Você está na página 1de 232

Símbolos das Revelações

Primeiro Volume

A Imagem da Luz: A Presença do Cristo nas Três


Revelações

2
Copyright © 2023 Grupo Marcos
Distribuição não exclusiva
Mande imprimir ou acesse em nosso site
www.grupomarcos.com.br
3
Sumário
Prefácio................................................................................................... 6
Introdução .............................................................................................. 8
Plataformas para acessar os áudios (clique nos links) ........................ 10
Homenagem .......................................................................................... 11
Apresentação do Grupo Marcos........................................................... 12
Acompanhe o Grupo Marcos ............................................................... 12
Capítulo 1
A videira que te desenhamos ................................................................... 13
Capítulo 2
O emblema do trabalho do Criador e a Primeira Revelação ................... 37
Capítulo 3
O emblema do trabalho do Criador e a Segunda Revelação ................... 58
Capítulo 4
O Espírito é o vinho ................................................................................. 82
Capítulo 5
O homem purifica o Espírito por meio do trabalho .............................. 102
Capítulo 6
O arquétipo humano .............................................................................. 123
Capítulo 7
O Homem-Deus ......................................................................................147
Capítulo 8
Eu venho, sou teu Salvador e teu juiz .................................................... 168
Capítulo 9
Escutai-me ............................................................................................. 189
Capítulo 10
A Verdade imutável ............................................................................... 209
Referências Bibliográficas.................................................................. 230

4
5
Prefácio
A tradição literária, dentro e fora do gênero teológico, consagrou o termo luz como
representação do conhecimento e da sabedoria — conhecimento no sentido de
aquisição intelectual, instrução técnica, ciência, informação, erudição etc.; sabedoria,
no sentido de uma elevada consciência da necessidade e dever moral de bem aplicar
os conhecimentos.

Esta metáfora deve ser compreendida também pelo aspecto de que a luz física,
sendo o produto de recursos energéticos, é sempre fruto de um trabalho — portanto,
uma ação voluntária — empreendido sobre elementos materiais requeridos para tal
fenômeno: conhecimento e sabedoria igualmente são resultantes da vontade e do
esforço individual mediante as oportunidades das vivências físicas.

Comumente, a luz também está associada ao calor, que por sua vez figura um
sentimento afetivo, uma vontade forte e perseverança num determinado objetivo,
pelo que se diz, com relação ao propósito de manter um trabalho ativo, “manter a
chama acesa”.

Iluminar-se consiste, pois, em desenvolver as qualidades do conhecimento e da


sabedoria, aquisição das ciências e das virtudes morais, numa palavra: progresso
espiritual.

No sentido oposto, a escuridão — que nada mais é do que a ausência de


iluminação — significa ignorância, como consequência da falta de conhecimento e
ainda o não desenvolvimento dos predicados morais, bem como o estado de
embrutecimento do ser mediante os seus deveres espirituais. Ora, assim como a luz
material se apaga quando sua fonte de energia deixa de ser alimentada, a omissão da
busca pela autoiluminação causa sua estagnação, e esta, por conseguinte, produz o
seu embrutecimento, cobrindo-o com as trevas da ignorância, que facilmente arrasta
o indivíduo para o declínio das más paixões. Desde ponto em diante, afundando no
isolamento e na viciação das coisas banais, a pessoa tende a perder o calor humano, a
afetividade pelos semelhantes, caindo então na frieza do egoísmo, passando a viver
mais em função das satisfações individuais.

A imagem das trevas está fartamente espalhada em nosso mundo atual — ainda
carregado das características de um mundo de expiação e de provas. Ignorância,
viciação e egoísmo são, infelizmente, paradigmas muito presentes no cotidiano
terreno. Tanto é que não são raras as pessoas que supõem não existir nenhuma luz
superior a esta condição terrível, e então estas pessoas transitam da penumbra para a
completa escuridão da alma, que se reflete na vida prática em forma do ateísmo,
pessimismo, rancor e assim por diante.

Todavia, felizmente, há uma luz maior. É desta “salvação”, desta “luz no fim do
túnel”, que se trata este presente trabalho intitulado Imagem da Luz.

6
O personagem principal é Jesus — que em nosso português tem a feliz
coincidência de rimar com luz. Ele é o Cristo, o Messias, o arquétipo, o guia e
modelo para a humanidade, o representante direto de Deus para a coletividade
terráquea, a personificação da iluminação espiritual para a qual todos nós devemos
labutar em favor de nosso próprio aperfeiçoamento.

O presente estudo, em suma, tem o objetivo exatamente de nos conduzir a uma


melhor compreensão da imagem do Cristo para a nossa autoiluminação. Para
tanto, este conteúdo vem nos propor uma interpretação quanto à mensagem concreta
que envolve a figura de Jesus, que está presente nas três grandes revelações da Lei de
Deus para a humanidade terrestre, a saber: 1) a revelação mosaica, concentrada
na tradição judaica, na qual a vinda do Messias e sua autoridade são prenunciadas;
2) a revelação cristã, concretizada justamente por ocasião da estadia do Cristo
entre nós, encarnado na pessoa de Jesus; e 3) a revelação espírita, que aliás foi
profetizada por Jesus, então sistematizada na Codificação do Espiritismo, que foi
designado pela espiritualidade a ser o Paráclito, o Consolador, dentre cujas
resoluções está a missão de vivificar o verdadeiro cristianismo — a segunda revelação
— em face das más interpretações e mesmo das deturpações intencionais feitas por
determinados agentes da ignorância e das trevas.

De forma extraordinária e assaz proveitoso, este estudo vem nos apontar os sinais
inequívocos da presença do Cristo em toda a trajetória evolutiva humana na Terra e
até mesmo antes disso, pois, como ficará bem evidente neste estudo, é patente a
participação do Messias Divino na própria gênese do nosso orbe.

Sim, Jesus está conosco e é por nós, todo o tempo! Cumpre-nos identificarmos a
graça que isto representa para todos nós.

Mister se faz reconhecer, a propósito, que há uma luta incessante em curso, entre
os missionários da luz e os agentes das trevas, refletida em cada um nós através da
luta entre os nossos lampejos de luz e as nossas más tendências.

Quem vencerá esta guerra? Certamente que a luz vencerá, porque, segundo a lei
divina de progresso, todos os seres estão fatalmente destinados à luz, à perfeição
espiritual. Porém, até lá, há um longo percurso a seguir. Por isso, faz bem
perquirirmos a nós mesmos: em mais quantas batalhas precisaremos ser derrotados
pelas forças trevosas até nos conscientizarmos da necessidade de aproximação com o
Cristo?

É para os verdadeiros interessados em sua autoiluminação, valendo-se da


aproximação com o Cristo-Luz, que este trabalho se destina especialmente.
Desfrutemos todos dessa maravilhosa oportunidade!

Muita luz para todos!


Ery Lopes.

7
Introdução
Querido leitor, querida leitora,

Este livro é vinho novo. À época do Cristo, antes das uvas serem esmagadas, era
retirado o primeiro suco que daria origem ao mosto, o vinho novo: doce e
concentrado. Assim entendemos o livro que você tem nas mãos. Talvez, seja a
primeira vez, que você vai conhecer as relações profundas entre as três Revelações
expressas pelo símbolo espírita da videira. Bem como, os luminosos termos
simbólicos que Allan Kardec utilizou para expressar a realidade espiritual do Cristo.
Pensamos que para os que tem sede da verdadeira espiritualidade, isso será uma
doce descoberta.

Os textos são concentrados como o novo vinho. Tentamos reunir em textos


relativamente curtos, temas extensos e importantes. Por isso, é necessário assimilar
pouco a pouco seu conteúdo. Nossa sugestão é que você faça uma primeira leitura
geral, em seguida, ouça as explicações, que já estão disponíveis, em áudio; tanto no
site do Grupo Marcos – HYPERLINK www.grupomarcos.com.br; quanto nas
plataformas do Spotify; do Google podcast; da Amazon Aubiable e do Castos. Além
disso, você também terá o apoio de um grupo de estudo que se reúne as quartas-
feiras, às 20:00 on-line. Para informações, basta nos contactar:
grupomarcos@gmail.com. Após o estudo dos dez capítulos, você pode fazer uma
revisão por meio dos áudios de revisão, são mais de vinte encontros onde os temas
são reapresentados de forma mais didática e com mais exemplos. Todo o material é
gratuito.

Temos em nosso grupo de estudo inicial pessoas que estão começando no


Espiritismo, bem como, participantes que possuem mais de trinta anos de atividade e
estudo espírita. Eles nos relatam que este livro, apesar de estar totalmente
fundamentado na obra de Allan Kardec, inclusive com inúmeras citações diretas da
Codificação espírita, apresenta temas novos e abordagens que, se por um lado, são
inquestionáveis por serem a palavra de Kardec, por outro, são desconhecidos por
eles. É justo, porém, esclarecermos que nada fizemos de novo. Usamos métodos de
estudo já tradicionalmente consolidados para a análise de texto e seguimos
criteriosamente todas as instruções de Allan Kardec e dos Espíritos da Codificação
expressos na Revelação espírita.

Talvez, a novidade se dê porque no movimento espírita, de forma inadvertida,


passamos a querer estudar Kardec e a Codificação com os critérios das modas
intelectuais, sociais e acadêmicas, marcadas pela arrogância em relação ao Cristo e
pela revolta em relação ao Criador. Assim, de forma covarde, nega-se, esconde-se,
camufla-se as palavras claras e honestas de Allan Kardec e dos Espíritos superiores
em relação ao Cristo. Afinal, Allan Kardec coloca-se como servo do Cristo, reconhece-
lhe a grandeza ao afirmar que ele é o Messias divino que conhece os segredos de

8
Deus; publica a afirmação do apóstolo Paulo de que Jesus Cristo é o Homem-Deus.
Dos cinco livros da Codificação Espírita, todos registram a grandeza incomparável,
na Terra, de Jesus. Dos cinco livros, três são dedicados a discutir, quase que
exclusivamente, o Novo Testamento. Como aceitar que o mestre de Lyon não tinha
consciência de que sua missão era servir ao Mestre de Nazaré? Para Kardec, Jesus
não é rei, é o Rei com autoridade divina. O Cristo fala por Deus.

Queremos colaborar para que a era da leitura pretensiosa e da interpretação


mesquinha da Codificação Espírita termine. Muitos, por medo da Luz, quiseram
negar os mais importantes ensinos de Allan Kardec sobre o Cristo e sobre o
Espiritismo. Desejaram apagar - e conseguiram em relação aos corações invigilantes
- a presença do Mestre na Terceira Revelação. Conseguiram, por tempo limitado,
negar a devoção, desde a infância, que Kardec nutria pelo Cristo; como também
tentaram esconder que o Espiritismo, para Allan Kardec e para todos os Espíritos
superiores da Codificação - é o cumprimento de uma profecia do Cristo. Dizemos:
não será mais possível tentar esconder do sol - que é o Cristo, o Messias divino - com
artimanhas interpretativas farisaicas que visam mais a autopromover-se do que
servir ao Cristo.

Allan Kardec, após refletir longamente sobre a função do Espiritismo no mundo,


expressa em texto de alto valor doutrinário seu maior objetivo na Terra. O
Codificador explica a razão de ser da Doutrina Espírita, mostra o que justifica todo
o empenho do próprio Cristo, de João Evangelista, de Santo Agostinho, de São
Vicente de Paulo e de tantos outros Espíritos de evolução extraordinária para
implantar o Espiritismo no planeta; assim responde o lúcido Codificador a pergunta:
o que a Doutrina Espírita veio fazer no mundo? A Doutrina Espírita vem preparar
o reino do bem, que é o reino de Deus anunciado pelo Cristo.

Fica a pergunta, até quando, como os espíritos revoltados de Cafarnaum (Lucas,


4:33), brandaremos nós: por que Jesus, Filho de Deus, vem tu nos incomodar? Ao
invés disso, por que como Pedro, não despertamos a nossa consciência ao ouvir o
cantar do galo e voltamos nosso coração ao Mestre? Por que, como Paulo ajoelhado
ante o Senhor, não perguntamos: Senhor, o que queres que eu faça? Por que como
Allan Kardec, ao aceitar servir ao Cristo, não dizemos: Senhor! Se tiveste a bondade
de lançar vosso olhar sobre mim para realizar vossos desígnios, que seja feita a vossa
vontade! Minha vida está em vossas mãos, sou um servo a tua disposição? Nossa
escolha íntima tem e terá consequências reais, na atualidade e nos milênios futuros.
Deus a conhece, que Ele a abençoe!

9
Plataformas para acessar os áudios
(clique nos links)

https://grupomarcos.com.br/curso-imagem-da-luz-a-presenca-do-
cristo-nas-tres-revelacoes-2/

https://open.spotify.com/show/3jEQyC9Fg0uXbjw1AWkXZH

https://grupo-marcos-curso-a-imagem-da-luz.castos.com/

https://music.amazon.co.uk/podcasts/f2977322-bee2-4ce9-802e-
8392f1f438a0/grupo-marcos---curso---a-imagem-da-luz

https://podcasts.google.com/feed/aHR0cHM6Ly9mZWVkcy5jYXN0b
3MuY29tL3d4djZt?hl=pt-br

10
Homenagem
“Esse livro é uma homenagem ao extraordinário trabalho de Allan
Kardec que em meio a incompreensão do movimento espírita foi firme e
claro: sua missão era a de servir ao Consolador. À época de Kardec havia
um movimento espírita, em torno dele, mais cristão e verdadeiro, mas,
em escala mundial, verifica-se o bloqueio emocional daqueles que se
acham muito especiais para serem amigos de um carpinteiro.
Atualmente, esses “importantes” pensadores estão nas atividades
espíritas, achando-se vencedores, como sempre. Mas uma poderosa voz
os alerta: colherão frutos amargos. A época das experimentações acabou.
A métrica divina é precisa ao indicar o não mais, o basta. O Filho amado
deve ser honrado por todos que amam a Deus e a mentira, como sempre,
travestida de elevação e grandeza, será definitivamente desmascarada e
como Adão, que queria competir com o Criador, será despida, mostrar-
se-á em sua horrenda nudez. E os que se elevaram serão rebaixados.
Amigos, o tempo da colheita é o agora, atenção com vossas sementes,
atenção com vossas intenções. Esse é um apelo que vem do Alto:
abandonai vossos interesses inferiores, servi. Pois muitos se perderão,
por acharem que basta dizer, Senhor, Senhor.”

Cairbar de Souza Schutel.


Minas Gerais, 12 de agosto de 2023.
“Psicografia médium Grupo Marcos”

11
Apresentação do Grupo Marcos
Eurípedes Barsanulfo é o coordenador espiritual
do Grupo Marcos. Fundador do primeiro colégio
espírita do mundo em Sacramento (MG), o Colégio
Allan Kardec.
Foi, à época do Cristo, um adolescente essênio
que ao encontrar com Jesus ainda na adolescência
tornou-se seu fiel seguidor, sendo morto em
Nazaré ao afirmar que Jesus era o Messias enviado
de Deus, tornando-se o primeiro mártir do
cristianismo no mundo. Sua vida está relatada no
livro psicografado por Corina Novelino e revisado
por Francisco C. Xavier com orientação de
Emmanuel. O livro chama-se A Grande Espera. Chamava-se Marcos.
Em sua última existência, nasceu em Sacramento em 1880 e desencarnou em 1918
aos 38 anos conforme anunciara. Não foi apenas um dos médiuns mais
extraordinários do cristianismo, mas também educador, estudioso e amigo de todos.
Psicografava e preparava mais de mil remédios por dia, além de cuidar de loucos e
obsidiados, realizar partos, inclusive, materializado. Eurípedes é o líder da Nova
Geração. Para conhecer a história de Eurípedes sugerimos a leitura Meu Amigo:
Eurípedes Barsanulfo, disponível para download gratuito no site do Grupo
Marcos.

Além da direção geral de Eurípedes Barsanulfo, o


Grupo Marcos conta a com a coordenação geral do
Espírito amigo que se apresenta como o amigo
espiritual de sempre e com a coordenação específica
de cada curso. No curso sobre o Cristo - A Imagem da
Luz: a Presença do Cristo nas Três Revelação,
contamos com a coordenação espiritual do amigo
Cairbar de Souza Schutel (1868-1938). Espírito
corajoso e abnegado, ficou conhecido como o
Bandeirante do Espiritismo, autor de mais de uma
dezena de livros, destacam-se seus estudos sobre o
Cristianismo e a mediunidade, dentre eles: Espiritismo e
Protestantismo (1911); Interpretação Sintética do Apocalipse (1918); Parábolas e
Ensinos de Jesus (1928); O Espírito do Cristianismo (1930); A Vida no Outro Mundo
(1932); Vida e Atos dos Apóstolos (1933).

Acompanhe o Grupo Marcos


Site - www.grupomarcos.com.br
Instagram - @grupomarcosoficial
https://www.instagram.com/grupomarcosoficial/

12
Capítulo 1
A videira que te desenhamos

13
14
15
Allan
Kardec

A vaidade de certos homens que pensam tudo saber e querem explicar tudo à sua
maneira irá criar opiniões conflitantes, mas todos os que têm como referência
o grande princípio de Jesus se integrarão por terem o sentimento
idêntico de amor ao bem e se unirão por um vínculo fraternal que envolverá o
mundo inteiro. Eles abandonarão as miseráveis disputas de palavras para se
dedicarem exclusivamente às coisas essenciais.

- Prolegômenos em Le Livre des Esprits, traduzimos, grifamos.

16
Iniciamos com o relato de um Espírito sobre sua última encarnação. Quando
encarnado, por motivos profissionais, foi contratado para morar em região erma, em
fazenda isolada, para acompanhar a construção de uma estrada de ferro, pois era
engenheiro. Era casado e acabara de ter um filho. O primeiro filho. Havia sempre a
preocupação em deixar as portas fechadas, dado que havia muitos animais
predadores na região. Ele conta que um dia, ao chegar em casa, encontrou a esposa
desacordada na sala; imediatamente lembrou do filho e correu para o quarto da
criança. Olhou e nada encontrou no berço, mas viu seu cão, que era de grande porte,
todo ensanguentado e deduziu rapidamente que o animal tinha atacado seu filho.
Ainda em choque, pegou a arma e matou o animal.

Após a esposa acordar, soube que ela desmaiou ao ver o cão lutar ferozmente
contra uma onça no quarto do filho e que o cachorro empurrou o bebê para debaixo
do berço, após ele ser tirado pelo animal predador. A criança estava salva. Relata
esse espírito: “até hoje, no mundo espiritual, ainda não tive a oportunidade de
encontrar meu amado e leal companheiro, que salvou a vida de meu filho…”

Eis o que temos que ter em mente ao tentar entender o Espiritismo: o julgamento
nervoso e apressado pode nos fazer cometer severas injustiças. Antes de tudo, é
preciso perguntar, afinal, o que aconteceu e como aconteceu para que o Espiritismo
fosse constituído no mundo. Ele não apareceu de forma imediata e mágica nem
desligado da história do mundo. Ao contrário, seu organizador no mundo sempre
insistiu que era indispensável entender sua natureza, suas raízes, para nos prevenir
de julgamentos apressados. Não façamos como o espírito do relato: não julguemos e
condenemos antes de saber o que aconteceu. Dessa forma evitamos perdê-lo, para
que depois não termos que procurar o amigo, que estava em nossa frente, e nós o
escorraçamos por achar que tudo entendemos… Afirma Allan Kardec já na primeira
edição de O Livro dos Espíritos, 1857.

A moral dos Espíritos superiores, resume-se, como a


moral do Cristo, nesta máxima do Evangelho: agir com os
outros como gostaríamos que os outros agissem conosco.
Quer dizer, fazer o bem e não fazer nenhum mal. O homem encontra
nesse princípio uma regra universal de conduta para cada uma de
suas ações.

- Introdução em Le Livre des Esprits, traduzimos, grifamos.

Para aqueles que estudaram metodologia, seja filosófica ou científica, fica mais
fácil entender que toda área do saber tem seus critérios: seus pontos centrais e seus
princípios estruturadores, enfim, um paradigma e pressupostos. O que Kardec
institui com a afirmação acima e que irá desenvolver ao longo de toda sua vida: é que

17
a moral do Cristo é o centro estruturador do Espiritismo. Não é uma questão de
opinião, para Kardec, o Cristo e a Segunda Revelação compõem a coluna mestra do
Espiritismo. Sem essa compreensão é impossível entender em profundidade a
Codificação, bem como, a estrutura do pensamento de Kardec. A moral do Cristo é a
régua que mede a evolução espiritual; é o critério de avaliação de todas as mensagens
que Kardec receberá; é o norte histórico-filosófico no qual a doutrina é construída. O
estudo do Espiritismo sem essa compreensão trará polêmicas infelizes, muitas vezes,
contra quem lutou e muito sofreu por nos amar.

Um exemplo: quando Kardec diz que na moral do Cristo encontramos um norte


para nossas pequenas ações cotidianas, de forma consciente, está validando toda a
tradição espiritual judaico-cristã que nunca renunciou a uma moral prática, que se
torna ação no mundo, tanto grandes como nas pequenas ações no mundo. Isso é o
oposto da moral abstrata, meramente intelectual, que questiona e elabora, mas que
exime os homens e mulheres de agirem em direção a Deus.

Porém, a conexão mais profunda com toda a tradição judaico-cristão é realizada,


seguindo os métodos do Antigo e do Novo Testamento, de forma simbólica.
Infelizmente, muitas vezes, não sabemos do que os Espíritos estão falando, porque
não temos estudiosos da tradição judaico-cristã como Kardec, Léon Denis ou Bezerra
de Menezes, nem somos capazes de estudar por nós mesmos a riqueza de uma obra
espiritual que tem mais de três mil anos de sabedoria acumulada.

Não entendemos o que significa o Espiritismo definido por Allan Kardec como o
Consolador; não sabemos o significado dos Espíritos terem desenhado uma videira e
ordenado que a colocasse no início de O Livro dos Espíritos; não suspeitamos que os
Espíritos da codificação são profundos conhecedores da Bíblia e que a valorizam a
cada resposta dada a Kardec. Por isso, matamos, num impulso infeliz, três mil anos
de história, de lutas, de amadurecimento, de revelações espirituais e ficamos
exaltados em discussões tão pueris que o único fruto será a nossa própria decepção,
quando nos dermos conta que abandonamos a busca do Reino pela loucura vaidosa
do mundo.

Muitos, apressadamente, pensam que Kardec apenas falou e valorizou a Bíblia, no


momento em que escreveu o Evangelho segundo o Espiritismo, como uma espécie
de truque barato de marketing. Afirmam, levianamente, que o grande codificador fez
uma “concessão” para os “religiosos” ao publicar o Evangelho segundo o
Espiritismo. Isso não é verdade, Allan Kardec desde o início de O Livro dos Espíritos
até o último parágrafo de A Gênese, os Milagres e as Predições segundo o
Espiritismo honrou e louvou o Cristo, além de se colocar humildemente a seu
serviço.

Quando descobrirmos o que significa o símbolo da videira, que tem um significado


evidente e sem controvérsia para um estudante sério da Bíblia e do Espiritismo,
ficaremos deslumbrados com a profunda conexão entre o Antigo Testamento, o

18
Novo Testamento e o Espiritismo e assim poderemos entender o porquê de Allan
Kardec fazer questão em declarar que a primeira parte da Bíblia, Antigo Testamento,
contém a Primeira Revelação; que o Novo Testamento contém a Segunda Revelação
e que o Espiritismo é a Terceira Revelação. Bem como, compreenderemos que as
revelações aconteceram obedecendo uma ordem superior. Acredito que vamos
realizar descobertas que irão mudar nossa compreensão do Espiritismo e,
consequentemente, nossas vidas. Vamos ao trecho base de nosso estudo:

Colocarás no cabeçalho do livro a videira que te desenhamos,


porque ela é o emblema do trabalho do Criador; e todos os princípios
materiais que podem melhor representar o corpo e o espírito, estão aí
reunidos: o corpo é a videira; o espírito é o vinho; a alma ou o espírito
unido a matéria é a uva. O homem purifica o espírito por meio do
trabalho e tu sabes que apenas por meio do trabalho do corpo é que o
espírito adquire conhecimentos.

- Prolegômenos em Le Livre des Esprits, traduzimos, grifamos.

Esse símbolo – a videira - foi instituído no momento de morte de Jacó, neto do


grande patriarca Abraão, filho de Isaac (irmão de Ismael, guia espiritual de nossa
pátria), pai de José que se tornou o sábio administrador do Egito. (Ver anexo).

Jacó, depois de uma vida tumultuada e redentora, tem um encontro com o anjo
que, em nome de Deus, muda seu nome para Israel. No leito de morte - quando
comumente o espírito está mais desligado do corpo, ele pode ver a vida espiritual e,
às vezes, acontecimentos futuros – Jacó reúne seus doze filhos e profetiza. Em suas
profecias, ele faz uma referência direta sobre a videira e o Messias.

O cetro não se afastará de Judá, nem o bastão de chefe de


entre seus pés, até que o tributo lhe seja trazido e que lhe obedeçam os
povos. Liga à vinha seu jumentinho, à cepa [videira] o filhote
de sua jumenta, lava sua roupa no vinho, seu manto no sangue
das uvas.

- Gênesis, 49:10-11 em Bíblia de Jerusalém, grifamos.

O símbolo da videira, é instituído no livro Gênesis e utilizado em Números e no


Deuteronômio e por muitos profetas no Antigo Testamento, dentre eles, Oséias,
Isaías, Jeremias e Ezequiel; além dos Salmos. Na verdade, essa imagem instituída no

19
Gênesis irá atravessar todo o Antigo Testamento, estará presente em abundância no
Novo Testamento e, também, a encontraremos no Apocalipse, onde lemos a seguinte
descrição de Jesus:

[…] Eis que o Leão da tribo de Judá, o Rebento de Davi, venceu


para poder abrir o livro e seus sete selos.

- Apocalipse, 5:5, Bíblia de Jerusalém, grifamos.

E os espíritos vitoriosos são aqueles que:

[…] Ele, então, me explicou: "Estes são os que vêm da grande


tribulação: lavaram suas vestes e alvejaram-nas no sangue do
Cordeiro. É por isso que estão diante do trono de Deus, servindo-o
dia e noite em seu templo [...]

- Apocalipse, 7:14-15, Bíblia de Jerusalém, grifamos.

Destacaremos, nesse momento, o símbolo da videira ou do cacho de uvas. Ele é,


segundo a descrição objetiva do texto bíblico, o símbolo da Terra Prometida ou da
Nova Jerusalém (na linguagem do Apocalipse) ou do Mundo de Regeneração (em
linguagem espírita). Vejamos o texto que descreve a chegada de Moisés e de seus
seguidores na Terra Prometida, após os quarenta anos de travessia do deserto, após o
episódio do cruzamento do mar vermelho, no momento da libertação do Egito.
Moisés manda dois enviados para explorar o país de Canaã, dizendo-lhes:

- Subi por esse deserto até chegar à montanha. Observai como é o


país e seus habitantes (…) como é a terra, fértil ou estéril, com
vegetação ou sem ela. Sede corajosos, e trazei-nos frutos do país. Era
estação em que amadureciam as primeiras uvas. Eles subiram e
exploraram (…) chegando a Nahal Escol (que significa, Torrente do
Cacho de Uva), cortaram um ramo de uva com um só cacho de
uvas, o penduraram numa vara e o levaram entre dois.

- Números, 13:17-23, em Bíblia de Jerusalém, grifamos.

20
Pintura: Retorno dos espiões da Terra da Promissão de Gustave Doré (1832-1883), contemporâneo
de Allan Kardec. Essa ilustração indica que era de conhecimento geral o símbolo da Terra de
Promissão: cacho de uvas.

21
Esse episódio se dá, obviamente, muito antes do Cristianismo e, certamente, do
Espiritismo. Estima-se que a eleição do cacho de uvas como símbolo da Terra de
Promissão aconteceu cerca de mil e duzentos anos antes de Jesus; quer dizer,
aproximadamente três mil anos antes dos Espíritos da codificação desenharem a
videira e ordenarem Kardec a colocá-la no início de O Livro dos Espíritos. Esse fato é
suficiente para levar os estudantes sérios do Espiritismo a cogitarem que as
afirmações de Allan Kardec sobre a relação do Espiritismo com o Antigo Testamento,
são verdadeiras e indispensáveis para a compreensão aprofundada do Espiritismo.
Posteriormente, apresentaremos mais ligações entre a Primeira e as demais
revelações.

No caso do Novo Testamento, Jesus utiliza o símbolo da videira de forma ainda


mais frequente e significativa. O símbolo da videira está presente de forma direta em
quatro parábolas: dos Trabalhadores da Vinha (Mt 20:1-16); Vinho Novo em Odres
Velhos (Mt 9:17); a Parábola dos Dois Filhos (Mt 21: 28-32); Vinheteiros Assassinos
(Mt 21: 33-42; Mc, 12: 1-11; Lc , 20: 1-18). Liga-se, também, As Bodas de Caná, a
Santa Ceia e a Crucificação. Analisaremos essas parábolas adiante. Há, nesse
momento, algo ainda mais importante a ser destacado: é o próprio Cristo que,
aprofundando de maneira extraordinária a simbologia milenar na videira, afirma:

Eu Sou a videira verdadeira e meu Pai é o vinhateiro.

- Evangelho de João, 15:1, Bíblia do Peregrino, grifamos.

É difícil imaginar que Allan Kardec, católico de formação, homem culto,


preocupado com temas religiosos desde adolescência, ignorasse o que qualquer
estudante, de nível elementar da Bíblia sabe: Jesus é a verdadeira videira e o cacho
de uvas é o símbolo da Terra da Promissão.

Supor que Allan Kardec tenha sido um auxiliar incompetente e desleixado, que
agia mecanicamente e sem consciência, ao executar as tarefas mais graves que
impactarão o destino da humanidade, isto é, que ele seguia sem reflexão e estudo a
orientação dos Espíritos, é assumir uma postura de lamentável arrogância e tornar-
se incapaz de entender a vida e a obra de um dos maiores missionários da história.

Três informações históricas podem nos auxiliar a não cometer tal loucura.
Historicamente, há três fatos que nos esclarecem: primeiro, Allan Kardec lidava com
os estudos bíblicos, desde a adolescência; segundo, ele sonhava em integrar as
religiões; terceiro, no dia 14 de agosto de 1832, uma terça-feira, o professor Rivail
[futuro Allan Kardec], então com 29 anos, responsável pelo Liceu Polimático, em
cerimônia que reuniu pais e alunos, deu como prêmio a um dos seus alunos um
Dicionário Bíblico.

22
O primeiro e o segundo fatos estão registrados em uma pequena biografia
publicada em 1865, quando Kardec ainda estava encarnado, por Maurice Lachâtre
seu conhecido. Nesse pequeno relato biográfico escreve:

Nascido na religião católica, mas educado num país


protestante, os atos de intolerância que ele teve de suportar a esse
respeito fizeram-no, desde a idade de quinze anos, conceber a
ideia de uma reforma religiosa, na qual trabalhou em
silêncio durante longos anos, com o pensamento de chegar à
unificação das crenças; mas faltou-lhe o elemento necessário para
a solução desse grande problema. O Espiritismo veio, mais tarde,
fornecer-lhe e imprimir uma direção especial aos seus trabalhos. [...]

- Dicionário Lachâtre, p. 10, grifamos, sublinhamos.

O terceiro consta da excelente pesquisa de Carlos Bastos Seth, publicado em seu


livro, Espíritos sob Investigação: resgatando parte da história. Vejamos este trecho
no qual um aluno de Rivail, Louis, descreve uma cerimônia:

Bem, na tarde de terça-feira, 14 de agosto de 1832, a cerimônia de


premiação foi de natureza solene, conforme narrou Louis: “(...) correu
tudo muito bem; uma espécie de barraca decorada com vários tapetes
trazidos da manufatura dos Gobelins foi erguida no pátio; todos os
pais se reuniram no jardim à 1 hora, e o Sr. Rivail começou a fazer seu
discurso às 2 horas; durou cerca de vinte e cinco minutos e agradou
muita gente. (...). Em seguida, os livros foram distribuídos a todos os
alunos (...); recebi o primeiro prêmio em Aritmética, uma obra em
dois volumes intitulada Cartas para Émilie; recebi então a Lógica
francesa e o Dicionário da Bíblia como prêmios de satisfação geral
[...]

- Trecho do capítulo A vida no instituto Rivail do livro Espíritos sob investigação:


resgatando parte da história.

Lembremos que o Cristo nos alerta que sábios arrogantes se tornariam confusos e
não entenderiam a Revelação, mas que ele ajudaria aos simples e ignorantes, que o
buscassem com humildade compreender sua palavra. Assim também alertaram os
Espíritos a Kardec:

23
A vaidade de certos homens que pensam tudo saber e querem
explicar tudo à sua maneira irá criar opiniões conflitantes.

- Prolegômenos em Le Livre des Esprits, traduzimos.

Continuam os Espíritos a nos ensinar a postura do verdadeiro cristão:

Eles [os discípulos de Jesus] abandonarão as miseráveis disputas de


palavras para se dedicarem exclusivamente às coisas essenciais.

- Prolegômenos em Le Livre des Esprits, traduzimos.

Allan Kardec foi verdadeiramente humilde e, por isso, foi capaz de entender e
ensinar verdades espirituais que apenas começamos a compreender. Uma delas já
conhecemos: Jesus Cristo é o Enviado de Deus e o símbolo em destaque no
Espiritismo é a Videira verdadeira, nosso Mestre amado.

24
Metodologia
Metodologia é segundo o dicionário: conjunto de regras ou princípios empregados
no ensino de uma ciência ou arte, bem como, parte da lógica que estuda os métodos
das diversas ciências. Quer dizer, é uma maneira, uma forma de ensinar ou de
pesquisar sobre algum tema. Quando falamos de metodologia científica falamos de
um conjunto de procedimentos de pesquisa.

Que metodologia utilizamos em nosso estudo? De onde ele surge? Nessa seção
vamos, pouco a pouco, apresentar como realizamos nossa pesquisa com o intuito de
te incentivar a realizar outras pesquisas ou aprofundar o que você acaba de estudar.
Estamos em um momento histórico que a compreensão do Evangelho e do
Espiritismo se torna indispensável a nossa própria sobrevivência física. Por isso, é
essencial entender.

O fundamento de nosso método de pesquisa é o mesmo dos Evangelistas e foi


ensinado pelo Cristo. Nesse momento, não usaremos termos técnicos, o fundamental
é entendermos como o Cristo ensinou a estudar a Primeira Revelação para que seus
discípulos pudessem entender a Segundo Revelação. Se entendermos isso,
poderemos entender muito melhor a Terceira Revelação estudando a Primeira e a
Segunda com o mesmo método.

Nos Evangelhos não há um nome específico para esse método, há um relato no


qual o Mestre o ensina. O relato chama-se de O Caminho de Emaús:

Naquele mesmo dia, dois dos seguidores de Jesus caminhavam


para o povoado de Emaús, a onze quilômetros de Jerusalém. No
caminho, falavam a respeito de tudo que havia acontecido. Enquanto
conversavam e discutiam, o próprio Jesus se aproximou e começou a
andar com eles. Os olhos deles, porém, estavam como que impedidos
de reconhecê-lo.

Jesus lhes perguntou: “Sobre o que vocês tanto debatem enquanto


caminham?”. Eles pararam, com o rosto entristecido. Então um deles,
chamado Cleopas, respondeu: “Você deve ser a única pessoa em
Jerusalém que não sabe das coisas que aconteceram lá nos
últimos dias”.

“Que coisas?”, perguntou Jesus.

“As coisas que aconteceram com Jesus de Nazaré”, responderam


eles. “Ele era um profeta de palavras e ações poderosas aos olhos de
Deus e de todo o povo. Mas os principais sacerdotes e outros líderes
25
religiosos o entregaram para que fosse condenado à morte e o
crucificaram. Tínhamos esperança de que ele fosse aquele que
resgataria Israel. Isso tudo aconteceu há três dias. “Algumas mulheres
de nosso grupo foram até seu túmulo hoje bem cedo e voltaram
contando uma história surpreendente. Disseram que o corpo havia
sumido e que viram anjos que lhes disseram que Jesus está vivo.
Alguns homens de nosso grupo correram até lá para ver e, de fato,
tudo estava como as mulheres disseram, mas não o viram.”

Então Jesus lhes disse: “Como vocês são tolos! Como custam
a entender o que os profetas registraram nas Escrituras!
Não percebem que era necessário que o Cristo sofresse essas
coisas antes de entrar em sua glória?”

Então Jesus os conduziu por todos os escritos de Moisés e


dos profetas, explicando o que as Escrituras diziam a
respeito dele.

Aproximando-se de Emaús, o destino deles, Jesus fez como quem


seguiria viagem, mas eles insistiram: “Fique conosco esta noite, pois já
é tarde”. E Jesus foi para casa com eles.

Quando estavam à mesa, ele tomou o pão e o abençoou. Depois,


partiu-o e lhes deu. Então os olhos deles foram abertos e o
reconheceram. Nesse momento, ele desapareceu. Disseram um ao
outro: “Não ardia o nosso coração quando ele falava conosco
no caminho e nos explicava as Escrituras?”.

E, na mesma hora, levantaram-se e voltaram para Jerusalém. Ali,


encontraram os onze discípulos e os outros que estavam reunidos com
eles, que lhes disseram: “É verdade que o Senhor ressuscitou! Ele
apareceu a Pedro!”

- Evangelho de Lucas, 24:13-35 em Novo Testamento – NVT.

O que observamos nesse método apresentado pelo Cristo? Antes de explicarmos, é


preciso entender algo essencial: sem um método adequado ficaremos como esses
sinceros discípulos: sabendo de tudo e entendendo quase nada. Eles sabiam da
ressurreição, que o Cristo tinha aparecido, mas não entendiam. Acontece o mesmo
hoje, muitos sabem da profunda ligação do Cristo com Kardec e com o Espiritismo,
mas nada entendem. Como o Cristo ajudou a esses discípulos? Ensinando um
método de pesquisa e reflexão. Vejamos o que fez o Mestre: Jesus os conduziu por
todos os escritos de Moisés e dos profetas, explicando o que as Escrituras diziam a
respeito dele. Quer dizer, explicou a Primeira Revelação, de forma semelhante fez

26
Allan Kardec em O Evangelho segundo o Espiritismo e em A Gênese, os Milagres e as
Predições segundo o Espiritismo. Simplesmente porque é necessário entender a
Primeira Revelação para bem entender a Segunda Revelação. Também, é necessário
entender a Primeira e a Segunda Revelações para entender a Terceira. Por isso, são
chamadas Primeira, Segunda e Terceira.

