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UNIVERSIDADE FEDERAL DO GRANDE DO NORTE

ESCOLA DE MÚSICA
CURSO DE LICENCIATURA EM MÚSICA

MUSICOTERAPIA: possibilidade para o bem-estar de pacientes


oncológicos

NATAL/RN
2022
UNIVERSIDADE FEDERAL DO GRANDE DO NORTE
ESCOLA DE MÚSICA
CURSO DE LICENCIATURA EM MÚSICA

RAHONY RAMIREZ DE OLIVEIRA FONCECA

MUSICOTERAPIA: possibilidade para o bem-estar de pacientes


oncológicos

Trabalho de conclusão do Curso de


Licenciatura em Música apresentado à
coordenação do Curso de Licenciatura em
Música da Escola de Música da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, como
requisito para a obtenção do título de
licenciado em Música.

Orientadora: Dra. Tamar Genz Gaulke.

NATAL/RN
2022
Catalogação de Publicação na Fonte
Biblioteca Setorial Pe. Jaime Diniz - Escola de Música da UFRN

F673m Fonceca, Rahony Ramirez de Oliveira.


Musicoterapia: possibilidade para o bem-estar de pacientes
oncológicos / Rahony Ramirez de Oliveira Fonceca. – Natal, 2022.
33 f.; 30 cm.
Orientadora: Tamar Genz Gaulke.

Monografia (Graduação) – Escola de Música, Universidade Federal do


Rio Grande do Norte, 2022.

1. Musicoterapia – Monografia. 2. Tratamento oncológico –


Monografia. 3. Tratamentos alternativos para o câncer – Monografia. I.
Gaulke, Tamar Genz. III. Título.

RN/BS/EMUFRN CDU 78:615.8


Elaborada por: Elizabeth Sachi Kanzaki – CRB-15/Insc. 293
RAHONY RAMIREZ DE OLIVEIRA FONCECA

MUSICOTERAPIA: possibilidade para o bem-estar de pacientes


oncológicos

Aprovada em: ___/___/_____

BANCA EXAMINADORA:

Profª. Dra.Tamar Genz Gaulke


Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Orientador

Prof.Dr.Mário André Wanderley Oliveira


Universidade
Membro da Banca

Prof.Me.Juliano Antônio Ferreira Xavier


Universidade
Membro da Banca
DEDICATÓRIA

A Deus,
Ao meu pai Francisco e a minha mãe
Antônia (in memoriam).
Aos meus irmãos Ronnylson e Ramon.
A minha companheira Raquel.
AGRADECIMENTOS

Quero agradecer primeiramente a DEUS, por ter sido meu porto seguro,
mesmo nos momentos mais difíceis dessa trajetória, pois nele eu obtive a força
necessária para me manter firme e continuar lutando pelos meus objetivos.

Agradeço a todos os professores do curso, em especial a minha orientadora, a


professora Tamar Genz Gaulke, por ter me acompanhado durante a realização do
meu trabalho, pelas orientações, pelos ensinamentos, paciência e conselhos, os
quais, foram essenciais para meu processo de formação pessoal e profissional.

Aos meus amigos de curso que me apoiaram, de diversas formas, de forma a


sempre encorajarmos uns aos outros, a não desistir, a lutar por nossos sonhos.

Aos meus familiares, especialmente aos meus pais, Francisco e Antônia (in
memoriam), irmãos, Ronnylson e Ramon e a minha companheira de vida Raquel Lira
por todo o apoio incondicional e ensinamentos.
“Música! Alívio para dor, acalanto para um
coração triste, júbilo de uma alma grata...
Através dela conversamos com Deus!” (Ruth
Augusto).
RESUMO

Esse estudo objetivou discutir como a musicoterapia no ambiente hospitalar pode


contribuir no bem-estar ao longo do tratamento oncológico dos pacientes. Para a
realização da pesquisa, optou-se por uma revisão bibliográfica de cunho narrativo. Os
trabalhos acadêmicos que deram embasamento para a construção desse artigo,
foram resultados de buscas nas plataformas de pesquisa: Google Acadêmico; SciELO
e Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD). Os critérios de inclusão
dos trabalhos, foram: trabalhos acadêmicos obtidos integralmente, escritos em língua
portuguesa e publicados entre os anos de 2012 e 2022. As pesquisas foram feitas
com base nas seguintes palavras-chave: musicalização; pacientes oncológicos;
tratamentos alternativos para o câncer. A musicoterapia, associada aos tratamentos
convencionais, quando aplicada de forma responsável, por profissionais qualificados,
promove melhoria no quadro biopsicossocial do paciente, como também, dos seus
familiares, que os acompanham na luta contra suas enfermidades. A primeira
sensação descrita pelos pacientes é sempre de angústia e de dor pelos momentos
pelos quais precisará enfrentar para sobreviver ao câncer, no entanto, após a
realização de atividades de musicoterapia, os diversos estudos mostram melhora no
quadro dos pacientes, reduzindo inclusive o uso de fármacos para os seus respectivos
tratamentos.

