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Programa Primeiros Projetos

Programa Primeiros Projetos

Secretaria de Estado da Ciência e Tecnologia - SETEC

Macapá - Amapá
2010

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Luís Inácio Lula da Silva
Presidente da República

Carlos Alberto Aragão de Carvalho Filho


Presidente do CNPq

Pedro Paulo Dias de Carvalho


Governador do Estado do Amapá

Aristóteles Fernandes Viana


Secretário de Estado da Ciência e Tecnologia - SETEC

Luciedi de Cássia Leôncio Tostes


Coordenadora do Projeto

Andréa Liliane Pereira da Silva


Normalização da Publicação

Márcio Leite Marinho


Capa e Diagramação

Tiragem: 1.000 exemplares

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

A484p Amapá. Secretaria de Estado da Ciência e Tecnologia


Programa Primeiros Projetos/Secretaria de Estado da Ciência
e Tecnologia. - Macapá, 2010.

153 p. ; 21 x 29,7 cm.

ISBN

1. Desenvolvimento Social. 2. Qualidade da Água. 3. Resíduos


Sólidos. 4. Produtos Naturais. 5. Interação Verbal. 6. Sistema
Agroflorestal. - I. Título.

CDU: 000.0
É permitida a livre transcrição de qualquer parte da obra, desde que citada a fonte, título e
ano (Lei 9.610, de 14/12/1998) - Respeite os Direitos Autorais.

Secretaria de Estado da Ciência e Tecnologia - SETEC


Av. Presidenta Vargas, 271 - Bairro: Centro - CEP 68900-000
Fones: (096) 32125600/32125621 - Fax: (096) 32125600
E-mail: setec@setec.ap.gov.br
Http//setec.ap.gov.br

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Programa Primeiros Projetos

Macapá - Amapá
2010

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SUMÁRIO

PREFÁCIO

CAPITULO 1
ABELHAS SEM FERRÃO: ESTRATÉGIA POTENCIAL DE DESENVOLVIMENTO
SOCIAL NO AMAPÁ .................................................................................................................. 9

CAPITULO 2
APLICAÇÃO DO MODELO DE QUALIDADE DA ÁGUA QUAL2E PARA ANÁLISE
DE CENÁRIOS AMBIENTAIS E AUTODEPURAÇÃO NO MÉDIO RIO ARAGUARI -
AP .................................................................................................................................................. 29

CAPITULO 3
INTEGRAÇÃO DE MÉTODOS GEOFÍSICOS NA CARACTERIZAÇÃO
GEOAMBIENTAL DA ÁREA DE DISPOSIÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS
DA CIDADE DE MACAPÁ-AP .................................................................................................. 65

CAPITULO 4
A DETECÇÃO DE PRODUTOS NATURAIS BIOLOGICAMENTE ATIVOS NO
ESTADO DO AMAPÁ ................................................................................................................ 95

CAPITULO 5
INTERAÇÃO VERBAL E AFETIVIDADE ENTRE TRÍADES DE ALUNOS NA
SOLUÇÃO DE PROBLEMAS MATEMÁTICOS .................................................................... 119

CAPITULO 6
COMUNIDADE DE INSETOS EM SISTEMA AGROFLORESTAL DE VÁRZEA EM
MAZAGÃO, AP ............................................................................................................................ 139

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Programa Primeiros Projetos

PREFÁCIO

O Programa Primeiros Projetos uma ação do governo do estado, através da Secretária do


Estado da Ciência e Tecnologia em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico- CNPq divulga os resultados obtidos dos primeiros estudos que foram realizados por
seus pesquisadores que tiveram projetos aprovados através do lançamento do 1° edital no âmbito
desse Programa de Infra- Estrutura para Jovens Pesquisadores. A publicação de resultados desse
porte permite gerar um profundo conhecimento científico para o desenvolvimento da Ciência e
Tecnologia no Amapá.
Desde 2004, a SETEC com seus parceiros, estimula esse tipo de política, inicialmente
foram executados sete projetos, no período de 24 meses, Atualmente esta em execução 12 projetos
em várias instituições de pesquisa do estado. O Amapá surge como estado que começa seu
fortalecimento na ciência invadindo este cenário investigando, obtendo resultados e publicando
conhecimentos. O presente livro esta organizado em seis capítulos, cada um corresponde a
importantes estudos para que o desenvolvimento do avanço da produção científica em nosso
Estado alcance a consolidação necessária. Programas como esse, apóiam a aquisição, instalação,
modernização, ampliação ou recuperação da Infra-estrutura de pesquisa científica e tecnológica
nas instituições públicas de ensino superior e/ ou pesquisa visando dar suporte à fixação de jovens
pesquisadores e nucleação de novos grupos, em quaisquer áreas do conhecimento, além de estimular
a pesquisa regional e qualificando melhor o profissional, promovendo assim desafios para o
fortalecimento do eixo Ciência & Tecnologia no estado.
A Setec parabeniza todos os pesquisadores que participaram desse marco inicial do Programa
Primeiros Projetos e encerra essa apresentação concluindo ser a melhor alternativa para o avanço
científico a qualificação em recursos humanos.

Aristóteles Fernandes Viana


Secretário de Estado da Ciência e Tecnologia - SETEC

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CAPÍTULO 1

ABELHAS SEM FERRÃO: ESTRATÉGIA POTENCIAL DE


DESENVOLVIMENTO SOCIAL NO AMAPÁ1
Arley José Silveira da Costa2
Paulo Sérgio Mendes Pacheco Junior3
Robert Wagner de Almeida Reis4
Richardson Ferreira Frazão5

1 INTRODUÇÃO

O bioma Amazônia, foco de atenção por sua importância, ocupa cerca de 4.871.000 km2
apenas no Brasil. As enormes dimensões deste bioma estão associadas tanto à riqueza de espécies
e diversidade de habitats quanto às lacunas de conhecimento sobre suas fauna, flora, processos
ecológicos e interferências antrópicas. No Amapá a preocupação com a proteção destas áreas tem
proporcionado o estabelecimento de diversas Unidades de Conservação que, em conjunto, ocupam
mais de 50% da área total do Estado. Unidades de conservação buscam, primordialmente, a
manutenção da biodiversidade, o que torna indispensável a presença das abelhas, em especial dos
meliponíneos, por serem os principais visitantes e polinizadores em ecossistemas tropicais (KERR
et al., 2001; ROUBIK, 1989; WILLE; MICHENER, 1973; WILMS; IMPERATRIZ-FONSECA;
ENGELS, 1996), como é o caso no Amapá. Apesar da importância desta abordagem, o outro lado
deste cenário é a imposição ao Estado do Amapá da necessidade de conciliar a presença de Unidades
de Conservação, ou seja, restrições ao uso da biodiversidade, com a necessidade de estratégias
alternativas de desenvolvimento social.
Importantes elementos na manutenção da biodiversidade (KEVAN; IMPERATRIZ-
FONSECA, 2002; ROUBIK, 1989) e utilizáveis em estratégias de desenvolvimento social
(CÁMARA et al., 2004; SILVA; VENTURIERI; SILVA, 2004; VENTURIERI, 2006;
VENTURIERI; RAIOL; PEREIRA, 2003), as abelhas se caracterizam como peças-chave para o

1. Trabalho realizado com apoio do Programa Primeiros Projetos (SETEC/CNPq) sob o título “Identificação de Espécies de
Abelhas Indígenas sem Ferrão com Potencial de Uso como Estratégia de Desenvolvimento Social por Comunidades do Entorno
de Macapá”.
2. Coordenador do Núcleo de Estudos Científicos e Tecnológicos sobre Abelhas Regionais (NECTAR). Endereço: Universidade
Federal do Amapá, Rodovia Juscelino Kubitschek de Oliveira Km 02, Bloco I, sala do NECTAR, Bairro Universidade, Macapá-
AP, 68.902-280. E-mail: arley@unifap.br
3. Mestrando em Desenvolvimento Regional pela UNIFAP.
4. Bacharelando em Biologia pela UNIFAP. Membro do NECTAR. Bolsista de Iniciação Científica PROBIC-UNIFAP (09/05 a
12/05) e SETEC/CNPq (em vigência).
5. Bacharel em Biologia pela UNIFAP. Membro do NECTAR. Bolsista de Iniciação Científica PROBIC-UNIFAP (09/05 a 12/
05).

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dilema de conciliação posto ao estado. Dentro deste contexto, o Núcleo de Estudos Científicos e
Tecnológicos sobre Abelhas Regionais (NECTAR) da Universidade Federal do Amapá (UNIFAP)
foi criado em 2002 com o intuito de identificar as abelhas que ocorrem no Amapá, conhecer a
ecologia comportamental destas espécies, além de adequar e difundir estratégias de manejo que
permitam a utilização das abelhas sem ferrão na preservação das Unidades de Conservação e em
estratégias de desenvolvimento social das comunidades da região. O presente trabalho apresenta
os resultados iniciais obtidos pelo NECTAR, bem como uma meta-análise a partir da literatura
científica existente sobre o potencial de utilização das abelhas sem ferrão do Amapá em estratégias
de desenvolvimento social.
Abelhas são insetos da ordem Hymenoptera como vespas e formigas, mas pertencem
especificamente à superfamília Apoidea que, em geral, utiliza pólen e néctar para alimentar os
adultos e as crias (MICHENER, 1974; SILVEIRA; MELO; ALMEIDA, 2002). As abelhas
apresentam alta diversidade na região tropical (CAMARGO, 1989; ROUBIK, 1989) sendo as
principais responsáveis pela polinização de diversas plantas nativas e cultivares (ROUBIK, 1989;
WILLE; MICHENER, 1973; WILMS; IMPERATRIZ-FONSECA; ENGELS, 1996). Apis é o
gênero de abelha mais conhecido entre a população mundial, sendo utilizado na produção comercial
de mel. No Brasil esta abelha é conhecida como italiana, europa, européia, africana ou africanizada.
Contudo, antes da introdução do gênero Apis que ocorreu no início do século XIX, os meliponíneos
eram as únicas abelhas produtoras de mel no Brasil (KERR et al., 2001).
Os meliponíneos, também conhecidos como abelhas indígenas sem ferrão, pertencem à
subtribo Meliponina que possui dezenas de gêneros divididos em centenas de espécies, com ampla
distribuição tropical (NOGUEIRA-NETO, 1997; SILVEIRA; MELO; ALMEIDA, 2002). A
denominação deste grupo deriva não da real ausência do ferrão, mas do fato de que este é atrofiado
de modo que são impossibilitadas de ferroar (MICHENER, 1974; ROUBIK, 1989). Estas abelhas
vivem em sociedades cujas populações podem variar entre centenas e milhares de indivíduos e
que, em sua maioria, nidificam em cavidades pré-existentes como ocos de árvores e ninhos
abandonados de outros insetos (MICHENER, 1974; SILVEIRA; MELO; ALMEIDA, 2002;
WILLE; MICHENER, 1973). Jataí, uruçú, mirim são nomes popularmente empregados para
identificar algumas espécies de meliponíneos (NOGUEIRA-NETO, 1997).
Abelhas são consideradas recursos naturais com importante papel na manutenção da
biodiversidade dos ecossistemas, pois a função polinizadora que exercem sobre cultivares e flora
nativa possui interferência direta sobre a produção de sementes e a qualidade e quantidade dos
frutos, bem como sobre o fluxo gênico de diversas plantas (ROUBIK, 1989; WILLE; MICHENER,
1973; WILMS; IMPERATRIZ-FONSECA; ENGELS, 1996). Assim, a compreensão da inter-
relação entre flores e abelhas é importante para estabelecer medidas de conservação do ambiente
(SCHLINDWEIN, 2000) e, portanto, imprescindível em uma região onde grandes áreas territoriais
estão em Unidades de Conservação como no Amapá. Contudo, apesar da importância das abelhas
neotropicais na manutenção da biodiversidade do ecossistema, suas inter-relações com as flores
ainda são amplamente desconhecidas (SCHLINDWEIN, 2000).
Além do papel direto que possuem na manutenção dos biomas, as abelhas afetam de forma

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indireta uma série de outros organismos, incluindo o próprio homem. A relevância ecológica das
abelhas pode ser evidenciada a partir de sua interação com o macaco Cacajao calvus, conhecido
popularmente como Uacari da cara vermelha. Este primata, considerado em risco de extinção,
habita a Reserva Ecológica de Mamirauá e é amplamente protegido, contudo, em fins da década
de 90 a população de Uacari estava diminuindo. Um estudo realizado por Kerr et al. (2001)
identificou que os frutos consumidos pelos Uacari eram provenientes das plantas visitadas pelos
meliponíneos. Além disso, constatou que os moradores da área de Mamirauá possuíam o hábito de
utilizar o mel de meliponíneos ao administrar um medicamento, e que destruíam as árvores onde
as abelhas nidificavam para obtê-lo, conseqüentemente eliminando a colônia. Portanto, as ações
dos seres humanos na área da reserva reduziram as colônias de meliponíneos, fizeram com que
houvesse menos atividade polinizadora e, conseqüentemente, menos frutos para que os Uacari se
alimentassem, de modo que a população dessa espécie de primata se mantivesse estável ou
declinasse (KERR, 2002; KERR et al., 2001). De modo sucinto estes estudos revelam a estreita
inter-relação entre os humanos, os Uacari e as abelhas sem ferrão em Mamirauá.
Estudos como o de Kerr et al. (2001) evidenciam que a supressão de uma população de
polinizadores efetivos e exclusivos, como algumas espécies de abelhas, interfere diretamente no
sucesso reprodutivo e na manutenção de espécies vegetais, conduzindo-as à extinção no médio
prazo (SCHLINDWEIN, 2000) e, conseqüentemente, de toda biota que lhe é associada. Esse
fato demonstra que a preservação de um conjunto de espécies, incluídas aquelas em risco de
extinção, pode estar diretamente ligada à manutenção das abelhas ou outros organismos que muitas
vezes são desconsiderados da análise de risco de extinção.
Contudo, os riscos aos quais as abelhas estão expostas parecem não ser considerados, uma
vez que este grupo, mesmo desaparecendo em diversos lugares, é pouco presente nas listas de
espécies ameaçadas (KERR, 2002). A preocupação com a preservação parece estar voltada aos
grandes animais, aos mais carismáticos ou àqueles em que há um grande número de cientistas
trabalhando. A relevância de outros organismos como os insetos, por exemplo, é subestimada.
Para se ter uma idéia da dimensão deste viés, apenas os himenópteras, grupo composto por abelhas,
vespas e formigas, possuem mais de 115.000 espécies descritas, o que significa que representam,
sozinhos, o dobro do número de todos os vertebrados. A ordem dos himenópteros é a mais diversa
funcionalmente, de modo que sua presença interfere na composição e diversidade de outros taxa.
Assim, os himenópteros são um componente vital dos ecossistemas, e considera-se que sua remoção
causaria um efeito cascata que resultaria em um rápido e irreversível declínio ambiental.
Apesar de sua importância ecológica e econômica, diversas espécies de abelhas têm sido
extintas ou estão em risco de extinção e pouca atenção tem sido dada ao fato (KERR, 2002;
MELO; MARTINS; GONÇALVES, 2006). Estudos recentes têm revelado uma redução de
abundância e riqueza das abelhas em áreas sob processo antrópico (KERR, 2002; MELO;
MARTINS; GONÇALVES, 2006) com as maiores taxas de destruição de espécies se concentrando
ao redor de vilas e cidades, bem como de rios e rodovias (KERR, 2002). Esses resultados são
ainda mais expressivos quando se considera que muitos dos ambientes naturalmente ocupados
pelas abelhas estão sendo degradados, ameaçados ou extintos (ROUBIK, 2006) e que o processo

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de antropização tem provocado a extinção das abelhas em diversas áreas da América do Sul,
principalmente após 1960 com a expansão da população humana (KERR; NASCIMENTO;
CARVALHO, 1996). Os efeitos desta extinção são sentidos na redução de abelhas de grande
porte, na modificação da riqueza de espécies de uma região e na diminuição de espécies que
nidificam em ocos de árvores (KERR, 2002). Alterações na riqueza das espécies podem ser
importantes, pois a redução de abelhas de grande porte pode interferir no processo de polinização,
uma vez que estas são polinizadoras potencialmente melhores que as pequenas (ROUBIK, 1989),
ou mesmo fazer desaparecer polinizadores específicos. O fato de existirem áreas de Floresta
Amazônica onde 42% das plantas produtoras de pólen são polinizadas por apenas uma única
espécie de abelha demonstra a importância de cada polinizador (ABSY et al., 1984) e a necessidade
de confrontar a antropização.
As áreas não antropizadas da Amazônia ainda possuem suas espécies de meliponíneos (KERR,
2002), contudo, mesmo com a criação de diversas Unidades de Conservação, o processo de
expansão populacional e da fronteira agrícola, bem como a abertura e a organização das estradas
vem gerando intensa pressão antrópica sobre áreas ainda preservadas no Amapá. Assim, o combate
ao processo de extinção de abelhas, com conseqüentes efeitos sobre a biodiversidade, pode ser
realizado através da manutenção destas abelhas nos locais onde ocorrem. Considerando que a
difusão do manejo correto de abelhas sem ferrão pode auxiliar na preservação desse grupo (KERR,
2002), um modo de incentivar essa ação é utilizar abelhas como estratégia de desenvolvimento
social gerando complemento de renda às populações tradicionais através, por exemplo, da produção
e comercialização do mel.
Abelhas, em especial Apis mellifera, são criadas para extração de mel podendo ser usadas no
desenvolvimento social de comunidades. Contudo, Apis tem dificuldade de adaptação e produção
nos trópicos úmidos e em florestas da Amazônia (NOGUEIRA-NETO, 1997; ROUBIK, 1989),
o que conseqüentemente permite que os meliponíneos sejam identificados como candidatos
potenciais para produção com fins comerciais. Os meliponíneos apresentam características que os
credenciam para o atendimento às necessidades sociais das famílias e das comunidades, entre as
quais pode ser destacado o fato do mel apresentar diversas características medicinais (DEMERA;
ANGERT, 2003; GRAJALES-CONESA et al., 2003; MOLAN, 1992) superiores ao de Apis
mellifera (CORTOPASSI-LAURINO; GELLI, 1991) e de possuir sabor apreciado podendo alcançar
valor de venda maior (NOGUEIRA-NETO, 1997; VENTURIERI et al., 2003). Além disso, são
abelhas dóceis, facilmente manejadas e requerem reduzido investimento para a criação podendo
gerar renda não apenas através de produtos como o mel, mas também através da multiplicação e
venda de colônias (CÁMARA et al., 2004; NOGUEIRA-NETO, 1997; VENTURIERI; RAIOL;
PEREIRA, 2003).
O manejo de abelhas sem ferrão é antigo, sendo utilizado por diversas comunidades
americanas como os Maias e os índios da Amazônia brasileira. Os Maias e os Kayapós, por exemplo,
manejavam os meliponíneos para obtenção de cera e mel mantendo colônias de diferentes espécies
próximas da casa para o manejo ou próximos de áreas de plantio para aumentar o sucesso do
cultivo (POSEY, 1982; ZOZAYA RUBIO; ESPINOSA MONTAÑO, 2001). A relação dos índios

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brasileiros com os meliponíneos é tão próxima que grande parte dos nomes populares e científicos
destas abelhas é indígena, mais especificamente de origem Tupi (NOGUEIRA-NETO, 1970).
O conhecimento sobre a criação de meliponíneos, embora antigo, apenas recentemente tem
sido estudado e aplicado (NOGUEIRA-NETO, 1997; ROUBIK, 1989). Grande parte das pessoas
que trabalham com as abelhas indígenas sem ferrão ignora a possibilidade de renda oriunda desta
prática (SILVA; VENTURIERI; SILVA, 2004), entretanto, a meliponicultura vem se estabelecendo
rapidamente em diversos locais como México, Austrália e Brasil (HEARD; DOLLIN, 2000;
IMPERATRIZ-FONSECA; CONTRERA; KLEINERT, 2004; NOGUEIRA-NETO, 1997;
ROUBIK, 1989). Neste último, o estudo e implementação de técnicas de manejo de meliponíneos
vêm ocorrendo em diversos pontos. No nordeste brasileiro a meliponicultura está sendo utilizada
com sucesso para a manutenção da biodiversidade, bem como para a satisfação das necessidades
humanas de alimentação e renda (CÁMARA et al., 2004; IMPERATRIZ-FONSECA;
CONTRERA; KLEINERT, 2004).
Na Amazônia, embora as condições ecológicas sejam adequadas para a utilização de
meliponíneos em projetos de desenvolvimento social, ainda são incipientes as referências para a
criação de abelhas indígenas sem ferrão, sua produção e a comercialização (VENTURIERI; RAIOL;
PEREIRA, 2003). Alguns estudos desenvolvidos no Pará e Amazonas mostram que o manejo de
cinqüenta colônias efetivado paralelamente a outras atividades permite uma renda mensal acima
dos quatrocentos reais. No Amazonas têm sido utilizadas as espécies Melipona compressipes sp.,
seminigra sp., rufiventris sp., nebulosa e crinita (OLIVEIRA, 2001), enquanto no Pará Melipona
flavolineata e fasciculata e Tetragonisca angustula. Contudo, as espécies adequadas, bem como as técnicas
de manejo variam para cada micro-região (OLIVEIRA, 2001) o que faz com que em cada local
seja necessário identificar as abelhas que ocorrem e desenvolver o manejo adequado. O Amapá
ainda desconhece sua fauna apícola, bem como o potencial de uso das mesmas em estratégias de
desenvolvimento social.
Assim, considerando que o Amapá tem aumentado sua população nos últimos anos e vem
buscando estratégias de desenvolvimento tradicionais como a implementação do agronegócio e
que, portanto, o avanço da antropização se configura como um risco iminente para as abelhas da
região, este trabalho objetiva fazer uma análise preliminar do potencial de uso das abelhas indígenas
sem ferrão como estratégia de desenvolvimento social para as comunidades do Amapá. Com
vistas a este objetivo são apresentados os resultados iniciais obtidos pelo Núcleo de Estudos
Científicos e Tecnológicos sobre Abelhas Regionais (NECTAR) sobre a identificação das abelhas
do Amapá, seus locais de ocorrência, hábitos de nidificação, flora visitada, bem como definição
dos meliponíneos adequados para utilização como estratégias de desenvolvimento social.

2 METODOLOGIA

Identificação de espécies: Áreas de floresta, várzea e cerrado localizadas no entorno do


município de Macapá foram utilizadas para coleta, principalmente nas regiões de Fazendinha,

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Lagoa dos Índios e Curiaú. O método utilizado foi uma variação de Sakagami, Laroca e Moure
(1967). As abelhas foram coletadas durante o forrageio em espécies vegetais floridos com o auxílio
de redes entomológicas entre 08:00 e 18:00 horas. O par de coletores se deslocava pelos transectos
buscando árvores e arbustos floridos. Na vegetação em floração era feita uma varredura visual por
abelhas durante 3 minutos. Após uma abelha ser encontrada iniciava-se um procedimento de
coleta por 10 minutos. Quando não se encontrava uma abelha no período de varredura ou após
encerrados os 10 minutos de coleta, buscava-se outra planta e reiniciava-se o processo. Este
método de coleta é, com pequenas variações, o mais utilizado em levantamentos apifaunísticos
(SILVEIRA; MELO; ALMEIDA, 2002). Os espécimes coletados foram sacrificados em tubo
mortífero contendo acetato, acondicionados e transportados para o NECTAR onde foram montados.
As abelhas foram identificadas, com auxílio das chaves dispostas em Silveira, Melo e Almeida
(2002), até o nível de espécie no NECTAR. Posteriormente, a identificação das abelhas foi
confirmada por sistematas de Apoidea do Laboratório de Biologia Comparada de Himenópteras
da UFPR. Espécimes testemunhos foram devidamente organizados e depositados na coleção do
NECTAR/UNIFAP.
Flora visitada por abelhas: No momento da coleta de dados do levantamento das abelhas,
as espécies de plantas em que ocorreram as abelhas foram também coletadas. Utilizou-se também
a metodologia padrão com a retirada de uma amostra composta de um ou mais ramos floridos que
foram herborizados para posterior incorporação no Herbário Amapaense (HAMAB) do Instituto
de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá (IEPA). A identificação foi feita por
comparação e através de chaves analíticas e bibliografia especializada.
Hábitos de nidificação: Os levantamentos dos substratos de nidificação foram realizados
em ambientes de cerrado na Área de Proteção Ambiental do Curiaú (APA do Curiaú) e de várzea
na APA da Fazendinha que se localizam nos arredores de Macapá-AP. A APA do Curiaú abriga
uma comunidade de descendentes quilombolas e é formada por uma rede de bacias de acumulação,
que são localmente denominadas de ressacas. Três biomas principais ocorrem na APA, mas as
coletas foram realizadas apenas nas áreas de cerrado. A APA da Fazendinha, por outro lado,
margeia o Rio Amazonas e possui uma área de floresta de várzea. Foram realizadas oito coletas
quinzenais entre outubro de 2005 e janeiro de 2006, sendo quatro em cada APA. As árvores em
que ocorria a nidificação de meliponíneos foram localizadas com o auxílio de mateiros ou por
indicação de moradores locais.
As abelhas coletadas com o auxílio de rede entomológica na entrada dos ninhos foram
montadas, depositadas na coleção do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado
do Amapá (IEPA), identificadas previamente através da utilização de chaves. Posteriormente a
identificação foi confirmada por especialistas da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
A coleta de espécies vegetais obedeceu à metodologia convencional. Amostras de um ou
mais ramos floridos foram retirados das plantas e herborizados (FIDALGO; BONONI, 1984)
sendo posteriormente incorporados ao HAMAB do IEPA. A identificação das espécies ocorreu
por comparação e através de chaves analíticas da bibliografia especializada.

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Programa Primeiros Projetos

Etnoecologia: As comunidades tradicionais foram abordadas através de conversas informais


que permitiram identificar alguns de seus conhecimentos sobre as espécies de abelhas locais. Os
membros da comunidade da APA do Curiaú foram abordados e inquiridos sobre espécies conhecidas
e utilizadas, comportamentos, criação e manejo de meliponíneos. Os elementos das conversas
que revelavam conhecimentos da comunidade sobre as abelhas eram registrados em folha de
papel. Esta foi uma abordagem inicial do tema, de modo que as informações preliminares obtidas
junto à comunidade permitirão a organização de entrevistas semi-estruturadas visando um estudo
mais aprofundado sobre o etnoconhecimento desta comunidade sobre as abelhas sem ferrão.
Potencial da espécie para uso em estratégia de desenvolvimento social: A biologia
das abelhas identificadas no levantamento foi analisada para avaliar seu uso posterior como
estratégia de desenvolvimento social considerando: a) produção melífera; b) hábitos de nidificação;
c) agressividade e, d) hábitos higiênicos. A análise utilizou como referência os dados obtidos em
campo ou informação presente na literatura sobre as espécies identificadas.

3 RESULTADOS

Abelhas de diferentes grupos foram coletadas no Amapá em anos recentes (FRAZÃO,


2006; FRAZÃO; SILVEIRA, 2002; MELO, 2006; ZANINI, 2004; dados do NECTAR) e se
encontram depositadas no Núcleo de Estudos Científicos e Tecnológicos sobre Abelhas Regionais
(NECTAR) ou no Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá (IEPA)
como material testemunho (Tabelas 1, 2 e 3; Figura 1).
Tabela 1 - Posição taxonômica das subtribos de abelhas coletadas no Amapá em estudos recentes*.
Superfamília Família Subfamília Tribo Subtribo
Apoidea Apidae Apinae Apini Apina
Bombina
Euglossina
Meliponina
Centridini
Xylocopinae Xylocopini
*Os dados se referem às coletas do NECTAR e aos estudos de Frazão, 2006, Frazão; Silveira, 2002, Melo, 2006, Zanini, 2004.

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(a) Lestrimelitta rufipes (g) Tetragona clavipes (n) Melipona captiosa

(b) Frieseomelitta longipes (h) Trigona branneri (o) Melipona compressipes

(c) Frieseomelitta trichocerata (i) Trigona cilipes (p) Melipona fuliginosa

(d) Partamona gr. ferreirai (j) Trigona gr. fulviventris (q) Melipona fulva

(e) Partamona vicina (l) Trigona pallens (r) Melipona lateralis

(f) Partamona lurida (m) Trigona williana (s) Melipona paraensis

Figura 1 - Imagens de espécies de abelhas sem ferrão (a-s) com ocorrência no Amapá e que estão
depositadas na coleção do NECTAR (Fotos Robert Reis).

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Embora tenham sido coletadas abelhas de diferentes tribos e subtribos, apenas as espécies
pertencentes à subtribo Meliponina (Tabela 2) estão sendo avaliadas neste estudo para o uso em
estratégia de desenvolvimento social.
Tabela 2 - Espécies de abelhas da subtribo Meliponina coletadas no Amapá em estudos recentes*.
Espécie Estudos em que foram coletadas
Cephalotrigona femorata MELO, 2006
Frieseomelitta aff. flavicornis FRAZÃO, 2006; NECTAR
Frieseomilitta longipes NECTAR
Frieseomelitta cf.trichocerata FRAZÃO, 2006; FRAZÃO; SILVEIRA, 2002; NECTAR
Lestrimelita rufipes NECTAR
Melipona captiosa NECTAR
Melipona compressipes MELO, 2006; NECTAR
Melipona fulva FRAZÃO, 2006; FRAZÃO; SILVEIRA, 2002; MELO, 2006; ZANINI, 2004;
NECTAR
Melipona fuliginosa FRAZÃO, 2006; NECTAR
Melipona interrupta FRAZÃO, 2006; FRAZÃO; SILVEIRA, 2002
Melipona lateralis NECTAR
Melipona paraensis FRAZÃO, 2006; NECTAR
Melipona rufiventris FRAZÃO; SILVEIRA, 2002
Nannotrigona cf. punctata NECTAR
Oxytrigona obscura MELO, 2006
Partamona gr. ferreirai NECTAR
Partamona vicina FRAZÃO, 2006; NECTAR
Plebeia minima FRAZÃO, 2006; FRAZÃO; SILVEIRA, 2002; ZANINI, 2004
Ptilotrigona lurida NECTAR
Scaura gr. latitarsis NECTAR
Tetragona gr. clavipes FRAZÃO, 2006; FRAZÃO; SILVEIRA, 2002; MELO, 2006; ZANINI, 2004;
NECTAR
Trigona gr. amazonensis FRAZÃO, 2006; FRAZÃO; SILVEIRA, 2002; ZANINI, 2004; NECTAR
Trigona aff. branneri FRAZÃO, 2006; MELO, 2006; NECTAR
Trigona gr. cilipes FRAZÃO, 2006; FRAZÃO; SILVEIRA, 2002; ZANINI, 2004; NECTAR
Trigona crassipes MELO, 2006
Trigona dallatorreana NECTAR
Trigona fulviventris FRAZÃO, 2006; FRAZÃO; SILVEIRA, 2002; MELO, 2006; ZANINI, 2004
Trigona fuscipennis FRAZÃO; SILVEIRA, 2002
Trigona hypogea MELO, 2006
Trigona gr. hypogea MELO, 2006
Trigona mazucatoi MELO, 2006
Trigona pallens FRAZÃO, 2006; FRAZÃO; SILVEIRA, 2002; MELO, 2006; ZANINI, 2004;
NECTAR
Trigona williana NECTAR
*Os dados se referem às coletas do NECTAR e aos estudos de Frazão, 2006, Frazão; Silveira, 2002, Melo, 2006, Zanini, 2004.

Outras abelhas embora não identificadas até espécie foram listadas nos diferentes estudos
(Tabela 3). Os trabalhos de Zanini (2004), Melo (2006) e Frazão e Silveira (2002) apresentam
abelhas do gênero Frieseomelitta não identificadas quanto à espécie. Como não houve comparação
entre os exemplares destes estudos, não foi possível determinar o número real das espécies deste
gênero.

17
Tabela 3 - Abelhas da subtribo Meliponina coletadas no Amapá em estudos recentes*, mas não
identificadas até espécie.
Abelha Estudos em que foram coletadas
Frieseomelitta sp.1 FRAZÃO; SILVEIRA, 2002
Frieseomelitta sp.2 FRAZÃO; SILVEIRA, 2002
Frieseomelitta sp.3 ZANINI, 2004
Frieseomelitta sp.4 MELO, 2006
Melipona sp. ZANINI, 2004
Partamona sp. FRAZÃO; SILVEIRA, 2002
Scaptotrigona sp.1 FRAZÃO; SILVEIRA, 2002
Scaptotrigona sp2 FRAZÃO; SILVEIRA, 2002
*Os dados se referem às coletas do NECTAR e aos estudos de Frazão, 2006, Frazão; Silveira, 2002, Melo, 2006, Zanini, 2004.

Considerando apenas os dados obtidos pelo NECTAR, as espécies mais abundantes foram
respectivamente: Melipona compressipes, Trigona pallens, Melipona paraensis, Partamona vicina, Trigona
fulviventris, Trigona fuscipennis, Melipona fulva e Trigona cilipes. A lista e as imagens das abelhas
encontradas no Amapá estão disponibilizadas para domínio público na rede mundial de
computadores através da página do Núcleo de Estudos Científicos e Tecnológicos sobre Abelhas
Regionais (http://www.unifap.br/nectar).
As abelhas apresentaram uma diferença de ocupação dos diferentes ecossistemas (Tabela
4). Os gêneros Partamona, Tetragona, Frieseomelitta e Plebeia ocorreram exclusivamente no cerrado,
enquanto outros gêneros ou espécies ocorreram também no ambiente mais úmido da várzea.
Esses dados referem-se apenas aos dados obtidos pelo NECTAR na coleta de 2006 realizadas nas
APA do Curiaú (cerrado) e da Fazendinha (várzea).
Tabela 4 - Ocorrência das espécies de meliponíneos nos ambientes de cerrado e várzea coletados
nos arredores de Macapá entre 2002 e 2006.
Ambientes
Espécies Cerrado (APA do Curiaú) Várzea (APA da Fazendinha)
Melipona fulva X X
Melipona compressipes X X
Melipona paraensis X X
Melipona fuliginosa X
Frieseomelitta trichocerata X
Frieseomelitta flavicornis X
Partamona vicina X
Plebeia minima X
Tetragona clavipes X
Trigona amazonensis X
Trigona cilipes X X
Trigona fulviventris X X
Trigona branneri X
Trigona pallens X X

18
Programa Primeiros Projetos

Os meliponíneos visitam diversas espécies de plantas da APA do Curiaú (Tabela 5). Contudo,
embora grande parte das plantas seja visitada por diversos meliponíneos, algumas são visitadas
por um pequeno número de espécies como Euterpea, Inga, Spondias e Syzigium. Estes dados, contudo
referem-se a um número pequeno de observações que serão ampliados em estudos posteriores.
Tabela 5 - Ocorrência de espécies de meliponíneos por espécie de planta visitada no cerrado da
APA do Curiaú.
Espécies de meliponíneos

Frieseomelitta trichocerata

Frieseomelitta flavicornis
Melipona compressipes

Trigona amazonensis

Trigona fulviventris
Melipona paraensis

Melipona fuliginosa

Tetrágona clavipes
Partamona vicina

Trigona branneri
Espécies

Trigona pallens
Plebéia minima
Melipona fulva

Trigona cilipes
de plantas

Mimosa pudica x x x x x x x
Vitex sp. x x x x x x
Myrcia sp. x x x x x x x x x x x
Eugenia sp. x x x x x x x
Wulfia sp. x x x x x
Byrsonima crassifolia x x x x x x
Passiflora edullis x x
Euterpea oleracea x
Amasonia campestre x x x x x x
Thalia geniculata x x x x
Inga sp1 x x
Inga sp2 x x
Spondias mombim x x
Syzigium malacensis x x

Foram localizados treze ninhos de três das espécies de Melipona estudadas, distribuídas em
oito diferentes espécies de árvores. Os ninhos de M. compressipes e de M. fulva foram encontrados
no ambiente de cerrado da APA do Curiaú, enquanto que os de M. paraensis foram encontrados na
várzea da APA da Fazendinha (Tabela 6). Todos os ninhos destas espécies foram encontrados em
ocos de árvores vivas presentes na várzea ou no cerrado. Não houve sobreposição de substrato de
nidificação entre as espécies de abelhas estudadas. Embora Vitex sp. tenha sido a espécie com
maior número de ocorrências, o baixo número de ninhos encontrado não permite análises que a
caracterizem como um substrato preferencial de nidificação para as abelhas do gênero Melipona
encontradas na região.

