Você está na página 1de 12

CAP.

1 – Pesadelos

Era uma noite quente e abafada típica de verão. Eu estava dormindo, ou melhor, tentando
dormir. O suor escorria pela minha testa, enquanto eu me revirava sob os lençóis de forma
inquieta. Desde que eu comecei a ter pesadelos, não conseguia dormir mais de 3 horas
seguidas, já havia virado costume aquela altura. Mas aquele dia, o sonho era diferente. Eu
caminhava sozinha por uma rua escura, as luzes dos postes piscavam freneticamente. Uma
figura medonha e sombria espreitava nas sombras, com olhos mais brilhantes e amarelos que o
sol, pareciam queimar. Um grito descontrolado saiu de meus lábios enquanto a criatura se
aproximava, estendendo sua mão esquelética em minha direção. Eu acordei em um
sobressalto, com o coração quase explodindo do peito, e o pijama ensopado de suor. Olhei
para o relógio no criado-mudo ao lado de minha cama: eram três da manhã.

Sentei-me na cama, dei um suspiro profundo recuperando o fôlego, dei um gole generoso de
água do copo que ficava em cima da cômoda, e em seguida deitei. Fechei os olhos novamente
que ardiam fervorosamente, eu estava exausto, fazia semanas que eu não tinha uma noite de
sono digna. Porém, logo que os fechei, tive um vislumbre perturbador da criatura sombria em
minha mente. Parecia real demais pra ser apenas um sonho.

Assim que acordei, fazia mais calor que a noite anterior. Sem muita energia, fui para a escola.
Eu batia o lápis na capa do caderno e balançava as pernas inquieto, enquanto apoiava a outra
mão no queixo esperando ansiosamente pro sinal bater. O professor de matemática falava e
falava, e a única coisa que eu conseguia prestar atenção era no relógio em cima de sua cabeça,
faltava apenas 3 minutos para a última aula antes das férias de verão. Até que finalmente,
como música para os meus ouvidos, o sinal tocou. Juntei minhas coisas num piscar de olhos e
logo Eddie e Ritch se juntaram a mim. Saímos da sala rapidamente em meio a multidão de
alunos.

- Eu tava pensando em convidar todo mundo pra uma maratona de "Super Mario Bros" na
minha casa. – Disse Ritch, animado.

- Mas a gente já não faz isso verão passado?- Perguntei.

- Ah! Você tá viciado nessa coisa. Que dizer, é legal, mas eu não quero passar minhas férias
enfiado no seu quarto. – Disse Eddie em seguida.

- Vocês só estão falando isso porque sempre perdem.

- Que mentira! Eu ganhei da última vez!! – Resmungou Eddie.

- Espera aí, gente! – Escutei uma voz longe e quando me virei era o Stan. Que me empurrou pra
um lado e Eddie pra outro, abrindo um espaço entre nós dois.

- Do que vocês estão falando?

- Ritch quer fazer uma maratona de Super Mário Bros. – Respondi.

- A gente não pode deixar isso de último plano? – Perguntou Stanley. Stanley era o tipo de cara
que preferia ler um livro a jogar videogame.
Estávamos no corredor em meio a muitos alunos indo em todas as direções. Nas paredes,
vários cartazes de desaparecidos, que na maioria das vezes eram ignorados já que as pessoas
não sabiam o que fazer. Perto da porta principal que dava para a saída, vi “Henry e seus
capangas”, como gostávamos de chamá-los. Eles olharam pra nós com um sorriso malicioso nos
lábios.

- Ah, merda. – Disse Richie quase como um sussurro. Sabíamos que teríamos problemas mais
tarde.

Já estávamos do lado de fora, combinando o que iríamos fazer nos próximos dias.

- O que vocês vão fazer amanhã? – perguntou Eddie.

- Manhã eu começo meu treino. – Respondeu Richie.

- Que treino?

- Street Fighter.

- É assim que você quer passar suas férias de verão? Dentro de um Fliperama? – Continuou
Eddie.

- E o que você vai fazer? Ficar preso em casa com a mamãe? – Finalizou Richie com um tom
debochado.

Antes que Eddie pudesse rebater, Stanley interrompeu.

- A gente podia ir na pedreira.

- Ou pro esconderijo. – Acrescentou Eddie.

