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Dinâmicas de controle coercitivo

em processos criminais julgados em


Curitiba nos primeiros quatro anos
de vigência da lei do feminicídio

Ana Cláudia Machado

Orientadora: Profª. Doutora Dália Costa


Coorientador: Profº. Doutor Rafael Ferreira Vianna

Dissertação para obtenção de grau de Mestre


em Família e Género

Lisboa
2021

i
Folha de Rosto

Dinâmicas de controle coercitivo em


processos criminais julgados em
Curitiba nos primeiros quatro anos de
vigência da lei do feminicídio

Ana Cláudia Machado

Orientadora: Profª. Doutora Dália Costa


Coorientador: Profº. Doutor Rafael Ferreira Vianna

Dissertação para obtenção de grau de Mestre


Em Família e Género

Júri:
Presidente:
Profª. Doutora Fátima Maria de Jesus Assunção
Vogais:
Profª. Doutora Maria José Magalhães
Profª. Doutora Maria João Fonseca Leitão Cunha
Profª. Doutora Dália Maria de Souza Gonçalves da Costa

Lisboa
2021

ii
Dedicatória

A demanda é imensa e a estrutura, mínima. As cobranças partem de múltiplos endereços


e o reconhecimento quase não chega. Mesmo assim, elas/es perseveram e transcendem as meras
obrigações funcionais. Por essas razões, dedico este estudo às/aos servidores policiais civis que
atuam em defesa das mulheres; em especial, aos lotados em delegacias especializadas.

Dedico esta dissertação, também, às oito protagonistas das cronologias analisadas nesta
pesquisa. Elas ousaram e disseram NÃO à estrutura sociocultural de discriminação e de
subordinação entre gêneros. A vida foi o preço; mas, indubitavelmente, imprimiram marcas nas
fundações dessa estrutura e dos seus mecanismos reprodutores de discriminações e violências
e estão ajudando a transformá-lo lentamente, de forma irreversível e constante...

Por fim, não podia deixar de dedicar essa investigação aos meus pilares: Neusa;
Arthemas; Elaine; Márcio; Carlos; Isabela e Beatriz. O amor de/por vocês viabiliza-me!

i
Agradecimentos

Minha experiência de mestranda, em uma palavra, traduz-se em “reinvenção”. A


jornada entre a escolha do curso até aqui tem sido o esforço mais desafiador e árduo por mim
vivenciado. A busca, porém, é necessária e satisfatória. Graças à Deus a excursão não é solitária
e à Ele pertence meu agradecimento primordial.

Agradeço à Instituição Policial Civil, a qual pertenço com muito orgulho e cujas
demandas fomentam minha constante evolução e ao Tribunal de Justiça do Paraná, na pessoa
de seu presidente, Exmo. Sr. Desembargador Adalberto Jorge Xisto Pereira que, prontamente,
autorizou o acesso aos autos que formaram o corpus desta pesquisa.

Agradeço aos(às) colegas e aos(às) docentes do curso de Mestrado em Família e Género


pelo acolhimento, amizade e introdução a um caminho (sem volta ou fim) na busca por mais e
melhor conhecimento; especialmente, a minhas “filhas de coração” Catarina Rodrigues e
Yasmin Nogueira, cujos protagonismo, sabedoria e força, enchem-me de esperança em um
futuro muito mais igualitário e melhor.

Agradeço ao querido amigo Adriano Adura, cujo auxílio foi-me essencial e não pode
ser descrito, por superar as páginas dessa dissertação; à “Miga” Tatiana Iwai – sempre – com
ou sem razão; às “irmãs” da ESPC e do EG, Márcia T. Santos e Mari Fukunishi e às “Delegatas”
que amo e admiro muito. Sou grata, ainda, aos demais amigos(as) e familiares pelo apoio
absoluto e por suportarem tanto tempo de conversas monotemáticas.

