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03º Domingo do Tempo

Comum – Ano C
ANO C
3º DOMINGO DO TEMPO COMUM
Tema do 3º Domingo do Tempo Comum

A liturgia deste domingo coloca no centro da nossa


reflexão a Palavra de Deus: ela é, verdadeiramente, o
centro à volta do qual se constrói a experiência cristã.
Essa Palavra não é uma doutrina abstracta, para deleite
dos intelectuais; mas é, primordialmente, um anúncio
libertador que Deus dirige a todos os homens e que
incarna em Jesus e nos cristãos.
Na primeira leitura, exemplifica-se como a Palavra deve
estar no centro da vida comunitária e como ela, uma vez
proclamada, é geradora de alegria e de festa.
No Evangelho, apresenta-se Cristo como a Palavra que se
faz pessoa no meio dos homens, a fim de levar a
libertação e a esperança às vítimas da opressão, do
sofrimento e da miséria. Sugere-se, também, que a
comunidade de Jesus é a comunidade que anuncia ao
mundo essa Palavra libertadora.
A segunda leitura apresenta a comunidade gerada e
alimentada pela Palavra libertadora de Deus: é uma família
de irmãos, onde os dons de Deus são repartidos e postos
ao serviço do bem comum, numa verdadeira comunhão e
solidariedade.
LEITURA I – Ne 8,2-4a.5-6.8-10

Leitura do Livro de Neemias

Naqueles dias,
o sacerdote Esdras trouxe o Livro da Lei
perante a assembleia de homens e mulheres
e todos os que eram capazes de compreender.
Era o primeiro dia do sétimo mês.
Desde a aurora até ao meio dia,
fez a leitura do Livro,
no largo situado diante da Porta das Águas,
diante dos homens e mulheres
e todos os que eram capazes de compreender.
Todo o povo ouvia atentamente a leitura do Livro da Lei.
O escriba Esdras estava de pé
num estrado de madeira feito de propósito.
Estando assim em plano superior a todo o povo,
Esdras abriu o Livro à vista de todos;
e quando o abriu, todos se levantaram.
Então Esdras bendisse o Senhor, o grande Deus,
e todos responderam, erguendo as mãos:
«Amen! Amen!».
E prostrando-se de rosto por terra, adoraram o Senhor.
Os levitas liam, clara e distintamente, o Livro da Lei de
Deus
e explicavam o seu sentido,
de maneira que se pudesse compreender a leitura.
Então o governador Neemias,
o sacerdote e escriba Esdras,
bem como os levitas, que ensinavam o povo,
disseram a todo o povo:
«Hoje é um dia consagrado ao Senhor vosso Deus.
Não vos entristeçais nem choreis».
– Porque todo o povo chorava, ao escutar as palavras da
Lei –.
Depois Neemias acrescentou:
«Ide para vossas casas,
comei uma boa refeição, tomai bebidas doces
e reparti com aqueles que não têm nada preparado.
Hoje é um dia consagrado a nosso Senhor;
portanto, não vos entristeçais,
porque a alegria do Senhor é a vossa fortaleza».

AMBIENTE

O Livro de Neemias (com o de Esdras com o qual,


inicialmente, formava uma unidade) pertence ao período
que se segue ao regresso dos exilados judeus da
Babilónia.
Estamos nos séculos V/IV a.C.; para os habitantes de
Jerusalém, é ainda um tempo de miséria e desolação,
com a cidade sem muralhas e sem portas, uma sombra
negra da cidade bela que tinha sido. Neemias, um alto
funcionário do rei Artaxerxes, entristecido pelas notícias
recebidas de Jerusalém, obtém do rei autorização para se
instalar na capital judia. Neemias vai começar a sua
actividade com a reconstrução da muralha (cf. Ne 3-4) e
com o combate às injustiças cometidas pelos ricos contra
os pobres (cf. Ne 5). Depois, procura restaurar o culto (cf.
Ne 8-9).
É neste contexto de preocupação com a restauração do
culto que podemos situar o trecho que nos é proposto:
Neemias reúne todo o Povo “na praça que fica diante da
Porta das Águas”, a fim de escutar a leitura da Lei. Trata-
se de recordar ao Povo o compromisso fundamental que
Israel assumiu com o seu Deus: só assim será possível
preparar esse futuro novo que Neemias sonha para
Jerusalém e para o Povo de Deus.