Isso é tão sério que o Codificador afirma, no início de O Evangelho segundo o


Espiritismo: os que estudaram seriamente o Espiritismo sabem que o Espiritismo é
uma chave completa para se estudar a Bíblia. Voltemos a questão inicial: como fazer?
Qual o método, o procedimento? Simples. Observar o que a Primeira e a Segunda
Revelações disseram sobre o tema estudado na Terceira. Assim fizemos em relação à
Videira. A atitude séria de pesquisador é: esse tema foi provavelmente abordado nas
Revelações anteriores, portanto, preciso saber o que foi dito sobre ele, antes de me
aventurar a dar uma opinião baseada em minha imaginação ou em alguma novela ou
filme que gostei...

Dito de outra forma: o Espiritismo é construção milenar, sua estrutura foi


elaborada por uma multidão de sábios aos longo do tempo sob a coordenação do
Cristo, portanto, é vulgaridade intelectual querer ter “uma opinião” sem antes
meditar seriamente nos trabalhos dos que iniciaram esse obra. Moisés, Paulo, João e
Santo Agostinho, para citar apenas alguns, estão no grupo dos grandes gênios da
Humanidade e meditaram seriamente nos temas que hoje compõe o Espiritismo...
Não seria sábio consultá-los antes de criar a “nossa interpretação”?

Esse é o método exposto pelo Cristo e copiado por Kardec: saber primeiro o que já
foi ensinado, relacionar o que foi ensinado com a atualidade e apenas após essa séria
reflexão elaborar, em diálogo com a Primeira e Segunda Revelações, uma reflexão
atualizada. Esse método foi adotado pelos Apóstolos e por Allan Kardec.

27
Experienciar
Não existe profunda compreensão intelectual sem vivência. Não há evolução
significativa sem a transformação dos sentimentos. Por isso, ao final de cada texto,
você é convidado a uma vivência, se você, de fato, pretende crescer espiritualmente
lidar com as emoções, é indispensável.

Avalie qual sentimento predominou em você durante a leitura do texto.


Identifique e busque ampliá-lo. Feche os olhos. Faça uma prece a seu anjo guardião.
Se você conseguir sentir a presença dele, é ideal. Se não, prossiga, ele te ajudará do
mesmo modo.

Caso não tenha identificado um sentimento a ser trabalhado, indague-se: você


tinha consciência dessa relação simbólica tão profunda do Cristo com O Livro dos
Espíritos? O que você sente em relação a essa proximidade do Cristo e de Allan
Kardec?

Para encerrar, independente da questão trabalhada: indague-se, qual a sua relação


com o Cristo? Qual a distância emocional que você observa em sua relação com o
Mestre? Sentir o Mestre, como já vimos, é essencial para entender o Cristianismo e o
Espiritismo.

28
Diálogo Mediúnico
Paz e Alegria em vossos corações! Vos felicitamos, porque já caminhamos até aqui.
E não é pouca coisa iniciar, porque cada início é também o sinal de uma conquista
anterior. Conquistamos a primeira etapa: que Deus nos ampare, para que cheguemos
confiantes e fiéis até a última.

Coloco-me à disposição para o diálogo necessário.

Questão 1

Boa noite! Obrigada pela presença hoje! E eu gostaria de perguntar acerca de


Jesus, sobre o cuidado dele conosco. Ele cuida de nós de forma pessoal, individual e
direta ou de forma indireta, por escala, através das decisões que ele toma na vida
de grandes Espíritos e na sociedade?

Como o próprio Cristo vos ensinou: Ele disse que cuidaria individualmente de
cada uma de suas ovelhas. Vocês se espantam, porque o amor ainda é estranho nesse
mundo mesquinho. Mas, para nós, não poderia ser diferente: o Mestre conhece não
apenas o vosso nome atual, mas ele conhece todo o ciclo de vossas dores ao longo dos
séculos e dos milênios. Somos do Mestre, como ele mesmo diz, como um galho é da
planta. Não somos estranhos a Jesus, não somos aqueles seres que Ele toma conta
por obrigação.

Nós, todos, estamos amparados em seu coração. Nós, todos, individualmente,


temos um espaço digno e belo no seio de nosso Mestre. Quando o Mestre diz numa
imagem campestre, tão simples e tão bela: “Ah! Se pudesse ser uma ave e vocês, os
meus filhotes, como ficaria feliz em colocá-los, todos, sob a proteção de minhas
asas”. Quando o Mestre diz: “Eu sou o verdadeiro Templo”, ele está dizendo a cada
um de nós: “Vinde aqui, porque Eu vos ensinarei a se ligar diretamente ao Pai”.

Portanto, minha amiga, não há o que temer desse coração generoso. É preciso
abrir-se a Ele. E, sim, confessar ao Mestre todos os vossos medos, todos os vossos
receios, todas as vossas angústias, não como quem confessa a um sacerdote
tradicional, mas como quem diz: “Vede, Mestre! Vede como estou ferido! Vede como
há podridão em mim! Cura-me, cura-me! Eu não sei como sair dessa prisão mental
em que, por loucura, eu me meti. Mas Tu sabes, Senhor. Tu és o Senhor da vida.
Cura-me! Porque eu não posso, mas eu sei que Tu me conheces e que Teu amor tem
poder de me erguer, independente do abismo que eu tenha me jogado”.

Portanto, minha amiga, é infeliz aquele que nega ser conhecido do Cristo. Não se
trata de uma organização burocrática, se trata de um ser que desce para abraçar cada
um de vocês.
29
Nosso Mestre não é um burocrata autoritário. Nosso Mestre não é uma
celebridade estúpida. Nosso Mestre é aquele que está disposto, se for para o nosso
bem, lavar os nossos próprios pés. Nosso Mestre está disposto a compartilhar
conosco a nossa dor, se essa dor for para nos curar.

Não tenhais nenhuma dúvida, o Cristo vos conhece, cada um,


pessoalmente. Não apenas os habitantes encarnados. Mas a todos os
desencarnados, de todos os planos da vida deste mundo. Não é à toa que ele é o
Enviado de Deus. Porque ele nos ampara a todos. E triste seria o nosso
destino, se o Mestre, tantas e tantas vezes, não tivesse feito intervenções
pessoais nos nossos casos, em momentos decisivos. O Cristo vos
conhece, vos ama e trabalha, continuadamente, para a vossa felicidade.

Lede com atenção as mensagens do Cristo dadas a Allan Kardec, quando vos diz:
“No silêncio, eu cultivo as vossas almas”. Lembrai-vos do Novo Testamento, que diz:
“Ficai ligado a mim, porque, se a mim vós estiverdes ligados, muitos frutos nós
daremos”.

Não se trata de uma argumentação filosófica, se trata de uma realidade material e


espiritual.

Questão 2

Obrigado, irmão, pela oportunidade! Eu gostaria de saber, falando da videira,


entre uma floração e outra, a ela é necessária uma poda quase que completa. A
impressão que se dá, quando se vê a videira podada, é que não sobrou nada, mas
depois ela floresce. Como é que a gente pode fazer uma conexão com a nossa vida,
enquanto encarnados?

A poda deverá ser: a poda Divina, como o próprio João vos ensina, ao dizer que,
quando a videira dá fruto, o Pai – o agricultor a poda e purifica, e assim ela dará mais
frutos.

Podeis entender isso, claramente, ao meditar sobre as palavras do


nosso grandioso Léon Denis, quando ele vos fala da importância da dor
para a elevação do Espírito. Enquanto espíritas, que amesquinham a grandeza
do Consolador, reclamam de suas provas, haveremos nós de sermos verdadeiros
cristãos e ter a certeza: “Deus está me podando! Deus está me purificando! Porque
me viu, porque eu me faço digno e, no futuro, darei frutos ainda melhores”. Esta é a
visão necessária, que Allan Kardec e Léon Denis legaram ao mundo infeliz. Entendai,
se estais ligados ao Cristo, todo o sofrimento é preparação para frutos excelentes do
futuro.

Obrigado!

30
Questão 3

Meu amado irmão, obrigado pela oportunidade! Eu gostaria de saber, por que
foi escolhido para o símbolo da tribo de Judá a imagem do leão?

Para um homem, é muito difícil entender a grandeza do amor. Muitos o


confundem com fraqueza, outros com subserviência e isso muitas vezes atrapalha o
crescimento espiritual. Podemos lhe dizer que o leão também é o símbolo de um
grande império, de um império espiritual. Se o Cristo é doce e meigo,
respeitando as vossas limitações, isto não deve ser confundido com
algum tipo de fraqueza. O que o Cristo veio fazer no mundo, apiedado
dos mais ignorantes, foi convidá-los para a construção de seu verdadeiro
Reino. Muitos não entendem como um Espírito tão poderoso é capaz de conviver
com os indivíduos mais fracos e mais débeis, esta é a dificuldade do mundo.

O símbolo do leão é o símbolo do poder; é o símbolo da grandeza; é o símbolo de


uma força construtiva, que não precisa se deter diante de nada. É preciso que, dada
as vossas limitações, seja elencada uma simbologia educativa, para que vocês
possam, pouco a pouco, entender que em todo o universo o verdadeiro poder
está sempre aliado à verdadeira misericórdia.

Por isso, é necessário apresentar o Cristo por símbolos diversos. Em uma


dimensão; a paz, a mansuetude, a tranquilidade de um cordeiro. Em outra
dimensão; atuando sob o comando direto de Deus, uma força a qual
ninguém pode se opor, nenhum Espírito das trevas, nenhum Espírito do
mundo, nenhuma instituição, império ou organização internacional é
capaz de resistir a uma ordem do leão. Portanto, são símbolos que se
completam, que vão abrindo espaço em vosso psiquismo, para que, um dia, possais
compreender a grandeza de um Espírito puro.

Muito obrigado!

Haveria alguma última questão?

Questão 4

Boa noite! Eu tenho uma questão. Para quem deseja estudar a tradição judaica,
por onde começar?

Pelo Novo Testamento, minha amiga. O Novo Testamento está repleto, ou


melhor, ele é constituído da tradição judaica. O ponto inicial para as vossas
reflexões deverá ser sempre o Evangelho dos quatro evangelistas. Ali, encontrareis
muitos desafios intelectuais. Ali, encontrareis muitas informações, a princípio,
incompreensíveis.

31
Não se busque, em uma leitura rápida, a compreensão de todos os Evangelhos.
Não. É preciso familiaridade. É preciso ler e reler. E depois que esta barreira for
vencida, iniciai as pesquisas intelectuais, as buscas de explicação, os sentidos
possíveis de cada passagem. Mas não façais isso como quem busca um estudo de
erudição. Seria uma atitude, até certo ponto, de desrespeito.

Buscai ler a vida do Mestre, entregando o vosso coração. Que passagens vos
emocionam? Que passagens vos chocam? Que passagens causam dúvida? E aí está
um ponto central de um diálogo sadio com o vosso anjo da guarda. Não peçais como
uma criança mimada: “Venha, espírito amigo, tudo me explicar”. É muito pouco
para quem já tem muito. Peçais: “Leva-me às regiões onde eu possa melhor
compreender a vida do meu Mestre”. Nenhum anjo vos negará isso.
Mesmo que eu não lembre de sua experiência espiritual, ao acordar, um sentimento
de compreensão irá se formando, e, quando menos esperardes, pouco a pouco, cada
passagem irá ganhando um sentido e um contorno.

Não se deve abordar esse santo livro com a curiosidade superficial de um cientista
leviano. É preciso olhá-lo com carinho. É preciso entender que essas páginas foram
escritas com o testemunho de muitos dos grandes Espíritos da história do mundo. É
preciso entender: para que esta mensagem chegasse às vossas mãos, muitos
testemunhos foram dados, acima de tudo, os do Mestre e de muitos milhões de
indivíduos, que ousaram segui-Lo. É disso que se trata.

Não é um livro de cultura geral. É um livro de elevação verdadeira.


Portanto, buscai uma relação amigável, afetiva, com esses trechos da vida do Cristo.
Não é possível haver movimento espírita verdadeiro, quando os espíritas não sabem
amar o Evangelho. Quando os espíritas não são capazes de dialogar: “Esta
passagem me intriga. Há anos tenho pensado nela! Aquela frase do
Cristo não sai da minha cabeça, ainda não a entendi.”

Como seria feliz que os espíritas desencarnassem com parte dessas questões
equacionadas e com muitas outras a equacionar, ao invés de ficarem vagando,
moribundos, nas zonas fétidas e inferiores da Terra, eles teriam alcançado regiões
sublimes e, como alunos dedicados, receberiam a atenção de mestres sublimes.

Não leiais, simplesmente, os Evangelhos, amai-os, conhecei-os, entendei pelo


menos as suas dúvidas sobre aquelas passagens. Nestes livros pequenos, existem
mais revelações que qualquer estudioso do mundo pode sequer suspeitar.
Precisaremos, minha amiga, de mil anos de trabalho no Mundo de
Regeneração, para que todas essas luzes sejam apresentadas para vocês,
para que vocês possam compreender a profundidade desta obra, para
que um dia vocês percebam como toda essa estrutura está perfeitamente
integrada, não apenas em textos, mas com os processos mais profundos
da evolução espiritual. Não falamos disso e não falaremos, no momento, porque
tudo exige o seu preparo: apenas apontamos o horizonte longínquo, como quem diz:

32
“Caminhai. E um dia você estará no topo daquela montanha. E a sua vista é
deslumbrante!”

Muito obrigada!

Agradecemos o carinho, o respeito e a atenção de todos. Que a alegria seja a marca


deste grupo. Que a espontaneidade esteja sempre em vossos sorrisos sinceros, mas
também em vossas lágrimas de dor e de emoção. Estais no mundo para sofrer, que se
sofra em nome do Cristo. Estais no mundo para prestar testemunhos, que os vossos
testemunhos sejam verdadeiramente cristãos.

Não precisamos das rotas e velhas batinas para sermos verdadeiros sacerdotes do
Cristo. Sejamos nós, com nossas dores e amarguras, amigos sinceros do Cristo. O
Cristo nada pede de vós, apenas a vossa amizade sincera, porque Ele já
conquistou o Reino dos Céus, mas Ele quer, por opção pessoal, trazer
cada um de vocês para esse Reino que Ele já desfruta.

Que vocês permaneçam em paz.

Do vosso irmão e amigo,

Cairbar de Souza Schutel.

Mensagem psicofônica recebida em 30.04.2023 em reunião de estudo do Grupo Marcos. Médium


do Grupo Marcos. Revisada pelo autor espiritual e por integrantes do Grupo Marcos.

33
34
35
36
Capítulo 2
O emblema do trabalho do Criador e
a Primeira Revelação

37
38
39
Allan
Kardec

Senhor! Se tiveste a bondade de lançar vosso olhar sobre mim para realizar
vossos desígnios, que seja feita a vossa vontade! Minha vida está em vossas mãos,
sou um servo a tua disposição.

- Minha missão, dia 12 de junho de 1856, em Obras póstumas, traduzimos

40
Vivemos em um mundo solitário, apesar de seus bilhões de habitantes. Esse fato é
explicado por importantes verdades espirituais que nos ensinam que o elemento
central dos problemas humanos não é a parte visível da realidade, o que é externo e
quantitativo. Isso é importante, mas o que é invisível, interior e qualitativo é o
que define nossas vidas. A solidão existe não porque conhecemos poucas
pessoas, mas é causada pela qualidade de nossas relações emocionais com as
pessoas, conosco e com Deus. É falta de profundidade em nossa relação com o
Universo que nos rodeia. Existe uma relação entre a nossa solidão e a nossa
incompreensão do símbolo da videira? Sim, pois entender o que significa a videira é
iniciar uma relação mais profunda com a vida: consigo mesmo, com as pessoas, com
o Espiritismo e com Deus.

Por que Kardec e os Espíritos superiores, que o dirigiam, adotaram a videira como
um destacado símbolo espírita? Para a tradição hebraica, a videira é o
símbolo da criação divina; da criação de Israel, que é o símbolo do povo
eleito; do povo que deve seguir a Deus, portanto de toda a Humanidade
obediente a Deus. Já nos Prolegômenos, temos a seguinte explicação:

Colocarás no cabeçalho do livro a videira que te desenhamos,


porque ela é o emblema do trabalho do Criador; e todos os
princípios materiais que podem melhor representar o corpo e o
espírito estão aí reunidos: o corpo é o ramo; o espírito é o vinho; a
alma ou o espírito unido a matéria é a uva. O homem purifica o
espírito por meio do trabalho e tu sabes que apenas por meio do
trabalho do corpo é que o espírito adquire conhecimentos.

- Prolegômenos em Le Livre des Esprits, traduzimos, grifamos.

No texto do Prolegômenos, os Espíritos dirigentes da Codificação, após definirem a


videira como símbolo do trabalho do Criador, especificam: o que melhor representa o
trabalho do Criador é o corpo e o espírito. Quer dizer, trata-se de uma representação
que destaca o ser humano como emblema da criação divina. Afinal, destacar
dentre o trabalho do Criador, que é todo o Universo, o corpo e o espírito, é realizar
uma importante escolha. Por exemplo, o emblema do trabalho do Criador para a
Primeira, Segunda e Terceira Revelações não é o sol, as montanhas, as luas nem os
planetas, sequer o sistema solar ou as galáxias: o que melhor representa o trabalho
do Criador é o corpo e o Espírito.

Essa definição é essencial para o que estudaremos a seguir: pois, os Espíritos da


codificação vinculam de forma profunda o Espiritismo à tradição judaica e à tradição
cristã. Lembremos o precioso trecho do Livro do Gênesis, que é a base da dignidade
humana no mundo ocidental:

41
Deus disse:

"Façamos o homem à nossa imagem, como nossa semelhança, e que


eles dominem sobre os peixes do mar, as aves do céu, os animais
domésticos, todas as feras e todos os répteis que rastejam sobre a
terra".

Deus criou o homem à sua imagem, à imagem de Deus ele


o criou, homem e mulher ele os criou.

- Gênesis, 1:26-27, em Bíblia de Jerusalém.

De acordo com o The Anchor Yale Bible Dictionary, considerado o dicionário


bíblico mais amplo que já existiu, com cerca de sete mil e duzentas páginas, seis mil
entradas e cerca de mil contribuidores, dentre eles os mais qualificados do mundo,
assim explica o simbolismo da videira:

[A videira] Foi usada como símbolo de Israel (Jeremias 2:21;


Ezequiel 15:6; Oséias 10:1) e de paz e prosperidade (1 Reis 4:25;
Miquéias 4:4).

- Videira, Volume 2, p. 812, em The Anchor Yale Bible Dictionary, traduzimos,


grifamos.

Outro dicionário, o tradicional e respeitado dicionário New Bible Dictionary, que é


atualizado continuamente há mais de cinquenta anos, no item Videira, nos informa:

Videira é mencionada através de toda Escritura, frequentemente,


em sentido simbólico. [...] Simbolicamente a videira era emblema da
paz e da prosperidade. Em sentido particular, a videira
simboliza o povo escolhido. Ele é a videira que Deus tirou do Egito
(Salmos 80:12 e Isaías 5:1-7) e plantou na Terra da Promissão.

- Videira, p. 1236-1237, em New Bible Dictionary, traduzimos, grifamos.

A videira, portanto, é o símbolo da criação divina ou “emblema do trabalho do


Criador”: que representa a criação do povo israelita, de forma específica, e a
humanidade em geral.

42
Antes de apresentarmos o que significa definir a videira como emblema do
trabalho do Criador a partir dos textos do Antigo Testamento, façamos uma breve
reflexão sobre essa obra. O Antigo Testamento é um conjunto de 39 Livros que
narram uma história que se desenrolou em torno de quatro mil anos até o
nascimento do Cristo. Dessa forma, esses livros cobrem um período histórico imenso
e, consequentemente, variados contextos de riquíssimas experiências. Por exemplo,
há períodos de glória e abundância, como o de Davi (1.000 anos a.C); há períodos de
escravidão como o do exílio da Babilônia (600 a.C.). Isso torna mais impressionante
a correlação entre os temas, imagens e símbolos que atravessam a história bíblica,
sem perder seus significados essenciais. O símbolo da videira, certamente, é um
destes símbolos como descobriremos a seguir.

Em nossa exposição, utilizaremos seis livros do Antigo Testamento, que são


suficientemente claros para ampliar a nossa compreensão sobre a relação do
Espiritismo com a simbologia da videira na Primeira Revelação. Os primeiros cinco
Livros da Bíblia são: Gênesis, Êxodo, Números, Levítico e Deuteronômio; são
chamados de Pentateuco Mosaico, por terem sido escritos por Moisés, segundo a
tradição. Destes cinco Livros, já citamos o episódio de Jacó (Livro de Gênesis) e a
chegada a Terra da Promissão (Livro de Números); apresentaremos a seguir uma
citação do Livro Deuteronômio e, em seguida, um trecho do Livro dos Salmos, que é
uma coleção de 150 peças artísticas, músicas, preces e poemas hebraicos. Em
seguida, exporemos quatro referências a videira feita por importantes profetas do
Antigo Testamento: Oséias, Isaías, Jeremias e Ezequiel. Após essa jornada milenar
marcada por lutas e por aprendizado sobre a espiritualidade empreendida por esse
povo verdadeiramente heroico, estaremos mais capacitados para começar a entender
o significado da videira como o símbolo espírita do trabalho do Criador.

No Gênesis, Jacó fala que da tribo de Judá virá alguém com autoridade e que
amarrará a jumenta e sua cria na videira mais excelente. A expressão “amarrar o
animal em uma árvore, na sombra”, na cultura hebraica significa estar em paz ou
alcançar a paz e a abundância. Em português, em algumas regiões do Brasil, há a
expressão, “amarrei meu burro na sombra”, que significa estou bem, em paz e em
abundância. Essa é a primeira relação: a videira proporcionará a sombra, no
sentido de espaço ambiente, pacífico e restaurador. Posteriormente, em
Números, como já sabemos, um imenso cacho de uvas é definido como o símbolo da
Terra da Promissão.

No Deuteronômio, temos algo novo: verificamos que se Israel é definido por seus
profetas como videira, também os outros povos são considerados videira, emblemas
do trabalho divino. O trecho que segue, do Deuteronômio, não deixa nenhuma
dúvida que para os profetas hebreus, todos os seres humanos são videiras criadas por
Deus e representam o Seu trabalho. Mas, há algo que os diferencia: eles podem ser
bons ou maus, contudo, continuam a ser considerados obras de Deus, verificaremos
que mesmo os piores inimigos de Israel, como Sodoma e Gomorra, são chamados de
videiras. Vejamos o quinto Livro do Legislador hebreu:

43
São cepas da vinha [plantação de videiras] de Sodoma, dos
campos de Gomorra;

Suas uvas são venenosas

E seus cachos são amargos;

Seu vinho é veneno de monstros [répteis];

É veneno mortal de víboras.

- Deuteronômio, 32: 32-33, na Bíblia do Peregrino.

Vamos agora examinar o Livro dos Salmos que teve longo processo de elaboração,
pois, estima-se que os primeiros textos e os últimos foram escritos entre os anos de
1000 e 450 a.C. É um livro escrito em um período de 550 anos. O Salmos está
associado a várias passagens da vida do Cristo e foi citado por ele, inclusive, após a
crucificação. Vejamos o que este extraordinário livro tem a nos ensinar sobre o
desenho feito pelos Espíritos responsáveis pela Codificação:

Ó Deus dos exércitos, restaura-nos,

ilumina teu rosto, e nos salvaremos!

Tiraste do Egito uma videira,

Expulsastes povos e a plantastes.

Preparaste-lhe o terreno, lançou raízes

e encheu o país.

Sua sombra cobria as montanhas;

Seus ramos, [cobriam] cedros altíssimos.

- Salmos, 80: 8-11, em Bíblia do Peregrino.

44
Pintura: A Vinha Encarnada de Vincent van Gogh (1853-1890). Inspirado pelas vinhas e
vinicultores no outono, a obra expressionista foi uma das últimas que o pintor fez e única obra
vendida do artista durante vida.

Bem, como sabemos, a libertação do Egito é tema central do livro do Êxodo, que
relata como Moisés, seguindo ordem divina, liberta os hebreus do Egito. É
considerado por estudiosos o livro “espelho” do Evangelho, quer dizer, o livro que
tem uma estrutura narrativa muito próxima dos Evangelhos, além de uma temática
comum. Claro está que a videira tirada do Egito e plantada em outro lugar - não é
uma planta, no sentido dado pela biologia - é o próprio povo hebreu que seguiu o
grande Legislador. Lembre-se, segundo a Codificação Espírita, a videira é o
“emblema do trabalho do Criador”.

O profeta Oséias viveu cerca de 800 a.C. Profetiza para alertar sobre graves erros
cometidos por Israel, mas inicia indicando que seu povo teve um período de glória,
que é sempre, de obediência a Deus:

45
Israel era videira frondosa, que dava frutos […]

- Oséias 10:1, em Bíblia do Peregrino.

Em período próximo a Oséias, temos o profeta Isaías, cerca de 700 anos a.C, que é
considerado como o profeta do Messias, dado que muitas de suas profecias
anunciavam a vinda do Enviado de Deus ao mundo. Isaías, no capítulo 5 do livro de
mesmo nome, no item intitulado Canto à vinha, não apenas nos ensina o significado
da videira, mas explica que existem várias vinhas do Senhor, mesmo em Israel:

A vinha [plantação de videiras] do Senhor dos exércitos é a


casa de Israel, sua plantação preferida são os homens de Judá [tribo
de Judá].

- Isaías, 5:7, em Bíblia do Peregrino.

Isaías, como profeta do Messias, acerta de forma precisa ao afirmar que Judá é a
vinha preferida do Senhor. É uma forma de dizer: o Messias vem de Judá, que era
uma das doze tribos de Israel. Já sabemos que Judá, filho de Jacó, o qual recebeu de
seu pai a profecia que já estudamos, deu origem a tribo que tem por emblema o Leão,
que se torna, também, símbolo de Jesus Cristo.

Posteriormente, cerca de 600 anos a.C., é o período do profeta Jeremias que foi
açoitado e banido do Templo por anunciar que, devido a corrupção moral de seu
povo, haveria uma invasão conduzida pela Babilônia. Pouco tempo depois, os
Israelitas foram invadidos e escravizados pelo império Babilônico. Jeremias faz,
também, referência da plantação de videiras, como criação do ser humano e da
sociedade, pelo Criador e, mais uma vez, somos esclarecidos que existem videiras e
videiras.

O Senhor me dirigiu a palavra:

- Vai, grita, que Jerusalém o escute:

[...] Eu te plantei [Israel],

videira seleta de cepas legitimas.

- Jeremias, 2: 1-2 e 21, em Bíblia do Peregrino.

46
Se existem viderias seletas e legítimas, claro, que deve existir as videiras ilegítimas
e de baixa qualidade. Essa compreensão bíblica é destacada por Northrop Frye, um
dos maiores críticos literários do século XX, que nos ensina que na Bíblia há a
compreensão de que o mesmo símbolo pode representar o que é elevado (que ele
chama de apocalíptico ou ideal) e o que é inferior (que ele chama de demoníaco).

Ezequiel é um profeta do período do exílio, do cativeiro da Babilônia, como


Jeremias, tem a missão de admoestar Israel. Ezequiel energicamente afirma a seu
povo que apenas mudando de conduta eles serão libertos da servidão. Esse profeta
faz uma comparação que será muito relevante para o estudo do Novo Testamento,
pois ele destaca a importância de se dar bons frutos. Ele compara a videira que não
dá frutos aos arbustos selvagens que devem ser lançados ao fogo, linguagem que se
assemelha a do Cristo. Há também evidente relação entre a videira e os “habitantes
de Jerusalém”:

O Senhor me dirigiu a palavra:

- Filho de Adão, em que a videira ganha

dos demais arbustos silvestres? [...]

Portanto, isso diz o Senhor:

Assim como o lenho da videira silvestre

que atirei no fogo para alimentá-los,

também [assim] tratarei os habitantes de Jerusalém.

- Ezequiel 15: 1-2 e 6, em Bíblia do Peregrino.

Podemos agora entender, sem muita dificuldade, o que os Espíritos dirigentes da


codificação compreendiam ao definir a videira como “emblema do trabalho do
Criador”: nós, os seres humanos somos a obra, por excelência, do Criador, Todo-
Poderoso. Essa é a compreensão do Antigo Testamento, do Novo Testamento e do
Espiritismo: nós somos a videira, somos o símbolo do trabalho do Criador, somos o
símbolo do Espiritismo.

Voltemos a reflexão sobre a solidão. Muitas vezes, somos induzidos a ter uma
relação superficial com a vida, é isso que nos deixa solitários. Quando abordamos os
escritos dos Espíritos superiores de forma superficial e, às vezes, até leviana, estamos
perdendo a oportunidade que eles nos dão de mudarmos nosso paradigma de relação
com as pessoas e com Deus. Simplesmente querer entender que o símbolo da videira

47
foi definido de forma arbitrária e superficial, é desprezar a misericórdia divina e
optar por uma compreensão de mundo superficial, geradora de solidão.

O que quero dizer é o seguinte: se os Espíritos da codificação, no prefácio de um


dos livros mais importantes da história, escreveram que a videira é o “emblema do
trabalho do Criador” precisamos pensar seriamente sobre essa afirmação. Entender
que somos herdeiros de uma tradição milenar, meditar sobre seu valor e sobre nossa
responsabilidade como seus continuadores é o início de uma relação significativa
conosco: honrar o nosso passado, dignificar o nosso presente, vincular-se
profundamente com o Criador.

Como poderemos alcançar uma paz verdadeira, que o mundo é impotente para
nos dar, sem entendermos que somos videiras, mas que há a videira verdadeira,
Jesus Cristo, a fonte da verdadeira paz? Tratamos aqui, portanto, não de polêmicas
teóricas e vazias, mas buscamos uma compreensão verdadeira que nos vincula
intelectual e emocionalmente a Jesus e a Kardec, nossos amigos nessa jornada
milenar que temos trilhado e que nos conduz a Deus. Aprendamos com o Mestre a
dizer: que seja feita a Tua vontade. Repitamos com Kardec: Senhor, coloco minha
vida em tuas mãos, sou teu servo.

48
Metodologia
Como pesquisamos para escrever esse capítulo? Os Espíritos responsáveis pela
Codificação disseram: a videira é o emblema, o símbolo do trabalho do Criador.
Partimos da seguinte pergunta: o que os Espíritos dirigentes da Codificação disseram
a Kardec sobre a videira é igual ao que o Cristo, quando encarnado. afirmou sobre a
videira?

A partir dessa pergunta fomos pesquisar no Antigo Testamento. Um das forma de


se pesquisar um símbolo no Antigo Testamento é por meio da consulta de bons
dicionários. Foi isso que fizemos: procuramos nos dicionários a palavra (verbete)
videira. Os dicionário além de falar quais os sentidos que esse palavra adquiriu no
Antigo Testamento, também, dão as indicações onde foi usada, por exemplo no
profeta Isaías, capítulo 5, versículo 7. Assim, vamos às traduções da Bíblia que
usamos e consultamos. Foi assim que descobrimos que os Espíritos da Codificação
utilizam símbolos idênticos e com os mesmos significados desde o Antigo
Testamento. Há, portanto, um continuidade no trabalho do Cristo e de sua equipe ao
longo dos milênios.

49
Experienciar
Qual foi a sua emoção ao dar-se conta de que os profetas Oséias, Isaías, Jeremias e
Ezequiel já haviam falado sobre a videira no mesmo sentido que os Espíritos da
Codificação?

Proponho que você tente sentir a ligação entre pessoas tão distantes, mas que já
atuavam no mundo para nos amparar. Sintamos a gratidão por esses trabalhadores
do Cristo, bem como, o amparo que temos recebido ao longo dos milênios.

Vale a pena meditar sobre isso. Em clima de prece, peçamos ao nosso anjo
guardião para sentirmos...

50
Diálogo Mediúnico
Paz e Alegria em vossos corações!

Como um amigo que vem de um lugar distante, chego feliz, disposto a apresentar a
cada um de vocês, tudo aquilo que aprendemos, no convívio maravilhoso, com as
revelações de Jesus de Nazaré, que já tivemos acesso, graças à misericórdia do
Mestre e que queremos compartilhar com cada um de vocês.

É preciso entender que o trabalho do nosso Mestre tão amado possui uma
característica diferenciada, e essa característica é: para o nosso Mestre o
coração de cada um de vocês, conta infinitamente.

Jamais, ninguém em nome do Mestre ousará a diminuir, a humilhar


ou menosprezar um irmão. Vocês são nossos irmãos. Vocês são nossos
amigos. Vocês, para nós que seguimos o ensino do Cristo, são aqueles que no
momento mais devem ser amados, pois como ovelhas perdidas, ante uma
tempestade que se avizinha, merecem todo amparo, carinho e proteção possíveis,
para que vocês, com o Mestre, aprendam a enfrentar dores imensas, tentações
enlouquecedoras e no final da jornada possam conosco agradecer ao Cristo, dizendo:
vencemos porque teu amor nos banhou e nos deu paz e coragem.

Comecemos amigos.

Questão 1

Prezado irmão obrigado pela presença, gostaria de saber quando a gente está
estudando, como identificar um símbolo, e que tipo de pergunta podemos fazer,
para observar as dimensões deste símbolo?

Existe uma estrutura que precisa ser aprendida: antes que possais aprofundar na
compreensão simbólica, em particular do Novo Testamento e do Antigo, o estudo
atento da vida do Cristo vos aproximará dessa estrutura. É preciso não
apenas saber, mas é preciso sentir a profunda coerência que existe na obra de Deus.
Os vínculos, as relações com os vários níveis de significados, que são ordenados pelos
princípios elencados por Allan Kardec nas Leis Morais.

Existe todo um estudo da simbologia cristã, do qual Kardec vos deu as balizas
centrais e que, desejamos, iremos aprofundar esses tópicos em poucos anos, com
aqueles que se dispuserem não a ler, mas a amar as palavras do Mestre.

Vocês estão sendo convidados a participar de uma compreensão simbólica da vida


do Cristo, mas, como ensina o Mestre, além de serem convidados vocês precisam

51
estar preparados, precisam estar com a veste adequada. Em uma linguagem espírita,
precisam estar com a vibração qualificada: não falamos de santos e santas, falamos
de devoção, falamos da capacidade de compreensão que deve ser ampliada com a
leitura do Novo Testamento e da capacidade de sentir piedade. Aquele que não é
capaz de sofrer junto aos seus irmãos, é incapaz de entender os símbolos
do Cristo. Aquele que não é capaz de sentir o amor de Deus ou pelo
menos de seu anjo guardião jamais penetrará na simbologia cristã.

Existem barreiras criadas pelo psiquismo inferior que nós estamos vos
estimulando a superar, porque o Cristo assim deseja. Portanto, além de leituras
sugerimos, inicie com as técnicas simples e transformadoras.

• Por que não ler a narrativa do Cristo que fala da festa de núpcias e pensar, e se
colocar nos vários lugares que aqueles personagens representam? É uma
técnica simples que todos poderão se assim desejarem fazer.

• Por que não fazer isto suplicando auxílio de vosso amigo espiritual mais
próximo? Como será? Como será que estava o Mestre quando contou essa
parábola? Como será que foi o tom de sua voz?

• Será que realmente como narram alguns Espíritos quando o Cristo falava,
muitas pessoas viam imagens? Que imagens viram estes Espíritos? Como você
imaginaria essa cena? Como seriam essas pessoas?

• É apenas uma técnica que tem um objetivo: qual a tua emoção em relação ao
Cristo? Como você se sentiria sendo o indivíduo que tentou entrar sem estar
com a roupa? Como se sentiria, sendo aquele que preferiu o comércio, que
preferiu o lazer? Sinta-se como cada um deles. Porque a verdade, meu irmão,
é a que todos nós já fomos cada um deles, este é o caminho de aprendizado
para um dia lidarmos adequadamente com os símbolos cristãos.

Obrigado irmão

Questão 2

Boa noite, obrigada pela presença. Tenho uma questão bem pessoal. Eu estou
tentando refazer as relações que eu desfiz ou rompi; fiquei e me sinto em dívida, em
alguns casos de família, bem próximas. Gostaria que o amigo me ajudasse, se isso
está correto, se esse é um caminho para começar a praticar a caridade ensinada
pelo Mestre?

Em caso de dúvida, oremos ao Cristo: é preciso dialogar com o Mestre como


ensina Santo Agostinho em O Livro dos Espíritos: todos os dias. A vida de Espírito

52
que amadurece se apresenta com uma imensa complexidade, por isto, é preciso,
todas as noites, antes de deitar-se, indagar as esferas superiores da vida o que fazer e
é preciso fazer isso ao longo de muitos dias, semanas e meses: colocar-se
mansamente, acalmar o coração aguardando a sua própria compreensão.

Lembremos de Paulo segundo narra o maravilhoso Espírito Emanuel, após três


anos no deserto, submetendo-se a disciplinas austeras, o apóstolo durante anos
humildemente aguarda o convite do Mestre. Por que vós não podeis passar por
alguma angústia? Porque vós não podeis chorar, espiritualmente
ajoelhados, suplicando ao Mestre, não que ele ensine o caminho correto,
mas que você se torne capaz de entender? Por que não podemos nós, servos e
ainda imperfeitos e falhos, suplicar àquele que é o Amor encarnado neste mundo? Se
os grandes discípulos também o fizeram, será que podemos achar que a
angústia de Pedro após ter traído o Mestre é experiência de somenos
importância? Será que este amigo não teve as suas noites de insones? Não teve o
peito amargurado pelo que tinha feito? Será que este Espírito não aprendeu a
entregar-se, a cada momento que a dor o invadia, a misericórdia daquele
que tudo pode neste mundo? Por que nós estaríamos isentos de tal experiência,
minha irmã? Não somos nós menores de que estes grandes Espíritos? Não somos nós
aprendizes em séries mais rudes, mais rudimentares que eles? Por que nós
deveríamos saltar a etapa de amadurecimento?

Convido a você a iniciar, a questionar o mais Alto, apresentando suas lágrimas e


suas dores, e aprender a aguardar. Lembremos que Kardec ao aceitar o convite do
Cristo disse “Estou em tuas mãos” não sejamos nós, aqueles que desejamos fazer a
nossa obra com as nossas mãos e ter o Cristo como auxiliar, seria não entender quem
é Jesus de Nazaré.

Obrigado, mas... está difícil, obrigada.

É sempre difícil minha irmã, seguir ao Cristo. É preciso aprender a chorar, não
uma, não duas e não dez vezes... Nós crucificamos o Mestre, ele carregou a cruz por
horas de imensa aflição, nós o abandonamos quase que diariamente e ainda assim
ele nos diz “a minha mão ainda está estendida para ti”.

Confiemos, que nunca passaremos por dores insuportáveis, mas para que as dores
se tornem suportáveis é preciso que tenhamos a ousadia de buscar o Cristo como o
médico máximo, porque ele nos garantiu que jamais colocaria fardos insuportáveis
em nossos tão frágeis ombros, é difícil, confiemos: o Cristo tudo pode.

Questão 3

Boa noite, eu gostaria de perguntar como exatamente Jesus sustenta o mundo?

