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Após receber o diploma de técnico rural, Brizola não foi logo trabalhar
nesta área, tornando-se em vez disso graxeiro da Refinaria Brasileira de
Óleos e Graxas, em Gravataí, na Região Metropolitana de Porto Alegre;
anos depois, soube que a refinaria era propriedade de Ildo Meneghetti, um
de seus maiores opositores políticos.[12][8] Foi aprovado em um concurso
do Ministério da Agricultura, indo trabalhar como técnico do ministério em
Passo Fundo, ficando assim mais próximo de sua família.[12] Brizola
permaneceu apenas por meio ano em Passo Fundo, onde, apesar de receber
um bom salário, contraiu dívidas com várias pessoas.[12] Depois de resolver
suas pendências financeiras, retornou para a capital, residindo em uma
Brizola ao lado da esposa,
pensão e trabalhando como jardineiro do Departamento de Parques e
Neusa Goulart, e dos filhos
Jardins da Prefeitura.[13][8][14]
Neusinha, José Vicente e
João Otávio
Em 1942, Brizola concluiu o ensino fundamental como bolsista no Colégio
Nossa Senhora do Rosário. Em seguida, licenciou-se de seu trabalho na
prefeitura e alistou-se no 3.º Batalhão de Aviação do Exército (atualmente a
Base Aérea de Canoas). Com o fim de seu serviço militar, voltou a trabalhar como jardineiro, concluindo o
curso científico (equivalente ao ensino médio) no Colégio Júlio de Castilhos e um curso de piloto
privado.[13] No Júlio de Castilhos, foi um dos fundadores do Grêmio Estudantil, sendo seu vice-
presidente.[15] Em 1945, foi aprovado no vestibular da Escola de Engenharia da Universidade Federal do
Rio Grande do Sul, graduando-se como engenheiro civil em 1949.[13][15]
Em 1º de março de 1950, Brizola casou-se com Neusa Goulart, irmã do deputado estadual e futuro
presidente da República João Goulart (Brizola e Goulart eram ambos deputados estaduais). O casamento foi
realizado na Fazenda de Iguariaçá, em São Borja, tendo o ex-presidente da República Getúlio Vargas como
um dos padrinhos.[16] O casal havia se conhecido nas reuniões da Ala Moça do PTB.[17] Tiveram três
filhos juntos: Neusinha, José Vicente e João Otávio.[18] Após a morte de Neusa em 1993, manteve uma
relação com Marília Guilhermina Martins Pinheiro.[19][20]
Brizola fundou e dirigiu, no decorrer do ano de 1955, o jornal em formato de tabloide Clarim, que chegou a
atingir uma tiragem de 35 mil exemplares.[30] Brizola usou a publicação para promover sua segunda
candidatura à prefeitura de Porto Alegre, indicando e criticando os problemas da cidade.[30] Com o slogan
"Nenhuma Criança Sem Escola" e um caráter desenvolvimentista, Brizola acabou sendo eleito, com 65 077
votos (55,14%), contra 37 158 votos (31,49%) recebidos por Euclides Triches.[30] Embora seu partido
tenha conquistado a maior bancada na Câmara de Vereadores, não conseguiu uma maioria na casa, ficando
com 8 das 21 vagas.[30][36] Em janeiro de 1956, foi empossado prefeito de Porto Alegre. Entre suas
realizações no cargo, destacam-se o aumento do número de vagas disponíveis na rede municipal de ensino,
incluindo o ensino em dois turnos, as obras de saneamento básico e a urbanização de grande parte dos
trechos próximos ao Rio Guaíba.[36][37][38]
Entre as políticas governamentais empreendidas como governador, Brizola desenvolveu um plano para
industrializar rapidamente o estado e um programa para a construção de serviços públicos estatais,
nacionalizando algumas empresas norte-americanas.[52][53][41] Brizola garantia que a política de
investimentos de seu governo teria capital nacional e que interferências
estrangeiras na economia gaúcha não seriam aceitas.[41] A Companhia de
Energia Elétrica Riograndense, da Bond and Share e dona do monopólio da
energia elétrica na Região Metropolitana, foi encampada em maio de
1959.[54][55] A CEE passou a ser uma sociedade de economia mista,
passando a ter um papel significativo na geração e distribuição de
energia.[56] Em fevereiro de 1962, depois que as negociações para que a
Companhia Telefônica Riograndense, de propriedade da International
Telephone and Telegraph, fosse transferida para o poder público acabaram