MENSAGEM

A questão fundamental sugerida pelo texto tem a ver com


a importância que a Palavra de Deus deve assumir na vida
de uma comunidade. Todos os pormenores apontam
nesse sentido.
Em primeiro lugar, o autor do texto sublinha a convocação
de toda a comunidade para escutar a Palavra: os homens,
as mulheres e as crianças em idade “de compreender”. A
Palavra de Deus dirige-se a todos sem excepção, a todos
interpela e questiona.
Em segundo lugar, atente-se na questão dos
preparativos: há um estrado de madeira feito de propósito
que coloca o leitor em plano superior; depois, o Livro da
Lei é aberto de forma solene e todos se levantam, em
atitude de respeito e veneração pela Palavra… É o
exemplo de uma comunidade onde a Palavra de Deus
está no centro e onde tudo se conjuga em função do lugar
especial que a Palavra ocupa na vida da comunidade.
Em terceiro lugar, temos a descrição do rito: a Palavra é
aclamada pela assembleia; depois, os levitas lêem clara e
distintamente; finalmente, explicam ao povo a Palavra, de
modo acessível, “de maneira que se pudesse
compreender a leitura”. Temos aqui um autêntico manual
de como deve processar-se uma verdadeira “celebração
da Palavra”.
Em quarto lugar, temos a resposta do Povo: confrontados
com a Palavra, choram. A atitude do Povo revela,
certamente, uma comunidade que se deixa interpelar pela
Palavra, que confronta a sua vida com a Palavra
proclamada e que sente, na sequência, a urgência da
conversão. A Palavra é eficaz e provoca a transformação
da vida.
Finalmente, tudo termina numa grande festa: o dia
“consagrado ao Senhor” é um dia de alegria e de festa
para a comunidade que se alimentou da Palavra.

ACTUALIZAÇÃO

Considerar, na reflexão, as seguintes questões:

• Que lugar ocupa a Palavra de Deus na vida de cada um


de nós e na vida das nossas comunidades? A Palavra é o
centro à volta do qual tudo se articula? Encontramos
espaço para ler, para reflectir, para partilhar a Palavra?

• Aqueles a quem é confiada a missão de proclamar a


Palavra: preparam convenientemente o ambiente?
Proclamam a Palavra clara e distintamente? Reflectem a
Palavra e explicam-na de forma acessível, de forma que
ela toque a assembleia que escuta? Têm a preocupação
de adaptá-la à vida?

• Nas nossas assembleias comunitárias, a Palavra é


acolhida com veneração e respeito, ou aproveitamos o
momento em que ela é proclamada para acender velinhas
ao santo da nossa devoção, para rezar o terço ou para
“controlar” quem está ao nosso lado?

• A Palavra interpela-nos, leva-nos à conversão, à


mudança de vida, ou a Palavra é só para os outros
(“grande recado que o padre está a mandar à dona…”)?

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 18 B (19)

Refrão: As vossas palavras, Senhor,


são espírito e vida.

A lei do Senhor &eac


ute; perfeita,
ela reconforta a alma;
as ordens do Senhor são firmes,
dão sabedoria aos simples.

Os preceitos do Senhor são rectos


e alegram o coração;
os mandamentos do Senhor são claros
e iluminam os olhos.

O temor do Senhor é puro


e permanece eternamente;
os juízos do Senhor são verdadeiros,
todos eles são rectos.

Aceitai as palavras da minha boca


e os pensamentos do meu coração
estejam na vossa presença:
Vós, Senhor, sois o meu amparo e redentor.

