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PLANEJAMENTO E GESTÃO EM
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(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

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1. Saúde da mulher : Medicina 613.04244
Eliane de Freitas Leite - Bibliotecária - CRB 8/8415

10.56161/sci.ed.20230913

SCISAUDE
Teresina – PI – Brasil
scienceesaude@hotmail.com
www.scisaude.com.br
Apresentação
O E-BOOK “PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER” através de
trabalhos científicos aborda em seus 31 capítulos o conhecimento multidisciplinar que compõe
sobre a saúde da mulher. Almeja-se que a leitura deste e-book possa incentivar o
desenvolvimento de estratégias de atuação coletiva e educacional, visando promoção da saúde
da mulher.
A partir das primeiras décadas do século XX, a atenção à saúde da mulher passou
a fazer parte das políticas públicas de saúde no Brasil. No entanto, nas décadas de 30, 40 e
50 a mulher era vista basicamente como mãe e “dona de casa”. Na década de 60, diversos
países se voltaram para controlar a natalidade e destacou-se a atenção do Estado às
mulheres em idade fértil. Assim, os programas de “controle da natalidade” ganharam
destaque no final da década de 70, negando atenção às reais necessidades ou
preferências das mulheres, que ficavam relegadas em segundo plano.
Esse engajamento das mulheres na luta pelos seus direitos e por melhores
condições de vida impulsionou a adoção das primeiras medidas oficiais do Ministério
da Saúde voltadas para a assistência integral à saúde da mulher. Apesar das limitações
impostas pelo governo militar da época, o movimento feminista se reorganizou incitando
debates que denunciavam a precariedade da saúde da mulher brasileira.
A Conferência Nacional das Mulheres, realizada em 2004 estabeleceu as diretrizes que
compõem o Plano Nacional de Políticas para as Mulheres, a cargo da Secretaria Especial de
Políticas para as Mulheres vinculada à Presidência da República. O debate que ocorreu nesta
Conferência acerca da saúde sexual e reprodutiva contribuiu para a elaboração da Política
Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher, do Ministério da Saúde (PNAISM/MS). Um
dos desafios a ser enfrentado por essas políticas é contemplar a diversidade sociocultural,
econômica e epidemiológica que caracteriza o universo feminino brasileiro.
Além disso, a saúde da mulher tem implicações muito amplas e profundas na sociedade
em geral. Mulheres saudáveis são mais capazes de contribuir para suas famílias e comunidades,
incluindo no mercado de trabalho, e terão mais chances de participar plenamente da vida social,
política e econômica. Quando as mulheres têm acesso a cuidados de saúde adequados, isso
também pode ter um impacto positivo na saúde de seus filhos e nas gerações futuras.
SUMÁRIO
CAPÍTULO 1 ........................................................................................................................................11
A ABORDAGEM MÉDICA ADEQUADA A PACIENTE COM MASTITE PUERPERAL ......11
10.56161/sci.ed.20230913C1 ............................................................................................................ 11
CAPÍTULO 2 ........................................................................................................................................20
A DOULA COMO ELEMENTO DE TRANSFORMAÇÃO E APOIO À MATERNIDADE
PÚBLICA: RELATO DE EXPERIÊNCIA .......................................................................................20
10.56161/sci.ed.20230913C2 ............................................................................................................ 20
CAPÍTULO 3 ........................................................................................................................................28
A IMPORTÂNCIA DO CUIDADO PRÉ-NATAL NA PREVENÇÃO DE COMPLICAÇÕES
MATERNAS E NEONATAIS.............................................................................................................28
10.56161/sci.ed.20230913C3 ............................................................................................................ 28
CAPÍTULO 4 ........................................................................................................................................38
A SAÚDE MENTAL DA MULHER NO PUERPÉRIO ...................................................................38
10.56161/sci.ed.20230913C4 ............................................................................................................ 38
CAPÍTULO 5 ........................................................................................................................................51
ABORDAGEM ADEQUADA DA GESTANTE COM LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO:
UMA REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA ...................................................................51
10.56161/sci.ed.20230913C5 ............................................................................................................ 51
CAPÍTULO 6 ........................................................................................................................................61
ANOMALIAS MÜLLERIANAS UTERINAS E SUA RELAÇÃO COM O SUCESSO DA
GESTAÇÃO: UMA REVISÃO DE LITERATURA ........................................................................61
10.56161/sci.ed.20230913C6 ............................................................................................................ 61
CAPÍTULO 7 ........................................................................................................................................69
ASPECTOS PSÍQUICOS DO PUERPÉRIO: UM OLHAR SOBRE BABY BLUES E
DEPRESSÃO PÓS-PARTO ................................................................................................................69
10.56161/sci.ed.20230913C7 ............................................................................................................ 69
CAPÍTULO 8 ........................................................................................................................................79
CANDIDÍASE VULVOVAGINAL NA GESTAÇÃO E SEUS MECANISMOS DE
RESISTÊNCIA ÀS AÇÕES MEDICAMENTOSAS ........................................................................79
10.56161/sci.ed.20230913C8 ............................................................................................................ 79
CAPÍTULO 9 ........................................................................................................................................90
FATORES BIOPSICOSSOCIAIS E QUALIDADE DE VIDA EM MULHERES COM
DIAGNÓSTICO DE NEOPLASIA MAMÁRIA...............................................................................90
10.56161/sci.ed.20230913C9 ............................................................................................................ 90
CAPÍTULO 10 ....................................................................................................................................103
FATORES QUE INFLUENCIAM O ATRASO DO DIAGNÓSTICO DE LEUCEMIA EM
MULHERES PIAUIENSES ..............................................................................................................103
10.56161/sci.ed.20230913C10 ........................................................................................................ 103
CAPÍTULO 11 ....................................................................................................................................112
HIPERTENSÃO ARTERIAL E GRAVIDEZ: MECANISMO FISIOPATOLÓGICO E
ABORDAGEM TERAPÊUTICA .....................................................................................................112
10.56161/sci.ed.20230913C11 ........................................................................................................ 112
CAPÍTULO 12 ....................................................................................................................................127
IMPACTOS DA DISMENORREIA NA QUALIDADE DE VIDA DE MULHERES JOVENS
ADULTAS: REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA ......................................................127
10.56161/sci.ed.20230913C12 ........................................................................................................ 127
CAPÍTULO 13 ....................................................................................................................................137
IMPORTÂNCIA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE PARA A ATENÇÃO INTEGRAL
A SAÚDE DAS MULHERES............................................................................................................137
10.56161/sci.ed.20230913C13 ........................................................................................................ 137
CAPÍTULO 14 ....................................................................................................................................149
MUDANÇAS FÍSICAS E EMOCIONAIS DA MULHER NO CLIMATÉRIO ..........................149
10.56161/sci.ed.20230913C14 ........................................................................................................ 149
CAPÍTULO 15 ....................................................................................................................................159
O COLO VAZIO E A CONSTRUÇÃO DA MATERNIDADE DIANTE DA PERDA
PERINATAL ......................................................................................................................................159
10.56161/sci.ed.20230913C15 ........................................................................................................ 159
CAPÍTULO 16 ....................................................................................................................................171
O DESAFIO DA CONCEPÇÃO APÓS A PERDA: SEXUALIDADE SEM PRAZER ..............171
10.56161/sci.ed.20230913C16 ........................................................................................................ 171
CAPÍTULO 17 ....................................................................................................................................182
O DEVER ÉTICO-POLÍTICO DE PROFISSIONAIS PSICÓLOGAS(OS) NO
ENFRENTAMENTO DA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER NO BRASIL: UMA
PESQUISA DOCUMENTAL............................................................................................................182
10.56161/sci.ed.20230913C17 ........................................................................................................ 182
CAPÍTULO 18 ....................................................................................................................................197
O IMPACTO DA DEPRESSÃO PÓS-PARTO NA SAÚDE DA MULHER ................................197
10.56161/sci.ed.20230913C18 ........................................................................................................ 197
CAPÍTULO 19 ....................................................................................................................................213
O IMPACTO DA VULNERABILIDADE EM SAÚDE NA ASSISTÊNCIA DAS MULHERES:
UMA REVISÃO INTEGRATIVA ...................................................................................................213
10.56161/sci.ed.20230913C19 ........................................................................................................ 213
CAPÍTULO 20 ....................................................................................................................................229
O PAPEL DO ENFERMEIRO NA ASSISTÊNCIA À MULHERES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA
DOMÉSTICA: REVISÃO INTEGRATIVA ...................................................................................229
10.56161/sci.ed.20230913C20 ........................................................................................................ 229
CAPÍTULO 21 ....................................................................................................................................236
OS BENEFÍCIOS DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM FRENTE AO PARTO
HUMANIZADO .................................................................................................................................236
10.56161/sci.ed.20230913C21 ........................................................................................................ 236
CAPÍTULO 22 ....................................................................................................................................244
OS RISCOS MATERNOS E PERINATAIS CAUSADOS PELA HIPERTENSÃO E DIABETES
MELLITUS .........................................................................................................................................244
10.56161/sci.ed.20230913C22 ........................................................................................................ 244
CAPÍTULO 23 ....................................................................................................................................257
PANORAMA FEMININO DA NEOPLASIA MALIGNA DA GLÂNDULA TIREOIDE NO
BRASIL SUBDESENVOLVIDO ......................................................................................................257
10.56161/sci.ed.20230913C23 ........................................................................................................ 257
CAPÍTULO 24 ....................................................................................................................................267
PERSPECTIVAS DA POPULAÇÃO ALVO EM RELAÇÃO À COMPREENSÃO E
TRATAMENTO DO CÂNCER DE COLO DE ÚTERO ...............................................................267
10.56161/sci.ed.20230913C24 ........................................................................................................ 267
CAPÍTULO 25 ....................................................................................................................................280
SAÚDE DA MULHER: CONQUISTAS E AVANÇOS NA SAÚDE PÚBLICA FRENTE AOS
DESAFIOS ATUAIS ..........................................................................................................................280
10.56161/sci.ed.20230913C25 ........................................................................................................ 280
CAPÍTULO 26 ....................................................................................................................................290
SAÚDE SEXUAL DA MULHER COM DEFICIÊNCIA: REVISÃO NARRATIVA .................290
10.56161/sci.ed.20230913C26 ........................................................................................................ 290
CAPÍTULO 27 ....................................................................................................................................300
SENTIMENTOS VIVENCIADOS POR PAIS DURANTE O PROCESSO PARTURITIVO NA
PANDEMIA DA COVID-19 .............................................................................................................300
10.56161/sci.ed.20230913C27 ........................................................................................................ 300
CAPÍTULO 28 ....................................................................................................................................313
SILENCIANDO A DOR: A VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA NA PERDA GESTACIONAL ........313
10.56161/sci.ed.20230913C28 ........................................................................................................ 313
CAPÍTULO 29 ....................................................................................................................................321
UM ROLEZINHO NOTURNO NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE ....................................321
10.56161/sci.ed.20230913C29 ........................................................................................................ 321
CAPÍTULO 30 ....................................................................................................................................332
VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER E O PAPEL DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE COMO
AGENTES DO CUIDAR: UMA REVISÃO DA LITERATURA .................................................332
10.56161/sci.ed.20230913C30 ........................................................................................................ 332
CAPÍTULO 1
A ABORDAGEM MÉDICA ADEQUADA
A PACIENTE COM MASTITE
PUERPERAL
THE APPROPRIATE MEDICAL APPROACH FOR PATIENTS WITH PUERPERAL
MASTITIS

10.56161/sci.ed.20230913C1

Mônica Arantes Moreira de Melo


Universidade Federal de Goiás
https://orcid.org/0009-0002-4397-0499

Érika Carvalho de Aquino


Universidade Federal de Goiás - Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública
https://orcid.org/0000-0002-5659-0308

Ana Gabrielly Oliveira Antunes


Universidade Federal de Goiás
https://orcid.org/0009-0007-9148-1071

Gabriel Rincon de Souza


Universidade Federal de Goiás
https://orcid.org/0000-0003-4204-1970

Gabriela Luz Castelo Branco de Souza


Universidade Federal de Goiás
https://orcid.org/0009-0008-5629-9802

Tiago Guedes Álvares


Universidade Federal de Goiás
https://orcid.org/0009-0004-3364-8249

RESUMO

OBJETIVO: Revisar as abordagens adequadas para o manejo da mastite puerperal com base
na literatura existente.METODOLOGIA: Revisão de literatura. A pesquisa foi conduzida
utilizando os acervos de dados virtuais PubMed e Google Acadêmico considerando publicações

11
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
a partir de janeiro de 2010. Dessas plataformas foram retirados 17 artigos principais dos quais
foram extraídos dados autor(es), ano de publicação, origem/país da pesquisa, objetivos,
população e tamanho da amostra, metodologia/métodos de intervenção e resultados detalhados.
RESULTADOS: Constatou-se que a abordagem médica adequada e sistematizada, bem como
a rapidez nos diagnósticos e tratamentos, é fundamental para obter desfechos positivos em casos
de mastite puerperal, quadro o qual afeta entre 2% e 33% das mulheres lactantes e pode ser
causada por diversos fatores como ingurgitamento mamário, trauma mamilar, estresse, entre
outros. Essas etiologias atuam principalmente causando a obstrução dos ductos mamários e
danos teciduais, sinais os quais estão relacionados ao aumento da pressão intratecidual por
estase do leite com consequente achatamento das células alveolares e formação de espaços
intercelulares, responsáveis por gerar respostas inflamatórias. Além disso, também foi
ressaltado a importância e as vantagens do aleitamento materno exclusivo (AME) para bebês
de até seis meses de vida. CONCLUSÃO: Em suma, uma abordagem médica adequada é
essencial para o manejo da mastite puerperal. Diagnóstico e tratamento precoces são
fundamentais para evitar complicações. A promoção do aleitamento materno exclusivo é de
extrema importância para o desenvolvimento infantil. A abordagem médica integral garante
melhores resultados para as mães lactantes.

PALAVRAS-CHAVE: Mastite; Aleitamento materno exclusivo.

ABSTRACT

OBJECTIVE: To review the appropriate approaches for the management of puerperal mastitis
based on existing literature. METHODOLOGY: Literature review. The research was
conducted using the virtual databases PubMed and Google Scholar, considering publications
from January 2010 onwards. From these platforms, 17 primary articles were selected, from
which author(s), year of publication, research origin/country, objectives, population and sample
size, methodology/intervention methods, and detailed results were extracted. RESULTS: It was
found that an adequate and systematic medical approach, as well as prompt diagnosis and
treatment, are crucial for achieving positive outcomes in cases of puerperal mastitis. This
condition affects between 2% and 33% of lactating women and can be caused by various factors
such as breast engorgement, nipple trauma, stress, among others. These etiologies primarily act
by obstructing the milk ducts and causing tissue damage, which is associated with increased
intratechial pressure due to milk stasis, resulting in flattening of alveolar cells and formation of
intercellular spaces that generate inflammatory responses. Additionally, the importance and
advantages of exclusive breastfeeding (EBF) for infants up to six months of age were
highlighted. CONCLUSION: In summary, an appropriate medical approach is essential for the
management of puerperal mastitis. Early diagnosis and treatment are crucial to avoid
complications. The promotion of exclusive breastfeeding is of utmost importance for infant
development. An integrated medical approach ensures better outcomes for lactating mothers.

KEYWORDS: Mastitis; Exclusive breastfeeding

1. INTRODUÇÃO

O aleitamento materno exclusivo até os 6 meses de vida é recomendado pela


Organização Mundial da Saúde (OMS) (WHO, 2002), porém a duração da amamentação ainda
sim permanece inferior à recomendação (Unicef, 2019). Sabe-se que o desmame precoce é um

12
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
fator predisponente para doenças evitáveis, como a obesidade infantil, desnutrição, diarreia,
além de estar relacionado com as taxas de mortalidade infantil também (FROTA, 2009). Dentre
os principais acometimentos que influenciam na interrupção da amamentação, tem-se a mastite
(MATHUR, 2014). Devido ao desconforto e pela falta de uma orientação e apoio adequado à
mãe, é comum que ocorra o desmame precoce (FETHERSTON, 1997).

Mastite trata-se da inflamação do tecido mamário, podendo a etiologia variar entre


causas infecciosas e não infecciosas (WHO, 2000). Essa inflamação é muito frequente em
mulheres que estão amamentando e sua gravidade pode chegar a resultar hospitalização ou
mesmo abscessos mamários (AMIR, 2007). Clinicamente, é caracterizada por um processo
doloroso, com febre, sintomas semelhantes aos de gripe como dores no corpo e calafrios, e
acometimentos mamários como vermelhidão, aumento de temperatura e edema (WHO, 2000).
Fadiga, estresse, fissuras mamilares, obstrução ductal e ingurgitamento mamário são apontados
como fatores que predispõem a mastite (SALES, 2000),

O tratamento precoce da mastite evita que evolua para complicações mais graves,
como o abscesso mamário que segundo a literatura, pode ocorrer em 66% dos casos tratados
tardiamente (JOHNSON, 1996). Sendo assim, diante da importante associação entre mastite e
desmame precoce, é necessário que sejam avaliadas as abordagens adequadas para mulheres
com mastite a fim de reduzir casos novos. Este trabalho, portanto, tem o intuito de revisar as
abordagens a pacientes com mastite puerperal registradas na literatura.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

O presente trabalho trata-se de uma Revisão de Literatura, com o objetivo de formular


indagações e discutir a respeito da abordagem médica adequada a pacientes com Mastite
Puerperal, a partir do conceito estabelecido pela OMS, que descreve a doença como “uma
condição inflamatória da mama, que pode ou não ser acompanhada de infecção (...) geralmente
associado à lactação”¹.

Para a seleção das publicações científicas utilizadas na extração de dados desta


pesquisa, foram utilizados os acervos de dados virtuais PubMed e Google Acadêmico,
considerando como critérios de inclusão: publicações a partir de Janeiro de 2010, compatíveis
com o tipo de estudo pré-definido (artigos científicos, ensaios clínicos, monografias, ensaios
randomizados,

13
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
e capítulos de livro), utilizando os descritores “puerperal mastitis” OR “lactational
mastitis” OR “postpartum mastitis”, desconsiderando restrições de idioma. Quanto aos critérios
de exclusão, foram desconsiderados os estudos em amostras não humanas ou em pacientes com
idade inferior a 18 anos, bem como estudos em grupos de alto risco, com comorbidades ou
outras situações específicas que desfavorecem a identificação dos sintomas e/ou a abordagem
médica adequada da Mastite Puerperal.

A busca conduzida resultou em 17 artigos principais, todos citados nas referências


bibliográficas, seus respectivos dados foram extraídos e aplicados a um formulário de registro
e síntese de informações, sendo coletado:

1. Autor(es);

2. Ano de publicação;

3. Origem/país onde a pesquisa foi conduzida;

4. Objetivos;

5. População e tamanho da amostra dentro da fonte de evidência;

7. Tipo de Metodologia/métodos de intervenção, comparador;

8. Resultados detalhados;

9. Principais descobertas relacionadas ao objetivo da narrativa.

Após a extração dos dados, os mesmos foram analisados de forma descritiva, sendo
mapeados e apresentados de forma a esclarecer abordagem médica adequada a pacientes com
Mastite Puerperal.

Este estudo constitui-se em uma revisão que considera apenas trabalhos anteriormente
submetidos e aprovados pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) e dispensa o Certificado de
Apresentação de Apreciação Ética (CAAE).

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

14
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Foi observado que a abordagem médica assertiva e sistematizada é fundamental para
promover desfechos positivos de quadros de pacientes com mastite puerperal. A recomendação
majoritária é a celeridade no diagnóstico, seguida da implementação do tratamento precoce, a
fim de evitar agravos.

A mastite lactacional atinge, aproximadamente, 2% a 33% das mulheres que


amamentam (WHO, 2000). Tamanha incidência expõe a gravidade do problema, o qual afeta a
díade - par de seres que estabelecem relação mutualística alicerçada por um processo
vinculativo - constituída pela genitora e o lactente.

A principal etiologia dessa doença, segundo a literatura analisada, é o ingurgitamento


mamário, seguido por trauma mamilar, duração e frequência do aleitamento materno, desmame
abrupto, má pega, adoecimento da mãe ou do bebê, produção excessiva de leite materno,
pressão sob a mama, estresse e fadiga. A idade materna, primiparidade, nível de escolaridade
da mãe, trabalho fora do lar, mastite anterior, complicações no parto, tipo de pele e fatores
imunológicos do leite também podem estar associados à condição (VIEIRA et al, 2006; WHO,
2000).

A fisiopatologia da mastite está relacionada ao aumento da pressão intratecidual por


estase do leite com consequente achatamento das células alveolares e formação de espaços
intercelulares. O espaço criado permite a passagem de componentes do plasma para o leite e do
leite para o tecido intersticial, sobretudo citocinas, que induzem resposta inflamatória, podendo
envolver o tecido interlobular ou estroma. Esses fatores - o leite retido, a resposta inflamatória
e o dano tecidual resultante - corroboram para a instalação do processo inflamatório, o qual
ocorre nas estruturas que suportam os lóbulos mamários, justificando a não contaminação do
leite por bactérias.

Isso posto, a mastite puerperal pode ser classificada de diversas maneiras. Quanto à
presença de agente infeccioso, ela pode ser mastite não infecciosa e infecciosa. A forma mais
usual de mastite é a não infecciosa, resultado do processo inflamatório secundário à obstrução
à drenagem livre do leite através dos ductos. Já a mastite infecciosa é decorrente da propagação
de bactérias, geralmente da pele, às estruturas da mama. Quanto ao modo de invasão do
microorganismo que infectou a mama, é intersticial quando o agente etiológico penetra por
lesões na mama e ganha a via linfática atingindo o tecido conjuntivo e gorduroso da mama ou
parenquimatosa quando o microorganismo penetra pelos ductos mamários atingindo o lobo
mamário e causando hiperemia local. Em relação ao padrão epidemiológico, pode ser

15
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
classificada em endêmica ou esporádica e epidêmica. A primeira é mais frequente na segunda
semana pós-parto e no desmame pela estase láctea, o principal agente etiológico, nesse caso, é
o Staphylococcus aureus, contudo ainda podemos encontrar o Staphylococcus epidermides, e o
associado à mastite bilateral que é o Streptococcus do grupo B, ainda se pode isolar nesses casos
bactérias gram-negativas aeróbias, como a Escherichia coli, Pseudômonas e Serratia. A
segunda está relacionada com os casos mais graves e acontece até o quarto dia pós-parto,
ocasionadas por infecções dos recém-nascidos, que em ambiente hospitalar, podem ocasionar
um surto. Por último, pode-se classificar a mastite lactacional de acordo com a região
comprometida: ampolar, comprometimento de toda aréola ou parte dela; lobar,
comprometimento de um lobo que segue da aréola à base da mama; glandular,
comprometimento de toda a mama e abscesso mamário, presença de abscesso com ponto de
flutuação que geralmente evolui para drenagem espontânea ou cirúrgica.

Os sintomas característicos são manifestações dos sinais inflamatórios da mama, a


saber: dor, edema, calor, rubor e abscesso com pus, muitas vezes associados a sinais gerais
como mal-estar, febre e calafrios. Tais manifestações clínicas são basilares para a elaboração
do raciocínio clínico e do diagnóstico. Raramente exames auxiliares de diagnóstico são
necessários, nesses casos, a ecografia da mama tem especial utilidade nos casos mais arrastados
e em que se suspeite de poder haver abscesso e na comprovação da drenagem do acúmulo de
pus. Importante ressaltar que os abscessos podem levar à septicemia. Desse modo, a eficácia
do diagnóstico faz-se ainda mais imprescritível, já que a mastite não tratada, tratada tardiamente
ou com tratamento não profícuo, torna-se um abscesso mamário e, se não resolvido
rapidamente, o quadro pode evoluir para drenagem espontânea, necrose e perda de tecido
mamário.

Verificou-se que protocolos de tratamento, desenvolvidos sob recomendações


baseadas em evidências sobre manejo da lactação clínica, são mais assertivos. O tratamento
passa por promover o alívio sintomático mediante a prescrição médica de anti inflamatórios,
compressas frias no local, ingestão abundante de água e repouso. Além disso, é preciso otimizar
a técnica de amamentação, orientando as mães a amamentar com mais frequência; iniciar a
amamentação pela mama afetada; orientar a forma correta com que o bebê deve abocanhar a
mama; massagear o peito durante a amamentação, da área bloqueada em direção ao mamilo.
Mulheres no puerpério que não amamentam devem realizar a ordenha manual ou utilizar a
bomba. Nas mastites puerperais infecciosas, faz-se necessário o uso de antibióticos apropriados,
como, por exemplo, a flucloxacilina oral ou a associação amoxicilina com ácido clavulânico

16
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
durante 10 a 14 dias. Esses antibióticos são fármacos seguros para lactentes, mesmo que sejam
recém-nascidos. O quadro de mastite recorrente é incomum, sendo resultante de terapia
antibiótica inapropriada ou incompleta ou por falência na resolução ou persistência dos
problemas subjacentes à amamentação que interferem com a drenagem completa. Por vezes, a
repetição está associada a infecção fúngica por Candida (PEREIRA et al., 2010, p.94).

Não utilizando-se método terapêutico adequado, a mastite pode conduzir à formação


de abscesso mamário, recorrente em 5 a 10% dos casos de mastites puerperais. O tratamento
do abscesso exige, além das medidas usuais, a drenagem do abscesso por aspiração com agulha
ou cirúrgica. Mesmo nesse contexto, a amamentação pode e deve ser mantida.

É necessário ressaltar a importância do aleitamento materno exclusivo (AME),


alimento mais completo para o bebê até o sexto mês de vida e a forma mais segura e eficaz para
alcançar o crescimento e desenvolvimento adequados. Essa prática alimentar é o padrão-ouro
para lactantes nessa faixa etária. As vantagens do aleitamento materno (AM) são incontáveis.
Ele reduz a mortalidade infantil em crianças menores de 5 anos em 13%, tem o poder preventivo
para várias doenças, como diarreia, infecções respiratórias, otite e alergias. O leite materno
também ajuda no desenvolvimento cognitivo, crescimento e desenvolvimento adequado da
cavidade bucal.

Diante do exposto, é evidente a necessidade de uma abordagem médica adequada da


mastite puerperal com o objetivo de continuar a estimular o AME, importantíssimo para o
desenvolvimento infantil.

5. CONCLUSÃO OU CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerando os diversos aspectos abordados neste artigo, fica evidente que uma
abordagem médica adequada é fundamental para o manejo eficaz da mastite puerperal. A
prontidão no diagnóstico e a implementação de um tratamento precoce são cruciais para evitar
complicações e promover desfechos positivos para as pacientes.

Um aspecto importante abordado pelos artigos analisados é o fato de a mastite


puerperal ser uma condição comum que afeta uma proporção significativa de mulheres
lactantes, o que destaca a importância de identificar e tratar adequadamente essa complicação.
Os fatores de risco, como ingurgitamento mamário, trauma mamilar e desmame abrupto, devem
ser considerados na abordagem clínica.

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PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Entendemos, também, que a compreensão da fisiopatologia da mastite e a classificação
adequada dos diferentes tipos de infecções mamárias fornecem uma base sólida para o
diagnóstico e o tratamento. A terapia antimicrobiana direcionada, juntamente com medidas de
suporte, como orientação adequada sobre a amamentação e o alívio dos sintomas, são
fundamentais para promover a resolução da infecção e prevenir a formação de abscessos.

Além disso, é importante ressaltar a importância do aleitamento materno exclusivo


como uma prática essencial para o crescimento e desenvolvimento adequados dos lactentes. A
abordagem médica adequada da mastite puerperal contribui para a continuidade do aleitamento
materno e seus inúmeros benefícios para a saúde infantil.

Em suma, a abordagem médica adequada à paciente com mastite puerperal engloba a


prontidão no diagnóstico, o tratamento eficaz, medidas de suporte e a promoção do aleitamento
materno exclusivo. Essa abordagem integral permite alcançar desfechos positivos e
proporcionar cuidados de qualidade para as mães lactantes.

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PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
CAPÍTULO 2
A DOULA COMO ELEMENTO DE
TRANSFORMAÇÃO E APOIO À
MATERNIDADE PÚBLICA: RELATO
DE EXPERIÊNCIA
THE DOULA AS AN ELEMENT OF TRANSFORMATION AND SUPPORT TO
PUBLIC MATERNITY: EXPERIENCE REPORT

10.56161/sci.ed.20230913C2

Sálem Ramos de Almeida


Universidade do Estado da Bahia
Orcid ID da autora (https://orcid.org/0000-0002-2390-5799)

Caren Cerqueira Mina


Universidade do Estado da Bahia
Orcid ID da autora (https://orcid.org/0000-0002-9528-5488)

Tacila Nogueira Azevedo Rocha


Universidade do Estado da Bahia
Orcid ID da autora (https://orcid.org/0009-0009-8639-404X)

Cleuma Sueli Santos Suto


Universidade do Estado da Bahia
Orcid ID da autora (https://orcid.org/0000-0002-6427-5535)

RESUMO

OBJETIVO: Relatar a experiência de uma doula voluntária em uma maternidade pública em


um município sede de microrregião de saúde, situado no interior baiano, destacando os
benefícios físicos, emocionais e psicológicos para as gestantes, parturientes e suas famílias.
METODOLOGIA: Trata-se de um estudo qualitativo, descritivo, do tipo relato de experiência
(RE), em que ocorreu na ala obstétrica do Hospital Municipal Dom Antônio Monteiro
(HDAM), do município de Senhor do Bonfim – BA, no período de maio a junho de 2023.
RESULTADOS E DISCUSSÃO: O contato com as mulheres ocorreu diretamente durante o
trabalho de parto, onde foi possível observar ausência da educação perinatal e despreparo

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PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
psicológico das parturientes. Sendo assim, a doula buscou promover auxílio físico e emocional,
como uso de métodos não farmacológicos de alívio da dor, e encorajamento constante. Por meio
dessas técnicas, pode-se perceber que elas se sentiam mais seguras e acolhidas, e tanto as
puérperas como as acompanhantes, proferiram palavras de gratidão por permanecer com elas
naquele momento. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Esse relato de experiência buscou ressaltar
a importância de reconhecer e valorizar a presença da doula como uma forma valiosa de apoio
durante a maternidade, destacando seu papel significativo na promoção de uma experiência
mais empoderadora, segura e gratificante para as mulheres.

PALAVRAS-CHAVE: Assistência Perinatal; Doulas; Parto Humanizado; Sistema Único de


Saúde
ABSTRACT

OBJECTIVE: To report the experience of a volunteer doula in a public maternity hospital in


a municipality located in the interior of Bahia, highlighting the physical, emotional and
psychological benefits for pregnant women, women in labor and their families.
METHODOLOGY: This is a qualitative, descriptive study, of the type of experience report
(ER), in which it took place in the obstetric ward of the Municipal Hospital Dom Antônio
Monteiro (HDAM), in the municipality of Senhor do Bonfim - BA, in the period of May to
June 2023. RESULTS AND DISCUSSION: The contact with the women occurred directly
during labor, where it was possible to observe the lack of perinatal education and psychological
unpreparedness of the parturients. Therefore, the doula sought to promote physical and
emotional support, such as the use of non-pharmacological pain relief methods, and constant
encouragement. Through these techniques, it can be seen that they felt safer and more
welcomed, and both the puerperal women and the companions uttered words of gratitude for
staying with them at that time. FINAL CONSIDERATIONS: This experience report sought
to highlight the importance of recognizing and valuing the presence of the doula as a valuable
form of support during motherhood, highlighting its significant role in promoting a more
empowering, safe and rewarding experience for women.

KEYWORDS: Perinatal Care; Doulas; Humanizing Delivery; Unified Health System

1. INTRODUÇÃO

Desde dos primórdios, o parto tem sido um evento central na vida das mulheres e das
comunidades em geral. Entretanto, as práticas e percepções sobre ele variaram ao longo das
diferentes culturas e períodos históricos. Durante muito tempo, o parto era um acontecimento
familiar, cercado de mulheres que auxiliavam outras, sendo elas conhecidas como parteiras
(PALHARINI; FIGUEIRÔA, 2018).

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PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Durante a Idade Moderna, houve um movimento crescente de medicalização do parto,
onde os médicos homens passaram a assumir a responsabilidade pelo processo do partejar, em
que deixa de ser um evento domiciliar para hospitalar. Essa mudança resultou em intervenções
invasivas, como o uso excessivo de instrumentos e técnicas que atualmente são consideradas
violências obstétricas, em detrimento de abordagens mais naturais (PALHARINI;
FIGUEIRÔA, 2018; VENDRÚSCOLO; KRUEL, 2015).
A partir da década de 80, surgiram movimentos em defesa ao parto humanizado, focado
nos processos fisiológicos e nas escolhas das mulheres (KAPPAUN; COSTA, 2020). O
Ministério da Saúde (MS) instituiu alguns programas e estratégias para melhorar o acesso e a
assistência à saúde do binômio mãe-bebê, como por exemplo, o Programa de Humanização no
Pré-natal e Nascimento (PHPN) no ano 2000, o Pacto pela Saúde, que tinha como um dos
objetivos reduzir a mortalidade materna, neonatal e infantil, e a Rede Cegonha (RC), que visa
garantir acolhimento, acesso e resolutividade durante toda a gestação e puerpério (BRASIL,
2014).
Esforços foram e são feitos para promover a participação ativa da mulher na decisão
sobre seu parto, para que seja um processo respeitoso e seguro. Dentre as práticas desenvolvidas
pela RC visando a humanização, está a capacitação e qualificação das doulas, justamente para
melhorar as condições que as mulheres dão à luz (BRASIL, 2021).
A história da doula remonta a tempos antigos, quando mulheres sábias e experientes
forneciam apoio e assistência durante o parto. O termo "doula" deriva do grego antigo e
significa "mulher que serve". No início, a sua prática era frequentemente associada a grupos de
mulheres que defendiam o parto natural e a redução da medicalização excessiva do parto, mas
à medida que a conscientização sobre os benefícios do apoio da doula cresceu, a demanda por
seus serviços também aumentou (SANTANA et al., 2021).
Embora a prática da doula já existisse há séculos, foi apenas no início do século XXI,
que a inserção dessa profissional foi considerada como uma das boas práticas a ser incentivada
pela Política Nacional de Atenção Obstétrica e Neonatal, estabelecida em 2005. Assim, a
profissão começou a se formalizar e surgiu como apoio adicional durante o parto e a transição
para a maternidade (SIMAS, 2016). Atualmente, as doulas desempenham um papel importante
no suporte emocional, físico e informativo durante o pré-natal, parto e o pós-parto,
complementando o cuidado oferecido pelos profissionais de saúde (ROCHA et al., 2020).
A partir desse resgate histórico, o presente estudo tem como objetivo relatar a
experiência de uma doula voluntária em uma maternidade pública em um município sede de

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PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
microrregião de saúde, situado no interior baiano, destacando os benefícios físicos, emocionais
e psicológicos para as gestantes, parturientes e suas famílias.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

Trata-se de um estudo qualitativo, descritivo, do tipo relato de experiência (RE). O RE


é destinado a descrever um acontecimento, situação ou instante vivenciado por alguém. Assim,
possui como objetivo partilhar experiências únicas e disseminar conhecimento associando a
teoria com a prática (MUSSI; FLORES; ALMEIDA, 2021).
A vivência ocorreu na ala obstétrica do Hospital Municipal Dom Antônio Monteiro
(HDAM), do município de Senhor do Bonfim – BA, no período de maio a junho de 2023.
A cidade de Senhor do Bonfim é localizada no Piemonte Norte do Itapicuru, com uma
população estimada de 74.490 e um Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM)
de 0,666 (IBGE, 2022). É referência da microrregião de saúde abrange oito cidades
circunvizinhas Andorinha, Antônio Gonçalves, Campo Formoso, Filadélfia, Itiúba, Jaguarari,
Pindobaçu e Ponto Novo (OBSERVATÓRIO BAIANO DE REGIONALIZAÇÃO, 2023).
O HDAM é definido como hospital geral, atende casos de média e alta complexidade
com serviços ambulatoriais, internações, serviço de apoio diagnóstico terapêutico, urgências,
demanda espontânea ou referenciada e seu convênio é pelo Sistema Único de Saúde (SUS). É
composto por recepção, clínicas (gerais, cirúrgicas, pediátricas), obstetrícia (clínica e cirúrgica),
Unidade de Terapia Intensiva (UTI), Centro de material e esterilização (CME), centro cirúrgico
(CC), farmácia, radiologia, sala de gesso, sala de imunização e lavanderia (DATASUS, 2023).
Na ala obstétrica possui serviços de atenção pré-natal, pré-parto, parto e nascimento,
onde se faz acompanhamento de pré-natal de alto risco ou risco habitual e centro de parto
normal. Possui 20 leitos, sendo 12 para obstetrícia clínica, 8 para obstetrícia cirúrgica, e 3
quartos destinados ao parto, que são chamados de PPP (pré-parto, parto, e pós-parto), onde a
mulher consegue partejar e dar à luz sem precisar se locomover para outro ambiente
(DATASUS, 2023).
A experiência ocorreu com uma doula voluntária, e para a mesma poder exercer a
profissão no HDAM, foi necessário uma reunião com a coordenação do hospital, na qual foi
entregue um formulário de responsabilidade, em que a doula assumiria todas as suas
ações/cuidados oferecidos às gestantes e que o fato de atuar de forma intermitente na instituição

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PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
não estabelece vínculo empregatício direto com o hospital. Estabeleceu-se que para adentrar no
serviço era preciso uso de um crachá com nome, identificação profissional e foto.
No serviço, a doula voluntária foi supervisionada por enfermeiras obstétricas do setor
que estavam de plantão. A frequência com que a doula ia no serviço, dependia da sua
disponibilidade. Ela acompanhava as gestantes que estavam admitidas lá, primando por um
acompanhamento desde a admissão até o pós-parto.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Em sua rotina no serviço, ao adentrar os quartos PPPs, a doula fazia sua identificação
para a gestante, e dialogava com a parturiente e acompanhante, sobre sua função, o que ela
poderia fazer ou não, assim, a paciente/acompanhante tinha total autonomia para aceitar ou
recusar a presença da profissional. Vale ressaltar que todas as gestantes aceitaram a assistência
oferecida.
Estudos nacionais e internacionais apontam benefícios sobre a presença da doula
durante o trabalho de parto (TP), dentre os resultados, encontram-se chance de ter o parto
vaginal aumentada em 50%, a redução do uso de analgesia, ocitocina e instrumentos obstétricos,
como o fórceps, e a diminuição de taxas de parto prematuro e cirurgia cesariana
(KOZHIMANNIL et al., 2016; LINS et al., 2019).
Além de proporcionar a assistência humanizada durante o TP, a doula também pode
fornecer educação perinatal durante a gestação, tanto para a gestante como para o acompanhante
ou familiares, ao explicar sobre a fisiologia do parto, amamentação, cuidados com o recém-
nascido, exercícios importantes para fazer durante o TP e métodos não farmacológicos para
alívio da dor. O conhecimento prévio fornecido a mulher e sua família asseguram maior
conforto para passar por esse importante momento das suas vidas, como também passam a ter
mais confiança na profissional que está ao lado deles (LIMA et al., 2019).
Neste relato, como se trata de uma vivência de forma voluntária, o contato com as
mulheres ocorreu diretamente durante o TP, onde foi possível observar ausência da educação
perinatal e despreparo psicológico das parturientes. Na maioria das vezes elas eram
acompanhadas pelas mães, ou por parentes que já tinham passado pela experiência de parir, e
apesar de ser um ambiente confortável e individualizado, a grande parte das jovens
encontravam-se com medo, assustadas e ansiosas.

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PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Isso aponta sobre a importância do preparo físico e mental durante o período gravídico,
e como a educação perinatal é essencial para fornecer informações de qualidade. Estudos
mostram que a oferta de ações educativas reduz a ansiedade, melhora os resultados de saúde
materna, neonatal e fortalece os acompanhantes, pois eles conseguem tomar decisões baseadas
em evidências, e participar ativamente do processo de nascimento (MACÊDO et al., 2021).
Quanto a relação entre a doula com a equipe médica e de enfermagem, estudos
apontam que muitos profissionais têm resistência com a presença dessa “nova” integrante no
cenário obstétrico, principalmente quando é colocado em xeque conhecimentos e práticas
tradicionais, onde eles tentam invalidar a profissão de doula, afirmando que a classe é soberana
no conhecimento científico (HERCULANO et al., 2018). Entretanto, a realidade vivenciada
transcorreu de forma harmônica e respeitosa.
Devido ao fluxo de demandas que as enfermeiras obstetras têm, elas não conseguem
permanecer ao lado da parturiente durante todo o processo de TP, diferentemente da doula, que
se propõe a acompanhar a mulher integralmente até após o nascimento do filho. Diante disso,
houve total confiança e respeito entre os profissionais de saúde, com a presença da doula, e até
expressões de alívio quando ela adentrava o hospital.
Outro ponto a se destacar, foi o uso de métodos não farmacológicos para alívio da dor.
Durante a vivência foi oferecido banhos quentes de aspersão, o uso da bola suíça com alguns
exercícios perineais, massagens na região lombar com vaselina e com a bola cravo, uso do
rebozo e técnicas de respiração. Já existem estudos, como o de Mascarenhas et al., (2019) que
comprovam que esses métodos contribuem no controle e suporte à dor das parturientes.
Por meio do uso dessas técnicas, pode-se perceber benefícios físicos, como um maior
relaxamento e confiança no processo fisiológico, como também benefícios emocionais, pois
elas eram encorajadas constantemente, e se sentiam mais seguras e acolhidas. Após o
nascimento do bebê, foi nítida a importância da doula, pois tanto as puérperas como as
acompanhantes, proferiram palavras de gratidão por permanecer com elas naquele momento.
Por isso, deve haver um incentivo em instituições públicas de saúde para a contratação
de doulas como integrantes da equipe de assistência obstétrica, pois a presença delas é um ganho
para o serviço público e para as gestantes, pois fortalece e consolida as políticas de saúde
voltadas ao parto humanizado e assistência de qualidade (SANTANA et al., 2021).

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

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PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Diante do exposto, é inegável o poder transformador que a doula exerce no processo de
gestação, parto e pós-parto. O estudo oportuniza reflexão sobre o papel significativo ao fornecer
suporte físico, emocional e informativo para as mulheres e familiares durante essa jornada
única. Ao estarem presentes, essas profissionais capacitadas proporcionam um ambiente seguro
e acolhedor, promovendo o empoderamento das gestantes e ajudando-as a tomar decisões.
Além de que, o uso de métodos não farmacológicos para alívio da dor e a integração
com a equipe de saúde do hospital, proporciona a mulher uma assistência completa, na
diminuição da dor e medo, bem como no aumento da satisfação materna. Essa abordagem
centrada na parturiente e no respeito às suas escolhas tem o potencial de criar impactos positivos
a curto e longo prazo, não apenas na experiência individual, mas também na saúde e no bem-
estar da família como um todo.
Entretanto, é válido ressaltar que o serviço da doula acaba sendo elitista, e que muitas
mulheres que são assistidas pelo SUS não têm condições financeiras de contratar essa
profissional. Então cabe às instituições públicas contratarem doulas para integrarem a equipe
de assistência, para que a mulher consiga ter um cuidado holístico e individualizado nesse
momento tão único.
Portanto, esse relato de experiência buscou ressaltar a importância de reconhecer e
valorizar a presença da doula como uma forma valiosa de apoio durante a maternidade,
destacando seu papel significativo na promoção de uma experiência mais empoderadora, segura
e gratificante para as mulheres.

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PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
CAPÍTULO 3
A IMPORTÂNCIA DO CUIDADO PRÉ-
NATAL NA PREVENÇÃO DE
COMPLICAÇÕES MATERNAS E
NEONATAIS
THE IMPORTANCE OF PRENATAL CARE IN THE PREVENTION OF
MATERNAL AND NEONATAL COMPLICATIONS

10.56161/sci.ed.20230913C3

Rebeca Ferreira Nery


Graduanda em enfermagem, Faculdade São Francisco da Paraíba - FASP
Orcid ID do autor: https://orcid.org/0000-0002-8924-6546
Pâmela Thayne Macêdo Sobreira
Graduanda de enfermagem, Centro universitário Santa Maria- UNIFSM
Orcid ID do autor: https://orcid.org/0000-0003-1300-9752
Eulismenia Alexandre Valério
Graduanda de enfermagem, Centro universitário Santa Maria- UNIFSM
Orcid ID do autor: https://orcid.org/0000-0002-6452-1425
Maiane Damasceno Costa
Graduanda em Enfermagem, Faculdade Unime Anhanguera Salvador
Orcid ID do autor: https://orcid.org/0009-0008-9327-0478
Maíra Damasceno Costa
Graduada em Nutrição, Faculdade Unime Anhanguera Salvador
Orcid ID do autor: https://orcid.org/0009-0006-3305-1877
Maria Edillayne de Assunção Silva
Graduanda em Enfermagem, Universidade Federal do Piauí
Orcid ID do autor: https://orcid.org/0000-0001-7147-8157
Laila da Encarnação de Lima
Graduanda em Enfermagem, Centro Universitário Jorge Amado
Orcid ID do autor: https://orcid.org/0009-0006-9621-8013
Luana Pereira Ibiapina Coêlho
Enfermeira na Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares- EBSERH, Florianópolis- SC
Orcid ID do autor: https://orcid.org/0000-0002-2054-959X
Juliane Pereira dos Santos
Graduando de enfermagem, centro Universitário Jorge Amado
Orcid ID do autor: https://orcid.org/0000-0001-6075-2851
Cicera Suênia Soares Mangueira
Graduada em Enfermagem e Mestranda em Saúde Coletiva- UFPB.
Orcid ID do autor: https://orcid.org/0000-0002-6226-7312

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PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
RESUMO

Introdução: O cuidado pré-natal é uma das práticas mais importantes na assistência à saúde
materno-infantil. O acompanhamento adequado durante a gravidez desempenha um papel
fundamental na prevenção de complicações tanto para a mãe quanto para o recém-nascido. A
falta de cuidado adequado pode resultar em riscos significativos para a saúde da gestante e do
bebê, destacando a necessidade de compreender e valorizar a importância dessa prática.
Objetivo: analisar na literatura científica atual sobre a importância do cuidado pré-natal na
prevenção de complicações maternas e neonatais. Metodologia: Trata-se de uma revisão de
literatura na qual a busca foi realizada por meio da BVS (Biblioteca Virtual em Saúde),
utilizando as bases de dados LILACS e MEDLINE. Os seguintes descritores foram utilizados:
"Cuidado pré-natal", "Educação Pré-Natal" e "Complicações na Gravidez". Foram aplicados os
seguintes critérios de inclusão: artigos completos disponíveis online e gratuitamente, nos
idiomas português, inglês e espanhol. Foram excluídos trabalhos anteriores a 2018, teses,
monografias e trabalhos incompletos. Restaram 112 artigos para leitura de seus títulos e
resumos. Por fim, os dados extraídos foram observados e sintetizados em sua versão completa,
resultando em 13 artigos utilizados para a construção deste estudo. Resultados: De acordo com
os estudos selecionados, é perceptível a importância do cuidado pré-natal na prevenção de
complicações maternas e neonatais, visando à qualidade de vida mediante aos cuidados
ofertados durante o período. Além disso, o acompanhamento regular proporciona informações
essenciais para as gestantes, incluindo hábitos de vida saudáveis, cuidados pré e pós-natais, e
informações sobre amamentação e cuidados com o recém-nascido. Conclusão: Portanto, o
cuidado pré-natal desempenha um papel fundamental na prevenção de complicações maternas
e neonatais, sendo uma estratégia essencial para garantir a saúde e o bem-estar tanto da gestante
quanto do recém-nascido, garantindo uma gestação saudável, reduzindo riscos e promovendo
o bem-estar para mãe e bebê.

PALAVRAS-CHAVE: Cuidado Pré-Natal, Educação Pré-Natal, Complicações na Gravidez.

ABSTRACT

Introduction: Prenatal care is one of the most important practices in maternal and child health
care. Adequate monitoring during pregnancy plays a crucial role in preventing complications
for both the mother and the newborn. Lack of proper care can result in significant health risks
for the pregnant woman and the baby, underscoring the need to understand and value the
importance of this practice. Objective: To analyze the current scientific literature on the
importance of prenatal care in preventing maternal and neonatal complications. Methodology:
This is a literature review in which the search was conducted through the BVS (Virtual Health
Library), using the LILACS and MEDLINE databases. The following descriptors were used:
"Prenatal Care," "Prenatal Education," and "Pregnancy Complications." The following
inclusion criteria were applied: full articles available online and free of charge, in Portuguese,
English, and Spanish. Works prior to 2018, theses, monographs, and incomplete works were
excluded. There were 112 articles left for reading their titles and abstracts. Finally, the extracted
data were observed and synthesized in their complete version, resulting in 13 articles used for

29
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
the construction of this study. Results: According to the selected studies, the importance of
prenatal care in preventing maternal and neonatal complications is evident, aiming at improving
the quality of life through the care offered during this period. Additionally, regular monitoring
provides essential information for pregnant women, including healthy lifestyle habits, pre and
postnatal care, and information about breastfeeding and newborn care. Conclusion: Therefore,
prenatal care plays a crucial role in preventing maternal and neonatal complications, being an
essential strategy to ensure the health and well-being of both the pregnant woman and the
newborn, promoting a healthy pregnancy, reducing risks, and enhancing the well-being of both
mother and baby.

KEYWORDS: Prenatal Care, Prenatal Education, Pregnancy Complications

INTRODUÇÃO

"A saúde materno-infantil é uma preocupação global, e o cuidado pré-natal desempenha


um papel fundamental na prevenção de complicações tanto para a mãe quanto para o bebê"
(Smith et al., 2021). Durante a gestação, as necessidades de saúde da mulher mudam
significativamente, e o acompanhamento adequado nesse período é essencial para garantir uma
gravidez saudável e um parto seguro.

A importância do cuidado pré-natal na prevenção de complicações maternas e neonatais


tem sido amplamente documentada na literatura científica. Estudos mostram que mulheres que
recebem cuidados regulares durante a gravidez têm maior probabilidade de ter um parto bem-
sucedido e bebês saudáveis (Garcia et al., 2020). Além disso, o cuidado pré-natal adequado
contribui para a redução da morbidade materna, incluindo o controle da pressão arterial, a
prevenção de infecções e a detecção precoce de condições médicas que possam afetar a
gravidez.

A detecção precoce de problemas durante a gestação é essencial para o planejamento de


intervenções adequadas e o tratamento oportuno. O cuidado pré-natal permite a realização de
exames e testes que podem identificar condições de risco, como a pré-eclâmpsia e a diabetes
gestacional, possibilitando a adoção de medidas preventivas e terapêuticas (Garcia et al., 2020).

O cuidado pré-natal desempenha um papel fundamental na saúde materna e neonatal,


sendo essencial para a prevenção de complicações e promoção do bem-estar durante a gestação.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) enfatiza que o acompanhamento regular da gestante
por profissionais de saúde qualificados é crucial para identificar e tratar precocemente possíveis
problemas de saúde que possam afetar tanto a mãe quanto o bebê (OMS, 2020).

30
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
De acordo com a literatura, o cuidado pré-natal tem sido associado a uma série de
benefícios para a saúde materna e neonatal. Estudos demonstram que o acesso adequado ao pré-
natal está relacionado a uma redução significativa na incidência de complicações gestacionais,
como a pré-eclâmpsia e a diabetes gestacional (Lumbiganon et al., 2021).

O acompanhamento pré-natal também desempenha um papel importante na prevenção


da transmissão vertical de doenças infecciosas, como o HIV e a sífilis congênita. A realização
de testes e tratamentos adequados durante o pré-natal pode evitar a transmissão dessas doenças
da mãe para o bebê (Gomez et al., 2018).

Está pesquisa tem como objetivo analisar na literatura científica atual sobre a
importância do cuidado pré-natal na prevenção de complicações maternas e neonatais.

MÉTODO

A metodologia adotada nesta revisão da literatura sobre a importância do cuidado pré-


natal na prevenção de complicações maternas e neonatais seguiu um conjunto de etapas
estruturadas. Primeiramente, foi definida a questão de pesquisa que norteou a revisão: "Qual é
a importância do cuidado pré-natal na prevenção de complicações maternas e neonatais?". Em
seguida, foram por meio da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), através das bases de dados:
Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE) e Literatura Latino-
americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) para a busca de artigos científicos.

Foram estabelecidos critérios de inclusão e exclusão para a seleção dos artigos a serem
incluídos na revisão. Os critérios de inclusão consideraram estudos publicados nos últimos 5
anos, escritos em inglês, português e espanhol , que abordassem a importância do cuidado pré-
natal na prevenção de complicações maternas e neonatais. Os critérios de exclusão
consideraram estudos com amostras não relacionadas à população gestante, estudos em outros
idiomas que não inglês, espanhol e português, bem como estudos com foco em outros temas
que não estivessem diretamente relacionados à temática da revisão. Empregou-se, para a busca,
uma associação de três descritores de assunto do Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) e
Medical Subject Headings (MeSH), sendo: "Cuidado pré-natal", “Educação Pré-Natal” e
“Complicações na Gravidez”.

Essa estratégia de busca visou identificar os estudos que abordassem diretamente a


importância do cuidado pré-natal na prevenção de complicações maternas e neonatais.
Inicialmente, um total de 112 referências primárias foram identificadas nas bases de dados

31
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
selecionadas. Em seguida, os artigos foram submetidos a um processo de triagem, onde a
temática abordada foi analisada por meio da leitura de títulos, resumos e aplicação de critérios
de inclusão e exclusão.

Durante esse processo, foram identificados artigos duplicados entre as bases de dados,
bem como repetidos dentro da seleção inicial. Após essa etapa, foram escolhidas
definitivamente as referências que atendiam aos critérios estabelecidos para serem lidas na
íntegra, resultando em uma amostra final de 13 artigos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO:

De acordo com os oito estudos selecionados, é perceptível a importância do cuidado


pré-natal na prevenção de complicações maternas e neonatais, visando o aumento de uma
qualidade de vida mediante aos cuidados ofertados durante o período.

Quadro 1 - Resultados da Revisão sobre a Importância do Cuidado Pré-Natal na Prevenção de


Complicações Maternas e Neonatais.

CÓDIGO AUTOR OBJETIVO RESULTADOS

A1 Chen et al., Teve como objetivo examinar a O estudo evidenciou que a educação pré-
associação de educação antenal e natal foi imensamente usufruída pelas
triagem de depressão com gestantes. As gestantes que não tinham
resultados de saúde mental, acesso eram mais propensas a serem
incluindo diagnóstico de depressão diagnosticadas com depressão. O autor
perinatal e visitas ao psiquiatra. apontou alguns fatores de risco como jovens
e histórico de transtorno estão associados à
depressão perinatal.

A2 Mabuza et al., Determinar a prevalência de O estudo evidenciou que durante o primeiro


consumo de suplementos de IFA e trimestre 10,3% das mulheres consumiram
identificar fatores associados ao os suplementos, no segundo trimestre 37 e
consumo de suplementos de IFA 39,7% consumiram quase todos os
entre mulheres grávidas. suplementos. Dessa forma, o baixo consumo
de ferro durante a gestação se dá
principalmente pelo pré-natal tardio.

A3 Dieterich et Tem como objetivo sintetizar O estudo abordou a resistência dos


al., pesquisas existentes sobre práticas profissionais em conversar com as mulheres
de comunicação entre profissionais sobre os fatores de risco, destacando a
de saúde e gestantes com sobrepeso obesidade no pré-natal. As gestantes, por
e obesidade sua vez, relatam ter dimensão das
complicações e do desconforto do
profissional ao abordarem.

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PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
A4 Eze et al. Avaliar o potencial de melhorar a O estudo demonstrou que após a intervenção
preparação para o parto e a o resultado melhorou em 0,37 em relação aos
prontidão para complicações sinais de risco durante a gravidez e
(BP/CR) usando uma intervenção preparação para o parto e a prontidão.
de mudança comportamental
dirigida pela comunidade entre
mulheres grávidas.

A5 Shimpuku et O objetivo deste estudo foi avaliar O presente estudo evidenciou que as
al., os resultados maternos e infantis de gestantes tiveram acesso ao pré-natal em
um programa de educação em grupo e desfrutou de informações
grupo pré-natal orientado para a importantes, norteando elas quanto à tomada
família que promove a preparação de decisões, autonomia, situações de
para o parto e prontidão para emergência, bem como em situações de
complicações na zona rural da complicações maternas/neonatais.
Tanzânia.

A6 Premji et al. Examina a associação entre o(s) O estudo evidenciou que dentre as 3.341
tipo(s) de cuidador(es) atendido(s) mulheres 38% foram atendidas por um único
durante a gravidez e o profissional e 56% foram atendidas por
fornecimento de aconselhamento vários profissionais durante a gravidez.
relacionado à nutrição, controle de
peso e abuso de substâncias.

A7 Haftu et al., Avaliar o nível de adesão de O estudo relatou que, as incidências de


gestantes à consulta de pré-natal e complicações maternas e neonatais tem
seu efeito no resultado perinatal diminuído pelas gestantes que tiveram
entre mães em instituições de saúde acompanhamento no pré-natal.
pública de Tigray, 2017

A8 Anggraini et Avaliar o impacto da formação O artigo evidenciou que a capacitação


al. científica e técnica sobre as técnica é científica melhorou a quantidade de
habilidades das parteiras na coleta médias de dados pré-natais. Falta de
e registro dos resultados dos habilidades e alta carga de trabalho
exames pré-natais de rotina. contribuem para as lacunas no banco de
dados.

Fonte: Autores, 2023.

Fica evidente mediante as análise dos artigos que, a falta de conhecimentos por
parte das grávidas e dos familiares ao sinais de perigo para complicações contribuem para
síndromes hemorrágicas, doenças hipertensivas ou outras complicações que levem a
intercorrências e somadas a falta de preparação para o parto ou conhecimentos mínimos para
o momento, têm contribuído para a morte materna, logo torna-se essencial durante os pré-natais
as grávidas sejam instruídas a reconhecer os sinais de perigo que possam aparecer e quais ações
deve realizar diante delas, esclarecendo seus direitos, sendo preparada para o parto iminente
(Eze et al., 2020).

33
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
A educação durante o pré-natal fornecido às gestantes nas consultas por profissionais
da equipe multidisciplinar treinados, demonstram-se de grande importância e como um fator
determinante para prevenir complicações na gestação e no puerpério, nos quais repassam
informações de saúde, como instruções sobre alimentação ou problemas recorrentes no período
gravídico, recomendação de estilo de vida saudável, preparam para o momento do parto,
reduzindo o medo do trabalho de parto, além de avaliar comportamento de riscos, sendo essas
informações como fator determinante para melhorar a qualidade de saúde da gestante,
reduzindo o estresse materno, ansiedade e depressão pós parto (Chen et al., 2023).

As complicações que podem ocorrer durante o parto e a gravidez são as principais


causas de morbidade e mortalidade entre as mulheres e recém-nascidos. Estudos demonstram
que em países desenvolvidos a taxa de adesão ao pré-natal tem dados positivos, já em países
subdesenvolvidos os dados de estudos mostram que 68% fazem apenas uma consulta. Com
isso , a maioria de mortes neonatais e maternas podem ser evitadas com um acompanhamento
multiprofissional durante o pré- natal (Haftu et al., 2018).

A frequência em que as mulheres vão ao sistema de saúde realizar o pré-natal é de


suma importância. Dessa forma, durante a gestação mulheres com obesidade e sobrepeso
enfrentam desafios durante a amamentação, pois são mais propensas a desenvolver diabetes
gestacional e podem ter insuficiência ou atraso do leite materno. Com isso, a comunicação
com os profissionais de saúde é importante levando a promoção ao bem-estar materno
(Dieterich et al., 2020).

Dessa maneira, a gravidez na vida da mulher é um momento único e também bastante


crítico para o desenvolvimento do bebe, com isso a educação alimentar é essencial durante essa
fase. Tendo em vista , que a adoção de escolhas saudáveis impactam diretamente no
crescimento e desenvolvimento fetal. Por essa razão, se faz importante incentivar as mulheres
a adotar uma alimentação saudável tendo um acompanhamento nutricional é essencial durante
esse momento (Premji et al., 2019).

Aggraini et al., (2018) evidenciou em sua pesquisa que é imprescindível um


atendimento individualizado durante o pré-natal, destaca que quando realizado o cuidado pré-
natal diminui os riscos de de complicações maternas e fetais. Dessa forma, garantindo que o
processo vital seja caracterizado com excelência, fornecendo uma melhor assistência e
segurança tanto para mãe, quanto ao feto em todo acompanhamento pré-natal.

34
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Correlacionado a isso Aggrani et al., (2018) afirma que, as informações sobre
complicações maternas e fetais, que podem ser derivadas da análise de avaliação de risco
durante a gravidez, são vitais para melhorar a qualidade do serviço de CPN e resultados
positivos da gravidez.

De acordo com Shimpuku et al., (2019) é extremamente relevante a inserção da


educação em saúde articulada com um grupo de pré-natal, sendo orientado para a família que
evidencia um potencial efeito significativo, nomeadamente, identificação de uma unidade de
saúde para emergência, acompanhamento familiar para parto em unidade, visitas de CPN e
envolvimento das mulheres na tomada de decisões, bem como complicações
maternas/neonatais;

Associado a isso, Shimpuku et al (2019) evidencia de forma clara que, quando o


conhecimento sobre complicações maternas, sobre parto, ou informações pertinentes sobre o
processo gestacional é passado de forma eficiente, menor o risco de encontrar grandes
momentos adversos no futuro. É importante ressaltar a necessidade de treinar profissionais da
saúde a fornecerem uma assistência adequada, observando a gestante com um olhar amplo e
abrindo ao seu ciclo familiar.

Durante a gestação, as necessidades nutricionais aumentam, sendo recomendado para


prevenção de desfechos indesejáveis a suplementação de ferro e ácido fólico durante o pré-
natal, possuindo uma baixa adesão em países em desenvolvimento, pelo início do pré- natal
tardio, sendo necessário que as Unidades de Saúde utilizem estratégias que consigam
implementar e incentivar a adesão, sendo necessário educação em saúde para conscientizar e
enfatizar a importância de iniciar o pré-natal precocemente e a utilização de suplementos
(Mabuza et al., 2021).

CONCLUSÃO

O cuidado pré-natal desempenha um papel fundamental na prevenção de complicações


maternas e neonatais, sendo uma estratégia essencial para garantir a saúde e o bem-estar tanto
da gestante quanto do recém-nascido. Ao longo das últimas décadas, tem-se observado uma
correlação significativa entre a qualidade do acompanhamento pré-natal e a redução das
complicações durante a gravidez e o parto, contribuindo para uma melhoria significativa nos
índices de saúde materna e neonatal em todo o mundo.

35
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Quando o pré-natal é negligenciado ou não realizado adequadamente, as complicações
podem surgir e afetar negativamente a mãe e o bebê. Entre as complicações maternas que
podem ser prevenidas ou minimizadas estão o parto prematuro, a pré-eclâmpsia, o diabetes
gestacional descontrolado e a hemorragia pós-parto. Já em relação às complicações neonatais,
o pré-natal adequado ajuda a reduzir as chances de baixo peso ao nascer, prematuridade,
malformações congênitas e problemas respiratórios, dentre outros.

Em suma, este estudo científico destacou de forma inequívoca a relevância do cuidado


pré-natal como um elemento crucial na prevenção de complicações maternas e neonatais. Os
resultados enfatizaram a importância de consultas regulares, exames e acompanhamento
médico durante a gravidez para garantir a saúde e o bem-estar da mãe e do bebê. Investir na
conscientização e acesso ao cuidado pré-natal pode reduzir significativamente os riscos de
complicações, promovendo assim uma gravidez mais saudável e um futuro mais seguro para
ambos.

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Routine Collection of Antenatal Care Data for Maternal and Foetal Risk Assessment: A Case
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PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
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37
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
CAPÍTULO 4
A SAÚDE MENTAL DA MULHER NO
PUERPÉRIO
WOMAN’S MENTAL HEALTH IN THE POSTPARTUM PERIOD

10.56161/sci.ed.20230913C4

Michel Magnani Hanna


Universidade Federal de Goiás
https://orcid.org/0009-0002-6089-0490

Arthur Farias Rocha


Universidade Federal de Goiás
https://orcid.org/0009-0005-1901-5661

Eloíza Coelho Gontijo


Universidade Federal de Goiás
https://orcid.org/0000-0003-2350-9638

Gabriel Rincon de Souza


Universidade Federal de Goiás
https://orcid.org/0000-0003-4204-1970

Ruth Jacmin Quispe Ccapa


Universidade Federal de Goiás
https://orcid.org/0009-0008-6517-6847

Érika Carvalho de Aquino


Universidade Federal de Goiás – Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública
https://orcid.org/0000-0002-5659-0308

RESUMO
INTRODUÇÃO: O puerpério é um período de readaptação para o organismo feminino com
alterações físicas e emocionais associadas ao fim da gestação. Esse período está ligado a casos
de ansiedade e depressão, que afetam a saúde materna e o desenvolvimento neonatal. Ainda
assim, os distúrbios de humor no puerpério são subnotificados, e pouco se discute sobre a
qualidade de vida materna. OBJETIVOS: Analisar a saúde mental da mulher durante o
puerpério e identificar os distúrbios de humor mais comuns e fatores que impactam no bem-
estar materno. METODOLOGIA: Trata-se de uma revisão de literatura onde foram
selecionados artigos utilizando os descritores “Mental health” e “puerperium”, em inglês e
português, publicados entre 2009 e 2023. Dos 105 artigos selecionados foram incluídos estudos
que abordavam a saúde mental das mulheres no puerpério e excluídos os não relacionados ao

38
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
tema. RESULTADOS: Nove artigos foram analisados. Os distúrbios de humor mais comuns
no puerpério incluem o "baby blues", afetando de 30 a 75% das mulheres, a depressão pós-
parto, a psicose puerperal e o transtorno do estresse pós-traumático (TEPT). A redução dos
níveis de estrogênio e progesterona após o parto pode desencadear sintomas como oscilações
de humor, característicos do “baby blues”. Situações de estresse e transtornos depressivos ou
ansiosos na gestação, estão associadas a maior incidência de depressão pós-parto, cuja
prevalência foi de 13%. Baixo Apgar, violência sexual e multiparidade estão relacionadas ao
desenvolvimento de TEPT. A psicose puerperal apresenta maior gravidade ao binômio
materno-infantil. Outros fatores que prejudicam a saúde mental foram privação de sono,
adaptação à maternidade e suporte social inadequado. CONCLUSÃO: A saúde mental da
mulher durante o puerpério é influenciada por diversos fatores, incluindo mudanças hormonais,
estresse e eventos durante a gravidez. É essencial reconhecer precocemente e compreender os
principais distúrbios e seus impactos no bem-estar materno, fornecendo o suporte adequado.

PALAVRAS-CHAVE: Período Pós-Parto; Saúde Mental; Depressão Pós-Parto;


Comportamento Materno; Modelos Biopsicossociais.

ABSTRACT
INTRODUCTION: The postpartum period is a period of readjustment for a woman's
body, involving physical and emotional changes associated with the end of pregnancy. This
period is linked to cases of anxiety and depression, which tend to affect maternal health and
neonatal development. However, mood disorders in the puerperium are underreported, and little
is discussed about maternal quality of life. OBJECTIVES: To analyze women's mental health
during the postpartum period and identify the most common mood disorders and factors that
impacts on maternal well-being. METHODOLOGY: This is a literature review where articles
were selected using the keywords "Mental health" and "postpartum," in English and Portuguese,
published between 2009 and 2023. Out of the 105 selected articles, studies that addressed
women's mental health in the puerperium were included, and those unrelated to the topic were
excluded. RESULTS: Nine articles were analyzed. The most common mood disorders in the
postpartum period include "baby blues", affecting 30 to 75% of women, postpartum depression,
puerperal psychosis, and post-traumatic stress disorder (PTSD). The reduction of estrogen and
progesterone levels after childbirth can trigger symptoms such as mood swings, characteristic
of "baby blues". Stressful situations, as well as depressive and anxiety disorders during
pregnancy, are associated with a higher incidence of postpartum depression, whose prevalence
was 13%. Low Apgar scores, sexual violence, and multiparity are related to the development
of PTSD. Postpartum psychosis, although less frequent, presents higher severity to the
maternal-infant dyad. Other factors that negatively affect mental health were sleep deprivation,
adaptation to motherhood, and inadequate social support. CONCLUSION: Women's mental
health during the postpartum period is influenced by a variety of factors, including hormonal
changes, stress, and events experienced during pregnancy. Early recognition and understanding
of the main disorders and their impacts on maternal well-being are essential. Adequate support
and access to mental health services are crucial, requiring integrated approaches that consider
the biopsychosocial aspects of postpartum.
KEYWORDS: Postpartum Period; Mental Health; Postpartum Depression; Maternal
Behavior; Biopsychosocial Models.

39
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
1. INTRODUÇÃO
Durante a gravidez, uma série de transformações morfofisiológicas acontecem no
corpo da mulher, uma vez que é uma etapa na qual o organismo se adapta ao desenvolvimento
de um novo indivíduo. Com o fim da gravidez e, consequentemente, início do puerpério, a
mulher passa por uma nova readaptação, tendo que lidar, agora, com uma sobrecarga hormonal
e alterações emocionais. Nesse sentido, a saúde mental da mulher, tema tão necessário de ser
abordado, ganha uma camada ainda maior de complexidade no puerpério. Dessa maneira, a
qualidade de vida da mulher nesse período tão delicado e especial, deverá ser discutido e
analisado, já que esse período está intimamente ligado a casos de depressão e ansiedade (GALE;
HARLOW, 2009).
Ademais, tais casos possuem uma taxa de subnotificação consideravelmente alta, de
modo a reforçar a necessidade de se expor o tema e discuti-lo, na medida em que a condição de
estresse mantida pela mãe pode refletir diretamente na conexão materna com a criança
ocasionando, por consequência, um significativo atraso cognitivo e emocional no
desenvolvimento da criança, explicitando, assim, que a questão da saúde mental da mulher do
puerpério vai além do bem-estar individual da mãe, de modo a englobar o desenvolvimento do
neonato e a estabilidade familiar. (Khanum et al, 2022).
Por fim, é necessário destacar que os fatores de estresse físico e psicológico podem
afetar as condições emocionais da puérpera, de modo a desencadear reações de tristeza,
depressão e medo, mas só serão considerados uma preocupação clínica caso esses gatilhos e
manifestações ocorrerem por um período prolongado. Por isso, é necessária a promoção de uma
qualidade de vida a essas mulheres, de modo a atentar-se aos desgastes funcionais e condições
sociais aos quais essas mães estão submetidas, de modo a garantir, assim, a saúde mental da
mulher no puerpério e, por conseguinte, a saúde de toda a estrutura familiar, em especial da
criança (Ribeiro; Aquino, 2021).

2. MATERIAIS E MÉTODOS
Este estudo consiste em uma revisão da literatura sobre a saúde mental da mulher no
puerpério. A metodologia adotada para realizar essa revisão seguiu um protocolo estruturado,
com o objetivo de identificar e analisar as principais pesquisas e evidências disponíveis sobre
o tema.

40
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Inicialmente, foram selecionados os bancos de dados científicos considerados
relevantes na área da saúde, tais como PubMed e Scielo. Em seguida, foi realizada uma busca
sistemática de artigos científicos publicados entre 2009 e 2023.
A busca foi conduzida por meio da utilização de termos de busca relevantes,
selecionados com base em palavras-chave relacionadas ao tema: “Mental health”,
“puerperium”, utilizando o operador booleano “and”. A busca foi restrita a estudos publicados
em inglês, e português, a fim de abranger a literatura disponível nessas línguas. Ao todo, nessa
etapa, foram encontrados 105 artigos nas duas plataformas.
Foram estabelecidos critérios de inclusão e exclusão dos artigos encontrados. Foram
incluídos estudos que abordavam especificamente a saúde mental das mulheres durante o
puerpério. Por outro lado, foram excluídos estudos que não estavam diretamente relacionados
ao tema de interesse, como aqueles que se concentram em períodos da vida diferentes do
puerpério ou em populações distintas da mulher nesse período, além de livros e documentos.
Ao final dessa análise, foram selecionados 9 artigos.
Após a seleção dos artigos relevantes, foram realizadas análises sistemáticas dos dados
extraídos. As informações pertinentes, como autor(es), ano de publicação, objetivo do estudo,
métodos utilizados, amostra, resultados principais e conclusões, foram registradas. Essa coleta
de dados permitiu uma análise temática dos estudos revisados, identificando os principais temas
e tendências presentes na literatura sobre a saúde mental da mulher no puerpério.
Com base nos resultados obtidos, foi realizada a síntese dos achados. Os resultados
foram apresentados de maneira clara e concisa, por meio de tabelas, gráficos ou outros recursos
visuais, sempre que adequado. Os principais achados e conclusões dos estudos revisados foram
identificados e discutidos criticamente, levando em consideração as lacunas na literatura e
sugerindo possíveis direções para pesquisas futuras.
Por fim, com base na revisão da literatura realizada, foi redigido o capítulo de livro
sobre a saúde mental da mulher no puerpério. O capítulo seguiu a estrutura e formato exigidos
pela publicação do livro, contemplando os elementos tradicionais como introdução, objetivos,
metodologia, resultados, discussão e conclusões, de forma a fornecer uma visão abrangente e
fundamentada sobre o tema em questão.

3. RESULTADOS
Os distúrbios de humor que podem ocorrer no puerpério são, dos mais amenos aos
mais graves: o baby blues, a depressão pós-parto, a psicose puerperal e o transtorno do estresse

41
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
pós-traumático, dentre outros. Embora os sintomas possam se sobrepor entre esses distúrbios,
eles têm fatores de risco únicos e a gravidade de cada um difere significativamente.
No pós-parto, a mulher experimenta uma série de mudanças hormonais e emocionais
significativas, que podem ter um impacto profundo em sua saúde mental. Essas mudanças são
em grande parte desencadeadas pela queda abrupta dos níveis hormonais, especificamente dos
hormônios estrogênio e progesterona, que estavam em níveis elevados durante a gravidez
(GALE; HARLOW, 2009).
A redução desses hormônios pode desencadear sintomas como oscilações de humor,
sensibilidade emocional e irritabilidade. Essas flutuações emocionais são comumente
conhecidas como "baby blues" e geralmente se manifestam nos primeiros dias ou semanas após
o parto e podem afetar de 30% a 75% das mulheres (GALE; HARLOW, 2009). Os sintomas do
baby blues podem incluir choro fácil, ansiedade, sentimentos de tristeza, fadiga e irritabilidade.
Esses sentimentos costumam ser transitórios e tendem a diminuir espontaneamente após alguns
dias ou semanas. Além da queda hormonal, outros fatores podem contribuir para a saúde mental
precária no puerpério, como mudanças no estilo de vida, privação de sono devido às demandas
do bebê, adaptação à nova identidade de mãe, desafios na amamentação e ajustes nas dinâmicas
familiares. A falta de suporte social adequado também pode aumentar o risco de problemas de
saúde mental.
A depressão pós-parto compartilha muitas características com a depressão não
puerperal, embora a ansiedade possa ter maior proeminência. Os sintomas são semelhantes,
incluindo extrema solidão, irritabilidade, medo de enlouquecer e uma sensação de "perda de si
mesma". Esses sintomas são comuns tanto na depressão pós-parto quanto na depressão não
relacionada ao puerpério. No entanto, o conteúdo do sofrimento psicológico diferencia a
depressão pós-parto da depressão não relacionada ao puerpério. Mulheres com depressão pós-
parto frequentemente têm sentimentos de culpa e inadequação em relação à maternidade
(Camacho; Cantinelli, 2006). Elas podem se sentir incapazes de atender às expectativas
impostas às novas mães, levando a um impacto significativo na autoestima e na confiança. Uma
meta-análise de 59 estudos realizada revelou que a prevalência média da depressão pós-parto
foi de 13% (SEYFRIED; MARCUS, 2009).
Uma característica única da depressão pós-parto são os pensamentos intrusivos e
obsessivos sobre prejudicar o bebê. Embora esses pensamentos sejam assustadores para a mãe,
é importante ressaltar que eles geralmente não resultam em nenhum dano à criança. Esses
pensamentos podem gerar medo e ansiedade intensos na mãe, afetando sua capacidade de se
conectar emocionalmente com o bebê (SEYFRIED; MARCUS, 2009).

42
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
A depressão pós-parto também difere da depressão não relacionada ao puerpério
devido às circunstâncias específicas de vida em que ocorre. A presença de um recém-nascido e
as mudanças drásticas na rotina e nas responsabilidades familiares podem ter um impacto
profundo na dinâmica familiar. A mãe pode sentir dificuldade em desempenhar suas funções
maternas, afetando a interação com o parceiro e outros membros da família. Ademais, esse
distúrbio pode causar tensões no relacionamento do casal, aumentar o estresse familiar e
prejudicar o desenvolvimento do vínculo entre a mãe e o bebê. Além disso, os outros membros
da família também podem ser afetados pelo estado de saúde mental da mãe, causando uma
alteração na dinâmica familiar como um todo (SEYFRIED; MARCUS, 2009).
Existem evidências que apontam uma correlação entre o stress no período de gravidez
- conjunto de respostas que o organismo emite para reagir frente a algo que o despertou - e uma
maior prevalência de depressão pós-parto (Rodrigues; Schiavo, 2011). Os resultados do estudo
mostraram que, das 98 participantes no terceiro trimestre de gestação, 76% manifestaram
sintomas de estresse. Delas, 72% (n=55) estavam na fase de resistência, 25% (n=19) na fase de
quase exaustão e 3% (n=2) na fase de exaustão. Em relação aos sintomas de stress, 10% (n=8)
apresentaram sintomas de stress físico, 87% (n=66), sintomas de stress psicológico e 3% (n=2)
apresentaram tanto stress físico como psicológico, concomitantemente. Durante o puerpério,
63% das participantes ainda manifestaram sintomas de estresse, porém em menor proporção do
que durante a gestação.
Foi observada nesse estudo uma correlação positiva entre os sintomas de estresse
durante a gestação e os sintomas de depressão pós-parto, sendo que quanto mais elevada a fase
de estresse no final da gestação, maior foi a pontuação na Escala de Depressão Pós-Parto. O
estresse pode ser resultado de eventos estressores específicos desta fase, como o medo do parto,
preocupações com a saúde da mãe e do bebê, questões financeiras, desafios conjugais, falta de
apoio social e dúvidas em relação às mudanças no corpo. Cada gestante pode ter motivos
diferentes para experimentar o estresse, especialmente se for a sua primeira gravidez.
Alvarenga e Frizzo (2017) também investigaram as relações entre eventos estressantes
vivenciados durante a gravidez e a saúde mental das mulheres durante a gravidez e pós-parto.
A primeira hipótese testada estabelecia que quanto maior o número de eventos estressantes e
seu impacto percebido, maior seria o número de sintomas de transtornos mentais comuns
durante a gravidez e maior seria o nível de depressão pós-parto. Essa hipótese foi parcialmente
confirmada. Embora tanto o número quanto o impacto dos eventos estressantes também
estivessem correlacionados com transtornos mentais comuns durante a gravidez, a análise de

43
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
regressão revelou que, quando considerado o efeito moderador da depressão pós-parto no
impacto percebido dos eventos estressantes, o poder explicativo deste último desapareceu.
Da mesma forma, os eventos estressantes não previram mais a depressão pós-parto
após a inclusão dos transtornos mentais comuns durante a gravidez no modelo de regressão
testado. Esses resultados confirmam a segunda hipótese testada, de que quanto maior o número
de sintomas de transtornos mentais comuns durante a gravidez, maior seria o nível de depressão
pós-parto. Em suma, esses resultados indicam que o preditor mais robusto para a depressão pós-
parto é a presença de sintomas de transtornos mentais comuns (depressão e ansiedade) durante
a gravidez.
Outro estudo - realizado por Silva e Matijasevich em conjunto com o projeto MINA-
Brasil (2022) - investigou a associação de transtornos comuns durante a gravidez com a
presença de sintomas depressivos no puerpério, constatando que a ocorrência de transtorno
mental comum em qualquer momento avaliado durante a gravidez, especialmente sua
persistência a partir do segundo trimestre, foi fortemente associada a sintomas depressivos após
o parto.
Um total de 461 mulheres completaram as duas avaliações clínicas durante a gravidez;
destas, 247 completaram as três avaliações no pós-parto. A ocorrência de transtorno mental
comum durante a gravidez foi de 36,2% na primeira avaliação e 24,5% na segunda avaliação,
e a incidência cumulativa foi de 9,2%. Além disso, 50,3% das mulheres mantiveram o
transtorno entre as avaliações. Durante o pós-parto, aproximadamente 20% das mães
apresentaram sintomas depressivos durante o primeiro ano de vida de seus filhos. A paridade
(≥ 2) foi associada a transtornos mentais comuns, enquanto a baixa escolaridade materna foi
associada a sintomas depressivos no pós-parto. Mulheres com transtorno mental comum em
ambas as avaliações durante a gravidez tiveram 5,6 vezes mais chances de desenvolver sintomas
depressivos no pós-parto. Esses achados destacam a necessidade de triagem precoce e
monitoramento da saúde mental de mulheres grávidas no início do cuidado pré-natal, visando
reduzir possíveis impactos negativos na saúde do binômio mãe-filho causados por tais eventos.
A saúde mental da mulher também sofre influência de fatores sociodemográficos,
obstétricos, o tipo de parto, que podem afetar a Qualidade de vida Relacionada à Saúde (QVRS)
no período puerperal (Ribeiro; Aquino, 2021). Mulheres mais jovens, com maior escolaridade,
ocupação remunerada e ausência de intercorrências durante a gravidez apresentaram melhores
pontuações na QVRS. No entanto, a presença do companheiro não teve influência nos escores
de QVRS, o que difere de estudos anteriores que indicavam que a presença do companheiro
estava associada a níveis mais elevados de satisfação e melhor qualidade de vida. Quanto ao

44
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
planejamento da gravidez, mulheres que não planejaram a gravidez obtiveram melhores escores
na QVRS das puérperas, indicando que a aceitação da gravidez pode ter um impacto maior na
QVRS do que o próprio planejamento.
Quanto ao tipo de parto, mulheres que deram à luz por parto normal apresentaram uma
melhor qualidade de vida em comparação às mulheres que passaram por cesariana (com média
de alta qualidade de vida versus média de baixa qualidade de vida). O escore médio de qualidade
de vida para o grupo de mulheres após parto normal foi de 89,94, enquanto para o grupo de
mulheres após cesariana foi de 66,02 (p<0,001) (Khanum et al, 2022). Além disso, a saúde
mental também é afetada, especialmente para aquelas que passaram por cesariana. Portanto, o
parto normal mostra benefícios no pós-parto em termos de indicadores emocionais.
A psicose pós-parto, também conhecida como psicose puerperal, é uma condição
psiquiátrica mais rara e grave do que a depressão pós-parto. É caracterizada por uma alteração
aguda do estado mental, na qual a mulher experimenta sintomas psicóticos, como alucinações,
delírios, pensamento desorganizado e comportamento impulsivo (SEYFRIED; MARCUS,
2009).
Estudos mostraram que as taxas de admissão hospitalar por psicose são
significativamente maiores nos primeiros 30 dias após o parto em comparação com o período
anterior à gravidez. No entanto, dados mais recentes sugerem que o risco relativo pode ser
menor (SEYFRIED; MARCUS, 2009). Existe o questionamento se a psicose pós-parto
representa uma entidade clínica distinta ou uma forma de psicose desencadeada pelo estresse
do parto, similar a outras psicoses. Os sintomas da psicose pós-parto são semelhantes aos de
um transtorno afetivo, frequentemente com características bipolares. Além disso, podem
ocorrer dificuldades no funcionamento, delírios e alucinações. Algumas mulheres podem
apresentar sintomas típicos de depressão, como humor deprimido e sentimentos de culpa e
inutilidade. É importante observar que as mulheres com psicose pós-parto podem ter maior
desorganização cognitiva, comportamentos bizarros e ideação homicida em comparação com
as mulheres com depressão psicótica não relacionada ao parto. As taxas de incidência da psicose
pós-parto variam entre 1 e 2 casos por 1000 nascimentos, e os sintomas geralmente se
manifestam nas primeiras duas semanas após o parto (SEYFRIED; MARCUS, 2009).
Outro acometimento possível no puerpério de casos de alto risco é o Transtorno do
Estresse Pós-traumático (TEPT), que é uma condição mental que pode ocorrer como resposta
a eventos traumáticos na vida de uma pessoa. Os sintomas do TEPT são caracterizados por três
dimensões psicopatológicas distintas: (1) revivescência do trauma, que inclui pensamentos ou
memórias intrusivas e pesadelos relacionados ao evento traumático; (2) esquiva de estímulos

45
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
que possam lembrar o evento traumático ou entorpecimento emocional, como evitar
pensamentos, lugares ou situações relacionadas ao trauma e sentir uma diminuição do afeto em
relação à família; (3) hiperexcitabilidade, que envolve reações exageradas, como se assustar
facilmente e estar constantemente em estado de alerta (Henriques; Moraes, 2015).
Um estudo realizado em uma maternidade de alto risco fetal no Rio de Janeiro
(Henriques; Moraes, 2015) constatou que taxa geral de ocorrência do TEPT foi de 9,4%. O
TEPT foi mais prevalente em mulheres que tiveram três ou mais partos, cujos recém-nascidos
apresentaram um escore Apgar igual ou inferior a sete no primeiro minuto, que tinham histórico
de problemas de saúde mental antes ou durante a gravidez, que experimentaram depressão pós-
parto, que sofreram violência física ou psicológica perpetrada por um parceiro íntimo durante
a gravidez, que passaram por experiências sexuais indesejadas e que foram expostas a cinco ou
mais eventos traumáticos.