Por fim, dirijo-me àquele e àquela cujos agradecimentos serão eternos, apesar de
insuficientes. Ao Professor Doutor Rafael Ferreira Vianna, que demonstrou parte de sua
grandeza ao partilhar experiências acadêmicas e ao aceitar a coorientação deste trabalho.
Inteligência diferenciada e disciplina só poderiam resultar em genialidade. Obrigada pelo
constante incentivo e pela difícil missão de iluminar minhas ideias truncadas. À Professora
Doutora Dália Costa, que marca de forma indelével todos(as) que têm a oportunidade de ouvi-
la, meu muito obrigada. Que grande honra ter sido sua orientanda, beneficiando-me de suas
expertises, generosidade e paciência. O seu conhecimento gera encanto e admiração; por isso,
enquanto desenvolver minhas atividades profissionais, seguirei inspirada por sua atuação em
estudos de gênero e criminologia.

ii
O verdadeiro passional não mata.
O amor é, por natureza e por finalidade,
criador, fecundo, solidário, generoso.
Ele é cliente das pretorias, das maternidades, dos lares
e não dos necrotérios, dos cemitérios, dos manicômios.
O amor, o amor mesmo, jamais desceu ao banco dos réus.
Para fins da responsabilidade, a lei considera apenas
o momento do crime. E nele o que atua é o ódio.
O amor não figura nas cifras da mortalidade e sim
nas da natalidade; não tira, põe gente no mundo.
Está nos berços e não nos túmulos.
(Roberto Lyra, 1902-1982)

iii
Resumo

Compreender o feminicídio nas relações de intimidade como crime não episódico nem
aleatório obriga-nos a examinar as circunstâncias que o antecederam e a interpretá-lo numa
perspectiva de gênero. O método de análise retrospectiva é usado para interpretar, com lentes
de gênero, informações coletadas em processos de feminicídios julgados em Curitiba, entre
10/03/2015 e 11/03/2019, quatro anos a seguir à publicação da Lei do feminicídio no Brasil.
Nos oito casos analisados encontramos a combinação entre: i) relacionamentos íntimos
caracterizados por padrões de controle de quem veio a perpetrar o crime; ii) ameaças ao controle
do perpetrador (separação efetivada ou potencial e recentes restrições financeiras) e iii) escalada
da intensidade dos abusos. Em dois casos, não foi constatada violência física anterior à violência
fatal, sugerindo que aquela é uma das várias táticas de controle, não necessariamente presente
na totalidade das situações e, por isso, nem sempre indicadora de violência letal. A análise dos
assassinatos, na sua dimensão cronológica, contribui para reforçar a literatura que sustenta que
as motivações (expressão de posse) transcendem às ações (táticas de controle e de coerção) do
perpetrador e que as vítimas reagem, ou seja, não se submetem passivamente aos abusos, mas
discutiram, tentaram romper o relacionamento e em alguns casos usaram força física reativa. A
análise retrospectiva também revela que todas as mulheres procuraram apoios informais
(amigos, parentes etc.) e apenas uma buscou força policial. A hipótese aqui sugerida, e que
importa aprofundar, a partir dos resultados deste estudo, vai além da falta de confiança nos
apoios de natureza formal, na medida em que o estudo revelou outros achados, como omissão
ou falhas nas respostas, atuações profissionais influenciadas por naturalização de violências,
pretensa neutralidade de gênero e falta de autocrítica.