LEITURA II – 1 Cor 12,12-30

Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo aos


Coríntios

Irmãos:
Assim como o corpo é um só e tem muitos membros,
e todos os membros do corpo, apesar de numerosos,
constituem um só corpo,
assim sucede também em Cristo.
Na verdade, todos nós
– judeus e gregos, escravos e homens livres –
fomos baptizados num só Espírito
para constituirmos um só corpo
e a todos nos foi dado a beber um só Espírito.
De facto, o corpo não é constituído por um só membro,
mas por muitos.
Se o pé dissesse:
«Uma vez que não sou mão, não pertenço ao corpo»,
nem por isso deixaria de fazer parte do corpo.
E se a orelha dissesse:
«Uma vez que não sou olho, não pertenço ao corpo»,
nem por isso deixaria de fazer parte do corpo.
Se o corpo inteiro fosse olho, onde estaria o ouvido?
Se todo ele fosse ouvido, onde estaria o olfacto?
Mas Deus dispôs no corpo cada um dos membros,
segundo a sua vontade.
Se todo ele fosse um só membro, que seria do corpo?
Há, portanto, muitos membros, mas um só corpo.
O olho não pode dizer à mão: «Não preciso de ti»;
nem a cabeça dizer aos pés: «Não preciso de vós».
Pelo contrário, os membros do corpo que parecem fracos
são os mais necessários;
os que nos parecem menos honrosos
cuidamo-los com maior consideração;
e os nossos membros menos decorosos
são tratados com maior decência:
os que são mais decorosos não precisam de tais
cuidados.
Deus organizou o corpo,
dispensando maior consideração ao que dela precisa,
para que não haja divisão no corpo
e os membros tenham a mesma solicitude uns com os
outros.
Deste modo, se um membro sofre,
todos os membros sofrem com ele;
se um membro é honrado,
todos os membros se alegram com ele.
Vós sois corpo de Cristo e seus membros,
cada um por sua parte.
Assim, Deus estabeleceu na Igreja
em primeiro lugar apóstolos,
em segundo lugar profetas, em terceiro doutores.
Vêm a seguir os dons dos milagres, das curas, da
assistência,
de governar, de falar diversas línguas.
Serão todos apóstolos? Todos profetas? Todos doutores?
Todos farão milagres? Todos terão o poder de curar?
Todos falarão línguas? Todos terão o dom de as
interpretar?

AMBIENTE

A segunda leitura vem na sequência da que lemos no


domingo passado. Paulo está preocupado porque, na
Igreja de Corinto, os “carismas” (dons de Deus para
benefício de toda a comunidade), utilizados em benefício
próprio, geravam individualismo, divisão, luta pelo poder,
desprezo pelos que aparentemente não possuíam dons
especiais. É uma situação intolerável: aquilo que devia
beneficiar todos é usurpado por alguns e está a pôr em
causa a unidade e a comunhão desta Igreja.

MENSAGEM

Para tornar mais clara a mensagem, Paulo utiliza uma


comparação muito conhecida no mundo greco-romano
(onde é usada para falar dos deveres comunitários): a
fábula do corpo e dos seus membros.
Paulo compara a comunidade cristã a um corpo. Esse
corpo é constituído por uma pluralidade diversificada de
membros, cada um com a sua tarefa, isto é, com o seu
“carisma” peculiar. Não basta que os membros sejam
vários: é preciso que sejam variados, que sejam distintos:
é a riqueza da variedade que permite a sobrevivência de
todo o conjunto. Além disso, são membros que
necessitam uns dos outros e que se preocupam uns com
os outros. A unidade fundamental deve, pois, ir de mãos
dadas com o pluralismo carismático e com a preocupação
pelo bem comum.
No entanto, o mais interessante e mais original (a fábula
em si não é original) é a identificação deste corpo com
Cristo: a comunidade cristã é o corpo de Cristo (vós sois
corpo de Cristo e seus membros” – vers. 27). É também
esta identificação com Cristo a parte mais questionadora
da parábola… Neste corpo tem de manifestar-se o Cristo
total. Ora, pode Cristo estar dividido? Pode o corpo de
Cristo identificar-se com conflitos e rivalidades? É
possível que o corpo de Cristo dê ao mundo um
testemunho de egoísmo, de individualismo, de orgulho, de
auto-suficiência, de desprezo pelos pobres e débeis?
O corpo de Cristo (a Igreja) é, pois, uma comunidade de
irmãos, que de Cristo recebem e partilham a vida que os
une; sendo uma pluralidade de membros, com diversas
funções, respeitam-se, apoiam-se, são solidários uns com
os outros e amam-se. Palavras-chave para definir a teia
de relações que liga este corpo de Cristo são
“solidariedade”, “participação”, “co-responsabilidade”.
Na parte final do texto, Paulo apresenta uma espécie de
hierarquia dos “carismas”. Obviamente, os “carismas”
apresentados em primeiro lugar são os que dizem
respeito à Palavra, ao anúncio da Boa Nova (“apóstolos”,
“profetas”, “doutores”). Isso significa que o corpo de
Cristo é, verdadeiramente, a comunidade que nasce da
Palavra e que se alimenta da Palavra: tudo o resto passa
para segundo plano, diante da Palavra criadora e
vivificadora que Deus dirige à comunidade.
No entanto, também aqui não podemos esquecer o que
Paulo disse atrás: todos os membros do corpo
desempenham funções importantes para o equilíbrio e
harmonia do conjunto e para a consecução do bem
comum.