- Eu também tava pensando nisso. – Respondi em sequência.

- Aquela é a mãe da Elen? – Disse Eddie. Ela estava em frente a escola com alguns policiais,
olhando os alunos saírem. Parecia que procurava alguém.

- Ela tá mesmo esperando a Elen sair da escola?- Disse Stanley.

- Como se a Elen estivesse escondida na escola esse tempo todo.

- Você acha que vão encontrar ela? – Continuou Stan.

- Claro, em uma vala em decomposição coberta por larvas e moscas. Fedendo mais que o
Eddie. – Respondeu Richie.

- Cala a boca, seu nojento. Rebateu Eddie.

- Ela não tá morta. Tá desaparecida. – Afirmei num tom sério.

- Foi mal aí, Bill.

Fomos andando até que Henry e seus capangas apareceram de surpresa. Um deles empurrou
Stan que caiu em cima do Richie, enquanto o outro chutou a bolsa de Eddie o empurrando pra
frente fazendo o tropeçar.
- Boas férias de verão, bill. – Disse Henry com um ar debochado passando por mim e me
trombando com o ombro. Eu já estava de saco cheio daquelas provocações.

- Você é um otario, Henry! – Escapuliu dos meus lábios.

- Cala a boca, Bill. – Disse Eddie com um semblante preocupado, pois Henry havia parado e se
virou lentamente pra mim junto com seus comparsas.

- O que foi que você disse? – Perguntou Henry. Naquela hora senti um nó na garganta
prendendo minha voz.

- Sabe, eu até que tinha pegado leve com você esse ano, mas agora a moleza acabou. Esse
verão vai pegar fogo, pra você e seus amigos bichinhas. – Disse o mesmo me dando um forte
empurrão, mas fui aparado por meus amigos antes que chegasse ao chão. Eu estava fervendo
de raiva.

- Eu odeio esse cara. – Disse Ritch.

- Vai ver ele é o sequestrador. – Argumentou Eddie.

No dia seguinte, havíamos combinado de ir ao esconderijo subterrâneo que apelidamos de


“Bat caverna”, já que gostávamos muito das HQ do Batman. Era um lugar que tínhamos
construído no ano passado, justamente pra ser um porto seguro para nós. Inicialmente era só
um buraco profundo na terra, mas com algumas madeiras e pregos conseguimos fazer um
lugar até que confortável. As pessoas normalmente não iam até aquela parte da floresta, então
nunca tinham visto nosso esconderijo.

Peguei minha bicicleta e disse a minha mãe que iria no Fliperama. Me encontrei com o resto
do grupo e fomos em direção da floresta.

- Pessoal, que tal a gente cortar caminho pelo rio Barry? – Perguntou Stan, enquanto pedalava
sua bicicleta.

- Claro que não! Minha mãe vai ter um aneurisma se souber que eu estava naquele rio. –
Respondeu Eddie.

- Mas é mais rápido por lá, Eddie. E ela não vai saber ao menos que você conte. – Afirmei.

- Aquele rio é literalmente um esgoto. Por que não vamos pela ponte?

- Porque normalmente o Henry tá por lá. Ao menos que você queira levar uma surra logo de
manhã. – Respondeu Stan.

- Para de reclamar, Eddie! Você por acaso vai banhar no rio? Só vamos atravessá-lo pelas
pedras. – Finalizou Richie.

Eddie continuou reclamando mas no fim aceitou a ideia. Já havíamos chegado no rio e
deixamos nossas bicicletas encostadas em uma grande árvore. Atravessamos o estreito rio e
fomos a caminho do esconderijo. Íamos tanto lá que já tínhamos decorado aonde ficava. Mas
sempre deixávamos uma bandeira vermelha escrita : “Clube dos otarios” fincada no local para
não resta dúvidas. Empurramos a grande madeira coberta por folhagem que cobria a entrada
do esconderijo e adentramos. Eddie e Richie dividiam a rede que tinha lá e liam revistas em
quadrinhos, enquanto eu e Stan jogávamos um jogo de tabuleiro no chão.
- Que barulho é esse? – Perguntou Stan levantando a cabeça. Logo em seguida eu ouvi. Parecia
vozes mas tão distantes que não dava pra entender o que estava sendo dito.

