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Capitulo um Abril de 1792 Enquanto atravessava a noite a pé

escondida sob a sombra de um sobretudo negro, uma única frase


se repetia na cabeça de Daphne York: " a que ponto cheguei". Uma
busca inútil e uma ameaça de escândalo, a trouxeram a esse
momento de completa humilhação. Parou de frente a porta da
taberna e observou aquele lugar. Podia dizer com certeza que já
tinha andado por muitos buracos de Londres, mas ainda não tinha
chegado tão longe de casa. Conhecia a fama do bairro, seu meio de
trabalho exigia isso, e qualquer pessoa com o menor senso de
perigo o evitaria, mas ainda assim ele estava ali. Daphne se
perguntou o que diabos alguém como ele fazia naquele lugar
esquecido por Deus. Tudo estava silencioso e enevoado, dando um
clima tão pavoroso quanto a loucura que ela estava prestes a fazer.
Ergueu uma mão enluvada e pensou duas, três, quatro, cinco
vezes, antes empurrar a porta giratória e entrar. O cheiro forte de
fumaça de ópio chegou até ela, juntamente com o som de uma voz
feminina muito sensual, a dona da voz cantava para um público
inteiramente masculino em cima de um palco rodeado de cortinas
de cetim vermelho fúcsia. Mais para o lado um homem tocava um
piano dando melodia para a canção. A bela mulher negra, usava
nada mais que um espartilho e meias translúcidas, e enquanto
cantava, usava um leque para dar profundidade aos seus olhos, vez
ou outra permitindo que o público visse seus lábios carmesim.
Daphne sentiu seu rosto esquentar ao entender a letra obscena da
canção. Felizmente toda a atenção estava voltada para a dama da
noite e não notaram sua entrada. Ela vasculhou o salão com seus
olhos de águia á procura daquele alguém, mas só o encontrou
mesmo quando ouviu o som irritante e inconfundível de sua
gargalhada. Sua vista foi diretamente para ele. Estava sentado em
mesa redonda ao fundo, na companhia de duas mulheres. Uma
sentada em cada lado do seu colo, as duas brigavam por sua
atenção. Daphne pôs-se a andar até ele, não sem antes rolar os
olhos, se perguntando que espécie de duque atravessa metade da
cidade apenas para ter companhia feminina. Ela sabia que ele
podia ter a amante que quisesse. Já tinha ouvido muitas conversas
sobre sua seletividade no clube. Na grande maioria das conversas
as mulheres falavam com detalhes, desnecessários aliás, sobre as
suas aptidões e desejos sexuais. Ela chegou até a mesa e sem
pedir licença sentou-se no banco que ficava de frente para ele,
atrapalhando o momento que uma das meretrizes falava algo em
seu ouvido. Os três olharam para ela, as mulheres com curiosidade,
mas ele não, Daphne teve certeza que mesmo antes de baixar o
capuz, ele a reconheceu, pois em sua boca insolente se abriu um
sorriso. As meretrizes quando viram que ela era uma mulher,
passaram a olha-la como uma rival. De certa maneira, Daphne era.
— Está bem longe de casa, York. — Ele disse, Daphne lançou um
olhar tedioso para ele enquanto tirava uma luva. — Tinha preferido
que não precisasse me arrastar até tão longe para encontrar você,
milorde. Pensei que tivesse um gosto mais refinado para
estabelecimentos...— olhou para a mão da meretriz que viaja pelo
peito dele. — E para mulheres. As belezas olharam para ela
ofendidas e estavam prestes a manda-la para um lugar bem
incomum, quando Alec as dispensou. — Muito bem meninas,
infelizmente teremos que deixar nossa pequena aventura para outro
momento. — As mulheres choramingaram tristemente, ao serem
tiradas do colo dele, mas não deixaram de piscar sedutoramente ao
levantar-se e saírem balançando os quadris. Daphne virou o rosto
na direção oposta para não ter que ver aquilo. — O que você está
fazendo aqui York? Se pretende armar uma armadilha para me
colocar diante de um padre, vou logo dizendo que perderá seu
tempo, como o diabo que foge da cruz eu fujo de uma aliança. —
Disse tranquilamente, erguendo a mão para para sinalizar que
queira mais bebidas. — Foge da ideia de casamento ou do
casamento em si? — Ela indagou, se afastando para que um
garoto, que ela observou não ter mais que quatorze anos,
colocasse duas canecas de rum nas suas frentes. — Qual é a
diferença entre as duas? — Ele perguntou, bebendo um gole do
rum. Daphne bebericou do seu copo, a bebida era repulsiva mas a
esquentou quase imediatamente. — A idéia de um casamento
implica na união de duas pessoas que vivem exatamente aquilo que
foi prometido diante de um altar, como fidelidade, obediência e todo
o restante da coisa. Enquanto que o casamento propriamente dito,
não precisa necessariamente seguir esses fundamentos. O duque
permaneceu em silêncio quando ela concluiu, a observando
atentamente com aqueles olhos de fogo líquido enquanto refletia
sobre suas palavras. Daphne aproveitou esse momento de
descarada especulação e passou os olhos por sua vestimenta. A
blusa que ele vestia tinha os primeiros três botões abertos
revelando uma única faixa de pele dourada, que provavelmente
uma das meretrizes tinha aberto. — Acho que tem razão. — Ele
disse, finalmente. — Me deixe reformular minha primeira objeção,
fujo da idéia de um casamento. — Daphne sentiu certo alívio ao
ouvir aquilo, e teve mais confiança para dizer o que tinha ido fazer
ali. — Tenho uma proposta para fazer para você, Vossa graça. —
Falou demorando-se a chegar ao foco apenas para irrita-lo. Na
verdade existia uma infinidade de coisas nela que irritavam Alec
Lancaster. Por isso ela sabia que aquele plano tinha tudo para dar
certo. — Por algum motivo eu estou interessado em ouvir. — Ele
falou, apoiando os cotovelos na mesa e se inclinando sobre ela
para ouvi-la mais atentamente. A fazendo se sentir desconfortável
pela aproximação. — O segui até aqui para barganhar. —
Começou, e bebericou mais um pouco do rum para ganhar
coragem. — Como já deve saber, estou prometida em casamento.
— Ele assentiu uma vez, um movimento que pareceu bastante
calculado. — O pequeno problema é que prefiro ser uma eterna
solteirona a ter que me casar com alguém que meu pai escolheu ao
acaso. — Ela fez uma pausa, nem acreditava que diria mesmo
aquelas palavras que pairavam em sua boca. — Por isso, vim
propor que se case comigo. O silêncio reinou por um tempo
doloroso. A última frase de Daphne pairou no ar e ela teve a
oportunidade de se ouvir e perceber o quão ridícula era aquela
proposta. "A que ponto cheguei." pensou de novo. Alec estourou em
uma gargalhada que fez a fez ficar ridiculamente vermelha e
queimando internamente de raiva, vergonha e injúria. — Me diga...
— Ele disse em meio a risada. — por que acha que eu aceitaria me
casar com você? — Porque sei que tem um prazo até perder o seu
ducado, e pelas minhas contas, deve estar tão desesperado quanto
eu. — Rápido o riso dele arrefeceu, seus olhos dourados adquiriram
rapidamente a sombra periculosa de uma fera que acabara de ser
cutucada com uma vara curta. — Como você sabe disso? —
Inquiriu, deixando claro o seu descontentamento no tom amargo de
sua voz. — As mulheres conversam, milorde. — Ela enfatizou a
última palavra propositalmente para dar peso a sua proposta inicial.
Ele cerrou os olhos, e seus longos cílios pretos e volumosos
encontraram-se. Sua boca fina e rosada formou uma linha atraente
e rígida no rosto bem esculpido. Muito calmamente, ele tirou um
rolo grosso e marrom do bolso do casaco e o levou aos lábios,
usando a vela que iluminava a mesa entre eles para acender o
longo charuto. — Se importa? — Perguntou apontando para o
objeto aceso. Daphne negou com a cabeça e observou os lábios
dele fazendo uma longa sucção, puxando a fumaça fortemente para
os pulmões. Parecia perigosamente sensual e pecaminoso. Quando
o via nesses momentos de beleza maliciosa, Daphne pensava nas
palavras que sua primeira preceptora disse para ela certa vez. A
bíblia descrevia lucifer como um anjo de beleza incomparável, ele
era capaz de ludibriar a todos com sua beleza e ninguém conhecia
sua verdadeira essência. Daphne imaginava que Alec estava ainda
além disso. Nunca tinha conhecido alguém no mundo que tivesse
olhos tão magníficos, e um rosto tão perfeitamente desenhado que
faria o mais belo dos anjos retorcer-se de inveja. — A diferença
entre nós dois, senhorita Daphne York, é que eu tenho um leque
vasto de opções, posso me casar com quem eu desejar, então, me
diga, o que ganharei me casando com você? — Perguntou, a
fumaça do charuto abandonando a sua boca e se espalhando pelo
ar. Serpenteando como uma cobra. Saturando tudo com seu cheiro
masculino. — Além da pequena fortuna do meu dote, também ficará
livre. Teremos o casamento, mas não a ideia de um casamento.
Será uma conveniência. Não exigirei nada de você e você fará o
mesmo comigo, poderá manter seu ducado e sua fortuna e sua vida
disoluta, e tudo que me dará em troca é liberdade. — Ele anuiu
devagar, parecia estar levando aquilo finalmente em consideração.
Ele estava pensando, pelo menos. — Seu plano perfeito, meu doce,
tem uma pequena falha...— Ele adotou um ar atrevido. — A gente
se odeia. Daphne encarou seu rosto, adquirindo um semblante de
obvia consternação. Foi sua vez de rir. — Ah, você não está
entendendo, milorde. — Ele a olhou friamente. — Não ficaremos
juntos após a cerimônia, sequer precisaremos consumar o
casamento. Após as bodas eu voltarei para a casa de meus pais, e
você poderá seguir sua vida, na Escócia ou onde bem entender.
Seu rosto clareou ao entender onde ela estava querendo chegar.
Seus olhos penetraram os dela por mais tempo do que ela gostaria,
a fazendo estremecer e sentir como se ele vasculhasse sua alma
em busca de pecados. E ela tinha muitos. — Escute, também não
me faz feliz ter que me casar com você. Mas se é para estar casada
com alguém que detesto, prefiro que seja com alguém de minha
escolha. — Mesmo que eu aceite, não terei tempo de salvar o meu
ducado. Tudo estará perdido em dois dias. — Ele falou
sombriamente, fitando o rum com desprazer. — Não se nos
casarmos antes. — Ela falou, com uma a animação indiferente ao
momento. — Vamos até Gretna Green, se partimos em vinte
minutos, sem qualquer imprevisto ou paradas, estaremos casados
antes que o sol se ponha no sábado. Ele a olhou como se ela fosse
louca. Mas um brilho admirador enfeitavam seus olhos. Uma
esperança de vitória fez Daphne festejar internamente. Sabendo
que ela venceria aquele primeiro obstáculo. — Você é louca,
mulher. — Ele disse com um sorriso quase idolatrante. — Gosto
disso. — Então é isso? Vamos para Gretna Green? — Questionou
levantando-se, ele passou uma mão pelos cabelos castanhos.
Dando uma última tragada em seu charuto antes de joga-lo na
caneca de rum. — Vamos para Gretna Green. ∞∞∞ Eles viajariam
na carruagem do duque, porque era maior e muito mais confortável
para a longa jornada que estavam prestes a fazer. Daphne pediu
para que o cocheiro do duque parasse o veículo próximo a esquina
da rua de sua casa. Deixou Alec esperando, e sumiu nos fundos da
casa escura. Pouco mais de trinta minutos depois ela retornou,
trazendo uma valise em uma mão e arrastando algo atrás de si com
a outra. Alec abriu a porta da carruagem pronto para reclamar sobre
sua demora quando viu que algo a seguia, algo pequeno, rosado e
monstruoso. Ele deu um salto para fora da carruagem e retirou o
canivete que guardava na bota com uma agilidade impressionante.
— Que coisa é essa? — Ele indagou apontando para o pequeno
porquinho que assustou-se e começou a grunhir para soltar-se da
coleira que tinha enredada no pescoço. — É só o Thomas. —
Daphne disse, o olhando feio por ele ter assustado o animal. —
Você assustou-o, agora levará uma eternidade até que se acalme.
— Pegou o porco nos braços para tentar acalma-lo. — O que você
disse? — Alec indagou, perplexo com aquela cena. — É apenas um
porco. — Ela explicou, o estarrecimento do escocês ficou nítido em
seu rosto ao ver que o porco começou a se acalmar devagar a
medida que Daphne ia passando uma mão em seu flanco. —
Abaixe isso, ele tem sensibilidade a coisas afiadas. Ainda perplexo,
ele guardou novamente o canivete em sua bota, somente então
deu-se conta de como o porco se chamava e sentiu uma enorme
vontade de gargalhar. — Você tem um porco e deu a ele o nome de
Thomas? — Ela o olhou envergonhada, ele por outro lado tinha
achado aquilo genial. — Bom, sim. Mas tenho pensado em novos
nomes para ele desde que o Thomas original mudou-se para o lado
dos mocinhos. — Ela colocou o pequeno animal no chão. — O que
exatamente você planeja fazer com esse porco? — Vou leva-lo
oras. — Ela disse com obviedade. — Ah, mas não vai mesmo. —
Alec ergueu um dedo no ar, e apontou para o chão da carruagem.
— Não tem uma semana que troquei o carpete, que a propósito
equivale seis vezes o valor desse porco. — Bom, eu não poderei ir
sem ele. Tenho feito uma promessa. — O olhar do escocês dividiu-
se entre a pura perplexidade e o riso absoluto. — Como poderia
fazer uma promessa a um porco nanico? — O rosto de Daphne
avermelhou por todo a parte. — Isso não interessa, o que interessa
é que não vou sem ele. — Ela disse, muito irritada. — Tudo bem. —
Ele bufou resignado. — mas se esse porco fizer minha carruagem
de latrina, amanhã pela manhã comerei presunto no desjejum. Não
tardou eles já estavam na estrada com destino à Escócia. Daphne
York seguia o caminho inteiro em silêncio, sentindo um peso no
coração por estar embarcando em uma aventura da qual não sabia
quais seriam as consequências. Sentia muito por estar deixando
seus pais e irmãs. Amanhã pela manhã eles dariam-se conta de
que ela não estava lá e no mais leve dos casos ficariam
preocupados. Sua única consolação era que tinha deixado um
bilhete sobre a escrivaninha de seu quarto informando de sua
recente decisão. O casamento com Northwest não seria algo
horrível. Não sentia "aquilo" pelo homem, na verdade sentia muitas
coisas pelo lorde na sua frente, mas nenhuma delas era afeto ou
empatia. — Então, meu doce...— falou o apelido carinhoso com
sarcasmo. — Por que se casar com o seu prometido é algo assim
tão horrível? Daphne se admirou por ele estar tentando puxar uma
conversa, esperava que pudessem viajar em silêncio o caminho
todo até Gretna Green, não queria criar qualquer vínculo com ele.
Não queria saber de sua vida e nem sobre os seus interesses.
Preferia se manter em sua zona segura, afastada. — Me dá
náuseas o destino de uma esposa prendada. — Respondeu
consisa, ele deu um leve sorriso de canto. Parecia ver nitidamente
que ela estava desconfortável. — Você está mentindo. —
Constatou, simples assim. Sem pestanejar, a fazendo gelar por
dentro. — Do mesmo jeito que tem seus segredos, milorde, eu
também tenho os meus. — Ele dirigiu aquele olhar para ela, aquele
maldito olhar avaliador. Os dois topázios amarelos a vasculhando a
procura de mentiras. — Isso deveria me assustar? —
Absolutamente. Por quê assustaria? Pretendo que nos vejamos o
menos possível durante a vida. — Ela respondeu arqueando uma
sobrancelha, deixando claro que ele não conseguiria intimida-la. —
Muitas mulheres dariam o pescoço para estar em seu lugar. — Ele
comentou, estudando as reações dela. — Então por que não se
casou com nenhuma delas? — Retrucou rápida e ele a olhou outra
vez admirado. — É impressionante que uma coisa tão pequena
consiga ter uma língua tão grande. — Ele falou, se aconchegando
nos acentos da carruagem suntuosa. Em resposta Daphne crispou
os lábios virando o rosto para a janela, sem deixar de notar que ele
fugiu de sua pergunta. A carruagem seguia em uma velocidade
assombrosa, passando pelos buracos na estrada e causando
solavancos que faziam os corpos saltarem dos acentos. Daphne
agradeceu por toda a distância que a carruagem proporcionava do
homem que dormia com as pernas esticadas uma em cima da
outra. As mãos cruzadas em cima da barriga coberta pela mesma
vestimenta de horas atrás. As canelas esbeltas tinham panturrilhas
rijas e torneadas cobertas por meias de algodão e botas que iam
até quase nos joelhos. O início de suas coxas estavam expostos,
como uma tentação silenciosa coberta de pêlos castanhos e
espessos. O kilt de lã xadrez tinha listras que seguiam um único
padrão, em horizontal, sendo cortadas por duas linhas em vertical,
com uma faixa escura na barra pesada. Ela seguiu com os olhos o
caminho de seu corpo grande, passando pela faixa amarrada na
cintura com um emblema de duas espadas cruzadas em cima da
cabeça de um lobo de olhos dourados. Seguindo pelo abdômen que
deveria estar relaxado pela posição, chegando no peito que subia e
descia em um ritmo constante, passando pelo pescoço grosso com
um grande pomo de Adão atraente para um beijo, e chegando no
rosto que permanecia afundado no sono. De boca fechada até que
ele ficava mais atraente. Ela lembra nitidamente da primeira vez
que o viu em um passeio no Hyde Park, onde ele a cativou a
atenção de imediato por seu jeito extrovertido e olhos de um
amarelo hipnotizante, com as maçãs do rosto salientes e o queixo
pontudo, lábios atraentes e o famigerado kilt que chamava atenção
a onde quer que ele fosse. Mas naquele dia ele não a notou, nem
no outro, e nem outra vez depois daquele, e nem nas muitas outras
seguintes ocasiões em que se esbarraram. Era como se ela fosse
invisível aos seus olhos. Daphne nunca admitiria, nem sobre a mira
de uma arma, que isso a deixou definitivamente abalada. O galope
furioso dos cavalos a mantinham acordada, de qualquer maneira
ela não estava sentindo sono e não entendia como ele podia estar
dormindo tão serenamente diante daquela situação. Quando o dia
clareou, ela o acordou com um chute na perna. Eles precisavam
parar rapidamente em uma estalagem para alimentar os cavalos e
Thomas precisava passear um pouco. O porquinho sempre esteve
acostumado com os grandes prados de Yorkshire, precisava de
grama fresca e um bom lugar para rolar. Eles não tinham tempo
para uma refeição, ainda faltava um bom pedaço até chegar na
metade do caminho e teriam que chegar lá a tempo para que o
casamento fosse válido. Caso contrário não teria porque ele se
casar com ela, e ela teria que voltar para casa como uma
perdedora. Daphne bebeu apenas um pouco de água, e molhou o
rosto com o restante, para espantar a fadiga. Quando tudo estava
pronto, e voltaram para a carruagem, ele tinha trago para ela
algumas castanhas, pão de mel e uma caneca de leite. — Foi tudo
o que consegui. — ele disse, mas mesmo assim ela se sentiu muito
agradecida. Dividiu o pão com o porco, e comeu as castanhas
distraidamente. Enquanto ele ia lendo um jornal que também
comprou na estalagem, a jovem tentava ler um livro de
contabilidade, mas sem muito sucesso. O balanço da carruagem
impedia que sua vista identificasse as palavras. Decidiu então largar
o livro de lado e passou a amaciar as mechas de seu cabelo longo.
Não era um casamento por amor, mas aquele seria seu único
casamento e ela queria estar apresentável. Soltou as mechas, que
desceram pelas suas costas e barriga. Seus cabelos eram um
emaranhado de fios incontroláveis, volumosos e espessos, nem a
escova projetada pelo mais hábil artesão ou a forquilha mais forte
do mundo eram capazes de doma-lo. Daphne quando mais jovem,
não gostava das madeixas que tinha herdado de sua avó, suspirava
de inveja de Seraphne, que tinha os fios lisos escorridos,
comportados e macios. Foi somente com a idade que ela passou a
se aceitar e ver a beleza de sua juba. Fez uma longa trança
volumosa, e a jogou para trás. Soltando alguns cachos menores ao
redor do rosto e nas têmporas. Com um calafrio na espinha ela
percebeu que estava sendo observada. Tentou reprimir o rubor nas
bochechas ao ser pega em um momento de tão íntima distração. —
Qual o problema? — Perguntou envergonhada. Juntando as mãos
no colo. — Nada, eu apenas nunca tinha visto o comprimento de
seus cabelos. — Ele disse, e o tom profundo de sua voz fez os
pêlos da nuca de Daphne arrepiarem. — São apenas cabelos. —
Respondeu com um dar de ombros. Ao qual ele respondeu com o
silêncio. Ainda estudando-a até que ficasse vermelha em cada
centímetro de pele. Tirou os olhos dela e voltou a olhar o jornal,
parecia um pouco mais tenso, mas ela suspirou agradecida por não
ter mais a atenção dele. Ainda restavam algumas horas até chegar
ao seu destino e ela sentia que seria algumas horas de pura tortura.
Capitulo dois "São apenas cabelos" ela disse. Só cabelos. Não a
vasta nuvem de ouro esculpido, que adornava o seu rosto pequeno,
deixando-a parecida com uma pequena escultura da deusa Afrodite.
Atraindo-o com sua beleza e seu encanto. Não, não era nada disso,
era apenas cabelo, e ele logo tratou de se convencer disso. Não
falou mais nada, e nem arriscou olhar para ela. No pouco tempo
que pôde avalia-la, viu que de alguma maneira sua presença a
deixava desconfortável. Também estava nervosa, isso era sua
emoção mais nítida. Ela não conseguia se manter parada e dava
para ver refletido nos olhos, que sua cabeça não parava de pensar
um só segundo. Alec tinha a certeza de que daria uma boa quantia
apenas para saber o que se passava ali dentro. Daphne York era
intrigante, como uma dessas bonecas russas. Quanto mais se abre
as camadas, mais encontram segredos lá dentro. Nunca foi do seu
interesse revelar os segredos da moça, pelo contrário, quanto mais
distância mantivesse entre os dois, melhor se sentia. Tinha fingido
que esteve dormindo boa parte da noite. A presença dela deixava-o
nervoso e acabava falando demais quando isso acontecia. Ela
conseguia deixa-lo mudo, com sua língua ferina e uma
determinação atípica de uma mulher. Alec suspeitava que Deus
tinha feito uma parcela de mulheres iguais e quando chegou a vez
de Daphne, cansou-se da fórmula e fez algo único. Afinal, quantas
mulheres ele conhecia que entravam em tabernas no meio da noite
para propor casamento, e andava por aí fazendo promessa para
suínos? Isso era algo que o deixava apavorado e ao mesmo tempo
admirado. E o assustava. Mais do que jamais iria admitir. E agora,
estava indo se casar com ela. Depois de anos evitando-a nos
salões de bailes e jantares, iria transformá-la em sua esposa. Não
sabia se ria da própria desgraça, ou se chorava pela maldita sorte
que tinha. Já estava conformado com a derrota até ela aparecer
vestida de negro como uma resposta divina. A princípio ele pensou
em recusar de imediato. Porém, depois que ouviu suas condições,
achou que aquela era a maneira de Deus mostrar que não tinha se
esquecido dele. Não foi preciso pensar muito mais. Não tinha
garantias quanto ao castelo, mas poderia salvar o ducado e manter
Ashleigh segura, e ainda não precisaria ter que passar pela fadiga e
drama do casamento. Daphne era madura e deixava claro que não
gostava dele, e o sentimento era recíproco, não precisariam morar
na mesma casa, nem dividir uma cama, depois do casamento ele
ficaria no castelo Stirling até que acabasse p período de um ano, e
ela poderia ir morar em sua residência de Londres. Poderia gozar
da liberdade que tanto desejava e Alec poderia regressar para a
sua terra finalmente. Ela teria a proteção do título e poderia ficar
com o dinheiro do próprio dote. Ele não queria. Já tinha dinheiro
suficiente para sete vidas. O restante da viagem seguiu no mesmo
ritmo louco, quando o dia virou noite nenhum dos dois aguentavam
mais estar na estrada. Eles pararam na primeira estalagem que
encontraram, precisavam comer alguma coisa e esticar as pernas.
O lugar era muito humilde, mas serviria para o propósito. A mulher
do estalajadeiro era quem preparava a comida, ironicamente o prato
do dia era porco defumado. Ela comeu apenas a salada com a sopa
de legumes enquanto ele se fartava de carne. — Poderia ter um
pouco mais de consideração. — Ela disse, olhando-o
discriminadamente. — Ele é um porco, já tive consideração demais
por deixa-lo dormir durante toda a viagem sobre minhas botas. —
Thomas é um porco especial se quer saber. — Ela disse passando
geleia em uma parte do pão. — O veterinário disse que o lhe falta
em tamanho, tem em esperteza. Tem os sentidos muito apurados e
pode magoar-se com facilidade. — Magoar-se? Um porco? — Alec
riu, ela ergueu o queixo, muito orgulha ao falar: — Sim, e também é
muito medroso tadinho, sua mãe o rejeitou ainda bebê por ser
minúsculo. — Alec percebeu apenas pelo modo como ela falava
olhando para o porco que realmente tinha apego emocional pela
criaturinha. Ele via aquele porco como uma anormalidade, já ela, via
ele como algo especial. Deixaram a estalagem cinco minutos
depois, satisfeitos e revigorados para o restante da viagem. Os
cavalos já estavam nos arroios, bem alimentados e descansados.
Alec estava para subir na carruagem quando um grupo de homens
saíram do bosque trazendo espingardas nas mãos e algumas
perdizes. Nesse mesmo momento uma gaivota que estava por ali
issou voo, um dos homens apontou a arma para o pássaro, e o
barulho do disparo ecoou pelo ar. O porco, que vinha nos braços de
Daphne assustou-se e imediatamente se soltou do aperto dela,
correndo em disparada na direção contrária do disparo. — Oh não,
Thomas volte! — Daphne gritou erguendo as saias com as mãos, e
se pondo a correr atrás do porco. Alec se encostou na lateral da
carruagem e começou a assistir aquela cena pronto para dar boas
gargalhadas, mas o medo no rosto da pequena noiva era real. —
Oh saco! — Ele lamentou, quando o pingo de moralidade que ainda
restava dentro dele gemeu entre a vida e a morte. Deixou o
cocheiro para trás e também pos-se a correr atrás do porco. Ele
logo a alcançou e a deixou para trás, seguindo sozinho na
perseguição. Alec nunca imaginou em toda a sua vida que fosse
correr atrás do porco de uma donzela, e muito menos que um porco
pudesse correr tão rápido. De todos os animais de estimação que
ela poderia ter, foi escolher justamente um porco nanico,
sentimentalista, medroso e rápido como um inferno. Quando o
porco finalmente se cansou de fazê-lo comer poeira, e diminuiu a
velocidade, Alec o alcançou. Sem fôlego, afogueado e
provavelmente descabelado. Já não era mais um menino atlético,
sentiria os efeitos daquela corrida por semanas. Quando retornou
para Daphne a insolente tinha a mão na boca escondendo uma
risada. Ele torceu o maxilar, pelo menos alguém estava se
divertindo. — Coloque esse presunto em uma coleira. — Ela pegou
o animal e o colocou dentro da carruagem. — Não o chame de
presunto. Vai magoa-lo. — Ela sussurrou, como se o porco pudesse
entende-lo. — Bacon então? — Ela cerrou os olhos para ele. —
Você é desprezível. ∞∞∞ Daphne parecia cada vez mais pálida à
cada minuto que chegava mais perto da Escócia. Alec esperou ela
dizer a qualquer momento que desistia, mas ela se mantinha firme,
agarrando a valise que trazia contra o colo. Por volta das três e
meia, eles atravessaram a ponte que ligava a Inglaterra e a Escócia
e entraram no indiscutível país de Alec. Fizeram uma viagem de
quatro dias em um, Alec estava se sentindo um pouco culpado pelo
estado que sua noiva se encontrava. Ela não dormiu a noite toda e
nem um pedaço do dia, tinha se alimentado muito mal e ele tinha
certeza que ela colocaria o fígado para fora a qualquer minuto. Só
não sabia se isso era por conta da exaustão física, ou pelo que
estavam prestes a fazer. Andaram mais um pouco até finalmente
chegar em Gretna Green. A chegada na cidade pitoresca pareceu
revitaliza-la um pouco. A pequena cidade fazia isso com as
pessoas. O palco de centenas de histórias de amor. O destino de
fuga de milhares de amantes em busca de unir-se em matrimônio.
O motivo disso era uma lei que permitia que qualquer homem ou
mulher acima dos quatorze e doze anos de idade, poderiam se
casar livremente sem uma autorização dos pais. Tudo que tinham
que ter, era a presença de duas testemunhas e algumas libras no
bolso. A cerimónia poderia ser realizada por quase qualquer um
com uma permissão, mas era muito mais comum que ferreiros
fizessem o trabalho, era quase como uma tradição. O cocheiro
estacionou a carruagem de frente para uma estalagem caprichosa.
Assim como a maioria dos comércios naquela região, a estalagem
era toda projetada para proporcionar o clima de bodas. O arco do
cupido, eram os dizeres na placa de entrada. Daphne desceu da
carruagem sem a ajuda do lorde e observou o lugar ao redor com
curiosidade. — Já tinha estado na Escócia antes? — Perguntou
Alec, se sentindo muito mais confiante em seu país de origem. Ela
negou com a cabeça. Os olhos azuis admirando as muitas casas
que formavam fileiras rua abaixo. Entraram na estalagem, e logo na
recepção puderam ver o pequeno restaurante bem movimentado.
Alec andou até o balcão para reservar um quarto e se informar onde
ficava a ferraria mais próxima. Apertou a companhia e logo um
casal de idosos vieram andando dos fundos calmamente para
atende-los. Apesar da idade nitidamente avançada, aparentavam
ter um ar primaveril apaixonante. Se apresentaram como Sr. e Sra.
Uig. — Oooh, mais um casal apaixonado em busca de matrimônio...
— disse a velhinha, olhando para eles com uma mão no peito.
Northwest deu um sorriso amarelo. — Me diga, qual a historia por
trás deste ato tão romântico? O duque ficou abrindo e fechando a
boca como um peixe, enquanto a mulher o olhava esperando um
conto de amor arrebatador. — Não tem história de amor, ele precisa
salvar o ducado e eu preciso fugir de um matrimônio arranjado. No
fim da cerimónia cada um vai para o seu lado. — Respondeu
Daphne direta, sem piscar. O rosto da senhora murchou de
decepção, como uma criança que acabou de perder o doce. — Bom
temos uma exceção para tudo. — Falou desiludida. — Sabem que
o casamento só será válido até que tenha sido consumado certo?
Isso fez as faces de Daphne arderem como fogo, Alec foi incapaz
de controlar o riso. Recebendo uma olhada mortal da noiva. —
Minha noiva não vê a hora de consumar o casamento, por isso
viemos tão depressa de Londres. — Burlou o escocês. — Só resta
saber qual de nós será a noiva, visto que você, querido, tem um
gosto estranho por saias. — Ela retrucou arrancando o riso do rosto
do noivo de imediato. — Parece que nem tudo está perdido...—
comentou a Sra. Uig, olhando para os dois com aquele irritante
olhar que somente as pessoas idosas tinham. Northwest logo se
empertigou, desconfortável. — Aqui está a chave do quarto, logo
mais no fim da rua tem um ferreiro, Bryant MacKenzie, é o melhor
da região. — Disse o Sr. Uig, colocando uma chave em formato de
coração no balcão. — Tem mais uma coisa, estamos precisando de
duas testemunhas... — ia dizendo Alec, mas foi atrapalhado pela
velhinha, que brilhava com uma determinação inquietante. — Será
um prazer fazer isso por vocês. — Disse amável e Alec assentiu
agradecido. Acompanhou Daphne até o quarto da estalagem. —
Darei um tempo para você se recompor, estarei esperando aqui
fora. — Disse e a loira assentiu sem olha-lo, levou a valise para
dentro do quarto e sumiu atrás da porta. Capitulo tres Daphne levou
os minutos em silêncio, estava cansada e queria acabar logo com
aquilo para que pudesse voltar para casa. Ela imaginava que a
aquela altura sua família já estaria armando buscas por toda a
Londres para encontra-la. Trocou o vestido de viajem por um verde
de musselina com cintura alta e um decote discreto, e luvas de
cetim cintilantes que iam até os seus cotovelos. Ela era um noiva
bem simples, mas estava razoavelmente agradável se levasse em
consideração seu estado de espírito. Deixou a trança no cabelo,
despojando alguns fios para dar uma aparência mais espontânea, e
molhou o rosto mais uma vez, para espantar a fadiga. Evitou olhar
para a cama bem arrumada, pois ela parecia tão convidativa quanto
um banquete para um faminto. Deixou o porco bem acomodado no
quartinho em frente ao fogo e saiu no corredor pronta para derrubar
um gigante, dando de cara com Northwest lá. Ele também tinha
trocado de roupa. Usava meias brancas até os joelhos e suas botas
já não tinham mais lama. O kilt também era diferente, ainda era
verde com negro, seguindo o mesmo padrão de quadriculado, mas
o tecido era mais grosso, de uma qualidade melhor e caia reto para
baixo. Usava também um casaco de pele na cor preta, ele era longo
com couro aveludado por toda a extensão e pele grossa e felpuda
nos ombros largos. Uma boina verde musgo descansava em sua
cabeça, caindo só para um lado do seu rosto tenso. Ela travou
saliva, desviando os olhos, não se conformava que um homem
pudesse ser tão bonito de saia. — Tem um animal morto em seus
ombros. — Ela disse, e ele levou um momento em silêncio até
entender que ela estava criticando sua vestimenta. — É uma
herança de família, além disso não é hora para ser hipócrita meu
mel. — Ele se defendeu. — Quero que use uma coisa. — e só
então ela percebeu que ele trazia um pedaço de tecido nas mãos.
Se aproximou mais dela, abrindo o tecido que se revelou ser uma
longa faixa com a mesma estampa do seu kilt. — É um costume
que a noiva leve um pedaço de tecido com as cores da família do
noivo. — Ele disse muito suavemente enquanto passava a faixa
pelo ombro dela. Deu uma volta pelas costas de Daphne e prendeu
as duas pontas da faixa com um broche do emblema Armstrong no
lado direito do quadril dela. Daphne ficou inquieta enquanto ele a
avaliava da cabeça aos pés. Ao fim, ele acenou com a cabeça
satisfeito. Ela não sabia o que aquela faixa significava para ele e
sua tradição, era um pedaço de tecido feioso que parecia ter sido
retirado da saída dele, mas ela não pôde reprimir a pequena
pontada de satisfação bem lá no fundo. Os dois caminharam lado a
lado até o andar de baixo, onde o casal Uig os aguardavam
ansiosos. A senhora Uig a olhou e sorriu levando uma mão ao peito,
emotiva. Daphne tentou reprimir a vontade de rolar os olhos. Aquilo
não era romântico. Era tudo, menos romântico. — Você está linda.
— Daphne agradeceu com um sorriso. — Mas está faltando algo...
— a mulher mais velha a avaliou minuciosamente e seus olhos
iluminaram quando teve uma idéia. — Já sei! Volto em um segundo!
A senhorinha deu as costas para todos e correu para os fundos da
estalagem. Eles a aguardaram como estátuas no lobby. Northwest
olhando um relógio de bolso enervado, Daphne batendo o solado
da bota no chão com impaciência, e o senhor Uig muito sereno
alheio ao desconforto dos noivos. — Aqui, voltei. — Disse a mulher
voltando dos fundos, trazendo um buquê de flores nas mãos. —
São urzes brancas. — Ela disse enquanto puxava a trança de
Daphne e colocava as flores entre os fios loiros de seu cabelo
volumoso. — É um costume. Para trazer sorte ao casal. O olhar
dela cruzou com o de Northwest, e um forte rubor aqueceu a cútis
dela. Não precisariam de sorte, amanhã mesmo depois de
descansada ela voltaria para casa. — Agora sim, está uma
verdadeira noiva escocesa. — a senhora Uig disse carinhosamente
depois de avalia-la uma outra vez e puxou-a pela mão para fora da
estalagem. Contudo, quando Daphne foi colocar o pé para fora do
estabelecimento a velhinha deu um baita grito que fez a noiva pular
de susto com o coração na boca e os olhos fora da cara. — A noiva
deve sair com o pé direito, é um costume. Para trazer sorte.
Mastigando a própria língua para não manda-la engolir seus
costumes escoceses, Daphne fez o que a mulher instruiu,
ignorando o sorriso divertido no rosto de Northwest. Os quatro
desceram a rua em harmonia até a ferraria. A cada passo que dava,
Daphne sentia que poderia desmaiar. Estava culpando o cansaço,
mas tinha que parar de mentir para si mesma. Talvez, só talvez,
aquela fosse uma péssima ideia, e todos os seus planos dessem
errado. Entraram na ferraria e o duque bateu no sino da entrada.
Segundos depois um homem grande vestindo um kilt azul e
vermelho, saiu por uma portinha minúscula nos fundos, limpando as
mãos sujas de carvão em um paninho imundo. O ferreiro avaliou os
quatro. Os olhos percorreram os urzes no cabelo dela, a faixa que
rodeava seu ombro e parou no kilt de Alec. — Um Armstrong. —
Disse como uma saudação, andou até eles com um sorriso
acolhedor. — Imagino que estejam aqui para se casar, certo? —
Sim. — Foi Northwest quem respondeu. — Me acompanhem. — O
homem fez sinal que eles o seguissem. Enquanto eles se
embrenhavam na casa soturna, Daphne se aproximou do noivo que
seguia o caminho sério e calado. — Como ele reconheceu você? —
Perguntou em voz baixa, o escocês olhou para ela sem entender.
— A poucos minutos, ele olhou para você e disse "Um Armstrong".
Ele ergueu as sobrancelhas, entendendo, e indicou o próprio kilt. —
Pelo tartan, meu doce. — Daphne emburrou o cenho, incomodada
com o apelido. — O que é isso? Uma espécie de código secreto
escocês? — Zombou. — É, basicamente. — Ele respondeu
arrancando o sorriso dela. — Vê essas listras? — apontou para as
listras no kilt. — Segue o padrão do meu clan, cada clan tem o seu
único, olhe o kilt dele, as listras mudam de padrão. Ele é do clan
Mackenzie. Daphne o olhou bastante impressionada. Sempre
pensou que fossem apenas listras em um tecido. Eles pararam de
frente para uma bigorna, e o senhor Mackenzie, se colocou atrás da
mesma. Encarou os dois com uma paz irritante. — Declan!!! — Deu
um berro repentino que deu um susto em todos. Mais um pouco e
Daphne iria matar um escocês. Independente de qual fosse. Um
menino ruivo e magricela de aproximadamente quinze anos entrou
ali atrapalhado, carregando uma espécie de sacola de pano com
vários tubos finos de maneira ao redor, cheio de pequenos buracos
entalhados. — Para deixar a cerimônia ainda mais tradicional, meu
filho vai tocar. — Disse o ferreiro Mackenzie, dando permissão para
o menino, que puxou o ar para os pulmões e começou a soprar
para dentro de um dos tubos de madeira. Logo em seguida o local
foi preenchido pelo som do que parecia ser uma rinha de gatos,
misturado com carneiros sendo atropelados. — Você tem um anel?
— Perguntou o ferreiro para Northwest, alheio ao crime ambiental
que seu filho estava cometendo. O duque pareceu envergonhado.
— Não, senhor. É um casamento de... — Daphne começou a
explicar, quase gritando para ser ouvida por cima daquele som
estridente, mas foi atrapalhada por Northwest. — Na verdade, eu
tenho. — Ele estendeu a mão direita no ar, onde todos os dedos
longos estavam ocupados por anéis. Do dedo mindinho ele tirou um
anel dourado e brilhante. Os olhos dela se pregaram naquele anel.
Um diamante amarelo lapidado em formato de gota, cravejado no
ouro. Na parte interna tinha um relevo que ela não soube identificar.
— Muito bem. — Disse Mackenzie. — Fiquem de frente um para o
outro e coloque-o na sua noiva. Eles obedeceram e Northwest
tomou a mão esquerda dela. A música irritante foi esquecida, e um
formigamento estranho começou a subir pelo braço de Daphne, ele
deslizou a aliança pelo seu dedo, e aquilo se encaixou nela como
se fosse feita sob medida. — Dê-me sua mão. — O ferreiro pediu,
pegou a mão dela e antes que Daphne pudesse perceber, ele
estava cortando sua palma com um punhal. — Aí! — Ela reclamou,
vendo o risco raso em sua mão verter sangue fortemente vermelho
para fora da carne. Mackenzie fez o mesmo com a mão do noivo e
em um gesto que Daphne achou além de nojento, juntou as duas
mãos, misturando assim o sangue dos dois. O ferreiro pegou uma
fita de tecido branco e amarrou as mãos dos dois juntas, dando um
nó bastante firme ao fim. — Tem algo dizer? — Perguntou para os
dois, que fizeram um não bem apavorado com as cabeças. —
Repitam comigo... — pediu, e engolindo em seco, tentando não
vomitar o nada que havia em seu estômago, Daphne repetiu junto
com Alec. — Compartilho contigo meu sangue, meu corpo e minha
alma, deste dia em diante, até o fim dos meus dias. — Northwest
escolheu bem este momento para olha-la nos olhos, talvez fosse o
nervosismo por estarem naquela situação, o que quer, que fosse,
arrancou o ar dos seus pulmões, e fez ela acreditar que naquele
momento suas palavras eram mais sinceras do que deveriam. — Eu
te aceito. — O que Deus uniu o homem não separa. — a frase
reverberou pelo ar como uma indireta silenciosa, e um fungado alto
ali perto anunciou que a Sra. Uig estava em prantos. — Está feito.
Foi tudo tão rápido que Daphne só teve tempo de piscar. — Então é
isso? Estamos casados? — Perguntou, querendo sair dali voando
antes que fizesse aquele garoto engolir aquele instrumento
demoníaco. — Ao que parece. — Respondeu Northwest, agora
quem estava pálido era ele. Eles abandonaram a ferraria logo após
pagarem o serviço, o registro de casamento seria entregue no prazo
de uma hora. Daphne nunca apreciou tanto o silêncio, mas sua mão
mutilada ainda estava atada a de Northwest e isso estava
incomodando-a. Levantou o pulso para tentar tirar o nó mas foi
impedida pela senhora Uig. — Não pode desamarrar a fita até que
tenha se consumado o casamento. — Daphne bufou, irritada.
Estava cansada de escoceses. Todos eles. — Deixe-me adivinhar,
mais um costume escocês?! — Perguntou retórica. Ela voltou a
tentar abrir o nó com impaciência, mas o senhor Mackenzie tinha
apertado demais a coisa. — Precisaremos de uma faca. — Falou
frustrada por estar apanhando de um nó, a senhora Uig a
interrompeu novamente. — O nó sairá normalmente. Basta parar de
lutar contra ele. — Disse de maneira misteriosa. Daphne franziu o
cenho para Alec. Ele acreditava naquela sandice? Em resposta ele
deu de ombros. Essa tinha sido sua resposta para muitas coisas
naquele dia. — Agora vamos. Temos que comer para celebrar! —
Disse a velhinha, festiva. O estômago de Daphne roncou ao ouvir a
palavra comer. — Não, não poderemos ficar. — Disse Northwest
fazendo a animação dela se esvair. — Ainda tem um bom pedaço
até Kinlochleven. — É realmente necessário que eu vá? Você pode
levar a certidão de casamento. — E o que dirão quando eu chegar
lá casado mas sem uma esposa? — Que é um homem de sorte? —
Ela gracejou. Mas não se sentia nada feliz, não podia adiar ainda
mais sua volta para Londres, e nem queria passar mais tempo que
o necessário na companhia dele. — Assim será melhor, poderemos
comer alguma coisa enquanto esperamos a certidão ficar pronta.
Quando chegarmos no castelo Stirling você poderá descansar
devidamente para ter vitalidade para voltar para casa. — Ela
ponderou, talvez fosse melhor daquele jeito, estava muito exausta,
e não queria passar a noite de suas bodas sozinha, sem falar que
daria tudo para descansar em uma cama quentinha e confortável.
— Muito bem. Mas não pretendo me demorar, voltarei amanhã pela
tarde. — Ele concordou sem dizer nada e a puxou em direção a
estalagem. Como um presente pelas bodas a senhora Uig serviu
um pequeno banquete para os dois no restaurante da estalagem.
Eles comeram lado a lado em silêncio, rodeados pelo ambiente
propositalmente apaixonante. Daphne estava além de irritada por
ter que comer com sua mão esquerda, felizmente o cordeiro estava
delicioso e macio, e as batatas bem cozidas, ela pode corta-los com
o garfo e leva-los a boca sem muita dificuldade. Enquanto ainda
comiam, um casal irrompeu pela porta da frente da estalagem. O
rapaz carregava a recém esposa nos braços e os dois estavam as
gargalhadas enquanto subiam as escadas em direção ao quarto.
Daphne sentiu o pescoço esquentar ao entender o motivo da pressa
dos pombinhos. — O cupido está solto. — Ela disse, dando uma
risada sem graça. — Nunca entendi porque associam o cupido
apenas ao amor. — Northwest devolveu, bebendo um gole do seu
vinho. — Talvez seja porque ele é filho de Afrodite. — Com Ares, o
deus da guerra. — Ele adicionou, eles estavam tão próximos que
Daphne pôde ver os espirais que ele tinha nas íris impressionantes.
— Pela lógica ele trás tanto o amor quanto o ódio. — Há quem diga
que os dois andam de mãos dadas. — Ela parafraseou. Os olhos do
duque caíram para as mãos dos dois atadas, e abriu um sorriso
irônico. — É melhor irmos indo, antes que Eros resolva nos flechar.
— Ela nunca concordou com ele tanto quanto naquele momento.
Uma hora e meia depois, ela, Alec e o porco Thomas estavam se
despedindo do casal Uig, do ferreiro Mackenzie e do seu filho
desprovido de talento, indo de encontro as famosas highlands. ∞∞∞
A viagem pela Escócia foi rápida, desconfortável e fria. Northwest
estava muito quieto. Desde que tinham abandonado Gretna Green,
não tinha falado quase nada em todo o percurso e seguia olhando
pela janela da carruagem, onde uma geada havia se formado. Eles
passaram pelas muitas cidades pequenas, o ar era frio e úmido e a
noite estava muito escura. Por mais que Daphne tivesse odiando
aquele nó em sua mão, a partir de um momento da viagem, ter
Northwest ao seu lado foi algo reconfortante. Depois que passaram
pela famosa Edimburgo, o frio se tornou algo insuportável e ele era
uma fonte de calor agradável. Irradiando perto dela como uma
fogueira de músculos atraentes. Até mesmo Thomas estava se
aproveitando do calor dele, depois do porco muito bater com o
focinho gelado em sua perna, ele pegou o animal e o acomodou em
seu colo. — Presunto folgado. — Ele resmungou para o porquinho
que apenas enfiou o rostinho nas dobras das vestes dele. Daphne
escondeu o sorriso de lado, e desejou ter um retrato da cena para
emoldurar e pôr em sua sala de estar. Ela dormiu um sono raso, e
quando acordou novamente uma neve grossa caía do céu,
diminuindo significativamente a velocidade da carruagem. Lembrou
de sua infância na América. Quando corria com suas irmãs pelo
quintal de sua antiga casa, atirando bolas de neve umas nas outras.
Tudo parecia tão distante, como um sonho enevoado. Era difícil
pensar que agora suas irmãs estavam casadas e construindo suas
próprias famílias. Daphne sentia uma falta absurda delas, era triste
ser a única que permaneceu sozinha, triste perceber que nunca
mais nenhuma delas seriam as mesmas. Olhou para o homem ao
seu lado, sentia certa culpa por estar enganando-o. Não era como
se estivesse mentindo para ele, tinha falado a verdade, precisava
mesmo de um marido para se livrar de Phineas, estava apenas
omitindo algumas coisas, coisas que quando ele descobrisse, seria
bom que estivessem bem longe um do outro para não haver atritos
ou mágoas. Mesmo querendo manter distância, ela não podia evitar
de se sentir curiosa sobre ele. Desde a primeira vez que o viu,
percebeu que ele usava a máscara de cinismo para camuflar algo
mais profundo, algo que era doloroso. E o mais perturbador, era ver
que ele se acostumou a isso. Não era preciso conhecê-lo a fundo
para saber que se orgulhava de seu sangue escocês. Isso era algo
que ela admirava muito nele, sua confiança mesmo usando saias,
era algo irritante. Quantas mulheres já passaram por sua cama? Ou
pelo seu coração? Ela imaginava que muitas. Era um galanteador,
dava em cima de tudo que usava saias e tinha seios, sua fama de
libertino era muito comentada no Rough Diamond, já tinha cortejado
suas irmãs e tinha uma paixão platônica por sua amiga Sophie,
aparentemente a única mulher no mundo que não chamava o seu
interesse, era ela. — Posso sentir que está me encarando, meu
doce. — Ele falou, virando o rosto para olha-la. Daphne se afastou,
enrubescendo por ter sido pega em flagrante. — Eu só estava
pensando. Por que tinha que se casar para manter o ducado? —
Ele dirigiu um olhar cínico para ela. — Isso é muito injusto docinho,
se vou revelar um segredo meu, terá que revelar um seu também.
