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Out/Nov/Dez - 2015 Nº 246 - Ano 42

NOVAS ROTAS DE
GESTÃO DA FAB
Melhor aproveitamento de recursos e mais eficiência:
conheça a receita para fazer mais com menos
50 anos Fumaça Santa Cruz
C-130 Hércules Esquadrilha Base no RJ se
completa cinco volta com novas prepara para
décadas na FAB aeronaves as Olimpíadas
SGT JOHNSON / Agência Força Aérea
Prepare seu plano de voo
Edição nº 246 Ano 42
Outubro/Novembro/Dezembro - 2015
TEN ENILTON / Agência Força Aérea

24
OPERACIONAL - Forças aéreas do Brasil e de países vizinhos treinam juntas para coibir os voos ilícitos em regiões de fronteira. Em 2015,
as operações COLBRA e PERBRA exercitaram procedimentos para defesa da Amazônia e combate ao narcotráfico.

ENTREVISTA GESTÃO DEFESA


Entre o possível e o necessário Mais com menos Investimento com retorno

08 16 20
Chefe do Estado-Maior da Aeronáu- Saiba como unidades da Estudo revela que operações
tica explica os projetos de melhoria FAB conseguiram tornar os Ágata aumentam a arrecadação de
de gestão para tornar a Força Aérea processos administrativos impostos com o combate a crimes
mais eficiente. mais ágeis. como o contrabando.

MÍDIAS SOCIAIS
6º jogos mundiais militares
Quer saber tudo que rolou na
sexta edição dos Jogos Mundiais
Militares? Confira o Força Aérea Blog.
#MundialMilitar #ForçasnoEsporte
SGT JOHNSON / Agência Força Aérea

Acesse:
https://www.forcaaereablog.aer.mil.br

4 Out/Nov/Dez 2015 Aerovisão


Veja a edição digital interativa
SD SERGIO KREMER / Agência Força Aérea

CB V.SANTOS / Agência Força Aérea

DEFESA AÉREA AmAzÔNIA


A casa da caça Expedição Yanomami

28 40
Criada para defender áreas estratégicas Força Aérea Brasileira apoia organização não governamental
do País, a Base Aérea de Santa Cruz se Expedicionários da Saúde para levar atendimento médico a
prepara para os Jogos Olímpicos de 2016. milhares de índios em tribos isoladas na Amazônia.

Veja na FAB TV (youtube.com/portalfab)


FAB EM AÇÃO
Assista à reportagem que mostra como é a rotina
dos soldados da Aeronáutica. Você vai conhecer as
várias etapas da carreira desse militar, desde o in-
gresso, a progressão, as atividades desenvolvidas e
as oportunidades de preparação para o retorno ao
mercado de trabalho.

CONEXÃO FAB
Mensalmente, você pode acompanhar os prin-
cipais acontecimentos da Força Aérea Brasileira.
Em outubro, o Conexão FAB tira as dúvidas dos
candidatos sobre como realizar o teste físico para
ingresso na Força.

Aerovisão Out/Nov/Dez 2015 5


Aos Leitores

Gerenciar para voar


Força Aérea é avião no céu, tropa de excelentes serviços. Uma gestão
em ação, controladores frente a painéis eficiente leva a uma manutenção efi-
imensos e uma série de outras atividades ciente e, por sua vez, permite termos
onde decisões rápidas fazem parte do uma Força Aérea presente na vida dos
dia a dia. Mas é, também, tornar tudo brasileiros com missões de grande
isso possível. Falamos de um silencioso, relevância como transporte de ajuda
planejado, repetitivo e criterioso trabalho humanitária e combate a incêndios
realizado nos bastidores, quase sempre florestais. Essa história você também
de forma anônima. confere neste número da Aerovisão.
É esperado. Certamente não se tra- Gerir os recursos com eficiência
tam de atividades com o mesmo nível garante que, mesmo em período de
de emoção: com pessoas sentadas à cortes, a Força Aérea continue em ação.
frente de computadores, até as fotos Nas fronteiras, exercícios binacionais Nossa capa:
A arte, elaborada pelo Tenente Rachid
são desinteressantes. Melhor seria se firmam laços com países vizinhos para Jereissati e pela Sargento Daniele Aze-
uma revista como a Aerovisão apenas ajudar a combater os crimes transna- vedo sobre fotografia do Cabo Vinícius
retratasse mísseis e bombas, fizesse o cionais. No mar, o P-95 modernizado Santos, representa todos os militares da
garante a vigilância de nossas riquezas Força Aérea Brasileira que atuam na área
leitor sentir o cheiro e o calor do com-
de gestão. Abaixo, três destaques sobre
bustível queimado nas turbinas. Mas oceânicas. No Rio de Janeiro, a Base Aé- o objetivo final da área administrativa:
sem uma gestão adequada de recursos, rea de Santa Cruz cumpre o seu papel aeronaves no céu.
nada disso iria ocorrer. A Força Aérea de defender estruturas estratégicas e
poderia ficar no chão. se prepara para os desafios dos Jogos
Antes mesmo da crise econômica Olímpicos. Na Amazônia, em parceria
vivida pelo Brasil em 2015, a Aeronáu- com a sociedade civil, a FAB ajuda a
tica já estava focada em melhorar sua levar saúde para índios.
gestão. O objetivo é concentrar recur- Por fim, amigo leitor, decidimos
sos nas atividades-fim, tornando os destacar o papel dos nossos militares
setores administrativos mais enxutos, da área administrativa porque eles
menos burocráticos e mais eficientes. trabalham com um profundo respeito a
Um desses exemplos acontece na você. Quando cada centavo é bem gas-
cidade do Rio de Janeiro, onde uma só to, quando a busca pelo aprimoramento
unidade absorveu os serviços admi- é constante, há um extremo respeito ao
nistrativos de outras nove. O resultado cidadão brasileiro. A nossa maneira de
é o foco na missão original, no caso, agradecer pelos recursos a nós confia-
oferecer uma manutenção adequada a dos é saber fazer valer cada um deles.
aeronaves como os caças A-1. Com me- Obrigado pela confiança.
nos burocracia e mais gente disponível
para o trabalho de ponta, temos mais Boa leitura!
aviões no céu.
É assim que até hoje a frota de Brigadeiro do Ar Pedro Luís Farcic
C-130 Hércules continua em operação, Chefe do Centro de Comunicação
da Antártica à Amazônia, após 50 anos Social da Aeronáutica

Aerovisão Out/Nov/Dez 2015 7


ENTREVISTA

Entre o possível e
o necessário
A
o mesmo tempo em que lida com os
desafios do presente, de fazer mais com
menos, a Aeronáutica planeja seu futuro
e se concentra cada vez mais na sua missão ins-
titucional: “Manter a soberania do espaço aéreo
nacional com vistas à defesa da Pátria”.
Quem explica é o Chefe do Estado-Maior da
Aeronáutica (EMAER), Tenente-Brigadeiro do
Ar Hélio Paes de Barros Júnior. Ao longo de 45
anos de serviço, o militar acumula passagens
por cursos de gestão em universidades do Bra-
sil, do Canadá e dos Estados Unidos, ao mesmo
tempo em que esteve à frente de Organizações
Militares como o 1° Grupo de Defesa Aérea, a
Base Aérea de Anápolis e o Comando-Geral de
Apoio.
Entre os assuntos abordados nesta entrevista
estão o novo Plano Estratégico Militar da Aero-
náutica, a otimização dos serviços administra-
tivos e os projetos de Parceria Público-Privada.
Tudo para alcançar uma lição aprendida na
Escola Preparatória de Cadetes do Ar (EPCAR):
a busca pela qualidade.
GABRIÉLLI DALA VECHIA
SGT JOHNSON / Agência Força Aérea

8 Out/Nov/Dez 2015 Aerovisão


“Será preciso rever as
nossas necessidades,
tanto em termos de
infraestrutura quanto
de recursos humanos,
para fazer frente aos
novos desafios que se
descortinam”

Aerovisão Out/Nov/Dez 2015 9


Aerovisão - Segundo dados divul-
gados pela Embraer, nos últimos anos,
cada real investido em desenvolvimen-
to de produtos de defesa gerou cerca
de dez vezes esse valor em divisas de
exportação. Como a Aeronáutica tem
contribuído para a Base Industrial de
Defesa (BID)?
Ten Brig Paes de Barros - Existem
dois pontos que considero de grande
importância no que tange ao desenvol-
vimento da BID.
O primeiro foi a idealização do CTA
(Centro Técnico Aeroespacial, criado
em 1946 em São José dos Campos e
atualmente designado Departamento
de Ciência e Tecnologia Aeroespacial)
e a decorrente criação da Embraer, pois
a partir de então o Brasil pôde adentrar
em um clube de países produtores
de aeronaves, tornando-se um dos
maiores do mundo neste segmento de
SGT JOHNSON / Agência Força Aérea

negócios. Para alcançar esse patamar,


foram de suma importância os pro-
jetos militares solicitados à Embraer,
que, por meio de tecnologias duais,
proporcionaram à Base Industrial de
Defesa alçar voo em seus programas
de cunho civil.
O segundo ponto, e não menos im- Aerovisão - O COMAER tem insis- a novas tecnologias, as quais, agrega-
portante, foi que Força Aérea buscou tido bastante nos ganhos dos projetos das à criatividade do povo brasileiro,
incentivar o processo de manutenção estratégicos – como KC-390 e Gripen fazem nascer projetos como o Em-
de reparáveis no Brasil, ou seja, aque- NG – para além dos benefícios imedia- braer 145, sucesso em toda a aviação
les itens das aeronaves que necessitam tos. Tem se falado muito no incentivo regional mundial, além de aeronaves
de revisões periódicas. Assim, muitas à transferência de tecnologia, offset, militares como o Super Tucano e, ago-
vezes aproveitando as cláusulas con- geração de empregos, etc. Por que isso ra, o KC-390. Esses projetos são fruto
tratuais de offset, as empresas nacio- é bom para o País? da genialidade nacional. Ademais,
nais buscaram e alcançaram níveis de Ten Brig Paes de Bar ros - Há por trás dessas aeronaves, existem
excelência nesse tipo de serviço. Isso setores industriais no mundo, espe- milhares de empregos de alto nível,
possibilitou às indústrias o domínio cialmente o aeronáutico, nos quais o melhores salários e, em decorrência,
completo do ciclo de vida de um conteúdo tecnológico é vastíssimo e melhor qualidade de vida para os bra-
determinado projeto. Tais ações não muito complexo, por isso seu valor sileiros. Isso é muito bom para o País.
só elevaram a capacidade profissio- agregado é muito alto. Sendo assim,
nal brasileira, permitindo inclusive torna-se extremamente difícil penetrar Aerovisão - O foco da FAB, hoje,
a venda desses serviços ao exterior, nestes mercados, seja pelas dificulda- é ter menos aeronaves, porém, mais
como também ofereceram ao País uma des técnicas intrínsecas à atividade, operacionais, certo? Na opinião do
capacidade estratégica de durar na ou mesmo pelas restrições do próprio senhor, nossa frota está adequada às
ação, ou seja, promoveram aumento no mercado a outros competidores. nossas necessidades?
tempo de permanência da Aeronáutica As cláusulas de compensação, Ten Brig Paes de Barros - Essa per-
em um conflito. É uma relação que também conhecidas como offset, são gunta me lembrou de nossa velha Escola
considero benéfica para todos. importantes para permitirem o acesso Preparatória de Cadetes do Ar (EPCAR),

10 Out/Nov/Dez 2015 Aerovisão


“Por trás
dessas
aeronaves,
existem
milhares de
empregos de
alto nível,
melhores
Aeronave Brasília sobrevoa a capital federal. O projeto desse
salários e, em
avião foi um dos casos de sucesso da Embraer, assim como o

decorrência,
Super Tucano e o Embraer 145.

cujo lema é non multa sed multum, signifi- a metodologia citada, o que irá permi-
cando que devemos buscar a qualidade
e não apenas a quantidade.
tir ao COMAER uma reordenação de
suas prioridades e, em decorrência, de
melhor
Em primeiro plano, para dimen- seus projetos e da aplicação de seus
sionarmos não só a nossa frota, como recursos. Não é tarefa fácil! qualidade de
também toda a estrutura da FAB, nós de- Retornando à pergunta, eu diria
vemos verificar onde queremos chegar,
ou seja, o que queremos ser, mediante
que estamos, nos dias atuais, em um
processo de adequação. Há frotas de vida para os
o estabelecimento de uma concepção aeronaves que podem ser reduzidas,
estratégica da organização, que apresen-
te a sua visão de futuro. Em seguida, é
algumas que necessitam de moder-
nização e outras que precisam ser
brasileiros. Isso
preciso verificar onde estamos, fazendo adquiridas. O ponto certo será aquele
uma avaliação estratégica das condi-
cionantes atuais, observando qual é a
em que você consegue estabelecer um
equilíbrio entre aquilo que é possível
é muito bom
realidade atual e se ela está aderente ao e o que é necessário, pois, às vezes, ter
modelo estabelecido na concepção estra- mais do que se necessita pode implicar para o País”
tégica. Vencida esta etapa, poderemos em não se investir naquilo que é essen-
estabelecer os passos de nossa jornada. cial, e vice-versa.
Nesta direção, o EMAER prevê, até
o final do ano 2015, apresentar uma Aerovisão - O que a Aeronáutica
revisão do Plano Estratégico Militar pode fazer para ter mais aeronaves
da Aeronáutica (PEMAER), mediante disponíveis?

