deixa mais magoada: você não ter cortado ela, ou não ter me contado
nada...
A voz de Mel soou muito triste e cansada. Dani ainda conseguiu dizer:
– Mel, eu errei. Se pudesse voltar atrás, faria tudo diferente...
Mel sorriu, um sorriso infinitamente sofrido:
– Se eu pudesse voltar atrás, talvez não tivesse nem ido pra Itaipava...
Aquilo atingiu Dani profundamente. Os olhos dela se encheram de lágrimas. Os de Mel estavam
do mesmo jeito ao dizer:
– Desculpa... Mas é que...
Então as lágrimas começaram a escorrer e nenhuma das duas conseguiu dizer mais nada. Dani
pegou dois guardanapos e entregou um para Mel.
Assoaram o nariz juntinhas, olharam-se e... Sempre tinham dividido esse tipo de humor, de quem
ri das desgraças. Naquele momento não foi diferente. Ficaram ali rindo, se alguém visse não ia
entender nada.
Foi Dani quem falou primeiro:
– Me dá mais uma chance... Eu te amo...
Mel não tirou a mão que Dani segurava. Pelo contrário, entrelaçou os dedos nos dela:
– Não é assim tão fácil... Eu... Eu não sei... Preciso... Quero pensar...
Dani sentiu um certo alívio. Ela não tinha dito não. E a mão de Mel segurava a dela de um modo
que a fazia acreditar que no fim, a resposta seria positiva:
– Eu espero. O tempo que você precisar.
E depois, com um sorriso sedutor e uma piscadela deliciosa, cheia de malícia:
– Mas amanhã quero ir na sua festa de aniversário...
E, mais uma vez, Mel não teve como não sorrir de volta, nem de deixar de sucumbir a tanto
charme:
– Se você não for nunca vou te perdoar...
Dani levou Mel até o carro e se despediu... Com um beijo no rosto, bem perto dos lábios. Com um
esforço incrível, Mel se manteve firme. E voltou sozinha para casa.
REVIRAVOLTAS
A campainha tocou, tirando Mel do devaneio e fazendo-a voltar para a manhã de sábado.
Quando abriu a porta, era um entregador, com uma cesta de café da manhã, contendo um
cartãozinho de Dani dizendo:
“Os diamantes são indestrutíveis?
Mais é o meu amor.
O mar é imenso?
Meu amor é maior,
Mais belo e sem ornamentos
Do que um campo de flores.
Mais tenaz que o rochedo.”
(Adélia Prado)
Parabéns, amor!
Seu presente mesmo te dou depois...
Sempre e só sua,
Daniele”
Por volta das cinco horas da tarde, Dani invadiu o apartamento de Deca e Raq:
– Vocês precisam me ajudar!
Deca foi rápida:
– Olha só, Dani: ontem a gente até te disse onde a Mel ia estar, mas se vocês não se acertaram,
a gente não pode fazer nada.
Dani se jogou no sofá, sem se importar com o que Deca tinha falado:
– Calma... Só quero a opinião de vocês sobre o meu presente.
Raq sentou ao lado de Dani, curiosa:
– O que é? Mostra logo!
Dani exibiu uma caixinha azul, aveludada. Quando abriu, deixou as amigas espantadas. Eram
duas alianças de ouro branco – Mel detestava dourado – com o nome delas gravado.
Raq rapidamente disse:
– Nossa, acho que ela vai adorar!
Mas Deca não foi tão otimista:
– Não sei não... Isso não é meio precipitado? Ela não te quer mais nem como namorada...
O sorriso de Dani morreu:
– Ela te disse isso?
Raq deu uma cotovelada em Deca, mas nem assim a impediu de continuar:
– Dizer não disse, mas... Na cabeça da Mel, o que você fez é imperdoável.
Os olhos de Dani se encheram de lágrimas. Ela colocou as mãos no rosto, de cabeça baixa.
Deca ficou absolutamente perplexa ao perceber que Dani estava chorando. Surpreendeu Raq
dizendo:
– A Mel é louca por você, Dani. Todo mundo sabe. Você só precisa insistir, mostrar que realmente
tá mudada.
Deca era a melhor amiga de Mel. Conhecia-a bem até demais. Dani levantou a cabeça, sentindo
uma nova esperança despontar, abrindo um sorriso entre as lágrimas:
– Você acha?
Raq e Deca se entreolharam, antes de responderem juntinhas:
– Claro!
Mel passou o dia atendendo ligações de feliz aniversário. Almoçou em casa mesmo, pediu um
prato de massa.
Quando escureceu, começou a se arrumar. Tinha acabado de sair do banho quando a
campainha tocou. No fundo, mas bem lá no fundinho mesmo, tinha o desejo, quase uma esperança,
de que fosse Dani. Abriu a porta e deu de cara com a mãe:
– Será que eu posso entrar?
Muda de surpresa, Mel fez que sim com a cabeça. Ficou em pé, olhando a mãe se sentar no
sofá. Houve um minuto de silêncio, então ela disse, sorrindo nervosamente:
– Melzinha, senta aqui do meu lado, vamos conversar.
Mel obedeceu, estranhando. A mãe segurou as mãos dela e disse:
– Desculpa tudo que eu te disse, filha. Mas é que... Entenda... Foi um choque... Não é o que eu
queria pra você... Não é o que eu tinha imaginado... Mas nem sempre a gente sabe o que é o
melhor... Você é minha filhinha querida... Não quero brigar com você... Quero te apoiar, ficar do
seu lado... Quero que você saiba que te amo muito, Melzinha... Do jeito que você é... E... E pode
levar sua amiga...
Mel não teve como deixar de achar graça. Corrigiu:
– Namorada, mamãe...
– Que seja... Pode levar sua namorada lá em casa. – As duas se abraçaram, aos prantos. Até
que a mãe de Mel disse, enxugando as lágrimas da filha: – Chega de choro, Melzinha! Hoje é seu
aniversário, você não pode ficar com a carinha inchada...
Beijou-a e abraçou-a, acariciando os cabelos da filha. Depois se levantou, dizendo:
– Bom, vou indo... Amanhã leva sua namorada pra almoçar lá em casa. Mandei fazer seu prato
preferido, como sempre! Já ia esquecendo... Trouxe uma lembrancinha... Acho que você vai gostar...
Com um risinho cúmplice, entregou um embrulho para Mel antes de beijá-la mais uma vez e sair.
Assim que trancou a porta, Mel abriu o presente. Era uma estatueta linda de... Uma mulher nua.
Nada sutil. Mel não se conteve e riu. Ainda tinha muito que conversar com a mãe.
Dani estava ansiosa. A vontade que tinha era ir até o apartamento de Mel, mas não podia, tinha
espetáculo.
Depois dos aplausos, quase correu para o camarim. Tirou a maquiagem, tomou um banho rápido,
arrumou-se e se perfumou inteira. Pegou um táxi, morrendo de pressa, e foi direto para o
apartamento de PH no Arpoador, onde seria a festa. Foi PH quem atendeu o interfone:
– Qual é a senha?
Dani respondeu, a contragosto, odiando a senha que achava ridícula:
– Dako é bom...
PH riu horrores do outro lado:
– Ok, pode entrar!
Abriu a porta ainda dando risada. Antes de entrar, Dani perguntou:
– Cadê a Mel?
PH colocou uma latinha de cerveja na mão dela, e deu de ombros, respondendo:
– Sinto muito, queridinha, mas ela ainda não chegou...
O DJ, amigo de João, já tinha começado a tocar. A sala maior estava sem móveis, com luzes
piscando, quase uma boate. Mas apenas algumas pessoas se animaram a dançar. Dani já estava
na terceira latinha de cerveja e nada de Mel chegar.
Raq conhecia bem a amiga:
– Tá nervosa, né? Não precisa nem falar. Vem, vamos animar essa festa.
Saiu puxando Dani para o meio da sala e começaram a dançar.
Mel trocou de roupa várias vezes antes de finalmente decidir o que ia usar. Era sempre assim
quando estava ansiosa. Horas para ficar pronta. Acabou escolhendo um vestido vermelho que a
deixava quase fatal. Levou um bom tempo se maquiando e também ficou indecisa sobre que
perfume colocar. Acabou se decidindo por Sweet Temptation da Victoria’s Secret. Só então ficou
satisfeita e saiu de casa.
Deca estava na cozinha quando o interfone tocou. Atendeu como PH tinha pedido:
– Qual é a senha?
A voz de Mel respondeu do outro lado:
– Não faço a menor ideia... Mas não vai me deixar de fora no meu próprio aniversário, vai?
Deca implicou, rindo:
– Isso é hora da aniversariante chegar? Que eu saiba quem chega atrasada é a noiva...
– Abre logo, engraçadinha! – Foi a resposta mal humorada. Deca abriu a porta e ficou
esperando Mel no corredor. A primeira coisa que ela perguntou foi:
– A Daniele já chegou?
Deca levantou a sobrancelha, fazendo cara de brava:
– Não vai nem me deixar te cumprimentar? Parabéns, amiga! Feliz Aniversário!
Mel aceitou o abraço e os beijos um pouco sem paciência. Deca então completou:
– Ok, apressadinha... A Dani tá te esperando lá na sala.
Mel foi direto para a sala. A primeira coisa que viu foi Dani, absurdamente sexy, linda e
maravilhosa, dançando. Várias amigas de Mel estavam em volta dela, praticamente babando.
Mel caminhou direto para ela, puxou Dani pela cintura e a beijou.
Dani foi pega totalmente de surpresa por aquele beijo ardente, possessivo, dominador. Quase
como se Mel quisesse mostrar que Dani era dela.
Passou os braços ao redor do pescoço de Mel, com o coração acelerado, entregando-se e
correspondendo completamente...
A língua de Mel invadiu sua boca com uma voracidade louca. Dani a segurou pela nuca, e Mel
subiu uma das mãos pelas costas de Dani, pressionando-a contra o próprio corpo com força. Dani
gemeu contra os lábios de Mel, adorando.
Aos poucos, Mel foi se afastando, separando os lábios dos dela, até terminar o beijo.
Então se virou de costas para ela e foi saindo, deixando Dani parada no meio da sala, com uma
frustração indescritível:
– Se ela pensa que pode brincar comigo, tá muito enganada...
Raq segurou o braço de Dani, tentando fazê-la se acalmar:
– Fica na sua, amiga. Continua dançando. Provoca também...
Dani concordou, com um sorriso safado. Provocar era uma coisa que fazia muito bem.
Mel andou pela festa, recebendo parabéns das pessoas, sorrindo e fingindo que seus
pensamentos não estavam fixos em Dani.
Ficou tentando conversar com os amigos, mas não aguentou e olhou para a pista de dança. Dani
se movia de um jeito que fazia todos os olhares convergirem para ela. Mel ainda tentou segurar a
vontade imensa que sentia de ir até lá, mas não conseguiu.
Dani não precisou fazer o menor esforço, sua forma de dançar era naturalmente sedutora.
Acompanhou Mel disfarçadamente com os olhos. Ela parou para falar com um grupinho que estava
na sala. Não conseguia entender o comportamento dela. Beijando-a de forma ardente e depois
agindo como se o beijo que tinham trocado não fosse nada.
Então, os olhos se encontraram. Os de Mel absolutamente sérios. Caminhou na direção de Dani,
fazendo com que as pernas dela tremessem.
Nunca na vida tinha tremido daquele jeito. Como se Mel dominasse todos os seus sentidos. Ela
começou a dançar na frente de Dani, linda naquele vestido vermelho, absoluta e deliberadamente
provocante.
Dani chegou bem perto, segurando Mel pela cintura, acompanhando seus movimentos,
encostando-se, esfregando-se, insinuando-se contra o corpo de Mel, fazendo-a se arrepiar inteira.
Ficaram um tempo dançando daquele jeito, a tensão e o desejo crescendo, como se não houvesse
ninguém além das duas naquela sala.
Até o momento em que Mel disse baixinho no ouvido de Dani:
– Vem comigo, vem...
Virou de costas e foi saindo. Dani a seguiu. Quando, no caminho, alguém a cumprimentava, Dani
ficava parada atrás de Mel, esperando.
Atravessaram um corredor que pareceu interminável. Mel abriu uma porta, fez sinal para que
Dani entrasse.
Entrou logo atrás dela e trancou a porta, sem acender a luz. O luar entrando pela janela atrás
de Dani criava um efeito irreal de penumbra.
Mel se aproximou languidamente. Acariciou o rosto de Dani, passou os dedos nos lábios dela,
dizendo maliciosamente:
– Quero meu presente... Dá pra mim, dá...
Colou a boca na de Dani, com tanta fome que ficaram ofegantes.
Tirou a roupa de Dani rapidamente e a fez deitar de bruços na cama. Deitou em cima de Dani
ainda toda vestida, levantando os cabelos pretos e mordendo a nuca dela deliciosamente.
Mel continuou beijando, lambendo, dando pequenas mordidas, deliciando-se com os arrepios que
causava, as mãos percorrendo cada curva do corpo delicioso, fazendo a pele de Dani arder.
Dani se entregou completamente às mãos e à boca de Mel, que desceram por suas costas
tocando, beijando, lambendo, arrancando milhares de gemidos e novos arrepios. As mãos de Mel
apertaram suas nádegas, afastaram-nas, e a língua quente, incisiva, mergulhou no meio delas.
Dani deu um pequeno salto, surpresa, um pouco tensa no início. Mel sorriu com a reação e
continuou lambendo, enfiando a língua com um prazer imenso. Aos poucos, com o contato sensual,
íntimo, ardente, o corpo de Dani cedeu. A mão direita de Mel tocou o sexo de Dani, acariciando
antes de penetrar com os dedos. Dani gemeu mais alto, enfiando a cara no colchão debaixo dela
para abafar o som...
Mel acelerou os movimentos, tirou a boca e trocou a língua por um dedo. Com uma lentidão
torturante, penetrou-a. Dani estremeceu e gozou longa e intensamente para ela.
Não teve nem tempo de se recuperar. Antes que as respirações voltassem ao normal, Mel tirou a
calcinha, se deitou em cima de Dani e começou a se esfregar nela, sussurrando, gemendo,
grudando a boca no ouvido. Dani erguia o quadril e se movia debaixo de Mel, enlouquecendo-a,
juntando seus gemidos aos dela.
Mel não conseguiu aguentar muito tempo. Soltou um grito abafado contra o pescoço de Dani,
estremeceu... E fez Dani gozar junto com ela.
Ficaram ali deitadas, Dani adorando sentir o corpo de Mel relaxado sobre o seu.
Mel se deixou ficar largada em cima de Dani, adorando o cheiro, a textura da pele, o rosto
mergulhado no pescoço quente. Lembrou que não podia ficar ali para sempre, as pessoas estavam
lá fora, esperando por ela.
Levantou-se com pressa, de repente. Dani se virou, o simples fato de olhar para ela fazendo o
coração bater feito louco novamente. Levantou e colou o corpo no de Mel, beijou-a com urgência.
Mas Mel se afastou e vestiu a calcinha, dizendo:
– Agora não. Preciso voltar pra festa.
Dani começou a se vestir, evitando olhar para ela. Estava visivelmente magoada, e Mel se
arrependeu. Passou os braços ao redor do pescoço de Dani, olhando dentro dos olhos dela:
– Quero muito continuar depois...
Colou os lábios nos de Dani, saboreando aquela boca quente, deliciosa. Dani correspondeu com
a mesma intensidade. Mas não se sentia feliz nem satisfeita. Quando as bocas se separaram, Dani
falou olhando fixo para ela:
– Eu te amo.
Mel sorriu, mas abaixou a cabeça, sem nada dizer. Ainda sentia uma mágoa muito grande que a
impedia de responder.
Quando levantou a cabeça de novo, as lágrimas escorriam pelo rosto de Dani. Mel as enxugou
carinhosamente:
– Não fica assim... Prometo que vamos conversar ainda hoje... Mas agora não... Depois...
Dani concordou, acenando com a cabeça, os olhos cheios de tristeza.
Mel reparou, mas permaneceu calada, estranhamente quieta. Esperou Dani terminar de se vestir
para sair do quarto com ela. Caminharam lado a lado no corredor, mas não se tocaram, não se
olharam, nem nada se disseram.
Assim que chegaram à sala, separaram-se. Deca puxou Mel para a frente da mesa, onde um
bolo enorme de chocolate a esperava com as velinhas já acesas. Apagaram as luzes e cantaram
parabéns. Dani se manteve um pouco afastada, meio que sem saber o que fazer.
Mel apagou as velas, rindo. PH acendeu as luzes e entregou uma faca para ela. Cortou o bolo,
colocou o primeiro pedaço num guardanapo e disse pra Deca:
– Corta o resto pra mim?
Virou-se e não precisou procurar para encontrá-la. Para Mel, Dani se destacava, onde quer que
estivesse. Foi na direção dela, com o bolo cortado na mão. Dani a olhava, parecendo hipnotizada,
sem se mover até que Mel parou na sua frente, dizendo:
– O primeiro pedaço é seu...
Mel encostou os lábios nos de Dani rapidamente. Foi o que bastou para Dani abrir um sorriso
devastador. Pegou o pedaço de bolo que Mel estendia, totalmente feliz. Deu uma mordida e
devolveu para Mel. As duas riram. Sabiam que Dani não era muito chegada a doces e que, como
sempre, era Mel quem ia acabar comendo o resto.
Quando Mel colocou o último pedaço na boca, Dani a puxou, dizendo:
– Quero só mais um pouquinho...
E a beijou. Um beijo doce, delicioso, cheio de saudade, sabor de chocolate...
Mel sussurrou no ouvido dela, deixando Dani arrepiada:
– Você me deixou louca naquele quarto, sabia?...
Dani respondeu, devolvendo o arrepio:
– Não me deixou fazer nada... Louca eu vou te deixar mais tarde...
Raq apareceu, equilibrando duas cervejas e uma caipirinha. Deu uma das cervejas para Dani e
a caipirinha para Mel. Deca logo se juntou a elas. Ficaram bebendo e conversando, Dani e Mel de
mãos dadas, olhando-se e se beijando de vez em quando. Dani não conseguia parar de sorrir. Mel
tinha voltado a olhar, falar e agir com ela como antes.
E então, quando tudo parecia perfeito, uma ruiva bonita, super elegante, parou na frente de
Mel, com um enorme sorriso:
– Mel, querida! Parabéns!
Mel devolveu o sorriso e a abraçou, dizendo:
– Renatinha?! Não acredito! Voltou quando?
A tal da Renatinha respondeu sem soltar Mel:
– Hoje. Fiquei sabendo da sua festa e não ia deixar de vir, né? Trouxe um presentinho para
você, amore...
Entregou um embrulho para Mel, que abriu. Era um porta retrato digital. E Mel adorava
fotografias... A ruiva brincou, íntima demais para o gosto de Dani:
– Direto do Japão, especialmente pra minha virginiana preferida...
As duas riram com uma cumplicidade que irritou Dani. Não conseguiu disfarçar o ciúme, estava
com a cara fechadíssima. Raq olhou significativamente para Deca, porque conhecia muito bem a
amiga. Deca interferiu, obrigando a ruiva a se afastar de Mel:
– Oi, Rê! Quanto tempo, hein? Tá só passeando ou voltou mesmo?
– Voltei de vez. O Japão é ótimo, mas não aguentava mais ficar longe do que deixei aqui...
E olhou para Mel, que imediatamente desconversou, apresentando:
– Rê, essa é a Raq, namorada da Deca.
Rê e Raq trocaram dois beijinhos, e então Mel disse:
– Renata, Daniele. Daniele, Renata.
As duas não se aproximaram, apenas se cumprimentaram com um aceno de cabeça. Dani não
conseguiu nem sorrir. O que mais doía era o jeito como Mel a tinha apresentado, como se ela não
significasse nada.
Mel pareceu perceber, porque imediatamente pegou a mão de Dani e entrelaçou os dedos nos
dela. Renatinha acompanhou o movimento com os olhos, com uma expressão esquisita. Depois deu
uma desculpa e se afastou.
Continuaram como se nada tivesse acontecido. Pelo menos, Dani tentou, mas assim que Mel foi ao
banheiro teve que perguntar:
– Quem é essa ruiva, afinal?
Deca suspirou, antes de dizer:
– É a ex da Mel. Elas namoraram uns três anos, mas a Rê foi transferida pro Japão e elas
terminaram.
Na verdade, Mel e Renata tinham um namoro que todas as pessoas consideravam perfeito. Eram
muito parecidas no gosto e no jeito. Uma relação apaixonada e sem estresses durante três anos
inteiros. Até que Rê recebeu uma promoção que a obrigava a se mudar para o Japão. Era uma
oportunidade de trabalho única, irrecusável. Fez de tudo para convencer Mel a ir com ela. Mas
Mel não queria largar tudo, achava que Rê é que deveria ficar. Esse impasse durou o mês inteiro
que Renata levou para se mudar. Ainda insistiu para continuarem juntas, alegando que poderiam se
falar por e-mail, msn, telefone, etc. e tal. Mas Mel não acreditava em namoro à distância, por isso
preferiu terminar.
No começo sofreu muito, mas muito mesmo. Durante os dois anos seguintes não se envolveu com
mais ninguém. A sensação que tinha era de que relação não estava terminada, e sim em suspenso.
Até passar o ano novo em Itaipava e Dani fazer Renata se desvanecer completamente de sua
mente.
Dani ouviu o que Deca disse calada. Sua intuição dizia que de alguma forma, a tal ruiva era
uma ameaça. E o que mais a preocupava: sua intuição raramente se enganava.
Mel estava saindo do banheiro quando deu de cara com Renatinha a esperando no corredor:
– Posso falar com você?
A presença de Renata e os olhos profundamente fixos nos dela traziam várias recordações que
a perturbavam. Mas Mel concordou, tentando amenizar com uma brincadeira:
– Puxa, quanta formalidade! Vou ver na minha agenda...
