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Rio de Janeiro
2016
Paula Rebello Magalhães de Oliveira
Rio de Janeiro
2016
CATALOGAÇÃO NA FONTE
UERJ / REDE SIRIUS / BIBLIOTECA CEH/A
es CDU 316.6
___________________________________ _______________
Assinatura Data
Paula Rebello Magalhães de Oliveira
Banca Examinadora:
________________________________________________
Prof. Dra. Amana Rocha Mattos
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
________________________________________________
Prof. Dra. Ana Beatriz Pereira de Andrade
Universidade Estadual Paulista
________________________________________________
Prof. Dra. Ana Paula Bragaglia
Universidade Federal Fluminense
________________________________________________
Prof. Dr. Guilherme de Carvalho
Universidade Federal Fluminense
________________________________________________
Prof. Dr. Jorge Coelho Soares
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
________________________________________________
Prof. Dr. Fernando José Gastal de Castro
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Rio de Janeiro
2016
O amor é algo único, como uma tapeçaria que é tecida com fios extremamente
diversos, de origens diferentes. Por trás de um único e evidente “eu te amo” há uma
multiplicidade de componentes, e é justamente a associação destes componentes
inteiramente diversos que faz a coerência do “eu te amo”.
Edgar Morin
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a Letícia, Beatriz e Michelle. Espero que façam boas escolhas
amorosas na vida. Saibam que são responsáveis por sua própria felicidade.
AGRADECIMENTOS
Escrever uma tese de doutorado não é uma tarefa solitária. Para se tornar
possível realizar este trabalho recebi apoio, incentivo, contribuições materiais e
imateriais, diretas e indiretas, ao longo de todo o percurso, tanto de instituições,
mestres, colegas, como de familiares e amigos.
Cabe agradecer, inicialmente, a CAPES, pelo apoio financeiro recebido em
forma de bolsa de doutorado e de doutoramento sanduíche – PDSE, que garantiram
recursos para o aprofundamento da pesquisa.
Minha gratidão pelo apoio institucional dirige-se à Universidade do Estado do
Rio de Janeiro e ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social pela acolhida
de professores, colegas e funcionários da Secretaria, sempre prontos a ajudar, em
particular a Ana Maria, Luciana e Aníbal.
Em especial, sou grata à minha orientadora, Prof. Ariane Ewald, por sua
confiança, amizade e presença ao longo de toda a caminhada e ao Prof. Jorge
Coelho, cujo convívio intelectual foi decisivo para nortear meus passos.
À Prof. Heliana Conde, obrigada por me encorajar e acreditar no meu
trabalho.
À Prof. Maria do Carmo Cintra de Almeida Prado, por suas palavras de apoio
e estímulo para que investisse na carreira acadêmica.
Ao Prof. Ademir Pacelli, por me incentivar a seguir em frente, em momento de
grande fragilidade.
À Universidade Nova de Lisboa e ao Prof. Adriano Duarte Rodrigues, sou
grata pela recepção afetuosa além-mar e generosa ajuda intelectual.
Ao Prof. André Barata pela valiosa interlocução compartilhada em Portugal.
Agradeço a oportunidade.
Ao Prof. José Machado Pais que me presenteou, gentilmente, com um
exemplar de seu livro, como contribuição para a tese.
Agradeço, ainda, ao Prof. Bernardo Jablonski (In Memoriam), que falava de
amor, por sua sensibilidade diante do sofrimento humano, sua postura ética
profissional. Espero que suas ações acadêmicas sejam exemplos para alunos e
colegas.
À querida mestre, colega e amiga, Prof. Rê Fernandes (In Memoriam), por
colorir carinhosamente meu universo de expectativas.
É preciso lembrar todos os que participaram com incentivo, críticas,
sugestões e ações que me ajudaram a compor e finalizar este trabalho:
Agradeço a meu marido, Walmero, e a minha filha, Letícia, por me motivarem
a cada dia na elaboração desse trabalho. Foram muitos anos vivendo este projeto
com vocês ao meu lado.
Minha mãe, Ana Maria, por todo afeto, força e dedicação a mim e a família,
que me permitiram concluir mais essa etapa em minha vida. Obrigada por todo seu
esforço, compreensão e cuidado com minha filha durante meus estudos em
Portugal. Agradeço, ainda, por estar ao meu lado durante essa última aventura.
Meus irmãos André, Flávia e Felipe, por toda compreensão e encorajamento.
Minha querida afilhada Beatriz, sobrinhos Michelle, Lucas, João e Lúcio por
toda alegria e energia que transmitem.
Cunhadas, Abylene, Hermínia e Maíra, e cunhados, Carlos Eduardo,
Alecsandro e Jesse, por todas as oportunidades de estarmos reunidos em família.
Sogra, Adelaide, por sua força, coragem e afeto em momentos difíceis.
Tias Helena e Inês, sempre presentes em minha vida, e primos queridos Júlia,
Humberto e nosso anjo Gabriel (In Memoriam) que sempre será lembrado com
amor.
José Hermínio que, como um pai, acompanhou de perto minha jornada,
dando força a cada pequeno movimento meu. Foi maravilhosa a oportunidade de
conhecer Portugal, sua terra, durante o estágio doutoral.
Carlos Eduardo, quase irmão, por oferecer suporte técnico sempre que
necessário, partilhando seus conhecimentos sobre os mistérios do mundo da
informática, muitos dos quais, permanecerão mistérios para mim.
Maíra pela ajuda carinhosa e profissionalismo na execução do projeto gráfico
criado para a tese. Obrigada por traduzir minhas ideias em imagens inspiradoras.
André, Felipe, Beatriz e Humberto, por tantos esclarecimentos acerca de
novidades relacionadas às tecnologias de informação e comunicação.
Amigos, com quem compartilhei os bons momentos e os difíceis, na carreira e
na vida: Ana Tereza, Ana Bia, Márcia, Patrícia, Francisca e Juracy, Guilherme,
Anderson, Maria Angel, Fernando, Daniela, Cláudia, Ana Lúcia, Bia, Bárbara, Ruth,
dentre outros, muito obrigada por me ouvirem e instigarem a continuar.
Carla Sofia e Márcio, por me acolherem em Lisboa, assim como por me
apresentarem a seus amigos e familiares. Agradeço a todos a boa vontade e afeição
durante minha estada em Portugal. Obrigada pelas risadas, por me mostrarem
lugares tão lindos, por compartilharem almoços, jantares e, principalmente, os bons
vinhos!
Christian e Renata, que por amizade se dedicaram ao projeto gráfico para a
qualificação, oferecendo uma linda composição para meu trabalho.
Lucrécia, Lina e Taís, mulheres empoderadas do grupo “Sempre teremos
Lisboa”, por partilharem comigo suas vivências de doutorandas e histórias de amor
pela cidade de Lisboa. Um dia, estaremos juntas, novamente, às margens do Rio
Tejo.
Giovana e Mary por todas as conversas e viagens de metrô. Rodolfo pelos
pães e geleias deliciosos. Regina, Michelle, Verônica, Evie, Robson, Leomir, Diogo e
outros, pelas trocas intelectuais em disciplinas, reuniões e corredores da UERJ.
Equipes pedagógicas dos Colégios Santa Rosa de Lima e Pedro II pelo
cuidado e atenção ao lidar com minha filha. As mães e pais pela força e suporte
sempre que precisei.
RESUMO
1
A Internet conecta os computadores em forma de rede, através de fios, cabos e linhas telefônicas.
Também é chamada de rede, web ou “world wide web”. Vários termos em inglês já são utilizados
em nosso cotidiano da forma original como Internet, website, web, site, design, homepage, link, on-
line, off-line, etc., e serão mantidos sem itálico ao longo do texto, a fim de facilitar a leitura.
2
Lipovetsky (2004) criou o termo hipermodernidade ao acrescentar o prefixo “hiper” a palavra
modernidade. O conceito é entendido como a “radicalização” da dinâmica social vivida na
modernidade, como explica Sébastien Charles (2009). Lipovetsky (2004, p. 25, grifo do autor) fala
sobre a existência de vários sinais que levam a pensar que “entramos na era do hiper, a qual se
caracteriza pelo hiperconsumo [...]; pela hipermodernidade [...]; e pelo hipernarcisismo.”
3
Os termos on-line e off-line referem-se à vivência de estar ou não conectado à Internet.
4
Refiro-me a sites de namoro, encontro ou relacionamentos amorosos como sinônimos.
13
5
O Dicionário da Língua Portuguesa de Cândido Figueiredo define caleidoscópio como “Instrumento
de física formado por pequenos espelhos inclinados, e que, a cada movimento, apresenta
combinações variadas e agradáveis” (p. 491). Na tese, faço menção ao caleidoscópio que inspira o
método proposto para a pesquisa que será melhor explicado no próximo capítulo.
6
Ver Aroldo Rodrigues, Eveline Maria Leal Assmar e Bernardo Jablonski (1999); Rodrigues (1998;
1973).
14
7
Raquel Recuero (2011, p. 24) define rede social como “um conjunto de dois elementos: atores
(pessoas, instituições ou grupos; os nós da rede) e suas conexões (interações ou laços sociais)” ().
Os sites de encontro amoroso como meio interativo são redes sociais, pois “sustentam laços
relacionais, que são aqueles derivados da interação entre os atores [...] e laços associativos, que
são aqueles provenientes da associação entre os atores” (RECUERO, 2011, p. 132-133). Os atores
seriam as pessoas que interagem na rede, constituindo laços sociais.
8
Segundo Erika Vieira (2000, p. 130): “As „agências de encontro‟ funcionam com um „banco de
dados‟: os clientes se inscrevem, pagam o valor estipulado, respondem a um questionário e têm
seus dados inseridos em um programa de computador. Com as respostas, através de programas
especiais as agências são capazes de „cruzar‟ os dados e encontrar homens e mulheres que
consideram „compatíveis‟: clientes que têm maior chance de se combinar em razão do grande
número de características e desejos comuns.”
15
os atores sociais e, sendo públicos, podem ser visualizados por todos os integrantes
do site, que expõem suas informações pessoais, características, interesses,
intenções no site, etc. A partir do cruzamento de informações presentes nestes
cadastros, os sites de namoro indicam possíveis candidatos “compatíveis”. Diferente
das agências, os próprios clientes de um site podem fazer suas buscas utilizando as
ferramentas disponibilizadas e, assim, encontrar candidatos que considerem viáveis
para iniciar relacionamento. Se tiverem interesse em algum cadastro e desejarem
conhecer o candidato, podem ser trocadas mensagens escritas, principal forma de
comunicação utilizada entre os usuários. Estas mensagens funcionam através do e-
mail e bate-papo, envolvendo os recursos visuais oferecidos.
Na fase inicial da pesquisa, interessei-me pelo modo de funcionamento dos
sites de encontro e os recursos interativos, que foram observados em pesquisa de
campo. Realizei estudo etnográfico que viabilizou o acesso a diferentes materiais de
pesquisa, permitindo uma variedade de análises possíveis, o que conduziu a
necessidade de criar um método próprio de análise, que escolhi denominar “método
caleidoscópico”. A partir do material reunido, a publicidade observada nos sites
ganhou destaque e identifiquei a relevância de refletir sobre o amor propagado em
mensagens visuais e textuais, enquanto aspecto estratégico para atrair clientela.
Outras táticas utilizadas, em especial as relacionadas à linguagem escrita, foram
destacadas para tratar da indústria de namoros on-line que tem como principal
finalidade ampliar o público para obtenção de lucro.
O “amor publicizado”, estudado aqui, é inicialmente percebido como o amor
tornado público pela publicidade9 dos sites de encontro para atrair clientela. O uso
deste espaço apresenta possibilidades de enamoramento, sendo lugar de
“oportunidades” e “circunstâncias”, termos utilizados por Robert Solomon (1992).
Tais oportunidades são ampliadas pela existência de ferramentas para empreender
a busca do par perfeito, ideal para si, complemento para a construção de uma
“narrativa” de amor. Além disso, os próprios usuários publicizam o amor usando a
tecnologia e participando dela, expondo-se a partir do uso dos recursos interativos:
elaboração de perfil público, envio de mensagens, bate-papo com outros usuários,
ou mesmo, do compartilhamento de experiências amorosas com um público
9
O termo publicidade, segundo Antônio Geraldo da Cunha (1994, p. 646), vem do adjetivo público
que significa “relativo, pertencente ou destinado ao povo, à coletividade”.
16
10
A decisão de Lipovetsky (2004) de fazer uso do prefixo “hiper” no sentido de intensificar a vivência
contemporânea foi acolhida neste trabalho, através da apropriação da ideia de excesso atrelada ao
termo que passa a compor outras palavras.
17
11
Para aprofundar esta discussão, ver Illouz (1997) que trata especificamente sobre a utopia do amor
romântico enquanto prática de consumo na cultura capitalista.
18
relações românticas não apenas são organizadas no mercado, como se tornam, elas
próprias, mercadorias produzidas numa linha de montagem, a serem consumidas
com rapidez, eficiência, por um custo baixo e em grande abundância.” (ILLOUZ,
2011, p. 130-131)
Realizei pesquisa de campo e o material coletado permitiu analisar os sites de
namoro a partir de dois aspectos principais: a visão do usuário e de seus criadores.
Os relatos dos usuários, presentes em histórias disponibilizadas publicamente nos
sites, possibilitam apreender sua experiência, interação com outros integrantes que
compartilham o mesmo ambiente e prática comunicacional, além de novas práticas
relacionais no âmbito amoroso. A leitura cuidadosa de material explicativo do site,
homepages e propagandas contribui com informações sobre funcionalidade,
objetivos, propostas, recursos oferecidos e, principalmente, a intencionalidade e
estratégias de marketing de seus projetistas. O estudo viabiliza reflexões críticas a
respeito do mercado de namoro on-line e as implicações atuais deste nos
relacionamentos, considerando aspectos referentes a consumo e práticas
publicitárias.
A análise da publicidade de sites de namoro foi inspirada pela visão,
encontrada em Everardo Rocha (1995) da publicidade como suporte do sistema
simbólico propagado pela indústria cultural, atuando como “força centrípeta” em
relação às mensagens veiculadas pela mídia.
Se a vida cotidiana for entendida como a água onde lançamos o objeto amor
em sua relação com a publicidade, que desenhos serão formados? Como afetarão
os movimentos da vida contemporânea? Tendo como base material disponibilizado
para o público nos sites de encontro, identificam-se estratégias para captação de
novos integrantes, sendo sua principal finalidade torná-los assinantes. As estratégias
procuram envolvê-los afetivamente em histórias vivenciadas por outros clientes. A
publicidade ganha, desse modo, fundamental importância na análise das práticas de
19
12
Isso acontece em alguns trabalhos, dentre os quais destaco o de Maria de Fátima Severiano
(2007).
20
13
O termo “montagem” foi utilizado pelo Prof. Dr. Máximo Canevacci, na disciplina Etnografia Digital,
designando a construção metodológica elaborada para uma pesquisa, como se fosse uma espécie
de quebra cabeça montado pelo pesquisador com o material coletado em campo. Neste texto, a
palavra é utilizada pensando não apenas numa construção metodológica possível, mas nas
diferentes composições de imagem que podem vir a ser observadas num caleidoscópio.
24
14
Recentemente, em outubro de 2015, a pesquisadora realizou um workshop sobre Etnografia Virtual
compartilhando suas experiências na Universidade Federal Fluminense.
15
Como exemplo de uma abordagem etnográfica também relacionada à Internet, aponto para a
pesquisa de Daniel Miller e Don Slater (2003). Estudaram como os membros de uma cultura
específica, Trindade, tentam sentir-se à vontade num ambiente de comunicação em transformação,
tentando torna-lo a sua própria imagem. Acreditam que temos que tratar a mídia Internet como
continuidade da vida social, diferente de estudos que veem a Internet um mundo à parte.
Consideram que o espaço virtual é uma parte importante da vida cotidiana.
25
16
Penfriends, ou penpals, era como chamávamos os correspondentes.
17
A agência a que me refiro é a IYS – International Youth Service, na Finlândia. Preenchíamos uma
relação com os países de nossa preferência, pagávamos uma taxa e enviávamos para a IYS que
retornava com a indicação para iniciarmos a troca de correspondência.
28
21
Rodrigues (2000, p. 85) mostra que o termo mídia é usado para designar “técnicas utilizadas para a
percepção da realidade e para transmitir mensagens e informações à distância, tais como a
imprensa escrita, o cinema, o cartaz, o telefone, a rádio, a televisão, a Internet, a telemática.”
22
O aumento contínuo destes serviços pode ser acompanhado através de várias reportagens da
mídia impressa e digital que mostram como, por exemplo: “Amor nos tempos do :)KKK@<3:(”
(2013); “Conto de fadas virtual” (2011); “Amor nos tempos das redes sociais” (2011); “Mulher
solteira procura” (2011); “Minha vida amorosa na Internet” (2009), “Por que milhões de brasileiros
resolveram buscar um romance pela Internet” (2002) ou “Love at first site” (2002).
23
Filmes como Guerra é Guerra (2012) (This Means War); Procura-se um amor que goste de
cachorro (2005) (Must Love Dogs); Paixão De Aluguel (2005) (The Perfect Man); Mensagem
Instantânea (2005) (Christmas in Boston); Mensagem para você (1998) (You‟ve Got Mail). O filme
argentino Medianeras – Buenos Aires na Era do Amor Virtual (2011) apresenta o bate-papo virtual
entre um casal que não se conhece presencialmente, apesar de viverem no mesmo bairro. Ver links
de acesso e QR codes dos trailers nas Referências Bibliográficas. O tema sites de namoro também
já é frequente em novelas populares e seriados recentes.
32
24
QR code é uma imagem codificada, como um código de barras, que funciona de link de acesso
direto a uma determina página na Internet. Tem sido muito usado em propaganda, pois oferece a
possibilidade de uma resposta rápida às pessoas - a “quick response” que dá origem a sigla QR. A
leitura do código é feita a partir do escaneamento da imagem utilizando um programa de QR code
Reader, que pode ser baixado em celulares.
25
Ver listagem de sites consultados ao longo da pesquisa no capítulo 6, em Referências
Bibliográficas, Fontes Primárias, subitem Sites. Tentei respeitar a maneira como o nome dos sites
são redigidos, mesmo quando utilizam letras minúsculas e juntam as palavras para compor o
endereço do site.
33
26
Informações sobre as marcas associadas à IAC estão disponíveis em: <http://iac.com/brands>.
Acesso em 13 set. 2015.
34
27
Foram publicados vários estudos sobre o tema em desenvolvimento a partir de material de campo.
Ver: Paula Oliveira (2011, 2010), Oliveira e Ana Beatriz Andrade (2013, 2012, 2011), Oliveira e Ana
Maria Magalhães (2010) e Oliveira, Magalhães e Andrade (2012, 2014).
28
As histórias não possuem indicação de data em que foram escritas.
37
32
As revistas foram fornecidas por uma leitora assídua e referem-se aos seguintes períodos de 2014
e 2015: 2 a 8/03; 1 a 7/06; 8 a 14/06; 15 a 21/06; 29/06 a 5/07; 6 a 12/07; 24 a 30/08; 28/09 a 4/10;
5 a 11/10; 12 a 18/10; 19 a 25/10; 26/10 a 1/11; 16 a 22/11; 9 a 15/11; 30/11 a 6/12; 28/12 a 3/01; 4
a 10/01.
39
33
Nas revistas analisadas, encontramos os seguintes temas: 1ª Mão; Nacionais; Notícia;
Internacionais; Lá Fora; Entrevista; Fala-se de; Surpresa; Notícia; Revelação; Polêmica; Atual;
Televisão; Bastidores; Gente; Por cá; Cinema; Mais notícias; Família; Intimidade; Casal; Sexo;
Prazer; Diário ela; Diário ele; Estilos; Beleza; Saúde e bem-estar; Lazer; Presentes; Dia-a-dia;
Medicina; Bem-estar; Viver melhor; Em forma; Está in; Em foco; Signos; Bebé do ano; Música;
Moda; Em breve; Apanhados; Bricolage; SMS; Novidade; Drama; Programação da TV; Publicidade;
Passatempo; Histórias; Tragédia; Poupança; Novidade; Especial; Culinária; Decoração; Astros;
Gravações; Doença; Tema de capa; Última hora.
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Brasil; Real; Futebol; Voice Portugal; Casa dos Segredos; O poder do amor; Master Chef; Rising
Star; Mulheres; Beijo do escorpião; Os nossos dias; Em família; Sol de inverno; Belmonte; Amor à
vida; A guerreira; Sangue bom; Mar salgado; Lado a lado; Jardins proibidos; Água de mar; Império;
Jardins proibidos.
40
A rede é a world wide web, de acordo com Rafael Cardoso (2012, p. 207),
considerada por seus usuários “um sistema de documentos interligados, o qual
exige que cada documento tome alguma configuração visual e assuma uma
aparência inteligível”. Para o autor, são as interfaces gráficas que dão sustentação à
rede, associando-se este fenômeno à informática, mas também ao design. Um site,
segundo sugere, deve ser pensado como “conjunto de sucessão de páginas”, “um
sistema de navegação” que opera com uma página de abertura, chamada
homepage, além de “possibilidades secundárias de entrada”, “múltiplos caminhos de
navegação principalmente por meio de hyperlinks, levando a um desdobramento da
leitura em percursos individualizados; sensação de movimento em profundidade
direcional, mas sem ser em direção única” (CARDOSO, 2012, p. 209-212). Os
recursos de um site comparam-se aos que fazem parte da configuração visual e
espacial do jornal. O autor explica: “A diferença principal entre o jornal e o site, em
termos de navegação visual, é que o primeiro objeto precisa ser manipulado
fisicamente – dobrado, virado, amassado – para se conseguir realizar o percurso
que no segundo se perfaz apontando e clicando.” (CARDOSO, 2012, p. 212)
Design, como campo em evolução, para Cardoso (2012), em sua maior parte
“é uma área projetual que atua na conformação da materialidade – em especial dos
artefatos móveis”. Mais ainda, acrescenta ele, “o design é uma área informacional
que influi na valoração das experiências” de pessoas com objetos. “Nesse sentido”,
continua, “abre-se para outras áreas de atribuição de valor abstrato e subjetivo,
como a publicidade, marketing e moda, tangenciando cada uma delas em várias
frentes.” (CARDOSO, 2012, p. 236) O autor considera que a importância do design
35
Tradução minha do original: “Le fait de dire que l'amour est un complexe necessite un regard
polyoculaire.” (MORIN, 1992)
41
no mundo atual está “em sua capacidade de construir pontes”, relacionando-se com
diferentes áreas, dialogando com outros saberes.
Cardoso (2012) ressalta que a partir da visão de quem navega pela rede, os
sinais ou indícios visuais, constituídos por linguagens e materializados em textos e
imagens, facilitadores da navegação, seriam interfaces. Uma interface é descrita por
Rodrigues (2000, p. 72) como: “Dispositivo técnico que permite uma relação
dialógica de um sistema técnico com o seu utilizador, permitindo, assim, a sua
convivialidade e interactividade.” São as interfaces gráficas, segundo Cardoso
(2012), que dão suporte visual à Internet por meio da configuração visual de
documentos que compõem a rede. Ana Maria Moraes e José Guilherme Santa Rosa
(2012) enfatizam a importância do designer valorizar a experiência do usuário ao
elaborar o projeto de uma interface, recomendando envolver sua participação no
processo. Os autores preocupam-se com questões culturais que interferem
frequentemente na usabilidade, como por exemplo: o significado de ícones de
navegação, cores de fundo, sons utilizados nos sites, etc. Por isso, neste trabalho, o
estudo do design de homepages de sites de relacionamento justifica-se dentro da
proposta de “leitura caleidoscópica”, que se propõe a incluir aspectos que ofereçam
abertura ao campo e enriqueçam a pesquisa, inclusive os que tangenciam ou dizem
respeito a outras áreas do conhecimento.
As imagens reunidas, associadas ao discurso dos sites, possibilitam cotejar
diferentes sites de namoro. Para entender melhor as estratégias utilizadas pelos
sites de encontro, levantei informações relacionadas, principalmente, à percepção
visual dos observadores que visitam as páginas ou se deparam com publicidades
dos sites. Donis A. Dondis (1999) aborda a linguagem visual e a existência do
“alfabetismo visual”, isto é, a capacidade compartilhada culturalmente de apreender
e atribuir significados a informações visuais. Seria possível, nesse sentido,
alfabetizar visualmente as pessoas para aumentar sua capacidade de criar e receber
mensagens visuais, levando-as a conhecer fatores capazes de favorecer a
42
36
Hoffman (2000) aborda em seu livro o tema inteligência visual, apontando vários estudos sobre a
visão. Afirma que a inteligência visual interage com a inteligência racional e emocional,
necessitando ser exercitada.
37
Sobre a criatividade enquanto potencial humano, ver: Ostrower (1989).
43
Spink (2004)38 e título em Vanderléa Franca (2003), porém sem maiores explicações
sobre suas escolhas. O Caleidoscópio Digital de Franca (2003) parece remeter à
Internet e sua multiplicidade de páginas e links, conteúdos, imagens. Jean
Baudrillard (1995, p. 18) fala sobre o drugstore que compendia tudo “de maneira
caleidoscópica”, conduzindo seus leitores a imaginarem inúmeros produtos, com
diferentes embalagens e cores organizadas nas prateleiras, de forma atraente, para
seduzir o olhar da clientela. Rodrigues (1985, p. 93), comentando sobre a lógica do
artesanato urbano, refere-se ao “fascínio alucinante” e à “sedução” que exerce,
“numa espécie de caleidoscópio imaginário”, como se a imaginação pudesse
funcionar da mesma forma que um caleidoscópio, produzindo imagens alucinantes,
capazes de exercer fascínio e seduzir o observador. Refletindo especificamente
sobre a cronologia na história, Bauman (2008, p. 48), cita Kracauer: “[...] a história
não é em absoluto um processo, mas uma miscelânea de mudanças
caleidoscópicas – algo como nuvens que se juntam e se dispersam de maneira
aleatória... Não existe um fluxo do tempo.” Para Kracauer, ainda segundo Bauman
(2008), não existia uma continuidade no tempo, o que tentou explicar através da
aleatoriedade da formação de imagens no caleidoscópio. Mais à frente, em seu livro,
Bauman (2008) fala do “ambiente caleidoscopicamente instável” no qual já não há
lugar para projetos de longo prazo. Tal ambiente situa-se no que o autor denomina
sociedade dos consumidores ou sociedade líquido-moderna. Em meu trabalho, a
associação com o caleidoscópio será empregada tendo como objetivo principal a
definição da metodologia, que desenvolvi a partir da percepção do modo de
funcionamento do brinquedo caleidoscópio.
Pensando em termos metodológicos, a dinâmica perceptual implica numa
abertura ao campo de estudo, limitada apenas pela criatividade do pesquisador que
ao perceber, também confere significado as coisas. “Na decodificação da
mensagem”, de acordo com Canevacci (2004, p. 37), “existe sempre um lado
criativo, um critério subjetivo. Ela é interpretada segundo a formação particular do
pesquisador, sua biografia intelectual e política, seus gostos e emoções, ou segundo
o acaso.”
Para esclarecer a maneira como os contextos focalizados pela atenção são
percebidos, utilizo a descrição de percepção encontrada em Ostrower (1998):
38
O termo é usado no livro Linguagem e produção de sentidos no cotidiano de Spink (2004).
51
.
55
Do objeto central foi necessário desviar o foco para objetos circundantes, que
atravessam o tema principal, determinando, assim, outras leituras. O foco e o des-
foco fizeram parte do movimento que compõe a tese, isto é, ao mesmo tempo em
que se focaliza o amor publicizado, é preciso des-focalizar desse objeto para
distinguir outros, desdobrando-se as possibilidades infinitas de configurações e
interpretações.
57
TESE
Amor Publicizado
Temas Áreas
Amor Marketing
Tecnologias Publicidade
Relacionamentos Comunicação
Hipermodernidade Sociologia
Subjetividade Psicologia
Consumo Antropologia
proposto, sabe-se que outros objetos ou disciplinas podem não estar listadas,
apesar de terem sido abordados.
Capítulo 3 Capítulo 4
Práticas Amorosas Sites de Namoro
Temas Áreas Temas Áreas
Relacionamentos Sociologia Tecnologias Comunicação
Amor História Consumo Sociologia
Tecnologias Psicologia Mídia Publicidade
Consumo Publicidade Subjetividade Antropologia
Gênero Antropologia Amor Design
Subjetividade Comunicação Relacionamentos Psicologia
Para refletir sobre o momento do contato inicial entre casais, capaz de definir
a escolha do parceiro para uma futura união, pesquisei os primeiros movimentos
para atrair candidatos em encontros presenciais39, as formas de mediação, além de
aspectos que afetam a escolha do parceiro. Destaquei o “flerte”, a “paquera”, a
“azaração”, como formas de aproximar-se, conhecer, selecionar o pretendente para
iniciar namoro, “ficar com” ou mesmo casar-se. As estratégias apresentadas variam
em função do período histórico, pois estão atreladas a conceitos, valores e atitudes
de uma determinada época. Neste capítulo abordo as implicações das tecnologias,
principalmente, dos meios de comunicação e informação, no comportamento
amoroso, enquanto mediadoras de relacionamentos, criando novos espaços e
mecanismos relacionais. Estudar sites de namoro na hipermodernidade levou a
estabelecer paralelos entre as práticas de aproximação e sedução identificadas nos
sites e as utilizadas em encontros presenciais. Por isso, os dois temas são levados
em consideração. O espaço onde ocorre a interação, os recursos disponíveis, assim
como os mediadores da relação, mostram-se importantes para a análise
desenvolvida. Foram focalizadas, ainda, mudanças nas interações sociais, a partir
da utilização das novas tecnologias digitais como meio de comunicação,
identificadas especialmente entre os jovens. Tais mudanças, no entanto, não se
restringem a eles, que apenas mostram-se mais evidentes por serem público-alvo
inicial, além de principais usuários, de várias novidades tecnológicas40.
39
Parte do material que compõe este capítulo, baseia-se em artigo desenvolvido para publicação na
revista Mnemosine. Ver Oliveira (2011).
40
John Palfrey e Urs Gasser (2008) falam sobre os “nativos digitais”, nascidos após 1980, quando as
tecnologias sociais digitais se tornaram on-line. Segundo os autores, todos possuem acesso às
60
tecnologias e sabem utilizá-las. Vivem conectados e não distinguem o on-line do off-line. Compara a
relação dos nativos com a tecnologia e os “imigrantes digitais”, nascidos antes deste ano que foram
obrigados a adaptar-se a esta. Don Tapscott (2010), também foca esta geração de jovens, que
agora já amadureceu e atua transformando o mundo, pois apresenta maior facilidade para lidar com
a tecnologia do que as gerações anteriores.
41
Lipovetsky (2000) fala sobre papéis “sedutivos”, as diferenças “sedutivas” entre homens e
mulheres, referindo-se a formas de conquista amorosa, da iniciativa às estratégias utilizadas. Neste
sentido, emprego as palavras para falar sobre formas de seduzir, conquistar o parceiro.
61
42
Tradução minha do original: “Yet each of us is influenced by certain experiences more than others,
creating our own unique tapestry of requirements for loving.” (FISHER, 2009, p. 158)
62
43
O trabalho de Dan Slater (2004) fala sobre relacionamentos de forma genérica, mas parece
concentrar-se principalmente, na cultura americana, sobre a qual dá alguns exemplos mais
específicos.
44
Azevedo (1986) caracteriza as fases, técnicas, táticas, normas, valores e funções do namoro
tradicional antigo, desde seus antecedentes em Portugal e no Brasil colonial, acompanhando as
mudanças advindas da modernização urbana e transportes. Desenvolveu o tema utilizando
abordagem comparativa, transcultural. Fez também uso de crônicas, romances e contos brasileiros
como fontes para sua análise.
63
A decisão do casamento passou a ser iniciativa do casal e não dos pais. Permanecia
importante, porém, a aceitação da família em relação à escolha do cônjuge. O
critério de seleção dos parceiros continuava em função dos papéis que
desempenhariam na nova família: marido, mulher, pai, mãe, chefe de família, dona
de casa.
O casamento, segundo Georg Simmel (2006), possuía originalmente uma
finalidade apenas social, isto é, seria voltado à procriação. Os seres humanos foram
levados a estabelecer alianças duráveis, através de um casamento sólido, com
obrigações sociais definidas, principalmente, para que os filhos recebessem melhor
assistência. Com o casamento ocorre uma divisão de trabalho entre homens e
mulheres, resultando em benefícios para seus descendentes. A partir de sua
associação com o amor, afirma o autor, o casamento passou a ter como principal
objetivo a satisfação pessoal.
A literatura romântica do século XIX, conforme explica Del Priore (2005),
associava a escolha de cônjuges à felicidade, determinando “novos códigos
amorosos”, aos poucos assimilados pela sociedade. Reforçando essa ideia, Maria
Rita Kehl (1998) afirma que o amor e o casamento burguês se devem à literatura,
que dava voz às experiências femininas.
No casamento, comenta Kehl (1998, p. 63), “a mulher deve ser tão livre
quanto o homem na escolha do cônjuge, o que, de acordo com os ideais românticos,
deve se basear antes de tudo no amor”. Os ideais românticos, invadiam o imaginário
feminino, mostrando o casamento, fruto do amor, como fim desejado de felicidade e
realização pessoal para a mulher, que assumia os papéis de esposa, mãe e dona de
casa.
45
O trecho comentado refere-se a “Cultura Feminina”, texto escrito pelo autor em 1902. Simmel viveu
de 1858 a 1920 e escrevia sobre fenômenos percebidos em sua época.
67
No século XX, para Azevedo (1986), o namoro já havia sido deslocado das
janelas para as ruas, ganhando visibilidade nas telas de cinema e revistas, que
revelavam novos comportamentos amorosos e afetavam o modo como as pessoas
se beijavam, acariciavam, como lidavam com namoro e casamento, isto é, com suas
escolhas. O amor romântico fazia-se acompanhar do sentimento de liberdade na
escolha do parceiro, em especial para as mulheres, que antes eram submissas às
imposições paternas. Elas ganharam poder e autonomia para escolher e conquistar,
a partir de seus interesses e desejos pessoais.
Diferentes tipos de amor, com determinantes próprios, são apontados por
Anthony Giddens (1993) nas sociedades modernas e caracterizam o relacionamento
entre as pessoas que compartilham este sentimento. O amor romântico implica a
escolha de um único parceiro, a formação de um laço afetivo mais forte e duradouro;
o amor confluente reforça os interesses individuais dentro da relação, baseando-se
na confiança mútua, podendo haver participação de outros parceiros no
relacionamento; a sexualidade plástica e o relacionamento puro estão mais voltados
para a satisfação sexual, a liberdade de compromisso em relação ao outro, a falta de
um maior comprometimento emocional entre os parceiros. Cada uma dessas
modalidades de amor ganha um nome em função de características específicas,
principalmente, dos aspectos relacionados aos motivos de se buscar um parceiro:
intenções, interesses, a procura de vínculos ou compromisso, o sexo, etc. O amor
que apresento nesta tese, vivido na hipermodernidade, diferencia-se destes
enumerados pelo autor, e levou-me a refletir sobre esses motivos, para melhor
compreendê-lo.
Na experiência de enamoramento é possível perceber o movimento que vai
da atração despertada pela troca de olhares às ações que a acompanham. Mesmo
numa atração recíproca, este momento único é vivenciado de maneiras distintas por
seus atores. A própria evocação da memória de uma experiência compartilhada
pode ser percebida de modo diferente por duas pessoas, apesar de terem
experimentado a mesma situação. Cada sujeito determinará se está ou não
interessado por certa pessoa, dentro de uma circunstância específica. Seu
68
46
Giddens (1993) fala do papel da sexualidade na cultura moderna, a partir de grandes mudanças
das últimas décadas. Para ele, as mulheres desempenham papel mais importante na transformação
da intimidade.
70
mulheres aspiram. O recurso à “beleza”, como diz a autora, seria estimulado como
“alucinação” necessária e deliberada.
47
Os movimentos citados foram identificados por Perrot (2005) na França, após a Primeira Guerra
Mundial e nos Estados Unidos, após a Segunda Guerra Mundial.
72
não lhes pertenciam, eram propriedade de seus maridos que deveriam possuí-lo
com “potência viril” para depois serem absorvidos por seus filhos.
Após a Primeira Guerra Mundial, de acordo com Giddens (1993), o tamanho
das famílias foi alterado com o planejamento familiar, que junto a modernos métodos
de contracepção viabilizou maior controle da natalidade. O domínio da sexualidade
feminina passa a ser individual. A mulher, liberta de exigências reprodutivas ou do
risco de morte48, passou dominar sua sexualidade. Dessa forma, é possível
compreender como o advento da pílula anticoncepcional, na década de 1960,
contribuiu com mudanças nos relacionamentos entre homens e mulheres, permitindo
a dissociação entre reprodução e relações sexuais. O controle da reprodução, antes
considerada função e objetivo do casamento, determinou um novo significado para o
casamento e relações sexuais. Estas poderiam ocorrer independentes da existência
de um compromisso entre os parceiros. O prazer sexual possibilitado às mulheres,
desligado do casamento e sem receio da gravidez como consequência, auxiliou na
liberação de seu papel submisso nas relações amorosas. Surgiram, assim, novas
maneiras de ser e agir em sociedade. As mulheres podiam, portanto, assumir uma
postura mais ativa em suas escolhas e conquistas, que certamente afetava seu
relacionamento com os homens. Essa liberdade, contudo, foi refreada através da
pornografia e do sadomasoquismo, que associaram culpa, vergonha, e dor à
experiência sexual da mulher:
48
Giddens (1993) fala sobre a associação entre gravidez e a grande mortalidade de mulheres no
parto.
73
era visto como aceitável pelas mulheres. O “amor verdadeiro” justificava o intercurso
sexual. O amor romântico era associado à intimidade emocional e ao sexo,
vivenciado na privacidade do casal, longe dos espaços públicos, diferenciando-se do
período em que a comunidade monitorava o processo de seleção dos casais. A
decisão na escolha do parceiro passou a ser dos jovens, cada vez mais livres de um
“controle social”. “Ser livre”, para Shorter (1977), estava relacionado ao
desenvolvimento da personalidade, ao reconhecimento de suas ambições pessoais,
comportamento em público, mas também às escolhas amorosas privadas. O desejo
de liberdade passava pela satisfação sexual.
Em suas relações cotidianas na atualidade, homens e mulheres
experimentam novos papéis, explicados em Mirian Goldenberg (2000) com
referência à maior presença da mulher no mercado de trabalho, necessidades
econômicas, aumento do consumo, movimento feminista, diminuição da
fecundidade, ingresso feminino nas universidades. Teria surgido uma “nova mulher”,
diferente das mulheres passivas da modernidade que se apoiavam no casamento e
na família como fundamento de suas vidas.
Fala-se de uma mulher que não se contenta mais em ser a “rainha do lar” e
quer ser a “dona do mundo”, uma mulher batalhadora, que pode ser uma
profissional exemplar, uma esposa dedicada, uma mãe cuidadosa e uma
dona de casa exigente, uma mulher que de “frágil” não tem nada e que “não
foge à luta”. (RAMOS, 2000, p. 56)
A nova mulher é descrita por Marcelo Ramos (2000, p. 51)49 como “produto
do movimento das mulheres por igualdade de oportunidades de trabalho e maior
liberação sexual”, participa da vida pública e do mercado de trabalho. Tendo
conquistado independência financeira assume iniciativas e a responsabilidade por
seus atos. Essa mulher, segundo o autor, ocupa também a esfera do lar, como
dona-de-casa, esposa e mãe dedicada.
Na análise da aproximação entre sexos, Ramos (2000) mostra que as
mulheres estão mais ousadas, tomam a iniciativa em suas conquistas, assumem
postura ativa neste jogo, transferindo aos homens o papel de “caça”. A postura
feminina frente à conquista, porém, nem sempre deixa os homens confortáveis,
causando-lhes “mal-estar”. O autor cita os “novos Don Juan”, que seriam “uma
49
Ramos (2000), em seu trabalho, questiona a “crise da masculinidade”, por meio de imagens
cinematográficas e da grande imprensa, a partir das quais busca pensar as representações do
masculino nos dias atuais.
74
nossa volta, mas seu reflexo e sua fumaça interferem na nossa liberdade de
sermos nós mesmos sob o aspecto sexual. (WOLF, 1992, p. 190)
50
A pesquisa desenvolvida por Almeida e Tracy (2003) baseou-se em experiência de dois anos com
grupos jovens da classe média do Rio de Janeiro, frequentadores da night que possuíam entre 15 e
19 anos.
51
Almeida e Tracy (2003, p. 247) definem azaração como “Paquera, aproximação, troca de olhares e
mudança de comportamento com o intuito de ficar”.
52
Chaves (1993) partiu de pesquisa de campo, realizada no Mestrado em Psicologia na Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro. Utilizou como fonte de análise a observação participante e
entrevistas com jovens de classe média e média-alta da zona sul do Rio de Janeiro.
77
55
Em pesquisa realizada sobre emoticons por Daantje Derks, Arjan E. R. Bos e Jasper Von
Grumbkow (2008) foram observados motivos sociais para o uso de emoticons. São estes: a
expressão de emoções, humor ou ironia; o reforço da mensagem ou de um apontamento; a
tentativa de manipulação ou regulação da interação. Levantaram aspectos que influenciam o uso
relacionados a importância do parceiro com quem se interage e do contexto social no qual ocorre a
interação.
56
Título inspirado no capítulo “Afectos virtuais: em busca de conexão” de Pais (2006).
81
57
Lipovetsky (2007) fala sobre o surgimento de uma nova fase do capitalismo do consumo na qual
um novo “ismo” seria acrescentado ao “consumismo”, a que chamou de “sociedade do
hiperconsumo”, localizada no fim dos anos 70.
82
58
A expressão usada por Lardellier (s/d) é atribuída a D. Wolton.
83
O livro de Honoré (2006, p. 310) fala sobre o Movimento Devagar59 que “tem
seu próprio ritmo”. O importante no Devagar é a busca o equilíbrio, através do
controle do ritmo de vida. Cada pessoa deveria decidir seu próprio ritmo de acordo
com o contexto.
Neste livro, Depressa e Devagar não se limitam a definir uma alternativa.
Remetem também a maneiras de ser, ou filosofias de vida. Depressa é
agitado, controlador, agressivo, apressado, analítico, estressado, superficial,
impaciente, ativo, quantidade-mais-que-qualidade. Devagar é o oposto:
calmo, cuidadoso, receptivo, tranquilo, intuitivo, sereno, paciente, reflexivo,
qualidade-mais-que-quantidade. É uma questão de estabelecer ligações
reais e significativas – com pessoas, a cultura, o trabalho, a comida, tudo. O
paradoxo é que Devagar nem sempre quer dizer devagar. Como veremos,
desempenhar uma tarefa Devagar frequentemente produz resultados mais
rápidos. Também é possível fazer as coisas com rapidez, mas mantendo
Devagar o estado de espírito. (HONORÉ, 2006, p. 26)
59
São comentados outros movimentos e grupos dedicados à necessidade de desaceleração e busca
do equilíbrio, do “tempo giusto”: Organização Mundial da Soneca; Associação Portuguesa dos
Amigos da Sesta; movimento antitelevisão; Rede de TVDesligada; Slow Cities; Slow Sex; Slow
Food. Eles discordam da noção moderna de que o rápido é melhor. Honoré (2006) sugere várias
atividades que podem contribuir para desacelerar e encontrar o equilíbrio necessário à saúde
cotidiana, como: artes, música, jardinagem, leitura, tricô, meditação, ioga, pintura, caminhadas e etc.
“Tempo giusto” significa o ritmo próprio de cada um para realizar as coisas, depressa quando se
tem pressa, devagar se quiser ir devagar.
86
60
Ver vídeo do Meetic comentado: SPOT MEETIC Francia (2011). Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=MxsOlK8z3cI>. O QR code pode ser visto nas Referências
Bibliográficas.
61
O site “howaboutwe” faz propaganda do livro, que é vendido com promoção de três meses gratuitos
de inscrição para novos usuários. Na capa do livro está a seguinte informação: “From the experts at
“howaboutwe”.
62
Borboletas, neste contexto, refere-se à sensação de nervosismo sentida como movimento no
estômago, como se borboletas voassem dentro deste.
63
A tradução baseia-se no trecho original: “First dates are scary, and they don‟t always turn out well,
but they‟re always, always laced with possibility. Every first date you go on could be your last for a
while, really, so enjoy the excitement, the butterflies, the hope, and the unknown. It‟s something
you‟ll miss once you‟re happily settled.” (ATIK, p. 20, grifo da autora)
87
deve ser feito rapidamente, o que sugere que o tempo dedicado ao relacionamento é
limitado, desde o princípio, pela ansiedade em passar ao próximo candidato. A
autora diz que é preciso ser esperto e diversificar as opções ao máximo, indo a
festas, flertando em bares, cafés, além de elaborar um bom perfil no site, o que
ajudará a pensar no que busca e a atrair mais pretendentes.64 Afirma que em algum
lugar há alguém maravilhoso para você, talvez só precise passar por “muitos
primeiros encontros” para encontra-lo.65 Essa ideia apresenta-se como algo natural e
lógico, dentro do objetivo de encontro com a pessoa ideal. Ao mesmo tempo,
reforça-se a experimentação contínua como estratégica na prática amorosa, tanto
nos sites, quanto fora deles. Mostra-se como usar o site de forma vantajosa, isto é,
para conhecer várias pessoas que representariam aumento quantitativo de
probabilidades, embora sejam oferecidas orientações de como agir na vida off-line
em encontros cotidianos.
Produto da sociedade de hiperconsumo, o indivíduo hipermoderno, pode ter
seu comportamento caracterizado pelo excesso, pelo “sempre mais”, tanto em
relação ao consumo quanto ao prazer, como mostra Aubert (s/d). Vive também
excessivas pressões, solicitações de desempenho em prazos cada vez mais
reduzidos. Os tipos de excesso presentes na vida dos indivíduos determinam uma
dimensão em relação a si e à sua existência, que emerge como característica da
hipermodernidade. Em sua pesquisa sobre a urgência e o tempo, a autora percebeu
que a aceleração da vida se deve à fuga da morte, que leva a uma corrida
desenfreada, evitando pensar no sentido da vida e mergulhar na angústia da morte.
As tecnologias parecem contribuir com essa atitude do hiperindivíduo, que pode
entreter-se no ambiente virtual e fugir às suas angústias, sejam estas da morte,
solidão ou silêncio. A proposta dos sites de namoro de muitos encontros,
experimentação contínua, mostra-se vinculada ao excesso de entretenimento.
64
Destaco aqui parte do trecho original no qual me baseio: “Honestly, why risk not meeting someone
great? Any smart dater will diversify her options as best she can. So continue to go to parties,
continue to flirt at bars, continue to make small talk at cafés, and agree to get fixed up by your
friends. But set up a profile, too. Because online dating is not only an effective way of meeting
people, it´s also a good way to clarify what you‟re looking for, and answering the questions on the
profile is a hepful exercise in self-expression.” (ATIK, 2013, p. 79)
65
Citando o trecho original: “There‟s someone great out there for you. You just might have to go on
lots of first dates to find him.” (ATIK, 20013, p. 103)
88
66
Turkle (2012) apresenta o tema de seu livro em uma palestra proferida no programa TEDTalks em
2012. Disponível em: <http://www.ted.com/talks/sherry_turkle_alone_together.html>. Acesso em 12
jun. 2012. Ver QR code de acesso.
67
Turkle (2012) utiliza a expressão, em inglês: “always-on culture”.
89
traduzida como “chaplinesca”. Divergindo de Zizek (2008), Pierre Lévy (2011, p. 11)
propõe a pensar a cibercultura68 de um jeito “otimista”, reconhecendo que “o
crescimento do ciberespaço69 resulta de um movimento internacional de jovens
ávidos para experimentar, coletivamente, formas de comunicação diferentes
daquelas que as mídias clássicas nos propõem”; e que “estamos vivendo a abertura
de um novo espaço de comunicação”. Ainda para esse autor, “cabe apenas a nós
explorar as potencialidades mais positivas deste espaço nos planos econômico,
político, cultural e humano”. Considera que, a metáfora do “impacto”, não é
adequada para falar das tecnologias, isto é, a ideia da tecnologia como um projétil
chocando-se contra a cultura, ou a sociedade, como “alvo vivo”. Não há como
separar o ser humano dos objetos técnicos que cria.
68
Lévy (2011, p. 17) explica que o neologismo cibercultura refere-se ao “conjunto de técnicas
(materiais e intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores que se
desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço.”
69
O ciberespaço, também chamado de “rede” por Lévy (2011, p. 17), é definido como “novo meio de
comunicação que surge da interconexão mundial dos computadores. O termo especifica não
apenas a infraestrutura material da comunicação digital, mas também o universo oceânico de
informações que ela abriga, assim como os seres humanos que navegam e alimentam o universo.”
91
A rede criou a Teia – teia de tela e teia de aranha a uma só vez –, cujas
ramificações se estendem aos mais extremos pontos do planeta,
interconectando os homens uns aos outros, permitindo-lhes conversar além
dos continentes, mostrar-se e ver-se pelos blogs e pela webcam, criar,
vender, trocar, até mesmo inventar para si uma “second life”.
(LIPOVETSKY; SERROY, 2011, p. 76, grifo dos autores)
Para eles: “O Homo sapiens tornou-se Homo ecranis: daí em diante ele
nasce, vive, trabalha, ama, se diverte, viaja, envelhece e morre acompanhado, em
todos os lugares por onde passa, por telas [...]” (LIPOVETSKY; SERROY, 2011, p.
77, grifo dos autores).
A importância das tecnologias digitais para a vida social é destacada em
Recuero (2011), segundo a qual, estas determinam alterações em nosso cotidiano
que podem ser analisadas de diferentes perspectivas, algumas consideradas
“otimistas”, outras “pessimistas”, mas que partem de um pressuposto frágil, de um
“determinismo tecnológico”, originado na ideia de que “a tecnologia define a
sociedade”. Fragoso (apud RECUERO, 2011) alerta sobre esta escolha:
70
As “tecnologias do ciberespaço” são destacadas por Lemos (2010) como: redes informáticas,
realidade virtual, multimídia.
71
Lemos (2010, p. 89) faz uma distinção entre sociabilidade e socialidade. Utiliza a designação
“socialidade” a partir da leitura de Michel Maffesoli, para referir-se a sociedade contemporânea.
Considera que a socialidade corresponde a um “conjunto de práticas quotidianas que escapam ao
controle social”, constituindo a vida social a partir da “multiplicidade de experiências coletivas”
diárias imaginárias, passionais, eróticas e violentas. Para o autor, a cibercultura seria “a socialidade
como prática da tecnologia”.
93
Uma pessoa pode criar perfis distintos quando participa de cada rede social,
jogos interativos ou sites de relacionamento. Desta maneira, pode ser várias,
deslocando-se entre essas identidades na medida em que percorre o espaço virtual,
sem as limitações físicas da realidade off-line. Apesar de tal experimentação ocorrer
no ciberespaço, pode vir a afetar a vida fora da tela.
A cultura da simulação, para Turkle (1997), altera nossa compreensão acerca
da mente e do corpo, afetando inclusive as teorizações acerca da identidade.
Anteriormente, considerava-se a identidade como unidade, sólida. A partir da
vivência de identidades virtuais, com a criação de diferentes personagens em
mundos fictícios e redes sociais, a autora afirma que seria possível pensarmos numa
identidade fluida, com possibilidade de experimentar diversos aspectos do eu,
brincar com outras formas de ser, sentir ou agir no ciberespaço. O espaço virtual
95
poderia, então, ser usado para o crescimento pessoal, na medida em que permitiria
a conscientização dos sujeitos sobre aspectos de seu próprio eu. As experiências
virtuais seriam internalizadas e trariam, para a personalidade em construção, novas
atitudes para confrontar o mundo, a si mesmo e os outros. O “eu”, para a autora,
seria flexível, fluido, plasmando mudanças em função destas vivências.
Lipovetsky (2004), apesar das críticas que faz a “cultura da imediatez”, da
pressa, da rapidez, que afeta os vínculos humanos, entende que o “indivíduo
hipermoderno” ainda é sensível ao outro, passível de se apaixonar, ter vida
“equilibrada” e “sentimental”. É nas relações afetivas com outras pessoas que o
indivíduo busca o “melhor” para si, sentimentos, qualidade de vida.
estabelecem num terreno inseguro, que denomina “areia movediça”. Basta apertar o
botão para descartarmos ou deletarmos a pessoa do outro lado da tela. Desse
modo, as conexões humanas seriam banais e breves, determinando a ausência de
vínculos na contemporaneidade. Apesar da perspectiva apresentada, o autor reforça
a necessidade humana de contato físico:
72
O tema foi desenvolvido pela autora, no artigo “Novas regras do jogo amoroso: a presença feminina
na Internet”, publicado na Revista Mnemosine. Ver: Oliveira (2011).
73
Vieira (2000) analisou agências de encontros do Rio de Janeiro, entre 1997 e 1999, bem como
expectativas femininas relativas à busca de parceiros amorosos, para verificar razões da desistência
de outras formas mais comuns de aproximação.
98
74
Ramalho (2007) desenvolveu pesquisa qualitativa ao longo do Mestrado em Psicologia Clínica,
entrevistando 16 clientes pagantes do ParPerfeito, entre 18 e 25 anos, solteiros, heterossexuais,
moradores da cidade do Rio de Janeiro.
75
Os dados estavam disponíveis no endereço: <http://www.parperfeito.com.br/empresa/anuncie.jsp>.
99
76
O estudo referente ao be2 internacional foi desenvolvido no 10º Congresso Brasileiro de Pesquisa e
Desenvolvimento em Design. Ver Oliveira, Magalhães e Andrade (2012).
77
Fonte: <http://www.be2.com.br/guest/static.jsp?page=about> Acesso em abr. 2012.
101
78
De forma semelhante, o conto de fadas é usado como estratégia publicitária, como mostra Lordes
(2012), em seu relato sobre o filme desenvolvido para a marca Disney, que acabou por inspirar
campanhas voltadas para o lançamento de filmes da Disney no Brasil. Tinham como público alvo
principal as mulheres, ou melhor, as mães, que poderiam comprar os filmes para seus filhos. O filme
comercial Magic Happens, obra de Leo Burnett, com direção de Joe Pitka, pode ser encontrado no
YouTube. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=PA93vBjD4EU>. Acesso em 5 mar.,
2014.
105
81
A expressão utilizada foi “romantic partner”, que preferi traduzir para “parceiro romântico”, também
poderia ser traduzida para parceiro amoroso.
107
82
Os autores referem-se a intermediários conhecidos como colegas, família, que poderiam ser
responsáveis por apresentar uma pessoa a outra. Neste estudo, o serviço de encontro virtual é
considerado um “intermediário” da relação.
108
83
Este assunto foi tratado pela autora no artigo “Design de sites de encontro: estratégias de atração”
publicado no 9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design. Ver: Oliveira
(2010).
109
Unidos84. Recentemente, em 2015, são vistas nas Fig. 96 a 99, Argentina, Chile,
Colômbia, México e Venezuela. Essa imagem foi substituída por outra,
aparentemente com postura sedutora e vestuário, mas em cor mais estimulante,
novamente o magenta, combinando com os detalhes decorativos da homepage.
Ambas parecem representar um estereótipo de mulher latina, morena e sensual. A
mulher oriental surge nas Fig. 89 a 92, na representação das Filipinas em 2015, mas
pode ser identificada na China, Singapura e Taiwan. Enquanto isso, a mulher loura,
das Fig. 85 a 88, é associada à Dinamarca (Fig. 85), Finlândia (Fig. 86), Noruega
(Fig. 87) e Suécia (Fig. 88) em 2012 e 2015. Emprega-se esta mesma imagem
feminina no ParPerfeito, no Anexo E, Fig. 16 e 17. As repetições frequentes ao longo
da pesquisa apontam para a existência de bancos de imagens85 compartilhados
entre os sites, confirmando, mais uma vez, a existência de estereótipos de mulher
ou de casal recorrentes nos projetos gráficos.
O direcionamento ao público feminino, presente na maioria dos sites de
encontro, vem sendo percebido, como já foi comentado, desde as primeiras telas
captadas, no início do estudo referente ao ParPerfeito, como se vê no Anexo E, Fig.
13. A veiculação crescente da imagem feminina em homepages, aliada, em muitos
casos, a alusões à sua conquista, e a elevação de aparições da imagem de
mulheres no be2 reforça a percepção de que os sites objetivam atrair este público
em particular. Segundo Vestergaard e Schroder (2004, p. 138), “Raramente se vêem
homens na publicidade dirigida às mulheres.”. Como nas revistas femininas, em que
mulheres fazem a propaganda de produtos para as mulheres, nos sites, esta prática
emerge como uma das várias estratégias para captar o público feminino. A técnica
do espelho, comentada pelos autores alimenta a ilusão na leitora de que olha para
uma versão de si mesma, imaginando sua aparência ao usar o produto anunciado.
Como explicam os autores: “Esse efeito é obtido fotografando o rosto em tamanho
natural de uma modelo” (VESTERGAARD; SCHRODER, 2004, p. 128). Observam,
84
É importante lembrar aqui que nem todas as imagens foram disponibilizadas nos Anexos, como
está na nota explicativa dos anexos. Precisei fazer uma seleção a partir de um grande número de
imagens, privilegiando algumas.
85
Identifiquei, por exemplo, o casal presente na página principal do ParPerfeito, numa revista da
drogaria Pacheco, ilustrando propaganda de um produto. Na imagem em questão, vestiam as
mesmas roupas, indicando que as fotos foram feitas na mesma ocasião, ou são as mesmas e
pertencem a algum dos bancos de imagem, a que recorrem empresas que elaboram publicidade.
Estes bancos são sites da Internet que reúnem arquivos de imagem, com a finalidade de venda das
mesmas. Por isso, acredito ter encontrado cenas que se repetem em sites distintos, demonstrando
a ação padronizada desses serviços, ao oferecer imagens já conhecidas a vários clientes.
111
86
France (2002) baseia-se em relatos de usuários e constata que muitas mulheres flertam mais em
sites de namoro do que em clubes ou bares, em decorrência do sentimento de segurança
despertado pela rede, aponta ainda que as mulheres podem ser mais ousadas e diretas quando sua
identidade está oculta.
87
A autora é administradora de empresas e publicitária e decidiu escrever sobre suas experiências na
Internet. Atua como coach em relacionamentos. Muitos dos dados transmitidos em seu livro partem
de suas experiências utilizando cadastros construídos para sua pesquisa, tanto na posição de
mulher, quanto de homem.
112
observada nos trabalhos da antropóloga Helen Fisher (2006; 2009) sobre a genética
do amor romântico. Para a autora, o amor é determinado pela química do cérebro. A
relação entre a paixão amorosa e procriação já se fazia presente no trabalho do
filósofo alemão do século XIX, Arthur Schopenhauer (2000). Tendo vivido entre 1788
e 1860, o autor pensava que a avaliação do candidato se daria em função de
instintos e impulsos, relacionados a melhoria da espécie através da procriação. Ao
apontar tal ideia, quero sublinhar aqui as origens culturais dessa visão, que persiste
na propagada desde essa época e permanece vigente na atualidade. Na perspectiva
evolucionista, segundo David Myers (2000), os psicólogos julgam que as diferenças
sexuais se explicam a partir da reprodução. A beleza falaria da importância biológica
da saúde, juventude e fertilidade da mulher, enquanto as características masculinas
mais acentuadas determinariam a capacidade de proteger e prover os recursos. As
pessoas, para eles, seriam impulsionadas por atrações instintivas. Mas a atração
não se dá somente a partir de uma base biológica, pois implica em critérios próprios
a cada pessoa: “A atração está no olhar (e na mente) de quem contempla.”
(MYERS, 2000, p. 245). Nos sites de namoro, a contemplação parece ser a chave
para a atração e o encontro.
Uma pesquisa de anúncios pessoais, comentada por Myers (2000), incide
sobre a troca de vantagens entre os parceiros no mercado social. Os homens
costumam ofertar riqueza e status, procurando juventude e outros atrativos físicos
nas mulheres, que inversamente, anunciam juventude e aparência, interessando-se
por riqueza e status. No mesmo sentido, baseando-se no levantamento de 800
anúncios publicados em jornais e revistas, por homens e mulheres americanos, que
buscavam parceiros, Fisher (2006) percebeu que os homens, mais do que as
mulheres, falavam em buscar a beleza em suas parceiras, enquanto as mulheres
confessavam, com maior frequência do que os homens, estar à procura de
segurança financeira no parceiro. Refletindo sobre as características determinantes
da escolha do cônjuge, a autora pondera sobre as escolhas masculinas: “Na
verdade, as pessoas em geral tendem a considerar as mulheres bonitas (e os
homens de boa aparência) ardentes, inteligentes, fortes, prestativas, amistosas,
educadas, sensuais, interessantes, financeiramente seguras e socialmente
populares.” (FISHER, 2006, p. 143) Sobre as escolhas femininas, a autora diz que:
“Na verdade, mulheres do mundo todo sentem-se mais atraídas por parceiros com
educação, ambição, riqueza, respeito, status e posição – os tipos de ativos que suas
114
88
Uma breve explicação sobre a pesquisa desenvolvida por Fisher, sobre o cérebro apaixonado,
pode ser acompanhada na palestra proferida pela autora em 2008 no programa TEDTalks,
disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=OYfoGTIG7pY>. Ver QR code de acesso em
Referências Bibliográficas.
115
apaixonar ou “cair de amor”, do inglês “to fall in love”. Para a Psicologia, segundo a
autora, a atração entre homens e mulheres costuma respeitar semelhanças, sejam
étnicas e socioeconômicas; em nível de inteligência, educação e atração física; em
valores sociais, políticos e religiosos; e de senso de humor. Acrescenta, ainda, que
as pessoas se apaixonam no tempo certo e, geralmente, por alguém que mora ou
trabalha perto. A infância teria importante papel nas escolhas românticas, mas ainda
não há um padrão que possa ser afirmado. Existiria a tendência a se apaixonar por
alguém que oferece algo que se precisa. Costuma-se apaixonar por quem está
apaixonado por você. A partir da experiência do Cheminstry.com, as palavras são
como eletricidade e os anúncios de potenciais parceiros podem conter palavras que
indiquem o tipo de personalidade de seus autores e, desse modo, ajudar na atração.
A autora cita palavras frequentemente empregadas e as correlaciona com os tipos
de personalidade, como: aventura, mais usada por Exploradores; família, mais
usada por Construtores; inteligente e inteligência, mais usadas por Diretores; paixão
e apaixonado, mais usadas por Negociadores, entre outras. As pessoas, para Fisher
(2009), são uma mistura de disposições genéticas de todos os quatro tipos de
personalidade. Alguns expressam mais um tipo de personalidade do que outro, mas
os dois tipos de personalidade principais, primário e secundário, seriam centrais na
definição do temperamento de cada pessoa.
Ao falar sobre as abordagens biológicas e quantitativas da personalidade,
acredito que estes estudos comentados se aproximem do trabalho de Fisher (2008).
Assumiu importância refletir sobre o tipo de testagem praticado nos sites de namoro,
em particular quando o nome evoca a “química” do amor, isto é, o que funcionaria
como atrativo para o casal e estaria relacionado ao encontro físico. Nos sites, testes
envolvem palavras que complementam o perfil do usuário e contribuem no processo
de busca e seleção de candidatos, com dados objetivos e quantificáveis. Configuram
e delimitam o eu e o outro, a quem se busca neste universo virtual. Desse modo, é
preciso ter atenção a estereótipos, atrelados aos mecanismos dos sites, capazes de
influenciar e direcionar a percepção e o trato com as pessoas, já que a testagem
parte de pressupostos definidores do padrão de questionário, objetivando enquadrar
sujeitos em categorias previamente determinadas. Se estes pressupostos originam-
se em ideias antigas, próprias de uma ideologia de época, sobre ser, sentir e agir, de
homens e mulheres em relação a amor e parceiro amoroso, torna-se, então, mais
preocupante conceber tal enquadramento praticado pelos sites na atualidade.
118
89
A Pesquisa Solteiros na América está disponível em:
<http://match.mediaroom.com/singlesinamerica2014>. Acesso em 1 set. 2015.
90
A pesquisa “Solteiros na América” também está disponível no blog oficial do Match:
<http://blog.match.com/category/singles-in-america/>. Acesso em 1 set. 2015.
119
91
Tradução baseada no trecho original: “Technology is dramatically changing how we court, but it
can‟t change the brain systems for romance and attachment. And today‟s singles are setting a high
bar for courtship and marriage. In fact, 34% of single men and 32% of single women believe it is ok
to leave a „satisfactory marriage‟ if you are no longer passionately in love. They want it all, and many
believe they can get it all. I think they can, too.” (Dr. Fisher)
92
O trabalho de Sampaio (2002) é fruto de experiência pessoal vivenciada enquanto buscava um
namorado entre 1999 e 2000, a que se aliam conversas e entrevistas com cerca de 100 usuários de
sites de encontro, entre 2000 e 2001. Reuniu em seu livro várias histórias e “pensatas”. A autora
pediu que as histórias fossem lidas e “pensadas” por psicólogos, psicanalistas e psiquiatras, do Rio
de Janeiro e São Paulo, que contribuíram com suas opiniões sobre os relacionamentos amorosos
na Internet e neste milênio.
120
“Acredito que a mulher acaba sendo mais usada”, diz Rojtenberg, “porque
não tem consciência de que, ao se colocar no papel masculino, está se
comportando exatamente como o homem quer. A galinha, como caça, se
põe à disposição; e a carente, como iludida, se coloca disponível.” Ele
salienta que hoje é comum na rede o dom-juan profissional, que manda o
mesmo e-mail para 200 e vai em cima das que responderem, pois são as
carentes. Mas o “romance ardente” que deseja é invariavelmente transar
uma ou duas vezes. (SAMPAIO, 2002, p. 22)
93
A pesquisa relatada por Precht (2012) foi publicada em 1989 e estuda os critérios utilizados por
pessoas de todo o mundo, para a escolha de parceiros sexuais, visando um relacionamento
duradouro. Durante anos, reuniu entrevistas com um total de 10.047 pessoas, homens e mulheres,
de camadas sociais, religiões e faixa etária e 30 culturas diferentes.
122
Por este motivo, o autor citado ressalta que “a maior parte das mensagens
publicitárias dirige-se à mulher-consumidora.” (CARVALHO, 2002, p. 24) Nos sites
de namoro, conclama-se o público feminino, continuamente, à ação por meio de
imagens associadas a frases de efeito, como: “experimente agora”, “clique aqui”
para arrumar “o seu”. Os sites veiculam, estrategicamente, imagens, frases e
histórias demonstrando às mulheres o que podem realizar a partir de seus serviços.
Dessa forma, a publicidade também ajuda a influenciar novas práticas.
Se a mulher foi mais influenciada pelo amor romântico, como sugere Giddens
(1993), pode ficar mais clara a intenção dos sites pesquisados em atingir
diretamente esse público. Ideais femininos, como o casamento, “família feliz”, ou
mesmo o “felizes para sempre”, são apresentados por Lordes (2012). Acreditando
que mulheres podem ser facilmente conquistadas usando-se estratégias românticas,
fica em evidência que os sites de encontro recorrem a imagens, símbolos além das
expressões que reforçam a necessidade de completude, a certeza de existir aquele
alguém especial que é o “amor da sua vida”. A observação da propaganda aponta
para possíveis características de seu público alvo e/ou apresenta, especificamente
ao público feminino, o que acreditam ser seu desejo de consumo, reiterando desta
forma seu direcionamento. Em um anúncio do be2, constante do Anexo M, nas Fig.
130, por exemplo, exibe-se um cadastro já preenchido, em que se lê: “mulher
romântica”, que busca: “homem romântico”.
Representações de mulheres simpáticas, ou mesmo de jovens casais
sorridentes, aparentando felicidade, podem estimular desejos de encontro com o
parceiro idealizado, para viverem um lindo conto de fadas na realidade fora da tela.
Os modelos escolhidos, tanto masculinos quanto femininos, vestidos com
simplicidade, com camisetas coloridas, as mulheres bem naturais, com pouca
maquiagem, cabelos soltos ou presos, sem exagero, evocam pessoas comuns.
Mostram-se carismáticos, transmitindo a ideia de autenticidade, isto é, de serem
pessoas verdadeiras, como o próprio usuário. Frases pessoais costumam estar
associadas à cena. Lindstrom (2009) esclarece sobre a utilização da “autenticidade”,
como importante estratégia publicitária. A intimidade entre observador e propaganda
125
Pode-se confiar num diário porque nele não há nada que se destine a ser
visto pelos outros nem tampouco a enganá-los. Embora a afirmação a favor
do produto seja improvável, a forma do anúncio visa a fazer com que você
suspenda a sua incredulidade – nem que seja para se agarrar à última
tábua do “talvez”.
94
Refiro-me especificamente aos vídeos publicitários produzidos para divulgar o site francês de
relacionamentos Meetic, disponíveis no YouTube. Recomendo em particular o vídeo Meetic - Les
règles du jeu ont changé, que também inspirou o presente estudo, disponível
em:<https://www.youtube.com/watch?v=aLjVb5AZYrE>. Acessado em 8 de junho de 2011. Ver QR
code de acesso.
95
Rodrigues (2000, p. 41) afirma que “por discurso entende-se o uso concreto e sempre parcial que
os falantes fazem dos valores abstractos e ilimitados da língua”.
127
96
Parte desse texto foi desenvolvido no PDSE, sob co-orientação do Prof. Adriano Duarte Rodrigues,
Professor Catedrático da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa.
Apresentado em novembro de 2014.
97
Tradução minha do original: “Imagination is the stuff that cyberspace in general and online
relationships in particular are made of.” (BEN-ZE‟EV, 2004)
129
Cartas de amor podem ser escritas, e o são, por todos nós. Hoje podem
assumir as formas de nosso tempo, como e-mails ou torpedos – mas o amor
por escrito de qualquer pessoa pode em algum momento mostrar uma
beleza literária que não é privilégio dos escritores, ou então a intensidade
de um sentimento, que não se sabe se será duradouro ou fulgurante.
98
Tin (2005) oferece ao leitor conhecimento instrumental de escrita, capaz de ser utilizado mesmo em
mensagens de e-mail atuais.
130
ausentes.”. Compreende-se a carta como uma das partes de um diálogo que, como
um retrato, permite identificar o ânimo de quem escreve, assim como seu caráter. A
carta é um “substituto da comunicação oral e da presença física”, que aproxima
remetente e destinatário, preparando-os para o “encontro” (TIN, 2005, p. 22).
O aspecto relacional na troca de cartas, especificamente, as cartas de amor,
que ganham significado valorativo dentro da relação estabelecida entre as pessoas,
é mostrado por Ribeiro (2009, p. 10):
As cartas de amor são, assim, uma filigrana do que é ser vivo. Quem está
vivo ama – e escreve cartas para dizer seu sentimento. Essas cartas,
subentende-se, só tem valor – mas que valor! – na relação entre quem as
escreve e quem as recebe. Para ambos, são preciosas.
O livro Para sempre: cinquenta cartas de amor de Tin (2009) traz uma
seleção de cartas de relacionamentos de personagens históricos reais. Segundo o
prefácio escrito por Ribeiro (2009), as cartas “sempre, ou quase sempre, pedem
mais”, isto é, geralmente criam no leitor a vontade de saber mais sobre o que
aconteceu depois. Explica: “São obras abertas, abertas para o que só podemos
imaginar.” (RIBEIRO, 2009, p. 10) Ainda de acordo com este autor:
do imaginário, lembra José Machado Pais (2006, p. 210, grifo do autor): “No
ciberespaço as imagens substituem corpos ausentes. Essa ausência, dando asas à
imaginação, produz em relação a outros imaginados essa „química fusional‟ que
Hermann Schmalenbach designou bund.”. A “imagem” deste outro, elaborada pela
imaginação e aliada a sentimentos, cria o “bund”. Ao tratar do “bund”, o autor refere-
se à vinculação entre as pessoas no espaço virtual, um elo virtual estabelecido,
partindo da elaboração do sujeito, de um outro, existente no mundo digital. A
imaginação ajuda a preencher lacunas configurando esse outro, e pode criar o elo,
ou bund, que liga as pessoas na rede.
também imaginários. A imaginação, como fala Pais (2006), pode direcionar os afetos
do amor e da paixão, no anseio de concretizar o desejo, por um outro idealizado.
99
Para aprofundamento, ver: Fortim e Rosa Maria Farah (2007). O livro Relacionamentos na era
digital foi desenvolvido a partir de breves textos elaborados por psicólogos integrantes do Núcleo de
Pesquisa da Psicologia em Informática, responsáveis pelo Serviço de Informática da Clínica Escola
da PUC de São Paulo que iniciou em 1995. Os artigos que compõem a coletânea foram publicados
originalmente na “Coluna Eletrônica”, link do site do NPPI, na página da Clínica Psicológica da PUC-
SP.
136
Pessoas especiais podem entrar na sua vida de muitas formas, mas quando
você vai imaginar que através de uma tela de 17 polegadas, um cabo de
rede e um site de relacionamento, você poderia conhecer alguém tão
especial a ponto de se apaixonar perdidamente? A ponto de sentir os
inúmeros e verdadeiros sentimentos mais bonitos que já foram descobertos,
de sentir seu coração doer de tanta saudade. Depois de um tempo
marcamos um encontro e foi com certeza amor à primeira vista, hoje
100
estamos namorando e pensando no futuro.
100
Este fragmento foi destacado de relato publicado por uma cliente do Combine.
101
A campanha desenvolvida por Lordes (2012) tinha como intuito divulgar a marca Continental em
revistas voltadas ao público feminino de determinada classe econômica. Nas revistas divulgaram os
produtos da marca com cenas de casais felizes na cozinha e frases sobre seu tempo de casamento,
associadas à durabilidade dos produtos da marca. A estratégia final foi a divulgação do concurso
cultural “Felizes para Sempre”, propondo o envio de cartas e e-mails pelas leitoras das revistas
envolvidas, contando suas próprias histórias. As dez melhores histórias seriam publicadas e sua
escritora ganharia produtos da marca. A campanha recebeu dezenas de milhares de cartas de
mulheres, que provavelmente já estavam identificadas com a marca, permitindo a criação de um
banco de dados que viabilizava novos estudos sobre suas consumidoras. Outro aspecto
interessante sobre a ideia desta campanha, além de imaginar a possível identificação de outras
leitoras com histórias “reais” de pessoas “comuns” como elas, era compreender que as mulheres
137
público alvo com a marca divulgada em revistas femininas. Nos sites estudados,
geralmente, existe um link logo na página principal remetendo às histórias de amor
de clientes, como no Match, por exemplo. Em outros, as histórias já estão
diretamente na homepage, levando à adesão e a novos relatos de sucesso.
O sentido relacional do homem com o mundo passa pelas palavras. As
palavras estabelecem relações a partir dos significados que evocam, mas são
também criações do homem. Os significados surgem da percepção dos sujeitos, de
sua relação com o mundo, os outros e consigo mesmo, dentro do contexto cultural
específico que vivencia, tanto espacial, quanto temporal. Os significados falam,
portanto, de sua existência no mundo, uma existência vivida na temporalidade e
definida por ela em sua história.
As palavras tornam as ideias concretas a partir de sua enunciação, seja na
forma falada ou escrita. Possibilitam ao pensamento abstrato tornar-se visível e,
desta forma, dão um “corpo” a ideia. Sendo instrumento que corporifica pode
também ser, em si, o próprio corpo, que com seus dispositivos apropria-se do
mundo, do que é dado e como estímulo evoca pensamentos, sensações,
sentimentos, emoções, e também reações, seja de quem as pronuncia, ou daqueles
que o escutam; de quem escreve, ou daqueles que leem.
No espaço digital, a aproximação entre as pessoas se dá, primordialmente,
pela linguagem escrita que envolve estimulação visual, pela escolha de ícones, além
de estruturar mensagens, a partir de sua apropriação por quem as digita, mas que
também ganha sentidos a partir de quem as lê. As palavras, ou letras que formam
siglas, associadas a diferentes sinais e símbolos, assim como os emoticons,
utilizados no meio virtual para auxiliar e complementar essa forma de escrita
sugerem uma gama rica em possibilidades de interpretação entre emissor e receptor
da mensagem.
A imaginação do ser humano dá sentido à interação com outras pessoas pela
Internet, no dizer de Fortim (2007). Em estudo etnográfico na rede, Pais (2006)
também levanta este aspecto, acrescentando que o outro é idealizado a partir de
uma representação imaginária que construímos dele. A sedução residiria no
“enigma” do outro, isto é, a sedução estaria em pensar o outro como enigma a ser
idealizam a “família feliz” e gostam de conversar sobre os casais. O interesse das leitoras em
participar das revistas, assim como famosos sobre quem liam, também mereceu atenção da equipe
de publicidade.
138
102
Texto baseado em: “The imaginary nature of cyberspace makes it easier to idealize the other; and
idealizations an essential element in romantic love.” (BEN-ZE‟EV, 2004, p. 19).
139
103
O vídeo BE2 dating site commercial (2010) está disponível no endereço:
<https://www.youtube.com/watch?v=MK62_slFA3k>. Acesso em 1 set. 2015. Ver QR code de
acesso em Referências Bibliográficas.
140
104
Texto baseado em: “The different mediums of communication online give rise to different depths in
online relationships.” (BEN-ZE‟EV, 2004, p. 33)
105
Trecho original: “Online communication is often so profound that people maintain that it almost
feels unnecessary since the correspondents seem to have the same thoughts, feelings, and dreams.
[…] Hence, people sometimes say that they feel as if the words on the screen actually touch them.”
(BEN-ZE‟EV, 2004, p. 32)
106
Baseado na palestra: “Afinal, o que são os mídia?”, proferida pelo Prof. Adriano Duarte Rodrigues
na Universidade de Aveiro, em outubro de 2014. O texto da palestra está disponível em:
<https://www.academia.edu/8848728/Afinal_o_que_s%C3%A3o_os_media>. Acesso em out. 2014.
141
107
Texto original: “Imagination enables people to perceive themselves as detached from their body
and this sets them free to perform activities they would not do if they were in actual physical vicinity
of their online partner. A great emotional intimacy is achieved since the body, which is the source of
moral and mental constraints in personal relationships, does not interfere; the possibility of leaving
their bodies at home makes it easier for correspondents to reveal their thoughts and minds. The lack
of any physical contact has certain purifying aspects – it appears as though pure spirit travels faster
through the moden.” (BEN-ZE‟EV, 2004, p. 29)
143
fazendo, o que quer fazer, e como se sente. Usando sua imaginação, você
pode montar cenas que aumentam as atividades ou de outra forma
representam um papel em sua experiência. (DEB LEVINE apud BEN-
108
ZE‟EV, 2004, p. 86, tradução nossa)
108
Texto original: “Cybersex can be a wonderful experience. It is the coming together of two minds –
joined for the pleasure of mind-sex. (Of course, if done right, it can be VERY physically rewarding as
well.) You describe your actions instead of doing them. Each partner tells the other(s) what you‟re
doing, what you want to do, and how you fell. Using your imagination, you can set scenes that
enhance the activities or otherwise play a role in your experience.” (DEB LEVINE apud BEN-ZE‟EV,
2004, p. 86)
109
Tradução minha do texto original: “These vivid and detailed descriptions excite the imagination and
go some way toward overcoming the lack of direct visual and tactual stimuli.” (BEN-ZE‟EV, 2004, p.
85)
144
110
O tema consumo de sites de encontro foi desenvolvido no artigo Design padronizando
comportamentos de consumo em sites de relacionamento amoroso, apresentado no II Congresso
Internacional em Comunicação e Consumo. Ver: Oliveira e Andrade (2012).
146
111
Título baseado em comentário sobre a criação dos sites de namoro em Slater (2014, p. 203): “it
was just business, nothing personal”. A frase foi também empregada no filme Mensagem para Você,
a respeito de relacionamentos virtuais, pelo personagem Joe Fox, empresário interpretado pelo ator
Tom Hanks.
147
emocional, o branding não tem a ver com o que você não pode
fazer, mas com as infinitas possibilidades.
Marc Gobé
112
A expressão em inglês: “date-o-sphere” usada por Slater (2014) para referir-se à indústria do
namoro on-line, foi traduzida aqui por: “namorosfera”.
148
113
Slater (2014) aproxima a realidade do serviço Matchmaker à ideia do filme de ficção científica
Weird Science, de John Hughes, criado em 1985, contemporâneo ao site. No filme, dois rapazes
utilizam o computador para criar a mulher ideal, a partir de fotografias escaneadas e um moden.
150
função do estigma atrelado a esse tipo de serviço, mostra Slater (2014), as pessoas
não admitiam ter encontrado seu companheiro no site, chegavam a mentir sobre
isso, como se cometessem um erro grave ao usar tal meio. Sem divulgação, a
satisfação da clientela não era conhecida por outros e, dessa forma, não funcionava
como propaganda para o site.
A comédia romântica You‟ve Got Mail, de 1998, foi considerada por Slater
(2014) um marco na superação do estigma dos encontros com desconhecidos on-
line. Este filme, já citado no capítulo 2, falava de duas pessoas que se conheceram
pela Internet, num chat, iniciando amizade. Apaixonam-se por meio de suas
conversas, antes mesmo de se conhecerem pessoalmente. O enredo traz à tona o
medo do encontro com um desconhecido que pode ser um criminoso, ou assassino,
um risco para a integridade da personagem mulher, vivida por Meg Ryan.
Paralelamente, porém, o público já conhece a identidade do interlocutor da
protagonista, personagem de Tom Hanks, o que confere às suspeitas um caráter
cômico, levando a audiência a acreditar na possibilidade de um amor virtual sincero
e verdadeiro.
Apesar de Sampaio em 2002 considerar a paquera on-line como segura, uma
de suas preocupações foi a escassez de material escrito sobre frustrações,
fracassos, mentiras e enganos nestes relacionamentos. Apresentou relatos
alertando quanto a perigos que podem existir por trás da tela. Mostrou-se, no
entanto, muito positiva em relação a estas experiências, compartilhando também a
sua:
clientela do mercado de sites de encontro. Como o Facebook pode ser usado para
namoro, poderia ser considerado o maior site de encontros no mundo. Mesmo
assim, os sites de namoro continuam muito lucrativos, multiplicando, diariamente, o
número de usuários. A indústria de namoro on-line, segundo o autor, cresceu, entre
1998 e 2005, 9% ao ano, mas nos anos seguintes, de 2006 a 2011, reduziu seu
crescimento, em menos de 3%, enquanto as redes sociais ajudaram a diminuir a
preocupação com a privacidade nos namoros on-line.
Análises realizadas por Nascimento, em 2007, falam da existência de
preconceito no próprio ambiente dos sites de namoro. Mostram que as mulheres
atribuíam aos homens uma visão preconceituosa a respeito delas, por utilizarem
sites de encontro, sendo consideradas “fáceis” ou “não sérias”. Isto lembra da visão
apresentada no capítulo 3, dos homens em relação às mulheres que “ficam”. As
mulheres sentiam-se, portanto, depreciadas. Confirmando esta mesma percepção, a
pesquisadora menciona experiências anteriores das entrevistadas, com
pretendentes interessados em encontros sexuais virtuais. Segundo uma de suas
fontes, “esta visão sobre as mulheres é mais característica dos homens brasileiros”
(SLATER, 2014, p. 113). Na época da pesquisa da autora, o uso dos sites parecia
ser assunto difícil para as mulheres que acessavam a Internet de forma sigilosa,
ainda escondidas da família, com receio da reprovação de sua conduta. A relevância
do anonimato surge ao considerarmos o sucesso destes sites de encontro perante a
clientela feminina.
Empresas de encontros on-line da Europa e América, afirma Slater (2014),
tentaram tornar seu produto universal, acabando com o estigma, condicionando o
mundo a acreditar que o encontro com novas pessoas pela Internet é incrível. Na
primeira década de 2000, o preconceito diminuiu gradualmente. As pessoas
passaram a manifestar sua satisfação com os serviços do Match, por exemplo,
convidando funcionários para seu casamento ou utilizando a marca em objetos da
comemoração. Deixaram de envergonhar-se ao expor para seus amigos, sua
história, sobre o início de seu relacionamento com o parceiro. Grande parte da
sociedade, na visão do autor, ainda acredita na existência de duas pessoas feitas
uma para outra. A realidade, porém, pode ser menos romântica, já que existem
aqueles pares que nunca se conheceram e, apesar disso, encontraram outra pessoa
importante para si.
153
114
Cada site possui seu próprio domínio que é registrado como uma propriedade, pertencente a uma
determinada empresa. Cada domínio deve singular, diferente de todos os outros. O domínio de um
site pode ser identificado no endereço de Internet logo após www.
115
Ciberamor é usado como sinônimo de amor virtual ou amor on-line. Existem ainda outras
expressões incluindo o “ciber” como prefixo, para designar algo relativo ao ciberespaço, como, por
exemplo, cibersexo, que se refere a sexo virtual ou sexo on-line.
116
Informações sore a IAC estão disponíveis no capítulo 2 e podem ser vistas no endereço da
empresa em: <http://iac.com/about/overview>. Acesso em 1 set. 2015.
155
sexualizadas, como vemos nas Fig. 136. As imagens, selecionadas no final de 2014
foram todas substituídas em 2015, e o site ganhou nova apresentação, vista nas Fig.
137. Seu projeto gráfico alterna as várias cenas românticas, de casais se olhando,
de mãos dadas, abraçados, de rostos colados, sorrindo, a maioria na praia e diante
do mar. Na tela em que o casal sorri, a mulher parece agarrar-se ao parceiro, cena
que se repete em outras imagens, principalmente no ParPerfeito, onde identifiquei o
mesmo casal exibido no Lusomeet e em outros sites, como observado no capítulo 3.
As informações sobre o site português easyfrirt.pt explicam ser um site de
encontros sérios, gay e “picantes” no Anexo P, Fig. 138. A propaganda mostra-se
também voltada para a captação de público feminino, reforçada pela gratuidade
oferecida às mulheres. Através da pesquisa do easyflirt, encontrei várias páginas do
easyflirt.biz, disponíveis na Fig. 139 a 143, que apresentam as vantagens
competitivas de tornar-se parceiro do site, inclusive explicitando variações de nichos,
que podem ser criadas focando diferentes públicos em sites de relacionamento. O
easyflirt.bz oferece plataforma para as pessoas criarem seu próprio site com as
ferramentas comunicacionais já desenhadas, mas inclui facilidades para estes
proprietários terem o controle econômico. Ensinam como os investidores podem
criar e lucrar com o site criado. A proposta de negociação das interações humanas
está clara em suas explicações. O relacionamento é entendido como produto a ser
adquirido, como qualquer outro. Os recursos de marketing empregam-se de forma
estratégica, à serviço do lucro. Busca-se a lucratividade do negócio em expansão.
Sites pagos insistem em sua superioridade em relação aos gratuitos.
Argumentam que, pagando para acessar seus cadastros, o cliente demonstra maior
seriedade e comprometimento com o objetivo do site. Para Frinds e Yagan, donos
de sites gratuitos, a intenção do usuário só poderá ser avaliada a partir da relação.
Durante uma conferência de sites de namoro, Yagan afirmou que a única
preocupação dos sites pagos é que seus usuários pagantes enviem muitas
mensagens para os usuários com gratuidade, a fim de que estes resolvam assinar o
site, para ter acesso aos cadastrados. Muitas das pessoas mostradas no site como
chamariz, nem estariam mais ativas. Uma observação interessante de Slater (2014)
refere-se à necessidade de maior permanência dos usuários no site, ou mesmo, de
seu retorno, tanto para serviços pagos, quanto para não pagos. Como os serviços
gratuitos não auferem grande lucro, não investem em publicidade como os sites
pagos, precisando da propaganda boca-a-boca a partir da satisfação do usuário. O
157
usuário acaba pagando o site com o tempo que gasta conectado a ele, através das
informações que disponibiliza e são catalogadas, analisadas e vendidas a
profissionais de marketing, que pagarão para utilizar estes dados em propaganda
para público-alvo específico. Os sites vendem dados de sua clientela como:
orientação sexual, religião, política, preferências de comidas, bebidas, música,
filmes, hábitos de viagem, consumo de mídia, etc. Calculam, de acordo com o autor,
aproximadamente US$120 dólares em propaganda para obter um cliente pagante. O
cliente pagará ao site em torno de US$20 a US$60 dólares por mês e o site precisa
mantê-lo pagando tempo suficiente para repor o valor inicial em propaganda, entre
dois ou sete meses, e mais tempo para obter lucro. O investimento recuperado,
explica, destina-se à nova propaganda, e assim por diante, num ciclo contínuo, para
sempre obter mais usuários, clientes pagantes e, consequentemente, obter mais
lucro.
Os sites de namoro estudados já contam com vasto banco de dados,
contendo informações sobre a clientela, o que permite usar técnicas para
estabelecer padrões de comportamento que interessem às empresas como:
necessidades, percepções, preferências. Esse banco de dados também contribui
para a oferta de produtos e comunicações customizadas, como se vê em e-mails
pessoais enviados pelo ParPerfeito, que chamam o cliente por seu apelido,
personalizando a mensagem de forma a torná-la mais íntima. Algumas destas
mensagens estão disponíveis no Anexo D, Fig. 5 a 12. A Internet como mercado
facilitaria a compra de produtos, desde a obtenção de informações até a escolha
final, como assegura Philip Kotler (1999). Os usuários são convidados a participar no
processo de desenvolvimento das mercadorias a serem consumidas. Nos sites de
namoro, os clientes sentem-se mais envolvidos com o que consomem, na medida
em que descrevem o ideal pretendido, como se houvesse um produto personalizado
para cada um deles.
Independente das diferenças entre empreendedores da indústria do namoro,
Slater (2014) considera inovadores os criadores dos sites de encontro, bem
sucedidos por tornarem a busca por amor e um companheiro, um negócio rentável.
O mercado do namoro on-line é operado por pessoas motivadas pelo lucro. Querem
satisfazer os usuários, mas maximizam aspectos não românticos para atrelar seus
clientes aos serviços do site, o que pode ser bom para os negócios. O Match, por
exemplo, orgulha-se de ter vários clientes que retornam. Não seria lucrativo para o
158
117
Parte do tema apresentado neste capítulo baseia-se no material trabalhado no artigo “Design em
sites de encontro: Promessas de amor verdadeiro, rápido, anônimo e gratuito” apresentado no 5º
Congresso EBAI - Encontro Brasileiro de Arquitetura da Informação. O artigo foi selecionado no
evento para ser publicado na revista eletrônica “Perspectivas em Gestão do Conhecimento”. Ver:
Oliveira e Andrade (2011).
159
de lucro para o site. Quando se tem interesse em obter um produto e os valores são
muito próximos, acabamos por dar preferência aquele que oferece mais vantagem.
Dessa forma, somos induzidos a compra do mais caro, considerado mais lucrativo.
No site, tornar-se cliente Platinum seria um investimento capaz de determinar a
concretização da promessa de sucesso oferecido pelo plano. Existe um período
limitado, em torno de dois meses, para utilização do ParPerfeito na condição de
usuário básico. O uso fica bloqueado até que o cliente se inscreva em um plano
pago, inclusive para visualizar e responder as novas mensagens recebidas. As
estratégias são semelhantes em vários outros sites. O be2 segue o mesmo sistema.
Oferece a oportunidade de realização cadastro gratuito, fazer seu teste de
personalidade, porém, para dar continuidade é necessário pagar. A proposta dos
planos dos sites de namoro pagos está associada a ideia de que se uma pessoa
realmente tem interesse em achar alguém, precisa investir. A gratuidade funciona
como tática para aumentar o número de cadastros num site. Quanto mais perfis,
maior o número de possibilidades de encontro com o par perfeito, o que levaria ao
aumento de clientes pagantes para terem acesso a mais candidatos e oportunidades
de entrar em contato.
“É barato!” afirmava o ParPerfeito. Enviando constantemente propostas de
assinatura, como no Anexo D, Fig. 10 e 11: “Torne-se Ouro AGORA!”118, além de
“promoções imperdíveis” que são oferecidas por mensagens de e-mail pelo site,
exclusivas para o usuário que deseja encontrar seu par perfeito e sabe que o serviço
funciona. As oportunidades do “Associado Ouro” eram ilimitadas, pois possuíam
acesso a todos os cadastrados, Básico ou Ouro, como acontece agora com o
Platinum. O valor dependeria da promoção oferecida. A opção “QUERO SER OURO
PAGANDO APENAS R$19,99 POR MÊS!” é um exemplo de mensagem enviado
através de e-mails que praticamente gritavam na tela através do uso de letras em
caixa alta e exclamação. Na época, comparado ao preço de uma ida ao cinema,
boate, restaurante ou lanchonete, o encontro no site ficava muito mais econômico e
ainda transmitia maior segurança para os usuários. Atualmente, um quadro com as
vantagens de cada plano pode ser visualizado no site, sem os valores
correspondentes.
118
Respeito a maneira como foram configuradas as mensagens utilizando caixa alta e baixa.
160
acordo com o tempo que o usuário pode dispor para utilizar os recursos oferecidos.
A única exigência é estar conectado ao site, independente de localização espacial
ou de um horário específico. As possibilidades de alcançar o objetivo de conhecer
alguém especial entre a clientela do site amplia-se a medida que, uma vez
cadastrado, podia receber mais de vinte propostas de relacionamento em menos de
uma semana; criar uma única mensagem e enviá-la para mais de duzentas pessoas
num dia; fazer várias pesquisas e receber mais de trinta opções para escolher com
quem entrar em contato no mesmo minuto; olhar inúmeros cadastros para decidir
fazer contato imediato; ler todo o perfil de seus pretendentes antes de se decidir a
responder imediatamente ou depois, de acordo com seu interesse e disponibilidade.
O cadastro possui vários itens que devem ser completados com informações
sobre características pessoais, hábitos, interesses, assim como características da
pessoa que busca encontrar, isto é, do par ideal com quem gostaria de se
relacionar. Os dados fornecidos compõem o cadastro do usuário, ou perfil, visam
facilitar as buscas de todos os demais clientes. Os sites recomendam o
preenchimento do maior número de informações possíveis. Como tática para se
fazer uma combinação entre os perfis, quanto mais informações, maiores as
possibilidades. A descrição feita pelo usuário sobre o par perfeito que busca viabiliza
um serviço do site que informa aos usuários, quase diariamente, sobre candidatos
para relacionamento com “perfis compatíveis”, exemplificado no Anexo D, Fig. 9.
Através do cruzamento de informações objetivas como sexo, idade, altura, corpo,
país, estado e cidade, indicam inúmeras pessoas compatíveis por dia. Segundo o
discurso do ParPerfeito: “Um deles pode ser exatamente quem você procura!”.
Reforçam ainda: “Veja os perfis destas pessoas e entre já em contato com elas!”.
Funcionários do Match, segundo Slater (2014), disseram que a maioria dos perfis
novos visualizados pelos usuários em suas buscas pertence a não pagantes e, em
função disso, não poderiam receber resposta, como explica o autor. Os serviços não
possuem controle sobre o número real de clientes pagantes e gratuitos. Afirmam que
os perfis mais visualizados são os ativos, isto é, mais recentes, elaborados ou
atualizados a pouco tempo e cujos donos frequentam o ambiente virtual com alguma
regularidade. Os sites também enviam mensagens de e-mail pessoais para os
clientes falando sobre o interesse de possíveis candidatos. Volta-se para o usuário,
na tentativa de convencê-lo a tornar-se pagante. O contato com pessoas indicadas
pelo site só poderá ser feito mediante pagamento. No Match existem muitos perfis
163
de candidatos que não estão mais ativos no site, isto é, deixaram de acessar seus
cadastros e utilizar o serviço. O site dificulta a retirada dos perfis, o que aumenta a
quantidade de perfis existentes. O ciclo é simples: quanto mais perfis existentes no
site, mais mensagens serão enviadas e, desta forma, mais tempo os usuários
permanecerão conectados ao serviço. Em 2011, de acordo com o autor, Match foi
acusado de estar enganando usuários com perfis cujos donos não estavam mais no
site e que nada faziam para retirá-los de lá. Durante o julgamento, foi considerado
que não havia nada que obrigasse o site a usar somente perfis ativos, assim como
não era obrigado a verificar cada perfil em seu banco de reservas, vetar, ou atualizar
seu conteúdo.
O ParPerfeito afirma possuir “as melhores ferramentas de busca e
comunicação”. Alguns usuários conhecidos com quem conversei disseram preferir
realizar as próprias buscas para selecionar os perfis mais interessantes de acordo
com características que desejassem, usando seu próprio “filtro”. São oferecidos
vários tipos de busca:
Busca rápida: baseada em critérios simples, como sexo, idade, país, estado,
cidade, com a opção de perfis com ou sem foto;
Busca por perfis de usuários que estejam on-line: oferecia a possibilidade aos
usuários de encontrarem perfis interessantes e conversar na mesma hora
com as pessoas pelo PapoDireto, ferramenta de bate-papo;
Busca por afinidade: apresentava uma lista por ordem de compatibilidade
entre o seu perfil e de outros usuários;
Busca detalhada: podia partir da definição de características específicas de
quem deseja encontrar;
Busca salva: partia da definição prévia de parâmetros de busca para serem
utilizados sempre da mesma forma, facilitando a busca. Podiam ser alterados
quando o usuário desejasse.
Os usuários do ParPerfeito podiam utilizar a ferramenta “adicionar aos
prediletos” que marcava os perfis considerados interessantes como forma de facilitar
o acesso aqueles perfis. Isso também ajudava a aproximar candidatos, pois o site
informava quando a pessoa era adicionada por alguém, o que conduzia ao acesso
do perfil daquela pessoa que está “procurando alguém exatamente como você”. Só
que para entrar em contato com determinados perfis, era necessário mudar sua
164
Divirta-se!
Esteja aberto aos usuários que escrevem para você e conheça várias
pessoas. Quanto maior for a sua movimentação no site, maiores as
chances de encontrar aquele alguém especial. Esta fórmula é a garantia do
seu sucesso.
sites que se designam agências, promovem eventos fora do ambiente virtual para
que seus clientes possam divertir-se enquanto conhecem novas pessoas. O
entretenimento é o objetivo de todos esses sites de relacionamento. Na sociedade
do hiperconsumo, como mostra Lipovetsky (2004), a diversão, o entretenimento são
grandes atrativos de consumo. O hiperconsumidor quer ter a liberdade para
consumir e ser feliz. Desse modo, a proposta da maioria dos sites vai ao encontro
dos desejos do consumidor hipermoderno.
Simplificando a felicidade em 6 passos, o site be2 aponta: achar a agência de
relacionamentos adequada, sendo a melhor indicação o be2; puxar conversa com a
pessoa selecionada, utilizando os recursos oferecidos pelo site; conhecer melhor o
outro por meio do teste de personalidade; estar preparado para o encontro, seguindo
as recomendações de parceiros apontadas pelo site para assegurar-se da maior
compatibilidade; tornar-se um Membro Premium para ter acesso a perfis de
possíveis candidatos e entrar em contato com aqueles que desejar para um primeiro
encontro; apaixonar-se, decidindo se a experiência de encontro presencial foi
positiva ou não. O site lembra aos usuários que o índice de sucesso alcançado por
sua clientela é alto, oferecendo como “prova” incontestável os relatos de casais
satisfeitos. Para resumir ainda mais, diminuindo assim o número de passos
necessários para chegar à felicidade, o be2 destaca agora apenas 3 passos sobre a
forma de funcionamento do site: primeiramente fazer o teste de personalidade do
be2, respondendo a seu questionário, pois é a base do processo de seleção do site;
com o resultado do teste, conhecendo melhor sua personalidade, terá acesso
gratuito a descrição de seu parceiro ideal; o terceiro item, repete um pouco o
segundo, reforçando que a pessoa receberá as “primeiras recomendações de
candidatos ideais”, terminando na questão: “Quem sabe em algum deles não esteja
a pessoa certa para você?”, o que parece indicar implicitamente a necessidade de
pagar o site para que possa ter acesso direto a essas pessoas. O exemplo evidencia
a intenção do site em apresentar-se como responsável pela felicidade do
consumidor que será alcançada se os passos indicados forem seguidos, incluindo a
experimentação de vários candidatos, culminando no encontro da pessoa certa.
Tomar ciência das “provas” de sucesso faz parte da caminhada no sentido de
acreditar e confiar no site. Para ter sucesso, contudo, é preciso tornar-se Membro
Premium do site, isto é, cliente pagante.
166
119
Informações sobre o iDate podem ser encontradas no site da conferência que possui registros de
conferências desde 2004: <http://idateconference.com/>. O encontro de 2013 aconteceu em São
Paulo e pode ser visto em vídeos disponibilizados no YouTube. Ver, por exemplo:
<https://www.youtube.com/watch?v=UHDMXSEX79c>. Acesso em 13 set. 2015. Os QR codes de
acesso estão em Referências Bibliográficas.
120
Ver vídeo de iDate Awards 2015 e 2016 disponíveis em: <http://www.idateawards.com/
nominations-las-vegas-2015.php> e <http://www.idateawards.com/nominations-miami-2016.php>.
Acesso em 13 set. 2015. Ver: QR codes de acesso.
121
O prêmio pode ser traduzido como “Melhor Site de Namoro”.
167
122
A expressão usada por Slater (2014) faz analogia a “dark side of the force”, isto é, o “lado negro da
força”, que representa o mal, no filme Guerra nas Estrelas (Star Wars), lançado em 1977.
123
Tradução minha de: “Advertising operates from an almost universal simplistic human motive – to
sell, to sell, to sell.” (KEY, 1993, p. XIX).
168
124
A sessão SMS, mencionada no segundo capítulo, tem a análise comentada aqui. Na pesquisa,
omiti dados de identificação como nomes e números de telefone, atribuindo uma letra e um número
que indicam a revista e a ordem dos anúncios transcritos. A partir da letra foi criada um nome ou
apelido para o anunciante.
125
Dos 506 homens identificados, 307 não falaram sobre seu estado civil. Aqueles que o fizeram,
disseram ser: solteiros (95), casados (69), separados (8), divorciados (53), viúvos (20). De um total
de 17 mulheres identificadas, 14 não falam sobre seu estado civil. Apenas uma se diz divorciada e
duas viúvas.
169
A maior parte das mensagens é escrita por homens que buscam mulheres.
Pouquíssimas mulheres fazem propaganda de si neste meio que, paradoxalmente,
seria um espaço voltado ao público feminino. De 538 mensagens, aproximadamente
30 por revista, 506 foram identificadas como sendo escritas por homens e apenas 17
por mulheres.
Olá, sou a Yvone, de Penafiel. Tenho 36 anos, sou simpática, bonita, culta.
Atravesso momento difícil. Pretendo conhecer senhor culto e de respeito.
Dos 54 aos 65 anos. Assunto sério. [...] (Yvone 4)
Procuro loira bonita, alta, meiga, sincera e com classe, para namoro sério.
Sou bonito, atraente, responsável, bom amante e romântico, 40 anos.
Lisboa. [...] (Hélio 2)
Procuro loira bonita, alta, meiga, sincera e com nível, para namoro sério.
Sou lindo, atraente, responsável, bom amante e romântico. [...] (Ítalo 4)
Bom dia, sou homem de 32 anos e procuro mulher para relação séria.
Beijão. [...] (Samuel 5)
Procuro senhora entre 40 e 62 anos, sem vícios nem filhos, para casar ou
juntar! [...] (Wagner 12)
[...] Lisboa, 44 anos. Não sou feliz na relação que tenho. Se estás disponível
ou na mesma situação, és bonita e elegante como eu, envia SMS. Máximo
sigilo. Beijo. [...] (Israel 6)
Homem 50 anos, mal casado, procura senhora com mais de 40 anos, para
encontros íntimos sem compromisso. Tenho local em Vila Franca de Xira.
[...] (Eduardo 1)
Olá, meninas. Sou um rapaz jovem de Coimbra. Alto, elegante, olhos claros
e solteiro. Pretendo menina simpática para amizade ou até algo mais da
Zona Aveiro, Coimbra ou Figueira da Foz. Beijo e até já. [...] (Cláudio 1)
A faixa etária das pessoas e de quem buscam é bem variada. Fazem menção
a pessoas da faixa de 20 a 80 anos. A idade dos anunciantes é informada pela
maioria. Já a idade do parceiro que procuram pode não ser revelada.
Olá, tenho 55 anos, divorciado, procuro senhora dos 48 aos 55 anos, para
amizade. Dou sigilo. Só Porto. Não atendo privados. [...] (Waldo 2)
O amor é lindo! [...] tenho 45 anos, moro em Lisboa e quero uma namorada
entre os 18 e os 80 anos, residente em Lisboa, Laranjeiro. [...] (Fernando 3)
Cavalheiro, na casa dos 60 e tal anos, muito meigo e sincero, procura uma
senhora sincera, que não tenha tido aventuras, para uma vida a dois. Moro
na zona de Lisboa, mas procuro alguém de qualquer parte do país. [...]
(Leandro 4)
173
Poucos comentam sobre o amor, como acontece nos sites, isto é, sobre a
proposta que parte do ideal romântico da existência de uma alma gêmea ou de um
par perfeito que possa levar a plena realização, a um “feliz para sempre”. As
mensagens curtas e objetivas, nos moldes dos anúncios classificados tradicionais,
para venda de qualquer bem de consumo, como carros ou móveis, não deixem
muito espaço para um texto romanceado.
[...] Como eu sei que é possível encontrar o par ideal tento por esta via... [...]
(Aldo 7)
Perfil bacana!
Um perfil bem escrito e preenchido cuidadosamente faz com que qualquer
usuário tenha uma boa primeira impressão a seu respeito e queira conhecê-
lo melhor.
126
A pesquisa de Andrea Baker (2002) sobre como tornar uma relação on-line bem sucedida aponta
fatores que podem determinar o sucesso dependendo da maneira como o casal lidará com eles:
seriam o lugar de encontro on-line, que implicaria em interesses comuns e troca de intimidade; o
enfrentamento de obstáculos para ficarem juntos; o período gasto antes do encontro para se
conhecerem através de comunicação prolongada; e a resolução de conflito.
127
Ver: Dr. Jairo Bouer em: Como se dar bem na paquera online. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=GgtUwcksQ2w>. Acesso em 1 set. 2015.
176
Seja visto!
Uma boa foto, que valorize as suas características mais marcantes, faz a
maior diferença. Perfis com fotos são em média 10 vezes mais visitados, e
aumentam os índices de aceitação do usuário.
O contato com outros usuários pode dar-se por meio de: e-mails, mensagens
escritas e enviadas para a pessoa selecionada; e-mail expresso, isto é, mensagem
criada previamente e salva para ser enviada para qualquer pretendente que se
deseje, a qualquer momento, podendo conter um texto genérico, capaz de ser
direcionado a qualquer pessoa, ou melhor ainda, a quantas pessoas se quiser,
aumentando, assim, as possibilidades comunicacionais presentes no ambiente
virtual.
128
No Tinder, o perfil é construído a partir de algumas informações presentes no Facebook, como uso
de fotos, primeiro nome ou apelido, dados de escolaridade ou profissão, podendo ser incluídos
também textos elaborados pelo usuário como forma de apresentação. Os usuários analisam perfis
de pessoas próximas geograficamente para identificar aqueles que lhe interessam ou não, através
da classificação dos perfis entre “like”, que indica ter gostado, ou “nope”, que significa o contrário, a
rejeição.
177
acesso rápido ao perfil de pretendentes que “curtiram”129 seus perfis, para cogitarem
a possibilidade do encontro presencial.
Fique no alto!
A cada vez que você entra no Yahoo! Encontros com seu apelido e senha,
seu perfil vai para o alto das listagens dos outros usuários, garantindo que
muito mais pessoas vejam você.
“Ficar no alto” no site significa estar visível para outros clientes, alterando sua
posição na lista de possíveis perfis indicados no momento de uma busca. Quanto
mais tempo o usuário permanecer conectado, melhor posicionado estará para a
visualização de outros. O “ficar no alto” conduz também à maior exposição ao outro,
uma vez que o site indica para os usuários conectados quem mais está “presente”
naquele momento, “disponível”, sugerindo a possibilidade de utilizarem a ferramenta
de bate-papo para se conhecerem, aproveitando a oportunidade. O aprimoramento
da ferramenta de bate-papo permite que os usuários se coloquem com o status de
“ocupado”, para não serem incomodados naquele momento e, ainda, caso desejem,
chamar quem quiser para conversar. Conforme dito, “ficar no alto” implica em
exposição de si ao outro, levando a vivência de sensação de “proximidade”, em
função da interatividade facilitada pelas ferramentas de comunicação. Outra
estratégia é aumentar a quantidade de vezes que se acessa o site, o que costuma
ser feito através da recomendação para que os usuários se conectem com
frequência para, dessa forma, manter seu perfil no topo da relação de usuários
disponíveis, isto é, mais visível para outros pretendentes, como revelou também
Slater (2014)130.
129
A tática da “curtida” é muito usada também no Facebook, estimulando a curiosidade dos usuários
em identificar quem curtiu o que, quantas curtidas deram nos conteúdos disponibilizados, enfim,
determina o movimento dentro da rede social, indicando satisfação e preferências. De forma
semelhante, “youtubers”, pessoas que criam vídeos para o YouTube, pedem para seus
espectadores darem “like”, isto é, “curtir” seu vídeo a fim de identificarem a repercussão destes na
rede. Estabelecem metas de número mínimo de “likes” para continuarem a produzir seus vídeos.
130
Falando destas táticas para manter o cliente pagante vinculado ao site, Slater (2014) utiliza termos
específicos: “custumer acquisition” refere-se à aquisição de uma assinatura, geralmente mensal;
“lifetime value” correspondente a um valor do tempo de uso do site, relacionado a frequência do
cliente ao site, isto é, a continuidade de acesso, quanto mais acessos, mais vantagens são
oferecidas.
178
Sobre mim
Informações básicas: Sexo, Orientação sexual, Idade, Localização, O que
procura
Características físicas: Altura, Peso, Corpo, Tom de pele, Olhos, Cabelos
Dados gerais: Estado civil, Moradia, Filhos, Religião, Renda, Formação,
Signo
Interesses e Características: TV, Leitura, Música, Visual, Comida, Viagens,
Animais
Hábitos: Exercícios, Bebida, Fumo, Saidas, Hobbies, Esportes
Textos sobre mim:
Frase de Chamada
Apresentação pessoal
Descrição do corpo
Sobre quem busco
Informações Básicas de Quem Busco
Sexo, Sexualidade, Faixa etária, Localização
Hábitos de Quem Busco
Exercícios, Bebida, Fumo
Dados Gerais de Quem Busco
Estado civil, Moradia, Filhos, Religião, Renda, Formação, Signo
Características Físicas de Quem Busco
Altura, Peso, Corpo, Tom de pele, Olhos, Cabelos
Textos sobre quem busco:
Um pouco mais sobre quem busco
131
O presente tema foi desenvolvido no artigo “Perfis de usuários: estratégias de comunicação em
sites de relacionamento amoroso”, trabalho apresentado no Intercom 2013 da Sociedade Brasileira
de Estudos Interdisciplinares da Comunicação – XVIII Congresso de Ciências da Comunicação na
Região Sudeste. Ver: Oliveira e Andrade (2013).
179
[...] perfis são conversações nas redes sociais na Internet. Não podemos
observá-los como elementos fixos, parados no tempo. São representações
dinâmicas, coletivas e individuais, construídas para audiências invisíveis e
imaginadas pelos atores, numa relação dialógica com as percepções e
expressões dos outros atores (por exemplo, através de testemunhos,
recados e mensagens). Esses diálogos auxiliam essa construção,
contextualizando a interação e constituindo os atores das conversações.
Podemos dizer que eles se constituem em conversações em “rede” na
medida em que são construídas com outros atores, dos valores que são
negociados e dos sentidos que se deseja construir. Esses perfis, portanto,
constituem enunciados que focam a questão básica da identidade dos
atores. (RECUERO, 2012, p. 142)
132
O conceito de interatividade é discutido amplamente por Santaella (2004). A autora mostra que na
comunicação mediada por computador os papéis de emissor e receptor mudam, assim como a
natureza da mensagem que pode ter seu significado transformado a partir da participação-
intervenção possibilitada pela Internet.
180
133
Nicolaci-da-Costa (2003) discute os perigos da Internet que são muitas vezes ressaltados,
contribuindo para o aumento do medo do público em geral. Afirma que as pessoas acabam
desenvolvendo novas formas de defesa para lidar com as ameaças que podem estar presentes na
rede.
181
134
Daniela Romão-Dias (2001) apresenta depoimentos de usuários da Internet, mostrando que a
mentira surge, em alguns casos, como algo positivo para o usuário, pois é a possibilidade de
experimentação ou mesmo de brincar de ser outras pessoas diferentes da vida real.
182
expectativa de que tudo ali seja verdade, mesmo que ainda esteja presente o
fantasma da dúvida, pois clientes de um site de namoro investem numa relação cuja
distância nem sempre será mantida. Para alguns usuários, o espaço virtual mostra-
se mais como lugar de busca, sendo o verdadeiro encontro no mundo real, longe da
tela e dos recursos do teclado.
Queiroz (2011) afirma que podem existir mentiras nos sites de encontro. Num
perfil, alterações de peso, altura ou mesmo a afirmação de características de
personalidade diferentes das que se tem, podem não ser mentiras, mas revelar a
compreensão da pessoa acerca de si mesma, isto é, seu entendimento subjetivo,
particular. Sua percepção pode não condizer com a realidade concreta no
julgamento de outra pessoa.
caracteres (letras, números, espaços, sinais). O site apresenta exemplos para que
se entenda como pode ser preenchido: “Médico amante da natureza procura
namorada”; “Para quem procura diversão, venha me conhecer”; “Olhos penetrantes,
coração ardente”. Aparentemente a “frase de chamada” é simples, contudo oferece
muitas informações sobre quem a escreveu e ajuda a atrair, ou até repelir, outra
pessoa. Alguém inseguro, pouco motivado ou sem criatividade, iniciando seu perfil
por: “não lembro de nada inteligente para escrever aqui” (Engenheiro, 48 anos),
provavelmente não receberá muita atenção. O impacto de uma frase desafiadora,
que apela para as qualidades positivas das leitoras, poderá ser diferente: “quem for
observadora, inteligente e determinada, me acha!” (Comerciante, 42 anos).
Encontram-se também apelos românticos: “o melhor lugar para se viver é no
coração de alguém...” (Profissional do Setor público, 47 anos). Ou, seguindo a
sugestão do site, mesmo frases repetidas pretendem ser mais insinuantes: “Olhos
penetrantes, coração ardente e algo mais!!!!” (Comerciante, 43 anos). Existem
escolhas mais simples e objetivas, como por exemplo: “sou um cara legal, gentil e
curto uma boa amizade. quero conhecer você” (Administrador, 44 anos); “Procuro
uma pessoa para com quem dividir uma vida, partilhar e somar.” (Profissional da
Saúde, 46 anos). As frases criadas costumam falar da própria pessoa, de seus
desejos, objetivos, interesses, etc.
Outro item obrigatório a ser preenchido é a “Apresentação pessoal” que pode
contar com 120 a 600 caracteres, oferecendo mais espaço para a livre expressão
escrita. No entanto, no site não foi sugerido exemplo para a redação do texto,
ficando o autor à vontade para preenchê-lo como achar melhor. A intenção é falar
um pouco sobre si mesmo, instigando outros clientes a quererem saber mais e
entrar em contato despertando a curiosidade de seus pretendentes. A maioria
descreve seus atrativos, qualidades ou expectativas:
Defeitos são dificilmente mencionados, porém, quando isto se faz, pode haver
um tom de brincadeira: “Sou bonito, inteligente, culto, simpatico e modesto... rs. Dos
defeitos, eu falo depois de nos conhecermos melhor... rsrs.” (Engenheiro, 48 anos).
185
135
A pesquisa qualitativa de Nascimento (2007) foi elaborada no Mestrado em Sociologia na
Universidade Federal do Paraná através de entrevistas com usuários de sites de encontros, tendo
escolhido o site ParPerfeito como lugar de estudo em função de se intitular “o maior dos sites de
encontros e namoros” e possuir cinco milhões de usuários na época.
187
interessante, pois por melhor que seja o verso da música, a mensagem pode tornar-
se impessoal, perdendo o caráter singular, que deveria existir num perfil, capaz de
revelar mais sobre o sujeito.
Os erros presentes nos textos, no caso do Comerciante de 45 anos, deixam
claro sua origem estrangeira através de uma escrita confusa, cheia de erros
ortográficos e gramaticais:
136
WEBB, Amy (2013). How I hacked online dating. TEDTalks. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=d6wG_sAdP0U>. Acesso em 1 set. 2015. Ver QR code nas
Referências Bibliográficas.
189
137
Um algorítimo seria uma fórmula matemática segundo a qual os sites de namoro fariam a
correlação entre os cadastrados. Sobre o algorítimo o ParPerfeito explica no vídeo de 2014: Dr Jairo
Bouer em: Vantagens do relacionamento online. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=yFusnnzvzcA>. Acesso em 1 set. 2015. Ver QR code de
acesso em Referências Bibliográficas.
190
138
Seletividade é entendida pelo estudo consultado como o processo cognitivo voltado para a seleção
e escolha de um parceiro.
192
favorecendo propostas de saídas para lugares conhecidos por ambos, etc. Percebi
durante a pesquisa que os sites enquadram seus usuários numa tipologia pré-
determinada, que permite categorizar cada um deles e, ao mesmo tempo,
estabelecer padrões comparativos com outros. Quanto mais escolhas um usuário
faz dentre opções dadas, mais material comparativo se tem para achar pessoas com
perfis semelhantes e, portanto, compatíveis.
Os sites baseiam-se em expectativas e valores vigentes na sociedade para
estabelecer um padrão pré-codificado, por meio do qual os usuários serão levados a
escolher, definindo para si aquilo que acreditam que irá exercer grande atração
sobre outras pessoas. Aliadas a uma avaliação subjetiva, isto é, à opinião do sujeito
sobre si mesmo, as características apontadas no perfil podem ser “verdadeiras” para
quem se descreve. Será apenas a avaliação do leitor, também subjetiva, que julgará
se as informações do perfil apreciado são verdadeiras ou falsas, ou seria melhor
dizer, sinceras em suas intenções de busca de parceiro no site. A simples leitura de
um perfil não oferece total clareza acerca de quem é aquela pessoa e por isso são
necessários mais dados como as fotos ou o uso de outros meios de comunicação,
como e-mail, Skype ou telefone, que pode acontecer paralelamente ao uso do site,
antes da decisão do encontro presencial.
Seguir as indicações do site de itens fechados a priori torna praticamente
todos os perfis muito semelhantes entre si e, em consequência, compatíveis em sua
grande maioria. Como os autores dos perfis buscam atrair pretendentes com os
dados fornecidos, podem exagerá-los ou, estrategicamente, escolher os mais
adequados para esta finalidade. Os textos abertos, parecem oferecer aos leitores,
melhor material para análise, apontando características individualizantes de quem os
escreveu. As informações obtidas a partir das fotografias e elementos textuais
funcionam adicionalmente como indícios de realidade, possibilitando singularizar o
indivíduo e situá-lo na concretude da vida fora do ambiente virtual, podendo ser os
principais deflagradores da atração. Existem outros recursos para os usuários
conhecerem melhor seus pretendentes como: a comparação entre os diversos
dados fornecidos no perfil, o bate-papo, a troca de mensagens, além da
possibilidade do encontro off-line.
193
139
Como exemplo, destaco o link de acesso para reportagens disponíveis no site de encontros
Combine, pertencente ao Par Perfeito e que, por isso, utiliza o mesmo material disponibilizado para
seus clientes: <http://combine.parperfeito.com.br/Artigos/oplist/articleid-1/p-1/f1/n-1/?orig=19>.
Acesso em 12 mar. 2014.
140
Não identifiquei nas mensagens escritas por psicólogos o número de seu registro profissional.
Costumam ser apresentados como consultores do site. Para melhor compreensão, ver mensagem
sobre a Coluna Thaís Responde, vista no Anexo 3, Fig. 12.
141
Destaco exemplo de mensagem escrita por psicólogo em resposta à carta de cliente. O link de
acesso é do site Combine, mas segue o mesmo padrão do ParPerfeito, por tratar-se de mesmo
grupo: <http://combine.parperfeito.com.br/Responde/opshow/answerid14361/p-1/f-1/n-1/>. Acesso
em 12 mar. 2014. Verifiquei, no entanto, que o link de acesso atualmente direciona para a
homepage do ParPerfeito.
142
Ver Jairo Bouer responde dúvidas dos usuários do ParPerfeito I. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=i92nJAXeASM>. Acesso em 1 set. 2015; Jairo Bouer responde
dúvidas dos usuários do ParPerfeito II. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=B3d-
NKG__VM>. Acesso em 1 set. 2015. Ambos foram disponibilizados em 2014. Os QR codes para
acesso podem ser vistos em Referências Bibliográficas.
194
encontros plurais, marcados para rápido consumo, ainda “hoje”, pode reforçar a
ideia da vivência de momentos imaginados com um companheiro, idealizado no
cotidiano, como nas imagens utilizadas nos sites.
Os sites indicam a experimentação como principal caminho no sentido da
obtenção de confiança em seus serviços e garantia de sucesso em sua busca. O
site de relacionamento eHarmony, por exemplo, criado em 2000, também com mais
de 30 milhões de usuários cadastrados, pergunta a seus visitantes: “Não está
curioso para saber quem combina com você?”. Mais informações são recomendadas
aos novos clientes em reportagens sobre o site encontradas no Youtube143. O
público interessado pode conferir também relatos sobre experiências bem
sucedidas144 e vídeos sobre o uso de ferramentas disponíveis 145, aumentando sua
possibilidade de sucesso. O teste de compatibilidade, segundo especialista e
clientes satisfeitos, é considerado “recurso científico” para ajudar a encontrar o
amor.
A curiosidade também é valorizada como estratégia em publicidade e, a partir
da homepage no Anexo E, Fig. 19, pode ser identificada pela imagem do buraco de
fechadura, através do qual se vê a informação sobre a quantidade de pessoas no
ParPerfeito e a pergunta-convite: “Ficou com vontade de dar uma espiada?”. O
trabalho de Lindstrom (2009, p. 162, grifo do autor) fala sobre a tendência atual da
publicidade que pode ser acompanhada na televisão e YouTube, de programas
baseados “na realidade”, anúncios produzidos por consumidores, capazes de gerar
maior identificação com seu público. “Muitas empresas”, afirma ele, “estão
reconhecendo que a vida, para muitas pessoas, se tornou um reality show
supremo.”. A campanha desenvolvida por Lordes (2012, p. 123) para a revista
Contigo146 empregava a curiosidade como principal estratégia: “As pessoas sempre
143
São várias as reportagens disponíveis no Youtube, como por exemplo: Casamentos longos.
Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=qBMTMDie92Y> Acesso em: 20 jul. 2012. O site
eHarmony também faz publicidade em canal de rede aberta na TV. Ver QR code de acesso em
Referências Bibliográficas.
144
Para conhecer relatos disponíveis na Internet de clientes bem sucedidos, ver a história de “Aline e
Cris”. Disponível em <http://www.youtube.com/watch?v=tp0lDwo6En0&feature=relmfu>. Acesso em:
20 jul. 2012. Ver QR code de acesso.
145
Sobre a maneira de acessar o perfil, ver o vídeo disponível no Youtube:
<http://www.youtube.com/watch?feature=endscreen&v=NwwuCSe6Swc&NR=1>. Acesso em: 15 jul.
2012. Ver QR code de acesso.
146
A campanha para a revista tinha como objetivo inicial aumentar o número de anunciantes, mas
para isso a equipe de publicidade entendeu que seria necessário antes, mudar a imagem da revista,
195
a fim de “qualificar” suas leitoras, abarcando as mulheres da classe A e B: “Elas vão abrir [a revista]
para matar a curiosidade e ficarão favoravelmente impressionadas ao ver a revista por dentro, com
o novo formato, o novo projeto gráfico, as novas seções – e o mesmo „jornalismo de manual‟ que já
vínhamos fazendo, mas que elas ainda não conheciam, por que nem se davam ao trabalho de abrir
a revista.” (LORDES, 2012, p. 131) A estratégia era despertar a “curiosidade” logo na capa, a fim de
que as leitoras tivessem o interesse em abrir a revista para olhar dentro.
147
Utilizaram em suas capas a imagem de celebridades, atores conhecidos, como se estivessem
confidenciando algo no ouvido do outro. Ele explica sua ideia: “Imagine uma foto: dois famosos, lado
a lado, em uma festa. Um deles está cochichando algo para o outro, que o ouve com atenção. O
que fala cobre a boca com as costas da mão (...) Ao lado dessa imagem, o título: „Contigo. A revista
que conta.‟” (LORDES, 2012, p. 126)
148
Ver: Dr Jairo Bouer em: Vantagens do relacionamento online. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=yFusnnzvzcA>. Acesso em 1 set. 2015. Ver QR code de
acesso em Referências Bibliográficas.
196
e afirma: “Conheça pessoas reais como você.” (ParPerfeito). Os dois quadros podem
ser visualizados no Anexo H, Fig. 33.
A comparação com pessoas “reais como você”, presentes no ambiente virtual,
talvez aumente a probabilidade de ocorrer identificação entre os usuários, como em
estratégias publicitárias relatadas por Lordes (2012) e Lindstrom (2009), o que
facilitaria a adesão de seu público consumidor aos serviços oferecidos. De acordo
com o último autor:
Com base no que têm visto no YouTube, um número cada vez maior de
anunciantes está começando a reconhecer que os consumidores gostam de
ver – e estabelecer empatia com – pessoas iguais a eles mesmos.
Isso talvez explique por que uma das tendências mais fortes nos comerciais
hoje em dia seja a publicidade gerada pelo consumidor – publicidade que
permite que pessoas comuns participem de uma campanha. Como os
anúncios e comerciais criados por consumidores comuns tendem a não
apresentar modelos, mas pessoas de aparência mediana que se parecem
conosco, podemos estabelecer uma conexão e nos identificar mais
facilmente. Além disso, as pessoas de aparência mediana parecem mais
convidativas, como se estivessem nos dando as boas-vindas à marca.
(LINDSTROM, 2009, p. 162)
[...] o universo do virtual não se refere apenas à imagem visual, mas pode
atingir outros sentidos. No entanto, em qualquer caso, não é similar à
realidade, pois pode levar a uma revisão do real na medida em que provoca
outras possibilidades perceptivas.
149
Para exemplificar, Lindstrom (2009) cita a campanha “Real Beleza” da Dove, que mostrava
“histórias de mulheres de verdade”, e outra de uma empresa francesa de vestuário chamada
Comptoir des Cotonniers apresentada por mães e filhas “da vida real”.
200
Acho que se comete um erro grave ao falar-se da vida real e em vida virtual,
como se uma fosse real e a outra não. Na medida em que as pessoas
passam tempo em lugares virtuais, acontece uma pressão, uma espécie de
expressão do desejo humano de tornar mais permeáveis as fronteiras do
real e do virtual. Em outros termos, creio que enquanto os especialistas
continuam a falar do real e do virtual, as pessoas constroem uma vida na
qual as fronteiras são cada vez mais permeáveis. Assim, não gosto de falar
do real e do virtual, mas antes do virtual e do resto da vida [...] pois se as
pessoas gastam tanto tempo e energia emocional no virtual por que falar
como se fosse o único real? (TURKLE apud CASALEGNO, 1999, p. 118)
150
Ver Casalegno (1999).
151
Para maior aprofundamento, ver Santaella (2012).
202
152
Pode ser visto, por exemplo, o link que leva para as histórias de amor do Combine, pertencente ao
Par Perfeito. As histórias são também compartilhadas entre os sites do grupo, o que significa que as
mesmas histórias serão encontradas, caso alguém acesse diretamente o ParPerfeito. O padrão
utilizado, a disposição dos temas, é semelhante. Ver: <http://combine.parperfeito.com.br/hist_suc/>
Acesso em 12 mar. 2014.
203
com um presente. O site possui até bolsas de estudo153 no valor de US$50 mil
dólares para filhos de casais, frutos do site, chamadas “MatchMade kids”. Nas
“histórias de sucesso”, os clientes expressam as alegrias de buscar o site, utilizar
seus recursos e ter encontrado a “felicidade”. De acordo com Illouz (2011, p. 127):
153
Informações disponíveis em: <http://match.mediaroom.com/2015-08-03-Match-Announces-
Second-Annual-MatchMade-Scholarship-Contest-Children-of-Match-Success-Couples-Compete-for-
50k-Scholarship>. Acesso em 1 set. 2015. Trata-se de um concurso oferecido especificamente para
a clientela do site. A oferta do Match em presentear seus casais ou oferecer bolsas aos filhos destes
parece recompensa que pode intensificar a prática dos sites em função de questões econômicas.
154
Rebello (2006) entende o amor como universal, “expressão da humanidade”, sendo os romances,
formas de expressão desse amor. Apresenta análises de algumas obras, a partir do surgimento do
sentimento amoroso. Deixa claro que a obra é a manifestação de uma época, dos costumes e
padrões vigentes na sociedade, num determinado momento histórico.
205
maneira de lidar com a vida amorosa, que deixa de habitar somente o espaço
privado, para mostrar-se publicamente a desconhecidos na rede.
Foram reunidas, ao todo, cento e treze histórias, setenta e uma escritas por
mulheres, trinta e sete por homens e cinco em que o texto estava na primeira
pessoa do plural, não deixando claro se foi escrito por homem ou mulher. Os nomes
dos autores não são revelados, apenas seus nicknames, aqui substituídos por uma
letra para designar o gênero de seu autor e um número. Considerei relevante o fato
da maioria dos relatos ter sido elaborada por mulheres, apontando para uma
possível tendência à maior exposição feminina nestes ambientes. Optei por separar
as histórias entre relatos femininos (F) e masculinos (M), analisando uma amostra de
trinta e sete homens e trinta e sete mulheres, sobre suas experiências no site.
Nesses relatos elaborados por clientes e disponibilizados publicamente, destacam-
se intenções e expectativas antes, ou no momento do cadastro; como os clientes
fizeram suas escolhas, considerando um ideal pré-existente de parceiro, ou o uso de
recursos do site como a ferramenta de busca, os perfis, com ou sem fotos, as
mensagens escritas, o bate-papo; como se deu o conhecimento do candidato
escolhido, isto é, quais as etapas, incluindo o meio de interação, as ferramentas
utilizadas e práticas interativas, além do tempo envolvido neste processo até sua
atual situação, implicando em projetos e expectativas futuras para o casal. A
satisfação com os serviços está presente em todos os relatos, que pretendem ser
uma despedida do ambiente do site e estímulo aos interessados em construir sua
própria história de amor.
Nas histórias de sucesso selecionadas, detectamos relatos semelhantes, em
termos de estrutura e conteúdo. Alguns iniciam dizendo como decidiram cadastrar-
se no site, alegando curiosidade, brincadeira ou indicação de conhecidos, em função
do término de algum relacionamento, frustrações, depressão ou, simplesmente, o
desejo de conhecer alguém para iniciar relacionamento, por um período curto de
viagem ou para a vida toda. Revelam expectativas com que iniciaram as atividades
no site, se nenhuma, ou alguma, reconhecendo, em geral, que encontraram o que
buscavam ao ver o perfil do candidato, a partir de suas próprias buscas com
ferramenta do site, via mensagem para a própria pessoa ou pelo site, com
indicações de possíveis pares compatíveis. É frequente a descrição de como
entraram em contato com seus parceiros, até o momento do encontro presencial,
permitindo compreender a vivência temporal do casal no relato de sua experiência
206
O amor à primeira vista surge em várias histórias, algumas vezes para referir-
se ao contato inicial, ainda no site, com o perfil do pretendente: “Foi amor à primeira
vista, olhei e gostei do seu perfil” (F29). Algumas pessoas se dizem “apaixonadas”
antes de conhecer o pretendente presencialmente, como é o caso de F1, F13, F15,
F31.
“Acabou a minha procura, pois encontrei você, que já preencheu toda a minha
vida.” (F27). Como encerramento, uma forma de despedida do site, as histórias de
sucesso confirmam que os serviços pretendidos foram bem sucedidos: “Meu
coração está completo. Para todo o sempre.” (M32). Costumam apresentar sempre
relatos positivos sobre o site, seus serviços, ferramentas e equipe, geralmente, em
forma de agradecimento a todos que tornaram possível: concretizarem o “sonho”
(M8); de “encontrar um grande amor” (M14); o encontro com “a mulher da minha
vida!” (M21); conhecerem-se, casarem-se e estarem “construindo uma vida feliz”
(M23); o “final feliz” (M33); o “feliz encontro” (M37); ter conhecido seu “amor” (F22); a
“ponte de mais de 3.000 Km que me conduziu ao meu amor” (F25); ter encontrado
um “par perfeito”, “a razão do meu viver”, “o grande amor da minha vida” (F27); a
“felicidade” (F29); estar vivendo o “grande e verdadeiro amor da minha vida” (F31).
Obviamente não há como prever o futuro das relações expostas nas histórias de
sucesso. Suponho que, ao escrevê-las, o intuito dos usuários era desligar-se do site.
De acordo com o comentário de algumas pessoas sobre sua frequência no ambiente
do serviço, porém, compreendo que podem deixar seus cadastros inativos por longo
tempo e, então, retornar para verificar, com ou sem a intenção de nova busca.
211
Quando duas pessoas sentem atração uma pela outra, geralmente buscam
novas possibilidades de interação, meios de se conhecer melhor, trocar experiências
e sensações agradáveis, mesmo que não se concretize um relacionamento
posterior. Teixeira (2005) esclarece ainda, que para o “crescimento” da paixão é
necessário que novos momentos desloquem os sujeitos da condição de passivos,
para a de ativos, participantes da relação. No site, o processo de conhecimento do
candidato escolhido, verificado nos relatos segue um padrão semelhante para todos.
Primeiramente pela Internet, através do próprio site, pelo bate-papo, troca de
mensagens, e-mails, uso do Skype, telefone e, por fim, o encontro presencial. O
período em que este processo ocorre depende de inúmeros fatores específicos a
cada casal, como disponibilidade, intenção, grau de interesse, acontecimentos
vividos por cada um em seu cotidiano, etc. Dependendo da pessoa, cada etapa
pode levar horas, dias, semanas ou até meses. Um primeiro encontro pode
acontecer muito tempo depois dos primeiros contatos virtuais, o que pode aumentar
o conhecimento dos pretendentes, pela contínua troca de mensagens e conversas à
distância, levando à maior intimidade entre o casal. Como chegam a expor, algumas
pessoas já se sentem apaixonadas muito antes do primeiro encontro. Falar sobre o
namoro e noivado parece ser a preferência dos relatos. Os poucos que disseram ter
“ficado” com seu parceiro, referiram-se ao momento do encontro apenas. Como um
presente em andamento, ou um projeto de vida futura, identifiquei na maioria das
narrativas, que seus atores estão apaixonados, namorando, noivos ou já casados e,
por isso, escrevem seu depoimento para o site.
Todas as histórias de sucesso explicitam muitas certezas, várias afirmações
de como sabem o que encontraram e de como isso afeta sua vida presente e futura.
Destaco aqui apenas algumas destas percepções nos relatos analisados: “devemos
viver intensamente o nosso grande amor” (M1); “nosso amor se personificou em uma
nova vida: o nosso filho!” (M4); “Estamos muito felizes e apaixonados.” (M8);
“Acredito que encontrei aquela pessoa que me completa por inteiro” (M11); “Acho
que somos o casal mais feliz do site.” (M17); “Me sinto a pessoa mais feliz do
mundo.” (M19); estão se preparando para a vida a dois “para sempre” (M27); “Hoje,
sei que encontrei a mulher, o amor da minha vida!” (M34); fazem planos para “o
resto de nossas vidas” (M37); ela encontrou o homem que faltava para preencher
seus “dias de solidão”, alguém “especial para mim... meu príncipe... meu grande
amor”, com quem pretende se casar, constituir família, “ser feliz para sempre” (F4);
212
A principal oferta dos sites é o encontro com o parceiro ideal para serem
“felizes para sempre”. Como alerta Lipovetsky (2007, p. 5): “[...] a questão da
felicidade interior „volta à tona‟, tornando-se um segmento comercial, um objeto de
marketing que o hiperconsumidor quer poder ter nas mãos, sem esforço,
imediatamente e por todos os meios.”.
155
Aqui uso o prefixo “hiper” para indicar uma intensificação da felicidade contemporânea buscada.
214
Existe uma predisposição natural das pessoas a dar valor maior àquilo que
as agrada, seja com relação ao nome interessante de um produto, e seu
design ou a uma campanha bonita. Se tiverem elementos emocionais
adequados ao posicionamento, o design, a publicidade e os eventos
promocionais que envolvem a marca vão agregar ao produto uma
percepção maior de seu valor. Com isso, tanto o preço quanto a
participação de mercado tendem a crescer, uma vez que o valor percebido
e a atratividade aumentaram. Uma qualidade subjetiva foi adicionada à
marca.
156
No início de 2016, visitando endereços antigos de páginas do ParPerfeito e Combine, salvos na
tese, encontrei muitas novidades. As cenas de casais aparecendo de corpo inteiro em espaços
abertos, principalmente na praia, semelhantes as apresentadas no Kroow, surgiram, reiterando o
amor romântico como pano de fundo da proposta dos sites de namoro.
215
157
O trecho original no qual me baseio afirma: “Ad motives are simple and singular – to sell, to sell, to
sell, ad infinitum, at both conscious and unconscious levels.” (KEY, 1993, p. 185)
218
Divertir-se significa que não devemos pensar, que devemos esquecer a dor,
mesmo onde ela se mostra. Na base do divertimento planta-se a
impotência. É, de fato, fuga, mas não, como pretende, fuga da realidade
perversa, mas sim do último grão de resistência que a realidade ainda pode
haver deixado. A libertação prometida pelo entretenimento é a do
pensamento como negação. A impudência da pergunta retórica: “Que é que
a gente quer?” consiste em se dirigir às pessoas fingindo trata-las como
sujeitos pensantes, quando seu fito, na verdade, é o de desabituá-las ao
contato com a subjetividade. Se algumas vezes o público recalcitra contra a
indústria do divertimento, trata-se apenas da passividade – que se tomou
coerente – para a qual ela o educou. (ADORNO, 2002, p. 41-42)
Em suas análises sobre categorias do comportamento de consumo na
contemporaneidade, Ana Paula Bragaglia (2010) comenta que na hipermodernidade
220
os consumidores utilizam mercadorias e marcas para definir uma identidade para si,
que pode não corresponder à realidade de quem é, ou quem deseja ser:
158
SCHWARTZ, Barry (2007). The paradox of choice. TEDTalks. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=VO6XEQIsCoM>. Acesso em 1 set. 2015.
223
O homem atual não diz “Penso, logo existo”, mas “Sinto, logo existo.”
Compraz-se em experimentar emoções e em contatar, pela auto-
observação, que as experimenta. Numa espécie de reduplicação, de
reverberação, ele quer gozar duas vezes: a primeira, ao ser tomado pela
emoção, a segunda, ao ter consciência dessa emoção. Ele quer, ao mesmo
tempo, sentir e poder dizer que sente. O cogito cartesiano é substituído pelo
cogito emocional.
224
159
No livro Brandjam, Gobé (2010, p. 215) faz paralelo entre a improvisação no jazz e o design.
Explica o design como um instrumento capaz de conectar, emocionalmente, marcas às pessoas,
uma “nova e corajosa forma de publicidade”, “um toque emocional que estimula e melhora a
experiência do consumidor” (GOBÉ, 2010, p. 40). Pare ele o brandjamming seria “ideia poderosa
que reconecta o mundo dos negócios com os desejos subconscientes das pessoas” (GOBÉ, 2010,
p. 38). Esclarece: “Brandjam é uma percepção e uma visão, um estilo e um tom de voz. Brandjam é
um conceito inovador que precisa constantemente de um vocabulário novo, inventivo. Deve-se usar
a evolução da estética e do estilo para criar uma linguagem sensorial conectada com os desejos
das pessoas de experimentar a vida de um modo edificante, diferente e positivo.” (GOBÉ, 2010, p.
38)
225
Imagine se cada cliente contasse sua experiência positiva para outras duas
pessoas, e no dia seguinte essas pessoas repetissem a informação para
outras duas pessoas e assim por diante. No primeiro dia seriam dois novos
consumidores potenciais, no segundo seriam quatro e, em uma semana,
você atingiria 128 novos consumidores potenciais. Isso parece pouco, mas
na segunda semana eles já seriam 16.384, enquanto na terceira mais de 2
milhões. Já no final de um mês a informação teria se espalhado para mais
de 1 bilhão de pessoas. Impressionante, não é? (TORRES, 2009, p. 189)
160
O Conquista pertence ao ParPerfeito e apresenta as mesmas informações já fornecidas a respeito
de seu uso, clientela, objetivos, criação, etc.
161
Torres (2009, p. 67) apresenta um modelo de marketing digital “flexível e mutável”, capaz de
adaptar-se aos movimentos da Internet, centrando-se no consumidor que navega, e não na
tecnologia ou atividades oferecidas. Propõe sete ações estratégicas de marketing digital, que ilustra
através de uma imagem de teia que interliga as estratégias: marketing de conteúdo; marketing nas
mídias sociais; marketing viral; e-mail marketing; publicidade on-line; pesquisa on-line;
monitoramento. Através do monitoramento no centro da teia, como a aranha, é possível perceber
qualquer movimento para definir ações estratégicas.
226
162
Algumas reportagens sobre o Movimento dos Sem Namorados realizado em 2009 e em 2010
podem ser vistas nos seguintes endereços: https://www.youtube.com/watch?v=ZopwaC6wgGA;
https://www.youtube.com/watch?v=AOV94J6rPhY;
https://www.youtube.com/watch?v=wjtNlqKEVP8. QR code de acesso foi disponibilizado.
163
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=UNK3e8RteHk>. Acesso em 1 set. 2015. Pode
ser visto através do acesso do QR code.
227
164
A transcrição comentada foi elaborada como parte de trabalho final desenvolvido para a disciplina
“Etnometodologia, Comunicação e Experiência” ministrada pelo Prof. Adriano Duarte Rodrigues no
primeiro semestre de 2015 na PUC-Rio. Na transcrição, destaquei os enunciados, juntamente com
outros fenômenos verbais e gestuais, percebidos como relevantes para a análise, assim como a
descrição da cena, momentos de corte e legendas.
165
O vídeo comentado tem duração de 1 minuto e 43 segundos e foi publicado em 16 de setembro
de 2014 na página do Par Perfeito no YouTube. Pode ser visualizado no endereço:
<https://www.youtube.com/watch?v=yFusnnzvzcA>. Acesso em 1 set. 2015. O QR code foi
disponibilizado nas Referências Bibliográficas.
166
A repetição distingue o fenômeno discursivo oral do escrito, pois não se repete por escrito. Esse
fenômeno, percebido no vídeo, pode acontecer para corrigir algo que foi dito, ou para enumerar, ou
mostrar que entendeu o que seu interlocutor disse, ou que não entendeu, ou para enfatizar alguma
coisa. O sentido varia de acordo com a situação, com o contexto.
228
que chama a atenção para o que é dito, indicando o momento do outro falar ou a
continuidade da fala.
Os vídeos, enquanto dispositivos midiáticos, podem ser editados, delimitando
para seu público o que se deseja mostrar. Como a moldura delimita um quadro,
como o monitor delimita a percepção no computador, num vídeo podem ser criadas
vinhetas167 que demarcam o universo de sentido possível para os espectadores. No
vídeo analisado, do ParPerfeito, a segunda vinheta traz indicações sobre o local
onde se passa, isto é, a matriz da América Latina do site, no Rio de Janeiro. As
informações surgem por meio de legenda escrita e aparecem na cena, na qual as
pessoas trabalham num escritório designado pelo nome do ParPerfeito e Match.com
ao fundo. Tais informações fortalecem a ideia do ParPerfeito, “o maior site de
relacionamentos do Brasil”, assim como demonstra a seriedade presente no
discurso, que possui toda uma estrutura organizacional dando sustentação a ele. O
discurso desse vídeo em particular está voltado para o espectador com a intenção
de convencê-lo a iniciar um relacionamento on-line, preferencialmente utilizando os
serviços do site. O locutor, especialmente escolhido como consultor do site, com
status de autoridade no tema, aponta as vantagens do relacionamento on-line. No
vídeo, ele pergunta: “Então, por que não aproveitar estas oportunidades, né, para
conhecer alguém?”. Compreendendo que a maneira como uma pergunta é
elaborada induz a uma determinada resposta, é possível entender que essa
pergunta negativa levaria a uma resposta imediatamente positiva.
Do início ao fim, percebemos, no vídeo analisado, o intuito de promover o
ParPerfeito e seus serviços. O nome do site sobressai nas cenas enunciativas
visualizadas, nas vinhetas por quatro vezes, nos enunciados do locutor por duas
vezes, além das legendas inseridas ao longo do vídeo por mais duas vezes,
totalizando oito aparições no período de 1 minuto e 43 segundos. O ícone do
coração pela metade foi também utilizado para compor todas as legendas, que
permanecem vários segundos na tela, em diferentes momentos do discurso. São
abertas, ao todo, cinco legendas. Atrás do locutor, identifica-se o nome do
Match.com, proprietário do ParPerfeito. Assim, vemos que o Match.com está,
efetivamente, “por trás” do discurso do consultor do ParPerfeito. Isto é, uma
167
Vinhetas são usadas num vídeo ou programa de televisão, por exemplo, como substitutas do
trabalho de negociação que determinam o início e o fim do discurso, servindo também ao propósito
de reforço de uma marca junto a clientes em potencial.
229
mensagem que seria inicialmente voltada para o público com finalidade de oferecer
informações a respeito das “vantagens do relacionamento online” revela-se
propaganda de sites de namoro, que visa atrair mais clientela. Evidenciam-se aqui
os sites como mercado que vende relacionamentos.
Para Bauman (2008) as pessoas recorrem às agências de relacionamento da
Internet por acreditarem ser um mercado de busca segura, controlada. Alerta,
porém, que isto conduziria a uma “desabilitação” social dos sujeitos. As pessoas, no
papel de compradoras, tornam-se mercadorias, objetificadas pelo olhar dos outros,
aos quais elas próprias buscam. Explica:
entende que a “tecnologia da rede [...] esvazia dos recursos afetivos e corporais”
(ILLOUZ, 2011, p. 157), que ajudam a sustentar os relacionamentos. Acredito,
porém, que, ao trazermos a relação amorosa para o cenário virtual, estamos falando
de um outro tipo de relacionamento, que foge da dinâmica moderna já conhecida,
que tem raízes no amor romântico, preocupado com a durabilidade e fidelidade do
casal.
Escolhi chamar de hiperrelacionamentos, os relacionamentos determinados
pelo excesso. Na prática amorosa dos sites de encontro, podemos perceber o
incentivo a este excesso, não apenas em termos da quantidade de pretendentes
oferecidos, mas da possibilidade de experimentação contínua, o que poderia
determinar o que Bauman considerou laços frágeis ou superficiais. Aqui, nesse
ponto, lembro do alerta de Nicholas Carr (2011) acerca das consequências do uso
frequente da Internet para nossas memórias, capacidade de raciocínio,
concentração, afetando nossa própria identidade, tornando-nos pensadores
superficiais.
168
Ver: ATIK, Chiara. Modern Dating: a field guide. Canada, Ontario: Harlequin/Melcher Media/
“howaboutwe.com, 2013.
235
oferecidos pelos sites. Cada vez mais o relacionamento amoroso está submetido à
velocidade e à prática da exposição no espaço virtual.
237
alcançar o amor formatado. Além de indicar uma ação direcionada ao par idealizado,
resulta do processo de busca da felicidade, concretizado em palavras e imagens no
meio virtual. O amor formatado pode ser reiniciado, adquirindo novas formas, dadas
pelos próprios usuários, dentro do padrão estabelecido pelos sites.
Tanto sites quanto usuários utilizam os meios para alcançar um mesmo fim.
Interessa a indústria do namoro que seus usuários cheguem a um resultado positivo,
isto é, que cada usuário encontre outro para iniciarem um relacionamento amoroso.
Os sites esperam ter muitos usuários satisfeitos, que retornem aos serviços caso
seja necessário e, melhor ainda, que propaguem suas histórias, atraindo outros para
se cadastrarem. Se a intenção de encontrar o companheiro escolhido envolver o
desejo de começar relacionamento sério, e se houver a devida correspondência
entre interesses e sentimentos de pretendentes, provavelmente os usuários
satisfeitos com o serviço do site serão levados a expressar esta satisfação em
histórias narradas na rede.
Nas histórias de sucesso, o amor revelado parece flutuar entre tempos,
nascido num passado de fantasia e sonho. O encontro no presente, mediado por
mecanismos que sustentam construções imaginárias, conduz a um futuro de
felicidade plena, idealizado, não necessariamente concretizado, cuja antecipação se
presentifica e fortalece através do texto, materializada em palavras que afirmam um
objetivo alcançado. Tal futuro pode ser possível, mas acredito que as histórias ainda
não confirmam sua realização. São histórias de ideais almejados, como contos de
fada vividos por personagens reais, cujo futuro ainda não foi totalmente revelado. O
“feliz para sempre” ainda constitui um projeto não realizado. O final feliz está por vir,
vivido apenas enquanto expectativa e, por isso, experimentado antecipadamente
como felicidade conquistada. Nos contos de fada, o “feliz para sempre” atua mais no
nível imaginário do leitor e, não necessariamente do escritor, que não indica, através
de palavras, o destino dos personagens de suas histórias. Se a linguagem ajuda a
corporificar o outro, permite também dar sentido à sua história, como algo
materializado, efetivamente realizado. A linguagem não oferece corpo apenas ao
que é dito nos perfis, mas nas histórias de sucesso. A construção do próprio sujeito
ao descrever a si e a quem busca, faz parte da narrativa construída e publicada no
site.
O interessante na formatação do amor que se busca e que se encontra é,
justamente, a possibilidade de reescrever-se de novo, do zero, a partir de um novo
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ANEXO E – ParPerfeito
305
306
307
308
309
ANEXO L – be2
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