fracassando, Brizola também encampou-a e a tornou parte da Companhia
Riograndense de Telecomunicações.[56] As nacionalizações de Brizola
tornaram-se manchete na imprensa norte-americana quando o governo de
John F. Kennedy estava tentando combater a "infiltração comunista" no
Brasil ao chegar a um acordo com Goulart, que incluiu ajuda financeira ao Brizola segurando uma
governo federal brasileiro. [57][58] Neste contexto, as ações de Brizola metralhadora durante a
tornaram-se um embaraço diplomático, levando o presidente norte- Campanha da Legalidade
americano a criticar o governador em uma coletiva de imprensa e
transformando o governo Brizola em um alvo da Emenda Hickenlooper,
uma mal sucedida iniciativa para interromper a ajuda a qualquer país que expropriasse propriedades norte-
americanas.[59][60][61][62]
A alfabetização e o aumento no número de vagas nas instituições de ensino foram outras prioridades do
governo Brizola.[63] Em 1959, o deficit de vagas foi estimado em 273 mil.[63][64] O governo estabeleceu
mais de duzentos acordos com escolas privadas para que, em troca de receberem professores do estado e
verbas públicas, disponibilizassem vagas gratuitas.[63][65] Para a construção de instituições de ensino, o
governo realizou um acordo com os municípios e a iniciativa privada.[66] Ao término de seu mandato,
haviam sido construídos 6 302 estabelecimentos de ensino, dos quais 5 902 eram escolas primárias, 278
eram escolas técnicas e 122 eram ginásios.[67] As escolas, que ficaram conhecidas como "Brizoletas",
possuíam uma arquitetura simples, sendo parecidas com residências.[68][69] Estes investimentos resultaram
na abertura de 689 mil matrículas e 42 mil vagas para docentes, com o Rio Grande do Sul passando a ter a
mais alta taxa de escolarização do Brasil.[67][70]
Para empreender uma reforma agrária, Brizola estabeleceu o Instituto Gaúcho de Reforma
Agrária.[71][67]Na época, 1,83% dos proprietários eram donos de 47,97% das terras, enquanto 85% ficavam
com 24% das terras.[67] O instituto, além de prestar assistência técnica, garantiu verbas para que os
produtores comprassem máquinas, animais e sementes.[72] Brizola ajudou a organizar acampamentos do
Movimento dos Agricultores sem Terra, conhecidos como Master.[71][72] Em Sarandi, cerca de dez mil
pessoas participaram de um acampamento para reivindicar a divisão de vinte mil hectares de terras, que não
mantinham produção, pertencentes a uma multinacional.[71][73] Em junho de 1962, decretou a concessão
dos títulos de propriedade de terras da região do Banhado do Colégio, beneficiando em torno de seiscentas
famílias.[73] Brizola continuou e intensificou a reforma agrária em terras indígenas, argumentando que eles
detinham muita terra para poucos índios.[74] Brizola e sua esposa, Neusa, também doaram 1 038 hectares
da Fazenda Pangaré, de propriedade do casal, para um grupo de trinta agricultores, dando início a uma
cooperativa.[71][75][76]
Em janeiro de 1963, um plebiscito redefiniu o sistema de governo como presidencialista, um resultado que
foi visto por Brizola como um "voto de confiança" dado pelo povo para que Goulart prosseguisse com as
reformas de base.[79][83] Ao mesmo tempo, em uma movimento para competir com o presidente pela
liderança política, Brizola iniciou um programa semanal na rádio carioca Mayrink Veiga, que costumava
usar para transmitir para todo o país, e planejava constituir uma rede de células políticas composta por
pequenos grupos de homens armados, os Grupos dos Onze.[84][85] Os grupos deveriam atuar como
organizações de base que "defenderiam e difundiriam" os principais pontos de uma agenda reformista que
teria que ser alcançada "na lei ou na marra".[86] De acordo com jornalista da época Edmar Morel, para fazer
com que todo o espectro político temesse suas pretensões, "Brizola estava disposto a pagar qualquer preço
para ser o dono da bola".[87] O ministro dos Negócios Estrangeiros de Goulart e líder da esquerda
moderada, San Tiago Dantas, rotulou Brizola como um exemplo de uma "esquerda negativa" que, na sua
intransigente e ideológica defesa da reforma social, abandonou qualquer compromisso com instituições
