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SANDRA NEGRI
São Paulo
2019
Sandra Negri
São Paulo
2019
A PRODUÇÃO DE VALORES PÚBLICOS DE GESTÃO NO PODER JUDICIÁRIO
BRASILEIRO SOB A ÓTICA DA TEORIA DE MOORE
POR
SANDRA NEGRI
___________________________________________________________
Ao Tribunal de Contas da União (TCU), pelo curso de gestão pública e coleta de dados
empíricos; e à Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP), pela oportunidade de cursar disciplina para
aprimorar técnicas de análise qualitativas de dados.
Aos meus colegas doutorandos, pelo apoio e incentivo em todos os momentos que se
fizeram necessários.
RESUMO
A administração judiciária brasileira, como parte da administração pública, deve seguir regras
de eficiência, eficácia e efetividade. Para tanto se faz necessário observar o tempo, o custo, o
cumprimento de metas e, por meio do comando estatal, mudar a realidade dos cidadãos. A crise
do Poder Judiciário, ou a crise da justiça, expõe a morosidade, alto custo, problemas de gestão
e o déficit na qualidade do serviço de justiça. Com isto, aumenta a percepção de que o Estado-
Juiz é ineficaz, ineficiente e inconfiável. O Poder Judiciário, ao realizar atos de gestão, produz
valores públicos, que em alguns ambientes, resultam da governança associada a Teoria de
Moore (1995). A Teoria de Moore (1995) afirma que a excelência do serviço público é resultado
da intervenção cooperada de todos os interessados. A produção de valores públicos judiciais
faz aumentar as percepções positivas do serviço estatal, como a legitimidade, efetividade,
celeridade e confiança. Diante disto foi desenvolvida a seguinte questão de pesquisa: Como os
gestores da base judiciária brasileira produzem valores públicos de gestão em ambiente de
governança? Esta pesquisa, que tem abordagem interpretativista, qualitativa e exploratória, tem
o objetivo de explorar a relevância das atividades de gestão do Poder Judiciário como
produtoras de valores públicos. Para atender ao objetivo de pesquisa: (1) foi descrito o novo
cenário da administração pública e administração judiciária brasileiras, por meio de uma
extensa revisão de literatura; (2) foram apresentados os valores públicos de gestão e análise de
práticas de governança em Moore (1995), considerando um conjunto de 41 entrevistas em
profundidade com experts; e (3) foi identificado, por meio de um estudo de caso em uma
unidade judiciária, a forma de produzir valores públicos de gestão e seus reflexos benéficos
para a administração. Contribui-se, de forma teórica, para refinar conceitos relativos a
governança na Teoria de Moore inserida no Poder Judiciário. Quanto às contribuições práticas,
o trabalho advertiu que a coprodução de valores públicos melhora a qualidade do serviço de
justiça e, assim, contribui na formação dos gestores públicos do século XXI, comprometidos
com Estado Democrático eficiente, confiável e eficaz.
Keywords: public values, public administration, judicial values, judiciary administration, value
theory in Moore.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
Gráfico 1. Percepção dos TRF’s para o Valor Assistência Judiciária Gratuita orientado a
Gestão ou Jurisdição. .............................................................................................................. 121
Gráfico 2. Percepção sobre o Valor Assistência Judiciária Gratuita orientado a Gestão ou
Jurisdição conforme tempo de trabalho. ................................................................................. 122
Gráfico 3. Percepção dos TRF’s para o Valor Boa-fé orientado a Gestão ou Jurisdição. ..... 124
Gráfico 4. Percepção sobre o Valor Boa-fé orientado a Gestão ou Jurisdição conforme tempo
de trabalho. ............................................................................................................................. 125
Gráfico 5. Percepção dos TRF’s para o Contraditório e Ampla Defesa orientado a Gestão ou
Jurisdição. ............................................................................................................................... 127
Gráfico 6. Percepção sobre o Valor Contraditório e Ampla Defesa orientado a Gestão ou
Jurisdição conforme tempo de trabalho. ................................................................................. 128
Gráfico 7. Percepção dos TRF’s para o Valor Cooperação orientado a Gestão ou Jurisdição.
................................................................................................................................................ 130
Gráfico 8. Percepção sobre o Valor Cooperação orientado a Gestão ou Jurisdição conforme
tempo de trabalho. .................................................................................................................. 131
Gráfico 9. Percepção dos TRF’s para o Valor Devido Processo Legal orientado a Gestão ou
Jurisdição. ............................................................................................................................... 133
Gráfico 10. Percepção sobre o Valor Devido Processo Legal orientado a Gestão ou Jurisdição
conforme tempo de trabalho. .................................................................................................. 134
Gráfico 11. Percepção dos TRF’s para o Valor Duplo Grau de Jurisdição orientado a Gestão
ou Jurisdição. .......................................................................................................................... 136
Gráfico 12. Percepção sobre o Duplo Grau de Jurisdição orientado a Gestão ou Jurisdição
conforme tempo de trabalho. .................................................................................................. 137
Gráfico 13. Percepção dos TRF’s para o Valor Duração Razoável do Processo orientado a
Gestão ou Jurisdição. .............................................................................................................. 140
Gráfico 14. Percepção sobre o Valor Duração Razoável do Processo orientado a Gestão ou
Jurisdição conforme tempo de trabalho. ................................................................................. 141
Gráfico 15. Percepção dos TRF’s para o Valor da Efetividade orientado a Gestão ou
Jurisdição. ............................................................................................................................... 143
Gráfico 16. Percepção sobre o Efetividade orientado a Gestão ou Jurisdição conforme tempo
de trabalho. ............................................................................................................................. 144
Gráfico 17. Percepção dos TRF’s para o Valor Imparcialidade do Juiz orientado a Gestão ou
Jurisdição. ............................................................................................................................... 146
Gráfico 18. Percepção sobre o Valor Imparcialidade do Juiz orientado a Gestão ou Jurisdição
conforme tempo de trabalho. .................................................................................................. 147
Gráfico 19. Percepção dos TRF’s para o Valor Inafastabilidade e Livre Acesso (desacesso)
orientado a Gestão ou Jurisdição. ........................................................................................... 149
Gráfico 20. Percepção sobre o Valor Inafastabilidade e Livre Acesso (desacesso) orientado a
Gestão ou Jurisdição conforme tempo de trabalho. ................................................................ 150
Gráfico 21. Percepção dos TRF’s para o Valor Isonomia orientado a Gestão ou Jurisdição.
................................................................................................................................................ 153
Gráfico 22. Percepção sobre o Valor Isonomia orientado a Gestão ou Jurisdição conforme
tempo de trabalho. .................................................................................................................. 154
Gráfico 23. Percepção dos TRF’s para o Valor Juiz Natural orientado a Gestão ou Jurisdição.
................................................................................................................................................ 156
Gráfico 24. Percepção sobre o Valor Juiz Natural orientado a Gestão ou Jurisdição conforme
tempo de trabalho. .................................................................................................................. 156
Gráfico 25. Percepção dos TRF’s para o Valor Oralidade orientado a Gestão ou Jurisdição.
................................................................................................................................................ 159
Gráfico 26. Percepção sobre o Valor Oralidade orientado a Gestão ou Jurisdição conforme
tempo de trabalho. .................................................................................................................. 160
Gráfico 27. Percepção dos TRF’s para o Valor Persuasão Racional orientado a Gestão ou
Jurisdição. ............................................................................................................................... 162
Gráfico 28. Percepção sobre o Valor Persuasão Racional orientado a Gestão ou Jurisdição
conforme tempo de trabalho. .................................................................................................. 163
Gráfico 29. Percepção dos TRF’s para o Valor Proibição da Prova Ilícita orientado a Gestão
ou Jurisdição. .......................................................................................................................... 165
Gráfico 30. Percepção sobre o Valor Proibição da Prova Ilícita orientado a Gestão ou
Jurisdição conforme tempo de trabalho. ................................................................................. 166
Gráfico 31. Percepção dos TRF’s para o Valor Publicidade dos Atos Processuais orientado a
Gestão ou Jurisdição. .............................................................................................................. 168
Gráfico 32. Percepção sobre o Valor Publicidade dos Atos Processuais orientado a Gestão ou
Jurisdição conforme tempo de trabalho. ................................................................................. 169
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 20
2 REFERENCIAL TEÓRICO ............................................................................................ 30
2.1.1 Considerações sobre a administração pública .............................................................. 30
2.1.2 A administração pública no Brasil ................................................................................ 36
2.1.3 A governança e a teoria do valor público de Moore (1995) ......................................... 40
2.2.1 Poder Judiciário: atos de gestão e atos de jurisdição .................................................... 46
2.2.2 Síntese do capítulo ........................................................................................................ 50
2.3.1 Considerações sobre valores humanos e valores públicos ........................................... 52
2.3.2 Valores da administração pública e a teoria de Moore (1995): da administração pública
tradicional aos valores públicos................................................................................................ 59
2.3.3 A ciência e os valores públicos: conceituação .............................................................. 69
2.3.4 Valores públicos do Poder Judiciário brasileiro ........................................................... 89
2.3.5 Síntese do capítulo ........................................................................................................ 98
3 MÉTODO E TÉCNICAS DE PESQUISA ...................................................................... 99
3.2.1 Primeira etapa: revisão de literatura ........................................................................... 103
3.2.2 Segunda etapa: exploratória para a definição do tema e questão de pesquisa ............ 104
3.2.3 Terceira etapa: identificação dos valores públicos judiciais brasileiros – entrevistas
exploratórias 108
3.2.4 Quarta etapa: estudo de caso....................................................................................... 112
3.2.4.1 Elaboração do protocolo de coleta de dados ............................................................... 112
3.2.4.2 Definição da unidade de análise ................................................................................. 113
3.2.4.3 Formas de coleta de dados .......................................................................................... 114
3.2.4.4 Análise dos dados e discussão .................................................................................... 117
3.2.5 Quinta etapa: elaboração das conclusões da tese ........................................................ 118
4 BASE EMPÍRICA: ENTREVISTAS COM EXPERTS ............................................... 119
4.2 VALOR PÚBLICO JUDICIAL: BOA-FÉ ..................................................................... 123
4.3 VALOR PÚBLICO JUDICIAL: CONTRADITÓRIO E A AMPLA DEFESA ............ 125
4.4 VALOR PÚBLICO JUDICIAL: COOPERAÇÃO ........................................................ 128
4.5 VALOR PÚBLICO JUDICIAL: DEVIDO PROCESSO LEGAL ................................ 131
4.6 VALOR PÚBLICO JUDICIAL: DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO ........................... 134
4.7 VALOR PÚBLICO JUDICIAL: DURAÇÃO RAZOÁVEL DO PROCESSO ............. 137
4.8 VALOR PÚBLICO JUDICIAL: EFETIVIDADE ......................................................... 141
4.9 VALOR PÚBLICO JUDICIAL: IMPARCIALIDADE DO JUIZ ................................. 144
4.10 VALOR PÚBLICO JUDICIAL: INAFASTABILIDADE DO CONTROLE
JURISDICIONAL E LIVRE ACESSO (DESACESSO) DO JUDICIÁRIO ......................... 147
4.11 VALOR PÚBLICO JUDICIAL: ISONOMIA ............................................................... 150
4.12 VALOR PÚBLICO JUDICIAL: JUIZ NATURAL ....................................................... 154
4.13 VALOR PÚBLICO JUDICIAL: ORALIDADE ............................................................ 157
4.14 VALOR PÚBLICO JUDICIAL: PERSUASÃO RACIONAL OU RAZÕES DE
CONVENCIMENTO ............................................................................................................. 160
4.15 VALOR PÚBLICO JUDICIAL: PROIBIÇÃO DA PROVA ILÍCITA ......................... 163
4.16 VALOR PÚBLICO JUDICIAL: PUBLICIDADE DOS ATOS PROCESSUAIS ........ 166
4.17 SÍNTESE DO CAPÍTULO............................................................................................. 169
5 BASE EMPÍRICA: ESTUDO DE CASO ...................................................................... 172
5.2 ANÁLISE DOS VALORES PÚBLICOS JUDICIAIS .................................................. 181
5.2.1 Valor público judicial de gestão: assistência judiciária gratuita ................................. 182
5.2.2 Valor público judicial de gestão: contraditório e da ampla defesa ............................. 183
5.2.3 Valor público judicial de gestão: cooperação ............................................................. 185
5.2.4 Valor público judicial de gestão: duração razoável do processo ................................ 192
5.2.5 Valor público judicial de gestão: duplo grau de jurisdição ........................................ 194
5.2.6 Valor público judicial de gestão: efetividade ............................................................. 196
5.2.7 Valor público judicial de gestão: inafastabilidade do controle jurisdicional e livre
acesso (desacesso) do judiciário ............................................................................................. 201
5.2.8 Valor público judicial de gestão: oralidade ................................................................ 203
5.2.9 Realização profissional e pessoal: reflexos da “boa governança em Moore” ............ 205
5.3 SÍNTESE DOS RESULTADO DO ESTUDO DE CASO ............................................. 208
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 212
6.1.1 Objetivos secundários ................................................................................................. 212
6.1.2 Objetivo geral ............................................................................................................. 216
6.1.3 Questão de pesquisa .................................................................................................... 217
6.2 CONTRIBUIÇÕES DA TESE ....................................................................................... 219
6.2.1 Contribuições teóricas ................................................................................................ 219
6.2.2 Contribuições práticas ................................................................................................ 221
6.3 LIMITAÇÕES DA PESQUISA ..................................................................................... 224
6.4 PESQUISAS FUTURAS ................................................................................................ 224
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 227
APÊNDICE A – ROTEIRO DE QUESTÕES QUE FORAM APLICADAS NA FASE
EXPLORATÓRIA PRELIMINAR .................................................................................... 255
APÊNDICE B – PROTOCOLO DE COLETA DE DADOS - ESTUDO DE CASO ..... 256
APÊNDICE C – PRINTSCREEN DE TELAS DO SOFTWARE ATLAS.TI ................ 258
APÊNDICE D – PESQUISADORES DA ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA .............. 262
ANEXO A – METAS DO CNJ PARA 2019 ....................................................................... 263
ANEXO B – CRIAÇÃO UNIDADES DA JF EM NITERÓI – 1986 ............................... 266
ANEXO C – INAUGURAÇÃO DAS UNIDADES JF DE NITERÓI .............................. 269
ANEXO D – PROPOSTA DE NOVA SEDE PARA JF DE NITERÓI ........................... 270
ANEXO E – UNIDADE JUDICIÁRIA NITERÓI – AGENDA DE AUDIÊNCIA
(JANEIRO A MAIO DE 2018) ............................................................................................ 271
ANEXO F – RELATÓRIO ANUAL JUSTIÇA FEDERAL DE NITERÓI - 2017 ........ 272
ANEXO G – UNIDADE JUDICIÁRIA DE NITERÓI: RELATÓRIO DE
PRODUTIVIDADE (ABRIL/2018) .................................................................................... 273
ANEXO H – RELATÓRIO ANUAL DE PRODUTIVIDADE DAS VARAS DE
FEDERAIS DE NITERÓI (2018) ....................................................................................... 274
20
1 INTRODUÇÃO
e na eficácia (a decisão certa realizada) da gestão da coisa pública (Denhardt, Denhardt &
Aristigueta, 2012; Frederickson, 2012, 2016).
O modelo gerencialista, a partir da segunda metade do século XX, para se adequar aos
novos tempos, recepcionou outras abordagens de gestão, como foi o caso da governança,
também reconhecida como nova gestão pública, do inglês New Public Management (NPM). A
NPM apresentou ferramentas do setor privado, com o propósito de reduzir custos e tornar o
Estado verdadeiramente eficiente (fazendo com menor recurso e em menos tempo) e eficaz
(fazer da coisa certa uma realidade). Para tanto, reduziu-se o tamanho do Estado, inserindo
estratégias de mercado para flexibilizar a gestão (Hood, 1991; McLaughlin & Osborne, 2005;
Carneiro & Menicucci, 2011; Hammerschmid, Walle, Andrews & Mostafa, 2017), sendo que,
para a presente tese, a governança e a NPM são tidas como sinônimos, dado que a nomenclatura
ainda está em processo de sedimentação (Baka, 2017).
1
Fundo Monetário Internacional: tem a finalidade de auxiliar financeiramente os países membros, procurando
manter a estabilidade do sistema financeiro global. Recuperado de: http://www.imf.org/external/index.htm.
2
Banco Mundial: tem por escopo ajudar financeiramente os países em desenvolvimento. Recuperado de:
http://www.bancomundial.org/es/who-we-are.
3
OECD, da qual participam países do “Grupo dos Ricos” (elevado PIB e IDH), convergem diálogos e apoio
econômico, a fim de equilibrar políticas econômicas e solucionar problemas comuns. Recuperado de:
http://www.oecd.org/.
23
Adverte-se que, diante da profusão de termos, esta tese optou por utilizar o vocábulo
governança, com o fim de aglutinar os argumentos pleonásticos e contribuir para a clareza
conceitual do tema. Para a administração pública brasileira, desde o início, essa prática esteve
sob o comando da Constituição Federal (CF) de 1988 e foi o Tribunal de Contas da União
(TCU) que recomendou, devido à ausência de legislação específica, a adoção das regras de
governança para todo sistema estatal (Brasil, 2018; TCU, 2014).
O Poder Executivo, por meio do Decreto Presidencial nº 9.203/2017, conta com regras
próprias de governança, ao passo que os Poderes Legislativo e Judiciário aguardam votação do
projeto de lei nº 9.163/2017, pela Câmara dos Deputados (Congresso Nacional, 2017; Planalto,
2017). Assim, o CNJ, mesmo sem legislação regulamentadora, atendeu às recomendações da
CF e do TCU, tendo implantado, no Poder Judiciário, as regras básicas da governança, com: (a)
Portaria nº 138/2013 (que instituiu a rede de governança); (b) Resolução nº 198/2014
(planejamento estratégico em governança, vigente até 2020); (c) Portaria nº 114/2016
(diretrizes da governança); e (d) Resolução nº 221/16 (governança para elaboração das metas
anuais) (Brasil, 2013, 2014, 2016a, 2016b).
Sendo assim, a governança é um fenômeno presente no século XXI, que foi absorvido
pela administração estatal brasileira (Cavalcante, 2018). Entretanto, a instabilidade econômica,
política, aliada às pressões populares por um Estado mais confiável, reivindica a produção de
valores públicos como sustentadores da eficiência e eficácia estatais. Lembrando que o Estado
brasileiro, ao materializar a governança, necessita apresentar respostas rápidas, inovadoras,
competitivas e transparentes. No caso do Poder Judiciário, observada a postura dos gestores, a
competitividade está ligada à capacidade de produzir valores públicos judiciais (Moore, 1995;
Bauman, 2007, 2011; Chatfield & Reddick, 2018; Silveira Neto, 2015; Van der Wal, Graaf &
Lasthuizen, 2008; Magretta, 2012; Porter, 2008; Porter & Kramer, 2011).
Os valores públicos são abordados em várias áreas do conhecimento, por isso recebem
conceituação heterogênea, mas, nem por isso, são considerados menos valiosos e necessários à
administração pública (Moore, 1995; Kaufman, 2017; Mintrom & Luetjens, 2017, Oliveira &
Santos Júnior, 2018; Nabatchi, 2017), tanto que, na presente tese, são propostas contribuições
teóricas e práticas para a governança em valor público de Moore (1995), aplicada ao Poder
Judiciário brasileiro.
1.1 PROBLEMA
1.3 JUSTIFICATIVA
Os Estados democráticos, por meio dos serviços que oferecem, produzem valores
públicos e, nesse particular, o estudo de Van der Wal et al. (2008) identificou a existência de
“valores públicos universais”, devidamente comprovados nas pesquisas de Jørgensen e Rutgers
(2014). Alerta-se que, na presente tese, não se pretende discutir sobre a gênese dos valores,
importando somente e, em profundidade, averiguar a produção de valores judiciais de gestão
do Poder Judiciário brasileiro, compreendendo-se que os referidos valores judiciais não são de
livre indicação, mas, ao contrário, são determinados pelo Estado, por meio do texto
constitucional e da legislação infraconstitucional.
A crise de credibilidade do Poder Judiciário pode ser atacada, entre outras formas, com
a produção de valores públicos judiciais de gestão, posto que na governança em Moore (1995),
os referidos valores são produzidos em coparticipação, fazendo com que os envolvidos se
percebam corresponsáveis pela confiança destinada ao serviço de justiça. Em outras palavras,
os valores públicos judiciais, independentemente do modelo de gestão adotado, sempre foram
produzidos pelo Poder Judiciário, o que difere, no entanto, é que os produzidos em ambiente de
governança, associada a Moore (1995), são gestados conforme determinação legal, em
coparticipação, fazendo dos gestores públicos empreendedores eficientes, preocupados em
atender às expectativas dos usuário-cidadão.
Com a presente tese, pretende-se alertar que, ao refletir sobre a produção de valores
públicos, a partir da governança em Moore (1995), pode-se contribuir para a qualidade do
serviço de justiça (Moore, 1995; Van der Wal., 2017).
29
A tese está dividida em seis seções: a primeira (introdução) apresenta o vetor da pesquisa,
seu contexto, a questão de pesquisa e os objetivos; a segunda, a fundamentação teórica para
entendimento dos constructos da governança judicial, além de uma discussão sobre valores
públicos gerais; a terceira seção traz a metodologia utilizada para o desenvolvimento da
pesquisa; a quarta, o estudo empírico sobre valores públicos judiciais, pelo qual foram
distinguidos os valores produzidos na gestão e na prestação jurisdicional; a quinta etapa,
apresenta um estudo de caso, para levantar dados sobre como os gestores públicos (magistrados
e servidores) produzem os valores públicos judiciais de gestão; na sexta e última seção, estão
registradas as conclusões, contribuições teóricas e práticas, limitações na realização do presente
estudo e a indicação de pesquisas futuras (Figura 1).
Literatura
Suporte Teórico e Introdução Fundamentação
Procedimentos
Metodologia Teórica
Metodológicos
Entrevistas
Base Empírica Estudo de Caso
Exploratórias
2 REFERENCIAL TEÓRICO
A administração pública como ciência surge a partir dos trabalhos de Woodrow Wilson
que, ao publicar a obra The Study of Administration, estimulou o estudo do tema entre
pesquisadores e, especialmente, nas universidades americanas (Damke, Walter & Silva, 2010;
Denhardt & Catlaw, 2017). O referido estudo alerta que o Estado tem o dever de promover uma
boa governança, do inglês good governance, devendo fazer o que tem de ser feito, com a maior
eficiência e o menor custo possíveis. Para tanto, o distanciamento entre a administração pública
e a política estatal é defendido, pois os atos da administração seriam incongruentes com os
arranjos político-partidários. A distinção entre policy e administration constituiu-se a base para
a eficiência da gestão pública, concebida sob as características de um empreendimento privado
(Wilson, 1887).
A administração pública, no correr da história e de modo geral, experimentou três
modelos de gestão facilmente determináveis: o modelo patrimonialista, o burocrático e o
gerencial (Junquilho, 2010).
O modelo patrimonialista era fincado nas monarquias absolutistas, tendo como
característica básica a fusão e a confusão entre o patrimônio público e o privado, pois o Estado
31
pertencia ao rei. Nessa forma de gerir, o emprego público derivava de relações de compradrio,
sendo o nepotismo e a corrupção, práticas comuns e, de certa maneira, aceitáveis até o século
XVI, com as primeiras atividades mercantilistas; deixando de ser possíveis, todavia, com o
capitalismo industrial do século XIX (Bresser-Pereira, 1996).