Palavras-chave: Musicoterapia. Tratamento oncológico. Possibilidade para o bem-


estar frente ao câncer
ABSTRACT

This study aimed to discuss how music therapy in the hospital environment can
contribute to the well-being of patients during cancer treatment. To carry out the
research, we opted for a bibliographical review of a narrative nature. The academic
works that provided the basis for the construction of this article were acquired on the
research platforms: Google Scholar; SciELO and Brazilian Digital Library of Theses
and Dissertations (BDTD). The inclusion criteria of the works were: academic works
obtained in full, written in Portuguese and published between the years 2012 and 2022.
The research was based on the following keywords: musicalization; cancer patients;
alternative treatments for cancer. Music therapy, associated with conventional
treatments, when applied responsibly, by qualified professionals, promotes
improvement in the patient's biopsychosocial framework, as well as in their families,
who accompany them in the fight against their illnesses. The first sensation described
by patients is always of anguish and pain for the moments they will have to face to
survive the cancer, however, after carrying out music therapy activities, the various
studies show improvement in the patients' situation, including reducing the use of drugs
for their respective treatments.

Keywords: Music Therapy. Oncological treatment. Possibility for well-being in the face
of cancer.
LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Desenho realizado antes da musicoterapia sobre como as crianças e


adolescentes estavam se sentindo diante do processo de hospitalização. 24
Figura 2. Desenho realizado após a musicoterapia sobre o que os momentos musicais
significaram para as crianças e adolescentes. 25
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 11

2 METODOLOGIA ............................................................................................................. 13

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES ................................................................................... 14

3.1 MUSICOTERAPIA: CONCEITOS, OBJETIVOS E APLICAÇÕES CLÍNICAS ... 18

3.2 A MUSICOTERAPIA COMO AUXILIAR NO TRATAMENTO ONCOLÓGICO 22

3.3 BENEFÍCIOS DA MUSICOTERAPIA PARA A MELHORIA DO BEM-ESTAR DE


PACIENTES EM TRATAMENTO ONCOLÓGICO ............................................................ 24

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 30

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................ 31


11

1 INTRODUÇÃO

O ato de ouvir música pode ser considerado um dos hobbies preferidos de


muitas pessoas, sendo considerado por muitos como uma forma de terapia (DE
OLIVEIRA, 2015). Entretanto, foi somente após a Segunda Guerra Mundial que
pesquisadores começaram a desenvolver estudos com o objetivo de comprovar a
eficiência da música como tratamento para problemas pós-traumáticos, enfrentados
por soldados que lutaram nos fronts de batalhas. Com os resultados obtidos foi
possível inserir a música como terapia para o tratamento de doenças, método que
passou a ser conhecido por “musicoterapia” (RAMALHO; RAMALHO, 2017).

A musicoterapia é uma técnica que se caracteriza por tratar os pacientes com


música e seus diversos elementos, tais como: som, ritmo, melodia e harmonia.
Quando utilizada de forma correta e por profissionais capacitados, a musicoterapia
tem por finalidade o estabelecimento de comunicação com os pacientes em
tratamento, possibilitando melhorias no reestabelecimento de funções físicas, mentais
e sociais (MARTINS et al., 2021).

Dentre os benefícios da musicoterapia para pacientes em tratamento


hospitalar, podem ser citados: minimização de problemas psicológicos como
depressão e ansiedade; diminuição da fadiga e de dores relacionadas a fase aguda
do diagnóstico e tratamento de Câncer; redução de medicamentos e do tempo de
internação (DE SOUZA; DOS SANTOS, 2019).

Portanto, pode-se dizer que a musicalização, inserida nos ambientes


hospitalares, onde os pacientes realizam seus tratamentos oncológicos, pode ser tida
como uma valiosa ferramenta para ajudar no desenvolvimento do universo particular
de cada indivíduo, conjugando expressões de sentimentos, ideias, valores culturais,
além de, possibilitar uma melhor comunicação do mundo externo com os sentimentos
inerentes de cada um, reduzindo o estresse e os desconfortos provenientes da doença
e dos tratamentos, enfrentados por cada paciente.

A musicalização, assim como outros métodos integrativos de tratamento na


área de saúde, tem se mostrado como uma importante ferramenta para o controle de
diversas manifestações clínicas, físicas e psicológicas em pacientes que passam por
tratamentos oncológicos.
12

Destarte, é importante afirmar que a musicoterapia consiste numa intervenção


baseada no uso de música e/ou de instrumentos musicais com o objetivo de promover
melhorias no bem-estar dos pacientes, proporcionando melhorias nos quadros
psicológicos destes, ao passo que, reduz o efeito da ansiedade e da depressão,
provenientes de terapias antineoplásicas. Portanto, a pergunta norteadora dessa
pesquisa é: como a música pode ajudar no tratamento do câncer?

Com base na problemática levantada por esse estudo, foi possível delinear o
objetivo geral da pesquisa, o qual, busca discutir como a musicoterapia no ambiente
hospitalar pode auxiliar no tratamento oncológico dos pacientes.