19
Tabela 6 - Freqüência de distribuição dos ninhos de Melipona compressipes, M. paraensis e M. fulva*
por área de ocorrência e por espécie vegetal utilizada como substrato de nidificação.
Área de ocorrência
Espécie vegetal
Cerrado (APA do Curiaú) Várzea (APA da Fazendinha)
Vitex sp. Mc - 3 -
Jacaranda copaia D. Don. Mc - 2 -
Mezilaurus itauba (Meiss.) Kosterrm. Mc - 1 -
Spondias mombim L. - Mp - 2
Virola surinamensis (Rol.) Warb. - Mp - 2
Artocarpus altilis (Parks) var. seminifera - Mp - 1
Syzygium malacensis Merr & Parry - Mp - 1
Tabebuia sp. Mf - 1 -
*As siglas Mc, Mp e Mf correspondem respectivamente a Melipona compressipes, M. paraensis e M. fulva. O número após a sigla da
espécie de abelha identifica a quantidade de ninhos encontrados em cada espécie vegetal.

Quanto ao conhecimento etnoecológico, os poucos membros da população da APA do


Curiaú que possuem informações sobre as abelhas, conhecem e nomeiam algumas das espécies
identificadas como uruçú amarela (Melipona paraensis e Melipona fulva), tiúba (Melipona compressipes),
caga-fogo (Tetragona clavipes), mosquito (abelhas dos gêneros Plebeia e Tetragonisca) e arapuá, irapuá
e abelha cachorro (diversos Trigonini). A nomenclatura é próxima daquela especificada pela
taxonomia. Algumas espécies vegetais, como Vitex, são apontadas como aquelas em que as abelhas
nidificam preferencialmente e são procuradas para a colheita do mel. O mel dos meliponíneos é
utilizado como alimento, sendo que a obtenção do mesmo em geral ocorre pela retirada do galho
ou a derrubada da árvore onde se encontra o ninho. As plantas que as abelhas sem ferrão visitam
para buscar o néctar são também identificadas pela população.
A análise de características como elevada produção de mel, baixa agressividade contra intrusos,
ausência de defesa química, hábitos higiênicos, ninhos não associados ao de outros organismos e
por serem utilizadas na meliponicultura em outras localidades permitiram considerar três espécies
como potenciais para atividade de criação e manejo de abelhas sem ferrão (Meliponicultura), a
saber: Melipona compressipes, Melipona paraensis e Melipona fulva. Abelhas do gênero Scaptotrigona
também apresentam características que as qualificam como potenciais, sendo inclusive utilizadas
no Pará, contudo, é uma abelha extremamente agressiva o que dificulta o manejo. A possibilidade
de criação de Scaptotrigona envolve o manuseio noturno, período em que estas abelhas não realizam
o ataque e permitem o manejo.

4 DISCUSSÃO

Estima-se um total de cerca de 500 espécies de abelhas para o Amapá, sendo que apenas
143 foram foram descritas até o momento (MOURE; URBAN; MELO, 2007). Apesar dessa
concentração, há poucos inventários sobre o grupo na região, destacando-se os trabalhos pioneiros
e descritivos de Bates, (1856) nas expedições pelo Rio Amazonas e Ducke (1906) nos arredores

20
Programa Primeiros Projetos

de Belém. Porém alguns estudos sobre a diversidade de Meliponina nas florestas tropicais foram
realizados por Oliveira, Morato e Garcia (1995) na Amazônia Central; Roubik (1989) na Amazônia
Guianense; Silva, Venturieri e Silva (2004) em uma área de transição Cerrado-Amazônia. No
Amapá Frazão e Silveira (2002) nas áreas úmidas de Macapá e Santana; Melo (2006) na região dos
Lagos do Amapá; Frazão (2006) na APA do Rio Curiaú; Zanini (2004) no Campus da Universidade
Federal do Amapá, e os dados do NECTAR ainda não publicados, se configuram como as primeiras
coletas sistemáticas.
Nos diferentes biomas do Amapá o número de espécies de meliponíneos coletados é similar
àquele de outros ambientes com características semelhantes (CAMARGO; MAZUCATO, 1984;
CARVALHO; BEGO, 1998; FARIA; CAMARGO, 1996; SANTOS; CARVALHO; SILVA, 2004).
Este número de espécies registrado para o estado, que deve ser ampliado com a elevação dos
esforços amostrais, indica um grande número de meliponíneos e configura uma excelente
possibilidade de identificar neste grupo abelhas adequadas para a utilização em estratégias de
desenvolvimento social tanto nos ambientes de cerrado como nos de várzea. Além disso, a presença
de diferentes espécies de meliponíneos evidencia um quadro de organismos que podem realizar
funções ecológicas distintas. Neste contexto, o número de meliponíneos encontrados (Tabelas 2 e
3; Figura 1) permite esperar que este grupo atue como responsável pela polinização de plantas
pertencentes a grupos diversos, como especificado por vários autores (KERR et al., 2001;
NOGUEIRA-NETO, 2002; ROUBIK, 1989; WILLE; MICHENER, 1973; WILMS;
IMPERATRIZ-FONSECA; ENGELS, 1996).
As distintas espécies de plantas visitadas pelas abelhas configuram um excelente pasto apícola
para a manutenção dos meliponíneos na região (Tabela 5). No entanto, assim como encontrado
neste estudo, as diferentes espécies de meliponíneos apresentam preferência por diferentes espécies
vegetais (NOGUEIRA-NETO, 2002), em relações insetos-plantas que podem favorecer um elevado
grau de endemismo entre os insetos (MARTINS, 2002). Além disso, algumas abelhas ocorreram
diferencialmente no cerrado e na várzea (Tabela 4), o que pode estar relacionado com interações
inseto-planta específicas. Portanto, considerando a importância das abelhas nativas como grupo
chave para a manutenção de ecossistemas (KERR et al., 2001; NOGUEIRA-NETO, 2002;
O’TOOLE, 2002), é necessário identificar as inter-relações abelha-flor ainda desconhecidas para
esta região, bem como preservar a diversidade de plantas e meliponíneos encontrados nos diferentes
ambientes em razão de suas interações ecológicas interespecíficas como forma de manter a
sustentabilidade dos ecossistemas onde estes organismos estão sendo encontrados. Além disso, a
ocorrência das espécies no cerrado evidencia a importância deste bioma que, em muitos casos,
não é considerado como ambiente a ser preservado. O cerrado vem sendo amplamente afetado
por ações antrópicas e a necessidade de sua conservação é urgente (FURLEY, 1999), assim, é
necessário proteger não apenas as áreas de floresta na Amazônia, mas também o cerrado. A ausência
ou o reduzido número de Unidades de Conservação que incorporem áreas de cerrado pode fazer
com que grandes áreas deste bioma sejam destruídas, de forma a conduzir a um processo de
extinção da flora e da fauna que lhe são próprias.
Uma forma de efetivar a preservação das abelhas e dos biomas onde estas ocorrem é manter

21
atividades de meliponicultura que auxiliam tanto na preservação de espécies cultivadas quanto de
vegetação nativa (NOGUEIRA-NETO, 2002; ROUBIK, 1989) Abelhas do gênero Melipona são
tradicionalmente utilizadas para a produção de mel (NATES-PARRA, 2006) e são, portanto, fortes
candidatas ao processo de criação. Entre as diferentes abelhas encontradas, as espécies Melipona
compressipes, Melipona paraensis e Melipona fulva se configuram como adequadas para a utilização na
meliponicultura por suas características de elevada produção de mel, baixa agressividade, hábitos
higiênicos e ninhos não associados ao de outros organismos. Ninhos destas espécies ocorrem
diferencialmente no cerrado e na várzea (Tabela 6), o que conduz a uma análise ainda preliminar
de que a criação de M. compressipes e M. fulva deve ocorrer preferencialmente no cerrado, enquanto
a de M. paraensis deve priorizar o ambiente mais úmido da várzea.
A variedade de espécies distribuída em diferentes biomas e associada ao conhecimento que
a comunidade possui sobre os meliponíneos quanto à identificação das abelhas, do pasto apícola
e dos locais onde nidificam, abre a perspectiva de aplicação de estratégias ecologicamente corretas,
como a meliponicultura, permitindo a conservação de recursos naturais e o desenvolvimento
social. Os meliponíneos são ideais para estas estratégias, pois são abelhas dóceis, de fácil manejo
e necessitam de pouco investimento para sua criação (NOGUEIRA-NETO, 1997). Contudo,
como as espécies de meliponíneos apresentam preferência por diferentes habitats (ROUBIK, 1989;
SILVEIRA; MELO; ALMEIDA, 2002), devem ser utilizadas espécies diferentes como estratégias
de manejo para os diversos biomas do Amapá, e prestar atenção na fauna apícola disponível e
requisitada pelas espécies escolhidas para o manejo.
Os dados iniciais obtidos pelo NECTAR permitem caracterizar as abelhas sem ferrão como
uma estratégia potencial de desenvolvimento social no Amapá. A meliponicultura pode, portanto,
ser um mecanismo de manutenção da biodiversidade associado às estratégias de desenvolvimento
social de forma a solucionar o dilema imposto entre a necessidade de desenvolvimento e a existência
de Unidades de Conservação em mais de 50% do território amapaense.
A meliponicultura, com a conseqüente manutenção de abelhas em caixa de criação, permitirá
a obtenção de mel preservando o ambiente e os polinizadores. Além disso, permitirá a multiplicação
de colônias e a diminuição da destruição de árvores para a obtenção do mel. Contudo, cabe
ressaltar que para que isso ocorra, as comunidades que venham a desenvolver a criação de abelhas
sem ferrão devem ser instruídas a minimizar a retirada de colônias dos ambientes naturais. Coleta
de ninhos da natureza que estejam em risco devem ocorrer preferencialmente em árvores mortas
ou em galhos secundários (COLETTO-SILVA, 2005) ou em áreas que vão sofrer degradação
ambiental.
O mel dos meliponíneos é muito apreciado e apresenta características medicinais
(CORTOPASSI-LAURINO; GELLI, 1991; MOLLAN, 1992), além de alcançar valor de venda
superior ao encontrado para Apis mellifera (NOGUEIRA-NETO, 1997), mas no Amapá o processo
da meliponicultura é ainda incipiente. Assim, como há abelhas que se adeqüam à meliponicultura
no Amapá, é possível, às comunidades desta região, desenvolver a criação das abelhas sem ferrão,
inclusive como uma atividade de suporte àquela desenvolvida originalmente pela família, pois a
atividade exige pouco esforço e pode ser realizada em horários alternativos ou pelo conjunto dos

22
Programa Primeiros Projetos

membros da família.
Outras observações são importantes para além do processo de criação. Como a maioria das
abelhas do gênero (WILLE; MICHENER, 1973), as colônias das três espécies de Melipona
identificadas como potenciais para a meliponicultura nidificaram em cavidades de árvores. Diversos
fatores podem influenciar a ocorrência das Meliponina nos ambientes como aspectos ecológicos,
disponibilidade de locais adequados para nidificação e oferta de recursos tróficos; fatores
biogeográficos relacionados à própria distribuição das espécies e fatores filogenéticos inerentes a
cada espécie de abelha sem ferrão.
A preservação das espécies vegetais onde essas abelhas nidificam é extremamente importante
para a manutenção destes organismos nas áreas de preservação, uma vez que em um estudo
realizado por Kerr (1984) os meliponíneos nidificaram em apenas 12 espécies de árvores de um
total de mais de 200 disponíveis. Além disso, as espécies não escavam a madeira para construir ou
alargar um buraco, elas dependem inteiramente de sua ocorrência natural (ROUBIK, 1989, 2006;
WILLE; MICHENER, 1973). Outro aspecto relevante é o fato dos meliponíneos não serem capazes
de migrar com sua rainha para um novo sítio de nidificação quando seu ninho é severamente
danificado (ROUBIK, 2006) em razão do aumento do gáster e da conseqüente impossibilidade de
vôo. Portanto, as estratégias de retirada de mel que envolvam a destruição do ninho, ou uma
abertura ampla que faça com que o ninho seja muito exposto, como encontrado entre as comunidades
locais, significa a destruição da colônia. A exploração predatória com a derrubada da árvore ou a
inutilização do oco da mesma como local de nidificação para os meliponíneos é uma prática que
deve ser evitada como forma de assegurar a manutenção das espécies que dependem deste tipo de
substrato. Estratégias de manejo como a retirada do ninho sem a destruição do oco, denominada
de método CESDA (COLETTO-SILVA, 2005) ou a abertura do ninho em árvores que apresentem
fissuras devem ser difundidas entre as comunidades residentes nas APA para assegurar a existência
de locais de nidificação e, conseqüentemente, de sobrevivência dessas espécies. Estratégias de
obtenção do ninho pelo método CESDA pode ser ainda mais interessante no que tange a preservação
ambiental se for feita a divisão da colônia capturada, deixando no oco parte do ninho (COLETTO-
SILVA, 2005).
O interesse pela meliponicultura cresce no Brasil e o mesmo é sentido no Amapá, mas a
criação deve ser feita com abelhas já existentes na região, e de preferência obtendo ninhos matrizes
de criadores registrados no IBAMA (COLETTO-SILVA, 2005). Mas ao longo do desenvolvimento
da meliponicultura, deve ser evitada a ação de abelheiros ou meleiros que não utilizam técnicas
racionais, eliminam as abelhas e as árvores que as abrigam (COLETTO-SILVA, 2005). O manejo
inadequado força a extinção, de modo que é comum o baixo número de abelhas próximo a vilas e
cidades ou mesmo aldeias indígenas devido a ação predatória. Portanto, é necessário ensinar as
comunidades que desejem fazer uso dos meliponíneos sobre as estratégias de manejo para tê-los
defendendo a biodiversidade (KERR, 2002).

23
5 CONCLUSÕES

O Amapá abriga diversos meliponíneos em diversidade equivalente ao de ambientes com


características similares.
Os meliponíneos apresentam preferências por ambiente (cerrado e várzea), bem como pelas
diferentes plantas que servem como pasto apícola.
A meliponicultura pode ser desenvolvida tanto em áreas de cerrado quanto em áreas de
várzea, desde que identificadas as abelhas adequadas a cada ambiente.
Melipona compressipes, Melipona paraensis e Melipona fulva se configuram como adequadas para
a utilização na meliponicultura por suas características de elevada produção de mel, baixa
agressividade, hábitos higiênicos e ninhos não associados ao de outros organismos.
Alguns membros da Área de Preservação Ambiental do Curiaú são capazes de identificar
diversas abelhas que ocorrem na região, seu pasto apícola e árvores de nidificação.
O etnoconhecimento das populações, por apresentar similaridade com o conhecimento
científico, pode auxiliar no desenvolvimento de estratégias ecologicamente corretas, como a
meliponicultura, permitindo a conservação de recursos naturais e o desenvolvimento social.
Estudos de monitoramento de longa duração são importantes para detectar a extinção local
de espécies e para desenvolver estratégias de conservação (MELO; MARTINS; GONÇALVES,
2006). Assim, no Amapá os monitoramentos devem ser sistemáticos para permitirem a obtenção
de dados qualitativos, quantitativos e de sazonalidade mais precisos e facilitarem a comparação
entre diferentes estudos (MELO; MARTINS; GONÇALVES, 2006).
No Amapá é possível utilizar a meliponicultura como mecanismo de manutenção da
biodiversidade associado às estratégias de desenvolvimento social.

6 AGRADECIMENTOS

À Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia do Estado do Amapá (SETEC) e ao Conselho


Nacional de Pesquisa (CNPq) pelo suporte financeiro ao desenvolvimento desta pesquisa. Ao
senhor Manoel e família cuja residência funciona, muitas vezes, como base de apoio aos processos
de coleta de dados.

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28
Programa Primeiros Projetos

CAPÍTULO 2

APLICAÇÃO DO MODELO DE QUALIDADE DA ÁGUA


QUAL2E PARA ANÁLISE DE CENÁRIOS AMBIENTAIS E
AUTODEPURAÇÃO NO MÉDIO RIO ARAGUARI - AP
Alan Cavalcanti da Cunha1
Viníciu Fagundes Bárbara2
Eduardo Queija de Siqueira3
Helenilza Ferreira Albuquerque Cunha4
Daímio Chaves Brito5

1 INTRODUÇÃO

O principal aspecto do gerenciamento de qualidade da água envolve a modelagem de


mudanças de características físicas, químicas e biológicas da qualidade da água em rios, lagos,
estuários e oceanos, os quais geralmente estão sujeitos a uma série de perturbações naturais ou
antropogênicas (TCHOBANOGLOUS; SCHRODER, 1985). Por assim dizer, o desenvolvimento
de modelos da qualidade da água envolve aplicação de balanço de massa, de quantidade de
movimento e de equações cinéticas para avaliar as possíveis respostas do sistema físico.
Uma das grandes utilidades do uso de modelos de qualidade da água está relacionada a uma
enorme capacidade de avaliar as variedades de padrões de escoamento que se desenvolvem em
rios que recebem volumes de água, com características (profundidade, área superficial, estratificada
ou uniforme, estagnada ou corrente), cujo resultado pode ser um efluente caracterizado por suas
condições hidráulicas (descarga, velocidade, descargas a partir de comportas múltiplas ou únicas
submersas) e das características de qualidade (temperatura, concentração de substância, conteúdo
sólido total, etc). Por isso modelos de qualidade da água geralmente são utilizados para aprimorar
o gerenciamento de descarga de resíduos nas correntes (naturais ou antropogênicas), as quais
servem para simular as condições reais do sistema físico. Mas tais equações requerem conhecimento
dos parâmetros que estão relacionados às características físicas da extensão a ser modelada,
particularmente sua geometria e as condições de escoamento, como velocidade média na seção
transversal e o coeficiente de dispersão (POTTER; WIGGERT, 2002).
Por outro lado, a modelação da qualidade da água em rios também exige esforço experimental
e logístico enormes, haja vista a obtenção in loco de vários coeficientes e taxas inseridos no modelo,

1. Dr. Pesquisador III em Engenharia Ambiental do NHMET-CPAQ/IEPA. Prof. PPGBIO/PPGDAP - UNIFAP.


2. Msc. Prof. Auxiliar da Universidade Católica de Goiás da PUC-GO - Mestre Eng. Ambiental pelo PPGEMA-UFG.
3. PhD. Professor Adjunto da UFG - PPGEMA - Engenharia Civil.
4. Dra. Prof. Adjunta da Ciências Sociais - PPBGBIO - Ciências da Engenharia Ambiental - UNIFAP.
5. Químico, Mestrando - PPGBIO-UNIFAP/IEPA/EMBRAPA.

29
como os coeficientes de descarga hidráulicos utilizados para a determinação dos coeficientes de
reaeração atmosférica, coeficientes cinéticos de degradação da matéria orgânica e nitrogenada,
parâmetros físicos de dispersão longitudinal, climáticos, etc, sem os quais seria difícil o uso desse
tipo de ferramenta para a gestão de recursos hídricos. E como afirma Gastaldini, Sefrin e Paz
(2002), há cada vez mais necessidade de se identificar e diagnosticar os fatores que afetam a
qualidade da água, bem como prever os impactos futuros decorrentes de determinados eventos
ou condições específicas, favorecendo a gestão de recursos hídricos com propostas ou alternativas
concretas e realmente eficazes.
O modelo de qualidade da água mais conhecido da nova geração é o QUAL2E, desenvolvido
pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (USEPA) o qual representa em
profundidade os ciclos biogeoquímicos do oxigênio, nitrogênio e fósforo, traduzido pela degradação
da matéria orgânica, crescimento e respiração de algas, nitrificação, hidrólise do fósforo,
sedimentação de algas e compostos ogânicos de nitrogênio e fósforo, salientando-se que em todos
estes processos há a completa interdependência do efeito do ciclo do oxigênio sobre aqueles
(GASTALDINI; SEFRIN; PAZ, 2002).
Neste aspecto, o presente texto é uma breve síntese de resultados do Projeto “Determinação
do coeficiente de reaeração no Modelo QUAL2E utilizando as características hidráulicas de canais
abertos para Estudos de Impactos Ambientais no Rio Araguari-AP”, do Edital SETEC/CNPq
(Processo 35000082/2004, Programa Primeiros Projetos (PPP Edital 1/2003) (CUNHA, 2003),
inicialmente executado a partir de setembro de 2004, em parceria com a UFG – PPGEMA e UnB
(LEA), e finalizado em junho de 2006 (BÁRBARA, 2006).
A proposta deste capítulo é apresentar ao leitor a metodologia envolvida no desenvolvimento
e aplicação de modelos de qualidade da água, cujo objetivo é ilustrar como estes foram aplicados
pela primeira vez que se tem observado na literatura à “realidade” amazônica e, em especial, em
rios do Estado do Amapá, onde se considerou “ausência” de influência de marés no trecho do
Baixo Araguari. Desta forma, algumas hipóteses importantes consideradas no desenvolvimento
do trabalho de pesquisa foram consideradas:
• há demandas da sociedade por mecanismos de gestão de recursos hídricos que necessitam
ser mais fundamentadas em estudos técnicos da área – exemplos são o enquadramento e
classificação dos corpos de água;
• há demanda dos gestores de recursos hídricos por instrumentos que facilitem a
compreensão de cenários e conflitos, que possibilitem uma melhorar qualidade das
decisões, principalmente em se tratando de empreendimentos hidrelétricos;
• há grande interesse do setor público na implementação da Política Nacional de Recursos
Hídricos, e seus aprofundamentos em níveis estadual (Lei 0686/2002) e municipal;
• há uma tendência mundial em considerar, de forma integrada, o binômio quantidade-
qualidade no contexto de gerenciamento de recursos hídricos;
• há preocupação local em preservar e conservar os recursos naturais, em especial os

30
Programa Primeiros Projetos

mananciais de superfície no Estado do Amapá, o que pressupõe o desenvolvimento de


informações e ferramentas de gestão voltadas à avaliação da qualidade e quantidade de
recursos hídricos, tal como preconiza a Lei 0686/2002 de Política e Gestão de Recursos
Hídricos do Estado do Amapá.

2 OBJETIVO GERAL

O objetivo geral é apresentar uma descrição metodológica sobre o uso da ferramenta de


apoio ao gerenciamento da qualidade da água no Médio Rio Araguari – AP, em especial os processos
de reoxigenação (reaeração) e consumo de oxigênio (DBO), a partir do Sistema de Modelagem
QUAL2E (BROWN; BARNWELL, 1987).

2.1 Objetivos Específicos


a) caracterizar a qualidade da água atual em aproximadamente 120 km do Médio Curso do Rio
Araguari (da confluência do Rio Amapari até a cidade de Cutias), verificando sua variação espacial
e sazonal nos períodos de cheia e estiagem durante o período de dois anos de investigação
(novembro/2004 a maio/2006);
b) verificar o atendimento dos padrões de qualidade da água do trecho analisado à Resolução
357/2005 do Conselho Nacional de Meio Ambiente;
c) conceber, para o trecho do Médio Araguari, um modelo calibrado com dados de campo para
oxigênio dissolvido (OD) e demanda bioquímica última de oxigênio (DBO);
d) simular, com o modelo calibrado, três cenários ambientais hipotéticos de uso da bacia
hidrográfica; e
e) demonstrar o potencial do Sistema Qual2E, mediante análise crítica, as suas vantagens e suas
limitações no trecho estudado do Médio Rio Araguari - AP.

3 O MODELO QUAL2E

De acordo com Brandão (2003) e Chapra (1997) o software QUAL2E (Modelo Avançado
de Qualidade da Água em Rios) é capaz de simular mais de 15 constituintes da qualidade da água
em sistemas dendríticos que são bem misturados lateralmente e verticalmente no trecho estudado.
Entre suas principais habilidades estão as múltiplas descargas de resíduos, retiradas de água,
escoamentos tributários, entradas e saídas incrementais (distribuídas), além de permitir a inserção
de barragens em pontos específicos da modelação a ser implementada.
Historicamente o Modelo QUAL2E foi desenvolvido por Brown e Barnell (1987) e tem
sido selecionado para diversos estudos e pesquisas como um dos mais bem documentados na

31
área. Tal flexibilidade e dotado de um potente acervo documental, obtidos de várias fontes e
estudos no mundo todo, ajudaram certamente a difundí-lo e a disseminá-lo. Além disso, o modelo
é numericamente acurado e inclui as principais estruturas cinéticas para a maioria dos poluentes
convencionais (CHAPRA, 1997; McCUTCHEON et al., 1993; CUNHA, 2003; BÁRBARA, 2006).
Como uma condicionante, em trabalhos de modelação de oxigênio dissolvido (OD) e
demanda bioquímica de oxigênio (DBO) em rios no Brasil e no exterior (BARBOSA, 1997;
SIQUEIRA; CUNHA, 2001), há dificuldades referentes à sua aplicação, por exemplo, que consiste
em quantificar o coeficiente de reaeração, K2, o qual necessita de determinação prévia em campo,
seguida de cálculos computacionais antes de incorporá-lo ao modelo (SIQUEIRA, 1996). Por
exemplo, o processo de troca de oxigênio na interface ar-água (reaeração atmosférica) é um fenômeno
da absorção física do ar (oxigênio essencialmente) da atmosfera pela água em movimento. Em
águas correntes a reaeração tem um papel extremamente importante para a manutenção da vida
aquática aeróbia e facultativa, pois introduz o oxigênio da atmosfera de forma natural no meio
aquático (McCUTCHEON et al., 1989; CUNHA; CUNHA; SIQUEIRA, 2001; BARBOSA, 1997).
Normalmente, na literatura da área, o K2 é determinado ou quantificado empiricamente em função
das características hidráulicas do escoamento no trecho estudado. De acordo com Brandão (2003)
a representação conceitual de um curso de água com o Modelo QUAL2E é a de um trecho de rio
dividido em determinado número de subtrechos ou elementos computacionais, equivalentes a
elementos de diferenças finitas. Para cada elemento computacional é realizado um balanço
hidrológico em termos de vazão, um balanço térmico em termos de temperatura, e um balanço de
constituintes, em termos de concentrações. Neste último balanço, tanto o transporte advectivo
quanto o difusivo são considerados. Desta forma, para melhor apresentar o tema ao leitor, elaborou-
se as seguintes considerações teóricas a seguir.

3.1 A Modelagem Matemática como Instrumento de Gestão dos Recursos Hídricos


Inicialmente será apresentado um breve histórico da evolução do modelo de Streeter e
Phelps e do modelo QUAL2E, tendo o mesmo sido empregado nessa pesquisa. São apresentadas,
também, as características gerais e a formulação interna do QUAL2E.
3.1.1 A importância, conceito e critérios de escolha do modelo de qualidade da água
Apesar da água ainda ser utilizada como receptora final de efluentes na grande maioria das
regiões habitadas pelo ser humano, um uso pouco nobre, ela é capaz de se autodepurar. Entretanto,
a possibilidade ou não que um determinado corpo hídrico oferece de tal uso deve ser analisada com
muita cautela e estudo, pois, como será mencionado mais adiante, caso a capacidade de autodepuração
de um corpo d’água seja ultrapassada, o mesmo poderá enfrentar sérios problemas ambientais
(BARBOSA, 1997; CUNHA, 2000; BÁRBARA, 2006). Por outro lado, é preciso que o gerenciamento
de bacias hidrográficas seja embasado em informações ambientais e características locais.
Visando suprir um “deficit” regional de informações, as agências de controle ambiental de
vários estados brasileiros investiram em ações que objetivaram estabelecer redes de monitoramento
dos parâmetros de qualidade da água, almejando acompanhar a evolução e a tendência dos mesmos

32
Programa Primeiros Projetos

através do tempo e do espaço. No Estado do Amapá a Lei Estadual 0686/2002 (Política de


Gerenciamento de Recursos Hídricos do Estado do Amapá) carece ainda de regulamentação.
Contudo, há um esforço governamental para que esta seja implementada efetivamente. A principal
implicação é atender demandas específicas dos gestores locais considerando os múltiplos usos da
água. Estudos como o do presente trabalho podem lançar luz à uma série de questionamentos
sobre tendências e cenários extremamente úteis como suporte à tomadas de decisão no setor.
Segundo Litwack et al. (2006), em uma gestão hídrica eficaz, é necessário que se satisfaçam
duas condições básicas: (1) que se tenham disponíveis as séries históricas de dados de qualidade da
água, e (2) que existam ferramentas confiáveis para entender e interpretar os mesmos de maneira
conjunta (ALBANO; PORTA, 2005). Neste aspecto, os modelos de qualidade da água possibilitam
avaliar alternativas no gerenciamento de bacias hidrográficas com o uso dessas informações, vez
que é humanamente impossível analisar ao mesmo tempo, de maneira segura e com a menor
possibilidade de erro, todas as variáveis envolvidas nas reações que ocorrem dentro de um mesmo
corpo hídrico, inclusive porque os rios são sistemas dinâmicos e complexos (CUNHA; SIQUEIRA;
CUNHA, 2001; BELLOS; SAWIDIS, 2005).
Dessa maneira os modelos podem ser encarados como uma evolução natural do gerenciamento
dos recursos hídricos que, atualmente, não se restringe mais à análise isolada de parâmetros, mas
sim à correlação entre esses. Segundo Rosman (2005) modelos são “ferramentas integradoras sem
as quais dificilmente se consegue uma visão dinâmica dos processos que ocorrem em sistemas
naturais”. Eiger (2003), Mujumdar e Vemula (2004) e Rosman (2005) asseveram que dentre todos
os modelos existentes, os matemáticos são os mais utilizados na modelagem da qualidade da
água, pois fazem uso de equações diferenciais e de condições de contorno para representar, de
maneira aproximada, os processos físicos, químicos e biológicos que ocorrem dentro de
determinado sistema ambiental que se tem interesse em conhecer.
As alterações nas concentrações dos constituintes de um ambiente aquático, tais como
oxigênio dissolvido, nutrientes, matéria orgânica e sólidos, dentre outros, ocorrem devido a
mecanismos de transporte (advecção e dispersão) e processos biológicos, químicos e físicos, que
determinam o aumento ou a diminuição dos mesmos no meio líquido (RAUCH et al., 1998). E os
modelos de qualidade da água permitem que se calcule as concentrações de constituintes presentes
no corpo hídrico, dadas as suas características hidrodinâmicas, as condições iniciais do sistema
aquático e a cinética de reações (BOWIE et al., 1985). Isso possibilita saber por que determinadas
alternativas de manejo de bacias hidrográficas são melhores que outras. Dessa maneira, é também
possível simular “n” cenários futuros e optar pelo que menos impactará o corpo hídrico.
Segundo Eiger (2003) e Mark et al. (2004), os modelos de qualidade da água podem ser
utilizados para inúmeros estudos: projetos de estações de tratamento de esgoto (ETEs); em análises
de disponibilidade de água; na verificação da influência de obras sobre a qualidade do meio aquático
(hidrelétricas, por exemplo); e na demanda e alocação de empreendimentos poluidores. Na avaliação
da abrangência de vazamentos de poluentes e resíduos tóxicos, em especial, os modelos permitem
estimar quanto tempo os órgãos responsáveis teriam para contornar uma situação de risco à saúde
pública, por exemplo.

33
Cabe ressaltar que o uso dos modelos possuem inúmeras vantagens, tais como as descritas
na Tabela 1, e que eles ainda são tidos por pesquisadores do mundo todo como as mais eficientes
ferramentas existentes até então na gestão dos recursos hídricos (COX, 2003; MENDONÇA et
al., 2005). Por esta razão vêm sendo aperfeiçoadas dia a dia. Isso permite deduzir que da mesma
maneira que já foram muito mais simplificados, com o passar do tempo, eles estão se tornando
cada vez mais complexos e representativos da realidade do sistema ambiental modelado (RAUCH
et al., 1998). Mas é fundamental que haja consistência dos dados de saída do modelo a ser utilizado,
o que está diretamente ligada à qualidade dos seus parâmetros de entrada (feedback).
Tabela 1 - Principais vantagens da utilização de modelos matemáticos de sistemas ambientais
(PORTO; AZEVEDO, 2002 - com adaptações (BÁRBARA, 2006).
a) A análise do sistema real, quando possível, é muito mais cara do que a utilização de modelos.
b) Os riscos ambientais são inexistentes quando aplicados nas simulações computacionais, uma vez que
estudos que envolvem produtos perigosos, por exemplo, não podem ser desenvolvidos in loco.
c) O custo ambiental e econômico de cometer erros e/ou realizar experiências com o sistema real é
incomparavelmente maior do que o custo de exploração intensiva do modelo.
d) Modelos são ferramentas de aprendizado em que processos de tentativas e erros podem ser “explorados
gratuitamente”, não contribuindo somente para a melhor compreensão do sistema, mas também para a
concepção de novas idéias e linhas de ação.
e) Modelos são instrumentos muito eficientes para treinamento quando desenvolvidos ou adaptados
especificamente para esta finalidade.
f) Modelos conferem flexibilidade às análises porque:
- “encurtam” o tempo, uma vez que permitem que muitos anos sejam analisados em períodos extremamente
curtos; e
- diferentes alternativas podem ser analisadas, muitas vezes mediante simples alterações de parâmetros.

Quanto mais complexos os sistemas ambientais a serem modelados e mais desafiadoras


forem as respostas referentes às condições futuras que se deseja obter, mais úteis são os modelos.
Mas é necessário que o usuário saiba escolhê-los, levando em conta não somente os que mais se
adaptarão aos seus objetivos, mas também, a disponibilidade de dados para a realização das
simulações (MCCUTCHEON; FRENCH, 1989; WALTON; WEBB, 1992).

3.2 O modelo de Streeter Phelps


A presença de oxigênio dissolvido na água é vital para todos os organismos aquáticos. Streeter
e Phelps, em 1925, desenvolveram e aplicaram as primeiras equações para simular o OD e a
DBO, almejando descrever o déficit de oxigênio a jusante de um despejo. Tais equações são a
base da maioria dos modelos de qualidade da água existentes na atualidade e têm sido melhoradas
em vários centros de pesquisa espalhados pelo mundo (BROWN; BARNWELL, 1987;
GASTALDINI; SEFRIN; PAZ, 2002; BRANDÃO, 2003; BÁRBARA, 2006; SIQUEIRA, 1996).

34
Programa Primeiros Projetos

Conforme Tucci (1998), o modelo de Streeter e Phelps foi desenvolvido para rios de regime
de escoamento permanente e uniforme. Além disso, ele pressupõe mistura imediata, considerando
apenas o efeito advectivo do transporte de massa e a fase carbonácea no consumo da matéria
orgânica. As principais limitações do modelo são que ele não leva em consideração a demanda
bentônica; só funciona em decomposição aeróbia; não considera a sedimentação da matéria orgânica
e não inclui a reoxigenação advinda da fotossíntese realizada pela respiração algal. Apesar de
todos esses fatores, entretanto, o mesmo foi o precursor da quase totalidade dos modelos de
qualidade da água existentes nos dias de hoje, tendo, por isso, seu mérito reconhecido pela
comunidade científica.
A hipótese básica de Streeter e Phelps é de que o processo de decomposição da matéria
orgânica no ambiente aquático, assim como o da reaeração, obedecem a uma equação diferencial
de primeira ordem, conforme pode ser visualizado nas Equações 1 (EIGER, 2003) e 2 (SIQUEIRA,
1996), respectivamente.
dL
= − K1 L (1)
dt

dD
= −K 2 D (2)
dt
onde:
D: déficit de oxigênio dissolvido, (mg/L);
K1: coeficiente de desoxigenação, (d-1);
K2: coeficiente de reaeração, (d-1);
L: demanda bioquímica última de oxigênio, (mg/L); e
t: tempo, (d).