Com a democracia e o capitalismo, os cidadãos comandam o Estado, contudo, ao mesmo
tempo, necessitam de espaço privado, para fomentar o mercado, e de uma administração
pública, garantidora do livre comércio, separando o público do privado. Com esse cenário,
nasce a administração burocrática, sustentada pela racionalidade e a pela legalidade.
No modelo burocrático, contrapondo-se ao patrimonialismo, preponderou o
formalismo, o controle, a hierarquia funcional rígida, as competências fixas, a
profissionalização dos servidores e a defesa da coisa pública (Beetham, 1991).
A burocracia fez com que as ações do Estado se tornassem impessoais, técnicas,
previsíveis, facilitando a estabilidade econômica desejada pelo capitalismo. Por meio da
perspectiva weberiana, a burocracia fortificou o poder e a organização estatal sob as seguintes
características: (a) divisão de trabalho definida e hierarquizada, que possibilitava a divisão de
problemas administrativos complexos, em tarefas gerenciáveis; (b) profissionalização dos
servidores públicos, que passam a trabalhar em tempo integral para o Estado, de forma a
constituir uma carreira contínua, tendo a possibilidade de haver promoções, com aumento
remuneratório; e (c) a burocracia é revestida de formalidades, com regras previamente
prescritas, sem favoritismo e com registros escritos (Beetham, 1991; Weber, 2013; Aragão,
2014).
A burocracia sofreu desgastes, a partir de algumas disfunções apresentadas pelo modelo,
como, por exemplo, lentidão de resposta; apego excessivo ao formalismo e às
normas/regulamentos; despersonalização do relacionamento entre Estado e cidadão; ausência
de liberdade e criatividade na execução das tarefas; excesso de autoridade, aproximando-se do
autoritarismo; surgimento de gestão paralela informal, a fim de combater o excesso de regras
(Motta & Bresser-Pereira, 2004; Ney Matos & Carneiro Lima, 2007).
O modelo gerencialista passou a ser considerado, por conta do combate aos excessos
praticados na burocracia, apesar de não se afastar definitivamente das regras do modelo
anterior. O objetivo era buscar maior eficiência do Estado, transparência nas contas públicas e
objetividade para os atos de gestão. Outra premissa foi a de comprometer os gestores públicos
com valores éticos, estampados na eficiência e na eficácia da gestão da coisa pública (Denhardt,
Denhardt & Aristigueta, 2012; Frederickson, 2012, 2016).
32
Para esta tese, a governança e a NPM são compreendidas como sinônimos, com o intuito
de abranger as adjetivações concernentes aos termos, devido à nomenclatura estar em processo
de sedimentação, já que, na literatura, encontram-se as seguintes semelhanças: governança
colaborativa, boa governança, co-governança, governança multinível e governança
participativa (Baka, 2017).
4
Conference Minnowbrook II: realizada no Centro de Conferências da Maxwell School, onde está localizada a
Universidade de Syracuse. Recuperado de: https://www.syracuse.edu.
33
problemas da administração pública não poderiam mais ser totalmente resolvidos, mas apenas
e tão-somente melhorados (O’Leary et al., 2011).
Retornando ao trilho histórico, a governança (NPM) tomou corpo no Reino Unido, com
a ideias de Margaret Thatcher, que buscou afastar o Estado da burocracia extremada e focou na
gestão pública de resultados, sendo adotada, formalmente, nos Estados Unidos, por Ronald
Reagan, nos anos de 1980 (Matias-Pereira, 2010). Desde então, multiplicou-se nos países anglo-
saxônicos, atingindo os Estados europeus e chegando na América Latina, pelo território chileno,
no início da década de 1990 (Matias-Pereira, 2008), tornando-se um padrão-ouro, do inglês
gold standart, na reforma administrativa dos Estados (Denhardt & Catlaw, 2017).
5
Conference Minnowbrook IV: marcada para 2028, a ser promovida pela Maxwell School, da Universidade de
Syracuse. Recuperado de: https://www.maxwell.syr.edu.
34
Nessa mesma linha de raciocínio, a posição de Larrouqué (2018), para quem, o que veio
depois do modelo burocrático de gestão, fundado no weberianismo, é nomeado como
neogerencialismo, seguido de uma gestão estatal neoweberiana. Ademais, o autor utiliza outras
denominações para descrever as mesmas características, indicadas no gerencialismo e na
governança.
Para esta tese, o conceito de governança pública, compreendida como ferramenta que
auxilia a eficiência estatal e melhora as relações entre Estado, cidadão, mercado e a sociedade
civil organizada, foi retirado dos estudos de Löffer (2001, p. 212):
[...] uma nova geração de reformas administrativas e de Estado, que têm como objeto a ação conjunta,
levada a efeito de forma eficaz, transparente e compartilhada, pelo Estado, pelas empresas e pela
36
sociedade civil, visando uma solução inovadora dos problemas sociais e criando possibilidades e chances
de um desenvolvimento futuro sustentável para todos os participantes.
A governança (NPM), que foi importada do setor privado para o setor público, recebeu
inúmeras críticas e mostrou desgastes, na medida em que não conseguiu o mesmo desempenho
de eficiência e eficácia mensurados na sua origem (Motta, 2013; Junquilho, 2010), o que fez
aparecer outras variações, como é o caso da governança inserida na teoria do valor público, da
governança em ambiente (Volatility, Uncertainty, Complexity e Ambiguity - VUCA) e da
governança em Pos New Public Management (Moore, 1995; Motta, 2013; Greve, Lægreid &
Rykkja, 2016; Pollitt & Dan, 2013; Van der Wal, 2016; Christensen, 2012; Jørgensen &
Bozeman, 2007; Matias-Pereira, 2008; Nabatchi, 2017; Pollitt & Bouckaert, 2011; Christensen,
2012; Bhatta, 2003; Cavalcante, 2017; Reiter e Klenk, 2018; Ainsworth, Grant & Iedema, 2010;
Herbert, 1992; Porter, 2008; Porter & Kramer, 2011; Bailey, Clua-Losada, Huke, Ribera-
Almandoz & Rogers, 2016; Guimarães & Vieira, 2015; Kotz, 2009; Moller & Vital, 2013;
Bauman, 2007, 2011; Silveira Neto, 2015; Gabrich & Castro, 2013; Maldonado-Mera, Espinosa
& Cabrera, 2017; Chai & Kong, 2017; Codreanu, 2016; Bennett & Lemoine, 2014, 2018;
Lawrence, 2013; Zeemering, 2017; Duarte, Nascimento, & Rodrigues, 2017; Jiang & Luo,
2018; Martin, 2014; Roberts, 2014, 2017; Souza, 2010; Magretta, 2012).
A partir de 1999, com a segunda gestão do governo Fernando Henrique Cardoso, muitas
foram as inovações introduzidas na administração pública, sendo a principal delas, a instalação
do governo eletrônico. Com a tecnologia da informação, foi possível reduzir custos e tempo
dos serviços públicos, aumentar a transparência dos gastos estatais e a experimentação das
primeiras linhas da governança (Abrucio, 2007; Pereira & Spink, 2015).
também órgão de auxílio ao Congresso Nacional, tendo por função instruir e fiscalizar a
execução orçamentária, promovendo a melhor forma de gerir a máquina pública brasileira6. A
Emenda Constitucional nº 19, de 1998, que impôs a eficiência ao serviço público, fez com que
o planejamento estratégico do TCU orientasse sobre os benefícios da governança pública na
gestão do Estado brasileiro (Brasil, 1998; TCU, 2018).
De 2003 a 2010, com as duas gestões do governo Lula da Silva, a administração pública
não foi provocada a ter avanços significativos; ao contrário, houve uma recomposição no
quadro e na remuneração dos servidores públicos, bem como o aumento de pedidos de
aposentadoria, por meio da Emenda Constitucional 41 – a aposentadoria dos servidores
públicos, que deixou de ser integral e passou a calcular a média das contribuições (Faria &
Faria, 2017; Pinto & dos Santos, 2017).
O TCU publica artigos sistematicamente, por meio de revista própria, alertando sobre
os benefícios da governança às contas públicas brasileiras, como o de Pereira (2011), no qual
ele indica ser a governança um conjunto de práticas, interligando a voz dos interessados, a fim
de aumentar a eficiência dos sistemas de gestão; que busca recepcionar opiniões dos gestores
públicos, produzir metas e formas de execução, bem como orientar, controlar e fiscalizar os
resultados (Pereira, 2011).
6
TCU. Função de orientar e fiscalizar a aplicação e os gastos da máquina pública federal brasileira. Recuperado
de: https://portal.tcu.gov.br/institucional/conheca-o-tcu/competencias/.
39
9.203, de 22 de novembro de 20177, que determina regras de governança (NPM) para serem
cumpridas no Poder Executivo. Isso se deu porque, para os Poderes Legislativo e Judiciário, o
chefe do Poder Executivo, impedido constitucionalmente de legislar por si próprio, encaminhou
à Câmara dos Deputados o Projeto de Lei nº 9.163, de 29 de novembro de 20178, solicitando a
implantação das regras e valores da governança (NPM) para melhorar a capacidade de resposta
do Estado, a confiabilidade, a prestação de contas, a responsividade e a transparência das contas
públicas (Brasil, 2017a; Brasil, 2017b).
Dessa forma, a governança deixou de ser simples recomendação do TCU e passou a ter
um regramento harmônico para a administração pública brasileira. Para o Poder Executivo, as
regras foram de aplicação imediata; contudo, quanto aos poderes Legislativo e Judiciário, eles
ainda aguardam aprovação legislativa, por isso continuam na condição de “recomendação”
(Congresso Nacional, 2017; Planalto, 2017).
No início de 2019, o governo Jair Bolsonaro, previsto para viger até 2022, teve como
um dos primeiros atos, a reunião entre o Ministro do TCU, Augusto Nardes9, o Presidente da
7
Decreto Presidencial nº 9.203/17. Recuperado de: planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2017/decreto/D9203.htm.
8
Projeto de Lei nº 9.163/2017. Recuperado de: camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao
=2163153.
9
TCU – Diretoria. Recuperado de: https://portal.tcu.gov.br/institucional/ministros/.
40
República e membros da Casa Civil, realizada no dia 7 de janeiro de 2019, com o fim de discutir
parâmetros de governança pública, que serão aplicados nos próximos quatro anos,
especialmente o corte de custo e combate aos desperdícios (Folha de São Paulo, 2019).
Estudos, nesse sentido, indicam que o gestor público, aplicando as regras da governança,
combinadas com as do valor público, aproxima-se mais da realidade, dos desejos do cidadão,
dos anseios políticos do Estado e, assim, como resultado do seu trabalho, produz valor público
(Moore, 1995; Goss, 2001). Sendo que outros traços da teoria de Moore (1995), estão inscritos
na segunda parte do referencial teórico (Capítulo 2.3).
A governança dos desejos coletivos necessita dos preceitos do valor público para fazer
surgir uma sociedade equilibrada, que acredita na autoridade estatal e se corresponsabiliza pelos
resultados, por ter participado e deliberado sobre as metas (Moore, 1995).
Segundo Stoker (2006), a gestão e a consequente produção do valor esperam que haja
uma abordagem relacional, observados os interesses de todos os envolvidos, na criação e na
execução dos serviços públicos. A aplicação da teoria do valor público de Moore (1995) exige
um compromisso com as metas estabelecidas, fazendo do gestor público, porque é envolvido
politicamente, um aliado na produção do valor público (Moore, 1995; Stoker, 2006).
Kelly e Muers (2002), e mais tarde Stoker (2006), percebem uma evolução da
governança pública com a participação da teoria do valor público. Sob a concepção dos autores,
tem-se as fases (Tabela 2) da administração pública até encontrar a teoria de Moore (1995),
sendo possível o entrelaçamento dos ditames de cada uma das referidas fases, possibilitando
ganhos ainda maiores de eficiência e eficácia para o serviço estatal (Kelly & Muers, 2002;
Stoker, 2006).
qualidade dos serviços, tendo como consequência, maior equilíbrio do ambiente político. Os
valores públicos são definidos, de forma dialogada, com interdependência e intencionalidade
pelos interessados, que definirão o custo, os insumos e a melhor oportunidade de realização
(Moore, 1995; Kelly & Muers, 2002; Stoker, 2006).
O Poder Judiciário ainda está construindo procedimentos para que o magistrado, além
das funções jurisdicionais, realize satisfatoriamente as funções de governança – fato descrito
no cotidiano forense, tanto do Brasil quanto de Portugal (Guimarães, Gomes, Correia, Oliveira
& Piazentin, 2017).
salarial, exigiu-se formação e capacitação dos servidores; além de tornar constante a avaliação
de desempenho, já que o resultado insatisfatório passou a significar o rompimento do contrato
de trabalho (Balasiano & Salles, 2005; Cavalcante & Carvalho, 2017).
Esta tese não reconhece no Poder Judiciário brasileiro o referido trabalho especializado,
a ponto de ensejar ausência de controle e fiscalização interna ou externa. No Brasil, por
intermédio do CNJ, ocorre o controle da eficiência do serviço de justiça e, para o caso de
ineficiência, mediante controle interno, poderá ocorrer desligamento dos quadros do serviço
público (CNJ, 2018).
processos mais antigos; (c) aumentar os casos solucionados por conciliação; (d) priorizar o
julgamento dos processos dos maiores litigantes e dos recursos repetitivos (CNJ, 2019b).
Em Freeman e Vea (2001), tem-se que, para um planejamento estratégico ser eficiente,
deve-se integrar os interesses de todos interessados, ou seja, Estado, gestores e cidadãos. Dessa
sorte, uma estratégia adequada é aquela que se inter-relaciona, consegue apoio na tomada de
decisões e produz resultados eficientes e de qualidade (Freeman & Vea, 2001).
10
José Antonio Dias Toffoli: presidente do STF e do CNJ, para o mandato de 2018 a 2021. Recuperado de:
http://portal.stf.jus.br/textos/verTexto.asp?servico=sobreStfComposicaoComposicaoPlenariaApresentacao.
11
CEPEJ - In: https://www.coe.int/en/web/cepej/about-cepej.
45
democrática na visão dos autores, foram encontrados 50 artigos pertinentes e, como resultado,
foi possível detectar que: (a) a participação de gestores e dos interessados é esperada, mas nem
sempre existe a preocupação de envolver a todos irrestritamente; (b) planejadores e
formuladores de projetos necessitam dar mais valor à participação das partes interessadas, bem
como, na medida do possível, treiná-las em suas funções, para que haja melhor desempenho;
(c) promover formas de engajamento, além das audiências públicas e reuniões em monólogo; e
(d) há preconceitos inibidores, quando da interferência dos interessados (Leyden, Grey, Hynes,
Frisbaek & Silke, 2017).
12
Portaria nº 138 de 23 de agosto de 2013. Instituiu a rede de governança colaborativa do Poder Judiciário.
Recuperada de: http://www.cnj.jus.br/files/atos_administrativos/portaria-n138-23-08-2013-presidncia.pdf.
13
Resolução nº 198 de 1º de julho de 2014. Dispõe sobre o Planejamento Estratégico do Poder Judiciário.
Recuperada de: http://www.cnj.jus.br/files/atos_administrativos/resoluo-n198-01-07-2014-presidncia.pdf.
46
Tipo de
Atividade desenvolvida Quem desempenha a função
função
Secretário geral, diretor, CEO do órgão,
Os gestores públicos do Tipo 1 são responsáveis,
1 - Gestor de topo agência, autarquia ou fundação pública
tanto interna como externamente, pelo órgão
federal
Assim, esta nesta tese estudou-se a conduta dos gestores judiciais que trabalham na base
judiciária e estão engajados com a produção de valores públicos (Brumette & Zoch, 2015),
porque a abordagem de valor público de Moore (1995) se faz presente na implementação de
ditames processuais, contidos na cooperação, no tratamento isonômico dos litigantes, na
assistência judiciária gratuita e na efetividade (CPC, 2015).
No Brasil, o Poder Judiciário tem como órgão maior o Supremo Tribunal Federal (STF),
com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) como responsável pela administração,
planejamento, fiscalização, controle e o exame da conduta dos magistrados, cabendo, também,
ao STF, a última palavra na defesa dos direitos e garantias constitucionais (Slaibi Filho, 2016;
CNJ, 2018).
47
STF
CNJ
administração e controle
STJ
TST TSE STM
O Poder Judiciário brasileiro não conta com uma legislação específica para o fim de
ordenar a operacionalidade da administração judiciária, mas com a capacidade, boas práticas e
48
Apenas crenças limitantes fazem com que a governança (NPM) não seja amplamente
praticada no Poder Judiciário. A experiência de Haddad e Pedrosa (2014, 2017) representa bem
esse fato, pois eles implantaram, com vigoroso sucesso, os parâmetros da governança na justiça
comum de Minas Gerais, mapeando rotinas, táticas e customizando um “modelo” para ser
acoplado às características culturais dos usuários e, assim, encontrar a eficiência e a
coparticipação na gestão local (Haddad & Pedrosa, 2014, 2017).
49
Macro
CNJ
administração e controle
Micro
Unidades Judiciais
autogestão
Magistrado
autogestão
Gestão
Decisional
ordinária
Gestão da
Unidade
Gestão
Processual
atos do processo
Para esta tese, os atos de gestão judicial são tarefas administrativas, realizadas pelo
magistrado e seus auxiliares, com a finalidade de tornar eficiente e dinâmica a atividade-meio
do Poder Judiciário, fazendo cumprir os ditames processuais constitucionais.
Da síntese deste segmento, destaca-se a governança pública como uma soma de práticas
exitosas, contidas nos modelos burocrático e gerencialista de gestão. A governança é exercitada
na administração do Poder Judiciário brasileiro, com a possibilidade de se agregar a abordagem
do valor público (Moore, 1995).
Função do TCU
Conceito de governança pública - Tese
Órgão fiscalizador das contas públicas do
Governança pública é uma ferramenta de Governo Federal e órgão de auxílio do
gestão, que auxilia na eficiência estatal e Congresso Nacional, com a função de instruir
melhora as relações entre Estado, cidadão, e fiscalizar a execução orçamentária e
mercado e a sociedade civil organizada financeira, promovendo a melhor forma de
gerir a máquina pública brasileira
Fonte: Adaptado de Löffer (2001).
Fonte: Constituição Federal (1988).
Atos de gestão
São tarefas administrativas realizadas pelo
Valor público magistrado e seus auxiliares, com a finalidade
de tornar eficiente e dinâmica a atividade-
Valor público é uma abordagem de meio do Poder Judiciário, fazendo cumprir os
aperfeiçoamento da governança e um produto ditames processuais constitucionais
do serviço de justiça (Moore, 1995)
Atos de jurisdição
Marcam a entrega do serviço de justiça ao
usuário, fazendo cumprir uma determinação
da atividade-fim do Poder Judiciário
O termo valor está ligado, em geral, à quantidade monetária destinada a um objeto que,
logicamente, desperte interesse do mercado (Michaelis, 2018). Outras vezes, o valor é,
essencialmente, imaterial, como o encontrado nos bens históricos, ambientais, paisagísticos ou
culturais – estes últimos, garantidos no Brasil, por meio das regras contidas nos Art. 216 e 216-
A da CF de 1988 (Fiorillo & Ferreira, 2017; Gomes & Gusso, 2017; Santin & Santos, 2016).
Mesmo sem valor monetário expresso, sabe-se ou intui-se o valor que o objeto possui –
fator creditado à percepção humana, que oferece “valor” a uma ideia, um objeto ou a uma peça
artística (Cardoso & Massimi, 2017).
Quando relacionados aos seres humanos, os valores estudados na filosofia são vistos
como objeto de pesquisa; ao passo que, nas ciências sociais, além de se relacionarem a variáveis
externas (Schwartz et al., 2012), nominam as necessidades fundamentais ou instrumentais dos
indivíduos, conforme as pesquisas de Tuulik, Õunapuu, Kuime e Titov (2016), Giacomino, Li
e Akers (2013), Giacomino, Brown e Akers (2011), sendo reconhecidos na Declaração
Universal dos Direitos do Homem, da Organização das Nações Unidas (ONU).
O início da investigação sobre valores humanos está ligado aos gregos Sócrates, Platão
e Aristóteles, na Grécia antiga, sendo a glória (entendida como reconhecimento), a lealdade, a
53
Nietzsche (1918), com a obra The genealogy of morals, criticou as posturas cristãs,
afirmando que a filosofia teria encontrado outro sentido para o termo “valor”, ao colocá-lo
como centro das pesquisas: não se tratava mais de um substrato da moralidade individual, haja
vista sua dependência do aceite e da repercussão pública para ser reconhecido. A partir de então,
iniciou-se o estudo dos critérios de valoração, classificação e hierarquização dos valores
(Nietzsche, 2011).
Foi também no início do século XX, com o estudo dos alemães Max Scheler e Nicolai
Hartmann, que os valores receberam lugar de destaque nas investigações, quando diretamente
relacionados às experiências humanas. Ambos reagiam à ética formal de Kant e consideravam
os valores como realidades absolutas. Para Scheler, o “ser” e o “valor” vivem em mundos
separados, sendo os valores produzidos por fenômenos e não por sujeitos (Scheler apud Cadena,
2013).
Para além da Alemanha, o estudo sobre valores provocou grande interesse na Itália com
Luigi Stefanini (1891-1956), que aproximou os valores humanos dos princípios cristãos
(Cappello, 2017). Na França, com Louis Lavelle (1883-1951), a subjetividade foi afastada dos
valores (Pereira, 2013). Na Espanha, José Ortega y Gasset entendeu os valores como resultado
54
Já nos EUA, John Dewey (1859-1952) aduziu que viver em sociedade significava
transmitir e comungar valores reais e experienciáveis (Souza, 2010). Na Inglaterra, George
Edward Moore defendeu que os valores são intrínsecos e influenciáveis, sendo que o sujeito
não consegue resistir a eles (Moore, 1959).
Nesse sentido, importa alertar que fato e valor não estão separados entre si, mas
convivem e se interligam. Assim, a realidade não resiste à interferência dos valores – eles
interferem igualmente na produção do conhecimento, fazendo da ciência um conjunto de
valores que, ao mesmo tempo, comprovam e modificam a realidade (Lacey, 2006).
Para apresentar valores, o jusfilósofo Miguel Reale desenvolveu sua própria teoria,
afirmando que desvalores são antíteses de valores: para existir valor, deve haver, portanto, um
desvalor. A preferibilidade, para ele, era uma das características dos valores, já que determinada
sociedade prefere alguns, em detrimento de outros, permitindo, com isso, uma hierarquia
axiológica, em que os valores podem mudar de um ciclo civilizatório para outro (Martins,
2008).
a falsa ideia de que o público da amostra de Al-Kahtani e Allam (2013) apontaria para
resultados próximos da unanimidade, por se tratar de um povo de cultura muçulmana, com
hábitos e condutas rigorosas. Ao contrário disso, foram notadas importantes diferenças: a) para
os alunos de administração, o valor fundamental melhor avaliado foi o da vida confortável,
seguida de salvação, felicidade e prazer; e b) para os acadêmicos de engenharia da computação
e ciências, a maior relevância foi para o valor da salvação, seguido de vida confortável e de um
mundo de beleza. Todavia, para ambos os grupos, os valores instrumentais receberam a mesma
avaliação: maior intensidade para o valor da salvação e menor prioridade para o valor do prazer
(Al-Kahtani & Allam, 2013).