Para atingir o objetivo geral, foram descritos três objetivos específicos, sendo
eles: entender o papel da musicoterapia como auxiliar no tratamento oncológico; falar
sobre os benefícios da musicoterapia para a melhoria do bem-estar de pacientes em
tratamento oncológico; discutir sobre a importância da associação de tratamentos
integrativos para a redução dos efeitos colaterais resultantes dos tratamentos
oncológicos.

Este trabalho justifica-se por apresentar possibilidade da música como auxiliar


no maior conforto aos pacientes que estão internados passando por tratamentos
oncológicos. A proposta de inserção da musicalização nos ambientes hospitalares
pode apresentar-se como uma alternativa para a redução de efeitos negativos
provenientes dos tratamentos destinados aos pacientes oncológicos.

Além de possibilitar melhoria no bem-estar, a musicalização pode promover


uma redução no uso de medicamentos para combater dores físicas e psicológicas nos
pacientes (DE SOUZA; DOS SANTOS, 2019).

Inserir a musicoterapia nos ambientes hospitalares, apresenta-se como uma


forma de melhorar o clima nos hospitais, possibilitando melhoria no quadro psicológico
dos pacientes e, portanto, melhores resultados nos tratamentos empregados para
cada caso, em particular.

Essa pesquisa foi dividida em três capítulos, os quais levantaram os seguintes


temas: a musicoterapia como auxiliar no tratamento oncológico; os benefícios da
musicoterapia para a melhoria do bem-estar de pacientes em tratamento oncológico;
a importância da associação de tratamentos integrativos para a redução dos efeitos
colaterais resultantes dos tratamentos oncológicos.
13

2 METODOLOGIA

A abordagem escolhida para a construção do trabalho, foi o método de


pesquisa qualitativo, visto que, busca abordar temas, naturalmente, subjetivos como:
fenômenos sociais e do comportamento humano, abordando temas que não podem
ser quantificados através de equações e meios estatísticos (POUPART, 2008).

Para a construção deste trabalho, foi escolhida a revisão bibliográfica narrativa,


que tem como principal característica, a possibilidade de selecionar diferentes tipos
de informações obtidas de fontes diversas, possibilitando, ao autor, discutir o tema
estudado de maneira crítica e reflexiva (ROTHER, 2007).

Os trabalhos acadêmicos que deram embasamento para a construção desse


artigo, resultantes da busca nas plataformas de pesquisa: Google Acadêmico; SciELO
e Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD).

Os critérios de inclusão dos trabalhos foram: trabalhos acadêmicos obtidos


integralmente, escritos em língua portuguesa, ou inglesa, e publicados entre os anos
de 2012 e 2022. As pesquisas foram feitas com base nas seguintes palavras-chave:
musicalização; pacientes oncológicos; tratamentos alternativos para o câncer.

Foram excluídos trabalhos publicados de forma parcial, em línguas


estrangeiras e publicados anteriormente ao ano de 2012. Entretanto, é importante
salientar que, quando não foi possível encontrar na literatura, trabalhos atuais que
abordassem o tema pesquisado, optou-se, excepcionalmente, por citar a pesquisa.
14

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Esse capítulo traz informações importantes que servem como embasamento


teórico para responder à pergunta norteadora desta pesquisa, a qual busca
compreender como a música pode ajudar no bem estar do paciente durante o
tratamento do câncer.

Para a discussão do trabalho, foram utilizados alguns estudos, os quais podem


ser observados no Quadro 1.

No Quadro 1, é possível observar que foram utilizados 15 trabalhos para


compor o capítulo referente aos Resultados e discussões desse Trabalho de
Conclusão de Curso, em sua maioria, artigos publicados em periódicos científicos,
sendo apenas dois trabalhos provenientes de congressos e um Trabalho de
Conclusão de curso, portanto, 12 trabalhos referem-se a artigos científicos publicados
em revistas.

Ainda no Quadro 1, podem ser analisadas as citações de cada trabalho,


acompanhadas dos objetivos das pesquisas e dos seus respectivos títulos.
15

Quadro 1. Lista de trabalhos utilizados na discussão dessa pesquisa.

Autores Objetivo Título Publicado em:


Musicoterapia na Humanização–uma
Pinto; Gazaneo; Lamas Investigar aspectos relacionados a implantação e ANPPOM–Décimo Quinto
proposta de trabalho em hospital
(2005) avaliação de um projeto de musicoterapia Congresso
oncológico
Estabelecer o papel da música na regulação do
Yamasaki et al. eixo hipotálamo-hipófise, do sistema nervoso
simpático e do sistema imunológico, que têm The impact of music on metabolism Revista Nutrition
(2012) funções fundamentais na regulação do
metabolismo e do balanço energético.
Compreender a identidade do Musicoterapeuta e
Musicoterapia, profissão e
Godoy de sua profissão, investigando facetas e esferas
reconhecimento: uma questão de Brazilian Journal of Music
históricas, científicas, de formação, de atuação, de
(2014) identidade, no contexto social Therapy
reconhecimento e regulamentação, de status e
brasileiro
estigmas.
Impacto da intervenção com música
Observar efeitos da música na qualidade de vida
Gaspar; Dexheimer na qualidade de vida de pacientes Percepta-Revista de
de pacientes submetidos ao tratamento
(2014) submetidos ao tratamento Cognição Musical
quimioterápico
quimioterápico
Efeitos da música e da musicoterapia
Santana; Zanini; Sousa Investigar a utilização da música e da
na pressão arterial: uma revisão de Revista InCantare
(2014) musicoterapia relacionados à pressão arterial.
literatura
Analisar a música como um recurso necessário
A música como recurso nos
Nascimento; Crepalde para o processo de humanização hospitalar,
processos de humanização Revista Formação@ Docente
(2015) ressaltando a sua importância para a recuperação
hospitalar
da saúde dos pacientes internados.
Fonte: elaborado pelo autor (2022).
16

Continuação do Quadro 1.