democráticas.[88] Apesar de seu suposto radicalismo, Brizola não era um ideólogo ou doutrinário.[89]
Geralmente, representava um extremo nacionalismo de esquerda, apoiando a reforma agrária, a extensão do
direito ao voto para analfabetos e suboficiais, e controles rigorosos sobre investimentos estrangeiros que
fizeram com que o embaixador Lincoln Gordon não gostasse de Brizola e comparasse suas técnicas de
propaganda com as de Joseph Goebbels, um rumor também compartilhado pela maioria da mídia norte-
americana.[90][89]
Para muitos autores, o radicalismo intransigente de Brizola impediu que o governo de seu cunhado tivesse a
capacidade de se "comprometer e conciliar", adotando uma agenda reformista viável.[98] Segundo o
estudioso norte-americano Alfred Stepan, a "retórica do rancor" de Brizola deu a Goulart alguns
apoiadores, mas também muitos inimigos poderosos e estrategicamente localizados—certa vez, discursando
em uma praça pública, Brizola chamou um general de "gorila".[99][100] Alguns afirmaram que este
comportamento era motivado pelo egoísmo; de acordo com R.S. Rose, "Leonel Brizola estava preocupado
apenas com Leonel Brizola".[101] Outros autores dizem que Brizola defendeu uma agenda reformista
centrada em questões concretas (reforma agrária, extensão do direito ao voto e controles de capital
estrangeiros), tendo sido considerada inaceitável e indigestível pelas classes dominantes e seus aliados
internacionais, e cuja implantação era estranha ao sistema político contemporâneo.[102] Em um telegrama
do Departamento de Estado de março de 1964 enviado ao embaixador norte-americano no Brasil, o apoio
dos Estados Unidos ao golpe militar foi equiparado a impedir que Goulart e Brizola tivessem em uma
posição que lhes permitissem levar em frente seus planos "extremistas".[103] De acordo com José Murilo de
Carvalho, a posição agressiva de Brizola em relação ao processo de reformas era mais coerente do que a de
Goulart, que apoiava uma agenda reformista, mas evitou o uso necessário da força para promovê-la.[104] A
ambivalência de Goulart em relação a seu cunhado não lhe garantiu apoio internacional: o embaixador
Lincoln Gordon considerou Goulart como um oportunista que foi "hipnotizado" por Brizola.[105]
Exílio
Em abril de 1964, um golpe de Estado derrubou Goulart.[106]
Brizola acolheu-o em Porto Alegre, na esperança de incentivar o
exército local a reagir e assim restaurar o governo deposto. Brizola
se envolveu em planos para enfrentar os militares, inclusive
proferindo um ardente discurso público na Câmara Municipal de
Porto Alegre, exortando os suboficiais do exército a "ocupar
quartéis e prender os generais", o que lhe valeu o ódio duradouro
dos comandantes militares da ditadura.[107][108][109][110] Depois de
um mês mal sucedido no estado, Brizola fugiu no início de maio de
1964 para o Uruguai, onde Goulart já estava no exílio depois de
Brizola e sua família deixando o
demonstrar pouco interesse com as tentativas de resistência
Uruguai, em 1977
armada.[111] Politicamente solitário no início de seu exílio,
eventualmente preferiu a política insurrecional ao
reformismo. [112][113] No início de 1965, um grupo de simpatizantes seus tentou e não conseguiu articular
uma guerrilha nas montanhas do leste brasileiro ao redor de Caparaó.[114] Outro grupo de guerrilheiros
brizolistas se dispersaram após um confronto com o exército no sul.[115] Este evento levantou suspeitas
sobre a má administração de Brizola dos fundos que lhe foram oferecidos por Fidel Castro.[116] Com
exceção desse episódio, Brizola passou os primeiros dez anos da ditadura militar brasileira isolado no
Uruguai, onde geriu a propriedade de sua esposa e manteve-se a par do que acontecia no Brasil. Ele rejeitou
as tentativas de ser recrutado para a Frente Ampla, um grupo informal de líderes pré-ditadura da década de
1960 que pretendia pressionar pela redemocratização, incluindo Carlos Lacerda e Juscelino
Kubitschek.[117] Durante a tentativa de recrutamento, rompeu os laços restantes com Goulart; eles se
reconciliaram em setembro de 1976.[118][119] A StB, inteligência da Tchecoslováquia, entrou em contato