Nos últimos 70 anos, a humanidade passou a registrar e reconhecer seus valores mais
relevantes, inscrevendo-os na Declaração Universal dos Direitos do Homem, documento
emitido pela ONU, em 10 de dezembro 1948. Com trinta artigos, observa-se, no documento, os
direitos básicos da humanidade, estando entre eles, os valores da dignidade, da liberdade, da
solidariedade e da igualdade (ONU, 2018).
56
É importante enfatizar que os valores nada dizem, nada refletem, quando observados
em si mesmos. Sentido e relevância lhes são atribuídos quando eles são alocados em ações
humanas concretas, realçando objetos ou fenômenos socialmente relevantes (Rutgers, 2012).
Ainda, para alguns cientistas sociais, há diferença entre “valor público” e “valores
públicos”, mesmo que relacionados, porque o valor público é criado pelo Estado, em
coparticipação com os cidadãos, conforme o triângulo estratégico de Moore (1995); enquanto
os valores públicos, no plural, referem-se a padrões sociais, ideias a serem defendidas e
preservadas pelos gestores públicos (Bozeman, 2007; Nabatchi, 2011).
Retornando ao termo valor, tem-se que, além de ser um florescimento interior do ser
humano (Robertson, 2016), ele é fruto de uma construção dialogada entre os envolvidos e,
portanto, sensível ao tempo-espaço (Binoche, 2014).
Os valores são critérios que auxiliam nas escolhas e justificam as ações humanas; então,
como todas as pessoas não possuem os mesmos valores, nem todos os valores têm, por
conseguinte, a mesma importância. Isso explica porque eles são estudados em antropologia,
filosofia, sociologia, psicologia social, economia, entre outras áreas do conhecimento,
conforme o escopo que convém a cada ciência (Chaui, 2000).
Nem sempre se tem consenso sobre o conceito de valor, mas é seguro afirmar que a
filosofia, a economia e a ciência política, há tempos, debruçam-se sobre o tema (Correia &
Bilhim, 2017). No que diz respeito ao universo não racional, mesmo que inserto na lógica anglo-
saxônica, representa a forma que se percebe a realidade como algo bom ou mau, verdadeiro ou
errático, conforme Almeida e Brás (2012); enquanto que, na perspectiva aplicada, de acordo
com Correia e Bilhim (2017, p. 989), os valores significam “crenças, pressupostos básicos
suscetíveis de serem hierarquizados, que se posicionam acima de situações específicas” e, por
57
A título de fornecer mais um exemplo, destaca-se o estudo do holandês Zeger van der
Wal (2016), que relatou os argumentos invocados por congressistas americanos durante o
período de 1883-2002, cujas opiniões e preferências dos políticos eleitos formaram os valores
públicos, que moldaram as atitudes e comportamentos dos gestores públicos.
É imprescindível iniciar as reflexões com os estudos de Mark Moore (1995) que, a partir
de dados empíricos e teóricos, apresentou um modelo para produzir o valor público. Na obra
Creating public value: strategic management in government, tratou dos custos e benefícios que
os serviços públicos podem promover, não apenas monetariamente, mas também nas ações do
governo que afetam os princípios democráticos da liberdade, equidade, capacidade de resposta,
transparência, participação e cidadania. Para o autor, o objetivo finalístico do trabalho dos
gestores públicos é a criação de valor público (Moore, 1995).
Ambiente
autorizador
legitimidade
confiança
Capacidade Objetivos
operacional estratégicos
viabilidade operatividade
serviços resultados
Os elementos da teoria do valor público, em Moore (1995, pp. 53-86), definindo o valor
público, pretende responder à seguinte pergunta: O que os gestores públicos necessitam fazer
para produzir valor público? O valor público, quando positivo, faz melhorar a credibilidade do
Estado no desempenho de suas tarefas. Os referidos elementos estão abaixo sintetizados:
É importante reforçar que existe uma condição primordial para a produção de valor
público – adotar uma estratégia legítima, factível e sustentável, contendo baixo investimento
monetário e pouco desgaste de autoridade, além uma eficiente operacionalidade.
61
A teoria do valor público de Moore (1995), vista como uma abordagem de estratégia
governamental, recebeu várias críticas, entre elas, a de Stoker (2006), Rhodes e Wanna (2007,
2008, 2009) e Prebble (2012), sinteticamente apresentadas a seguir.
O pesquisador britânico, traça alguns parâmetros para que a teoria do valor público
possa, a seu ver, fazer-se realidade. Por exemplo, se a filosofia implícita dos gestores é a de
criar valor público, então, para saber se o valor é realmente entregue, faz-se necessário ter um
envolvimento harmônico entre gestores públicos e cidadão. E, como é de conhecimento
comum, harmonia em ambiente político não é acontecimento frequente; ao contrário, mostra-
se uma raridade (Stoker, 2006).
de decisão. Todavia, ao contrário do que acredita Moore (1995), cada vez menos há interessados
em contribuir com a política estatal.
O crítico também chama a atenção para a compreensão do gestor público como alguém
participante da produção do valor público, cujo processo é de avaliação e aprendizado
contínuos, haja vista que governar em coparticipação exige repensar decisões e posturas,
mantendo sempre o diálogo, o respeito e a legitimidade. A expectativa de que os gestores
consigam administrar eficazmente a democracia, sem segregar qualquer dos interessados é,
então, um grande dilema (Stoker, 2006).
Outra crítica – considerada uma das mais contundentes – foi exarada pelos
pesquisadores australianos Rhodes e Wanna (2007), ao afirmarem que a teoria do valor público
não poderia ser adotada fora dos Estados Unidos da América ou fora de sistemas de governo
presidencialistas.
Para eles, Moore (1995) apresentava argumentos confusos, sendo que a “fórmula” do
triângulo estratégico não poderia ser aplicada em qualquer ambiente político, mesmo que
democrático. Eles insistiam na ideia de que o criador da teoria do valor público ignorava a
dinâmica da vida política australiana e pretendia fazer do servidor público um “guardião
platônico” do Estado, por conta de sua impossibilidade de participar das decisões de governo,
devendo apenas e tão-somente cumpri-las, nos moldes determinados pelo gabinete ministerial
(Rhodes & Wanna, 2007).
valor público fosse gerado pela máquina estatal, ele não teria relevância para os comandantes e
muito menos para os comandados, porque tudo estava posto e funcionava segundo as regras
existentes.
A finalidade foi demonstrar que não há apenas boas intenções nas decisões políticas
(apenas hipóteses benignas); ao contrário, decisões políticas, muitas vezes, são desajustadas ou
mesmo parciais, e esse tipo de autonomia não poderia chegar até os gestores públicos, devendo
permanecer no topo da hierarquia estatal (Rhodes & Wanna, 2009).
De forma contundente, os autores apontam que Moore (1995) inventou papéis para
funcionários públicos não nomeados ou preparados, já que gestores públicos não podem
suplantar os políticos na tomada de decisões, pois não são árbitros do interesse público, apenas
cumprem ordens superiores, nada mais (Rhodes & Wanna, 2009).
Por conseguinte, corroborados por Stoker (2005), Rhodes e Wanna (2009) afirmam que
gestores públicos não estão autorizados a fazer política ou aproximar a política da gestão
pública.
Os autores também alegam que não é possível perceber uma teoria pura, capaz de
sustentar a administração pública de valor, em Moore (1995). Segundo Rhodes e Wanna (2009),
no texto criticado, há o que parece ser uma pretensa teoria empírica, um conjunto de técnicas
gerenciais e uma nova abordagem sobre governança pública. No entanto, segundo eles, em
nenhum momento, naquele estudo, são apresentadas uma estrutura teórica convincente ou um
conceito claro, tampouco dados da “descoberta” ou qualquer ferramenta operacional de gestão.
65
Rhodes e Wanna (2009) acusam Moore de ter descrito um mundo idealizado, onde o
valor público pressupõe uma visão hegemônica sobre a política e a governança; no qual
governantes, organizações, gestores públicos e cidadãos, supostamente, desejam fazer o bem:
ajudar e atender às aspirações dos cidadãos. Teria, então, o criador da teoria do valor público
enaltecido a postura e o entusiasmo (habilidades inovadoras) e a coragem de gestores públicos,
esquecendo-se, contudo, de descrever o lado mais denso (o lado negro) da gestão pública
(quando, por exemplo, ela desempenha atividades sancionatórias, de controle e gestão de
restrições – lugar com pouca ou nenhuma simetria de vontades).
Para Rhodes e Wanna (2009), se Moore (1995) pretendeu que o valor público fosse o
sucessor e herdeiro da governança (NPM), por óbvio, ele sofreria das mesmas fraquezas
inerentes àquela abordagem gerencialista. Para os autores, essa teoria, por conseguinte, teria
nascido natimorta.
Prebble (2012) afirma não ser crível que Moore (1995) entendesse haver uma constante
racionalidade entre gestores públicos e cidadãos, já que a realidade não mostra simetria entre
eles. Ademais, o interesse próprio muitas vezes se sobressai ao coletivo, pois as pessoas têm
preferências heterogêneas e, também, para completar o quadro negativo, o Estado tende a não
informar suas reais intenções políticas, causando ruídos para com a confiabilidade e
legitimidade.
O pesquisador arremata sua crítica, dizendo ser notório que servidores ou gestores
públicos detêm menos autoridade que os agentes políticos e, por consequência disso, há uma
considerável diminuição do zelo quando da participação na gestão do Estado.
Mesmo diante das críticas acima referenciadas, a teoria do valor público de Moore
(1995) tem inspirado a muitos, nas últimas duas décadas: Estados, gestores públicos,
pesquisadores, institutos de pesquisa e escolas de gestão pública. A teoria do valor público
trabalha com a estratégia e o comprometimento dos gestores na governança estatal (O’Flynn,
2007; Alford, 2008; Alford & O’Flynn, 2008).
66
Nenhum demérito terá a gestão do valor público se não puder ser empregada, com as
mesmas características, em todos os Estados democráticos. Ao contrário, cada Estado pode
reavaliar a forma de governar, pois a autoridade e a legitimidade são permanentemente
negociadas, reavaliadas e atualizadas. A governança estatal é naturalmente ambígua,
mostrando-se, ao mesmo tempo, rigorosa e pouco dialógica na cobrança de impostos e
imposição de sanções, e altruísta, quando auxilia diretamente os necessitados (gratuidade da
justiça), não sendo motivo de invalidação da teoria de Moore (1995), segundo registram Perry
e Hondeghem (2008).
Ressalta-se mais uma vez que a teoria do valor não foi pensada exclusivamente para
gestores públicos americanos ou australianos; para sistemas presidencialistas ou
parlamentaristas de governo, mas motivou e ainda motiva uma séria discussão sobre o processo
político nas democracias liberais (Moore, 1995).
Moore, mesmo sob o crivo das críticas negativas e positivas, persistiu nos seus estudos
(Moore & Khagram, 2004; Moore, 2007), tanto que, em 2013, publicou a obra Recognizing
public value, propondo reconhecer, revisitar e refinar os termos da teoria publicada em 1995,
propondo, com isso, uma forma de medir valores públicos para além das ferramentas contábeis
(Moore, 2013).
67
Nesse caminho, Moore (2013) indica que a aferição do valor público necessita
considerar os quatro tipos de trabalho realizados pelos gestores públicos: trabalho técnico,
gerencial, filosófico e político. O trabalho técnico reporta à medição empírica e contábil; o
gerencial significa, entre outros, a construção de metas e os procedimentos para a obtenção de
êxitos; a atividade filosófica envolve conceitos de justiça, deveres, responsabilidades e
privilégios dos envolvidos; e o trabalho político, exercido por todos os gestores públicos
(agentes políticos e agentes operacionais) – por certo, o mais sensível, alimenta a legitimidade
do ecossistema autorizador, podendo, como os demais, ser medido e passível da prestação de
contas públicas (Moore, 2013).
Moore (2013), mesmo mantendo as bases da teoria do valor público publicada em 1995,
preocupou-se em refinar o triângulo do valor público para mais adequadamente mensurar a
qualidade e importância dos valores públicos produzidos pelo Estado (Figura 3).
68
Ecossistema
Autorizador
Legitimidade
e confiança
Ecossistema
Social/físico
Valores
públicos
Capacidade
operacional
operatividade
viabilidade
Destaca-se que valor público não é sinônimo de opinião pública, por não ser imutável;
ao contrário, ele surge e evolui, oferecendo sentido à administração pública. Valor público é,
por conseguinte, parte integrante da governança lapidada (Tabela 2), especialmente para os
Estados democráticos liberais (Moore, 2013; Fukumoto & Bozeman, 2018).
69
Valores públicos são relevantes em todos os Estados democráticos e, para alguns casos,
remetem a um sentido global, mostrando-se úteis para orientar, por exemplo, a questão da
migração forçada de refugiados para a Europa, pois todos os envolvidos possuem, de alguma
forma, seus interesses individuais e coletivos afetados (Geuijen, Moore, Cederquist, Ronning
& van Twist, 2017).
Inexiste no trabalho de Moore (1995) uma clara definição do que sejam valores públicos,
mesmo que constatada sua existência e a possibilidade de sua aferição. Tal ausência fomentou
e fomenta inúmeras digressões, como, por exemplo, a de O'Flynn (2007), que assegura a posse,
pelo valor público, de um construto multidimensional, que é reflexo das preferências políticas
dos cidadãos (O'Flynn, 2007).
No mesmo sentido, Talbot (2011) afirma que o conceito de valor público é formado por
interesse público, individual, coletivo e procedimental do Estado. Nesse sentido, Papi et al.
(2018) descrevem que vetores poderiam desenhar a ideia de valores públicos, sendo que
benefícios e sacrifícios estariam em sentidos inversos, para mostrar que, quando existe um
70
aumento nos benefícios estatais, isso implicaria em uma diminuição dos sacrifícios da
coletividade e vice-versa (Papi, Bigoni, Bracci & Deidda Gagliardo, 2018).
O valor público já foi interpretado como paradigma de gestão (Kelly, Mulgan & Muers,
2002; O´Flynn, 2007; Stoker, 2006), sendo uma forma de abordagem incluída na governança
(O'Flynn, 2007). Horner, Lekhi e Blaug (2006), por sua vez, afirmam que o valor público é
percebido como alternativa de gestão pós-governança ou como um tipo de governança
institucional, baseada em redes.
O fato é que a teoria do valor público não atingiu, ainda, um quarto de século, e continua
se mostrando inovadora, apesar da existência natural de tensões vigorosas para firmar seus
limites conceituais (Fukumoto & Bozeman, 2018).
Como foi visto, nada é mais complexo e desafiador do que conceituar valores públicos
a partir da teoria de Moore (1995). Isso se dá porque sua zona de origem perpassa
influenciadores geográficos, culturais, econômicos, religiosos. A despeito disso, alguns
estudiosos chegaram a determinados conceitos (Quadro 4).
Conceito Autor
Para esta tese, entendeu-se como primordial a construção de um conceito próprio; dessa
forma, os valores públicos são bens imateriais, coproduzidos entre Estado e cidadãos, para
proporcionar respeito às normas, estabilidade social, qualidade dos serviços públicos e
confiança na autoridade democraticamente cedida ao governo.
71
A forma pela qual os ramos da ciência trataram do tema em análise foi estudada por Van
der Wal et al. (2015), que investigaram, em revisão de literatura, as abordagens oferecidas em
18 disciplinas acadêmicas e mais 40 áreas temáticas. Para tanto, eles utilizaram a meta-análise
de 397 publicações, sendo a mais antiga datada de 1969. Desse modo, foram garimpadas
publicações de 40 anos (1969 a 2012). O termo “valor público” foi incluído em três motores de
busca: SI Web of Knowledge, ProQuest e Google Scholar. Os dados da pesquisa foram
revisados pelos autores e por 50 experts do CORD14, resultando em 81% da amostra de artigos
de revistas; 15% entre livros, capítulo/revisão de livros; e 4% de outros materiais, o que faz a
percepção dos valores públicos multifacetada (Tabela 5).
Buscando responder como e por que razão os valores públicos são ensinados em
disciplinas similares, Graaf e Wal (2017), igualmente em revisão de literatura, ofereceram luz
aos dados levantados entre 1969 e 2014, encontrando 50 publicações entre as disciplinas de
ciência política, economia e direito. Os resultados apontam que cada uma das disciplinas
14
Center for Organization Research & Design (CORD), da Universidade do Arizona/EUA. Recuperado de:
https://cord.asu.edu.
72
Vale lembrar que, para a governança (NPM), os valores públicos foram concebidos a
partir dos sistemas organizacionais e financeiros do setor privado (Denhardt & Catlaw, 2017),
oferecendo significado, por exemplo, para a transparência e a responsividade, do inglês
accountability (Mezzaroba, Bernieri & Bier, 2014).
15
Marc Vermeulen: professor de administração pública na Stellenbosch University da África do Sul. Recuperado
de: www.tias.edu/faculty/profiel/marc-vermeulen.
74
O pesquisador dinamarquês Torben Beck Jørgensen, a partir do início dos nos 2000,
pesquisou vigorosamente valores públicos, influenciando, como fez Vermeulen, novos
trabalhos, como: Jørgensen e Bozeman (2002, 2003), Vrangbæ e Sørensen (2009), Martins e
Jørgensen (2010), Jørgensen e Vrangbæk (2011), Jørgensen e Sørensen (2012), Andersen et
al.,(2012), Jørgensen e Rutgers (2014, 2015) e Van der Wal (2017).
havia a maior parte dos escritos sobre valor público da época e, também pelos Estados Unidos
serem um país com diferente postura, no que dizia respeito ao estado de bem-estar do cidadão,
influenciando singularmente a produção científica dos valores públicos.
Da busca de Jørgensen e Bozeman (2007), emergiram 230 estudos e 72 valores públicos
foram registrados, sendo que, após várias depurações e classificações, resultou uma lista com
os 11 valores mais citados e associados à good governance (Quadro 6).
A pesquisa de Van der Wal et al. (2006), inspirada em Vermeulen (2003), explorou o
comparativo entre ética, moral, valores do setor público e do setor privado. Os pesquisadores
levantaram dados contidos em códigos de conduta, revisaram literatura e estabeleceram a
perspectiva de que os valores somente podem ser observáveis por meio de ações ou decisões
administrativas (realidade observável) – definindo, destarte, os valores como qualidades
humanas, nas buscas científicas.
Da pesquisa de Van der Wal et al. (2006), resultou uma relação com os 20 valores
organizacionais (e seus significados) mais partilhados entre os setores público e privado.
(Tabela 6).
76
Para esta que tem como base a pesquisa de Van der Wal et al. (2006), serão considerados
os 8 valores que mantêm correlação com a administração pública. A preferência por tais valores
públicos universais (intercomunicantes entre setor público e privado) emergiu da pesquisa de
Van der Wal et al. (2008), que constatou haver valores exclusivos para o setor público e para o
setor privado, bem como o compartilhamento de valores por ambos os universos.
Na amostra de Van der Wal et al. (2008), foram identificados como valores partilhados
entre setor público e privado: legalidade, incorruptibilidade e imparcialidade (valores
77
Rentabilidade
Inovação
Honestidade
Accountability
Expertise/perícia
Confiabilidade
Efetividade Legalidade
Eficiência Incorruptibilidade
Imparciabilidade
No estudo de Van der Wal et al. (2008), a partir da literatura e da realidade fática,
questionou-se em que medida poderia haver convergência de valores guiando o setor público e
o privado. Para tanto, os pesquisadores ouviram 382 gestores holandeses (setores público e
privado), sendo que os valores mais lembrados – confirmando a ferramenta de pesquisa de Van
der Wal et al. (2006), foram: accountability, legalidade, incorruptibilidade, expertise/perícia,
confiabilidade, eficácia, eficiência e imparcialidade.
Em Portugal, com a mesma preocupação de Van der Wal et al. (2006), tem-se o trabalho
de Bilhim e Correia (2016), uma pesquisa empírica, que realizou o tratamento estatístico dos
dados levantados. O estudo foi levado a termo junto dos candidatos a cargos de direção na
administração central de Portugal. A entrevista foi conduzida no mês de julho de 2015 (Figura
5).
Valores organizacionais
gerais
Autorrealização
Transparência Valores exclusivos Valores partilhados Valores exclusivos
Colegialidade setor público público/privado setor privado
Obediência
Obediência Eficácia
Dedicação o
Legalidade Eficiência Inovação
Justiça social
Imparcialidade Expertise Honestidade
Prestabilidade Incorruptibilidade Lucratividade
Confiabilidade
Sustentabilidade
Prestação de contas
Valorização do cidadão
A amostra da pesquisa de Correia e Bilhim (2016) recebeu 1.661 respostas, das quais
1.505 foram consideradas válidas, chegando a um nível de confiabilidade de 0,9500 (ou
95,00%). Os resultados revelaram uma diferença estatisticamente significativa nas percepções
dos valores associados ao setor público, face aos da dimensão que mediu valores partilhados
(Tabela 8).
80
Valores
Valores partilhados entre setor
associados ao % %
público/privado
setor público
Legalidade 31,1 Eficiência 36,5
Imparcialidade 37,2 Prestação de contas/accountability/responsividade 19,5
Incorruptibilidade 31,2 Confiabilidade 18,3
Eficácia 14,4
Expertise/perícia 11,3
Assim, a questão de pesquisa proposta por Correia e Bilhim (2016), que discutiu o
domínio do paradigma da common law sobre o paradigma europeu continental, na condução da
administração pública, obteve resposta para indicar que os comandos common law contribuíram
de forma mais expressiva até mesmo na Europa continental.
A análise de Nabatchi (2017) relembra que, nos Estados Unidos, os valores públicos
políticos estão inseparavelmente ligados à democracia liberal, procurando equilibrar a
discricionariedade administrativa com valores de legalidade, accountability e controle social,
realizável pelos interessados.
Valores
Valores partilhados entre setor
associados ao % %
público/privado
setor público
Legalidade 47,8 Prestação de contas/accountability/responsividade 30,5
Imparcialidade 32,4 Confiabilidade 20,5
Incorruptibilidade 19,9 Expertise/perícia 15,0
Eficiência 21,4
Eficácia 12,6
Para os valores públicos jurídicos/legais, Nabatchi (2017) alerta que, ao mesmo tempo
em que sustentam o Estado democrático de direito, eles podem ser vistos como obstáculos para
reformas gerenciais.
Quanto aos valores públicos organizacionais, Nabatchi (2017) enfatiza serem os mais
conhecidos e facilmente articulados pelo ethos burocrático, pois a percepção de valor público
está concentrada na gestão. Para o grupo de valores de mercado, também contido no ethos
burocrático, as raízes desse núcleo estão ligadas aos princípios gerais dos negócios, que
considera valiosos o liberalismo e o individualismo econômicos para gerir o Estado, como se
faz nas organizações privadas.
Em 2018, ainda com foco na teoria do valor público de Moore (1995), os pesquisadores
Sami, Jusoh, Nor, Irfan & Qureshi (2018) realizaram, por meio das revistas indexadas pelo
índice Scopus, uma revisão de literatura. Utilizaram a palavra-chave “valor público” e
levantaram dados no período de 1995 a setembro de 2018, sendo encontradas 413 publicações
sobre o tema (Sami, Jusoh, Nor, Irfan & Qureshi, 2018)
A pesquisa de Sami et al. (2018) apontou que o valor público é visto como uma filosofia
de gestão, e que apenas o serviço público de qualidade produz valor. Eles registram que o valor
não é apenas reflexo da eficiência pública, mas também do atendimento das expectativas da
sociedade, enfatizando que, para o setor privado, o valor básico é o lucro; enquanto que, no
setor público, o valor perseguido é, essencialmente, o bem-estar do cidadão.