— Barganhou com um tom bastante sedutor. Se Daphne não o
conhecesse diria que estava a cortejando. — Faremos o seguinte,
você responde minha pergunta, e eu responderei uma sua. — Ele
sorriu, animado com a proposta. — Isso pode ser um jogo perigoso,
doçura. — Arqueou uma sobrancelha. — Mas interessante. Pensou
por uns instantes, olhando através da janela. — Muito bem, meu pai
temia que eu nunca fosse me casar, achou que ameaçando me tirar
o ducado, me deixaria sem opções. — Respondeu direto, sua
resposta parecia sincera, mas Daphne sabia que tinha mais coisa
aí, ele não parecia o tipo de homem ganancioso, somente o ducado
não seria motivo suficiente para fazê-lo viajar como um louco até
Gretna green apenas para se casar com ela. — E por que ele
achava que você nunca iria se casar? — ele deu um sorriso
malvado. — Uma pergunta de cada vez, meu pudim. — Daphne
revirou os olhos ao ouvir o apelido enjoativo. — Agora é minha vez.
Esfregou as mãos uma na outra, e ela soube que daí viria uma
bomba. — Por que eu? — Ela olhou para ele confusa. — Por que
eu dentre vários homens? Pelo que sei você foi muito cortejada
após o aumento do dote, qualquer homem teria aceitado.
Mellbourne, por exemplo, deixou evidente seu interesse em você.
Daphne fez uma cara de puro desprezo. — Não consigo imaginar
alguém mais detestável que Mellbourne. Esteve cortejando Jane
Dudley durante toda a temporada e quando descobriu que a garota
não tinha um dote, simplesmente a deixou de lado. — O pai de
Mellbourne o deixou atolado em dívidas, não pode culpa-lo por
querer livrar-se delas. — Partiu o coração da garota! — Daphne
disse, injuriada. — Pobre Jane, teve que ir para a casa de uma tia
no interior. — O coração das mulheres é volúvel. Logo ela
encontrará o filho de um fazendeiro por quem se apaixonará
perdidamente e Mellbourne será nada mais que uma vaga
lembrança. — Daphne não deixou de perceber o toque do rancor
em suas palavras. Percebendo que tinha deixado escapar mais do
que deveria, Alec a olhou acusadoramente. — Você não respondeu
minha pergunta, York. Por que eu? Daphne ficou muda. Um pouco
pálida e dura. Não deveria ter começado com isso. A resposta devia
ser direta, mesmo assim, as palavras se recusavam a sair. Ele
vasculhou seu rosto com cuidado, com aquele olhar. E ela se
remexeu inquieta no acento. — Mas eu já disse, você pode me dar
a liberdade que nenhum deles me daria. — Respondeu, quase sem
acreditar em suas próprias palavras. — Você não deseja um
casamento como o de suas irmãs ou pais? Não deseja amor?
Felicidade? Filhos? — Rapidamente ela se sentiu exposta. Aquela
foi a conversa mais íntima que já teve com ele, e a mais longa
também. Era um assunto delicado demais para ela, nunca tinha
parado para pensar em tais coisas. Nunca tinha sequer
experimentado do amor. Se sentia exposta com a pergunta por que
não tinha as respostas. Para nenhuma delas. E mesmo que
encontrasse, era tarde demais. Para tudo. Estava em um beco sem
saída, e casada com o último homem a quem poderia vir a amar. —
Uma pergunta de cada vez. — Disse virando o rosto para longe. Ele
deu uma risada baixa em resposta. — Logo chegaremos em
Kinlochleven. — Ele falou, se abaixando e tirando o canivete de
dentro da bota. — É melhor tirarmos isso...— ele falou cortando a
fita em suas mãos com a lâmina. —...não será muito bajulador
chegar com minha esposa, e todos verem que ainda não a fiz
minha. Daphne sentiu seu rosto incendiar como em fogo vivo. Pelo
modo possessivo como suas palavras saíram e pelo uso da palavra
"ainda" em sua última frase. Ela não se considerava uma mulher
tímida. Na verdade, era por não ser tímida que se encontrava nesta
atual situação, mas com Northwest era tudo diferente, ele
conseguia surpreende-la com sua petulância. Diferente dos homens
nobres que ela conhecia, ele não tinha filtros. Depois de libertos, ele
juntou os restos da fita manchada com o sangue dos dois e
guardou-as em uma bolsa pequena que carregava na cintura, junto
com o canivete. A carruagem passou por cima de uma ponte sobre
um lago congelado e perdeu a velocidade. — Esteve com o
canivete o tempo todo, por que não nos soltou antes? — Gostei de
ter você amarrada. — Foi sua resposta atrevida, acompanhada de
uma piscada audaciosa. A carruagem parou no instante seguinte, a
impedindo de arranjar uma resposta a altura de seu cinismo.
Daphne se preparou para deixar a carruagem e vislumbrou pela
primeira vez o imponente castelo Stirling, ficou parada meio dentro,
e meio fora da carruagem, com um pé no ar, encarando o grande
monumento coberto de neve, rodeado de torres e árvores, e quando
procurou um apoio para descer, encontrou o vazio, perdendo o
apoio e indo direto ao chão. Ela foi enfiada vários centímetros na
neve congelante. Northwest estendeu uma mão para ela enquanto
ria a plenos pulmões, Daphne deu um tapa em sua mão e levantou
sozinha com um pouco de dificuldade. Sacudindo rodo o seu corpo
para tirar a neve dos ombros e do casaco que já não servia para
aquece-la do frio. — Odeio a Escócia. — Ela rosnou. — Vamos
para dentro, antes que você pegue uma friagem. — Ele falou se
recuperando do ataque de risos e a guiou, junto com o porco, para
dentro do aconchego do castelo. Enquanto entravam pelo terraço,
indo de encontro a porta de entrada, vários archotes, com tochas e
lamparinas, iluminavam o caminho e espantavam a bruma negra da
noite. Entraram no grandioso hall, onde vários pilares de mármore
liso sustentavam o teto abobadado, e uma grande coleção de
estátuas de gesso de deuses, a maioria das vezes seminus, usando
apenas retalhos, brandiam espadas e travavam batalhas.
Chegaram de frente a uma porta dupla de três metros de altura, e
ele a parou com uma mão antes de entrar. A olhando cauteloso. —
Tem algo que deve saber. — Ele falou quando pararam de frente
para uma grande porta dupla. — Existem dois tipos de família,
aquelas onde todos que se amam e vivem em harmônia, e aquelas
onde todos se odeiam a maior parte do tempo mas no fim do dia
ainda se amam. Já a minha família se encaixa em uma categoria
especial, para ser mais curto, nós nos odiamos em uma parte do
tempo e na outra buscamos mais razões para isso. — Ela piscou
duas vezes, aturdida por ele dizer aquilo com tanta tranquilidade. —
Mas não se preocupe, basta ficar imóvel que com um pouco de
sorte eles não tentarão nada hoje. — Northwest, espere... — Antes
que ela pudesse perguntar o que ele quis dizer com aquilo, ele a
puxou para dentro do castelo. O calor agradável a rodeou, mas
Daphne não teve tempo de apreciar isso, pois a visão de quatro
pessoas sentadas em uma mesa a beira do fogo, chamou sua
atenção. — Desculpe, estou atrapalhando a pequena reunião
familiar? — Northwest indagou despreocupado, as mãos unidas
atrás das costas e uma postura relaxada. Um dos homens na mesa
levantou bruscamente, ele era alto, e grande, muito grande. —
Alecsander, o que está fazendo aqui? — Perguntou ríspido, tinha
longos cabelos ruivos e usava um kilt nas mesmas cores e padrão
de tartan que o homem ao lado dela. — Eu que deveria fazer essa
pergunta para você, da última vez que me informei essa casa ainda
era minha. — Daphne percebeu que as expressões de todos na
mesa ficaram confusas, então ele a puxou para perto e os olhares
caíram sobre ela como bolas de fogo vivo. — Adorada família,
apresento-lhes minha esposa, Lady Daphne Lancaster. As quatro
cabeças se viraram para ela simultâneamente, a estudando dos pés
a cabeça, desde as botas, até a faixa em seu ombro, e os urzes em
seu cabelo. Daphne estremeceu, não com os olhares, estava
acostumada a ter gente olhando-a com repúdio, mas estremeceu
sim com o modo que Northwest falou o seu novo nome. E somente
naquele momento ela se deu conta de que agora era uma duquesa.
— Você é tão repugnante quanto o seu pai foi...— disse o ruivo
alto, ficando realmente assustador. — ... é capaz de se casar com
uma pobre coitada apenas para manter este ducado nojento.
Daphne ergueu as sobrancelhas ofendida, pobre coitada? Deu um
passo para frente realmente brava. — Ora seu...— Northwest a
puxou de volta pelo braço. — Não fiz isso pelo ducado, fiz por
Ashleigh, e porque prefiro morrer a deixar que vocês ponham a mão
neste castelo. — Ele a pegou pelo pulso e a puxou para o corredor
ao lado dali. Daphne pegou o porco de estimação do chão e o
seguro nos braços. — Agora, se me derem licença, estão
atrapalhando minha lua de mel. Eles se afastaram dali a passos
largos. Daphne quase correndo para alcança-lo, as faces dele
estavam rígidas e sombrias, mesmo tentando não aparentar nada, e
ela percebeu dentro de si um desejo imenso de descobrir os
segredos mais obscuros do seu, agora, marido. Capitulo quatro
Pisando firme, Alec adentrou pelos corredores de sua casa. Sentia
uma náusea forte castigar seu estômago ao mesmo tempo que o
alívio invadia suas veias. Tinha achado que nunca mais iria pôr os
pés ali novamente. E agora podia caminhar seguro de que a casa
onde tinha passado os momentos mais felizes de sua infância,
ainda era dele. Pelo menos pelo tempo que ele precisava para
garantir o futuro de Ashleigh, graças a mulher miúda que andava ao
seu lado. Ele olhou para ela quase correndo para acompanha-lo,
levando aquele porco nos braços como um bebê. Ela não deveria
estar ali. A aquela altura eles deveriam estar há quilômetros de
distância um do outro. Mas Alec foi incapaz de deixa-la ir. Foi
incapaz de enfrentar seus familiares sozinho. Era irônico, revoltante,
e um tanto ridículo que ele precisasse de alguém tão pequeno em
quem se apoiar. Mas naquele momento, quando esteve diante dela
na frente daquela bigorna, usando aquele vestido de noiva verde,
com a faixa com as cores de sua família, e todas aquelas flores
naquela massa de cabelos revoltados, ele pensou em uma remota
possibilidade e que talvez devesse adiar a partida. Trouxe ela
consigo, com a desculpa de que precisaria dela para provar a
veracidade do casamento, quando na verdade apenas não quis
enfrentar sua família sozinho. Ela parecia o tipo de mulher que
poderia derrubar um elefante apenas com a força de sua teimosia.
— E eu que pensei que minha família tinha problemas. — Ela falou
quando passaram por uma entrada lateral, entrando em um
corredor longo cheio de portas fechadas. Alec engoliu em seco.
Sabia que estava se arriscando ao leva-la ali. Sabia que de uma
maneira ou de outra estava enfiando Daphne nos seus assuntos.
Estava enfiando ela nos seus segredos. Tinha que tomar cuidado,
tanto com ele mesmo, quanto com o que ela poderia vir a descobrir.
— Você deve estar cansada, mandarei que preparem
imediatamente acomodações para você. Deseja algo mais? Ela
estreitou os olhos para ele. ficou nítido que percebeu sua tentativa
medíocre de mudar o foco do assunto. Mas não se importou ou
estava cansada demais para argumentar. — Eu gostaria de um
banho quente, por favor. — pediu. — Esse lugar é muito frio e eu
não trouxe roupas adequadas. — Tudo bem, providenciarei roupas
também. — Ele a guiou por uma sala de estar e os dois entraram
em um salão oval, onde uma moça de cabelos curtos e castanhos
ensaiava uma luta de espadas. A jovem, que também usava um
vestido quadriculado verde, notou a presença dos dois e soltou um
grito de êxtase ao ver o homem ali. Largando a espada no chão
com um estrondo correu para ele e se jogou em seus braços com
um salto. — Alec! Eu sabia que você viria! Eu disse a eles que viria
me buscar! — Ela falou com alívio, se agarrando ao pescoço do
escocês. — Ashleigh. — Alec pousou uma mão nas costas dela
tentando acalma-la. — Eu não vim busca-la. Eu vim para ficar. A
garota se afastou para olha-lo e só então notou a jovem loira
escondida atrás dele. — Alec, me diz que não... — Alec a
interrompeu antes que falasse algo que não devia. — Ash, quero
que conheça minha esposa, Daphne. — indicou a moça, puxando
ela pelo braço para o seu lado. — Daphne, esta é Ashleigh, minha
irmã. As duas mulheres se estudaram da cabeça aos pés. Ashleigh
fez sua avaliação minuciosa, os olhos idênticos aos do irmão
vasculharam as vestimentas da pequena esposa e pararam em
suas mãos, onde o anel amarelo descansava tão perfeitamente. —
Tem traços muito angelicais para ser escocesa, de que classe você
é? — Ashleigh não se esforçou para parecer simpática. — Da
classe americana. — Daphne respondeu em igual, erguendo o
queixo para deixar bem claro que não seria intimidada. — Ah. — Foi
a resposta de Ashleigh, acompanhada de um olhar de intensa e
firme de repulsa. — É ainda pior. — Murmurou alto o bastante para
ser ouvida. Dirigiu um olhar de repreensão para o irmão. — Você
não deveria ter feito isso, não por mim ou por este lugar, é apenas
uma pilha de pedras... — Não é hora para termos esta conversa. —
Alec cortou-a firme, e puxou a sineta para que viesse um lacaio.
Ashleigh torceu a boca, engolindo sua revolta. Logo o criado entrou
ali, e Daphne ficou em silêncio enquanto Alec instruía que o homem
servisse as vontades da nova duquesa. Daphne apenas deixou Alec
com seus mistérios e foi-se atrás do criado, junto com o porco,
finalmente sumindo ao fim do corredor. — Não acredito que fez
isso. — Ashleigh explodiu, quando finalmente ficaram a sós. —
Você deu o anel da nossa mãe para ela! — É o que eu deveria
fazer. Ela é minha esposa. — Ele se afundou em uma poltrona.
Também se sentia cansado pelas ocorrências dos últimos dias. —
Mas você deveria da-lo á mulher que amasse verdadeiramente, era
o que deixaria mamãe feliz, não a mais uma interesseira que só
está visando o seu título. — retaliou, com as faces retorcidas pela
raiva. — E veja só, ela tem um porco de estimação, acaso é louca?
— Suspeito que sim, irmã. — Ele disse com um olhar misterioso e
um sorriso suspeito demais. — De qualquer maneira é a única
mulher que terei daqui em diante. E não está interessada em meu
título, amanhã irá embora. — Ele tentou convencer os dois disso. —
Está querendo me dizer que é um casamento de conveniência? —
Ele assentiu. - E por acaso a moça sabe disso? Assentiu
novamente, detestando o rumo que aquela conversa estava
levando. — E o que pretende fazer quando ela descobrir que
precisa de mais um pequeno detalhe para manter o castelo? —
Alec respirou fundo. Isso era algo que estava tentando ignorar até o
presente momento. — Uma coisa de cada vez, tenho tempo de
sobra para pensar em uma solução, enquanto isso é bom que se
mantenha longe do caminho dela, Daphne não é do tipo que se
intimida facilmente e não ficará em silêncio diante de um ataque.
Ashleigh sorriu. — Acabo de me afeiçoar a ela um pouco mais. Os
dois levaram horas conversando sobre os últimos dias em Stirling.
Sobre como a família de sua mãe já estava se preparando para
tomar posse do castelo e casar Ashleigh com o primo Vikram, para
quem iria a posse do castelo caso Alec não obedecesse a vontade
de seu pai. Ashleigh era tudo o que restava para ele. Tinha apenas
dezessete anos, e era a única motivação que ele tinha para ir
adiante com aquilo. Depois do que tinha se passado na vida de
Alec, ele pensou que jamais poderia passar por aquilo novamente,
e antes de ver Daphne sair do quarto vestida de noiva, pensou uma
ou duas vezes em desistir. Foi louco e estranho, pois parecia que
ela era a única mulher no mundo com quem ele poderia enfrentar
aquilo novamente. Aquele pesadelo repetitivo e sufocante. E agora,
graças a ela, ele podia manter o seu ducado, e também podia
manter Ashleigh. Daphne nunca saberia que tinha feito mais por ele
do que ele tinha feito por ela, e tudo que pedia em troca era
liberdade. Liberdade...A palavra pairava na mente de Alec como um
soneto irritante. A pergunta recorrente era, liberdade para quê?
Quando se encerrou todo o assunto que tinha pendente com sua
irmã, ele deixou-a com um beijo de boa noite e caminhou pela
escadaria do castelo que levava até o terceiro andar, onde sua
cama macia e aconchegante estaria esperando por ele. A noite
estava fria, mas as paredes de Stirling foram bem projetadas para
suportar baixas temperaturas. O castelo era rodeado por
montanhas e colinas, no topo de uma elevação, por isso os
invernos ali costumavam ser sempre rigorosos. Ele entrou em seu
quarto e foi agraciado pela chamas da lareira, pelo cheiro de hortelã
e pelo corpo de Daphne York submerso na água morna. Os cabelos
dela estavam soltos e molhados jogados para trás, fora da
banheira, e os seios, com os mamilos marrons rijos, saltavam para
o ar. Ela arregalou os olhos ao vê-lo e cobriu os seios fartos com as
mãos. — Mas o que diabos? — Gritou furiosa. Alec engoliu em seco
repetidamente, tentando focar seus olhos em qualquer coisa que
não fosse nas mãos pequenas que não cobriam absolutamente
nada em toda aquela abundância voluptuosa. Ele ainda podia ver,
bem, tudo. — Bom, você... É... Bom... Quarto... Meu... Está. — Ele
balbuciou e se sentiu como um idiota. — O quê? — Ele limpou a
garganta. — Você está em meu quarto. — Corrigiu. — Mas o criado
me trouxe para cá! — Obviamente ele confundiu a condição do
nosso casamento. — Ele disse, puxando a sineta nervosamente
várias vezes para chamar novamente o criado. Ela olhou para ele
com petulância. — Você não pretende ficar aí enquanto eu estou
aqui nua, pretende? — Alec sorriu maliciosamente. — Na verdade
isso me parece bastante interessante. — Ele percebeu bem a
tempo que poderia se divertir bastante com aquela situação. —
Argh... — Ela grunhiu, apertando mais firmemente aos mãos em
volta dos seios que pareciam vazar para todos os lados. Alec fez
uma aposta mental consigo mesmo de que suas mãos eram
grandes o suficiente para comporta-los. Em seu momento de
espera acabou se permitindo criar questões sobre Daphne que
antes jamais passaram por sua cabeça. Como por exemplo, se ela
seria uma amante obediente e aberta a possibilidades, se gostaria
com força ou carinhosamente, ou os dois em ordens alternadas, se
era tão atrevida na cama como é no dia a dia, se gostaria de fazer o
amor com as luzes apagadas, ou se gostava de ver...Questões que,
obviamente, não deveriam existir na cabeça dele. Quando o criado
chegou, a tensão entre os dois era presente como uma terceira
pessoa. — Creio que houve um engano Hoyt, pedi que alojassem a
duquesa em um aposento, não este, outro que estivesse disponível.
— O criado olhou para ele embaraçado. — Acontece milorde, que
não fomos avisados da chegada de duas pessoas, este é o único
aposento preparado devidamente para o frio. — Falou em tom de
desculpas, evitando olhar para a mulher nua que ouvia a tudo
atentamente. Os olhos de Alec cruzaram com os dela, e ele viu ali
pavor e incredulidade, abriu uma gargalhada pela maldita ironia do
destino. — Ouviu isso meu docinho? Teremos que dividir uma
cama. Capitulo cinco Daphne permaneceu estagnada na banheira
enquanto Northwest dispensava o criado e fechava a porta atrás de
si, isolando os dois dentro daquele quarto que pareceu subitamente
pequeno demais. Ela não sabia o que deveria fazer, e no fim, viu
que a melhor estratégia para escapar daquela circunstância
embaraçosa era entrar no jogo do duque escocês. Ela era uma
mulher madura, e enfrentaria a situação como ele faria, com cara de
pau e muito cinismo. — Você pode ao menos me dar privacidade
para me vestir? — Ele sorriu cinicamente. — E qual seria a diversão
disso? — Ela bufou e esticou um braço para fora da banheira,
lutando para pegar a toalha que repousava em uma cadeira há
alguns centímetros dali, sem deixar que ele visse além do
necessário. Alec rapidamente andou até a toalha e a pegou,
esticando-a no ar, para que ela levantasse, e ele mesmo pudesse
envolve-la. Daphne o olhou com uma mensagem clara de "Sem
chance". — Vamos docinho, o que de mal tem uma esposa ficar
nua diante do marido? — Ele perguntou balançando as
sobrancelhas sugestivamente para ela. — Nenhum, tirando o
enorme fato de que você não é o meu marido. — A expressão
divertida dele vacilou. Seu sorriso turvou-se para o lado, parecia
contrariado. — Bom, uma hora terá que sair daí, e eu não estou
muito disposto a abrir mão disso. — Falou, adotando novamente o
ar travesso. Daphne aborreceu-se e levantou de súbito da água,
molhando o chão do quarto no processo. — Ora. É apenas uma
mulher nua, como se nunca tivesse visto uma antes. Ele vacilou por
um momento, seus olhos dourados percorreram ligeiramente o
pequeno corpo pelado e molhado. Daphne se sentiu tão exposta
que podia jurar que ele via além de seu corpo, que ele via também
seu coração batendo furiosamente contra seu peito. Ela viu um
sorriso satisfeito balançar em seus lábios finos. — Sim, certamente
vi, mas nenhuma delas era Daphne York. — Ele murmurou,
enquanto envolvia o corpo nú com os braços e aproximava demais
seu rosto risonho do dela. Se afastou bruscamente, deixando-a
parada de pé na banheira e se afastando para o lado, para deixa-la
passar. Sem entender o que quis dizer com sua última frase. Não
era como se ele tivesse pensado nela nua antes, era? Como
poderia? Se sequer notava a a presença dela até dois dias atrás?
Daphne não ocupou sua mente com esses assuntos, apenas saiu
da banheira e tratou de se vestir com uma camisola de algodão que
ia até os calcanhares, secou o cabelo com a toalha e logo depois
estava indo deitar-se. A cama de Northwest era alta e foi necessário
que ela subisse em uma escada de três degraus que ficava ao lado
da cama, com esse propósito. A cama também era incomparável
em largura, ela sabia que suas duas irmãs e Sophie poderiam
dormir ali com ela com folga. Daphne pouco se importava se teria
que dividir a cama com ele apenas por uma noite. Era apenas uma
cama, e aquilo não tornava os dois mais casados. E depois de
amanhã, não se veriam tão cedo. Se enrolou nos lençóis de pele
macia e quentinha e agradeceu a Deus por poder aproveitar aquele
momento sublime, onde seus músculos doloridos e seu corpo
exaurido poderia finalmente descansar. Porém, quando achou que
Morpheus ia finalmente arrasta-la para o mundo dos sonhos, ouviu
o som de roupas sendo tiradas e seus olhos foram parar vidrados
no homem que despia o casaco de viagem. A peça passou pelos
braços dele com dificuldade, como se não quisesse largar o seu
corpo e por um momento ela entendeu aquela pobre peça de roupa.
Ele jogou de qualquer jeito no chão, e andou até a cama sentando-
se na borda para começar a tirar as botas dos pés, junto com as
meias, revelando canelas brancas, peludas e panturrilhas
torneadas. Ele então puxou a camisa para por cima de sua cabeça,
revelando um físico de fazer Apolo chorar. Suas costas eram largas,
e até mesmo ali podiam-se ver músculos firmes, ele tinha ombros
delgados e trapézios salientes. Daphne tentou recapitular os últimos
dois dias em sua cabeça, juntar as peças loucas que insistiam em
se soltar. Estava tentando compreender como foi parar ali, deitada
na cama de um homem, não simplesmente um homem, mas sim
Northwest, que a propósito é seu marido, assistindo-o tirar sua saia
e achar aquilo a coisa mais sensual que já viu em vida. E a pior
parte era desejar olhar cada vez mais, como se fosse uma
apresentação de uma orquestra, cada movimento que ele fazia
soava como o acorde sensual de um instrumento, do qual ela não
conseguia parar de ouvir. Ele tinha razão quando dizia que não
usava nada por baixo do kilt, não usava nada mesmo. Nem mesmo
uma bandagem ou sequer um mísero pano. Nada que escondesse
a visão de seu traseiro malditamente belo, ou a magnitude de sua
espada escocesa saltando de uma moita de pêlos castanhos.
Aquele foi o limite. A partir daquele momento Daphne sentia que
poderia morrer em paz. Ela sentiu seu ventre se contrair uma vez e
outras mais e algo doloroso e pulsante começou a fazê-la se sentir
inquieta. Observou o homem entrar na mesma água a qual ela tinha
acabado de sair e começou a se banhar com a calma de um padre
que reza uma missa. Céus. Ele era uma injustiça. Com ela, com a
natureza e com todos os outros homens na terra. Nada faria jus a
aquilo e ela se sentiu privilegiada por apenas presenciar aquele
momento. Suspirou alto, conformada de que não poderia ter aquilo
para ela. Fechou os olhos e tentou dormir, mas foi somente quando
sentiu o peso do corpo do outro lado do colchão, que o sono
conseguiu finalmente leva-la. Ela dormiu um sono pesado,
envolvida pela pele do cobertor, e pelo calor reconfortante que
exalava ali perto. Acordou na manhã seguinte de um pesadelo e por
um momento não soube onde estava, seus olhos se fixaram no
dossel de uma cama e aos poucos seus ouvidos captaram um som
distante bastante parecido com o que o filho do ferreiro Mackenzie
tocou em sua cerimônia de casamento, logo percebeu a razão de
seu pesadelo, certamente estava no inferno. A diferença era que
esse som parecia mais melodioso, limpo e sincronizado. Ainda
assim, não deixava de ser perturbadoramente estridente. Levantou
da cama percebendo que Northwest não estava lá, e correu até o
lavatório para se preparar para ir embora. Não queria estender sua
partida além do necessário. Não queria e não podia criar qualquer
laço com Northwest ou deixar que ele se infiltrasse de alguma
maneira na sua vida. A experiência na última noite foi suficiente
para ela perceber que ele representava um perigo alarmante.
Vestiu suas roupas de viagem, colocou tudo organizadamente em
sua valise, deu uma última olhada no quarto grande e bem
organizado, não encontrou Thomas em nenhuma parte, imaginou
que o duque tivesse levado ele para fazer suas tarefas, fechou a
porta atrás de si e andou em direção ao som perturbador que soava
ali perto. Andou pelo corredor largo, percebendo que mesmo com
as janelas fechadas, o clima li era bastante frio. O chão era coberto
por um tapete longo e verde e a maioria dos móveis eram de
alvenaria, Daphne saiba que cada um deles teria uma longa e
maravilhosa história para contar. Dobrou no fim do corredor, onde
estava o salão oval e viu a fonte da música irritante. Era o próprio
duque, tocando aquele instrumento com uma maestria invejável. Ele
usava seu kilt verde de um tecido mais simples e nada cobrindo a
parte de cima do seu corpo robusto. Ele expulsava o ar dos seus
pulmões para dentro da flauta enquanto seus dedos ágeis
dedilhavam os buracos. Era impossível não olhar. Impossível não
babar e morrer de indignação. — Você nunca sente frio? — Quando
o homem parou de tocar para olhar para ela, Daphne percebeu que
pensou em.voz alta, seu rosto pinicou por toda a parte. Para
completar ele não estava sozinho. Ashleigh estava logo ali. Ele
sorriu ao vê-la e seus olhos desceram por suas roupas de viagem.
Ashleigh que até então estava entretida em um livrete levantou os
olhos para ela apenas o suficiente para escancarar seu desprazer
por Daphne estar ali. O desgosto foi mútuo. Ontem ficou nítido para
Daphne que a menina não gostou de sua presença ali e isso era
apenas mais um motivo para ela ir embora o quanto antes. —
Raramente, sou fogo puro. — Ele respondeu, com um franzir de
nariz que o deixou perturbadoramente fofo. — Hm, onde está
Tommy? — Tommy? — Ele franziu o cenho. — Meu porco. — Ela
explicou, e lançou um olhar mortífero para Ashleigh quando a
menina riu desdenhosa. — Pedi que levassem-no para comer. —
Espero que os criados tenham entendido o que quis dizer com
"leva-lo para comer", do contrario teremos suíno para o almoço. —
Ashleigh grasnou, Daphne cerrou os olhos para a garota que já
estava começando a se sair impertinente. Olhou para Alec. — Peça
que tragam-no. Estou pronta para ir embora. — Daphne teve a
impressão de que um brilho de decepção passou por seus olhos
dourados. — Receio que isso não será possível, aqui na Escócia
temos uma crença de que dá azar viajar em uma terça. — Ele falou,
deixando o instrumento sobre uma poltrona. — Felizmente não sou
escocesa, então, não tenho problemas com crenças. — Ela refutou,
tentando soar segura de sua decisão. Ele parecia uma muralha de
músculos firmes e irredutíveis. — E na neve você acredita? — Ele
deu espaço para que ela tivesse uma visão direta do lado de fora.
Irritada pela sua postura confiante, Daphne andou até a janela e
sentiu-se endurecer como gelo com visão a sua frente. Um mar de
branco, cobrindo cada pedaço de solo firme, formando uma grande
montanha que cobria até metade das muralhas do castelo. Ela
estava presa. Presa em um castelo com Northwest. ∞∞∞ Aquilo
não podia estar acontecendo. Ela não podia estar realmente presa
nas terras altas. Tinha que voltar para casa, para sua família e os
assuntos pessoais que necessitavam de sua presença com
urgência. Ficou parada por um bom tempo de frente para a janela,
apenas implorando para a neve parar de cair e o sol dar o ar da sua
graça. Embora duvidasse muitíssimo que isso fosse acontecer.
Agora que estava de dia, podia ver com clareza que o castelo
Stirling ficava bem no centro de uma aglomeração de montanhas e
colinas, que o protegiam como grandes guardiões de rocha
imponentes. Ela estava literalmente enfiada em um buraco no fim
do mundo. Ao noroeste dali, no outro extremo do lago congelado,
ela viu um pequeno vilarejo. As casas também estavam enfiadas na
neve, e pareciam com bolinhos cobertos de glacê. O frio era quase
insuportável e Daphne não tinha outras roupas além da que estava
em seu corpo, o vestido de casamento e uma camisola. Além de
que não podia permanecer ali, pelo simples fato de que se sentia
como uma intrusa. Aquilo estava errado. Ela deveria ter voltado
para casa desde Gretna green. Eles fizeram um acordo, deu a ele
seu ducado, e agora queria sua liberdade. O oposto do que estava
acontecendo. — Deve haver alguma maneira de locomoção, algo
que tire a neve da estrada! — Ela falava enquanto seguia ele pelos
corredores. — Você é um maldito duque, deve ter algo que possa
fazer! — Sou um duque, não um deus. — Ele retrucou sem olha-la
e sem dar importância ao seu apelo. — Eu não posso ficar presa
neste fim de mundo, tenho assuntos que tratar em Londres! — Ela
bateu um pé no chão, tomada pela raiva. Ele parou de andar e
virou-se para ela. — Bom, a única maneira de você sair daqui é
voando, e por mais que tenha essa cara de dragão, duvido que seja
um. — Daphne levou uma mão ao peito, insultada. — Seu...seu...—
Ela balbuciou, procurando uma ofensa que pudesse exprimir
perfeitamente o estado de sua indignação. Nunca um homem tinha
chamado-a de feia antes, muito pelo contrário, elogios nunca lhe
faltavam e era sempre comparada com anjos, lírios e deusas.
Jamais com algo tão medonho como dragão. Quando nenhuma
palavra veio à sua boca, a única saída que Daphne encontrou para
lutar pelo seu resto de dignidade era pela força. Procurou algo ao
seu alcance que pudesse jogar nele sem causar ferimentos graves,
mas não encontrou nada além de uma armadura velha e
empoeirada. Puxou o que parecia ser um escudo e tarde demais
percebeu que aquele escudo era o eixo que mantinha aquela
velharia de pé. Para seu total horror o negócio começou a inclinar-
se em sua direção, e ela não teve reação para retroceder, Daphne
sentiu mãos fortes puxa-la bruscamente e uma barulheira infernal
ecoou por todo o corredor. O rosto dela estava espremido contra a
pele quente do abdome de Alec e as mãos grandes e macias
mantinham ela imóvel, ela não registrou oa movimentos que
levaram ela até aquele abraço estranho. Um pedaço de alumínio
ficou girando pelo que pareceu uma eternidade até finalmente cair e
o silêncio se sobrepujar. Então ela ouviu uma batida de um coração
tranquilo e seu corpo começou a ser chacoalhado. Demorou alguns
segundos até Daphne perceber que o maldito escocês se dobrava
de tanto rir. — Você é um desastre ambulante, Daphne York. —
Alec riu, sacudindo os pedaços da armadura para longe dos dois. —
Vá para o inferno! — Ela berrou, empurrando-o e andando para
longe dali com as orelhas em chamas. Daphne estava com um azar
inexplicável desde que pós os pés naquele castelo. Caminhou a
passos rígidos até o parapeito da janela mais próxima que
permanecia fechada, ela apoiou o queixo em ambas as mãos
enquanto via o vidro coberto por uma camada grossa de geada.
Suspirou derrotada, finalmente se conformando de que teria que
passar mais uma noite nas Highlands. ∞∞∞ O dia ali era longo
como um dia no inferno. Daphne passou a maior parte do tempo
deitada na cama, encarando as cortinas de cetim verde e o dossel
real. Vez ou outra estudava o anel de ouro escocês. Ele era quente
e ela o sentia pesado em seu dedo. O dourado brilhava mais polido
do que nunca e na parte de dentro, a frase em gaélico estava
gravado no ouro com letras caprichosas e refinadas. "Tha gad
Agam Ort." Daphne não sabia porquê ele tinha se dado ao trabalho
de arranjar um anel. E ela percebeu, muito tarde, que aquela
pequena peça talvez de alguma maneira evasiva desse uma
importância maior a aquilo. Uma importância que não deveria ter.
Ela de uma maneira nova sentia-se casada. E a parte mais
estranha era pensar que era com Northwest, sim, o mesmo homem
a quem dedicou anos de desprezo, fiel e cru. O mesmo que não
escondia sua aversão a ela, e o único homem no mundo ao qual
Daphne não tinha poder nenhum de sedução. Varias horas depois,
quando seus pensamentos já não cabiam mais em sua cabeça, o
tédio a alcançou. Não tinha comido nada o dia inteiro, e não foi
preciso ligar um mais um para entender que era insignificante
naquele lugar. Northwest nunca olhou para ela, nem para lhe
desejar bom dia e não seria agora depois de cinco anos que
mostraria interesse em sua existência. E sua irmã era igual no
quesito simpatia. Devia ser o charme de todo Lancaster, a
arrogância e a prepotência. Levantou da cama vencida pelo tédio e
teve uma visão inteira do quarto grande. Foi então que pela primeira
vez Daphne percebeu que estava no quarto de Northwest. No seu
santuário mais sagrado e bem no lar de muitos dos seus segredos.
O ambiente era inegavelmente limpo, mas isso era crédito para os
criados. Porém, a decoração do lugar era crédito totalmente dele. O
aposento era sem sombra para dúvidas de um homem adulto.
Como por exemplo, a loção de barbear que descansava ao lado de
um lavabo, junto de adereços, como uma brocha, uma lâmina, e um
espelho oval. Daphne pegou a brocha em seus dedos e sentiu a
maciez das cerdas, inconscientemente levou o objeto ao nariz e
inalou o cheiro forte de cedro e mais ao fim ela podia distinguir o
almíscar de charuto. Eram aromas muito íntimos que ela nunca
tinha sentido em homem nenhum, geralmente seus pretendentes
cheiravam a sabão, que era uma essência bem comum. Ela deixou
a brocha de barbear de lado e andou até a escrivaninha. Sem sentir
um pingo de remorso, puxou a gaveta de cima, encontrando apenas
papéis inúteis. Fez o mesmo com todas as gavetas daquela fileira e
depois foi para o outro lado para fazer o mesmo com as outras, não
encontrando nada que pudesse incrimina-lo. Seus olhos baterem
em uma caixinha de veludo azul royal no fim da última gaveta,
estava escondida atrás de papéis e parecia esquecida. Daphne
capturou o objeto, e o abriu em seguida, vislumbrando a jóia ali
dentro. Foi enfeitiçada pela peça deslumbrante de um material
prateado. Os acabamentos eram elegantes. O diamante tinha o
corte princesa e era rodeado de pequenas e delicadas sáfiras. Era
uma peça digna de uma rainha, ou melhor, digna de uma duquesa.
E o mais curioso não era a jóia em sí, e sim o bilhete que estava
bem dobrado e encaixado no forro interno da caixa. Ela ponderou
se aquilo era da sua conta. Certamente não o era. Mas estava
chateada e com bastante tédio e há um bom tempo vinha buscando
uma rachadura na muralha de sarcasmo de Northwest. Havia
existido uma mulher, e ela foi importante. Pelo menos o suficiente
para mantê-lo guardando aquele anel e aquela carta. E talvez, o
motivo por ele nunca ter se casado. Mesmo sob a ameaça de
perder o título. Abriu o papel amassado, não era um bilhete longo, e
quem quer que tenha o escrito, fez as pressas e não esperou que a
tinta secasse antes de dobra-lo. Estreitou os olhos tentando
identificar as letras daquele idioma confuso, ao mesmo tempo que o
próprio carrasco entrava pela porta segurando nas mãos uma
bandeja cheia de comida. Os olhos dele caíram sobre ela, parada
atrás de sua escrivaninha, e depois no papel e na caixa aveludada
em suas mãos. Calmamente, Alec caminhou até Daphne. Ele
usava, por milagre, uma camisa que voava ao redor do seu corpo.
Ele depositou a bandeja na mesa e dirigiu um olhar que fez as
tripas dela enrolarem em um nó. — Eu não lembro de ter dado
permissão para fuçar em minhas coisas. — Tomou bruscamente os
objetos das mãos dela. Tentando não se sentir mal pela situação.
Daphne deu de ombros. — Nada que você não teria feito se
estivesse em meu lugar. — ele cerrou os olhos para ela, e ambos
ficaram em silêncio corrosivo. — Quem era ela? Ele hesitou, e
olhou para ela com uma frieza compatível com a que caia do lado
de fora. — Mandei que preparassem um quarto para você. — Ele
falou firme, indo até o fogo da lareira e atirando o bilhete lá dentro,
exterminando as chances que Daphne tinha de sanar suas
questões. — Se quiser que vá você para outro quarto. — Disse,
voltando para deitar-se na confortável cama. — gosto mais deste e
pretendo ficar. Ele a olhou novamente por alguns segundos
intermináveis, e no fim apenas deu de ombros e se foi, batendo a
porta em seguida. Capitulo seis Alec encarava fixamente o
diamante que brilhava sublime pelo fogo baixo da lareira. Devia se
sentir irritado ou rancoroso, assim como se sentiu por muitos anos
depois do ocorrido, mas agora todas as suas emoções se resumiam
a um leve dar de ombros. Tinha esquecido que ele ainda estava ali,
guardado entre suas coisas, junto com o bilhete que tinha dizimado
as suas chances de regeneração. Por mais que tivesse atirado-o ao
fogo, nunca, jamais esqueceria de cada letra, vírgula e parágrafo,
que continha naquele pedaço de pergaminho. Maldita Daphne York
e sua mania desgraçada de pega-lo desprevenido. Ela tinha o
insultado, jogado seu passado em sua cara, e ainda tinha o
disparate de expulsa-lo do seu próprio quarto. Ao invadir os limites
da privacidade dele, ela tinha dado início a algo bem maior do que
os dois. Alec não se sentia somente violado, como também se
sentia no direito de retaliação. Na manhã seguinte, ele acordou-a ao
melhor estilo escocês, com uma canção revigorante na gaita de
fole. Particularmente ele gostava de tocar o instrumento, era uma
herança de sua família que aprendeu com seu avô, mas saber que
aquilo iria irrita-la deixou o ato ainda mais prazeroso. Ele se colocou
de pé próximo a janela do quarto, podia ver que ela dormia
tranquilamente, tão miúda e delicada perdida na imensidão de pele
do cobertor. Alec se perguntou como seria rolar nu em meio aos
lençóis com ela, perdendo-se no sabor de sua língua inteligente, e
mergulhando no aroma de seus cabelos volumosos. Balançando a
cabeça para afastar tais ideias, ele puxou fôlego e soprou-o para
dentro do instrumento, com seus dedos dedilhando as saídas de ar
para formar o som. Em questão de segundos ela ergueu seu torso
da cama e vagou os olhos sonolentos pelo quarto. A imagem da
mulher com o rosto nublado pelo sono, com aquela mata densa de
cabelos loiros revoltos para todos os lados fez Alec perder o ar que
restava em seus pulmões. Ele apostaria seu título que ela teria
aquela mesma aparência após um orgasmo quente. — Bom dia
meu doce, que bom que acordou. — Eu não acordei, você e esse
instrumento de tortura me acordaram. — A voz dela saiu rouca e
aquele som apenas incrementou mais a imaginação de Alec. Uma
deusa Afrodite, era isso que ela era. Ele a observou enquanto ela
alongava os graciosos braços, bocejando. Ela era tão pequena, e
ainda assim, conseguia deixar o ambiente cheio com sua presença.
— Por favor, me diga que a neve parou de cair. — Ela pediu,
olhando através da janela e constatando que não, não tinha parado
de nevar. Seu rosto caiu pela decepção. Sua insistência em ir
embora estava afetando a curiosidade de Alec, que aliás, era um de
seus maiores pontos fracos. A pergunta recorrente era: o quê ela
tinha que fazer em Londres que exigia sua presença tão logo? Ou
apenas estava com pressa em livrar-se dele? — Como pode ver
terá que aturar minha presença por mais um dia. — Ele disse,
deixando a gaita de fole de lado. — possivelmente amanhã
também. E como sei que não trouxe roupas, pedi que madame
Laurent, a estilista pessoal da Sua Alteza, viesse ao seus
aposentos esta manhã para que lhe vista de acordo. — Não seria
mais fácil me emprestar uma de suas saias? — ela disse maliciosa.
Alec admirou aquele sorriso ardil que o deixava possesso e com
vontade de encher o pequeno traseiro dela de palmadas. — Não é
uma boa ideia insultar minha masculinidade neste momento. — Ele
murmurou perigosamente, e com apenas um passo já estava
próximo demais dela, sentindo sua pele ainda quente pelo sono.
Daphne não esperava isso, cambaleou com a aproximação e
engoliu em seco. Erguendo a cabeça para olha-lo no rosto.
Imediatamente algo quente, denso e tentador se tornou presente ali
com eles, como uma terceira pessoa. — Não tenho medo de você,
Northwest. — Daphne disse, tentando parecer corajosa, mas o
tremor em sua voz a denunciou. Não era medo, ou, nervosismo, era
mais. E Alec sentia isso. Ela era tão miúda, instigante, e bela.
Tirava as capacidades de raciocínio rápido, que eram sua melhor
qualidade e o reduzia a nervos trementes e sensítiveis. Foi Daphne
quem começou com aquilo, aquela pequena guerra pessoal que
existia entre os dois. Ela quem fez o primeiro insulto, antes disso ele
estava indo muito bem em sua missão de ignora-la. Movido por
aquele instinto animal, ele ergueu uma mão e infiltrou os dedos nos
cabelos de sua nuca fina e macia. Àquilo foi melhor do que o toque
mais íntimo que ele já tinha recibido de uma mulher. Sentiu a pele
do pescoço dela arrepiar-se e ela vacilar com aquele contato íntimo.
Devia ser a primeira vez que ele tocava tão intimamente em seu
corpo. A primeira vez que Alec se permitia tal tortura. — Alec. — Ele
disse como um comando, obrigando-a olhar nos seus olhos. —
Quero que me chame de Alec. Daphne abriu a boca para protestar,
mas sentiu a intensidade e a firmeza daquele poderoso olhar
dominador. Alec era um dominador por natureza e nem a mais
audaciosa das criaturas conseguiria resistir a aquele olhar. Daphne
fechou os labios volumosos e apenas assentiu, as bochechas
coradas. Do jeito que ele imaginou que seria, obediente. Só
precisava de um pouco de pulso firme. Uma batida suave na porta
os interrompeu e ele foi obrigado a deixa-la, a terceira pessoa no
ambiente sumiu imeditamente quando eles se afastaram, sendo
substituído pelo frio intrusivo. — Entre. — Ele disse, e as três
mulheres entraram ali. — Bom dia milorde, milady. Está pronta para
as provas de roupas? — Perguntou a madame Laurent com seu
sorriso simpático, duas criadas estavam atrás dela, carregando
montes de tecidos nas mãos e de olhos para o chão,
envergonhadas por encontrar o duque de peito nu. — Sim. — Daph
respondeu, parecia recuperada, o que não era o caso do duque.
Alec andou para a saída, e ela o acompanhou. Quando ficaram
sozinhos de novo no corredor, ela se virou para ele, insegura. —
Quero deixar claro que pagarei pelos vestidos. — Ele a olhou
insultado. — Isso é ridículo. Está hospedada em minha casa, eu
arcarei com suas despesas. — Deu para ela um olhar maroto. —
Afinal, graças a você eu ainda tenho uma fortuna. — Não. Prefiro
que seja do meu jeito, quando eu for embora não quero deixar nada
pendente entre nós. — Disse direta e Alec sentiu algo incomodo
balançar lá dentro em seu cerne. — Nada ficará pendente. —
Retrucou amargo, estranhando seu próprio comportamento. Ele não
deveria estar tão chateado com isso, ela estava certa. Fizeram um
acordo bastante justo para ambas as partes. — Considere os
vestidos um presente de um marido afetuoso. — Não confunda as
coisas Northwest, você não é meu marido. Era a segunda vez que
ela dizia com tanta firmeza que eles não eram casados, e Alec não
entendia o porquê de ficar tão incomodado com isso. Não era como
se ela estivesse errada. Realmente não eram casados, não do jeito
que importava. — De qualquer maneira não há por quê haver
discussão, madame Laurent é uma subordinada oficial do castelo,
eu pago seu salário, assim como pago os tecidos das roupas, se
oferecer dinheiro a ela estará ofendendo-a, assim como está me
ofendendo agora. Em resposta Daphne revirou os olhos e bufou de
um jeito que deixava Alec em nervos. Ela deu as costas para ele e
sumiu atrás da porta, jogando ela em sua cara. Cerrando os
punhos, ele pegou a gaita de fole e saiu dali a passos largos,
lutando para não entrar naquele quarto e ensina-la ele mesmo
como respeita-lo, a sua melhor maneira escocesa. ∞∞∞ — Olhe
essas ancas. — Dizia madame Laurent indicando os quadris
avantajados de Daphne. — Digam se não são formidáveis. Daphne
encolheu-se de vergonha enquanto as duas outras criadas
avaliavam-na em descarado. Sempre achou que seus quadris
fossem largos demais e estar sob tão atento escrutínio não ajudava
a melhorar o seu amor pelo seu corpo. A verdade é que sempre
desejou ser magra e esbelta como Seraphne, ou um meio termo
como Josephne, mas ao contrário de ambas tudo em seu corpo era
grande. Suas coxas, seios, e quadris eram as partes que mais
notavam-se. — Terá filhos fortes e saudáveis. — continuou a
modista enquanto envolvia Daphne em tecido xadrez. — Lorde
Northwest não poderia ter escolhido melhor mulher. Daphne não
sabia que tipo de resposta deveria dar para tal comentário, então
decidiu sorrir. Um sorriso pavoroso com os lábios muito esticados e
os olhos esbugalhados demais. Depois de passar horas
intermináveis em provas de vestidos com acabamentos estranhos e
estampas quadriculadas, ela resolveu que já que estava presa entre
as muralhas daquele castelo devia a menos conhecer aquele
pequeno pedaço de Kinlocheven. Abandonou o aconchego do
quarto, e andou pelos corredores silenciosos, admirando a
arquitetura do monumento e a decoração luxuosa. Parando vez ou
outra para admirar um quadro intrigante nas longas paredes que
pareciam não ter fim. Foi impossível não se sentir diminuída pela
opulência daquela construção, sua família sempre foi muito
abastada, mas aquilo era demais. Não lembrava nada que fosse
parecido com os castelos da realeza inglesa, era diferente. Podia-se
sentir que centenas de histórias tinham se passado ali. Por mais
que fosse luxuoso, não abandonava o aspecto de lar. Sim, era a
melhor palavra para descrever aquilo, lar. Porém, não dela. Andou a
passos lentos, silenciosa como uma brisa, sabendo que Northwest
estaria em qualquer parte do castelo. Daphne estava temendo
encontra-lo a qualquer curva que fazia. Não era como se estivesse
fugindo dele depois do que tinha acontecido aquela manhã. Não.
Jamais. Apenas estava evitando ficar no mesmo ambiente que ele
para poupar seu pobre coração de tanta adrenalina. Apenas isso.
Depois que ele saiu do quarto na última noite após o estranho
ocorrido com o anel Daphne achou que ele agiria indiferente e até
um pouco raivoso, ela não tirava o direito dele, mas para a total
consternação dela ele decidiu agir como se nada tivesse
acontecido. Como se Daphne pudesse simplesmente ignorar a voz
que berrava em sua cabeça. Ou o anseio desesperado de descobrir
de quem foi aquele anel. Ou o por quê ela estava tão irritada com o
fato de ter existido uma mulher. Uma coisa era saber que Alec
frequentava a cama de dezenas de mulher. Sua vida de
libertinagem nunca foi algo com que ela se importasse, também não
foi a mais rogada das moças, mas um ponto completamente
diferente era saber que existiu uma mulher importante o suficiente
para deixa-lo transtornado a sequer menção de sua memória. E
maldito fosse ele, Daphne queria saber quem era a mulher
misteriosa e queria saber ainda mais o por quê de ela não estar
ocupando o lugar que possivelmente Daphne tinha usurpado.