com Brizola para auxiliá-lo numa reação armada contra o regime militar, mas ele considerou que, naquele
momento, tal reação não seria possível.[120]
Desde o início do seu exílio, Brizola foi observado de perto pela inteligência brasileira, que pressionou
regularmente o governo uruguaio. No final da década de 1970, no entanto, o surgimento de uma ditadura
militar no Uruguai permitiu ao governo brasileiro trabalhar em conjunto com os militares uruguaios para,
como parte da Operação Condor, capturá-lo.[121][122] Até o final da década de 1970, a inteligência norte-
americana ajudou nos esforços das ditaduras latino-americanas a controlar Brizola,[123] que pode ter
sobrevivido ao seu exílio graças a mudança da política dos EUA para a América Latina, ocorrida com o
governo de Jimmy Carter, que se esforçou para conter abusos aos direitos humanos.[124] Esta mudança
levou Brizola a ter uma gratidão eterna com Carter.[125] Entre o final de 1976 e o início de 1977, o fato de
que todos os três membros mais proeminentes da Frente Ampla - Kubitscheck, Goulart e Lacerda -
morreram sucessivamente e em circunstâncias um tanto misteriosas, fez Brizola se sentir cada vez mais
ameaçado no Uruguai.[126][127] Diante da iminente retirada de seu asilo, procurou a Embaixada dos EUA,
onde conversou com o conselheiro John Youle. Mesmo com a oposição do subsecretário de Estado para os
Assuntos do Hemisfério Ocidental Terence Todman, Youle concedeu a Brizola um visto de trânsito que
permitiu-lhe, já que em meados de 1977 foi deportado do Uruguai por supostas "violações de normas de
asilo político", viajar para - e, eventualmente, ser dado um asilo imediato - os EUA.[124][128][129] O resgate
de Brizola é reconhecido como um dos sucessos da retórica dos Direitos Humanos de Carter.[125] Depois
deste episódio, não se oporia mais diretamente às políticas norte-americanas em relação ao Brasil,
contentando-se em denunciar vagamente as "perdas internacionais" incorridas pelo Brasil devido a termos
de câmbio injustos impostos pelas corporações multinacionais.[130]
Brizola rapidamente restaurou sua proeminência política no Rio Grande do Sul e ganhou preeminência
política no estado do Rio de Janeiro, onde buscou uma nova base de apoio político. Em vez de se associar
com a classe trabalhadora organizada—quer por meio do sindicalismo corporativista ou competindo com
Lula pelo apoio do novo sindicalismo—Brizola buscou uma base de apoio entre os pobres de áreas urbanas
não organizados por meio de um vínculo ideológico entre o nacionalismo radical tradicional e um
populismo carismático e amigável.[148] Para os seus adversários, Brizola e o seu Brizolismo representavam
negociações sombrias com as subclasses "perigosas" e ressentidas;[149] seus apoiadores defenderam o
empoderamento paternalista dos desfavorecidos. De acordo com Sento Sé, "a política, do ponto de vista
Brizolista, é, fundamentalmente, assumir com radicalidade a opção pelos pobres e desvalidos".[150] Brizola
evitou o personagem corporativista baseado em classes de seu populismo primitivo, e adotou uma retórica
cristã amigável com o povo em geral—mais semelhante aos narodniks russos do que ao populismo latino-
americano clássico.[151] Este novo populismo radical foi visto como uma ameaça a uma política mais
democrática e liberal.[152] Esta estratégia surgiu de uma falta de domínio das técnicas de política de massa e
exigiu que a liderança carismática e pessoal de Brizola funcionasse efetivamente. Na ausência de Brizola—
ou de sua personalidade—o PDT não poderia se tornar um competidor pelo poder, dificultando seu
desenvolvimento a nível nacional.[153][154]
Como governador, Brizola desenvolveu suas políticas educacionais em uma escala maior com um
ambicioso programa de construção de grandes escolas de ensino médio, os Centros Integrados de Educação
Pública (CIEPs), arquitetados por Oscar Niemeyer. As escolas deveriam estar abertas durante todo o dia,
proporcionando alimentação e atividades recreativas aos estudantes.[174][178] Brizola também desenvolveu