ACTUALIZAÇÃO

Para a reflexão e a partilha, considerar os seguintes


elementos:

• A Igreja é o corpo de Cristo onde se manifesta, na


diversidade de membros e de funções, a unidade, a
partilha, a solidariedade, o amor, que são inerentes à
proposta salvadora que Cristo nos apresentou. A nossa
comunidade cristã é, para nós, uma família de irmãos, que
vivem em comunhão, que se respeitam e que se amam,
ou é o campo onde se enfrentam as invejas e os
interesses egoístas e mesquinhos?

• Usamos os “carismas” que Deus nos confia para o


serviço dos irmãos e para o crescimento do corpo, ou
para a nossa promoção pessoal e social?
• Nesse corpo, os vários membros vivem em inter-
dependência. É efectiva a n
ossa solidariedade com os membros da comunidade? Os
dramas e os sofrimentos, as alegrias e as esperanças dos
nossos irmãos são sentidos por todos os membros desse
corpo?

• Sentimo-nos co-responsáveis na construção dessa


comunidade da qual somos membros e desempenhamos,
com sentido de responsabilidade, o nosso papel, ou
remetemo-nos a uma situação de passividade e de
comodismo, esperando que sejam os outros a fazer tudo?

ALELUIA – Lc 4,18

Aleluia. Aleluia.

O Senhor enviou-me a anunciar a boa nova aos pobres,


a proclamar aos cativos a redenção.

EVANGELHO – Lc 1,1-4;4,14-21

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São


Lucas

Já que muitos empreenderam narrar os factos


que se realizaram entre nós,
como no-los transmitiram os que, desde o início,
foram testemunhas oculares e ministros da palavra,
também eu resolvi,
depois de ter investigado cuidadosamente tudo desde as
origens,
escrevê-las para ti, ilustre Teófilo,
para que tenhas conhecimento seguro do que te foi
ensinado.
Naquele tempo,
Jesus voltou da Galileia, com a força do Espírito,
e a sua fama propagou-se por toda a região.
Ensinava nas sinagogas e era elogiado por todos.
Foi então a Nazaré, onde Se tinha criado.
Segundo o seu costume,
entrou na sinagoga a um sábado
e levantou-Se para fazer a leitura.
Entregaram-Lhe o livro do profeta Isaías
e, ao abrir o livro,
encontrou a passagem em que estava escrito:
«O Espírito do Senhor está sobre mim,
porque Ele me ungiu
para anunciar a boa nova aos pobres.
Ele me enviou a proclamar a redenção aos cativos
e a vista aos cegos,
a restituir a liberdade aos oprimidos
e a proclamar o ano da graça do Senhor».
Depois enrolou o livro, entregou-o ao ajudante e sentou-
Se.
Estavam fixos em Jesus os olhos de toda a sinagoga.
Começou então a dizer-lhes:
«Cumpriu-se hoje mesmo
esta passagem da Escritura que acabais de ouvir».
AMBIENTE

O Evangelho de hoje é constituído por dois textos


diferentes.
No primeiro (1,1-4), temos um prólogo literário onde
Lucas, imitando o estilo dos escritores helénicos da altura,
apresenta o seu trabalho: trata-se de uma investigação
cuidada dos “factos que se realizaram entre nós”, a fim de
que os crentes de língua grega (a quem o Evangelho de
Lucas se dirige) verifiquem “a solidez da doutrina em que
foram instruídos”. Estamos na década de 80 quando,
desaparecidas já as “testemunhas oculares” de Cristo, o
cristianismo começa a defrontar-se com uma série de
heresias e de desvios doutrinais, que põem em causa a
identidade cristã. Era, pois, necessário, recordar aos
crentes as suas raízes e a solidez dessa doutrina recebida
de Jesus, através do testemunho legítimo que é a tradição
transmitida pelos apóstolos.
Na segunda parte (4,14-21), apresenta-se o início da
pregação de Jesus, que Lucas coloca em Nazaré. O
cenário de fundo é o do culto sinagogal, no sábado. O
serviço litúrgico celebrado na sinagoga consistia em
orações e leituras da Lei e dos Profetas, com o respectivo
comentário. Os leitores eram membros instruídos da
comunidade ou, como no caso de Jesus, visitantes
conhecidos pelo seu saber na explicação da Palavra de
Deus. O centro do relato está na proclamação de um texto
do Trito-Isaías (cf. Is 61,1-2) que descreve como é que o
Messias concretizará a sua missão.
MENSAGEM

A finalidade da obra de Lucas é, como dissemos, recordar


aos crentes das comunidades de língua grega as suas
raízes e a sua referência a Jesus. Neste texto em
concreto, Lucas vai apresentar o programa que Jesus Se
propõe realizar no meio dos homens, como uma proposta
de libertação dirigida a todos os oprimidos.
O ponto de partida é a leitura do texto de Is 61,1-2. Esse
texto apresenta o profeta anónimo que, em Jerusalém,
consola os exilados, como um “ungido de Deus”, que
possui o Espírito de Deus; a sua missão consiste em gritar
a “boa notícia” de que a libertação chegou ao coração e à
vida de todos os prisioneiros do sofrimento, da opressão,
da injustiça, do desânimo, do medo. O que é mais
significativo, no entanto, é a “actualização” que Jesus faz
desta profecia: Ele apresenta-Se como o “profeta” que
Deus ungiu com o seu Espírito, a fim de concretizar essa
missão libertadora.
O projecto libertador de Deus em favor dos homens
prisioneiros do egoísmo, da injustiça e do pecado
começa, portanto, a cumprir-se na acção de Jesus
(“cumpriu-se hoje mesmo esta passagem da Escritura
que acabais de ouvir” – vers. 21). Na sequência, Lucas vai
descrever a actividade de Jesus na Galileia como o
anúncio (em palavras e em gestos) de uma “boa notícia”
dirigida preferencialmente aos pobres e marginalizados
(aos leprosos, aos doentes, aos publicanos, às mulheres),
anunciando-lhes que chegou o fim de todas as
escravidões e o tempo novo da vida e da liberdade para
todos.
Lucas anuncia também, neste texto programático, o
caminho futuro da Igreja e as condições da sua fidelidade
a Cristo. A comunidade crente toma consciência, através
deste texto, de que a sua missão é a mesma de Cristo e
consiste em levar a “boa notícia” da libertação aos mais
pobres, débeis e marginalizados do mundo. Ungida pelo
Espírito para levar a cabo esta missão, a Igreja cumpre o
seguimento de Jesus.

ACTUALIZAÇÃO

Na reflexão, podem considerar-se os seguintes


elementos:

• No Evangelho de Lucas e neste texto em particular,


Jesus manifesta de forma bem nítida a consciência de
que foi investido do Espírito de Deus e enviado para pôr
cobro a tudo o que rouba a vida e a dignidade do homem.
A nossa civilização, há vinte e um séculos que conhece
Cristo e a essência da sua proposta. No entanto, o nosso
mundo continua a multiplicar e a refinar as cadeias
opressoras. Porque é que a proposta libertadora de Jesus
ainda não chegou a todos? Que situações hoje, à minha
volta, me parecem mais dramáticas e exigem uma acção
imediata (pensar na situação de tantos imigrantes de leste
ou das ex-colónias; pensar na situação de tantos idosos,
sem amor e sem cuidados, que sobrevivem com pensões
de miséria; pensar nas crianças de rua e nos sem abrigo
que dormem nos recantos das nossas cidades; pensar na
situação de tantas famílias, destruídas pela droga e pelo
álcool…)?

• A fidelidade ao “caminho” percorrido por Cristo é a


exigência fundamental do ser cristão. Ao longo dos
séculos, tem sido a defesa da dignidade do homem a
preocupação fundamental da Igreja de Jesus? Preocupa-
nos a libertação dos nossos irmãos escravizados? Que
posso eu fazer, em concreto, para continuar no meio
deles a missão libertadora de Cristo?

• Repare-se
, neste texto, como Jesus “actualiza” a Palavra de Deus
proclamada e a torna um anúncio de libertação que toca
de muito perto a vida dos homens. Os que proclamam a
Palavra, que a explicam nas homilias, têm esta
preocupação de a tornar uma realidade “tocante” e um
anúncio verdadeiramente transformador e libertador, que
atinge a vida daqueles que os escutam?

ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 3º DOMINGO


DO TEMPO COMUM
(adaptadas de “Signes d’aujourd’hui”)

1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.


Ao longo dos dias da semana anterior ao 3º Domingo do
Tempo Comum, procurar meditar a Palavra de Deus deste
domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada
dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a
meditação comunitária da Palavra: num grupo da
paróquia, num grupo de padres, num grupo de
movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa…
Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a
Palavra de Deus.

2. VALORIZAR O LUGAR DA PROCLAMAÇÃO DA


PALAVRA.
Neste domingo da proclamação da Palavra, procurar
particularmente que o lugar da Palavra tenha mais
visibilidade. É o lugar da primeira mesa em que Deus Se
dá ao seu povo. Realçar a elevação do Evangeliário no fim
da proclamação do Evangelho, estando a assembleia
“com os olhos fixos em Jesus”. Esta elevação está ligada à
elevação do Corpo e Sangue de Cristo durante a
doxologia que conclui a oração eucarística.

3. ORAÇÃO NA LECTIO DIVINA.


Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se
prolongar o acolhimento das leituras com a oração.

No final da primeira leitura:


“Deus Pai, que velas sobre o teu povo há muitas
gerações, com o escriba Esdras e toda a sua comunidade
nós também confessamos: a alegria do Senhor é a nossa
protecção. Bendito sejas Tu para sempre.
Nós Te recomendamos todos os nossos irmãos e irmãs na
fé que trabalham para fazer conhecer, compreender e
amar a Palavra nas Santas Escrituras”.
No final da segunda leitura:
“Pai, nós Te damos graças pelo corpo de Cristo, ao qual
nos incorporaste pelo baptismo e confirmação, para que
sejamos membros vivos desse corpo.
Nós Te pedimos pelos apóstolos, os profetas, os
catequistas e todos os que têm missões na Igreja.
Guarda-nos a todos na unidade”.

No final do Evangelho:
“Cristo Jesus, nosso mestre e nosso irmão, bendito sejas
Tu, porque realizaste as palavras dos profetas.
Reconhecemos em Ti a presença do Espírito em toda a
sua plenitude. Tu és para nós o libertador, a luz e o
benfeitor soberano.
Nós Te pedimos pela tua Igreja: que ela traga a Boa Nova,
que ela anuncie a libertação do mal e revele a luz do
mundo”.