A estatística levantada no estudo de Sami et al. (2018) indica que, de 1995 até 2018,
houve uma crescente atenção da ciência para o tema, tanto que, em 2002, foram publicados 2
artigo e para 2014, foram 54 artigos. As revistas americanas International Journal of Public
83
Administration e a Public Administration Review são as que mais publicaram artigos sobre o
tema pesquisado (Sami et al. 2018).
Em 2018, esta tese, buscando publicações sobre valores públicos que envolviam a teoria
de Moore (1995) para o Poder Judiciário, realizou uma revisão estruturada confirmatória de
literatura, tendo como base alguns dos dados de Sami et al. (2018). Para tanto, foi acessada a
base de dados da Scopus, levantando-se a produção científica ocorrida entre janeiro de 1995 e
dezembro de 2018.
Na mencionada pesquisa, a exploração dos dados se iniciou pelo inglês “query” (TITLE-
ABS-KEY (“public value”) AND TITLE-ABS-KEY (“public administration”)) AND
PUBYEAR>1994 AND (LIMIT-TO (DOCTYPE, “ar”) OR LIMIT-TO (DOCTYPE, “ip”))
AND (LIMIT-TO (SUBJAREA, “SOCI”) OR LIMIT-TO (SUBJAREA, “BUSI”). Dessa
forma:
a) na primeira etapa, no filtro principal, foram colocadas a palavra-chave “public
value”, observando-se que o início da pesquisa foi marcado para janeiro de1995 e o
final no dia 11 de dezembro de 2018. Foram contempladas, nessa fase da busca,
todas as áreas do conhecimento que contivessem “article” (artigos) e “article in
press” (artigos selecionados para publicação) e, dessa extração, emergiu o registro
de 1.687 publicações;
b) na segunda etapa, delimitou-se a busca para as áreas do conhecimento “social
sciences” (ciências sociais), “business” (negócios) e “management and accounting”
(gestão e contabilidade), sendo que, desses refinamentos, com base no achado
inicial, as publicações foram reduzidas para 808 unidades;
c) na terceira e última etapa, mantidas as delimitações anteriores, acrescentou-se a
restrição “public administration” (administração pública), resultando em 147
publicações.
Em busca de material atinente ao valor público produzido por tribunais, todas as 147
publicações foram mapeadas e extraídas para leitura dos respectivos resumos, sendo então
classificadas por subtemas.
Inicialmente, tem-se que as publicações (Tabela 11) registram crescente interesse, com
18 artigos para o ano de 2016 e 20 artigos até 11 de dezembro de 2018.
84
Ano Nº de publicações
2018 20
2017 13
2016 18
2015 21
2014 20
2013 8
2012 11
2011 9
2010 9
2009 6
2008 3
2007 2
2006 3
2005 1
2002 1
1997 1
1995 1
Na confecção dos 147 artigos selecionados, detectou-se estarem envolvidos 160 autores,
dos mais variados países e, entre os 40 melhores posicionados (Tabela 12), foram encontrados
nomes de relevância para o estudo da administração pública, sendo que muitos já haviam sido
citados na presente tese, como, por exemplo: (a) Zeger Van der Wal, professor de gestão pública
na Universidade Nacional de Singapura e na Universidade de Leiden na Holanda; (b) Abdul
Sami, afiliado a Universidade Tecnológica da Malásia; (c) Tina Nabatchi, professora de gestão
pública internacional junto à Syracuse University, Estados Unidos; (d) Jonh Alford, professor
e pesquisador da Universidade de Melbourne, Austrália; (e) Mark R. Rutgers, professor de
Ciência Política na Universidade de Amsterdam, Holanda.
85
Nº de Nº de
Afiliação Afiliação
publicações publicações
Por outro lado, constatou-se que os países desenvolvidos são os que mais produzem
artigos científicos sobre valores ligados à administração pública, como no caso dos Estados
Unidos, com 47 publicações; Austrália, com 27 registros; e a Holanda, com 22 indicações
(Tabela 14, com os 30 países melhor ranqueados).
O Brasil, mesmo sem cultura acadêmica firmada sobre o tema, aparece com 2
publicações (Tabela 14), ambas publicadas pela Revista de Administração Pública (RAP), da
Fundação Getúlio Vargas (FGV) do Rio de Janeiro. O primeiro artigo, em 2014, que analisou
a gestão estatal por resultados e a produção de valor público pela Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA (Porpino & De Stefani, 2014); e o segundo, de 2015, que
87
tratou de valores públicos, em estudo de caso junto ao Tribunal de Contas dos Municípios do
estado da Bahia (Reis, Dacorso & Tenório, 2015).
Nº de Nº de
Países Países
publicações publicações
Estados Unidos 47 Itália 2
Austrália 27 Malásia 2
Holanda 22 Romênia 2
Reino Unido 8 África do Sul 2
Dinamarca 6 Coreia do Sul 2
França 5 Espanha 2
Singapura 5 Suécia 2
Bélgica 4 Chile 1
China 4 Gana 1
Nova Zelândia 4 Grécia 1
Canadá 3 México 1
Taiwan 3 Noruega 1
Brasil 2 Portugal 1
Alemanha 2 Arábia Saudita 1
Hong Kong 2 Eslovênia 1
Dos 147 artigos encontrados, após classificação por subtemas, 97 ligam a governança à
produção de valores públicos estatais; 8, de alguma forma, criticam a teoria de Moore; 7
registram algum ponto de contato com o Direito (universo jurídico); 1conecta a motivação dos
gestores públicos com a produção de valores públicos; 2 se preocupam com a forma de ensinar
valores públicos nas universidades; 31 fazem ponte entre a atividade governamental e a
produção de valores públicos; e , por fim, 1 artigo, do próprio Moore, publicado em 2014, que
defende a teoria apresentada em 1995. Infelizmente, nenhum artigo faz menção aos valores
públicos ligados à administração dos tribunais ou como produto final do serviço de justiça.
Ainda, explorando os dados, foi possível identificar os autores que promoveram o maior
número de citações: Stoker, O’Flynn, Bryson, Crosby & Bloomberg, Rhodes & Wanna e Alford
& Hughes (Tabela 15).
88
Todavia, nenhum dos artigos elencados estão diretamente ligados à produção de valor
público judicial. Assim, o “gap” teórico da presente tese mostra-se relevante, imprescindível e
necessário, na medida em que administração do Estado não se restringe aos limites do Poder
Executivo, sendo somada à administração do Poder Legislativo e à administração dos tribunais.
Desse modo, os valores públicos são produzidos por todos os poderes estatais, mas os judiciais
merecem um estudo aprofundado, pois o Poder Judiciário tem a última palavra sobre direitos e
obrigações, que envolvem cidadãos e o Estado.
jurisdição do Poder Judiciário. Enfatiza-se que a publicidade necessita da transparência dos atos
de gestão, a fim de cumprir outro comando constitucional, inscrito no Art. 5º, inciso XXXIII16,
que garante a todos o direito de conhecer dados e posturas adotados pela administração pública.
Alerta-se que, sem o valor público da publicidade, não seria possível a realidade observável das
contas públicas (Platt Neto & Ensslin 2007; Bitencourt & Reck, 2016).
Esta tese considera sinônimos os termos “valores e princípios”, mas tem preferência por
“valores”, por eles serem mais transitáveis entre as áreas do conhecimento. Mesmo sabendo da
possibilidade de argumentar acerca da resistência dos princípios e das características de
universalidade, quando são subjetivos, há perímetros de menor abrangência e de mutabilidade
permanente (Ferreira da Silva, 2007; Oliveira, 2014).
16
CF (1988), Art. 5º, XXXIII. Recuperado de: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao
/constituicao.htm.
91
No Brasil, os valores públicos são ditados pelo Poder Legislativo, quando da confecção
das normas legais; assim, os atos administrativos e os serviços promovidos pelo Estado, ou em
nome dele, devem seguir os valores gerais da administração pública brasileira, contidos no Art.
37 da CF (1988), e na execução das tarefas do Poder Judiciário, não sendo os únicos a serem
produzidos na entrega do serviço de justiça (Brasil, 1988).
Devido processo legal Respeito às garantias processuais para decisão justa e célere CF - art. 5º, LIV
Duplo grau de jurisdição Existência de recursos e tribunais para julgamento em reexame CF - arts. 5º, LV, 102, 105
Obtenção dos melhores resultados com a máxima economia de CF - art. 5º, LXXVIII
Duração razoável do processo
esforços, despesas e tempo CPC - art. 4º
Produção de resultados jurídicos que promovam a tutela do direito no CF - art. 5º, XXXV
Efetividade
plano material CPC - art. 8º
Indicador de serenidade, respeito às normas, proatividade e boa CF - art. 5º, LIII, LIV
Imparcialidade do juiz
condução do processo CPC - arts. 144, 145
Inafastabilidade do controle Proíbe a lei de excluir da apreciação do Judiciário lesão ou ameaça a CF - art. 5º, XXXV
jurisdicional/livre acesso/ desacesso direito CPC - art. 3º
Dar às partes tratamento igualitário em relação ao exercício de seus CF - art. 5º, caput, inciso I
Isonomia
direitos e faculdades processuais CPC - art. 7º
os valores em análise: valores públicos judiciais são bens imateriais, coproduzidos e ditados
pelo Estado, recepcionados pelo cidadão e materializados pelo Poder Judiciário brasileiro, para
fazer cumprir as normas, promover a estabilidade social, a confiança no serviço estatal e realizar
justiça.
Com o mesmo sentido de Guimarães et al. (2017), está o estudo de Gomes et al. (2016)
que, em pesquisa no Brasil, perquiriu sobre o papel social dos magistrados, bem como sobre a
motivação que os leva ao trabalho cotidiano. Foram entrevistados 25 juízes de 10 Estados
diferentes, todos pertencentes à Justiça Estadual Comum, lotados em unidades judiciárias,
95
No mesmo diapasão de Guimarães et al. (2017) e Gomes et al. (2016), está a descoberta
de Akutsu e Guimarães (2015) e a proposta de um modelo teórico-metodológico de governança
judicial, a partir dos resultados de sua pesquisa. Para tanto, eles utilizaram como base teórica
as premissas da teoria da agência e da teoria de custos de transação, além de revisão de literatura
e 10 entrevistas com experts do Poder Judiciário. As entrevistas foram realizadas no Brasil,
entre agosto de 2012 e março de 2013. O modelo coordenou 7 construtos teóricos:
accountability, acessibilidade, independência, recursos e estrutura, práticas de governança,
ambiente institucional e desempenho, além de algumas variáveis, para finalizar o modelo
proposto. Também, mesmo que indiretamente, os entrevistados reconheceram a produção de
valores públicos universais e valores públicos exclusivos do Poder Judiciário brasileiro (Tabela
19).
96
Na mesma linha, estudos sobre a administração pública (Tabela 20) indicam a produção
de valores públicos universais e valores públicos judiciais, do Judiciário brasileiro.
97
a valores judiciais
Accountability X X X X X X
Confiabilidade X X X
Eficácia X X X X X
Eficiência X X X X X X X X
Expertise/perícia X X X X X X X
Imparcialidade/impessoalidade/neutralidade X X X X X X X X
Incorruptibilidade X X X
Legalidade X X X X X
Vale ressaltar que nesta tese não se discute a essência dos valores públicos judiciais
(Tabela 16), visto que eles já estão inscritos na legislação vigente e com exegese profundamente
discutida na literatura jurídica contemporânea, ainda que, dos valores públicos judiciais, seja
averiguado, conforme consta no capítulo de base empírica, quais deles são produzidos na gestão
do Poder Judiciário brasileiro.
98
Segue uma síntese do presente segmento, que tratou de valores públicos, enfatizando-
se que, para a administração pública universal, esta tese encontrou 8 valores públicos; para a
administração geral do Brasil, 5 valores gerais; e, para o do Poder Judiciário brasileiro, 16
valores públicos exclusivos. Também acompanha, com base na teoria de Moore (1995), uma
proposição de conceito para valores públicos universais e valores públicos judiciais brasileiros
(Quadro 7).
Eficiência Efetividade
Inafastabilidade do controle
jurisdicional/livre acesso/ desacesso
Valores públicos são bens imateriais coproduzidos entre Estado e cidadãos para proporcionar o Juiz natural
respeito às normas, estabilidade social, qualidade dos serviços públicos e confiança na
autoridade democraticamente cedida ao governo Oralidade
Valores públicos judiciais são bens imateriais coproduzidos e ditados pelo Estado, recepcionados Proibição da prova ilícita
pelo cidadão e materializados pelo Poder Judiciário brasileiro, para fazer cumprir as normas,
promover a estabilidade social, a confiança no serviço estatal e realizar justiça Publicidade dos atos processuais
Este capítulo está organizado em duas seções: a primeira delas se refere à abordagem da
pesquisa e a segunda ao desenho da tese, ou seja, são apresentadas todas as etapas seguidas ao
longo da sua elaboração.
Esta seção tem como objetivo apresentar a visão de construção do conhecimento que
embasa a presente pesquisa, pois somente assim será possível avaliar a qualidade, a consistência
e a coerência estratégica na condução da pesquisa e análise dos resultados (Saccol, 2009).
que inclui: a) comprometer tempo prolongado em campo, tentando obter acesso e estabelecer
rapport17 em uma perspectiva de inclusão; b) engajar-se no complexo processo de análise dos
dados; c) descrever a realidade, a fim de fazer das evidências um firme e valioso substrato para
a produção do conhecimento; e d) cuidar para que os recursos disponíveis sejam suficientes no
atingimento dos resultados finais.
17
Rapport: termo da psicologia que significa “relacionar-se”, manter um relacionamento amigável com outra
pessoa. In: http://michaelis.uol.com.br/palavra/AQ1L4/rapporter/.
102
Filosofia
Dedutivo
Abordagem
Estudo de
Caso
Cross-sectional
Estratégias
Coleta e Análise
de dados
Escolha de Método
Horizonte Temporal
Multimétodos
Entrevistas
Indutivo
Técnicas e
Procedimentos
Interpretativista
e Construtivista
Esta tese foi conduzida em cinco etapas: (1) revisão da literatura; (2) etapa exploratória,
para a definição do tema e da questão de pesquisa; (3) identificação dos valores públicos
judiciais brasileiros – entrevistas exploratórias; (4) estudo de caso; e (5) conclusões da tese
(Figura 7).
103
ETAPAS RESULTADOS
A revisão de literatura é uma atividade constante ao longo de todo o tempo da tese. Essa
etapa deu subsídios para a fase exploratória (segunda etapa) e para a definição do tema de
pesquisa, pois apresenta inúmeros indícios sobre a relevância, atualidade e necessidade de
estudos sobre governança, de acordo com Moore (1995), no setor judiciário, conforme o
interesse da pesquisadora.
A segunda etapa da pesquisa, considerada a fase exploratória, foi realizada para atender
ao objetivo de descrever o novo cenário da administração judiciária, ao ponto de delimitar o
tema e definir a questão de pesquisa da tese. Para tanto, foram entrevistados 23 experts, que
detinham conhecimento teórico e técnico e que, de alguma forma, conheciam ou mantiveram
contato com o sistema judicial brasileiro. Para essas entrevistas, utilizou-se um roteiro de
questões semiestruturadas (Apêndice A).
Tabela 21. Detalhamento das Entrevistas da etapa exploratória para proposição do tema de estudo.
Duracão Páginas
Entrevistados País/cidade Data Idioma Cargo/função Órgão
entrevista degravadas
E1 Pesquisador - Professor UnB
Brasil – Brasília 08/08/2017 Português 00:36:34 7
E2 Analista - Professor TCU - UnB
Entrevistados
Valores em fase exploratória E
E1 E2 E3 E9 E10 E12 E13 E14 E15 E16 E17 E18 E19 E20 E21 E22 E23
7
Accountability X X X X X X X X X X
Autorrealização X
Boa-fé X X X X X X X X
Capacidade de resposta X X X X X X X X X
Colegialidade/colaboração X X X X X X X
Confiabilidade X X X X X X X X X X
Contraditório e ampla defesa X X X X X
Cooperação X X X X X X X X X
Dedicação X X X X X
Democracia X X X X X X X X X
Devido processo legal X X X X X X
Duplo grau de jurisdição X X X X X
Duração razoável do processo X X X X X X X
Efetividade X X X
Eficácia X X X X
Eficiência X X X X X X X X X X X X X X
Expertise X X X X X
Fidelidade/acatamento/cumprimento X X X X X
Good governance X X X X X X X X
Honestidade X X X X X X X
Imparcialidade do juiz X X X
Impessoalidade X X X X X X
Inafastabilidade do controle jurisdicional/livre acesso X X X X X X X X X X X
Incorruptibilidade X X X
Inovação X X X X X X X X X X
Isonomia X X X
Juiz natural X X
Justiça/justiça social X X X X X X
Legalidade X X X X X X X X X X X X X X X
Lucratividade X
Moralidade X X X X X X X X X X X X
Oralidade X
Persuasão racional X
Proibição da prova ilícita X
Publicidade X X X X X X X X X X X
Sustentabilidade X
Transparência X X X X X X X X X X X X X X X X
Utilidade X
3.2.3 Terceira etapa: identificação dos valores públicos judiciais brasileiros – entrevistas
exploratórias
Tempo de Onde
Entrevistados Cargo/função
trabalho/anos trabalha
P02 Juiz Federal 5 TRF4
P03 Juiz Federal 5 TRF4
P04 Juiz Federal 10 TRF3
P05 Juíza Federal 18 TRF4
P06 Juíza Federal 12 TRF1
P07 Juíza Federal 12 TRF4
P08 Juiz Federal 14 TRF3
P09 Juíza Federal 10 TRF4
P10 Juíza Federal 30 TRF3
P11 Juíza Federal 11 TRF2
P12 Gestor 22 TRF3
P13 Gestora 20 TRF3
P14 Juiz Federal 19 TRF3
P15 Gestora 16 TRF4
P16 Juíza Federal 14 TRF4
P17 Juíza Federal 16 TRF4
P18 Gestor 17 TRF4
P19 Juiz Federal 5 TRF1
P20 Juiz Federal 15 TRF5
P21 Gestor 25 TRF5
P22 Juiz Federal 25 TRF1
P23 Gestor 7 TRF1
P24 Juíza Federal 7 TRF1
P25 Gestor 21 TRF5
P26 Juiz Federal 20 TRF2
P27 Juíza Federal 15 TRF5
P28 Juiz Federal 17 TRF5
P29 Juíza Federal 18 TRF2
P30 Gestor 18 TRF2
P31 Juiz Federal 18 TRF1
P32 Gestor 12 TRF2
P33 Gestora 19 TRF1
P34 Gestor 16 CJF
P35 Juíza Federal 19 TRF3
P36 Juiz Federal 13 TRF4
P37 Juiz Federal 18 TRF4
P38 Ministro 9 STF
P39 Gestora 16 CNJ
P40 Auditor 29 TCU
P41 Auditor 7 TCU
P42 Auditor 17 TCU
41 637
reconhecimento da lista como sendo de 16 valores públicos judiciais, que, de forma livre,
expressassem as percepções sobre eles. Eles, então, determinaram se, conforme o ponto de vista
de cada um, tratavam-se de valores públicos judiciais de gestão (atividade-meio) ou de valores
de jurisdição, ligados à atividade-fim do Poder Judiciário brasileiro. As entrevistas foram
presenciais, por Skype ou FaceTime, com duração média de 26 minutos.
Devido processo legal Respeito às garantias processuais para decisão justa e célere CF - art. 5º, LIV
Duplo grau de jurisdição Existência de recursos e tribunais para julgamento em reexame CF - arts. 5º, LV, 102, 105
Obtenção dos melhores resultados com a máxima economia de CF - art. 5º, LXXVIII
Duração razoável do processo
esforços, despesas e tempo CPC - art. 4º
Produção de resultados jurídicos que promovam a tutela do direito no CF - art. 5º, XXXV
Efetividade
plano material CPC - art. 8º
Indicador de serenidade, respeito às normas, proatividade e boa CF - art. 5º, LIII, LIV
Imparcialidade do juiz
condução do processo CPC - arts. 144, 145
Inafastabilidade do controle Proíbe a lei de excluir da apreciação do Judiciário lesão ou ameaça a CF - art. 5º, XXXV
jurisdicional/livre acesso/ desacesso direito CPC - art. 3º
Dar às partes tratamento igualitário em relação ao exercício de seus CF - art. 5º, caput, inciso I
Isonomia
direitos e faculdades processuais CPC - art. 7º
Páginas
Entrevistados Data/dias Forma Tempo
degravadas
P02 17.09.2018 Presencial 00:19:25 8
P03 17.09.2018 Presencial 00:28:47 15
P04 17.09.2018 Presencial 00:11:56 6
P05 19.09.2018 Presencial 00:09:44 5
P06 19.09.2018 Presencial 00:08:46 6
P07 18.09.2018 Presencial 00:10:23 8
P08 18.09.2018 Presencial 00:18:24 15
P09 18.09.2018 Presencial 00:12:32 09
P10 19.09.2018 Presencial 00:21:10 13
P11 19.09.2018 Presencial 00:11:09 09
P12 29.09.2018 Skype 00:15:29 12
P13 29.09.2018 Skype 00:20:02 17
P14 01.10.2018 Skype 00:42:54 32
P15 02.10.2018 Presencial 00:28:26 19
P16 02.10.2018 Presencial 00:21:44 18
P17 02.10.2018 Presencial 00:24:00 17
P18 02.10.2018 Presencial 00:32:39 23
P19 05.10.2018 Skype 00:38:02 25
P20 05.10.2018 Skype 00:22:13 18
P21 08.10.2018 Skype 00:44:49 28
P22 08.10.2018 Skype 00:26:09 22
P23 08.10.2018 Presencial 00:30:41 25
P24 08.10.2018 FaceTime 00:17:57 13
P25 08.10.2018 FaceTime 00:28:45 23
P26 08.10.2018 FaceTime 00:23:57 19
P27 09.10.2018 FaceTime 00:40:07 21
P28 09.10.2018 FaceTime 01:05:05 38
P29 09.10.2018 FaceTime 00:17:50 12
P30 11.10.2018 FaceTime 00:19:19 17
P31 11.10.2018 FaceTime 00:27:50 23
P32 15.10.2018 FaceTime 00:26:48 21
P33 16.10.2018 FaceTime 00:25:44 22
P34 16.10.2018 FaceTime 00:21:45 19
P35 21.05.2018 Skype 00:55:53 32
P36 18.05.2018 Skype 00:21:57 18
P37 18.05.2018 Skype 00:32:45 24
P38 06.12.2017 Presencial 00:14:58 6
P39 09.08.2017 Presencial 00:47:40 22
P40 09.08.2017 Presencial 00:57:26 27
P41 09.08.2017 Presencial conjunto conjunto
P42 09.08.2017 Presencial conjunto conjunto
41 17:25:10 707
Para a análise de conteúdo, foi utilizado o software Atlas.ti, que auxilia na interpretação
qualitativa de dados, porém não retira do pesquisador a tarefa de compreender e dar significado
a eles, como argumenta Bandeira-de-Mello (2006).
No referido software (Atlas.ti), foram realizados os seguintes procedimentos: (1)
registro de todas as entrevistas; (2) geração das 34 categorias para considerar tempo de serviço
112
dos entrevistados, atividade desenvolvida, entre outras; (3) geração das 35 famílias de códigos
para abranger, entre outros, os 16 valores públicos judiciais, o acesso ao processo eletrônico, as
ações empreendedores; (4) geração de 1695 “quotas” ou ocorrências, retiradas da fala dos
entrevistados para alimentar a família de códigos. O Apêndice BB apresenta um printscreen de
uma das telas da ferramenta, que permite a visualização do trabalho realizado.
