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Macapá - Amapá
2010
1
Luís Inácio Lula da Silva
Presidente da República
ISBN
CDU: 000.0
É permitida a livre transcrição de qualquer parte da obra, desde que citada a fonte, título e
ano (Lei 9.610, de 14/12/1998) - Respeite os Direitos Autorais.
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Programa Primeiros Projetos
Macapá - Amapá
2010
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Programa Primeiros Projetos
SUMÁRIO
PREFÁCIO
CAPITULO 1
ABELHAS SEM FERRÃO: ESTRATÉGIA POTENCIAL DE DESENVOLVIMENTO
SOCIAL NO AMAPÁ .................................................................................................................. 9
CAPITULO 2
APLICAÇÃO DO MODELO DE QUALIDADE DA ÁGUA QUAL2E PARA ANÁLISE
DE CENÁRIOS AMBIENTAIS E AUTODEPURAÇÃO NO MÉDIO RIO ARAGUARI -
AP .................................................................................................................................................. 29
CAPITULO 3
INTEGRAÇÃO DE MÉTODOS GEOFÍSICOS NA CARACTERIZAÇÃO
GEOAMBIENTAL DA ÁREA DE DISPOSIÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS
DA CIDADE DE MACAPÁ-AP .................................................................................................. 65
CAPITULO 4
A DETECÇÃO DE PRODUTOS NATURAIS BIOLOGICAMENTE ATIVOS NO
ESTADO DO AMAPÁ ................................................................................................................ 95
CAPITULO 5
INTERAÇÃO VERBAL E AFETIVIDADE ENTRE TRÍADES DE ALUNOS NA
SOLUÇÃO DE PROBLEMAS MATEMÁTICOS .................................................................... 119
CAPITULO 6
COMUNIDADE DE INSETOS EM SISTEMA AGROFLORESTAL DE VÁRZEA EM
MAZAGÃO, AP ............................................................................................................................ 139
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Programa Primeiros Projetos
PREFÁCIO
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Programa Primeiros Projetos
CAPÍTULO 1
1 INTRODUÇÃO
O bioma Amazônia, foco de atenção por sua importância, ocupa cerca de 4.871.000 km2
apenas no Brasil. As enormes dimensões deste bioma estão associadas tanto à riqueza de espécies
e diversidade de habitats quanto às lacunas de conhecimento sobre suas fauna, flora, processos
ecológicos e interferências antrópicas. No Amapá a preocupação com a proteção destas áreas tem
proporcionado o estabelecimento de diversas Unidades de Conservação que, em conjunto, ocupam
mais de 50% da área total do Estado. Unidades de conservação buscam, primordialmente, a
manutenção da biodiversidade, o que torna indispensável a presença das abelhas, em especial dos
meliponíneos, por serem os principais visitantes e polinizadores em ecossistemas tropicais (KERR
et al., 2001; ROUBIK, 1989; WILLE; MICHENER, 1973; WILMS; IMPERATRIZ-FONSECA;
ENGELS, 1996), como é o caso no Amapá. Apesar da importância desta abordagem, o outro lado
deste cenário é a imposição ao Estado do Amapá da necessidade de conciliar a presença de Unidades
de Conservação, ou seja, restrições ao uso da biodiversidade, com a necessidade de estratégias
alternativas de desenvolvimento social.
Importantes elementos na manutenção da biodiversidade (KEVAN; IMPERATRIZ-
FONSECA, 2002; ROUBIK, 1989) e utilizáveis em estratégias de desenvolvimento social
(CÁMARA et al., 2004; SILVA; VENTURIERI; SILVA, 2004; VENTURIERI, 2006;
VENTURIERI; RAIOL; PEREIRA, 2003), as abelhas se caracterizam como peças-chave para o
1. Trabalho realizado com apoio do Programa Primeiros Projetos (SETEC/CNPq) sob o título “Identificação de Espécies de
Abelhas Indígenas sem Ferrão com Potencial de Uso como Estratégia de Desenvolvimento Social por Comunidades do Entorno
de Macapá”.
2. Coordenador do Núcleo de Estudos Científicos e Tecnológicos sobre Abelhas Regionais (NECTAR). Endereço: Universidade
Federal do Amapá, Rodovia Juscelino Kubitschek de Oliveira Km 02, Bloco I, sala do NECTAR, Bairro Universidade, Macapá-
AP, 68.902-280. E-mail: arley@unifap.br
3. Mestrando em Desenvolvimento Regional pela UNIFAP.
4. Bacharelando em Biologia pela UNIFAP. Membro do NECTAR. Bolsista de Iniciação Científica PROBIC-UNIFAP (09/05 a
12/05) e SETEC/CNPq (em vigência).
5. Bacharel em Biologia pela UNIFAP. Membro do NECTAR. Bolsista de Iniciação Científica PROBIC-UNIFAP (09/05 a 12/
05).
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dilema de conciliação posto ao estado. Dentro deste contexto, o Núcleo de Estudos Científicos e
Tecnológicos sobre Abelhas Regionais (NECTAR) da Universidade Federal do Amapá (UNIFAP)
foi criado em 2002 com o intuito de identificar as abelhas que ocorrem no Amapá, conhecer a
ecologia comportamental destas espécies, além de adequar e difundir estratégias de manejo que
permitam a utilização das abelhas sem ferrão na preservação das Unidades de Conservação e em
estratégias de desenvolvimento social das comunidades da região. O presente trabalho apresenta
os resultados iniciais obtidos pelo NECTAR, bem como uma meta-análise a partir da literatura
científica existente sobre o potencial de utilização das abelhas sem ferrão do Amapá em estratégias
de desenvolvimento social.
Abelhas são insetos da ordem Hymenoptera como vespas e formigas, mas pertencem
especificamente à superfamília Apoidea que, em geral, utiliza pólen e néctar para alimentar os
adultos e as crias (MICHENER, 1974; SILVEIRA; MELO; ALMEIDA, 2002). As abelhas
apresentam alta diversidade na região tropical (CAMARGO, 1989; ROUBIK, 1989) sendo as
principais responsáveis pela polinização de diversas plantas nativas e cultivares (ROUBIK, 1989;
WILLE; MICHENER, 1973; WILMS; IMPERATRIZ-FONSECA; ENGELS, 1996). Apis é o
gênero de abelha mais conhecido entre a população mundial, sendo utilizado na produção comercial
de mel. No Brasil esta abelha é conhecida como italiana, europa, européia, africana ou africanizada.
Contudo, antes da introdução do gênero Apis que ocorreu no início do século XIX, os meliponíneos
eram as únicas abelhas produtoras de mel no Brasil (KERR et al., 2001).
Os meliponíneos, também conhecidos como abelhas indígenas sem ferrão, pertencem à
subtribo Meliponina que possui dezenas de gêneros divididos em centenas de espécies, com ampla
distribuição tropical (NOGUEIRA-NETO, 1997; SILVEIRA; MELO; ALMEIDA, 2002). A
denominação deste grupo deriva não da real ausência do ferrão, mas do fato de que este é atrofiado
de modo que são impossibilitadas de ferroar (MICHENER, 1974; ROUBIK, 1989). Estas abelhas
vivem em sociedades cujas populações podem variar entre centenas e milhares de indivíduos e
que, em sua maioria, nidificam em cavidades pré-existentes como ocos de árvores e ninhos
abandonados de outros insetos (MICHENER, 1974; SILVEIRA; MELO; ALMEIDA, 2002;
WILLE; MICHENER, 1973). Jataí, uruçú, mirim são nomes popularmente empregados para
identificar algumas espécies de meliponíneos (NOGUEIRA-NETO, 1997).
Abelhas são consideradas recursos naturais com importante papel na manutenção da
biodiversidade dos ecossistemas, pois a função polinizadora que exercem sobre cultivares e flora
nativa possui interferência direta sobre a produção de sementes e a qualidade e quantidade dos
frutos, bem como sobre o fluxo gênico de diversas plantas (ROUBIK, 1989; WILLE; MICHENER,
1973; WILMS; IMPERATRIZ-FONSECA; ENGELS, 1996). Assim, a compreensão da inter-
relação entre flores e abelhas é importante para estabelecer medidas de conservação do ambiente
(SCHLINDWEIN, 2000) e, portanto, imprescindível em uma região onde grandes áreas territoriais
estão em Unidades de Conservação como no Amapá. Contudo, apesar da importância das abelhas
neotropicais na manutenção da biodiversidade do ecossistema, suas inter-relações com as flores
ainda são amplamente desconhecidas (SCHLINDWEIN, 2000).
Além do papel direto que possuem na manutenção dos biomas, as abelhas afetam de forma
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Programa Primeiros Projetos
indireta uma série de outros organismos, incluindo o próprio homem. A relevância ecológica das
abelhas pode ser evidenciada a partir de sua interação com o macaco Cacajao calvus, conhecido
popularmente como Uacari da cara vermelha. Este primata, considerado em risco de extinção,
habita a Reserva Ecológica de Mamirauá e é amplamente protegido, contudo, em fins da década
de 90 a população de Uacari estava diminuindo. Um estudo realizado por Kerr et al. (2001)
identificou que os frutos consumidos pelos Uacari eram provenientes das plantas visitadas pelos
meliponíneos. Além disso, constatou que os moradores da área de Mamirauá possuíam o hábito de
utilizar o mel de meliponíneos ao administrar um medicamento, e que destruíam as árvores onde
as abelhas nidificavam para obtê-lo, conseqüentemente eliminando a colônia. Portanto, as ações
dos seres humanos na área da reserva reduziram as colônias de meliponíneos, fizeram com que
houvesse menos atividade polinizadora e, conseqüentemente, menos frutos para que os Uacari se
alimentassem, de modo que a população dessa espécie de primata se mantivesse estável ou
declinasse (KERR, 2002; KERR et al., 2001). De modo sucinto estes estudos revelam a estreita
inter-relação entre os humanos, os Uacari e as abelhas sem ferrão em Mamirauá.
Estudos como o de Kerr et al. (2001) evidenciam que a supressão de uma população de
polinizadores efetivos e exclusivos, como algumas espécies de abelhas, interfere diretamente no
sucesso reprodutivo e na manutenção de espécies vegetais, conduzindo-as à extinção no médio
prazo (SCHLINDWEIN, 2000) e, conseqüentemente, de toda biota que lhe é associada. Esse
fato demonstra que a preservação de um conjunto de espécies, incluídas aquelas em risco de
extinção, pode estar diretamente ligada à manutenção das abelhas ou outros organismos que muitas
vezes são desconsiderados da análise de risco de extinção.
Contudo, os riscos aos quais as abelhas estão expostas parecem não ser considerados, uma
vez que este grupo, mesmo desaparecendo em diversos lugares, é pouco presente nas listas de
espécies ameaçadas (KERR, 2002). A preocupação com a preservação parece estar voltada aos
grandes animais, aos mais carismáticos ou àqueles em que há um grande número de cientistas
trabalhando. A relevância de outros organismos como os insetos, por exemplo, é subestimada.
Para se ter uma idéia da dimensão deste viés, apenas os himenópteras, grupo composto por abelhas,
vespas e formigas, possuem mais de 115.000 espécies descritas, o que significa que representam,
sozinhos, o dobro do número de todos os vertebrados. A ordem dos himenópteros é a mais diversa
funcionalmente, de modo que sua presença interfere na composição e diversidade de outros taxa.
Assim, os himenópteros são um componente vital dos ecossistemas, e considera-se que sua remoção
causaria um efeito cascata que resultaria em um rápido e irreversível declínio ambiental.
Apesar de sua importância ecológica e econômica, diversas espécies de abelhas têm sido
extintas ou estão em risco de extinção e pouca atenção tem sido dada ao fato (KERR, 2002;
MELO; MARTINS; GONÇALVES, 2006). Estudos recentes têm revelado uma redução de
abundância e riqueza das abelhas em áreas sob processo antrópico (KERR, 2002; MELO;
MARTINS; GONÇALVES, 2006) com as maiores taxas de destruição de espécies se concentrando
ao redor de vilas e cidades, bem como de rios e rodovias (KERR, 2002). Esses resultados são
ainda mais expressivos quando se considera que muitos dos ambientes naturalmente ocupados
pelas abelhas estão sendo degradados, ameaçados ou extintos (ROUBIK, 2006) e que o processo
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de antropização tem provocado a extinção das abelhas em diversas áreas da América do Sul,
principalmente após 1960 com a expansão da população humana (KERR; NASCIMENTO;
CARVALHO, 1996). Os efeitos desta extinção são sentidos na redução de abelhas de grande
porte, na modificação da riqueza de espécies de uma região e na diminuição de espécies que
nidificam em ocos de árvores (KERR, 2002). Alterações na riqueza das espécies podem ser
importantes, pois a redução de abelhas de grande porte pode interferir no processo de polinização,
uma vez que estas são polinizadoras potencialmente melhores que as pequenas (ROUBIK, 1989),
ou mesmo fazer desaparecer polinizadores específicos. O fato de existirem áreas de Floresta
Amazônica onde 42% das plantas produtoras de pólen são polinizadas por apenas uma única
espécie de abelha demonstra a importância de cada polinizador (ABSY et al., 1984) e a necessidade
de confrontar a antropização.
As áreas não antropizadas da Amazônia ainda possuem suas espécies de meliponíneos (KERR,
2002), contudo, mesmo com a criação de diversas Unidades de Conservação, o processo de
expansão populacional e da fronteira agrícola, bem como a abertura e a organização das estradas
vem gerando intensa pressão antrópica sobre áreas ainda preservadas no Amapá. Assim, o combate
ao processo de extinção de abelhas, com conseqüentes efeitos sobre a biodiversidade, pode ser
realizado através da manutenção destas abelhas nos locais onde ocorrem. Considerando que a
difusão do manejo correto de abelhas sem ferrão pode auxiliar na preservação desse grupo (KERR,
2002), um modo de incentivar essa ação é utilizar abelhas como estratégia de desenvolvimento
social gerando complemento de renda às populações tradicionais através, por exemplo, da produção
e comercialização do mel.
Abelhas, em especial Apis mellifera, são criadas para extração de mel podendo ser usadas no
desenvolvimento social de comunidades. Contudo, Apis tem dificuldade de adaptação e produção
nos trópicos úmidos e em florestas da Amazônia (NOGUEIRA-NETO, 1997; ROUBIK, 1989),
o que conseqüentemente permite que os meliponíneos sejam identificados como candidatos
potenciais para produção com fins comerciais. Os meliponíneos apresentam características que os
credenciam para o atendimento às necessidades sociais das famílias e das comunidades, entre as
quais pode ser destacado o fato do mel apresentar diversas características medicinais (DEMERA;
ANGERT, 2003; GRAJALES-CONESA et al., 2003; MOLAN, 1992) superiores ao de Apis
mellifera (CORTOPASSI-LAURINO; GELLI, 1991) e de possuir sabor apreciado podendo alcançar
valor de venda maior (NOGUEIRA-NETO, 1997; VENTURIERI et al., 2003). Além disso, são
abelhas dóceis, facilmente manejadas e requerem reduzido investimento para a criação podendo
gerar renda não apenas através de produtos como o mel, mas também através da multiplicação e
venda de colônias (CÁMARA et al., 2004; NOGUEIRA-NETO, 1997; VENTURIERI; RAIOL;
PEREIRA, 2003).
O manejo de abelhas sem ferrão é antigo, sendo utilizado por diversas comunidades
americanas como os Maias e os índios da Amazônia brasileira. Os Maias e os Kayapós, por exemplo,
manejavam os meliponíneos para obtenção de cera e mel mantendo colônias de diferentes espécies
próximas da casa para o manejo ou próximos de áreas de plantio para aumentar o sucesso do
cultivo (POSEY, 1982; ZOZAYA RUBIO; ESPINOSA MONTAÑO, 2001). A relação dos índios
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Programa Primeiros Projetos
brasileiros com os meliponíneos é tão próxima que grande parte dos nomes populares e científicos
destas abelhas é indígena, mais especificamente de origem Tupi (NOGUEIRA-NETO, 1970).
O conhecimento sobre a criação de meliponíneos, embora antigo, apenas recentemente tem
sido estudado e aplicado (NOGUEIRA-NETO, 1997; ROUBIK, 1989). Grande parte das pessoas
que trabalham com as abelhas indígenas sem ferrão ignora a possibilidade de renda oriunda desta
prática (SILVA; VENTURIERI; SILVA, 2004), entretanto, a meliponicultura vem se estabelecendo
rapidamente em diversos locais como México, Austrália e Brasil (HEARD; DOLLIN, 2000;
IMPERATRIZ-FONSECA; CONTRERA; KLEINERT, 2004; NOGUEIRA-NETO, 1997;
ROUBIK, 1989). Neste último, o estudo e implementação de técnicas de manejo de meliponíneos
vêm ocorrendo em diversos pontos. No nordeste brasileiro a meliponicultura está sendo utilizada
com sucesso para a manutenção da biodiversidade, bem como para a satisfação das necessidades
humanas de alimentação e renda (CÁMARA et al., 2004; IMPERATRIZ-FONSECA;
CONTRERA; KLEINERT, 2004).
Na Amazônia, embora as condições ecológicas sejam adequadas para a utilização de
meliponíneos em projetos de desenvolvimento social, ainda são incipientes as referências para a
criação de abelhas indígenas sem ferrão, sua produção e a comercialização (VENTURIERI; RAIOL;
PEREIRA, 2003). Alguns estudos desenvolvidos no Pará e Amazonas mostram que o manejo de
cinqüenta colônias efetivado paralelamente a outras atividades permite uma renda mensal acima
dos quatrocentos reais. No Amazonas têm sido utilizadas as espécies Melipona compressipes sp.,
seminigra sp., rufiventris sp., nebulosa e crinita (OLIVEIRA, 2001), enquanto no Pará Melipona
flavolineata e fasciculata e Tetragonisca angustula. Contudo, as espécies adequadas, bem como as técnicas
de manejo variam para cada micro-região (OLIVEIRA, 2001) o que faz com que em cada local
seja necessário identificar as abelhas que ocorrem e desenvolver o manejo adequado. O Amapá
ainda desconhece sua fauna apícola, bem como o potencial de uso das mesmas em estratégias de
desenvolvimento social.
Assim, considerando que o Amapá tem aumentado sua população nos últimos anos e vem
buscando estratégias de desenvolvimento tradicionais como a implementação do agronegócio e
que, portanto, o avanço da antropização se configura como um risco iminente para as abelhas da
região, este trabalho objetiva fazer uma análise preliminar do potencial de uso das abelhas indígenas
sem ferrão como estratégia de desenvolvimento social para as comunidades do Amapá. Com
vistas a este objetivo são apresentados os resultados iniciais obtidos pelo Núcleo de Estudos
Científicos e Tecnológicos sobre Abelhas Regionais (NECTAR) sobre a identificação das abelhas
do Amapá, seus locais de ocorrência, hábitos de nidificação, flora visitada, bem como definição
dos meliponíneos adequados para utilização como estratégias de desenvolvimento social.
2 METODOLOGIA
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Lagoa dos Índios e Curiaú. O método utilizado foi uma variação de Sakagami, Laroca e Moure
(1967). As abelhas foram coletadas durante o forrageio em espécies vegetais floridos com o auxílio
de redes entomológicas entre 08:00 e 18:00 horas. O par de coletores se deslocava pelos transectos
buscando árvores e arbustos floridos. Na vegetação em floração era feita uma varredura visual por
abelhas durante 3 minutos. Após uma abelha ser encontrada iniciava-se um procedimento de
coleta por 10 minutos. Quando não se encontrava uma abelha no período de varredura ou após
encerrados os 10 minutos de coleta, buscava-se outra planta e reiniciava-se o processo. Este
método de coleta é, com pequenas variações, o mais utilizado em levantamentos apifaunísticos
(SILVEIRA; MELO; ALMEIDA, 2002). Os espécimes coletados foram sacrificados em tubo
mortífero contendo acetato, acondicionados e transportados para o NECTAR onde foram montados.
As abelhas foram identificadas, com auxílio das chaves dispostas em Silveira, Melo e Almeida
(2002), até o nível de espécie no NECTAR. Posteriormente, a identificação das abelhas foi
confirmada por sistematas de Apoidea do Laboratório de Biologia Comparada de Himenópteras
da UFPR. Espécimes testemunhos foram devidamente organizados e depositados na coleção do
NECTAR/UNIFAP.
Flora visitada por abelhas: No momento da coleta de dados do levantamento das abelhas,
as espécies de plantas em que ocorreram as abelhas foram também coletadas. Utilizou-se também
a metodologia padrão com a retirada de uma amostra composta de um ou mais ramos floridos que
foram herborizados para posterior incorporação no Herbário Amapaense (HAMAB) do Instituto
de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá (IEPA). A identificação foi feita por
comparação e através de chaves analíticas e bibliografia especializada.
Hábitos de nidificação: Os levantamentos dos substratos de nidificação foram realizados
em ambientes de cerrado na Área de Proteção Ambiental do Curiaú (APA do Curiaú) e de várzea
na APA da Fazendinha que se localizam nos arredores de Macapá-AP. A APA do Curiaú abriga
uma comunidade de descendentes quilombolas e é formada por uma rede de bacias de acumulação,
que são localmente denominadas de ressacas. Três biomas principais ocorrem na APA, mas as
coletas foram realizadas apenas nas áreas de cerrado. A APA da Fazendinha, por outro lado,
margeia o Rio Amazonas e possui uma área de floresta de várzea. Foram realizadas oito coletas
quinzenais entre outubro de 2005 e janeiro de 2006, sendo quatro em cada APA. As árvores em
que ocorria a nidificação de meliponíneos foram localizadas com o auxílio de mateiros ou por
indicação de moradores locais.
As abelhas coletadas com o auxílio de rede entomológica na entrada dos ninhos foram
montadas, depositadas na coleção do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado
do Amapá (IEPA), identificadas previamente através da utilização de chaves. Posteriormente a
identificação foi confirmada por especialistas da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
A coleta de espécies vegetais obedeceu à metodologia convencional. Amostras de um ou
mais ramos floridos foram retirados das plantas e herborizados (FIDALGO; BONONI, 1984)
sendo posteriormente incorporados ao HAMAB do IEPA. A identificação das espécies ocorreu
por comparação e através de chaves analíticas da bibliografia especializada.
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Programa Primeiros Projetos
3 RESULTADOS
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(a) Lestrimelitta rufipes (g) Tetragona clavipes (n) Melipona captiosa
(d) Partamona gr. ferreirai (j) Trigona gr. fulviventris (q) Melipona fulva
Figura 1 - Imagens de espécies de abelhas sem ferrão (a-s) com ocorrência no Amapá e que estão
depositadas na coleção do NECTAR (Fotos Robert Reis).
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Programa Primeiros Projetos
Embora tenham sido coletadas abelhas de diferentes tribos e subtribos, apenas as espécies
pertencentes à subtribo Meliponina (Tabela 2) estão sendo avaliadas neste estudo para o uso em
estratégia de desenvolvimento social.
Tabela 2 - Espécies de abelhas da subtribo Meliponina coletadas no Amapá em estudos recentes*.