políticas para a prestação de serviços públicos e entregou propriedades habitacionais para moradores de
favelas. Brizola opôs-se a políticas para favelas que tivessem como base o reassentamento forçado por meio
de projetos habitacionais e, em vez disso, propôs—pois, nas palavras de seu principal conselheiro Darcy
Ribeiro, "as favelas não fazem parte do problema, mas parte da solução"—uma solução "bizarra", mas, no
entanto, que "permitiu que os habitantes das favelas se aproximassem de seus lugares de trabalho e
vivessem como uma comunidade humana comum".[179] Portanto, assim que os direitos de propriedade
foram reconhecidos e a infraestrutura básica proporcionada, coube aos habitantes das favelas encontrar
soluções para os problemas relacionados à construção de casas.[180]
Brizola também adotou uma nova e radical política de ação policial nos subúrbios pobres e favelas da
região metropolitana do Rio de Janeiro. Alegando relações e modus operandi ultrapassados baseados em
repressão, conflito e desrespeito, ordenou à polícia estadual que se abstivesse de fazer invasões arbitrárias
em favelas e reprimisse as atividades dos esquadrões de extermínio, criando um órgão destinado para essa
causa que prendeu e processou mais de duzentos policiais.[181][182][183] A direita se opôs a essas políticas,
argumentando que fariam das favelas um território aberto para o crime organizado representado por grandes
gangues como o Comando Vermelho, por meio de uma confluência entre a criminalidade comum e o
esquerdismo. Alegou-se que as gangues se originaram através da associação de pequenos criminosos
condenados e prisioneiros políticos de esquerda na década de 1970. Outros estudiosos argumentaram que
esta "politização" do crime comum tinha sido um trabalho da ditadura militar, que, ao encarcerar os
criminosos comuns e os prisioneiros políticos, ofereceu aos primeiros a oportunidade de imitar as estratégias
de organização dos grupos clandestinos de resistência.[184][185]
Brizola foi um fervoroso apoiador da candidatura de Lula para o segundo turno da eleição presidencial de
1989, algo que justificou com uma declaração marcante diante de seus colegas do PDT: "Cá para nós: um
político de antigamente, o senador Pinheiro Machado, disse que a política é a arte de engolir sapos. Não
seria fascinante fazer esta elite engolir o Lula, esse sapo barbudo? Vamos no menos pior, pelo
menos….".[195][196][197] Anteriormente, ambos mantiveram discussões objetivando formar uma aliança de
esquerda para o primeiro turno, mas não chegaram a um acordo. Em uma reunião do PDT ocorrida após a
primeira votação, embora sabendo ser inviável, Brizola sugeriu que ele e Lula desistissem para darem lugar
a Mário Covas, pois acreditava que Covas enfrentaria menos resistências e assim teria mais chances de
derrotar Collor.[198][192] O apoio de Brizola foi crucial para que Lula aumentasse sua votação no Rio de
Janeiro e no Rio Grande do Sul, onde o petista passou de 12,2% dos votos no primeiro turno no Rio de
Janeiro para 72,9% no segundo turno, enquanto que no Rio Grande do Sul aumentou sua votação de 6,7%
para 68,7%. De qualquer forma, Collor venceu a eleição.[199][200][201]
Em seus últimos anos, o relacionamento fragmentado de Brizola com Lula e o PT mudou; ele se recusou a
apoiá-los no primeiro turno da eleição presidencial de 2002, apoiando em vez disso Ciro Gomes, enquanto
disputou uma vaga para o Senado. Depois que Gomes ficou em quarto lugar, apoiou Lula, que foi eleito
presidente. Brizola foi derrotado em sua tentativa de se eleger senador, sendo o sexto colocado, com 8,2%
dos votos, e acabando com sua força regional. Em seus últimos dois anos de vida, foi considerado um
veterano populista de esquerda, e um personagem secundário.[216][217] Apesar de apoiar Lula em alguns
períodos durante seu primeiro mandato, em suas últimas aparições públicas, criticou-o por acreditar que o
presidente estava empreendendo políticas neoliberais e negligenciando as tradicionais lutas da esquerda e
dos trabalhadores.[218][219] Ainda exercendo o cargo de presidente Nacional do PDT, Brizola afirmou, em
junho de 2003, que o partido estava saindo do governo Lula; com sua pressão, o rompimento foi