Bradt et al. Avaliar e comparar os efeitos das intervenções de Music interventions for improving
musicoterapia e medicina musical para resultados psychological and physical outcomes Cochrane Database Syst Rev
(2016) psicológicos e físicos em pessoas com câncer. in cancer patients.
Definir a musicoterapia, evidenciando sua A musicoterapia como recurso
Ramalho; Ramalho
importância e benefícios para o paciente com terapêutico para tratamento do Revista Enfermagem Brasil
(2017)
transtorno mental paciente psiquiátrico
Sintetizar quais as evidências científicas acerca da O efeito da música na saúde
C&D-Revista Eletrônica da
Matoso; Oliveira (2017) utilização da música no processo de saúde- humana: Base e evidências
FAINOR
doença científicas.

Arndt; Maheirie Musicoterapia: dos fazeres


Apresentar um panorama histórico dos aspectos
biomédicos aos saberes socio Revista Polis e Psique
(2019) teóricos e práticos da Musicoterapia
comunitários
Benefícios da musicoterapia quando
Miranda; Almeida Determinar os benefícios da musicoterapia
empregada à criança em tratamento TCC-Enfermagem
(2020) durante o tratamento do câncer infantil.
oncológico
Compreender as contribuições da atividade
Frizzo et al. Música como Recurso de
musical diante da capacidade de pacientes Revista Psicologia: Ciência e
Enfrentamento em Pacientes
(2020) oncológicos e familiares no enfrentamento da Profissão
Oncológicos e Familiares.
doença
Analisar as percepções de crianças e
adolescentes com câncer em cuidados paliativos
Franco et al. A musicoterapia em oncologia:
sobre a musicoterapia, a partir de uma abordagem
percepções de crianças e Revista Escola Anna Nery
(2021) qualitativa com um grupo de sete crianças e
adolescentes em cuidados paliativos
adolescentes, fazendo uso da técnica “desenho-
estória”
Fonte: Elaborado pelo autor (2022).
17

Continuação do Quadro 1.
Guimarães; Almeida; Avaliar a influência da musicoterapia como Os efeitos da música como terapia
Amâncio Brazilian Journal of Health
ferramenta auxiliar no tratamento oncológico em complementar na rotina de crianças
Review
(2021) nível pediátrico sob tratamento oncológico

Relatar a experiência da equipe multiprofissional


Silva et al. nas atividades desenvolvidas envolvendo a Relato de experiência: musicoterapia IX Simpósio Multiprofissional
(2022) musicoterapia como instrumento de auxílio aos no tratamento do câncer de Oncologia
pacientes com câncer.
Fonte: Elaborado pelo autor (2022).
18

3.1 MUSICOTERAPIA: CONCEITOS, OBJETIVOS E APLICAÇÕES CLÍNICAS

A musicoterapia pode ser definida como um segmento temático que analisa o


efeito da música, assim como, de experiências com a música, experimentadas nos
encontros entre o musicoterapeuta e as pessoas participantes da experiência
(BENENZON, 1988).

Segundo Godoy (2014) a musicoterapia pode ser caracterizada como uma


ciência não pura, que envolve diversas ciências, sendo multidisciplinar, trazendo a
música (expressões e estímulos sonoros) como instrumento necessário para o
desenvolvimento dessa ciência. O autor complementa sua afirmativa informando que
a musicoterapia se constitui da união de diversos conhecimentos acerca da música e
da psicologia, que pode funcionar como uma terapia para melhorar sentimentos e
emoções. Outras ciências podem contribuir para o melhor uso da musicoterapia,
sendo elas: psiquiatria, psicopedagogia, educação, entre outras (GODOY, 2014).

Segundo a União Brasileira das Associações de Musicoterapia (2018), a


musicoterapia consiste no uso da música, assim como de seus elementos como: som,
ritmo, melodia e harmonia, por um profissional especializado, com um único paciente,
ou um grupo, com o objetivo terapêutico de atender as demandas físicas, mentais,
sociais e cognitivas das pessoas.

Para Arndt; Maheirie (2019) é função da musicoterapia a busca pelo


desenvolvimento dos potenciais humanos, além de restaurar suas funções,
objetivando que o indivíduo atinja um melhor desempenho intra e interpessoal,
conquistando melhorias na sua qualidade de vida.

