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DIRETORIA DE ENSINO DA MARINHA

SUMÁRIO EXPEDIENTE
Diretor de Ensino da Marinha
V Alte Renato Garcia Arruda

Presidente da Comissão de Elaboração


da Revista
CMG José Augusto Silva Ferreira

Coordenadora
CF (T) Suzana Ramos Baptista Azeredo

Conselho Editorial
CMG Eduardo Pimentel Jorge de Souza
CMG (RM1-T) Luiz Claudio Medeiros Biagiotti
CMG (RM1-T) Alexandre César P. Guimarães
CC (T) Luiza de Sousa Ferreira de Mendonça
CC (RM1-T) Cesar dos Santos Mesquita

Revisão
CC (T) Camila da Silva Neto Arruda
3ºSG-PD Lílian Santana Alves

Equipe Técnica
CC (T) Mozara Campos Cortez
CC (T) Luiza de Sousa Ferreira de Mendonça
CT (T) Tiago Silva de Amorim
SO-ES Silvio Jerônimo Santana
1ºSG-AE Leandro Dias Pinto
2ºSG-ES Bruno Silva do Carmo

Projeto Gráfico e Diagramação


3ºSG-PD Lílian Santana Alves

Colaboradores
CF (RM1-T) Rosa Neira Dopcke
CC (T) Camila da Silva Neto Arruda
1T (T) Raquel Aparecida Pinto Martins
3ºSG-GR Vanessa Simões Pereira
CB-SI Edielson Nunes de Oliveira
CB-ES Helton Medeiros Braga Neto

Diretoria de Ensino da Marinha


Praça Barão de ladário - s/n°
Ed. Alte. Tamandaré, 5° andar - Centro
Rio de Janeiro - RJ - CEP: 20091-000

SELECIONANDO E CAPACITANDO NOSSO MAIOR PATRIMÔNIO


90 anos

EDITORIAL
Caríssimo leitor,
Neste ano, a Diretoria de Ensino da
Marinha (DEnsM) comemora 90 anos de
existência. Momento oportuno para registrar
e eternizar fatos ocorridos ao longo dessa
trajetória que demonstram a evolução do
Sistema de Ensino Naval. Foram muitas
as decisões e adequações durante esse
período, principalmente pelas demandas
da Administração Naval e pela necessidade
de acompanhamento das evoluções
tecnológicas.
Por isso, nesse momento de júbilo,
surgiu a ideia desta revista, planejada em
cada detalhe para dividir com você, leitor,
as nossas atividades, conquistas, supera-
ções e progressos. Começaremos a cele-
brar essa data tão significativa contando a
história da aniversariante ao longo desse
quase um século, o que permitiu que se
atingisse o padrão de ensino observado
nos dias de hoje.
A importância das Organizações Militares (OM) subordinadas também se materia-
liza nos diferentes artigos e nas curiosidades aqui apresentadas. São narrativas que
aprofundam temas que fizeram e fazem parte da missão de capacitar. Dentre outros
assuntos, o leitor também conhecerá um pouco mais sobre o aprimoramento do itine-
rário formativo; a relevância da avaliação institucional dos nossos cursos e OM de en-
sino; a comunicação digital no recrutamento do nosso pessoal; e a evolução do ensino
a distância e do ensino de idiomas.
A cada página, “Ensino em Revista” conduz o leitor a uma expedição virtual para
informar, relembrar e enaltecer os rumos da DEnsM, na busca incansável pela excelência
no cumprimento da sua missão, e dentro de um cenário de profunda e constante
transformação.
Portanto, caro leitor, você é nosso convidado para embarcar nesta viagem e compar-
tilhar deste momento significativo para o Ensino Naval.
Seja muito bem-vindo e boa leitura!
RENATO GARCIA ARRUDA
Vice-Almirante
Diretor 3

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Rol de Diretores

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90 anos

Rol de Diretores

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DENSM: 90 ANOS DE SINGRADURA NO


ENSINO NAVAL
Capitão de Corveta (T) José Jeferson Silva das Chagas

A história do Ensino Naval brasileiro tem sua gênese no século XVIII, com os nossos
colonizadores. Já naquela ocasião, foi criada a Academia Real da Marinha, que tinha
como finalidade proporcionar as bases acadêmicas para os oficiais da Armada. O século
seguinte também deu a sua contribuição, com a instituição das Companhias de Aprendizes
Marinheiros que, posteriormente, tornaram-se as Escolas de Aprendizes-Marinheiros.
No século XX, com a modernização da Esquadra, foi imperioso intensificar a
qualificação marinheira. Assim, a Administração Naval não apenas instituiu novos
cursos técnico-profissionais, mas também criou escolas, como, por exemplo, a Escola de
Especialistas, em Angra dos Reis, que posteriormente, destinou-se a instalar a Escola Naval,
entre os anos de 1914 a 1921.
Além disso, fazia-se necessário, ainda, acompanhar a evolução do Ensino Naval
que ocorria no mundo, pois algumas Marinhas já haviam instituído as suas diretorias
especializadas, para supervisionar os cursos de suas escolas.
Buscando o aprimoramento, a conjuntura interna apontava para a necessidade
de algumas correções, motivadas pela dispersão geográfica de algumas escolas. Por
isso, tornou-se relevante a nomeação de uma autoridade diretora de alta patente para
supervisionar o ensino na Marinha, pois a Sétima Divisão da Diretoria de Pessoal (DP-30),
que coordenava o Ensino Naval da Marinha, era chefiada por um Capitão de Fragata.
Nesse contexto, e fundamentado nessas razões, no ano de 1931, o Chefe do Governo
Provisório criou então, pelo Decreto nº 20.734-A,
de 27 de novembro, a Diretoria do Ensino
Naval, órgão da Administração Naval
destinado a auxiliar o Ministro da
Marinha nos assuntos afetos à
orientação, direção, fiscalização
e regulamentação do
ensino elementar, técnico
e profissional, bem como à
educação física do pessoal da
Marinha de Guerra¹.
À época, o Contra-Almi-
rante Tancredo de Gomensoro
foi nomeado como Diretor-Ge-
ral do Ensino Naval e elaborou
¹ Art. 1º, do Regulamento para a Diretoria do Ensino Naval, aprovado pelo decreto 20.893, de 31 de dezembro de 1931.

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o primeiro Regulamento da Nova Diretoria, que foi aprovado em 31 de dezembro de 1931,


pelo Decreto nº 20.893, assinado pelo Contra-Almirante Protógenes Pereira Guimarães, Mi-
nistro dos Negócios da Marinha.
A primeira sede da recém-criada Diretoria tornou-se o primeiro grande desafio a ser
superado, pois, por falta de recursos, suas atividades ocorriam em uma sala do Depósito
Naval do Rio de Janeiro.
Administrativamente, a nova Diretoria foi repartida em quatro divisões: a primeira,
incumbida dos cursos de Oficiais; a segunda, de estágios de Suboficiais e Inferiores; a
terceira, de cursos e estágios de Praças e Operários; e a quarta, de expedientes, fichas,
arquivos e bibliotecas²; além dos navios Vital de Oliveira e
Cavalheiros da Graça, para fins de viagens de instrução de
aspirantes e guardas-marinha.
Em 4 de agosto de 1952, dada a nova organização
administrativa do Ministério da Marinha, extinguiu-se a
Diretoria do Ensino Naval, quando suas atividades novamente
passaram à responsabilidade da Diretoria do Pessoal da
Marinha. Em 18 de junho de 1968, entretanto, obedecendo
à reconfiguração na organização do Ministério da Marinha, a
Diretoria de Ensino foi recriada, já com a denominação atual.
No início do ano de 1970, foi aprovado o Decreto
nº 66.069, que trouxe uma inovação à missão da
Diretoria de Ensino da Marinha (DEnsM): além das
atribuições de planejar, dirigir, coordenar e controlar
as atividades relacionadas à formação, especialização
e aperfeiçoamento do pessoal militar, também
passou à sua responsabilidade o treinamento e o
aperfeiçoamento do pessoal civil, de acordo com
a legislação em vigor e os princípios estabelecidos
pela Diretoria do Pessoal Civil da Marinha.
A partir dos anos 80, suas atividades e
organização administrativa foram regidas por
diversos regulamentos, sendo o atual aprovado pela
Portaria nº 104, de 17 de outubro de 2017, da Diretoria-
Geral do Pessoal da Marinha, que estabelece como

² Art. 9º e 10, do Regulamento para a Diretoria do Ensino Naval.

A Escola Naval passou


à subordinação da Diretoria
de Ensino Naval no dia 15 de
setembro de 1932.
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missão da DEnsM: superintender a capacitação e supervisionar o recrutamento e a seleção


do pessoal da MB para o desempenho, na paz e na guerra, dos cargos e funções previstos na
estrutura organizacional da Marinha do Brasil.
Tecnicamente, a DEnsM orienta vinte e duas Organizações Militares do Sistema de
Ensino Naval, sendo quatro delas suas subordinadas diretas: Escola Naval, Centro de
Instrução Almirante Alexandrino, Centro de Instrução Almirante Wandenkolk e Colégio
Naval. Além destas, subordina-se ainda à DEnsM o Serviço de Seleção de Pessoal da
Marinha, Organização Militar responsável pelos processos seletivos para o ingresso na
Força e condução das diversas avaliações psicológicas para a carreira.
Sua sede atual localiza-se no 5º andar do prédio histórico do antigo Ministério da
Marinha, hoje sob o nome de Edifício Almirante Tamandaré, no centro da cidade do Rio
de Janeiro, mesmo local onde esteve anteriormente instalada até a extinção de 1952.

A Diretoria de Ensino da Marinha tem 90 anos de história


na singradura do Ensino Naval, superando vendavais e
tempestades nos distintos mares. Mas a navegação continua,
não se pode ancorar! É preciso prosseguir na seleção e
capacitação do nosso maior patrimônio: homens e mulheres
do mar, para o bem da missão constitucional da Marinha do
Brasil: a defesa da Pátria nos mares.

Acesse o filmete
da DEnsM.

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OS DESAFIOS DO ENSINO A DISTÂNCIA: UMA


ABORDAGEM HISTÓRICA
Capitão de Mar e Guerra (RM1-T) Luiz Claudio Medeiros Biagiotti

O ensino sempre foi encarado pela Ma- Este grupo considerou que o problema
rinha do Brasil (MB) como uma atividade poderia ser solucionado com a adoção do
essencial para a adequada capacitação de EaD, inicialmente, em um curso de cunho
seu pessoal. Nesse sentido, quando o Insti- mais teórico, em que não fosse necessária
tuto Monitor implementou suas primeiras a realização de atividades práticas. Desse
ações de ensino a distância (EaD) no Brasil, modo, foi escolhido como projeto-piloto o
nos idos de 1939, a MB, por meio da Escola Curso Expedito de Organização e Métodos,
de Guerra Naval (EGN), ministrou o Curso de ministrado pela Escola de Administração e
Preparação para o Comando nessa modali- Intendência do CIAW.
dade de ensino, utilizando os serviços dos Para a implementação do projeto-piloto,
Correios para o envio do material didático e foi contratada uma empresa de consultoria,
para o contato entre os alunos e os instruto- que produziu o material didático e permitiu
res para sanar as dúvidas. que os membros do GT pudessem acompa-
A partir desse momento, outros cursos a nhar o desenvolvimento do trabalho. Nesse
distância foram implementados pela Força, momento, a maior dificuldade era a neces-
como o Curso Especial de Habilitação para sidade de utilização de um Ambiente Virtual
Promoção a Suboficial (C-Esp-HabSO), de Aprendizagem (AVA), tendo sido empre-
inicialmente conduzido pelo Centro de gado o AVA Learning Space, da IBM, utilizado
Instrução Almirante Wandenkolk (CIAW) por aquela empresa.
e, atualmente, pelo Centro de Instrução No ano 2000, foi divulgado o período
Almirante Alexandrino (CIAA). de realização da inscrição para o referido
A partir de 1999, com o advento da curso na modalidade EaD. Tendo em vista
Internet, a MB intensificou as atividades de a inexistência de inscrições voluntárias,
EaD. Nesse ano, o CIAW identificou que os provavelmente pelo desconhecimento dos
alunos que serviam fora do Rio de Janeiro militares, ou mesmo pelo receio do “novo”,
estavam solicitando o cancelamento de a estratégia foi mudada, distribuindo vagas
suas matrículas em virtude da escassez de entre os Comandos de Distrito Naval,
recursos financeiros para o deslocamento para que esses, por sua vez, indicassem
e realização dos cursos, não havendo, da os militares que realizariam o curso. Essa
mesma forma, recursos para custear a ida de ação também permitiu que fosse testada a
instrutores para outros estados. comunicação entre os alunos de diferentes
Com o objetivo de apresentar soluções localidades e o CIAW.
para a situação, diante da necessidade A primeira turma contou com 38 alunos,
de promover a capacitação dos militares dos quais 19 concluíram o curso com
que serviam fora do Rio de Janeiro, foi êxito. Os alunos que não foram aprovados
constituído um Grupo de Trabalho (GT). alegaram variados motivos, destacando-se
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a dificuldade de administração do tempo Universidade Aberta do Brasil.


destinado à realização das atividades As equipes dos núcleos de EaD do CIAW
propostas. Após a conclusão do projeto- e do CIAA estiveram no MEC, em 2002, para
piloto, o GT analisou os pontos positivos e realizar um treinamento do AVA e-Proinfo e
negativos, decidindo ofertá-lo novamente para conhecer as pessoas responsáveis, uma
com um novo desenho instrucional, vez que elas seriam os pontos de contato
desenvolvido pela equipe do núcleo de EaD para o recebimento do nosso material,
instituído no CIAW. inserção no AVA e inscrição dos alunos no
Em paralelo a esses acontecimentos, banco de dados do referido ambiente.
o CIAA, que também vivenciava a mesma Nesse mesmo ano, o CIAW ofereceu
dificuldade do CIAW para a oferta dos seus novamente, por EaD, o Curso Expedito de
cursos para militares fora do Rio de Janeiro, Organização e Métodos, dessa vez para 24
designou alguns de seus militares para alunos voluntários, e o CIAA, pela primeira
criar a Escola Virtual. A fim de seguir com vez, ministrou o Curso Expedito de 5S Pleno,
o projeto, os dois Centros uniram esforços para 10 alunos.
para enfrentar o desafio na consolidação do A DEnsM, diante dos resultados
EaD, via Internet, na MB. positivos, decidiu que as ações de EaD
Como ainda não havia disponibilidade não deveriam continuar como iniciativas
de recursos financeiros para a aquisição isoladas das Organizações Militares de
de um AVA proprietário, desenvolvido por Ensino. Assim, em 27 de novembro de 2002
uma empresa de Tecnologia da Informação, (aniversário da DEnsM e Dia Nacional da
foram envidados esforços para adotar um Educação a Distância), criou o Núcleo de
AVA gratuito. A melhor solução, à época, Ensino a Distância (NEAD), inicialmente
foi firmar um acordo com o Ministério da composto por 3 pessoas, sendo um oficial
Educação e Cultura (MEC) e utilizar o AVA e um servidor civil que haviam realizado
e-Proinfo, cuja gestão e o servidor que o cursos de especialização nessa área, além de
hospedava ficavam sediados em Brasília, uma praça com a capacitação em webdesign.
no prédio daquele Ministério. Esse AVA Logo em seguida, o oficial que estava à
havia sido desenvolvido para dar suporte frente dos estudos desde o início, no CIAW,
às universidades federais em um programa foi convidado para chefiar o referido núcleo.
de democratização do ensino, denominado Um ano após a criação do NEAD, o

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núcleo foi transformado em Departamento o Curso Expedito de Capacitação de Autores


de Ensino a Distância (DEAD), visto que e Tutores de EaD (C-Exp-CATEaD), que anos
as necessidades da Força relacionadas depois viria a ser desmembrado em Curso
às ações de EaD se intensificaram, em Expedito de Capacitação em Tutoria (C-Exp-
consonância com seu o fortalecimento Tutores) e Oficinas de Produção de Material
no contexto educacional brasileiro. Como Didático para EaD.
atividades do DEAD, foram realizadas Com a ampliação das ações de EaD
palestras de conscientização sobre a na MB, a DEnsM migrou os seus cursos do
modalidade de ensino e para a criação de AVA e-Proinfo para o AVA TelEduc, também
uma cultura de EaD na Marinha. Foram gratuito e desenvolvido pela Universidade
criados cursos de capacitação para os de Campinas, sendo hospedado em um
profissionais que atuariam nos núcleos de servidor próprio da DEnsM, que ofertou seus
EaD das OM do SEN, sendo o primeiro deles cursos em 2003 nesse novo Ambiente Virtual.

Figura 1 - Evolução do quantitativo de cursos e alunos na modalidade EaD.

Além dos cursos do CIAW e CIAA, a EGN de realizar o curso por EaD, em vez de
ofereceu um módulo de um de seus cursos realizá-lo por correspondência. O mesmo
regulares em EaD, para verificar a eficácia da procedimento foi adotado em 2013, porém,
modalidade. como foi verificada a pouca adesão dos
Em 2004, começou o crescimento sargentos por essa modalidade de ensino,
exponencial do EaD na Marinha, com em 2014, passaram a ser inscritos apenas
diversas OM adotando a modalidade, o que aqueles que a solicitavam. A partir de
é demonstrado no gráfico e na tabela das 2019, constata-se um aumento acentuado
figuras 1 e 2. de alunos inscritos decorrente da criação
O aumento acentuado do número de do Curso de Assessoria em Estado Maior
alunos e de cursos realizados por EaD, para Suboficiais (C-ASEMSO), totalmente
ocorrido no ano de 2012, ocorreu em realizado a distância, e da reestruturação do
virtude da inscrição de todos os sargentos C-Esp-HabSO, que deixou de ser conduzido
matriculados pelo CIAA para realizar o por correspondência, sendo executado
C-EspHab-SO no AVA, ofertando-se a opção no AVA. Em 2020, esse quantitativo foi
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impulsionado pela impossibilidade de dar EaD e para administrar o estúdio de gravação


continuidade aos cursos presenciais, devido de videoaulas, ferramenta essencial nos
às precauções de segurança necessárias cursos dessa modalidade.
para o enfrentamento da COVID-19. No final do ano de 2017, ocorreu a
Em novembro de 2016, foi apresentado aprovação do estudo e foram adotadas as
um estudo propondo a criação de um Centro providências para a sua implementação. No
de Ensino Virtual (CEnVir), com o intuito primeiro semestre de 2018, foi preparado
de agrupar, em um único local da MB, os o espaço físico para o funcionamento
profissionais especializados na área do do CEnVir e adquiridos os materiais e
ensino virtual e otimizar a elaboração mobiliários necessários. No segundo
de materiais didáticos para os cursos a semestre do mesmo ano, foram recebidos os
serem oferecidos nessa modalidade pelas oficiais e iniciada a capacitação necessária
Organizações Militares (OM) do Sistema de para o pleno exercício das tarefas.
No dia 27 de novembro
de 2018, foi inaugurado o es-
túdio de gravação de videoau-
las pelo DGPM, ato simbólico
que deu início às atividades
do CenVir.
A partir de sua criação,
o Centro vem crescendo ex-
ponencialmente, dado o au-
Figura 2 – Evolução do quantitativo de cursos e alunos na modalidade EaD.
mento das atividades de EaD
na Força, acompanhando as evoluções tec-
Ensino Naval (SEN). A proposta foi aceita
pelo Diretor-Geral do Pessoal da Marinha nológicas dos meios e sistemas da MB, ali-
(DGPM), que determinou a realização de nhado aos desafios da era do conhecimen-
um estudo mais detalhado para apresentar to e seguindo as tendências educacionais
subsídios à decisão da Alta Administração do mundo atual. O fato de a Marinha pos-
Naval. suir uma estrutura de EaD há algum tempo
Nesse estudo, foram apresentadas as facilitou muito a transposição da modalida-
necessidades para a criação do CenVir: de presencial para a distância, por ocasião
um setor pedagógico para normatizar a da emergência gerada pela pandemia da
metodologia de EaD na MB, analisar e COVID-19. Além disso, a DEnsM, por meio
certificar a qualidade dos cursos a serem
do CenVir, buscará sempre apresentar as
ofertados nessa modalidade, capacitar as
soluções tecnológicas e educacionais para
pessoas envolvidas com o EaD, e produzir
materiais didáticos para diversos cursos atender às necessidades de capacitação da
a distância; e um setor para desenvolver MB, acompanhando atentamente as evolu-
atividades sob o enfoque tecnológico, ções tecnológicas, visando a disponibilizar,
com o intuito de estudar e acompanhar o cada vez mais, opções de cursos utilizando
desenvolvimento das tecnologias afetas ao o EaD.
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FRAGATA CLASSE TAMANDARÉ: UM DESAFIO


DIDÁTICO-PEDAGÓGICO
Primeiro-Sargento (AM) Daveson Souza Pereira

Frente a um cenário globalizado que tecnológico-digital, fortalecendo a relação


usufrui de uma ampla faixa de tecnologias entre os avanços digitais e o ensino na
para o aperfeiçoamento de um grande Marinha do Brasil.
número de áreas do conhecimento, é Nesse contexto, impulsionado pelas
relevante destacar a parte dedicada à exigências de transformações atuais,
educação. aliadas à constante necessidade de se
As novas Fragatas Classe Tamandaré manter uniforme e perene o fluxo de
(FCT) trazem uma proposta tecnológica que conhecimentos, o CIAA iniciou o projeto
implicará na necessidade de adoção de novas voltado para implantação da Gestão do
ferramentas de tecnologia da informação e Conhecimento (GC) das FCT, consoante
comunicação (TIC) no processo de ensino- com Objetivo Naval nº11 - (OBNAV-11) do
aprendizagem alterando paradigmas de Plano Estratégico da Marinha (EMA-300)
capacitação para a formação da força de e ao Objetivo de Direção Setorial nº02 -
trabalho. (OBSET-2), delineado no Plano de Direção
Assim, surge então, o grande desafio Setorial da Diretoria-Geral do Pessoal da
de criar ações de integração das novas Marinha (PDS-PESSOAL 2040): “Capacitar
tecnologias com as práticas pedagógicas, o pessoal da MB no processo de Gestão do
criando condições para incorporar essas Ciclo de Vida (GCV), operação e manutenção
linguagens e recursos, a fim de tornar
dinâmicas a metodologia e a didática.
Assim, é fundamental assumir a vanguarda
desse processo no intuito de que o Centro
de Instrução Almirante Alexandrino (CIAA)
se posicione positivamente no ambiente

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dos meios de Superfície, submarinos Gestão do Ciclo de Vida, além de concentrar


e aeronavais existentes ou que serão o CBT (Computer Based Training) do IPMS
empregados no futuro na MB, bem como (Integrated Platform Management System),
preparar o pessoal responsável pelo apoio do CMS (Combat Management System) e do
aos meios do Poder Naval, suas tripulações Internal/External Communications.
e demais Membros da Família Naval…”. No campo pedagógico, o projeto de
O projeto da implantação da GC no CIAA, potencialização do ensino profissionalizante
tendo como horizonte próximo a chegada prevê a incorporação de tecnologias
das FCT, contempla a modernização de disruptivas a serviço da educação.
suas instalações com a construção de um Capitaneado pela Escola de Cursos de
prédio que abrigará a Superintendência Qualificação Técnica Especial, por meio
da Gestão do Conhecimento das Fragatas do seu Centro de Estudos Virtuais, tais
Classe Tamandaré (SUGC-FCT). Sua missão tecnologias vêm sendo implantadas como
principal será o apoio à capacitação das por exemplo: o uso das realidades virtual
tripulações desses novos meios, no que se e aumentada, gamificação, modelagem 3D
refere à operação e manutenção dos diversos e outros. Prevê, ainda, a transição de todo
sistemas de bordo, interagindo de forma material pedagógico que hoje é impresso
matricial com o Setor Operativo por meio da de físico para digital, a exemplo das
Esquadra e com o Setor do Material por meio Apostilas Digitais Dinâmicas. Além disso, o
das OMOT. CIAA vem promovendo a capacitação de
As novas instalações da SUGC-FCT instrutores das escolas tornando-os vetores
serão dotadas de salas de aula expositivas, multiplicativos do saber, contribuindo,
laboratórios temáticos de sistemas de armas, assim, para o transbordamento e fluxo
sistemas de detecção e sistema de máquinas, contínuo do conhecimento.
laboratório de informática, telemetria e Em síntese, as ações empreendidas,
além de outras, estão voltadas para o
recebimento da Gestão do Conhecimento
e das políticas da Gestão do Ciclo de Vida
desses novos navios, representando o
surgimento de um novo padrão didático-
pedagógico do conhecimento para a
Marinha do Brasil.

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NOVO ITINERÁRIO FORMATIVO DE PRAÇAS:


MUITO ALÉM DE UM APRIMORAMENTO
ESTRATÉGICO
Capitão de Fragata (RM1-T) Rosa Neira Dopcke

Acompanhar os avanços tecnológicos a visão de futuro da instituição. O “Pessoal”


e alinhar-se às demandas de capacitação - nosso maior patrimônio - é o responsável
da Marinha têm sido um desafio diário na por operar, manter, gerenciar e supervisio-
Diretoria de Ensino, pois a celeridade com nar todas as ações estratégicas planejadas.
que as mudanças estão ocorrendo é de fato Assim, aprimorar a capacitação das praças
impressionante. O homem e o conhecimento tornou-se um objetivo naval a ser alcança-
estão em transformação e o “homem do do e, com isso, delinearam-se as medidas de
mar” insere-se nesse contexto. É como incremento do itinerário formativo desses
navegar traçando rotas: os ventos e as marés militares. A ideia foi a de garantir um ensino
surpreendem e torna-se necessário alterar a contínuo e progressivo, reduzindo o distan-
derrota. ciamento entre os momentos de qualifica-
A Marinha foi se modernizando, adqui- ção e a repetição de conteúdos e abordagens
rindo novos meios, equipamentos e siste- e, ao mesmo tempo, incluindo as áreas de
mas. Os Programas Estratégicos direcionam estudos não contempladas anteriormente.

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O investimento em um itinerário for- possuem experiências profissionais prévias


mativo capaz de enfrentar os desafios dos e/ou qualificações iniciais. Todo esse retrato
processos de trabalho em evolução ocor- se coaduna com as competências que
reu em paralelo com a adoção da Gestão de passaram a ser requeridas das praças na
Pessoas por Competências (GPC) feita pelo Marinha. A “bagagem” é enorme e precisa ser
setor do pessoal da MB a partir de 2014. A aproveitada e potencializada.
sinergia e a integração das ações dessas Nesse sentido, as primeiras mudanças
duas frentes resultaram no desenvolvimen- adotadas contemplaram a elevação do re-
to e aprovação dessa nova metodologia de quisito mínimo de escolaridade para o en-
elaboração de currículos, bem como do sino de nível médio, a inserção da prova
de Inglês no Concurso Público de Admis-
Manual de Elaboração de Referenciais de
são às Escolas de Aprendizes-Marinheiros
Competências (RC). O pressuposto teóri-
(CPAEAM), bem como a indi-
co escolhido pela DEnsM
cação do candidato, por or-
foi a Pedagogia das Com-
É preciso destacar dem de prioridade, das áreas
petências, redefinindo a
que o público que em que deseja atuar, a saber:
construção dos currículos,
atualmente procura Apoio, Eletroeletrônica ou
de modo a atribuir sen-
a Força tem um perfil Mecânica. Em decorrência
tido prático aos saberes,
diferente daquele disso, o Curso de Formação
passando a centrar-se em
de anos atrás, e esse de Marinheiros para Ativa
habilidades profissionais
retrato precisa ser (C-FMN) passou por uma re-
observadas em situações
considerado na captação estruturação, sendo possível
concretas de trabalho. Os
e, posteriormente, na antecipar o início da forma-
RC necessários ao exercí- ção técnica, que seria con-
formação.
cio de uma determinada cluída com o Curso de Espe-
atividade passaram a ser cialização (C-Espc). Assim,
objeto de capacitação em o C-FMN foi estruturado em
cursos ministrados no âmbito do Sistema duas fases: a primeira, no grau hierárquico
de Ensino Naval (SEN). O aprendizado pas- de Aprendiz-Marinheiro, destinada à forma-
sou a ocorrer por meio da contextualização ção militar-naval; e a segunda, no grau hie-
do conhecimento no ambiente de trabalho. rárquico de Grumete, destinada a iniciar a
É preciso destacar que o público que especialização técnica nas três áreas estabe-
atualmente procura a Força tem um perfil lecidas, sendo denominada Especialização
diferente daquele de anos atrás, e esse Inicial Continuada (EIC). A EIC passou a con-
retrato precisa ser considerado na captação templar, em cada área, disciplinas básicas a
e, posteriormente, na formação. A carreira fim de preparar o militar, dentro de um itine-
militar tornou-se atrativa e os egressos rário formativo, para a complementação da
do meio civil fazem parte de uma geração habilitação técnica numa das especialida-
conectada e ambientada com novas des, por ocasião do C-Espc.
tecnologias. Além disso, muitas vezes,
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Cabe destacar que,


ao longo desse período
de reformulação, ajustes
e inserções foram
aperfeiçoando as mudanças
delineadas. Afinal, como o
conhecimento e a tecnologia
transformam-se velozmente,
a todo momento é importante
inovar.

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Com foco numa educação continuada e ma de Acompanhamento da Especialização


progressiva, o MN recém-formado é subme- Continuada (PAEC), realizado no segundo
tido ao Programa de Qualificação em Servi- ano de MN, etapa em que os militares par-
ço (PQS), que “objetiva a certificação de que ticipam de um reforço nas disciplinas afetas
à área que escolheram, de modo a alicerçar
os militares embarcados nos diversos meios
o desenvolvimento de competências bási-
de superfície possuam conhecimentos teó- cas requeridas para a especialidade que irão
ricos e experiências operacionais necessá- cursar. Na área de Apoio, as disciplinas são
rios para a adequada execução das tarefas Português, Inglês e Matemática. Em Eletro-
que lhes sejam atribuídas” (DEnsM-1007, eletrônica, o reforço ocorre em Matemática,
2021, p.1). A intenção é integrar os conhe- Inglês e Física/Eletricidade. Para quem ini-
cimentos desenvolvidos no curso de forma- ciou sua especialização na área de Mecâni-
ção às especificidades do meio e das ativi- ca, o programa oferece aprofundamento em
Matemática, Inglês e Física/Mecânica.
dades que exercerá.
O incremento cognitivo ao longo da car- Com todas as competências básicas
reira continuou com a introdução do Progra- estabelecidas, foi o momento de desenvolver

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SELECIONANDO E CAPACITANDO NOSSO MAIOR PATRIMÔNIO


DIRETORIA DE ENSINO DA MARINHA

aquelas mapeadas para cada especialidade. técnicas de mediação são introduzidas e


O C-Espc passou a conferir a habilitação cursos são criados e alterados para atender
técnica e, para isso, os objetivos das à demanda de uma Força de Trabalho
atividades de ensino foram as experiências qualificada para o emprego do Poder Naval.
práticas e técnicas, as estratégias e recursos Mas o aprimoramento do itinerário for-
de aprendizagem que fomentam habilidades, mativo não se limitou ao que foi apresenta-
as atitudes e conhecimentos, tudo em do até este momento. Em paralelo a todas
sinergia e sem descuidar dos aspectos as medidas já relatadas, outras foram ado-
relativos à formação militar-naval. Foi assim tadas, pois os militares que já tinham cum-
que, em 2020, as primeiras turmas do C-Espc, prido as etapas referidas não poderiam ser
oriundas dessas mudanças iniciadas em esquecidos. Foi então que o Curso Especial
2017, receberam sua certificação. de Habilitação para Promoção a Suboficial
Nesse momento do itinerário formati- (C-Esp-HabSO) passou por uma significativa
vo, estão sendo iniciados os processos de análise: sua estrutura curricular evoluiu e foi
mapeamento das competências vislum- e redimensionada, tendo sua execução con-
bradas para os Sargentos Aperfeiçoados, duzida em sintonia com a nova prática de
que resultarão no remodelamento das educação digital; uma conquista da equipe
propostas pedagógicas do Curso Especial técnico-pedagógica do curso, dos tutores e
de Habilitação para Promoção a Sargento dos suboficiais alunos que ultrapassaram li-
(C-Esp-HabSG) e dos Cursos de Aperfeiço- mites.
amento (C-Ap). São mudanças que serão Na certeza de que nossos suboficiais
vivenciadas pelos militares egressos do têm um papel importante na MB, atuando
C-FMN/2017 e do C-Espc/2020. Há mui- como exemplo para os subordinados,
to trabalho pela frente! Os C-Ap terão um líderes em suas funções e potenciais
novo desenho, com caráter de atualização assessores dos oficiais, foi projetado
e aprimoramento profissional. um novo curso, visando a ampliar para
Cabe destacar que, ao longo desse esse grupo conhecimentos inerentes às
período de reformulação, ajustes e atividades de assessoria. Assim, surgiu o
inserções foram aperfeiçoando as mudanças Curso de Assessoria em Estado-Maior para
delineadas. Afinal, como o conhecimento e Suboficiais (C-ASEMSO), que é totalmente
a tecnologia transformam-se velozmente, estruturado em um Ambiente Virtual de
a todo momento é importante inovar. No Aprendizagem, possibilitando uma conexão
âmbito do Ensino, a educação digital e todas entre o suboficial aluno, as ferramentas
as suas ferramentas invadem o processo digitais, o conteúdo, seus significados e as
midiático de ensino-aprendizagem, novas situações em que podem ser aplicados.

Três modalidades de cursos do SEN possuem equivalên-


cia no sistema de ensino civil: os cursos de aperfeiçoamento
de oficiais a cursos de pós-graduação lato sensu; o Curso de
Graduação de Oficiais a bacharelado; e os cursos de especiali-
zação para praças a cursos técnicos de nível médio.

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SELECIONANDO E CAPACITANDO NOSSO MAIOR PATRIMÔNIO


90 anos

Também houve mudanças para quem que passe a constar como curso de carreira.
ingressa com a habilitação técnica obtida As Organizações Militares Orientadoras
no meio civil. O Curso de Formação de Técnicas (OMOT) foram consultadas, a
Cabos (C-FCB), além de ter recebido fim de identificar lacunas de capacitação.
incremento no ensino militar-naval, passou Como resultado, novos cursos estão sendo
a contemplar o ensino profissional. A ideia desenhados e propostos. A intenção é
é que aprendizagem e experiências obtidos alcançar um quantitativo de cursos que
no âmbito civil sejam compatibilizados contemple todas as especialidades do
com as especificidades da carreira naval, Corpo de Praças da Armada (CPA) e do
alinhando o conhecimento técnico às Corpo Auxiliar de Praças (CAP). Em 2016,
particularidades exigidas pelas fainas iniciou-se o primeiro, em Automação, e até
marinheiras e pelos meios, equipamentos e o final de 2021, o SEN conduzirá treze cursos
sistemas em uso na Força. progressivamente. Há a intenção de se
Além disso, como parte das ações chegar a vinte e oito cursos.
de evolução do itinerário formativo de Aprimorar a capacitação dos nossos
praças, está em implementação o Curso militares é uma ação estratégica, “a fim
de Aperfeiçoamento Avançado de Praças de prover à Força a pessoa certa, com
(C-ApA). Atualmente, esse curso encontra- a capacitação adequada, no lugar e no
se em caráter experimental, com todas as momento certos, visando ao cumprimento
suas etapas sendo testadas e avaliadas, até da missão da MB” (PDS-Pessoal-2040,
2021, p.19). Essa é a missão! A Diretoria de
Ensino tem buscado ultrapassar fronteiras,
romper barreiras e, em conexão com os
avanços tecnológicos, inovar para ir além do
aprimoramento estratégico.

Acesse aqui a
Formatura HabSG
2020.

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70 ANOS, 70 MESES E 70 DIAS: O COLÉGIO


NAVAL E SUAS HISTÓRIAS
Primeiro-Tenente (RM2-T) Aline Franca dos Santos

O Colégio Naval (CN) é uma tradicional internato. A rotina diária militar começa ao
instituição de ensino militar que, neste ano amanhecer, com o toque da alvorada às 6
de 2021, completa 70 anos de existência. horas, e termina às 22h, com o silêncio. Na
Conhecido também como Barco Amarelo, parte da manhã, são ministradas as aulas;
apelido carinhoso que recebeu em virtude na parte da tarde, as atividades físicas e
da tradicional cor amarelo-colonial que esportivas; e na parte da noite, o estudo
ornamenta a fachada do prédio principal, obrigatório, além das reuniões dos grêmios.
O entretenimento é promovido pela
Sociedade Acadêmica Greenhalgh
(SAG), criada em 1975, que, durante
o ano letivo, realiza vários eventos,
como a abertura e encerramento do
Ano Cultural com apresentações de
peças teatrais e stand-up comedy,
o Concurso de Oratória e o Festival
Interno da Canção.
É notável que as histórias do
Colégio Naval e da cidade de Angra
dos Reis estão entrelaçadas, sendo
possível identificar nas construções
das estradas e rodovias de acesso à
cidade o impacto positivo para sua
fica localizado na Enseada Batista das economia e, consequentemente, para o CN.
Neves, na cidade de Angra do Reis, estado Elas facilitaram o acesso dos alunos que, até
do Rio de Janeiro. Sua missão é assegurar a o início da década de 60, era realizado apenas
capacitação intelectual, física, psicológica, por transporte marítimo e, posteriormente,
moral e militar-naval dos alunos e incentivá- passou a ser feito também por meio
los para a carreira naval, a fim de prepará- ferroviário.
los e selecioná-los para o ingresso na Escola Exemplo disso, foi observado a partir
Naval. de 1951, quando os contratorpedeiros
Oriundos das cinco regiões do Brasil, seus atracavam no porto de Angra do Reis e traziam
alunos realizam, durante três anos, o Curso os alunos do Colégio Naval. Nessa época,
de Preparação de Aspirantes, em regime de também existiam caminhos e trilhas na mata,
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90 anos

apelidados de “aéreos”. Entre esses, o aéreo 70 anos de idade, representa os militares


localizado entre os morros de São Bento e veteranos que construíram o Colégio
Abel foi o cenário lembrado, saudosamente, Naval de hoje e que merecem todo o nosso
pelo Capitão de Mar e Guerra (CMG) Sebastião respeito e admiração. De origem humilde, o
Andrade Filho, que nasceu na cidade de comandante estudou em escola pública e,
Angra dos Reis e ingressou no CN em 1969, por circunstâncias adversas, precisou pedir
com 15 anos de idade. Contou que utilizou o dinheiro emprestado para realizar a sua
“aéreo” para conseguir assistir, na casa de um inscrição no concurso para o CN, sendo que
“campanha”, a um jogo da Copa do Mundo a pessoa que o emprestou fez questão de
de 70, aquele em que o Brasil ganhou do frisar que ele precisaria pagar o empréstimo
Uruguai de 3 a 1. Nessa época, a televisão era quando fosse promovido a CMG. Desse modo,
raridade e nem todo mundo a tinha; então, conseguiu realizar a sua inscrição no último
por ser um jogo importante da Copa, ele não dia, faltando poucos minutos para encerrar o
podia deixar de assistir. Naquele tempo, o horário. Até hoje ele se lembra das palavras
licenciamento acontecia de 15 em 15 dias do militar que realizou a sua inscrição. O
e os alunos que moravam no Rio de Janeiro incentivador disse que acreditava que ele
chegavam a realizar 4 horas e 30 minutos de passaria na prova por vê-lo tão aflito com o
viagem, uniformizados, para retornarem aos horário, mas não foi bem assim. No primeiro
seus lares. momento, ele não foi classificado, porém,
Integrante da turma Esperança, o ao passar uma semana da apresentação dos
CMG Andrade Filho, próximo de completar discentes, um aluno do segundo ano foi até

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sua casa dizendo que, por determinação do Santos (BR-101), os alunos que ingressavam
Diretor, ele precisava cortar o cabelo e se no CN tinham a opção de chegar mais rápido
apresentar o mais brevemente possível no ao Colégio. Considerada uma das rodovias
CN, pois havia saído a sua reclassificação. mais bonitas do Brasil, liga os municípios
Esse fato foi marcante na vida do CMG do Rio de Janeiro a Santos, litoral paulista,
Andrade Filho, sem contar o dia em que seu e continua até hoje sendo o trajeto mais
filho, que é médico, foi aprovado no concurso utilizado pelos alunos.
para o Corpo de Saúde da Marinha e passou Vale destacar que a BR-101 possibilitou
a dividir com ele a mesma Praça d’Armas do que a economia da cidade tivesse um grande
Colégio Naval, uma vez que o Comandante salto com a chegada da CNAAA, complexo
Andrade Filho trabalha como oficial veterano formado pelo conjunto das usinas Angra 1
contratado - Tarefa por Tempo Certo (TTC) - e 2, além de Angra 3, ainda em construção.
nesse estabelecimento de ensino. A central nuclear recebeu esse nome em
Nos anos 70, a cidade de Angra dos Reis, homenagem ao Almirante Álvaro Alberto, que
já considerada área de segurança nacional, sempre defendeu que o desenvolvimento
entrou para o noticiário, sendo uma das científico e tecnológico está intimamente
principais áreas do projeto do Plano ligado à prosperidade do país. O almirante,
Trienal de Desenvolvimento, elaborado patrono da ciência, da tecnologia e da
pelo governo militar. Nesse período, novos inovação da Marinha do Brasil, contribuiu
investimentos foram levados para a cidade, para a implementação do Programa Nuclear
entre eles: a rodovia Rio-Santos, a Central Brasileiro, sendo o primeiro presidente do
Nuclear Almirante Álvaro Alberto (CNAAA) e o CNPq (órgão que tem como objetivo principal
Terminal de Petróleo da Baía da Ilha Grande incentivar a pesquisa científica no país). Em
(TEBIG). Com a abertura da rodovia Rio- virtude dessa tamanha importância para o

Acesse aqui o
Video Institucional
do CN.

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90 anos

país e para a MB, o primeiro submarino com Entre os diversos momentos incríveis
propulsão nuclear brasileiro será batizado vividos no CN, o Comandante Serafim
com o nome Almirante Álvaro Alberto. destacou a primeira vez que lá chegou e
Quem já aproveitou as melhorias pôde apreciar a bela paisagem da Enseada
ocorridas no deslocamento para o Colégio Batista das Neves, também conhecida como
com a implementação da BR-101 foi o Capitão “Costeirinha”. Essa cena foi repetida mais
de Mar e Guerra Emerson Augusto Serafim, duas vezes: a primeira como Comandante
que ingressou no CN em 1988, com 14 anos, de Companhia (ComCia), em 2002, e a
após concluir o primeiro grau. Integrante da segunda em 2018, quando assumiu o cargo
turma Almirante Eduardo Wandenkolk, o de Comandante do Colégio Naval. Dentre
CMG Serafim nasceu no subúrbio do Rio de tantas histórias e recordações engraçadas
Janeiro, no bairro de Irajá. O desejo de seguir nas três passagens pelo CN, que somam
a carreira militar surgiu durante as aulas aproximadamente 70 meses, o CMG Serafim
de um professor de matemática na Escola contou que, durante uma inspeção, quando
Municipal Conde Pereira Carneiro. Para já estava no terceiro ano escolar, viu um fio
ele, a possibilidade de traçar um caminho de linha no uniforme de um “campanha”
diferente de seus irmãos e familiares era o e, achando que poderia ajudar o amigo,
ingresso nas Forças Armadas, sendo que, a puxou-o e acabou tirando o botão da
princípio, estabeleceu como meta servir à camisa, motivo de risos e ao mesmo tempo
Força Aérea Brasileira. Como a vida
é feita de desafios, o CMG Serafim,
que na época tinha completado
13 anos, precisou dar aulas para
pagar o cursinho preparatório. Ele
intercalava os horários de estudo
com as aulas que ministrava nos
períodos da manhã e da tarde para
os alunos da faixa etária entre 9 e
13 anos. Sua completa dedicação
aos estudos possibilitou a ele ser
aprovado no concurso das três
Forças Armadas, sendo que optou
pela Marinha do Brasil, devido à
melhor qualidade de ensino. Quando chegou de preocupação, por receio de ser punido
ao Colégio Naval, encontrou uma realidade pelo seu ComCia.
bastante diferente e enfrentou dificuldades, Dos anos 90 até os dias de hoje, novas
principalmente na disciplina de matemática mudanças econômicas aconteceram na
que era ministrada pelo professor Novaes. cidade de Angra dos Reis. Uma delas foi a

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DIRETORIA DE ENSINO DA MARINHA

inauguração do Shopping Piratas no dia 12 que ingressou no CN em 2019. Ele teve


de novembro de 1997, com uma praça de como inspiração o seu avô, que era Fuzileiro
alimentação e, em seguida, a ampliação Naval e com ele comparecia nos eventos em
dos cinemas, exibindo filmes nacionais e homenagem ao dia do Fuzileiro Naval. Ao
estrangeiros. O shopping passou a ser o recordar os momentos da infância, lembrou-
point dos alunos do CN nos finais de semana, se de um dia em que vestiu o fardamento do
principalmente dos “aratacas”, que são os avô só para ver como ficaria, despertando
alunos que moram em outros estados do Brasil ainda mais seu interesse pela MB. Contudo,
e retornam para suas casas apenas nas férias o que consolidou seu desejo foi a visita que
ou feriados prolongados. Outra mudança fez ao Espaço Cultural da Marinha, no centro
importante que serviu como facilitadora para do Rio de Janeiro. O aluno Alexandre Macedo
os alunos do Colégio Naval foi a rodoviária conheceu o CN no período em que estudou
de Angra dos Reis, conhecida também no Colégio Militar do Rio de Janeiro (CMRJ),
como rodoviária Vereador Nilton Barbosa, onde teve mais contato com o militarismo.
inaugurada em 1999, ampliando as conexões Entretanto, a distância e o tempo de
com outras cidades, como: Ubatuba, em São deslocamento entre a sua casa, em São João
Paulo; e Juiz de Fora e Belo Horizonte, em de Meriti, e o CMRJ comprometiam muito o
Minas Gerais. A ligação com o Estado de Minas tempo de preparação para ingressar no CN.
Gerais facilitou o acesso dos alunos mineiros, Por isso, optou por um curso à distância,
cujo número atualmente é superior ao dos mesmo não sendo o ano em que poderia
alunos paulistas, sendo inferior apenas ao realizar o concurso. Com dificuldades em
dos alunos cariocas/fluminenses. aprender tudo sozinho, ele conseguiu uma
Quem conseguiu aproveitar essas bolsa em um curso preparatório no ano de
mudanças ocorridas na cidade de Angra 2018 e concluiu o nono ano escolar. O futuro
dos Reis foi o aluno 3001 Alexandre Macedo, aluno do CN enfrentava duas horas dentro

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SELECIONANDO E CAPACITANDO NOSSO MAIOR PATRIMÔNIO


90 anos

foi possível se deslocar, pois


precisou ficar aquartelado
por quase 70 dias, devido
à pandemia da COVID-19.
O momento fez com que
o aluno continuasse firme
e dedicado aos estudos,
aprendendo a lidar com a
distância dos familiares e
amigos, comprovando que
mares tranquilos não fazem
bons marinheiros.
Nesses 70 anos de
transformações na cidade
de Angra dos Reis e na
do trem, todos os dias, para chegar ao
sociedade brasileira, o CN manteve sempre
cursinho (saía de casa às 6 horas da manhã e
o ensino de excelência, aprimorando as
retornava às 21 horas), mas o que não faltava
metodologias e as ferramentas de ensino e
era a dedicação integral aos estudos.
acompanhando as mudanças tecnológicas.
O dia tão sonhado da aprovação chegou
Entre essas emoções e realizações que
e foi seguido por um período intenso de
marcaram as vidas do CMG Andrade Filho,
três semanas de adaptação. Para ele, o
do CMG Serafim, do aluno 3001 Alexandre
encerramento desse período significou o
Macedo e de todos os demais que passaram
momento mais inesquecível vivido no CN
pelo Barco Amarelo, ficará sempre na
até hoje. O aluno descreveu que sentiu a
memória o dia em que adentraram o portaló
sensação de dever cumprido ao ver seus
pela primeira vez como alunos, dando início
familiares emocionados na cerimônia de
à primeira etapa da longa caminhada até o
encerramento da adaptação, considerando
oficialato. Finalmente, por meio dessas três
a maior homenagem que poderia fazer ao
experiências de vida, foi possível identificar
seu avô, que faleceu em 2009. No segundo
o quanto as pequenas histórias e conquistas
semestre de 2020, o aluno vivenciou um
são importantes na formação da alma de
momento ímpar no Colégio Naval: mesmo
um bom marinheiro, independentemente se
com a possibilidade de estar no Rio de
vividos no passado, presente ou futuro.
Janeiro em pouco mais de duas horas, não

Você sabia que, desde de 1953 até 1976, o curso do


Colégio Naval funcionou com dois anos letivos? A partir de
1977 o curso passou a ser em 3 anos, sendo hoje comparado,
em termos curriculares, ao Ensino Médio.

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COMUNICAÇÃO DIGITAL PARA A CAPTAÇÃO


DE PESSOAL Primeiro-Tenente (RM2-T) Rafaela Peixoto Tayão

Se em um passado não muito distante a concursos anteriores, o que auxilia na captação


indústria de bens físicos ditava as regras, hoje de melhores candidatos pois fornece subsídios
quem faz isso é a comunicação e a informação. para um melhor preparo acadêmico.
Nesse contexto, a comunicação digital ganha Além disso, também ocorre a publicação
espaço e o Serviço de Seleção do Pessoal da periódica de matérias sobre os certames e
Marinha (SSPM) alinha-se a essas práticas para assuntos correlatos, levando informações aos
captar candidatos qualificados e motivados para interessados de maneira simples e direta, que
a Marinha do Brasil (MB). são características da linguagem jornalística. De
A globalização da economia, a aproxima- modo algum esses textos servem para substituir
ção das relações via Internet, a disseminação a leitura dos editais, pelo contrário, as matérias
dos dispositivos móveis e das mídias sociais in- complementam o entendimento a respeito de
fluenciam as instituições e evidentemente seus tais documentos, já que editais são escritos
processos de comunicação. Com o SSPM não em linguagem formal e, muitas vezes, não
foi diferente: a saída para realizar o recruta- chegam a ser totalmente compreendidos pelos
mento de pessoal e capilarizar ainda mais essa candidatos.
atividade foi a comunicação digital. Outra maneira de informar é utilizar ima-
Antes mesmo que o edital do gens e, nesse sentido, o SSPM expõe banners em
concurso seja publicado, as informações seu endereço eletrônico, visando chamar a aten-
sobre o processo seletivo são largamente ção de forma resumida, rápida e visual para os
disseminadas no site www.ingressonamarinha. assuntos relevantes, os quais também são dis-
mar.mil.br, no endereço www.facebook. ponibilizados de maneira completa e detalhada.
com/ingressonamarinha, em e-mails, na Esses banners são enviados a todos os Distritos
Unidade Remota de Atendimento (URA) e, Navais (DN) para que sejam divulgados em seus
presencialmente, em instituições de ensino e sites.
feiras de empregos e estágios. O uso das mídias sociais já é algo comum
No site supramencionado, os editais são no SSPM, em especial do Facebook, pela página
divulgados e cada concurso tem uma página www.facebook .com/ ingressonamarinha.
específica com todos os informativos oficiais, É importante ressaltar que a MB é a única entre
link de inscrição, boleto referente à taxa de as três Forças Armadas que possui um canal de
inscrição e comprovante de participação mídia social exclusivo para tratar sobre tema
no certame. Nesse endereço eletrônico, os relativo ao ingresso na instituição. A fan page
interessados também podem ter acesso a reúne cerca de 330 mil fãs e tem engajamento
provas, gabaritos e títulos de redações de médio por postagem de 12%, enquanto a média

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90 anos

de mercado é de 3%, revelando, ainda, uma e emojis. Depois, enviado, inicialmente, de


grande atividade por parte do nosso público. um militar para seus colegas de farda. Dessa
A utilização do Facebook evoluiu, forma, a mensagem é largamente disseminada
demonstrando o amadurecimento da e pode chegar a quem possa interessar, já que
comunicação digital, e impulsionou a captação boa parte dos nossos candidatos são indicados
de pessoal. Assim sendo, alguns avanços podem por familiares e amigos, segundo pesquisas
ser notados: aumento constante da quantidade realizadas.
de publicações, crescimento de interações com A fim de promover o estreitamento no
os fãs, mudança da linguagem formal para relacionamento e prestar mais celeridade às
a coloquial, utilização da identidade visual respostas, está sendo implementada a URA,

para cada concurso público, desenvolvimento que é voltada a sanar dúvidas dos candidatos.
de pesquisas para compreensão do público, Hoje se encontra em teste o atendimento via
publicações constantes sobre o andamento dos WhatsApp, aplicativo de maior uso global, com 2
concursos com o uso de links para o site oficial, bilhões de usuários no mundo, de acordo com o
crescimento progressivo da base fãs e conexão site de estatísticas Statista. Esse tipo de serviço
entre calendários de temas em geral, como datas será um acréscimo aos tradicionais canais já
comemorativas de profissões, datas históricas e usados, como o telefone e e-mail.
o tema concursos públicos. O e-mail, outra ferramenta de comunicação
Ademais, quando os editais são publicados, digital utilizada, tem se mostrado muito eficaz
o SSPM envia mensagens pelo WhatsApp sobre na difusão de informações sobre os concursos e
os concursos e processos seletivos. O texto é processos seletivos, trazendo a oportunidade de
elaborado em uma linguagem coloquial, que estabelecer contato com instituições de ensino,
é construída utilizando-se linguagem verbal imprensa e candidatos. Além disso, é por e-mail

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DIRETORIA DE ENSINO DA MARINHA

que pesquisas podem ser realizadas a fim de a publicação prévia, pela fan page Ingresso
identificar lacunas que aprimorem o processo na Marinha, sobre a participação da equipe de
de recrutamento. divulgação de concursos em um determinado
Não deixando de lado o caráter tradicional, local e horário, com o objetivo de aumentar a
no que tange aos meios impressos, como assertividade da comunicação presencial.
folders e cartazes, o SSPM mantém ligação Devido à necessidade de ampliação
com a comunicação digital QR code. Qualquer e demarcação das ações de recrutamento
interessado que estiver com um desses materiais mediante os diversos públicos, foi criada a
de divulgação em mãos pode acessar o site marca “Ingresso na Marinha”. O registro ocorreu
Ingresso na Marinha e ficar atualizado sobre os no dia 6 de agosto de 2019, no Instituto Nacional
concursos: basta apontar o celular para o código de Propriedade Industrial (INPI) e será lançada
impresso e pronto! em breve. A perspectiva é de que haja novos
Por outro lado, permanece, ainda, a produtos para seu lançamento: novo site com a
divulgação de concursos e processos seletivos utilização plena dos recursos de comunicação
de forma presencial, seja por meio de multimídia (podcasts, vídeos, apresentações,
palestras em instituições de ensino, seja por banners, folders e cartazes para downloads,
meio de participação em feiras de empregos jogos on-line para o público infantojuvenil,
e estágios, todos em contato direto com o e-books, infográficos, sala de imprensa e galeria
público, com explicações detalhadas sobre os de fotos), atendimento via chatbot, uso de
certames e distribuição de folders. A prática marketing de permissão (interessados poderão
da comunicação digital não exclui essa forma informar um e-mail para o recebimento de
de trabalho, ao contrário, enriquece-a com informações sobre os concursos), inscrições
seus inúmeros recursos. Um exemplo disso é por CPF e o aplicativo Ingresso na Marinha, que

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90 anos

terá assuntos divididos por área do candidato, de brasileiros que acessam a Internet usam o
formas de ingresso, provas anteriores, notícias celular, sendo que 58% conectam-se somente
e concursos. por esse dispositivo móvel. Além disso, as
Os desafios mais proeminentes para a atividades de comunicação por voz e vídeo são
captação de pessoal dizem respeito à falta de as mais realizadas, feitas por 79% da população.
acesso aos meios digitais – pois nem todos Isso demonstra a importância de se planejar a
os brasileiros têm acesso à Internet ou a comunicação digital de captação de pessoal via
computadores – e à absorção da cultura digital celular, por voz e vídeo.
por parte dos indivíduos. Tendo em vista todas essas considerações,
Segundo a pesquisa sobre o uso das verificou-se que a comunicação digital feita pela
Tecnologias da Informação e Comunicação Internet hoje, no SSPM, tem grande importância
nos domicílios brasileiros - (TIC) Domicílios para a captação de pessoal. Mesmo sendo um
2019, feita pelo Centro Regional de Estudos processo de trabalho já consagrado e bem-
para o Desenvolvimento da Sociedade da sucedido, as constantes evoluções tecnológicas
Informação (Cetic), 47 milhões de brasileiros demandarão continuadas adaptações que
não usam a Internet (26% da população). têm sido vislumbradas
Dessa forma, ressalta-se que as ações não e que deverão ser
são voltadas somente para o público-alvo dos implementadas pela
concursos da MB, mas também para todos ao equipe SSPM.
seu redor (familiares, professores, imprensa
e influenciadores digitais). O desafio, então, é
planejar a captação de pessoal nesse contexto e
em um país com dimensões continentais como
o Brasil, cujas necessidades mudam de região
para região. Assim, admite-se que a
comunicação digital tem sua validade,
mas, perante esses dados, percebe-
se que as atividades presenciais
também são necessárias em
determinadas situações.
A pesquisa feita pelo
Cetic em 2019 também aponta
que 99% dos 134 milhões

Você sabia que existem mais de 30 lugares distribuídos


por todo o Brasil onde você pode realizar a sua prova para o
ingresso na Marinha?

31

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DIRETORIA DE ENSINO DA MARINHA

PROGRAMA DE QUALIFICAÇÃO PARA O


SERVIÇO: A ÚLTIMA FRONTEIRA DO ENSINO
DA MARINHA Capitão de Mar e Guerra José Augusto Silva Ferreira

O Sistema de Ensino da Naval (SEN) sistematicamente, garantir que os conheci-


tem como objetivo “capacitar o pessoal mentos e habilidades específicos de sua OM
militar e civil para o desempenho, na paz e de destino lhe sejam transmitidos utilizan-
na guerra, dos cargos e funções previstos em do-se o conceito de on-the-job training (for-
sua organização”. Ou seja, o propósito maior mação no local de trabalho).
de todas as nossas Organizações Militares de O Programa de Qualificação para o
Ensino (OME) é prover pessoal com a gama Serviço (PQS) de Oficiais e Praças representa
de conhecimentos necessários à realização a materialização desse conceito a bordo
de todas as atividades nas mais de 400 dos navios de superfície da MB. Por meio
Organizações Militares (OM) da Marinha do de coletâneas de listas de verificação de
Brasil (MB), notadamente, nos 95 navios de conhecimentos e habilidades, denominadas
superfície de 48 diferentes classes. Modelos de Qualificação, é desenvolvido
Intuitivamente, esses números demons- um processo de capacitação que objetiva
tram a amplitude e a diversidade de temas certificar que os militares, embarcados
que compõem os currículos que orientam a nos diversos meios de superfície, possuam
execução dos cursos do SEN. Desde os cur- conhecimentos teóricos e experiências
sos de formação até os cursos de educação operacionais necessários para executar,
profissional, é preciso traçar um Itinerário com segurança, suas tarefas operacionais.
Formativo (IF) que possibilite ao militar ad- A biblioteca do PQS é constituída por 48
quirir, progressivamente, a base cognitiva coletâneas que perfazem um total de 1235
adequada às tarefas que lhe serão atribuí- modelos de qualificação.
das ao longo de sua carreira. De fato, não se Tanto quanto seu conceito de origem
consegue entregar aos alunos do SEN du- – o on-the-job training –, o PQS difere do
rante os cursos de formação, todos os tradicional “aprender na prática” pela
conhecimentos específicos que lhes sistematização do aprendizado. O
serão necessários. A estratégia método tradicional, de colocar o
montada então, é ensinar o militar diretamente em pos-
conjunto de conhecimen- to de trabalho, pressupõe
tos comuns a todas as a rotina de tentativa e
funções previstas erro. Ao contrário
para o militar disso, o progra-
nas OME e, ma garante

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SELECIONANDO E CAPACITANDO NOSSO MAIOR PATRIMÔNIO


90 anos

a aquisição de conhecimentos e habilida- os equipamentos e sistemas que utilizará


des de forma controlada, pois a qualifica- no seu posto de serviço. De forma contro-
ção ocorre sempre com a supervisão de mi- lada, sem estar efetivamente em operação
litares mais experientes (os qualificadores), real, o militar é colocado junto ao sistema
reduzindo os riscos para o pessoal e para o ou equipamento, onde é verificado se ele
material. O militar em qualificação (o qua- conhece as possibilidades e limitações da
lificando) executa suas tarefas com super- máquina que vai operar, se interpreta todas
visão até que, seguindo todo o rito do PQS, as informações disponíveis, se reconhece os
seja certificado que ele é capaz de desempe- alarmes de falhas e se é capaz de realizar os
nhá-las por conta própria. Adicionalmente, procedimentos de emergência. Cumpridas
o PQS minimiza as variações no processo de essas duas primeiras fases com sucesso, já é
qualificação, decorrentes de personalismos, possível afirmar que o qualificando tem co-
consequentes do variado nível técnico e de nhecimento para guarnecer, com segurança,
diferenças nos níveis de exigência dos qua- seu posto de serviço. Contudo, ainda é pre-
lificadores. ciso desenvolver, sob supervisão, a destreza
As verificações constantes dos modelos e a habilidade requeridas para realizar ade-
de qualificação e, consequentemente, a ca- quadamente todas as atividades referentes
pacitação são dividi-
das em três diferentes
classes de perguntas
que representam as
três fases graduais do
processo. Inicialmen-
te, ele é questionado
oralmente sobre os
fundamentos teóri-
cos, adquiridos nas
escolas e centros de
instrução, necessá-
rios para que desem-
penhe as tarefas que
lhe foram designadas
de forma correta e segura. Essa fase inicial ao seu posto ou estação de serviço. Tem iní-
representa o elo entre o sistema de ensino e cio a fase dinâmica do processo, quando o
o navio. É nesse momento que o qualifican- militar é posto a desempenhar suas tarefas
do é checado sobre o conhecimento cientí- em situação real ou simulada e o seu desem-
fico necessário para prosseguir com segu- penho é avaliado por um número de vezes
rança sua capacitação a bordo. Após essa suficiente para certificar que o militar está
verificação puramente teórica, o qualifican- apto a exercer aquela função.
do é levado à sua estação de trabalho e, de Para a coordenação e o acompanhamen-
forma ainda estática, ele passa a ser testado to da extensa gama de atividades envolvidas
in loco quanto ao seu conhecimento sobre no programa, existe uma estrutura denomi-
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SELECIONANDO E CAPACITANDO NOSSO MAIOR PATRIMÔNIO


DIRETORIA DE ENSINO DA MARINHA

nada Rede de Trabalho do PQS (RTPQS), que grama de Qualificação, desde 2019, já foram
é formada por representantes de todos os realizadas mais de 6000 qualificações de mi-
Comandos de Força que possuem navios de litares.
superfície e tem como elemento central a Di- A esta altura é preciso deixar claro que,
retoria de Ensino da Marinha, representada desde sempre, os militares da Marinha do
pelo Grupo de Desenvolvimento e Controle Brasil são instruídos, treinados e preparados
para exercerem suas tarefas de bordo. O
mérito e foco do PQS está em padronizar,
formalizar e sistematizar esse processo de
capacitação de pessoal. Mais que isso, o fato
de o grupo de desenvolvimento e controle
do programa estar nucleado na Diretoria de
Ensino da Marinha (DEnsM) – Órgão Central
do Sistema de Ensino Naval – faz com que a
esfera de atuação do ensino na MB ultrapasse
os limites físicos de nossas escolas e centros
do PQS (GRDPQS). É a RTPQS que promove de instrução e adestramento e estabeleça
o aperfeiçoamento contínuo da documenta- uma nova fronteira a bordo dos navios de
ção que baliza as qualificações, supervisiona superfície, levando a expertise nos processos
a atuação dos coordenadores do PQS a bor- de capacitação da DEnsM para bordo dos
do dos navios e, por meio de um conjunto de navios e, sinergicamente, trazendo para
17 indicadores, acompanha o atingimento dentro das escolas as reais demandas dos
das metas estabelecidas. Sob a égide do Pro- meios navais de superfície.

Programa de
Qualificação para o
Serviço

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SELECIONANDO E CAPACITANDO NOSSO MAIOR PATRIMÔNIO


90 anos

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SELECIONANDO E CAPACITANDO NOSSO MAIOR PATRIMÔNIO


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O INGRESSO DA MULHER NA ESCOLA NAVAL:


UMA TRAJETÓRIA DE CONQUISTAS
Capitão de Mar e Guerra (RM1-IM) Hércules Guimarães Honorato
Primeiro-Tenente (RM2-T) Caroline de Souza Pereira

Introdução As primeiras “Sentinelas dos Mares”


O meio militar tem por característica O caminhar para a participação feminina
envolver atividades de risco, força e forte ri- discente na Escola Naval teve seu início em
gor da disciplina, as quais, em tempos pas- 2004, quando o então Diretor de Ensino
sados, eram exclusivas do sexo masculino. da Marinha deu andamento ao relatório
Porém, a efetivação do primeiro contingen- elaborado por um Grupo de Trabalho da
te feminino nas Forças Armadas ocorreu Escola Naval (EN), constituído para tratar
com a promulgação da Lei nº 6.807, de 7 de do assunto “Ingresso de mulheres na
Escola Naval”. O tema em estudo voltou a
julho de 1980, e a criação do Corpo Auxiliar
ser tratado em 2013, com reuniões entre
Feminino da Reserva (CAFRM), composto
os representantes da DEnsM e da EN, que
por um Quadro de oficiais e outro de pra-
concluíram que o relatório de 2004 estava
ças. À época, isso visava ao atendimento da
atual e que as observações e sugestões
necessidade crescente de pessoal de nível
ali contidas deveriam ser consideradas
técnico e universitário. e mantidas, em especial que as futuras
Com a entrada em vigor da Lei nº 9.519, aspirantes ingressariam, inicialmente,
de 26 de novembro de 1997, que dispõe so- como as primeiras aspirantes no Corpo de
bre a reestruturação dos Corpos e Quadros Intendentes da Marinha (CIM).
de oficiais e de praças da Marinha, foi ex- Nesse primeiro momento, então, não
tinto o CAFRM. As mulheres passaram, en- havia a necessidade de elas cursarem
tão, a integrar os mesmos Corpos e Quadros algumas disciplinas dos primeiro e segundo
que existiam para os militares homens, em anos. Dessa forma, o processo de ingresso
igualdade de condições da mulher na EN ficou diferenciado do
Acesse aqui a no acesso às promoções vivenciado pelos homens. No ano seguinte,
Regata da EN. contudo, os currículos foram unificados e
e aos cursos. Tal decisão
culminou, em novembro elas passaram a cursar as mesmas disciplinas
de 2012, com a promoção desde a admissão.
Já no primeiro concurso, em 2013,
da primeira oficial ao pos-
para o atendimento de 12 vagas ofertadas,
to de Contra-Almirante.
a relação foi de 279 candidatas para cada
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SELECIONANDO E CAPACITANDO NOSSO MAIOR PATRIMÔNIO


90 anos

vaga, proporção bem superior à masculina.


Esses dados destacam a grande procura para
a primeira turma de aspirantes mulheres
na EN, o que foi corroborado por uma das
candidatas aprovadas que estava na idade
limite para entrada e já cursava o oitavo
período de Engenharia Química.
A EN preparou-se detalhadamente
para o recebimento das mulheres. Após
muitas deliberações, testes e reuniões,
ficou decidido que tudo o que permearia
sua formação seria o mais idêntico possível
do destinado aos homens. Assim sendo,
inúmeras adequações foram necessárias,
contemplando ajustes nas instalações e nas
Normas do Comando do Corpo de Aspirantes
(COMCA). Não foi preciso alterar estrutura,
mas foram incluídos procedimentos para

Batizado da primeira Aspirante FN


Aspirante (FN) Helena Monteiro
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SELECIONANDO E CAPACITANDO NOSSO MAIOR PATRIMÔNIO


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a inspeção de camarotes e alojamentos imprescindível para seu aprimoramento,


(caso o oficial inspecionador fosse do sexo elas puderam conquistar suas platinas e
oposto); inseridas as regras para o uso do serem chamadas de aspirantes da Marinha.
uniforme feminino; dentre outras instruções Em dezembro de 2017, ano da
necessárias. As primeiras três oficiais formatura da turma Almirante Gastão
designadas para o setor COMCA foram: uma Motta, as primeiras aspirantes foram
pedagoga, uma psicóloga e uma do CIM. declaradas Guardas-Marinha, sendo este o
Foi no dia 12 de janeiro de 2014, reconhecimento da Marinha do Brasil por
então, que as pioneiras chegaram à Ilha de quatro anos dedicados à construção do ser
Villegagnon para se apresentarem e iniciarem marinheiro. Após a viagem no Navio-Escola
o período de adaptação. É nesse período Brasil e o cumprimento do ciclo pós-escolar,
que ocorre a transição da vida civil para a foram promovidas a Segundo-Tenente e,
vida militar; é a fase em que os candidatos como previsto no Plano de Carreira, foram
aprendem sobre as regras e os atributos movimentadas para as diversas Organizações
basilares da formação militar-naval: a Militares. Ao início de 2021, quatro delas
hierarquia e a disciplina. Desse modo, ao exercem funções embarcadas em navios da
transporem os desafios impostos pelo árduo Esquadra e duas em Organizações Militares
treinamento e, ao adquirirem o aprendizado (OM) do Corpo de Fuzileiros Navais (CFN).

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SELECIONANDO E CAPACITANDO NOSSO MAIOR PATRIMÔNIO


90 anos

A igualdade de escolha do Corpo


A Lei de reestruturação de Corpos e Qua- “Todas as realizações você tem
dros que extinguiu o CAFRM, em seu art. 9º, em conjunto com todos os seus
deixava claro que “Os oficiais da Marinha, amigos de turma.”
de ambos os sexos, são iguais em direitos e
obrigações nos termos da Constituição, ob-
servados os valores, princípios e normas nela
“Ter uma formação
estabelecidos”. Porém, em seu inciso I, do
militar-naval aprimorada; foi
§ 1º, declarava que os cargos ocupados e continua sendo um desafio
“Ser forjada durante
por oficiais do sexo masculino de- diário.”
4 anos em Villegagnon me
vem ser do Corpo da Armada (CA) marcou e me definiu.”
e do CFN. Com o advento da Lei nº
13.541, de 18 de dezembro de 2017,
que dispõe sobre a reestruturação dos
Corpos e Quadros de oficiais e de praças Depoimentos de Aspirantes
da 1ª Turma
da Marinha, o respectivo inciso foi alterado,

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SELECIONANDO E CAPACITANDO NOSSO MAIOR PATRIMÔNIO


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com a possibilidade de os Corpos e Qua-


“(...) é uma honra fazer parte de uma instituição
dros de oficiais da Marinha do Brasil como a Marinha do Brasil, onde princípios e valores
serem integrados por oficiais de são respeitados e priorizados. Ser uma sentinela dos mares é
motivo de grande orgulho... Poder contribuir para a conquista
ambos os sexos. A partir desse mo- e manutenção dos objetivos da Marinha do Brasil para com o
mento, as aspirantes também País... É um orgulho muito grande tanto para mim quanto para
poderiam optar pelo CA ou CFN. minha família fazer parte da instituição e poder seguir
essa carreira tão bonita e admirada pela sociedade.”
O primeiro concurso para
(Aspirante do 3º ano)
a EN com essa possibilidade de
escolha de Corpo foi realizado
em 2018, com 12 vagas para as
candidatas. Nessa ocasião, a relação
candidata/vaga foi de 229.
Com a escolha de Corpo realizada
durante a Comissão Aspirantex de 2021,
seis aspirantes mulheres foram para o Considerações Finais
CA, uma para o CFN e duas para o CIM. Existe um aumento da parti-
cipação das mulheres em diversas
ocupações profissionais que até pouco
tempo eram notadamente masculinas.
A mudança estrutural nas relações en-
tre homens e mulheres evoluiu, con-
sideravelmente, nos últimos anos e,
como somos frutos de uma construção
social histórica, uma vez abertas as
oportunidades, as mulheres estão de-
monstrando seu valor e sua capacidade
de decisão e liderança.
No momento de formação inicial
de um pequeno grupo de pioneiras em
2014, as aspirantes descobriram sua
vocação, aprenderam o estilo de vida
da tropa e os valores militares. Apren-
deram o valor de dedicação à Força e
à Pátria, sem se esquecerem de que
são mulheres e cidadãs, integrantes de
uma sociedade que busca uma nação
desenvolvida, forte, livre, unida, justa e
soberana.

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IMPLEMENTAÇÃO DO CIRCUITO DE
LIDERANÇA NA FORMAÇÃO DAS PRAÇAS
Primeiro-Tenente (RM2-T) Thiago Teobaldo de Sousa

Na atividade militar, o conhecimento dos equipamentos e a conservação de sua


da teoria e das ferramentas de liderança OM. Nesse sentido, o cenário tecnológico e
é indispensável para o cumprimento das digital do Século XXI torna mais complexa
tarefas, visto que os militares, normalmente, a condução dos dispositivos a bordo, de-
são submetidos a situações em que devem mandando um novo olhar por parte dos
conduzir um grupo em condições extremas, órgãos de formação no que concerne à ca-
conforme as exigências impostas em pacitação e consolidação dos referenciais
combate. de competência técnica e comportamental
De acordo com a Ordenança Geral quanto à gestão de pessoas, organização
para o Serviço da Armada (OGSA), as pra- gerencial e comando de grupo, estabele-
ças têm como atribuição executar as tare- cendo um novo paradigma na relação ensi-
fas necessárias à manutenção e operação no-aprendizagem de liderança.

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SELECIONANDO E CAPACITANDO NOSSO MAIOR PATRIMÔNIO


90 anos

O Centro de Instrução Almirante A “Evacuação Aeromédica” é uma


Alexandrino (CIAA), em decorrência desse simulação de acidente a bordo de um
panorama, aprimorou as atividades práticas navio, na qual o grupo deverá realizar a
das disciplinas curriculares do Curso remoção de um ferido, utilizando o material
Especial de Habilitação para Promoção a disponibilizado, para o convés principal em
Sargento (C-Esp-HabSG), especialmente direção ao convoo; a “Área de Armadilha”
a de Relações Humanas e Liderança, concebe um local com cordéis que, antes
implantando, no ano de 2021, o “Circuito de de ser ultrapassada pela equipe, terá
Liderança”. metade de seus componentes afetados por
Essa ferramenta prática tem o uma “explosão”, causando desorientação e
propósito de desenvolver a capacidade de cegueira (simulada por venda nos olhos);
liderança dos futuros Sargentos da Marinha a “Área de Escombros” simula um terreno
do Brasil, por meio de situações-problema, de difícil acesso onde a equipe tem como
desafiando o líder e seus liderados a tarefa ultrapassar sem tocar os obstáculos;
encontrarem soluções, exigindo esforço a estação “Vultos Navais” consiste em
tanto na parte física quanto na cognitiva. uma atividade na qual os adaptandos são
O Circuito de Liderança do
CIAA é composto por 4 estações
que visam exercitar as seguin-
tes situações: “Evacuação Ae-
romédica nos Navios de Pedra”;
“Área de Armadilha/ Cordel de
Tropeço”; “Área de Escombros/
Pista de Obstáculos”; e “Vul-
tos Navais”. O circuito pode ser
aplicado na configuração bási-
co, intermediário ou avançado,
de acordo com a grau de dificul-
dade ou conhecimento que o
instrutor deseja aplicar, criando
situações de conflito ou tomada
rápida de decisão, inerentes ao
ambiente militar, onde os as-
pectos psicológicos são estimu-
lados intensamente e se tornam
cruciais para alcançar o objeti-
vo pretendido.

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SELECIONANDO E CAPACITANDO NOSSO MAIOR PATRIMÔNIO


DIRETORIA DE ENSINO DA MARINHA

questionados sobre os fatos históricos


de relevância para a MB envolvendo as
personalidades.
Nessas atividades, os alunos são
constantemente desafiados a encontrar
a melhor solução de acordo com as
características de sua equipe, dentro de
um tempo estipulado, onde a capacidade
de identificar e controlar as emoções
e sentimentos pessoais (inteligência
emocional) e a necessidade do trabalho
em equipe são os norteadores para o
atingimento do objetivo e cumprimento da
tarefa. Todas os trabalhos são orientados
pelos Comandantes de Companhia
(ComCia) e discutidos ao final para
assimilação das experiências aprendidas.
A implementação do Circuito de
Liderança no período de adaptação dos
alunos no CIAA, em 2021, mostrou-se
uma excelente ferramenta para mensurar
a capacidade de decisão dos militares,
contribuindo para a capacitação cada vez
mais exigente dos Sargentos da Marinha do
Brasil.

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SELECIONANDO E CAPACITANDO NOSSO MAIOR PATRIMÔNIO


90 anos

C AIXA DE CONSTRUÇÕES DE CASAS


PARA O PESSOAL DA MARINHA

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SELECIONANDO E CAPACITANDO NOSSO MAIOR PATRIMÔNIO


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PARCERIAS ENTRE A MARINHA DO BRASIL E


AS UNIVERSIDADES: UM CASO DE SUCESSO
COM A USP
Capitão de Mar e Guerra Eduardo Pimentel Jorge de Souza

A era do conhecimento nos trouxe a va- dros os profissionais formados nas melhores
lorização do fator humano como principal universidades do país. A Marinha do Brasil
“ativo” de uma instituição que almeja se (MB), da mesma forma, atenta à importância
manter competitiva no ramo em que atua. O da formação acadêmica de excelência para a
indivíduo, com seu conhecimento associado capacitação da sua força de trabalho, realiza
e a forma como é empregado, torna-se foco parcerias no país com reconhecidas institui-
permanente das grandes corporações. Nesse ções do meio civil, seja por meio de convê-
contexto, a qualidade da formação acadêmi- nios, contratos ou acordos de cooperação.
ca continuada de seus colaboradores é um re- Algumas Organizações Militares de Ensino
quisito de relevância a ser considerado pelas (OME) recebem suporte acadêmico por meio
instituições, a fim de possuírem em seus qua- de parcerias para a condução de determina-
dos cursos que, pelos conteúdos curriculares
que abordam, exigem preparo docente espe-
cífico.
A representação gráfica nos mos-
tra o quanto as instituições civis
colaboram com a formação do
nosso pessoal. A Diretoria de
Ensino da Marinha (DEnsM)
mantém convênio com a
Universidade de São Pau-
lo (USP) para a formação
de engenheiros navais,
e com a Universidade
Federal de Itajubá (UNI-
FEI), para a formação de
engenheiros mecânicos
aeronáuticos. A Escola de
Guerra Naval (EGN) reali-
za parcerias com a Ponti-
fícia Universidade Católica
do Rio de Janeiro (PUC-RJ),
em apoio ao Curso de Estado-
-Maior para Oficiais Superiores
(C-EMOS), e com o Instituto Brasilei-
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SELECIONANDO E CAPACITANDO NOSSO MAIOR PATRIMÔNIO


90 anos

ro de Mercado de Capitais (IBMEC) e a Fun- Até o início da década de 50, os oficiais


dação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em apoio ao provenientes da Escola Naval, após serem
Curso Superior (C-SUP). O Centro de Instru- submetidos a exames de seleção, eram
ção Almirante Wandenkolk (CIAW) mantém enviados ao exterior para se graduarem em
contratos com a PUC-RJ, com a Universida- reconhecidas instituições de ensino, tais
de Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e com como o King’s College, da Inglaterra, e o
o Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), Instituto Tecnológico de Massachusetts (MIT)
em apoio ao Curso de Aperfeiçoamento e a Universidade de Michigan, nos Estados
Avançado de Oficiais (C-ApA-Of). O Centro de Unidos da América. Sob a gestão do então
Instrução e Adestramento Almirante Newton Ministro da Marinha, o Almirante Edmundo
Braga (CIANB) realiza parce- Jordão Amorim do Valle,
ria com a UFRJ, em apoio à buscou-se uma instituição
condução do curso de aper- com elevada capacidade
feiçoamento avançado de A MB, da mesma técnica, que pudesse
oficiais intendentes. Por forma, atenta à desenvolver, em conjunto
fim, o Centro de Instrução importância da formação com a Marinha, um curso de
Almirante Sylvio de Camar-
go (CIASC) realiza parcerias
acadêmica de excelência engenharia naval. Em 1956, a
USP, por meio de sua Escola
com a Universidade Federal para a capacitação da Politécnica, foi a instituição
do Rio Grande (FURG) e com sua força de trabalho, escolhida, por reunir as
a Universidade Federal Flu- realiza parcerias no condições que atenderam
minense (UFF), em apoio ao país com reconhecidas aos requisitos técnicos
curso de aperfeiçoamento considerados. Portanto, ao
avançado de oficiais fuzilei-
instituições do meio invés de criar um instituto
ros navais. civil. militar próprio, como fez
Esse relacionamento o Exército com o Instituto
institucional torna-se pro- Militar de Engenharia (IME), e
missor para ambas as partes. Para a MB, ser- a Aeronáutica com o ITA, a Marinha optou por
ve para incrementar os conteúdos de deter- um modelo que estabelecesse uma parceria
minados cursos do SEN, propiciando que os institucional com a USP.
mesmos se mantenham no estado da arte, A primeira turma de oficiais
com os conhecimentos mais atuais da aca- engenheiros navais da USP se formou em
demia sendo oferecidos aos nossos milita-
res discentes. Permite, também, que
nossos docentes se mantenham atualizados
pelo intercâmbio de informações, no âmbi-
to acadêmico, com os demais docentes das
instituições. Para a instituição civil, advém
a possibilidade de conexão à pesquisa dos
projetos estratégicos da Força, estabelecen-
do ligação entre o conhecimento gerado e a
sua aplicação, notadamente nos setores da
MB que promovem considerável salto tecno-
lógico para a indústria nacional de defesa.
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SELECIONANDO E CAPACITANDO NOSSO MAIOR PATRIMÔNIO


DIRETORIA DE ENSINO DA MARINHA

1959 e os recém-graduados passaram a de Engenheiros Navais, militares e civis,


atuar no Arsenal de Marinha do Rio de que sucessivamente e até os dias de hoje
Janeiro (AMRJ). Ao longo dessa trajetória integram as equipes responsáveis pela
de sucesso até os dias atuais, cerca de condução, por brasileiros, deste comple-
500 oficiais engenheiros navais foram xo projeto da construção dos nossos sub-
formados. Empregados em importantes marinos no Brasil. Já o Professor Dr. Oscar
projetos de construção e modernização de Brito Augusto, Chefe do Departamento de
navios para a MB, atuaram na construção Engenharia Naval e Oceânica da Escola
das fragatas Classe Niterói, do Navio-Escola Politécnica da USP, declarou, no mesmo
Brasil, das corvetas Classe Inhaúma, da ano, que o relacionamento entre a Univer-
Corveta Barroso, dos submarinos Classe sidade de São Paulo e a Marinha do Brasil
Tupi e, mais recentemente, dos submarinos foi e continua sendo extremamente profí-
Classe Riachuelo. Devido à importância cuo, tanto para as duas instituições quan-
desse convênio para a MB, foi criado o to para a sociedade brasileira. O convênio
Centro de Coordenação de Estudos da trouxe para a USP o curso de Engenharia
Marinha em São Paulo (CCEMSP), uma OM Naval e a oportunidade de seus docentes
para ser a representante da Marinha junto praticarem de forma plena a engenharia
à USP. e a pesquisa em projetos conduzidos pela
A assertividade de ambas as institui- Marinha. Docentes da Escola Politécnica
ções, MB e USP, na adoção desse formato tiveram a possibilidade de desenvolver
de parceria é de reconhecimento mútuo. tecnologia, de formar pesquisadores e en-
Em 2007, o Vice-Almirante (RM1-EN) Lau- genheiros para os quadros da indústria de
ro Reis Salgado, Diretor do CCEMSP entre construção naval e afins, e para a própria
1999 e 2000, e Gerente da Construção dos Marinha, trabalhando ativamente no pro-
Submarinos no AMRJ, declarou que o con- jeto das embarcações de superfície e dos
vênio estabelecido com a Escola Politécni- submarinos construídos no Arsenal de Ma-
ca da Universidade de São Paulo atendeu rinha do Rio de Janeiro.
com eficácia aos objetivos da Marinha, Após 90 anos de existência da DEnsM,
que sempre teve a preocupação em formar fica notória a importância das instituições
seus profissionais da Engenharia Naval no de ensino civis para a capacitação do nosso
Brasil, colaborando ainda para o desenvol- maior patrimônio. O caso de sucesso com a
vimento deste segmento junto à iniciativa USP é emblemático para evidenciar que, para
privada. O curso de Engenharia Naval da
o cumprimento de sua missão, a MB pode
USP tornou-se um centro de referência,
se valer da contribuição de reconhecidas
respeitado internacionalmente. A integra-
ção entre as duas entidades, Marinha e universidades, fundações e institutos do
USP, foi altamente profícua e responsável país, que exercem o protagonismo no
em grande parte pelos alicerces do conhe- desenvolvimento científico e tecnológico
cimento e pela formação da massa crítica nacional.

Você sabia que a Marinha do Brasil, desde 2010,


contribuiu para a formação de 3.241 militares de 36
nacionalidades diferentes?

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SELECIONANDO E CAPACITANDO NOSSO MAIOR PATRIMÔNIO


90 anos

Voluntariado
é doação, dedicação
e aprendizado.
Conheça o trabalho do Departamento
Voluntárias Cisne Branco.
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SELECIONANDO E CAPACITANDO NOSSO MAIOR PATRIMÔNIO


DIRETORIA DE ENSINO DA MARINHA

CURSO DE APERFEIÇOAMENTO AVANÇADO


PARA PRAÇAS NO CIAA
Suboficial (CI) Fabio da Silva Ribeiro

A formação das praças da Marinha do feiçoados nas diversas especialidades. Em


Brasil (MB), especialmente a parte técni- 2017, foi iniciado o C-ApA em Pneumática e
co-profissional, é realizada pelo Centro de Hidráulica, na Escola de C-QTE e, em 2020, a
Instrução Almirante Alexandrino (CIAA), su- filosofia dos C-ApA foi estendida com a adi-
bordinado à Diretoria de Ensino da Marinha ção dos Cursos de Gestão do Ciclo de Vida e
(DEnsM). Ao longo dos anos, as praças come- Segurança da Informação e Comunicações.
çaram a ser cada vez mais exigidas quanto ao É importante salientar que os C-ApA não
seu conhecimento técnico, principalmente são uma continuidade dos cursos de aperfei-
devido à grande revolução digital. Os meios çoamento para praças, mas uma busca pela
operativos começaram a apresentar a neces- excelência profissional em um ambiente to-
sidade de profissionais qualificados na ma- talmente novo, com o intuito de gerar nos
nutenção dos diversos equipamentos basea- profissionais o domínio de novas competên-
dos nas novas tecnologias embarcadas. cias, principalmente na área de tecnologia,
Nesse contexto, foi necessário gerência de projetos, estudos e análise. Os
incrementar a carreira desses militares C-ApA são oportunidades para o aprimora-
para que obtivessem conhecimento mais mento das diversas especialidades das pra-
aprofundado sobre essas tecnologias. Assim, ças da MB, tornando-as mais versáteis e au-
surgiu a ideia de aprofundar a capacitação mentando, assim, a gama de possibilidades
por meio de um Curso de Aperfeiçoamento de suas atuações.
Avançado (C-ApA), para a graduação de Esse aprimoramento foi fruto de muitos
Segundo-Sargento. estudos para a elaboração de currículos que
O primeiro C-ApA foi então concebido contemplassem assuntos afetos às tecnolo-
em 2015, a partir dos cursos livres já ofere- gias no contexto do século atual, de forma
cidos pelo CIAA às Organizações Militares que acompanhassem o desenvolvimento
(OM) de toda a MB, os quais eram baseados tecnológico no estado da arte. Os C-ApA bus-
nas disciplinas ministradas nos Cursos de cam essencialmente a excelência da atuação
Qualificação Técnica Especial (C-QTE). A pri- profissional e também são uma forma de va-
meira turma do C-ApA em Automação (poste- lorização e aproveitamento da capacidade e
riormente, Controle e Automação) iniciou-se habilidade intelectuais das praças. É notório
em 2016, ainda nos moldes de curso piloto, que o aprimoramento é primordial para a sa-
e tinha o intuito de ser uma forma de elevar tisfação profissional e pessoal como um todo,
o nível de conhecimento dos sargentos aper- abrindo novos horizontes e perspectivas.
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SELECIONANDO E CAPACITANDO NOSSO MAIOR PATRIMÔNIO


90 anos

Hoje, os C-ApA são uma grande ferra- que as demandas são atendidas e os proble-
menta de manutenção da mentalidade de mas resolvidos. Adicionalmente, obtém-se o
constante aprimoramento e permitem ao ganho com a replicação do conhecimento,
militar não se limitar aos cursos obrigató- por meio de treinamentos e cursos para ou-
rios exigidos para a continuidade da carreira, tros profissionais que compartilham o mes-
expandindo seus horizontes e possibilida- mo ambiente de trabalho. O resultado vem
des. Os ganhos se estendem desde o militar, sob forma de ganhos para a qualidade das
passando pela OM na qual está inserido, até atividades desempenhadas pelos militares
a Força como um todo. Simultaneamente, que passam a deter conhecimentos adqui-
quebram-se os paradigmas de continuidade ridos no curso, possibilitando, assim, uma
estagnada, passando-se à mentalidade de melhor assessoria aos chefes e encarrega-
que o conhecimento deve ser buscado inces- dos, além de mais autonomia para resolver
santemente. problemas cotidianos e extraordinários.
Atualmente, o Programa de Ensino do Concluindo, os C-ApA permitem à
CIAA prevê os C-ApA de Controle e Automa- Marinha do Brasil posicionar-se avante
ção, Pneumática e Hidráulica, Gestão do no tocante à preparação tecnológica e do
Ciclo de Vida e Segurança da Informação e conhecimento, para que seus militares
Comunicações, com duração de 12 semanas tornem-se mais bem qualificados para os
e com 30 alunos por turma. Seus currículos desafios dos desconhecidos mares que estão
contemplam disciplinas como: Controlador por vir e capacitados para propor soluções
Lógico Programável, Linguagem de Progra- inteligentes, a fim de otimizar recursos
mação Aplicada, Sistemas de Supervisão, materiais e de pessoal, evitando desperdício
Apoio Logístico Integrado, Processos de Ge- de tempo e de recursos financeiros, o que
renciamento Técnico do Ciclo de Vida, Fun- torna o trabalho mais produtivo e com uma
damentos de Lógica Digital, Pneumática e gama menor de esforço.
Hidráulica, Forense Computacional e Nor-
mas e Padrões de Segurança das
Informações. Estes são exemplos
de cursos que buscam contemplar
tanto o aprofundamento de assun-
tos já conhecidos, como também a
aquisição de ferramentas para ven-
cer novos desafios.
As OM em que já existem milita-
res com aperfeiçoamento avançado
têm relatado um grande ganho de
produtividade no trabalho, o que
reflete na eficiência e agilidade com
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OS DESAFIOS DO CURSO DE FORMAÇÃO


DE OFICIAIS DURANTE A PANDEMIA DA
COVID-19
Primeiro-Tenente (T) Danielle de Almeida Galante Ferreira

Em um contexto mundial de crise na Saú- de Instrução Almirante Wandenkolk (CIAW)


de, na Economia, na Educação e em outros se- empregou o ERE no CFO 2020. Esse ensino
tores, provocada pelo avanço do novo corona- foi emergencial, pois, do dia para a noite, o
vírus, foi necessário dar respostas a inúmeras planejamento pedagógico pensado, debatido
incertezas com relação à conclusão das aulas e estudado para o ano em curso precisou ser
em andamento. Nesse cenário repentino, este alterado, uma vez que professores e alunos
artigo pretende retratar um pouco do desafio estavam impedidos de frequentar as aulas em
de adaptar o Curso de Formação de Oficiais cumprimento aos protocolos de segurança
(CFO 2020), com previsão curricular presencial, emanados pelo Ministério da Saúde que visaram
para alguns meses de Ensino Remoto Emergen- a mitigar a disseminação da COVID-19.
cial (ERE). Para adequar o conteúdo curricular a
Em meio a essa mudança disruptiva, que essa nova realidade, o Centro de Formação de
quebrou o modelo estabelecido anteriormente Oficiais do CIAW utilizou o Ambiente Virtual
e requereu a criação de novas relações de Aprendizagem Moodle; criou grupos das
com o conhecimento por parte dos alunos disciplinas no WhatsApp; trabalhou com fóruns de
e transformações na instituição, o Centro discussão, chats e questionários; disponibilizou

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90 anos

arquivos de texto, áudios e vídeos explicativos e promove a cooperação, à medida que os pro-
sobre as matérias; e realizou questionários no fessores aprendem ao mesmo tempo em que os
Google Forms. estudantes, e atualizam continuamente os sa-
Algumas das vantagens proporcionadas beres disciplinares e as competências pedagó-
pela implementação dessas tecnologias foram o gicas, incentivando o estudo e o pensamento. O
acesso ao conhecimento, a qualidade a menor docente centra a atividade no acompanhamen-
custo e a autonomia no estudo. Além disso, hou- to e na gestão das aprendizagens, estimula a tro-
ve maior interação entre as partes envolvidas, e ca de saberes, a mediação relacional e simbóli-
facilidade para registrar informações e aumen- ca e a pilotagem personalizada dos percursos de
tar os canais de disseminação, potencializando aprendizagem.
o processo de construção do conhecimento, in- Para um uso pedagógico do ambiente digi-
dependentemente do meio pelo qual a aprendi- tal, uma escolha minuciosa deve ser feita, não
zagem se desenvolveu. somente das tecnologias educacionais de que
Nessa sociedade da informação em rede, alunos e instrutores dispõem e das condições
caracterizada pela velocidade, o ensino está em de acesso à mídia que essas tecnologias supor-
sinergia com as organizações de aprendizagem tam, mas também da eficiência dos objetivos

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pedagógicos, referentes à autonomia do estu- Com vistas a desenvolver tal competência,


dante, bem como dos objetivos curriculares, faz-se imprescindível a imersão em uma cultura
voltados para o conteúdo e para a metodologia. informática e um treinamento adequado para o
Essas análises devem ser feitas a fim de melhor manejo dos instrumentos de operacionalização
entender esse universo tecnológico, para em- dos softwares com fins didáticos. A inserção
preender um uso relevante e consciente das nessas redes de comunicação propicia o
mídias na educação e se manter atualizado pe- sentido do saber escolar e do trabalho docente,
rante essas novas descobertas, considerando- associando os instrumentos tecnológicos
-as como um recurso efetivamente pedagógico aos métodos ativos, favorecendo, assim, a
e não uma mera invenção técnica a divulgar in- exploração, a simulação, a pesquisa, o debate e
formação. a construção de estratégias e de micromundos,
A partir disso, pode-se pensar em situações criando uma habilidade didática e relacional
de aprendizagem e materiais didáticos diversos com o saber.
suportados por multimídias, que atenuarão o Para essa imersão na cultura informática
problema do distanciamento geográfico entre ser bem-sucedida, as instituições precisam
estudante e instrutor, da separação temporal e investir em formação. Essa crescente demanda,
da comunicação assíncrona. Nesse sentido, a se por um lado é quantitativamente expressiva,
criação de situações de aprendizagem com maior por outro, transforma-se em qualitativa quanto
flexibilidade e espontaneidade no intercâmbio à diversificação e personalização, a fim de que
de informação e nos modos de comunicação os cursos se relacionem às demandas reais e
é altamente desafiadora, pois exige medidas específicas do percurso de vida e de aprendizagem
específicas para a mediação e seleção de dos estudantes.
conteúdos a serem ministrados à distância, Assim, a capacitação docente deverá
que precisam ter uma parte diversificada e abranger o conhecimento sobre as mídias
flexível, para suscitar o conhecimento a ser
desenvolvido. Além disso, são necessárias
práticas de navegação na comunicação
digital, de modo a atender aos desafios atuais
do processo de construção do conhecimento.
O instrutor desempenha certas
atividades específicas, quando ressalta partes
do conteúdo em uma unidade, intervém
na discussão e a orienta, supervisiona a
elaboração de apresentações e projetos,
bem como acompanha o progresso do
aluno, analisando as tarefas realizadas por
aquele, avaliando-o e participando a ele o quanto educacionais e o conteúdo curricular para o
atendeu às normas de desempenho. exercício de um trabalho criativo e de uma aula

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90 anos

dinâmica e segura; deverá também integrar a aprendizagem significativa e contextualizada.


tecnologia com a proposta de ensino, para que Com isso, entende-se que as mídias,
o professor esteja aberto às mudanças, atuando como meio de comunicação, tornaram-se
como facilitador e coordenador do processo determinantes na formação e capacitação dos
ensino-aprendizagem, aprendendo a aprender, militares da Marinha do Brasil (MB), visto que o
a lidar com as constantes mudanças e a ser homem atual está mediado pelas tecnologias
dinâmico e flexível. Além disso, essa formação
que modificam o modo de pensar, de sentir, de
abrangerá vivências nessa forma de ensino;
agir, de comunicar e de adquirir conhecimento.
conceitos acerca de conhecimentos básicos
Nesse contexto, o ERE conduzido no
de informática; conhecimentos pedagógicos;
CIAW uniu as sete turmas das mais diversas
formas de integração das tecnologias com as
propostas pedagógicas; gerenciamento da sala especialidades dos Corpos de Saúde e de
de aula com os novos recursos tecnológicos Engenheiros da Marinha, e dos Quadros
e o “novo” aprendiz, que assumirá uma Complementares, de Capelães Navais, Técnico,
atitude ativa; além de revisar as teorias de de Oficiais Auxiliares da Armada e de Fuzileiros
aprendizagem, a didática e os projetos multi, Navais, em prol de um objetivo comum: a
inter e transdisciplinares. conclusão do tão almejado Curso de Formação
Portanto, considera-se que a organização de Oficiais.
do ERE no CFO foi algo complexo, dinâmico, Dessa forma, o ERE mobilizou uma
inusitado e desafiador, que demandou pensar aprendizagem na qual a mediação didático-
no aprimoramento de uma gestão própria com pedagógica foi desenvolvida por meio das
infraestrutura de apoio ao presencial, por meio
tecnologias de comunicação digital e analógica
de bibliotecas, salas de estudo, laboratórios de
e de diversas mídias, possibilitando que
informática e salas de atendimento ao estudante;
guardas-marinha e instrutores desenvolvessem
materiais didáticos temáticos, hipertextuais e
transversais; rede de comunicação bidirecional, atividades educativas em lugares e tempos
a exemplo do Moodle; bem como avaliação distintos; bem como atingiu o objetivo de
definida, mediação, tutoria e monitoria, todas contribuir com a formação militar-naval de
organizadas para o exercício qualitativo de indivíduos autônomos, conscientes de seus
uma prática pedagógica que vislumbra uma deveres e bem preparados profissionalmente.

Acesse aqui o trabalho


apresentado pelo aluno
do C-ApA no IMEKO TC-19.

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O PROFISSIONAL PEDAGOGO
Capitão de Corveta (T) Luiza de Sousa Ferreira de Mendonça
Capitão-Tenente (T) Tiago Silva de Amorim

O mundo atual vem sofrendo cons- De um modo mais abrangente,


tantes e importantes modificações em o pedagogo desenvolve um trabalho
velocidade e intensidade inimagináveis. diversificado e relacionado à atividade
As informações são propagadas para de ensino e aprendizagem, cujo resultado
todo o planeta em questões de segun- impacta diretamente o processo de
dos, por meio da Internet. As pessoas formação do ser humano.
resolvem centenas de problemas com- Atualmente, considerando o cenário
plexos com poucos cliques, por intermé- educacional, o pedagogo tem um am-
dio de um dispositivo móvel. Com isso, plo campo de atuação e atividades, que
a forma de aprender e ensinar também abrange o acompanhamento pedagógi-
tem se modificado de maneira acelerada co do trabalho dos docentes; a orienta-
e desafiadora, e é nesse contexto de en- ção educacional aos discentes; a gestão
sino e aprendizagem que está inserida a escolar, a coordenação pedagógica de
pedagogia, que tem como objeto de es- cursos presenciais, híbridos ou na mo-
tudo questões relacionadas aos proces- dalidade totalmente a distância; a pe-
sos educativos em espaços escolares e, dagogia empresarial e corporativa, por
também, em ambientes não-escolares. meio do desenvolvimento e criação de
Mas o que faz o profissional de projetos educacionais para empresas e
pedagogia? Qual o seu papel no ensino? E coordenação de treinamentos para cola-
na MB? boradores. Essas foram apenas algumas
entre as diversas possibilida-
des de atuação e atividades
desenvolvidas pelo pedagogo,
o que revela o caráter versátil
desse profissional.
Especialmente na MB, o
pedagogo se destaca em duas
áreas bem definidas: a orienta-
ção pedagógica e a orientação
educacional, cujas atividades
e formas de atuação profissio-
nal encontram-se preconizadas
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SELECIONANDO E CAPACITANDO NOSSO MAIOR PATRIMÔNIO


90 anos

no Manual de Fundamentos e Práticas empatia, que são fundamentais para um


Pedagógicas do Sistema de Ensino Na- trabalho em equipe e para um envolvi-
val, elaborado e aprovado pela DEnsM. O mento dos agentes escolares com o pro-
profissional que atua nessas áreas busca cesso de ensino.
promover articulações que gerem situa- Pela necessidade de organizar e sis-
ções favoráveis à aprendizagem, a partir tematizar práticas educativas, o pedago-
do trabalho integrado com os docentes e go atua como um técnico que coordena
discentes. Dessa forma, suas orientações e acompanha o trabalho escolar e peda-
técnicas seguras, impactam diretamente gógico. Num esforço coletivo e integra-
o processo formativo, sendo necessário do com os agentes de ensino, provoca
que esse profissional tenha agregadas reflexões sobre a prática, causando um
em suas ações, além de conhecimentos incômodo profissional que conduz a no-
teóricos e práticos, características como: vas posturas e buscas por respostas para
clara expressão de ideias, bom relacio- questões acerca de “como” fazer ou “para
namento interpessoal, adaptabilidade e que” adotar determinados procedimen-
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tos, visando à melhoria contínua do pro- de maneira que sua prática ultrapasse o
cesso de ensino e aprendizagem. “simples fazer” para um “fazer consciente”,
No que se refere especialmente ao a partir de uma visão mais abrangente,
trabalho de orientação pedagógica, mas não distanciada, do processo escolar.
esse profissional atua de forma mais Em relação à função específica de
direta com os docentes, orientando e orientação educacional, o pedagogo tem
acompanhando as atividades escolares. um compromisso com o desenvolvimen-
O objetivo é de fomentar possibilidades to integral do aluno, e sua atuação deve
para provisão de meios necessários ao ser cuidadosamente planejada e sistema-
incremento da ação docente e, sobretudo, tizada, de maneira a acompanhar os dis-
abordar a importância do processo centes na sua trajetória escolar ao longo
educativo desenvolvido de forma do processo educativo. Dessa forma, as
integrada no ambiente escolar. Para tanto, atividades desempenhadas pelo orienta-
é fundamental que apresente, além dos dor educacional são de extrema impor-
conhecimentos técnicos inerentes à sua tância, no sentindo de conhecer o perfil
atividade rotineira, competências como do aluno, identificar características e de-
escuta ativa, fornecimento de feedbacks, mandas que possibilitem uma assistên-
relacionamento interpessoal e liderança, cia mais direcionada aos discentes, não

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90 anos

só apoiando nas dificuldades que surjam pedagógicas compartilhadas ou agregadas


ao longo do processo de aprendizagem, à prática docente que promovam a
mas também contribuindo para o desen- adequada formação ou capacitação.
volvimento das suas potencialidades. A Sendo assim, o resultado esperado
realização de um trabalho planejado, de de um trabalho efetivo, consciente e
acordo com demandas mapeadas, con- integrado nas atividades de orientação
tribui para a formação ou capacitação de pedagógica e educacional é um corpo
profissionais motivados e que tenham docente motivado, com sentimento de
uma visão prospectiva da sua carreira na pertencimento ao processo de formação e
Força. Nesse contexto, ga- alinhado aos objetivos da
nha o discente, por se de- instituição e de um corpo
senvolver e superar suas o pedagogo é um discente comprometido
dificuldades e ganha a Ma- profissional que, no com sua própria formação
rinha do Brasil, por ter, em processo educativo, e autodesenvolvimento.
suas fileiras, profissionais longe de ser um elemento Além disso, cabe salien-
bem formados e prontos isolado, tem um papel tar que ele também auxilia
para o cumprimento da de provocar, subsidiar, na tomada de decisões, a
missão. orientar, buscar respostas partir da obtenção, compi-
A atuação profissional e construir novas lação e análise de subsídios
do orientador pedagógico e possibilidades que podem sinalizar opor-
do orientador educacional, tunidades de melhoria para
na figura do pedagogo, o aprimoramento de ações
extrapola a aplicação de educativas, seja no âmbito
métodos e técnicas, sendo necessárias organizacional, de infraestrutura, ou de re-
ações efetivas e integradas em todos os cursos humanos, bem como para a manu-
setores da instituição escolar, além de tenção e gestão de um ensino de qualidade.
diálogos permanentes que permitam Assim, o pedagogo é um profissional
identificar aspectos no processo educativo que, no processo educativo, longe
que necessitem de acompanhamento ou de ser um elemento isolado, tem um
intervenção mais direta. papel de provocar, subsidiar, orientar,
Nesse sentido, a função desses buscar respostas e construir novas
profissionais tem papel relevante para o possibilidades, atuando de forma
cumprimento da missão da instituição de integrada e integradora num movimento
ensino, tendo em vista que o desempenho persistente. Isso, porque em cada turma
de seu trabalho, de forma integrada com e em cada processo de formação existem
os demais profissionais, contribui para novas possibilidades e oportunidades de
o desenvolvimento de ações técnico- aprender e compartilhar experiências.

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A IMPORTÂNCIA DA AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA:


O MILITAR CERTO NO LUGAR CERTO
Capitão de Fragata (T) Anne Lize Valente Cintra Ribeiro Cavalcante

O ato de avaliar as pessoas em diversas estudo e da aplicação da Psicologia. Tal iniciativa


habilidades, dentre elas as cognitivas e colaborou para melhor selecionar e preparar o
personalógicas, remonta a 2200 a.C., no Império homem dentro do contexto militar, a fim de que
Chinês, durante a Dinastia Han. A Primeira ele pudesse assumir as novas e diversificadas
Guerra Mundial também fez uso intenso de tarefas realizadas nos meios navais, norteando a
Avaliações Psicológicas (AP), aumentando a seleção de candidatos para direcioná-los ao setor
visibilidade dessa ferramenta, contribuindo em que pudessem se desenvolver e se adequar
para que ela ganhasse mais espaço e de forma harmônica à tarefa a ser executada.
destaque em diversos ambientes, como Desde o ato de sua criação, o Serviço de
um procedimento de avaliação de aspectos Seleção do Pessoal da Marinha (SSPM) vem
psicológicos sobre um indivíduo. Na Segunda provendo diversas atividades de seleção; su-
Guerra Mundial, foi necessária a seleção de porte especializado dos psicólogos operativos
militares que desempenhassem funções muito para a preparação de militares para missões
especializadas, como a espionagem, e, para especiais; realizações de Vistoria de Segurança
a escolha desses militares, os Estados Unidos de Aviação; e condução de estudos e pesquisas
fizeram uso da AP. Pode-se dizer que as duas em prol da Psicologia da aviação, dos subma-
grandes guerras mundiais propiciaram uma rinos e da relativa à ocupação humana em am-
notável evolução de pesquisas e consequente bientes inóspitos (em especial, o Antártico e o
desenvolvimento de técnicas, fazendo com que Destacamento do Posto Oceanográfico da Ilha
a AP tivesse seu berço no contexto das Forças da Trindade - POIT). Além disso, ainda coorde-
Armadas, mesmo antes de seu surgimento nos na a participação dos psicólogos nas atividades
meios acadêmicos. de treinamento de operadores de reator nucle-
Na Marinha do Brasil (MB), a Psicologia ar, a fim de auxiliar na obtenção e renovação
aporta quando, em 1941, o Primeiro-Tenente do licenciamento junto à Comissão Nacional de
Intendente Naval Raul Mendes Jorge profere Energia Nuclear (CNEN).
uma palestra sobre a Psicotécnica, enfatizando O processo de AP realizado no SSPM tem
o quanto essa ciência poderia contribuir para como enfoque a seleção de pessoal. A finalidade
a profissionalização da Força. Ele realizou a básica desse processo consiste em aferir o grau
primeira experiência de aplicação de testes de compatibilidade das características intelec-
psicológicos no Corpo de Aspirantes da Escola tivas e de personalidade dos candidatos em re-
Naval, coadunando com o desenvolvimento do lação aos perfis psicológicos exigidos para uma

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90 anos

dada atividade. Ela é realizada por ocasião


do ingresso na MB (Escola de Aprendizes-
-Marinheiros, Colégio Naval, Escola Naval,
Centro de Instrução Almirante Wandenkolk
e Centro de Instrução Almirante Alexandri-
no) e também para as seleções internas, nas
seguintes situações: para cursos específicos
(identificador datiloscopista, prático militar,

Programa Suboficial-Mor); para


atividades de risco (operador de
reator nuclear, aviador, mergu-
lhador autônomo, mergulhador
de combate, submarinista, de-
sativador de artefatos explosi-
vos, dobragem, manutenção
de paraquedas e suprimento
pelo ar, precursor paraquedis-
ta, Comandos Anfíbios); e para
missões especiais (Observa-
dor Militar da ONU, Estação
Antártica Comandante Ferraz
e Posto Oceanográfico da
Ilha da Trindade). Em suma,
o esforço produtivo destina-
do a esse trabalho específico
abarca 10 concursos públicos
e 38 processos seletivos inter-

nos anuais, perfazendo, nos últimos 5 anos, se deve selecionar, obtendo, ao final, o perfil
mais de 60.000 AP. psicológico, ou seja, o conjunto de caracte-
O processo de AP para seleção segue rísticas necessárias ao bom desempenho da
um modelo que se inicia pela análise do função. Realiza-se, então, a comparação do
trabalho a ser desempenhado e pelo levan- perfil do candidato - obtido com a aplicação
tamento das variáveis físicas, psicológicas e de técnicas e testes psicológicos - com o per-
ambientais inerentes à atividade para a qual fil da atividade previamente levantado. Des-
sa forma, os resultados da AP são emitidos
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em termos de probabilidade de êxito dos candi- dos militares selecionados, realizada preferen-
datos examinados para aquela função/ativida- cialmente in loco, é o que possibilita o aprimo-
de. Quanto maior a semelhança entre os perfis, ramento de todo o processo seletivo realizado
maior a probabilidade de bom desempenho. pelo SSPM, refinando, também, os dados que
O controle de qualidade desses processos compõem o modelo de Análise do Trabalho, ade-
é feito por meio do acompanhamento dos quando-o às novas demandas da profissão. Essa
militares, ou seja, por intermédio da verificação outra vertente do acompanhamento é igualmen-
do desempenho prático dos profissionais te importante. De tempos em tempos e pelos
que foram submetidos à AP e estão no efetivo mais diversos motivos, as próprias característi-
desempenho das suas atividades. A comparação cas da atividade tendem a mudar. Um exemplo
entre o prognóstico emitido por ocasião da foi a mudança de perfil de algumas atividades
avaliação e o desempenho efetivo nas tarefas é um do Grupo Base da Estação Antártica Comandan-
indicador da validade da AP. Com base nos dados te Ferraz (EACF), com a inauguração da nova es-
levantados, todo o processo é retroalimentado, tação; ou mesmo a modernização das aerona-
com vistas ao seu aprimoramento. ves que hoje têm painéis totalmente digitais; ou
A atividade de acompanhamento consiste, ainda o advento dos submarinos nucleares. Tais
basicamente, na coleta, organização, análise e mudanças devem ser mapeadas e registradas,
armazenamento dos dados de desempenho do com foco na avaliação de seu impacto no desem-
pessoal tanto nas atividades operativas quanto penho dos militares, o que, consequentemente,
nas relativas aos ambientes inóspitos, bem como afetará as exigências da AP.
em cursos de formação na MB. Assim, é possível Ciente da importância em se obter esses
atualizar o banco de informações do SSPM, a dados, o SSPM busca ampliar a participação dos
fim de estabelecer indicadores para estudos e psicólogos nas atividades exercidas pelos milita-
pesquisas e para a garantia da confiabilidade res selecionados. Por meio da pesquisa de cam-
dos processos realizados pelo SSPM. po, pode-se colher dados importantes a serem
A verificação da execução dos trabalhos utilizados como indicadores do sucesso da AP
para fim de seleção. Além disso, os profissionais
que realizam as avaliações podem
se aproximar da atividade para a
qual devem escolher os candida-
tos mais indicados, de forma a
conhecer os aspectos envolvidos,
propor alterações no perfil e ve-
rificar os traços desejáveis e im-
peditivos para aquela atividade/
função.
Nesse sentido, o SSPM
embarcou duas oficiais psicólogas
na OPERANTAR XXXIX, visando a
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acompanhar os militares aprovados para fazer busca-se a ampliação das pesquisas de campo,
parte do Grupo Base da EACF, possibilitando a visando a conhecer a fundo o ambiente onde as
avaliação in loco do ambiente e, assim, subsidiar atividades são realizadas. As informações obti-
o aprimoramento do processo seletivo. Além das são então registradas, com foco na avaliação
disso, as psicólogas puderam atuar diretamente de seu impacto no desempenho dos militares, o
na preparação dos militares para uma missão que, consequentemente, afetará as exigências
longa em ambiente inóspito, por meio de do processo seletivo, tornado-o cada vez mais
treinamentos e desenvolvimento interpessoal. eficaz.
Portanto, a fim de aprimorar
o processo de seleção de indiví-
duos habilitados com as melho-
res condições de se ajustarem
às diferentes demandas opera-
tivas, é relevante a inserção do
SSPM nas operações da MB. O
resultado dessa interação tam-
bém pode propiciar uma melhor
adaptação do homem à tarefa,
aumentando a produtividade, o
bem-estar e a segurança no exer-
cício das atividades. Para isso,

Visita de intercâmbio de conhecimentos afetos à psicologia militar junto ao Centro de Psicologia Aplicada do Exército.
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METODOLOGIAS ATIVAS:
DESAFIOS NA PANDEMIA
Capitão de Mar e Guerra (RM1-T) Luiz Claudio Medeiros Biagiotti
Capitão de Fragata (T) Patrícia Pontes Bezerra Teixeira
Professor-Adjunto Wellington Dantas de Amorim
Capitão-Tenente (AA) Claudeniz Fernandes Guimarães
Primeiro-Tenente (T) Rafael Correia Dantas

O surgimento da pandemia da COVID-19 resultados apenas da pandemia, sendo pos-


no início de 2020 impactou as diferentes for- sível destacar três grandes ondas que reper-
mas de a humanidade se relacionar, desdo- cutiram nesse processo.
brando seus efeitos na esfera econômica, A primeira grande onda a influir na edu-
política, cultural, psicológica e, sobretudo, cação, desde a década de 70, foi a consta-
educacional. Gerou a urgência de mudanças tação de que o esquema clássico em que o
de hábitos e medidas restritivas, como a não professor é apenas o transmissor de conhe-
aglomeração, e a redução da interação físi- cimentos não contribui necessariamente
ca entre as pessoas, a fim de proteger a so- para o desenvolvimento pleno do aluno. Afi-
ciedade da contaminação em grande escala. nal, a vida exige flexibilidade e análise críti-
Especificamente na área educacional, tal fato ca dos cidadãos e profissionais; apreender
se desdobrou na reorganização de planeja- apenas a réplica dos ensinamentos de outra
mentos anuais, currículos, metodologias e pessoa, por mais sábia e experiente que esta
prática avaliativa dos alunos, que passaram seja, não é garantia de sucesso para enfren-
da modalidade presencial à modalidade a tar as diversas situações que se apresentam.
distância por força emergencial. Todavia as Decerto, não é a simples memorização de
transformações pelas quais o ensino/apren- livros-textos que trará a resposta necessária
dizagem está passando atualmente não são perante circunstâncias muitas vezes inédi-

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tas; o fundamental seria ter um arsenal de nada em grande parte pelo avanço tecnoló-
instrumentos de análise e saber como apli- gico (além de aspectos sociais, econômicos
cá-los com o nível de adaptação necessário. etc). O entendimento da realidade para as
Além disso, o próprio processo de ensino, gerações que possuem um maior acesso à
no molde considerado tradicional, torna-se informação passou a ser mais por meio de
muitas vezes enfadonho, tendo em vista que imagens do que literal, mais digital do que
a relação professor-aluno é conduzida basi- analógica; além disso, a dissociação entre
camente por uma via única, ou seja, do pro- professores de uma geração e alunos de
fessor emissor para o discente receptor, sem outras provou ser um grande desafio. Cabe
uma interação maior. De modo a superar tal destacar que grande parte dos aspirantes da
situação, concebeu-se o conceito de Meto- Escola Naval (EN), dos alunos dos cursos de
dologias Ativas, com o objetivo de aumentar especialização do Centro de Instrução Almi-
consideravelmente a mencionada interação, rante Alexandrino (CIAA) e dos discentes do
além de propor maneiras adicionais de apre- Colégio Naval (CN) se enquadram na chama-
ensão e análise de conhecimentos que vão da Geração Z, nascida entre os últimos anos
além da sala de aula. do século XX e início do século XXI.
A segunda onda é derivada da mudança A terceira onda, a pandemia da
acelerada dos perfis geracionais, impulsio- COVID-19, impôs a necessidade de uma sé-

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rie de adaptações, iniciando pela busca dos colaborativa, já previamente existente na


instrumentos de comunicação adequados a formação militar, e para mitigar as tendências
serem utilizados pelos docentes. Além dis- individualistas. Após muito trabalho,
so, deparou-se com a premência de tempo foram apresentados os resultados dessa
para se fazer as adequações do ensino pre- experiência, que estão relatados a seguir.
sencial para o ensino remoto e com a cons- Na EN, foram realizadas atividades
tatação de que os reflexos da segunda onda utilizando a gamificação, que consiste em
agravavam a situação, já que, de acordo com utilizar recursos de jogos para engajar os
inúmeros estudos científicos, a geração Z alunos nas atividades de ensino, com o
apresenta tendências mais individualistas e fim de atingir objetivos educacionais. Isso
competitivas do que as gerações anteriores, permitiu permear significativamente o
característica que parecia ser difícil de su- reconhecimento, apreensão e manejo da
primir com o ensino a distância. Em função realidade pelos aspirantes, o que impôs
desses fatores, a Diretoria de Ensino da Ma- a necessidade de ritmos mais ágeis e
rinha (DEnsM) transmitiu orientações às Or- intervenções lúdicas, quando possível, nas
ganizações Militares (OM) de ensino, possibi- atividades em sala de aula. De fato, todo o
litando, também, que estas apresentassem processo cognitivo dessa geração, a partir dos
propostas, pelo fato de estarem em contato primeiros anos de vida, incorporou técnicas e
direto com esse público e observarem as ne- dispositivos que não eram disponíveis para
cessidades existentes. a maioria dos professores, integrantes de
Assim, as OM enfatizaram a necessidade gerações anteriores. Por exemplo, enquanto
de utilização de metodologias ativas e de boa parte dos professores consolidou
tarefas avaliativas em grupo, sendo estas sua formação consultando livros em
últimas recomendáveis para reforçar a lógica bibliotecas, os aspirantes se acostumaram

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90 anos

a acessar ferramentas de busca e


os respectivos links apontados. As
respostas (embora nem sempre as
melhores) passaram a ser fornecidas
muito rapidamente, o que provoca a
prevalência da instantaneidade em
relação à profundidade. Tal aparente
vantagem pode causar muitos danos
ao aprendizado, o que torna mais
imperativa a atividade do professor
enquanto mentor, no sentido de
incentivar nos alunos o senso crítico e
depurador.
Ainda na EN, pressupondo a
maior familiaridade com arquivos
digitais (em contraposição ao meio
físico analógico), providenciou-se que
toda a bibliografia estivesse em meio
digital (seja na Rede de Bibliotecas
da Marinha (Rede BIM) ou em sites
abertos ao público), acessível pela
Internet, contribuindo para que os
aspirantes não tivessem dificuldades
quando não se encontrassem
presencialmente na EN. Para um maior
aproveitamento do tempo de aula para
debates, instituiu-se a metodologia
da sala de aula invertida, em que o
material de leitura deve ser analisado
previamente à aula. Para auxiliar na
compreensão do conteúdo, foram
disponibilizados, no Google Drive,
podcasts com explicação dos slides
disponibilizados, bem como eventual
material bibliográfico complementar.
Além disso, os aspirantes dispunham
do Whatsapp para submeter qualquer
dúvida durante ou depois da aula.

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SELECIONANDO E CAPACITANDO NOSSO MAIOR PATRIMÔNIO


DIRETORIA DE ENSINO DA MARINHA

No CIAA, alunos e instrutores foram mobilizados em tão pouco tempo.


cadastrados no ambiente virtual de O CN necessitava de uma rede lógica
aprendizagem (AVA-Moodle) e todos que desse suporte para que todo o material
tiveram um período de ambientação para produzido e disponibilizado no AVA Moodle
o uso da plataforma. O material didático fosse acessível por todos os alunos e
foi disponibilizado no meio digital, e o CIAA professores, tornando o ensino interativo.
colocou computadores à disposição daqueles Assim, a busca pelos serviços de acesso à
alunos que tivessem dificuldade de acesso. Internet e por suporte técnico para que o uso
A avaliação foi feita por meio de estudos de do meio remoto fosse constante, foi primordial
caso, o que permitiu a contextualização do ao trabalho pedagógico, demonstrando
instrumento de avaliação, proporcionando que a infraestrutura deve caminhar junto às
uma produção mais autoral por parte dos inovações pedagógicas.
alunos. Além disso, houve o predomínio das Em abril de 2020, as aulas estavam
metodologias ativas, utilizando-se a sala de inseridas no AVA Moodle, criando um CN
aula invertida e a aprendizagem baseada em espelhado em todas as suas disciplinas,
problemas. além dos ambientes de orientação
No CN, mesmo antes da pandemia, educacional e pedagógica. Forneceu-
o foco no aprimoramento profissional se as condições necessárias para que os
do corpo docente na área de novas alunos pudessem ser liberados para as suas
tecnologias foi primordial para vencer os residências, possibilitando o mesmo acesso
obstáculos metodológicos decorrentes de a todo conteúdo disponível àqueles que
novas ferramentas educacionais, as quais permanecessem nos limites físicos daquele
precisaram ser testadas para certificar-se colégio. Somente as avaliações foram
de que seriam suportadas por aparatos mantidas presencialmente. Compreendeu-
tecnológicos e informacionais. se, assim, que a distância geográfica não
Esse trabalho de prospecção futura foi impediria a interação, os vínculos e a
fundamental para preparar os docentes e o afetividade, tão necessários para que a
pessoal de apoio educacional, bem como aprendizagem ocorra.
criou um ambiente escolar propício para Com isso, não houve perda de vida de
que o uso de novas tecnologias, dentre elas nenhum docente ou aluno, ou de qualquer
os recursos do Ensino a Distância, pudessem membro da equipe pedagógica, e os laços
ser implementadas. Assim, a chegada da
de pertencimento foram fortalecidos. Não
pandemia e da necessidade de afastamento
houve reprovação escolar, demonstrando a
se deparou com professores engajados e que
já entendiam o significado de termos como assertividade das medidas implementadas,
metodologias ativas, aulas remotas, ensino destacando-se a abnegação, o espírito de
híbrido, videoaula, entre outros. Só não era equipe, o comprometimento e a assiduidade
imaginado que tais recursos teriam que ser de todos os alunos.

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SELECIONANDO E CAPACITANDO NOSSO MAIOR PATRIMÔNIO


90 anos

Considerando-se, pois, os relatos podem estar presentes em sala de aula, por


das OM, conclui-se que, embora não venha motivos considerados relevantes. Ademais,
a substituir completamente o ensino o discente pode estudar no horário em que
presencial, pelo menos no curto e médio lhe seja mais viável, respeitando o seu ritmo
prazos, a modalidade remota constitui de aprendizagem.
ferramenta valiosa para facilitar o processo Portanto, as grandes lições deixadas
didático. Por exemplo, aulas de revisão pelo enfrentamento da pandemia da
podem alcançar centenas de alunos, em COVID-19 foram: as ações de ensino não
lugares diversificados, quando antes não era podem ser improvisadas; as equipes
possível acomodá-los em um mesmo espaço pedagógicas e de tecnologias educacionais
físico; ao mesmo tempo, todo o material de devem vislumbrar as demandas futuras
consulta - como slides das aulas, podcasts, como variável imprescindível de suas
gravações de aula, vídeos recomendados análises; e o ambiente de gestão diante de
- pode ser acessado facilmente no Google uma crise deve primar pelo respeito, pela
Drive ou nas obras digitalizadas na Rede BIM, criatividade e pela inovação, sem que se
facilitando o aprendizado daqueles que não perca o farol da missão.

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A REALIDADE VIRTUAL NA FORMAÇÃO DO


PROFISSIONAL DO MAR
Capitão de Corveta Ayrton Luiz Ribeiro da Costa

O desenvolvimento de novas tecnologias Hoje, por exemplo, já é possível o em-


na área de computação gráfica, realidade prego de simuladores para a reconstituição
virtual e realidade aumentada faz surgir de acidentes aéreos, investigações crimi-
cada vez mais equipamentos que simulam, nais, bem como o seu uso na construção ci-
de forma fidedigna, o mundo real. Diversos vil e na capacitação e formação profissional.
jogos de computador, videogames e Outro exemplo interessante é a existência de
smartphones se utilizam dessas inovações, projetos de utilização da realidade virtual na
que estão presentes em boa parte dos lares formação de novos médicos cirurgiões, tor-
do Brasil e do mundo, a custo relativamente nando viável a prática ilimitada de ativida-
baixo. A utilização do ambiente virtual tem des que envolvem alto risco ou custo eleva-
se mostrado um grande atrativo para boa do.
parte da população, especialmente para os Ao falarmos desses tipos de atividades,
jovens, que já estão imersos nessas novas somos levados a pensar naquelas conduzi-
tecnologias desde a infância. Além disso, das pelas Forças Armadas. A demanda tecno-
a tecnologia de simulação se torna ainda lógica dos campos de batalha vem crescendo
mais compensadora por proporcionar exponencialmente, tornando cada vez mais
uma considerável economia de recursos e dispendioso o preparo e o aprestamento de
redução de riscos na capacitação de pessoal nossas Forças. Dessa forma, Forças militares
em diversas atividades. do mundo inteiro investem pesado no desen-

Aspirantes realizando
adestramento de navegação
no SIMPASS-MP.

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SELECIONANDO E CAPACITANDO NOSSO MAIOR PATRIMÔNIO


90 anos

volvimento de sua capacidade de simulação, esportivo da Escola, constitui uma valiosa


expandindo o emprego do ambiente virtu- ferramenta que permite aos aspirantes reali-
al e da realidade aumentada. Imaginemos a zarem a primeira familiarização com o uso do
economia gerada em combustível, munição e armamento portátil.
vida útil dos meios, uma vez que a aplicação
real do aprendizado se daria apenas em nível
mais avançado, otimizando o aproveitamen-
to dos recursos.
Acompanhando essa inexorável ten-
dência, a Marinha do Brasil vem ampliando
o emprego de simuladores no treinamento
de seu pessoal e na formação de seus no-
vos militares, a fim de estabelecer o nível
de prontidão adequado para o Poder Na-
val. Na Escola Naval (EN), em dezembro de
2020, foi inaugurado o Simulador de Passa-
Arquitetura do SIMPASS-MP da Escola Naval.
diço Multiplayer (SIMPASS-MP), que foi de-
senvolvido pelo Centro de Análise de Sis- Cabe ressaltar que o uso dessas novas
temas Navais (CASNAV) para incrementar tecnologias e de recentes desenvolvimentos
a formação militar-naval dos aspirantes. na área de tecnologia da informação (TI)
O SIMPASS-MP é capaz de gerar diferentes também garantiram que o Sistema de Ensino
camadas de imersão, sendo composto por Naval continuasse funcionando durante a
7 (sete) estações independentes: 1 (uma) pandemia da COVID-19. A utilização do ensino
estação é a cópia fiel de um passadiço de a distância (EaD), de videoaulas e o uso dos
um navio militar e as outras 6 (seis) são simuladores já existentes na EN e no Centro
consoles de treinamentos compostos de de Adestramento Almirante Marques de Leão
Radar, Carta Eletrônica (ECDIS) e console (CAAML), entre outros, permitiram que a
de instrumentos. Esse simulador foi criado formação dos aspirantes da EN prosseguisse
com a participação de oficiais com expe- sem interrupções.
riência na parte operativa, que incluíram Portanto, a utilização da realidade vir-
nesse equipamento capacidades oriundas tual no ensino naval possui diversas vanta-
desses conhecimentos, a fim de melhorar a gens, sendo a mais revelante a redução do
formação dos futuros oficiais do Corpo da custo para a realização dos adestramentos
Armada. e exercícios com meios Navais, Aeronavais e
Além disso, a Escola Naval possui o de Fuzileiros Navais. No caso específico da
Centro de Treinamento de Tiro Esportivo EN, o uso dos Avisos de Instrução nos trei-
(CTTE) que, além de funcionar, primordial- namentos com os aspirantes no mar é mais
mente, no treinamento das equipes de tiro eficiente, contudo, os navios podem ser

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SELECIONANDO E CAPACITANDO NOSSO MAIOR PATRIMÔNIO


DIRETORIA DE ENSINO DA MARINHA

poupados das saídas com aspirantes sem para um novo tempo, sendo, portanto, ine-
nenhuma experiência prática, as quais são vitáveis. Entretanto, é necessário ressaltar
normalmente mais demoradas e com baixo que nada substitui o balanço do navio, o ca-
aproveitamento. Da mesma forma, a simula- lor da praça de máquinas e o desconforto
ção de execução de tiro no CTTE permite que do peso do equipamento durante as longas
os aspirantes Fuzileiros Navais, por exem- marchas em campo para forjar os homens
plo, executem o tiro real apenas quando sua e mulheres que liderarão a Marinha do Bra-
técnica estiver mais apurada, otimizando, sil na defesa da Pátria ou na árdua tarefa
assim, o consumo de munição. Além da mi- de manter o Poder Naval sempre pronto. Os
tigação de riscos e custos, os simuladores simuladores reforçam os conceitos, mas o
permitem a repetição de exercícios com alto grande “teste de fogo” é o mundo real, onde
grau de periculosidade sem os riscos de aci- os futuros oficiais aplicarão os fundamen-
dentes, proporcionando, de forma didática, tos adquiridos em sala de aula, desenvol-
gradativa e atraente, a consolidação dos co- vendo, além de conhecimento técnico-pro-
nhecimentos apresentados em sala de aula. fissional, atributos de caráter emocional
O aspirante da EN poderá treinar que são essenciais ao exercício de uma li-
procedimentos de emergência, navegação derança efetiva. Ou seja, a realidade virtual
em condições meteorológicas desfavoráveis, e o mundo real são partes simbióticas ne-
bem como exercitar manobras para atracação cessárias para forjar a formação dos futuros
de embarcações sem sair da sala de aula, oficiais, inserindo-os nesse novo mundo
imerso num ambiente próximo da vida real, com elevadas tecnologias e onde o conhe-
mas completamente seguro, permitindo, cimento tecnológico e a experiência prática
assim, a reconstituição dos erros e acertos, serão cada vez mais exigidos.
que poderão ser analisados por mais
aspirantes, repetidos e corrigidos. Seguindo
o lema de que a prática leva à perfeição, no
caso dos simuladores, essa prática é bem mais
econômica do que se fosse realizada a bordo
de um navio ou de uma unidade operativa de
Fuzileiros Navais.
As tecnologias citadas são disruptivas
e direcionam o futuro das Forças Armadas Treinamento de aspirantes Fuzileiros Navais no CTTE.

Você sabia que, a partir de 1956, a Escola Naval começou


a receber em seu Corpo de Aspirantes estudantes estrangeiros
de Marinhas amigas para sua formação superior? Desde então,
foram formados mais de 100 Guardas-Marinha dos seguintes
países: Angola, Bolívia, Cabo Verde, Camarões, Honduras, Líbano,
Namíbia, Nigéria, Panamá, Peru, São Tomé e Príncipe, Senegal e
Venezuela. Atualmente, estão matriculados na Escola Naval 26
estrangeiros, divididos entre as turmas dos 1º, 2º, 3º e 4º anos.
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SELECIONANDO E CAPACITANDO NOSSO MAIOR PATRIMÔNIO


90 anos

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NOVAS TECNOLOGIAS DIDÁTICO-PEDAGÓGICAS


PARA A FORMAÇÃO DAS PRAÇAS
Primeiro-Sargento (AM) Daveson Souza Pereira

Os desafios impostos pelos programas como tablets ou smartphones. Hoje o CIAA


estratégicos da Marinha do Brasil requerem possui um aplicativo (app) de realidade
que a formação técnico-profissional das pra- aumentada desenvolvido por militares
ças dos Cursos de Especialização e de Aper- instrutores do próprio Centro de Instrução.
feiçoamento seja aprimorada com uso de Em versão piloto, o app já exibe, atualmente,
ferramentas tecnológicas inovadoras, poten- um motor elétrico modelado.
cializando o binômio ensino-aprendizagem. Adicionalmente, os Cursos de Especia-
Nesse sentido, sustentado pela lização estão usando tablets. Esses dispo-
temática “Transformação digital – CIAA sitivos substituíram as antigas apostilas de
no Século XXI”, o Centro de Instrução papel, armazenando todas as publicações
Almirante Alexandrino (CIAA), responsável relacionadas ao curso. Esta mudança traz,
pela formação técnica das praças, por de imediato, aprimoramentos na praticida-
meio da Escola de Cursos de Qualificação de de transporte e consulta de conteúdo e
Técnica Especial, vem realizando estudos na economia de recursos com reproduções
e desenvolvendo projetos voltados para gráficas.
a utilização dessas tecnologias, em Para que essas tecnologias sejam apli-
parceria com instituições de pesquisa e cadas em sala de aula, a capacitação dos
desenvolvimento. instrutores é condição primordial. Nesse
Encontram-se em fase de análise a sentido, o CIAA promove Cursos Livres de
implementação de dispositivo imersivo de Sketchup, Solidworks e elaboração de Apos-
realidade virtual (RV) e realidade aumentada tila Dinâmica Digital (ADD), todos neces-
(RA). Essas tecnologias proporcionarão sários para que os novos recursos possam
maior interatividade e, como seus nomes ser oferecidos efetivamente no processo de
indicam, maior proximidade com a realidade, ensino. Até o momento, 45 instrutores já fo-
potencializando o ensino. Enquanto a RV ram qualificados. Nos dias atuais, a capaci-
promove a experiência de realidade simulada tação continuada do professor exige aplica-
por meio de óculos especiais, a RA gera uma ção de tecnologias inovadoras no contexto
experiência expandida, acrescentando ao didático-pedagógico, conjugando teoria e
que efetivamente existe, novas informações prática. O corpo docente deve dominá-los
digitais e virtuais através de dispositivos de modo a fazer com que funcionem como
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SELECIONANDO E CAPACITANDO NOSSO MAIOR PATRIMÔNIO


90 anos

facilitador e catalisador do processo de e provas com envio e retorno digitais através


transmissão do conhecimento. de arquivos criptografados. O conteúdo dos
No mesmo diapasão tecnológico, o CIAA cursos é hospedado na plataforma Moodle
possui uma escola exclusivamente voltada e prevê atividades assíncronas, através de
para o ensino a distância: a Escola Virtual. fóruns com uma equipe de tutores para cada
Esta modalidade de ensino viabiliza a disciplina como suporte ao processo de
expansão dos saberes, amplia o quantitativo ensino-aprendizagem.
de militares formados, além de proporcionar Todas essas mudanças têm por obje-
economicidade para a Instituição. São tivo atender a uma demanda de visão glo-
ofertados cinco cursos exclusivamente balizada que se utiliza da tecnologia para
online, atendendo, em média, 2.600 alunos ampliar a eficiência dos processos, de for-
por ano. Merecem destaque o Curso Especial ma a atingir melhores resultados, propor-
de Habilitação a Suboficial (C-Esp-HabSO) cionando mais interatividade e qualidade
e o Curso de Assessoria em Estado-Maior ao processo de ensino-aprendizagem, além
para Suboficiais (C-ASEMSO) que atendem de economicidade de recursos materiais e
militares lotados por todo território nacional humanos. É nesse contexto e sob a tríade
e no exterior. Atualmente, é utilizado o “Ensino, profissionalismo e modernização
Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) de nossa Marinha” que militares que se ca-
para a condução de atividades pedagógicas pacitam no CIAA.

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SELECIONANDO E CAPACITANDO NOSSO MAIOR PATRIMÔNIO


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AVALIAÇÃO PÓS-ESCOLAR: UMA VIA DE MÃO


DUPLA NA JORNADA DA QUALIDADE
Capitão de Fragata (T) Suzana Ramos Baptista Azeredo
Capitão de Corveta (T) Mozara Campos Cortez

“Selecionando e Capacitando Nosso tros. Quem nunca respondeu a uma pesquisa


Maior Patrimônio!” Esse é o lema da Diretoria de satisfação ou de opinião? Avaliou a qualida-
de Ensino da Marinha (DEnsM). Apesar de de e funcionalidade de um produto ou serviço
complexa, a nossa missão não para por aqui. antes de adquiri-lo? Precisou, em determinado
Além de selecionarmos e capacitarmos o momento da vida, fazer escolhas pessoais ou
nosso pessoal, temos também o privilégio de profissionais decisivas? Fez uma autorreflexão
avaliar a qualidade dessa formação: uma via sobre os próprios erros e acertos? Enfim, preci-
de mão dupla em um oceano de desafios e samos saber onde estamos, aonde queremos
oportunidades. chegar e o que precisamos fazer para alcançar
Avaliar é uma característica inerente ao os nossos objetivos e sonhos. Nesse sentido, o
ser humano. Estamos sempre nos avaliando, ato de avaliar torna-se imprescindível.
avaliando os outros e emitindo juízos e impres- Na Marinha do Brasil, a avaliação é prática
sões sobre o mundo que nos cerca. Envolve vá- constante e está integrada à cultura da insti-
rios aspectos, como experiências e gostos pes- tuição. A partir de critérios e requisitos esta-
soais, motivações e valores, cultura, filosofia belecidos, avaliam-se as pessoas, os proces-
de vida, educação familiar e formal, entre ou- sos, as instalações, o aprestamento dos meios
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SELECIONANDO E CAPACITANDO NOSSO MAIOR PATRIMÔNIO


90 anos

navais e operativos, os resultados alcançados dos estágios de carreira das praças, permitindo
e a gestão institucional. Nesse contexto, está que os seus resultados fossem utilizados,
inserida a avaliação do Sistema de Ensino Na- exclusivamente, para a melhoria dos currículos
val (SEN), cujos princípios estão alicerçados, e da qualidade da capacitação oferecida nos
especialmente, na garantia de padrões cursos do SEN.
de qualidade e na avaliação inte- Além disso, também em 2019,
gral e contínua. Essa avaliação a avaliação pós-escolar dos
abrange cinco grandes di- militares do Corpo de Praças
mensões: corpo docente, da Armada (CPA) e do Corpo
corpo discente, organiza- Auxiliar de Praças (CAP),
ção didático-pedagógica, que até então era feita em
instalações e pós-escolar. fichas de papel, passou
Nesse momento, focare- a ser online, por meio do
mos a nossa atenção so- Sistema de Avaliação Pós-
bre esta última dimensão: a -Escolar, mais conhecido
avaliação pós-escolar. como SisAPE. Esse sistema
“Pós”, porque é posterior à foi desenvolvido pela DEnsM
formação “escolar”, porque possui com o objetivo de facilitar a exe-
caráter formativo e sistematizado, cução da avaliação e dar maior cele-
capaz de gerar evidências que orientem a ridade a esta, especialmente em relação ao
superação de lacunas detectadas nos currículos preenchimento, envio, compilação e análise
e nos processos de ensino e aprendizagem dos dados. Do total dos militares formados em
dos cursos. Também é interativa, uma vez que 2019, 98,84% foram avaliados pelo SisAPE, evi-
oportuniza o diálogo e o feedback entre os denciando a consolidação desse sistema junto
usuários do SEN: Organizações Militares (OM) aos seus usuários: cerca de 340 OM foram en-
de ensino, militares recém-formados (egressos volvidas nesse processo. Outrossim, ele tam-
dos cursos) e OM receptoras desses recém- bém contribuiu para a redução de gastos com
formados. papel e impressão e para um maior controle do
Ao longo dos anos, a avaliação pós-escolar recebimento das fichas de avaliação por parte
passou por mudanças em sua metodologia e das OM de ensino formadoras.
instrumentos avaliativos. A fim de reforçar o seu Na prática, então, como se dá esse pro-
caráter pedagógico, ela foi, em 2019, dissociada cesso? Em linhas gerais, ao concluir um curso

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SELECIONANDO E CAPACITANDO NOSSO MAIOR PATRIMÔNIO


DIRETORIA DE ENSINO DA MARINHA

de formação ou de carreira, o militar (oficial ou dois primeiros retroalimentando a OM de ensi-


praça) é designado para servir em uma das Or- no por meio das avaliações, e esta aperfeiçoan-
ganizações Militares da Força, seja um navio ou do os seus processos acadêmicos para melhor
uma OM de terra. Durante os seis primeiros me- atender às demandas e necessidades dos dois
ses, ele é orientado e acompanhado por outro primeiros. Nessa perspectiva, a avaliação deixa
militar mais antigo, o seu avaliador, detentor de ser um fim com um valor em si mesma para
do conhecimento e da experiência técnico-pro- ser uma prática colaborativa e um meio de pro-
fissional necessários à adequada condução do moção de reflexões, decisões, mudanças e me-
pós-escolar. Nesse período, a observação do lhorias.
desempenho deve ser contínua e sistemática, Vivemos em um mundo complexo no
uma vez que é no contexto de qual precisamos construir a
trabalho, por meio da prática própria realidade por meio do
regular, que as competências trabalho. Este, além de ocupar
profissionais são melhor con- O período de avaliação grande parte do nosso tempo,
cretizadas e apropriadas pelo pós-escolar, portanto, é, sem dúvida, fonte de
recém-formado. Transcorrido deve ser encarado como muitos desafios e aspirações.
esse prazo, tanto a autoavalia- uma oportunidade de o Considerando que o tempo é
ção, respondida pelo recém- um recurso finito e precioso,
formado, quanto a avaliação
militar recém-formado devemos aproveitá-lo da
de desempenho, feita pelo aplicar e aperfeiçoar, melhor maneira possível,
avaliador, são concluídas e no contexto laboral, as planejando bem as atividades
enviadas à OM de ensino for- competências técnicas diárias e nos comprometendo
madora. Em seguida, os resul- com o “fazer bem-feito”, de
e comportamentais
tados dessas avaliações são modo a evitar dispersões e
analisados e consolidados no desenvolvidas no retrabalhos.
Relatório de Avaliação Pós-Es- ambiente escolar O período de avaliação
colar (RAPE), instrumento este pós-escolar, portanto, deve
criado para melhor subsidiar a ser encarado como uma
OM de ensino na tomada de decisões em rela- oportunidade de o militar recém-formado
ção às necessidades de alterações curriculares aplicar e aperfeiçoar, no contexto laboral, as
e ao aperfeiçoamento dos cursos. competências técnicas e comportamentais
Finalmente, nessa jornada do pós-escolar, desenvolvidas no ambiente escolar. Curiosidade,
conhecemos os seus três atores principais: o autodisciplina, atenção, motivação, dedicação,
militar recém-formado (egresso), o militar res- organização e proatividade são atitudes
ponsável pelo acompanhamento da avaliação que devem ser cultivadas em qualquer
no contexto de trabalho e a OM de ensino. Lem- processo de aprendizagem. Da mesma forma,
bra-se da “via de mão dupla”, mencionada no a autoavaliação do próprio desempenho,
início do texto? É neste ponto que ela se revela, considerando os pontos fortes e aqueles que
é aqui que os atores se cruzam e interagem: os precisam ser melhorados, é um meio eficiente

Você sabia que a implementação do SisAPE possibilitou


a economia de, aproximadamente, 21 mil folhas de papel
impressas anualmente?

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90 anos

para alcançar o autodesenvolvimento e mento da formação dos futuros militares e


crescimento profissional. companheiros de trabalho.
Se olharmos para a nossa trajetória, cer- O aprimoramento requer foco, dedicação
tamente perceberemos o valor que os outros e persistência. Errar e tentar de novo faz parte
tiveram em nosso crescimento profissional e do processo de crescimento humano. O insu-
pessoal. Provavelmente nos lembraremos dos cesso não está no erro, mas na desistência de
nossos pais, irmãos mais velhos, professores, querer acertar, de querer fazer melhor. A exce-
amigos, chefes, supervisores ou colegas de lência não deve ser vista apenas como um pon-
trabalho. Para o recém-formado, em início de to de chegada, mas, acima de tudo, como um
jornada, o processo de avaliação pós-escolar ponto de referência, uma linha do horizonte a
é, de fato, muito desafiador. Ao se apresentar ser perseguida ao longo de toda a carreira pro-
na nova OM, onde exercerá uma função, é im- fissional. Olhando por essa perspectiva, qual é
prescindível que ele seja acolhido, acompa- o seu papel na jornada da qualidade?
nhado e orientado por um militar mais antigo
e experiente, o seu “mentor” e avaliador, ao
longo dos seis primeiros meses. Caberá a esse
“mentor” orientá-lo quanto aos procedimen-
tos e às atividades que deverão ser executa-
das, conforme previsto em normas e no res-
pectivo roteiro de avaliação do curso. Aliada
à experiência e ao exemplo, a mentoria, nesse
caso, tem por propósito despertar potencia-
lidades, dar feedbacks, corrigir rumos e, de
modo geral, contribuir para o desenvolvimen-
to profissional do recém-formado. Além disso,
é importante que o egresso e o avaliador, no
momento do preenchimento das avaliações,
que contemplam tanto dados quantitativos
quanto comentários e sugestões, prezem pela
fidedignidade, consistência e qualidade das
informações prestadas, conscientes de que
são justamente estas que subsidiarão as OM
de ensino no que diz respeito ao aperfeiçoa-

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SELECIONANDO E CAPACITANDO NOSSO MAIOR PATRIMÔNIO


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A FORMAÇÃO DE PRAÇAS DAS MARINHAS


AMIGAS Primeiro-Tenente (AA) Alessandro Amorim de Carvalho

O artigo 4º da Constituição Federal (CF) mais intensa, tendo 23 militares formados, segui-
enuncia que a República Federativa do Brasil do de São Tomé e Príncipe com 20 alunos.
é regida por princípios em suas relações Quanto à execução, os militares das
internacionais, entre os quais deve buscar a nações amigas foram absorvidos nos Cursos de
cooperação entre os povos para o progresso da Especialização (C-Espc) e de Aperfeiçoamento
humanidade. Além disso, a Política Nacional de (C-Ap), de acordo com seus círculos hierárquicos
Defesa afirma que “o Brasil concebe sua Defesa e graduações nos países de origem. Receberam
Nacional segundo os seguintes pressupostos: instrução militar-naval, aulas de língua
buscar a manutenção do Atlântico Sul como zona portuguesa, além de conhecimentos técnico-
de paz e cooperação; (...) participar de organismos profissionais indispensáveis às suas habilitações.
internacionais, projetando cada vez mais o País Ademais, inseridos na mesma rotina dos alunos
no concerto das Nações.” brasileiros, vivenciaram e incorporaram valores
Nesse contexto, a Marinha do Brasil (MB) da MB.
intensificou a cooperação e o intercâmbio de Adicionalmente, cabe destacar que o
conhecimento para a formação de militares das Sistema de Ensino Naval (SEN) formulou
Marinhas Amigas. Buscando reforçar os laços um curso exclusivo à Marinha Namibiana: o
com essas nações, estabeleceu como prioridade Curso de Formação da Marinha da Namíbia
os países da América do Sul e do continente (C-FMN-NAM), perfazendo uma história de
Africano, mas não exclusivamente os de língua colaboração de mais de 20 anos com aquele país,
portuguesa. totalizando 891 militares capacitados de 1998
O CIAA, por meio da Divisão dos Cursos para a 2019, contribuindo para construção do Poder
Estrangeiros, vem gerenciando a condução dos Naval daquela nação.
diversos Cursos de Formação para militares es- Torna-se claro, portanto, que a MB, por meio
trangeiros e acompanhando o desempenho aca- do CIAA, tem contribuído com a política externa
dêmico dos alunos. No período de 2011 a 2021, nacional, estreitando as relações diplomáticas
foram 63 praças de Marinhas Amigas (Cabo verde, e construindo um ambiente de camaradagem,
São Tomé e Príncipe, Senegal, Venezuela, Uru- reforçando os vínculos com diversas Marinhas
guai e México) capacitadas. Ao longo do período Amigas com cooperação e intercâmbio de
de formação, Cabo Verde foi o país com relação conhecimento.

Você sabia que o Centro de Instrução Almirante


Alexandrino já formou 954 alunos de Marinhas Amigas em
23 anos ininterruptos de colaboração com o programa de
cooperação e intercâmbio de conhecimento da Marinha do
Brasil, por intermédio do Sistema de Ensino Naval (SEN)?
80

SELECIONANDO E CAPACITANDO NOSSO MAIOR PATRIMÔNIO


90 anos

EXPANDINDO SEUS HORIZONTES

A Empresa Gerencial de Projetos Navais - EMGEPRON é uma empresa pública criada em 09/06/1982, vinculada
ao Ministério da Defesa por intermédio do Comando da Marinha do Brasil. Tendo em vista a necessária adaptação
da cultura organizacional vigente às transformações impostas pelas boas práticas de mercado, vem aperfeiçoando
para se tornar a empresa mais competitiva no seu âmbito. Nesse escopo, a Empresa delineou seus três focos de
negócios, que são:

Gerenciamento de Projetos Estratégicos da Economia do Mar, que engloba uma vasta gama Plataforma de Exportação de Produtos de
Marinha, como os Navios Classe Tamandaré e o de serviços relacionados aos segmentos de Defesa, em especial as Munições fabricadas pela
Navio de Apoio Antártico. negócio do mar. Marinha, e a Interveniência Técnica.

Desta forma, a Empresa se apresenta como uma propícia alternativa para as Forças Armadas e diversas
organizações públicas e privadas que buscam solucionar suas demandas específicas, que não fazem parte de
seus ambientes de negócios, mas fazem para a EMGEPRON.

www.emgepron.gov.br facebook.com/EMGEPRON

marketing@emgepron.gov.br (21) 3907-1800 81

SELECIONANDO E CAPACITANDO NOSSO MAIOR PATRIMÔNIO


DIRETORIA DE ENSINO DA MARINHA

AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL: UM FAROL


PARA O ENSINO
Capitão de Mar e Guerra (RM1-T) Regina Lúcia Pereira Flores Fontes
Capitão de Corveta (T) Luiza de Sousa Ferreira de Mendonça

A avaliação é um processo sempre Este artigo propõe uma reflexão sobre


presente nas situações rotineiras de nossas a avaliação, buscando desconstruir a
vidas, ainda que não percebamos. Passamos ideia de que ela é um instrumento apenas
o dia fazendo escolhas e tomando decisões, classificatório e utilizado em um momento
com base em critérios diversos e para alguma estanque, bem como um mero processo
finalidade específica. Mas, no que se refere à de julgamento, gerador de classificação,
avaliação do ensino, verificamos que ainda recompensas ou punição. Ao contrário,
é um processo visto, por vezes, como uma a ação avaliativa é parte de um processo
mera situação de testagem e de risco, da qual mais amplo, concebida como uma prática
advém, em função dos resultados obtidos, significativa, que sinaliza e indica um caminho
uma recompensa ou uma punição. Será esta, a seguir, revela uma realidade e permite
porém, a real função da avaliação no ensino: adotar estratégias para a sua melhoria a
recompensar ou punir? O que esperar de partir da análise dos resultados alcançados.
um processo que pretende avaliar todo um Nesse contexto, também será rememorado
sistema de ensino? como foi construído o processo de avaliação
do desempenho das diferentes Organizações
Militares (OM) do Sistema de Ensino Naval
(SEN) acerca do ensino por elas oferecido.
A prática de aplicação de questionários
pedagógicos, à época denominados de
inquéritos pedagógicos e preenchidos ao
final dos cursos, é muito antiga em nossa
Instituição. No entanto, a aplicação desses
questionários, ainda que de grande valor
pelo feedback para a OM responsável pela
condução do curso, constituiu uma iniciativa
isolada, restrita à busca de informações
relativas a uma disciplina ou a um curso.
Em 1994, foi realizada a primeira inves-
tigação sobre o processo avaliativo condu-
zido em determinadas OM do SEN, fruto de
uma pesquisa de mestrado. Ela teve como
propósito identificar a intenção avaliati-
Visita da Comissão de Avaliação do SEN no
va dos inquéritos pedagógicos, a partir do
1º Esquadrão de Helicópteros de Instrução (EsqdHI-1). estudo da sistemática de avaliação de um
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90 anos

curso e das categorias estabelecidas para Mas ainda havia lacunas com questões
avaliação, por meio de análise das pergun- a serem respondidas, entre elas: qual o
tas que constituíam os inquéritos pedagó- significado dos resultados obtidos? O que
gicos. A partir de então, ocorreu a primeira representava o resultado obtido pela OM
iniciativa para a sistematização da avalia- em relação ao desempenho desejado? Em
ção para as OM do SEN, com a criação da função dos resultados, como considerar, de
Sistemática de Avaliação do Sistema de En- forma integrada, o desempenho da OM à luz
sino Naval (SAVSEN), que incorporou recur- do cumprimento de sua missão?
sos de informática na ação avaliativa. Foi a partir desses questionamentos
Nesse contexto, todas as OM do que teve origem o primeiro estudo relativo
SEN passaram a aplicar questionários a uma metodologia de avaliação específica
padronizados, mas ainda avulsos, já que para as OM do SEN, de forma que, por
destinavam-se à avaliação dos docentes, meio dos resultados obtidos na avaliação,
dos discentes, da organização didático- eram gerados subsídios para tomadas de
pedagógica e das instalações, ainda de forma decisão, na busca contínua de um ensino de
isolada. A sistemática de avaliação proposta qualidade. Estamos nos reportando ao ano
à época incorporou também uma avaliação de 2004, ocasião em que o Sistema Nacional
dos egressos dos cursos, denominada de de Avaliação da Educação Superior (SINAES)
era recém-implantado pelo Ministério de
avaliação pós-escolar, bem como uma
Educação (MEC) e quando foi realizado, na
autoavaliação, realizada pelos docentes
Escola Naval (EN), um estudo que conduziria
e discentes. Dessa forma, foram obtidos
ao embrião da Metodologia de Avaliação
resultados de avaliação que representavam do Sistema de Ensino Naval, tendo como
o momento da ação educativa de forma mais referência os indicadores estabelecidos no
abrangente, mesmo que de maneira não SINAES.
integrada.
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Avaliação Institucional no Centro de Instrução e Adestramento Aeronaval Almirante José Maria do Amaral Oliveira (CIAAN) 2021.

Com base na Metodologia de Avaliação interna ou uma autoavaliação; e uma


do Ensino, concebida para a EN, foram avaliação externa, a cada três anos, conduzida
elaborados roteiros de avaliação específicos, por uma comissão externa à OM.
respeitando as particularidades de cada Ainda no que tange à metodologia de
OM ou grupo de OM de ensino com missões avaliação em vigor, normatizada no Manual
semelhantes, resultando na aprovação da de Avaliação do SEN, cabe traçar, em uma
Metodologia de Avaliação do Sistema de breve linha histórica:
Ensino Naval, em 09 de março de 2005. a) em 2005, a partir da criação da
A metodologia foi elaborada, a exem- metodologia de avaliação, foi realizada uma
plo daquela conduzida pela EN, de forma a capacitação pela DEnsM, com participação
contemplar cinco dimensões: corpo docente de todas as OM do SEN, visando a efetivar
(considerando os docentes individualmente a implantação da metodologia de forma
e em sua totalidade, sob o aspecto da forma- adequada;
ção acadêmica e profissional, desempenho b) em 2006, o modelo da metodologia da
acadêmico e condições de trabalho); corpo avaliação foi objeto de pesquisa de mestrado,
discente (considerando o desempenho dos a partir de um estudo de caso no SEN;
discentes, as condições de estudo e os as- c) em 2010, a metodologia foi validada
pectos militares); organização didático-pe- pela Fundação CESGRANRIO, que emitiu
dagógica (considerando o projeto pedagógi- parecer técnico, com base em procedimentos
co do curso, o cumprimento do currículo e a metodológicos fundamentados nos princípios
administração acadêmica); instalações (con- de utilidade, viabilidade, ética e precisão;
siderando espaço físico e disponibilidade d) em 2013, a metodologia foi objeto
das instalações gerais de uso dos discentes de estudo de tese de doutorado, numa
e docentes, laboratórios, salas especiais, bi- pesquisa que refletiu sobre os caminhos a
blioteca e aplicação de recursos para o ensi- serem percorridos para o aperfeiçoamento de
no); e pós-escolar (considerando a avaliação práticas avaliativas no SEN;
da formação oferecida pelas OM recebedo- e) em 2017, foi realizado um estudo pela
ras dos militares recém-cursados). DEnsM acerca dos parâmetros de qualidade
Cabe destacar, também, a realização da estabelecidos e buscada fundamentação le-
avaliação em dois momentos: anualmente, gal para todos os índices e critérios utilizados
pela própria OM, constituindo uma avaliação para as metas estabelecidas, sendo a meto-
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SELECIONANDO E CAPACITANDO NOSSO MAIOR PATRIMÔNIO


90 anos

dologia de avaliação aprimorada; estabelecidos. Mais do que isso, assim como


f) em 2018, a metodologia foi revalida- um farol que exibe sua luminosidade a longo
da pela Fundação CESGRANRIO, por oca- alcance e possui extrema importância para
sião da sua atualização/revisão, tendo sido a segurança da navegação, a ação avaliati-
atestado por esta Fundação que a metodo- va “projeta luz” para sinalizar pontos fortes
logia atende aos padrões de uma avaliação e oportunidades de melhoria, permitindo a
de qualidade; e correção de rumos. Dessa forma, a avalia-
g) em 2019, o processo avaliativo foi ção não é um ponto final, mas sempre um
mais uma vez objeto de estudo em pesqui- recomeço, um movimento de busca, de pes-
sa de mestrado, quando foi analisado o po- quisas e, sobretudo, de tomada de decisões
tencial dos resultados obtidos dos relatórios para a melhoria contínua e o aprimoramen-
pedagógicos para aproveitamento e melho- to do processo educativo.
ria do processo avaliativo.
Metodologia de Avaliação do SEN
É relevante salientar que, entre a pri-
meira avaliação externa realizada em 2005 e Caminhos percorridos, avanços em pesqui-
as conduzidas na atualidade, muitas ações sas e lições aprendidas.
foram implementadas e contribuíram para o
aprimoramento do ensino e da capacitação
oferecidos no SEN. Os resultados
obtidos nas avaliações externas
evidenciam, no primeiro decênio
da avaliação, a obtenção do con-
ceito excelente por apenas duas
OM, considerados os percentuais
alcançados em cada dimensão,
com base em indicadores e crité-
rios previamente definidos como
padrão de excelência desejado.
Considerando a metade do decê-
nio seguinte, oito OM alcançaram
a excelência em suas avaliações
externas, mesmo com ajustes nos
citados critérios que os tornaram
ainda mais rigorosos.
A experiência nesses 16 anos
de condução da avaliação do en-
sino à luz da Metodologia de Ava-
liação do SEN, nos conduz à certe-
za de ser a avaliação um processo
diagnóstico que, ao descortinar a
realidade das OM de ensino, não
se limita ao estabelecimento de
julgamento com base em critérios
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90 anos

A EVOLUÇÃO DO ENSINO DE IDIOMAS NA


MARINHA
Professora Doutora Erica Ioty
Capitão de Mar e Guerra (RM1-T) Luiz Claudio Medeiros Biagiotti

Em um mundo globalizado, caracteriza- em consideração nas exigências que são fei-


do pela quebra de fronteiras e pelo estreita- tas ao longo da carreira. Consequentemen-
mento das relações internacionais, a familia- te, é necessária a integração dos currículos
ridade com os principais idiomas é condição do Colégio Naval e Escola Naval, de modo
primordial no desempenho das atividades que, até a graduação, os oficiais possuam
profissionais. Nesse sentido, a Marinha do domínio do idioma. Nesse sentido, os can-
Brasil (MB) incrementou esse tipo de ensino didatos ao concurso público para a Escola
incluindo a disciplina de Língua Inglesa no Naval são submetidos a uma prova no nível
currículo das escolas de formação de oficiais dos alunos oriundos do Colégio Naval, bem
e praças. como os oficiais do Quadro Complementar
Na formação de oficiais, os anos de es- devem estar nivelados aos oficiais oriundos
tudos continuados possibilitam maior pro- da Escola Naval.
ficiência no idioma, fato este que é levado

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Quanto à carreira de praças, a pelo Comandante da Marinha deu início a


descontinuidade no estudo de idiomas uma série de mudanças que começaram com
dificulta a atingir a mesma proficiência dos a criação de um Grupo de Trabalho (GT) para
oficiais. Além de terem a referida disciplina a elaboração de um plano de capacitação
em seus cursos de carreira, atualmente para militares da MB em línguas estrangei-
todos os marinheiros, antes de cursarem a ras (inglês, espanhol e francês), visando a um
especialização para a qual são designados, melhor desempenho em suas funções no ex-
realizam um estudo de reforço de inglês, na terior.
modalidade a distância, durante um período Fruto do trabalho desse GT, em 2016, a
de três meses. Diretoria-Geral do Pessoal da Marinha (DGPM)
Em relação à aplicação dos Testes de determinou que duas ações fossem realizadas
pela DEnsM. A primeira era
a alteração das normas do
TSI para oficiais, praças e
servidores civis quanto ao
rigor e a objetividade. A
segunda era a verificação
da viabilidade da criação
de um curso de capacitação
em idiomas para militares
designados para comissão
permanente no exterior
(CPE).
Para atender a essas so-
licitações, foi criado o projeto
“Segundo Idioma a Bordo”,
que depende da iniciativa de
Suficiência de Idiomas (TSI), todos eram cada Organização Militar (OM) para ser execu-
aplicados presencialmente na Diretoria tado. Além disso, foram estabelecidas parce-
de Ensino da Marinha (DEnsM). Em 2011, rias com instituições de ensino que oferecem
foram realizadas algumas experiências pelo cursos online. Ambos os projetos ficaram sob
então Departamento de Ensino a Distância responsabilidade da Diretoria de Assistência
e Tecnologias Educacionais, no sentido de Social da Marinha (DASM) / Abrigo do Mari-
aplicar os testes para o pessoal de fora de nheiro.
sede na modalidade a distância. O resultado Quanto às alterações no TSI, diversas li-
positivo gerou grande economia de recursos nhas de ação foram implementadas, como a
para a Marinha. alteração da expressão “certificado de TSI”
No ano de 2015, um estudo solicitado para “exame de proficiência”, uma vez que

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90 anos

os exames passaram a ser mais abrangentes Exército solicitou a cessão de instrutores para
e elaborados pelo próprio pessoal especiali- compor seu quadro docente em algumas
zado da DEnsM; e o incentivo para a realiza- ocasiões.
ção de exames de proficiência por militares Em maio de 2017, o Gabinete do
e servidores civis em institutos credenciados Comandante da Marinha solicitou a criação
extra-MB. de um banco de dados com resultados de TSI
Para a preparação dos militares obtidos ao longo da carreira dos oficiais em
designados para CPE, a proposta foi capacitar diversos idiomas e em caráter voluntariado,
os futuros instrutores buscando a expertise visando acompanhar a proficiência dos
técnica junto a alguma organização já concorrentes às CPE. Essa demanda trouxe
consagrada. Assim, foi estabelecido um à tona a necessidade de aprimorar os
convênio com o Departamento de Ensino e estudos sobre: a ampliação da capacidade
Cultura do Exército, por meio do Centro de de aplicação de TSI; o aprimoramento do
Idiomas do Exército (CIdEx), para o estágio banco de dados para registro da proficiência
intensivo de oficiais da DEnsM, especializados em línguas; nova alteração das normas em
no ensino de línguas. Em contrapartida, o vigor; e a relevância da criação do Centro de

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Idiomas. Em outubro de 2018, foi decidido, então,


Visando atender a essa demanda, em criar o Centro de Idiomas da Marinha, na
julho do mesmo ano, o Diretor de Ensino própria DEnsM, estruturado no Centro de
retomou os estudos sobre a criação de um Ensino Virtual e de Idiomas. Fruto dessa
Centro de Idiomas da Marinha. Foi sugerida, decisão, houve a ampliação da capacidade
então, a formação de 2 subsistemas: um que de aplicação e agendamento de TSI, tanto
responderia pela certificação de proficiência na modalidade presencial quanto por
linguística; e outro pelo ensino intensivo de videoconferência; a ampliação de idiomas
idiomas. O projeto-piloto previa que, para atendidos, sendo que, atualmente, o Centro
oficiais, os cursos aconteceriam na Escola atende às demandas de língua inglesa,
Naval; e para as praças, ocorreriam na Casa francesa e espanhola; a ampliação do banco
do Marinheiro. Foi sugerido, ainda, um de dados; e a criação de um novo sistema de
estudo para alteração de alguns requisitos controle da realização dos testes e de seus
de carreira, condicionando toda indicação respectivos resultados.
de militares e civis para CPE à aprovação em Em 2019 e 2020, foram ofertadas tur-
TSI ou em exames homologados pela DEnsM. mas-piloto dos cursos de imersão em inglês,
Este Centro tornaria a MB independente do francês e espanhol. Para isso, foram cons-
convênio com o CIdEx. truídas duas salas de imersão, sendo uma
No entanto, a sugestão para o local das de conversação e outra com recursos de
aulas não foi aceita. A DGPM almejava um multimídia. 2021 está sendo o ano de con-
projeto-piloto que contasse com instalação cretização do projeto-piloto, com a elabo-
única para oficiais e praças e em região central ração de toda a documentação atinente ao
da cidade do Rio de Janeiro, a fim de facilitar programa, que tem obtido bons resultados.
o acesso dos alunos. Ao longo desses dois anos experimentais, foi
Em novembro de 2017, foi apresentada possível melhorar o processo de personali-
a proposta para que as aulas fossem zação do cronograma e sumário das aulas,
ministradas no Centro de Instrução Almirante que é o diferencial do curso ofertado pela
Wandenkolk (CIAW), tanto para oficiais MB. Foi observada a importância de dividir
quanto para praças. No que se refere à os assuntos do curso em dois grandes con-
certificação, foi apresentada a viabilidade de textos: social e trabalho. Dentro do aspecto
execução de TSI por videoconferência com social, o curso tem por objetivo apresentar
vistas a ampliar a capacidade de aplicação e aos alunos contextos reais do uso do idioma
reduzir custos. em situações cotidianas cruciais para uma

Você sabia que, em 2019, primeiro ano após a criação


do Centro de Idiomas da Marinha, a quantidade de testes de
certificação aplicados aumentou cerca de 110% ?

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vida no exterior, sem falhas no processo co- suas famílias em diversas atividades nessa
municativo. No aspecto do trabalho, é ofere- nova perspectiva da vida no exterior.
cida aos alunos a oportunidade de vivencia- Ao longo desses três anos de existência,
rem simulações autênticas da necessidade verifica-se que o Curso de Imersão em Idiomas
do uso da língua em contextos de reuniões, tem sido motivo de grande reconhecimento e
negociações, debates e apresentações. Mui- um orgulho para a DEnsM que conseguiu so-
tas dessas simulações advêm de experiên- brepor as dificuldades apresentadas ao longo
cias trazidas por militares da MB em comis- do processo de implantação dessa nova siste-
sões no exterior ao longo desses dois anos mática. Ao entregar à MB militares qualifica-
de projeto-piloto. Além disso, é constante dos e aptos para representarem o bom nome
nas aulas a presença de militares nativos do da Instituição no exterior, é possível verificar
idioma-alvo, bem como são realizadas visi- os frutos de um trabalho realizado com com-
tas externas a espaços culturais do Rio de prometimento e dedicação. O valor agregado
Janeiro, em que toda conversação ocorre na deste resultado é o combustível que motiva a
língua estudada, visando, entre outras ques- equipe a buscar o aprimoramento contínuo,
tões, a estimular que a autoconfiança permi- tanto nos esforços de capacitação quanto na
ta que os militares e servidores civis insiram aplicação de testes de certificação.

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