Enquanto meditava, finalmente dobrou no corredor de acesso a
biblioteca, mas engoliu em desagrado ao avistar a figura curvilínea
de sua adorável cunhada. Os olhares das duas se encontraram, e
Daphne soube que o desprazer era mútuo. Ela não sabia e nem
tinha interesse em saber sobre os muitos problemas familiares que
circulavam Stirling, enfiar-se nas questões de Northwest era o
mesmo que dar passe livre para ele fazer o mesmo com ela e isso
era totalmente o oposto do que planejava, quanto mais distantes um
do outro melhor. Porém, não era preciso ser um gênio para ver que
algo grande circulava aquela família. Daphne via refletido nos olhos
âmbar que a Lancaster mais nova apenas queria proteger o irmão.
E isso a intrigava. Northwest não parecia o tipo de homem que
necessitasse de proteção, contudo, sua irmã agia como se Daphne
fosse uma ameaça. As duas pararam em uma distância de dois
metros uma da outra. Mãos cruzadas atrás das costas. Ashleigh
desceu os olhos astutos pela vestimenta de Daphne, que eram bem
parecidas com as dela própria. Um vestido de lã grossa e pesada,
por conta do frio terrível, e o tartan dos Armstrong nas cores verde e
negro de estampa. Um corset de couro marrom definia sua cintura,
e a saia, semelhante a um kilt, caia até os pés cobertos por botas
de cano alto. — Decidiu sair de seu exílio. — Comentou Ashleigh, o
forte sotaque quase impossibilitando que Daphne entendesse suas
palavras. — Estou apenas conhecendo o castelo. — Respondeu,
forçando igualmente seu sotaque americano. — Espero que tenha
dormido bem nas últimas duas noites, milady. — Ashleigh
continuou, seu sorriso era simpático mas o brilho ardiloso de seus
olhos, não enganaram Daphne nem por um segundo. — Melhor
impossível. — Mentiu. A noite passada tinha sido um tormento sem
fim, dormir sozinha naquele lugar tão escuro e isolado fez Daphne
desejar que Northwest voltasse para lá. — Ah, então não deve ter
ouvido nada, menos mal. — Disse, balançando-se sobre seus pés.
— A que se refere? — Ashleigh olhou para os lados cautelosa, se
aproximou mais de Daphne e cobriu a boca com uma mão. — O
castelo milady, ele é mal assombrado. — sussurrou. — Mal
assombrado? — Daphne perguntou, uma expressão de tedio e
incredulidade. Ashleigh assentiu. — Stirling está em nossa família
há três gerações, mas as conversas divergem quando o assunto
são os antigos proprietários dessa terra. — Piscou os olhinhos
travessos e olhou além dela, adquirindo aquele ar de quem estava
prestes a contar uma história. — dizem que no início do século
quinze, um casal de camponeses que moravam nas redondezas de
Stirling tiveram uma filha, a menina era tão bonita que aos doze
anos já despertava a paixão nos corações dos homens, que não
mediam esforços para chamar sua atenção. Um desses era o chefe
de um clã de uma terra próspera, um guerreiro temido por toda a
província, que vinha há anos tentando conquistar o coração da
moça, porém quando completou dezesseis anos a menina se
apaixonou pelo filho de um mercador local, os dois acabaram
noivando, e isso não alegrou muito o guerreiro. Na noite do seu
casamento, ele sequestrou-a e escondeu-a em Stirling. Sabendo
que o amado da jovem viria em seu auxílio, o raptor preparou uma
emboscada que resultou na morte do mocinho. Consumida pelo luto
e devastada pela dor, a jovem que não aguentaria viver longe do
amor, atravessou o próprio corpo com um punhal. Dizem que os
dois nunca puderam se encontrar novamente no além, quando tirou
a própria vida, a moça acabou ficando presa para sempre entre as
muralhas de Stirling e vaga por aí a noite, em busca do seu amado.
Daphne piscou duas vezes, a tentativa da cunhada de colocar medo
foi óbvia e ridícula. Era só o que faltava, estar presa em um castelo
com um escocês irritante, uma pirralha mimada e um fantasma
suicida. — Não acredito nessas sandices. — Falou, Ashleigh deu
de ombros e retorceu a boca levemente. — Cada um escolhe em
que acreditar.— Deu uma falso sorriso inocente. — Espero que
tenha uma boa noite, cunhada. — E saiu andando para longe,
dando pulinhos enquanto assobiava alegremente. Quando a noite
caiu, um criado anunciou para ela que Northwest estava
convocando-a para o jantar. — Me convocando? — Perguntou, o
homem chamado de Hoyt assentiu nervoso. — Diga ao seu senhor
que não sou sua subordinada para ficar me convocando. Não irei a
jantar nenhum. Ele não esperou ela repetir, deu as costas e saiu
dali as pressas, a deixando novamente sozinha. Daphne andou até
a janela e observou a neve cair, tranquila, serena e silenciosa.
Parecia que estava em um limbo eterno. Sentia falta da agitação de
Londres. Do barulho dos cavalos nas ruas, das fichas de poker, dos
dados rolando nas mesas de apostas, das cartas sendo
distribuídas, e risadas, vozes altas. Estar ali dava a sensação de
estar sozinha no mundo. E ela não gostava disso. Daphne odiava
sentir-se sozinha. A porta se abriu com brusquidão a dando um
sobressalto, e a massa de músculos enorme que era Northwest
atravessou o quarto e andou em sua direção. — O que você está
fazendo? — Perguntou, dando um passo para trás ultrajada. —
Você não foi até mim, então eu vim até você. — Os olhos desceram
pelo corpo dela, estudando. Admirando as peças de roupa que
madame Laurent havia posto nela. Daphne quase sentia falta da
época que ele mal a notava, pois nesses momentos, onde seus
olhos a vasculham, ela se sentia completamente nua e quente. De
um jeito que faziam os bicos de seus seios enrijecerem e se
espremerem contra o tecido da roupa. Invés de ficar lá parada sob
inescrupulosa avaliação, ela o avaliou também. Alec usava uma
blusa de cor carmesim posta dentro do kilt. Um cinto de couro
marrom circulava sua cintura e meias brancas e botas cobriam do
joelho até os pés. Estava perfumado, e tinha a aparência de recém
banhado. — Aquele porco está usando um suéter? — Ele quebrou
o contato visual, e ela deu-se conta de que ele observava Tommy
dormindo tranquilamente em uma cesta ao pé da cama. — Por
acaso eu tinha trago comigo e ele estava sentindo muito frio. — Ela
disse, se preparando para um comentário maldoso dele, mas em
resposta Northwest sorriu, encantado. — A família de minha mãe
resolveu milagrosamente aparecer para o jantar. — Disse, os olhos
fixos no rosto dela. — Estão dizendo que querem apenas fazer as
pazes mas eu duvido muitíssimo disso. — O que acha que podem
querer? — Daphne perguntou intrigada, tentando não deixar que
todo aquele perfume masculino se infiltrasse em seus pulmões. —
Tenho certeza que querem ver de perto como anda nosso
casamento. — Ele andou tranquilamente até a cama e mexeu em
na cortina do dossel enquanto falava. — veja bem meu pudim, nós
escoceses levamos os laços matrimoniais muito a sério, e se por
acaso meu tio desconfiar que ainda não consumamos nosso amor,
poderá exigir uma anulação, em vista de que estou burlando a lei do
contrato que meu pai redigiu. — Como eles poderiam saber disso?
Ele deu um sorriso acompanhado de uma arqueada de
sobrancelhas, sugestiva. — Uma esposa satisfeita sexualmente,
jamais teria essa cara azeda que você tem. Pelo menos não a
minha. — Disse de maneira convencida e Daphne cerrou os punhos
diante de tal insulto. — O que está querendo dizer com isso? —
Indagou a beira de um ataque de nervos. — Não é óbvio meu
doce? — Sorriu triunfante. — Terá que fingir ser a esposa mais
apaixonada de toda a Escócia. Capitulo sete — Você deve estar
brincando. — Ela retrucou, e ele se afastou um passo para trás,
cauteloso. — Vamos docinho, não precisará fazer nada demais,
basta inventar uma mentira ou duas, e fingir que me adora. A última
parte não deve ser tão difícil. Imeditamente Daphne pensou no
outro lado da situação. Aquele em que ela sairia beneficiada. Pois
teria chance de descobrir o que acontecia nos bastidores do clã
Armstrong, e também poderia usar a situação de maneira sábia. Se
recuperou muito rapidamente e ele percebeu pela velocidade com
que ela acalmou-se que algo não estava certo. — Farei isso, mas
ficará me devendo um favor. — Os olhos de ele repente brilharam.
— A cada minuto que passa fico mais convicto de que somos almas
gêmeas. — Ele estendeu o braço para ela, que o pegou e deixou
ser levada porta a fora. Andaram pelos corredores em silêncio, uma
caminhada tão curta, que mais pareceu durar uma eternidade.
Aquela coisa que se desprendia dela sempre estavam muito
próximos cresceu entre eles durante todo o trajeto. Quando
chegaram finalmente no salão de jantar, ela agradeceu por ter uma
desculpa para ganhar distância dele, quando um gigante ruivo
levantou-se e andou até ela. Ele abriu um sorriso, aparentava ter
em torno de cinquenta anos, mas ainda preservava a beleza de sua
mocidade, tão charmoso que Daphne quase caiu apaixonada. —
Boa noite, milady,agradeço pela oportunidade de nos receber. —
Disse galentemente, seu sotaque acentuado tornando ele ainda
mais atraente. Seus olhos âmbar transmitiam sinceridade, mas
Daphne não se deixou enganar. Era um lobo. Todos ali eram lobos.
E ela era o cordeiro que seria servido naquele banquete. — O
prazer é meu. — Falou sem forçar emoção alguma. — Sou
Calagham, tio de Alecsander. — Se apresentou e indicou a família
com uma mão. — Esta é minha esposa Astrid, meu filho Vikram e
minha filha Moira. Os três fizeram uma reverência de cabeça. A
menina não tinha mais que dezoito anos e olhava para ela com
desprezo, o menino era um tanto magricela e tinha os ombros para
dentro, estava destoado do local. — Peço que perdoe nossa
indelicadeza no outro dia, toda família tem suas desavenças. —
Disse a mulher se aproximando dela com a mesma simpatia
ensaiada que seu marido. — Bom, certamente não é a mim que
vocês devem pedir perdão. — Daphne soltou. E o músculo na
bochecha de Calagham saltou, desafiado pela resposta. Daphne o
encarou vorazmente, instigando-o a falar o que quisesse. Porém,
antes que ele precisasse formular uma resposta, Northwest tomou
dianteira. — Por que não nos sentamos? — Indicou a mesa,
rapidamente todos se dirigiram aos seus lugares. O jantar era
formal, e exigia que os assentos fossem bem distribuídos de modo
que possibilitasse uma conversação aberta, Calagham puxou a
cadeira para que Daphne se sentasse e se colocou ao lado dela, à
direita de Ashleigh que permanecia calada. Northwest ficou do
outro lado da mesa, de frente para a esposa, ao lado de Moira que,
muito ridiculamente, Daphne notou estar com as faces em vermelho
por causa do duque. Os olhos faiscando de adoração enquanto ele
puxava a cadeira para ajuda-la a sentar-se. Daphne domou o
desejo de revirar os olhos diante daquela cena. — O quadriculado
lhe cai bem, doce. — Alec cutucou, a olhando através da mesa,
alheio ao olhar da garota ao seu lado. Ao ver que a atenção do
duque estava na esposa, Moira voltou a olhar para Daphne com o
desprezo que agora Daphne entendia não passar de ciúmes juvenil.
— Madame Laurent é uma excelente modista, pode deixar até um
bode apresentável. — Foi Ashleigh quem comentou. — É, acredito
nisso. Northwest comentou mais cedo que é ela quem veste você.
— Daphne rebateu e o sorriso da jovem vacilou por um momento.
Daphne vibrou de prazer ao mesmo tempo que um brilho de
admiração percorria os olhos âmbar da cunhada. — Se refere ao
seu marido pelo título? — Uma voz enjoativa perguntou e Daphne
moveu a cabeça para descobrir ser de Moira. — Não sei quais são
os costumes aqui na Escócia, mas na Inglaterra, uma esposa só
deve chamar o marido pelo nome na intimidade do casal. —
Acentuou a palavra "intimidade" de propósito fazendo a menina
engolir em desagrado. — Me diga Lady Lancaster, com tantos
motivos óbvios, por qual deles se manteve solteira até uma idade
tão avançada? — Ashleigh voltou a alfineta-la. Foi a vez de Daphne
sorrir em aprovação. Os Lancaster eram criaturas peculiares,
criados a base de sarcasmo venenoso e sorrisos de falsa inocência.
Sem sombra de dúvidas oponentes à altura dela. Daphne sempre
achou que as únicas pessoas capazes de tal feito fossem suas
irmãs. Mas a maternidade e o casamento tinham amolecida os
corações delas. Rapidamente se pegou desejando conhecer os
progenitores de duas criaturas tão interessantes como Alec e
Ashleigh. Trocou um olhar com Alec e soube que aquele era o
momento para suas mentiras entrarem em ação. — Estava
esperando que seu irmão tomasse a iniciativa. — Sentiu um calor
repetindo pelo corpo que a fez ter a completa noção de que
Northwest estava a encarando. — Se conhecem há muito tempo?
— Perguntou Astrid, interessada pelo maravilhoso conto de amor
que estava por vir. — Há exatos cinco anos. — A resposta veio de
Alec, Daphne o olhou surpresa por ele se lembrar. — Deve ser uma
incrível história de amor. — Resmungou Moira. — Na verdade não.
— Disse Daphne. — Na primeira vez que o vi ele sequer se
apresentou e na segunda vez eu estava seminua e nem isso foi o
suficiente para chamar a atenção. Os olhares pasmos percorreram
a mesa e se grudaram nela. — Era um jogo. — Ela se explicou. —
Eu estava jogando, e precisava correr e as saias do vestido me
impediam. — É comum que Alec não tenha notado você, ele evita
as loiras. — Disse Calagham, e Alec o olhou de maneira repressiva.
— Isso é de todo mentira. Notei a ti sim, como não poderia notar?
— Ele disse, ignorando o tio e olhando para ela. Daphne colocou
uma mecha imaginária de cabelo atrás da orelha. — Não precisa
tentar adular meu ego querido, já superei isso há muitos anos. —
Não, mas eu há vi. — Ele insistiu muito sério. — Você era a única
que não usava espartilho, usava um corselete e uma regata de
seda branca escandalosa, além disso usava meias, meias
translúcidas que iam até os seus joelhos, e uma calcinha rosa cheia
de babados e renda. Muito bem, ele conseguiu choca-la. Daphne
recapitulou aquele fatídico dia em sua mente diversas vezes
durante os anos e se perguntou em que momento ele a olhou para
reparar em algo como os babados de sua calcinha. Realmente não
sabia como ele poderia lembrar, pois durante aquele dia os olhos
dela estiveram sobre ele em todo o momento e ele apenas tinha
olhos para Sophie. Sempre Sophie. — Muito bem. — Recuperou-
se. — Estive errada durante todo esse tempo. Ele sorriu
convencido. — Mas isso não muda o fato de que chamou-me de
Delfine na primeira vez que falou comigo. — Acusou-o. — Bom, eu
tinha coisas mais interessantes para concentrar minha atenção. —
Ele falou dando um olhar muito quente para ela. Algo em seu tom
de voz fez ela se arrepiar, e ela não o olhou com medo do que iria
encontrar. Daphne mexeu inquieta do outro lado da mesa pois
podia sentir que aquele olhar estava a tocando. — Se é assim
porque esperou tanto tempo para ele pedi-la em casamento? —
Perguntou Astrid, escondendo o veneno em suas palavras dentro
do copo de conhaque. — Mas quem disse que fui eu que a pedi em
casamento, tia? — Disse Northwest sem se deixar abalar pela
alfinetada. — Foi meu doce quem me propôs casamento. — Isso
explica muita coisa... — Comentou Calagham ao lado dela. — Eu já
estava certo de que você jamais voltaria a propor casamento a
alguém. Pelo visto seu pai também, ou não teria feito o contrato. O
silêncio que se seguiu foi ainda mais severo que o primeiro. Daphne
buscou os olhos de Northwest com os dela, e encontrou apenas o
vazio, ele encarava o tio com um ódio lancinante. Então realmente
teve alguém antes dela. E com um clarão de luz repentina, sua
mente se iluminou, dando as respostas que ela buscava. A causa
do pai dele fazer um acordo obrigando-o a um casamento era por
medo de que ele não viesse se casar um dia, porque
aparentemente, a noiva anterior o magoou de tal maneira que
deixou-o traumatizado. Ter a noção disso entristeceu Daphne de
uma maneira estranha. Ele deve te-la amado muito. — Pedirei que
sirvam o jantar. — Falou Ashleigh e chamou um valete. Northwest
não voltou a falar, ficou apenas em silêncio, bebendo de um grande
copo de uísque. Nesse momento ela via a escuridão em seus olhos.
Por tantos anos buscou entender os motivos por ele ser como é, se
escondendo detrás de uma parede de sarcasmo tão sólida que
mulher nenhuma jamais foi capaz de penetrar, e tudo se resumia à
uma única mulher. Revirou os olhos, homens! O jantar foi servido
em pratos de porcelana, comidas das quais ela nunca tinha visto,
pelo menos não naqueles ingredientes. Os sabores eram estranhos
e inéditos no paladar dela. O silêncio na mesa era cortado apenas
pelo som dos talheres e pelas respirações pesadas. Aquela família
era complicada demais para ela. Daphne já tinha complicações o
suficiente em sua própria família, que já tinha sua cota bem grande
de problemas e confusões. O prato principal foi servido, e quando o
criado tirou a tampa da bandeja ela encarou a comida por um bom
momento tentando entender. Era uma espécie de bolha com
aparência pálida, refogada em um molho avermelhado que ela
esperava ser proveniente de tomate. Com um garfo ela cutucou
aquilo com medo de que fosse explodir ou algo assim. Observou
como os outros cortavam e fez o mesmo. Dentro o negócio era bem
recheado com condimentos e tinha um cheiro forte. Ela levou um
bocado até a boca, sentindo as texturas diferentes dos alimentos e
em sua língua e o paladar se expandir com o sabor. Não era ruim,
apenas distinto. — Isso é bom, o que é? — Perguntou, comendo
outro bocado. — Se chama Haggis. São vísceras de bode
temperadas com condimentos, cozidas dentro do tecido
estomacal... — Ashleigh sequer terminou de falar antes de Daphne
cuspir o alimento. que foi parar vários centímetros a frente, por
muito pouco não acertando o rosto de Northwest. — Vísceras de
bode? — Indagou quase aos gritos, bebendo um bocado de água
na tentativa de apagar aquele sabor da língua para sempre. Porém,
só piorou. Um forte enjoo rodeou a saída do seu estômago.
Levantou da mesa de um pulo, lançou um olhar de desculpas para
Northwest e saiu dali em disparada, antes que colocasse tudo para
fora em cima mesa. ∞∞∞ Alec sabia desde o início da noite que
aquele jantar resultaria em um fiasco. Não pelo fato de que a
mentira sobre seu casamento viria a tona. Ele se importava o
mínimo com o que seu tio pensava, mas sim porque sabia que de
alguma maneira sua família acabaria assustando Daphne ainda
mais. Sabia quais eram as reais intenções de Calagham ao vir ali
aquela noite, mesmo assim, submeteu Daphne ao escrutínio de sua
família. Ela estava se saindo tão bem, rebatendo as indiretas com
elegância e leveza, mostrando que não estava intimidada com nada
daquilo, uma mulher sozinha, em um país estrangeiro, rodeada de
lobos. Mostrando para ele que esteve certo em leva-la ali. Era a
única mulher no mundo capaz de passar pelo inferno da família dele
sem sair queimada pelas chamas. E ele não ficou surpreso quando
começou a deseja-la de maneira tão abrupta e sufocante. De um
jeito que nunca antes tinha se permitido pensar nela. Era forte, não
somente por fora, mas também por dentro. Durante todos os anos
que passou vendo-a de longe, entretida em suas conversas, dando
atenção aos seus admiradores, nunca lhe passou despercebido que
Daphne tinha um encanto diferente, um fascínio pelo novo. Não era
do tipo que se derretia por palavras, ou com um buquê de flores, ela
desejava mais, desejava algo que Alec sempre soube que jamais
poderia lhe dar. Ano após ano, esperou receber a notícia de que ela
estava noiva de algum asno, e ano após ano, Alec se pegou
aliviado por saber que ela permanecia livre. Tal foi sua gratificação,
ao ouvir da boca dela que esteve esperando por ele por todos
aqueles anos, por mais que fosse uma mentira, soou doce e
tentadora como uma verdade recém revelada. Alec sabia que
Calagham não estaria satisfeito até que conseguisse desestabiliza-
lo. O tio sabia exatamente onde tocar para romper os pontos da
ferida jamais cicatrizada. E lá estava. A vergonha. Alec cerrou os
punhos, e se absteu de começar uma boa discussão com seu tio.
Quanto menos Daphne soubesse, melhor. Mesmo assim ele
imaginava que ela não era estúpida, era só juntar as peças e teria
as respostas. Não as respostas exatas, mas saberia o núcleo. Por
um momento tudo voltou a transcorrer agradavelmente, ele só não
esperava que sua doce esposa fosse dar um pequeno ataque ao
comer um prato típico de sua terra. Ele observou enquanto ela se
tornava pálida e soube que ela iria colocar as próprias vísceras pra
fora. Levantou da mesa e saiu correndo tapando a boca com uma
mão, deixando eles atordoados na mesa silenciosa. — Ela tem o
estômago sensível. — Explicou, comendo como se nada tivesse
acontecido. Ele devia esperar que ela teria aquele tipo de reação,
afinal, ela tinha um porco de estimação. — Se seu casamento não
fosse tão recente eu diria que ela está grávida. — Comentou Astrid,
o perscrutando. — Se ela não está agora, terá de estar em algum
momento, não se esqueça Alecsander terá apenas um ano para
arranjar um herdeiro, ou todo esse teatro que armou, não terá
servido de nada. - Disse Calagham fazendo agora ele sentir
vontade de vomitar. — É bom ir se contentando em ser apenas
visita neste castelo porque ele nunca será seu. — Falou levantando
da mesa, já tinha aturado daquela falsidade tempo demais. — Alec,
tente pensar com coerência, Moira seria uma esposa muito melhor
para você. — Moira aprumou-se imeditamente, mas Alec sequer
olhou para ela. — uma mulher que tem o mesmo sangue que o seu,
que entende como cuidar de um marido. Essa seria a melhor
maneira de acabar com a desavença, e o castelo permaneceria nas
duas famílias. — Alec mal escondeu seu repugno. Moira mal tinha
feito dezoito anos e era sua prima. — O Castelo de Stirling
permanecerá em meu nome, e quando chegar o dia passará para o
meu herdeiro, que eu terei com minha esposa, Daphne. — enfatizou
cada palavra para entendessem de vez. — Atena nunca deveria ter
colocado o legado de nossos antepassados nas mãos de um
menino. — Calagham rosnou, também pondo-se de pé. — Ela não
teria feito isso se vocês não tivessem abandonado-a. — Alec gritou,
furioso que o tio tivesse tocado no nome de sua mãe, isso foi
suficiente para fazê-lo calar a boca. Abandonou a sala sem olhar
para trás, sabendo que Ashleigh estaria logo atrás dele. Bastava
por os pés na Escócia, para a maré constante de estresse atingi-lo
por todo o lado. Achou que depois que tivesse casado seu tio fosse
esquece-lo de vez, mas aparentemente não se dariam por vencido
enquanto ele não desse logo o ponto que faltava. O problema seria:
como fazer um filho em uma mulher que não é realmente sua
esposa. Alec esteve evitando pensar naquilo a todo momento desde
que os dois deixaram Londres. Deveria ter sido sincero com
Daphne desde o início. Mesmo que se casasse com ela, ele teria o
título pois isso estava além dos poderes de seu pai, mas não teria o
castelo, não até ter um herdeiro. Ele não entendia a lógica de seu
pai, passou anos tentando compreender, mas tinha desistido. —
Não deixe que eles te pressionem a fazer algo a que não está
preparado. — A voz de Ashleigh cortou o silêncio. — É só um
castelo Alec, quando papai fez aquele contrato tenho certeza que
não era isso que queria, eles queriam apenas ver você feliz de
novo. — Não é só um castelo, é tudo o que restou dela, isso e
aquele anel. — Ele falou, virando para olha-la. — Eu tive a chance
de escolher Ash, por cinco anos, e nunca teria entregado aquele
anel a ela, se não tivesse certeza de que ela é digna de carrega-lo.
Ashleigh olhou no fundo dos olhos do irmão, surpresa. Nem mesmo
Alec tinha notado a verdade das suas palavras até dize-las. — Se
você diz. — Ela falou em tom brando, pondo sua confiança nas
mãos dele. — Espero que ela não te machuque. Alec piscou um
olho para ela, com um sorriso apaziguador. Ele já não era mais um
garoto de vinte e um anos criando bases em sentimentos
infundados, agora ele saberia o que fazer e o que esperar,
principalmente de Daphne. Aquela estrada que ele estava prestes a
percorrer era longa. Primeiro ele precisava descobrir com o que
estava disputando, saber o que a puxava tão insistentemente para
Londres, e somente depois, lutar com as armas disponíveis.
Capitulo oito Daphne só queria enfiar a cara entre as cobertas e
nunca mais ter que encarar aquelas pessoas novamente. Tinha
quase cuspido no rosto de Northwest. No rosto de Northwest! Ela
tinha certeza que o duque jamais deixaria ela esquecer disso e
sentia dor em seus ossos só de imaginar os comentários que
estavam por vir. Onde já se viu servir tripas de bode em um jantar?
Não era para menos que tinha colocado tudo para fora antes
mesmo de alcançar uma latrina. O tempo que passou com o clã
Armstrong a fez ver que não tinha espaço naquele ambiente.
Desejava falar com Alec parar cobrar o favor que ele tinha pendente
com ela. Exigiria que ele arranjasse um meio de manda-la para
casa amanhã pela manhã e deveria falar com ele o mais logo
possível, quanto mais cedo agilizasse, mais cedo ela iria embora.
Pensou em ir até ele imediatamente, mas percebeu que não seria
muito prudente aparecer em seu quarto à aquela hora da noite,
além de que não sabia em qual aposento o duque estava dormindo.
Ouviu uma batida delicada na porta e se animou com a ideia de que
poderia ser ele, mas murchou ao ver o rosto de Ashleigh do outro
lado. — Ah, é você. — Ela disse, sem deixar de transparecer sua
decepção. Se afastou, deixando a porta aberta para a garota entrar.
— Esperava alguém mais? — Ashleigh indagou com uma
sobrancelha arqueada. — Um salvador talvez? — Disparou com
sarcasmo. — Realmente não gosta de Stirling não é? — Daphne
olhou para a menina e arrependeu-se de suas palavras. Estava
sendo rude, afinal ela e seu irmão estavam dando abrigo para ela.
— Não, o castelo é maravilhoso. — Corrigiu-se em tom mais
brando. — Apenas não nasci para viver enclausurada. — Acho que
entendo você. — Disse Ashleigh e ambas ficaram em um silêncio
desconfortável. — O que veio fazer aqui? — Daphne perguntou
quando viu que a cunhada não diria seu propósito. — Pensei que
seria um bom momento para tentar uma aproximação amigável.
Sabe, como uma dessas reuniões noturnas onde as mulheres se
juntam para fazer fofoca enquanto trançam os cabelos umas das
outras. — ela retirou uma garrafa aparentemente velha e cilíndrica
de dentro das vestes. — Não sei exatamente qual é o protocolo
para essas festas, mas não queria aparecer de mãos abanando
então, aqui está. Ela andou até o lado da cama onde descansava
uma jarra de água e copos. Ashleigh retirou a rolha que tampava a
garrafa, serviu um pouco do líquido nos copos e entregou um para
Daphne. — O que é isso? — Daphne perguntou, levando a bebida
ao nariz. Tinha o cheiro de conhaque envelhecido e açúcar. —
Hidromel. — disse a cunhada, levando o líquido aos lábios. —
Roubei da adega de meu irmão. — Nunca o bebi antes. — Daphne
bebericou um pouco, a bebida por mais que tivesse um nome
delicioso e parecesse inofensiva era forte. — É o senhor Dwalight, o
boticário de Kinlochleven quem o prepara. — Ela andou até o
recamier acolchoado e sentou entre as almofadas. — Antigamente
acreditavam que o mel era um afrodisíaco. Muitos maridos do
povoado estavam insatisfeitos pela falta de participação conjugal de
suas esposas, se é que me entende. — A menina deu um olhar
muito sugestivo e Daphne sorriu, andando para mais próximo e se
sentando em uma almofada no chão. — Cansados de serem
expulsos das camas todas as noites, eles pediram ao boticário da
região que fizesse uma poção que pudesse acordar o desejo de
suas mulheres. O boticário obviamente não sabia o que fazer,
misturou uma efusão de ingredientes com destilados, e ao fim o
gosto estava tão horrível que ele decidiu adicionar o mel para
disfarçar. Assim nasceu a bebida. — E deu certo? — A cunhada
deu de ombros. — Acredito que sim, mas ninguém sabe se a poção
fazia efeito por sua eficácia, ou porque as mulheres ficavam
bêbadas demais. — Daphne riu baixinho e a mulher adulta dentro
dela lembrou de um detalhe. — Você deveria estar bebendo isso?
— Perguntou. — Dentro de sete meses farei os dezoito anos. —
Ashleigh respondeu e olhou para ela com aqueles grandes e
reveladores olhos de mel. — Quero me desculpar pelo meus
comentários mais cedo. Acho que me enganei sobre você. Daphne
não tinha se sentido ofendida em nenhum momento, mas mesmo
assim ficou agradecida pelo pedido de desculpas. — Tudo bem.
Achei até bastante divertido. — Deveria ter visto o rosto de
Calagham quando você simplesmente saiu correndo as pressas. —
Ashleigh falou, começando uma risada. — Foi como se você tivesse
ateado fogo no kilt dele. — e então Daphne começou a rir e no
instante seguinte as duas compartilhavam uma gargalhada. — Eu
gostaria de repetir aquele momento pela eternidade. Aos poucos o
riso de Daphne foi mudando até se transformar em um gemido
angústiado. Ela afundou o rosto nas mãos. — Alec nunca me
deixará esquecer isso. — se lamuriou. — Ele não vai mesmo. —
Disse Ashleigh, Daphne a olhou, aquilo não a ajudando em nada. —
Mas eu sei uma infinidade de coisas sobre o meu irmão que você
também poderia usar contra ele ocasionalmente. Daphne ergueu o
rosto, e logo estava muito animada com a idéia. — Ele não vai
ficará chateado com você? — Somos irmãos, eu já sei lidar com
Alec. — Ela deu de ombros e se inclinou mais para a frente. —
Quando ele era mais jovem era um pequeno pestinha, gostava de
passar horas do dia abaixo do sol, brincando, pescando ou
caçando, isso resultou em muitas sardas em sua cútis, eram tantas
que em seu rosto não sobrava muita pele para ver a tonalidade,
acabou ganhando o apelido de ferrugem dos outros meninos. — Na
mente de Daphne se formou a imagem do menino sardento, e ela o
achou incrivelmente fofo. — E não era muito bom com as palavras,
trocava todas de lugar quando ficava nervoso sabe? Até hoje o faz
em alguns momentos. — Daphne rapidamente lembrou-se do
momento que ele a viu nua na banheira, ele tinha trocado as
palavras, isso significava que tinha estado nervoso? — Jamais
esperava que alguém como seu irmão tivesse qualquer falha em
sua armadura de confiança. — Isso é apenas o que ele quer que
acreditem. — Disse, e deu para Daphne um olhar pesado de
significados. — Mas é precioso e único, cuide bem dele. Daphne
sabia que nada do que dissesse seria sincero o suficiente e não era
isso que Ashleigh merecia, ela amava o seu irmão, assim como
Daphne amava as dela e esperava que seus maridos as tratassem
como as jóias que eram. Ashleigh no fim de tudo queria apenas o
bem de seu único irmão e Daphne descobriu que a entendia muito
no fim das contas. — Agora dei-me conta de algo. — Disse
Ashleigh passando a vista pelo quarto. — onde está o porco?
Daphne virou-se para apontar o cesto onde ele estava dormindo
ainda há pouco e deteve-se. Tommy não estava mais lá. — Estava
aqui há poucos instantes. — Ela disse, procurando o porco pelo
quarto com a vista. Não o encontrando em lugar nenhum. Daphne
levantou-se para olhar debaixo da cama e pelo espaço lá de baixo
viu a porta semiaberta por onde Ashleigh tinha passado. — Não
Tommy! Ela correu para o corredor escuro e olhou para ambos os
lados vazios, não enxergou nada na penumbra. — Para que lado
acha que ele foi? — Ashleigh juntou-se a ela. — Não sei, mas devo
encontra-lo, poderia perder-se e morrer de frio, ou pior, poderia ser
capturado! — Somente a suposição fazia Daphne ficar aflita. —
Estamos conversando há apenas alguns minutos, ele não deve ter
ido longe. — Ashleigh sumiu dentro do quarto e voltou com uma
luminária. — Faremos o seguinte, eu vou para o Leste e você para
o Oeste, nos encontramos aqui em vinte minutos. — Daphne
assentiu e foi na direção ordenada. Enquanto perambulava por
aquele castelo escuro e solitário, Daphne lembrou-se da história
fantasmagórica que Ashleigh tinha contado para ela mais cedo, e
naquele momento ela sentiu pena da pobre fantasma. Devia ser um
martírio eterno ter que viver presa naquele mar de gelo para sempre
desejando a liberdade ou somente algo para comer que não fosse
feito das tripas de alguém. Ela colocou uma mão em formato de
concha na boca: — Tommy! — Sussurrou. — Volte aqui seu
pequeno fujão. Em resposta Daphne ouviu o ronco do porquinho
mais adiante. Ela apressou o passo e dobrou no corredor seguinte,
e lá estava a bolinha rosada usando um suéter verde encolhida
contra a porta da biblioteca. — Aí está você. — Ela disse chegando
até o porco que ergueu o nariz para olhar para ela. Ela abaixou-se e
estendeu um dedo para dar-lhe uma bronca. — Não deve escapar
desse jeito por aí, imagina se alguém te encontra e te... Daphne
parou de falar quando as portas duplas da biblioteca se abriram,
primeiro ela viu dois pés cobertos por meias brancas, depois
canelas compridas, e a barra de um kilt, então viu uma cintura
masculina e o início de um abdôme totalmente nu, ela seguiu
aquela quase eterna estrada de pele alva até que finalmente
chegou nos olhos dourados de Alec. ∞∞∞ Alec já estava esperando
por ela. Após o jantar desejou durante toda a noite ir de encontro a
ela, mas invés de entrar em seu quarto ou de simplesmente
convoca-la, ele ficou onde estava e esperou. Não entendia como
sabia que ela estaria na biblioteca, mas sentia isso como um sexto
sentido. E embora a esperasse, não deixou de se sentir surpreso ao
vê-la agachada ao chão dando bronca em seu porco. A expressão
dela deixou óbvio que ela não esperava vê-lo ali. Os olhos azuis
acinzentados caíram pelo fogo, por ele e depois espalhou-se por ali.
Ela usava aquela camisola horrenda que não deixava nada para a
imaginação. Quando ele abriu a porta o porco entrou ali dentro
rápido e andou até estar no tapete de frente para o fogo, Daphne
levantou-se devagar. — Me desculpe não queria incomodar,
Tommy escapou e vim procura-lo. – ela evitava olhar diretamente
para ele, mas vez ou outra seu olhar deslizava pelo peito dele, isso
deixou Alec muito à vontade. Ele encostou-se no batente da porta e
cruzou os braços. — Não espera que eu acredite nisso, espera? —
ela o olhou com um vinco charmoso se formando entre as
sobrancelhas. — O que quer dizer? — Você espera que eu acredite
que seu porco nanico fugiu no meio da noite fria e fez seu caminho
coincidentemente até a biblioteca? – As sobrancelhas dela
juntaram-se ainda mais. — O que está insinuando? — Ela cerrou os
punhos ao redor do corpo e adquiriu um semblante perigoso. —
Admita meu docinho, você veio até aqui para tentar me seduzir. —
O rosto dela ficou muito vermelho e ele festejou internamente,
simplesmente adorava irrita-la. — Você se põe mais crédito do que
é merecido, milorde. — Ela desdenhou. — Não é tão irresistível
quanto pensa. Ele continuou sorrindo de maneira convencida. — É
a primeira vez que uma mulher usa um porco como uma tática para
me levar para a cama. — Não quero te levar para a cama! —
Daphne disse, indignada. — E se o quisesse não ficaria de rodeios,
não sou chegada a joguinhos alteza, se quero algo vou lá e
simplesmente pego. Oh! Alec realmente sentiu uma parte muito,
muito, secreta de seu corpo palpitar. — Mas não é assim que as
coisas funcionam comigo meu mel, eu gosto de ser conquistado. —
Ele piscou um olho para ela e Daphne bufou enraivecida. — Saia da
frente. — Ela o empurrou para o lado e entrou na biblioteca, indo
até o tapete onde o porco descansava. — Então é aqui que está
passando suas noites. — Ela disse, olhando ao redor da biblioteca
circular. — Não lhe dói as costas? — Indicou o pouco espaço que
ele tinha no divã. — Sim, mas se voltasse a dormir com você outras
partes minhas começariam a doer. — Daphne ergueu uma
sobrancelha acintosa e Alec soube que ela entendeu exatamente o
que ele quis dizer. Foi então que Alec se deu conta de algo; Daphne
não era mais tão inocente como acreditava. — O que você sugere
para alguém que não consegue dormir? — Ela disse, passando os
dedos por uma prateleira cheia de volumes pesados. — Porque não
escolhe algo de Shakespeare? — Olhe para mim, milorde. — Ele
estava olhando. Muito fixamente, até. — Tenho cara de que lê
Shakespeare para passar o tempo? Não, ela não tinha. Alec
conseguia a imaginar facilmente lendo os livros indecentes entre as
cobertas, durante a noite. Suada, tremente e luxúriosa. Como a
deusa audaciosa que era. — Eu estava pensando em algo de
administração talvez. — Ela disse, ficando na ponta dos pés para
alcançar um exemplar uma prateleira acima. A camisola ergueu-se
o suficiente para ele ver um calcanhar rosado. Aquilo era curioso,
porque Daphne estava interessada em um assunto que para a
maioria das outras mulheres seria considerado enfadonho? —
Algumas prateleitas acima. — Ele disse, e observou quando ela foi
até a lareira para pegar uma luminária, que acendeu com um
graveto do fogo baixo, voltou para onde estava, e puxou a escada
de madeira, subindo exatos quatro degraus. — Já leu algum? — Ela
perguntou, colocando a luminária em uma prateleira e inclinando-se
para pegar um livro mais para a direita. A luz escapando da vela
delineou a silhueta dela por baixo da camisola e ele viu a curva de
um seio tentador. — Eu dormiria se tentasse. — Eu esperava que
como um duque, Vossa Alteza tivesse que ler. — Ela disse
enquanto folheava o livro devagar. Alec se aproximou mais dela
apenas por precaução, o fino pedaço de madeira que sustentava o
peso dela poderia romper-se e ele sentia calafrios de pavor só de
imaginar os resultados disso. — Eu deveria, não fui muito bom na
escola, meu assunto não é literatura. Sempre que começo a ler algo
me sinto entediado antes da metade. Os únicos livros que não me
dão sono são os indecentes. — Ela tirou os olhos do livro e os
colocou nele. — Típico. — disse com um sorriso que ele achou
atrevido e adorável. — É por isso que nunca me casei, me
entediaria muito rápido e tenho feito uma promessa de fidelidade no
passado. — Não imagino alguém como você fazendo tal promessa.
— Nós canalhas também temos honra. — Ele bateu no peito e ela
gargalhou, e Alec percebeu que aquela Daphne era muito mais
divertida do que a mau humorada com quem ele estava
acostumado a lidar. — Também são muito bom de memória. — ela
disse. — Nem eu mesmo lembrava o que estava vestindo há quatro
anos atrás. — Guardo na memória apenas o que me encanta. —
Alec percebeu no exato momento em que as palavras deixaram sua
boca que disse algo irreversível, forte e esclarecedor. Os olhos dela
encontraram e o ar ali dentro se tornou pesado, denso, pulsante. —
Aqui, este vai servir. — Ela fechou o livro com um baque e desceu
rápido para o chão. Colocou a luminária e o livro sobre a mesa e foi
até o porco para pega-lo no colo. Virou-se para ele uma última vez.
— Devo ir. — Ela não parecia ter certeza. — Sim, deve. — Ele
também não passou muita confiança em suas palavras. Daphne
andou depressa até a saída. — Espere. — Ele disse e ela
obedeceu de súbito, não se virou para ele, apenas permaneceu de
costas, esperando. Alec andou até ela até chegar muito próximo,
tão próximo que alguns fios do cabelo dela acariciaram sua face. —
Esqueceu o livro. — Ele sussurrou e colocou o volume na frente
dela. Daphne pegou o livro entre os dedos, e Alec percebeu que
estavam trêmulos. — Obrigada. — Ela saltou e escancarou a porta,
andando para longe. Alec esperou até que ela dobra-se no corredor
e só então voltou para seu divã, onde deitou-se e sorriu, muito
satisfeito consigo mesmo. Capitulo nove Quando acordaram pela
manhã a primeira coisa que os habitantes de Stirling viram foi que
durante a noite a neve tinha parado de cair. Isso resultou em
reações diferentes entre eles. Enquanto Alec estava desapontado,
Daphne estava exultante de felicidade. Finalmente algo de bom
tinha acontecido com ela. Pela janela do quarto ela pôde ver as
nuvens abrindo espaço para o azul do céu. Embora que fosse o
azul acinzentado do inverno, ainda era azul e aquela era sua nova
cor preferida. Vários homens usando kilts e longos casacos de frio
ocupavam as ruas de Kinlochleven carregando pás e carrinhos de
mão para tirar a neve da estrada e das portas das casas. Ela viu
também as muitas chaminés soltando fumaça, e as crianças saindo
de suas casas, correndo pelo vilarejo com gorros e luvas de lã. Ela
viu quão formosa Kinlochleven ficava quando não estava enfiada
em centímetros de neve. Alec comia na mesa de café da manhã
quando ela e Ashleigh irromperam pela porta. Ele ergueu as
sobrancelhas, surpreso ao vê-las unidas. Queria saber em qual
momento da última noite elas tinham se tornado amigas. — Bom dia
irmão. — Disse Ashleigh, muito alegre. — Bom dia. — Ele disse
trocando o olhar de uma para a outra. — Acha que demorará muito
até que tirem toda a neve das ruas? — Daphne indagou ao sentar-
se à mesa e Alec perdeu parte da animação. Ele já imaginava que
ocasionalmente o assunto de uma partida surgiria. Isso não podia ir
mais contra os seus planejamentos, realmente a neve ter parado de
cair foi um infortúnio, agora teria que adiar o máximo da partida que
fosse possível para descobrir a intenção de Daphne em Londres. —
Não tenho muita certeza, me informarei sobre isso. — Ah mas não
pode ir ainda. — Ashleigh disse para ela. — Espere para ir somente
amanhã, hoje eu quero leva-la para conhecer Kinlochleven. —
Daphne parecia inclinada a não aceitar. Mas Ashleigh exibiu
grandes olhos de cão pedinte e a mulher resignada, assentiu. Alec
observou aquilo com espanto e se perguntou como sua irmã
conseguia extrair dela tão facilmente o que ele não conseguiria nem
em mil anos, um simples sim. — Você vem também não é Alec? —
A menina se voltou para ele, Alec quase levantou para dar um beijo
de agradecimento na irmã. — Com certeza. — Ashleigh olhou de
um para o outro e escondeu um sorriso esperto dentro da xícara de
café. Uma hora depois eles estavam indo em direção ao povoado.
— Iremos a pé? — Daphne indagou ao não ver nenhuma
carruagem na saída do castelo. — Sim, que melhor maneira de
conhecer a cidade? — Disse Ashleigh e a duquesa fez uma
expressão de dor estomacal. Estava frio, muito frio e mesmo que
usasse grossas camadas de lã, Daphne sentia suas juntas
endurecendo. Ela envolveu o corpo com os braços e Alec desejou
pairar sobre ela para fornecer seu calor corporal, mas sabia que
isso ficaria estranho, então tirou seu casaco. — Pegue isto. —
Estendeu o confortável casaco de pele pelos ombros dela. Daphne
o olhou com os olhos bem abertos. — Não posso aceita-lo. — Disse
tentando tirar o casaco. — Você terá frio. — Apenas aceite a
gentileza, carinho. — Ele disse ajeitando o casaco nela e
aproveitando para dar uma passada de mão além de audaciosa
pelas costas dela, as faces dela ficaram vermelhas, e ele adorou
que fosse capaz de fazer o sangue dela esquentar mesmo no frio.
— Obrigada. — Ele assentiu, e deixou que ela andasse na frente.
Enquanto ela se afastava ele a avaliou. Ela estava bastante
engraçada pois o casaco era demasiado grande para ela. Ele
desejou rir mas achou aquilo acima de tudo excitante, as pessoas
veriam que ela usava as roupas dele e teriam a ilusão de que ela
pertencia a ele, e mesmo que fosse longe da realidade foi algo
muito agradável de sentir, possessão. Ele esteve satisfeito por todo
o trajeto até o momento que entrou no povoado. Alec abaixou os
olhos para o chão enquanto andava, pois odiava quando olhava nos
olhos cheio de pena daquelas pessoas e via ali a memória de um
menino ingênuo. Ele sentia a fúria nascer dentro dele com força e
desejava se afastar. As mulheres pararam no boticário, e ele sentiu
alívio pesado por saírem das ruas. Daphne e Ashleigh andaram
pela loja conversando baixinho. Alec adorou isso. Ashleigh não
tinha muitas presenças femininas em que se apegar e Alec via em
Daphne essa possibilidade. — Não tenho muita certeza, não parece
rústico demais? — Disse Daphne colocando um pequeno frasco
abaixo do nariz de Ashleigh. — Como um perfume poderia ser
rústico demais? — perguntou Ashleigh. — Adocicado demais,
então? — Daphne disse outra vez, inspirando o aroma. — Você
está fazendo isso errado. — Disse Alec, largando o que estava
fazendo e indo até elas. — Você sente muito adocicado porque está
sentindo a fragrância ainda no frasco. — Ele pegou o frasco de
vidro da mão dela. — Dê-me seu braço. — Ela não moveu um
músculo, então ele mesmo pegou o fino braço delicado, subiu a
manga do casaco um pouco e encostou o vidro apenas um pouco
no pulso branco. Então ele mesmo levou ao nariz, e aquilo foi sua
perdição. Era orvalho, rosas e Daphne. Alec sentiu aquele aroma
bombear sangue para as partes mais vitais de seu corpo. Ela tinha
cheiro de uma manhã de primavera. Ele desejou, e simplesmente
depositou os lábios no pulso dela. Uma carícia rápida, frívola, quase
invisível aos olhos, mas ele sentiu como se fadas tocassem seus
lábios e ele soube que ela sentiu também pois estremeceu.
Satisfeito ele se afastou. — Veja, agora não está mais tão doce.
Está suave. Daphne tinha o rosto em chamas e escondeu o pulso
atrás das costas como se alguém pudesse ver o rastro do que tinha
acontecido ali. — Não é necessário, irei levar. — Ela disse para o
boticário e Alec se afastou, com um sorriso convencido. Eles
pararam para comer em um restaurante, e Ashleigh pediu pudim
negro, bolinhos de conhaque e canecas de cerveja. Daphne
perguntou os exatos ingredientes de cada um, e depois de muito
cutucar o pudim com um garfo, levou um pouco para a boca. Depois
do restaurante eles andaram de volta para casa. Ao passar pelo
lago congelado próximo do castelo eles viram todas as crianças que
brincavam ali. Todos os anos naquela época os moradores do
povoado iam ali para deslizar pelo gelo em trenós ou em patins. Ele
mesmo tinha feito muito aquilo com Ashleigh e seus pais em um
passado muito distante. — Oh! — Daphne exclamou assistindo os
patinadores com fascinação. — Ah sim, o fim de um dia perfeito,
devemos ir! — Disse Ashleigh, puxando uma Daphne bastante
encantada para as margens do lago cheio de pessoas. Alec sorriu,
devia saber que sua irmã planejava algo assim. — Não sei, nunca
andei de patins antes. — Daphne parecia relutante mas Alec viu o
desejo em seus olhos. — É a melhor chance para aprender, Alec é
um exímio patinador, ele pode ensina-la. — sua irmã disse e Alec
percebeu pelo olhar sugestivo, talvez um pouco tarde demais, que
Ashleigh realmente estava tentando aproxima-lo de Daphne. A
mulher olhou para ele e mordeu o lábio inferior, ele não praticava há
muito tempo e era arriscado que caísse e levasse ela junto, mas ele
jamais perderia a oportunidade. — Pegarei os patins. — Ele disse e
ela assentiu uma vez, entusiasmada. Ele deixou elas alguns
minutos para ir até o castelo e voltou com os objetos. Ele esperou
que Daphne calçasse e se abaixou para apertar bem o nó dos
cadarços dela. Quando os dois estavam preparados, Ashleigh já
patinava pelo lago, com habilidade. Ele estendeu uma mão para
ela, para ajuda-la a pisar no gelo escorregadio. Ela o fez devagar
segurando firme na mão dele, Alec desejou eliminar as luvas de seu
caminho. Logo no primeiro passo Daphne escorregou e se segurou
nos ombros dele e se Alec não estivesse ocupado demais em
segura-la, teria apreciado tê-la em seus braços. — Tente primeiro
manter o equilíbrio. — Ele disse, erguendo um pouco a barra do
vestido dela. — Ei! — Daphne protestou dando um tapinha na mão
dele. — É tudo pela sua segurança, docinho. — Ele brincou dando
um sorriso coquete para ela. Se colocou atrás dela para lhe dar
mais segurança. Ele deslizou a mão pela cintura dela e Deus, como
era esguia. Ele encostou muito nas costas dela e pôde ver que
Daphne sentiu sua presença e a respiração dela acelerou. As
costas dela ficaram bem retas. O ar saia pelos lábios dela como
fortes esbaforidos de fumaça gelada. — Agora deslize um pé de
cada vez. — Ele instruiu e ela fez devagar. — Isso, muito bem,
tente deslizar com um pouco mais de força. Não se preocupe, eu
não soltarei você. — Ela anuiu e obedeceu de novo e aos poucos
os dois começaram a deslizar pelo gelo. O sorriso dela foi
crescendo como o raiar do sol pela manhã e se tornou enorme e
radiante e Alec se sentiu ofuscado. — Alec isso é incrível. — Ela
disse em meio a uma risada que aqueceu o peito dele e tudo se
resumiu a aquilo, aos dois deslizando pelo gelo e a mão dele na
cintura dela, e ao sorriso dela e Deus e ninguém mais. Alec soube,
com a mais absoluta certeza que nada mais importava, realmente
lutou contra aquilo por tantos anos a custo de nada. De nada. Cinco
anos reduzidos a um só momento, deslizando com ela pelo gelo. E
ele queria ser a liberdade que ela almejava, queria dar a ela isso.