Em uma primeira análise durante o estudo de autodepuração de um rio, o modelo de Streeter


e Phelps pode ser uma boa ferramenta. Entretanto, atualmente, modelos muito mais robustos
(tais como o SIMCAT, SIMOX, TOMCAT, QUAL2E, QUASAR, MIKE-II, WASP e ISIS, dentre
outros), estão sendo utilizados nos estudos de modelagem de qualidade da água (BÁRBARA,
2006). A literatura especializada nesse tipo de modelagem produziu, nos último cinco anos, mais
de cem artigos. Porém, a maioria deles se refere ao Sistema de Modelagem da Qualidade da Água
QUAL2E, desenvolvido pela USEPA, mencionando seu uso nas Américas, Europa, Ásia e
Austrália.
O maior número de aplicações desse modelo é na simulação do oxigênio dissolvido. Todavia,
além de modelar o OD, o QUAL2E contempla, em qualquer combinação desejada pelo operador,
a simulação de até 15 constituintes hídricos (considerando que os mesmos estejam completamente
misturados ao volume de escoamento), incluindo temperatura, concentração de biomassa algal
sob a forma de clorofila, nitrogênio orgânico, amônia, nitrito, nitrato, fósforo orgânico, fósforo
dissolvido, demanda bioquímica de oxigênio, coliformes, um elemento não-conservativo arbitrário
e três elementos conservativos. Aliado a isso, o modelo contempla, ainda, as interações entre os
coeficientes de desoxigenação e reaeração atmosférica e seus efeitos no comportamento do oxigênio

35
dissolvido (MELCHING; YOON, 1996; DAI; LABADIE, 2001; MCAVOY et al., 2003;
BRANDÃO, 2003; ZEILHOFER et al., 2003; PALMIERI, 2004).
O QUAL2E foi desenvolvido na linguagem computacional ANSI FORTRAN 77. É um
modelo unidimensional de regime permanente, uma vez que considera os mecanismos de difusão
e advecção como significantes apenas no sentido do fluxo principal do canal do rio, ou seja, no
eixo longitudinal. Esse modelo é capaz de contemplar descargas pontuais e difusas de resíduos
líquidos ou de poluentes, além de pontos de retirada e de introdução de água. Brown e Barnwell
(1987) adicionaram no QUAL2E a análise de sensibilidade (MCCUTCHEON; FRENCH, 1989),
o que lhe garante uma funcionalidade que poucos modelos possuem.
A Figura 1 apresenta um esquema da relação entre os componentes que esse modelo é
capaz de simular e as interações entre os mesmos. Grande parte das interações não será enfocada
no presente trabalho (foco no OD e DBO). Os coeficientes utilizados na presente pesquisa
encontram-se descritos no item Materiais e Métodos.

Figura 1 - Esquema das relações entre constituintes e coeficientes cinéticos no


modelo QUAL2E (BROWN; BARNWELL, 1987 - adaptado por BÁRBARA,
2006).

No transporte de massa o QUAL2E baseia-se na solução de equações diferenciais finitas


dos mecanismos de transporte e transformação. A Equação 3 (COX, 2003) é a sua fórmula
interna básica.

⎛ ∂C ⎞
∂⎜ Ax DL ⎟
∂M
= ⎝ ∂x ⎠
dx −
∂ Ax U C ( )
dx + ( Ax d x )
dC
+S (3)
∂t ∂x ∂x dt
A B C D

Termos da equação: dispersão (A) + advecção (B) + reações e interações (C) + fontes externas (D)

36
Programa Primeiros Projetos

onde:
M: massa, (M);
Ax: área da seção transversal, (L2);
C: concentração do constituinte, (M/L3);
x: distância, (L);
DL: coeficiente de dispersão longitudinal, (L2/T-1);
U : velocidade média, (L/T);
t: tempo, (T); e
S: fonte ou sumidouro externo, (M/T).

O QUAL2E utiliza a Equação 4 (PALMIERI, 2004) para descrever a mudança da


concentração de OD no decorrer do tempo.

= K 2 (CS − CO ) + (α 3 μ − α 4 ρ )A − K1 L − 4 − α 5 β1 N1 − α 6 β 2 N 2
dCO K (4)
dt d

onde:
Co: concentração de oxigênio dissolvido, (mg/L);
Cs: concentração de saturação de oxigênio dissolvido na água, a dada temperatura, (mg/L);
α 3: taxa de oxigênio produzido por fotossíntese por unidade de alga, (mg-O/mg-A);
: taxa de remoção de oxigênio por unidade de respiração algal, (mg-O/mg-A);
α4 α 5 : taxa de remoção de oxigênio por unidade de oxidação de amônia, (mg-O/mg-N);
a6: taxa de remoção de oxigênio por oxidação de nitrito, (mg-O/mg-N);
m: taxa de crescimento de algas, (d-1);
r: taxa de respiração algal, (d-1);
A: concentração de biomassa algal, (mg-A/L);
L: demanda bioquímica última de oxigênio, (mg/L);
K1: coeficiente de desoxigenação, (d-1);
K2: coeficiente de reaeração, (d-1);
K4: coeficiente cinético da demanda bentônica do oxigênio, (g/m2.d);
b1: coeficiente cinético da oxidação de amônia, (d-1);
b2: coeficiente cinético da oxidação de nitrito, (d-1);
N1: concentração de amônia, (mg-N/L);
N2: concentração de nitrito, (mg-N/L); e
d = profundidade média, (m).

Quando no início de uma simulação o QUAL2E solicita que o usuário proceda com a divisão
esquemática dos trechos do rio em elementos computacionais com as mesmas propriedades
hidrológicas (tais como a seção transversal e a inclinação do canal), e cinéticas (tais como os
coeficientes de desoxigenação e reaeração, dentre outros). Logo, o corpo hídrico pode ser encarado
como uma seqüência de pequenos reatores acoplados entre si por meio dos mecanismos de
transporte de massa.

37
Nas simulações do QUAL2E o usuário pode optar pela modalidade dinâmica ou de estado
constante. No primeiro caso, os dados climatológicos locais são fornecidos em intervalos regulares;
desse modo, o balanço de calor apresenta uma resposta diária do sistema hidráulico no que diz
respeito às condições de mudança de temperatura. No segundo caso, os dados climatológicos
médios são fornecidos pelo usuário apenas uma vez, sendo que os mesmos são utilizados pelo
modelo em todas as simulações.

4 MATERIAIS E MÉTODOS

Na área de modelagem numérica de recursos hídricos qualquer processo de quantificação


exige que os parâmetros e variáveis de entrada do modelo sejam realísticos e confiáveis para não
comprometer a análise do fenômeno em questão. Este fator exige de antemão o monitoramento
(séries históricas das variáveis e dos parâmetros de análise) e necessariamente conhecer as
características da bacia hidrográfica em estudo (WROBEL et al., 1989).

4.1 A Caracterização da Bacia Hidrográfica do Rio Araguari


A bacia hidrográfica do Rio Araguari é limitada pela Serra dos Mongubas a Nordeste, Serra
da Lombarda ao Norte, Serra de Tumucumaque a Oeste, Serra do Iratapuru a Sudeste e Serra da
Pancada ao Sul, podendo ser visualizada na Figura 2. Seu contorno é formado pelo divisor comum
das águas das bacias dos Rios Amapá no Leste, Calçoene no Nordeste, Oiapoque no Norte e Jari
a Oeste. De maneira geral, essa BH possui forma geométrica muito irregular, principalmente nas
proximidades de sua foz, no Oceano Atlântico. O relevo local é plano, exceto pela presença de
algumas regiões colinosas revestidas por florestas pluviais que aparecem junto à borda ocidental
da planície de escoamento. No inverno surgem áreas inundáveis que formam lagos
intercomunicáveis, o que proporciona uma paisagem de pântano em alguns locais. Essa bacia é a
maior do Estado do Amapá e sua porção ocidental é formada por florestas pluviais e relevos
irregulares. Na região denominada de Baixo Araguari, a predominância é de uma planície flúvio-
marinha, ocorrendo a presença de macrófitas aquáticas nas margens do canal principal do manancial
(PROVAM..., 1990).

38
Programa Primeiros Projetos

Figura 2 - Localização da área de estudo na Bacia do Rio Araguari Fonte: Bárbara, 2006.

O Rio Araguari nasce ao Sul da Serra Lombarda e Tumucumaque, a 200 metros de altitude.
Ele é formado pela confluência dos Rios Mururé e Amapari, recebendo como afluentes os Rios
Tapiti, Mutum, Tajauí, Santo Antônio, Falsino, Jacinto e Aporema; os Igarapés do Eduardo, da
Ribeira, Manuel e do Cordeiro; e o Córrego Tracajatuba. Sua extensão aproximada é de 498 km,
sendo que o mesmo é dividido em três trechos: (1) Curso Superior ou Alto Araguari (132 km); (2)
Médio Curso ou Médio Araguari (161 km), região também conhecida como Paredão, onde se
encontra localizada a Usina Hidrelétrica de Coaracy Nunes; e (3) Curso Inferior ou Baixo Araguari

39
(205 km), onde o número de meandros aumenta, diminuindo sua velocidade de escoamento. A
declividade média do canal é de 0,50 m/km e as temperaturas variam entre 20,0°C e 40,1°C
(PROVAM..., 1990; CUNHA, 2003).
Duas capitais municipais estão localizados nas margens do Médio Araguari, sendo elas:
Porto Grande e Ferreira Gomes e Cutias localizada no Baixo Araguari, com populações estimadas,
no ano de 2005, de 14.675, 4.321 e 4.285 habitantes, respectivamente. Próximo de Porto Grande
ocorre a confluência do Rio Araguari com o Rio Amapari onde, a partir de então, o primeiro inicia
seu trajeto pela planície costeira do Amapá, até desembocar no Oceano Atlântico. As vazões
máxima e mínima medidas pela Estação Fluviométrica de Porto Platon até novembro de 2005
foram de 3.857,00 m3/s, em 7 de abril de 1974, e 121,00 m3/s, em 10 de dezembro de 1976,
respectivamente (PROVAM..., 1990; IBGE, 2006). As Figuras 3a a 3f ilustram alguns aspectos
gerais do Médio Araguari. De acordo com Cunha (2003) os principais impactos ambientais no
Médio e Baixo Rio Araguari podem ser indicados nas figuras citadas: a) navegação e paisagem, b)
geração de renda para a comunidades ribeirinhas, c) geração de energia hidrelética, d) extração de
mineral granito, e) reservatório e f) bubalinocultura, agricultura e urbanização.

a b

Figura 3 - a) Vista geral do Rio Araguari; b) População ribeirinha (Imagens obtidas durante a 2ª Coleta, em maio/2005).

c d

Figura 3 - c) UHE de Coaracy Nunes; d) Presença de rochas de grandes dimensões na calha principal do rio (Imagens
obtidas durante a 3ª Coleta, em novembro/2005).

40
Programa Primeiros Projetos

e f

Figura 3 - e) Vista geral 30 anos após enchimento do reservatório da UHECN; f) Criação de búfalos (bubalinocultura)
nas margens do Rio Araguari (Imagens obtidas durante a 4ª Coleta, em março/2005).

4.1.1 Determinação do coeficiente de desoxigenação e demanda bioquímica última em localidades


de interesse para a modelagem
A decomposição da matéria orgânica presente na água, quando ocorre de maneira aeróbia, é
realizada por organismos que utilizam o oxigênio molecular como aceptor de elétrons, consumindo-
o do meio aquático quando na realização desse processo. A taxa com que isso se dá é conhecida
como coeficiente de desoxigenação (K1, expresso em d-1). Além disso, a quantidade de OD
consumida pelos seres decompositores é conhecida como demanda bioquímica de oxigênio (DBO).
Na modelagem do OD pelo QUAL2E é necessário que se conheça o valor da demanda
bioquímica última de oxigênio, uma vez que, baseado nesse valor e no coeficiente de desoxigenação,
é possível obter uma curva (x-y) que é capaz de descrever matematicamente a progressão da
demanda bioquímica de oxigênio em função do tempo. Com base em Streeter e Phelps (1925) e de
acordo com Brown e Barnwell (1987), o QUAL2E caracteriza a reação da demanda bioquímica
de oxigênio como de primeira ordem, sendo necessária, portanto, a determinação de K1 e L.
Nesse estudo, a determinação do coeficiente de desoxigenação e da demanda bioquímica de
oxigênio foi feita em três seções do Médio Araguari, sendo elas: 3, 10 e 12, situadas a montante,
dentro e a jusante do lago da Usina Hidrelétrica de Coaracy Nunes, respectivamente. Optou-se
apenas por esses três pontos porque além dos mesmos serem representativos dos trechos, não foi
possível proceder com a determinação de K1 em outras localidades do manancial devido às
limitações de materiais e reagentes pertinentes ao laboratório. A Figura 4, a seguir, ilustra uma
das curvas encontradas, os respectivos valores de K1, L e do tempo médio necessário para que
ocorra a transição da fase carbonácea para a nitrogenada.

41
Figura 4 - Gráficos da determinação de K1, da L e do tempo de transição da fase carbonácea para a nitrogenada: a) Seção
3: 1ª Coleta (novembro/2004); b) Seção 10: 1ª Coleta (novembro/2004) – Bárbara, 2006 e Cunha (2004).

Após essa etapa, inclusive das demais seções e de modo análogo, procedeu-se com o cálculo
da média dos valores de K1 que foram utilizados como dados de entrada no QUAL2E, utilizando,
para tanto, a Equação 5:

n
K1 médio =
1 1 1 (5)
+ + ... +
K1a K1b K1n
onde:
n: quantidade de coeficientes de desoxigenação obtidos; e
K1a; K1b e K1n: valores de K1 medidos.

4.1.2 Determinação do coeficiente de reaeração K2


Conforme Cunha, Siqueira e Cunha (2001) e Atkinson et al. (2004), um problema crítico
que deve ser resolvido quando na modelagem do oxigênio dissolvido em águas superficiais é a
determinação do coeficiente de reaeração. A sua importância é fundamental não somente no
que diz respeito à manutenção dos ciclos de vida existentes nos ecossistemas aquáticos, mas
também à capacidade de autodepuração de um rio.
A taxa com que um corpo hídrico absorve o oxigênio da atmosfera através de sua interface
ar-água é chamada de coeficiente de reaeração (K2, expresso em d-1). A absorção ocorre como um
processo cinético de primeira ordem, sendo que essa taxa é proporcional ao deficit de oxigênio no
meio aquático, o que possibilita compreender que o K2 varia de um rio para outro. Contudo, esse
processo depende diretamente da pressão atmosférica, salinidade e temperatura da água
(BARBOSA, 1989).
O K2 pode ser obtido de duas maneiras: (1) por meio de fórmulas empíricas e semi-empíricas
vinculadas a dados hidráulicos do sistema; ou (2) por técnicas de medição em campo. De acordo
com Bennett e Rathbun (1972), Barbosa (1989) e Barbosa e Giorgetti (1995), existem várias

42
Programa Primeiros Projetos

técnicas experimentais desenvolvidas para a determinação do coeficiente de reaeração, sendo que


a mais aceita é a dos traçadores gasosos, uma vez que esta possui a vantagem de quantificar o K2
independente de outras fontes e sumidouros de OD na água, tais como a fotossíntese, a demanda
bentônica e a demanda bioquímica de oxigênio. Porém, essa técnica envolve não somente exaustivos
trabalhos de campo (RODRIGUES, 2005), mas também laboratório, equipamentos e profissionais
especializados. Além disso, a mesma se torna inviável economicamente no caso de um rio como o
Araguari, detentor de enormes dimensões, o que demandaria um elevado volume de gás traçador
para ser solubilizado e monitorado em níveis detectáveis pelos equipamentos que o quantificam.
Por esses motivos, na presente pesquisa a determinação do coeficiente de reaeração foi feita
utilizando equações existentes na literatura, da mesma forma como procederam vários
pesquisadores, tais como: Rutherford (1991), quando no estudo da qualidade da água do Rio
Tarawera, na Nova Zelândia; Siqueira (1996), na modelagem do Rio Meia Ponte, em Goiás; Cunha,
Siqueira e Cunha (2001), na modelação do oxigênio dissolvido no Ribeirão do Feijão, em São
Paulo; McAvoy et al. (2003), na análise da poluição das águas do Rio Balatuin, nas Filipinas; e
Araújo, Castro e Figueiredo (2005), na simulação da qualidade da água do Rio Jaguaribe, no
Ceará, dentre outros.
O QUAL2E oferece oito opções para o cálculo de K2, sendo seis equações preditivas empíricas
e semi-empíricas da literatura, conforme pode ser observado na Tabela 2, e duas opções para
valores medidos ou modelos opcionais.
O cálculo do coeficiente de reaeração no QUAL2E é feito em função da temperatura e dos
0,5
U parâmetros hidráulicos. Nesse programa, a hidráulica pode ser modelada de duas maneiras: (1)
12 , 9 15,
H com base nos coeficientes de descarga, originados em medições hidráulicas realizadas no próprio
rio; ou (2) no coeficiente de Manning para a seção trapezoidal. Barnwell Junior, Brown e Whittemore
(2004) recomendam que o método escolhido seja o primeiro.
Tabela 2 - Equações utilizadas para estimativa do K2 (SIQUEIRA, 1996).
Equação no Sistema Equação no Sistema Inglês
Autor
Internacional de Unidades de Unidades
0,5
O’Connor e Dobbins (1958) 3, 93
U
1,5
H

U 0,969
0,969
Churchill et al. (1962) 5,03 U
11, 6
H 1,673 H
1673
,

0, 67 0, 67
Owens et al. (1964) U U
5 ,34 1,85
21, 7 1,85
H H

Langbein e Durum (1967) U U


5 ,14 1,33
7 ,6 1, 33
H H

Trackston e Krenkel (1969) 24,9 (1 + F 0,5) u * 24,9 (1 + F 0,5) u *


H H

Tsivoglou e Wallance (1972) 86400cSU 86400cSU

43
onde:
U: velocidade média no trecho, (pés/s) ou (m/s);
H: profundidade média no trecho, (pés) ou (m);
S: declividade do trecho, (pés/pés) ou (m/m);
u*: velocidade de cisalhamento, (pés/s) ou (m/s);
F: Número de Froude, (adimensional);
Q: vazão, (pés3/s) ou (m3/s); e
g: aceleração da gravidade, (pés/s2) ou (m/s2).

No Sistema Internacional de Unidades:


c: 0,177 m-1 para 0,42 m3/s d” Q d” 84,96 m3/s.

No sistema Inglês de Unidades:


c: 0,054 pés-1 para 15 pés3/s d” Q d” 3.000 pés3/s.

No Rio Araguari utilizou-se o método dos coeficientes de descarga, que são calculados em
função da velocidade, da profundidade e da vazão médias de cada seção analisada, de acordo as
fórmulas listadas nas Equações 6 e 7 (CUNHA; SIQUEIRA; CUNHA, 2001) a seguir.

(6)

H = cQ d (7)

onde:
H: profundidade, (m);
V: velocidade, (m/s);
Q: vazão líquida, (m3/s); e
a, b, c e d: coeficientes de descarga, (adimensionais).

Para a determinação dos coeficientes de descarga procedeu-se com a medição de vazão em


seis seções do Médio Araguari, sendo elas localizadas nos pontos de coleta 3, 6, R3, 11, 15 e 20.
Além disso, foram obtidos os dados hidráulicos oriundos da Estação Fluviométrica de Porto Platon,
situada no trecho modelado. Observa-se que foram utilizadas somente seis seções de medição de
dados hidráulicos com a finalidade de obtenção dos coeficientes de descarga. Dessa maneira, os
valores obtidos foram lançados em dois sistemas gráficos bidimensionais (x-y) onde, posteriormente,
procedeu-se com os ajustes não-lineares (Figuras 5 a 7).

44
Programa Primeiros Projetos

Seção 3 (a montante da UHECN):

Figura 5 - Ajuste não-linear para a determinação dos coeficientes de descarga para a Seção 3.

Estação Fluviométrica de Porto Platon (a montante da UHECN):

Figura 6 - Ajuste não-linear para a determinação dos coeficientes de descarga para a Estação Fluviométrica de Porto Platon
– Eletronorte/ANA.

Seção R3 (dentro do reservatório da usina):

Figura 7 - Ajuste não-linear para a determinação dos coeficientes de descarga para a Seção R3.

45
É importante salientar que Cunha (2000) já havia procedido com a determinação desses
mesmos coeficientes para a Seção da Estação Fluviométrica de Porto Platon, cujos valores obtidos
foram muito próximos aos atuais obtidos para a mesma seção. Segundo o autor, os valores de a, b,
c e d foram, respectivamente: 0,003; 0,762; 1,441 e 0,218 (não mostrado neste texto).
Determinando-se os coeficientes de descarga, conforme esquema da Figura 8, os quais
foram incorporados ao modelo por ocasião da simulação computacional, utilizaram-se as seis
equações da literatura listadas na Tabela 4.5 (apresentada anteriormente), para plotar os gráficos
de K2, os quais podem ser visualizados na Figura 9.

Figura 8 - Esquema de obtenção dos valores de K2 (SIQUEIRA, 1996; CUNHA;


SIQUEIRA; CUNHA, 2001 – adaptado por BÁRBARA, 2006).

Na modelagem ora realizada optou-se, em todos os trechos, pela equação de O’Connor e


Dobbins. Essa escolha levou em conta os seguintes fatores:
• Todas as equações foram desenvolvidas para rios específicos e, dentre elas, a de O’Connor
e Dobbins foi a única elaborada para um curso hídrico com velocidade de 0,15 m/s a
0,50 m/s e profundidade de 0,30 m a 9,10 m, detentor, portanto, de características
hidráulicas parecidas com as do Rio Araguari.
• Quando na plotagem dos gráficos dos coeficientes de reaeração, ilustrados na Figura 9,
foi a equação que, em geral, permaneceu localizada na região mediana das variações dos
valores encontrados, não tendo apresentado tendências gerais que sub ou superestimaram
o K2.

46
Programa Primeiros Projetos

Figura 9 - a) Gráfico de K2 na Seção 3 (a montante da UHECN); b) Gráfico de K2 na Seção 6 (a montante da UHECN).

O que se percebeu com esses gráficos é que para o trecho do Médio Araguari, de maneira
geral, ocorre uma pequena faixa de reaeração. As equações de Trackston e Krenkel e de Tsivoglou
e Wallance apresentaram, na maioria das seções de medição, valores de K2 discrepantes, chegando
a alcançar, em relação às demais fórmulas, diferenças de até 42 vezes.
Apesar do fato da Seção 3 ter apresentado uma faixa de variação considerável de K2, nas
demais seções analisadas, as fórmulas da literatura demonstraram, de maneira geral, que esse
coeficiente possui um comportamento bem mais homogêneo ao longo do rio. Outra observação
que pode ser feita é que o aumento da vazão não provocou alterações marcantes nos valores dos
coeficientes de reaeração obtidos.
4.1.3 Obtenção dos parâmetros de qualidade da água
Nessa pesquisa foram realizadas análises laboratoriais e medições de campo dos parâmetros
de qualidade da água listados na Tabela 3, os quais foram comparados com parâmetros da
Resolução 357/2005 do CONAMA.
As amostras de água, cujas análises não podiam ser executadas em campo, foram coletadas
de maneira adequada e acondicionadas em recipientes térmicos exclusivos, de acordo com o
especificado pelo SMEWW (1992), objetivando a preservação das mesmas até a chegada das
amostras aos respectivos laboratórios. As expedições de campo permitiram a obtenção de dados
de entrada no QUAL2E e a caracterização do atual estado da qualidade da água no médio curso
do Rio Araguari da seguinte maneira:
• Espacialmente: observou-se a concentração dos parâmetros de qualidade da água ao
longo de 23 pontos de coleta, verificando-se, também, a interferência da UHECN na
qualidade da água desse rio.
• Sazonalmente: a análise sazonal objetivou verificar as diferenças nas concentrações dos
parâmetros de qualidade da água nas principais estações do ano, inverno e verão, durante
um período de 2 anos, compreendido entre novembro/2004 e maio/2006.

47
Tabela 3 - Resumo das análises realizadas para obtenção dos dados de qualidade da água do Rio
Araguari.
Método Analítico Local de Realização
Parâmetro
Utilizado/Equipamento da Análise
Temperatura Aparelho Multisonda Horiba U-10 In loco
Transparência Disco de Secchi In loco
Potencial Hidrogeniônico Aparelho Multisonda Horiba U-10 In loco
Oxigênio Dissolvido Método de Winkler / Método Eletroquímico CAESA/In loco
Demanda Bioquímica de Oxigênio Método de Winkler CAESA
Coliformes Termotolerantes Técnica dos Tubos Múltiplos em Meio A1 SEMA/AP
Condutividade e Nitrato Aparelho Multisonda Horiba U-10 In loco
Sólidos Totais e Sólidos Suspensos Standard Methods of Water and Wastewater - SMEWW SEMA/AP
Nitrogênio Amoniacal - 0 a 2,50 mg/L NH3-N -
Amônia Método 8038 (Nessler Method, adaptado do CAESA
SMEWW)
Cloreto Método de Mohr SEMA/AP

As Figuras 10 a 12 ilustram alguns aspectos gerais das coletas de campo e das análises
laboratoriais realizadas.

a b

Figura 10 - a) Momento da vedação do frasco de Winkler com o oxigênio dissolvido fixado; b) Titulação do oxigênio
dissolvido no laboratório da CAESA: início da análise laboratorial de oxigênio dissolvido conforme o Método de
Winkler (Imagens obtidas durante a 2ª Coleta, em maio/2005).

a b c

Figura 11 - a) e b) Leitura de parâmetros de qualidade da água na Multisonda Horiba U-10; c) Medição de transparência com
o Disco de Secchi (Imagens obtidas durante as três últimas expedições de campo: novembro/2005, março e maio/2006).

48
Programa Primeiros Projetos

a b c

Figura 12 - a) e b) Frascos de oxigênio dissolvido sendo preparados para a titulação; c) Amostras de água para realização
da análise de amônia (Imagens obtidas durante a 5ª Coleta: maio/2006).

4.2 Escolha do modelo de qualidade da água e do trecho do Rio Araguari a ser modelado
Na modelagem com o QUAL2E utilizado considerou-se o seguinte conjunto de fatores:
• A possibilidade que o QUAL2E possui de subdividir o rio em trechos e, posteriormente,
em subtrechos, que são agrupados de acordo com as características hidráulicas e de
escoamento do rio, o que permite uma representação mais aproximada da realidade do
corpo hídrico a ser analisado.
• O fato do Sistema de Modelagem da Qualidade da Água QUAL2E desenvolver suas
simulações em regime unidimensional, exigindo, assim, uma menor quantidade de dados
de entrada.
• O fato do QUAL2E ser um dos modelos de qualidade da água mais bem documentados
e utilizados no mundo, e pelo mesmo estar sendo desenvolvido e estudado há mais de 35
anos por vários pesquisadores.
• Por representar os mais importantes processos de introdução ou supressão de oxigênio
dissolvido na água.

4.3 Determinação dos Coeficientes de Entrada no Modelo QUAL2E


Com o objetivo de avaliar o comportamento hidráulico e dos parâmetros de qualidade da
água no trecho analisado, realizou-se, durante o período de 2 anos, cinco expedições de campo:
duas durante a estação de inverno (seca), duas durante a estação de verão (cheia), e uma durante
a estação intermediária de verão, conforme pode ser observado na Tabela 4.
Tabela 4 - Informações referentes às campanhas de coleta de campo realizadas no Médio Araguari.
Número da Campanha Data de Realização Dados Obtidos Estação Climática
1 1 e 2/11/2004 Qualidade da água Inverno
2 7 e 8/5/2005 Qualidade da água/Hidráulicos Verão
3 1 e 2/11/2005 Qualidade da água/Hidráulicos Inverno
4 2 e 3/3/2006 Qualidade da água/Hidráulicos Intermediária de Verão
5 14 e 15/5/2006 Qualidade da água/Hidráulicos Verão

49
No trecho analisado, ilustrado na Figura 13, foram demarcadas 23 seções de amostragem
cujas coordenadas geográficas podem ser visualizadas na Tabela 4. O comprimento total
pesquisado foi subdividido em dezenove trechos com características hidráulicas semelhantes,
sendo que os mesmos foram distribuídos da seguinte maneira: dez a montante da Usina Hidrelétrica
de Coaracy Nunes, três dentro do reservatório da usina e dez a jusante da barragem.
As campanhas de coleta de dados abrangeram o trecho do Médio Araguari, iniciando no
local onde ocorre a sua confluência com o Rio Amapari, passando pelos municípios de Porto
Grande e Ferreira Gomes e finalizando na cidade de Cutias, perfazendo uma extensão total de 120
km. É importante salientar que três afluentes do Rio Araguari foram incorporados à presente
modelagem, sendo eles: Rio Amapari, Igarapé do Eduardo e Córrego Tracajatuba. A Figura 13
ilustra, de forma esquemática, o protótipo físico de todo o trecho pesquisado, incluindo todos os
elementos naturais e antrópicos considerados na modelagem matemática com o QUAL2E.

Figura 13 - Perfil esquemático do trecho modelado - Modelo


unifilar.

No processo de análise optou-se pela construção de apenas um modelo matemático para o


Médio Araguari, procedendo-se com o uso da média aritmética dos dados obtidos durante o período
de estudo. Nessa pesquisa, assim como Rodrigues (2005), as variáveis selecionadas para a simulação

50
Programa Primeiros Projetos

foram oxigênio dissolvido e demanda bioquímica última de oxigênio, sendo que os demais
coeficientes e dados de entrada no modelo QUAL2E são apresentados posteriormente. Observa-
se, contudo, que os termos do modelo relativos à fotossíntese não foram considerados, uma vez
que não se percebeu, em nenhuma das cinco campanhas de coleta de campo, um efeito claro desse
processo nas concentrações de oxigênio dissolvido presente na água do Rio Araguari.

4.4 Estimativa dos coeficiente de desoxigenação e demanda bioquímica última (DBOu)


A decomposição da matéria orgânica presente na água, quando ocorre de maneira aeróbia, é
realizada por organismos que utilizam o oxigênio molecular como aceptor de elétrons, consumindo-
o do meio aquático quando na realização desse processo. A taxa com que isso se dá é conhecida
como coeficiente de desoxigenação (K1, expresso em d-1). Além disso, a quantidade de OD
consumida pelos seres decompositores é conhecida como demanda bioquímica de oxigênio (DBO).
Convencionou-se adotar para o teste de DBO a incubação de amostras por cinco dias com
uma temperatura constante de 20ºC (denominada, nesse trabalho, com a sigla DBO5/20). Porém,
na modelagem do OD pelo QUAL2E, é necessário que se conheça o valor da demanda bioquímica
última de oxigênio, uma vez que, baseado nesse valor e no coeficiente de desoxigenação, é possível
obter uma curva que descreve matematicamente a progressão da demanda bioquímica de oxigênio
em função do tempo. De acordo com Bronw e Barnwell (1987), o QUAL2E caracteriza a reação
da demanda bioquímica de oxigênio como de primeira ordem, sendo necessária, portanto, a
determinação de K1 e L. Nesse estudo, a determinação do K1 e da L foi feita em três seções do
Médio Araguari, sendo elas: 3, 10 e 12, situadas a montante, dentro e a jusante do lago da UHECN,
respectivamente.

5 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Nesse item são apresentados os resultados obtidos na pesquisa, sendo eles: caracterização
espacial e sazonal da qualidade da água (incluindo uma análise multivariada e a razão entre a
demanda bioquímica de oxigênio e a demanda bioquímica última de oxigênio) e hidráulica do
Médio Araguari, bem como as simulações computacionais dos cenários hipotéticos com o modelo
QUAL2E.

5.1 Caracterização Espacial e Temporal da Qualidade da Água do Médio Araguari


Para todos os parâmetros analisados elaborou-se um gráfico que objetivou ilustrar o
comportamento dos mesmos em relação ao espaço (nos 120 km modelados) e às variações sazonais
(estações de seca e cheia durante o período de 1,5 ano), nos 23 pontos de amostragem. Foram
locados nos gráficos os municípios de Porto Grande, Ferreira Gomes e Cutias; os afluentes Amapari,
Igarapé do Eduardo e Córrego Tracajatuba; e a Usina Hidrelétrica de Coaracy Nunes, uma vez que
todos esses elementos encontram-se situados dentro dos limites do trecho modelado.

51
Procedeu-se, também, com a verificação da possível existência de uma relação entre os
parâmetros de qualidade da água com a vazão do Rio Araguari. Aqueles que demonstraram uma
tendência clara dessa relação foram determinados, mas não mostrados no presente texto.
5.1.1 Determinação da demanda bioquímica de oxigênio (DBO)
Os valores da demanda bioquímica de oxigênio obtidos durante as cinco campanhas realizadas
estão apresentados na Figura 14: mínimo de 5,40 mg/L (2ª Coleta: cheia) e máximo de 7,77 mg/
L (4ª Coleta: intermediária).

Figura 14 - Gráfico da variação espacial e sazonal da demanda bioquímica de oxigênio


da água do Rio Araguari.

Ao se analisar essa figura é possível notar a ocorrência de uma variação sazonal significativa
da DBO5/20 nas cinco coletas onde, no geral, durante as estações de cheia (2ª e 5ª Coletas), as
concentrações foram menores em virtude do aumento da diluição da matéria orgânica quando do
aumento do volume da água.
No que tange à Usina Hidrelétrica de Coaracy Nunes, é possível observar claramente que
após a barragem ocorre uma elevação significativa da demanda bioquímica de oxigênio. Isso
provavelmente se dá devido à ressuspensão de sólidos retidos no reservatório quando ocorre a
liberação da água turbinada e vertida, o que provoca a elevação dos níveis de matéria orgânica na
água. Além disso, tal impacto ambiental se agrava devido ao lançamento de esgoto oriundo das
cidades de Porto Grande e Ferreira Gomes, uma vez que, em geral, ocorre também o aumento da
DBO5/20 a jusante desses municípios. Após a barragem, percebe-se que os níveis de DBO5/20
diminuíram, o que pode ser explicado pela capacidade de diluição do Rio Araguari.
O CONAMA estabelece que os cursos d’água de Classe 2 devem possuir uma DBO5/20 de
até 5,00 mg/L. Se comparado com esse padrão, o Rio Araguari estaria sempre em discordância no
que tange a esse parâmetro. Porém, segundo a Agência Nacional de Águas (2005), os rios
amazônicos são ricos em matéria orgânica e substâncias húmicas. Tudo indica que tal

52
Programa Primeiros Projetos

comportamento da quantidade de matéria orgânica carbonácea presente no resultado, também,


pode ser decorrente de um erro sistemático de análise ou realmente uma questão de realidade
hídrica diferente em uma região ainda pouco estudada. Todavia, é importante salientar que esse
“comportamento natural” não se justifica durante todo o trecho analisado, uma vez que ocorrem
picos de aumento da DBO5/20 a jusante dos aglomerados urbanos e da UHECN. O que se
percebe é que a poluição antrópica provoca o agravamento no comportamento de um parâmetro
que já se apresenta mais elevado em função das características ambientais locais. Trata-se de uma
oportunidade para futuros estudos.
5.1.2 Determinação do oxigênio dissolvido (OD)
O menor valor de oxigênio dissolvido detectado nas expedições de campo foi de 6,00 mg/L
(2ª e 3ª Coletas: cheia e seca, respectivamente) e o maior foi de 8,10 mg/L (3ª Coleta: seca), conforme
pode ser verificado na Figura 15. A variação sazonal acusou uma oscilação heterogênea no que diz
respeito a este parâmetro. Contudo, de maneira geral, nota-se que a tendência do mesmo é diminuir
no sentido da foz (exceto no caso das estações secas). Observa-se, claramente, que a Usina Hidrelétrica
de Coaracy Nunes, em virtude das próprias operações inerentes à geração de energia elétrica, promove

Figura 15 - a) Gráfico da variação espacial e sazonal do oxigênio dissolvido na água do Rio


Araguari; b) Gráfico da variação temporal do oxigênio dissolvido na água no Rio Araguari.

53
o aumento do oxigênio dissolvido no meio hídrico, sendo que esse fato é muito mais marcante
durante a estação das cheias, quando o volume de água aumenta consideravelmente.
Outro fato verificado é que em nenhuma expedição de campo foram observados valores de
oxigênio dissolvido que infringissem o limite mínimo de 5,00 mg/L estabelecido pela Resolução
357/2005 do Conselho Nacional de Meio Ambiente, o que possibilita compreender que o Rio
Araguari ainda se encontra em bom estado de conservação ambiental.
Na Figura 15 também é possível observar que não há indícios claros do aumento da
produção fotossintética pelas algas durante as horas do dia, o que permite deduzir que esse
processo não se reflete de forma significativa sobre as concentrações de oxigênio dissolvido no
manancial em questão.