Aerovisão Out/Nov/Dez 2015 11


Ten Brig Paes de Barros -Essa tarefa a atender aos serviços de suprimento
já vem sendo feita. Ações como a busca e manutenção dos equipamentos do
de parcerias com a Base Industrial de Sistema de Controle do Espaço Aéreo
Defesa, por meio de contratos baseados Brasileiro (SISCEAB).
em cláusulas de performance ou pa- Outros modelos de PPP ainda po-
gamento por horas de voo, bem como derão ser analisados e implementados
a melhoria na capacitação de nossos na FAB, tais como hospitais, projetos
recursos humanos vêm demonstrando da área de ciência e tecnologia e outros.
que, com os mesmos recursos, temos

“...a estrutura
atingido metas de disponibilidade cada Aerovisão - Algumas organizações
vez melhores. O foco na atividade de da FAB estão criando Grupamentos de
logística também se modificou, locali- Apoio (GAP) para centralizar as ativi-
zando-se menos no serviço e mais no
cliente. Parece uma mudança simples,
dades administrativas e permitir que as
unidades se dediquem exclusivamente segue a
todavia faz grande diferença. à sua atividade-fim. Quais as vantagens
Para acelerar este processo, não
basta apenas ter bons gerentes e mão
para a Força nessa mudança? Que uni-
dades devem receber um GAP? Que
estratégia”
de obra capacitada. Em última análise, atividades ele vai executar?
para incrementar a quantidade de ae- Ten Brig Paes de Barros - Ao longo
ronaves disponíveis, é preciso que haja do tempo, várias organizações, por ini-
recursos e, neste sentido, a logística ciativa própria, iniciaram processos de
tem recebido prioridade dentro do or- centralização de atividades, utilizando-
çamento da Aeronáutica, considerando -se de suas experiências profissionais
o cenário vivenciado. locais. A partir de agora, mediante o
estabelecimento de uma Diretriz do
Aerovisão - A FAB está trabalhando Comandante da Aeronáutica sobre o
na condução de uma Parceria Público- assunto, o objetivo é que toda a admi-
-Privada (PPP) para a manutenção de nistração siga a mesma metodologia
boa parte da sua frota de aeronaves a de implantação, fazendo com que
partir de 2017. Que ganhos essa parce- tenhamos as mesmas regras, a mesma nomia de meios humanos e financeiros,
ria deve trazer para a FAB? Que outras legislação e o mesmo modelo. visto que a mudança deve reduzir sig-
áreas/setores podem vir a se tornar Todas as organizações do COMAER nificativamente a quantidade de servi-
objetos de PPP? estão sendo apoiadas por um determi- ços redundantes, o preenchimento das
Ten Brig Paes de Barros - Dentre nado GAP, fazendo com que elas pos- lacunas de recursos humanos, a padro-
as várias vantagens da PPP, estão os sam se dedicar integralmente às suas nização dos processos administrativos,
contratos de longo prazo (30 anos), atividades-fim, enquanto o GAP tratará como também e o mais importante, o
permitindo ao ente privado maior das atividades concernentes ao apoio. foco na atividade operacional.
segurança nos seus investimentos em Já foram criados o Grupamento de Nessa fase inicial, serão consoli-
infraestrutura e, em contrapartida, via- Apoio Logístico (GAL), o Grupamento dadas as atividades de almoxarifado,
bilizando a possibilidade de menores de Apoio do Rio de Janeiro (GAP-RJ) fardamento, pessoal militar e civil,
custos para o ente público. e o Grupamento de Apoio da Saúde transporte de superfície, obtenção
A PPP permite, ainda, que receitas (GAPS), com características específicas. (licitações, contratos e pagamentos),
extras captadas pelo setor privado Agora, em uma primeira fase do traba- protocolo e arquivo, tecnologia da
possam ser abatidas dos custos do lho, serão criadas unidades de apoio de informação (administrativa), subsistên-
contratante. Ao fim do contrato, todos Anápolis (GO), do Sexto Comando Aé- cia, prefeituras e pagamento de pessoal.
os investimentos em infraestrutura reo Regional (VI COMAR, em Brasília), Para a consecução desse objetivo,
realizados pela parte privada da PPP de Pirassununga (SP) e dos Afonsos (na é necessário que todo o efetivo tenha
retornam à FAB. cidade do Rio de Janeiro). Após a im- consciência da importância desse
No mesmo sentido, o Departamento plantação dos quatro primeiros GAPs, trabalho, amenizando as reações con-
de Controle do Espaço Aéreo (DECEA) serão elencadas novas localidades. trárias e buscando soluções factíveis
também propôs uma PPP, de maneira Os principais benefícios serão a eco- para vencer os obstáculos que poderão

12 Out/Nov/Dez 2015 Aerovisão


SGT SIMO / Agência Força Aérea

O COMAER investe em melhorias nos sistemas de


gestão da Força para otimizar o uso de recursos públicos.

surgir, pois só assim poderemos ter no do Sistema de Controle do Espaço Aéreo R$ 160 milhões no projeto de aquisição
futuro uma gestão eficaz e uma gover- Brasileiro (SISCEAB). Isso significou uma da aeronave KC-390, tendo sido
nança real das atividades do COMAER. redução no orçamento do COMAER no preservados os recursos destinados ao
valor de R$ 585,4 milhões. desenvolvimento desta aeronave, bem
Aerovisão - O corte orçamentário Além da redução ocorrida em maio, como aqueles referentes ao programa
em 2015 para a área de defesa foi de R$ houve um segundo corte em julho deste da aeronave de combate F-X2.
5,6 bilhões, passando de R$ 22 bi para ano, no valor de R$ 108,6 milhões para
R$ 17 bi, anunciado em maio. Como o COMAER, equivalente a 4,94% sobre Aerovisão - Como foram definidos
funciona esse repasse para as Forças? o valor remanescente do corte ante- os cortes no âmbito da FAB?
Qual foi o efetivo corte para a FAB? rior. Dessa forma, a redução total, em Ten Brig Paes de Barros-Em ra-
Ten Brig Paes de Barros - É preciso relação ao valor inicial do orçamento zão do cenário orçamentário que foi
destacar que o corte orçamentário foi do COMAER foi de aproximadamente estabelecido a partir de julho de 2015,
aplicado somente sobre as Despesas 26%, o que equivale a um montante de o COMAER viu-se obrigado a aumen-
Discricionárias (Outras Despesas Cor- R$ 694 milhões. tar as medidas de austeridade e de
rentes e de Capital - OCC), não sendo Já com relação aos projetos que fa- otimização do emprego dos recursos
aplicável às Despesas Obrigatórias. zem parte do Programa de Aceleração públicos, os quais atingiram todos os
Neste sentido, o Ministério da Defesa do Crescimento (KC-390 e F-X2), foram segmentos da Força (administrativos,
estabeleceu um corte linear de 21 %, com realizados, em maio, cortes pelo Minis- técnicos e operacionais).
base no Projeto de Lei de Orçamento tério da Defesa, priorizando aqueles Nesse contexto, buscou-se pre-
Anual 2015 para cada Força e para a Ad- considerados essenciais. servar ao máximo os compromissos
ministração Central, tendo preservado Como consequência, coube ao contratuais, de forma a não prejudicar
os recursos destinados ao investimento COMAER um corte orçamentário de a continuidade dos projetos em anda-

Aerovisão Out/Nov/Dez 2015 13


mento. Contudo, foi necessário reduzir operacionais e administrativas. sinaliza que precisamos, mais do
o esforço aéreo de 150.000 para 130.000 Neste foco, ressalta-se o aprimo- que nunca, reorientar a nossa visão
horas de voo, a fim de se adequar aos ramento de processos, a centralização de futuro.
recursos existentes, como também administrativa, a adequação da frota Sendo assim e considerando a
preservar o mínimo de treinamento e de aeronaves, a implementação de Par- frase do reconhecido professor de
prontidão operacional da FAB. cerias Público-Privadas, dentre outros. administração em Harvard, Alfred
Contudo, é importante verificar que Chandler, quando cita que “a estru-
Aerovisão - Em que mudanças efe- toda instituição é um organismo vivo tura segue a estratégia”, devemos
tivas o COMAER tem trabalhado para que convive com influências internas e buscar uma nova fase no COMAER,
se adequar a esse momento sensível externas. Isso quer dizer que, embora na qual será necessário rever as nos-
para a administração pública? Quais as tenhamos percalços de curto prazo, não sas necessidades, tanto em termos
principais estratégias de gestão a serem devemos apenas observar a instituição de infraestrutura quanto de recursos
adotadas em momentos de contenção em termos de cenário vigente. Desta humanos, para fazer frente aos novos
de gastos sem paralisar as atividades maneira, dentro de uma visão de longo desafios que se descortinam.
essenciais da Aeronáutica? prazo, após o estabelecimento de nossa É de suma importância considerar
Te n Br ig Paes de Bar ros - Ao concepção estratégica, ou seja, definir que os novos vetores aéreos, tais
longo desta entrevista, foram aborda- para onde queremos ir, devemos esta- como o KC-390 e o FX-2, mediante
das diversas iniciativas e estratégias belecer o nosso caminho: o PEMAER. as tecnologias embarcadas, novos
promovidas pelo COMAER para fazer Ao longo dos anos, o COMAER armamentos com extrema eficácia
frente às dificuldades orçamentárias, vem sofrendo diversas modificações e ainda considerando a inserção de
decorrentes da conjuntura econômica na sua Estratégia, muitas delas decor- sistemas de manutenção altamente
atual, de maneira a não interromper rentes da transferência de estruturas modernos, terão impacto decisivo na
os grandes projetos da FAB, os quais que faziam parte do antigo Ministério nova visão de futuro da Força Aérea
têm importância relevante para o da Aeronáutica para outros setores Brasileira, bem como nos decorrentes
futuro da instituição, como também do País, como o antigo Departamento modelos de infraestrutura de apoio.
continuar provendo os recursos ne- de Aviação Civil (DAC), a Embraer e Certamente irão fazer a diferença no
cessários ao custeio das atividades a Infraero, o que, de alguma forma, porvir da organização.
SGT JOHNSON / Agência Força Aérea

14 Out/Nov/Dez 2015 Aerovisão


HISTÓRIA

Em nome
da inovação
Escola Superior de Guerra home-
nageia patrono de Engenharia da
Aeronáutica

C
om o nome “Destinos do Brasil”, do Correio Aéreo Nacional entre o Rio em equipe. E se algum merecimento
a turma de 2015 do Curso de de Janeiro e São Paulo, em 1931. Piloto tenho, é o de ter sabido despertar em
Altos Estudos de Política e Es- e engenheiro, dez anos depois, com a meus companheiros o entusiasmo,
tratégia (CAEPE) da Escola Superior de criação da Aeronáutica, entrou na nova delegar-lhes autoridade com respon-
Guerra (ESG) escolheu como patrono o força. Depois de dois anos já ocupava sabilidade, exortá-los ao pleno uso de
Marechal do Ar Casimiro Montenegro o cargo de diretor técnico e começou a suas potencialidades e qualidades, em
Filho, idealizador do Instituto Tecno- idealizar aquilo que um dia seria o ITA. proveito do povo brasileiro”.
lógico de Aeronáutica (ITA) e do atual Falecido no ano 2000, é hoje patrono da Formada por 32 integrantes de diver-
Departamento de Ciência e Tecnologia Engenharia da Aeronáutica Brasileira. sos setores da sociedade civil e 34 milita-
Aeroespacial (DCTA). Com a homenagem, Casimiro Mon- res das Forças Armadas e estaduais, além
“A contribuição do Marechal Casi- tenegro integra agora o grupo de patro- de sete estrangeiros, a turma “Destinos
miro à Ciência e Tecnologia do Brasil é nos homenageados por turmas da ESG do Brasil” é um desses exemplos de
evidenciada pelo atual parque indus- desde 1950. Entre eles estão nomes como companheirismo visando ao interesse
trial brasileiro”, explica o Coronel Avan- Barão do Rio Branco, Marechal Rondon, comum: estudar o Brasil.
delino Santana Júnior, da Força Aérea Duque de Caxias, Almirante Tamanda- Criada em 1949, a ESG é comandan-
Brasileira, um dos alunos da turma. “O ré, Joaquim Nabuco, Rui Barbosa, Ana da por oficiais-generais dos últimos
modelo perseguido por ele se baseava Nery e Juscelino Kubitschek. postos da Marinha, do Exército e da
na estratégia definida pela trilogia Ensi- Em dezembro de 1975, quando Aeronáutica, em sistema de rodízio.
no- Pesquisa –Indústria, pois imaginava recebeu o título de Doutor Honoris Desde 1951, além de militares, os cur-
ser primordial o preparo de uma base Causa da Universidade Estadual de sos oferecidos pela escola passaram a
sólida de recursos humanos para a Campinas (Unicamp), Casimiro Mon- receber alunos civis. Após 66 anos de
implantação e o desenvolvimento de tenegro discursou sobre a importância história, mais de oito mil pessoas já
uma indústria aeronáutica”, completa. de acreditar na coletividade. “Jamais foram diplomadas pela ESG, incluin-
Nascido em 1904, Casimiro Monte- acreditei em messianismo, estrelismo, do quatro Presidentes da República,
ARQUIVO

negro ingressou no Exército em 1923 e concentração do poder e do mérito em Ministros de Estado e personalidades
foi um dos pioneiros do primeiro voo um só indivíduo. Sempre trabalhei do cenário político brasileiro.