Então soltou-a para que ela voasse livre. Daphne patinou alegre
para longe, e ele sentiu uma fisgada em seu estômago pela vontade
de tê-la de novo. E quando Daphne viu que Alec não estava mais
ali, perdeu completamente o eixo e o equilíbrio e sua expressão
alegre virou pânico. — Alec! — Ela chamou por ele, e muito tarde
ele percebeu que ela não saberia parar. Alec patinou para ela, mas
ela ia reto, reto, reto até que saiu dos limites de lago, e caiu
esborrachada no chão de neve. Quando ele finalmente a alcançou,
ela cuspia neve para fora boca. — Você disse que não me soltaria!
— Ela o acusou, e jogou um punhado de neve nele, Alec se sentiu
culpado. — Não pensei que fosse cair de cara no chão por conta
própria. — Ele se defendeu. — Machucou-se em alguma parte? —
Meu tornozelo dói. — Ela queixou-se. — Veja se consegue levantar
e andar. — Ele ajudou-a a se erguer, ela deu dois passos para
frente e pendeu para o lado, com dor. — Venha, levarei você no
colo até Stirling. Ela não protestou e ele presumiu que realmente
deveria estar doendo. Quando chegaram em Stirling ele colocou-a
deitada na cama e pediu que viesse um médico imediatamente.
Enquanto a ajuda não chegava, Alec pediu que trouxessem
compressas geladas para pôr no tornozelo. Quando o médico
chegou, o inchaço já tinha diminuído mas Daphne ainda se
queixava de dor. O médico pegou o pé dela e fez movimentos
rotativos. — Au, Au. — Reclamava Daphne. — Não está ajudando
muito! — É impossível examina-la milady se não me deixar ver
onde dói. — Daphne emburrada fechou a boca e aguentou a dor em
silêncio. — Foi apenas uma lesão leve. Fique de repouso, não faça
esforço sobre o tornozelo pelos próximos dois dias e estará novo
bem em breve. — Não, não posso ficar de repouso por dois dias,
tenho que fazer uma viagem em breve. — Daphne apressou-se em
dizer enquanto o médico enfaixava a área lezada. — Não tem nada
que possa me dar que possa adiar uma melhora? — Talvez daqui a
cem anos, por hora, já fiz tudo que está ao meu alcance. — Disse o
homem e partiu, deixando ela desolada sobre a cama. — Sinto
muito por tê-la soltado. — Ele disse, se sentindo realmente
péssimo. — Tudo bem Northwest, foi provavelmente o melhor
momento que eu tenho anos. — Oh, então ele tinha voltado a ser
Northwest? — Minhas irmãs ficarão em êxtase quando eu contar. —
Poderá convidá-las para cá no próximo inverno. — Ele disse e ela
sorriu animada com a perspectiva, mas logo o sorriso dela
arrefeceu devagar. — Não tenho meus planos de voltar. — Ela
disse e ele viu sinceridade ali. — Principalmente porque esse lugar
me trás uma falta de sorte inexplicável. — Talvez não devêssemos
ter tirado a fita, afinal. — Ele brincou e os olhos de Daphne
brilharam como estrelas. — É isso! A fita! — Ela afastou as cobertas
para longe e levantou da cama de um pulo. — Volte para a cama,
não deve fazer esforço. — Ele disse, mas ela ela estava ocupada
demais tirando uma fita de dentro da sua valise para ouvi-lo. —
Tudo faz sentido. Desde que tirou a fita na carruagem vem
acontecendo coisas comigo. Começando pela queda da carruagem,
depois a neve e o incidente com a armadura, o fiasco do jantar, e a
agora meu tornozelo, tem que ser isso. Enquanto falava ela dava
voltas no pulso dos dois, tantas que Alec perdeu a conta. Ao
concluir ela deu um nó bem dado com as pontas. — E agora
ficaremos de mãos atadas para sempre? — Ele gracejou, achando
aquela ideia altamente absurda, mas Daphne não sorria, ela olhava
para a boca dele com intenção, e o sorriso de Alec se foi. — Não,
vamos consumar o casamento. — e o beijou. ∞∞∞ Ele ia rejeita-la,
Daphne sentiu isso no momento que seus lábios encontraram com
os dele. Arrependeu-se dolorosamente por ter agido por impulso,
obviamente tinha entendido os sinais de maneira errada. Confundiu
tudo, os olhares, a confissão dele na noite passada, o beijo que ele
deu em seu pulso e o momento que tiveram enquanto patinavam.
Agora ali enquanto os seus labios esmagavam os dele de um jeito
rude e tosco, ela só conseguia pensar na humilhação que seria ter
que olhar novamente nos olhos de Alec. Uma coisa era ser deixada
de lado por ele durante toda uma vida, outra bem diferente era ele
rejeita-la em meio a um beijo. A única solução que sua mente inútil
achou foi fazer aquele beijo durar uma eternidade. Ela agarrou os
dois lados da gola da camisa e manteve os olhos bem apertados,
puxando ele mais para ela. Ele era muito alto e os pés dela doíam
por estar há tanto tempo sustentando seu peso nas pontas. Alec
não estava nem se afastando e nem retribuindo, talvez estivesse
bestificado. — Daphne, não faça isso. — Ele falou dentro da boca
dela. Daphne não conseguiu pensar em uma situação pior do que
aquela. Devagar ela soltou a camisa dele e o afastou. — Me
desculpe, milorde. — Ela cuspiu rancorosa. Sabia que ele tinha todo
o direito de rechaça-la. Nunca antes o duque mostrou interesse
nela, a culpa era totalmente dela e simplesmente não iria se
perdoar nunca por aquilo. — Não me entenda mal, é que não
parece ser as razões corretas para fazer isso. — Ela o olhou com
tanto ódio que poderia tê-lo reduzido a cinzas. — Obrigada por
escolher justamente este momento para dar uma de cavalheiro
exemplar. — bruscamente puxou a mão do laço que amarrava os
pulsos deles, mas a fita não cedeu. Raivosa, ela trabalhou para a
abrir o nó mas estava apenas apertando ainda mais. — Não
entendo porque está tão irritada. Eu fiz o que é certo, maldição. —
Ele rosnou de volta, mas ela não deu a menor importância, então
ele a puxou para olhar para ele. — Eu fiz o que achei que você
fosse querer. — Por acaso eu parecia querer ser rejeitada? — É
realmente assim que você quer fazer isso? Por uma crença? — Já
ouvi histórias sobre você Northwest, já dormiu com mulheres por
menos do que isso. — O músculo da mandíbula dele saltou e os
olhos dourados ficaram realmente furiosos. — Ponha-me na
fogueira por desejar tratar minha esposa com um pouco mais de
respeito. — Daphne odiou aquele nó em seu pulso que a impedia
de ganhar distância dele. — O que te faz achar que deve ser
cuidadoso comigo? E pelos céus, eu já disse, não sou sua... — Ela
foi silenciada por lábios possessivos, e agarrada por braços, que a
puxaram com força contra um peito robusto que respirava
erroneamente. Por um instante ela ficou sem ar pois a mesma boca
que estava dura e fria sobre a dela há poucos instantes, agora a
beijavam com liberdade e volúpia. Uma mão esgueirou-se pela
nuca dela até encontrar abrigo em seu couro cabeludo, e a outra
que estava atada com a dela, deslizou por sua cintura até parar
bem no centro de suas costas. Daphne sentiu seus seios
espremendo-se contra o abdome dele e o vestido de tecido grosso
e pesado que usava poderia ter sido reduzido à cinzas com o fogo
que cresceu dentro dela. Daphne abriu a boca em busca de ar mas
Alec não estava disposto a cedê-lo e a encheu com sua língua. Ela
teria deslizado para o chão se ele não tivesse segurando-a tão
firme. Em meio ao beijo desvirtuoso, ele a levou pelo espaço curto e
Daphne flutuou, literalmente flutuou pois seus pés não alcançavam
o chão e soltou um pequeno grito quando caiu de costas em algo
suave, confortável e macio. O colchão balançou em ondas e as
penas afundaram com o peso deles dois quando ele a cobriu com
urgência, voltando a beija-la. O espartilho que Daphne usava por
baixo de todas aquelas camadas de tecido estavam impedindo que
seus seios respirassem livres, ela os sentia desconfortáveis,
pesados e doloridos e suas pontas doíam por atenção. Ela
esmagou os seios contra o peito dele, e isso proporcionou um alívio
superficial. Alec colocou uma mão no queixo dela e virou o rosto de
Daphne para morder sua mandíbula e lambe-la como um selvagem.
Daphne arfou, já tinha beijado algumas vezes e ouvido as
experiências de outras mulheres mas nunca, jamais, alguém
mencionou lambidas. Os fios ásperos da barba dele por fazer
arranharam seu pescoço. Aquilo era rude e machucava mas era
uma dor prazerosa. Sua mente ficou inebriada com o cheiro de
charuto e cedro e ela se sentiu pequena debaixo de todo aquele
homem. Ela decidiu então toca-lo, nunca antes desejou provocar
um homem mas seus dedos pinicavam por sentir nem que fosse
uma faixa de pele dele. Daphne deslizou a mão pelos ombros dele
até chegar naquele músculo masculino que juntavasse com o
pescoço, ela o acariciou fazendo círculos com seu dedo polegar e o
deslizou devagar para a abertura do colarinho, encontrando o osso
da clavícula, e deslizou o dedo por aquela parte de pele nua e ela o
sentiu estremecer. Sentiu-se libertina. Com um pouco mais de
audácia ela levou sua única mão livre pelas costas dele até chegar
na bainha da camisa onde finalmente, finalmente, pôde toca-lo com
toda uma mão. Ela agora entendia porque ele nunca sentia frio, era
fogo por natureza. Explorou a cintura com os dedos e subiu sua
mão pelo abdôme que retraiu-se involuntariamente. Ela sentiu o
peito dele vibrando de um jeito muito felino e sorriu internamente.
Daphne estava conhecendo o homem somente com a palma de sua
mão, e estava adorando. Ele gemeu quando um dedo dela passou
por cima do seu mamilo, e Daphne desejou morde-lo, mas como a
posição não permitia, ela decidiu apertar o mamilo entre os dedos.
Alec rosnou e de maneira abrupta puxou os botões do vestido dela,
deixando o espartilho à mostra. A respiração de Daphne acelerou e
seus seios espremeram-se contra a vestimenta inconveniente.
Parecia que ele também não estava gostando muito da interferência
da peça, pois começou a puxar os fios até que tivesse liberdade o
suficiente para liberar os seios dela. Ele primeiro os apalpou de um
jeito curioso, como se quisesse se certificar de algo e sorriu como
um devasso. — Foram feitos para as minhas mãos. — Ele disse de
maneira possessiva e Daphne sentiu um forte arrepio de desejo em
seu ventre. Ele abaixou-se para ela e espalhou beijos por todo o
seu colo, nunca chegando no ponto crucial, então, quando ela já
não conseguia se manter parada, ele finalmente tocou em seu seio
com a mão nua e ela jogou a cabeça para trás em meio a pele do
cobertor. Nunca achou que sentiria tanto prazer com um homem
tocando seus seios. Sequer sabia que podia sentir prazer naquela
região. Com um dedo ele circulou o pico turgido do mamilo dela e
quando Daphne menos esperava ele apertou o botão entre os
dedos. — Oh! — Ela exclamou quando aquele aperto enviou
poderosas ondas de prazer pelo corpo dela. Alec enfiou o rosto no
pescoço dela e Daphne sentiu seu mundo ser chacoalhado quando
a voz dele, lânguida e cheia de luxúria, disse em seu ouvido: — Não
é tão divertido quando você é a vítima, sim? — Ele gemeu, e beijou
por toda a curva de seu pescoço enquanto brincava com o mamilo
dela. Daphne agarrou-se aos seus ombros por medo de que ele
pudesse simplesmente fugir. Antes nunca tinha sido daquele jeito.
Algo mais forte, mais primitivo a fez abrir as pernas e erguer os
quadris para cima, e como uma resposta em igual, Alec abaixou-se
para ela e espremeu sua ereção em sua carne desejosa. Daphne
arfou, meio surpresa, meio aliviada, meio sedenta por mais. Então
ela o fez de novo. E de novo e a pequena loba dentro dela queria
desfazer-se de suas roupas e tornar aquilo mais cruel. A mão dele
não largava o seio e ele continuava a lhe dar apertos voluptuosos.
— Minha Afrodite. — Ele sussurrou no ouvido dela. Sim, naquele
momento ela era sua Afrodite e ele era o seu Ares, o seu deus da
guerra. E os dois eram amantes apaixonados em uma cama de
penas e pele, consumidos pela paixão. Então, no momento seguinte
ele voltou para beija-la e para esconder novamente aquele volume
precioso no latejamento do ventre dela, e no caminho para sua
boca, ele a olhou. Os cabelos dele estavam espalhados e uma
mexa charmosa caia por sua testa, os olhos estavam o mais
dourado que Daphne já tinha visto na vida, como ouro puro e
líquido. As pálpebras pesadas e os cílios de plumas encantadores.
Eles se olharam profundamente nos olhos pela primeira vez desde
que estavam se beijando e Daphne deu-se conta de uma coisa.
Aquele ali tocando nela tão intimamente era Northwest, céus! Era
Northwest! Sim, era Northwest. E santo deus, àquilo nunca
apareceu tão perfeitamente correto. E isso não somente a pegou
desprevenida como também a fez acordar do seu surto
momentâneo. Seu coração, seu tolo coração, bateu duas vezes. " É
ele. " sussurrou. Aquilo foi como receber um pesado balde de água
fria em seu fogo. A forja se apagou. Doeu e a fez se encolher. Ela
colocou uma mão em seu coração e tateou pela liberdade, ele a
olhou sem entender nada e deu espaço para ela sair, Daphne
precisava correr e correr e correr para longe dali, ele suspirou
pausadamente e passou uma mão pelo rosto decepcionado. O nó
que antes existia no pulso dos dois agora não existia mais, de
alguma maneira eles tinham se soltado durante o interlúdio. —
Deveria ter parado quando te dei a oportunidade. — Ele disse,
aborrecido. Estava confundindo a consternação dela com
arrependimento. Bem, arrependimento estava no pacote. Sim, céus,
como ela se arrependia! — Provavelmente você tem razão. — Ela
disse, e mesmo que ali fosse tecnicamente seu quarto, ela andou
de costas em direção a saída. Tentando fazer seu coração parar de
bater em agonia, ansiando novamente por aproximação. — Sabe
que isso não pode ser desfeito não é? — Ele disse antes que ela se
fosse e Daphne se virou para ele uma última vez antes de sair. —
Não pode, mas não dirão que eu não tentei. — E se foi. ∞∞∞ Não
foi uma surpresa quando antes mesmo que os primeiros clarões da
manhã iliminassem o céu, Daphne já estava pronta para deixar
Stirling. Alec se colocou nos portões de saída do castelo com uma
carruagem bem equipada para uma longa viagem, esperando por
ela. A neve havia sido retirada das estradas até a saída de
Kinlochleven, o clima estava úmido e o ar estava fumacento, já não
caia neve do céu, mas ela sentia como se uma forte nevasca
brincasse em seu estômago. Ela trazia Tommy pela correia e usava
seu vestido de casamento no corpo, coincidentemente o verde do
vestido era o mesmo do suéter do porquinho. Os cabelos dela
estavam amarrados em um coque rigido na nuca, o rosto estava
taciturno e a boca rígida. Definitivamente não existia nenhum traço
da mulher quente, risonha e voluptuosa da noite passada. Talvez
fosse pelo frio, ou talvez fosse pela vergonha, ela estava com as
faces coradas, segurando a valise nas mãos, evitando olhar para o
duque. A esposa, parou na frente do marido e Ashleigh abaixou-se
para se despedir de Tommy. Daphne adquiriu coragem o suficiente
para olha-lo no rosto. Ela viu ali um olhar tranquilo e sereno. Alec
não estava se importando se ela ia ou ficava e por mais que
soubesse que era o melhor ela não deixou de se sentir triste. Seu
coração ansiava por afeto, e seu corpo ansiava por contato. —
Então é isso. — Disse timidamente, se sentia tola por estar agindo
como uma tímida, coisa que ela nunca foi. — Agradeço pela
hospedagem, e por todo o resto. Alec no entanto não disse nada.
Se ela precisava ir para Londres, então ele deixaria ela ir para
Londres. Enquanto desejasse voltar para casa, ela nunca se sentiria
bem ali e ele não queria isso. Ele queria ser o alguém para quem
ela desejaria voltar um dia. Além de que aquela era a única maneira
de ele descobrir para o que ela desejava isso, ou para quem. —
Confesso que eu desejava que pudesse ficar um pouco mais, você
é a oponente mais divertida que encontro em anos. — Disse
Ashleigh se erguendo novamente, Daphne pegou as duas mãos da
cunhada e sorriu, logo em seguida a puxou para um abraço. —
Talvez devesse me visitar em Londres, garanto que ficará
igualmente fascinada ao conhecer minhas irmãs. — Quem sabe, eu
vá. — Respondeu a mais nova e os três ficaram se encarando em
um silêncio desconfortável, até Daphne soltar uma grande lufada de
ar e se preparar para subir na carruagem. Alec ofereceu a mão para
ajuda-la a subir no veículo e antes que a donzela sumisse ali dentro
ele apertou sua mão fazendo com que parasse. Daphne olhou para
a mão apertando a dela e seus lábios se abriram assustados, Alec
viu os lábios tintos de frio e lembrou que eles tinham sabor do mel e
desejou embriagar-se. Ele viu dentro dos olhos azul acinzentado,
por um momento fugaz, a esperança. Era apenas o que ele
precisava. — Quero que fique na Northwest House. — os olhos dela
se abriram, estupefatos. — Isso não será necessário, ficarei na
casa dos meus pais. — É uma mulher casada agora, já terá
falatório o suficiente por estar separada do marido, não dê mais
assunto para as más línguas falarem. — Argumentou sabendo que
aquelas palavras eram uma mentira, estava pouco se importando
com as más línguas, ele só estava fazendo aquilo para mantê-la
sobre seu domínio de alguma maneira. — De qualquer maneira é
tarde demais, eu ja enviei uma nota pelo mensageiro ordenando
que os criados preparassem a casa para a sua chegada. Ela ainda
parecia não concordar, mas assentiu. Relutante o olhou por alguns
segundos. — Alec... — O nome dele soou doce nos lábios dela, e
ele desejou ouvi-lo junto ao ouvido, em meio a suspiros ofegantes,
junto com o som mais cru da carne batendo na carne,
acompanhado de um gemido. Ou de vários. Ela parecia querer falar
algo, seus olhos azuis percorreram todo o rosto dele como se
quisesse decora-lo. Fechou os olhos apertado, dando um suspiro
longo, e quando os abriu novamente, o frio estava personificado em
seu olhar. — É melhor eu ir. — Disse dando as costas para ele e
subindo na carruagem alta, e partindo, sem olhar para trás uma
única vez. ∞∞∞ A viagem de volta para Londres foi solitária e
carregada de emoções controversas. Era estranho estar sozinha
dentro daquela carruagem, regressando para casa, sentindo como
se deixasse uma parte essencial de sí mesma para trás. Seu
coração ficou pesado no peito até o momento que a carruagem saiu
de Kinlochleven, talvez estivesse sendo tola, mas acreditava que a
qualquer momento Alec fosse aparecer ali, puxando-a de volta para
trás. No fim de tudo era melhor assim, Northwest e ela nunca
poderia dar certo, os dois sempre se detestaram, e nunca trocaram
nada além de farpas, a vida de libertinagem dele deixava em
evidência que ele jamais poderia ser fiel, e tinha quase certeza que
ele jamais aceitaria a vida privada que ela levava. Sim, no fim de
tudo era melhor assim. Daphne passou a noite em um hotel em
Edimburgo, e partiu bem cedo pela manhã. Desejava chegar logo
em casa, sentia-se estranhamente vulnerável e sabia que a
qualquer minuto iria chorar, por um motivo que não entendia. Ou
talvez entendesse, e apenas não queria admitir para sí mesma. A
noite ela chegou na pitoresca Gretna Green e apenas para se punir
decidiu passar a noite na estalagem dos Uig. Entrou no lugar que
não tinha mudado absolutamente nada desde a última vez que
esteve ali. Era estranho, pois parecia que tudo fazia tanto tempo,
quando na verdade foi a somente há alguns dias. Ela bateu na
sineta sobre balcão e logo depois a velhinha carismática surgiu por
uma porta lateral, ostentando seu formoso sorriso doce. Ela soltou
uma exclamação ao reconhecer a duquesa. — Lady Northwest! —
Um caroço se formou na garganta de Daphne ao ouvi-la chamando
daquela maneira. — Que surpresa agradável. Os olhos astutos da
velhinha buscaram o escocês pelo recinto, e quando não encontrou-
o, seu olhar se fixou no rosto de Daphne, entendendo que ele não
estava ali, se enchendo de uma pena que fez Daphne se sentir
incomodada. — Hoje serei apenas eu e Tommy. — Falou indicando
o porquinho, a senhora Uig sorriu para o animal perto da dona e
pegou uma chave atrás do balcão. — Espero que desça para comer
conosco. — Disse gentilmente, entregando a chave para ela. —
Uma mulher não deve comer sozinha em noite de lua cheia. — Mais
uma superstição escocesa? — Não, dessa vez é apenas um
convite. — Ela respondeu, fazendo Daphne sorrir genuinamente
pela primeira vez desde o dia anterior. — Eu ficarei bastante feliz.
— Respondeu contente e se dirigindo para as escadas de madeira,
pisou no primeiro degrau e se deteve. — Espere, não servirá nada
feito das tripas de algum animal, não é? — Pode ficar tranquila,
nada de tripas. — Disse jocosa e a duquesa respirou aliviada. A
estalagem estava tão cheia naquela noite quanto no dia de suas
bodas. Vários casais estavam por ali. Absortos em suas conversas
particulares, aproveitando a noite enevoada e o clima romântico que
as velas proporcionavam. Ela se sentou sozinha em uma mesa aos
fundos, não queria atenção para si. Enquanto bebia do seu vinho,
Daphne observava o modo companheiro como o casal Uig serviam
as mesas. Sempre se olhando e sorrindo com afeição um para o
outro. Ela imaginou que tipo de sentimento forte era esse capaz de
vencer até mesmo o tempo. Encarou o pudim de figo em seu prato,
e cutucou o alimento sem intenção de come-lo. Daphne estava
acostumada a estar sozinha, mas naquele momento ela sentiu um
tipo diferente de solidão. Ela imaginou que se Northwest estivesse
ali com ela, eles teriam uma conversa sobre mitologia, eles
acabariam discordando em algum ponto, ele faria um comentário
desagradável e ela desejaria acerta-lo com a cadeira. Ela olhou
para aquele anel de ouro escocês em seu dedo anelar, a única
lembrança que havia se permitido trazer consigo. Passou o dedo
nas letras caprichosas entalhadas no ouro, "Tha gad agam ort",
nem sequer teve a chance de perguntar o que significavam. —
Você me tem. — Disse senhora Uig surgindo ao lado dela. Daphne
franziu o cenho, confusa. A senhorinha sorriu, inclinando a cabeça
de lado. — Tha gad agam ort, em gaélico significa, você me tem.
Daphne encarou as feições da mulher, estarrecida. Aquilo não
podia ser verdade, e mesmo que fosse, a frase era uma mentira
descarada. — Deve ser algum mal entendido. — Falou, incapaz de
olhar novamente para as letras. Sentindo o anel queimar em seu
dedo de um jeito incomodo. — Nunca duvide do amor de um
homem que atravessa metade do país como um louco para se
casar com você. — Ela disse com aquela sabedoria que toda
pessoa de idade tinha, e se afastou com um sorriso ligeiro para
servir uma mesa mais a frente. Os pensamentos de Daphne ficaram
embrulhados enquanto seu coração batia louco no peito. O que ela
estava fazendo? Criando bases no argumento sem sentido de uma
senhora romântica. Northwest só amava a sí mesmo. Era apenas
uma frase insignificante em um anel. — Ele precisava salvar o
ducado. — Falou firme, tentando infiltrar as palavras dentro de si
mesma e afastando os pensamentos intrusos para longe. Na manhã
seguinte ela se despediu de Gretna Green um pouco mais
recuperada da depressão pós partida. Tudo que esteve sentindo
nas últimas horas era apenas o resultado do momento de paixão
que teve com ele. Ela estava confundido a paixão do prazer algo
com mais, e tinha que parar com isso. Só porque havia sido único e
loucamente prazeroso, não significava que tinha sido igual para ele.
Ela era só mais uma de uma extensa lista. Respirando fundo ela
ergueu novamente a muralha. Deixando todos os sentimentos
confusos para trás junto com a Escócia. Capitulo dez A temporada
social estava em seu auge. Mesmo com o clima úmido do inverno,
aquela era a melhor época do ano para os negócios e Daphne não
via a hora de voltar às ativas. Passou dias demais brincando de ser
esposa de alguém e agora era hora de tornar a realidade. E dessa
vez seria muito melhor. Teve que se tomar um cuidado dobrado por
anos, e o status de mulher casada dariam para ela a liberdade que
esteve almejando durante toda a sua vida adulta. Agora ela não
teria mais que dar explicações e essa era a melhor parte.
Infelizmente antes que pudesse gozar completamente disso ela
teria que dar explicações uma última vez. Para seus pais. Quando a
carruagem parou de frente para o número cinco, ela já estava se
preparando mentalmente para o que viria a seguir. Colocou Tommy
no chão e o porco correu para a porta feliz por estar em casa. Ela
andou até a porta da frente e entrou devagar rezando para que
pudesse se recuperar um minuto antes de enfrentar os seus pais,
porém, quando virou-se para a sala deu de cara com uma confusão
de pessoas paradas no centro. Suas irmãs e seus maridos, Sophie
e o duque de Ballister, sua mãe e seu pai, e sete policiais, todos
boquiabertos com os olhos fixos nela. O silêncio reinou por meio
segundo e de repente uma avalanche de gritos e vozes preencheu
a sala. — Daphine Annabell York! — Marie York foi a primeira. —
Como pôde sumir sem dar explicações? Daphne deu um passo
para trás com o berro de sua mãe. — Eu... — Foi interrompida
antes que pudesse responder. — Tudo por causa de uma ameaça
de casamento? — Mamãe não... — Novamente foi interrompida. —
Você sabe que tenho os nervos sensíveis! — Ela disse chorosa
aninhando-se nos braços do marido, Daphne se sentiu péssima. —
Se não queria se casar bastava ter dito, filha. — Disse Phillip York.
— Papai, eu tentei. — É, deveria ter ao menos nos dito, teríamos te
ajudado a fugir.— Isso veio de Josephne, sua mãe deu um olhar
fulminante para a filha mais nova. — O que disse? — Josephne
coçou a cabeça e sorriu sem graça. — Nada. — Deu um passo para
mais perto do marido, o conde de Haddington. — Quase nos matou
a todos de preocupação, Daphne. — Disse Seraphne. — Afinal,
onde você esteve? — Josephne concluiu, enquanto ela se mantinha
dura e pálida diante da enxurrada de berros. — Eu deixei um
bilhete. — Foi sua resposta débil. Marie York largou o marido e a
puxou pelo braço colocando-a sentada no sofá. Daphne se sentiu
no banco dos réus. — Comece a falar mocinha. — Ela disse,
cruzando os braços e batendo com a ponta do pé no chão. Daphne
passou a vista entre aquelas pessoas ali, todos esperando que ela
começasse a falar, se sentiu mortificada por ter que dar aquela
notícia daquela maneira. — E-eu... — Limpou a garganta. — Eu fui
para Gretna Green me casar. Rapidamente todos os olhos se
abriram como pratos, tomados pela surpresa. — Está me dizendo
que está casada? — Perguntou sua mãe, pondo uma mão sobre o
colo dos seios. — Sim. — Daphne falou com um sorriso amarelo,
levantando a mão para exibir o anel de ouro escocês. Sentiu a mão
pesar com os olhares sobre a joia. — Sei que vou me arrepender
por perguntar isso, mas com quem se casou Daph? — Perguntou
Seraphne e Daphne engoliu com dificuldade. Sabendo que o que
diria a seguir surtiria os efeitos de uma bomba. — Com o duque de
Northwest. — Sussurrou e um momento de silêncio veio antes de
sua mãe cair desmaiada para trás. — Mamãe! — Gritou indo até a
mulher estatelada no chão. Todas eles se abaixaram ao redor da
matriarca caída, enquanto os policias e os três lordes assistiam a
tudo como se a família fosse uma maluca peça teatral. — Marie
acorde. — Phillip chamou, dando pequenos tapinhas no rosto da
esposa, até perder a paciência e começar a chacoalha-la pelos
ombros. — Acorde mulher! Imediatamente Marie acordou,
procurando a filha com os olhos. Quando encontrou Daphne
olhando para ela com preocupação, o rosto da mulher relaxou e um
sorriso amoroso surgiu em sua boca. — Minha filha é uma duquesa!
— Gritou cheia de orgulho, levantando e puxando Daphne em um
abraço sufocante. — Eu sempre soube que você o amava. "Certo, a
mulher enlouqueceu! " Daphne pensou. — Oh, estou tão feliz,
minhas três meninas casadas e com nobres. — Continuou em tom
meloso. — Phillip, mande trazer champanhe, devemos comemorar.
Onde está o noivo? Daphne abriu e fechou a boca de maneira inútil,
enquanto todos esperavam pela resposta. Uma resposta que nem
ela mesma sabia.Olhou para as irmãs em busca de auxílio, e elas
entenderam a súplica em seu olhar. — Por que não deixamos
Daphne se refrescar antes do champanhe mamãe? Gretna Green é
longe, deve estar exausta. — Disse Seraphne. — É, tem razão,
enquanto isso mandarei preparar um jantar. — Marie disse indo em
direção a cozinha, se virando uma última vez para olhar para as
filhas cheia de orgulho, voltando a caminhar e murmurando: —
Minhas três filhas...esposas de nobres..vou escrever para Gertrude,
aquela megera nunca acreditou que eu conseguiria! — Agora que
está tudo esclarecido, e a moça está bem, iremos embora. — Disse
um policial, e Phillip acompanhou os homens até a saída. — O que
acham de fumar um charuto ao ar livre? — Sugeriu Standhurt. —
Isso não é antiético? — Indagou Haddington alheio a tentativa do
amigo de dar privacidade para as mulheres. Standhurt o olhou
como se ele fosse um asno. — Então vamos admirar o pôr do sol.
— Dessa vez foi Ballister quem sugeriu, Haddington o olhou com o
cenho franzido. — Da última vez que vi o céu estava fechado. —
continuou o conde e Daphne segurou firme a vontade de rir. —
Thomas querido, poderia acompanhar seus amigos até lá fora para
nos dar um pouco de privacidade? — Perguntou Josephne
amorosamente e o conde logo amoleceu ao ouvir a voz da esposa.
A olhou com uma adoração que deixou as faces de Daphne
coradas. — Se era isso que queriam deveriam ter dito logo. — Ele
resmungou para os dois lordes quando os três começaram a se
afastar pelo corredor. Quando ficaram sozinhas, e Daphne pôde
respirar finalmente, desabou sobre o sofá pensando na pequena
confusão que tinha criado. — Ele não está em Londres, não é? —
Perguntou Josephne se sentando ao lado dela e rodeando Daphne
com um braço. Daphne olhou no rosto da irmã, e aquele toque
gentil, acompanhado de seu tom acalentador, foi tudo o que ela
precisava para liberar a corrente de água que insistia em cair dos
seus olhos. Aquele choro foi tão confuso quanto todo o resto,
principalmente por ela não saber o motivo por estar chorando, entre
soluços contou tudo para elas, ocultando apenas a parte do beijo.
Elas a acalentavam como podiam, Sera de um lado afagando o
cabelo dela, Jose do outro a abraçando pela cintura, e Sophie na
frente, tocando nas mãos frias dela com as suas. — Eu sempre
soube que Northwest escondia algo cabeludo. — Disse Sophie. —
Acha que ele manterá esse acordo? — Inquiriu Seraphne, e
Daphne deu de ombros, sinceramente não sabia o que esperar de
Alec. — Me diga, Daph, vocês chegaram a...? — Perguntou Jose e
as faces da duquesa ferveram. — Não foi exatamente uma
consumação, mas digamos que foi o suficiente para eu estar
mentalmente comprometida. — Jesus. — Disse ela pasma, levando
uma mão ao rosto. — E é verdade que ele não usa nada por baixo
do kilt? — Indagou Sera, e recebeu um tapinha de Sophie. —
Seraphne! — Ora vamos, como se nenhuma de vocês não quisesse
saber. — Disse a marquesa. — Não, ele não usa. — Daphne
respondeu, compreendia suas irmãs, em outra época ela tinha a
mesma curiosidade. — Jesus. — Dessa vez foi Sophie quem falou.
Isso foi o suficiente para elas cairem na risada, deixando o clima
triste para trás. Daphne se sentiu bem por estar entre elas
novamente, suas irmãs curavam qualquer tristeza e espantavam
suas preocupações e anseios para longe. — Está certa de que não
sente nada por ele? — Perguntou Jose depois de um tempo, as três
a olharam esperando a resposta preocupadas. — Sim. — "Mentira"
o coração sussurrou. — Ótimo, porque homens como Northwest
não se tornam celibatários da noite para o dia. — Disse Seraphne.
— Não quero que se magoe quando ele aparecer com uma amante.
As vísceras de Daphne deram um nó ao perceber que até o
presente momento ela não tinha se dado conta deste detalhe. Seu
coração encolheu no peito de um jeito sufocante e totalmente novo,
provocando uma dor física inexplicável. Ela nunca tinha sentido
emoção parecida com isso antes, e isso clareou as ideias dela para
algo totalmente novo. Ela não podia suportar a idéia de outra
mulher com Alec e isso foi completamente aterrorizante. xxx — Eu
detesto aquela cadela! —Gritou Ashleigh irrompendo pela porta do
escritório sem pedir licença. Alec levantou a vista do livro que
estava encarando sem ler há mais de uma hora, e juntou as
sobrancelhas ao ouvir a irmã ostentar um linguajar tão gentil. — E é
por este motivo que eu não levo você para Londres. — Falou
jogando o livro de lado, grato por ter qualquer motivo que pudesse
distrair sua mente. — Não me culpe por ter maus modos, a culpa é
sua que nunca contratou uma preceptora para mim. — Disse a mais
nova andando de um lado para o outro do escritório. — A quem
está se referindo? — Ele perguntou alheio a irritação dela,
acendendo o terceiro charuto somente naquela manhã. — Acaso
existe outra cadela em Kinlochleven? Óbvio que estou falando de
Moira. — Disse e ele viu que ela estava realmente irritada pois não
se mantinha quieta. — Desde que Daphne foi embora ela não para
de tentar se aproximar de mim. A menção de tal nome fez o charuto
amargar na boca do duque. Ele colocou o negócio de lado, e achou
melhor se servir de uma dose de conhaque se o assunto a seguir
fosse ser sua esposa. — Eles estão nos sondando, já sabem que
lady Northwest não está aqui, o que fará Alec? Não posso me casar
com Vikram. — Ela disse sentando em uma poltrona e segurando a
cabeça com ambas as mãos. Alec andava se fazendo a mesma
pergunta há três semanas. O que ele iria fazer? Pela primera vez
em muito tempo não teve uma resposta na ponta da língua. Uma
coisa era certa. Jamais iria permitir que arrastassem Ashleigh até
um altar com aquele vara-pau sardento. — Daremos um jeito. — Foi
sua reposta direta e ela o olhou sem confiança. — O único jeito é
você ter um herdeiro, e aparentemente isso está tão próximo quanto
a ida do homem à lua. Alec cerrou os olhos para a irmã. Já não
bastava estar se sentindo tão frustrado. Na manhã que Daphne foi
embora, juntamente com o recado em que pedia para que seus
funcionários preparassem a casa para a chegada dela, mandou
também uma carta adjacente, cobrando um favor que um velho
amigo estava lhe devendo. Ele tinha instruções para segui-la de
perto por toda a maldita Londres, e assim que descobrisse algo de
importante deveria enviar imediatamente um bilhete para ele. Até o
presente momento, duas semanas depois ele não tinha recebido
resposta, e estava em agonia porque já não conseguia mais
esperar. — Desde quando você apoia meu casamento? — Se
existe alguém capaz de te aturar pela eternidade esse alguém deve
ser a Daphne. — Ashleigh respondeu se pondo de pé. Ele sorriu,
sabendo que a irmã tinha razão. Na manhã seguinte quando os dois
tomavam o café da manhã na paz da sala amarela, Moira entrou ali
usando roupas de montaria. A família da mãe dele morava em um
casarão na parte leste da propriedade, o que permitia livre acesso
ao castelo. A jovem tinha um sorriso gentil, e era muito bonita.
Tinha o tipo físico da mulher que Alec estava acostumado a gostar.
— Bom dia, meu lorde. — Ela disse fazendo uma reverência. —
Bom dia Moira, nos acompanha na refeição? — Ele perguntou
cortês, ignorando a cara de fúria que Ashleigh fez pra ele. — Ah, eu
adoraria se não for um incômodo. — Disse Moira, sorrindo para ele.
— Na verdade... — Ashleigh ia falar mas ele a interrompeu. — De
modo algum, sente-se. — A garota puxou uma cadeira ao lado dele
e sentou-se. Um criado logo tratou de servi-la. — Eu só vim para
perguntar se Ashleigh gostaria de cavalgar, é a primeira vez em
muito tempo que está fazendo um pouco de calor. — Talvez você
devesse mesmo ir Ashleigh, passa muito tempo sozinha neste
castelo. — Alec falou bebendo um gole do chá preto, a irmã deu um
olhar fulminante para ele. — Devia vir também milorde, imagino que
agora que sua esposa está em Londres, sobre muito tempo livre. —
Disse Moira com um olhar sugestivo, que pegou Alec desprevenido.
Há muito tempo ele não parava para conversar com Moira, cinco
meses depois da morte dos seus pais ele foi para Londres, na
época ela tinha em torno dos treze anos de idade, era uma menina.
E depois ele só voltava até ali uma vez por ano e só ficava o
suficiente para garantir que Ashleigh estava bem. Até este
momento, Alec não tinha se dado conta de que Moira era uma
mulher. Talvez Astrid tivesse razão, talvez Moira fosse uma esposa
melhor para ele. Eles teríam uma relação baseada no interesse,
como ele sempre desejou e isso ajudaria a acabar com a briga
entre as duas famílias. Moira seria obviamente uma esposa
obediente, jamais o responderia ou o rejeitaria, e o melhor de tudo,
seria simples, tudo com Moira seria simples. Ele até conseguia
imagina-los muitos anos no futuro. Dormiriam em quartos
separados, fariam refeições juntas, e ele procuraria ela
esporadicamente para o sexo quando tivesse vontade, eles
manteriam uma rotina agradável e saudável para os dois e de uma
maneira conformada seriam felizes. Mas no instante seguinte outra
ideia de um futuro invadiu a mente dele, ofuscando completamente
a anterior. Nesse futuro Alec corria pelos corredores do castelo
atrás de pequenas criaturinhas com cabelos cacheados, espessos e
loiros que davam gargalhadas por terem fugido do banho. Nesse
futuro os dias quase nunca seriam previsíveis, a noite ele teria
sempre uma nova fantasia para realizar e em todas as manhãs ele
acordaria sentindo cheiro de orvalho, rosas e primavera. Aquele
futuro era imensamente mais difícil, mas seu pai sempre dizia que
nada do que vem facil vale a pena. E era aquilo que ele queria. Ele
abriu a boca para responder Moira, mas foi atrapalhado pela
entrada do mordomo. Ele carregava uma bandeja com um punhado
de cartas e colocou na mesa ao lado do duque. Como fazia todos
dias, Alec vasculhou envelope por envelope, atrás daquele que
realmente e importava e festejou internamente quando encontrou o
selo negro com um corvo e o "H". Rompeu o lacre com um puxão e
tirou o papel preenchido até a metade, em letras repuxadas e na cor
preta. No meio da leitura, Alec não percebeu que estava
amassando o papel a ponto de quase rasga-lo. Furioso. Ele estava
furioso. Maldita fosse Daphne York! Levantou da cadeira
bruscamente, fazendo as moças olharem para ele assustadas. A
princípio ele estava sem reação, meio paralisado, mas no instante
depois deste ele já sabia o que fazer. Não ia esperar nem mais um
maldito minuto, não ia ficar ali enquanto sua esposa arrastava seu
nome na lama. — Arrume suas coisas Ashleigh, partiremos em uma
hora. — Ordeu dando as costas, tremendo com fúria latente,
andando a passos largos em direção ao seu quarto. — Espere, para
onde vamos? — Perguntou a menina. Tentando ignorar a pontada
sufocante em seu peito, o ciúme cego que o mastigava de dentro
para fora, ele gritou para a irmã: — Para Londres. Capitulo onze —
Eu realmente gostaria de não estar fazendo isso. — Thomas Stock
falou, olhando de um lado para o outro da rua vazia. — Ficar
reclamando não vai apressar muito as coisas. — Alec respondeu,
sem tirar os olhos da enorme porta de mogno. Esperando
pacientemente. Tinha chegado em Londres já era noite e só teve
tempo de acomodar Ashleigh em um hotel antes de ir até a casa de
Thomas para arrasta-lo e enfia-lo dentro dos seus assuntos. — Não
entendo porque me quer aqui, minha dívida já foi paga com você,
você me pediu para investiga-la e eu o fiz, e isso já me cobrou um
custo altíssimo, se minha esposa descobre que eu me afiliei a um
clube secreto de moças, ela vai me matar. — O conde disse aflito, e
Alec notou que essa era a verdadeira preocupação de Thomas.
Causar uma briga com Josephne. — Preciso de você e de sua
filiação no clube para entrar. — Thomas bufou e andou impaciente
de um lado para o outro da pequena sombra que os dois dividiam
atrás de uma árvore. — Não seria mais fácil confronta-la sobre
isso? — Sim, seria muito mais fácil. Mas Daphne não devia
satisfações para Alec, devia? — Silêncio, alguém está saindo. —
Alec sussurrou, e olhou para o relógio, que marcava pontualmente
vinte e três horas. Os dois homens recuaram ainda mais para as
sombras. A noite estava muito profunda, e a fachada da Northwest
House deixava muito a desejar no quesito iluminação. Ele primeiro
viu uma silhueta, estava coberta por camadas de vestido mas ele
não precisava de muito para saber que aquela era Daphne. Seu
tamanho minúsculo não deixava dúvidas. Ela desceu os degraus
que levavam ao chão e finalmente entrou na pouca luz que irradiava
de uma lamparina em um poste na rua. A respiração de Alec
tornou-se rápida e densa. Sim, aquela era Daphne. Mas não se
vestia como a Daphne. Devagar ele subiu os olhos por ela. O
vestido que usava era luxuoso e elegante mas definitivamente não
era modesto. Seus ombros estavam totalmente nus. O espartilho
vermelho aveludado tinha detalhes pretos nas barbatanas, nas
taças do sutiã e nas bordas. Era fechado na frente por um fio de
seda negra que estava traçado em um padrão ousado. Os seios
fartos estavam saltados para cima, como duas meia lua pálidas e
aconchegantes. O vestido caía em camadas de tafetá preta e
vermelha para baixo, com um laço de fita sedosa bem no fim da
coluna dela. Os braços finos estavam cobertos por luvas de cetim
negro que iam até os seus cotovelos. Em seu rosto, ela usava uma
máscara de veludo vermelho e dourado que de um jeito habilidoso
escondia metade do seu rosto pequeno, mas deixava seu queixo e
lábios tingidos de vermelho à mostra. Aquela definitivamente, não
era a Daphne. Ela olhou para os dois lados na rua e usou dois
dedos para levar a boca e assobiar. Pouco depois uma pequena
cabriole sendo puxada por um cavalo dobrou a rua, o condutor, um
homem vestido totalmente de negro parou o veículo no
acostamento e desceu para ajuda-la a subir. Por um momento,
antes de sumir dentro do veículo, Alec teve a impressão de que ela
olhou diretamente para ele. Mas devia ser somente coisa da sua
cabeça pois logo depois ela já estava dentro da carruagem. O
condutor voltou ao seu lugar e bateu as rédeas para tirá-los dali. Até
agora tudo tinha sido como Thomas disse que ela faria, e por mais
que já tivesse visto o suficiente para chegar a conclusão óbvia, ele
desejava ver mais. Pois ainda demorava a acreditar que Daphne
tinha realmente feito ele de imbecil. — Vamos, não quero correr o
risco de perde-la de vista. — Ele disse, saindo das sombras e
correndo para a esquina, onde seu próprio coche de aluguel
esperava por ele. Thomas murmurou uma reclamação mas foi atrás
do amigo mesmo assim. — Siga aquela carruagem de longe. — Ele
disse para o condutor, impaciente, e inquieto pelo medo de perder
Daphne de vista. O caminho até o centro de Londres não foi
demorado, naquele horário, onde os inocentes estavam seguros no
conforto de suas casas, não havia tráfego nenhum nas ruas a não
ser uma ou duas carruagens distintas. Antes aquele lugar
representava uma parte periférica de Londres, somente com o
crescimento do Rough Diamond, um clube infame de jogatina para
mulheres, a área passou a ser mais valorizada. Era um clube de
luxo, onde não se podia entrar qualquer um, somente membros de
maior poder da aristocracia e os que tinham condições de pagar um
custo por sua filiação com o clube. Seu crescimento e fama tinha
surgido de maneira repentina, e ninguém sabia quem eram os
donos. A carruagem de Daphne parou na frente do clube e Alec
bateu no teto do coche para que o condutor parasse em uma
distância segura. Ele viu quando um homem de estatura mediana
saiu de dentro do clube, trajando vestes igualmente negras e uma
máscara de cetim escuro, e abriu a porta da carruagem para ajuda-
la a descer. Ela sorriu para ele e aceitou a mão que ele ofereceu e
se aproximou mais dele para cochicar algo. Alec sentia seus
sapatos incendiando de vontade de correr até ali. Era óbvio que ela
tinha um amante. Foi estúpido por não pensar nisso antes. Ele não
fazia o tipo ciumento, há muito tempo tinha se desprendido de
emoções temperamentais, por perceber que nada de bom resultava
delas e poderia ter facilmente ignorado o fato de que ela tinha um
amante, se o sentimento de rejeição em seu peito não o estivesse
fazendo suas entranhas doerem de um jeito corrosivo. E o simples
pensamento de que era por ter um amante que ela queria voltar
para Londres com tanta urgência, o fazia tremer de um ciúme
doentio e uma fúria descontrolada. Ela tinha um amante. Óbvio que
ela tinha. Vinha com aquela conversa fiada de liberdade quando na
verdade pretendia encher a cabeça dele de chifres. Para o inferno
com isso, com ela e com esse mal nascido, se estava achando que
ele ia permitir que tivesse uma vida liberal em Londres enquanto
fica preso em um castelo cumprindo uma promessa ridícula de
fidelidade. Ela sumiu para dentro do clube. E ele saltou da
carruagem imediatamente para ir atrás dela. A entrada do clube era
coberta por uma longa cortina de seda escura, que garantia a
privacidade de quem chegava pela rua, e um segurança ficava na
entrada distribuindo máscaras para os desprevenidos. Alec e
Thomas pegaram uma e andaram para dentro. Alec sentiu como se
tivesse passado por um portal que o tinha levado para um mundo
paralelo. Ele passou a vista pelo lugar. O clube era todo projetado
para entreter o público feminino, desde a decoração luxuosa, em
acabamentos de renda e vermelho, até os sabores de bebidas,
mais suaves e adocicados. As mulheres andavam por ali
abertamente, usando vestidos de cortes e tecidos incomuns e
fumando charuto. Podia-se ver claramente que não eram
prostitutas, pois tinham a mesma leveza e elegância que exibiam
quando estavam em salões de bailes e em reuniões da aristocracia.