4. DISCUSSÃO
Os distúrbios de humor pós-parto, que incluem o baby blues, a depressão pós-parto e
a psicose puerperal, são condições que afetam a saúde mental das mulheres após o parto. As
mudanças hormonais e emocionais desencadeadas pela queda abrupta dos níveis de estrogênio
e progesterona podem levar a sintomas como oscilações de humor, sensibilidade emocional e
irritabilidade, característicos do baby blues. Esses sintomas costumam ser transitórios e
diminuem espontaneamente após alguns dias ou semanas (GALE; HARLOW, 2009).
No entanto, algumas mulheres podem desenvolver a depressão pós-parto,
compartilhando características semelhantes com a depressão não relacionada ao puerpério, mas
com a ansiedade muitas vezes desempenhando um papel de destaque. Sentimentos de solidão,
irritabilidade, medo de enlouquecer e culpa em relação à maternidade são comuns nesse tipo de
depressão. Pensamentos intrusivos e obsessivos sobre prejudicar o bebê também podem
ocorrer, afetando a conexão emocional entre mãe e filho (SEYFRIED; MARCUS, 2009).
Dentre as consequências mais graves da depressão pós-parto estão a ideação suicida e
a automutilação, cuja prevalência ainda não foi amplamente investigada, embora existam
indícios de que essa prevalência seja mais relevante do que imaginamos: segundo Pope & Xie
(2013), durante o período de 1 ano após o parto, cerca de 16.97% das mulheres avaliadas
reportaram pensamentos de automutilação e 6.16% reportaram ideação suicida. Também foi
observado que essas mesmas mulheres possuíam maiores níveis de depressão e sintomas de
mania e hipomania. Esses resultados são alarmantes, pois representam quase o triplo de

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PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
prevalência de pensamentos de automutilação que outros estudos mais antigos, que
encontraram por exemplo valores de 4% (HOWARD et al., 2011).
A dinâmica familiar pode ser impactada pela depressão pós-parto, causando tensões
no relacionamento do casal e estresse familiar, além de afetar a interação com outros membros
da família. O estresse durante a gestação tem sido correlacionado com uma maior prevalência
de depressão pós-parto, e eventos estressores específicos, como medo do parto, preocupações
com a saúde da mãe e do bebê, e falta de apoio social, podem contribuir para o estresse durante
esse período (Rodrigues; Schiavo, 2011), correlação essa que também foi corroborada por
Hillerer & Reber (2011). Além disso, a presença de sintomas de transtornos mentais comuns,
como depressão e ansiedade, durante a gravidez foi identificada como um preditor robusto para
a depressão pós-parto (Alvarenga; Frizzo, 2017), (Silva; Matijasevich, 2022).
Fatores sociodemográficos, obstétricos e o tipo de parto também influenciam a
qualidade de vida relacionada à saúde no período puerperal, achados que também foram
confirmados por Maliszewska & Bidzan (2016). Mulheres mais jovens, com maior
escolaridade, ocupação remunerada e ausência de intercorrências durante a gravidez
apresentaram melhores pontuações na qualidade de vida. O planejamento da gravidez também
desempenhou um papel, com mulheres que não planejaram a gravidez relatando uma melhor
qualidade de vida (Ribeiro; Aquino, 2021).
No que diz respeito ao tipo de parto, as mulheres que passaram por parto normal
apresentaram uma melhor qualidade de vida em comparação com aquelas que passaram por
cesariana. Além disso, a saúde mental também é afetada, sendo que as mulheres que passaram
por cesariana apresentaram maiores sintomas de estresse (Khanum et al, 2022).
Esses achados ressaltam a importância de um cuidado pré-natal adequado, com a
identificação e o monitoramento precoce de sintomas de estresse e transtornos mentais comuns
durante a gravidez. Além disso, enfatizam a necessidade de promover suporte emocional e
assistência de qualidade no período pós-parto, especialmente para as mulheres em maior risco,
visando reduzir os impactos negativos na saúde mental e na qualidade de vida mãe-filho.
No entanto, fornecer esse suporte de maneira adequada não é uma tarefa fácil, uma vez
que existem diversas barreiras que impedem a identificação e o tratamento adequado desses
transtornos, tanto no nível individual quanto ao nível do sistema de saúde e dos profissionais
de saúde (Prevatt; Desmarais, 2018).
Nesse estudo de Prevatt, uma porcentagem significativa de mulheres reportou diversos
tipos de barreiras que tornaram a busca de ajuda “impossível” ou “extremamente difícil”, dentre
elas a presença de estigmas, limitações de tempo para a investigação efetiva do estado

47
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
emocional e falta de motivação. Também foi identificado que mulheres desempregadas, com
histórico de problemas na saúde mental, estressadas, e ansiosas perceberam um maior número
de barreiras. Isso indica que justamente as mulheres mais necessitadas de tratamento são as que
percebem a maior quantidade de impedimentos para receber ajuda.
Por fim, a psicose pós-parto e o transtorno do estresse pós-traumático, embora mais
raras, são condições mais graves, mas que ainda sim apresentam prevalências relevantes
(SEYFRIED; MARCUS, 2009). O TEPT é especialmente relevante em casos de alto risco, em
que o sofrimento e as dificuldades enfrentadas podem ser extremamente traumáticos para a
saúde mental das mulheres após o parto (Henriques; Moraes, 2015). Wesseloo & Kamperman
(2016) demonstraram que o tratamento profilático imediatamente após o parto em mulheres
com histórico de psicose pós-parto diminuiu muito os riscos envolvidos. Portanto, esses
transtornos requerem a atenção, os cuidados e os tratamentos devidos para evitar desfechos
trágicos e possibilitar uma melhora significativa para a saúde mental dessas mulheres.

5. CONCLUSÃO OU CONSIDERAÇÕES FINAIS


O puerpério constitui uma das etapas de maior impacto na saúde mental da mulher,
devido às mudanças fisiológicas ocasionadas pela queda abrupta de hormônios femininos, e
psicológicas como o medo ao desconhecido sobre a maternidade. Essas mudanças podem
originar diversos distúrbios do humor no puerpério, tais como o baby blues, a depressão pós-
parto e a psicose puerperal, sendo este último, o distúrbio de maior gravidade. Dentro dos
sintomas que estes três distúrbios compartilham, podemos identificar o choro fácil, ansiedade,
sentimentos de tristeza, culpa, fadiga e irritabilidade, sendo que o baby blues costuma ser um
quadro mais leve e transitório, podendo melhorar espontaneamente. Já a depressão pós-parto é
caracterizada por pensamentos intrusivos e obsessivos sobre prejudicar o bebê e está
intimamente relacionada a sintomas de estresse durante a gestação, a diferença da psicose pós-
parto que geralmente cursa com alucinações, delírios, pensamento desorganizado e
comportamento impulsivo.
Em casos de alto risco, o transtorno de estresse pós-traumático pode ocorrer como uma
consequência dos traumas vividos, geralmente apresentando pensamentos ou memórias
intrusivas e pesadelos relacionados ao evento traumático, reações de negação e esquiva aos
estímulos que lembrem o trauma ou entorpecimento emocional, bem como hiperexcitabilidade,
que envolve reações exageradas como sustos ou estado constante de alerta.
É fundamental que as mulheres e suas famílias estejam cientes desses distúrbios de
humor pós-parto e recebam apoio adequado durante esse período de transição para a

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PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
maternidade. A identificação precoce dos sintomas, a busca por ajuda profissional e o acesso a
tratamentos adequados, como terapia e medicamentos quando necessário, são essenciais para
promover a recuperação da saúde mental e o bem-estar da mãe e do bebê, considerando que
atualmente existem diversas barreiras para a realização efetiva desses cuidados, a nível
individual e sistêmico. Além disso, é importante que haja uma rede de apoio social e familiar
que possa oferecer suporte emocional e prático durante esse momento desafiador da vida de
uma mulher.

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Psychiatry Volume 173, Issue 2, February 01, 2016, Pages 117-127
https://doi.org/10.1176/appi.ajp.2015.15010124

50
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
CAPÍTULO 5
ABORDAGEM ADEQUADA DA
GESTANTE COM LÚPUS
ERITEMATOSO SISTÊMICO: UMA
REVISÃO INTEGRATIVA DA
LITERATURA
PROPER APPROACH TO PREGNANT WOMEN WITH SYSTEMIC LUPUS
ERYTHEMATOSUS: AN INTEGRATIVE LITERATURE REVIEW

10.56161/sci.ed.20230913C5

Gustavo Rodrigues de Sousa


Universidade Federal de Goiás - Faculdade de Medicina
https://orcid.org/0009-0008-1041-5150

Leandro Custodio Amorim


Universidade Federal de Goiás - Faculdade de Medicina
https://orcid.org/0009-0007-2183-2622

Ruth Jacmin Quispe Ccapa


Universidade Federal de Goiás - Faculdade de Medicina
https://orcid.org/0009-0008-6517-6847

Ana Lívia Félix e Silva


Universidade Federal de Goiás - Faculdade de Medicina
https://orcid.org/0000-0002-7029-9277

Jônatas Pereira Bertholucci


Universidade Federal de Goiás - Faculdade de Medicina
https://orcid.org/ 0000-0002-1477-0431

Érika Carvalho de Aquino


Universidade Federal de Goiás – Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública
https://orcid.org/0000-0002-5659-0308

RESUMO

51
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
INTRODUÇÃO: As gestações de mulheres com lúpus eritematoso sistêmico (LES) ainda
apresentam um risco maior do que as da população feminina em geral, sendo de vital
importância o estudo sobre a abordagem adequada de gestação nesta população. MÉTODOS:
Visando elucidar o melhor manejo para esses pacientes, este estudo realizou uma busca na
literatura, pelo PubMed com os termos “approach”, “pregnancy” e “systemic lupus
erythematosus”. RESULTADOS E DISCUSSÃO: A ocorrência de surtos da doença sem
sintomas evidentes, como flare renal e trombocitopenia, justifica um monitoramento mais
rigoroso da gestação, que deve ser considerada de risco. Marcadores claros ainda não estão
estabelecidos, havendo apenas a recomendação da documentação de autoanticorpos
anteriormente à concepção. A periodicidade das consultas recomendadas é mensalmente entre
16 e 28 semanas, quinzenalmente entre 28 e 34 semanas e semanalmente a partir de 34 semanas.
Deve ser documentada, em cada consulta, a presença de sinais e sintomas de flares e de pré-
eclâmpsia, a pressão sanguínea, a uranálise dipstick, a altura uterina e os batimentos cardíacos
fetais. É importante que todas as mulheres com LES recebam baixas doses de ácido
acetilsalicílico e suplementação de cálcio para reduzir o risco de pré-eclâmpsia. Também é
recomendada a suplementação de ácido fólico, para prevenção de defeitos do tubo neural, e
vitamina D. Outras recomendações incluem cessação do tabagismo, interrupção do uso de
álcool, controle da obesidade, imunização, antes da gravidez, contra sarampo, caxumba e
rubéola, bem como triagem para hemoglobinopatias. Sobre as medicações, são listadas aquelas
seguras durante toda a gestação e lactação: hidroxicloroquina, azatioprina, ciclosporina e
tacrolimo. CONCLUSÃO: Em resumo, o manejo dessas gestações requer um cuidado
especializado e individualizado para reduzir o risco de complicações maternas e fetais. Mais
pesquisas são necessárias para aprimorar as estratégias de monitoramento, tratamento e
compreensão da fisiopatologia do LES durante a gestação.

PALAVRAS-CHAVE: Gestação; Lúpus Eritematoso Sistêmico.

ABSTRACT
INTRODUCTION: The pregnancies of women living with systemic lupus erythematosus
(SLE) are riskier than the general female population, which makes so vital the study of the
accurate management of these patients. METHODS: In order to elucidate the best management
possible, this paper did a literature review, through PubMed, with the terms “approach”,
“pregnancy” e “systemic lupus erythematosus”. RESULTS AND DISCUSSION: The disease
outbreaks without explicit symptoms, such as renal flare and thrombocytopenia, justifying the
strict monitoring this pregnancy requires. Accurate biomarkers still have not been established,
however there is a recommendation for registering the autoantibodies before the conception.
The appointments with the obstetrician should be monthly between 16 and 28 weeks, fortnightly
between 28 and 34 weeks and weekly after 34 weeks. It ought to be documented, at every
appointment, the presence of signs from flares, preeclampsia, blood pressure, urinalysis, uterine
height and fetal heart rate. Every patient with SLE receive low doses of aspirin and calcium
supplementation in order to reduce the risk of preeclampsia. It is also important to supplement
folic acid to prevent neural tube defects. Other recommendations include quitting tobacco
smoking, interrupting use of alcohol, controlling obesity, immunization before conception
against measles, mumps and rubella, besides screening for hemoglobinopathies. The safe
medications during pregnancy and lactation are: hydroxychloroquine, azathioprine,
cyclosporine and tacrolimus. CONCLUSION: In summary, the management of these
pregnancies requires specialized and individualized care with the aim of reducing the risk of
maternal and fetal complications. More research is needed to improve strategies for monitoring,
treatment and the knowledge of SLE physiopathology in pregnancy.

52
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
KEY-WORDS: Pregnancy; Systemic Lupus Erythematosus.

1 - INTRODUÇÃO

O lúpus eritematoso sistêmico (LES) é uma doença autoimune crônica, rara,


multissistêmica, que afeta predominantemente mulheres em idade reprodutiva, entre 15 e 45
anos. O LES é considerado o protótipo da doença autoimune que, ao ser predominante em
mulheres no início da idade adulta, afeta um dos processos mais inerentes e provavelmente mais
desejado dentro de esta população, como é a gravidez. Como se trata de um dos distúrbios mais
heterogêneos que podem afetar praticamente qualquer órgão ou sistema, espera-se que as
manifestações clínicas sejam as mais diversas, pois o curso da doença pode variar de quiescente
de longa duração a remissão crônica e recaída. Sendo que, a morbidade está relacionada à
atividade da doença e o acúmulo de danos crônicos (GALOPPINI et al., 2023).

Foi demonstrado que pacientes com LES têm famílias menores, provavelmente devido
a fatores como: atividade da doença ou medicamentos que causam atrasos na busca pela
gravidez, reserva ovariana diminuída, complicações na gravidez com falhas repetidas e
resultados desfavoráveis e medo das pacientes. Por essas razões, o planejamento familiar e a
saúde da mulher no momento da concepção é muito importante para um resultado bem-
sucedido. As políticas de saúde pública em todo o mundo promovem o aconselhamento pré-
gestacional para avaliar a saúde da mãe; para corrigir comportamentos de alto risco (tabagismo,
álcool ou consumo de substâncias ilícitas); realizar triagem para infecções, inclusive para várias
doenças transmissíveis, como HIV, Hepatite ou TORCH (Toxoplasma Gondii, Outros agentes,
Rubéola, Citomegalovírus, Vírus Herpes Simplex); recomendar uso de ácido fólico; ou para
verificar o estado de vacinação (SAULESCO et al., 2022).

Dentro dos riscos, em comparação com a população não lúpica, o LES demonstrou
estar associado a um risco aumentado de parto prematuro, cesariana, pré-eclâmpsia, baixo peso
ao nascer, restrição de crescimento intrauterino (RCIU), bloqueio cardíaco congênito (CHB) e
complicações intrauterinas, neonatais e morte. Sendo o parto prematuro, o resultado adverso
mais comum da gravidez em mulheres com LES, com incidência variando de 15% a 50% (em
oposição a 10% em mulheres não afetadas), com risco aumentado em mulheres com nefrite
lúpica ou alta atividade da doença. (KNIGHT; PIERCY, 2017)Entretanto, foi demonstrado
que, se as mulheres conceberam durante um período de quiescência da doença, será possível

53
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
minimizar o risco de exacerbação na gravidez, mas não eliminá-lo, devido às taxas de
exacerbação (20% e 40 %) em gestações concebidas durante um período de remissão. Além do
próprio curso da doença do LES que pode ser afetado negativamente pela gravidez, com maior
número de mulheres desenvolvendo surto de LES no período periparto (MCDONALD et al.,
2018).

Com uma evolução tão imprevisível, perseguir desejos normais, como uma vida social
ou familiar, pode ser muito desafiador. Um aspecto que deve ser abordado adequadamente ao
tratar pacientes com LES. Pois, hoje em dia pacientes do sexo feminino com LES podem ter
um curso de gravidez sem complicações com manejo e tempo adequados. No entanto, essas
gestações ainda apresentam um risco maior do que as da população feminina em geral, sendo
de vital importância o estudo sobre a abordagem adequada de gestação nesta população.

2 - METODOLOGIA

O estudo trata-se de uma revisão integrativa da literatura. Buscou-se responder à


pergunta "Em mulheres com Lúpus Eritematoso Sistêmico que estão grávidas, quais
intervenções apresentam melhores resultados no bem estar da paciente?", sendo essa questão
baseada no método PICO (Um acrônimo para População, Intervenção, Comparação e
“Outcomes” - desfecho), a qual considerou-se os seguintes termos: P= mulheres com LES
grávidas; I=possíveis intervenções; C= nenhuma intervenção; O= quais os impactos no bem
estar da paciente?. Com o objetivo de conhecer as atuais formas de condução do tratamento
dessas mulheres, realizou-se uma busca na base de dados PubMed com os descritores:
"approach"; "pregnancy"; "systemic lupus erythematosus", utilizando o operador booleano
"AND". Foram usados os filtros: intervalo de tempo entre 2013 e 2023, disponibilidade do texto
completo de forma gratuita e artigo do tipo revisão, sendo obtidos 21 resultados. Foram
excluídos artigos que não tratassem da gestação, artigos que tratassem recortes específicos
sobre a temática (por exemplo, avaliar isoladamente uma medicação ou uma manifestação da
doença) e artigos que tratassem de outras condições além da gestação. Posteriormente, foram
selecionados nove estudos os quais abordassem o seguimento clínico ou laboratorial da
gravidez em mulheres com lúpus. Após a leitura do texto completo, foram escolhidos três
artigos para compor o presente trabalho, dois dos quais exploraram de maneira mais objetiva
as necessidades das gestantes e um artigo que explorou novas possibilidades de tratamento
baseando-se na fisiopatologia.

54
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
3 - RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os artigos selecionados abordam diferentes aspectos relativos ao manejo de mulheres


com lúpus eritematoso sistêmico (LES) durante a gestação. McDonald et al.(2018) avaliaram,
em sua revisão sistemática de literatura, as evidências disponíveis sobre o monitoramento das
pacientes através de exames complementares e escores de atividade da doença. Knight e
Nelson-Piercy (2017) revisaram o manejo de gestantes com lúpus, definindo os desafios a serem
enfrentados, explorando as complicações maternas e fetais e recomendando a forma de
seguimento destas mulheres. Tavakolpour et al.(2016), estudaram o papel das mudanças das
populações de linfócitos T helper durante a gestação na evolução do lúpus, bem como novas
possibilidades terapêuticas. A Tabela 1 descreve os artigos selecionados para compor a presente
discussão.

Tabela 1 - Artigos selecionados

Título Autores Ano Tipo de estudo Conclusão

Monitoring of MCDONALD 2018 Revisão Poucos artigos abordam o


systemic lupus EG., et al. sistemática monitoramento adequado
erythematosus do lúpus. Há evidências
pregnancies: a para medida de anticorpos
systematic antifosfolípide, Doppler de
literature review artérias uterina e umbilical
e medida da atividade da
doença.

Management of KNIGHT CL; 2017 Revisão de Mulheres com lúpus


systemic lupus NELSON- literatura. possuem maior risco de
erythematosus PIERCY C. complicações durante a
during pregnancy: gestação. Estas gestantes
challenges and devem ser acompanhadas
solutions por obstetras,
reumatologistas e outros
profissionais especialistas
em gravidez de alto risco.
Deve haver
acompanhamento regular e
as medicações compatíveis
com a gestação devem ser
continuadas.

New insights into TAVAKOLPOUR 2016 Revisão de O desequilíbrio entre as


the management S; literatura. populações de linfócitos
of patients with Th1 e Th2 está associada à

55
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
autoimmune RAHIMZADEH patogênese das alterações
diseases or G. do lúpus durante a
inflammatory gestação, sugerindo novas
disorders during abordagens para o manejo.
pregnancy
Fonte: elaborado pelos próprios autores.

O lúpus eritematoso sistêmico (LES) tem maior incidência em mulheres em idade


reprodutiva, entre os 15 e os 45 anos, chegando a 1/1000. A doença acomete diversos órgãos e
sistemas, tendo grande impacto em gestantes. Comparando-se com mulheres sem a patologia,
grávidas com lúpus têm maior risco de prematuridade, necessidade de parto cesárea, pré-
eclâmpsia, baixo peso ao nascer, restrição de crescimento intrauterino (RCIU), bloqueio
cardíaco congênito, morte fetal e neonatal. A prematuridade varia entre 15 a 50%, em
comparação com mulheres não afetadas (10%), estando associada a diversas complicações
pediátricas. (MCDONALD et al., 2018)
Segundo McDonald et al.(2018), o risco de flares durante a gestação é reduzido quando
esta se inicia no período de remissão do LES, o que possui resultados conflitantes na literatura
(KNIGHT e NELSON-PIERCY, 2017). A ocorrência varia entre 20 e 40% e está associada a
maior morbidade materna e fetal.
A ocorrência de surtos da doença sem sintomas evidentes, como no caso de flare renal
e trombocitopenia, justifica um monitoramento mais rigoroso da gestação, que deve ser
considerada de risco. Marcadores claros ainda não estão estabelecidos, havendo apenas a
recomendação da documentação de autoanticorpos anteriormente à concepção. Portanto, mais
estudos são necessários para a definição de uma conduta adequada. (MCDONALD et al., 2018)
McDonald et al.(2018) conduziram também uma revisão sistemática da literatura com
o objetivo de avaliar as evidências disponíveis para a monitoração da gravidez de mulheres
lúpicas. Os artigos avaliados pelos autores não descreveram abordagens baseadas em
evidências sobre a frequência da avaliação dos marcadores sorológicos e da atividade da doença
(utilizando-se escores); da mesma maneira, a frequência dos exames Doppler de artérias uterina
e umbilical não foram baseados em evidências.
Quanto aos desfechos obstétricos, a atividade da doença (medida com base em escores)
a sorologia positiva para anticorpos antifosfolípide, níveis baixos de complemento e
anormalidades no Doppler de artérias uterina e umbilical, foram associados a desfechos pobres.
Tendo em vista seus achados, os autores sugerem benefícios no monitoramento dos
anticorpos antifosfolípide, anti-dsDNA, níveis de complemento, anti-Ro, anti-La antes da

56
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
concepção e no início da gestação. Quando suspeitado um flare, os anticorpos anti-dsDNA e
nível de complemento foram associados a piores desfechos, justificando sua avaliação.
Os exames complementares devem, segundo as evidências encontradas, ser combinados
com a avaliação de escores de avaliação da atividade do LES, como o Systemic Lupus
Erythematosus Disease Activity Index (SLEDAI), os quais também estão associados a pior
prognóstico quando alterados.
Em relação à avaliação Doppler das artérias uterina e umbilical, mesmo em mulheres
sem lúpus, a observação de alterações na velocidade diastólica final e sinais de resistência se
associaram à pré-eclâmpsia e morte fetal e neonatal. Assim, esta avaliação se mostra
especialmente importante em grávidas com LES, no segundo e terceiro trimestres de gestação,
bem como na suspeita de flares e a critério do médico assistente.
Knight e Nelson-Piercy (2017) abordaram os desafios durante a gestação e fizeram
recomendações quanto ao manejo, descrevendo também as complicações, as quais podem ser
maternas (como flares, piora da função renal, hipertensão, pré-eclâmpsia, tromboembolismo
venoso) ou fetais (como aborto, restrição de crescimento intrauterino, prematuridade ou
síndrome do lúpus neonatal (SLN)). Sugeriram a necessidade de um acompanhamento
multidisciplinar, incluindo um reumatologista e especialistas de acordo com o órgão acometido.
As autoras relataram as lesões de órgãos causadas pelo LES em mulheres grávidas. Foi
documentado um aumento nas lesões após a gravidez, relacionada ao grau de atividade da
doença antes da gestação, à presença de lesões anteriores e à duração da doença e da gravidez.
O fator mais relacionado foi o grau prévio da atividade.
Destacou-se a importância de um adequado planejamento das consultas pré-natais e pós-
natais. O cuidado deve ser feito por um obstetra, com pelo menos uma consulta com um
reumatologista com experiência em LES. A periodicidade das consultas recomendadas é
mensalmente entre 16 e 28 semanas, quinzenalmente entre 28 e 34 semanas e semanalmente a
partir de 34 semanas. Deve ser documentada, em cada consulta, a presença de sinais e sintomas
de flares e de pré-eclâmpsia, a pressão sanguínea, a uranálise dipstick, a altura uterina e os
batimentos cardíacos fetais. A triagem para diabetes mellitus gestacional (DMG) ocorre
conforme recomendação para todas as gestantes, com atenção especial para aquelas em uso de
corticosteróides e com história prévia de DMG. Exames complementares como hemograma
completo, função hepática e renal e exames sorológicos e marcadores de atividade (proteína C
reativa, anti-dsDNA, anticorpos e complemento) são recomendados antes e no início da
gestação. Na fase ativa do lúpus, recomenda-se a repetição dos exames a cada 4 a 8 semanas.

57
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
A realização de ultrassonografia não difere da recomendação usual de um exame por trimestre,
exceto em caso de flares ou outra descompensação.
Havendo possibilidade de se planejar a concepção, o artigo defende a estratificação de
risco baseando-se em exames laboratoriais, antecedentes patológicos, história obstétrica e
atividade do lúpus. Três situações podem ser encontradas: estado de remissão ou baixa
atividade, estado inicial (ou doença ativa) e doença com acometimento grave na função de
órgãos. Pacientes do primeiro grupo podem ser aconselhadas a engravidar, enquanto os dois
últimos grupos devem ser desencorajados até que haja remissão da doença, especialmente no
caso de acometimento grave.
A fase ativa do lúpus, com nefrite ou envolvimento cardiopulmonar, eleva o risco de
flares e de complicações obstétricas. A síndrome antifosfolípide (SAF) aumenta o risco de
tromboembolismo e de aborto/óbito fetal, devendo ser tratada com ácido acetilsalicílico
associado à heparina de baixo peso molecular em caso de história pregressa de
tromboembolismo ou de complicações obstétricas. A sorologia positiva para anti-Ro e anti-La
predispõe a bloqueio cardíaco congênito e síndrome do lúpus neonatal (SLN). Recomenda-se a
realização de ecocardiografia fetal entre 18 e 20 semanas e novamente entre 26 e 28 semanas,
com ausculta dos batimentos cardíacos fetais a cada uma ou duas semanas.
As autoras recomendam que todas as mulheres com LES sejam tratadas com baixas
doses de ácido acetilsalicílico e recebam suplementação de cálcio para reduzir o risco de pré-
eclâmpsia. Também é recomendada a suplementação de ácido fólico, para prevenção de
defeitos do tubo neural, e vitamina D. Outras recomendações incluem cessação do tabagismo,
interrupção do uso de álcool e outras drogas, controle da obesidade, imunização, antes da
gravidez, contra sarampo, caxumba e rubéola, bem como triagem para hemoglobinopatias.
Sobre as medicações, são listadas aquelas seguras durante toda a gestação e lactação:
hidroxicloroquina, azatioprina, ciclosporina e tacrolimo. A hidroxicloroquina demonstrou a
capacidade de prevenir lesões de órgãos, flares, redução da atividade do lúpus e aumento da
sobrevida (KNIGHT e NELSON-PIERCY, 2017). O objetivo do tratamento deve ser reduzir a
dose de corticosteróides. Para controle da fase ativa, corticosteróides são seguros, bem como
ácido acetilsalicílico e paracetamol. As medicações contraindicadas durante gravidez e lactação
são o metotrexato, micofenolato de mofetila e ciclofosfamida.
Os flares são tratados de acordo com a gravidade. Casos leves podem ser tratados com
hidroxicloroquina ou baixas doses de corticoides orais, casos moderados a graves podem ser
tratados com metilprednisolona endovenosa ou altas doses de corticoides orais, seguido de

58
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
baixas doses de manutenção em associação com imunossupressores. Em casos mais graves,
deve ser considerada a possibilidade de interrupção da gestação.
O tratamento da hipertensão pode ser feito com labetalol, metildopa, hidralazina ou
doxazosina. Devem ser interrompidos inibidores da enzima conversora de angiotensina ou
bloqueadores do receptor de angiotensina II.
Quanto à fisiopatologia, em sua revisão, Tavakolpour et al.(2016), relatam a ocorrência
da mudança da população de linfócitos Th1 e Th2 durante a gestação por conta de citocinas
maternas, além do aumento do número de linfócitos T reguladores (Tregs). A razão Th1:Th2
diminui, favorecendo uma resposta dominada pela segunda população em detrimento da
primeira. Em doenças autoimunes em que se prepondera a resposta Th1, como artrite
reumatóide, esclerose múltipla e psoríase, é esperado melhora. Entretanto, em doenças em que
ocorre domínio de uma resposta Th2, como no caso da asma, do pênfigo e do lúpus eritematoso
sistêmico, pode não haver melhor evolução. O aumento do número de linfócitos T reguladores
é benéfico, embora sua função possa estar prejudicada, havendo necessidade de mais estudos
para estabelecer sua relação com o curso das doenças autoimunes durante a gestação. O papel
dos linfócitos Th17 não é perfeitamente compreendido, especialmente quanto a influência de
suas alterações em mulheres grávidas.
Existem estudos que relacionam o domínio de células Th1 com a ocorrência de abortos,
enquantos outros estudos relacionam o domínio de células Th2. Portanto, o equilíbrio adequado
das duas populações possui importância na manutenção da gravidez. Quanto às células T
reguladoras, acredita-se que desempenhem papel importante para a redução do risco de aborto
e morte fetal. O papel das células Th17, bem como suas alterações durante a gestação
permanecem pouco compreendidos. Nas doenças autoimunes com predomínio de resposta Th2,
como o lúpus eritematoso sistêmico, são esperadas pioras no curso da doença durante a
gestação.
Drogas que interfiram na resposta Th2, tendo como alvo a IL-4, podem ser úteis no
manejo do LES, embora mais estudos quanto a segurança durante a gestação precisem ser
realizados, uma vez que o desbalanço entre as populações de linfócitos T helper possam levar
a abortos, embora nenhum caso tenha sido documentado. O dupilumabe, antagonista dos
receptores IL-4Rα, já mostrou resultados positivos em outras doenças imunomediadas com
predomínio Th2, como dermatite atópica e asma.
Outras populações de células T helper menos estudadas podem também desempenhar
papel importante na fisiopatologia do LES, havendo necessidade de maior compreensão sobre
estas populações para o desenvolvimento de novas drogas. (TAVAKOLPOUR, 2016).

59
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
4 - CONCLUSÃO
A gestação em mulheres com LES apresenta riscos aumentados de complicações, como
prematuridade, pré-eclâmpsia, restrição de crescimento intrauterino e morte fetal. O momento
em que a gravidez ocorre em relação à atividade da doença pode influenciar o risco de flares,
sendo recomendado que a gestação seja planejada durante períodos de remissão.
O monitoramento adequado durante a gravidez é essencial para identificar sinais de
atividade da doença e complicações obstétricas. Os exames complementares, juntamente com
escores de atividade do LES, podem auxiliar nesse monitoramento. Além disso, a avaliação do
fluxo sanguíneo por meio da ultrassonografia Doppler das artérias uterina e umbilical é
importante para detectar alterações que possam indicar risco de pré-eclâmpsia e outras
complicações.
Em resumo, o manejo de mulheres com LES durante a gestação requer um cuidado
especializado e individualizado para reduzir o risco de complicações maternas e fetais. Mais
pesquisas são necessárias para aprimorar as estratégias de monitoramento, tratamento e
compreensão da fisiopatologia do LES durante a gestação.

REFERÊNCIAS

GALOPPINI G., et al. Optimizing Patient Care: a systematic review of multidisciplinary


approaches for SLE management. J Clin Med, v. 12, n. 12, p. 4059, 2023.

KNIGHT CL; NELSON-PIERCY C. Management of systemic lupus erythematosus during


pregnancy: challenges and solutions. Open Access Rheumatol, v. 10, n. 9, p. 53, 2017.

MCDONALD EG., et al. Monitoring of systemic lupus erythematosus pregnancies: a


systematic literature review. J Rheumatol, v. 45, n. 10, p. 1477-1490, 2018.

SAULESCU IC., et al. Preparing for pregnancy in women with systemic lupus erythematosus
- a multidisciplinary approach. Medicina (Kaunas), v. 58, n. 10, p. 1371, 2022.

TAVAKOLPOUR S; RAHIMZADEH G. New insights into the management of patients with


autoimmune diseases or inflammatory disorders during pregnancy. Scand J Immunol, v. 84,
n. 3, p. 146-149, 2016.

60
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
CAPÍTULO 6
ANOMALIAS MÜLLERIANAS
UTERINAS E SUA RELAÇÃO COM O
SUCESSO DA GESTAÇÃO: UMA
REVISÃO DE LITERATURA
MÜLLERIAN ANOMALIES AND THEIR RELATIONSHIP WITH THE SUCCESS
OF PREGNANCY: A LITERATURE REVIEW.

10.56161/sci.ed.20230913C6

Allana Maria Newton Arruda


Afiliação institucional recente: Discente de Medicina do Centro Universitário CESMAC,
Maceió-AL.
Orcid ID do autor: (https://orcid.org/0009-0008-2346-8956)

Áthina Karla Vieira Nunes Beserra


Afiliação institucional recente: Discente de Medicina do Centro Universitário CESMAC,
Maceió-AL.
Orcid ID do autor: (https://orcid.org/0009-0003-6147-8972)

Juliana Ester Ribeiro Carvalho


Afiliação institucional recente: Discente de Medicina do Centro Universitário CESMAC,
Maceió-AL.
Orcid ID do autor: (https://orcid.org/0009-0008-6028-7329)

Valleska Maria Leao Pessoa


Afiliação institucional recente: Discente de Medicina do Centro Universitário CESMAC,
Maceió-AL.
Orcid ID do autor: (https://orcid.org/0009-0002-0635-1509)

Rodrigo Carvalho de Oliveira Macedo


Afiliação institucional recente: Médico pelo Centro Universitário Tiradentes, Maceió-AL.
Orcid ID do orientador: (https://orcid.org/0009-0008-5220-655X)

RESUMO

61
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Objetivo: Investigar se existem problemas de fertilidade e gestacionais decorrentes das
anomalias müllerianas uterinas congênitas (AMUC). Metodologia: Foi realizada uma revisão
sistemática de literatura. Todos os materiais foram coletados por meio do Medline via PubMed.
A coleta de dados foi realizada através da seguinte estratégia de busca: “congenital uterine
abnormality AND fertility AND pregnancy”. Obtiveram-se 40 resultados, de modo que, a partir
destes, 11 foram selecionados pelo título. Os critérios de inclusão aplicados foram: artigos em
português e inglês; e estudos publicados nos últimos 5 anos. Ademais, foram excluídos todos
os estudos que, no título, abordassem apenas sobre tratamento das AMUC, que apresentarem
alguma patologia associada à malformação, artigos que não contemplassem o objetivo do
estudo e estudos que não traziam o texto na íntegra. Portanto, foram obtidos 5 artigos como
amostra final. Resultados: As AMUC estão associadas a taxas mais altas de parto prematuro,
de modo que a incidência varia de acordo com o tipo de AMUC. Além disso, também é
observado a presença de ruptura prematura de membranas, má apresentação fetal no parto e
mortalidade perinatal, adicionado à microssomia fetal, aborto espontâneo, insuficiência
cervical, gravidez placentária e ectópica, e portanto, dificuldades de fertilidade e reprodução.
Outro achado é que a incidência de AMUC em pacientes com infertilidade e perdas gestacionais
recorrentes é de aproximadamente 25%. Conclusão: As AMUC influem significativamente na
fertilidade e no sucesso da gestação. As AMUC como útero septado, útero bicorno, útero
unicorno, útero didelfo, útero arqueado e útero em forma de T, estão associadas a complicações
obstétricas, infertilidade e aborto espontâneo, em que a incidência depende do tipo da anomalia.
Dessarte, o diagnóstico precoce e preciso, somado à uma abordagem individualizada e um
plano de tratamento adequado, são fundamentais para otimizar os resultados reprodutivos nas
pacientes que apresentem alguma anomalia mülleriana.

PALAVRAS-CHAVE: Anomalias de Duplicação do Útero; Fertilidade; Saúde da mulher.

ABSTRACT
Objective: Investigate whether there are fertility and gestational problems resulting from
congenital uterine mullerian anomalies (CUMA). Methodology: A systematic literature review
was performed. All materials were collected through Medline via PubMed. Data collection was
performed by using the following search strategy: “congenital uterine abnormality AND
fertility AND pregnancy”. 40 results were obtained, so that, from these, 11 were selected by
title. The inclusion criteria applied were: articles in Portuguese and English; and studies
published in the last 5 years. In addition, for all studies that, in the title, addressed only the
treatment of CUMA, that presented some pathology associated with the malformation, articles
that did not contemplate the objective of the study and studies that did not bring the text in full
were excluded. Therefore, 5 articles were obtained as a final sample. Results: CUMA are
associated with higher rates of preterm birth, so the incidence varies according to the type of
CUMA. In addition, the presence of premature rupture of membranes, fetal malpresentation at
delivery and perinatal mortality are also observed, in addition to fetal microsomia, spontaneous
abortion, cervical insufficiency, placental and ectopic pregnancy, and therefore, fertility and
reproduction difficulties. Another finding is that the incidence of CUMA in patients with
infertility and recurrent pregnancy loss is approximately 25%. Conclusion: CUMA
significantly influences fertility and pregnancy success. CUMA such as septate uterus,
bicornuate uterus, unicornuate uterus, didelphic uterus, arcuate uterus and T-shaped uterus, are
associated with obstetric complications, infertility and miscarriage, which the incidence
depends on the type of anomaly. Therefore, an early and accurate diagnosis, together with an
individualized approach and an adequate treatment plan, are fundamental to optimize the
reproductive results in patients who present some Müllerian anomaly.

62
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
KEYWORDS: Uterine Duplication Anomalies; Fertility; Women’s health.

1 INTRODUÇÃO
Anomalias müllerianas congênitas são malformações da anatomia do sistema
reprodutor feminino decorrentes do desenvolvimento anormal dos ductos paramesonéfricos -
também chamados de ductos müllerianos -, durante o período embrionário. Essas variações
afetam aproximadamente 7% da população geral mundial. Devido à atuação do estrogênio, no
período embriológico, os ductos paramesonéfricos se fusionam, de modo a formar o canal
uterino, o corpo e o colo do útero, assim como a porção cranial da vagina. Em contrapartida,
devido a um processo de fusão defeituosa, seja uma ausência de fusão apenas em uma área ou
em todo o seu comprimento, o útero apresenta defeitos anatômicos, estes chamados de
anomalias mullërianas uterinas congênitas (AMUC). Das variações uterinas decorrentes desse
processo embriológico defeituoso, temos: agenesia uterina, útero didelfo, útero arqueado, útero
bicorno, útero unicorno, útero septado e útero em forma de “T” (HOSSEINIRAD, 2021).
Apesar de serem alterações anatômicas que, em geral, são assintomáticas, estas
malformações são de suma importância clínica pois estão associadas a várias implicações na
saúde reprodutiva das portadoras, além de poderem estar acompanhadas de outras
anormalidades no organismo das mesmas (HOSSEINIRAD, 2021). Dessa forma, devido à
ausência de sintomas queixados pelas portadoras, seu diagnóstico é, muitas vezes, acidental.
Alguns exames de imagem que possibilitam a identificação das AMUC são: USG
transabdominal bidimensional (2D) e USG endovaginal, sendo ambos a primeira linha de
exames de imagem para avaliação do sistema reprodutor feminino, USG tridimensional (3D),
útil para avaliar o contorno externo do fundo uterino, RM, utilizada para avaliação de anomalias
complexas ou quando há distorção anatômica (como em casos de endometriose, cirurgia prévia
ou trauma), sequências rápidas de RM spin-eco ponderadas em T2 em planos ortogonais e
imagens volumétricas de RM 3D ponderadas em T2. Além dessas, há a realização da
histerossalpingografia, a qual é considerada padrão ouro para avaliação da permeabilidade das
tubas uterinas em pacientes com infertilidade (SUGI, 2021).

2 MATERIAIS E MÉTODOS

63
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Este estudo foi realizado através de uma revisão sistemática de literatura. Os materiais
foram coletados por meio do Medline via PubMed. A coleta de dados foi realizada com a
seguinte estratégia de busca: “congenital uterine abnormality AND fertility AND pregnancy”.
Foram encontrados 40 resultados, dos quais 11 foram selecionados pelo título. Ao serem
aplicados os critérios de inclusão e exclusão, foram obtidos 5 artigos. Os critérios de inclusão
foram: a) artigos em português e inglês; e b) estudos publicados nos últimos 5 anos. Foram
excluídos todos os estudos que abordassem apenas sobre tratamento das anomalias müllerianas
no título, sobre alguma patologia associada à malformação, artigos que não contemplam o
objetivo do estudo e estudos que não traziam o texto na íntegra. Dessa forma, foram obtidos 5
artigos como amostra final para elaboração do material.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Em pacientes que apresentam infertilidade e perdas gestacionais recorrentes, a
incidência de presença de uma anomalia mülleriana é de cerca de 25% dos casos. Desse modo,
as anomalias müllerianas congênitas (figura 1) estão associadas a taxas mais altas de parto
prematuro (inferior a 37 semanas), a qual a incidência varia de acordo com o tipo de anomalia
uterina, variando de septadas (31%), bicorneas (39%), unicornas (43%) a didelfo (56%). Além
disso, também podem ser observadas em pacientes portadoras dessas anomalias presença de
ruptura prematura de membranas, má apresentação fetal no parto e mortalidade perinatal
(SUGI, 2021), além de baixo crescimento fetal, aborto espontâneo, insuficiência cervical,
gravidez placentária e ectópica, e portanto, dificuldades de fertilidade e reprodução (MIKOS,
2020).
As anomalias do sistema Mülleriano se apresentam classificadas em 6 grupos
principais, pelas classes 0 a VI, segundo os critérios da ESHRE/ESGE (Sociedade Europeia de
Reprodução Humana e Embriologia/Sociedade Europeia de Endoscopia Ginecológica), estando
incluídas na classificação, útero normal (0), útero dismórfico (I) e suas subclassificações em T
e infantil, útero septado (II) e suas subclassificações parcial e completo, útero bicorno (III) e
suas subclassificações parcial, completo e septado, útero unicorno ou hemi-útero (IV) e suas
duas subclassificações de corno rudimentar com cavidade e corno rudimentar sem cavidade ou
aplásico (sem corno), útero aplásico e suas duas subclassificações de corno rudimentar com
cavidade (bi ou unilateral) e corno rudimentar sem cavidade (bi ou unilateral) ou aplásico (sem
corno), e útero sem classificação (VI) (HOSSEINIRAD, 2021).
Além disso, as anomalias müllerianas congênitas estão associadas a taxas mais altas
de parto prematuro, variando de acordo com o tipo de anomalia uterina. Por exemplo, a

64
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
incidência de parto prematuro é de 31% em casos de útero septado, 39% em útero bicorno, 43%
em útero unicorno e 56% em útero didelfo. Outrossim, essas anomalias podem levar a
complicações como ruptura prematura de membranas, má apresentação fetal no parto,
mortalidade perinatal, baixo crescimento fetal, aborto espontâneo, insuficiência cervical,
gravidez placentária e ectópica, dificuldades de fertilidade e reprodução (HOSSEINIRAD,
2021).
No caso do útero unicorno (figura 2), onde um dos cornos se desenvolve normalmente
e o outro fica rudimentar, o lado dominante apresenta uma cavidade uterina saudável e
funcional, permitindo gestações de sucesso em cerca de um terço dos casos. No entanto, mais
da metade das portadoras de útero unicorno apresentam parto prematuro, uma pequena
porcentagem tem gestação ectópica e são frequentes a perda precoce gestacional, mortalidade
perinatal, baixas taxas de gravidez, baixo peso do nascituro, alto risco de aborto e parto
prematuro, e a ocorrência de natimortos. Gestações ectópicas ou gestações no corno rudimentar
também são relatadas, embora menos comuns (HOSSEINIRAD, 2021).
O útero didelfo é uma malformação congênita caracterizada pela presença de dois
úteros completos, com duas vaginas e dois colos uterinos. Embora a eficiência da fertilidade
seja considerada fraca, as mulheres com útero didelfo têm um desempenho reprodutivo
relativamente melhor do que aquelas com outras malformações müllerianas, como útero
septado ou bicorno. No entanto, elas têm um risco aumentado de aborto espontâneo, retardo do
crescimento intrauterino e parto prematuro. Embora casos de gestações bem-sucedidas sejam
raros, há relatos de capacidade de um dos úteros em levar gestações de gêmeos e trigêmeos. As
taxas de prematuridade são mais altas em mulheres com útero didelfo em comparação com
outras anomalias do ducto de Müller (HOSSEINIRAD, 2021).
O útero bicorno é uma malformação congênita em que os ductos müllerianos não se
fundem adequadamente durante o desenvolvimento fetal, resultando em duas cavidades
uterinas. Essa condição está associada a infertilidade e aborto espontâneo. Mulheres com útero
bicorno têm maior risco de complicações durante a gravidez, como ruptura prematura de
membranas, separação prematura da placenta, parto prematuro e restrição de crescimento
intrauterino. A malformação também pode levar a rupturas uterinas e incompetência cervical.
No entanto, existem relatos de gestações bem-sucedidas nesses casos. O manejo das gestações
em útero bicorno requer cuidado e personalização devido aos riscos envolvidos
(HOSSEINIRAD, 2021).
O útero septado é uma malformação uterina comum, representando 35% dos casos.
Caracteriza-se pela presença de um septo que divide o útero em duas cavidades. Isso pode levar

65
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
a complicações obstétricas, aborto recorrente, infertilidade e parto prematuro. A ressecção
histeroscópica do septo é recomendada para melhorar os resultados reprodutivos em mulheres
com histórico de aborto espontâneo ou parto prematuro. A eficácia das intervenções de
reprodução assistida para pacientes com útero septado ainda não foi amplamente estudada, mas
estudos indicam resultados semelhantes aos de mulheres com útero normal. A correção do útero
septado pode melhorar as taxas de gravidez e nascidos vivos, reduzindo o risco de aborto
espontâneo. O procedimento é relativamente simples e apresenta poucas complicações pós-
operatórias (HOSSEINIRAD, 2021). Observa-se ainda que, em comparação às demais
anomalias, o útero septado apresenta maior risco relativo de aborto espontâneo durante o
primeiro e segundo trimestre de gestação (SUGI, 2021).
O útero arqueado é uma leve anomalia uterina que geralmente não afeta negativamente
os resultados reprodutivos. Embora seja semelhante ao útero septado, as distinções entre eles
não são claras. Alguns relatos associaram o útero arqueado a um maior risco de aborto
espontâneo e parto prematuro, embora o mecanismo subjacente a essas complicações não seja
bem compreendido. As diretrizes para o manejo do útero arqueado, especialmente em casos de
perda gestacional recorrente, não estão consolidadas. A ressecção histeroscópica do septo pode
ser considerada em casos de infertilidade primária ou secundária em pacientes com útero
arqueado antes de buscar tratamentos de fertilidade. Estudos divergem em relação aos
resultados reprodutivos, e portanto, são necessárias pesquisas longitudinais com populações
maiores para obter dados mais precisos sobre a incidência do útero arqueado e suas
complicações na população em geral (HOSSEINIRAD, 2021).
O útero em forma de T, uma subclassificação do útero dismórfico, é uma malformação
uterina que ocorre em mulheres expostas ao dietilestilbestrol (DES) durante o desenvolvimento
fetal. É uma condição rara em indivíduos não expostos ao DES. Essa anomalia está associada
a reduções nas taxas de gravidez, implantação e gravidez a termo, além de um aumento nas
taxas de aborto espontâneo. Os efeitos colaterais do DES parecem estar limitados ao útero. A
cavidade endometrial do útero em forma de T é fina e pode ser identificada com mais facilidade
por meio de histerossalpingografia. A metroplastia histeroscópica pode ser considerada para
melhorar as taxas de nascidos vivos em pacientes com útero em forma de T, mas não trata a
infertilidade (HOSSEINIRAD, 2021).

Figura 1 - Tipos de anomalias müllerianas uterinas

66
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Fonte: Hosseinirad, 2021.

Figura 2 - Anomalias müllerianas uterinas em ressonância nuclear magnética.

Fonte: Sugi, 2021.

4 CONCLUSÃO
Em conclusão, as anomalias müllerianas uterinas têm um impacto significativo na
fertilidade e no sucesso da gestação. Dessa forma, o diagnóstico precoce e preciso, juntamente
com uma abordagem individualizada e um plano de tratamento adequado, são fundamentais
para otimizar os resultados reprodutivos nessas pacientes. Entretanto, mais pesquisas são
necessárias para aprofundar o entendimento sobre essas anomalias e desenvolver estratégias de
tratamento mais eficazes.
Anomalias uterinas, como útero septado, útero bicorno, útero unicorno, útero didelfo,
útero arqueado e útero em forma de T, estão associadas a complicações obstétricas, infertilidade
e aborto espontâneo, em que a incidência pode se apresentar como maior ou menor a depender
do tipo de anomalia.

67
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Quanto a opções de tratamentos, esses variam entre as AMUC. Assim, foram obtidos
dados que confirmam a potencialidade da ressecção histeroscópica em melhorar os resultados
reprodutivos em alguns casos, como na presença de úteros arqueado e septado, o que pode
reduzir as chances de ocorrência de um aborto espontâneo. Todavia, quanto aos processos de
reprodução assistida, faz-se necessária a realização de mais estudos por apresentar resultados
inconclusivos ou divergentes para alguns tipos de anomalias, entretanto, como no caso do útero
septado, pode-se relatar, com os estudos até então realizados, que as taxas de sucesso desses
métodos são similares às de uma paciente que não apresente anomalias uterinas.
Portanto, é válido ressaltar que é de suma importância considerar cada caso
individualmente, para assim buscar pelo manejo mais adequado, de modo a melhorar as chances
de sucesso da gravidez e reduzir complicações.

REFERÊNCIAS
SADLER, embriologia médica de Thomas W. Langman. Lippincott Williams & Wilkins,
2022.

HOSSEINIRAD, Hossein et al. O impacto das anomalias uterinas congênitas na gravidez e na


fertilidade: uma revisão da literatura. Reprodução Assistida JBRA, v. 25, n. 4, pág. 608, 2021.

CSÖBÖNYEIOVÁ, Mária et al. Visão geral das variações anatômicas e anomalias congênitas
das trompas uterinas e seu impacto na fertilidade. Pesquisa Fisiológica, v. 71, n. 6 Suplemento
1, p. S35, 2022.

SUGI, Mark D. Müllerian Duct Anomalies: Role in Fertility and Pregnancy. RadioGraphics,
[s. l.], v. 41, ed. 6, 1 out. 2021. DOI 10.1148/rg.2021210022. Disponível em:
https://pubs.rsna.org/doi/10.1148/rg.2021210022. Acesso em: 10 jul. 2023.

MIKOS, Themistoklis. Current knowledge about the management of congenital cervical


malformations: a literature review. American Society for Reproductive Medicine: Fertility
and Sterility, [s. l.], 2020. DOI 10.1016/j.fertnstert.2020.02.006. Disponível em:
https://www.fertstert.org/article/S0015-0282(20)30098-4/fulltext. Acesso em: 12 jul. 2023.

68
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
CAPÍTULO 7
ASPECTOS PSÍQUICOS DO
PUERPÉRIO: UM OLHAR SOBRE
BABY BLUES E DEPRESSÃO PÓS-
PARTO
PSYCHIC ASPECTS OF THE PUERPERIUM: A LOOK AT BABY BLUES AND
POSTPARTUM DEPRESSION

10.56161/sci.ed.20230913C7

Hugo Sávio Beserra Barreto (Autor)


Discente no Curso de Medicina – UNINASSAU, Boa Viagem
Orcid ID: https://orcid.org/0009-0009-5542-2845

Paulo José Tavares de Lima (Orientador)


Docente no Curso de Medicina – UNINASSAU, Boa Viagem
Orcid ID: https://orcid.org/0009-0003-7427-8371

RESUMO
O capítulo a seguir traz uma discussão sobre a jornada emocional e psicológica vivenciada pelas
mulheres no período pós-parto. As alterações físicas e biológicas que ocorrem no corpo
acarretam numa diversidade de emoções e sentimentos, que vão desde a alegria pela chegada
do filho até as inseguranças provocadas pela responsabilidade que cuidar de uma nova vida
proporciona. Nesse sentido, surgem duas condições psiquiátricas específicas e pertinentes à
saúde mental da mulher nessa fase da vida: o Baby Blues e a Depressão Pós-Parto (DPP). Sendo
a primeira uma condição temporária, enquanto a segunda requer cuidados e interferências mais
precisas. Fatores de risco para ambas as condições são discutidos ao longo do texto, tais como:
história de transtornos de humor, genética e falta de apoio social e familiar. Para a realização
da pesquisa, e consequente embasamento científico da mesma, buscou-se bibliografia
abrangente, selecionando artigos revisados e publicados na plataforma PubMed, bem como no
Compêndio de Psiquiatria Brasileiro. Os resultados poderão ser observados ao longo do texto,
uma vez que ficarão demonstradas as diferenças entre ambos os quadros clínicos em estudo.
Portanto, observa-se que o apoio à mãe durante a gestação e ao fim dela é de fundamental
importância para ajudá-la a passar pelo puerpério da forma mais saudável possível. Assim
sendo, a conscientização sobre essas condições deve ser cada vez mais difundida, garantindo

69
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
que a mulher tenha acesso ao suporte adequado, podendo aproveitar melhor a fase que se inicia,
sem sofrer com as limitações ocasionadas pelos medos naturais provocados pela maternidade.
Cuidar de uma nova vida e lidar com as alterações sofridas pelo corpo não precisa ser um
processo estressante, é possível garantir a puérpera qualidade de vida e bem-estar emocional.
PALAVRAS-CHAVE: Transtornos Puerperais; Depressão Pós-Parto; Puerpério.

ABSTRACT
The following chapter discusses the emotional and psychological journey experienced by
women in the postpartum period. The physical and biological changes that occur in the body,
lead to a variety of emotions and feelings, ranging from joy at the arrival of the child to the
insecurities caused by the responsibility that caring for a new life provides.
In this sense, two specific psychiatric conditions that are relevant to the mental health of women
at this stage of life arise: Baby Blues and Postpartum Depression (PPD). The first being a
temporary condition, while the second requires more precise care and interference.
Risk factors for both conditions are discussed throughout the text, such as: history of mood
disorders, genetics, and lack of social and family support.
To carry out the research, and its consequent scientific basis, a comprehensive bibliography
was sought, selecting articles reviewed and published on the PubMed platform, as well as in
the Compendium of Brazilian Psychiatry. The results can be observed throughout the text, since
the differences between both clinical conditions under study will be demonstrated.
Therefore, it is observed that supporting the mother during pregnancy and at the end of it is of
fundamental importance to help her go through the puerperium in the healthiest possible way.
Therefore, awareness of these conditions should be increasingly widespread, ensuring that
women have access to adequate support, being able to better enjoy the phase that begins,
without suffering from the limitations caused by the natural fears caused by motherhood.
Taking care of a new life and dealing with the changes suffered by the body does not have to
be a stressful process, it is possible to guarantee the puerperal quality of life and emotional well-
being.
KEYWORDS: Puerperal Disorders; Depression, Postpartum; Postpartum Period.

1. INTRODUÇÃO
A maternidade costuma ser uma jornada de emoções, experiências e sentimentos para
as mulheres. Enquanto o corpo feminino atravessa um oceano de mudanças fisiológicas e
hormonais para receber uma vida, a nova mãe experiencia diversas sensações. Por isso, é
comum que no puerpério a mulher vivencie muitos sentimentos que vão desde a alegria pela
chegada do bebê até a insegurança pelos desafios que estão a sua frente. No entanto, para
algumas, essa fase envolve questões emocionais ainda mais complexas, podendo acontecer
situações conhecidas como Baby Blues e Depressão Pós-Parto (DPP), que são duas condições
completamente diferentes (TOSTO et al., 2023).
Neste capítulo será possível trabalhar um pouco sobre o que representa cada uma
dessas duas condições, bem como suas características, diferenças, critérios diagnósticos e
tratamento. Ademais, também serão levados em conta fatores além do clínico, atentando-se à
influência que o ambiente no qual a mulher está inserida pode favorecer no desenvolvimento

70
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
de cada um dos mencionados quadros. Apesar disso, cumpre destacar de antemão que nem
sempre um meio estressante provoca na gestante ou puérperao desenvolvimento de baby blues
ou depressão pós-parto. Entretanto, a pré-disposição genética pode ser, em muitos casos, a
causa mais aparente e direta para o surgimento das mencionadas condições (FIGUEIREDO,
2016).
Assim sendo, este capítulo buscará discutir, tendo como embasamento a literatura, as
mudanças biológicas sofridas pela mulher no decorrer da gestação até o puerpério e os efeitos
dessas alterações hormonais na saúde mental da mesma, visando identificar e discutir os
quadros clínicos mais comuns dessa fase, sendo eles o baby blues e a depressão pós-parto
Após o parto os níveis de vários hormônios sofrem oscilações, a progesterona
despenca entre a dilatação e expulsão do bebê, e os níveis de estrogênio caem após a dequitação.
A prolactina aumenta progressivamente ao longo da gravidez, mas ela é bloqueada pelo
estrogênio enquanto a placenta ainda estiver no útero. O cortisol, conhecido como hormônio do
estresse, aumenta tanto no sangue quanto na urina durante a gestação, mas diminuem
rapidamente após o parto. Outras alterações incluem a função da glândula tireoide, secretora de
T3 e T4, o peso corporal e os Íons corporais. Mas o quanto essas mudanças refletem variações
no humor ainda não é claramente entendido (ROBINSON; STWEART, 1986).
Nesse cenário de mudanças fisiológicas, a maternidade desperta muitos estresses
psicológicos. A mãe terá de lidar com mudanças no seu corpo, com o relacionamento com o
parceiro e outros familiares, novas responsabilidades, bem como seu papel na sociedade agora
como mãe. Muitas inseguranças surgem ao assumir todas essas condições, e o medo de perder
sua identidade é comum. Ter um filho poderá levar a novos desafios como dificuldades com as
finanças ou com moradia e pode fragilizar até mesmo um relacionamento estável (ROBINSON;
STWEART, 1986).
Portanto, pode se afirmar que as condições psiquiátricas em questão envolvem uma
série de fatores ainda não foram tão bem esclarecidos pela literatura como em outros transtornos
psiquiátricos, embora já sejam quadros com critérios clínicos bem entendidos e
delimitados.Mais à frente, será possível explorar cada um deles de forma aprofundada e bem
fundamentada (COUTO et al., 2015).

2. MATERIAIS E MÉTODOS
Foi utilizado o método de pesquisa qualitativa. O estudo parte de uma revisão
bibliográfica, ressaltando os temas trazidos em evidência. Este capítulo foi construído tendo
como base uma revisão de nove artigos científicos obtidos em busca realizada na plataforma

71
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
PUBMED. Foram utilizadas as palavras-chave "Baby Blues" e "Depressão Pós-Parto" para
identificar publicações diretamente relacionadas à temática aqui trabalhada. A seleção dos
artigos incluiu trabalhos publicados e revisados por pares, que fornecessem informações
atualizadas, embasadas em evidências científicas e relevantes para a compreensão do Baby
Blues e da Depressão Pós-Parto. A pesquisa restringiu-se a artigos publicados em inglês,
analisando estudos realizados em diferentes países e contextos.
Além disso, para garantir uma perspectiva específica sobre o cenário brasileiro, foram
realizadas consultas na versão mais recente do compêndio de psiquiatria brasileiro. Esse
material foi utilizado para complementar e contextualizar as informações encontradas na
literatura internacional, fornecendo uma visão mais abrangente das questões relacionadas ao
Baby Blues e à Depressão Pós-Parto no contexto nacional.
As informações e dados coletados a partir dos artigos científicos foram
cuidadosamente analisados, comparados e sintetizados para oferecer uma visão atualizada e
embasada sobre essas condições. O objetivo foi fornecer uma base sólida de conhecimento,
permitindo que o capítulo oferecesse informações precisas, resumidas e relevantes para
profissionais de saúde, pesquisadores, estudantes e qualquer pessoa interessada no assunto.
Ao longo do capítulo, serão citadas as fontes das informações para garantir a devida
credibilidade e referência aos estudos que contribuíram para o desenvolvimento do conteúdo.
As informações obtidas por meio da pesquisa de artigos científicos foram essenciais para a
compreensão aprofundada do Baby Blues e da Depressão Pós-Parto, proporcionando uma base
sólida para a abordagem dessas questões complexas e relevantes para a saúde materna e o
desenvolvimento infantil.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1.BABY BLUES
O Baby Blues, também conhecido como “blues pós-parto”, “blues do terceiro dia”,
“síndrome do terceiro dia”, “blues do bebê” ou “blues pós-natal” é uma condição relativamente
comum no pós-parto que afeta de 30 à 75% das parturientes (SADOCK; SADOCK; RUIZ, p.
840, 2017). Trata-se, no entanto, de uma condição auto-limitada que se inicia a partir do terceiro
ao quinto dia pós-parto e cessa espontaneamente algumas semanas após.

A) Sintomas
Durante esse período a mulher relata sintomas como: breves crises de choro,
irritabilidade ou labilidade emocional, tristeza, humor instável, insônia, ansiedade, perda de

72
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
apetite, falta de concentração, disforia e confusão subjetiva. Geralmente começa com um breve
período de choro no terceiro ou quarto dia após o parto e picos entre o 5º e 10º dia. De acordo
com Robinson e Stweart (p. 32, 1986, tradução nossa) “os sintomas em ordem de frequência
são insônia (70%), choro (66%), depressão (54%), fadiga (54%), ansiedade (51%), dores de
cabeça (35%), má concentração (29%) e confusão (21%). Labilidade pode ocorrer, mais
comumente apenas no dia do parto, mas às vezes persistindo por mais tempo”.
B) Fatores de Risco
O desenvolvimento de Baby Blues pode estar associado a fatores de risco, mas a
relação existente entre eles ainda é fraca. Esses fatores incluem uma história de transtornos
disfóricos pré-menstruais e/ou alterações de humor relacionadas ao ciclo menstrual, uma
história de depressão maior ou distimia, uma história familiar de transtornos de humor,
características socioculturais, condições econômicas e conflitos de relacionamento. Cuidados
maternos insuficientes na infância, bem como apoio familiar insuficiente durante a gravidez,
também foram associados (TOSTO et al., 2023). O uso de metildopa para controle de crises
hipertensivas durante a gestação e o desenvolvimento de toxoplasmose também apontam na
literatura como possíveis fatores de risco para o Baby Blues (WICIŃSKI et al., 2020).

C) Fisiopatologia
Várias hipóteses foram desenvolvidas para explicar a fisiopatologia do Baby Blues e,
no geral, as pesquisas mostraram que ela pode estar relacionadacom a desregulação das
respostas cerebrais em mulheres suscetíveis às mudanças que ocorrem nosníveis hormonais
típicos do período periparto e pós-parto, já previamente descritas.Conforme destaca Tosto et al.
(2023), “o pico dos sintomas normalmente surge em coincidência com alterações hormonais
máximas, com queda de progesterona, diminuição de estradiol e cortisol e aumento de
prolactina”. No entanto, dados heterogêneos e conflitantes foram relatadose, portanto, não
existe uma única explicação para o fenômeno.

D) Diagnóstico
Não existem critérios diagnósticos para o Baby Blues, mas é importante diferenciá-lo
de outras condições psiquiátricas mais preocupantes. Embora tenham sido desenvolvidos
questionários de triagem, a conversa no pós-parto e a observação das respostas emocionais são
elementos críticos para identificar o Baby Blues e fazer um diagnóstico diferencial com outros
transtornos possíveis e mais graves, como a Depressão Pós-Parto (TOSTO et al., 2023).

73
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
E) Tratamento
Os sintomas mencionados não são persistentes, e, portanto, não é necessário
intervenção farmacológica e, embora a maioria dos médicos considere o Baby Blues irrelevante,
esta condição temporária causa infelicidade e dificuldade de funcionamento e não podem ser
ignorados por parte dos profissionais de saúde e daqueles que assistem à puérpera pois essa
condição representa um fator de risco para condições psiquiátricas mais graves como Depressão
Pós-Parto e até mesmo Psicose Pós-Parto.
No geral, educar as mulheres durante a gravidez sobre o blues pós-parto pode ajudar a
prepará-las para esses sintomas que são muitas vezes inesperados e preocupantes. É importante
tranquilizar os novos pais de que os sintomas de mau humor após o parto são comuns e
transitórios. Os profissionais de saúde podem recomendar que as puérperas e suas famílias se
preparem com antecedência para garantir que a mãe tenha apoio e descanso adequados após o
parto.
Abordagens interessantes propostas como úteis para influenciar os sintomas de MB
foram musicoterapia e acupressão. Lee observou que a musicoterapia teve um efeito positivo
na diminuição do blues pós-parto e no aumento do apego materno de mulheres puérperas. Um
estudo propôs acupressão em mães com MB mostrando uma pontuação EPSD diminuída, mas
mais dados são necessários (TOSTO et al., 2023).

3.2.DEPRESSÃO PÓS-PARTO
A depressão pós-parto, diferente do Baby Blues, não é uma condição auto-limitada e
requer intervenção médica. Ela é codificada como um subtipo de transtorno depressivo maior
na 5ª edição do Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais [DSM-5], atingindo
cerca de 10 – 15% das puérperas. Em suma, é um Transtorno Depressivo Maior diagnosticado
durante o período periparto, que costuma ocorrer em até 12 semanas após o parto e que pode
durar anos se não tratada. Embora se recomende ter cuidado com o Baby Blues, não existem
evidências concretas de que um episódio não tratado do mesmo possa evoluir para um episódio
de Depressão Pós-Parto (SADOCK; SADOCK; RUIZ, p. 839 – 840, 2017).

A) Sintomas e Diagnóstico
A DPP tende a ser mais longa e afeta gravemente a capacidade da mulher de retornar
às funções normaisem comparaçãoao Baby Blues. A DPP afeta a mãe e seu relacionamento
com o bebê. É uma patologia que se caracterizapelo humor deprimido, ansiedade excessiva,
insônia e mudança no peso.

74
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Como já mencionado, refere-se a uma Depressão Maior associada ao período
periparto, portanto os critérios diagnósticos são baseados na presenças dos sintomas segundo o
DSM-5. Segundo Mughal et al. (2022), o diagnóstico deve incluir humor deprimido ou
anedonia (critérios obrigatórios), além de mais quatro sintomas a serem diagnosticados,
dentroda lista abaixo:

• Humor deprimido (subjetivo ou observado) está presente na maior parte do dia;


• Perda de interesse ou prazer, na maior parte do dia;
• Insônia ou hipersonia;
• Retardo psicomotor ou agitação;
• Inutilidade ou culpa;
• Perda de energia ou fadiga;
• Ideação ou tentativa suicida e pensamentos recorrentes de morte;
• Concentração prejudicada ou indecisão;
• Mudança de peso ou apetite (alteração de peso de 5% em 1 mês).

B) Fatores de Risco
A DPP possui fatores de risco bem descritos associados com o seu desenvolvimento.
Alguns podem ser anteriores ao estado gravídico, enquanto outros são decorrentes da gestação
(MUGHAL et al., 2022). Para facilitar a compreensão, podemos dividi-los em quatro tópicos,
sendo eles: Psicológico, Obstétrico, Social e Estilo de Vida.
Psicológico: história pregressa de distúrbios de humor, com destaque para Depressão,
Ansiedade, TPM, histórico de violência sexual e fatores relacionados ao próprio bebê.
Obstétricos: recém-nascido prematuro, passagem de mecônio e outros fatores que levem a
gravidez de alto risco.
Sociais: Violência doméstica em qualquer nível, falta de apoio social e familiar durante a
gravidez.
Estilo de vida: Sedentarismo, má alimentação, uso de entorpecentes, tabaco, deficiência de
vitamina B6, sono desregulado, dentre outros fatores.

C) Fisiopatologia
A patogênese da depressão pós-parto é atualmente desconhecida. Tem sido sugerido
que fatores genéticos, hormonais, psicológicos e estressores da vida social, podem estar na
gênese da patologia.

75
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
De acordo com Mughal, Azhar e Siddiqui (2022),

O papel dos hormônios reprodutivos no comportamento depressivo sugere


fisiopatologia neuroendócrina para DPP. Existem amplos dados para defender
que as mudanças nos hormônios reprodutivos estimulam a desregulação
desses hormônios em mulheres sensíveis. A fisiopatologia da DPP pode ser
causada por alterações de múltiplos sistemas biológicos e endócrinos, como,
por exemplo, o sistema imunológico, o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal
(HPA) e os hormônios lactogênicos. O eixo hipotálamo-hipófise-adrenal
(HPA) é conhecido por estar envolvido no processo patológico da depressão
pós-parto. [...] As rápidas mudanças nos hormônios reprodutivos como
estradiol e progesterona após o parto podem ser um estressor potencial em
mulheres suscetíveis, e essas mudanças podem levar ao aparecimento de
sintomas depressivos. A ocitocina e a prolactina também desempenham um
papel importante na patogênese da DPP (MUGHAL et al., 2022, tradução
nossa).

Dessa maneira, percebe-se que existe uma série de alterações fisiológicas que terão,
em certo nível, participação na gênese distúrbios psiquiátricos do puerpério uma vez que irão
modificar a homeostase da neurotransmissão da mais nova mãe.

D) Diagnóstico
Os sinais e sintomas da DPP são idênticos aos da depressão não puerperal com história
adicional de parto. Os sintomas incluem humor deprimido, perda de interesse, alterações nos
padrões de sono, alteração no apetite, sentimentos de inutilidade, incapacidade de concentração
e ideação suicida. As mulheres também podem sentir ansiedade (MUGHAL et al., 2022). Os
pacientes com DPP também podem apresentar sintomas psicóticos, que incluem delírios e
alucinações (vozes dizendo para prejudicar o bebê). A depressão ainda pode ser classificada em
leve, moderada e grave de acordo com a intensidade dos sintomas.

E) Tratamento
O tratamento para a DPP é semelhante ao utilizado para a depressão maior que consiste
basicamente na associação entre psicoterapia e medicamentos da classe dos antidepressivos. A
psicoterapia psicossocial e psicológica é descrita como a primeira opção de tratamento para
depressão leve ou moderada. E uma combinação entre psicoterapia com antidepressivos é mais
recomendada para puérperas com depressão moderada a grave. Os Inibidores Seletivos de
Recaptação da Serotonina (ISRSs) são a primeira escolha devido a menor incidência de efeitos
colaterais, mas outras classes de medicamento como IRSNs ou Antidepressivos Tricíclicos

76
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
podem ser associadas ou escolhidas de acordo com a necessidade de cada caso ou resistência
ao tratamento inicial.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este capítulo sobre Baby Blues e Depressão Pós-Parto ofereceu uma visão abrangente
e fundamentada sobre essas duas condições emocionais que afetam muitas mulheres após o
parto. O Baby Blues, uma reação natural e temporária às mudanças hormonais e emocionais,
geralmente requer apenas orientação e apoio emocional adequado para que a mãe supere esses
sentimentos transitórios. No entanto, a Depressão Pós-Parto é uma condição mais séria e
duradoura, que demanda intervenção profissional e tratamento especializado para garantir o
bem-estar emocional da mãe e do bebê.
A sensibilização e a conscientização sobre essas condições são fundamentais para que
profissionais de saúde, familiares e a sociedade em geral ofereçam o suporte adequado às mães
nesse período delicado da maternidade. Através do diagnóstico precoce e da implementação de
intervenções terapêuticas, é possível promover uma experiência de maternidade mais saudável
e gratificante, garantindo o bem-estar físico e emocional tanto da mãe quanto do bebê.
Portanto, é importante enfatizar a relevância de uma abordagem integrada para o
cuidado das mulheres durante o período pós-parto. Profissionais de saúde devem estar atentos
aos sinais de Baby Blues e Depressão Pós-Parto, buscando uma avaliação cuidadosa e
oferecendo um suporte sensível e empático às mães. Além disso, a disponibilidade de recursos
de tratamento adequados, incluindo terapia e medicação quando necessário, é essencial para o
manejo efetivo dessas condições. A conscientização pública sobre o Baby Blues e a Depressão
Pós-Parto é crucial para eliminar estigmas e garantir que as mães se sintam confortáveis em
buscar ajuda e apoio quando necessário. Somente através do esforço conjunto de profissionais
de saúde, familiares e sociedade como um todo, poderemos promover uma maternidade
saudável, feliz e equilibrada, contribuindo para o bem-estar emocional e físico de mães e bebês
em todo o mundo.

REFERÊNCIAS

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involved. World Journal Of Psychiatry, [S.L.], v. 5, n. 1, p. 103, 2015. Baishideng Publishing
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PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
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2023.

78
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
CAPÍTULO 8
CANDIDÍASE VULVOVAGINAL NA
GESTAÇÃO E SEUS MECANISMOS DE
RESISTÊNCIA ÀS AÇÕES
MEDICAMENTOSAS
VULVOVAGINAL CANDIDIASIS DURING PREGNANCY AND ITS RESISTANCE
MECHANISMS TO MEDICATION ACTIONS

10.56161/sci.ed.20230913C8

Darla Maria Gabriel Ferreira


Centro Universitário INTA – UNINTA, Sobral, Ceará
Orcid ID do autor: https://orcid.org/0009-0004-0508-4044

Expedita Cíntia Araújo


Centro Universitário INTA – UNINTA, Sobral, Ceará
Orcid ID do autor: https://orcid.org/0009-0008-1119-2374
Rebeca Blézins Arruda Teixeira
Universidade Municipal São Caetano do Sul - USCS, Campus São Paulo
Orcid ID do autor: https://orcid.org/0009-0003-4633-4815

Francisca Mauriene Sousa


Centro Universitário INTA – UNINTA, Sobral, Ceará
Orcid ID do autor: https://orcid.org/0009-0000-5989-5468

Danieli de Souza Soares


Centro Universitário INTA – UNINTA, Sobral, Ceará
Orcid ID do autor: https://orcid.org/0009-0009-9839-7379

Valéria Cavalcante Oliveira


Centro Universitário INTA – UNINTA, Sobral, Ceará
Orcid ID do autor: https://orcid.org/0009-0007-7022-7584

Adalyne Oliveira Lopes


Centro Universitário INTA – UNINTA, Sobral, Ceará
Orcid ID do autor: https://orcid.org/0009-0008-0121-0567

79
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Carolina Cavalcante Tavares Arcanjo
Prefeitura Municipal de Sobral, Sobral, Ceará
Orcid ID do autor: https://orcid.org/0009-0003-9378-7008

Cíntia Ramos Teixeira


Centro Universitário INTA – UNINTA, Sobral, Ceará
Orcid ID do autor: https://orcid.org/0000-0002-8163-8190

Ingrid Cavalcante Tavares Balreira


Centro Universitário INTA – UNINTA, Sobral, Ceará
Orcid ID do autor: https://orcid.org/0000-0003-1638-5091

RESUMO
INTRODUÇÃO: Consta-se que na gestação há o aumento da incidência de candidíase,
causada pela liberação dos hormônios da placenta que evidencia o aumento da acidez vaginal,
transformando o ambiente favorável para o fungo, além disso, a imunidade diminui
naturalmente nessa fase. Objetiva-se investigar estratégias de tratamento que podem ser
utilizadas em casos de mulheres grávidas com candidíase vulvovaginal que apresentam
resistência medicamentosa. METODOLOGIA: Trata-se de uma revisão bibliográfica, com
abordagem qualitativa, realizada em julho de 2023, onde foram efetuadas leituras minuciosas e
interpretação de leitura com metodologia ativa. Como critério de inclusão: texto completo,
limite temporal de 2020 a 2023 e publicações na língua portuguesa e inglesa que atendam ao
escopo da pesquisa. Realizou-se a busca de estudos com base nos Descritores em Ciências da
Saúde (DeCS) – “candidíase” and “gravidez” and " terapêutica" and "resistência a
medicamentos” que foram adaptados conforme especificidade e cruzados através do operador
booleano “AND” - (mh:(Candidíase)) AND (mh:(Gravidez)), para busca simultânea dos
assuntos. A pesquisa foi composta por 08 artigos após leitura atenciosa e crítica dos títulos e
resumos. RESULTADOS: As publicações levantadas foram analisadas através de seu título e
resumo com base nos critérios de inclusão e exclusão, sendo os duplicados excluídos.
DISCUSSÕES: As candidíases são consideradas infecções oportunistas, pois se aproveitam de
ocasiões para se manifestar, um exemplo disso quando o indivíduo apresenta imunodeficiência
em um determinado momento da vida, o tratamento utilizado em candidíases superficiais é de
forma tópica, obtendo resultados positivos quando realizados corretamente e iniciado
precocemente. CONCLUSÃO: Além dos tratamentos com fármacos tópicos, orais e
endovenosos, houve a criação de novas possibilidades terapêuticas para candidíase, como
métodos naturais a base de plantas ou de origem animal. Outra possibilidade de tratamento para
as gestantes é a utilização de probióticos, reduzindo os efeitos colaterais que os demais
medicamentos ocasionam.

PALAVRAS-CHAVE: Candidíase; Gravidez; Terapêutica; Resistência a medicamentos.

ABSTRACT
INTRODUCTION: It is known that during pregnancy there is an increased incidence of
candidiasis, caused by the release of hormones from the placenta, which shows the increase in
vaginal acidity, transforming the environment favorable for the fungus, in addition, immunity
naturally decreases at this stage. The objective is to investigate treatment strategies that can be
used in cases of pregnant women with vulvovaginal candidiasis who have drug resistance.
METHODOLOGY: This is a bibliographic review, with a qualitative approach, carried out in
July 2023, where detailed readings and reading interpretation were carried out using an active

80
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
methodology. As inclusion criteria: full text, time limit from 2020 to 2023 and publications in
Portuguese and English that meet the scope of the research. The search for studies was carried
out based on Descriptors in Health Sciences (DeCS) – “candidiasis” and “pregnancy” and
“therapeutic” and “drug resistance”, which were adapted according to specificity and crossed
using the Boolean operator “AND” - (mh:(Candidiasis)) AND (mh:(Pregnancy)), for
simultaneous search of subjects The research consisted of 08 articles after careful and critical
reading of the titles and abstracts. RESULTS: The publications raised were analyzed through
their title and abstract based on the inclusion and exclusion criteria, with duplicates being
excluded. DISCUSSIONS: Candidiasis is considered opportunistic infections, as they take
advantage of occasions to manifest themselves, an example of which when the individual has
immunodeficiency at a certain point in life, the treatment used in superficial candidiasis is
topical, obtaining positive results when performed correctly and started early. CONCLUSION:
In addition to treatments with topical, oral, and intravenous drugs, new therapeutic possibilities
for candidiasis have been created, such as natural methods based on plants or animals. Another
possibility of treatment for pregnant women is the use of probiotics, reducing the side effects
that other medications cause.

KEYWORDS: Candidiasis; Pregnancy; Therapy; Drug resistance.