Dentre os objetivos da musicoterapia pode ser citada a busca pela melhoria na


capacidade do indivíduo de exercer suas funções nos ambientes em que realiza suas
atividades sociais, seja de forma individual ou grupal, podendo ser utilizada para o
atendimento em comunidades, organizações públicas ou privadas, mas,
especialmente em ambientes hospitalares, sempre buscando promover a reabilitação
da saúde, mas também uma mudança nos contextos sociais e comunitários (UNIÃO
BRASILEIRA DAS ASSOCIAÇÕES DE MUSICOTERAPIA, 2018).
19

Portanto, segundo a União Brasileira de Musicoterapia (2018), é possível


afirmar que a musicoterapia pode evitar danos ou redução nos processos de
desenvolvimento integral dos indivíduos, assim como, de grupos de indivíduos.

Segundo a União Brasileira das Associações de Musicoterapia (2018, p. 10):

O musicoterapeuta é o profissional de nível superior ou


especialização, com formação reconhecida pelo MEC e com registro
em seu órgão de representação de categoria. Ele/a é habilitado/a para
exercer a profissão no Brasil. Ele/a facilita um processo
musicoterápico a partir de avaliações específicas, com base na
musicalidade e na necessidade de cada pessoa e/ou grupo.
Estabelece um plano de cuidado e um processo musicoterápico a
partir do vínculo e de avaliações específicas atendendo às premissas
de promoção da saúde, da aprendizagem, da habilitação, da
reabilitação, do empoderamento, da mudança de contextos sociais e
da qualidade de vida das pessoas, grupos e comunidades atendidas.
O musicoterapeuta pode atuar em áreas como: saúde, educação,
social/comunitária, organizacional, entre outras.

O uso da música para o combate de enfermidades não é atual, pois sabe-se


que na Grécia antiga, alguns filósofos já indicavam a música como benéfica, seguindo
uma lógica preventiva e curativa (OLIVEIRA; GOMES, 2014).

Segundo Leining (1977), assim como Hipócrates pode ser tido como o pai da
Medicina, Platão e Aristóteles podem ser definidos como os percussores da
musicoterapia, visto que, “Platão recomendava a música para a saúde da mente e do
corpo, e para vencer as angústias fóbicas. Aristóteles descrevia seus benéficos efeitos
nas emoções incontroláveis e para provocar a catarse das emoções” (LEINIG, 1977,
p. 15).

Corroborando com a afirmativa acima descrita, Watson et al. (1987, p. 23),


informou que:

Aristóteles, acreditava que a música produzida por instrumentos de


sopro, como a flauta, suscitava emoções fortes e podia conduzir a um
estado de libertação catártico. Nesta medida é ainda interessante
salientar que o povo grego tinha por hábito fazer as refeições
acompanhado pelo som da citara, para facilitar a digestão. Do mesmo
modo, consideravam que a música de tipo eólico e, portanto,
repetitivo, era terapêutica em perturbações do foro mental.
20

O combate às diversas doenças é tão antigo quanto a música em si, visto que,
existem documentos, como, papiros médicos egípcios, datados de 1500 a.C., os quais
relatam os benefícios da música para a melhoria da fertilidade feminina (OLIVEIRA;
GOMES, 2014). Além de citações bíblicas, onde é possível ler em Samuel, capítulo
16, versículo 23 a seguinte frase “Quando o mau espírito de Deus se apodera de Saul,
David tomava a harpa, tocava-a, e Saul acalmava-se e sentia-se melhor, e o espírito
mau afastava-se dele…” (SAMUEL, 16:23).

Corroborando, Hanai et al. (2022) relatam que o pintor Hugo Van der Goes, no
ano de 1500 d.C. afirmando estar perdido e condenado ao inferno, e desejando pelo
suicídio, foi levado para ser tratado em Bruxelas, foi quando ao observar o estado do
pintor, o padre superior afirmou que o artista sofria do mesmo problema que
desestabilizava Saul, relembrando da passagem bíblica acima citada, indicou que
tocassem diversos instrumentos musicais para o enfermo, buscando pela sua
recuperação.

O auxílio musical para o tratamento de soldados que lutavam na primeira guerra


mundial, nos hospitais de veteranos dos Estados Unidos da América, preparava o
caminho para a musicoterapia, visto que, o interesse médico foi se fortalecendo diante
das experiências e dos resultados positivos no uso da música como auxiliar no
tratamento dos enfermos (HANAI et al., 2022).

Segundo Hanai et al. (2022), as principais áreas de atuação da musicoterapia


são: clínica, educacional, social e pesquisa. A área clínica da musicoterapia é
responsável pela aplicação de técnicas sonoras, instrumentais e musicais, durante o
processo de reabilitação de pessoas que apresentam distúrbios físicos, sensoriais,
mentais e emocionais. A área educacional, aplica a musicoterapia para a prevenção
e o tratamento de distúrbios que interferem na aprendizagem, objetivando reduzir as
dificuldades dos alunos para ler e escrever fazendo o uso adequado de técnicas
musicais.