5.2 Determinação das características hidráulicas do Médio Araguari


Nesse sub-tópico são apresentados os gráficos com as variações espaciais e sazonais dos
valores médios de vazão, velocidade, profundidade, largura e área da seção transversal do trecho
hídrico analisado. Como elucidado no sub-tópico anterior, por questões de segurança humana e
dos equipamentos, não foi possível proceder com as medições dos parâmetros hidráulicos nas 23
seções definidas, em especial durante as épocas de estiagem.
5.2.1 Vazão
A oscilação sazonal do volume de água encontrado no Rio Araguari alcançou valores
que variaram em quase 24 vezes de uma estação climática para outra. Os valores medidos
foram: mínimo de 105,62 m3/s (2ª Medição: seca) e máximo de 2.525,50 m3/s (4ª Medição:
cheia). Percebe-se, portanto, que esse corpo hídrico é um curso d’água de grande porte, uma
vez que se apresenta com elevadas vazões. A Figura 16 apresenta os valores de vazão obtidos
nas medições de campo.

Figura 16 - Gráfico da variação espacial e sazonal da vazão média do Rio Araguari.

54
Programa Primeiros Projetos

Ao se observar a mencionada figura, é possível perceber que ocorreu uma variação considerável
dos valores de vazão obtidos, principalmente durante a seca de 2005 (quando houve uma queda da
vazão no final do trecho), e a estação intermediária onde, após a Usina Hidrelétrica de Coaracy
Nunes, a descarga hídrica diminuiu e, no quilômetro 75, voltou a crescer no sentido da foz.
Após a verificação dos inúmeros fatores que poderiam estar provocando esse comportamento,
chegou-se às seguintes conclusões: (1) ocorre uma pequena interferência da maré a jusante da
usina; e (2) a rotina de operação da barragem, no sentido de armazenar e liberar a água de acordo
com sua necessidade, influencia consideravelmente no comportamento da vazão do Rio Araguari.
Estudos mais aprofundados no que tange ao parâmetro ora abordado devem ser conduzidos,
visando compreender melhor o comportamento e as particularidades hidráulicas desse corpo d’água.
5.2.2 Velocidade
A Figura 17 apresenta os valores mínimo e máximo detectados nos estudos conduzidos no
Rio Araguari: 0,05 m/s (2ª Medição: seca) e 1,18 m/s (4ª Medição: cheia).
Em todas as campanhas de campo, os valores desse parâmetro hidráulico tenderam a diminuir
nas proximidades do reservatório; porém, a jusante da UHECN, seu comportamento foi bastante
variado, principalmente entre as estações sazonais observadas. Tal conduta pode ter ocorrido
devido às potenciais interferências da maré a jusante da usina e às operações das comportas da
usina hidrelétrica, coincidindo com as mesmas suposições feitas para a vazão no subitem anterior.

Figura 17 - Gráfico da variação espacial e sazonal da velocidade média da água do


Rio Araguari.

5.2.3 Profundidade
A profundidade média do Rio Médio Araguari variou entre 1,29 m (2ª Medição: seca) e 17,00
m. De maneira geral, o Rio Araguari demonstrou uma tendência explícita de aumento da profundidade
no sentido de sua foz, conforme pode ser visualizado na Figura 18, o que já era esperado.

55
Figura 18 - Gráfico da variação espacial e sazonal da profundidade média do Rio
Araguari.

5.3 Simulações com Qual2E no Médio Rio Araguari - AP


As simulações com o QUAL2E objetivaram, em especial, contribuir para uma gestão mais
efetiva na Bacia Hidrográfica do Rio Aragauari. Foram elaborados três cenários hipotéticos num
horizonte de 20 anos: (1) a implantação de uma nova barragem a montante da Usina Hidrelétrica
de Coaracy Nunes (trecho 3); (2) o crescimento das cidades de Porto Grande e Ferreira Gomes,
considerando que os efluentes desses dois municípios seriam descartados “in natura” no Rio
Araguari; na simulação desse cenário utilizou-se uma vazão elevada; e (3) o mesmo cenário anterior,
alterando apenas a vazão para o valor mais baixo medido durante o período dessa pesquisa.
5.3.1 Cenário 1
Nesse cenário, adicionou-se uma hidrelétrica com altura de 35 m a montante da UHECN,
mais precisamente no Trecho 3. Na Figura 19 é possível visualizar o resultado da simulação
realizada.

Figura 19 - Gráfico de saída do modelo QUAL2E: simulação do CENÁRIO 1.

56
Programa Primeiros Projetos

Verificou-se que esse novo empreendimento, se implantado, ocasionaria um aumento nos


níveis de OD na massa hídrica no trecho estudado em virtude da aeração provocada pela barragem.
As concentrações de oxigênio passariam de aproximadamente 6,80 mg/L para 7,40 mg/L. Na
seqüência, as concentrações desse gás tenderiam a diminuir até a altura da UHECN onde, então,
se elevariam novamente, permanecendo relativamente constantes no sentido da foz, com valores
em torno de 6,90 mg/L. Em termos de L, ocorreria a diminuição da mesma, principalmente após
a UHECN, passando de 8,20 mg/L no início do trecho modelado, para 7,80 mg/L no final mesmo.
A Resolução 357/2005 do CONAMA não seria infringida.
5.3.2 Cenário 2
A Figura 20 apresenta o resultado da simulação do Cenário 2. Notou-se que o descarte dos
efluentes originados nos municípios de Porto Grande e Ferreira Gomes, quando na condição de
vazão elevada do Rio Araguari, não ocasionariam grandes impactos na água.
Outro fato importante que merece ser mencionado é que a L se manteria relativamente
constante ao longo de todo o trecho modelado, aumentando ligeiramente após a cidade de Ferreira
Gomes; ao final do percurso, seu valor permaneceria na faixa dos 8,40 mg/L.

Figura 20 - Gráfico de saída do modelo QUAL2E: simulação do CENÁRIO 2.

Em termos de oxigênio dissolvido, após o lançamento dos efluentes da cidade de Porto


Grande, suas concentrações cairiam de aproximadamente 6,80 mg/L para 6,40 mg/L, diminuindo
até as imediações da Usina Hidrelétrica de Coaracy Nunes onde, após a mesma, se elevariam para
um valor na faixa de 7,20 mg/L, diminuindo novamente a jusante do lançamento dos efluentes da
cidade de Ferreira Gomes e permanecendo com esse mesmo comportamento no sentido da foz do
manancial. Em nenhum momento ocorreria a infração aos limites estabelecidos pela Resolução
357/2005 do Conselho Nacional de Meio Ambiente.
5.3.3 Cenário 3
No Cenário 3, ilustrado na Figura 21, os resultados se apresentaram mais variados. Quando
simulado esse cenário utilizando a vazão de seca do Rio Araguari, o QUAL2E acusou uma maior

57
sensibilidade do manancial. A L aumentou no sentido da foz, passando de aproximadamente 8,10
mg/L para 9,80 mg/L. Porém, no que diz respeito ao OD, o comportamento do Rio Araguari foi
mais preocupante. Na estação seca, a capacidade de autodepuaração do rio diminui, fazendo com
que os níveis de oxigênio caiam bastante, chegando, no trecho compreendido entre o município
de Porto Grande e a barragem, a alcançar níveis abaixo de 4,00 mg/L. Contudo, vale lembrar que
os valores da DBO analisados foram considerados muito alterados, talvez decorrentes de erros
sistemáticos de análise laboratorial. Em resumo, a UHECN promove a elevação dos níveis de
OD, que voltam a decrescer quando ocorre o despejo dos efluentes oriundos da cidade de Ferreira
Gomes. O OD e a L se estabilizam no sentido da foz, permanecendo em 5,80 mg/L e 9,80 mg/L,
respectivamente.

Figura 21 - Gráfico de saída do modelo QUAL2E: simulação do CENÁRIO 3.

6 CONCLUSÕES E SUGESTÕES

O Rio Araguari é um curso d’água de grandes dimensões e é um dos principais recursos


hídricos do Estado do Amapá, se apresentando ainda em bom estado de conservação. Esse rio é
utilizado para vários usos humanos, com destaque para geração de energia elétrica. Mas observa-
se que em seu curso já apresentam indícios de que as águas estão sofrendo algumas alterações
ambientais que, se não controladas de maneira eficiente, poderão incorrer em risco o futuro
equilíbrio ambiental desse manancial.
Neste sentido, foi possível detectar, durante as expedições de campo, alguns desses impactos,
sendo eles: desmatamento da mata ciliar, revolvimento por dragagem do leito do canal principal do
rio para extração de seixos, atividades de mineração para obtenção de pedras ornamentais,
represamento do corpo hídrico para fins de geração de energia elétrica (o que provocou o alagamento
de extensas áreas de cobertura vegetal nativa), e a alterações da qualidade da água do corpo hídrico.
Na caracterização atual da qualidade da água do Rio Araguari, alguns parâmetros estudados,
além do OD e DBO acusaram algum tipo de alteração devido à utilização desse manancial para

58
Programa Primeiros Projetos

fins de diluição de efluentes. Ao longo do percurso modelado, os trechos situados nas imediações
dos municípios de Porto Grande e principalmente de Ferreira Gomes e da UHECN, foram os que
apresentaram maior incidência de diminuição da qualidade da água. Foi observado, também, que
nas variações sazonais, de maneira geral, o Rio Araguari se mostrou mais suscetível à depleção
desses parâmetros durante a estação seca, quando sua capacidade de diluição é menor.
Todavia, ao que tudo indica, apesar da influência humana existente dentro dos limites dessa
BH, o Rio Araguari possui algumas características que, mesmo estando em desacordo com os
padrões estabelecidos pelo Resolução 357/2005 do CONAMA (são “naturais” da própria região).
Desta forma, a matéria orgânica apresentou-se, independente das variações sazonais, como sendo,
em sua maior parte, de origem carbonácea, ou seja, se decompondo nos primeiros cinco dias de
incubação das amostras.
No tocante aos impactos ambientais causados no Rio Araguari devido ao seu uso para a
geração de energia elétrica, a UHECN, localizada nas proximidades do município de Ferreira
Gomes, tem provocado algumas interferências que alteram não somente a qualidade da água
desse manancial (principalmente no que diz respeito ao potencial hidrogeniônico, condutividade,
temperatura da água, sólidos totais, sólidos suspensos, coliformes termotolerantes, nitrato, cloreto,
demanda bioquímica de oxigênio e oxigênio dissolvido), mas também as suas características
hidráulicas (em especial: vazão, velocidade, largura e área da seção transversal).
O Modelo QUAL2E é uma ferramenta que auxiliou em uma análise prévida para o
gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio Araguari. Apesar de suas limitações, o mesmo ainda
é tido por inúmeros pesquisadores como um dos mais confiáveis instrumentos no gerenciamento
de recursos hídricos. Esse modelo pode ser utilizado em estudos mais abrangentes relativos a esse
mesmo rio.
A simulação do Cenário 1 indicou que a implantação de mais uma hidrelétrica a montante
da UHE de Coaracy Nunes não provocaria impactos tão negativos em termos de OD e DBO5/
20, não sendo possível garantir esse mesmo comportamento no que tange aos demais
parâmetros de qualidade da água medidos. Entretanto, os impactos ambientais decorrentes
das alterações hidráulicas seriam grandes, principalmente porque a região estudada é muito
plana, sendo que o barramento da água provocaria o alagamento de extensas áreas de mata
nativa, o que poderia gerar uma redução considerável na biodiversidade local, além de
alterações no microclima da região.
Os Cenários 2 e 3 permitiram verificar que caso a população dos municípios de Porto Grande
e Ferreira Gomes cresçam a uma taxa de 1,7% ao ano, e que os mesmos continuem descartando seus
efluentes nas águas do Rio Araguari sem nenhum tipo de tratamento, os níveis de DBO5/20 não
seriam alterados a valores preocupantes. Todavia, as concentrações de OD poderiam vir a infringir
a Resolução 357/2005 do Conselho Nacional de Meio Ambiente, principalmente na época de seca,
quando a capacidade de diluição desse corpo d’água diminui. Por isso, o crescimento das cidades
situadas às margens do manancial estudado deve ser acompanhado de sistemas de tratamento de
esgoto, visando a minimização da depleção futura da qualidade de suas águas.

59
Outros cenários podem ser simulados com o auxílio do QUAL2E, dependendo da
necessidade dos órgãos interessados no gerenciamento desse recurso hídrico.

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63
64
Programa Primeiros Projetos

CAPÍTULO 3

INTEGRAÇÃO DE MÉTODOS GEOFÍSICOS NA


CARACTERIZAÇÃO GEOAMBIENTAL DA ÁREA DE
DISPOSIÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS DA
CIDADE DE MACAPÁ-AP
Helyelson Paredes Moura1
Marcelo José de Oliveira2
Roberto de Jesus Veja Sacasa3
José Maria Luz do Rosário4
Walter Malagutti Filho5
José Reinaldo Cardoso Nery6

1 INTRODUÇÃO

O resultado da prática obsoleta e inadequada de disposição de resíduos sólidos urbanos e


industriais, em terrenos de geologia inadequada, tem dirigido a atenção dos órgãos públicos e de
instituições de pesquisa no sentido de avaliar os impactos dessa disposição, que tem como
conseqüência a contaminação do solo e da água subterrânea pela infiltração do chorume.
A cidade de Macapá-AP já apresenta os grandes problemas de meio ambiente, como a
crescente concentração populacional na área urbana e o conseqüente aumento da produção de
resíduos domésticos, ocasionando o esgotamento da lixeira pública de Macapá, área destinada à
disposição do lixo urbano.
A lixeira pública da cidade de Macapá existe há cerca de 12 anos, sendo caracterizada como
um típico lixão a céu aberto, onde os resíduos são depositados diretamente ao solo, sem nenhum
critério técnico de disposição, impermeabilização de base, sem drenagem de chorume e gases e
sem estruturas de contenção e tratamentos de resíduos. O local de disposição de resíduos é realizado
principalmente em uma grande ravina, o que leva a uma maior infiltração e percolação das águas
pluviais através dos resíduos e, por conseqüência, maior produção de percolado, agravando ainda
mais os impactos ambientais ao solo e às águas superficiais e subterrâneas.

1. Dr. em Geociências, Docente da Universidade Federal do Amapá - UNIFAP.


2. Doutorando em Desenvolvimento Sócio-Ambiental no NAEA - UFPA, Pesquisador da DGRH - IEPA.
3. Pesquisador da Divisão de Geologia e Recursos Hídricos (DGRH) do IEPA.
4. Graduando em Geografia na UNIFAP, Auxiliar de Pesquisa da Divisão de Geologia e Recursos Hídricos do IEPA.
5. Dr. em Geociências, docente da Universidade Estadual Paulista - UNESP.
6. Doutorando em Geociências na UNESP, Docente da Universidade Federal do Amapá - UNIFAP

65
Os métodos geofísicos, após um longo período de aplicações prioritárias à prospecção mineral,
principalmente os métodos elétricos e eletromagnéticos, vêm sendo cada vez mais utilizados em
estudos ambientais para detectar e monitorar a contaminação gerada por líquidos percolados dos
depósitos de resíduos urbanos e industriais. O emprego de métodos geoelétricos no subsídio ao
diagnóstico e gestão de impactos ambientais, ocasionados em áreas de disposição de resíduos,
constitui um campo de estudo que se encontra em franco desenvolvimento, mas carecendo ainda
de acúmulo de experiência e normalização metodológica.
Nesse contexto, a finalidade principal deste trabalho de pesquisa é a aquisição de informações
relacionadas ao estudo geológico-geotécnico e ambiental da área da lixeira pública de Macapá,
utilizando os métodos geoelétricos eletrorresistividade e polarização induzida (domínio do tempo),
com aplicação das técnicas de sondagem elétrica vertical e de imageamento elétrico, para subsidiar
a avaliação do impacto causado pelo depósito de resíduos. Além disso, avaliar as potencialidades
da integração desses métodos na aquisição dessas informações, no ambiente de geologia constituída
predominantemente por sedimentos argilosos no qual está assentada a lixeira pública de Macapá.

2 METODOLOGIA

2.1 Localização e aspectos gerais da área de estudo


A presente pesquisa foi desenvolvida na lixeira pública da cidade de Macapá-AP situada no
km 14, na margem esquerda da rodovia BR-156, que interliga os municípios de Macapá e Porto
Grande, possuindo uma área total de, aproximadamente, 121 hectares. Observa-se na Figura 2.1
o mapa de localização da lixeira pública de Macapá.

Figura 2.1 - Mapa de localização da lixeira pública de Macapá-AP.

66
Programa Primeiros Projetos

A lixeira pública de Macapá existe há cerca de 12 anos, sendo caracterizada como um típico
lixão a céu aberto, onde os resíduos são depositados diretamente ao solo, sem nenhum critério
técnico de disposição, ou seja, sem impermeabilização de base, sem drenagem de chorume e gases
e estruturas de contenção e tratamentos de resíduos. O local de disposição de resíduos, desde a
sua origem, é realizada principalmente em uma grande ravina (Figura 2.2), ou seja, em uma drenagem
natural local, o que leva a uma maior infiltração e percolação das águas pluviais através dos
resíduos e, por conseqüência, maior produção de chorume, agravando ainda mais os impactos
ambientais ao solo e às águas superficiais e subterrâneas (ver Figuras 2.3, 2.4 e 2.5).
Os tipos de resíduos depositados a céu aberto não diferem dos materiais encontrados em
outros aterros e/ou lixões situados nas cidades brasileiras (IPT, 2000), consistindo de resíduos
originários nas residências, estabelecimentos comerciais (supermercados, restaurantes, bares),
serviços hospitalares, entulhos e até de origem industrial.

Figura 2.2 - Vista área da lixeira pública de Macapá (2005). Fonte: Foto do
arquivo SEMOSP/Setor de Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos.

Figura 2.3 - Vista para NW mostrando os resíduos dispostos a céu aberto


e o vazamento superficial de chorume na lixeira de Macapá (agosto/2004).

67
Figura 2.4 - Vista para SE mostrando o chorume atingindo o córrego de
uma nascente situada em um ambiente de mata (agosto/2004).

Figura 2.5 - Vista de um trecho do córrego com chorume e resíduos sólidos


(garrafas de água sanitária) (agosto/2004).

2.2 Contexto geológico-geotécnico local


A área da lixeira de Macapá está localizada no domínio da planície flúvio-costeira do Estado
do Amapá, representada por unidades sedimentares consolidadas a parcialmente consolidadas, de
idade terciária da Formação Barreiras, recobertos por sedimentos aluvionares e coluvionares recentes
(LIMA et al., 1991; OLIVEIRA et al., 2004).
A Formação Barreiras, na área, é caracterizada por sedimentos predominantemente argilosos
com variações de silte e areia. Intercalações de lentes a delgadas camadas areno-argilosas estão
presentes nesta unidade (OLIVEIRA et al., 2004). No domínio dessa unidade, na área de estudo,
o relevo é formado por platôs, onde estão esculpidas ravinas com até 12 m de profundidade, cujas
vertentes são dispostos os resíduos sólidos urbanos.

68
Programa Primeiros Projetos

Os sedimentos recentes se encontram nas porções rebaixadas do terreno (ambiente de matas


ciliares onde se originam nascentes d’água) e se constituem de sedimentos argilo-siltico-arenosos
não consolidados, úmidos, de coloração cinza escuro indicando a presença de matéria orgânica
(SILVA, 1998). O contato destes sedimentos com a Formação Barreiras é marcado pela presença
de uma discordância erosiva (OLIVEIRA et al., 2004), marcada por linhas de pedra, formada por
blocos lateríticos de diferentes tamanhos.
Amostras de solo retiradas dos ensaios à percussão do tipo SPT, realizados por ocasião do
estudo de remediação do lixão e implantação do aterro controlado (UNIVERSIDADE ESTADUAL
PAULISTA, 2005; MARTINS, 2005), mostraram na sua composição a predominância da fração
argila. Quando se considera a escala granulométrica da ABNT as amostras foram classificadas
texturalmente como uma argila arenosa, ora argila silto-arenosa ora argila areno-siltosa. O solo
apresenta coeficiente de permeabilidade (k) baixa da ordem de 10-6 cm/s, sendo próprios para a
construção de elementos geotécnicos de impermeabilização.

2.3 Método geofísico e ensaios realizados


No presente trabalho foram empregados os métodos geofísicos eletrorresistividade (ER) e
de polarização Induzida (IP-domínio do tempo). A ER se baseia no fato de que as rochas, em
função de suas composições mineralógicas, texturais e disposições, apresentam a propriedade
elétrica da resistividade. O método IP se baseia no comportamento elétrico do contato do condutor
ΔV ôhmico (metal, semicondutor e grafita) ou da argila com a solução eletrolítica que permeia os
ρa = K poros das rochas. Esse comportamento elétrico e o contraste entre as resistividades das rochas,
I
dos sedimentos e dos minerais, viabilizam a utilização dos métodos em estudo de hidrogeologia e
ambiental.
O método de eletrorresistividade tem como princípio a passagem pelo solo de uma corrente
elétrica de intensidade I, transmitida por um par de eletrodos denominados A e B, conectado a
uma fonte de corrente. Mede-se a diferença de potencial (ΔV) entre dois eletrodos de recepção
denominados M e N. A partir daí, calcula-se a resistividade aparente ρ a , pela equação:

(Ω.m) (1)

Sendo K o fator geométrico do arranjo geral do quadripolo AMNB (KELLER; FRISCHKNECHT,


1977) que depende somente das posições de injeção de corrente e de medida do potencial, dado
por:

⎡ 1 1 ⎤
−1

K = 2π .⎢
⎣ AM AN BM BN ⎥⎦
1 1
− − + (m) (2)

Sendo AM, AN, BM e BN as distâncias entre os eletrodos.

69
A polarização induzida é um fenômeno físico elétrico, estimulado pela transmissão de uma
corrente elétrica pulsante e periódica no subsolo, observada como uma resposta defasada de
voltagem nos materiais terrestres (SUMNER, 1976). A detecção e medida dessa resposta, conhecida
na literatura geofísica como curva transiente, indica a presença de material polarizável no subsolo,
constituindo-se, portanto, a base do método IP.
Nesta pesquisa, empregou-se o equipamento SARIS da Scintrex, que define a medida do
efeito IP como (SCINTREX, 2001):

∫ VIP (t ).dt
1 t2
Ma =
(t 2 − t1 ).V p t1
(3)

onde: Ma é a polarizabilidade aparente em mV/V (PARASNIS, 1986); t1 é o tempo inicial da janela


em ms; t2 é o tempo final da janela em ms; Vp é a voltagem primária durante a transmissão da
corrente (estado ligado); Vip (t) é a voltagem transiente medida durante o período de integração (t2
– t1) no estado de corrente desligado.
Durante o período de levantamento dos dados, utilizou-se um tempo de recepção do sinal
de 2 segundos (injeção e medição). Os tempos iniciais e finais utilizados para o cálculo da
polarizabilidade aparente foram de 100 ms e 200 ms, respectivamente.
Na área da lixeira foram executados ensaios geofísicos utilizando a técnica de sondagem
elétrica vertical (SEV), com arranjo Schlumberger, e a técnica de imageamento elétrico com cinco
e sete níveis investigados, utilizando o arranjo dipolo-dipolo com espaçamento dos eletrodos de 5
metros. A localização desses ensaios é observada na Figura 2.6.
As SEVs forneceram dados a respeito das posições da zona saturada e dos diversos materiais
em subsuperfície, como os resíduos sólidos e materiais naturais, assim como, permitiram a
elaboração do mapa de fluxo da água subterrânea. Os perfis de imageamento elétrico tornaram
possível o mapeamento de heterogeneidades geológicas, zonas de contaminação e o contato meio
natural com a cava de resíduos.
As figuras 2.7 e 2.8 mostram, respectivamente, a montagem dos ensaios de SEV e de
imageamento elétrico.

70
Programa Primeiros Projetos

Figura 2.6 - Localização dos ensaios geofísicos realizados na Lixeira Pública


de Macapá-AP.

Figura 2.7 - Ensaio de SEV, arranjo Schlumberger.

71
Figura 2.8 - Ensaio de imageamento elétrico, arranjo dipolo-dipolo.

A interpretação geofísica dos dados consistiu, além da análise qualitativa dos dados, do uso
de modelagem numérica utilizando os métodos direto e inverso. Informações de tipo litológico de
solos, das posições do nível freático em poços de monitoramento e cacimbas, e medidas de
condutividade elétrica realizadas em amostras de água coletadas nesses poços, realizadas com
condutivimetro digital portátil de fabricação da QUIMIS, corroboraram com a geofísica na
interpretação dos dados.
As curvas de sondagem elétrica vertical foram tratadas utilizando o programa RESIX-IP
(INTERPREX, 1993). Na modelagem direta dos dados calculou-se, a partir de um método numérico
que envolve filtros digitais lineares (SEARA; GRANDA, 1987), espessura, resistividade e
polarizabilidade das camadas. Na interpretação inversa calcularam-se iterativamente novos modelos
iniciados com os parâmetros fornecidos pelo método direto até atingir certo critério de convergência
que minimizou as diferenças entre as curva teórica e de campo. Este processo é baseado na
técnica da regressão múltipla - Ridge Regression (INMAN, 1975).
Os dados obtidos pela técnica de imageamento elétrico foram processados através do
programa RESDINV da ABEM Instruments (1998) que utiliza o método dos elementos finitos
para obter-se a solução aproximada de modelos com as mais complexas geometrias. O RESDINV
adota uma técnica rápida e eficiente para inversão de dados de resistividade e de polarização
induzida que foi desenvolvida por Loke e Barker (1996) e DeGroot-Hedlin e Constable (1990),
baseada no método dos mínimos quadrados com suavização restringida. Os processos de inversão

72
Programa Primeiros Projetos

de dados de resistividade e de polarizabilidade aparentes buscam estabelecer um modelo da


provável distribuição real dos valores de resistividade elétrica e de polarizabilidade elétrica em
subsuperfície.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1 Interpretações das sondagens elétricas verticais (SEVs)


As sondagens elétricas verticais realizadas na área de estudo, Figura 3.1, inicialmente foram
divididas em dois grupos distintos: o grupo I, representado pelos ensaios realizados fora da área
de disposição de resíduos (SEVIP (1), SEVIP (2), SEV (8) e SEV (9)) e o grupo II, representado
pelos ensaios realizados dentro dos limites da área de disposição de resíduos (SEVIP(3), SEVIP(4),
SEVIP(5) e SEV(6).

Figura 3.1 - Sondagens elétricas verticais realizadas na área da lixeira de


Macapá.

73
Estes grupos apresentam características comuns, tais como, número mínimo de camada e
faixa de variação da resistividade, caracterizando dois diferentes domínios geoelétricos, cada qual
indicando um quadro geológico e/ou hidrogeológico próprio. Nota-se na Figura 3.1, que os valores
de resistividades aparentes das curvas relativas aos ensaios realizados fora da área de disposição
de resíduos (grupo I) estão acima da linha de resistividade aparente de 400 Ω.m, enquanto, as
curvas relativas aos ensaios realizados dentro dos limites da área de disposição (grupo II), os
valores de resistividades aparentes estão predominantemente abaixo de 100 Ω.m. Fisicamente,
isto espelha que o pacote geológico investigado, fora da área de disposição de resíduos, é mais
resistivo do que o pacote investigado resíduos e/ou meio natural, que é menos resistivo.
Observa-se na mesma Figura, que as curvas das SEVs do grupo I apresentam o ramo final
descendente, interpretado como um horizonte condutivo associado a zona saturada. A variação
nos valores de resistividade aparente verificado no primeiro ramo descendentes das curvas indica
uma forte heterogeneidade lateral de resistividade.

Interpretação das SEVs do Grupo I


As SEVs deste grupo possibilitaram a caracterização das camadas (profundidade, espessura
e composição litológica) que compõem as zonas não-saturada e saturada. Os resultados das
interpretações quantitativas das SEVs, que possibilitaram estabelecer valores máximos e mínimos
de resistividade, polarizabilidade e espessura dos horizontes geoelétricos, assim como suas relações
com o meio natural, é mostrado no Quadro 3.1.
Quadro 3.1 - Modelo geoelétrico proposto para a área da lixeira pelo grupo I.
Resistividade Polarizabilidade
Horizonte Interpretação Espessura (m)
(Ω.m) (mV/V)
Cobertura superf.
1 Sedimentos pred. argilo 882 ≤ ρ1 ≤ 3529 4,5 ≤ M1 ≤ 9,1 0,8 ≤ E1 ≤ 1,4
Zona não areno-siltosos
saturada Material argilo-siltico-
2 arenoso c/ concreções 924 ≤ ρ2 ≤ 1310 19,7 ≤ M2 ≤ 25,1 8,2≤ E2 ≤ 12,4
lateríticas
Zona Sedimentos pred. argilo
3
saturada areno-siltosos 457 ≤ ρ3 ≤ 561 0,2 ≤ M3 ≤ 1,6 -

O primeiro horizonte geoelétrico, cuja resistividade alcança valores que variam de 882 a
3529 Ω.m e intermediários valores IP, refere-se a cobertura superficial relacionado aos sedimentos
predominantemente argilo-areno-siltosos de coloração preta (UNIVERSIDADE ESTADUAL
PAULISTA, 2005; MARTINS, 2005). Os maiores valores de resistividade estão relacionados ao
solo desprovido de cobertura vegetal, extremamente seco, sob intensa compactação (locais de
vias de veículos), que dificulta a condução iônica, principal forma de propagação da corrente
elétrica nos materiais geológicos superficiais. Os menores valores de resistividade foram medidos
em locais de solo úmido com presença de matéria orgânica.

74
Programa Primeiros Projetos

O segundo horizonte apresenta valores altos de resistividades com altos valores de


polarizabilidades. Esse horizonte geoelétrico é associado aos sedimentos predominantemente argilo-
silte-arenosos com intercalação de um nível laterítico (MARTINS, 2005), sendo o efeito IP
pronunciado devido à presença mínima de água e a mistura de argila e silte.
O terceiro horizonte geoelétrico, relativo á zona saturada, é associado aos sedimentos
predominantemente argilo-areno-siltosos, apresentando variação de resistividade entre 457 e 561
Ω.m e baixo efeito IP, face aos sedimentos estarem saturados e/ou menor quantidade de argila.
Considerando a localização dos ensaios das SEVs, do sentido do fluxo das águas subterrâneas e
da posição das ravinas utilizadas na disposição de resíduos, interpreta-se que estes valores de
resistividade e de IP refletem a zona saturada não contaminada, isto é, não sujeita a influência da
percolação dos efluentes provenientes dos resíduos. Comparando as resistividades desta zona,
com as medidas de condutividade elétrica (variação de 22,5 (444 Ω.m) a 25 (400 Ω.m) μS/cm),
medidas in loco nos poços tipo cacimba e tubular, localizados em cotas topográficas altas, revelam
que as águas apresentam condutividades baixas, características de ambiente natural.
Interpretações de SEVs, realizadas no bairro Marabaixo III, área periférica da cidade de
Macapá, tendo como objetivo estudar as características do aqüífero livre, principal fonte de
abastecimento dos moradores deste loteamento, mostraram que a resistividade elétrica variou de
530 a 722 Ω.m para esse horizonte (SACASA et al., 2004). Análise físico-quimica de águas retiradas
de poços do tipo amazonas e tubular, localizados em seis comunidades (São Francisco, Vila do
Mel, Campina Grande, Rosa, Ilha redonda e Curralinho) no entorno da lixeira, mostra que a
condutividade elétrica variou de 17,8 (561,8 Ω.m) a 26,5 μS/cm (377,3 Ω.m), com exceção de um
poço cujo valor foi de 97,7 μS/cm. O parâmetro cloretos apresentou muito abaixo do valor máximo
permissível (250 mg/l) pela Resolução CONAMA n.357/2005 (FERREIRA et al., 2005). Assim,
estes estudos confirmam que as águas do aqüífero livre na região de Macapá apresentam
condutividades baixas, conforme encontradas na área de estudo desta pesquisa.

Interpretação das SEVs do Grupo II


Os resultados das interpretações quantitativas das SEVs deste grupo, que possibilitaram
estabelecer valores máximos e mínimos de resistividade, polarizabilidade e espessura dos
horizontes geoelétricos, assim como suas relações com o meio natural e os resíduos, é mostrado
na Quadro 3.2.
O primeiro horizonte apresentou variações de resistividade e polarizabilidade baixas, devido
à presença de matéria orgânica, umidade e a influência da contaminação por resíduos presentes
nos locais de ensaios das sondagens SEV(5) e SEV(6).
O segundo horizonte geoelétrico, identificado pela sondagem elétrica SEVIP(5), localizada
entre duas ravinas utilizadas na disposição de resíduos (Figura 2.6), refere-se ao solo não saturado
com provável percolação de chorume, devido a baixa resistividade encontrada de 58 Ω.m, quando
comparada com os valores estimados do mesmo horizonte pelas SEVs do grupo I, interpretados
como não contaminado, e também, pela presença de chorume vista no local de ensaio.

75
Quadro 3.2 - Modelo geoelétrico proposto para a área da lixeira pelo grupo II.

Resistividade Polarizabilidade
Horizonte Interpretação Espessura (m)
(Ω.m) (mV/V)
Cobertura superficial.
Sedimentos pred. argilo
1 areno-siltoso e/ou 20 ≤ ρ1 ≤ 190 1,6 ≤ M1 ≤ 2,6 0,5 ≤ E1 ≤ 1,7
Zona não resíduos
saturada Material argilo-siltico-
arenoso c/ concreções
2 lateríticas 58 10,5 7,9
Sedimentos pred. argilo
3 Zona 11 ≤ ρ3 ≤ 96 0,7 ≤ M3 ≤ 3,8
areno-siltosos
saturada Sedimentos pred. argilo -
4 28 ≤ ρ3 ≤ 171 11 ≤ M3 ≤ 64,7
siltico-arenosos

O terceiro e quarto horizontes são relacionados a zona saturada, que apresenta a variação dos
valores de resistividade predominantemente abaixo de 96 Ω.m (com exceção do valor de 171 Ω.m,
encontrado pela SEVIP(6a)), correlacionada aos sedimentos predominantemente argilo arenosos
(baixo efeito IP) e sedimentos argilo siltosos (alto efeito IP). A zona saturada é afetada pela influência
do lixo (através da degradação e solubilização dos seus compostos) sobre a mineralização total das
águas subterrâneas, que influenciam nas resistividades obtidas pelas SEVs. Comparando as
resistividades desta zona, com a medida de condutividade elétrica de 314,6 μS/cm (32 Ω.m) de uma
amostra de água coletada em uma nascente, próxima a SEVIP(3), localizada aproximadamente 50 m
da pilha de resíduos, interpreta-se a influência de contaminantes na zona saturada.
Análise físico-química e bacteriológica de uma amostra de água superficial, retirada próximo
aos locais das SEVIP(3) e SEVIP(4) (próximo a pilha de resíduos), o parâmetro cloretos, formados
pela dissolução de sais e compostos encontrados nos resíduos, apresentou 829,5 mg/l, portanto
acima do valor máximo permissível de 250 mg/l (CONSELHO NACIONAL DO MEIO
AMBIENTE, 2005) para corpos de água e lançamento de efluente, tendo as águas superficiais
no entorno da lixeira apresentado abaixo de 8 mg/l (CAESA, 2006; FERREIRA et al., 2005). O
parâmetro E. coli, abundante em fezes humanas e de animais, tendo somente, sido encontrada em
esgotos, efluentes, águas naturais e solos que tenham recebido contaminação fecal recente,
apresentou também acima do valor máximo permissível de 800 UFC/100 ml na mesma amostra
retirada próximo as sevs (6000 UFV/100 ml). Coliforme total apresentou 1,4 x 104 UFC/100 ml,
bem acima do valor máximo permissível de 200 UFC/100 ml (CONSELHO NACIONAL DO
MEIO AMBIENTE, 2005). O chorume, retirado de uma trincheira aberta sobre a pilha de resíduos,
apresentou 2780 mg/l, indicando um grande poluidor em potencial.
Quanto aos valores de polarizabilidade variaram conforme a predominância da mistura
areia, silte e argila. Com base nesses valores, a zona saturada é associada a sedimentos
predominantemente argilo areno-siltosos (baixa polarizabilidade) ou argilo silte-arenosos (alta
polarizabilidade).
A seguir, com base na cota de cada sondagem elétrica vertical e nas profundidades dos

76
Programa Primeiros Projetos

níveis d‘água, conhecidas pelas SEVs e poços de monitoramento, determinou-se a cota do lençol
freático no ponto. Posteriormente, traçando-se as linhas equipotencias, obteve-se o mapa
potenciométrico (Figura 3.2). O sentido do fluxo local, observando a Figura, é no sentido das
ravinas, isto é, seguindo o gradiente topográfico, conforme se observa a Figura 2.7.

Figura 3.2 - Mapa potenciométrico na área de estudo.