Palavras-Chave: feminicídio nas relações de intimidade; análise retrospectiva; controle


coercitivo; Brasil; processo judicial

iv
Abstract

Given that intimate partner femicide is a type of crime that is predictable and
preventable, the goal of the present study is to examine the situational factors that increase the
woman’s risk of being killed by her intimate partner from a gender perspective. Using the
domestic homicides review method, we examine data gathered from femicide cases judged in
Curitiba between October 2015 to November 2019, four years after the publication of the Law
on femicide in Brazil. From the analysis of eight cases, we found a combination of three main
factors: i) intimate relationships characterized by domination and control from the potential
perpetrator over the female partner; ii) threats to the perpetrator’s control (separation real or
imagined, or just threatened and/or recent financial restrictions) and iii) escalation of the abuses’
intensity. In two cases, no physical violence was found prior to fatal violence. Even though
physical violence is one form of control tactics, it is not an indispensable indicator of lethal
violence. The analysis of the murders, in their chronological dimension, contributes to reinforce
the literature that the motivations (expression of possession) transcend the actions (tactics of
control and coercion) of the perpetrator. In turn, the victims react. That is, they do not submit
themselves passively to the abuses. In contrast, they argued, tried to break the relationship and
in some cases used reactive physical strength. The analysis also reveals that all women sought
informal support (friends, relatives etc.) and only one sought police force. Our findings suggest
that the problem of intimate femicide goes beyond the lack of confidence in formal support, but
also comprises omission or failures in responses from government. Such flaws in professional
actions can be influenced by the naturalization of violence, alleged gender neutrality and lack
of self-criticism.

Keywords: intimate partner femicide; domestic homicides reviews; coercive control; Brazil;
lawsuit

v
ÍNDICE GERAL
Introdução ................................................................................................................................ 9
PARTE I O FEMINICÍDIO ENQUANTO FORMA EXTREMA DE VIOLÊNCIA DE
GÊNERO
Capítulo 1 Mulheres assassinadas por razões de gênero ..................................................... 14

1.1 Feminicídio ........................................................................................................................ 14


1.2 Feminicídio entre parceiros íntimos ................................................................................... 19

Capítulo 2 Estratégia de domínio e manutenção da subalternidade feminina ................. 25

2.1 Influência da ordem de gênero na violência contra mulheres ............................................. 25


2.2 A violência de gênero como uma das táticas de controle coercitivo .................................. 28

PARTE II ESTUDO DE CASOS DE FEMINICÍDI JULGADOS EM CURITIBA


ENTRE 10/03/2015 E 11/03/2019

Capítulo 3 Opções metodológicas ......................................................................................... 36

3.1 Cronologias de feminicídios nas relações de intimidade .................................................... 37


3.1.1 Marcadores de risco em feminicídios nas relações de intimidade ............................... 38
3.1.2 Análise retrospectiva de feminicídios ........................................................................... 39
3.1.3 Modelo de análise ........................................................................................................ 40
3.2 Definição e delimitação da amostra .................................................................................... 42

Capítulo 4 Características dos assassinatos de mulheres nos processos analisados ......... 44

4.1 Caracterização dos feminicídios em Curitiba...................................................................... 44


4.2 O controle coercitivo enquanto fator entre os antecedentes de feminicídios ...................... 50
4.2.1 Antecedentes de risco encontrados na amostra ............................................................ 50
4.2.2 Dinâmicas de controle coercitivo evidenciadas através das cronologias dos casos ... 54
4.2.2.1 Caso I ........................................................................................................................... 55
4.2.2.2 Caso II .......................................................................................................................... 58
4.2.2.3 Caso III ........................................................................................................................ 61
4.2.2.4 Caso IV ........................................................................................................................ 64
4.2.2.5 Caso V .......................................................................................................................... 67
4.2.2.6 Caso VI ........................................................................................................................ 70
4.2.2.7 Caso VII ....................................................................................................................... 73
4.2.2.8 Caso VIII ...................................................................................................................... 75
4.3 Reações das vítimas ao comportamento controlador e oportunidades de intervenção
protetora .............................................................................................................................79

Capítulo 5 Discussão de resultados ....................................................................................... 85


