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RESPEITAR
ou
TRATADO SOBRE A HONRA
A ARTE DE SE FAZER
RESPEITAR
Exposta em 14 máximas
OU
TRATADO SOBRE A HONRA
Arthur Schopenhauer
Organização e ensaio
FRANCO VOLPI
Tradução
(Texto de F. Volpi)
KARINA JANNINI
(Texto de Schopenhauer)
MARIA LÚCIA MELLO OLIVEIRA CACCIOLA
Martins Fontes
São Paulo 2004
Título do original alemão:
SKITZE EÍNER ABHANDLUNG ÚBER DIE EHRE.
Título do original italiano do qual saíram as notas e o ensaio incluídos nesta edição:
L'ART Dl FARSl RISPETTARE ESPOSTA IN 14 MASSIME.
Copyright © 1988 Adeiphi Edizioni S.PA. Milão para a edição,
notas e ensaio de F. Volpi.
Copyright © 2003, Livraria Martins Fontes Editora Lida.,
São Paulo, para a presente edição.
l» edição
março de 2003
2* edição
setembro de 2004
Tradução
KARINA JANNINI
MARIA LÚCIA MELLO OLIVEIRA CACCIOLA
Acompanhamento editorial
Luzia Aparecida dos Santos
Revisões gráficas
Adriana Cristina Bairrada
Ana Maria de O. M. Barbosa
Dinaríe Zorzanelli da Silva
Produção gráfica
Geraldo Alves
Paginação/Fotolitos
Studio 3 Desenvolvimento Editorial
04-5979 CDD-193
índices para catálogo sistemático:
1. Schopenhauer : Filosofia alemã 193
Prefácio 3
Adendo 53
Introdução
de Franco Volpi
l. Um terceiro libreto áureo de Schopenhauer
IX
. Arthur Schopenhauer.
XI
. Arthur Schopenhauer.
XII
. A arte de se fazer respeitar -
3. O tema
4. Cf. Artbur Schopenhauer. Von ihm. Úberihn. Ein Wort der Verthei-
digung von Ernst Otto Lindner und Memorabilien, Briefe und Nachlass-
stúcke von Julius Frauenstàdt, A. W. Hayn, Berlim, 1863, p. 412.
5. Cf. Parerga eparalipomena, tomo I.
XIII
. Arthur Schopenhauer _
XIV
. A arte de se fazer respeitar-
xv
. Artbur Schopenhauer _
XVI
_ A arte de se fazer respeitar -
XVII
. Arthur Schopenhauer-
XVIII
_ A arte de se fazer respeitar.
XIX
. Arthur Schopenbauer _
xx
- A arte de se fazer respeitar^
4. A presente edição
XXI
- Arthur Schopenhauer _
XXII
A ARTE DE SE FAZER RESPEITAR
ou
TRATADO SOBRE A HONRA1
1. [O texto com o título Skitze einer Abhandlung úber die Ehre ("Es-
boço de um tratado sobre a honra") está contido em Adversaria, § 69
(1828), cf. A. Schopenhauer, Der handschriftliche NachlaJS, organizado
por A. Hubscher, 5 volumes em 6 tomos, Kramer, Frankfurt am Main,
1966-1975; reimpressão anastática, Deutscher Taschenbuch Verlag, Mun-
chen, 1985, vol. III, pp. 472-96.]
Prefácio2
seu curso natural: entre estas, o golpe mortal é muito raro, cem vezes mais
raro do que na milésima parte da sociedade que presta homenagem àquele
princípio. No entanto, em questões de menor importância, um dos dois
indivíduos impávidos cede, ou seja, o mais inteligente, visto que somente
os loucos colocam em jogo a própria vida por uma futilidade. Já quem o
faz pelo excessivo temor de não ser temido deveria saber que quem teme
não pode eo ipso ser temido. Os antigos não conheciam a farsa, uma vez
que em todas as obras teatrais permaneciam fiéis à visão verdadeira e natu-
ral das coisas e não sabiam fazer caricaturas. Mas, considerando-se o fato
de que nas questões importantes, no Estado e na situação de direito, o ato
de fazer justiça com as próprias mãos foi completamente eliminado e deve-
se temer apenas aquele que sabe armar-se da lei, a máxima de fazer-se
temível permanece limitada às futilidades, em que ela, como já dito, cons-
titui uma loucura.> [A. Schopenhauer, Der handschriftliche Nacblafê, cit,
vol. III, pp. 649-50.1
4. {Seguia a passagem, depois cancelada^ (Pretendemos tentar agora
uma experiência semelhante no caso do sentimento da honra, a que nin-
guém pode ser totalmente alheio.)