3.2 Interpretação dos resultados de imageamento elétrico


As linhas de imageamento elétrico de resistividade e polarização induzida realizadas na área
de estudo, assim como os modelos quantitativamente interpretados correspondentes obtidos por
inversão, serão sucintamente descritos em função dos objetivos de: avaliar o valor médio regional
de resistividade e polarizabilidade do meio natural, mapear a presença de uma possível pluma de
contaminação nos arredores da área de disposição de resíduos, avaliar se a polarizabilidade e a
resistividade apresentam contrastes entre os resíduos e o meio natural e se os valores de resistividade
e polarizabilidade mostram alguma relação entre as épocas (condições climáticas) de aplicação do
ensaio.
Com os objetivos de avaliar o valor médio regional de resistividade e polarizabilidade da área,
foram realizados os ensaios das linhas CE(1), CE(2) e CE(9). Considerando o sentido do fluxo das
águas subterrâneas, determinado pelo mapa potenciométrico, e da posição das ravinas, utilizadas
para disposição de resíduos, as linhas CE(1) e CE(2) foram posicionadas nas cotas topográficas mais

77
elevadas do terreno, enquanto a linha CE(9) foi posicionada nas cotas topográficas mais baixas,
distante do local de disposição de resíduos, conforme se observa na Figura 2.6.
Representativa desses ensaios, a linha CE(1) (Figura 3.3) mostra que os valores de
resistividade aparente são elevados (acima de 400 Ω.m) e diminuem predominantemente com a
profundidade, refletindo as zonas de repartição das águas no subsolo (zonas não saturada e saturada).
Notam-se zonas anômalas de resistividade aparente mais elevadas (valores maiores que 1000
Ω.m), indicando heterogeneidade presente no subsolo (variações no conteúdo de areia e concreções
lateríticas). Os valores de polarizabilidade aparente são relativamente elevados (acima de 15 mV/
V) e crescem com os níveis investigados, refletindo a predominância de material argilo siltoso
com a profundidade, conforme constatado com a sondagem SPT-4.

Figura 3.3 - Seções de resistividade e polarizabilidade aparentes da linha CE(1).

Na Figura 3.4 observa-se o resultado da modelagem bidimensional das seções de


imageamento elétrico de resistividade e polarizabilidade aparentes da linha CE(1).
Nas figuras citadas neste trabalho, relacionadas ao processo de modelagem para cada parâmetro
físico medido (resistividade e polarizabilidade), apresentam na base o modelo obtido através da
inversão, que produz a seção de resistividade aparente ou polarizabilidade aparente (meio das
figuras) que se ajusta da melhor forma possível à seção observada (topo da figura).
No modelo de resistividade da Figura 3.4(c) são evidentes na profundidade média de 3,5 m
várias zonas resistivas que tem relação com a presença do nível laterítico presente na área de
estudo. No modelo, observa-se à tendência da diminuição da resistividade com a profundidade,

78
Programa Primeiros Projetos

refletindo a um maior conteúdo de água em subsuperficie. Além do nível laterítico, no modelo de


polarizabilidade (seção (f)) se observa na profundidade média de 7,0 m, entre as posições 45 a 70
m, uma anomalia de baixa polarizabilidade correlacionada a um elevado valor de resistividade,
onde se infere como sendo uma lente composta de material predominantemente arenoso ou argilo
arenoso.

Figura 3.4 - Seções de imageamento elétrico da linha CE(1) modelada.

79
Em função da resistividade e polarizabilidade reais, obtida nos modelos dos ensaios das
linhas CE(1), CE(2) e CE(9), interpreta-se que o background da área de estudo, sem influência da
disposição de resíduos, é de resistividade bem acima de 40 Ω.m, associada à polarizabilidade
predominantemente acima de 3,3 mV/V.
Com o propósito de mapear a presença de uma possível pluma de contaminação, presente
nos arredores da pilha de disposição de resíduos, foram ensaiadas as linhas CE(0), CE(3) e CE(5),
posicionadas próximo à pilha de resíduos, córrego e nascentes.
A seção CE(0) de resistividade aparente medida (Figura 3.5(a)) mostra valores de resistividade
abaixo de 60 Ω.m associado a valores baixos de polarizabilidade aparente (Figura 3.5(d)), abaixo
de 4,5 mV/V. Esses valores de resistividade aparente, principalmente do primeiro nível investigado
(menores que 33 Ω.m), são relativos a contaminação presente no subsolo, pois a linha CE(0) está
localizada sobre um trecho de um córrego intermitente que se encontra úmido pela presença de
chorume, visto in loco.
Os valores de polarizabilidades aparentes não apresentaram evidência nítida de sensibilidade
na presença de contaminação por chorume, apresentando valores dentro da faixa de valores
associados ao meio natural úmido e/ou saturado predominantemente argiloso, como o que foi
encontrado na linha CE(9).
Na Figura 3.5, mostram-se os resultados das modelagens da linha CE(0) (seções (c) e (f)),
que permitem observar no modelo de resistividade (seção (c)), os valores de resistividade elétrica
associados ao meio natural contaminado, que são indicados pela presença na superfície, de uma
zona condutiva (resistividade abaixo de 20 Ω.m). Tal inferência é confirmada por uma medida de
condutividade elétrica de 314,6 mS/cm (32 Ω.m), realizada em setembro/2005, em uma amostra
de água coletada em uma nascente a 7 m deste trecho, localizada aproximadamente a 30 m da
pilha de resíduos, que confirma a influência de contaminantes nas águas superficiais próximo
deste ensaio. Como descrito anteriormente, seção 5.2, medidas de condutividade elétrica, realizadas
em amostras de água em poços situados entorno da lixeira, mostraram que a condutividade elétrica
variou de 17,8 (561,8 Ω.m) a 26,5 mS/cm (377,3 Ω.m) (FERREIRA et al., 2005).
A linhas CE(3), Figura 3.6, apresenta na pseudo-seção de resistividade aparente medida
(seção (a)), valores que foram encontrados na linha CE(0), isto é, inferiores a 33 Ω.m, que estão
provavelmente relacionados à contaminação pela presença do percolado proveniente dos resíduos.
Quanto aos valores de polarizabilidade aparente medidos (seção (d)), os mesmos variaram conforme
predominância de material argilo siltoso (alta polarizabilidade) ou argilo arenoso (intermediária a
baixa polarizabilidade).

80
Programa Primeiros Projetos

Figura 3.5 - Seções de imageamento elétrico da linha CE(0) modelada.

81
Figura 3.6 - Seções de imageamento elétrico da linha CE(3) modelada.

82
Programa Primeiros Projetos

No modelo de resistividade da Figura 3.6 (seção (c)) ou com mais detalhes em relação à
escala de valores, na Figura 3.7 (seção (c)), evidenciam-se até a profundidade média de 2,6 m para
toda seção do modelo, zonas condutivas (abaixo de 100 Ω.m) correlacionadas com polarizabilidade
baixa (menor que 10 mV/V), que tem relação com os sedimentos saturados predominantemente
argilo arenosos. Observam-se também, zonas de resistividade abaixo de 20 Ω.m indicando
contaminação, como constatado na linha CE(0), cujo local de ensaio apresentava-se contaminado.
Esta interpretação foi aferido pelas medidas de condutividades elétricas de amostras de água
superficial e subterrânea aflorando nos locais de ensaios e por uma análise físico-quimica de uma
amostra de água superfícial, realizada 8 meses após o ensaio, retirada aproximadamente 25 m da
linha CE(3), exatamente sobre o eixo principal da ravina, onde a concentração de cloreto é de
829,5 mg/l, enquanto no poço do tipo amazonas, localizada acima da área de disposição de
resíduos é de 8,0 mg/l (CAESA, 2006).
É possível interpretar que, estando o corpo de resíduo muito próximo da drenagem, a
profundidade da pluma de contaminação é pequena e/ou superficial, tendo-se, assim, um caminho
mais superficial dos poluentes do aqüífero. Isso faz com que a contaminação atinja a drenagem
com relativa rapidez, ocorrendo, assim, o transporte dos poluentes pelas águas superficiais, como
detectados pelas medidas dos parâmetros físico-químicos e microbiológicos medidos.

Figura 3.7 - Seção de imageamento elétrico de resistividade da linha CE(3) modelada.

Com o objetivo de mapear os limites laterais da área de disposição de resíduos e avaliar se a


polarizabilidade e a resistividade apresentam contrastes entre os resíduos e o meio natural, foram
ensaiadas as linhas CE(7) e CE(8), localizadas conforme mostra a Figura 2.6. O fato de se ter

83
somente duas linhas, deve-se a dificuldades operacionais na realização dos ensaios geofísicos
sobre os resíduos, pelo motivo de não haver a prática de cobertura dos mesmos com material
inerte, geralmente solo, na conclusão de cada jornada de trabalho, além disso, os resíduos são
queimados, impossibilitando caminhar sobre os mesmos.
A linha CE(8) (Figura 3.8), representativa destes ensaios, mostra que os altos valores de
resistividade aparente, acima de 500 Ω.m, associados a baixo valores de polarizabilidade aparente
(predominantemente maiores que 10 mV/V e menores que 30 mV/V) referem-se ao background
que aparecem no extremo esquerdo da pseudo-seção, como determinada pelas linhas CE(1), CE(2)
e CE(9). Os valores de resistividade menores que 50 Ω.m, associados a altos valores de
polarizabilidade (maiores que 40 mV/V) caracterizam a presença de resíduos. Separando essas
zonas do meio natural e dos resíduo s, observam-se tanto anomalias geoelétricas de resistividade
e polarizabilidade, com bastante simetria dos flancos de resistividade, localizadas na posição de
25 m, caracterizando uma descontinuidade lateral, que em aplicação ambiental, corresponde ao
limite lateral da área de disposição de resíduos. O intervalo de resistividade, de 60 Ω.m a 126 Ω.m,
associado ao intervalo de polarizabilidade de 30 mV/V a 40 mV/V, é interpretado como sendo
relativo à zona de transição entre o meio natural e os resíduos, refletindo a zona afetada pela
contaminação por chorume e/ou presença de resíduos, juntamente com os efeitos geométricos da
própria anomalia que caracteriza a descontinuidade local.

Figura 3.8 - Seções de resistividade e polarizabilidade aparentes da linha CE(8).

Na Figura 3.9, mostram-se os resultados das modelagens da linha CE(8) (seções (c) e (f)),
que permitem observar relações entre os valores de resistividade e polarizabilidade para o meio

84
Programa Primeiros Projetos

natural e os resíduos. Nos locais ocupados pelos resíduos urbanos, que apresentam valores altos
de polarizabilidade em relação ao background, refletem a presença de materiais polarizáveis dentro
da zona de resíduos, tais como metais enferrujados (latas) e restos eletrônicos (pilhas, componentes
de circuito elétrico) que são materiais eletricamente carregáveis, normalmente presentes em resíduos
urbanos

Figura 3.9 - Seções de imageamento elétrico da linha CE(8) modelada.

85
Com respeito à repetição de linhas de imageamento elétrico em períodos climáticos distintos
para comparação, escolheu-se apenas a linha CE(8) que cruza a área de resíduos, isto é, a linha
inicia em meio natural e finaliza sobre os resíduos. Com a atividade de disposição de resíduos,
inviabilizou-se a repetição das linhas CE(3) CE(4), devido os resíduos já ocuparem os locais
destes ensaios.
Na Figura 3.10, observam-se as seções de imageamento elétrico da linha CE(8), ensaiada
no final do período chuvoso. Comparando as seções (Figuras 3.8 e 3.10), nota-se de forma geral,
não tão visível na seção de polarizabilidade aparente, que os valores de resistividade aparente,
associados ao meio natural e cava de resíduos, diminuíram, devido à precipitação pluviométrica

Figura 3.10 - Seções de resistividade e polarizabilidade aparentes da linha CE(8) (agosto, 2006).

Nas Figuras 3.11 e 3.12, observam-se, respectivamente, os perfis de resistividade e


polarizabilidade aparentes dos vários níveis investigados. Nota-se na Figura 3.11 que em todos os
níveis investigados os valores de resistividades aparentes do final do período chuvoso (agosto)
são relativamente menores do que os valores do inicio do período chuvoso (janeiro), o que não
ocorre nas medidas de polarizabilidade, Figura 3.12. Interpreta-se, com base nas medidas de
resistividade, uma relação entre as condições climáticas e o comportamento da quantidade de
água pluvial infiltrada no local, mostrando que é um fator indesejável, pois o aumento do volume
de água ocasiona um incremento na geração de chorume, causando um risco maior de contaminação
do aqüífero existente. No caso da resposta IP não variar, interpreta-se que o efeito IP medido é
basicamente causado pelos resíduos.
Dessa forma, conclui-se qualitativamente, que os valores de resistividade mostram alguma
relação entre as épocas de aplicação do ensaio.

86
Programa Primeiros Projetos

Figura 3.11 - Perfis de resistividade aparente dos níveis investigados da linha CE(8), ensaiadas nos meses de janeiro
e agosto de 2006.

87
Figura 3.12 - Perfis de polarizabilidade aparente dos níveis investigados da linha CE(8), ensaiadas nos meses de janeiro
e agosto de 2006.

88
Programa Primeiros Projetos

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na definição do modelo geoelétrico em torno da área de disposição de resíduos, a


interpretação simultânea da resistividade e da polarizabilidade, além de reduzir a ambigüidade do
modelo, permitiu determinar os diferentes litotipos que compõem a Formação Barreiras,
identificando materiais predominantemente argilo arenosos e argilo siltosos. Nesta caracterização,
a polarizabilidade foi de grande importância na identificação dos materiais, principalmente pelo
fato de que os valores de resistividade sozinhos não puderam distinguir os materiais argilo arenosos
e argilo siltosos, que apresentaram variações de resistividades sobrepostas.
Pelas análises das curvas de SEVs, concluiu-se um aumento do valor de polarizabilidade na
seqüência dos materiais predominantemente argilo arenosos e argilo siltosos. Outro resultado diz
respeito ao sentido do fluxo das águas subterrâneas, que é no sentido das ravinas, isto é, concordante
com o gradiente topográfico da área estudada e em conformidade com o crescimento das medidas
de condutividade elétrica e teores de cloreto medidos nos poços tipo cacimba e em amostras de
água superficial. As concentrações elevadas dos parâmetros condutividade elétrica, cloretos e E.
coli, são indicadores da presença de contaminantes de origem orgânica e/ou inorgânica proveniente
dos resíduos.
O decréscimo da resistividade, simultaneamente com o crescimento da polarizabilidade,
mostrou-se como uma característica da presença de resíduos, e que o efeito IP é relacionado à
presença de materiais polarizáveis dispostos nas antigas ravinas, como restos de materiais de
construção (pedaços de metais), latas de produtos alimentícios e restos eletrônicos (pilhas,
componentes de circuito elétrico e carcaça de equipamentos elétricos).
Com base nos resultados dos ensaios de imageamento elétrico foi possível a elaboração das
seguintes considerações:
a) a resistividade e a polarizabilidade foram sensíveis à presença dos resíduos urbanos,
sendo possível mapear os limites laterais da cava natural de resíduos, como constatado pelas
linhas CE(7) e CE(8). Deste modo, os métodos eletrorresistividade e IP discriminaram o que é
resíduos e o que é terreno natural.
b) a resistividade foi sensível à presença da contaminação no subsolo, provocada pela migração
do percolado proveniente da cava natural de resíduos, como evidenciado nas linhas CE(0), CE(3)
e CE(5), ao contrário da polarizabilidade, que não apresentou valores anômalos que pudesse
seguramente caracterizar à presença de contaminantes. Conclui-se que a zona contaminada
(resistividades abaixo de 20 Ω.m) fica de modo geral restrita à área da lixeira pública.
c) ao contrário da polarizabilidade, a resistividade apresentou alguma relação entre as épocas
de aplicação do ensaio, mostrando a influência da precipitação pluviométrica nas medidas realizadas
fora e dentro da cava natural de resíduos, como constatado pela linha CE(8). As resistividades
aparentes foram menores no período de chuvas, em todos os níveis investigados, enquanto as
respostas IP, dentro da cava de resíduos, não variaram significativamente em função das épocas

89
de aplicação dos ensaios. Interpreta-se que o efeito IP deu-se devido, em grande parte, aos resíduos,
e não pareceu ter alguma influência com a saturação ocasionada pela precipitação pluviométrica,
como ocorreu com a resistividade.
Visando diminuir o impacto ambiental causado pela disposição dos resíduos de forma
inadequada, recomendam-se, como medidas de monitoramento e proteção das águas superficiais
e subterrâneas, as seguintes sugestões:
a) Instalação de três piezômetros, um a montante e dois a jusante da ravina utilizada na
disposição de resíduos;
b) A diminuição da entrada de água no corpo de resíduos, pela instalação, manutenção e
reparo das canaletas de concreto, assim pelo recobrimento planejado dos resíduos com material
argiloso;
c) Construção de um tanque de acumulação de efluentes líquidos percolados a jusante da
área de disposição de resíduos, para coleta e posterior recirculação e/ou tratamento;
d) Análise química para metais pesados: Hg, Cd, Cr, Pb, Cu, Co, etc. para avaliar o grau de
comprometimento dos recursos hídricos a jusante da lixeira pública de Macapá.

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90
Programa Primeiros Projetos

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recuperação do atual lixão e implantação do aterro controlado do Município de Macapá/AP).

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Programa Primeiros Projetos

CAPÍTULO 4

A DETECÇÃO DE PRODUTOS NATURAIS


BIOLOGICAMENTE ATIVOS EM ESPÉCIES DA FLORA
DO ESTADO DO AMAPÁ
Jorge Federico Orellana Segovia1;
Magda Celeste Álvares Gonçalves2;
José Carlos Tavares Carvalho2
Amabel Fernandes3;
Viviane Lima de Oliveira3,
Dâmaris Silveira3;
Luis Isamu Barros Kanzaki3

1 INTRODUÇÃO

A história da humanidade sempre foi marcada pelo empenho que todos os povos mantiveram,
desde seus primórdios até os dias atuais, em acumular conhecimentos sobre produtos disponíveis
no seu meio que apresentassem qualquer atividade biológica para as mais diversas finalidades,
que pudessem ser convertidos para melhoria da sua qualidade de vida.
A fitoterapia apresenta-se como uma prática milenar praticada pelos chineses, egípcios,
gregos, celtas, maias e as mais diversas culturas.
Atualmente, o mercado farmacêutico, até então dominado pelas grandes empresas, começa
a ser explorado nos países emergentes. Neste ambiente favorável, existe uma corrida dos centros
de pesquisa ligados às empresas farmoquímicas/farmacêuticas do mercado, no afã de identificar,
extrair e investigar substâncias derivadas de espécies encontradas nos mais diferentes habitats,
como são as espécies vegetais provenientes de ecossistemas de florestas tropicais que se encontram
em franco processo de extinção.
E apesar de que a conjuntura macroeconômica seja desfavorável e as políticas governamentais
inadequadas, constituindo-se em sério obstáculo à competitividade farmoquímica, considera-se
que a atuação do Estado brasileiro na área fitofarmacêutica deveria ser marcada na definição de
políticas que visem proteger a indústria ou os produtos nacionais da concorrência internacional,
tanto as de cunho sanitário como as de ordem econômica, de forma a impulsionar este setor.
Sobre tudo se levar em conta o agravamento da crise econômica, a qual gera instabilidade, repercute
sobre o custo de capital, desincentivando o investimento e reduzindo o mercado.

1. Doutorando em Desenvolvimento Sustentavel, NAEA/UFPA, Pesquisador da Embrapa Amapá


2. Mestranda em Desenvolvimento Regional pela Universidade Federal do Amapá
3. Doutor, Professor da Universidade Federal de Brasília

93
Portanto, os investimentos em Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação, devem buscar de forma
racional, evitar desperdícios com duplicação de esforços em pesquisas feitas por diferentes instituições,
devendo visualizar as oportunidades de mercado dentro da perspectiva nacional e mundial,
incorporando seus novos paradigmas e identificando os nichos de competitividade na área.
A simples consulta das pesquisas realizadas em instituições de pesquisa/universidades mostra
como há ausência de pesquisadores em doenças infecto-parasitárias negligenciadas e/ou
emergentes, como tuberculose, leishmaniose, contaminação hospitalar por bactérias resistentes e
malária.
É necessário assim, um aumento do investimento tecnológico, buscando sintetizar novos
produtos, especialmente aqueles voltados para o atendimento de mercados potenciais. Sobretudo,
dos países em desenvolvimento e/ou desenvolvidos, tais como América Latina e África.
Sobretudo, considerando que o Brasil é um país rico de vasta diversidade vegetal, e que com
muita freqüência espécies pouco ou praticamente nunca estudadas podem ser encontradas, embora
seu uso medicinal seja bastante restrito a pequenos povoados da zona rural.
Na Amazônia, muitas espécies são popularmente conhecidas para diversos usos, inclusive
medicinal. Algumas dessas plantas, cujo valor inerente às vezes é pouco conhecido, correm o
risco de serem extintas, sem sequer terem sido catalogadas e, conseqüentemente, sem que se saiba
sua potencialidade como bem economicamente valioso. Sendo que, nesta região encontra-se um
inestimável estoque vegetal com perspectivas de ser amplamente utilizado para as mais diversas
aplicações na ceara da fitoterapia.
Entretanto, apesar de que algumas destas espécies foram estudadas, as combinações químicas
e farmacodinâmicas e sua atividade biológica aguardam por maiores investigações, sobretudo,
quando se considera a problemática da resistência antimicrobiana, que é um assunto de grande
preocupação em saúde pública brasileira na atualidade.
Todavia, vale lembrar, que muitas destas espécies com importante potencial terapêutico
também sofrem erosão genética pelo aspecto insustentável das lesivas práticas de utilização de
seus ecossistemas, principalmente as promovidas pela agropecuária, pelas atividades madeireiras
e de mineração. Considera-se assim, que a utilização desse patrimônio genético de importância
não só econômica, mas também científica, política e social, não devendo ser explorado de forma
extrativista e predatória e sim, de forma sustentável.
Assim, novas drogas, incluindo um arsenal de reserva com menos efeitos colaterais, vêm
merecendo especial atenção na Região Amazônica.
Nesta linha, alguns programas nacionais de Ciência & Tecnologia implementados no Estado,
vêm convergindo esforços no sentido de promover a qualificação das estruturas internas e a
valorização local, e conseqüentemente dinamizar a sociedade, criando condições para a geração e
atração de novas atividades produtivas, dotando a região para converter a riqueza de recursos naturais
disponíveis em produtos que venham promover melhorias à assistência na saúde da população e
promover simultaneamente a valoração do desenvolvimento de seus atores e espaços de gestão.

94
Programa Primeiros Projetos

Então, no início de 2004, em parceria firmada entre a Secretaria de Ciência e Tecnologia do


Estado do Amapá, SETEC, e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico,
CNPq, foram financiados no estado do Amapá projetos de pesquisa científica, dentre os quais
este, ora descrito sob o título “Detecção de Produtos Naturais Biologicamente Ativos no Amapá”
o qual se propunha a coletar plantas de utilização popular na região, descrevê-las quanto à taxonomia
e, após obtenção de seus extratos, submetê-las a análise de atividade biológica contra
microorganismos patogênicos.
Desta maneira, o presente trabalho objetiva, a prospecção de atividade antimicrobiana em
espécies da flora amapaense e avaliar potencialidades de desenvolvimento de novos fármacos e
formulações que venham ao encontro da valoração do potencial da diversidade biológica de espécies
da flora amapaense.

2 CARACTERIZAÇÃO E POTENCIALIDADES BIOLÓGICAS DA FLORA

A história da humanidade sempre foi marcada pelo empenho que todos os povos mantiveram,
desde seus primórdios até os dias atuais, em acumular conhecimentos sobre produtos disponíveis
no seu meio que apresentassem qualquer atividade biológica para as mais diversas finalidades,
que pudessem ser convertidos para melhoria da sua qualidade de vida.
Neste sentido, Eldin e Dunford (2001), apresentam a fitoterapia como uma prática que está
intrínseca na história da humanidade, mencionando que em 2.800 a.C., os chineses já apresentavam
uma lista com mais de 360 espécies de plantas utilizadas como remédio, em 2.000 a.C., bem como
o fato de um grande número de médicos egípcios, utilizarem de forma efetiva esta prática
alternativa, e no século IV a.C., os gregos também já apresentam listas das plantas medicinais que
comercializavam.
Estes autores relatam ainda a corrida dos centros de pesquisa para identificar, extrair e
investigar substâncias derivadas de diversas espécies encontradas em variados habitats.
E apesar de que a conjuntura macroeconômica seja desfavorável e as políticas governamentais
inadequadas, constituindo-se em sério obstáculo à competitividade farmoquímica considera-se
que a atuação do Estado brasileiro na área fitofarmacêutica deveria ser marcada na definição de
políticas que visem proteger a indústria ou os produtos nacionais da concorrência internacional,
tanto as de cunho sanitário como as de ordem econômica, de forma a impulsionar este setor.
Sobre tudo se levar em conta o agravamento da crise econômica, a qual gera instabilidade, repercute
sobre o custo de capital, desincentivando o investimento e reduzindo o mercado.
Portanto, os investimentos em Pesquisa, Desenvolvimento & Inovação devem buscar de
forma racional, evitar desperdícios com duplicação de esforços em pesquisas feitas por diferentes
instituições e explorar nichos em que as empresas estrangeiras poderiam estar interessadas. A
simples consulta das pesquisas realizadas em instituições de pesquisa/universidades mostra como
há ausência de pesquisadores em doenças infecto-parasitárias negligenciadas e/ou emergentes,

95
como tuberculose, leishmaniose, contaminação hospitalar por bactérias resistentes e malária.
Denota-se assim como é necessário o aumento do investimento tecnológico, buscando
sintetizar novos produtos, especialmente aqueles voltados para o atendimento de mercados
potenciais. Sobretudo, em regiões menos desenvolvidas do país, como o Estado do Amapá.
Em região rica em diversidade vegetal como o Amapá, espécies pouco ou praticamente
nunca estudadas podem ser encontradas, embora seu uso medicinal seja bastante restrito à zonas
rurais.
Conforme a Secretaria Estadual do Meio Ambiente do Estado do Amapá - SEMA (AMAPÁ,
1997), o Estado do Amapá, possui diferentes ecossistemas. Entre os principais encontram-se a
floresta de Terra-Firme, que ocupa cerca de 71,9 % dos 143.276 km2 de extensão; a floresta de
Várzea, com 5,4%; a Florestas de Transição com 2,7%; o Campo Cerrado com 6,9%; os Campos
Inundáveis com 11,2% e os Manguezais, com 1,9%.
A diversidade biológica do estado do Amapá, típica de região tropical sul-americana, tal
qual ao restante da Região Amazônica é caracterizada por vegetação exuberante em extratos em
que alojam desde árvores centenárias como as castanheiras (Bertolletia excelsa) na Terra-Firme e as
sumaúmas (Ceiba pentandra Gaertn.), na várzea, assim como diversas espécies de dossel e subosque,
incluindo lianas e igualmente grande variedade de epífitas, constituindo-se entre os maiores
reservatórios de diversidade genética, das mais diferentes espécies que nela habitam encontrados
em sistemas evoluídos e nos mais diferentes graus de complexidade.

Figura 1 - Vista aérea da floresta de terra-firme.

O levantamento fitossociológico realizado por Queiroz (2004), já demonstra a enorme


diversidade da floresta de Várzea, chegando a ocorrer cerca de 8.879 indivíduos por hectare, dos
quais 4.085 são Liliópsidas e 4.794 Magnoliópsidas, principalmente das famílias Arecaceae,
Caesalpinaceae, Mimosaceae, Myristicaceae, Anacardiaceae e Lecythidaceae.

96
Programa Primeiros Projetos

Figura 2 - Vista aérea da floresta de várzea amapaense.

Composição Química e Atividade Biológica das Espécies Coletadas


A revisão bibliográfica das espécies vegetais coletadas comprovou que pouco se conhece
sobre sua composição química e/ou sua atividade biológica. Os relatos da literatura mostram que
esse parco conhecimento é oriundo, em grande parte, de pesquisas realizadas por grupos de
pesquisadores não brasileiros. Das espécies com restrita informação quanto à composição
micromolecular e seu potencial biológico/terapêutico podem ser citadas:

Uncaria guianensis
A espécie Uncaria guianensis, vernaculmente conhecida como “Unha-de-gato”, “Jupindá”, “Cipó-
de-Garimpeiro”, pertence à família Rubiaceae-Coptosapelteae.
Quanto à composição química de U. guianensis, foram isolados vários glicosídeos
triterterpênicos, alcalóides do tipo oxindolicose e compostos fenólicos (LAVAUT; MORETTI;
BRUNETON, 1983; LEE et al., 1999; LEMAIRE et al., 1999; LAUS; KEPLINGER, 2003;
CARBONEZI et al., 2004; VALENTE et al., 2006).
Em indivíduos apresentando osteoartrite, o extrato de U. tomentosa mostrou-se eficaz na
redução do processo inflamatório e dor, sem efeitos deletérios (PISCOYA et al., 2001; WALKER-
BONE, 2003). Miller e colaboradores mostraram que extratos dessa espécie têm ação protetora
sobre cartilagem de joelho (MILLER et al., 2006). Em patente norte-americana fora descrito um
suplemento nutricional contendo U. guianensis para osteoartrite (BENTLEY, 2006). Herrera e
colaboradores observaram a ação de extratos de U. guianensis sobre inflamação gastrointestinal
(HERRERA; SANTIYÁN; CASCOS, 2001).
Os extratos aquosos não demonstraram atividade citotóxica, mas apresentaram atividade
antimutagênica em fotomutagênese induzida por 8-metoxipsolareno e radiação UV em Salmonella
spp. Os alcalóides indólicos isolados desse extrato apresentaram atividade imunoestimulante e
imunorreguladora (KITAJIMA et al., 2003; WINKLER et al., 2004). Também apresentaram ação

97
reparadora de DNA com redução da morte de células epiteliais da pele, o que os torna promissores
para formulações de protetores solares (MAMMONE et al., 2006).
Simaba cedron / Quassia cedron
A Simaba cedron (sinon. Quassia cedron), espécie da família Simaroubaceae, popularmente
conhecida como “Pau-pára-tudo” e “Pau-de-gafanhoto” é rica em quassinóides, sendo utilizada
como antimalárico (KREBS; RUBER, 1960; POLONSKY, 1960; KOIKE; OHMOTO, 1994;
CURCINO VIEIRA et al., 1998; HITOTSUYANAGI et al., 2001; OSORIO-HERRERA et al.,
2005). Os compostos, cedronina e cedrin isolados de sementes, apresentaram atividade antimalárica
in vitro e in vivo contra cepas resistentes e sensíveis à cloroquina. A cedronina também apresentou
atividade citotóxica em células (O’NEILL et al., 1986; MORETTI et al., 1994).
Brosimum acutifolium (Moraceae)
Conhecida como “Mureré”, “Mururé-Pajé da seiva vermelha” ou “Muirapiranga”, é espécie
madeireira popularmente usada como antiinflamatório, antireumático (TORRES et al., 2000) e
antianêmico (COUTINHO; TRAVASSOS; AMARAL, 2002). A composição química dessa espécie
é diversificada apresentando principalmente flavonóides e lignóides (TORRES et al, 1997;
TEIXEIRA; CARVALHO-ALCANTARA; PILÓ-VELOSO, 2000; TORRES et al., 2000;
TAKASHIMA et al., 2005), bem como amina alucinógena (MORETTI et al., 2006).
Das cascas dessa espécie foram isoladas algumas flavonas que apresentaram toxicidade a
células P388 vincristina-resistentes (TAKASHIMA et al., 2005), flavolignanas que apresentaram
atividade inibitória das proteinaquinases A e C (TAKASHIMA et al., 2002). Um flavonóide
apresentou atividade citotóxica dose-dependente sobre feocromocitomas (PC12) (COSTA et al.,
2005) . Duas patentes citam essa espécie como ativos em produtos cosméticos e cosmecêuticos
(UEDA; ISHIMARU, 2001; MIO et al., 2003). Algumas de suas substâncias têm mostrado atividade
inibitória da hialuronidase, sendo ativos promissores no tratamento da pele, em cremes, sabonetes,
xampus, antiperspirantes, entre outros (UEDA; ISHIMARU, 2001).
Copaifera sp.
A espécie Copaifera sp, popularmente conhecida como Copaíba, pertence à família
Caesalpinaceae. O uso medicinal do “óleo de copaíba” extraído do cerne é relatado como
antiinflamatório, cicatrizante e nas infecções de garganta (MING; GAUDÊNCIO; SANTOS, 1997;
MACIEL et al., 2002; VEIGA-JUNIOR; PINTO, 2002; PASA et al., 2005). Patente do processo de
obtenção de extratos, frações e substâncias isoladas da C. reticulata foi depositada (BRUNHAROTO
et al., 2005). Copaifera reticulata Ducke apresentou ácido copaífero, á-cubeno, â-cariofeleno, á-
humuleno e d-candieno, utilizado como antinflamatório e cicatrizante, com ação contra o bacilo do
tétano e herpes (VIEIRA, 1992). O óleo de C. reticulata foi avaliado quanto à atividade antiinflamatória
e cicatrizante em ratas ooforectomizadas e apresentou resultados superiores aos controles (BRITO
et al., 2000; GOMES et al., 2006). Os extratos da casca de C. reticulata foram avaliados quanto à
atividade antioxidade e captadora de radicais livres. Os autores observaram que o extrato aquoso
apresentou alta atividade que foi posteriormente atribuída a taninos (DESMARCHELIER et al.,
1997; DESMARCHELIER et al., 2001; DESMARCHELIER; BARROS, 2003).