Aerovisão Out/Nov/Dez 2015 15


GESTÃO

Mais com menos


Reorganização de unidades da FAB aumenta a
eficiência e libera recursos para atividades-fim
Humberto Leite

R
esponsável pelos serviços de pamento de Apoio Logístico (GAL), o redução do efetivo, na medida em que
manutenção de aeronaves como trabalho da área de finanças de nove a maximização da força de trabalho é
os cargueiros C-130 Hércules organizações localizadas no Rio de consequência de uma melhor gestão
e os caças A-1, o Parque de Material Janeiro (RJ), incluindo o PAMA-GL. do fluxo de processos, padronização
Aeronáutico do Galeão (PAMA-GL) é Hoje, uma única seção de finan- de procedimentos e melhor controle e
uma das unidades da FAB que passam ças, com quinze membros, cuida de acompanhamento da rotina diária”, diz
por um processo de mudança de ges- um efetivo total de 3.390 militares na o Major Rodrigo Moro Loureiro. Foram
tão para ampliar o foco na atividade- cidade. Antes, só no PAMA-GL, eram concentradas no GAL as atividades de
-fim. Até 2013, o setor de finanças da dez responsáveis pelas atividades pagamento de pessoal, de licitações, de
Organização Militar concentrava dez burocráticas para um total de 958. Em celebração de contratos e de execução
militares responsáveis por dar apoio termos estatísticos, a proporção entre orçamentária, financeira e patrimonial,
nas atividades de pagamento. Naque- o pessoal de finanças e o total subiu de além da tarefa de elaborar e gerar um
le ano, porém, a sala foi fechada. O 95,8 para 226. único boletim interno.
Comando-Geral de Apoio (COMGAP) “A iniciativa da criação do GAL A concentração de atividades sig-
concentrou em uma só unidade, o Gru- trouxe benefícios que vão além da nificou ainda uma redução de 39,48%

16 Out/Nov/Dez 2015 Aerovisão


SGT WILSON ALVES (PAMA-GL)

no número de documentos contábeis


gerados, como Notas de Empenho e
Notas de Serviço: de 58.752 baixou
para 35.554. Outra comparação possí-
vel está na execução orçamentária. Os
quinze membros da equipe de finanças
do GAL trabalharam com um total de
R$ 239.581.016,96 em 2014, enquanto
os dez da antiga seção do PAMA-
-GL trabalharam com um total de R$
97.535.413,56. Ou seja, um efetivo 50%
maior `lidou com volumes financeiros
145,63% maiores.
O trabalho unificado também fa-
cilitou o trâmite entre o Comando da

Aerovisão Out/Nov/Dez 2015 17


Aeronáutica e órgãos externos. É o caso da e da Defesa, da Marinha e do Exér-
da Consultoria Jurídica da União na ci- cito, além da própria FAB, debateram
dade do Rio de Janeiro. Os 186 processos sobre os aspectos da implantação e uso
licitatórios e as 160 atas de registro de do sistema de informações de custos.
preço conduzidas pelo GAL foram en- O Major Giovanni Magliano Junior,
caminhados de forma centralizada. “Em da Secretaria de Economia e Finanças
vez de recebermos inúmeros processos da Aeronáutica (SEFA), apresentou a
de várias unidades, o órgão especiali- experiência da instituição na gestão de
zado encaminha apenas um processo, custos e destacou os principais benefícios
que atenderá às demandas e necessi- da utilização do Sistema de Informações
dades de diversas unidades”, afirma a de Custos (SIC) do governo federal.
Consultora da União, Ana Valéria de “Um dos aspectos é a economia com
Andrade Rabelo. Para ela, o GAL é uma os serviços públicos. Para controlar os
unidade “extremamente produtiva, pois gastos precisamos primeiro medi-los e
otimiza a contratação ao reduzir custos depois planejar o investimento”, explicou
operacional e de pessoal”. o major.
A subsecretária de Contabilidade
Busca pela primazia Pública da Secretaria do Tesouro Na-
Outra iniciativa para aumentar a cional, Gildenora Batista Dantas Mi-
eficiência das unidades foi a criação, lhomem, destacou o trabalho realizado
em 2013, do Prêmio Gestão Contábil do pela Força Aérea Brasileira. “O trabalho
Comando da Aeronáutica, que avalia passou por um amadurecimento e é
mais de 50 Unidades Gestoras Execu- uma das experiências de sucesso na
toras de acordo com o cumprimento do administração pública”, disse. “Nós
Roteiro de Acompanhamento Contábil, colocamos como benchmark da admi-
que seguem as diretrizes da Secretaria nistração pública federal”, completou.
do Tesouro Nacional. Vencedor em
2015, o Instituto de Controle do Espaço Base Aérea de Santos
Aéreo (ICEA), órgão responsável pelo Outro projeto para redução de custos
treinamento de controladores de trá- com aumento da eficiência acontece no
fego aéreo, alcançou 99,76% de média litoral paulista. Em 2012, uma área de
no grau de performance contábil entre 1.533.675,84 m² da Base Aérea de Santos
julho de 2014 e junho de 2015. foi cedida à Prefeitura do Guarujá para a
Para o Secretário de Economia e construção do Aeroporto Metropolitano
Finanças da Aeronáutica, Tenente-Bri- da Baixada Santista. Do terreno restante,
gadeiro do Ar Antonio Franciscangelis um total de 938.240,63 m², o objetivo é
Neto, a correção e a transparência são ficar com 191.017,59 m², o equivalente a
fundamentais para o relacionamento da 6,8% da área original. O restante deverá
Aeronáutica com o Governo Federal. ser cedido, alugado ou vendido.
“Além de motivar as pessoas que traba- “O objetivo é ter uma base enxuta,
lham na área, o prêmio tem também o mas plenamente capaz de cumprir a mis-
objetivo de mostrar o compromisso com são de apoiar unidades em operação na
a transparência dos dados para a toma- área”, explica o Comandante do Quarto
da de decisões estratégicas”, ressaltou Comando Aéreo Regional (IV COMAR),
o oficial-general durante a entrega da Major-Brigadeiro do Ar Marcelo Kanitz
TEN ENILTON / Agência Força Aérea

premiação ao ICEA, em agosto. Damasceno. Livre da obrigação de cuidar


Essas experiências foram compar- de uma grande área patrimonial, o efeti-
tilhadas em setembro durante o 1° vo de 120 militares está agora focado na
Seminário de Custos do Comando da manutenção de estruturas operacionais,
Aeronáutica, realizado em Brasília. Os como o hangar, a pista de pouso e o pátio
palestrantes dos Ministérios da Fazen- de estacionamento de aeronaves.

18 Out/Nov/Dez 2015 Aerovisão


Assista a reportagem
sobre o Seminário de
Gestão de Custos

Um C-105 Amazonas opera a partir da Base Aérea de Santos: a aeronave


passa por revisões no Parque de Material Aeronáutico do Galeão, uma das
unidades que teve suas atividades administrativas repassadas ao Grupamento
de Apoio Logístico para poder se concentrar na manutenção da frota. Já a Base
também passou por mudanças para poder apoiar melhor as operações aéreas
e a um custo menor.

Aerovisão Out/Nov/Dez 2015 19


DEFESA

Operação na fronteira
melhora contas públicas
CB SILVA LOPES / Agência Força Aérea

Estudo revela que atuação das Forças Armadas e de órgãos civis nas fronteiras
aumenta a arrecadação de impostos no Brasil
Alexandre Gonzaga

20 Out/Nov/Dez 2015 Aerovisão


V
oltadas para o combate a crimes edições da Ágata, a média de arrecada- Foram analisados dados das oito edi-
em região de fronteira, como ção do Imposto de Importação foi de ções da Operação Ágata, realizadas entre
o contrabando, as Operações 7,71% sobre a receita tributária. Porém, 2011 e 2014. O Instituto verificou as recei-
Ágata aumentam a arrecadação de tri- nos meses da Operação, o índice subiu: tas de arrecadação relacionadas com os
butos federais. É o que revela um estudo 9,72%, em agosto; 9,39%, em setembro; e dois principais impostos que produzem
realizado pelo Instituto de Desenvolvi- 9,84% em novembro. O mesmo fenôme- efeitos sobre os produtos importados: o
mento Econômico e Social de Fronteiras no ocorreu na arrecadação do IPI, com a Imposto de Importação e o Imposto de
(IDESF), que observou uma relação média anual de arrecadação de 13,41% Produtos Industrializados. De acordo
direta entre a realização de operações e a média dos meses de Operação sendo com o IDESF, a redução na oferta de
nas fronteiras brasileiras e o aumento da de 14,94% (agosto), 16,02% (setembro) e produtos contrabandeados estimula o
arrecadação pública. 14,84% (outubro). consumo de artigos fabricados no Brasil
De acordo com o estudo, o custo “Quando se inibe o contrabando, ou daqueles importados legalmente.
médio de cada edição da Operação consequentemente cresce a arrecadação Para o conselheiro do IDESF, Fer-
Ágata é de R$ 16,3 milhões, menos de de impostos e a indústria formal volta a nando Bomfiglio, “o contrabando é um
15% do retorno obtido na expansão da ocupar seu lugar no mercado, contribuin- problema muito grave para a socieda-
receita tributária. Há ainda outros be- do com a economia e a geração de empre- de brasileira porque traz criminalida-
nefícios não computados, como ações gos”, diz Luciano Barros, presidente do de; para o governo traz diminuição
complementares de saúde, educação, IDESF. Segundo o Instituto, o País deixa na arrecadação fiscal e para empresas
cidadania e segurança. de arrecadar em impostos nas regiões de traz instabilidade financeira e desem-
Em 2011, quando ocorreram três fronteiras cerca de R$ 25 bilhões ao ano. prego”, afirmou.

