Você está na página 1de 3

BECK, Ulrich. O que é Globalização?

Equívocos do globalismo, respostas à


Globalização. São Paulo: Editora Unesp, 1999.

Rafael Ribeiro Gava de Souza1

Resenha Crítica
De plano, necessária a contextualização acerca da inserção social do autor, que, no ano
de 1999, trouxe críticas acerca da passagem da era moderna para a pós-moderna, no
âmbito sociológico e tecnológico. A partir disso, o autor avaliou, principalmente, os
impactos socioambientais existentes quando da tomada de decisões pelos
governos/grandes empresas, sem a devida avaliação dos riscos e consequências
daqueles atos, culminando na aparente degradação ambiental e social. Em percebendo
que a globalidade possui um sucesso irreversível, o autor define esse “ente” da
globalidade como sendo um estado não-mundial, traduzindo este, especialmente, pelo
mercado criado pela globalidade e globalização. Não deixa de sugerir que o mercado
mundial fora preconizado pela ideologia neoliberal do globalismo, sendo fruto de um
economicismo antiquado. Este julga o mercado como sendo algo, por óbvio, imaterial e
que é passível de se encontrar em todas as coisas humanas, vez que, ao que parece,
tudo pode ser vendido, como coisa ou serviço. Ademais, o mercado mundial trata por
transformar tudo aquilo em que está inserido. Em restando por determinado o
descontentamento do autor com a globalidade, globalismo e o mercado na modalidade
neoliberal ora existente, esse passa a discorrer acerca daquilo que julga como sendo
uma lista de dez equívocos do globalismo. 1) A metafísica do mercado mundial: Elege
estas como sendo as razões/princípios do mercado mundial. Acusa o globalismo de
reduzir a nova complexidade e da globalização a uma dimensão só: a econômica. Tudo
depende da economia, inclusive a cultura, política etc., o que, certamente, encontra
apoio nos atos presenciados em pleno ano de 2022, ao passo que se ostenta aquilo que
não tem, para se autoafirmar perante a sociedade. O autor é bastante feliz quando
sugere que a sociedade resta por reduzida e falsificada como uma sociedade do
mercado mundial, quase que como reféns dessa. Em remetendo a crítica ao seu próprio
país, à época de 1999, o autor percebe tudo como sendo “simples e individual”, fazendo
uma comparação à previdência alemã, que é solidária, e seria, segundo os neoliberais,
irracionais em termos econômicos. 2) O chamado livre comércio mundial: A proposição
geral é de que a economia globalizada veio para oferecer o bem-estar do mundo e
eliminar as desigualdades ambientais, principalmente no que toca à questão ambiental,
de modo a proteger fontes de matéria prima, com uma consequente convivência
saudável com a natureza. Porém, não é isso que ocorre: O comércio é sustentado em
vantagem comparativa de custo. Nesse passo, o autor percebe que o desemprego em
massa nos países pós-comunistas europeus obriga os governos adotarem uma política
econômica voltada para a exportação. Nessa situação, constatam-se salários reduzidos,
condições de trabalhos sub-humanas e com zonas sem interferência sindical (e
consequentemente menos direitos), competindo com os países ricos do ocidente por
capital estrangeiro. Referida afirmação é cínica, pois, segundo o autor, existem duas
formas de se reduzir custos: alta economicidade ou desrespeito aos padrões de