98
Programa Primeiros Projetos

Mimusops huberi/Manilkara huberi


Mimusops huberi/Manilkara huberi, espécie da família Sapotaceae, é conhecida vernacularmente
por Maçaranduba.
Existem poucas referências quanto a fitoquímica e atividade biológica dessa espécie. Do
fuste se extrai um látex, do qual foram isolados hidrocarbonetos, triterpenos, esteróides, ligninas
e açúcares (MARCHAN, 1946; HORN, 1948; ALTMAN, 1956; SOUZA, 1956). Rodrigues (2006)
menciona que esta espécie apresenta 7,5% de tanino na casca.
Brosimum rubescens
O Brosimum rubescens, espécie da família Moraceae, é conhecida popularmente por vários
nomes, como “Mururé-Pajé-da-seiva-branca”, “mureré seiva branca” (no Brasil), “ muirapiranga”,
“amapá amargoso”, “pau-rainha”, “falso-pau-brasil” e “palo de sangre” (no Peru). Existem alguns
estudos prospectivos quanto à composição micromolecular dessa espécie. Foram isoladas
cumarinas, chalconas e outros flavonóides (SHIROTA et al., 1998; POULIQUEN et al., 2000;
HARBORNE; WILLIAMS, 2001; McGLACKEN; FAIRLAMB, 2005). Duas chalconas
apresentaram atividade antiandrogênica por antagonismo à diidrotestosterona-5 (SHIROTA et
al., 1997; SHIROTA et al., 1998).
Stryphnodendron adstringens
O Stryphnodendron adstringens (Mart.) Coville, espécie da família Fabaceae, é conhecida como
barbatimão, sendo utilizada popularmente no tratamento de feridas, dor de garganta, anemias,
leucorréias, inflamações, entre outros casos. Os extratos obtidos dessa espécie são utilizados em
preparações farmacêuticas e cosméticas, principalmente para uso tópico, devido ao seu alto teor
de taninos (ARDISSON et al., 2002). Contém ainda galactomanana e flavonóides (GANTER et
al., 1993; GANTER et al., 1995; TOLEDO, 2002).
Os extratos hexânico e etanólico de S. adstringens apresentaram atividade moluscicida contra
Biomphalaria glabrata, tanto para caramujos adultos quanto para ovos (MENDES et al., 1984). O
extrato aquoso das cascas apresentou atividade cicatrizante em equinos (MARTINS et al., 2003).
Sua atividade cicatrizante foi comprovada ainda em úlceras gástricas induzidas em ratos (AUDI et
al., 1999).
Enzima isolada das sementes de barbatimão apresentou atividade anticoagulante in vitro
(NAKAHIRA et al., 2004). As sementes apresentaram propriedades abortiva e infertilizante em
ratas (BÜRGER et al., 1999). O extrato aquoso apresentou atividade contra o ácaro rajado
Tetranychus urticae (OLIVEIRA et al., 2005). Já o extrato acetônico foi ativo contra Herpetomonas
samuelpessoai (HOLETZ et al., 2005). Apresentou ainda atividade tripanossomicida in vitro
(HERZOG-SOARES et al., 2002).
Aspidospermum carapanauba
O Aspidospermum carapanauba, espécie da família Apocynaceae, é conhecida como “Quinarana-
da-fruta-grande” ou “Carapanaúba” é utilizada na medicina popular como antiinflamatório,
anticoncepcional, hepatoprotetor, anti-úlcera, adstringente, anti-malárica, febrífuga, cicatrizante,

99
além de ser usada no tratamento do diabetes e de várias afecções pulmonares, como a asma e
bronquite (SILVA et al., 2006). Das cascas de A. caranapauba foi extraído um alcalóide, a
carapanaubina (GILBERT et al., 1963). O extrato aquoso das cascas apresentou efeito
gastroprotetor em ratos (SILVA et al., 2006).
Ouratea hexasperma
Ouratea hexasperma, especie da família Ochnaceae, conhecida popularmente como Barbatimão
do Cerrado, é utilizada popularmente como tônico, adstringente e vermífugo. É nativa brasileira
ainda pouco estudada. Dos extratos de O. hexasperma foram isolados vários flavonóides, principalmente
flavonas, isoflavonas diméricas (MOREIRA et al., 1994; MOREIRA et al., 1999; DANIEL et al.,
2005; CARVALHO et al., 2005) e hidrocarbonetos aromáticos (WILCKE et al., 2004). Quanto à
atividade biológica, alguns diflavonóides isolados dessa espécie apresentaram atividade de inibição
da DNA-topoisomerase (GRYNBERG et al., 2002), inibição do crescimento de células tumorais
Sarcoma 180, tanto ex vivo, quanto in vivo (GRYNBERG et al., 1994; MOREIRA et al., 1999).
Virola multicostata / Virola surinamensis
A espécie Virola multicostata / Virola surinamensis, pertence à família Myristicaceae, sendo
conhecida vernacularmente como “Virola”, “Ucuúba branca” ou “Ucuúba de igapó”. É considerada
de múltiplo uso, inclusive sua utilização medicinal da Amazônia . A resina da casca é utilizada nas
erisipelas e o chá das folhas nas cólicas e dispepsias (LOPES et al., 1999). De extratos de V.
multicostata foram isolados lignanas e neolignanas, ácidos orgânicos, flavonóides, principalmente
flavonas e isoflavonas, policetídeos, triglicerídeos, esteróides, mono- sesqui- e triterpenos
(BLUMENTHAL; SILVA; YOSHIDA, 1997; LOPES et al., 1999; BARATA et al., 2000; BORGES,
2003; LOPES; YOSHIDA; KATO, 2004; NIHEI et al., 2004; LOPES et al., 2005).
Quanto à atividade biológica, substâncias isoladas dos extratos de V. multicostata apresentaram
ação antifúngica contra Cladosporium cladosporioides (LOPES; KATO; YOSHYDA, 1999). Além
disso, extratos e compostos isolados dessa espécie apresentaram atividade esquistossomicida
(ALVES et al., 1998, 2002) e inibição de penetração de cercárias em camundongos (BARATA,
1976); tripanossomicida (LOPES et al., 1998; NIHEI et al., 2004), antimalárica, sendo ativos
contra Plasmodium falciparum (LOPES et al., 1999).
Dalvergia monetária
A espécie Dalvergia monetária/D. subcymosa, pertence à família Dalbergieae, sendo conhecida
vernacularmente como Verônica. Conforme Rodrigues (1989) e Vieira (1992), as cascas são
utilizadas em infusão no controle de anemia (15g em 1/2L de água) e na lavagem em inflamações
uterinas (20g em 1/2L de água), assim como no tratamento de afecções pulmonares (catarros,
bronquites e tosses tísicas).
Carapa guianensis
A espécie Carapa guianensis Aubl., pertence à família Meliaceae, sendo conhecida
vernacularmente no Brasil como andiroba, adirobinha, andiroba branca, andiroba-do-igapó, caraper,
jandiroba e penaiba.

100
Programa Primeiros Projetos

Conforme Taylor (1998), o azeite de andiroba filtrado, apresenta na sua composição, através
do processo da cromatografia gasosa, os seguintes ácidos FATTY: palmítico (28,18%), palmitoléico
(1,04%), esteárico (8,11%), oléico (50,5%), linoléico (8,5%), araquídico (1,2%), linolênico (10,3%).
Esta mesma autora apresenta na composição do azeite de andiroba, os seguintes fitoquímicos:
11-beta-acetoxi-gedunina; 6-alfa-acetoxi-epoxiazadiradiona; 6-alfa-acetoxi-gedunina; 6-beta-
acetoxi-gedunina; 6-alfa, 11-beta-diacetoxi-gedunina; 6-alfa-hidroxigedunina; 6-beta, 11-beta-
diacetoxi-gedunina; 7-deacetoxi-7-oxigedunina; 7-desacetoxi-7-cetogedunina; andirobina;
epoxiazadiradiona.

3 PROCEDIMENTOS TÉCNICOS E METODOLÓGICOS DA PESQUISA

As coletas de plantas foram realizadas nos campos experimentais da Embrapa Amapá. As


análises foram realizadas em laboratórios do PIADICUFAP na Unifap e nos laboratórios do Curso
de Farmácia da UnB.
Cascas e folhas de diferentes espécies vegetais da flora nativa foram coletadas no Estado do
Amapá, com base em informações etnobotânicas.
Essas amostras estão sendo objeto de avaliação sobre sua atividade biológica com o intuito
de fornecer subsídios que corroborem sua utilização popular, bem como buscar evidências de
outras atividades biológicas até então desconhecidas.
Da floresta de Terra-Firme, estão sendo avaliadas: Geissospermum argentum (Quinarana-da-
fruta-pequena), Simaba cedrun (Pau-pára-tudo), Brosimum acutifolium (Mururé-Pajé seiva vermelha),
Copaifera sp (Copaíba), Ptychopetalum olacoides (Muirapuama), Hymenaea coubaril (Jatobá), Mimusops
huberi (Maçaranduba), Tabebuia serratifolia (Ipê Amarelo), Brosimum rubescens (Mururé-Pajé seiva
branca), Stryphnodendron barbatiman (Barbatimão verdadeiro), Aspidospermum carapanauba (Quinarana-
da-fruta-grande), Batocydia unguis (Unha-de-Morcego), Cassia occidentalis (Mata-pasto-pequeno), Cipó-
Santo, Aristolochia cf. rodriguesie (Cipó-pára-tudo), Glycoxylon praelatum (Casca-doce), Parhancornia
amapa (Amapá amargo), Brosimum potabile, B. ovalifolium (Amapá doce), Elephantopus scaber L.
(Língua-de-vaca) e Himathanthus articulatus (Sucuúba).
Do ecossistema de Cerrado apenas encontram-se em avaliação as espécies Ouratea hexasperma
(Barbatimão do Cerrado) e Himathanthus articulatus (Sucuúba).
E, finalmente, do ecossistema de Várzea, estão em estudo: Callophyllum brasiliense (Jacareúba),
Uncaria guianensis (Unha-de-gato ou Jupindá), Lycania macrophylla (Anauerá), Dalbergia monetaria
(Verônica da várzea), Virola multicostata ou V. surinamensis (Virola ou Ucuúba), Vatairea guianensis
(Fava-verde), Carapa guianensis (Andiroba), Erythrina glauca (Açacurana).
As exsicatas dos espécimes estudados foram depositadas no Herbário do Instituto de
Investigação Científica e Tecnológica do Estado do Amapá (IEPA), no Brasil, sob os números de
protocolos de 016603 para Uncaria guianensis, de 016595 para Copaifera sp, de 016602 para Simaba
Cedron, de 016594 para Licania macrophylla de 016594 e de 016600 para Dalbergia subcymosa. A espécie

101
Calophyllum brasiliense, Geissospermum argenteum, Brosimum acutifolium, Ptycopetalum olacoides e Hymenaea
coubaril são mantidos provisoriamente sob números de registo BRM1, BRM2, BRM5, BRM8 e BRM10
respectivamente, na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária do Amapá - EMBRAPA-Amapá.
Preparação dos extratos crus
O material vegetal foi seco artificialmente em estufa de circulação forçada, à temperatura
de 50º C durante três dias para folhas e ramos finos e durante cinco dias para cascas e lenhos das
árvores, para eliminação de agentes deletérios como fungos e bactérias. O referido material foi
pulverizado em moinho de faca tipo Willy, equipado com peneira de 20 mesh.

Figura 3 - Moinho de faca tipo Willy.

Em seguida, os extratos secos foram postos a macerar por sete dias, durante quatro semanas
consecutivas, através da imersão em etanol e/ou extrato hexano como meio solvente. A solução
extrativa foi decantada e concentrada à temperatura de 50oC, realizando-se para tanto, a secagem do
soluto através da evaporação do solvente em um evaporador rotativo mergulhado em banho-maria.

Figura 4 - Obtenção de extratos crus em evaporador rotativo

102
Programa Primeiros Projetos

Ensaio preliminar de citotoxicidade.


Com intuito de esclarecer os efeitos farmacológicos de extratos crus de plantas medicinas
da flora amapaense investigou-se a toxicidade aguda pela determinação da dose letal para 50%
dos animais (DL50), frente ao microcrustáceo Artemia salina Leach (ovos e larvas).
A solução salina foi preparada com sal marinho sintético, a 36,5g/L. Para o preparo das
diluições de cada extrato foram solubilizados em 200µL de dimetilsulfóxido (DMSO) e o volume
completado para 20mL com a solução salina (1000ppm, primeira diluição). A partir dessa solução
foram preparadas diluições sucessivas até 125 ppm. Os ovos de A. salina foram colocados a
eclodir, sob luz e aeração constante. As amostras foram divididas em tubos de ensaio e a cada um
foram adicionadas 10 larvas, que foram mantidas por mais 24 horas à luz natural. O experimento
foi realizado em triplicata. Para o controle positivo foi utilizado dicromato de potássio em
concentração de 40ppm. A análise foi feita comparativamente ao controle positivo por
concentração letal média (CLM), ou seja, a concentração que dizima a metade de uma população
(DOLABELA, 1987).

Figura 5 - Artemia salina em solução.

103
Estirpes de Bactérias ATCC
Os extratos crus das espécies vegetais foram selecionados (screened) para atividade
antibacteriana de 7 microorganismos resistentes clínicos que utilizam como controle espécies
bacterianas da American Type Culture Collection - ATCC. Foram utilizadas as cepas padrão de
Proteus mirabilis ATCC 7022, Klebsiella pneumoniae ATCC 27853, Pseudomonas aeruginosa ATCC
27853, Escherichia coli ATCC 25922, Staphylococcus aureus ATCC 29213, Enterococcus faecalis ATCC
29212, Streptococcus pneumoniae ATCC 46619, e também das mesmas espécies obtidas a partir de
coleta hospitalar de cepas resistentes e multirresistentes, em Brasília, Brasil.

Ensaio biológico
Buscando-se encontrar alguma atividade inibitória dos extratos vegetais no desenvolvimento
das bactérias, foi utilizado no teste o método de difusão em ágar de Kirby-Bauer. Para tanto,
foram utilizados discos de papel filtro estéril (papel Hartman No.1) medindo 6 milímetros de
diâmetro, embebidos em extratos crus dissolvidos em etanol, e secos à temperatura ambiente.

Figura 6 - Extatos crús de espécies da flora amapaense.

Os estoques de crescimento bacteriano congelado e conservados em glicerol são cultivados


em ágar com nutrientes semi-sólidos e mantidos na incubadora por 24 H em 37oC.
Colônias típicas e homogêneas foram transferidas para o meio líquido de crescimento de
Mueller-Hinton até atingir 2 X 108 cfu/mL (0,5 na escala McFarland). Sequencialmente, os extratos
crus previamente secos e embebidos em etanol foram dispostos na superfície do ágar. Como
controles, os discos secos embebidos em penicilina G sódica e etanol foram distribuídos igualmente
nas placas.
Todos os ensaios foram realizados em triplicata, incluindo os controles. As placas foram
incubados em estufa a 37oC durante 24 horas.

104
Programa Primeiros Projetos

Passado este período, as placas foram retiradas da estufa, observando-se no crescimento


dos microrganismos, a ocorrência ou não de halos de inibição. Sendo medidos os halos de inibição,
quando presentes e comparado ao redor dos discos de inibição com o disco contendo penicilina G
sódica e o crescimento em torno de discos contendo etanol.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Ocorrência das Espécies na Flora e Tipos de Solo e Clima ocorrentes no Estado


As espécies coletadas apresentam, em sua maioria, baixa densidade de ocorrência nas áreas
de estudo. A exploração destas espécies medicinais no Estado é completamente extrativista, sem
nenhum critério ou regulamentação para sua extração e, quase sempre, predatória.

Figura 7 - Ramo de Uncaria guianensis.

Tal fato determina a implementação de estudos complementares que promovam o cultivo


racional das espécies medicinais em estudo, de forma a proporcionar a sustentabilidade de
programas que primem pela inovação com novos produtos, especialmente aqueles voltados para
o atendimento da assistência à saúde da população e a promoção da valoração do desenvolvimento
local.
As análises de solos observadas nas tabelas 1 e 2, revelam que as espécies encontradas nos
ecossistemas de Cerrado e de floresta de Terra-Firme, ocorrem sobre solos classificados como
Latossolos Amarelos ou Vermelhos, em sua maioria de textura média, ácidos e pobres em nutrientes
essenciais para as plantas como fósforo, potássio, cálcio, magnésio, portanto de baixa fertilidade
natural e geralmente apresentando teores médios a elevados de alumínio tóxico e acidez elevada.

105
Isto vem a ser um indicativo da alta adaptabilidade das espécies destes ecossistemas a solos
argilosos, ou franco argilosos, pobres e ácidos, bem como tolerantes a níveis elevados de alumínio.
Nas análises de solos observadas na tabela 3, observa-se que as espécies encontradas nos
ecossistemas de Várzea, estão localizadas apenas numa faixa estreita ao longo do rio Amazonas e
seus afluentes, ficando grande parte do ano submersas. Estes ecossistemas apresentam solos
classificados como Gleysolo Háplico, geralmente siltosos, ricos em potássio, fósforo, cálcio e
magnésio, de acidez entre média e baixa. Portanto as espécies ocorrentes nestas áreas de Várzea
estão condicionadas a solos férteis e de baixa acidez, no entanto, com aeração deficiente, sofrendo
constantes inundações pelo fenômeno das mares, as quais carreiam grandes quantidades de
nutrientes repondo constantemente sua fertilidade natural. Estes solos são considerados eutróficos
quando a saturação de bases é maior que 50% e distróficos quando esta é menor que 50%.

Tabela 1 - Análise físico-química de amostras de Latossolos Amarelos sob Ecossistemas de Cerrado


Amapaense.
K+ Al 3+ H++Al 3+ P M.O.
Ca 2++Mg 2+ Silte A G A F Argila
Local pH(H2O) (Cmolc/ (Cmolc/ (Cmolc/ (mg/ (g/
(Cmolc/dm3) (%) (%) (%) (%)
dm3) dm3) dm3) dm3) dm3)

Macapá (km 09) 4,8 0,04 0,65 0,85 4,54 4 3,5 26 23 20 31


I. do Piririm 4,6 0,08 0,20 0,80 4,25 3 3,4 11 62 6 21
Ferreira Gomes 5,1 0,01 0,25 0,40 1,90 1 1,2 12 39 31 18
Tartarugalzinho 4,5 0,04 1,35 0,90 8,09 7 3,3 49 2 14 35
Amapá 4,8 0,05 1,05 0,5 8,25 2 3,6 54 2 29 15
Fonte: Embrapa Amapá

Tabela 2 - Análise físico-química de amostras de Latossolos Amarelos e Vermelhos sob


ecossistemas de Floresta de Terra-Firme Amapaense.
K+ Al 3+ H++Al 3+ P M.O.
Ca 2++Mg 2+ Silte A G A F Argila
Local pH(H2O) (Cmolc/ (Cmolc/ (Cmolc/ (mg/ (g/
(Cmolc/dm3) (%) (%) (%) (%)
dm3) dm3) 3
dm ) 3 3
dm ) dm )
Oiapoque 4,1 0,09 0,40 1,8 14,03 2 5,5 25 21 7 47
Pedra Branca 5,0 0,04 0,90 1,0 4,29 1 2,3 20 25 8 47
L.l do Jari 4,6 0,05 1,70 0,50 13,53 6 4,0 34 12 5 49
Porto Grande 4,1 0,03 0,15 0,9 4,79 <1 1,6 10 51 15 24
Mazagão 4,6 0,06 0,50 1,65 8,91 1 2,5 87 1 1 11
Santana 4,1 0,10 1,2 0,7 13,5 4 10,5
Fonte: Embrapa Amapá

106
Programa Primeiros Projetos

Tabela 3 - Análise Físico-química de amostras de solo Gley Háplico no Ecossistema de Várzea


no Amapá
K+ Al 3+ H++Al 3+ P M.O.
Ca 2++Mg 2+ Silte A G A F Argila
Local pH(H2O) (Cmolc/ (Cmolc/ (Cmolc/ (mg/ (g/
(Cmolc/dm3) (%) (%) (%) (%)
dm3) dm3) dm3) dm3) dm3)
Bailique 5,8 0,29 7,85 0,10 1,73 57 2,0
Anauerapucú 5,5 0,17 10,65 < 0,05 3,96 5 4,2 85 5 2 8
Macapá 5,2 0,11 11,20 0,30 3,46 11 2,6 80 19 0,5 0,5
Fonte: Embrapa Amapá

Na maior parte do Estado predomina o clima do tipo Ami, conforme a classificação de


Köppen, caracterizado como tropical chuvoso como estação seca definida nos meses de julho a
dezembro. Entretanto, grande parte dos ecossistemas de floresta tropical nos Municípios de Laranjal
do Jarí, Porto Grande e Pedra Branca apresentam clima do tipo Amw, caracterizado como tropical
chuvoso, mas sem estação seca definida, apresentando chuvas bem distribuídas ao longo do ano.
A menor temperatura média mensal (média de 30 anos) do período chuvoso (janeiro a
junho) ocorre nos meses de fevereiro e março (25,7°C +- 5°C). A maior temperatura média mensal
do período seco (julho a dezembro) ocorre no mês de outubro (27,9°C +- 5°C).
As análises dos dados também mostram a ocorrência nos ecossistemas amapaenses de
precipitação elevada durante o período chuvoso (1872mm) que se estende de janeiro a julho.
Sendo esta, maior ou igual à evapotranspiração de referência neste período (1160mm). Entretanto,
no período seco, compreendido entre agosto a dezembro, a precipitação diminui drasticamente
(248mm) alcançando seu pico mínimo no mês de outubro. Tais valores, sempre são menores que
os da evapotranspiração (863mm), o que indica que o clima neste período impõe grande déficit
hídrico à maioria das espécies da flora amapaense.
Preparo do Material Coletado
Inicialmente, promoveu-se a estabilização do material vegetal em estudo, através do
aquecimento de camadas finas em estufacom ventilação forçada a 70º C por 30 minutos (para
inativação das drogas por enzimas).
Enseguida procedeu-se à secagem artificial do material vegetal em estufa de circulação
forçada, à temperatura de 50º C durante três dias para folhas e ramos finos e durante cinco dias
para cascas e lenhos das árvores (para eliminação de agentes deletérios como fungos e bactérias).
Moagem do material seco, em moinho de faca tipo Willy, equipado com peneira de 20 mesh.

107
Concentração Letal Média para Artemia salina

Tabela 4 - Toxicidade dos extratos às larvas de Artemia salina.


PARTE RENDIMENTO
AMOSTRA EXTRATO DL50(PPM)
DA PLANTA (%)
Calophyllum brasiliense casca E 1,9 >1000,00
Geissospermum argentum casca E 5,8 >1000,00
Uncaria guianensis casca E 15,3 >1000,00
Simaba cedrun casca E 1,2 -
Brosimum acutifolium casca E 3,6 >1000,00
Copaifera sp casca E 14,4 >1000,00
Lycania macrophylla casca E 14,7 >1000,00
Ptychopetalum olacoides caule E 1,6 534,24
Dalbergia subcymosa Ducke caule E 5,1 868,44
Hymenaea coubaril casca E 6,3 >1000,00
Himatanthus articulatus casca E 12,5 561,21
Manilkara huberi casca E 22,5 >1000,00
Tabebuia serratifolia casca E 9,4 >1000,00
Aniba canellila casca E 11,1 >1000,00
Brosimum rubescens casca E 2,0 >1000,00
Stryphnodendron barbatiman casca E 27,5 -
Batocydia ungüis folhas E 5,8 548,53
Anajarana casca E 4,3 >1000,00
Aspidospermum carapanauba casca E 9,1 340,56
Cassia obtusifolia L. folhas E 6,7 713,11
Cipó-santo caule E 12,7 >1000,00
Ouratea hexasperma casca E 9,7 992,87
Andira retusa casca E 10,5 >1000,00
Elephantopus scaber L. folhas E 8,0 >1000,00
Virola multicostata/ V. surinamensis casca E 5,0 -
Aristolochia cf. rodrigisie caule E 2,1 >1000,00
Vatairea guianensis casca E 2,7 >1000,00
Glycoxylon prealtum casca E 13,8 >1000,00
Brosimum acutifolium seiva E 59,0 >1000,00
Carapa guianensis óleo E 99,1 470,37
Parhancornia amapa seiva E 42,6 >1000,00
Brosimum potabile seiva E 77,2 >1000,00
Copaifera sp óleo E - -
Erythrina glauca casca E 4,1 -
H - extrato hexânico; E - extrato etanólico.

A Tabela 1 apresenta o resultado do teste de toxicidade a larvas de Artemia salina e o


rendimento dos extratos das diferentes espécies da flora amapaense em estudo.
O ensaio para determinar a dose letal (a quantidade de uma substância administrada para
provocar a morte a pelo menos 50% da população) utilizando o crustáceo Artemia salina, mostrou
que o extrato cru de Aspidospermum carapanauba apresentou-se como o mais ativo (340,56ppm)
frente às larvas de Artemia salina dentre os demais compostos testados.

108
Programa Primeiros Projetos

Enquanto que Andira retusa, Aniba canellila, Aristolochia cf. rodriguesi, Brosimum acutifolium,
Brosimum rubescens, Calophyllum brasiliense, Copaifera sp, Elephantopus scaber L., Geissospermum argentum,
Glycoxylon prealtum, Hymenaea coubaril, Lycania macrophylla, Mimusops huberi, Tabebuia serratifolia, Uncaria
guianensis e Vatairea guianensis apresentaram-se como os menos ativos (>1000ppm) frente a espécie
Artemia salina.
A utilização do bioensaio de letalidade da Artemia salina na avaliação de extratos crus de
diferentes espécies da flora amazônica foi eficiente mostrando a toxicidade específica de cada um
destes extratos.
Na avaliação do rendimento dos extratos brutos obtidos de espécies medicinais da flora
amazônica, pode-se observar que houve diferenças de rendimento entre as diferentes espécies em
estudo.
Assim, os extrato obtidos a partir do óleo de Carapa guianensis (99,1%), e das seivas de
Parhancornia amapa e Brosimum potabile apresentaram os maiores rendimentos relativos de extrato.
Quando se avaliou os rendimentos de extratos obtidos a partir das cascas e caule das espécies
em estudo, os maiores rendimentos foram das espécies Mimusops huberi (22,5%) e Stryphnodendron
barbatiman (27,5%).
E, avaliando-se os rendimentos de extratos obtidos a partir das folhas das espécies em
estudo, o maior rendimento foi obtido com a espécie Elephantopus scaber (8,0%).
Portanto, os rendimentos na produção de extratos mostraram-se variáveis em função da
espécie e da parte da planta em estudo (folha, casca, óleo e seiva).
Os extratos vegetais de Geissospermum argenteum, Uncaria guianensis, Brosimum acutifolium,
Copaifera sp., Lycania macrophylla, Ptycopetalum olacoides e Dalbergia subcymosa, mostraram atividade
contra as bactérias Staphylococcus aureus e Pseudomonas aeruginosa, ambas resistentes a maioria dos
antibióticos em uso atualmente.

Figura 8 - Antividade antibacteriana de extratos


crus de epécies da flora amapaense.

109
Estão em curso análises quanto à atividade anti-viral (retrovírus da Imunodeficiência Humana
e Felina) e antineoplásica (linhagens celulares transformadas de tecido pulmonar).
Os resultados alcançados na prospecção de atividade biológica são um indicativo de que a
região depende da capacidade de se especializar naquilo que consiga estabelecer vantagens
comparativas efetivas e dinâmicas, decorrentes do seu estoque de atributos e da capacidade local
de promoção continuada de inovação.
Portanto, a relação existente entre as diferentes instituições da rede de pesquisa nacional
podem promover transformações criadoras de soluções aplicativas e/ou integradas, potencializando
um fluxo de informações científicas, tecnológicas e culturais.
Portanto, canalizou-se esforços na pesquisa aplicada, com a realização de testes e adaptações,
promovendo processos de inovação cuja força poderá alterar a natureza da produção e consumo
de farmacoquímicos, inclusive possibilitando o crescimento e ampliando a capacidade contínua
de agregação de valor sobre a produção da flora amazônica, através da introdução de novos
produtos; novos métodos de produção; criação de novos mercados; a exploração de novas fontes
de matérias-primas, podendo-se constituir em fontes do avanço econômico local e regional.
Tem-se assim o entendimento, que com um processo de criatividade e inovação tecnológica
será possível conquistar novos mercados, inclusive de fitoterápicos e outros produtos químicos
de origem vegetal, de forma a poder promover a valoração de novas fontes de matérias-primas da
floresta tropical amapaense, podendo constituir-se em fontes de avanço econômico para o Estado.
Desta maneira, as expectativas no processo de inovação tecnológica de fito-fármacos vêm
ao encontro da sinergia das relações interinstitucionais e do crescimento do mercado fundamentado
na tecnologia fitofarmacêutica.

5 CONCLUSÃO

Algumas espécies com potencial para utilização terapêutica e/ou industrial, provavelmente
estão irremediavelmente sob domínio de pesquisadores e/ou instituições estrangeiras. Entretanto,
existem ainda espécies pouco estudadas e outras ainda por serem descobertas.
Os rendimentos na produção de extratos mostraram-se variáveis em função da espécie e da
parte da planta em estudo (folha, casca, óleo e seiva)
Extratos vegetais crus de certas espécies amazônicas apresentaram atividade contra as
bactérias Staphylococcus aureus e Pseudomonas aeruginosa, ambas resistentes à maioria dos antibióticos,
e Staphylococcus aureus ATCC.
Os resultados obtidos, são um indicativo de que os estudos de bioprospecção na flora
amapaense, certamente ratificam a potencialidade de fabricação de produtos fitoterápicos no Estado
e denotam o importante papel da academia na criatividade e inovação tecnológica voltado ao
desenvolvimento regional, contribuindo para atender às demandas por novos medicamento da

110
Programa Primeiros Projetos

população em geral.
Portanto, existem expectativas futuras no Estado do Amapá, através da inovação com
medicamentos e o desenvolvimento tecnológico de fármacos e formulações que venham ao
encontro da valoração do potencial da diversidade biológica de sua flora, apostando no crescimento
do mercado fitofarmacêutico.

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117
118
Programa Primeiros Projetos

CAPÍTULO 5

INTERAÇÃO VERBAL E AFETIVIDADE


ENTRE TRÍADES DE ALUNOS NA SOLUÇÃO
DE PROBLEMAS MATEMÁTICOS
Marinalva Silva Oliveira1
Ilça Daniela Monteiro Tomaz2
Hozana Machado Mendonça3
Maria do Carmo Lobato da Silva4

1 INTRODUÇÃO

Os indivíduos, durante o decorrer de sua vida, se encontram em contextos interacionais nos


quais, através de ações mutuamente reguladas e/ou dirigidas, estão continuamente co-construindo
significados ou conceitos sobre um determinado tema. Nestes contextos, os processos interativos
e de comunicação possibilitam que os atores construam e compartilhem significados construídos
por ele e pelo outro canalizando o processo de aprendizagem e desenvolvimento humano
(BOESCH, 1997; BOESCH, 1991; VALSINER, 1998; VALSINER, 1997).
Para Boesch (1991, 1997), esta construção envolve três aspectos que são fundamentais:
escolha, emoção e futuridade. Durante o decorrer das interações as ações, tais como contentamento,
ansiedade ou nostalgia são sempre acompanhadas de sentimentos e emoções. As escolhas são
sempre reguladas pelo emocional e voltadas para o futuro. O pensar sobre o futuro e o esforço em
antecipá-lo, são aspectos relevantes para o desenvolvimento humano, os quais implicam
possibilidades subjetivas e transformam o futuro em uma área de antecipação, duplicando o atual
campo de ação (BOESCH, 1991; OLIVEIRA, 2003).
Assim, a relação com o outro traz várias possibilidades de direcionamento e pode ter uma
multiplicidade de significados (SIMÃO, 2005). O outro pode ser uma fonte de gratificação ou
frustração; um modelo a ser imitado ou um anti-modelo a ser evitado; avaliado positivamente ou
negativamente (SIMÃO, 2005, p. 566). Para Boesch (1997), portanto, o desenvolvimento afetivo-
cognitivo é assentado sobre a relação empática com o outro. O desenvolvimento das capacidades
dos sujeitos resulta da interação com o outro. Este outro faz parte da interação necessária

1. Doutora em Psicologia pela USP, Professora de Psicologia da Educação e Pesquisa Educacional, Professora e Orientadora de
Mestrado em Desenvolvimento Regional, Coordenadora do Núcleo de Educação e Cultura da Universidade Federal do Amapá
(NEC/UNIFAP).
2. Aluna da Iniciação Científica do NEC e graduanda do curso de Pedagogia da UNIFAP.
3. Bolsista SETEC, NEC/UNIFAP e graduanda do curso de Pedagogia da UNIFAP.
4. Bolsista CNPq, NEC/UNIFAP e graduanda do curso de Pedagogia da UNIFAP.

119
favorecedora da formação de funções interpsíquicas e intrapsíquicas (VYGOTSKY, 2003) que
ocorre dentro de um contexto cultural, campo de ação do sujeito e funciona como regulador da
ação. Portanto, cultura é entendida como o ambiente onde o sujeito age, construindo e
transformando sua subjetividade enquanto interage com os objetos presentes. Este ambiente,
tanto material quanto social, é um campo onde oportunidades e condições para a ação estão
disponíveis, ou seja, um campo de ação (BOESCH, 1991; BOESCH, 1997). De uma forma mais
ampla, a cultura é um complexo de campos de ações, tanto do indivíduo quanto dos grupos a que
pertence. Nesta inter-relação, a cultura, em uma relação dialética, passa a ser construída pela
interação entre os indivíduos, ao mesmo tempo em que os constrói (BOESCH, 1991). Ao agir
cognitiva e emocionalmente, o indivíduo constrói significados que, na dinâmica dos significados
construídos por outros atores, constituirão a cultura (SIMÃO, 2002). Desta forma, ação e cultura
são interdependentes e o outro se constitui como parte do ambiente.
Sob esta ótica, a cultura se configura como um espaço de ação coletiva dotado de objetivos
e significados distintos que oferecem oportunidades e limites para a ação do indivíduo estabelecendo
zonas de tolerância (VALSINER, 1997) que proporcionam o surgimento de diferentes valores
visado e com isto as barreiras (BOESCH, 1991; OLIVEIRA, 2002). É importante notar, ainda,
que o indivíduo usa estes limites para agir sobre a cultura e que, segundo essa lógica, o indivíduo
é, também, construtor da sua cultura (SIMÃO, 2002).Portanto, as ferramentas culturais e a relação
empática do indivíduo com os outros construtores da cultura proporcionam ao sujeito a construção
da sua identidade, da significação que ele faz de si, do outro e da relação que ele estabelece com
o outro (SIMÃO, 2002).
Neste sentido a interação social se configura como fomentadora do desenvolvimento do
raciocínio lógico, graças ao processo de regulação cognitiva e emocional provocado pelo surgimento
dos conflitos. Para Cool (1994) é durante a interação social que a criança aprende a regular os seus
processos cognitivos. A regulação destes processos cognitivos ocorre a partir das indicações e
diretrizes de pessoas mais habilidosas resultando no processo de internalização. Este processo,
que a princípio ocorre com a ajuda dos mais habilidosos (regulações interpsicológicas), transforma-
se progressivamente em algo que pode fazer ou conhecer a si mesmo (regulações intrapsicológicas)
estabelecendo assim uma relação dialógica entre fatores interpsicológicos e intrapsicológicos e
fomentadora da origem social do conflito cognitivo (COLL, 1994).
Estas explicações têm origem no conceito elaborado por Vygotsky sobre a origem dos
processos mentais. Segundo Vygotsky (2003), as funções psicológicas superiores aparecem duas
vezes no curso do desenvolvimento da criança: a primeira nas atividades coletivas e sociais, ou
seja, em forma de funções interpsicológicas e a segunda, nas atividades individuais, em forma de
processos internos inerentes ao pensamento da criança, ou seja, como funções intrapsíquicas.
Assim a interação social estabelece a função de regulação do processo intrapsicológico a partir
das regulações interpsicológicas produzidas pelo conflito sociocognitivo e, desta forma, a interação
social tem fundamental importância para o desenvolvimento intelectual e sócio-afetivo como
também é capaz de fazer com que o sujeito conheça a si mesmo como instaurador de situações de
cooperação e coordenações de operações fundamentais para o desenvolvimento humano

120
Programa Primeiros Projetos

(OLIVEIRA, 2002).
Dentro das interações sociais, a interação verbal tem papel fundamental para o
desenvolvimento das funções psicológicas superiores pois o outro, através da mediação, que ocorre
essencialmente por meio de interações verbais, proporciona ao sujeito o estabelecimento de uma
relação dialógica entre fatores internos e externos provocando mudanças que serão refletidas no
meio (OLIVEIRA, 2002).
Para Simão (2000), a interação verbal, numa perspectiva dialógico–sistêmica, vai além da
sua função imediata de comunicação e troca de informações sobre um conteúdo específico, e se
torna possibilitadora da co-construção não apenas do conhecimento a respeito de um determinado
tema, mas também da significação que, a partir daí, o sujeito faz da realidade, entendida como
versão pessoal, datada e culturalmente contextualizada. Realidade entendida não apenas como o
mundo que o sujeito percebe como exterior a ele, mas também a significação que o sujeito faz de
si, do outro e da relação eu-outro (SIMÃO, 2002). Neste sentido, “falar do papel da interação
social nos processos de construção do conhecimento é, portanto, falar do papel do outro enquanto
representante e concretizador singular, a cada momento, de possibilidades e limites em uma dada
constelação sociocultural” (SIMÃO, 2002, p. 90).
Dependendo do grau de compromisso e reciprocidade entre os interatores, as relações sócio-
culturais estabelecidas durante a interação verbal, podem ser fundamentais para a presença de
conflitos gerados pela atuação do outro que permitem o auto-conhecimento e regulações cognitivas
e emocionais, pois “a interação tem o papel de oportunizar que o sujeito conheça o outro,
objetivando e subjetivando-o, e a partir das diferenças e semelhanças construa a sua própria
identidade” (SIMÃO, 2002, p. 94).
Desta forma a interação parece ser possibilitadora da construção de significações e de
contínuas mudanças que se caracterizam pela presença do outro e pelos conflitos gerados pela
atuação dos sujeitos pois, essa significação caracteriza-se pela representação mental dos objetivos
reais compartilhados pelos grupos sociais. (SIMÃO, 2002).
Configura-se, assim, no diálogo, uma relação de interdependência mútua constitutiva entre
o sujeito, o interlocutor, a experiência esperada, a divergente do esperado e o significado relacional,
em que o papel significativo do interlocutor se dará à medida que eles se colocarem como alteridade
um para o outro: como alguém que dá oportunidade para serem construídas novas margens
(significados) possíveis, pela interação no diálogo (HOLQUIST, apud SIMÃO, 2002, p. 19/20). A
interação verbal abre espaço para a discussão do significado da ação do outro pelo sujeito onde o
outro é, em parte, co-autor das conquistas, fracassos e desenvolvimento do sujeito provocando
reflexão e regulações cognitivas e emocionais (SIMÃO, 2002).
Neste processo interativo, portanto, o sujeito depara-se com barreiras e fronteiras que são
dadas por ações verbais do outro, que podem requerer que o sujeito desenvolva regulações para
ultrapassá-las (BOESCH, 1991; OLIVEIRA, 2002; OLIVEIRA, 2003; SIMÃO 2002). Nesta
perspectiva, ao agir, o sujeito entra em confronto com diferentes visões de mundo criando conflitos
que podem possibilitar o surgimento de barreiras que se configuram como uma área difícil de ser

