‘Cantando na Chuva’ é a mais gostosa aula de como fazer um musical
Obra de 1952 se tornou a mais famosa do gênero da história do cinema e suas imagens são as mais reproduzidas até hoje Don Lockwood (Gene Kelly) e Lina Lamont (Jean Hagen) são dois dos astros mais famosos da época do cinema mudo em Hollywood. Seus filmes eram um verdadeiro sucesso de público e as revistas, inclusive, apostavam em um relacionamento mais íntimo entre os dois, o que não existia na realidade. Mas uma novidade no mundo do cinema chega para mudar totalmente a situação de ambos no mundo da fama: o cinema falado, que logo se torna a nova moda entre os espectadores. Quando os produtores e diretores da época decidem produzir um filme falado com o casal mais famoso do momento, Don e Lina precisaram superar as dificuldades do novo método para conseguir manter a fama conquistada. Lina é a atriz principal, mas sua voz horrível certamente não agradaria o público. Assim, a cantora Kathy Selden (Debbie Reynolds) é contratada para dublar a estrela principal. O início do filme mostra a estreia em 1927, do filme “O Patife Real”, onde uma multidão entusiasmada aplaude a chegada dos astros. E assim começam as referências que “Cantando na Chuva” esconde e revela.
“Cantando na Chuva” é um filme nostálgico que apresenta o final da década de 1920
como um símbolo de muita prosperidade contando uma história sobre os bastidores da indústria do cinema em meio ao rebuliço com o advento dos efeitos sonoros. O filme está repleto de homenagens e muitos incidentes em cena, que são contados na tela e que realmente aconteceram. Com o advento do som nos filmes, muitas estrelas do cinema mudo foram dubladas porque suas vozes eram inadequadas ao cinema falado. Havia diálogos que iam e vinham durante os filmes porque os atores moviam as cabeças e nem sempre falavam direcionados para os microfones. As vozes não eram sincronizadas e muitas vezes um ator falava com a voz da sua parceira e vice-versa. Então, imaginem uma cena dramática muitas vezes virava motivo de piada e o público caia na gargalhada. Foi assim com o filme “Riff-Raff”, protagonizado por Spencer Tracy e Jean Harlow. O público caiu na gargalhada e o filme que deveria ser um drama virou uma comédia hilariante. O filme começou a ser rodado em julho de 1951 e as filmagens foram concluídas em 21 de novembro e em 26 de dezembro “Cantando na Chuva” estava pronto. Custou US$ 2,5 milhões e foi um sucesso de bilheteria desde a sua estreia nos Estados Unidos (Nova Iorque), que se deu em 27 de março de 1952. E no Brasil a sua estreia foi em 30 de junho de 1952. E arrecadou nas bilheterias de cinema no mundo ocidental cerca de US$ 7,7 milhões. Em Amparo o filme foi exibido pela primeira vez no ano de 1953, no Cine João Caetano. Este filme foi reapresentado inúmeras vezes no cinema e na década de 70 foi levado para a televisão. Nos anos 80 foi convertido em VHS e a partir do ano 2000 em DVDs e blurays, fazendo muito sucesso. “Cantando na Chuva” tem 55% de cenas constituídas por músicas e danças. Cdy Charisse exibe toda a sua beleza e sensualidade no espetacular número de fantasia de “Broadway Rhythm Ballet”, que em cena aparece um jovem (Gene Kelly) recém chegado a Nova Iorque com uma vontade de atuar e ele canta: “Quero dançar!”. Logo acaba seduzido pelas longas e belas pernas de uma sereia da Broadway (Cdy Charisse) e juntos dançam um longo e sensacional balé num dos momentos memoráveis do filme. Cdy Charisse por ocasião da comemoração dos 50 anos do filme se recordou de boas histórias de sua aparição em “Cantando na Chuva”. Ela nunca havia fumado e Stanley Donen parou as filmagens das cenas de dança para ensiná-la no estilo Vamp. Graças a Deus ela nunca mais voltou a tocar em um cigarro. Ela comentou que ficou com o corpo todo cheio de hematomas por causa da maneira como Gene Kelly dançou exigindo um grande esforço físico nas cenas em que dançaram juntos e quando retornou para casa à noite o seu marido riu muito. Ela estava esbaforida de tanto cansaço que foi dormir sem tomar banho. Mas tem um particular que eu não sabia. Por que Cdy Charisse e não Debbie Reynolds nas cenas? Porque Debbie não sabia dançar e também naquele momento ela não cantava bem e, por ironia do destino, foi dublada nas canções por Betty Noyes. Tem tudo haver com o filme. Na cerimônia do Oscar em 23 de março de 2007, aquela em que “Titanic” obteve 11 estatuetas, o diretor de “Cantando na Chuva” Stanley Donen foi homenageado e demonstrando a sua boa forma ao celebrar o seu Oscar de honra pelo conjunto da obra, cantou e dançou com o prêmio na mão, diante do olhar atônito de Martin Scorsese. “Cantando na Chuva” é um filme que não envelhece e com o passar dos anos fica cada vez melhor. E se tornou o musical mais famoso da história do cinema e suas imagens são as mais reproduzidas até hoje. Foi muito imitado; homenageado e mencionado em centenas de produções posteriores. “Cantando na Chuva” é a mais gostosa aula de como fazer um musical. É sensacional! Ficha Técnica Filme: “Cantando na Chuva” Direção: Stanley Donen e Gene Kelly Produção: Metro-Goldw-Mayer (MGM) Ano: 1952 Elenco: Gene Kelly, Debbie Reynolds, Donald O´Connor, Don Lockwood, Katty Selden, Jean Hagen e Lina Lammont. Participação especial de Cyd Charisse Roteiro: Betty Comdem e Adolph Green Música: Nacio Herb Brown e Al Goodhart Direção musical: Lennie Hayton e Johnny Green Coreografia: Gene Kelly Fotografia: Harold Rosson Edição: Adrienne Fazan Direção de arte: Cedric Gibbons e Randall Duell Figurinos: Walter Plunkett