A melhor resposta que poderíamos dar: é com o seu Amor. Não falo em termos
teóricos, falo do sentimento que emana do Ser do Cristo, enquanto não
compreenderdes o poder do magnetismo, enquanto não estudardes que o homem,
mero espírito encarnado, é capaz de fazer brotar uma semente com suas mãos, não
podereis ter um paralelo mínimo do sentimento de um Espírito que regula as
principais questões da Terra. Mas de que adiantaria, neste instante, vos falar de

53
poderes que mal podeis alcançar, quando não tendes sequer uma analogia. Mas
posso vos dizer que o mundo estaria em situação tenebrosa, não fora o coração deste
Espírito. Posso vos dizer que ele é capaz de estruturar e reestruturar o fluido que
envolve toda a Terra, mas acima de tudo, devo vos dizer que, para o Cristo importa
vos ver chorando lágrimas que consola outro sofrimento. Para este Espírito é muito
mais importante que sejais capazes de renunciar ao vosso conforto tão limitado, para
amparar o mais desamparado de vossos irmãos...

O Cristo jamais exibiu seus imensos poderes porque nunca quis assustar seus
irmãos tão pequenos, mas vos digo minha amiga que não é lenda, os relatos variados
que tendes da dificuldade daqueles que não eram míopes em se aproximar deste
Espírito. Não é possível, ainda que para muitos Espíritos superiores,
compreender a grandeza do Mestre, e não esperamos que compreendais,
e nem é isto que Ele deseja. O Cristo hoje, deseja algo muito específico,
que todos vocês queiram verdadeiramente que ele vos proteja. Este é o
desejo desse Espírito, proteger a cada um de seus irmãozinhos, cada uma
de suas pequenas e rebeldes ovelhas. Porque ele não possui nenhuma
preocupação em mostrar sua grandeza, Ele apenas tem um objetivo: que
vossos corações aceitem o abraço protetor que ele dará em todos que o
buscarem.

Agradecemos as perguntas, agradecemos os pensamentos, agradecemos as


vibrações de paz, e seremos infinitamente gratos a todos aqueles que se dispuseram,
com devoção, a estudar o Novo Testamento. Porque vocês serão aqueles que nós
utilizaremos para educar uma multidão de Espíritos grosseiros, que precisam de um
suporte no mundo material, para entrar em contato com o Novo Testamento.

Em vossas leituras sinceras e abnegadas estareis nos auxiliando a apresentar a


Espíritos infelizes, como um encarnado imperfeito e limitado, pode entregar-se
emocionalmente ao Novo Testamento, este é um trabalho imenso que coordenamos
e esperamos que muitos de vocês estabeleçam uma leitura regular, para que
mobilizemos as nossas equipes, porque sim, existe educação do Evangelho
através daqueles que o leem com devoção e um dia poderemos explicar
isso em detalhes. Mas, não a nada de estranho nisto porque se o Cristo prometeu
estar onde dois ou mais estivessem em seu nome, e o próprio Cristo estabeleceu
como modelo a cooperação de todos. Podemos afirmar sem sermos incoerentes:
contamos com vocês para este estudo e vocês ajudarão aqueles que sabem menos do
que vocês.

Paz do vosso irmão e amigo,

Cairbar de Souza Schutel

Mensagem psicofônica recebida em 07.05.2023 em reunião de estudo do Grupo Marcos. Médium


do Grupo Marcos. Revisada pelo autor espiritual e por integrantes do Grupo Marcos.

54
55
56
57
Capítulo 3
O emblema do trabalho do Criador e
a Segunda Revelação

58
59
60
São
Luís

Em pouco tempo, reconheceríeis que o Espiritismo emerge [surge, destaca-


se, sai, ressalta, ressurge] das Escrituras sagradas. Os Espíritos não vêm
para derrubar a religião como alguns desejam; eles vêm, ao contrário, confirmar e
sancionar a religião por meio de provas irrefutáveis.

- São Luís, questão 1010 a [1011], em Le Livre des Esprits, traduzimos, grifamos.

61
Estamos, agora, preparados para aprender algo ainda mais valioso: como o
símbolo da videira foi apresentado no Novo Testamento. O próprio Cristo, nosso
Mestre, foi quem mais e melhor usou esse símbolo extraordinário. Depois de uma
viagem de milênios, a videira-símbolo está nas mãos do maior Espírito desse planeta.
É com maestria incomparável que Jesus destaca, na Segunda Revelação, o símbolo
da videira, aos discípulos, momentos antes da crucificação, diz o Mestre, ao servir a
todos o produto da videira: este é o meu sangue, é o sangue de uma nova Aliança
que faço em nome do Criador. Quem poderia esquecer um acontecimento destes?

Os símbolos são conjuntos de significados coerentes e integrados, por


isso, é necessária sabedoria para manejá-los. Eles podem guiar para a luz ou nos
fazer confusos em trevas infelizes. Melhor ser guiado pelo Cristo nessa caminhada.
Relembremos a ordem dos Espíritos responsáveis pela Codificação:

Colocarás no cabeçalho do livro a videira que te desenhamos,


porque ela é o emblema do trabalho do Criador; e todos os
princípios materiais que podem melhor representar o corpo e o
espírito estão aí reunidos: o corpo é a videira; o espírito é o vinho; a
alma ou o espírito unido a matéria é a uva. O homem purifica o
espírito por meio do trabalho e tu sabes que apenas por meio do
trabalho do corpo o espírito adquire conhecimentos.

– Prolegômenos em Le Livre des Esprits, traduzimos, grifamos.

Não há dúvida que o emblema do trabalho do Criador está presente em todos os


Evangelhos: em Mateus, em Marcos, em Lucas e em João. Seria impossível, em nosso
pequeno texto, um estudo mais completo de todas as expressões desse símbolo.
Porém, vamos apresentar um estudo suficientemente profundo para desvendar as
características centrais do tema e isso nos possibilitará entender como os Espíritos
relacionam o Espiritismo com a Segunda Revelação, bem como, nos preparará para
que, no futuro, tenhamos estudos ainda mais aprofundados.

Simbolicamente, a videira está presente no início da missão de Jesus, descrita por


João Evangelista, nas Bodas de Caná. Como sabemos, está também presente no
início da missão de Kardec, nos Prolegômenos, em mensagem assinada, pelo
apóstolo amado, João Evangelista. Bem como, no fim da missão de Moisés, quando
ele chega à Terra da Promissão.

Em Caná da Galileia, o Mestre transforma água em excelente vinho após ordenar


que os vasos de purificação ritual fossem enchidos com água. Na Santa Ceia, antes de
sua Crucificação, Cristo chama o vinho de “o produto da videira e de fruto da
videira”. O fruto da videira, também, está presente nos últimos momentos do Cristo

62
na Cruz, quando tem sede, lhe é dado para beber vinho amargo, vinagre. O fruto de
videiras más segundo o registro do Antigo Testamento.

Pintura: Representação da passagem evangélica das Bodas de Caná. Aqui, observamos a presença
de Maria e Seu filho Jesus, presenteando um jovem casal com a transformação de água em vinho.

No Evangelho de Mateus, temos a Parábola dos Trabalhadores da Última Hora.


Nela Jesus utiliza a simbologia da videira-vinha não apenas resgatando os milênios
de uso desse símbolo, mas ampliando-o.

Allan Kardec, seguindo essa tradição, nos explica em O Evangelho segundo o


Espiritismo que, por meio dessa história, o Cristo falava, também, dos espíritas. O
Codificador dedica um capítulo inteiro para o estudo dessa parábola a qual
transcreve de forma integral, ainda que ela seja um tanto extensa. Relembremos essa
maravilhosa história contada pelo Cristo:

63
O Reino dos Céus é semelhante a um pai de família que
saiu de madrugada, a fim de assalariar trabalhadores para
a sua vinha. Tendo convencionado com os trabalhadores que
pagaria um denário a cada um por dia, mandou-os para a vinha. Saiu
de novo à terceira hora do dia e, vendo outros que se conservavam na
praça sem fazer coisa alguma, disse-lhes: “Ide também vós outros
para a minha vinha e vos pagarei o que for razoável.” Eles foram.
Saiu novamente à hora sexta e à hora nona do dia e fez o mesmo.
Saindo mais uma vez à hora undécima, encontrou ainda outros que
estavam desocupados, aos quais disse: “Por que permaneceis aí o dia
inteiro sem trabalhar?”

— “É”, disseram eles, “que ninguém nos assalariou.”

— Ele então lhes disse: “Ide vós também para a minha vinha.”

Ao cair da tarde disse o dono da vinha àquele que cuidava dos seus
negócios:

“Chama os trabalhadores e paga-lhes, começando pelos últimos e


indo até aos primeiros.”

Aproximando-se então os que só à undécima hora haviam chegado,


receberam um denário cada um. Vindo a seu turno os que tinham sido
encontrados em primeiro lugar, julgaram que iam receber mais;
porém, receberam apenas um denário cada um. Recebendo-o,
queixaram-se ao pai de família, dizendo:

— “Estes últimos trabalharam apenas uma hora e lhes dás tanto


quanto a nós que suportamos o peso do dia e do calor.”

Mas, respondendo, disse o dono da vinha a um deles:

— “Meu amigo, não te causo dano algum; não convencionaste


comigo receber um denário pelo teu dia? Toma o que te pertence e vai-
te; apraz-me a mim dar a este último tanto quanto a ti. Não me é
então lícito fazer o que quero? Tens maus olhos, por que sou bom?”

Assim, os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os


últimos, porque muitos são os chamados e poucos os escolhidos.

- Mateus, 20:1-16, extraído de O Evangelho segundo o Espiritismo, grifamos.

64
Para nós, que já conhecemos as referências do Antigo Testamento sobre a videira
e sobre a vinha, tudo fica muito claro: o pai de família é Deus e a vinha é a Criação,
nós somos as videiras, criados que fomos, Sua imagem e semelhança.

Mas, isso estava claro para Kardec e para os Espíritos da Codificação? Talvez seja
leviano perguntar, mas o faço, apenas, à título de reflexão: Allan Kardec e os
Espíritos da Codificação (João Evangelista, Santo Agostinho, São Vicente de Paulo,
São Luís e o próprio Espírito da Verdade, para citar alguns) conheciam o Antigo e o
Novo Testamento tão bem quanto nós conhecemos? Seria razoável supor que eles até
conheçam a Primeira e a Segunda Revelação um tanto mais do que nós? Bem, não
precisamos responder. Basta dizer que, segundo Allan Kardec, os Espíritos, após o
desencarne, preservam sua individualidade, seus saberes e sua inteligência. Além
disso, aprendem muito mais na vida espiritual aprofundando as verdades conhecidas
e superando os erros de percepção. Enfim, estes Espíritos são as mesmas
individualidades, porém, mais sábias e cultas.

A Parábola dos Trabalhadores da Última Hora foi comentada por quatro


Espíritos elevados que tiveram importante participação na Codificação. O primeiro é
Constantino, que é um anjo guardião; o segundo é Henri Heine (1797-1856) famoso
poeta e jornalista que desencarnou em Paris um ano antes da publicação de O Livro
dos Espíritos; o terceiro é Erasto, um discípulo de Paulo de Tarso, que representa,
sem dúvida, a sabedoria do Apóstolo e o quarto é nada mais, nada menos do que o
Espírito da Verdade! É o Cristo aprofundando seus ensinos. Difícil querer algo
melhor.

Constantino considera tão óbvio que a vinha é a obra de Deus que não se dá o
trabalho de explicar, mas fica evidente que ele assim entende esse símbolo. Por isso,
afirma que o trabalhador da última hora, de má vontade e sem devoção, ouvirá do
Senhor da vinha.

[...] O Senhor lhe dirá: “No momento não tenho trabalho para te
dar; desperdiçaste o teu tempo; esqueceste o que havias aprendido; já
não sabes trabalhar na minha vinha.

- Constantino, anjo guardião, em O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XX,


item 2, grifamos.

É fácil perceber que para esse Espírito – o Senhor da vinha, da plantação de videira, é
Deus. Basta associar o início da frase “o Senhor”, com o final, “minha vinha”. Esse é o
mesmo termo usado pelos profetas, lembra?

Na segunda instrução dos Espíritos temos algo mais surpreendente. Henri Heine,
como mestre das palavras, generosamente, faz uma breve revisão de tudo que

65
estamos tentando mostrar aqui. Com seus ensinos, torna-se inquestionável a ligação
histórica e espiritual entre a Primeira, a Segunda e a Terceira Revelação. Veja o que
ele escreve:

Jesus gostava da simplicidade dos símbolos e, na sua


linguagem varonil, os obreiros que chegaram na primeira hora são
os profetas, Moisés e todos os iniciadores que marcaram as etapas
do progresso, as quais continuaram a ser desenvolvidas através dos
séculos pelos apóstolos, pelos mártires, pelos Pais da Igreja,
pelos sábios, pelos filósofos e, finalmente, pelos espíritas.
Estes, que vieram por último, foram anunciados e preditos desde a
aurora do advento do Messias e receberão a mesma recompensa.

- Henri Heine em O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XX, item 3,


grifamos e sublinhamos.

Quando formos capazes de entender e sentir essa verdade, mudaremos a face da


Terra como fizeram os profetas e os verdadeiros cristãos da época do Cristo.
Observemos que Heine revela, para nós, um extenso planejamento espiritual, pois,
ao dizer que desde o advento, quer dizer, desde a chegada do Messias, a missão dos
espíritas já estava estabelecida. Heine continua:

Tal é um dos verdadeiros sentidos desta parábola, que


encerra, como todas as que Jesus dirigiu ao povo, o germe do futuro e
também, sob todas as formas, sob todas as imagens, a revelação da
magnífica unidade que harmoniza todas as coisas no Universo, da
solidariedade que liga todos os seres presentes ao passado e
ao futuro.

- Henri Heine em O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XX, item 3,


grifamos.

Esse Espírito é sábio o suficiente para entender que “nenhuma profecia é de


particular interpretação” como ensinava o apóstolo Pedro, por isso, diz “um dos
verdadeiros sentidos”. Quem tem qualificação para trabalhar com símbolo, sabe que
uma interpretação nunca esgota todos os sentidos. Mas, qual o sentido que ele nos
ensina? É de que há uma unidade espiritual no processo de desenvolvimento da
Terra e que o Cristo integra o processo evolutivo de todo o globo em uma “magnífica
unidade”: o passado, o presente e o futuro. O que esse Espírito nos revela é o mesmo

66
que o Apóstolo dos gentios revelou em vida: foi o Cristo quem sustentou Moisés e a
Primeira Revelação para, em seguida, nascer e conduzir diretamente a Segunda
Revelação. Porém, escrevendo no século 19, Henri Heine, pode acrescentar, que é o
mesmo Espírito, o Cristo o condutor do Espiritismo. Guardemos essa informação
para nossos estudos futuros, ele é muito valioso: todos os ensinos de Jesus referem-
se ao passado, ao presente e ao futuro. E esses ensinos são expressos por meio de
formas e imagens, quer dizer, símbolos simples em linguagem varonil.

Erasto é o autor da terceira instrução. A competência com que emprega os


símbolos cristãos é comovente. Apresenta imagens fortes, pungentes e
completamente integradas em suas significações históricas e culturais. Além disso,
nos ensina coisas novas. Foi sábia a decisão de entregar para Erasto a tarefa de
explicar a Missão dos Espíritas. Afirma o digno discípulo de Paulo:

Não escutais já o ruído da tempestade que há de arrebatar o


velho mundo e precipitar no abismo do nada o conjunto das
iniquidades terrenas? Ah! Bendizei-o Senhor, vós que haveis posto a
vossa fé na sua soberana justiça e que, novos apóstolos da crença
revelada pelas vozes proféticas superiores, ides pregar o novo
dogma da reencarnação e da elevação dos Espíritos, conforme
tenham cumprido, bem ou mal, suas missões e suportado suas provas
terrestres.

- Erasto em O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XX, item 4, traduzimos,


grifamos.

É certamente um parágrafo épico. Um dia, quem sabe, poderemos aprofundá-lo


no intuito de desvendar a grandeza da oferta que nos faz esse grande Espírito. O
símbolo da tempestade, por si, mereceria um estudo a parte, pois “uma tempestade
que traga o velho mundo” remete-nos ao Antigo Testamento, ao relato de Noé, que é
um processo de intensa purificação coletiva, bem como, nos faz pensar no Mestre,
Espírito capaz de dominar a tempestade e andar sobre as águas. Destacamos o termo
novos apóstolos, inteligentemente, podemos inferir que se há novos é porque
houve antigos. Portanto, há uma ligação e continuidade entre os apóstolos do
cristianismo primitivo e os apóstolos espíritas. Algo mais surpreendente é o termo
vozes proféticas superiores; vozes porque são orientações espirituais, proféticas
porque, como explicado por Heine, os Espíritos continuam a obra que começaram e
como são seres superiores, verdadeiros profetas, suas vozes proféticas são superiores,
originam-se do mais Alto.

67
Pintura: Tempestade no Mar da Galileia de Rembrandt Harmenszoon van Rijn (1606 – 1669). A
pintura de características barroca e didática retrata de maneira dramática e intensa a essência de
parábolas bíblicas.

68
Vamos agora para a mensagem do mais elevado Espírito de toda a Codificação, na
verdade, de toda a história humana. A instrução é intitulada - Obreiros do Senhor:

Aproxima-se o tempo em que se cumprirão as coisas anunciadas


para a transformação da Humanidade. Felizes os que houverem
trabalhado no campo do Senhor, com desinteresse e sem outro
motivo, senão a caridade!

- Espírito da Verdade em O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XX, item 5,


traduzimos, grifamos.

Parece claro que a vinha é o campo do Senhor, o que se integra perfeitamente com
o símbolo da videira como emblema do trabalho do Criador. Essa mensagem do
Espírito da Verdade integra inúmeras passagens do Novo Testamento, bem como,
trechos muito importantes do Apocalipse de João. Na parte final de nosso curso,
voltaremos a ela, pois, para ser bem compreendida, essa mensagem requer base
sólida sobre a relação entre a Primeira, a Segunda e a Terceira Revelações. Não é
possível entender o que diz o Espírito da Verdade em uma rápida leitura de poucas
horas. No final, o Mestre nos esclarece:

Cumprir-se-ão estas palavras: “Os primeiros serão os últimos e os


últimos serão os primeiros no Reino dos céus!”

- Espírito da Verdade em O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XX, item 5,


traduzimos, grifamos.

Lembremo-nos do início da parábola: O Reino dos Céus é semelhante a um pai


de família que saiu de madrugada, a fim de assalariar trabalhadores para a sua
vinha. A obra a que fomos convidados é transformarmo-nos em Espíritos que
estarão aptos a criar o Reino do Céus onde estiverem. Eis o trabalho que nos cabe na
Criação: ser o emblema ou a imagem de Deus.

Existem muitas outras referências simbólicas da videira, do vinho, do sangue e da


vinha. Elencaremos apenas algumas que devem ser conhecidas, pois elas estarão
presentes em nossos estudos futuros.

Em Mateus 26:27-29, temos no relato da Ceia pascoal a seguinte afirmação do


Cristo:

69
Tomando a taça, pronunciou ação de graças e deu-a dizendo:
- Bebei todos dela, porque esse é o meu sangue da aliança, que se
derrama por todos para o perdão dos pecados. Eu vos digo que daqui
em diante não beberei deste produto da videira até o dia em que o
beberei convosco no reino de meu Pai.

- Mateus, 26:27-29 em Bíblia do Peregrino.

Em Marcos, 14:23-25, o símbolo da videira também está presente no momento


decisivo que antecede a crucificação:

E tomando a taça, pronunciou a ação de graças, deu-a, e todos


beberam dela. Disse-lhes:

- Este é o meu sangue da aliança que se derrama por todos. Eu


vos asseguro que não voltarei a beber o produto da videira até o
dia em que beber de novo no reino de Deus.

- Marcos 14:23-25 em Bíblia do Peregrino.

Em Lucas, 22:17-18, na despedida que antecede a cruz, afirma o Mestre:

E tomando a taça, deu graças e disse:

- Tomai isto e reparti-o entre vós. Eu vos digo que daqui por diante
não beberei do fruto da videira até que chegue o reinado de Deus.

- Lucas, 22:17-18, em Bíblia do Peregrino.

Mas, parece que coube a João, o Espírito que assina em primeiro lugar os
Prolegômenos, de O Livro dos Espíritos, a revelação mais impactante e
esclarecedora do símbolo da videira, assim ele registra a afirmação de Jesus:

Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor. Todo


ramo em mim que não produz fruto, {ele} o tira; e todo aquele que
produz fruto, {ele} o limpa, para que produza mais fruto.

- João, 15:1-2, em Novo Testamento, Feb.

70
Jesus é videira verdadeira simplesmente porque ele é o Espírito mais evoluído do
planeta, ele representa a Verdade. É a Videira [ou Espírito] da Verdade o que produz
os melhores frutos para Deus. É também o modelo que, de fato, deve ser seguido.
Como já aprendemos, existem videiras silvestres que nada produzem e existem
videiras de Sodoma que produzem vinho amargo e venenoso. Jesus é videira
verdadeira porque seus frutos são os de “vida eterna”, excelente e imperecíveis.
Portanto, o símbolo da videira em seu sentido mais elevado é a imagem do Cristo.
Esse é o símbolo do Espiritismo.

71
Metodologia
Como pesquisamos para escrever esse capítulo? Os Espíritos responsáveis pela
Codificação disseram: a videira é o emblema, o símbolo do trabalho do Criador.
Fizemos a seguinte questão: a definição simbólica do Cristo, quando encarnado, é
igual ou diferente da definição dada pelos Espíritos da Codificação a Allan Kardec?

A partir dessa pergunta fomos pesquisar no Novo Testamento. Um das forma de


se pesquisar um símbolo no Novo Testamento é por meio da consulta de bons
dicionários. Foi isso que fizemos: procuramos nos dicionários a palavra (verbete)
videira. Descobrimos algo surpreendente: o sentido do símbolo da videira é o
mesmo!

Avançamos na pesquisa. Verificamos na própria codificação se os símbolos


estudados mantiveram a coerência dos Prolegômenos. Verificamos que sim. Há uma
coerência ao longo dos séculos e ao longo da Codificação no que diz respeito a
simbologia adotada pelo Cristo.

72
Experienciar
Como você se sente ao saber que há milênios o Cristo está trabalhando para
estabelecer símbolos que possam te estimular a crescer espiritualmente, a entender
as verdades divinas e guiar as esferas superiores da vida?

Sugerimos que em momento de prece você busque visualizar o trabalho superior


de Jesus de Nazaré ao coordenar centenas de comunicações mediúnicas, ao longo
dos séculos, para que você possa melhor entender e sentir a verdade: ele te ama.

73
Diálogo Mediúnico
Paz e alegria em vossos corações, queridos amigos e amigas!
Que o Cristo nos inspire neste instante. Que a sua Paz toque o nosso ser e percorra
todos os pontos doloridos e escuros de nossa alma. Porque sim, Ele é a Luz do
mundo, Ele pode nos iluminar.
Colocamo-nos fraternalmente à disposição para o nosso diálogo, que há de ser
sincero e produtivo.

Questão 1
Querido irmão, poderia esclarecer melhor a questão do Consolador? Ou uma
prova ou uma explicação melhor? A videira ficou claríssima. O Consolador
algumas pessoas ainda têm dúvidas.
Compreender que o Espiritismo é o Consolador e o significado disso do ponto de
vista histórico e pessoal requer reflexão, requer uma preciosa caminhada do ser.
Entendamos: se muitos daqueles que conviveram com o Cristo vendo e
ouvindo suas maravilhosas palavras, foram incapazes de reconhecê-lo
como o verdadeiro Messias não podemos nós, em atitude ousada, querer
demonstrar algo tão grandioso a corações que não buscaram a devida
preparação para entender um dos fatos mais significativos da história
humana.
Para uma compreensão adequada é necessário um estudo detalhado, ponto a
ponto, que há de ser um dia realizado, de todas as afirmações de Kardec
correlacionando-as com pontos de aprofundamento das verdades trazidas pelo
Cristo. Portanto, amigo, não nos agastemos com aqueles que pouco compreendem e
que quase nenhum esforço fazem para alargar a sua compreensão. Afirmar que o
Espiritismo explica, relembra e aprofunda o Evangelho de nosso amado Mestre é
afirmação que deve ser calcada com explicação detida para as mentes mais
grosseiras.
Contudo, quem seria o Consolador senão o Espiritismo? Como Kardec
coloca: relembramos os ensinos do Cristo, confirmando-o através de
método experimental e o desenvolvemos.
Aqueles que já tiveram contato com o Espiritismo não se recusam a reconhecer o
Consolador como a doutrina estruturada por Allan Kardec por falta de provas.
Existem variados motivos para se negar o Cristo, mas todos eles têm um
ponto em comum, a fuga da luz ofuscante que é o Cristo. A necessidade
de se manter nas sombras para, alimentando torpes ilusões, embriagar-
se com a falsa grandeza.

74
A esses amigos, prece e paciência, somente as dores excruciantes podem curá-los
neste momento da Terra.
Obrigado irmão.

Questão 2
Boa noite, amado, irmão Cairbar, eu gostaria de fazer uma pergunta. O uso do
livre-arbítrio pelos Espíritos superiores diminui de acordo com sua elevação, em
contrapartida aumentando-lhes a responsabilidade?
Como expõe o Mestre em seu Evangelho, Deus é amor e, sendo amor, Deus
concede tanto mais quanto é possível conceder. Portanto, a liberdade e as
possibilidades do Espírito se expandem com a sua capacidade de agir com sabedoria.
A única limitação que existe em relação aos Espíritos superiores é o seu desgosto
pela inferioridade. Não pratica o mal simplesmente porque lhes é proibido, mas
porque, como está no Evangelho segundo o Espiritismo, eles amam o bem e
desprezam a inferioridade.
É preciso entender que quando um Espírito atinge um patamar superior ele
constitui-se de uma nova psicologia. Os Espíritos superiores não gostam de mundos
como a Terra. Não lhes fascinam o brilho torpe do poder do mundo. Não lhes agrada
a violência necessária que tantas vezes é praticada no dia a dia para se sobreviver no
mundo torpe.
Isto não é tolhimento de livre-arbítrio, é elevação da própria sintonia que não mais
gosta, que não mais ama, aquilo que no mundo inferior é tido como desejável.
Respondendo diretamente: não, meu amigo, elevação amplia as
possibilidades, a elevação amplia as percepções, a elevação amplia os
sentimentos. A responsabilidade não é uma carga que esmaga aqueles
que já atingiram o amor. A responsabilidade é um gesto espontâneo de
gratidão por bênçãos indescritíveis em vossas palavras.
Os Espíritos superiores não vivem com medo de cometer erros, eles se alegram em
cada oportunidade de, seguindo a Lei do Pai, estar mais próximos dEle. Sentir mais o
Seu amor, sentir mais o Seu amparo.
A palavra dever em vosso mundo tem um significado completamente
diferente do que no nosso. Porque disse o Cristo que quem o buscasse
enfrentaria fardos leves e podemos vos assegurar: o dever de entidades
superiores é imenso, mas os fardos não apenas são leves, mas tendem a
ser agradabilíssimos, porque o prazer que usufruem na realização de
cada ato já justificaria todos os esforços. Não queirais medir a Criação divina
pelos padrões inferiores de um mundo que se esquece até da Paternidade Divina.
Muito obrigado.

75
Aguardamos, mais alguma questão?

Questão 3
Boa noite, eu gostaria de te pedir que nos esclarecesse um pouco melhor, quais
são os nossos comportamentos atualmente quando queremos matar o Cristo?
A fuga do Cristo se dá, minha querida irmã, quando renegais a vossa
cruz, quando buscai entorpecer a vossa consciência com drogas ou com
ilusões que vos distanciam do testemunho sincero. A recusa da vivência
íntima das próprias experiências poderá e em muitos casos irá constituir-se em
traição ao Cristo.
Não pensemos que a traição se dá apenas como fez Judas Iscariotes: em troca
objetiva por moedas de prata. A traição se dá quando, não desejando
enfrentar as vossas dores íntimas, buscais fugir de vossa consciência e de
vossos compromissos. Não é possível uma relação de barganha com o
Mestre. É preciso uma relação de amor, de entrega, de confiança e de
solicitação sincera de amparo para que suportemos a cruz deste mundo.
Negar-se a uma relação amorosa com o Cristo é traí-lo, por isso, a traição ao Cristo se
torna o padrão de vosso mundo.
Muitos, tantas vezes, pronunciando-lhe o nome divino, propõem o reino das
vantagens materiais, o reino da dominação das consciências, o reino da satisfação
dos desejos inferiores. Todos esses estão contados segundo a Lei de Deus como
grandes traidores, piores do que Judas porque muito mais receberam e
compreendem o grau de perversidade que realizam em suas mentes doentias para
fugirem da própria cura.
Por isso, se alastra no mundo e invade parte significativa do movimento espírita as
soluções fáceis, o riso barato, os acordos mórbidos. Todos faremos de conta que tudo
está bem. Todos nos portaremos como dignos fariseus, cumprindo normas
exteriores, repetindo bordões do cinismo para que, aprovando-nos uns aos outros,
sejamos glorificados. E assim o conseguem, e assim o conseguirão seus intentos até o
momento da justiça em que as suas feridas se tornarão visíveis e suas dores não
poderão mais ser entorpecidas com os prazeres infelizes. E aí veremos os
verdadeiros discípulos com as suas mãos ensanguentadas, com seus pés
doloridos, com a coroa da zombaria, mas em pé. Diante de todas as
tempestades, são esses que sofreram e amargaram no silêncio, para
vincularem-se ao Cristo, que irão regenerar o mundo e que estarão
contados como verdadeiros servidores.

Questão 4
O irmão poderia nos esclarecer sobre a qualidade da vigilância e da oração?

76
Fiquemos com o Cristo e aprendamos com Pedro o que, em alguma medida, foi
ensinado por Santo Agostinho: a técnica do diálogo verdadeiro - apresentai ao
Cristo os vossos erros diários, apresentai ao Cristo os vossos sentimentos torpes,
apresentai ao Cristo as vossas feridas ocultas, diariamente, e Ele vos acolherá. Está é
a dificuldade extrema da criatura mundana: almeja o homem tolo apresentar-se a luz
deste mundo como um igual ou como um discípulo perfeito. E assim desperdiça
ainda uma vez a chance de ser curado. É como o indivíduo corroído por doenças
terríveis que finge ser saudável ao médico que poderia salvá-lo.
Dizemos que no capítulo da vigilância, a vossa consciência se ampliará se vos
entregardes a esta prática: contai ao Cristo as vossas torpezas, mostrai ao
Mestre a vossa podridão e Ele vos alertará momentos antes da queda,
porque você teve a grandeza de pedir o socorro amigo.
Acrescentamos ainda que é necessário uma vigilância ainda mais profunda em
relação aos vossos hábitos diários. A complexidade do ataque que sofreis, do terror
que se busca instalar em vossas sociedades, deve ser combatido com mais prece e
com mais vínculo com nosso Mestre que, como sabeis, tem poder mais do que o
necessário para fazer parar qualquer tempestade. E assim o fará no momento
adequado.
Obrigado.

Amigos, confiemos sempre. Não busquemos o privilégio torpe dos que fogem dos
próprios testemunhos. O nosso Mestre para nos ensinar, para nos salvar da
nossa própria ignorância, nasceu em nosso mundo rude. Não seria isso
uma prova de amor mais do que suficiente para emocionar os vossos
corações? Ainda mais, depois de curar e ensinar; depois de se confraternizar com
os mais sofridos; depois de assistir os mais poderosos que o procuraram, mereceu
como recompensa do mundo a cruz que lhe causou dores terríveis.
Pensemos nós, se não chega o momento em que é preciso, em obra individual e
solitária, comprometer-se com Jesus na transformação de si mesmo? Muitos
pensam em um movimento que perde o norte, como o movimento
espírita atual, que se trata de obras. Estúpidos aqueles que querem
conquistar o reino de Deus com meras atitudes exteriores. Trata-se da
obra. E isso vocês hoje já podem compreender: e o emblema do trabalho
do Criador é a criatura, que obra mais urgente do que a de trazer luz
para dentro de si mesmo? Não condenamos as atividades externas, mas elas são
limitadas e, às vezes negativas, se forem apenas atividades externas. É necessário que
em cada ação externa o vosso coração se ilumine. É necessário que em cada ação
externa o vosso amor se exteriorize.
Não é possível mais olharmos espíritas que vão socorrer o infeliz com o olhar
porco da superioridade do mundo, com as mãos imundas da arrogância, com a
postura torpe dos fariseus de antigamente.

77
Se não sois capazes de beijar o enfermo, deveis, pelo menos em
espírito, vos ajoelhar e suplicar ao Cristo a cura da vossa arrogância. Se
não sois capazes de abraçar aquele que fede, devereis pelo menos no
silêncio de vossa alma fraca suplicar ao Mestre “Senhor ensina-me este
amor que eu desconheço”. Porque um dia tereis de investigar as vossas ações e
não interessa o vosso grau evolutivo, o fator decisivo será: estais tentando, em
conjunto com o Cristo, superar tuas limitações? Estais tentando com o Mestre
aprender uma dinâmica superior? Ou estais com os fariseus apresentando a pureza
externa, ensinando questões sociais e crucificando o Cristo quando é conveniente em
vossos corações?
Sejamos nós aqueles, a partir de hoje, a compreender: nada somos sem o Cristo e
Ele pessoalmente cuida de cada um de nós e aguarda um convite verdadeiro para
habitar o teu ser, teu coração e te elevar até Ele.
Paz do vosso irmão e amigo,
Cairbar de Souza Schutel

Mensagem psicofônica recebida em 14.05.2023 em reunião de estudo do Grupo Marcos. Médium


do Grupo Marcos. Revisada pelo autor espiritual e por integrantes do Grupo Marcos.

78
79
80
81
Capítulo 4
O Espírito é o vinho

82
83
84
Allan
Kardec

Senhor Deus Todo-Poderoso,

Vós conduzistes até aqui, pelo intermédio dos bons Espíritos, vossos
mensageiros, com uma suprema sabedoria, a marcha do Espiritismo, e eu vos
agradeço haverdes tido a bondade de me escolher como um de vossos instrumentos
sobre a Terra.

- Prece de Kardec, documento pessoal, datado de 4 de dezembro de 1860, traduzimos.

85
Um símbolo bíblico pode expressar uma individualidade comum, uma
coletividade e ainda uma individualidade excepcional. Judá é um indivíduo, uma
tribo e Jesus é o representante máximo da tribo de Judá. A videira é o símbolo da
união corpo-espírito, quer dizer, é uma individualidade e uma coletividade (Israel), e,
também, é o símbolo do Cristo que é a videira verdadeira.

O símbolo pode representar algo elevado ou inferior: Sodoma e Gomorra, são as


más videiras; a Nova Jerusalém é videira de bons frutos. O vinho que é o produto da
videira, simboliza o Espírito. Os Espíritos bons são considerados bom vinho e os
Espíritos maus vinho amargo, vinagre. O Cristo é a individualidade excepcional
associado no Antigo Testamento com o vinho excelente e abundante.

Apresentadas essas possibilidades de expressão do símbolo, vamos estudar como o


vinho está associado ao Cristo, ao Messias de Israel. Antes de iniciarmos o estudo do
Antigo Testamento, leiamos com atenção o trecho que estamos estudando dos
Prolegômenos.

Colocarás no cabeçalho do livro a videira que te desenhamos,


porque ela é o emblema do trabalho do Criador; e todos os princípios
materiais que podem melhor representar o corpo e o espírito estão aí
reunidos: o corpo é o ramo; o espírito é o vinho; a alma ou o
espírito unido a matéria é a uva. O homem purifica o espírito por meio
do trabalho e tu sabes que apenas por meio do trabalho do corpo o
espírito adquire conhecimentos.

- Prolegômenos em O Livro dos Espíritos, traduzimos.

No livro de Isaías, no trecho O Banquete do Senhor, o profeta associa a vinda do


Messias a um banquete no qual existirão “vinhos depurados” ou em linguagem
espírita, espíritos elevados e em grande quantidade, “vinhos generosos”:

O Senhor dos exércitos

oferece a todos os povos, neste monte,

um banquete de comidas suculentas,

um banquete de vinhos depurados,

comidas gordurosas, vinhos generosos.

86
[…]

O Senhor enxugará todas as lágrimas

de todos os rostos

e afastará de terra inteira o opróbrio do seu povo

- o Senhor disse.

- Isaias, 25: 6, 8 em Bíblia do Peregrino

No livro judeu 2 Baruc, 29:5, temos uma evidência de uma tradição muito antiga,
que assim se expressa sobre a chegada do Messias:

Além disso, a terra dará dez mil vezes mais frutos. Uma única
videira terá mil ramos, e um único ramo produzirá mil
cachos de uvas, e um único cacho de uvas produzirá mil uvas, e uma
única uva produzirá um kor [ 220 litros] de vinho.

- 4 EZRA AND 2 BARUCH, 2013, 29:5, traduzimos, grifamos.

No livro do profeta Amós, no capítulo 9, sob o título de Dia da Restauração, lê-se:

Naquele dia levantarei a cabana caída de Davi,

restaurarei suas brechas, levantarei suas ruínas

até reconstruí-la como era outrora;

para que conquistem o resto de Edom

e todos os povos que levaram meu nome

- oráculo do Senhor, que o cumprirá.

Vede que chegam dias - oráculo do Senhor –

quando o que ara seguirá de perto o ceifeiro

e o que pisa uvas o semeador;

87
fruirá mosto [vinho novo e doce] pelos montes

e as colinas ondularão.

- Amós, 9:11-13 em Bíblia do Peregrino, grifamos.

Associação entre a vinda do Cristo e a abundância de vinho pode ser entendida em


dois sentidos mais diretos: primeiro, o Cristo é o Espírito que representa a
abundância no mundo, ele é Espírito com desenvolvimento pleno de suas
faculdades, pleno de paz, de amor, de poder, de inteligência e de
sabedoria. Assim define Kardec as características dos espíritos puros – perfeição de
conhecimentos, proximidade de Deus, pureza de sentimentos e amor ao bem. O
Cristo possui essas virtudes acima dos anjos, que são também Espíritos puros, mas
não tão evoluídos como o Cristo. O segundo é a imensa multidão de Espíritos
superiores que, após a ordem do Cristo, virão habitar e transformar a
Terra.

É a essa dupla plenitude que expressa a linguagem da tradição hebraica – uma


videira terá mil ramos e cada ramo mil cachos e cada cacho mil uvas. Não é uma bela
imagem da grandeza do Cristo e da realização de sua obra que é a instauração do
Reino de Deus por meio da direção de milhões de Espíritos evoluídos?

Os símbolos se considerados com sabedoria, deixam de ser estranhos e passam a


nos orientar em direção a uma compreensão mais elevada da vida. A abundância das
bênçãos divinas, que o Cristo é o responsável por direcionar, não está bem
representada na imagem forte da abundância do bom vinho que desce dos montes
(do Alto) para benefício de todos? É uma forma concreta de se falar de algo muito
sutil.