Espécie Estudos em que foram coletadas
Cephalotrigona femorata MELO, 2006
Frieseomelitta aff. flavicornis FRAZÃO, 2006; NECTAR
Frieseomilitta longipes NECTAR
Frieseomelitta cf.trichocerata FRAZÃO, 2006; FRAZÃO; SILVEIRA, 2002; NECTAR
Lestrimelita rufipes NECTAR
Melipona captiosa NECTAR
Melipona compressipes MELO, 2006; NECTAR
Melipona fulva FRAZÃO, 2006; FRAZÃO; SILVEIRA, 2002; MELO, 2006; ZANINI, 2004;
NECTAR
Melipona fuliginosa FRAZÃO, 2006; NECTAR
Melipona interrupta FRAZÃO, 2006; FRAZÃO; SILVEIRA, 2002
Melipona lateralis NECTAR
Melipona paraensis FRAZÃO, 2006; NECTAR
Melipona rufiventris FRAZÃO; SILVEIRA, 2002
Nannotrigona cf. punctata NECTAR
Oxytrigona obscura MELO, 2006
Partamona gr. ferreirai NECTAR
Partamona vicina FRAZÃO, 2006; NECTAR
Plebeia minima FRAZÃO, 2006; FRAZÃO; SILVEIRA, 2002; ZANINI, 2004
Ptilotrigona lurida NECTAR
Scaura gr. latitarsis NECTAR
Tetragona gr. clavipes FRAZÃO, 2006; FRAZÃO; SILVEIRA, 2002; MELO, 2006; ZANINI, 2004;
NECTAR
Trigona gr. amazonensis FRAZÃO, 2006; FRAZÃO; SILVEIRA, 2002; ZANINI, 2004; NECTAR
Trigona aff. branneri FRAZÃO, 2006; MELO, 2006; NECTAR
Trigona gr. cilipes FRAZÃO, 2006; FRAZÃO; SILVEIRA, 2002; ZANINI, 2004; NECTAR
Trigona crassipes MELO, 2006
Trigona dallatorreana NECTAR
Trigona fulviventris FRAZÃO, 2006; FRAZÃO; SILVEIRA, 2002; MELO, 2006; ZANINI, 2004
Trigona fuscipennis FRAZÃO; SILVEIRA, 2002
Trigona hypogea MELO, 2006
Trigona gr. hypogea MELO, 2006
Trigona mazucatoi MELO, 2006
Trigona pallens FRAZÃO, 2006; FRAZÃO; SILVEIRA, 2002; MELO, 2006; ZANINI, 2004;
NECTAR
Trigona williana NECTAR
*Os dados se referem às coletas do NECTAR e aos estudos de Frazão, 2006, Frazão; Silveira, 2002, Melo, 2006, Zanini, 2004.
Outras abelhas embora não identificadas até espécie foram listadas nos diferentes estudos
(Tabela 3). Os trabalhos de Zanini (2004), Melo (2006) e Frazão e Silveira (2002) apresentam
abelhas do gênero Frieseomelitta não identificadas quanto à espécie. Como não houve comparação
entre os exemplares destes estudos, não foi possível determinar o número real das espécies deste
gênero.
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Tabela 3 - Abelhas da subtribo Meliponina coletadas no Amapá em estudos recentes*, mas não
identificadas até espécie.
Abelha Estudos em que foram coletadas
Frieseomelitta sp.1 FRAZÃO; SILVEIRA, 2002
Frieseomelitta sp.2 FRAZÃO; SILVEIRA, 2002
Frieseomelitta sp.3 ZANINI, 2004
Frieseomelitta sp.4 MELO, 2006
Melipona sp. ZANINI, 2004
Partamona sp. FRAZÃO; SILVEIRA, 2002
Scaptotrigona sp.1 FRAZÃO; SILVEIRA, 2002
Scaptotrigona sp2 FRAZÃO; SILVEIRA, 2002
*Os dados se referem às coletas do NECTAR e aos estudos de Frazão, 2006, Frazão; Silveira, 2002, Melo, 2006, Zanini, 2004.
Considerando apenas os dados obtidos pelo NECTAR, as espécies mais abundantes foram
respectivamente: Melipona compressipes, Trigona pallens, Melipona paraensis, Partamona vicina, Trigona
fulviventris, Trigona fuscipennis, Melipona fulva e Trigona cilipes. A lista e as imagens das abelhas
encontradas no Amapá estão disponibilizadas para domínio público na rede mundial de
computadores através da página do Núcleo de Estudos Científicos e Tecnológicos sobre Abelhas
Regionais (http://www.unifap.br/nectar).
As abelhas apresentaram uma diferença de ocupação dos diferentes ecossistemas (Tabela
4). Os gêneros Partamona, Tetragona, Frieseomelitta e Plebeia ocorreram exclusivamente no cerrado,
enquanto outros gêneros ou espécies ocorreram também no ambiente mais úmido da várzea.
Esses dados referem-se apenas aos dados obtidos pelo NECTAR na coleta de 2006 realizadas nas
APA do Curiaú (cerrado) e da Fazendinha (várzea).
Tabela 4 - Ocorrência das espécies de meliponíneos nos ambientes de cerrado e várzea coletados
nos arredores de Macapá entre 2002 e 2006.
Ambientes
Espécies Cerrado (APA do Curiaú) Várzea (APA da Fazendinha)
Melipona fulva X X
Melipona compressipes X X
Melipona paraensis X X
Melipona fuliginosa X
Frieseomelitta trichocerata X
Frieseomelitta flavicornis X
Partamona vicina X
Plebeia minima X
Tetragona clavipes X
Trigona amazonensis X
Trigona cilipes X X
Trigona fulviventris X X
Trigona branneri X
Trigona pallens X X
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Programa Primeiros Projetos
Os meliponíneos visitam diversas espécies de plantas da APA do Curiaú (Tabela 5). Contudo,
embora grande parte das plantas seja visitada por diversos meliponíneos, algumas são visitadas
por um pequeno número de espécies como Euterpea, Inga, Spondias e Syzigium. Estes dados, contudo
referem-se a um número pequeno de observações que serão ampliados em estudos posteriores.
Tabela 5 - Ocorrência de espécies de meliponíneos por espécie de planta visitada no cerrado da
APA do Curiaú.
Espécies de meliponíneos
Frieseomelitta trichocerata
Frieseomelitta flavicornis
Melipona compressipes
Trigona amazonensis
Trigona fulviventris
Melipona paraensis
Melipona fuliginosa
Tetrágona clavipes
Partamona vicina
Trigona branneri
Espécies
Trigona pallens
Plebéia minima
Melipona fulva
Trigona cilipes
de plantas
Mimosa pudica x x x x x x x
Vitex sp. x x x x x x
Myrcia sp. x x x x x x x x x x x
Eugenia sp. x x x x x x x
Wulfia sp. x x x x x
Byrsonima crassifolia x x x x x x
Passiflora edullis x x
Euterpea oleracea x
Amasonia campestre x x x x x x
Thalia geniculata x x x x
Inga sp1 x x
Inga sp2 x x
Spondias mombim x x
Syzigium malacensis x x
Foram localizados treze ninhos de três das espécies de Melipona estudadas, distribuídas em
oito diferentes espécies de árvores. Os ninhos de M. compressipes e de M. fulva foram encontrados
no ambiente de cerrado da APA do Curiaú, enquanto que os de M. paraensis foram encontrados na
várzea da APA da Fazendinha (Tabela 6). Todos os ninhos destas espécies foram encontrados em
ocos de árvores vivas presentes na várzea ou no cerrado. Não houve sobreposição de substrato de
nidificação entre as espécies de abelhas estudadas. Embora Vitex sp. tenha sido a espécie com
maior número de ocorrências, o baixo número de ninhos encontrado não permite análises que a
caracterizem como um substrato preferencial de nidificação para as abelhas do gênero Melipona
encontradas na região.
19
Tabela 6 - Freqüência de distribuição dos ninhos de Melipona compressipes, M. paraensis e M. fulva*
por área de ocorrência e por espécie vegetal utilizada como substrato de nidificação.
Área de ocorrência
Espécie vegetal
Cerrado (APA do Curiaú) Várzea (APA da Fazendinha)
Vitex sp. Mc - 3 -
Jacaranda copaia D. Don. Mc - 2 -
Mezilaurus itauba (Meiss.) Kosterrm. Mc - 1 -
Spondias mombim L. - Mp - 2
Virola surinamensis (Rol.) Warb. - Mp - 2
Artocarpus altilis (Parks) var. seminifera - Mp - 1
Syzygium malacensis Merr & Parry - Mp - 1
Tabebuia sp. Mf - 1 -
*As siglas Mc, Mp e Mf correspondem respectivamente a Melipona compressipes, M. paraensis e M. fulva. O número após a sigla da
espécie de abelha identifica a quantidade de ninhos encontrados em cada espécie vegetal.
4 DISCUSSÃO
Estima-se um total de cerca de 500 espécies de abelhas para o Amapá, sendo que apenas
143 foram foram descritas até o momento (MOURE; URBAN; MELO, 2007). Apesar dessa
concentração, há poucos inventários sobre o grupo na região, destacando-se os trabalhos pioneiros
e descritivos de Bates, (1856) nas expedições pelo Rio Amazonas e Ducke (1906) nos arredores
20
Programa Primeiros Projetos
de Belém. Porém alguns estudos sobre a diversidade de Meliponina nas florestas tropicais foram
realizados por Oliveira, Morato e Garcia (1995) na Amazônia Central; Roubik (1989) na Amazônia
Guianense; Silva, Venturieri e Silva (2004) em uma área de transição Cerrado-Amazônia. No
Amapá Frazão e Silveira (2002) nas áreas úmidas de Macapá e Santana; Melo (2006) na região dos
Lagos do Amapá; Frazão (2006) na APA do Rio Curiaú; Zanini (2004) no Campus da Universidade
Federal do Amapá, e os dados do NECTAR ainda não publicados, se configuram como as primeiras
coletas sistemáticas.
Nos diferentes biomas do Amapá o número de espécies de meliponíneos coletados é similar
àquele de outros ambientes com características semelhantes (CAMARGO; MAZUCATO, 1984;
CARVALHO; BEGO, 1998; FARIA; CAMARGO, 1996; SANTOS; CARVALHO; SILVA, 2004).
Este número de espécies registrado para o estado, que deve ser ampliado com a elevação dos
esforços amostrais, indica um grande número de meliponíneos e configura uma excelente
possibilidade de identificar neste grupo abelhas adequadas para a utilização em estratégias de
desenvolvimento social tanto nos ambientes de cerrado como nos de várzea. Além disso, a presença
de diferentes espécies de meliponíneos evidencia um quadro de organismos que podem realizar
funções ecológicas distintas. Neste contexto, o número de meliponíneos encontrados (Tabelas 2 e
3; Figura 1) permite esperar que este grupo atue como responsável pela polinização de plantas
pertencentes a grupos diversos, como especificado por vários autores (KERR et al., 2001;
NOGUEIRA-NETO, 2002; ROUBIK, 1989; WILLE; MICHENER, 1973; WILMS;
IMPERATRIZ-FONSECA; ENGELS, 1996).
As distintas espécies de plantas visitadas pelas abelhas configuram um excelente pasto apícola
para a manutenção dos meliponíneos na região (Tabela 5). No entanto, assim como encontrado
neste estudo, as diferentes espécies de meliponíneos apresentam preferência por diferentes espécies
vegetais (NOGUEIRA-NETO, 2002), em relações insetos-plantas que podem favorecer um elevado
grau de endemismo entre os insetos (MARTINS, 2002). Além disso, algumas abelhas ocorreram
diferencialmente no cerrado e na várzea (Tabela 4), o que pode estar relacionado com interações
inseto-planta específicas. Portanto, considerando a importância das abelhas nativas como grupo
chave para a manutenção de ecossistemas (KERR et al., 2001; NOGUEIRA-NETO, 2002;
O’TOOLE, 2002), é necessário identificar as inter-relações abelha-flor ainda desconhecidas para
esta região, bem como preservar a diversidade de plantas e meliponíneos encontrados nos diferentes
ambientes em razão de suas interações ecológicas interespecíficas como forma de manter a
sustentabilidade dos ecossistemas onde estes organismos estão sendo encontrados. Além disso, a
ocorrência das espécies no cerrado evidencia a importância deste bioma que, em muitos casos,
não é considerado como ambiente a ser preservado. O cerrado vem sendo amplamente afetado
por ações antrópicas e a necessidade de sua conservação é urgente (FURLEY, 1999), assim, é
necessário proteger não apenas as áreas de floresta na Amazônia, mas também o cerrado. A ausência
ou o reduzido número de Unidades de Conservação que incorporem áreas de cerrado pode fazer
com que grandes áreas deste bioma sejam destruídas, de forma a conduzir a um processo de
extinção da flora e da fauna que lhe são próprias.
Uma forma de efetivar a preservação das abelhas e dos biomas onde estas ocorrem é manter
21
atividades de meliponicultura que auxiliam tanto na preservação de espécies cultivadas quanto de
vegetação nativa (NOGUEIRA-NETO, 2002; ROUBIK, 1989) Abelhas do gênero Melipona são
tradicionalmente utilizadas para a produção de mel (NATES-PARRA, 2006) e são, portanto, fortes
candidatas ao processo de criação. Entre as diferentes abelhas encontradas, as espécies Melipona
compressipes, Melipona paraensis e Melipona fulva se configuram como adequadas para a utilização na
meliponicultura por suas características de elevada produção de mel, baixa agressividade, hábitos
higiênicos e ninhos não associados ao de outros organismos. Ninhos destas espécies ocorrem
diferencialmente no cerrado e na várzea (Tabela 6), o que conduz a uma análise ainda preliminar
de que a criação de M. compressipes e M. fulva deve ocorrer preferencialmente no cerrado, enquanto
a de M. paraensis deve priorizar o ambiente mais úmido da várzea.
A variedade de espécies distribuída em diferentes biomas e associada ao conhecimento que
a comunidade possui sobre os meliponíneos quanto à identificação das abelhas, do pasto apícola
e dos locais onde nidificam, abre a perspectiva de aplicação de estratégias ecologicamente corretas,
como a meliponicultura, permitindo a conservação de recursos naturais e o desenvolvimento
social. Os meliponíneos são ideais para estas estratégias, pois são abelhas dóceis, de fácil manejo
e necessitam de pouco investimento para sua criação (NOGUEIRA-NETO, 1997). Contudo,
como as espécies de meliponíneos apresentam preferência por diferentes habitats (ROUBIK, 1989;
SILVEIRA; MELO; ALMEIDA, 2002), devem ser utilizadas espécies diferentes como estratégias
de manejo para os diversos biomas do Amapá, e prestar atenção na fauna apícola disponível e
requisitada pelas espécies escolhidas para o manejo.
Os dados iniciais obtidos pelo NECTAR permitem caracterizar as abelhas sem ferrão como
uma estratégia potencial de desenvolvimento social no Amapá. A meliponicultura pode, portanto,
ser um mecanismo de manutenção da biodiversidade associado às estratégias de desenvolvimento
social de forma a solucionar o dilema imposto entre a necessidade de desenvolvimento e a existência
de Unidades de Conservação em mais de 50% do território amapaense.
A meliponicultura, com a conseqüente manutenção de abelhas em caixa de criação, permitirá
a obtenção de mel preservando o ambiente e os polinizadores. Além disso, permitirá a multiplicação
de colônias e a diminuição da destruição de árvores para a obtenção do mel. Contudo, cabe
ressaltar que para que isso ocorra, as comunidades que venham a desenvolver a criação de abelhas
sem ferrão devem ser instruídas a minimizar a retirada de colônias dos ambientes naturais. Coleta
de ninhos da natureza que estejam em risco devem ocorrer preferencialmente em árvores mortas
ou em galhos secundários (COLETTO-SILVA, 2005) ou em áreas que vão sofrer degradação
ambiental.
O mel dos meliponíneos é muito apreciado e apresenta características medicinais
(CORTOPASSI-LAURINO; GELLI, 1991; MOLLAN, 1992), além de alcançar valor de venda
superior ao encontrado para Apis mellifera (NOGUEIRA-NETO, 1997), mas no Amapá o processo
da meliponicultura é ainda incipiente. Assim, como há abelhas que se adeqüam à meliponicultura
no Amapá, é possível, às comunidades desta região, desenvolver a criação das abelhas sem ferrão,
inclusive como uma atividade de suporte àquela desenvolvida originalmente pela família, pois a
atividade exige pouco esforço e pode ser realizada em horários alternativos ou pelo conjunto dos
22
Programa Primeiros Projetos
membros da família.
Outras observações são importantes para além do processo de criação. Como a maioria das
abelhas do gênero (WILLE; MICHENER, 1973), as colônias das três espécies de Melipona
identificadas como potenciais para a meliponicultura nidificaram em cavidades de árvores. Diversos
fatores podem influenciar a ocorrência das Meliponina nos ambientes como aspectos ecológicos,
disponibilidade de locais adequados para nidificação e oferta de recursos tróficos; fatores
biogeográficos relacionados à própria distribuição das espécies e fatores filogenéticos inerentes a
cada espécie de abelha sem ferrão.
A preservação das espécies vegetais onde essas abelhas nidificam é extremamente importante
para a manutenção destes organismos nas áreas de preservação, uma vez que em um estudo
realizado por Kerr (1984) os meliponíneos nidificaram em apenas 12 espécies de árvores de um
total de mais de 200 disponíveis. Além disso, as espécies não escavam a madeira para construir ou
alargar um buraco, elas dependem inteiramente de sua ocorrência natural (ROUBIK, 1989, 2006;
WILLE; MICHENER, 1973). Outro aspecto relevante é o fato dos meliponíneos não serem capazes
de migrar com sua rainha para um novo sítio de nidificação quando seu ninho é severamente
danificado (ROUBIK, 2006) em razão do aumento do gáster e da conseqüente impossibilidade de
vôo. Portanto, as estratégias de retirada de mel que envolvam a destruição do ninho, ou uma
abertura ampla que faça com que o ninho seja muito exposto, como encontrado entre as comunidades
locais, significa a destruição da colônia. A exploração predatória com a derrubada da árvore ou a
inutilização do oco da mesma como local de nidificação para os meliponíneos é uma prática que
deve ser evitada como forma de assegurar a manutenção das espécies que dependem deste tipo de
substrato. Estratégias de manejo como a retirada do ninho sem a destruição do oco, denominada
de método CESDA (COLETTO-SILVA, 2005) ou a abertura do ninho em árvores que apresentem
fissuras devem ser difundidas entre as comunidades residentes nas APA para assegurar a existência
de locais de nidificação e, conseqüentemente, de sobrevivência dessas espécies. Estratégias de
obtenção do ninho pelo método CESDA pode ser ainda mais interessante no que tange a preservação
ambiental se for feita a divisão da colônia capturada, deixando no oco parte do ninho (COLETTO-
SILVA, 2005).
O interesse pela meliponicultura cresce no Brasil e o mesmo é sentido no Amapá, mas a
criação deve ser feita com abelhas já existentes na região, e de preferência obtendo ninhos matrizes
de criadores registrados no IBAMA (COLETTO-SILVA, 2005). Mas ao longo do desenvolvimento
da meliponicultura, deve ser evitada a ação de abelheiros ou meleiros que não utilizam técnicas
racionais, eliminam as abelhas e as árvores que as abrigam (COLETTO-SILVA, 2005). O manejo
inadequado força a extinção, de modo que é comum o baixo número de abelhas próximo a vilas e
cidades ou mesmo aldeias indígenas devido a ação predatória. Portanto, é necessário ensinar as
comunidades que desejem fazer uso dos meliponíneos sobre as estratégias de manejo para tê-los
defendendo a biodiversidade (KERR, 2002).
23
5 CONCLUSÕES
6 AGRADECIMENTOS
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Programa Primeiros Projetos
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28
Programa Primeiros Projetos
CAPÍTULO 2
1 INTRODUÇÃO
29
como os coeficientes de descarga hidráulicos utilizados para a determinação dos coeficientes de
reaeração atmosférica, coeficientes cinéticos de degradação da matéria orgânica e nitrogenada,
parâmetros físicos de dispersão longitudinal, climáticos, etc, sem os quais seria difícil o uso desse
tipo de ferramenta para a gestão de recursos hídricos. E como afirma Gastaldini, Sefrin e Paz
(2002), há cada vez mais necessidade de se identificar e diagnosticar os fatores que afetam a
qualidade da água, bem como prever os impactos futuros decorrentes de determinados eventos
ou condições específicas, favorecendo a gestão de recursos hídricos com propostas ou alternativas
concretas e realmente eficazes.
O modelo de qualidade da água mais conhecido da nova geração é o QUAL2E, desenvolvido
pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (USEPA) o qual representa em
profundidade os ciclos biogeoquímicos do oxigênio, nitrogênio e fósforo, traduzido pela degradação
da matéria orgânica, crescimento e respiração de algas, nitrificação, hidrólise do fósforo,
sedimentação de algas e compostos ogânicos de nitrogênio e fósforo, salientando-se que em todos
estes processos há a completa interdependência do efeito do ciclo do oxigênio sobre aqueles
(GASTALDINI; SEFRIN; PAZ, 2002).
Neste aspecto, o presente texto é uma breve síntese de resultados do Projeto “Determinação
do coeficiente de reaeração no Modelo QUAL2E utilizando as características hidráulicas de canais
abertos para Estudos de Impactos Ambientais no Rio Araguari-AP”, do Edital SETEC/CNPq
(Processo 35000082/2004, Programa Primeiros Projetos (PPP Edital 1/2003) (CUNHA, 2003),
inicialmente executado a partir de setembro de 2004, em parceria com a UFG – PPGEMA e UnB
(LEA), e finalizado em junho de 2006 (BÁRBARA, 2006).
A proposta deste capítulo é apresentar ao leitor a metodologia envolvida no desenvolvimento
e aplicação de modelos de qualidade da água, cujo objetivo é ilustrar como estes foram aplicados
pela primeira vez que se tem observado na literatura à “realidade” amazônica e, em especial, em
rios do Estado do Amapá, onde se considerou “ausência” de influência de marés no trecho do
Baixo Araguari. Desta forma, algumas hipóteses importantes consideradas no desenvolvimento
do trabalho de pesquisa foram consideradas:
• há demandas da sociedade por mecanismos de gestão de recursos hídricos que necessitam
ser mais fundamentadas em estudos técnicos da área – exemplos são o enquadramento e
classificação dos corpos de água;
• há demanda dos gestores de recursos hídricos por instrumentos que facilitem a
compreensão de cenários e conflitos, que possibilitem uma melhorar qualidade das
decisões, principalmente em se tratando de empreendimentos hidrelétricos;
• há grande interesse do setor público na implementação da Política Nacional de Recursos
Hídricos, e seus aprofundamentos em níveis estadual (Lei 0686/2002) e municipal;
• há uma tendência mundial em considerar, de forma integrada, o binômio quantidade-
qualidade no contexto de gerenciamento de recursos hídricos;
• há preocupação local em preservar e conservar os recursos naturais, em especial os
30
Programa Primeiros Projetos
2 OBJETIVO GERAL
3 O MODELO QUAL2E
De acordo com Brandão (2003) e Chapra (1997) o software QUAL2E (Modelo Avançado
de Qualidade da Água em Rios) é capaz de simular mais de 15 constituintes da qualidade da água
em sistemas dendríticos que são bem misturados lateralmente e verticalmente no trecho estudado.