Com base nessas entrevistas, foi possível clarificar quais valores judiciais de gestão
estavam contidos na lista de 16 valores públicos judiciais, retirados da legislação brasileira.
Sinteticamente, então, essa etapa da pesquisa realçou, dentre os valores judiciais ditados pela
legislação, os valores públicos exclusivamente de gestão do Poder Judiciário, sendo que os
experts perceberam, entre eles, oito, produzidos na atividade-meio (área de gestão) do Poder
Judiciário.
A Justiça Federal (JF) comum brasileira foi selecionada, por apresentar mais harmonia
de gestão entre os cinco TRF’s do que a justiça comum estadual (CJF, 2018; CNJ, 2018)
apresenta. Na JF comum, optou-se pelas unidades judiciárias, pois elas recebem a maioria das
demandas – o que é um reflexo natural dos conflitos sociais. A escolha pelo estudo da gestão
das varas cíveis se pautou no fato de que eles detêm o maior número de processos em
andamento, como foi demonstrado pelo Relatório Justiça em Números, de 2017 (p. 38), ou seja,
dos 3.801.911 processos novos, apenas 124.020 pertenciam à seara criminal (CNJ, 2018).
Na unidade de análise tratou-se de estudar um caso extremo. Posto que o estudo deste
cenário possibilita ao pesquisador, a partir de técnicas adequadas, obter uma melhor
compreensão das particularidades do fenômeno, qualidades que são excluídas quando das
análises quantitativas tradicionais (Gerring, 2007).
Para o estudo de caso, procurou-se selecionar uma unidade judiciária da Justiça Federal
comum que evidenciasse a utilização das regras de governança, conforme o valor público de
Moore (1995). Foi também critério de escolha o fato da unidade ter elevados índices de
eficiência e ser considerada um modelo de gestão para o Poder Judiciário.
Foram também coletados dados secundários, por meio de documentos, como: relatórios
de produtividade, relatório de audiências realizadas, leis, resoluções, entre outros (Anexos E,
F, G e H). Apesar da coleta de dados ter se concentrado na referida semana, é importante
destacar que a busca por documentos continuou acontecendo ao longo do segundo semestre de
2018, sendo recebidas as últimas evidências, via e-mail, até 19 de dezembro de 2018.
técnica judiciário
P47 Ensino médio e vários cursos de aperfeiçoamento 21
“gestora”
Páginas
Entrevistados Data/dias Forma Tempo
degravadas
P43 30.05.2018 Presencial 00:15:22 7
11 3 06:12:25 230
Ainda conforme a literatura e como regra geral, a saturação dos dados ocorre com
concretização de 8 a 15 entrevistas, sendo que 12 entrevistas é o número mais indicado (Thiry-
Cherques, 2009; Galvin, 2015). Mas para estudos fenomenológicos, como é o caso da presente
tese, a saturação de dados, especialmente quanto às entrevistas, tem-se que pode ser atingida
com a participação de 5 a 25 entrevistados (Creswell, 2014), enquanto que para Morse (2004),
o número é de 6 participantes.
A análise dos resultados foi seguida pela discussão aprofundada e crítica sobre a
produção de valores públicos judiciais, materializados na unidade de análise.
Cabe salientar que os resultados obtidos foram cristalizados no estudo de caso extremo
e que, naturalmente, por ser um caso de sucesso, pode falsamente indicar, uma certa dificuldade
de extrapolação e generalização dos dados. Mesmo que nas pesquisas qualitativas e
interpretativas, como é o caso da presente tese, “a generalização a partir de um determinado
contexto para uma população não é procurada; ao invés disso, a intenção é compreender a
118
estrutura profunda de um fenômeno, que, se acredita, pode ser usado para informar outro
ambiente” (Orlikowski e Baroudi, 1991, p. 5).
A última etapa da condução da tese foi a elaboração das respostas aos objetivos traçados,
bem como da questão de pesquisa. Nesta etapa, pode-se, também, elencar as contribuições de
cunho teórico e prático, apontar as limitações de todo o processo de desenvolvimento da
pesquisa, bem como apresentar ideias para trabalhos futuros.
119
A análise dos dados contidos neste item refere-se aos valores públicos produzidos no
Poder Judiciário brasileiro. Este capítulo apresenta os valores públicos, analisa e discute a
percepção dos entrevistados quanto aos valores públicos judiciais, no que diz respeito à gestão
e a à jurisdição. No final do capítulo, a título de apresentar um resumo, há uma análise sintética
da discussão levada a termo.
Nessa fase da pesquisa exploratória, coletou-se dados empíricos por meio de entrevistas
com 41 profissionais envolvidos na gestão judiciária federal brasileira, como apresentado de
forma detalhada no capítulo da abordagem metodológica (Capítulo 3).
A seguir está a apresentação dos 16 valores públicos judiciais, com a análise e discussão
dos dados coletados. Com a mencionada análise, tem-se a percepção dos entrevistados de cada
um dos Tribunais Regionais Federais nacionais e, também, conforme o tempo de serviço dos
respondentes, a fim de classificar os valores, como sendo produzidos na gestão judiciária e
durante a entrega do serviço de justiça.
Importante enfatizar que não é missão da presente tese oferecer conceito para cada um
dos valores públicos judiciais estudados. Contudo, para melhor contextualizar os valores
públicos em análise, entendeu-se imprescindível apontar alguns traços seminais da literatura,
bem assim identificar como cada um dos referidos valores são recepcionados neste estudo.
Segundo a CF, art. 5º, inciso LXXXIV (1988), ao Estado, cabe garantir o acesso de
todos, brasileiros ou estrangeiros ao Poder Judiciário, especialmente aqueles com insuficiência
de recursos. Trata-se de um instrumento administrativo, com ônus estatal grafado como garantia
constitucional processual, liberando o hipossuficiente do pagamento de honorários advocatícios
desde o século XIX (Brasil - lei nº 261/1841).
O art. 98 do CPC (2015) aponta que a referida garantia constitucional pode ser usufruída
por pessoas naturais ou jurídicas, na medida em que o acesso ao Poder Judiciário possa
significar o perecimento próprio ou da família.
Nesta tese, conforme a CF, art. 5º, LXXXIV (1988) e CPC (2015), art. 98, define-se
a assistência judiciária gratuita como uma condição para ingresso ao Poder Judiciário,
ensejando a isenção de custas e despesas processuais, bem como o direito de ser assistido
por advogado, sem pagamento de verba honorária.
argumentou que “aqui tem gestão... nos recursos para pagamento, no custeio para garantir a
assistência, aqui entra a administração...”.
A ponderação ficou com a entrevistada P7, pois, para ela, a assistência judicial gratuita
[...] atualmente é um problema para nós, porque implica muito mais atividade
jurisdicional e mais gestores: aquele que dirige os foros, a direção do foro, que
administra o orçamento do judiciário, no momento em que há uma decisão judicial, que
confere a assistência judiciária gratuita, o custo daquele processo impacta no
orçamento. O Poder Judiciário é que vai cobrir o fato de a decisão judicial ter
reconhecido e nós não temos verba nos casos de concessão de assistência judiciária
gratuita para todos. Para conseguir custear a perícia médica, a parte vai ter direito de
fazer porque foi beneficiada pela assistência judiciária gratuita, mas a verba acabou ...
é uma questão tanto de gestão quanto da atividade jurisdicional.
Gráfico 1. Percepção dos TRF’s para o Valor Assistência Judiciária Gratuita orientado a Gestão ou Jurisdição.
TRF4 TRF3
12
122
Destaque-se que grande parte dos entrevistados do TRF4 reconheceu existir atividade
de gestão no valor público da assistência judiciária gratuita. A mesma percepção se fez presente
na fala dos entrevistados dos demais tribunais, exceto para o TRF3, que entendeu ser o valor
mais voltado para a entrega do serviço de justiça. Isto corrobora ser a percepção do valor público
da assistência judiciária, atualmente, uma tarefa da gestão judiciária.
Gráfico 2. Percepção sobre o Valor Assistência Judiciária Gratuita orientado a Gestão ou Jurisdição conforme
tempo de trabalho.
Magistratura entre 15 e 20
Gestor com 20 a 25 anos
anos
Magistratura entre 05 e 10
anos
os
os
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distância (Resolução nº 192, 2014), tanto que, no ano de 2017, 346 mil servidores foram
M
A boa-fé deveria ser inerente a qualquer das relações sociais (Cordeiro, 2001; Martins-
Costa, 2015) e dentre elas, a relação processual. Trata-se de um valor de herança germânica
(Treuund Glauben), que se preocupa com a proteção objetiva da lealdade e da conduta ética
processual (Didier Jr., 2015). O legislador brasileiro optou pela positivação da boa-fé objetiva
(art. 5º), que deve ser observada pelos litigantes (art. 322, parágrafo 2º) e por todos os demais
participantes do processo, em suas respectivas atividades, inclusive magistrados (art. 489,
parágrafo 3º) e gestores judiciais (CPC, 2015).
Para esta tese, o valor público judicial da boa-fé, significa o cumprimento do dever
de lealdade processual e respeito aos atores processuais (CPC, 2015, art. 77).
TRF4 TRF3
12
Para a maioria dos entrevistados do TRF2, TRF3 e TRF4, mais fortemente, o valor
10
público da boa-fé é produzido quando da entrega da prestação jurisdicional. Contudo, registra-
se que os magistrados
8 e gestores entrevistados do TRF5, em contrapartida, auferiram que a boa-
fé é um valor de gestão. Isso demonstra que pode haver, em curso, uma mudança paradigmática
6
na gestão do Poder Judiciário, que reconhece significância ao serviço de justiça, como um
4
produto também de gestão judiciária, não apenas de entrega da prestação jurisdicional.
2
0
TRF1 TRF2 TRF3 TRF4 TRF5
125
5.1)
Gráfico 4. Percepção sobre o Valor Boa-fé orientado a Gestão ou Jurisdição conforme tempo de trabalho.
Magistratura entre 15 e 20
Gestor com 20 a 25 anos
anos
Magistratura entre 05 e 10
anos
10
A melhor percepção
8
quanto a boa-fé ser um valor de gestão ocorreu entre os gestores e
magistrados que contam
6 entre 10 e 20 anos de serviços prestados ao Poder Judiciário, indicando
4
um forte conservadorismo ao sentido clássico do valor da boa-fé.
2
0
4.3 VALOR PÚBLICO JUDICIAL: CONTRADITÓRIOa oE A AMPLA DEFESA
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Os valores públicos do contraditório e da ampla defesa são alguns dos valores mais
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antigos da humanidade, sendo que há quem os remeta ao Rei Salomão, por conta de julgamentos
r
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M
com argumentos; direito de se defender por meio de todos os argumentos legalmente aceitos,
como se dá, por exemplo, na oportunidade de contestar (CPC, 2015, art. 335).
Nesta tese, o contraditório e a ampla defesa são vistos como valores públicos
judiciais realizáveis em concomitância e configurados na exigência que se dê ciência da
existência do processo e dos atos que nele são praticados (CPC, 2015, arts. 9º e 10).
A partir da coleta dos dados, é possível inferir que a realidade das unidades judiciárias
federais reflete atividades onde o contraditório e a ampla defesa são percebidos como valor
público de gestão.
A percepção de gestão judicial continua com o entrevistado P2, ao dizer que “não tenho
dificuldade de encontrar gestão aqui no contraditório e na ampla defesa, pois algumas práticas
do processo informatizado viabilizam e funcionalizam o contraditório e possam ser
enquadradas dentro de uma ideia de gestão”.
127
Gráfico 5. Percepção dos TRF’s para o Contraditório e Ampla Defesa orientado a Gestão ou Jurisdição.
TRF4 TRF3
salientando que
7 a produção desses valores é característica da gestão, tanto que eles podem ser
6
postergados para um evento processual futuro e, quando materializados de forma incorreta,
5
atrapalham ou atrasam o andamento processual.
4
0
TRF1 TRF2 TRF3 TRF4 TRF5
128
6.1)
Gráfico 6. Percepção sobre o Valor Contraditório e Ampla Defesa orientado a Gestão ou Jurisdição conforme
tempo de trabalho.
Magistratura entre 15 e 20
Gestor com 20 a 25 anos
anos
Magistratura entre 05 e 10
anos
9
Para o valor
8 público do contraditório e da ampla defesa, os magistrados e gestores
7
entrevistados, que
6 contam entre 15 a 20 anos de serviço, apontaram que o referido valor é fruto
5
da gestão judicial4 (Gráfico 6). Assim, a melhor percepção voltada para a gestão coincide com
3
um período em que
2
os entrevistados passaram por processos de treinamento e aperfeiçoamento,
1
muitos deles oferecidos
0
pelo CNJ e orientados para a gestão judiciária.
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4.4 VALOR PÚBLICO JUDICIAL: COOPERAÇÃO
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A União Europeia busca, por meio de uma experiência com cooperação ascendente entre
juízes dos Estados-Membros, alcançar uma unidade legal, compartilhada do sistema como um
todo. A intenção é que, pela cooperação, seja criada uma “cultura judicial compartilhada” (Mak,
Graaf & Jackson, 2018).
No Brasil, o valor da cooperação faz com que os atores processuais deixem de ser
expectadores, adotando uma postura de participação ativa na solução do conflito, conforme
129
O processo passou a ser visto como uma comunidade de trabalho, a partir de uma lógica
argumentativa (Marinoni, Arenhardt & Mitidiero, 2015; Theodoro Júnior, 2015), sendo a
cooperação um facilitador da atividade judicial, pois o magistrado deixa de ser um fiscal ou
mero aplicador de normas, para fazer do processo um produto da atividade cooperativa, como,
por exemplo, com colaboração de litigantes, peritos, oficiais de justiça, gestores judiciais e
advogados (CPC, 2015, art. 77).
7)
Poder Judiciário (Gráficos 7 e 8).
Gráfico 7. Percepção dos TRF’s para o Valor Cooperação orientado a Gestão ou Jurisdição.
TRF4 TRF3
10
perceberam o valor da cooperação como um produto da gestão judicial. Nesse prisma, o TRF4
9
entendeu igualmente,
8 mas por unanimidade, que o valor analisado é gestado e emitido ao longo
7
da execução dos serviços de gestão.
6
A cooperação
5 para o processo é, dos valores públicos, a que melhor espelha a
4
importância da gestão judicial, porque materializar a cooperação diz respeito ao emprego de
3
boas estratégias,
2
tanto por parte do julgador quanto pelos gestores tradicionais. Dessa sorte, a
preocupação é 1eminentemente de gestão.
0
TRF1 TRF2 TRF3 TRF4 TRF5
131
7.1)
Gráfico 8. Percepção sobre o Valor Cooperação orientado a Gestão ou Jurisdição conforme tempo de trabalho.
Magistratura entre 15 e 20
Gestor com 20 a 25 anos
anos
Magistratura entre 05 e 10
anos
os
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O devido processo
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do Rei João Sem Terra, de 1215, sfazendos constar que ninguém seria processado senão pela lei
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de sua terra. Ao longo do tempo, preocupou-se em fazer das leis processuais o fio condutor para
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O devido processo legal comunica-se com outros dois valores públicos judiciais, a
inafastabilidade e o livre acesso, bem como com o contraditório e a ampla defesa (Da Silva,
2005). Segundo a hermenêutica jurídica e a interpretação teleológica, trata-se de um dever
estatal de promover o processo judicial, baseado no ordenamento jurídico (Maximiliano, 2007;
Stein & Streck, 2011).
Para os limites desta tese, o devido processo legal significa respeito às garantias
processuais para ter uma decisão justa e célere (CF, 1988, art. 5º, LIV).
Por ter o mesmo universo de respondentes, é possível inferir, da coleta de dados, que a
realidade das unidades judiciárias federais reflete atividades que o devido processo legal é tido
como valor público de jurisdição e produzido no resultado do serviço de justiça.
No mesmo sentido, a fala da entrevistada P11 apontou que “é uma reflexão que agora
que eu estou fazendo realmente o devido processo legal como corolário do Estado de direito,
todo mundo conhece as regras do jogo, ele é, sim, um valor de jurisdição”. Seguindo a mesma
posição, a entrevistada P5 acentuou ser um valor de “jurisdição...desde a faculdade é tão ínsito
(natural) que eu não consigo pensar de outra forma” - posição reafirmada pelo gestor P34,
para quem, “é jurisdição...100%”.
[...] o devido processo legal tem que observar algumas normas de jurisdição, mas se
não houver um gerenciamento desse processo ele também não vai conseguir alcançar ou
atingir o seu objetivo, então ele também tem a dupla finalidade de gestão e jurisdição.
Gráfico 9. Percepção dos TRF’s para o Valor Devido Processo Legal orientado a Gestão ou Jurisdição.
TRF4 TRF3
0
TRF1 TRF2 TRF3 TRF4 TRF5
134
8.1)
Gráfico 10. Percepção sobre o Valor Devido Processo Legal orientado a Gestão ou Jurisdição conforme tempo
de trabalho.
Magistratura entre 15 e 20
Gestor com 20 a 25 anos
anos
Fonte: Elaborado pela autora. Gestão - Devido processo legal Jurisdição - Devido processo legal
9
8
7
A melhor percepção,
6 quanto a ser o devido processo legal um valor de gestão, ocorreu
5
entre os gestores e4 magistrados entrevistados que contam entre 10 e 20 anos de serviços
3
prestados ao Poder 2Judiciário.
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O duplo grau de jurisdição tem origem nos ditames da Convenção Americana de Direito
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Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), da qual o Brasil é signatário, fazendo norma
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interna com o Decreto nº 678, de 1992. Na origem, a convecção, em seu art. 8º, trata das
garantias judiciais, sendo que a todos é dado o “direito de recorrer da sentença para juiz ou
tribunal superior” (Convenção, 1969). Assim, o Brasil, como signatário dessas regras
convencionais internacionais, deve garantir ao litigante a oportunidade de submeter o litígio a
novo julgamento, seguindo-se as leis processuais internas (CF, 1988, arts. 5º LV).
O duplo grau de jurisdição não está grafado de forma explícita no texto constitucional
brasileiro (Mazzuoli, 2010), mas é possível reconhecê-lo no art. 5º, LV, da CF de 1988, quando
ele garante o contraditório e a ampla defesa, bem como quando estabelece as competências de
julgamento pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) e do STF (CF, 1988, arts. 102 e 105). O
duplo grau de jurisdição é devidamente observado no Brasil e totalmente incorporado aos
135
limites das leis processuais vigentes. Assegura ao vencido, total ou parcialmente na demanda,
o direito de recorrer e submeter o litígio a novo julgamento, para o fim de evitar erros e falhas
na prestação jurisdicional (Grinover, Gomes Filho & Fernandes, 2011).
Nesse sentido, o entrevistado P37 indicou que “não adianta eu querer ou não querer o
duplo grau de jurisdição, ele está na essência do sistema e é gestão para mim, 100% gestão”.
O entrevistado P36 alerta que “apesar do nome ser duplo grau de jurisdição, eu diria que é
gestão 100%”. No mesmo sentido, ainda, a entrevistada P35, lembrou que “aqui entra mesmo
dentro da gestão de processo, o duplo grau é 100% gestão”.
A gestora P33, por sua vez, assegurou que “o duplo grau é um valor que atrapalha a
gestão e também a efetividade da justiça. Uma pessoa, quando ingressa no judiciário, não quer,
necessariamente, ganhar, mas pôr fim àquela questão. Percebo 90% gestão nesse valor”.
[...] muito de gestão, atualmente, como o CPC dispensou a admissibilidade dos recursos
no primeiro grau; o próprio serventuário analisa a questão e já intima, de ofício e por
ato ordinatório para a parte recorrida apresentar suas contrarrazões. O duplo grau é
80% gestão.
Na mesma linha, o entrevistado P4 registrou ser uma “questão só da gestão, acho que
o duplo grau de jurisdição, no aspecto da gestão, tem que ser equacionado para que seja uma
arma que realmente permita a rediscussão e não infinita possibilidade de recurso”. Para a
entrevistada P11, “acaba também influindo na gestão, porque gera alongamento da marcha
processual e, com isso, uma delonga maior; para mim, é 60% gestão”.
Sob o prisma dos Tribunais Federais, gestores e magistrados consideraram que o valor
136
9)
do duplo grau de jurisdição é produzido nas atividades de gestão do Poder Judiciário (Gráficos
11 e 12).
Gráfico 11. Percepção dos TRF’s para o Valor Duplo Grau de Jurisdição orientado a Gestão ou Jurisdição.
TRF4 TRF3
Apenas
8 na percepção de gestores e magistrados entrevistados do TRF4 e TRF5,
registrou-se7que o valor público do duplo grau de jurisdição é produzido na entrega da prestação
jurisdicional.
6 Então, o duplo grau de jurisdição, na tese visto como garantia da existência de
5
recursos para obter reexame, para a maioria dos entrevistados (TRF1, TRF2 e TRF3), foi
4
percebido como um valor produzido na gestão (atividade-meio) do Poder Judiciário.
3
0
TRF1 TRF2 TRF3 TRF4 TRF5
137
9.1)
Gráfico 12. Percepção sobre o Duplo Grau de Jurisdição orientado a Gestão ou Jurisdição conforme tempo de
trabalho.
Magistratura entre 15 e 20
Gestor com 20 a 25 anos
anos
A melhor percepção
Gestão - Duploquanto a ser o duplo
grau de jurisdição grau
Jurisdição degrau
- Duplo jurisdição
de jurisdição um valor de gestão deu-se
7
com os gestores e magistrados que contam entre 10 e 20 anos de serviços prestados ao Poder
6
Judiciário. 5
4
O entrevistado, por exemplo, P21 alertou para o fato de que o CNJ, de 2005 até 2014,
3
investiu de forma efetiva e presencial no aperfeiçoamento dos servidores, fazendo isso
2
repercutir positivamente
1 na gestão do judiciário, pois o “CNJ teve uma forte onda de cursos
para magistrados
0 e servidores até 2014”.
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dessa vez, o ensino a distância (Resolução nº 192, 2014), tanto que, no ano de 2017, capacitou
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Assim, a melhor percepção voltada para a gestão coincide com um período em que o
CNJ ofereceu, mais fortemente, cursos presenciais de atualizações voltados à gestão judiciária.
Os Estados Unidos são um dos primeiros Estados a inscrever no texto constitucional (6ª
138
emenda) o valor da duração razoável do processo, por meio do instituto (Speedy Trial Clause),
significando a possibilidade de julgamentos mais rápidos (Arruda, 2006; USA, 2018). A
Alemanha, preocupada com a morosidade judicial, consagrou o princípio da aceleração
processual, mas não sem antes alertar que o encurtamento do processo não dependia de atos
legislativos, mas da conduta dos atores processuais, como: magistrados, litigantes, advogados,
peritos, contadores e gestores judiciais (Jauernig, 1998; Baumbach, Lauterbach, Albers &
Hartmann, 2006). Na mesma linha, a União Europeia promoveu um levante contra a lentidão
judicial, declarando, no Tratado Constitucional Europeu Constituição, de 2004 (art. II-107), que
a todos é assegurado o direito a um julgamento em prazo razoável.
Por outro lado, a morosidade alimenta a desconfiança no Poder Judiciário e faz, por
exemplo, o devedor confesso preferir a lentidão do caminhar processual à obrigação de pagar
o sabidamente devido. A morosidade agride mais àqueles que possuem menos recursos
(Marinoni, Arenhardt & Mitidiero, 2017).