1
Graduado em Direito; Formado na Universidade do Contestado e Mestrando pela
UNIFACVEST; Pós-Graduando em Advocacia Contemporânea pela Escola Superior da
Advocacia – ESA/SC.
trabalho/produção. 3) Ainda estamos diante de uma internacionalização e não
globalização da economia: O autor sugere que, atualmente, o que se verifica é o
fortalecimento das relações transnacionais de comércio e produção entre determinadas
regiões delas (à exemplo da América, Ásia e a própria Europa). Em percebendo referida
relação, que culmina em compartilhamento de tecnologias, vê-se a força de trabalho
menos qualificada sofrer com a concorrência do mercado mundial, de modo a significar
num recuo da demanda por força de trabalho nos setores que exigem mão de obra
menos qualificada em favor do deslocamento da produção para o exterior, situação essa
que se assemelha ao cenário atual, em que diversas empresas estadunidenses tratam
por realizar sua produção em países asiáticos, especialmente na China, onde a mão de
obra é barata em virtude dos poucos encargos trabalhistas; 4) Dramaturgia do risco: O
risco apresentado pelo autor, ao meu sentir, toca à questão social e ambiental futura:
para uma nação representa uma vantagem que ela possa comer o pão a um preço
barato, mas não quando isso é feito em sacrifício das próximas gerações. Não é a
desgraça real (por exemplo do deslocamento dos postos de trabalho para países com
mão de obra barata) do sucesso da globalização econômica, mas sim a obrigação das
pessoas em fazer aquilo que a disponibilidade dos investimentos exige em nome de sua
sobrevivência, para evitar algo mais danoso, convergindo-se em evidente e literal
dramaturgia do risco. 5) A ausência da política como revolução: basicamente tudo e
todos deverão ser subordinados ao primado da economia, conforme já esposado pelo
autor ao início do capítulo. Trata-se, portanto, de uma ação altamente política que se
apresenta de forma apolítica. A ausência de política como revolução: “deixe que o
mercado se regule/ajuste”. Salutar a observação do autor, o qual percebeu que a
insegurança privada do emprego não foi verificada e nem apoiada pelos partidos
políticos. 6) o mito da linearidade: Há aparente crítica ao acesso dos itens promovidos
pela globalização, pois são só aqueles, quase que como uma dicotomia: ou isso ou
aquilo, tudo vindo da cultura mundial homogênea promovida pelo discurso da
globalização da economia, se “unificando”. 7) Crítica do pensamento catastrofista: Em
tratando-se de empregos, o autor sugere que ainda que a perda do emprego seja uma
perda, ou do desemprego em massa seja uma crise, o retorno ao pleno emprego é
fictício: pois a substituição pela produção parcial ou plenamente automatizada, quando
aplicada corretamente, pode oferecer, ao ver do autor, oportunidades históricas de
libertação. 8) Protecionismo preto: trata daqueles que exaltam o estado nacional e
promovem sua ruína com o livre mercado mundial. Quem minimizar o estado social,
minimizará os direitos sociais do cidadão, e, por consequência, ao lado da liberdade
política. O autor sugere que a estratégia neoliberal é contraditória, não se sustentando
se não for universalizada. Estes desmembram a sociedade que os próprios idolatram.
9) Protecionismo verde: o protecionismo verde se contradiz, quanto à globalidade da
crise ecológica e se abstém da arma política que consiste no par pensamento
global/intervenção local. As questões ecológicas devem, segundo o autor, serem
concebidas e recebidas como questões globais, mas por conta de seu antimodernismo
primário, seus apegos provincianos, acaba-se nada fazendo, sendo a discussão e
relevância destas agora deixadas de lado, em prol da manutenção do mercado global.
10) protecionismo vermelho: o último equívoco versa sobre a ressurreição do marxismo
(sociedade sem classes e igualitária), que é utópica, vez que é impossível fazer justiça
social nos tempos modernos, especialmente por se esbarrar na redução dos custos
sociais e custos salariais, tendo em vista o aumento no número de desempregados pela
ausência de novos postos, de modo a fazer o sistema de garantias sociais ruir. O autor,
portanto, ao elencar tais equívocos, demonstra ter profundo conhecimento social e
econômico, especialmente pelas insistentes comparações ao quadro social alemão à
época, o que, de certo modo, limita o texto no quesito acessibilidade, mas resta por ser
importante análise para o povo alemão.

Você também pode gostar