Considerações finais .............................................................................................................. 91
Bibliografia .............................................................................................................................. 94

vi
ÍNDICE DE FIGURAS

1 Mecanismos ideológicos da “não violência” ................................................................ 20


2 Dimensão de mortes violentas intencionais separadas em grupos ................................ 21
3 Homicídios de mulheres e feminicídios no Brasil entre 2015-2019 ............................. 22
4 Homicídios de mulheres e feminicídios no Brasil e no Paraná .................................... 23
5 Fatores que contribuíram com a origem da hierarquização/dominação do masculino
sobre o feminino ........................................................................................................... 27
6 Definições governamentais inglesas que inspiraram a tipificação legal........................ 30
7 Comparação entre os comportamentos durante o relacionamento íntimo e após seu
término em três grupos de mães .................................................................................... 31
8 Destaques de Even Stark sobre consequências do controle coercitivo e sugestões de
enfrentamento .............................................................................................................. 32
9 Indicadores com potencial para sugerirem risco de prática de feminicídio ou de ser
vítima deste crime ........................................................................................................ 38
10 Modelo de análise: Dinâmicas de controle coercitivo em processos criminais julgados
em Curitiba nos primeiros quatro anos de vigência da lei do feminicídio ................... 41
11 Fases do processo e julgamento em Tribunais do Júri .................................................. 42
12 Faixa etária de vítimas de feminicídio no Brasil em 2019 ........................................... 45
13 Idades de vítimas e autores nos processos .................................................................... 46
14 Relacionamentos íntimos entre feminicida e mulher .................................................... 47
15 Fatores de risco para a perpetração de feminicídio ...................................................... 51
16 Fatores de risco para ser vítima de feminicídio ............................................................ 53
17 Comparativo entre notícias de envolvimento delituoso e antecedentes criminais dos
feminicidas encontrados na amostra ............................................................................. 54
18 Cronologia do Caso I – representação da “linha do tempo” do feminicídio ................ 56
19 Indicadores de controle coercitivo identificados na cronologia do Caso I ................... 57
20 Cronologia do Caso II – representação da “linha do tempo” do feminicídio ............... 59
21 Indicadores de controle coercitivo identificados na cronologia do Caso II .................. 60
22 Cronologia do Caso III – representação da “linha do tempo” do feminicídio .............. 62
23 Indicadores de controle coercitivo identificados na cronologia do Caso III ................ 63
24 Cronologia do Caso IV – representação da “linha do tempo” do feminicídio ............. 65
25 Indicadores de controle coercitivo identificados na cronologia do Caso IV ................ 66
26 Cronologia do Caso V – representação da “linha do tempo” do feminicídio ............... 68
27 Indicadores de controle coercitivo identificados na cronologia do Caso V ................. 69
28 Cronologia do Caso VI – representação da “linha do tempo” do feminicídio ............. 71
29 Indicadores de controle coercitivo identificados na cronologia do Caso VI ................ 72
30 Cronologia do Caso VII – representação da “linha do tempo” do feminicídio ............ 74
31 Indicadores de controle coercitivo identificados na cronologia do Caso VII .................75
32 Cronologia do Caso VIII – representação da “linha do tempo” do feminicídio .............77
33 Indicadores de controle coercitivo identificados na cronologia do Caso VIII .............. 78
34 Reações das mulheres submetidas aos abusos e relação com os apoios formais e
informais acionados e comunicados..............................................................................80
35 Mapa da(s) reação(ões) das mulheres submetidas aos abusos e de
agentes/mecanismos..................................................................................................... 82