1. INTRODUÇÃO
A candidíase vulvovaginal é uma infecção vaginal prevalente em mulheres em idade
fértil. Cerca de 75% das mulheres tem por ao menos um episódio de candidíase durante a vida,
50% mais de um episódio e 9% até 3 episódios ao ano, sendo caracterizada pela candidíase
recorrente. As candidíases são consideradas infecções oportunistas, pois se aproveitam de
ocasiões para se manifestar, um exemplo disso quando o indivíduo apresenta imunodeficiência
em um determinado momento da vida, o tratamento utilizado em candidíases superficiais é de
forma tópica, obtendo resultados positivos quando realizados corretamente e iniciado
precocemente. Contudo para o tratamento fidedigno, é necessário além do quadro clinico do
paciente a coleta de exames laboratoriais como o micológico direto e a cultura (LIMA et al.,
2022, JACOMINI et al., 2022).
Durante a gestação é observada uma ocorrência maior da candidíase, ocasionada pelos
níveis elevados de estrogênios, progesterona e córtico-esteroides placentários, que afetam os
mecanismos de defesa da vagina, podendo ocasionando complicações obstétricas, como a
prematuridade, baixo peso ao nascer, Candidíase Cutânea Congênita, aborto espontâneo. Uma
vez identificado o patógeno causador da infecção, a falha na terapia antifúngica pode ocorrer
por diversos fatores, estudos comprovam que a resistência fúngica vem aumentando pela
utilização inadequada dos medicamentos, sendo realizado o autodiagnóstico, e pela interrupção
no tratamento, podendo ser a causa do fracasso terapêutico e da candidíase de repetição, além
do uso de doses únicas que podem eliminam os sintomas, mas não produzem cura, tornando os

81
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
pacientes mais suscetíveis a uma nova infecção em curto período de tempo (COSTA; CAMPO;
SOUZA; 2020, LOUSADA et al., 2022).
Diante disso o constrangimento também se torna uma das principais razões de inúmeras
mulheres realizarem a automedicação, pela vasta disponibilidade de medicamentos sem
prescrição adequada, fazendo com que as mesmas optem por tratamentos inapropriados, pelo
receio de uma avaliação de um profissional especializado (LIMA et al, 2022). Os estudos
afirmam que os fármacos mais utilizados são: itraconazol, fluconazol, anfotericina B,
luorocitosina, nistatina, cetoconazol, flucitosina e os derivados triazólicos como o itraconazol,
no entanto, o uso de algumas dessas medicações apresentam efeitos colaterais devido suas ações
no organismo, fazendo com que o paciente interrompa o tratamento antes do período necessário
ocasionando multirresistências. Mediante esses casos é necessária avaliação profissional,
possibilitando a conduta ou utilização de tratamento adequado para esses casos, visando a
importância da não utilização de outro tratamento sem indicação do profissional de saúde
(NICOLODI; DANIELLI, 2023; LIMA et al., 2022).
Além dos tratamentos com fármacos tópicos, orais e endovenosos, houve a criação de
novas possibilidades terapêuticas para candidíase, como métodos naturais a base de plantas ou
de origem animal, tal como o óleo de rã-touro, fármacos de mesma origem ou a cúrcuma longa.
Outra possibilidade de tratamento para as gestantes é a utilização de probióticos, reduzindo os
efeitos colaterais que os demais medicamentos ocasionam Apesar dos inúmeros tratamentos
disponíveis de forma gratuita pelo SUS, as unidades de saúde apresentam falhas no repasse de
informações para a população. A pouca adesão das ações realizadas propicia consequências
como: aumentos de gestantes com candidíases, subsequentemente gerando uma gravidez de
alto risco; multirresistência medicamentosa; insatisfação com o serviço; diminuição do vínculo
paciente-profissional, reduzindo a procura do tratamento adequado e precoce que a unidade
oferta. A transmissão de informações deve ser realizada através da educação ativa, os
profissionais devem orientar os clientes sobre a realização correta do tratamento, dose diária
administrada, quantidade de dias recomendados, sempre enfatizando a não interrupção do
tratamento mesmo se obtiver melhoras durante o período (OLIVEIRA et al., 2022; SILVA et
al., 2022; PEREIRA et al., 2022). Objetiva-se investigar estratégias de tratamento que podem
ser utilizadas em casos de mulheres grávidas com candidíase vulvovaginal que apresentam
resistência medicamentosa.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

82
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Trata-se de uma revisão bibliográfica, que é um método que tem como finalidade
estudar e fazer levantamento de tudo aquilo que já foi pesquisado e assim poder construir uma
nova pesquisa. É a revisão bibliográfica que oferece o suporte a todas as fases de qualquer tipo
de pesquisa, uma vez que auxilia na definição do problema, na determinação dos objetivos, na
construção de hipóteses, na fundamentação da justificativa da escolha do tema e na elaboração
do relatório final (FONTANA, 2018, p. 66). Para formulação da estratégia de busca utilizada
nas bases de dados uma questão norteadora foi elaborada: “Quais estratégias de tratamento
podem ser utilizadas em casos de mulheres grávidas com candidíase vulvovaginal que
apresentam resistência medicamentosa?”. Do qual se obteve os descritores selecionados
conforme o Descritores Em Ciências da Saúde (DeCS) – “candidíase” and “gravidez” and "
terapêutica" and "resistência a medicamentos"; e o Medical Subject Headings (MESH) –
“candidiasis” and “pregnancy” and "therapeutics" and "drug resistance"
Guiado pelos descritores e operadores, a estratégia de busca utilizada foi adaptada
para: (mh:(Candidíase)) AND (mh:(Gravidez)). As bases de dados utilizadas na pesquisa
foram: Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e Scielo.
Os critérios de inclusão dos artigos empregados foram: texto completo, limite temporal
de 2020 e 2023 e publicações na língua portuguesa e inglesa que abordam o tratamento que
podem ser utilizadas em casos de mulheres grávidas com candidíase vulvovaginal que
apresentam resistência medicamentosa. Como critério de exclusão, não serão incluídos artigos
indexados repetidamente nas bases de dados, resenhas, anais de congresso, artigos de opinião,
artigos de reflexão, editoriais e os artigos que não abordaram diretamente a temática deste
estudo.
As publicações levantadas foram analisadas através de seu título e resumo com base nos
critérios de inclusão e exclusão, sendo os duplicados excluídos. A partir dessa pré-seleção, foi
realizada a leitura na íntegra dos estudos selecionados para avaliação de sua relevância para a
pesquisa. Dentro das publicações selecionadas para leitura na íntegra foram extraídos os dados
essenciais conforme o objetivo, passando esses dados por analise e sintetizados conforme
similaridade das temáticas. A apresentação dos resultados feita utilizando uma tabela e
discutido posteriormente em forma narrativa.

3. RESULTADOS

83
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Quadro 1 – Publicações avaliadas através de título/autor/ano da publicação, objetivo
e conclusão.
Para construção do estudo foram utilizados 4 descritores: “candidíase”, “gravidez”,
“terapêutica” e “resistência a medicamentos" através dos descritores em ciência da saúde
(DeCS) para obter a estratégia de busca utilizada foi adaptada para: (mh:(Candidíase)) AND
(mh:(Gravidez)). Referente aos critérios de inclusão foram selecionados 8 artigos publicados
entre os anos de 2020 e 2023, para elaboração dos resultados gratuitos, com livre acesso, textos
completos e nos idiomas português e inglês. As publicações dos artigos foram encontradas na
Brazilian journal of Development, Revista Eletrônica Acervo Médico, Research, Society and
Development, Revista JRG de Estudos Acadêmicos, Rev. Saúde e Biol, Revista Referências
em saúde da Faculdade Estácio de Sá, Revista científica multidisciplinar. Dos autores citados
não houve prevalência de nomes nos estudos. Não tendo autores em comum em nenhum dos
artigos. Ao analisar os objetivos das pesquisas selecionadas, pode-se perceber que se busca
avaliar e ampliar conhecimentos sobre fatores relacionados à resistência medicamentosa em
situações de gestantes com candidíase vulvovaginal. Em síntese as conclusões dos estudos
evidenciam que se faz necessário maiores pesquisas e conteúdos sobre a temática.

Título/Autor/Ano de publicação Objetivo Conclusão


Conclui-se que a Candida sp é
sensível a maioria dos
azólicos e poliênicos,
entretanto estudos
Verificar as terapias
COSTA, et al. Terapias para o comprovam que o fungo
convencionais, o perfil de
tratamento de candidíase adquiriu resistência a alguns
resistência fúngica e as novas
1 vulvovaginal. Revista Referências antifúngicos do mercado,
terapias que vem sendo
em Saúde da Faculdade Estácio de dentre as terapias alternativas
utilizadas no tratamento da
Sá de Goiás – RRS-FES, 2020. em estudo a mais eficaz é a
candidíase vulvovaginal.
terapia de LED (diodo
emissor de luz) azul que vem
ganhando destaque entre os
estudos da fotodinâmica.
Em suma, apesar de ser um
tema extremamente
importante na saúde pública,
ainda faltam dados
JACOMINI et al. Candidíase
O presente estudo busca epidemiológicos quanto à
vulvovaginal recorrente: uma visão
elucidar a forma complicada da prevalência da CVV e as
2 geral das perspectivas atuais.
entidade, que é a candidíase cepas mais frequentes
Brazilian journal of Development
vulvovaginal recorrente. associadas ao quadro na
– 64680, 2022
população brasileira. Sendo
assim, tal tema merece
atenção especial para
pesquisas futuras.
LOUZADA et al, Infecção por De fato, a candidíase pode
Expor os desfechos neonatais
Cândida durante a gravidez e suas gerar diversos desfechos
3 adversos ou complicações
complicações: uma revisão da neonatais e complicações
ocasionadas por Candidíase
literatura. Revista Eletrônica tanto no feto, recém-nascido

84
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Acervo Médico | ISSN 2764-0485, Vulvovaginal durante a ou até na mãe. Para que isso
2022 gravidez. seja evitado, é importante
considerar uma triagem em
todas as gestantes para que
um diagnóstico seja feito e um
tratamento seja oferecido.
Considerando a importância do
diagnóstico, esse estudo tem
como objetivo verificar a
LIMA et al, Candidíase prevalência de candidíase Portanto, a realização do
vulvovaginal na atenção primária à vulvovaginal através dos presente estudo permitiu
saúde: rastreamento de mulheres resultados de exames apontar a ocorrência
diagnosticadas em municípios na citopatológicos realizados nas significativa de associação da
4 região central do Estado do Unidades Básicas de Saúde – candidíase vulvovaginal com
Tocantins, Brasil. Research, UBS dos municípios da região outras infecções, sendo de
Society and Development, v. 11, n. central do Estado do Tocantins, suma importância a orientação
9, e51111929505, 2022 analisando a etiologia e a e adoção do tratamento
(CC BY 4.0) | ISSN 2525-3409 epidemiologia da microbiota adequado pelas pacientes.
vaginal das pacientes e
identificando a frequência de
infecções do trato reprodutivo.
Diante das dificuldades
enfrentadas pelas mulheres
PEREIRA et al, As dificuldades contra a candidíase, pode-se
encontradas pela mulher na citar o tamanho do problema
prevenção Compreender as dificuldades relacionado, principalmente, à
Contra a candidíase vulvovaginal. encontradas pela mulher na profilaxia e à recorrência da
5
Revista JRG de Estudos prevenção contra a candidíase candidíase
Acadêmicos, Ano 5, Vol. V, n.10, vulvovaginal. vulvovaginal presente na flora
jan.-jul., 2022. vaginal, muitas vezes
(CC BY 4.0) | ISSN 2595-1661 associado à falta de
informação
e orientação adequada.
OLIVEIRA et al, Candidíase no
Nesse sentido, conclui-se a
cenário brasileiro atual: O objetivo desse estudo foi
importância de alertar as
epidemiologia, prevenção e aprofundar os conhecimentos
mulheres e os profissionais de
6 Manejo. Brazilian Journal of quanto a prevenção, manejo e
saúde sobre o diagnóstico
Development epidemiologia de tal doença no
diferencial da candidíase
ISSN: 2525-8761 país.
vulvovaginal (CVV).
79108, 2022.
Portanto, sugere-se estratégias
para se evitar e combater o
aparecimento de resistência
aos antifúngicos, como, por
exemplo, a correta
O objetivo desse estudo foi
identificação ao nível de
investigar o perfil de resistência
SILVA et al, Candida parapsilosis: espécie e escolha de um
de Candida parapsilosis frente
resistência aos antifúngicos. antifúngico mais adequado
7 aos principais antimicóticos
SaBios: Rev. Saúde e Biol., v.17, para a mesma, uso correto nas
(azóis,
e022009, 2022 - ISSN 1980-0002 dosagens do fármaco,
anfotericina B, 5-flucitosina,
aderência do paciente ao
voriconazol e equinocandinas)
tratamento, acompanhamento
das mudanças no perfil de
suscetibilidade das leveduras
e estudos de vigilância
epidemiológica.
Em conclusão, a CVR é um
NICOLODI, DANIELLI, Um Este estudo tem como objetivo
grande problema para a saúde
8 panorama sobre os mecanismos de analisar os métodos terapêuticos
das mulheres, levando a uma
resistência da cândida albicans e o disponíveis para a CVR, através
deterioração da vida diária e a

85
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Tratamento da candidíase de uma revisão de literaturas uma diminuição da qualidade
recorrente. Recima21 - revista existente. de vida dos pacientes.
científica multidisciplinar
ISSN 2675-6218, RECIMA21 -
Ciências Exatas e da Terra,
Sociais, da Saúde, Humanas e
Engenharia/Tecnologia
v.4, n.3, 2023.

Fonte: Elaborada pelo Autor.

4. DISCUSSÃO
Após a leitura imersiva dos artigos, foi possível identificar convergências e
divergências dos autores dos estudos sobre a candidíase vulvovaginal na gestação e seus
mecanismos de resistência às ações medicamentosas.
No estudo de Jacomini et al (2022), afirma que a CVVR afeta atualmente cerca de 9%
da população e leva a desfechos negativos tanto no aspecto somático pelo quadro clínico típico
(prurido, corrimento, dor vaginal e disúria), quanto no âmbito psicológico, visto que estas
mulheres estão mais propensas a desenvolver quadros de depressão e ansiedade.
Costa et al (2022), aborda em seu estudo o tratamento da candidíase com
medicamentos convencionais vem sendo mais utilizado ao decorrer dos anos, a terapia
medicamentosa utilizada no tratamento é eficaz, porem nos casos reincidentes, ela tem se
mostrado falha, necessitando de mais pesquisas e novos desenvolvimentos tecnológicos.
Segundo Jacomini et al (2022), na gestação o tratamento utilizado para candidíase deve
se restringir somente à via vaginal, por no mínimo sete dias, não sendo indicado por via oral,
pois o fluconazol pode provocar malformações musculoesqueléticas quando utilizado em altas
doses no primeiro trimestre de gestação.
De acordo com o estudo de Lousada et al (2022), o período de maior prevalência da
candidíase é no segundo trimestre da gestação, ocasionando inúmeras complicações obstétricas.
Na utilização da terapia antifúngica o teste laboratorial deve ser realizado e o diagnóstico não
deve ser baseado somente nos sintomas, considerando-se essencial um programa de triagem em
gestantes para debater tratamentos eficazes para que não ocorra complicações por motivos de
infecção de Cândida durante a gravidez.
Contudo os resultados da pesquisa de Lima et al (2022), afirma que em razão da
necessidade de expor características tão íntimas, por constrangimento, inúmeras mulheres
optam pela automedicação, sem a avaliação adequada das causas e sintomas e,
consequentemente, com adoção de tratamento inapropriado.

86
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Pereira et al (2022), afirma que os cuidados voltados a prevenção da candidíase
vulvovaginal (CVV), que é o foco deste artigo, fazem com que a mulher tenha autoconfiança,
consiga se sentir melhor consigo mesma e com seu parceiro. Sobre o SUS, o autor afirma no
que diz respeito à diminuição do número de consultas de enfermagem e do uso de medicações,
ocorrer de forma positiva nas unidades básicas de saúde, não faltando pomadas e comprimidos
nas farmácias públicas e diminuindo o investimento do governo federal.
Oliveira et al (2022), afirma sobre a importância do diagnóstico diferencial da
candidíase vulvovaginal através do laboratório, pois frequentemente pode ser confundida com
vaginose citolítica, para que seja realizado o tratamento certeiros e não ocorra a prescrição
inadequada.
Silva et al (2022), afirma que a resistência pode ser observada em pacientes que usam
o tratamento antifúngico por tempo prolongado, como também por resistência clínica, quando
o fungo é aparentemente susceptível ao antifúngico.
Segundo Nicolodi, Danielli (2023), observa-se um crescimento progressivo das
infecções por Candida, associadas ao aumento da resistência a terapia antifúngica, por ser uma
alternativa barata, de fácil acesso e fácil de usar, ocorrendo assim o uso indiscriminado
ocasionando a candidíase vulvovaginal recorrente afetando diretamente a vida das mulheres,
em casos de resistência o agente tópico mais comummente utilizado e indicado é o ácido bórico,
nesse contexto é de suma importância que a mulher não realize a automedicação e seja avaliada
por um profissional de saúde capacitado, para a realização do tratamento adequado, além de
alternativas que melhorem sua qualidade de vida, em relação a resistência mostra-se a
necessidade constante de evolução farmacológica.

5. CONCLUSÃO
Esta pesquisa buscou avaliar e ampliar conhecimentos sobre fatores causadores da
resistência medicamentosa em gestantes com candidíase vulvovaginal. Dentre os estudos
avaliados, torna-se necessário aprofundar pesquisas e conteúdos sobre este tema a fim de
encontrar mais medidas preventivas e eficazes para um tratamento adequado. Desta forma,
incentiva-se a atuação dos profissionais de saúde no sentido de promover ações educativas
visando a conscientização de mulheres de diversas faixas etárias, sobre a relevância do exame
papa-nicolau. Uma vez identificado o patógeno causador da infecção, visando a importância do
tratamento e possibilitando a conduta ou utilização de tratamento adequado para cada caso.
Concluímos que a candidíase recorrente é considerada uma infecção oportunista
ocorrendo principalmente durante gestação já que neste período a gestante já fica com baixa

87
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
imunidade devido às mudanças hormonais causando alterações da flora vaginal. Sem o
tratamento desta candidíase pode levar a um parto prematuro ou baixo peso e até aborto
espontâneo.

REFERÊNCIAS

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89
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
CAPÍTULO 9
FATORES BIOPSICOSSOCIAIS E
QUALIDADE DE VIDA EM
MULHERES COM DIAGNÓSTICO DE
NEOPLASIA MAMÁRIA
BIOPSYCHOSOCIAL FACTORS AND QUALITY OF LIFE IN WOMEN
DIAGNOSED WITH BREAST NEOPLASMS

10.56161/sci.ed.20230913C9

Lara Lima Araújo


Centro Universitário Inta-UNINTA, CE
Orcid ID do autor: https://orcid.org/0000-0001-7324-7272

Cristiano Borges Lopes


Centro Universitário Inta-UNINTA, CE
Orcid ID do autor: https://orcid.org/0000-0001-6601-5131

Carla Helaine do Nascimento Morais


Centro Universitário Inta-UNINTA, CE
Orcid ID do autor: https://orcid.org/0009-0000-6474-0823

Espedita Alves da Silva


Centro Universitário Maurício de Nassau – UNINASSAU, PE
Orcid ID do autor: https://orcid.org/0009-0003-2414-9168

Joyce Karollayne da Silva


Universidade Paulista - UNIP Câmpus Caruaru, PE
Orcid ID do autor: https://orcid.org/0009-0000-5022-9071

Paula Mariana Ferreira Matos


Universidade Paulista - UNIP Campus Garanhuns, PE
Orcid ID do autor: https://orcid.org/0009-0005-8232-2779

Romário Garcia Silva Teles


Pontifícia Universidade Católica de Goiás - PUC Câmpus Goiânia, GO
Orcid ID do autor: https://orcid.org/0000-0001-7288-8131

Valdemilson Vieira Paiva

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PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Centro Universitário Maurício de Nassau - UNINASSAU Campus Parnaíba, PI
Orcid ID do autor: https://orcid.org/0009-0002-1895-8375

Maria Eduarda de Oliveira Viegas


Faculdade do Maranhão – FACAM, MA
Orcid ID do autor: https://orcid.org/0009-0000-3321-3289

Jhenniffer Roberta Jorge Lucena


Enfermeira, Pós-Graduanda em Saúde da Mulher na Faculdade Venda Nova do Imigrante –
FAVENI – Guarulhos, SP.
Orcid ID do autor: https://orcid.org/0000-0002-5076-6974

RESUMO
OBJETIVO: Identificar os fatores biopsicossocial e como eles afligem a qualidade de vida da
mulher diagnosticada com neoplasia mamária. METODOLOGIA: Trata-se de uma revisão
integrativa da literatura, realizada com levantamento bibliográfico nas bases de dados presentes
na Biblioteca Virtual em Saúde, segundo cruzamento entre os Descritores em Ciências da Saúde
(DeCS/MeSH) em cruzamento com operador booleano AND da seguinte forma: “Quality of
Life” and “Psychological Distress” and “Breast Neoplasms”. Após aplicação dos critérios de
elegibilidade foram selecionados 16 artigos para compor este estudo. RESULTADOS E
DISCUSSÃO: O diagnóstico de CA de mama é algo que traz muitas incertezas e angústia
psicológica, necessitando de intervenções que possam minimizar as sequelas físicas e/ou
psicológicas. Embora o tratamento seja necessário, muitas vezes este acaba sendo responsável
por resultados indesejáveis, causando sérios problemas na vida do paciente. A adaptação à
doença neoplásica configura-se como uma questão de enfrentamento não só da doença em si,
mas também, a implicação em seus efeitos colaterais adversos, como dor, sensações
desconfortáveis e outras alterações que afetam a qualidade de vida da mulher a longo prazo.
CONCLUSÃO: Conclui-se que os objetivos desse estudo foram alcançados, visto que foi
possível identificar fatores biopsicossociais, tais como medo, ansiedade, depressão e reclusão
social, onde estes não atuam isoladamente, mas interagem entre si, interferindo no tratamento
e no desfecho final da doença. Ademais, os fatores supracitados interferem na diminuição da
qualidade de vida, e com isso, torna-se necessário a implementação de equipes
multiprofissionais para assistência, bem como o fortalecimento de políticas públicas, criação
de programas de saúde e redes de apoio proporcionando uma assistência com qualidade. Dito
isto, espera-se que haja uma minimização do sofrimento, da dor e angústia psicológica causada
nas mulheres, contribuindo para um melhor prognóstico da doença e aumentando a sobrevida
das pacientes.

PALAVRAS-CHAVE: Qualidade de Vida; Angústia Psicológica; Neoplasias Mamárias.

ABSTRACT
OBJECTIVE: To identify biopsychosocial factors and how they affect the quality of life of
women diagnosed with breast cancer. METHODOLOGY: This is an integrative literature
review, carried out with a bibliographic survey in the databases present in the Virtual Health
Library, according to a cross between Health Sciences Descriptors (DeCS/MeSH) in a cross
with the Boolean operator AND as follows: “Quality of Life” and “Psychological Distress” and
“Breast Neoplasms”. After applying the eligibility criteria, 16 articles were selected to compose
this study. RESULTS AND DISCUSSION: The diagnosis of breast CA is something that
brings many uncertainties and psychological distress, requiring interventions that can minimize
the physical and/or psychological sequelae. Although treatment is necessary, it often ends up

91
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
being responsible for undesirable results, causing serious problems in the patient's life.
Adapting to a neoplastic disease is a matter of coping not only with the disease itself, but also
with its adverse side effects, such as pain, uncomfortable sensations and other changes that
affect the woman's quality of life in the long term. CONCLUSION: It is concluded that the
objectives of this study were achieved, since it was possible to identify biopsychosocial factors,
such as fear, anxiety, depression and social seclusion, where these do not act in isolation, but
interact with each other, interfering in the treatment and final outcome of the disease. In
addition, the aforementioned factors interfere with the decrease in quality of life, and with this,
it becomes necessary to implement multidisciplinary teams for assistance, as well as the
strengthening of public policies, creation of health programs and support networks providing
quality assistance. That said, it is expected that there will be a minimization of suffering, pain
and psychological distress caused in women, contributing to a better prognosis of the disease
and increasing patient survival.

KEYWORDS: Quality of Life; Psychological Distress; Breast Neoplasms.

1. INTRODUÇÃO
O Câncer (CA) de mama é o segundo tipo de câncer mais incidente no mundo,
perdendo apenas para o CA de Pulmão, pois o CA de mama apresenta sua maior incidência e
letalidade no público feminino no Brasil. Com estimativa de 66.280 novos casos para cada ano
do triênio 2020/2022, o que representa cerca de 61,61 novos casos de câncer de mama para
cada 100 mil mulheres, e tendo faixa etária prevalente entre os 50-69 anos. O CA de mama não
causa somente danos físicos à mulher diagnostica, mas também afeta o psicológico e o meio
social (BRITO et al., 2022).
Essa patologia tem causas multifatoriais, como a idade, aspectos ambientais, genéticos
e endócrinos. Este último está relacionado ao tempo de exposição ao hormônio estrogênio,
através da menarca precoce, menopausa tardia, primeira gravidez após os 30 anos ou
nuliparidade. Além disso hábitos como etilismo, tabagismo, obesidade, ausência de atividade
física e mutações nos genes Breast Cancer Gene (BRCA) 1 e BRCA 2 são condições que
aumentam o risco para essa neoplasia maligna (BRAGÉ et al., 2021).
Ao receberem o diagnóstico dessa patologia, as pacientes remetem à ideia de “sentença
de morte” e diversos sentimentos como medo, angústia e ansiedade começam a surgir (BRAGÉ
et al., 2021). Ademais, de acordo com a particularidade de cada paciente, tem-se como opções
terapêuticas a mastectomia, quimioterapia, radioterapia, hormônio terapia e terapia biológica.
Contudo, ressalta-se dizer que as medidas terapêuticas podem variar de acordo com a extensão
da doença, suas características biológicas e as condições da paciente (BRITO et al.,2022).
Desta forma, além dos sintomas físicos decorrentes da doença alguns efeitos
psicossociais podem estar associados com a mudança na qualidade de vida da mulher, como o
medo, ansiedade, depressão, baixa autoestima, dificuldade no processo de adaptação à vida em

92
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
casa e no trabalho devido à recorrência do câncer e efeitos negativos na vida sexual da mulher.
Ademais, devido a várias mudanças que o corpo sofre durante o tratamento, também a possível
indução da menopausa, alterações hormonais e deformidades nas mamas (KIM et al., 2022;
FERREIRA; BAQUIÃO; GRINCENKOV, 2019).
Portanto, o objetivo do presente estudo foi identificar os fatores biopsicossocial e como
eles afligem a qualidade de vida da mulher diagnosticada com neoplasia mamária.

2. MATERIAIS E MÉTODOS
A escolha pelo modelo integrativo se dá pois este tem como objetivo sintetizar os
resultados e análise metodológica encontrados na literatura com base em uma busca sistemática,
ordenada e abrangente, sendo esta reconhecida pelo seu fornecimento de informações amplas e
diversificadas quanto à abordagem temática. No mais, foram identificados os trabalhos de
acordo com sua correspondência ao objetivo de estudo, elaboração dos critérios de inclusão e
exclusão, busca nas bases de dados elegíveis, inclusão e avaliação dos achados e síntese do
apanhado o qual irá proporcionar compreensão ao tema ponderado (ERCOLE; MELO;
ALCOFORADO, 2014). Diante disso, fornecerá esclarecimentos mais organizados, permitindo
a construção de novos conhecimentos tendo como foco a resolubilidade da pergunta norteadora
“Como os fatores biopsicossociais podem afetar a qualidade de vida da mulher diagnosticada
com câncer de mama?”.
O presente estudo foi realizado em junho e julho de 2023, no qual o levantamento
bibliográfico foi através da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), sendo elas: Medical Literature
Analysis and Retrieval (MEDLINE), Índice Bibliográfico Español em Ciencias de la Salud
(IBECS), Index Medicus do Pacífico Ocidental (WPRIM), Literatura Latino-Americana e do
Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e a Committee on Undergraduate Medical Education
(CUMED).
Para a busca foram utilizados os seguintes Descritores em Ciências da Saúde (DeCS)
em cruzamento com o operador booleano “AND”, “Quality of Life”, “Psychological Distress”
e “Breast Neoplasms”, onde a coletânea elaborada após análise efetuada, conforme critérios de
inclusão e exclusão, resultou em 34 artigos que foram selecionados fidedignamente para a
revisão.
Para melhor execução da análise e adesão dos artigos, estes foram qualificados
segundo critérios de inclusão: estudos publicados gratuitamente nas bases de dados, em textos
completos, com recorte temporal de cinco anos (2018-2023), e sem delimitação de idioma.
Como critérios de exclusão: duplicatas nas bases supracitadas, além de resumos e artigos na

93
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
modalidade de teses e dissertações ou que não correspondessem ao objetivo do estudo em
questão (Figura 1).

Figura 1. Fluxograma da seleção dos artigos

Fonte: Autores, 2023

Segundo ao que é promulgado de acordo com os aspectos éticos estabelecidos, esta


revisão segue como providência a Lei n° 9.610/98 (BRASIL, 1998), quanto aos direitos
autorais, assim sendo qualificado como trabalho que dispensa a necessidade de pesquisa em
seres humanos, abdicada a submissão deste estudo ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP).

3. RESULTADOS
Após seleção dos artigos conforme os critérios de elegibilidade, estes foram
organizados conforme o quadro abaixo (Quadro 1) em busca da melhor organização e análise
à revisão, contendo respectivamente o autor e ano de publicação, título e revista.

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PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Quadro 1. Artigos selecionados para revisão, contendo autor e ano de publicação, título e revista.

AUTOR / ANO TÍTULO REVISTA


DE
PUBLICAÇÃO

AHN; SUH, 2023 Body image alteration in women with breast cancer: A concept Ásia Pac J Oncol
analysis using an evolutionary method. Nurs

ISLAM et al., 2023 Coping strategy among the women with metastatic breast cancer PLos One
attending a palliative care unit of a tertiary care hospital of
Bangladesh.

CARR et al., 2022 Existential distress and meaning making among female breast Palliat Support
cancer patients with cancer-related fertility concerns. Care
DAI et al., 2022 Multimorbidity and Its Associations With Anxiety and Cancer Control,
Depression Among Newly Diagnosed Patients With Breast
Cancer: A Retrospective Observational Cohort Study in a US
Commercially Insured and Medicare Advantage Population.
RANIERI et al., Early Diagnosis of Melanoma and Breast Cancer in Women: Int J Environ Res
2022 Influence of Body Image Perception. Public Health

OMARI et al., 2022 Psychological Distress, Coping Strategies, and Quality of Life Cancer Control
in Breast Cancer Patients Under Neoadjuvant Therapy: Protocol
of a Systematic Review.

POOSUWAN.; Psychological distress and health-related quality of life among Support Care
LUNDBERG, 2022 women with breast cancer: a descriptive cross-sectional study.

DINAPOLI et al., Psychological Aspects to Consider in Breast Cancer Diagnosis Current Oncology
2021 and Treatment. Reports

MUNIZ et al., 2021 American journal


Barriers to Psychosocial Services Use For Latina Versus Non- of psychotherapy
Latina White Breast Cancer Survivors.

MOKHTARI- Health and quality


HESAR; Health-related quality of life in breast cancer patients: review of of life outcomes
MONTAZERI, reviews from 2008 to 2018.
2020
GUCHT et al., A mindfulness-based intervention for breast cancer patients with Trials
2020 cognitive impairment after chemotherapy: study protocol of a
three-group randomized controlled trial.
GARCÍA et al., Biopsychosocial and clinical characteristics in patients with BMC câncer
2019 resected breast and colon cancer at the beginning and end of
adjuvant treatment.

RAJAGOPAL; Asian Pacific


LIAMPUTTONG; journal of cancer
MCBRIDE, 2019 prevention:
APJCP

95
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
The Lived Experience of Australian Women Living with Breast
Cancer: A Meta-Synthesis.

PEREIRA et al., Quality of Life in Breast Cancer Patients: The Moderator Role Annals of
2019 of Family Stress / Calidad de vida en pacientes con cáncer de Psychology
mama: el papel moderador del estrés familiar

RICHARD et al., Recover your smile: Effects of a beauty care intervention on Psycho‐Oncology
2019 depressive symptoms, quality of life, and self-esteem in patients
with early breast cancer.

WU et al., 2018 Effects of a Psychoeducational Intervention in Patients With J Nurs Res


Breast Cancer Undergoing Chemotherapy.

Fonte: Autores, 2023

4. DISCUSSÃO
Independentemente de alguns prognósticos serem relativamente bons, um diagnóstico
de CA de mama é ameaçador e amedrontador, visto que a mulher acaba relacionando o
diagnóstico com os inúmeros estressores adicionais, como o tratamento e os efeitos colaterais.
Logo, os níveis de sofrimento dos pacientes com neoplasia mamária variam de acordo com o
indivíduo e o estágio da doença, que podem aumentar ou diminuir ao longo do processo da
doença (DINAPOLI et al., 2021).
A partir da revisão dos artigos, Ranieri et al. (2022) afirmam que a mulher vítima de
neoplasia mamária ao receber o diagnóstico e principalmente ao iniciar o tratamento, ocorrem
uma série de mudanças significativas que afetam o bem-estar físico, social e psicológico,
afetando na qualidade de vida das mulheres. O mesmo ressalta que a questão do sofrimento
psicológico, associado à incerteza de um futuro e a relação com o seu “eu” e sociedade, podem
impactar negativamente na adesão desta ao tratamento e ao retorno do cotidiano. Omari et al.
(2022), reforçam que o quesito diagnóstico se apresenta como um dos principais estressores,
tanto para o manejo da doença como nas dimensões psicológicas da imagem corporal da mulher
afetada, além de culminar na limitação em seu papel social e familiar.
O diagnóstico de CA de mama é algo que traz muitas incertezas e angústia psicológica,
necessitando de intervenções que possam minimizar as sequelas físicas e/ou psicológicas.
Embora o tratamento seja necessário, muitas vezes este acaba sendo responsável por resultados
indesejáveis, causando sérios problemas na vida do paciente. Segundo Gucht et al. (2020) o
tratamento quimioterápico tem sido responsável por afetar a cognição de pacientes em

96
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
tratamento do CA, pois há evidências científicas que mostram que a quimioterapia gera efeitos
nocivos agudos na cognição dessas pacientes, gerando disfunções na memória, atenção e
funcionamento executivo. Por conta desses efeitos adversos, a quimioterapia pode acabar
gerando impactos na qualidade de vida bem como na vida profissional, ao mesmo tempo em
que geram custos diretos ou indiretos tanto na vida da vítima quanto para a sociedade (MUNIZ
et al., 2021).
Ao receber o diagnóstico de neoplasia mamária, a mulher passa por um estado de
fragilidade emocional e medo do desfecho final. É comum que a maioria das mulheres
desenvolva uma insegurança e medo relacionado à figura do simbolismo quanto às mudanças
que possam vir afetar seu corpo físico, pois para ela isso desconstrói o simbolismo feminino e
acaba gerando uma série de alterações biopsicossociais como dor, medo, ansiedade e
isolamento social.
De acordo com Ahn e Suh (2023), o tratamento do CA de mama é reconhecido como
o antecedente mais importante de alteração da imagem corporal. Após o diagnóstico e o
tratamento do CA de mama, as mulheres comumente experimentaram mudanças físicas e
emocionais drásticas. Dito isso, o tratamento cirúrgico como a mastectomia parcial ou radical,
faz com que ocorra a perda ou deformação das mamas. Além disso, ocorre várias mudanças na
aparência como o linfedema, ganho ou perda de peso e alopecia induzida por quimioterapia.
Além disso, os estudos de Hesari e Montazeri (2020) mostram que o longo período de
tratamento contra o CA de mama traz consigo alterações indesejadas que acabam dificultando
o processo de cura dessas pacientes. As terapias locais inclusive a quimioterapia e a
mastectomia, acabam gerando nas mulheres problemas de autoestima e distúrbios na vida
sexual. Ainda segundo os estudos, as mulheres que passam por mastectomia, são as que mais
desenvolvem problemas psicológicos graves, enquanto as não mastectomizadas ou que
passaram por reconstrução mamária são as que menos são afetadas e apresentam um certo grau
de satisfação com a aparência.
Islam et al. (2023) afirma que o diagnóstico de CA, gera um impacto na vida das
mulheres e juntamente ao tratamento, repercutirá em estresse intenso devido ao desgaste
emocional que afetam a saúde física e emocional. Dentre essas modificações biopsicológicas,
a depressão, ansiedade e melancolia são as mais prevalentes, devido ao medo da piora clínica e
consequentemente da morte. Conforme Poosuwan e Lundemberg (2022), o sofrimento psíquico
está intimamente ligado à diminuição da qualidade de vida das pacientes acometidas por
neoplasia mamária, além de que os sintomas depressivos e pensamentos suicidas podem ocorrer

97
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
devido a constante instabilidade e desequilíbrio emocional entre a realidade e o desejo dos
ideais.
Para Dai et al. (2022), o sofrimento psicológico pode afetar mais da metade das
mulheres com diagnóstico de neoplasia mamária, assim como contribui também para o uso
indiscriminado de ansiolíticos e antidepressivos. O mesmo expõe que no grupo de análise em
seu estudo cerca de 27,7% das pacientes com câncer apresentaram ansiedade e 21,9% a
depressão, durante o primeiro ano depois da descoberta de neoplasia. Dito isto, Omari et al.
(2022), afirma que o pós-diagnóstico e início quimioterápico, faz com que as mulheres
desenvolvam sentimentos de negação e autopercepção indiferente, causando insegurança e
perturbação quanto a sua sexualidade e a baixa autoestima.
O elencado acima corrobora com o diz Dinapoli et al. (2021), quando o mesmo afirma
que além da ansiedade e depressão, o estresse pós traumático, distúrbio cognitivos e disfunção
sexual podem ser afetados, influenciando no conforto psicológico e afetivo das mulheres e
como consequência acaba afetando sua qualidade de vida. Essas alterações podem afetar tanto
jovens como mulheres mais idosas, e de acordo com suas necessidades individuais e/ou
coletivas, é necessário um plano de assistência que seja eficiente para que possa ajudar em um
melhor prognóstico.
Omari et al. (2022) ressalta que a adaptação à doença neoplásica configura-se como
uma questão de enfrentamento não só da doença em si, mas também, a implicação em seus
efeitos colaterais adversos, como dor, sensações desconfortáveis e outras alterações que afetam
a qualidade de vida a longo prazo. De acordo com Ahn e Suh (2023), as mulheres à medida
que aceitam as alterações corporais de forma positiva, conseguem ter uma melhor aceitação de
autoimagem corporal, proporcionando a elas continuar a terem uma vida e relacionamentos
saudáveis. E quanto a este enfrentamento a aceitação da realidade dos resultados é comum,
apesar de ainda haver grupos de mulheres com CA de mama que insistem na persistência de
negação do diagnóstico e não adesão terapêutica, por medo, insegurança ou por vezes, a falta
de apoio, que acaba dificultando a adesão ao tratamento, promovendo adversidades da patologia
(ISLAM et al., 2023).
No mais, Omari et al. (2022) fala que a existência quanto ao estigma da cirurgia de
mastectomia, como uma das opções de tratamento, pode vir a gerar estresse as mulheres,
fazendo com que elas tenham dúvidas no que se refere à adesão desta opção terapêutica, pois,
encontram-se pensativas quanto ao resultado do tratamento para com a patologia, em
contrapartida ao pensamento de como irá repercutir em seu futuro. As incertezas entre mulheres
diagnosticadas por neoplasia mamária, quanto as questões relacionadas ao ser mãe, pois caso

98
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
haja uma gravidez, a mulher sente-se envergonhada em relação às críticas por pensar em ser
uma mulher lactente, porém mastectomizada, como também o medo de não conseguirem cuidar
dos filhos, devido a fraqueza em decorrência do longo processo de tratamento (CARR et al.,
2022).
De acordo com Garcia et al. (2022), o enfrentamento emocional desempenha um papel
crucial diante dos tratamentos farmacoterápicos e radiológicos, que podem resultar no
desenvolvimento de sintomas como depressão, ansiedade e medo da morte. Torna-se,
fundamental que as experiências compartilhadas com indivíduos afetados por neoplasias sejam
capazes de promover a aceitação dos efeitos colaterais e melhorar a qualidade de vida, levando
em consideração as peculiaridades de cada indivíduo. Essas mulheres expressam uma ampla
gama de emoções, que abrangem desde o choque inicial até o desânimo, o abalo emocional e a
incredulidade diante do diagnóstico recebido. Algumas experimentam surpresa ao serem
diagnosticadas com câncer, mesmo adotando um estilo de vida saudável (RAJAGOPAL et al.,
2019).
Para Pereira et al. (2019) e Richard et al. (2019), os cuidados voltados para a
autoestima e a autoimagem, trazem efeitos positivos em uma variedade de avaliações
psicológicas, visto que o sofrimento psicológico é muito comum em mulheres com neoplasia
mamária, exercendo uma influência significativa na qualidade de vida. Ao combinar os
cuidados estéticos com o tratamento médico, é possível obter melhorias nos aspectos
psicológicos, como a redução da depressão, maior adesão aos tratamentos, regulação do cortisol
e um aumento na responsividade do sistema imunológico.
A ansiedade e os medos inerentes ao CA podem desencadear dificuldades no
enfrentamento da doença. A resiliência auxilia no enfrentamento da doença e desempenha um
papel crucial nesse processo, provando ser bem-sucedida na superação de desafios psicológicos.
Esse suporte reduz a ansiedade e a depressão, preservando a qualidade de vida das pacientes,
exercendo um notável desenvolvimento nas dimensões físicas, espirituais e psicológicas,
resultando em um mecanismo de adaptação positiva que melhora os efeitos colaterais físicos,
sendo elemento de suporte para resistir aos entraves ligados ao tratamento (WU et al., 2018).
O câncer de mama é uma doença inter-relacionada, impactando a saúde da mulher
como um todo, gerando sequelas psicológicas muitas vezes irreversíveis. Portanto, a maioria
das mulheres vítimas desta patologia, enfrentam problemas psicológicos graves. Assim, Muniz
et al. (2021) afirma que os serviços especializados em saúde mental são de extrema importância
para dar suporte emocional às mulheres que recebem o diagnóstico ou estão curadas do CA.

99
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Dessa forma, espera-se que essa assistência psicológica possa minimizar as sequelas físicas,
reduzindo o sofrimento psíquico não só das vítimas com câncer, mas também de seus familiares.

5. CONCLUSÃO
Conclui-se que os objetivos desse estudo foram alcançados, visto que foi possível
identificar alguns fatores biopsicossociais, tais como medo, ansiedade, depressão e reclusão
social, onde estes não atuam isoladamente, mas interagem entre si, interferindo no tratamento
e no desfecho final da doença. Além disso, os fatores socioeconômicos como acesso a recursos
financeiros, serviços e educação em saúde, também geram influências importantes no
prognóstico da doença.
Ademais, os fatores supracitados consequentemente interferem na diminuição da
qualidade de vida, onde observou-se uma maior tensão quanto a convivência no dia a dia,
levando em consideração tanto o relacionamento particular, como também coletivo entre
família e comunidade, de mesmo modo, a apreensão no que se refere as decisões terapêuticas,
tendo a mastectomia e quimioterapia como exemplo, que apesar de seus pontos positivos,
causam sequelas físicas e psicológicas e o medo de como estas irão repercutir a longo prazo,
como também, a perca do ideal feminino devido sequelas na mama que acometem em grande
peso a saúde psicológica da mulher com diagnóstico de neoplasia mamária.
Portanto, é necessário a implementação de equipes multiprofissionais atuando na
assistência às mulheres com CA de mama, bem como faz-se necessário o fortalecimento de
políticas públicas, criação de programas de saúde e redes de apoio que consigam acolher a
mulher vítima dessa patologia, proporcionando uma assistência com qualidade de forma que as
mulheres possam sentir-se seguras, empoderadas e confiantes durante todo o processo. Com
isso, espera-se que haja uma minimização do sofrimento, da dor e angústia psicológica causada
nas mulheres, contribuindo para um melhor prognóstico da doença e aumentando a sobrevida
das pacientes.

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102
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
CAPÍTULO 10
FATORES QUE INFLUENCIAM O
ATRASO DO DIAGNÓSTICO DE
LEUCEMIA EM MULHERES
PIAUIENSES
FACTORS THAT INFLUENCE THE DELAY IN THE DIAGNOSIS OF LEUKEMIA
IN WOMEN FROM PIAUÍ, BRAZIL

10.56161/sci.ed.20230913C10

Ana karoline Oliveira de Moura


Estudante do Centro Acadêmico UniFacid Wyden
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0009-0003-6579-4550)

Eliamara Barroso Sabino


Doutora docente do Centro Acadêmico UniFacid Wyden
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0000-0003-1257-7571)

Emanoele Torres Sousa Rodrigues


Estudante do Centro Acadêmico UniFacid Wyden
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0009-0006-0868-7638)

Gumercindo Barone Rosa Carrias


Estudante do Centro Acadêmico UniFacid Wyden
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0009-0000-1713-3027)

Laís Carvalho Lima Batista


Estudante do Centro Acadêmico UniFacid Wyden
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0009-0009-7148-7198)

Laura Matos Said


Estudante do Centro Acadêmico UniFacid Wyden
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0009-0001-9684-6312)

Lina Monteiro Andrade Bona


Estudante do Centro Acadêmico UniFacid Wyden
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0000-0002-0534-8546)

103
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Marcos Arcoverde Fortes Filho
Estudante do Centro Acadêmico UniFacid Wyden
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0009-0004-4578-0220)

Renara Natália Cerqueira Silva


Estudante do Centro Acadêmico UniFacid Wyden
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0000-0001-9119-7045)

Suyanne Victória Pereira Fonsêca


Estudante do Centro Acadêmico UniFacid Wyden
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0000-0002-2468-1213)

RESUMO
OBJETIVO: Investigar os fatores que influenciam no diagnóstico tardio de leucemia em
mulheres piauienses. METODOLOGIA: Pesquisa epidemiológica, retrospectiva de
delineamento ecológico. Os dados foram coletados do Departamento de Informática do SUS
(DATASUS), não sendo necessário a submissão do trabalho ao CEP (Comitê de Ética em
Pesquisa), já que as informações coletadas são de domínio público. Foram analisados dados do
período de 2013 a 2023, e as variáveis de interesse foram o sexo feminino, casos segundo
região, faixa etária, ano de diagnóstico, modalidade terapêutica, óbitos por ano e tempo de
tratamento. RESULTADOS: Do total de casos de leucemia no sexo feminino diagnosticados
na região Nordeste, 423(6,1%) ocorreram no estado do Piauí, com maior predominância de
leucemia mielóide, 228 casos (53%) e leucemia linfoide, 188 casos (44%). Pacientes de 0 a 19
anos foram o grupo com maior número de diagnósticos, 136 casos (32%). O início do
tratamento ocorreu entre 1 a 10 dias em 184(43%) dos pacientes e 8(1,89%) dos pacientes, após
2 anos do diagnóstico. A terapêutica mais adotada foi a quimioterapia, utilizada em 403 casos
(95%). No período pesquisado foram registrados 2.774 óbitos por leucemia na região Nordeste,
destes, 242 no estado do Piauí. CONCLUSÃO: Após análise dos dados, constatou-se que a
leucemia mielóide é a que possui maior incidência no estado do Piauí, especialmente na faixa
etária de 0-19 anos. Observou-se, também, que uma parcela significativa dos pacientes iniciou
o tratamento dentro do prazo adequado, ainda assim, ocorreu uma alta taxa de mortalidade,
sugerindo dificuldades de acesso aos serviços de saúde, especialmente em regiões rurais e
possíveis atrasos no diagnóstico. Os achados desse estudo podem atuar com indicadores para
políticas públicas que facilitem o acesso à saúde e consequentemente um diagnóstico mais
precoce, a fim de diminuir os impactos da leucemia no estado do Piauí.
.
PALAVRAS-CHAVE: Acesso aos serviços de saúde; Diagnóstico tardio; Leucemia;
Mulheres.

ABSTRACT
OBJECTIVE: To investigate the factors that influence the late diagnosis of leukemia in
women from Piauí. METHODOLOGY: Epidemiological research, retrospective with
ecological design. Data were collected from the Department of Informatics of the SUS
(DATASUS), and it is not necessary to submit the work to the CEP (Research Ethics
Committee), since the information collected is in the public domain. Data from the period from
2013 to 2023 were analyzed, and the variables of interest were female gender, cases according
to region, age group, year of diagnosis, therapeutic modality, deaths per year and duration of
treatment. RESULTS: Of the total number of leukemia cases in the diagnosed in the Northeast
region, 423 (6.1%) occurred in the state of Piauí, with a greater predominance of myeloid

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PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
leukemia, 228 cases (53%) and lymphoid leukemia, 188 cases (44%). Patients aged 0 to 19
years were the group with the highest number of diagnoses, 136 cases (32%). The beginning of
the treatment occurred between 1 and 10 days in 184 (43%) of the patients and 8 (1.89%) of the
patients, after 2 years of diagnosis. The most adopted therapy was chemotherapy, used in 403
cases (95%). In the research period, 2,774 deaths from leukemia were recorded in the Northeast
region, of which 242 were in the state of Piauí. CONCLUSION: After analyzing the data, it
was found that myeloid leukemia has the highest incidence in the state of Piauí, especially in
the 0-19 age group. It was also observed that a significant number of patients started treatment
within the appropriate period, yet there was a high mortality rate, suggesting difficulties in
accessing health services, especially in rural areas, and possible delays in diagnosis. The
findings of this study can act as indicators for public policies that facilitate access to health and,
consequently, earlier diagnosis, in order to reduce the impacts of leukemia in the state of Piauí.

KEYWORDS: Access to health services; Late diagnosis; Leukemia; women.

1. INTRODUÇÃO
Fisiologicamente, as células do organismo humano passam por um processo de
diferenciação e divisão celular. A partir disso, fatores genéticos, ambientais e físicos podem
interferir nesse processo e promover alterações na fisiologia celular, originando as mutações.
Algumas células mutadas conseguem evadir a regulação celular e assim, prosseguir no ciclo de
divisão dando origem a novas células imperfeitas (ALMEIDA, 2005).
Na hematopoiese, as células componentes do sangue são sintetizadas em grande
escala, quando afetadas pelos processos neoplásicos alteram sua biologia, induzindo
comportamentos que alteram sua funcionalidade, desenvolvendo distúrbios malignos, como as
leucemias (ZERBINI et al., 2011).
No sistema de saúde, o atraso no combate às doenças é algo frequente, sendo assim,
os atrasos relacionados à procurar da assistência médica e o tempo em que essa assistência
demora no diagnóstico podem contribuir para um pior prognóstico e menor sobrevida dos
pacientes. Estudos definem que o atraso do diagnóstico está relacionado ao período de tempo
no início da sintomatologia até o diagnóstico da doença, já o do tratamento depende do período
do diagnóstico até o começo da terapêutica (DANG-TAN; FRANCO, 2007); (BALMANT et
al., 2019).
Na faixa etária infantil, a região Nordeste apresentou maiores taxas de atraso no
diagnóstico de câncer. Alguns tipos de cânceres apresentam melhores taxas de sobrevida em
relação a uma menor frequência de atrasos do diagnóstico, enquanto que outros demonstraram
nenhuma alteração ao prognóstico. Apesar disso, alguns dados, principalmente em relação às
leucemias apresentam contradições, exigindo aprofundamento e mais pesquisas (BALMANT

105
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
et al., 2019). Sendo assim, o objetivo deste capítulo é investigar e debater acerca dos principais
fatores que influenciam no atraso do diagnóstico de leucemia em mulheres piauienses.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

O presente estudo é uma pesquisa epidemiológica, retrospectiva de delineamento


ecológico, a partir de bases de dados secundários e abertos do Departamento de Informática do
SUS (DATASUS). Por se tratar de dados secundários de domínio público, não foi necessária a
submissão do presente trabalho ao CEP (Comitê de Ética em Pesquisa).
Através do Sistema de Informações sobre Mortalidade do SUS (SIM-SUS) foram
obtidos os registros de óbitos por leucemia no Brasil entre 2013 e 2023. Os óbitos por leucemia
foram classificados, de acordo com a Classificação Estatística Internacional de Doenças e
Problemas Relacionados à Saúde – Décima Revisão (CID 10) em: LLA (C91.0, C91.2, C91.4,
C91.5), LLC (C91.1), Outras Leucemias Linfoides (OLL) (C91.7, C91.9), LMA (C92.0, C92.2,
C92.3, C92.5, C93.0, C93.2, C94.0, C94.2), LMC (C92.1), Outras Leucemias Mieloides (OLM)
(C92.7, C92.9, C93.1, C93.7, C93.9), Leucemia Pró-Mielocítica Aguda (LPA) (C92.4), Outras
Leucemias Não Especificadas (OLNE) (C94.1, C94.3, C94.4, C94.5, C95, C95.0, C95.1,
C95.2, C95.7, C95.9).
Na análise dos dados levaram-se em consideração dois importantes aspectos: o
desenho de séries temporais e o quantitativo de óbitos desse tipo específico de câncer,
considerando o sexo feminino, casos segundo região de saúde (residência), diagnóstico
detalhado, diferentes faixas etárias (0-19, 20-39, 40-59 e 60 ou mais), ano de diagnóstico,
modalidade terapêutica, óbitos por ano de atendimento e tempo de tratamento.

3. RESULTADOS
No período estudado foram diagnosticados no sexo feminino 6.877 casos de Leucemia
na região Nordeste. O estado que apresentou maior número de diagnósticos foi a Bahia, com
1.399 casos (20,34%), e o estado que apresentou menor número de casos foi Sergipe, com 225
(3,2%). O estado do Piauí apresentou um total de 423 casos (6,1%).

Dentre os 423 casos analisados no estado do Piauí, 228 (53%) foram de leucemia
mieloide, 188 casos (44%) foram de leucemia linfoide. Apenas 3 casos (0,7%) correspondem a
leucemia monocítica e 4 casos (0,9%) foram de diagnóstico de leucemia cujo tipo celular não
foi especificado.

106
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Gráfico 01. Classificação dos diagnósticos de leucemia no Piauí, de janeiro de 2013 a abril de 2023

Fonte: Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS)

Quanto à análise por faixa etária, o grupo de pacientes com maior número de
diagnósticos de leucemia ocorreu nos pacientes de 0 a 19 anos, com 136 casos (32%). A faixa
etária com menor número de diagnósticos foi de 25 a 29 anos, com apenas 12 (2,8%). À análise
estatística observou-se a presença de uma correlação moderada negativa (r= -0,43).

Gráfico 02. Diagnósticos de leucemia segundo faixa etária no Piauí, de janeiro de 2013 a abril de 2023

Fonte: Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS)

107
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Dentre os 423 casos de leucemia analisados, em 403 deles foi utilizada como
modalidade terapêutica a quimioterapia. Além disso, apenas 1 paciente foi submetido a
procedimento cirúrgico e em 19 casos não foi informada a terapêutica aplicada.

Quanto à análise de tempo para o tratamento, a maior parte dos casos, 64 pacientes
iniciaram o tratamento no mesmo dia, 184 iniciaram o tratamento entre 1 e 10 dias. Apenas 7
pacientes iniciaram o tratamento após 1 ano e 8 pacientes iniciaram o tratamento após 2 anos
do diagnóstico.

Gráfico 03. Diagnósticos de leucemia segundo tempo de início de tratamento no Piauí, de janeiro de 2013 a abril
de 2023

Fonte: Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS)

No período analisado foram registrados 2.774 óbitos no sexo feminino por leucemia na
região Nordeste. Em análise temporal observou-se que o ano que registrou maior número foi
2018, com 316 óbitos (11%), e o ano com menor número de registros de óbitos é 2023, com
66, levando-se em consideração que os dados coletados correspondem a apenas os primeiros 4
meses do ano. Nesse período, 242 óbitos foram registrados no estado do Piauí, sendo o ano de
2016 aquele que apresentou maior número, com 34.

108
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
4. DISCUSSÃO
A incidência de LMA aumenta com a idade e é mais frequente acima dos 60 anos. Isso
provavelmente se deve a uma maior expectativa de vida e ao aumento da exposição ambiental
a carcinógenos (REGO et al., 2003).
A expectativa de vida é menor no Brasil, principalmente nas regiões Norte e Nordeste,
quando comparada à Europa ou aos Estados Unidos. Os dados epidemiológicos existentes
referem-se a uma menor incidência de LMA no Brasil. Isso pode ser devido mais
provavelmente à ausência do pico de incidência entre os idosos observado nos países
desenvolvidos do que ao subdiagnóstico. Da mesma forma, também as síndromes
mielodisplásicas no Brasil ocorrem em idades mais jovens (REGO et al., 2003).
Pode-se supor que no Piauí, uma região essencialmente agrícola, as pessoas estão
expostas a carcinógenos diferentes do que no sudeste, onde estão presentes genotoxinas
industriais (REGO et al., 2003). Portanto, a composição étnica e os fatores ambientais podem
desempenhar um papel nessa distribuição (ROSS et al., 2002).
A maioria dos pacientes com LLA são crianças, e mesmo a maioria dos casos
considerados "adultos" têm menos de 30 anos. São encontrados um pico de incidência entre 2-
10 anos, conforme observado na maioria dos estudos ao redor do mundo (REGO et al., 2003).
A mortalidade durante a indução é baixa, mas vários pacientes morreram durante o
tratamento de manutenção ou recaíram. Isso está de acordo com o esperado para pacientes com
baixo nível socioeconômico, nos quais a tolerância e a adesão ao tratamento de manutenção
estão prejudicadas. O uso de protocolos de ponta e bons cuidados de suporte são importantes
para alcançar um resultado de tratamento bem-sucedido (LO-COCO et al., 2010).
O resultado do tratamento e sobrevivência da leucemia aguda em mulheres é geralmente
semelhante ao dos homens. No entanto, a leucemia aguda em mulheres apresenta desafios
adicionais na prática clínica. Além das precauções importantes durante a terapia, como
prevenção de sangramento uterino anormal em mulheres na pré-menopausa e terapia durante a
gravidez, as mulheres sobreviventes de leucemia aguda enfrentam problemas de saúde únicos
e potencialmente de longo prazo (THOMAS et al., 2010).
Substancialmente, menos informações estão disponíveis sobre o risco de câncer linfo-
hematopoiético para mulheres que vivem em fazendas. Essas mulheres podem estar expostas a
pesticidas por sua proximidade com terras agrícolas, participação na aplicação de pesticidas
e/ou exposição domiciliar. Além disso, as mulheres nas fazendas podem ter outras exposições
relacionadas à agricultura, como animais, poeira, bactérias e endotoxinas. A proximidade

109
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
residencial de campos de cultivo demonstrou aumentar a exposição a pesticidas (ROSS et al.,
2002).
Os tratamentos oferecidos para leucemia aguda são idênticos independentemente do
sexo dos pacientes. Os resultados obtidos também são geralmente os mesmos. No entanto, a
descoberta de leucemia aguda em mulheres pode trazer problemas adicionais, como a
ocorrência de leucemia após história de câncer de mama ou de ovário, a prevenção de
sangramento de origem ginecológica durante tratamentos em mulheres na pré-menopausa, a
descoberta de leucemia durante a gravidez ou as complicações específicas que podem ser
observadas a longo prazo (THOMAS et al., 2010).
Ademais, em relação ao atraso no diagnóstico de doenças hematológicas/oncológicas,
um dos fatores influentes é uma maior distância geográfica do local de residência dos pacientes
em relação aos centros especializados (FAJARDO-GUTIERREZ et al., 2002).

5. CONCLUSÃO OU CONSIDERAÇÕES FINAIS


No período estudado houve uma preocupante incidência de casos de leucemia na região
Nordeste, com o estado do Piauí ocupando a sétima posição em termos de número de casos. A
leucemia mielóide foi o tipo mais comum, afetando mais da metade dos casos diagnosticados.
Surpreendentemente, observou-se uma alta incidência de leucemia em pacientes mais jovens,
especialmente entre 0 e 19 anos, o que difere das tendências descritas na literatura médica.
Além disso, as mulheres na menopausa apresentaram uma maior ocorrência da doença em
comparação com as idades férteis, o que pode contribuir para um prognóstico mais favorável.
A quimioterapia foi a principal modalidade terapêutica utilizada, e é encorajador notar
que uma parcela significativa dos pacientes iniciou o tratamento dentro de um prazo adequado.
No entanto, uma alta taxa de mortalidade foi registrada, sugerindo a existência de possíveis
atrasos no diagnóstico e dificuldades de acesso aos cuidados de saúde, especialmente para
aqueles que residem em áreas rurais distantes dos centros de tratamento. A concentração dos
diagnósticos nas regiões do interior do estado pode ser atribuída à falta de serviços
especializados nessas áreas e à exposição aumentada a agrotóxicos e pesticidas. Essas
descobertas destacam a necessidade de melhorias no diagnóstico precoce, acesso aos serviços
de saúde e medidas de prevenção para reduzir o impacto da leucemia na região Nordeste,
especialmente no estado do Piauí.

110
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
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9 - ALMEIDA, V. L. et al. Câncer e agentes antineoplásicos ciclo celular específicos e ciclo


celular não específicos que interagem com o DNA: uma introdução. Química nova, v.
28, n. 1, p. 118 129, 2005.

111
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
CAPÍTULO 11
HIPERTENSÃO ARTERIAL E
GRAVIDEZ: MECANISMO
FISIOPATOLÓGICO E ABORDAGEM
TERAPÊUTICA
HYPERTENSION AND PREGNANCY: PATHOPHYSIOLOGICAL MECHANISM
AND THERAPEUTIC APPROACH

10.56161/sci.ed.20230913C11

José Nacélio da silva Ferreira


Centro Universitário Dr. Leão Sampaio
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0000-0001-7394-2662)

Maria Rayanne Silva do Nascimento


Centro Universitário Dr. Leão Sampaio
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0009-0005-6524-6401)

Juliana Paula Aguiar Queiroz


Centro Universitário Dr. Leão Sampaio
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0009-0005-7655-3108)

Ana Laura Mizael da Silva


Centro Universitário Dr. Leão Sampaio
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0009-0007-3148-3315)

Luanne Monteiro Bacurau do Vale


Centro Universitário Dr. Leão Sampaio
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0009-0000-3982-3694)

Maria Eloiza Nogueira Enoque de Morais


Centro Universitário Dr. Leão Sampaio
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0009-0003-5681-9314)

Ingrid Oliveira do Nascimento


Centro Universitário Dr. Leão Sampaio
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0009-0006-3969-5059)

112
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Sarah Ferreira de Sousa
Centro Universitário Dr. Leão Sampaio
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0009-0009-2064-371)

Claudenice Carneiro Pereira


Centro Universitário Dr. Leão Sampaio
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0009-0001-1993-3770)

Ana Érica de Oliveira Brito Siqueira


Centro Universitário Dr. Leão Sampaio
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0009-0000-0981-2118)

RESUMO
Introdução: A gravidez é um fenômeno fisiológico e sua evolução se dá, na maioria dos casos,
sem intercorrências, contudo em algumas situações ocorre o que chamamos de síndromes
hipertensivas na gravidez. Objetivo: Mapear na literatura as principais abordagens terapêuticas
utilizadas frente a gestantes hipertensas, compreendendo a fisiopatologia da doença.
Metodologia: Trata-se de uma revisão integrativa da literatura. A pesquisa foi realizada nas
bases de dados da LILACS, MEDLINE e no SCIELO. Através dos cruzamentos dos seguintes
descritores: Complicações na Gravidez, Gravidez de Alto Risco, Hipertensão, Terapêutica,
Saúde da Mulher e Fisiopatologia. Por fim, após considerar os critérios de inclusão e exclusão,
a amostra final foi composta por 15 estudos. Resultados: A HAS gestacional é um grande fator
de risco para o desenvolvimento da gestação, destacando a importância de um pré-natal
realizado de forma regular e completa, proporcionando a identificação e o acompanhamento
precoce de alterações nos níveis pressóricos. Conclusão: Por fim, a hipertensão arterial durante
a gestação é uma das maiores causas de morte materna, dessa forma é relevante ações para
prevenções e tratamento precoce da patologia, seja esse farmacológico ou não.

PALAVRAS-CHAVE: complicações na gravidez; gravidez de alto risco; hipertensão;


terapêutica.

ABSTRACT

Introduction: Pregnancy is a physiological phenomenon and its evolution occurs, in most


cases, without complications, however in some situations occurs what we call hypertensive
syndromes in pregnancy. Objective: To map in the literature the main therapeutic approaches
used in hypertensive pregnant women, understanding the pathophysiology of the disease.
Methodology: This is an integrative literature review. The research was carried out in the
LILACS, MEDLINE and SCIELO databases. Through the crossings of the following
descriptors: Pregnancy Complications, High Risk Pregnancy, Hypertension, Therapeutics,
Women's Health and Pathophysiology. Finally, after considering the inclusion and exclusion
criteria, the final sample consisted of 15 studies. Results: Gestational SAH is a major risk factor
for the development of pregnancy, highlighting the importance of a prenatal care performed
regularly and completely, providing early identification and monitoring of changes in blood
pressure levels. Conclusion: Finally, arterial hypertension during pregnancy is one of the major
causes of maternal death, so it is relevant actions for prevention and early treatment of
pathology, whether pharmacological or not.

KEYWORDS: pregnancy complications; high-risk pregnancy; hypertension; therapeutics.

113
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
1 INTRODUÇÃO
A gravidez é um fenômeno fisiológico resultante da fecundação do óvulo (ovócito) pelo
espermatozoide, tendo normalmente duração de 40 semanas, dividida em três trimestres e sua
evolução se dá, na maior parte dos casos, sem intercorrências. Apesar disso, algumas vezes, a
gestação pode trazer riscos para o binômio materno fetal, no qual algumas condições tendem a
agravar o estado de saúde de ambos e torná-las de alto risco quando comparadas com as demais
(COSTA, 2010).
Sendo assim, define-se como gestação de alto risco, segundo Ministério da Saúde,
aquela na qual a vida ou a saúde da mãe e/ou do feto e/ou do recém-nascido têm maiores
chances de serem atingidas que as da média da população considerada (MINISTÉRIO DA
SAÚDE, 2012).
Nessa conjectura, a gestação é acompanhada por várias alterações hemodinâmicas e
vasculares, pelo aumento do débito cardíaco, retenção de sódio e água, expansão do volume
sanguínea e da massa eritrocitária, diminuição da resistência vascular periférica e da pressão
arterial sistêmica, atingindo seu máximo no segundo trimestre de gestação (CUNHA; SILVA,
2022).
A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é definida como uma doença crônica
caracterizada pelos níveis elevados da pressão sanguínea nas artérias, que acontece quando os
valores das pressões máxima e mínima são iguais ou ultrapassam os 140/90 mmHg (BRASIL,
2023).
Dentro do contexto epidemiológico os distúrbios hipertensivos da gravidez, são uma das
principais causas de morbimortalidade materna e fetal em todo o mundo. A HAS gestacional
é caracterizada por modificações funcionais dos órgãos – alvo (coração, encéfalo, rins e vasos
sanguíneos) sobrecarregando principalmente o sistema cardiovascular com aumento da pressão
nas artérias, classificada em pré-eclâmpsia; eclâmpsia; hipertensão gestacional e hipertensão
crônica (RODRIGUES et al, 2018; TAVARES, 2022).
Nessa perspectiva, a pré-eclâmpsia é caracterizada pelo aumento dos níveis pressóricos,
a partir da 20ª semana de gestação, juntamente com a presença da proteinúria, já a hipertensão
crônica é identificada antes da 20ª semana de gestação; e a pré-eclâmpsia sobreposta a HAS
crônica é identificada quando a gestante possui histórico de hipertensão e apresenta proteinúria
após a 20ª semana de gestação (THULER et al, 2018).
Com isso, as síndromes hipertensivas na gravidez são as patologias mais frequentes no
período gravídico, havendo fatores de risco para o seu desenvolvimento sendo eles a
primiparidade, histórico familiar para as síndromes hipertensivas na gravidez, diabetes mellitus,

114
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
gemelaridade, gestação molar, hipertensão arterial crônica e idade materna acima de 35 anos
(DAMASCENO et al, 2020).
Nesse cenário, o Ministério da Saúde orienta a verificação da pressão arterial em todas
as gestantes e em todas as consultas de pré-natal. O diagnóstico da HAS gestacional é obtido
de aferições rotineiras dos níveis pressóricos, por vezes complementadas por exames
laboratoriais específicos, análises clínicas e epidemiológicas (DUTRA et al., 2019).
No que diz respeito ao tratamento farmacológico, o uso de medicamentos anti-
hipertensivos deve ser utilizado com cautela, pois podem causar a diminuição abrupta da
pressão arterial, e essa redução excessiva, acarreta efeitos maléficos à circulação
uteroplacentária, causando deficit na nutrição e oxigenação fetal (COELHO; SIQUEIRA,
2022).
Em casos de crise hipertensiva, é necessário que o tratamento seja realizado rapidamente
e as pacientes admitidas em centros de referência para investigar se houve acometimento em
órgãos alvos e as condições vitais do feto (COELHO; SIQUEIRA, 2022).
Mediante do exposto, surge o seguinte questionamento: Quais os mecanismos
fisiopatológicos da hipertensão arterial na gravidez e as principais abordagens terapêuticas
utilizadas?
Esse estudo se torna relevante e poderá contribuir e dar maior visibilidade ao tema em
questão, uma vez que pode possibilitar contribuição para a comunidade cientifica a respeito dos
aspectos fisiopatológicos da hipertensão arterial na gravidez à medida que se pontua as
abordagens terapêuticas utilizadas. Desse modo o objetivo desse estudo é mapear na literatura
as principais abordagens terapêuticas utilizadas frente a gestantes hipertensas, compreendendo
a fisiopatologia da doença.

2 MATERIAIS E MÉTODOS
Tratar-se de uma revisão integrativa da literatura, de carácter descritivo, acerca dos
mecanismos fisiopatológicos da hipertensão na gravidez e as principais abordagens terapêuticas
utilizadas.
A revisão integrativa consiste em um método científico capaz de sintetizar o
conhecimento de vários estudos acerca de uma temática específica, por meio de um processo
sistemático e rigoroso, com embasamento científico (MENDES; SILVEIRA; GALVÃO,
2019).
Para elaboração deste tipo de estudo é necessária a observância à seis etapas, a saber: 1)
elaboração da pergunta norteadora; 2) busca ou amostragem da literatura; 3) coleta de dados;

115
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
4) Avaliação crítica dos estudos incluídos na amostra; 5) Síntese dos resultados da revisão
integrativa; 6) Apresentação da revisão integrativa (SOUZA; SILVA; CARVALHO, 2010).
A elaboração da revisão integrativa foi desenvolvida através da utilização da estratégia
Population, Variables and Outcomes (PVO), que procura encontrar as respostas adequadas para
à pergunta da pesquisa, com o intuito de melhorar à compreensão de todos os aspectos inerentes
as variáveis em estudo, conforme apresentado no Quadro 1.

Quadro 1. Elaboração da pergunta norteadora através da estratégia PVO.

Fonte: Dados extraídos do estudo (Elaboração própria).

Após a aplicação da estratégia PVO, a questão norteadora do estudo resultou em: quais
os mecanismos fisiopatológicos da hipertensão arterial na gravidez e as principais abordagens
terapêuticas utilizadas?
A pesquisa foi realizada nas bases de dados da Literatura Latino-Americana e do Caribe
em Ciências da Saúde (LILACS), Medical Literature Analysis and Retrievel System Online
(MEDLINE) e no Scientific Electronic Library Online (SciElo), a partir do cruzamento dos
Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) e seus respectivos Medical Subject Headings

Itens da Descritores em Ciências


Medical Subject
Componentes
Estratégia da Saúde (DeCS)Headings (MeSH)
Population Gestantes hipertensas Hipertensão Hypertension
Variables Saúde da mulher Saúde da Mulher Women's Health
High-Risk
Variables Gestação de Risco Gravidez de Alto Risco
Pregnancy
Pregnancy
Variables Complicações Gestacionais Complicações na Gravidez
Complications
Outcomes Tratamento Terapêutica Therapy
Outcomes Fisiopatologia Fisiopatologia Pathophysiology
(MeSH): Complicações na Gravidez (pregnancy complications), Gravidez de Alto Risco (high-
risk pregnancy), Hipertensão (hypertension), Terapêutica (therapy), Saúde da Mulher (women's
health) e Fisiopatologia(pathophysiology), através da utilização do operador booleano AND.
Foram elaboradas várias combinações entre os descritores, as quais originaram às
estratégias de busca utilizadas no estudo, conforme apresentado no Quadro 2.

Quadro 2. Estratégia de busca dos artigos por meio do cruzamento dos Descritores em Ciências
da Saúde (DeCS) e dos Medical Subject Headings (MeSH).

116
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Bases de
Estratégias de busca (DeCS e MeSH)
dados
(gravidez de alto risco) AND (hipertensão) AND (terapêutica);
(gravidez de alto risco) AND (terapêutica);
(complicações na gravidez) AND (saúde da mulher);
LILACS e (complicações na gravidez) AND (hipertensão);
MEDLINE (complicações na gravidez) AND (hipertensão) AND (terapêutica);
(hipertensão) AND (terapêutica);
(gravidez de alto risco) AND (hipertensão) AND (fisiopatologia);
(hipertensão) AND (fisiopatologia)
(pregnancy complications) AND (hypertension) AND (therapy);
(high-risk pregnancy) AND (hypertension) AND (pathophysiology);
(high-risk pregnancy) AND (hypertension) AND (therapy);
SciELO (pregnancy complications) AND (hypertension);
(hypertension) AND (therapy);
(pregnancy complications) AND (women's health);
Fonte: Dados extraídos do estudo (Elaboração própria).

Foram aplicados como critérios de inclusão: a) artigos disponíveis na íntegra, com texto
completo; b) artigos científicos primários; e c) artigos publicados no período de 2018 a 2023.
Ao passo que foram considerados como critérios de exclusão: a) artigos duplicados nas bases
de dados; e b) estudos que não se adequavam ao tema e/ou que não respondiam à pergunta
norteadora da pesquisa, identificados através da leitura de título e resumo na íntegra. Ressalta-
se que o idioma não foi utilizado como critério de inclusão, haja vista a possibilidade de
restringir a amostra, e atuar como um viés de pesquisa.
Durante a busca e seleção nas bases de dados foram identificados 67 estudos, sendo,
após aplicados os critérios de inclusão e exclusão, a amostra final composta por 15 estudos.

4 RESULTADOS
A partir da busca realizada nas bases de dados, encontrou-se 67 artigos científicos
relacionados com a temática, sendo 28 na MEDLINE, 26 no SCIELO e 13 no LILACS (Figura
1), os quais foram encontrados através dos descritores. Para síntese desta pesquisa utilizou-se
uma amostra de 15 estudos, que foram selecionados a partir da aplicação dos critérios de
inclusão e exclusão determinados pelos autores.

117
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Figura 1: Fluxograma da seleção de artigos para revisão.

Publicação identificadas = 67
IDENTIFICAÇÃO
MEDLINE = 28

SCIELO = 26

LILACS = 13
Artigos excluídos após leitura dos
resumos = 44
TRIAGEM

Estudos triados para


avaliação de título e
resumo = 23
SELECIONADOS

Artigos selecionados para


elaboração desse estudo = 15

Fonte: Dados extraídos do estudo (Elaboração própria).

No Quadro 3 é apresentada a síntese dos artigos incluídos na revisão integrativa, a partir


do título, autores/ano, base de dados, revista/periódico de publicação e principais resultados.

Quadro 3. Síntese dos artigos incluídos na revisão integrativa. Juazeiro do Norte - Ceará,
Brasil. 2023.
Revista
Autore Base de /
Título do artigo Principais Resultados
s | Ano dados Periódi
co
A mulher grávida com HAS tem um
risco acrescido de complicações
Cunha; Rev.
Hipertensão Arterial vasculares, como o acidente vascular
Silva, SCIELO Med.
na Mulher Grávida cerebral, e obstétricas, como a placenta
2022 Interna
prévia e a coagulação intravascular
disseminada
Para a medida da pressão arterial, 0,7%
Níveis pressóricos e Damasc Rev. gestantes apresentaram alteração nos
fatores associados eno et Ciência níveis pressóricos ≥ 140 mmHg na PAS
SCIELO
em gestantes do al., e Saúde e/ou ≥ 90 mmHg na PAD. As médias
Estudo MINA-Brasil 2019 Cole. da pressão arterial e seus respectivos
desvios padrão foram PAS: 109,3

118
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
(DP10,0) mmHg e PAD: 65,4 (DP7,4)
mmHg.
Das mulheres entrevistadas, o
diagnóstico ou as hipóteses
diagnósticas, que estiveram mais
O enfrentamento do Wander Rev.
presentes estavam relacionadas a
internamento ley et Psic.
MEDLINE DHEG, representando mais de 74%
hospitalar pela al., Saúde e
delas como mostra o quadro. Quanto as
gestante de alto risco 2022 Doença
doenças pregressas 33,7% disseram
possuir alguma comorbidade, sendo a
HAS a mais frequente.
Quando a gestante se propõe a se
automedicar, ela causa efeitos em dois
Hipertensão na organismos respectivamente, sendo
Vasco, Rev.
Gravidez: Prevenção que o organismo do feto, responde ao
Garcia., SCIELO Saúde
e Principais fármaco de maneira diferente, do
2019 Cole.
Tratamentos organismo da mãe, podendo ocorrer
sérios danos a sua saúde levando a uma
toxicidade fetal, podendo levar ao óbito
O uso racional de medicamentos no
período de gravidez é fundamental para
Assistência o acompanhamento da mãe e do feto,
Rodrig Rev.
farmacêutica no automedicação sem prescrições
uês et Cient.
âmbito de cuidados a LILACS médicas gera um risco alto para a
al., FAEM
gestantes com gestação, pois a mãe não conhecendo
2018 A
hipertensão arterial as reações adversas e os princípios
ativos do medicamento se põe em risco
e junto o seu feto.
A maioria das gestantes participantes
tinha média de idade de 24 anos (DP
6,3), 44,0% eram primigestas e 59,1%
das gestantes apresentaram ganho de
peso gestacional semanal excessivo. A
ocorrência de hipertensão arterial foi de
0,7%. Os fatores associados
Níveis pressóricos e Damasc Rev. positivamente aos níveis de pressão
fatores associados eno et Ciê. arterial sistólica foram: índice de massa
MEDLINE
em gestantes do al., Saúde corporal pré-gestacional (β = 0,984,
Estudo MINA-Brasil 2018 Cole. IC95%: 0,768-1,200) e ganho de peso
gestacional semanal (β = 6,816,
IC95%: 3,368-10,264). Para os níveis
de pressão arterial diastólica foram
positivamente associados idade da
gestante, escolaridade, índice de massa
corporal pré-gestacional e ganho de
peso gestacional semanal.
Prevalência de Rev.
Bugri et Os resultados mostram que 569
distúrbios Inter.
al., MEDLINE (84,5%) grávidas hipertensas estavam a
hipertensivos, terapia Pesq.
2023 fazer terapêutica anti-hipertensiva;
anti-hipertensiva Amb.

119
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
e Resultados em Saúde deste número, 496 (87,2%) estavam a
Mulheres Grávidas Pública fazer terapêutica durante 1-6 meses.
Quatrocentas e setenta e três (83,1%)
registaram uma PA igual ou superior a
140/90.
Relativamente aos antecedentes
pessoais,
50 pacientes (3,65%) tinham
diagnóstico pré-gestacional de
hipertensão arterial sistémica e 136
Resistência vascular
doentes (9,90%) tinham história de
uterina e outros
hipertensão arterial em gestações
factores maternos Braz J
Martins anteriores. A análise pós-parto revelou
factores maternos Med.
et al., LILACS 55,40% (759) partos vaginais, 40,30%
associados ao risco Biol.
2021 (553) partos cesáreos e 4,20% (58)
de desenvolver Res
partos vaginais assistidos (fórceps
hipertensão durante a
fórceps ou vácuo). Das pacientes
gravidez
entrevistadas, 190 (13,86%)
responderam que receberam o
diagnóstico de hipertensão arterial por
um médico ou enfermeiro durante a
gravidez.
Extrapolar a informação conhecida da
população geral para a grávida não é
suficiente uma vez que as alterações
Terapêutica
Tavares U. hemodinâmicas e a fisiopatologia das
Antihipertensora na SCIELO
, 2022 Porto doenças hipertensivas vão alterar o
Gravidez
modo de atuação dos fármacos,
provocando efeitos indesejáveis tanto
para a mãe como para o feto.
Tratamento É de extrema importância a utilização
farmacológico da de anti-hipertensivos de forma
Pereira C.
hipertensão arterial acompanhada com profissional da
et al., MEDLINE Camilli
vinculado ao saúde, tendo em vista que a
2021 ane
acompanhamento automedicação trás inúmeros prejuízos
farmacoterapêutico para o estado de saúde de hipertensos.
A PE abrange hipertensão
acompanhada por uma ou mais outras
características: proteinúria, disfunção
de outros órgãos maternos e/ou
Distúrbios disfunção uteroplacentária, de início
Rev.
hipertensivos na Coelho; após 20 semanas de gestação. A
Eletr.
gravidez: pré- Siqueir SCIELO eclâmpsia é um processo relacionado à
Acervo
eclâmpsia, eclâmpsia a, 2022 PE que pode ocorrer antes do parto,
Saúde
e síndrome HELLP durante o parto e até 6 semanas após o
parto, sendo caracterizado por
convulsões. A síndrome HELLP tem
uma taxa de mortalidade perinatal de
até 37% e é caracterizada por hemólise,

120
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
elevação das enzimas hepáticas e
plaquetopenia
Dentre as entrevistadas, 43% tinham
hipertensão crônica, 33,3% se
apresentaram com até 20 semanas de
gestação, 23,7% se apresentaram após
a 20ª semana da gestação, 62,3%
tinham idade entre 18 e 35 anos, 78,1%
tinham antecedente familiar com
Epidemiologia da Sousa Rev. hipertensão arterial, 11,4% com idade
hipertensão arterial et al., MEDLINE Einstei entre 36 a 45 anos estavam na primeira
em gestantes 2019 n gestação, e 26,3% com a mesma idade
estavam a partir da segunda gestação.
Dentre as afecções associadas,
prevaleceu o diabetes com 50%; 22,2%
se tratavam de obesidade, e dos
alimentos mais escolhidos para
consumo entre as gestantes, 47,5%
possuíam alto teor energético.
O nível de qualidade inicial foi alto em
seis dos nove critérios (amplitude: 94-
100 %), as práticas com menor adesão
foram a “manutenção de sulfato de
Melhoria da magnésio” (54 %), “solicitação de
qualidade do cuidado Vale et Av. ultrassom fetal” (72 %) e “restrição
à hipertensão al., MEDLINE Enferm hídrica intravenosa” (78 %). Houve
gestacional em 2020 agem melhoria absoluta em cinco dos nove
terapia intensiva critérios (amplitude: 2-16 %), que foi
significativa para a solicitação de
ultrassom fetal (melhoria absoluta: 16
%; p = 0,023) e para o total de critérios
(4 %; p = 0,01).
Na avaliação do manejo da hipertensão
arterial em gestantes, evidencia-se que,
em cerca de três quartos dos casos, a
Medidas preventivas assistência durante o pré-natal foi
Rev.
das síndromes Morais inadequada. Em mais da metade desses
Enferm
hipertensivas da et al., SCIELO casos, 58%, em decorrência de
. UFPE
gravidez na atenção 2018 irresponsabilidade do profissional de
online
primária saúde a cargo do tratamento; 22%
devido a problemas da rede de saúde e
apenas 8% por situações provenientes
do próprio cuidado da gestante.
Um dos principais anti-hipertensivos é
o captopril, que inibe a enzima
Fisiopatologia da
Rev. conversora de angiotensina I em
Hipertensão Arterial Nociti,
LILACS Bras. angiotensina II no leito vascular
e Avaliação do 2020
Anest pulmonar. A pressão arterial diminui
Paciente Hipertenso
graças à queda da resistência vascular
sistêmica, com efeito mínimo sobre o

121
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
débito cardíaco e o volume plasmático.
Porém se utilizado na gravidez pode
causar danos e até morte ao feto, dessa
forma ao ser identificada gravidez seu
uso deve ser descontinuado de
imediato.
Fonte: Dados extraídos do estudo (Elaboração própria).