Entre suas principais habilidades estão as múltiplas descargas de resíduos, retiradas de água,
escoamentos tributários, entradas e saídas incrementais (distribuídas), além de permitir a inserção
de barragens em pontos específicos da modelação a ser implementada.
Historicamente o Modelo QUAL2E foi desenvolvido por Brown e Barnell (1987) e tem
sido selecionado para diversos estudos e pesquisas como um dos mais bem documentados na
31
área. Tal flexibilidade e dotado de um potente acervo documental, obtidos de várias fontes e
estudos no mundo todo, ajudaram certamente a difundí-lo e a disseminá-lo. Além disso, o modelo
é numericamente acurado e inclui as principais estruturas cinéticas para a maioria dos poluentes
convencionais (CHAPRA, 1997; McCUTCHEON et al., 1993; CUNHA, 2003; BÁRBARA, 2006).
Como uma condicionante, em trabalhos de modelação de oxigênio dissolvido (OD) e
demanda bioquímica de oxigênio (DBO) em rios no Brasil e no exterior (BARBOSA, 1997;
SIQUEIRA; CUNHA, 2001), há dificuldades referentes à sua aplicação, por exemplo, que consiste
em quantificar o coeficiente de reaeração, K2, o qual necessita de determinação prévia em campo,
seguida de cálculos computacionais antes de incorporá-lo ao modelo (SIQUEIRA, 1996). Por
exemplo, o processo de troca de oxigênio na interface ar-água (reaeração atmosférica) é um fenômeno
da absorção física do ar (oxigênio essencialmente) da atmosfera pela água em movimento. Em
águas correntes a reaeração tem um papel extremamente importante para a manutenção da vida
aquática aeróbia e facultativa, pois introduz o oxigênio da atmosfera de forma natural no meio
aquático (McCUTCHEON et al., 1989; CUNHA; CUNHA; SIQUEIRA, 2001; BARBOSA, 1997).
Normalmente, na literatura da área, o K2 é determinado ou quantificado empiricamente em função
das características hidráulicas do escoamento no trecho estudado. De acordo com Brandão (2003)
a representação conceitual de um curso de água com o Modelo QUAL2E é a de um trecho de rio
dividido em determinado número de subtrechos ou elementos computacionais, equivalentes a
elementos de diferenças finitas. Para cada elemento computacional é realizado um balanço
hidrológico em termos de vazão, um balanço térmico em termos de temperatura, e um balanço de
constituintes, em termos de concentrações. Neste último balanço, tanto o transporte advectivo
quanto o difusivo são considerados. Desta forma, para melhor apresentar o tema ao leitor, elaborou-
se as seguintes considerações teóricas a seguir.
32
Programa Primeiros Projetos
33
Cabe ressaltar que o uso dos modelos possuem inúmeras vantagens, tais como as descritas
na Tabela 1, e que eles ainda são tidos por pesquisadores do mundo todo como as mais eficientes
ferramentas existentes até então na gestão dos recursos hídricos (COX, 2003; MENDONÇA et
al., 2005). Por esta razão vêm sendo aperfeiçoadas dia a dia. Isso permite deduzir que da mesma
maneira que já foram muito mais simplificados, com o passar do tempo, eles estão se tornando
cada vez mais complexos e representativos da realidade do sistema ambiental modelado (RAUCH
et al., 1998). Mas é fundamental que haja consistência dos dados de saída do modelo a ser utilizado,
o que está diretamente ligada à qualidade dos seus parâmetros de entrada (feedback).
Tabela 1 - Principais vantagens da utilização de modelos matemáticos de sistemas ambientais
(PORTO; AZEVEDO, 2002 - com adaptações (BÁRBARA, 2006).
a) A análise do sistema real, quando possível, é muito mais cara do que a utilização de modelos.
b) Os riscos ambientais são inexistentes quando aplicados nas simulações computacionais, uma vez que
estudos que envolvem produtos perigosos, por exemplo, não podem ser desenvolvidos in loco.
c) O custo ambiental e econômico de cometer erros e/ou realizar experiências com o sistema real é
incomparavelmente maior do que o custo de exploração intensiva do modelo.
d) Modelos são ferramentas de aprendizado em que processos de tentativas e erros podem ser “explorados
gratuitamente”, não contribuindo somente para a melhor compreensão do sistema, mas também para a
concepção de novas idéias e linhas de ação.
e) Modelos são instrumentos muito eficientes para treinamento quando desenvolvidos ou adaptados
especificamente para esta finalidade.
f) Modelos conferem flexibilidade às análises porque:
- “encurtam” o tempo, uma vez que permitem que muitos anos sejam analisados em períodos extremamente
curtos; e
- diferentes alternativas podem ser analisadas, muitas vezes mediante simples alterações de parâmetros.
34
Programa Primeiros Projetos
Conforme Tucci (1998), o modelo de Streeter e Phelps foi desenvolvido para rios de regime
de escoamento permanente e uniforme. Além disso, ele pressupõe mistura imediata, considerando
apenas o efeito advectivo do transporte de massa e a fase carbonácea no consumo da matéria
orgânica. As principais limitações do modelo são que ele não leva em consideração a demanda
bentônica; só funciona em decomposição aeróbia; não considera a sedimentação da matéria orgânica
e não inclui a reoxigenação advinda da fotossíntese realizada pela respiração algal. Apesar de
todos esses fatores, entretanto, o mesmo foi o precursor da quase totalidade dos modelos de
qualidade da água existentes nos dias de hoje, tendo, por isso, seu mérito reconhecido pela
comunidade científica.
A hipótese básica de Streeter e Phelps é de que o processo de decomposição da matéria
orgânica no ambiente aquático, assim como o da reaeração, obedecem a uma equação diferencial
de primeira ordem, conforme pode ser visualizado nas Equações 1 (EIGER, 2003) e 2 (SIQUEIRA,
1996), respectivamente.
dL
= − K1 L (1)
dt
dD
= −K 2 D (2)
dt
onde:
D: déficit de oxigênio dissolvido, (mg/L);
K1: coeficiente de desoxigenação, (d-1);
K2: coeficiente de reaeração, (d-1);
L: demanda bioquímica última de oxigênio, (mg/L); e
t: tempo, (d).
35
dissolvido (MELCHING; YOON, 1996; DAI; LABADIE, 2001; MCAVOY et al., 2003;
BRANDÃO, 2003; ZEILHOFER et al., 2003; PALMIERI, 2004).
O QUAL2E foi desenvolvido na linguagem computacional ANSI FORTRAN 77. É um
modelo unidimensional de regime permanente, uma vez que considera os mecanismos de difusão
e advecção como significantes apenas no sentido do fluxo principal do canal do rio, ou seja, no
eixo longitudinal. Esse modelo é capaz de contemplar descargas pontuais e difusas de resíduos
líquidos ou de poluentes, além de pontos de retirada e de introdução de água. Brown e Barnwell
(1987) adicionaram no QUAL2E a análise de sensibilidade (MCCUTCHEON; FRENCH, 1989),
o que lhe garante uma funcionalidade que poucos modelos possuem.
A Figura 1 apresenta um esquema da relação entre os componentes que esse modelo é
capaz de simular e as interações entre os mesmos. Grande parte das interações não será enfocada
no presente trabalho (foco no OD e DBO). Os coeficientes utilizados na presente pesquisa
encontram-se descritos no item Materiais e Métodos.
⎛ ∂C ⎞
∂⎜ Ax DL ⎟
∂M
= ⎝ ∂x ⎠
dx −
∂ Ax U C ( )
dx + ( Ax d x )
dC
+S (3)
∂t ∂x ∂x dt
A B C D
Termos da equação: dispersão (A) + advecção (B) + reações e interações (C) + fontes externas (D)
36
Programa Primeiros Projetos
onde:
M: massa, (M);
Ax: área da seção transversal, (L2);
C: concentração do constituinte, (M/L3);
x: distância, (L);
DL: coeficiente de dispersão longitudinal, (L2/T-1);
U : velocidade média, (L/T);
t: tempo, (T); e
S: fonte ou sumidouro externo, (M/T).
= K 2 (CS − CO ) + (α 3 μ − α 4 ρ )A − K1 L − 4 − α 5 β1 N1 − α 6 β 2 N 2
dCO K (4)
dt d
onde:
Co: concentração de oxigênio dissolvido, (mg/L);
Cs: concentração de saturação de oxigênio dissolvido na água, a dada temperatura, (mg/L);
α 3: taxa de oxigênio produzido por fotossíntese por unidade de alga, (mg-O/mg-A);
: taxa de remoção de oxigênio por unidade de respiração algal, (mg-O/mg-A);
α4 α 5 : taxa de remoção de oxigênio por unidade de oxidação de amônia, (mg-O/mg-N);
a6: taxa de remoção de oxigênio por oxidação de nitrito, (mg-O/mg-N);
m: taxa de crescimento de algas, (d-1);
r: taxa de respiração algal, (d-1);
A: concentração de biomassa algal, (mg-A/L);
L: demanda bioquímica última de oxigênio, (mg/L);
K1: coeficiente de desoxigenação, (d-1);
K2: coeficiente de reaeração, (d-1);
K4: coeficiente cinético da demanda bentônica do oxigênio, (g/m2.d);
b1: coeficiente cinético da oxidação de amônia, (d-1);
b2: coeficiente cinético da oxidação de nitrito, (d-1);
N1: concentração de amônia, (mg-N/L);
N2: concentração de nitrito, (mg-N/L); e
d = profundidade média, (m).
Quando no início de uma simulação o QUAL2E solicita que o usuário proceda com a divisão
esquemática dos trechos do rio em elementos computacionais com as mesmas propriedades
hidrológicas (tais como a seção transversal e a inclinação do canal), e cinéticas (tais como os
coeficientes de desoxigenação e reaeração, dentre outros). Logo, o corpo hídrico pode ser encarado
como uma seqüência de pequenos reatores acoplados entre si por meio dos mecanismos de
transporte de massa.
37
Nas simulações do QUAL2E o usuário pode optar pela modalidade dinâmica ou de estado
constante. No primeiro caso, os dados climatológicos locais são fornecidos em intervalos regulares;
desse modo, o balanço de calor apresenta uma resposta diária do sistema hidráulico no que diz
respeito às condições de mudança de temperatura. No segundo caso, os dados climatológicos
médios são fornecidos pelo usuário apenas uma vez, sendo que os mesmos são utilizados pelo
modelo em todas as simulações.
4 MATERIAIS E MÉTODOS
38
Programa Primeiros Projetos
Figura 2 - Localização da área de estudo na Bacia do Rio Araguari Fonte: Bárbara, 2006.
O Rio Araguari nasce ao Sul da Serra Lombarda e Tumucumaque, a 200 metros de altitude.
Ele é formado pela confluência dos Rios Mururé e Amapari, recebendo como afluentes os Rios
Tapiti, Mutum, Tajauí, Santo Antônio, Falsino, Jacinto e Aporema; os Igarapés do Eduardo, da
Ribeira, Manuel e do Cordeiro; e o Córrego Tracajatuba. Sua extensão aproximada é de 498 km,
sendo que o mesmo é dividido em três trechos: (1) Curso Superior ou Alto Araguari (132 km); (2)
Médio Curso ou Médio Araguari (161 km), região também conhecida como Paredão, onde se
encontra localizada a Usina Hidrelétrica de Coaracy Nunes; e (3) Curso Inferior ou Baixo Araguari
39
(205 km), onde o número de meandros aumenta, diminuindo sua velocidade de escoamento. A
declividade média do canal é de 0,50 m/km e as temperaturas variam entre 20,0°C e 40,1°C
(PROVAM..., 1990; CUNHA, 2003).
Duas capitais municipais estão localizados nas margens do Médio Araguari, sendo elas:
Porto Grande e Ferreira Gomes e Cutias localizada no Baixo Araguari, com populações estimadas,
no ano de 2005, de 14.675, 4.321 e 4.285 habitantes, respectivamente. Próximo de Porto Grande
ocorre a confluência do Rio Araguari com o Rio Amapari onde, a partir de então, o primeiro inicia
seu trajeto pela planície costeira do Amapá, até desembocar no Oceano Atlântico. As vazões
máxima e mínima medidas pela Estação Fluviométrica de Porto Platon até novembro de 2005
foram de 3.857,00 m3/s, em 7 de abril de 1974, e 121,00 m3/s, em 10 de dezembro de 1976,
respectivamente (PROVAM..., 1990; IBGE, 2006). As Figuras 3a a 3f ilustram alguns aspectos
gerais do Médio Araguari. De acordo com Cunha (2003) os principais impactos ambientais no
Médio e Baixo Rio Araguari podem ser indicados nas figuras citadas: a) navegação e paisagem, b)
geração de renda para a comunidades ribeirinhas, c) geração de energia hidrelética, d) extração de
mineral granito, e) reservatório e f) bubalinocultura, agricultura e urbanização.
a b
Figura 3 - a) Vista geral do Rio Araguari; b) População ribeirinha (Imagens obtidas durante a 2ª Coleta, em maio/2005).
c d
Figura 3 - c) UHE de Coaracy Nunes; d) Presença de rochas de grandes dimensões na calha principal do rio (Imagens
obtidas durante a 3ª Coleta, em novembro/2005).
40
Programa Primeiros Projetos
e f
Figura 3 - e) Vista geral 30 anos após enchimento do reservatório da UHECN; f) Criação de búfalos (bubalinocultura)
nas margens do Rio Araguari (Imagens obtidas durante a 4ª Coleta, em março/2005).
41
Figura 4 - Gráficos da determinação de K1, da L e do tempo de transição da fase carbonácea para a nitrogenada: a) Seção
3: 1ª Coleta (novembro/2004); b) Seção 10: 1ª Coleta (novembro/2004) – Bárbara, 2006 e Cunha (2004).
Após essa etapa, inclusive das demais seções e de modo análogo, procedeu-se com o cálculo
da média dos valores de K1 que foram utilizados como dados de entrada no QUAL2E, utilizando,
para tanto, a Equação 5:
n
K1 médio =
1 1 1 (5)
+ + ... +
K1a K1b K1n
onde:
n: quantidade de coeficientes de desoxigenação obtidos; e
K1a; K1b e K1n: valores de K1 medidos.
42
Programa Primeiros Projetos
U 0,969
0,969
Churchill et al. (1962) 5,03 U
11, 6
H 1,673 H
1673
,
0, 67 0, 67
Owens et al. (1964) U U
5 ,34 1,85
21, 7 1,85
H H
43
onde:
U: velocidade média no trecho, (pés/s) ou (m/s);
H: profundidade média no trecho, (pés) ou (m);
S: declividade do trecho, (pés/pés) ou (m/m);
u*: velocidade de cisalhamento, (pés/s) ou (m/s);
F: Número de Froude, (adimensional);
Q: vazão, (pés3/s) ou (m3/s); e
g: aceleração da gravidade, (pés/s2) ou (m/s2).
No Rio Araguari utilizou-se o método dos coeficientes de descarga, que são calculados em
função da velocidade, da profundidade e da vazão médias de cada seção analisada, de acordo as
fórmulas listadas nas Equações 6 e 7 (CUNHA; SIQUEIRA; CUNHA, 2001) a seguir.
(6)
H = cQ d (7)
onde:
H: profundidade, (m);
V: velocidade, (m/s);
Q: vazão líquida, (m3/s); e
a, b, c e d: coeficientes de descarga, (adimensionais).
44
Programa Primeiros Projetos
Figura 5 - Ajuste não-linear para a determinação dos coeficientes de descarga para a Seção 3.
Figura 6 - Ajuste não-linear para a determinação dos coeficientes de descarga para a Estação Fluviométrica de Porto Platon
– Eletronorte/ANA.
Figura 7 - Ajuste não-linear para a determinação dos coeficientes de descarga para a Seção R3.
45
É importante salientar que Cunha (2000) já havia procedido com a determinação desses
mesmos coeficientes para a Seção da Estação Fluviométrica de Porto Platon, cujos valores obtidos
foram muito próximos aos atuais obtidos para a mesma seção. Segundo o autor, os valores de a, b,
c e d foram, respectivamente: 0,003; 0,762; 1,441 e 0,218 (não mostrado neste texto).
Determinando-se os coeficientes de descarga, conforme esquema da Figura 8, os quais
foram incorporados ao modelo por ocasião da simulação computacional, utilizaram-se as seis
equações da literatura listadas na Tabela 4.5 (apresentada anteriormente), para plotar os gráficos
de K2, os quais podem ser visualizados na Figura 9.
46
Programa Primeiros Projetos
O que se percebeu com esses gráficos é que para o trecho do Médio Araguari, de maneira
geral, ocorre uma pequena faixa de reaeração. As equações de Trackston e Krenkel e de Tsivoglou
e Wallance apresentaram, na maioria das seções de medição, valores de K2 discrepantes, chegando
a alcançar, em relação às demais fórmulas, diferenças de até 42 vezes.
Apesar do fato da Seção 3 ter apresentado uma faixa de variação considerável de K2, nas
demais seções analisadas, as fórmulas da literatura demonstraram, de maneira geral, que esse
coeficiente possui um comportamento bem mais homogêneo ao longo do rio. Outra observação
que pode ser feita é que o aumento da vazão não provocou alterações marcantes nos valores dos
coeficientes de reaeração obtidos.
4.1.3 Obtenção dos parâmetros de qualidade da água
Nessa pesquisa foram realizadas análises laboratoriais e medições de campo dos parâmetros
de qualidade da água listados na Tabela 3, os quais foram comparados com parâmetros da
Resolução 357/2005 do CONAMA.
As amostras de água, cujas análises não podiam ser executadas em campo, foram coletadas
de maneira adequada e acondicionadas em recipientes térmicos exclusivos, de acordo com o
especificado pelo SMEWW (1992), objetivando a preservação das mesmas até a chegada das
amostras aos respectivos laboratórios. As expedições de campo permitiram a obtenção de dados
de entrada no QUAL2E e a caracterização do atual estado da qualidade da água no médio curso
do Rio Araguari da seguinte maneira:
• Espacialmente: observou-se a concentração dos parâmetros de qualidade da água ao
longo de 23 pontos de coleta, verificando-se, também, a interferência da UHECN na
qualidade da água desse rio.
• Sazonalmente: a análise sazonal objetivou verificar as diferenças nas concentrações dos
parâmetros de qualidade da água nas principais estações do ano, inverno e verão, durante
um período de 2 anos, compreendido entre novembro/2004 e maio/2006.
47
Tabela 3 - Resumo das análises realizadas para obtenção dos dados de qualidade da água do Rio
Araguari.
Método Analítico Local de Realização
Parâmetro
Utilizado/Equipamento da Análise
Temperatura Aparelho Multisonda Horiba U-10 In loco
Transparência Disco de Secchi In loco
Potencial Hidrogeniônico Aparelho Multisonda Horiba U-10 In loco
Oxigênio Dissolvido Método de Winkler / Método Eletroquímico CAESA/In loco
Demanda Bioquímica de Oxigênio Método de Winkler CAESA
Coliformes Termotolerantes Técnica dos Tubos Múltiplos em Meio A1 SEMA/AP
Condutividade e Nitrato Aparelho Multisonda Horiba U-10 In loco
Sólidos Totais e Sólidos Suspensos Standard Methods of Water and Wastewater - SMEWW SEMA/AP
Nitrogênio Amoniacal - 0 a 2,50 mg/L NH3-N -
Amônia Método 8038 (Nessler Method, adaptado do CAESA
SMEWW)
Cloreto Método de Mohr SEMA/AP
As Figuras 10 a 12 ilustram alguns aspectos gerais das coletas de campo e das análises
laboratoriais realizadas.
a b
Figura 10 - a) Momento da vedação do frasco de Winkler com o oxigênio dissolvido fixado; b) Titulação do oxigênio
dissolvido no laboratório da CAESA: início da análise laboratorial de oxigênio dissolvido conforme o Método de
Winkler (Imagens obtidas durante a 2ª Coleta, em maio/2005).
a b c
Figura 11 - a) e b) Leitura de parâmetros de qualidade da água na Multisonda Horiba U-10; c) Medição de transparência com
o Disco de Secchi (Imagens obtidas durante as três últimas expedições de campo: novembro/2005, março e maio/2006).
48
Programa Primeiros Projetos
a b c
Figura 12 - a) e b) Frascos de oxigênio dissolvido sendo preparados para a titulação; c) Amostras de água para realização
da análise de amônia (Imagens obtidas durante a 5ª Coleta: maio/2006).
4.2 Escolha do modelo de qualidade da água e do trecho do Rio Araguari a ser modelado
Na modelagem com o QUAL2E utilizado considerou-se o seguinte conjunto de fatores:
• A possibilidade que o QUAL2E possui de subdividir o rio em trechos e, posteriormente,
em subtrechos, que são agrupados de acordo com as características hidráulicas e de
escoamento do rio, o que permite uma representação mais aproximada da realidade do
corpo hídrico a ser analisado.
• O fato do Sistema de Modelagem da Qualidade da Água QUAL2E desenvolver suas
simulações em regime unidimensional, exigindo, assim, uma menor quantidade de dados
de entrada.
• O fato do QUAL2E ser um dos modelos de qualidade da água mais bem documentados
e utilizados no mundo, e pelo mesmo estar sendo desenvolvido e estudado há mais de 35
anos por vários pesquisadores.
• Por representar os mais importantes processos de introdução ou supressão de oxigênio
dissolvido na água.
49
No trecho analisado, ilustrado na Figura 13, foram demarcadas 23 seções de amostragem
cujas coordenadas geográficas podem ser visualizadas na Tabela 4. O comprimento total
pesquisado foi subdividido em dezenove trechos com características hidráulicas semelhantes,
sendo que os mesmos foram distribuídos da seguinte maneira: dez a montante da Usina Hidrelétrica
de Coaracy Nunes, três dentro do reservatório da usina e dez a jusante da barragem.
As campanhas de coleta de dados abrangeram o trecho do Médio Araguari, iniciando no
local onde ocorre a sua confluência com o Rio Amapari, passando pelos municípios de Porto
Grande e Ferreira Gomes e finalizando na cidade de Cutias, perfazendo uma extensão total de 120
km. É importante salientar que três afluentes do Rio Araguari foram incorporados à presente
modelagem, sendo eles: Rio Amapari, Igarapé do Eduardo e Córrego Tracajatuba. A Figura 13
ilustra, de forma esquemática, o protótipo físico de todo o trecho pesquisado, incluindo todos os
elementos naturais e antrópicos considerados na modelagem matemática com o QUAL2E.
50
Programa Primeiros Projetos
foram oxigênio dissolvido e demanda bioquímica última de oxigênio, sendo que os demais
coeficientes e dados de entrada no modelo QUAL2E são apresentados posteriormente. Observa-
se, contudo, que os termos do modelo relativos à fotossíntese não foram considerados, uma vez
que não se percebeu, em nenhuma das cinco campanhas de coleta de campo, um efeito claro desse
processo nas concentrações de oxigênio dissolvido presente na água do Rio Araguari.