Os autores acima descritos ainda informam que a musicoterapia pode ser


utilizada na área social, através do desenvolvimento de atividades com crianças,
idosos e gestantes em unidades de saúde, creches, casas de repouso, asilos, entre
outros ambientes. O objetivo das atividades visa atender as necessidades individuais
de cada indivíduo, buscando melhorar a qualidade de vida deles. A musicoterapia, no
ambiente de pesquisa, se desenvolve através do desenvolvimento de trabalhos que
21

mostrem comprovação estatística dos efeitos positivos da música, visando o


desenvolvimento de novas metodologias terapêuticas envolvendo a música, para
auxiliar no tratamento de problemas físicos e psíquicos (HANAI et al., 2022).

No contexto clínico, que é o foco dessa pesquisa, a musicoterapia pode ser


utilizada de duas maneiras distintas, de modo que, na primeira fase ela adquire caráter
diagnóstico, já na segunda fase, apresenta caráter terapêutico (RAMALHO;
RAMALHO, 2017).

Apesar de ser aplicável para o tratamento de qualquer indivíduo, a


musicoterapia é mais indicada para pessoas com pouco conhecimento sobre música,
visto que, os pacientes que apresentam maior conhecimento musical podem entrar
em atritos com o musicoterapeuta, ao se mostrar resistente a metodologia escolhida,
tornando-se difícil de se trabalhar os aspectos mais agressivos do paciente
(RAMALHO; RAMALHO, 2017).

A musicoterapia é aplicável ainda em outras situações clínicas com certas


adaptações, pois atua fundamentalmente como técnica psicológica, ou seja, reside na
modificação dos problemas emocionais, atitudes, energia dinâmica psíquica, que será
o esforço para modificar qualquer patologia física ou psíquica. Pode ser também
coadjuvante de outras técnicas terapêuticas, abrindo canais de comunicação para que
estas possam atuar eficazmente.
22

3.2 A MUSICOTERAPIA COMO AUXILIAR NO TRATAMENTO ONCOLÓGICO

Durante o tratamento oncológico, por diversas vezes, torna-se necessária a


adoção de tratamentos e auxiliares não farmacológicos, com o objetivo de melhorar a
qualidade de vida dos pacientes, assim como, dos familiares que acompanham todo
o sofrimento e estresse, promovidos pela doença e pelo tratamento dessa.

Franco et al. (2021) afirmam que as diversas evidências que relatam os


benefícios de intervenções não farmacológicas no tratamento do câncer,
principalmente, no público infantojuvenil, promovem um estímulo ao uso de métodos
alternativos, associados aos tratamentos convencionais. As intervenções não
farmacológicas objetivam, primordialmente, a melhoria do quadro dos pacientes, mas
também, uma melhor qualidade de vida (XAVIER et al., 2020).

Segundo Bradt et al. (2016) a musicoterapia vem se destacando como terapia


não farmacológica, para o tratamento de pessoas em ambientes hospitalares, visto
que, a intervenção musical, associada aos tratamentos convencionais, podem
promover redução de problemas com: a ansiedade, a dor e a fadiga, além de
minimizarem efeitos secundários promovidos pelo tratamento oncológico, gerando
maior sensação de bem-estar nos pacientes acometidos pelo câncer. Em alguns
casos, a musicoterapia pode diminuir a necessidade do uso de drogas anestésicas e
analgésicas, reduzindo também, o tempo de internação e de recuperação dos
pacientes (BRADT et al., 2016).

Portanto, a adoção da musicoterapia como auxiliar no tratamento de pacientes


com câncer pode promover um alívio da dor, do sofrimento e da tensão resultantes da
doença e da internação vivenciada pelos indivíduos, além de promover momentos de
descontração e lazer, fazendo com que os pacientes, por um breve momento, possam
esquecer de toda a angústia vivida no ambiente em que estão inseridos (FRANCO et
al., 2021).

Guimarães; Almeida; Amancio (2021), ao realizarem uma pesquisa com o


objetivo de avaliar a influência da musicoterapia como ferramenta auxiliar no
tratamento oncológico em nível pediátrico, observaram que a adoção da
musicoterapia se mostra “altamente viável financeiramente e quanto ao quesito
adaptação para ser implementada de modo complementar em praticamente todos os
tratamentos oncológicos” (GUIMARÃES; ALMEIDA; AMANCIO, 2021, p. 4.965).
23

É importante salientar que é muito difícil para um paciente, diagnosticado com


câncer, reduzir a ansiedade promovida pela descoberta da doença, mas também
pelos efeitos relativos ao tratamento, no entanto, a musicoterapia, tem sido utilizada
com sucesso, promovendo alívio da dor, promovendo melhorias no humor, reduzindo
as dores e desconfortos do tratamento, resultando numa melhor qualidade de vida
para os pacientes.
24

3.3 BENEFÍCIOS DA MUSICOTERAPIA PARA A MELHORIA DO BEM-ESTAR DE


PACIENTES EM TRATAMENTO ONCOLÓGICO

Franco et al. (2021), objetivando analisar as percepções de crianças e


adolescentes com câncer em cuidados paliativos sobre a musicoterapia, a partir de
uma abordagem qualitativa com um grupo de sete crianças e adolescentes, fazendo
uso da técnica “desenho-estória”, onde as crianças faziam um desenho sobre como
se sentiram no momento da internação, em seguida houve uma interação musical,
sendo pedindo que as crianças desenhassem algo sobre o significado da música
diante do processo de hospitalização. Os autores observaram que:

Antes da musicoterapia, crianças e adolescentes expressaram


sentimentos de tristeza, medo e saudade relacionados ao rompimento
do vínculo familiar durante o processo de hospitalização. Após
receberem a musicoterapia, elas expressaram as sensações de prazer
e bem-estar que essa vivência pode proporcionar, permitindo-lhes a
expressão dos sentimentos mais profundos (FRANCO et al., 2021, p.
1).