A ruiva não facilitou. Disse na lata mesmo:
– Aquela é a sua namorada?
Mel hesitou. Na verdade, essa era a grande questão. Mas, de certa forma, mesmo sem saber o
momento exato em que tinha acontecido, na cabeça de Mel estava resolvido:
– É sim.
Renata a olhou com uma intensidade que fez Mel estremecer:
– Me esqueceu tão rápido assim?
Mel ficou chocada, quase abalada com a pergunta. Tinha esperado muito tempo por Renata. Se
fosse meses atrás, se jogaria nos braços dela. Mas aquele era o momento das duas provarem a
cruel ironia do destino:
– Esperei mais de dois anos por você...
Renata tinha a voz muito triste quando disse:
– O que você queria que eu fizesse? Que largasse meu emprego e voltasse correndo? Você não
atendia meus telefonemas, não respondia meus e-mails...
Mel também tinha a voz embargada de tristeza:
– Eu queria te esquecer.
A ruiva a olhou com os olhos esperançosos, quase suplicantes:
– E conseguiu?
Mel olhou para ela. Não conseguia definir o que sentia. Tentou fazer a resposta não parecer
agressiva:
– Desculpa, Rê, mas... Aconteceu. As coisas são assim.
Apesar da resposta de Mel, Renata sentia que ainda tinha uma chance. Via isso nos olhos dela.
Uma chance que não ia perder. Conhecia Mel muito bem. Sabia que ela não era nem nunca seria o
tipo de pessoa que trai ou fica com mais de uma pessoa ao mesmo tempo. Por isso pediu:
– Posso te ligar? Como amiga?
– Como amiga, sim.
Renata concordou, satisfeita. Tinha certeza que pouco a pouco, devagar e com paciência,
poderia reconquistar Mel.
Depois que todos os convidados foram embora, Deca e Raq se despediram. Perguntaram se
Dani precisava de carona, arrancando um protesto revoltado de Mel:
– Como assim? Ela vai comigo!
Dani sorriu, o coração dançando de alegria. Mel não tinha mais desgrudado dela a noite inteira.
Falou baixinho no ouvido de Mel:
– Vou mesmo... Pra onde você quiser...
Mel sussurrou de volta, com uma voz provocante ao extremo:
– É? E também vai me deixar fazer tudo que eu quiser?
Dani lembrou de como Mel a tinha feito se entregar completamente naquele quartinho um pouco
mais cedo e enrubesceu de puro prazer:
– Eu sempre deixo...
Mel acompanhou o pensamento de Dani e respondeu, piscando maliciosamente:
– Aquilo foi só o começo...
As bocas se encontraram com urgência. Dani puxou Mel pela cintura, colando o corpo no dela.
Mel a enlaçou pelo pescoço, suspirando contra os lábios de Dani.
Quando Dani desceu a boca pelo pescoço de Mel, fazendo-a gemer, Mel se afastou um pouco,
apenas o bastante para dizer:
– Vamos?
Dani concordou. As luzes da sala já estavam acesas. O chão estava imundo, com coisas que as
pessoas tinham derrubado. Mel ficou preocupada e foi falar com o primo. PH respondeu:
– Melzinha, não esquenta. A faxineira vem na segunda-feira. Tá tranquilo.
Mel não se conformou. Detestava sujeira:
– Só segunda? Ah, não... Vamos pelo menos passar um pano nesse chão...
E, dizendo isso, foi direto para a cozinha, de onde voltou com uma vassoura e um pano de chão
prontos para entrarem em ação. PH arrancou tudo da mão da prima:
– Nada disso! Tem graça a aniversariante fazendo faxina? Dani, leva essa doidinha daqui!
Dani obedeceu com prazer. Despediu-se de PH e João e saiu levando Mel, um pedaço gigante
de bolo que PH entregou para elas e a sacola de presentes.
Mel foi reclamando, achando um absurdo deixar o apartamento de PH daquele jeito. Só parou
de protestar dentro do carro, quando Dani a calou com um beijo.
Mel correspondeu intensamente. Já estava com as mãos debaixo da blusa de Dani quando se
lembrou que a rua de PH era muito iluminada e cheia de porteiros. Afastou-se, ofegante, fazendo
um esforço enorme para controlar o desejo:
– Vamos sair daqui antes que prendam a gente por atentado ao pudor...
Dani riu, ajeitou-se no banco e colocou o cinto de segurança. Mel fez o mesmo. Ligou o carro e
perguntou:
– Pra onde?
A resposta de Dani foi direta:
– Pra onde você quiser, lembra? Mas que seja rápido, por favor...
Mel seguiu em direção a Ipanema:
– Minha casa é o lugar mais perto...
Dani abriu um enorme sorriso... Mel nunca mais a tinha deixado entrar no apartamento dela, e
pensava que ainda ia demorar um tempo. Era um bom começo.
Mel achou o sorriso de Dani lindo e perguntou só para implicar:
– Tá rindo de quê, posso saber?
– De nada... Tô feliz de estar com você...
Mel pegou a mão de Dani e passou a marcha com os dedos entrelaçados nos dela:
– Eu também...
DIZENDO SIM
Mel parou o carro na garagem do prédio. Trancou as portas e olhou para Dani maliciosamente,
devorando-a com os olhos. Dani se surpreendeu quando compreendeu:
– Aqui? Tá louca?
Mel já tinha deitado o banco e sentado em cima de Dani, apesar dos seus protestos. Sussurrou
no ouvido dela:
– Onde eu quiser, lembra?
Dani ainda conseguiu dizer:
– E se chegar alguém?
Mel respondeu com um tom de voz irresistível:
– É um risco que vamos ter que correr...
Dani abriu um novo sorriso. Uma das coisas que mais gostava em Mel era isso. Por trás daquela
aparência de certinha, ela era totalmente impulsiva, fascinante, surpreendente, imprevisível.
E então não teve mais conversa, porque Mel já a estava beijando com paixão, fazendo Dani
esquecer de todo o resto.
As línguas se encontraram vorazmente. Mel desceu a boca pela pele ardente do pescoço de
Dani, que se arrepiou e gemeu. Dani baixou as alças do vestido de Mel e acariciou os seios, os
dedos se deliciando em provocar os biquinhos duros e perfeitos a um nível mais alto de excitação.
Colou a boca em um deles, arrancando um gemido. Desceu as mãos pelo corpo de Mel, levantando
o vestido. Passou os dedos pelo elástico da calcinha e a tirou. Subiu as mãos pelas coxas deliciosas
e soltou um gemido abafado quando tocou o sexo de Mel.
Mel também gemeu e mordiscou a orelha de Dani, que se arrepiou inteira. Dani sussurrou
baixinho no ouvido dela:
– Senti tanta falta de você...
A voz de Mel estava ofegante e trêmula quando respondeu:
– Eu também...
Dani a acariciou e penetrou lentamente com os dedos. Voltou a colocar um dos seios de Mel na
boca, lambendo e chupando o bico com sofreguidão.
Mel começou a mover os quadris para ela. Manteve a boca colada no ouvido de Dani, gemendo
sensualmente, excitando-a ainda mais, quase ao extremo, e fazendo-a gemer também. Dani
acelerou os movimentos, preenchendo-a mais profundamente:
– Goza pra mim, amor...
Os gemidos aumentaram de intensidade, o corpo de Mel se contorceu, ela jogou a cabeça para
trás e gozou maravilhosamente nos dedos de Dani.
Mel não deu tempo para Dani contar até três. Começou a beijar, chupar, lamber o pescoço dela
apaixonadamente. As mãos levantaram a blusa de Dani... Umedeceu os lábios, admirando-a por
um momento antes de descer a boca sobre um dos seios...
Passou de um seio para o outro, colando a boca faminta com uma ânsia que a fez gemer. As
mãos abriram e tiraram as calças de Dani. Mel desceu a boca pelo corpo dela, saboreando cada
pedacinho de pele descoberta. Dani tentava empurrá-la para baixo com pressa, mas a língua de
Mel continuou a provar, explorar e provocar demoradamente, enlouquecendo-a.
Mel foi descendo os lábios, beijando e lambendo, insinuando-se até chegar entre as pernas de
Dani. Chupou e sugou lentamente, sem tirar a calcinha, deixando Dani num estado de puro
desespero...
Mel estava adorando segurar até o último momento, prolongando a satisfação de sentir Dani
por completo. Sorriu de antecipação enquanto afastava a peça íntima para o lado e mergulhava a
boca, suspirando de prazer. Fazendo Dani gemer deliciosamente...
A língua de Mel se moveu de um jeito ágil e, com uma rapidez e uma facilidade assustadoras,
fez Dani se contorcer e gemer alto, perto de gozar...
Os gemidos de Dani fizeram Mel devorá-la ainda com mais loucura, até sentir o corpo de Dani
ser sacudido por espasmos... Dani segurou os cabelos de Mel e, com um gemido longo, quase
gritado, gozou demoradamente para ela.
Mel ainda ficou um tempo saboreando Dani antes de voltar a se deitar por cima dela.
Ficaram se beijando languidamente.
Dani passou a mão nos cabelos de Mel... Olhou-a nos olhos, com uma expressão
surpreendentemente meiga:
– Ainda não te dei seu presente...
Mel abriu um sorriso safado e beijou-a levemente nos lábios antes de dizer:
– Tem certeza?
Mel se sentou no banco do motorista novamente, vestindo a calcinha enquanto Dani se vestia
também. Levantou o banco e abriu as janelas para os vidros desembaçarem um pouco. Dani pegou
um pacotinho na bolsa e olhou para Mel com um misto de ansiedade, insegurança e medo.
Mel estranhou. Acariciou o rosto da namorada, dizendo:
– Quanto mistério...
Apesar da brincadeira, Dani entregou o presente ainda com um sorriso estranhamente tenso:
– Espero que goste...
Mel respondeu maliciosamente:
– Amor, eu gosto de tudo que você me dá...
– Espera... Não abre ainda...
Dani pegou o MP3 na bolsa, colocou um fone no ouvido de Mel e outro no dela. Mel prestou
atenção na música que começou a tocar: My Love, de Justin Timberlake.
Dani começou a traduzir parte da música baixinho no ouvido de Mel que estava sem o fone:
“Estive pelo mundo todo. Mas nunca vi outra mulher como você. Esse anel representa meu
coração. Mas tem uma coisa que preciso de você – diga que sim...”
Dani continuou, enquanto Mel abria o papel de presente com cuidado para não rasgar:
“Esse anel representa meu coração e tudo pelo que você tem esperado – apenas diga que
aceita...”
Quando Mel terminou de desembrulhar o pacote e abriu a caixa, ficou totalmente
desconcertada. Dani ficou olhando para ela, esperando uma resposta. Mas Mel ficou parada,
pensativa, sem dizer nada.
A mudez de Mel deixou Dani preocupada. Desligou a música, livrou-se do MP3 e esperou-a
falar, quase morrendo de ansiedade.
As duas alianças de ouro branco, absolutamente lindas, com os nomes das duas gravados...
Exatamente do jeito que Mel sempre tinha sonhado. Dani repetiu:
– Você aceita?
Seria perfeito, se não fosse pelo fato de Mel achar que Dani tinha comprado aquelas alianças
pelo motivo errado:
– Não precisa fazer isso só pra me reconquistar.
Dani respondeu sem hesitação nenhuma:
– Você é a mulher da minha vida, Mel. Te amo muito, te amo demais.
Mel se derreteu. Impossível conter o enorme sorriso que nasceu dentro do seu peito e veio
subindo até encontrar o sorriso de Dani. Mas depois ficou séria novamente e disse, olhando-a
fixamente:
– Eu... Não sei...
Os olhos de Dani se enevoaram. Sentiu um frio por dentro quando perguntou:
– Não sabe o que sente por mim?
Mel quase não acreditou na dúvida de Dani. Mas, quando a olhou, viu o quanto o medo dela
era sério. Então respondeu com um daqueles sorrisos que pertenciam exclusivamente a Dani:
– Claro que sei... Te amo muito também... Minha única dúvida é se é isso mesmo que você quer...
Dani deixou escapar um suspiro de alívio... Seu rosto se iluminou novamente:
– O que eu quero é passar o resto da minha vida com você.
Trocaram um beijo carinhoso, profundo, terno... Mel segurou o rosto de Dani com as duas mãos e
a olhou com firmeza ao dizer:
– Daniele... Você tem certeza?
Dani devolveu o olhar de Mel com a mesma seriedade:
– Que mais preciso fazer pra você aceitar?
– Nada. Minha resposta é sim.
Dani puxou Mel gentilmente pela nuca. Grudou os lábios nos dela, como que selando com o beijo
doce, apaixonado, sem pressa... Tudo aquilo que haviam dito.
Os lábios de Mel se abriram sob os de Dani, oferecendo-se. Dani saboreou aquela boca com
cuidado, lentamente, como se fosse a primeira vez, fazendo Mel estremecer...
Então aprofundou o beijo, invadindo a boca de Mel com a língua, sempre com delicadeza,
querendo demonstrar todo o amor que sentia por ela.
Mel correspondeu no mesmo ritmo sensual, voluptuoso, ardente...
Quando o beijo terminou, Dani pegou uma das alianças e colocou no dedo de Mel, olhando-a
profundamente. Mel se arrepiou inteira, com plena consciência do significado daquele gesto. E com
os olhos voluntariamente presos nos dela, colocou a outra aliança no dedo de Dani.
Assim que chegaram no apartamento dela, Mel puxou Dani pela mão e entrou no banheiro.
Ligou o gás, abriu o chuveiro e tirou a roupa. Beijou Dani nos lábios com um sorriso quase matreiro:
– Vai ficar parada aí me olhando?
Dani se livrou das roupas rapidamente e entrou no chuveiro atrás da namorada.
Mel já a esperava com o sabonete nas mãos. Passou na pele de Dani, fazendo espuma, o cheiro
perfumado se misturando ao dela, fazendo a excitação crescer, os corpos já desejosos um do outro
novamente.
Dani colou a boca na de Mel, tirou o sabonete de suas mãos e então a virou de costas.
Mel apoiou as mãos na parede de azulejos na frente dela. As mãos de Dani passearam por
suas costas, desceram para as nádegas, pernas... Virou-a de volta. Mel gemeu baixinho quando
Dani começou a ensaboar toda a parte da frente de seu corpo, começando pelo pescoço,
passando pelo colo, barriga, seios.
Puxou-a para debaixo do chuveiro, beijando-a com intensidade enquanto a água enxaguava o
sabão dos corpos das duas.
Encostou-a na parede de azulejos, comprimiu o corpo contra o de Mel, os lábios se encontrando
num beijo ardente.
Dani se ajoelhou, as mãos acariciando, abrindo as coxas de Mel, facilitando para a boca, que
mergulhou entre as pernas, a língua lambendo, percorrendo o sexo com vontade... Deliciando-se
com ela.
Mel gemeu alto, puxando os cabelos de Dani.
Quando a sentiu estremecer, Dani aumentou o ritmo e, com um prazer indescritível, a fez gozar.
Continuou saboreando, passando a língua devagar, carinhosamente. Mel voltou a gemer, mas as
pernas trêmulas mal a sustentavam. Dani percebeu, então levantou e, antes que Mel terminasse de
protestar, levou-a para fora do chuveiro, sentando-a em cima da imensa pia de mármore.
Já inteiramente recuperada, Mel puxou Dani, encaixou-a entre as pernas. Beijou-a com vontade,
as mãos apertando as costas de Dani com força, comprimindo os corpos e arrancando gemidos de
ambas...
Mas Dani queria continuar o que estava fazendo e desceu a boca pelo corpo de Mel com
pressa, voltando a devorá-la novamente.
Mel encostou os ombros no espelho atrás dela, segurou Dani pelos cabelos e, só de vê-la ali
ajoelhada, a boca colada em seu sexo, quase morreu de prazer. Quando os dedos de Dani
finalmente entraram nela, sentiu o corpo todo estremecer. Dani estava incansável, insaciável, com
um desejo inesgotável, e fez Mel gozar várias e várias vezes... Depois, com as pernas de Mel ao
redor da cintura e as bocas sem se desgrudar um momento, carregou-a até a cama, apenas para
começarem tudo novamente.
No dia seguinte, como de hábito, Mel foi a primeira a acordar. Dani estava deitada atrás dela,
com o corpo colado, o braço passado por cima de Mel num abraço apertado e exigente.
Mel se espreguiçou e Dani resmungou, virando-se para o outro lado. Mel acompanhou o
movimento, abraçando-a por trás, afastando os cabelos de Dani e beijando-a na nuca.
Dani suspirou e sorriu.
Mel passou a mão pelo corpo de Dani, acariciando a barriga, subindo pelo estômago e
parando num dos seios, que imediatamente reagiu, endurecendo com o contato da mão.
O dedo de Mel circulou o mamilo preguiçosamente, fazendo Dani soltar um pequeno gemido,
ainda adormecida.
Colou a boca no seio e desceu a mão pelas coxas de Dani, que se abriram instintivamente para
ela... Tocou-a entre as pernas, causando nas duas o mesmo arrepio.
O sexo de Dani estava úmido, pulsante, entregue.
Só então Dani abriu os olhos. Gemeu preguiçosamente:
– Amor, assim você me...
Mas Mel já estava penetrando-a com os dedos, faminta, e não a deixou completar a frase.
Dani gemeu mais ainda, entregando-se completamente, enlouquecendo-a, sussurrando com a voz
rouca, pedindo para que Mel não parasse, chamando-a de gostosa, dizendo que era uma delícia
o que ela estava fazendo.
Mel comprimiu o sexo contra as nádegas dela, gemendo alto no ouvido de Dani, movendo os
dedos rapidamente, com força, cada vez mais profundamente.
Dani estremeceu e, com um tom irresistível de exigência na voz, pediu:
– Goza comigo... Vem...
Sem nenhum esforço, Mel obedeceu.
Gozaram juntas, entre tremores, suspiros e gemidos.
Continuaram abraçadas, Mel segurando-a por trás, Dani largada contra o corpo dela.
Mel tirou os dedos de dentro de Dani, mas continuou acariciando-a sem pressa. Dani
imediatamente reagiu, voltando a gemer. Então Mel já estava em cima de Dani, a boca em seu
pescoço, descendo, e descendo, e descendo... Deixando-a sem fôlego novamente. Dani gaguejou:
– Ai, Mel... Hoje você acordou tão...
– Faminta pela minha mulher... – Foi a resposta de Mel, antes de mergulhar a boca com
voracidade no sexo que se oferecia para ela totalmente sem reservas.
NOVAS CONDIÇÕES
Dani estava deitada em cima de Mel, o corpo completamente relaxado sobre o dela. Tinham
acabado de gozar. Uma entre as muitas vezes naquela manhã.
Mel acariciava as costas de Dani suavemente. De repente, lembrou:
– Amor, que horas são?
Dani levantou a cabeça, olhou para o relógio na cabeceira e respondeu:
– Meio-dia, por quê?
Mel imediatamente se agitou:
– Levanta rápido! Temos um almoço de família...
Dani obedeceu, sem entender nada. Mel a empurrou para o chuveiro, explicando tudo enquanto
tomavam banho. Dani ficou feliz por Mel ter feito as pazes com a mãe e achou graça no
desespero da namorada por estarem atrasadas.
Ainda tentou seduzi-la com beijos e carícias, mas Mel protestou, fugiu e, juntando todas as forças
que tinha, resistiu, porque... Se não queria a mãe falando em seu ouvido, precisavam ser
pontualíssimas.
Parada ao lado de Mel, em frente à porta do apartamento de onde tinha sido expulsa da última
vez, Dani ficou tensa. Mel segurou a mão dela com força, dizendo:
– Calma, amor. Relaxa...
Dani se tranquilizou, mas não completamente. Ainda perguntou:
– Tem certeza de que era pra eu ter vindo?
Mel sorriu e tocou a campainha, respondendo:
– Você foi especialmente convidada.
A mãe de Mel abriu a porta com um enorme sorriso. Abraçou e beijou Mel, dizendo:
– Melzinha, fiquei preocupada... Você nunca se atrasa.
– Que exagero, mamãe! Desde quando dez minutinhos é atraso?
Mas a mãe de Mel já tinha se virado para Dani. Beijou-a e abraçou-a também, depois passou o
braço ao redor da cintura de Dani e a conduziu para a sala, enquanto falava:
– Espero que você esqueça o que aconteceu, Daniele... Você é muito bem-vinda, viu? Por favor,
sinta-se em casa...
Dani estava completamente sem jeito, quase desconcertada. Mel seguiu atrás das duas, sentindo
uma felicidade imensa.
Para desespero de Dani, quando chegaram à sala, a família de Mel estava toda lá. Os
sobrinhos dela correram em sua direção, beijando-a, abraçando-a, desejando feliz aniversário.
Depois abraçaram e beijaram Dani, e saíram correndo, brincando com os primos no meio da sala.
Dani foi apresentada para os avós de Mel como “a amiga”. Depois cumprimentou vários tios, tias
e primos. Todos a olhavam com uma enorme e evidente curiosidade.
Para alívio de Dani, PH apareceu e não saiu mais do seu lado, porque Mel já tinha sido puxada
para um canto pelos dois irmãos, que implicavam com ela, levantando Mel do chão enquanto a
abraçaram, como de hábito.
Dani ficou observando Mel tentando se livrar dos irmãos, apenas para dar de cara com o pai,
que a fez sentar no colo dele, apertando as bochechas dela, chamando-a de princesinha e
deixando Mel visivelmente envergonhada...
Dani tentou conter o riso. Sem resultado...
PH também riu e depois disse:
– Vocês duas, hein? Quem diria... Totalmente casadinhas, né?
Dani o fitou com um olhar interrogativo. PH riu e explicou:
– Ué, tá na cara, com vocês usando alianças e tudo mais... Dani, não quero ser chato, mas tem
uma coisa que preciso te dizer: minha prima é louca por você, então a faça feliz, tá? A Mel
merece, é uma pessoa muito especial.