4. BILHETE DE EVANGELHO.
Lucas não pode guardar para si o que os “testemunhas
oculares e ministros da Palavra” lhe transmitiram. Então,
decide escrever ao seu amigo Teófilo “para que ele tenha
conhecimento seguro do que lhe foi ensinado». Depois de
Teófilo e da sua comunidade cristã, somos convidados
por Lucas e pelos outros três evangelistas a crer na
Palavra, esta Palavra que muitos assinaram com o seu
sangue. Não é o que, aliás, pede Jesus aos seus
compatriotas de Nazaré: acreditar na Palavra? Na sua
homilia, Jesus afirma que se realiza hoje a palavra de
ontem do profeta Isaías. Ele anuncia a Boa Nova aos
pobres e realiza a salvação. Então compreendemos
porque é que os habitantes de Nazaré tinham os olhos
fixos n’Ele, viam que Ele falava como homem que tem
autoridade. Não somente as suas palavras eram “boa
nova”, mas Ele próprio era a Boa Nova há tanto esperada.
Desde Lucas, desde Teófilo, quantos mensageiros da Boa
Nova ninguém conseguiu calar porque, se a mensagem
de Cristo é precisamente uma boa nova, é feita para ser
anunciada!

5. À ESCUTA DA PALAVRA.
No tempo de Jesus, há umas centenas de anos que os
judeus liam o livro do profeta Isaías, do qual Jesus cita
uma passagem: “O Espírito do Senhor está sobre mim…
Enviou-me a levar a Boa Nova aos pobres…” Mas em cada
ano era sempre a mesma coisa: nada mudava! E eis que
Jesus anuncia repentinamente que essa palavra se
cumpre hoje, n’Ele. Como poderia ser? Não era Ele o filho
do carpinteiro? Com Jesus, a Boa Nova anunciada por
João Baptista já não é simplesmente uma promessa. É
uma força e uma luz que mudam a vida agora. Mas, para
nós que lemos esta Palavra há tanto tempo, parece que é
sempre a mesma coisa: nada muda! A religião não se
tornou o “ópio do povo” para adormecer os pobres? Seria
o caso se Jesus não tivesse ressuscitado, sempre vivo,
literalmente nosso contemporâneo. Fala-nos sempre no
presente para nos dizer que, hoje, o Espírito do Senhor
nos é dado para que a nossa maneira de agir mude
concretamente, para que ela tome uma cor mais
evangélica. É por nós que Jesus age para cumprir a
promessa divina. Dá-nos o seu Espírito para que o nosso
coração se liberte dos seus egoísmos, para que os outros
não se sintam mal no nosso coração, para que levemos
aos pobres o apoio da nossa ajuda e da nossa partilha,
aos cegos a luz da nossa amizade, para que hoje seja um
dia de felicidade para aqueles e aquelas que
encontrarmos. É a nossa missão de cristãos: que a Boa
Nova tome corpo na nossa vida, para que a Palavra de
Deus seja viva hoje!

6. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.
A Oração Eucarística III, nas suas epicleses, situa-se no
tom das leituras. Pode-se escolher também a Oração
Eucarística I para a Reconciliação, pois estamos a celebrar
a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos.

7. PALAVRA PARA O CAMINHO…


• No final da celebração, “comemos” verdadeiramente as
palavras do salmista? Neste domingo da Palavra de Deus,
antes de retomar o caminho para as nossas casas,
escutemos ainda como o salmista canta Deus que fala ao
seu povo: «A lei do Senhor é perfeita, ela reconforta a
alma; as ordens do Senhor são firmes, dão sabedoria aos
simples. Os preceitos do Senhor são rectos e alegram o
coração; os mandamentos do Senhor são claros e
iluminam os olhos». A Palavra que recebemos é uma
palavra que alegra e que ilumina. É uma canção, uma
lâmpada. Que ela nos acompanhe em cada instante ao
longo da semana…
• Descobrir o outro… nesta Semana de Oração pela
Unidade dos Cristãos. Ao longo desta semana, reservar
tempo para melhor conhecer o outro, aquele que é
diferente de mim na fé: ler um artigo de imprensa, ouvir
uma conferência, escutar um programa de rádio,
participar num encontro organizado localmente; enfim,
procurar fazer o esforço em descobrir a fé e o
pensamento de um cristão de outra confissão.

UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS


PROPOSTA PARA
ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA
NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas
Carvalho
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de
Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
Tel. 218540900 – Fax: 218540909
portugal@dehonianos.org – www.dehonianos.org

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