No Novo Testamento, em João, o início da missão pública de Jesus, chamada de o


primeiro sinal foi a transformação da água em vinho abundante e de excelente
qualidade. É o episódio das Bodas de Caná que, após faltar o vinho, assim age o
Mestre:

Havia aí seis talhas de pedra para purificação dos judeus, com


capacidade de setenta a cem litros. Jesus lhes diz:

- Enchei as talhas de água. Eles as encheram até as bordas.

Diz-lhes:

-Agora tirai um pouco e levai ao mestre-sala. E eles


levaram. Quando o mestre-sala provou a água

88
transformada em vinho (sem saber de onde procedia, embora o
soubessem os serventes que haviam retirado água), dirige -se ao
noivo. E lhe diz:

- Todos servem primeiro o vinho melhor, e quando os convidados já


estão embriagados, servem o pior. Tu guardaste até agora o melhor
vinho. Em Caná da Galileia Jesus fez esse primeiro sinal, manifestou
sua glória e os discípulos creram nele.

- João, 2:6-11 Bíblia do Peregrino, grifamos.

Com esse sinal, Jesus indica que ele é o Messias, aquele que traz
abundância das virtudes do Espírito. Há algo, porém mais sutil que necessitará que
além deste estudo, analisemos o livro do Gênesis de Moisés e início do Evangelho de
João para compreendermos. No sexto capítulo retornaremos a esse episódio
revelador.

Nos outros Evangelhos, há uma referência mais direta do Espírito como sendo o
vinho. É quando o Cristo fala na incompatibilidade entre vinhos novos e odres
velhos. O odre é um saco feito de pele de certos animais para transporte de vinho
conforme seu significado dicionarizado. Vejamos em Mateus, capítulo 9, versículo
17:

Nem se põe vinho novo em odres velhos, pois os odres


arrebentariam, o vinho se derramaria e os odres se estragariam.
Vinho novo se coloca em odres novos, e ambos se conservam.

- Mateus, 9:17 em Bíblia do Peregrino, grifamos.

Fica claro que Jesus não está simplesmente falando de estocagem de vinho, mas
da relação entre o espírito novo ou renovado com as estruturas sociais
em que vive. O que alerta Jesus é sobre a impossibilidade de se servir a dois
senhores. Por exemplo, o indivíduo que passa a compreender suas responsabilidades
espirituais em relação a seu corpo e sua mente e se compromete em melhorar-se,
consequentemente, não pode mais se adaptar a um grupo de amizade que vive de
excessos e desequilíbrios, chamando-os de lazer.

Os cristãos, por terem uma maior compreensão espiritual, não podiam mais se
adequar às práticas sacrificiais do Templo de Jerusalém, nem as práticas sacrificiais
romanas e gregas. Por isso, foram perseguidos e maltratados. Os odres velhos são
instituições que se tornaram obsoletas para o Espírito renovado. Instituições onde

89
reinam os modelos carcomidos da “política de corredor”, das intrigas e das fofocas,
nas quais predominam os interesses materiais e a satisfação da vaidade, tornam-se
incapazes de abrigar os indivíduos verdadeiramente renovados.

É o drama atual que enfrentamos. Desta forma parte das instituições do mundo
não estão aptas para acolher a Nova Geração, incluindo aquelas que se denominam
espíritas, mas que estão longes do Cristo.

Indivíduos verdadeiramente renovados, se forem obrigados a se integrarem em


instituições carcomidas, acabam por desfazê-las. Porém, o conselho de Jesus não é o
de desestruturar os odres velhos, é de simplesmente não os usar. É usar os novos.

Todas as instituições, mesmo as mais ricas e poderosas, que ousaram usar o vinho
novo, o Espírito renovador que é o Messias, para propósitos inferiores, destruíram-se
a si mesmos e condenaram-se a tormentos inimagináveis. Esse alerta também está
no Apocalipse, quando João descreve a falsa religião que “se embriaga com o sangue
dos eleitos”, quer dizer, são instituições que usam o testemunho dos verdadeiros
cristãos para angariar riquezas, prestígio social e vivenciar prazeres doentios.
Observe a relação simbólica que faz João entre sangue, vinho e verdadeiros cristãos.

Posteriormente, explicaremos em detalhe algo essencial: existe apenas uma


verdadeira instituição da Terra, pelo menos, para nós espíritas, ela tem um nome
conhecido, é um grandioso Templo, chama-se Jesus de Nazaré. Ele é também a
estrutura da nova sociedade, é odre capaz de manter e preservar com qualidade todos
os Espíritos renovados da Terra. É a instituição que abrigará a Nova Geração que
será desprendida de compromissos tido por elevados pelos que se ligam aos odres
velhos.

O vinho novo que fruirá dos montes renovará a Terra. São Espíritos
descompromissados com as inferioridades do mundo, habitam regiões superiores e
não se interessam pelas torpezas encantadoras de nosso mundo. Eles terão apenas
uma instituição a servir: o verdadeiro Templo; eles terão apenas um senhor: o Leão
de Judá; eles terão apenas um modelo: a videira verdadeira. Por isso, são chamados
de Nova Geração, são vinhos novos.

90
Metodologia
Nesse capítulo, utilizamos metodologia de pesquisa semelhante à dos anteriores. A
consulta atenta a bons dicionários que nos guiaram em nossa leitura do Antigo e do
Novo Testamento.

Naturalmente, com o tempo vamos ganhando familiaridade com os textos


bíblicos, em particular, com os Evangelhos. Isso facilita a pesquisa, mas não é
indispensável. Todos que tenham interesse em aprofundar seus conhecimentos,
podem (e devem) habituar-se a pesquisar, utilizar bons dicionários, e ler
pesquisadores sérios.

Existem estudiosos que dedicaram suas vidas a investigar os textos bíblicos,


devemos aprender a recorrer a eles sempre que possível.

91
Experienciar
Avaliemos quais são os hábitos que precisamos mudar para ampliar nossa
renovação. Talvez, essa pergunta ajude: como se dá minha relação com o Cristo? É
uma relação de medo ou de mero interesse material? Minha relação com o Cristo é
marcada pela convicção de sua presença amorosa em minha vida?

Jesus, para preservar a alegria dos que ele amava, foi capaz de transforma água
em vinho... É um Espírito generosa que nunca despreza as “pequenas questões” de
cada um de nós.

O Espírito Cairbar, em nosso diálogo mediúnico, destaca um ponto importante:


Jesus quer ser e é, de fato, o sócio de um empreendimento muito valioso para ele:
nossa redenção espiritual, nossa felicidade verdadeira. Você é capaz de sentir isso? O
que te propomos hoje é um exercício muito importante: apresenta ao Cristo os
obstáculos morais, emocionais, psicológicos e materiais que você identifica que
impendem a tua felicidade. É um primeiro passo, para que você permita que ele atue
de forma mais direta em tua vida.

92
Diálogo Mediúnico
Paz e alegria a todos vocês!

Estamos felizes, caminhamos e estamos a postos, porque lutamos com alegria


todas as batalhas que o Cristo nos dá a honra de servi-lo, de lutar em seu nome, de
aprender com ele, que é o amor maior.

Colocamo-nos à disposição para diálogo fraterno e amigo, para que o Cristo possa
estar mais presente em nossas vidas.

Questão 1

Boa noite, irmão. Gostaria de fazer uma pergunta. No estudo de hoje, nós
falamos a respeito dos odres. O vinho novo não pode ser colocado nos odres velhos.
Nós estamos em algum estágio em que poderíamos então ajudar a receber esse
novo vinho, essa Nova Geração. Nós temos condições no estágio em que nós
estamos de fazer isso, irmão?

Na interpretação aqui defendida, a qual também concordamos, os odres são as


estruturas externas ao Espírito, sendo o espírito o vinho. Avaliemos, portanto, os
dois aspectos: vós como videiras, que podem e devem se regenerar, bastando
vincular-se cada vez mais à videira verdadeira. Uma vez que o Espírito que se
vincula seriamente ao Cristo, ele obtém forças novas. A vossa história
humana está repleta de testemunhos extraordinários, seria inclusive útil
resgatá-los. Quantos indivíduos que tudo perderam ergueram-se dos abismos mais
infelizes para uma vida de abnegação, porque foram capazes de se vincular ao Cristo.
Não pensem que os grandes reformadores, que os grandes transformadores da vida
humana o fariam se não estivessem verdadeiramente ligados ao Cristo. A renovação
do Espírito requer a condição central do vínculo mais profundo com Jesus de Nazaré.

Um outro aspecto, infelizmente, as instituições do mundo se tornaram


carcomidas, ainda aquelas que poderiam estar em um outro patamar. Não é possível,
minha amiga, permita-nos falar de forma franca e direta, mas sem nenhuma
intenção de ofender a quem quer que seja; não é possível, dizemos, que as
instituições atuais do Espiritismo recebam a Nova Geração. Na verdade, constatamos
que é impossível.

Não precisa imaginar espíritos muito evoluídos que estarão no mundo, basta
apenas pensar nos exemplos que tendes. Que instituição hoje acolheria, com
respeito, ética e amparo necessário, médiuns como Francisco Xavier e Ivone do
Amaral Pereira, que desde a primeira infância psicografavam? Que orientações eles
receberiam e que tipo de exigências absurdas lhes seriam impostas? É triste, mas
93
necessário reconhecer: não há nas estruturas atuais, em que a vaidade predomina e a
estupidez da arrogância invade todos os setores, espaço para acolhimento da Nova
Geração.

Estudamos todas essas realidades, e posso lhe dizer que em percentual assustador,
em nossas análises, transformariam jovens missionários em verdadeiros papagaios e
macacos de auditório, manipulariam suas intenções puras, para objetivos inferiores,
obviamente, travestidos de propaganda espírita e de divulgação da verdade,
esquecendo-se que a verdadeira verdade se propaga a custo de verdadeiros
testemunhos.

É preciso reconhecer, sim que o movimento do Consolador no Brasil representa-


se, infelizmente, como odres velhos que, se ousassem acolher o vinho verdadeiro, se
desfariam porque não suportariam as provas necessárias, os testemunhos abnegados
que se exige de todos aqueles que querem estar próximos dos verdadeiros servos do
Cristo.

Imagine se seria possível espíritos acomodados e cínicos apoiar o trabalho de um


Espírito como Paulo de Tarso. Os conflitos seriam extraordinários e a obra seria
prejudicada. Não vos enganeis, se aparecer algum indivíduo que represente a Nova
Geração no movimento envelhecido, será provavelmente, senão uma exceção muito
grande, um falso profeta.

Muito obrigado.

Haveria ainda alguma questão para o nosso diálogo?

Questão 2

Eu tenho uma dúvida também. Boa noite. Estou tentando trazer esses
ensinamentos dessa nova fase para minha vida pessoal. Na maioria das vezes, eu
sinto que é uma tarefa grande demais. Eu enfrento uma dificuldade grande nesse
sentido, então gostaria de uma ajuda sua, irmão, por favor. Obrigado.

A sugestão é para você e para todos. Só é possível crescimento do indivíduo


neste mundo com o desenvolvimento de uma relação emocional,
emotiva, diríamos de amizade verdadeira ou de busca de amizade com
Jesus de Nazaré. É impossível a criatura inferior do mundo renovar-se a
si mesma de forma independente. Reconhecer as limitações é passo essencial
para que se busque ajuda daquele que de fato pode ajudar. Não tenhais metas no
sentido de comportamentos exatos e precisos e muito aperfeiçoados, porque a vida é

94
por demais complexa para a compreensão de indivíduos nascidos na Terra. Podeis
mais sabiamente buscar uma ajuda que irá lhe curar ao longo dos séculos.

Fareis isso todas as vezes: ao invés de desenvolver uma atitude de autopunição, de


autodesvalorização, listar os vossos defeitos deveis entender honestamente que eles
não são apenas um problema vosso. Entender que, voluntariamente, o Cristo está
disposto a partilhar contigo os teus problemas. Pensemos assim de forma muito
direta: uma vez sendo listados os piores problemas, um diálogo com o
Mestre. “Senhor: tenho esses problemas, mas como Tu me amas, temos
ambos esses problemas. Sozinho(a), não tenho como equacioná-los. A
minha força não é suficiente para realizar transformações tão
profundas como eu gostaria. E diante de minha impotência e diante de
Tua grandeza, eu quero partilhar contigo e quero te pedir para que Tu
me ajudes a superá-los". Parece simples, parece fácil, mas na verdade, para vós,
o desafio é imenso: reconhecer clara e objetivamente diante do Cristo os próprios
defeitos, as próprias limitações, sem a ilusão infantil de que elas serão resolvidas
rapidamente.

As imperfeições, minha amiga, são o fardo que deveis carregar - este é o maior
fardo do ser inferior. Muitos pensam em situações externas, mas nós sabemos: o pior
de todos os fardos é a inferioridade que vos distancia de Deus, que vos distancia da
verdadeira paz, que vos distancia do verdadeiro sentimento de confiança na vida.
Tenhamos a coragem, acima de tudo, de dar esse passo, apresentando ao Cristo os
problemas e aceitando com humildade, como aceitaram os discípulos, que Ele
cuidasse e limpasse os seus próprios pés.

“Senhor, eu sei que talvez eu não mereço. Eu sei que talvez eu tenha cometido
erros para mim imperdoáveis, mas também sei que o Teu amor é maior do que os
meus piores erros. Por isso, eu Te peço, ajuda-me.” Façamos isso continuadamente,
e o Cristo estará conosco e nos auxiliará nesta longa e imensa caminhada, que não
deve ser considerada pelos cristãos como um ato de mágica ou resolução fácil de
problemas que têm uma história milenar.

Questão 3

Como é que eu vou saber se a resposta que eu penso que estou recebendo é
correta ou se estou vendo o caminho certo? Porque muitas vezes é difícil saber se
alcancei mesmo uma sintonia suficiente para perceber a resposta.

Se o vosso desejo sincero é estar com Cristo, estareis certa, porque tomando um
caminho errado, Ele te pegará pela mão e te levará para o certo. Minha amiga, é
preciso aceitar que o Cristo te ama, ainda que você esteja no pior de todos os
caminhos, se deres espaço em teu coração, Ele estará contigo e, na hora certa, te
resgatará. Mais importante do que acertar é aprender a amar, e nós só

95
aprenderemos a amar com aquele que é o maior representante do amor
de Deus para todos nós.

Obrigada.

Questão 4

Boa noite, amado irmão e amigo. Hoje, pela manhã, na minha prece matinal,
estava lendo João e cheguei ao capítulo quatorze, versículo seis: "Eu sou o caminho,
a verdade e a vida." Poderia falar-nos mais sobre a vida?

A vida neste sentido se relaciona com a morte de Adão. É no sentido espiritual que
Adão foi advertido, que, caso comesse do fruto, ele morreria. E, como sabemos na
narrativa simbólica de Moisés, ele não morreu no sentido físico. Portanto, se Adão
morreu, o Cristo vem trazer a vida. Cristo é aquele que dá a vida superior, é aquele
que dá acesso ao que de mais extraordinário existe no universo. Comparemos com
as vossas próprias experiências e com as vossas palavras tão comuns no
dia a dia: muitas vezes dizes "eu não estava vivendo; aquilo não era
vida”, multipliquemos isso por um número imenso e assim podemos
dizer que a vida superior que o Cristo quer nos dar é tão elevada que o
que temos hoje se assemelha ao nada ou à morte. Portanto, trata-se desse
mesmo conjunto simbólico da morte espiritual, moral, inferiorizadora de Adão, que
caracteriza os Espíritos da Terra, com a vida ou a ressurreição, o ressurgimento em
um patamar extraordinariamente superior.

Obrigado.

Questão 5

Boa noite. Eu gostaria de perguntar, como nos vincularmos ao Cristo sem nos
integrarmos às estruturas falidas do nosso mundo?

Tereis que viver no mundo, como disse o Cristo, mas não precisareis ser do
mundo. O ponto central é o Evangelho como referência e, acima de tudo, o
desenvolvimento de um sentimento de amor e compreensão. Muitas vezes, o que
dificulta a vida dos candidatos a discípulos de Jesus é a postura do preconceito. Por
isso, Pedro tendo vivido os erros comuns do mundo, da condenação imediata, do
acovardamento ante o testemunho, se tornou capaz e grandioso, ao poder olhar para
todos os seus irmãos e dizer: São muito parecidos comigo. Apenas hoje eu
não faço isso porque eu tive Jesus de Nazaré. Não é uma postura de
apoio ao que é errado, não é uma postura de incentivo àquilo que viola as
leis de Deus. É uma atitude de compreensão de quem olha o outro e

96
lembra: Há pouco tempo, seja nessa ou em outra encarnação, estava
fazendo algo parecido ou pior. Alguém teve misericórdia de mim e me
resgatou do erro. Posso eu, pelo menos, ser um exemplo de abnegação, de
bondade, de prece e de ternura para que, através do meu exemplo, ainda que não
tenha efeitos imediatos, o Cristo ampare aqueles que estão ao meu lado e que não O
conhecem.

Questão 6

Querido irmão, eu gostaria de saber como não falamos muito sobre a parte do
sentimento. Haveria uma maneira prática da gente baixar a parte intelectual para
que suba a emoção, o sentimento?

O ponto que destacamos é que não se deve jamais se desincentivar ou baixar o que
estais chamando de dimensão intelectual. É necessário que o sentimento o alcance e
o supere e a auxilie a desenvolver-se. De fato, não é necessário que haja um elemento
de confrontação entre o intelecto e os sentimentos. Podemos dizer que eles são como
pernas ou asas, que devem ser proporcionais para que o indivíduo se locomova com
equilíbrio. A busca é continuar sim, o desenvolvimento intelectual sempre, e se o
vosso sentimento não acompanha, que se desenvolva mais o sentimento.

A melhor forma de desenvolvermos o sentimento é treiná-lo, é sentir.


Que imagens te causam compaixão? Que lembranças são capazes de
despertar saudade? O indivíduo muitas vezes utiliza-se mais do intelecto
porque ainda não quer ou não pode suportar os próprios sentimentos. A
grande questão do mundo não é que os sentimentos são falhos, mas é porque eles são
bloqueados pelo Espírito que ainda não se deu conta de que esse ato de fuga e, às
vezes, de covardia terá um preço altíssimo. Pensemos, portanto, que o sentimento
existe e pode e deve se expandir à medida em que o indivíduo o permita.

O sentimento é bloqueado por uma ação de fuga da dor. Portanto,


aceitemos o exemplo de Cristo. É necessário vivenciar, emocionalmente
falando, algumas crucificações, e uma vez vivenciadas, o vosso
sentimento se erguerá e será o guia de vossas vidas.

Mais uma dúvida, por favor. Eu posso continuar com o trabalho, com o anjo
guardião, posso pedir ajuda a ele para essa aproximação com o Cristo, porque
para mim é algo novo, esse movimento de fazer esse trabalho com um anjo. E aí eu
fico pensando como colocar nesse movimento os dois, guardando as devidas
proporções. Obrigado.

A missão mais nobre que um anjo guardião poderá ter no mundo é


exatamente essa: é vos ligar ao Cristo, é vos auxiliar nos vossos impulsos

97
mais elevados e assim facilitar a vossa comunhão com o Mestre da vida
deste mundo.

Agradecemos a atenção, o carinho e, acima de tudo, o empenho de vossos corações


em aproximar-se da verdadeira luz deste mundo.

Meus amigos, a grandeza do Cristo é inabarcável, mesmo por Espíritos que estão
numa situação muito superior à nossa. A grandeza do Cristo não é passível de
descrição por muitos, que são de fato Espíritos muito evoluídos.

Vossa mente encarnada jamais poderá ter a dimensão da grandeza de um Espírito


que criou um planeta com seu psiquismo poderoso. Mas isso não é necessário, é
indispensável apenas que sintais, compreendendo que existe um ser que
há dezenas de milhares de anos acompanha tua trajetória. Existe um ser
que conhece profundidades do teu coração, que se quer, mesmo nas
vossas elaborações mais ousadas, podereis imaginar Sua grandeza. Este
Ser, que não apenas domina os elementos do mundo, mas que dirige
todos os destinos nacionais, te ama, preocupa-se pessoalmente com teu
estado espiritual, trabalha abnegadamente, porque ele deseja que um dia
- como uma vez o mestre nos disse - ver cada rosto de sofrimento do
mundo transmutar-se em um sorriso de eterna felicidade. É a este Ser que
elabora tudo e que não cobra nada, mas que se dedica com afinco a conquistar, junto
contigo, a tua felicidade. O Cristo é o sócio da tua felicidade, que sob nenhuma
condição cogita em abrir mão de ti. A ele não interessam crimes, ódios e revanches
que tenhais porventura cometido, porque ele já nos disse: "Um dia, eu conduzirei
cada uma de minhas ovelhas ao seio do meu Pai para destiná-lo a uma
felicidade imorredoura". Portanto, somos do Cristo e abramos os nossos
corações para que ele nos leve à verdadeira felicidade.

Paz do vosso irmão e amigo,

Cairbar de Souza Schutel.

Mensagem psicofônica recebida em 21.05.2023 em reunião de estudo do Grupo Marcos. Médium


do Grupo Marcos. Revisada pelo autor espiritual e por integrantes do Grupo Marcos.

98
99
100
101
Capítulo 5
O homem purifica o Espírito por
meio do trabalho

102
103
104
Allan
Kardec

“[…] o ponto essencial é que o ensino dos Espíritos é cristão no mais alto
grau, apoia-se na imortalidade, nas penas e recompensas futuras, na justiça de
Deus, no livre arbítrio, na moral do Cristo, consequentemente, não é antirreligioso.

- Comentário de Allan Kardec, questão 222, em O Livro dos Espíritos, traduzimos, grifamos.

105
Em João, temos a expressão do Cristo como a verdadeira videira, mas o que
surpreendente nesse trecho é a ligação profunda com a continuação do parágrafo que
estamos estudando nos Prolegômenos. Mais uma coincidência? Após a definição do
Espírito como o vinho e a uva como o Espírito unido ao corpo, Espírito encarnado, há
uma mudança de tema, de forma aparentemente abrupta, o novo tema é o da
purificação. Observe a mudança:

Colocarás no cabeçalho do livro a videira que te desenhamos,


porque ela é o emblema do trabalho do Criador; e todos os princípios
materiais que podem melhor representar o corpo e o espírito estão aí
reunidos: o corpo é o ramo; o espírito é o vinho; a alma ou o espírito
unido a matéria é a uva. O homem purifica o espírito por meio
do trabalho e tu sabes que apenas por meio do trabalho do corpo é
que o espírito adquire conhecimentos.

- Prolegômenos em Le Livre des Esprits, traduzimos, grifamos.

Essa mudança chama a atenção por ser semelhante a que acontece no Evangelho
de João, no mesmo trecho em que o apóstolo amado relata a afirmação de Jesus de
que ele é a verdadeira videira.

Vamos analisar três traduções e as palavras em grego “koiné”, do texto original,


para termos uma melhor compreensão do trecho. Antes é preciso dizer que, quando
se trata de tradução, podemos ter, entre as boas traduções, diferenças que são
aceitáveis, pois a mesma palavra grega pode ter diferentes traduções adequadas.
Vejamos, primeiro a tradução de Haroldo Dutra Dias:

Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor. Todo ramo


em mim que não produz fruto, {Ele} o tira; e todo aquele que
produz fruto, {Ele} o limpa, para que produza mais fruto.

- João, 15: 1-2 em Novo Testamento, grifamos.

A seguir temos outra tradução, a de Frederico Lourenço, igualmente válida:

106
Eu Sou a vinha verdadeira e o meu Pai é o vinhateiro. Todo o ramo
em mim que não dá fruto Ele tira; e todo [o ramo] que dá fruto
Ele poda, para que dê ainda mais fruto.

- João, 15: 1-2 em Bíblia, grifamos.

No grego original temos esse texto:

ἐγώ εἰμί ὁ ὁ ἀληθινός ἄμπελος, καί ἐγώ ὁ πατήρ εἰμί ὁ γεωργός. πᾶς
κλῆμα ἐν ἐγώ μή φέρω καρπός αἴρω αὐτός, καί πᾶς ὁ φέρω καρπός
καθαίρω αὐτός ἵνα φέρω πολύς καρπός.

- João, 15: 1-2 em Novum Testamentum Graece, grifamos, sublinhamos.

Segue a transliteração do texto grego, quer dizer, a transformação das letras gregas
para nosso alfabeto com base na semelhança fonética:

Egō eimi hē hē alēthinē ampelos, kai mou ho patēr estin ho geōrgos.


pan klēma en emoi mē pheron karpon airei auto, kai pan to pheron
karpon kathairei auto hina pherē pleiona karpon.

- João, 15, 1-2, transliteração, grifamos e sublinhamos.

A palavra que mais nos interessa aqui é “kathairei” que é o verbo “kathairō” que
está conjugado. Esse verbo pode ser traduzido como podar, limpar ou purificar.
Segundo Lourenço, ao comentar essa passagem de João, o adjetivo “Katharós”, se
relaciona com o verbo “kathairō” que significa puro. Explica o tradutor:

[…] o adjetivo katharós (“puro”), no sentido de “podado” (portanto


“limpo”), já é usado em relação à vinha pelo mais famoso aluno de
Sócrates a seguir a Platão: Xenofonte (Econômico 20.20).

- Nota de Lourenço em BÍBLIA.

107
Temos, portanto, uma palavra que significa podar, limpar, purificar que se relaciona
com os adjetivos podado, limpo e purificado. Vejamos com atenção: O homem
purifica o espírito por meio do trabalho. Aqui está a semelhança
extraordinária. João escreve em seu Evangelho que nós somos ramos da verdadeira
videira e quando nós trabalhamos, quer dizer, quando “damos frutos”, o agricultor -
Deus - nos poda, nos limpa, nos purifica. Dito de outra forma, produzir, dar fruto,
trabalhar é pedir ao Pai purificação! Portanto, é por meio do trabalho que o Espírito
se purifica, é por meio da produção que os ramos da videira são purificados ou dito
de outra forma: “O homem purifica o espírito por meio do trabalho…”

Vejamos agora quem são os Espíritos que assinam os Prolegômenos de O Livro


dos Espíritos:

São João Evangelista, Santo Agostinho, São Vicente de Paulo, São


Luís, o Espírito da Verdade, Sócrates, Platão, Fénelon, Franklin,
Swedenborg, dentre outros.

- Prolegômenos em O Livro dos Espíritos, traduzimos.

É razoável acharmos que esses Espíritos não conhecem o Evangelho? Será que
João, o discípulo amado, poderia ter esquecido a obra sublime a que se dedicou ao
lado do Cristo? Para nós, espíritas, o Espírito após desencarnar preserva a
individualidade. Portanto, é ignorar os ensinos mais básicos de Kardec, atribuir a
esse Espírito ignorância em relação a conhecimentos que já possuía quando
encarnado. Na verdade, defende Kardec que, após o desencarne, os Espíritos, em
geral, e os superiores, em particular, expandem seus conhecimentos de formas
inimagináveis na Terra.

Por isso, para nós, espíritas, é inquestionável que eles, hoje ou no século 19,
quando elaboraram a Codificação, eram mais sábios e tinham ainda mais
conhecimentos do que quando encarnados. É inaceitável que queiramos negar a
grandeza desses amigos que voltaram mais uma vez a atuar no mundo como vozes
proféticas superiores para nos amparar.

Encerramos nosso estudo sobre um dos parágrafos do Prolegômenos. No próximo


capítulo, estudaremos outro parágrafo muito educativo, de O Livro dos Espíritos, de
uma mensagem psicografada pelo Espírito Paulo de Tarso. Porém, iremos responder
a uma questão que nos foi recentemente apresentada: Allan Kardec considerava
relevante o estudo do Novo e do Antigo Testamento? Penso que a melhor pessoa
para responder essa questão seja o próprio Codificador.

Leiamos o que ele escreveu na introdução de O Evangelho segundo o Espiritismo,

108
no primeiro item, Objetivo desta obra:

Muitos pontos do Evangelho, da Bíblia e dos autores


sagrados em geral são incompreensíveis e muitos parecem
irracionais porque falta uma chave para que compreendamos o
verdadeiro sentido de seus ensinos. Essa chave completa está no
Espiritismo e os que já estudaram seriamente o Espiritismo disso se
convenceram, mais tarde, todos se convencerão ainda mais.

- Allan Kardec, item objetivo dessa obra, em L’Évangile selon le Spiritisme,


traduzimos, destacamos.

Não sei se você notou, mas Kardec é muito claro: os que estudam seriamente o
Espiritismo já se convenceram que o Espiritismo é a chave que torna compreensível
o Evangelho, a Bíblia e os autores sacros. Pelo menos, para o estudante sério do
Espiritismo. Para ampliar a clareza de nossa resposta, leiamos o parágrafo final da
mesma introdução:

Devido as comunicações estabelecidas, de agora em diante, de uma


maneira permanente, entre os homens e o mundo invisível, a lei
evangélica, ensinada a todas as nações pelos próprios
Espíritos, não será mais letra morta, porque cada um a
compreenderá e será incessantemente estimulado a colocá-la em
prática pelos conselhos de seus guias espirituais. As instruções dos
Espíritos são verdadeiramente as vozes do céu que vêm
esclarecer os homens e convidá-los a prática do Evangelho.

- Allan Kardec, item objetivo dessa obra, em L’Évangile selon le Spiritisme,


traduzimos, destacamos.

Parece que para Kardec, o Espiritismo tem uma ligação inquebrantável com o
Cristianismo, os ensinos dos Espíritos superiores têm por objetivo tornar o
Evangelho guia das ações humanas. Mas, permanece a pergunta, se para Kardec a
Bíblia e os autores sacros são tão importantes, se o Espiritismo fornece a chave
completa para compreensão deles, como o Codificador demonstrou essa verdade?
Esse é a questão essencial para nós, seguidores de Allan Kardec. Desde já antecipo: o
Consolador jamais decepcionará os que amam o Cristo.

O fato é que Allan Kardec dedicou a maior parte da Codificação a temas bíblicos,

109
principalmente, evangélicos. Isso é fácil de entender e de provar.

Lembremos o que Kardec escreveu na introdução de O Evangelho segundo o


Espiritismo:

Podemos dividir o conteúdo do Evangelho em cinco partes: Os


atos comuns da vida do Cristo; Os milagres; As profecias; As
palavras que serviram para a criação dos dogmas da Igreja
e O ensino moral.

- Allan Kardec, item objetivo dessa obra, em L’Évangile selon le Spiritisme,


traduzimos, destacamos.

Esse foi o roteiro de produção intelectual de Kardec, pelo menos, em suas


principais obras. Após a publicação de O Evangelho segundo o Espiritismo, que
estuda o ensino moral do Cristo, Kardec publica a obra O Céu e o Inferno ou a justiça
divina segundo o Espiritismo. O título da obra já indica a temática: céu e inferno são
temas bíblicos, a justiça divina foi o tema, provavelmente, mais abordado pelos
profetas bíblicos. É suficiente a leitura atenta dos títulos dos capítulos para
entendermos quais os temas estão sendo abordados e que são, sem dúvida, temas
bíblicos. São os temas centrais da Primeira e da Segunda Revelação. Obviamente,
meditar com atenção sobre os títulos dados pelo Codificador é estudar seriamente o
Espiritismo.

Meditemos sobre os nomes dos capítulos:

O título do primeiro capítulo: o Porvir e o nada; do segundo: O temor da


morte; do terceiro O céu; do quarto O inferno; do quinto O purgatório; do
sexto A doutrina das penas eternas; do sétimo: As penas futuras segundo o
Espiritismo; do oitavo: Anjos; do nono: Demônios; do décimo: Intervenção
dos demônios nas modernas manifestações; do décimo primeiro: Proibição
de evocar os mortos. Cada título mencionado acima, parece claro, pertence mais
ao campo de estudo bíblico do que de qualquer outra área do conhecimento humano.
Não observo relação direta com a química, com a física ou com a biologia nem com a
filosofia materialista já em moda no século 19.

Na segunda parte de O Céu e o Inferno ou a justiça divina segundo o Espiritismo,


Kardec estuda os temas que abordou teoricamente na primeira parte por intermédio
de entrevistas mediúnicas com Espíritos que estão nas mais diversas situações de
infelicidade e de felicidade no mundo dos Espíritos. Assim o Codificador nos
esclarece sobre uma das cinco partes do Evangelho: as palavras que serviram
de base para o estabelecimento dos dogmas da Igreja.

110
Pintura: Christ driving the traders from the temple de El Greco (1571 – 1576). A técnica maneirista
utilizada na obra simboliza Cristo expulsando a ganancia e o pecado dos templos.

Na obra seguinte, prestemos muita atenção no título: A Gênese, os Milagres e as


Predições segundo o Espiritismo. Essa obra é composta de três partes. É preciso
conhecê-las. A primeira parte chama-se: A Gênese segundo o Espiritismo. A segunda
parte: Os Milagres segundo o Espiritismo. A terceira e última parte: As Predições
segundo o Espiritismo.

Na primeira parte, que ocupa cerca da metade do livro, é dedicada a um estudo


sobre a Gênesis de Moisés. Portanto, Allan Kardec não apenas estudava o livro de
Moisés sobre a criação do mundo, mas, também, elaborou extenso estudo sobre ela,
valorizando-o.

Vejamos alguns dos comentários de Allan Kardec no estudo da Gênesis de Moisés:

111
O Cristo e Moisés são os dois grandes reveladores que
mudaram a face do mundo e essa é a prova de suas missões divina.
Uma obra puramente humana não teria tanto poder.

- Allan Kardec, Capítulo I: item 10, Caractères de la révélation spirite, no livro La


Genèse les Miracles et les Predictions selon le Spiritisme, traduzimos e destacamos.

Em seguida, Kardec reafirma o que já está em O Livro dos Espíritos e em O


Evangelhos Segundo o Espiritismo:

O Espiritismo, parte das palavras do Cristo, da mesma


forma que o Cristo iniciou a partir de Moisés, pois o
Espiritismo é uma consequência direta da doutrina do Cristo.

- Allan Kardec, Capítulo I : item 30, Caractères de la révélation spirite, no livro La


Genèse les Miracles et les Predictions selon le Spiritisme, traduzimos e destacamos.

Leiamos agora uma análise sobre o texto de Moisés:

De todas as Gêneses antigas, aquela que está mais próxima dos


dados das ciências modernas, apesar dos erros que ela contém, e que
são atualmente demonstrados de forma evidente, é
incontestavelmente a de Moisés. Todos seus erros são mais
aparentes do que reais e tem origem na falsa interpretação
de certas palavras cujo significado antigo foi perdido ao ser
traduzida de uma língua para outra ou cujo significado foi alterado
com a mudança dos costumes dos povos ou cuja forma alegórica
característica caracterizada pelo do estilo oriental, e do qual se tomou
o significado literal foi considerada ao pé da letra ao invés de se
considerar o espírito da letra.

- Allan Kardec, Capítulo IV: item 5 Le rôle de la science dans la genèse, no livro La
Genèse les Miracles et les Predictions selon le Spiritisme, traduzimos e destacamos.

Vejamos, agora, a análise que o Codificador faz da Bíblia como um todo:

112
A Bíblia contém fatos que a razão, desenvolvida pela ciência, não
os aceita, e outros que parecem estranhos e repulsivos, porque estão
ligados a costumes que não são os nossos. Mas, apesar disso, seria
injusto não reconhecer que ela possui grandes e belas
coisas. A alegoria ocupa um lugar de destaque e sob esse véu
ela guarda verdades sublimes que se revelam se
procurarmos a essência do pensamento, assim,
consequentemente, o absurdo desaparece.

- Allan Kardec, Capítulo IV: item 6, Le rôle de la science dans la genèse, no livro
La Genèse les Miracles et les Predictions selon le Spiritisme, traduzimos e
destacamos.

Portanto, afirmar que Allan Kardec desvalorizava a Bíblia ou desincentivava seu


estudo é faltar com a verdade. Podemos até discordar do Codificador e da Equipe do
Espírito da Verdade, mas temos a obrigação, que a honestidade nos impõe, ao expor
que o Espiritismo valoriza, e muito, os estudos bíblicos. A maior parte da vida do
Codificador foi dedicada a estudar a Bíblia.

Além de tratar da Gênese, Kardec estuda os feitos de Jesus classificados como


milagrosos. É o estudo de mais uma das cinco partes do Evangelho: Os Milagres;
ou Os Milagres segundo o Espiritismo. Esse estudo é possível, graças ao
conhecimento aprofundado de magnetismo que o Codificador possuía.

Na terceira e última parte, temos o estudo das Predições segundo o Espiritismo,


mais uma das cinco partes do Evangelho: As Predições. Predição, segundo o
dicionário, é o mesmo que profecia. Isso é genial, pois Kardec encerra sua obra com
uma estrutura semelhante à da Bíblia. Vejamos.

No começo de O Livro dos Espíritos, Allan Kardec trata de Deus e da Criação;


como no Gênesis de Moisés e como no início do Evangelho de João. Em sua última
obra, o Codificador conclui tratando das profecias sobre o futuro da Humanidade à
semelhança de João, o Evangelista. A Codificação Espírita é concluída com a
profecia – ou predição - da Nova Geração; A Bíblia, pelo livro do apóstolo João, o
livro Apocalipse, que se encerra falando da Nova Jerusalém. Coincidência? Não.
Allan Kardec e os Espíritos da Codificação sabiam exatamente o que faziam. O
Consolador não veio ao mundo em obra leviana, mas de forma consistente e usando
uma linguagem viril para confundir os orgulhosos e esclarecer os pequenos.

113
Metodologia
Nossa forma de pesquisar, nesse capítulo, foi um pouco diferente da anterior.
Fizemos uma exposição que considerou o paralelismo entre o trecho estudado dos
Prolegômenos e do Evangelho de João. Dividimos os trechos em duas parte.

Na primeira parte, definiu-se o que é a videira. Na segunda parte, relaciona-se que


é por intermédio do trabalho, do produzir bons frutos, que o Espírito se eleva, se
purifica.

Vejamos a primeira parte: a definição do que é a videira.

1) Colocarás no cabeçalho do livro a videira que te desenhamos, porque ela


é o emblema do trabalho do Criador; e todos os princípios materiais que
podem melhor representar o corpo e o espírito estão aí reunidos: o corpo é o ramo;
o espírito é o vinho; a alma ou o espírito unido a matéria é a uva.

1) Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor.

Como foi explicado: simbolicamente Jesus é aquele que representa, na Terra, na


forma mais elevada, o trabalho do Criador e nós somos, também, imagens de Deus,
mas não tão desenvolvidas.

Vejamos a segunda parte: o caminho da evolução:

2) O homem purifica o espírito por meio do trabalho e tu sabes que


apenas por meio do trabalho do corpo é que o espírito adquire conhecimentos.

2) Todo ramo em mim que não produz fruto, [Deus] o tira; e todo aquele que
produz fruto, [Deus] o purifica para que produza mais fruto.