PH estava muito sério e compenetrado. Dani colocou a mão no ombro dele e respondeu com um
enorme sorriso:
– Fica tranquilo. Se depender de mim, ela vai ser a mulher mais feliz do mundo inteiro.
Dani pensou ter visto PH enxugar uma lágrima no canto do olho disfarçadamente. Mas então ele
já tinha voltado ao tom brincalhão de sempre:
– Nunca pensei que um dia a Mel fosse sair do armário. O mérito é todo seu, queridinha... Aliás,
você já reparou que é a sensação da festa? Tava todo mundo morrendo de curiosidade de te
conhecer, a notícia se espalhou rápido. Também, imagina só: a Mel é a única menina no meio de um
bando de primos. Eu ser gay tudo bem, sempre fui a ovelha negra da família mesmo... Mas a Mel
sempre foi a menina de ouro, a perfeita, a certinha... Foi uma bomba! Você não imagina...
Dani não teve como deixar de rir. Mel se aproximou deles, perguntando:
– Posso saber do que vocês dois tão rindo tanto?
Dani não teve como deixar de implicar:
– De como você fica bonitinha no colinho do papai...
PH e Dani riram novamente. Mel nem respondeu, apenas beliscou o braço de Dani de leve e fez
uma careta para eles.
O almoço transcorreu sem surpresas nem problemas. Depois de um tempo, a mãe de Mel chamou
todos para a mesa onde estava um gigantesco bolo – de chocolate, é lógico! – para cantarem
Parabéns pra você.
Mel puxou Dani pela mão para que ficasse ao lado dela. Não satisfeita, ainda deu o primeiro
pedaço de bolo para ela, dizendo baixinho no ouvido de Dani e deixando-a ainda mais vermelha
e sem graça:
– Você fica linda envergonhada...
Por volta das seis horas, despediram-se e saíram, porque Dani tinha espetáculo às oito. Mel a
deixou na porta do teatro. Já ia embora, quando o celular de Dani tocou:
– Oi, papai. Até que enfim! Pensei que não vinha mais me ver! Seu nome tá na porta. Tá bom...
Tá bom... Ela tá aqui comigo. Não sei. Tá, pode deixar. Beijo...
Desligou o telefone, dizendo:
– Meu pai te mandou um beijo. Ah, e pediu pra te perguntar se você não quer ficar e ver a
peça com ele...
A última coisa que Mel queria era dar de cara com a tal Denise. Por outro lado, já que a
temporada só terminava no final de outubro, talvez fosse até bom encarar logo a diretora saidinha
e colocá-la em seu devido lugar. Além disso, o olhar que Dani lançou foi tão pedinte que não
conseguiu dizer não:
– Tá, eu fico. Vou estacionar e espero seu pai aqui na porta...
– Vou falar pra ele.
Dani a beijou com ardor, sem se importar com o baleiro parado bem em frente. Depois, saiu do
carro e parou do lado da janela de Mel:
– Que bom que você vai ficar...
Dani era carinhosa, apaixonada, meiga, quase frágil às vezes. Mel agora sabia que a aparente
frieza de antes era apenas uma tentativa de defesa. Imediatamente respondeu, abrindo um sorriso
imenso:
– Adoro te ver em cena...
Dani ficou um tempo parada, segurando a mão de Mel... Olhando-a e se achando a mulher mais
sortuda do mundo por estar com ela depois de tudo. Mel apertou a mão de Dani, dizendo:
– Ei... Melhor você entrar, né? Tá atrasada, amor...
– Já vou...
Compartilharam um último sorriso. Dani a beijou de leve nos lábios. Mel ainda falou:
– Merda pra você...
Dani se afastou e entrou no teatro sentindo uma felicidade imensa, a mesma que Mel sentia ao
estacionar o carro.
Nos dias que se seguiram, Dani se mudou para o apartamento de Mel. Praticamente não tiveram
problemas de adaptação porque as duas estavam mais do que dispostas a fazer concessões.
Mel deu um jeito de encontrar espaço para a “bagunça organizada” de Dani sem desespero.
Enrolou e prendeu pacientemente todos os fios do computador da namorada para que não
ficassem embolados e caídos no chão como ficavam quando dividia apartamento com Gisa e Ed.
Esvaziou algumas gavetas para Dani guardar as pilhas de papéis que tinha. Arrumou um espaço
para a estante de livros de teatro na sala. Decidiu ignorar completamente as roupas de Dani, que
ficavam todas emboladas, nem abria a parte dela do armário. E ampliou e enquadrou vários
retratos, transformando as paredes do corredor numa verdadeira exposição de fotos de Dani e
das diversas personagens que ela já tinha feito...
Por outro lado, Dani se esforçava para não comprometer a arrumação da casa. Limpava tudo
que sujava, aturava a faxineira duas vezes por semana sem reclamar e nunca, jamais mudava as
coisas de lugar. Além disso, fez com que Mel parasse de comer só sanduíches ou comida congelada
quando estava em casa. Afinal de contas, Dani adorava cozinhar. Volta e meia ligava para Mel
perguntando:
– Amor, onde tem farinha de trigo?
Ou outra coisa qualquer que não estava conseguindo encontrar. Mel sempre respondia onde
estava sem pestanejar.
Quem conhecia Dani de verdade até estranhava. A irmã soltou, assim que foi obrigada a tirar
os sapatos para entrar:
– Nossa! Nunca vi um chão tão limpo antes! Nem parece que você mora aqui...
Já Ed começou a ficar irritado quando Dani, depois de dar um grito quando ele colocou a lata
de cerveja direto na mesa sem porta copos, ficou limpando com um paninho cada gotinha que
pingava da lata suada:
– Dá pra você relaxar?
Mas Dani não ligava. Estava realmente feliz. O casamento seria perfeito, se não fosse a única
coisinha aparentemente sem importância que a incomodava: os telefonemas constantes de Renata.
Volta e meia, Dani era obrigada a ouvir os recados irritantemente simpáticos da outra na
secretária. Mel nunca retornava e sempre contava para Dani quando falava com a ex no celular.
Mas nem assim o ciúme passava. A tal Renatinha realmente conseguia fazer Dani se sentir
ameaçada.
Na última 5ª feira de novembro, Mel chegou muito séria e calada do trabalho. Dani estava na
cozinha em frente a pia, decorando o texto para um teste que ia fazer para um comercial,
enquanto esperava o café ficar pronto na cafeteira.
Mel a abraçou por trás, beijando o pescoço da namorada. Dani se virou, passou os braços ao
redor do pescoço de Mel e a beijou nos lábios. Mel a abraçou, encostou o rosto no de Dani e disse:
– Amor, preciso conversar com você.
– Fala, amor...
Dani estava com um mau pressentimento, que logo foi confirmado:
– A Renata foi hoje lá no escritório. Ela comprou um duplex na Barra e contratou a gente pra
fazer todas as reformas necessárias...
A voz de Dani já não estava boa quando disse:
– Tá, e daí?
Mel sabia que não ia ser fácil. Disse com uma indiferença pensada:
– Ela quer que eu seja a arquiteta responsável.
Dani se soltou, passou por Mel, ficando de costas para ela. Passou a mão no rosto e suspirou
com raiva. Mel a virou e abraçou novamente:
– Amor, quê que tem? É uma cliente como outra qualquer...
Dani riu ironicamente:
– Você sabe muito bem que não é... Não quero essa mulher perto de você.
– Você tá sendo irracional, sabia? Não tem nada a ver... A Renata é minha amiga.
– Não sei...
Dessa vez foi Mel quem se afastou, perdendo totalmente o resto de paciência que tinha:
– Não sabe? Como assim? Você tá querendo dizer o quê? Que não confia em mim?
– Não é isso... É que se vocês ficarem muito tempo juntas, talvez...
Aquilo para Mel foi o fim. Não era possível que Dani a conhecesse tão pouco... Não era mulher
de ficar ouvindo calada. Não quando estava se sentindo profundamente ofendida:
– Talvez? Talvez o quê, Daniele? Se você não me conhece ainda, fique sabendo que não sou
igual a você.
Dessa vez foi Dani quem se ofendeu:
– O que você quer dizer?
Mel disparou sem pestanejar, a raiva a conduzindo:
– Exatamente isso que você ouviu. Se você acha que posso te trair é porque é o que você faria.
Aliás, faria não, né? Já fez.
Dani foi pega de surpresa. Não esperava que Mel jogasse isso assim, na cara. Conseguiu
balbuciar, totalmente perplexa:
– Pensei que você tinha...
– Perdoado, mas não esquecido. E quer saber? Vou fazer essa reforma sim. Quem sabe assim
você finalmente aprende a confiar em mim.
E saiu da cozinha enfurecida. Dani ficou parada pensando. No fundo, sabia que Mel tinha
razão. Mas razão não tinha nada a ver com o que sentia. Razão não controlava o que dizia seu
coração.
Mel estava sentada na cama, com o laptop no colo, tentando se concentrar no trabalho, quando
o celular tocou, recebendo uma mensagem: “Me desculpa, amor...”
Dani estava parada na porta, com aquele olharzinho irresistível. Mel sorriu e desligou o laptop.
Quando viu, Dani já estava na cama, sentada ao seu lado:
– Mel...
Mel fechou o laptop, guardou-o na pasta e se virou para ela:
– Daniele...
Dani acariciou o rosto de Mel, fazendo-a fechar os olhos e deixar escapar um suspiro. Ficou
olhando com um sorriso bobo para o rosto lindo, emoldurado pelos cabelos dourados...
Mel voltou a abrir os olhos. Os olhos de Dani brilhavam, irradiando o sorriso que pairava em
seus lábios. Mel sorriu de volta, sem nem perceber. Dani segurou as mãos dela, antes de dizer:
– Não queria brigar com você... Fiquei com ciúmes...
Mel entrelaçou os dedos nos de Dani:
– Eu sei.
Dani continuou, a voz muito suave e doce:
– Desculpa pelas coisas que falei.
– Só se você desculpar o que eu disse também.
As duas riram, um riso cúmplice, delicado, amoroso. As bocas se aproximaram lentamente. Os
lábios se tocaram, roçaram-se com suavidade. Depois, o beijo se tornou mais exigente e profundo.
Mel soltou um novo suspiro ao sentir a língua de Dani de encontro à dela.
Delicado, terno, lânguido... Foi o delicioso gosto daquele beijo.
Dani puxou Mel para o colo, aspirando o perfume dos cabelos dourados. Encostou a boca no
pescoço, sentindo Mel se arrepiar e depois oferecer a pele para ela. Saboreou sem pressa os
pontos sensíveis, com pequenas lambidas e mordidas, fazendo Mel deixar escapar alguns
gemidos...
Mel percorreu as costas de Dani com as mãos, passou a unha acompanhando a espinha,
arranhando de leve, causando pequenos tremores. Depois enfiou os dedos nos cabelos pretos,
pressionando a nuca de Dani, conduzindo-a para colar novamente os lábios nos seus.
Dessa vez foi um beijo abrasador, desmedido, extremamente passional e ardente.
Dani tirou a blusa de Mel, passando a mão nos ombros, no colo, nas costas, antes de tocar os
seios, deleitando-se com cada pedacinho dela. Desceu a boca com uma lentidão quase agonizante.
Quando os lábios quentes finalmente tocaram o seio, Mel gemeu e arqueou o corpo para
facilitar o contato intenso.
Dani passou a língua lentamente em redor do biquinho duro e, só depois, colocou a boca sobre
ele, sugando, chupando e mordendo de leve, deixando Mel inteiramente entregue.
Mel se deleitou em causar diversos arrepios quando colou a boca na orelha de Dani,
mordiscando, enfiando a língua, sussurrando palavras provocantes, explícitas, instigantes.
Dani a deitou na cama e se livraram do resto das roupas, tomadas por uma súbita urgência. Mel
puxou Dani, louca para senti-la em cima dela.
Beijaram-se com toda a paixão que o contato sensual dos corpos inteiramente despidos, pele
contra a pele, incitava...
As pernas de Mel se abriram para Dani, os sexos se encostaram totalmente, estimulando-se,
deleitando-se, querendo-se...
Dani sentiu as mãos de Mel apertando suas costas, depois desceram e seguraram suas nádegas
com força, comprimindo-a mais e mais contra si.
Mel acompanhava os movimentos com o mesmo prazer extremo, gemendo cada vez mais gostoso
debaixo da namorada... Segurou-a pela nuca e disse junto ao ouvido de Dani:
– Assim, amor... Vem... Quero gozar com você...
Dani gemeu e se arrepiou por inteiro. Sentiu o corpo de Mel começar a ser sacudido por
pequenos tremores. Acelerou os movimentos, aumentando os gemidos de ambas, e a acompanhou
num orgasmo arrebatado, impetuoso, intenso.
Mel suspirou, o corpo de Dani largado em cima dela, os rostos colados, as respirações
ofegantes, os corações no mesmo descompasso, juntinhos.
Sem se mover um milímetro, Dani disse:
– Nossa! Acho que precisamos brigar mais vezes...
– Não mesmo!
Foi a resposta de Mel, já fazendo cócegas em Dani, que rolou para o lado, tentando fugir. Mel a
imobilizou, rindo, prendendo-a com o próprio corpo, sem parar o ataque de cosquinhas, dizendo:
– Quer brigar, é? Isso é pra você aprender!
Dani nada pôde fazer além de se contorcer e chorar de tanto rir. Mel a fez implorar mil vezes
para que parasse e só a soltou depois que a obrigou a pedir arrego.
E então as mãos de Mel se tornaram apaixonadas, incitantes, ardentes. Dani suspirou e, de bom
grado, rendeu-se novamente.
– Será possível que só me chamam pra fazer a vilã? Primeiro Moema e agora essa Karin...
Dani atirou o texto no sofá, revoltadíssima. Tinha sido convidada para trabalhar numa montagem
de As Lágrimas Amargas de Petra Von Kant de Rainer Werner Fassbinder. O espetáculo não tinha
patrocínio, mas já tinha algumas vendas fechadas para fora do Rio.
Na peça, Petra von Kant é uma estilista de sucesso que tem como única pessoa próxima sua
secretária e, um dia, apaixona-se por uma jovem aspirante à modelo – a tal Karin –, que vai
morar em sua casa e a usa até não precisar mais dela.
Mel nunca tinha lido a peça, mas já tinha visto e gostado muito do filme, por isso incentivou:
– Porque fazer vilã é mais difícil, meu amor... Só que você é ótima e consegue fazer
maravilhosamente bem.
Dani não ficou muito convencida:
– Não sei não... Essa Karin é horrível, até eu tô morrendo de raiva dela!
Mel passou os braços ao redor do pescoço de Dani e a beijou de leve nos lábios, antes de
dizer:
– Sei... Tá achando um desafio muito grande pra você?
Dani riu. Sabia muito bem que Mel a estava desafiando apenas para convencê-la a fazer o
papel:
– Ok. Você quer que eu aceite, né?
– Amor, quem tem que querer é você – foi a resposta de Mel, com aquele sorriso calmo,
tranquilo, que sempre fazia Dani parar e pensar duas vezes.
Dani sorriu, deu um beijo estalado em Mel... E acabou aceitando o papel.
A VIDA EM PRETO E BRANCO
Quando Mel começou a trabalhar no projeto do apartamento de Renata, Dani ficou tensa, mas
evitou demonstrar.
Mel sempre a deixava a par de tudo. Dani foi a primeira a ver os esboços que tinha feito. Da
mesma maneira, Mel avisou:
– Amanhã vou ao apartamento da Renata.
Dani sentiu uma dorzinha no estômago, mas apenas assentiu com a cabeça. Mel percebia que o
simples fato de mencionar o nome de Renata deixava Dani nervosa, mas nunca disse nada a
respeito. Achou que evitar qualquer tipo de discussão era mais prudente.
Dani passou a manhã inteira com um aperto no peito. Mel tinha mandado vários torpedos e
mensagens meigas, mas não adiantava: estava completamente tomada por um ciúme irracional e
doentio.
Nem conseguiu almoçar. Sentou na sala, tentando decorar o texto sem resultado. Olhou para o
relógio várias vezes.
Quando finalmente chegou o horário que Dani sabia que Mel tinha marcado com Renata, o
coração começou a dar saltos dentro do peito.
Pegou o telefone diversas vezes, querendo falar com ela, ter certeza de que nada estava
acontecendo. Mas acabou sempre desistindo no meio. No fundo, estava morrendo de medo de
descobrir algo.
Correu os olhos pelo texto, sem conseguir enxergar uma só palavra. A mente formava imagens
que aos poucos foram aprofundando seu desespero, porque... A melhor delas era Mel e Renata
juntas... Aos beijos...
Foi então que não aguentou mais. Pegou o telefone, discou o número do celular de Mel e
esperou o que pareceu séculos para ela atender.
Renata recebeu Mel na porta com um grande sorriso. Trocaram dois beijinhos no rosto. Mel
mostrou alguns esboços, que foram imediatamente aprovados.
Andaram juntas por todo o apartamento.
Mel ia fazendo anotações, tirando algumas medidas, daquele jeito compenetrado e
perfeccionista que Renata adorava e a fazia ter mil recordações. Apesar disso, a conversa
continuou estritamente profissional. Em nenhum momento, Renata se insinuou ou coisa parecida.
Sabia que Mel estava casada e a conhecia bem demais para não tentar nada. Já tinha perdido
qualquer tipo de esperança quando chegaram ao banheiro da suíte.
Mel colocou a bolsa e a pasta no chão, entrou no chuveiro e começou a tirar medidas. Foi
quando o celular dela tocou. Mel tirou o lápis da boca, segurando a trena e a prancheta com a
outra, e pediu:
– Rê, atende pra mim, por favor?
Renata abriu a bolsa dela e, com as instruções precisas de Mel, foi fácil encontrar o local exato
onde o celular ficava.
Dani quase morreu de raiva quando Renata atendeu o celular de Mel, falando alô várias vezes.
Ficou calada, sem responder.
Ainda sem desligar, ouviu Renata gritar para Mel:
– Melhor você sair desse chuveiro e atender...
Foi o bastante para que o pulmão de Dani se recusasse a continuar recebendo ar. Largou o
telefone, correu para o banheiro e pegou a bombinha.
Mel pegou o celular da mão de Renata, olhou o visor, viu que a ligação vinha de casa e que
Dani tinha desligado. Ligou de volta e ninguém atendeu. Começou a ligar para o celular de Dani,
também sem resultado.
Só quando Dani conseguiu voltar a respirar ouviu seu celular tocando. Viu que era Mel e
atendeu, ainda com a respiração alterada:
– Alô.
A voz dela estava fria, gelada e... Ofegante. Na mesma hora, Mel percebeu que Dani estava no
meio de um ataque de asma:
– Amor, você tá bem? Cadê sua bombinha?
Como resposta, Mel ouviu Dani usando a bombinha, apertando três vezes, como sempre fazia.
Mel insistiu:
– Daniele... Alô? Tô voltando pra casa, amor...
Depois de um minuto de silêncio, Dani replicou:
– Não precisa. Pode ficar com a sua amiguinha.
E desligou. Mel passou a mão no rosto, com uma preocupação que beirava o desespero. Renata
perguntou:
– Que foi? Alguma coisa errada?
Mel nem respondeu. Não tinha tempo. Desculpou-se com Renata, pegou a bolsa e a pasta e saiu
quase correndo.
Quando chegou em casa, Dani não estava. Ligou para o celular dela várias vezes, mas Dani não
atendeu. Ligou para o pai e a irmã de Dani, Ed, Raq, mas ninguém sabia dela. Por volta das dez
horas da noite, o telefone tocou. Era Deca:
– Mel, a Dani tá com a Raq.
– Mas a Raq me disse que não sabia dela...
– A Raq não podia falar com você naquela hora, a Dani tava do lado dela. Tô indo lá buscar as
duas, fica tranquila, tá?
– Deca, eu preciso falar com a Daniele...
– Olha só, amiga, a Raq me disse que a Dani tá trêbada. Melhor só conversar com ela amanhã...
– Não posso esperar até amanhã.
– Tudo bem, você que sabe. Passa lá em casa em uma hora então.
A primeira coisa que Dani fez quando desligou na cara de Mel foi ligar para Raq. Se
encontraram num boteco na calçada do Estação Botafogo, perto da antiga casa de Dani.
Raq não acreditou no que Dani contou. Achava impossível que Mel a tivesse traído. Muito menos
com a ex. Não era, nem de longe, o estilo dela. Tentou convencer a amiga a esclarecer tudo com
Mel, mas Dani estava furiosa, fora de si.
O celular de Raq tocou. Era Mel, procurando por Dani. Raq foi obrigada a mentir, dizendo que
não sabia dela, mas comentou:
– Nunca vi a Mel desesperada assim...
Ao que Dani respondeu:
– Não quero saber.
E voltou a beber.
Dani chegou na casa de Deca e Raq quase carregada. As duas a sentaram no sofá e
obrigaram Dani a beber o café fortíssimo e sem açúcar que fizeram para ela.
A campainha tocou e Deca foi atender. Avisou Mel antes de deixá-la entrar:
– Ela não tá nada bem. E disse que não quer te ver.
Mel colocou as mãos no rosto e começou a chorar, sentindo certo alívio em liberar um pouco a
tensão. Tinha passado a tarde e a noite inteiras procurando por Dani, em profundo e total
desespero, sem saber o que fazer.
Depois de enxugar as lágrimas, entrou na sala seguida por Deca. Dani continuava sentada no
sofá, com Raq do lado, e fechou a cara quando viu Mel parada na frente dela.
Deca fez um sinal para Raq, e as duas saíram da sala. Mel se ajoelhou, apoiando as mãos nas
coxas de Dani e falou:
– Amor, quero falar com você.