4 DISCUSSÃO

O período gestacional e puerperal é um processo fisiológico na vida da mulher,


normalmente sem ocorrência de nenhum tipo de transtorno. Ainda assim, podem ocorrer
alterações que acarretem risco para a vida da mãe e do feto, a Hipertensão Arterial (HA) é o
transtorno mais comum que pode ser desenvolvido na gestação ou pós gestação, denominando-
se de Distúrbios Hipertensivos da Gravidez (HDG), sendo uma das principais causas de
morbimortalidade e hospitalização mundialmente (DAMASCENO et al, 2020).
Vasco e Garcia (2019) apontam em seu estudo que a HAS é um grande fator de risco
para o surgimento de doenças cardiovasculares e em casos nos quais não seja tratada pode levar
a um quadro clínico grave, propiciando uma disposição a pré-eclâmpsia (PE), onde os níveis
pressóricos se elevam devido a eliminação de proteinúria através da urina podendo evoluir para
eclâmpsia, a fase grave da doença.
A PE, engloba a hipertensão de início recente, acompanhada de uma ou mais alterações
como a proteinúria e/ou edema de mãos ou face dentre outros distúrbios, comumente ocorrendo
após a vigésima semana gestacional, ocorrendo predominantemente em primigestas
(COELHO; SIQUEIRA, 2022).
A Eclâmpsia é uma patologia caracterizada por convulsões, relacionado ao diagnóstico
de pré-eclâmpsia, podendo ocorrer antes do parto, durante o parto e até 6 semanas após o parto.
Tendo como medicamento de escolha o Sulfato de Magnésio sendo de fácil administração e de
baixo custo, o qual é ofertado gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Posteriormente, pode ocorrer da gestante desenvolver a Síndrome de Hemólise, conhecida
como Síndrome de Hellp classificada como uma complicação ou progressão da pré-eclâmpsia
grave ou eclampsia (COELHO; SIQUEIRA, 2022).
Segundo o estudo realizado por Souza et al (2020) a idade materna é uma condição
importante no que diz respeito aos fatores de risco materno para a hipertensão gestacional. Os
resultados apontam que 37,7% das gestantes tinham entre 36 e 45 anos, o que as tronam mais
propicias a desenvolver algum quadro hipertensivo durante a gestação. Outro ponto

122
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
evidenciado no estudo são as doenças relacionadas a HAS, a diabetes está presente em 50% dos
casos e à obesidade está diretamente associada à idade tardia na população estudada.
Foi verificado por Cunha e Silva (2022) alguns métodos não farmacológicos para o
tratamento da hipertensão na gravidez, tais medidas são indicadas para todas as mulheres
grávidas e hipertensas como por exemplo uma dieta nutricionalmente equilibrada e variada não
havendo restrição de sal pelo risco de depleção deletéria de volume, sendo então uma
alimentação normosódica.
Vale destacar que é fundamental que o pré-natal seja realizado de forma regular e
completa, dessa forma proporcionando a identificação e o acompanhamento precoce de
alterações nos níveis pressóricos das gestantes, possibilitando então o controle de agravos como
nos casos de hipertensão grave no qual o tratamento é iniciado previamente com medicamentos
anti-hipertensivos, viabilizando o alcance de melhores resultados, minimizando os riscos
durante a gestação (Thuler et al., 2018).
Já no tratamento farmacológico os anti-hipertensivos utilizados no período gravídico
devem ser benéficos tanto para a mãe quanto para o feto. Na grávida hipertensa, tanto o
labetalol, como a nifedipina e a metildopa podem ser utilizados como 1ª linha de escolha, sendo
mais utilizados a metildopa e os bloqueadores dos canais de cálcio. Vale ressaltar, que a
nifedipina, é um dos fármacos mais bem estudados com eficácia e segurança comprovadas com
menos efeitos colaterais maternos (CUNHA; SILVA, 2022
Cunha e Silva (2022) ainda pontuam, que o atenolol, um beta bloqueador, está
relacionado com atrasos do crescimento fetal e deve ser evitado, os grupos dos IECAS-
inibidores da enzima conversora de angiotensina e os antagonistas dos receptores de
angiotensinas não devem ser utilizados como tratamento para gestantes, tendo em vista o risco
da teratogenicidade e morte fetal.
Paralelo ao que foi citado anteriormente, Tavares (2022) sinaliza que mulheres
hipertensas em tratamento com IECAs, ARAS e inibidores diretos da renina que desejam
engravidar recomenda-se a substituição desses fármacos por outros com melhor perfil de
segurança para o feto.
Rodrigues et al., (2018) ainda salienta a questão do uso racional de medicamentos no
período de gravidez é fundamental para o acompanhamento da mãe e do feto, automedicação
sem prescrições médicas gera um risco alto para a gestação, pois a mãe não conhecendo as
reações adversas e os princípios ativos do medicamento se põe em risco junto ao seu feto.

123
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pode-se concluir, através dessa pesquisa, que a hipertensão arterial durante a gestação é
uma das grandes causas de morte materna, sendo identificado a importância de procedimentos
eficazes a nível clínico, para que assim, a gestante seja assistida durante todo período
gestacional.
Ainda que existam diversas opções para o tratamento da hipertensão na população geral,
observações adicionais são cruciais aquando refere-se ao tratamento farmacológicos anti-
hipertensivo em gestantes. Além de preconizar a segurança e eficácia do tratamento na mãe,
deve-se também ter o mínimo impacto possível no desenvolvimento do feto.
O sucesso do tratamento das Síndromes hipertensivas gestacionais está totalmente
ligado a intervenção precoce da patologia, assim como da aceitação da gestante em seguir o
tratamento de forma correta, seja este farmacológico ou não.
Deste modo, se faz necessário ter uma concordância no diagnóstico e compreensão
sobre a qualidade de vida da gestante, levando em consideração as ações para prevenções e
tratamento precoce. Deve ser realizada avaliação minuciosa e individualizada de cada paciente
juntamente a um acompanhamento contínuo.
Evidenciou-se que as síndromes hipertensivas pré-eclâmpsia e Hellp são as mais
presentes no período gravídico, diante disso as principais abordagem farmacológicas utilizadas
são os fármacos B-bloqueadores dos canais de cálcio e os fármacos contraindicado para o
tratamento são os IECAS e ARAS (TAVARES,2022).
Nessa perspectiva, é de extrema importância uma assistência qualificada durante toda a
gestação dessas pacientes hipertensas, verificando o anti-hipertensivo que tem melhor indicação
frente o quadro da gestante, tendo em vista que em casos graves de hipertensão gestacional,
poderá ser utilizado medicações durante todo o período gestacional, buscando o controle e
evitando o risco de óbito tanto materna quanto do fetal (VASCO; GARCIA ,2017, P 12).
Entretanto, no que diz respeito a farmacoterapia, ainda são necessários vários estudos
para comprovar a eficácia e segurança na gravidez. Vale lembrar, que as alterações
hemodinâmicas e a fisiopatologia das doenças hipertensivas tendem a alterar o modo de atuação
dos fármacos, provocando efeitos indesejáveis tanto para a mãe como para o feto, assim nota-
se a necessidade da ampliação de estudos nessa área.

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126
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
CAPÍTULO 12
IMPACTOS DA DISMENORREIA NA
QUALIDADE DE VIDA DE MULHERES
JOVENS ADULTAS: REVISÃO
INTEGRATIVA DA LITERATURA
IMPACTS OF DYSMENORRHEA ON THE QUALITY OF LIFE OF YOUNG
ADULT’S WOMEN: INTEGRATIVE LITERATURE REVIEW

10.56161/sci.ed.20230913C12

Joyce Bianca Pereira Bezerra


UNIFACOL – Centro Universitário Facol. Vitória de Santo Antão, PE, Brasil.
https://orcid.org/0009-0006-7875-2773

Ana Lúcia Albuquerque de Barros


UNIFACOL – Centro Universitário Facol. Vitória de Santo Antão, PE, Brasil.
https://orcid.org/0009-0007-5577-7430

Lucas Vinícius Lira Silva


UNIFACOL – Centro Universitário Facol. Vitória de Santo Antão, PE, Brasil.
https://orcid.org/0009-0004-8311-2258

Maria Alice dos Santos Ferreira


UNIFACOL – Centro Universitário Facol. Vitória de Santo Antão, PE, Brasil.
https://orcid.org/0009-0002-5716-3815

Victor Matheus Ferreira Santo


UNIFACOL – Centro Universitário Facol. Vitória de Santo Antão, PE, Brasil.
https://orcid.org/0009-0004-0053-9644

Sabrina da Conceição Pereira


UNIFACOL – Centro Universitário Facol. Vitória de Santo Antão, PE, Brasil.
https://orcid.org/0000-0002-1385-9688

RESUMO
A dismenorreia é o sintoma mais comum da menstruação, sendo caracterizada por dor na região
suprapúbica, que pode irradiar para coluna lombar e membros inferiores. É considerada um

127
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
problema de saúde pública, por justamente afetar de forma direta a qualidade de vida das
mulheres jovens adultas. OBJETIVO: Avaliar os impactos que a dismenorreia gera na
qualidade de vida das mulheres no período menstrual. METODOLOGIA: É um estudo de
revisão bibliográfica do tipo descritivo, exploratório e qualitativo. Nesse estudo prospectivo foi
realizado uma busca na base de dados MedLine/PubMed e LILACS, com os seguintes
descritores MeSH “Dysmenorrhea”, “Quality of Life”, “Menstruation” e DeCS
“Dismenorreia”, “Qualidade de vida”, “Menstruação”, sendo escolhidos para análise entre os
anos de 2013 e 2023. Ao total foram encontrados 138 artigos, onde a partir da análise feita 112
artigos não contribuíam para os resultados. Entretanto, 26 artigos foram incluídos para o
presente estudo de revisão da literatura. RESULTADOS: Foi observado que mulheres na fase
reprodutiva sofrem ou já sofreram com a dismenorreia, devido ao stress e fatores psicossociais,
levando ao um impacto negativo em sua qualidade de vida. CONCLUSÃO: A partir dos
resultados desse estudo, torna-se evidente o grande impacto dos sintomas da dismenorreia na
qualidade de vida dessas mulheres, e a necessidade de implementação de políticas de promoção
e prevenção à saúde, na intenção de atenuar as repercussões sociais na vida de mulheres jovens
adultas.
PALAVRAS-CHAVE: Dismenorreia; Qualidade de vida; Menstruação.

ABSTRACT
Dysmenorrhea is the most common symptom of menstruation, characterized by pain in the
suprapubic region, which can radiate to the lumbar spine and lower limbs. It is considered a
public health problem, because it directly affects the quality of life of young adult women.
OBJECTIVE: To evaluate the impacts that dysmenorrhea generates on the quality of life of
women during the menstrual period. METHODOLOGY: It is a descriptive, exploratory, and
qualitative bibliographic review study. In this prospective study, a search was performed in the
MedLine/PubMed and LILACS, with the following MeSH descriptors “Dysmenorrhea”,
“Quality of Life”, “Menstruation” and DeCS “Dismenorreia”, Qualidade de vida”,
“Menstruação”, being chosen for analysis between the years 2013 and 2023. A total of 138
articles were found, where from the analysis carried out 112 articles did not contribute to the
results. However, 26 articles were included for the present literature review study. RESULTS:
It has been observed that women in the reproductive phase suffer or have already suffered from
dysmenorrhea, due to stress and psychosocial factors, leading to a negative impact on their
quality of life. CONCLUSION: From the results of this study, it becomes evident the great
impact of the symptoms of dysmenorrhea on the quality of life of these women, and the need
to implement health promotion and prevention policies, with the intention of mitigating the
social repercussions in the lives of women young adults.

KEYWORDS: Dysmenorrhea; Quality of Life; Menstruation.

1.INTRODUÇÃO

A menarca indica a primeira menstruação e início da vida reprodutiva da mulher,


ocorrendo na fase da pré-adolescência (AL-JEFOUT, M. et al 2015). A dismenorreia é o
distúrbio mais comum do período menstrual, caracterizada por dor na região inferior do
abdômen, podendo irradiar para os membros inferiores e evoluir para outros sintomas como

128
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
sudorese, dores de cabeça, náuseas, vômito, diarreia, fadiga e tremores, todos ocorrendo antes,
durante ou após a menstruação (JU, H. et al 2013).
Esta patologia classifica-se em primária ou secundária. A primária é definida como
cólicas cíclicas dolorosas que ocorrem na menstruação na ausência de lesões pélvicas (QUICK,
F. et al 2018). Ao contrário da secundaria, onde sua causa está relacionada a lesões pélvicas
com aparecimento posterior de sintomas (GUIMARÃES; PÓVOA, 2020). Outra forma em que
se pode classificar a dismenorreia é em questão da intensidade da dor. É avaliada em leve,
moderada e intensa, a dismenorreia de grau leve normalmente não afeta as atividades diárias da
mulher, a de grau moderado pode interferir nas tarefas e perdurar durante todo o ciclo
menstrual, em grau intenso, a dor além de interferir nas atividades cotidianas pode causar
alterações vasculares e gastrointestinais (ALVES et tal, 2016).
Em geral, existem fatores que podem influenciar na gravidade e intensidade dos
sintomas da dismenorreia como menarca precoce, nuliparidade, fluxo menstrual mais longo e
intenso, história familiar de dismenorreia e maior índice de massa corporal (JU, H. et al 2013).
Como também, circunstâncias emocionais, sociais, interpessoais e elitismo podem interferir na
maneira em como a mulher sente e passa pelo período da dismenorreia.
A fisiopatologia da dismenorreia funciona com a superprodução de agentes
uterotônicos e vasoconstritores e um nível aumentado de taxas circulatórias e menstruais de
PGF2 induzindo a uma isquemia do miométrio, percepção de dor em cólica e sintomas
sistêmicos (HADJOU, O. K. et al. 2022). O aumento de concentração de prostaglandina no
útero está relacionado aos elevados níveis de sua produção, estimulando a contração do
miométrio, gerando vasoconstrição local e levando a sensação de dor referida. (ULLAH, A. et
al. 2021)
Entende-se por dismenorreia um problema de saúde pública, sendo a primeira causa
de morbidade ginecológica em mulheres em idade reprodutiva, e sua carga se estende além dos
sistemas de saúde por meio de perdas de força de trabalho (FERNANDEZ, H. et al 2020),
interferindo de forma negativa na vida diária e na qualidade de vida das mulheres, pois fatores
como a ingestão alimentar, alto consumo de álcool, tabagismo, estresse, peso, idade e a prática
de atividade física interferem na intensidade da dor (RODRIGUES et tal, 2011).

Assim, o presente estudo tem como objetivo avaliar os fatores associados a qualidade
de vida durante o período do ciclo menstrual em jovens adultas. Evidenciando a importância
do saber social sobre a dismenorreia e o seu tratamento, e aos profissionais de saúde em vê-la
como uma patologia que merece atenção ao ser investigada e que é tratável.

129
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
2. MATERIAIS E MÉTODOS

Trata-se de um estudo de revisão bibliográfica do tipo descritivo, exploratório e


qualitativo, realizado com artigos publicados entre os anos de 2013 e 2023 na base de dados
MedLine/PubMed e LILACS indexadas na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), com a
combinação dos seguintes descritores MeSH “Dysmenorrhea”, “Quality of Life”,
“Menstruation” e DeCS “Dismenorreia”, “Qualidade de vida”, “Menstruação”. Foram
utilizados como critérios de inclusão estudo originais publicados em inglês ou português, do
tipo transversal, caso-controle, coorte e experimental voltados à pesquisa do impacto da
dismenorreia em mulheres jovens. Os critérios de exclusão foram estudos de revisão e com
dados que não envolvessem o tema desta revisão.
Os estudos elegíveis após a triagem inicial por título e resumo, foram lidos de forma
completa para obtenção dos estudos finais incluídos. Desses estudos incluídos, foram coletados
os dados de nome dos autores, ano de publicação, protocolo de pesquisa e/ou intervenção,
amostra de participantes, tipo de dismenorreia incluída no estudo, relatos de qualidade de vida
da população afetada por este distúrbio, sendo assim potencialmente relevantes para a
construção do artigo.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Em relação aos estudos obtidos na base de dados MedLine/PubMed e LILACS, foram


encontrados cento e trinta e oito artigos ao todo, publicados entre os anos de 2013 a 2023, sendo
selecionados cinquenta e três a partir da leitura dos títulos, trinta e cinco a partir dos seus
resumos e por fim, sendo finalmente incluídos na revisão vinte e seis a partir de sua leitura
completa (Figura 1).

130
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
MedLine/PubMed LILACS

“Dismenorreia”,

Descritores
“Dysmenorrhea”,
“Quality of Life”, “Qualidade de Vida”,
“Menstruation” “Menstruação”

138 artigos
encontrados

Artigos incluídos
53 através da leitura 26 através da leitura
de título 35 através da leitura completa
do resumo

Figura 1: Fluxograma de inclusão dos estudos. Fonte: Os autores 2023

A partir da leitura dos artigos observa-se que cerca de 20% a 90% das
mulheres sofrem com dismenorreia (VAGEDES, J. et al. 2019) sendo um percentual alto,
relacionando-se principalmente aos hábitos de vida não saudáveis. É possível notar a partir do
levantamento de dados desta revisão que jovens adultas na fase reprodutiva, sofrem ou já
sofreram em algum período da vida, desse problema de saúde pública, levando os indivíduos
ao absentismo escolar e laboral, reduzindo consideravelmente a qualidade de vida dessas
pessoas (AL-JEFOUT, M. et al 2015; MIZUTA, R. et al 2023; WONG, C. L. et al 2018).
De acordo com os resultados do estudo, em grande parte das mulheres, o stress e
fatores emocionais são problemas que influenciam diretamente no sintoma da dismenorreia
(JU, H. et al 2013), assim como os hábitos de vida adotados por cada mulher, por exemplo,
sedentarismo, comorbidades, histórico familiar, tabagismo e a idade (FERNANDEZ, H. et al
2020).
Um ponto importante a se ressaltar é a idade, quanto mais nova e precoce for a menarca
da mulher e estar em período reprodutivo, mais propensa será aos sintomas da dismenorreia
(QUICK, F. et al 2018). Diferentemente das mulheres mais velhas e que já engravidaram, que
pode apresentar os sinais mais leve desse distúrbio (FERNANDEZ, H. et al 2020).

131
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
A influência da dismenorreia na qualidade de vida das mulheres está relacionada ao
seu grau de intensidade. Foram identificadas diferenças significativas nos escores de qualidade
de vida, onde pacientes que sofrem dismenorreia grave demonstraram uma espiral negativa de
dor crônica e diferenças notáveis nas subescalas física, psicológica e ambiental, desse modo,
influenciando também na saúde psicológica das mesmas (MIZUTA, R. et al 2023). Ainda, foi
visto no Quality of Life Enjoyment and Satisfaction Questionnaire (Q-LES-Q-SF), uma
diminuição nas pontuações quando as mulheres estavam no período latente dessa síndrome em
comparação com sua fase folicular (IACOVIDES, S. et al 2013).
Diante dos dados obtidos através dos estudos revisados e analisados
bibliograficamente, verifica-se a alta prevalência de queixas de dismenorreia por mulheres
jovens adultas, além dos mais variados tipos de relatos acerca de como este distúrbio afeta a
qualidade de vida delas. Sendo considerado um problema de saúde pública, justamente por
representar uma carga de doença maior do que qualquer outra queixa ginecológica nos países
em desenvolvimento (JU, H. et al 2013), como o Brasil.
De acordo com MIZUTA, R. et al 2023, e os resultados apresentados em seu estudo,
acerca da qualidade de vida de mulheres japonesas, jovens adultas que sofrem com dismenorreia,
os relatos colhidos evidenciam que os impactos gerados na qualidade de vida destas mulheres se
diferenciam pela gravidade da dismenorreia que cada uma apresenta. O escore de qualidade de
vida utilizado, demonstrou maiores índices de resposta de dismenorreia grave (p<0,001),
evidenciando o quanto esta população é afetada. Semelhantemente, FERNANDEZ, H. et al 2020
que seguiu a mesma linha de pesquisa, mas com mulheres francesas, salientou em seus resultados
as mesmas queixas das mulheres japonesas quanto a gravidade da dismenorreia, tendo impactos
significativos em suas vidas cotidianas.
Em um estudo realizado com mulheres na França, FERNANDEZ, H. et al 2020
evidencia uma grande prevalência de mulheres que relataram dor durante a menstruação, a
classificação média da intensidade da dor, avaliada em uma escala analógica visual de 0 a 10, foi
de 6 + 1,9 em mulheres com dismenorreia atual e 42% relataram classificação entre 7 e 10. O
impacto na vida diária foi forte e houve uma redução significativa de Pontuações do SF-36 em
mulheres com dismenorreia. Em outro estudo realizado com adolescentes Francesas, HADJOU,
O. K. et al 2022 observa a prevalência de dismenorreia de 92,9% com 8,9% descrevendo sua dor
como intensa, pouco menos da metade relataram faltas escolares por dismenorreia, 77,2% das
adolescentes relataram dificuldades em atividades esportivas e 74,9% apresentaram dificuldades
em assistir às aulas.

132
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Em relação a forma de tratamento para esse distúrbio, o estudo feito por LAURETTI,
G. R. et al. 2015, mostrou a estimulação elétrica transcutânea (TENS) como uma alternativa de
método mais moderno e não invasivo para o alívio da dor na dismenorreia. Por ser um
dispositivo que é utilizado na parte externa do corpo, mais especificamente na região
suprapúbica, não traz nenhum efeito negativo para a saúde das mulheres que sofrem com a
cólicas menstruais, deixando-as menos dependente de medicamentos orais. Esse dispositivo
induziu um início imediato de alívio da dor e houve uma queda no escore médio de dor de 8
para 2 cm, melhorando assim a qualidade de vida das jovens adultas.
Em analogia com o estudo randomizado de VAGEDES, J. et al. 2019 também mostrou
como forma de tratamento a massagem rítmica e o biofeedback, ambas intervenções sendo
bastante eficazes para o alívio significativo da dor relacionada a dismenorreia primária,
eliminando assim a terapia padrão utilizada por jovens adultas, que são os AINE’s e
contraceptivos orais, que traz redução dos sintomas, mas não isentos de possíveis efeitos
colaterais.
Durante os estudos realizados foram encontrados três artigos em comum sobre a
dismenorréia primária, os três têm como abordagem coletar os dados de pesquisas sobre dor
menstruais e tratamento da DP. O primeiro estudo FERNÁNDEZ, M. E. et al 2020, foram
coletados os seguintes dados: Três grupos de estudantes foram separados de (a), (b) e (c), cada
um recebeu um tema e como as funções cotidianas poderiam afetar as atividades diárias ao
decorrer da dor, e com base nisso foi concluído que a dor da Dismenorréia Primária afetou a
vida diária dos estudantes, afetando vida social e relacionamentos e prejudicando a vida
acadêmica. Já no segundo estudo WU, X. et al 2020, teve como objetivo usar acupuntura para
os sintomas de DP baseados na dor e evitar os efeitos colaterais da medicação convencional,
especialmente a moxabustão tem se confirmado como um tratamento eficaz. O terceiro estudo
de MIRABI, P. et al 2017, teve como base uma pesquisa, foram separados dois grupos de jovens
que receberam cápsulas (55 indivíduos) e placebo (55 indivíduos), o primeiro grupo recebeu
cápsulas com ervas de 330 mg 3 vezes ao dia durante a hemorragia, já o segundo grupo recebeu
cápsulas semelhantes com amido de milho com o mesmo protocolo, a intensidade da dor foi
avaliada em uma escala visual de 0 a 10 cm, com bases dos dados coletados viu a diferença que
gravidade foi reduzida em ambos os grupos após a intervenção (P<0,001), mas a quantidade foi
maior no grupo Melissa com uma diferença significativa (P<0,05), de acordo com a pesquisa
parece que M. officinalis pode diminuir a dismenorreia, que pode estar relacionada aos efeitos
antiespasmódicos desta erva.

133
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Um dos principais problemas da dismenorreia, é que além das repercussões
fisiológicas, possui acometimentos na vida social, como absenteísmo escolar e laboral. O estudo
de WONG, C. L. 2018, quantifica o efeito da dismenorreia em termo de dias de trabalho perdido
e de absenteísmo escolar, resultando na perda de seiscentos milhões de horas de trabalho e dois
bilhões de dólares de produtividade por ano nos Estados Unidos. Indicando a necessidade de
social mundial de implementação de políticas públicas e de saúde que visem proporcionar
meios terapêuticos de melhor qualidade de vida para a população feminina que passa por esse
período.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados obtidos nesta revisão evidenciam o crescente impacto da dismenorreia


que afeta a população jovem feminina mundialmente. Assim como este distúrbio atinge
diretamente a qualidade de vida das mulheres, influenciando em suas tarefas do cotidiano e até
perpassando socialmente e economicamente.
Desta forma, fica claro a necessidade da realização de mais pesquisas acerca da
temática para elucidar os mecanismos e fatores associados à dismenorreia a fim de possibilitar
novas propostas de intervenção voltadas a esta parcela da sociedade com meios que auxiliem
na redução dos impactos através de políticas públicas e por meio de profissionais da saúde
capacitados a assistir essas mulheres.

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136
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
CAPÍTULO 13
IMPORTÂNCIA DAS POLÍTICAS
PÚBLICAS DE SAÚDE PARA A
ATENÇÃO INTEGRAL A SAÚDE DAS
MULHERES
IMPORTANCE OF PUBLIC HEALTH POLICIES FOR COMPREHENSIVE

HEALTH CARE FOR WOMEN

10.56161/sci.ed.20230913C13

Tamires Almeida Bezerra


Universidade Federal do Piauí - UFPI
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0009-0000-5908-7647)

RESUMO

INTRODUÇÃO: O cuidado com a saúde da mulher até pouco tempo atrás, era visto apenas
com cuidados relacionados a questões que envolvia a reprodução. Hoje o sistema de saúde tem
uma visão mais holística ao propor uma linha de cuidado para esse público. OBJETIVO:
Analisar através da literatura, a importância das políticas públicas para o cuidado integral à
saúde das mulheres. METODOLOGIA: Realizou-se uma revisão bibliográfica, através de
artigos encontrados na base de dados como Google Acadêmico, Scielo e documentos oficiais.
RESULTADOS: Foi evidenciado que os cuidados com a saúde das mulheres foi ampliado para
um novo modelo partir da institucionalização da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde
da Mulher, que teve esta como principio norteador para esse atendimento mais humanizado e
holístico. Também foi evidenciado que as diferentes políticas públicas da saúde foram
relevantes para ampliar o acesso das mulheres aos cuidados com a saúde. Conclui-se que as
políticas públicas promovem a justiça social, ampliando o acesso igualitário aos serviços de
cuidados de saúde e assim promovendo mudanças progressivas na sociedade em diversos
aspectos.

PALAVRAS-CHAVE: Saúde Pública; Atenção Integral; Políticas de Saúde; Mulheres.

ABSTRACT

137
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
INTRODUCTION: Until recently, women's health care was seen only as care related to issues
involving reproduction. Today, the health system has a more holistic view when proposing a
line of care for this public. OBJECTIVE: To analyze, through the literature, the importance of
public policies for comprehensive care for women's health. METHODOLOGY: A
bibliographic review was carried out, through articles found in the database such as Google
Scholar, Scielo and official documents. RESULTS: It was evidenced that women's health care
was expanded to a new model from the institutionalization of the National Policy for Integral
Attention to Women's Health, which had this as a guiding principle for this more humanized
and holistic care. It was also evidenced that the different public health policies were relevant to
expand women's access to health care. It is concluded that public policies promote social justice,
expanding equal access to health care services and thus promoting progressive changes in
society in several aspects.

KEYWORDS: Public Health; Integral Attention; Health Policies; Women.

1. INTRODUÇÃO
No Brasil, a saúde é garantida mediante a Constituição Federal e de políticas públicas
que visam o acesso aos serviços de saúde em diferentes contextos sociais, visando à
universalidade aos serviços e ações de saúde. No que tange à saúde da mulher, é sabido que o
cuidado era voltado especificamente à questão gravídico-puerperal e ainda assim de forma
suscetível que não atendia todas as necessidades. Foi a partir da criação de políticas públicas
que a saúde da mulher passou a ser focada em cuidados integrais a partir de uma visão holística.
Nesse contexto, destaca-se o PAISM (Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher) que
emergiu com um novo modelo de pensar e fazer os cuidados à saúde da mulher.

Diversos conceitos sobre a saúde da mulher podem ser encontrados na literatura, onde
existem conceitos mais rígidos que tratam apenas dos aspectos biológicos e anatômicos do
corpo feminino, assim como existem conceitos mais amplos que interagem com questões
relacionadas a direitos humanos e cidadania. Na concepção mais estreita, o corpo da mulher é
considerado apenas como sua função reprodutiva, tornando-se a maternidade seu atributo
primário.
O presente artigo buscou por meio de uma revisão bibliográfica, analisar a importância
das políticas de saúde e atenção integral para as mulheres no contexto da saúde pública. A saúde
da mulher não está limitada à saúde materna ou à ausência de doenças associadas ao processo
biológico de reprodução. As desigualdades sociais, econômicas e culturais se manifestam de
diferentes formas dentro dos grupos de pessoas, principalmente durante o adoecimento e a
morte de cada indivíduo. Populações que vivem em condições precárias são mais vulneráveis
e apresentam menor qualidade de vida segundo indicadores de saúde.

138
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
As políticas de saúde e atenção integral para as mulheres são fundamentais para garantir
o acesso das mulheres a serviços de saúde de qualidade e para reduzir as desigualdades de
gênero no setor da saúde pública. A importância dessas políticas se deve ao fato de que as
mulheres enfrentam desafios específicos em relação à saúde, como a necessidade de serviços
de saúde reprodutiva e materna, cuidados pré-natais e pós-natais, e a prevenção e tratamento de
doenças que afetam principalmente as mulheres, como o câncer de mama e de colo de útero
(Tavares et al, 2020).
Além disso, as mulheres muitas vezes enfrentam barreiras para o acesso aos serviços de
saúde, como a falta de informação sobre os serviços disponíveis, a falta de transporte ou
recursos financeiros e a discriminação de gênero por parte dos profissionais de saúde. As
políticas de saúde e atenção integral para as mulheres ajudam a enfrentar esses desafios, por
meio de medidas como a criação de serviços especializados para a saúde reprodutiva e materna,
a implementação de programas de prevenção e tratamento de doenças específicas para as
mulheres, e a promoção de uma abordagem integral e centrada na pessoa no atendimento de
saúde (Negraes; Barba, 2022).
Com essa pesquisa, entende-se que as políticas também são importantes do ponto de
vista social, já que ajudam a reduzir as desigualdades de gênero no acesso aos serviços de saúde,
promovem a saúde e o bem-estar das mulheres e contribuem para o fortalecimento da igualdade
de gênero e do empoderamento das mulheres. Em resumo, as políticas de saúde e atenção
integral para as mulheres são essenciais para garantir o acesso das mulheres a serviços de saúde
de qualidade, reduzir as desigualdades de gênero no setor da saúde pública e promover a saúde
e o bem-estar das mulheres, contribuindo para o fortalecimento da igualdade de gênero e do
empoderamento das mulheres (Arinde; Mendonça, 2019).
O trabalho está estruturado da seguinte forma: Inicialmente apresenta a abordagem
metodológica do trabalho, em seguida apresenta o referencial teórico abordando a integralidade
na assistência à saúde da mulher, o cuidado da mulher na saúde pública, o atendimento
humanizado para uma abordagem integral à saúde da mulher e em seguida tem-se as
considerações finais.

2. MATERIAIS E MÉTODOS
Para melhor entender o que se tem produzido sobre o tema, a metodologia será em uma
análise bibliográfica por revisão de literatura, utilizando artigos e livros referentes ao tema,
buscou-se material que contemplasse a proposta da pesquisa. Para Costa e Gonçalves (2019, p.

139
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
122) “o estudo bibliográfico é a revisão da literatura sobre as principais teorias que orientam o
trabalho científico”. Foram realizadas buscas nas bases de dados Scielo e Google acadêmico.
Segundo Costa e Gonçalves (2019), a revisão de literatura pode ser compreendida como
uma pesquisa onde são utilizadas diversas metodologias, permitindo a sintetização dos resultados
de vários estudos que abordando tópicos de interesse do tema. Costa e Gonçalves (2019, p. 122)
continuam afirmando que a revisão da literatura realiza pesquisas em artigos acadêmicos, livros
e outras fontes relevantes para uma área particular de pesquisa. A revisão deve enumerar,
descrever, resumir, avaliar objetivamente e esclarecer esta pesquisa anterior. Deve fornecer uma
base teórica para a pesquisa e ajudar você (o autor) a determinar a natureza de sua pesquisa.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 A desigualdade de gênero como elemento de diferenciação de cuidado
Tendo em vista que as históricas desigualdades de poder entre homens e mulheres
implicam forte influência no estado de saúde destas últimas, é imperativo que as questões de
gênero sejam consideradas como um dos determinantes da saúde na formulação de políticas
públicas. O gênero, como elemento constitutivo das relações sociais entre homens e mulheres,
é uma construção social e histórica. É estruturado e nutrido pelos símbolos, normas e
instituições que definem padrões de masculinidade e feminilidade e normas de comportamento
aceitáveis ou inaceitáveis para homens e mulheres.
Nota-se que as relações conflituosas entre mulheres e homens existem desde as
sociedades antigas, porém, as questões de gênero foram mais discutidas no Brasil,
principalmente no final da década de 1970. A partir de então, a proteção da mulher começa a
ser construída em novas propostas que se contrapõem ao modelo de dominação-exploração,
permitindo que a mulher participe da esfera pública ao invés de confinar suas ações aos limites
do lar (Costa et al, 2019).
A subjetividade de cada sujeito também está contida no gênero, na forma única como
ele reage ao que a sociedade oferece. Gênero é uma construção social que se sobrepõe a corpos
generificados. É a primeira forma da sensação de poder. Gênero refere-se ao conjunto de
relacionamentos, atributos, papéis, crenças e atitudes que definem o que significa ser homem
ou mulher. Na maioria das sociedades, as relações de gênero são desiguais. Desequilíbrios de
gênero são refletidos em leis, políticas e práticas sociais, bem como nas identidades, atitudes e
comportamentos das pessoas (Da Conceição; Madeiro, 2022).
A desigualdade de gênero tende a reforçar outras desigualdades e discriminações sociais
baseadas em classe, raça, casta, idade, orientação sexual, origem étnica, deficiência, idioma ou

140
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
religião, etc. Assim como diferentes grupos de pessoas enfrentam diferentes tipos e graus de
risco, mulheres e homens enfrentam diferentes padrões de sofrimento, doença e morte devido
à organização social das relações de gênero. Com base nesse pressuposto, uma perspectiva de
gênero deve ser incorporada à caracterização epidemiológica e ao planejamento de ações de
saúde para promover melhores condições de vida, igualdade e direitos civis para as mulheres
(Tavares et al, 2020).

3.2 Integralidade na assistência à saúde da mulher


No Brasil, a saúde da mulher foi incluída na política nacional de saúde nas primeiras
décadas do século XX e, nesse período, limitou-se às necessidades relacionadas à gravidez e ao
parto. A integralidade na assistência à saúde da mulher é um conceito que se refere à oferta de
cuidados de saúde de forma global e integrada, levando em consideração a saúde física, mental
e social das mulheres. Essa abordagem considera não apenas o tratamento de doenças, mas
também a prevenção e promoção da saúde, além de considerar os diversos aspectos que
influenciam a saúde das mulheres, como a sua condição socioeconômica, cultural, de gênero,
entre outros (Da Conceição; Madeiro, 2022).

Imagem 1: Esquema Síntese da Atenção à Saúde das Mulheres

Fonte: PNAISM (2021)


A integralidade na assistência à saúde da mulher implica na criação de serviços,
programas e políticas públicas de saúde específicas para as necessidades das mulheres, que
abranjam desde a saúde reprodutiva e materna até o cuidado com doenças crônicas, problemas

141
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
de saúde mental e outros determinantes de saúde. Nesse sentido, Guimarães (2017) advoga que
a implementação de políticas públicas voltadas para mulheres é essencial para enfrentar
problemas de forma abrangente e efetiva.
A integralidade na assistência à saúde da mulher é importante porque reconhece que a
saúde das mulheres é influenciada por diversos fatores e que é necessária uma abordagem ampla
e integrada para garantir que as mulheres recebam a assistência necessária para uma vida
saudável e plena.
“Diversos desafios se colocam para a implementação da atenção integral à saúde da
mulher na prática assistencial. A abordagem das questões relacionadas ao gênero
feminino, presente na elaboração de diversas políticas públicas, precisa
ser compreendida e incorporada por gestores e, principalmente, pelos
profissionais de saúde” (Santana et. al.,2019, p. 02).

Dessa forma, a integralidade na assistência à saúde da mulher contribui para o


fortalecimento da igualdade de gênero e do empoderamento das mulheres, promovendo o
acesso equitativo a serviços de saúde e a melhoria da qualidade de vida das mulheres (Souto;
Moreira, 2021).
O documento da PNAISM tem como princípios norteadores a integralidade e a
promoção da saúde na perspectiva de gênero e busca consolidar os avanços na área dos direitos
sexuais e reprodutivos, com ênfase na melhoria da assistência à maternidade, planejamento
reprodutivo, atenção ao aborto inseguro e casos violência doméstica e sexual (Ferreira et al,
2019), e ainda estende a atuação a grupos historicamente excluídos das políticas públicas por
suas particularidades e suas necessidades.
A PNAISM considera os diferentes níveis de desenvolvimento e organização em termos
de sistemas de saúde e formas de gestão. Assim, o documento, é uma proposta de co-construção
e respeito à autonomia dos diversos parceiros, entidades fundamentais para a implementação
das políticas, ressaltando a importância do empoderamento dos usuários do SUS e sua
participação no controle social (Souto; Moreira, 2021).
A PNAISM está fundamentada no direito à saúde e no respeito ao Código do SUS, que
de acordo com Correia et al (2019), parte das seguintes questões:
• Conceituar a Iniciativa de Saúde da Mulher como uma política e não como um
programa, entendendo que o termo política é conceitualmente mais amplo do que
Resposta aos problemas de saúde;
• Apresentar e divulgar as novas “necessidades” das mulheres em matéria de saúde
que ainda não foram contempladas nas políticas públicas;
• Atuar em prol de grupos de mulheres, mas sem visibilidade social;

142
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
• Identificar fontes de recursos e responsabilidades em todos os níveis do sistema de
acordo com as diretrizes do SUS e instrumentos de gestão adotados pelo Ministério
da Saúde; e
• Integrar a integração de gênero, abordagens raciais e étnicas e as especificidades das
mulheres que fazem sexo com homens nas políticas.
A política também se baseia na reflexão crítica sobre o atendimento à mulher nos
serviços de saúde, com vistas à construção de um modelo de atenção que respeite os direitos
das usuárias. A Política Nacional de Saúde da Mulher traduz os princípios e conceitos do SUS,
respeitando a diversidade dos municípios brasileiros, incluindo suas características
epidemiológicas e os diferentes níveis de organização do sistema de saúde local (Santana et al,
2019).
Mais importante, pretende ser uma referência conceitual e técnica ao invés de um guia
unificado que pode ser aplicado sem análise crítica ou adaptação às realidades locais.
Na concepção e formulação da "Política", considerou-se também o princípio da
integralidade como um dos requisitos para uma resposta integral, humanizada e
graduada às necessidades de saúde. A proposta da Política de Saúde da Mulher para
um modelo integrado de atenção responde às necessidades gerais da população
feminina, bem como às preocupações reprodutivas, e aborda as desigualdades sociais
como determinantes de morbidade, queixas e desconforto das mulheres (Tavares et
al, 2020, p. 21).

A proposta de atenção integrada é uma crítica ao modelo assistencial dominante no


sistema de saúde que reproduz os mecanismos de dominação feminina e promove sua
subordinação e falta de autonomia. A proposta também pressupõe uma articulação entre os
diferentes níveis de complexidade da atenção e entre os departamentos, um conhecido desafio
na implementação das propostas de integralidade no SUS (Ferreira et al, 2019).
O que se observa é a fragmentação da ação e da assistência, a separação entre a
tecnologia e o humano, tornando os serviços de saúde um foco de tensão entre usuários e
profissionais ao invés de um espaço de mudança social e política, tal como definido pelos
princípios do SUS como este.
3.3 Atenção à saúde da mulher na política pública de saúde
O papel da saúde pública é promover a saúde e o bem-estar da população em geral,
através de ações de prevenção, promoção e tratamento de doenças e outros problemas de saúde.
A saúde pública tem como objetivo principal a prevenção de doenças e a promoção de hábitos
saudáveis, incluindo o acesso a serviços de saúde preventivos, como vacinação, triagem e
diagnóstico precoce de doenças. Além disso, a saúde pública é responsável por desenvolver
políticas e programas de prevenção e controle de doenças transmissíveis e não transmissíveis,

143
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
incluindo ações de vigilância epidemiológica, monitoramento de doenças e investigação de
surtos (Ferreira et al, 2019).
A saúde pública também tem um papel importante na promoção de estilos de vida
saudáveis e na promoção de ambientes saudáveis, incluindo o acesso à água potável e
saneamento básico. Além disso, também é responsável por garantir o acesso equitativo a
serviços de saúde de qualidade para toda a população, independentemente de sua condição
socioeconômica ou geográfica. Isso inclui a promoção de políticas e programas que garantam
a igualdade de acesso a serviços de saúde para todos os grupos, incluindo as minorias étnicas,
populações vulneráveis e pessoas em situação de vulnerabilidade social (Cavalcanti; Holanda,
2019).
Portanto, a saúde da mulher não pode ser vista isoladamente da sua condição social,
econômica e cultural. É importante abordar essas questões interconectadas, promovendo
políticas e programas que abordem as desigualdades de gênero, promovam o empoderamento
das mulheres e ofereçam acesso a recursos econômicos e políticos. A promoção da saúde da
mulher também deve incluir a conscientização sobre questões culturais e sociais que afetam a
saúde das mulheres, incluindo a violência de gênero e a falta de acesso à educação e informação
sobre saúde (Cavalcanti; Holanda, 2019).
Tradicionalmente, as mulheres têm focado e discutido suas vidas reprodutiva e sexual,
sendo vistas como passivas, vulneráveis e incompetentes, pela função reprodutiva da espécie,
destacando-se sua subordinação aos machos, indício claro das tentativas de domínio do corpo
feminino, da libido e da imposição do sexo com o único objetivo de reprodução. O ideal de
domesticidade prescreve um estilo de vida para as mulheres limitado a administrar a casa e
cuidar e criar os filhos, enquanto para os homens dá maior ênfase a atributos como política,
filosofia e artes. Os homens, associados a ideias de autoridade pela sua força física e
"comando", exerciam o poder na sociedade, dando origem a uma sociedade patriarcal, que
representava uma outrora florescente família centrada em torno de um chefe ou de um patriarca
dotado de autoridade absoluta. estabelecimento naquela época (Rodrigues; Falcão, 2021).

3.4 Atendimento humanizado para uma abordagem integral à saúde da mulher


A humanização e a qualidade da assistência são condições essenciais para traduzir a
ação de saúde em soluções para os problemas identificados, satisfação das usuárias,
empoderamento da mulher para a identificação de suas necessidades, reconhecimento e
reivindicação de seus direitos, e promoção do autocuidado. As histórias de mulheres que
procuram atendimento médico expressam discriminação, frustração e violação de direitos que

144
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
parecem ser fontes de tensão e desconforto físico e emocional. Por isso, a humanização e a
qualidade do atendimento significam a promoção, o reconhecimento e o respeito de seus
direitos humanos dentro de um marco ético que garanta a saúde e o bem-estar integral (Souto;
Moreira, 2021).
A qualidade dos cuidados deve relacionar-se com uma série de dimensões, incluindo
questões psicológicas, sociais, biológicas, sexuais, ambientais e culturais. Isso significa ir além
da abordagem hegemônica e medicalizada do biólogo para os serviços de saúde e adotar
conceitos e práticas holísticas de saúde que considerem a experiência de saúde do usuário.
Humanizar e qualificar a atenção à saúde é aprender a compartilhar saberes e reconhecer
direitos, pois “a humanização é valorização dos usuários, trabalhadores e gestores no processo
de produção de saúde, e está vinculado aos direitos humanos, é um princípio que deve ser
aplicado a qualquer aspecto do cuidado” (Leite, et. al., 2020, p. 05).
Cuidar de forma humanizada e de qualidade significa estabelecer relações entre sujeitos,
como pessoas, mesmo que possam variar consideravelmente devido às condições sociais,
raciais, étnicas, culturais e de gênero. A humanização da assistência à saúde é um processo
contínuo que requer reflexão permanente sobre as ações, modos e ações de todos os envolvidos
na relação, assim como a qualidade do atendimento requer mais do que resolução de problemas
ou disponibilidade de recursos técnicos, onde, ser humano é mais do que tratar as pessoas de
maneira gentil, gentil ou amigável (Rodrigues; Falcão, 2021). Nesse contexto, “a humanização
pode ser entendida como a capacidade de se colocar no lugar do próximo [...] e uma atitude
humanizada objetiva à compreensão de experiências e dos sentimentos do sujeito/paciente [...]”
(Delgado, et. al., 2021, p. 05).
Também é necessário a disponibilização de insumos, equipamentos, materiais didáticos,
fornecer informações e orientações a clientes, familiares e comunidades sobre promoção da
saúde e formas de prevenção, tratamentos, assim como o estabelecimento de mecanismos de
avaliação contínua do desempenho dos serviços e profissionais de saúde, com a participação
dos utentes; implementação de monitoramento, controle e avaliação contínua das ações e
serviços de saúde, com participação dos usuários. Parra tanto, é necessário a utilização de
análise de indicadores que permitem aos gestores acompanhar o andamento das ações, o
impacto no problema tratado e a redefinição de estratégias ou ações que se façam necessárias
(Souto; Moreira, 2021).

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

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PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Com base nas pesquisas realizadas, fica claro que o setor de saúde da mulher percorreu
vários processos. Evidentemente, a Constituição brasileira de 1988 representou um avanço no
tratamento das questões de saúde, pois a introdução do SUS no texto constitucional afirmou o
conceito de saúde como direito de todos e dever do Estado. O que fica evidente, então, é a
ênfase neoliberal na saúde, a ênfase na ação, a instabilidade e a falta de financiamento para
influenciar o descompasso entre o alcance das propostas e o alcance da efetividade das políticas
para as mulheres.
Concluiu-se que apesar dos avanços no desenvolvimento de políticas/programas
voltados para a saúde da mulher, a ação de saúde ainda se concentra exclusivamente no ciclo
reprodutivo/gravídico da mulher, o que fere o princípio constitucional da proteção integral à
saúde da mulher. No que diz respeito às políticas de saúde da mulher, percebe-se que, para
garantir a integralidade das ações, elas devem ser realizadas no âmbito da promoção, prevenção
ou recuperação, abrangendo aspectos biopsicossociais, garantindo assim o cuidado à mulher.
Alegações de saúde feitas por mulheres.

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148
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
CAPÍTULO 14
MUDANÇAS FÍSICAS E EMOCIONAIS
DA MULHER NO CLIMATÉRIO
PHYSICAL AND EMOTIONAL CHANGES IN WOMEN IN
CLIMATERIAL

10.56161/sci.ed.20230913C14

Ana Maria Pereira Silva


Discente da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás
ORCID ID do autor: https://orcid.org/0009-0008-2549-2968

Bruna Tainah Ruy


Discente da Faculdade de Medicina da Universidade de Rio Verde - Câmpus Aparecida de
Goiânia
ORCID ID do autor: https://orcid.org/0000-0002-3452-2582

João Vitor Abreu Ferreira


Discente da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás
Orcid ID do autor: https://orcid.org/0009-0006-2048-3814

Mariana Camilo de Sousa


Discente da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás
ORCID ID do autor: https://orcid.org/0000-0002-5106-5432

Marcela Dourado Borges


Discente da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás
ORCID ID do autor: https://orcid.org/0009-0004-1601-3698

Érika Carvalho de Aquino


IPTSP-UFG
ORCID ID do autor: https://orcid.org/0000-0002-5659-0308

RESUMO
Define-se o climatério como uma fase natural da vida da mulher, que compreende a transição
entre o período reprodutivo e não reprodutivo, sendo a menopausa seu principal marco, marcada
pela falência ovariana. Durante o climatério, a maioria das mulheres queixam-se de algum tipo

149
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
de sintomatologia, podendo ser físicas, emocionais e hormonais, o que pode afetar sua
qualidade de vida. Este estudo tem como objetivo analisar as alterações físico-emocionais da
mulher durante o climatério.Para esta revisão integrativa, realizou-se uma busca na base de
dados MEDLINE via PubMed. Utilizaram-se os descritores: “Emotional”, “Changes”,
“Women”, “Climacteric”, “Physical”, conectados pelo operador booleano AND; “Body”
conectado pelo operador booleano OR, com filtro de 5 anos, resultando inicialmente em 405
artigos. Como critérios de inclusão, selecionaram-se artigos disponíveis na íntegra, publicados
entre 2018 e 2023, nas línguas inglesa e portuguesa e, para exclusão, eliminaram-se artigos
repetidos, incompletos e que não contemplassem o estudo, sendo analisados 14 trabalhos
completos. Os resultados obtidos revelaram alterações tanto físicas quanto emocionais em
mulheres no climatério. Dentre as alterações físicas, é ressaltado modificações menstruais,
sintomas vasomotores, alterações urogenitais, disfunções sexuais, alterações metabólicas e
dermatológicas. Em relação às emocionais, destacam-se astenia, insônia, sensação de
ansiedade, nervosismo, memória fraca e depressão. Outra mudança observada com frequência
é a da percepção da imagem corporal.Dentre as diversas queixas, as emocionais são as mais
relatadas, o que prejudica a qualidade de vida das mulheres no período em questão. Portanto, a
mulher climatérica enfrenta diversos desafios tanto emocionais, mentais quanto físicos, que
alteram o funcionamento de seu corpo e a sua qualidade de vida. Logo, é ressaltado a
importância de atenção às mulheres climatéricas.

PALAVRAS-CHAVE: Climatério; Menopausa; Saúde da mulher.

ABSTRACT
Climacteric is defined as a natural phase of a woman's life, which comprises the transition
between the reproductive and non-reproductive period, with menopause being its main
milestone. It is marked by ovarian failure. During the climacteric, most women complain of
some type of symptomatology, which can be physical, emotional and hormonal, which can
affect their quality of life. This study aims to analyze the physical-emotional changes in women
during the climacteric. For this integrative review, a search was carried out in the MEDLINE
database via PubMed. The following descriptors were used: “Emotional”, “Changes”,
“Women”, “Climateric”, “Physical”, connected by the Boolean operator AND; “Body”
connected by the Boolean operator OR, with a 5-year filter, initially resulting in 405 articles.
As inclusion criteria, articles available in full, published between 2018 and 2023, in English
and Portuguese were selected and, for exclusion, repeated, incomplete articles and articles that

150
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
did not contemplate the study were eliminated, with 14 complete works being analyzed. The
results obtained revealed both physical and emotional alterations in climacteric women. Among
the physical changes, menstrual changes, vasomotor symptoms, urogenital changes, sexual
dysfunctions, metabolic and dermatological changes are highlighted. Regarding the emotional
ones, asthenia, insomnia, feelings of anxiety, nervousness, poor memory and depression stand
out. Another frequently observed change is the perception of body image. Among the various
complaints, emotional ones are the most reported, which impairs the quality of life of women
in the period in question. Therefore, the climacteric woman faces several challenges, both
emotional, mental and physical, which alter the functioning of her body and her quality of life.
Therefore, the importance of attention to climacteric women is emphasized.

KEYWORDS: Climacteric; Menopause; Women's health.

1. INTRODUÇÃO

O climatério compreende um processo fisiológico de alterações metabólicas e


hormonais, as quais as mulheres passarão ao longo de suas vidas. Essa condição, segundo a
Organização Mundial de Saúde (OMS), é definida como a transição entre os períodos
reprodutivo e não reprodutivo da mulher, compreendendo desde o início das alterações
corporais e mentais até a menopausa – conceituado como o último ciclo menstrual, reconhecido
após doze meses de sua ocorrência. Ademais, esse momento de transição pode estar relacionado
com diversas modificações femininas, como alterações menstruais e urogenitais, sintomas
vasomotores, disfunções sexuais, alterações metabólicas e dermatológicas.

Dentre algumas alterações desse processo, a mais importante delas é a diminuição dos
níveis de estrogênio e progesterona produzidos pelo corpo. A redução drástica desses
hormônios pode levar a sintomas como ressecamento e coceira vaginal, ondas de calor, suores
noturnos, dores de cabeça, pele seca, irritabilidade e distúrbios do sono (SANTOS et al., 2020).

Além disso, há uma importante correlação de condições de comorbidade – por


exemplo, hipertensão, obesidade, diabetes e sedentarismo - com o desenvolvimento de sintomas
mais preponderantes no climatério (SANTOS et al., 2020), sendo importante avaliar o
verdadeiro impacto dessas condições nessa transição.

151
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Diante desse conjunto de sinais e sintomas, nota-se o impacto e a importância desse
tema dentro da comunidade feminina. Há uma relevância de mudanças físicas e emocionais que
podem diminuir a qualidade de vida desse grupo, bem como trazer inseguranças e dificuldades
para lidar com esse processo de transição.

Portanto, o presente estudo tem como objetivo revisar os principais sinais, sintomas e
mudanças físicas e mentais das mulheres em climatério, a fim de reconhecer e possibilitar
medidas que possam alterar as condições pré-existentes e melhorar a qualidade de vida pós-
menopausa, com o objetivo de facilitar a passagem dessas mulheres pelo climatério.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

Trata-se de uma revisão integrativa da literatura feita por meio de pesquisas no


repositório de dados da PubMed, entre o período de 2018 a 2023. Na realização dessa pesquisa,
utilizou-se os descritores: “Emotional”, “Changes”, “Women”, “Climacteric”, conectados pelo
operador booleano AND; “Body”, “Physical” conectados pelo operador booleano OR. Dessa
busca, inicialmente foram encontrados 405 resultados, os quais foram submetidos a critérios de
seleção. Os critérios de inclusão foram: artigos disponíveis na íntegra nos idiomas inglês e
português; data de publicação no período entre 2018 e 2023 e que abordassem como temática
principal as mudanças físicas ou emocionais da mulher no climatério. A partir disso, estipulou-
se os critérios de exclusão: leitura de título, resumo e conclusão, desse modo, artigos que
tratavam do uso de medicamentos em teste ou que não possuíam foco no climatério foram
desconsiderados, assim como aqueles que não apresentavam discussão clara sobre o tema.
Posteriormente à aplicação dos critérios citados, restaram 14 artigos que foram submetidos à
leitura completa e minuciosa para a coleta de informações e interpretação de dados.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Resultados
A partir da revisão dos 14 artigos selecionados, foi possível delimitar as principais
alterações tanto físicas quanto emocionais citadas por mulheres de meia idade no climatério,
além de delinear o impacto de cada alteração na qualidade de vida dessas mulheres.

3.1.1 Alterações físicas da mulher no climatério

152
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Um estudo feito no Brasil mostrou que as alterações mais prevalentes mencionadas
por mulheres de meia idade brasileiras no climatério foram alterações menstruais, sintomas
vasomotores, alterações urogenitais, disfunções sexuais, alterações metabólicas e
dermatológicas. Das 16 mulheres entrevistadas para o estudo, 13 relataram que os sintomas
vasomotores foram os mais prevalentes e mais incômodos durante o climatério. Dentre os
sintomas vasomotores, o mais citado foi o “calourão”, popularmente conhecido como
“fogachos” ou “ondas de calor”, sendo o sintoma mais comum em mulheres ocidentais,
acompanhado de sudorese.
Em relação aos sintomas urogenitais, os mais recorrentes são aqueles associados à
atrofia urogenital ocasionada pelo climatério, como o ressecamento vaginal, a dispareunia e a
urgência miccional, causados pela diminuição dos níveis de estrogênio nas mulheres
climatéricas. Além disso, esses sintomas têm impacto direto na disfunção sexual feminina, que
se prejudica também pela diminuição dos hormônios femininos, que antes proporcionavam uma
vida sexual mais prazerosa. Tudo isso promove redução na qualidade de vida e intensifica os
sintomas psíquicos vividos por mulheres nessa fase da vida. Um estudo conduzido por Dombek
et al., comprovou que a disfunção sexual é prevalente em mulheres no climatério, sendo relatada
por 70,3% das entrevistadas. Em outro estudo realizado no Irã, das 225 mulheres participantes,
70% delas revelaram sofrer de pelo menos um problema sexual (Hashemi et al, 2019).

As alterações nos hormônios reprodutivos femininos durante o climatério se associam


ao aumento do risco metabólico e de doenças cardiovasculares em mulheres. Entre as principais
disfunções metabólicas estão as alterações do metabolismo ósseo, o que torna as mulheres
climatéricas mais propensas à osteoporose. Além disso, há alterações do metabolismo lipídico,
que corrobora o aparecimento de doenças cardiovasculares, que se acredita ser devido à redução
de estradiol que ocorre no climatério. Segundo Marlatt et al, a doença cardiovascular é a
principal causa de morte em mulheres na pós-menopausa. e a diminuição do tecido muscular
e aumento do tecido adiposo, o que torna essas mulheres mais propensas à obesidade, elevando
o risco cardiovascular citado anteriormente. De acordo com o estudo de Mohamed et al, o ganho
de peso foi vivenciado por 63,3% das mulheres participantes de seu estudo.
Outro ponto citado pela maioria das mulheres é a redução da qualidade do sono durante
o climatério e menopausa. Dificuldade para dormir foi o segundo sintoma mais frequente
(61,7%) e o segundo sintoma mais incômodo para as mulheres estudadas (Ali et al., 2020).
Estudos comprovam a associação da redução do sono e maior ganho de peso em mulheres com
disfunção ovariana devido ao período do climatério (Fenton et al., 2021).

153
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
3.1.2 Alterações emocionais da mulher no climatério
Em relação às alterações emocionais relacionadas ao climatério, essas parecem ser as
que mais incomodam mulheres nesse período, sendo as relatadas mais frequentemente. “Falta
de energia” foi o sintoma mais sentido (65,0%) e o mais incômodo, dificuldade para dormir foi
o segundo sintoma mais frequente (61,7%), seguido por “sentir-se ansioso ou nervoso”
(58,3%), “experimentar memória fraca” (55,0%) e “sentir-se deprimido, para baixo” (50,0%)
(Ali et al., 2020). 55% das mulheres estudadas relataram ter depressão leve a grave e 83,7%
delas tinham ansiedade leve a grave (Simbar et al., 2020).
Além das mudanças emocionais decorrentes do próprio período em questão, essas se
intensificam devido a redução na qualidade de vida de mulheres climatéricas, que enfrentam
diversos sintomas durante e após esse período. Mulheres na pré-menopausa com baixa
qualidade de vida tiveram maior pontuação de estresse e depressão que mulheres com alta
qualidade de vida. (Sánchez et al., 2017).
Outro fator relacionado à ansiedade e depressão no climatério, é a mudança da
percepção da imagem corporal da mulher que passa por esse período. Um estudo transversal
em mulheres de meia-idade afro-americanas e caucasianas com idades entre 42 e 52 anos
mostrou que mulheres de meia-idade com imagem corporal ruim e percepção de falta de
atratividade experimentam depressão quase duas vezes mais do que as demais mulheres. Uma
análise também mostrou uma correlação negativa entre a imagem corporal e a depressão em
mulheres coreanas na perimenopausa. Por fim, um estudo mostrou a associação entre
insatisfação corporal, importância da aparência, ansiedade do envelhecimento e depressão em
mulheres climatéricas (Simbar et al., 2020).

154
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Figura 1. Alterações associadas no risco cardiometabólico durante a transição da menopausa.
Alterações nos fatores de risco cardiometabólicos ocorrem durante a transição da menopausa
(Fonte: Marlatt et al. 2022).

3.2 Discussão
O climatério é um período inerente na vida de mulheres de meia idade em todo o
mundo, que antecede de fato a definição da menopausa. Com esse período, a mulher passa a
experimentar diversas alterações físicas e emocionais que alteram o funcionamento de seu
corpo e a sua qualidade de vida. As mulheres passam por vários desafios emocionais, mentais
e físicos durante esse período. Isso inclui flutuações na menstruação, ondas de calor e/ou suor
noturno, problemas de sono, secura vaginal, alterações de humor, dificuldade de concentração
e menos cabelo na cabeça, mais no rosto e experiência de declínio da capacidade física e mental
relacionado à idade (Singh et al., 2020).
O presente trabalho visou delimitar as principais mudanças físicas e emocionais
experimentadas pela mulher climatérica, levantando as mais citadas e de maior relevância na
vida desses indivíduos, que delinearão um novo estilo de vida para quem enfrenta esse período.
A multiplicidade e gravidade destes sintomas da menopausa podem comprometer
significativamente o bem-estar emocional e cognitivo em mulheres de meia-idade (Ali et al.,
2020).
Diante do exposto, é inevitável a quantidade de alterações que o hipoestrogenismo
causa na mulher climatérica, sendo a disfunção sexual, depressão e ansiedade os mais

155
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
perturbadores. De fato, esses sintomas estão intimamente relacionados entre si e contribuem
para que esse período se torne turbulento e difícil de ser vivenciado. Soma-se a isso as alterações
de peso devido a mudança no metabolismo feminino, que predizem maior sofrimento pela
mudança na imagem corporal, comprovado pelos estudos como intensificadora da depressão
em mulheres climatéricas.
As alterações vivenciadas pelas mulheres no climatério que foram caracterizadas como
mais preocupantes são as de origem cardiovascular, uma vez que predizem doenças crônicas e
que acompanharão essa parcela da população por toda a sua vida, como a hipertensão arterial
sistêmica, disfunção vascular e cardíaca. Nas mulheres, a função vascular parece estar
preservada até a transição para a menopausa, após a qual a função vascular se deteriora
progressivamente, possivelmente devido a uma mudança no equilíbrio e no estado inflamatório
corporal (Marlatt et al., 2022).
Assim, a mulher climatérica se encontra em um cenário duplamente angustiante: todo
o sofrimento causado pelas alterações físicas, somados pelas alterações emocionais causadas
pelas mudanças hormonais desse período. Dessa forma, esse presente artigo ressalta a
necessidade da atenção às mulheres climatéricas, que enfrentam diariamente queixas
persistentes e que alteram todo o panorama de sua vida. Mais que deixar de menstruar, o
climatério e a menopausa transformam definitivamente a vida de milhares de mulheres,
colocando-as em um novo panorama antes nunca vivido.

4. CONCLUSÃO

Consagra-se, então, o climatério como sendo uma fase feminina com diversas alterações
negativas na qualidade de vida da mulher de meia idade. Sendo a mais frequente os famosos
‘’fogachos’’ e a mais perigosa as disfunções cardiovasculares, que estão relacionadas
diretamente ao ganho de peso. No entanto, as que mais perturbadoras para a comunidade
feminina são a disfunção sexual, a depressão e a ansiedade.
Dessa maneira, percebe-se uma mulher em uma fase em que seu corpo está perdendo a
vitalidade experienciada durante a vida, com redução de sensações prazerosas, como na vida
sexual, além de possível diminuição do prazer em que ela tem ao perceber sua vida, devido a
alta prevalência de depressão no climatério, acrescido ainda, entre diversas outras coisas, à
mudança de sua autopercepção e auto-imagem. Definitivamente a mulher climatérica faz parte
de uma comunidade extremamente vulnerável, a qual deve ter uma atenção multiprofissional
íntima, com foco na atenção médica e psicológica.

156
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
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PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
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158
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
CAPÍTULO 15
O COLO VAZIO E A CONSTRUÇÃO
DA MATERNIDADE DIANTE DA
PERDA PERINATAL
THE EMPTY CERVIX AND THE CONSTRUCTION OF MOTHERHOOD IN THE
FACE OF PERINATAL LOSS

10.56161/sci.ed.20230913C15

Nicole Pereira dos Santos Sousa


Psicóloga Perinatal e Parental
Profissional voluntária do Projeto Grito Solitário
https://orcid.org/0009-0008-4553-0976

RESUMO

Este escrito tem embasamento metodológico no relato de experiência da autora no acolhimento


a mães enlutadas pela “perda” perinatal, por meio de Rodas de apoio, realizadas de forma on-
line. Tendo como base para coleta de dados o ano de 2022 e primeiro semestre de 2023. As
narrativas foram utilizadas como norteadoras para expressar como se consolida a maternidade
de colo vazio, frente a invisibilização social destinada às mães que tiveram perdas gestacional
e/ou neonatal. Como considerações é possível constatar que as mulheres que atravessam o luto
perinatal são afetas na constituição e consolidação da identidade social e psíquica, frente as
rupturas das idealizações, expectativas e morte real do filho, consequentemente para estas
mulheres o papel materno perpassa por mudanças no seu significado e na sua construção.

PALAVRAS-CHAVE: Maternidade; Colo Vazio; Perda perinatal; Luto puerperal;

ABSTRACT

This writing is methodologically based on the author's experience report in welcoming mothers
bereaved by the perinatal "loss", through Support Circles entitled "Forever Mother", carried out
online. Based on the year 2022 and the first half of 2023 for data collection. The narratives were
used as guides to express how motherhood with an empty cervix is consolidated, in view of the
social invisibility of mothers who had gestational and/or neonatal losses. As considerations, it
is possible to verify that women who go through perinatal mourning are affected in the

159
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
constitution and consolidation of social and psychic identity, in the face of ruptures in
idealizations, expectations and the real death of the child, consequently, for these women, the
maternal role permeates changes in their meaning and its construction.

KEYWORDS: Maternity; Empty lap; Perinatal loss; Puerperal mourning;

1. INTRODUÇÃO
Este escrito teve início com o despertar do desejo latente em fazer mais, ser mais e
possibilitar mais; mais atendimentos, mais acolhimento, mais espaços de visibilização para a
maternidade de colo vazio1. Atendendo mulheres/mães que são atravessadas pela perda
perinatal, surge uma demanda iminente, compreender como se consolida a construção da
maternidade frente ao luto e aos impactos psíquicos envolvidos neste maternar?
A maternidade ainda é uma experiência central na vida da mulher adulta, mesmo que
contemporaneamente, este papel não seja mais um destino inevitável e sim um projeto
susceptível em ser efetivado. Para Borges (2020), “gestar”, “parir”, “ter um filho”, “ser mãe” –
não são sinônimos; a maternidade possui em sua base, matrizes profundas da cultura, do
contexto social e econômico em que a mulher está inserida. O papel social da mulher é
complexo e, no que diz respeito ao tornar-se mãe envolve um lugar dileto de amplas
expectativas, entretanto, não há indícios históricos de preocupações frente às necessidades
psicológicas exigidas da mulher no exercício parental; “um tipo de escravidão em relação á
maternidade” que visa enfatizar o lugar heroico de beleza e plenitude do ser mãe. (VALSINER,
2020).
Realizando atendimentos clínicos e acolhimentos por meio de grupos de apoio, pude
compreender a inquietação vivida por muitos profissionais de saúde frente a perda perinatal,
em alguns momentos também compartilhei dela: como ofertar acolhimento quando a morte
visita a maternidade? Quanto é possível compreender o tecer da maternidade vivido por
mulheres em um espaço temporal onde o gestar ou nascimento são atravessados pela morte?
Como investir na construção da maternidade quando se vivencia concomitantemente o luto pelo
filho? Assim, diante dessas questões nasceu o presente trabalho, com o intuito de tecer a
compreensão de como se dá a construção da maternidade de colo vazio diante dos relatos de
experiência vivido pela autora no acolhimento a mães enlutadas em rodas de apoio realizadas
on-line.

1
Termo utilizado para nomear a maternidade de mães que tiveram perda gestacional e/ou neonatal

160
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
O mote da maternidade é amplo, envolvendo questões biológicas, culturais, sociais,
econômicas, emocionais e psicológicas. Para Borges (2020), a transição para a maternidade
envolve a restruturação da identidade da mulher, através de mudanças e até modificações de
padrões psicológicos. O maternar marca uma nova fase na vida da mulher. De acordo com
Marson (2008), a gravidez é um estágio de crise e o ter um filho acarreta na mulher
consideráveis reações, sentimentos, fantasias, expectativas frente ao novo papel e identidade,
além de filha e mulher, passa a ser mãe. Maternidade é, portanto, transição, processo,
construção.
Ao lado do amor e da devolução materna caminha a ambivalência. A experiência de
ambivalência e os fenômenos dicotômicos de acordo com Ramos (2021), são a marca registrada
de qualquer grande transição da vida, viver uma situação complexa que não se define ou
enquadra em uma única categoria, impossibilita o nomear, assim é a maternidade, dividida entre
coisas que parecem incompatíveis. Neste sentido surge o questionamento: como e quando
torna-se mãe? Para Freud (1914/1996), em seus escritos sobre narcisismo, para poder amar é
necessário investir, para investir em uma criança é imprescindível, amar o que somos, o que
fomos e o que gostaríamos de ser, assim como aqueles que cuidaram de nós. Neste sentido, é
através das mudanças corporais, sociais e psíquicas que uma mulher pode ir tecendo o seu
maternar.
É inerente ao ser mãe as idealizações frente ao filho que estar por vir, o que se imagina
sobre um filho está pautado no desejo: Qual a cor dos olhos? Com quem parecerá? Nascerá
saudável? Mas, no cenário das idealizações não cabe a morte, ela nunca está presente até o
abortamento acontecer, um diagnóstico de vida breve ser deferido, uma súbita notificação
através do silencia na sala de parto ou a constatação de que o filho não irá para casa. Embora
pensamentos negativos possam permear a cabeça da gestante, há o sonho e desejo de ter um
filho saudável, bonito, que irá preencher os espaços físicos e emocionais, concretizando a
experiência da maternidade. Para Cavalcante et al., (2015) o desejo de ter um filho, as
idealizações e características vinculadas ao mesmo estão associadas às fantasias da própria
infância.
Para Marson (2008), toda gravidez traz em seu bojo a semente do sucesso e do fracasso
– “conceitos esses definidos diferentemente nas diversas épocas e culturas”, sendo assim, é
intrínseco ao gestar a noção de risco, imprevistos que podem vir a comprometer o resultado
final. A “perda” do filho durante a gestação, parto ou logo após o nascimento, contrapõem ao
que é idealizado e ao desenho social de maternidade como cenário onde se espera a vida em
plenitude. “Perder” um filho rompe a ordem natural da vida. Interrompe sonhos, expectativas e

161
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
os ideais de completude que normalmente são depositadas na criança que está por vir
(IACONELLI, 2007). A morte do filho interdita às expectativas construídas e ameaça o
desempenhar do papel materno, exigindo adaptação e impondo o luto (MARSON, 2008). A
experiência do luto perinatal deixa profundas marcas na mulher, com significativos impactos
psicológicos e compreender a dinâmica psíquica dessa vivência ambivalente de construir-se
mãe e ao passo que se realizado a travessia do luto é essencialmente a base que qualifica este
estudo.
O luto é uma experiência de adaptação frente a situações de perda e rompimento de
vínculo; é uma experiência de dor enfrentada por todos nós. O luto pode ser vivido diante da
perda de algo ou alguém que tem relevância e significado para o enlutado. É uma experiência
universal que é vivida de maneira singular, portanto, cada pessoa lida com o luto de maneira
diferente. E no cenário ambíguo das perdas, a “perda” perinatal se caracteriza como uma
experiência das mais dolorosas que uma mulher pode vivenciar. Estima-se que cerca de 20%
das gestantes experienciem a perda, o que se traduz em 44 perdas gestacionais por minuto no
mundo. De acordo com Nascimento (2021), em 2020 foram registradas 18.297 mortes fetais,
segundo a Secretaria de Vigilância em Saúde, apontado no Painel de Monitoramento da
Mortalidade Infantil e Fetal (2020), entretanto, a perda perinatal não é um mote que esteja no
centro de estudos e discussões na área da saúde, o que se traduz na invisibilização do luto e
perda perinatal.
O sofrimento ocasionado pela “perda” pode acarretar adoecimentos ou transtornos
psicológicos, como ansiedade, fobia, psicoses, depressão, além das alterações nas concepções
sobre o ser mãe, que interferem na interpretação do papel feminino. Para Marson (2008), o
sentimento de inadequação e culpabilização pode ser um golpe na autoestima da mulher,
refletindo na sua capacidade de maternar. De acordo com Bastos (2020), o processo do luto é
experienciado na busca por significados frente a ruptura, portanto, é relevante que haja o
reconhecimento social da dor como forma de validar a vivência do luto. Porém em situações de
perda gestacional o luto pode ser experienciado como não reconhecido “[...] não há condições
de expressar o pesar, compartilhar os mais conflitantes sentimentos e pensamentos e, então
receber apoio social para reorganização diante da crise desencadeada pela perda”
(CASELLATO citado por BASTOS, 2020).
Chico Buarque com sua maestria sutileza de nos fazer enxergar que teimamos em
ocultar, traz uma importante reflexão a cerca do luto perinatal quando afirma em sua canção
que “a saudade é o revés de um parto; a saudade é arrumar o quarto do filho que já morreu”.
Bastos (2020) afirma que a morte não pode ser caracteriza apenas como fato biológico, devendo

162
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
ser considerado todos os aspectos sociais e culturais que permeiam a definição e relação com a
morte e o morrer. “Os sentimentos que são atribuídos à morte podem e costumam se modificar
de acordo com o momento histórico vivenciado”, a validação da dor e da “perda” influenciará
na forma como o luto será vivido e consequentemente na forma como a maternidade de colo
vazio será ou não consolidada (p. 392).

2. METODOLOGIA
Trata-se de um estudo de base qualitativa, que foi desenvolvido com base na experiência da
autora como psicóloga mediadora em Rodas de acolhimento e apoio a mães enlutadas diante da
perda perinatal, realizadas de forma on-line no ano de 2022 e no primeiro semestre de 2023. As
rodas foram efetivadas em parceria com um Projeto Social de acolhimento e apoio a mães e
famílias que vivenciam o luto pelas perdas perinatais e parentais, onde a autora é profissional
voluntária. A descrição do público atendido é ampla, por não haver outra delimitação além de
estar vivendo o luto pela “perda” do filho no cerne da perinatalidade, sendo assim, as mulheres
acolhidas têm idades variadas, com caracterisiticas socioeconômicas díspares.
A participação nas Rodas é de livre interesse, cabendo a cada participante acessar a
sala virtual, previamente divulgada. Ao ingressar na sala as participantes foram orientadas sobre
os procedimentos, cuidados e manutenção do sigilo ético, estabelecendo assim o contrato verbal
para assegurar o respeito por cada uma e suas histórias.
Os relatos de experiência foram coletados por meio das transcrições das narrativas
trazidas pelas participantes no momento da Roda e/ou nos acolhimentos individuais que são
realizados com as mães que denotam no grupo maior fragilidade emocional ou sinais de estarem
vivendo um luto complicado; onde são orientadas por meio da psicoeducação ou direcionadas
para atendimento psicológico. Para subsidiar os relatos de experiência e produzir este escrito,
foram realizadas buscas bibliográficas em livros, artigos científicos disponíveis no ambiente
virtual, sites como Google Scholar, Scielo e BVS - Biblioteca Virtual em Saúde e dados do
Ministério da Saúde e Rede Mulher Brasil (ONG), que disponibiliza números sobre o perfil de
mulheres com perda gestacional.
Privilegiar as narrativas das mulheres sobre suas vivências na travessia do luto
perinatal traz luz sobre o mote da morte, do luto e da construção da maternidade de colo vazio,
tantas vezes invisibilizada, versa sobre a urgência do protagonismo da mulher na cena do gestar,
nascer, parir e enlutar-se. O objetivo maior com este estudo é possibilitar o olhar a experiencia
do maternar como único, processual e construído a partir das próprias experiências e biografia
de vida, emergindo nas dores, dramas e contrastes inerentes ao ser humano.

163
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Para manter o respeito ao sigilo das participantes, os nomes aqui utilizados são fictícios
e foram consideradas 20 narrativas de participantes das Rodas, considerando o aspecto da
“perda” perinatal de primigestas como similaridade.

3. DISCUSSÃO

O luto é experienciado através de uma busca de significados frente à ruptura


vivenciada, com a necessidade do enlutado em retomar o controle sobre suas relações e sua
própria vida. (BASTOS, 2020). Como retomar o controle quando não há sequer o
reconhecimento da dor, da perda, a validação do papel desejado e instituído pelo desejo, a
maternidade? O maternar é uma construção e como tal deve ser olhado sob a ótica do contexto
cultural e social, incluindo os aspectos históricos e psicológicos. De acordo com BASTOS
(2020), há uma expectativa social sobre a mulher de ter filhos após o casamento, e a
incapacidade de concretizar tais expectativas, ou de “perder” um filho pode ser vista como um
fracasso. “De tal forma, o sentimento de culpa torna-se presente e a mulher sofre a pressão da
sociedade por ter falhado na sua função materna de cuida e proteger o filho”. (CASELLATO,
MOTTA, 2002 citado por BASTOS, 2020).
Ao anuir a mães enlutadas é importante que o ambiente ofertado seja acolhedor, onde
a escuta ocorra sem julgamentos, validando a singularidade da dor e das vivências. Possibilitar
que cada uma construa suas próprias possibilidades de enfrentamento ao luto e de maternar da
maneira que lhe é possível, deve ser sempre o objetivo dos grupos de apoio. Tal objetivo está
pautado na concepção da maternidade como experiência de múltiplos significados na vida de
uma mulher, onde as expectativas, frustações, ganhos e perdas estão intimamente ligadas.
As perdas são inerentes a vida, entretanto, a “perda” de um filho durante a gestação,
logo após o nascimento ou nos primeiros dias de vida infringe a regra natural da vida, onde os
pais deveriam morrer primeiro que seus filhos. Esta modificação no que deveria ser natural,
torna o luto pela “perda” de um filho um grande abismo na vida, principalmente para mulher
que se preparou para desempenhar o papel de mãe. A interrupção da vida presumida no
exercício da maternidade deixa o vazio, a falta e, de acordo com (BASTOS, 2020), em um
primeiro momento pode haver a tentativa de preencher o vazio, sem que haja a vivência do luto,
o contato real com a dor.
Ser uma mãe enlutada que vive o luto pela “perda” do seu filho primogênito ainda
durante a gestação, me conduz pelo caminho do ativismo pela humanização ao luto perinatal,
pela sensibilização e conscientização dos profissionais de saúde na assistência a mulheres no

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PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
período gravídico-puerperal. Ser uma psicóloga que atende e acolhe outras mães que estão na
travessia do luto, me permite perceber a urgência de termos debates a cerca da temática morte
e maternidade, para que haja a construção de espaços de visibilização da maternidade de colo
vazio. Afinal você materna para torna-se mãe; e torna-se mãe maternando. (RAMOS, 2021).
É sobre não ter o filho que não pôde ficar que elaboramos e realizamos as rodas de
acolhimento. Embora a participação em forma de explanação de suas histórias seja facultativa,
todas as participantes relatam sus dores, seu amor, suas tristezas, inquietações e angústias
mediante a dor da “perda”. A troca de experiências constitui uma identidade comunitária, onde
as mulheres testemunham vivências de outras mulheres inseridas em culturas e contextos
sociais dissemelhantes. Ao analisar os relatos das participantes sobre a experiência em
participar das Rodas, é possível perceber que as trocas, relatos sobre os sentimentos em relação
à “perda” de seus filhos possibilitam apoio, acolhimento e consequentemente a visibilização da
maternidade de colo vazio. “Poder compartilhar minha história e ouvir a história de outras
mães traz alívio por saber que não sou a única, que é possível sobreviver, seguir. Assim, me
sinto mãe do meu pequeno. Muita gente não quer ouvir uma mãe enlutada e tudo que uma mãe
deseja é falar sobre seu filho” (Ana). A dinâmica da comunidade possibilita múltiplas
realidades na construção da maternidade diante do luto frente a “perda”, abarcando a
ressignificação, representatividade e identidade materna. Para Bastos et al.(2020), o
estabelecimento de relações interativas simbólicas pode suscitar uma miríade de situações , o
que tende a se refletir n intersubjetividade e identidade social feminina.
Para Bastos (2020), mulheres com trajetórias de perdas são também marcadas pela dor
física e o sofrimento psicológico, até porque muitas destas mulheres sofrem recriminação
dentro do contexto intrafamiliar e até de profissionais de saúde, que deveriam ofertar ajuda e
acolhimento. “A enfermeira me disse que era culpa minha ter conseguido segurar minha filha,
que eu não fiz tudo que deveria ter feito. Mas eu fiz tudo que me disseram para fazer; eu me
alimentei, fiz pilates e amei minha menina desde sempre” (Rita).
Diante do cenário de mortalidade onde se espera o nascimento, a alegria é substituída
pela dor e tristeza. No curso do desenvolvimento de uma gestação, a emergência de uma
inesperada complicação, pode representar uma ruptura no daquilo que se esperava e que estava
por acontecer: o nascimento de um filho e, com ele, de uma mãe. (PONTES, 2020). Neste
sentido, o maternar que poderia estar ancorado no processo de descobrir-se mãe na vinculação
com o bebê, no relacionar-se, torna-se uma construção no templo do luto, embaralhando as
cartas da parentalidade.

165
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
No cenário da vivência do luto o exercício parental pode estar comprometido, visto
que de acordo com Iaconelli (2021), a busca obsessiva por garantias é uma das grandes questões
da nossa época, ou seja, neste âmbito a parentalidade é tida como prática garantidora da
constituição, da formação do indivíduo, atribuída a mulher desde a infância quando seus
brinquedos e brincar estão associados ao cuidar. Mediante ao descrito é possível afiançar que a
parentalidade reproduz consequências na construção da subjetividade, sexualidade e
reprodutibilidade feminina. (ANDRADE, 2021). “Viver sem meu bebê é como se eu estivesse
amputada, como se estivesse sem parte de mim. Vivemos pouco tempo juntos, apenas 7
semanas, mas eu o amava, eu desejei ele por longos anos e, finalmente quando eu conseguir
eu fracassei, não pude ter ele nos meus braços. Não sei como seguir, não me sinto mulher,
mãe.” (Joana). Soifer (1991 citado por ANDRADE, 2021) destaca que a mãe pode sentir a
perda como a de “ter sido arrancada uma parte valiosa de si mesma”, sofrendo muitas vezes
dificuldades identitárias, associado a uma fragilidade psicológica acompanhada de sentimento
de tristeza, vazio e desespero e dificuldades de ajustamento (TAVARES, 2013 citado por
ANDRADE, 2020).
Historicamente a maternidade é definida mediante uma vinculação relacional entre
mãe e bebê, onde esta relação pauta-se no concreto, no material e palpável. Andrade (2021),
aborda a que a volta para casa com o bebê e a experiência do parto podem representar para a
mulher uma situação vitalmente significativa e transformadora, em que ela passa a desempenhar
o papel materno e a assumir a responsabilidade de cuidar. Na transição vivida pela mulher nas
questões sociais, cultural e psíquicas, entram em cena fatores potencializadores de crise
identitária visto que, a maternidade é tida como um fenômeno onde a expectativa social em ter
filhos após a conjugalidade acarreta para a mulher o fracasso quando a morte entra em cena.

Diante da própria dificuldade em lidar com a morte na pós-modernidade,


instala-se constantemente, um processo de negação e uma busca intensa por
evitar o morrer, reforçando a sua caracterização como fracasso, como se não
fizesse parte do curso de vida e do próprio desenvolvimento humano
(BASTOS, 2020).

Neste contexto a morte do filho coloca em pauta as impossibilidades e/ou dificuldades


para o exercício parental. Para Freud (1914/1969), o ser humano evita pensar na morte e no
estado transitório da vida, que o coloca em posição de sofrimento e de luto prematuro até mesmo
quando essa probabilidade se torna real. Assim, o destino da reconfiguração psíquica-social da
mãe feita no processo de gestar é voltado a ressignificação da função parental no exercício
materno diante do luto. A parentalidade tende a ficar comprometida, por não haver socialmente

166
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
o reconhecimento e validação do papel materno e da identidade como mãe da mulher que vive
a dor da “perda” por um filho seja durante a gestação, parto ou logo após o nascimento (perda
perinatal). Entretanto, a mulher aspira e busca pela reafirmação da sua maternidade, desejando
a visibilização daquilo que para ela é natural, ser mãe ainda que o filho não tenha podido ficar.
“Sou mãe, eu sei disso, mas às vezes começo a duvidar se deveria dizer isso porque na minha
casa, minha família e amigos dizem que foi pouco tempo, que eu não senti, que eu deveria
superar e que logo terei outro, mas meu filho não é substituível” (Ana)

Nas Rodas as ações profissionais estão voltadas ao acolhimento através da escuta


qualifica, validando as narrativas como singulares e reafirmando um dos princípios reguladores
da prática na assistência em saúde, que é associação saberes, valorizando as singularidades de
conhecimento, possibilidades e oportunidades que são divergentes diante do contexto. Neste
cenário a maternidade é tida como um papel onde se vive tudo aquilo que implica crescer e
transformar (RAMOS, 2021). Portanto, mesmo que haja a ausência física do filho a maternidade
pode e deve ser construída, alicerçada no desejo e na filiação afetiva que firma o que o
Alexandre Coimbra Amaral, psicólogo, escritor e grande pensador sobre o exercício parental e
a existência humana, chama de contrato com a eternidade. “Eu sou a mãe da minha estrelinha,
para sempre serei. Ela está aqui em mim, vive no meu coração e foi ela que me trouxe a
inauguração na maternidade” (Laura).