5. (Todos os escritos sobre a honra são jurídicos ou declamações para
estudantes.)
- Arthur Schopenbauer -
MÁXIMA 2
MÁXIMA 3
10
A arte de se fazer respetíar-
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_ Arthur Schopenhauer _
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_ A arte de se fazer respeitar-
ter sido escondida: chegará o dia em que será revelada, saindo do olvi-
do para o qual havia sido banida pela inveja dos contemporâneos. Aquele
que pensa nos homens da sua geração não viverá para os pósteros. Seguir-
se-ão milhares e milhares de anos, milhares e milhares de homens: é para
estes que se deve olhar. Ainda que a inveja imponha a todos os teus con-
temporâneos o silêncio sobre ti, virão os pósteros para julgar-te com o
espírito sereno, sem aversão nem simpatia. Se da fama provém algum pré-
mio para a virtude, nem mesmo este estará perdido. Não nos tocará — é ver-
dade — aquilo que os pósteros dirão de nós; todavia, não cessarão de hon-
rar-nos, mesmo que não possamos ouvi-los. A cada um de nós, a virtude
dará sua recompensa, seja em vida, seja depois da morte, contanto que a
sigamos com sinceridade, sem nos servirmos dela como ornamento exte-
rior, mas permanecendo sempre os mesmos, quer porque sabemos que so-
mos observados, quer sendo surpreendidos. A simulação não nos favorece.
Um rosto embelezado só faz efeito para poucos. A verdade é sempre a mes-
ma em todas as partes. As falsas aparências não possuem nenhuma consis-
tência: através do véu sutil da mentira, aos olhos de um observador atento,
transparece a verdade."> [Sêneca, Cartas a Lucílio, IX, 79, 13.1
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. Arthur Schopenhauer-
MÁXIMA 4"
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- A arte de se fazer respeitar-
MÁXIMA 5
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Arthur Schopenhauer _
MÁXIMA 6
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_ A arte de se fazer respeitar-
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. Arthur Schopenhauer _
MÁXIMA 7
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_ A arte de se fazer respeitar ^
MÁXIMA 8
17. ("A honra (da mulher) é como uma ilha escarpada e sem orla: /
estando fora, não se pode mais entrar nela" (trad. M. L. Cacciola). Scho-
penhauer cita conforme a edição que possuía: Oeuvres diverses du Sieur
D'", 2 vol., Denys Thierry, Paris, 1694.]
19
. Artbur Schopenhauer _
a) A honra privada
18. Cf. Pandectae, p. 289 a, sobre o ato de insultar: <O ato de insul-
tar é uma calúnia sumária, sem razões, e isso pode ser bem expresso em
grego: ecm f| XoiSopícx ôiocpoAii OÚVTOJIOÇ [o insulto é uma calúnia abreviada]>.
20
_ A arte de se fazer respeitar -
b) A honra pública
19. No seu texto sobre a injúria, Weber entende por honra pública o
respeito exigido pelo próprio cargo de juiz etc. [cf. Adolph Dietrich Weber,
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.Arthur Schopenhauer -
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_ A arte de se fazer respeitar-
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- Arthur Schopenhauer _
c) A honra sexual
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_ A arte de se fazer respeitar -
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. Arthur Schopenhauer _
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- A arte de se fazer respeitar-
27
- Arthur Schopenhauer _
d) A honra nacional
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_ A arte de se fazer respeitar-
e) A honra da humanidade
24. Cf. Pandectae, p. 183 [trata-se de uma página inédita, não inse-
rida na edição de Hubscher: nela Schopenhauer propõe uma breve
reformulação dos princípios fundamentais da honra, com a distinção re-
lativa entre a honra privada e a cavalheiresca].