121
ultrapassada e exigindo ações específicas para a ultrapassagem. E, uma vez ultrapassada a barreira,
a ação pode retomar as características anteriores à ultrapassagem (BOESCH, 1991; OLIVEIRA,
2003). Isto ocorre mediante o confronto de diferentes valores visados, ou seja, mediante o padrão
imaginado ou o valor referência para o atingimento da meta, o que faz com que os sujeitos regulem
suas ações para o valor real que se caracteriza com valor correspondente a meta e que realmente
poderá ser alcançado, o que requer do sujeito regulações para ultrapassá-las instaurando assim o
conflito sociocognitivo (BOESCH, 1991).
Trazendo este enfoque para a situação de interação verbal entre três sujeitos, podemos
supor que, durante o diálogo, cada um busca convencer o outro a aceitar o seu valor visado. Ou
seja, há uma negociação entre diferentes valores visados e, conseqüentemente, de diferentes
desenvolvimentos ontogenéticos a partir da cultura. Os indivíduos da interação se valem de
argumentações e concordâncias, tentando um levar o outro a aceitar seus valores e estabelecendo
seus limites para que a ação realmente siga em frente (SIMÃO, 2000). Os sujeitos agem, assim, no
sentido de interferir cognitivamente e afetivamente no outro, independente do fato de terem
consciência ou não sobre o que estão fazendo (BOESCH, 1991). É essa interferência mútua que
possibilitará mudanças e, conseqüentemente, desenvolvimento cognitivo-afetivo nos interatores.
A interação aluno-aluno está dentre as interações sociais apresentadas por muitos autores
como um meio eficiente de levar à construção do conhecimento, tendo se tornado um importante
foco de interesse dos pesquisadores nas últimas décadas (COLL; COLOMBINA, 1996; FORMAN,
1989; LABORDE, 1996; TUDGE; ROGOFF, 1989; OLIVEIRA, 2002). Fundamentalmente, a
interação aluno-aluno permite que as crianças conversem em nível de igualdade, o que pode
conduzir a interações ricas em ações verbais; bem como conduzir as crianças à autonomia pelo
fato de torná-las responsáveis e autoras das suas decisões. A autonomia tanto propicia uma maior
motivação em busca da construção de conhecimento e possibilita que a criança exerça influência
sobre os colegas, ou seja, que atue como mediadora, papel que antes parecia reservado com
exclusividade ao professor, quanto parece, também, ser muito mais freqüente, intensa e variada
que a interação professor-aluno ou adulto-criança. Além disso, a relação entre iguais e a autonomia
decorrente propiciam uma maior relativização de papéis e visões da situação que as encontradas
na interação adulto-criança, já que os indivíduos conversam em nível de igualdade, estando mais
disponíveis para transmitir e receber informações. A relativização é a capacidade de compreender
como uma situação é vista por outra pessoa e como esta pessoa reage cognitiva e emocionalmente
a tal situação. Assim, a relativização dos pontos de vista é um elemento essencial do
desenvolvimento cognitivo e social e se relaciona com a capacidade de apresentar adequadamente
a informação, a solução construtiva dos conflitos, a disponibilidade para transmitir a informação,
a cooperação e as atitudes positivas para com os demais; além de possibilitar o uso de uma linguagem
comum facilitando o entendimento, bem como a negociação em caso de discordâncias (OLIVEIRA,
2002).
Assim na relação aluno-aluno ou criança-criança, em que os níveis de conhecimento são
similares, a distribuição de poder e/ou conhecimento tende a ser mais simétrica, gerando uma
reciprocidade que pode favorecer a relativização e a construção de conhecimento. Entretanto, em

122
Programa Primeiros Projetos

que pese a pertinência geral destas afirmações, é necessário considerar as relações entre simetria/
assimetria e equilíbrio/desequilíbrio cognitivo como fatores relevantes nos processos de construção
de conhecimento, ou seja, remete-se aqui à questão da relevância do desequilíbrio nos processos
de desenvolvimento. E, ainda mais, é necessário que se considere que estas relações se dão em
contextos sócio-afetivos particulares criados, mantidos e alterados pelos atores, embora não apenas
por eles.(OLIVEIRA, 2002).
Laborde (1996) chama esta forma de desenvolvimento, onde duas crianças interagindo podem
melhorar suas performances, de zona das potencialidades, que é homóloga à zona de
desenvolvimento proximal proposta por Vygotsky (2003). Contudo, na zona das potencialidades,
mesmo que um indivíduo da interação não seja mais experiente que o outro, isto é, em uma
interação onde os indivíduos tenham potencial similar, ocorrerá desenvolvimento. Assim, em
pares com o mesmo potencial cognitivo, o crescimento cognitivo pode ser alcançado pela tentativa
de obter consenso (LABORDE, 1996). Laborde (1996) afirma que:
A colaboração com o outro contribui para a emergência e o desenvolvimento
destas características, devido às explicitações e refutações que o trabalho com
outra pessoa requer: pôr-se de acordo acerca de uma solução comum exige
comunicar ao outro o seu próprio procedimento, eventualmente situá-lo em
relação ao do parceiro, ou até mesmo argumentar contra o projeto do parceiro.
(p. 42).
Segundo Bednarz (1996) as interações sociais ganham espaço dentro da sala de aula entre alunos
e professor, e entre alunos que têm expectativas semelhantes e interpretam as mensagens
transmitidas pelo outro através de um processo de negociação. Assim, estrutura e organização da
interação social são fatores importantes para a construção do conhecimento (BEDNARZ, 1996;
GARNIER, 1996; LABORDE, 1996). Laborde (1996), propõe ainda algumas condições que
devem ser levadas em consideração para ocorrência de uma interação social que resulte em
desenvolvimento cognitivo: escolha dos parceiros (a diferença cognitiva entre os parceiros não
pode ser grande); escolha da tarefa (as tarefas devem requerer uma maior verbalização, portanto
não podem ser estritamente algorítmicas); e duração da interação (o tempo deve ser suficiente
para ocorrerem as concordâncias e discordâncias necessárias durante uma interação, bem como a
familiarização dos parceiros com a situação do trabalho proposto).
Assim, a interação em pares pode ser uma importante forma de ensejar o desenvolvimento
cognitivo, por permitir à criança a restruturação de suas idéias através das trocas verbais. Neste
sentido, considerando que a interação social facilita o desenvolvimento em certas circunstâncias,
tais como o envolvimento conjunto na solução de problemas, Semenov (1978 citado por TUDGE;
ROGOFF, 1989) e Tudge e Rogoff (1989), propõem o trabalho durante a interação de pares
como valioso no entendimento de conceitos. A partir desse pressuposto, Rogoff (1995, 2005)
propõe, por sua vez, o conceito de “participação orientada”, onde os sujeitos passam a negociar
uma estratégia que poderá ser mais econômica e eficiente na solução de um determinado problema.
Este conceito se refere aos processos e sistemas de envolvimento entre pessoas, ou seja, como
elas comunicam e coordenam esforços, enquanto participam em atividades culturalmente válidas,
sendo este processo administrado colaborativamente pelos indivíduos e seus parceiros sociais,

123
face a face, ou em outros tipos de interações. O que a autora sugere é enfocar a atenção sobre o
sistema de engajamento e arranjos interpessoais que estão envolvidos na participação em atividades,
promovendo alguns tipos de envolvimentos e restringindo outros. A “participação” se refere à
observação, assim como ao envolvimento na atividade, enquanto a “orientação” se refere à direção
oferecida pela cultura e valores sociais, assim como pelos pares sociais (ROGOFF, 2005;
ROGOFF, 1995).
Na concepção de Rogoff (1995, 2005) uma pessoa que observa ativamente uma atividade
e segue as decisões tomadas por outras é participante, quer contribua ou não diretamente para as
decisões que estão sendo tomadas. Quanto as aspecto de orientação, crianças, mesmo trabalhando
sozinhas sobre um conteúdo, estão participando em uma atividade culturalmente orientada, que
envolve desde interações com o professor e os colegas de classe, até com os autores e com a
editora, todos ajudando a criança a agrupar ensinamentos e determinando materiais e abordagens
a serem usadas. Assim, orientações ocorrem no plano interpessoal que pressupõem o envolvimento
mútuo dos sujeitos e seus companheiros sociais, comunicando e coordenando seus envolvimentos
à medida que participam na atividade coletiva estruturadas culturalmente, a partir de seu
envolvimento em alguma tarefa os indivíduos transformam seus entendimentos e responsabilidades
para com a atividade através de sua participação, aceitando-os ou rejeitando-os, para chegar a
uma solução de um determinado problema. Na visão de Valsiner (1998) entretanto, a pessoa não
é afetada pelo ambiente cultural de forma passiva, mas de modo ativo, isto é, em condições de
reconstruir as mensagens de acordo com seus valores e crenças. Assim, no discurso, por exemplo,
os participantes estão constantemente renegociando a organização dos campos semânticos dos
termos que usam. Durante a interação, a fala do outro, bem como suas ações, restringem algumas
ações do sujeito, tomando a forma de negociações de limites (VALSINER, 1998).
Em síntese, durante a interação os pares podem aprender pela orientação do parceiro e pela
iniciativa própria em observar, imitar e sugerir. Contudo, segundo Azmitia (1988), pesquisas futuras
deveriam examinar o processo interativo, momento a momento, para permitir destacar quais
processos e sub-processos entre observação, imitação, orientação e discussão são mais eficientes
durante a construção do conhecimento.
Estudos diversos, como os colocados anteriormente, tanto na abordagem piagetiana como
vigotskiana, têm enfatizado que podem ocorrer desenvolvimento cognitivo e afetivo em sujeitos
que necessitem coordenar suas ações ou confrontar seus pontos de vista diante de uma situação-
problema a ser solucionada. A coordenação e o confronto entre ações podem ser maximizados em
situações que requerem a resolução conjunta de problemas, onde cada sujeito traz uma abordagem
cognitivo-afetiva particular a respeito de si, do outro e da natureza da atividade a ser desenvolvida,
além do chamado “conhecimento objetivo” sobre o assunto-problema.
Esta relação de aspectos cognitivos-afetivos no processo de desenvolvimento humano e da
passagem do mundo concreto para o mundo das idéias analisadas em trabalhos com díades abre
uma perspectiva para a discussão da importância da interação verbal das relações afetivas entre
tríades e das ferramentas culturais utilizadas durante as interações sociais para o desenvolvimento
humano. Diante do exposto, o objetivo do presente trabalho foi analisar e compreender o papel do

124
Programa Primeiros Projetos

outro durante a interação verbal entre tríades de alunos com relação afetiva (CRA) e sem relação
afetiva (SRA) na solução de problemas matemáticos a partir de conceitos analíticos de valor
visado, valor real e barreiras. Estes conceitos fazem parte da Teoria da Ação Simbólica de Ernest
Boesch e podem ser definidos como: Valor visado – padrão imaginado ou valor de referência para
o atingimento de uma meta. Valor Real – corresponde à meta que realmente poderá ser alcançada.
Barreira – área difícil de ultrapassar, exigindo ações específicas para ultrapassagem; após a
ultrapassagem da barreira, ação poderá retornar às características anteriores à ultrapassagem.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 Sujeitos participantes da pesquisa:


Participam desta pesquisa 12 alunos da 4ª série do Ensino Fundamental da Escola Estadual Zolito
de Jesus Nunes do município de Macapá-AP, agrupados em tríades.

2.2 Materiais
Os materiais utilizados para a obtenção de informações empíricas foram os seguintes: papel,
lápis, borracha, filmadora, fita para filmadora 8 (oito) milímetros.

2.3 Procedimentos de obtenção de informações empíricas:


Inicialmente visitamos a escola onde foi solicitada autorização para desenvolvimento da
pesquisa. Obtida a concordância da escola, entramos em contato com os professores da 4ª série
do ensino fundamental e conversamos sobre os objetivos do estudo. O objetivo do contato com
os professores foi verificar quais os conteúdos de matemática com que estes alunos tiveram contato.
Num segundo momento, solicitamos à professora que indicasse 12 alunos que pudessem ser
organizados em 2 tríades de alunos com relações de amizade (CRA) e 2 tríades sem relações de
amizade (SRA).
A partir da indicação da professora, os alunos foram conduzidos a uma sala onde foi realizada
entrevista com o intuito de obter informações sobre o vínculo afetivo entre os mesmos. Os alunos
indicavam o nome de cinco colegas com os quais consideravam ter vínculo afetivo e cinco com os
quais não consideravam ter vínculo afetivo; o tempo de amizade entre eles; se gostavam ou
costumavam realizar trabalhos em grupo em sala de aula e com quais colegas e em quais disciplinas
estes trabalhos eram realizados; bem como a indicação da disciplina que mais gostavam e por quê.
As informações obtidas através da entrevista com os alunos e com a professora, apresentaram
fundamentos para a construção das tríades com e sem relação de amizade.
Em dias subseqüentes, os participantes foram encaminhados em tríades a uma sala separada,
para obtenção das informações empíricas em horário diferentes. As interações entre as crianças
foram registradas com o auxílio de uma câmera de vídeo com o consentimento das crianças, da

125
professora e da direção da escola. Cada tríade participou de uma sessão, onde solicitamos que
fossem resolvidos três problemas matemáticos diferentes quanto ao enunciado, mas semelhantes
quanto ao aspecto conceitual. Os problemas matemáticos foram escolhidos baseados nas
informações dadas pela professora sobre o conteúdo programático já ministrado, portanto em
conteúdos que deveriam ser de domínio dos alunos. Durante a sessão, solicitávamos as tríades de
alunos que tentassem solucionar os problemas matemáticos sempre verbalizando para os outros
interatores da tríade as dúvidas, as estratégias e as metas utilizadas no decorrer da resolução dos
problemas. Após essas explicações, entregávamos à tríade o papel com os problemas a serem
solucionados por escrito, colocando lápis e papel à disposição dos mesmos. Era disponibilizado
uma única folha com o problema a ser resolvido e um único lápis. O objetivo era dispor de condições
que pudessem forçar a realização conjunta dos problemas. . Após a finalização do trabalho, as
fitas foram transcritas e analisadas segundo o método microgenético. Os critérios para análise
foram utilizados sempre comparando o processo de negociação em tríades com e sem relação
afetiva.
Para identificação dos participantes, utilizamos os termos T1 para o participante mais
habilidoso, T2 para o segundo participante mais habilidoso e T3 para o participante menos
habilidoso, assim como para a identificação das tríades foram utilizadas as seguintes siglas: para as
tríades com relação de amizade a sigla utilizada foi CRA e para as tríades sem relação de amizade
a identificação foi SRA.

3 RESULTADOS

Para analisarmos os dados, utilizamos o método microgenético que segundo Siegler e Crowley
(apud OLIVEIRA, 2002) apresenta as seguintes características:
(a) Observações que se estendem pelo período inteiro da mudança ao tempo no
qual se obtém um estado relativamente estável; (b) Alta densidade de observações
relativamente a taxa de mudança do fenômeno; (c) Comportamento observado
submetido a intensa análise, tentativa por tentativa, com o objetivo de inferir os
processos que dão origem aos aspectos quantitativos e qualitativos da mudança
(p. 41).
A importância deste método para o nosso trabalho se fundamenta no fato de permitir um estudo
de todo o processo interativo e não apenas da análise final da interação, permitindo ao pesquisador
a verificação mais detalhada das estratégias, regulações de diferentes valores visados e o surgimento
de barreiras durante a resolução dos problemas possibilitando uma análise que revele as formas
pelas quais o sujeitos negociam seu diferentes valores visados.
Esta perspectiva de análise parte do pressuposto de que, ao resolverem problemas os sujeitos
tentavam coordenar seus espaços de ação individuais, criando um campo de ação. Durante a
resolução de problemas matemáticos, a interação possibilitou, provavelmente, a construção do
conflito sócio-cognitivo o que pode ter ensejado maior intersubjetividade. Isto ocorreu porque ao
colocar o sujeito em confronto com diferentes visões de mundo surgiram conflitos que

126
Programa Primeiros Projetos

possibilitaram maior coordenação e cooperação com o outro, e construção de novos significados


que dirigiram futuras ações (SIMÃO, 2002).
Durante a ação, o indivíduo buscou estabelecer uma relação dialógica entre fatores internos
e externos para construir uma intenção ao equilibrar, coordenar e ajustar entre si, diferentes valores
visados para a construção de metas em comum e planejar a ação na tentativa de atingir a meta
selecionada (OLIVEIRA, 2002). Neste sentido, o objetivo da ação comunicativa foi compartilhar
com o outro a mesma visão sobre o assunto em questão, de modo que as ações do sujeito sejam
aprovadas. Na tríade CRA os sujeitos definiram seus valores de acordo com a importância que
atribuíram aos outros membros da tríade.
Para ilustrar, apresentaremos trechos dos processos interativos, a partir dos quais explicaremos
nossa análise.
Tríade 2 CRA:
T1, T2: 3+6+1.
T1 diz para T2: faz três na mão
T2 mostra 3 nos dedos para T1
T1 diz para T3: Faz 3 eu faço 1
T2: Para T3: faz 6
T1 aponta para mão de T3 e diz: 6+ (contando nos dedos de T2) 7,8,9, (e aponta para a sua mão), 10
T2: (acrescenta mais três números com a mão e continua a contar) 11, 12, 13. (E diz) não é mais 1 é 11.
T1 para T2: não, R... presta atenção, conta aqui ó, (apontando para a mão de T3) 1, 2, 3, 4, 5, 6 (e conta na
mão de T2) 7, 8, 9, (e mostra 1 na mão) 10.
T2: tá!
T1: (escreve no papel)
T2: 0 sobe o 1
T3: (aponta para o papel) tá errado
T1: (interrompe T3) não essa daqui sobe o 1 (apontando para o papel) fica o 0 sobe o 1 entendeu? (olhando para
T3) entendeu?
T3: Ah! Eu não tinha prestado atenção.

Do trecho acima, pode-se compreender que o objetivo de T1 não era apenas resolver o
problema corretamente, mas também colocar T2 e T3 em condições de resolver conjuntamente
possibilitando a participação de todos os membros da tríade na interação. Com esta ação, T1
ultrapassava as barreiras dispostas por T2 e T3, quando os mesmos colocavam em dúvida a
resolução proposta por T1 . Neste momento T2 e T3 apresentavam formas de pensar distintas de
T1 criando assim a barreira, e, para superar esta barreira, T1 tinha que interromper e explicar sua
ação convencendo T2 e T3 que a estratégia utilizada estava correta para continuar a resolução do
problema. Assim, diante destas barreiras, T1 tinha que fazer a regulação explicitando aspectos
intrasubjetivos que proporcionaram a T2 e T3 entrar em contato com o conhecimento que T1
tinha sobre a resolução do problema.

127
T2: essa é de menos ou de mais (apontando para o papel)
T1: vamos ler de novo
T1, T2, T3: Sérgio faz pipas ...
T3: é de mais
T1: não é de menos
T2 e T3: como?
T1: (aponta para o papel) olha tá aqui no problema ele tem entrega 2478 no estoque quantas faltam para 837
T2: é mesmo a gente faz de menos e depois de mais pra...
T3: de mais
T2: é pra ver se tá certo
T1: Entendeu? (para T3)
T3: ah, tá

Neste momento interativo T1, T2 e T3 ao dialogarem sobre o problema buscam influenciar-


se mutuamente com o intuito de coordenar suas ações para atingir um valor visado. Isto se configura
à medida que os interatores verbalizam o seu raciocínio. Destacamos também que na medida em
que T1 verbalizava a estratégia a ser utilizada para a resolução do problema, a qual não foi
compreendida por T2 e T3, isto se configurava como uma barreira. T1 buscou assim explicar o
raciocínio que estava utilizando na resolução ao mesmo tempo em que T2 completava o raciocínio
de T1 propondo uma estratégia para verificar se a resolução estava correta. No ensino formal este
conceito é denominado de prova real. Nesta perspectiva, como afirma Vygotsky (2003) a
participação dos meninos e das meninas nas atividades culturais, em que compartilham com os
colegas mais capazes os conhecimentos e instrumentos desenvolvidos por sua cultura, permite
que interiorizem os instrumentos necessários para pensar e atuar.
Em síntese, nesta tríade as estratégias de resolução eram discutidas coletivamente, pois, os
interatores da tríade não estavam preocupados apenas em solucionar o problema, mas também
em colocar o outro em condições de resolver e compreender a resolução do mesmo. Esta ação
possibilitou maior intersubjetividade entre os atores ao confrontar diferentes visões de mundo,
possibilitando maior coordenação e cooperação com o outro, e construção de novos significados
que poderão dirigir futuras ações.
A análise demonstra que na tríade 2 com relação de amizade prevaleceu o método cooperativo.
A tríade se envolveu na resolução conjunta dos problemas coordenando e regulando suas ações
evidenciando, ao longo do processo, que os sujeitos pareciam estar comprometidos tanto em
atingir o valor visado quanto em superar barreiras e colocar os outros em condições de resolver
juntos os problemas.
Tríade 1 CRA:
Nesta tríade se estabeleceu uma relação de cooperação entre díades, ou seja, o terceiro
sujeito da tríade foi excluído. Este fato está possivelmente relacionado ao fato de T1 e T2 possuírem
uma relação afetiva que se estabeleceu no pré-escolar e perdurou até o presente momento. Esta

128
Programa Primeiros Projetos

relação ensejava maior intersubjetividade, fazendo com que ambos coordenassem suas ações com
o intuito de construir metas e objetivos em comum. Neste sentido, pode-se inferir que a construção
de metas é de ordem subjetiva-afetiva onde na interação eu-outro, o outro é visto como figura
afetivo-cognitiva que nutre, a cada momento, diferentes expectativas (SIMÃO, 2002).
T1para T2: nós temos que ler de novo, a gente se enrolou um pouco
T2: olha só A ... (para T1) eu acho que soma esse aqui com esse (aponta para o papel)
T3: (aponta para o papel) essa aqui é de vezes.
T1 e T2 - (não dá atenção para T3)
T1: vou fazer tipo uma linha para dividir as contas (olhando para T2)
T3: (se afasta da mesa) é de vezes, mais não

Com a exclusão de T3, a intervenção de T2 funcionava como facilitadora quando tentava


construir junto com T1 estratégias para a resolução do problema ou como barreira para o
atingimento de valores visados quando não concordava com a metodologia de resolução proposta
pelo outro. T1, nesta relação, se sente comprometido em resolver o problema e obter a concordância
de T2, por isso o coloca em condições de participar da resolução. Desta forma podemos inferir
que os aspectos afetivos direcionavam a coordenação de metas comuns reiterando a relação
intrapessoal e a intersubjetividade, enquanto um tenta influenciar o outro para atingir seus objetivos.
Tríade 1 SRA:
T1, T2 e T3 (olham para ao papel).
T 3: (pega o lápis da mão de T2 e puxa o papel para ele)
T3: (tenta resolver sozinho)
T3 (olha pensativo para o papel, ri e entrega o lápis empurrando o papel para T2 que estava ao seu lado)
dizendo: eu não sei.
T2: Ah! (pega o lápis e tenta resolver sozinha).
T1: (puxa o papel para mais próximo dela)
T1: Pega no papel e vira para visualizar melhor.
T1: (puxa o papel e pega o lápis e tenta resolver sozinha).
T1: (diz para T2 e T3) é de dividir
T2: não, acho que é de mais

Nesta tríade, os sujeitos tiveram como meta resolver os problemas individualmente, tentando
afirmar seu potencial de ação. Ao perceber a distância entre o valor visado e valor real e que a
meta, proposta inicialmente, não seria alcançada, T1 solicitava a participação de T2 e T3. Esta
ação de T1 fez com que se iniciasse uma tímida interação, o que prevaleceu durante todo o
processo. É interessante analisarmos também que a interação verbal foi muito restrita e aborda
apenas aspectos relacionados ao problema.
No momento em que os sujeitos perceberam que não conseguiriam solucionar os problemas
individualmente, a meta se alterou, pois o esforço para atingir a meta diminuiu de valor e sofreu

129
adaptações ao buscar reduzir a distância entre valor visado e real. Desta forma o surgimento de
barreiras fez com que os sujeitos criassem estratégia para alcançar o valor mais próximo do visado
resultando em novas ações.
Tríade 2 SRA:
T1: (Puxa o lápis de T2 e resolve o problema sozinha)
T2 e T3: (fazem careta para a câmera)
T1: (olha para T2)
T2: tá bom ( apaga algo no papel e entrega para T2) já resolvi
T2: olha para o papel
T3: (aponta para o papel e diz para T1) tu falou que esse aqui já estava resolvido
T1: nem uma tarefa resolvi aqui
T2: resolvi sozinho
T3: (olha para ver o que T2 está fazendo, conta no dedo, pega o lápis da mão de T2 e escreve no papel)
T1 e T2: olham o que T3 escreve
T2 para T3: tá bom
T1: (olhando para o papel) Ah, meu Deus! Palitos!
T3: 6 x 6 (conta os palitos)
T3 (continua contando os palitos)
T2: (escreve na mesa)
T2: termina de escrever e tenta pegar o lápis de T3 mas T3 não entrega)
T1 (aborrecida) já terminou

Na T2 SRA os sujeitos procuraram resolver o problema de forma competitiva, sempre


impedindo a participação do outro no processo e sem estabelecer a heteroregulação o que nos
permite inferir que os participantes tinham como valor visado afirmar o seu potencial de ação
através da resolução dos problemas. Podemos inferir que a afetividade significava maior
coordenação social entre os parceiros e, conseqüentemente, direcionamento para objetivos comuns.
Neste sentido, o afeto é de fundamental importância para a aprendizagem e para o desenvolvimento
cognitivo, pois a imagem que a criança tem de si e do outro, assim como o grau de confiança que
deposita em si e no parceiro, interfere no processo de construção de conhecimentos. É durante
estas regulações e coordenações de diferentes valores visado que se configura a origem social da
cognição (COLL, 1994), processos fundamentais para o desenvolvimento humano.

4 DISCUSSÃO

O presente trabalho buscou analisar e compreender o papel do outro durante a interação


verbal entre tríades de alunos com e sem relação de amizade, em contextos interativos, a partir de
conceitos analíticos de valor visado, valor real, barreira e potencial de ação abordados na teoria de
ação simbólica de Ernst Boesch, a qual “apóia-se fundamentalmente na tríade sujeito (indivíduo)-

130
Programa Primeiros Projetos

cultura-ação (BOESCH, 1991, 2001; SIMÃO, 1998, 1999, 2001), onde a ação que ocorre sobre
os objetos lhes confere seu caráter simbólico, já que é a ação de um sujeito simbolizador” (BOESCH
apud SIMÃO 2002, p.87).
Assim, as relações em tríades aqui estudadas, se caracterizaram como interações constituídas
por um conjunto complexo de variadas formas de atuação entre os sujeitos, ou seja, o agir estava
intimamente relacionado com a atuação do outro e com o vínculo afetivo entre eles, o que
determinou a ação seguinte. Esta perspectiva coloca-se no marco conceitual da biodirecionalidade
do processo de socialização (VALSINER, 1998; WERTSCH, 1993), segundo o qual cada ator em
interação transforma ativamente as mensagens comunicativas recebidas do outro, tentando integrá-
las em sua base cognitiva e emocional que podem, por sua vez, sofrer transformações nesse processo
(SIMÃO, 2002, p. 86).
Nas tríades com relação de amizade identificamos não apenas comentários sobre a atividade
desenvolvida, mas também o esclarecimento de dúvidas e a atenção dada à ação do outro pelo
sujeito no momento em que a ação de um se torna barreira para a atuação do outro nesta perspectiva.
Assim, “falar do papel da interação social nos processos de construção de conhecimento é, portanto,
falar do papel do outro enquanto representante e concretizado singular, a cada momento, de
possibilidades e limites em uma dada constelação sociocultural” (SIMÃO, 2002 p. 90).
É importante destacarmos que nas tríades com relação de amizade a verbalização das ações
foi maior, o que demonstra a segurança que se caracteriza pela influência positiva do relacionamento
entre os interatores, no processo da mediação. Em síntese, nas tríades com relação de amizade,
observou-se que a interpretação da ação do outro pelos membros da tríade estava centrada na
relação afetiva estabelecida entre os interatores. Através desta análise foi possível verificar como
os sujeitos das tríades com relação de amizade se sentem diante da ação do outro e mediante a
isto, como coordenam e regulam suas ações na tentativa de diminuir a distância entre valor visado
e valor real. Além disso, durante as análises realizadas, evidenciou-se que havia uma preocupação
em coordenar diferentes valores visados com o intuito de construir metas e objetivos em comum.
Desta forma, a relação afetiva estabelecida durante a mediação constitui-se como fator fundamental
para determinar a relação entre os interatores.
É importante afirmar que a inter-relação entre os diferentes valores visados dos sujeitos
com mais e menos habilidades sobre o tema abordado, enseja maior coordenação, pois, a interação
de crianças mais ou menos habilidosas é fundamental para o desenvolvimento como também para
a construção de uma identidade positiva na medida em que os sujeitos desempenham o papel de
mediador na construção do conhecimento.
A relação com o outro traz várias direções e pode ter uma multiplicidade de significados. O
outro pode ser uma fonte de gratificação ou frustração; um modelo a ser imitado ou um anti-
modelo a ser evitado; avaliado positivamente ou negativamente (SIMÃO, 2005). Nesta perspectiva
a interação verbal transcende a sua função mediada de comunicação e troca de informações sobre
um determinado assunto, para se tornar possibilitadora da co-construção não apenas de
conhecimento, mas da compreensão que o sujeito constrói da realidade e também da significação

131
que o sujeito faz de si e da sua relação com o outro. A partir desta relação dialógica a sua identidade
é construída através da passagem do nível interpsicológico para o intrapsicológico, envolvendo
relações densas medidas cognitiva e afetivamente.
Partindo deste pressuposto, definimos a afetividade como fonte de conhecimento que está
intimamente vinculado ao ambiente cultural/social. Esta relação se mostra claramente nas tríades
que tinham relação de amizade, pois, o tempo da interação era maior, o que possibilitou maior
auto e heteroregulação com a superação de barreiras ensejando maior intersubjetividade.
No entanto, há duas situações que devemos destacar entre as duas tríades com relação de
amizade. Primeiro, em uma das tríades ouve a exclusão de T3 (menos habilidoso). Esta exclusão
estava, possivelmente, relacionada a menor afetividade, haja vista que T1 (mais habilidoso) e T2
(menos habilidoso) possuíam vínculo de amizade desde a pré-escola, portanto maior tempo de
amizade, o que permite inferir que as relações afetivas são fundamentais para a construção do
conhecimento. Numa interação entre pessoas, onde o afeto está presente, a relação intersubejtiva
tende a ser mais intensa, adquirindo novas formas de manifestações como toque, olhares e outros
gestos e falas. Nesta tríade tanto T1 (mais habilidoso) como T2 dirigiam suas ações para atingir o
valor visado e a intervenção de T2 funcionava como facilitadora ou como barreira para o
atingimento de valores visados. Por outro lado, quando T3 se tornava barreira, T1 e T2 sugeriam
que a mesma resolvesse o problema sozinha. Desta forma os aspectos afetivos direcionavam a
coordenação de metas comuns reiterando a relação intrapessoal e a intersubjetividade, enquanto
um tenta influenciar o outro para atingir seus objetivos. Assim, pode-se inferir que a construção
de metas é de ordem subjetiva-afetiva, estando a afetividade presente em todos os momentos da
interação, não se restringindo apenas as decisões e escolha de metas onde o outro apresenta inúmeras
situações com implicações afetivas para o outro.(SIMÃO, 2005; OLIVEIRA, 2002).
Neste sentido, analisar aspectos da afetividade para a interação significa analisar condições
oferecidas para que se estabeleça um vínculo entre os sujeitos, ou seja, discutir efetivamente, a
própria relação eu-outro em um de seus aspectos essenciais: o caráter afetivo das experiências
vivenciadas na relação eu-outro que pode se caracterizar como prazerosa ou aversiva.
Portanto a aprendizagem é um processo dinâmico, onde a ação do outro é fundamental para
o desenvolvimento do sujeito, pois, essa ação é sempre mediada por elementos culturais construídos
a partir do conflito sócio-cognitivo, o que nos permite inferir que a qualidade da mediação determina,
em grande parte, a qualidade da relação sujeito e construção do conhecimento. Assim, a interação
parece ser possibilitadora de significados e de contínuas mudanças que se caracterizam pela presença
do outro e pelos conflitos gerados pela atuação dos sujeitos.
É interessante destacarmos que a interação verbal se produz a partir de uma coordenação
cognitiva cujos efeitos se manifestam posteriormente nas produções individuais e na formação da
identidade do sujeito caracterizando o desenvolvimento humano a partir da interação social. Neste
contexto, a relação estabelecida entre tríades de crianças com e sem relação de amizade em
ambientes interativos evidencia que a interação verbal pode ser uma via para a construção de
processos cognitivos e de desenvolvimento. Ao destacarmos estes aspectos, pretendemos neste

132
Programa Primeiros Projetos

trabalho abrir a discussão sobre o papel do aspecto afetivo em ambientes interativos no qual se
estabelece o conflito sócio-cognitivo em termos da cognição, emoção e da afetividade da relações
em tríades de crianças. Neste contexto a interação parece ser possibilitadora de significados e de
contínuas mudanças que se caracterizam pela presença do outro e pelos conflitos gerados pela
atuação dos sujeitos.

5 CONCLUSÃO

A afetividade, neste estudo, significou maior coordenação social entre os parceiros e,


conseqüentemente, direcionamento para objetivos comuns. Podemos inferir que o afeto é
importante na aprendizagem e no desenvolvimento cognitivo, pois a imagem que a criança tem de
si e do outro, assim como o grau de confiança que deposita em si e no parceiro, interferem no
processo de construção de conhecimento. O outro, possivelmente, desempenhou o papel, durante
a interação verbal, de suporte emocional. Os aspectos afetivos estabelecidos nesta interação entre
as tríades, se configuraram em aspectos essenciais para a relação eu-outro na medida em que
permitiram coordenação de valores visados, surgimento de barreiras, construção de metas, definição
de objetivos comuns e a formação da identidade dos sujeitos.
Desta forma os aspectos afetivos, independentemente de serem caracterizados como
prazerosos ou aversivos, proporcionaram aos sujeitos, a oportunidade de analisar as condições
oferecidas para que regulassem e coordenassem suas ações na busca da construção de metas e
objetivos em comum. Os resultados aqui encontrados são fundamentais para compreendermos os
meios pelos quais em ambientes interativos como a sala de aula os indivíduos regulam suas ações
na busca de atingir uma meta e como os aspectos afetivos interferem neste processo.
Sob esta perspectiva, a aprendizagem é entendida como um processo dinâmico que ocorre
através da ação do sujeito e que é sempre mediada por elementos culturais construídos a partir do
conflito sócio-cognitivo. A aprendizagem é, portanto, semiótica, e a qualidade da mediação
determina, em grande parte, a relação entre sujeito e construção do conhecimento. Esta relação
foi percebida nas interações triádicas, pois à medida que a intensidade da relação afetiva aumentava
os participantes se mostravam mais motivados e estimulados para esclarecer os questionamentos
dos outros e vice-versa.
Deste modo, os resultados apresentados neste trabalho evidenciam que a relação estabelecida
entre tríades de crianças, com e sem relação de amizade em ambientes interativos, pode se configurar
na forma de ambientes sócio-cognitivos conflitantes de diferentes valores visados que requerem
regulações e coordenações contínuas entre os interatores. Assim, a interação verbal se configura
como uma via para a construção de processos de aprendizagem e desenvolvimento. Contudo,
deve ser ressaltado que, para esse processo efetivamente resultar em construção do conhecimento
é necessário que haja uma reduzida distância entre as habilidades conceituais dos interatores e
que ocorra uma intensa freqüência de interação.