Aerovisão Out/Nov/Dez 2015 21


OPERACIONAL
SGT JOHNSON / Agência Força Aérea

22 Out/Nov/Dez 2015 Aerovisão


Aerovisão Out/Nov/Dez 2015 23
OPERACIONAL

Forças Aéreas unidas


nas fronteiras
Força Aérea Brasileira realiza treinamentos com países vizinhos para coibir voos
ilegais nas regiões de fronteira
HumBERTO LEITE
LORENA mOLTER

U
m avião de pequeno porte é onde ocorrem muitos ilícitos trans- Cabia ao Centro de Operação Militares
detectado em voo ilegal em fronteiriços, e têm grande interesse (COPM) do Quarto Centro Integrado
uma região de fronteira. Ca- em mitigar esse volume de ilícitos”, de Defesa Aérea e Controle de Tráfego
ças da FAB decolam para a intercep- explicou o Coronel Marcelo Alvim, Aéreo (CINDACTA IV) trabalhar em
tação, mas a aeronave irregular logo diretor brasileiro da PERBRA. sintonia com os órgãos dos países
muda de rota e invade o espaço aéreo A COLBRA aconteceu entre os dias vizinhos. No caso da COLBRA,
de outro país. Fim da interceptação? 13 e 17 de julho e teve como sede as ci- era o Grupo Aéreo do Amazonas
Se depender dos acordos entre forças dades de Letícia, na Colômbia, e de São (GAAMA), enquanto a PERBRA teve
aéreas da América do Sul, não. Gabriel da Cachoeira (AM), no Brasil. Já a atuação do Comando de Controle
Em julho e agosto, a FAB realizou a PERBRA ocorreu entre 24 e 28 de agosto Aeroespacial (COMCA).
os exercícios COLBRA e PERBRA, a partir das cidades de Pucallpa, no Peru, Para o Comandante do GAAMA da
respectivamente com as forças aé- e de Cruzeiro do Sul (AC), no Brasil. Força Aérea da Colômbia, Coronel Jairo
reas da Colômbia e do Peru. Nos Durante os dois exercícios, de um Hernando Orjuela Arelavo, a COLBRA
dois casos, o objetivo foi aprimorar lado uma aeronave proveniente do teve papel fundamental no combate ao
a coordenação dos chamados Tráfe- país vizinho ingressava no espaço narcotráfico. “É um exercício operacio-
gos Aéreos de Interesse (TAI) para aéreo brasileiro, simulando ser um nal bastante importante para a Força
combater os crimes transnacionais, voo irregular. Cabia à FAB detectar a Aérea Colombiana, visto que, primeiro,
como narcotráfico e contrabando. aeronave e coordenar a interceptação nos deixa muito bem treinados contra o
Em resumo, a ideia é que se o por caças A-29 Super Tucano e o pou- narcotráfico e, segundo, porque adqui-
sistema de defesa aérea de um país so obrigatório da aeronave invasora. rimos uma grande experiência, como a
detecta uma aeronave em rota para Por outro, um C-98 Caravan da FAB da Força Aérea Brasileira, em exercícios
o espaço do outro sem autorização, saía do Brasil e ingressava no espaço internacionais”, afirmou.
entrará em contato com seu órgão aéreo estrangeiro e passava pelos Houve intensa troca de experiências
CB JÚNIOR / Agência Força Aérea

correlato na nação vizinha para mesmos procedimentos de intercep- entre os participantes. “Esse exercício
ajudar na interceptação. Os exer- tação e pouso obrigatório. combinado entre as forças aéreas do
cícios serviram para treinar esse O desafio maior era garantir Brasil e do Peru é muito importante,
procedimento. “São dois países que a atuação conjunta dos órgãos de sobretudo na parte operacional, para
têm uma fronteira bastante sensível, controle e defesa do espaço aéreo. que os pilotos troquem experiências e

24 Out/Nov/Dez 2015 Aerovisão


Aerovisão Out/Nov/Dez 2015 25
Assista a reportagens
sobre o exercício
PERBRA

estejam preparados para combaterem disse o Tenente Leonardo Teixeira, do com outros países da América do Sul
Montagem sobre foto do CB JÚNIOR / Agência Força Aérea

ilícitos e, neste caso, para combaterem o Esquadrão Escorpião (1º/3º GAV), que (veja o infográfico na página ao lado).
narcotráfico”, afirmou o Coronel Amé- voou a bordo de um A-37 da Colômbia. O Comando de Defesa Aeroespa-
rico Gonzales, da Força Aérea do Peru. Os treinamentos são resultado de cial Brasileiro (COMDABRA) é respon-
Aviadores brasileiros voaram a acordos de cooperação mútua assina- sável pelo planejamento, coordenação
bordo dos jatos A-37 Dragonfly das dos entre o Brasil e países vizinhos para e supervisão desses exercícios. Para o
forças aéreas do Peru e da Colômbia, estabelecer procedimentos específicos comandante do COMDABRA, Major-
enquanto controladores de tráfego aéreo de coordenação voltados para a defesa -Brigadeiro do Ar Antônio Carlos
acompanharam as operações a partir dos aérea na fronteira. A quarta edição da Egito do Amaral, os exercícios também
centros de controle estrangeiros. “Foi COLBRA e a sexta da PERBRA se in- serviram para mostrar a mobilidade da
interessante observar pilotos militares serem em um planejamento maior de Força Aérea Brasileira. “É importante
que executam a mesma missão de defesa treinamentos que inclui a execução de para marcar a presença da FAB nesse
aérea, mas utilizam técnicas diferentes”, outros exercícios da mesma natureza rincão do País”, afirmou.

26 Out/Nov/Dez 2015 Aerovisão


Operações de fronteira da FAB

Aerovisão Out/Nov/Dez 2015 27


DEFESA AÉREA

Guardiã do
desenvolvimento
Localizada no coração econômico do País, a Base Aérea de Santa Cruz é sede de unida-
des de caça e se prepara para defender o céu do Rio de Janeiro durante as Olimpíadas
DANIELE GRuPPI

Q
uatro horas da manhã. Dis- lação para treinar a prontidão daqueles o eixo Rio-São Paulo e infrastruturas
para o alarme do sistema de que zelam 24 horas pela segurança do estratégicas como usinas nucleares,
defesa aérea na Base de Santa território brasileiro. indústrias de alta tecnologia e as duas
Cruz (BASC), na Zona Oeste da cidade Os acionamentos são imprevi- cidades mais populosas do País.
do Rio de Janeiro. O sinal é senha de síveis e fazem parte da rotina de Para que o esquadrão cumpra com
uma possível ameaça ao espaço aéreo treinamentos dos militares. Tudo efetividade a missão, é imprescindível
brasileiro. Minutos depois, militares isso para manter a operacionalidade ter a BASC como sede. Partindo da
CB V.SANTOS / Agência Força Aérea

do Primeiro Grupo de Aviação de Caça da unidade responsável pela defesa base, os caças chegam a qualquer pon-
(1º GAVCA) já estão a postos para aérea do polo industrial do Sudeste, to da cidade de São Paulo em exatos
decolar com caças F-5 e interceptar região que concentra 58% do Produ- 20 minutos. Se o destino for Angra dos
o intruso. A invasão do espaço aéreo to Interno Bruto (PIB) brasileiro. Na Reis, apenas cinco minutos. Já para
brasileiro, no entanto, foi só uma simu- área de atuação do 1º GAVCA estão Belo Horizonte, 35 minutos. Sobre o

28 Out/Nov/Dez 2015 Aerovisão


centro do Rio de Janeiro, são dezenas Martire Pires. As missões de ataque drões da FAB e até de outros países.
de segundos após a decolagem. também podem ocorrer sobre o mar, O número de voos pode aumentar
A posição geográfica também jus- onde há campos petrolíferos, ativida- em 40% durante esses exercícios, se
tifica a presença, na BASC, do Esqua- des pesqueiras e trânsito intenso de comparado com os dias normais.
drão Adelphi (1º/16º GAV), preparado navios de carga. Em novembro, a Base receberá o
para atacar em vários pontos do País. exercício operacional USABRA, que
“O caça A-1M pode decolar de Santa Exercícios operacionais vai envolver os caças F-5 e A-1 da Força
Cruz e fazer incursões próximas ao Além do Primeiro Grupo de Avia- Aérea Brasileira e o porta-aviões USS
eixo Rio-São Paulo e retornar para a ção de Caça e do Esquadrão Adelphi, George Washington (CVN-73) da Ma-
base sem a necessidade de reabaste- a infraestrutura da BASC também é rinha dos Estados Unidos, com caças
cimento”, explica o comandante do utilizada para sediar treinamentos F-18. “O objetivo é verificar a pronti-
Esquadrão, Tenente-Coronel Roberto com a participação de outros esqua- dão da tripulação para o combate”,

Aerovisão Out/Nov/Dez 2015 29


explica o comandante do 1º GAVCA, totalmente militar. Não teríamos como treinamentos. Com 2.300 hectares de
Tenente-Coronel Rubens Gonçalves. fazer em outra base”, afirma área e o entorno pouco habitado, torna-
O exercício será apenas mais um com Não só a FAB, mas Marinha e Exér- -se seguro utilizar aeronaves armadas.
sede na base. Em setembro, foi realizado a cito também realizam missões em Santa Além disso, o tráfego aéreo não sofre
Orunganitas II, que contou, pela primei- Cruz. “Quando a Marinha treina no interferências de aeronaves civis.
ra vez, com o lançamento de bombas a estande de tiros de Marambaia, ela rea- A proximidade do estante de tiro
partir da aeronave de patrulha marítima bastece as aeronaves e troca a tripulação localizado na restinga de Marambaia,
P-3AM Orion. Para o comandante do na base. Já o Exército solicita apoio para a apenas 18 quilômetros de distância,
Esquadrão Orungan (1º/7º GAV), Te- as manobras de artilharia antiaérea”, também contribui para a realização de
nente-Coronel Antônio Ferreira de Lima conta o comandante da Base, Coronel treinamentos a partir da BASC. Com
Junior, a BASC é ideal para realizar o trei- Luiz Cláudio Macedo Santos. alvos mais próximos, as aeronaves
namento. “Possui todos os equipamentos De acordo com o Coronel, a BASC gastam menos combustível em cada
para armar a aeronave e é um aeródromo tem capacidade para absorver diversos missão de treinamento.

O esquema de segurança nos Jogos


Olímpicos inclui caças, como o
F-5, e Aeronaves Remotamente
Pilotadas (acima). Os modelos de-
vem ficar baseados em Santa Cruz,
a poucos minutos das arenas.
SGT ELOÍSIO JANUÁRIO (DECEA)

30 Out/Nov/Dez 2015 Aerovisão


Base Aérea é peça-chave para segurança nas Olimpíadas
Em agosto de 2016, os Jogos Olím- veis pela segurança do espaço aéreo a chegar dois meses antes do evento
picos trarão para o Rio de Janeiro durante o período. e permanecem até dez dias depois.
mais de dez mil atletas de 206 países, Segundo o comandante da BASC, Como os Jogos Paraolímpicos ocorrem
que irão disputar 306 medalhas em 17 Coronel Luiz Cláudio Macedo Santos, na sequência, a estrutura operacional
dias de competição. Nos bastidores a base receberá cerca de 250 militares será mantida. Assim, o envolvimento
desse evento, muita movimentação e de cinco esquadrões, que vão atuar em da base deve durar, aproximadamente,
a montagem de uma estrutura especial turnos, visando manter a soberania na- quatro meses”, explica.
para garantir que os holofotes captem cional e a segurança dos voos durante A BASC também teve a mesma atu-
somente o brilho dos competidores. 24 horas. Aviões de caça, transporte, ação em outros grandes eventos, como
Toda essa preparação também envolve helicópteros e Aeronaves Remotamente a Copa das Confederações, a Rio+20,
a Base Aérea de Santa Cruz, que será Pilotadas serão diretamente emprega- a Jornada Mundial da Juventude e a
uma das unidades militares responsá- dos. “Os aviões e os militares começam Copa do Mundo.

TEN ENILTON / Agência Força Aérea

Aerovisão Out/Nov/Dez 2015 31


Veja o P-3AM Orion
lançando bombas no
estande de tiro

Ação social
O dia a dia da base, porém, não se cívico-sociais promovem atendimento ra localizado ao lado da pista da BASC
resume à atuação dos caças. Santa Cruz médico e odontológico, além de ativi- foi inaugurado em 26 de dezembro de
forma por ano de 70 a 120 soldados, nú- dades educativas voltadas para a pre- 1936 para receber o dirigível Zeppelin.
mero que varia de acordo com as vagas venção de doenças. Há ainda palestras A operação civil durou pouco: já no ano
disponibilizadas no Batalhão de Infan- sobre cidadania para a juventude, que seguinte a Alemanha encerrou os voos
taria (BINFA) e, em funções auxiliares, ocorrem várias vezes por ano. “A base comerciais após a tragédia com o Hin-
nos dois esquadrões e nas outras duas tem essa preocupação de estar junto denburg. Com a criação do Ministério
unidades sediadas na BASC: o Primeiro da população. Esses eventos mostram da Aeronáutica, em 1941, Santa Cruz se
Grupo de Comunicações e Controle (1º nosso trabalho e podem atrair os jo- tornou sede do 1º Regimento de Aviação.
GCC) e o Destacamento de Controle do vens para a carreira militar”, explica o Durante a Segunda Guerra, a Base
Espaço Aéreo de Santa Cruz (DTCEA- comandante da BASC. recebeu dirigíveis da Marinha dos
-SC). Para muitos jovens, ingressar Estados Unidos utilizados em missões
como soldado é a oportunidade de ter História de patrulha marítima. Após o conflito,
uma formação para o mercado de tra- Tombado pelo Instituto do Patri- em 1945, a Base recebeu o 1° Grupo
balho ou de seguir na carreira militar. mônio Histórico e Artístico Nacional de Aviação de Caça, que combateu na
A comunidade também participa de (IPHAN), o hangar de 274 metros de Itália e até hoje está sediado na Base
eventos promovidos pela Base. As ações comprimento, 58 de altura e 58 de largu- Aérea de Santa Cruz.