Nas figuras 1 e 2 é possível observar os desenhos feitos pelas crianças, antes


da atividade musical e após a musicalização.

Figura 1. Desenho realizado antes da musicoterapia sobre como as crianças e


adolescentes estavam se sentindo diante do processo de hospitalização.
25

Fonte: Franco et al. (2021).

Figura 2. Desenho realizado após a musicoterapia sobre o que os momentos musicais


significaram para as crianças e adolescentes.

Fonte: Franco et al. (2021).

A novidade surgiu a partir da revisão de estudos sobre o tema publicada na


revista "The Cochrane Library", liderada por Joke Bradt, do Departamento de
Arteterapia na Universidade de Drexell na Filadélfia. Foram analisados 30 ensaios
clínicos envolvendo 1.891 pacientes com os mais variados tipos de tumores, sendo
que em 13 estudos eles participaram de sessões de musicoterapia e em outros 17
eles escutaram músicas pré-gravadas.

Em outra pesquisa, realizada por Silva et al. (2022), com o objetivo de relatar a
experiência da equipe multiprofissional nas atividades desenvolvidas envolvendo a
musicoterapia como instrumento de auxílio aos pacientes com câncer. Observaram
que era de grande importância a realização de atividades que permitam aos pacientes
externarem seus medos e anseios, por meio de um ambiente seguro. Por fim, os
autores concluíram que: “A musicoterapia possibilitou o resgate de lembranças
26

positivas e a instilou a esperança de um futuro melhor, tudo isso podendo conferir uma
melhor qualidade de vida e maior efetividade no tratamento.”

Num estudo realizado por Pinto, Gazaneo e Lamas (2005), com o objetivo de
investigar aspectos relacionados à implantação e avaliação de um projeto de
musicoterapia, através da resposta de questionário escrito aplicada ao grupo de
alunos de musicoterapia, além de uma pesquisa da avaliação dos profissionais:
enfermeiros e assistentes sociais, que trabalham diariamente com os pacientes
enfermos. Os autores concluíram que o projeto tem cumprido com o seu papel de
humanização do Hospital, e abre perspectivas de outras discussões sobre os
processos de cuidar e suas relações com diferentes modos de subjetivação e a cultura
de nosso povo.

Gaspar; Dexheimer (2014), ao realizarem um estudo com o objetivo de


observar efeitos da música na qualidade de vida de pacientes submetidos ao
tratamento quimioterápico, através da observação de 18 pacientes diagnosticadas
com câncer de mama, sem ter passado por nenhum tratamento quimioterápico
anterior, as quais, foram separadas em dois grupos (Grupo A e Grupo B), onde o A foi
submetido à intervenção com música e o grupo B foi apenas observado sem
intervenção com música. Os resultados observados pelas autoras mostraram que:

No grupo controle houve redução do desempenho físico, enquanto no


grupo tratado, o fator físico se manteve como no início do tratamento.
Os resultados do estudo sugeriram que o número amostral seja maior
e que se avalie o funcionamento físico dos pacientes durante o
tratamento, para que os resultados sobre os benefícios da música
sejam ainda mais perceptíveis.

Corroborando os resultados encontrados pelas autoras acima citadas,


Santana; Zanini; Sousa (2014) afirmam que a qualidade de vida de pacientes
diagnosticados com câncer, que passam por tratamento com música, em conjunto
com os tratamentos convencionais, é beneficiada, havendo redução da dor, assim
como, da ansiedade, os autores também afirmam que há um relaxamento que
promove melhoria dos sinais vitais.

Os autores Yamasaki et al. (2012), também concordam com os resultados


encontrados por Gaspar; Dexheimer (2014) ao afirmarem que a música apresenta
benefícios no tratamento de pessoas que lutam contra o câncer em ambientes
27

hospitalares, promovendo redução nas doses medicamentosas, de sedativos e de


analgésicos, além de permitir melhorias no bem-estar dos indivíduos.

Em outro estudo, realizado por Miranda; Almeida (2021), com o objetivo de


determinar os benefícios da musicoterapia durante o tratamento do câncer infantil, por
meio de um estudo bibliográfico, encontraram os seguintes resultados:

A musicoterapia promove o aprendizado e a autoestima devido às


terapias relacionadas que podem satisfazer os fatores espirituais e
sociais, contribui no atendimento ao paciente pediátrico que pode
reduzir o estresse e a ansiedade. O cuidado é utilizado pela equipe de
enfermagem e tem obtido boas respostas após sua iniciativa, incluindo
funções de enfermagem, como identificar mudanças de atitudes,
determinar a relevância da música para o paciente e incentivar o
apego com música e sua relação. A combinação da música traz à
criança a sensação de estar em um ambiente confortável, além de
estimular o desenvolvimento psicomotor, a demonstração de
sentimentos e o consumo de energia (MIRANDA; ALMEIDA, 2021, p.
4).