Fica a pergunta: como encontramos essa equivalência? Nesse caso, esse


conhecimento não está, até onde saibamos, registrado em um dicionário. Essa
descoberta se deve ao fato de termos adquirido o hábito de ler, reler, manusear o
Novo Testamento. Ter intimidade com o Evangelho é essencial para se entender
melhor e realizar descobertas, ter intuições etc. Quem desejar entender melhor os
Evangelhos, além de estudar, é preciso tornar-se, em alguma medida, íntimo destes
maravilhosos textos. Como fazer isso? Pode-se ler um pequeno trecho e meditar
sobre ele ao longo do dia; assistir filmes sobre a época de Jesus ajuda muito; ouvir as
diversas leituras – áudio livros - disponíveis; conversar sobre a vida e a época de
Jesus. Ouvir palestras de estudiosos do tema. Tudo isso nos ajuda muito além da

114
mera informação, se assim desejarmos, esses recursos nos transportam para a época
do Cristo e nos aproxima dele.

115
Experienciar
Escolha uma cena do filme Jesus de Nazaré. Sugerimos o filme dirigido por
Franco Zeffirelli, mas pode ser outro de sua preferência. Assista-o, pelo menos três
vezes, observando os detalhes da cena. Em seguida, feche os olhos. Faça uma prece a
seu anjo guardião e imagine que você está presente na cena escolhida.

Aproxime-se do Cristo e interaja com ele. Permita-se sentir o Mestre, o amor que
ele tem por você.

116
Diálogo Mediúnico
Paz e alegria em vossos corações!

Que o Cristo, nosso amigo sincero, as vezes esquecido e abandonado, possa se


fazer presente, porque ainda que tanto erremos o Seu amor é inabalável por cada um
de nós.

Iniciemos.

Questão 1

Boa noite, querido irmão. Voltando para Moisés, ele não entrou na Terra da
Promissão, pelo fato dele ter ferido a pedra, saído água. Aquilo foi um ato de
vaidade dele e gerado punição. Foi por isso?

Certamente, o fato de Moisés não ter entrado na Terra da Promissão enquadra-se


em outro aspecto de um equívoco ligado à Lei de causa e efeito. Mas entendamos,
como queria Allan Kardec, não no sentido de um Deus que se vinga, mas no sentido
de um Deus que também ensina a renúncia.

O que chamais de punição deve ser sempre visto com um olhar educativo, e todos
os Espíritos sempre têm algo mais para aprender, quando medido do ponto de vista
do Criador do Universo. Também podemos entender que aquela experiência foi,
acima de tudo, uma experiência de abnegação. É a luta de uma vida de imenso
sacrifício e na hora de se apossar literalmente da conquista, você não o
faz. Entendamos que, neste mundo, o caminho da ascensão passa
necessariamente pelas grandes renúncias. Moisés, em alguma medida, nos
ensina também o mistério da crucificação. É a conquista imensa por uma renúncia,
do nosso ponto de vista, incalculável.

Moisés caminha simbolicamente até as portas do Paraíso e entrega o seu corpo,


conquista às custas da sua vida. Jesus caminha e cria a ponte entre nós e o Reino de
Deus. Nesse sentido, podeis também entender como um modelo de
missão necessária nos mundos inferiores. Mas é importante destacar nesse
estudo de reflexão contemplativa que estamos fazendo: Jesus não tinha mais nada a
reparar, enquanto Moisés, embora muito grande, ainda tinha. A renúncia é a chave
que abre a felicidade para aqueles que se ama, e em ambos os casos, os testemunhos
foram sublimes.

Obrigado, irmão.

117
Questão 2

Boa noite, irmão, no estudo de hoje, foi explicado que Kardec teria muitas outras
coisas a serem elucidadas, mas pelo tempo curto que tinha, prevaleceu o mais
importante. Gostaria de saber se haverá complementação dessas obras, através de
um outro Espírito. Será isso que irá acontecer ou já temos tudo o que precisamos, e
não há necessidade de mais nada?

Não seria essa uma comparação sublime com o digno codificador e o


legislador hebreu que não conseguiu realizar tudo que gostaria, mas que
sacrifica a vida para legar a humanidade, sofrida e atordoada, um mundo
melhor? A Doutrina continuará. O Codificador retomará a sua missão, porque o
mundo jamais será desamparado. O Cristo nos assegurou que o Consolador seria
estabelecido para sempre entre os homens e esta obra não foi concluída, e o bom
trabalhador não para jamais o serviço até que a obra esteja concluída.

Obrigado irmão. Muito obrigada!

Questão 3

Boa noite, eu gostaria de perguntar se existe um padrão de repetição dos eventos


do Antigo Testamento, do Novo Testamento e também de agora?

Conforme exemplificamos, a resposta é afirmativa. A vida se


transforma, os padrões se sutilizam, mas persistem. Não há nenhuma
transformação com imediatismo pleno ao longo de poucos milênios. As
histórias são revividas em níveis diferenciados, tanto as individuais quanto as
coletivas. Por isso, a compreensão histórica de Allan Kardec se diferencia da
compreensão humana. A Segunda Revelação é o desenvolvimento, é a
repetição em outro nível da Primeira. A Terceira Revelação é a repetição
em outro nível da Segunda. Quando falamos nível, falamos de diferentes etapas
da história e do desenvolvimento psíquico da humanidade.

Isso prosseguirá, com as suas características sendo elaboradas e desenvolvidas


passo a passo, pouco a pouco, talvez continuemos ainda por muito tempo, é o que
pensamos nessa cadência de três notas. Tópicos que são desenvolvidos e retomados,
como diria, simbolicamente, nosso Mestre tão amado: os primeiros serão os últimos
e os últimos os primeiros. Aí está uma indicação de uma repetição em níveis
diferentes, de uma integração maravilhosa, do nosso plano de redenção, que é o
verdadeiro culto a Deus, que o Cristo nos ensina.

Agradecemos a atenção, o carinho, a abertura de vossos corações para conosco,


mas também para os vossos anjos guardiões. Ainda não podeis compreender o
impacto espiritual que se dará se continuardes a evocar amorosamente com a

118
confiança inabalável nos vossos guias. Eles são os Espíritos incumbidos de fazer cada
um de vocês se aproximar do Cristo. Eles apenas não estudam a Codificação,
eles apenas não estudam o Novo Testamento, eles estudam detidamente
o vosso psiquismo para que consigam em experiência comuns de vosso
dia a dia ir ampliando a vossa compreensão da grandeza do Mestre, mas
não caminhemos pelo caminho do falso misticismo. Preparemo-nos para
os testemunhos gloriosos; acordemos espiritualmente para viver o nosso
testemunho da cruz.

É necessário que vos prepareis de forma integrada com os vossos anjos guardiões,
porque a vida não vos punirá, a vida vos concederá oportunidade para alcançar a
grandeza espiritual. Não podemos mais, como crianças chorosas, como covardes
lastimosos, fugirmos da dor, negarmos as nossas necessidades e fraquezas em nome
de uma falsa superioridade. Precisamos desse contato profundo com esses amigos
verdadeiramente cristãos, para que quando chegar o momento sagrado de nossos
testemunhos, às vezes invisíveis ao mundo, termos um coração sofrido, mas aberto
ao Mestre.

No momento em que pensardes que não tendes saída, uma mão muito
poderosa vos aparecerá e dirá em vossa alma palavras inesquecíveis:
Vinde a mim, vós que sofreis, porque Eu tenho o bálsamo que cura todas
as feridas, vinde, Eu vos aliviarei, porque Eu quero que estejais ao meu
lado no Reino de meu Pai.

Irmãos, irmãs, estamos preparando o mundo para os futuros testemunhos. Mas,


acima de tudo, preparemo-nos nós para as grandes bodas, porque o Cordeiro olha o
mundo e convida a todos nós a viver o sacrifício que nos garantirá a participação no
grande casamento das esferas superiores com a Terra, transformando-a para sempre.

Paz de vosso irmão e amigo,

Cairbar de Sousa Schutel.

Mensagem psicofônica recebida em 28.05.2023 em reunião de estudo do Grupo Marcos. Médium


do Grupo Marcos. Revisada pelo autor espiritual e por integrantes do Grupo Marcos.

119
120
121
122
Capítulo 6
O arquétipo humano

123
124
125
Allan
Kardec

Eles têm olhos e não veem; ouvidos e não ouvem.

Jesus.

- Citado por Allan Kardec em O Livro dos Espíritos.

126
Estudamos apenas um parágrafo dos Prolegômenos de O Livro dos Espíritos.
Certamente, há muito mais conteúdo, mas é necessário, dado nosso objetivo, de um
estudo introdutório para eleger e destacar alguns pontos dessa obra magistral, a qual
merece um maior aprofundamento.

Analisemos agora outro parágrafo, desta vez um trecho da mensagem do Espírito


Paulo de Tarso, o mesmo que encontrou com o Cristo no deserto e tornou-se o
Apóstolo dos gentios. É curioso pensar que nós — você e eu— estamos nos
beneficiando de um acontecimento extraordinário que se deu há cerca de dois mil
anos: a conversão de um eminente fariseu e perseguidor dos cristãos em um dos
maiores seguidores do Cristo.

Paulo foi um dos maiores intelectuais da história. Hoje, é o autor mais comentado
de toda Antiguidade. Certamente, como Espírito, ele sabe ainda mais do que sabia na
Terra, enquanto encarnado. As longas noites de solidão e os testemunhos luminosos
desse Espírito estão impressos em sua mensagem em forma de elevada sabedoria,
por isso, estamos diante de um texto escrito por um verdadeiro sábio e que foi lido,
relido e aprovado por Allan Kardec e pela equipe do Espírito da Verdade. Publicado
pela primeira vez em 1860, continuou a ser publicado em cada nova edição de O
Livro dos Espíritos realizada ao longo da vida do Codificador, e continua até os dias
de hoje como uma das mais importantes mensagens da história do Espiritismo. É
preciso estar com o pensamento elevado, em contato com o Alto, para melhor
entender o Apóstolo.

Assim ele inicia:

Gravitar em direção da unidade divina é o objetivo da


Humanidade;

para alcançar a unidade divina, três coisas são necessárias:

a justiça, o amor e a ciência;

e três coisas são opostas e contrárias:

ignorância, ódio e injustiça.

- Paulo, o apóstolo em Le Livre des Esprits, Questão 1009, traduzimos.

É preciso analisar com seriedade, profundidade e recolhimento as palavras do


Apóstolo. Primeiro, o objetivo é gravitar para a unidade divina, isto é, aceitar
a atração que o Criador exerce em toda a Criação, inclusive, em cada um de nós. Por

127
livre-arbítrio, podemos seguir em direção ao Pai por uma trajetória, um caminho,
adequado ou resistir e assim nos desviarmos em tortuosos caminhos.

O caminho que leva à Deus é delimitado por três balizas: justiça, amor e
ciência. A ignorância é contrária e oposta à ciência. Quer dizer, Paulo fala de ciência
como saber e sabedoria, e não a restringe à atividade laboratorial, técnica.

Pintura: Ciência e Caridade de Pablo Picasso (1897). O artista desenvolveu essa obra realista
quando tinha apenas 16 anos. Observa-se o tratamento espiritual e médico científico de maneira
simultânea.

O ódio contrapõe-se ao amor, porque é impossível a criatura não sentir um ou


outro; aqueles que não caminham em direção ao amor, dele se afastam e alimentam
o ódio. Não ir em direção a Deus é direcionar-se para o odiar. Por isso, todas as
doutrinas, ainda que proponham o bem, mas negam a Deus, levam ao ódio como a
história comprova.

A injustiça opõe-se à justiça. Mais uma vez, não devemos limitar os conceitos do
Apóstolo: aqui Paulo não fala exclusivamente de tribunais e judiciário; fala das ações

128
de cada dia, de nos tratarmos de forma adequada, equilibrada, respeitando as obras e
as aquisições de cada um, de sermos justos uns para com os outros. A justiça não se
restringe a um conjunto de procedimentos técnicos nem é uma coleção de trejeitos
sociais do politicamente correto; é uma compreensão da essência do ser: igualdade
essencial perante Deus; inalienável filiação divina; imortalidade; responsabilidade
perante o Pai de tudo que fazemos.

No meio da mensagem, Paulo retoma o tema do objetivo da Humanidade, agora


de forma mais ampla, falando do objetivo da criação, e relaciona o pecado, o erro, a
um falso movimento da alma, a não se direcionar à Deus.

Quem é, de fato, o verdadeiro culpado?

É aquele que por um desvio,

por um falso movimento da alma,

se afasta do objetivo da criação que é

o culto harmonioso do belo e do bem,

idealizado pelo arquétipo humano,

pelo Homem-Deus, por Jesus Cristo.

- Paulo, o apóstolo em Le Livre des Esprits, Questão 1009, traduzimos.

Reafirma o Apóstolo: a criação divina tem um objetivo, ou melhor, nós estamos


inseridos na criação Divina e o Criador tem um objetivo específico para cada um de
nós: gravitar em sua direção por intermédio do culto harmonioso do belo e do bem.
Ao participar desse culto aprenderemos três coisas: justiça, amor e ciência. Assim,
cultuando o belo e o bem atingimos o objetivo de Criação, e quando não o fazemos,
realizamos um falso movimento da alma e seguimos uma falsa direção. Isso é o
pecado: não cultuar a justiça, o amor e a ciência.

Essa revelação se relaciona com a Lei de Adoração, vejamos o que é adorar,


segundo a questão 649:

É a elevação do pensamento a Deus.

Pela adoração o homem aproxima-se de

129
[move-se em direção a] Deus.

- Le Livre des Esprits, questão 649, traduzimos.

Ainda nesse tópico, os Espíritos acrescentam nas questões 653 e 653a, que
adoração verdadeira é a do coração, mas que a adoração externa pode ser útil, se for
sincera. Na questão seguinte, Kardec indaga, qual o tipo de adoração que Deus
prefere, é uma pergunta ousada. Vejamos a resposta:

Deus prefere os que O adoram do fundo do coração,

com sinceridade, fazendo o bem e evitando o mal…

- Le Livre des Esprits, questão 654, traduzimos.

O que é um culto? Culto é um conjunto de práticas e posturas emocionais


direcionadas a Deus. O culto é uma prática de adoração, que é o cumprimento da Lei
de Adoração. A adoração espírita ou o culto espírita se faz, como sabemos, pela
elevação sincera e emocionalmente rica do pensamento, fazendo o bem e evitando o
mal. O culto a que se refere Paulo é o culto espírita ou culto cristão, conforme
definimos. Não é uma cerimônia específica, da mesma forma que a justiça não se
resume ao tribunal e a ciência ao laboratório. Todos são valiosos, desde que os
espaços sejam de devoção sincera; mas o Apóstolo fala de algo muito maior. Paulo
fala de um culto em termos de Criação divina, não se restringe a um culto da
Antiguidade ou atual, cultos de sociedade inferior. O culto que ele se refere vincula-se
aos objetivos da Criação divina. Há, portanto, na visão de Paulo e de Kardec, um
culto harmonioso do belo e do bem que nos direciona à Deus. A pergunta que segue
é: quem é o responsável por esse culto? É o próprio Apóstolo quem responde:

… objetivo da criação que é o culto harmonioso do belo e do bem,


idealizado pelo arquétipo humano, pelo Homem-Deus, por
Jesus Cristo.

- Paulo, o apóstolo em Le Livre des Esprits, Questão 1009, traduzimos, grifamos.

Para melhor entendermos o que o Apóstolo dos gentios está nos ensinando, é
preciso considerar que ele é um dos personagens centrais da Segunda Revelação. Por
isso, é preciso estudarmos o que ele escreveu, quando encarnado, para sermos

130
capazes de relacionar seus ensinos anteriores com os apresentados para a Terceira
Revelação.

Agora, você entende por que foi tão importante Kardec estudar, desde
a adolescência, a Bíblia? Se o Codificador não conhecesse profundamente a
Primeira e a Segunda Revelação, ele nunca poderia entender, em profundidade, o
que os Espíritos diziam.

Paulo de Tarso escreveu aos Colossenses, explicando quem é o Cristo:

Filho [o Cristo] é a imagem do Deus invisível

e é supremo sobre toda a criação.

Pois, por meio dele, todas as coisas foram criadas,

tanto nos céus como na terra,

todas as coisas que podemos ver

e as que não podemos,

como os tronos, reinos, governantes

e as autoridades do mundo invisível.

Tudo foi criado por meio dele e para ele.

Ele existia antes de todas as coisas

e mantém tudo em harmonia.

- Novo Testamento - NVT, Colossenses, 1,15:17, grifamos.

Isso é surpreendente. Esse Espírito, após ter uma vida elevadíssima no tempo de
Jesus e aperfeiçoar-se por cerca de mil e oitocentos anos, volta ao mundo por
intermédio de mediunidade para nos afirmar: o Cristo é o idealizador, é o
Espírito que pensa, organiza, planeja e executa o Culto harmonioso que
nos possibilita alcançar a unidade com o Pai.

Naturalmente, nós, os discípulos da Terceira Revelação, entendemos alguns


aspectos de forma mais apropriada; tanto quanto no Antigo Testamento, quanto no
Novo Testamento expressam a ideia de criação da Antiguidade, quer dizer, não havia
nem para gregos nem para os judeus a compreensão de um universo composto por
bilhões de sois e galáxias como temos na atualidade. Portanto, ao falar criação, os
131
sábios Antigos falam frequentemente de nosso planeta e do que o afeta diretamente,
como o sol e a lua. Quando nos referirmos à atuação do Mestre, portanto, estamos
falando de suas realizações na Terra, em nosso mundo. Essa é a missão do
Consolador, esclarecer e ampliar a Primeira e a Segunda Revelação. Com Kardec
podemos entender: o Cristo é o idealizador do culto harmonioso que se dá em nosso
mundo tanto na dimensão visível como invisível, é o guia de encarnados e
desencarnados, é o Espírito que deve conduzir na estrada da justiça, do amor e da
ciência que leva à Deus.

Como é característica dos modelos literários judaicos, utilizados inclusive pelo


Cristo, é comum repetir um ensino para em seguida ampliá-lo. O Apóstolo faz isso
em dois níveis. Primeiro, na própria mensagem: inicialmente diz — Gravitar na
direção da unidade Divina é o objetivo da Humanidade; em seguida, no mesmo
texto, declara: o objetivo da criação que é o culto harmonioso do belo e do bem.
Quer dizer, repete o tema e o especifica.

O segundo nível é bem mais profundo. O Apóstolo, quando encarnado, afirma que
o Cristo tudo fez: por meio dele, todas as coisas foram criadas, tanto nos céus como
na terra, todas as coisas que podemos ver e as que não podemos [...] Tudo foi criado
por meio dele e para ele. E que o Cristo tudo mantém em harmonia: Ele existia
antes de todas as coisas e mantém tudo em harmonia.

Enfatizamos que este “tudo” se refere à Terra e seu entorno. Esse é o ensino aos
Colossenses, é a Segunda Revelação.

Na Terceira Revelação, cerca de mil e oitocentos anos depois, o Apóstolo reafirma


o que disse: Jesus é o arquétipo humano, idealizador do culto harmonioso do
belo e do bem que conduz a criação à Deus. Assim, Paulo reafirma o que disse na
Segunda Revelação, mas, o que ele acrescenta? Vejamos.

Ao chamar Jesus de arquétipo humano, Paulo revela muito, pois arquétipo,


segundo os dicionários da época de Kardec, significa: modelo e, também,
estrutura divina. O Apóstolo é muito claro, na carta aos Colossenses, que tudo se
fez por intermédio do Cristo e que ele estava com Deus no início do mundo, bem
como, tudo é mantido em harmonia por meio do Cristo. Com o conceito de
arquétipo, podemos aprofundar essa compreensão: o arquétipo humano é um
modelo, não apenas no sentido de molde, de algo que dá forma, mas uma estrutura
que modela, que faz desenvolver ao longo do tempo.

O arquétipo humano, Jesus Cristo, não é um molde material, é uma


estrutura que gera o desenvolvimento. É estrutura invisível que faz a semente
brotar, crescer, tornar-se broto frágil e, em seguida, árvore firme que dá flores e
frutos. É como uma videira que alimenta os ramos para que eles cresçam e
produzam. Naturalmente, apenas pode compreender essa atuação do Cristo quem
conhece como se dá as interações magnéticas, ciência que Kardec estudou desde os
dezenove anos (Revista Espírita, junho, 1858).
132
Foi necessária uma formação intelectual muito específica para que o Codificador
pudesse estruturar a Terceira Revelação: estudar desde cedo, por décadas,
magnetismo e a Bíblia. Isso pode ser um alerta aos estudiosos atuais que pensam
poder entender o Espiritismo apenas utilizando-se saberes muito especializados e
sem conhecer magnetismo, sonambulismo, Primeira Revelação, Segunda Revelação,
mediunidade e reencarnação. Além disso, ensina Kardec, é preciso uma relação
próxima com o anjo guardião. Sem isso, navega-se no escuro e, às vezes, indo para a
escuridão.

Por causa de uma formação intelectual adequada, Kardec entendeu e publicou


uma psicografia tão simbólica e reveladora. Graças a Kardec, podemos entender dois
episódios que nos ajudarão a melhor elucidar a grandeza do arquétipo humano,
Jesus Cristo: as Bodas de Caná e um trecho da mensagem do Espírito da Verdade.

Para entendermos a extensão do significado simbólico e espiritual da


transformação da água em vinho, em Caná, precisaremos relembrar alguns ensinos
do magnetizador e estudioso da Bíblia, Allan Kardec. No livro A Gênese, Os Milagres
e as Predições segundo o Espiritismo, ele afirma sobre a simbologia da água:

De acordo com uma crença antiga, a água era compreendida como


um princípio gerador primitivo, por isso, Moisés não fala da
criação das águas, parecendo que elas já existiam.

- Allan Kardec, em A visão de Deus, no capítulo XII, item 9, do livro La Genèse, les
Miracles et les Prédictions selon le Spiritisme, traduzimos, destacamos .

Nesse momento, já temos o significado dos dois símbolos que utilizaremos: a água
é o símbolo do elemento gerador (Ver questão 27, O Livro dos Espíritos); o vinho é o
símbolo, já sabemos, do Espírito. O que fez o Mestre em Caná da Galileia?
Transformou água em vinho. O que isso, em sentido profundo, significa? O que
significa transformar a água, o elemento gerador, em vinho, o símbolo do Espírito?
Se você entendeu, você está espantado e maravilhado. Sim, nosso Mestre, é também
criador. Ele participa da criação dos Espíritos.

Antes de avançar nesse ponto, vamos verificar como essa revelação está registrada
na Primeira Revelação, dado que já conhecemos a carta de Paulo aos Colossenses —
Tudo foi criado por meio dEle e para Ele — e o início do Evangelho de João — Por
meio dEle Deus criou todas as coisas, e sem Ele nada foi criado — que tão bem
representa a Segunda Revelação.

Na Gênesis de Moisés, portanto, Primeira Revelação, há um comando de Deus a


um Espírito que conduzirá a criação dos Espíritos:

133
Deus disse:

Façamos [nós, plural] o homem à nossa imagem e semelhança […]

- Bíblia do Peregrino, Gênese, 1:26.

Agora, é fácil entender: Cristo, em conjunto com Deus, cria os Espíritos, pelo
menos, no âmbito da criação de nosso mundo; por isso, Paulo diz: ele é o molde, o
modelo, a estrutura, o arquétipo humano ou arquétipo do homem. O Cristo cria
Espíritos em comunhão com Deus. Essa é a escala para entendermos a grandeza de
nosso Mestre. Segundo a ciência, a Terra tem cerca de 4,5 bilhões de anos, estima-se
que leva em torno de 1 bilhão de anos o desenvolvimento dos seres mais simples ao
ser humano. Jesus Cristo é o condutor desse processo, em nosso mundo, tanto na
dimensão material quanto no mundo espiritual.

Há outro nível da mensagem de Paulo igualmente valiosa. Nesse momento,


poderemos evidenciar a relação entre o arquétipo humano, o ser o responsável pelo
culto harmonioso do belo e do bem, e cada um de nós. Quatro anos após a publicação
da mensagem do apóstolo Paulo, Kardec nos oferta uma informação que confirma a
atuação pessoal do Mestre em nossas vidas, em mensagem do Espírito da Verdade:

[…] Vossas almas não estão esquecidas. Eu, o divino jardineiro,


as cultivo no silêncio de vossos pensamentos; quando chegar a
hora do repouso, quando o fio da vida escapar de vossas mãos e
vossos olhos se fecharem para a luz, sentireis nascer e dar frutos
em vós a minha preciosa semente. Nada se perde no reino de
nosso Pai.

– Espírito da Verdade em Advento do Espírito da Verdade, Capítulo VI, item 6, em


L'Evangile Selon Le Spiritisme, traduzimos, grifamos.

Aqui está a dimensão estruturadora do arquétipo que supera a função do molde. O


Cristo, também, por intermédio do fluido universal, atua diretamente em cada um de
nós. Existe uma interação, facilmente compreensível para quem conhece
magnetismo, entre o idealizador do Culto harmonioso do belo e do bem e você. Esse
culto que é pensamento, agir favoravelmente ao bem e evitar o mal tem um condutor:
Jesus Cristo. Algo mais, ele afirma que: tenho em você minha preciosa semente.

134
A atuação do Cristo não é apenas externa, não se dá exclusivamente enviando
profetas, líderes e gênios ao mundo; não se restringe ao envio de artistas e cientistas
nem ao controle migratório e reencarnatório de bilhões de Espíritos. Talvez, a mais
emocionante atenção que o Mestre nos dá é essa: há algo dele em nosso ser, há uma
presença do Messias em nós; ele nos acompanha silenciosamente, nos observando e
nos amando, para um dia nos conduzir ao Reino de nosso Pai. É o que ensina Allan
Kardec sobre Jesus Cristo.

135
Metodologia
O tema que abordamos exigiu extensa pesquisa. Primeiro, foi necessário
entender o que o apóstolo Paulo poderia entender por arquétipo, termos hoje muito
utilizado em algumas áreas do saber. Aqui temos um excelente exemplo de como
precisamos estar atentos em relação a diferentes períodos históricos. Na atualidade,
o termo arquétipo é muito usado pelos estudiosos de Carl G. Jung, porém, quando
Paulo o emprega, Jung sequer tinha nascido. O Apóstolo o utiliza por volta de 1857, o
psicanalista suíço nasce em 1875. Portanto, precisamos buscar o sentido do termo em
fontes da época de Paulo ou anteriores.
Como fizemos? Pesquisamos em dois dicionários da época de Kardec. O
Dicionário da Academia Francesa de Letras e o Dicionário Littré. Ambos
considerados, na época e atualmente, dicionários confiáveis. Assim descobrimos os
possíveis significados do termo arquétipo. Após descobrir os significados do termo,
cabe-nos estudar a mensagem para entender quais significados mais se adéquam ao
sentido geral do texto.
Outras pesquisas que realizamos é buscar nos escritos de Paulo, na Segunda
Revelação, as referências que ele faz em relação a atuação do Mestre no tema
estudado. Essa pesquisa pode ser feita por meio de busca de palavras, consulta a
obras especializadas sobre o pensamento da Paulo e, acima de tudo, pelo
conhecimento íntimo do Novo Testamento.

136
Experienciar
Paulo nos fala da necessidade de vivenciarmos a justiça, o amor e a ciência...
Peço que você responda essas questões, escreva-as apenas para você.
1. Narra um episódio no qual você foi injusto com você. Lembre-se
excesso de rigor é também injustiça.
2. Narre um episódio no qual você foi injusto com outra pessoa.
3. Reescreve os dois episódios descrito de tal forma que você agirá de forma justa e
amorosa, quer dizer, com verdadeira sabedoria.

137
Diálogo Mediúnico
Paz e alegria em vossos corações!

Colocamo-nos a disposição para um diálogo que há de ser frutífero para todos


aqueles que amam o nosso Mestre tão amado.

Questão 1

Boa noite, querido irmão. Quando nós estudamos a questão de Paulo de


gravitar: é o objetivo da humanidade para Deus, nós poderíamos ligar essa
palavra, gravitar, a atração para Deus, ao desenvolvimento da fé verdadeira, uma
vez que a fé é um sentimento inato em todos nós? Então, quando ele fala em
gravitar para Deus, está ligado ao desenvolvimento de uma fé, até atingirmos essa
fé divina?

Certamente. Imaginemos esta força de atração que se desenvolve em dois polos


conscientes. O Pai que atrai o filho, como o Pai da Parábola dos dois irmãos. Atrai e o
aguarda com amor, ainda que respeitando o filho. À medida que o filho decide voltar
caminhando, gravitando em direção ao Pai, movendo-se em direção ao Pai, esse
sentimento se amplia. E além do polo atrativo que é a Divindade, o coração do filho
de Deus, amplia-se multiplicando esta velocidade, este ritmo de atração.

Entendamos, portanto, que a Divindade em toda sua grandeza inexprimível optou


e opta por sempre respeitar o polo frágil do sentimento da criatura. A fé é essa força
que irá acelerar a correção de rota e a aproximação com a unidade Divina.
Cultivemos, portanto, a imagem do filho pródigo que depois de todos os
erros decide levantar-se e caminhar em direção ao Pai. Para que
ninguém enfraqueça a sua disposição por conta dos próprios erros,
ainda que tenhamos errado muito, Deus sempre nos dá a condição de
nos levantarmos e caminharmos até Ele. Desde que esta intenção seja sincera,
apesar de quaisquer erros, Ele nos apoiará e o que é mais importante – nos receberá
de braços abertos.

Quando o Cristo anuncia essa parábola, ele descortina para a criatura humana um
panorama cósmico. Todos os seres do Universo, independentemente de seus erros,
serão recebidos pelos braços abertos de um Pai que não irá colocá-los em posição de
segunda categoria, mas irá vesti-los com as mais belas vestes, o que significa que o
Espírito arrependido que busca a Deus alcançará os mais altos postos da evolução do
Universo, porque para Deus aquele que erra e aquele que não erra é amado
igualmente.

Muito obrigada.
138
Questão 2

Boa noite, amigo, Cairbar, muito obrigada pela sua presença hoje. A minha
pergunta é sobre a afirmativa de que o Cristo fala que colocou uma semente sua em
nós, e que em algum momento essa semente será despertada e dará frutos. A minha
dúvida é: se este momento é o Cristo que vai fazer acontecer ou se somos nós que
devemos fazer algum esforço para que essa semente seja despertada e dê frutos. De
que forma isso poderá acontecer? Muito obrigada.

Quando uma criança aprende a andar, de quem é o esforço? É do pai ou da mãe


zelosa que a segura, ou da criança frágil que se esforça por mover suas pernas frágeis
sem a coordenação motora ainda necessária. É sempre uma ação conjunta, por isso
afirmou Paulo: Eu não vivo, o Cristo vive em mim. Mas ainda o apóstolo continuava
existindo.

À medida que conseguimos abrir o nosso coração ao amor, recebemos


forças, capacidades cognitivas, possibilidades de ação impossíveis de
imaginar em um momento anterior. A criatura humana jamais será
capaz, no estado atual, de discernir claramente se o que faz é de si ou por
conta do amparo do Cristo. Mas o que importa? Será mais importante alcançar o
estágio de Paulo de Tarso, que afirma o Cristo vive em mim, ou dedicar-se a uma
separação que não irá levar a nenhum lugar? Mas podemos dizer que, no estado atual
da Terra, em que vos encontrais, sois como crianças que aprendem a andar.

Não tenhais dúvidas, a beleza do mundo hoje depende principalmente do coração


do Cristo. Sem a atuação poderosa desse Espírito, estaríeis vivendo em um caos
indescritível. É esse coração amigo, é essa mão poderosa que vos sustenta
para que vosso mundo inferior não se torne um verdadeiro
representante das regiões mais degradadas que existem.

Não se trata de ser humilde, mas de reconhecer as próprias forças do atual


momento evolutivo e buscar supri-las pelo amparo generoso do Cristo, pois a
verdade é que serieis incapazes sequer de realizar as pequenas tarefas do mundo se o
coração e as vibrações desse Ser não estivesse diariamente, continuamente, vos
protegendo da vossa própria maldade

Muito obrigada.

Questão 3

Boa noite. Eu estava refletindo, e quando nós criamos um vínculo de amizade


com uma pessoa, é porque estamos conhecendo essa pessoa. E esse vínculo se
amplia à medida que conhecemos mais a pessoa e vamos nutrindo essa amizade.
Com o passar do tempo nos vinculamos cada vez mais. Quando estudamos,

139
percebemos que conhecemos muito pouco do Cristo. Então como vamos criar esse
vínculo verdadeiro e sincero com o Cristo conhecendo-o tão pouco? Como podemos
ir em busca de nos vincularmos de maneira verdadeira cada vez mais com o
Mestre?

Valorizando o que se tem acesso hoje, quantas reflexões são possíveis a partir de
cada uma das parábolas que o Mestre vos legou? Quantos estudos não existem que
vão destacando aspectos da sabedoria do Mestre? Certamente, não podereis
conhecer em profundidade algo que vos escapa de forma extraordinária, mas
podereis conhecer o suficiente para amar.

Façamos uma comparação, sem querer diminuir a quem quer que seja.
Imaginemos um cão fiel que ama verdadeiramente seu dono. Ele o conhece em
totalidade? É impossível para o animal amigo conhecer a complexidade dos
pensamentos e das emoções de seu dono. Contudo, poderá ele protegê-lo, amá-lo e
receber imensos benefícios daquele que o ama. E muitas vezes poderá achar que até
sofre algo quando o dono amorosamente tira-lhe alguns espinhos da carne.

Por um lado, a nossa relação com o Cristo é uma relação de amizade,


pois foi o próprio Mestre que nos disse que desejava ser nosso amigo.
Por outro lado, temos um amigo Divino que ultrapassa e muito as nossas
possibilidades de compreensão total, mas que, por seus gestos claros,
por suas ações inegáveis, por seu sacrifício extraordinário, nos deixou
uma mensagem que não pode ser negligenciada. Ele nos ama a ponto de
dar a vida por cada um de nós. Isso deve bastar para que tenhamos a certeza de
que cada minuto dedicado com devoção a conhecer a vida e as histórias que o Mestre
contou vale a pena, sem nenhuma dúvida. E assim podemos construir uma amizade
verdadeira, robusta, sincera e indestrutível com o Senhor de nossas vidas, Jesus de
Nazaré

Obrigada.

Questão 4

Amado irmão Cairbar, por favor, nós vimos na explanação de hoje o símbolo da
água e do vinho. Você poderia nos falar mais sobre elas e a relação entre as duas?

A complexidade que envolve o desenvolvimento do Espírito a partir de seus


estágios mais primitivos, escapa-nos em detalhe. Como se dá esse processo? O que
podemos dizer é que se exige um saber e um poder mental que ultrapassa todas as
vossas referências de poder, ainda que comparando com os vossos conhecimentos do
Universo.

140
O poder da criação, das energias mobilizadas para o desenvolvimento
do ser espiritual, ultrapassa e muito as energias do sol como o conheceis.
Portanto, meu amigo, não seria oportuno que nos aventurássemos em
explicações complexas sobre algo que, de fato, não poderemos entender.
Mas podemos vos assegurar que o símbolo é verdadeiro, que os processos milenares
de transformação existem e que todos foram acompanhados e são acompanhados por
uma mente que ultrapassa as possibilidades humanas de conceber, pela mente de
Jesus de Nazaré.

Esse Espírito é capaz de atravessar distâncias incomensuráveis com a sua mente e


acompanhar o desabrochar de um ser espiritual que necessita de muitos milhões de
anos para dar pequenos passos. Digo isso apenas para que entendais a ternura que
brota do coração do Cristo. O seu zelo é incomparável com qualquer expressão
humana. E isso é importante que se entenda. É esse ser que vos ama e que quer vos
resgatar da inferioridade, para que possais gozar da felicidade verdadeira dos
mundos regenerados.

Muito obrigado.

Questão 5

Irmão Cairbar, o Espírito Amigo recomenda pedirmos assistência aos bons


espíritos para desenvolver o sentimento de piedade. Poderia explorar um pouco
mais esta questão?

A piedade é o amor que reconhece a necessidade do outro, antes da própria


necessidade. A piedade é a capacidade de ver o quanto o outro poderia ser
feliz, mas ainda não é. A piedade é a capacidade de perceber o quanto o
outro sofre por dor ou pela ausência de verdadeira felicidade. Podemos
dizer que a capacidade de piedade é aquilo que mais necessitais em vossa fase
evolutiva, pois a piedade vos move interiormente na direção de reconhecer as
verdadeiras necessidades do outro. Assim, fazendo isso, aprendereis a observar no
companheiro de jornada o Espírito necessitado que ele é, os milênios de luta que o
aguardam, e o quanto atitudes simples e bondosas podem amenizar a dor do
próximo.

Lembremo-nos que, acima de tudo, esse é o sentimento do Cristo por


todos nós. Do alto de sua glória e plena realização, olha para Espíritos que possuem
a mesma essência que Ele e identifica: que pena, que tantos sofrem por revolta, por
maldade, por atitudes injustificáveis do ponto de vista cósmico. E é por isso que o
Cristo nunca nos abandonará, porque o seu coração sente piedade por
cada um de nós.

Obrigado irmão.

141
Questão 6

Boa noite, Cairbar, obrigada pela presença. Gostaria de saber como colocar em
prática os ensinamentos de Paulo. Eu fico pensando sempre como trazer isso para a
vida diária. A dimensão de Paulo é tão grande para mim, que fico quase que
imobilizada. Então eu fico perdida nisso. Que imagem que a gente vai usar, estou
pensando naquele livro do Tómas de Kempis, A imitação do Cristo. Já aquilo, já é
uma coisa imensa do meu ponto de vista. O que dirá fazer alguma coisa mais
próxima. Então se você puder esclarecer um pouco eu agradeço. Até assim em
coisas ínfimas, como no âmbito familiar, outras convivências diárias. Obrigada.

Aprendamos com o Cristo o cultivo da simplicidade. Podes fazer com os


outros o que pedes que o Cristo faça contigo. Ao dialogar com o Mestre,
abrindo o coração e reconhecendo as deficiências morais, buscai a
compreensão do Mestre. Ao olhar para aqueles que vos cercam, obrigai-
vos a identificar as dores do teu próximo. Essa é a aplicação simples da
piedade. Quais são as dores que meu vizinho, que tanto me incomoda, carrega? Será
que a vida dele é plena de paz? Será que não enfrentou muitas dores? Será que nunca
sofreu abandono? Será que jamais amargou a dor da traição? Será que nunca passou
por privações emocionais? Será que nunca faltou pão em sua mesa? Será que nunca
teve noites de insones, angustiado por calúnias? Precisamos, minha amiga,
reconhecendo as nossas dores e erros, buscar consolo no Cristo e, ao
mesmo tempo em que o Cristo nos ampara, comprometermo-nos com o
Mestre, agindo de forma semelhante àqueles que cruzarem o nosso
caminho.