133
A idéia de desenvolvimento humano, sob esta ótica, aparece como resultante da construção
conjunta, onde a intervenção de uma criança sobre a outra é uma das formas de promover mudanças
e transformações. O conhecimento disponibilizado pelo outro é pessoal mas a construção e
internalização ocorem a partir da participação conjunta em tarefas oportunizadas pelo outro. Daí
a importância da interação verbal no contexto da sala de aula, pois oportuniza ao outro o acesso
à subjetividade que na sua origem é social. Assim, é no processo interativo e, portanto, nas
relações sociais com a disponibilização de aspectos intrasubjetivos, que se origina o conhecimento.
Na interação é necessário também que aspectos afetivos-emocionais como confiança no
outro e auto-confiança estejam presentes, pois na medida em que estão envolvidos em uma relação,
a aceitação de valores visados do outro pode ocorrer mais facilmente (OLIVEIRA, 2002). Desta
forma a interação verbal desempenha papel tanto no desenvolvimento cognitivo-racional quanto
no afetivo-emocional.
A escola precisa estar atenta a estes aspectos e trabalhar no sentido de valorizar a educação
enquanto um processo de construção conjunta, oportunizando aos seus alunos a interação verbal
como forma de permitir avanços que não ocorreriam individualmente. Contudo, ao empregar os
processos interativos na promoção da aprendizagem, é necessário que se perceba que eles não se
limitam a relação entre professores e alunos. Nesse sentido é importante ressaltar o papel da
interação entre coetâneos porque na medida em que os alunos interagem com seus pares lhes é
oportunizada a ocorrência de conversas em nível de igualdade. Coll e Colombina (1996) têm
defendido que quando alunos apresentam problemas de aprendizagem a interação entre eles pode
ser de extrema significância. O processo interativo aluno-aluno pode permitir ultrapassar os
problemas porque os coetâneos têm mais facilidade de entender a linguagem e o repertório do
outro colega pois são similares. Assim, um aluno mais habilidoso pode exercer uma estruturação
de participação mais ampla sobre seus pares desempenhando o papel de mediador que,
anteriormente, era reservado única e exclusivamente aos professores (OLIVEIRA, 2002).
Este tipo de abordagem pode ter forte influência sobre o sistema educacional. Faz-se
necessário, portanto, destacar que a escola deve, ao realizar seu planejamento educacional,
considerar o aluno enquanto um ser interativo, dentro de uma concepção monista, onde cognição
e afeto se fundem como se fossem únicos. Em nossos estudos, durante a interação entre as
tríades, a construção da solução do problema dependeu da cognição, emoção e afetividade. Nas
tríades onde existia amizade as interações eram mais intensas, surgiam mais barreiras e podemos
verificar que durante o diálogo, cada um buscou convencer o outro a aceitar o seu valor visado
buscando a heteroregulação e também fazendo a auto-regulação durante situações de conflito. A
elaboração de metas, sub-metas e a busca de estratégias durante a resolução de problemas em
tríades, visando atingir o objetivo final, ensejou um processo de construção do conhecimento
através de ações verbais. Desta forma na interação entre tríades ocorre uma negociação entre
diferentes valores visados e, conseqüentemente, de diferentes desenvolvimentos ontogenéticos a
partir da cultura.
Diferentemente da situação entre díades, a interação entre tríades apresenta o quadro de
maior conflito sócio-cognitivo à medida que são três valores visados diferentes. Nesse caso, o

134
Programa Primeiros Projetos

processo de negociação é mais demorado possibilitando maior interação verbal e,


conseqüentemente, mais possibilidade de construção do conhecimento. Assim, os resultados
obtidos neste estudo possibilitaram compreender que a tríade trabalha numa dinâmica intersubjetiva
mais complexa que a díade, desde que exista uma relação de amizade entre os atores, e que,
portanto, poderá se constituir como um modelo adequado para o estudo da compreensão do
desenvolvimento humano.
Na tríade com relação de amizade, cada sujeito desempenhou papel de mediador na
construção de conhecimento pelo outro, já que sua ação auxiliava no processo de construção de
conhecimento, que representa aqui um dos aspectos do desenvolvimento humano. Especificamente
alguns fatores, como o reduzido distanciamento entre o desenvolvimento cognitivo dos interatores,
a confiança no potencial de ação do outro e no de si mesmo, a empatia e a história de relacionamento
entre as crianças, bem como o tipo de questionamento que um fazia para o outro, interferiram
claramente na intensidade da interação durante a resolução das tarefas, indicando sua importância
no processo de desenvolvimento.
Este trabalho analisou a importância da interação verbal como promotora de avanços no
desenvolvimento dos sujeitos, os quais provavelmente não ocorreriam na ausência da intervenção
interativa. Analisar a interação verbal entre tríades na construção do conhecimento significa buscar
as condições concretas pelos quais se estabelecem os vínculos entre o sujeito e o objeto do
conhecimento compreendendo que estão envolvidos aspectos cognitivos e afetivos. A natureza
afetiva da experiência envolve prazer ou aversão nesta interação e depende, portanto, da qualidade
da mediação vivenciada pela criança. É durante a interação, e em razão da experiência afetiva,
que ocorre a ultrapassagem dos limites ou barreiras que permitem ao sujeito criar novos campos
de ação e, conseqüentemente, o desenvolvimento cognitivo e afetivo. Ou seja, o desenvolvimento
ocorre porque o sujeito insere em sua área objetos que lhe eram acessíveis mas que ele ainda não
tinha apreendido, ampliando seu campo de ação.
Portanto, na medida em que a análise desvelava o fenômeno, aos educadores era ressaltada
a importância dos processos interativos e afetivos como possibilitadores de alargamento da zona
de desenvolvimento potencial, posto a ocorrência da ultrapassagem de limites que em situações
individuais seriam intangíveis aos alunos.
Em síntese, esta pesquisa evidenciou que, considerados alguns aspectos que interferem na
interação entre crianças com e sem relação de amizade, a tríade pode ser descrita como um ambiente
ideal para o desenvolvimento. Isto porque, em tríades coetâneas, as crianças admitem
espontaneamente que não entenderam, oferecendo ao outro a oportunidade de explicar o modo
de resolução do problema, e, portanto, de demonstrar o seu nível de entendimento. Outro fator
importante refere-se ao fato do sujeito receber feedback imediato sobre suas ações, o que dificilmente
ocorreria na relação com a professora. A linguagem que as crianças utilizam para falar entre si, por
sua vez, proporciona um maior entendimento inclusive quanto às dificuldades experimentadas. A
linguagem permeia todo o processo relacional, de modo que as interações verbais podem ser
vistas, portanto, como formas eficientes e necessárias para a ocorrência da construção dos
processos cognitivos intra-individuais.

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Harvard University Press, 1993.

137
138
Programa Primeiros Projetos

CAPÍTULO 6

COMUNIDADE DE INSETOS EM SISTEMA


AGROFLORESTAL DE VÁRZEA EM MAZAGÃO, AP
Ricardo Adaime da Silva1
Cristiane Ramos de Jesus2
Lúcia Massutti de Almeida3
Iane Celice Pantoja dos Santos4
Hendrio Rian Lacerda4
Cláudio Henrique Sá da Cruz4
Angélica Sousa Lobato4
José Madson de Freitas Gama5

1 INTRODUÇÃO

O Estado do Amapá, integrante da Amazônia Legal, mantém praticamente intacta as suas


áreas cobertas com florestas nativas. No entanto, as áreas de várzea do Estuário Amazônico vêm
sofrendo intensa pressão antrópica, o que pode colocar em risco a sustentabilidade desse importante
ecossistema. Muito embora a várzea seja considerada um ecossistema rico, do ponto de vista
ambiental pode ser considerada frágil, pois seus solos margeiam os rios, igarapés e lagos, sob
florestas alagadas ou campos inundáveis. A utilização irracional desse ecossistema pode resultar
em sérios danos ao meio ambiente (FORTINI et al., 2006).
Historicamente, a economia da região de várzea tem sido baseada no extrativismo vegetal
(madeira, borracha, palmito e frutos) e animal (pesca). A agricultura praticada pelas populações
ribeirinhas é meramente de subsistência, com a derrubada e queima da floresta, cultivo por dois
ou três anos e posterior abandono da área, devido principalmente à grande ocorrência de plantas
invasoras e redução da fertilidade do solo. Este sistema de exploração não tem contribuído para a
melhoria do nível de vida do produtor rural, além de causar prejuízos ao meio ambiente. A
implantação de sistemas produtivos que sejam viáveis, tanto do ponto de vista econômico quanto
ecológico, é uma alternativa a ser buscada para a utilização racional destes ecossistemas
(MOCHIUTTI; QUEIROZ, 2002; KOURI; GAZEL FILHO, 2003).
Para os ecossistemas de várzeas do estuário do Rio Amazonas pode ser indicada a implantação
dos Sistemas Agroflorestais, que são considerados uma opção viável e sustentável para a recuperação

1. Engenheiro Agrônomo, Dr. Entomologia, Pesquisador da Embrapa Amapá. Professor do Curso de Mestrado Integrado em
Desenvolvimento Regional e do Programa de Pós-graduação em Biodiversidade Tropical.
2. Bióloga , Dra. Entomologia, Bolsista DCR CNPq/SETEC/Embrapa Amapá.
3. Bióloga, Dra. Entomologia, Professora da Universidade Federal do Paraná.
4. Graduando(a) em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Amapá, Estagiário(a).
5. Tecnólogo em Gestão Ambiental do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá.

139
e utilização contínua de áreas desmatadas, pois criam um ambiente com características ecológicas
semelhantes aos ecossistemas originais, nos quais há um aproveitamento mais intensivo de recursos
como água, radiação solar e nutrientes do solo, pela decomposição da folhagem. Além disso,
requerem a utilização de poucos insumos e provocam menos danos ao ambiente (MOCHIUTTI;
QUEIROZ, 2002; KOURI; GAZEL FILHO, 2003).
Os insetos constituem o grupo animal mais numeroso e diverso da natureza. São considerados
adequados para estudos de avaliação de impacto ambiental e qualidade dos ecossistemas, pois
apresentam diversidade de espécies e habitats, habilidade de dispersão, capacidade de seleção de
hospedeiros e de respostas rápidas à qualidade e quantidade de recursos disponíveis. Além disso,
apresentam densidades populacionais elevadas e sua dinâmica é extremamente influenciada pela
heterogeneidade do habitat. Apresentam, também, importante papel no funcionamento dos
ecossistemas, atuando como predadores, parasitos, fitófagos, saprófagos, polinizadores, entre outros
(THOMAZINI; THOMAZINI, 2000). Assim, o conhecimento da diversidade de insetos,
principalmente aqueles associados às culturas agrícolas, é fundamental para estudos ecológicos e
de manejo destas espécies (SILVA; CARVALHO, 2000).
Este trabalho teve como objetivo estudar a comunidade de insetos associados às plantas de
um Sistema Agroflorestal, em uma área de várzea, no município de Mazagão, Estado do Amapá.

2 MATERIAL E MÉTODOS

A área experimental fica localizada na Ilha das Barreiras (00005’12,3’’ S e 51018’03,1’’ W),
município de Mazagão, no sul do Estado do Amapá (Figura 1). As coletas de insetos foram realizadas
em um Sistema Agroflorestal cuja área acompanha longitudinalmente o furo do Mazagão.

Figura 1 - Localização da área de estudo em Mazagão, AP.

140
Programa Primeiros Projetos

O Sistema Agroflorestal, que ocupa uma área de 2 ha, foi implantado há 10 anos, sendo
composto por aproximadamente 800 plantas de cupuaçuzeiro (Theobroma grandiflorum), 400 plantas
de açaizeiro (Euterpe oleracea), 200 plantas de cacaueiro (Theobroma cacao) e cerca de 30 touceiras
de bananeira (Musa sp.). Outras espécies, como goiabeira (Psidium guajava), mangueira (Mangifera
indica) e taperebazeiro (Spondias mombin) nasceram espontaneamente e foram preservadas (Figura
2). A área, de janeiro a maio, está sujeita a inundações diárias.

Foto: Cristiane Ramos de Jesus


Figura 2 - Sistema Agroflorestal de várzea em Mazagão, AP.

Para avaliar a estrutura da comunidade de insetos existentes na área experimental, no período


de janeiro a dezembro de 2005, foram utilizados três métodos de coleta: armadilha Malaise, batida
nas plantas de cupuaçu e rede de varredura.
Armadilha Malaise: foram realizadas coletas mensais, durante 12 meses, sendo a armadilha
instalada no centro da área experimental (Figura 3A), permanecendo no local por 5 dias
consecutivos.
Batida nas plantas de cupuaçu: o método consistiu em estender uma tela de nylon com 4
m de comprimento, sob a copa das plantas de cupuaçu (Figura 3B). Os ramos com projeção sobre
a tela, foram sacudidos vigorosamente durante 5 segundos e os insetos obtidos foram rapidamente
retirados da tela e acondicionados em frascos. Foi realizada uma coleta por mês, durante 12 meses,
em 10 plantas tomadas ao acaso.
Rede de varredura: foi realizada uma coleta por mês, no período da manhã, durante os
meses de verão no Amapá (julho a dezembro). Cada coleta foi constituída por 200 golpes de rede,
subdivididos em 20 golpes em 10 transectos.

141
Foto: Ricardo Adaime da Silva
A B
Figura 3 - Métodos de coleta de insetos em Sistema Agroflorestal de várzea, em Mazagão, AP. (A) armadilha Malaise; (B)
batida nas plantas de cupuaçu.

Os insetos coletados foram acondicionados em frascos de plástico contendo álcool a 70%,


devidamente etiquetados e levados ao Laboratório de Entomologia da Embrapa Amapá. Em
laboratório, foram triados em nível de ordem e contabilizados. Os insetos da ordem Coleoptera
foram montados e identificados ao nível taxonômico mais inferior possível, no Laboratório de
Sistemática e Bioecologia de Coleoptera, do Departamento de Zoologia da Universidade Federal
do Paraná, em Curitiba, PR.
Para avaliar a possível influência da precipitação pluviométrica na composição da comunidade
de insetos, os resultados obtidos foram agrupados em período chuvoso e seco para fins de análise
faunística. Para análise de ocorrência e dominância das ordens de insetos capturados foi utilizada
a classificação proposta por Palma (1975), citada por Scatolini e Penteado-Dias (2003), definida
a partir das fórmulas abaixo:

Índice de ocorrência:
(No de amostras onde foi registrada a ordem/No total de amostras em cada período) x 100.
Por este método ocorrem as seguintes classes: 0% a 25% = acidental; 25% a 50% = acessória;
50% a 100% = constante.

Índice de dominância:
(No de indivíduos da ordem/No total de indivíduos em cada período) x 100.
Desta forma é possível obter três classes: 0% a 2,5% = acidental; 2,5% a 5,0% = acessória; 5,0%
a 10,0% = dominante.

A combinação destes índices permite classificar as ordens de insetos em: comum, aquela
que é constante e dominante; intermediária, aquela que é constante e acessória, constante e
acidental, acessória e acidental, acessória e dominante, acessória e acessória; e rara, aquela que é
acidental e acidental.

142
Programa Primeiros Projetos

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A comunidade de insetos foi representada por 19 ordens, totalizando 14.612 indivíduos


(Tabela 1).
Diptera foi o táxon que apresentou o maior número de indivíduos, representando 48,78%
do total coletado (Tabela 1). Esta ordem reúne as moscas, pernilongos, borrachudos, mutucas,
varejeiras e moscas-das-frutas, dentre outros. De acordo com Gallo et al. (2002), as larvas e os
adultos apresentam hábito extremamente variado. As larvas podem se desenvolver tanto em meio
aquático como terrestre, alimentando-se de matéria orgânica em decomposição. Outras são pragas
da agricultura, inimigos naturais de outros insetos ou parasitos tanto do homem como de outros
animais. Do ponto de vista agrícola, têm importância as moscas-das-frutas, cujas larvas atacam
frutos de várias espécies; a mosca-da-madeira, cujas larvas abrem galerias nos troncos de árvores;
as espécies que causam galhas em plantas cultivadas; as espécies minadoras, cujas larvas abrem
galerias nas folhas, além de larvas que atacam as raízes de plantas.

Tabela 1 - Ordens, número e percentual de indivíduos coletados em Sistema Agroflorestal de


várzea, em Mazagão, AP.
Ordem No de indivíduos %
Diptera 7.129 48,78
Hemiptera 3.074 21,04
Hymenoptera 2.332 15,96
Coleoptera 708 4,85
Lepidoptera 521 3,57
Orthoptera 326 2,23
Plecoptera 160 1,09
Strepsiptera 110 0,75
Thysanoptera 95 0,65
Embioptera 59 0,40
Thysanura 37 0,25
Blattodea 17 0,12
Mantodea 14 0,10
Isoptera 13 0,09
Phasmatodea 8 0,05
Psocoptera 5 0,03
Mallophaga 2 0,01
Neuroptera 1 <0,01
Odonata 1 <0,01
Total 14.612 100

143
A presença dos hemípteros (21,04%) e himenópteros (15,96%) também foi marcante (Tabela
1). Os hemípteros estão entre os principais grupos de insetos fitófagos, havendo várias espécies
consideradas pragas. Dentre estas, destacam-se os grupos das cochonilhas, pulgões, cigarrinhas,
moscas-brancas e percevejos. Sugam continuamente a seiva das plantas, provocando o seu
definhamento e enfraquecimento, além de, em alguns casos, transmitir patógenos (IMENES; IDE,
2002).
Segundo Fazolin e Silva (1996), há uma tendência de existir populações maiores de herbívoros
quando há uma combinação entre plantas perenes e anuais, comparadas aos sistemas de cultivo
compostos somente por plantas perenes. Assim, pode-se esperar que os níveis de infestação de
pragas tendam a ser menores em Sistemas Agroflorestais, desde que neles não se introduzam
culturas anuais.
Com relação à importância econômica, os himenópteros (abelhas, vespas, formigas) podem
ser divididos em dois grupos: o primeiro reúne espécies consideradas nocivas, representado pelas
formigas cortadeiras (saúvas e formigas-quenquén), espécies causadoras de galhas, vespas fitófagas
(Symphyta), abelha-irapuá (praga de citros e bananeira) e pelos hiperparasitóides (atacam os
parasitóides). Já no segundo grupo estão espécies que podem ser consideradas úteis, dentre estas
destacam-se as abelhas (produção de mel, própolis, geléia real, cera e atividade de polinização),
espécies polinizadoras, vespas predadoras e os parasitóides, que contribuem para o equilíbrio da
natureza agindo como inimigos naturais de espécies-praga (GALLO et al., 2002).
Dos 14.612 indivíduos coletados, 78,87% foram capturados em armadilha Malaise (Tabela 2).

Tabela 2 - Número de indivíduos de cada ordem coletados com três métodos em Sistema
Agroflorestal de várzea, em Mazagão, AP.
Ordem Malaise Batida no cupuaçu Rede de varredura
Blattodea 4 10 3
Coleoptera 420 77 211
Diptera 6.663 353 113
Embioptera 59 0 0
Hemiptera 2.532 201 341
Hymenoptera 958 1.202 172
Isoptera 13 0 0
Lepidoptera 490 25 6
Mallophaga 0 0 2
Mantodea 0 9 5
Neuroptera 1 0 0
Odonata 1 0 0
Orthoptera 60 150 116
Phasmatodea 0 6 2
Plecoptera 160 0 0
Psocoptera 0 3 2
Strepsiptera 107 3 0
Thysanoptera 56 3 36
Thysanura 0 24 13
Total 11.524 2.066 1.022

144
Programa Primeiros Projetos

Em armadilha Malaise, as ordens mais abundantes foram Diptera e Hemiptera, representando


57,82% e 21,97% dos insetos coletados, respectivamente (Tabela 2). Nas batidas de cupuaçu,
destacaram-se os himenópteros (58,18%) e dípteros (17,09%). Já na rede de varredura, a maioria
dos indivíduos obtidos pertence às ordens Hemiptera (33,37%) e Coleoptera (20,65%).
De fato, é esperado que grupos de insetos considerados bons voadores, como os
dípteros, que se deslocam ativamente no ambiente em busca de fontes de recursos, sejam mais
capturados em Malaise, pois esta se enquadra na categoria de armadilhas interceptadoras de vôo.
Já os outros dois métodos utilizados têm por objetivo capturar os insetos que estão em contato
direto com a vegetação, utilizando-a como alimento (fitófagos) ou como abrigo. Dependendo da
época do ano e do local, a vegetação corresponde ao microhábitat que abriga a maior diversidade
de insetos (ALMEIDA, 2003). Daí a importância da combinação de vários métodos de coleta
para avaliação da comunidade de insetos.
Do total de insetos coletados, a maioria foi obtida no período chuvoso (8.353 indivíduos)
representando 57,17% da amostra. Tanto em Malaise quanto na batida das plantas de cupuaçu,
foi neste período que se obteve o maior número de indivíduos (Figura 4). Entretanto, com a rede
de varredura só foram realizadas coletas no período seco, visto que a ação das marés impossibilitaria
a utilização deste método no período chuvoso.

Figura 4 - Número de insetos coletados no período chuvoso (janeiro a junho) e


seco (julho a dezembro) em cada método de coleta utilizado em Sistema Agroflorestal
de várzea, em Mazagão, AP.

No mês de fevereiro foi registrado o maior número de insetos coletados em armadilha Malaise
e na batida das plantas de cupuaçu (Figura 5). Em Malaise, o segundo pico de indivíduos foi
obtido em dezembro, momento em que ocorrem as primeiras chuvas de inverno. Já na batida em
plantas de cupuaçu foi obtida uma elevação do número de indivíduos em junho, no final da estação
chuvosa.

145
Por meio da análise dos índices de ocorrência e dominância foi possível identificar pequenas
diferenças na estrutura da comunidade de insetos entre os períodos chuvoso e seco (Tabela 3).

Figura 5 - Número de insetos coletados por ocasião de amostragem em Sistema


Agroflorestal de várzea, em Mazagão, AP.

No período chuvoso, Lepidoptera apresentou um índice de ocorrência constante, já no


período seco foi classificada como acessória, passando na classificação geral, de ordem
intermediária para rara. O inverso ocorreu com Strepsiptera a qual passou de rara no período
chuvoso para intermediária, no período seco, em função do índice de dominância que passou de
acidental para dominante. Em Mantodea, também foi possível constatar tais diferenças, pois esta
ordem foi classificada como intermediária no período chuvoso e passou a ser considerada rara no
período seco. As ordens Diptera, Hemiptera e Hymenoptera foram classificadas como comum,
tanto no período seco quanto no chuvoso, visto que os índices de ocorrência e de dominância
foram os mesmos em ambos os períodos.
Estas alterações podem estar associadas às mudanças que ocorrem na vegetação entre o
período onde há influência das marés (chuvoso) e quando não há. Segundo Kouri e Gazel Filho
(2003), no ecossistema de várzea, as espécies vegetais apresentam elevada heterogeneidade
resultante da capacidade de regeneração, favorecida pela boa fertilidade natural dos solos,
decorrente da decomposição de sedimentos carreados pelas inundações diárias, ocasionadas pelas
marés, que contribuem também para a disseminação das sementes.
Embora Coleoptera tenha representado apenas 4,85% do total coletado (Tabela 1), reúne
insetos de maior importância econômica, principalmente devido ao grande número de espécies
consideradas pragas agrícolas e pela contribuição dos predadores, que auxiliam no controle de pragas.
É a maior ordem de insetos, com cerca de 350.000 espécies conhecidas; popularmente conhecidos
como besouros, se distinguem facilmente por apresentarem o primeiro par de asas fortemente
esclerotizados (élitros). Os insetos desta ordem apresentam tamanho muito variado, desde minúsculos

146
Programa Primeiros Projetos

(menos de 1mm) até grandes (200mm de comprimento). Ocupam todos os nichos, tanto em ambientes
naturais quanto modificados, pois apresentam regime alimentar variado, tanto na forma larval como
nos adultos (CROWSON, 1981; LAWRENCE, 1991; GALLO et al., 2002).

Tabela 3 - Classificação das ordens de insetos coletados em Sistema Agroflorestal de várzea, em


Mazagão, AP, segundo os índices de ocorrência e dominância.
Período chuvoso Período seco
Ordem
IO ID CG IO ID CG
Blattodea Acidental Acidental Rara Acessória Acidental Rara
Coleoptera Constante Acessória Intermediária Constante Acessória Intermediária
Diptera Constante Dominante Comum Constante Dominante Comum
Embioptera - - - Acidental Acidental Rara
Hemiptera Constante Dominante Comum Constante Dominante Comum
Hymenoptera Constante Dominante Comum Constante Dominante Comum
Isoptera Acidental Acidental Rara - - -
Lepidoptera Constante Acessória Intermediária Acessória Acessória Rara
Mantodea Acessória Acidental Intermediária Acidental Acidental Rara
Neuroptera - - - Acidental Acidental Rara
Odonata Acidental Acidental Rara -
Orthoptera Constante Acidental Intermediária Constante Acidental Intermediária
Phasmatodea Acidental Acidental Rara Acidental Acidental Rara
Plecoptera Acidental Acidental Rara Acessória Acidental Rara
Psocoptera Acidental Acidental Rara Acidental Acidental Rara
Strepsiptera Acidental Acidental Rara Acessória Dominante Intermediária
Thysanoptera Acidental Acidental Rara Acidental Acidental Rara
Thysanura Acidental Acidental Rara Acidental Acidental Rara
IO = Índice de ocorrência, ID = Índice de dominância, CG = Classificação geral

Dos 708 indivíduos de Coleoptera coletados, 38 não foram identificados em nível de família,
pois não se apresentavam íntegros. Foram obtidos 398 indivíduos em Malaise, 213 com rede de
varredura e 97 indivíduos na batida das plantas de cupuaçu.
Foram identificados representantes de 29 famílias de Coleoptera (Tabela 4).
A família Chrysomelidae (Figura 6A) foi a que apresentou maior número de indivíduos
coletados (41,24%), tendo sido registrados 130 na rede de varredura, 126 em Malaise e 36 no
sacolejo. São besouros que geralmente apresentam coloração vistosa e brilhante. Os adultos
alimentam-se principalmente de folhas e flores, as larvas são fitófagas, porém variam bastante
quanto ao aspecto e aos hábitos. Algumas se alimentam das folhas, vivendo em sua superfície;
outras cavam galerias nas folhas, raízes e caules. Muitos membros dessa família são pragas agrícolas
importantes (BORROR; DELONG, 1969).
Desta família, Alticini foi o grupo de maior destaque (52,40%) (Tabela 5). São besouros
relativamente pequenos, que vivem em folhas e apresentam capacidade de dar grandes saltos. A

147
maioria das espécies apresenta coloração metálica ou de fundo escuro, com manchas claras e de
coloração variada. Muitas espécies são prejudiciais por atacarem folhas de plantas cultivadas,
como cacaueiro e cajueiro (BORROR; DELONG, 1969). Dos espécimes coletados, foi marcante
a presença de Chaetocnema sp. (Tabela 5), conhecido popularmente como pulga-do-arroz. São insetos
muito ativos em épocas de escassez de chuva. As fêmeas depositam os ovos no solo, na base das
plantas e as larvas se alimentam das raízes enquanto as pupas ficam no solo. Os adultos alimentam-
se da epiderme das folhas, podendo atrasar o desenvolvimento da planta. (GALLO et al., 2002).

Tabela 4 - Famílias de Coleoptera obtidas nas coletas realizadas em Sistema Agroflorestal de


várzea, em Mazagão, AP.
Família Malaise Batida no cupuaçu Rede de varredura Total

Anthicidae 10 1 24 35
Attelabidae 0 0 1 1
Brentidae 0 1 0 1
Buprestidae 24 1 4 29
Carabidae 4 1 0 5
Cerambycidae 6 1 0 7
Chrysomelidae 126 36 130 292
Coccinellidae 5 1 13 19
Cucujidae 2 0 0 2
Curculionidae 18 20 11 49
Dytiscidae 1 0 0 1
Elateridae 9 1 1 11
Histeridae 0 0 1 1
Lampyridae 2 0 0 2
Limnichidae 1 0 0 1
Meloidae 42 0 1 43
Mordellidae 9 0 0 9
Nitidulidae 7 1 2 10
Nosodendridae 9 0 4 13
Phalacridae 9 0 2 11
Platypodidae 20 0 0 20
Ptiliidae 0 1 0 1
Ptilodactylidae 13 1 0 14
Scarabaeidae 1 0 0 1
Scolytidae 3 0 0 3
Scirtidae 20 0 0 20
Silvanidae 3 2 0 5
Staphylinidae 20 5 1 26
Tenebrionidae 24 10 4 38
Não identificados 14 10 14 38
Total 398 97 213 708

148
Programa Primeiros Projetos

Segundo Anjos (2006), a família Chrysomelidae (Figura 6A) constitui um grupo de grande
interesse, pois muitas espécies são pragas agrícolas e florestais. Podem atacar uma grande
diversidade de plantas, usualmente alimentando-se da folhagem e também das flores e frutificações.
Os insetos desta família, juntamente com Curculionidae (Figura 6B), Scarabaeidae (Figura 6C),
Buprestidae (Figura 6D) e Cerambycidae (Figura 6E), como resultado de sua herbivoria, podem
ser importantes pragas de plantações diversas, incluindo plantas frutíferas e espécies florestais.

Tabela 5 - Subfamílias, tribos e gêneros de Chrysomelidae obtidos nas coletas realizadas em


Sistema Agroflorestal de várzea, em Mazagão, AP.
Táxon Nº de indivíduos
Galerucinae 155
Alticini 153
Chaetocnema sp. 125
Longitarsus sp. 27
Sistema sp. 1
Galerucini 2

Cassidinae 12
Cassidini 3
Hispini 9

Eumolpinae 46

Criocerinae 35

Cryptocephalinae 2
Chlamisini 2

Curculionidae representou 6,92% (Tabela 4) dos besouros coletados. Esta é a família que
contém o maior número de espécies do reino animal. As espécies são essencialmente fitófagas,
utilizando como alimento desde raízes até sementes de espécies vegetais de todos os grupos
botânicos superiores (MARINONI et al., 2001).
Dentre os curculionídeos, foram identificados Rhinostomus barbirostris (Fabricius) e
Rhynchophorus palmarum (Linnaeus), considerados pragas de palmáceas. R. barbirostris é conhecido
popularmente como broca-da-estipe-do-coqueiro. Os danos são provocados pelas larvas, que
constroem galerias no estipe, provocando o enfraquecimento da planta e redução na taxa de
crescimento em diâmetro. R. palmarum, o bicudo-das-palmáceas ou broca-do-olho-do-coqueiro,
provoca danos significativos em cultivos de coqueiro no Estado do Amapá. Os adultos penetram
pela gema apical e danificam as folhas em formação. Devido às perfurações, ocorre fermentação
da seiva, que conseqüentemente atrai outros adultos. As larvas constroem galerias na gema apical,

149
no pecíolo de folhas novas e na região macia do estipe. Inicialmente ocorre o amarelecimento das
folhas e posteriormente a morte das plantas, em conseqüência das galerias que forma no interior
da mesma. Com o aumento do número de insetos na gema apical a planta pode morrer. É o
principal agente transmissor do nematóide Bursaphelenchus cocophilus, agente causal da doença
conhecida como anel-vermelho-do-coqueiro (JORDÃO; SILVA, 2006).
Os besouros da família Coccinellidae, vulgarmente chamados de joaninhas, estão entre os
mais conhecidos grupos de predadores de insetos. Das aproximadamente 6.000 espécies descritas,
em torno de 90% delas são predadoras (ALMEIDA, 2003). São conhecidas pela sua importância
como predadores de insetos sugadores (pulgões, cochonilhas, moscas brancas, psilídeos) e ácaros.
Coulson e Witter (1984) referem-se aos coleópteros desta família como importantes predadores
de pulgões e cochonilhas que atacam espécies florestais. As larvas e adultos de coccinelídeos
apresentam entre as características positivas uma grande atividade de busca pelo alimento, ocupam
todos os ambientes de suas presas e são muito vorazes. Das joaninhas coletadas, foram identificados
os gêneros Scymnus sp. (12 indivíduos), Psyllobora sp. (1), Hyperaspis sp. (1) e Zilus sp. (1).

Foto: Cristiane Ramos de Jesus

Figura 6 - Besouros coletados em Sistema Agroflorestal de várzea, em Mazagão, AP. (A) Chrysomelidae, (B) Curculionidae,
(C) Scarabaeidae, (D) Buprestidae e (E) Cerambycidae.

As espécies dos gêneros Hyperaspis, Zilus e Scymnus alimentam-se principalmente de pulgões.


No Brasil, Scymnus spp. foi observado nas culturas de sorgo, cana-de-açúcar, citros, batata, couve,
macieira, ameixeira, pessegueiro, algodão, soja, girassol, abacaxi e coqueiro predando pulgões,
ovos do curuquerê do algodão (Alabama argillacea), ovos de cigarrinhas do gênero Agallia e Empoasca
e as cochonilhas Dysmicoccus brevipes e Pseudococcus sp. (SANTOS; BUENO, 1999). De fato, a
ocorrência natural de joaninhas durante o período de infestação dos pulgões nas diversas culturas
é importante, pois esses coccinelídeos reduzem a população da praga e, conseqüentemente, os
danos provocados pelos afídeos.

150
Programa Primeiros Projetos

As espécies do gênero Psyllobora têm uma alimentação pouco habitual entre os coccinelídeos.
Os adultos e as larvas se alimentam de fungos, especialmente aqueles que formam uma cobertura
esbranquiçada nas folhas de árvores e arbustos (GONZALES, 1996).
Das famílias de Coleoptera identificadas, doze foram obtidas em apenas um dos métodos de
coleta, sendo que sete delas foram representadas por apenas um exemplar (Attelabidae, Brentidae,
Dytiscidae, Histeridae, Limnichidae, Ptiliidae e Scarabaeidae). Indivíduos de Attelabidae e
Histeridae foram coletados somente com rede de varredura. Brentidae e Ptiliidae foram obtidos
apenas na batida das plantas de cupuaçu. O reduzido número de indivíduos pode ser explicado
pela dificuldade de coleta destes insetos devido aos seus hábitos alimentares. De acordo com
MARINONI et al. (2001), os histerídeos são insetos carnívoros, tanto as larvas quanto os adultos
são predadores de outros insetos (dípteros, himenópteros, entre outros). Já os atelabídeos são
besouros herbívoros cujas larvas e adultos vivem enrolados nas folhas de dicotiledôneas e algumas
espécies apresentam hábito minador. Os coleópteros da família Brentidae são herbívoros ou
fungívoros alimentando-se de lenho morto ou recém-caído. As larvas de Ptiliidae alimentam-se de
esporos e hifas de fungos que se desenvolvem em matéria orgânica em decomposição. Assim, o
comportamento adotado pelos besouros, de acordo com o seu hábito alimentar, é um fator limitante
à sua coleta, sendo necessário o uso de técnicas específicas para captura em cada nicho.
Considerando a fragilidade dos ecossistemas de várzea do estuário amazônico e a rica
biodiversidade que eles encerram, são fundamentais pesquisas relacionadas à fauna entomológica,
tanto em áreas inalteradas quanto em áreas sob sistemas agroflorestais e sob certo grau de alteração.

4 AGRADECIMENTOS

A execução deste trabalho só foi possível graças à colaboração de várias pessoas e instituições,
a seguir mencionadas, as quais externamos nossos agradecimentos:
♦ Adalberto Azevedo Barbosa, Gerino de Carvalho Terra Filho, Izaque de Nazaré Pinheiro e
Paulo André Rodrigues da Silva, técnicos da Embrapa Amapá, que auxiliaram nos trabalhos
de campo.
♦ Wilson Rodrigues da Silva e Luiz Pereira Santana Júnior, estagiários da Embrapa Amapá,
que auxiliaram nas primeiras ações do projeto.
♦ Adelita Linzmeier, Edilson Caron e Paschoal Coelho Grossi, pós-graduandos do Laboratório
de Sistemática e Bioecologia de Coleoptera, do Departamento de Zoologia da UFPR, pelo
auxílio na identificação dos Chrysomelidae, Staphylinidae e diversas famílias de Coleoptera,
respectivamente.
♦ Prof. Dr. Germano Rosado Neto, do Departamento de Zoologia da UFPR, pela identificação
dos Curculionidae.
♦ Elisabete da Silva Ramos, Secretária do Comitê de Publicações da Embrapa Amapá, e Júlia

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Daniela Braga Pereira, estudante do curso de Mestrado Integrado em Desenvolvimento
Regional, da Universidade Federal do Amapá, pela revisão dos originais.
♦ Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e à Secretaria de Estado
da Ciência e Tecnologia do Amapá, pelo auxílio financeiro.

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