Não por outra razão, a lei processual destaca ser prioridade a resolução de conflitos e a
satisfação do comando judicial (CPC, 2015, art. 4º). O tempo adequado do processo é o meio
termo entre a celeridade e a lentidão, devendo significar que a resposta judicial necessita ser
proferida em lapso temporal compatível com a natureza do objeto em disputa, como é o caso
da urgência, representada na liberdade para o encarcerado, e dos medicamentos, essenciais para
a manutenção da vida humana (Scartezzini, 2005).
O CPC brasileiro traz diversas possibilidades para acelerar o trânsito processual, entre
outras, a prefixação de valores em perdas e danos, que extingue o tempo das atividades de
139
liquidação (CPC, 2015, art. 81, parágrafo 3º) – citação válida, mesmo que o juiz venha a ser
declarado incompetente para julgar a causa (CPC, 2015, art. 240), fazendo realidade à
transferência de juízo (translatio iudicii) (Gajardoni, Dellore, Roque & Oliveira Jr., 2018).
O entrevistado P37 indicou ser o valor “muito mais de gestão porque na verdade o
problema na demora do processo está intimamente ligado com a efetividade, está intimamente
ligado com ao acesso”.
A magistrada P17, por sua vez, percebeu ser
[...] mais gestão, pois a rotina de trabalho precisa estar bem adequada, não basta
apenas que a sentença seja boa, a gente se preocupa que o processo caminhe. Numa
vara de primeiro grau, o processo não termina com a entrega da sentença, além de
gerir a entrada e toda a produção da prova e depois que a sentença transita em julgado,
ainda tem a parte executiva pós-sentença.
No mesmo sentido, o gestor P34, afirmou que a duração do processo “preocupa e muito
a gestão e colocamos mais estrutura, mais magistrados, mais servidores”. A magistrada P11,
ratificou essa posição “é gestão pois cuida de gerir esse estoque de processos, hoje se o
judiciário parasse, se nós não recebêssemos mais um processo, levaria 3 anos para zerar o que
já existe, então é muito vinculado à gestão”.
O entrevistado P2, reforçou a percepção de que existe
[...] bastante de gestão, eu diria que mais 60% de gestão... nem sempre o critério da
justiça da decisão estará diretamente relacionado com a duração razoável do processo,
mas a decisão pode ser justa e demorar anos, aí temos até um questionamento dessa
justiça no sentido material. Então, eu vejo aqui um predomínio de gestão... o que nós
tratamos aqui, de estabelecimento de rotinas, nós tratamos aqui de informatização, nós
tratamos de plataformas software, eu vejo aqui, sim, o predomínio de gestão.
Gráfico 13. Percepção dos TRF’s para o Valor Duração Razoável do Processo orientado a Gestão ou Jurisdição.
4
TRF5 TRF2
2
TRF4 TRF3
12
Por sinal, é de se destacar que todos os gestores e magistrados, entrevistados dos
tribunais – objeto
10
da pesquisa empírica, registraram que o valor público da duração razoável do
processo é produzido
8 com muita significância na gestão judicial, oferecendo fio condutor para
fortalecer a percepção de que a gestão judiciária produz valores públicos no Poder Judiciário.
6
Ainda é importante salientar que o tempo do processo deriva, essencialmente, de uma
4
gestão eficiente, materializada por julgadores gestores, bem como por gestores tradicionais do
serviço de justiça.
2
0
TRF1 TRF2 TRF3 TRF4 TRF5
10.1) 141
Gráfico 14. Percepção sobre o Valor Duração Razoável do Processo orientado a Gestão ou Jurisdição conforme
tempo de trabalho.
Magistratura entre 20 e 25 4
Gestor com 15 e 20 anos
anos
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Magistratura entre 15 e 20
Gestor com 20 a 25 anos
anos
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Mais uma vez, para o valor público da duração razoável do processo, os entrevistados
8
com melhor percepção
6 de gestão estão entre aqueles com 10 a 20 anos de serviço, tempo em
4
que o CNJ priorizou a formação de servidores para a governança.
2
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4.8 VALOR PÚBLICO JUDICIAL: EFETIVIDADE
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jurisdicionado, o mais próximo possível do bem da vida em disputa, senão o próprio bem da
vida que o direito reconheceu. Para Dinamarco (2008), por sua vez, igualmente seminal, a
efetividade é tida como a instrumentalidade positiva, que liga o comando estatal, contido no
processo, à mudança da vida real.
Ser efetivo é um dos fins do próprio Estado. Para a administração pública, efetividade
significa o dever de realizar os serviços, de acordo com as necessidades e os interesses dos
usuários. O direito à tutela estatal necessita ser materializado e, por meio de decisões úteis e
aptas, produzir efeitos práticos, inclusive o serviço de justiça (CF, 1988, arts. 5º, XXXV e LV).
Por meio do processo, buscam-se resultados práticos para, com isso, provocar a
realização do direito, quando não de forma total, sendo deferida a tutela de urgência,
antecipando os efeitos da tutela final e, ao mesmo tempo, fixar medidas de apoio ao
cumprimento da decisão (CPC, 2015, arts. 8º, 382, 497, 536, 537, 1019).
Sob a ótica desta tese, o valor público judicial da efetividade significa a produção
de resultados jurídicos que promovam a tutela do direito no plano material (CF, 1988,
art. 5º, XXXV e CPC, 2015, art. 8º). A partir da análise dos dados, tem-se que a efetividade
do processo é um valor público judicial, produzido na gestão do serviço de justiça.
Para o gestor P21, a efetividade é um valor de “gestão muito fortemente, pois o próprio
CNJ, quando abriu o programa de metas, quase na totalidade voltado para a
efetividade...Efetividade é um valor que nós buscamos...”.
No mesmo caminho, a entrevistada P16, afirmou que “é gestão e se você cumprir bem
os valores da atividade-fim, você vai ter efetividade. Você precisa chegar ao final do processo
e resolver o caso concreto”. Finalmente, o entrevistado P19 esclareceu que esse valor “é o que
tem mais gestão, porque trata da movimentação da máquina, podendo haver poucos servidores
para um ponto e vários servidores para outro...este ano nós vamos conseguir o selo ouro do
143
CNJ”.
Sob a ótica dos Tribunais Federais, gestores e magistrados ouvidos consideraram que o
11) é produzido nas atividades de gestão do Poder Judiciário (Gráficos 15 e
valor da efetividade
16).
Gráfico 15. Percepção dos TRF’s para o Valor da Efetividade orientado a Gestão ou Jurisdição.
TRF4 TRF3
0
TRF1 TRF2 TRF3 TRF4 TRF5
11.1) 144
Gráfico 16. Percepção sobre o Efetividade orientado a Gestão ou Jurisdição conforme tempo de trabalho.
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judicantes livre de distorções cognitivas, assegurando às partes a correta liberdade para o bom
exercício do contraditório. Espera-se que o julgador não tenha interesse particular no resultado
da causa, nem atue com ânimo de favorecimento ou de causar prejuízo (Assis, 2015).
A imparcialidade não pode levar o magistrado tão distante dos conflitos e dos litigantes,
ao ponto de promover-lhe um “apagão” jurídico ou humanitário. Essa é uma preocupação real
da literatura, diante da indiferença estampada por juízes ingleses mais tradicionais (Lizzie &
Malleson, 2018).
O meio termo entre o “apagão” total e a proximidade ilegítima do julgador é onde reside
a imparcialidade processual desejada. Entretanto, é forçoso admitir que a imparcialidade
judicial pode, por vezes, ser afetada por interferências da personalidade do julgador, ao se
mostrar depressivo, arrogante, agressivo, brutesco ou impolido (Streck, 2015).
Da análise dos dados, foi possível depreender que as condutas refletem a imparcialidade
do juiz como um valor público de jurisdição, conforme revelou o entrevistado P2:
[...] [é] predominantemente jurisdição, porque o magistrado tem até aquela disciplina
toda do Conselho Nacional de Justiça, das Corregedorias, da Lei Orgânica da
Magistratura, do Código de Ética. Parece-me, sim, que existe uma carga de gestão aqui
dentro, então o magistrado, na sua conduta, observa, sim, a imparcialidade, 24 horas
por dia.
Na mesma linha, a entrevistada P4 asseverou ser uma “atividade de jurisdição, por isso
é um fenômeno que se representa no processo e é condição para a validade do processo”. A
gestora P15 também lembrou que a imparcialidade é “totalmente necessária e abrange todos
os problemas que tem dentro da vara...mas tem foco na jurisdição...”. A confirmação da
tendência veio com a entrevistada P24, que percebeu “zero de gestão, a imparcialidade é o
pilar da jurisdição”.
ser “importante que o juiz, na gestão, também seja imparcial, na gestão de processos e na
gestão de pessoas”; e da entrevistada P35, quando apontou que “a imparcialidade é do sistema
e não somente do juiz; ainda bem que na governança, ela está, de alguma forma, interferindo
na atividade do próprio judiciário...A imparcialidade na condução do processo é mais uma
imparcialidade do próprio poder”.
Sob o ângulo como dos Tribunais Federais, gestores e magistrados consideraram que o
12)
valor público da imparcialidade do juiz é produzido quando da entrega da prestação
jurisdicional, portando um valor de jurisdição (Gráficos 17 e 18).
Gráfico 17. Percepção dos TRF’s para o Valor Imparcialidade do Juiz orientado a Gestão ou Jurisdição.
TRF4 TRF3
12
A imparcialidade do juiz foi percebida, pela maioria dos entrevistados, como valor de
10
jurisdição e, de forma mais extremada o fez o TRF4. Contudo, alerta-se que essa imparcialidade
pode ser8 compreendida como uma forma de postura do julgador gestor, fato que os
entrevistados
6
deixaram de perceber.
0
TRF1 TRF2 TRF3 TRF4 TRF5
147
12.1)
Gráfico 18. Percepção sobre o Valor Imparcialidade do Juiz orientado a Gestão ou Jurisdição conforme tempo
de trabalho.
Magistratura entre 15 e 20
Gestor com 20 a 25 anos
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mesmo objeto. A garantia de livre acesso ao serviço de justiça significa ter todas as
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possibilidades para demandar, apresentar defesa, produzir provas e ter assistência jurídica,
especialmente importante para os hipossuficientes (Nery, 2017), não se admitindo que o Estado
deixe de apreciar lesão ou ameaça a direito (CF, 1988, 5º, XXXV e CPC, 2015, art. 3º).
Com o CNJ, o livre acesso recebeu ferramentas de inovação, como a criação dos centros
judiciários de solução de conflitos (Resolução nº 125, 2010 e CPC, 2015, art. 165). Deu-se um
novo tratamento, com a marcação da audiência de conciliação e ou mediação dos conflitos
(CPC, 2015, art. 334).
não são julgados; então, apesar de ser um princípio jurisdicional, ele tem que ser
analisado sob perspectiva da gestão.
A entrevistada P17 também apontou que “aqui tem ‘atermação’ no juizado, como
muitos não tem advogado...a pessoa acessa lá embaixo e tem alguém lá para fazer atermação;
a gente supre essa falta do advogado”.
TRF4 TRF3
Magistratura entre 15 e 20
Gestor com 20 a 25 anos
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Francesa de 1791, a igualdade o compôs a base para as mudanças, basta lembrar que se
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isonomia está intimamente ligada ao sentido de liberdade, porque homens livres teriam os
M
151
A partir das luzes do século XXI, o Estado Democrático de Direito busca efetivar a
igualdade material, respeitando os direitos humanos, com a preocupação de combater as
desigualdades. A igualdade formal é prevista em lei, enquanto que a igualdade material
reconhece a existência das diferenças, sejam elas sociais, culturais e econômicas, mas com
apoio nas regras constitucionais, promovendo ações na tentativa de extingui-las (Bonavides,
2012).
O Brasil, inspirado no diploma legal americano de 1776, fez da isonomia uma garantia
constitucional, que reconhece a igualdade de todos perante a lei, independente de classe, cor ou
gênero (CF, 1988, 5º caput). O serviço de justiça, entregue ao usuário pelo Poder Judiciário,
recepcionou a garantia constitucional da igualdade ao assegurar às partes irrestrita paridade de
tratamento, cabendo ao magistrado conduzir o contraditório até a efetivação do comando
jurisdicional (CPC, 2015, arts. 7º e 139, I). Da mesma essência, é a determinação da isonomia
nos julgamentos, fazendo com que, de maneira ordinária, os processos sejam julgados pela
ordem cronológica de conclusão (CPC, 2015, art. 12).
É possível deduzir, a partir da análise dos dados, que as condutas refletem ser a isonomia
152
um valor público de jurisdição. A fala do entrevistado P37 é exemplo disso, ressaltando esse
valor como o “mais fundante, da paridade de armas. Não vejo como um algo importante para
a gestão é 100% jurisdição”. Também o respondente P22, com 25 anos de magistratura,
asseverou que “tem muito pouco de gestão, eu diria que basicamente é um valor jurisdicional”.
A entrevistada P2 registrou que tem um
[...] predomínio de jurisdição aqui. A isonomia vai ser promovida pelo magistrado, nos
atos decisórios quando ele então, formaliza, estabelece o próprio contraditório... de
certo modo, me parece que um tribunal pode normatizar algumas rotinas, no sentido de
promover direta ou indiretamente a isonomia, mas eu vejo aqui um predomínio de
jurisdição.
Sob o mesmo ângulo, a entrevistada P17 asseverou ser “um valor de jurisdição, mas tem
uma questão que ao mesmo tempo os processos caminham sob a minha supervisão...”. Com
idêntica perspectiva, o entrevistado P4 disse “isso está relacionado com a jurisdição, é a
paridade de armas, mas é uma obrigação jurisdicional garantida no processo”. Também a
entrevistada P10, com 30 anos de magistratura, assegurou que “aqui trata de valores internos
ao processo é 100% jurisdição”.
Contudo, sob a ótica dos Tribunais Federais, gestores e magistrados perceberam que o
valor da isonomia é produzido com a entrega do serviço de justiça, assim sendo, um valor de
jurisdição (Gráficos 21 e 22).
153
14)
Gráfico 21. Percepção dos TRF’s para o Valor Isonomia orientado a Gestão ou Jurisdição.
4
TRF5 TRF2
2
TRF4 TRF3
12
Para a maioria dos entrevistados, o valor público da isonomia é produzido quando da
10
entrega da prestação jurisdicional. Todavia, importa destacar que os entrevistados do TRF1, ao
8
contrário da maioria, percebem que o valor público judicial da isonomia pode ser produzido
também na gestão
6 judicial, oferecendo, por exemplo, elementos tangíveis para uma melhor
divisão de recursos financeiros entre os tribunais federais, melhores possibilidades de equilíbrio
4
entre as forças (potências) dos litigantes e harmonização quanto à aplicação do direito,
2
observados fatos similares.
0
TRF1 TRF2 TRF3 TRF4 TRF5
14.1)
154
Gráfico 22. Percepção sobre o Valor Isonomia orientado a Gestão ou Jurisdição conforme tempo de trabalho.
Magistratura entre 15 e 20
Gestor com 20 a 25 anos
anos
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O valor público do juiz natural teve uma das primeiras inscrições na Constituição
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que, de nenhum cidadão, é possível ser-lhe retirado o julgador, que a lei tenha atribuído
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anteriormente. Mais próximo desses tempos, o Pacto de São José da Costa Rica, no artigo 8.1,
assegura que todos têm o direito a um tribunal competente, imparcial e instituído por lei
(Convenção, 1969).
Desta sorte, os julgamentos além de públicos, serão proferidos por tribunais constituídos
155
antes dos fatos apresentados em juízo (CF, 1988, art. 5º, XXXVII, LIII e 93, IX).
Para esta tese, o valor do juiz natural veda a criação de tribunais ou juízos após o
acontecimento do fato que aguarda julgamento (CF, 1988, art. 5º, XXXVII e LIII).
A análise dos dados indicou que o valor público judicial do juiz natural é produzido com
a prestação jurisdicional, sendo, por conseguinte, um valor de jurisdição.
O entrevistado P37 entende que o valor do juiz natural “é ligado à jurisdição; não vejo
como ele possa influenciar diretamente na gestão. É um valor fundante do própria do sistema
de resolução de conflitos, igual à imparcialidade; é 100% jurisdição”. Manifestando a mesma
posição, o entrevistado P25, com 21 anos de magistratura, diz “não vejo relação com a área
administrativa; é bem específico da área-fim”.
O gestor P21 também considerou o “valor bem restrito à jurisdição, [que] não se aplica
para a gestão”. E o gestor P18, comentou “até foi um assunto que discutimos outro dia, pois
tem algo de gestão para equalizar a carga de trabalho, mas é predominantemente jurisdição”.
E em aparente estado de surpresa, a magistrada P5 assinalou, igualmente, que “é jurisdição,
mas é tão engraçado, porque isto vem desde a faculdade, está intrínseco que é jurisdição”.
15)
Gráfico 23. Percepção dos TRF’s para o Valor Juiz Natural orientado a Gestão ou Jurisdição.
TRF4 TRF3
9
do juiz natural como um produto da entrega da prestação jurisdicional. Nenhum dos gestores e
8
magistrados entrevistados
7 percebeu, lamentavelmente, que o valor do juiz natural (CF, 1988,
art. 5º, XXXVII
6 e LIII), na realidade, é mais uma questão de gestão judicial, por se tratar, em
5
última análise, de ferramenta a permitir uma justa divisão de trabalho.
4
3 15.1)
Gráfico 24. Percepção
2 sobre o Valor Juiz Natural orientado a Gestão ou Jurisdição conforme tempo de trabalho.
1
Magistratura entre 15 e 20
Gestor com 20 a 25 anos
anos
A percepção mais acurada, quanto a ser o juiz natural um valor de jurisdição, ocorreu
entre os gestores e magistrados entrevistados que contam entre 10 e 20 anos de serviços
prestados ao Poder Judiciário, significando um forte conservadorismo, no que tange ao sentido
clássico do valor em estudo, fato com o qual a presente tese não concorda.
No Brasil, não há previsão legal para processos eminentemente orais, já que se tem um
misto entre a oralidade (CPC, 2015, arts. 364 e 366) e a documentação escrita, imagens e áudios
(CPC, 2015, art. 367). Dessa forma, a evolução do valor da oralidade significa a possibilidade
do julgador se aproximar de pessoas (CPC, 2015, art. 456) e gerir pessoalmente a coleta das
provas. Cristalino é o exemplo da inspeção judicial (CPC, 2015, arts. 481 a 484), momento em
que o julgador se desloca para realizar percepção sensorial direta, examinando pessoas, coisas
ou lugares (Theodoro Júnior, 2018).
processo seja encaminhado para a audiência com tudo pronto e sem problema nenhum”.
O entrevistado P36, por sua vez, alerta que já experimentou funções de gestão, designou
ser “bonito na teoria e difícil na prática; na prática não acontece...porque vira tudo papel,
burocrático, mas como gestão, eu não vejo”.
Seguindo a mesma linha, o gestor P32 proclama “também tem gestão, um exemplo é um
atendimento ao jurisdicionado em um procedimento de juizado especial, em que o serventuário
reduz a termo a manifestação ou a ciência de um ato judicial; tem muito de gestão”.
Gráfico 25. Percepção dos TRF’s para o Valor Oralidade orientado a Gestão ou Jurisdição.
TRF4 TRF3
7
Gestores e magistrados entrevistados, de todos os tribunais, perceberam, por maioria,
6
ser o valor público da oralidade um produto, ao mesmo tempo e em concomitância, da gestão
5
judicial e da entrega do serviço de justiça, assim produzidos, tanto na gestão como na prestação
4
jurisdicional. Destaca-se,
3
contudo, que o TRF1, TRF2 e TRF3 possuem exatamente a mesma
percepção da oralidade
2 como produto de gestão e de jurisdição.
1
0
TRF1 TRF2 TRF3 TRF4 TRF5
16.1) 160
Gráfico 26. Percepção sobre o Valor Oralidade orientado a Gestão ou Jurisdição conforme tempo de trabalho.
Magistratura entre 15 e 20
Gestor com 20 a 25 anos
anos
8
Para o valor7 público da oralidade, os entrevistados com melhor percepção de gestão
6
estão entre aqueles 5com 10 a 20 anos de serviço, tempo em que o CNJ priorizou a formação de
4
servidores para a governança.
3
2
1
4.14 VALOR PÚBLICO
0 JUDICIAL: PERSUASÃO RACIONAL OU RAZÕES DE
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A persuasão racional afasta o agir solitário, promove o agir conjunto, tendo como
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consequência, a geração de poder, no espaço público revestido com as luzes da liberdade e da
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A determinação para que o julgador aponte as razões que o convenceram a decidir tem
a intenção de estreitar a discricionariedade, propiciar a razoabilidade e a coerência na aplicação
da norma abstrata ao caso concreto, prestando-se também como forma de fiscalização da
161
Sob o enfoque dado pelos Tribunais Federais, gestores e magistrados consideraram que
o valor da persuasão racional, ou razões de convencimento, é produzido quando da entrega da
17) jurisdicional, portando um valor de jurisdição (Gráficos 27 e 28).
prestação
Gráfico 27. Percepção dos TRF’s para o Valor Persuasão Racional orientado a Gestão ou Jurisdição.
TRF4 TRF3
12
A maioria dos entrevistados dos tribunais, exceto aqueles do TRF5, apontou ser a
10
persuasão racional um valor produzido com a entrega da prestação jurisdicional. Sublinhe-se
que o TRF4 8percebeu, de forma ainda mais aguda, que a persuasão racional, ou razões de
convencimento,
6
é um valor produzido quando da entrega da prestação jurisdicional.
0
TRF1 TRF2 TRF3 TRF4 TRF5
163
17.1)
Gráfico 28. Percepção sobre o Valor Persuasão Racional orientado a Gestão ou Jurisdição conforme tempo de
trabalho.
Magistratura entre 15 e 20
Gestor com 20 a 25 anos
anos
10
A melhor9 percepção, quanto a ser a persuasão nacional, ou razões de convencimento,
8
um valor de jurisdição,
7 ocorreu entre os entrevistados que contam entre 10 e 15 anos de serviços
6
prestados ao Poder
5 Judiciário, podendo significar um forte conservadorismo, no que diz respeito
4
ao sentido clássico
3 do valor em discussão, fato com o qual a presente tese não concorda.
2
1
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4.15 VALOR PÚBLICO JUDICIAL: PROIBIÇÃO DA PROVA ILÍCITA
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Por regra geral, a prova ilícita, como valor positivo constitucional, não é admitida no
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processo brasileiro, pois afronta regras constitucionais, materiais e processuais (CF, 1988, art.
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Nos EUA, a proibição da prova ilícita (exclusionary rule) configura-se com a agressão
de um direito processual constitucional, como o direito de não sofrer busca e apreensão indevida
ou de não produzir prova contra si (Deu, 2014).
Decorre da análise dos dados que o valor público judicial da proibição da prova ilícita é
produzido com a prestação jurisdicional, sendo, por conseguinte, um valor de jurisdição.
Nesse curso, o entrevistado P28 assegurou ter “viés jurisdicional, 100% jurisdição”. E
o entrevistado P22 “predomina a jurisdição, porque a não aceitação da prova ilícita é matéria
sabida e consabida, de tal modo que o juiz que não a atenda, que não a observe, sabe de
antemão que sua decisão será alterada.
Nesse sentido, os entrevistados P24 e o P4, afirmaram “não, não tem nada de gestão.
Zero gestão, jurisdição 100%” e “predominantemente jurisdicional”, respectivamente.
O entrevistado P3, ainda, disse “é mais uma garantia de jurisdição... em última análise,
busca corrigir eventuais abusos da arbitrariedade do Poder Público na pessoa do juiz”. E a
entrevistada P15, “só é valorada pelo juiz... só vai interessar mesmo para a jurisdição”.