O simples contato das mãos de Mel fizeram Dani se derreter. Teve que se esforçar para
conseguir dizer:
– Não quero ouvir.
Mel não recuou:
– Eu não mereço uma explicação?
Dani deu uma risada irônica e replicou:
– Quem me deve uma explicação é você!
As mãos de Mel seguraram o rosto de Dani, obrigando-a a olhar para os olhos dela. Usou um
tom de voz calmo, doce, quase didático:
– Daniele, eu não fiz nada... Você tá imaginando coisas...
Dani não soube dizer o que a irritou mais, se as palavras ou o jeito como Mel falou, quase como
se Dani fosse criança. Afastou as mãos de Mel e disse furiosa:
– É mesmo? E o que você tava fazendo no chuveiro daquela vaca?
A raiva de Dani era tanta que mandou a educação para o espaço e xingou a tal ruiva com
vontade, sem nem se importar se Mel ia achar aquele linguajar baixo.
Mel reprovava totalmente aquele nível de conversa. Levou em conta o fato de Dani estar
enlouquecida de ciúmes e bêbada. Se não fosse por isso, teria simplesmente levantado e a
deixado falando sozinha. Contou até dez e pacientemente respondeu:
– Tava medindo.
Em princípio, Dani não entendeu:
– O quê?
Mel fez questão de explicar com todas as letras:
– Tirando as medidas do chuveiro.
Por alguns instantes, elas ficaram se olhando. O olhar de Mel era meigo, benevolente,
acariciante. O de Dani irascível, irredutível, distante:
– Você acha que eu vou acreditar nisso?
Foi então que a paciência de Mel acabou. Estava magoada, saturada, cansada... A voz perdeu
todo e qualquer tipo de gentileza:
– Bom, essa é a verdade. E quer saber? Amanhã eu trabalho e tô exausta. Vamos pra nossa
casa?
Levantou e ofereceu a mão para Dani, mas Dani não estendeu a dela:
– Vou dormir aqui.
Mel contou até dez novamente. Passou a mãos nos cabelos, suspirou... E insistiu:
– Vem pra casa comigo, Daniele...
Dani continuou sentada, olhando com raiva para Mel:
– Pode esquecer. Não vou dormir com você.
O risinho debochado que Dani deu irritou Mel profundamente:
– Você tá sendo infantil...
– Tá irritada por quê? Tá acostumada a me ver correndo atrás de você, né?
Mel se descontrolou. Aumentou o volume da voz quando disse:
– Tô acostumada a te ver sóbria e conversando direito. Tô acostumada com um mínimo de
educação e respeito.
Dani respondeu no mesmo tom:
– Não quer dormir sozinha? Sem problemas: liga pra sua amiga Renata. Com certeza, ela vem
correndo...
Mel continuou falando alto, porém com um misto de tristeza e doçura na voz:
– Será que você não entende, sua idiota, que não quero dormir com ninguém além de você?
O jeito que Mel falou, a forma como a olhou... Fizeram Dani fraquejar, mas ela fez uma força
enorme para se controlar. Ficou de costas para Mel e fechou os olhos. Descarregou a frustração
quase gritando:
– Chega! Me deixa em paz!
Mel a abraçou por trás. Falou baixinho no ouvido de Dani:
– Amor, para com isso...
Dani se arrepiou inteira. Mel percebeu e a apertou com mais força:
– Você é o meu amor, minha vida, minha mulher maravilhosa e linda. E eu também sou sua, toda
e somente sua... Só sua, Daniele... Você sabe disso...
Uniu a mão esquerda à de Dani e colocou as alianças que usavam na frente dela:
– Eu nunca ia trair tudo o que essas alianças significam.
Dani se soltou com brutalidade, como se o contato com Mel a queimasse:
– Não seja por isso...
Tirou a aliança do dedo, colocou na mão de Mel e saiu da sala.
Mel ficou ali parada, com a aliança de Dani na mão. Deca entrou na sala, ficou um instante
olhando para ela, antes de dizer:
– Eu avisei que não era uma boa hora pra vocês conversarem.
Mel deixou escapar um suspiro audível, num misto de impaciência e indignação:
– Deca, não tô acreditando! Eu não mereço isso!
Pegou a aliança de Dani e entregou para Deca, quase chorando:
– Entrega isso pra Daniele. Fala pra ela que não aceito devoluções.
Mel sentou no sofá e escondeu o rosto entre as mãos. Deca sentou ao lado dela, colocando a
mão carinhosamente no ombro de Mel:
– Amiga, calma... Espera ela ficar sóbria...
Mel levantou a cabeça, com uma expressão de pura revolta nos olhos cheios de lágrimas:
– Ah, tá... Agora eu vou ter que ter paciência, esperar, ficar correndo atrás dela?
Deca levantou, andou um pouco pela sala, como que pensando bem antes de dizer:
– Talvez seja a sua vez de mostrar o que sente...
Mel também levantou, contestando imediatamente:
– Deca, é completamente diferente! Eu não fiz nada!
A resposta de Deca foi absolutamente bombástica, decisiva, surpreendente:
– A questão não é se você fez ou não fez. É se você quer ou não ela de volta...
DUELO DE TITÃS
Nos cinco dias que se seguiram, Mel tentou falar com Dani várias vezes, mas Dani se recusava.
Sabia que bastava chegar perto dela para que Mel a seduzisse com facilidade.
Na medida do possível, Deca e Raq mantiveram Mel informada. Dani estava dando um tempo na
casa do pai, porque já tinha outra pessoa morando no apartamento de Ed e Gisa, e pretendia
pegar suas coisas na casa de Mel assim que encontrasse um lugar para morar.
Nos cinco dias que se seguiram, Dani tentou em vão voltar à sua vida de antes. Saiu todas as
noites, apesar de não conseguir se divertir quase nada.
Obrigava-se a sorrir, flertar, seduzir, mas não passava disso. Nem de beijar tinha vontade. E o
pior é que essa linha de “difícil” só a fez ter ainda mais sucesso com a mulherada.
Estava sentada com Ed quando o garçom trouxe um drinque para ela, enviado por uma loira de
fechar o trânsito que acenava sorrindo do balcão. Dani sorriu de volta sem nenhum entusiasmo,
agradeceu, e deu as costas para a loira. Ed brincou:
– Realmente, parece que passaram mel em você...
Na mesma hora se arrependeu. Dani fez uma careta e fulminou Ed com os olhos, como quem diz:
“Qual é a sua?”
Muito sem graça, Ed ainda disse:
– Desculpa, amiga... Saiu sem pensar...
Dani esboçou um “tudo bem”, mas passou o resto da noite amuada.
Enquanto isso, Mel estava sentada com o laptop na cama, tentando não se incomodar com a
ausência de Dani. Claro que era impossível.
Normalmente, Dani ficava sentada ao lado de Mel, assistindo à TV ou estudando um texto. De
repente se virava, enchia Mel de beijos e não a deixava mais trabalhar.
Mel soltou um suspiro triste. Foi então que o telefone tocou. Estendeu o braço e pegou o fone na
cabeceira. Era Deca, parecendo ansiosa:
– Tá com seu e-mail aberto?
Mel respondeu quase sem vontade:
– Tô, por quê?
– Dá uma olhada no e-mail que te encaminhei.
Mel abriu a mensagem. Viu o flyer eletrônico de uma festa organizada pela produção do
espetáculo BENT de Martin Sherman.
– Tá lendo?
– Tô. Que que tem?
– Agora olha a mensagem em anexo.
Mel desceu o flyer e olhou o que vinha depois dele:
Queridíssimos e Queridíssimas,
Vou comemorar meu niver na festa da peça do meu grande amigo Ed, estão todos
INTIMADOS! Não aceito desculpas!
Ajudem a divulgar, ok?
Bjs, Dani
PS: Vai ter o tradicional concurso de Tequila Sexy, meninas! Não percam!
Dani não tinha encaminhado o e-mail para ela. Mel estava claramente irritada quando
perguntou:
– Posso saber o que é essa tal Tequila Sexy?
Deca teve muito cuidado para não irritá-la mais ainda ao dizer:
– Você nunca foi num aniversário da Dani, né? Todo ano tem isso. Quem tomar a tequila do jeito
mais sexy ganha.
– Ganha o quê?
Mel já estava achando o fim da picada, mais ainda quando Deca falou:
– Um beijo da Dani.
Leu as intenções da amiga nas entrelinhas:
– Você não tá querendo que eu...
Deca foi incisiva:
– Se você prefere ver outra beijando a sua mulher...
Mel protestou, irritada de verdade:
– Você acha mesmo que vou me prestar a esse papel? Francamente, né?
A resposta de Deca foi imediata:
– Você é quem sabe.
Mel não aguentou. Teve que perguntar:
– Quem inventou essa coisa ridícula?
– Não sei. Só a Dani pode te dizer.
O concurso da Tequila Sexy tinha nascido numa noite muito louca, quando Dani tinha beijado três
meninas, mas não tinha ficado a fim de mais nada com nenhuma, por isso continuou sentada com Ed
bebendo.
Do nada, as três vieram juntas na mesa, sugerindo o seguinte: as três iam beber tequila, e a que
fizesse de forma mais sexy levaria Dani para casa.
Dani e Ed já estavam bastante bêbados e riram muito antes de Dani falar sarcasticamente:
– Tudo bem, mas se eu não gostar de nenhuma, nada feito...
Pediram cinco tequilas, sal e limão. A primeira colocou o sal na mão, lambeu, chupou o limão, e
bebeu a tequila com uma careta. Dani reprovou:
– Péssimo! Sem chance.
A segunda repetiu exatamente o que a primeira fez, menos a careta. Mas também não
convenceu Dani:
– A próxima!
A terceira também não foi muito feliz. Dani levantou e, com um sorriso irresistível, disse:
– Gatas, vejam e aprendam...
Dani fez tudo com aquela sensualidade provocante peculiar dela. Quando terminou, as três
estavam olhando para ela de queixo caído. Ed ainda sacaneou, antes de beber a tequila dele:
– Parem de babar, meninas...
Depois disso, todo aniversário de Dani passou a ter o concurso da Tequila Sexy. A primeira a
beber a tequila, mostrando a forma certa de fazer, deixando todas enlouquecidas, era a própria
Dani, que sempre tinha a melhor performance.
No dia 19 de dezembro, véspera do aniversário de Dani, ela estava na sala da casa do pai
sozinha, assistindo à televisão enquanto esperava Ed, que ia passar para saírem. Ed, como sempre,
estava atrasadíssimo.
Olhou no relógio, eram cinco para a meia-noite. O celular tocou, recebendo uma mensagem:
“Abre a porta pra mim.”
Abriu, já pronta para dar uma bronca no amigo. Parou, sem ação, quando deu de cara com Mel:
– Será que eu posso entrar?
Ainda sem conseguir dizer nada, Dani se afastou, abrindo caminho. Mel passou por ela,
deixando uma trilha de perfume que Dani aspirou com saudade.
Dani fechou a porta. Mel estava linda, com uma calça jeans de cintura baixa justinha e uma
camisetinha baby look deixando parte da barriga de fora. E a olhava de um jeito que fez Dani
engolir em seco:
– Eu queria ser a primeira a te dar parabéns...
As pernas de Dani bambearam quando Mel se aproximou até os corpos ficarem quase colados,
tão próximos que Dani jurava poder ouvir a pulsação acelerada se misturando com a dela.
Mel segurou o rosto de Dani entre as mãos... Beijou-a lenta e delicadamente do lado direito da
face. Olhou-a nos olhos quando afastou o rosto. Aproximou a boca novamente, beijando-a na face
esquerda, os lábios tocando levemente o cantinho da boca de Dani.
Distanciou o rosto novamente e a olhou fundo nos olhos.
Dani estremeceu...
E Mel encostou os lábios nos dela com suavidade.
Dani fechou os olhos, deixou escapar um suspiro. Incapaz de resistir ao toque macio, suave,
apaixonado da boca de Mel. Era impossível.
Entreabriu os lábios para ela e se entregou, com um gemido, à língua que a invadia, explorava,
seduzia, deliciosamente sem pressa.
O celular de Dani tocou e ela acordou num susto.
Atendeu meio perdida, ainda ofegante, sem nem olhar quem estava ligando.
Do outro lado da linha, ouviu aquela voz doce, suave e linda tão conhecida:
– Daniele?
Gaguejou, já completamente desperta:
– Mel?
– Eu queria ser a primeira a te dar parabéns...
Dani estremeceu. Ironicamente, a mesma frase. Se Mel soubesse que sonhava com ela todos os
dias...
Mel sentiu uma pequena esperança surgir. Era a primeira vez em sete dias que Dani atendia um
telefonema dela. Continuou:
– Feliz aniversário, amor...
Dani agradeceu, o mais friamente que conseguiu. Não era fácil ser fria com Mel a chamando de
amor e ainda sentindo o clima ardente do sonho na pele, na boca, na alma...
Mel lutou contra a tristeza que a invadiu. Dani estava distante, monossilábica. Num impulso,
insistiu:
– Quando posso te dar seu presente?
Quem respondeu foi a antiga Dani. Daquela forma detestável que Mel conhecia tão bem:
– Bom, gata... Deixa eu ver... Amanhã, na minha festa, que tal? Você aproveita e participa do
Tequila Sexy.
Mel resolveu provocar também:
– Confessa que quer que eu vença. Tá louca pra me beijar, né?
– Nos seus sonhos, baby...
Pelo tom de voz dela, Mel quase podia ver o sorriso vitorioso no rosto de Dani... Que
imediatamente morreu quando Mel respondeu, como se pudesse ler pensamentos, fazendo Dani se
arrepiar inteira:
– Não seria nos seus?
Dani olhou para a porta pela bilionésima vez naquela noite. Ed a cutucou, enfiando o celular na
cara dela sem cerimônia:
– Se quer tanto saber quando a Mel vai chegar, liga pra ela!
Deca e Raq riram disfarçadamente. Dani se fez de desentendida:
– Tá louca, bicha? Até parece que eu... – Não conseguiu completar a frase. Mel tinha acabado
de entrar e estava total e absolutamente maravilhosa, incrível, avassaladora...
Não era por causa da maquiagem, da roupa, nem da beleza clássica do rosto e do corpo bem
feitos. Era alguma coisa na postura, na energia, quase como se Mel tivesse finalmente colocado
para fora toda a sensualidade que até então Dani só tinha visto quando estava sozinha com ela.
Dani ficou sem respirar por alguns instantes. Paralisada. Abobalhada. Hipnotizada. Sem
conseguir desviar o olhar. Nem tentou disfarçar. Ed apenas disse:
– Amiga, fecha a boca e pega seu queixo no chão, tá?
A festa era em um casarão enorme na Glória. Quando Mel chegou, tinham dois atores e uma
atriz vestidos de oficiais nazistas na porta. A festa seguia o tema do espetáculo, em que dois gays
se apaixonam num campo de concentração.
Depois de pagar uma entrada simbólica, ao invés da tradicional pulseira que libera a entrada e
saída, pregaram um triângulo rosa no peito dela, como os que os homossexuais eram obrigados a
usar na Alemanha de Hitler. Teve o efeito desejado, porque na hora Mel sentiu um arrepio.
Assim que entrou, olhou em volta. Avistou Dani de imediato. Caminhou diretamente para ela, com
um sorriso irresistível nos lábios.
Nem notou que vários olhares a acompanhavam, porque tinha apenas um alvo: a aniversariante,
que a fitava sem piscar.
O comentário de Ed fez Dani reagir. Respirou fundo, deu um gole na cerveja que tinha nas mãos
e tentou ignorar Mel.
Seria mais fácil se tentasse levitar, porque Mel parou na frente dela, com um perfume
maravilhoso, que mexia com Dani em todos os sentidos, e sussurrou em seu ouvido com uma voz
propositalmente sedutora:
– Tenho dois presentes pra você...
E, antes que Dani pudesse responder qualquer coisa, virou-se para Ed e pediu ajuda para
pegar alguma coisa no carro.
Dani ficou ali parada, aguentando Deca e Raq, que não paravam de implicar com ela por causa
do estado evidente de perturbação em que Mel a tinha deixado.
Mel voltou com Ed carregando um embrulho que era, no mínimo, grande. Pararam na frente de
Dani. Ed apoiou o presente na mesa. Depois de entregar um envelope vinho para Dani, que
continuou olhando para ela estática, Mel sugeriu:
– Não vai abrir?
Dani rasgou o papel de presente e deu de cara com um desenho dela em tamanho A1, feito em
carvão, com paspatur branco em volta e enquadrado numa moldura prata básica, moderna, tudo
com o bom gosto que era marca registrada de Mel.
Raq e Deca se colocaram ao lado das duas, admirando o belíssimo desenho em que Dani
aparecia sentada, nua, meio de costas, de forma que não se viam os seios, apenas parte das
nádegas. O rosto estava virado, parecendo que Dani olhava para quem a estava desenhando. O
mais surpreendente e marcante, na verdade, era o olhar capturado. Um olhar doce, suave,
apaixonado, que Dani só tinha quando olhava para Mel.
Foi Raq quem quebrou o silêncio:
– Nossa, Mel... Muito lindo! Quando você pousou para esse desenho, Dani?
– Que eu saiba nunca...
Foi a resposta perplexa, quase uma interrogação. Mel explicou, olhando fundo nos olhos de
Dani:
– Fiz de memória. Gostou?
Deixando Dani absolutamente sem palavras.
O que não era novidade. De uma forma ou de outra, com seu jeitinho meigo, passional, entregue,
Mel sempre a desarmava com facilidade.
Dani fez que sim com a cabeça, ganhando de Mel o mais lindo dos sorrisos. Só então lembrou
do envelope que tinha nas mãos. Abriu, e leu o cartão vinho, em que Mel tinha escrito com sua letra
impecável:
“Amar é conhecer a cor do olhar,
e saber o olhar de cor”.
(Autor desconhecido)
Que mais posso dizer?
Só que...
Amo você!
inteira e somente sua sempre,
Mel.
Mel sussurrou novamente no ouvido de Dani:
– O outro presente só depois...
E saiu em direção à pista de dança.
Dani tinha que admitir que normalmente Mel já era um escândalo dançando. Mas, naquele
momento, ela estava abusando. E, evidentemente, Dani não era a única que achava isso. Já tinham
no mínimo quatro garotas e dois caras se insinuando para ela.
Tentando controlar a onda de ciúme que fazia o sangue ferver de raiva, Dani começou a
dançar na frente de Mel.
Mel continuou se movendo sensualmente na frente dela. Dani correspondeu da mesma maneira,
usando todo seu poder de sedução.
Mel fechou os olhos e continuou dançando como se Dani não existisse. Dani se aproximou mais.
Tão perto que, mesmo sem ver, Mel sabia, ou melhor, sentia cada movimento de Dani.
Então, de repente, Mel abriu os olhos e fitou Dani profundamente.
Dani também não desviou os olhos, e ficaram ambas presas naquele olhar.
Dani foi a primeira a desviar os olhos, apenas para fixá-los na boca de Mel. Mel molhou os
lábios, tornando-os ainda mais convidativos, antes de aproximar a boca da de Dani...
Os hálitos se misturaram, mas as duas não se beijaram. Mantiveram os lábios muito próximos,
sem se encostarem. Ambas mantendo a dança provocante, sedutora, evitando se render e tocar a
boca da outra.
Deca e Raq apenas olhavam divertindo-se, esperando a próxima jogada de cada uma como
quem assiste a uma partida de xadrez.
Foi Mel quem resolveu parar de resistir. Dani deu um sorriso vitorioso, e desviou a boca, não
deixando que ela a beijasse.
Mel apenas sorriu de volta, segurou Dani pela nuca e disse baixinho no ouvido dela:
– O outro presente é que não tô usando nada por baixo do vestido, amor...
Dani deixou escapar um pequeno gemido, dolorosamente consciente da pontada de desejo
responsável pela umidade que imediatamente sentiu entre as pernas.
Mel a fitava intensamente, com um sorriso safado nos lábios. Continuou dançando com a mão na
nuca de Dani, movendo o corpo contra o dela de forma provocante. Fingindo que ia beijá-la e
desviando a boca no último momento, deixando Dani quase descontrolada...
Quase, porque Dani estava plenamente consciente de que estavam em público, no próprio
aniversário, e não ia nem podia deixar barato. Segurou Mel pela cintura, e colou a boca no
pescoço dela quase com raiva.
Mel imediatamente a afastou, mas Dani a puxou de volta à força, as mãos descendo pelo corpo
de Mel até agarrarem as nádegas dela de uma forma tão cafajeste que Mel se sentiu
incomodada.
Dani riu quando Mel tentou em vão se livrar de suas mãos. Falou no ouvido de Mel:
– Até parece que você não gosta...
– Não assim.
Foi a resposta indignada de Mel. Mas Dani continuou passando as mãos em Mel de uma forma
propositalmente ofensiva. Quanto mais Mel resistia, mais parecia atiçar a insistência de Dani:
– Deixa eu ver se tá mesmo sem calcinha...
– Daniele... Aqui não...
– Eu sei que você quer...
– Para... Não faz assim...
A mão de Dani já estava se enfiando por baixo do vestido de Mel, que segurou o pulso dela,
evitando que Dani a tocasse como queria.
– Aposto que tá molhadinha pra mim...
– Daniele, para com isso!
Foi quando Deca e Raq resolveram intervir:
– Meninas, por favor... Isso já não foi longe demais?
E então a música parou. Dani soltou Mel e falou bem alto para que todos ouvissem:
– Provoca e não aguenta depois... Não sabe brincar, não brinca. É simples!
Algumas pessoas riram. Outras aplaudiram. Dani agradeceu como se estivesse no teatro, virou as
costas e saiu, com uma empáfia e um estrelismo infernais. Mel a fuzilou com os olhos e saiu pisando
duro na direção oposta.