vii
SIGLAS USADAS NO TEXTO

AIDS Síndrome de Imunodeficiência Adquirida


(Acquired Immunodefiency Syndrome)
CAPE Centro de Análise, Planejamento e Estatística da Secretaria da Segurança Pública
do Estado do Paraná
CCB Código Civil Brasileiro
CEDAW Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as
Mulheres
(Convention on the Elimination of all forms of Discrimination Against Women)
CEF Caixa Econômica Federal
CLADEM Comitê Latino-americano e Caribenho para a Defesa da Mulher
CNJ Conselho Nacional de Justiça
CNMP Conselho Nacional do Ministério Público
COVID-19 Doença do Coronavírus, 2019
(Corona Virus Disease, 2019)
CPMI Comissão Parlamentar de Inquérito
CPS Ministério Público Britânico
(Crown Prosecution Service)
CSI Crime Sob Investigação, série americana sobre grupo de investigação forense
(Crime Scene Investigation)
CT Conselho Tutelar
EARHVD Equipa de Análise Retrospetiva em Violência Doméstica
EIGE Instituto Europeu para a Igualdade de Gênero
(European Institute of Gender Equality)
EUA Estados Unidos da América
FEMPAR Fundação Escola do Ministério Público do Estado do Paraná
HBS Fundação Alemã Heinrich Boll Stiftung
(Heinrich Boll Stiftung)
ISCSP Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas
IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
LGBT Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros
M/SD Média e Desvio Padrão
MDH Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos
MP Ministério Público
MPU Medida Protetiva de Urgência
OEA Organização dos Estados Americanos
OMA Observatório de Mulheres Assassinadas
OMS Organização Mundial de Saúde
(WHO: World Health Organization)
ONU Organização das Nações Unidas
PM Polícia Militar
PROJUDI Processo Judicial Digital
S.I. Sem Informações nos processos judiciais da amostra
SIM Sistema de Informação sobre Mortalidade, do Ministério da Saúde brasileiro
TJPR Tribunal de Justiça do Estado do Paraná
UMAR União de Mulheres Alternativa e Resposta
UNODC Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes
(United Nations Office on Drugs and Crime)
VD Violência Doméstica
viii
Introdução

De acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, o “Brasil ostenta números


obscenos de violência de gênero” (Bueno et al., 2020, p.132), sendo que no ano de 2019, a cada
dois minutos uma mulher foi vítima de violência física e a cada oito minutos, de estupro. Em
2015, um estupro era praticado em território brasileiro a cada 11 minutos, segundo a mesma
fonte. O aumento da violência contra as mulheres no Brasil, igualmente é percebido pela
comparação entre os 929 casos de feminicídios noticiados em 2016 e os 1.326 noticiados em
2019, que correspondem a um incremento de 43% (Bueno et al., 2020, p.132).

Ao confrontar as ocorrências policiais de 2018 e 2019, os feminicídios no Brasil


aumentaram 7,1%, passando a representar 35,5% dos homicídios de mulheres; no Estado do
Paraná, na região sul do Brasil, o aumento foi de 28,1% e a proporção de feminicídios em
relação aos homicídios de mulheres subiu para 40,8% (Bueno et al., 2020, p.116). Os números
apresentados tendem à ampliação, diante do agravamento da violência de gênero contra
mulheres atribuído, não à pandemia da COVID-19 ou às medidas adotadas para conter a
contaminação, mas influenciado por circunstâncias associadas à crise sanitária gerada pelo
novo coronavírus (Pasinato, 2020).

Os dados mobilizam a candidata para desenvolver um estudo científico do feminicídio


nas relações de intimidade em Curitiba, capital do Estado do Paraná, que concentra a maioria
dos feminicídios estaduais (CAPE, 2020). A escolha pelo contexto de intimidade, advém da
necessidade de compreender o fenômeno numa perspectiva de gênero e também de uma
inquietação profissional1, face ao contraditório existente entre o ambiente doméstico e o risco
de morte, sugerindo, o primeiro, segurança pessoal e confiança relacional e o segundo ambiente
público e desconhecido.