Corroborando, Matoso; Oliveira (2017) afirmam que a musicoterapia pode


promover benefícios na esfera da fisiologia, espiritual, cognitiva e psicológica, fator
que pode explicar os resultados benéficos do uso da musicoterapia, em associação
com os métodos de cuidados tradicionais, na recuperação de pacientes oncológicos.

Nascimento; Crepalde (2015), objetivando analisar a música como um recurso


necessário para o processo de humanização hospitalar, ressaltando a sua importância
para a recuperação da saúde dos pacientes internados. A pesquisa investigou as
mudanças que ocorrem com o paciente desde o momento em que ele se interna, ao
momento em que se acreditou, ser um momento traumático para o paciente. Os
autores, por meio de uma revisão bibliográfica, concluíram que:

A efetividade do recurso musical na melhoria da qualidade de vida do


cidadão é facilmente perceptível. Entretanto, deve-se atentar para o
fato de que quando a música é utilizada por profissionais
especializados e com formação na área, ela se torna um instrumento
benéfico para a saúde e por isso defende-se a sua utilização no
ambiente hospitalar.

Frizzo et al. (2020), objetivando compreender as contribuições da atividade


musical diante da capacidade de pacientes oncológicos e familiares no enfrentamento
28

da doença, bem como investigar qual o impacto dessa ação nos aspectos
biopsicossociais frente ao processo saúde-doença, por meio de um estudo descritivo
exploratório por meio de entrevistas feitas após a intervenção por meio da
musicalização com pacientes internados para tratamento. As atividades foram
desenvolvidas por meio de dois encontros semanais, por um período de três meses.
Os autores concluíram que:

Houve melhora da expressão de sentimentos, ampliação da sensação


de apoio, melhora do humor, além do enfoque em memórias
saudáveis para além da experiência da enfermidade, facilitando o
ajustamento psicológico frente à doença. Alcançou-se ainda a
minimização da percepção dos sintomas atrelados ao tratamento por
meio do relaxamento, impactando positivamente nos aspectos
biológicos/orgânicos oriundos do diagnóstico e do tratamento. A ação
proposta ofertou no ambulatório de quimioterapia momentos de
restabelecimento da saúde mental por constituir-se em uma
ferramenta de humanização dentro da saúde, favorecendo espaços de
acolhimento autêntico, conforme ressaltados nas falas dos sujeitos
entrevistados (FRIZZO et al., 2020, p. 1).

Após a realização de uma revisão de literatura sobre a adoção da


musicoterapia como tratamento alternativo para crianças em tratamento oncológico
Guimarães; Almeida; Amâncio (2021, p. 4.965), informaram que:

A musicoterapia pode exercer grandes influências sobre inúmeros


aspectos fisiológicos que, em última análise, interferem diretamente
no âmbito psicoemocional, proporcionando, na maioria das vezes,
ação analgésica, relaxamento muscular, redução da frequência
cardíaca, etc., fatores esses que são positivamente observados
quando se visa a diminuição de efeitos negativos advindos dos
procedimentos terapêuticos convencionais usados no combate ao
câncer.

De posse dos resultados observados através do levantamento bibliográfico, é


possível afirmar que a associação da musicalização, nos ambientes hospitalares, aos
tratamentos convencionais, é um fator de grande importância, promovendo melhoria
no quadro biopsicossocial do paciente, como também, dos seus familiares, que os
acompanham na luta contra suas enfermidades.
29

Entretanto, é importante ressaltar a importância da escolha de profissionais


habilitados para o desenvolvimento das atividades nos hospitais, visando a promoção
de benefícios reais aos pacientes, evitando maiores danos a saúde dos mesmos.
30

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A primeira sensação descrita pelos pacientes é sempre de angústia e de dor


pelos momentos pelos quais precisará enfrentar para sobreviver ao câncer, no
entanto, após a realização de atividades de musicoterapia, os diversos estudos
mostram melhora no quadro dos pacientes, reduzindo inclusive o uso de alguns
fármacos vinculados aos seus respectivos tratamentos e efeitos colaterais.

A partir das leituras e discussões dos trabalhos escolhidos para compor este
estudo, tornou-se possível responder a pergunta norteadora desta pesquisa,
entendendo que a musicoterapia, associada aos tratamentos convencionais, quando
aplicada de forma responsável, por profissionais qualificados, promove melhoria no
quadro biopsicossocial do paciente. Como também, melhora na vida dos familiares
que acompanham os pacientes oncológicos na luta contra suas enfermidades.

Após todo o exposto nesta pesquisa, fica claro que todos os resultados
apresentados neste trabalho corroboram para validar o uso da música como
ferramenta auxiliar no tratamento oncológico. Sendo a música utilizada de forma
responsável, ética e associada aos tratamentos farmacológicos convencionais na
oncologia.
31

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