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Nesse item são apresentados os resultados obtidos na pesquisa, sendo eles: caracterização
espacial e sazonal da qualidade da água (incluindo uma análise multivariada e a razão entre a
demanda bioquímica de oxigênio e a demanda bioquímica última de oxigênio) e hidráulica do
Médio Araguari, bem como as simulações computacionais dos cenários hipotéticos com o modelo
QUAL2E.
51
Procedeu-se, também, com a verificação da possível existência de uma relação entre os
parâmetros de qualidade da água com a vazão do Rio Araguari. Aqueles que demonstraram uma
tendência clara dessa relação foram determinados, mas não mostrados no presente texto.
5.1.1 Determinação da demanda bioquímica de oxigênio (DBO)
Os valores da demanda bioquímica de oxigênio obtidos durante as cinco campanhas realizadas
estão apresentados na Figura 14: mínimo de 5,40 mg/L (2ª Coleta: cheia) e máximo de 7,77 mg/
L (4ª Coleta: intermediária).
Ao se analisar essa figura é possível notar a ocorrência de uma variação sazonal significativa
da DBO5/20 nas cinco coletas onde, no geral, durante as estações de cheia (2ª e 5ª Coletas), as
concentrações foram menores em virtude do aumento da diluição da matéria orgânica quando do
aumento do volume da água.
No que tange à Usina Hidrelétrica de Coaracy Nunes, é possível observar claramente que
após a barragem ocorre uma elevação significativa da demanda bioquímica de oxigênio. Isso
provavelmente se dá devido à ressuspensão de sólidos retidos no reservatório quando ocorre a
liberação da água turbinada e vertida, o que provoca a elevação dos níveis de matéria orgânica na
água. Além disso, tal impacto ambiental se agrava devido ao lançamento de esgoto oriundo das
cidades de Porto Grande e Ferreira Gomes, uma vez que, em geral, ocorre também o aumento da
DBO5/20 a jusante desses municípios. Após a barragem, percebe-se que os níveis de DBO5/20
diminuíram, o que pode ser explicado pela capacidade de diluição do Rio Araguari.
O CONAMA estabelece que os cursos d’água de Classe 2 devem possuir uma DBO5/20 de
até 5,00 mg/L. Se comparado com esse padrão, o Rio Araguari estaria sempre em discordância no
que tange a esse parâmetro. Porém, segundo a Agência Nacional de Águas (2005), os rios
amazônicos são ricos em matéria orgânica e substâncias húmicas. Tudo indica que tal
52
Programa Primeiros Projetos
53
o aumento do oxigênio dissolvido no meio hídrico, sendo que esse fato é muito mais marcante
durante a estação das cheias, quando o volume de água aumenta consideravelmente.
Outro fato verificado é que em nenhuma expedição de campo foram observados valores de
oxigênio dissolvido que infringissem o limite mínimo de 5,00 mg/L estabelecido pela Resolução
357/2005 do Conselho Nacional de Meio Ambiente, o que possibilita compreender que o Rio
Araguari ainda se encontra em bom estado de conservação ambiental.
Na Figura 15 também é possível observar que não há indícios claros do aumento da
produção fotossintética pelas algas durante as horas do dia, o que permite deduzir que esse
processo não se reflete de forma significativa sobre as concentrações de oxigênio dissolvido no
manancial em questão.
54
Programa Primeiros Projetos
Ao se observar a mencionada figura, é possível perceber que ocorreu uma variação considerável
dos valores de vazão obtidos, principalmente durante a seca de 2005 (quando houve uma queda da
vazão no final do trecho), e a estação intermediária onde, após a Usina Hidrelétrica de Coaracy
Nunes, a descarga hídrica diminuiu e, no quilômetro 75, voltou a crescer no sentido da foz.
Após a verificação dos inúmeros fatores que poderiam estar provocando esse comportamento,
chegou-se às seguintes conclusões: (1) ocorre uma pequena interferência da maré a jusante da
usina; e (2) a rotina de operação da barragem, no sentido de armazenar e liberar a água de acordo
com sua necessidade, influencia consideravelmente no comportamento da vazão do Rio Araguari.
Estudos mais aprofundados no que tange ao parâmetro ora abordado devem ser conduzidos,
visando compreender melhor o comportamento e as particularidades hidráulicas desse corpo d’água.
5.2.2 Velocidade
A Figura 17 apresenta os valores mínimo e máximo detectados nos estudos conduzidos no
Rio Araguari: 0,05 m/s (2ª Medição: seca) e 1,18 m/s (4ª Medição: cheia).
Em todas as campanhas de campo, os valores desse parâmetro hidráulico tenderam a diminuir
nas proximidades do reservatório; porém, a jusante da UHECN, seu comportamento foi bastante
variado, principalmente entre as estações sazonais observadas. Tal conduta pode ter ocorrido
devido às potenciais interferências da maré a jusante da usina e às operações das comportas da
usina hidrelétrica, coincidindo com as mesmas suposições feitas para a vazão no subitem anterior.
5.2.3 Profundidade
A profundidade média do Rio Médio Araguari variou entre 1,29 m (2ª Medição: seca) e 17,00
m. De maneira geral, o Rio Araguari demonstrou uma tendência explícita de aumento da profundidade
no sentido de sua foz, conforme pode ser visualizado na Figura 18, o que já era esperado.
55
Figura 18 - Gráfico da variação espacial e sazonal da profundidade média do Rio
Araguari.
56
Programa Primeiros Projetos
57
sensibilidade do manancial. A L aumentou no sentido da foz, passando de aproximadamente 8,10
mg/L para 9,80 mg/L. Porém, no que diz respeito ao OD, o comportamento do Rio Araguari foi
mais preocupante. Na estação seca, a capacidade de autodepuaração do rio diminui, fazendo com
que os níveis de oxigênio caiam bastante, chegando, no trecho compreendido entre o município
de Porto Grande e a barragem, a alcançar níveis abaixo de 4,00 mg/L. Contudo, vale lembrar que
os valores da DBO analisados foram considerados muito alterados, talvez decorrentes de erros
sistemáticos de análise laboratorial. Em resumo, a UHECN promove a elevação dos níveis de
OD, que voltam a decrescer quando ocorre o despejo dos efluentes oriundos da cidade de Ferreira
Gomes. O OD e a L se estabilizam no sentido da foz, permanecendo em 5,80 mg/L e 9,80 mg/L,
respectivamente.
6 CONCLUSÕES E SUGESTÕES
58
Programa Primeiros Projetos
fins de diluição de efluentes. Ao longo do percurso modelado, os trechos situados nas imediações
dos municípios de Porto Grande e principalmente de Ferreira Gomes e da UHECN, foram os que
apresentaram maior incidência de diminuição da qualidade da água. Foi observado, também, que
nas variações sazonais, de maneira geral, o Rio Araguari se mostrou mais suscetível à depleção
desses parâmetros durante a estação seca, quando sua capacidade de diluição é menor.
Todavia, ao que tudo indica, apesar da influência humana existente dentro dos limites dessa
BH, o Rio Araguari possui algumas características que, mesmo estando em desacordo com os
padrões estabelecidos pelo Resolução 357/2005 do CONAMA (são “naturais” da própria região).
Desta forma, a matéria orgânica apresentou-se, independente das variações sazonais, como sendo,
em sua maior parte, de origem carbonácea, ou seja, se decompondo nos primeiros cinco dias de
incubação das amostras.
No tocante aos impactos ambientais causados no Rio Araguari devido ao seu uso para a
geração de energia elétrica, a UHECN, localizada nas proximidades do município de Ferreira
Gomes, tem provocado algumas interferências que alteram não somente a qualidade da água
desse manancial (principalmente no que diz respeito ao potencial hidrogeniônico, condutividade,
temperatura da água, sólidos totais, sólidos suspensos, coliformes termotolerantes, nitrato, cloreto,
demanda bioquímica de oxigênio e oxigênio dissolvido), mas também as suas características
hidráulicas (em especial: vazão, velocidade, largura e área da seção transversal).
O Modelo QUAL2E é uma ferramenta que auxiliou em uma análise prévida para o
gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio Araguari. Apesar de suas limitações, o mesmo ainda
é tido por inúmeros pesquisadores como um dos mais confiáveis instrumentos no gerenciamento
de recursos hídricos. Esse modelo pode ser utilizado em estudos mais abrangentes relativos a esse
mesmo rio.
A simulação do Cenário 1 indicou que a implantação de mais uma hidrelétrica a montante
da UHE de Coaracy Nunes não provocaria impactos tão negativos em termos de OD e DBO5/
20, não sendo possível garantir esse mesmo comportamento no que tange aos demais
parâmetros de qualidade da água medidos. Entretanto, os impactos ambientais decorrentes
das alterações hidráulicas seriam grandes, principalmente porque a região estudada é muito
plana, sendo que o barramento da água provocaria o alagamento de extensas áreas de mata
nativa, o que poderia gerar uma redução considerável na biodiversidade local, além de
alterações no microclima da região.
Os Cenários 2 e 3 permitiram verificar que caso a população dos municípios de Porto Grande
e Ferreira Gomes cresçam a uma taxa de 1,7% ao ano, e que os mesmos continuem descartando seus
efluentes nas águas do Rio Araguari sem nenhum tipo de tratamento, os níveis de DBO5/20 não
seriam alterados a valores preocupantes. Todavia, as concentrações de OD poderiam vir a infringir
a Resolução 357/2005 do Conselho Nacional de Meio Ambiente, principalmente na época de seca,
quando a capacidade de diluição desse corpo d’água diminui. Por isso, o crescimento das cidades
situadas às margens do manancial estudado deve ser acompanhado de sistemas de tratamento de
esgoto, visando a minimização da depleção futura da qualidade de suas águas.
59
Outros cenários podem ser simulados com o auxílio do QUAL2E, dependendo da
necessidade dos órgãos interessados no gerenciamento desse recurso hídrico.
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
60
Programa Primeiros Projetos
BRAGA, B. et al. Introdução à Engenharia Ambiental. São Paulo: Prentice Hall, 2002. 305 p.
BRANDÃO, M. E. F. Modelo Dinâmico de Qualidade e Escoamento de Água como
Mecanismo para Implementação de Instrumentos de Gestão de Recursos Hídricos. 2003.
216 f. Tese (Doutorado) - Universidade de Brasília, Brasília, DF.
BROWN, L. C.; BARNWELL, T. O. The Enhanced Stream Water Quality Models QUAL2E
and QUAL2E-UNCAS: Documentation and User Manual. Athens, Georgia, 1987. 204 p.
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63
64
Programa Primeiros Projetos
CAPÍTULO 3
1 INTRODUÇÃO
65
Os métodos geofísicos, após um longo período de aplicações prioritárias à prospecção mineral,
principalmente os métodos elétricos e eletromagnéticos, vêm sendo cada vez mais utilizados em
estudos ambientais para detectar e monitorar a contaminação gerada por líquidos percolados dos
depósitos de resíduos urbanos e industriais. O emprego de métodos geoelétricos no subsídio ao
diagnóstico e gestão de impactos ambientais, ocasionados em áreas de disposição de resíduos,
constitui um campo de estudo que se encontra em franco desenvolvimento, mas carecendo ainda
de acúmulo de experiência e normalização metodológica.
Nesse contexto, a finalidade principal deste trabalho de pesquisa é a aquisição de informações
relacionadas ao estudo geológico-geotécnico e ambiental da área da lixeira pública de Macapá,
utilizando os métodos geoelétricos eletrorresistividade e polarização induzida (domínio do tempo),
com aplicação das técnicas de sondagem elétrica vertical e de imageamento elétrico, para subsidiar
a avaliação do impacto causado pelo depósito de resíduos. Além disso, avaliar as potencialidades
da integração desses métodos na aquisição dessas informações, no ambiente de geologia constituída
predominantemente por sedimentos argilosos no qual está assentada a lixeira pública de Macapá.
2 METODOLOGIA
66
Programa Primeiros Projetos
A lixeira pública de Macapá existe há cerca de 12 anos, sendo caracterizada como um típico
lixão a céu aberto, onde os resíduos são depositados diretamente ao solo, sem nenhum critério
técnico de disposição, ou seja, sem impermeabilização de base, sem drenagem de chorume e gases
e estruturas de contenção e tratamentos de resíduos. O local de disposição de resíduos, desde a
sua origem, é realizada principalmente em uma grande ravina (Figura 2.2), ou seja, em uma drenagem
natural local, o que leva a uma maior infiltração e percolação das águas pluviais através dos
resíduos e, por conseqüência, maior produção de chorume, agravando ainda mais os impactos
ambientais ao solo e às águas superficiais e subterrâneas (ver Figuras 2.3, 2.4 e 2.5).
Os tipos de resíduos depositados a céu aberto não diferem dos materiais encontrados em
outros aterros e/ou lixões situados nas cidades brasileiras (IPT, 2000), consistindo de resíduos
originários nas residências, estabelecimentos comerciais (supermercados, restaurantes, bares),
serviços hospitalares, entulhos e até de origem industrial.
Figura 2.2 - Vista área da lixeira pública de Macapá (2005). Fonte: Foto do
arquivo SEMOSP/Setor de Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos.
67
Figura 2.4 - Vista para SE mostrando o chorume atingindo o córrego de
uma nascente situada em um ambiente de mata (agosto/2004).
68
Programa Primeiros Projetos
(Ω.m) (1)
⎡ 1 1 ⎤
−1
K = 2π .⎢
⎣ AM AN BM BN ⎥⎦
1 1
− − + (m) (2)
69
A polarização induzida é um fenômeno físico elétrico, estimulado pela transmissão de uma
corrente elétrica pulsante e periódica no subsolo, observada como uma resposta defasada de
voltagem nos materiais terrestres (SUMNER, 1976). A detecção e medida dessa resposta, conhecida
na literatura geofísica como curva transiente, indica a presença de material polarizável no subsolo,
constituindo-se, portanto, a base do método IP.
Nesta pesquisa, empregou-se o equipamento SARIS da Scintrex, que define a medida do
efeito IP como (SCINTREX, 2001):
∫ VIP (t ).dt
1 t2
Ma =
(t 2 − t1 ).V p t1
(3)
70
Programa Primeiros Projetos
71
Figura 2.8 - Ensaio de imageamento elétrico, arranjo dipolo-dipolo.
A interpretação geofísica dos dados consistiu, além da análise qualitativa dos dados, do uso
de modelagem numérica utilizando os métodos direto e inverso. Informações de tipo litológico de
solos, das posições do nível freático em poços de monitoramento e cacimbas, e medidas de
condutividade elétrica realizadas em amostras de água coletadas nesses poços, realizadas com
condutivimetro digital portátil de fabricação da QUIMIS, corroboraram com a geofísica na
interpretação dos dados.
As curvas de sondagem elétrica vertical foram tratadas utilizando o programa RESIX-IP
(INTERPREX, 1993). Na modelagem direta dos dados calculou-se, a partir de um método numérico
que envolve filtros digitais lineares (SEARA; GRANDA, 1987), espessura, resistividade e
polarizabilidade das camadas. Na interpretação inversa calcularam-se iterativamente novos modelos
iniciados com os parâmetros fornecidos pelo método direto até atingir certo critério de convergência
que minimizou as diferenças entre as curva teórica e de campo. Este processo é baseado na
técnica da regressão múltipla - Ridge Regression (INMAN, 1975).
Os dados obtidos pela técnica de imageamento elétrico foram processados através do
programa RESDINV da ABEM Instruments (1998) que utiliza o método dos elementos finitos
para obter-se a solução aproximada de modelos com as mais complexas geometrias. O RESDINV
adota uma técnica rápida e eficiente para inversão de dados de resistividade e de polarização
induzida que foi desenvolvida por Loke e Barker (1996) e DeGroot-Hedlin e Constable (1990),
baseada no método dos mínimos quadrados com suavização restringida. Os processos de inversão
72
Programa Primeiros Projetos
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
73
Estes grupos apresentam características comuns, tais como, número mínimo de camada e
faixa de variação da resistividade, caracterizando dois diferentes domínios geoelétricos, cada qual
indicando um quadro geológico e/ou hidrogeológico próprio. Nota-se na Figura 3.1, que os valores
de resistividades aparentes das curvas relativas aos ensaios realizados fora da área de disposição
de resíduos (grupo I) estão acima da linha de resistividade aparente de 400 Ω.m, enquanto, as
curvas relativas aos ensaios realizados dentro dos limites da área de disposição (grupo II), os
valores de resistividades aparentes estão predominantemente abaixo de 100 Ω.m. Fisicamente,
isto espelha que o pacote geológico investigado, fora da área de disposição de resíduos, é mais
resistivo do que o pacote investigado resíduos e/ou meio natural, que é menos resistivo.
Observa-se na mesma Figura, que as curvas das SEVs do grupo I apresentam o ramo final
descendente, interpretado como um horizonte condutivo associado a zona saturada. A variação
nos valores de resistividade aparente verificado no primeiro ramo descendentes das curvas indica
uma forte heterogeneidade lateral de resistividade.
O primeiro horizonte geoelétrico, cuja resistividade alcança valores que variam de 882 a
3529 Ω.m e intermediários valores IP, refere-se a cobertura superficial relacionado aos sedimentos
predominantemente argilo-areno-siltosos de coloração preta (UNIVERSIDADE ESTADUAL
PAULISTA, 2005; MARTINS, 2005). Os maiores valores de resistividade estão relacionados ao
solo desprovido de cobertura vegetal, extremamente seco, sob intensa compactação (locais de
vias de veículos), que dificulta a condução iônica, principal forma de propagação da corrente
elétrica nos materiais geológicos superficiais. Os menores valores de resistividade foram medidos
em locais de solo úmido com presença de matéria orgânica.
74
Programa Primeiros Projetos
75
Quadro 3.2 - Modelo geoelétrico proposto para a área da lixeira pelo grupo II.
Resistividade Polarizabilidade
Horizonte Interpretação Espessura (m)
(Ω.m) (mV/V)
Cobertura superficial.
Sedimentos pred. argilo
1 areno-siltoso e/ou 20 ≤ ρ1 ≤ 190 1,6 ≤ M1 ≤ 2,6 0,5 ≤ E1 ≤ 1,7
Zona não resíduos
saturada Material argilo-siltico-
arenoso c/ concreções
2 lateríticas 58 10,5 7,9
Sedimentos pred. argilo
3 Zona 11 ≤ ρ3 ≤ 96 0,7 ≤ M3 ≤ 3,8
areno-siltosos
saturada Sedimentos pred. argilo -
4 28 ≤ ρ3 ≤ 171 11 ≤ M3 ≤ 64,7
siltico-arenosos
O terceiro e quarto horizontes são relacionados a zona saturada, que apresenta a variação dos
valores de resistividade predominantemente abaixo de 96 Ω.m (com exceção do valor de 171 Ω.m,
encontrado pela SEVIP(6a)), correlacionada aos sedimentos predominantemente argilo arenosos
(baixo efeito IP) e sedimentos argilo siltosos (alto efeito IP). A zona saturada é afetada pela influência
do lixo (através da degradação e solubilização dos seus compostos) sobre a mineralização total das
águas subterrâneas, que influenciam nas resistividades obtidas pelas SEVs. Comparando as
resistividades desta zona, com a medida de condutividade elétrica de 314,6 μS/cm (32 Ω.m) de uma
amostra de água coletada em uma nascente, próxima a SEVIP(3), localizada aproximadamente 50 m
da pilha de resíduos, interpreta-se a influência de contaminantes na zona saturada.
Análise físico-química e bacteriológica de uma amostra de água superficial, retirada próximo
aos locais das SEVIP(3) e SEVIP(4) (próximo a pilha de resíduos), o parâmetro cloretos, formados
pela dissolução de sais e compostos encontrados nos resíduos, apresentou 829,5 mg/l, portanto
acima do valor máximo permissível de 250 mg/l (CONSELHO NACIONAL DO MEIO
AMBIENTE, 2005) para corpos de água e lançamento de efluente, tendo as águas superficiais
no entorno da lixeira apresentado abaixo de 8 mg/l (CAESA, 2006; FERREIRA et al., 2005). O
parâmetro E. coli, abundante em fezes humanas e de animais, tendo somente, sido encontrada em
esgotos, efluentes, águas naturais e solos que tenham recebido contaminação fecal recente,
apresentou também acima do valor máximo permissível de 800 UFC/100 ml na mesma amostra
retirada próximo as sevs (6000 UFV/100 ml). Coliforme total apresentou 1,4 x 104 UFC/100 ml,
bem acima do valor máximo permissível de 200 UFC/100 ml (CONSELHO NACIONAL DO
MEIO AMBIENTE, 2005). O chorume, retirado de uma trincheira aberta sobre a pilha de resíduos,
apresentou 2780 mg/l, indicando um grande poluidor em potencial.
Quanto aos valores de polarizabilidade variaram conforme a predominância da mistura
areia, silte e argila. Com base nesses valores, a zona saturada é associada a sedimentos
predominantemente argilo areno-siltosos (baixa polarizabilidade) ou argilo silte-arenosos (alta
polarizabilidade).
A seguir, com base na cota de cada sondagem elétrica vertical e nas profundidades dos
76
Programa Primeiros Projetos
níveis d‘água, conhecidas pelas SEVs e poços de monitoramento, determinou-se a cota do lençol
freático no ponto. Posteriormente, traçando-se as linhas equipotencias, obteve-se o mapa
potenciométrico (Figura 3.2). O sentido do fluxo local, observando a Figura, é no sentido das
ravinas, isto é, seguindo o gradiente topográfico, conforme se observa a Figura 2.7.
77
elevadas do terreno, enquanto a linha CE(9) foi posicionada nas cotas topográficas mais baixas,
distante do local de disposição de resíduos, conforme se observa na Figura 2.6.
Representativa desses ensaios, a linha CE(1) (Figura 3.3) mostra que os valores de
resistividade aparente são elevados (acima de 400 Ω.m) e diminuem predominantemente com a
profundidade, refletindo as zonas de repartição das águas no subsolo (zonas não saturada e saturada).
Notam-se zonas anômalas de resistividade aparente mais elevadas (valores maiores que 1000
Ω.m), indicando heterogeneidade presente no subsolo (variações no conteúdo de areia e concreções
lateríticas). Os valores de polarizabilidade aparente são relativamente elevados (acima de 15 mV/
V) e crescem com os níveis investigados, refletindo a predominância de material argilo siltoso
com a profundidade, conforme constatado com a sondagem SPT-4.
78
Programa Primeiros Projetos
79
Em função da resistividade e polarizabilidade reais, obtida nos modelos dos ensaios das
linhas CE(1), CE(2) e CE(9), interpreta-se que o background da área de estudo, sem influência da
disposição de resíduos, é de resistividade bem acima de 40 Ω.m, associada à polarizabilidade
predominantemente acima de 3,3 mV/V.
Com o propósito de mapear a presença de uma possível pluma de contaminação, presente
nos arredores da pilha de disposição de resíduos, foram ensaiadas as linhas CE(0), CE(3) e CE(5),
posicionadas próximo à pilha de resíduos, córrego e nascentes.