A grande maioria estavam em bandos, em mesas de apostas,
partidas de bilhar e nas roletas com copos de brandy nas mãos,
mas algumas estavam em companhia de homens. Alec sentiu
muitos olhares em cima dele a medida que ia entrando, se sentiu
exposto e agradeceu por ter escolhido usar calças aquela noite. As
mulheres ali usavam máscaras de diferentes tipos, mas muitas
usavam veludo vermelho e tinham os cabelos loiros recolhidos em
um coque, ele levaria uma eternidade até que encontrasse Daphne
de novo. Foi quando que ele sentiu. Por cima do cheiro de cigarro e
das essências femininas, ele sentiu a primavera. Fechou os olhos e
virou o rosto em uma direção e quando os abriu de novo, ela estava
lá. Andando em direção aos fundos onde tinha uma porta dupla. —
Voltarei em um segundo. — Ele disse para Thomas e atravessou o
espaço apressado. Passou pela porta devagar, não desejando
chamar atenção, e viu-se dentro de um corredor branco, que dava
acesso a outros corredores, ele a viu bem a tempo de a barra
vermelho do vestido dela dobrar à direita em outro corredor,
novamente ele foi atrás, o mais silencioso que podia. O corredor
dava para uma escada, que levava ao segundo andar, onde tinha
diversas portas brancas. Ele sabia exatamente para que serviam
aqueles quartos e sentiu seus punhos se fecharem e resistiu a
vontade de sair socando todas elas ao imaginar Daphne usando um
daqueles quartos com alguém. Mas não, curiosamente ela
continuava andando mais para dentro do clube, até chegar a um
corredor de acesso restrito, a testa de Alec vincou, ele estava cada
vez mais curioso. Ficou escondido atrás da parede enquanto ela
abria a porta com uma chave que tirou de dentro do decote e sumiu
atrás da porta. Alec andou até lá, primeiro colocou o ouvido na
madeira na tentativa de ouvir algo, como não ouviu nada, ele
simplesmente girou a maçaneta e escancarou a porta, dando de
frente para um escritório vazio. Ele deu três passos para dentro e
passou a vista por ali, estava se perguntando onde Daphne tinha se
enfiado quando algo gelado e pontudo encontrou sua nuca, não foi
preciso ser um gênio para saber que era uma arma. — Sem
movimentos bruscos ou eu atiro. — Sua esposa ameaçou, e mesmo
com muita raiva ele sentiu vontade de sorrir. Pequena raposa, o
traiu para uma armadilha e o pegou em sua própria caçada. ∞∞∞
Daphne estava descendo os degraus da Northwest House quando
os pêlos de sua nuca arrepiaram-se, avisando para ela que alguém
a observava. Ela não podia vê-lo, mas podia sentir seu olhar
pesado em cima dela. Seus instintos ativaram-se imediatamente.
Sentiu medo primeiramente. Estava sozinha e se não fosse rápido o
bastante para pegar a arma que trazia na liga de sua meia, estaria
perdida. Ela estava andando com a arma ali desde alguns dias
atrás, quando notou estar sendo seguida pela primeira vez. Pensou
no que iria fazer. Se corresse de volta para casa, teria o risco de ser
apanhada antes mesmo que abrisse a porta, e se o seu perseguidor
soubesse que ela já tinha dado conta de sua presença, ela poderia
nunca saber quem era. Ela desatou um plano em sua cabeça e
resolveu agir normalmente para saber até onde aquela pessoa iria,
e o que ela queria. Antes de subir no veículo olhou para a escuridão
apenas para confirmar qualquer dúvida. Estava acostumada com
aquele tipo de perseguição, com o crescimento do clube ela tinha
ganhado rivais. Rivais esses que dariam qualquer quantia para
aquele que descobrisse a cabeça por trás de todo o sucesso
repentino de um clube para mulheres. Ela ocasionalmente era
seguida por jornalistas, sempre dava um jeito de enfiar-se na
multidão de mulheres e sempre conseguia despista-los, mas
daquela vez ela sentia em seus ossos que aquele não era um
jornalista. Quando chegou no clube, agradeceu por Brooke estar ali
e disfarçadamente inclinou-se para ele para dizer que estavam
sendo observados. O chefe de segurança logo a levou para dentro
e ajudou a começar o andamento para o seu plano. Seu
perseguidor mascarado mordeu a isca com afinco e agora ela o
tinha na mira de sua arma. — Me diga o que quer e por quê está
me seguindo. — Ela disse para o homem que estava com as mãos
para cima. Ele era alto, tinha cabelos castanhos e pernas longas e
torneadas. — Não reajo muito bem a pressão, meu doce. — Ela
ouviu a voz austera e o apelido enjoativo e por um momento pensou
que sua mente estava lhe pregando peças. Não poderia ser ele,
aquele homem na sua frente usava calças. – Vire-se. — Ela disse
se afastando um passo para trás. Devagar o homem fez o que ela
pediu. Ele usava uma máscara de visitante, veludo negro, o queixo
quadrado estava teso e os olhos dourados, furiosos. — Alec? Ela
estava atônita. — Não esperava por mim? — Ele perguntou, sem
humor. O espanto de Daphne era tanto que a arma deslizou de sua
mão e caiu no chão com um baque sólido. Brooke irrompeu pela
porta bruscamente acompanhado de mais dois seguranças. O chefe
de segurança olhou para Alec, que olhava para ele como se fosse
um inseto indesejado em seu jantar. — Brooke, está tudo bem,
deixe que eu cuido disso. — Ela disse, abaixando-se para pegar a
arma do chão. Brooke trocou o olhar entre ela e Northwest. — Tem
certeza milady? Estará segura? — Daphne teve certeza que ouviu
um rosnado escapar do peito de Northwest. Soube que estaria tudo,
menos segura. — Sim. — Olhou para o segurança. — Houve
apenas um mal entendido. Brooke não muito à vontade com a
ordem dela, olhou entre os dois uma última vez antes de sair
fechando a porta atrás de si. Então ela olhou para o escocês parado
no meio da sala. Ele ficava ainda mais alto usando aquela calça, e
seu corpo musculoso parecia maior. Os nervos de Daphne gritavam
pelas memórias, desejando senti-lo de novo. Ardentemente. Mas
antes ela tinha questões, porque ele estava seguindo-a? — Há
quanto tempo está em Londres? — Perguntou, tentando
desmanchar aquela barreira ostensiva entre eles. Ele ignorou a
pergunta dela. — Você devia se preocupar mais com sua imagem
milady, não é mais uma mulher solteira, agora é uma duquesa.
Minha duquesa. E eu não aceito ser conhecido como um chifrudo.
— Olhava intensamente para ela, seus olhos a despindo de dentro
para fora, a deixando pouco à vontade. Ela o olhou muito ofendida.
Então era por isso que ele a estava seguindo? Tudo era uma
questão de honra dele, afinal? — Não se preocupe, não estou
sujando sua reputação, eu tenho uma máscara. – Ela disse
apontando para o próprio rosto, ele soltou um riso petulante. —
Uma máscara? Você tem uma máscara? Isso não te protege de
nada, assim que pus os olhos em você eu te reconheci. Vestida
desse jeito, como uma...uma... — Ele desceu os olhos pelo corpo
dela várias vezes com um desprezo que Daphne nunca tinha visto
ali antes. — Como uma mulher livre? Porque é isso que eu sou. —
Ela rosnou de volta. — Lembra-se por acaso? Cada um deveria
seguir o seu rumo. O que você veio fazer em Londres? — Sua
liberdade deixa de ter validação quando suas ações prejudicam o
meu nome. — Ele a ignorou novamente. — O que você faria se
começasse a sair por aí o boato de que eu andei me divertindo em
bordéis? Daphne sentiu suas orelhas pegarem fogo. Esse
pensamento fazia a garganta dela fechar e seu peito arder até
deixa-la sufocada. Aquilo era tão absurdo, desde que tinha
percebido que sentia ciúmes de Northwest, não parou nunca mais.
Era simplesmente mais forte do que ela. Uma raiva descontrolada
circulava por seu sangue como veneno em suas veias. Mesmo
sabendo que ela não tinha direito nenhum de sentir nada do tipo. —
O que eu teria haver com isso? Não somos marido e mulher, o
desfecho de um casamento de conveniência é esse,
eventualmente, as duas partes vão pular a cerca. Ela observou com
assombro enquanto o rosto dele se tornava vermelho vivo e ele
crescia em fúria. — Só sob o meu cadáver. — Ele falou e no
instante seguinte estava em cima dela, a agarrando pelo braço e a
puxando para a saída. — Solte-me, seu escocês burro e teimoso!
— Daphne gritou firmando os pés no chão e puxando o braço do
aperto, fazendo com que ele apenas aproximasse ainda mais
corpos dos dois. Alec olhou para ela, e naquele momento de fúria
ele esteve mais parecido com um anjo maligno do que nunca. Sua
boca fina formando um traço rude, seu maxilar quadrado e saliente
retesado, com o amarelo de seus olhos flamejando como as brasas
de uma fogueira e aquela máscara que o deixava imensamente
atraente. A esquentando por dentro. — Deixe de tanta imaturidade
Daphne, você é minha esposa e vai começar a agir como tal. —
Disse e sua voz trovejou ao redor dela, a fazendo estremecer. —
Não me chame de esposa, não sou sua esposa! — Gritou tão
enfurecida quanto ele. Muito insensatamente ela acertou um tapa
em seu peito firme, e ele a olhou desafiado, soltando um rosnado
baixo de aviso, para ela não era o suficiente, ela queria vê-lo
explodir, acertou outro, desta vez mais forte e ele grunhiu chegando
ao limite de sua paciência e a empurrando de encontro a mesa para
cobri-la com o volume do seu corpo. Ele pairou sobre ela como uma
nuvem de calor, e com um único movimento brusco ergueu a perna
direita dela prendendo-a na altura de seu quadril. Sua mão puxou
um punhado de tecido do vestido para cima, revelando a perna
branca e lisa coberta pela meia translúcida, ainda olhando
fixamente nos olhos dela, Alec levou os dedos até a liga da meia e
puxou a elástico para cima, soltando-o e fazendo com que batesse
na pele dela com força, causando uma ardência na pele macia.
Daphne sentia seu coração traidor chamando furiosamente por ele,
mas seu cérebro a fazia permanecer parada. Ele prosseguiu
subindo a mão pela parte interna da coxa dela, traçando circulos
pela pele, cada vez mais próximo do destino final, ela ainda usava
sua calcinha, mas mesmo assim, ele foi diretamente no lugar que
pulsava descontroladamente de antecipação, e a ponta do seu dedo
pressionou o botão de carne inchado. Daphne mordeu o lábio
inferior e desejou que seu cérebro fosse forte o suficiente para
ajuda-la a fazer alguma coisa, até pensou em se mover, mas o
único que conseguiu fazer foi se segurar nos braços dele. Tão forte
e masculino. Ela olhou para cima, desejando que ele a beijasse
novamente, mas ele não o fez, permaneceu a olhando de maneira
fria. — O que você faz nesse lugar? — Ele perguntou, sua voz saiu
baixa e ardilosa. E ele aumentou a pressão dos dedos, fazendo um
movimento circular. A mente inebriada de Daphne a fez ver por um
momento o absurdo daquela situação. Ela estava sentada de
pernas abertas na mesa de um clube de jogatina, sendo acariciada
de um jeito muito, muito, depravado pelo marido, bem em cima das
cabeças de dezenas de pessoas. — Me responde. — Ele ordenou,
afastando os dedos do ponto de prazer dela e apertando o pequeno
sexo com brutalidade, a fazendo escorrer de uma tensão deliciosa.
Daphne queria responder, sim, faria qualquer para ele não se
afastar dela nunca mais, mas não podia. Não por enquanto. Alec
ainda não era confiável, não para ela. — Eu não posso. — Falou
com a respiração entrecortada e ele parou imediatamente. Se
empertigou. Tirando sua mão dela. A deixando carente e molhada.
— Maldita seja Daphne, Maldita seja. — Ele disse raivoso, se
afastando dela.— Vamos embora, agora. Ela odiou o comando,
desejou replicar, mas compreendeu que ele estava irritado. Em seu
lugar também estaria. Mas Alec não era um santo, também
escondia segredos, e se ela não era confiável o suficiente para ser
sua confidente. Ele também não seria confiável para mais nada.
∞∞∞ Em uma situação normal, Alec teria feito pouco caso das suas
emoções, teria dito uma piada infame, e teria rido, provocando-a.
Como sempre fazia quando Daphne declarava seu ódio público
para com ele, mas naquele momento ele não se sentiu tão forte
para aquilo. Não conseguiu camuflar suas emoções e pela primeira
vez em dez anos não queria. Uma parte dele acendeu de felicidade
ao vê-la depois de tantos dias longe, ele teria a puxado para um
beijo se não estivesse tão possesso de raiva consigo mesmo por
perceber que era um tolo por estar feliz em vê-la mesmo sabendo
que ela estava ali possivelmente com seu amante. Anos de esforço
por permanecer intacto a sentimentos inúteis, para no fim de tudo
estar perseguindo uma mulher que preferia outro em seu lugar. E
ele desejou machuca-la, e ao mesmo tempo desejou se inundar
dentro dela. Certo que não era culpa dela que ele se sentisse tão
traído, Alec realmente acreditou pelo pouco tempo que eles
estiveram na Escócia, que ele e Daphne poderiam ser mais. Há
muitos anos atrás ele desejou uma família, chegou muito perto de
ter uma, mas ganhou uma bela rasteira da vida. E agora, aos trinta
e três anos, mesmo tentando se convencer do contrário, ele ainda
desejava uma família. Ficou feliz por seus amigos, quando os
assistiu um a um se casando com mulheres que os amavam e
criando suas próprias famílias, mas não era um sentimento muito
feliz o de inveja. Ele desejava isso, e desejava tanto que não
poderia mais esperar. Ele tinha um casamento, complicado, mas
tinha, talvez Daphne nunca chegasse a ama-lo um dia, mas eles
poderiam se dar bem. Ela era engraçada, e bonita, e ele tinha a
certeza de que nunca se sentiria entediado com ela. Deus era
testemunha de que ele tentou evitar aquilo. Mas já que estava feito,
iria aproveitar a situação a sua maneira, e maldita fosse ela se
achava que ele iria desistir tão fácil por uma ameaça de um clube.
Alec estava muito dividido com relação a tudo. Todas setas
indicavam que ela tinha um amante, mas quando ele a tocou, ela se
entregou tão facilmente para ele. Alec sabia ler uma mulher como
ninguém e era óbvio o quanto Daphne estava carente por ele, se
ela tivesse mesmo um homem ele não estava fazendo seu trabalho
direito. Mas um amante seria uma resolução simples demais, e Alec
sentia que algo de maior acontecia ali, e ele ia descobrir, pela boca
dela, ou não. Depois de ir buscar Ashleigh no hotel onde ele tinha
deixado-a e de se despedir de Thomas, ele regressou para casa
com todos os seus planos muito bem articulados. Ele sabia que
provavelmente Daphne iria odia-lo, mas bom, segundo ela, ela já
odeia. Um pouco mais de ódio iria ajudar a apimentar a relação. Ele
entrou no aposento ducal que já estava preparado para ele, e abriu
a porta de ligação sem se importar em bater. Daphne estava de pé
perto do espelho, usava uma camisola de algodão longa, dessa vez
não era mais aquela mortalha horrorosa, agora era seda e cambraia
e estava com os cabelos soltos caindo pelas suas costas. Alec se
sentiu um pouco abalado, aquela era uma visão que jamais esperou
ver. Os olhos azuis acinzentados dela o olharam com rancor. —
Temos que conversar. — Ele disse, indo tranquilamente até a cama
e se sentando na beirada do colchão alto. — Você se recusa a me
contar o que vai fazer naquele clube... Ela o interrompeu. — Pare
de agir como se não tivesse seus segredos. — Acusou, apontando
uma escova de cabelo na direção dele. Alec se colocou em alerta,
não sabia mais o que esperar da sua pequena Afrodite, mas sabia
que devia estar cauteloso, ele tinha estado na mira de uma arma
mais cedo naquela noite. — Todos temos segredos, uns apenas
escondem melhor do que outros. — Ele disse com um sorriso de
lado, e ela bufou. — Não pode me exigir nada. — Disse cruzando
os braços frente aos seios. — Na verdade eu acabei de descobrir
que posso sim. — Alec falou com um sorriso cínico, que sabia que a
deixaria raivosa. — Exercendo meu direito de marido, estou
definitivamente proibindo você de pôr os pés no Rough Diamond.
Ela o olhou bem pasma. — Você não pode fazer isso. — disse,
aturdida. — Eu posso e estou fazendo. — Disse Alec, observando
como aquele quarto estava cheio de coisas dela. — Se continuar
indo para aquele clube será descoberta e não posso arriscar que
afunde a todos nós. — Nunca me descobriram em quatro anos,
porque fariam agora? — Ela explodiu, sem perceber que tinha
soltado uma preciosidade. Então ela já frequentava o clube há
quatro anos? Isso era curioso, porque pelos rumores que
circulavam por aí, o clube só ganhou notoriedade há cerca de dois
anos. — Isso foi porque não procuraram da maneira certa. Você
saiu pela porta da frente da minha casa, não acha que qualquer um
que veja isso não chegará a conclusão óbvia? — Não suspeitarão
de nada, pois não será a primeira mulher vestida indiscretamente
saindo da sua casa altas horas da noite. — Ela disparou e ele
adorou o tom ciumento. — Mas agora não posso mais me dar ao
luxo, meu coração. — Alec andou para mais próximo dela. —
Trouxe Ashleigh comigo, ela já está na idade de debutar e
sinceramente adiei isso por tempo demais. Qualquer atitude
indecorosa de nossa parte poderia arruinar a reputação dela. Ele
ficou parado enquanto observava a cabeça dela matutando. Alec
quase podia ouvir as engrenagens funcionado. Se Daphne se
importasse um pouco com a cunhada faria aquilo por ela e ele sabia
disso e não se sentia nenhum pouco arrependido por usar a irmã
em seus propósitos, estava apenas unindo o útil ao agradável. — E
como pretende debuta-la tão em cima da hora? — Ela indagou. —
Você fará isso. — Ele disse, e Daphne arregalou os olhos. — Eu?
— Sim, e também daremos um baile. — Ele respondeu, como se
tudo fosse tão simples. — Um baile? — Ela estava um pouco
perplexa. — Sim, um baile. — Ele tocou no queixo dela, para fechar
a boca que estava aberta de susto. — E será o maior dessa
temporada, porque será quando faremos nossa primeira aparição
como um casal, lorde e lady de Northwest. Soa muito gostoso, não
acha? Daphne piscou várias vezes, e quando se recuperou de sua
pequena síncope começou a ficar com as orelhas em fogo puro. —
Mas isso não está certo, fizemos um acordo, isso é o oposto do que
me prometeu. — Falou e ele deu um passo para trás ao ver a aura
mortífera emanando dela. — E talvez este seja o problema meu
doce, teve liberdade demais para uma mulher, se seu pai não
conseguiu lhe por freios, eu conseguirei. — Ele respondeu,
andando em direção ao seu quarto ao ter a certeza que Daphne
cometeria um mariticídio. — Isso é jogo sujo! — Ela arremessou a
escova na direção dele, e Alec teve tempo apenas de correr e
fechar a porta. A madeira recebeu a pancada. — É a única maneira
que sei jogar! — Gritou do outro lado com um sorriso satisfeito.
Capitulo doze Daphne colocou de lado o jornal que lia e bebeu um
gole do seu chá. Alec tinha sido visto saindo com uma mascarada
misteriosa do clube na noite passada e aquilo poderia ser um
problema. Havia um motivo para ela nunca ter revelado sua
identidade no clube, a única razão para todas aquelas mulheres
frequentarem o Rough Diamond era por acharem que a dona era
apenas uma burguesa qualquer, se as pessoas soubessem que ela,
Daphne York, era a portadora de todos os seus segredos mais
secretos, parariam de frequentar o clube imediatamente. Aquilo
seria a ruína dela. E seria muito fácil agora que era casada com
Northwest associaren o nome dela ao dele. Isso poderia acabar
gerando o maior escândalo de toda a cristandade. Ela olhou para a
jovem de cabelos castanhos ao seu lado na mesa. Não entendia
onde Alec estava com a cabeça quando decidiu debutar Ashleigh
bem no meio da temporada social. A garota precisaria de meses de
antecedência para ser treinada, do contrário apenas seria o motivo
de risadas e piadas insolentes nos salões de baile. Daphne mesmo
não poderia ajudar a cunhada em nada, os conhecimentos dela
sobre etiqueta eram equivalentes a nada. Foi a pior aluna de
Sophie, e não sabe sequer montar em um sela de amazona. Tudo o
que entende sobre regras, era como quebra-las. Porém, ela era
uma mulher, e tinha o entendimento básico da moda para saber o
que precisava ser mudado com urgência. Como o seu corte de
cabelo, que era muito liso e muito reto e suas vestimentas rústicas
demais para uma dama, e sua postura envergada. O resto ela
poderia pedir a ajuda de suas irmãs e Sophie. — O que acha de
conhecer um pouco de Londres hoje? — Perguntou amistosa e
Ashleigh a olhou cheia de excitação. — Seria ótimo, sempre quis
conhecer a famosa Catedral de St. George, foi onde mamãe e papai
se conheceram. — Daphne se surpreendeu, era a primera vez que
ouvia falar nos pais de seu marido como um casal. Foi inevitável
não se sentir curiosa. — Eles estavam em alguma cerimônia de
casamento? — Perguntou, a menina deu um breve sorriso. — Não,
mamãe era freira e estava em uma visita na igreja, papai estava
prometido em casamento ao uma jovem, mas segundo eles foi
amor a primeira vista. — O queixo de Daphne foi ao chão. Uma
freira? Santo Deus, não era atoa que o marido fosse tão tentador,
era fruto de um pecado. — Como eles se chamavam? — Perguntou
e a menina suspirou pesadamente, acompanhado de um olhar
triste. — Atena e John. — Disse fitando o líquido em sua xícara.
Naquele momento, naquele leve toque de saudade na sua voz,
Daphne soube que Atena e John Lancaster foram excelentes pais.
Desejou saber mais, desejou descobrir sobre a infância de Alec, e
como era sua relação com seu pai, saber mais profundamente
sobre as causas que fizeram John Lancaster a obrigar o seu filho a
se casar, saber o que os levou a morte, mas era demais e ela não
queria estragar aquela manhã com tristezas. — Depois que
passarmos pela St. George, iremos até o ateliê do modista Gianny,
precisamos providenciar vestidos novos para você. — Falou e a
cunhada fez uma careta engraçada. — Roupas de baile, de
montaria, camisolas, vestido de debute, roupas do dia-a-dia e tudo
a que uma debutante tem direito. — Vamos empobrecer meu irmão.
— Daphne abriu um sorriso maligno. Ele bem que merecia por tê-la
proibido de ir ao Rough Diamond. Como se fosse invocado, o
homem apareceu na porta dando o ar da sua graça, tinha os
cabelos molhados caidos para trás, usava novamente seu kilt
costumeiro, com um colete de camurça na cor negra por cima de
uma camisa branca enfiada para dentro do kilt. — Bom dia. —
Disse com um sorriso sedutor, indo até a mesa, Daphne não olhou
em sua direção, ainda estava irritada demais sobre ontem. Tommy,
que estava dormindo aos pés dela levantou imediatamente ao ouvir
a voz do duque. O porco correu saltitante até Alec e enroscou-se na
perna dela. — Vejo que pelo menos alguém está feliz em me ver. —
Ele disse abaixando-se para acariciar o porco. — Olá, presunto. O
porquinho roncou em resposta e Daphne o olhou de olhos cerrados
"pequeno traidor." Levantou da mesa. — Se já tiver acabado,
poderemos ir. — Falou para Ashleigh. — Para onde vão? — Alec
inquiriu, esquecendo-se do porco para olhar pata ela. — Daphne vai
me levar para comprar vestidos. — Ashleigh respondeu e ele
assentiu uma vez. Aliviado. Elas pegaram os guarda-sóis e foram
para a porta com Alec as acompanhando, muito próximo de
Daphne, pois ela podia sentir o calor de seu corpo irradiar por toda
a pele das suas costas. Antes de entrar na carruagem ele a segurou
pelo braço. — Lembre-se de minha ordem, doce esposa, se me
desobedecer, eu ficarei sabendo e não serei benevolente no meu
castigo. — Ele murmurou no ouvido dela, fazendo os pêlos de sua
nuca arrepiarem, sua mão bateu levemente no traseiro dela. — Ei!
— Exclamou ultrajada, e ele piscou um olho com um de seus
sorrisos cínicos. — Apenas para não se esquecer de mim. — Disse
em tom coquete, dando permissão para o cocheiro ir, antes que ela
tivesse tempo de responder sua petulância. ∞∞∞ Alec ficou parado
na calçada observando a carruagem se afastar e virou-se para
voltar para casa quando uma voz o interceptou. — Tenho a
impressão de que tem alguém tentando se esquivar da gente. —
Ele amaldiçoou as sete gerações do rei ao ouvir a voz irritante de
Christopher bem atrás dele. Bebeu o último gole do seu copo de
paciência e se virou para encarar os três idiotas que olhavam para
ele com sorrisos irritantes nas caras. — Não é sua esposa? Ela que
tem essa mania de fugir de você. — Replicou com uma sobrancelha
arqueada e Christopher cerrou a mandíbula. Ele sempre teve uma
facilidade muito grande de irritar seus amigos, no inicio, usava o
sarcasmo como uma maneira de camuflar sua própria vergonha,
mas com os anos, passou a ser parte da sua identidade, bastava
tocar no ponto fraco de cada um, e o de Christopher era sua
esposa, Sophie. — Não venha de rodeios, fizemos uma aposta, e
você perdeu, agora nos deve cento e cinqüenta libras. — Disse
Sebastian, e os outros dois assentiram. Na verdade Alec estava se
preparando para esse momento há muitos dias, em sua cabeça ele
já tinha revivido-o várias e várias vezes e estava além de satisfeito
por ter chegado. Abriu um sorriso maligno, que fez a excitação se
esvair dos olhos deles. Virou-se e andou em direção a casa. —
Muito bem, se vamos falar de dívidas, vocês também estão me
devendo. — Os lordes de um por um se entreolharam e seguiram o
escocês. — Não estamos lhe devendo nada. — Disse Thomas,
receoso. — Estamos? Quando já estava dentro da casa, Alec se
virou novamente para eles e balançou-se sobre os pés de
excitação. — Se não fosse por mim, nenhum de vocês teriam feito
às pazes com suas esposas. — Os três homens ficaram olhando
para ele como três idiotas. Christopher abriu a boca em uma risada.
— Você está delirando, deve ser os efeitos de estar casado com
Daphne York. — Disse e Alec percebeu que aquele momento não
seria nada como havia idealizado, não, seria muito melhor. —
Deixem-me recapitular. — Falou adquirindo um tom triunfal. — Se
não fosse por mim, cortejando Sophie, você não teria explodido de
ciúmes, e consequentemente, não teria agido imediatamente para
reconquistar sua esposa. Christopher piscou duas vezes,
atordoado. Possivelmente recordando do fatídico dia. — E você
Sebastian, se eu não tivesse insistido em colocar juízo na sua
cabeça naquela noite de baralho na casa de Thomas, você não
teria voltado para o castelo Cartland, onde sua esposa estava
abandonada por você. — O marquês abriu a boca para refuta-lo e
logo a fechou, ao ver que ele tinha razão. — E quanto a mim? Em
que me ajudou a recuperar Josephne? — Indagou Thomas. —
Simples, se eu não tivesse te chamado para cavalgar no Hyde Park
comigo, você nunca teria encontrado seu filho, portanto, não teria
reencontrado Josephne. Ela teria feito seu trabalho para Legrand e
teria voltado para Paris. — Respondeu e os três ficaram mudos.
Enquanto eles o olhavam embasbacados, Alec acendeu um charuto
calmamente, e sentou-se em uma poltrona na sala de visitas,
cruzou as pernas, respirou fundo, apreciando daquele sabor doce.
— Eu teria ido atrás dela. — Disse Thomas, firme e Alec não
duvidou disso nem por um momento. — Mas nunca saberemos
como teria sido não é? Então, creio eu, que isso nos deixa quites.
— Falou depois de soltar uma grande quantidade de fumaça no ar.
— Você é um desgraçado. — Disse Christopher se servindo de uma
dose de uísque. — Eu sei. — Respondeu ele, muito orgulhoso. —
Você pode até estar um pouco certo nesse quesito, mas sabe que
nós tínhamos razão. — Disse Sebastian. — Sobre o que? — Alec
questionou com o charuto entre os dentes. — Sobre estar
apaixonado por nossa cunhada. — Foi Thomas quem respondeu.
— Nós acertamos e você sabe disso. Sim, no fundo Alec sabia, mas
nada iria estragar o prazer daquele momento. — O único que me
deixa feliz é saber que ela não vai facilitar nenhum pouco para
você. — Disse Christopher, Alec ergueu as sobrancelhas de modo
desafiador. — Como pode ter tanta certeza disso? — Por que ela é
igual a você. — Foi sua resposta sutil e Alec anuiu, sabendo que ele
tinha razão. — E não vamos esquecer que ela sempre abominou
você. — Disse Thomas. — A diferença meus queridos amigos, é
que não sou como vocês, sei como conquistar uma mulher, e não é
pondo ela para fora de casa, ou armando uma armadilha para leva-
la ao altar, ou engravidando-a e se casando com outra. — Todos
eles o fulminaram com os olhos. — Pelo que vejo mudou de ideia
sobre não gostar dela fisicamente. — Disse Sebastian, e Alec ficou
em silêncio. Não iria falar das qualidades físicas de sua esposa.
Mas a verdade era que desde que viu o corpo cheio de curvas nu e
molhado na primeira noite dos dois em Stirling, todas as outras
mulheres foram arrastadas para uma masmorra nos confins da
mente dele e tudo o que pensava era Daphne. Ela era sua meta.
Fogosa, respondia ao toque dele de uma maneira desesperada, e
ele não via a hora de leva-la para a cama. Mas Daphne era tão
autossuficiente, nada conseguia intímida-la, e Alec sentia uma
necessidade pavorosa de fazer parte dela de alguma maneira. De
estar dentro dela da maneira mais crua. Mas não faria isso, não
enquanto os sentimentos dela ainda fossem tão frios. — Acaso ela
sabe sobre Bridget? — Perguntou Christopher e rapidamente o
prazer que Alec sentia, se foi. Não, ela não sabia sobre Bridget, e
ele esperava que continuasse assim. Não suportaria, não suportaria
que Daphne o olhasse com olhos de pena. Os mesmo olhos que o
acompanharam durante anos. Preferia receber o ódio descarado de
sua esposa, do que aquilo. — Isso não será necessário. — Ele
disse, e viu que não somente o duque, como o conde e o marquês
também discordavam dele. Mas sabiam que Alec não gostava
daquele assunto, então ficaram em silêncio. Um barulhento e
tangível silêncio. ∞∞∞ — Isso me doe os dentes. — Disse Ashleigh
ao colocar uma quantidade grande de sorvete na boca. Daphne riu
da cunhada inexperiente tentando engolir a sobremesa gelada. —
Deve comer em pequenas quantidades, assim. — Tirou um pouco
com a colher do seu próprio sorvete de sabor de limão e levou à
boca. O azedo e o doce festejaram em sua língua. Elas tinham ido
até a St.George para colocar um donativo na caixinha que ia para a
caridade e no caminho para o ateliê tinham parado em uma
sorveteria. Ashleigh estava resplandecente com tudo, era a primeira
vez que via algo além de Kinlochleven e Daphne estava feliz por
proporcionar aquilo para a cunhada. Ashleigh ficou nitidamente
desconfortável quando chegaram ao ateliê para tirar as medidas de
roupas. A menina ficava quase sempre muito próxima dela, e não
tinha aquela excitação de uma garota de dezessete anos ao
comprar roupas novas. Daphne por exemplo, adorava vestidos e se
pudesse teria um para cada dia, e era absurdo que Ashleigh não se
sentisse assim. Era estranho vê-la tão intimidada, observando um
grupo de meninas ali próximo. Daphne logo entendeu que a
cunhada provavelmente nunca tinha convivido com muitas ladys
antes dela, ou pelo menos tido uma amiga com que fazer aquelas
coisas. — Então...— falou para puxar um assunto. —O que você
entende sobre etiqueta? Ela deu de ombros, um gesto que Daphne
adorava muito mais sabia que deveria ser cortado. — O mesmo que
você aparentemente. — Respondeu passando as mãos por um
punhado de seda verde perolada. A cor combinava com a pele dela.
— Bom, seu pai e seu irmão são duques, eles certamente devem
ter contratado uma preceptora para você quando mais jovem. —
Quando meus pais morreram eu tinha apenas doze anos, e Alec
não estava muito preparado para se tornar pai. — Disse
despreocupada. — Sem falar que nunca me interessei, sempre
achei que essas regras só eram úteis a quem vive para o intuito de
conseguir um marido. Daphne sorriu orgulhosa, aquela era
exatamente a maneira como ela pensava cinco anos atrás. — O
que você gostava de fazer em Stirling? — Perguntou e um brilho
surgiu no rosto da menina. — Bom, quando Alec ainda morava lá,
costumávamos caçar, lutar de espadas, praticar o arco e flecha. —
Enumerou excitada. — pescavamos no lago, e sempre
apostavamos corrida. Ele sempre me deixava ganhar. — Pois veja,
praticar a etiqueta é semelhante a fazer todas essas atividades. —
Daphne disse e ela ergueu as sobracelhas interessada. — É? —
Daphne assentiu. — Sim, dançar uma valsa por exemplo, exige a
mesma maestria que uma luta de espadas. — Posso atravessar a
meu oponente no meio? — Ashleigh perguntou e Daphne riu. —
Não, mas se for do tipo irritante, pode lhe dar uns pisões no pé, já
fiz isso várias vezes. — Confessou com uma mão na boca e
Ashleigh abriu uma risada gostosa de ouvir. Algumas mulheres que
estavam ali deram olhares discriminadores para elas. — Mesmo
assim não sei se me sairia bem, não sou tão delicada quanto elas.
— Disse apontando para o grupo de moças, que olhavam para elas
de soslaio. — Me tome como exemplo, sou a maior cometedora de
gafes em bailes e mesmo assim, estou casada com um duque. —
Disse e Ashleigh olhou para ela de um jeito diferente. — Gosta de
você, sabe não é? — Um vinco se formou entre as sobrancelhas de
Daphne. — Meu irmão, gosta de você. Daphne tentou não
transparecer que seu coração batia ensandecido no peito, tinha
medo de piscar e deixar escapar algo pelo qual iria se arrepender,
então ficou imóvel como uma estátua. — Mamãe ficaria feliz em ver
que ele escolheu bem a mulher que leva o anel dela. — O impacto
daquilo atingiu Daphne em cheio e a fez ficar momentaneamente
sem ar. Seus olhos foram para o anel. — O que disse? —
Perguntou com a voz fraca. — Você não sabia? — Ashleigh sorriu
de lado. — Foi o anel que meu pai deu a ela no dia do noivado dos
dois, ele disse que era para ela se recordar dos olhos dele sempre
que o visse. — Suspirou dando uma pausa. — É um diamante
amarelo, eles são muito raros, e na nossa crença significam o amor
puro e a lealdade. Santo Deus! Aquilo era de valor inestimável, não
somente monetário, mas sentimental. Muito mais sentimental.
Droga Alec! Rapidamente um sentimento novo se apossou do
coração de Daphne, algo parecido com saudade, e carinho e ela se
sentiu privilegiada. Agora, sempre que olhasse para aquele anel,
recordaria de olhos cor de âmbar, enevoados de paixão. Depois de
saírem do ateliê, ela decidiu levar Ashleigh até a casa dos seus
pais. Sua mãe sempre tinha cortado o seu cabelo e o de suas irmãs
quando eram mais jovens, e o de Ashleigh gritava por socorro nas
pontas ressecadas. Ela entrou na casa quentinha e o cheiro de
biscoitos polvilhados chegou até ela. Elas andaram pela sala vazia
e atravessaram o longo corredor que levava até o terreno dos
fundos. Uma criança passou correndo por Daphne, e ela logo
reconheceu os cabelos dourados de Liliana. A menina adentrou a
casa rindo e logo depois Reymond surgiu, indo atrás dela. — Oi tia
Daph. — Disse o rapazinho sem parar de correr atrás da prima.
Rindo, Daphne saiu pela porta e viu toda a família reunida ali.
Josephne pintava um ramo de flores que crescia na sebe, Seraphne
lia um livro deitada sobre a grama, e seu pai jogava críquete com
sua mãe. — Então estão se divertindo sem mim. — Falou em tom
acusador, se abaixando para pegar o livro das mãos de Sera. — Se
eu fosse você dava meia volta e fugia. — Disse Josephne, e antes
que Daphne especulasse o por quê, uma terceira silhueta que até
então ela não tinha notado, surgiu em seu campo de visão. Exibindo
um corpo escultural, do qual ela definitivamente não lembrava, uma
cabeleira loira de tirar o fôlego, e um sorriso de derreter geleiras,
estava Phineas ao lado de seu pai. Os olhos do homem
encontraram ela, e ele deixou Phillip lá para andar até ela. Daphne
ainda atordoada, permaneceu parada como uma estátua de boca
aberta. Pensando em que momento nos últimos cinco anos,
Phineas deixou de ser feioso, e se transformou...naquilo. —
Senhorita Daphne, é um prazer revê-la. — Disse de modo
acanhado. Seus olhos azuis eram simpáticos e transmitiam
sinceridade. — É lady Lancaster agora. — Ela corrigiu, porque
sentia que devia dizer alguma coisa e a única que conseguiu foi
aquela. — Sim, claro. — Ele falou. — Cheguei essa manhã de Nova
York, seu pai me contou sobre seu recém arranjo, fico feliz por
você. — Ele disse e ela assentiu uma vez. — Seu pai ofereceu a
casa para que eu ficasse por uns dias antes de voltar para Nova
York, espero que não seja um problema. — De modo algum, espero
que possa aproveitar a temporada social. — Ela disse e seu pai
gritou ao longe, chamando-o Phineas para jogar sua partida. —
Bom, é minha vez, nos vemos outra hora. — Ele disse e lançando
outro sorriso para ela, se foi. Daphne continuou ali, torpe, olhando
suas costas largas se afastando. — Esta muito diferente não é? —
Disse Seraphne surgindo ao lado dela. — Parece que foi
substituído. — Ela falou, e lembrou-se que sua cunhada estava ali
observando tudo. Voltou-se para ela. — Irmãs, essa é Ashleigh,
irmã de Northwest. Ash, essa é Seraphne, e Josephne. — As irmãs
sorriram para a menina. — Que nomes engraçados. — Disse a
escocesa. — Ashleigh também não é o mais comum dos nomes. —
Sera observou. — Ashleigh vai debutar essa temporada e em está
em nossas mãos a responsabilidade de guia-la. — Daphne
anunciou, e as irmãs quase riram. — Tirando o enorme fato de que
não somos nem de longe exemplos de bons modos, está muito em
cima da temporada social, jamais poderiamos prepara-la a tempo.
— Disse Josephne, voltando para o seu quadro. — Por isso,
teremos que agir com rapidez. — Daphne disse, ignorando o
pessimismo da irmã. — Alec dará um baile em duas semanas para
apresentá-la. — Mas ele estará jogando ela para os lobos. —
Josephne disse o óbvio, Daphne sabia que sim, e era por isso que
não podia deixar Ashleigh por si só. Não queria que a menina
sofresse como ela e suas irmãs tinham sofrido ao chegarem ali. —
Sophie vai adorar saber disso, não tem um desafio como este
desde que nós éramos suas alunas. — Disse Seraphne com um
sorriso. Daphne gemeu de dor ao ver sua mãe se aproximando. No
último mês desde sua volta para Londres sua mãe não parava de
perguntar sobre Alec, e sobre suas bodas. Daphne sabia que
deveria ter dito a verdade logo no início, que seu casamento era de
conveniência, mas se sentiu envergonhada, suas irmãs tinham
casamentos felizes e ela não queria dizer para sua mãe que o seu
era uma completa mentira, então disse que Alec estava resolvendo
coisas na Escócia e que ela tinha vindo na frente para organizar a
Northwest House para ele. Agora que sua mãe sabia que ele estava
ali, não demoraria até que aparecesse para exigir um jantar, já que
não tinha tido a oportunidade de ver o casamento de Daphne. —
Daph, minha doce Daph, está tudo bem — Disse Marie York,
pegando a filha confusa e a puxando para um abraço. — Aquele
homem vil, como ele pôde fazer isso com você? — Do que está
falando mamãe? — Daphne perguntou tentando escapar do abraço
sufocante. Marie a soltou e olhou para ela. — Ora do que estou
falando. Você não leu os jornais? Seu marido foi visto saindo de um
clube em Londres na companhia de uma mulher mascarada.
Daphne desesperou-se. — Se ele pensa que pode fazer isso com
uma de minhas filhas, está muito enganado. — A mulher gritou,
indignada. — Eu mesma o chamarei para um duelo para recuperar
seu respeito. As três filhas arregalaram os olhos. — Mamãe, não é
como pensa, Alec estava comigo na noite passada. — Ela se
apressou em dizer. Não estava mentindo, ele realmente estava com
ela. Marie parou de se abanar e olhou para a filha. — Estava? —
Daphne assentiu, e aos poucos o semblante da mulher foi
mudando. — Eu sabia! Esses jornais de fofocas, mentirosos. — Ela
tocou no queixo de Daphne. — Óbvio que um homem que tem
minha Daphne jamais procuraria outra. Daphne sentiu seu rosto
arder ainda mais. — Agora que ele está aqui não poderá mais adiar
o banquete que me prometeu. — Disse, Daphne pensou seriamente
em fingir um desmaio para escapar daquele destino. — Essa noite,
e vocês também devem vir e trazer seus maridos. Ela olhou para as
irmãs a espera de auxílio, mas as traidores estavam se divertindo
muito as custas dela. — Oh quem é essa coisa linda? — Marie
finalmente notou Ashleigh ali. — Essa é Ashleigh, irmã de
Northwest. — Daphne apresentou. — Eu devia saber, tem os
mesmos olhos. — Marie disse afetivamente, tocando no queixo da
morena. — Ashleigh está precisando de um corte de cabelo novo,
vim ver se poderia me ajudar com isso. — Marie bateu as mãos
animada. — Oh, será um prazer, tenho uma infinidade de ideias,
você tem um belo rosto oval, porque não mostramos ele um
pouco?! — Ela disse pegando Ashleigh pela mão e levando ela
casa a dentro. — Será uma noite e tanto. — Comentou Josephne
quando as duas já estavam longe. Daphne suspirou, sim, seria.
Capitulo treze Enquanto cortavam as ruas de Londres dentro da
grande carruagem ducal, Daphne sentia que uma dúzia de
borboletas voavam em seu estômago. Quando comunicou a Alec
sobre o jantar tinha tido a pequena esperança de que ele fosse
recusar. Não entendia o motivo do seu nervosismo, seus pais, irmãs
e cunhados já conheciam Northwest há anos, porém, mesmo assim
estava se sentindo inquieta. Sempre que imaginava o escocês em
uma mesa rodeado com seus familiares, sua mente formulava uma
série de desastres. Foi somente quando estava há poucos metros
da casa de seus pais que ela percebeu que o motivo de sua
preocupação não era que sua família não fosse gostar de seu
marido, mas sim o contrário. E se ele achasse que eram
inadequados demais? Ele parecia muito confortável exibindo sua
expressão casual de desinteresse. Mesmo tendo aquele porte
incomum, ainda era muito elegante, nem mesmo o kilt era capaz de
macular sua vestimenta impecável. Era um duque afinal. Em todos
os bailes que frequentava, sempre tirava para dançar a filha de um
nobre, típicas garotas prendadas e moldadas para serem duquesas,
cheias de leveza e delicadeza, tudo o que sempre faltou em
Daphne. Quando a carruagem chegou na frente da casa dos pais
dela, ele ajudou Ashleigh a descer e logo ofereceu uma mão para
ajuda-la também e não a soltou quando andaram até a porta. O
calor da sua palma confortou as borboletas no estômago dela.
Mesmo estando chateada com ele, Daphne não conseguia evitar de
quere-lo por perto, e não entendia o porquê e se sentia frustrada.
Fitzgerald, o mordomo, abriu a porta quase imediatamente, e depois
de deixa-los entrar, recolheu os casacos de noite. — Seus pais a
esperam na sala de jantar principal, senhorita. — disse o mordomo.
— Obrigada Fitz, não é necessário que nos acompanhe. — ela
falou gentilmente e levou Alec e Ashleigh pela casa de seus pais.
Ainda no corredor Daphne podia ouvir o som de vozes e risadas
enérgicas. Daphne ficou curiosa com a escolha da sua mãe de usar
aquele salão. Ela o preservava como um filho e o reservava
somente para eventos de extrema importância. Era um lindo salão
com teto oval, paredes cor de pêssego e piso de madeira. Tinha
sido ali onde tinha acontecido a recepção do casamento de
Seraphne, quatro anos atrás. Eles entraram na grande sala
harmoniosa. Os homens conversavam em um canto da sala,
enquanto suas irmãs, com a inclusão de Sophie, estavam do outro
lado da sala. Mulheres normais estariam bebendo chá ou
conversando sobre bordados, porém suas irmãs não eram mulheres
normais, estavam olhando a coleção de armas de Phillip que ficava
pendurada em uma parede próxima da janela. Marie York os
percebeu e soltou um fôlego animado, chamando a atenção de
todos para o casal. A mulher pegou o marido pelo braço e
praticamente o arrastou até os recém chegados, quase batendo a
cabeça no chão ao fazer uma reverência além de exagerada. —
Olhe Phillip que belo casal formam. — Disse a matriarca com
doçura. Daphne sentiu seu estômago retorcer.— Vossa graça,
acredito que falo por todos quando digo que é um prazer
inimaginável ter você e sua irmã em nossa família. Ashleigh sorriu
de um jeito acanhado, já o duque foi mais ousado, ele exibiu um
sorriso cheio de dentes e puxou a mão de Marie para beijar o dorso.
— Me sinto privilegiado. — Ele disse e não foi preciso mais que isso
para ver que Marie York caiu de amores por ele. — Já conhece
todos os presentes imagino, com exceção do senhor Harrison. —
Disse ela apontando para o homem que olhava fixamente para eles
do outro lado da sala, Marie fez um sinal de mão para ele se
aproximar. Daphne ficou tensa imediatamente. — Lorde Northwest,
este é Phineas Harrison, senhor Harrison, este é Lorde Northwest, o
marido de Daphne. Todos na sala assistiam a aquele momento
como se fosse uma bomba prestes a explodir. Daphne evitava olhar
para o marido, devia ter avisado que Phineas estaria ali, mas esteve
tão ocupada ficando nervosa que se esqueceu completamente da
existência do seu antigo quase noivo. O americano fez uma
reverência ao duque, que retribuiu sem muito interesse. — Bebe
uísque, Vossa graça? — Perguntou o senhor York, amistoso. —
Sou escocês, não beber seria um insulto ao meu sangue. — O lorde
respondeu com seu humor costumeiro, e o pai de Daphne sorriu.
Alec lançou uma última olhada nela antes de ir se afastando para
onde os outros homens estavam. Ela se sentiu nervosa durante
todo o tempo que Alec e Phineas ficaram juntos, vez ou outra dava
olhadas para eles, desejando ouvir sobre o que conversam. Quando
o jantar foi anunciado e todos começaram a andar para a mesa ela
tentou puxar ele para terem um momento à sós mas sua mãe se
agarrou ao braço dele como um polvo. O jantar foi o mais tranquilo
que se pode dizer com relação a família York. Ninguém ficava em
silencio para comer e as vezes todos falavam ao mesmo tempo,
Marie York tinha sentado Alec bem ao lado dela para ter a atenção
dele durante toda uma noite e não parava de enche-lo de perguntas
sobre a Escócia e seus costumes. Coisas de que Alec parecia muito
animado em falar. O prato principal foi servido, e Daphne se sentiu
murchar ao ver que era vitela, foi inevitável não fazer uma cara de
desgosto. — Qual o problema meu doce, não tem nenhuma víscera
de bode no seu prato, tem? — A voz de Northwest se sobressaltou
por cima das outras, e Daphne levou seu olhar para ele, estavam há
metros um do outro e ele estava dando um jeito de provoca-la. —
Não, mas para mim dá no mesmo. — Respondeu, bebendo um gole
do vinho. — Pelo que vejo me casei com uma defensora dos
animais. — Ele brincou. — Isso é bom, assim você que é um asno
não corre perigo em minhas mãos. — Ela respondeu e o silêncio,
que até o momento parecia impossível, caiu na mesa como um raio.
Ela e Alec trocaram um olhar desafiador e ele deu uma risada
divertida, um som tranquilo e ressonante que se infiltrou para dentro
da pele dela. As pessoas que estavam duras como estátuas até o
presente momento soltaram risadinhas para quebrar a tensão. —
Daphne realmente sempre foi muito amante dos animais, veja
aquele porco que ela adotou, o pobre animal foi rejeitado pela mãe
após o parto e Daphne o amamentou com leite de vaca por meses.