Deca e Raq respiraram fundo e trocaram um olhar cúmplice antes de se separarem, cada uma
para um lado, seguindo as amigas.
– Dani, querida, você foi horrível. Se eu fosse a Mel nunca mais falava com você.
Mas Dani estava totalmente dominada pela raiva:
– Eu fui horrível? Hoje é meu aniversário, sabia? Se ela pensa que vai ficar me sacaneando na
frente de todo mundo, tá muito enganada!
Raq segurou Dani pelos braços, quase a sacudindo:
– Você tá brincando, né? Ela vem aqui, te dá um presente lindo, você trata a menina daquele
jeito no meio da pista e ainda tem coragem de dizer que ela é que tá te sacaneando? Tá maluca?
Nem assim Dani deu o braço a torcer:
– Dá pra parar de defender a Mel? Afinal de contas, de que lado você tá?
Raq levantou as mãos, como quem se rende:
– Desisto! Impossível conversar com você... Quer saber? Você tá irritadinha porque não consegue
esconder que é apaixonadíssima pela Mel! E também porque hoje ela tá um arraso...
Dani tentou negar, mas Raq nem deu chance para ela abrir a boca:
– Por enquanto você tá com sorte, amiga, porque a Mel é louca por você. Tão louca que ainda
te quer de volta. Mas com as merdas que você anda fazendo, ela vai acabar cansando. Escuta
bem o que eu tô te dizendo: abre o seu olho, Dani!
E dizendo isso saiu, deixando Dani lá plantada.
– Sinceramente, Deca, não sei o que eu tô fazendo aqui!
Mel estava irada. De um jeito que Deca nunca tinha visto.
– Mel, fica fria... Calma, amiga...
– Se você me pedir calma mais uma vez, eu juro que... Ai, que raiva! Tô morrendo de ódio de
mim mesma! Como eu sou imbecil! Eu sou uma idiota completa!
Nesse momento, Ed se aproximou delas. Pegou a mão de Mel entre as dele e disse olhando-a
nos olhos:
– Nada disso! Você é maravilhosa!
Beijou a mão de Mel e completou:
– Levanta essa cabeça, vai lá e vence o Tequila Sexy.
Mel não estava nada disposta a participar do tal concurso. Achava o cúmulo do absurdo
competir por um beijo da própria mulher:
– Eu não...
Ed a cortou, insistindo:
– Faz o que eu tô te dizendo. Arrasa, linda!
Deu um último beijo na mão de Mel e saiu, deixando-a pensativa.
Ed conhecia Dani melhor do que ninguém. Por isso, Mel resolveu seguir o conselho dele. Mas,
antes, pediu uma caipirosca bem forte.
Ed pegou o microfone, e anunciou:
– Senhoras e senhores, o momento mais esperado do ano: o concurso da Tequila Sexy! Gostaria
de chamar a aniversariante, Dani Quadros, para uma pequena demonstração.
Entre aplausos, gritos e assobios, Dani se aproximou da mesa onde estavam os copos de Tequila,
um saleiro e algumas rodelas de limão.
Caprichou na performance, levando a audiência ao delírio, e, depois, com um enorme sorriso,
sentou-se entre Gisa e Raq.
Antes de chamar a primeira candidata, Ed falou:
– Que vença a melhor!
Mel estava atrás de uma multidão de pessoas quando Dani fez a demonstração. Impossível
negar o quanto ela era provocante, sensual, atordoante...
O concurso começou. Mel contou mais de vinte concorrentes. Quando cada uma terminava, a
plateia reagia. Às vezes com entusiasmo, às vezes com reprovação. E Ed chamava:
– A próxima!
Mel começou a ficar ansiosa. O coração batia acelerado no peito. Virou o resto de uma
segunda caipirosca, entregou o copo vazio para Deca e ajeitou o cabelo. Começou a abrir
caminho, aproximando-se lentamente da mesa.
Dani não prestou a menor atenção nas performances. O que a interessava realmente era saber
onde Mel estava.
Tinha o coração dividido entre o medo e o desejo de que ela ganhasse. Não queria beijar
ninguém além dela. Na verdade, queria beijar Mel mais do que tudo. Isso a apavorava, porque
sabia que, assim que a beijasse, seria impossível continuar resistindo.
A última concorrente terminou no exato momento em que Mel conseguiu chegar na frente da
mesa. Os olhos de Dani e Mel se encontraram. Dani nunca tinha visto os olhos de Mel daquele jeito,
tão sensualmente predadores que chegavam a parecer felinos. Ed gritou:
– A próxima!
Mel se aproximou, e apoiou as duas mãos na mesa. Abaixou a cabeça, deixando os cabelos
dourados cobrirem a face. Incrivelmente, a plateia ficou em silêncio.
Então, com uma jogada de cabeça glamourosa, que Ed classificaria para sempre como “digna
de Rita Hayworth”, tirou os cabelos do rosto.
Colocou o sal na curva entre o dedão e o indicador e não lambeu, chupou a mão destilando
sensualidade e magnetismo. Depois mordeu o limão, saboreando com um suspiro delicioso,
irresistível. O tempo todo com os olhos parecendo emitir faíscas.
Com um gesto firme e preciso de pulso, virou o copo de Tequila de uma vez só. Encerrou com
chave de ouro, batendo com o copo emborcado desafiadoramente na mesa, como quem pede
mais.
O estilo de Mel era totalmente diferente do de Dani. Mas nem por isso menos sedutor e fatal. Na
verdade, era difícil dizer qual das duas performances tinha sido a mais sexy.
As palmas foram estrondosas. Pela reação do público, a vitória de Mel era indiscutível.
Dani ainda estava parada, perplexa, atordoada, boquiaberta, olhando-a fixamente, quando
Mel se aproximou com um sorriso de superioridade, dizendo:
– Parece que o prêmio é meu...
Dani se levantou, visivelmente tensa. Mel falou baixinho, só para ela:
– Relaxa... É só um beijo...
E abriu um sorriso desafiador. Só então Dani pareceu voltar a si. Piscou sedutoramente para Mel,
instigando de volta, baixinho também:
– Que você nunca vai esquecer...
– Nem você...
Dani riu, e fez um gesto com a cabeça cumprimentando Mel pela resposta. Mel respondeu com
um sorriso e um gesto idênticos aos dela.
Então, de repente, sem cerimônia, Dani puxou Mel pela cintura e a beijou.
O contato da boca ardente, macia, exigente contra a dela fez Mel deixar escapar um gemido
baixinho de prazer. Passou os braços ao redor do pescoço de Dani, e entreabriu os lábios para
ela. As línguas se encontraram e se devoraram com saudade e desejo...
Dani também gemeu ao sentir o delicioso sabor daquela boca, daqueles lábios, daquela língua,
que exigiam uma entrega sem reservas. O beijo se tornou cada vez mais intenso... A plateia
observava... Em suspenso.
Quando finalmente se separaram, ficaram se olhando durante alguns segundos, ainda
abraçadas, as respirações alteradas, como se tivessem perdido a noção de espaço e tempo...
Até que as palmas, assobios e gritos recomeçaram.
Dani aproximou a boca do ouvido de Mel e disse, de forma provocante:
– E meu outro presente?
O olhar que Mel lançou foi tão profundamente sedutor que Dani estremeceu:
– Você quer? Vem pegar...
Mel se soltou dos braços de Dani, deu uma virada majestosa e, passando no meio das pessoas,
que sem exceção abriam passagem para ela, retirou-se triunfante da festa.
A música voltou a tocar, e as pessoas se dispersaram. Ed chegou perto de Dani e disse:
– Se eu fosse você, ia atrás dela.
Dani seguiu o conselho imediatamente. Ainda saiu a tempo de vê-la destravando o carro.
Atravessou a rua correndo, parou atrás de Mel e segurou-a pela cintura:
– Ei, espera...
Mel se arrepiou com a doçura da voz e do toque de Dani, mas se virou fingindo a maior
indiferença do mundo:
– O que você quer?
Dani abriu um sorriso deliciosamente safado quando disse:
– Você sabe muito bem...
Mel levantou uma sobrancelha e, de forma absolutamente provocante, respondeu:
– Não, eu não sei.
Dani colou o corpo no de Mel, comprimindo-a contra o carro:
– Meu segundo presente...
Mel a empurrou com força, afastando-a. Apenas para, com um sorriso malicioso e insinuante,
guiar a mão de Dani por debaixo do vestido, na pele quente das coxas, até pousar delicadamente
entre as pernas dela.
Dani soltou um gemido ao constatar que Mel estava sem calcinha de verdade.
– E então?
Foi a interrogação sugestiva de Mel, olhando-a nos olhos. Dani engoliu em seco quando
entendeu as intenções dela:
– Aqui?
Tudo bem que elas estavam escondidas entre o carro de Mel e um muro, e a rua era
suficientemente deserta e escura, mas a porta da festa ficava a menos de quinze metros de
distância.
– Rapidinho, vem... – Foi a resposta de Mel, já virando Dani, encostando-a no carro e a
dominando completamente.
Dani nem conseguiu replicar. Mel pressionou o corpo contra o dela, beijando-a no pescoço,
acariciando os seios de forma irresistivelmente tentadora... Depois abriu a calça de Dani,
deixando-a sem fôlego com a forma excitante que disse:
– Se vier alguém eu paro...
Se o pessoal na porta da festa tinha percebido alguma coisa, estavam fingindo que não. Os três
estavam conversando quase de costas para elas.
Enfiou a mão direita dentro da calcinha de Dani e, com uma agilidade surpreendente, encontrou
o ponto que estava procurando. Dani soltou um gemido abafado, e Mel colou a boca no ouvido
dela. Enquanto acariciava Dani, mantinha a atenção na rua, o sangue pulsando com força pela
excitação quase insuportável que a sensação de perigo causava. De vez em quando sussurrava:
– Tô olhando... Não tem ninguém...
E isso parecia fazer Dani suspirar, arrepiar-se e se entregar mais ainda...
Mel aprofundou as carícias... Penetrou-a devagarzinho com os dedos. Como resposta, Dani
gemeu baixinho, fazendo Mel acelerar o ritmo deliciosamente.
Mel sussurrava palavras excitantes no ouvido de Dani, as respirações no mesmo descompasso
insano... O coração de Dani batia alucinado no peito e acelerou ainda mais quando a ouviu pedir:
– Quero te sentir gozando, Daniele...
Não precisou pedir duas vezes. Se Mel tivesse apenas dito o seu nome já seria o bastante para
enlouquecê-la. Quase que imediatamente, Dani estremeceu e se entregou ao prazer de gozar para
Mel...
Ficaram ali abraçadas, as respirações voltando ao normal novamente.
– Gostou do presente? – Mel falou pertinho do ouvido dela.
Dani a segurou pela nuca e a beijou... De forma profunda, apaixonada, exigente... Depois
mordeu de leve a orelha de Mel, dizendo:
– Não era bem isso que eu tinha em mente...
Mel parou de esfregar o rosto no de Dani, surpresa:
– Não? O que então?
Como resposta, Dani ajoelhou, enfiou a cabeça debaixo do vestido de Mel, e mergulhou a língua
de uma só vez no sexo pulsante e ardente...
Mel soltou um gemido, apoiou as mãos no carro e se entregou à boca faminta que a devorava
impiedosamente...
A RODA DA FORTUNA GIRA NOVAMENTE
Tornou-se quase impossível para Mel continuar prestando atenção se tinha alguém se
aproximando, olhando... Ou não.
Sorte que Raq e Deca gritaram o nome dela antes de atravessarem a rua.
Só teve tempo de dar um empurrão em Dani, que continuou ajoelhada no chão, só entendendo o
porquê da interrupção brusca quando Raq surgiu do nada, com Deca ao lado, perguntando
maliciosamente:
– O que você tá fazendo aí no chão, amiga?
Dani se levantou, passou as mãos na calça, limpando a poeira, e respondeu com a cara mais
inocente do mundo:
– A tarraxa do meu brinco caiu...
E ainda teve a cara de pau de fingir que colocava a tarraxa de volta no lugar. Mel fez um
esforço incrível para não rir, mas não escapou do comentário de Deca:
– Mel, sua cara tá, no mínimo, suspeita!
Mel e Dani se entreolharam e não aguentaram: caíram na risada.
Depois que Raq e Deca se despediram, Mel anunciou que também queria ir embora, porque
estava... Morrendo de fome, é lógico.
Dani sorriu, achando graça. Beijou-a de leve nos lábios e disse, já com o celular na mão:
– Deixa só eu avisar o Ed.
Ed apareceu quase na mesma hora, trazendo a bolsa de Dani e o quadro que Mel tinha dado
para ela. Despediu-se falando no ouvido de Dani:
– Tchau, amiga! Feliz Aniversário! Vê se para de fazer merda e se acerta com a Mel!
E, antes que Dani pudesse responder, deu a volta no carro, deu dois beijinhos em Mel e sussurrou
para ela:
– Depois da sua performance maravilhosa não tem pra ninguém, né? Tchau, poderosa!
Mel não conseguiu conter uma risada. Ed ainda piscou para ela antes de atravessar a rua e
voltar correndo para a festa. Dani perguntou, curiosíssima:
– O que foi que ele te disse?
– Nada...
Dani fez uma careta implicante para Mel:
– Sei...
Mel apenas riu e saiu com o carro.
Assim que sentaram no “Manuel & Juaquim” da Farme, Mel pediu o cardápio e duas tequilas, sal
e limão. Dani a olhou surpresa, e depois implicou:
– Isso tá se tornando um vício...
– Impossível...
Mel já estava chupando o sal da mão, com um sorriso provocante no rosto. Dani soltou um
suspiro e sem desgrudar os olhos dela perguntou:
– Impossível por quê?
Mel umedeceu os lábios com a língua antes de morder uma fatia de limão e dizer com um olhar
tão malicioso que Dani quase caiu da cadeira:
– Meu vício é outro...
Deu um pequeno gole na Tequila, devorando Dani com os olhos. Dani deixou escapar um
pequeno gemido, antes de virar o copo de tequila de uma vez só, sem sal nem limão.
Dani estava louca para ir embora, mas Mel abriu aquele sorriso lindo dela, capaz de convencer
Dani de qualquer coisa, e insistiu que estava com fome.
Dani concordou em pedir comida, frisando: “desde que seja algo rápido”, e deixou Mel
escolhendo enquanto ia ao banheiro.
Mel estava percorrendo o cardápio com os olhos, quando ouviu:
– Mel?
Ergueu os olhos e deu de cara com Renata, acompanhada por uma loira, que imediatamente
reconheceu como sendo aquela do episódio do banheiro em Itaipava. Vasculhou a própria memória
em busca do nome... Logo lembrou: Fabiana.
O que aconteceu depois disso foi terrivelmente confuso e rápido.
A tal Fabiana disse que ia ao banheiro e Mel não falou nada sobre Dani. Em parte porque tinha
sido pega de surpresa, em parte porque estava um pouco traumatizada com essa fatídica junção
de Daniele, mulheres e banheiros.
Renata se sentou na frente dela. Dani não viu Fabiana, estavam lado a lado, mas cada uma
dentro de um reservado. Só o que viu foi a ruiva na mesa... Com Mel.
A expressão de Dani mudou na mesma hora. Mel percebeu de longe o estado em que a
namorada se encontrava, mas nem teve tempo de abrir a boca. Dani parou na frente delas,
parecendo... No mínimo transtornada:
– Que lindo! Vocês combinaram ou o quê?
– Daniele, calma... Abaixa a sua voz e senta...
Renata ficou espantada com a paciência e o carinho na voz de Mel. Logo ela, que detestava
esse tipo de cena. Por muito menos, já tinha visto Mel se levantar e ir embora sem pensar duas
vezes.
Dani se soltou da mão de Mel quase com um safanão. Riu sarcasticamente, antes de dizer:
– Você acha mesmo que vou sentar aí com ela? Afinal de contas, o que essa mulher tá fazendo
aqui?
Mel se levantou muito séria. Ficou na frente de Dani, olhando nos olhos dela. Já não estava tão
calma quando respondeu:
– Não sei, Daniele, foi uma coincidência! A Renata chegou com aquela sua amiguinha loira, a
Fabiana...
– Sei lá que Fabiana é essa...
– Não lembra? Uma que também te agarrou no banheiro... São tantas, né, dá até pra confundir...
– Não desconversa... Não tô vendo ninguém com ela!
– É porque a tal loira foi ao banheiro, meu amor...
– Acabei de vir do banheiro, Mel...
– Você tá pensando o quê? Que eu chamei a Renata pra vir aqui? Pra gente aproveitar
enquanto você ia ao banheiro? Tá louca?
Nesse exato momento, Fabiana parou ao lado de Dani, sem entender o que estava acontecendo.
Renata continuou sentada, com os olhos muito arregalados. Fabiana deu dois beijinhos em Dani:
– Dani! Que surpresa, baby! Já conhece minha namorada, a Renata?
Dani ficou paralisada. Todas as fichas caindo ao mesmo tempo. Sem saber como consertar a
besteira que tinha feito.
Mel apenas falou, fuzilando Dani com os olhos:
– Espero que esteja satisfeita. Porque pra mim chega.
E depois, para Renata:
– Não sei nem o que dizer. Mil desculpas, Rê...
Pegou a bolsa, pagou a conta no balcão e foi embora
Quando Mel saiu pela porta, Dani pareceu acordar. Pegou a bolsa e saiu correndo atrás dela.
Encontrou-a já com a porta do carro aberta, e gritou:
– Mel, espera!
Mel se virou de frente para ela com total impaciência:
– O que você quer agora, Daniele?
A voz de Dani soou quase suplicante quando respondeu:
– Falar com você...
Mel não se deixou comover. Disse com raiva, agressivamente:
– Falar? Depois de mais um dos seus shows? Falar o quê? Mas se você quer falar, então fala,
Daniele! O que é que você tem pra me dizer?
Aquilo pegou Dani completamente de surpresa. Em parte porque não esperava aquela reação
de Mel. Nunca a tinha visto daquele jeito. Em parte porque as palavras dela finalmente a fizeram
entender que havia cometido não um, mas vários erros.
Mel interrompeu os pensamentos de Dani bruscamente:
– Tô esperando. Vai falar ou não?
Eram tantas coisas que Dani ficou perdida, sem conseguir organizar as ideias em frases. Só
conseguiu balbuciar:
– Eu... Não sei bem o que dizer...
Mel entrou no carro, depois de retrucar:
– Foi o que pensei.
Dani a impediu de fechar a porta. Agachou na frente de Mel, pedindo:
– Não, espera... Escuta... Por favor, Mel...
Mel olhou dentro dos olhos dela:
– Não, escuta você: tem bilhões de pessoas no mundo. Mas eu escolhi você. Só que não te
entendo, Daniele. Você não sabe o que quer. Me trai, depois me pede em casamento, depois
termina e me trata com total falta de respeito, depois fica toda doce, aí me destrata de novo e
agora toda doce novamente... Sinceramente? Não é isso que quero pra minha vida. Pra mim chega.
Eu cansei.
Dani tentou contestar:
– Não é verdade, Mel... Sei muito bem o que quero... Eu... Eu amo você.
Mel fechou os olhos por um momento. Suspirou profundamente... E então... Sacudiu a cabeça,
como se dissesse não.
Dani insistiu:
– Eu te amo...
Mel foi ríspida, agressiva quase:
– Cadê sua aliança?
Dani não entendeu:
– Ahn?
Mel fez questão de frisar com sarcasmo:
– Sua aliança. Aquela que ficava no seu dedo. Cadê?
Dani respondeu, muito envergonhada:
– Tá guardada... Mas vou voltar a usar...
Mel segurou as mãos de Dani. De uma forma condescendente, como quem consola uma criança.
Isso abalou Dani muito mais do que as palavras que ouviu:
– Não adianta, Daniele. Tarde demais.
Com uma serenidade assustadora, Mel tirou a aliança do dedo e a devolveu para Dani.
Dani começou a chorar. Algumas pessoas paradas ali por perto ficaram assistindo como se fosse
um espetáculo.
Mel enxugou as lágrimas dela e mandou Dani entrar no carro. Dani obedeceu sem contestar.
Ficaram um tempo sentadas, sem quebrar o silêncio que se estabeleceu. E então Mel a fitou, sem
disfarçar a preocupação. Imediatamente Dani aproveitou para dizer, com um tom que fez a frase
parecer uma espécie de chantagem emocional fofa, cheia de charme:
– Não acredito que você vai terminar comigo no dia do meu aniversário...
Não conseguiu o efeito desejado, porque Mel se irritou e respondeu:
– Quem terminou foi você, dias atrás...
Dani abaixou a cabeça e passou as mãos, com nervosismo, pelos cabelos. Olhou dentro dos
olhos de Mel ao perguntar:
– Você não me ama mais?
O jeito que Dani fez a pergunta, de forma insegura, tensa, cheia de medos e incertezas, deixou
claro para Mel que ela não tinha entendido nada.
De uma forma inesperada e absurda, Mel não teve como deixar de rir:
– Daniele, você não existe mesmo...
Dani não entendeu a reação dela. Mel continuou:
– É, eu sei que você não tá entendendo. Amor pra você é um bicho de sete cabeças, né? Onde é
que eu fui me meter, meu Deus?
A última frase foi muito mais dita para ela mesma. Dani não desistiu:
– Você não me respondeu.
– Será que ainda preciso dizer? Não sabe que eu amo você?
Dani abriu um sorriso enorme, radiante. Rapidamente Mel o fez desaparecer:
– Mas isso não muda nada do que eu disse antes.
Mel passou as mãos no rosto. Estalou o pescoço, movendo-o de um lado para o outro. Apoiou as
mãos no volante, suspirou de cansaço, bocejou com a mão tapando a boca.
Dani ficou observando, quieta. Achando-a acintosamente linda e atraente. Controlando como
podia a vontade que sentia de tocar nela.
Até que Mel finalmente falou:
– Vou embora. Tô cansada, com...