- Eu tô ouvindo também. – Disse Eddie.

- Quem será? Quase não vêm gente aqui. – Argumentou Richie.

- Shhh! Fica quieto. – Respondi.

Agora ouvíamos passos rápidos e bruscos. E ficavam cada vez mais perto, mais e mais. Até que
de repente, um garoto rechonchudo caiu de forma desajeitada no buraco do esconderijo.
Fazendo todos nós gritar de susto.

- Quem diabos é você?! – Perguntou Eddie um pouco estérico.

O garoto parecia atordoado mas logo recuperou a consciência, e lentamente se levantou do


chão. Revelando uma série de machucados em seu rosto e uma mancha de sangue profunda
em sua blusa na barriga. E eu o reconheci, era o garoto novo da escola que havia chegado
naquele semestre.

- Um grupo de meninos está me seguindo. Eles devem estar por perto. Por favor, me ajudem. –
Disse o menino ofegante.

Ajudei o pobre garoto a se sentar na rede, e o olhando mais de perto, ele parecia familiar. Foi aí
que me lembrei: era o garoto novo da escola que havia chegado naquele semestre. Peguei uma
garrafa de água que tinnha em minha mochila e entreguei a ele.

- Ah, merda! Isso é sangue?! Você tá legal? – Perguntou Richie.

Ajudei o garoto a se sentar na rede, e assim que o olhei de perto, ele peguei uma garrafa de
água que estava na minha mochila e entreguei a ele. Richie puxou o grupo para um canto da
bat caverna, formando uma roda.

- O que vamos fazer?

CAP. 2 –

Eu pedalava a bicicleta rapidamente e com força, já que o garoto estava na garupa. Os meninos
me acompanhavam e estávamos perto da farmácia. Paramos em um beco que ficava do lado
da farmácia e o garoto se sentou em uma caixa velhas de madeira. Eddie, Stan e eu entramos
na farmácia e Eddie foi logo pegando várias coisas pra tratarmos dos machucados. Ele estava
lotado de coisas em suas mãos.

- Quanto a gente tem?

Tirei uma nota de 1 dólar e Stan tirou mais uma de seu bolso.
- Vocês estão brincando, né? – Continuou Eddie.

- Você tem uma conta aqui, não tem? – Respondi.

- Olha, se minha mãe descobrir que eu comprei tudo isso...vou passar o resto das férias
fazendo tomografia.

De repente uma linda com lindos cabelos ruivos, como brasas no inferno, e pele branca como
leite entrou na sessão em que estávamos, era a Beverlyn Marsh. Ela imediatamente parou e
nos encarou, e retribuímos.

- Você tá bem? – Perguntei gaguejando.

- Eu tô bem. E vocês, o que estão fazendo?- Respondeu a garota com um tom doce.

- Não é da sua conta.- Respondeu Stan de forma impulsiva.

- Tem um garoto lá fora machucado. – Afirmou Eddie.

-. Precisamos de medicamentos mas não temos dinheiro suficiente. Continuei. Um silêncio


pendurou no ambiente durante alguns segundos.

- Talvez eu possa ajudar vocês. – Respondeu a garota.

A garota foi em direção do caixa wur ficava no fundo da farmácia, levou sua caixa de remédio e
começou a conversar com o velho atendente da loja, que parecia estar encantado pela a
mesma. Estávamos apenas observando de longe. A garota de forma proposital derrubou uma
cartela de cigarros que ficava em cima do balcão, fazendo o velho se abaixar. Nessa hora, a
mesma de virou pra trás fazendo contato visual e acenando com a cabeça. Aquele era o sinal
para irmos. Rapidamente saímos da loja com os medicamentos em mãos e viramos no beco.

- Até que enfim. Achei que vocês tinham morrido. – Afirmou Richie.

Eddie se abaixou e levantou a blusa do menino, revelando um corte em sua barriga.

- O que exatamente aconteceu com você? – Pergunto Stan.

- Eu estava saindo da biblioteca quando Henry e os outros me pegaram. – Respondeu o menino


que até então não sabíamos o nome.

- Tinha que ser o Henry. Relaxa, você não é exclusivo dele. – Afirmou Eddie.