A piedade é essa virtude prática, é essa atitude emocional que considera que o
outro também carrega muitas dores, que o outro também se arrependerá de grande
parte de sua vida, que o outro também, no momento justo, irá se desculpar por seus
erros, da mesma forma que nós hoje ou no passado erramos gravemente. É triste o
espírita que não quer entender que também é um criminoso, que também matou,
que também caluniou, que também traiu. É triste ver a arrogância se transformando
em loucura, em indivíduos que pensam em exibir-se, em apresentar grandeza
espiritual, quando não se tornaram dignos sequer de ajoelhar emocionalmente
diante da cruz para pedir o perdão do Mestre. Quem o crucificou? O outro. Quem o
negou? Apenas Pedro. Quem o abandonou? Apenas os discípulos assustados; ou será
que nós também, em algum momento, fomos os traidores da luz? Entendamos, é
preciso reconhecer quem nós somos, é indispensável buscar a misericórdia do Cristo,
ao mesmo tempo em que aprendemos a nos condoer com a miséria de nossos irmãos.

Vivemos em um mundo em que a falsa espiritualidade se tornou moda,


vemos pessoas fingindo ser evoluídas, vemos pessoas querendo tratar de
questões ditas superiores, e nos recordamos da beleza, da grandeza e da
verdade de um Pedro que jamais se sentiria bem nos tais ambientes de
espíritos elevados que se criam no mundo. Lembremo-nos da

142
austeridade de um Paulo que nunca se sentaria cinco minutos para fingir
grandeza espiritual como tantas vezes identificamos em grupos que se
afirmam espíritas cristãos.

Lembremo-nos: a nossa cura começa com a nossa confissão ao Mestre, com o


reconhecimento de quem nós somos e se concretiza quando aplicamos ao outro a
misericórdia e o consolo que, no silêncio de nossas almas doloridas, solicitamos ao
Messias Divino. Estejamos atentos que só há um caminho de redenção:
aceitar a nossa cruz, perdoar aqueles que aparentemente nos causam
dores e nos entregarmos confiantes nas mãos de nosso Mestre.

Obrigada.

Amigos e amigas, anunciamos a nossa avaliação de tudo o que foi feito até hoje.
Estamos felizes. Vossos Anjos Guardiões se vinculam em profundidade à nossa
equipe de trabalho, e isso deve ser causa de imensa alegria para vós. Estamos
preparando um curso ainda mais amplo, ainda mais profundo, pois recebemos do
Alto, pelas mãos abençoadas de Eurípides, a autorização de aprofundar todos esses
temas.

Preparai vossos corações, orai para que a misericórdia e a piedade estejam em


vossos dias, em vossas relações sociais; orai para que possais, levados por vossos
anjos da guarda, atingir às regiões onde vos prepararão para concretizar no mundo
uma compreensão mais profunda e mais bela sobre Jesus de Nazaré.

Que o Cristo nos acompanhe sempre, que a sua poderosa semeadura


em nosso ser cresça e brote, que as dores que anunciam a nossa cura
venham, para que um dia possamos partilhar do Reino de luz que Ele já
preparou para cada um de nós.

Paz de vosso irmão e amigo,

Cairbar de Souza Schutel.

Mensagem psicofônica recebida em 04.06.2023 em reunião de estudo do Grupo Marcos. Médium


do Grupo Marcos. Revisada pelo autor espiritual e por integrantes do Grupo Marcos.

143
144
145
146
Capítulo 7
O Homem-Deus

147
148
149
Allan
Kardec

Os Espíritos não ensinam nenhuma outra moral, mas, exclusivamente, a do


Cristo, por uma razão: não há outra melhor. […] Pois bem! Os Espíritos
simplesmente vêm aumentar o número dos que ensinam a moral do
Cristo com a diferença que, se manifestando em toda parte, eles podem se fazer
ouvir tanto nas casas simples como nos palácios, tanto por ignorantes como por
instruídos.

- Allan Kardec, em As Características da Revelação Espírita, no capítulo I, item 56, do livro La


Genèse, les Miracles et les Prédictions selon le Spiritisme, traduzimos, destaque feito por Allan
Kardec.

150
O termo Homem-Deus pode assustar, mas é o que Paulo usa e Kardec aprova.
Esse termo, naturalmente, possui inúmeros significados coerentes e verdadeiros,
antes de abordarmos alguns, vamos relembrar esse trecho da mensagem de O Livro
dos Espíritos que estamos estudando:

Quem é, de fato, o verdadeiro culpado? É aquele que por um desvio,


por um falso movimento da alma, se afasta do objetivo da criação que
é o culto harmonioso do belo e do bem, idealizado pelo arquétipo
humano, pelo Homem-Deus, por Jesus Cristo.

- Paulo, o apóstolo na questão 1009 de Le Livre des Esprits, traduzimos,


destacamos.

Após definir Jesus como arquétipo humano - a estrutura divina do ser humano -, o
apóstolo dos gentios apresenta a definição que iremos estudar nesse momento:
Homem-Deus. Homem com “H” maiúsculo e Deus com “D” maiúsculo. Claro, Paulo
de Tarso não está dizendo que Jesus é Deus, mas está mostrando uma relação tão
profunda entre o Cristo e Deus que não há palavras adequadas nas línguas humanas
para expressá-la com exatidão. De forma semelhante, Paulo assim se expressou,
quando encarnado, ao escrever aos Gálatas:

Fui crucificado com Cristo; assim, já não sou eu quem vive, mas
Cristo vive em mim.

- Paulo, em carta aos Gálatas, 2:20, no Novo Testamento, NVT, grifamos.

Essa é a linguagem de Paulo: austera, profunda e superior; esteja ele encarnado ou


desencarnado. Não nos assustemos com o que é, de fato, superior; mas busquemos
ampliar nossa compreensão com a afirmativa do Apóstolo, publicado por Kardec:
Jesus Cristo é o Homem-Deus.

O primeiro significado é mais fácil de entender: Jesus é o Espírito que possui um


vínculo tão profundo com o Criador que, sob certos aspectos, confunde-se com Ele
por possuir, em alguma medida, atributos e capacidade divinas. Paulo, da mesma
maneira, pode dizer: Cristo vive em mim sem estar afirmando que ele é o Cristo.

Essa ligação profunda tem consequência na história da Primeira Revelação: Cristo


tem autoridade, dada por Deus, para O representar perante os seres humanos, nós.
Por isso no Antigo Testamento é o Cristo que se apresenta como o Senhor. Os

151
exemplos são muitos e estão de acordo com a compreensão espírita da mediunidade.
Quando, por exemplo, o Apóstolo escreve aos Coríntios, ele ensina essa verdade em
um dos mais importantes episódios da história: a travessia do deserto realizada pelos
israelitas guiados por Moisés. Explica:

Irmãos, não quero que vocês se esqueçam do que aconteceu muito


tempo atrás, quando nossos antepassados foram guiados por uma
nuvem que ia adiante deles e atravessaram o mar. Na nuvem e no
mar, todos foram batizados como seguidores de Moisés. Todos
comeram do mesmo alimento espiritual e todos beberam da mesma
água espiritual, pois beberam da rocha espiritual que os
acompanhava, e essa rocha era Cristo.

- Paulo, em 1 Coríntios, 10: 1-4, no Novo Testamento, NVT, grifamos.

A quem Moisés chamava de Senhor, na análise de Paulo de Tarso, é o Cristo. Ele é


o Espírito que legitimamente se apresentou como o Deus e, quando entendeu ser
mais adequado, enviou Espíritos que, com sua autorização, falavam em nome do
Senhor.

Na compreensão de Paulo, foi o Cristo quem guiou Moisés no deserto, fornecendo


alimento material e espiritual; Cristo foi a fonte de orientação para Abraão; de
esclarecimento para José; de inspiração para o profeta Daniel; de alerta nos lábios de
Jeremias; de consolo em Isaías.

Obviamente, foi o Cristo quem instituiu o símbolo da videira ao estabelecer a


relação entre Israel e os outros povos como videiras criadas por Deus, inspirando
inúmeros profetas, dentre eles já conhecemos: Judá, Oséias, Isaías, Jeremias,
Ezequiel. (Ver estudo 1 e 2). Eles falaram em nome do Senhor e ensinaram: Israel
deveria ser a videira seleta e quem negasse Deus seria a videira selvagem que nada
produz. O Cristo, quando encarnado, afirmou: Eu sou a verdadeira videira. Não por
acaso, ele ou aqueles que o seguem de perto, como João Evangelista, orientaram
Kardec a tornar a videira o símbolo primeiro de O Livro dos Espíritos.

Allan Kardec ao analisar as relações entre Espíritos encarnados e Deus mostra


como é possível para os seres humanos, ao encontrarem com um Espírito muito
elevado, o confundirem com o Criador do Universo. Isso parece explicar o que
dissemos sobre o Cristo ser o Senhor no Antigo Testamento, leiamos com atenção:

Nenhum homem pode ver Deus com os olhos da carne […]


Mas como os Espíritos da mais elevada ordem resplandecem com uma

152
luminosidade deslumbrante, é possível que os Espíritos menos
elevados, encarnados ou desencarnados, impactados com o esplendor
que os envolvem, tenham acreditado ter visto o próprio Deus. É como
quem vê um ministro e o confunde com o soberano.

- Allan Kardec, em A visão de Deus, no capítulo II, item 36, do livro La Genèse, les
Miracles et les Prédictions selon le Spiritisme, traduzimos, destacamos.

Outra dimensão, também conhecida pelos discípulos da Segunda Revelação é a


relação entre o Cristo e o Templo. Claramente, isso está relacionado com a
mensagem de Paulo, pois é o Homem-Deus quem idealiza o culto harmonioso do
belo e do bem, que fala de culto e fala de Templo. Portanto, surge a questão: onde é
realizado o culto idealizado pelo Homem-Deus? Em que Templo se realiza o culto
conduzido pelo Homem-Deus? Para compreender a história do Templo é preciso
conhecer a Primeira e a Segunda Revelações. Uma vez atingido esse nível,
entenderemos que Allan Kardec aprofunda a compreensão do Templo de maneira
magistral.

Iniciemos pela Primeira e Segunda Revelações. A história do Templo se inicia com


a expulsão do paraíso relatada no início do livro Gênesis de Moisés. Kardec concorda
com o relato bíblico, porém, adverte: é uma história simbólica que trata sobre
migração espiritual. Vejamos o que o Codificador escreve sobre Adão:

[A raça adâmica] Segundo o ensino dos Espíritos, foi uma das


grandes migrações espirituais ou, se preferir, uma dessas
colônias de Espíritos, vinda de outra esfera, que deu origem à raça
simbolizada pela pessoa de Adão e, por causa disso, é chamada
de raça adâmica. Quando ela chegou, a Terra já estava povoada desde
tempos imemoriais, da mesma forma que a América quando os
europeus chegaram.

- Allan Kardec, em Raça Adâmica, no capítulo XI, item 38, no livro La Genèse, les
Miracles et les Prédictions selon le Spiritisme, traduzimos, destacamos.

Analisemos agora o que Kardec explica sobre o paraíso perdido:

Assim que um mundo atinge um de seus períodos de transformação


que o elevará na hierarquia dos mundos, as transformações em suas
populações, de encarnados e desencarnados, começa a acontecer. É

153
nesse momento que acontecem as imigrações e as
emigrações espirituais. Aqueles que, apesar de sua inteligência e
seu saber, se mantiveram no mal, em revolta contra Deus e suas leis,
se tornariam um obstáculo para o progresso moral e uma causa
permanente de perturbação da paz e da felicidade dos bons. É por isso
que eles serão expulsos e enviados para mundos menos avançados.
[…] A terra de onde foram expulsos não é para eles o paraíso
perdido? Não era um jardim de delícias em comparação com
o meio ingrato a que estarão ligados por milhares de séculos
até terem conquistado a libertação? A intuição, a vaga
lembrança, que conservam é como uma miragem que os faz recordar
o que perderam por sua própria culpa.

- Allan Kardec, em Doutrina dos anjos decaídos e do paraíso perdido, no capítulo


XI, item 43, no livro La Genèse, les Miracles et les Prédictions selon le Spiritisme,
traduzimos, destacamos.

Portanto, para a Terceira Revelação, a expulsão do paraíso foi a expulsão de um


mundo que, comparado com a Terra, era um jardim de delícias. Vamos agora
integrar as três revelações. No Jardim do Éden, a relação com o Alto era de forma
direta. Uma presença superior era dada como certa, sentida e compreendida,
conforme o relato:

[…] o Senhor Deus que passeava no jardim na brisa do dia

- Gênesis, 3:8, na Bíblia do Peregrino, destacamos.

Quer dizer, o Jardim do Éden, o mundo do qual foi expulso o grupo adâmico, era
um Templo. Era um local onde o contato com Deus e com os Espíritos superiores se
realizava no dia a dia. Essa ideia é a mesma explicada no Apocalipse de João, por isso
ele diz ao descrever a Nova Jerusalém:

Não vi nela nenhum templo, porque o Senhor Deus Todo-


poderoso e o Cordeiro são o seu templo. A cidade não precisa
que o sol a ilumine nem a lua, porque a glória de Deus a ilumina, e sua
lâmpada é o Cordeiro. À sua luz caminharão as nações, e os reis ao
seu esplendor.

- Apocalipse, 21: 22-24, na Bíblia do Peregrino, grifamos, destacamos.

154
Fácil entendermos: Jesus Cristo e Deus são o Templo. Como o Cristo é o
representante de Deus no mundo, ele pode dizer, conforme está registrado na
Segunda Revelação:

“Pois bem”, respondeu Jesus. “Destruam este templo, e em três


dias eu o levantarei.” Eles disseram: “Foram necessários anos para
construir este templo, e você o reconstruirá em três dias?”. Mas
quando Jesus disse “este templo”, estava se referindo a seu
próprio corpo.

- Jesus, Evangelho de João, 2:19- 21, em Novo Testamento, NVT, grifamos,


destacamos.

Para a Segunda Revelação está claro: o corpo do Cristo é o Templo. Mas como
entender isso no âmbito da Terceira Revelação? É o que iremos fazer.

Primeiro, o Templo é o “lugar” em que encontramos com o Senhor diretamente. É


o mundo superior, simbolizado por Moisés, pelo Jardim do Éden, local no qual o
contato com o Senhor é direto e fácil.

Segundo, após da expulsão do Jardim do Éden, do Paraíso, do Templo, que


significa a migração planetária segundo a análise dos símbolos realizada por Allan
Kardec, perdemos a capacidade de um contato mais profundo com Deus. Por isso,
torna-se necessário iniciar de um processo educativo que dura várias milênios: uma
longa caminhada em direção ao Templo, ao Paraíso perdido. Quer dizer, durante
milênios, a experiência do Templo, de contato com as dimensões superiores da vida,
torna-se exceção. A expulsão de um mundo superior não significa apenas a perda dos
benefícios materiais de viver em uma sociedade tecnologicamente avançada, mas,
principalmente, a perda de uma satisfação íntima indescritível, de um bem-estar que
ultrapassa nossa noção de felicidade, de um conforto moral que nasce da certeza
íntima de que se é incondicionalmente amado.

Para se conquistar novamente essa realidade material, espiritual e emocional é


preciso um treino adequado, é preciso transformar a maldade e revolta que
caracterizam os exilados em benevolência, piedade, humildade. O Templo passa a ser
um local delimitado com práticas específicas e temporárias para que os seres
revoltados possam, pouco a pouco, aprender o contato profundo com Deus, com o
belo e o bem. Todo esse processo é conduzido pelo Cristo.

155
Pintura: Desenvolvida por Raffaello Gambogi em 1894, a tela Os Imigrantes representa a
imigração urbana.

Inicialmente, o Templo é uma tenda, é o tabernáculo construído por ordem do


Senhor. O convívio com o belo e o bem é um treino limitado, de poucas horas
semanais. Posteriormente, o tabernáculo torna-se um local fixo. É o período do
Primeiro Templo que foi planejado pelo rei Davi e construído por seu filho Salomão.
Esse Templo não foi honrado, e por isso Deus permitiu sua destruição. Depois,
tivemos o período do Segundo Templo, que é a época de Jesus. O mesmo aconteceu,
mais uma vez, o Templo foi destruído. Contudo nesse período tivemos uma nova
revelação: o Templo de pedra é apenas um lugar de treino, valioso, se for utilizado
adequadamente, mas há um Templo superior: o corpo do Cristo.

Fica ainda a questão: o que entender quando se diz que o Templo é o corpo do
Homem-Deus, de Jesus Cristo? É o que vamos explicar.

Kardec ao tratar de questões tão elevadas, que tocam nas esferas mais altas de
vida, é sempre atento e humilde, pois não há linguagem adequada para explicar o que
está tão além de nossa capacidade de percepção e de entendimento. Por isso o
Codificador, de forma equilibrada, utiliza-se de analogias e comparações. Devemos

156
seguir o mesmo caminho, sempre conscientes de nossas limitações.

Existe um item, na última obra de Kardec, que merece atenção especial, pois nela
o Codificador aprofunda o tema central das três revelações: Deus. Após resgatar a
compreensão de Deus como Criador, no item Existência de Deus, e de explicar as
características de Deus, no item a Natureza Divina, retomando os temas das duas
revelações, no item, A Providência, o Codificador realiza um desenvolvimento
apenas possível pelos conhecimentos espíritas. Afirma Allan Kardec:

[…] para facilitar nossa compreensão, apresentaremos [a atuação


de Deus no mundo] sob uma forma concreta, como um fluido
inteligente que preenche o universo infinito e que penetra todas as
partes da criação: a natureza inteira está mergulhada no
fluido divino.

- Allan Kardec, em A Providência, no capítulo II, item 24, no livro La Genèse, les
Miracles et les Prédictions selon le Spiritisme, traduzimos, destaque de Allan Kardec.

Uma das dimensões de Deus, para Kardec, é estar em toda parte, preencher todo o
universo, toda a Criação; mas preencher como um fluido inteligente. Quer dizer,
estar em todos os lugares com consciência, percebendo o que acontece, analisando
cada pequena parte e o todo simultaneamente. Para fazer uma afirmação tão ousada,
Kardec se apoiou no ensino do Cristo, por isso escreve no mesmo parágrafo:

Nós estamos Nele [em Deus] como ele está em nós segundo a
palavra do Cristo.

- Allan Kardec, em A Providência, no capítulo II, item 24, no livro La Genèse, les
Miracles et les Prédictions selon le Spiritisme, traduzimos, destaque de Allan Kardec.

Vejamos como o Codificador, didaticamente, nos apresenta a realidade da


presença de Deus em todo o universo:

“O homem é um pequeno mundo no qual o diretor é o Espírito e o


princípio dirigido é o corpo. Nesse universo, o corpo representará
a criação e o Espírito seria Deus.”

- Allan Kardec, em A Providência, no capítulo II, item 27, no livro La Genèse, les

157
Miracles et les Prédictions selon le Spiritisme, traduzimos, destacamos.

Quer dizer, apenas por analogia, podemos assim entender: da mesma forma que o
Espírito tem um corpo e controla-o por meio do corpo espiritual, o perispírito; Deus
teria um fluido inteligente que possibilita que Ele esteja em toda a Criação de forma
consciente.

E Jesus? Agora poderemos entender. Jesus é o Templo do mundo, porque, sendo


o Homem-Deus, seu fluido inteligente está em toda a Terra. Ele não é “apenas” um
Espírito elevadíssimo, ele compartilha alguns dos atributos de Deus de forma muito
elevada. Por isso, ele pode dizer que seu corpo - corpo espiritual na ótica espírita - é o
Templo. Quando após milenares exercícios nos templos de pedra, desejarmos
aprender o culto harmonioso do belo e do bem é a ele a quem devemos recorrer.
Quando nos integrarmos nesse culto, estaremos aptos a viver no mundo regenerado,
onde não há templos, há Deus o Templo universal e o Cristo o Templo planetário.

Apenas com a integração sábia e inteligente das três revelações isso se torna
compreensível, pois apenas quem conhece o poder dos fluidos, explicado pela ciência
do magnetismo, bem como as revelações que são a base do Espiritismo, pode
compreender algo de tão elevada envergadura sem perder-se em cogitações
fantásticas. Eis o que podemos afirmar: o Homem-Deus envolve toda a Terra com
suas poderosas emanações fluídicas, que, também, transmitem informações e
sentimentos. São fluidos inteligentes nas palavras de Allan Kardec. Por isso, quando
sintonizarmos com essas harmoniosas vibrações que nos integram no belo e no bem,
estaremos gravitando verdadeiramente para a unidade divina, conduzidos pelo
Cristo, o idealizador do culto harmonioso do belo e do bem.

A Terceira Revelação torna a grandeza de Deus e do Cristo mais evidente e isso,


para nós, é muito importante, pois precisamos, mais do que nunca, participarmos do
culto que nos conduz aos objetivos da criação; esse culto, segundo Paulo o Apóstolo,
e Allan Kardec o Codificador, é o culto da beleza e da benevolência, conduzido
harmonicamente pelo nosso Mestre amado, o Homem-Deus, o arquétipo humano,
Jesus Cristo.

158
Metodologia
Esse seção de nosso capítulo tem dois objetivos: mostrar que o que apresentamos
tem um fundamento científico-espírita, quer dizer, pesquisamos com metodologia
científica, tendo por fundamento os princípios espíritas e os saberes revelados por
Allan Kardec. O outro objetivo é mostrar que é possível, caso você deseje, realizar
pesquisas semelhantes.

O que fazemos aqui é conhecido a longo tempo no mundo acadêmico: são métodos
simples que pesquisa como o estudo da relação entre textos diversos (chamada de
intertextualidade), a leitura atenta dos textos de Kardec que considera seriamente
tudo o que ele afirma sobre os fundamentos do Espiritismo como Terceira Revelação
e sobre seus principais precursores como Sócrates e Platão.

Naturalmente, Naturalmente, para relacionar a Primeira, a Segunda e a Terceira


Revelações é preciso conhecê-las, por isso, aos que vão se tornar estudiosos espíritas,
indicamos como elemento central de formação a leitura e a meditação sobre o Novo
Testamento. Apenas conquistando intimidade com essa obra, conseguiremos uma
compreensão profunda do Espiritismo. Há muitas traduções boas, para os iniciantes
indico a Nova Versão Transformadora da editora Mundo Cristão.

159
Experienciar
Um exercício meditativo.

Inicia com uma prece, peça o amparo de seu anjo guardião.

Em seu Novo Testamento, leia a passagem na qual Jesus visita o templo de


Jerusalém.

Faça um segunda leitura, calma, pausada, imaginado toda a cena. Busque sentir
cada palavra proferida pelo Cristo.

Imagine...

O templo...

O Cristo no templo...

Uma luz que parte do Cristo e envolve todo o templo...

Imagine, a luz que sai do Cristo e envolve toda a Terra...

Aceite que essa luz te toca, a luz do Cristo, também, te envolve...

Assimile esse luz...

Faça mais um leitura da passagem do templo.

Encerre o exercício com um prece.

160
Diálogo Mediúnico
Paz e alegria em vossos corações!
Estejamos dispostos, estejamos a postos, porque a grandeza do Mestre é estímulo,
a grandeza do Mestre é consolação, a grandeza do Mestre é certeza que esse coração
maravilhoso jamais irá nos desamparar.
Comecemos!

Questão 1
Boa noite, querido irmão. Poderia explicar melhor a questão do Templo do
Cristo? Dá para entender que o fluido, tem muito a ver com nossas atitudes, nosso
modo de pensar e que não precisamos de paredes, mas que em qualquer lugar em
que nos encontrarmos, nós podemos fazer essa conexão. Poderia explicar melhor
isso?
Compreendendo a lei dos fluidos, fica muito fácil aos espíritas entenderem que sua
sintonia irá gerar as energias que o envolvem. E por isso, também, o conjunto das
energias das pessoas que frequentam determinados ambientes irão construir um
ambiente espiritual, fluídico e psíquico, que expressa esse conjunto.
É fácil entender, se recordarmos a vida do grande apóstolo Paulo. Onde estava seu
templo? Nas estradas, nas cidades, nas praças? É esta compreensão que precisa se
instalar em vossos corações. Paulo não tinha uma rede de igrejas ou templos
para acolhê-lo, quando ia pregar a palavra Divina. Por isso, ele também
se tornou um templo do Cristo. Essa é a proposta de Allan Kardec para
cada um de vocês. Tornem-se vós templos do Cristo, para que, onde
estiverdes, o Cristo possa ser apresentado às outras pessoas.
Não podemos, com desculpas que não cabem aos estudantes do Consolador, criar
ou recriar os dogmas, tão antigos, que só servem à vaidade humana. Se o teu coração
não se tornar templo do Cristo, todas as instituições de nada valerão no mundo.
Porque caminhamos, meu amigo, a passos largos para os testemunhos
derradeiros e para o início de uma era superior. Precisaremos de muitos
templos, de corações convertidos ao Cristo, para que consigamos
realizar tudo a contento.
Larguemos, portanto, as ilusões de que construções tão precárias possam, de fato,
ser a base da atuação do Cristo no mundo. Só há um espaço verdadeiramente cristão:
que é o espaço do coração e do sentimento. Se esse não houver, não haverá outro.
Obrigado, irmão.

161
Questão 2
Boa noite. Eu gostaria de perguntar: quando Jesus nos escolheu, para ser o
nosso Guia, Ele nos escolheu de forma individual?
Precisaríamos adentrar em numerosos detalhes para explicar adequadamente essa
situação. Mas podemos, a título de introdução a essa reflexão, dizer que o Cristo
amorosamente aceitou cuidar de cada um de vocês.
Vossas histórias nem sempre são semelhantes. Encontram-se na Terra Espíritos
que vieram de diversos mundos, e cometeram erros diferenciados, que possuem
bloqueios com gêneses muito diferentes. Mas há algo em comum: todos foram
aceitos por esse coração generoso.
As vossas tragédias fazem o Cristo sofrer, porque Ele é capaz de amar
cada um de vocês de forma particular. Seriam necessários estudos
extraordinários para que pudessem entender a capacidade de amar desse Espírito.
Dizemos apenas: existem Espíritos, de dezenas de mundos diferentes, que hoje
habitam na Terra, e todos eles são acompanhados com um carinho extraordinário. E,
acrescento algo mais: o Cristo não é só capaz de vos amar, mas Ele é
capaz de nos ensinar a vos amar, como um Mestre carinhoso que
consegue detectar o que há de belo e divino, mesmo no coração das
criaturas mais tenebrosas. E como a nos dizer: observe! Naquele
pequeno canto existe algo divino. Ama esse irmão e, um dia, essa
pequena virtude irá brilhar como um sol.

Questão 3
Boa noite amado irmão Cairbar! Ouvimos o nosso coordenador, Carlos, nos
passar uma série de informações há pouco e ele falou que o Cristo conseguia
esconder a sua grandeza. Porém, a minha pergunta… João disse que Ele participou
da criação de tudo o que há neste planeta. Como um Espírito deste nível pode
trabalhar num planeta tão atrasado como a Terra?
Só há uma explicação, meu irmão: porque Deus vos ama!
Muito obrigado.

Questão 4
Boa noite, querido irmão! Quando nós falamos e, como o irmão acabou de dizer,
que muitos de nós na Terra viemos de outras moradas, então provavelmente nós
também vivenciamos esse amor por outros Cristos, outros Espíritos superiores que
foram organizadores de outras moradas. Como nós nos esquecemos, então, desses
outros Espíritos superiores? Aqui nós temos o Cristo, chamado Jesus, como nosso

162
modelo, mas se viemos de outras moradas, também tivemos outros Cristos,
correto?
Seria preciso adentrar em histórias específicas, mas, em tese, é possível.
Mas então vos indago: como podeis vós, hoje, esquecer do Cristo Jesus de Nazaré?
É um fato que, mesmo no seio do Consolador, há aqueles que desvalorizam e até
desprezam a figura do nosso Mestre tão amado. É a revolta, minha irmã, é o
sentimento infeliz que leva a criatura aos extremos de amaldiçoar o Criador e seu
representante. Se sois ainda Espíritos pouco evoluídos, já possuis poder suficiente
para brilhar ou para se obscurecer. Os sentimentos do ódio, da vaidade, da
arrogância podem vos atingir de forma tão destrutiva, que levais a
esquecer até aquele que morreu crucificado, com o intuito de vos levar à
verdadeira felicidade.
Obrigada, irmão.

Questão 5
Boa noite, Cairbar. Boa noite. Muito obrigada por sua presença! Como a gente
pode tentar acertar mais, para uma vez que a gente tenha consciência, que tenha
clareza de que, de tanta coisa errada, de tantos erros e equívocos e por ignorância,
por falta de atenção, de interesse... Como a gente pode fazer para progredir mais
rápido dentro do tempo que a gente tem?
Suplicai, minha amiga, diariamente, que o Cristo viva em vosso coração.
Apresentai-lhe as vossas dores, pedir o seu amparo. Peça para sentir a suavidade do
amor do Cristo; peça para sentir as suas vibrações maravilhosas; peça para ser
preparada para suportar um amor que o mundo não pode dar. Todos nós
precisamos de um contato diário verdadeiro com o Mestre, porque as
nossas forças são sempre falhas, nossos juízos são sempre inseguros,
mas há uma certeza: o Cristo estará sempre ao nosso lado, quando
pedirmos o seu amparo e a sua ajuda.
Ok, está bem, obrigada!
Podemos ainda responder a uma última pergunta ou, no máximo, duas.

Questão 6
Então, eu gostaria de alongar um pouco a minha questão. A gente pode fazer
pedidos específicos? Deve fazer? Porque, às vezes, a gente acha que o problema é
um e pode ser outro.
Pedir, antes de tudo, compreensão. A criatura humana vive em um
nervosismo constante, porque acredita que deve, num mundo inferior
como a Terra, encontrar a felicidade. Ao espírita, ao cristão, sugerimos a prece
163
que solicita compreensão, que solicita sabedoria e, acima de tudo, que solicita o
amparo para que o testemunho se transforme em elevação espiritual. Todos sofreis!
É um mundo inferior, portanto, pensai que, acima de tudo, é necessário que haja um
aprendizado verdadeiro, antes de soar a vossa última hora neste mundo.
Pedir, acima de tudo, compreensão e coragem para agir da maneira
certa. E, quando não souberdes agir, orai ainda uma vez, suplicando
ajuda para que a situação seja compreendida. Entendei. Vossa vida possui
um planejamento, é necessário que aprendais com cada dor do caminho. É
necessário que as vossas virtudes se desenvolvam para que a vossa vida não seja vã.
Mesmo quando o sofrimento é de outra pessoa próxima, que a gente não tem
como alterar?
É importante, minha amiga, aprender a sofrer com o sofrimento do outro. Muitas
vezes, queremos, de forma automática, curar o sofrimento de alguém, para não
sofrermos também. O Cristo vos ensinou: é necessário sofrer também com
outro, é necessário sofrer pelo outro, é necessário sofrer com a dor do
outro. O sofrimento é a senha secreta da vossa libertação, que precisais
aceitar, compreender e viver e, assim, vos libertardes.
Obrigada!

Agradecemos o carinho, a atenção e aproveitamos para registrar que hoje


recebemos uma visita de um grupo de Espíritos, ao qual nutrimos profunda gratidão.
São Espíritos que realizam seus estudos no mundo, pois estão em fase avançada de
preparação para o início dos grandes testemunhos que a Terra dará oportunidade.
São Espíritos corajosos, abnegados e austeros, que olham nesse instante para cada
um de vós, que vos estudam e que também se confraternizam com os vossos guias
espirituais.
Esses amigos nos solicitam que transmitamos a vocês uma mensagem de paz e de
coragem. E, um deles, nos diz: espero encontrar no mundo, num período curto de
tempo, o vosso trabalho. As minhas mãos frágeis irão compulsar os textos que hoje
elaborais, as perguntas e as respostas que aqui são registradas, porque nós estaremos
no mundo, não para as lutas de superfície da política e do poder econômico, mas
para gerar os testemunhos que arrancam lágrimas de devoção nos corações mais
empedernidos. Porque, um dia, nós assistimos à crucificação do Mestre e, por isso,
estamos empolgados em viver a nossa crucificação, para dizer: Cristo, tu nos amaste,
e hoje nós também te amamos!
Paz, do vosso irmão e amigo,
Cairbar de Souza Schutel.
Mensagem psicofônica recebida em 11.06.2023 em reunião de estudo do Grupo Marcos. Médium
do Grupo Marcos. Revisada pelo autor espiritual e por integrantes do Grupo Marcos.

164
165
166
167
Capítulo 8
Eu venho, sou teu Salvador e teu
juiz

168
169
170
Allan
Kardec

Homens instruídos, instruí; homens de talento, educai vossos irmãos. Não


sabeis, assim, que obra realizais: é a do Cristo, a que Deus vos impõe.

- São Luís e Santo Agostinho, questão 495, em Le Livre des Esprits, traduzimos, grifamos.

171
Após estudarmos alguns trechos de O Livro dos Espíritos que provam a devoção
de Kardec e dos Espíritos superiores ao Cristo, podemos perguntar: estaria o Cristo
presente no Livro dos Médiuns? Existe uma relação direta desse livro com a Primeira
e a Segunda Revelações? Se entendermos que a mediunidade era a faculdade dos
Profetas e dos Apóstolos e que, no Espiritismo, ela se torna instrumento central para
assegurar a divulgação e a melhor compreensão da lei evangélica, como afirma
Kardec, constataremos que O Livro dos Médiuns é uma parte essencial de ligação
entre a três revelações.

Esse é um dos temas da antropologia espírita: estudar detalhadamente a


mediunidade dos profetas, relacionando ao tipo de mediunidade, o conteúdo das
mensagens e as características culturais de cada povo. Pois existe uma clara relação
entre a cultura de uma época, as orientações das vozes proféticas e o perfil dos
médiuns e de mediunidades. Um dia entenderemos como o Cristo atuou nas
transformações culturais da Terra ao enviar Espíritos e médiuns, com diferentes
talentos e capacidades, para amparar nosso processo evolutivo. Como já estudamos,
estamos sempre envolvidos pelos fluidos do Mestre, além disso, há “algo” do Cristo
em nós e continuamente recebemos os benefícios de seus emissários que atuam nos
dois planos da vida.

Hoje estudaremos uma mensagem especial. É uma psicografia que está no Livro
dos Médiuns e, segundo Kardec, foi obtida por um dos nossos melhores médiuns da
Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas. Para o Codificador, tanto as ideias
expressas quanto a linguagem utilizada são marcas de uma superioridade
inquestionável. Quem assina a mensagem, publicada por Allan Kardec no Livro dos
Médiuns, é Jesus de Nazaré. Ela é tão rica em conteúdo, portadora de uma
linguagem simbólica tão reveladora que será impossível, em nosso curto texto,
abordá-la de forma completa. Na verdade, nesse momento, estudaremos a primeira
frase da mensagem. Acreditamos que ao entender essa frase compreenderemos
melhor o Espiritismo. Assim começa a mensagem:

Eu venho, sou teu Salvador e teu juiz; eu venho, como no


passado, [quando estive] entre os filhos perdidos de Israel; eu venho
trazer a verdade e dissipar as trevas.

- Jesus de Nazaré, capítulo XXXI, Sobre o Espiritismo, item IX, em Le Livre des
Mediums, traduzimos, grifamos.

A primeira pergunta é óbvia: quem poderia, honestamente, autodefinir-se dessa


forma a não ser o Cristo? Allan Kardec publica essa mensagem em 1861 e a mantém
durante todas as outras edições, sem nenhuma alteração. Antes de analisarmos essa

172
frase a partir de outras partes da Codificação, vejamos o que está registrado na
Segunda Revelação: no Evangelho de João e no Evangelho de Mateus.

Em João, no encontro do Cristo com a mulher samaritana, que era avessa aos
judeus, temos o seguinte testemunho:

Agora sabemos que ele é, de fato, o Salvador do mundo.

- Evangelho de João, 4:42, em Novo Testamento, NVT, grifamos

Em relação a definição do Cristo como juiz, há também uma longa tradição nos
Evangelhos e no Apocalipse. Leiamos o item O julgamento das nações em Mateus:

Quando o Filho do Homem vier em sua glória, acompanhado de


todos os anjos, ele se sentará em seu trono glorioso. Todas as nações
serão reunidas em sua presença, e ele separará as pessoas como
um pastor separa as ovelhas dos bodes. Colocará as ovelhas à
sua direita e os bodes à sua esquerda.

- Mateus, 25:31-33, Novo Testamento – NVT, destacamos.

Essa passagem do Evangelho é muito conhecida dos espíritas, pois Kardec a utiliza
na abertura do capítulo 15, do Evangelho segundo o Espiritismo: Fora da caridade
não há salvação. O argumento central do Codificador, para fundamentar o lema
central do Espiritismo, é o critério utilizado no julgamento conduzido pelo Cristo, a
prática da caridade.

O Cristo não julga os indivíduos e as nações por conta de questões formais,


externas. Não utiliza como critério religião, etnias, práticas espirituais, hábitos
sociais ou posição social; mas um único critério: aqueles que foram bondosos e
ampararam seus irmãos serão felizes e os que, mesmo com as melhores desculpas,
não os socorreram, são condenados. Aprende Kardec com o Cristo que é a prática da
caridade que salva. Esse é o critério com que Jesus julgará a todos. Por isso, Jesus
pode identificar-se como Salvador e como juiz.

Em 1864, três anos após a publicação da mensagem que estamos analisando, algo
interessante acontece: uma comunicação espontânea de João Evangelista. Era
dezembro, a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas se reúne para uma sessão
comemorativa e, como sempre, Kardec dava espaço aos amigos espirituais,
colocando os médiuns à disposição da Espiritualidade. Eis um trecho da

173
comunicação do Apóstolo amado, aquele que escreveu tanto o Evangelho de João
como o Apocalipse:

O Espiritismo não é um som vão saído de lábios mortais e que um


sopro leva; ele [o Espiritismo] é a lei forte e severa que Moisés
proclamou no monte Sinai, a lei afirmada pelos mártires ébrios de
esperança, a lei discutida pelos filósofos inquietos e que, finalmente,
os Espíritos vêm proclamar.

Espíritas! O grande nome de Jesus deve agitar-se como uma


bandeira acima de vossos ensinos. Antes que existísseis, o
Salvador portava a revelação em seu seio, e sua palavra,
prudentemente medida, indicava cada etapa que percorreis [até] hoje.
Os mistérios, que abalam vossas inteligências, tombarão ante o sopro
profético como, no passado, tombaram as muralhas de Jericó.

- João Evangelista na Revista Espírita de dezembro de 1864, traduzimos, grifamos,


sublinhamos.

Essa mensagem de João, além de confirmar outros temas já estudados, nos


assegura que, o título de Salvador não é estranho às reflexões espíritas. Claro, a
forma como o Espiritismo entende Jesus como Salvador por diferir de outras formas
de compreender o Evangelho.

A continuação da primeira frase - eu venho, como no passado, [quando estive]


entre os filhos perdidos de Israel - é também rica em simbolismo, pois tanto no
Antigo como no Novo Testamento, o Messias divino, é tratado, também, como o
Pastor que ampara e protege as ovelhas perdidas como vemos em Isaías:

Como pastor, ele alimentará seu rebanho; levará os cordeirinhos


nos braços e os carregará junto ao coração…

- Isaías, 40:11 na Bíblia NVT, destacamos.