oficializado em dezembro de 2003.[220][221][222] Os últimos comentários de Brizola sobre Lula ganharam
um caráter pessoal. Em maio de 2004, foi uma das fontes de uma reportagem do jornalista Larry Rohter
sobre o suposto alcoolismo de Lula. Brizola disse a um correspondente do New York Times sobre ter
aconselhado Lula: "você precisa controlar isso".[218][219]
Morte
Depois de uma estadia em sua fazenda no Uruguai, Brizola chegou
no Rio de Janeiro com infecção intestinal e forte gripe, contraída no
rigoroso inverno uruguaio. Apesar de acamado, continuou a receber
visitas de políticos, entre os quais Anthony Garotinho, Carlos Lupi
e Moreira Franco. Sua situação deteriorou-se ainda mais e Brizola
foi a um hospital nas proximidades. Uma tomografia dos pulmões
mostrou infecção respiratória (pneumonia). Feita ultrassonografia
do coração, nada de anormal foi encontrado. Brizola estava
entrando no elevador para deixar o hospital quando, segundo seu Velório de Brizola no Palácio
médico particular, apresentou um edema no pulmão, significando Guanabara, em 22 de junho de 2004
grave insuficiência cardíaca. Novos exames confirmaram infarto
agudo do miocárdio. Brizola morreu às 21h20min do dia 21 de
junho de 2004.[223][224][225][226]
O Congresso Nacional adiou suas sessões para homenageá-lo, e o presidente Lula decretou luto oficial de
três dias, comparecendo ao seu velório no Palácio Guanabara.[227][228] No Rio de Janeiro, de acordo com a
Polícia Militar, duzentas mil pessoas foram até o palácio do governo para prestar-lhe homenagens.[229] Em
24 de junho, depois de ainda ter sido velado no Palácio Piratini, em Porto Alegre, Brizola foi sepultado em
São Borja, na fronteira do Rio Grande do Sul com a Argentina. Cerca de vinte mil pessoas acompanharam
o cortejo até seu sepultamento no Cemitério Jardim da Paz, onde também se encontram os túmulos de sua
esposa, Neusa, Getúlio Vargas e João Goulart.[230][231][232][233]
A morte de Brizola também repercutiu na mídia. A matéria veiculada na versão impressa do jornal Folha de
S.Paulo classificou-o como "um dos principais líderes nacionalistas do país".[234] O obituário do The
Guardian resumiu Brizola como um "líder de esquerda carismático mas divisivo que dominou a política
brasileira por meio século".[235]
O legado de Brizola foi assunto para debates entre jornalistas, escritores e o público em geral. Um de seus
biógrafos, João Trajano Sento-Sé, escreveu: "Se não chegou à Presidência da República, Brizola reeditou,
ao menos, o martírio trabalhista, pelas perseguições que sofreu e pelos temores que despertou em parcelas
das elites política e econômica".[236] O cientista político Helgio Trindade ressaltou que, como governante,
teve uma "obsessiva valorização da educação, que se traduziu em ambiciosos investimentos na área da
expansão de prédios escolares".[236] O jornalista Colin Harding, do The Independent, afirmou que ele foi a
"consciência da esquerda" do governo de Goulart.[237] O escritor Ferreira Gullar opinou que Goulart estava
"refém das forças que o apoiavam, particularmente o sindicalismo reformista, que promovia greves
sucessivas em todo o país", e que Brizola, devido a sua pretensão de se tornar presidente e à campanha para
suceder o ministro Carvalho Pinto, tornou-o um "aliado involuntário dos golpistas".[238] Posteriormente,
referindo-se às ações de Brizola no governo de seu marido, a primeira-dama Maria Thereza Goulart disse:
"naquela época tocou um pouco de fogo no circo". Outro político de
expressão daquele período, Abelardo de Araújo, ministro da Justiça,
argumentou que "não era fácil ao presidente governar com um Brizola a
tiracolo, mas lhe era muito difícil libertar-se dele".[239]
Três netos de Brizola entraram para a política defendendo suas ideias: Busto de Leonel Brizola, pelo
Brizola Neto (PDT) foi deputado federal pelo Rio de Janeiro e ministro do escultor Edgar Duvivier, na
Trabalho no governo Dilma;[257] Leonel Brizola Neto (PSOL) foi estação de metrô da Cidade
vereador do Rio de Janeiro;[258] e Juliana Brizola (PDT) foi vereadora de Nova, no Rio de Janeiro.