Gráfico 29. Percepção dos TRF’s para o Valor Proibição da Prova Ilícita orientado a Gestão ou Jurisdição.
Gráfico 30. Percepção sobre o Valor Proibição da Prova Ilícita orientado a Gestão ou Jurisdição conforme
tempo de trabalho.
Magistratura entre 15 e 20
Gestor com 20 a 25 anos
anos
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A melhor percepção, quanto a ser a proibição da prova ilícita um valor de jurisdição,
8
7
ocorreu entre os entrevistados que contam entre 10 e 15 anos de serviços prestados ao Poder
6
5
Judiciário, podendo significar um forte conservadorismo, dado ao sentido clássico do valor em
4
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debate. 2
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processuais, pois permite a todos ter acesso às decisões judiciais. A regra do texto constitucional
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é que todos os atos da administração pública, dentre eles o processo administrativo e judicial,
são públicos e publicáveis (CF, 1988, arts. 5º, LX, 37 e 93, IX).
A publicidade é o valor dos valores, a garantia das garantias, por trazer controle interno
e externo da atividade jurisdicional (Ferrajoli, 2014). Publicidade é dar transparência aos atos
167
da administração pública, inclusive do Poder Judiciário, tendo como função proteger as partes
de juízos arbitrários, assim permitindo um controle, por parte da opinião pública (Amodio,
2017; Abdo, 2011; Marinela, 2018).
Infere-se, da análise dos dados, que o valor público judicial da publicidade é produzido
com a entrega do serviço de justiça, percebido como valor de jurisdição.
Dos dados, tem-se a fala da entrevistada P9, que afirmou “é mais jurisdição, porque a
própria legitimidade dos nossos atos passa pela questão da publicidade; é público e, no
momento que tem uma outra coisa que mereça o sigilo, aí terá que se considerar os níveis de
sigilo”. O gestor P34, nesse sentido, também registrou que “o ato de dar publicidade é mais
jurisdicional.
Para o gestor P18, com 17 anos de serviço público, “a maior parte é jurisdição, o gestor
tem que cuidar para que seja dada a publicidade exata”.
19)
Gráfico 31. Percepção dos TRF’s para o Valor Publicidade dos Atos Processuais orientado a Gestão ou
Jurisdição.
Gestão - Publicidade dos atos processuais Jurisdição - Publicidade dos atos processuais
TRF1
12
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6
TRF5 4 TRF2
2
0
TRF4 TRF3
Gestão - Publicidade dos atos processuais Jurisdição - Publicidade dos atos processuais
Para a maioria
12 dos entrevistados do TRF2, TRF4 e TRF5, o valor da publicidade é
produzido quando da entrega do serviço de justiça, sendo, por conseguinte um valor de
10
0
TRF1 TRF2 TRF3 TRF4 TRF5
169
19.1)
Gráfico 32. Percepção sobre o Valor Publicidade dos Atos Processuais orientado a Gestão ou Jurisdição
conforme tempo de trabalho.
Gestão - Publicidade dos atos processuais Jurisdição - Publicidade dos atos processuais
Magistratura entre 15 e 20
Gestor com 20 a 25 anos
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entrevistas, coletar dados para ouvir os envolvidoss com a gestão judiciária brasileira. A
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finalidade foi a de coletar dados para uma amostra, contendo as percepções dos envolvidos
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sobre os 16 valores públicos judiciais, produzidos no Poder Judiciário (na gestão da máquina
judiciária ou na entrega da prestação jurisdicional).
A Justiça Federal foi o foco de interesse para os estudos da tese, porque trabalha a gestão
judiciária com encurtada afinidade à governança, bem como apresenta dados de eficiência e
eficácia equivalentes em todas as regiões brasileiras. Na mesma medida, é a justiça que mantém
regulares e permanentes cursos de gestão para os servidores públicos do quadro, como também
detém as melhores ferramentas e disposição na utilização do processo eletrônico.
Para atingir a saturação dos dados, tendo sido contemplado todo o cenário que envolve
a administração da justiça federal brasileira, foi necessário entrevistar integrantes do TCU,
170
gestores e magistrados-gestores dos 5 TRF’s, bem como integrante do CJF, gestor do CNJ e
ministro do STF. Com relação ao número de entrevistados, entendeu-se suficiente ouvir 3
auditores do TCU, 1 gestor do CJF, 1 gestor do CNJ e1 ministro do STF.
Da análise e discussão dos dados, defluiu-se que, dos 16 valores públicos apresentados
à reflexão dos entrevistados, 8 foram percebidos como produto de governança. No Quadro 10,
tem-se a sinopse dos valores públicos judiciais de gestão: da assistência judiciária gratuita,
contraditório e ampla defesa, cooperação, duplo grau de jurisdição, duração razoável do
processo, efetividade, inafastabilidade do controle jurisdicional/livre acesso (desacesso) do
poder judiciário e a oralidade.
A análise dos dados, contida neste capítulo e dividida em três subcapítulos, aborda
valores públicos judiciais, mais especificamente os valores de gestão que foram observados na
etapa de entrevistas com especialistas (Capítulo 4). O primeiro subcapítulo (1) traz uma
contextualização do estudo de caso; o segundo (2), a discussão sobre os achados que emergiram
dos dados coletados por meio das entrevistas, da observação e dos documentos coletados na
unidade judiciária pesquisada; e (3) síntese dos resultados.
Tribunais Seções
Subseções Judiciárias da Justiça Federal
Regionais Judiciárias
Comum (localidades)
Federais (Estados)
Distrito Federal Brasília
Salvador, Alagoinhas, Barreiras, Bom Jesus da Lapa, Campo Formoso, Eunápolis, Feira de Santana,
Bahia Irecê, Teixeira de Freitas, Guanambi, Ilhéus, Itabuna, Jequié, Juazeiro, Paulo Afonso, Vitória da
Conquista
Goiás Goiânia, Aparecida de Goiânia, Anápolis, Jataí, Formosa, Itumbiara, Luziânia, Rio Verde, Uruaçu
Mato Grosso Cuiabá, Barra do Garças, Cáceres, Diamantino, Juína, Rondonópolis, Sinop
Pará Belém, Altamira, Castanhal, Itaituba, Marabá, Paragominas, Redenção, Santarém, Tucuruí
Rio de Janeiro, Angra dos Reis, Barra do Piraí, Campos, Duque de Caxias, Itaboraí, Itaperuna, Macaé,
2ª Região Rio de Janeiro Magé, Niterói, Nova Friburgo, Nova Iguaçu, Petrópolis, São Gonçalo, São João do Meriti, São Pedro da
Aldeia, Resende, Teresópolis, Três Rios, Volta Redonda
Espírito Santo Vitória, Cachoeiro Itapemirim, Colatina, Linhares, Serra, São Mateus
São Paulo, Americana, Andradina, Araçatuba, Araraquara, Assis, Avaré, Barretos, Bauru, Barueri,
Botucatu, Bragança Paulista, Campinas, Caraguatatuba, Catanduva, Franca, Guaratinguetá, Guarulhos,
Itapeva, Jales, Jaú, Jundiaí, Limeira, Lins, Marília, Mauá, Mogi das Cruzes, Osasco, Ourinhos,
3ª Região São Paulo
Piracicaba, Presidente Prudente, Registro, Ribeirão Preto, São Bernardo do Campo, São Carlos, São José
do Rio Preto, São José dos Campos, Santo André, Santos, São João da Boa Vista, São Vicente,
Sorocaba, Taubaté, Tupã
Mato Grosso do Sul Campo Grande, Corumbá, Coxim, Dourados, Naviraí, Ponta Porã, Três Lagoas
Porto Alegre, Bagé, Bento Gonçalves, Cachoeira do Sul, Capão da Canoa, Canoas, Carazinho, Caxias do
Sul, Cruz Alta, Erechim, Gravataí, Ijuí, Lajeado, Novo Hamburgo, Palmeiras das Missões, Passo Fundo,
Rio Grande do Sul Pelotas, Rio Grande, Santana do Livramento, Santa Cruz do Sul, Santa Maria, Santa Rosa, Santiago,
Santo Ângelo, Uruguaiana
4ª Região Curitiba, Apucarana, Campo Mourão, Cascavel, Foz do Iguaçu, Francisco Beltrão, Guaíra, Guarapuava,
Paraná Jacarezinho, Londrina, Maringá, Pato Branco, Paranaguá, Paranavaí, Pitanga, Ponta Grossa, Telêmaco
Borba, Toledo, Umuarama, União da Vitória
Florianópolis, Blumenau, Brusque, Caçador, Chapecó, Concórdia, Criciúma, Itajaí, Jaraguá do Sul,
Santa Catarina
Joaçaba, Joinville, Laguna, Lages, Mafra, Rio do Sul, São Miguel do Oeste, Tijucas, Tubarão
Recife, Arcoverde, Cabo de Santo Agostinho, Caruaru, Garanhuns, Goiana, Jaboatão dos Guararapes,
Pernambuco
Ouricuri, Palmares, Petrolina, Salgueiro, Serra Talhada
Fortaleza, Crateús, Iguatu, Itapipoca, Juazeiro do Norte, Limoeiro do Norte, Maracanaú, Quixadá,
5ª Região Ceará
Sobral, Tauá
Rio Grande do Norte Natal, Assú, Caicó, Ceará-Mirim, Mossoró, Pau dos Ferros
Total 27 279
Após a escolha da JF para este estudo de caso, foram buscadas evidências indicativas
da existência de uma unidade judiciária que produzisse valores públicos, utilizando as regras
de governança em valor público de Moore (1995). A 4ª Vara Federal de Niterói, Rio de
Janeiro, pertencente ao TRF2, mostrou-se um ambiente adequado para ser analisado em
profundidade.
Isso se deu devido às seguintes evidências: (1) ter alcançado índices de produtividade
na razão de 107,7% (fevereiro), 110,0% (setembro) e 97%(dezembro), no atingimento das
metas do CNJ para o ano de 2016 (CJN, 2016; TRF2, 2016); (2) figurar no CNJ como
exemplo de Boas Práticas de Gestão do Poder Judiciário (CNJ, 2010); (3) estar no Banco de
Soluções de Qualidade do Judiciário (JusQualitas) (CJF, 2005); (4) ter recebido prêmio de
melhores práticas de gestão, com citação no planejamento estratégico do CNJ; (4) ter prêmios
na 6ª e 9ª Mostras Nacionais de Qualidade do Poder Judiciário; e (5) ser avaliada para o
Prêmio Innovare (que considera as práticas organizacionais).
Diante desses indícios, a 4ª Vara Federal de Niterói passou a ser objeto de interesse do
presente estudo de caso e, na tese, quando não estiver nominada de forma expressa, é
identificada simplesmente como “unidade judiciária”.
18
Fórum Prado Kelly tem sede na Rua Coronel Gomes Machado, 73/75 – Centro, Niterói, RJ - CEP: 24020-067,
telefone (21) 3218-6000.
175
Criadas por lei federal, as unidades judiciárias federais são instaladas mediante
resolução do TRF e, por fim, inauguradas. A 4ª Vara Federal de Niterói, foi criada pela Lei nº
7.583, de 06 de janeiro de 1987; instalada em 11 de agosto de 1997 por meio da Resolução nº
16, do TRF2; e, finalmente, inaugurada em 1 de setembro de 1997.
Magistrado-gestor
Juiz Titular
Ramal 47
Servidor M Servidora A
Ramal 43
Setor 1 Setor 2
Servidora I (Supervisora)
Servidora J
Servidora K
Servidora L
Processos não Sensíveis Estagiário 3
Prioritários (Prioritários) Estagiário 4
Ramal 44
Servidora H Servidora G (Supervisor)
Ramal 45 Estagiário 2
Ramais 45
Servidora I
Servidora J Estagiário 3 Servidora K Estagiário 4 Servidora L
(Supervisora)
Expedições Remessas
Juntada de petições Balcão
•ofícios • distribuição Certificar prazos
•físicas e eletrônicas • atendimento
Petições físicas/juntadas físicos/eletrônicos • contador eletrônicos
•autuação das inicias • carga
•mandados • TRF
eletrônicos/físicos
Recebimentos
• distribuição
• contador
• TRF Petições Peritos
Alvarás • arquivo • recebimentos •nomeação
Remessa ao arquivo •outros Correio • AGU • registros no •Agendamento
• PFN sistema •sessão de perícia
• MPF
• INSS
• CEF
• balcão
Remessas
• AGU
Processamento dos autos Oficio AJG
Certificação de prazos • PFN
após assinatura de Malote digital Desarquivamentos Pagamento perito
físicos • INSS
despacho
• MPF
• CEF
Juntada
Restaurações de
Certidões Expedição de editais Publicações •mandado
capas
•oficio
Atendimento ao
Atendimento ao balcão
balcão
Auxílio ao servidor que Certificação na web
estiver eventualmente atendimento ao
com acúmulo de serviço balcão
Alguns dos componentes da equipe foram separados da amostra, porque não conheciam
a fundo o cotidiano da gestão interna ou por estarem ausentes da sede do juízo. Dessa forma,
não participaram da coleta de dados o agente de segurança, o motorista, os estagiários, os
servidores que estavam em regime de teletrabalho e/ou na fruição das férias anuais.
181
intenção é responder à questão de pesquisa, que procura entender como são produzidos os
valores públicos de gestão, em ambiente de governança, na unidade judiciária selecionada.
De acordo com o Art. 98 do CPC (2015), a assistência judiciária gratuita pode ser
requerida tanto por pessoas naturais como por pessoas jurídicas, sempre que o acesso ao Poder
Judiciário venha comprometer a sobrevivência do interessado, da família ou da organização.
Considerando que, nesta tese, a assistência judiciária gratuita é tida como uma condição
de acesso ao Poder Judiciário, refletindo na isenção de custas e despesas processuais, inclusive
os honorários advocatícios (Art. 5º, LXXXIV, CF, 1988; Art. 98, CPC, 2015), essa é a realidade
aqui retratada.
A partir dos dados coletados nas entrevistas com os gestores e o magistrado titular, foi
possível identificar que, em cumprimento aos ditames legais, a assistência judiciária gratuita é
respeitada e aplicada pelo grupo gestor (e isso é feito com requintes de inovação, conforme
relatou a gestora P53). As gestoras P46 e P45 confirmam essa informação, sendo que esta última
registrou que “aqui temos usuários que podem pagar e outros que não podem. Aquele que não
pode pagar é assistido gratuitamente pela defensoria pública [...] o tratamento é da mesma
forma e igual para quem pode e para quem não pode”.
A sensibilidade da gestora P47, com 72 aos de idade, ficou assim grafada “aqui quem
pode pagar e quem não pode pagar são tratados de forma igual; aqui a gente trata todo mundo
bem”.
O valor da assistência judiciária gratuita faz com que ricos e pobres estejam em juízo,
nas mesmas condições procedimentais, tendo garantida a paridade de armas. Além disso,
àqueles que não podem pagar, trata-se de uma oportunidade de também implementar a
responsabilidade social, por meio do serviço de justiça – fato esse destacado pelo magistrado e
gestor P52: “a gente não persegue os ricos, mas a gente entende que há uma responsabilidade
social maior com quem não pode pagar”.
quando utiliza a ferramenta judiciária da intimação (dar ciência), para alertar diretamente o
hipossuficiente, por exemplo, quanto aos prazos processuais peremptórios, por meio do
telefone: “a gente tem todo o cuidado e intima diretamente a parte”.
Em arremate, a gestora P44 registrou o fato de que a mesma dedicação é destinada aos
processos, com ou sem o manto da assistência judiciária gratuita, posto que “a política da vara
e, principalmente do doutor, é o acesso mesmo [...] quando pego um processo, eu medito em
cima do processo, faço coisas para ele ser resolvido o mais rápido possível”.
Com a análise dos dados, foi possível inferir que a realidade da unidade judiciária
federal investigada produz, de forma eficiente e eficaz, os valores públicos do contraditório e
da ampla defesa.
Sob esse prisma, destacam-se as declarações das gestoras P49, P47 e P50. Desta última,
vem o alerta: “tenho uma média de 460 processos despachados (com minutas de decisões) por
mês e são poucas as pessoas que aparecem aqui pedindo para que o processo seja agilizado”.
Uma boa gestão assegura que o contraditório e a ampla defesa sejam materializados com
maior velocidade, principalmente para aqueles processos mais sensíveis ao perecimento do
direito. Nesse sentido, a unidade judiciária estudada implementou uma ferramenta (um novo
fluxograma), trazida pelas mãos da gestora P51, a fim de acelerar os processos considerados
sensíveis: “trouxe o setor chamado sensíveis, onde estão os processos com prazos mais críticos
e que precisam ter uma atenção maior”.
Este estudo de caso seguiu exatamente a mesma concepção, a fim de verificar como o
referido valor é efetivado na gestão judiciária. Do levantamento dos dados e sob a ótica da
gestão, depreenderam-se duas formas de materialização da cooperação judicial: a primeira,
186
O mesmo alerta veio da gestora P46, quando se referiu à fidelidade, dizendo que ela “é
muito valorizada aqui dentro. Além do respeito e de prestar um serviço de qualidade, faço
todos os procedimentos que têm que ser feitos e vou encaminhando para as pessoas
respectivas”.
A delicadeza da cooperação foi noticiada pela gestora P47, de 72 anos de idade, “aqui,
todos se ajudam, não tem esse negócio de cargo [...] aqui é mais acessível e eu posso sair antes
quando necessito, uma das compensações por ser uma boa funcionária, né”.
A cooperação, como ferramenta de gestão, pode ser também utilizada com atores
processuais indiretos, como é o caso de peritos, conforme inscreveu a gestora P53: “a
nomeação do perito é no sistema, faz pagamento, a gente liga para o perito, manda e-mail,
marca perícia [...] aqui temos uma sala de perícia”.
Outra forma de estreitar os compromissos de cooperação foi estabelecida por meio das
redes sociais. Essa postura foi relatada por 8 dos 11 entrevistados; entre eles, a gestora P53, que
indicou: ”temos um grupo de WhatsApp para compartilhar as novidades; o nosso juiz também
188
coloca coisas interessantes sobre decisões”. Sob o mesmo prisma, completou a gestora P48:
“às vezes, adiantamos as novidades no nosso grupo do Whatsapp aqui do trabalho. O juiz
mesmo joga algumas notícias, decisões de tribunais superiores, aí a gente já fica meio ligado
naquele assunto”.
Seguindo no tema, a gestora P48 destacou que “nesses anos todos, fiz muitos cursos no
Rio [...] eu sempre tive a oportunidade de me inscrever, ter acesso às informações”. O mesmo
ocorreu com a gestora P51, que lembrou ter feito:
[...] programa de desenvolvimento gerencial, que foi disponibilizado pelo Conselho da
Justiça Federal; aplicamos e replicamos. Por exemplo, quando a vara criminal foi
instalada aqui em Niterói, a diretora veio aqui [...] adorou o layout da minha vara, pois
é diferente das outras [...] mostrei para ela como a gente funciona.
Observando-se que, para esta tese, o valor público da duração razoável do processo
significa a obtenção de melhores resultados, com economia de esforços, despesas e tempo (Art.
5º, LXXVIII, CF, 1988; Art. 4º, CPC, 2015), o presente estudo de caso tem a gênese de constatar
como o mencionado valor é produzido na gestão da unidade judiciária.
A inovação foi uma das ferramentas utilizadas para agilizar o trâmite processual; criou-
se, na unidade judiciária, um setor de processos sensíveis, para melhor gerir processos, cujo
direito poderia perecer com a demora, como, por exemplo, para mandado de segurança, ação
de improbidade administrativa, cautelar, demandas relacionadas aos direitos dos idosos e
193
medicamentos.
A gestora P51, idealizadora do setor especializado, registrou que
[...] criamos o setor de sensíveis aqui na 4ª vara e deslocamos para esse setor todos os
processos de mandados de segurança, ação pública de improbidade, ações
administrativas, ações cautelares, processos com tutela ou liminar deferidas, idosos
etc. [...] condução toda separada e a gente ganhou uma velocidade que não tinha antes.
Poder Judiciário brasileiro, tanto que os servidores com 5 a 21 anos de trabalho perceberam que
a duração razoável do processo se apresenta, neste século XXI, também como ponto essencial
para a eficiência e eficácia do serviço de justiça.
Uma das atitudes materializadas para o encurtamento do tempo processual foi a criação
do setor de processos sensíveis, com prioridade de atenção sobre os demais processos, para
melhor gerir pleitos, cujo direito poderia perecer, com a lentidão procedimental.
Quanto à produtividade, foi possível ter acesso, a partir dos dados gerados por meio do
sistema de informação da própria unidade judiciária, a resultados de abril de 2018, mês
imediatamente anterior ao da coleta de dados. Nessa visão, no referido mês, para os 2.013
processos ajustados,19 em andamento, foram realizados 681 impulsos diferentes, na seguinte
ordem: (a) 49 sentenças, (b) 68 decisões, (c) 519 despachos e (d) 45 audiências (Anexos E e
G).
19
Processos ajustados são processos líquidos, com os processos suspensos, do arquivo provisório, ou aguardando
decisão dos tribunais superiores, retirados da contagem (informação obtida na observação direta do dia 29 de maio
de 2018).
195
recursos e tribunais para julgamento em reexame (Arts. 5º, LV, 102 e 105, CF, 1988).
Nesse contexto, de acordo com a coleta de dados, a gestão dos atos que impulsionam o
processo, que recebeu recurso, ocorre na unidade jurisdicional, encaminhando a posteriori, os
autos do processo para a sede dos tribunais, localizada, em geral, nas capitais dos estados
brasileiros.
Os cuidados para que o processo siga para julgamento colegiado no tribunal, em menor
tempo possível, constou da fala da gestora P50: “no meu setor, como em todos os outros setores,
196
nós acompanhamos para que não haja demora”. Sintetizando o contexto, falou o magistrado-
gestor, entrevistado P52: “a gente cumpre o papel para o sistema. Para o jurisdicionado, a
gente cumpre um dever...”.
Da análise dos dados, foram encontradas ferramentas, posturas e atitudes para bem
produzir o valor público judicial do duplo grau de jurisdição. Primordialmente, isso se deu por
meio das ferramentas inseridas no bojo do processo eletrônico e, igualmente, devido às atitudes
e posturas dos gestores da unidade judicial, por meio de um trabalho rápido e efetivo de
cumprimento de tarefas e prazos.
Da análise dos dados e sob a ótica da gestão, foram encontradas duas formas de
materializar a efetividade judicial: a primeira, relacionada com o específico cumprimento de
metas – o que, para esta tese significa uma efetividade indireta; e, a segunda, vinculada à
197
efetividade direta ou material, que interfere, de forma efetiva, no mundo e na vida do usuário
do serviço de justiça
O cumprimento de metas para uma efetividade indireta foi constatado pela gestora P53,
ao assinalar que “a gente ficou muito tempo aqui, em Niterói, em primeiro lugar; atualmente,
a gente está em segundo, no TRF2, a gente caiu um pouquinho”.
O relato do gestor P43 demonstrou como as metas chegam aos entrevistados: “chegam
por meio da corregedoria [...] que manda para a diretora de secretaria [...] Atinge mais quem
tem que fazer sentença, quem faz despachos. E a meta da 4ª vara é fazer o serviço rápido”.
analisada, pois a diretora de secretaria, além de publicizar, por meio de listas e relatórios
periódicos, distribui lembretes individuais (panfletinhos) para todos os envolvidos. Essa
ferramenta foi indicada pela gestora P46, que relembrou ser
[...] a diretora que sempre está acompanhando muito isso [...] ela faz uns panfletinhos
e põe na mesa de cada um e está sempre falando sobre isso ‘meta nova, meta tal’ [...]
ela tira relatório [...] aí, a gente não fica se preocupando com que meta que é essa, só
vai cumprindo.