25. É falso.
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CAPITULO II
26. Difficile est satiram non scribere ["É difícil não escrever sátiras!"
Juvenal, Sátiras, I, l, v. 30].
Por último, e separadamente de todas as outras, deve
ainda ser considerada uma espécie bem particular de hon-
ra, que tem seus próprios princípios e se diferencia to-
talmente das que consideramos até agora. Compreenden-
do várias espécies, que chegam a se contradizer em parte,
é chamada de pseudo-bonra. Com efeito, não vemos seus
princípios se produzirem, como os das anteriores, a partir
de um entendimento corre to, que tem em mira a neces-
sidade e o apreço de uma confiança geral, mas sim de
uma manifesta falta de entendimento. Em última análise, a
fundamentação de todas as suas máximas não é, como an-
teriormente, a razão, mas a animalidade ou a brutalidade27.
33
. Arthur Schopenhauer.
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. A arte de se fazer respeitar -
MÁXIMA l - CONTRA l
MÁXIMA 2 - CONTRA 6
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. A arte de se fazer respeitar-
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- Arthur Schopenhauer _
MÁXIMA 3 - CONTRA 7
cante. Penso então que tal fato pode depender da mão humana. Todavia,
na batalha, vejo meu cavaleiro receber dessa mão golpes de estoque e de
sabre e assegurar que se trata de uma ninharia que não vale a pena levar
em consideração. Depois aprendo que até mesmo um golpe com a lâmi-
na da espada é muito menos grave do que com um bastão. A essa altu-
ra, minhas razões morais e psicológicas chegam ao fim, e não me resta
nada mais a não ser considerar a questão como uma velha superstição,
extremamente obtusa e firmemente enraizada, semelhante àquela que
define como desgraças o número de treze pessoas à mesa, a sexta-feira,
o gato preto que atravessa a rua e assim por diante. Tanto mais que,
como vejo, na China os golpes desferidos com uma vara de bambu são
uma punição civil muito frequente. A natureza humana, mesmo a mais
civilizada, não se expressa sempre de modo uniforme. Mas aquela supers-
tição poderia ter sua origem em mentes tão inferiores que a verdadeira
honra obteria muitas vantagens se as seguisse. Além disso, os males ver-
dadeiros são tantos que seria necessário evitar acrescentar a eles males
imaginários.
31. Suas leis e seu modus procedendi são tão desconhecidos que não
é necessário mencioná-los aqui. Sendo assim, prossigo. [Seguia a passa-
gem, depois cancelada] Essa excelente invenção, desconhecida de todos
os povos orientais, chineses, hindus e turcos, também era ignorada pe-
los gregos e romanos, uma vez que estes obrigavam os escravos e os con-
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_ A arte de se fazer respeitar-
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. Arthur Schopenhauer _
MÁXIMA 4
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MÁXIMA 5
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. Arthur Schopenhauer -
MÁXIMA 6
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- A arte de se fazer respeitar^
36. Uma vez que existem pessoas que entendem tudo errado, devo
acrescentar - o que pode ser supérfluo para outros - que aqui e em
tudo o que foi dito trata-se sempre e apenas da honra cavalheiresca in
abstracto, e não das pessoas que a respeitam; sendo assim, alguém
que por preconceito observa a honra cavalheiresca pode, ao mesmo
tempo, ater-se rigorosamente à sua honra privada e, com base nela, orien-
tar-se a respeito do ponto em questão, o que, felizmente, ocorre com
frequência.