32 Out/Nov/Dez 2015 Aerovisão


CB V.SANTOS / Agência Força Aérea
Caças A-1 e F-5 em
operação (acima), Ba-
talhão de Infantaria em
treinamento (ao lado) e
técnicos da FAB prepa-
rando uma bomba de
treinamento para ser
lançada por um avião
P-3AM (abaixo).
TEN ENILTON / Agência Força Aérea

CB V.SANTOS / Agência Força Aérea

Aerovisão Out/Nov/Dez 2015 33


ESQUADRILHA DA FUMAÇA

O show voltou
A Esquadrilha da Fumaça está de volta. Com novas aeronaves, a
apresentação conta também com o retorno de manobras
Flávia Cocate
jussara peccini
SGT BATISTA / Agência Força Aérea

34 Out/Nov/Dez 2015 Aerovisão


Aerovisão Out/Nov/Dez 2015 35
A
s plateias do Brasil e de todo o mun-
do já podem novamente admirar e
aplaudir as manobras da Esquadri-
lha da Fumaça. A reestreia, no dia 3 de julho,
ocorreu de forma a preservar a sua missão his-
tórica de motivar os cadetes da Aeronáutica.
Foi uma demonstração na Academia da Força
Aérea (AFA) para mais de duas mil pessoas,
entre militares da FAB e seus familiares. Tam-
bém já ocorreram apresentações em cidades
de Goiás, do Paraná e de São Paulo, além de
Brasília, no dia 7 de setembro.
Mais potentes e com uma pintura nas co-
res da Bandeira do Brasil, os sete A-29 Super
Tucano fazem uma apresentação composta
de 50 acrobacias durante 35 minutos. Para
cada uma delas há uma faixa de velocidade
que varia entre 160 km/h e 540 km/h.
As manobras Chumboide e Lancevaque,
que não eram executadas desde os anos 90,
puderam ser retomadas com a nova aeronave.
Ambas são realizadas pelo piloto da posição
de número 7, o Isolado.
A adaptação da Esquadrilha da Fumaça ao
novo modelo levou 27 meses de implantação
operacional e logística. Foram 765 voos acro-
báticos dedicados exclusivamente ao progra-
ma. As manobras começaram a ser testadas
a cinco mil pés de altura (1.524m) até serem
executadas a 300 pés (91 m), como acontece
nas demonstrações. “A condição para mudar
de fase foi dominar o avião em toda a sua
plenitude”, avalia o oficial de operações da
Esquadrilha, Major Álvaro Escobar Veríssimo.
A substituição do T-27 Tucano envolveu
18 pilotos. O período de treinamento foi divi- Sustentabilidade
Uma novidade adotada com os A-29 Super Tucano é que a fumaça
dido em diversas etapas, como aulas teóricas
lançada pelas aeronaves é ecologicamente correta. Um novo óleo está
sobre o novo avião – conhecidas como Ground
sendo utilizado e sua queima não agride a camada de ozônio nem
School - e testes da execução das manobras em
contribui para o aquecimento global.
locais pré-determinados pelo País, escolhidos
“A fumaça é muito importante não só pelo traçado que faz durante
de acordo com os diferentes níveis de altitude
as manobras realizadas pelas aeronaves - facilitando a visualização por
e temperatura.
parte do público - como também serve de referência para os pilotos que,
Além do processo de treinamento dos
em voo, têm a ajuda na identificação da posição dos outros aviões durante
pilotos, o programa contou também com a
uma demonstração”, afirma o chefe da seção de material, Major Márcio
capacitação de mecânicos de manutenção
Aparecido Tonisso.
na nova aeronave e na preparação logísti- O desenvolvimento do sistema de fumaça para os Super Tucanos
ca. Para o comandante da Esquadrilha da aconteceu em parceria com os mecânicos da Esquadrilha, do Parque
Fumaça, Coronel Marcelo Gobett Cardoso, Material de Aeronáutica de Lagoa Santa (PAMA-LS) e da Embraer,
“os processos desenvolvidos e a metodo- fabricante do avião. O projeto também inclui a criação de um softwa-
logia aplicada nos estudos e na atividade re específico para a elaboração de escrita com a fumaça, seguindo a
aérea foram fatores de extrema importância tradição iniciada em 1953, quando, sobre a Praia de Copacabana, o
durante todo o programa”. sistema de escrita no céu foi iniciado com apenas três letras: “FAB”.

36 Out/Nov/Dez 2015 Aerovisão


SGT JOHNSON / Agência Força Aérea

37
Out/Nov/Dez 2015
Aerovisão
À esquerda, a manobra chumbóide. À direita, a lancevaque. Ambas
voltaram a fazer parte da apresentação da Esquadrilha da Fumaça,
que também inclui manobras com sete aviões simultaneamente.
SGT MARCO RIBEIRO (EDA)

38 Out/Nov/Dez 2015 Aerovisão


SGT BATISTA / Agência Força Aérea
Tecnologia
Uma das novas possibilidades tecno- Responsável por planejar os deslo-
lógicas recebidas com os A-29 Super Tu- camentos do grupo para as apresenta-
cano foi o registro de dados de voo pelo ções, o Capitão Gasparelo explica que
computador de bordo, cujos arquivos o software gera economia de tempo
podem ser interpretados pelo Sistema e recursos humanos. “O trabalho que
de Planejamento de Missões Aéreas levava um dia para fazer manualmente,
(PMA). O PMA permite visualizar os o programa nos ajuda a executar em
dados em 2D e 3D, onde é possível ver a aproximadamente uma hora, além de
rota com as referências no solo. “O piloto oferecer mais con-
consegue refazer o voo virtualmente, fiabilidade dos
o que lhe permite lembrar os aconte- dados”, explica.
cimentos com mais detalhes para tirar
lições. A ferramenta ajuda a reavivar a
memória do piloto”, afirma o Capitão
Nilson Rafael Oliveira Gasparelo,
piloto da posição Nº 5 - Ala Es-
querda Externa da Fumaça.

Veja uma apresentação


pelas lentes da Esqua-
drilha da Fumaça

Como agendar a Fumaça? A conhecida Esquadrilha da Fumaça é chamada oficialmente


de Esquadrão de Demonstração Aérea (EDA) e é uma unidade
SGT BATISTA / Agência Força Aérea

da Força Aérea Brasileira. As demonstrações do EDA são


coordenadas pelo Centro de Comunicação Social da Aeronáutica
(CECOMSAER) de acordo com critérios como importância do
evento no cenário nacional/internacional, público estimado
durante a apresentação e possibilidades logísticas.
Para solicitar uma demonstração, é necessário enviar um ofício
assinado ao CECOMSAER (Esplanada dos Ministérios, Bloco M, 7º
Andar CEP: 70045-900 - Brasília - DF) com antecedência mínima
de quatro meses, mencionando nome, endereço, data do evento,
telefone para contato e público estimado. Recomenda-se sugerir
mais de uma data para a possível demonstração.
Vale lembrar que as exibições da Esquadrilha da Fumaça são
demonstrações públicas, gratuitas e de caráter institucional, não
cabendo, portanto, veiculações com propósito comercial ou de
propaganda político-partidária.

Aerovisão Out/Nov/Dez 2015 39


AMAZÔNIA

A ajuda do “buruburu”
Como militares e civis unem forças para levar auxílio a índios em
tribos isoladas na região de fronteira
IRIS VASCONCELLOS (TEXTO)
Cb V. SANTOS (FOTOS)

40 Out/Nov/Dez 2015 Aerovisão


O
nde normalmente só é possível de 150 índios de aldeias mais distantes
ouvir sons da natureza e das até o local de atendimento.
tribos indígenas, a presença “Nós levamos cidadania para esse
de um helicóptero H-60 Black Hawk da indivíduo. Além de o índio ser um
Força Aérea Brasileira não poderia deixar yanomami, ele vai ter orgulho de ser
de ser um marco. E durante a última se- um brasileiro”, explica o presidente
mana de agosto, um “buruburu”, como da Expedicionários da Saúde, Ricardo
os yanomamis chamam os helicópteros, Affonso Ferreira.
pousou em aldeias para tornar possível Chiquinho Yanomami foi um dos
um trabalho que envolveu civis e milita- pacientes. Aos 20 anos, ele sofria com
res com o objetivo de levar qualidade de uma hérnia epigástrica e seus movi-
vida para os indígenas. mentos estavam limitados, além de ter
O trabalho, sem fins lucrativos, dor intensa. De “buruburu” foi levado
atingiu as marcas de 237 cirurgias e para o hospital montado em Maturacá e
1.273 consultas médicas realizadas em operado com sucesso. Voluntários, os profissionais da ONG
Maturacá, comunidade na fronteira do Um dos médicos voluntários, Gui- Expedicionários da Saúde já realizaram 33
Brasil com a Venezuela, a mais de 850 lherme Carvalho, explica que naquelas expedições e contam com o apoio da Mari-
nha, do Exército e da Força Aérea Brasileira.
km de Manaus. Os médicos voluntários comunidades a importância da cirurgia
da organização não governamental Ex- vai além da saúde. “Quem tem hérnia
pedicionários da Saúde contaram com não consegue fazer força. E na população
o apoio das Forças Armadas. Somente indígena quem não faz força, quem não
um helicóptero H-60 transportou mais trabalha, é excluído da tribo”, explica.

Aerovisão Out/Nov/Dez 2015 41


A cirurgia mais executada foi a de equipamentos e outras sete de gêneros
catarata: foram 116 procedimentos alimentícios, além de combustível para
oftalmológicos ao todo. Como a po- os geradores.
pulação indígena fi ca muito tempo De Campinas, de onde partiram os
exposta ao sol e à fumaça, o apareci- voluntários, foram mais de três mil qui-
mento dessa doença é comum. lômetros de viagem. Primeiro, um jato
A paciente Adelaide Yanomami já C-99 da FAB, semelhante a modelos co-
quase não conseguia mais enxergar, o que merciais Embraer 145, fez o traslado até
atrapalhava no trabalho. “Agora consigo a cidade de São Gabriel da Cachoeira.
fazer quase tudo. Antes estava difícil por- De lá, a viagem seguiu em um cargueiro
que eu tropeçava”, comemora. militar C-105 Amazonas.
“Nós devolvemos dignidade O isolamento é um desafio até para
a essas pessoas. Isso é mui- a aviação. Diferentemente do que
to especial”, afirma uma acontece em outras regiões do País,
das coordenadoras da se o pouso não for possível, não há
ONG, Márcia Abdalah. alternativas para chegar às localidades
Além dos médicos, o rapidamente. “Muitas vezes tem que
agradecimento dos tomar essa decisão em rota”, explica
indígenas também o Tenente Kayo Coelho, piloto do he-
vai para os militares. licóptero H-60 Black Hawk.
“Ter as Forças Arma- Apesar de a área estar sob a co-
das aqui é uma honra”, bertura de radares do Quarto Centro
garante um dos líderes da Integrado de Defesa Aérea e Controle
comunidade de Maturacá, de Tráfego Aéreo (CINDACTA IV),
Júlio Góes Yanomami. que auxilia o voo de aeronaves comer-
ciais a grandes altitudes, a região não
Operação militar conta com equipamentos de auxílio
Para que os 45 profissio- à navegação. Também não há como
nais de saúde voluntários realizar pouso por instrumentos.
pudessem trabalhar Nas aldeias, os tripulantes de he-
em Maturacá, uma licópteros sequer têm locais definidos
verdadeira opera- de pouso: eles buscam qualquer área
ção de guerra foi descampada onde é possível tocar o
montada. Ao todo, a solo com segurança. “Muitas vezes,
Força Aérea Brasileira le- nós encontramos a região de areal,
vou para lá quinze toneladas de que exige técnicas de pouso direto.