No Novo Testamento, no Evangelho de João, Jesus define-se como Pastor:

174
Eu sou o bom pastor. O bom pastor sacrifica sua vida pelas
ovelhas.

- João, 10:11, no Novo Testamento, NVT, destacamos.

Em Mateus, fica clara a definição de Israel como ovelhas perdidas:

Jesus enviou os Doze com as seguintes instruções: Não vão aos


gentios nem aos samaritanos; vão, antes, às ovelhas perdidas do
povo de Israel.

- Mateus, 10:5, no Novo Testamento, NVT, destacamos.

Ainda em Mateus, em diálogo com a mulher cananeia, afirma Jesus:

Jesus disse à mulher: Fui enviado para ajudar apenas as ovelhas


perdidas do povo de Israel.

- Mateus, 15:24, no Novo Testamento, NVT, destacamos.

Há também a Parábola da Ovelha Perdida na qual o Cristo afirma que nenhuma


das ovelhas se perderiam em Mateus 18:12 e em Lucas 15:3. Portanto, Jesus é o
enviado de Deus aos filhos perdidos de Israel. Por isso, diz: eu venho, como no
passado, [quando estive] entre os filhos perdidos de Israel.

175
Pintura: O bom pastor de Alfred Usher Soord (1868-1915). Representante da parábola da ovelha
perdida, a obra retrata um pastor que arrisca sua própria vida, pendurado em um penhasco, para
salvar a ovelha.

176
Analisemos, agora, a terceira parte da frase inicial da mensagem de Jesus - eu
venho trazer a verdade e dissipar as trevas. Jesus, nessa afirmação, faz uma
comparação reveladora: ele volta a se comunicar com o mundo, com a mesma
intenção que tinha quando encarnou: trazer a verdade e dissipar as trevas. Isso é
uma confirmação da missão do Cristo no mundo, conforme ele mesmo revelou a
Pilatos, momentos antes de sua morte:

Disse-lhe Pilatos:

- Então tu és rei?

Respondeu Jesus:

- É o que dizes. Eu sou rei; para isso nasci, para isso vim ao
mundo, para testemunhar a verdade. Quem está a favor da
verdade escuta a minha voz.

- Jesus no Evangelho de João, 18:37-38, na Bíblia do Peregrino, destacamos.,


grifamos.

A relação entre a afirmação acima: trazer a verdade e testemunhar a verdade é de


alta importância. Jesus, em ambos os casos, deixa algo muito claro: ele fala em nome
da Verdade, mas a Verdade é Deus como ele afirma na continuação dessa mensagem
e em muitas passagens do Novo Testamento.

O outro tema é o da luz e das trevas, da luz que dissipa as trevas. Esse tema está na
famosa e muito comentada abertura do Evangelho de João:

No princípio já existia a Palavra

E a Palavra se dirigia a Deus

E a Palavra era Deus.

Esta no princípio se dirigia a Deus.

Tudo existiu por meio dela, e sem ele nada existiu de tudo o que
existe.

Nela havia vida

E a vida era a luz dos homens.

177
A luz brilhou nas trevas,

E a trevas não a compreenderam.

- João, 1:1-5, na Bíblia do Peregrino, destacamos, grifamos.

Continua o Apóstolo amado, referindo-se a João Batista e sobre seu testemunho.

Houve um homem enviado por Deus, chamado João, que veio como
testemunha, para dar testemunho da luz, de modo que todos
cressem por meio dele. Ele não era a luz, mas uma testemunha da
luz.

A luz verdadeira que ilumina todo homem

estava vindo ao mundo.

Estava no mundo, o mundo existiu por ela,

e o mundo não a reconheceu.

- João, 1:6-10, na Bíblia do Peregrino, destacamos, grifamos.

Um dos temas que surgem é o da rejeição da luz. Craig R. Koester, um dos


eminentes estudiosos do Evangelho de João na atualidade, comenta:

No Evangelho de João, pecado é o ato de rebelião humana


contra Deus, e isso é manifestado na hostilidade contra Jesus, o
Filho de Deus.

- Koester, p. 144, em Symbolism in the Fourth Gospel, traduzimos, grifamos.

A dificuldade em compreendermos Jesus [aceitarmos sua grandeza espiritual],


apesar do esforço extraordinário de Allan Kardec e de outros missionários, persiste,
inclusive, no movimento espírita. A revolta contra Deus, característica dos Espíritos
expulsos do paraíso, como ensina Allan Kardec, ainda é realidade em muitos
corações em nosso meio. Nossa dificuldade em nos relacionarmos com a luz é,
certamente, dos maiores desafios que enfrentamos. Jesus, ao citar Isaías, assim
explica:

178
Por isso não podiam crer, então Isaías disse outra vez: Cegou-lhes
os olhos, e endureceu-lhes o coração,

A fim de que não vejam com os olhos, e compreendam no


coração,

E se convertam,

E eu os cure.

Isaías disse isto quando viu a sua glória e falou dele [de Jesus].

- João, 12:39-41, na Bíblia Sagrada, grifamos, destacamos.

Aqui está uma revelação esclarecedora e difícil: muitas vezes, temos hostilidade
em relação ao Cristo para evitar que ele nos cure. Mas, por que não quereríamos que
ele nos curasse? Simplesmente, porque dói. A cura significa olhar para si mesmo,
reconhecer a própria inferioridade, avaliar erros e acertos, virtudes e vícios.
Normalmente, preferimos agir como se já tivéssemos superados nossas grandes
dores, fingindo que não somos portadores de significativa inferioridade espiritual.
Por isso, a luz nos incomoda.

Allan Kardec jamais economizou esforços para mostrar a relação direta do


Espiritismo com o Cristo, nunca negou ou evitou falar que o Cristo é a referência
máxima de toda obra espírita. Ainda assim, presenciamos uma enorme dificuldade
de muitos de nós em aceitar esse fato tão evidente nas obras Kardequianas e nas
comunicações dos Espíritos superiores. O Codificador é radical ao declarar a relação
do Espiritismo com o Cristo. Leiamos com atenção:

O Espiritismo, muito longe de negar ou destruir o


Evangelho, vem, ao contrário, confirmar, explicar e
desenvolver tudo o que o Cristo disse e fez através das novas
leis da natureza que revela. Ele leva luz aos pontos obscuros de seus
ensinos de modo que certas partes do Evangelho que, para aqueles que
eram incompreendidas ou pareciam inaceitáveis, tornam-se
facilmente compreensíveis e aceitáveis com a ajuda do Espiritismo.
Eles veem melhor o alcance das palavras e dos feitos do Cristo e
podem distinguir a realidade da alegoria, o Cristo se lhes
apresenta maior, já não é simplesmente um filósofo, é um
Messias divino.

- Allan Kardec em Caráter da Revelação Espírita, item 41, no livro La Genèse, les
Miracles et les Prédictions selon le Spiritisme, traduzimos, destacamos, sublinhamos.

179
Poderíamos acreditar, por descaso ou limitação, que o Espiritismo seria
simplesmente uma doutrina filosófica ou científica, mas isso seria um erro
lamentável. Ele é mais: é a continuidade da obra do maior Espírito que já veio ao
mundo, é a continuação da Revelação do Messias divino. Se Allan Kardec está certo -
confiamos que ele está - o Cristianismo é o tema mais importante a ser estudado e
praticado pelos espíritas e pelos Espíritos comprometidos com a própria evolução

Atualmente, estamos em meio a uma revolução cultural que prega arrogantemente


a superioridade de uma ciência e de uma filosofia materialista, que a todos classifica,
julga e condena por critérios que nascem de um ponto de vista estreito e impiedoso.
Por isso, torna-se essencial lembrarmos de Allan Kardec que, enfrentado os
arrogantes intelectuais de sua época, marxistas, positivistas, kantianos, dentre
outros, foi capaz de se colocar acima da moda intelectual do Iluminismo e dizer: a
imortalidade é um fato, Jesus é o maior ser humano da história, Deus é bom e justo.
Sem essas verdades, a ciência torna-se joguete das trevas, a filosofia estímulo à
loucura e a civilização estará perdida – caminharemos para o caos moral e social. Por
isso, Allan Kardec, discípulo devotado do Cristo, nos mostra o Caminho, pois o
Mestre continua a se interessar por cada um de nós, Ele quer nossa felicidade, isso
explica sua comunicação, mil e oitocentos anos após sua crucificação. Ele reafirma
seu amor generoso:

Eu venho, sou teu Salvador e teu juiz; eu venho, como no passado,


[quando estive] entre os filhos perdidos de Israel; eu venho trazer a
verdade e dissipar as trevas. Escutai-me.

- Jesus de Nazaré, capítulo XXXI, Sobre o Espiritismo, item IX, em Le Livre des
Mediums, traduzimos, grifamos.

180
Metodologia
Nosso método de pesquisa para compor esse capítulo foi bastante simples.
Partimos do princípio espírita de que os Espíritos, após o desencarne, mantêm a
individualidade, por isso, ao lermos a primeira linha da mensagem de Jesus - Eu
venho, sou teu Salvador e teu juiz; eu venho, como no passado, entre os filhos
perdidos de Israel; eu venho trazer a verdade e dissipar as trevas – indagamos: os
termos, símbolos e conceitos utilizados já foram utilizados por esse Espírito quando
encarnado? Como se trata de Jesus de Nazaré temos vários relatos de suas ações,
testemunhos e explicações. A partir dessa compreensão simples para os que
conhecem o Espiritismo, iniciamos nossa pesquisa.

Pesquisamos tanto por termos nos textos do Novo Testamento como procuramos
nos dicionários por referência bíblicas que permitissem que fizéssemos relações
significativas entre a mensagem de Jesus com a Primeira e Segunda Revelações.
Também pesquisamos no excelente livro de Koester que trata da simbologia do
Evangelho de João, chamado Symbolism in the Fourth Gospel (Simbolismo no
Quarto Evangelho) de Craig Koester da editora Fortress Press.

Um elemento central que qualquer empreendimento intelectual, penso, é a prece


evocativa ao anjo guardião. Afinal, não podemos desprezar as inspirações dos amigos
que generosamente, em nome do Cristo, se dispõe a nos amparar em nosso busca
pela Verdade.

181
Experienciar
Após uma prece a seu anjo guardião, em ambiente de paz e tranquilidade, leia
calmamente essa frase:

Eu venho, sou teu Salvador e teu juiz; eu venho, como no passado, [quando
estive] entre os filhos perdidos de Israel; eu venho trazer a verdade e dissipar as
trevas.

Fecha os olhos, repita-a sem precisar ser exato.

Imagine o Cristo na sua frente afirmando:

Eu venho, sou teu Salvador e teu juiz; eu venho, como no passado, [quando
estive] entre os filhos perdidos de Israel; eu venho trazer a verdade e dissipar as
trevas.

Olhe para ele.

Expresse seus sentimentos por esse amigo que misericordiosamente continua a


buscar teu coração.

Olhe-o. Sinta Seu amor por você.

Permita-se sentir o amor do Cristo por você.

Encerre com uma prece de agradecimento.

Repita esse exercício durante vários dias, faça-o em poucos minutos.

182
Diálogo Mediúnico
Paz e alegria em vossos corações!

Colocamo-nos nesse instante à disposição para um diálogo fraterno, oportuno e


que, acima de tudo, busca nos fazer sentir a presença amorosa de nosso Mestre em
nossos corações para que, a partir do nosso ser a sua luz ilumine as nossas vidas.

Podemos iniciar.

Questão 1

Boa noite, irmão. Eu gostaria que o irmão falasse um pouco para nós sobre a
fundamentação do Espiritismo, principalmente a frase muito usada no Espiritismo
“Fora da caridade não há salvação”, e nós não vemos a prática e o entendimento
correto no meio espírita, na minha opinião.

A caridade só poderá ser entendida de maneira mais profunda, mais ampla,


quando se medita e se busca viver a vida dos verdadeiros cristãos, dos cristãos
primitivos. A caridade não pode se resumir a um conceito teórico: a caridade se bem
pensardes é um sentimento de amor sublime que parte direto do coração de nosso
Mestre, e nos envolve.

O que vês é a ação abnegada, mas a ação só é verdadeiramente abnegada, quando


sustendada por um amor profundo. Por isso é necessário também vincular-se ao
Mestre, para praticar a verdadeira caridade, não é apenas a entrega externa, são as
energias que expressam um carinho profundo pelo ser que a recebe.

A caridade não é uma prática de amparo social, a prática social poderá


ser eventualmente uma expressão da caridade, se assim não fosse, não
poderia existir a caridade nos mundos superiores, e é a caridade a
característica central dos mundos evoluídos: a capacidade de amar, a
capacidade de sofrer por quem se ama, a capacidade de se doar como
ensina o Cristo. A caridade é a prática do Bom Pastor, a caridade é a disposição de
doar a própria vida em benefício do outro, essa é a verdadeira caridade que só poderá
ser entendida em sentido pleno quando aprendermos a vincular os nossos corações
ao Cristo, e dele receber esse impulso superior tão estranho ao nosso ser, mas que
um dia será o nosso padrão de conduta.

Muito obrigado.

183
Questão 2

Boa noite. Eu gostaria de perguntar sobre um trecho do texto onde está escrito –
ele volta a se comunicar com o mundo com a mesma intenção que tinha quando
encarnou. O que é essa volta a se comunicar com o mundo?

É o Consolador minha amiga, o Consolador é a voz do Cristo, o Consolador é o


Cristo crucificado que volta aos seus próprios algozes dizendo: quem sabe agora
vocês poderão me entender, não guardo mágoas do mundo ingrato, não guardo ódio
dos que me abandonaram, não guardo acusações a nenhum de vocês, mas quero que
me entendam, porque se vocês continuarem a recusar o caminho do amor, as vossas
obras iníquas despencarão sobre vocês.

O Cristo volta ao mundo porque a sua doutrina está relembrada e será


explicada detalhadamente por todos os seus seguidores. Depois do Cristo
veio Paulo, depois de Paulo veio Agostinho, para que o mundo se sensibilizasse na
primeira etapa educativa do Cristianismo, estamos agora no Consolador em um
momento que a primeira etapa já foi iniciada, e que estamos às vésperas de uma
segunda etapa, onde aqueles que são capazes de ensinar a doutrina do Cristo através
da vivência, darão ao mundo ingrato a sua última chance.

Questão 3

Querido irmão, poderia explicar melhor essa questão do ensino, que acabou de
falar, como é que o ensino dentro das casas espíritas poderia levar o Cristo aos
corações?

Fazei o que estamos fazendo, meu amigo: apresentai o Cristo como o verdadeiro
Salvador do mundo; colocai o Cristo no lugar que lhe é devido como nosso Mestre e
Senhor incontestável; derrubai os altares, hoje tão altos, da falsa intelectualidade que
invadiram o movimento espírita; expulsai os fariseus podres que aparentam elevação
em sua etiqueta social refinada, mas que nada tem a dar em termos de calor humano;
purificai os vossos corações; uni-vos àqueles que querem aprender a amar o Cristo,
aprender a servir em nome do Cristo e afastai-vos sim dos fariseus que nada podem
fazer a não ser vos distrair do ensino verdadeiro, poderemos ensinar quando formos
capazes de sentir.

O Cristo não requer nenhuma cátedra, mas o Cristo exige que vos
coloqueis como corações dóceis, que o procureis com o coração sincero,
para que ele alivie os vossos fardos e vos prepare para auxiliar àqueles
que mais sofrem

Obrigado irmão.

184
Questão 4

Boa noite, amado, irmão. Kardec se refere ao Cristo na Gênese como Messias
Divino. Você pode falar mais sobre o Messias Divino?

É muito difícil para nós encontrarmos alguma expressão possível que possa ser
entendida, do que, realmente, o que significa o Cristo, a sua extraordinária
grandeza, o seu amor que a tudo envolve, o seu carinho que a todos
consola, a sua verdadeira humildade, um ser capaz, como já vimos, de
sair das esferas mais resplandecentes do mundo para abraçar uma
criança leprosa e abandonada no lixo. Nós vimos isso. Talvez esse contraste
possa vos fazer sentir a grandeza do nosso Mestre, porque como ensina Allan Kardec,
ele conhece os segredos de Deus e não despreza nenhum dos pequeninos, nenhum
dos terríveis algozes da Terra, nenhuma criança abandonada é ignorada por esse
Espírito, capaz de amar de forma, para nós, indescritível.

Obrigado.

Agradecemos a atenção, o carinho, e o compromisso que observamos em vossos


corações, contamos convosco.

A luz do Cristo hoje possui mais espaço em vosso ser, por isso, agradecei ao Mestre
da única forma que realmente o agradará, amparai vossos irmãos, divulgai
tudo aquilo que vos ajuda a estar próximo do Cristo porque o nosso
Mestre só uma coisa deseja do mundo, que todos aprendamos a nos
amar para que um dia, ele possa pegar em nossas mãos e nos levar para desfrutar a
glória do Criador do Universo.

Paz de vosso irmão e amigo,

Cairbar de Souza Schutel

Mensagem psicofônica recebida em 18.06.2023 em reunião de estudo do Grupo Marcos. Médium


do Grupo Marcos. Revisada pelo autor espiritual e por integrantes do Grupo Marcos.

185
186
187
188
Capítulo 9
Escutai-me

189
190
191
Allan
Kardec

Minhas simpatias, como o senhor sabe, pertencerão sempre aos espíritas


sinceros e dedicados que põem em prática os princípios de nossa santa
doutrina sem segundas intenções, e será sempre para mim um dever ajudar,
com meus conselhos, os que crerem necessitar deles e estiverem dispostos a se
conformar a eles.

- Allan Kardec em carta ao senhor Dijoud, em dezembro de 1863, publicado no projeto Allan
Kardec, destacamos, sublinhamos.

192
Escutai-me.

- Jesus de Nazaré, capítulo XXXI, Sobre o Espiritismo, item IX, em Le Livre des
Mediums, traduzimos, grifamos.

Após apresentar-se como o Salvador e o juiz que esteve, no passado, em Israel


para testemunhar a verdade, Jesus usa uma expressão que é rica em significados
para aqueles que, como Allan Kardec, estudaram seriamente o Evangelho: escutai-
me.

A riqueza dos significados desse verbo não poderá ser completamente explorada
em apenas um breve texto, mas, acreditamos ser possível iniciar um estudo que nos
proporcionará importantes reflexões e profundas intuições.

Allan , Kardec está familiarizado com o simbolismo evangélico a tal ponto que não
apenas o entende, mas utiliza-o frequentemente, como fazem os Espíritos mais
evoluídos da Codificação. Temos um exemplo logo na introdução do Livro dos
Espíritos, quando o Codificador com muita correção realiza emprego simbólico ao
citar uma passagem de Jesus. Vejamos:

Mas, dizem [os que contestam o Espiritismo]: os Espíritos de elite


vêm até vos? Assim respondemos: não fiquem nos subúrbios
[distantes]; vede, observai e julgareis; os fatos estão à vista de todos,
a não ser que se apliquem a eles estas palavras de Jesus: eles têm
olhos e não veem, eles têm ouvidos e não ouvem.

- Allan Kardec, na Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita, item 10, em Le


Livre des Esprits, traduzimos, grifamos, destacamos.

O Codificador, portanto, não apenas conhece o trecho do Evangelho no qual Jesus


cita o profeta Isaías, como o utiliza para explicar a postura daqueles que negam a
possibilidade de nos comunicarmos com os Espíritos superiores. Citação ainda muito
oportuna.

Vamos estudar alguns trechos do Evangelho para mostrar o quanto o verbo


escutar é importante para compreensão do Evangelho e da mensagem de Jesus sobre
o Espiritismo. Primeiro estudaremos a passagem conhecida como O Bom Pastor, no
Evangelho de João; em seguida, estudaremos uma importante história que Jesus
contou: a Parábola do Semeador na qual, segundo Allan Kardec, Jesus fala, também,
das diferentes categorias de espíritas. Concluiremos com o estudo da afirmação de
Jesus a Pilatos, pois diz o Mestre que quem está a favor da Verdade escuta a sua voz.

193
O Cristo assim se define conforme registro no Evangelho de João:

Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida pelas ovelhas. O


mercenário, que não é pastor nem dono das ovelhas, quando vê o lobo
vir, foge abandonando as ovelhas, e o lobo as arrebata e dispersa, pois
ele é mercenário e não lhe importam as ovelhas. Eu sou o bom pastor:
conheço as minhas e elas me conhecem, como o Pai me
conhece e eu conheço o Pai; e dou a vida pelas ovelhas. Tenho
outras ovelhas que não pertencem a este redil [curral]; a
essas tenho que guiar, para que escutem minha voz e se
forme um só rebanho com um só pastor.

- Jesus no Evangelho de João, 10:11-17, O Bom Pastor, Bíblia do Peregrino,


destacamos.

O primeiro ponto a reconhecer é que o Pastor conhece as ovelhas e estas


conhecem o Pastor. Isso é muito interessante se considerarmos os costumes da época
de Jesus, pois em certas circunstâncias, como nos mercados ou mesmo nos pastos, os
rebanhos poderiam se misturar e a forma de separá-los é uma só: o pastor as
chamavam, as ovelhas reconheciam sua voz e o seguiam. Segue um vídeo que retrata
esse fato, muito conhecido dos estudiosos do tema.

https://www.youtube.com/watch?v=-Yx_0p9YHlE

Jesus utiliza-se de um fato conhecido para revelar verdades surpreendentes. Seus


seguidores o seguem da mesma forma que ele [Jesus] segue o Pai, mas não se trata
de uma obediência formal externa; mas de uma obediência fundamentada no
conhecimento e no amor. Da mesma maneira que Jesus escuta a Deus; o Mestre
nos convida a escutá-lo. Esse trecho aprofunda a revelação mosaica, pois apresenta
uma relação afetiva, amorosa e generosa como modelo de relação entre a criatura e o
Criador.

Em seguida, o Cristo apresenta uma revelação que precisaria do Espiritismo, do


Consolador, para ser mais amplamente compreendida. Ele nos diz que: Tenho
outras ovelhas que não pertencem a este redil [curral]; a essas tenho
que guiar, para que escutem minha voz e se forme um só rebanho com um só
pastor. A que redil se refere Jesus? O que significa o Cristo dizer que tem outros
seguidores que escutam a sua voz, que o obedecem, e que eles vivem em outro local?

Ao lermos essa frase de Jesus, de que ele tem ovelhas em outro local, inicialmente,
poderíamos pensar em outro local de nosso mundo, mas Jesus diz que essas outras

194
ovelhas escutam a sua voz, portanto, ele está se referindo a um grupo de Espíritos
evoluídos, Espíritos que tem com ele uma relação de proximidade parecida como a
relação que ele tem com Deus - conheço as minhas e elas me conhecem, como
o Pai me conhece e eu conheço o Pai; - são Espíritos que podem dizer como
disse o Apóstolo Paulo, o Cristo vive em mim! Portanto, o Cristo é o pastor, o líder
que dirige dois imensos grupos humanos: um na Terra composto por Espíritos ainda
rebeldes que não escutam sua voz e outro em um plano superior composto por
Espíritos muito evoluídos que o escutam, amam e obedecem.

Em resumo, o Cristo é dirigente de dois grupos humanos, um evoluído e outro


atrasado, espiritualmente falando. Um localizado na Terra e o outro em outro lugar.

Tudo fica mais interessante quando ele completa ao dizer que tem o objetivo de
formar um só rebanho. Quer dizer, unificar seus rebanhos, seus seguidores: os
evoluídos e os atrasados. Dito de outra maneira, Jesus tem seguidores em nosso
mundo e em outro mundo. Os seguidores deste mundo (Terra) ainda precisam
aprender a escutar sua voz. Ele quer ser escutado para que haja uma união e os
seguidores já maduros, evoluídos, juntem-se aos seguidores que, apesar de
atrasados, desejam segui-lo.

O tema aqui tratado é o da regeneração planetária estudado por Allan Kardec no


livro A Gênese, os Milagres e as Predições segundo o Espiritismo. A regeneração da
sociedade não depende da conversão e da mudança de ninguém em particular.
Espíritos mais evoluídos, o outro rebanho do Cristo, irão nascer em nosso mundo; os
Espíritos, ainda que atrasados, mas que escutarem a voz do Mestre permanecerão e
os que optarem pela indiferença ou pela revolta serão transferidos para outros
mundos inferiores.

É por isso que podemos garantir que a transformação do mundo não depende de
nenhum movimento ou instituição em particular. Todos podem - e devem -
colaborar, mas ninguém é indispensável. É por esse motivo que João, que tão bem
entendeu o Cristo, no Apocalipse descreve a instauração do mundo de regeneração
na Terra, a Nova Jerusalém, como a descida de uma civilização inteira, vinda do Alto,
para habitar nosso mundo. É o reencarne em massa de Espíritos superiores que
escutam, há milênios, a voz do Cristo. É o Cristo o intermediador de toda a
regeneração planetária, é por ele que Espíritos iluminados nascerão em nosso
mundo; são suas ovelhas que vem transformar a face da Terra com suas descobertas
científicas, com suas obras de elevada arte, com sua devoção aos que sofrem de dores
físicas e emocionais. Esses Espíritos farão tudo isso por um motivo: eles escutam a
voz do Pastor.

Vamos agora estudar a Parábola do Semeador. Em O Evangelho segundo o


Espiritismo, Kardec faz um interessante estudo dessa parábola. Para o Codificador,
Jesus é o Messias divino e, por isso, tem ciência do futuro, por essa razão ao
interpretar as palavras de Jesus, Allan Kardec sempre considera essa realidade: o

195
Cristo fala do presente e do futuro da Humanidade, pois como afirmou João
Evangelista, em mensagem que estudamos, o Salvador carrega em seu seio toda a
revelação. Não estranhemos, portanto, ao ver que Kardec diz claramente que essa
parábola, também, aplica-se aos espíritas, a mim e a você. Leiamos com atenção:

Naquele dia, Jesus saiu de casa e sentou-se junto ao lago. Reuniu-se


junto a ele uma grande multidão; por isso ele subiu a uma barca e
sentou, enquanto a multidão estava de pé na margem. Explicou-lhes
muitas coisas com parábolas.

Um semeador saiu a semear. Ao semear, algumas sementes caíram


junto ao caminho, vieram os pássaros e as comeram. Outras caíram
em terreno pedregoso com pouca terra. Faltando-lhes profundidade,
brotaram logo; mas, ao sair o sol, elas se abrasaram e, como não
tinham raízes, secaram. Outras caíram entre os espinheiros: os
espinheiros cresceram e as sufocaram. Outras caíram em terra fértil e
deram fruto: algumas cem, outras sessenta, outras trinta. Quem tiver
ouvidos, escute.

- Jesus em Mateus, 13:1-9, Bíblia do Peregrino, grifamos, destacamos.

Você deve se recordar da mensagem do Espírito da Verdade que estudamos. Em


um trecho ele afirma: minha preciosa semente. Portanto, nós, nessa simbologia,
aplicada pelo Cristo e validada por Kardec, somos o solo onde o Mestre plantou sua
preciosa semente. Relembremos:

[…] Vossas almas não estão esquecidas. Eu, o divino jardineiro,


as cultivo no silêncio de vossos pensamentos; quando chegar a hora
do repouso, quando o fio da vida escapar de vossas mãos e vossos
olhos se fecharem para a luz, sentireis nascer e dar frutos em vós a
minha preciosa semente.

- Espírito da Verdade, Chegada do Espírito da Verdade, no O Evangelho segundo o


Espiritismo, Capítulo VI, O Consolador Prometido, item 6, traduzimos, grifamos,
sublinhamos

Inicialmente Jesus é o semeador, ele semeia sua preciosa semente. É a Segunda


Revelação. Em seguida, conforme ele prometeu, envia o Consolador. Ele não é mais o
semeador, a semente já foi lançada. Agora, ele é o jardineiro. Na verdade, o

196
jardineiro divino. Ele cuida da preciosa semente. Nós permanecemos como o terreno
no qual a semente foi lançada. É assim que o Cristo explica essa parábola. Vejamos:

Escutai a explicação da parábola do semeador.

Se alguém escuta o discurso sobre o reino e não o entende, vem


o maligno e lhe arrebata o que foi semeado em sua mente. Essa é a
semente semeada junto ao caminho. A que foi semeada em terreno
pedregoso é aquele que escuta o discurso e logo o acolhe com
alegria; mas não lança raiz e torna-se efêmero. Chega a
tribulação ou a perseguição pela mensagem, e sucumbe. A que foi
semeada entre espinheiros é aquele que escuta o discurso; mas as
preocupações mundanas e a sedução da riqueza o sufocam e
não dá fruto. A que foi semeada em solo fértil é aquele que escuta o
discurso e o entende. Este dá fruto: cem ou sessenta ou trinta.

- Jesus em Mateus, 13:18-23, Bíblia do Peregrino, grifamos, destacamos.

Allan Kardec irá classificar os espíritas com esse critério: os que escutaram as
orientações dos Espíritos superiores e não entenderam, por isso, conservam-se frios
e indiferentes; os espíritas que escutam as orientações espirituais e as acham belas,
mas para serem aplicados aos outros, portanto, não tem profundidade nem
resistem as preocupações materiais ou a sedução da riqueza. Escutar a palavra do
Reino de Jesus ou dos Espíritos superiores é decisivo para nosso futuro
espiritual. Como vimos para o Cristo e para Kardec há diferentes formas de escutar.
A escuta indiferente; a escuta empolgada e superficial; a escuta invigilante e a escuta
que leva a seguir a voz do Pastor. Apenas um tipo de escuta permite que a semente
nasça e dê bons frutos.

Um detalhe interessante. O Espírito da Verdade diz: sentireis nascer e dar frutos


em vós a minha preciosa semente. Não poderia ele ter dito apenas nascer? Não.
Porque há sementes que brotam, mas são sufocadas pelos espinhos ou secam por não
terem raízes profundas, por isso ele diz, nascer e dar frutos.

Constatamos com esse breve estudo a qualidade literária e simbólica das


mensagens de Jesus de Nazaré e, também, a integração entre esse Espírito e Allan
Kardec que foi capaz de compreender tão profundamente os símbolos apresentados
que selecionou para a Codificação as mensagens que estudamos aqui. Não fosse o
Codificador capaz de entender a simbologia cristã, jamais teria publicado essas
palavras de sabedoria que permanecem incompreensíveis aos “doutos e instruídos”
do passado e do presente.

197
Encerraremos com um episódio dramático da vida do Cristo. O Mestre está diante
de Pilatos, um homem inferior, um político interesseiro que se preocupa apenas
consigo, e que nesse momento, pensa ter em suas mãos a vida do Cristo. A acusação:
Jesus teria se declarado rei.

Para o Espiritismo, Jesus é rei. Allan Kardec defenderá essa ideia ao dizer que
Jesus é um rei superior aos reis da Terra, pois os reis terrenos sempre dependem de
mil circunstâncias sociais para se manterem no comando e Jesus é um rei que jamais
poderá ser derrubado pela ação humana, pois reina por vontade do Criador do
universo, Deus.

Disse-lhe Pilatos:

- Então tu és rei?

Respondeu Jesus:

-É o que dizes. Eu sou rei: para isso nasci, para isso vim ao mundo,
para testemunhar a verdade. Quem está a favor da verdade
escuta a minha voz.

- Evangelho de João, 18:37, Bíblia do Peregrino, destacamos, sublinhamos.

As palavras do Cristo são claras: quem está a favor da verdade, quem a busca com
humildade e honestidade, sempre escutará Sua voz. Em um momento em que mesmo
o movimento espírita parece esquecer seu vínculo profundo com o Mestre, em que o
amor do Cristo por cada um de nós deixa de ser enfatizado; em que nossa relação
com o Messias divino não é mais entendida como decisiva, precisamos relembrar o
apelo generoso do Mestre:

Escutai-me.

- Jesus de Nazaré.

198
Metodologia
Nossa metodologia parte do princípio espírita de que existem Espíritos superiores
e inferiores; além disso, que existem Espíritos que se destacam dentre os Espíritos
superiores e ainda que existem Espíritos que são puros, quer dizer, pertencem a
categoria dos que superaram toda e qualquer inferioridade.

Dentre os Espíritos puros existem aqueles que estão mais avançados em evolução,
em conhecimento e em amor, deste pequeno grupo elevadíssimo, Jesus Cristo é o
mais evoluído de todos no que se refere a nosso mundo.

Ele é o líder de todos os outros Espíritos puros e Espíritos superiores. Além disso,
segundo Kardec, ele tem acesso aos segredos de Deus.

Cabe a todos nós, que conhecemos essa realidade, considerar muito atentamente a
mensagem dos Espíritos superiores e, acima de tudo, as mensagens atribuídas ao
Cristo. Caso elas não sejam reveladoras de profunda sabedoria, que uma
compreensão mais elevada do que tudo que conhecemos e ao mesmo tempo de uma
misericórdia e generosidade ímpar, devemos desconfiar. Por isso, é necessário ao
estudar uma mensagem atribuída ao Messias Divino, muito critério, muita atenção,
muito estudo e reflexão.

Como ensina um dito popular para quem sabe ler um pingo é letra, podemos
acrescentar, quem é sábio pode usar uma palavra que revela um universo de
significados. Assim consideramos a mensagem de Jesus.

O Mestre não escreveria sem ter em mente um significado o verbo escutar.


Pesquisamos em nosso livro sobre o Simbolismo no Quarto Evangelho foi o
suficiente para termos um conjunto de referências a serem exploradas.
Naturalmente, em nosso estudo, que ainda é inicial, selecionamos as mais didáticas,
guardando para o futuro muitas outras, para o momento em que teremos
oportunidade de expandir nossas reflexões. Portanto, fizemos algo simples: 1.
Refletimos sobre que significado a segunda frase escrita pelo Cristo poderia ter; 2.
Investigamos o que livros respeitáveis diziam do assunto; 3. Relacionamos com a
explicações da Codificação; 4. Selecionamos alguns exemplos mais didáticos e
apresentamos. Esperamos que no futuro, muitos outros façam esse tipo de estudo. É
simples e muito educativo.

199
Experienciar
Faça um prece, evocando seu anjo guardião. Peça sua ajuda, amparo e proteção
para esse momento. Isso é importante.

Assista ao vídeo que disponibilizamos o link.

Leia com vagar e atenção em seu Novo Testamento o trecho do Evangelho de João,
capítulo 10, dos versículo 1 até 18.

Durante a leitura você pode ouvir uma música que lhe dê paz ou buscar um local
silencioso.

Ao ler, imagine as cenas que mais lhe tocam o coração... Viva cada cena com
envolvimento emocional.

Ao final, indague: que tipo de amor tem esse pastor, como é esse amor de quem dá
a própria vida para meu bem-estar...

Sinta esse Amor. É o amor do Cristo. Do Homem-Deus. Do Messias Celeste.

É o Amor de teu Amigo Divino.

200
Diálogo Mediúnico
Paz e alegria em vossos corações!

Que o Cristo, este amigo tão querido, esse coração tão meigo, esse Pastor tão
abnegado, possa nos inspirar neste instante em que aqui estamos, entendendo que
tudo que precisamos fazer é abrir nossos corações e escutar a mensagem daquele que
fala para todos nós em nome de Deus.

Colocamo-nos a disposição, carinhosamente, para o diálogo de hoje.

Questão 1

Boa noite, irmão. Eu gostaria, se pudesse me auxiliar, a ver por que caminho
devo seguir para ter mais confiança na providência do Pai, de enxergar, de aceitar,
de entender melhor os caminhos das pistas que são dadas. Se puder ajudar eu
agradeço, obrigada.

Tire quinze minutos por dia, minha irmã, a partir de amanhã, para refletir o
quanto Deus, a intervenção Divina, em sua vida, já lhe amparou todos os dias. Todos
os dias faça esse exercício. Embora inicialmente pareça difícil, ore, concentre-se e
registre a resposta a pergunta: “como Deus já me ajudou?” Dia a dia. E isso irá lhe
educar para perceber mais claramente que o amor de Deus sempre esteve presente
em sua vida.

Obrigada.

Questão 2

Poderia nos contar mais acerca da Nova Jerusalém que vai crescer aqui no
planeta e o envolvimento do Brasil nisto?

Certamente. Até porque é a área em que atuamos de uma maneira direta. Allan
Kardec, inclusive no livro O Céu e o Inferno, registra já à época dele, o relato de
Espíritos que trabalham em comunhão com Espíritos de planetas mais evoluídos.

O Brasil terá papel de destaque na renovação da Terra. Não apenas por conta de
suas riquezas naturais, mas porque aprenderá a ofertar generosamente essas
riquezas, também àqueles que mais sofrem. Nos preparamos, naturalmente, para um
embate árduo em que as forças das trevas, desesperadas com a renovação do mundo,
atuam de maneira a envolver maior número de incautos possível. Contudo, o plano

201
do Cristo é superior e vai muito além de um período de batalha que marcará apenas o
início de um processo de regeneração intensa.

No Brasil, legiões de Espíritos se mobilizam, muitos preparam-se para


nascer aos milhares. Muitos de vós, verão ainda com os olhos da carne
muitas modificações positivas. Mas não esqueçais: para ter a alegria da
criança é necessário passar pelas dores do parto. É natural esperar,
portanto, que haverá muitos testes. Que será necessário o testemunho
solitário de cada um que queira escutar a voz do Pastor.

Não cabe a ninguém, minimamente informado, por um segundo


sequer, duvidar da superioridade e da grandeza do Cristo. Se o mundo vos
parece dominado por forças poderosas é porque sois crianças que não entendeis a
grandeza do Pai. Se tudo parece sem solução é porque não conheceis os mecanismos
que estão à disposição de nosso Mestre tão amado. O vosso pavor deve ser, apenas e
exclusivamente, da vossa própria inferioridade.

A vós cabe aplicar em si mesmos a parábola do semeador. “Que


preciso eu para não ser um cristão distraído?”; “que preciso eu para
não ser um cristão leviano que foge nos primeiros testemunhos, ou que
recua diante das pequenas mágoas que sempre marcam as relações
humanas na Terra?”; “que preciso eu para ter raízes profundas?”; “que
preciso eu para produzir boas sementes?” - Essas são as questões
centrais que é preciso que cada um, na solidão de si mesmo, ouvindo a
própria consciência busque responder.

Esse é o plano de trabalho que deveis buscar. Se as questões econômicas vos


afligem, se o mundo está em pânico, não temais. Mas perguntai a si mesmo: que farei
eu para que na hora de meu testemunho eu consiga me tornar digno de uma
felicidade superior? Avancemos, portanto, sempre na nossa preocupação de
autoaperfeiçoamento. “Mas o mundo se acaba”, muitos dirão. O espírita dirá “mas,
o mundo nasce também”.

A grande questão do mundo sempre será individual, sempre será da


preparação verdadeira, do exercício da renúncia e não das realizações
externas. Sabei que o vosso sacrifício discreto, as vossas horas de sono e o vosso
tempo de lazer abdicados em prol do sofrimento de alguém pode valer muito mais
que a doação de milhões e milhões.