- Vai ver ele só tava querendo dar as boas vindas. – Disse Richie, com seu tom brincalhão.

- Ele me levou até a aquela ponte que os alunos costumam ir. Eu tentei me defender o
chutando e acabei caindo e rolando morro a baixo. Foi aí que eu encontrei vocês.

- Não se preocupe, você vai ficar bem. – Tentei consolá-lo.

Enquanto Eddie cuidava do garoto, fui saindo do beco para ver se Beverlyn já havia ido embora
da farmácia. Mas quando virei dei de cara com a ruiva. Fiquei parado por alguns segundos até
que tirei o 1 dólar que tinha e a entreguei.

- Obrigado pela a ajuda. Pegue.


- Não precisa. Estamos quites. – Disse a mesma me mostrando uma caixa de cigarros que tinha
roubado do caixa. Até que a garota olhou pro beco e viu o meu grupo de amigos envolva do
garoto novo.

- Ben? – Disse ela com um tom preocupado e se aproximando dos meninos.

- Você tá bem? Parece que isso daí tá doendo.

- Eu tô bem, eu só cai. – Respondeu o menino sem jeito.

- É, bem em cima do Henry.

- Fica quieto, Richie. – Pedi.

- O que? É verdade. – Continuou o mesmo.

- Tem certeza que eles podem cuidar de você? – Perguntou a ruiva.

- Pode deixar. Vamos cuidar dele. Obrigado, Beverlyn. – Respondi.

- De nada. A gente se ver.

Estávamos querendo ir a pedreira amanhã... Se você quiser ir. – Continuou.

- Legal, bom saber. – Finalizou a ruiva se afastando.

Da onde você conhece ela? – Perguntou Richie a Ben.

- A gente é da mesma sala em sociologia.

- Saquei. Vamos em frente soldados. Este homem precisa de cuidados. Vamos doutor Eddie,
conserta ele! – Disse Richie com seu tom brincalhão.

Na noite daquele dia, eu estava me preparando pra ir dormir. Me deitei e logo peguei no sono,
algo que era raro nas últimas semanas. Até que de repente senti um ar gelado no meu ouvido
direito.

- Billy. – Um sussurro no meu ouvido esquerdo. Franzi a testa ainda com os olhos fechados.
Virei a cabeça na direção esquerda e abri os olhos lentamente. E me deparei com algo que me
fez arrepiar dos pés a cabeça. Uma sombra preta do lado da minha cama, dando apenas pra
enxergar seus grandes olhos amarelos brilhantes, que me encaravam fixamente. Fiquei
paralisado com os olhos quase saltando das órbitas. Era ela. A criatura tinha ido me visitar.
Rapidamente, fechei os olhos com toda a força, fazendo eles doer. Eu estava assustado demais
para olhar. Reunir toda a coragem que me restava, e abri uma pequena parte dos olhos. A coisa
tinha sumido. Me senti aliviado mas preocupado, cheguei a pensar que estava ficando louco
pois até então eram apenas pesadelos. Aquilo não podia ser real.

De manhã acordei atordoado, não sabia se o que eu tinha visto era real ou um pesadelo. “Mas
foi tão realista” pensei comigo mesmo.

Estávamos na pedreira no limite da grande pedra observando o rio distante. Apenas esperando
quem seria o primeiro corajoso a pular. Por mais que já tivéssemos feito isso antes, todos
sentiam medo e no final acabava com pedra, papel e tesoura pra decidir quem iria primeiro.

- Quem vai primeiro? – Perguntou Richie.


- Eu vou. – Uma voz atrás de nós disse. Todos nos viramos em sequência, e era ela. Ela tinha
ido. Com um biquíni branco e um short azul claro, a garota sem hesitar em nenhum momento
correu em direção do abismo.

- Cacete! Fomos humilhados por uma garota! – Disse Richie.

- O que vamos fazer agora? – Perguntou Stan.

- Venham! – A garota gritou lá de baixo. E logo todos tomaram coragem para pular. Foi uma
tarde divertida, sem dúvidas a melhor daquele verão, brincamos na água até cansar e o céu
ficar mais amarelado, indicando que já tinha se passado um bom tempo. Fomos até a margem
do rio e sentamos em umas grandes pedras. Richie remexia a bolsa de Ben a procura de algo
interessante.