– Fome... Já sei...
Dani completou, certeira. As duas riram juntas, cúmplices por um breve momento. Depois Mel
ficou séria novamente. Dani pediu:
– Posso ir com você?
Mel suspirou alto, quase uma reclamação, antes de dizer:
– Pra quê?
Dani retrucou de um jeito que a desarmou:
– É meu aniversário. Quero ficar com você...
Mel olhou para ela desconfiada. Dani sustentou o olhar com um sorriso meigo, quase inocente,
impossível de resistir... Mel acabou dizendo:
– Tudo bem. Mas depois te deixo na casa do seu pai.
– Eu preferia que você...
Mel a cortou de uma forma definitiva:
– Daniele, pode esquecer. Vamos só sentar, comer e conversar. Nada além disso. Se quiser mais,
é melhor nem vir.
Dani concordou:
– Tudo bem.
Mas no fundo tinha a esperança de fazer Mel mudar de ideia.
Mel estacionou na frente do Bob’s dentro do posto de gasolina da Lagoa Rodrigo de Freitas.
Dani ficou um pouco decepcionada porque isso queria dizer que seria jogo rápido.
Comeram sem falar nada. Dani não conseguia disfarçar a tristeza. Mel a observou atentamente
e só interrompeu o silêncio quando acabaram de comer:
– Vamos?
Dani apenas concordou com a cabeça. Entraram no carro e foram caladas até a portaria do
prédio do pai de Dani no Cosme Velho.
Dani soltou o cinto e se virou para Mel, impulsivamente:
– Se você me deixar aqui sozinha vou chorar a noite inteira.
A frase pegou Mel totalmente de surpresa, porque Dani tinha confessado o que sentia de uma
forma absolutamente sincera, límpida, verdadeira. De coração. Sem nenhum tipo de jogo, charme
ou disfarce.
Obrigando Mel a admitir para si própria que, apesar de tudo o que tinha dito, também ia
chorar sem parar assim que chegasse em casa.
– Você não quer subir?
Foi a proposta de Dani. E estranhamente, Mel não sentiu nenhuma vontade de recusar ou resistir.
Concordou com a cabeça, olhando séria para Dani. Um acordo tácito sem sorrisos, simples
constatação de que ambas eram prisioneiras da mesma fraqueza inevitável.
Mel estacionou o carro e deixou que Dani a conduzisse pela mão. Ficaram assim, de mãos
dadas, em silêncio, dentro do elevador, em frente à porta enquanto Dani a abria, no corredor
escuro e quando entraram no quarto que tinha voltado a ser de Dani nos últimos dias.
Então Dani acendeu a luz, olhou bem fundo nos olhos de Mel, aproximou-se e a abraçou,
colando o rosto no dela. Mel correspondeu o abraço com o mesmo carinho, a mesma paixão, o
mesmo amor.
E, pela primeira vez na vida, Dani ficou feliz por existir um sentimento como aquele, totalmente
irracional e sem sentido, que as dominava tão completamente a ponto de tornar possível Mel estar
ali.
Com um movimento lento, tão idêntico que parecia sincronizado, as duas viraram o rosto... Ao
mesmo tempo... As bocas se encontrando num beijo intenso, profundo, mas suave.
Uma das mãos de Dani subiu pelas costas de Mel, até chegar na nuca. Mel suspirou, e a puxou
pela cintura, grudando o corpo ainda mais no dela...
Dani interrompeu o beijo e, quando as bocas se separaram – mas elas continuaram abraçadas –
tentou dizer:
– Mel, eu...
Mel colocou dois dedos sobre os lábios de Dani e pediu:
– Não vamos falar nada.
Subiu os dedos da boca para o rosto, o carinho delicado fazendo Dani fechar os olhos.
A entrega de Dani deixou Mel totalmente inebriada, seduzida, fascinada. Beijou-a lentamente
nas faces, na testa, no queixo. Roçou os lábios na boca que se abria para ela, e só então
mergulhou a língua, saboreando a doçura de Dani por inteiro...
Dani gemeu quando a língua de Mel encostou na dela. Sentiu o corpo todo amolecer, fraquejar,
oferecer-se... Correspondeu ao beijo com a sofreguidão de um náufrago que pisa novamente em
terra firme.
A boca de Dani desceu pelo pescoço de Mel, saboreando cada arrepio que causava na pele
delicada, macia, sensível.
Com um gesto leve, um toque apenas, Mel fez Dani levantar a cabeça e olhar para ela. Livrou-
se do vestido que estava usando olhando-a nos olhos, de uma forma sedutoramente singela... E
ficou ali parada, completamente despida para Dani.
O sorriso de Dani foi amoroso, lindo e fez Mel sorrir de volta para ela. Dani também tirou as
roupas, peça por peça.
Então uma urgência inesperada tomou conta das duas. Abraçaram-se e beijaram-se sem trégua,
com loucura, tocando, provando, acariciando cada pedacinho de pele descoberta com as bocas e
as mãos... Sem reservas.
Dani guiou Mel para a cama. Deitou-se ao lado dela no colchão estreito, os corpos unidos,
entrelaçados.
Os olhos de Mel brilhavam como chamas. Dani se deixou queimar neles por um breve instante,
antes de descer a boca pelo pescoço e colo de Mel, num torturante caminho antes de tocar os
seios.
Mel gemeu baixinho, arqueou o corpo para se entregar melhor às sensações inebriantes que a
boca de Dani provocava lambendo, chupando, mordiscando levemente.
Mel enfiou as mãos nos cabelos de Dani, segurando com força a cabeça dela, puxando-a de
volta para grudar novamente a boca na de Mel num beijo sedento, possessivo, voraz.
A mão de Dani desceu, percorrendo o corpo de Mel inteiro, antes de pousar entre as coxas...
Mel soltou um pequeno gemido contra a boca de Dani e abriu as pernas, oferecendo-se.
Então foi a vez de Dani gemer, porque Mel deslizou a mão por suas costas, passando as unhas
com suavidade, arranhando levemente... Depois umedeceu o dedo de saliva e o passou lentamente
sobre o biquinho do seio.
Deu uma mordida de leve no lábio inferior de Dani, quando a sentiu enfiar os dedos dentro
dela. Como resposta, Dani aprofundou o movimento.
Mel acariciou o sexo de Dani, penetrou-a vagarosamente, fazendo Dani mover os quadris quase
com desespero para tentar acelerar o movimento.
Naquele momento, os corpos passaram a se procurar, pulsar e respirar juntos, no mesmo ritmo e
intento.
Dani sentiu Mel estremecer e gemer de forma mais intensa, e se uniu a ela no imenso prazer de
se pertencerem. As duas se deixando levar completamente pela correnteza atordoante que
pareceu deixá-las em suspenso, na satisfação arrebatadora de gozarem ao mesmo tempo.
Ficaram abraçadas, as respirações ofegantes, os corações descompassados, os corpos ainda
tremendo...
As bocas se encontraram novamente, num beijo preguiçoso, apaixonado, terno...
Então Dani acomodou a cabeça de Mel no ombro e a envolveu com os braços. Mel suspirou,
bocejou e, aninhada entre os braços dela, com a mão de Dani acariciando seus cabelos,
adormeceu.
Dani olhou para a mulher dormindo em seus braços. Linda, tão absurdamente linda que doía.
Apertou-a com tanta força que, apesar de estar dormindo, Mel soltou um pequeno gemido. Dani
sorriu e a beijou nos lábios levemente. Mel voltou a gemer, dessa vez com um sorriso de prazer.
Dani a beijou novamente, fechou os olhos e se juntou a ela nos braços de Morfeu.
Mel acordou cedo e se levantou cuidadosamente para não acordar Dani. Assim que se sentou na
cama, Dani virou de lado, resmungando no sono.
Ficou alguns instantes ali parada, olhando para Dani, absolutamente linda despida, dormindo
tranquila.
Amava aquela mulher. Muito. Demais. Tanto que, quando estava com ela, não conseguia nem
pensar. Era uma coisa louca, devastadora, que a dominava como o efeito de uma droga.
Mel não era o tipo de pessoa que gosta desse tipo de relacionamento turbulento, incerto,
descontrolado. Pelo contrário, tudo o que queria era ter uma vida tranquila, segura e feliz ao lado
de Dani.
Mas parecia que, cada vez que elas conseguiam finalmente se acertar, alguma coisa surgia do
nada para atrapalhar.
Tudo o que tinha dito para Dani na noite anterior era verdade. Estava realmente magoada, sem
esperanças, cansada...
Só que, uma vez mais, tinha se deixado levar por aquele fascínio, encantamento irresistível que
existia entre elas, capaz até de fazer Mel se esquecer da realidade.
E ali, naquele momento, sentada na cama ao lado de Dani, depois de mais uma noite de amor
deliciosa, maravilhosa, incrível... Decidiu que aquilo não ia mais se repetir.
Vestiu-se, ajeitou o cabelo, olhou uma última vez, despedindo-se da visão deslumbrante que era
Dani deitada de bruços nua na cama e saiu fechando a porta.
UM NATAL E DOIS TELEFONEMAS
Quando Dani acordou no dia seguinte, não entendeu porque a cama estava vazia. Não
acreditou que Mel tivesse ido embora sem dizer nada. Saiu do quarto procurando por ela e
encontrou o pai no corredor com uma xícara de café na mão. Ele sorriu, passou a mão
carinhosamente nos cabelos da filha e perguntou:
– Bom dia! Como foi a festa?
Dani respondeu apressadamente, enquanto caminhava pelo corredor em direção à sala. Parou
quando ouviu:
– O porteiro trouxe um quadro pra você. Lindo, aliás. Parece que a Mel deixou hoje cedo. Junto
com um bilhete.
Quase correu, ignorando completamente o quadro. Só queria saber do bilhete. No papel
dobrado Mel tinha escrito simplesmente: “Daniele”. Desdobrou e leu:
Não vou dizer que a noite de ontem não deveria ter acontecido. Nós duas queríamos e, como
sempre, foi maravilhoso, especial, lindo...
Mas um relacionamento não pode ser baseado apenas em noites de amor embriagantes. A luz
do dia traz de volta a sobriedade e a razão. E me faz ver que nada mudou. Continuo pensando
exatamente como antes.
Daniele, se você me ama mesmo, só te peço uma coisa: por favor, não insista. Entenda que
acabou.
Dani não conseguiu mais controlar a entrada e saída de ar dos pulmões. Tentava
desesperadamente respirar, sufocando. O barulho já conhecido chamou atenção do pai, que a fez
sentar no sofá e rapidamente trouxe a bombinha, apertando-a três vezes dentro da boca de Dani.
A crise de asma passou, mas a sensação terrível não melhorou nem um pouquinho. Ficou ali
prostrada, com o pai a abraçando, o corpo dominado por uma estranha sensação de ausência de
vida.
Depois que escreveu aquele bilhete, Mel não voltou para casa. Foi direto para o apartamento
dos pais. A mãe abriu a porta já estranhando. Mel nunca ia lá aos sábados.
Assim que a viu, soube que tinha alguma coisa errada. Mel confirmou abraçando-a com força e
desabando nos braços da mãe num choro convulsivo, profundamente angustiado, de uma tristeza
infinita. Exatamente como se alguém tivesse morrido.
Faltavam três dias para o Natal. Indescritível o estado de espírito das duas.
Dani resistiu bravamente à imensa vontade que sentia de voltar a ficar reclusa. Era uma
verdadeira tortura, porque tudo a fazia pensar em Mel.
Chorava por qualquer coisa. Do nada, de repente. Ninguém entendia, nem ela mesma.
Não queria ouvir conselhos, comentários, incentivos. Em sua mente, estava gravada a última frase
dela: “Entenda que acabou”.
Entender até entendia. Mas como fazer o coração compreender, se ele pulsava e existia além
dos limites da razão?
Mel nunca tinha perdido um parente ou amigo próximo. O máximo que tinha sofrido era o
término de relacionamentos que, nem de longe, tinham o significado do que tivera com Dani.
Aquela sensação de vazio, como se um vácuo a separasse do resto do mundo, como se o peito
estivesse repleto de uma total falta de cor, aquela presença amputada, sufocada, com gosto
escuro, sombrio... Nunca tinha sentido.
Parecia se arrastar entre as pessoas felizes e animadas pelo espírito natalino, um verdadeiro
sacrifício.
Daniele com certeza diria, com aquele jeitinho de sorrir irresistível que Mel adorava, que aquela
tristeza imensa no meio da alegria alheia era um “contraponto de emoções” ou um daqueles termos
técnicos de teatro que ela tanto gostava de usar para analisar a vida.
Mas Daniele tinha aceitado o término sem problemas. Não tinha procurado Mel nenhuma vez.
Nada. Nenhuma palavra. Sequer um telefonema. Nenhuma insistência. Exatamente como Mel tinha
pedido.
No fundo, o fato de Dani a ter obedecido pela primeira vez na vida tinha sido uma grande
decepção. Porque Mel queria mais do que tudo poder ouvir a voz dela, nem que fosse apenas por
alguns instantes. Apesar de saber que estava se enganando de novo, que não seriam instantes,
seria de novo a loucura narcotizante de se render ao que sentia. E, nessa luta interna, entre querer
e não querer Dani, Mel se digladiou incessantemente durante todos os dias que se seguiram.
No dia 24, Dani foi com o pai para a casa da irmã. Só a sobrinha linda de dez meses conseguiu
animá-la um pouco. Dani ficou com ela no colo quase o tempo inteiro, até quando chegou a hora
do bebê ir dormir. Ninou-a, balançando de um lado para o outro, cantando baixinho a mesma
canção que a mãe cantava para ela quando era criança.
Jantaram cedo e ficaram conversando na sala. Para alívio de Dani, ninguém perguntou nada
sobre Mel. Não queria começar a chorar ali na frente de todos.
Mas começaram a lembrar de outros natais, lembranças felizes de quando ela e a irmã eram
crianças, os olhos se enchendo de lágrimas quando falavam sobre a mãe de Dani.
Depois de tantos anos, o pai falava da esposa com tanto amor... Dani tinha certeza de que, se
ela não tivesse morrido, ainda estariam juntos, apaixonados como sempre. A irmã de Dani abraçou
o marido. Ele a acolheu com carinho...
E, naquele momento, Dani percebeu que não importava o bilhete, a frase, nem a recusa de Mel,
pois a amava, precisava dela. E tinha certeza de que Mel a amava também. Não podia ficar de
braços cruzados esperando que um milagre acontecesse.
Levantou do sofá tão bruscamente que os outros se assustaram. Pediu desculpas, agarrou o
celular com pressa e foi para a varanda.
A lua estava linda. Amarela, redonda, gigantesca. Perfeita para iluminar quem estivesse disposto
a se arriscar nos mares perigosos e profundos do amor e da paixão.
Discou o número de Mel e colocou o celular no ouvido, torcendo para ela atender.
O Natal era uma das épocas favoritas de Mel. A família reunida, a troca de presentes, a
felicidade das crianças, as comidas maravilhosas que a mãe fazia... Mas naquele ano, nada tinha
importância, nada parecia fazer sentido.
No dia 24, como todos os anos, a família de Mel estava reunida na casa dos pais dela.
Mel estava sentada ao lado de PH, com um prato na mão, empurrando a comida de um lado
para o outro com o garfo. Não que o jantar não estivesse ótimo, pelo contrário. Mel estaria
adorando se não fosse pelo simples fato da comida parecer não ter gosto. E de estar
estranhamente sem fome.
Quase não comeu. PH percebeu, mas não disse nada.
Antes da sobremesa, a mãe de Mel a chamou do lado de fora da sala:
– Melzinha, vem aqui um minuto.
Encontrou-a no corredor segurando o celular de Mel, que estava tocando sem parar:
– Acho melhor você atender.
Entregou o celular para ela e voltou para a sala. Mel olhou o visor e viu que era Dani. Ainda
demorou alguns segundos para atender, esforçando-se para dizer com naturalidade, sem muito
resultado:
– Oi, Daniele...
Dani percebeu que a voz de Mel estava estranha. Parecia triste. Foi carinhosa, quase se
derreteu:
– Oi, Mel... – Houve um breve silêncio. Depois Dani voltou a falar: – Queria tanto ouvir sua voz...
Não seria Natal sem você...
Outro silêncio. Mel ficou abalada. Dani tinha expressado exatamente o que ela também sentia.
Não conseguiu responder. Dani percebeu, mas não demonstrou:
– Hoje é um dia pra gente ficar com quem é especial. Preciso te ver. – Dani ouviu um suspiro do
outro lado da linha. Insistiu: – Por favor...
Mel lutou contra a vontade desesperadora que sentiu de largar tudo e sair correndo ao
encontro de Dani. Era esse tipo de coisa impulsiva, sem sentido, que não queria mais em sua vida.
Então respondeu:
– Hoje não. – Dessa vez foi Dani quem suspirou. Um suspiro triste, decepcionado. Mel sabia que
tinha sido fria, seca, quase grosseira. Tentou amenizar: – Tô na casa dos meus pais. Vou dormir
aqui. – E como Dani continuou em silêncio, completou: – Amanhã.
A voz de Dani soou um pouco mais animada quando disse:
– Amanhã então. Onde?
– Amanhã a gente combina. Me liga depois do almoço.
– Tá bom...
Ficaram mudas novamente. Sem saber o que dizer. Nenhuma das duas querendo ser a primeira
a desligar. Foi Mel quem conseguiu falar, com um tom de voz tão suave, que fez Dani perceber
que, na verdade, ela queria continuar a conversa:
– Até amanhã então.
Já ia se despedir quando Dani a interrompeu, com uma vozinha doce:
– Mel?
– Quê?
– Eu amo você.
Mel foi pega totalmente de surpresa. Sentiu um arrepio delicioso percorrer seu corpo inteiro.
Fechou os olhos, respirou profundamente e, tentando controlar a voz para não deixar transparecer
o efeito das palavras dela, disse apenas:
– Até amanhã, Daniele...
Desligou, completamente consciente de que a voz tinha soado fraca, quase trêmula, deixando
Dani muito satisfeita com a reação intensa que conseguiu obter.
Por volta do meio dia do dia seguinte, o celular de Mel tocou novamente:
– Bom dia!
– Bom dia, Daniele... Não era pra você ligar depois do almoço?
Dani tinha acabado de acordar. Mas a ansiedade era tanta que a primeira coisa que fez foi
ligar para Mel. Mentiu:
– Eu já almocei...
Mel sabia que era impossível. Provavelmente Dani tinha acabado de acordar.
– Sei...
– E então? Vamos combinar?
Dani parecia animada demais. Mel ficou com medo, tentou escapar:
– Não sei se devemos nos encontrar mesmo... – O silêncio que Dani fez foi tão profundo que fez
Mel mudar de ideia: – Ok, você venceu... Seis horas, pode ser?
– Perfeito. Posso escolher o lugar?
– Onde?
– No píer da Lagoa...
Dani falou com uma voz inocente, mas Mel duvidou das intenções dela. Era um lugar para onde
sempre iam juntas. Ficavam horas lá sentadas de mãos dadas, admirando a vista fantástica da
Lagoa enquanto ia anoitecendo... E, então, a vista se tornava mais bonita ainda, com as luzes dos
prédios do outro lado não conseguindo apagar o brilho da lua e das estrelas. Romântico demais,
cheio de recordações demais para que a conversa não se transformasse em... Algo mais.
Dani sentiu que Mel hesitava. Disse muito séria:
– Não precisa ter medo... Vou me comportar, prometo.
Foi uma jogada de mestre, porque Mel imediatamente respondeu:
– Até parece, Daniele, que eu tenho medo de você. E é claro que você vai se comportar. Senão
eu vou embora na mesma hora. Estamos entendidas?
– Sim, senhora!
O jeito implicante com que Dani falou foi tão engraçadinho que Mel não conseguiu conter o riso.
Dani aproveitou:
– Mais alguma coisa... Amor?
Frisou bem a última palavra, fazendo Mel se arrepiar de novo e acabar achando melhor
ignorar o tratamento que Dani usou de propósito – tinha certeza! – só para provocar. Concluiu
tentando parecer aborrecida:
– Tchau, Daniele...
E, como da outra vez, desligou sabendo que Dani tinha percebido.
Dani ficou pensativa. Sabia que, se quisesse, poderia seduzir Mel com facilidade. Mas, se fizesse
isso, no dia seguinte ela voltaria a se levantar e ir embora. E não era isso que queria. Quebrou a
cabeça tentando encontrar a solução. Depois de muito pensar, abriu um enorme sorriso.
O AMOR FINALMENTE VENCE
Mel chegou na Lagoa pontualmente. Faltavam cinco minutos para as seis quando estacionou o
carro. Caminhou devagar em direção ao píer, já contando com o habitual atraso de Daniele.
Porém, quando chegou na pontezinha que ligava o píer à ciclovia, viu que Dani já estava lá
sentada, olhando a paisagem, de costas para Mel.
Assim que deu dois passos em direção a ela, Dani se virou, como se sentisse a presença de Mel.
Quando a viu, abriu um sorriso tão lindo que Mel não teve como não sorrir de volta.
Dani se levantou e caminhou em direção a ela. Ficaram paradas uma na frente da outra, meio
sem jeito. Até que Dani a abraçou, deu um beijo carinhoso no rosto de Mel e disse simplesmente:
– Senti sua falta...
Mel aceitou, ou melhor, adorou o abraço, a frase, o beijo... Dani parecia amorosa,
despretensiosa, sincera, com uma naturalidade sem segundas intenções que nunca tinha visto nela.
Caminharam juntas até a beira do píer, onde se sentaram lado a lado, com os pés apoiados na
espécie de degrau que tinha embaixo, perto da água.
Por um momento, pareceu que tinham voltado no tempo, numa das inúmeras vezes em que tinham
ficado ali do mesmo jeito.