— A mãe dela falou. — Espere... — O escocês disse com a voz
risonha. — acaba de dizer que Daphne amamentou o porco? —
Sim, e depois disso o porco começou a segui-la achando que ela
era sua mamãe leitoa. — Continuou sua mãe, e no instante
seguinte toda a mesa ria de Daphne. — Chega mamãe. — Ela
disse, cobrindo o rosto com uma mão. — De jeito nenhum meu
doce, estou adorando este assunto, conte-me mais Marie. — ela o
fulminou com os olhos. Marie que obviamente estava confundindo o
interesse de Alec naquele assunto, continuou: — Daphne acabou
irritada por todos estarem rindo dela e rejeitou o porquinho, ele
sumiu por dois dias tadinho e quando ela o achou novamente
pretendia comprá-lo do senhor Bennet, nosso vizinho em Yorkshire,
mas o homem é muito bondoso e acabou dando o porco para ela,
Daphne prometeu que nunca mais iria deixa-lo novamente e desde
então o porco está em sua tutela. — Ao fim da história Daphne
encarava seu prato quase amassando a prata dos talheres em suas
mãos, esperando o comentario sarcastico que Alec faria. — Não
esperava menos dela. — Ele disse e ela levantou a cabeça de
súbito para olhar para ele. Alec a encarava com orgulho, carinho e
admiração. E ela não sabia que um olhar podia conter tantas
emoções. Sentiu suas faces incendiaram e na tentativa de fugir
daquele assunto se virou para Phineas que estavam bem ao seu
lado. — Então, como foi a viagem de Nova York até a Inglaterra?
Imagino que tenha sido uma tortura. — Indagou e o homem piscou
várias vezes antes de responder. — Sim, de fato...— ele ia começar
uma história entediante sobre sua viagem até ali mas foi
atrapalhado por Alec. — Espere... — O escocês disse. —... acaba
de dizer que chegou de Nova York? Um calafrio desceu pela
espinha de Daphne. — Sim, sou um dos sócios de Phillip York. —
Phineas respondeu, sem perceber que o rosto que a pouco estava
relaxado por um sorriso, exibia a mesma expressividade de uma
estátua. Os olhos de Alec se encontraram com os de Daphne, e ela
soube que ele sabia. Ele já o conhecia o bastante para saber
quando sua mente mirabolante estava juntando peças e se
arrependeu por não ter dito para ele quando teve a oportunidade. —
Como é que acontece os noivados na Escócia? — Perguntou
Seraphne, apenas para jogar mais lenha na fogueira. — As famílias
mais abastadas costumam fazer um verdadeiro espetáculo sobre
isso. – Disse Ashleigh, e as cabeças se voltaram para ela, menos a
de Alec, este continuava encarando a esposa. — Eles montam
jogos. — Jogos? — Josephne perguntou, interessada. — Sim,
escolhem três ou quatro homens de clans diferentes para disputar
pela mão da moça, aquele que mostrar mais habilidade, força e
inteligência fica com a noiva. — Isso não é muito romântico. —
Disse Sophie. — Ah é sim, geralmente a noiva já tem uma escolha
e eles colocam o rapaz entre os jogadores para testar se ele a
merece. — Disse Ashleigh e sua irmã Josephne suspirou. — É o
tipo de jogo que eu pagaria para ver. — Disse. — Nós temos seis
homens aqui esta noite, porque não organizamos um? — Indagou
Seraphne e o rosto de Josephne brilhou. — E quem poderia ser a
noiva disputada? — Indagou Sophie e muito tarde, muito tarde,
Daphne percebeu que aquela era uma armadilha para ela. Olhou
para todos os pares de olhos que olhavam para ela. — De jeito
nenhum. — Disse inflexível. — Não sei se já notaram, mas eu já
sou casada. — Ela mostrou o anel em seu dedo. — E não nos
convidou para seu casamento, isso é o mínimo que nos deve. —
Disse a mãe delas e Daphne olhou para sua mãe escandalizada. —
Mamãe! — Vamos Daph, será apenas um jogo. — Pediu Jose e
Daphne bufou, já tinha ouvido aquela frase antes e na ocasião
acabou de ceroulas em uma clareira. — Eu não me importaria com
um pouco de competição. — Disse Alec, e ela deu um olhar
acusador para ele, sabia que ele estava fazendo aquilo por causa
de Phineas. Homens! Ela levantou arrastando a cadeira no chão de
madeira brilhante da sua mãe e disparou um olhar para o duque,
que a olhava em igual petulância. O maxilar dele estava retessado
indicando sua raiva. — Posso falar com você a sós por um
segundo? — Ela perguntou, não estava se importando se faria uma
cena, não podia deixar que ele alongasse aquilo apenas por um
desejo masculino de marcar território. — Claro. — Ele disse
levantando e seguindo ela para fora. xxx Eles foram para o
corredor, mas não tiveram muita privacidade pois os criados de sua
mãe estavam passando por ali a todo momento. Daphne pensou no
lugar onde teria realmente alguma privacidade e o puxou o restante
do trajeto para lá. Seu quarto ainda preservava as características
dela, mas dava para sentir que ali já não morava mais ninguém. —
O que está pretendendo com isso? — Ela disparou irritada, quando
fechou a porta atrás de si. Depois de passar os olhos rápidos pelo
quarto Alec se voltou para ela. — Por que me trouxe aqui esta
noite? — Ele disparou de volta. E Daphne se sentia em carne viva
com aquele frio olhar que ele deu para ela. — Ora, você já sabe o
porquê. — Ela respondeu, incerta se ele realmente sabia. — Eu
achei que era porque queria me apresentar para sua família. Como
seu marido. — O tom de voz dele denotava ressentimento, mas ele
a olhava inexpressivo. — E foi. — Ela disse, incomodada. — Então
por que não me contou que seu antigo noivo estaria aqui? — Ele
indagou, de maneira quase rude. — Antes de vir para cá eu tinha
esquecido e depois não tive mais a chance. — Ela respondeu e ele
a olhou fixamente no fundo de seus olhos por um bom minuto até
que tivesse certeza de que ela estava sendo sincera, Alec foi
abrandando sua aura gélida até se tornar morna. Ele deu as costas
para ela e andou até a cama dela, tocou na madeira da cabeceira,
deslizando os dedos pelo acabamento e se sentou no colchão, seus
olhos não estavam mais frios, agora estavam cheios de
determinação. — Venha até aqui. — Ele bateu com uma mão
devagar em seu colo e Daphne se segurou na maçaneta da porta,
suas pernas queriam ir, mas a parte dela comandada pelo seu
cérebro a fez ficar onde estava. — Estou bem onde estou. — Disse,
mas estava óbvio que não tinha muita certeza disso. — Tenho
sonhado com isso há tantos anos, me deixe realizar somente essa
fantasia. — Ele pediu, soando absurdamente tentador. — De que
fantasia está falando? — Ela perguntou, cautelosa. Agarrando
aquela maçaneta como se sua vida dependesse disso. — Sempre
desejei estar em seu quarto. — Ele conseguiu deixar a voz em um
tom ainda mais sedutor. Grave, rouco, masculino. — Nos meus
sonhos você está deitada bem aqui. — Ele acariciou a coberta do
colchão. — usando apenas uma fina camisola. Oh, céus! A
respiração de Daphne ficou pesada e seu coração acelerou. Ele
tinha mesmo tido pensamentos indecentes com ela no passado?
Isso foi algo que ela nunca esperou, nem em suas fantasias mais
improváveis. — Você chama meu nome, enquanto uso a língua
para te dar prazer. — Daphne arregalou os olhos, aquilo era
pecaminoso. Ela conseguiu se imaginar em um cenário bem
parecido com aquele, se sentiu como Eva e ele era a cobra
oferecendo para ela o seu fruto do pecado. — Não devemos, seria
errado, você e eu não somos... — Na minha fantasia você não fala
tanto. — Ele a cortou. — A não ser meu nome, e sim, e por favor, e
mais forte. — O aperto da mão dela afroxou em volta da maçaneta.
— Diga sim para mim, Daph. — Ele sussurrou, e que Deus a
ajudasse pois ela faria aquilo, bem ali, em cima do salão de jantar
dos seus pais. — Sim. — Ela sussurrou de volta, largando a
maçaneta de vez. Naquele momento ela soube que largaria muitas
coisas por ele dali em diante. Aquele passo que ela deu para mais
próximo dele, foi um passo mais para longe do controle de si
mesma. Quando ela esteve no alcance de suas mãos, ele a puxou,
e fez o que Daphne estava ansiando há dias, ele a beijou. Tinha
luxúria, volúpia, saudade e algo mais, algo agridoce e rude. O
vestido que ela usava se fechava por uma fileira de botões quase
infinita em suas costas, ele a virou para desabotoa-los, com pressa.
Ela fez uma anotação mental para usar somente roupas fáceis de
abrir dali em diante. Mais rápido do que ela esperava, o vestiu caiu
com um susssurro para o chão, deixando-a somente de chemise,
meias e corpete. — Por que esteve tão irritado há poucos
instantes? — Ela perguntou quando ele a virou de novo para puxar
os fios da roupa íntima. — Estava louco de ciúme. — Ele disse sem
piscar e ela ficou um pouco abalada com a sinceridade crua. Suas
costelas foram liberadas do corpete e ele a deitou na cama, se
colocando de joelhos em frente a ela, sem cerimônias. Ele sorriu
como um lobo malicioso e Daphne percebeu pela urgência e pelo
olhar cheio de lascívia que aquela realmente era uma fantasia dele.
Ele subiu uma mão pela perna direta dela enquanto beijava seu
joelho esquerdo, acariciando a meia rosada e o princípio da coxa
macia, Alec tocou na parte detrás do joelho dela e o toque íntimo
naquela parte intocada a fez estremecer. As bochechas dela
adquiriram um tom de rosa atraente, que o voltou latejante de
desejo. Ele foi subindo, subindo, subindo pela perna dela até chegar
lá, Alec parou de beijar a parte interna da coxa e foi preciso que ele
levantasse bastante a chemise dela para acreditar que ela não
usava nada para proteger sua intimidade. Com apenas um abrir de
pernas ele teria todo um banquete disponível para ele. — Pequena
tarada, você está nua aqui. — Ele disse, e Daphne achou que fosse
morrer de luxúria. Jamais iria admitir que não tinha colocado suas
calcinhas propositalmente naquela noite. Ele a acariciou ali, e ela
sentiu fortes arrepios de desejo. Os lábios dele encontraram a parte
interna mais intima da coxa dela e beijou ali, molhado, quente e
apaixonado e seus dentes morderam a carne dela quando um dedo
se introduziu para dentro. — O que você está...oh! — As palavras
se perderam na garganta fina. As coxas macias rodearam os
ombros dele, ela o olhava abismada enquanto ele ia de encontro ao
sabor doce de sua feminilidade, sentindo a maciez da pele com a
língua, e o cheiro suave nos pêlos dourados, aquele aroma o deixou
faminto. E ele sentia essa fome há muito tempo. — Céus...— Ela
arfou quando conheceu a pressão da boca masculina, e Alec soube
que antes dele, nenhum outro havia feito aquilo. E isso o fez desejar
vicia-la, o fez desejar ouvir o seu nome sair de sua boca quando ele
levasse ela a caminho do pecado. A carne foi se tornando cada vez
mais inchada e úmida, e ela arfava de maneira descontrolada, sem
saber o que fazer com as mãos, apenas o dedicando um olhar vez
ou outra, com a pele vermelha e as pálpebras pesadas, a boca semi
aberta prometendo palavras que ele desejava ouvir
incandescentemente. Aquilo não era somente novo para ela,
também era novo para ele, não era apenas sexo, ele estava
amando sua esposa. Ela querendo ou não, ela aceitando ou não.
Seu corpo berrava. Minha, minha minha. Alec desejou se juntar a
ela, mas ainda não era a hora. Ela apertou os lençóis com as
unhas, se preparando para receber o prazer imensurável, ele
penetrou na sua entrada aquecida, e sentiu os músculos
tensionarem ao seu redor, a boca dela se abriu. Por favor, diga meu
nome, diga meu nome. Ele implorou em silêncio. Ela jogou a
cabeça para trás e apenas gemeu, gemeu como uma mulher, não
como uma virgem que acabará de descobrir o prazer. Enquanto ela
despertava do orgasmo, ele voltou a espalhar beijos pela coxa dela,
ajeitando as meias que estavam emboladas nos joelhos, ouvindo a
respiração dela se regular. Ela ficou em silêncio por um bom
momento e ele desejou saber o que se passava dentro de sua
cabeça. — Daph...— Ele a chamou, e depois de relutar por um
momento ela olhou nos olhos dele. Alec se sentiu poderoso com o
que viu refletido nos olhos azuis. — Não vou competir nos jogos. —
Ele disse, levantando-se e ajudando ela a se erguer. Ela estava
vermelha e seu rosto refletia toda a confusão de seus sentimentos,
mas para ele estava mais do claro agora. Alec colocou um dedo no
queixo dela e deu um suave selinho em sua boca antes de dizer as
palavras finais, o reconhecimento que tanto desejava e pelo qual
esperou tempo demais para obter. — O que realmente importa, eu
já ganhei. Capitulo quatorze Daphne estava sentindo os efeitos
daquelas palavras se infiltrando de maneira sorrateira dentro da
cabeça dela. Nunca tinha se sentido tão covarde em toda a sua vida
diante de meras palavras, e decidiu que a melhor solução para fugir
daquele sentimento pavoroso que causavam, era fugir do homem
que estava causando tudo isso. Nos dias seguintes ela decidiu se
empenhar unicamente no treinamento de Ashleigh. A cunhada era
muito mais arredia que ela em sua época de estudos. Sophie
sempre tinha que estar corrigindo ela quando a menina se distraia e
relaxava a postura, ou quando dava de ombros, que aliás era sua
resposta para tudo. Na terceiro dia de treinamento, após um
exaustivo treino as moças decidiram cavalgar pelo Hyde Park.
Naquele horário muitas pessoas importantes estariam cavalgando
por ali e seria a oportunidade perfeita para apresentar Ashleigh
antes do baile de debute que aconteceria na semana seguinte. Se
sentar em uma sela de amazona sempre foi um obstáculo para
Daphne, mas valia o esforço para estar com Ashleigh e suas irmãs
e para garantir alguns metros de distância de um certo escocês.
Além de que não estava mais se sentindo tão excluída, já que sua
cunhada também não se equilibrava muito bem na sela. Sempre
que uma lady parava para cumprimenta-las, Daphne apresentava a
jovem, e sempre que Ashleig abria a boca a lady em questão
deixava cair o leque de pavor, o sotaque da menina era muito forte.
— Isso é mais divertido do que eu tinha imaginado. — Disse ela ao
ver lady Glasgow se afastando depressa após a cunhada ter dito
que não entendia qual a necessidade de tantos panos em suas
pernas para cavalgar. — Eu tinha sentido falta de fazer isso... —
Comentou Sophie, compartilhando uma risada com elas. —
Algumas coisas nunca mudam. — Disse Josephne e uma maré de
desagrado banhou Daphne ao ver que quatro cavalheiros
cavalgavam em suas direções. — Tome cuidado com Northwest,
Daph, Thomas andou me fazendo perguntas muito suspeitas.
Daphne olhou para trás, para garantir que estava Ashleigh entretida
demais tentando cavalgar em sua sela, para ouvir a conversa delas.
— Que tipo de perguntas? — Indagou nervosa, diminuindo a
velocidade do cavalo. — Sobre você, e no quanto era suspeito que
nunca tivesse arrumado um noivo. — A irmã respondeu mais baixo.
— Tenho certeza que Northwest tem algo haver com isso, Thomas
é distraído demais para reparar em algo assim. — Acha que
Northwest suspeita de alguma coisa? — Indagou Seraphne e e
Daphne suspirou pesadamente. — Ele sabe que vou ao clube. —
elas arregalaram os olhos. — mas não sabe para quê. — Uma hora
ele terá que saber, pelo que vejo está muito empenhado em manter
o casamento. — Disse Sophie e Daphne se resignou a ficar calada,
pois os lordes já estavam próximos demais. Contudo Daphne sabia
que a amiga tinha razão. E a única solução que encontrou para que
ele a deixasse voltar a frequentar o clube, era sendo sincera. Ele
teria que compreender os motivos dela e lidar com isso de maneira
racional. Eles pararam em suas frentes, e foi inevitável não lembrar
de uma situação semelhante a essa, cinco anos atrás, neste
mesmo ponto do Hyde Park. Naquele dia Daphne estava fascinada
pela beleza rústica do homem. Nunca tinha visto um homem ser tão
masculino usando uma saia, e a cor amarela de seus olhos a
deixou hipnotizada. Ele ficou enamorado por Sophie e deixou isso
bem claro, porém, diferente daquele dia, seus olhos de fogo
flamejante estavam presos nela. Só nela. — Que coincidência
agradável. — Disse lorde Standhurt dando a volta nelas para
cavalgar ao lado da esposa. — Estávamos indo até o serpentine. —
Disse Seraphne para o marido. Os olhos do marquês eram de um
verde hipnotizante e olhavam a esposa com algo próximo da
idolatria. — Íamos para lá também, que tal irmos juntos? — Lorde
Cavendish sugeriu, juntando suas mãos com a da esposa no
espaço vago entre os cavalos. E para a desgraça de Daphne todas
concordaram. Foram se afastando, restando apenas Alec e ela para
trás. Nem mesmo Ashleigh ficou por ali, a grande traiçoeira
cavalgou mais para a frente para deixa-los a sós. Daphne começou
a trotar ao lado do marido fixando os olhos nas costas de Josephne
e Haddington que cavalgavam a uma distância segura deles. —
Você sabe que não adianta se esquivar de mim. — Ele falou e sua
voz lançou uma enxurrada de arrepios por ela. As lembranças de
três dias atrás ainda estavam muito nítidas em sua mente e em seu
corpo. — Nossos destinos estam traçados, meu doce. — É muita
presunção sua achar que estou te evitando. — Ela retrucou,
olhando para o rosto indecente e sentindo prazer com a maneira
selvagem como ficava a aparência dele quando montava em um
cavalo. — Não é presunção, é um fato. Porém, quero que saiba que
quanto mais me negam algo, mais fico desejoso de obter. — Disse
dando um olhar lascivo para ela, o rosto de Daphne ardeu. O
lampejo de uma ideia clareou na mente dela. Aquilo definitivamente
era uma loucura, mas naquele momento ela estaria dando qualquer
coisa para recuperar nem que fosse um terço do controle sobre si
mesma. — Vamos fazer uma aposta. — Falou de súbito, fazendo
com que ele a olhasse intrigado. — Uma aposta? O que você
exatamente pretende apostar? — Se eu vencer, você me deixará
livre para voltar ao Rough Diamond. — Ele rapidamente retesou a
mandíbula e apertou as rédeas com mais força, em sinal de
desagrado. — Se você vencer, eu responderei todas as suas
perguntas. Seu olhar de aborrecimento se amenizou ao ouvir a
proposta, seus olhos se fixaram no horizonte enquanto ele parecia
pensar a respeito, Daphne sentia seu coração bater forte no peito
pela ansiedade, ele respirou fundo e a olhou decidido. — Aceito sua
aposta, mas eu escolho o desafio. — Disse e indicou as rédeas do
cavalo. — Uma corrida. Agora. Quem chegar no serpentine
primeiro, será o vencedor. A excitação de Daphne foi rapidamente
embora, ela nunca foi boa com corridas, suas pernas eram muito
pequenas e mal conseguia se equilibrar naquela sela
desconfortável, mas aquela era a sua última oportunidade antes de
entregar os pontos de vez, antes de entregar tudo para ele. E Alec
logo iria descobrir que uma York sempre tem uma carta escondida
no decote. — Feito. — Falou, sentindo a euforia se apoderar do seu
corpo. — Me siga. — Ele disse, e os dois sairam da trilha por onde
os transeuntes passeavam, e entraram em uma parte vazia do
parque, onde as sebes eram altas o suficiente para esconde-los dos
olhos curiosos. Eles pararam na entrada de uma trilha cobertas por
folhas secas caídas das árvores, e Alec se preparou para correr,
segurando as rédeas do seu cavalo com uma confiança que deixou
Daphne debilitada. — Está pronta? — Perguntou com um olhar
desafiador. — Só um momento. — Ela pediu, se erguendo no lombo
do cavalo e mudando a posição para uma que a deixava mais livre
para correr. Alec a observou fixamente enquanto ela erguia as saias
do vestido até as coxas e se sentava escarranchada no animal. Ela
devolveu o olhar desafiador dele. — Agora estou pronta. — No três.
— Disse depois de tirar os olhos das coxas dela, alto e claro como
um trovão. — Um. Dois. Três! Com uma batida no flanco do cavalo,
ele disparou como uma bala pela trilha ladeada, arrastando com ele
uma rajada de poeira e folhas, fazendo ela literalmente comer
poeira. Daphne se recuperou da tosse, e fez seu cavalo pegar
velocidade. Não demorou para ela alcança-lo, os dois cortando as
sebes lado a lado, ele exibia o sorriso mais lindo que ela tinha visto
em rosto. Felicidade misturada a diversão, enquanto ela
provavelmente estava com os cabelos desgrenhados pelo vento e
pálida pelo temor de perder. Ele estava um metro a frente dela, as
saias do seu kilt voando, revelando a brancura de sua coxa grossa
e torneada. O trote firme dos cavalos no chão eram quase
ensurdecedores, e faziam o sangue dentro dela vibrar de
adrenalina. Na tentativa de tomar a frente dele, ela pegou um atalho
à esquerda, se afastando da trilha vazia e entrando em uma parte
populosa do parque. Daphne desesperou-se. — Saiam da frente! —
Gritou enquanto seu chapéu desamarrava o nó no queixo e saia
voando para longe. As pessoas corriam para fugir estrada, pulando
nas calçadas, soltando arquejos e gritos. Aquele com certeza seria
o escândalo do ano. Do século! Quando ela finalmente voltou para
a trilha vazia, sorriu ao ver que tinha deixado-o para trás. Bom, foi o
que pensou, pois no instante seguinte ele estava ao seu lado,
exibindo um sorriso convencido e uma expressão de vitória. Daphne
gritou de frustração ao avistar o lago de longe. Ela impulsionou o
corpo para frente para ganhar ainda mais velocidade, ele fez o
mesmo. Em uma parte na estrada eles passaram pelos seus
amigos, que olharam para eles com expressões estarrecidas. Duros
como estátuas. O vento beijava a pele dela de maneira furiosa a
deixando fria e seus olhos lacriimajevam, junto com seu coração
que recebia um alto nível de emoção. Por um momento ela viu a
vitória iminente, e o sabor doce quase tocou em sua língua. Porém,
no instante seguinte, ele passou por ela, como o som ensurdecedor
que vem depois do clarão de um relâmpago, que te pega
desprevenida e te faz sentir o poder de sua impotência. A decepção
da derrota foi ofuscada pelo brilho vitorioso que ele tinha em seu
olhar, e Daphne teria perdido mais mil vezes apenas para vê-lo tão
radiante de novo. Ele deu a volta, diminuindo a velocidade do
cavalo, e voltando na direção dela. — Agora você me deve
respostas. ∞∞∞ Alec sentia o alívio da vitória abrandar o furor do
seu coração. Estava exultante, para dizer o mínimo. Ele esteve tão
desanimado nos dias anteriores, sua ideia inicial ao proibir Daphne
de voltar para o clube era para impeli-la a revelar seus propósitos,
se o que quer que ela fizesse naquele lugar fosse remotamente
importante ela faria qualquer coisa para retornar, mas ela esteve
dias o evitando e ele estava sem qualquer ideia de como iria
extorquir as informações que precisava dela, tal foi sua surpresa ao
ouvi-la fazer uma aposta tão arriscada. Aquilo era o tudo ou nada, e
ele teve receio de perder. Contudo, avaliou a situação de modo que
pudesse vira-la ao seu favor, sempre foi muito bom em equitação e
viu a brecha que Daphne deixou passar, ele sabia que existia um
risco de ela ganhar, já tinha aprendido a não subestimar uma York.
E por um momento, ela quase realmente ganhou, mas agora ele
estava ali nos aposentos dela, observando-a pela luz da tarde que
entrava pela janela, vermelha, desgrenhada e suada, e nunca
esteve tão atraente em sua vida. Ele retirou o casaco de montaria,
as luvas e cruzou os braços frente ao peito, degustando o delicioso
sabor de ter Daphne York sob a palma de sua mão. — Já pode
começar. — ela apertou os dedos em sinal de nervosismo. — O que
quer saber? — Perguntou evitando olhar nos olhos dele, o azul
acinzentado encarava o colarinho da blusa dele. — Eu quero saber
de tudo.— Fez uma pausa. — Tudo. — Embora aparentasse estar
tranquilo, ele estava gelado por dentro. De medo, receio,
insegurança. Ele ia descobrir um lado de Daphne que ninguém mais
sabia. E isso o deixou inflado como um pavão, mas também o
mendrontou. — O que faz naquele clube e para quê quer tanto a
liberdade. Ela tragou saliva, olhando ambas as portas fechadas do
quarto, parecia tentada a correr. Respirou fundo, olhando para os
pés e pareceu aceitar finalmente a derrota. — A primeira fez que fui
no Rough Diamond foi há quatro anos atrás... — Começou. — logo
após o escândalo envolvendo Haddington e Josephne. Eu estava
me sentindo muito sozinha, Seraphne tinha acabado de reatar seu
casamento com Standhurt e estava grávida de Liliana, morando em
sua casa no interior, Josephne tinha decidido reconstruir sua vida
em Paris, e Sophie estava muito ocupada com os preparativos para
a chegada de Harriet. Isso me aproximou de Garret. Pelo
movimento trêmulo de seus lábios Alec notou que a menção
daquele nome era importante de alguma maneira. E não gostou
nada. — Quem é Garett? — Inquiriu sombriamente. — O antigo
contador de meu pai. — Respondeu ligeira. — Ele me levou até o
clube, que até então não era nada além de um galpão vazio. Ele já
tinha tudo planejado, tudo. Queria fazer do lugar apenas mais um
clube para homens beberem e gastarem rios de dinheiro com
apostas descabidas. Mas tudo não passava de um mero
planejamento, ele não tinha verba para colocar o seu plano em
ação. — ela levantou da cama e andou até a janela, provavelmente
para evitar olha-lo no rosto. — E é aí que eu entro. Deu uma breve
pausa. Seguida de uma mexida inquieta no cabelo. — Seríamos
sócios, ele ganharia sessenta por cento dos lucros enquanto eu
ficaria com os outros quarenta. No início eu não queria concordar,
visto que era eu quem estava pagando por tudo, mas aproveitei
essa vantagem para exigir os mesmos direitos que ele tinha com o
clube. Ele não gostou muito da ideia, mas como precisava de mim,
aceitou. —... Alguns meses depois, o clube estava pronto e
inaugurado com o nome de White Tie. Como já deve imaginar não
teve qualquer repercussão, como eu já havia dito era apenas mais
um clube para homens, e desses Londres ja esta cheia até a tampa.
Foi então que me surgiu a ideia do Rough Diamond. Garett
obviamente discordou, mas como eu também tinha direitos pelo
clube, eu tinha a liberdade de fazer quais mudança quisesse. Seus
olhos pareceram brilhar nesse momento ao falar do clube. —
Reformei tudo novamente, e espalhei de maneira sorrateiramente
nos salões de bailes sobre o novo clube infame de mulheres que
tinha aberto no centro da cidade. Não demorou nem um mês para o
clube estar apinhado de mulheres, a princípio algumas
desconhecidas, até a sigilosidade do clube ficar em evidência,
então começaram a vir baronesas, condessas e até duquesas.
Mulheres que eu vejo no dia à dia. A essa altura Alec já não sabia
se ficava surpreso ou fascinado pela criatura na sua frente. Esse
tempo todo ela era difamada nos salões de bailes enquanto tem sob
as mãos o poder sobre dezenas de famílias importantes do seu
meio. Se era possível ele sentiu um desejo ainda maior de possui-la
como um louco. — Aparentemente eu sabia mais de negócios que
Garett, assumi o total controle do clube. Ele esteve bem com isso
no início, mas quando viu que estava perdendo seu espaço ali
dentro, tentou me confrontar. Ele queria que mostrassemos nossos
rostos, que deixassemos que as pessoas soubessem quem eram
as mentes por trás do sucesso do clube. Mas eu não quis assim. Na
época o escândalo de Josephne ainda estava muito recente e eu
não queria que meus pais sofressem o assédio por mais um
escândalo envolvendo uma de suas filhas. —... Quando eu me
recusei, Garret disse que venderia a parte dele para alguém que
estivesse disposto a pagar uma fortuna. Eu não podia permitir isso,
a aquisição de um novo sócio poderia me trazer dores de cabeça.
Foi quando entrei em contato com meu advogado e juntos
conseguimos agir pelas costas de Garret, ele foi tolo e estava tão
cego pela inveja que vendeu sua parte no clube para o primeiro que
lhe ofereceu uma quantia, eu mesma. —... Desde então eu cuidei
do clube sozinha e foi assim durante dois anos e eu estava feliz
com minha vida, até papai anunciar que eu tinha que arrumar um
noivo, e todo o rosto você já sabe. — Concluiu se virando para ele,
a cabeça do escocês fervilhava de perguntas, mas tinha uma que
se sobressaía sobre as outras, a pergunta que o perturbava de
maneira dolorosa, na qual ele sabia que odiaria a resposta, mas
mesmo assim, desejava ouvi-la. — Foi ele, não foi? — Perguntou,
mesmo que a pergunta não fosse direta, ele suspeitou que ela
entendeu cada letra. — A quê se refere? — Vamos Daphne, sou
experiente o suficiente para saber quando estou lidando com uma
mulher virgem. — O rosto dela adquiriu o vermelho fúscia mais
lindo. — Desde quando você sabe? — Ela perguntou olhando para
o chão, talvez estivesse se sentindo culpada. Ele suspirou. —
Desde a noite na biblioteca. — Os lábios dela se abriram um pouco,
surpresos. — Como poderia? — Daphne, eu estava nú da cintura
para cima e você sequer ficou vermelha. — Ele disse, com um
pequeno sorriso. — E ainda assim desejou me beijar na noite
seguinte. — Ela disse, como se isso fosse algo surreal. Ele andou
até ela, tirando um cacho dourado de cabelo do rosto e o colocando
atrás da orelha pequena. — Achou que eu rejeitaria você por algo
tão fútil? — Ela piscou várias vezes. — A maioria dos homens o
faria. — Ele esquivou os dedos para trás da nuca dela e puxou os
fios de cabelo ali. — Já devia saber esposa, não sou como a
maioria dos homens. — Então ele a puxou para um beijo calmo. —
O único que me dói é desejar voltar no tempo para me casar com
você antes disso, e não poder. Ela suspirou, olhando nos olhos dele
ao ouvir aquelas palavras. — Daphne, não quero mais a idéia de
um casamento com você. — Ele quase podia sentir as batidas
frenéticas do coração dela. — Quero um casamento, com
fidelidade, honestidade, e a obediência a gente vê depois. Aquelas
palavras em qualquer mulher teria surtido um efeito magnífico,
qualquer outra mulher teria se jogado nos ombros dele e o beijado e
o puxado para a cama, mas Daphne não era qualquer mulher, com
ela nada vinha fácil. Ela se afastou dele bruscamente. — Não
posso. — Aquelas palavras foram como sopros de vento frio na
chama do coração dele. — Agora você entende que eu não posso
simplesmente abandonar o clube, sim? — Disse em um tom
cauteloso. — Dediquei anos da minha vida a isso, e não posso
jogar tudo para o alto por conta de um casamento. A raiva súbita
voltou a invadir o peito dele ao ouvir ela admitir tão severamente
que um maldito clube era muito mais importante do que o
casamento dos dois. Do que aquilo que ele estava propondo. Alec
era um homem afinal, e também tinha suas inseguranças e o seu
ego. Ele estava disposto a fazer tudo o que ela o pedisse, a aceitar
suas condições, a ir na sua velocidade, mas naquele momento, ela
era o centro do mundo dele, e ele queria ser o do dela. — Não
estou lhe fazendo uma proposta Daphne. — Ele disse, muito mais
frio. Alec estalou a língua e adquiriu aquela pose de cinismo que ela
odiava. — Tem algo que eu andei omitindo de você. — Um vinco
cresceu entre as sobrancelhas dela. — Para manter Stirling eu
preciso de algo além de uma certidão de casamento. — O que você
quer dizer com isso? — Perguntou com a voz trêmula. Ele abriu um
sorriso cruel. — Um bebê, meu mel, vai ter que me dar um antes
que se feche o período de um ano. — a cor sumiu dos lábios dela
com um sopro. — Vo-você não me disse... — Por um momento
achou realmente que ela fosse cair dura para trás. Até a cor voltar
com tudo para sua pele, e ela tão perigosa quanto um touro em
uma arena. Ele deu dois passos cautelosos para trás. — Foi para
isso que voltou então? É por isso que vem tentando fazer este
casamento acontecer a qualquer custo? — Ops, Alec não previu
aquilo. Ela bateu com os pés no chão. — Fique você sabendo que
vai perder o seu castelo, pois eu não vou lhe dar bebê nenhum! —
Esbrevejou furiosa e o tom da audácia em sua voz o fez queimar
como um barril de pólvora. — Não vai? — Indagou desafiador, a
agarrando contra seu peito. — É o que nós vamos ver. ∞∞∞
Daphne não teve tempo sequer para respirar antes de sentir o peso
do duque ao redor de seu corpo pequeno. Tudo nele emanava
possessividade e fúria, e ela sabia que ele não seria delicado, e
maldito fosse ele, pois ela não queria que fosse. Uma parte racional
de seu cérebro gritava que ela não devia se entregar daquela
maneira, gritava que ela não devia ser tão submissa de maneira
imediata. Principalmente depois do que tinha acabado de ouvir. Mas
ela tinha aquele homem musculoso e atraente a abraçando, e o
cheiro de suor exalando como um aroma primitivo. E a voz era
facilmente ignorada. Estava com raiva por ele esconder que teria
que ter um filho varão, e estava ainda mais por querer obriga-la a
aquilo, mas a ideia de carregar em seu ventre um filho dele, soou
como uma visão deliciosa, que estremeceu o corpo dela com vigor
e satisfação. Nunca iria admitir em voz alta. Nunca. Esteve sentindo
tanta falta dele nos últimos três dias, e agora ela se sentia estúpida.
Os lábios dele agora não eram calmos, nem carinhosos, era bruto e
lascivo, mas ela gostava, e como gostava. Ele mordeu e raspou os
dentes nos lábios dela como um castigo, apertando ela ela contra
ele. Seus olhos queimavam com raiva e desejo ardente, e ele
estava amassando ela contra ele de propósito. Privando ela de
respirar por uns bons momentos antes de lhe dar alguns segundos
para respirar. — Não voltei pelo castelo sua megera odiosa, eu
voltei por você. — Ele rosnou contra o pescoço dela, tateando em
busca do fecho do traje de montaria, perdendo a paciência e
puxando a musseline sem muito cuidado. Ela pôde ouvir o barulho
da roupa rasgando em vários pontos antes de ele tira-la. Ela não se
importou, estava longe de se negar a aquilo, desejava aquele
homem e iria aproveitar o quanto dele fosse permitido, embora o
sentimento predominante naquele momento fosse a raiva, existia
algo querendo desabrochar no peito dela. Mandou todas essas
sensações para longe, e abraçou a cintura dele com as pernas,
enquanto ele a levava para a cama. Ele gemeu para ela,
apressiando essa submissão. Alec juntou suas mãos aos seus
seios e levou sua boca depravada até os picos rosados que
estavam sensíveis e rijos. Daphne gritou de prazer genuíno quando
ele lambeu e sugou aquela região até formar manchas arroxeadas
na pele branca. Ela era pequena demais para ele, mas de uma
maneira estranha, ela conseguia ficar perfeitamente alinhada para
recebe-lo no meio de suas pernas. E se entregou sem ressalvas ao
momento, sentindo a pele cálida raspando na dela, o poder
luxuriante que a intimidade proporcionava, lambendo o suor do seu
pescoço e sentindo o sabor salgado da pele, e ele era dela, os
músculos proeminentes, os fios de cabelo castanho, a língua
audaciosa e os olhos âmbar, levou uma mão até o rosto dele e
infiltrou em seus cabelos, compreendendo finalmente que aquele ali
era seu marido. A névoa de raiva foi dissipada, sendo substituída
pela paixão, só a paixão. Ele a beijou no pulso, e a mordeu ali.
Daphne sorriu, o marido gostava de morde-la. Ela se contorceu
debaixo dele, querendo que o casamento dos dois chegasse à sua
conclusão final. Daphne quis pertencer a alguém, além dela
mesma, pela primeira vez na sua vida inteira, e por mais do que
alguns segundos teve o vislumbre de um futuro com Alec. Agora ele
conhecia todos os segredos dela e ainda estava ali, ele ainda à
queria depois de tudo. Ela tateou com as mãos para baixo em
busca dele, para ajuda-lo a encontrar o caminho até ela. Daphne
infiltrou uma mão por dentro do kilt e o sentiu, quente, longo,
pulsante, macio, e molhado. Alec gemeu, e tremeu e investiu contra
a mão dela, Daphne desejou dar para ele o mesmo prazer que ele
tinha dado para ela dias atrás, queria saber como ele se sentiria se
ela o levasse na boca. Mas no momento que ela decidiu isso ele a
deixou, olhou para ela deitada ali confusa e vulnerável. Uma quebra
de rejeição se apoderou de Daphne, enquanto olhava o homem
tentar controlar a respiração. Ele a rejeitou pela segunda vez, e ela
se contorceu por dentro ao perceber que tinha se aberto demais.
Tinha deixado escapar emoções demais naquele breve momento
de beijos, que deveria ter sido apenas carnal. Nada de sentimental.
Recapitulou em sua mente todo o ocorrido, buscando entre as
linhas em qual momento deixou a parede cair. — Você poderá
voltar para o clube. — Ele disse em um tom brando. Ela ficou
surpresa, mas não demonstrou, se sentia um tanto cinza por dentro.
— Obrigada por compreender. — disse deslizando pela seda das
cobertas e se cobrindo com o que tinha restado de seu belo vestido
azul. Precisava de um banho, para tirar do corpo o suor, tanto dele
quanto dela, e também para apagar dali os vestígios do corpo dele,
que latejavam de maneira incessante. — Contudo, eu tenho uma
condição. — Falou e ela se virou para olhar em seu rosto, o diabo
nunca faz um pacto sem antes rabiscar nas entrelinhas. — Eu vou
com você, aquilo lá é muito perigoso para uma mulher. Ela apertou
os dentes. — Não finja que se preocupa comigo. Só quer se
certificar de que não vou fazer nada indiscreto. — Falou com
ríspidez. — É essa a minha condição. — Ele disse sem dar
qualquer importância para sua ira. Daphne desejou chorar. Quando
atravessou a noite duas semanas atrás com a idéia louca de fazer
um acordo com o diabo, ela não imaginou que ele fosse lhe tomar
mais do que a simples liberdade, não imaginou que ele fosse lhe
tomar também, o coração. Capitulo quinze O que fazer quando se
descobre que está apaixonada pelo próprio marido? A pergunta era
recorrente na cabeça de Daphne, tinha passado tantos anos
preocupada em como seria caso um dia se apaixonasse por
alguém, que nunca reparou que sentia "aquilo" quando estava ao
lado de Northwest. Foi tão burra! Era óbvio que sentia, e ficava tão
transtornada por ele nunca lhe dedicar o mínimo de atenção que a
única maneira que encontrava de chamar sua atenção era
insultando-o de alguma maneira. E a percepção disso era terrível. E
dolorosa. Muito na verdade. O fato era que ela não sabia lidar com
a rejeição, não sabia antes, e não saberia agora. De maneira tão
deliberada, se convenceu de que aquilo que sentia por ele era
repugno, quando na verdade o detestava por nunca ter se
interessado por ela. Naquela noite ela dormiu sozinha, e enquanto
as horas da noite passavam, ela só conseguia sentir a pressão da
responsabilidade que Alec tinha jogado em cima dela. E ela se
sentiu tola por ter tido pena dele no início por achar que estava
enganando ao omitir sobre o clube, ele foi muito egoísta, sequer
parou para pensar que talvez ela não quisesse ter filhos. Coisa que
Daphne acreditava que não queria até semanas atrás. E se não
fosse capaz de dar um filho varão a ele? E se viesse uma menina?
Ou pior, e se sequer pudesse engravidar? Ele iria odia-la
eternamente por ser a responsável pela perda de seu precioso
castelo. E a ideia de Alec pudesse vir a odia-la, deixava seu
coração debilitado. Daphne duvidava muito que fosse se curar
desse sentimento da noite para o dia, então decidiu procurar ajuda
para aprender a lidar com ele. Olhou para as três moças sentadas
graciosamente na grama alta do jardim da casa de sua mãe. —
Posso lhes fazer uma pergunta? — Indagou cautelosamente,
aproveitando aquele resquício de coragem que brotou em seu
íntimo. Suas irmãs ergueram a cabeça, e a olharam, esperando. Os
olhos grandes a encaravam cheios de carinho, verde, azul e
castanho. Aquele pingo de coragem que ela sentia esvaziou pela
metade. — O que fizeram quando descobriram que estavam...
Apaixonadas... Por seus maridos? — Questionou quase em um
sussurro, mexendo na barra de renda do seu vestido. Um silêncio
se seguiu por muito tempo, até Josephne soltar um gritinho seguido
de um pulo em uma espécie de dancinha comemorativa. — Eu
sabia, eu sabia, eu sabia. — Cantarolou alegremente, os cachos
dourados de seu cabelo pulavam junto com ela e fazia muito tempo
que Daphne não via sua irmã tão jovial. — Agora me devem cinco
soberanos, cada uma. — disse para as outras duas que assistiam a
tudo de caras azedas. Daphne então entendeu tudo e abriu a boca
ultrajada. — Apostaram que eu estava apaixonada por Alec? —
elas tiveram a descendência de ficar envergonhadas. — Não
exatamente. — Disse Sophie. — sempre soubemos que estava
apaixonada, apostamos apenas quanto tempo levaria até admitir
isso. — Sophie e eu apostamos que levaria três semanas, e Jose
apostou que levaria uma só. — Disse Seraphne desgostoso e Jose
sorriu batendo palminhas. — Como sempre, estou certa. — Disse e
se virou para Daphne. — Agora me diga, como se deu conta do
óbvio? — Apenas me dei conta. — Ela falou dando de ombros,
percebendo o quanto era doloroso estar apaixonada. — Bom, você
já consegue admitir em voz alta, isso já é um passo e tanto. – Disse
Sophie lhe dando um sorriso aprovador. — Se puder dar um
conselho, aproveite enquanto tem a oportunidade Daph, seja
sincera com ele. — Disse Seraphne e Daphne ponderou. Talvez
sua irmã tivesse razão. — E se não sentir o mesmo? — Ela
perguntou com a voz falha e se deu conta de que sua maior
preocupação era aquela. — Daph, já vi como ele olha para você.
Tenho certeza que nesse momento ele deve estar se fazendo essa
mesma pergunta. Ela anuiu, seria um tanto vergonhoso, mas
poderia tentar ser agradável. A noite, se preparou para ir ao clube,
desta vez usou um vestido azul royal, as mangas caíam pelos seus
ombros deixando seu colo à mostra, levava luvas de seda branca, e
pérolas em seu pescoço, escolheu uma máscara da mesma cor do
vestido e fez um coque volumoso onde colocou forquilhas com
pedras preciosas ao redor. Uma das coisas que ela mais adorava
em ser a dona de um clube era que tinha a liberdade para ser
ousada em suas indumentárias. Quando desceu para o andar de
baixo encontrou o marido no pé da escada esperando por ela. Ele
conseguia se superar cada vez mais em questões de beleza. Usava
calças de veludo negro e um colete prateado por cima da camisa
também negra, o sobretudo que usava ia até os joelhos, e os
cabelos brilhantes estavam jogados para trás, sensualmente, mas a
melhor parte era sem sombra para dúvidas a máscara negra que
cobria metade do rosto perfeitamente esculpido, possibilitando ver
apenas as íris flamejantes reluzindo como duas estrelas. Daphne
esqueceu como respirava enquanto descia as escadas e teve medo
de perder o movimento das pernas e sair rolando. Então pegou
firme no corrimão. Era a primera vez que sentia tão nervosa
enquanto ia de encontro a ele, insegura, e temerosa. Nem mesmo
no dia do casamento dos dois ela se sentiu assim, e deduziu que
isso era porque agora ela sabia que o amava. Ele ergueu um mão
coberta por uma luva de couro marrom para ela, e ela a pegou
deixando que ele a envolvesse com os dedos. — Está pronta para
ir? — Perguntou e sua voz soou como um canto sensual. Daphne
assentiu, e foram em direção a rua. Ela tinha enviado um bilhete
para Brooke mais cedo, por isso sabia que seu coche particular
estaria ali. Assobiou e logo ele apareceu, ao entrar na carruagem
Daphne soube que dali em diante, tudo seria diferente. ∞∞∞ A partir
do momento que ela desceu as escadas, Alec soube que sua cor
preferida tinha deixado de ser verde e agora era o azul.
Ultimamente esteve vendo o azul em todos os lugares que mais
gostava. Esparramado entre os lençóis enquanto eles se beijavam,
cobrindo o corpo dela naquela vestimenta que a deixava
exuberante, e principalmente nas íris sensuais, que insistiam evitar
olha-lo. Ela estava muito quieta, fitando todo o percurso pela janela,
batendo com a sola do pé no chão do veículo. Provavelmente
estava chateada por estar ele acompanhando-a até o seu trabalho.
Alec sentia muito, mas não podia ser diferente. Ele jamais permitiria
que ela pusesse os pés ali novamente sozinha, era um clube
feminino, mas não deixava de representar perigo. Não se sentia
muito confortável usando calças, nunca encontrava a medida certa,
e acabava sempre apertado demais, porém o kilt deixaria sua
identidade muito em evidência. Já que não se costumam ter por aí
homens usando "saias", como diria sua engenhosa esposa. A
carruagem parou no beco escuro, na rua detrás do grande clube, e
estava completamente vazio. Um homem saiu de uma porta escura
para recebê-los. — Boa noite lady D. — Disse ele e Alec o
reconheceu, era o homem chamado Brooke. Daphne sorriu
gentilmente. — Boa noite, Brooke. — Disse ela, e ele estendeu a
mão para ajuda-la a descer. Seus olhos revelavam que ele a
admirava. — Você já deve conhecer o meu marido. Ela indicou Alec
com o dedo e o homem não tinha notado ele ali até aquele
momento. Fez uma reverência digna de pena. — Seja bem vindo,
Sua Alteza. — Ele disse, e Alec o olhou de cima, depositando uma
mão na cintura da esposa. Sendo bastante claro com aquele gesto.
— Aqui o chamaremos de lorde D. — Daphne continuou e o homem
assentiu, andando para dentro do clube, indicando que eles o
seguissem. Quando ele ficou seguramente afastado, Alec se
aproximou por trás da bela mulher. — Lorde D? Sério? Por que não
Lorde A? Ou até mesmo N? — Perguntou de modo brincalhão e os
cantos dos lábios dela subiram levemente. — Meu clube, minhas
regras. — Falou de maneira sagaz e ele ficou encantado por sua
beleza. Entraram por uma porta que dava para um corredor e após
alguns passos Alec reconheceu onde estava. Eles tinham chegado
cedo, o clube não estava aberto ainda, por isso alguns funcionários
passavam para lá e para cá, sempre apressados para chegar em
algum lugar. O homem chamado Brooke abriu a porta do escritório
dela e deu passagem para que os dois entrassem, ali de novo
naquele escritório um pensamento desagradável passou pela
cabeça dele e sentiu um enjoou súbito ao imaginar Daphne usando
aquele escritório no passado, com um maldito de nome semelhante
a um barulho de vômito. Ele afastou essa ideia intrusa para longe e
prestou atenção somente no escritório. Tudo era admiravelmente
decorado, os móveis eram de alvenaria, tinha uma escrivaninha de
mogno muito bem organizada, um lustre no teto cheio de velas, um
tapete vermelho no chão, e poltronas de couro marrom
avermelhado bem distribuídas. — Aconteceu alguma coisa em
minha ausência? — ela perguntou adotando uma postura de
negócios, ele sentiu seu corpo tremer de desejo. — Bom, não
abrimos no domingo, e na semana o movimento foi regular. Apenas
pequenas brigas costumeiras em mesas de apostas. Eu e meus
homens demos cabo da situação rapidamente. — Disse ele com os
olhos focados nela, e um sorriso muito audacioso para o agrado de
Alec. — Acredito que sim. — Ela disse gentilmente. — Agora que já
cheguei, pode mandar que abram as portas. — Sim, milady, com
licença. — Ele disse e com uma reverência, se foi, fechando a porta
ao passar. Alec tirou os olhos da porta e os dirigiu para ela, muito
bem sentada atrás de sua mesa grande. — Esse homem quer você.
— Constatou e ela ergueu os olhos céticos para ele. — Brooke
trabalha aqui desde que o clube foi aberto e nunca tomou
liberdades comigo. — Falou e ele franziu os lábios, a máscara
estava esquentando o seu rosto. — O que ele faz aqui? —
Perguntou caminhando até uma janela e puxando uma fresta da
cortina de onde podia ver o salão de baixo, que ainda estava vazio.
— Ele é o chefe de segurança. — Respondeu, voltando sua
atenção para uma espécie de planilha grossa e encapada. Na noite
que tinha estado ali em busca de sua esposa, Alec não parou para
prestar atenção que até mesmo quem trabalhava nas roletas e nas
mesas do cassino, eram mulheres, vestidas formalmente,
escondendo os rostos com diferentes tipos de máscaras. Aquele
lugar devia ser uma espécie de paraiso masculino, mas na verdade
era o contrario. Em uma sociedade onde uma mulher deve ser o
retrato da prudência e dos bons modos, a sua esposa tinha criado
um antro onde o seu sexo não recebia nenhum tipo de
descriminação por agir exatamente como um homem agiria. E ele
se pegou completamente enamorado por ela. Sua Afrodite
selvagem e corajosa. Daphne representava o perfil perfeito de uma
esposa escocesa, forte, determinada, certa de suas decisões.