Assumir o seu papel enquanto mãe, tende a denotar a construção de possibilidades,


fazendo que com a mulher se perceba no seu exercício parental mesmo diante da morte, da
ausência física e do luto. Neste contexto é relevante que as mulheres sejam assistidas de forma
consciente, considerando os impactos que a perda gestacional e/ou neonatal pode ter sobre sua
identidade feminina, seus papeis sociais e sobre sua psique; oportunizando assim, que estas
mulheres/mães se empoderem do seu protagonismo no exercício materno. “Quando lançamos
luz sobre as experiencias das mulheres, podemos dar visibilidade a elas, descrevê-las e
participar da criação de uma língua própria, o que pode validar o que se vive” (RAMOS, 2021).

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O maternar é desafiador, envolve dicotomias, ambivalências emocionais e fantasias. É


preciso desconstruir o conceito de maternidade romantizado, onde a doação é total e
compreender que o ser mãe é “colorida pela experiência pessoal” (RAMOS, 2021 p. 66).
Maternar é um caminho sem fórmulas, sem bússola ou mapa que determine qual o percurso e

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PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
destino final. Ao gestar há muitas possibilidades de desfecho, não há garantias sobre a
plenitude, sobre ser somente alegria; muitos são os desafios a serem enfrentados, inclusive o
ter que lidar com a dor pela “perda”.
Ao construir este escrito pude ampliar meu olhar sobre o ser mãe e ter um filho,
refletindo sobre como a construção da maternidade de colo vazio. A interrupção do processo
de consolidação da maternidade idealizada e socialmente aceita (a de colo cheio), com a
presença da morte, gera significativos impactos psicológicos, emocionais e sociais para a
mulher; “tendo que se haver concomitantemente com seu processo de constituição enquanto
mãe e o luto pelo filho real e idealizado” (CARVALHO, 2017). Como então se constituir no
papel de mãe frente a realidade de ter um colo vazio? Há, portanto, inúmeros obstáculos até
conseguirem estabelecer uma relação com o seu filho, e aqui os recursos psíquicos que cada
uma possui facilitará ou somará mais dificuldades ao processo de tornar-se mãe nessas
contingências (CARVALHO, 2017).
O papel materno gera expectativas, fantasias e baseia-se em desejos que tendem a ser
gestados antes mesmo da consolidação da gravidez e balizam a compreensão do que é ser mãe
e ter um filho. Quando a morte visita a maternidade estas concepções influenciarão a concepção
do luto frente a “perda” do filho e consequentemente na ressignificação do seu papel parental e
do filho na sua vida e na constituição familiar. Ao mentorar grupos e/ou ações de apoio e
acolhimento cabe aos profissionais compreenderem a temática do luto perinatal em suas
especificidades, visto que este não será ressignificado com baseiam em lembranças concretas
do que foi vivido, mas sim nas idealizações do que se desejou viver. Portanto, os aspectos
culturais, contexto social e econômico em que a mulher/mãe está inserida também devem ser
considerados na compreensão do luto como processo universal, mas que é vivido na
singularidade.

Para Simão (2019), é importante ter em vista que toda a preparação psíquica
da mãe se desenvolve de modo com que ela seja capaz de realizar uma
adaptação absoluta ao bebê, a impossibilidade de concretizar isso quando a
realidade lhe impõe outro destino - apesar de todas as adaptações possíveis -
sempre abre a possibilidade para que algo traumático se instale.

Diante do exposto é possível compreender a maternidade como experiência singular,


transformadora e marcante na identidade e percurso desenvolvimental das mulheres. Visto que,
“em nossa sociedade, as crianças ocupam lugar de destaque na família, sendo os cuidados para
a sua sobrevivência, atribuídos principalmente às mulheres” (NASCIEMNTO, 2021). O escrito

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PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
se propões a elucidar questões reflexivas acerca da construção da maternidade diante do luto
perinatal, ressaltando a antagônica relação entre o maternar e o luto perinatal.
As vivências do luto podem trazer várias repercussões para o processo de se fazer mãe.
Portanto, o antagonismo de se fazer mãe ao mesmo tempo em que se vive o luto do filho se faz
possível nesse espaço intermediário e potencial, o qual permite a instauração de um fazer
criativo, que capacita a mulher a maternar o filho, não mais desejado, mas real, porém ausente,
encontrando um sentido na sua maternagem, que mesmo amputada é a que lhe é possível.
Mesmo diante de todas as rupturas, é plausível afirmar que há mulheres que não abrem mão do
seu maternar, mesmo que o colo esteja vazio, este capítulo de suas vidas faz parte de suas
histórias e não há como abrir mão do tecer, criar, construir e reafirmar sua maternidade.

REFERÊNCIAS

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CAVALCANTE. M.C.V. et al. Relação mãe-filho e fatores associados: análise hierarquizada


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RAMOS, Camila. Desmanual Materno: palavras de uma psicóloga para maternidades possíveis.
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do filho idealizado. 2019. Disponível em:
https://leaosampaio.edu.br/repositoriobibli/tcc/MARIA%20DA%20CONCEI%C3%87%C3%
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VALSINER, Jaan. A insustentável beleza da maternidade. IN: BASTOS, Ana Cecília;


PONTES, Vívian Volkmer (editoras). Nascer não é igual para todas as pessoas. Salvador:
EDUFBA, 2020. p.17-19.

170
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
CAPÍTULO 16
O DESAFIO DA CONCEPÇÃO APÓS A
PERDA: SEXUALIDADE SEM PRAZER
THE CHALLENGE OF CONCEPTION AFTER LOSS: SEXUALITY WITHOUT
PLEASURE

10.56161/sci.ed.20230913C16

Ludmilla Faria Ferreira


Fundadora do Gestar com Trmbofilia/Projeto Meu Colo
Coordenadora Movimento Humanização do Luto Parental de Goiás
https://orcid.org/0009-0001-4499-8728

Nicole Pereira dos Santos Sousa


Psicóloga Perinatal e Parental
https://orcid.org/0009-0008-4553-0976

RESUMO

Este escrito é embasado no relato das experiências das autoras no atendimento e acolhimento
às mulheres que vivenciam a dor da perda gestacional e neonatal, tendo como objetivo discorrer
sobre os impactos que esta perda tem sobre a sexualidade feminina, em especial como a relação
sexual torna-se o ato exclusivamente inerente a nova concepção, desconsiderando o prazer. As
experiências consideradas para este escrito foram os atendimentos psicológicos realizados no
contexto clínico privado e social, bem como os acolhimentos efetivados no grupo de apoio e
projeto social destinado a mulheres que sofrem com a perda perinatal. Como considerações é
possível constatar que as mulheres ao viverem o processo de luto perinatal são afetadas nas
relações, emoções, psicológico e na sexualidade, dificultando na relação conjugal, passando a
manter a relação sexual com a única finalidade de ter uma nova concepção, descartando assim
o prazer envolvido na intimidade e consequentemente, mecanizando este ato.

PALAVRAS-CHAVE: Sexualidade; Perda perinatal; Maternidade; Luto puerperal; Saúde


Sexual

ABSTRACT

This writing is based on the report of the authors' experiences in the care and reception of
women who experience the pain of gestational and neonatal loss, with the objective of
discussing the impacts that this loss has on female sexuality, in particular how sexual
intercourse becomes if the act exclusively inherent in the new conception, disregarding the
pleasure. The experiences considered for this writing were the psychological care carried out in

171
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
the private and social clinical context, as well as the embracement carried out in the support
group and social project aimed at women who suffer from perinatal loss. As considerations, it
is possible to verify that women, when experiencing the perinatal mourning process, are
affected in relationships, emotions, psychology and sexuality, making the marital relationship
difficult, starting to maintain sexual intercourse with the sole purpose of having a new
conception, thus discarding the pleasure involved in intimacy and, consequently, mechanizing
this act.

KEYWORDS: Sexuality; Perinatal loss; Maternity; Puerperal mourning; Sexual health

1. INTRODUÇÃO
Este escrito é construído com base no relato de experiências vivenciadas pelas autoras
no trajeto de acolhimento, atendimento e suporte a mulheres que atravessam a dor do luto
perinatal, diante da “perda” gestacional e/ou neonatal, tendo como objetivo discorrer sobre a
interseção da sexualidade feminina após esta “perda”2 e a correlação dos impactos causados
diante do desejo de uma nova concepção. Compreendendo que mulheres que vivenciam a
“perda” perinatal, que buscam auxílio psicológico ou suporte em um grupo de apoio materno
também destacam a falta de cuidado na assistência ofertando informação qualitativa que lhe
oferte a oportunidade de ter suas escolhas e decisões norteadas pelo conhecimento.
O mote da sexualidade é amplo, envolvendo questões concernentes a gênero, identidade,
afiliação, desejo, relação, papéis e relacionamentos. Neste escrito, a sexualidade será abordada
no que tange os aspectos do desejo e das relações sexuais hetero-cis-normativas, enfocando nos
aspectos femininos com a transversalidade da maternidade e do luto perinatal.
A sexualidade feminina ainda é ancorada culturalmente nos estereótipos da reprodução,
da maternidade, do não ter que desejar ou sentir prazer. De acordo com (FARINHA e
SCORSOLINI-COMIN 2018), essa ancoragem por décadas esteve alicerçada nos padrões de
conjugalidade, tornando a vida sexual desnecessária após o cumprimento da sua “função” de
procriar. E como fica tal função quando esta “tarefa” não se cumpre, quando a morte se torna
presente onde se espera o nascer e a vida? Dar visibilidade a temática da sexualidade, concepção
e luto é possibilitar a construção de trajetórias parentais menos autopunitivas que seguem uma
lógica restritiva e inflexível.
O luto é uma experiência dolorosa que todos enfrentam em algum momento de suas
vidas. Ele pode ser desencadeado pela perda de alguém, de um ente querido, de um animal de
estimação ou qualquer situação entendida como perda. É uma experiência única e pessoal, e

2
A palavra “perda” sempre estará entre aspas quando estiver sendo utilizada designar a morte perinatal, morte
do filho, pois compreende-se que não se perde um filho, visto que maternidade afetiva quando adotada se
torna-se permanente.

172
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
cada pessoa lida com ela de maneira diferente. E dentro da ambiência das perdas, a “perda”
gestacional e/ou neonatal é uma das experiências mais dolorosas que uma mulher pode
enfrentar. Estima-se que essa perda ocorra em cerca de 20% das gestações, traduzindo-se em
44 perdas gestacionais a cada minuto no mundo (BERNSTEIN et al., 2022, p.135). A
expectativa de ter um filho, imaginá-lo crescer, viver, é algo que mexe profundamente com as
emoções e os sonhos das mulheres que desejam a maternidade. Quando esse sonho é
interrompido, seja por um abortamento, um parto prematuro ou uma morte neonatal, a dor é
imensa e difícil de ser entendida. Quando a mulher tem a confirmação que está grávida, em
diversos momentos ela imagina e sonha com o filho que vem a caminho. Para ela, o que está
no seu ventre não será um feto, mas, sim, o bebê perfeito que ela tanto idealiza. Raphael-Leff,
citado por Moreira (2008, p.32) confirma este pensamento dizendo que ao lado da concepção
de um filho, irá surgir uma criança imaginária, de modo que os pais começam a atribuir
características ao bebê, pensar de quem ele vai herdar o nariz, a orelha, qual vai ser a cor dos
olhos, e se baseiam nas reações e movimentos da criança para imaginar sua personalidade.
Discorrer sobre a sexualidade após a “perda” é relevante para que mulheres não anulem
sua identidade feminina, entendam e reconheçam a importância de não subestimar o prazer
durante a busca pela gestação e que ter uma vida sexual saudável na constituição familiar traz
maiores benefícios para a vida em sua plenitude.
A sexualidade feminina é um aspecto da vida das mulheres que pode ser afetado por
diversos fatores, incluindo a “perda” gestacional e/ou neonatal. Quando uma mulher passa por
essa experiência dolorosa, é comum que sua libido diminua e que ela se sinta menos atraente e
desejável, porque o luto afeta também a libido e a disposição para o sexo de diversas maneiras.
Além disso, muitas mulheres podem sentir-se culpadas por terem perdido o bebê, o que afeta
sua autoestima e sua capacidade de se relacionar intimamente com o parceiro ou parceira, o que
pode levar a uma falta de confiança na vida sexual.

Os danos emocionais da perda gestacional e/ou neonatal podem ser devastadores para
as mulheres. A alegria de dar à luz é roubada pela dor de “perder” um filho durante a gestação
o que significa que o ciclo da vida foi rompido. A criança deveria nascer, crescer, envelhecer e
só então morrer. A quebra desse ciclo “deixa os pais perdidos, sem amparo ou alicerce em
relação à morte ou compreensão sobre o fato” (DUARTE, 2020, p.41).

“A representação que temos de nossa existência é que nascemos,


envelhecemos e morremos. Contudo, essa lógica é, às vezes,
totalmente inversa. Bebês ainda no útero materno podem sofrer uma
interrupção de seus impulsos de vida, lançando seus pais na

173
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
incompreensão. A morte invade as maternidades e espaços onde não
costuma, normalmente ser pensada. E, parece-nos inevitável que vá
exigir, um trabalho de elaboração psíquica bastante singular, pois a
representação do bebê que não nasceu vivo certamente apresentará
dificuldades de se encaixar em nossas representações
usuais(AGUIAR; ZORNIG, 2016, p.264-265).”

Além do luto pela “perda” do bebê, elas podem sentir culpa, raiva, frustração e tristeza
profunda. É comum que se questionem sobre o que poderiam ter feito de diferente para evitar
a “perda” ou se sintam isoladas e incompreendidas pela sociedade, e ao mesmo tempo sentem
uma necessidade inconsciente e urgente de uma nova gestação. E nessa urgência, elas vivem a
sexualidade para a concepção excluindo totalmente o prazer da relação sexual.

As mulheres buscam um distanciamento de tudo que a aprisiona nos padrões, mas


quando o assunto é a maternidade, sem perceber, muitas estão enraizadas no terreno do
estereótipo de que não é possível ser mulher, ser feliz sem filhos. Na vivência de acompanhar
mães enlutadas, esta crença pauta-se na convicção de que não é possível ser mãe se este filho
“perdido” não viveu para lhe atribuir a função de cuidar dele, ser mãe dele. Logo, a tentativa de
substituição é a reação mais imediata, acreditando que se houver uma nova gestação é possível
não “perder” este filho que já morreu. Neste sentido, a relação conjugal torna-se um campo
minado das emoções fragilizadas, onde o objetivo é apenas procriar, mesmo que esta mulher
seja independente, sua dependência agora é pautada na necessidade de ter que conceber um
novo filho que, psicologicamente, ela tende a acreditar que é o filho “perdido”. Quando se soma
a esses fatores o desejo incontrolável e inconsciente de uma substituição pelo filho “perdido”,
sem ainda entender que filhos são insubstituíveis, a ausência do prazer sexual passa a ser um
sintoma comum do luto e muitas mulheres podem se sentir envergonhadas ou desconfortáveis
em falar sobre isso.

E a partir destas experiências, as mulheres transformam a vida sexual na mecanização


do sexo para concepção. Exclui-se totalmente o sentimento, o desejo, a conquista, o prazer. O
ato sexual passa a ser vivenciado como uma planilha de horários, remédios e dias marcados. E
o sentimento e desejo que um dia uniu o casal dará espaço apenas a fecundação notória do óvulo
pelo espermatozóide.

Essa necessidade emana de um tempo que não se pode perder, como se o filho que
morreu estivesse adormecido necessitando de um antidoto para despertar. A relação do casal

174
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
passa a ser um cronograma a ser seguido, abdicando-se do prazer, da interação, da intimidade.
Como então sustentar a conjugalidade para realizar o desejo antes coadunado por ambos para o
exercício parental? Para (CARVALHO 2013 apud FARINHA e SCORSOLINI-COMIN,
2018), a sexualidade considerada satisfatória se associa à qualidade do sexo, à frequência,
sentimentos de amor, felicidade no casamento e a baixos níveis de conflitos conjugais. Cobrar
a presença sexual com uma única finalidade de reprodução pode ser fator desencadeador de
grandes conflitos psíquicos.
A busca pela gestação é um momento muito importante na vida de muitos casais. As
motivações por trás dessa busca podem variar, desde o desejo de formar uma família até a
pressão social para ter filhos. Quando se vivencia a dor pela “perda” de um filho, a busca pela
gestação passa a ser protagonista da vida destes casais por muito tempo, inibindo qualquer outro
sonho ou desejo. Independentemente da razão, é fundamental que o prazer na sexualidade seja
valorizado durante esse processo, porque a busca por esta gestação pós perda pode ser uma
jornada longa e desafiadora, e essa ausência de prazer na vida sexual pode ter graves
consequências emocionais para casais. O estresse e a ansiedade podem se tornar problemas
recorrentes, afetando diretamente a saúde mental e física dos envolvidos, além disso pode
contribuir para que estes casais antes empenhados no papel de constituição familiar, passem a
se afastar, ocasionando separações não compreendidas e divórcios ainda na travessia do luto.

É importante lembrar que a concepção não deve ser vista como um objetivo único e
inabalável. A busca pelo prazer na sexualidade é fundamental para manter uma relação saudável
e equilibrada, independentemente do desejo de ter filhos ou não. Por outro lado, a ausência de
prazer na relação sexual pode afetar negativamente a fertilidade. O estresse e a ansiedade podem
interferir na ovulação e na produção hormonal, dificultando a concepção. Por isso, é importante
que os casais encontrem maneiras de manter o prazer na relação sexual durante a busca pela
gestação.

2. METODOLOGIA
Este escrito foi embasado nas experiências das autoras nos atendimentos psicológicos
e acolhimentos realizados à mulheres, mães que estão na travessia do luto perinatal por perdas
gestacionais e/ou neonatais. Os dados são oriundos dos atendimentos realizados no contexto
clínico privado e social de um projeto e Organização Não Governamental (ONG) que têm por
objetivo amparar emocionalmente mães e pais enlutados em todo o território nacional,

175
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
brasileiras que residem no exterior e mulheres de outras nacionalidades que passam pela
“perda” e que buscam acolhimento e informação. A descrição do público atendido é amplo por
ser realizado através do contexto virtual/digital.
Os relatos de experiência foram coletados por meio de prontuários, transcrições de
sessões, documentos psicológicos oriundos dos atendimentos efetivados, entrevistas de
anamnese, fichas cadastrais e relatos narrativos produzidos pelas mulheres no ato da admissão
no Projeto Gestar com Trombofilia. Para subsidiar os relatos de experiência e produzir este
escrito, foram realizadas buscas bibliográficas, através de artigos científicos da Revista
Brasileira de Ciência e Saúde, Revista Brasileira de Sexualidade Humana, e sites, Google
Scholar, Scielo e BVS - Biblioteca Virtual em Saúde, e dados do Ministério da Saúde e Rede
Mulher Brasil (ONG), que disponibiliza números sobre o perfil de mulheres com perda
gestacional.
As experiências das autoras são consolidadas por mais de 6 anos de atendimento e
acolhimento às mulheres que vivenciam a dor da perda gestacional e neonatal. As mulheres
anuídas têm idades variadas, possuem caracterisiticas socioeconômicas díspares, o que as
tornam semelhantes é a dor da “perda” e o amplo desejo de gestar, maternar e ter um filho.
Por envolver intervenções com seres humanos, este trabalho pautou-se nos
procedimentos éticos indicados pela Resolução nº 466/12, do Conselho Nacional de Saúde
(DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO, 2013).

3. DISCUSSÃO
O que resta quando a morte se faz presente, quando há a perda de expectativas e
sonhos? Muitos casais perdem-se no desencontro ocasionado pelo luto do filho que não pôde
ficar. As perdas são inerentes a vida, entretanto, a “perda” de um filho durante a gestação, logo
após o nascimento ou nos primeiros dias de vida infringe a regra do que é tido como natural:
que os pais morram antes dos seus filhos. A inversão do que é natural torna o luto perinatal um
hiato na vida, principalmente para a vida da mulher que gestou, nutriu, preparou-se para
desempenhar o papel de mãe, às vezes desde a tenra infância onde brincava de boneca e ser
mãe lhe foi atribuído com um caminho previamente estabelecido por ter nascido menina. A
interrupção da vida presumida no exercício da parentalidade materna deixa o vazio, a falta e,
de acordo com (MUZA et al 2013), em um primeiro momento existirá uma tentativa de
preencher este espaço sem necessariamente viver o processo do luto.
A psicóloga responsável pelos atendimentos tem formação específica na
perinatalidade e possui a vivência da perda gestacional; a mentora do grupo de acolhimento é

176
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
profissional da área da saúde e uma mãe enlutada. Por sentirem a dor da “perda”, ambas se
movimentaram para realizarem ações de promoção de sensibilização, conscientização e
acolhimento às mães, pais e famílias. Neste exercício de acolhimento, atendimento e promoção
de informação, é possível perceber o quanto a sexualidade feminina ainda está atrelada, quase
que intrinsecamente, à maternidade. Ainda que a mulher opte por não exercer o papel materno,
sua postura e expressão sexual perpassa pela maternidade, suas implicações em exercer ou não
exercer, ter ou não ter filhos.
É sobre ter filhos que toda sessão de acolhimento ou atendimento psicológico, no cerne
do luto perinatal, se inicia; como viver o luto, nomear o inominável, aceitar, superar, seguir, ser
mãe sem ter o filho nos braços, amar na ausência, rememorar o que não foi vivido. No anseio
de ter todos os seus questionamentos respondidos, mulheres mães de colo vazio tendem a
acreditar que somente uma nova gestação é capaz de lhe atribuir o papel materno. Assim, na
corrida desenfreada por ter uma nova concepção que acreditam ser o frescor para lhes auxiliar
a lidar com a dor, entram no turbilhão de controlar o ciclo menstrual, fazer tabelas e cálculos
que lhes assegurem maior assertividade quanto ao período fértil. Passam a ter relação sexual
somente neste período propício para engravidar.
E nesta corrida pelo novo positivo deixa-se o saldo afetivo da conjugalidade negativo,
eliminando totalmente o prazer da relação e vivendo apenas essa rotina de tabelas e testes de
ovulação. Emergem neste cenário crenças construídas transgeracionais, como “se minha mãe
conseguiu eu também consigo, se antes o sexo é só para ter filhos (...), minha mãe, minha avó
não sabiam o que era prazer e ficaram casadas até o fim da vida”! Muitas mulheres relatam
que não têm momentos íntimos com seus parceiros fora do período fértil para não
“desperdiçar” espermatozoide. O retrato da relação sexual passa a ser tão mecanizado, que
utilizam-se de medicações para aumentar o volume do líquido seminal sem que aja qualquer
alteração laboratorial que justifique-se o uso. As conversas do casal passam a ser somente sobre
fertilidade, concepção, gestação e filhos; passa-se a ter o peso do que não se tem, do que não
foi possível viver. Sem perceber, muitos casais passam a estar separados ainda casados. “Olho
cuidadosamente os sinais, verifico o calendário e os aplicativos de controle de fertilidade para
que não haja falhas, desperdiço (...). Assim me frusto menos, ele não gosta muito e às vezes
nem consegue ter ereção, isso faz a gente brigar”!
Neste contexto é importante que as mulheres que passaram pela perda gestacional e/ou
neonatal, tenham consciência da importância da sua sexualidade e do impacto que a perda pode
ter sobre ela. A temática da sexualidade atrelada a maternidade de colo vazio torna-se relevante
como forma de cuidado e promoção em saúde no seu sentido mais amplo como estado completo

177
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
de bem-estar físico, mental e social conforme descrito pela Organização Mundial da Saúde.
Embora nos atendimentos e acolhimentos realizados haja norteadores de psicoeducação para as
mulheres concernente a temática, é importante ressaltar que o princípio regulador da prática
está na associação entre saberes, valorizando as singularidades de conhecimento, possibilidades
e oportunidades que são divergentes diante do contexto socioeconômico em cada uma está
inserida. Tal objetivo reconhece um dos princípios básicos para atuação na assistência em
saúde, que é a capacidade de empoderar as pessoas assistidas para serem agentes de difusão de
conhecimento e de cuidado, de si e de outros, conforme descreve Castro e Bornholdt (2004).

Nas buscas realizadas nos sites citados no método, Ministério da Saúde e Rede Mulher
Brasil, não foram encontrados dados sobre o tema aqui exposto, o que indica a necessidade de
pesquisas e exploração nesta área, considerando que os resultados podem dar visibilidade ao
tema em questão e, assim oferecer um melhor atendimento a essas mulheres. Visto que se
encontra dados sobre as perdas mas não suas consequências relacionadas ao desafio de uma
nova gestação, tendo como cerne a mecanização do sexo dentro das relações conjugais. Nos
dados existentes de 20% das gestações resultarem em perda gestacional, sendo estas 87,5%
passando pela primeira vez antes de completarem 12 semanas, e uma taxa média de mortalidade
neonatal de 9,46 por 1000 nascidos vivos de acordo com os dados do SIM/SISNAC (Sistema
de Informações sobre Mortalidade/Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos). É
fundamental que se amplie o olhar para essas invisibilidades que decorrem de perdas.

Na assistência a estas mulheres que buscam ajuda social e/ou psicológica, o trabalho
está focado, primeiramente, em fazê-la perceber o estado permanente que é ser mãe quando se
escolhe maternar, assim é proporcionado a ela a construção da maternidade possível, mesmo
que o colo esteja vazio o filho ou filha não deixa de ser, de estar e de fazer parte da vida dela,
do seu parceiro, da família. Consequentemente, ao se perceber mãe, mesmo que não seja da
forma idealizada, a mulher tende a compreender-se a permanência do luto, da dor que não se
esvai, da presença marcante da ausência do filho ou da filha desejada ou não, mas esperado. A
dor não deixa de existir, como afirma o ilustre Carpinejar, ela vem disfarçada de diversos outros
sentimentos, assim não como superar o que não é um obstáculo, mas uma condição irreversível,
ser uma mãe que tem um colo vazio. Assumir o seu papel enquanto mãe do filho ou filha que
não pôde ficar, tende a denotar a construção de possibilidades, fazendo que com a mulher se
perceba como alguém que vive e, portanto, não tem como reprisar um mesmo capítulo da vida,
logo, filhos são únicos e permanecem mesmo após a morte.

178
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Neste contexto é relevante que as mulheres tenham consciência da importância da sua
sexualidade e do impacto que a perda gestacional e/ou neonatal pode ter sobre ela. Sendo
fundamental que elas se permitam sentir e expressar suas emoções, sem julgamentos ou
pressões externas. É preciso que haja um diálogo aberto e honesto com o parceiro ou parceira,
para que juntos possam superar essa fase difícil e encontrar maneiras de manter a intimidade e
a conexão emocional.

Para tanto, é imprescindível que a assistência das mulheres que vivenciam a “perda” seja
balizada na promoção da saúde e educação, oportunizando que as informações sejam fluídas,
contribuindo para o empoderamento e protagonismo em suas vidas, compreendendo a
amplitude em ser mulher e da sua sexualidade para além da reprodução. Para Castro e Bornholdt
(2004), a Psicologia intervindo no âmbito social, tem poder imperativo nesta amplitude de
conscientização, tornando os sujeitos protagonistas de sua própria qualidade de vida.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O que há além da dor? Como enfrentar os desafios apresentados pelo luto, inclusive
de lidar com a sexualidade sem mecanização? Não há fórmulas ou direcionamentos únicos,
cada mulher possui uma história, está inserida em um contexto sociocultural. Assim, é possível
compreender que são muitos os desafios a serem enfrentados para auxiliar as mulheres/mães na
manutenção de suas identidades femininas, sem vitimização ou desvalorização da dor, da
“perda”, dos medos e anseios.
A construção deste escrito oportunizou a amplitude do olhar sobre a temática da
sexualidade após a perda gestacional e/ou neonatal, objetivando conduzir novos estudos que
venham a consolidar caminhos salutares e estratégias funcionais para o alcance de ações em
promoção de saúde e cuidado às mulheres que vivenciam a perda perinatal. Assim, os
profissionais da saúde podem interagir de modo dialógico entre si e, juntos, produzirem novos
sentidos, atentando ao reconhecimento da perda e do luto como inerente ao ser humano, mas
que traz consequências que podem afetar a saúde física, psíquica e emocional.
Quando há dificuldades na sexualidade há por consequência divergências na
conjugalidade, que se refletem no exercício dos indivíduos em seus outros contextos de atuação.
Se o casal deixa de estar junto e passa a apenas conviverem juntos, estando na mesma casa,
tendo como único objetivo o filho desejado, a chegada desta prole pode agravar as questões
sexuais do casal, diminuindo a frequência das relações, por diminuição do desejo e, por

179
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
consequência a comunicação, visto que a sexualidade e interação estão intimamente ligadas na
conjugalidade. A crise que se instala entre o casal reflete-se no exercício da parentalidade.
Portanto, pensar na temática deste estudo é também refletir sobre a promoção da saúde
integrativa.
No que se refere às dificuldades encontradas para a elaboração deste escrito, elas estão
pautadas na limitação de referenciais bibliográficos que embasem os relatos de experiência
apontados. Vale ressaltar que a discussão proposta tende a contribuir para ações de
sensibilização, conscientização e acolhimento, por meio de espaços crítico-reflexivos,
contribuindo para a legitimação e o fomento de políticas públicas na saúde.

REFERÊNCIAS

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implicações psicossociais na parentalidade
https://repositorio.bc.ufg.br/tede/handle/tede/11716

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SUS (Catálogo USP) 10.11606/D.17.2014.tde-15082014-115711
https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/17/17139/tde-15082014-115711/en.php

BONETTI, D. Luto e sexualidade: uma revisão bibliográfica. Revista Brasileira de Sexualidade


Humana, v. 23, n. 1, p. 51-60, 2012.
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Social and Personal Relationships, v. 12, n. 2, p. 287-299, 1995.

CASTRO, E. K.; BORNHOLDT, E. Psicologia da saúde x psicologia hospitalar: definições e


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2004 https://doi.org/10.1590/S1414-98932004000300007

DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO. República Federativa do Brasil–Imprensa Nacional. 2013.

180
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
FARINHA, A. J. Q,; SCORSOLINI-COMIN. F. Relações entre não Maternidade e
Sexualidade Feminina: Revisão Integrativa da Literatura Científica, Rev. Psicol. IMED vol.10
no.1 Passo Fundo jan./jun. 2018 http://dx.doi.org/10.18256/2175-5027.2018.v10i1.2316

ROCHA. José Leonardo Barbosa, et at. Viver a Sexualidade Feminina no Ciclo Gravídico.
Rev. Brasileira de Ciência da Saúde. vol 18, n. 3 p. 209-218. 2014.

SILVA, Ana Isabel Figueiredo Barbosa . Sexualidade na gravidez e após o parto. Rev.
Psiquiatria Clínica, 3. Coimbra, 2005. 253-264.
https://repositorium.sdum.uminho.pt/handle/1822/4720

VIANA, D. F., Barrêto, A. J. R., Fonseca, E. N. R., Costa, C. B. A., & Soares, M. J. G. O.
(2013). Vivência da sexualidade feminina no período gestacional: à luz da história oral
temática.Ciência, Cuidado e Saúde, 12(1), 88-95. Doi
https://doi.org/10.4025/cienccuidsaude.v12i1.10691

181
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
CAPÍTULO 17
O DEVER ÉTICO-POLÍTICO DE
PROFISSIONAIS PSICÓLOGAS(OS)
NO ENFRENTAMENTO DA
VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER NO
BRASIL: UMA PESQUISA
DOCUMENTAL
THE ETHICAL-POLITICAL DUTY OF PROFESSIONAL PSYCHOLOGISTS IN
THE CONFRONTATION OF VIOLENCE AGAINST WOMEN IN BRAZIL:
DOCUMENTARY RESEARCH

10.56161/sci.ed.20230913C17

Isabela Brito Lima


Pontifícia Universidade Católica Rio Grande do Sul
https://orcid.org/0000-0001-6563-7289

Valéria Raquel Alcantara Barbosa


Universidade Estadual do Piauí; Maternidade Dona Evangelina Rosa.
https://orcid.org/0000-0002-9281-740X

RESUMO
INTRODUÇÃO: A violência contra a mulher circunscreve um grave e complexo problema de
saúde pública, que carece ser amplamente debatido nos espaços acadêmicos desde a graduação,
assim como no cotidiano da atuação de todas as categorias da saúde; e que exige profissionais
devidamente qualificados para o seu enfrentamento e manejo, na lógica da clínica ampliada e
da integralidade. OBJETIVO: Evidenciar os normativos e as publicações do Conselho Federal
de Psicologia (CFP) que tratam sobre o enfrentamento da violência contra a mulher no Brasil.
MATERIAIS E MÉTODOS: Estudo descritivo, qualitativo, do tipo documental. A coleta de
dados foi realizada através do site do CFP, por meio da aba “Legislação”, em que foram
identificados todos os documentos emitidos pelo órgão, que orientam quanto ao papel ético-
político da psicologia no enfrentamento a violência contra a mulher. RESULTADOS E
DISCUSSÃO: Foram eleitos 10 publicações temáticas, entre normativos legais, cartilhas, notas
e referências técnicas, lançados entre os anos de 2005 e 2023. Evidenciou-se a partir dos

182
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
diversos documentos identificaos, o enaltecimento da compreensão da lógica da violência
contra a mulher com o auxílio da interseccionalidade; que o exercício profissional na psicologia
ante situações correlatas requer atuação crítica, de responsabilidade ético-política ante a
realidade social, que valorize a subjetividade, as singularidades e o fortalecimento do
protagonismo da mulher vitimada. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Testifica-se o CFP como
orientador de práticas psicológicas éticas, capazes de responder a demandas sociais atinentes a
violência contra a mulher. Afinal, os documentos produzidos delimitam parâmetros das práticas
psicológicas nas diferentes especialidades reconhecidas no Brasil e nos diferentes contextos de
atuação, guiadas para o empoderamento, ressignificação, proteção da mulher e combate da
violência de gênero. Legitima-se, portanto, o dever ético-político de psicólogas(os) na
assistência a mulheres em situação de violência, para feitura de práticas consistentes, plurais,
articuladamente aos atores e dispositivos da Rede intersetorial.

PALAVRAS-CHAVE:
Prática Psicológica; Ética Profissional; Responsabilidade Profissional; Violência contra a
Mulher.

ABSTRACT
INTRODUCTION: Violence against women is a serious and complex public health problem
that needs to be widely discussed in academic spaces since graduation, as well as in the daily
work of all health categories; and that requires properly qualified professionals to face and
manage it, in the logic of the expanded clinic and integrality. OBJECTIVE: To highlight the
regulations and publications of the Federal Council of Psychology (CFP) that deal with the
confrontation of violence against women in Brazil. MATERIALS AND METHODS:
Descriptive, qualitative, documentary study. Data collection was carried out through the CFP
website, through the "Legislation" tab, in which all documents issued by the agency were
identified, which guide the ethical-political role of psychology in addressing violence against
women. RESULTS AND DISCUSSION: Ten thematic publications were selected, including
legal regulations, booklets, notes and technical references, launched between 2005 and 2023. It
was evidenced from the various documents identified, the praise of the understanding of the
logic of violence against women with the help of intersectionality; that professional practice in
psychology in the face of related situations requires critical action, ethical-political
responsibility in the face of social reality, which values subjectivity, singularities and the
strengthening of the protagonism of victimized women. FINAL CONSIDERATIONS: The
CFP testifies as a guide to ethical psychological practices, capable of responding to social
demands related to violence against women. After all, the documents produced delimit
parameters of psychological practices in the different specialties recognized in Brazil and in the
different contexts of action, guided by empowerment, resignification, protection of women and
combating gender violence. Therefore, the ethical-political duty of psychologists in assisting
women in situations of violence is legitimized, to make consistent, plural practices, articulated
with the actors and devices of the intersectoral Network.

KEYWORDS:
Psychological Practice; Professional Ethics; Professional Responsibility; Violence against
Women.

1. INTRODUÇÃO
A psicologia é uma profissão regulamentada no Brasil desde 1962, por meio da lei
federal nº 4.119, de 27 de agosto do mesmo ano, tendo por dever estar alinhada ética e

183
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
politicamente com a defesa dos direitos humanos. Historicamente a profissão foi influenciada
por um modelo importado de psicologia acrítica, a-histórica, positivista e colonizada. A
perspectiva crítica e voltada para as diversidades tornou-se concreta somente a partir da
aproximação da psicologia com os Direitos Humanos, com a inserção da profissão na
construção de políticas públicas, comprometida com a construção de um projeto ético-político
voltado para a garantia de direitos (BOCK et al., 2022).
Considerando-se que o saber produzido pelo poder ganha lugar de verdade, orientando
as práticas e os fazeres, apreender e analisar os discursos produzidos por diferentes instituições
em diferentes contextos históricos-sociais, permitiu olhar, com mais profundidade e criticidade,
para as relações de poder subjacentes, assim como para as interações e os saberes que sustentam
a práxis profissional na psicologia brasileira (BORDIN, 2014; FOUCAULT, 2013). Nessa
contextura, olhar para a questão de gênero no Brasil circunscreve, inevitavelmente, um
exercício crítico de entender o saber-poder-fazer, como uma força que age de maneira
multidirecional, infiltrada em toda a estrutura do tecido social, desde a linguagem, aos acordos
sociais, até a aplicação das leis e nas instituições (FOUCAULT, 1979). Como efeito, a violência
representa um fator central nas relações de poder, que produz e mantém os sistemas de opressão
modernos -tais como, colonialismo, racismo, patriarcalismo, capitalismo -, que se
interseccionam em teias complexas, atingindo os sujeitos de diferentes maneiras, a depender do
local de existência que ocupam.
O interseccionalismo é um conceito que começa a ser utilizado no início do século XXI,
e traz em seu bojo uma ferramenta de análise crítica da dinâmica social a partir de uma lente
ampla, vislumbrando como as categorias de raça, classe, etnia, sexualidade e entre outras, se
interseccionam nas relações de poder e produzem diferenças no acesso aos direitos (BILGI;
COLLINS, 2021; AMORIM, 2020).Em uma sociedade patriarcal, o regime de poder se baseia
na exploração e dominação dos corpos femininos, o que alimenta uma máquina social que
violenta tais corpos sistematicamente (SAFFIOTI, 2015). Logo, faz-se necessário analisar a
categoria de gênero “mulher” como uma categoria plural, não universalista, que não contempla
uma identidade comum e homogênea (BUTLER, 2018).
O interseccionalismo associado à situação da mulher no estado brasileiro pode ser
observado quando analisamos os índices estatísticos consolidados por órgãos oficiais. Segundo
o Anuário Brasileiro de Segurança Pública (2022), no ano de 2020, marcado pela pandemia do
COVID-19, observou-se um aumento significativo de denúncias de violência doméstica. Em
2021, foram registrados 3.878 homicídios de mulheres, dentre os quais, 1.341 casos registrados
como feminicídio, ocupando 34,6% dos casos de morte violenta de mulheres, o que representou

184
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
um crescimento de 0,7% das notificação de casos de feminicídio em relação ao ano anterior, e
5,2% a mais do que as notificações de 2018. Em termos caracterológicos, as mulheres mais
afetadas pela violência brutal do feminicídio no Brasil tem idade entre 20-39 anos e são negras,
compondo 62% das vítimas , comparativamente às mulheres brancas, que somam 37,5%.
Assim, as mulheres são afetadas de diferentes maneiras pela violência patriarcal, a depender
das categorias sociais que elas ocupam, o que lança um sinal vermelho para as vulnerabilidades
causadas pela profunda desigualdade social no páis (ANUÁRIO BRASILEIRO DE
SEGURANÇA PÚBLICA, 2022).
O crime de feminicídio passou a ser reconhecido no código penal brasileiro a partir da
lei federal nº 13.104/2015, de 9 de março de 2015, caracterizado como homicídio, no rol dos
crimes hediondos, motivado por razões da condição de sexo feminino, tendo a presença de
violência doméstica e familiar e o menosprezo ou discriminação à condição de mulher. De
acordo com Arão et al. (2021), o feminicídio é o ato final de um ciclo de diversas violências,
que reflete a misógina da sociedade patriarcal, a qual se funda o colonialismo e aponta
diretamente para as demais violências que perpassam a vida de uma mulher até que culmine em
sua morte.
A lei federal nº 11.340/2006, de 7 de agosto de 2006, nomeada como Lei Maria da
Penha, criou no sistema jurídico mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra
a mulher. Em seu corpo, define a violência contra mulher como constituinte de uma das formas
de violação dos direitos humanos. Também tipifica e caracteriza as formas de violência
doméstica e familiar contra a mulher, as quais: violência física; violência psicológica; violência
sexual; violência patrimonial; e, violência moral.
A violência contra a mulher é, portanto, de um grave e complexo problema de saúde
pública, que deve ser amplamente debatido nos espaços acadêmicos desde a graduação, bem
como no cotidiano da atuação de profissionais de saúde de todas as categorias; aliás, exige
profissionais devidamente qualificados para seu enfrentamento e manejo, na lógica da clínica
ampliada e da integralidade. Assim, o presente estudo tem o objetivo de evidenciar os
normativos e as publicações do Conselho Federal de Psicologia (CFP) que tratam sobre o
enfrentamento da violência contra a mulher no Brasil.

2. MATERIAIS E MÉTODOS
Estudo descritivo, qualitativo, do tipo documental, com o intento de responder aos
objetivos, a partir da coleta, sistematização e análise de documentos (WITTER, 2023;
KRIPKA; SCHELLER; BONOTTO, 2015).

185
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
A coleta de dados foi realizada pelo site do CFP, especificamente, através da aba
“Legislação”3, em que foram identificados todos os normativos, materiais e publicações
técnicas diversas emitidos pelo CFP, que, em seu corpo, orientam quanto ao papel ético-político
da psicologia no enfrentamento a violência contra a mulher. Posteriormente, os documentos
selecionados foram sistematizados no Quadro 1, com base no título, ano de publicações e
finalidade.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram eleitos 10 documentos, entre Normativos Legais, Cartilhas, Notas e Referências
Técnicas publicados pelo CFP entre os anos de 2005 e 2023, os quais estão sistematizados no
Quadro 1.

Quadro 1- Sistematização de publicações do CFP que abordam sobre o enfrentamento da violência contra a
mulher.

Documento Ano de Descrição


publicação

Resolução CFP nº 10, de 21 de 2005 Código de Ética profissional do psicólogo, responsável por
julho de 2005. balizar, orientar e regulamentar a profissão no Brasil;
baseado nos princípios fundamentais dos direitos humanos
e no fortalecimento e ampliação do significado social da
profissão.

Referências técnicas para 2013 Apresenta os princípios éticos, políticos e técnicos


atuação de psicólogas (os) em norteadores para a prática da psicologia frente ao
Programas de Atenção à Mulher enfrentamento da violência contra mulher, a partir de uma
em situação de Violência. construção crítica e reflexiva nos programas de atenção à
mulher em situação de violência.

Nota técnica sobre 2013 Normatiza a atuação das(os) psicólogas(os) no atendimento


processo transexualizador e a transexuais e transgêneros, especialmente nano processo
demais formas de assistência psicológico transexualizador no SUS.
às pessoas trans.

Nota técnica de orientação 2016 Nota emitida em conformidade com a lei federal nº
profissional em casos de 10.778/2003, que torna obrigatória a notificação de todos os
violência contra a mulher: casos casos de violência contra a mulher atendidos pelos
para a quebra do sigilo profissionais de saúde, psicólogos e outros, em território
profissional. nacional, nos serviços de saúde públicos e privados. Nesse
sentido, estabelece que devem ser notificados todos os casos
suspeitos ou confirmados de violência contra a mulher
atendida.

Relações Raciais: referências 2017 Apresenta referências para a atuação de psicólogas(os) que
técnicas para a atuação de contribuam para a superação do racismo.
psicólogas (os).

3
https://site.cfp.org.br/#LEGISLACAO

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PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Resolução CFP nº 1, de 29 de 2018 Estabelece normas de atuação para psicólogas(os) com
Janeiro de 2018. pessoas transexuais e travestis.

Resolução CFP nº 8, de 07 de 2020 Estabelece normas de exercício profissional da psicologia


julho de 2020. em relação às violências de gênero.

Resolução Nº 3, de 16 de março 2022 Institui as condições para concessão e registro de psicólogo


de 2022. especialista e reconhece as especialidades da psicologia.

Referências Técnicas para 2022 Referencial técnico e teórico para a atuação de


atuação de psicólogas(os) junto psicólogas(os) junto a povos indígenas no Brasil.
aos povos indígenas.

Referências Técnicas para 2023 Referências técnicas para a atuação de psicólogas(os) nas
Atuação de Psicólogas, diversas políticas públicas às quais a população
Psicólogos e Psicólogues em LGBTQIA+ percorre..
Políticas Públicas para
População LGBTQIA+.
Fonte: LIMA e BARBOSA (2023).

O CFP e os Conselhos Regionais foram criados a partir da lei federal nº 5.766/1971, de


20 de dezembro de 1971, e posteriormente regulamentados no decreto federal nº 79.822/1977,
de 17 de junho de 1977. Deste modo o CFP é o órgão supremo do sistema conselhos, com
jurisdição em todo o território nacional e sede no Distrito Federal, tendo entre suas atribuições
o dever de orientar, disciplinar e fiscalizar o exercício da profissão de Psicóloga(o) no Brasil.
A edição mais recente e vigente do Código de Ética do Profissional Psicólogo foi
lançada no ano 2005, a qual discorre sobre as orientações ético-políticas para o exercício
profissional, com ênfase no respeito aos direitos humanos, na observância dos princípios
expressos pela Constituição Federal de 1988, na visão crítica e responsabilidade ético-política
do psicólogo frente à realidade social.
Segundo o Código de Ética Profissional do Psicólogo (2005), principal balizador ético
da profissão, já em seu primeiro princípio fundamental, a prática psicológica deve estar em
consonância com a Declaração Universal do Direitos Humanos, documento adotado e
proclamado pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro 1948, que
compreende o ser humano em uma condição de igualdade, embora diversos, livres e pleno em
direitos e estabelece um pacto mundial de luta pela paz e combate ás desigualdades e opressões.
Além disso, o segundo princípio fixa que o trabalho da(a) psicóloga(o) deve buscar a promoção
da saúde e da qualidade de vida de sujeitos e coletividades, de maneira que contribua para a
eliminação de quaisquer formas de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade
e opressão.

187
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Ademais, o pensamento crítico, coletivo e a noção de responsabilidade social no
enfretamento aos mecanismos de poder e produtores da opressão e violência são abordados no
Código de Ética Profissional do Psicólogo como fundantes da profissão; orientativos no
combate às opressões e violências. Com isso, o exercício profissional o requer uma atuação
crítica, de luta contra os poderes hegemônicos, como descrito no terceiro princípio fundamental:
“O psicólogo atuará com responsabilidade social, analisando crítica e historicamente a
realidade política, econômica, social e cultural” (CFP, 2005, p. 7).
Em 2013, o CFP, através do Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas
Públicas (CREPOP) publicou as Referências técnicas para atuação de psicólogas (os) em
Programas de Atenção à Mulher em situação de Violência, documento que versa sobre o
atendimento da mulher em situação de cerceamento de direitos, discutindo e os deveres da
psicologia nos serviços de proteção, tais como, delegacias especializadas, Centro de
Referências Psicossocial, Centro de Referência de Assistência Social. Assim, compõem um
arcabouço teórico fundamentado no conceito de gênero e na realidade da categoria mulher no
cenário brasileiro, articuladamente à noção de violação de direitos. Quanto ao dever ético-
político atribuído aos profissionais de psicologia na rede assistencial, o documento focaliza a
magnitude da psicologia na construção de políticas públicas, comprometida com a democracia
e a defesa dos direitos humanos, tal como firmado no Código de Ética Profissional do
Psicólogo.
Visando garantir os princípios de universalidade e integralidade do SUS, em 2008 foram
estabelecidas as diretrizes nacionais para a realização do Processo Transexualizador,
regulamentadas pelo Ministério da Saúde por meio da Portaria nº 457/2008. Em consonância
com essa portaria e considerando o trabalho das psicólogas(os) no campo da saúde coletiva, o
CFP lançou em 2013 a Nota técnica sobre processo transexualizador e demais formas de
assistência às pessoas trans. A nota destaca que a psicologia no âmbito da saúde pública
dever deve buscar a garantia do acesso ao SUS a pessoas transexuais e travestis.
Considerando a diversidade da categoria gênero e as violências sofridas de maneira
interseccional pelas mulheres, resoluções resolução CFP nº 1/2018, de 29 de janeiro de 2018 e
a resolução nº 8/2020, de 07 de Julho de 2020, inclui nas competências de profissionais
psicólogas(os) a eliminação da transfobia e demais preconceitos direcionados a travestis e
mulheres transexuais e o acolhimento e cooperação em ações protetivas às mulheres.
Em que pese, segundo Bock et al. (2008), a ciência psicológica brasileira, em seu
princípio, tenha sido fortemente marcada pela importação de saberes do norte global e, por uma
narrativa que contribuía com a classificação, padronização e exclusão das pessoas e

188
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
subjetividades, Cursino et al. (2023) distinguem que houve significativos progressos no campo
científico da psicologia, no que tange ao carácter ético e político de defesa dos direitos e no
reconhecimento de mulheres trans e travestis, caracterizando o dever de compromisso social da
profissão com os direitos humanos e a diversidade.
Em 2016, em observância às recomendações da lei federal nº 10.778/2003, de 24 de
novembro de 2003, o CFP lançou a Nota técnica de orientação profissional em casos de
violência contra a mulher: casos para a quebra do sigilo profissional, que orienta a categoria
sobre as ações de notificação e/ou denúncia perante casos suspeitos ou confirmados de violência
contra a mulher. A propósito a lei federal nº 10.778/2003, conhecida como lei do minuto
seguinte, estabelece a obrigatoriedade da notificação de casos de violência contra a mulher
pelos profissionais da saúde que atuam em serviços públicos e privados, e explica a respeito da
comunicação externa ou denúncia.
A comunicação externa ou denúncia deve ser feita somente na medida em que a mulher
atendida corre risco de vida, obedecendo aos critérios éticos de classificação de risco e
necessidade de denúncia, tal como descreve a Nota técnica de orientação profissional em casos
de violência contra a mulher: casos para a quebra do sigilo profissional. Por conseguinte, além
da denúncia, deve ser acessada a rede de proteção à mulher disponíveis. Nos demais casos, a
denúncia deve ser uma escolha e decisão deliberada da vítima, sendo o papel da(o) psicóloga(o)
trabalhar com a mulher o seu protagonismo e oferecer ferramentas para que ela tome decisões
e fortaleça sua rede de apoio (CFP, 2016). Essa nota técnica coloca em primazia o dever ético
da(o) psicóloga(o) em não se omitir diante da violência contra a mulher, tornando compulsória
a ação de notificar e, em casos específicos, de acionar a rede de proteção disponível. Importante
frisar que a notificação compulsória é essencial para superarmos invisibilidade decorrente dos
parcos ou frágeis dados estatísticos epidemiológicos alusivos à violência contra mulher
(FEITOZA & SAMPAIO, 2020). Para mais, a notificação compulsória oportuniza ao Estado a
realização de um mapeamento das tipologias da violência de gênero, dos perfis das mulheres
afetadas pela violência e dos agentes da violência; contribuindo para o desenvolvimento de
intervenções consistentes e para a criação de políticas públicas voltadas à prevenção, à
assistência e avaliação dos resultados (SANTINON, GUALDA, SILVA, 2014).
Fundamental ressalta que a atuação da psicologia nos serviços do SUS exige o respeito
ao dever ético e político no acolhimento da mulher em situação de violência(FREITAS; SILVA,
2019),, sob a égide da clínica ampliada, da integralidade do cuidado em equipe
multiprofissional, em favor da produção de saúde (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2013);
fornecendo espaço de escuta e acolhimento propícios para que a mulher reconstrua e

189
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
ressignifique sua vida, assumindo o lugar de autonomia e protagonismo no cuidado (SILVA et
al. 2020).
A fim de contribuir com a produção e divulgação de teorias para superação do racismo
o CFP, através do CREPOP, lançou em 2017 a cartilha Relações Raciais: referências técnicas
para a atuação de psicólogas(os), que expõe que compete ao profissional um olhar ético
interseccional, que que compreenda as questões raciais em sua práxis, coerente com as
realidades brasileiras. Desse modo, a cartilha considera os fenômenos estruturantes que se
articulam na produção de desigualdades e violência - sexismo e classismo; e, delimita a
violência sofrida por uma mulher negra enquanto uma violência intercruzada, atravessada pelo
sexismo e pelo racismo (CFP, 2017). Outrossim, a cartilha defende a práxis psicológica
antirracista; a compreensão e o enfrentamento da discriminação racial institucional a partir de
ações afirmativas; além da sensibilização de gestores e profissionais quanto ao tema e da adição
do quesito de identificação “cor” nos formulários dos serviços assistenciais e de proteção (CFP,
2017).
Por sinal, Meneses (2022) ao se debruçar sobre os estudos da psicologia e
interseccionalidade, afirma que o discurso de neutralidade científica vai na contramão do olhar
crítico e sensível sobre a realidade, invisibilizando fatores importantes para se pensar saúde
mental. Já Collins (2020), sinaliza a interseccionalidade como uma lente analítica, que dá conta
de compreender as relações de poder e as diversidades subjacentes às experiências. E, Veiga
(2019), atesta os impactos do racismo na subjetividade de pessoas negras, citando como
exemplo o sentimento de não-pertencimento, o auto ódio, a dificuldade em ser acolhido e de
confiar no cuidado. Daí, o pensamento interseccional a qual o CFP comunga contribui para a
apreensão dos fatores associados ao racismo que influenciam na saúde mental, possibilitando a
criação de serviços que acolham o indivíduo em sua inteireza.
Em harmonia com a noção de interseccionalidade, foi lançada a resolução nº 8, de 7 de
julho de 2020, que especifica normas de exercício profissional da psicologia em relação às
violências de gênero, sobretudo no que concerne à violência contra a mulher. Assim, define que
a prática psicológica de cooperação e acolhimento da pessoa em situação de violência deve
considerar os determinantes sociais de raça, gênero, sexualidade e deficiência; que profissionais
psicólogas(os) devem colaborar para criar, articular e fortalecer redes de apoio social e familiar
no enfrentamento à violência de gênero em seu território de atuação, e, quando possível,
promover ações com os autores de violência de gênero, em processos interventivos e de
acolhimento, objetivando o rompimento dos ciclos de violência.

190
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Notadamente nos espaços e serviços de saúde, Freitas e Silva (2019) sugerem como
possibilidade de atuação da psicologia, o enfoque do empoderamento da mulher, por meio da
escuta qualificada, do acolhimento, do encaminhamento para a rede de apoio e proteção, além
da ênfase ao fortalecimento dos vínculos pessoais afetivos e com a rede assistencial. E,
apregoam a importância do treinamento e qualificação da equipe de profissionais que
promovem assistência a essas mulheres.
Em continuidade, a resolução nº 3/2022, de 16 de março de 2022, especifica com
atribuições das especialidades de psicologia social e jurídica o enfrentamento à violência contra
a mulher. Destarte, cabe à psicologia social estabelecer estratégias de prevenção e
enfrentamento de situações de violações de direitos, riscos e vulnerabilidades sociais, como
também compulsoriamente notificação compulsória às autoridades competentes, em casos de
violações de direitos de mulheres. Já à psicologia jurídica, compete a função de realizar
procedimentos técnicos de acolhimento, orientação, avaliação e encaminhamento, diante de
situações de violência, ; além de ações preventivas, de planejamento, execução e avaliação de
políticas públicas voltadas à garantia de direitos à cidadania, à promoção de direitos humanos,
à prevenção e combate a todas as formas de violência nas diversas atuações vinculadas ao
Sistema de Garantia de Direitos. Para tanto, preza o entendimento da violência na sua
complexidade e magnitude, desigualdade estrutural e interseccionalidades, em interlocução
com espaços de formulação, gestão e execução das políticas (CFP, 2022).
Reconhecendo a necessidade de um novo olhar sobre a história e os conhecimentos dos
povos originários do Brasil, o CFP lançou em 2022 as Referências Técnicas para atuação de
psicólogas(os) junto aos povos indígenas, documento construído por psicólogas(os) indígenas
e não indígenas, pesquisadores e estudiosos, que debate no que tange às possibilidades de
políticas públicas e acessos dessa população aos seus direitos, plenamente. Nessa esteira,
admite que a pauta da violência sofrida por mulheres indígenas está intimamente ligada à
violência produzida pelos não indígenas, principalmente relacionadas ao estupro e assassinato;
comumente subnotificadas. Diante desse cenário, a atuação da psicologia em território indígena
deve ser junto com a equipe multiprofissional e em parceria com as lideranças femininas, para
tecer diálogos sobre a violência de gênero, orientar a comunidade e contribuir com a luta pela
demarcação de território e autonomia dos povos indígenas sobre suas terras, culturas, relações
e saberes.
Aliás, foi lançada em 2023 as Referências Técnicas para Atuação de Psicólogas,
Psicólogos e Psicólogues em Políticas Públicas para População LGBTQIA+, que pauta a
respeito da interseccionalidade como uma ferramenta para a análise de realidade e que permite,

191
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
na atuação com mulheres LGBTQIAP+, reconhecer outras dimensões que operam na
construção das subjetividades e da saúde mental de mulheres de bissexuais, lésbicas, travestis
e transexuais, queers, intersexuais, assexuais, entre outras formas de expressões da sexualidade
e gênero (CFP, 2023).
Diante LGBTFOBIA, a cartilha aponta as seguintes responsabilidades da psicologia, em
conjunto com os demais atores e profissionais presentes nos territórios e instituições: promoção
de saúde; capacitações; diálogos e sensibilização visando o combate da invisibilidade e
violência; participação na criação e implementação e políticas de acesso voltadas para a
população LGBTQIAP+; participação nas lutas em defesa dos direitos (CFP, 2023).
Particularmente à saúde das mulheres LGBTQIAP+ nas políticas de saúde do Brasil,
Heinzelmann, Rivera e Scarcelli (2019) sublinham a respeito da escassez ou ausência de debates
aprofundados sobre as especificidades dessa população e quanto à criação de políticas públicas
de saúde concernentes, devido à perspectiva cultural medicalizante, biologizante e
normatizadora dos corpos e das experiências, que silencia as demandas e dificulta ou mesmo
impossibilita o acesso dessa população a serviços públicos de saúde, acentuando a desigualdade
de gênero.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O itinerário da psicologia brasileira passou por diversas mudanças quanto aos
paradigmas e às influências teóricas e práticas, partindo de um viés clínico, psicopatologizante
e individualizante para práticas baseadas no entendimento do coletivo, das diversidades e dos
direitos humanos; de participação ativa na criação e implementação de políticas públicas,
confirmando o dever ético-político da profissão frente à diversidade das existências e demandas
singulares no território brasileiro.
Considerando-se que a violência de gênero contra a mulher é um fenômeno complexo e de
raízes antigas no Brasil, que interfere nos indicadores de qualidade de vida e saúde, e que a
categoria mulher não é uma categoria universal e homogênea, evidenciou-se que o
interseccionalismo é um recurso analítico potente para auxiliar o profissional de psicologia na
realização de análises mais acuradas acerca dos tipos de violência praticados contra mulheres e
quanto às redes assistenciais e teorias que podem abarcar tais situações; igualmente, denota uma
das principais ferramentas para o enfrentamento da violência contra a mulher, pois valoriza a
experiência e a realidade de maneira integral, sem desprezar as possibilidades e limitações
impostas a essa mulher.

192
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Afinal, testifica-se o CFP como orientador de práticas psicológicas éticas e capazes de
responder a demandas sociais atinentes a violência contra a mulher. Assim, os documentos
produzidos circunscrevem parâmetros das práticas psicológicas nas diferentes especialidades
reconhecidas no Brasil e nos diferentes contextos de atuação profissional, guiadas para o
empoderamento, ressignificação, proteção da mulher e combate da violência de gênero.
Legitima-se, portanto, o dever ético-político de psicólogas(os) na assistência a mulheres em
situação de violência, para a feitura de práticas consistentes, plurais, articuladamente aos atores
e dispositivos componentes da Rede intersetorial.

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da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher;
dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera
o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras
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196
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
CAPÍTULO 18
O IMPACTO DA DEPRESSÃO PÓS-
PARTO NA SAÚDE DA MULHER
THE IMPACT OF POSTPARTUM DEPRESSION ON WOMEN'S HEALTH

10.56161/sci.ed.20230913C18

Ana Karoline de Almeida Lima


Universidade Regional do Cariri - URCA.
ORCID: https://orcid.org/ 0000-0001-8926-3453

Maria Gisleide Penha de Lima


Universidade Regional do Cariri - URCA.
https://orcid.org/0000-0003-2542-6625

Edilmara Tavares Gondim


Universidade Regional do Cariri - URCA.
https://orcid.org/my-orcid?orcid=0000-0003-4552-5903

Victoria Maria de Almeida Lima


Universidade Estadual da Paraíba - UEPB.
ORCID: https://orcid.org/000-0001-8908-4148

Mariana Bárbara Lira Teles


Universidade Estadual da Paraíba - UEPB.
ORCID: https://orcid.org/000-0001-5866-6268

Karolayne Maria de Souza


Universidade Regional do Cariri - URCA.
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6028-1658

Lívia Clarisse Dias de Souza


Universidade Regional do Cariri - URCA.
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-5699-1817

Maria Lucilândia de Sousa


Universidade Regional do Cariri - URCA.
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8223-7161

Lara pereira Leite Alencar


Universidade Regional do Cariri - URCA.
ORCID:https://orcid.org/0000-0002-0624-1839

197
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Maria Heloisa Alves Benedito
Universidade Federal de Campina Grande - UFCG.
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-4409-9335

RESUMO

Estudo com objetivo de identificar na literatura o impacto da depressão pós-parto na saúde da


mulher. Trata-se de uma revisão narrativa da literatura realizada na BVS, sendo selecionados
12 estudos originais e gratuitos publicados entre 2018-2023. Percebeu-se que as mulheres
tiveram a saúde mental comprometida no período pós-parto, sendo o transtorno depressivo e a
ansiedade os problemas mais prevalentes e mais comum em puérperas com renda familiar baixa
e com gestação não planejada. Além disso, o estresse parental pode influenciar negativamente
no vínculo entre a mãe e o filho, o estresse psicossocial do trabalho se mostrou um fator de
risco para a depressão pós-parto. Observou-se também que na depressão pós-parto a mulher
pode apresentar dificuldades em relação a amamentação. Em vista disso, percebe -se a
necessidade de uma maior atenção perante as autoridades, bem como a equipe de saúde, uma
vez que os mesmos se encontram em contato mais frequente com esse público.

PALAVRAS-CHAVE: Maternidade; saúde mental; período pós-parto

ABSTRACT

Study with the objective of identifying in the literature the impact of postpartum depression on
women's health.This is a narrative review of the literature carried out in the VHL, selecting 12
original and free studies published between 2018-2023. It was noticed that women had their
mental health compromised in the postpartum period, with depressive disorder and anxiety
being the most prevalent and common problems in puerperal women with low family income
and unwanted pregnancies. In addition, parental stress can negatively influence the bond
between mother and child, psychosocial stress at work has been shown to be a risk factor for
postpartum depression. It was also observed that in postpartum depression, women may have
difficulties with breastfeeding. In view of this, there is a need for greater attention to the
authorities, as well as the health team, since they are in more frequent contact with this public.

KEYWORDS: Maternity; mental health; postpartum period

1. INTRODUÇÃO

Por ser um evento fisiológico e individual na vida de cada mulher, a gestação, é


caracterizada por fatores físicos, modificações fisiológicas, anatômicas, bioquímicas e
psicológicas, repercutem de forma expressiva no cotidiano da mulher gestante, deixando de
se sustentar apenas como um processo inteiramente físico, mas também de mudanças sociais
e psíquicas que trazem uma vulnerabilidade emocional para a ocorrência de determinadas
alterações mentais (ALVES; BEZERRA, 2015; MEIRELES et al., 2015; NERY, 2021).

198
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Durante esta fase, para além do impacto na vida da gestante, o seu núcleo familiar também
sofre alterações que podem interferir na qualidade de vida. (ALVEZ; BEZERRA, 2020).

Nesse contexto, Campos (2022), reflete tanto sobre a gestação quanto o período pós-
parto, caracterizados por momentos de adaptações na vida da mulher, especialmente o
puerpério, por ser mediado por fatores biológicas, comportamentais, psicológicas e
socioculturais, além do corpo está retornando às condições fisiológicas anteriores à gestação,
ao mesmo tempo que ocorre a adaptação do binômio mãe-filho, e que por muitas vezes pode
apresentar sinais de alterações psíquicas neste período.
Em geral, estas mudanças tendem a aumentar o risco de sofrimento emocional e de
qualidade psíquica na vida da mulher, podendo elevar o risco para o adoecimento mental
(LEITE et al., 2021). Como também mostram Araújo et al. (2012), ao evidenciar que algumas
destas alterações ultrapassam as questões fisiológicas e chegam a trazer alterações na
imagem, desconfortos corporais, além de menor disposição, sonolência, tristeza, culpa e
medo.
Entre os transtornos mentais que mais acometem as mulheres durante a gestação, parto
e puerpério, e que influenciam diretamente em sua saúde mental, pode-se destacar: a
depressão pós-parto (transtorno psíquico de grau moderado ou severo); o baby blues
(alteração psíquica transitória); e o, transtorno psicótico puerperal (distúrbio de humor grave)
(BOSKA et al., 2016 e BRASIL, 2012).
A depressão pós-parto (DPP) é evidenciada no contexto brasileiro com certa
variabilidade em suas estimativas de 7,2 a 43% na cidade do Rio de Janeiro-RJ; e em Goiânia
– GO estimam de 12 a 39,4%. Além de ter início entre duas semanas até três meses após o
parto, apresenta sintomas de perda do prazer e interesse nas atividades, perda de sono e
apetite, o sentimento de inutilidade ou culpa, a dificuldade para concentrar-se e presença de
pensamentos de morte ou suicídio (CANTILINO, ZAMBALDI, SOUGEY, JR., 2010;
ALBUQUERQUE, ROLLEMBERG, 2021) e (ALMEIDA, RIBEIRO, 2020;
HILDEBRANDT, 2013; OLIVEIRA et al., 2020)
Demonstrando então que o estado de saúde mental da mulher no puerpério é algo
essencial para o binômio mãe-filho, uma vez que, a DPP traz inúmeras consequências para este
vínculo, sobretudo no que se refere ao aspecto afetivo. O que pode influenciar diretamente na
amamentação e no desenvolvimento social, afetivo e cognitivo da criança, que pode perdurar
até a infância e a adolescência, o que leva à necessidade de cuidado e um consequente rearranjo
do cotidiano para provê-lo (SANTOS et al, 2018) e (FIOCRUZ, 2016).

199
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
O baby blues tem início no segundo ou terceiro dia após o parto e configura-se como
um quadro transitório, caracterizado por vários sintomas incluindo tristeza, choro, ansiedade,
irritabilidade, diminuição do apetite, preocupação excessiva, e mudanças de humor (CAMPOS,
CARNEIRO, 2021). Onde, supõe-se que seja desencadeado devido as intensas mudanças
hormonais, somado ao stress do parto e as novas obrigações advindas a maternidade (SIT,
WISNER, 2009; CANTILINO ET AL., 2010; PRENOVEAU et al, 2013). Segundo o estudo
realizado na índia em sua pesquisa evidenciou-se que das 64 participantes 94% tiveram baby
blues e 6% apresentaram DPP (CAMPOS, CARNEIRO, 2021).
O transtorno psicótico puerperal ocorre nas duas primeiras semanas após o nascimento
da criança e se configura como um quadro mais grave e menos frequente entre as mulheres,
sendo caracterizado por sintomas de ansiedade severa, alucinações e delírios, exigindo assim
que as mulheres tenham um acompanhamento terapêutico devido ao risco de suicídio ou
casos de agressão ao bebê (SCHARDOSIM, HELDT, 2011; APA, 2014; CAMPOS,
RODRIGUES, 2015).
Em geral, estas mudanças tendem a aumentar o risco de sofrimento emocional e de
qualidade psíquica na vida da mulher, podendo elevar o risco para o adoecimento mental
(LEITE et al., 2021). Como também mostram Araújo et al. (2012), ao evidenciar que algumas
destas alterações ultrapassam as questões fisiológicas e chegam a trazer alterações na imagem,
desconfortos corporais, além de menor disposição, sonolência, tristeza, culpa e medo.
Por conseguinte, o estudo justifica-se pela necessidade de buscar na literatura, um
combinado de estudos que façam a correlação da gestação com o estado mental da mulher
durante o puerpério, levando em consideração todos os aspectos adjacentes à gestação e ao
puerpério. Considerando essa temática necessária no tocante a promoção da saúde, se faz
impreterível que a mesma seja reconhecida como um aspecto integral e relevante a saúde da
mulher, seja pela necessidade de maior conhecimento que embase essa temática, como para
possibilitar um maior esclarecimento sobre a assistência voltada para a saúde mental da mulher
durante o pós-parto.

2. MATERIAIS E MÉTODOS
Trata-se de uma revisão narrativa da literatura, a qual tem como principal característica
a preocupação em fornecer uma síntese de um determinado assunto, compilando os conteúdos
de diferentes obras e apresentando-as em uma sequência lógica. Por esse método articulam-se
os saberes e as ideias na direção daquilo que se deseja conhecer (RIBEIRO, 2014).

200
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
A pesquisa foi realizada na Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), selecionando as bases
de dados Medical Literature Analysis and Retrievel System Online (-MEDLINE), Literatura
Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde- (LILACS) e na Base de dados de
Enfermagem- (BDENF).
Os estudos foram selecionados nos idiomas português, inglês e espanhol, originais e de
livre acesso. Estabeleceu como recorte temporal aqueles publicados nos últimos cinco anos
(2018 a 2023). Sendo selecionados aqueles que corresponderam ao objetivo da pesquisa, eram
originais e gratuitos.
Foram identificados, ao todo, 69 estudos, sendo excluídos: 1 por ser uma tese, 1 uma
dissertação de mestrado, sete 7 revisões, 1 um projeto de pesquisa, 40 por não se relacionarem
ao tema e 7 sete que eram pagos. Sendo inclusos e compondo a amostra final 12 artigos.
Os artigos foram lidos na íntegra e sintetizados, sendo apresentados os resultados em
quadros e os achados discutidos com a literatura atual.

3. RESULTADOS

Com base na análise dos artigos selecionados, foram quantificadas 12 publicações que
trataram sobre o assunto investigado. Desse modo, o quadro 1 exibe a caracterização dos
estudos, contendo informações sobre autores, ano de publicação, revista publicada, tipo de
estudo e principais resultados.

Quadro 1 - Caracterização das variáveis dos artigos selecionados.


Autores/ Ano Título Revista Tipo de estudo Principais resultados

Greinert et al. A relação mãe-bebê no Revista Saúde e Estudo do tipo Foi evidenciado uma
contexto da depressão Pesquisa, Maringá qualitativo elevada prevalência de
(2018)
pós-parto: estudo (PR) sintomas de depressão
qualitativo pós parto entre as
mulheres que
participaram do estudo,
estando relacionada com
características
socioeconômicas e apoio
social, sendo puérperas
com idade de 14 a 24
anos, com baixo nível de
suporte social afetivo e

201
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
emocional durante o
período gravídico.

Menke et al. Longitudinal Relations Revista Attach Estudo etiológico Os resultados apontaram
Between Childhood Hum Dev observacional que os maus tratos a
(2018)
Maltreatment, prognóstico longo prazo a mulheres
Maltreatment-Specific refletem na sua gestação
Shame, and Postpartum e em consonância a isso
Psychopathology ao período pós parto,
sendo importante estar
atento a esse tipo de
caso.

Martinez et al. Maternal insightfulness Revista Attach Estudo etiológico, Pode ser evidenciado que
protects against the Hum Dev observacional de o papel protetor da
(2018)
detrimental effects of diagnósticos perspicácia materna
postpartum stress on diante do estresse pós
positive parenting among parto podem ser
at-risk mother-infant particularmente
dyads. relevantes para mulheres
em contexto de alto risco

Ferreira et al. Transtorno de adaptação Revista Eletrônica Estudo transversal Pode ser verificado por
decorrente do parto: de enfermagem analítico meio da Escala de
(2019)
avaliação de sinais e Impacto de Eventos que
sintomas em puérperas 12 das 151 puérperas
pesquisadas
apresentaram core
compatível com a
presença de sinais e
sintomas de Transtorno
de Adaptação
decorrentes do parto,
estando associados
principalmente a:
presença de sentimento
de tristeza e desinteresse
pela vida anteriores ao
parto, via de parto final
não desejada, ausência
de acompanhante
durante o parto.

Fiorotti et al. Ansiedade em puérperas Revista de Transversal Analisou-se a ansiedade


em maternidade de alto Enfermagem entre puérperas de uma
(2019)
risco UFPE online maternidade de alto
risco, mostrou-se que o
estado de ansiedade foi
maior entre mulheres
com menor renda familiar
e que não desejaram a
gravidez.

202
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Chamagurdani et The effect of counseling BMC Women’s Ensaio clínico Dividiu-se em dois
al. with a skills training Health randomizado grupos, intervenção e
approach on maternal controle. O grupo de
(2020)
functioning: a intervenção recebeu
randomized controles quatro sessões de
clinical trial aconselhamento usando
o Skills Training Approach
(STA). Antes e duas
semanas após a
conclusão da
intervenção, ocorreu o
preenchimento do Índice
de Funcionamento
Materno de Barkin (BIMF)
pelas participantes para
avaliar a funcionalidade
materna no pós-parto,
onde foi visto uma maior
pontuação no grupo de
intervenção após o
aconselhamento a partir
da quarta semana após o
parto, durante quatro
semanas consecutivas
com intervalo de uma
semana, sendo que um
dos escores avaliados foi
o bem estar psicológico e
autocuidado.

Chivers et al. Perinatal distress during Journal of Medical Análise Identificou-se cinco
(2020) covid-19: thematic Internet Research observacional e temas e dentre eles foi
analysis of na online qualitativa percebido preocupações
parenting fórum acerca da família. Visto
que o convívio e apoio de
familiares e amigos
durante o período de pós
parto foi alterado devido
a pandemia do covid-19
muitas mulheres
relataram sentimentos de
tristeza, raiva e uma
sensação de perda.

Karl et al. (2020) Precarious working BMC Public Estudo de coorte O estudo apontou que o
conditions and Health prospectivo estresse psicossocial do
psychosocial work stress trabalho atrelado as suas
act as a risk factor for condições precárias
symptoms of postpartum interfere de modo
depression during significativo na saúde
maternity leave: results mental materna no
periparto, sendo estes,
fatores de risco que

203
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
from a longitudinal podem levar a depressão
cohort study pós parto durante o
período de licença-
maternidade

Fernandes, Postpartum during Jornal da Estudo transversal Os resultados apontaram


Canavarro e COVID‐19 psicologia clínica que 27,5% das mães
Moreira (2021) pandemic:Portuguese apresentaram sintomas
mothers' mental health, de ansiedade e depressão
mindful parenting, and clinicamente
mother–infant bonding significativos durante o
puerpério. Também foi
identificado níveis mais
elevados de estresse
parental, levando a uma
maior probabilidade de
prejudicar o vínculo mãe -
bebê.

Marcato e Leite Dificuldades emocionais Revista Salusvita Estudo de corte Evidenciou-se que as
(2021) maternas no puerpério (Online) transversal puérperas apresentaram
em primigestas: estudo no período pós parto
de corte transversal sintomatologia, como:
choro, ansiedade,
irritabilidade, angústia,
humor flutuante, fadiga,
perda do interesse sexual,
insônia, abatimento,
confusão mental, ideias
suicidas e anorexia.

Oliveira et al. Screening of Perinatal Revista Brasileira Estudo transversal O estudo mostrou que os
(2022) Depression Using the de Ginecologia e fatores de risco
Edinburgh Postpartum Obstetrícia psicossociais estão
Depression Scale relacionados com o
surgimento de depressão
no período pós parto,
seja por insatisfação com
a gravidez ou
relacionamento ruim com
o parceiro, mesmo
quando a experiência do
parto ocorreu
positivamente. O
histórico de depressão ou
problemas psiquiátricos,
assim como a violência
psicológica, foram
associados ao transtorno
depressivo perinatal.

204
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Santos et al. Sintomas de depressão Escola Anna Nery Estudo Foi evidenciado uma
(2022) pós-parto e sua epidemiológico, elevada prevalência de
associação com as analítico, do tipo sintomas de depressão
características transversal pós parto entre as
socioeconômicas e de mulheres que
apoio social participaram do estudo,
estando relacionada com
características
socioeconômicas e apoio
social, sendo puérperas
com idade de 14 a 24
anos, com baixo nível de
suporte social afetivo e
emocional durante o
período gravídico.

Fonte: Elaboração própria (2023).

O quadro foi desenvolvido em ordem cronológica de acordo com o período de


publicação. Observa-se que dentre o período de publicação estabelecido, apenas o ano de 2023
não foi identificado estudos publicados sobre a temática abordada. Além disso, nota-se que os
anos de 2018 e 2020 foram os períodos que mais foi encontrado estudos publicados na íntegra.
A partir da análise dos estudos, percebeu-se que as mulheres tiveram a saúde mental
comprometida durante o período pós parto, sendo o transtorno depressivo e a ansiedade os
problemas mais prevalentes, também foi identificado que esses problemas são mais comuns em
puérperas que apresentaram renda familiar baixa, que obtiveram uma gestação não planejada
(FIOROTTI et al., 2019), e um menor nível de suporte social afetivo e emocional durante a
gravidez. Outros sintomas como insônia, confusão mental, ideais suicidas e irritabilidade
também foram detectados (MARCATO; LEITE, 2021), (SANTOS et al., 2022).
Em virtude das alterações ocorridas, a mulher pode identificar-se com sentimentos de
aflições, anseios e preocupações no que concerne sobre as obrigações com o bebê, ao desejar
ou não a gravidez (FIOROTTI et al, 2019). Contudo, existem situações como a depressão pós-
parto (DPP) onde os cuidados maternos estão prejudicados causando dificuldades nos cuidados
com o bebê (GREINERT et al, 2018).
Verificou-se que as puérperas com histórico de ansiedade apresentaram maiores
adversidades para lidar com seus filhos. Dessa forma, pelo fato do período puerperal ser um
momento diferenciado, é essencial ter conhecimento sobre os fatores que podem prevenir ou
amenizar os eventos que ocasionam esse problema, como o suporte social, uma assistência de
qualidade, com o intuito de elaborar medidas psicossociais que reduzam os sintomas
psicológicos que interferem na relação da mãe e do bebê (FIOROTTI et al., 2019).

205
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Além disso, observou-se que o estresse parental também interfere na saúde mental das
mulheres durante o puerpério, podendo influenciar negativamente no vínculo entre a mãe e o
filho (FERNANDES; CANAVARRO; MOREIRA, 2021). O estresse psicossocial do trabalho
também contribuiu com essa interferência, se mostrando um fator de risco potencial para o
desenvolvimento da depressão pós parto, assim como a falta de satisfação com a gestação,
violência psicológica e a relação insatisfatória com o parceiro (KARL et al., 2020) e
(OLIVEIRA et al., 2022).
Concomitante a esse contexto, Greinert et al. (2018) discorrem que é durante o período
gravídico puerperal que a mulher necessita ainda mais de apoio, tanto do parceiro como dos
familiares mais próximos, a falta de um suporte adequado durante todo o período gestacional
pode influenciar no pós-parto e causar dificuldades para a mulher. Durante a maternidade a
mulher pode apresentar mudanças significantes na sua saúde mental, por exemplo, a depressão
pós-parto, devido a fragilidade e a sensibilidade que a mulher está exposta durante o período
puerperal.
Com base no estudo de Zamoran (2021), a cada quatro mulheres uma apresenta a DPP,
se tornando um problema de saúde pública, em que os fatores relacionados são um conjunto de
situações de vulnerabilidade como baixa situação econômica, maus hábitos alimentares, falta
de assistência qualificada e acompanhamento e acolhimento direcionado.
Observou-se também que na DPP a mulher pode apresentar dificuldades em relação a
amamentação. Nesse sentido, é importante identificar sentimentos de vulnerabilidade materna,
a fim de que seja ofertado um suporte não apenas para o bebê como também para a mãe,
escutando seus medos, preocupações. Nesse contexto, é de grande relevância que os
profissionais de saúde inseridos no ciclo gravídico-puerperal, ofertem ajuda não só física, mas
também emocional em relação às dificuldades presentes na amamentação, com a finalidade de
fortificar o elo entre mãe e bebê (GREINERT et al, 2018).
O período gestacional é uma etapa muito importante que traz consigo uma adaptação e
reestruturação da mulher com seu corpo no âmbito físico e emocional. Esse cenário ainda se
estende até período após o nascimento do recém-nascido (RN), sendo este o momento da
mulher exercer sua função como mãe, no entanto devido a complicações em alguns casos no
histórico familiar e também no sistema de saúde prestado a essas gestantes, esse cuidado de
mãe com filho tende a ser ineficaz quando a mulher sofre impactos que afetaram o seu bem
estar durante toda a sua gestação (ZAMORAN, 2021).

4. DISCUSSÃO

206
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Durante o período gravídico-puerperal a mulher é atravessada por muitas mudanças,
seja nas dimensões hormonal, física, psíquica ou social, e isso compromete o estado emocional
e o bem-estar das gestantes ou puérperas, e consequentemente afeta a saúde mental das mesmas.
Tais mudanças também promovem implicações negativas para a relação mãe-bebê, bem como,
prejudicam o desenvolvimento da criança (ALIANE et al., 2008).
Concomitante a isso, o recorte de achados científicos utilizados no presente estudo foi
capaz de elucidar, no contexto maternal pós-parto, a presença de sintomas isolados de insônia,
estresse e confusão mental, bem como a presença de ideações suicidas (MARCATO; LEITE,
2021). Dentre os fatores de risco para as alterações psicológicas, foram encontradas variáveis
relacionadas à renda familiar baixa, gravidez não planejada, redes de apoio significativas
fragilizadas, violência psicológica, escassez de assistência qualificada e falta de hábitos
saudáveis (FIOROTTI et al., 2019; OLIVEIRA et al., 2022; ZAMORAN, 2021). Nesse sentido,
evidencia-se a necessidade de trazer à tona um direcionamento interventivo sob uma ótica
biopsicossocial, tendo em vista que os impactos do período pós-parto para as mulheres
influenciam diretamente na sua saúde psicoemocional.
Sob essa égide, o cuidado psicológico e o acolhimento direcionado fazem-se mister no
que permeia a discussão acerca do período gravídico (ZAMORAN, 2021). A adoção de práticas
voltadas à prevenção e promoção de saúde mental, consistindo em intervenções que objetivam
evitar o surgimento de doenças, por meio da utilização de uma abordagem direta e persuasiva,
podem diminuir de forma significativa a incidência e prevalência dos transtornos psicológicos
implicados no período pós-parto.
Dessa maneira, o acolhimento supracitado surge como forma de apoio emocional e
afetivo à puérpera, oportunizando-a um espaço para que expresse seus sentimentos diante à
maternidade, suas inseguranças, inquietações e planejamentos em relação ao ser mãe,
consequentemente servirá como suporte para tomadas de decisões frente a seu estado de saúde,
buscando as redes de apoio ao seu entorno (SANTOS et al., 2022).