Dani olhou para Mel, deixando o encantamento que dela emanava atingi-la, sem medo. Não
conseguiu conter a vontade que teve. Num impulso, pegou a mecha de cabelos dourados que
balançava com o vento e a ajeitou, prendendo atrás da orelha de Mel.
O gesto simples, delicado, fez o coração de Mel acelerar. Ela olhou para Dani. Os olhos dela
estavam brilhando muito, um brilho diferente, que Mel desconhecia. Isso a surpreendeu
completamente.
Então Dani sorriu, pegou na mão de Mel e voltou a olhar para frente. Com um sorriso, sem tirar
a mão da dela, Mel voltou a admirar a vista também.
Ficaram ali sentadas muito tempo. Até o sol se pôr num espetáculo à parte, o céu mudando de
cor, avermelhando atrás dos prédios do outro lado da Lagoa, e uma infinidade de tons de azul
surgindo e mudando até se transformarem no escuro profundo, desafiado apenas pelas luzes de
natal que enfeitavam os edifícios e que se misturavam ao brilho das estrelas. A lua estava cheia,
linda, amarela, exatamente igual à da véspera.
Dani sentia o coração aquecido apenas com a presença de Mel ao seu lado. As mãos
continuavam entrelaçadas. Moveu os dedos acariciando delicadamente os dela, antes de dizer:
– Vamos?
Mel estava achando tudo perfeito. Por isso se permitiu apenas curtir o momento com calma.
Aquela era uma Dani que não conhecia, sem medos, incertezas nem barreiras... Desprendida,
dedicada, meiga...
A voz de Dani a obrigou a sair do transe em que se encontrava. Mel olhou para ela como se a
visse pela primeira vez na vida e perguntou:
– Pra onde?
Dani respondeu com um sorriso doce:
– Pensei em comer alguma coisa...
Mel também sorriu. Incrivelmente, tinha voltado a sentir fome. Respondeu:
– Ótima ideia...
Dani já estava de pé e estendeu a mão para Mel, que aceitou sem protestar, achando fofo o
jeitinho cuidadoso com que ela a ajudou a se levantar.
Atravessaram a pontezinha e continuaram caminhando lado a lado, trocando algumas poucas
palavras. Nada de importante, só amenidades.
Até chegarem ao quiosque japonês. Dani parou e perguntou:
– Que tal? – Só para constar, porque Mel também adorava comida japonesa.
– Nem precisa perguntar, né? – Foi a resposta bem humorada.
Saborearam os sushis e sashimis sem pressa. A conversa correndo leve, charmosa, divertida,
espirituosa.
Mel colocou um pouco de sal na quina do copo de saquê, olhou para Dani e disse rindo, num tom
de voz implicante:
– Que tal um concurso de saquê sexy?
Dani também riu, antes de dizer:
– Contanto que eu não tenha que competir com você.
– Por que não?
Dani a olhou tão profundamente que Mel desviou os olhos. Respondeu:
– Depois do que eu vi no meu aniversário, acho que não sou páreo para você...
Vindo de Dani, aquilo era muito mais do que um elogio. Mel ficou ruborizada, absolutamente
encabulada. Dani achou uma graça Mel ter ficado envergonhada. Abriu um sorriso imenso, sem
perceber.
Então, de repente, do nada, Dani sentiu a mão de Mel pousar em cima da dela na mesa:
– Até parece, Daniele... Eu vi a sua performance também... – Mel fez uma pausa. Dani ficou
esperando que ela terminasse a frase. Depois de alguns segundos de suspense, Mel completou: –
Quase pedi sua bombinha emprestada...
O olhar de Mel foi tão provocante que fez Dani estremecer. Respirou fundo, ficou totalmente sem
palavras. E foi a vez de Mel sorrir, achando Dani linda desconcertada.
Foi então que os olhos voltaram a se encontrar. E as duas perceberam juntas, ao mesmo tempo,
que estavam se apaixonando novamente.
Mel insistiu em deixar Dani na casa do pai. Antes de descer do carro, Dani ia perguntar se
podia ligar para ela no dia seguinte, mas Mel foi mais rápida:
– Me liga amanhã.
Dani concordou, com um sorriso de orelha a orelha. Mel aproximou o rosto do dela, olhando
fixamente para os lábios de Dani.
Dani teve apenas segundos para pensar. Mas, nesse curto espaço de tempo, a sua mente
trabalhou numa velocidade louca. Mel tinha bebido, estava agindo por impulso, um beijo naquele
momento podia pôr tudo a perder. Até porque Dani sabia que não iam conseguir ficar só nisso. Por
mais que Mel se oferecesse, precisava resistir. Não podia arriscar tudo por um breve momento.
Tinha um objetivo maior.
Queria que fosse para sempre.
Quando Dani desviou a boca e a beijou no rosto, Mel não entendeu. Menos ainda quando ela
saiu do carro e disse: “Boa noite. Dorme bem. Até amanhã...” rapidamente e entrou na portaria.
Ainda estava ali parada, perplexa, quando o celular tocou. Era ela:
– Mel?
– Oi?
– Esqueci de te dizer: amo você...
No dia seguinte, assim que acordou, Dani ligou para Mel:
– Oi... Vamos ao cinema?
– Ver o quê?
– Você pode escolher...
Quando Mel chegou, Dani já tinha comprado os ingressos. Mel tinha escolhido uma comédia
romântica, bem água com açúcar. Ficaram de mãos dadas, sentadas em uma fileira que, a não ser
pelas duas, estava vazia.
Logo na primeira cena de amor, Mel suspirou e encostou a cabeça no ombro de Dani. Com um
esforço gigantesco, Dani conteve a vontade que sentia de se virar e grudar a boca na dela.
Mel virou o rosto em direção a Dani, a respiração atingindo-a em cheio no pescoço, arrepiando-
a inteira. Uma verdadeira tortura. Isso quase a descontrolou, mas Dani continuou firme.
Mel sentiu Dani estremecer quando roçou os lábios em seu pescoço de forma provocante. Mas,
estranhamente, nem a isso Dani correspondeu. Ficou ali parada dura, sem se mover, parecendo
petrificada.
Só depois de um tempo, quando Mel desistiu e voltou a se sentar direito, um pouco menos
próxima, Dani conseguiu relaxar novamente.
Em determinado momento, cometeu o erro de virar o rosto na direção de Mel, para comentar
uma cena. Mel já a esperava, com a boca no lugar certo. Os lábios se roçaram, mas nem assim
Dani cedeu. Interrompeu o contato, virando a cabeça rapidamente para frente, quase sem
conseguir respirar direito.
Então Mel sussurrou baixinho no ouvido dela:
– Daniele...
Dani estava de olhos fechados, tentando fazer o coração bater menos alto no peito:
– Quê?
– Se não me beijar agora, juro que mato você!
Dani se virou para Mel. Viu nos olhos dela a mesma urgência. Colaram os lábios quase com
desespero, mergulhando de corpo e alma naquele beijo.
Quando as bocas se afastaram, Mel exclamou, com um alívio que chegava a ser engraçado:
– Ai, até que enfim!
A voz saiu alta demais para quem estava num cinema. Algumas pessoas reclamaram, pedindo
silêncio, fazendo “Psiu!”
Como resposta, Dani disse quase sussurrando:
– Vamos sair daqui?
Mel fez charme:
– Agora? E o final do filme?
Dani olhou para ela, adorando o sorrisinho que Mel tinha nos lábios:
– Sinceramente? Nem sei qual é a história...
O sorriso de Mel se tornou safado:
– É... Também não consegui prestar atenção...
Riram juntas, sempre baixinho, é lógico, para não reclamarem de novo, e saíram da sala de
projeção depressa.
Assim que chegaram do lado de fora, Mel sentiu o celular vibrando. O de Dani também vibrou.
Atenderam:
– Alô? Oi Deca...
– Alô? Oi Raq...
Entreolharam-se e riram. Deca e Raq falaram para as duas a mesma coisa:
– Tá a fim de tomar um chopinho com a gente?
Mel e Dani se entreolharam de novo. Concordaram tacitamente, com um olhar apenas. Achando
fofa a intenção das amigas em convidá-las ao mesmo tempo. E depois responderam juntinhas:
– Tudo bem...
Deca e Raq estavam esperando no Belmonte do Flamengo. Ficaram muito surpresas quando
viram Mel e Dani chegando juntas. Mas acharam melhor não fazer perguntas.
As quatro ficaram conversando, comendo e bebendo, alegres e descontraídas.
Lá pelas tantas, o celular de Mel tocou. Ela atendeu:
– Alô? Oi, Rê...
Na mesma hora Deca e Raq olharam para Dani, tensas. Mas Dani continuou bebendo o seu
chope como se nada tivesse acontecido. O que Renata falou ficou óbvio quando Mel respondeu,
muito sem jeito:
– Hoje não vai dar...
Surpreendentemente, Dani falou para Mel:
– Fala pra ela vir pra cá.
Mel pediu para Renata esperar um pouco, tirou o celular da orelha e perguntou pra Dani, certa
de que não tinha escutado direito:
– Quê?
Dani repetiu tranquilamente:
– Fala pra Renata vir pra cá.
Mel estava perplexa:
– Daniele, tem certeza?
Dani sorriu e confirmou, deixando todas na mesa boquiabertas:
– Sem problemas...
Sem conseguir se refazer do espanto, Mel chamou Renata, exatamente como Dani sugeriu.
A reação de Renata quando viu Dani sentada na mesa foi hilária. Ela quase deu meia volta e foi
embora, apavorada.
Mas Deca a viu e acenou para ela, fazendo com que todas da mesa a olhassem, tornando a
retirada estratégica inviável.
Depois de um “oi!” geral, Renata se sentou muito sem graça na cabeceira da mesa, entre Deca e
Mel.
De início, a conversa foi difícil. Mel não falava nada, estava visivelmente pouco à vontade. Dani
chegou bem perto dela e sussurrou baixinho:
– Amor, relaxa...
Mel olhou para ela. Dani a olhou de volta. Totalmente tranquila, confiante, sorridente. Com uma
segurança inabalável do que ela e Mel sentiam.
As duas se pertenciam. Simples assim.
Mel percebeu, compreendeu a diferença. Com os olhos cintilando, disse no ouvido de Daniele:
– Eu amo você...
Dani respondeu, com os olhos brilhando também:
– Eu sei... – Depois de uma pequena pausa, em que se fitaram intensamente, completou: – Te amo
também...
Dani colocou o braço atrás de Mel, em cima do encosto da cadeira. Mel sorriu, recostou o corpo
no de Dani, pousou a mão carinhosamente na perna dela e entrou animada na conversa.
O coração de Dani entristeceu quando foram chegando ao Cosme Velho. Não queria se separar
de Mel. Estava com a mão na coxa dela e a apertou inconscientemente. Mel sorriu, pegou a mão
de Dani e a manteve junto à dela enquanto passava a marcha, como adorava fazer.
Passou direto pelo Cosme Velho e entrou no Rebouças. Dani a olhou surpresa. Mel apenas sorriu.
Quando saíram do túnel e Mel pegou a Lagoa em direção à Ipanema, Dani ainda perguntou, num
tom de brincadeira, mas no fundo querendo ter certeza:
– Posso saber pra onde você tá me levando?
Mel respondeu tranquilamente:
– Pra nossa casa, amor.
Riu da felicidade dela. Beijou a mão de Dani e completou:
– Você não pensou que eu ia continuar te deixando dormir em outro lugar, né?
Nicole pulou em cima das duas assim que entraram em casa. Abaixaram juntas para fazer
carinho na cachorrinha. Mel comentou:
– Ela tava com saudade de você... – E depois, num tom totalmente diferente: – Eu também...
Dani levantou, ficou atrás de Mel, tão próxima que os corpos se colaram quando a fez se
levantar. Afastou os cabelos dourados do pescoço, abrindo caminho para a boca... Que desceu
quente, faminta na pele, fazendo Mel se arrepiar inteira e jogar a cabeça para trás, facilitando o
contato.
Dani a abraçou pela cintura, uma mão subindo por baixo da blusa e se fechando sobre um seio.
Mel deixou escapar um gemido, sussurrou:
– Senti tanto sua falta, Daniele...
Como resposta, o toque no seio dela se tornou mais exigente. A outra mão desceu por baixo da
minissaia, passeou um pouco pelas coxas e se enfiou intimamente entre elas.
Dani sentiu o corpo de Mel amolecer. Arrancou a calcinha dela com pressa... Mel deixou escapar
um gemido aveludado, quase um ronronar, quando Dani a tocou novamente entre as pernas.
Dani a acariciou sem pressa. Mordendo, beijando, chupando o pescoço e a nuca deliciosamente.
Mel gemeu mais alto quando sentiu os dedos de Dani a preenchendo.
Fechou os olhos e se entregou completamente... Acompanhou movendo os quadris sensualmente,
esfregando-se nela, gemendo cada vez mais.
A boca de Dani subiu para a orelha, mordiscando... Pediu no ouvido de Mel:
– Espera... Quero você na nossa cama...
Mel respondeu com dificuldade, a respiração difícil, a voz trêmula, o corpo já sacudido por
pequenos espasmos:
– Ai, amor... Não vai dar...
Dani então sussurrou de volta:
– Então goza, amor... Goza gostoso na minha mão...
Mel explodiu num orgasmo longo, intenso, regido com maestria por Dani, gemendo alto enquanto
o corpo todo estremecia incontrolavelmente.
Levou um tempo para se recuperar e abrir os olhos. Assustou-se, porque estavam no quarto, em
frente à cama. Tinham chegado lá sem que percebesse. Gaguejou, ainda perdida:
– Nossa, amor... Você... Você me deixa... Sem chão...
Dani parou de beijar o pescoço de Mel por um instante. Perguntou, provocante:
– Isso é uma reclamação?
Mel apenas riu. E respondeu:
– Não... É um elogio mesmo.
Virou-se de frente para Dani, enlaçou-a pelo pescoço e a beijou intensamente.
Puxou Dani para a cama, sentando em cima dela sem desgrudar as bocas um só instante.
Arrancou a blusa de Dani com pressa, a boca já descendo em direção aos seios... Passou a língua,
depois sugou vagarosamente. Desceu a boca pela barriga... Dani se contorcia deliciosamente em
suas mãos.
Tocou-a entre as pernas, por cima do jeans. Abriu os botões, enfiou a mão dentro da calça,
arrancando um gemido. Também gemeu ao constatar o quanto ela estava molhada. Livrou-a do
jeans e da calcinha, com a mesma urgência que fazia Dani a ajudar, implorando, quase
desesperada:
– Ai, amor... Rápido...
Quando finalmente conseguiu jogar a calça e a calcinha dela no chão, abriu as pernas de Dani
e mergulhou a boca em seu sexo. Saboreou demoradamente, de todos os jeitos e formas, fazendo
Dani gemer em diferentes ritmos, alturas e tons.
Dani não teve escolha a não ser permitir que Mel a provocasse, torturasse, enlouquecesse ao
máximo. Devorando-a com vontade, e então parando quando a sentia estremecer mais forte, não
permitindo que Dani gozasse logo, rindo:
– Não... Ainda não...
Mel sentiu que Dani a segurava pelos cabelos, puxando-a com força, tentando impedi-la de
parar novamente, então a penetrou com os dedos e aprofundou o contato da boca,
correspondendo à urgência de Dani, saciando completamente as necessidades de ambas,
idênticas... Gemendo junto com ela...
Dani ainda tentou balbuciar, a voz sufocada, rouca:
– Não para... Vou...
Sem conseguir completar a frase. O corpo de Dani estremeceu, ela gritou. E gozou violentamente
na boca de Mel.
Mel se deitou sobre ela e beijou-a com voracidade, movendo-se em cima de Dani com um desejo
pulsante, premente.
Dani a recebeu de forma ardente, apertando-a com força, passando as mãos pelas costas de
Mel quase com desespero, agarrando-a e puxando pela nuca, passando a língua em seu pescoço.
Mel se rendeu totalmente à sensação maravilhosa de estar nos braços de Dani, a pele pulsando no
mesmo descompasso acelerado contra a dela, o arquejante respirar da união das bocas, lábios e
línguas, as mãos que tocavam, pegavam, percorriam...
Conteve o gozo até sentir que o corpo de Dani se tencionava debaixo do seu. E então
explodiram juntas, alternando palavras desconexas e gemidos, até ficarem largadas, relaxadas e
satisfeitas. Dani a apertou com força. Mel roçou a boca no pescoço dela, subindo pelo queixo até
chegar na boca, misturando as respirações novamente. Depois, apoiou as mãos na cama para
poder olhar melhor para Dani.
Acariciou o rosto da namorada por um instante, e desceu a mão para os seios com um brilho
safado, insaciável no olhar... Dani correspondeu preguiçosamente. Mel então provocou, já se
esfregando em Dani novamente, colocando a mão entre as pernas dela:
– Tá cansadinha, amor? Deixa que eu faço tudo então...
Exatamente como Mel tinha previsto, Dani não resistiu ao desafio. A resposta foi ao mesmo
tempo maliciosa e imperativa:
– Não... Eu faço... Vem cá...
E a puxou para cima, de um jeito que Mel não esperava, fazendo-a se encaixar com as pernas
abertas no rosto dela.
Dani abriu um enorme sorriso e mergulhou a língua entre as coxas de Mel. Com agilidade, quase
perícia, arrancou vários e maravilhosos gemidos, provocando um nível de prazer insano, delirante...
Que Dani interrompia cada vez que a sentia pulsar mais rápido.
Mel reclamou, suplicou, implorou... Mas só conseguiu gozar quando Dani finalmente resolveu
deixar.
O dia já estava quase amanhecendo quando Mel colou o corpo nas costas de Dani. Apertou-a,
encostou os lábios na nuca dela, num último beijo de boa noite. Dani gemeu deliciosamente, já meio
adormecida.
Então, Mel virou para o outro lado e Dani a acompanhou, abraçando-a com força por trás. Mel
suspirou, acomodando-se mais contra o aconchego cálido, carinhoso, fremente do corpo dela. E, só
então, finalmente fechou os olhos e adormeceu.
TODO FIM É UM NOVO COMEÇO
No dia seguinte, Dani foi a primeira a acordar. Ainda estava ansiosa por causa de uma coisa: as
alianças. Pegou a caixinha na bolsa, colocou na mesinha de cabeceira ao lado de Mel, deitou
novamente, abraçou-a e ficou esperando-a despertar.
Quando Mel acordou, deu de cara com Dani olhando para ela de um jeito deliciosamente
apaixonado:
– Bom dia, amor!
Mel sorriu, respondeu um: “Bom dia!” totalmente feliz e a beijou, mas estranhou o fato de Dani
ter acordado tão cedo. Brincou:
– Deu formiga do seu lado da cama, amor? – Apesar do sorriso com que Dani respondeu, Mel
percebeu que ela estava tensa. Isso a preocupou: – Daniele... Que foi?
Na mesma hora, Dani compreendeu a inquietação de Mel. Não querendo dar margem a nenhum
tipo de mal entendido, explicou:
– Não é nada demais... Só queria te dizer que...
Mel já tinha se sentado na cama com as pernas cruzadas, nervosa. Dani ajoelhou na frente dela,
pegou a caixa na mesinha ao lado e a abriu... Deixando Mel muito mais calma... Quando viu as
alianças e começou a entender, Dani completou:
– Das bilhões de pessoas que existem no mundo, eu também escolhi você.
Colocou as alianças na palma da mão e continuou:
– Queria muito que você aceitasse... De novo. Prometo não te decepcionar dessa vez.
Mel abriu um sorriso de puro alívio. Segurou Dani pelo queixo e a puxou para um beijo estalado
nos lábios:
– Precisava desse suspense todo? Quer me matar de susto, é?
Dani respondeu maliciosamente:
– Se um dia eu quiser te matar, pode ter certeza que vai ser de outra coisa...
Com um sorriso provocante, Mel respondeu:
– É bem mais fácil eu matar você...
– Isso é o que nós vamos ver... Mas antes...
Mel pegou a aliança que Dani ofereceu e sugeriu, antes de estender para ela a mão esquerda:
– Dessa vez vamos colocar ao mesmo tempo...
Dani concordou. Fizeram exatamente como Mel propôs, sorrindo e se olhando nos olhos
docemente.
Então o olhar de Dani mudou. Ela mordeu o lábio inferior, consciente de que Mel acompanhava o
movimento, também com um sorriso insinuante nos lábios.
Dani disse olhando bem dentro dos olhos de Mel:
– Agora a nossa outra questão, amor...
Aproximou a boca da dela, os lábios quase se roçando. Mel aceitou a provocação e tentou
beijá-la, mas Dani desviou a boca no último momento, rindo desafiadoramente.
Mel riu de volta, de forma absolutamente hipnotizante e sedutora.
Então segurou Dani pelo pescoço e a puxou. Dominou sem dificuldade a boca deliciosa, que já
esperava pela dela sedenta, desejosa em ceder.
Com um gemido abafado, Dani entreabriu os lábios e se entregou voluntariamente, permitindo
que Mel a conduzisse por inúmeras e profundas ondas de prazer.
Os dias se passaram sem que as duas percebessem. Como sempre acontece quando se está
feliz...
Penduraram o quadro que Mel tinha feito para Dani como presente de aniversário no quarto.
Dani se desfez em elogios para Mel enquanto olhava para ele. Mel apenas sorriu e respondeu:
– A modelo é que é perfeita... – Deixando Dani deliciosamente sem jeito.
Pegaram de volta todas as roupas que Dani tinha levado para a casa do pai. Enquanto tentava
em vão estabelecer um pouco de arrumação no armário onde Dani empilhava tudo de forma
absurdamente desorganizada, Mel comentou:
– Você, hein? Veio aqui de tarde, pegou suas roupas sem dizer nada... Imagina o que eu senti
quando cheguei do trabalho e percebi que a sua parte do armário tava vazia...