Porto Alegre e deputada estadual do Rio Grande do Sul.[259]
Notas
1. Brizola recebeu o nome de Leonel Itagiba; o nome Leonel era uma homenagem a Leonel
Rocha, um líder maragato local, enquanto Itagiba foi o nome dado a um irmão seu que
morreu ao nascer.[3][4] Brizola não gostava de seu segundo nome, e quando tinha quatorze
anos de idade sua mãe alterou-o legalmente, permanecendo apenas Leonel.[5][6]
Referências
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s.opovo.com.br/reportagens-especiais/2022/01/21/brizola-100-anos-do-lider-trabalhista-que-
teve-relacao-especial-com-fortaleza.html). O POVO Mais. 21 de janeiro de 2022. Consultado
em 5 de setembro de 2022
2. «Leonel de Moura Brizola foi o único político eleito pelo povo a governar dois estados» (http
s://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2008/06/10/leonel-de-moura-brizola-foi-o-unico-p
olitico-eleito-pelo-povo-a-governar-dois-estados). Senado Federal. Consultado em 24 de
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3. Braga et al. 2005, p. 17.
4. Leite Filho 2008, p. 32.
5. Braga et al. 2005, p. 18.
6. Braga et al. 2005, p. 19.
7. Leite Filho 2008, pp. 233-234.
8. Vilma Keller, Sônia Dias, Marcelo Costa e Americo Freire. «Leonel Brizola» (http://www.fgv.b
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12. Braga et al. 2005, p. 23.
13. Braga et al. 2005, p. 24.
14. Marcelo Matos (2017). «Projeto de lei nº, de 2017» (http://www.camara.gov.br/proposicoesW
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15. Braga et al. 2005, p. 25.
16. Rui Felten (22 de abril de 2011). «Brizola foi batizado Itagiba, mas virou Leonel por
admiração às revoluções» (https://www.sul21.com.br/jornal/brizola-foi-batizado-itagiba-mas-
virou-leonel-por-admiracao-as-revolucoes/). Sul21. Consultado em 27 de novembro de 2017
17. Braga et al. 2005, p. 39.
18. Braga et al. 2005, p. 86.
19. Silvia Amorim (19 de janeiro de 2011). «Ex-companheira de Brizola recebe R$ 41 mil de
aposentadorias pagas pelos estados do Rio e do Rio Grande do Sul» (https://m.oglobo.glob
o.com/politica/ex-companheira-de-brizola-recebe-41-mil-de-aposentadorias-pagas-pelos-est
ados-do-rio-do-2835307). O Globo. Consultado em 25 de dezembro de 2017
20. «Brizola recebe anistia política após 29 anos» (http://www.clicrbs.com.br/eleicoes2008/jsp/d
efault.jspx?uf=1&local=1&action=noticias&id=2241039§ion=Not%EDcias). ClickRBS.
14 de outubro de 2008. Consultado em 27 de dezembro de 2017
21. Braga et al. 2005, p. 27.
22. «Leonel Brizola morre aos 82 anos» (http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,leonel-brizo
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