5. CONCLUSÃO

No que tange aos impactos que a maternidade causa na saúde mental da mulher durante
o período pós-parto, observou-se que estes se encontram presentes e em ascensão em um
número significativo de puérperas. Apesar de a gestação ser algo fisiológico, ela envolve outros
fatores, sendo o psíquico um dos mais que necessita de atenção. A ansiedade e a depressão pós-

207
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
parto apresentaram maior destaque no referido estudo, diversos são os fatores que podem levar
ao surgimento dessas complicações, como: medo de não conseguir desempenhar o papel de
mãe, falta de uma rede de apoio, baixa escolaridade, questões socioeconômicas entre outros
fatores.
Em vista disso, percebe -se a necessidade de uma maior atenção perante as autoridades,
bem como a equipe de saúde, uma vez que estes encontram-se em contato mais frequente com
esse público. Para que assim, seja possível identificar precocemente complicações puerperais
relacionados a questão psicológica. Ademais, destaca-se a necessidade de apoio psicológico
para as puérperas, para que estas consigam lidar melhor com todas as novidades e desafios que
a maternidade possa trazer e assim, desfrutar da melhor forma, de um momento tão importante
para diversas mulheres. Desse modo, destaca-se a necessidade de apoio psicológico para as
puérperas, para que estas consigam lidar melhor com todas as novidades e desafios que a
maternidade traz e consiga desfrutar com maior qualidade.

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212
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
CAPÍTULO 19
O IMPACTO DA VULNERABILIDADE
EM SAÚDE NA ASSISTÊNCIA DAS
MULHERES: UMA REVISÃO
INTEGRATIVA
THE IMPACT OF HEALTH VULNERABILITY ON WOMEN'S HEALTHCARE: AN
INTEGRATIVE REVIEW

10.56161/sci.ed.20230913C19

Glória Cibele Bezerra Siqueira


Universidade Estadual Vale do Acaraú- UVA
https://orcid.org/0000-0002-0573-7103

Geane Sales Bezerra


Hospital Municipal Estevam Ponte
https://orcid.org/0009-0007-2091-7704

Larisse Kelly Silva Barros


Universidade Estadual Vale do Acaraú
https://orcid.org/0000-0001-9873-6806

Ravena Silva do Nascimento


Universidade Estadual Vale do Acaraú
https://orcid.org/0000-0002-2636-764X

Antonia Ariane Braga Almeida


Universidade Estadual Vale do Acaraú
https://orcid.org/0000-0003-2670-0390

Sabrina Maria Aguiar Costa


Universidade Estadual Vale do Acaraú
https://orcid.org/0009-0001-1240-5019

Tatiane de Sousa Paiva


Universidade Federal do Ceará - UFC
https://orcid.org/0000-0001-8555-6355

213
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Tâmila Yasmim Lima Ferreira
Universidade Estadual Vale do Acaraú - UVA
https://orcid.org/0000-0002-9365-6070

Niele Duarte Ripardo


Universidade Estadual Vale do Acaraú - UVA
https://orcid.org/0000-0002-1857-3750

Anna Larissa Moraes Mesquita


Santa Casa de Misericórdia de Sobral - SCMS
https://orcid.org/0000-0002-7429-5214

RESUMO
O termo vulnerabilidade é originário do latim e tem sido utilizado em diversos campos de
atuação. Tem- se notado que as produções científicas têm focado em aspectos epidemiológicos
tradicionais. Assim, é importante abordar a vulnerabilidade na área da saúde. Nessa perspectiva,
a PNAISM, foi elaborada pelo Ministério da Saúde em 2004, a partir da necessidade de uma
atenção holística à saúde da mulher. O presente estudo tem como pergunta norteadora, “O que
tem sido produzido na literatura científica sobre o impacto da vulnerabilidade na assistência à
saúde das mulheres?”. Este estudo é fundamental para provocar discussões acerca das
vulnerabilidades em saúde na assistência à saúde do público feminino. Tem a finalidade de
analisar as questões de saúde envolvidas para uma abordagem sensível e abrangente na
compreensão de saúde das mulheres. Trata-se de uma revisão da literatura realizada entre junho
e julho de 2023. Os critérios de inclusão deveriam responder à pergunta norteadora, nos idiomas
Português e Inglês e com acesso disponível na íntegra, publicados nas bases de dados
selecionadas. Como critério de exclusão: dissertações, teses, manuais, capítulos de livros,
trabalhos de conclusão de curso, artigos de revisão, matérias de jornais ou revistas não
científicas, artigos completos não disponibilizados gratuitamente na íntegra. Encontrou-se 32
artigos selecionados e analisados na íntegra conforme metodologia descrita. Verificou-se que a
produção científica a respeito da vulnerabilidade na assistência em saúde da mulher tem-se
mostrado em crescimento. A vulnerabilidade tem um impacto significativo na assistência à
saúde das mulheres, sendo um desafio que afeta a sua qualidade de vida e acesso aos serviços
de saúde adequados. Sendo necessário um reconhecimento da dimensão social da
vulnerabilidade em relação às mulheres e das políticas assistenciais que contemplem as
especificidades das mulheres com deficiência uma vez que elas podem enfrentar obstáculos
adicionais no acesso a serviços de saúde adequados.

PALAVRAS-CHAVE: Vulnerabilidade em Saúde; Saúde da Mulher; Assistência Integral à


Saúde.

ABSTRACT
The term vulnerability originates from Latin and has been used in several fields of activity. The
majority of scientific productions have focused on traditional epidemiological aspects. Thus, it
is important to address vulnerability within healthcare. From this perspective, the PNAISM was
created by the Ministry of Health in 2004 based on the need for holistic attention to women's
health. The present study has as its guiding question, "What has been produced in the scientific
literature about the impact of vulnerability in women's healthcare?". This study is essential to
provoke discussions about vulnerabilities in healthcare for the female public. It aims to analyze
the health issues involved for a sensitive and comprehensive approach to understanding
women's health. This is a literature review carried out in June and July 2023. The inclusion

214
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
criteria should answer the guiding question, in Portuguese and English and with access in full,
published in the selected databases. As exclusion criteria: dissertations, thesis, manuals, book
chapters, undergraduate final works, review articles, articles from newspapers or non-scientific
magazines, and complete articles not available for free in full. We selected and analyzed 32
articles in full according to the methodology described. It showed that scientific production
regarding vulnerabilities in women's healthcare has been increasing. Vulnerability has a
significant impact on women's healthcare, being a challenge that affects their life quality and
access to adequate health services. Therefore, it is necessary to recognize the social dimension
of vulnerability regarding all women and the assistance policies that address particularities of
women with disabilities, since they may face additional obstacles in accessing adequate health
services.

KEYWORDS: Health Vulnerability; Women’s Health; Comprehensive Health Care.

1. INTRODUÇÃO
O termo vulnerabilidade é originário do latim (MICHAELS, 2017) e tem sido utilizado
em diversos campos de atuação. A utilização do termo teve início na década de 1980 com a
epidemia de HIV/AIDS, depois com enfoque nas condições crônicas não infecciosas. Todavia,
tem- se notado que as produções científicas têm focado em aspectos epidemiológicos
tradicionais (FLORÊNCIO et al., 2020). Atualmente, o conceito de vulnerabilidade tem sido
amplamente utilizado (AYRES, 2009).
Compreende-se que o conceito de vulnerabilidade vai além do risco e é uma condição
intrínseca à existência do ser humano. Caracteriza-se por ações relacionadas ao contexto do
indivíduo que interferem na autonomia humana, bem como podem favorecer o
desenvolvimento de doenças, agravos e danos à saúde, derivados de dimensões individuais,
sociais e programáticas (AYRES et al., 2012).
Assim, a dimensão individual dispõe sobre aspectos próprios do modo de vida das
pessoas, relacionado ao conhecimento sobre a doença, à sexualidade, o uso de substâncias e
serviços. A dimensão social foca no contexto da vida em sociedade, com aspectos relacionados
à cultura, questões políticas, morais e materiais. Já a dimensão programática está relacionada
aos programas e serviços, tais como a saúde, educação, bem-estar social e cultura (AYRES et
al., 2006).
Isto posto, o entendimento da vulnerabilidade na enfermagem orienta a prática profissional
e excede o atendimento apenas individual, voltando-se, portanto, para aspectos contextuais e
socioculturais (SILVA et al., 2014). Verifica-se a importância da abordagem de vulnerabilidade
na área da saúde, pois permite uma melhor compreensão das situações de saúde apresentadas
pela população.

215
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Vale ressaltar a importância do conceito de vulnerabilidade na compreensão dos
problemas de saúde, pois ele abrange várias dimensões relacionadas ao contexto, às políticas e
medidas implementadas para controlá-los, bem como aos processos individuais que estão
ligados à experiência da doença ou agravos à saúde. (GUANILO; TAKAHASHI;
BERTOLOZZI, 2014).
Nessa perspectiva, a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher
(PNAISM), foi elaborada pelo Ministério da Saúde em 2004, a partir da necessidade de uma
atenção holística à saúde da mulher, na qual ela integra como princípios o enfoque na
integralidade, gênero e a promoção da saúde, apontando ainda para uma ampla gama de
necessidades da população feminina, como as questões reprodutivas, a problematização das
desigualdades sociais e analisar os determinantes das patologias ( BRASIL, 2004).
A PNAISM nasceu simultaneamente à 1ª Conferência Nacional de Políticas para
Mulheres, o que trouxe além da participação dos muitos departamentos do Ministério da Saúde,
a colaboração social. Foi criada para conduzir políticas para o público feminino em todo o
território brasileiro sendo estabelecida pelo MS como uma produção que complementasse o
Programa de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PAISM) e avançasse na garantia dos direitos
das mulheres, principalmente no acesso aos meios de promoção, prevenção, assistência e
recuperação da saúde.
Portanto, observa-se que para reduzir os impactos da vulnerabilidade em saúde das
mulheres, é importante tomar medidas que atendam às suas necessidades específicas, o que
significa garantir que todas tenham acesso igual aos cuidados de saúde e proteção contra
violência e discriminação. Para alcançar isso, é ideal implementar políticas inclusivas, investir
em saúde adequada, capacitar profissionais de saúde sobre questões de gênero e fortalecer a
educação em saúde voltada para as mulheres.
À vista disso, o presente estudo tem como pergunta norteadora, “O que tem sido
produzido na literatura científica sobre o impacto da vulnerabilidade na assistência à saúde das
mulheres?”
Destarte, esse estudo é fundamental para provocar discussões acerca das
vulnerabilidades em saúde, desmistificando o conceito de risco, além de fomentar na literatura
o efeito da vulnerabilidade na assistência à saúde do público feminino. Tem a finalidade de
analisar as questões de saúde envolvidas para uma abordagem sensível e abrangente na
compreensão de saúde das mulheres.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

216
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
O presente estudo consiste em uma revisão da literatura, iniciada em junho de 2023,
desenvolvida e fundamentada em análise de bases de dados nacionais sobre o impacto da
vulnerabilidade em saúde na assistência das mulheres.
A revisão integrativa é fundamentada na prática de evidências e considerada como tipo
de revisão sistemática, com a finalidade de reunir e sintetizar os resultados de pesquisas sobre
um fenômeno analisado, de maneira sistemática e ordenada. Contribuindo assim para o
aprofundamento do tema investigado. Estabelece as tendências na produção científica e as
lacunas que devem estar em evidência para atenção dos pesquisadores, sendo desenvolvida ao
longo de uma série de etapas (MENDES; SILVEIRA; GALVÃO, 2008).
A Prática Baseada em Evidências (PBE), recomenda a utilização da estratégia PICo,
para decompor e organizar os problemas clínicos (AKOBENG, 2005). PICo considera a
população, ou o paciente ou o problema abordado (Population/Patient/Problem), o fenômeno
de interesse (Interest) e o contexto (Context). De acordo com a estratégia utilizada, obteve-se
Paciente: Mulheres; Intervenção: Vulnerabilidade; Contexto: avaliação no Impacto na
Assistência
Depois de ter uma ideia geral do que deseja investigar, inicia-se o processo de
estruturação de sua pesquisa com base em perguntas ponderadas e claras. Assim, a pergunta
inicial é o elo que une todo o processo de pesquisa até a redação final do estudo (SANTOS;
GALVÃO, 2014). A partir dos binômios da estratégia PICo, a escrita da revisão teve como base
a pergunta norteadora: “o que tem sido produzido na literatura científica sobre o impacto da
vulnerabilidade na assistência à saúde das mulheres?”.
A coleta ocorreu em junho e julho de 2023, utilizando as seguintes bases de dados:
Scientific Eletronic Library Online (SCIELO), Web of Science, Literatura Latino-Americana e
do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Medical Literature Analysis and Retrievel System
Online (MEDLINE).
A busca por pesquisas científicas foi conduzida utilizando palavras-chave registradas
nos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) e no MeSH (Medical Subject Headings),
combinaram-se as expressões booleanas AND e OR, assim obteve-se como estratégia de busca:
(Women OR Woman OR "Women's Health" OR "Woman's Health" OR "Womens Health")
AND ("Sexual Vulnerability" OR "Health Vulnerability" OR "Vulnerability and Health" OR
"Vulnerable Populations" OR "Vulnerable Population" OR "Underserved Population" OR
"Underserved Populations" OR "Underserved Patient" OR "Underserved Patients" OR
"Disadvantaged Populations" OR "Disadvantaged Population" OR "health disparity, minority
and vulnerable populations" OR "health disparity, minority and vulnerable populations" OR

217
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
"socioeconomically vulnerable community" OR "vulnerable minorities" OR "vulnerable
minority" OR "vulnerable minority population" OR "vulnerable people" OR "vulnerable
person" OR "vulnerable persons") AND ("Women's Health Services" OR "Woman's Health
Service" OR "Woman's Health Services" OR "Women Health Services" OR "Women's Health
Service" OR "Womans Health Services" OR "Women's Health Services" OR "Womens Health
Services" OR "Delivery of Health Care" OR "Delivery of Healthcare" OR "Health Care" OR
"Health Care Delivery" OR "Health Care System" OR "Health Care Systems" OR Healthcare
OR "Healthcare System" OR "Healthcare Systems" OR "health service" OR "health care
service" OR "health services" OR "healthcare service" OR "reproductive health services" OR
"health service"))
Os critérios de inclusão adotados para o estudo foram: artigos de pesquisas primárias
que respondiam à pergunta norteadora, nos idiomas Português e Inglês e com acesso disponível
na íntegra, publicados nas bases de dados selecionadas. Como critério de exclusão: dissertações,
teses, manuais, capítulos de livros, trabalhos de conclusão de curso, artigos de revisão, matérias
de jornais ou revistas não científicas, artigos completos não disponibilizados gratuitamente na
íntegra e artigos que não responderam à pergunta norteadora.
Após a verificação dos critérios de inclusão e exclusão e a leitura dos artigos, encontrou-
se a amostra de 32 artigos que abordavam o tema em questão. A análise foi feita correspondendo
à identificação das informações dos artigos com os descritores utilizados e pela discussão e
interpretação dos artigos que atenderam aos critérios de inclusão.
Figura 1 - Fluxograma da busca e seleção de estudos, conforme recomendações do PRISMA (MATTOS;
CESTARI; MOREIRA, 2023)

Estudos recuperados
IDENTIFICAÇÃO

nas bases de dados:

N= 1863
Estudos repetidos excluídos:
N= 4

Estudos selecionados
SELEÇÃO

para a leitura de título


e resumo: N= 1859

Estudos excluídos por não


tratarem da temática: N=
1727
ELEGIBILIDADE

Estudos selecionados
para leitura na
íntegra e análise para
elegibilidade: N= 132
Estudo excluído pela leitura 218
na íntegra por não responder
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER a questão norteadora: N=100
Fonte: autores (2023).

3. RESULTADOS
Foram em número de 32 artigos selecionados e analisados na íntegra conforme
metodologia descrita.
A partir da seleção dos artigos foi elaborado o quadro 1 contendo os dados necessários
para a caracterização das publicações selecionadas. Por meio da construção do quadro síntese,
foi montado o perfil das publicações selecionadas para a pesquisa no que diz respeito ao ano,
título e os autores.
Em relação à temporalidade, foram identificados trabalhos publicados entre os anos de
2002 a 2023, sendo que a maioria (40,6%) das publicações se concentrou no período de 2018 a
2021, com maior incidência neste último. Quanto à origem dos estudos, os países comumente
encontrados foram Brasil (53,1%) e Estados Unidos (12,5%), com menos frequência, estudos
realizados na África do Sul, Uganda, Geórgia, Pensilvânia, Zâmbia, Índia, Equador, Bélgica e
Mianmar.
No que se refere às áreas de publicação dos artigos, a maioria (23) estão classificados
na Saúde Coletiva, oito na área de Enfermagem e um na Psiquiatria, conforme evidencia o
Quadro 1.
Quadro 1 - Categorização dos estudos analisados. Sobral, Ceará, Brasil
ÁREA DE
N ANO PAÍS TÍTULO AUTORES
PUBLICAÇÃO

Narrativas de vida de mulheres assentadas


A1 2021 Brasil Santos et al. Enfermagem
rurais durante a pandemia de Covid-19

Repercussões da Covid-19 na saúde de


A2 2021 Brasil mulheres e crianças na perspectiva da Rossetto et al. Enfermagem
vulnerabilidade

219
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Percepção de mulheres quanto à sua
A3 2021 Brasil vulnerabilidade às Infecções Sexualmente Moura et al. Enfermagem
Transmissiveis

Ações de prevenção e enfrentamento das


A4 2019 Brasil IST/AIDS vivenciadas por mulheres Lôbo et al. Enfermagem
encarceradas

Vulnerabilidade de mulheres negras na


Theophilo;Rattn
A5 2018 Brasil atenção ao pré-natal e ao parto no SUS: Saúde Coletiva
er; Pereira
análise da pesquisa da Ouvidoria Ativa

Jovens, negras e estudantes: aspectos da


A6 2016 Brasil Jesus; Monteiro Saúde Coletiva
vulnerabilidade em São Luís do Maranhão

Atenção à saúde da mulher com mais de Pasqual;


A7 2015 Brasil 50 anos: vulnerabilidade programática na Carvalhaes; Enfermagem
Estratégia Saúde da Família Parada

Mulheres com deficiência e sua dupla Nicolau;


A8 2013 Brasil vulnerabilidade: contribuições para a Schraiber; Ayres Saúde Coletiva
construção da integralidade em saúde

Utilização de cuidados de saúde entre


Sterk,Theall,
A9 2002 Geórgia mulheres usuárias e não usuárias de Saúde Coletiva
Elifson
drogas

O fardo desproporcional da pandemia de


Pensilvâ COVID-19 entre mulheres negras grávidas
A10 2020 Gur et al. Psiquiatria
nia

Por que as mulheres rurais nas áreas mais


remotas e pobres da Zâmbia frequentam
Jacobs;Michelo;
A11 2018 Zâmbia predominantemente apenas uma consulta Saúde Coletiva
Moshabela
pré-natal com um profissional qualificado?
Uma investigação qualitativa

Resultados de testes específicos de HPV e


Estados Papanicolau entre mulheres de baixa
A12 2014 Saraiya et al. Saúde Coletiva
Unidos renda e carentes: fornecendo informações
sobre estratégias de gerenciamento

Diferenças na qualidade do tratamento do Haggstrom;Qua


Estados
A13 2005 câncer de mama entre populações le; Smith- Saúde Coletiva
Unidos
vulneráveis Bindman

Reduzindo as desigualdades na saúde e no


Haddad;
acesso aos cuidados de saúde em uma
A14 2011 Índia Narayana; Saúde Coletiva
comunidade rural indiana: um projeto de
Mohindra
pesquisa-ação colaborativa Índia-Canadá

Impacto das respostas de saúde pública à


África do COVID-19 na renda, segurança alimentar e Humphries et
A15 2022 Saúde Coletiva
Sul serviços de saúde entre mulheres al.
importantes e vulneráveis na África do Sul

220
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Distinções, Mediações Excludentes e
A16 2023 Brasil Desigualdades: a Governança da Saúde Milanezi Saúde Coletiva
Reprodutiva de “Cadastradas Difíceis”

A dinâmica das violências na separação


Pontes; Braga;
A17 2022 Brasil compulsória de mães e filhos em situação Saúde Coletiva
Jorge
de vulnerabilidade

Compreensões hermenêuticas sobre as


vulnerabilidades femininas pertencentes
A18 2021 Brasil Peixoto et al. Enfermagem
ao coletivo de lésbicas, bissexuais e
transexuais

Percepções de mulheres profissionais do


A19 2017 Brasil sexo sobre acesso do teste HIV: incentivos Sousa et al. Saúde Coletiva
e barreiras

Representações Sociais acerca dos


Programas de Tamisação de Câncer
Ginecológico em mulheres Equatorianas: Godoy;Godoy;
A20 2016 Equador Enfermagem
Um Estudo Qualitativo desde a Percepção Reis
das Usuárias dos Serviços de Atenção
Primária de Saúde

Avaliação da vulnerabilidade de mulheres


Guanilo;
às doenças sexualmente transmissíveis -
A21 2014 Brasil Takahashi;Berto Enfermagem
DST/HIV: construção e validação de
lozzi
marcadores

Risco reprodutivo e renda familiar: análise


A22 2013 Brasil Xavier et al. Saúde Coletiva
do perfil de gestantes

O contexto é importante para entender a


A23 2021 Uganda vulnerabilidade das mulheres: Murembe et al. Saúde Coletiva
perspectivas do sudoeste de Uganda

Expectativas e satisfação com o pré-natal


entre gestantes com foco em grupos
A24 2015 Bélgica Gale et al. Saúde Coletiva
vulneráveis: um estudo descritivo em
Ghent

O que os médicos que prestam serviços de


maternidade pensam que é o cuidado
Estados
A25 2018 centrado no paciente e como isso é Adams et al. Saúde Coletiva
Unidos
diferente para mulheres vulneráveis? Um
estudo qualitativo

Mulheres negras e não negras e


Lopes; Buchalla;
A26 2007 Brasil vulnerabilidade ao HIV/AIDS em São Paulo, Saúde Coletiva
Ayres
Brasil

Barreiras à participação pública equitativa


no estabelecimento de prioridades do
A27 2020 Uganda sistema de saúde no contexto da Razavi et al. Saúde Coletiva
descentralização: o caso de mulheres
vulneráveis em um distrito de Uganda

221
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Vulnerabilidade ao HIV entre mulheres Silva; d’Oliveira;
A28 2007 Brasil Saúde Coletiva
usuárias de drogas injetáveis Mesquita

Mianma Acesso a intervenções essenciais de saúde


r (antiga materna e violações de direitos humanos
A29 2008 Mullany et al. Saúde Coletiva
Birmânia entre comunidades vulneráveis no leste da
) Birmânia

A interseção HIV, vulnerabilidade social e


saúde reprodutiva: análise de mulheres
A30 2019 Brasil Zachek et al. Saúde Coletiva
vivendo com HIV no Rio de Janeiro, Brasil,
de 1996 a 2016

Estados Percepções sobre o pré-natal: olhares de


A31 2002 Milligan et al. Saúde Coletiva
Unidos grupos vulneráveis urbanos

Saúde sexual e reprodutiva de mulheres Freedman;


África do refugiadas e requerentes de asilo na África Crankshaw;Mut
A32 2020 ambara Saúde Coletiva
Sul do Sul: compreendendo os determinantes
da vulnerabilidade

Fonte: autores (2023).

A partir dos resultados encontrados, verificou-se que a produção científica a respeito


da vulnerabilidade na assistência em saúde da mulher tem-se mostrado em crescimento.
Os estudos dessa RI evidenciaram os fatores de vulnerabilidade na assistência à saúde
da mulher envolvem as três dimensões conforme caracterizadas por Florêncio (2018), destas
destaca-se nos estudos a vulnerabilidade programática (53,1%); seguido pela vulnerabilidade
social (40,6%) e vulnerabilidade individual (6,2%). Neste sentido, foram evidenciados os
seguintes fatores: conhecimentos; relações familiares; relações afetivo-sexuais; situação
psicoemocional; referências culturais; relações de raça/etnia; acesso à saúde e educação;
integralidade da atenção; compromisso e responsabilidade dos profissionais; participação
comunitária na gestão dos serviços; Planejamento, supervisão e avaliação dos serviços.
Com relação às considerações finais dos artigos verificou-se a necessidade de melhoria
dos aspectos organizacionais dos cuidados em saúde, a partir de condutas como: a capacitação
profissional(2,4,5,7,18,19,20,22,24,25,30,31,32); a inserção da mulher como protagonista do seu processo
de cuidado(1,4,20,23), o envolvimento tanto da gestão quanto das equipes de saúde para superar a
(5,7,15,17,18,23,27)
vulnerabilidade detectada e a garantia de acesso a serviços de saúde e educação
(6,10,15,20,24,27,28,29,30,31,32)
.

4. DISCUSSÃO
A vulnerabilidade tem um impacto significativo na assistência à saúde das mulheres,
sendo um desafio que afeta a sua qualidade de vida e acesso aos serviços de saúde adequados.

222
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
A vulnerabilidade, neste estudo, foi relacionada a diversos fatores como socioeconômicos, de
gênero, de idade, de etnia, entre outros, os quais serão discutidos a seguir.
As mulheres de minorias étnicas ou raciais frequentemente enfrentam desafios únicos
devido ao encontro de sua identidade de gênero e sua identidade racial ou étnica. Elas podem
enfrentar discriminação e preconceito em várias esferas da vida, incluindo no acesso a emprego,
educação, saúde e justiça (JESUS; MONTEIRO, 2016). Em termos de saúde, as mulheres de
minorias raciais têm maior probabilidade de enfrentar disparidades na qualidade e no acesso
aos serviços de saúde uma vez que possuem maior dificuldade em obter atendimento médico
adequado (LOPES; BUCHALLA; AYRES, 2007).
Nessa perspectiva, as diferenças raciais foram observadas nos níveis gerais de
preocupação em relação à COVID-19 entre mulheres grávidas (SANTOS et al., 2020). As
mulheres negras demonstraram ter mais preocupações em relação à situação econômica da
pandemia, bem como à possibilidade de contrair e morrer de COVID-19 (GUR et al., 2020).
Em relação às preocupações específicas da gravidez durante a pandemia, as mulheres
negras relataram maior preocupação do que as mulheres brancas em relação a ter uma boa
experiência de parto, além de apresentaram maior probabilidade de atender aos critérios de
depressão em comparação com as mulheres brancas (GUR et al., 2020). Esses resultados
indicam a existência de vulnerabilidades significativas no impacto da pandemia de COVID-19
e na experiência de assistência à saúde, o que afeta o bem-estar de mulheres grávidas,
especialmente as mulheres negras.
Dessa forma, o racismo estrutural continua a ser um fator significativo que contribui
para o impacto da vulnerabilidade em saúde entre as mulheres, especialmente as mulheres
pertencentes a minorias étnicas. A discriminação racial afeta negativamente o acesso equitativo
a cuidados de saúde de qualidade, resultando em disparidades de saúde expressivas.
Uma reflexão relevante acerca da pesquisa de Pontes, Braga e Jorge (2022) foi a de que
geralmente são as mulheres de cor, pobres e viciadas em drogas que perdem os filhos nas
situações judiciais. A percepção dos valores familiares tradicionais relaciona-se a muitos
julgamentos das mulheres onde há dificuldade de reconhecer a diversidade familiar que
prevalece na atualidade. Isso culpabiliza as mães pelas condições de vida e leva a supor que
mães em condição vulnerável são incapazes de cuidar de seus filhos.
Ainda corroborando com estas informações, Haddad e colaboradores (2011) apontaram
sobre as consequências das desigualdades sociais no acesso à saúde. Existem enormes
diferenças entre os variados grupos sociais a partir da observação de que grupos indígenas de
mulheres se tornam desfavorecidos e sofrem com desigualdades na educação, situação de

223
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
emprego, posse de terras e saúde. Isso reforça que as vidas das mulheres de minorias étnicas
ainda são limitadas por contrastes de gênero e certos grupos indígenas são marginalizados
porque seus níveis de saúde e bem-estar ficam atrás de outros grupos sociais.
Outra repercussão muito mencionada na literatura é sobre a situação de vulnerabilidade
em saúde enfrentada pelas mulheres com HIV. Existem várias razões pelas quais as mulheres
com HIV estão em maior vulnerabilidade. Elas podem enfrentar estigma e discriminação, tanto
relacionados ao HIV quanto ao seu gênero. Isso pode levar a barreiras na busca por serviços de
saúde adequados, medo de revelar seu status sorológico e dificuldades no acesso ao tratamento
e rede de apoio (SOUSA et al., 2017).
Consequentemente é validado que existem desigualdades raciais e étnicas que podem
influenciar a vulnerabilidade das mulheres soropositivas para o HIV. Estudo multicêntrico
realizado entre 1999 e 2000 em serviços de saúde especializados em IST/Aids do estado de São
Paulo, envolvendo mais de mil mulheres com HIV e maiores de 18 anos, manifestou a cor da
pele como categoria analítica que oferece oportunidades para entender melhor como as
interações sociais, no contexto de gênero e condições socioeconômicas, criam e recriam
desvantagens para mulheres negras e sua exposição a riscos à saúde, além de impor limites à
forma como utilizam os recursos para a saúde (LOPES; BUCHALLA; AYRES, 2007).
Ademais, é interessante observar que há quase duas décadas as discussões acerca das
implicações de vulnerabilidade em saúde das mulheres já se faziam presentes. Haggstrom,
Quale e Smith-Bindman (2005) já revelavam que a qualidade do tratamento do câncer de mama
é menor em populações desfavorecidas.
O reconhecimento da dimensão de vulnerabilidade também contribui para o
conhecimento acerca dos conjuntos de fatores que envolvem o indivíduo (AYRES et al., 2006).
Pesquisa realizada em Uganda evidenciou que ao abordar a comunidade africana muitas
considerações sobre o que é ser vulnerável foram elencadas, como mulheres negligenciadas por
seus parceiros e/ou familiares, que deram à luz apenas meninas e não deixaram herdeiros para
o marido, que consumiam muito álcool ou que viviam com parceiros alcoólatras. Assim como
mulheres com histórico de partos domiciliares saudáveis e que viviam em vilas de pescadores
longe do apoio de sua família (MUREMBE et al., 2021).
Nesse sentido, outro estudo realizado em Uganda expressou a necessidade de envolver
populações vulneráveis na tomada de decisões do sistema de saúde para a definição das
prioridades do sistema. Os documentos de política de Uganda identificam as populações
vulneráveis como mulheres, viúvas, órfãos, crianças, idosos e pessoas com deficiência, dentre
outros. Eles também reconhecem que a vulnerabilidade varia de acordo com gênero, idade,

224
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
etnia, ocupação e condição social e recomendam ações afirmativas para grupos
tradicionalmente marginalizados, como as mulheres. Assim, a exclusão de mulheres
vulneráveis da tomada de decisões do sistema de saúde pode significar que suas perspectivas e
necessidades de saúde não estão integradas às prioridades do sistema (RAZAVI et al., 2020).
No tocante à deficiência como impacto da vulnerabilidade em saúde, Nicolau, Schraiber
e Ayres (2013) apontaram como indispensável que houvesse um maior envolvimento das
mulheres com deficiência nos processos de formulação de políticas, assegurando que suas vozes
sejam ouvidas e suas demandas sejam representadas. Isso contribui para a construção de
políticas mais inclusivas, sensíveis e eficazes, que realmente atendam às necessidades das
mulheres com deficiência.
A cobertura de intervenções básicas de saúde materna é lamentavelmente inadequada
para mulheres sem-teto e usuárias de drogas (MILLIGAN et al., 2002). Esse estudo
testemunhou que a complexidade de sobreviver em situações de vulnerabilidade ofusca a
necessidade do pré-natal. Ademais, o que pode facilitar o cuidado com abertura e prestatividade
aos mais vulneráveis também pode bloquear o cuidado quando as atitudes são de ameaça ou
julgamento.
É necessário um reconhecimento das dimensões da vulnerabilidade em relação às
mulheres e políticas assistenciais que contemplem as especificidades das mulheres com
deficiência uma vez que elas podem enfrentar obstáculos adicionais no acesso a serviços de
saúde adequados, educação inclusiva e participação plena na sociedade.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir do levantamento bibliográfico desenvolvido neste estudo, pode-se compreender
que a vulnerabilidade tem grande impacto tanto na qualidade quanto no acesso à assistência à
saúde.
Assim, evidencia-se que o estudo permite verificar as interfaces e o impacto da
vulnerabilidade na assistência à saúde da mulher, contribuindo assim para que projetos e ações
sejam implementadas a fim de aprimorar a atenção à saúde da mulher, sendo ofertada
garantindo os princípios doutrinários do Sistema Único de Saúde - SUS.
Conforme já elucidado, no que se refere às pesquisas sobre vulnerabilidade e
maternidade, percebe-se os desafios para implementar estratégias de intervenção que
promovam atendimento integral à saúde da mulher independentemente de pobreza, cor,
discriminação de gênero, falta de apoio social e outras desigualdades estruturais.

225
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Como a maternidade é encarada como um período crítico na vida da mulher, questões
de saúde se tornam ainda mais relevantes nesse contexto. A literatura constata que as mulheres
em situação de vulnerabilidade geralmente enfrentam maiores desafios em relação à saúde
materna. Dessa forma, sugerem-se constantes revisões da temática na literatura e investigações
que envolvam o assunto, sendo importante o estudo dessa imersão para assistência integral à
saúde da mulher.

REFERÊNCIAS
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227
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
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228
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
CAPÍTULO 20
O PAPEL DO ENFERMEIRO NA
ASSISTÊNCIA À MULHERES
VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA
DOMÉSTICA: REVISÃO
INTEGRATIVA
THE ROLE OF THE NURSE IN THE ASSISTANCE TO WOMEN
VICTIMS OF DOMESTIC VIOLENCE: INTEGRATIVE REVIEW

10.56161/sci.ed.20230913C20

Alana dos Santos Reinaux¹


Acadêmica de Enfermagem pela Universidade Federal de Pernambuco - UFPE.
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0009-0009-8792-7055)

Tatiana Clécia Soares de Almeida¹


Acadêmica de Enfermagem pela Universidade Federal de Pernambuco - UFPE.
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0009-0008-1570-7961)

Gabrielly Sthefany Alves da Silva¹


Acadêmica de Enfermagem pela Universidade Federal de Pernambuco - UFPE.
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0009-0003-8481-9717)

Ranyelle Hallana Andrade da Silva¹


Acadêmica de Enfermagem pela Universidade Federal de Pernambuco - UFPE.
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0009-0004-3101-2087)

Laiza da Silva Nascimento Araújo¹


Acadêmica de Enfermagem pela Universidade Federal de Pernambuco - UFPE.
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0009-0005-2472-6951)

Gustavo Lima da Silva¹


Acadêmico de Enfermagem pela Universidade Federal de Pernambuco - UFPE.
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0009-0004-2704-6583)

Eugênia Gabriela Ribeiro de Vasconcelos¹

229
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Acadêmica de Enfermagem pela Universidade Federal de Pernambuco - UFPE.
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0000-0001-8125-4229)

Gircelle Raysa Alves da Silva¹


Acadêmica de Enfermagem pela Universidade Federal de Pernambuco - UFPE.
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0009-0000-5241-0747)

Wallacy Jhon Silva Araújo²


Enfermeiro, Doutorado em Enfermagem pela Universidade Federal de Pernambuco - UFPE.
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0000-0001-7916-1250)

Valesca Patriota de Souza³


Enfermeira, Doutora em Enfermagem, Docente da Universidade Federal de Pernambuco -
UFPE.
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0000-0002-2909-9409)

RESUMO

Introdução: Às redes de atendimento à saúde é um mecanismo fortalecedor do vínculo entre os


profissionais e a população. Nesse contexto, os enfermeiros exercem um importante papel no
atendimento integral a mulheres vítimas de violência doméstica, tendo o dever de proporcionar
um cuidado humanizado e holístico. Objetivo: Analisar as evidências científicas da assistência
de enfermagem às mulheres vítimas de violência doméstica. Método: Trata-se de uma revisão
integrativa, do tipo descritiva e exploratória, realizada nos meses de junho e julho de 2023,
utilizando o método de Práticas Baseadas em Evidências, através da estratégia PICO, para a
construção da seguinte pergunta norteadora: “Qual o papel do enfermeiro na assistência a
mulheres vítimas de violência doméstica?”. Para a realização do trabalho foi executada as
seguintes etapas: identificação do problema, pesquisa da literatura, avaliação de dados, análise
de dados e apresentação. A coleta foi executada nas bases sciELO, LILACS e IBECS, a partir
dos descritores em saúde: “Cuidados de enfermagem”; “Violência contra a Mulher” e
“Violência doméstica”, sendo ao final selecionados 4 artigos científicos que estavam em
conformidade com os critérios de inclusão: estudos compatíveis com a temática, que estivessem
disponíveis gratuitamente e de forma íntegra. Resultados e discussão: O estudo evidencia as
dificuldades do profissional de enfermagem na assistência a mulheres vítimas de violência,
como a falta de conhecimento sobre as redes de apoio e os cuidados particulares, apontando
como principal medida de prevenção a violência doméstica, a abordagem focada na raiz da
violência e questões sociais. Conclusão: Conclui-se, portanto, que medidas devem ser adotadas
pelos enfermeiros no atendimento às mulheres vítimas de violência doméstica, para que haja a
promoção de um cuidado individualizado, integral e com o acolhimento adequado ás mulheres
vítimas de violência doméstica, promovendo assim um atendimento, prevenção, promoção e
recuperação da saúde das mulheres.
PALAVRAS-CHAVES: “Cuidados de enfermagem”; “Violência contra a Mulher”;
“Violência doméstica”.

ABSTRACT

230
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Health care networks are a mechanism that strengthens the bond between professionals and the
population. In this context, nurses play an important role in the comprehensive care of women
who are victims of domestic violence,having the duty to provide a humanized and holistic care.
Objective: To analyze the scientific evidence of nursing care to women victims of domestic
violence. Method: This is an integrative review, of the descriptive and exploratory type, carried
out in the months of June and July 2023, using the method of Evidence-Based Practices, through
the PICO strategy, for the construction of the following guiding question: "What is the role of
the nurse in assisting women who are victims of domestic violence?" To carry out the work, the
following steps were performed: identification of the problem, literature research, data
evaluation, data analysis and presentation. Data collection was performed in the sciELO,
LILACS and IBECS databases, based on the health descriptors: "Nursing care"; "Violence
against Women" and "Domestic violence", being at the end selected 4 scientific articles that
were in conformity with the inclusion criteria: studies compatible with the theme, which were
freely available and in full. Results and discussion: The study highlights the difficulties of
nursing professionals in assisting women victims of violence, such as the lack of knowledge
about support networks and private care, pointing out as the main measure of prevention of
domestic violence, the approach focused on the root of violence and social issues. Conclusion:
It is concluded, therefore, that care measures should be adopted by nurses for women victims
of domestic violence, so that there is the promotion of individualized, comprehensive care and
adequate care for women victims of domestic violence, promoting thus care, prevention,
promotion and recovery of women's health.
KEYWORDS: “Nursing Care”; “Violence Against Women”; “Domestic Violence”.

1. INTRODUÇÃO
A violência caracteriza-se pela violação da autonomia da vítima e dos direitos de um
indivíduo ou grupo, causando danos econômicos, físicos ou morais, sendo as mulheres as
principais vítimas dessa injúria e o maior perpetuador dessas práticas, os parceiros ou ex-
cônjuges. A violência contra a mulher é um fenômeno presente na sociedade desde a
antiguidade, tratando-se de uma violação dos direitos humanos e um grande problema de saúde
pública (BRASIL, 2004; SILVA A., 2022).
Segundo a Organização Mundial da Saúde, a violência doméstica atinge
aproximadamente 2 a 35% das mulheres, no mundo. No Brasil, durante o período de 2011 a
2015, as notificações de violência contra as mulheres cresceram, atingindo cerca de 162 mil
casos. Nessa perspectiva, é importante mencionar que a violência contra a mulher possui um
caráter social, histórico e multifatorial impactando de forma negativa a qualidade de vida das
mulheres, comprometendo suas relações sociais e psicológicas (SILVA; RIBEIRO, 2020).
Os enfermeiros atuam de forma direta e indireta, no atendimento, prevenção,
promoção e recuperação da saúde das mulheres. Como também na gestão e implementação do
Sistema Único de Saúde, e consequentemente possuem papel primordial no combate e na
prevenção da violência doméstica (MOTA et al., 2020).

231
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
As Unidades de Saúde da Família desempenham diversas funções, uma em especial
está relacionada ao fortalecimento do vínculo entre os profissionais de saúde e a população
adscrita. Ao utilizar esse mecanismo a equipe de enfermagem, favorece o diálogo, cuidado
horizontal e dinâmico da paciente acometida por violência doméstica, ademais, a notificação
dos casos de violência é uma subfunção da enfermagem (SILVA A.; et al., 2020; SILVA; et
al., 2022). Logo, o objetivo do presente estudo é analisar as evidências científicas da assistência
de enfermagem às mulheres vítimas de violência doméstica.

2. MÉTODOS

Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, cuja finalidade é analisar os artigos,


visando uma seleção organizada, sistemática e ordenada, prevendo assim a detecção de lacunas,
a serem sanados por outros estudos. Para desenvolvimento deste estudo, foram separadas
etapas, sendo elas: identificação do problema, pesquisa da literatura, avaliação de dados, análise
de dados e apresentação (WHITTEMORE; KNAFL, 2005).
Para construção da pergunta condutora do estudo foi utilizado o método de Práticas
Baseadas em Evidências, através da estratégia PICO, consequentemente, obteve-se o seguinte
questionamento norteador do estudo: “Qual o papel do enfermeiro na assistência a mulheres
vítimas de violência doméstica?”.
O estudo foi realizado entre o período de junho e julho de 2023, com levantamento
bibliográfico executado nas plataformas: Scientific Electronic Library Online (SciELO) e via
Biblioteca Virtual em Saúde nas bases LILACS e IBECS. Para a busca foram utilizados os
Descritores em Ciência da Saúde (DeCS): “Cuidados de Enfermagem”; “Violência contra a
Mulher” e “Violência Doméstica” interligados pelo operador booleanos “AND”.
Os artigos selecionados atenderam aos seguintes critérios de inclusão: estudos
compatíveis com a temática, que estivessem disponíveis gratuitamente e de forma íntegra, não
havendo restrição de idioma ou tempo de publicação. Os critérios de exclusão: artigos de
revisão integrativa ou incompatíveis com a temática da pesquisa.
Após a realização da uniformização dos descritores e cruzamento com as bases de
dados, foram encontrados 108 artigos científicos, sendo selecionados ao final 4 artigos
científicos de conformidade com os critérios de inclusão e ao objetivo da pesquisa (Figura 1).

232
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Figura 1- Fluxograma de seleção dos artigos

Fonte: Base de dados

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os artigos incluídos no estudo foram publicados em 2020 (75%) e 2022 (25%), sendo
predominante Brasileiros (75%) e publicados em português. Todos os artigos possuíam uma
abordagem qualitativa, no qual foram utilizados um ou mais instrumentos para a coleta de
dados. Quanto ao tipo de pesquisa, os quatro artigos selecionados possuíam uma abordagem
qualitativa, nos quais utilizou-se um ou mais instrumentos para a coleta de dados.
A violência doméstica se perpetua através de condutas de opressão a vítimas, por isso,
muitas vítimas possuem medo que o agressor as agrida ou lhe deixe em situação de desamparo
econômico e por isso acaba omitindo ou mentido quando questionadas diretamente sobre algum
tipo de violência, dificultando a detecção, orientação e notificação exercidos pelo enfermeiro
(SILVA et al, 2020). Tendo em vista a complexidade do cuidado a vítima de violência, o
atendimento deve então ser voltado não só para a sintomatologia, mas também a causa ou “raiz”
do problema, se desvincula do padrão hospitalar tradicional de atendimento. Nesse contexto, a

233
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
enfermagem desempenha a função de realizar um acolhimento adequado, por meio da criação
de vínculo, promovendo um cuidado holístico e humanizado (MOTA et al., 2020; SILVA et
al., 2022).
Nas literaturas analisadas, é evidente as dúvidas do enfermeiro quanto ao atendimento
de vítimas de violência, referindo falta de domínio quanto aos cuidados empregados às
mulheres vítimas de violência doméstica. Isso se dá, pela negligência quanto à educação dos
profissionais, ausência na prática da educação permanente e capacitação dos profissionais de
enfermagem que abordam os cuidados de vítimas de violência doméstica (SILVA; RIBEIRO,
2020).
Considerando-se a complexidade do atendimento a vítimas de violência doméstica, é
necessário que a assistência seja realizada de forma integral. Assim os profissionais devem
atuar em conformidade com as demais redes de atendimento à vítima e com planejamento de
ações, de forma a promover o cuidado biológico e psicológico às mulheres vítimas de violência
doméstica (SILVA et al., 2022).
Ressalta-se a importância dos debates relacionados à prevenção da violência contra a
mulher, sendo de fundamental importância em um momento de expansão do empoderamento
feminino. Portanto, mais pesquisas são necessárias para avaliar aspectos mais complexos
relacionados à violência doméstica.
As limitações deste estudo são a falta de estudos experimentais, quase-experimentais
e relatos de casos. No entanto, o tipo de achados da pesquisa permite reconhecer as principais
dificuldades na assistência de enfermagem e enfermeiras às vítimas de violência sexual na
atenção primária à saúde.

4. CONCLUSÃO
Mediante a análise dos artigos selecionados para o presente estudo, notou-se que o
comportamento da enfermagem no cuidado à mulher vítima de violência doméstica em serviços
de saúde, deve ser caracterizado pela integralidade e acolhimento à vítima, sendo essas
ferramentas poderosas para a identificação das vítimas de violência.
Este estudo contribui para a sensibilização dos cuidadores no atendimento às vítimas
de violência, identificando comportamentos que constituem barreiras e atitudes que contribuem
para um atendimento de qualidade direcionado para a promoção da saúde da mulher.

234
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
REFERÊNCIA

BRASIL. Ministério da Saúde. Política nacional de atenção integral à saúde da mulher:


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SILVA, Camila Daiane; et al. O cuidado às vítimas de violência doméstica: representação


social de profissionais da saúde. Revista baiana de Saúde Pública. Salvador, n.4, v.44,
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SILVA, Viviane Garciele; RIBEIRO, Patrícia Mônica. Violência contra as mulheres na


prática de enfermeiras das atenção primária à saúde. Escola Anna Nery. (online), n.4, v.24, p.
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WHITTWMORE, Robin; KNAFL, Kathleen. A revisão integrativa: metodologia atualizada. J


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235
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
CAPÍTULO 21
OS BENEFÍCIOS DA ASSISTÊNCIA DE
ENFERMAGEM FRENTE AO PARTO
HUMANIZADO
THE BENEFITS OF NURSING CARE IN FRONT OF HUMANIZED BIRTH

10.56161/sci.ed.20230913C21

Êychea Freire Bezerra


Acadêmica de Enfermagem pelo Centro Universitário Vale do Salgado
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0009-0009-4006-2269)

Neuma Cunha Medeiros


Acadêmica de Enfermagem pela Universidade Regional do Cariri
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0000-0001-6654-1502)

Jaqueline Calaça Teodozia


Acadêmica de Enfermagem pelo Centro Universitário Vale do Salgado
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0009-0007-8399)

Jeovanna Lorrany Sousa de Oliveira


Acadêmica de Enfermagem pelo Centro Universitário Vale do Salgado
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0009-0005-1044-3926)

Jamilla de Carvalho Mota


Acadêmica de Enfermagem pelo Centro Universitário Vale do Salgado
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0009-0005-0107-7776)

Sara Ribeiro Moreira


Faculdade de Ciências Médicas do Pará
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0000-0003-4310-2480)

Marta Silva Pereira


Faculdade Cosmopolita
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0009-0004-8786-6241)

Juliane Pereira dos Santos


Acadêmica de Enfermagem pelo Centro Universitário Jorge Amado
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0000-0001-6075-2851)

Silvana de Souza Oliveira Morasco

236
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Graduação em Enfermagem pela Universidade Federal de Alfenas
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0009-0002-8079-6952 )

Moacir Andrade Ribeiro Filho


Mestre em Saúde da Família pela Rede Nordeste de Formação em Saúde da Família-
RENASF-URCA
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0000-0003-1991-469x)

RESUMO
Objetiva-se analisar conforme a literatura os benefícios da assistência de enfermagem no parto
humanizado. A metodologia utilizada consiste em uma revisão bibliográfica realizada entre
janeiro a fevereiro de 2023, mediante levantamento nas bases SCIELO, LILACS e BVS por
meio dos descritores: “Cuidados de Enfermagem", “Papel do Enfermeiro”,“Parto
Humanizado” associados ao operador booleano AND. foram incluídos estudos que se
adequaram ao seguintes critérios: artigos e capítulos de livro de acesso online, na íntegra, nos
idiomas português e inglês publicados nos últimos cinco anos, cuja temática abordada
respondesse o objetivo desse estudo. Conforme análise da literatura, é possível evidenciar a
importância do enfermeiro em meio à assistência no pré e pós parto. Humanizar a assistência
em meio a este fenômeno implica manter uma atenção adequada à mulher visando promover
suporte e apoio a estas mulheres, assim projetando direcionamento conduzido pelas boas
práticas, isto é, as práticas ofertadas pela enfermagem a mulher em seu período de parto,
humaniza a assistência ao possibilitar o poder de escolha, onde a gestante pode desfrutar dos
serviços que lhe são ofertados durante todo esse processo, diminuindo a quantidades das
práticas não oportunas e garantindo assim um estado emocional saudável para a parturiente, o
neonato e os familiares. O uso de técnicas de relaxamento, diferentes posturas, técnicas de
respiração e práticas alternativas podem aumentar o conforto físico, visando proporcionar um
olhar personalizado e centralizado a essa mulher. Diante dos achados, o enfermeiro tem função
imprescindível para a realização de um parto humanizado, pois proporciona manobras que
auxiliam a parturiente, aliviando dores, promovendo um ambiente mais familiar e garantindo
também a participação ativa, diminuindo assim a ansiedade e aumentando a segurança em si,
contribuindo para que todas as dúvidas sejam sanadas, evitando traumas na vida da gestante,
que ocorre quando o parto é realizado de forma errônea.

PALAVRAS-CHAVE: Cuidados de Enfermagem; Papel do Enfermeiro; Parto Humanizado.

ABSTRACT
The objective is to analyze, according to the literature, the benefits of nursing care in humanized
childbirth. The methodology used consists of literature review carried out between January and
February 2023, through a survey in the SCIELO, LILACS and BVS databases through the
descriptors: "Nursing Care", "Role of the Nurse", "Humanized Childbirth" associated with the
Boolean operator AND. Studies that met the following criteria were included: articles and book
chapters with online access, in full, in Portuguese and English, published in the last five years,
whose theme addressed the objective of this study. According to the literature analysis, it is
possible to highlight the importance of the nurse in the midst of pre- and postpartum care.
Humanizing care in the midst of this phenomenon implies maintaining adequate care for women
in order to promote support and support for these women, thus projecting guidance driven by
good practices, that is , the practices offered by nursing to women in their delivery period,
humanizes assistance by enabling the power of choice, where the pregnant woman can enjoy
the services offered to her throughout this process, reducing the amounts of untimely practices

237
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
and thus guaranteeing a healthy emotional state for the mother, newborn and family members.
The use of relaxation techniques, different postures, breathing techniques and alternative
practices can increase physical comfort, aiming to provide a personalized and centralized look
to this woman. In view of the findings, the nurse has an essential role in carrying out a
humanized delivery, as it provides maneuvers that help the parturient, relieving pain, promoting
a more familiar environment and also guaranteeing active participation, thus reducing anxiety
and increasing self-confidence , contributing to resolve all doubts, avoiding trauma in the
pregnant woman's life, which occurs when the delivery is carried out incorrectly.

KEYWORDS: Nursing Care; Nurse's role; Humanized birth.


1. INTRODUÇÃO
O nascimento é uma ocorrência fisiológica e natural do corpo que proporciona à mãe e
sua família uma experiência única como tal, deve ser vivida com segurança, dignidade e bem-
estar. As boas práticas de assistência ao parto e ao recém-nascido são benéficas e protetoras
para a vida da mãe e do recém-nascido e, sem dúvida, têm influência direta na redução da
morbidade materna e neonatal. Pelo risco desnecessário que proporcionam à mãe e à criança, a
não adoção dessas práticas pode ser considerada negligência ou iatrogenia no serviço de saúde
prestado (ALVES et al., 2019).
Na atualidade, os profissionais de saúde, essencialmente o enfermeiro que trabalham
para buscar humanizar o modelo antigo de assistência ao parto, desmistificando-o e prestando
uma assistência qualificada. O fundamento da assistência humanizada é a recuperação de um
parto natural em que a mulher é a protagonista. Assim, essa vivência requer um novo olhar onde
a mulher possa ser ouvida, acolhida, orientada e ter seus desejos respeitados (SILVA et al.,
2021).
O Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) ressalta que o enfermeiro obtém
competências e autonomia para assistenciar gestantes, parturientes, puérperas, recém-nascidos,
sistematizar e ofertar amparo a essas mulheres durante todo o desenrolar do trabalho de parto,
estando atento ao processo natural de parturição e a qualquer intervenção necessária durante
toda assistência, podendo perceber e advertir os lapsos que saíram da normalidade,
encaminhando aquelas que requer maior cuidado individualizado e personalizado, sendo guiado
pelas boas práticas (GOMES; OLIVEIRA; LUCENA, 2020).
Os métodos não farmacológicos (MNF) auxiliam diretamente no alívio da dor durante
o trabalho de parto, sendo eficazes e uma assistência prestada de forma personalizada para essa
cliente. Esses métodos são utilizados para o manejo mais preciso, visando facilitar todo
processo do parto. As técnicas de relaxamento, hidroterapia, massagem, eletroestimulação
transcutânea, uso da bola suíça, deambulação, musicoterapia, visando também a diminuição do
tempo durante o partejar, dentre os benefícios (KLEIN; GOUVEIA, 2022).

238
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Desse modo, a oferta assistencial visa minimizar dores, desconfortos, amenizando
anseios da parturiente, orientando quanto a respiração, proporcionando segurança,
proporcionando de certo modo encorajamento para amenizar e enfrentar o temeroso medo do
parto. Quando acolhida as boas práticas do início ao fim da gestação, trazem inúmeros
benefícios para o trinômio: mãe, recém-nascido e família (SANTANA et al., 2023).
A profissão de enfermagem vem se consolidando como referência no atendimento à
mulher, pois desenvolve técnicas baseadas em ferramentas científicas e humanísticas que
garantem à mulher atenção integral durante todo o ciclo gravídico. Assim, o enfermeiro deve
auxiliar no parto respeitando o processo fisiológico (SILVA et al., 2021). Ainda de acordo com
o autor supracitado, a assistência prestada neste momento deve ser delicada e ter maior
capacidade de paciência, proporcionando à parturiente os cuidados de que ela necessita e
estabelecendo uma relação de confiança com todos os profissionais da equipe, tornando assim
uma assistência humanizada e personalizada.
Dessa forma, considerando que a não adesão das boas práticas pode contribuir
diretamente para elevação de morbidades maternas e neonatais, vemos que a assistência de
enfermagem antes, durante e depois do partejar é indispensável. Para tanto, esse estudo possui
a seguinte pergunta norteadora: Como a literatura aborda os benefícios da assistência de
enfermagem frente ao parto humanizado?
O presente estudo irá contribuir para reconhecer os benefícios da humanização na
assistência de enfermagem durante a parturição. O objetivo do estudo é analisar na literatura
vigente estudos que abordam sobre os benefícios da assistência de enfermagem no parto
humanizado.

2. MATERIAIS E MÉTODOS
O presente estudo trata-se de uma revisão bibliográfica que tem como objetivo central,
sintetizar conforme a literatura científica estudos que abordem sobre a assistência de
enfermagem frente ao parto humanizado.
A seleção dos artigos foi realizada pela utilização dos bancos de dados: SciELO
(Scientific Electronic Library Online), Literatura Latino-america e do Caribe em Ciências em
Saúde (LILACS), Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e Base de Dados em Enfermagem
(BDENF). Tendo seu levantamento bibliográfico realizado entre os meses de janeiro a fevereiro
de 2023, por meio dos descritores: “Cuidados de Enfermagem", “Papel do Enfermeiro”,“Parto
Humanizado” associados ao operador booleano AND.

239
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Adotou-se como critérios de inclusão: artigos e capítulos de livro disponíveis para
acesso online, na íntegra, no idioma português e inglês publicados nos últimos cinco anos, cuja
temática abordada respondesse o objetivo desse estudo. De exclusão considerou-se pesquisas
escritas em outros idiomas, repetidas entre as bases de dados, cuja publicação fosse a mais de
cinco anos e a temática não discutisse o proposto por essa revisão.
A análise dos dados realizada por esse estudo foi a abordagem de BARDIN (2011), que
conta com um instrumento de análise de dados que tem organização em três pólos cronológicos:
(1) pré-análise, onde o pesquisador faz uma leitura “flutuante” de todo o material obtido; (2) a
exploração do material, em que o pesquisador irá realizar a codificação e a classificação do
material coletado; (3) apresentação dos resultados, a interferência e a interpretação, onde o
pesquisador busca fundamentar suas análises, visando dar sentido às interpretações. Diante
disso, a amostra final de artigos resultou em nove artigos para composição deste estudo
conforme especificado na figura 1.
Figura 1 – Fluxograma de seleção dos estudos adaptado da recomendação PRISMA (MOHER et al.,
2009).

Estudos identificados na
IDENTIFICAÇÃO

busca (n=165) Excluídos após leitura


de títulos e resumos
PUBMED (n=50) (n=87)
BVS (n=65)

Estudos Rastreados para


Indisponíveis (n=3)
ANÁLISE

análise (n=52)

Excluídos por não atender a


Estudos selecionados para
proposta do estudo (n=20)
leitura completa (n=49)
ELEGIBILIDADE

Revisões (n=15)

Artigos incluídos na revisão (n=09)

Fonte: Adaptado de (MOHER et al., 2009).

240
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Analisando a literatura é possível evidenciar a importância do enfermeiro em meio à
assistência no pré e pós parto. Humanizar a assistência em meio a este fenômeno implica manter
uma atenção adequada à mulher visando promover suporte e apoio a estas mulheres, assim
projetando direcionamento conduzido pelas boas práticas (ALVES et al., 2019).
O parto humanizado é um conceito cada vez mais defendido pelas gestantes e grande
parte dos profissionais da saúde, mediante a isso, a mãe deve planejar o que quer que aconteça
no momento da parturição. Para que haja essa consolidação, foi constituído o Plano de Parto
(PP) que é um documento formulado pela parturiente juntamente com seu parceiro e/ou família,
pelo qual ela descreve como e quer que seja prestada essa assistência durante seu trabalho de
parto, desse modo possibilitando usufruir dessa ferramenta tão eficaz que é o plano de parto
(BOFF et al., 2023).
O enfermeiro obstetra possui autonomia para realizar a sistematização da assistência de
enfermagem, ofertar atenção para as mulheres em meio a todo trabalho de parto, acolher e
apoiar esta parturiente é de suma importância, desse modo, é essencial que o enfermeiro ofereça
métodos inovadores que facilitem o processo de parto (ROMÃO et al, 2018).
As práticas ofertadas pela enfermagem a mulher em seu período de parto, possibilita um
poder de escolha, onde a gestante pode desfrutar dos serviços que lhe são ofertados durante
todo esse processo, diminuindo a quantidades das práticas não oportunas e garantindo assim
um estado emocional saudável para a parturiente, o neonato e os familiares. O uso de técnicas
de relaxamento, diferentes posturas, técnicas de respiração e práticas alternativas podem
aumentar o conforto físico, visando proporcionar um olhar personalizado e centralizado a essa
mulher (SILVA et al., 2021).
No entanto, a implementação do cuidado humanizado ainda é cingida por obstáculos,
que podem ser gerados pelo não conhecimento das mulheres, seus acompanhantes ou
familiares, á cerca dos direitos ofertados no parto, pela falta de conexão entre a gestante e o
profissional e também pela precariedade nas estruturas disponibilizadas (VILELA et al., 2019).
Vilela et al. (2019) destaca também que o cuidado no parto humanizado traz
características favoráveis que auxilia no conforto da paciente, como: a persistência da equipe
de enfermagem aos métodos não medicamentosos de alívio da dor, a companhia de uma doula
na sala de parto, proporcionar melhorias nas maternidades, promovendo um espaço receptível
e calmo, a presença do acompanhante no trabalho de parto, o envolvimento do acompanhante
masculino e a acolhida a parturiente, que é fundamental para estabelecer uma união entre
profissional e cliente.

241
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Segundo Boff et al. (2023), a eficácia dessa assistência resulta em ter um plano de parto
como medidas que são ofertadas onde a mulher tem o direito de escolher como irá ser conduzido
o trabalho de parto, e nascimento humanizados, o que nos faz refletir sobre a importância de
proporcionar a essa mulher maior autonomia onde a mesma seja informada de todos os
procedimentos que serão realizados.
Observa-se que o plano de parto é uma ferramenta que possui muita valia no momento
em que ocorre o acolhimento da gestante pela equipe de enfermagem, porém para que mais
profissionais utilizem o mesmo faz-se necessário que ocorra a explanação deste instrumento
que descreve os desejos da mulher no parto e pós parto, por meio dele a assistência de
enfermagem se torna facilitada, sendo assim proporcionando ao enfermeiro o conhecimento
sobre o que será necessário para amenizar todo o processo de sofrimento na puérpera (BOFF et
al., 2023).
Mediante a este cenário é necessário manter atenção adequada às mulheres em trabalho
de parto, assim elas poderão exercer a maternidade com confiança, bem-estar e também com
segurança. O enfermeiro deve sempre acolher está gestante respeitando sempre este momento
no qual para a mesma possui significados únicos, buscando adicionar ainda mais confiança e
segurança durante e após o seu parto (GOMES; OLIVEIRA; LUCENA, 2020).

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante dos achados, o enfermeiro tem função imprescindível para a realização de um
parto humanizado, pois proporciona manobras que auxiliam a mulher durante o parto, aliviando
a dor, promovendo um ambiente mais familiar para a gestante, garantindo também a
participação ativa das parturientes, diminuindo assim a ansiedade e aumentando a segurança
em si, contribuindo para que todas as dúvidas sejam sanadas, evitando traumas na vida da
gestante, que ocorre quando o parto é realizado de forma errônea.
É fundamental que a gestante esteja confortável com o profissional de enfermagem, e
que o profissional propicie a esta mulher um parto tranquilo e conforme suas vontades e desejos,
na medida do possível, assim declarado no seu plano de parto. O enfermeiro contribui em todos
os momentos importantes, desde o pré parto ao pós parto, no qual acontece o incentivo do
aleitamento materno, vacinação entre outras funções.
Partindo do pressuposto o enfermeiro deve se manter atualizado cientificamente para
que consiga prestar uma assistência de excelência e empático para realizar uma assistência
humanizada, ofertando um cuidar específico e holístico.

242
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Desse modo, tornou-se indiscutível que a enfermagem deve estar capacitada para que a
assistência nesse processo seja prestada com êxito. Desse modo, é necessário que haja mais
estudos na temática, a fim de aprofundar discussões que possam contribuir para a promoção da
saúde e na evolução da qualidade de vida do binômio mãe-RN.
Portanto, a assistência de enfermagem é fundamental para o alcance de resultados
satisfatórios em saúde, uma vez que as intervenções proporcionadas são primordiais para a boa
evolução do partejar destacado no estudo. Vale reforçar que o estudo contribuiu de forma
holística para a compreensão da magnitude dessa temática. Além disso, sugere-se a criação de
novos estudos para uma maior investigação desse tema.

REFERÊNCIAS

ALVES, T. C. M. et al. Contribuições da enfermagem obstétrica para as boas práticas no


trabalho de parto e parto vaginal. Revista Enfermagem em Foco, v.10, n.4, 2019.

BARDIN, L. Análise de Conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2011.

BOFF, N. K . et al. Experiência de profissionais e residentes atuantes no centro obstétrico


acerca da utilização do plano de parto. Revista Escola Anna Nery, v. 27, 2023.

GOMES, C. M; OLIVEIRA, M.P. S; LUCENA, G. P. O papel do enfermeiro na promoção do


parto humanizado. Revista Recien - Revista Científica de Enfermagem, S. l., v. 10, n. 29,
p. 180–188, 2020.

KLEIN, B. E.; GOUVEIA, H. G. Utilização de métodos não farmacológicos para alívio da


dor no trabalho de parto. Cogitare Enferm, v.27, 2022.

MOHER, D. et al. Itens de relatório preferidos para revisões sistemáticas e meta-análises: The
PRISMA Statement. PLoS Med, v.6, n.7, p. 1-6, 2009.

ROMÃO, R. S. et al. Qualidade da assistência obstétrica relacionada ao parto por via vaginal:
estudo transversal. Revista De Enfermagem Do Centro-Oeste Mineiro, v. 8, p. 2907, 2018.

SANTANA, D. P. et al. O papel do enfermeiro no parto humanizado: A visão das


parturientes. Nursing (São Paulo), v. 26, n. 296, p. 9312–9325, 2023.

SILVA, A. T. C. S. G. et al. O papel do enfermeiro na humanização do parto normal. Revista


Eletrônica Acervo Saúde, v. 13, n. 1, p.5202, 2021.

VILELA, A. T. et al. Percepção dos enfermeiros obstetras diante do parto humanizado. Rev
enferm UFPE. v. 13, p. 241480. 2019

243
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
CAPÍTULO 22
OS RISCOS MATERNOS E
PERINATAIS CAUSADOS PELA
HIPERTENSÃO E DIABETES
MELLITUS
MATERNAL AND PERINATAL RISKS CAUSED BY HYPERTENSION AND
DIABETES MELLITUS

10.56161/sci.ed.20230913C22

AUTOR PRINCIPAL: Marcela Vieira Mendes Leal


Acadêmica do V Bloco, do Curso de Enfermagem da Universidade Estadual Do Piauí
Campus - Prof. Barros Araújo
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0009-0009-0528-2258)
AUTOR: Adailton Leal de Souza
Acadêmico do V Bloco, do Curso de Enfermagem da Universidade Estadual Do Piauí
Campus - Prof. Barros Araújo
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0009-0003-5856-8459 )
AUTOR: Ana kessia Ribeiro dos Santos
Acadêmica do V Bloco, do Curso de Enfermagem da Universidade Estadual Do Piauí
Campus - Prof. Barros Araújo
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0009-0001-7460-0450)
AUTOR: Graziela de Sousa Araújo
Acadêmica do V Bloco, do Curso de Enfermagem da Universidade Estadual Do Piauí
Campus - Prof. Barros Araújo
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0009-0005-2064-7244)
AUTOR: Maria Vitória Silva De Albuquerque Carvalho
Acadêmica do V Bloco, do Curso de Enfermagem da Universidade Estadual Do Piauí
Campus - Prof. Barros Araújo
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0009-0003-4008-7702)
AUTOR: Rita de Cássia Vieira Borges
Acadêmica do V Bloco, do Curso de Enfermagem da Universidade Estadual Do Piauí
Campus - Prof. Barros Araújo
Orcid ID do autor ( https://orcid.org/0009-0001-1421-9877 )
AUTOR: Vauênia Maria de Sousa Silva
Acadêmica do V Bloco, do Curso de Enfermagem da Universidade Estadual Do Piauí
Campus - Prof. Barros Araújo
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0009-0007-0091-1583 )
ORIENTADORA: Letícia Da Silva Cabral
Enfermeira. Doutora em Enfermagem e Saúde pela Universidade Federal da Bahia
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0000-0003-3081-2360)

244
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
RESUMO

INTRODUÇÃO: A hipertensão e a diabetes mellitus tornaram-se um grande problema de


saúde pública, principalmente na atenção ao pré-natal, por serem as doenças que mais
ocasionaram complicações maternas e perinatais nos dias atuais, trazendo consequências para
o binômio mãe-feto e predispondo ao desenvolvimento de doenças crônicas. OBJETIVO:
Apresentar os riscos e complicações decorrentes de HAS e DM na gravidez.
METODOLOGIA: Trata-se de uma revisão integrativa da literatura realizada na BVS em
Junho de 2023, composta por artigos publicados entre os anos de 2004 a 2022. RESULTADOS
E DISCUSSÃO: Expõe as principais implicações dessas patologias a curto e a longo prazo na
saúde da gestante e do bebê e suas incidências, estudos revelaram a relação dessas doenças
com casos de lesões hepáticas, alterações oculares, abortos, parto prematuro, cardiopatias
cogênitas, síndrome do desconforto respiratório, óbito fetal, hipocalcemia, hiperbilirrubinemia,
macrossomia, diabetes mellitus, eclâmpsia, insuficiência renal, descolamento prematuro de
membrana, retardo de crescimento intrauterino, hipóxia fetal, menores índices de Apgar, e
baixo peso ao nascer. CONCLUSÕES: Depreende- se, portanto, que a Hipertensão Arterial e
Diabetes Mellitus representam fatores de risco para a saúde no período gestacional, aumentando
os riscos de morbimortalidade maternos e perinatais. Entretanto, são doenças preveníveis e
tratáveis, o que pode auxiliar na prevenção das implicações causadas por essas.
PALAVRAS-CHAVE: Hipertensão arterial; Diabetes mellitus; Complicações na gravidez.

ABSTRACT
INTRODUCTION: Hypertension and diabetes mellitus have become a major public health
problem, especially in prenatal care, because they are the diseases that cause the most maternal
and perinatal complications nowadays, bringing consequences to the mother-fetus binomial and
predisposing to the development of chronic diseases. OBJECTIVE: To present the risks and
complications resulting from SAH and DM in pregnancy. METHODOLOGY: This is a
literature review carried out in the BVS in June 2023, composed of articles published between
the years 2004 to 2022. RESULTS AND DISCUSSION: It exposes the main implications of
these pathologies in the short and long term on the health of the pregnant woman and the baby
and their incidences, the studies revealed the relationship of these diseases with cases of liver
damage, ocular alterations, miscarriages, premature birth, cogenital heart disease, respiratory
distress syndrome, fetal death, hypocalcemia, hyperbilirubinemia, macrosomia, diabetes
mellitus, eclampsia, renal failure, premature membrane detachment, intrauterine growth
retardation, fetal hypoxia, lower Apgar scores, and low birth weight. CONCLUSIONS: It is
inferred, therefore, that hypertension and diabetes mellitus represent risk factors for health
during pregnancy, increasing the risk of maternal and perinatal morbidity and mortality.
However, they are preventable and treatable diseases, which can help in the prevention of the
implications caused by them.
KEYWORDS: Arterial hypertension; Diabetes mellitus; Pregnancy complications.

1. INTRODUÇÃO

A hipertensão arterial e o diabetes mellitus são doenças crônicas não transmissíveis, mas
que representam em nosso país um grande problema de saúde pública por conta dos inúmeros
riscos que trazem a toda população e principalmente as mulheres em todo o seu período

245
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
gestacional, como também, pode oferecer riscos ao desenvolvimento intrauterino do feto, além
de complicações ao neonato (RODRIGUES, 2019, p.2).
RODRIGUES (2019, p.2) apresenta que “[...] o Diabetes Mellitus (DM) é um distúrbio
metabólico de condição múltipla, determinada por hiperglicemia crônica decorrente da
deficiência na produção, secreção ou ação-resistência da insulina no organismo.”
O diabetes gestacional é uma das intercorrências mais frequentes da gestação e, se não
diagnosticada e tratada adequadamente, traz aumento considerável dos riscos perinatais e
também, consequências sérias para a gestante (PARODI, 2016).
As principais complicações perinatais do DM são macrossomia, risco aumentado para
tocotraumatismo, atraso no amadurecimento pulmonar (e consequente síndrome do desconforto
respiratório) e distúrbios metabólicos ao nascimento (hipoglicemia, hipocalcemia,
hipomagnesemia). Para a gestante, o mau controle metabólico está implicado em maiores
índices de abortos espontâneos, infecções, hipertensão arterial, Doença Hipertensiva Específica
da Gravidez (DHEG), partos pré-termo e cesáreas e, após a gestação, esta mulher terá risco
aumentado para desenvolver o diabete tipo 2 (FARRIS, 2012).
Bezerra et al (2005, p.2) acrescenta que
[...] o termo “hipertensão na gravidez” é usualmente utilizado para
descrever desde pacientes com discreta elevação dos níveis pressóricos, até
hipertensão grave com disfunção de vários órgãos. As manifestações clínicas,
embora possam ser similares, podem ser decorrentes de causas diferentes. Na
gravidez, as formas mais comuns de hipertensão são a pré-eclâmpsia, a hipertensão
arterial crônica e a hipertensão crônica com pré-eclâmpsia superposta.

Em face de tal problema, entende-se que “[...] a hipertensão arterial é a patologia mais
frequente entre as complicações do ciclo gestacional. Os autores ainda destacam que alguns
fatores auxiliam no desenvolvimento durante a gravidez, como diabetes, gestação gemelar,
obesidade, faixa etária acima de 30 anos e primíparas (RODRIGUES apud SOUZA; LOPES;
BORGES, p. 2).
Diante do pressuposto, torna-se claro que o Diabetes e a Hipertensão são fatores de
predisposição para o desenvolvimento de diversas complicações. Nessa perspectiva, a presente
revisão integrativa tem como objetivo descrever as implicações gestacionais e perinatais da
Hipertensão Arterial e Diabetes Mellitus.

246
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
2. METODOLOGIA

Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, considerada um método de estudo que


possibilita a síntese do conhecimento de um determinado assunto, além de apontar lacunas, que
precisam ser preenchidas com a realização de novos estudos.
Para orientar a pesquisa, elaborou-se a seguinte pergunta: Quais são as implicações
maternas e perinatais da hipertensão arterial e diabetes mellitus?
Trata-se de uma revisão de literatura acerca dos riscos gestacionais e perinatais
ocasionados pela hipertensão arterial e diabetes mellitus. Os artigos científicos foram
analisados no banco de dados eletrônico da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), em seus
periódicos indexados: LILACS, SCIELO e MEDLINE.
Foram utilizados, para a busca dos artigos os seguintes descritores na língua portuguesa:
“hipertensão arterial” or “diabetes mellitus” and “complicações na gravidez”.
Os critérios de inclusão definidos para a seleção dos artigos foram: artigos publicados
em português, inglês e espanhol; com período de publicação de 2004 a 2022, artigos na íntegra
que retratassem a temática referente à revisão integrativa, com isso, foram identificados 253
artigos. Posteriormente, realizou-se uma análise mais precisa, através de uma leitura minuciosa
e seletiva das partes essenciais do artigo. Após todo esse processo, foram eliminados 230
artigos, devido a repetição, ou por não responderem ao objetivo da revisão.
Com isso, foram selecionados na base de dados LILACS, 23 artigos científicos que
trazem informações referentes às implicações maternas e perinatais da hipertensão arterial e
diabetes mellitus.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A Hipertensão Arterial e Diabetes Mellitus são doenças comuns na atualidade que


acarretam complicações sérias na gravidez e são consideradas causas frequentes de
morbimortalidade materna e perinatal, podendo causar problemas na genitora, no feto e até
mesmo após o nascimento a longo prazo. A gravidez se torna uma fase delicada devido às
alterações orgânicas que ocorrem e pode ser considerada de risco dependendo dos fatores que
a antecedem ou se desenvolvem durante a mesma. Essas patologias são de importância para a
saúde devido a sua incidência e prevalência e as consequências que as mesmas trazem para a
mãe e o recém-nascido.

247
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
No quadro 1 destaca as principais complicações causadas pela Hipertensão Arterial e
Diabetes Mellitus que afetam o binômio mãe-feto presentes nos artigos selecionados, estando
essas associadas às mortes materno-fetal. O quadro discorre de quais complicações são
causadas pela HAS e quais são causadas pela DM, podendo também ser causa da associação
de ambas, juntamente apresenta qual indivíduo é afetado por cada uma dessas complicações.

Complicações Indivíduo afetado Patologia Estudo


Cardiopatias congênitas Feto HAS e DM 15,16,17,19,20

Síndrome do desconforto Feto HAS e DM 15,20


respiratório
Lesões hepáticas Mãe/feto HAS e DM 1,19

Alterações oculares Mãe DM 16,19


Aborto Mãe/Feto HAS e DM 22
Parto prematuro Mãe/ Feto HAS e DM 19
Diabetes tipo II Mãe DM 15,19
Óbito fetal Feto HAS e DM 15,19

Hipocalcemia Feto DM 15,20


Hiperbilirrubinemia Feto DM 15,20

Macrossomia Feto DM 2,15,19,20


Eclampsia Mãe HAS 19,20
Insuficiência renal Mãe HAS 19,20
Descolamento da Mãe/ feto HAS 19
placenta
Retardo de crescimento Feto HAS 19
fetal
Hipóxia fetal Feto HAS 19
Menor apgar Feto HAS 19
Baixo peso ao nascer Feto HAS 19,20

Quadro 1. Complicações maternas e perinatais causadas pelo diabetes mellitus e hipertensão


ELABORAÇÃO PRÓPRIA, 2023.

O quadro 2 apresenta a distribuição dos artigos científicos segundo autoria - ano, revista
na qual foi publicado, o título do artigo e os principais achados, sendo esses as complicações
citadas em cada trabalho.

Quadro 2. Distribuição dos artigos de acordo com o título, autoria - ano, revista/periódico e achados.

248
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Título Autor - Ano Revista/Periódico Achados

Rotura hepática asociada ARGILAGOS Revista Medisan Lesões Hepáticas


a hipertensión arterial CASASAYAS, Grisell;
crónica ARAÑÓ PIEDRA,
y preeclampsia Jorge Félix; NÁPOLES
sobreañadida MÉNDEZ, Danilo 2018

Macrossomia fetal- AYACH, Wilson et al. Revista Femina Macrossomia fetal


hiperglicemia materna e 2004
complicações perinatais.
Mortalidade materna por BEZERRA, Elmiro Revista Brasileira de Mortalidade materna
hipertensão: índice e Hélio Martins et al. Ginecologia e
análise de suas 2005 Obstetrícia
características em uma
maternidade-escola.
Prematuridade ao nascer, DA CRUZ, Simone Revista Brasileira de Prematuridade
hipertensão materna e Seixas et al. 2005 Pesquisa em Saúde
outros fatores
associados: um estudo de
caso-controle na região
do Vale do São
Francisco.
Hipertensão e Diabetes DE FARIA, José Pedro Tese de Doutorado. Complicações materno-
Gestacional e a Relação Pereira; FERREIRA, Universidade da Beira fetal
Entre Elas Andrade. 2019 Interior (Portugal).

O diabete melito na DENISE MARTINS DE Acta med.(Porto Alegre) Complicações materno-


gestação. CARVALHO, Denise fetal
Martins de et al. 2005

Diagnóstico e FARRIS, Cássia. 2012 Arq Catarin. Med Complicações materno-


rastreamento do diabete fetal
melito gestacional.

Rastreamento e FEDERAÇÃO Revista Femina Complicações materno-


diagnóstico de diabetes BRASILEIRA DAS fetal
mellitus gestacional no ASSOCIAÇÕES DE
Brasil. GINECOLOGIA E
OBSTETRÍCIA et al.
2016
Prevalência da doença GONÇALVES, Revista Brasileira de Complicações por
hipertensiva específica Roselane; Enfermagem DHEG
da gestação em hospital FERNANDES, Rosa
público de São Paulo. Aurea Quintella;
SOBRAL, Danielle
Henriques. 2005
PREECLAMPSIA CON GONZÁLEZ, Juan Revista de la Federación Complicações materno-
SIGNOS DE Antonio Suárez et al. Centroamericana de fetal
AGRAVAMIENTO Y 2018 Obstetricia y
SU RELACIÓN CON Ginecología
LOS RESULTADOS
MATERNOS Y
PERINATALES.

249
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Estudo da prevalência de JESUINO, Fernanda Einstein (Säo Paulo) Complicações materno-
hipertensão arterial em Azevedo; fetal
mães com recém- CASQUEIRO, Janine
nascidos de baixo peso. Borges; MOREIRA,
Licia Maria Oliveira
Moreira. 2006
Fatores de risco para KERCHE, Luciane Revista Brasileira de Hiperglicemia e
macrossomia fetal em Teresa Rodrigues Lima Ginecologia e macrossomia fetal
gestações complicadas et al. 2005 Obstetrícia
por diabete ou por
hiperglicemia diária.
Síndrome HELLP com MARÇAL, Hevelliny et Rev. méd. Minas Gerais Lesões hepáticas e
necrose hepática al. 2010 Síndrome de HELLP
maciça–relato de caso.

Fatores de risco e NETO, João Cruz et al. Revista de Enfermagem Complicações materno-
elementos primitivos no 2022 da UFSM fetal
desenvolvimento de
síndromes hipertensivas
no pré-natal: revisão
integrativa
Diabetes y PARODI, Karla; JOSE, Revista de Medicina Cardiopatia congênita;
embarazo. Sophie. 2016 S. do desconforto
respiratório; DM 2;
Óbito fetal;
Hipocalcemia;
Hiperbilirrubinemia;
Macrossomia;

Rastreamento de REIS, Zilma Silveira Revista Brasileira de Cardiopatias congênitas


cardiopatias congênitas Nogueira et al. 2010 Ginecologia e
associadas ao diabetes Obstetrícia
mellitus por meio da
concentração plasmática
materna de frutosamina.
Repercussões do RIOS, Washington Luiz Revista Femina Complicações
diabetes mellitus no feto: Ferreira et al. 2019 obstétricas e
alterações obstétricas e Malformação fetal
malformações
estruturais.
Embarazo, nefropatía e ROBERT S, Jorge Revista Médica Clínica Lesão renal
hipertensión arterial. Andrés; FIERRO C, Las Condes
Alberto. 2005
Implicações da RODRIGUES, DêCiência em Foco Cardiopatia
hipertensão arterial e Alessandro Lima. 2019 congênitas;Lesões
diabetes mellitus na hepáticas; Alterações
gestação oculares; Prematuridade;
DM 2; Óbito fetal;
Macrossomia;
Eclâmpsia; Lesão renal;
Descolamento de
placenta; Hipóxia fetal
Retardo no crescimento
fetal; Menor apgar;
Baixo peso
Patologías maternas, su RYBERTT, W. et al. Revista Médica Clínica Cardiopatia congênitas;
efecto sobre el feto y el 2008 Las Condes S. do desconforto
recién nacido. respiratório;
Hipocalcemia;

250
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Hiperbilirrubinemia;
Macrossomia, Pré-
eclâmpsia; Insuficiência
renal; Baixo peso

Síndrome HELLP: o SANTOS, Luciana J. bras. med Complicações materno-


papel da atenção Zenobio Quadra Vieira fetal
primária no diagnóstico dos et al. 2005
precoce.
Estresse oxidativo SINZATO, Yuri Karen Revista Femina Descolamento de
placentário na pré- et al. 2005 placenta
eclâmpsia e no diabete
Hipertensão arterial TEDESCO, Ricardo Revista de Ciências Complicações materno-
crônica na gestação: Porto et al. 2004 Médicas, fetal
consenso e controvérsias

ELABORAÇÃO PRÓPRIA, 2023.