A simples recordação fez os olhos de Mel encherem-se de lágrimas. Dani largou o que estava
fazendo e a abraçou. Beijou-a no rosto, no pescoço, nos cabelos, e depois levemente nos lábios.
Explicou, fazendo charme, querendo afastar a tristeza de Mel:
– Desculpa, amor... Mas se eu viesse com você em casa, nunca ia conseguir resistir... – disse,
fazendo Mel abrir um enorme sorriso e colar a boca na dela.
Finalmente tinham se acertado. Não tinham mais nada a resolver. Podiam apenas aproveitar
cada momento juntas. E, nesse ritmo suavemente doce e tranquilo, deliciosamente ardente e intenso,
o ano chegou ao fim.
No dia 31, Dani acordou com o braço ao redor da cintura de Mel. As duas nuas, os corpos
deliciosamente grudados e encaixados.
Impossível resistir.
As mãos acariciaram a pele, percorrendo cada curva, pedaço, recanto... Como se tivessem
vontade própria.
Mel ronronou um som – misto de resmungo e gemido – e se virou, apertando Dani com força
entre os braços, ainda sem despertar realmente.
Com um sorriso, Dani afastou os cabelos do rosto de Mel e a beijou de leve nos lábios. Olhando
para a expressão doce e suave da mulher adormecida, era difícil acreditar que se tratava da
mesma que na véspera tinha lhe proporcionado uma noite absolutamente inesquecível.
Quando voltou a fitá-la, encontrou-a já completamente desperta, com um sorriso delicioso nos
lábios. Sorriu de volta e tomou-lhe a boca num beijo preguiçoso, sem pressa, mas absolutamente
ardente.
Passou os dedos delicadamente pelo corpo de Mel, que gemeu e retribuiu puxando Dani mais
para si. Quando finalmente as bocas se separaram, Dani disse simplesmente:
– Bom dia!
– Bom dia!
Foi a resposta entre beijos, antes de Mel finalmente conseguir se sentar na cama, apesar dos
milhares de protestos:
– Ah, não... Aonde você vai, amor?
– Fazer o café, amor. Estou faminta!
Nem assim Dani a soltou. Tentou puxá-la de volta, com um olhar sedutor em que milhares de
promessas brilhavam maliciosas:
– Vem cá... Só um pouquinho...
Mas Mel foi firme:
– Preciso repor as energias antes desse pouquinho...
As duas riram com uma cumplicidade incrível. Beijaram-se apaixonadamente uma última vez
antes de Mel conseguir se levantar da cama e ir para a cozinha.
Dani continuou deitada, os pensamentos voltando deliciosamente à noite anterior...
Foi quando reparou a gaveta da mesinha de cabeceira entreaberta, como se algo a obstruísse,
impedindo-a de fechar completamente. Movida por uma curiosidade irresistível, com um único
puxão a abriu. E então, viu...
Um pênis de látex com cinta.
Arregalou os olhos, surpresa. Ainda sem acreditar, como se quisesse se certificar que Mel
realmente tinha comprado um daqueles, o tocou. Retirou da gaveta o objeto estranhíssimo e,
virando-o de um lado para o outro, o examinou. Riu nervosamente, num tremor arfante.
– Amor, você quer o seu café com...
O grito assustado que soltou fez com que Mel parasse a frase no meio e com que o pinto
artificial caísse da mão de Dani.
Ficaram se olhando, numa mudez absolutamente tensa.
Então, Dani tomou coragem e indagou, com a voz ofegante e trêmula:
– Você deixou isso aí pra eu ver?
Olharam juntas, num movimento idêntico, para o dildo que jazia de lado, inerte no chão frio.
Antes de voltarem a se encarar. Mel falou sem rodeios:
– Não só pra ver...
Mais uma vez, o silêncio veio. Dani interrompeu, perguntando diretamente:
– Você quer?
– O quê?
Aproximou-se de Mel devagar, sedutoramente. Encostou a boca no ouvido dela. Mordiscou,
lambeu, antes de sussurrar baixinho, com todas as letras:
– Que eu te coma com ele...
Sem pudores, medos, nem rodeios. Simples desse jeito.
Com ela era sempre assim. Parecia que estavam sempre se redescobrindo. Dizendo, sentindo,
fazendo coisas que nunca haviam sequer cogitado. Permitindo-se provar tudo que antes achavam
que jamais iriam gostar.
Mel estremeceu, um calor incontrolável subindo pelo corpo, chegando às faces que ruborizaram
de antecipação quando aquiesceu:
– Quero...
Ficou sentada na cama, observando Dani vestir o brinquedinho, depois pegar uma camisinha
dentro da gaveta e colocar no objeto que tinha entre as pernas, olhando-a como se fosse devorá-
la por completo. Sem piedade nem trégua.
Sentiu o desejo crescer além dos limites da razão. Mal conseguia respirar direito quando Dani
finalmente veio. Ajoelhadas frente a frente, segurou-a pela nuca, tomando-a para um beijo
absolutamente intenso.
Entregaram-se completamente à paixão, ao tesão, ao mais puro e primitivo desejo. Os corpos se
colando por inteiro.
Mel deixou escapar um gemido de profundo deleite ao sentir o látex contra as coxas, roçando
no sexo, insinuando-se inegavelmente. Não querendo nem podendo mais esperar, deitou-se de
pernas abertas, puxando-a junto, oferecendo-se com uma sinceridade plena:
– Vem...
Dani estremeceu, num vislumbre antecipado de prazer. Arquejou, tentando conter-se. Seria muito
fácil perder a cabeça. Mas se segurou, querendo aproveitar e proporcionar o máximo de prazer.
Deitou sobre Mel lentamente. As bocas se colando, as mãos a percorrendo. Desceu os lábios pelo
pescoço, sugou, lambeu, mordiscou os seios. Tocou-a entre as pernas, voltando a beijá-la enquanto
a penetrava primeiro com os dedos.
Mel gemeu docemente, o corpo arqueado, as mãos puxando-lhe os cabelos, a voz suplicante ao
repetir:
– Vem...
O apelo era exigente, irresistível. Impossível não atender imediatamente. Ainda assim, a despeito
de toda a pressa do momento, Dani penetrou-a com carinho e delicadeza.
Mel ficou quieta primeiro. Como se experimentasse, provasse antes de aprovar e saborear
realmente.
Dani começou a se mover, e, então, ela gemeu alto, com uma surpresa evidente. Depois, se
agarrou à Dani com força, segurando-a pela nuca com uma das mãos enquanto a outra lhe
arranhava as costas e a puxava, os quadris acompanhando o ritmo cada vez mais ardente.
Não demorou muito para estremecer, os gemidos se tornando quase desesperados, até explodir
num gozo longo, intenso, delicioso de se sentir e ver.
Dani beijou-a no pescoço, no rosto, na boca e foi, aos poucos, parando de se mover. Mas Mel
interrompeu o beijo, murmurando contra os lábios de Dani:
– Não para...
Mais do que prontamente, a satisfez. Quase sufocando de tesão quando Mel sussurrou num tom
rouco, baixo e excitante:
– Quero que você goze também... – e, segurando Dani pelas nádegas, puxando-a contra si,
completou, de forma absolutamente exigente: – Se solta... Vem...
De um jeito inteiramente novo, à flor da pele, com um tesão irreprimível, Dani obedeceu... A
vontade de devorar aquela mulher inteira. De extravasar a necessidade insaciável que sentia dela.
Parou de se conter, como até então continuava fazendo. Aprofundou o movimento. Entregou-se,
abandonou-se profundamente à delícia que era senti-la debaixo de seu corpo... A pele, o cheiro,
os sons, os beijos... Friccionando o próprio sexo contra a base do brinquedinho cada vez que o
afundava inteiro dentro de Mel. Acompanhando completamente a loucura que a fazia gritar alto e
pedir inúmeras vezes:
– Mais forte... Ai, assim... Vem...
Num último lampejo de razão, ainda conseguiu dizer:
– Vou gozar...
E Mel, do mesmo jeito ofegante, respondeu:
– Goza, meu amor... Goza... Vou gozar com você...
Sem mais palavras, os gemidos dominaram, envolvendo-as. Dessa vez, a excitação as levou
juntas ao inevitável desfecho.
Ficaram alguns momentos imóveis, sentindo os corpos pulsando, respirando no mesmo ritmo
acelerado, recuperando-se lentamente.
Devagar e com cuidado, Dani saiu de dentro dela. Depois, deitou-se de costas. Ficaram lado a
lado na cama, num breve instante de silêncio.
Livrou-se da camisinha e tirou o brinquedo. Ia guardá-lo novamente na gaveta, quando Mel
também se sentou, para interrompê-la:
– Não, senhora! Tá pensando o quê? Também quero te comer!
Agradecendo mentalmente pela versatilidade compartilhada com a parceira, Dani estendeu o
objeto para ela e, com um sorriso imenso, murmurou:
– Vem...
Almoçaram na casa dos pais de Mel. A mãe quase a matou de vergonha, quando as recebeu na
porta dizendo:
– Daniele... Que bom ver você! Pensei que ia ter que colocar a minha filha no soro... Você já viu
a Melzinha sem fome? Só de pensar é incrível, né? Pois é, mas sem você essa menina não consegue
nem comer...
O jantar foi na casa do pai de Dani. E foi a vez de Dani querer ter um buraco para enfiar a
cabeça quando a irmã soltou:
– Mel, querida, só você mesmo pra aguentar a Dani! Brincadeirinha... Coitadinha da minha irmã,
passou o Natal toda tristinha, choramingando pelos cantos... Né, Dani?
Foram passar o réveillon na festa que PH estava dando em seu apartamento, e ele as recebeu
implicando:
– De alianças novamente... Gostei de ver! Como diria Shakespeare: “um grande amor nos sustos
se confirma”.
Deca também brincou:
– Espero que 2008 seja um ano de muita harmonia!
Raq foi muito mais direta:
– Ou seja: chega de infantilidades, né?
Mel e Dani riram, trocaram um olhar cúmplice e se beijaram, felizes.
E passaram, assim, a noite inteira. O tempo todo juntinhas, numa alegria impossível de esconder.
Estavam bebendo e conversando com Raq e Deca quando uma música conhecida começou a
tocar... A mesma do aniversário de Dani.
Dani e Mel se olharam e caíram na risada. Dani pegou Mel pela mão e a puxou para a pista de
dança.
Colou o corpo no dela, segurando-a pela cintura com aquele olhar safado que deixava Mel
toda arrepiada... Mel segurou Dani pela nuca, sorrindo maliciosamente para ela... Dani umedeceu
os lábios, provocando e... Aumentando o sorriso de Mel.
Aproximaram os lábios no jogo provocante que gostavam tanto, desviando as bocas cada vez
que quase se encostavam... Até que Mel não aguentou e colou a boca na de Dani, num beijo tão
intenso que as deixou sem fôlego.
Mel desceu a boca pelo pescoço de Dani enquanto deslizava a mão pelas costas dela. Dani
estremeceu, sem deixar de mover o corpo contra o de Mel de forma insinuante.
Mel a puxou pela cintura, mordendo o lábio inferior e olhando Dani de forma absurdamente
sensual... Dani se aproximou, querendo beijar Mel novamente, mas ela desviou a boca, instigando
Dani com um sorriso sedutor.
Então foi a vez de Dani enfiar os dedos na nuca de Mel, segurando-a pelos cabelos, fazendo
Mel soltar um gemido de prazer.
Quando o rosto de Dani chegou bem perto do seu, Mel fechou os olhos, antecipando o beijo,
mas Dani apenas roçou os lábios nos dela.
Mel voltou a abrir os olhos. Dani a olhava como se fosse devorá-la... Os olhos queimando,
incendiários.
Encostou os lábios rapidamente nos de Mel e depois se afastou novamente... Mel reclamou, com
a voz suplicante:
– Ai... Que maldade, amor...
Mas Dani ainda repetiu a tortura várias vezes, até sentir a respiração de Mel completamente
ofegante. E, então, finalmente mergulhou a boca na dela quase com desespero.
Deca e Raq ficaram observando as duas se beijando, sorrindo felizes com a paz que finalmente
tinha se estabelecido entre as amigas, antes de se beijarem também.
Quando a contagem regressiva começou, estavam com Deca, Raq, PH e João nas pedras do
arpoador, esperando os fogos de Copacabana. Dani abraçando Mel por trás, os braços ao redor
da cintura dela.
Mel se virou e a beijou. No mesmo instante, ouviram os estouros anunciando que o ano tinha
virado.
– Feliz 2008!
As duas sorriram... Uma contra a boca da outra, lembrando-se do primeiro beijo que tinham
trocado, exatamente um ano antes.
Separaram-se para falar com os amigos, depois ficaram ali abraçadinhas, olhando o espetáculo
indescritível de luzes, formatos e cores.
Um casal passou por elas, a mãe segurando uma menininha de aproximadamente quatro anos.
Mel acompanhou a garotinha com o olhar enquanto Dani continuava hipnotizada pela pirotecnia.
A voz de Mel soou muito suave e doce quando disse:
– Daniele...
Dani respondeu ainda sem desviar os olhos do céu:
– Ãh?
– Você já pensou em ter um filho?
A pergunta pegou Dani totalmente de surpresa. Ela olhou para Mel, só então percebendo que
ela a fitava com intensidade. Gaguejou, sem conseguir responder:
– Eu... Não... Não sei... Quer dizer...
Mel deu um daqueles sorrisos calmos, tranquilos, que sempre faziam Dani parar e pensar duas
vezes, antes de dizer:
– Porque eu ia adorar ter um filho com você...
Dani sabia que Mel a estava observando atentamente. Mas foi sincera ao responder:
– Nunca tinha pensado nisso, mas... Bom, você sabe que eu adoro crianças... Uma nossa, então...
Mel presenteou Dani com um olhar cintilante:
– Te amo muito, sabia?
Dani abriu um sorriso imenso, lindo, daqueles que eram reservados apenas para Mel:
– Também amo muito você...
As bocas voltaram a se encontrar num beijo suave, cheio de doçura. Mel abraçou Dani por trás
e ficou roçando os lábios no pescoço dela enquanto observavam novamente os fogos de artifício.
Dani relaxou o corpo contra o de Mel, que falou como se deixasse escapar um pensamento:
– O PH pode doar o esperma...
Dani retrucou, divertida:
– O PH é seu primo em primeiro grau, amor, não pode ter um filho com você...
Depois de alguns segundos de silêncio, Mel soltou:
– Quem disse que eu é que vou ter?
Pousou as duas mãos significativamente no ventre de Dani... E sentiu todos os músculos dela
ficarem tensos.
A primeira reação de Dani foi prender a respiração, absolutamente apavorada e perplexa.
Exatamente como da primeira vez que tinham feito amor e tinha percebido que estava
completamente apaixonada por Mel. Mas era uma Dani muito diferente da de então. Não sentiu
vontade de fugir. Pelo contrário, permitiu que a voz do seu coração fluísse.
Aquela era a mulher que conhecia tão bem. Impulsiva, fascinante, surpreendente. A vida com ela
poderia ser tudo, menos chata e previsível. Além disso, Mel conseguia fazer Dani acompanhá-la em
todos os sentimentos e emoções maravilhosos que antes a deixavam com tanto medo. Essa era, sem
dúvida, uma das coisas que Dani mais amava nela.
Fechou os olhos... Imaginou a barriga crescendo... O bebê nascendo... Mamando, engatinhando,
dando os primeiros passos... Com Mel ao seu lado... E sorriu.
Mel ficou esperando pacientemente que Dani rompesse o silêncio. Sentiu quando o corpo dela
aos poucos voltou a relaxar.
Dani acariciou as mãos de Mel, que continuavam pousadas em seu ventre. Depois se virou com
um sorriso lindo e passou os braços ao redor do pescoço dela.
Mel sorriu de volta, enlaçando Dani pela cintura, e balançou a cabeça interrogativamente, como
quem pede uma resposta.
Sem deixar que o sorriso escapasse dos lábios, Dani sacudiu a cabeça, num nítido, empolgado e
convicto “sim”.
EPÍLOGO
Dani e Mel desgrudaram as bocas um instante e olharam juntas para a filha que, radiante em
seu vestidinho azul e branco, chamava.
O primeiro sentimento foi um amor absolutamente diferente de tudo que já haviam sentido e, por
isso mesmo, indescritível.
O segundo foi orgulho:
“Linda!” As duas eram absoluta e indisfarçavelmente corujas...
O terceiro sentimento só veio depois. Preocupação... Por a menina de seis anos gostar tanto de
se vestir de princesa.
Acalmaram-se, cada uma do seu jeito. Mel afirmando para si mesma que fazia parte da
infância, era apenas uma fase e, como tal, passaria. Kaká não ia ter nenhum complexo de
Cinderela nem nada do tipo. Dani tentando se convencer de que não se tratava de um
enquadramento precoce em estruturas binárias de gênero. Muito pelo contrário, a filha possuía
uma rara e promissora combinação de vocação e talento, era dotada de uma veia artística
fortíssima, muito clara desde o seu nascimento.
Como que comprovando isso, Kaká pediu:
– Alguém me filma?
Tanto Dani quanto Mel sorriram... Já sabendo o que se seguiria. Mel pegou o celular, acessou a
câmera e falou:
– Gravando.
Na mesma hora, a postura da menina mudou. Compenetradíssima, altiva, mas simpática, sem se
esquecer de sorrir.
Exatamente como Dani já havia ensinado.
– Qual o seu nome?
Acostumadíssima a brincar de “teste”, ela respondeu:
– Carolina Rodrigues Quadros.
Dani aprovou com um aceno de cabeça, sem nem sentir, antes de fazer a nova pergunta:
– O que você preparou para nós hoje?
De um jeito quase profissional, a filha disse:
– Uma cena de “Frozen”, com a música “Estou Livre”.
Nenhuma surpresa. Era o desenho preferido dela... Pelo menos, naquele momento.
– Muito bem. Quando você quiser, Carolina.
Kaká começou a cantar... Imitando os gestos da personagem do desenho, fazendo as duas mães
babarem, achando-a perfeita.
Quando ela terminou, aplaudiram-na efusivamente.
Depois Mel anunciou:
– Hora de ir pra cama.
Óbvio que Carolina tentou apelar... Para Dani:
– Ah... Só mais um pouquinho, vai... Por favor, mãe...?
Apesar de já saber a resposta de cor:
– O que sua mãe Mel falou, tá falado.
Era muito difícil, na verdade impossível, uma mãe discordar da outra. Na frente dela, claro.
Quando estavam sozinhas, Mel e Dani continuavam tendo divergências homéricas. Que, no fim,
sempre conseguiam harmonizar e acordar... De forma tão deliciosa que essas pequenas e breves
desavenças, bem como as reconciliações que as seguiam, faziam parte da relação e acabavam se
tornando um tempero a mais.
Com a filha devidamente acomodada em sua cama, Mel e Dani sentaram-se juntas no sofá da
sala. Mel tentando ligar a TV enquanto Dani, com a boca grudada no pescoço dela, causava-lhe
arrepios pelo corpo todo. Dando à ação um toque extra de dificuldade.
– Daniele...
Mel suspirou, o corpo estremecendo de prazer...
Sem parar o que estava fazendo, Dani riu:
– O quê?
Enfiou as mãos por baixo da blusa de Mel e acariciou os seios bem feitos, fazendo-a vibrar num
tom mais alto:
– Aqui não...
Ignorando o protesto completamente, Dani se inclinou, passou a língua devagar, sem pressa
alguma, no biquinho de um dos seios, antes de colocá-lo na boca e sugá-lo por inteiro.
– Quer ir pro quarto?
Foi o que Dani conseguiu gemer, num tom inconfundível, incontrolavelmente rouco.
A resposta de Mel foi:
– Essa Cersei é uma coisa, hein?
A perplexidade de Dani se dissolveu rápido. Bastou seguir o olhar da mulher para a tela, onde
o primeiro episódio da 5ª temporada de “Game of Thrones” já havia começado. Tinham esperado
para vê-lo durante meses, mas aquilo pareceu absolutamente sem importância naquele momento.
– O nome da atriz é Lena Headey.
Mel e Dani olharam uma para a outra... E riram.
Sem precisarem de palavras, sabiam perfeitamente o que estavam pensando enquanto
caminhavam para o quarto, tropeçando, aos beijos. Na verdade, lembrando-se do mesmo.
Tudo que havia acontecido, o caminho que tinham percorrido até chegarem ali, naquele exato
momento. Em que para ambas, era como se não existisse nenhuma outra mulher no mundo inteiro.
Cujo começo...
Tinha sido oito anos antes, naquele primeiro Revellión que haviam passado juntas, em Itaipava.
SUMÁRIO
AGRADECIMENTO
APRESENTAÇÃO
UM DESAFETO ANTIGO
FOGO CRUZADO
MULHERES À BEIRA DE UM ATAQUE DE NERVOS
À FLOR DA PELE
ALTA TENSÃO
DEPOIS DAQUELE BEIJO
OPOSTOS QUE SE ATRAEM
COISAS FEITAS PELO CORAÇÃO
ACERTANDO O PASSO
NO INÍCIO, TUDO SÃO FLORES
PEDRAS NO CAMINHO
CAUSA E EFEITO
PERSISTÊNCIA É A ALMA DO NEGÓCIO
REVIRAVOLTAS
DIZENDO SIM
NOVAS CONDIÇÕES
A VIDA EM PRETO E BRANCO
DUELO DE TITÃS
A RODA DA FORTUNA GIRA NOVAMENTE
UM NATAL E DOIS TELEFONEMAS
O AMOR FINALMENTE VENCE
TODO FIM É UM NOVO COMEÇO
EPÍLOGO
A reprodução de parte ou do todo do presente texto, em qualquer meio físico ou eletrônico, é
expressamente proibida sem a autorização prévia por escrito da autora.
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Editora: Vira Letra
Editora Responsável: Manuela Neves
Produção: DiWind Produções

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