Assim como sua mãe foi. E Alec se sentiu tão sortudo que desejou
beija-la. Foi até aquela mesa, e se sentou em sua frente. — Quero
que me mostre como funciona tudo neste local. — disse cruzando
as pernas. Em uma pose relaxada. Ela ergueu os olhos para ele,
vê-la ostentando aquele semblante sério de negócios enviava
ondas de desejo pelo peito dele. Um dia no futuro ele a comeria ali
naquela mesa, usando nada mais que aquela máscara e os
sapatos, talvez ele deixasse as pérolas. Com certeza ele deixaria as
pérolas. — Posso saber o por quê do interesse? — Questionou,
parecia insegura, e brincava com uma pena de escrever entre os
dedos. — Alguém terá que tomar conta de tudo quando você estiver
grávida. — Mesmo com a metade da face coberta, ele pôde ver que
ela ficou ruborizada. — A mim não soa nada agradável a ideia de
servir unicamente com o propósito de lhe conceder um herdeiro. —
Replicou, no seu tom não tinha nada de austero ou rude. Ele achou
aquilo além de estranho, imaginou que ela fosse atira-lo pela janela.
— Mas será assim, e não pararei no primeiro, desejo ter no mínimo
quatro. — Falou com total sinceridade e ela abriu a boca, pasma. —
Cinco? — Levantou, e caminhou de lado para o outro, em busca de
ar. — Está vendo? Era justamente isso que eu temia, me casar e
me transformar em uma mulher sem objetivos. — Não será uma
mulher sem objetivos Daphne, será mãe, e esposa, e se te alegra,
deixarei que continue com os seus negócios, mas será em casa. Se
quiser manter o clube, terá que aceitar essas condições. — Ela foi
de suave à irritada em questão de segundos. — Me recuso. —
Disse firme. — Me recuso a regredir dessa maneira apenas porque
você quer que seja assim. — Se não queria um casamento, não
tivesse batido em minha porta pedindo por um. — Ela bufou, cada
centímetro de pele branca ficando vermelha. Aí estava sua Daphne.
— Se é desta maneira deveria ter concluído todo o serviço noite
passada, se está tao desesperado para manter o seu precioso
castelo não deveria desperdiçar um só gota de sua preciosa
semente. — Ele ergueu as sobracelhas, sabia que uma hora ou
outra ela falaria sobre isso. — Daphne, eu não quero que engravide
para manter o castelo. Eu quero que você queira ter um filho
comigo, eu quero que deseje isso tanto quanto eu desejo. — Ele
inspirou, frustrado. — Mas talvez eu tenha me precipitado, talvez
isso esteja mais distante do que nunca. Ele passou uma mão nos
cabelos, cansado. Aquela luta entre os dois seria eterna. Daphne
nunca poderia ser totalmente dele, não enquanto ainda ansiasse
pela vida de uma mulher liberta. Ele esperou que ela dissesse
alguma coisa, que desse qualquer indício de que ele estava errado,
mas ela não o fez. — Estarei conhecendo o clube, me chame
quando decidir ir embora. — Falou e deu as costas, sentindo o peso
de seus olhos em seus ombros ao fechar a porta e sair dali.
Capitulo dezesseis No dia seguinte Daphne acordou bem tarde, e
ficou a maior parte do dia enclausurada em seu quarto. A viagem de
volta para casa foi bem sombria e pesada. As palavras dele ainda
esmagavam o seu peito. E a verdade não parava de berrar em sua
cabeça. Ele estava certo, sabia que ele estava, mas a parte sua que
sonhou com aquilo, preferia acreditar que ela poderia achar uma
saída. Não poderia ser mãe, e dona de um clube ao mesmo tempo.
A não ser que tivesse o menino e deixasse a criança sob os
cuidados de uma ama, ou deixasse que o pai o levasse para morar
nas highlands em Stirling, mas nunca seria capaz disso, nunca.
Nunca tinha pensado em si mesma como mãe, mas agora que tinha
que pensar, se imaginava sendo uma igual a sua, ou as suas irmãs.
Se Alec escolhesse ir para Stirling, teria de ir sozinho. Ela estava de
frente para uma bifurcação, um lado indicava seu marido e tudo o
que ele representava, e o outro indicava o clube, junto com todos os
seus sonhos e esforços. Escolher um significava dar definitivamente
as costas para o outro. E ela não tinha certeza se queria libertar
qualquer um dos dois. Ele passou aquele dia fora, Deus sabe onde,
e ela fingiu não se importar com isso enquanto ajudava Ashleigh,
junto de suas irmãs, a pôr em prática seus estudos de etiqueta. —
Uma dama nunca deve sorrir durante a dança, ou demonstrar
qualquer tipo de emoção de maneira exagerada. — Sophie ia
falando enquanto lia um manual de etiqueta, o restante das moças
ali encaravam o teto com tédio absoluto. — Isso é ridículo. —
Ashleigh falou, aborrecida, jogando os braços para cima. — Foi o
que disse há quatro anos atrás. — Daphne disse, aquele
almanaque era pedante, assim como a velha frígida que o
escreveu. — Basta que saiba dançar e que não seja pega nos
jardins aos beijos com o anfitrião, e se sairá bem. — Disse
Seraphne escondendo um sorriso com a mão. — Que belos
exemplos vocês são. — Sophie as repreendeu com um olhar. —
Isso será um problema, em vista de que não sei dançar. — Ashleigh
falou. — Não sabe dançar? — Sophie quase gritou de espanto. —
Como pode não saber dançar? — Nunca fui a um baile antes. —
Ashleigh disse quase apavorada pelo surto da duquesa. Sophie
suspirou cansada, e andou até o meio da sala. — Venha até aqui.
— Chamou a escocesa, que foi mesmo relutante. — Tudo que deve
fazer é deixar que o seu parceiro te guie, assim. Sophie colocou
uma mão na cintura dela, e a outra na mão dela, e tentou guia-la
nos passos de uma valsa. Ashleigh era quase como um boneco de
madeira sem juntas. Dava pisões nos pés da duquesa, e vez ou
outra atropeçava nos próprios pés. — É como tentar ensinar um
urso a patinar. — Josephne sussurrou para Seraphne e a irmã
escondeu a boca com a mão para esconder um riso. — Sou um
fracasso! — Disse a menina, desistindo e indo se sentar no sofá,
onde escondeu o rosto com as mãos. — Peça que meu irmão
cancele esse baile, eu só irei envergonha-los. Daphne arregalou os
olhos ao ter uma idéia brilhante. — Máscaras! — Gritou e as
mulheres ali a olharam como se fosse louca. — Um baile de
máscaras. — Repetiu e os olhos de suas irmãs acenderam. —
Magnífico Daph. — Disse Josephne, e Daphne sorriu lisonjeada. —
Como isso poderia ser a solução para o problema de Ashleigh? —
Sophie perguntou. — É bem uma verdade que quando as pessoas
sabem que suas identidades estão protegidas se sentem mais livres
para fazer coisas que normalmente não fariam. — Ela explicou,
Sophie ergueu as sobrancelhas. — Está sugerindo que com a
máscara Ashleigh poderia aprender milagrosamente a dançar? —
Indagou, cerrando os olhos de maneira cética. — Estou afirmando
que sim. — Ela andou até o meio da sala até Ashleigh. — Eu já a vi
patinando sobre um lago congelado e tinha a desenvoltura de cisne.
— Mas não é a mesma coisa. — Disse Ashleigh, embaraçada. —
Sim, o é. — Falou Sophie, andando até sua pupila. — Se pode se
equilibrar sobre o gelo, pode também valsar. É tudo uma questão
de adquirir confiança. Ashleigh estava de cenho franzido e ainda
não as entendia, mas não parecia abominar a idéia e isso já era o
suiciente. — Muito bem. — Disse Daphne. — Faremos um baile de
máscaras então. ∞∞∞ — Conhecem um homem de nome Garett?
— Os três cavalheiros que até então estavam concentrados na
mesa coberta por veludo verde, ergueram os rostos para Alec.
Aquele noite, após esperar Daphne inutilmente para o jantar,
Northwest resolveu aceitar o convite de Christopher para jogar uma
partida de bilhar em sua casa. Mas nem mesmo distante da esposa
ele conseguia reprimir os anseios em seu coração. — Conheço
Garett Payne, o contador de Phillip York. — Sebastian respondeu
alheio ao cenho franzido dele. Odiava saber o nome e agora odiava
saber o sobrenome do maldito. — Ele quem foi o padrinho de Phillip
no dia que me pediu um duelo, anos atrás. — Disse Thomas,
mirando em uma bola e a acertando em uma tacada precisa, o
pequeno objeto correu pela mesa, se chocou com a bola vermelha
de Christopher, que rolou para dentro do buraco. — Por que o
interesse no homem? — Perguntou Christopher, usando um
pequeno pedaço de gesso para polir a ponta de seu taco. — Estou
buscando seu paradeiro. — Ele respondeu, fitando a fumaça do
charuto em seus dedos serpenteando pelo ar. — Eu não sabia que
tinha voltado para suas antigas atividades. — Disse Sebastian
arqueando um sobrancelha para ele. — Não voltei. — Alec falou, se
preparando para fazer a sua jogada. Avaliou os ângulos da
pequena bola de marfim verde e levou ela vários centímetro à frente
com uma só tacada, imaginando ser as bolas de Garett Payne. —
Por que estou achando que isso tem algo haver com Daphne York?
— Sondou Christopher de olhos cerrados, e um sorriso "sabetudo"
no rosto irritante, e o outro duque lhe lançou um olhar ameaçador.
— O nome dela é Daphne Lancaster agora. E eu preferia que a
chamasse de lady Northwest. — Corrigiu sério e Christopher abriu
um sorriso debochado. — Perdoarei seu mal humor porque já estive
em seu lugar e sei o quão terrível é estar apaixonado por uma
mulher arredia. — Disse o duque e Alec o olhou irritadiço. — Como
pode dizer isso com tanta certeza? — Indagou entre dentes. — Não
estaria tão raivoso e temperamental se não tivesse apaixonado. —
Ele falou, sabiamente. — Todos já estivemos em sua posição meu
caro, nem mesmo o diabo é capaz de se esquivar da flecha do
cupido embora no seu caso eu diria que a flecha tenha vindo um
pouco danificada. Tudo que Alec fez foi ignora-lo, escondendo o
rosto dentro do copo de brandy. — Bricadeiras a parte, se deseja
um conselho, é bom que seja sincero com ela enquanto pode ou a
oportunidade escapará de suas mãos e demorará bastante até que
possa dizer de novo. — Disse Christopher adquirindo um semblante
muito sério. Os outros dois amigos ficaram em um silêncio de
acordo e Alec ingeriu um gole daquele brandy, sentindo o sabor se
tornar desagradável em sua língua, como fel. Olhou para o teto
abobadado da sala de jogos onde pendia um lustre brilhante. —
Não posso, não é recíproco. — Disse, quase sem acreditar que
tinha mesmo revelado aquilo na frente de seus amigos. Aquela era
uma demonstração de fraqueza, e Alec não gostava de se sentir
fraco. Em sua covardia decidiu andar até uma estante onde girou
um pequeno globo terrestre. — Eu descobri o que ela vai fazer no
Rough Diamond. Os três homens o olharam em um silêncio
medonho. Alec olhou em direção a porta da sala de jogos, se
certificando de que estavam em completa privacidade. Não se podia
mais confiar totalmente nos criados. — Ela é dona do lugar. — A
frase reverberou pelo ar como um disparo de canhão. — Não vou
dizer que estou impressionado, isso era algo que eu já esperava de
Daphne. — Disse Sebastian, com um sorriso quase orgulhoso. — O
que você vai fazer com relação a isso? — indagou Thomas e Alec o
olhou inexpressivo. Adoraria ter a resposta para aquela questão,
mas não seria Alec quem deveria responde-la. Tudo estava nas
mãos de Daphne, somente ela poderia decidir o que faria com o
próprio destino. Embora todo o ser dele gritasse: escolha a mim.
Escolha a mim. Escolha a mim. Mesmo que em seu íntimo ele já
soubesse que ela jamais iria escolhe-lo. Bridget não o escolheu. E
Daphne não seria diferente. Sequer o amava. Se amasse, não
restaria a dúvida. Bridget ao menos tinha a decência de fingir, mas
ele não podia reclamar pois era justamente por não ter filtros que
ele admirava a pequena esposa. — O que mais eu posso fazer?
Proibi-la? — Ele indagou, realmente eeperando que um de seus
amigos tivesse uma solução, qualquer solução para seu problema.
— Se proibi-la é capaz de ela fugir como fez sua primeira noiva. —
Disse Sebastian e ele se sentiu apavorar com essa idéia. — Bridget
me largou nas vésperas do nosso casamento e eu não me importei
o suficiente em ir atrás dela, Daphne já é minha, terá que correr
muito longe para conseguir fugir de mim. — Apenas quando ouviu
as palavras impulsivas deixarem sua boca Alec se deu conta que
durante todo o tempo esteve com a resposta que esteve esperando
ouvir de seus amigos. Ele também tinha sua própria escolha.
Daphne tinha algo alem do apego emocional pelo clube, era o
legado dela e ele estava sendo egoísta por fazê-la abrir mão disso
pelos desejos dele. Sim, ele queria uma família com ela, e se a
proibisse de fazer o que amava ele estaria apenas afastando ela
ainda mais dele, e não podia mais suportar isso. Stirling tinha sido
seu lar desde menino, e era onde guardava suas lembranças mais
preciosas mas o que realmente importava não era o castelo, mas
sim as pessoas com quem ele tinha aprendido os princípios de uma
família. Seus pais. Enquanto ele tivesse Daphne e Ashleigh, ele já
teria tudo o que realmente importava. ∞∞∞ Os dias que se seguiram
foram corridos. Para Daphne e principalmente para Ashleigh.
Teriam que transformá-la em uma pérola antes que chegasse o dia
de sábado e Daphne não estava descansando um segundo sequer.
Juntamente com suas irmãs, estavam correndo contra o tempo,
como um quarteto de heroínas na missão de preparar a jovem
escocesa para ser apresentada em sociedade. Em quatro dias,
Ashleigh teria que aprender tudo que se dizia relacionado a um
jantar formal e a etiqueta nos bailes da alta sociedade. Os vestidos
que elas tinham encomendado pelo modista Gianny tinham
chegado na manhã de quinta feira. Um desfile interminável de
musseline, seda, cambraia cetim, tafetá, algodão, véu, e veludo. De
variadas cores e modelos. A maioria cores claras, e brancas, que
remetiam a pureza e a delicadeza que uma debutante deve ter. Nas
tarde elas ensaiavam os tipos de dança, o reel, e principalmente a
valsa. Também tentaram ensina-la como cumprimentar o seu
parceiro após uma dança, como se comportar durante o balé, e o
que nunca falar durante uma conversa. A jovem ouvia a todas as
dicas com aborrecimento fingido, mas Daphne via em seus olhos o
brilho da excitação. Vez ou outra Alec se juntava a elas no salão e
tentava ele mesmo guiar sua irmã. Era um exímio dançarino e
Daphne sabia disso pois costumava vê-lo dançar de longe nos
salões de baile. A única coisa boa de se manter ocupada com as
preparações para o baile, foi que ela pôde fugir das questões
insinuantes em sua cabeça. Ela não estava fugindo dele, ou da
responsabilidade que tinha que tomar, mas sentia que precisava
daquele dias de distância para poder ver com coerência, e listar
todos os prós e os contras e tudo pelo qual ela poderia abrir mão.
Alec sentia que ela precisava daquele espaço, era como se
conseguisse compreende-la apenas com as respostas do corpo
dela e isso deixava Daphne atordoada. Eles dois voltaram ao
Rough Diamond todos os dias naquela semana, mas não ficava
muito tempo próximo dela, logo a deixava sozinha na privacidade
do escritório e ia fazer rondas pelo clube com Brooke. Ele estava
muito mais familiarizado com tudo. A parte mais perturbadora para
ela, era quere-lo quando estava distante, e quere-lo mais ainda
quando estava perto. Isso devia significar alguma coisa. Daphne
ficava horas olhando o movimento de pessoas na planta baixa do
clube. Aquilo tudo representava a liberdade, não somente dela,
como também de várias mulheres, a liberdade de casamentos
forçados e de maridos agressivos, a liberdade de escolha, que é
tirada no momento em que nascem. E ela se sentia orgulhosa
disso. Contudo, a parte revolucionária dentro dela parecia querer
abraçar a outra parte, a parte que desejava ser mãe, e jamais
admitiria em voz alta, a parte que também queria ser esposa. Ela
sentia no fundo dos seus ossos que Alec era o homem perfeito para
isso. Era um homem incrível, e sabia que se fosse qualquer outro
em sua posição, jamais a aceitaria. Jamais. Talvez fosse por isso
que ela sempre o admirou. Mesmo dando todos os indícios de que
o desprezava. A sua liberdade em cometer escândalos, a sua
inclinação para o errado. Era como ela no fim de tudo, com o
diferencial de que tinha mais determinação ao tomar suas decisões.
Ele estava ali, ao alcance das mãos dela, e estava oferecendo tudo
para ela, porém, Daphne sentia as mãos pesadas demais para se
mexerem. Na noite anterior ao baile ele entrou no quarto dela
quando ela se preparava para dormir. Ele segurava uma caixa nas
mãos. Seus olhos de fogo líquido vasculharam o corpo dela coberto
por uma camisola de seda, e ele andou a passos felinos até ela.
Parando a pouco centímetros em sua frente, metade do seu rosto
estava sendo iluminado pelas chamas na lareira, a outra parte
estava ocultada pela escuridão. — Amanhã será a nossa primeira
apariçao como um casal. — Disse e ela assentiu, apenas para não
ficar lá, parada como uma estátua. —Sei que não gosta da cor, ou
da estampa, mas eu ficaria muito feliz se usasse isso. Ela pegou a
caixa que ele estendeu e a colocou em cima da cama. Puxou a fita
de cetim que a fechava e a abriu. Ela olhou o monte de tecido lá
dentro, e o puxou pelas alças para fora, ergueu-o no ar para
vislumbrar a peça de roupa. O vestido que tinha um decote em
formato de coração e a cintura alta, exibia um emaranhado de
tecidos que faziam um jogo fascinante de estampas. Nos
acabamento das barras em cima dos seios, uma estreita fileira de
quadriculado verde e negro faziam um belo contraste com o
prateado perolado da seda, pérolas e mais pérolas na parte de trás
do fecho. E ela se imaginou facilmente ali dentro, o perolado
deixaria o tom branco dos seios dela em evidência. As saias caiam
volumosas e prateadas, com uma grossa camada de véu cintilante
por cima. — Alec, é lindo. Eu adorei. — Ela falou controlando todas
as emoções que formavam um bolo em sua garganta. — Que bom
que gostou. — Ele sorriu para ela. — foi o vestido que minha mãe
usou em seu debute, eu gostaria que tivesse usado no dia do nosso
casamento, mas ele estava em Stirling. — E foi naquele instante, ao
ouvir as aquelas palavras doces saírem sua boca, que ela sentiu
algo desprender e soltar. Uma chama, que até então era pequena e
enclausurada, queimou como uma fogueira em um solstício de
verão, aquecendo tudo que era frio e escuro, e ali Daphne soube,
simplesmente soube, e chegou à uma decisão. Capitulo dezessete
Ser uma duquesa exigia muitas coisas, coisas com as quais
Daphne ainda não tinha sequer sonhado em lidar. Sempre achou
que alta sociedade tinha regras inúteis demais, coisas simples,
como por exemplo o ato de sorrir, uma duquesa não deveria sair
por aí mostrando os dentes a quem quisesse ver, porém naquela
noite isso se tornou uma tarefa impossível para ela. Não conseguia
parar de sorrir. Dentro daquele vestido, ela se sentiu como uma
rainha, e sabia que estava incandescente, não de beleza física, mas
sim de felicidade. Seu marido estava ao seu lado, e os dois
estavam parados na porta da Northwest House junto de Ashleigh
recepcionando seus convidados. Ele estava quase inacreditável de
tão bonito. Com os cabelos penteados para trás, formando um leve
topete na testa lisa, usava uma máscara veneziana prateada com
acabamentos em seda verde. Um fraque negro por cima de um
colete grafite e uma camisa de linho branco, o kilt verde de costura
impecável caindo até a altura de suas canelas, e as meias brancas
até os joelhos e botas hessianas. Era belo. E era dela. Mas aquela
noite não poderia girar somente em torno dos dois, também tinha
Ashleigh, a jovem escocesa estava exuberante. Seu vestido rosa
pálido era simples mas mesmo assim denotava elegância. Usava
luvas de seda perolada e tinha os cabelos recolhidos em um
penteado elaborado. Pela primera vez via-se como uma mulher,
feminina, uma flor que acabava de desabrochar na primavera, não
mais como uma garota. Usava um colar com uma única esmeralda
no pescoço e alguns cachos de seu bonito cabelo castanho, caiam
em volta da sua máscara de tecido translúcido e rendado. Na hora
das apresentações ela envolveu as mãos com as de Ashleigh,
tentando lhe passar alguma tranquilidade, quando na verdade ela
tamvem tentava buscar alguma tranquilidade para si mesma. Era a
primeira vez que ela apareceria em público como uma mulher
casada, e a fama já não era muito boa. Daphne nunca tinha se
importado com as más línguas, mas naquele momento, tudo girou
em torno daquilo e do desejo de que o mundo soubesse que ela era
apaixonada por Alec, que o casamento dos dois era real e não
havia sido impulsionado apenas pelo dote dela e a necessidade
dele de se casar. Ela desejou loucamente que soubessem que ele
era inteiramente dela. Quando todos os convidados já tinham
chegado, eles caminharam para dentro do salão. Estava orgulhosa
da decoração e davia todo o crédito para suas irmãs. Tudo estava
na medida certa para proporcionar o clima de misterioso que ela
desejava. A iluminação era feita por velas colocadas em lustres. Os
arranjos eram feitos de rosas vermelhas e cortinas e mais cortinas
de cetim fuscia. No centro do salão, os móveis haviam sido
afastados de modo que criasse uma pista de dança. Eles
atravessaram o salão em direção ao seu grupo de amigos. Sophie e
o marido formavam um casal inigualável. O homem era grande e
intimidante e tinha um olhar gelado como o pólo norte, enquanto a
duquesa era serena e esguia, e seu olhar transmitia bondade.
Christopher usava uma máscara de veludo negro e não deixava de
tocar na esposa sempre que tinha a oportunidade. Quando os viu
se aproximando, Sophie olhou para Daphne de um jeito estranho.
Daphne já a conhecia o bastante para saber que ela estava
querendo contar alguma uma coisa. — Chegaram em boa hora. —
Disse Standhurt. — estávamos indo pegar uma bebida, deseja ir
conosco Alec? — Invés de responder Alec olhou para ela em busca
de permissão. Daphne ficou muito mais do que surpresa com
aquilo. — Tudo bem, ficaremos bem. — Ela disse, embaraçada e
ele assentiu uma vez com a cabeça. Mas antes de ir Alec se
aproximou dela o suficiente para falar perto do ouvido. — Reserve a
primeira valsa para mim. — o calor de sua voz batendo no lóbulo da
orelha dela desceu como um rojão até o centro de suas pernas. Ela
tragou saliva, olhando nos seus olhos quentes enquanto ele se
afastava junto dos outros lordes. — Que belo vestido Daph, exótico,
mas muito bonito. — Disse Josephne olhando o longo vestido. —
Foi o vestido de casamento de minha mãe. — Disse Ashleigh, com
orgulho e Daphne sorriu com afeto para a cunhada. Elas estavam
em um ponto estratégico, de onde tinham uma vista bem ampla do
salão, quando Marie York as viu ali, pegou o marido pela manga e o
puxou até elas, trazendo o senhor Harrison junto. — Olhe para
nossas filhas Phillip, foram ou não foram feitas para isso? —
Perguntou com o peito cheio de orgulho e Phillip quase rolou os
olhos. O patriarca se inclinou para depositar um beijo na testa de
Daphne. — Está preciosa minha Daph. — Ele susssurrou no ouvido
dela e Daphne sorriu com amor para seu pai. — Me reserva a valsa
lady Lancaster? — Perguntou Phineas e Daphne olhou para o
homem temendo que aquilo pudesse causar algum
desentendimento com seu marido, mas para sua surpresa os olhos
de Phineas não estavam nela, mas sim em Ashleigh. O rosto da
moça ficou pálido imediatamente enquanto ela assentia de maneira
automática. — Oh, estou vendo Dolores Fowkes, ela sempre esteve
falando algo de Daphne nos salões de bailes. quero só ver o que
ela tem para me dizer agora que minha Daphne é uma duquesa e
sua anfitriã. — Disse Marie, e as mulheres observaram com olhares
de pena enquanto seu pai e Phineas eram arrastados para longe.
— Isso foi uma péssima ideia, eu vou errar todos os passos, sei que
vou. — Disse Ashleigh saindo da armadura de donzela e sentando-
se em uma cadeira para esconder o rosto com as mãos. Sophie foi
imediatamente até ela e a levantou. — Não há o que temer, seu
irmão será o primeiro a dançar com você, logo verá como é simples.
— Falou tentando acalma-la. Ashleigh pareceu concordar, do seu
jeito receoso, mas concordou. Sophie permanecia dando olhadas
para Daphne de maneira inquieta, e Daphne não teve a
oportunidade de perguntar o que a afligia, pois um desfile
interminável de pessoas foram cumprimenta-las. Pouco mais de
quinze minutos depois, seus cartões de baile estavam
razoavelmente cheios e a orquestra se preparou para começar o
reel. Alec veio buscar sua irmã para levar para a pista de dança, e
Daphne olhou para seu cartão de baile para saber com quem seria
sua primeira dança, sentiu dor de estômago ao ver o nome de
Mellbourne. Quando o homem cruzou o salão de baile para leva-la
para o salão, Alec a olhou enviesado, sem tentar esconder seu
descontentamento. Uma fila de casais se formou na pista de dança
e Sophie se colocou ao lado dela com o barão de Sheffield.
Formando duas filas impecáveis de casais. O som do violino
começou a tocar ao mesmo tempo que somente as mulheres
davam um passo a frente e executavam o primeiro passo, Sophie
se inclinou para ela. — Há algo que quero te contar. — Disse,
fazendo um giro ao redor de seu parceiro de dança e se afastando
para acompanhar o seu par, Daphne fez o mesmo com Mellbourne,
juntando as mãos protegidas por luvas, e se enredando pelos
casais que faziam os passos com extrema perfeição. Era uma
dança complicada que exigia um pouco de concentração. Ela deu
uma olhada em Ashleigh e Alec, o escocês guiava a sua irmã com
calma, sem se importar com os outros casais ao seu redor.
Novamente ouve um giro e uma troca de casais. — Sobre o que? —
Ela perguntou ao passar por trás de Sophie para tomar o seu lugar
com o barão. O homem seguia a dança com os olhos fixos nos pés,
com medo de errar o passo. — Sobre Northwest, desvendei o
mistério por trás de tudo. — Ela respondeu dando um pulo com
Mellbourne, e voltando a ocupar o seu lugar com Sheffield. A
revelação fez Daphne errar o movimento e dar um encontrão no
peito de Mellbourne. — Perdoe-me. Se recompôs e lançou outra
olhada para Alec e ele a olhava com o cenho franzido de
preocupação. Desviou seus olhos, incapaz de esconder o medo que
ebulia suas vísceras, fez os passos seguintes quase
automaticamente, sentindo os lábios frios e os pêlos da nuca
eriçados. Estava submersa na curiosidade que existia há quatro
anos, aquilo seria finalmente o fim de suas especulações? os
pensamentos não paravam de brotar em sua cabeça. Ela passou
por Sophie ao dar um giro e as saias dos vestidos das duas
farfalharam. — Então me conte, o que está esperando? — suas
mãos se juntaram por um segundo. — Há algumas noites, eu ouvi
uma conversa entre os lordes no salão de jogos de minha casa. —
Disse rapidamente antes de ser puxada para longe pelas mãos de
Sheffield. Daphne bufou de frustração. Juntou suas mãos com as
de Mellbourne, ele deu um sorriso irritante para ela, e a girou
executando com perfeição o passo seguinte, seguido de um pulo,
mesmo ela sendo tão mais pequena, ele conseguia guia-la sem
qualquer dificuldade. Um giro, um salto, um cruzar de mãos depois,
com um grande rodopio pela sala, a música cessou e Sophie a
puxou para um canto do salão para terem meio minuto sozinhas
antes que alguém as atrapalhasse de novo. — Eu os ouvi dizer que
há doze anos atrás, Northwest, ele abandonado pela noiva nas
véspera do casamento. ∞∞∞ Alec aguardava inquieto a chegada da
primeira valsa. O momento glorioso quando teria sua esposa só
para sí, quando tomaria ela entre os braços e rodopiaria pelo salão
na vista de todos. Infelizmente enquanto essa hora não chegava ele
tinha que se contentar em ficar em silêncio em um canto do salão,
enquanto assistia ela dançar com uma caravana de débeis de mãos
escorregadias. Pensou vez ou outra em simplesmente ir até ela e
toma-la em seus braços, mas não pôde fazer isso, ou apenas iria
estragar o grande momento de Ashleigh. Então ele ficou em silêncio
admirando-a enquanto dançava, a seda de suas saias esvoaçantes,
prateada com o tartan dos Armstrong formando arabescos pela
barra, os cabelos dourados, tão bem penteados em um coque
trabalhado que nem parecia aquela mata de fios selvagens, e
mesmo de longe dava para ver o brilho do diamante em seu dedo.
Vez ou outra ela o dirigia olhadas furtivas, apenas para virar o rosto
logo em seguida. Ele não tinha deixado de notar que ela tinha
estado estranha desde sua primeira dança com Mellbourne, estava
evitando olha-lo diretamente e parecia incômoda. Isso fez algo ruim
acordar dentro dele. Quando a música parou ela se despediu do
seu par com uma reverência e um sorriso cortês, e se juntou as
outras ladys, andando até eles vagarosamente. Ashleigh sorria
abertamente, conversando alegremente com lady Haddington, ele
estava feliz em ver sua irmã sorrir de maneira tão descontraída, não
via ela assim há muito tempo, anos na verdade. A cada minuto ele
ficava mais certo de que tudo que Ash precisava era de uma
presença feminina. Ele foi um parvo por demorar tanto em fazer
justamente isso. Sua mãe morreu muito cedo e Ash não teve tempo
de aprender a lidar como uma mulher. Ele tentou dar o seu melhor,
lhe falando sobre as regras mensais e sobre as mudanças em seu
corpo, mas isso só resultou em momentos embaraçosos e uma
demonstração nítida de sua falta de tato. Daphne chegou até ele e
lhe um breve olhar antes de se colocar ao seu lado, suas feições
estavam rígidas, e suas sobrancelhas formavam um arco pra baixo.
Ele sentiu que algo estava errado. Ele nunca tinha visto aquele
olhar no rosto de Daphne antes e não gostou nada. Quinze minutos
depois a valsa estava sendo anunciada, e o cretino do Harrison
surgiu do inferno para acompanhar Ashleigh. Antes que Alec
pudesse dizer qualquer coisa, ela recebeu o braço dele e foram em
direção a pista de dança. Ele falou algo para ela, que
imediatamente se ruborizou, e respondeu com um enorme sorriso
coquete. Foi então que uma realidade se chocou com Alec, sua
pequena irmã já não era mais tão pequena. Abriu um sorriso
involuntário, ao mesmo que se sentia grandemente feliz, e se virava
para sua esposa, para fazer o que sempre quis fazer, mas nunca
fez. Tira-la para dançar. Ofereceu a mão para ela, que o recebeu
com um meio sorriso sem graça, logo voltando a olhar para os
próprios pés. Ele ignorou a irritação em seu íntimo, ela era muito
mais pequena, e sua mão repousava em suas costelas, na curva do
espartilho, ela encarava o lenço no pescoço dele, fixamente. Alec
resolveu ignorar o aperto no peito e se preparou para guia-la ao
início da música. — Você parece estar me evitando, meu doce. —
Ele comentou quando a primeira nota soou pelo ar, e eles deram o
primeiro passo em direção a plenitude. Ela sorriu nervosamente. —
Como poderia estar te evitando, estando literalmente em teus
braços? — mas mesmo assim aquilo não o convenceu. Os
primeiros passos da dança se seguiu fluentemente, por um
momento foi como o momento que os dois tiveram no lago em
Kinlochleven, eles giravam e deslizavam, e ele estava concentrado
naquele momento, anos e anos vendo-a de longe, sempre
resplandecente, sorrindo e quebrando centenas de regra de
etiqueta em meio a valsa. Agora ele era o felizardo da vez, ela
girava com uma graciosidade quase pura, o brilho de centenas de
velas refletindo o loiro de seus cabelos, os longos cílios formando
um leque de plumas sobre os olhos azuis, os lábios carnudos e
rosados erguidos em um sorriso gentil, e Deus, como ela era linda,
a mais adorável e intrigante das criaturas, e tão claro quanto a neve
do inverno escocês, como no dia em que de casaram, Alec se deu
conta de que não poderia ficar um só dia sem ela. Foi incapaz de
controlar a risada e ela o acompanhou, por motivo nenhum,
aparentemente. Apenas a vontade de rir. As pessoas passavam por
eles como borrões, e tudo era azul, prateado e dourado e rosa, e
doce e primaveril e Daphne. Quando deu por si, Alec já se inclinava
para ela para beijar seus lábios, com uma pressão dolorosa.
Desejando que ela sentisse aquilo tão forte quanto ele sentia.
Esquecendo-se do mundo, e de que aquele provavelmente seria o
escândalo do milênio. Bem no meio do salão de baile, rodeado de
boa parte da aristocracia britânica, ele se afastou para dizer as
palavras, para colocar para fora um sussurro que estava
espremendo seus pulmões. Contudo, quando olhou para o rosto de
sua esposa, ele viu que seus olhos estavam alagados de lágrimas,
franziu o cenho, imediatamente preocupado. — Daphne carinho, fiz-
te mau? — Indagou e ela negou com a cabeça, mesmo assim
parecia perturbada. Olhando-o com uns olhões cheios de... Alec
sentiu um arrepio, aquilo escondido nos olhos azuis acinzentados
parecia pena. Ela continuou dançando e envolveu os dedos com os
dele, aproximando seus corpos, olhando em seu rosto com aquele
olhar que ele tanto detestava. — Quero que saiba que eu nunca vou
te deixar. — Sussurou e algo gelado e pontudo se cravou no centro
do corpo dele, e fez todo o restante de dele se apagar como um
sopro certeiro na chama de uma vela. O que antes estava pulsando
loucamente, desintegrou e virou pó. Ele olhou novamente em seus
olhos. — Você sabe. — Ele constatou friamente e desejou ter a
esposa longe dele. Ela trangou saliva, e novamente lhe dirigiu
aqueles olhos, aqueles olhos cheios de pena e ele deu um passo
em direção ao inferno. — Não me olhe assim York, não vai gostar
das consequências. O tom de sua voz saiu rasteiro como o sibilar
de uma cobra, e ela se afastou dele, com medo. Ótimo, até isso era
melhor do que a pena. O restante da valsa foi rápida e tão
desagradável quanto poderia ser. — Alec. — Ela chamou por ele,
mas ele ignorou completamente. Quando finalmente terminou a
valsa ele afastou-a para longe da pista de dança. Desejava estar
longe dela. Não suportava, não suportaria ter que ver Daphne
olhando para ele daquela maneira. Como se ele fosse um inválido.
Alguem incapaz de ser amado. Sua mente mandava
repentinamente lapsos de memória do passado, da vergonha e da
humilhação. E tudo o que veio depois. A pena. — Não estou me
sentindo bem, vou me recolher. — Ele disse curto e grosso,
ignorando o decoro e se dirigindo sem se despedir em direção as
portas e depois para as escadas. No percurso até o seu quarto Alec
ficou com a cabeça estranhamente vazia, pela primera vez em
anos, não estava pensando em nada. Talvez toda a sua essência
estivesse concentrada no buraco que crescia em seu peito à cada
minuto que passava. Ele andou pela casa pisando firme e entrou no
quarto dando uma grande batida na porta, socando o ar na tentativa
de extravasar sua frustração. Tirou as botas dos pés, chutando-as
para longe, e desatou o nó do lenço em seu pescoço, puxando-o
dali e o jogando atrás do biombo, fazendo o mesmo com o fraque, e
o colete, até estar apenas de meias, camisa e kilt, foi até o aparador
onde se serviu de uísque. Se abaixando para retirar suas meias,
bem no momento que ela irrompeu porta a dentro. Estava vermelha
e furiosa. O penteado do baile estava desfeito, os longos cabelos
indomáveis adornavam o seu rosto em formato de coração, já não
usava luvas e estava descalça, apontou um dedo intimidador para
ele. — Você, seu escocês acéfalo! — Gritou, cerrando os dentes. —
O que eu te fiz para você me humilhar daquela maneira? — Não é
você que vive dizendo que não se importa com o que as pessoas
falam? — Ele disse ironicamente. — Me perdoe, Vossa graça, por
ter estragado sua noite com lembranças que obviamente ainda são
dolorosas demais para você. — disse acidamente. — Eu só gostaria
de refrescar sua memória, eu não mereço sua raiva, não fui eu que
larguei você no altar. Muito pelo contrario, estive lá quando você
precisou e fui até o final, guarde sua raiva para quem você vem
vindo guardando todo esse rancor durante anos, ela merece isso,
não eu. Finalizou com um olhar de desprezo e deu as costas, já se
preparando para sair do quarto, ela achava que podia entrar em seu
quarto gritar o que queria e sair impune. De jeito nenhum. Alec
atravessou o espaço que os separava e a puxou pelo braço. —
Você me largou também, quando foi embora de Stirling. — Acusou,
ela tentou puxar seu braço do aperto. — Nós tínhamos um acordo!
— Gritou. — Eu esperei por você! Por quatro anos eu fiz isso.
Enquanto você se divertia em sua vida de libertinagem! Onde você
estava quando todos se afastaram e eu fiquei sozinha? Quando
todos estavam construindo suas famílias e seguindo suas vidas.
Onde você estava? Alec engoliu as palavras. Derrubado pelas
lágrimas se formando em seus olhos cheios de raiva, e pela dor
contida em sua voz. Aquelas palavras continham uma revelação
que ele jamais esperou ouvir dos lábios dela, vez ou outra ele se
permitiu sonhar com isso. Mas nunca chegou a crer que de fato ela
o esperava, Cristo, quão estúpido ele foi? — Daph... Me perdoe,
eu... Não podia imaginar... — Ele disse, lamentando amargamente.
Ela o olhou por uns bons segundos, respirou fundo. Seus olhos
pareciam querer gritar milhares de sentimentos. — E se eu
estivesse disposta a vender o Rough Diamond? Se eu escolhesse
você, se escolhesse nós? Ele cambaleou dois passos para trás,
talvez fosse a dose de uísque, ou foi somente o impacto de suas
palavras bem no meio do seu coração, que até a cinco minutos
atrás parecia não querer bater. Olhou no rosto daquela mulher
impressionante, achou que caso soubesse sobre Bridget, ela não
fosse mais dirigir aquele olhar para ele. Aquele olhar cheio de
admiração e respeito, mesmo com anos de brigas, Daphne sempre
o olhou com algo diferente nas íris azuis, esse mesmo olhar que o
assustava e o deixava louco ao mesmo tempo, esse mesmo olhar
que dizia que ela o via como um igual. — Não posso fazer isso. —
Ele falou sem medir as palavras e o rosto dela perdeu toda a sua
cor, e seus olhos transmitiram toda a dor. — Foi o que eu pensei. —
ela disse estrangulando um soluço, puxou o braço e quase correu
em direção a porta de ligação para seu quarto. Ainda de costas, ele
a alcançou e abraçou o corpo frágil e pequeno, enfiando o rosto nos
cabelos macios que tanto adorava, sentindo seu cheiro de
primavera. — Não vai. — Pediu, puxando ainda mais seu corpo
para o dele. Ela soluçou. Ver uma criatura tão forte como Daphne
York chorar era algo tremendamente intimo. — Mas você disse que
não podia... Você disse... — Ela choramingou, e Alec sentiu sua
alma se aquecer por completo ao vê-la tão abalada por achar que
ele não a correspondia. Ele beijou a lateral de seu rosto,
depositando as mãos em sua cintura, sentindo suas costas contra o
peito. — Não posso fazer isso. — Repetiu e ela ficou atenta. — não
posso deixar que venda o Rough Diamond, é seu legado, e eu sou
malditamente orgulhoso de você por isso, daremos um jeito, eu e
você, juntos. Ele sentiu o coração dela acelerar no peito, podia
sentir como se fosse uma extensão dele mesmo. — Então você me
quer? — Ela perguntou, sua voz carregada de alívio, e esperança, e
Deus, ele a queria muito mais do que já quis algo nessa vida. Puxou
a cintura com força contra sua virilha, para que ela sentisse o
quanto ele a queria, pulsante e doloroso, — Chega de jogos. —
Alec falou ao abrir o primeiro botão de seu vestido, cego para estar
dentro dela. — Chega de brigas. — ele não aguentaria abrir de um
por um, então pegou os dois lados do tecido. — Chega de
provocações. — ele puxou com força, e os botões voaram para
todos os lados. — Chega de fugir. Capitulo dezoito Sim, chega de
fugas. Daphne pensou. Se agarrando à aquela última tentativa de
fazer a coisa certa. Alec se apertava contra as suas costas como se
quisesse se fundir a ela e formarem um só. — Faremos dar certo,
Daph, faremos. — Ele prometeu, ainda com o rosto enfiado em seu
cabelo, puxando os fios de seu espartilho com uma urgência
dolorosa. Por algum motivo, Daphne sentia como se fosse a
primeira vez que ficaria nua diante do marido. Aquilo não se tratava
somente da nudez física, ela despiria sua alma para ele. O vestido
caiu no chão deslizando pelo corpo ela devagar, e ele a virou com
um movimento brusco para trabalhar nos fios da roupa íntima, os
olhos amarelos alagados de um furor que derreteu as pernas dela,
se livrando das peças de roupa e deixando-a nua, somente com as
meias brancas e translúcidas que iam até as suas coxas. Daphne
sentiu a brisa noturna beijar seus mamilos e a pele de suas costas,
enquanto ele devorava, sem qualquer pudor, o seu corpo com os
olhos. — Me dispa querida, me deixe nú para você. — Ele pediu,
levando uma mão dela até os botões de seu colarinho. Com as
mãos trêmulas, Daphne começou a tirar um botão de cada casa. Se
sentia como uma menina desembrulhando o pacote do maior
presente de aniversário, revelando a pele branca a cada novo
botão, até finalmente descobrir tudo e passar a camisa pelos braços
largos daquele homem que bem podia ser um descendente de
viking. Ele observava tudo com as pálpebras pesadas, e a
respiração lenta, uns fios do seu cabelo caiam para a testa, as
sobrancelhas escuras e grossas formavam um arco sedutor que
deixava seu semblante ainda mais atraente, ela desceu os olhos
pelo tronco bem esculpido, desde os tendões do pescoço grosso,
até o v que se formava no fim de seu abdômen, sumindo para
dentro do kilt. Se sentindo altamente libidinosa, ela levou as mãos
até o fecho do kilt. enfiando dois dedos para dentro e sentindo o
homem grande dar um leve espasmo ao toque de sua pele, ela
desprendeu os fios daquela veste e tirou o cinto de couro que o
prendia em sua cintura curvilínea, fazendo o tecido descer para
baixo, revelando o brinde volumoso que vinha escondido dentro
daquele presente escocês divino. — Em toda a minha vida nunca
imaginei que fosse tirar as saias de alguém. — Ela falou com um
sorriso audacioso, e todo o corpo dele estremeceu com uma risada
quente. Ele era tão puramente viril, que nem mesmo uma saia era
capaz de diminuir sua masculinidade. — Não é saia, se chama Kilt.
— Ele corrigiu-a, devorando-a intensamente com os olhos. — É
bom que já esteja acostumada, nossos filhos serão pequenas
miniaturas minhas. — Deus me ajude. — Ela respondeu em tom
brincalhão, e não esperou mais um segundo sequer, a cada minuto
que perdiam falando, menos tempo ela tinha com ele dentro dela.
Se aferrou a ele com uma fome desequilibrada, sabendo que tudo
antes desse momento estava nulo, apagado e esquecido, somente
ali e agora, eles iriam consumar o seu casamento. Eles se juntaram
em um beijo ardente enquanto caíam lentamente de joelhos no
tapete felpudo de frente para a lareira, o calor que emanava do fogo
abraçou os dois, criando uma névoa densa de luxúria e paixão.
Enquanto ele descia os lábios para o pescoço dela, ela tratou de
conhecer o corpo dele com os dedos, cada curva de cada músculo
saliente, os ombros largos, os fios de cabelo de sua nuca, e o pomo
de Adão, que ela enfim, pôde realizar o desejo de beijar. Ele a
admirou com ardor tão intenso que lhe doía a carne entre as
pernas. — Sempre quis te beijar aqui. — Ela comentou estranhando
o toque sensual em sua voz. — Hmmm...— ele murmurou, levando
uma mão a um seio dela, circulando seu mamilo com o polegar. —
Você tinha sonhos eróticos comigo esposa? Ela soltou uma risada,
algo tranquilo e leve. — Sempre que tinha chance. — Ela
confidenciou e antes que perdesse a coragem falou: — Sempre fui
ciumenta com você. Eu me sentia frustrada por você nunca notar
minha presença, você literalmente cortejou todas as minhas irmãs e
Sophie, e bom, fui muito imatura e confundi minha desilusão com
raiva, e passei a te provocar, pois vi que isso de certa maneira fazia
você perceber que eu estava no recinto... Ela parou de falar ao
perceber que ele estava se sacudindo, o desgraçado estava rindo
dela. — Não ria! — Ela exclamou dando um tapinha tímido em seu
ombro, ele a envolveu com os braços, passando uma mão por sua
nuca e espremeu o corpo dela no seu, cada centímetro de pele
estava em contato com a dele. — Daph. — ele pronunciou o nome
dela como se fosse uma oração preciosa. — Eu evitava a ti por
medo carinho, você me assustava, me fazia desejar tudo pelo qual
eu andei fugindo. Ela suspirou, sentindo uma vontade angustiante
de chorar ao ouvir aquela declaração. Todos esses anos, perdidos
por anseios, erros, e falta de atitude, camuflando tudo que sentiam
um pelo outro atrás de insultos. — Me perdoe por ter sido tão
covarde. — Ele falou voltando a beija-la fortemente, deitando o
corpo de ambos no chão duro coberto pelo tapete, se apoiando nos
cotovelos para não esmaga-la. — Não quero perder mais tempo. As
palavras saíram abafadas pois ele estava com a boca contra a pele
do busto dela, lambendo aquela região com avidez. Seu sangue
fervia nas veias e ela já estava faminta no centro de seu corpo para
recebê-lo. Aquele escocês grande, quente e robusto, cobriu-a com
seu peso. — Abra as pernas para receber meu pau, querida. — Ele
pediu, e Daphne sentiu um forte arrepio de desejo deixa-la molhada
ao ouvir aquelas palavras sujas, sentiu seu rosto pegar fogo, ele ao
ver o embaraço dela, riu. — Santo Deus mulher, você é dona de um
clube de jogatina já deve ter ouvido palavras piores. — De fato já
ouvi, só não imaginei que um dia fosse ouvir você as dizendo. —
Ela disse, com o rosto escondido no pescoço dele. — Você deseja
que eu pare? — Ela suspirou e beijou o peito dele, passando a
língua por um pequeno sinal acima do mamilo. — Tudo bem, eu
gosto. — Ela abriu as pernas para ele e ele deu um sorriso
pervertido ao se encaixar nela e penetrou sem preâmbulos. Seus
olhos amarelos invadiram a alma dela ao mesmo tempo que ele
invadia o seu corpo, ela foi incapaz de desviar a vista daquilo, tinha
que assistir aquele homem em toda a sua glória, reivindicando o
seu corpo e pronto para proclama-la sua. A luz do fogo deixava os
seus olhos ainda mais faiscantes, e os contornos do seu rosto
contraídos pelo prazer ainda mais impecáveis, e ela se sentiu
altamente voluptuosa por saber que era por ela que ele se
encontrava em tal nível de luxúria. Todo o ódio que julgavam sentir
um pelo outro explodiu e se converteu em algo palpável e poderoso,
rodeando os dois e criando um vínculo estranho, como se
estivessem unidos por um único fio. Daphne se lembrou da fita de
seda do seu casamento, por aquele momento pôde sentir a pressão
da fita em seu pulso e todo o simbolismo que ela representava,
buscou a mão de Alec com a sua e entrelaçou os dedos nos dele,
os olhos dele se encontraram com dela e com um sorriso doce ele
confirmou que entendeu o seu gesto. De mãos unidas, ele
continuou amando-a, batendo em seu corpo com solavancos que
faziam a ponta de sua ereção tocar em um ponto de prazer dentro
dela, levando-a até a borda de um prazer desconhecido. — Daph,
meu amor, meu amor mais precioso, eu vou gozar pra você. — Ele
prometeu, chegando ao limite, soltando um rosnado alto de alívio
quando liberou seu jorro quente dentro dela. Daphne se deleitou
com aquela sensação, observando o modo como ele ficava
tremendamente humano em seu momento de entrega. Seus olhos
âmbar ficavam em um tom mais escuro, próximo do laranja, a pele
de seu corpo se fundia em um avermelhado atraente, e as veias de
seu pescoço saltavam para fora, juntamente com o seu abdômen se
contraindo a cada novo jato de sua essência que estava sendo
despejado para fora. Aquecendo o interior dela. Ele passou as
mãos por baixo das pernas dela e a ergueu do chão, invertendo
suas posições, e montando-a sobre seu corpo, erguendo-a alguns
centímetros para poder entrar nela novamente. Daphne sentiu suas
faces arderem ao presenciar aquele momento de intimidade crua.
Estava escorregadia pelo prazer dele e ainda assim ele não parecia
se importar com aquilo. — Cavalgue em mim querida, tire de mim o
que precisar para o seu prazer. — Ele disse, e ela tentou afastar a
pequena ponta de vergonha que sentiu. Por mais que não fosse
mais tão inocente, Daphne ainda preservava um pingo de decência.
Imaginava que agora, tudo que sabia sobre intimidade sexual,
estava anulado, e redescobria tudo com seu marido depravado.
Apreciou a posição em que se encontrava. Dominante. Desejou ser
aquela que saciaria todos os desejos dele, físicos e sentimentais.
Apoiou uma mão na coxa grossa e outra no peito dele. Ela fez um
movimento para a frente e o sentiu muito fundo dentro dela, gemeu,
e então o repetiu, começou devagar, sentindo seu membro semi
ereto voltar a enrijecer dentro dela. Aquela posição era muito
estranha e ela teve que se reposicionar várias vezes para não se
sentir empalada pela ereção que naquele ângulo, parecia cada vez
maior. A ponta da masculinidade roçou em algo lá dentro, que
mandou uma onda de arrepios pelo corpo dela, e duas e três, e ela
aumentou a velocidade daquela fricção, fazendo justamente o que
ele havia ordenado, tirando o que precisava dele para seu prazer.
Assassinando o ultimo fio de inocência que restava em seu ser.
Seus joelhos doíam pela pressão exercida no chão, mas ela não se
importava, naquele momento tudo se resumia a ela e ele, e a
aquela tensão explosiva que crescia entre os dois. — Isso é o céu.
— Ele sussurrou, usando a mão livre para segurar a cintura dela no
lugar e passar a impulsionar os seus quadris para cima, aquele foi o
empurrão que mandou ela em direção ao chão, um chão que não
tinha fim nunca. Nunca. — Alec! — Ela grunhiu o nome dele, se
quebrando em várias ondas tempestivas de um prazer inimaginável,
ele a penetrou mais algumas vezes, e se enterrou o mais fundo que
podia dentro dela ao gozar uma segunda vez, criando algo entre os
dois que jamais poderia ser desfeito. Ela tombou sobre ele,
descansando o rosto no peito suado e ele acariciou o dorso da mão
dela com o polegar, que ainda estava unida á sua. Sentindo o seu
marido em todos os lugares do corpo dela, Daphne ouvia os
batimentos do coração dele contra sua orelha. Ali de novo, sendo
beijada por ele em sua testa, Daphne se fez novamente uma
pergunta que tinha se feito meses atrás, "a que ponto cheguei?" só
que dessa vez, um satisfeito sorriso balançava nos lábios dela ao
obter a resposta. ∞∞∞ Quando acordou Daphne percebeu que
ainda era noite, percebeu também que não estava mais deitada
sobre o corpo de seu marido no chão, mas sim sobre a cama de
casal, coberta por um lençol quentinho, um braço e uma perna. O
braço rodeava sua cintura, e a perna estava encaixada entre as
suas, impedindo que ela fizesse qualquer movimento sem acorda-
lo. Porém, não foi preciso acorda-lo de qualquer maneira, pois pôde
sentir que ele estava acordado. Ao ver que ela estava disperta, ele
beijou sua nuca e a puxou ainda mais para o aconchego de seu
físico que logo ela notou estar nu. A mente de Daphne aqueceu
com lembranças. Viu que a lareira já estava apagada, o que
impedia ela de ver muita coisa, não sabia como tinha que agir agora
que estava oficialmente casada. — Me perdoe por hoje, não deveria
ter saído do baile daquele jeito. — Disse ele, acariciando a barriga
dela com um dedo. — É que odeio que você olhe com pena. — Não
te olhei com pena. — Ela se defendeu. — Pelo menos não por ti,
fiquei com pena foi da tal noiva, por ter te deixado escapar. Ele
soltou uma risada pelo nariz. Voltando a ficar em silêncio, ela
encarou o dossel da cama, sentindo sua mente fervilhar por um
dúvida que corroía seu coração. — Deve tê-la amado muito. —
Falou como quem não quer nada, sentindo a garganta arder com as
palavras. Ele ergueu o rosto para olha-la. — Por que acha isso? —
ela deu de ombros. — Passou todos esses anos escondendo sua
verdadeira dor com o humor, usando do cinismo para fugir dos reais
sentimentos, sem falar que nunca quis se casar. — Ela respondeu,
tentando não aparentar o quanto aquilo a deixava em carne viva. —
Quem te contou sobre Bridget? — Perguntou ele fugindo
descaradamente do que ela tinha acabado de falar. — Sophie,
ouviu vocês conversando na sala de jogos. — Respondeu, sem tirar
os olhos do dossel. — Pois fique você sabendo que está enganada.
— Ele falou, se erguendo sob os cotovelos para olha-la. — Quer
dizer, eu achei que amasse, eu só tinha vinte e um anos, tinha
acabado de me formar em Eton e estava desesperado para ter o
mesmo que meus pais tinham um pelo outro, eles se amavam
loucamente... Quando falava dos pais os olhos dele transmitiam
uma emoção sincera. — Bridget era bonita e parecia ser inocente,
mesmo com todos me alertando sobre seu carácter eu não quis
escultar, contra a vontade do meu pai pedi ela em casamento,
somente meses depois que ela foi embora com o filho de um
fazendeiro local, foi que descobri que o seu pai a obrigava a aceitar
o meu cortejo por ser herdeiro de um ducado. — Sinto muito. — Ela
falou, realmente sentindo. — Não sinta, me recuperei muito rápido
da dor, e logo descobri que não a amava como imaginei, o que
realmente me incomodavam eram os olhares de pena, e a
desilusão por ter acreditado que iria começar uma família. — Ele
suspirou. — Me alistei no exército, mas meu pai não queria me
deixar travar batalhas já que eu era o único na linha de sucessão,
usou do seu poder no parlamento para fechar qualquer possível
porta que pudesse me levar em direção a uma bala, me dando a
única opção de trabalhar em pequenas missões para a coroa. —
Que tipo de missões? — ela indagou, ávida por descobrir mais
sobre a vida desse homem tão misterioso. — Investigações, amor.
— Explicou. — Começou com pequenas coisas, devedores,
meliantes, procurados. Até perceberem meu potencial e me
mandarem para missões maiores, envolvendo membros do
parlamento corruptos, aristocratas, traidores da coroa e uma
infinidade mais. — Isso é fascinante. Eu sempre soube que você
era uma espécie de espião. — Ele beijou o canto da boca dela. —
Como você fazia para obter essas informações? Esse tipo de coisa
é perigosa, imagino. Ele fez uma cara de embaraço, dando um
sorriso meio amarelo enquanto evitava olhar nos olhos dela. — Isso
não é algo de que me orgulhe. — Disse vagarosamente. —
Geralmente eu me disfarçava e me aproximava da esposa ou da
filha do homem em questão, as vezes uma criada, e até amantes.
Ela franziu o cenho, o olhando com olhos desconfiados. — O que
você fazia? — Perguntou entre o espanto e o ciúme, e ele
escondeu o rosto na curva de seu pescoço. — Eu não às obrigava a
nada, eu apenas ia para a cama com algumas delas, muitas vezes
nem era necessário, bastava um sorriso e uma bajulação e elas
falavam pelos cotovelos. — Daphne fez uma careta de desgosto. —
Você era uma espécie de prostituto, só que invés de dinheiro,
recebia informações como pagamento. — Falou e ele ergueu a
cabeça para olha-la. — É a primeira vez que penso por esse lado, e
não me parece muito bajulador, é casada com um prostituto, meu
doce. — Ele brincou, espantando o ciúme para longe e fazendo ela
sorrir. — E você com a dona de um clube de jogatina, estamos
quites. — Falou a loira e foi a vez do duque de rir. — Quando foi
que decidiu abandonar a profissão? O sorriso dele sumiu, e seu
semblante ficou sorumbático. — Meus pais pegaram a tubérculose.
Fiquei os últimos meses de suas vidas cuidando deles em Stirling.
— Disse e ela acariciou seu maxilar com o dedo. — Sinto muito. —
Falou de coração. — Eles devem ter sido excelentes pais. —
Foram. Morreram juntos, no mesmo exato momento. — seus olhos
ficaram vazios, vagando para cenas das quais não deveria lembrar.
— Os medicos não deixavam que ficássemos muito tempo junto
deles, ao que parece essa coisa se prolifera no ar, ou algo assim,
Ashleigh chegou à pegar uma tosse, mas logo se curou. — Já ouvi
falar. — Meu pai tinha medo que nunca fosse voltar a querer me
casar, semanas antes de morrer mudou o testamento, e exigiu que
eu arranjasse uma esposa no período de cinco anos, ou o meu
titulo iria para o parente vivo mais próximo. Ele também sabia que
eu não dava a mínima para o ducado, então em uma manobra
muito desesperada, acredito que foi a febre, resolveu vincular
Stirling ao ducado, o castelo pertencia a minha mãe, caso eu não
cumprisse o contrato, ele iria para Vikram. — Mas por que é tão
horrível que o castelo fique para seu primo? — Ela indagou e ele a
olhou ligeiramente enraivecido. — Minha mãe era freira antes de
conhecer o meu pai, quando se juntou a igreja, meu avô tirou o
castelo de Calagham, e deu para ela, para que fizesse uma espécie
de abadia com o local, porém ela conheceu o meu pai, e quando
decidiu abandonar o sacerdócio, todos deram as costas para ela. —
Neste momento seu sotaque ficou forte. Indicando sua raiva. —
Eles nunca nos aceitaram, nem a meu pai e nem a mim, ou a
Ashleigh. A única coisa que Calagham quer unindo Moira e eu em
casamento ou Vikram e Ashleigh, é ter direitos pela propriedade. —
Mas Alec, e se... — ela falou receosa. — E se caso eu engravidar e
vier uma menina? Ele sorriu, beijando a ponta do nariz dela
afetuosamente. — Então terá que se contentar em ser a esposa de
um humilde duque sem um castelo. — Falou com um sorriso. —
Isso basta para você? Ela deu um meio sorriso, ainda dividida. —
Você diz isso agora, mas no futuro irá me culpar pela perda do... —
Ele colocou um dedo nos lábios dela. — Não vou perder nada,
muito por contrário. Vou ganhar uma menina. Espero que ela nasça
com esses seus cabelos, e com o seu pequeno narizinho. — Disse
e Daphne esmoreceu por dentro. Sentindo a sinceridade das
palavras dele em seu íntimo. — Agora lady Daphne Lancaster
Armstrong, você sabe de todos os meus segredos. — Ele disse,
mexendo com os quadris contra o traseiro dela, Daphne sentiu seu
corpo arder ao perceber que ele estava duro. — Se tem algo que
você ainda esconda de mim, este é o momento para falar. — Uma
mulher tem que ter os seus segredos. — ela disse com um sorriso
ardil, se esfregando manhosa contra ele. — Não entre nós, nunca.
— Sussurrou, puxando-a de encontro a sua masculinidade, para
possui-la novamente. Capitulo dezenove Na manhã seguinte ao
baile a sala de visitas da Northwest House estava inabitável. Em
cada móvel descansava um arranjo diferente de flores de tamanho
e cores diferentes. Assim que Daphne entrou na sala uma sucessão
de espirros a pegou. A última vez que tinha visto tantas flores
diferentes juntas foi quando seu pai aumentou o valor do seu dote.
— oh! — Disse Ashleigh ao entrar na sala. Passando as mãos por
um ramo de papoilas. — Meu irmão não poderia ser mais clichê do
que isso. Daphne, que acabara de ir a porta para receber mais um
ramo de begonias, deu uma olhada para a cunhada vestindo um
belo vestido de cintura alta de cor amarelo pastel. — As flores não
são do seu irmão. São para você. — Disse, e a cunhada ergueu as
sobrancelhas. — Para mim?! — Arregalou bem olhos. — Todas
elas? — Sim. Estão chegando desde cedo. — Falou com um
sorriso. — Aparentemente você apresentou uma imagem e tanto
noite passada. — Como poderia? Eu fiz tudo o que me disseram
para não fazer. — Agora era Daphne quem estava confusa. Tinha
saído do baile tão transtornada de raiva logo após Alec e depois
não pode voltar. — O que quer dizer? — Perguntou, colocando o
buquê de lado. — Talvez eu tenha começado um pequeno tumulto.
— Daphne arregalou os olhos. — Você o quê? — No meio da
segunda valsa, após pisar nos pés do senhor Harrison pela terceira
vez, eu acabei sugerindo que dançassemos algo que não exigisse
tantos giros, quando dei por mim estava fazendo os passos de uma
dança escocesa. — Aparentemente sua dança fez sucesso, olhe
quantos buquês. — Daphne falou, indicando a sala que agora era
uma floricultura. — O que devo fazer com tudo isso? — Ashleigh
perguntou, andando por ali. — Ler os bilhetes suponho, aquele que
estiver mais interessado não demorará a aparecer. — Quando
Daphne fechou a boca a campanha tocou. As duas olharam para a
porta da sala de visitas e esperaram em silêncio. Primeiro entrou o
mordomo, e depois ninguém menos que Phineas. As mulheres
levantaram e fizeram um breve vênia. — Senhor Harrison. — Ela
cumprimentou, piscando várias vezes. — Bom dia, Alteza. — Disse
para ela e se voltou para Ashleigh. — Senhorita Lancaster vim
saber se recebeu as flores...— O homem passou a vista pela sala
abarrotada de flores. — São as begonias. Ashleigh foi até as
begonias roxas e sorriu. — São adoráveis, obrigada. — Ao longe,
Daphne pode ouvir os passos pesados de Alec e soube que o
marido estaria procurando por ela. O escocês não tardou a entrar
ali, passou a vista pelas flores. — Mas o quê...— Parou de falar ao
ver Phineas parado ali. — Sr. Harrison. — Disse gélido. — O que
faz aqui tão cedo em uma manhã de domingo? O americano girou
impaciente a aba do chapéu nas mãos. — Vim perguntar se
Ashleigh estaria disposta a dar um passeio. — Ela não... — Vou
pegar meu chapéu! — Ashleigh disse, sumindo dentro da casa e
voltando logo depois com uma sombrinha, uma dama de companhia
e um sorriso no rosto. Daphne observou quando Alec falou algo
para a dama de companhia e foi até a porta, assistindo eles se
afastarem até sumir de suas vistas. — Não gosto disso. — Ele
disse, voltando para a esposa. — Bom, foi você quem quis debuta-
la, agora terá que lidar com as consequências. Nos dias que se
passaram Ashleigh foi convidada para mais bailes, e chás e
cavalgadas pelo Hyde Park. O que quer que ela tenha feito no baile
de seu debute transformou ela na estrela da temporada social. A
cada dia que passava parecia deixar mais da aparência austera
para trás, era como se aos poucos estivesse realmente
desabrochando em uma flor, uma flor exótica, que mesmo com um
beleza sem igual, ainda tinha seus toques de austeridade. Daphne
logo descobriu que a vida de uma mulher casada não era o poço de
tédio que imaginava. Na verdade existiam várias coisas
interessantes que uma mulher podia fazer com o marido para
passar o tempo, principalmente se o marido em questão for um
escocês de apetite insaciável. A cada minuto estava mais
convencida de que o amava cada vez mais, embora nem ela, e nem
ele tivessem tido a coragem de dizer as palavras, ela podia jurar
que as vezes, ouvia um sussurro em seu ouvido no meio do sono,
mas imaginava que era apenas fruto do seu desejo de ouvir as
palavras. Não que fosse necessário ele dize-las, ela estava
contente apenas em tê-lo para sí. Imaginava que muito
provavelmente o episódio com sua antiga noiva tinha traumatizado-
o de certa maneira e agora estava com receio de dizer, por pensar
que ele poderia achar que ela estava pressionando-o a falar algo ao
qual não estava preparado, então tratou de se contentar em receber
suas carícias e seus beijos. Caso um dia ele quisesse dizer as
palavras, então ela estaria lá para retribuir. O mês de abril foi
embora com uma velocidade impressionante, levando consigo o
inverno, e dando espaço para a primavera. Aqueles que tiveram a
sorte de noivar, se casariam em meados de junho quando a
temporada social estaria quase no fim, no início de agosto, que
seria quando todas as famílias aristocratas regressariam para as
suas casas no campo, e com isso o movimento no clube diminuiria
de maneira considerável. Estava dividindo a carga de trabalho com
seu marido, ela e Alec trabalhavam bem em várias questões. Como
amigos, amantes e até mesmo sócios. Ele a ajudava melhor até
melhor do que Garett, que mesmo sendo um contador, não
entendia quase nada das necessidades básicas do clube. Alec tinha
em um mês, resolvido a metade dos problemas com relação aos
direitos dos funcionários e das reformas necessárias no clube, que
sozinha ela não conseguiria, ele também tinha feito amizade com
Brooke e os dois estavam se entendendo a sua maneira masculina.
O que deixava Daphne triste era que com o fim da temporada suas
irmãs voltariam para suas casas no campo, Seraphne voltaria para
Cartland, Josephne iria para uma viagem de trabalho em Paris, e
Sophie iria para uma das propriedades de Ballister em
SouthAmpton. O clube de certa maneira a prendia em Londres. Ela
gostava da cidade, gostava da agitação do clube e da bruma de
liberdade que aquela vida lhe proporcionava, mas não poderia criar
um filho em meio à aquilo. A cada novo dia ela estava mais ansiosa
com relação a isso, não era como se Alec estivesse pressionando-
a, porque de fato ele não estava. Sequer mencionava isso. Contudo
ela não deixava de se sentir pressionada, a missão de engravidar
era sua e cada dia que passava sem estar grávida, era menos um
dia que Alec tinha sem Stirling. Daphne não podia ignorar que tinha
tido uma relaçao sexual antes do marido, nas quais ela podia ter
engravidado, mas não o fez, embora sua regra tivesse atrasado da
última vez, podia ter sido resultado do estresse por ter que arranjar
um marido tão logo. E se ela fosse estéril? Se não pudesse
engravidar? Isso estava respingando no relacionamento de ambos,
o que na noite passada resultou em uma pequena briga, mesmo ele
dizendo que não se importavam, ela não podia ignorar o amor que
ele tinha por Stirling, se não fosse capaz de dar um filho a ele, isso
seria o que destruiria o casamento dos dois, ele dizia que ela estava
exagerando e ela o chamava de acéfalo teimoso, o que levou os
dois a dormirem de costas um para o outro. No dia seguinte, ela
entrou devagar no escritório dele e o encontrou sentado atrás da
escrivaninha de rosto enfiado em um livro com uma pena de
escrever na mão. — Oi, posso entrar? — Perguntou de maneira
acanhada e ele ergueu os olhos teimosos para ela. Dando de
ombros. Ignorando a vontade de chutar aquele livro de sua mão,
Daphne foi até a mesa de mogno e depositou a caixinha de veludo
na frente dele. Seus olhos caíram sobre a peça com curiosidade. —
Dizem, que quando se falta palavras para pedir perdão a segunda
melhor opção é dar uma joia. — ele ergueu os olhos para ela,
risonho. — Isso se diz respeito à mulheres. — Argumentou e ela
sacudiu as mãos apressadamente. — Já ficou mais do que claro
que não sou uma jovem convencional, agora abra. — respondeu
ligeira e os cantos dos lábios dele se ergueram em um meio sorriso,
ela se sentiu derreter internamente. Ele levou as mãos até a
pequena caixa e abriu o objeto com cuidado excessivo, revelando o
anel que havia lá dentro, ele respirou fundo, como se tivesse que
expressar sua surpresa de alguma maneira, tirando o anel prateado
do encaixe, olhando as pequenas safiras que o rodeavam, e a frase
bem desenhadas na platina. "Tha gad agam ort". Nesse momento
Daphne ficou nervosa, pois aquela era uma declaração óbvia. —
Foi bastante difícil achar um anel que lhe coubesse, aparentemente
não se fazem muitos anéis de casamento para homens, o que acho
um grande absurdo, os homens também deveriam usar...— ela foi
interrompida de falar pela boca de seu marido esmagando a dela.
Um beijo sufocante que deixava claro que a briga havia sido
perdoada. — Pelo visto não é só as mulheres que se desmancham
por uma joia. — Ela falou quando o beijo arrefeceu, causando um
breve sorriso nele. Tomou o anel de sua mão e o deslizou pelo
longo dedo anelar na mão esquerda, espalhando alguns fios de
pelinhos castanhos por ali. — É para que se lembre de mim quando
o vir. — Como se fosse possível esquecer. — Ele rebateu,
admirando o anel na mão gigante. — Até que me cai bem. Serei o
único de meus amigos com uma aliança de casamento. — Alec
sobre a gravidez... — Ela começou. — Não vamos voltar a falar
disso. — A cortou rapidamente, adotando um ar travesso. — Invés
disso vamos nos empenhar nas atividades que levam uma mulher a
engravidar. Ela ainda não estava satisfeita, mas mesmo assim
decidiu fazer o que ele pediu, trancafiando todos os seus anseios
em uma caixinha lá nos recônditos da sua mente. Ele infiltrou uma
mão na nuca dela e a puxou para um beijo, descendo as mãos
pelas costas da esposa e apalpando o traseiro dela
desavergonhado. Ele a ergueu e a sentou em sua escrivaninha, se
encaixando no meio das pernas dela, quando ele estava pronto
para puxar os fios do decote foi atrapalhado por uma batida na
porta. Suspirou frustrado, se afastando dela. — Não se mova dai. —
Ele disse, mordendo o lábio dela antes de andar até a porta. Ela
ouviu a voz do mordomo murmurar algo e Alec voltou para dentro
com um bilhete nas mãos. — Terei de sair. — Ele disse, após ler o
bilhete. — Brooke está precisando de mim no clube, algo
relacionado com as mesas de bilhar. O rosto dela ostentou um
semblante preocupado. — Precisará de mim? — Ela indagou, ele
negou com a cabeça enquanto vestia o casaco. — Não, resolverei
isso sozinho. — andou até ela e se inclinou para beijar sua testa. —
Esteja esperando por mim para terminarmos isso. ∞∞∞ Daphne
cansou de esperar por ele na cama, e saiu para dar uma volta pela
casa. Ashleigh tinha saído mais cedo para um chá na casa das
filhas do conde de Brighton e ela estava sozinha. Estava lendo uma
novela obscena que encontrou nas coisas do marido sentada em
um sofá em sua sala particular, quando o mordomo entrou ali. — Há
um senhor na porta desejando vê-la, milady. — Daphne não tirou os
olhos da sua novela. — Ele se apresentou? — Perguntou,
pensando que provavelmente seria apenas mais um pretendente de
Ashleigh. — Ele disse que se chama Garret Payne. — Ela ergueu
imediatamente os olhos do livreto, sentindo seu sangue converter-
se em chumbo. — Leve-o para a sala de visitas, Kent. — Ela disse
rapidamente e o mordomo assentiu, se retirando dali. Daphne ficou
parada por uns bons cinco minutos com a mente em silêncio
absoluto. O que Garret estava fazendo ali depois de dois anos? Ela
só tinha uma certeza, nada de bom resultaria de uma visita do seu
antigo sócio. Ela alisou as saias do seu vestido com as mãos e
andou devagar até a sala de visitas. Ele estava parado próximo à
lareira observando as duas espadas que cruzavam um escudo com
o emblema do lobo, colocada de maneira decorativa na parede. Ele
tinha as mãos cobertas por luvas para trás. E ela percebeu quando
ele sentiu sua presença, ele virou-se para ela a perfurando com
traiçoeiros olhos azuis. Daphne sentiu algo próximo do nojo ao ver o
rosto de Garret. Ele estava muito bem aliás, usava roupas em voga,
e exibia uma aparência tão jovial quanto a de anos atrás. — Quanto
tempo, querida. — Ele disse com um sorriso malicioso e ela sentiu
vontade de se retrair com o olhar despudorado. Maldito seja o dia
que ela o deixou tocar em seu corpo. Não poderia estar mais
arrependida. — O que você está fazendo aqui? — Ela cuspiu as
palavras sem se importar se estava sendo rude. Em outra época ela
teria festejado um reencontro com seu antigo parceiro de negócios,
mas nesse momento, ela apenas o estudava, temendo o ataque
iminente. — Coincidentemente estava passando e resolvi fazer uma
visita. — Ele andou tranquilamente até o meio da sala. — Achei que
estivesse na França. — Daphne estava incomodada com a postura
tranquila do homem, da última vez que tinham se visto ele jogou
palavras de vingança contra ela e nomes perojativos que ela se
recusava a reproduzir. — E estava. — Ele escorou o braço no
encosto de uma poltrona e sorriu de lado. — Mas a vida na França
custa caro. — Isso é bobagem, o dinheiro que paguei pela sua parte
do clube é suficiente para viver a vida de um rei. — O olhar dele
desceu para o chão covardemente. — Você gastou tudo não foi? —
Um homem solteiro em Paris não pode viver a vida de um monge.
— Isso nao é problema meu. — Ela disse, dando a volta para a
saída. — Se não se importa, eu tenho assunto que tratar. — Eu
soube que você casou. — Daphne parou de andar e arrependeu-se
imediatamente por demonstrar descarada de fraqueza, aquela
hesitação era tudo que Garret precisava. — Deve ter sido uma
infelicidade já que você sempre odiou o duque de Northwest. Não
é? Rapidamente, ela pensou em uma saída para reverter aquela
situação. Para não dar poder de controle para ele. — É um
casamento de conveniência. — Disse, se esforçando
imparcialidade. — Com certeza sim. — Ele riu, e fez uma pequena
pausa antes de olhar nos olhos dela. — Eu soube, que ele tem uma
irmã que está entrando em debute. Daphne finalmente entendeu os
motivos para ele estar ali. — Foi você. — Ela o acusou, e ele a
olhou com falsa inocência. — O bilhete se passando por Brooke, foi
você. Ele não a respondeu, invés disso andou para ela ostentando
um triunfante olhar e tocou no queixo dela com um dedo. Daphne
estava furiosa demais para fugir do toque asqueroso em seu
queixo. — Seria uma lástima se saísse por aí a notícia de que a
duquesa de Northwest é a dona de um clube para mulheres. — Ele
bateu com o dedo três vezes no queixo dela. — O que acha que
isso causaria na reputação da moça? — O que você quer? — Ela
perguntou entredentes. Ele deu um riso vitorioso. — A essa altura
da nossa conversa acredito que você já saiba. — Poderia ter
vendido a informação para outra pessoa, qualquer um daria uma
fortuna para saber quem é a dona do clube. — Mas você vai me
pagar mais. — Ele se aproximou mais dela, até estar com o rosto
ao lado do seu. — Porque você não quer manchar a imagem do seu
marido quer? Ou da sua nova cunhada? Daphne engoliu em seco, e
aquela voz odiosa em seu ouvido foi o impulso que precisava para
afasta-lo dela. — Quanto você quer? — Cem mil libras. — Ela não
se surpreendeu com o soma, era uma quantia pequena se levasse
em consideração todo o patrimônio que ela obtinha, mas não tinha
esse dinheiro em mãos. — Precisarei de um tempo para juntar o
dinheiro. — Ele fez menção de tocar no queixo dela novamente,
mas ela desviou de sua mão asquerosa. Ele parecia quase
decepcionado com a atitude dela, mas estava sobretudo irritado
pelo rechaço. Deu um olhar maligno para ela e mexeu nas abas de
seu casaco. — Você terá esse tempo, eu estou hospedado do
Hemingway e esperarei você no Rough dimoind amanhã a noite. —
Ele andou até a saída e seus passos se detiveram antes que ele
passasse pela porta. — E nem tente armar pelas minhas costas
dessa vez, eu trarei comigo um jornalista do The London Post, e se
eu suspeitar de qualquer coisa por menor que seja darei com a
língua nos dentes antes que possa pronunciar seu nome. — Não
farei nada. — Ela disse, apertando os punhos até que suas unhas
machucasse a carne de suas mãos. Ele olhou para ela. — Ótimo.
— Sorriu de lado. — Vejo você amanhã, Daph. Capitulo vinte Alec
estava esperando que a qualquer momento acontecesse uma
desgraça. Sua vida estava indo tão bem, que nem ele próprio
estava acreditando na maneira em que as coisas estavam
seguindo. Ele estava finalmente tendo aquilo que sempre desejou,
um casamento harmonioso. Sinceramente, ele achou que sua
jornada para domar sua esposa tinha apenas começado, mas por
incrível que pareça Daphne estava se mostrando uma esposa
pacífica. Na medida do possível, claro. Embora ainda tivesse um
pequeno detalhe que o estava incomodando. Ela ainda não tinha
dito que o amava. Ele não sabia o que estava pondo freios na
língua dela, e imaginava que tudo fosse acontecer ao seu devido
tempo. Embora que sempre que tinha chance, quando sabia que
ela estava seguramente adormecida, ele sussurrasse as palavras
em seu ouvido. Ele estava arrependido por ter revelado que
precisaria de um filho varão. Por mais que ele dissesse que pouco
se importava com Stirling, ele sabia que não conseguia convencê-la
e que ela só ficava em silêncio para evitar uma briga entre os dois.
Ele realmente não se importava com Stirling, sim, o castelo
representava sua infância, e ali ele abrigava todos as boas
lembranças dos seus pais e de quando era menino, mas poderia
levar essas memórias no coração e na mente até quando sua idade
permitisse, naquele momento tudo o que desejava já tinha. Uma
família. Ele desceu da carruagem nos fundos do clube e usou sua
própria chave para entrar no local. A aquele horário o clube era
silencioso e parecia quase inabilitado, em nada se assemelhava a
casa agitada que se tornava quando o véu da noite caía. Uma
equipe de limpeza preparava o salão de baixo e algumas mulheres
checavam as mesas de jogos. Não parou em nenhum lugar,
ansioso para voltar para casa para encontrar Daphne. Olhou para o
anel prateado em seu dedo, as safiras se davam bem com o seu
tom de pele. Ele sentia aquele dedo pesar de um jeito único. Aquilo
era uma perfeita demonstração de posse e ele adorava isso. Sorriu,
somente sua esposa era capaz de algo assim. Ele finalmente
chegou até o escritório onde encontrou Brooke dando instruções
para os outros seguranças. O chefe de segurança, que vinha
ganhando a confiança dele mais à cada dia se surpreendeu ao vê-lo
ali. — Lorde D. — Ele disse, deixando os outros seguranças e
andando até ele. — Esperava vê-lo somente mais tarde. Alec
franziu o cenho. — No bilhete você pedia que eu viesse
imediatamente. — O homem o olhou consternado. — Bilhete? Que
bilhete? — Alec tirou o pedaço de papel do bolso e o estendeu no
ar. — Este bilhete. — Brooke pegou o bilhete e o leu, e seu
semblante ficou preocupado. — Desculpe Alteza, mas eu não
mandei esse bilhete. — Então quem poderia... — Ele parou de falar
imediatamente ao perceber que tinha caído em uma emboscada.
Alec sentiu seus instintos todos alarmaren de uma vez ao lembrar
que tinha deixado Daphne sozinha em casa. — Maldição... Ele deu
a volta e refez o caminho que o levaria para fora do clube, a
carruagem ducal esperava por ele na porta de saída, e com um
único comando para o cocheiro ele estava atravessando as ruas de
Londres com o coração desesperado no peito. Os minutos que ele
levou até chegarem casa foram os mais próximos da ideia que ele
tinha de inferno. Viveu em uma agonia inenarrável pelo medo de
que tivesse acontecido algo com Daphne, ele não se perdoaria
nunca. Quando chegou em casa, ele escancarou a porta da frente e
subiu os degraus da escada de dois em dois gritando pelo nome
dela. Ele irrompeu pela porta do quarto e sentiu novamente o fôlego
de vida voltar para seus pulmões quando a viu sentada e segura na
cama dos dois. Ele quase correu para ela, para toca-la e ter a
certeza de que estava bem. — Daph, o bilhete... — Era falso, eu
sei. — Ela completou o restante e só então, Alec notou a expressão
sombria no rosto da esposa. Ele desceu os olhos para onde os dela
estavam concentrados e ele viu que ela segurava algo entre os
dedos finos. — O que é isso? — Ele perguntou, ela levantou a
cabeça para olha-lo. — Cem mil libras. — Alec ergueu as
sobrancelhas, era uma quantia absurda para se ter em casa. —
Hoje Garret veio me ver. Alec sentiu seu corpo endurecer
inteiramente. — O que ele queria? — Perguntou inexpressivo. —
Gastou todo o dinheiro da sua parte do clube e agora quer mais. —
Ela levantou da cama e andou pelo quarto devagar. — Ele me
chantageou. Ele apertou os punhos com força ao sentir a raiva
atingi-lo. — Você não fará isso. — disse firme. — Temos que fazer.
— Ela refutou e ele estranhou a calmaria delainha algo de errado.
sua Daphne jamais estaria tão tranquila diante daquela
circunstância, muito pelo contrário, a Daphne que ele conhecia
estaria pensando em uma nova maneira de reverter a situação a
seu favor. — Daph, se ele quer dizer por aí que você é a dona do
clube, que diga, no início tudo será um escândalo, mas com o
tempo as pessoas esquecerão. — Ela balançou a cabeça em uma
negativa. — Não podemos Alec. — disse séria. — Ashleigh. — ela
disse essa única palavra e isso foi o único que ele precisava para
entender tudo. Era por Ashleigh, tudo por Ashleigh. E nesse
momento ele a amou e a admirou de uma maneira excruciante. —
Ela está tão feliz, finalmente está fazendo amigos e... Ele diminuiu o
espaço que os separava e a abraçou, abraçou tão forte até que ela
deixasse de estar tensa e se sentisse segura e protegida nos
braços dele. Era isso que ele queria ser para ela, seu refugiu. — Se
você ceder a chantagem, ele voltará a fazê-lo e será uma cativa nas
mãos dele, não posso permitir isso. — Ela encostou a face contra o
peito dele, e suspirou. — Nós não iremos ceder. — Então é bom
que tenha algo em mente, pois amanhã ele irá ao Rough Diamond
pegar o dinheiro e caso eu não esteja lá, venderá a informação para
um colunista do The London Post. — Amanhã a noite terei a
resposta, então. — Ele a embalou naquele abraço, tentando passar
toda a confiança que sentia para ela. — Tudo ficará bem, amor.
∞∞∞ Alec passou o dia seguinte fora de casa e Daphne passou o
dia inteiro angustiada. Esperou por ele impaciente, e em dado
momento estava raivosa por ele larga-la ali naquele momento que
ela mais precisava dele. Quando chegou a noite ela se vestiu e o
esperou mais um pouco, quando soube que ele não apareceria, ela
colocou os dinheiro na bolsa de mão e partiu para pegar o coche de
aluguel. A noite estava soturna, como no dia que ela cruzou a noite
para propor casamento para ele, e o ar sustentava o peso de um
grande acontecimento. Ela entrou no clube pela porta traseira e
andou até o escritório para ganhar um tempo antes de reencontrar
com Garret. Mas quando abriu a porta, Alec já estava esperando
por ela sentado em uma poltrona em frente ao fogo. Seus olhos tão
intensamente absortos no fogo da lareira, se voltaram para ela. —
Onde esteve o dia todo? — Ela indagou, rancorosa. — Tive que
resolver algumas pendências. — Ele disse, e desceu os olhos pelo
corpo dela. Mesmo naquele momento Daphne sentiu seu ventre
contrair com o desejo que viu naquelas íris amarelo apaixonantes.
Ele bateu com uma mão em seu colo. — Venha aqui. Ela ainda
estava zangada com ele mas não queria discutir com o marido
naquele momento onde tudo que precisava era estar nos braços
dele, andou até ele e Alec a puxou para seu afago. Ele acariciou a
bochecha dela e a raiva que Daphne sentia foi instantâneamente
dissipada. Ele colocou uma mão quente na nuca dela e a outra em
seu queixo, a mantendo cativa de seu olhar potente. — Obrigada
por ter se casado comigo.— Disse, acariciando o maxilar dela com
o polegar. Daphne se aninhou contra a mão dele. Tudo ficaria bem
se no fim de tudo ela tivesse aquilo. — Obrigada por ter sido tão
irritantemente insistente em permanecer casado. — Ela disse e ele
soltou uma risada baixa. Daphne se deleitou com o som melodioso.
— Falando assim você vai me fazer acreditar que me ama. — Disse
ele olhando-a profundamente nos olhos. Daphne ficou em silêncio,
e o seu coração começou a bater desenfreado no peito. —E se eu
amasse? Seria um problema para você? Acha que poderia chegar a
me retribuir um dia? Não que eu esteja te pressionando, apenas...
— Ela começou a tagarelar com as mãos trêmulas e ele a silenciou
com um dedo nos lábios volumosos. — Se quer dizer que me ama,
apenas diga meu doce, não precisa complicar tudo. — Disse com
um sorriso audacioso e ela bufou irritada. — Eu te amo. — Rosnou
a palavra e o rosto dele se iluminou em um sorriso terrivelmente
lindo. — Ah, bom, obrigado. — Disse soltando a respiração
tranquilo, um vinco se formou na testa dela. — Obrigado? É isso o
que vai me dizer? — perguntou insultada, tentando se afastar do
aperto dele. Ele levou as duas mãos para a cintura dela para
mantê-la onde estava. — O que quer ouvir de mim? Que te amo
tanto que tenho que ficar sempre colocando para fora para poder
aliviar o sufocamento em meu peito? — Ele despejou sobre ela,
sem quebrar o contato o visual ao beijar o queixo e raspar os
dentes na pele dali. — Um eu te amo já bastava. — Ela falou com
sorriso e ele a acompanhou, se inclinando sobre ela. — Você me
tem. — Ele sussurrou juntando as alianças dos dois. Daphne sentiu
o poder daquela declaração. Mais potente do que qualquer outra
declaração que ele poderia dizer. Ela sentiu vontade de chorar, mas
lágrimas poderiam atrapalhar o momento. Então escondeu o rosto
no pescolo dele e beijou-o na curva com o ombro. — Me deixe fazer
amor com você, querida. Ela duvidava que diria não para ele
alguma vez em sua vida. Se ergueu e sentou-se escarranchada
sobre ele, se abaixando para assalta-lo com a boca. Ele gemeu, e
deslizou as mãos pelas costas dela até elas se espalmarem no
traseiro redondo dela, com um impulso ele ergueu ambos e andou
com ela até a mesa, onde a sentou e se encaixou entre as pernas
dela. — Eu te amo. — Disse e sua voz soou como um cântico
divino. — Nunca mais vai se livrar de mim Daphne, é bom que
esteja preparada para uma vida de escândalos ao meu lado. Ele a
puxou para um beijo faminto, algo poderoso que envolveu os dois e
os fez esquecer de todo o restante do mundo. Alec não tinha tempo
para perder com as roupas, ele sentia apenas a necessidade cega
de se unir a ela. Apenas ergueu as saias dela até os quadris,
deixando à mostra as pernas torneadas e brancas cobertas por
meias de ligas e abriu o fecho da calça que usava, liberando a
ereção pulsante, se acariciando despudorado antes de encontrar a
abertura na roupa dela. Ele planejava ir lentamente para não
machuca-la com a força do seu desejo mas sua esposa o recebeu
com avidez, o engolindo até o fundo, mexendo os quadris em giros.
Daphne caiu para trás pela sensação inexplicável de ter o marido
dentro dela e soltou um sopro de ar doce. Alec liberou os seios dela
para fora do corpete, erguendo uma perna dela para conseguir
entrar mais fundo, para conseguir atingir aquele lugar único que só
ele conhecia. Ele mordeu a panturrilha dela enquanto fazia amor
com ela languidamente, não podia reprimir o desejo que tinha de
marca-la com os dentes. Quando nenhum dos dois já não suportava
o ritmo tranquilo, ele aumentou a velocidade de suas arremitidas.
Alec já estava pronto, mas só queria chegar lá quando ela tivesse
pronta para ir com ele. Antes ele nunca tinha dado importância para
combinar seu orgasmo com o de sua parceira, mas queria fazer
aquilo naquele momento, queria chegar lá junto com Daphne. —
Alec. — Ela sussurrou o nome dele quando começou a contrair ao
seu redor, quando sentiu a primeira contração em volta do seu pau,
Alec liberou seu jorro quente dentro dela. Aquele orgasmo foi mais
potente do que qualquer outro que ele já tinha tido em sua vida e
soube o porquê. Sexo e amor podiam andar separados para o resto
da vida mas quando unidos eram capazes de sensações e
sentimentos inimagináveis. Ele beijou-a até que as respirações dos
dois estivessem tranquilas. E ela suspirou quando ele deslizou para
fora dela. Daphne encostou a testa no peito dele e esteve em paz
por uns bons minutos antes de ser arrastada para a realidade. Ela
andou até a janela do escritório para olhar para a planta baixa, onde
o movimento no clube já estava grande. — Ele já está lá, temos de
ir. — Ela disse, passando as mãos pelo tecido do vestido para
desfazer alguns amassados. Alec não se moveu, apenas olhou para
ela. — Mais cedo eu não estive em casa por que estava dando uma
entrevista para o The London Post. — Ele revelou com cuidado e
Daphne levou um tempo até entender o que ele tinha acabado de
dizer. Arregalou os olhos. — Alec! — Disse apavorada. — Não
Daphne. — Ele andou até ela e a pegou pela mão, a puxando para
a janela. — Olhe para isto. — Ele indicou o clube abaixo. — Veja o
que você construiu. — Daphne olhou para onde ele apontava, mas
não era para o clube em si, sim para as muitas mulheres que
tiveram ali a oportunidade de um emprego digno. — eu sou
orgulhoso de você por isso, e tenho certeza que seus pais também
serão. — E se as pessoas se afastarem? — No início vão, mas
teremos os próximos meses para descobrir quem são realmente
nossos amigos. — Ele beijou a mão dela. — E Ashleigh? — Você
acredita mesmo que Ashleigh vai sofrer por deixar Londres? — Ele
disse, e Daphne simplesmente não conseguiu não rir. — Eu falei
com ela mais cedo, não tem nada que ela não faria por você. E
agora as lágrimas que ela tinha lutado para reprimir, formavam
barreiras em seus olhos. – Você é um homem terrível. — Ela disse
e ele sorriu para ela. — É por isso que você me adora. — Ele beijou
a testa dela. — Você confia em mim? Aquela era provavelmente a
pergunta mais fácil que Daphne já teve que responder em sua vida.
— Sim. — Disse. — Então a única coisa que te impede de sair e
revelar para o mundo a mulher incrível que você é, é você mesma.
— Ele olhou no fundo dos olhos dela. — O artigo do The London
Post não sairá até que eu dê a ordem, a escolha é sua, eu estarei
do seu lado independente da decisão que tomar. Daphne já tinha
chegado à uma decisão antes mesmo de ele terminar de falar. Ela
sorriu, se sentindo plenamente feliz ao puxa-lo pela mão para a
saída. Os olhos de Alec brilharam pela admiração enquanto eles
andavam pelos corredores lado a lado até chegar de frente para a
porta de saída para o clube. Os dois tiraram as máscaras. Ela olhou
para ele, e soube que nenhum outro homem no mundo faria aquilo
por ela, nenhum outro homem estaria disposto a correr metade do
pais em alta velocidade para se casar com ela, nenhum outro
homem estaria disposto a deixa-la livre mesmo querendo que ela
ficasse, nenhum outro homem colocaria sua própria felicidade na
frente da dela ou a aceitaria com todos os seus defeitos nem muito
menos enfrentaria o mundo ao seu lado. Daphne não precisava de
mais nada. — Está pronta? — Ele perguntou e ela fez que sim a
cabeça. — Faremos isso juntos, certo? — Ela perguntou juntando a
mão com a dele, Alec deu um leve aperto na mão dela antes de
dizer: — Sim, juntos. Epílogo Daphne tentava controlar a respiração
enquanto o marido a prendia contra a parede de um corredor no
segundo andar e investia contra ela incessantemente. Não
conseguiu escapar do homem quando ele a encurralou ali, bem no
meio do dia. A culpa era totalmente dele que tinha aquele maldito
sorriso ao qual ela não conseguia resistir. — Seremos pegos. — Ela
falou sem ar, se agarrando aos ombros dele para não cair no chão.
— Está reclamando? — o escocês indagou com um sorriso
convencido, sabia que tinha um poder de sedução enorme sobre
sua esposa. Céus, ela estava longe de reclamar. Não reclamaria
nunca. Apenas aproveitou o momento e se derreteu nos braços
dele quando o clímax veio, sempre forte. Sempre igual. Ele
espalhou beijos por todo o ombro dela enquanto a ajudava a se
recompor. Exibindo aquele olhar que a aquecia por dentro e despia
sua alma. Alguns fios da barba dele já estavam prateados, mas isso
só ajudou o homem a ficar ainda mais irresistível. Logo eles
estavam andando novamente em direção ao hall de entrada com as
mãos unidas, antes mesmo que chegassem ao topo da escada
ouviram os gritos no andar de baixo. — Mamãe, o Haven está
fazendo de novo! — Gritou a menina, correndo até ela com aquela
massa de cabelos cacheados e rebeldes espalhados pelo rosto.
Eles tinham se mudado para Stirling um ano após o nascimento dos
trigêmeos. Ela e Alec tinham decidido que o campo era a melhor
escolha para criar as crianças até que tivessem a idade de ir fazer
os estudos. Eles também tomaram essa decisão pois queriam que
os meninos crescessem com os mesmos costumes do pai e da tia.
Daphne sabia que Alec amava sua ascendência escocesa e ela
queria que seus filhos tivessem a mesma criação que ele teve. Uma
vez por mês os dois iam até Londres para se inteirar de tudo que
acontecia no Rough Diamond, que durante a sua ausência ficava
sob os cuidados de Brooke, que se revelou um administrador além
de eficiente. Ashleigh foi uma grande ajuda nos primeiros meses de
vida dos pequenos. Logo Daphne que sentia pavor com a ideia de
ser mãe, acabou tendo três filhos de uma única vez. Esteve perdida
no começo, e precisou da ajuda de suas irmãs e de sua mãe mas
tinha se saído bem. A cunhada estava profundamente feliz e tinha
um gênio tão travesso quanto dos trigêmeos. Foi uma combinação
que simplesmente deu certo. A convivência deles com a família de
Calagham passou a ser agradável na medida do possível, eles
adoravam os pequenos e aos domingos iam almoçar no castelo,
quase sempre tudo terminava em uma briga entre Calagham e
Northwest mas no dia seguinte os dois agiam como se nada tivesse
acontecido. Haven, o primogênito, tinha herdado o gênio
competitivo de Daphne, enquanto Hardy tinha uma mente astuta e
quase sempre conseguia se safar de suas travessuras, como seu
pai. Heather era uma mistura dos dois, com uma pitada de
sagacidade. — Certo, qual o motivo do tumulto? — ela perguntou e
os três começaram a falar todos de uma vez. — Um de cada vez!
As três miniaturas escocesas olharam para a mãe. — Haven me
desafiou a comer o haggis, perdeu e agora não quer me pagar. —
Disse Heather dando uma olhada fatal no irmão que exibia uma
expressão de pura inocência. O menino de cabelos castanhos se
balançava sobre os pés descalços, o kilt pequeno voava para lá e
para cá, tornando-o terrivelmente fofo. — Andaram apostando de
novo? — Alec inquiriu, adotando sua postura de pai autoritário.
Daphne sentiu seu coração tomar, simplesmente não conseguia se
conter sempre que o marido demonstrava pulso firme. — Eu falei
que não deveriam ter feito isso. — Disse Hardy com um ar tranquilo,
o menino segurava o porquinho Tommy por uma coleira. O porco,
que assistia a tudo sem entender nada, não parava de se roçar na
canela do menino. — Haven, quantas vezes vou ter que dizer para
não apostar? — Daphne perguntou para o filho a sua direita e o
menino lhe lançou um olhar injustiçado. — Eu sou o Hardy! — As
faces dela queimaram pela vergonha. Era uma péssima mãe, seus
filhos já tinham oito anos e ainda conseguia confundi-los. Já estava
pronta para se desculpar quando o rosto do menino se contraiu em
uma risada. — Brincadeira, sou o Haven. Ao seu lado Alec
estrangulou uma risada e ela olhou de olhos cerrados para ele, o
marido tossiu e deu um sorriso sem graça para a esposa. — Não
quero saber de apostas, seja quais forem. — Disse firme e os três
baixaram as cabeças, envergonhados. — Desculpe mamãe. —
Disseram em uníssono e isso foi o suficiente para ela se
desmanchar pelas criaturinhas vestidas de quadriculado. Deixou
que eles fossem, sabendo que em questão de algumas horas
estariam brigando de novo. — Você é leve demais com eles. —
Disse Alec enquanto observavam os filhos se afastarem. — Sabem
que basta olhar para você com grandes olhos de pena e terão você
arriada. — Puxaram isso de você, sabe não é? — Ela o cutucou, e
ele assentiu, olhando-a com um sorriso apaixonado. — E isso
significa que você não consegue resistir aos meus dotes, meu doce.
— Ele falou puxando-a para um beijo. Que revelava muito mais
coisas do que ele seria capaz de dizer. Quando ele soltou-a, o
corpo de ambos tremiam. — Eu amo você Alecsander Lancaster
Armstrong, amo seu gosto, seu cheiro, o seu jeito, amo seus olhos
âmbar e a maneira como eles me fazem sentir amada, amo seu
sobrenome e amo ainda mais o privilégio de leva-lo. — Duvido que
me ame mais do que eu amo a você. — Ele falou, encostando a
testa na dela. Ela arqueou uma sobrancelha maligna para ele,
abrindo um sorriso malicioso. — Você quer fazer uma aposta? FIM

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