42 Out/Nov/Dez 2015 Aerovisão


Isso porque, no momento do pouso, de Cooperação Civil-Militar, esse tipo turacá, Tenente Júlio César, concorda.
o helicóptero eleva muita areia, mui- de parceria entre as Forças Armadas e Para ele, a parceria com os indígenas é
tos detritos. Temos que ter cuidado organizações civis é importante em todo fundamental para proteger a Amazônia.
porque o sopro do helicóptero pode o mundo. “Está presente em todos os “Eles nos auxiliam com conhecimentos.
desmontar as malocas de palha”, res- lugares. Vemos jornais desde o apoio São brasileiros que merecem todo nosso
salta o Tenente Coelho. nos desastres naturais até o drama dos apoio e que também nos apoiam”, diz.
O esforço se justifica pela capacidade refugiados de guerras, como na Síria, Durante a ação dos Expedicionários da
do Black Hawk. “O helicóptero consegue diz. Segundo ele, nos conflitos atuais Saúde, o hospital de campanha da ONG
levar uma quantidade de pacientes que é necessário atuar em parceria com foi montado ao lado do PEF.
um avião de pequeno porte não conse- organizações presentes em lugares de Já para os voluntários, levar o aten-
gue transportar”, explica Dea Tereza conflito, e o trabalho realizado com dimento médico ao lugar onde os índios
Torres, uma das médicas voluntárias. a ONG Expedicionários da Saúde é moram é fundamental para preservar a
Voar em missões desse tipo tam- uma mostra da capacidade da FAB de Amazônia. Uma das filosofias do grupo
bém exige planejamento no uso de realizar esse tipo de cooperação e com é que enquanto os índios estiverem na
combustível. Para tornar a Expedição benefícios reais. “Para nós, brasileiros, floresta, a floresta estará em pé. “Por
Yanomami possível, a FAB levou para relativamente distantes dos conflitos ar- isso que nós não simplesmente levamos
Maturacá um reservatório de combus- mados, a duradoura parceria na região os pacientes para São Paulo. Os índios
tível com 10 mil litros. O reabasteci- amazônica entre as Forças Armadas e são os melhores zeladores da floresta”,
mento remoto é muito usado na região ONGs proporcionam um alento explica Fábio Atuí, médico cirurgião.
amazônica para dar mais autonomia às comunidades isoladas e re- Essa foi a 33ª expedição da organi-
às aeronaves. força a presença do Estado”, zação, criada em 2003. Até hoje, com o
conclui. apoio das Forças Armadas, os voluntários
missão é estratégica para a fronteira O comandante do Pelotão já realizaram 5.221 cirurgias e 32.229
De acordo com o Tenente-Coronel Especial de Fronteira (PEF) atendimentos em localidades isoladas.
Rodrigo Fontes, especializado em ações do Exército Brasileiro em Ma-

Acompanhe o apoio da
FAB a essa missão

Aerovisão Out/Nov/Dez 2015 43


OPERACIONAL

44 Out/Nov/Dez 2015 Aerovisão


SGT BATISTA / Agência Força Aérea
50 anos de
peso pesado
Maiores aeronaves em operação na FAB, os C-130
Hércules completam 50 anos de missões que vão
da selva à neve, da paz à guerra
Humberto Leite

Aerovisão Out/Nov/Dez 2015 45


ARQUIVO

S
e a pintura diferente e a qualida- devidamente ocupado por material dez unidades, foi composto por aero-
de das fotos deixam transparecer, logístico. naves usadas da Força Aérea Italiana,
a escrita de Força Aérea ainda Essa história mostra bem o papel recebidas a partir de 2001.
como “Fôrça” confirma a idade da frota da frota de C-130 Hércules ao longo de Hoje, a frota é menor. As unidades
de C-130 Hércules da FAB. São 50 anos cinco décadas de operação. Da Amazô- mais antigas foram retiradas de voo e
como a espinha dorsal da aviação de nia à Antártica, no Brasil e no exterior, já há até um C-130 no Museu Aeroespa-
transporte militar do Brasil. E sua im- o quadrimotor capaz de levar 20 tone- cial (MUSAL), no Rio de Janeiro. Os 17
portância pode ser ilustrada com uma ladas de carga é um “pau para toda remanescentes foram concentrados na
curiosidade histórica: antes mesmo do obra”. Suas missões vão muito além Base Aérea do Galeão, que hoje é a casa
primeiro C-130 da FAB pousar no Brasil, do chamado “transporte aerologístico”. das unidades operadores do Hércules:
uma missão real já havia sido realizada. Também estão no rol de atividades o o 1° Grupo de Transporte (1º GT) e o
Era 14 de novembro de 1965. Dali a lançamento de paraquedistas, busca 1° Grupo de Transporte de Tropa (1º
três dias, o primeiro C-130 iria decolar e salvamento, combate a incêndios GTT). Este último até 2013 estava na
dos Estados Unidos para finalmente florestais, reabastecimento em voo, Base Aérea dos Afonsos (BAAF). Já o
vir ao Brasil. Como os tripulantes ha- lançamento de cargas em voo, evacu- Esquadrão Carcará (1º/6º GAV), com
viam concluído o curso de formação ação aeromédica e o suporte à missão sede na Base Aérea do Recife (BARF),
realizado na cidade norte-americana brasileira na Antártica. operou o C-130 entre 1969 e 1987 na
de Marietta menos de 24 horas antes, Recebido na Base Aérea do Galeão missão de busca e salvamento.
não “custava nada” dar um “pulinho” (BAGL) no dia 19 de novembro de Essa atividade, por sinal, tem o
em Washington para carregar material 1965, após uma escala na Base Aérea C-130 como uma aeronave de capaci-
solicitado pela FAB. Foi assim que, há de Natal (BANT), o primeiro C-130 foi dade única na FAB. Devido a acordos
50 anos, quando o primeiro C-130 foi seguido de um total de 29, entregues internacionais, o Brasil é responsável
recebido em uma base aérea brasileira, à FAB entre 1965 e 2002. Foram onze por missões de busca e salvamento até
o voo não foi um simples traslado: o entre 1965 e 1969, mais cinco em 1975 o paralelo 10. Ou seja, o limite da área
seu compartimento de carga já estava e 1976 e três em 1987. O último lote, de de responsabilidade brasileira vai até

46 Out/Nov/Dez 2015 Aerovisão


aproximadamente 3.400 quilômetros pode chegar aos 50 mil litros, a serem
em linha reta, saindo do Rio de Janeiro, gastos pelo KC e pelas aeronaves rea-
mar adentro. Para se ter uma ideia, é bastecidas. Hoje, no Brasil, podem ser
a mesma distância de voar do Rio até reabastecidos em voo os caças F-5 e A-1
Assista ao FAB em
Boa Vista (RR). Sem carga e mais leve, da FAB, os AF-1 da Marinha, além dos
Ação sobre a operação
o C-130 faz esse trabalho com uma au- futuros Gripen NG, que estão sendo
do C-130 na Antártica
tonomia maior: seu recorde é a perma- adquiridos pela Aeronáutica.
nência no ar por 16 horas e 51 minutos, Uma curiosidade sobre esse sistema
durante a busca a um navio de bandeira é a taxa de transferência de combustível.
cipriota. A área total de busca e salva- São 2.250 litros por minuto. É como se
mento sob responsabilidade brasileira em 60 segundos fosse possível reabas-
totaliza mais de 22 milhões de km2. tecer uma frota de 46 carros Fiat Uno.
A aeronave que realizou essa mis- Apesar de a missão dos Hércules ser o
são foi um dos dois KC-130. O K vem apoio aos caças em situações de combate, Abaixo, três momentos históricos
da palavra inglesa tanker e designa as do C-130. Nos anos 60, ainda com a
foi um desses quadrimotores que acabou primeira pintura metalizada (1). Nos
aeronaves com capacidade de reabas- no meio do fogo. Era o ano de 1979. A anos 70, o primeiro KC-130, pintado
tecer outras em pleno ar. Nesse caso, o guerra civil na Nicarágua havia se ex- de branco, inaugurou as operações de
compartimento de carga está ocupado pandido ao ponto de o governo brasileiro reabastecimento em voo no Brasil, na
época realizado exclusivamente pelo
por dois tanques extras de combustível determinar o resgate do seu Embaixador 1º Grupo de Transporte de Tropa
e cada asa leva um casulo de onde são na capital Manágua. O pouso, o resgate e (2). E entre 1969 e 1987, a partir do
estendidas as mangueiras de 25 metros a decolagem aconteceram com sucesso, Recife, o Esquadrão Carcará reali-
zava missões de reconhecimento e
de comprimento. O total de combustí- mas não sem o C-130 voltar para o Brasil de busca e salvamento com seus três
vel embarcado em um voo deste tipo com marcas de tiro de fuzil na fuselagem. C-130 (3).

2
ARQUIVO

1 3
ARQUIVO

ARQUIVO

Aerovisão Out/Nov/Dez 2015 47


No Haiti, em 2010, quando um
terremoto devastou Porto Príncipe e
matou mais de 100 mil haitianos, os
C-130 foram utilizados em uma verda-
deira ponte aérea montada pela FAB.
Na ida, os aviões levavam bombeiros,
material de apoio, comida, remédios e
até água potável. A bordo dos C-130,
foram enviados para lá a equipe de
114 militares e todo o material neces-
sário para atuar durante 131 dias e
atender 24.184 pessoas. Foram 36.028
SGT JOHNSON / Agência Força Aérea

procedimentos médicos, incluindo


1.145 cirurgias e 200 partos.
Com a aposentadoria dos KC-137,
em 2013, os C-130 são hoje “únicos”
em inúmeros sentidos. São os únicos
a realizarem reabastecimento em voo,
únicos a poderem cumprir missões de
transporte logístico e de ajuda humani-
Não foi a única situação tensa no reira, um dos principais vetores da pre- tária para outros continentes, os únicos
exterior. Em 1992, em Caputo, na An- sença do Brasil no exterior. Já em 1966, capazes de voar missões de busca e
gola, a missão de resgate de brasileiros antes do seu aniversário de um ano salvamento com mais de dez horas de
em meio a outra guerra civil foi amea- na FAB, já apoiava as missões de paz duração, os únicos a chegarem à Antár-
çada. No solo, o avião foi cercado por no Suez e na República Dominicana. tica e os únicos a realizarem missões de
guerrilheiros e liberado somente após Vieram depois Líbano, Moçambique, combate a incêndio florestal.
muita diplomacia dos militares da FAB. Congo e Haiti. Naquele mesmo ano foi Mas, nos próximos anos isso vai
Com alcance máximo de 5.325 km, realizada a primeira volta ao mundo, mudar. Já está em testes o novo avião de
o C-130 foi, desde o início da sua car- em 103 horas de voo, com escalas. transporte da FAB, o KC-390.
SGT JOHNSON / Agência Força Aérea

48 Out/Nov/Dez 2015 Aerovisão


SGT JOHNSON / Agência Força Aérea

SGT JOHNSON / Agência Força Aérea


1 2
SGT BATISTA / Agência Força Aérea

SGT BATISTA / Agência Força Aérea

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SGT JOHNSON / Agência Força Aérea

SGT JOHNSON / Agência Força Aérea

5 6
SGT JOHNSON / Agência Força Aérea

Os C-130 Hércules são os únicos aviões da FAB a pousarem na Antártica (foto acima), mas essa é a apenas uma das tarefas realizadas. A aero-
nave tem capacidade de levar até 20 toneladas de carga (1). Também pode fazer o lançamento de paraquedistas ou de carga em voo (2). Na versão
KC-130, o interior é ocupado por dois tanques de combustível (3) para operações reabastecimento em voo. Em ambientes hostis, os C-130 da
FAB podem lançar “iscas” para enganar mísseis (4). A grande autonomia também é aproveitada para missões de busca e salvamento (5). Mais
recentemente, os Hercules receberam o equipamento necessário para atuarem no combate a incêndios florestais (6).

Aerovisão Out/Nov/Dez 2015 49


Veja imagens do
primeiro voo do jato
KC-390

KC -390 inicia testes


Criado pela Embraer para cumprir todas as missões realizadas pelos C-130
Hércules da Força Aérea Brasileira, o jato KC-390 começa em outubro a passar
pela chamada fase de certificação. “A aeronave terá que cumprir todos os pré-
-requisitos estabelecidos, e para isso passará por uma série de testes”, explica o
gerente executivo do projeto na FAB, Coronel Cláudio Evangelista Cardoso. O
primeiro voo foi realizado em fevereiro, mas agora o KC-390 enfrentará testes
que validarão todos os aspectos do projeto. A expectativa é de que a nova aero-
nave, desenvolvida em parceria com Argentina, Portugal e República Tcheca,
consiga realizar todas as tarefas, porém, com a vantagem de poder voar mais
EMBRAER

rápido e com maior capacidade de carga. A FAB já assinou o contrato para a


aquisição de 28 aeronaves.

50 Out/Nov/Dez 2015 Aerovisão


2

4
3
5

5 1

Detalhes do KC-390: motores


turbofan (1), sistema para ser
reabastecido em voo (2), com-
partimento de carga suficiente
para o embarque de blinda-
dos (3), duas sondas para
reabastecer outras aeronaves
em voo (4) e cabine com alta
tecnologia (5).

Propulsão: 2 x turbofan Pratt & Whitney Propulsão: 4 x turboélice Allison T 56-A-15


Velocidade máxima: 870 Km/h Velocidade máxima: 592 Km/h
Teto máximo: 11 000 m Teto máximo: 10 600 m
Carga útil: 23 000 Kg Carga útil: 20 000 Kg
Tripulação: 3 Tripulação: 5

Aerovisão Out/Nov/Dez 2015 51


CB V.SANTOS / Agência Força Aérea
HISTÓRIA
TEN ENILTON / Agência Força Aérea

Unidos pela História


Sociedade civil e militares se articulam para criar um museu de aeronáutica na
maior cidade do Hemisfério Sul
HUMBERTO LEITE

S
ão mais de onze mil pousos e deco- 40 mil metros quadrados, mais 10 mil roporto Internacional de Guarulhos
lagens por mês. E após 95 anos de metros quadrados para um pátio de es- e 16 até o de Congonhas.
funcionamento, o Campo de Marte tacionamento de aeronaves e uma rota De acordo com a Empresa de
se prepara para adotar uma rota inédita: a de acesso à pista de pouso do Campo de Turismo e Eventos da Cidade de São
preservação da sua história. Um grupo de Marte. Os acervos serão provenientes Paulo, SPTuris, há “uma grande von-
civis e militares está atualmente engajado da Fundação Santos Dumont, da For- tade em ter tal museu em São Paulo”,
no projeto de criação do Museu de Aero- ça Aérea Brasileira e do Museu TAM, informou, via nota. Não por acaso: o
náutica de São Paulo, que será erguido na localizado no município de São Carlos, museu tem potencial de se tornar uma
região central da capital paulista. a 250 quilômetros da capital. atração turística da cidade.
“Precisamos cuidar melhor da A localização é uma das maiores Para se ter uma ideia, em Paris,
memória da aviação no Brasil. Nem apostas para o sucesso do novo mu- o Museu de Le Bourget recebe mais
parece o País de Santos Dumont!”. seu. Vizinho ao parque Anhembi, de 260 mil visitantes por mês. Em
O desabafo é de quem desde 1966 local que recebe mais de 30% das prin- Washington, o National Air and
trabalha no Campo de Marte e sente cipais feiras e eventos de negócios do Space Museum superou a marca de
a necessidade de um espaço para Brasil, o novo equipamento cultural 8,2 milhões em 2012. No Brasil, o
preservar a história. Francisco Souto estará a dois quilômetros de uma esta- Museu Aeroespacial (Musal), no Rio
Emílio, presidente do Aeroclube de ção de metrô e do terminal rodoviário de Janeiro, tem uma média anual de
São Paulo, acompanhou aeronaves do Tietê. Com estacionamento para 60 mil visitantes, contudo, por estar
antigas darem lugar a modelos moder- 560 veículos, o Museu ficará próximo localizado na Zona Norte da capital
nos sem que existisse uma preservação à Marginal Tietê e à Avenida Santos carioca, longe dos principais pontos
do patrimônio histórico do local. Dumont, vias que ligam as zonas turísticos, a própria diretoria do
A ideia é ambiciosa. Os primeiros Leste e Oeste, e Norte e Sul da capital Musal pensa em descentralizar seu
esboços traçam uma área construída de paulista. São 24 quilômetros até o Ae- acervo. Já o Museu de Aeronáutica

54 Out/Nov/Dez 2015 Aerovisão


Os 40 mil metros quadrados planejados para o prédio principal do museu poderão abrigar aeronaves e peças históricas que ajudem a
contar a história da aviação em São Paulo, como o primeiro voo do Correio Aéreo Nacional, que partiu do Rio de Janeiro e chegou à
capital paulista em 1931. O equipamento cultural irá ocupar uma área da Aeronáutica ao lado da pista de pouso do Campo de Marte.

de São Paulo não terá esse problema. articulações acontecem em reuniões Brasileira de Aviação Geral e Helibras,
De acordo com o Comandante do no IV COMAR, com a participação dentre outras. “Nessa hora estamos
Quarto Comando Aéreo Regional (IV de profissionais da área de aviação e todos juntos”, finaliza Francisco Souto
COMAR), Major-Brigadeiro do Ar de instituições como Infraero, TAM, Emílio, presidente do Aeroclube (foto
Marcelo Kanitz Damasceno, o museu Aeroclube de São Paulo, Associação abaixo).
irá ocupar uma área vizinha ao Hospital
de Força Aérea de São Paulo. “Há que se
ter uma melhor utilização dessa área e o
negócio do Campo de Marte é a aviação”,
afirma. Segundo o militar, o museu terá
exposição de aeronaves e também de
uma grande quantidade de itens ligados
à história da aviação. “Nós temos um
acervo fabuloso”, afirma.
O próximo passo é a Aeronáutica
definir como seria a cessão da área.
Há a possibilidade de ser transferida
SGT BATISTA / Agência Força Aérea

de forma não onerosa, desde que seja


para uma Organização Social ou uma
Fundação. Também há a ideia de ven-
da para alguma empresa que tenha
interesse em explorar economicamente
o futuro museu. Por enquanto, as

Aerovisão Out/Nov/Dez 2015 55


ARQUIVO

Campo de Marte tem presença militar


desde os anos 20
A
cidade de São Paulo não tem lagens dos caças e utilização de líquido e de alguns itens, em parcerias com
nenhuma Base Aérea nem penetrante para descobrir qualquer empresas envolvidas no projeto.
esquadrões da Força Aérea, falha estrutural. Após mais de 40 anos E, para o Tenente-Coronel Fábio Leite,
mas é estratégica para a defesa do País. de operação na FAB, a manutenção da essa é exatamente uma das principais
A explicação está no lado norte da pista frota de 57 aeronaves de origem norte- vantagens da localização do PAMA-SP
do Campo de Marte. Ali está localizado -americana é totalmente dominada no Campo de Marte. Estar na capital
o Parque de Material Aeronáutico de pelos militares brasileiros, que também paulista significa fácil acesso ao parque
São Paulo, unidade da FAB responsável realizam testes dos motores. industrial da região. No caso do Gripen
pela manutenção avançada dos caças O PAMA-SP recebe ainda os helicóp- NG, por exemplo, haverá participação de
supersônicos F-5. teros H-50 Esquilo e os motores dos H-60 empresas brasileiras localizadas na sua
“A defesa aérea do Brasil depende Black Hawk e H-36 Caracal. A unidade é maioria no Estado de São Paulo.
do PAMA-SP”, afirma o Tenente-Coro- responsável também pela condução dos
nel Fábio Leite, do efetivo da unidade. projetos de manutenção dos Veículos Logística
Segundo ele, a cada 1.200 horas, os Aéreos Não Tripulados utilizados pela O mesmo discurso é adotado pelo
jatos F-5 vão para lá, onde são com- FAB, os Hermes 450 e Hermes 900. Coronel Marco Antônio Monteiro. “Se
pletamente desmontados, revisados e O futuro caça da FAB, o Gripen você olhar nossos fornecedores, 80% es-
remontados. “Sai semi-novo, pronto NG, também deve contar com o traba- tão na região”, afirma o militar do Cen-
para mais 1.200 horas”, explica. lho realizado no Campo de Marte pelo tro Logístico da Aeronáutica (CELOG),
Nas oficinas do Campo de Marte são PAMA-SP. O Parque terá capacidade unidade responsável pelo suprimento
realizados testes como raio-X nas fuse- de fazer revisões das 36 aeronaves para toda a Força Aérea Brasileira.

56 Out/Nov/Dez 2015 Aerovisão


SGT BATISTA / Agência Força Aérea
Também localizado na área do
Campo de Marte, só que na parte do
Sul, mais próximo do futuro museu de
aeronáutica, o CELOG adquire itens
como combustível de aviação, além
de trabalhar com projetos de naciona-
lização de itens. Ao seu lado funciona
ainda a Subdiretoria de Abastecimento,
que cuida de suprimentos das áreas de
saúde, fardamento e alimentação.
A presença da Força Aérea no Cam-
po de Marte é completada ainda pelo
Quarto Serviço Regional de Prevenção
e Investigação de Acidentes Aeronáu-
ticos (SERIPA IV), com atuação nos
estados de São Paulo e de Mato Grosso
do Sul, além de unidades de apoio do
Comando da Aeronáutica.

Hoje responsável pela manutenção


avançada dos caças F-5 da FAB, o
PAMA-SP tem suas origens nos anos
20, ainda como parte da Aviação do
Exército, quando era praticamente a
única construção na área do Campo
de Marte.

SGT BATISTA / Agência Força Aérea

Aerovisão Out/Nov/Dez 2015 57


VALORES DA FAB

Salvo duas vezes


pelo mesmo herói
Ele sofreu dois acidentes aeronáuticos na Amazônia e sobreviveu,
sendo resgatado pelo mesmo militar da FAB
SAuLO VARGAS

S
obreviver à queda de um avião não
é algo que ocorre corriqueiramen-
te. Se a queda acontecer em plena
selva amazônica, já é muito mais difícil.
Mas, e sobreviver por duas vezes nessas
condições? Com certeza, algo muito raro.
Agora, imagine sobreviver a duas
quedas e ser resgatado pelo mesmo pilo-
to, em um intervalo de apenas cinco anos.
Pois foi exatamente isso o que aconteceu
com o piloto civil Ruy Anselmo Garcia
Cândido e com o atual Subcomandante
da Base Aérea de Boa Vista, Tenente-
-Coronel Jorge Luís de Oliveira Sampaio.
Em 28 junho de 1999, às 7h, Ruy
decolou com uma aeronave Cessna da
cidade de Altamira (PA) com destino a
Gurupi (TO), para fazer uma entrega de
sementes de pupunha. Aos 45 minutos
de voo, ele notou que o avião apresenta-
va um vazamento de óleo, o que não lhe
deu outra alternativa além de fazer um
pouso forçado. As condições do local,
em plena floresta Amazônica, exigiam
técnica e um pouco de sorte para que o
piloto sobrevivesse. O Cabo José Ivaldo
Pinho da Silva, um dos participantes do
SO ROGÉRIO PRADA / Agência Força Aérea

resgate, observou que foi a experiência


que salvou Ruy da morte.
“Olhei lá de cima e vi uma brecha,
mas teria de passar entre várias árvores.
O avião poderia explodir, mas não pen-
sei nisso, só em escapar”, explica Ruy.
A manobra deu certo. O avião bateu
no chão, deslizando entre galhos de

58 Out/Nov/Dez 2015 Aerovisão


árvores, mas não pegou fogo. aéreo levou o agora Capitão Sampaio a gratificante cumprir essa missão. Em
O Esquadrão Falcão (1º/8º GAV), reencontrar Ruy. Por volta das 7h30min, 2004, eu já tinha mais experiência.
foi acionado assim que Ruy pediu a Força Aérea Brasileira foi acionada Então, nesse período, eu tive a grata
socorro pelo rádio. Eram 12h20min devido à queda de uma aeronave com satisfação de realizar esses dois res-
quando o helicóptero decolou da Base quatro pessoas a bordo nas imediações gates, salvando o mesmo piloto, o
Aérea de Belém (BABE) com destino de Altamira (PA). Mais uma vez, o Es- comandante Ruy Anselmo”, conta o
a Altamira, onde chegou às 14h, rea- quadrão Falcão realizou as buscas, ao Tenente-Coronel Sampaio.
basteceu e prosseguiu na busca. Por lado de aeronaves P-95 do Esquadrão
volta das 16h, o helicóptero H-1H, Netuno (3º/7º GAV) e SC-95 do Esqua- Valores da FAB
com o então Tenente Sampaio como drão Pelicano (2º/10º GAV). Essa história você confere em de-
um dos pilotos, estava sobre o local Trinta horas após o acidente, a talhes na série Valores da FAB, que
da queda, desembarcando a equipe tripulação do H-1H avistou um sinal mostra, em reportagens de vídeo, a
de Busca e Salvamento (SAR). de fumaça no meio da floresta ama- vida e o trabalho de militares que são
Em vez do piloto, os resgateiros, zônica, porém, dali, não foi possível exemplo de superação e dedicação
militares que descem de rapel até o local encontrar sobreviventes. Já em solo, ao próximo. Assim como ocorreu em
do acidente para realizar o resgate das a equipe de resgate localizou Julia 2013 e 2014, a série será divulgada
vítimas, encontraram um bilhete e um da Silva Garcia e Neide Zanquet, fa- no mês de dezembro nos canais de
abrigo improvisado. “O militar, quando miliares de Ruy. Em seguida, foram comunicação da FAB.
chegou ao solo, informou via rádio que resgatados também o próprio Ruy, Além desses resgates, outro caso
havia encontrado uma carta do piloto, na que estava com as duas pernas e um que será apresentado é o de cinco pes-
qual ele dizia que havia deixado o local braço fraturados, e o seu sobrinho, soas, entre elas um bebê com apenas
para buscar água. Nesse momento, nós Gleidson Silva Garcia, com um tor- doze horas de vida e uma mulher grá-
tivemos a certeza de que ele estava vivo”, nozelo quebrado. Os quatro ficaram vida de oito meses, que sobreviveram
afirma o Tenente-Coronel Sampaio. um dia e meio sem comida e água no por seis dias na mata até a chegada do
As buscas permaneceram durante meio da floresta amazônica. Esquadrão Harpia. Leia na próxima
toda a noite, com os homens de resgate “Esses dois salvamentos foram página a reportagem completa sobre
no solo. E no dia seguinte, pela manhã, muito importantes, especialmente essa história emocionante.
o piloto foi encontrado, ileso. para mim, pois em 1999 eu tinha aca-
Assista a esta e
Cinco anos após o episódio, em 24 bado de me formar na parte operacio-
outras histórias
de agosto de 2004, um novo acidente nal no Esquadrão Falcão e foi muito
emocionantes

ARQUIVO PESSOAL

Aerovisão Out/Nov/Dez 2015 59


BUSCA E SALVAMENTO

Um ano de vida
Bebê comemora aniversário de um ano depois de
resgate histórico da FAB em Roraima. A caminho
do hospital, o monomotor do SAMU caiu na selva
com cinco pessoas a bordo
MÁrcia Silva
Raquel Sigaud
ARQUIVO PESSOAL

60 Out/Nov/Dez 2015 Aerovisão


T “Mal nasceu
alvez não sobre dinheiro para
improvisar um bolo no aniver-
sário do caçula quando outubro
terminar. “Tinha que fazer, né?”, diz
(...) e a vida
meio sem jeito a mãe, Marinez, que cui-
da de cinco filhos em dois cômodos de
foi mostrando
madeira, enquanto Raimundo, o pai, lida que o mundo
com a pesca no rio Branco, em Roraima.
Certeza mesmo é que o primeiro ano de exige coragem,
Ian Vitório será o assunto do dia na pe-
quena Cachoeirinha, vila de 46 casinhas perseverança e
em meio à floresta Amazônica.
Também pudera. Mal nasceu na- resistência”
quele 25 de outubro de 2014 e a vida foi
mostrando que o mundo exige coragem, De Santa Maria do Boiaçu, mãe e filho
perseverança e resistência até dos recém- embarcaram em um Cessna do governo
-chegados. O primeiro problema foi com do Estado rumo à capital Boa Vista. O
a mãe. A parteira não conseguiu retirar a caso dela era cirúrgico. Enquanto Ma-
placenta presa ao útero. A bordo do bar- rinez tomava soro deitada no avião, Ian
quinho de alumínio com motor de popa, foi acomodado nos braços de Françoisa,
Marinez e o bebê enfrentaram duas horas gestante de oito meses que pegava carona
de viagem durante a madrugada até o para fazer exames na cidade. Piloto, téc-
posto de saúde na comunidade vizinha. nico de enfermagem do SAMU e os três
“Para sair de Cachoeirinha só assim, de passageiros voavam há uma hora e vinte
voadeira ou avião”, explica a dona de minutos até que o motor simplesmente
casa. E telefone, tem? “Só um orelhão e parou. O único jeito foi jogar o avião na
vive quebrado”, lamenta. primeira clareira vista lá de cima.

Aerovisão Out/Nov/Dez 2015 61


Por sorte, ninguém se machucou Ao longo da jornada, o grupo cavou
gravemente com o forte impacto. para sorver um pouco da água mistura-
Depois de esperar no meio do nada da ao barro. Os homens beberam urina.
por três dias, o grupo decidiu sair em Apesar de quase ter perdido os rins por
busca de ajuda em direção ao rio. causa da desidratação severa, coube ao
Um bilhete deixado no avião enfermeiro Anderson Teixeira gerenciar
indicava a rota dos sobreviventes. a situação de riscos, vulnerabilidade e de-
“Informamos mata perigosa com sespero. “Quando Ian começou a chorar
onça em volta”, escreveram em um de fome, perguntei à grávida Françoisa
pedaço de papel. A fralda de tecido se ela aceitava amamentá-lo, para ele não
transparente que protegia o rosto morrer”, disse. “Mas expliquei que o estí-
de Ian não foi capaz de evitar quei- mulo da amamentação poderia provocar
maduras na pele do recém-nascido. um parto precoce ali mesmo na mata”.
Com o cansaço e o estresse, o leite da Ela decidiu ser solidária. No quinto dia
mãe secou. A medicação não conteve de caminhada, Marinês chega ao ápice
mais a hemorragia. A trilha de sangue da fraqueza por causa do sangramento
chegou a atrair animais. e não consegue mais andar.
ARQUIVO PESSOAL

Os próprios sobreviventes fizeram


fotos no local do acampamento
com seus aparelhos celulares.
ARQUIVO PESSOAL

62 Out/Nov/Dez 2015 Aerovisão


TEN ENILTON / Agência Força Aérea

motivos para comemorar


Enquanto o grupo lutava para so- respirou aliviado ao ver o Black Hawk Veja cenas impressio-
breviver, equipes de resgate da Força pairar sobre eles. Na mesma hora, mais nantes gravadas no
Aérea Brasileira vasculhavam a área de cinco toneladas de metal se transfor- momento do resgate
com aeronaves SC-105 Amazonas e um maram em puro sentimento. “A sensação
helicóptero H-60 Black Hawk. Quando de ver o helicóptero foi a mesma de uma
o monomotor foi localizado a 200 km de criança ao ver o pai voltar depois de tê-la
Boa Vista, nova rota de busca foi traçada abandonado na casa de um estranho”,
por causa do bilhete deixado pelos sobre- compara o enfermeiro. Enquanto o
viventes. Além da mensagem, o Sargento piloto mantinha o helicóptero pairado,
Douglas Gregório Peixoto guardou no as vítimas eram içadas uma a uma abra-
uniforme um gorro de bebê deixado ao çadas a Gregório. Subir a bordo com Ian
lado do Cessna. Resgateiro experiente, ele protegido no peito foi especial. “Foi a
pressentia que, dessa vez, encontraria os missão da minha vida”, define. Depois
ocupantes da aeronave com vida. “Liguei da saga, o bebê que seria chamado de
para minha mãe, naquela noite, e prometi Ian foi registrado como Ian Vitório. Um
Abaixo, Sargento Gregório em
que devolveria o gorro ao dono”, contou. ano depois, pode até faltar dinheiro dois momentos: em Manaus, na
A promessa foi cumprida na ma- para comemorar o aniversário, mas não sede do Esquadrão Harpia, e du-
nhã seguinte, 31 de outubro. O grupo faltam motivos. rante o salvamento do bebê Ian, no
dia 31 de outubro de 2014.
ARQUIVO PESSOAL

ARQUIVO PESSOAL

Aerovisão Out/Nov/Dez 2015 63


CuLTuRA

Aviação, vida
e poesia
Livro retrata crianças em tratamento contra o
câncer e o voo com a libertação humana

A
aviação como instrumento de libertação, o
imaginário infantil e a superação em nome da
vida. São esses os principais elementos do livro
“Vida – Superação: Arte e Poesia”, lançado pelo artista
plástico João Evangelista.
A obra é composta por 180 fotos de crianças internadas
no Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba, para tratamento
contra o câncer. O toque de poesia foi dado pela técnica de
interferência de pintura a óleo sobre a fotografia, além de
textos reflexivos sobre a condição humana.
Com prefácio do Tenente-Brigadeiro do Ar Juniti Saito,
ex-comandante da Aeronáutica, a obra propõe ainda um
olhar sobre a paixão das crianças pela aviação. E nesse aspec-
to foi baseada em fatos reais: em parceria com a FAB, crianças
do hospital realizaram um voo sobre Curitiba.
Lançado em todo o País, o livro terá parte da sua renda
revertida para o Hospital Pequeno Príncipe e outras institui-
ções que tratam crianças com câncer.

64 Out/Nov/Dez 2015 Aerovisão


Aerovisão
SGT BATISTA / Agência Força Aérea

Out/Nov/Dez 2015
65
JOÃO EVANGELISTA
Tecnologia
NOVIDADEsobre o mar EXPEDIENTE

Publicação oficial da Força Aérea Brasileira, a


revista Aerovisão é produzida pela Agência
Força Aérea, do Centro de Comunicação Social
da Aeronáutica (CECOMSAER).

Chefe do CECOMSAER:
Força Aérea recebe seu primeiro P-95 Bandeirante
SGT TIAGO ROSA / Esquadrão Phoenix

Brigadeiro do Ar Pedro Luís Farcic


Patrulha modernizado. Com novos radares, oito
aeronaves vão atuar em missões como a vigilância Edição: Tenentes Gabrielli Dala Vecchia
e Humberto Leite (Jornalista Responsável -
do mar territorial CE 0189JP)

juSSARA PECCINI Repórteres: Alexandre Gonzaga e Tenentes


Daniele Gruppi, Emília Maria, Flávia Cocate,

A
Gabrielli Dala Vechia, Humberto Leite, Íris
Força Aérea Brasileira recebeu, no dia 15 de se- Vasconcellos, Jussara Peccini, Lorena Molter,
tembro, a primeira unidade modernizada do P-95 Márcia Silva, Raquel Sigaud e Saulo Vargas.
Bandeirante Patrulha, aeronave utilizada para Editoração/infográfi cos/arte: Tenentes
missões de monitoramento do mar territorial brasileiro, André Eduardo Longo e Rachid Jereissati de
Lima, Suboficiais Cláudio Ramos e Edmilson
busca e salvamento, vigilância da área econômica exclusiva
Alves Maciel, Sargentos Daniele Azevedo,
e combate a crimes como pesca ilegal, pirataria e poluição Ednaldo da Silva, Emerson Linares, Lu-
do meio ambiente. O primeiro avião já opera a partir da cemberg da Silva, Marcela Cristina Santos
e Santiago Moreira, e Cabo Pedro Bezerra.
Base Aérea de Florianópolis. Um total de oito unidades
serão modernizadas. Fotógrafos: Tenente Enilton Kirchhof, Su-
O processo de modernização, realizado no Parque boficial Rogério Prada, Sargentos Bruno Batista,
Eloísio Januário (DECEA), Johnson Barros, Mar-
de Material Aeronáutico dos Afonsos (PAMA-AF), co Ribeiro (EDA), Paulo César Ramos Rezende,
ampliou a capacidade operacional do avião fabricado Tiago Rosa (2º/7°GAV), Wellington Simo e Wil-
pela Embraer. Agora o P-95M, sua nova denominação, son Alves (PAMA-GL), e Cabos André Feitosa,
Edésio Júnior, Silva Lopes e Vinícius Santos.
conta com o radar Seaspray 5000E e tem condições de
detectar navios de grande porte a até 370 quilômetros Contato:
de distância. redacao@fab.mil.br
Esplanada dos Ministérios, Bloco M, 7º Andar
O P-95M também consegue acompanhar até 200 alvos CEP: 70045-900 - Brasília - DF
simultaneamente, realizar mapeamento de terrenos e de-
Tiragem: 26 mil exemplares
tectar aeronaves, entre outras funcionalidades. Os sistemas
de comunicação também foram substituídos. Período: Outubro/Novembro/Dezembro -
2015 - Ano 42
O projeto de modernização, que também inclui 42
aeronaves C-95 Bandeirante, envolve ainda a revitalização Estão autorizadas transcrições integrais ou parciais
estrutural das aeronaves. das matérias, desde que mencionada a fonte.

As aeronaves devem ser operadas pelos esquadrões Distribuição Gratuita


Phoenix (2º/7°GAV) e Netuno (3º/7°GAV), sediados em Flo- Acesse a edição eletrônica: www.fab.mil.br
rianópolis (SC) e Belém (PA), respectivamente. As missões
Impressão: Gráfica Editora Pallotti
de patrulha marítima são complementadas pelos P-3AM do
Esquadrão Orungan (1º/7°GAV), sediado em Salvador (BA).
“O novo P-95 reafirma a projeção de ponta dessa aviação,
que está na vanguarda da patrulha marítima na América do
Sul”, avalia o comandante da Segunda Força Aérea (FAE II),
Brigadeiro do Ar Roberto Ferreira Pitrez.

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