Diabetes na gravidez

O Diabetes Mellitus está ligado a um maior aumento de risco de malformação congênita,


como também a complicações obstétricas. A mulher pode apresentar o diagnóstico de diabetes
antes da gestação ou pode desenvolvê-la durante esse período, conhecido como Diabetes
Gestacional, que surge em indução da resistência à insulina em razão do aumento de hormônios
da gravidez e que pode desaparecer após o parto, permanecer por um determinado tempo ou
por toda vida. Devido ser uma doença silenciosa de início, é importante que haja uma
investigação pré-gestacional como também uma avaliação durante toda a gestação, a fim de
controlar o nível glicêmico e evitar maiores problemas materno-fetais (FEDERAÇÃO
BRASILEIRA DAS ASSOCIAÇÕES DE GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA et al, 2016).
Entre as complicações causadas pelo Diabetes tipo 1 e 2 na genitora estão presentes:
Lesões hepáticas; formação de coágulos vasculares; alterações oculares e infecções urinárias
recorrentes (RODRIGUES, 2019). A mulher que possui diabetes na gravidez também está
suscetível a desenvolver quadro de pré-eclâmpsia, abortamento, parto prematuro e aumento do
risco de Diabetes tipo II.
No feto, o diabetes está associado a elevação de risco de malformação congênita, esta,
tendo relação com os níveis de hemoglobina glicosilada, tendo em vista que, mães que possui
Hb de 9,1 a 11,1 gr % o risco fetal dessa condição é de 23%, aumentando em associação com
o aumento da Hb. Compreende-se que, em fetos na qual a mãe possui um descontrole
glicêmico, as chances de apresentar malformações congênitas é até 8 vezes maior que em mães
que o apresentam controlado (RYBERTT, 2008). Além desta citada, o diabetes na gestação
pode ocasionar óbito fetal, natimortalidade, cardiopatia, síndrome do desconforto respiratório,

251
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
pois a resistência à insulina contribui para deficiência na maturidade pulmonar, causando
malformação desse órgão. No recém-nascido, pode causar diversos problemas, entre eles a
hipocalcemia, que é a diminuição de cálcio em razão do aumento do cortisol;
hiperbilirrubinemia, e macrossomia fetal, que ocorre devido o descontrole do nível glicêmico
da mãe, que passa grande quantidade de glicose para o feto durante a gestação, resultando nessa
condição.
Dessa forma, entende-se que a hiperglicemia está relacionada com o aumento de
morbimortalidade materna e perinatal, causando implicações diversas e conduzindo a
problemas atuais e futuros na gestante e no bebê.

Hipertensão na gravidez

A Hipertensão Arterial é de grande incidência nos dias atuais e responsável pelas


complicações médicas graves mais recorrentes na gravidez. Podendo estar presente desde o
período pré-gestacional, com seu desenvolvimento relacionado à hereditariedade, estilo de vida
entre outros fatores, causa problemas à mãe e ao feto, e pode também surgir durante a gravidez,
geralmente a partir da 20ª semana de gestação. Algumas condições contribuem para o
desenvolvimento da mesma nesse período, como: gestação gemelar, primigesta, idade acima de
30 anos, diabetes e obesidade. As síndromes hipertensivas são vistas como transtorno para a
saúde pública devido sua contribuição para o aumento da morbimortalidade materna e perinatal
e pode apresentar diferente classificação dependendo de suas características, como: Hipertensão
arterial crônica, Pré-eclâmpsia, Eclâmpsia, Hipertensão gestacional e Pré-eclâmpsia sobreposta
à Hipertensão.
A mulher com Hipertensão arterial crônica já apresenta essa patologia antes da gestação,
ou pode desenvolvê-la após a mesma. Neste caso, é importante avaliação antecedente a
concepção, a fim de analisar os riscos que a mesma pode acarretar na mãe e no feto, como
também estabelecer estratégias para controle e assistência durante o período gestacional.
A Pré-eclâmpsia, também chamada de Doença Hipertensiva Específica da Gravidez
(DHEG), é uma complicação que ocorre no período gestacional devido aos altos níveis de
pressão arterial. Ela é caracterizada pela junção de três condições: a hipertensão arterial,
presença de proteinúria e edema. Ocorre geralmente a partir da 20ª semana de gestação e regride
após o parto. Pode causar a síndrome de Hellp, que é caracterizada pela destruição prematura
das hemácias (hemólise), diminuição no número de plaquetas (trombocitopenia) e aumento da
transaminase, e que possui incidência de 20% em pacientes com essa condição. A Eclâmpsia

252
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
se difere da Pré-eclâmpsia no que diz respeito a presença de convulsões e/ou coma sem
existência de doenças neurológicas. Essa condição ocorre, geralmente, em 44% dos casos no
pré-natal, 33% durante o parto e 23% no período pós-parto (ROBERT; FIERRO, 2005).
A Hipertensão Gestacional é um condição na qual a mulher desenvolve esse aumento
da pressão induzida pela gravidez, porém, sem presença de proteinúria ou edema característico
de alguma patologia. A HG surge após a 20ª semana e desaparece logo após o parto ou nos dias
iniciais do puerpério. Podendo tornar-se comum nas próximas gestações, com surgimento mais
prematuro, acaba sendo um risco para desenvolvimento de HAS crônica.
Gestantes que já possuíam HAS crônica antes da gestação estão suscetíveis a
desenvolver um quadro de Pré-eclâmpsia sobreposta à hipertensão, na qual há o aumento da
pressão arterial, presença de proteinúria e anormalidades na função hepática, surgindo em idade
gestacional igual ou superior a 20 semanas. Essa condição se torna grave pois acarreta um
aumento nas lesões de alguns órgãos e alterações na mulher que já possuía tais problemas
devido a presença da HAS crônica.
Sendo esta uma das complicações mais frequentes em grávidas, é classificada como a
principal causa de morbimortalidade materno e perinatal, pois pode ocasionar problemas na
gestante como Pré-eclampsia, Eclampsia e Síndrome de Hellp como citados acima; risco de
trabalho de parto prematuro em razão da hipoperfusão e isquemia placentária devido a produção
desenfreada de citocinas e metaloproteinases, dessa forma, levando a um quadro de
prematuridade; insuficiência renal, pois tal patologia torna os vasos sanguíneos dos rins mais
espessos e rígidos e com isso reduz a irrigação sanguínea desse órgão; descolamento de
placenta, tendo em vista que a HAS pode causar a ruptura das artérias uterinas, causando essa
complicação e alterações retinianas, estando essa associada principalmente a DHEG.
A HAS pode ser prejudicial também ao feto, causando alterações na sua formação e
consequentemente provocando anomalias, isso acontece devido a diminuição do fluxo
sanguíneo da mãe para o feto, ocasionando complicações como: retardo do crescimento fetal;
óbito fetal; hipóxia fetal, quando há uma diminuição ou ausência de oxigênio para o feto; menor
apgar e baixo peso ao nascer. Todas essas condições possuem grande chance de causar uma
mortalidade perinatal e por esse motivo a HAS e DM devem ser diagnosticados e tratados
durante todo o período gestacional, a fim de evitar danos maternos e perinatais.

253
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A hipertensão arterial e o diabetes mellitus são doenças crônicas que possuem alta
prevalência e incidência no Brasil, elas podem ocasionar diversas complicações no indivíduo
afetado, e durante a gravidez possuem transtornos bem específicos que podem acometer a mãe
ou o bebê, sejam imediatas ou a longo prazo. Estudos mostraram os riscos ,quantitativamente e
qualitativamente, que a gestante e o feto estão sujeitos; mulheres com DMPG OU DMG
tiveram mais casos de lesões hepáticas, alterações oculares, abortos, parto prematuro, e para as
que possuem somente DMG traziam maiores chances de desenvolver diabetes mellitus
posteriormente, já para o feto as implicações foram: cardiopatias cogênitas, síndrome do
desconforto respiratório, lesões hepáticas, aborto e parto prematuro, óbito fetal, hipocalcemia,
hiperbilirrubinemia, e macrossomia, alguns desses fatores citados foram relacionados com a
hipertensão arterial, seja presente como causa única ou associadaa DM. Além disso, a
hipertensão como fator isolado está aliada a complicações como: eclâmpsia, insuficiência renal,
descolamento prematuro de membrana, retardo de crescimento intrauterino, hipóxia fetal,
menores índices de Apgar, e baixo peso ao nascer. Contudo, esse estudo também pôde concluir
que a hipertensão arterial e o diabetes mellitus são preveníveis, bem como os seus resultados
negativos na gestação, através do controle do nível pressórico e da hiperglicemia associado a
um pré- natal de boa qualidade e assistência.

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256
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
CAPÍTULO 23
PANORAMA FEMININO DA
NEOPLASIA MALIGNA DA
GLÂNDULA TIREOIDE NO BRASIL
SUBDESENVOLVIDO

FEMALE PANORAMA OF MALIGNANT NEOPLASIA OF THE THYROID GLAND


IN UNDERDEVELOPED BRAZIL

10.56161/sci.ed.20230913C23

Renara Natália Cerqueira Silva


Estudante do Centro Acadêmico UniFacid Wyden
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0000-0001-9119-7045)

Cecília Soares Torres


Estudante do Centro Acadêmico UniFacid Wyden
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0009-0009-4547-4166)

Heyd Maria Marinho e Silva


Estudante do Centro Acadêmico UniFacid Wyden
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0009-0003-5639-0183)

Júlia Pessoa Portela de Sá


Estudante do Centro Acadêmico UniFacid Wyden
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0000-0002-7068-7181)

Marcela Andrade Rodrigues da Costa


Estudante do Centro Acadêmico UniFacid Wyden
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0009-0003-7594-8912)

João Gabriel Macêdo de Amorim


Estudante do Centro Acadêmico UniFacid Wyden
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0009-0004-1728-8087)

Laís Marques Sampaio

257
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Estudante do Centro Acadêmico UniFacid Wyden
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0009-0007-5707-9716)

Letícia Ferreira Lessa


Estudante do Centro Acadêmico UniFacid Wyden
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0009-0007-5322-1295)

Maria Amanaci Cavalcante Soares


Estudante do Centro Acadêmico UniFacid Wyden
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0000-0002-2468-1213)

Eliamara Barroso Sabino


Doutora docente do Centro Acadêmico UniFacid Wyden
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0000-0002-1322-6135)

RESUMO
Objetivo: O câncer da glândula tireoide corresponde ao tumor maligno mais comum do sistema
endócrino, que acomete predominantemente o sexo feminino. Embora o câncer de tireoide
tenha aumentado sua incidência com o tempo, principalmente a partir da década de 1990, os
dados sobre o painel oncológico dessa neoplasia tireoidiana apresentam resultados divergentes
quanto a sua distribuição no Brasil. Em face do aumento do número de casos de câncer de
tireoide e da escassa fonte de dados mais recentes sobre a estruturação desse fenômeno na
região nordeste, esse estudo visa descrever o panorama feminino da neoplasia maligna da
glândula tireoide no Brasil subdesenvolvido. Métodos: estudo ecológico, considerando o sexo
feminino, faixa etária, modalidade terapêutica, estadiamento e tempo de tratamento, no período
de 2013 a 2023, no nordeste brasileiro, com base nas informações provenientes dos sistemas de
informação em saúde do DATASUS e SIM (Sistema de Informação sobre Mortalidade).
Resultados: No período investigado, foram observados um total de 367 casos notificados na
região nordeste, com destaque para os estados do Ceará, com 28% (102) e Pernambuco com
19% (70). A faixa etária mais acometida foi entre 60 e 64 anos, com total de 61 casos. Houve
predomínio da radioterapia como modalidade terapêutica em 73% dos casos (268). O
estadiamento de maior evidência foi o T4, com total de 247 casos. A estimativa de tempo para
início do tratamento foi de mais de 60 dias para 238 casos. Conclusão: O presente trabalho
evidenciou o carcinoma anaplásico, o que apresenta pior prognóstico, como o tipo mais comum
na região nordeste. Com isso, o estudo sugere a ampliação dos investimentos na saúde como
fator relevante para o diagnóstico precoce e para o tratamento.

PALAVRAS-CHAVE: Neoplasia da Glândula Tireoide; Carcinoma Anaplásico da Tireoide;


Incidência.

ABSTRACT
Objective: Thyroid gland cancer is the most common malignant tumor of the endocrine system,
predominantly affecting females. Although thyroid cancer has increased in incidence over time,
particularly since the 1990s, data on the oncological profile of this thyroid neoplasia show
divergent results regarding its distribution in Brazil. Given the increasing numbers of thyroid
cancer cases and the scarcity of recent data on the prevalence of this disease in the Northeast

258
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
region, this study aims to describe the female statistics of malignant thyroid gland neoplasia in
northeastern Brazil. Methods: An ecological study was conducted, considering female gender,
age range, therapeutic modality, staging, and treatment duration, from 2013 to 2023, in the
Brazilian Northeast, bases on data collected from the health information systems DATASUS
and SIM (Mortality Information System). Results: In the investigated period, a total of 367
cases were reported in the Northeast region, with the states of Ceará and Pernambuco standing
out at 28% (102) and 19% (70) respectively. The most affected age group was between 60 and
64 years, with a total of 61 cases. Radiotherapy predominated as the therapeutic modality in
73% of cases (268). The most common staging was T4, with a total of 247 cases. The estimated
time for treatment initiation was over 60 days for 238 cases. Conclusion: This study highlighted
anaplastic carcinoma as the most common type in the Northeast region, which has a worse
prognosis. Therefore, the study suggests the expansion of investments in healthcare as a
relevant factor for early diagnosis and treatment.

KEYWORDS: Thyroid Gland Neoplasms; Anaplastic Thyroid Carcinoma; Incidence.

1. INTRODUÇÃO
A tireoide é uma glândula que produz os hormônios tireoidianos (T3 e T4), que são
responsáveis pelo controle de diversas partes do metabolismo dos órgãos do corpo humano.
Sua atividade (produção e liberação dos hormônios) é controlada pela hipófise, através do
Hormônio Estimulante da Tireoide (TSH) (RODRIGUES; FERREIRA, 2010).

O câncer da glândula tireoide é a neoplasia maligna mais comum do sistema endócrino


(INCA, 2002). À anamnese, deve-se dar atenção para o desenvolvimento biológico, irradiação
prévia e história familiar de câncer da tireoide.

Sua incidência tem aumentado a partir da década de 1990, sem repercussões


consideráveis na mortalidade e na sobrevida das populações estudadas em todo o mundo. A
diferença entre as magnitudes de incidência e a mortalidade pode estar associada à ocorrência
de um diagnóstico mais oportuno e do prognóstico favorável dos tipos histológicos mais
comumente detectados, os carcinomas diferenciados (A. C. CAMARGO CANCER CENTER,
2018).

Os carcinomas papilífero e folicular são os mais comuns correspondendo a 94% dos


carcinomas de tireoide. São denominados diferenciados por manterem semelhança estrutural e
funcional com o tecido tireoidiano normal, tendo sua origem nas células foliculares da tireoide.
Dentre os carcinomas diferenciados, o papilífero é o mais comum representando 80% dos casos
diagnosticados (A. C. CAMARGO CANCER CENTER, 2018).

259
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
O câncer de tireoide tem aumentado sua incidência com o tempo. Em parte, este
fenômeno é explicado pelo aumento do diagnóstico precoce através de exames de tireoide, por
outros motivos (SBCCP, 2017). A cirurgia do câncer de tireoide é parte importante de uma
abordagem de tratamento multidisciplinar. A operação deve estar embasada em recomendações
da literatura e deve ser traçado um plano de acompanhamento do paciente pela equipe
multidisciplinar que acompanha o caso.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

A metodologia aplicada neste trabalho foi de um estudo ecológico sobre o panorama


feminino da Neoplasia Maligna da Glândula Tireoide no Brasil Subdesenvolvido, no período
entre os anos de 2013 a 2023, dentro do espaço geográfico do nordeste brasileiro. Por se tratar
de dados secundários de domínio público, não foi necessária a submissão do presente trabalho
ao CEP (Comitê de Ética em Pesquisa).

Esse trabalho teve como base as informações concedidas pelos sistemas de informação
em saúde do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS).

O DATASUS, foi criado em 1991, e suas competências incluem: fomentar,


regulamentar e avaliar as ações de informatização do SUS, direcionadas para a manutenção e
desenvolvimento do sistema de informações em saúde e dos sistemas internos de gestão do
Ministério da Saúde; manter o acervo das bases de dados necessárias ao sistema de informações
em saúde e aos sistemas internos de gestão institucional; definir programas de cooperação
técnica com entidades de pesquisa e ensino para prospecção e transferência de tecnologia e
metodologias de informação e informática em saúde (Brasil, 2001).

O Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) agrega dados sobre os óbitos,


incluindo informações acerca das causas e condições do óbito, características
socio-demográficas, entre outras (Brasil, 2001).

No que diz respeito aos dados utilizados para o presente trabalho, foram tabuladas as
informações sobre todos os óbitos cuja causa básica foi o câncer de tireoide – CID-10 C73, que
se refere à neoplasia maligna da glândula tireoide.

Na análise dos dados levaram-se em consideração dois importantes aspectos: o


desenho de séries temporais e o quantitativo de óbitos desse tipo específico de câncer,

260
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
considerando o sexo feminino, diferentes faixas etárias, modalidade terapêutica, estadiamento
e tempo de tratamento, abrangendo os anos de 2013 a 2023, no nordeste brasileiro.

O cálculo dos coeficientes de mortalidade levou em consideração a população


residente, utilizando como referência a ocorrência dos eventos a cada 100 mil habitantes. Os
dados foram extraídos do DATASUS e, posteriormente, transformados em planilhas no Excel,
no qual foram elaborados as tabelas e gráficos.

3. RESULTADOS

De acordo com o painel oncológico relacionado a neoplasia maligna da tireóide, no


sexo feminino, no período de 2013 a 2023 foram notificados 367 casos na região do nordeste.
Destas notificações, as cidades do Ceará e Pernambuco foram as que apresentaram maior
destaque com valores absolutos de 102 (28%) e 70 (19%), respectivamente, enquanto, Sergipe
teve apenas 8 (2%) dos casos notificados.

Gráfico 01. Casos por diagnóstico detalhado segundo UF da residência.

Fontes: Sistema de Informação Ambulatorial (SIA), através do Boletim de Produção Ambulatorial Individualizado
(BPA-I) e da Autorização de Procedimento de Alta Complexidade; Sistema de Informação Hospitalar (SIH); Sistema de
Informações de Câncer (SISCAN).

As faixas etárias mais acometidas foram entre 60 e 64 anos com 61 casos e aqueles que
possuíram pouco acometimento enquadravam-se entre 20 e 24 anos com apenas 1 notificação.

Gráfico 02. Casos por diagnóstico detalhado segundo faixa etária.

261
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Fontes: Sistema de Informação Ambulatorial (SIA), através do Boletim de Produção Ambulatorial Individualizado
(BPA-I) e da Autorização de Procedimento de Alta Complexidade; Sistema de Informação Hospitalar (SIH); Sistema de
Informações de Câncer (SISCAN).

As modalidades terapêuticas quimioterapia e/ou radioterapia foram aplicadas para os


367 casos notificados, sendo a quimioterapia representada com 99 casos (27%), enquanto a
radioterapia com 268 (73%).

Gráfico 03. Casos por diagnóstico detalhado segundo modalidade terapêutica.

Fontes: Sistema de Informação Ambulatorial (SIA), através do Boletim de Produção Ambulatorial Individualizado
(BPA-I) e da Autorização de Procedimento de Alta Complexidade; Sistema de Informação Hospitalar (SIH); Sistema de
Informações de Câncer (SISCAN).

Com relação ao estadiamento, aquele de maior destaque foi o T4 perfazendo um total


de 247 casos dos 367 analisados.

262
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Gráfico 04. Casos por diagnóstico detalhado segundo estadiamento.

Fontes: Sistema de Informação Ambulatorial (SIA), através do Boletim de Produção Ambulatorial Individualizado
(BPA-I) e da Autorização de Procedimento de Alta Complexidade; Sistema de Informação Hospitalar (SIH); Sistema de
Informações de Câncer (SISCAN).

Quanto a estimativa de tempo para início do tratamento, 238 pacientes iniciaram a


terapêutica com mais de 60 dias após o diagnóstico. Destes que começaram a tratar com mais
de 60 dias, a maioria (84) ocorreu, de forma mais precisa, entre 121 e 300 dias após o
diagnóstico.

Gráfico 05. Casos por diagnóstico detalhado segundo tempo de tratamento.

263
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Fontes: Sistema de Informação Ambulatorial (SIA), através do Boletim de Produção Ambulatorial Individualizado
(BPA-I) e da Autorização de Procedimento de Alta Complexidade; Sistema de Informação Hospitalar (SIH); Sistema de
Informações de Câncer (SISCAN).

4. DISCUSSÃO

O conhecimento epidemiológico em saúde associado às observações clínicas permite


um estudo de dados sociais que contribuem para as diversas manifestações da ciência.
Analisando e comparando as diferentes populações é possível destacar o predomínio de
determinadas doenças de acordo com a região, sexo e idade, além de outras variáveis, as quais
podemos destacar o diagnóstico e o estadiamento, o que permite monitorar o estado de
salubridade da população, estabelecer o planejamento de prevenção, controle e tratamento em
serviços de saúde. (BORGES, et al. 2017).

Diante do cenário supracitado, o painel oncológico relacionado a neoplasia maligna da


tireoide destaca que a incidência desse carcinoma é predominante em mulheres do que em
homens. Ultrassonografias, muitas vezes solicitadas de maneira rotineira por clínicos ou
ginecologistas, têm aumentado o diagnóstico de nódulos tireoideanos em mulheres, o que pode
explicar o aumento também de detecção de câncer de tireoide nestes nódulos, especialmente os
tumores iniciais (RON, SCHNEIDER, 2017).

Ainda em relação à distribuição da neoplasia estudada, o Ceará e o Pernambuco se


destacam como os principais estados da região nordeste com os maiores números de
notificações no período em recorte. Assim como identifica a faixa etária entre 60 e 64 anos
como de predomínio do diagnóstico desse tipo de neoplasia. No Nordeste, houve destaque para
duas recomendações terapêuticas, sendo elas a radioterapia e a quimioterapia (INCA, 2020).

Em nosso estudo, o seguimento de tratamento de maior notificação foi a radioterapia


que funciona como adjuvante da quimioterapia, principalmente nos estágios iniciais da doença,
geralmente com estimativa de tempo para início do tratamento com mais de 60 dias pós
diagnóstico. Ademais, os casos em destaque apontam que o estadiamento notificado mais
frequente é o T4. Assim sendo, para tumores avançados, estágio T3 ou T4, ou que se
disseminaram para os linfonodos ou outros órgãos, é frequentemente administrada a
radioiodoterapia. O objetivo é destruir o tecido de tireoide remanescente e tratar qualquer tipo
de câncer que permanece no corpo (RAHIB et al., 2014).

O tipo de câncer de tireoide mais comumente documentado envolve o grupo de


neoplasias bem diferenciadas, representado pelos principais subgrupos dos carcinomas
papilífero, folicular e de células de Hürthle. Esses dados divergem aos analisados no Nordeste,

264
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
visto que a classificação T4, encontrado em maior percentual, corresponde aos carcinomas
anaplásicos/indiferenciado, os quais apresentam rápida disseminação para tecidos vizinhos e
consequentemente pior prognóstico. Na literatura, acreditam-se que alguns casos de carcinomas
anaplásicos surgem de focos de desdiferenciação de tumores bem diferenciados, sugerindo
carência de cuidados à glândula, porém este assunto ainda é controverso (DAVIES et al., 2017).

O intervalo de tempo entre a primeira consulta, diagnóstico e o início do tratamento é


um parâmetro importante a ser analisado, visto que poderá inferir em possíveis dificuldades no
acesso ao serviço oncológico. De acordo com a Lei nº 12.732, de 22 de novembro de 2012,
determina a pessoa receber o primeiro tratamento fornecido pelo SUS em até 60 dias contados
a partir do diagnóstico. No entanto, esse intervalo não foi obedecido durante o período
analisado, observando que a maior parte dos pacientes iniciaram tratamento em um intervalo
acima de 60 dias, destacando-se o período entre 121 e 300 dias (BORGES et al., 2020).

5. CONCLUSÃO OU CONSIDERAÇÕES FINAIS

A neoplasia maligna de tireóide é uma patologia muito frequente na população feminina


e, por isso, o conhecimento epidemiológico da doença é fundamental, principalmente, para o
rastreio e para o diagnóstico precoce. Esse artigo trouxe a análise epidemiológica da Região
Nordeste entre os anos de 2013 e 2023 e evidenciou que a população feminina mais acometida
foi a dos estados do Ceará e de Pernambuco, da faixa etária de 60 a 64 anos e com diagnóstico
no estágio T4. Em relação ao tratamento das mulheres acometidas, a maioria começou o
tratamento 60 dias após o diagnóstico e se optou, principalmente, pela radioterapia.

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266
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
CAPÍTULO 24
PERSPECTIVAS DA POPULAÇÃO
ALVO EM RELAÇÃO À
COMPREENSÃO E TRATAMENTO DO
CÂNCER DE COLO DE ÚTERO
PERSPECTIVES OF THE TARGET POPULATION IN RELATION TO THE
UNDERSTANDING AND TREATMENT OF CERVICAL CANCER

10.56161/sci.ed.20230913C24

Espedita Alves da Silva


Centro Universitário Maurício de Nassau Campus Recife-PE- UNINASSAU
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0009-0003-2414-9168)

Paula Mariana Ferreira Matos


Universidade Paulista - UNIP Campus Garanhuns - PE
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0009-0005-8232-2779)

Carla Helaine do Nascimento Morais


Centro Universitário Inta-UNINTA
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0009-0000-6474-0823)

Maria Eduarda de Oliveira Viegas


Faculdade do Maranhão - FACAM
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0009-0000-3321-3289)

Giovanna Bárbara Carvalho Mendes Macena


Centro Universitário Maurício de Nassau Campus Cacoal. - UNINASSAU
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0009-0005-6469-8000)

Daniela Borges Mielke


Centro Universitário Multivix Vitória - MULTIVIX
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0009-0005-9955-711X)

Cristiano Borges Lopes


Centro Universitário Inta - UNINTA, Sobral, Ceará, Brasil
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0000-0001-6601-5131)

267
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Girleide Santos do Nascimento
Universidade Federal de Campina Grande - UFCG
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0000-0003-4326-4471)

Lucielly Batista de Medeiros


Universidade Federal de Campina Grande - UFCG
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0000-0001-9409-667X)

Xênia Maria Fideles Leite de Oliveira


Especialista em Regulação em Saúde no SUS pelo Hospital Sírio Libanês – Canidé-CE
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0000-0003-0434-2131)
RESUMO
Objetivo: Analisar a importância do exame citopatológico no rastreamento do câncer de colo
do útero. Metodologia: Trata-se de uma integrativa da literatura presente em materiais
científicos disponíveis nas bases de dados através da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). Para
a escolha das palavras-chaves utilizou-se os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS). As
palavras chaves incluíram “Neoplasia de colo do útero”, “Exame Papanicolau”, “Detecção
precoce de câncer” e “Educação em saúde” sendo eles no idioma português e inglês, sendo
utilizadas de forma isolada e combinada com o operador booleano “AND”. O recorte utilizado
para a pesquisa foi de 5 anos. Resultados: No estudo foram destacadas as principais barreiras
que impedem as mulheres de realizarem o exame, sendo elas: a distância de sua moradia até o
local de coleta, a demora para serem atendidas, o tempo de espera para recebimento dos
resultados e posteriormente início de condutas. No entanto, evidenciou o quão é importante a
realização do exame citopatológico para a detecção do câncer de colo de útero, garantindo a
universalidade e integralidade do acesso através da estratégia de saúde da família
(ESF).Conclusão: A partir dos resultados obtidos, a presente pesquisa permitiu observar que o
estilo de vida das mulheres influencia no desenvolvimento desse câncer, tendo em vista, que a
prática da sexualidade sem preservativo, fatores socioeconômicos, étnicos, geográficos e
culturais foram elencados como os principais fatores que corroboram para o desencadeamento
do CCU.
PALAVRAS-CHAVE: Neoplasia de câncer de colo de útero; Exame papanicolau; Detecção
precoce do câncer; Educação em saúde.
ABSTRACT
Objective: To analyze the importance of cytopathological examination in cervical cancer
screening. Methodology: This is an integrative study of the literature present in scientific
materials available in databases through the Virtual Health Library (VHL). For the choice of
keywords, Health Sciences Descriptors (DeCS) were used. The keywords included "Neoplasia
of the cervix", "Pap smear", "Early detection of cancer" and "Health education", being them in
Portuguese and English, being used in isolation and combined with the Boolean operator "AND
”. The cut-off used for the research was 5 years. Results: In the study, the main barriers that
prevent them from performing the test were highlighted, namely: the distance from their home
to the collection site, the delay in being attended to, the waiting time to receive the results and
later start conducts. However, it showed how important it is to carry out the cytopathological
examination for the detection of cervical cancer, guaranteeing the universality and
completeness of access through the family health strategy (ESF). Conclusion: Based on the
results obtained, this research allowed us to observe that the lifestyle of women influences the
development of this cancer, considering that the practice of sexuality without a condom,
socioeconomic, ethnic, geographic and cultural factors were listed as the main factors that
corroborate for the triggering of CC.

268
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
KEYWORDS: Cervical cancer neoplasm; Pap test; Early detection of cancer; Health
education.

1. INTRODUÇÃO
O câncer de colo do útero é uma enfermidade conhecida naturalmente, de evolução
lenta e, se tratada, possui bom prognóstico. Porém, necessita de rastreamento, o qual tem um
alto potencial de poupar vidas, bem como de limitar custos e encargos nos sistemas de saúde,
principalmente no Sistema Único de Saúde (SUS). Por isso, o papel da atenção primária à saúde
é de extrema importância no âmbito do SUS e para o controle deste tipo de neoplasia
(FERREIRA, M.C.M et al., 2021).

Esse câncer ocorre a partir do crescimento exacerbado das células do epitélio escamoso
na superfície do colo do útero, pode apresentar sintomas ou não e está associado, em sua
maioria, ao Papiloma Vírus Humano (HPV), um agente sexualmente transmissível que possui
mais de 100 tipos, destes, as cepas mais conhecidas por causarem tumores malignos são 16, 18,
31, 33, 35, 39, 45, 51, 52, 56, 58, 59 e 68. Todavia, há outros fatores de risco importantes que
contribuem para evolução da doença, tais como tabagismo, múltiplos parceiros sexuais,
multiparidade e início da vida sexual precoce (HERGET; BUENO; SANTOS, 2020).

Portanto, um fato incontestável é que essa enfermidade continua sendo um importante


problema de saúde pública, porque, a nível nacional, excluindo os tumores de pele não
melanoma, é a terceira neoplasia mais incidente entre as mulheres e a quarta que mais mata essa
população, estando atrás de câncer de mama, colorretal e de pulmão apenas (BRASIL, 2022).

A partir do exposto, inúmeros fatores contribuem para isso, principalmente, o acesso


limitado aos serviços de saúde pública, renda escassa, falta de conhecimento e orientação acerca
do assunto. Além disso, muitas não se sentem bem no momento da coleta, seja por vergonha
ou por acharem uma invasão de privacidade, acarretando, assim, numa protelação da prevenção
e de um possível diagnóstico precoce (LIMA et al., 2023).

Para que possa haver mudança nessa realidade, se torna indispensável a educação em
saúde, pois, através de palestras sobre importância da prevenção e orientações adequadas sobre
o assunto, ocorre uma troca entre profissionais e pacientes, gerando o entendimento necessário
sobre as enfermidades apresentadas, e, ainda, acolhimento e humanização (OLIVEIRA et al.,
2023).

269
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
A estratégia mais importante para o monitoramento do câncer cervical se dá através
de seu rastreamento e se baseia pela história natural da doença, possibilitando a detecção de
lesões precursoras, objetivando o tratamento precoce e à não progressão da lesão para a forma
invasiva (SOUZA et al., 2022).

Outrossim, a recomendação da Organização Mundial da Saúde, adotada pelo


Ministério da Saúde desde 1998, é a realização do rastreio em mulheres de 25 a 64 anos
(público-alvo) através da coleta do exame citopatológico, também chamado de exame
Papanicolau. Sendo os dois primeiros exames anuais e após dois anos consecutivos com
resultados negativos, a realização passa a ser a trienal (VIEIRA et al., 2022).

Esta faixa etária foi estabelecida para mulheres que, possivelmente, já tiveram relação
sexual devido a maior ocorrência das lesões de alto grau passíveis de serem tratadas para não
evoluírem para neoplasias, minimizando a incidência e a mortalidade por esta enfermidade
(FERREIRA et al., 2021).

Deste modo, o objetivo do estudo é identificar na literatura as perspectivas atuais e


futuras da população-alvo em relação à compreensão e tratamento do câncer de colo de útero.

2. MATERIAIS E MÉTODOS
Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, realizada entre junho e julho de 2023.
O principal benefício da realização de pesquisas bibliográficas reside em sua capacidade de
fornecer aos pesquisadores um escopo mais amplo de fenômenos a serem explorados do que
outros métodos de pesquisa (GIL, 2002).
O presente estudo assume uma abordagem observacional retrospectiva. Os autores
coletaram as informações necessárias por meio da análise de dados secundários provenientes
de produções científicas disponíveis em meio eletrônico. Desse modo, o objetivo desta revisão
integrativa, estabelece por meio da pergunta norteadora aborda a questão central: “Qual
importância do exame citopatológico no rastreamento do câncer de colo do útero?”. Para isso,
o estudo concentrou-se nos seguintes descritores: “Neoplasia de colo do útero”; “Exame
Papanicolau”; “Detecção precoce do Câncer” e “Educação em Saúde”.

Foi realizada uma busca em várias bases de dados, através da Biblioteca Virtual em
Saúde (BVS). Na busca foram incluídas a Literatura Latino-Americana e do Caribe em
Ciências da Saúde (LILACS), o Medical Literature Analysis and Retrieval System Online

270
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
(MEDLINE), o Base de Dados em Enfermagem (BDENF), o Pacífico Ocidental (WPRIM),
Campus Virtual de Saúde Pública (CVSP – Brasil), Índice Bibliográfico Español en Ciencias
de la Salud (IBECS), Rede BiblioSUS (Coleciona SUS), e o IndexPsi Periódicos Técnico-
Científicos (BVS-Psi). A estratégia de busca empregada para este estudo envolveu a utilização
das bases de dados mencionadas, bem com a organização e categorização dos Descritores em
Ciências da Saúde (DeCS), utilizando os operadores booleanos “AND” para combinar os termos
de pesquisa “Neoplasia de colo do útero”, “Exame Papanicolau”, “Detecção precoce de câncer”
e “Educação em Educação, a pesquisa inicialmente rendeu um total de 102 artigos. Destes, 10
artigos foram provenientes da LILACS, 04 BDENF, 87 da MEDLINE, 01 WPRIM, 01 da
CVSP - Brasil, 01 BVS-Psi, 01 Coleciona SUS e 01 da IBECS. Por se tratar de uma revisão de
literatura, não houve exigência de aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP).

Após a submissão dos critérios, um total de 38 artigos foram selecionados. Os critérios


de inclusão abrangeram uma série de fatores: relevância para o tema proposto, publicação entre
os anos de 2018 e 2023, textos disponíveis em português e inglês e artigos completos. Por outro
lado, critérios de exclusão foram aplicados a artigos que não abordassem o tema, fossem pagos,
informações duplicadas ou provenientes de teses, dissertações, monografias ou capítulos de
livros.

Como resultado, foi realizado um minucioso processo de seleção para identificar e


incluir oito artigos que servissem como uma base teórica robusta. Posteriormente à realização
da leitura e aderir às diretrizes estabelecidas na revisão integrativa, percebeu-se a necessidade
de uma abordagem metódica e cientificamente fundamentada para investigar de forma
abrangente o problema de pesquisa identificado.

3. RESULTADOS
As pesquisas resultaram, após investigação detalhada, em um total de 08 artigos para
análise referentes à identificação do autor, tipo de estudo e objetivos propostos,
respectivamente, conforme a tabela 01.

Tabela 1 - Distribuição dos artigos escolhidos o estudo segundo título, nome do(s) autor(es), tipo de pesquisa e
objetivos.

Ordem TÍTULO AUTOR TIPO DE ESTUDO OBJETIVO

271
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Artigo 01 Acesso ao exame FERNANDES, Estudo de caso, com Avalia o acesso ao exame
citológico do colo do N. F. S. et al. abordagem qualitativa. citológico do câncer do útero na
útero em região de Estratégia Saúde da Família
saúde: mulheres (ESF), em municípios de uma
invisíveis e corpos região de saúde da Bahia.
vulneráveis

Artigo 02 Câncer cervico-uterio: MELO, E. M. Estudo transversal Avaliar o conhecimento, atitude


conhecimento atitude e F. DE. et al. e prática de mulheres sobre o
prática sobre o exame exame preventivo do câncer
de prevenção cervico-uterino e investigar sua
associação com as variáveis
sociodemográficas.

Artigo 03 Avaliação das ações de SILVA, G. A. Estudo descritivo, Analisar a realização de exames
controle do câncer de et al. utilizando dados dos de rastreamento e diagnóstico
colo do útero no Brasil sistemas de para o câncer de colo do útero
e regiões a partir dos informações do SUS. entre mulheres de 25 e 64 anos,
dados registrados no bem como o atraso para o início
Sistema Único de Saúde do tratamento no Brasil e suas
regiões geográficas no período
de 2013 a 2020.

FERNANDES,

Artigo 04 Desafios para prevenção N. F. S. et al. Estudo de caso, com Analisa a articulação entre APS
e tratamento do câncer abordagem qualitativa e os diferentes pontos de atenção
cervicouterino no para controle do câncer
interior do Nordeste. cervicouterino em uma região
de saúde do Nordeste brasileiro.

272
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Artigo 05 Detecção precoce e FERREIRA, M. Estudo transversal Investigar conhecimentos,
prevenção do câncer do C. M. et al.. atitudes e práticas de
colo do útero: profissionais da Estratégia
conhecimentos, atitudes Saúde da Família (ESF) sobre o
e práticas de controle do câncer do colo do
profissionais da ESF útero (CCU) recomendadas pelo
Ministério da Saúde (MS).

Artigo 06 Epidemiological profile ROSA, L. Estudo observacional Analisar o perfil


of women with M. et al. em epidemiologia do sociodemográfico e clínico de
gynecological cancer in tipo transversal, mulheres com câncer
brachytherapy: a cross- documental. ginecológico em braquiterapia.
sectional study.

Artigo 07 Parâmetros para a RIBEIRO, C. Coleta de dados Estimar parâmetros para o


programação de M. et al.. planejamento e programação da
procedimentos da linha oferta de procedimentos para o
de cuidado do câncer do rastreamento, investigação
colo do útero no Brasil. diagnóstica e tratamento de
lesões precursoras do CCU.

Artigo 08 Protección del sistema CARVALHO, Pesquisa qualitativa, Conhecer a percepção das
de salud: percepciones V. F. et al. exploratória e mulheres com alterações no
de las mujeres con descritiva. exame Papanicolau acerca do
papanicolaou anormal. amparo do Sistema Público de
Saúde às suas necessidades.

Fonte: Autores, 2023.

A partir dos resultados obtidos, observa-se a importância do exame citopatológico para


detecção do câncer de colo do útero, tendo como grande importância os serviços de saúde

273
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
enquanto ESF (estratégia de Saúde da Família) com as usuárias, garantindo a universalidade e
integralidade do acesso independentemente de qualquer barreira que possa existir.

Os profissionais da Atenção Primária à Saúde, sendo responsáveis pela busca ativa de


mulheres na faixa etária para realização do exame papanicolau, tem a missão de não somente
coletar o material, mas também de orientar essas mulheres sobre os fatores de risco, como
iniciação sexual precoce, a infecção persistente pelo vírus HPV, bem como a multiplicidade de
parceiros sexuais, e também os fatores protetores do CCU, como a vacina tetravalente
contra HPV, uso de preservativos, e principalmente o exame preventivo (MELO, E. M. F. DE.
et al.).

Maioria das mulheres citadas nos estudos relatam barreiras, ditas por elas como
dificuldades para realização do exame, como por exemplo, a distância de sua moradia até o
local de coleta, a demora para serem atendidas, o tempo de espera para recebimento dos
resultados e posteriormente início de condutas, impactando a adesão desse público ao
rastreamento, o que traz a reflexão sobre a necessidade de fortalecimento das políticas públicas
de saúde que conduzam estratégias para abraçar essas mulheres e assim se tornar possível a
detecção precoce e o tratamento adequado (SILVA, G. A. et al.).

Os resultados evidenciam a importância da detecção precoce e controle do CCU na


Atenção Primária à Saúde, em relação à organização, encaminhamento, consulta especializada
com Ginecologista, apoio diagnóstico/terapêutico, tratamento e transporte, sendo que alguns
municípios não detém de cuidados em média e alta complexidade, nesses casos encaminham as
pacientes para um local onde possam dar seguimento ao tratamento.

Contudo, é importante destacar que para resultados satisfatórios, desde a coleta até
interpretação dos resultados, existem fatos que precisam ser mencionados, como o material
adequado para coleta, um profissional capacitado para realização do mesmo, local de
armazenamento até que por fim, possa chegar às mãos do profissional que vai analisar.

4. DISCUSSÃO
A partir desta pesquisa, foi possível verificar que, em relação a metodologia dos artigos
escolhidos, a maioria foram estudos, sendo 2 (dois) de estudos de casos qualitativo, 2 (dois)
estudos transversal, 1 (um) estudo descritivo, 1 (um) estudo observacional transversal, 1 (um)
estudo de coleta de dados e 1 (um) artigo de pesquisa qualitativa exploratória e descritiva.

274
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Diante dos resultados obtidos, observa-se que a faixa etária mais prevalente de casos
de CCU são mulheres com idade entre 40-59 anos, brancas, pardas e pretas, com escolaridade,
multíparas e casadas.

A patologia do câncer de colo de útero dedica-se ao estudo de alterações estruturais,


bioquímicas e funcionais das células uterinas. Conforme a definição do Instituto do Câncer Rio
Preto (s.d.), a cérvice é composta por estroma e epitélio, a endocérvice corresponde ao canal
cervical e inicia-se no orifício interno contínuo ao endométrio, e é revestida por epitélio colunar,
já a ectocérvice é a porção externa ao orifício que é revestida por epitélio escamoso; deveras
todos os carcinomas de colo do útero se originam na zona de transformação, que circunda o
óstio externo.

A zona de transformação ou zona T é a porção da endocérvice mais próxima do orifício


externo do canal cervical e, portanto, limítrofe com a ectocérvice, nesta região, é comum a
ocorrência de metaplasia escamosa. Outrossim, essa região também pode ser denominada de
zona de transformação anormal ou atípica (ZTA) quando há evidência de carcinogênese
cervical, como a alteração displásica na zona de transformação. A identificação da zona de
transformação é de grande importância na colposcopia, visto que quase todas as manifestações
da carcinogênese cervical ocorrem nesta zona.

Em seus estudos, Paula (2018) e Ramirez e col. (2022), apontam como o principal
fator de risco para o desenvolvimento de lesões intraepiteliais de alto grau e do câncer do colo
do útero é a infecção pelo papilomavírus humano (HPV). Além de aspectos relacionados ao
HPV (tipo, carga viral, infecção única ou múltipla, manifestações clínicas), outros fatores
ligados à imunidade, à genética e ao comportamento sexual podem influenciar os mecanismos,
ainda incertos, que determinam a regressão ou a persistência da infecção e também sua
progressão para lesões precursoras ou câncer.

Ademais, Ramirez e col. (2022) inclui alguns fatores de risco que podem ser
associados ao câncer cervical como: neoplasia intraepitelial cervical, idade sexual precoce,
multiparidade, múltiplos parceiros sexuais, infecções sexualmente transmissíveis, histórico
familiar de câncer de mama ou de útero, neoplasia intraepitelial vulvar ou vaginal escamosa,
uso de contraceptivos orais, tabagismo e imunodeficiência.

Para Ribeiro et al. (2019), o diagnóstico do câncer do colo do útero se dá por meio do
seu rastreamento através do exame citopatológico, também conhecido como Papanicolau. O

275
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Ministério da Saúde recomenda que as mulheres entre as faixas etárias de 25 a 64 anos de idade
que já iniciaram sua atividade sexual realizem um exame anualmente e, a cada três anos após
dois exames anuais consecutivos normais.
A seguir, estão as definições que podem ocorrer decorrentes do resultado do exame
citopatológico, segundo Mayume Kitahara et al. (2023):
• ASC-US ou ASCUS (Células escamosas atípicas de significado indeterminado): resultado
mais comum; indica uma atípica celular sem apresentar qualquer sinal claro de alterações
malignas ou pré-malignas, sendo provocado por inflamações, infecções, atrofia vaginal durante
a ma zona de transformação é uma área de metaplasia escamosa entre a junção escamocolunar
original e atual, essa zona é onde o epitélio colunar foi e/ou está sendo substituído pelo novo
epitélio escamoso metaplásico.menopausa, entre outros;

• ASC-H ou ASCH: evidencia o achado de células escamosas atípicas, com características


mistas e que inviabilizam o descarte de presença de atipias malignas; salienta a realização de
colposcopia e da biópsia do colo uterino;

• LSIL (Lesão intraepitelial escamosa de baixo grau): indica lesão pré-maligna que apresenta
baixo risco cancerígeno. A conduta a ser tomada, é a solicitação do papanicolau, que tendo
resultado negativo para pesquisa do vírus de HPV, deve ser repetido entre 6 meses e um ano.
Entretanto, o resultado para HPV positivado, uma colposcopia e biópsia deve ser solicitada;

• HSIL (Lesão intraepitelial escamosa de alto grau): demonstra grande displasia celular
referindo células anormais com inúmeras alterações de tamanho e formato. Representando um
alto risco de que existam realmente lesões pré-malignas moderadas/avançadas. Por fim,
resultados HSIL no papanicolau devem ser investigados com colposcopia e biópsia.

Segundo Morais et al. (2019), o tratamento do câncer do colo do útero pode incluir
cirurgia, radioterapia e quimioterapia. Para o CCU, em fases iniciais, o tratamento indicado é a
cirurgia, no entanto, quando o paciente apresenta fatores de risco associados à recidiva local, é
feita a radioterapia pélvica adjuvante.

Na presença de comprometimento linfonodal, parametrial ou das margens cirúrgicas,


faz -se quimioterapia associada à radioterapia, mas quando o câncer é localmente avançado ou
em tumores muito volumosos, recomenda-se a associação de quimioterapia com radioterapia.

De acordo com Carvalho et al. (2018), para que as ações de rastreamento do CCU
sejam efetivas, é necessária uma ação conjunta dos profissionais de saúde. Deve-se informar e

276
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
mobilizar a população, para alcançar a meta da cobertura dos exames habituais para o câncer
uterino, garantir o acesso ao diagnóstico e tratamento das alterações, assegurar que as ações
sejam de qualidade, monitorar e gerenciar a continuidade das ações implementadas. Dentro
deste contexto, Ramirez et al. (2022), acrescenta a necessidade de manter a periodicidade da
realização de exames de rotinas à procura de câncer de colo de útero para detectar a doença
ainda em estágio inicial e consequentemente diminuir as taxas de incidência e mortalidade por
câncer de colo do útero.

Além disso, Ribeiro et al. (2019), mostra que a vacinação contra o HPV tem como
objetivo prevenir o câncer do colo do útero, mas não tratá-lo. Ainda assim, a vacina não exclui
a necessidade de manter estratégias de detecção precoce do câncer do colo do útero. Isso por
ser uma vacina profilática, que não engloba todos os tipos de HPV oncogênicos e por ser
aplicada em meninas de 9 a 14 anos de idade, que estariam em fase anterior à iniciação da vida
sexual. Portanto, entre a população de vacinadas, o impacto da vacinação na redução da
incidência de câncer do colo do útero deve se dar a longo prazo. Outrossim, a eficácia em
mulheres de outras faixas etárias que já tiveram contato com o vírus é muito inferior se
comparada àquelas que ainda não tiveram infecção.

5. CONCLUSÃO
A partir dos resultados obtidos, a presente pesquisa permitiu observar que o estilo de
vida das mulheres influencia no desenvolvimento desse câncer, tendo em vista, que a prática da
sexualidade sem preservativo, fatores socioeconômicos, étnicos, geográficos e culturais foram
elencados como os principais fatores que corroboram para o desencadeamento do CCU.

Além disso, o exame citopatológico foi identificado como o principal meio utilizado
na detecção precoce do CCU, aliado à participação conjunta da equipe multidisciplinar.
Identificou-se também, a importância e a necessidade de ofertar para as mulheres o acesso aos
serviços de saúde, com intuito de permitir o estabelecimento de vínculo e uma abordagem
integral das pacientes no que tange a prevenção desta neoplasia, com a finalidade de identificar
de forma precoce os fatores de risco as quais as usuárias estão susceptíveis.

Diante do exposto, sugere-se a realização de novos estudos relacionados à prevenção


e detecção precoce do CCU, visando gerar novos conhecimentos que incentivem a busca pelos
serviços de saúde, como também, sensibilizar a população acerca dessa neoplasia que é
considerada de bom prognóstico quando detectada precocemente.

277
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
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jun. 2023.

279
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
CAPÍTULO 25
SAÚDE DA MULHER: CONQUISTAS E
AVANÇOS NA SAÚDE PÚBLICA
FRENTE AOS DESAFIOS ATUAIS
WOMEN'S HEALTH: ACHIEVEMENTS AND ADVANCES IN PUBLIC HEALTH IN
FRONT OF CURRENT CHALLENGES

10.56161/sci.ed.20230913C25

Pâmella Polastry Braga Amaral


Instituição de ensino superior de Cacoal - FANORTE, Rondônia, Brasil.
Orcid: https://orcid.org/0000-0001-9429-5716

Wuelison Lelis de Oliveira


Universidade Federal de Rondônia, - UNIR, Porto Velho, Rondônia, Brasil.
Orcid: https://orcid.org/0000-0001-8596-4586

Eldya Flávia Ramos


Instituição de ensino superior de Cacoal - FANORTE, Rondônia, Brasil.
Orcid: https://orcid.org/0009-0005-9007-5659

Patrícia Batista da Silva


Centro Universitário Aparício Carvalho - FIMCA, Jaru, Rondônia, Brasil.
Orcid: https://orcid.org/0009-0000-5462-0334

Claudinei Crescencio De Barros


Centro Universitário Aparício Carvalho - FIMCA, Jaru, Rondônia, Brasil.
Orcid: https://orcid.org/0009-0005-6574-0688

Thainara Bento Deziderio


Centro Universitário Maurício de Nassau - UNINASSAU, Cacoal, Rondônia, Brasil.
Orcid: https://orcid.org/0009-0005-8312-933X

Adrielli Dumer Antunes Maina


Centro Universitário Maurício de Nassau – UNINASSAU, Cacoal, Rondônia, Brasil
Orcid: https://orcid.org/0009-0003-2821-9733

Talita Kesly Ferreira de Souza Mendes


Centro Universitário Maurício de Nassau - UNINASSAU, Cacoal, Rondônia, Brasil.
Orcid: https://orcid.org/0009-0000-0809-4441

Letícia Ferreira Gomes

280
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Instituição de ensino superior de Cacoal - FANORTE, Rondônia, Brasil.
Orcid: https://orcid.org/0009-0009-6066-5200

Valéria Aparecida dos Anjos


Centro Universitário Maurício de Nassau - UNINASSAU, Cacoal, Rondônia, Brasil.
Orcid: https://orcid.org/009-0009-6989-5585

RESUMO
Objetivo: Realizar a pesquisa e descrever os principais marcos referente as políticas públicas
em saúde, e o contexto geral da saúde da mulher realizando um paradoxo com os desafios
correspondente aos dias atuais. Metodologia:A formulação da pesquisa ocorreu através de uma
revisão integrativa da literatura, foram utilizados uma síntese de resultados encontrados por
meio de pesquisas publicadas anteriormente, com finalidade de promover discussão literária
alusivo aos dados obtidos. Como direcionamento do presente estudo utilizou-se uma pergunta
norteadora “Quais são os desafios enfrentados pelas mulheres atualmente no que concerne à
saúde pública?”. O levantamento na literatura correspondeu aos meses de maio a julho de 2023.
Resultados: Através de buscas bibliográficas foram selecionados 07 artigos como amostra final
para compor a presente revisão de literatura. Após a seleção foi realizado leitura integrativa,
com intuito de elencar, autores e ano, título, e banco de dados, distribuídos no quadro 1.
Conclusão Após anos de lutas por direitos, a criação da PNAISM, e amplitude dos serviços de
saúde da mulher através dele simbolizou uma vitória, e trouxe com ela a tentativa de grantia
de acesso integral a saúde da mulher, reconhecendo suas dimensões e peculiaridades durante o
ciclo da vida, deixando para trás o estigma que as mulheres apresentavam finalidades apenas
para reprodução. Apesar dos avanços na criação de políticas e diretrizes voltadas a saúde da
mulher, ainda há desafios na perspectiva da integralidade do cuidado em saúde, uma vez que, o
direito à saúde vai além da lógica biomédica pensada apenas no processo saúde-doença.
PALAVRAS-CHAVE: Políticas públicas em saúde; Saúde da mulher; Serviços de saúde da mulher.
SUMMARY
Objective: research and describe the main milestones regarding public health policies, and the
general context of women's health, making a paradox with the challenges corresponding to the
present day. Methodology: The formulation of the research took place through an integrative
literature review, a synthesis of results found through previously published research was used,
with the purpose of promoting literary discussion allusive to the data obtained. As the direction
of the present study, a guiding question was used: “What are the challenges currently faced by
women with regard to public health?”. The literature survey corresponded to the months of May
to July 2023. Results: Through bibliographic searches, 07 articles were selected as a final
sample to compose the present literature review. After selection, an integrative reading was
carried out, with the aim of listing authors and year, title, and database, distributed in Table 1.
Conclusion After years of struggles for rights, the creation of PNAISM, and the breadth of
women's health services through it, it symbolized a victory, and brought with it the attempt to
guarantee full access to women's health, recognizing its dimensions and peculiarities during the
life cycle, leaving behind the stigma that women had purposes only for reproduction. Despite
advances in the creation of policies and guidelines aimed at women's health, there are still
enormous challenges in the perspective of comprehensive health care, since the right to health
goes beyond the biomedical logic thought only of the health-disease process.

281
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
KEYWORDS: Public health policies; Women's health; Women's health services.

1 INTRODUÇÃO

Na linha temporal da história, a saúde pública voltada para atenção da saúde das
mulheres sempre foi composta por lacunas. No Brasil até a década de 70 as políticas públicas
que contemplavam as mulheres eram reduzidas em atenção materno-infantil e ao período
gravídico, tendo em vista as mulheres apenas como progenitoras (OLIVEIRA et al, 2023).
Com tamanha desigualdade, diante de um sistema de saúde pública centralizado, entre
as décadas de 70 e 80 a população deu início a grandes movimentos sociais, dando início a
reforma sanitária. A batalha das mulheres em busca de visibilidade obteve um importante marco
com a Lei 8.080, de 19 de setembro de 1990, onde foi inserida a cidadania em saúde
promovendo inclusão social na saúde em todos os níveis (COSTA e GONÇALVES, 2019).
Nas últimas décadas do século XX foram introduzidas políticas nacionais de saúde da
mulher, sendo elaborada de fato a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher
(PNAISM) em 2004, tendo enfoque de gênero. Dentre suas diretrizes traz o compromisso de
atender mulheres em todos os seus ciclos de vida, considerando as particularidades de cada
grupo populacional nos quais essas estejam inseridas (SANTANA et al., 2019).
Através dos inúmeros enfrentamentos vivenciados pelas mulheres, atualmente as
mesmas deparam com direitos que foram lhes garantidos, atualmente as perspectivas de saúde
da mulher envolvem inúmeras dimensões e todas estas essenciais para a qualidade de vida e o
direito como cidadã. Dentre estas esferas o planejamento reprodutivo vem ganhando cada vez
mais visibilidade, sendo interpretado como além de concepção e contracepção, sendo
interpretado também como direitos sexuais e reprodutivos (DIAS e SILVA, 2022).
Recentemente, foi divulgada a lei 14.443/2022 Altera a Lei nº 9.263, de 12 de janeiro
de 1996, que dispõe sobre a determinação do prazo para oferecimento de métodos e técnicas
contraceptivas para esterilização na esfera do planejamento familiar, dentre as principais
perspectivas alteradas ressalta a redução da idade mínima para a esterilização voluntária para e
a exclusão da exigência do consentimento do conjugue tanto para homens como para mulheres
(BRASIL, 2022).
Em territórios nacionais apesar dos avanços em inúmeras vertentes ofertadas na saúde
pública, os indicadores de saúde apontam, que há ainda um longo e complexo caminho a ser
percorrido uma vez que o país ainda é assolado por iniquidades e desigualdades sociais. Com
aumento populacional, e modificações no interior dos conjuntos sociais, são lançados novos

282
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
desafios a área da saúde todos os dias juntamente com os desafios antigos que continuam
persistindo (SANTANA et al., 2019).
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2021, as mulheres
correspondem a maior parcela da população Brasileira, sabe-se que mesmo após conquistas e
avanços adquiridos em inúmeras esferas através de batalhas árduas, há ainda muita
desigualdade que afligem a população feminina. O objetivo é realizar a pesquisa e descrever os
principais marcos referente as políticas públicas em saúde, e o contexto geral da saúde da
mulher realizando um paradoxo com os desafios correspondente aos dias atuais.

2 METODOLOGIA

Trata-se de uma revisão integrativa da literatura. Foi utilizado como ferramenta


facilitadora para a construção do estudo, a estratégia de PICO, esta dívida em quatro etapas P
(população/pacientes; I: intervenção; C: comparação/controle; O: desfecho/outcome)
(LATORRACA et al.,2019). A Tabela 1 demonstra a aplicação da estratégia de PICO, para
produção da presente pesquisa.

Tabela 1 - Estratégia PICO, problemática utilizada para realização deste estudo


ACRÔNIMO DEFINIÇÃO DESCRIÇÃO
P População estudada População feminina
I Interesse Elencar marcos históricos e desafios atuais
C Comparação Não se aplica
O Desfecho Enfrentamentos atuais a serem combatidos
Elaborado pelos autores, 2023
Como direcionamento do presente estudo utilizou-se uma pergunta norteadora “Quais
são os desafios enfrentados pelas mulheres atualmente no que concerne à saúde pública?”. Após
a definição da pergunta norteadora, foi realizado coleta de dados advindos de bancos de dados
virtuais, Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Base de dados de Enfermagem (BDENF),
Scientific Eletronic Library Online (SCIELO), Rede Ibero-americana de inovação e
conhecimento (Redib), relacionado aos Descritores em Ciências da Saúde, (DeCS) foram
utilizadas: Políticas públicas em saúde, saúde da mulher, serviços de saúde da mulher
O levantamento na literatura correspondeu aos meses de maio a julho de 2023. Dentre
os critérios de inclusão foram selecionados: Artigos, dissertações, monografias e teses
disponíveis na íntegra, sendo na língua portuguesa, que abordem a temática, nos últimos dez

283
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
anos. Dentre os critérios de exclusão: revisões de literatura, artigos dissertações monografias e
teses, que não abordavam a temática e estudos repetidos nas bases de dados, ou publicados há
mais de dez anos. Durante o levantamento foram encontrados 574 estudos nas bases
selecionadas e após aplicar os critérios de inclusão e exclusão, foram selecionadas 07 pesquisas
para compor a revisão. A Tabela 2 compreende a quantidade de artigos selecionados por banco
de dados respectivamente.

Tabela-2. Quantidade de artigos selecionados por banco de dados.


Banco de dados Nº %
Rede Ibero-americana de 03 42,8%
inovação e conhecimento (Redib)
Scientific Eletronic 02 28,5%
Library Online (SciELO)
Base de dados de 01 14,2%
Enfermagem (BDENF)
Biblioteca Virtual em 01 14,2%
Saúde (BVS)
Elaborado pelos autores, 2023

Por tratar-se de uma pesquisa utilizando revisão bibliográfica, a população amostral não foi
identificada ou exposta, competindo as diretrizes da Resolução 466/12 da Comissão Nacional
de Ética em Pesquisa (CONEP) do Conselho Nacional de Saúde, não sendo necessário de
apreciação do Comitê de Ética e Pesquisa (CEP).

3 RESULTADOS
Através de buscas bibliográficas foram selecionados 07 artigos como amostra final para
compor a presente revisão de literatura. Após a seleção foi realizado leitura integrativa, com
intuito de elencar, autores e ano, título, e banco de dados, distribuídos no quadro 1.

Quadro 1: Relação de artigos encontrados por título, autoria e ano, objetivo e resultados
AUTORES E ANO TÍTULO BANCO DE DADOS
Oliveira et al., 2023 Avanços e desafios das políticas públicas Redib
relacionadas à saúde da mulher no Brasil
nos últimos 20 anos: Uma revisão de
literatura
Pacheco e Dias., 2023 A luta das mulheres por políticas sociais: SCIELO
avanços e retrocessos
Machabansky et al., Diretriz brasileira para detecção precoce do BVS
câncer de mama: desafios para implantação

284
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
2022
Ventura et al., 2022 O papel do enfermeiro no programa de BDENF
planejamento reprodutivo: uma revisão
integrativa
Souto e Moreira, 2021 Política Nacional de Atenção Integral à SCIELO
Saúde da Mulher: protagonismo do
movimento de mulheres
Santana et al., 2019 Avanços e desafios da concretização da Redib
política nacional da saúde da mulher: uma
revisão de literatura
Costa e Gonçalves., O direito à saúde, à efetividade do serviço e Redib
à qualidade no acesso às políticas públicas
2019
de atenção à saúde da mulher
Elaborado pelos autores, 2023
4 DISCUSSÃO

Diante dos registros históricos, é nítida como a atenção a saúde das mulheres eram
reduzidas, sendo prestada assistência à saúde apenas em sua dimensão procriativa. Diante destes
aspectos de redução social, a luta das mulheres por visibilidade foi árdua e necessária,
contribuindo de forma significativa para ampliação do conceito de saúde na década de 90 com
a Lei nº 8.080, considerada um marco histórico no âmbito da saúde, através desta, foi conferida
a participação da saúde da mulher em todas suas esferas (COSTA e GONÇALVES., 2019).
Perante o contexto de distinção social que assombravam a população feminina,
incessantemente as lutas feministas buscavam por igualdades perante a lei, políticas públicas
que fossem direcionadas as populações femininas e que contemplassem deste modo as relações
de gêneros, as disparidades nas relações de trabalho e o direito a saúde (SOUTO e MOREIRA,
2021).
A criação da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher, na última década
do século XX, foi apontada pela literatura como um grande avanço para as mulheres frente a
saúde pública. Para Santana et al (2019), a criação da política vem a contribuir para redução da
morbimortalidade, e ofertar assistência a saúde de modo integral, compreendendo as mulheres
em todas suas peculiaridades, além de contrubuir no enfretamento de desigualdades de gêneros
através do reconhecimento do estado por meio de políticas públicas.
A relevância da criação do PNAISM também é mencionado pelos autores Costa e
Gonçalves (2019) e Pacheco e Dias (2023), dentre as diretrizes que compões a PNAISM, cita-
se a relevância das peculiaridades vivenciadas pelas mulheres ao longo da vida, outro fator
elencado para uma assistência integral e o grupo populacional que estas mulheres estão
inseridas. A PNAISM considera quatro vertentes relevantes ao combate à desigualdade no que

285
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
refere as mulheres, sendo elas: 1: Autonomia, igualdade no mundo do trabalho e cidadania; 2:
Educação inclusiva e não sexista; 3: Saúde das mulheres, direitos sexuais e direitos
reprodutivos, norte deste estudo, e por último, 4: Enfrentamento a violência contra a mulher.
Em pesquisa Souto e Moreira (2021), corroboram com os autores anteriores, afirmando
que a criação da PNAISM foi resultante das constantes lutas femininas por igualdade social,
criação de políticas públicas e leis relacionadas a população feminina. A movimentação
feminina protagonizou não apena a criação da PANAISM, mas também sua reorganização e
implementação.
Diante da perspectiva sobre conquistas alcançadas pelas mulheres ao longo dos anos, os
autores Costa e Gonçalves (2019) e Pacheco e Dias (2023), também citam as Conferências
Nacionais de Políticas para as Mulheres (CNPM). As CNPM foram realizadas com integrantes
e representantes de todo o país, com intuito de conjecturar os objetivos determinados pela
PNAISM, após encontros e discussão sobre a temática resultou-se a elaboração do Plano
Nacional de Políticas para as Mulheres (PNPM). Tanto as CNPN como os PNPM, fomentarão
debates relevantes, levando discussões sobre direitos e cidadania das mulheres brasileiras. Em
síntese o Quadro 2 apresenta respectivamente ano e temática da CNPN.

Quadro 2: Ano, tema das Conferências Nacionais de Políticas para as Mulheres.

ANO TEMA
2004 1ª CNPM: Políticas para as mulheres: um desafio para a
igualdade numa perspectiva de gênero.
2007 2ª CNPM: Desafios para a construção da igualdade na
perspectiva da implementação do PNPM e avaliação das ações e
políticas propostas no PNPM. A participação das mulheres nos
espaços de poder.
2011 3ª CNPM: Autonomia e igualdade para as mulheres.
2016 4ª CNPM: Mais direitos, participação e poder para as mulheres.

Elaborado pelos autores, 2023.


Os avanços nos protocolos de rastreio e detecção precoce de doenças que acometem as
mulheres de forma predominante, também simboliza uma importante vitória. O câncer de mama
é o mais prevalente e a principal causa de óbitos entre as mulheres. A implementação de
políticas públicas ofertadas a assistências integral é primordial para o controle da doença,
atualmente o Brasil executa políticas que tem como objetivo a redução da exposição aos fatores
de risco. Outra importante ferramenta nessa área são as Diretrizes para a Detecção Precoce do

286
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Câncer de Mama no Brasil, pois essas diretrizes fundamentam os profissionais de saúde de
como devem realizar o rastreamento, diagnóstico, tratamento e o seguimento de todas as
mulheres alvo do programa, contribuindo diretamente com redução da mortalidade e resultando
na melhora de qualidade de vida destas mulheres (MACHABANSKY et al., 2022).
A atual visibilidade do planejamento reprodutivo está associada as conquistas de diretos
adquiridos pelas mulheres. A pesquisa de Ventura et al (2022), descreve o planejamento
reprodutivo como direito sexual e reprodutivo, considera-se tanto valores culturais como
morais, sendo primordial para evitar gravidez não planejada, bem como conflitos
socioeconômicos e insatisfações pessoais, uma vez que a literatura registra desconhecimento
da população sobre a temática e métodos contraceptivos.
Apesar dos avanços diante da saúde pública frente a saúde integral da mulher há ainda
muitas dificuldades a serem enfrentadas, Oliveira et al (2023), descreve a profunda
desigualdade como um dos fatores principais que dificulta a prestação de assistência a saúde da
mulheres, outro fator citado pelo o autor é o modelo ultrapassado de assistência biomédica, que
não contextualizam a disparidade de gêneros, e ainda como empecilho estão as questões
estruturais que restringem o acesso e prejudicam a qualidade e a quantidade dos serviços
ofertados.
A desigualdade feminina também é um fator apontado por Santa et al (2019), como um
desafio atual. A literatura, traz que mesmo após anos da criação da PNAISM, cumprir os
objetivos e diretrizes propostos por esta política ainda é um desafio. Dentre fatores que
corroboram para esta triste realidade estão as regiões de difícil acesso a saúde, a discriminação
contra as mulheres ainda muito presente dentro da sociedade sendo este um fator que
desencadeia desigualdades sociais, econômicas e de saúde para a população feminina, e ainda
o grande índice de violência doméstica, estes fatores estão atrelados de forma direta com a
dificuldade de executar os objetivos da PNAISM.
Outro paradoxo atual enfrentado pela população feminina são as lacunas presentes nas
políticas e ações de atenção a saúde da mulher, a literatura aponta que uma grande parcela da
população feminina não é contemplada com estas políticas, ou são apenas contempladas de
forma parcial. Dentre este grupo encontra-se mulheres idosas, afrodescendentes, indígenas, e
moradoras de áreas rurais, são descritos como fatores atrelados a limitação da assistência, a
discriminação, a dificuldade de acesso aos serviços de saúde sobretudo a atenção primária, estas
barreiras desmotivam a manutenção dos vínculos entre as mulheres e as unidades de saúde
(COSTA E GONÇALVES., 2019).

287
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Diante da realidade atual Pacheco e Dias (2023), descreve como principias desafios para
a prestação de assitência de saúde de forma integral para as mulheres o desdenho político, e
consequentemente resultando em sucatemante de serviços e ferramentas para a prestação desta
assitência.

5 CONCLUSÃO

Após anos de lutas por direitos, a criação da PNAISM, e amplitude dos serviços de
saúde da mulher através dele simbolizou uma vitória, e trouxe com ela a tentativa de grantia de
acesso integral a saúde da mulher, reconhecendo suas dimensões e peculiaridades durante o
ciclo da vida, deixando para trás o estigma que as mulheres apresentavam finalidades apenas
para reprodução.
Apesar dos avanços na criação de políticas e diretrizes voltadas a saúde da mulher, ainda
há desafios na perspectiva da integralidade do cuidado em saúde, uma vez que, o direito à saúde
vai além da lógica biomédica pensada apenas no processo saúde-doença. É pensar que, além
das conquistas atuais, é necessário expandir a quantidade de equipes de saúde da família e
fortalecer a Atenção Primária à Saúde, principal porta de entrada dos usuários dos serviços de
saúde do Sistema Único de Saúde no Brasil. Assim, vulnerabilidades e particularidades da
população adscrita no território seriam acompanhadas por suas equipes de referência num olhar
além do cuidado centrado apenas ao indivíduo, mas na perspectiva de longitudinalidade.

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289
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
CAPÍTULO 26
SAÚDE SEXUAL DA MULHER COM
DEFICIÊNCIA: REVISÃO NARRATIVA
WOMEN’S SEXUAL HEALTH WITH DISABILITIES: NARRATIVE REVIEW

10.56161/sci.ed.20230913C26

Camille Gabriele Correia da Costa


Graduanda em Saúde Coletiva pela Universidade Federal de Pernambuco, Centro Acadêmico
de Vitória (UFPE/CAV). Vitória de Santo Antão, Pernambuco, Brasil.
Orcid ID (https://orcid.org/0009-0000-9972-0638)

Carolayne Barbosa de Oliveira


Graduanda em Saúde Coletiva pela Universidade Federal de Pernambuco, Centro Acadêmico
de Vitória (UFPE/CAV). Vitória de Santo Antão, Pernambuco, Brasil.
Orcid ID: (https://orcid.org/0009-0001-9526-7407)

Éllen Emanuelly de Araújo Costa


Graduanda em Saúde Coletiva pela Universidade Federal de Pernambuco, Centro Acadêmico
de Vitória (UFPE/CAV). Vitória de Santo Antão, Pernambuco, Brasil.
Orcid ID (https://orcid.org/0009-0007-4810-3526)

Kleison Ramos da Silva


Graduando em Saúde Coletiva pela Universidade Federal de Pernambuco, Centro Acadêmico
de Vitória (UFPE/CAV). Vitória de Santo Antão, Pernambuco, Brasil.
Orcid ID (https://orcid.org/0009-0009-4448-5402)

Tathiana Maria de Sousa


Graduanda em Saúde Coletiva pela Universidade Federal de Pernambuco, Centro Acadêmico
de Vitória (UFPE/CAV). Vitória de Santo Antão, Pernambuco, Brasil.
Orcid ID (https://orcid.org/0009-0004-2034-2849)

Anderson Diego Araújo de Lira


Graduando em Saúde Coletiva pela Universidade Federal de Pernambuco, Centro Acadêmico
de Vitória (UFPE/CAV). Vitória de Santo Antão, Pernambuco, Brasil.
Orcid ID (https://orcid.org/0000-0003-1564-2455)

Marília Santos de Carvalho


Graduanda em Enfermagem pela Universidade Federal de Pernambuco, Centro Acadêmico de
Vitória (UFPE/CAV). Vitória de Santo Antão, Pernambuco, Brasil.
Orcid ID (https://orcid.org/0009-0007-6675-8462)

Jeyseany de Fátima da Silva Rocha

290
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Graduanda em Saúde Coletiva pela Universidade Federal de Pernambuco, Centro Acadêmico
de Vitória (UFPE/CAV). Vitória de Santo Antão, Pernambuco, Brasil.
Orcid ID (https://orcid.org/0009-0009-0736-2331)

Thammara Vitória Silva Ataide


Graduanda em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Pernambuco, Centro
Acadêmico de Vitória (UFPE/CAV). Vitória de Santo Antão, Pernambuco, Brasil.
Orcid ID (https://orcid.org/0009-0003-1772-7273)

Lucas Fernando Rodrigues dos Santos


Doutorando em Saúde Pública pelo Instituto Aggeu Magalhães/Fiocruz Pernambuco, Recife,
Pernambuco, Brasil.
Professor do curso de Saúde Coletiva da Universidade Federal de Pernambuco, Centro
Acadêmico de Vitória (UFPE/CAV). Vitória de Santo Antão, Pernambuco, Brasil.
Orcid ID (https://orcid.org/0000-0002-7993-0918)

RESUMO
Enfatiza-se que, historicamente, a sexualidade tem sido mal compreendida e reduzida a
questões meramente biológicas, e esse estigma é ainda maior quando se trata de mulheres com
deficiência. Estereótipos e preconceitos sociais criam crenças errôneas, como considerar essas
mulheres assexuadas, pervertidas, incapazes de manter relacionamentos amorosos e sexuais,
entre outros. Essas visões equivocadas limitam a autonomia e a liberdade dessas mulheres na
expressão de sua sexualidade. A partir de uma revisão narrativa de 50 artigos científicos em
língua portuguesa e inglesa, foram selecionados 10 estudos que analisam a intersecção entre
sexualidade e deficiência, buscando compreender a forma como essas mulheres são
estigmatizadas e enfrentam dificuldades no acesso aos seus direitos sexuais e reprodutivos. A
análise dos artigos revela que a discussão sobre sexualidade e deficiência tem avançado, por
ventura de estudos e movimentos que buscam desconstruir esses estigmas. A abordagem da
sexualidade é conceituada de forma ampla, considerando as dimensões emocionais, sociais e
interpessoais, permitindo uma compreensão mais inclusiva e respeitosa da sexualidade das
mulheres com deficiência. No âmbito específico dessas mulheres, o estudo destaca a
importância de garantir direitos equânimes e diretrizes específicas para respeitar seus direitos
humanos fundamentais. Essas análises contribuem para promover uma visão mais inclusiva da
sexualidade e saúde das mulheres com deficiência, enfatizando que elas possuem necessidades
e desejos que devem ser respeitados, para que possam vivenciar sua sexualidade de forma
saudável e livre de discriminação. O presente estudo conclui que é essencial desconstruir as
concepções errôneas sobre a sexualidade das mulheres com deficiência, promovendo uma
maior compreensão e respeito por suas experiências e necessidades sexuais.

PALAVRAS-CHAVE: Saúde da Pessoa com Deficiência; Equidade de Gênero; Serviços de


Saúde Reprodutiva.

ABSTRACT
It is emphasized that historically, sexuality has been misunderstood and reduced to merely
biological aspects, and this stigma is even greater when it comes to women with disabilities.
Stereotypes and social prejudices create misconceptions, such as considering these women as
asexual, perverted, incapable of having romantic and sexual relationships, among others. These
mistaken views limit the autonomy and freedom of these women in expressing their sexuality.

291
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Through a narrative review of 50 scientific articles in Portuguese and English, 10 studies were
selected that analyze the intersection between sexuality and disability, seeking to understand
how these women are stigmatized and face difficulties in accessing their sexual and
reproductive rights. The analysis of the articles reveals that the discussion on sexuality and
disability has progressed, in part due to studies and movements that seek to deconstruct these
stigmas. The approach to sexuality is broadly conceptualized, considering emotional, social,
and interpersonal dimensions, allowing for a more inclusive and respectful understanding of
the sexuality of women with disabilities. In the specific context of these women, the study
highlights the importance of guaranteeing equitable rights and specific guidelines to respect
their fundamental human rights. These analyses contribute to promoting a more inclusive view
of the sexuality and health of women with disabilities, emphasizing that they have needs and
desires that must be respected so that they can experience their sexuality in a healthy and
discrimination-free manner. The present study concludes that it is essential to deconstruct
misconceptions about the sexuality of women with disabilities, promoting a greater
understanding and respect for their sexual experiences and needs.

KEYWORDS: Health of the Disabled; Gender Equity; Reproductive Health Services.

1. INTRODUÇÃO

Na década de 70, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estabeleceu uma definição


abrangente para o conceito de sexualidade e saúde, destacando que essa é uma necessidade
básica e inerente à natureza humana, intrinsecamente conectada a diversos aspectos da vida. A
sexualidade transcende a mera atividade sexual ou a presença de orgasmo, exercendo influência
sobre pensamentos, sentimentos, ações e interações, desempenhando um papel crucial tanto na
saúde física quanto mental. Assim como a saúde é consagrada como um direito humano
fundamental, à saúde sexual também deve ser reconhecida como um direito humano essencial.

Apesar da Organização Mundial da Saúde (OMS) destacar a relevância da sexualidade


na vida de um indivíduo, esse tema ainda é considerado um tabu social, especialmente quando
se trata de corpos de pessoas com deficiência. Segundo Diniz (2007), a deficiência engloba
aspectos biológicos, psicológicos e sociais relacionados a lesões, limitações de atividade ou
restrições de participação, provenientes de diagnósticos. A forma como tais questões são
percebidas pelo indivíduo e como a sociedade lida com essa condição de diferença refletem-se
nos direitos, justiça social e políticas de bem-estar.
A construção social do conceito de sexualidade no contexto das pessoas com deficiência
tem sido deturpada devido aos anos de marginalização enfrentados por essa população.
Atualmente, esses temas são mais abertamente debatidos, graças à popularização das redes
sociais e ao aumento da presença de pessoas com deficiência nesses espaços. No entanto,
quando essas duas questões são associadas, isso ainda causa incômodo (OMOTE, 2006),

292
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
especialmente no contexto das mulheres com deficiência. Quando se trata da sexualidade das
mulheres com deficiência, surgem discussões sobre possíveis dificuldades sexuais, tanto
biológicas como psicossociais, vivenciadas por elas. As dificuldades sexuais biológicas estão
relacionadas à capacidade das pessoas com deficiência em obter respostas sexuais (desejo,
excitação e orgasmo), enquanto as dificuldades psicossociais referem-se à forma como os
padrões normativos impostos socialmente interferem nessas respostas. No campo da
sexualidade e deficiência, esses padrões estão relacionados ao corpo (saúde, funcionalidade e
estética) e correspondem às características da maioria da classe dominante (MAIA, 2011).
Tais padrões sociais impostos criam crenças equivocadas de que mulheres com
deficiência são assexuadas ou pervertidas, que não precisam receber orientação sobre
sexualidade, que são pouco atraentes e incapazes de manter relacionamentos amorosos e
sexuais, que têm disfunções sexuais, que não necessitam de privacidade, que merecem pena,
que são estéreis e geram filhos com deficiências e/ou que não são capazes de cuidar de si
mesmas e são constantemente infantilizadas (SERRA et al., 2020). Há uma latente necessidade
de desconstrução desses estereótipos e preconceitos para que se promova uma compreensão
mais ampla e inclusiva da sexualidade das mulheres com deficiência.
Em 2006, a Convenção sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência das Nações Unidas
foi publicada pela Organização das Nações Unidas (ONU), delineando os princípios da
Convenção, como o respeito à dignidade intrínseca, a autonomia individual e a independência
pessoal, a abolição da discriminação, a plena integração e participação social, o reconhecimento
da diversidade, a promoção de igualdade de oportunidades, a acessibilidade, a equidade de
gênero, bem como a valorização do desenvolvimento das capacidades das crianças com
deficiência.
Nesse sentido, o objetivo deste estudo consiste em analisar e discutir os conceitos de
sexualidade e saúde relacionados à mulher com deficiência, bem como a relevância de
desconstruir concepções errôneas da sociedade sobre esses temas. Nesse sentido, Gomes et al
(2019) aborda a preocupação em tornar mais compreensíveis as vidas não normativas,
especialmente aquelas das mulheres com deficiência que enfrentam simultaneamente opressão
e vulnerabilidade. Para alcançar esse propósito, serão compiladas informações e reflexões
provenientes de estudos já publicados, visando fortalecer o debate e o conhecimento nessa área
específica.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

293
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
O presente estudo consiste em uma revisão narrativa de artigos científicos que abordam
a sexualidade e saúde de mulheres com deficiência. O objetivo principal é analisar e
compreender o tema em questão. Foram analisados artigos, livros, teses e produções científicas,
publicados em inglês e/ou português, disponíveis nas seguintes bases de dados: ScienceDirect,
PubMed, LILACS, Scielo, BVS (Biblioteca Virtual de Saúde) e OMS (Organização Mundial
de Saúde), as buscas foram realizadas no mês de julho de 2023. Os descritores utilizados foram:
sexualidade, saúde, PCD (Pessoas com Deficiência), mulheres com deficiência, convenção
sobre os direitos da pessoa com deficiência e ONU sexuality and health, estes sendo
combinados de forma a possibilitar encontrar as pesquisas que são de maior relevância para
este.
Para a pesquisa obteve-se um total de 11 artigos, todos os citados estão mencionados no
quadro 1, sendo destacadas as seguintes variáveis: ano, autores, título e descrição.

Quadro 1: Características dos artigos que foram selecionados para serem incluídos no
presente estudo.

Ano Autores Título Descrição

1975 OMS. Education and Conceitua a Organização Mundial


ORGANIZAÇÃO treatment in human da Saúde- OMS, a sexualidade
MUNDIAL DA sexuality: the training como as relações interpessoais do
SAÚDE of health ser humano, e esse conceito não se
professionals. limita a relações sexuais e ao
contato físico humano. Trata da
sexualidade como direito humano,
pois focaliza no indivíduo e se
torna um bem inalienável.

1988 GOFFMAN, Notas sobre a


ERVING manipulação da Analisa como o estigma afeta a
identidade deteriorada vida de pessoas com deficiência,
observando que a sociedade
muitas vezes tende a perceber
pessoas com deficiência como
"anormais" e as discrimina com
base nessas percepções.

2006 MAIA A. C. B. Sexualidade e Expressa a conceitualidade da


deficiências. sexualidade e de pessoas com
deficiência, relutante à
estereotipação sobre limitações
das pessoas com deficiência sobre

294
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
o mundo da sexualidade e seus
anseios como ser humano, e
abrangendo para questões dos
variados tipos de deficiência.

2006 ONU. Convenção sobre os Expressa os direitos equânimes à


ORGANIZAÇÃO direitos das pessoas pessoas com deficiência,
MUNDIAL DAS com deficiência. baseando-se nos direitos humanos
NAÇÕES UNIDAS fundamentais que devem ser
respeitados e protegidos através de
diretrizes específicas.

2007 DINIZ. DÉBORA O que é deficiência? Discute sobre aspectos voltados


para a deficiência.

2007 ROTHER, E. T. Revisão sistemática X Apresenta a diferença entre a


revisão narrativa. Revisão Sistemática e a Revisão
Narrativa e suas aplicações.

2011 MAIA. A. C. B. Inclusão e Elucida sobre pontos que


sexualidade: Na voz de corroboram para o esclarecimento
pessoas com referente a sexualidade de pessoas
deficiência física. com deficiência física e suas
dimensões.

2012 LITTIG, P. M. C. Sexualidade na Faz uma discussão acerca dos


B.; CÁRDIA, D. R.; deficiência intelectual: aspectos envolvidos nas
REIS, L. B.; Uma análise das concepções familiares que acabam
FERRÃO, E. S. percepções de mães de afetando o desenvolvimento da
adolescentes especiais sexualidade das pessoas com
deficiência intelectual.

2019
GOMES, ET AL. Novos diálogos dos Caracteriza a produção recente dos
estudos feministas da estudos feministas da deficiência
deficiência com o foco na intersecção entre
gênero e deficiência.

2020
SERRA, ET AL. A pessoa com Busca entender por meio de uma
deficiência e os pesquisa bibliográfica descritiva
entrelaces com as com abordagem qualitativa como é
questões de gênero e vista a pessoa com deficiência e os
de sexualidade entrelaces com as questões de
gênero e de sexualidade.

295
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
2021 Entender como a mulher com
SIMBINE, A. J. Percepção sobrea deficiência e a sociedade
Sexualidade da Mulher percepcionam a sexualidade
dessas mulheres, numa cultura em
com Deficiência X que as crenças tradicionais
Crenças Culturais permeiam as causas da deficiência.
Moçambicanas.

Fonte: Produção própria.

Considerou-se como critério de inclusão os estudos que apresentaram um maior domínio


acerca da temática selecionada para a revisão narrativa, escritos nos idiomas português e/ou
inglês.
Os critérios de exclusão foram os que não estavam disponíveis nas bases de dados
descritas no parágrafo anterior, os que não haviam sido disponibilizados na íntegra, os que não
eram estudos originais e trabalhos duplicados.
Foram encontrados 13 artigos que tinham potencial para integrar a pesquisa, porém
considerou-se os critérios supracitados e o conteúdo de seus resumos e chegou-se a um total de
11 artigos a serem incluídos no presente estudo, segue abaixo o fluxograma de como se deu
essa escolha.

Figura 1: Fluxograma de como se deu a seleção dos artigos utilizados.

Fonte: Produção própria

A análise final se deu através da leitura dos materiais selecionados, fazendo-se uma
avaliação crítica acerca da temática. O método de revisão narrativa não faz uso de passos para

296
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
ser realizada de maneira completa, ou seja, o mesmo não utiliza uma pergunta norteadora
(ROTHER, 2007).

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

A revisão narrativa dos artigos revelou o estigma social imposto à mulher com
deficiência inserida numa sociedade, que demonstra aversão às deficiências e perpetua o
machismo estrutural, criando barreiras para essa parcela da população. No entanto, ao longo do
tempo, as visões estereotipadas têm sido desconstruídas por meio de estudos, pautas coletivas,
direitos humanos e a inclusão das mulheres com deficiência na sociedade contemporânea.
A abordagem do conceito de sexualidade também se mostrou importante, sendo
conceituada de forma ampla para que as pessoas possam compreendê-la além da mera relação
sexual, englobando diversas dimensões como relações interpessoais e sentimentos. Essa
perspectiva mais contemporânea é respaldada por amplos estudos sobre o tema e contribui para
quebrar estigmas sociais em relação à sexualidade de pessoas com deficiência, em especial as
mulheres.
No contexto específico de mulheres com deficiência, os artigos destacaram a
importância de garantir direitos equânimes e diretrizes específicas para respeitar seus direitos
humanos fundamentais. Esses estudos fornecem esclarecimentos cruciais sobre a sexualidade
das mesmas, promovendo uma visão mais inclusiva e respeitosa em relação a essa questão.
Diante do que foi exposto no presente trabalho, é notório como a sexualidade é ainda
um grande tabu social e como esse debate foi se construindo ao longo do tempo, tendo a
conceituação da OMS (1975) sobre sexualidade como um grande marco, mas que se perpetua
e desenvolve até os dias atuais.
Relacionar a sexualidade a corpos deficientes mostra-se um tabu ainda maior. Diniz
(2007), aponta que a deficiência se caracteriza como um conceito complexo, onde há o
reconhecimento da lesão, mas há também a denúncia com relação à estrutura social que acaba
por oprimir a pessoa com deficiência: o corpo deficiente. Sendo assim, estudos relacionados ao
tema expõem os desconfortos da segregação.
A sexualidade sempre foi resumida ao ato sexual e de acordo com Simbine (2021),
essas questões ainda são permeadas em algumas culturas. Em entrevistas com mulheres com
deficiência, a autora traz em seu estudo pontos importantes dentro do grande tabu envolto na
sexualidade dessas mulheres que acabam sendo direcionadas à locais de violação de seus
direitos sexuais e reprodutivos. O meio familiar se configura como um instrumento que acentua

297
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
esse direcionamento a espaços de violação pois, de acordo com Littig et al (2012), em sua
análise de referencial teórico sobre a deficiência e a sexualidade, as concepções acerca da
sexualidade das pessoas com deficiência intelectual e os comportamentos de cunho sexual
oriundo das pessoas com deficiência sempre são difundidos por meio de mitos e acabam sendo
considerados atitudes anormais.
Com isso, é possível perceber que a falta de orientação sexual mediante a família e a
ausência de uma educação sexual com temas de inclusão dessas mulheres, acabam as
conduzindo ao desenvolvimento de suas sexualidades em espaços de violência sexual e
consequentemente, passam a normalizar tais atitudes. Nesse sentido, Goffman (1988)
argumenta que a infantilização geralmente é oriunda do âmbito familiar de pessoas com
deficiência e influencia na forma como se expressam e se manifestam sexualmente.
De fato, com os avanços na divulgação e nas discussões acerca das teorias de gênero
e sexualidade ocorridos desde a virada do século, os autores revisados concordam que surgiram
várias mudanças no entendimento sobre sexualidade das pessoas com deficiência. Tais
mudanças despertam avanços significativos no rompimento dessas visões deturpadas/restritivas
(LITTIG et al, 2012; MAIA, 2006), permitindo a construção do entendimento de que pessoas
com deficiência, assim como pessoas sem deficiência, devem ser vistas de maneira íntegra pois
possuem necessidades e desejos que possibilitam a expressão de suas sexualidades de diversas
formas e não estritamente à finalidades reprodutivas ou resumidas ao ato sexual.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após a elaboração dessa pesquisa, foram encontradas na literatura conclusões errôneas


sobre o que é sexualidade, com um quadro ainda mais preocupante quando o assunto é a
sexualidade da mulher com deficiência. Pode-se concluir que as mulheres com deficiência têm
experiência com situações de violação dos seus direitos sexuais e reprodutivos, na medida em
que, desde que o meio familiar, há uma ausência de orientação e informações sobre como
vivenciar a sexualidade livre de qualquer discriminação com base na deficiência visto que os
direitos são equânimes à pessoas com deficiência, baseando-se nos direitos humanos
fundamentais que devem ser respeitados e protegidos.
Alguns artigos expressam a conceitualização da sexualidade e de pessoas com
deficiência, relutante à estereotipagem sobre limitações das pessoas com deficiência sobre o
mundo da sexualidade e seus anseios como ser humano, e abrangendo questões dos variados
tipos de deficiência.

298
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
A presente pesquisa espera contribuir neste meio com o objetivo de desconstruir
concepções errôneas da sociedade sobre o tema da sexualidade que englobam as pessoas com
deficiência e em especial a sexualidade das mulheres com deficiência. Além disso, de propor
reflexão sobre a temática, com o intuito de proporcionar a visibilidade do tema e assim ampliar
as informações e discussões, visto que, de acordo com o próprio levantamento da pesquisa, é
um tema cercado de tabus e estereótipos e que precisa e deve ser mais discutido e visibilizado.

REFERÊNCIAS

DINIZ, Débora. (2007). O que é deficiência. São Paulo, SP: Brasiliense.

GOFFMAN, E. Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. Traduzido por


Márcia Bandeira de Mello Leite. 4. ed. Rio de Janeiro: LTC, 1988.

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PR: Juruá, 2011.

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SERRA, I. O. et al. A pessoa com deficiência e os entrelaces com as questões de gênero e de


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LITTIG, P. M. C. B.; CÁRDIA, D. R.; REIS, L. B.; FERRÃO, E. S. Sexualidade na


deficiência intelectual: uma análise das percepções de mães de adolescentes especiais. Revista
Brasileira de Educação Especial [online]. 2012, v. 18, n. 3 [Acessado 28 julho 2023], pp.
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Nov 2012. ISSN 1980-5470. https://doi.org/10.1590/S1413-65382012000300008.

299
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
CAPÍTULO 27
SENTIMENTOS VIVENCIADOS POR
PAIS DURANTE O PROCESSO
PARTURITIVO NA PANDEMIA DA
COVID-19
FEELINGS EXPERIENCED BY PARENTS DURING THE PARTURITIVE
PROCESS IN THE COVID-19 PANDEMIC

10.56161/sci.ed.20230913C27

Glória Cibele Bezerra Siqueira


Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA)
https://orcid.org/0000-0002-0573-7103

Jessica Ketleen Caetano Lopes


Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA
https://orcid.org/0000-0003-0921-8092

Antonia Cristiane Ferreira Torres


Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA)
https://orcid.org/0000-0002-5768-8454

Antonia Tainá Bezerra Castro


Universidade Federal do Ceará
https://orcid.org/0000-0001-9126-8990

Ana Alice Batista Rodrigues


Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA)
https://orcid.org/0000-0001-5247-0854

Laisse Carlos de Mesquita


Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA)
https://orcid.org/0009-0002-6833-056X

Maria das Graças Rodrigues Moreira


Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA)
https://orcid.org/0000-0002-5422-4953

Maria Jailane Alves de Sousa


Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA)

300
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
https://orcid.org/0000-0003-0236-7669

Ana Gabriella Silva de Araújo


Centro de Saúde da Família (CSF) Doutor Grijalba Mendes Carneiro
https://orcid.org/0009-0007-5198-2015

Maria Adelane Monteiro da Silva


Universidade Federal do Ceará - UFC
https://orcid.org/0000-0001-9126-8990

RESUMO

A temática da paternidade vem ganhando destaque nos últimos anos, ao passo em que as
relações familiares contemporâneas levam a mudanças nas funções de papéis entre homens e
mulheres, contrariando os estereótipos sociais previamente estabelecidos. Em meio a isso, em
meados de 2020, emergiu um novo cenário com um potencial fragilizador das relações entre o
binômio pai-filho: a pandemia de Covid-19. O estudo tem como objetivo descrever os
sentimentos vivenciados por pais durante o processo parturitivo na pandemia da Covid-19.
Estudo qualitativo do tipo exploratório e descritivo realizado com os pais que acompanharam
as gestantes admitidas nas maternidades da Santa Casa de Misericórdia de Sobral (SCMS) e do
Hospital Unimed de Sobral, entre agosto de 2020 e julho de 2021, totalizando 11 participantes.
A análise de dados baseou-se no referencial de Análise de Conteúdo de Bardin, a qual engloba
três polos cronológicos: pré-análise, exploração do material e tratamento dos resultados/
inferência/ interpretação. A pesquisa seguiu a resolução Nº 466/2012 do Conselho Nacional de
Saúde (CNS). Os participantes apresentavam idades entre 24 a 39 anos, a maioria encontrava-
se em união estável, todos se consideravam pardos, a maioria possuía ensino médio completo,
apresentavam diferentes ocupações, prevalecendo o ramo da agricultura, e possuíam rendas
familiares variadas. A partir dos relatos mencionados, foi possível classificar os sentimentos
paternos em duas categorias: (I) Sentimentos que emergem em pais com experiências anteriores
e (II) Sentimentos que emergem em pais com a chegada do primeiro filho. Em ambos os casos,
percebeu-se que o cenário pandêmico intensificou os sentimentos de medo e insegurança.
Portanto, alguns aspectos como o nível de embasamento técnico acerca dos benefícios da
participação paterna, os fatores socioeconômicos e culturais relacionados a esse processo, a
pandemia de Covid-19 e a falta da participação do homem no pré-natal possuem interferência
negativa no exercício da paternidade.

PALAVRAS-CHAVE: Gravidez; Paternidade; Emoções; COVID-19.

ABSTRACT

The theme of fatherhood has been gaining prominence in recent years, while contemporary
family relationships lead to changes in role functions between men and women, going against
previously established social stereotypes. In the midst of this, in mid-2020, a new scenario
emerged with a potential weakening of the relationship between the father-son binomial: the
Covid-19 pandemic. The study aims to describe the feelings experienced by parents during the
parturition process in the Covid-19 pandemic. This is a qualitative exploratory and descriptive
study conducted with parents who accompanied pregnant women admitted to the maternity

301
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
hospitals of Santa Casa de Misericórdia de Sobral (SCMS) and Hospital Unimed de Sobral,
between August 2020 and July 2021, totaling 11 participants. Data analysis was based on
Bardin's Content Analysis framework, which encompasses three chronological guide
principles: pre-analysis, exploration of the material and treatment of
results/inference/interpretation. The research followed resolution No. 466/2012 of the National
Health Council (CNS). The participants were aged between 24 and 39 years, most were in a
stable union, all considered themselves brown, most had completed high school, had different
occupations, the agricultural sector prevailing, and had varied family incomes. From the reports
mentioned, it was possible to classify paternal feelings into two categories: (I) Feelings that
emerge in parents with previous experiences and (II) Emotions that emerge in parents with the
arrival of the first child. In both cases, it was noticed that the pandemic scenario intensified
feelings of fear and insecurity. Therefore, some aspects such as the level of technical support
about the benefits of paternal participation, the socioeconomic and cultural factors related to
this process, the Covid-19 pandemic and the lack of participation of men in prenatal care have
negative interference in the exercise of fatherhood.

KEYWORDS: Pregnancy; Paternity; Emotions; COVID-19.

1. INTRODUÇÃO
A temática da paternidade vem ganhando destaque nos últimos anos, ao passo em que
as relações familiares contemporâneas levam a mudanças nas funções de papéis entre homens
e mulheres, contrariando os estereótipos sociais previamente estabelecidos. Por muito tempo, a
figura paterna era associada ao sustento financeiro da família, enquanto as atividades
domésticas e o cuidado ficavam sob a responsabilidade da mulher (BERNARDI, 2017).
No contexto hodierno, entretanto, percebe-se após o diagnóstico da gravidez, ocorre
uma reorganização familiar que possibilita os homens desenvolverem atividades que antes eram
atribuídas à mulher, como forma de afeto, cuidado e zelo, sendo considerado um cuidado
indireto ao bebê (FITERMAN; MOREIRA, 2018).
Como o período gestacional é marcado por rápidas e intensas transformações
biopsicossociais, inicialmente a paternidade é vivenciada no imaginário do homem, tornando-
se cada vez mais real ao longo do tempo e da evolução da gestação (TRINDADE et al, 2019).
O mesmo vai percebendo-se pai durante os momentos compartilhados com a companheira,
acompanhando consultas de pré-natal, ouvindo os batimentos cardíacos do bebê, visualizando
o filho por meio da ultrassom e ao perceber os movimentos fetais na barriga da mãe.
Acontece que, prioritariamente, as mudanças fisiológicas e hormonais que ocorrem na
mulher fazem-na amadurecer o sentimento materno mais rapidamente, enquanto o homem
perpassa por diferentes sentimentos, como medo, ansiedade e angústia, fazendo-os experienciar

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PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
a paternidade de forma mais lenta e gradual (BRANDÃO, 2021). Assim, vê-se a sensibilidade
que envolve o período de gestação, parto e puerpério na construção da paternidade.
Em meio a isso, em meados de 2020, emergiu um novo cenário com um potencial
fragilizador das relações entre o binômio pai-filho: a pandemia de Covid-19. Tal conjectura foi
causada pelo vírus SARS-COV-2, identificado, inicialmente, na província de Wuhan, na China,
alastrando-se para os outros países, resultando em uma pandemia devastadora, que desafiava
os serviços de saúde e a sociedade com os altos índices de mortalidade que variavam de acordo
com as características epidemiológicas e sociais de cada país (BRASIL, 2020).
Consequentemente, em 30 de janeiro de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS)
declarou estado de “Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional´”, tornando-se
necessário prevenir a sua transmissão e diminuir a ocorrência de novas infecções. Para tanto,
orientou-se a detecção precoce da doença, o isolamento social para toda a comunidade, a
realização da notificação, investigação e manejo adequado dos casos (OMS, 2020).
Perante a esse cenário angustiante, a Federação Brasileira das Associações de
Ginecologia e Obstetrícia afirmou que, apesar dos casos de Covid-19, o ambiente hospitalar era
o mais adequado para a redução da morbimortalidade materna e perinatal, inclusive em
gestantes assintomáticas e de risco habitual (FEBRASGO, 2020). Nesse sentido, mesmo diante
do protocolo de isolamento social, a lei n° 11.108 de 2005 assegurava o direito das gestantes
de terem um acompanhante durante o trabalho de parto, parto e pós-parto nos serviços do
Sistema Único de Saúde, da rede privada ou conveniada, a fim de promover a humanização do
parto e nascimento (BRASIL, 2005).
Em contrapartida, a disseminação exponencial do COVID-19 aliada ao saber
insuficiente quanto à intensidade e desdobramentos da doença, seus sintomas, as possibilidades
de transmissão e aos métodos mais assertivos para sua prevenção tornou-se um fator estressante
no que tange a relação entre o pai-mãe-filho (ROCHA, 2021)
Sendo assim, é importante atentar-se aos aspectos psicoemocionais do pai durante o
processo de nascimento do filho em meio a pandemia, haja vista que, de um lado, tem-se o
medo e a insegurança mediante a contaminação e suas repercussões na criança, enquanto por
outro, emerge a alegria e a satisfação do nascimento do bebê (ROCHA, 2021).
Nesse contexto, vale ressaltar, ainda, o importante papel do enfermeiro como prestador
do cuidado direto e contínuo à tríade pai-mãe-filho. Isso porque o cuidado de enfermagem
executado de forma efetiva, acolhedora e holística possibilita a criação de vínculos que geram
confiança no serviço e permitem o protagonismo do usuário e sua família em um momento tão
importante e delicado quanto o nascimento (BRANDÃO et al, 2021).

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PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Destarte, surge a necessidade de compreender como a pandemia de Covid-19 impactou
as percepções psicoemocionais do homem quanto ao processo da paternidade, bem como a
relação de vínculos estabelecidos entre pai-mãe-filho durante esse cenário tão avassalador.
Logo, o estudo tem por objetivo descrever os sentimentos vivenciados por pais durante o
processo parturitivo na pandemia da Covid-19.

2. MATERIAIS E MÉTODOS
Trata-se de um estudo qualitativo do tipo exploratório e descritivo. O método qualitativo
tem como objetivo descrever fenômenos de uma determinada situação abrangendo
significações, motivos, aspirações, atitudes, crenças e valores. Aplicam-se às relações humanas
a respeito de como vivem, sentem e pensam (MINAYO, 2010). Por sua vez, a pesquisa
exploratória consiste em realizar o levantamento de fontes secundárias, experiências, estudos
de casos selecionados e observação informal (MATTAR, 2001).
A coleta de dados foi realizada no período de agosto de 2020 a julho de 2021, durante a
pandemia de COVID-19, utilizou-se do instrumento de entrevista semi estruturada, norteada
por meio de um roteiro-guia com questionamentos abertos. Para registro das entrevistas foi
utilizado um gravador digital.
O público da pesquisa foram pais que acompanharam as gestantes admitidas nas
maternidades da Santa Casa de Misericórdia de Sobral (SCMS) e no Hospital Unimed de Sobral
no período da coleta de dados, totalizando 11 participantes. Diante o exposto, considera-se
como critério de inclusão o público paterno que estiveram durante o processo de nascimento do
seu filho no período e local do estudo. Excluiu-se do estudo pais que acompanharam de forma
pontual a sua companheira.
A análise de dados da pesquisa baseou-se no referencial de Análise de Conteúdo de
Bardin, a qual engloba três polos cronológicos: pré- análise, exploração do material, tratamento
dos resultados/ inferência/ interpretação. Neste último polo, a categorização surge como uma
operação de qualificação de elementos constitutivos do conjunto. A categorização tem como
primeiro objetivo fornecer, por condensação, uma representação simplificada dos dados brutos
(BARDIN, 2016).
De acordo com a resolução de Nº 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), que
possuem diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas que envolvem seres humanos, o
estudo foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) e aprovado sob o parecer de
número 4.351.209.

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PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Durante a análise das entrevistas, foi possível caracterizar os participantes a
partir dos dados coletados acerca de sua atuação no processo parturitivo e puerperal em meio à
pandemia de Covid-19, percebendo-se uma relação intrínseca entre sentimentos paternos e
conhecimento, experiências, atitudes, impasses e entre outros aspectos.

Tabela 1 – Caracterização dos pais que participaram do processo parturitivo e puerperal


diante da pandemia da Covid-19. Sobral-CE, 2021.

(continua)
Características Frequência
Idade
24 1
25 1
26 1
28 1
29 1
31 2
34 20
36 1
39 1
Tabela 1 – Caracterização dos pais que participaram do processo parturitivo e puerperal
diante da pandemia da Covid-19. Sobral-CE, 2021.

(continua)
Características Frequência
Cor da pele ou Raça
Preta 0
Amarela 0
Branca 0
Parda 11
Indígena 0
Escolaridade
Analfabeto 0
Ensino Fundamental Incompleto 1
Ensino Fundamental Completo 2
Ensino Médio Incompleto 1

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PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Ensino Médio Completo 4
Ensino Superior Incompleto 0
Ensino Superior Completo 3
Ocupação
Agricultor 2
Advogado 1
Autônomo 1
Auxiliar de escritório 1
Auxiliar de expedição 1
Construtor 1
Operador de recauchutagem 1
Policial Militar 1
Professor 1
Vendedor ambulante 1
Estado civil
Solteiro 0
União Estável 6
Casado 5
Renda
Sem renda fixa 3
Menos de 01 salário 0
01 a 02 Salários 3
Mais de 02 ou até 03 Salários 2
Mais de 03 salários 3
Procedência
Forquilha 1
Irauçuba 1
Jaibaras 1
São Paulo 2
Sobral 4
Tianguá 1
Uruoca 1

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PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Tabela 1 – Caracterização dos pais que participaram do processo parturitivo e puerperal
diante da pandemia da Covid-19. Sobral-CE, 2021.

(conclusão)
Características Frequência
Número de filhos
1 5
2 4
3 1
4 1
5 0
Fonte: Dados da pesquisa, 2021.

Como foi mencionado anteriormente, a entrevista foi realizada em duas maternidades


situadas em dois hospitais que possuem caracterizações diferentes, permitindo caracterizar o
perfil dos pais que estiveram presentes durante o processo de nascimento do filho, no período
respectivo ao da emergência de Covid-19. Assim, ressalta-se que foram entrevistados 11
homens, com idades entre 24 a 39 anos, cuja maioria encontrava-se em união estável. Todos
consideravam-se de raça parda.

Com relação à escolaridade a de maior prevalência foi o ensino médio completo, os


mesmos possuem ocupações variadas como agricultor, advogado, autônomo, auxiliar de
escritório, auxiliar de expedição, construtor, operador de recauchutagem, policial militar,
professor, vendedor ambulante, porém percebe-se a prevalência de profissionais no ramo da
agricultura. No que concerne à renda familiar, obtiveram-se respostas variadas, onde as opções
sem renda fixa, um a dois e mais de três salários foram relatadas com a mesma prevalência,
sendo a opção mais de dois ou até três salários a de menor prevalência. É importante salientar
que estes eram em sua maioria provenientes do município de Sobral e cerca de cinco desses
pais entrevistados, encontravam-se participando do processo de nascimento de seu primeiro
filho.

Dessa forma, torna-se notório que a clientela do hospital particular dispõe de um perfil
sociodemográfico mais favorável ao ser comparado com a clientela do hospital filantrópico.
Ainda, durante o estudo foi perceptível em ambos os hospitais que os aspectos gerenciais,
financeiros, estruturais e as medidas protetivas adotadas no serviço eram distintas. O quadro 1
remete a organização de forma comparativa das variáveis sociodemográficas mais prevalentes
dos pais dos dois hospitais do estudo.
Quadro 1 – Caracterização dos pais que participaram do processo parturitivo e puerperal diante da pandemia da
Covid-19 por instituição. Sobral-CE, 2021.
Instituições hospitalares
Variáveis
SCMS Unimed
Faixa Etária *Idades variadas* 31 anos (2)
Escolaridade Ensino Fundamental Completo (2) Ensino Superior

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PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Ensino Médio Completo (2) Completo (3)
Ocupação Agricultor (2) *Ocupações variadas*
Renda Familiar Sem renda fixa (3) Maior que 3 salários (3)
Estado Civil União Estável (4) Casado (3)
Número de Filhos 2 filhos (3) Primeiro filho (4)
Fonte: Dados da pesquisa, 2021

Devido ao contexto de pandemia da COVID-19, a atuação e presença do pai sofreu


interferência visto que haviam protocolos de medidas de prevenção e contenção viral. A partir
da implementação de restrições, houve comentários de pais que usufruíram do direito de
participar do parto e outros que não foram permitidos. Em face desses relatos, é evidenciado a
negligência dada a direitos já legitimados, mas que na realidade não são desfrutados (Sousa et
al., 2020).
A partir da análise dos discursos dos pais e como resposta a investigação e reflexão
dos sentimentos desencadeados nos pais durante o processo de acompanhamento do parto e
puerpério, evidenciaram-se duas categorias: sentimentos que emergem em pais com
experiências anteriores; sentimentos que emergem nos pais com a chegada do primeiro filho.
Determinou-se, a primeira, a partir dos seguintes depoimentos:
Totalmente, é algo emocionante, nasce outro amor dentro da gente (...) (P1)
Medo e insegurança. (P7)
A gente fica feliz, emocionado, por ser gratificante participar desse momento. (P10)
Percebeu-se que apesar de alguns participantes já terem experienciado o processo da
paternidade, estes não haviam vivenciado tão intensamente esse momento único e significativo
em comparação a singularidade do cenário imposto pela pandemia de Covid-19, representado
através dos depoimentos do P1, P7 e P10, onde notoriamente os pais expressam um misto de
sentimentos e emoções.
Constata-se nos relatos que os sentimentos expressados de forma majoritária foram
felicidade e amor, evidenciando a realização pessoal e social sentida e expressada pelos pais.
Por conseguinte, o medo e receio de não ser capaz de exercer com efetividade o exercício da
paternidade também esteve presente em alguns participantes, sendo ainda mais acentuado pelo
cenário de incertezas, causado pela pandemia de Covid-19, na qual esses pais estavam
vivenciando.
O nascimento de um filho com a presença do pai gera distintas percepções, com uma
diversidade de sentimentos que são intercalados a todo instante, como a surpresa, o medo, a

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PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
excitação, o amor e a emoção. Este evento evidencia o registro em suas lembranças e a
transformação na vida do casal. Assim, a experiência do pai em estar presente neste momento
único, que é o parto, gera a estas diversas sensações que são expressas por meio de sentimentos
transparecidos por emoções, bem como a elucidação de uma boa experiência (RIBEIRO et al.,
2018).
Em contrapartida, as entrevistas destacaram o forte impacto emocional nos pais,
incluindo sentimentos de medo e insegurança, implicando sobre a participação efetiva do pai
em meio ao cenário pandêmico. Recomenda-se o envolvimento do pai/parceiro desde o início
do período gestacional a fim de desenvolver atitudes participativas diante das particularidades
que envolvem a gravidez, o parto e o puerpério (CAVALCANTI; HOLANDA, 2019).
Quando o homem recebe a notícia que será pai pela primeira vez, passa um turbilhão de
informações em sua cabeça, tendo em vista que é um novo mundo tanto para ele como para sua
companheira. Desde a notícia da gestação até o momento do nascimento do filho, o homem
vivencia um mister de sentimentos, visto que este não conhece o processo. Os pais de “primeira
viagem”, como são conhecidos aqueles que serão pais pela primeira vez, sentem-se inseguros
com o processo de parto por desconhecerem o processo e os cuidados que devem ser realizados
com o filho e a companheira. Com a pandemia de Covid-19, tais sentimentos tornam-se ainda
mais intensificados, além da experiência da paternidade de primeira viagem que por si só gera
muita insegurança, a pandemia traz um grande impacto negativo gerado principalmente no
aspecto financeiro e social, a incerteza do futuro, o medo da doença e a preocupação em
redobrar os cuidados preventivos, tendo em vista a situação de fragilidade que se encontra a
parturiente e o recém-nascido. Dessa forma, surge a categoria sentimentos que emergem nos
pais com a chegada do primeiro filho, assim descritos a seguir:
(...) Dar um pouco medo pelo fato dela está sentindo dor, mas eu levo para minha vida
como uma realização. (P2)
Poder pegar meu filho pela primeira vez e ajudar minha companheira me encheu de
amor e felicidade por estar ao lado dela e ao lado dele. (P2)
(...), mas para mim senti alegria em ver meu filho e poder tocar nele. (P2)
Acompanhar o nascimento do meu filho foi significativo pois a criança ressignifica a
nossa vida. (P4)
Foi maravilhoso poder participar, indescritível, muito bom (...) medo, insegurança por
ser o primeiro filho. (P5)
Percebe-se que os pais, mesmo em meio aos sentimentos de medo e incerteza, tendem
a reprimir seus sentimentos, buscando se manter calmos para que assim possam transmitir

309
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
segurança para a parturiente. Com base nisso, enfatiza-se que a participação paterna no trabalho
de parto e parto é capaz de promover segurança e bem-estar para a mulher (PEREIRA;
CARVALHO; PENA, 2022).
É essencial citar o impacto da presença ou ausência do pai no momento do parto, direito
afetado pelas medidas de protocolo que restringiam a presença do pai no momento do
nascimento do bebê, devido a medidas de prevenção e controle da COVID-19 e a possibilidade
de estar como acompanhante, oportunidade que poderia ser negada dado às políticas de redução
de fluxo dentro do serviço de saúde e interferindo na qualidade de tempo junto ao filho. A
participação do pai, além de criar vínculo, ajuda na manutenção dos cuidados com o recém-
nascido e auxílio para a puérpera (Silva et al., 2023)
Frente ao exposto, resultados de um estudo apontou a exclusão afetiva de pais de
primeira viagem, ao afirmarem que, ao longo da gestação, tinham dúvidas, sentiam-se
inseguros, não tinham com quem falar ou não encontravam abertura para expor suas ansiedades
e incertezas. Logo, torna-se necessário fortalecer o vínculo entre os profissionais de saúde e os
pais, tendo em vista alcançar o exercício da paternidade pautado no cuidado do filho
(TRINDADE; CORTEZ; DORNELAS, 2019).

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Portanto, por meio das falas dos homens foi possível perceber que compreendem sobre
a importância da sua participação no parto e pós-parto como apoio à mulher para que se sinta
mais confiante e confortável, como também conseguem entender que estando próximos durante
o momento do parto, a identificação com a paternidade estará mais evidenciada.
Contudo, com relação ao acompanhamento paterno do parto no cenário de pandemia,
foi possível verificar que as distintas características socioeconômica e cultural que os pais
possuem podem provocar influência sobre a sua percepção com relação ao processo de
participação nesse contexto. Alguns aspectos como o nível de embasamento técnico acerca dos
benefícios da participação paterna, os fatores socioeconômicos e culturais relacionados a esse
processo, pandemia de COVID-19 e a falta da participação do homem no pré-natal possuem
interferência negativa no exercício da paternidade.
Ademais, ficou claro o contraste de emoções expressadas pelos pais, perpassando
realizações pessoais, medos e ansiedades sobre o futuro e responsabilidades. Nesse sentido, os
pais tendem a esconder os sentimentos e emoções visando transmitir segurança para a gestante
ou parturiente, prejudicando ou interferindo no processo interno e psicológico de aceitação e
adaptação do novo cenário familiar. Devido a este panorama, urge a necessidade da intervenção

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PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
dos profissionais de saúde para amparar e direcionar para a criação de um vínculo paterno
seguro e com abertura para aprendizado.

REFERÊNCIAS
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OBSTETRÍCIA. (FEBRASGO). Protocolo de atendimento no parto, puerpério e
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311
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
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TRINDADE,Z; CORTEZ,M.B; DORNELAS, K. et al. Pais de primeira viagem: demanda por


apoio e visibilidade. Revista Saúde e Sociedade. v.28, n.1, 2019. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/sausoc/a/PdPNV6rvz4fKF3T9wZQsFNy/.

312
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
CAPÍTULO 28
SILENCIANDO A DOR: A VIOLÊNCIA
OBSTÉTRICA NA PERDA
GESTACIONAL
SILENCING PAIN: OBSTETRIC VIOLENCE IN PREGNANCY LOSS

10.56161/sci.ed.20230913C28

Juliane Maguetas Colombo Pazzanese


Fundadora Instituto Acolhedor
Coordenadora Movimento Humanização do Luto Parental de Goiás
https://orcid.org/0000-0003-3338-8593

Ludmilla Faria Ferreira


Fundadora do Gestar com Trombofilia/Projeto Meu Colo
Coordenadora Movimento Humanização do Luto Parental de Goiás
https://orcid.org/0009-0001-4499-8728

RESUMO

A violência obstétrica é um problema que afeta milhões de mulheres no Brasil e em todo o


mundo e é uma questão de saúde pública e de direitos humanos de grande preocupação. Esse
fenômeno está intrinsecamente ligado à assistência durante a gravidez, parto e puerpério, onde
muitas mulheres enfrentam situações desumanas, desrespeitosas e até violentas por parte dos
profissionais de saúde. Sendo o trauma gerado pelas violências ainda maior em casos de abortos
e perdas gestacionais e neonatais. Neste capítulo, trabalharemos um relato de experiência no
acolhimento à mães enlutadas vítimas de violência obstétrica, mesclando com o conceito de
violência obstétrica, suas principais manifestações, causas, consequências no desenvolvimento
de um processo de luto e a importância de promover grandes mudanças para garantir uma
assistência respeitosa e humanizada.

PALAVRAS-CHAVE: violência obstétrica; luto; humanização da assistência; aborto; óbito


fetal

ABSTRACT

Obstetric violence is a problem that affects millions of women in Brazil and around the world
and is a public health and human rights issue of great concern. This phenomenon is intrinsically
linked to care during pregnancy, childbirth and the puerperium, where many women face
inhuman, disrespectful and even violent situations on the part of health professionals. The

313
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
trauma generated by violence is even greater in cases of abortions and gestational and neonatal
losses. In this chapter, we will work on an experience report in welcoming bereaved mothers
who are victims of obstetric violence, mixing with the concept of obstetric violence, its main
manifestations, causes, consequences in the development of a grieving process and the
importance of promoting major changes to guarantee a respectful and humanized assistance.

KEYWORDS: obstetric violence; bereavement; humanization of assistance; abortion; fetal


death

1. INTRODUÇÃO
A violência obstétrica caracteriza-se por atos de desrespeito, abuso e discriminação no
cuidado à saúde reprodutiva da mulher, principalmente durante a gravidez, parto e puerpério.
Essas práticas podem ocorrer física e psicologicamente, comprometendo a integridade física e
emocional das mulheres envolvidas (CIELLO ET AL, 2012; SES-MS, 2021):
“É o desrespeito à mulher, à sua autonomia, ao seu corpo e aos seus
processos reprodutivos, podendo manifestar-se por meio de violência
verbal, física ou sexual e pela adoção de intervenções e
procedimentos desnecessários e/ou sem evidências científicas. Afeta
negativamente a qualidade de vida das mulheres, ocasionando abalos
emocionais, traumas, depressão, dificuldades na vida sexual, entre
outros” (SES-MS, 2021, p.2)

Embora a temática da violência obstétrica seja recorrente, muitos não sabem


exatamente quais são os tipos de violências que se encaixam na definição. No senso comum, a
maioria acredita que seja violência física como a episiotomia e manobra de Kristeller, por
exemplo. No entanto as violências podem ser muito sutis e a desinformação da mulher e dos
acompanhantes fazem com que elas sejam vistas como “normais”.
Podemos dizer que a comunicação inadequada é um tipo de violência, muito velada,
mas é uma violência. É preciso que as informações sejam claras e acessíveis sobre os
procedimentos médicos envolvidos, tanto para a gestante, quanto para o familiar ou
acompanhante, é preciso informá-la sobre seus direitos. É também uma violência o ato de
ignorar as preferências e desejos da mulher durante o parto, realizar intervenções invasivas e
desnecessárias sem justificativa médica adequada, como episiotomias e toques, raspagem dos
pelos pubianos, cesarianas não indicadas ou uso excessivo de medicamentos. É também
violência fazer comentários depreciativos e estigmatização de mulheres devido à sua origem
étnica, social ou cultural. Não oferecer a atendimento adequado e atenção médica durante o
trabalho de parto e pós-parto, colocando em risco a saúde da mãe e do bebê, ou seja,

314
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
negligenciando a gestante também é violência. Assim como também negar ou restringir direitos
à gestante, como por exemplo restringir a presença do acompanhante. (CIELLO ET AL, 2012;
MARTINS E BARROS, 2016; FERREIRA E GONÇALVES, 2020; SES-MS, 2021).
Por si só, experenciar a violência obstétrica é um grande trauma na vida da mulher. E
quando, além de ser violentada, a mulher está passando pela perda do seu bebê? É uma situação
gravemente traumática e mais comum do que imaginamos.
O excesso de intervenções no parto no Brasil tem sido reportado como violência
obstétrica e contribui para os índices elevados de morbi-mortalidade materna e neonatal. A
exposição Sentidos do Nascer busca incentivar o parto normal para promover a saúde e
melhorar a experiência de parir e nascer no País. Este artigo analisa o perfil e a experiência de
parto de 555 mulheres que visitaram a exposição durante a gestação, com enfoque na percepção
sobre violência obstétrica. A violência obstétrica foi reportada por 12,6% das mulheres e
associada ao estado civil, à menor renda, à ausência de companheiro, ao parto em posição
litotômica, à realização da manobra de Kristeller e à separação precoce do bebê após o parto.
Predominaram nos relatos de violência obstétrica: intervenção não consentida/aceita com
informações parciais, cuidado indigno/abuso verbal; abuso físico; cuidado não
confidencial/privativo e discriminação.
Um dos principais indicadores de qualidade de atenção à saúde das mulheres no
período reprodutivo, a razão de mortalidade materna também deve ser considerada entre as
formas de violência obstétrica. Em 2019, segundo dados do Painel de Monitoramento da
Mortalidade Materna, a taxa era de 57 mortes a cada 100 mil nascimentos, mas o indicador
explodiu durante a pandemia, chegando, em 2021, a 107 mortes número muito inferior à taxa
média registrada na Europa, por exemplo, de 13 mortes a cada 100 mil nascimento, de acordo
com informações do Relatório da Saúde Europeia.
A violência obstétrica durante o processo de perda gestacional ou neonatal é uma
forma dolorosa de abuso, e muitas mulheres já tomadas pela tristeza e pela vulnerabilidade no
momento. A perda de um bebê, seja devido a abortamento, morte fetal intrauterina ou morte
neonatal, é uma experiência emocionalmente desafiadora e devastadora. Nesses casos, a
violência obstétrica pode agravar o sofrimento da mulher, privando-a de dignidade, respeito e
suporte emocional adequado.
Neste contexto da perda fetal, abortamento ou morte neonatal, muitas mulheres
acabam sendo maltratadas por equipes que as pressionam para que elas falem se aquele aborto
foi induzido, em clara violência psicológica. Ou ainda, essas mulheres são colocadas junto a

315
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
outras que acabaram de ter bebês, o que configura uma violência obstétrica institucional
(quando a instituição não oferece um alojamento à parte para quem perdeu o filho).
Dentro da ambiência da perda gestacional, a violência obstétrica pode estar presente
tanto no momento do abortamento quanto durante o acompanhamento médico posterior. A falta
de suporte emocional adequado, a negação do direito de escolha sobre o método de
abortamento, a realização de procedimentos invasivos sem consentimento ou sem necessidade
clínica, e a falta de informações claras sobre o processo podem ser consideradas formas de
violência obstétrica. Os profissionais de saúde devem fornecer informações claras e precisas
sobre o procedimento e os possíveis riscos envolvidos. A falta de informação pode levar a
decisões inadequadas e aumentar o sofrimento físico e emocional das mulheres. É importante
destacar que a violência obstétrica na perda gestacional pode ter impactos significativos na
saúde mental e física das mulheres, aumentando o risco de depressão, ansiedade suícidio e
outras complicações.
O processo de luto por perda gestacional é considerado um processo invisibilizado.
Dentro das teorias de luto, podemos dizer que ele é um processo de luto não reconhecido. Luto
não reconhecido se refere às vivências onde a pessoa não encontra franqueamento social para
permitir enlutar-se, não encontra respaldo e suporte social. É uma experiência dolorosa que, por
não encontrar reconhecimento social, acaba inibindo os familiares de expressar seus
sentimentos, intensificando a solidão e o sofrimento presente no processo de luto (DOKA,
2002).
As consequências da violência obstétrica deixam marcas profundas e impactam tanto
na saúde física quanto na saúde mental das mulheres. Essas experiências traumáticas podem
afetar o processo de vinculação entre a mãe e o bebê, bem como dificultar o início de um
processo de elaboração do luto, que é o que trabalhamos neste capítulo.

2. MATERIAIS E MÉTODOS
Para produzir este capítulo, foi feita uma busca bibliográfica para embasar o relato de
experiência. Foram usados artigos dos sites da Scielo, Google Scholar e BVS - Biblioteca
Virtual em Saúde, além da dados e cartilhas produzidos e disponibilizados pelas Secretarias
Estaduais de Saúde, Ministério da Saúde e Fio Cruz.
Os relatos trazidos são de anos de acolhimento, escuta e psicoterapia com mães
enlutadas e em grande parte dos casos, também vítimas de violência obstétrica. o contato com
essas mães se dá através do Movimento de Humanização do Luto Parental em Goiás, onde são
realizados eventos abertos à comunidade, capacitações, rodas de conversas e grupos de apoio.

316
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Nestes quase 4 anos de experiência com acolhimentos de mães enlutadas, é possível
perceber o quanto a falta de humanização e sensibilidade no atendimento é devastadora. As
mulheres que experenciaram violências obstétricas e perdas gestacionais aparentam apresentar
maior dificuldade diante do processo de elaboração do luto devido à gravidade da situação.
Ferir a dignidade, violar o corpo da gestante e sua autonomia geram danos irreparáveis.
Um sentimento muito comum às vítimas é o constrangimento e a fragilidade emocional,
facilitando vivenciar violências psicológicas. O sofrimento é exacerbado, gerando sentimentos
de inferioridade, medo e insegurança por meio de estigmas, fazendo com que seja reforçado
nessas mulheres sentimento de impotência, inadequação. Essa dor pode causar danos
emocionais que podem persistir, causando traumas, como por exemplo, medo de uma nova
gravidez porque a experiência anterior foi traumática. Além de ser um elemento facilitador para
o desenvolvimento de depressão, transtornos ansiosos ou até mesmo Transtorno de Estresse
Pós-traumático. (SILVA ET AL, 2017; SANTOS, 2019).
O Movimento de Humanização do Luto Parental em Goiás nasceu em 2019 com a
sanção da Lei nº 10.408, de 15 de outubro de 2019, que “institui e inclui no Calendário Oficial
de Eventos do Município de Goiânia a Semana de Sensibilização à Perda Gestacional, Neonatal
e Infantil, a ser realizada anualmente na semana que compreende o dia 15 de outubro, e dá
outras providências” (GOIÂNIA, 2019, p.1). A partir desta lei, o movimento buscou e ainda
buscar trazer à luz discussões pertinentes ao tema, sendo a violência obstétrica um dos
atravessamentos da temática de humanização no luto por perdas de bebês. Todos os anos são
realizadas palestras online, rodas de conversa, treinamento para profissionais visando levar
informação e conhecimento, mas principalmente humanização e respeito nos atendimentos.
Um exemplo de violência que foi acolhido no grupo, foi de uma mãe jovem, negra com
febre persistente há alguns dias, então resolveu buscar atendimento na rede pública de saúde
com sangramento e dor intensa e após o atendimento, a equipe médica sugeriu que o bebê estava
sem batimentos, mas para ser realizado o parto a mãe deveria apresentar um ultrassom com
laudo. Sendo assim, a gestante saiu em peregrinação pela cidade, mas não encontrou na rede
pública e nem particular um local que pudesse emitir o laudo. Em uma maternidade havia uma
ultrassonografista de plantão que fez com que a gestante aguardasse mais de 4h para troca do
plantão pois a médica não queria emitir tal laudo. Por fim, esta mãe foi privada também de se
despedir da filha dela, não foi orientada quanto aos seus direitos em relação a filha natimorta
de 28 semanas.

317
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
É sempre importante fazer um recorte de cor, as mulheres negras estão mais vulneráveis
a serem vítimas da violência obstétricas (AMARAL, KLEIN E GRUNEWALD, 2021).
É possível notar que a violência obstétrica, não somente em casos de perdas, se beneficia
do desconhecimento das leis e dos direitos da gestante. Não se limitando às usuárias do sistema
público de saúde. Mulheres com acesso à informação também são vítimas, principalmente
quando estão em trabalho de parto ou recebendo assistência hospitalar, pois naquele momento
se encontram em uma posição de vulnerabilidade.
Em se tratando de casos em que há morte fetal intrauterina é possível relatar casos em
que a gestante foi forçada a realizar uma cesárea, embora desejasse e soubesse a importância
do processo de parto natural mesmo em casos assim.
Sabe-se que a decisão sobre o tipo de parto, mesmo em caso de natimorto, pode variar com base
em vários fatores, incluindo estágio da gravidez, causa da morte fetal, saúde da mãe e outras
considerações médicas. Em muitos casos, o parto vaginal (parto normal) é possível e o mais
indicado mesmo após a confirmação da morte fetal. O ideal é que a decisão seja tomada em
conjunto pela mãe e equipe de saúde, sendo de extrema importância que a equipe médica
forneça informações claras à mãe e lhe dê apoio emocional nesse momento difícil (BRASIL,
2001; ALVES, 2012). As diretrizes de humanização orientam a realizar o desejo da mãe,
permitir a via de parto escolhida e principalmente permitir que a mãe e os familiares tenham
um momento com o bebê, que possam pegá-lo, registar o momento como acharem adequado,
este momento é de grande importância para o processo de elaboração do luto do filho
(SALGADO E ANDREUCCI, 2018).
No caso acima citado, a gestante foi sedada e ao acordar da anestesia foi informada que
o corpo do seu bebê já estava no necrotério do hospital e não seria possível vê-lo. O primeiro e
único contato desta mãe com seu bebê foi no velório. Alguns casos a mãe são também privadas
de participar destes rituais por ainda estar se recuperando da cirurgia cesariana. Embora a mãe
soubesse que era um direito seu estar com seu bebê, naquele momento de vulnerabilidade e dor,
ela teve seus direitos violados pela equipe médica, o que configura violência obstétrica.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Observa-se que a violência obstétrica causa diversos danos à mulher, afetando sua
compreensão da extensão desses danos à saúde mental. Cada mulher vivencia e elabora essa
violência de maneira única, podendo resultar em inúmeros problemas psicológicos, como
ansiedade, crises de pânico, depressão, suícidio, baixa autoestima, medo, angústia, receios em

318
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
relação a futuras gestações, estresse pós-traumático, culpa e tristeza. Acarretando dificuldades
nos relacionamentos interpessoais e profissionais. As marcas das violências sofridas durante a
gestação e o parto vão além das cicatrizes físicas, sendo também cicatrizes presentes no
inconsciente, em memórias e emoções revividas individualmente. É certo afirmar que a perda
de um filho acarreta uma série de impactos, principalmente emocionais, tanto para a mulher
como para sua família e a equipe de profissionais envolvida. Independentemente do período
gestacional ou se é o primeiro filho, essa mulher precisa receber acolhimento e respeito do
quadro de profissionais que a assistem.
O movimento de humanização do luto parental em Goiás tem buscado levar informações
às gestantes e aos familiares através de cartilhas e informativos que são constantemente
produzidos e distribuídos em consultórios médicos e maternidades. Nota-se bastante resistência
das equipes médicas em aceitar a presença de doulas e psicólogas durante o parto. Além de
serem minoria na participação dos eventos que visam humanização do luto e da assistência à
gestante.

REFERÊNCIAS

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em Português. Porto Alegre, 2012. Disponível em:
https://docs.bvsalud.org/biblioref/2018/10/947604/tcc-daniela-santos-alves.pdf.

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320
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
CAPÍTULO 29
UM ROLEZINHO NOTURNO NA
ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
AN EVENING ROLL IN PRIMARY HEALTH CARE

10.56161/sci.ed.20230913C29

Lucas Da Silva Teixeira


Centro Universitário Vale do Salgado
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0009-0008-2991-4945)

Danilo Trigueiro De Moura


Centro Universitário Vale do Salgado
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0009-0002-2757-9641)

Maria Beatriz Ferreira Brasil


Centro Universitário Vale do Salgado
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0009-0002-2634-0081)

José Anderson Paiva Bessa


Centro Universitário Vale do Salgado
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0009-0005-9718-7741)

Thalyta Almeida Sousa


Centro Universitário Vale do Salgado
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0009-0008-3110-0297)

Charlineide Januário Silva


Centro Universitário Vale do Salgado
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0009-0003-6291-9290)

Regina Silva Ferreira


Centro Universitário Vale do Salgado
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0009-0000-0953-3311)

Luana Aureliano Rodrigues


Centro Universitário Vale do Salgado
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0009-0008-2991-4945)

Ana Camila Siqueira da Silva


Centro Universitário Vale do Salgado
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0009-0005-9033-0381)

Lucenir Mendes Furtado Medeiros

321
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Centro Universitário Vale do Salgado
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0000-0003-0819-8595)

RESUMO

INTRODUÇÃO: O câncer do colo uterino demonstra-se como um tipo de alto grau de


letalidade as mulheres. Apesar da relevância do exame citopatológico, ainda é visível que o
mesmo em diversas unidades de saúde se mostra em quantitativo menor que o esperado ou
possível, em razão por vezes de medos, falta de informação, ausência de autocuidado,
preconceitos e estigmas. Assim este estudo objetivou relatar a experiência vivenciada pelos
estudantes de enfermagem na realização do “XI Rolezinho” em uma Unidade de Atenção
Primária à Saúde. MATERIAIS E MÉTODOS: Trata-se de um estudo descritivo, tipo relato
de experiência, desenvolvido por acadêmicos de enfermagem do Centro Universitário Vale do
Salgado (UNIVS), no município de Icó-CE. Sendo um evento que ofertou procedimentos de
assistência em saúde a mulher, realizado entre 20 a 23 de março de 2023, no turno noturno,
objetivando proporcionar maior índice de realização do exame Papanicolau. Sendo realizada a
análise da vivência, e também das estratégias de saúde implementadas. RESULTADOS E
DISCUSSÕES: O evento consistiu na realização e oferta dos seguintes procedimentos: exame
Papanicolau, avaliação odontológica, realização de testes rápidos e orientações em saúde sexual
e reprodutiva. Foram assistidos 79 pacientes, a maioria foi do gênero feminino, onde somente
três homens (4,48%) integraram os procedimentos. A vivência e experiência oportunizada pelos
acadêmicos contribuiu positivamente na formação e capacitação profissional dos mesmos,
originando a reflexão e instigando a criatividade no que se refere a busca de metodologias com
a supracitada para alcance e estabelecimento de vínculo com a população assistida,
principalmente no ambiente de atenção primária. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Em síntese,
viu-se o impacto positivo que meios estratégicos alternativos para a realização da assistência
em saúde a público com acessibilidade afetada por fatores do cotidiano, a exemplo o trabalho,
é eficaz e importante, além de impulsionar a promoção da saúde da mulher.

PALAVRAS-CHAVES: Enfermagem; Papanicolau; Saúde da Mulher; Atenção Primária à


Saúde.

ABSTRACT

INTRODUCTION: Cervical cancer is demonstrated as a type of high degree of lethality to


women. Despite the relevance of the cytopathological examination, it is still visible that the
same in several health units is shown in a smaller quantity than expected or possible, sometimes
due to fears, lack of information, lack of self-care, prejudices and stigmas. Thus, this study
aimed to report the experience lived by nursing students in the realization of the "XI Rolezinho"
in a Primary Health Care Unit. MATERIALS AND METHODS: This is a descriptive study,
type of experience report, developed by nursing students from the Centro Universitário Vale do
Salgado (UNIVS), in the municipality of Icó-CE. Being an event that offered health care
procedures to women, held between March 20 and 23, 2023, on the night shift, aiming to
provide a higher rate of Pap smears. The analysis of the experience was carried out, as well as
the health strategies implemented. RESULTS AND DISCUSSIONS: The event consisted of
performing and offering the following procedures: Pap smear, dental evaluation, rapid tests and
guidance on sexual and reproductive health. A total of 79 patients were assisted, the majority
were female, where only three men (4.48%) integrated the procedures. The experience and

322
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
experience provided by the academics contributed positively to their professional training and
qualification, originating reflection and instigating creativity with regard to the search for
methodologies with the aforementioned to reach and establish a bond with the assisted
population, especially in the primary care environment. FINAL CONSIDERATIONS: In
summary, we saw the positive impact that alternative strategic means for the realization of
health care to the public with accessibility affected by daily factors, such as work, is effective
and important, in addition to boosting the promotion of women's health.

KEYWORDS: Nursing; Pap smear; Women's Health; Primary Health Care.


1. INTRODUÇÃO

A Atenção Primária à Saúde (APS) caracteriza-se como um ambiente de acesso


preferencial do usuário ao sistema de saúde e o espaço responsável pela organização do cuidado
à sua saúde da população no Sistema Único de Saúde (SUS). A APS é integrada por um
aglomerado de ações de saúde, na área individual e coletiva, que contempla a promoção e a
proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação, a
minimização de danos e a continuidade da assistência (DIAS et. al, 2022).
Neste raciocínio, o câncer do colo uterino demonstra-se como um tipo de alto grau de
letalidade a população feminina, registrando dados que apontam cerca de 570 mil novos casos
anualmente, assim se configurando como uma problemática de saúde pública nacional e
mundial devido a tais informações obtidas (INCA, 2021).
Nesse contexto, o exame citopatológico ou papanicolau é referenciado como a melhor
alternativa de rastreamento e modo de identificação dos processos lesivos e precursores do
câncer, apresentando alta eficácia na identificação do vírus do papiloma humano, principal fator
de risco encontrado, promovendo a redução do número de casos e incidências quando aplicado
em sua qualidade elevado (MOREIRA; ANDRADE, 2018).
O mesmo ainda se baseia na história natural da doença, visto o próprio processo
evolutivo padrão das lesões. Surgindo de início como “citologia esfoliativa”, elaborado pelo
patologista e Dr. George Nicholas Papanicolau, no ano de 1928, no qual o mesmo visualizou
pela primeira vez a existência de células anormais no esfregaço vaginal, revolucionando assim
a maneira de se rastrear o câncer uterino, onde anteriormente a qualquer sinal de processos
lesivos já se considerava a exposição da paciente a um procedimento invasivo seguido de
histerectomia ou radioterapia, por vezes sem a necessidade (LÖWY, 2010).
Apesar da constatação da relevância que o exame citopatológico apresenta, ainda é
visível que o mesmo em diversas unidades de saúde se mostra em quantitativo menor que o
esperado ou possível, mediante a população presente na unidade para demais procedimentos
ofertados pelo sistema único de saúde que são visualizados. Tais em razão por vezes de

323
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
predominância de medos, falta de informação sobre o exame, ausência de autocuidado,
preconceitos, estigmas e dentre outros.
Sendo perceptível assim a importância do profissional de enfermagem, já que o mesmo
é o responsável pela realização de tal procedimento na atenção primária de saúde, possibilitando
uma assistência holística e ideal às pacientes submetidas ao exame Papanicolau. Tornando-se
assim essencial por parte deste profissional a busca por meios estratégicos de captação das
mulheres que têm indicação para a efetivação do procedimento, visto que por vezes ainda se é
observado desafios e dificuldades que fazem com que haja impossibilidade da realização do
mesmo.
Dessa forma este estudo apresenta como objetivo relatar a experiência vivenciada
pelos estudantes de enfermagem do Centro Universitário Vale do Salgado (UNIVS) na
realização do “XI Rolezinho” na Unidade de Atenção Primária à Saúde (UAPS) São Geraldo,
este que sendo um evento que ofertou procedimentos de assistência em saúde a mulher.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

Trata-se de um estudo descritivo, tipo relato de experiência, desenvolvido por


acadêmicos de enfermagem, durante o estágio supervisionado I, pertencentes ao Centro
Universitário Vale do Salgado (UNIVS), localizado no município de Icó-CE. Tal experiência
se deu através do evento promovido pela Unidade de Atenção Primária de Saúde São Geraldo,
localizada na Rua 02 de Abril, n°138 no município de Icó-CE, direcionada à população
feminina, realizando-se na própria unidade de saúde, no período de 20 a 23 de março de 2023,
no turno noturno, objetivando proporcionar maior índice de realização do exame Papanicolau
através da possibilidade de horário difuso do tradicional de atendimento, promover atividades
educativas quanto a realização do exame, retirada de dúvidas e estigmas quanto ao mesmo, e
realização de demais procedimentos com enfoque de saúde reprodutiva.
Sendo realizada a análise acerca de cada ponto vivenciado e observado, e também
sendo utilizado meios educativos, estimulantes e chamativos como a realização de sala de
espera, o uso de folders, cartões ilustrados, letreiro, sorteio de presentes e dentre outros, para
assim facilitar a aproximação e promover adesão da população e auxiliar na realização de
procedimentos. Tal pesquisa por ser de caráter perceptivo e descritivo das atividades e
vivências, sem aplicação de entrevistas ou questionários ao público assistênciado não
apresentou a necessidade de envio ao comitê de ética em pesquisa.

324
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

O evento intitulado “XI Rolezinho” aconteceu durante os dias 20 a 23 de março de


2023, onde ocorreu no horário noturno, tendo seu início em cada um destes a partir de 18:00h
e seu término as 22:00h, sendo desenvolvido pela equipe de enfermagem do estágio
supervisionado I do período semestral 2023.1 do centro universitário, a mesma que integra um
quantitativo igual a três acadêmicos para cada gênero (Masculino/feminino), adjunto da equipe
multiprofissional da unidade, esta que foi composta no evento por: enfermeira, atendente,
dentista, técnico em saúde bucal, auxiliar de farmácia e auxiliar de serviços gerais (Figura 1).

Figura 01- Equipe acadêmica e multiprofissional da unidade. Icó, Ceará, Brasil, 2023.

Fonte: Dados da pesquisa, 2023.

Assim o evento decorreu sob supervisão dos preceptores de estágio, dando-se início
na data e horário programado, o mesmo que consistiu na realização e oferta dos seguintes
procedimentos: exame Papanicolau, avaliação odontológica, realização de testes rápidos (HIV,
Hepatites B e C e Sífilis) e orientações em saúde sexual e reprodutiva, com ressalvas ao ponto
de que horas anteriores ao evento foi decorado a unidade e preparado as salas de atendimento
conforme a figura 2 demonstra a seguir.

Figura 02- Sala de espera da unidade de atenção primária à saúde. Icó, Ceará, Brasil, 2023.

325
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Fonte: Dados da pesquisa, 2023.
Assim foi obtido uma totalidade de 79 pacientes assistidos durante todos os dias de
atendimento do evento, onde a seguir (Quadro 1) se exibe a apresentação do quantitativo de
pacientes atendidos em relação aos procedimentos ofertados, com sua porcentagem respectiva.

Quadro 01 - Relação dos procedimentos e o quantitativo de pacientes assistidos. Icó, Ceará, Brasil, 2023.

Procedimento Atendidos Percentual

Exame citopatológico 38 48,10%

Teste Rápido 29 36,71%

Avaliação odontológica 12 15,19

Orientações em Saúde 79 100%

Fonte: Dados da pesquisa, 2023.

Ademais, visualizou-se que como esperado e objetivado a maioria da população


assistida foi do gênero feminino, onde somente três homens (4,48%) integraram os
procedimentos, sendo todos exclusivamente a realização de teste rápidos. Adquirindo-se assim
dados corroborantes e positivos para promoção de saúde e elevação do índice de realização dos
procedimentos, em especial ao exame citopatológico.
Os procedimentos, a exceção óbvia da área odontológica, foram realizados pelos
acadêmicos de enfermagem, onde desde a primeira noite até a última de realização foi
distribuído e rodiziado para que cada um dos estudantes tivesse a oportunidade de efetuar todos
os procedimentos ali oferecidos e disponibilizados à população em questão.

326
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Decorrendo da seguinte maneira, os pacientes chegavam a unidade e foram orientados
a permanecerem na sala de espera, e assim distribuiu-se fichas numéricas para organização do
atendimento por ordem, após a chegada e distribuição das mesmas, era efetuada a sala de espera
com educação em saúde (Figuras 3 e 4), onde ofertou-se todos os conhecimentos teórico
científicos sobre a saúde da mulher, com a ênfase no exame de Papanicolau e de mamas, aliado
a retirada de dúvidas e estigmas que as clientes demonstraram durante as falas ali repassadas.
Para demonstração prática e facilitar a compreensão do que foi exposto durante todas
as noites na sala de espera, os acadêmicos utilizaram peças anatômicas mamárias, da pelve e
sistema genital do sexo feminino, adjunto de materiais necessários para realização do exame
citopatológico.

Figura 03 - Aplicação da educação em saúde por meio da sala de espera. Icó, Ceará, Brasil, 2023.

Fonte: Dados da pesquisa, 2023.

Figura 04 - Aplicação da educação em saúde por meio da sala de espera. Icó, Ceará, Brasil, 2023.

327
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Fonte: Dados da pesquisa, 2023.

Sendo perceptível, mediante a aplicação desta estratégia o quanto é diferencial e


desvelador é o ato de repassar o conhecimento, este que outrora se apresenta como um dos
motivos de ausência das mulheres nas unidades para realização do exame Papanicolau quando
não se é efetivado e repassado. Haja vista, que no decorrer do desenvolvimento deste
procedimento foi realizado indagações pertinentes pelas pacientes e de baixa complexidade
sobre os exames e métodos realizados na atenção primária nessa temática, o que faz trazer à
tona o quão importante é a comunicação e prestação de cuidados e informação pelos
profissionais de enfermagem, pois são fundamentais para a desmistificação dos manejos
realizados pelos mesmos e impulsionam a adesão e requerimentos dos próprios pacientes para
a efetivação dos procedimento, principalmente o exame citopatológico.
Adiante a sala de espera, foi efetivado ordenadamente a realização da aferição de sinais
vitais dos pacientes, como a exemplo pressão arterial, bem como o preenchimento dos dados
sociodemográficos nas fichas de atendimentos e precursoras dos procedimentos ali realizados,
bem como o registro no sistema digital da unidade, e posteriormente encaminhados aos
consultórios.
Isso tendo em vista a influência e interferências passíveis que os sinais vitais podem
gerar ao paciente durante os procedimentos, sendo um risco para a efetivação das ações de
saúde quando não verificado antecipadamente. Daí a importância da verificação destes sinais
previamente aos exames, para assim promover uma assistência qualificada e respaldada no que
foi obtido, aliado ao registro de tais dados para acesso posterior em casos de necessidade.
Assim, após a realização do manejo de admissão e triagem, os pacientes foram
direcionados aos consultórios ordenadamente, onde no consultório de enfermagem foi realizado

328
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
o procedimento de exame citopatológico, tal consultório antecipadamente contendo a
organização dos materiais necessário para o exame, sendo eles: espéculos, escova cervical,
espátula de ayre, yodo, ácido acético, uma maca, apoiadores, foco de luz, luvas, lâminas para
microscopia e recipiente com álcool para depositar e conservar os mesmo com o materiais
coletados.
Inicialmente foi efetuado a anamnese das pacientes, com a coleta de dados do histórico
atual clínico, análise de queixas, antecedentes pessoais e familiares, adjunto da verificação de
vacinação, de exames trazidos em alguns casos e solicitação de exames pertinentes, após essas
verificações iniciais ou acadêmicos disponibilizarão as pacientes o avental para sucessão do
exame, onde a mesmas para se paramentar foram direcionadas ao banheiro do consultório
garantindo assim sua privacidade, posterior a isto foi orientado a cada uma destas a subirem na
maca e se posicionarem em posição ginecológica, e depois se efetuou as etapas preconizadas
do exame, coletando assim o material necessário a ser encaminhado para laboratório,
ressaltando que foi também realizado o exame de mamas em todas as pacientes submetidas,
para assim prestar uma assistência completa.
Desta forma, a realização deste manejo trouxe aos acadêmicos a perspectiva da
importância de um atendimento humanizado e que engloba todo o contexto da mulher ali
presente, fazendo com que observassem o quão importante é seguir os passos ideais da consulta
e do exame propriamente dito, pois corrobora para melhor aplicação das condutas e serviços
que são da responsabilidade do profissional de enfermagem, vendo também que trata-se de um
exame de baixa complexidade no âmbito de sua realização, onde no que se refere a coleta dos
materiais internos do sistema genital feminino não perpassa de 10 minutos de duração, trazendo
assim a compreensão de como uma medida simples e de acesso a ao público de até maior
vulnerabilidade pode ser extraordinariamente relevante e diferencial para qualidade de vida e
prevenção de agravos.
Ao final da coleta se realizou as orientações de enfermagem quantos aos cuidados de
saúde, em especial a saúde sexual e reprodutiva, bem como todos os registros das informações
coletadas no sistema eletrônico do consultório de enfermagem.
Sendo visível nessa experiência que a comunicação assertiva, clara e adaptada a todos
os perfis atendidos é essencial para que exista de fato a adequação dos cuidados indicados pelo
profissional por parte das mulheres assistidas em todos os procedimentos de competência da
enfermagem, principalmente o exame de Papanicolau.
Outrossim foi reservado a sala de imunização da unidade, para a realização dos testes
rápidos, sendo eles: HIV, Hepatite B e C e Sífilis, onde os acadêmicos efetuaram a coleta do

329
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
material sanguíneo necessário e colocando com seu respectivo reagente para concepção dos
resultados, sendo explicado o procedimento aos paciente anteriormente a realização,
demonstrando a seriedade e confiabilidade dos testes, bem como retirando as dúvidas que
surgiram por parte dos clientes atendidos, sendo também registrado os resultados para respaldo
e controle.
Retratando a relevância e responsabilidade que os profissionais ao realizar qualquer
manejo ou procedimento proporcionem a tranquilidade e confiabilidade através da explicação
de como decorre o mesmo, gerando assim um ambiente adequado para prática da assistência na
sua melhor condição possível.
Assim a vivência e experiência oportunizada pelos acadêmicos contribuiu
positivamente na formação e capacitação profissional dos mesmos, originando a reflexão e
instigando a criatividade no que se refere a busca de metodologias com a supracitada para
alcance e estabelecimento de vínculo com a população assistida, principalmente no que se diz
ao ambiente de atenção primária.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho demonstra o impacto positivo que meios estratégicos alternativos para a
realização da assistência em saúde a público com acessibilidade afetada por fatores do
cotidiano, a exemplo o trabalho, mostrando que estratégias como esta bem implementadas e
elaboradas impulsionam a qualidade da promoção de saúde.
Foi notória a obtenção satisfatória do objetivo desta pesquisa, onde viu-se que a
experiência dos acadêmicos no exercício das atividade e procedimentos de enfermagem, onde
também tais atividades proporcionam aos mesmos a autonomia profissional, fazendo-os
assimilar os conhecimentos obtidos em sala de aula, ou seja, o saber teórico com a prática
profissional, trazendo aos mesmo processos reflexivos e intuitivos para melhorias e busca por
novas estratégias de assistência.
Demonstrando também, benefícios para a população presente, onde levou
conhecimentos em saúde e retirando dúvidas que por vezes se caracterizavam como empecilhos
para comparecimento a unidade e/ou exame específico, além de promover o autocuidado e a
educação continuada, principalmente no âmbito da saúde da mulher e na realização do exame
preventivo.
Ademais é perceptível que se faz necessário por parte de gestores em saúde meios para
inovação da acessibilidade de certos grupos populacionais, garantindo seu atendimento e

330
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
promoção de saúde, além de um acréscimo na produção de pesquisas acerca da temática e
acerca desses meios que podem ser implantados.

REFERÊNCIAS
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do material do exame Papanicolau. J. Health Biol Sci, Mato Verde - MG, v. 10, n. 1, p. 1-6,
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da mulher. Rev Inic Cient Ext., [s. l], v. 1, n. 3, p. 267-271, 2018.

331
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
CAPÍTULO 30
VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER E O
PAPEL DOS PROFISSIONAIS DE
SAÚDE COMO AGENTES DO
CUIDAR: UMA REVISÃO DA
LITERATURA
VIOLENCE AGAINST WOMEN AND THE ROLE OF HEALTH
PROFESSIONALS AS CARE AGENTS: A LITERATURE REVIEW

10.56161/sci.ed.20230913C30

Jayana Gabrielle Sobral Ferreira


Universidade Federal de Campina Grande
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0000-0002-9960-7325)

Francisco Cairo Rios Santana


Universidade Estadual do Piauí
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0009-0003-2533-4285)

Rafaela Oliveira da Silva


ATITUS Educação
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0009-0007-3635-4029)

Luana Pinheiro da Silva


Universidade Estadual do Ceará
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0000-0002-6267-8090)

Eliana Marques Lobato


Universidade Federal de Santa Maria
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0009-0005-0619-1236)

Allana Lívia Silva de Barros


Universidade Federal de Pernambuco
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0000-0002-7820-7621)

Dália Soares de Sousa Ramos


Centro Universitário Santo Agostinho
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0009-0003-1722-6575)

332
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
Tamires Almeida Bezerra
Universidade Federal do Piauí
Orcid ID do autor (https://orcid.org/0009-0000-5908-7647)

RESUMO
A violência contra as mulheres acarreta consequências significativas para sua saúde física e
mental, com impactos comprovados de que esta condição se associa a fatores socioculturais e
multicausais, afetando milhões de mulheres em escala global. O presente estudo objetiva
analisar o encadeamento de casos de violência contra a mulher para sua saúde e a atuação dos
profissionais de saúde no enfrentamento desse impasse, a partir de uma revisão da literatura.
Foram utilizados 16 artigos, publicados entre 2014 a 2022, encontrados nas bases de dados
BVS, MEDLINE e SciELO, por meio da inclusão de estudos que abordassem diretamente o
tema proposto, excluindo estudos duplicados, com metodologia inadequada. A busca pelos
resultados nos rendeu uma discussão do tema elaborada a partir da sistematização das seguintes
temáticas: tipos de violências, sendo elas físicas, sexuais, morais, psicológicas e patrimoniais,
políticas e programas de prevenção de combate à violência e impactos gerais dessa violência
para a saúde da mulher, sendo capazes levar ao desenvolvimento de sinais e sintomas físicas e
mentais, como depressão, estresse pós-traumático, transtornos de ansiedade e dificuldades de
sono. Ressaltou-se ao final a atuação humanizada dos profissionais de saúde, sendo
imprescindível a proporção de um ambiente seguro e acolhedor para manutenção da dignidade
e a integridade da paciente. Com isso, evidencia-se a necessidade de educação permanente
como uma ferramenta poderosa para o combate à violência contra mulher, aprimorando a
atuação dos profissionais de saúde e fornecendo ferramentas para o reconhecimento e manejo
desses casos.
PALAVRAS-CHAVE: Violência contra a Mulher; Saúde da Mulher; Profissional de Saúde.

ABSTRACT
Violence against women has significant consequences for their physical and mental health, with
proven impacts that this condition is associated with sociocultural and multicausal factors,
affecting millions of women on a global scale. The present study aims to analyze the chain of
cases of violence against women for their health and the performance of health professionals in
overcoming this impasse, from a literature revision. We used 15 articles, published between
2017 and 2022, found in the BVS, MEDLINE and SciELO databases, through the inclusion of
studies that directly addressed the proposed theme. The search for the results gave us a
discussion of the theme elaborated from the systematization of the following themes: : types of
violence, like physical, sexual, moral, psychological and property, violence prevention policies
and programs and general impacts of this violence on women's health, being able to lead to the
development of physical and mental signs and symptoms, such as depression, post-traumatic
stress, anxiety disorders and sleep difficulties. At the end, the humanized action of health
professionals was emphasized, being essential the proportion of a safe and welcoming
environment to maintain the dignity and integrity of the patient. Thus, the need for permanent
education as a powerful tool to combat violence against women is highlighted, improving the
performance of health professionals and providing tools for the recognition and management
of these cases.
KEYWORDS: Violence Against Women; Women's Health; Health Personnel.

333
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
1. INTRODUÇÃO
A violência pode ser caracterizada pelo emprego da força visando atingir os outros ou
a si próprio, a qual pode aparecer como manifestação de agressão física, psicológica ou abuso
de poder, o que pode levar a injúrias, traumas psicológicos, privação, deficiência ou até resultar
em morte (ZANATTA et al, 2017). Nesse sentido, no que se refere à violência contra a mulher,
nota-se que é um sério problema social e de saúde pública, afetando milhões de mulheres em
escala global. Trata-se de uma forma de violência fundamentada no gênero, resultante de
relações desiguais de poder, e causa danos significativos à saúde e ao bem-estar das mulheres.
Nesse contexto, a violência contra as mulheres acarreta consequências significativas
para sua saúde física, mental e social. De acordo com uma pesquisa publicada na revista
"Cadernos de Saúde Pública" (D'OLIVEIRA et al, 2009), a violência de gênero está associada
a diversos fatores socioculturais e tem múltiplas causas. Assim, observa-se que a aceitação de
normas hierárquicas de gênero, como o controle exercido pelos homens sobre os recursos e
comportamentos das mulheres, bem como a dependência econômica, contribuem para esses
trágicos casos.
A atuação dos profissionais de saúde desempenha um papel fundamental no combate
à violência contra a mulher. Esses profissionais, incluindo médicos, enfermeiros, psicólogos e
assistentes sociais, têm a oportunidade de identificar, acolher e oferecer suporte às vítimas.
Segundo Gomes e Erdmann (2014), os profissionais devem estar preparados não apenas para
identificar esses casos de violência, os quais nem sempre deixam marcas visíveis, mas também
atuar da melhor forma para prestar o atendimento adequado e ajudar a vítima. A presença de
profissionais de saúde capacitados e sensibilizados para a problemática da violência pode
contribuir para a redução do impacto físico e psicológico sofrido pelas mulheres.
No entanto, os profissionais de saúde ainda enfrentam desafios na abordagem da
violência contra a mulher. Um estudo publicado na revista "Ciência & Saúde Coletiva" destaca
a ausência de protocolos claros e diretrizes específicas para o atendimento às vítimas, o que
compromete a eficácia da assistência prestada. Além disso, a falta de capacitação adequada e
sensibilização dos profissionais de saúde sobre a questão da violência de gênero pode resultar
em subnotificação e intervenções insuficientes (D’OLIVEIRA et al., 2009).
Diante desse panorama, é essencial promover a formação e capacitação dos
profissionais de saúde no enfrentamento da violência contra a mulher. A criação de protocolos
e diretrizes que orientem o atendimento adequado, respeitoso e livre de julgamentos é
fundamental. Conforme destacado em um artigo publicado na revista "Saúde em Debate", a
qualificação dos profissionais de saúde e a articulação com outros setores da sociedade são

334
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
elementos-chave para a construção de uma rede de cuidado integrada e eficaz (SCHRAIBER
et al., 2017). Portanto, o objetivo do capítulo é analisar os principais casos de violência contra
a mulher e a atuação dos profissionais de saúde no enfrentamento desse impasse.

2. MATERIAIS E MÉTODOS
A partir da determinação dos objetivos a serem alcançados com o levantamento deste
estudo, elegeu-se a construção de uma revisão narrativa da literatura de caráter qualitativo,
sendo esse um tipo de estudo fundamental no que diz respeito à revisão e análise de estudos já
publicados, nos fornecendo uma visão geral e integral do conhecimento existente sobre o
presente tópico de estudo.
Para garantir a eficiência desta revisão, adotou-se um método iniciado a partir da
definição critérios de inclusão e exclusão dos estudos a serem revisados. Como critérios de
inclusão, estabeleceu-se a prioridade de pesquisas atuais que abordassem diretamente o tema
proposto, nos idiomas inglês e português. Além disso, é essencial que os estudos estejam
disponibilizados gratuitamente, de forma completa e que correspondam aos objetivos da
revisão. Foram então excluídos estudos duplicados, com metodologia inadequada, sem
relevância para o objetivo da pesquisa e com resultados não significativos.
A partir dos critérios estabelecidos, optou pela utilização dos seguintes Descritores em
Ciências da Saúde (DeCS) para filtragem dos estudos: “Violência contra a Mulher”, “Saúde da
Mulher” e “Profissional de Saúde”, bem como a utilização do operador booleano “AND”, para
obtermos resultados mais precisos. A busca, realizada nos meses de maio a julho, nas bases de
dados Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), MEDLINE via PubMed e Scientific Electronic
Library Online (SciELO) inicialmente rendeu o total de 78 pesquisas, publicadas entre os anos
de 2014 e 2022. Estes passaram então por uma análise crítica, com a extração e organização
dos dados relevantes, sendo utilizado ao final o total de 16 para a construção desta revisão.
As informações relevantes foram sintetizadas de forma clara e objetiva, destacando as
prioridades de dados e conhecimentos entre os estudos, revisando e editando a escrita, buscando
erros de gramática, ortografia, estilo e formatação e, ao fim estruturou-se essa revisão de acordo
com as normas de publicação estabelecidas pelo evento.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A violência contra mulher se manifesta de diversas formas sendo elas físicas, sexuais,
morais, psicológicas e patrimoniais. O primeiro tipo, a violência física, é qualquer ação que
ofenda a integridade ou a saúde do corpo da mulher, como espancamentos, lesões, apertões e

335
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
tortura física. Além do mais, também acarreta danos à saúde mental, sexual e reprodutiva da
mulher, como gravidez indesejada e infecções sexualmente transmissíveis (SANTANA et al.,
2022).
A violência sexual se enquadra em ações que limitem o exercício sexual da mesma,
como manter, presenciar ou participar de relações sexuais de forma obrigada, impedindo-a
também do uso de contracepção ou obrigando-a um aborto. Este tipo de violência ainda pode
levar a casamentos infantis de forma forçada (SANTOS et al., 2022).
Além de causar danos físicos, as mulheres podem apresentar consequências a sua
saúde psicológica. Estudos têm relatado um aumento nos índices de depressão e pensamento
suicidas por mulheres violentadas em comparação às que não sofreram o abuso, além de
problemas de sono, síndrome de pânico, estresse e solidão (MIURA; MEDEIROS, 2022).
Também chamada de violência financeira, a violência patrimonial compreende ações
de retenção, destruição parcial e total de seus bens como forma de abuso de poder contra a
mulher. Percebe-se no Brasil que, apesar dos casos serem altos, esse tipo de violência é pouco
denunciado, devido a hipóteses de que talvez não sejam percebidos os atos violentos contra seu
patrimônio e autonomia. Todos os tipos de violência estão dispostos na Lei Maria da Penha de
2006, como forma de alertar as vítimas do gênero feminino sobre as práticas de agressividade
que acontecem diariamente e em diversos âmbitos trazendo prejuízos físicos, psicológicos e
sociais às vítimas (CAMARGO; SANTOS, 2022).

3.1 Políticas e programas de prevenção de combate à violência

Os governos Municipais, Estaduais e Federal tem um papel a desempenhar na


prevenção e no controle da violência contra as mulheres e na assistência a ser prestada a cada
uma delas. Para isso existe a Política Nacional de Enfrentamento à Violência contra a Mulher
a fim de reunir diretrizes e ações de combate, assim como assistência e garantia de direitos. A
fim de tornar o serviço articulado nas ações governamentais, existe uma rede de atendimentos
que se refere à atuação entre união e instituições governamentais, não- governamentais e a
comunidade, visando a melhoria da qualidade dos atendimentos, da identificação e
encaminhamento adequado para mulheres em situação de violência e estratégias de prevenção
(BRASIL, 2011).
A Política Nacional encontra-se de acordo com a Lei n°11.340/2006 (Lei Maria da
Penha), que, após sua sanção, caracterizou a violência contra a mulher como crime e esses
passam a ser julgados. Tendo em vista a problemática da violência contra a mulher, suas

336
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
tipicidades, e suas consequências, o governo possui a Rede de Atendimento à Mulher em
situação de violência que é composta por defensorias da mulher, ouvidorias, delegacias
especializadas de atendimento à mulher (DEAMs), casas-Abrigo, casas de acolhimento
provisório e outros órgãos que prestam serviço para proteção, defensoria e ajuda das mulheres
(BRASIL, 2011).

3.2 Impacto na saúde e a atenção humanizada dos profissionais

Segundo Teixeira e Paiva, 2021, as diferentes formas de violência contra a mulher


acometida por parceiros ou cônjuges resultam em sérios problemas para a saúde física,
psicológica, patrimonial, sexual e reprodutiva das vítimas. Os impactos gerais na saúde desta
mulher agravam quadros de saúde, como lesões, afastamento do trabalho, transtornos mentais,
depressão e entre suicídio e uso de substâncias ilícitas.
As implicações na saúde das mulheres vítimas de violência podem resultar em
complicações ginecológicas, gravidez indesejada, complicações na gestação, aborto espontâneo
e/ou indução de infecções sexualmente transmissíveis, principalmente por HIV/AIDS,
repercutindo na sociedade civil e impactando no orçamento nacional da União (CRUZ; IRFFI,
2019; OMS, 2021).
Os profissionais da saúde são peças fundamentais para identificar e acolher essa
mulher. O acolhimento é a chave principal para garantir que a mulher seja protegida da melhor
forma e faz-se necessário que esse profissional demonstre empatia e interesse em ajudá-la. A
empatia consiste em compreender a dor do outro e se colocar na mesma posição, deixando de
lado sentimentos e opiniões próprias e focando nas percepções, sentimentos e pensamentos dela
(HABIGZANG, 2018).
Dessa forma, a atuação da equipe de saúde é imprescindível, iniciando pela
identificação de sinais da violência, que pode acontecer em uma consulta de rotina ou até
mesmo em atendimentos de emergência. Porém, muitos desses sinais passam despercebidos
pelos profissionais de saúde, que acabam deixando de identificar e notificar essa violência.
Estudos mostram que cerca de 57% das mulheres relataram algum caso de violência física na
vida em unidade de atenção primária e que apenas 10% dos eventos foram registrados em
prontuário (SILVA, 2020; SOUZA; CINTRA, 2018).
Conforme a Lei n.º 10.778, a notificação de casos suspeitos ou confirmados de
qualquer violência contra a mulher é obrigatória, bem como o Código de Ética Médica, que
afirma que o médico tem o dever de manter a dignidade e a integridade do paciente. Todavia, a

337
PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
falta de conhecimento dos profissionais acerca dos locais adequados para encaminhamento das
mulheres vítimas de violência e demais receios tornam-se empecilhos e bloqueiam a percepção
e o direcionamento dos casos de violência com a mulher (SOUZA; CINTRA, 2018; SILVA,
2018).
Outro empecilho para a notificação é a falta de preparo do profissional para um
acolhimento qualificado. Para isso, deve-se desenvolver conhecimento técnico para uma escuta
eficaz, proporcionando um ambiente seguro para que a mulher sinta confiança em expor a
violência vivenciada. Além disso, é fundamental a organização do atendimento da equipe da
unidade, buscando a disponibilização de ações que façam uma escuta coletiva ou individual,
tornando a escuta mais eficiente e humanizada (ZUCHI et al., 2018).

5. CONCLUSÃO OU CONSIDERAÇÕES FINAIS


Este estudo nos permitiu obter uma visão geral e abrangente sobre o tema da violência
contra as mulheres, os diferentes tipos de violência, políticas e programas de prevenção e
combate, bem como o impacto geral na saúde das vítimas.
A atuação dos profissionais de saúde é essencial para identificar e acolher vítimas de
violência, onde os profissionais de saúde mais próximos da população têm a capacidade de
obter informações sobre a rede de usuários e estabelecer vínculos de confiança entre as
mulheres e o serviço de saúde. No entanto, muitos casos ainda passam despercebidos, sendo
subnotificados e não devidamente registrados em prontuários. Ademais, a falta de
conhecimento dos profissionais sobre os procedimentos de encaminhamento e notificação é um
obstáculo a ser superado.
Evidencia-se a necessidade de educação permanente como uma ferramenta poderosa
para o combate à violência contra mulher, com o objetivo de aprimorar a atuação dos
profissionais de saúde e fornecer ferramentas para que esses profissionais possam estar
comprometidos com o reconhecimento e manejo dos casos de violência. Portanto, é necessário
a criação de um ambiente humanizador nos serviços de saúde, e a preparação e capacitação dos
profissionais de saúde são fundamentais para garantir uma atuação adequada às vítimas.

REFERÊNCIAS
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Políticas para as Mulheres da Presidência da República, Brasília. 2011

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PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE DA MULHER
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