No mesmo sentido, as gestoras P48 e P49 relataram que “a criação do CNJ e as metas
estão fazendo funcionar melhor a justiça, mais produtiva [...] Aqui, eu tenho que me preocupar
com a estatística mensal [...] Fazemos tudo para cumprir as metas.”(P49)
[...] por muito tempo, a nossa meta interna foi diminuir o volume de processos; para
cada mil processos a menos, tinha festa. Agora que já conseguimos baixar bem o nosso
volume de processos, temos como meta manter um bom ambiente de trabalho.
A efetividade direta ou material, descrita como valor público nesta tese, significa ir além
do cumprimento de metas estatísticas, atingindo a realidade dos usuários do serviço de justiça
– fato também encontrado no presente estudo de caso de estudo.
A gestora P51 relatou, de forma ímpar, que “nós somos referidos como unidade
produtiva, unidade com modelo de gestão, de valorização de pessoas [...] recebemos
diariamente feedback [...] A nossa vara sempre foi um ponto acima da curva”.
Dos dados, emergiram ferramentas, posturas e atitudes para bem produzir o valor
público judicial da efetividade, desdobrada nesta tese como efetividade indireta e efetividade
direta ou material. Na efetividade indireta, significando o cumprimento de metas, houve um
predomínio de êxito, haja vista a unidade judiciária estudada cumprir, com frequência, as metas
indicadas pelo CNJ, pelo TRF2 e suas próprias metas internas.
Outra meta interna foi encontrada nos serviços de gabinete, onde são construídas as
minutas das decisões. Nesse particular, a meta é fazer 80 sentenças por mês, enquanto o acervo
em tramitação estiver próximo de 1.000 processos; crescendo gradativamente, na proporção do
ingresso de novos processos na unidade (entrevistada P45). Ainda, com relação às metas do
CNJ e do TR2, é frequente seu cumprimento pela unidade judiciária, tanto que houve registro,
nesse sentido, com a fala da entrevistada P53, comentando ser costumeiro ficar em primeiro
lugar, embora no tempo da coleta de dados, tenha constatado a ocupação da segunda colocação
no ranking.
Uma ferramenta inovadora foi encontrada para fazer a equipe lembrar-se das metas – a
diretora de secretaria usa, entre outras formas, panfletinhos, distribuídos entre os servidores,
para incrementar a motivação.
200
Este estudo de caso tem essa mesma perspectiva, já que busca como é produzido, na
unidade judiciária pesquisada, o valor público da inafastabilidade do controle jurisdicional e o
livre acesso (desacesso) do judiciário.
O livre acesso pode ser mitigado naqueles processos que tramitam em segredo de justiça,
como fez lembrar a gestora P44, explicando que o livre acesso é a regra, e o sigilo, a exceção,
pois “além daqueles com o sigilo, os demais processos têm pleno acesso [...] A política daqui
da vara e, principalmente, do doutor, é livre acesso mesmo”. No mesmo sentido, declarou a
gestora P45: “quando a gente faz uma consulta na Receita Federal, aqueles dados que vêem,
entram em sigilo”.
horário para atender...”. Ainda, em conexão com o desacesso, a gestora P48 apontou: “a gente
lida com problemas que são trazidos na justiça como última salvação e ter uma rápida resposta
do Estado...”.
A partir da análise dos dados, foi possível constatar como o valor da inafastabilidade do
controle jurisdicional e o livre acesso (desacesso) são produzidos na gestão judicial, importando
recordar que a mesma base que sustenta e faz produzir o valor em análise, também é utilizada
na produção do valor público judicial da assistência judiciária gratuita. Isto é, sob o mesmo
203
Nesse sentido, registra-se que, dos 11 entrevistados, apenas 1 é julgador, mas, nem por
isso, os demais ouvidos deixaram de relatar como auxiliam na produção do valor público
judicial da oralidade.
A proximidade ou imediação com as provas foi relatada pela gestora P48, comprovando
204
Com o mesmo significado, a fala da gestora P46 indicou haver imediação entre servidor
gestor e os registros eletrônico do processo, porque “aparecem na tela marcadores em
vermelho, de urgência, e eu verifico se é caso de meta dois do CNJ [...] tudo que chega, eu que
vou dar uma destinação; eu junto as petições e mando para o setor específico...”.
Mais uma vez, a realidade colocou luz para a governança em valor público de Moore
(1995) praticada no Poder Judiciário, registrando que a imediação pode ser materializada por
meio do magistrado, gestores e servidores. Contudo, os servidores que mais fortemente
perceberam a imediação como produto da gestão foram aqueles com 10 a 15 anos de serviços
prestados ao Poder Judiciário. Ademais, isso indica uma significativa mudança paradigmática,
pois o valor da oralidade clássico dá lugar, cada vez mais, à oralidade significando imediação
(proximidade, contato direto).
valor público judicial da oralidade/imediação. Há, nesse sentido, valiosos dados indicativos de
que a imediação ou contato direto com pessoas, provas ou lugares pertinentes para a resolução
da demanda, é levada(o) a termo, tanto pelo magistrado quando por gestores e servidores da
justiça, sem que ocorra qualquer ofensa ao princípio em análise. Ao contrário, isso retrata que
a administração da justiça e a prestação jurisdicional não são realizáveis separadamente, mas
em conjunto, para o fim de pacificar os conflitos.
que saio até meio frustrada, se não dá para conseguir fazer tudo que apareceu durante o dia
[...] Acredito que as pessoas fiquem satisfeitas aqui”.
Por outro lado, a realização pessoal reflete benefícios para a vida do servidor e atinge a
comunidade. Exemplo disso foi o relato da gestora P45:“eu vejo todo mundo falar [...] ‘também
você trabalha na 4ª vara né’ [...] As pessoas conhecem e tem fila de espera para trabalhar
aqui”.
A boa gestão fez escola, tanto que a gestora P48, que pretende ser juíza federal, enaltece
o modelo de gestão implantada há mais de 20 anos na unidade judiciária estudada, apontando
estar “estudando para ser juíza federal e acho que o modelo de gestão daqui deveria ser mais
o normal, mas infelizmente chega a ser uma exceção. Eu gostaria, como futura juíza, de poder
replicar o que temos aqui”.
A realização pessoal e a satisfação de ser reconhecida invadiu as palavras da gestora
P50, que relatou que trabalha com um
207
[...] um juiz que, quando vê o meu marido na calçada, atravessa a rua para
cumprimentá-lo. Isso gera uma alegria tão grande de saber que você é respeitada, você
é vista como pessoa, eu não sou aqui uma máquina de trabalho [...] Minha filha cursou
Direito por influência do meu ambiente de trabalho.
A partir dos dados coletados, foi possível perceber que a boa gestão, positivada na
unidade judiciária pesquisada, influenciou, extraordinariamente, na realização profissional e
pessoal dos servidores públicos envolvidos.
Por fim, os valores públicos de gestão, para esta tese, são materializados pelos gestores
e servidores públicos, quando presentes ferramentas, posturas e atitudes adequadas e proativas
para atingir essa finalidade.
209
Valor
Valores Significado na Tese Público em Ferramentas Posturas Atitudes
Governança
• Processo eletrônico
Duração Obtenção de melhores resultados • Alertas automáticos
Sim • Setor de processos sensíveis
razoável do com economia de esforços, despesas • Teletrabalho: bons índices de • Sentimento de “vergonha” (processo antigo)
• Redução de processos (trâmite 97/18)
processo e tempo produtividade
• Boa gestão da unidade
• Processo eletrônico
• Metas (CNJ/TRF2/Unidade) • Cumprimento de metas
• Capacidade de alterar a realidade • Meta interna (diminuir o número de • Meta interna (meta de gabinete)
Produção de resultados jurídicos, no Sim
Efetividade (pela eficiência) processos) • Inovação no cumprimento de metas:
plano material
• Gestão humanizada • Metas: classificação no ranking (ótima) panfletinhos
• Círculo virtuoso (gestão, • Entusiasmo com a produtividade
produtividade, entusiasmo)
Inafastabilidade
do controle Garantias que proíbem a lei de • Processo eletrônico
Sim
jurisdicional excluir da apreciação, pelo judiciário, • Acesso e desacesso (mecanismo • Execução rápida das tarefas de gestão • Execução rápida das tarefas de gestão
e livre acesso lesão ou ameaça a direito similar)
(desacesso)
Aproximação ou imediação do • Imediação com pessoas, provas e lugares • Imediação com pessoas, provas e lugares
Sim • Processo eletrônico
Oralidade julgador às provas, pessoas e lugares, • Executável pelo magistrado, gestores e • Executável pelo magistrado, gestores e
• Minutar decisões
enquanto relevantes ao processo servidores servidores
Provoca
melhores índices Resultado de um Sentimento de Estimula a
de produtividade ambiente de pertencimento eficiência e a Resultados positivos
trabalho saudável eficácia para a realização
profissional e pessoal
dos servidores
Resultados
positivos para a Realização
comunidade profissional e
pessoal: reflexos P49 - “eu tenho muito orgulho do meu trabalho...eu
P53 - “eu mesma tive um problema do valor público procuro dar o meu melhor, sou muito elogiada pelo
seriíssimo de saúde. A minha diretora me em Moore que eu produzo, eu recebo feedback... a gente se
sente num ambiente acolhedor, aqui a gente tem
visitou não sei quantas vezes no hospital,
ela ia e me levou um terço ‘deste’ tamanho,
(1995) tranquilidade de trabalhar”
água benta e fazia oração... Aqui você não
é um número apenas, você tem valor como
servidor e como ser humano...você acha
que é um bom profissional” P48 - “...estudando para ser juíza
federal e acho que o modelo de gestão
daqui deveria ser mais o normal, mas
P46 - “tem vezes que P43 - “Numa infelizmente chega a ser uma exceção.
saio até meio frustrada fotografia da 4ª Eu gostaria, como futura juíza, de
se não dá para vara daria para ver poder replicar o que temos aqui”
conseguir fazer tudo o o companheirismo e
P48 - “o meu trabalho é
que apareceu durante alegria também” P52 - “advogado importante…O que temos
o dia... Acredito que as começou a comemorar
pessoas fiquem muito aqui é uma coisa
quando o processo caía P45 - “eu vejo todo
chamada fidelidade
satisfeitas aqui” aqui nesta vara. Os mundo falar...
profissional...é uma rede
servidores fazendo fila ‘também você trabalha
onde um está pelo outro,
para vir trabalhar aqui... na 4ª vara né’... As
existe uma sensação de
foi interessante ser pessoas conhecem e
confiança...trabalhar em um
premiado em outras tem fila de espera para
clima mais ameno, mais
regiões do Brasil e trabalhar aqui”
tranquilo, ajuda muito, faz
depois aqui no TRF2” toda a diferença...”
P44 -“aqui a gente é cobrado, mais existe
um reconhecimento e uma confiança por P50 - “...nós temos um magistrado que
parte das pessoas, dos chefes...a gente, P45 - “no final de um dia com a minha meta quando ele se dirige para a secretaria,
aqui fica muito feliz quando se consegue cumprida, tenho muita satisfação...a gente sempre cumprimenta todos e pergunta como
resolver algo para alguém…sou discute tudo, nunca uma decisão é imposta de cima está a família. Aqui somos 70% pessoas
supersatisfeita de trabalhar aqui...” para baixo, é sempre compartilhada” e apenas 30% processos...”
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este capítulo tem como objetivo apresentar: a resposta para a questão de pesquisa e
aos objetivos da tese (1); as contribuições teóricas e práticas (2); as limitações do trabalho (3);
e as possibilidades de estudos futuros (4).
A questão de pesquisa, proposta por esta tese foi: Como os gestores da base judiciária
brasileira produzem valores públicos de gestão em ambiente de governança?
Considerando na questão supramencionada, o objetivo geral da tese foi o de explorar
a relevância das atividades de gestão do Poder Judiciário, como produtora de valores públicos;
e os objetivos secundários: (a) descrever o novo cenário da administração judiciária brasileira;
(b) identificar os valores públicos de gestão, inseridos na administração judicial; e (c) analisar
as práticas de governança, conforme Moore (1995), bem como a produção de valores públicos
de gestão em uma unidade judiciária da Justiça federal.
Para melhor compreensão deste tópico, serão respondidos, inicialmente, os objetivos
secundários, seguidos do objetivo geral e da questão de pesquisa.
20
Decreto Presidencial nº 9.203, de 22 de novembro de 2017. Em vigor desde 23 de novembro de 2017.
Recuperado de: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/decreto/D9203.htm.
213
[...] produtos e resultados gerados, preservados ou entregues pelas atividades de uma organização que
representem respostas efetivas e úteis às necessidades ou às demandas de interesse público e
modifiquem aspectos do conjunto da sociedade ou de alguns grupos específicos reconhecidos como
destinatários legítimos de bens e serviços públicos.
21
Portaria nº 138, de 23 de agosto de 2013. Instituiu a rede de governança colaborativa do Poder Judiciário.
Recuperada de: http://www.cnj.jus.br/files/atos_administrativos/portaria-n138-23-08-2013-presidncia.pdf.
22
Resolução nº 198, de 1 de julho de 2014. Dispõe sobre o Planejamento Estratégico do Poder Judiciário.
Recuperada de: http://www.cnj.jus.br/files/atos_administrativos/resoluo-n198-01-07-2014-presidncia.pdf.
23
Resolução nº 221, de 10 de maio de 2016. Instituiu a gestão participativa no Poder Judiciário. Recuperada de:
http://www.cnj.jus.br/atos-normativos?documento=2279.
24
Portaria nº 114, de 6 de setembro de 2016. Estabelece as diretrizes do processo participativo na formulação das
metas nacionais do Poder Judiciário. Recuperada de: http://www.cnj.jus.br/atos-normativos?documento=2338.
25
Câmara dos Deputados. Tramitação do Projeto de lei nº 9.163, de 29 de novembro de 2017, consulta em 21 de
janeiro de 2019. Recuperado de: http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?
idProposicao=2163153.
214
No Brasil, os valores públicos são ditados pela legislação, por meio da CF ou lei
infraconstitucional. O Poder Judiciário dispõe, segundo regras constitucionais e por legislação
específica, de valores exclusivos, que devem ser materializados, tanto nos atos de gestão quanto
nos atos de jurisdição desse serviço estatal. Em suma, o Poder Judiciário brasileiro deve
produzir, na entrega do serviço de justiça, todos os valores públicos ínsitos no Art. 37 da CF
(1988), bem como seus valores exclusivos, além de observar, na medida do possível, os oito
valores públicos universais, propostos por Van der e Wal et al. (2006).
O Poder Judiciário brasileiro produz, por meio dos atos de gestão e de jurisdição, 16
valores públicos exclusivos: assistência judiciária gratuita, boa-fé, contraditório e ampla defesa,
cooperação, devido processo legal, duplo grau de jurisdição, duração razoável do processo,
efetividade, imparcialidade do juiz, inafastabilidade do controle jurisdicional livre
acesso/desacesso, isonomia, juiz natural, oralidade, persuasão racional, proibição da prova
ilícita e publicidade dos atos processuais.
Com relação aos valores públicos judiciais de gestão, constatou-se, no estudo de caso,
que o valor da assistência judiciária gratuita foi materializado com requintes de inovação, a
exemplo das seguintes ações: promoção das mesmas condições procedimentais e paridade de
armas para os litigantes hipossuficientes; intimação direta do litigante, para tratar acerca dos
prazos vitais para a guarida de seus direitos; percepção que a produção do presente valor
promove o exercício da responsabilidade social; bem como a dedicação comprometida da
defensoria pública federal, pautada na produção desse valor, em defesa daqueles que não podem
pagar pelo serviço de justiça.
No valor público do contraditório e ampla defesa, foi possível inferir dos dados,
inclusive na observação direta, que a unidade judiciária produziu o referido valor, tendo reflexo
na eficiência, à medida que os cuidados com a gestão impulsionaram o fluxo de processos para
julgamento. Nesse particular, as ferramentas dispostas no processo eletrônico e a criação do
setor de processos sensíveis, proporcionam a produção vigorosa do citado valor judicial de
gestão.
O valor do duplo grau de jurisdição é produzido pela unidade judiciária, quando ela
realiza atos de preparação e encaminhamento de autos do processo para julgamento em segunda
instância. Nesse sentido, conta-se com o auxílio fundamental das ferramentas trazidas com o
processo eletrônico, bem como, por meio de posturas e atitudes diligentes para o cumprimento
de prazos.
216
O objetivo geral proposto na tese foi o de explorar a relevância das atividades de gestão
do Poder Judiciário, como produtoras de valores públicos. Atendendo à necessidade, apontada
pela literatura, de fomentar a discussão sobre a administração pública com mais estudos teóricos
e práticos, esta tese, por meio de um estudo qualitativo e exploratório, procura contribuir para
217
um Estado mais eficiente, transparente e eficaz nos serviços que disponibiliza, dentre eles, o
serviço de justiça.
Se não por outro motivo, o orçamento para o ano de 2017, registrado no relatório
Justiça em Números, apontou ser de R$ 90,8 bilhões as despesas totais do Poder Judiciário
brasileiro, cujas finanças destinam-se a remunerar uma força de trabalho de 448.994 pessoas,
formada por magistrados, gestores e servidores públicos ordinários, que devem, por
determinação legal, preocupar-se com uma boa gestão (CNJ, 2018).
Esta tese tem como questão de pesquisa: Como os gestores da base judiciária brasileira
produzem valores públicos de gestão em ambiente de governança?
gerais do Direito, representa uma forma específica na gestão das unidades judiciárias. Exemplo
disso, de acordo com os dados coletados junto a unidade de análise, tem-se o valor público
judicial de gestão da assistência judiciária gratuita, que foi produzido em garantia da paridade
de armas (processuais) entre os litigantes, realizando intimação, para dar ciência direta à parte
hipossuficiente; e exercitando a responsabilidade social para com os que não podem pagar pelo
serviço de justiça.
É importante destacar que, na produção dos valores públicos judiciais de gestão, tão
importante quanto ter boas ferramentas (processo eletrônico), é ter uma equipe de servidores,
com posturas e atitudes empreendedoras na execução de tarefas administrativas, das mais
ordinárias às mais complexas, como é o caso singelo de publicar em órgão oficial as decisões
do magistrado.
219
A proatividade se adianta aos obstáculos, como por exemplo, no caso de publicar atos
processuais antes do que depois de um feriado prolongado. Atitudes como essa, entre outras,
multiplicam os índices de produtividade.
Outro ponto relevante é a “maturidade” (idade) dos entrevistados no estudo de caso,
pois, mesmo com algumas dificuldades no manuseio das ferramentas eletrônicas, são exemplos
de eficiência, coparticipação e produtividade.
Na tese, com base nos estudos de Löffer (2001), existiu a proposição de conceituar a
governança pública como uma ferramenta de gestão, que auxilia a eficiência estatal e melhora
as relações entre Estado, cidadão, mercado e a sociedade civil organizada, por conferir a
coparticipação dos gestores públicos e cidadãos, na confecção do planejamento estratégico, no
estabelecimento de metas e na verificação de eficiência.
O Poder Judiciário brasileiro, com a governança, mesmo que de forma atenuada,
convive com a presença da hierarquia e com o modelo burocrático de administração; contudo,
há a possibilidade de ambas, em consórcio simétrico, com a teoria do valor público (Moore,
1995), conforme se atestou no estudo de caso.
No que tange à cooperação, vale: (1) realizar encontros, mesmo que virtuais,
estimulando representantes das unidades judiciárias a compartilhar experiências de boa gestão,
posto que a governança judicial em Moore (1995) permite que aspectos técnicos de gestão
sejam considerados pela hierarquia atual, especialmente quando impulsionam a efetividade; (2)
otimizar a agenda dos peritos judiciais nomeados para, se possível, atender em dia e hora
marcados, na sede da unidade judiciária, como é o caso de avaliações periciais psicológicas ou
psiquiátricas; (3) aproximar a função judicativa da gestão, pois o magistrado, mais inteirado às
questões de gestão, torna o ambiente de trabalho mais harmônico e estimula a eficiência.
Assim, a partir das contribuições práticas desta tese, é possível concluir que a
governança em Moore, a partir das instruções do CNJ, pode e deve estimular a coparticipação
do cidadão na produção dos valores públicos judiciais, mesmo que seja a distância e de forma
virtual. É preciso assegurar, porque comprovado empiricamente, que a governança em Moore
(1995) é aplicável e modelável à hierarquia, à ritualística e ao cerimonialismo existentes no
Poder Judiciário. Ressalta-se que a relevância das atividades de gestão do Poder Judiciário, em
grande medida, resulta da pressão social por maior transparência, eficiência e eficácia do
serviço de justiça.
Dada a natureza exploratória desta tese, para o futuro, além de refinar a resposta à
questão de pesquisa proposta por este trabalho, pretende-se investigar se os valores judiciais de
gestão podem variar, considerando a cultura laborativa das unidades judiciárias federais
brasileiras. Registrar além do “como”, o “motivo” de os valores judiciais de gestão estarem
sendo materializados da forma como se apresentam.
26
Jurimetria é o estudo de dados estatísticos judiciais que auxilia na tomada de decisões estratégicas para o Poder
judiciário. Recuperado de: https://abj.org.br.
226
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253
b) Roteiro de entrevista
1 - Tenho ouvido falar em governança na gestão pública como um todo e também no Poder Judiciário.
O senhor (a) tem algo a informar ou alguma posição sobre o tema?
Para a coleta de dados, observado o permissivo legal, foram coletados documentos como
atas de reuniões, gráficos, fotografias, tabelas de produtividade.
Para a observação direta utilizou-se anotações em um caderno de campo. Neste caderno
foram anotados dados de reunião de trabalho gerais, dados do local de trabalho entrevistados.
1 – Pode nos contar um pouco da sua história e do histórico da 4ª vara (da forma, rotina e
volume de trabalho) desde a sua chegada?
2- Qual é a qualificação mínima para poder trabalhar aqui e como ocorre a seleção dos membros
da equipe? Existem algumas qualidades humanas a serem observadas na escolha?
4 - Com relação ao trabalho realizado internamente, como as metas do CNJ são atendidas e qual
a posição da 4ª Vara?
257
6 – Existe diferença em trabalhar aqui na 4ª Vara e em outras? A exemplo do seu último trabalho
e aqui quais as principais diferenças.
7 – No seu trabalho, você pode tomar decisões sozinho e conforme a sua vontade? Por qual
motivo? Dos seus atos no trabalho você deve explicações ou cumpre regras específicas (quais)?
8 – Todos os que necessitam do seu trabalho podem chegar até aqui, mesmo os que não podem
pagar? Existem condições específicas de atendimento quando estão aqui?
9 – No seu sentir, você entende que o resultado do seu trabalho chega em tempo e responde às
expectativas daqueles que necessitam do serviço de justiça?
10 - Com seu trabalho (da equipe), que tipo de resposta você entende que oferece para o Poder
Judiciário? Para aquele que buscou o serviço e para você mesmo?
11- Quais as novidades ocorridas na execução do seu trabalho, especialmente nos últimos 05
ou 10 anos?
12 – Todo o trabalho desenvolvido por você (pela equipe) pode ser acessado pelos interessados
finais ou interessados em geral?
DISTRIBUIÇÃO: