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UNIVERSIDADE DO ESTADO PARÁ – UEPA

CAMPUS XI- SÃO MIGUEL DO GUAMÁ – PA

CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS SOCIAIS

Áquila Farias da Silva Sampaio

FICHAMENTO DE CITAÇÕES DO TEXTO: “Primeira parte textos de Hannah


Arendt, 2. Introdução à Política I?” Em: “O que é política?”, de Hannah Arendt.

São Miguel do Guamá


2024
“Em nosso tempo, ao se pretender falar sobre política, é preciso começar por avaliar
os preconceitos que todos temos contra a política — visto não sermos políticos
profissionais. Tais preconceitos, comuns a todos nós, representam algo de político
no sentido mais amplo da palavra: não brotam da soberba das pessoas cultas e não
são culpados do cinismo delas, que viveram demais e compreenderam de menos.
Não podemos ignorá-los porquanto estão presentes em nossa vida, e não podemos
atenuá-los com argumentos porquanto refletem realidades incontestáveis e, com
maior fidelidade ainda, a atual situação existente, de fato, justamente em seus
aspectos políticos.” (ARENDT, 2002).

“Mas os preconceitos se antecipam; 'jogam fora a criança junto com a água do


banho', confundem aquilo que seria o fim da política com a política em si, e
apresentam aquilo que seria uma catástrofe como inerente à própria natureza da
política e sendo, por conseguinte, inevitável.” (ARENDT, 2002).

“(...) quando se entende a política em geral como uma relação entre dominadores e
dominados. Sob tal ponto de vista, conseguiríamos, em lugar da abolição da política,
uma forma de dominação despótica ampliada ao extremo, na qual o abismo entre
dominadores e dominados assumiria dimensões tão gigantescas que não seria mais
possível nenhuma rebelião, muito menos alguma forma de controle dos
dominadores pelos dominados.” (ARENDT, 2002).

“Na verdade, o a-político no sentido mais profundo dessa forma de dominação


mostra-se justamente na dinâmica que lhe é característica e que ela desencadeia,
na qual cada coisa e tudo antes ainda tido como 'grande' hoje pode cair no
esquecimento — se for para manter o movimento em impulso, deve cair mesmo.”
(ARENDT, 2002).

“Mas os preconceitos contra a política, a concepção de a política ser, em seu âmago


interior, uma teia feita de velha-caria de interesses mesquinhos e de ideologia mais
mesquinha ainda, ao passo que a política exterior oscila entre a propaganda vazia e
a pura violência, têm data muito mais remota do que a invenção de instrumentos
com os quais se pode destruir toda a vida orgânica da face da Terra.” (ARENDT,
2002).

“Mas o verdadeiro ponto principal do preconceito corrente contra a política é a fuga à


impotência, o desesperado desejo de ser livre na capacidade de agir, outrora
preconceito e privilégio de uma pequena camada que, como lorde Acton, achava
que o poder corrompe e a posse do poder absoluto corrompe em absoluto.1 O fato
de essa condenação do poder corresponder por inteiro aos desejos ainda
inarticulados das massas não foi visto por ninguém com tanta clareza como
Nietzsche, em sua tentativa de reabilitar o poder — se bem que ele também
confundisse, ou seja identificasse, bem ao espírito da época, o poder impossível de
um indivíduo ter, visto ele surgir somente pelo agir em conjunto de muitos, com a
força cuja posse qualquer pessoa pode deter.” (ARENDT, 2002).

“Ao se falar de política, em nosso tempo, é preciso começar pelos preconceitos que
todos nós temos contra a política — quando não somos políticos profissionais. Pois
os preconceitos que compartilhamos uns com os outros, naturais para nós, que
podemos lançar-nos mutuamente em conversa sem termos primeiro de explicá-los
em detalhes, representam em si algo político no sentido mais amplo da palavra —
ou seja, algo a se constituir num componente integral da questão humana, em cuja
órbita nos movemos a cada dia.” (ARENDT, 2002).

“Nisso, o preconceito diferencia-se do juízo — com o qual, por outro lado, tem em
comum o fato de nele os homens se reconhecerem e a ele sentirem-se integrados
— de modo que o homem dotado de preconceitos sempre pode ter certeza de um
efeito, enquanto que o idiossincrático quase nunca pode realizarse no espaço
político-público, só revelando-se no privado íntimo. Por conseguinte, o preconceito
desempenha um grande papel na coisa social pura; na verdade, não existe
nenhuma estrutura social que não se baseie mais ou menos em preconceitos,
através dos quais certos tipos de homens são permitidos e outros excluídos. Quanto
mais livre de preconceitos é um homem, menos apto será para a coisa social pura.”
(ARENDT, 2002).

“Quando se quer difundir preconceitos, é preciso sempre descobrir primeiro o juízo


anterior neles contido, ou seja, identificar seu conteúdo original de verdade.”
(ARENDT, 2002).

“Se a função do preconceito é defender o homem julgante para não se expor


abertamente a cada realidade encontrada e daí ter de defrontá-la pensando, então
as visões de mundo e ideologias cumprem essa tarefa — tão bem que protegem
contra toda experiência, pois supostamente todo o real está nelas previsto de
alguma maneira. É justamente essa universalidade distinta tão claramente dos
preconceitos — que são sempre de natureza parcial — que induz com nitidez à
conclusão de não se poder mais ter confiança não apenas no preconceito, mas
também nos critérios do preconceito e no que foi nele prejulgado: indica
textualmente que eles são inconvenientes.” (ARENDT, 2002).

“Não importa como pode ser feita a pergunta, se é o homem ou o mundo que corre
perigo na crise atual, mas uma coisa é certa: a resposta que empurra o homem para
o ponto central das preocupações do presente e que acha que deve modificá-lo,
remediá-lo, é apolítica em seu sentido mais profundo. Pois, no ponto central da
política está sempre a preocupação com o mundo e não com o homem — e, na
verdade, a preocupação com um mundo assim ou com um mundo arranjado de
outra maneira, sem o qual aqueles que se preocupam e são políticos, julgam que a
vida não vale a pena ser vivida.” (ARENDT, 2002).

“Os homens agem nesse mundo real e são condicionados por ele e exatamente por
esse condicionamento toda catástrofe ocorrida e ocorrente nesse mundo é neles
refletida, co-determina-os.” (ARENDT, 2002).

REFERÊNCIAS

Arendt, Hannah. “PRIMERA PARTE TEXTOS DE HANNAH ARENDT, 2. Introdução


à Política I”. Em: O que é política? [editoria, Ursula Ludz]; 3" ed. tradução de
Reinaldo Guarany. - 3 ed. - Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002. Tradução de: Was
ist politik? Disponível em: O que é política Hannah Arendt.pdf Acesso em
22/01/2023.

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