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MANIFESTO EM DEFESA DOS CARRINHOS DE LANCHE E

COMERCIANTES AMBULANTES DE POÇOS DE CALDAS

Poços de Caldas está mais uma vez sendo ameaçada por uma ação antipopular.
Após a privatização de todos os pontos turísticos da cidade, que foram cedidos a uma só
família, a atual prefeitura quer acabar com os tradicionais carrinhos de lanche.
Em uma ofensiva contra um dos pontos turísticos mais queridos de Poços, a
prefeitura pretende expulsar dezenas de trabalhadores e trabalhadoras que há anos
fazem do lanche o seu ofício e trazem reconhecimento para a nossa cidade.
Sem que houvesse qualquer diálogo ou consulta aos trabalhadores dos carrinhos
ou à população poços-caldense, que são os grandes interessados no tema, o prefeito
Sérgio Azevedo (PSDB) vem se movimentando desde 2018 por essa remoção. No lugar
dos famosos carrinhos, há a pretensão de impor um projeto de construção de quiosques
a serem ocupados a partir de licitação.
Os atuais donos e trabalhadores dos carrinhos, portanto, dificilmente
conseguiriam voltar aos seus postos de trabalho após a remoção, dadas as dificuldades
de atender às exigências desse tipo de edital, que favorece grandes empresas locais ou
franquias, como visto na licitação dos pontos turísticos.
Os carrinhos existem da forma como estão hoje há mais de 40 anos e são
reconhecidos pela qualidade dos lanches e por oferecer entretenimento e lazer acessível
e popular, que atraem turistas e poços-caldenses todos os dias.
Retirar os carrinhos de lanche seria acabar com uma parte da História de Poços
de Caldas. Ao contrário do que dizem os favoráveis ao projeto do prefeito, não são os
carrinhos que se beneficiam do espaço público da cidade, mas sim a cidade que se
beneficia dos serviços por eles prestados há décadas.
Muito se fala dos pretextos que são usados para justificar essa medida impopular
e antipopular. Um dos argumentos utilizados é o de que os carrinhos ferem o
tombamento da Praça. Ora, Poços de Caldas tem 150 anos, a Praça tem quase 100 e os
carrinhos estão lá há mais de 40, ou seja, quase metade do tempo de vida da praça. O
que sim fere o tombamento é um projeto imposto sem nenhum diálogo com a população
e que visa apenas atender os interesses da especulação.
Outro argumento é o de que os carrinhos prejudicariam a qualidade da água do
ribeirão. Trata-se de um factoide, visto que não há tratamento adequado do esgoto ao
longo de todo o percurso do ribeirão pela cidade. Mesmo que a questão sanitária seja
importante, a solução se dá pela adequação da estrutura já existente, com infraestrutura,
banheiros e coleta de lixo adequada, e não pelo despejo dos atuais trabalhadores para a
introdução de grandes empresas.
Esses trabalhadores e trabalhadoras, fontes de sustento de diversas famílias, são
alvos da informação mentirosa de que eles se utilizam gratuitamente do espaço público,
Os que espalham essa desinformação omitem o fato de que são pagas taxas mensais ao
longo de todo o ano, além de despesas de água e luz, como todo estabelecimento
comercial. Assim, não é apenas falso afirmar que eles ocupam o espaço público de
forma gratuita, mas dizer isso esconde o fato de que são os carinhos que oferecem,
naquele espaço, benefícios ao público.
Os carrinhos de lanche são fruto do processo orgânico do desenvolvimento da
cidade. Através de muito trabalho, esses carrinhos de lanche consolidaram uma tradição
e a fama de Poços como a cidade do lanche, atraindo muitos turistas que fazem questão
de retornar à cidade e indicar esse patrimônio cultural a familiares e amigos,
movimentando a economia da cidade. Todos nós conhecemos histórias assim.
Não são apenas os trabalhadores e trabalhadoras, donos e funcionários dos
carrinhos que verão de uma hora para outra a sua fonte de renda e sustento, além de
todo o trabalho construído ao longo dos anos, desaparecer. A cidade será a grande
prejudicada. Aquela alameda não possuí outra característica que não a dos lanches bons
e baratos, que atendem dia e noite, garantindo movimento e segurança nas noites da
praça e um ambiente alegre e colorido para as famílias que por ali passeiam.
Em seu lugar, pretendem construir um centro composto por comércios
gourmetizados, caros, inacessíveis a boa parte da população e sem nenhuma identidade
com a nossa História e Cultura. Esses comércios pretendem se aproveitar da boa fama e
tradição ali construídas pelo trabalho alheio, em um processo antipopular conhecido
como gentrificação (expulsão de pessoas, comércios e formas de vida e de lazer de áreas
históricas centrais com características populares por empreendimentos elitizados).
Por trás do projeto de retirada dos carrinhos da praça, está uma visão de cidade
excludente e que em pouco tempo pretende acabar com todos os comércios de
alimentação de rua, como os carrinhos da Praça dos Macacos, pastéis, churros, pipoca e
tudo aquilo que dá sabor aos nossos dias no centro.
Essa ação não prejudicará apenas dezenas de trabalhadores e trabalhadoras que
fizeram do lanche o seu ofício, mas prejudicará toda uma cultura que está enraizada no
coração de Poços.
Lutar pela permanência dos carrinhos de lanche é lutar pela História e pela
Tradição Cultural de Poços de Caldas, construída cotidianamente a muitas mãos, pelos
seus trabalhadores e trabalhadoras e por todas as pessoas de Poços e de fora que amam,
frequentam e valorizam os carrinhos de lanche. 50 anos não são 50 dias. Contamos com
todas e todos para essa luta: os carrinhos ficam!

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