A seção CE(0) de resistividade aparente medida (Figura 3.5(a)) mostra valores de resistividade
abaixo de 60 Ω.m associado a valores baixos de polarizabilidade aparente (Figura 3.5(d)), abaixo
de 4,5 mV/V. Esses valores de resistividade aparente, principalmente do primeiro nível investigado
(menores que 33 Ω.m), são relativos a contaminação presente no subsolo, pois a linha CE(0) está
localizada sobre um trecho de um córrego intermitente que se encontra úmido pela presença de
chorume, visto in loco.
Os valores de polarizabilidades aparentes não apresentaram evidência nítida de sensibilidade
na presença de contaminação por chorume, apresentando valores dentro da faixa de valores
associados ao meio natural úmido e/ou saturado predominantemente argiloso, como o que foi
encontrado na linha CE(9).
Na Figura 3.5, mostram-se os resultados das modelagens da linha CE(0) (seções (c) e (f)),
que permitem observar no modelo de resistividade (seção (c)), os valores de resistividade elétrica
associados ao meio natural contaminado, que são indicados pela presença na superfície, de uma
zona condutiva (resistividade abaixo de 20 Ω.m). Tal inferência é confirmada por uma medida de
condutividade elétrica de 314,6 mS/cm (32 Ω.m), realizada em setembro/2005, em uma amostra
de água coletada em uma nascente a 7 m deste trecho, localizada aproximadamente a 30 m da
pilha de resíduos, que confirma a influência de contaminantes nas águas superficiais próximo
deste ensaio. Como descrito anteriormente, seção 5.2, medidas de condutividade elétrica, realizadas
em amostras de água em poços situados entorno da lixeira, mostraram que a condutividade elétrica
variou de 17,8 (561,8 Ω.m) a 26,5 mS/cm (377,3 Ω.m) (FERREIRA et al., 2005).
A linhas CE(3), Figura 3.6, apresenta na pseudo-seção de resistividade aparente medida
(seção (a)), valores que foram encontrados na linha CE(0), isto é, inferiores a 33 Ω.m, que estão
provavelmente relacionados à contaminação pela presença do percolado proveniente dos resíduos.
Quanto aos valores de polarizabilidade aparente medidos (seção (d)), os mesmos variaram conforme
predominância de material argilo siltoso (alta polarizabilidade) ou argilo arenoso (intermediária a
baixa polarizabilidade).
80
Programa Primeiros Projetos
81
Figura 3.6 - Seções de imageamento elétrico da linha CE(3) modelada.
82
Programa Primeiros Projetos
No modelo de resistividade da Figura 3.6 (seção (c)) ou com mais detalhes em relação à
escala de valores, na Figura 3.7 (seção (c)), evidenciam-se até a profundidade média de 2,6 m para
toda seção do modelo, zonas condutivas (abaixo de 100 Ω.m) correlacionadas com polarizabilidade
baixa (menor que 10 mV/V), que tem relação com os sedimentos saturados predominantemente
argilo arenosos. Observam-se também, zonas de resistividade abaixo de 20 Ω.m indicando
contaminação, como constatado na linha CE(0), cujo local de ensaio apresentava-se contaminado.
Esta interpretação foi aferido pelas medidas de condutividades elétricas de amostras de água
superficial e subterrânea aflorando nos locais de ensaios e por uma análise físico-quimica de uma
amostra de água superfícial, realizada 8 meses após o ensaio, retirada aproximadamente 25 m da
linha CE(3), exatamente sobre o eixo principal da ravina, onde a concentração de cloreto é de
829,5 mg/l, enquanto no poço do tipo amazonas, localizada acima da área de disposição de
resíduos é de 8,0 mg/l (CAESA, 2006).
É possível interpretar que, estando o corpo de resíduo muito próximo da drenagem, a
profundidade da pluma de contaminação é pequena e/ou superficial, tendo-se, assim, um caminho
mais superficial dos poluentes do aqüífero. Isso faz com que a contaminação atinja a drenagem
com relativa rapidez, ocorrendo, assim, o transporte dos poluentes pelas águas superficiais, como
detectados pelas medidas dos parâmetros físico-químicos e microbiológicos medidos.
83
somente duas linhas, deve-se a dificuldades operacionais na realização dos ensaios geofísicos
sobre os resíduos, pelo motivo de não haver a prática de cobertura dos mesmos com material
inerte, geralmente solo, na conclusão de cada jornada de trabalho, além disso, os resíduos são
queimados, impossibilitando caminhar sobre os mesmos.
A linha CE(8) (Figura 3.8), representativa destes ensaios, mostra que os altos valores de
resistividade aparente, acima de 500 Ω.m, associados a baixo valores de polarizabilidade aparente
(predominantemente maiores que 10 mV/V e menores que 30 mV/V) referem-se ao background
que aparecem no extremo esquerdo da pseudo-seção, como determinada pelas linhas CE(1), CE(2)
e CE(9). Os valores de resistividade menores que 50 Ω.m, associados a altos valores de
polarizabilidade (maiores que 40 mV/V) caracterizam a presença de resíduos. Separando essas
zonas do meio natural e dos resíduo s, observam-se tanto anomalias geoelétricas de resistividade
e polarizabilidade, com bastante simetria dos flancos de resistividade, localizadas na posição de
25 m, caracterizando uma descontinuidade lateral, que em aplicação ambiental, corresponde ao
limite lateral da área de disposição de resíduos. O intervalo de resistividade, de 60 Ω.m a 126 Ω.m,
associado ao intervalo de polarizabilidade de 30 mV/V a 40 mV/V, é interpretado como sendo
relativo à zona de transição entre o meio natural e os resíduos, refletindo a zona afetada pela
contaminação por chorume e/ou presença de resíduos, juntamente com os efeitos geométricos da
própria anomalia que caracteriza a descontinuidade local.
Na Figura 3.9, mostram-se os resultados das modelagens da linha CE(8) (seções (c) e (f)),
que permitem observar relações entre os valores de resistividade e polarizabilidade para o meio
84
Programa Primeiros Projetos
natural e os resíduos. Nos locais ocupados pelos resíduos urbanos, que apresentam valores altos
de polarizabilidade em relação ao background, refletem a presença de materiais polarizáveis dentro
da zona de resíduos, tais como metais enferrujados (latas) e restos eletrônicos (pilhas, componentes
de circuito elétrico) que são materiais eletricamente carregáveis, normalmente presentes em resíduos
urbanos
85
Com respeito à repetição de linhas de imageamento elétrico em períodos climáticos distintos
para comparação, escolheu-se apenas a linha CE(8) que cruza a área de resíduos, isto é, a linha
inicia em meio natural e finaliza sobre os resíduos. Com a atividade de disposição de resíduos,
inviabilizou-se a repetição das linhas CE(3) CE(4), devido os resíduos já ocuparem os locais
destes ensaios.
Na Figura 3.10, observam-se as seções de imageamento elétrico da linha CE(8), ensaiada
no final do período chuvoso. Comparando as seções (Figuras 3.8 e 3.10), nota-se de forma geral,
não tão visível na seção de polarizabilidade aparente, que os valores de resistividade aparente,
associados ao meio natural e cava de resíduos, diminuíram, devido à precipitação pluviométrica
Figura 3.10 - Seções de resistividade e polarizabilidade aparentes da linha CE(8) (agosto, 2006).
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Programa Primeiros Projetos
Figura 3.11 - Perfis de resistividade aparente dos níveis investigados da linha CE(8), ensaiadas nos meses de janeiro
e agosto de 2006.
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Figura 3.12 - Perfis de polarizabilidade aparente dos níveis investigados da linha CE(8), ensaiadas nos meses de janeiro
e agosto de 2006.
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Programa Primeiros Projetos
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
89
de aplicação dos ensaios. Interpreta-se que o efeito IP deu-se devido, em grande parte, aos resíduos,
e não pareceu ter alguma influência com a saturação ocasionada pela precipitação pluviométrica,
como ocorreu com a resistividade.
Visando diminuir o impacto ambiental causado pela disposição dos resíduos de forma
inadequada, recomendam-se, como medidas de monitoramento e proteção das águas superficiais
e subterrâneas, as seguintes sugestões:
a) Instalação de três piezômetros, um a montante e dois a jusante da ravina utilizada na
disposição de resíduos;
b) A diminuição da entrada de água no corpo de resíduos, pela instalação, manutenção e
reparo das canaletas de concreto, assim pelo recobrimento planejado dos resíduos com material
argiloso;
c) Construção de um tanque de acumulação de efluentes líquidos percolados a jusante da
área de disposição de resíduos, para coleta e posterior recirculação e/ou tratamento;
d) Análise química para metais pesados: Hg, Cd, Cr, Pb, Cu, Co, etc. para avaliar o grau de
comprometimento dos recursos hídricos a jusante da lixeira pública de Macapá.
5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABEM INSTRUMENTS. Geoeletrical Imaging 2D & 3D – RES2DINV, ver. 3.3 for Windows
3.1, 95 and NT. Rapid 2D Resistivity & IP inversion using the least-squares method. By
M. H. Loke. Bromma, Sweden: ABEM Instruments, 1998. Paginação irregular.
AMAPÁ. Relatório Técnico Preliminar da Qualidade das Águas Superficiais e Subterrâneas
na Região de Influência da Lixeira Pública de Macapá. Macapá: DAQ: CCF: SEMA, 2005.
7 p.
CAESA. Resultado da análise de água. Macapá, 2006. 2 p.
CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE. Resolução n°357 de 17 de março de
2005. Disponível em: http://www.mma.gov.br/conama. Acesso em: 16 out. 2006.
DeGROOT-HEDLIN, C.; CONSTABLE, S. Occam’s inversion to generate smooth, two-
dimensional models form magnetotelluric data. Geophysics, v. 55, n. 12, p. 1613-1624, 1990.
FERREIRA, A. L. C.; ANDRADE, A. P. G.; SOUZA, J. A. Relatório técnico preliminar. Macapá:
SEMA, 2005.
INMAN, J. R. Resistivity inversion with ridge regression. Geophysics, n. 40, p.789-817, 1975.
INSTITUTO DE PESQUISA TECNOLÓGICAS. Lixo municipal: manual de gerenciamento
integrado. 2. ed. São Paulo, 2000. 370 p.
INTERPEX LIMITED. RESIX-IP v.2.0 – Resistivity and induced polarization data
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Programa Primeiros Projetos
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Programa Primeiros Projetos
CAPÍTULO 4
1 INTRODUÇÃO
A história da humanidade sempre foi marcada pelo empenho que todos os povos mantiveram,
desde seus primórdios até os dias atuais, em acumular conhecimentos sobre produtos disponíveis
no seu meio que apresentassem qualquer atividade biológica para as mais diversas finalidades,
que pudessem ser convertidos para melhoria da sua qualidade de vida.
A fitoterapia apresenta-se como uma prática milenar praticada pelos chineses, egípcios,
gregos, celtas, maias e as mais diversas culturas.
Atualmente, o mercado farmacêutico, até então dominado pelas grandes empresas, começa
a ser explorado nos países emergentes. Neste ambiente favorável, existe uma corrida dos centros
de pesquisa ligados às empresas farmoquímicas/farmacêuticas do mercado, no afã de identificar,
extrair e investigar substâncias derivadas de espécies encontradas nos mais diferentes habitats,
como são as espécies vegetais provenientes de ecossistemas de florestas tropicais que se encontram
em franco processo de extinção.
E apesar de que a conjuntura macroeconômica seja desfavorável e as políticas governamentais
inadequadas, constituindo-se em sério obstáculo à competitividade farmoquímica, considera-se
que a atuação do Estado brasileiro na área fitofarmacêutica deveria ser marcada na definição de
políticas que visem proteger a indústria ou os produtos nacionais da concorrência internacional,
tanto as de cunho sanitário como as de ordem econômica, de forma a impulsionar este setor.
Sobre tudo se levar em conta o agravamento da crise econômica, a qual gera instabilidade, repercute
sobre o custo de capital, desincentivando o investimento e reduzindo o mercado.
93
Portanto, os investimentos em Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação, devem buscar de forma
racional, evitar desperdícios com duplicação de esforços em pesquisas feitas por diferentes instituições,
devendo visualizar as oportunidades de mercado dentro da perspectiva nacional e mundial,
incorporando seus novos paradigmas e identificando os nichos de competitividade na área.
A simples consulta das pesquisas realizadas em instituições de pesquisa/universidades mostra
como há ausência de pesquisadores em doenças infecto-parasitárias negligenciadas e/ou
emergentes, como tuberculose, leishmaniose, contaminação hospitalar por bactérias resistentes e
malária.
É necessário assim, um aumento do investimento tecnológico, buscando sintetizar novos
produtos, especialmente aqueles voltados para o atendimento de mercados potenciais. Sobretudo,
dos países em desenvolvimento e/ou desenvolvidos, tais como América Latina e África.
Sobretudo, considerando que o Brasil é um país rico de vasta diversidade vegetal, e que com
muita freqüência espécies pouco ou praticamente nunca estudadas podem ser encontradas, embora
seu uso medicinal seja bastante restrito a pequenos povoados da zona rural.
Na Amazônia, muitas espécies são popularmente conhecidas para diversos usos, inclusive
medicinal. Algumas dessas plantas, cujo valor inerente às vezes é pouco conhecido, correm o
risco de serem extintas, sem sequer terem sido catalogadas e, conseqüentemente, sem que se saiba
sua potencialidade como bem economicamente valioso. Sendo que, nesta região encontra-se um
inestimável estoque vegetal com perspectivas de ser amplamente utilizado para as mais diversas
aplicações na ceara da fitoterapia.
Entretanto, apesar de que algumas destas espécies foram estudadas, as combinações químicas
e farmacodinâmicas e sua atividade biológica aguardam por maiores investigações, sobretudo,
quando se considera a problemática da resistência antimicrobiana, que é um assunto de grande
preocupação em saúde pública brasileira na atualidade.
Todavia, vale lembrar, que muitas destas espécies com importante potencial terapêutico
também sofrem erosão genética pelo aspecto insustentável das lesivas práticas de utilização de
seus ecossistemas, principalmente as promovidas pela agropecuária, pelas atividades madeireiras
e de mineração. Considera-se assim, que a utilização desse patrimônio genético de importância
não só econômica, mas também científica, política e social, não devendo ser explorado de forma
extrativista e predatória e sim, de forma sustentável.
Assim, novas drogas, incluindo um arsenal de reserva com menos efeitos colaterais, vêm
merecendo especial atenção na Região Amazônica.
Nesta linha, alguns programas nacionais de Ciência & Tecnologia implementados no Estado,
vêm convergindo esforços no sentido de promover a qualificação das estruturas internas e a
valorização local, e conseqüentemente dinamizar a sociedade, criando condições para a geração e
atração de novas atividades produtivas, dotando a região para converter a riqueza de recursos naturais
disponíveis em produtos que venham promover melhorias à assistência na saúde da população e
promover simultaneamente a valoração do desenvolvimento de seus atores e espaços de gestão.
94
Programa Primeiros Projetos
A história da humanidade sempre foi marcada pelo empenho que todos os povos mantiveram,
desde seus primórdios até os dias atuais, em acumular conhecimentos sobre produtos disponíveis
no seu meio que apresentassem qualquer atividade biológica para as mais diversas finalidades,
que pudessem ser convertidos para melhoria da sua qualidade de vida.
Neste sentido, Eldin e Dunford (2001), apresentam a fitoterapia como uma prática que está
intrínseca na história da humanidade, mencionando que em 2.800 a.C., os chineses já apresentavam
uma lista com mais de 360 espécies de plantas utilizadas como remédio, em 2.000 a.C., bem como
o fato de um grande número de médicos egípcios, utilizarem de forma efetiva esta prática
alternativa, e no século IV a.C., os gregos também já apresentam listas das plantas medicinais que
comercializavam.
Estes autores relatam ainda a corrida dos centros de pesquisa para identificar, extrair e
investigar substâncias derivadas de diversas espécies encontradas em variados habitats.
E apesar de que a conjuntura macroeconômica seja desfavorável e as políticas governamentais
inadequadas, constituindo-se em sério obstáculo à competitividade farmoquímica considera-se
que a atuação do Estado brasileiro na área fitofarmacêutica deveria ser marcada na definição de
políticas que visem proteger a indústria ou os produtos nacionais da concorrência internacional,
tanto as de cunho sanitário como as de ordem econômica, de forma a impulsionar este setor.
Sobre tudo se levar em conta o agravamento da crise econômica, a qual gera instabilidade, repercute
sobre o custo de capital, desincentivando o investimento e reduzindo o mercado.
Portanto, os investimentos em Pesquisa, Desenvolvimento & Inovação devem buscar de
forma racional, evitar desperdícios com duplicação de esforços em pesquisas feitas por diferentes
instituições e explorar nichos em que as empresas estrangeiras poderiam estar interessadas. A
simples consulta das pesquisas realizadas em instituições de pesquisa/universidades mostra como
há ausência de pesquisadores em doenças infecto-parasitárias negligenciadas e/ou emergentes,
95
como tuberculose, leishmaniose, contaminação hospitalar por bactérias resistentes e malária.
Denota-se assim como é necessário o aumento do investimento tecnológico, buscando
sintetizar novos produtos, especialmente aqueles voltados para o atendimento de mercados
potenciais. Sobretudo, em regiões menos desenvolvidas do país, como o Estado do Amapá.
Em região rica em diversidade vegetal como o Amapá, espécies pouco ou praticamente
nunca estudadas podem ser encontradas, embora seu uso medicinal seja bastante restrito à zonas
rurais.
Conforme a Secretaria Estadual do Meio Ambiente do Estado do Amapá - SEMA (AMAPÁ,
1997), o Estado do Amapá, possui diferentes ecossistemas. Entre os principais encontram-se a
floresta de Terra-Firme, que ocupa cerca de 71,9 % dos 143.276 km2 de extensão; a floresta de
Várzea, com 5,4%; a Florestas de Transição com 2,7%; o Campo Cerrado com 6,9%; os Campos
Inundáveis com 11,2% e os Manguezais, com 1,9%.
A diversidade biológica do estado do Amapá, típica de região tropical sul-americana, tal
qual ao restante da Região Amazônica é caracterizada por vegetação exuberante em extratos em
que alojam desde árvores centenárias como as castanheiras (Bertolletia excelsa) na Terra-Firme e as
sumaúmas (Ceiba pentandra Gaertn.), na várzea, assim como diversas espécies de dossel e subosque,
incluindo lianas e igualmente grande variedade de epífitas, constituindo-se entre os maiores
reservatórios de diversidade genética, das mais diferentes espécies que nela habitam encontrados
em sistemas evoluídos e nos mais diferentes graus de complexidade.
96
Programa Primeiros Projetos
Uncaria guianensis
A espécie Uncaria guianensis, vernaculmente conhecida como “Unha-de-gato”, “Jupindá”, “Cipó-
de-Garimpeiro”, pertence à família Rubiaceae-Coptosapelteae.
Quanto à composição química de U. guianensis, foram isolados vários glicosídeos
triterterpênicos, alcalóides do tipo oxindolicose e compostos fenólicos (LAVAUT; MORETTI;
BRUNETON, 1983; LEE et al., 1999; LEMAIRE et al., 1999; LAUS; KEPLINGER, 2003;
CARBONEZI et al., 2004; VALENTE et al., 2006).
Em indivíduos apresentando osteoartrite, o extrato de U. tomentosa mostrou-se eficaz na
redução do processo inflamatório e dor, sem efeitos deletérios (PISCOYA et al., 2001; WALKER-
BONE, 2003). Miller e colaboradores mostraram que extratos dessa espécie têm ação protetora
sobre cartilagem de joelho (MILLER et al., 2006). Em patente norte-americana fora descrito um
suplemento nutricional contendo U. guianensis para osteoartrite (BENTLEY, 2006). Herrera e
colaboradores observaram a ação de extratos de U. guianensis sobre inflamação gastrointestinal
(HERRERA; SANTIYÁN; CASCOS, 2001).
Os extratos aquosos não demonstraram atividade citotóxica, mas apresentaram atividade
antimutagênica em fotomutagênese induzida por 8-metoxipsolareno e radiação UV em Salmonella
spp. Os alcalóides indólicos isolados desse extrato apresentaram atividade imunoestimulante e
imunorreguladora (KITAJIMA et al., 2003; WINKLER et al., 2004). Também apresentaram ação
97
reparadora de DNA com redução da morte de células epiteliais da pele, o que os torna promissores
para formulações de protetores solares (MAMMONE et al., 2006).
Simaba cedron / Quassia cedron
A Simaba cedron (sinon. Quassia cedron), espécie da família Simaroubaceae, popularmente
conhecida como “Pau-pára-tudo” e “Pau-de-gafanhoto” é rica em quassinóides, sendo utilizada
como antimalárico (KREBS; RUBER, 1960; POLONSKY, 1960; KOIKE; OHMOTO, 1994;
CURCINO VIEIRA et al., 1998; HITOTSUYANAGI et al., 2001; OSORIO-HERRERA et al.,
2005). Os compostos, cedronina e cedrin isolados de sementes, apresentaram atividade antimalárica
in vitro e in vivo contra cepas resistentes e sensíveis à cloroquina. A cedronina também apresentou
atividade citotóxica em células (O’NEILL et al., 1986; MORETTI et al., 1994).
Brosimum acutifolium (Moraceae)
Conhecida como “Mureré”, “Mururé-Pajé da seiva vermelha” ou “Muirapiranga”, é espécie
madeireira popularmente usada como antiinflamatório, antireumático (TORRES et al., 2000) e
antianêmico (COUTINHO; TRAVASSOS; AMARAL, 2002). A composição química dessa espécie
é diversificada apresentando principalmente flavonóides e lignóides (TORRES et al, 1997;
TEIXEIRA; CARVALHO-ALCANTARA; PILÓ-VELOSO, 2000; TORRES et al., 2000;
TAKASHIMA et al., 2005), bem como amina alucinógena (MORETTI et al., 2006).
Das cascas dessa espécie foram isoladas algumas flavonas que apresentaram toxicidade a
células P388 vincristina-resistentes (TAKASHIMA et al., 2005), flavolignanas que apresentaram
atividade inibitória das proteinaquinases A e C (TAKASHIMA et al., 2002). Um flavonóide
apresentou atividade citotóxica dose-dependente sobre feocromocitomas (PC12) (COSTA et al.,
2005) . Duas patentes citam essa espécie como ativos em produtos cosméticos e cosmecêuticos
(UEDA; ISHIMARU, 2001; MIO et al., 2003). Algumas de suas substâncias têm mostrado atividade
inibitória da hialuronidase, sendo ativos promissores no tratamento da pele, em cremes, sabonetes,
xampus, antiperspirantes, entre outros (UEDA; ISHIMARU, 2001).
Copaifera sp.
A espécie Copaifera sp, popularmente conhecida como Copaíba, pertence à família
Caesalpinaceae. O uso medicinal do “óleo de copaíba” extraído do cerne é relatado como
antiinflamatório, cicatrizante e nas infecções de garganta (MING; GAUDÊNCIO; SANTOS, 1997;
MACIEL et al., 2002; VEIGA-JUNIOR; PINTO, 2002; PASA et al., 2005). Patente do processo de
obtenção de extratos, frações e substâncias isoladas da C. reticulata foi depositada (BRUNHAROTO
et al., 2005). Copaifera reticulata Ducke apresentou ácido copaífero, á-cubeno, â-cariofeleno, á-
humuleno e d-candieno, utilizado como antinflamatório e cicatrizante, com ação contra o bacilo do
tétano e herpes (VIEIRA, 1992). O óleo de C. reticulata foi avaliado quanto à atividade antiinflamatória
e cicatrizante em ratas ooforectomizadas e apresentou resultados superiores aos controles (BRITO
et al., 2000; GOMES et al., 2006). Os extratos da casca de C. reticulata foram avaliados quanto à
atividade antioxidade e captadora de radicais livres. Os autores observaram que o extrato aquoso
apresentou alta atividade que foi posteriormente atribuída a taninos (DESMARCHELIER et al.,
1997; DESMARCHELIER et al., 2001; DESMARCHELIER; BARROS, 2003).
98
Programa Primeiros Projetos
99
além de ser usada no tratamento do diabetes e de várias afecções pulmonares, como a asma e
bronquite (SILVA et al., 2006). Das cascas de A. caranapauba foi extraído um alcalóide, a
carapanaubina (GILBERT et al., 1963). O extrato aquoso das cascas apresentou efeito
gastroprotetor em ratos (SILVA et al., 2006).
Ouratea hexasperma
Ouratea hexasperma, especie da família Ochnaceae, conhecida popularmente como Barbatimão
do Cerrado, é utilizada popularmente como tônico, adstringente e vermífugo. É nativa brasileira
ainda pouco estudada. Dos extratos de O. hexasperma foram isolados vários flavonóides, principalmente
flavonas, isoflavonas diméricas (MOREIRA et al., 1994; MOREIRA et al., 1999; DANIEL et al.,
2005; CARVALHO et al., 2005) e hidrocarbonetos aromáticos (WILCKE et al., 2004). Quanto à
atividade biológica, alguns diflavonóides isolados dessa espécie apresentaram atividade de inibição
da DNA-topoisomerase (GRYNBERG et al., 2002), inibição do crescimento de células tumorais
Sarcoma 180, tanto ex vivo, quanto in vivo (GRYNBERG et al., 1994; MOREIRA et al., 1999).
Virola multicostata / Virola surinamensis
A espécie Virola multicostata / Virola surinamensis, pertence à família Myristicaceae, sendo
conhecida vernacularmente como “Virola”, “Ucuúba branca” ou “Ucuúba de igapó”. É considerada
de múltiplo uso, inclusive sua utilização medicinal da Amazônia . A resina da casca é utilizada nas
erisipelas e o chá das folhas nas cólicas e dispepsias (LOPES et al., 1999). De extratos de V.
multicostata foram isolados lignanas e neolignanas, ácidos orgânicos, flavonóides, principalmente
flavonas e isoflavonas, policetídeos, triglicerídeos, esteróides, mono- sesqui- e triterpenos
(BLUMENTHAL; SILVA; YOSHIDA, 1997; LOPES et al., 1999; BARATA et al., 2000; BORGES,
2003; LOPES; YOSHIDA; KATO, 2004; NIHEI et al., 2004; LOPES et al., 2005).
Quanto à atividade biológica, substâncias isoladas dos extratos de V. multicostata apresentaram
ação antifúngica contra Cladosporium cladosporioides (LOPES; KATO; YOSHYDA, 1999). Além
disso, extratos e compostos isolados dessa espécie apresentaram atividade esquistossomicida
(ALVES et al., 1998, 2002) e inibição de penetração de cercárias em camundongos (BARATA,
1976); tripanossomicida (LOPES et al., 1998; NIHEI et al., 2004), antimalárica, sendo ativos
contra Plasmodium falciparum (LOPES et al., 1999).
Dalvergia monetária
A espécie Dalvergia monetária/D. subcymosa, pertence à família Dalbergieae, sendo conhecida
vernacularmente como Verônica. Conforme Rodrigues (1989) e Vieira (1992), as cascas são
utilizadas em infusão no controle de anemia (15g em 1/2L de água) e na lavagem em inflamações
uterinas (20g em 1/2L de água), assim como no tratamento de afecções pulmonares (catarros,
bronquites e tosses tísicas).
Carapa guianensis
A espécie Carapa guianensis Aubl., pertence à família Meliaceae, sendo conhecida
vernacularmente no Brasil como andiroba, adirobinha, andiroba branca, andiroba-do-igapó, caraper,
jandiroba e penaiba.
100
Programa Primeiros Projetos
Conforme Taylor (1998), o azeite de andiroba filtrado, apresenta na sua composição, através
do processo da cromatografia gasosa, os seguintes ácidos FATTY: palmítico (28,18%), palmitoléico
(1,04%), esteárico (8,11%), oléico (50,5%), linoléico (8,5%), araquídico (1,2%), linolênico (10,3%).
Esta mesma autora apresenta na composição do azeite de andiroba, os seguintes fitoquímicos:
11-beta-acetoxi-gedunina; 6-alfa-acetoxi-epoxiazadiradiona; 6-alfa-acetoxi-gedunina; 6-beta-
acetoxi-gedunina; 6-alfa, 11-beta-diacetoxi-gedunina; 6-alfa-hidroxigedunina; 6-beta, 11-beta-
diacetoxi-gedunina; 7-deacetoxi-7-oxigedunina; 7-desacetoxi-7-cetogedunina; andirobina;
epoxiazadiradiona.
101
Calophyllum brasiliense, Geissospermum argenteum, Brosimum acutifolium, Ptycopetalum olacoides e Hymenaea
coubaril são mantidos provisoriamente sob números de registo BRM1, BRM2, BRM5, BRM8 e BRM10
respectivamente, na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária do Amapá - EMBRAPA-Amapá.
Preparação dos extratos crus
O material vegetal foi seco artificialmente em estufa de circulação forçada, à temperatura
de 50º C durante três dias para folhas e ramos finos e durante cinco dias para cascas e lenhos das
árvores, para eliminação de agentes deletérios como fungos e bactérias. O referido material foi
pulverizado em moinho de faca tipo Willy, equipado com peneira de 20 mesh.
Em seguida, os extratos secos foram postos a macerar por sete dias, durante quatro semanas
consecutivas, através da imersão em etanol e/ou extrato hexano como meio solvente. A solução
extrativa foi decantada e concentrada à temperatura de 50oC, realizando-se para tanto, a secagem do
soluto através da evaporação do solvente em um evaporador rotativo mergulhado em banho-maria.
102
Programa Primeiros Projetos
103
Estirpes de Bactérias ATCC
Os extratos crus das espécies vegetais foram selecionados (screened) para atividade
antibacteriana de 7 microorganismos resistentes clínicos que utilizam como controle espécies
bacterianas da American Type Culture Collection - ATCC. Foram utilizadas as cepas padrão de
Proteus mirabilis ATCC 7022, Klebsiella pneumoniae ATCC 27853, Pseudomonas aeruginosa ATCC
27853, Escherichia coli ATCC 25922, Staphylococcus aureus ATCC 29213, Enterococcus faecalis ATCC
29212, Streptococcus pneumoniae ATCC 46619, e também das mesmas espécies obtidas a partir de
coleta hospitalar de cepas resistentes e multirresistentes, em Brasília, Brasil.
Ensaio biológico
Buscando-se encontrar alguma atividade inibitória dos extratos vegetais no desenvolvimento
das bactérias, foi utilizado no teste o método de difusão em ágar de Kirby-Bauer. Para tanto,
foram utilizados discos de papel filtro estéril (papel Hartman No.1) medindo 6 milímetros de
diâmetro, embebidos em extratos crus dissolvidos em etanol, e secos à temperatura ambiente.
104
Programa Primeiros Projetos
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
105
Isto vem a ser um indicativo da alta adaptabilidade das espécies destes ecossistemas a solos
argilosos, ou franco argilosos, pobres e ácidos, bem como tolerantes a níveis elevados de alumínio.
Nas análises de solos observadas na tabela 3, observa-se que as espécies encontradas nos
ecossistemas de Várzea, estão localizadas apenas numa faixa estreita ao longo do rio Amazonas e
seus afluentes, ficando grande parte do ano submersas. Estes ecossistemas apresentam solos
classificados como Gleysolo Háplico, geralmente siltosos, ricos em potássio, fósforo, cálcio e
magnésio, de acidez entre média e baixa. Portanto as espécies ocorrentes nestas áreas de Várzea
estão condicionadas a solos férteis e de baixa acidez, no entanto, com aeração deficiente, sofrendo
constantes inundações pelo fenômeno das mares, as quais carreiam grandes quantidades de
nutrientes repondo constantemente sua fertilidade natural. Estes solos são considerados eutróficos
quando a saturação de bases é maior que 50% e distróficos quando esta é menor que 50%.
106
Programa Primeiros Projetos
107
Concentração Letal Média para Artemia salina
108
Programa Primeiros Projetos
Enquanto que Andira retusa, Aniba canellila, Aristolochia cf. rodriguesi, Brosimum acutifolium,
Brosimum rubescens, Calophyllum brasiliense, Copaifera sp, Elephantopus scaber L., Geissospermum argentum,
Glycoxylon prealtum, Hymenaea coubaril, Lycania macrophylla, Mimusops huberi, Tabebuia serratifolia, Uncaria
guianensis e Vatairea guianensis apresentaram-se como os menos ativos (>1000ppm) frente a espécie
Artemia salina.
A utilização do bioensaio de letalidade da Artemia salina na avaliação de extratos crus de
diferentes espécies da flora amazônica foi eficiente mostrando a toxicidade específica de cada um
destes extratos.
Na avaliação do rendimento dos extratos brutos obtidos de espécies medicinais da flora
amazônica, pode-se observar que houve diferenças de rendimento entre as diferentes espécies em
estudo.
Assim, os extrato obtidos a partir do óleo de Carapa guianensis (99,1%), e das seivas de
Parhancornia amapa e Brosimum potabile apresentaram os maiores rendimentos relativos de extrato.
Quando se avaliou os rendimentos de extratos obtidos a partir das cascas e caule das espécies
em estudo, os maiores rendimentos foram das espécies Mimusops huberi (22,5%) e Stryphnodendron
barbatiman (27,5%).
E, avaliando-se os rendimentos de extratos obtidos a partir das folhas das espécies em
estudo, o maior rendimento foi obtido com a espécie Elephantopus scaber (8,0%).
Portanto, os rendimentos na produção de extratos mostraram-se variáveis em função da
espécie e da parte da planta em estudo (folha, casca, óleo e seiva).
Os extratos vegetais de Geissospermum argenteum, Uncaria guianensis, Brosimum acutifolium,
Copaifera sp., Lycania macrophylla, Ptycopetalum olacoides e Dalbergia subcymosa, mostraram atividade
contra as bactérias Staphylococcus aureus e Pseudomonas aeruginosa, ambas resistentes a maioria dos
antibióticos em uso atualmente.
109
Estão em curso análises quanto à atividade anti-viral (retrovírus da Imunodeficiência Humana
e Felina) e antineoplásica (linhagens celulares transformadas de tecido pulmonar).
Os resultados alcançados na prospecção de atividade biológica são um indicativo de que a
região depende da capacidade de se especializar naquilo que consiga estabelecer vantagens
comparativas efetivas e dinâmicas, decorrentes do seu estoque de atributos e da capacidade local
de promoção continuada de inovação.
Portanto, a relação existente entre as diferentes instituições da rede de pesquisa nacional
podem promover transformações criadoras de soluções aplicativas e/ou integradas, potencializando
um fluxo de informações científicas, tecnológicas e culturais.
Portanto, canalizou-se esforços na pesquisa aplicada, com a realização de testes e adaptações,
promovendo processos de inovação cuja força poderá alterar a natureza da produção e consumo
de farmacoquímicos, inclusive possibilitando o crescimento e ampliando a capacidade contínua
de agregação de valor sobre a produção da flora amazônica, através da introdução de novos
produtos; novos métodos de produção; criação de novos mercados; a exploração de novas fontes
de matérias-primas, podendo-se constituir em fontes do avanço econômico local e regional.
Tem-se assim o entendimento, que com um processo de criatividade e inovação tecnológica
será possível conquistar novos mercados, inclusive de fitoterápicos e outros produtos químicos
de origem vegetal, de forma a poder promover a valoração de novas fontes de matérias-primas da
floresta tropical amapaense, podendo constituir-se em fontes de avanço econômico para o Estado.
Desta maneira, as expectativas no processo de inovação tecnológica de fito-fármacos vêm
ao encontro da sinergia das relações interinstitucionais e do crescimento do mercado fundamentado
na tecnologia fitofarmacêutica.
5 CONCLUSÃO
Algumas espécies com potencial para utilização terapêutica e/ou industrial, provavelmente
estão irremediavelmente sob domínio de pesquisadores e/ou instituições estrangeiras. Entretanto,
existem ainda espécies pouco estudadas e outras ainda por serem descobertas.
Os rendimentos na produção de extratos mostraram-se variáveis em função da espécie e da
parte da planta em estudo (folha, casca, óleo e seiva)
Extratos vegetais crus de certas espécies amazônicas apresentaram atividade contra as
bactérias Staphylococcus aureus e Pseudomonas aeruginosa, ambas resistentes à maioria dos antibióticos,
e Staphylococcus aureus ATCC.
Os resultados obtidos, são um indicativo de que os estudos de bioprospecção na flora
amapaense, certamente ratificam a potencialidade de fabricação de produtos fitoterápicos no Estado
e denotam o importante papel da academia na criatividade e inovação tecnológica voltado ao
desenvolvimento regional, contribuindo para atender às demandas por novos medicamento da
110
Programa Primeiros Projetos
população em geral.
Portanto, existem expectativas futuras no Estado do Amapá, através da inovação com
medicamentos e o desenvolvimento tecnológico de fármacos e formulações que venham ao
encontro da valoração do potencial da diversidade biológica de sua flora, apostando no crescimento
do mercado fitofarmacêutico.
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116
Programa Primeiros Projetos
117
118
Programa Primeiros Projetos
CAPÍTULO 5
1 INTRODUÇÃO
1. Doutora em Psicologia pela USP, Professora de Psicologia da Educação e Pesquisa Educacional, Professora e Orientadora de
Mestrado em Desenvolvimento Regional, Coordenadora do Núcleo de Educação e Cultura da Universidade Federal do Amapá
(NEC/UNIFAP).
2. Aluna da Iniciação Científica do NEC e graduanda do curso de Pedagogia da UNIFAP.
3. Bolsista SETEC, NEC/UNIFAP e graduanda do curso de Pedagogia da UNIFAP.
4. Bolsista CNPq, NEC/UNIFAP e graduanda do curso de Pedagogia da UNIFAP.
119
favorecedora da formação de funções interpsíquicas e intrapsíquicas (VYGOTSKY, 2003) que
ocorre dentro de um contexto cultural, campo de ação do sujeito e funciona como regulador da
ação. Portanto, cultura é entendida como o ambiente onde o sujeito age, construindo e
transformando sua subjetividade enquanto interage com os objetos presentes. Este ambiente,
tanto material quanto social, é um campo onde oportunidades e condições para a ação estão
disponíveis, ou seja, um campo de ação (BOESCH, 1991; BOESCH, 1997). De uma forma mais
ampla, a cultura é um complexo de campos de ações, tanto do indivíduo quanto dos grupos a que
pertence. Nesta inter-relação, a cultura, em uma relação dialética, passa a ser construída pela
interação entre os indivíduos, ao mesmo tempo em que os constrói (BOESCH, 1991). Ao agir
cognitiva e emocionalmente, o indivíduo constrói significados que, na dinâmica dos significados
construídos por outros atores, constituirão a cultura (SIMÃO, 2002). Desta forma, ação e cultura
são interdependentes e o outro se constitui como parte do ambiente.
Sob esta ótica, a cultura se configura como um espaço de ação coletiva dotado de objetivos
e significados distintos que oferecem oportunidades e limites para a ação do indivíduo estabelecendo
zonas de tolerância (VALSINER, 1997) que proporcionam o surgimento de diferentes valores
visado e com isto as barreiras (BOESCH, 1991; OLIVEIRA, 2002). É importante notar, ainda,
que o indivíduo usa estes limites para agir sobre a cultura e que, segundo essa lógica, o indivíduo
é, também, construtor da sua cultura (SIMÃO, 2002).Portanto, as ferramentas culturais e a relação
empática do indivíduo com os outros construtores da cultura proporcionam ao sujeito a construção
da sua identidade, da significação que ele faz de si, do outro e da relação que ele estabelece com
o outro (SIMÃO, 2002).
Neste sentido a interação social se configura como fomentadora do desenvolvimento do
raciocínio lógico, graças ao processo de regulação cognitiva e emocional provocado pelo surgimento
dos conflitos. Para Cool (1994) é durante a interação social que a criança aprende a regular os seus
processos cognitivos. A regulação destes processos cognitivos ocorre a partir das indicações e
diretrizes de pessoas mais habilidosas resultando no processo de internalização. Este processo,
que a princípio ocorre com a ajuda dos mais habilidosos (regulações interpsicológicas), transforma-
se progressivamente em algo que pode fazer ou conhecer a si mesmo (regulações intrapsicológicas)
estabelecendo assim uma relação dialógica entre fatores interpsicológicos e intrapsicológicos e
fomentadora da origem social do conflito cognitivo (COLL, 1994).
Estas explicações têm origem no conceito elaborado por Vygotsky sobre a origem dos
processos mentais. Segundo Vygotsky (2003), as funções psicológicas superiores aparecem duas
vezes no curso do desenvolvimento da criança: a primeira nas atividades coletivas e sociais, ou
seja, em forma de funções interpsicológicas e a segunda, nas atividades individuais, em forma de
processos internos inerentes ao pensamento da criança, ou seja, como funções intrapsíquicas.
Assim a interação social estabelece a função de regulação do processo intrapsicológico a partir
das regulações interpsicológicas produzidas pelo conflito sociocognitivo e, desta forma, a interação
social tem fundamental importância para o desenvolvimento intelectual e sócio-afetivo como
também é capaz de fazer com que o sujeito conheça a si mesmo como instaurador de situações de
cooperação e coordenações de operações fundamentais para o desenvolvimento humano
120
Programa Primeiros Projetos
(OLIVEIRA, 2002).
Dentro das interações sociais, a interação verbal tem papel fundamental para o
desenvolvimento das funções psicológicas superiores pois o outro, através da mediação, que ocorre
essencialmente por meio de interações verbais, proporciona ao sujeito o estabelecimento de uma
relação dialógica entre fatores internos e externos provocando mudanças que serão refletidas no
meio (OLIVEIRA, 2002).
Para Simão (2000), a interação verbal, numa perspectiva dialógico–sistêmica, vai além da
sua função imediata de comunicação e troca de informações sobre um conteúdo específico, e se
torna possibilitadora da co-construção não apenas do conhecimento a respeito de um determinado
tema, mas também da significação que, a partir daí, o sujeito faz da realidade, entendida como
versão pessoal, datada e culturalmente contextualizada. Realidade entendida não apenas como o
mundo que o sujeito percebe como exterior a ele, mas também a significação que o sujeito faz de
si, do outro e da relação eu-outro (SIMÃO, 2002). Neste sentido, “falar do papel da interação
social nos processos de construção do conhecimento é, portanto, falar do papel do outro enquanto
representante e concretizador singular, a cada momento, de possibilidades e limites em uma dada
constelação sociocultural” (SIMÃO, 2002, p. 90).
Dependendo do grau de compromisso e reciprocidade entre os interatores, as relações sócio-
culturais estabelecidas durante a interação verbal, podem ser fundamentais para a presença de
conflitos gerados pela atuação do outro que permitem o auto-conhecimento e regulações cognitivas
e emocionais, pois “a interação tem o papel de oportunizar que o sujeito conheça o outro,
objetivando e subjetivando-o, e a partir das diferenças e semelhanças construa a sua própria
identidade” (SIMÃO, 2002, p. 94).
Desta forma a interação parece ser possibilitadora da construção de significações e de
contínuas mudanças que se caracterizam pela presença do outro e pelos conflitos gerados pela
atuação dos sujeitos pois, essa significação caracteriza-se pela representação mental dos objetivos
reais compartilhados pelos grupos sociais. (SIMÃO, 2002).
Configura-se, assim, no diálogo, uma relação de interdependência mútua constitutiva entre
o sujeito, o interlocutor, a experiência esperada, a divergente do esperado e o significado relacional,
em que o papel significativo do interlocutor se dará à medida que eles se colocarem como alteridade
um para o outro: como alguém que dá oportunidade para serem construídas novas margens
(significados) possíveis, pela interação no diálogo (HOLQUIST, apud SIMÃO, 2002, p. 19/20). A
interação verbal abre espaço para a discussão do significado da ação do outro pelo sujeito onde o
outro é, em parte, co-autor das conquistas, fracassos e desenvolvimento do sujeito provocando
reflexão e regulações cognitivas e emocionais (SIMÃO, 2002).
Neste processo interativo, portanto, o sujeito depara-se com barreiras e fronteiras que são
dadas por ações verbais do outro, que podem requerer que o sujeito desenvolva regulações para
ultrapassá-las (BOESCH, 1991; OLIVEIRA, 2002; OLIVEIRA, 2003; SIMÃO 2002). Nesta
perspectiva, ao agir, o sujeito entra em confronto com diferentes visões de mundo criando conflitos
que podem possibilitar o surgimento de barreiras que se configuram como uma área difícil de ser
121
ultrapassada e exigindo ações específicas para a ultrapassagem. E, uma vez ultrapassada a barreira,
a ação pode retomar as características anteriores à ultrapassagem (BOESCH, 1991; OLIVEIRA,
2003). Isto ocorre mediante o confronto de diferentes valores visados, ou seja, mediante o padrão
imaginado ou o valor referência para o atingimento da meta, o que faz com que os sujeitos regulem
suas ações para o valor real que se caracteriza com valor correspondente a meta e que realmente
poderá ser alcançado, o que requer do sujeito regulações para ultrapassá-las instaurando assim o
conflito sociocognitivo (BOESCH, 1991).
Trazendo este enfoque para a situação de interação verbal entre três sujeitos, podemos
supor que, durante o diálogo, cada um busca convencer o outro a aceitar o seu valor visado. Ou
seja, há uma negociação entre diferentes valores visados e, conseqüentemente, de diferentes
desenvolvimentos ontogenéticos a partir da cultura. Os indivíduos da interação se valem de
argumentações e concordâncias, tentando um levar o outro a aceitar seus valores e estabelecendo
seus limites para que a ação realmente siga em frente (SIMÃO, 2000). Os sujeitos agem, assim, no
sentido de interferir cognitivamente e afetivamente no outro, independente do fato de terem
consciência ou não sobre o que estão fazendo (BOESCH, 1991). É essa interferência mútua que
possibilitará mudanças e, conseqüentemente, desenvolvimento cognitivo-afetivo nos interatores.
A interação aluno-aluno está dentre as interações sociais apresentadas por muitos autores
como um meio eficiente de levar à construção do conhecimento, tendo se tornado um importante
foco de interesse dos pesquisadores nas últimas décadas (COLL; COLOMBINA, 1996; FORMAN,
1989; LABORDE, 1996; TUDGE; ROGOFF, 1989; OLIVEIRA, 2002). Fundamentalmente, a
interação aluno-aluno permite que as crianças conversem em nível de igualdade, o que pode
conduzir a interações ricas em ações verbais; bem como conduzir as crianças à autonomia pelo
fato de torná-las responsáveis e autoras das suas decisões. A autonomia tanto propicia uma maior
motivação em busca da construção de conhecimento e possibilita que a criança exerça influência
sobre os colegas, ou seja, que atue como mediadora, papel que antes parecia reservado com
exclusividade ao professor, quanto parece, também, ser muito mais freqüente, intensa e variada
que a interação professor-aluno ou adulto-criança. Além disso, a relação entre iguais e a autonomia
decorrente propiciam uma maior relativização de papéis e visões da situação que as encontradas
na interação adulto-criança, já que os indivíduos conversam em nível de igualdade, estando mais
disponíveis para transmitir e receber informações. A relativização é a capacidade de compreender
como uma situação é vista por outra pessoa e como esta pessoa reage cognitiva e emocionalmente
a tal situação. Assim, a relativização dos pontos de vista é um elemento essencial do
desenvolvimento cognitivo e social e se relaciona com a capacidade de apresentar adequadamente
a informação, a solução construtiva dos conflitos, a disponibilidade para transmitir a informação,
a cooperação e as atitudes positivas para com os demais; além de possibilitar o uso de uma linguagem
comum facilitando o entendimento, bem como a negociação em caso de discordâncias (OLIVEIRA,
2002).
Assim na relação aluno-aluno ou criança-criança, em que os níveis de conhecimento são
similares, a distribuição de poder e/ou conhecimento tende a ser mais simétrica, gerando uma
reciprocidade que pode favorecer a relativização e a construção de conhecimento. Entretanto, em
122
Programa Primeiros Projetos
que pese a pertinência geral destas afirmações, é necessário considerar as relações entre simetria/
assimetria e equilíbrio/desequilíbrio cognitivo como fatores relevantes nos processos de construção
de conhecimento, ou seja, remete-se aqui à questão da relevância do desequilíbrio nos processos
de desenvolvimento. E, ainda mais, é necessário que se considere que estas relações se dão em
contextos sócio-afetivos particulares criados, mantidos e alterados pelos atores, embora não apenas
por eles.(OLIVEIRA, 2002).
Laborde (1996) chama esta forma de desenvolvimento, onde duas crianças interagindo podem
melhorar suas performances, de zona das potencialidades, que é homóloga à zona de
desenvolvimento proximal proposta por Vygotsky (2003). Contudo, na zona das potencialidades,
mesmo que um indivíduo da interação não seja mais experiente que o outro, isto é, em uma
interação onde os indivíduos tenham potencial similar, ocorrerá desenvolvimento. Assim, em
pares com o mesmo potencial cognitivo, o crescimento cognitivo pode ser alcançado pela tentativa
de obter consenso (LABORDE, 1996). Laborde (1996) afirma que:
A colaboração com o outro contribui para a emergência e o desenvolvimento
destas características, devido às explicitações e refutações que o trabalho com
outra pessoa requer: pôr-se de acordo acerca de uma solução comum exige
comunicar ao outro o seu próprio procedimento, eventualmente situá-lo em
relação ao do parceiro, ou até mesmo argumentar contra o projeto do parceiro.
(p. 42).
Segundo Bednarz (1996) as interações sociais ganham espaço dentro da sala de aula entre alunos
e professor, e entre alunos que têm expectativas semelhantes e interpretam as mensagens
transmitidas pelo outro através de um processo de negociação. Assim, estrutura e organização da
interação social são fatores importantes para a construção do conhecimento (BEDNARZ, 1996;
GARNIER, 1996; LABORDE, 1996). Laborde (1996), propõe ainda algumas condições que
devem ser levadas em consideração para ocorrência de uma interação social que resulte em
desenvolvimento cognitivo: escolha dos parceiros (a diferença cognitiva entre os parceiros não
pode ser grande); escolha da tarefa (as tarefas devem requerer uma maior verbalização, portanto
não podem ser estritamente algorítmicas); e duração da interação (o tempo deve ser suficiente
para ocorrerem as concordâncias e discordâncias necessárias durante uma interação, bem como a
familiarização dos parceiros com a situação do trabalho proposto).
Assim, a interação em pares pode ser uma importante forma de ensejar o desenvolvimento
cognitivo, por permitir à criança a restruturação de suas idéias através das trocas verbais. Neste
sentido, considerando que a interação social facilita o desenvolvimento em certas circunstâncias,
tais como o envolvimento conjunto na solução de problemas, Semenov (1978 citado por TUDGE;
ROGOFF, 1989) e Tudge e Rogoff (1989), propõem o trabalho durante a interação de pares
como valioso no entendimento de conceitos. A partir desse pressuposto, Rogoff (1995, 2005)
propõe, por sua vez, o conceito de “participação orientada”, onde os sujeitos passam a negociar
uma estratégia que poderá ser mais econômica e eficiente na solução de um determinado problema.
Este conceito se refere aos processos e sistemas de envolvimento entre pessoas, ou seja, como
elas comunicam e coordenam esforços, enquanto participam em atividades culturalmente válidas,
sendo este processo administrado colaborativamente pelos indivíduos e seus parceiros sociais,
123
face a face, ou em outros tipos de interações. O que a autora sugere é enfocar a atenção sobre o
sistema de engajamento e arranjos interpessoais que estão envolvidos na participação em atividades,
promovendo alguns tipos de envolvimentos e restringindo outros. A “participação” se refere à
observação, assim como ao envolvimento na atividade, enquanto a “orientação” se refere à direção
oferecida pela cultura e valores sociais, assim como pelos pares sociais (ROGOFF, 2005;
ROGOFF, 1995).
Na concepção de Rogoff (1995, 2005) uma pessoa que observa ativamente uma atividade
e segue as decisões tomadas por outras é participante, quer contribua ou não diretamente para as
decisões que estão sendo tomadas. Quanto as aspecto de orientação, crianças, mesmo trabalhando
sozinhas sobre um conteúdo, estão participando em uma atividade culturalmente orientada, que
envolve desde interações com o professor e os colegas de classe, até com os autores e com a
editora, todos ajudando a criança a agrupar ensinamentos e determinando materiais e abordagens
a serem usadas. Assim, orientações ocorrem no plano interpessoal que pressupõem o envolvimento
mútuo dos sujeitos e seus companheiros sociais, comunicando e coordenando seus envolvimentos
à medida que participam na atividade coletiva estruturadas culturalmente, a partir de seu
envolvimento em alguma tarefa os indivíduos transformam seus entendimentos e responsabilidades
para com a atividade através de sua participação, aceitando-os ou rejeitando-os, para chegar a
uma solução de um determinado problema. Na visão de Valsiner (1998) entretanto, a pessoa não
é afetada pelo ambiente cultural de forma passiva, mas de modo ativo, isto é, em condições de
reconstruir as mensagens de acordo com seus valores e crenças. Assim, no discurso, por exemplo,
os participantes estão constantemente renegociando a organização dos campos semânticos dos
termos que usam. Durante a interação, a fala do outro, bem como suas ações, restringem algumas
ações do sujeito, tomando a forma de negociações de limites (VALSINER, 1998).
Em síntese, durante a interação os pares podem aprender pela orientação do parceiro e pela
iniciativa própria em observar, imitar e sugerir. Contudo, segundo Azmitia (1988), pesquisas futuras
deveriam examinar o processo interativo, momento a momento, para permitir destacar quais
processos e sub-processos entre observação, imitação, orientação e discussão são mais eficientes
durante a construção do conhecimento.
Estudos diversos, como os colocados anteriormente, tanto na abordagem piagetiana como
vigotskiana, têm enfatizado que podem ocorrer desenvolvimento cognitivo e afetivo em sujeitos
que necessitem coordenar suas ações ou confrontar seus pontos de vista diante de uma situação-
problema a ser solucionada. A coordenação e o confronto entre ações podem ser maximizados em
situações que requerem a resolução conjunta de problemas, onde cada sujeito traz uma abordagem
cognitivo-afetiva particular a respeito de si, do outro e da natureza da atividade a ser desenvolvida,
além do chamado “conhecimento objetivo” sobre o assunto-problema.
Esta relação de aspectos cognitivos-afetivos no processo de desenvolvimento humano e da
passagem do mundo concreto para o mundo das idéias analisadas em trabalhos com díades abre
uma perspectiva para a discussão da importância da interação verbal das relações afetivas entre
tríades e das ferramentas culturais utilizadas durante as interações sociais para o desenvolvimento
humano. Diante do exposto, o objetivo do presente trabalho foi analisar e compreender o papel do
124
Programa Primeiros Projetos
outro durante a interação verbal entre tríades de alunos com relação afetiva (CRA) e sem relação
afetiva (SRA) na solução de problemas matemáticos a partir de conceitos analíticos de valor
visado, valor real e barreiras. Estes conceitos fazem parte da Teoria da Ação Simbólica de Ernest
Boesch e podem ser definidos como: Valor visado – padrão imaginado ou valor de referência para
o atingimento de uma meta. Valor Real – corresponde à meta que realmente poderá ser alcançada.
Barreira – área difícil de ultrapassar, exigindo ações específicas para ultrapassagem; após a
ultrapassagem da barreira, ação poderá retornar às características anteriores à ultrapassagem.
2 MATERIAIS E MÉTODOS
2.2 Materiais
Os materiais utilizados para a obtenção de informações empíricas foram os seguintes: papel,
lápis, borracha, filmadora, fita para filmadora 8 (oito) milímetros.
125
professora e da direção da escola. Cada tríade participou de uma sessão, onde solicitamos que
fossem resolvidos três problemas matemáticos diferentes quanto ao enunciado, mas semelhantes
quanto ao aspecto conceitual. Os problemas matemáticos foram escolhidos baseados nas
informações dadas pela professora sobre o conteúdo programático já ministrado, portanto em
conteúdos que deveriam ser de domínio dos alunos. Durante a sessão, solicitávamos as tríades de
alunos que tentassem solucionar os problemas matemáticos sempre verbalizando para os outros
interatores da tríade as dúvidas, as estratégias e as metas utilizadas no decorrer da resolução dos
problemas. Após essas explicações, entregávamos à tríade o papel com os problemas a serem
solucionados por escrito, colocando lápis e papel à disposição dos mesmos. Era disponibilizado
uma única folha com o problema a ser resolvido e um único lápis. O objetivo era dispor de condições
que pudessem forçar a realização conjunta dos problemas. . Após a finalização do trabalho, as
fitas foram transcritas e analisadas segundo o método microgenético. Os critérios para análise
foram utilizados sempre comparando o processo de negociação em tríades com e sem relação
afetiva.
Para identificação dos participantes, utilizamos os termos T1 para o participante mais
habilidoso, T2 para o segundo participante mais habilidoso e T3 para o participante menos
habilidoso, assim como para a identificação das tríades foram utilizadas as seguintes siglas: para as
tríades com relação de amizade a sigla utilizada foi CRA e para as tríades sem relação de amizade
a identificação foi SRA.
3 RESULTADOS
Para analisarmos os dados, utilizamos o método microgenético que segundo Siegler e Crowley
(apud OLIVEIRA, 2002) apresenta as seguintes características:
(a) Observações que se estendem pelo período inteiro da mudança ao tempo no
qual se obtém um estado relativamente estável; (b) Alta densidade de observações
relativamente a taxa de mudança do fenômeno; (c) Comportamento observado
submetido a intensa análise, tentativa por tentativa, com o objetivo de inferir os
processos que dão origem aos aspectos quantitativos e qualitativos da mudança
(p. 41).
A importância deste método para o nosso trabalho se fundamenta no fato de permitir um estudo
de todo o processo interativo e não apenas da análise final da interação, permitindo ao pesquisador
a verificação mais detalhada das estratégias, regulações de diferentes valores visados e o surgimento
de barreiras durante a resolução dos problemas possibilitando uma análise que revele as formas
pelas quais o sujeitos negociam seu diferentes valores visados.
Esta perspectiva de análise parte do pressuposto de que, ao resolverem problemas os sujeitos
tentavam coordenar seus espaços de ação individuais, criando um campo de ação. Durante a
resolução de problemas matemáticos, a interação possibilitou, provavelmente, a construção do
conflito sócio-cognitivo o que pode ter ensejado maior intersubjetividade. Isto ocorreu porque ao
colocar o sujeito em confronto com diferentes visões de mundo surgiram conflitos que
126
Programa Primeiros Projetos
Do trecho acima, pode-se compreender que o objetivo de T1 não era apenas resolver o
problema corretamente, mas também colocar T2 e T3 em condições de resolver conjuntamente
possibilitando a participação de todos os membros da tríade na interação. Com esta ação, T1
ultrapassava as barreiras dispostas por T2 e T3, quando os mesmos colocavam em dúvida a
resolução proposta por T1 . Neste momento T2 e T3 apresentavam formas de pensar distintas de
T1 criando assim a barreira, e, para superar esta barreira, T1 tinha que interromper e explicar sua
ação convencendo T2 e T3 que a estratégia utilizada estava correta para continuar a resolução do
problema. Assim, diante destas barreiras, T1 tinha que fazer a regulação explicitando aspectos
intrasubjetivos que proporcionaram a T2 e T3 entrar em contato com o conhecimento que T1
tinha sobre a resolução do problema.
127
T2: essa é de menos ou de mais (apontando para o papel)
T1: vamos ler de novo
T1, T2, T3: Sérgio faz pipas ...
T3: é de mais
T1: não é de menos
T2 e T3: como?
T1: (aponta para o papel) olha tá aqui no problema ele tem entrega 2478 no estoque quantas faltam para 837
T2: é mesmo a gente faz de menos e depois de mais pra...
T3: de mais
T2: é pra ver se tá certo
T1: Entendeu? (para T3)
T3: ah, tá
128
Programa Primeiros Projetos
relação ensejava maior intersubjetividade, fazendo com que ambos coordenassem suas ações com
o intuito de construir metas e objetivos em comum. Neste sentido, pode-se inferir que a construção
de metas é de ordem subjetiva-afetiva onde na interação eu-outro, o outro é visto como figura
afetivo-cognitiva que nutre, a cada momento, diferentes expectativas (SIMÃO, 2002).
T1para T2: nós temos que ler de novo, a gente se enrolou um pouco
T2: olha só A ... (para T1) eu acho que soma esse aqui com esse (aponta para o papel)
T3: (aponta para o papel) essa aqui é de vezes.
T1 e T2 - (não dá atenção para T3)
T1: vou fazer tipo uma linha para dividir as contas (olhando para T2)
T3: (se afasta da mesa) é de vezes, mais não
Nesta tríade, os sujeitos tiveram como meta resolver os problemas individualmente, tentando
afirmar seu potencial de ação. Ao perceber a distância entre o valor visado e valor real e que a
meta, proposta inicialmente, não seria alcançada, T1 solicitava a participação de T2 e T3. Esta
ação de T1 fez com que se iniciasse uma tímida interação, o que prevaleceu durante todo o
processo. É interessante analisarmos também que a interação verbal foi muito restrita e aborda
apenas aspectos relacionados ao problema.
No momento em que os sujeitos perceberam que não conseguiriam solucionar os problemas
individualmente, a meta se alterou, pois o esforço para atingir a meta diminuiu de valor e sofreu
129
adaptações ao buscar reduzir a distância entre valor visado e real. Desta forma o surgimento de
barreiras fez com que os sujeitos criassem estratégia para alcançar o valor mais próximo do visado
resultando em novas ações.
Tríade 2 SRA:
T1: (Puxa o lápis de T2 e resolve o problema sozinha)
T2 e T3: (fazem careta para a câmera)
T1: (olha para T2)
T2: tá bom ( apaga algo no papel e entrega para T2) já resolvi
T2: olha para o papel
T3: (aponta para o papel e diz para T1) tu falou que esse aqui já estava resolvido
T1: nem uma tarefa resolvi aqui
T2: resolvi sozinho
T3: (olha para ver o que T2 está fazendo, conta no dedo, pega o lápis da mão de T2 e escreve no papel)
T1 e T2: olham o que T3 escreve
T2 para T3: tá bom
T1: (olhando para o papel) Ah, meu Deus! Palitos!
T3: 6 x 6 (conta os palitos)
T3 (continua contando os palitos)
T2: (escreve na mesa)
T2: termina de escrever e tenta pegar o lápis de T3 mas T3 não entrega)
T1 (aborrecida) já terminou
4 DISCUSSÃO
130
Programa Primeiros Projetos
cultura-ação (BOESCH, 1991, 2001; SIMÃO, 1998, 1999, 2001), onde a ação que ocorre sobre
os objetos lhes confere seu caráter simbólico, já que é a ação de um sujeito simbolizador” (BOESCH
apud SIMÃO 2002, p.87).
Assim, as relações em tríades aqui estudadas, se caracterizaram como interações constituídas
por um conjunto complexo de variadas formas de atuação entre os sujeitos, ou seja, o agir estava
intimamente relacionado com a atuação do outro e com o vínculo afetivo entre eles, o que
determinou a ação seguinte. Esta perspectiva coloca-se no marco conceitual da biodirecionalidade
do processo de socialização (VALSINER, 1998; WERTSCH, 1993), segundo o qual cada ator em
interação transforma ativamente as mensagens comunicativas recebidas do outro, tentando integrá-
las em sua base cognitiva e emocional que podem, por sua vez, sofrer transformações nesse processo
(SIMÃO, 2002, p. 86).
Nas tríades com relação de amizade identificamos não apenas comentários sobre a atividade
desenvolvida, mas também o esclarecimento de dúvidas e a atenção dada à ação do outro pelo
sujeito no momento em que a ação de um se torna barreira para a atuação do outro nesta perspectiva.
Assim, “falar do papel da interação social nos processos de construção de conhecimento é, portanto,
falar do papel do outro enquanto representante e concretizado singular, a cada momento, de
possibilidades e limites em uma dada constelação sociocultural” (SIMÃO, 2002 p. 90).
É importante destacarmos que nas tríades com relação de amizade a verbalização das ações
foi maior, o que demonstra a segurança que se caracteriza pela influência positiva do relacionamento
entre os interatores, no processo da mediação. Em síntese, nas tríades com relação de amizade,
observou-se que a interpretação da ação do outro pelos membros da tríade estava centrada na
relação afetiva estabelecida entre os interatores. Através desta análise foi possível verificar como
os sujeitos das tríades com relação de amizade se sentem diante da ação do outro e mediante a
isto, como coordenam e regulam suas ações na tentativa de diminuir a distância entre valor visado
e valor real. Além disso, durante as análises realizadas, evidenciou-se que havia uma preocupação
em coordenar diferentes valores visados com o intuito de construir metas e objetivos em comum.
Desta forma, a relação afetiva estabelecida durante a mediação constitui-se como fator fundamental
para determinar a relação entre os interatores.
É importante afirmar que a inter-relação entre os diferentes valores visados dos sujeitos
com mais e menos habilidades sobre o tema abordado, enseja maior coordenação, pois, a interação
de crianças mais ou menos habilidosas é fundamental para o desenvolvimento como também para
a construção de uma identidade positiva na medida em que os sujeitos desempenham o papel de
mediador na construção do conhecimento.
A relação com o outro traz várias direções e pode ter uma multiplicidade de significados. O
outro pode ser uma fonte de gratificação ou frustração; um modelo a ser imitado ou um anti-
modelo a ser evitado; avaliado positivamente ou negativamente (SIMÃO, 2005). Nesta perspectiva
a interação verbal transcende a sua função mediada de comunicação e troca de informações sobre
um determinado assunto, para se tornar possibilitadora da co-construção não apenas de
conhecimento, mas da compreensão que o sujeito constrói da realidade e também da significação
131
que o sujeito faz de si e da sua relação com o outro. A partir desta relação dialógica a sua identidade
é construída através da passagem do nível interpsicológico para o intrapsicológico, envolvendo
relações densas medidas cognitiva e afetivamente.
Partindo deste pressuposto, definimos a afetividade como fonte de conhecimento que está
intimamente vinculado ao ambiente cultural/social. Esta relação se mostra claramente nas tríades
que tinham relação de amizade, pois, o tempo da interação era maior, o que possibilitou maior
auto e heteroregulação com a superação de barreiras ensejando maior intersubjetividade.
No entanto, há duas situações que devemos destacar entre as duas tríades com relação de
amizade. Primeiro, em uma das tríades ouve a exclusão de T3 (menos habilidoso). Esta exclusão
estava, possivelmente, relacionada a menor afetividade, haja vista que T1 (mais habilidoso) e T2
(menos habilidoso) possuíam vínculo de amizade desde a pré-escola, portanto maior tempo de
amizade, o que permite inferir que as relações afetivas são fundamentais para a construção do
conhecimento. Numa interação entre pessoas, onde o afeto está presente, a relação intersubejtiva
tende a ser mais intensa, adquirindo novas formas de manifestações como toque, olhares e outros
gestos e falas. Nesta tríade tanto T1 (mais habilidoso) como T2 dirigiam suas ações para atingir o
valor visado e a intervenção de T2 funcionava como facilitadora ou como barreira para o
atingimento de valores visados. Por outro lado, quando T3 se tornava barreira, T1 e T2 sugeriam
que a mesma resolvesse o problema sozinha. Desta forma os aspectos afetivos direcionavam a
coordenação de metas comuns reiterando a relação intrapessoal e a intersubjetividade, enquanto
um tenta influenciar o outro para atingir seus objetivos. Assim, pode-se inferir que a construção
de metas é de ordem subjetiva-afetiva, estando a afetividade presente em todos os momentos da
interação, não se restringindo apenas as decisões e escolha de metas onde o outro apresenta inúmeras
situações com implicações afetivas para o outro.(SIMÃO, 2005; OLIVEIRA, 2002).
Neste sentido, analisar aspectos da afetividade para a interação significa analisar condições
oferecidas para que se estabeleça um vínculo entre os sujeitos, ou seja, discutir efetivamente, a
própria relação eu-outro em um de seus aspectos essenciais: o caráter afetivo das experiências
vivenciadas na relação eu-outro que pode se caracterizar como prazerosa ou aversiva.
Portanto a aprendizagem é um processo dinâmico, onde a ação do outro é fundamental para
o desenvolvimento do sujeito, pois, essa ação é sempre mediada por elementos culturais construídos
a partir do conflito sócio-cognitivo, o que nos permite inferir que a qualidade da mediação determina,
em grande parte, a qualidade da relação sujeito e construção do conhecimento. Assim, a interação
parece ser possibilitadora de significados e de contínuas mudanças que se caracterizam pela presença
do outro e pelos conflitos gerados pela atuação dos sujeitos.
É interessante destacarmos que a interação verbal se produz a partir de uma coordenação
cognitiva cujos efeitos se manifestam posteriormente nas produções individuais e na formação da
identidade do sujeito caracterizando o desenvolvimento humano a partir da interação social. Neste
contexto, a relação estabelecida entre tríades de crianças com e sem relação de amizade em
ambientes interativos evidencia que a interação verbal pode ser uma via para a construção de
processos cognitivos e de desenvolvimento. Ao destacarmos estes aspectos, pretendemos neste
132
Programa Primeiros Projetos
trabalho abrir a discussão sobre o papel do aspecto afetivo em ambientes interativos no qual se
estabelece o conflito sócio-cognitivo em termos da cognição, emoção e da afetividade da relações
em tríades de crianças. Neste contexto a interação parece ser possibilitadora de significados e de
contínuas mudanças que se caracterizam pela presença do outro e pelos conflitos gerados pela
atuação dos sujeitos.
5 CONCLUSÃO
133
A idéia de desenvolvimento humano, sob esta ótica, aparece como resultante da construção
conjunta, onde a intervenção de uma criança sobre a outra é uma das formas de promover mudanças
e transformações. O conhecimento disponibilizado pelo outro é pessoal mas a construção e
internalização ocorem a partir da participação conjunta em tarefas oportunizadas pelo outro. Daí
a importância da interação verbal no contexto da sala de aula, pois oportuniza ao outro o acesso
à subjetividade que na sua origem é social. Assim, é no processo interativo e, portanto, nas
relações sociais com a disponibilização de aspectos intrasubjetivos, que se origina o conhecimento.
Na interação é necessário também que aspectos afetivos-emocionais como confiança no
outro e auto-confiança estejam presentes, pois na medida em que estão envolvidos em uma relação,
a aceitação de valores visados do outro pode ocorrer mais facilmente (OLIVEIRA, 2002). Desta
forma a interação verbal desempenha papel tanto no desenvolvimento cognitivo-racional quanto
no afetivo-emocional.
A escola precisa estar atenta a estes aspectos e trabalhar no sentido de valorizar a educação
enquanto um processo de construção conjunta, oportunizando aos seus alunos a interação verbal
como forma de permitir avanços que não ocorreriam individualmente. Contudo, ao empregar os
processos interativos na promoção da aprendizagem, é necessário que se perceba que eles não se
limitam a relação entre professores e alunos. Nesse sentido é importante ressaltar o papel da
interação entre coetâneos porque na medida em que os alunos interagem com seus pares lhes é
oportunizada a ocorrência de conversas em nível de igualdade. Coll e Colombina (1996) têm
defendido que quando alunos apresentam problemas de aprendizagem a interação entre eles pode
ser de extrema significância. O processo interativo aluno-aluno pode permitir ultrapassar os
problemas porque os coetâneos têm mais facilidade de entender a linguagem e o repertório do
outro colega pois são similares. Assim, um aluno mais habilidoso pode exercer uma estruturação
de participação mais ampla sobre seus pares desempenhando o papel de mediador que,
anteriormente, era reservado única e exclusivamente aos professores (OLIVEIRA, 2002).
Este tipo de abordagem pode ter forte influência sobre o sistema educacional. Faz-se
necessário, portanto, destacar que a escola deve, ao realizar seu planejamento educacional,
considerar o aluno enquanto um ser interativo, dentro de uma concepção monista, onde cognição
e afeto se fundem como se fossem únicos. Em nossos estudos, durante a interação entre as
tríades, a construção da solução do problema dependeu da cognição, emoção e afetividade. Nas
tríades onde existia amizade as interações eram mais intensas, surgiam mais barreiras e podemos
verificar que durante o diálogo, cada um buscou convencer o outro a aceitar o seu valor visado
buscando a heteroregulação e também fazendo a auto-regulação durante situações de conflito. A
elaboração de metas, sub-metas e a busca de estratégias durante a resolução de problemas em
tríades, visando atingir o objetivo final, ensejou um processo de construção do conhecimento
através de ações verbais. Desta forma na interação entre tríades ocorre uma negociação entre
diferentes valores visados e, conseqüentemente, de diferentes desenvolvimentos ontogenéticos a
partir da cultura.
Diferentemente da situação entre díades, a interação entre tríades apresenta o quadro de
maior conflito sócio-cognitivo à medida que são três valores visados diferentes. Nesse caso, o
134
Programa Primeiros Projetos
135
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136
Programa Primeiros Projetos
137
138
Programa Primeiros Projetos
CAPÍTULO 6
1 INTRODUÇÃO
1. Engenheiro Agrônomo, Dr. Entomologia, Pesquisador da Embrapa Amapá. Professor do Curso de Mestrado Integrado em
Desenvolvimento Regional e do Programa de Pós-graduação em Biodiversidade Tropical.
2. Bióloga , Dra. Entomologia, Bolsista DCR CNPq/SETEC/Embrapa Amapá.
3. Bióloga, Dra. Entomologia, Professora da Universidade Federal do Paraná.
4. Graduando(a) em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Amapá, Estagiário(a).
5. Tecnólogo em Gestão Ambiental do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá.
139
e utilização contínua de áreas desmatadas, pois criam um ambiente com características ecológicas
semelhantes aos ecossistemas originais, nos quais há um aproveitamento mais intensivo de recursos
como água, radiação solar e nutrientes do solo, pela decomposição da folhagem. Além disso,
requerem a utilização de poucos insumos e provocam menos danos ao ambiente (MOCHIUTTI;
QUEIROZ, 2002; KOURI; GAZEL FILHO, 2003).
Os insetos constituem o grupo animal mais numeroso e diverso da natureza. São considerados
adequados para estudos de avaliação de impacto ambiental e qualidade dos ecossistemas, pois
apresentam diversidade de espécies e habitats, habilidade de dispersão, capacidade de seleção de
hospedeiros e de respostas rápidas à qualidade e quantidade de recursos disponíveis. Além disso,
apresentam densidades populacionais elevadas e sua dinâmica é extremamente influenciada pela
heterogeneidade do habitat. Apresentam, também, importante papel no funcionamento dos
ecossistemas, atuando como predadores, parasitos, fitófagos, saprófagos, polinizadores, entre outros
(THOMAZINI; THOMAZINI, 2000). Assim, o conhecimento da diversidade de insetos,
principalmente aqueles associados às culturas agrícolas, é fundamental para estudos ecológicos e
de manejo destas espécies (SILVA; CARVALHO, 2000).
Este trabalho teve como objetivo estudar a comunidade de insetos associados às plantas de
um Sistema Agroflorestal, em uma área de várzea, no município de Mazagão, Estado do Amapá.
2 MATERIAL E MÉTODOS
A área experimental fica localizada na Ilha das Barreiras (00005’12,3’’ S e 51018’03,1’’ W),
município de Mazagão, no sul do Estado do Amapá (Figura 1). As coletas de insetos foram realizadas
em um Sistema Agroflorestal cuja área acompanha longitudinalmente o furo do Mazagão.
140
Programa Primeiros Projetos
O Sistema Agroflorestal, que ocupa uma área de 2 ha, foi implantado há 10 anos, sendo
composto por aproximadamente 800 plantas de cupuaçuzeiro (Theobroma grandiflorum), 400 plantas
de açaizeiro (Euterpe oleracea), 200 plantas de cacaueiro (Theobroma cacao) e cerca de 30 touceiras
de bananeira (Musa sp.). Outras espécies, como goiabeira (Psidium guajava), mangueira (Mangifera
indica) e taperebazeiro (Spondias mombin) nasceram espontaneamente e foram preservadas (Figura
2). A área, de janeiro a maio, está sujeita a inundações diárias.
141
Foto: Ricardo Adaime da Silva
A B
Figura 3 - Métodos de coleta de insetos em Sistema Agroflorestal de várzea, em Mazagão, AP. (A) armadilha Malaise; (B)
batida nas plantas de cupuaçu.
Índice de ocorrência:
(No de amostras onde foi registrada a ordem/No total de amostras em cada período) x 100.
Por este método ocorrem as seguintes classes: 0% a 25% = acidental; 25% a 50% = acessória;
50% a 100% = constante.
Índice de dominância:
(No de indivíduos da ordem/No total de indivíduos em cada período) x 100.
Desta forma é possível obter três classes: 0% a 2,5% = acidental; 2,5% a 5,0% = acessória; 5,0%
a 10,0% = dominante.
A combinação destes índices permite classificar as ordens de insetos em: comum, aquela
que é constante e dominante; intermediária, aquela que é constante e acessória, constante e
acidental, acessória e acidental, acessória e dominante, acessória e acessória; e rara, aquela que é
acidental e acidental.
142
Programa Primeiros Projetos
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
143
A presença dos hemípteros (21,04%) e himenópteros (15,96%) também foi marcante (Tabela
1). Os hemípteros estão entre os principais grupos de insetos fitófagos, havendo várias espécies
consideradas pragas. Dentre estas, destacam-se os grupos das cochonilhas, pulgões, cigarrinhas,
moscas-brancas e percevejos. Sugam continuamente a seiva das plantas, provocando o seu
definhamento e enfraquecimento, além de, em alguns casos, transmitir patógenos (IMENES; IDE,
2002).
Segundo Fazolin e Silva (1996), há uma tendência de existir populações maiores de herbívoros
quando há uma combinação entre plantas perenes e anuais, comparadas aos sistemas de cultivo
compostos somente por plantas perenes. Assim, pode-se esperar que os níveis de infestação de
pragas tendam a ser menores em Sistemas Agroflorestais, desde que neles não se introduzam
culturas anuais.
Com relação à importância econômica, os himenópteros (abelhas, vespas, formigas) podem
ser divididos em dois grupos: o primeiro reúne espécies consideradas nocivas, representado pelas
formigas cortadeiras (saúvas e formigas-quenquén), espécies causadoras de galhas, vespas fitófagas
(Symphyta), abelha-irapuá (praga de citros e bananeira) e pelos hiperparasitóides (atacam os
parasitóides). Já no segundo grupo estão espécies que podem ser consideradas úteis, dentre estas
destacam-se as abelhas (produção de mel, própolis, geléia real, cera e atividade de polinização),
espécies polinizadoras, vespas predadoras e os parasitóides, que contribuem para o equilíbrio da
natureza agindo como inimigos naturais de espécies-praga (GALLO et al., 2002).
Dos 14.612 indivíduos coletados, 78,87% foram capturados em armadilha Malaise (Tabela 2).
Tabela 2 - Número de indivíduos de cada ordem coletados com três métodos em Sistema
Agroflorestal de várzea, em Mazagão, AP.
Ordem Malaise Batida no cupuaçu Rede de varredura
Blattodea 4 10 3
Coleoptera 420 77 211
Diptera 6.663 353 113
Embioptera 59 0 0
Hemiptera 2.532 201 341
Hymenoptera 958 1.202 172
Isoptera 13 0 0
Lepidoptera 490 25 6
Mallophaga 0 0 2
Mantodea 0 9 5
Neuroptera 1 0 0
Odonata 1 0 0
Orthoptera 60 150 116
Phasmatodea 0 6 2
Plecoptera 160 0 0
Psocoptera 0 3 2
Strepsiptera 107 3 0
Thysanoptera 56 3 36
Thysanura 0 24 13
Total 11.524 2.066 1.022
144
Programa Primeiros Projetos
No mês de fevereiro foi registrado o maior número de insetos coletados em armadilha Malaise
e na batida das plantas de cupuaçu (Figura 5). Em Malaise, o segundo pico de indivíduos foi
obtido em dezembro, momento em que ocorrem as primeiras chuvas de inverno. Já na batida em
plantas de cupuaçu foi obtida uma elevação do número de indivíduos em junho, no final da estação
chuvosa.
145
Por meio da análise dos índices de ocorrência e dominância foi possível identificar pequenas
diferenças na estrutura da comunidade de insetos entre os períodos chuvoso e seco (Tabela 3).
146
Programa Primeiros Projetos
(menos de 1mm) até grandes (200mm de comprimento). Ocupam todos os nichos, tanto em ambientes
naturais quanto modificados, pois apresentam regime alimentar variado, tanto na forma larval como
nos adultos (CROWSON, 1981; LAWRENCE, 1991; GALLO et al., 2002).
Dos 708 indivíduos de Coleoptera coletados, 38 não foram identificados em nível de família,
pois não se apresentavam íntegros. Foram obtidos 398 indivíduos em Malaise, 213 com rede de
varredura e 97 indivíduos na batida das plantas de cupuaçu.
Foram identificados representantes de 29 famílias de Coleoptera (Tabela 4).
A família Chrysomelidae (Figura 6A) foi a que apresentou maior número de indivíduos
coletados (41,24%), tendo sido registrados 130 na rede de varredura, 126 em Malaise e 36 no
sacolejo. São besouros que geralmente apresentam coloração vistosa e brilhante. Os adultos
alimentam-se principalmente de folhas e flores, as larvas são fitófagas, porém variam bastante
quanto ao aspecto e aos hábitos. Algumas se alimentam das folhas, vivendo em sua superfície;
outras cavam galerias nas folhas, raízes e caules. Muitos membros dessa família são pragas agrícolas
importantes (BORROR; DELONG, 1969).
Desta família, Alticini foi o grupo de maior destaque (52,40%) (Tabela 5). São besouros
relativamente pequenos, que vivem em folhas e apresentam capacidade de dar grandes saltos. A
147
maioria das espécies apresenta coloração metálica ou de fundo escuro, com manchas claras e de
coloração variada. Muitas espécies são prejudiciais por atacarem folhas de plantas cultivadas,
como cacaueiro e cajueiro (BORROR; DELONG, 1969). Dos espécimes coletados, foi marcante
a presença de Chaetocnema sp. (Tabela 5), conhecido popularmente como pulga-do-arroz. São insetos
muito ativos em épocas de escassez de chuva. As fêmeas depositam os ovos no solo, na base das
plantas e as larvas se alimentam das raízes enquanto as pupas ficam no solo. Os adultos alimentam-
se da epiderme das folhas, podendo atrasar o desenvolvimento da planta. (GALLO et al., 2002).
Anthicidae 10 1 24 35
Attelabidae 0 0 1 1
Brentidae 0 1 0 1
Buprestidae 24 1 4 29
Carabidae 4 1 0 5
Cerambycidae 6 1 0 7
Chrysomelidae 126 36 130 292
Coccinellidae 5 1 13 19
Cucujidae 2 0 0 2
Curculionidae 18 20 11 49
Dytiscidae 1 0 0 1
Elateridae 9 1 1 11
Histeridae 0 0 1 1
Lampyridae 2 0 0 2
Limnichidae 1 0 0 1
Meloidae 42 0 1 43
Mordellidae 9 0 0 9
Nitidulidae 7 1 2 10
Nosodendridae 9 0 4 13
Phalacridae 9 0 2 11
Platypodidae 20 0 0 20
Ptiliidae 0 1 0 1
Ptilodactylidae 13 1 0 14
Scarabaeidae 1 0 0 1
Scolytidae 3 0 0 3
Scirtidae 20 0 0 20
Silvanidae 3 2 0 5
Staphylinidae 20 5 1 26
Tenebrionidae 24 10 4 38
Não identificados 14 10 14 38
Total 398 97 213 708
148
Programa Primeiros Projetos
Segundo Anjos (2006), a família Chrysomelidae (Figura 6A) constitui um grupo de grande
interesse, pois muitas espécies são pragas agrícolas e florestais. Podem atacar uma grande
diversidade de plantas, usualmente alimentando-se da folhagem e também das flores e frutificações.
Os insetos desta família, juntamente com Curculionidae (Figura 6B), Scarabaeidae (Figura 6C),
Buprestidae (Figura 6D) e Cerambycidae (Figura 6E), como resultado de sua herbivoria, podem
ser importantes pragas de plantações diversas, incluindo plantas frutíferas e espécies florestais.
Cassidinae 12
Cassidini 3
Hispini 9
Eumolpinae 46
Criocerinae 35
Cryptocephalinae 2
Chlamisini 2
Curculionidae representou 6,92% (Tabela 4) dos besouros coletados. Esta é a família que
contém o maior número de espécies do reino animal. As espécies são essencialmente fitófagas,
utilizando como alimento desde raízes até sementes de espécies vegetais de todos os grupos
botânicos superiores (MARINONI et al., 2001).
Dentre os curculionídeos, foram identificados Rhinostomus barbirostris (Fabricius) e
Rhynchophorus palmarum (Linnaeus), considerados pragas de palmáceas. R. barbirostris é conhecido
popularmente como broca-da-estipe-do-coqueiro. Os danos são provocados pelas larvas, que
constroem galerias no estipe, provocando o enfraquecimento da planta e redução na taxa de
crescimento em diâmetro. R. palmarum, o bicudo-das-palmáceas ou broca-do-olho-do-coqueiro,
provoca danos significativos em cultivos de coqueiro no Estado do Amapá. Os adultos penetram
pela gema apical e danificam as folhas em formação. Devido às perfurações, ocorre fermentação
da seiva, que conseqüentemente atrai outros adultos. As larvas constroem galerias na gema apical,
149
no pecíolo de folhas novas e na região macia do estipe. Inicialmente ocorre o amarelecimento das
folhas e posteriormente a morte das plantas, em conseqüência das galerias que forma no interior
da mesma. Com o aumento do número de insetos na gema apical a planta pode morrer. É o
principal agente transmissor do nematóide Bursaphelenchus cocophilus, agente causal da doença
conhecida como anel-vermelho-do-coqueiro (JORDÃO; SILVA, 2006).
Os besouros da família Coccinellidae, vulgarmente chamados de joaninhas, estão entre os
mais conhecidos grupos de predadores de insetos. Das aproximadamente 6.000 espécies descritas,
em torno de 90% delas são predadoras (ALMEIDA, 2003). São conhecidas pela sua importância
como predadores de insetos sugadores (pulgões, cochonilhas, moscas brancas, psilídeos) e ácaros.
Coulson e Witter (1984) referem-se aos coleópteros desta família como importantes predadores
de pulgões e cochonilhas que atacam espécies florestais. As larvas e adultos de coccinelídeos
apresentam entre as características positivas uma grande atividade de busca pelo alimento, ocupam
todos os ambientes de suas presas e são muito vorazes. Das joaninhas coletadas, foram identificados
os gêneros Scymnus sp. (12 indivíduos), Psyllobora sp. (1), Hyperaspis sp. (1) e Zilus sp. (1).
Figura 6 - Besouros coletados em Sistema Agroflorestal de várzea, em Mazagão, AP. (A) Chrysomelidae, (B) Curculionidae,
(C) Scarabaeidae, (D) Buprestidae e (E) Cerambycidae.
150
Programa Primeiros Projetos
As espécies do gênero Psyllobora têm uma alimentação pouco habitual entre os coccinelídeos.
Os adultos e as larvas se alimentam de fungos, especialmente aqueles que formam uma cobertura
esbranquiçada nas folhas de árvores e arbustos (GONZALES, 1996).
Das famílias de Coleoptera identificadas, doze foram obtidas em apenas um dos métodos de
coleta, sendo que sete delas foram representadas por apenas um exemplar (Attelabidae, Brentidae,
Dytiscidae, Histeridae, Limnichidae, Ptiliidae e Scarabaeidae). Indivíduos de Attelabidae e
Histeridae foram coletados somente com rede de varredura. Brentidae e Ptiliidae foram obtidos
apenas na batida das plantas de cupuaçu. O reduzido número de indivíduos pode ser explicado
pela dificuldade de coleta destes insetos devido aos seus hábitos alimentares. De acordo com
MARINONI et al. (2001), os histerídeos são insetos carnívoros, tanto as larvas quanto os adultos
são predadores de outros insetos (dípteros, himenópteros, entre outros). Já os atelabídeos são
besouros herbívoros cujas larvas e adultos vivem enrolados nas folhas de dicotiledôneas e algumas
espécies apresentam hábito minador. Os coleópteros da família Brentidae são herbívoros ou
fungívoros alimentando-se de lenho morto ou recém-caído. As larvas de Ptiliidae alimentam-se de
esporos e hifas de fungos que se desenvolvem em matéria orgânica em decomposição. Assim, o
comportamento adotado pelos besouros, de acordo com o seu hábito alimentar, é um fator limitante
à sua coleta, sendo necessário o uso de técnicas específicas para captura em cada nicho.
Considerando a fragilidade dos ecossistemas de várzea do estuário amazônico e a rica
biodiversidade que eles encerram, são fundamentais pesquisas relacionadas à fauna entomológica,
tanto em áreas inalteradas quanto em áreas sob sistemas agroflorestais e sob certo grau de alteração.
4 AGRADECIMENTOS
A execução deste trabalho só foi possível graças à colaboração de várias pessoas e instituições,
a seguir mencionadas, as quais externamos nossos agradecimentos:
♦ Adalberto Azevedo Barbosa, Gerino de Carvalho Terra Filho, Izaque de Nazaré Pinheiro e
Paulo André Rodrigues da Silva, técnicos da Embrapa Amapá, que auxiliaram nos trabalhos
de campo.
♦ Wilson Rodrigues da Silva e Luiz Pereira Santana Júnior, estagiários da Embrapa Amapá,
que auxiliaram nas primeiras ações do projeto.
♦ Adelita Linzmeier, Edilson Caron e Paschoal Coelho Grossi, pós-graduandos do Laboratório
de Sistemática e Bioecologia de Coleoptera, do Departamento de Zoologia da UFPR, pelo
auxílio na identificação dos Chrysomelidae, Staphylinidae e diversas famílias de Coleoptera,
respectivamente.
♦ Prof. Dr. Germano Rosado Neto, do Departamento de Zoologia da UFPR, pela identificação
dos Curculionidae.
♦ Elisabete da Silva Ramos, Secretária do Comitê de Publicações da Embrapa Amapá, e Júlia
151
Daniela Braga Pereira, estudante do curso de Mestrado Integrado em Desenvolvimento
Regional, da Universidade Federal do Amapá, pela revisão dos originais.
♦ Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e à Secretaria de Estado
da Ciência e Tecnologia do Amapá, pelo auxílio financeiro.
5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Programa Primeiros Projetos
organização de dados e novas informações sobre alimentação nas famílias de coleópteros. Ribeirão
Preto: Holos, 2001. 64 p.
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em áreas de várzeas do Estuário Amazônico. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE SISTEMAS
AGROFLORESTAIS, 4., 2002, Ilhéus. Anais... Ilhéus: CEPLAC-CEPEC, 2002. 1 CD-ROM.
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(Pullus) argentinicus (Coleoptera: Coccinellidae). Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v.
34, n. 6, p. 1093-1099, jun. 1999.
SCATOLINI, D.; PENTEADO-DIAS, A. M. Análise faunística de Braconidae (Hymenoptera)
em três áreas de mata nativa do Estado do Paraná, Brasil. Revista Brasileira de Entomologia,
São Paulo, v. 47, n. 2, p. 187-195, 2003.
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coletados com armadilhas-de-solo. Ciência Rural, Santa Maria, v. 30, n. 2, p. 199-203, 2000.
THOMAZINI, M. J.; THOMAZINI, A. P. B. W. A fragmentação florestal e a diversidade de
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Acre. Documentos, 57).
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