- Que lance é desse do trabalho de história? – Disse retirando uma pasta azul da mochila.

- Deixe-me ver. – Pedi. Eram noticias dos jornais falando sobre os desaparecimentos locais.

- Assim que eu me mudei pra cá. Eu não tinha muito o que fazer. Então eu passava o tempo na
biblioteca.

- Você ia a biblioteca? Por vontade de própria? – Disse Richie.

- Me devolve. – Continuou Richie pedindo pela pasta e mostrando a Stan.

- Por que tantos mortos e crianças desaparecidas?- Perguntou Stan.

- Clovehitch não é igual as outras cidades em que eu estive. Fizeram um estudo uma vez, e
parece que os desaparecimentos aqui são 6 vezes a média nacional.

- Você leu sobre isso? – Pergunto Beverlyn.

- E isso é só com adultos. Com crianças é pior, muito pior. Se quiserem ver, eu tenho mais
coisas. – Continuou Ben.

- Não. – Disse Eddie com uma expressão assustada.

CAP. 3 –

Ben ia na frente enquanto o resto de nós o seguia. Depois de pedalar um pouco chegamos em
sua casa, que era bem bonita por sinal. Ben nos guiou até seu quarto e era um tanto peculiar.
Várias colagens nas paredes de casos e coisas relacionadas a cidade de Clovehitch. Todos
admiravam as paredes.

- Uau. – Disse Richie.

- O que é tudo isso? – Perguntou Stan.

- São alguns dados sobre a história de Clovehitch.

- Alerta Nerd! – Disse Richie brincando.


- Não, na verdade é bem interessante. No final do século XIX, houve desaparecimentos em
massa. Um grupo de caçadores local desapareceu na floresta sem deixar rastros.

- Todo mundo desapareceu?- Perguntou Eddie.

- Sim. E até hoje não se sabe o que exatamente aconteceu, tanto que o caso foi arquivado. Os
desaparecimentos tinha parado por um bom tempo, mas...

- Voltaram esse ano. – Completei.

Cerca de dois dias depois, Beverly nos avisou que precisava nos encontrar com urgência.
Nenhum de nós sabíamos do que se tratava, mas fomos em direção a sua casa, que na verdade
era um apartamento em meio a vários em um bairro humilde da cidade. Chegamos lá e ela já
nos esperava sentada na escada. Quando nos viu, se levantou em um sobressalto.

- Meu pai vai me matar se souber que eu trouxe meninos pra casa.

- É melhor alguém ficar de guarda. – Respondi

- Eu preciso falar com todos vocês, ele só vai voltar do trabalho depois das seis. Vamos. Minha
casa é lá em cima.

Entramos em sua casa e ela pediu pra que sentássemos no sofá.

- Alguém quer água, suco, alguma coisa? – Perguntou de forma gentil, mas recusamos. Em
seguida a ruiva se sentou na poltrona em nossa frente.

- Eu vou ser direta. Ontem eu tive um sonho, um pesadelo, muito estranho...eu não me lembro
muito bem. Mas, acordei com isso no pulso. Nós olhávamos atentamente ela erguer a manga
de sua camisa. Revelando um símbolo que eu nunca tinha visto antes esculpido em sua pele
branca.

- O que diabos é isso? – Perguntou Richie

- Deixe-me ver. Tá doendo? – Perguntou Eddie puxando o braço de Bev pra perto.

- Não mais. Quando eu acordei ainda estava sangrando, como se estivesse fresco.

- Isso não faz sentido nenhum. Quer dizer, como você conseguiu isso no meu da noite?

- E desenhado de forma tão precisa assim? – Completou Ben.

- Eu não sei, meninos. Por isso quis falar com vocês...pra sei lá, tentar achar uma solução.

- Você se lembra pelo menos um pouco do seu pesadelo.

- Não de muitos detalhes. A única coisa que eu lembro é de ver uma sombra, não parecia
humano. Com olhos grandes e...

- Amarelos brilhantes? – Perguntei

- É... como você sabe disso? – Perguntou Bev surpresa.

- Eu tenho sonhado com essa coisa a dias.

- Essa coisa que vocês estão falando...tem garras afiadas, tipo grandes alfinetes?
- Sim, por que? Você sonhou com ela também?- Falei rapidamente me embolando nas
palavras.

- Já foi umas duas vezes. No sonho ela sempre corre atrás de mim desesperadamente.

Percebi que Stan parecia assustado.

- E você, Stan, sonhou com a criatura também?

- Não só sonhei, como vi ela. As vezes quando eu tô em casa, a vejo me observando nas quinas
das paredes Eu pensei que estivesse ficando louco.

- Isso não pode ser coincidência. – Disse Bev.

- Pera aí! Isso só aparece pra virgens babacas? E por isso que eu não tô vendo nada?

- Cala essa boca, Richie. – Finalizou Eddie um pouco irritado.

Bem parecia pensativo e não parava de olhar pro braço de Bev.

- Espera aí... – Disse o mesmo puxando o braço de Bev para ver melhor.

- Eu acho que.... acho que já vi esse símbolo antes.

- Você tá falando sério? – Perguntou Stan.

- É... eu acho que vi na capa de um livro na biblioteca...

Todos nos entreolhamos e levantamos em sequência indo em direção da porta.

- Pra onde vocês estão indo? – Disse Richie ainda sentado no sofá.

Pedalamos rapidamente em direção da biblioteca que não ficava muito longe dali. Assim que
chegamos, não sabíamos por onde começar.

- Você se lembra de como era o livro? Ou o título?

- Bem...na verdade não. A única coisa que me lembro é que era um livro antigo. Eu o achei por
acaso. – Respondeu Ben.

- Vai ser quase impossível encontrar esse livro. – Argumentou Richie.

- Vamos nos separar. Cada um procura em uma prateleira. – Sugeri. E assim foi feito, cada um
reparava bem na capa daqueles milhares de livro. Depois de revirarmos a biblioteca
praticamente inteira e não achar nem indícios do livro, aceitamos a derrota. Sentei-me no chão
da biblioteca, pra descansar um pouco. Comecei a reparar na estante em minha frente. Até que
notei um livro espremido e meio amassado em meio a mais dois livros enormes. Me aproximei
ainda sem levantar do chão e enfiei minha mão entre os livros. Quando peguei o livro e o virei,
lá estava. O símbolo misterioso estampado na capa. Bingo.

Chamei o resto do grupo e nos sentamos em uma mesa no canto da biblioteca.

- Crianças, daqui a 10 minutos a biblioteca vai fechar.

- Droga! – Escapuliu de meus lábios.

- Eu sei um lugar que podemos ir. – Disse Stan. E eu já sabia qual era. Rapidamente pegamos
nossas bicicletas e fomos em direção do esconderijo.
- Pra onde estamos indo? – Perguntou Bev enquanto pedalava.

- Um lugar onde nada irá nos interromper. Você vai gostar! – respondi a mesma.

Já havíamos chegado no rio e como de costume deixamos as bicicletas encostadas na árvore.


Bervely parecia apreensiva. Empurramos a madeira e finalmente entramos.

- Tem boas lembranças, Ben? – Perguntou Richie, num tom satírico.

- Nem me fale. – Respondeu Ben.

- Uau. Vocês que construíram isso? Perguntou Beverlyn, impressionada.

- Isso aí, chamamos de batcaverna.

- Curti. – Respondeu a mesma com um sorriso encantador.

- Vamos logo com isso, gente! – Disse Eddie, impaciente.

Peguei o livro em minha mochila e todos sentamos no chão em círculo. Abri o livro e o coloquei
no centro, para q todos pudessem ver. O livro tinha folhas amareladas, com um aspecto de
velho, e o título era ainda mais intrigante: Os mistérios perdidos de Clovehitch. Ergui as
sobrancelhas em confusão. Comecei a passar as páginas e os textos eram extensos e após
algumas passadas de páginas, eu me deparei com uma ilustração. Era a criatura que nos
aterrorizava. Todos soltaram um suspiro assustados e Eddie rapidamente pegou a bombinha de
ar que carregava em sua pochete, na tentativa de recuperar o ar. Embaixo daquela imagem
perturbador, tinha uma legenda: A devoradora de almas.

- Devoradora de almas? Vocês realmente estão levando essa merda a sério? – Disse Richie
entre risos.

- Você não entende? Vimos a coisa! – Respondeu Eddie.

- Qual é, isso soa como uma lenda urbana. – Continuou Richie. Mas antes de eu pudesse
responder, uma sensação arrepiante preencheu o esconderijo. O silêncio foi instantâneo. Todos
nós estávamos sentindo. De forma inesperada, a madeira que fechava o esconderijo foi
ligeiramente empurrada, nos prendendo no breu. Era como se alguém tivesse brincando com a
gente. O pânico foi geral e os gritos foram inevitáveis. Desesperados, começamos a empurrar a
madeira pra cima na esperança de abrir para sair daquela escuridão.

- O que está acontecendo?! – Perguntou Stan histérico.

- Isso deve ser o idiota do Henry! Só pode ser ele! – Respondeu Richie. Todos estavam falando
um por cima do outro e de forma histérica.

- Isso não tem graça, Henry! – Gritou Eddie. Estava tão escuro que meus olhos começaram a se
costumar com o escuro e eu conseguia ver as sombras de meus amigos. Meus braços estavam
cansados de empurrar e na esperança de encontrar algo me virei. Senti meu sangue gelar e
meu coração parar. Em meio a escuridão, duas grandes bolas de fogo brilhantes. Era a maldita
coisa, ela estava lá. Ainda sem ar, puxei Ben que estava ao meu lado, ainda tentando empurrar
a madeira.

- Pessoal...- Disse o mesmo gaguejando. Todos olharam pra trás e se depararam com a coisa.
Todos estavam paralisados de medo enquanto aqueles olhos nos encaravam.
- Eu não sou real o bastante pra você, Richie? – Uma voz terrivelmente defeituoso e medonha
saiu daquela coisa. Num susto, Richie soltou um alto grito, fazendo todos gritar também. Em
um momento de lucidez, sem pensar duas vezes, empurrei a madeira em cima de minha
cabeça com toda minha força. Como um milagre, a passagem se abriu, revelando um fonte de
luz. Todos saíram desesperados atropelando uns aos outros. Estávamos ofegantes e em
choque, todos expressavam uma expressão de horror em seus rostos. Naquele momento,
sabíamos que a coisa estava nos caçando, e seríamos os próximos.

CAP 4-

Sem muita opção, e após um tempo criamos coragem, descemos novamente na batcaverna
pra pegar nossas mochilas. O livro ainda estava no chão. O peguei e entreguei a Ben.

- É melhor isso ficar com você. – Afirmei e ele acentiu. Fomos em direção do rio pra pegar as
bicicletas, estávamos agindo como se não tivesse acontecido, todos estavam com medo.

- Por que vocês estao agindo como se aquilo não tivesse acontecendo? – Perguntou Bev,
irritada.

- O que podemos fazer? – Perguntou Richie. Foi a primeira vez que o vi sério.

- Tentar combater essa coisa. – Respondeu Bev.

- É sério? Depois de tudo isso? – Rebateu Stan.

- Você acha mesmo que temos chance contra aquela coisa? – Disse Richie.

- É verão. Deveríamos estar nos divertindo agora. Isso não é divertido, é assustador e
traumatizante. – Afirmou Eddie.

- Não dá pra fingir que essa coisa vai embora. Ela vai continuar nos perseguindo... – Afirmei.

- Até finalmente nos pegar. Eu sei que estão com medo, todos estamos. Mas se fizermos isso
juntos, temos alguma chance. – completou Bem. O grupo parecia pensativo e tiraram um 1
minuto de silêncio.

-Mas que droga. – Disse Richie. Precisamos ir pra casa. Amanhã, vemos o que podemos fazer.

O céu já estava começando a ficar num lindo tom laranja, e cada um de nós seguiu seu
caminho. Naquela noite, eu estava com medo de dormir. Eu imaginava como aquela coisa
poderia me pegar enquanto eu dormia. Mas por fim, acabei pegando no sono, e depois de
muito tempo, tive uma noite sem pesadelos. Na manhã seguinte, eu estava em casa,
supostamente descansando, mas eu não conseguia parar de pensar sobre a coisa. Até que a
campainha tocou, fiquei surpreso porque não estava esperando visitas. Fui a porta e a abri, e
me deparei com Bem, que tinha uma expressão

Você também pode gostar