O Cristo não se importa com o ouro do mundo, o Cristo não considera


em alta conta a fama social. O que o Cristo sempre pergunta é: que
lágrimas você consolou? Não pensemos por um instante que seja que o mundo
está abandonado e que o Cristo não está a par de tudo. O seu olhar penetrante varre o
psiquismo de todos aqueles que se acham líderes do mundo. As suas energias de
ânimo são emitidas para todos aqueles que se sabem pequenos e buscam o seu
regaço reconfortante.
202
Entendamos, portanto, que o Brasil - não por opção de ninguém, mas
por determinação do Mestre - será a Pátria do Evangelho. Podeis indagar:
será espírita? Não importa. Importa que todos aprenderão a amar o Mestre, e sim, o
Espiritismo terá um papel de colaboração extremo valor. Não porque irá converter as
pessoas em espíritas, mas porque os grandes gênios da arte estarão em solo
brasileiro, expressando de forma elevada a grandeza do Cristo que aprenderão graças
à Codificação Espírita. Não nos preocupemos com números. Nos preocupemos
apenas com a semente que o Cristo pessoalmente depositou em nossos corações.
Fazei que essa semente cresça, fazei com que esta semente frutifique e
vocês terão contribuído para instalar o reino de Deus no mundo.

Questão 3

Mesmo conscientes que somos dessa semente que devemos espargir, espalhar, da
semente que Jesus nos deixou, ainda assim existem muitos tropeços em nossos
caminhos. Sabemos que é necessário, mas essas dificuldades que encontramos, é
possível superá-las e seguir adiante?

Todas. Não disse o nosso Mestre que seu fardo é leve? Mas não penseis em superá-
las todas tão rapidamente, até porque outras viriam. O que é necessário é
perguntar ao Mestre “Senhor, o que preciso aprender com essa dor?”;
“Senhor ajuda-me a suportar a dor, porque eu sei que a tua dor foi
muito maior que a minha e Você soube suportar, portanto, tu entendes
de dor”; “ajuda-me a carregar essa cruz, que para os meus ombros
frágeis, parece tão pesada”. O nosso aprendizado, minha amiga, é de
saber sofrer, porque precisamos nós purificarmos a nós mesmos.
Precisamos, nós, elevarmos a nossa vibração. Precisamos, nós, corrigir os impulsos
egoístas que no passado tanto alimentamos.

Por isso, tantas vezes, a dor pode se fazer necessária. Não queiramos nós ser
sábios em relação a nós mesmos. Entreguemo-nos ao Pastor, abramos o coração,
mostrando a Ele as nossas dores. Alguém dirá “fiz isso uma vez” e eu direi: façais isto
todos os dias, porque todos os dias o Cristo vos ama, porque todos os dias Ele age
numa multidão de circunstâncias para que teu sofrimento não se amplie
excessivamente. Aprendamos que, se a dor é constante, ainda mais
constante deve ser a presença do Mestre. E quando o Mestre se instala em
nossos corações as dores se tornam bem-vindas, porque temos um Amigo tão
generoso e o Seu amor é tão intenso que até esquecemos o significado do sofrimento
enquanto desespero.

Entendamos: a dor tem um sentido, uma finalidade e um fim, mas a


nossa relação amorosa com o Mestre há de ser eterna.

Obrigada

203
Questão 4

Como a gente vai diferenciar uma dor que seja ainda devida ao egoísmo ou a
uma visão mais limitada, mais estreita, daquela que está chegando para levar a
gente a nível mais aprofundado, mais evoluído?

Para o cristão todas as dores são oportunidades de elevação. Na Terra,


de uma forma ou outra, as dores se vinculam a vossa inferioridade. Houve um que
nada mereceu. Todos nós, em grau muito variado, sempre carecemos de experiências
que façam despertar em nós a nossa essência divina. Portanto, não é essencial essa
diferença, o essencial é saber vivenciá-la e utilizar a dor como um ponto de apoio e de
elevação em direção ao Cristo.

Aceitando-a?

Se possível, amando-a.

Sem tentar resolver?

Aceitar a dor é a forma de resolver, minha amiga. O Espírito revoltado


que se nega a sofrer normalmente amplia sua dor e gera dor em corações
que ele não gostaria de fazer sofrer.

Está bem, obrigada.

Haveria ainda a última questão?

Questão 5

Como eu sei se a semente que Cristo plantou em mim já, pelo menos, germinou?

Fazei uma autoavaliação. Consultai corações equilibrados em que confiais. Acima


de tudo: sabei que estás distante do grau de felicidade que o Cristo deseja para ti.
Não busquemos, como o servo, atender os desejos do patrão. Façamos o
que o Cristo nos diz, sejamos amigos, em uma relação de amizade não há
uma simples meta a realizar, não é um simples compromisso, é um
aprender a amar e a gostar de estar juntos.

O Cristo, meus amigos, não nos quer como servos, não nos quer como tarefeiros
que têm por meta realizar qualquer coisa específica para encerrar a jornada. O Cristo,
porque nos ama, já nos deu o título excelente de amigos. O Cristo não está aqui para
ensinar uma tabuada e cobrar a vossa memória adequada. O Cristo, por nosso
intermédio, diz a todos: eu quero ser amigo de cada um de vocês, eu
desejo conviver com vocês por milênios sem fim. Não é importante se a

204
situação A ou B foi feita de forma perfeita, uma coisa é importante: o
amor de Deus. E o Cristo sente por cada um de nós um amor Divino.

Não olhemos para o nosso Mestre como se fora feitor ou patrão exigente. Acima de
tudo, assim o desejou o Mestre, apresentar-se como amigo, mas como amigo muito
especial: um amigo Pastor, um amigo que nos guia e que está disposto mil vezes a
morrer para nos proteger. Assim o faz até hoje. O Cristo não busca
funcionários. O Cristo busca o vosso coração porque vos ama
infinitamente.

Obrigado

Encerramos neste instante, expressando, ainda uma vez, a alegria em ver tantos
corações sinceramente esforçados no bem. Trabalhemos, acima de tudo, para que o
Cristo se fortaleça em nós. Não nos interessa produções materiais sem amor, para
nós importa que vossos corações se elevem. Para nós importa que tudo o que seja
feito, seja feito sentindo a presença do Cristo.

Não temais em orar a este Espírito, Ele tem poder suficiente para abraçar a todos e
cuidar de toda a Terra. A nossa meta é simples: vamos ampliar a presença
do Bom Pastor em nossos corações, porque aqui estamos para realizar a
promessa do Cristo. Cabe a nós contribuirmos para que vocês integrem as ovelhas
que já escutam a voz do Cristo. Caberá apenas a decisão íntima, corajosa e ousada, no
silêncio de vosso ser, abrir-se e simplesmente dizer: Mestre, eu aceito o teu amor,
cuida de mim, vede minhas feridas e fragilidades, vede meus erros e minhas
confusões, vê quem eu sou, eu não tenho medo de me revelar a Ti, porque sei que
apesar de todas as feridas que carrego, em Ti existe um amor tão poderoso e tão
belo que é capaz de ver a beleza em mim, que eu mesmo ainda não enxergo. Mestre
me ensina a amar-Te, porque quando eu te amar eu já estarei salvo.

Paz, do vosso irmão e amigo,

Cairbar de Souza Schutel.

Mensagem psicofônica recebida em 25.06.2023 em reunião de estudo do Grupo Marcos. Médium


do Grupo Marcos. Revisada pelo autor espiritual e por integrantes do Grupo Marcos.

205
206
207
208
Capítulo 10
A Verdade imutável

209
210
211
Allan
Kardec

Diante de problemas insondáveis, nossa razão deve se humilhar. Deus


existe; não há dúvida; ele é infinitamente justo e bom: essa é sua essência, por
isso, seu cuidado carinhoso a tudo se estende; isso nós compreendemos. O
essencial é: Ele só pode querer o que é bom para nós e, por isso, devemos
confiar nele. Quanto ao resto, esperemos até nos tornarmos dignos de
entender.

- Allan Kardec, em A Providência, no Capítulo II, Deus, item 30, no livro La Genèse, les
Miracles et les Prédictions selon le Spiritisme, traduzimos, destacamos.

212
Para Allan Kardec e para Jesus de Nazaré, o Espiritismo vem ao mundo lembrar
uma verdade imutável: Deus é bom, Deus é grande, Deus cuida amorosamente da
criação em seus mínimos detalhes.

Eu venho, sou teu Salvador e teu juiz; eu venho, como no


passado, [quando estive] entre os filhos perdidos de Israel; eu venho
trazer a verdade e dissipar as trevas. Escutai-me. O Espiritismo,
como no passado a minha palavra, deve lembrar aos
materialistas que acima deles reina uma verdade imutável: o
Deus bom, o Deus grande que faz dar frutos a planta e que eleva
as ondas.

- Jesus de Nazaré, capítulo XXXI, Sobre o Espiritismo, item IX, em Le Livre des
Mediums, traduzimos, grifamos.

Antes de explorarmos os significados dessa frase - uma verdade imutável -


lembremos o que quer dizer: O Espiritismo, como no passado a minha palavra. Que
passado é esse a que o autor do texto se refere? E de quem é a “minha palavra”?
Chama-nos a atenção o fato de que a expressão como no passado está tanto na
primeira como na terceira frase da mensagem. Um dos motivos para a repetição é
claro: o autor da mensagem quer enfatizar sua identidade, afinal, quem pode
afirmar: “venho como no passado, quando estive entre os filhos perdidos de Israel”
e, em seguida, dizer, “O Espiritismo, como no passado a minha palavra…”? Quem
no passado esteve entre os filhos de Israel e teve uma palavra que se compara ao
Espiritismo? O Cristo. Não há outro.

Após identificar-se claramente, Cristo apresenta uma ideia que, para Kardec, é o
centro, a essência da Revelação Cristã: uma nova compreensão de quem é o Criador.

Diz o Mestre na mensagem psicografada:

O Espiritismo, como no passado a minha palavra, deve


lembrar aos materialistas que acima deles reina uma verdade
imutável: o Deus bom, o Deus grande que faz dar frutos a planta
e que eleva as ondas.

A verdade imutável, trazida ao mundo por Jesus de Nazaré e relembrada nessa


psicografia, historicamente é assim explicada por Allan Kardec:

213
A parte mais importante da revelação do Cristo, no
sentido em que ela origina algo novo, a pedra angular
[elemento central] de sua doutrina, é o ponto de vista
completamente novo a partir do qual ela nos faz ver a
Divindade. Já não é o Deus terrível, ciumento e vingativo de Moisés;
o Deus cruel e impiedoso que rega a terra com o sangue humano, que
ordena o massacre e a exterminação dos povos sem poupar as
mulheres, as crianças e os idosos e castiga os que poupam as vítimas;
já não é o Deus injusto que pune todo um povo pela falta de seu chefe;
que se vinga do culpado, punindo o inocente, que bate nos filhos pela
falta dos pais; mas é um Deus clemente, soberanamente justo e
bom, pleno de mansuetude e de misericórdia, que perdoa o
pecador arrependido e que dá a cada um segundo suas obras […]
Toda doutrina do Cristo tem como fundamento as
características que ele atribui a Divindade.

- Allan Kardec, em As Características da Revelação Espírita, itens 23 e 25, no livro


La Genèse, les Miracles et les Prédictions selon le Spiritisme, traduzimos,
destacamos, sublinhamos.

Em resumo, após identificar-se como aquele que no passado esteve entre os


israelitas com o objetivo de apresentar a verdade e dissipar as trevas, o Mestre
afirma, escutai-me. Essa é sua segunda frase, já estudamos no capítulo 9. Na frase
seguinte, o que ele faz? Apresenta o ponto mais importante de seus ensinos: a
verdade imutável, isto é, Deus é bom, Deus é grande e Deus cuida de todos.

Essa verdade, segundo Jesus, está acima de todos os seres humanos revoltados
que negam o amor atento de Deus ou que negam mesmo sua existência. Além de
revelar, mais uma vez, essa verdade, o Cristo também insiste em um ponto essencial:
a manifestação do amor de Deus é algo objetivo, palpável e visível, é o amor Divino
que faz a planta dar frutos e as ondas se elevarem. Deus, além de ser bom e grande,
se preocupa com os pequenos seres da criação, cuida com amor e misericórdia de
todos os detalhes de Sua obra, tudo sustenta e tudo conduz.

É muito importante entender como Deus se relaciona conosco, pois a dificuldade


em sentir o amor de Deus nos leva a negar Sua existência ou a afirmar que Ele é um
ser distante da criação, que Ele não nos acompanha nem nos protege. É uma atitude
intelectual infeliz, que nos distancia emocionalmente de Deus e que o Cristo vem
dissipar ao apresentar a verdade sobre a Divindade, que ele conhece em
profundidade.

Allan Kardec, em O Livro dos Espíritos também trata do mesmo tema; a pergunta
do Codificador é surpreendentemente inteligente e a resposta, para mim, é a mais
tocante de toda a Codificação.

214
Deus cuida pessoalmente de cada homem? Ele não é tão grande e
nós tão pequenos para que cada indivíduo, em particular, tenha
qualquer importância a seus olhos?

Deus cuida de todos os seres que criou, por mais pequenos que
sejam; nada é tão pequeno para a sua bondade.

- Questão 963, em Le Livre des Esprits, traduzimos, destacamos, grifamos.

Nunca li uma frase tão comovente: nada é tão pequeno para a bondade de
Deus. Essa é a verdade imutável que jamais devemos esquecer.

Antes de apresentarmos como o cuidado divino conosco se relaciona com ação do


Cristo no mundo, lembremos alguns trechos da Segunda Revelação. No Evangelho de
Mateus, o Cristo busca uma comparação cotidiana para mostrar que Deus cuida dos
mais pequeninos, inclusive, dos que são menores que os seres humanos; para isso,
utiliza uma referência financeira e fala dos fios de nossos cabelos. É o esforço de um
grandioso Espírito para ensinar seus irmãos menores sobre a verdade imutável.
Leiamos com muita atenção:

Quanto custam dois pardais? Uma moeda de cobre? No entanto,


nenhum deles cai no chão sem o conhecimento de seu Pai.
Quanto a vocês, até os cabelos de sua cabeça estão contados.
Portanto, não tenham medo; vocês são muito mais valiosos que um
bando inteiro de pardais.

- Jesus, Evangelho de Mateus 10:29-31, em Novo Testamento, NVT, grifamos.

Em outra passagem, verificamos como Jesus usa a comparação entre um pai


humano e Deus, o Pai, para tornar evidente o cuidado carinhoso que Deus tem por
cada um de nós. Há muita beleza nessa comparação:

Peçam, e receberão. Procurem, e encontrarão. Batam, e a porta lhes


será aberta. Pois todos que pedem, recebem. Todos que procuram,
encontram. E, para todos que batem, a porta é aberta. Respondam: Se
seu filho lhe pedir pão, você lhe dará uma pedra? Ou, se pedir um
peixe, você lhe dará uma cobra? Portanto, se vocês, que são maus,

215
sabem dar bons presentes a seus filhos, quanto mais seu Pai,
que está no céu, dará bons presentes aos que lhe pedirem!

- Jesus, Evangelho de Mateus 7:7-11, em Novo Testamento, NVT, grifamos,


sublinhamos.

Paulo de Tarso ao escrever aos Hebreus, sobre a capacidade de Deus de estar


consciente de toda a criação, explica:

Nada, em toda a criação, está escondido de Deus. Tudo está


descoberto e exposto diante de seus olhos…

- Paulo de Tarso, Carta aos Hebreus, 4:13, em Novo Testamento, NVT, grifamos.

Na Terceira Revelação, Allan Kardec em A Gênese, os Milagres e as Predições


segundo o Espiritismo desenvolve essa compreensão. Observe que é um
desenvolvimento, não uma inovação:

[…] Deus está em toda a parte na natureza de forma semelhante


como o Espírito está em toda parte no corpo; todos os elementos da
criação estão em constante relação com ele, da mesma forma que
todas as células do corpo humano estão em contato imediato com o ser
espiritual; não há razão para que fenômenos da mesma ordem não
aconteçam da mesma maneira, tanto em um caso como em outro.

Um membro se agita, o Espírito sente-o; uma criatura pensa,


Deus sabe. Todos os membros estão em movimento, os diferentes
órgãos são movimentados: o Espírito sente cada acontecimento, os
distingui e os localiza. As diferentes criações, as diferentes
criaturas movem-se, pensam, agem de formas diferentes; e
Deus sabe tudo o que se passa e atende a cada criatura em
particular.

- Allan Kardec, em A Providência, Capítulo II - Deus, item 27, no livro La Genèse,


les Miracles et les Prédictions selon le Spiritisme, traduzimos, destacamos,
sublinhamos.

216
Certamente, somos incapazes de entender de forma completa a atuação de Deus
no universo e em nossas vidas. Como ensina Kardec, saber que Deus nos ama
pessoalmente e cuida carinhosamente de nós é o essencial. Além do essencial, que é
a verdade imutável, anunciada há dois mil anos e repetida no século XIX, pelo
Cristo, o Espiritismo também nos indica algumas das incontáveis maneiras que o
Criador utiliza para cuidar de nós, seus filhos.

Uma das maneiras de Deus cuidar de nós está registrado em Livro dos Espíritos e
foi desenvolvido ao longo da vida de Allan Kardec, assim o codificador explica: Deus
tem Espíritos puros como seus mensageiros e ministros para a realização de suas
ordens amorosas.

Ao tratar da Escala Espírita, Kardec explica a ocupação dos Espíritos da primeira


ordem, dos Espíritos puros, são os Espíritos que já atingiram um grau imenso de
elevação. Ser da primeira ordem significa que eles:

Não sofrem nenhuma influência da matéria. Superioridade


intelectual e moral absoluta em relação a todos os Espíritos das outras
ordens.

[…] Eles percorreram todos os graus da escala e depuraram-


se de todas as impurezas da matéria. Atingiram a soma de
perfeição que é possível a uma criatura, eles não estão mais
submetidos a provas ou expiação.

- Allan Kardec, em Le Livre des Esprits, itens 112 e 113, traduzimos, destacamos.

O mais interessante para nosso estudo é o que vem a seguir. Kardec nos explicará
o que fazem esses Espíritos, isto é, a ocupação dos Espíritos puros.

Eles [os Espíritos puros] são os mensageiros e os ministros de


Deus que executam suas ordens para manter a harmonia do
universo. Eles comandam a todos os Espíritos inferiores a eles,
ajudando-os a aperfeiçoarem-se e lhes dando missões.

Assistir os homens em suas aflições, estimulá-los a fazer bem ou a


expiar suas faltas que os afastam da felicidade suprema. Isso, para
eles, é uma doce ocupação. São, às vezes, nomeados de anjos,
arcanjos ou serafins.

- Allan Kardec, em Le Livre des Esprits, item 113, traduzimos, destacamos,


grifamos.

217
A ocupação dos Espíritos puros é auxiliar Deus para manter a harmonia do
universo. Resumindo, Deus sabe de tudo o que acontece no universo e tem atenção
para cada pensamento nosso, para o que acontece com os animais e com plantas,
ainda cuida do reino mineral. Ele tudo sabe, tudo observa, tudo ama.

Uma das formas que o Criador utiliza para cuidar do universo - certamente não é a
única maneira de Deus cuidar de Sua Criação - é por meio de seus mensageiros e
ministros, que são os Espíritos puros. Esses Espíritos tudo fazem a partir das ordens
misericordiosas do Criador.

É preciso agora investigar o local de Jesus Cristo na Escala Espírita elaborada por
Allan Kardec, para que no final dessa exposição, poderemos compreender que Jesus
não é apenas um Espírito puro, mas, na classificação de Kardec, é superior aos
Espíritos puros, ou, dito de outra forma, ele está entre os mais evoluídos Espíritos
puros.

Inicialmente temos uma informação valiosíssima:

Qual o tipo mais perfeito que Deus já ofereceu ao homem para


servir de guia e de modelo?

“Vede Jesus”

Jesus é para o homem o tipo da perfeição moral a que pode desejar


a humanidade na Terra. Deus o oferece a humanidade como o
modelo mais perfeito e a doutrina que ensinou é a mais pura
expressão da lei de Deus, porque Jesus é o ser mais puro que
já apareceu na Terra e estava animado pelo Espírito Divino.
[Comentários de Allan Kardec]

- Questão 625, em Le Livre des Esprits, traduzimos, destacamos, grifamos.

No Livro dos Médiuns, Santo Agostinho se refere a Jesus como divino Mestre.

Em O Evangelho segundo o Espiritismo, temos:

● Allan Kardec fala, já na introdução, da divina missão do Cristo;


● São Vicente de Paulo refere-se aos ensinos divinos e as palavras
divinas do Cristo;
● O Espírito Michel fala do Cristo como Messias divino;
● Simeão define o Cristo como o divino Salvador, o justo por
excelência;
● Kardec, escreve sobre os ensinos do Cristo como a palavra do

218
Messias celeste
● No último capítulo, Coletânea de Preces Espíritas, assim se expressa
o Codificador: Senhor, Tu nos disseste pela boca de Jesus, o teu
Messias.

São apenas poucos exemplos de como o Codificador e os Espíritos da Codificação


entendem o Cristo.

Em O Céu e o Inferno ou a Justiça Divina segundo o Espiritismo, declara Kardec:

Sim, Cristo é o Messias divino;

Sim, sua palavra é a verdade;

Sim, a religião fundada sobre sua palavra será inabalável,


mas com a condição de se seguir e praticar seus sublimes ensinamentos.

- Allan Kardec, Capítulo X, item 19 em Le Ciel et L'enfer ou La Justice Divine Selon


Le Spiritisme, traduzimos, grifamos, sublinhamos.

Acredito que está clara a posição do Espiritismo em relação ao Cristo: ele é um


Espírito puro diretamente ligado a Deus, por isso, é tão frequentemente chamado por
Kardec e pelos Espíritos da Codificação de divino. Há algo mais surpreendente que
agora poderemos entender.

Vou iniciar a explicação pela Segunda Revelação, com o Evangelho de João:

No princípio, aquele que é a Palavra já existia.

A Palavra estava com Deus, e a Palavra era Deus.

Ele existia no princípio com Deus.

Por meio dele Deus criou todas as coisas, e sem ele nada foi
criado.

Aquele que é a Palavra possuía a vida, e sua vida trouxe luz a todos.

- João, Evangelho de João, 1:1-4, Novo Testamento, NVT, grifamos, sublinhamos.

219
O que João está nos informando nesse texto é que o Cristo, aqui indicado como a
Palavra divina, em outras traduções como o Verbo divino, foi a individualidade pela
qual Deus fez todas as coisas, quer dizer, nada em nosso mundo foi criado sem Ele.

Vamos retomar nosso tema, a verdade imutável: Deus bom, grande e amoroso. O
Cristo é o Espírito que obedecendo as orientações do Criador do universo criou a
Terra e tudo que nela existe e, também, é o Espírito que recebe todas as ordens e
orientações de Deus para cuidar de cada um de nós. Além disso, é Ele quem decide
sobre todas as missões dos Espíritos puros e superiores relativas a Terra, seja no
plano material, seja nas dimensões espirituais que a envolvem. Essa é a explicação de
Allan Kardec no livro Céu e Inferno ou a Justiça Divina segundo o Espiritismo:

Os puros Espíritos são os Messias ou mensageiros de Deus


para a transmissão e a execução de Sua vontade; eles realizam as
grandes missões, eles dirigem à formação dos mundos e à
harmonia geral do universo, responsabilidade gloriosa que apenas
possui os que atingiram a perfeição. Os de ordem ainda mais
elevada são os únicos que estão nos segredos de Deus,
inspiram-se em Seu pensamento e são seus representantes
diretos.

- Allan Kardec, Capítulo III, item 12 em Le Ciel et L'enfer ou La Justice Divine


Selon Le Spiritisme, traduzimos, grifamos, sublinhamos.

Esclarecendo: Jesus Cristo não é apenas um Messias, um Espírito puro, é, como já


vimos um Messias divino, quer dizer é um Messias, um Espírito puro, da ordem
mais elevada. Ele conhece os segredos de Deus. Isso tem muitas implicações: uma
delas é que Deus compartilha com ele o conhecimento de todas as coisas do que
acontece no mundo.

O Cristo, em nosso mundo, conhece todas as coisas, nada lhe é oculto. Nossos
pensamentos e sentimentos, nossas dores e alegrias, bem como, os problemas
ecológicos e sociais. Ele, o Mestre divino, cuida de cada ser de nosso mundo e em
particular de cada um de nós. Por isso, é verdadeiro quando ele afirma: sou o teu
Salvador e o teu juiz. Por conhecer os mistérios de Deus, Ele pode afirmar que há
uma verdade imutável: o Deus bom, o Deus grande que faz dar frutos a planta e
que eleva as ondas. Talvez, agora, entendamos melhor, porque o grande Apóstolo
Paulo de Tarso, em comunicação mediúnica direcionada a Kardec afirma: Jesus
Cristo é o Homem-Deus.

220
Metodologia
Como já havíamos compreendido a real situação espiritual do Cristo, o Messias de
Deus, realizamos a seguinte pesquisa. Buscamos o que esse Espírito que presidiu a
formação da Terra e que possui um percepção divina em relação a esse mundo que
ele criou, afirmou sobre Deus.

Não é nenhuma descoberta desconcertante encontrarmos que ele, quando


encarnado, demonstra uma compreensão semelhante em sua mensagem mediúnica.
Simplesmente, porque o Cristo é da mais elevada ordem dos Espíritos puros. Na
prática, isso significa que quando encarnado a matéria não tinha nenhum poder
sobre ele, a influência material, inclusive, cultural, não o afetava. Ele continuava tão
lúcido no corpo, encarnado, quanto estava antes de seu nascimento no mundo. Isso é
ser um Espírito puro.

É também por isso que Kardec afirma sem medo: o Cristo não erra. Ele age com
plena lucidez e em contato direto com o Criador do universo. Assim sendo,
comparamos o que Jesus ensinou sobre Deus, naturalmente, utilizando-se de
símbolos e o que vem, em Espírito ensinar.

Compreendido essa realidade, o método é simples: pesquisar passagens no Novo


Testamento nas quais o Mestre expressa sua compreensão sobre Deus e relacioná-las
com trechos da Codificação na qual Kardec explica a compreensão espírita de Deus.
Obviamente, elas devem ser idênticas em essência.

221
Experienciar
Faça uma prece evocativa para sua anjo guardião. Peça seu amparo, sua presença.

Contemple uma paisagem da natureza. Um jardim, uma floresta, o céu estrelado, a


lua ou as nuvens...

Acalme suas emoções... Se preferir, utilize uma música.

Após um tempo de contemplação, que pode ser de poucos minutos, faça uma
prece...

Peça a Deus para sentir o amor que Ele tem por você...

Peça a Deus que Ele permita que você conheça um pouco mais de Seu amor...

Sinta.

222
Diálogo Mediúnico
Paz e alegria em vossos corações!

Que o Cristo, o amigo que nunca esquece de ninguém, o Ser que nos acompanha
desde eras incontáveis, possa se fazer presente, acima de tudo, em vossos corações.
Pois se há comunicação mediúnica, há comunicações muito mais sutis que apenas
aqueles que rogam com humildade podem obter de forma plena, que é a mensagem
do Cristo no próprio coração.

Colocamo-nos à disposição para o nosso diálogo fraterno e respeitoso de sempre.

Questão 1

Boa noite, Cairbar, muito obrigada por estar aqui. Uma das dificuldades
enormes para mim, é a da aceitação da vida, das coisas que estão acontecendo, dos
problemas, dos sofrimentos, principalmente das pessoas queridas, o meu próprio é
o de menos, é claro, mas dos outros é bastante difícil. Que caminho, que estratégia
para poder ganhar mais terreno nisso, nesta encarnação, já que estou tendo esse
privilégio, de ter acesso a tanto conhecimento, a tanta abertura. Que caminho
seguir para aumentar essa aceitação mesmo, de entender qual é a vontade de Deus,
qual o plano que está ali, de não ficar passiva demais e achar que é tudo porque
Deus quis, e por outro lado também, não ficar o tempo todo enraivecida, irada com
a situação e com a impotência de resolver isso? Obrigada.

Pensamos que o elemento essencial que se torna a base das soluções


de todos os problemas da criatura humana, é aceitar o amor de Deus.
Muitas vezes, se geram conflitos imensos, disputas incontáveis para saber quem tem
razão, quem é o culpado, quem foi a vítima, por que se passou desse jeito, quais
foram os responsáveis? Essas indagações podem até ser oportunas, mas serão
sempre equivocadas; se antes delas não houver a presença do amor Divino. A
criatura humana é incapaz de compreender, com seu cérebro limitado, a
complexidade da vida, portanto, antes de qualquer julgamento deve-se sentir o amor
de Deus; antes de se condenar o assassino de forma justa e ética, deve também se
buscar a inspiração do amor Divino.

A criatura infeliz e confusa pensa que o amor é o oposto da justiça quando na


verdade, a verdadeira justiça sempre é executada tendo o amor por base de forma
simples e objetiva: aprenda a amar, aprenda a sentir a dor do outro, antes de querer
remediar qualquer situação. Porque Deus não se preocupa apenas com o instante
presente, mas Ele cuida da felicidade imorredoura de cada um dos seus filhos.
Saibamos suportar o nosso desconforto que nasce da nossa inferioridade, sabendo
que Deus está nos curando quando nos colocamos confiantes em suas mãos.

Certo. E para aumentar essa confiança, cabe pedir também?

223
Tudo cabe pedir a Deus quando é para o nosso bem, minha irmã. Podeis pedir fé,
podeis pedir paciência, podeis pedir a libertação dos vícios que tocam os vossos
corações, pedir a Deus com sinceridade jamais será uma atitude vã.

Obrigada.

Questão 2

Querido amigo, boa noite, muito obrigada pela sua presença. As nossas
perguntas representam muitas pessoas e as dúvidas que muitas pessoas possam vir
a ter, mas como nós, seres inferiores, podemos melhorar o nosso nível pessoal o
suficiente para fazer questionamentos pertinentes e atemporais nos nossos
encontros?

Podeis dedicar-se a isso com muita naturalidade e sobriedade. Imaginais o ciclo de


pessoas que você tem contato, o que elas gostariam de ter esclarecido, imaginai as
questões mais centrais da vida humana. O que as pessoas que você observa carecem
de saber, quais são as dúvidas que direta ou indiretamente elas expressam, quais são
os saberes que poderiam consolá-las.

Ao fazer essas reflexões continuamente, a vossa percepção irá se alterar e você irá
compreender muito melhor as dúvidas e angústias daqueles que estão ao vosso
redor. Naturalmente, você poderá representá-las de maneira mais adequada, mas há
a necessidade também de se tentar; o medo de não fazer a pergunta adequada é um
erro, já que qualquer pergunta pode ser uma oportunidade de aprendizado. O
próprio Allan Kardec, como ele mesmo registra, aprendeu a fazer as indagações aos
Espíritos a partir de uma prática que começou com perguntas longe de serem as mais
adequadas.

Obrigada.

Questão 3

Querido irmão Cairbar, existe algum fermento que poderíamos utilizar para
percebermos a bondade de Deus em nossas emoções, mais do que no intelectual?

Podeis, por exemplo, buscar em vossa memória, que momento você sentiu Deus
mais presente. É o início de uma reflexão que pode se aprofundar muito; em seguida
podeis se perguntar quais as experiências do momento, que você vive ou que outros
vivem ao teu redor, que mais te aproxima da experiência de contato com Deus. Por
exemplo: em uma reunião mediúnica há diferentes experimentos onde
se sente um profundo bem-estar, será que seria assim estar mais
próximo de Deus? Podeis indagar aos vossos amigos espirituais,
perguntar-lhes oportunamente, como foi para eles, se eles poderiam
compartilhar alguma experiência, nas quais eles se sentiram mais
próximos do Criador, e podeis ao realizar esses passos pedir ao vosso
anjo guardião, preparando-vos de maneira adequada.

224
Hoje terei um período mais tranquilo, irei fazer atividades que elevem meu
pensamento, e depois em momento de prece profunda, solicitarei ao meu anjo
guardião que me ajude a sentir de forma mais intensa o amor de Deus. Imaginamos
que se isto fizesse parte da rotina dos espíritas, nosso movimento estaria em outro
patamar.

Um pequeno intervalo ao longo da semana em que irá se preparar


verdadeiramente para receber a visita de vosso anjo guardião, suplicando, pedindo
que ele vos auxilie a sentir de forma mais profunda o amor de Deus; são muitas as
possibilidades que só terão o sucesso desejado se realizadas com compromisso e
continuidade.

Obrigado irmão.

Questão 4

Boa noite, amado, irmão. Nós lemos que em Mateus, Jesus afirma que nós somos
mais valorosos que um bando de pardais. Você poderia explanar mais sobre este
tema?

A criatura, quanto mais sensível e mais consciente, requer mais cuidado daqueles
que a amam, esse é o ponto que devemos entender. Não se trata de uma postura de
privilégio, mas de uma postura que considera a necessidade de cada um.

Seres que possuem maior sensibilidade, que possuem um sentimento


mais apurado, que possuem uma consciência mais ampla, carecem de
mais cuidado, carecem de mais amparo, carecem de mais envolvimento
do amor de Deus. Nesse sentido, sim, sois mais cuidados pelo Criador
porque precisais de mais. É como fazendo uma comparação simples: Deus não
se preocupa com o frio em sua criação de pinguins, por exemplo, porque eles estão
habituados, não há uma sensibilidade maior em relação ao frio, quanto mais o
princípio espiritual se desenvolve, mais ele carece de amparo e de cuidado. Na fase
evolutiva da Terra, que está e se tornará ainda mais desafiadora, cada filho de Deus
deverá buscar esse amparo do Criador porque muito precisareis de vossos guias,
muito precisareis estar envoltos em climas de prece para poder manter a relativa paz
interior. O que o Cristo vos tenta fazer perceber é que o Pai tem um zelo sempre
maior quanto maior são as necessidades de suas criaturas, sem desprezar a nenhuma
delas.

Obrigado.

Haveria ainda alguma última questão?

Agradecemos a atenção, o carinho, observamos sinceramente os vossos corações e


muito nos alegra perceber, a verdadeira devoção que se desenvolve em relação ao
Cristo. Compreender que esse Mestre é a nossa verdadeira salvação, que é
o amigo poderosíssimo que nunca esqueceu de nenhum de nós, nem
antes, nem em momento posterior ao Calvário, o sentimento deste Ser
foi alterado em relação a cada um de nós.

225
O Mestre continua abnegadamente atento, preocupado, devotado à felicidade de
cada indivíduo da Terra. Confiemos nesse amigo, entreguemos a Ele as nossas vidas
com altivez e confiança, Ele jamais nos decepcionará.

É a esse Mestre que nunca esqueceu dos seres mais infelizes do mundo, que
devemos render todas as nossas homenagens; é a esse Espírito luminoso que nunca
se preocupou em tornar-se um líder autoritário, mas sim, um Pastor amoroso
disposto a dar a vida, disposto a devotar-se por cada um de nós, que precisamos, com
muita lucidez, reconhecer como o Guia que, se ousarmos segui-lo, nos guiará ao Pai
para o Reino onde a paz, onde a fraternidade, onde a beleza ultrapassará as nossas
mais amplas e elevadas expectativas.

Lembremo-nos, no meio das tempestades de nossas vidas; lembremo-nos, nos


meios das tempestades que nos atingirão: elas são passageiras e nós somos os
seguidores daquele que é capaz de acalmar os ventos e sossegar as ondas, porque Ele
age em nome do Pai amoroso.

Por isso é, e será sempre um amigo indispensável da nossa felicidade, e que mais
do que qualquer outra coisa se preocupa com os nossos interesses eternos; é a Ele
que devemos recorrer a cada instante de dúvida e a cada instante de alegria. Em
nosso plano vemos claramente, o Cristo não é apenas a luz do mundo,
Cristo é a luz de nosso ser que deve brilhar cada vez mais ao vincular-se a
Ele.

Paz do vosso irmão e amigo

Cairbar de Souza Schutel.


Mensagem psicofônica recebida em 02.07.2023 em reunião de estudo do Grupo Marcos. Médium
do Grupo Marcos. Revisada pelo autor espiritual e por integrantes do Grupo Marcos.

226
227
228
229
Referências Bibliográficas
BÍBLIA DE JERUSALÉM. São Paulo: Paulus editora. S.d.

BÍBLIA DO PEREGRINO. São Paulo: Paulus editora, 2017.

BÍBLIA DO PEREGRINO. São Paulo: Paulus editora, 2018

BÍBLIA. São Paulo: Companhia das Letras, 2017. Tradução Frederico Lourenço.

DOUGLAS, J. D. (Organizador). New Blible Dictionary. Inglaterra &, Estados


Unidos: Inter-Varsity Press, 1993.

EBERHARD Nestle; KURT Aland (editores). Novum testamentum graece.


Alemanha: Deutsche Bibelgesellschaft editora, 1995

FREEDMAN, David Noel (Organizador). The Anchor Yale Bible Dictionary.


Connecticut, Estados Unidos: Yale University Press, 1992.

GRANDE DICIONÁRIO DA LÍNGUA PORTUGUESA. São Paulo: Porto Editora e


Intangible Press. Edição do Kindle.

KARDEC, Allan. [Prece]. Disponível em: <http://projetokardec.ufjf.br/item-


pt/?id=38>. Acesso em: 24 Abr 2023. Projeto Allan Kardec.

KARDEC, Allan. [Rascunho de carta para o senhor Dijoud]. Disponível em:


http://projetokardec.ufjf.br/item-pt/?id=70. Acesso em: 10 Jun 2023. Projeto Allan
Kardec.

KARDEC, Allan. Le livre des esprits, 1860. Nova edição conforme a edição de original
de 1860. Fonte: Le centre spirite lyonnais. Site: <http://spirite.free.fr>

KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. Rio de Janeiro: Feb, 2013.


Tradução Guillon Ribeiro

KARDEC, Allan. Oeuvres posthumes. Paris: Librairie des sciences spirites et


psychiques, 1912. Disponível em: <https://kardecpedia.com/obra/47>

LACHÂTRE, M. Allan kardec – uma breve biografia. São Paulo: Autores Clássicos &
Luz Espírita, 2021.

MICHAEL E. S; MATTHIAS H. 4 EZRA AND 2 BARUCH. Minneapolis: Fortress


Press, 2013

NOVO TESTAMENTO - NVT (Nova Versão Transformadora) (p. 485). Editora


Mundo Cristão. Edição do Kindle.

230
NOVO TESTAMENTO. Rio de Janeiro: FEB Editora, 2020.Tradução Haroldo Dutra
Dias.

SETH, Carlos B. Espíritos sob investigação: Resgatando parte da história. São Paulo:
CCDPE, 2022. Edição do Kindle.

231
"Se o Cristo se tornar mais presente em sua vida por conta
deste livro, oferte-o a quem você ama e a quem você deseja que
esteja mais próximo do nosso Mestre amado"

www.grupomarcos.com.br

232

Você também pode gostar