37. Sua tendência fundamental é a seguinte: com a ameaça da violên-
cia física, quer-se obter à força a declaração exterior daquele respeito, cuja
aquisição é considerada muito difícil ou supérflua; o que é exatamente
como se alguém, ao esquentar o bulbo do termómetro, quisesse demons-
trar, com base na subida do mercúrio, que seu quarto está bem aquecido.
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_ Arthur Schopenhauer _
38. Já se viu mais de uma vez que pessoas às quais não foi possível res-
tabelecer com o duelo a honra cavalheiresca ferida devido à linhagem mui-
to elevada do adversário, ou muito humilde, ou qualquer que fosse, puse-
ram voluntariamente um fim à própria vida, uma vez que não sabiam como
continuar sua existência sem a honra cavalheiresca. São as tristes vítimas de
um preconceito assimilado precocemente por falta de capacidade própria
de julgar. Entretanto, do mesmo modo como nos dias de hoje a polícia e a
justiça quase conseguiram fazer com que um patife qualquer não nos pos-
sa mais intimidar na aia com a ameaça "A bolsa ou a vida!", não seria aus-
picioso se, corrigindo a mentalidade, fosse possível impedir que um ve-
lhaco qualquer importunasse nossa tranquila e pacífica existência com a
intimidação "A honra ou a vida!"? Mas prossigamos com nossas conside-
rações. Todos aqueles cavalheirescos ortodoxos...
- A arte de se fazer respeitar.
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_ A arte de se fazer respeitar-
45. [Cf. Denis Diderot, Jacques lefataliste et son maítre, in Oeuvres, or-
ganizado por André Billy, La Plêiade, Gallimard, Paris, 1951, pp. 685-90.]
46. ["O edler Geist der alten Ritterzeit!" É assim que Schopenhauer
traduz o verso de Ludovico Ariosto: "Oh gran bontà de' cavalieri antichi!"
(Orlando furioso, I, v. 22).]
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. Arthur Schopenhauer _
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Adendo
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- A arte de x fazer respeitar•_
o lugar da filosofia. Ou então: céu e terra, por acaso escondeis nos vos-
sos antros e nas vossas anfractuosidades uma criatura mais abjeta do que
um filósofo servil e hipócrita? Certamente não. {Acréscimo posterior:) Me-
lhor como segue: perguntai ao Sol se no seu curso ele ilumina algo mais
ignóbil do que um filósofo obscurantista e servil!) Devem-se incluir entre
os obscurantistas todos os jesuítas e, na verdade, os padres de toda es-
pécie. Há setenta anos eles são perseguidos sem piedade, e seu poder
diminuiu pouco a pouco, embora, como todos os vencidos e como aque-
les que batem em retirada, ainda tenham por alguns momentos um su-
cesso parcial. O que sobrou das suas tropas escolhidas concentrou-se na
Espanha, denomina-se apostólico e defende-se desesperadamente> [A.
Schopenhauer, Der handschriftliche Nachlajs, cit., vol. III, pp. 426-7.]
49. [Os acréscimos aqui inseridos tornaram supérflua a seguinte pas-
sagem, originariamente conclusiva, que, porém, não foi cancelada] nes-
se caso, dir-se-á então: "Good morrow, masters; put your torches out: /
The wolves have prey'd; and look, the gentle day, / Before the wheels
of Phoebus, round about / Dapples the drowsy east with spots of grey.
/ Thanks to you ali, and leave us; fare you well."
["Bom dia, senhores; podeis apagar vossas tochas, / os lobos já ter-
minaram de caçar; e olhai a suave aurora / já diante das rodas de Febo
/ manchando o sonolento oriente com clarões acinzentados. / Obrigado a
todos, e agora deixai-nos; adeus" (trad. M. L. Cacciola), W. Shakespeare,
Muito barulho por nada, V, 3, versos 24-8.]
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. Arthur Scbopenhauer -
50. ["Pode-se por muito tempo, na nossa espécie, / fechar a porta para a
razão. / Mas tão logo ela entra em casa com destreza, / não sai mais, / e logo
torna-se sua dona", Voltaire, carta a Saurin, 10 de novembro de 1770.]
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