O estudo assume natureza qualitativa, com enfoque na análise de informações coletadas


em processos judiciais de feminicídios, julgados2 entre 10/03/2015 e 11/03/2019 em Tribunal
do Júri curitibano – cobrindo os quatro primeiros anos de vigência da Lei nº 13.104, de 09 de

1
Refere-se a experiência profissional da candidata que atua na Polícia Judiciária Estadual, em Curitiba, desde
2002.
2
Processos judiciais julgados corresponde aos submetidos a julgamento em sessão plenária do Tribunal do Júri
e possuem sentença, ao menos, de primeiro grau. Incluem processos que aguardam decisões de recurso de
instância superior e os que transitaram em julgado, estes com definição de sentença e sem possibilidade de
recurso da mesma para instância superior (Prates, 2020).

9
março de 2015, a Lei do feminicídio. A amostra, definida em termos cronológicos, isola estes
quatro anos para, nesse período se analisar todos os processos disponibilizados, recorrendo ao
método de análise retrospectiva.

Este é um estudo exploratório que se propõe testar a importância de analisar os casos


com uma lente de gênero. Um dos resultados esperados é contribuir para aproximar o Brasil de
outros países, nomeadamente Portugal, nos quais a análise retrospetiva de homicídios de
mulheres em contexto de violência doméstica tem vindo a revelar-se muito importante, quer
para a consolidação, quer para a gênese de uma estratégia de prevenção do feminicídio assente
no conhecimento dos estudos de gênero, e não pretensamente neutra.

Feminicídio é o homicídio de mulheres pelo fato de serem mulheres, i.e., por


pertencerem a um grupo social próprio, devido a condição de sexo/gênero (Bandeira &
Magalhães, 2019, p. 35). Pasinato (2011, p.230) inclui no conceito as características misóginas
e de repulsa contra as mulheres, que levam algumas autoras a usarem o termo “generocídio”
para destacarem o caráter de extermínio de parte de grupo de gênero pelo outro.

O controle sobre a vida e a morte exercido por homens contra mulheres foi identificado
por comissão parlamentar do Senado Federal brasileiro ao investigar a violência de gênero no
País, classificando a dominação segundo as mensagens transmitidas pelos assassinatos: (i)
erradicação da autonomia e da liberdade femininas, associando posse e objetificação em
contexto de intimidade ao assassinato; (ii) subjugação da intimidade e da sexualidade
femininas, associando violência sexual ao assassinato; (iii) destruição da identidade feminina,
associando mutilação ou desfiguração do corpo ao assassinato; (iii) aviltamento da dignidade
feminina, associando tortura, tratamento cruel ou degradante ao assassinato (CPMI, 2013).

Seguindo a antropóloga feminista Rita Segato o feminicídio faz parte de um “sistema


de comunicação com um alfabeto violento” (Segato, 2005, p. 276), que obriga a uma escuta
atenta para que seus perpetradores sejam identificados, localizados e perfilados. A busca de
causas e efeitos para a violência de gênero deve ser substituída pela revelação de uma
interconexão de sentidos e motivações, que culminem na decodificação dessa linguagem
violenta, geralmente monopolizada por seus falantes (ainda que não atuem diretamente no
abuso) e que pode contribuir na difícil missão de desinstalá-la e eliminá-la (Segato, 2005).

10
Partimos da importância da análise do contexto do feminicídio, à luz de quadro teórico
dos estudos de gênero, questionando a motivação do perpetrador fundada nessa ânsia por poder
e controle, justificada e reforçada pela ordem de gênero. Com efeito, evidências indicam que
controle e coerção em relacionamentos íntimos favorecem agressões, incluindo as letais, cujo
risco aumenta em um fator de nove, diante do nível de controle de mulheres nessas uniões,
segundo Glass e outros (2004) citados por Stark (2012). Essa associação entre comportamentos
de controle e de coerção e o feminicídio, justifica atenção às táticas de controle coercitivo entre
outros marcadores de perigo, como a posse de arma de fogo e o histórico de violência física
anterior, referenciados pela Organização Mundial da Saúde (2012, p. 4), tendencialmente mais
explícitos e, por isso, menos difíceis de interpretar, mesmo num contexto de homicídio distinto
de feminicídio.

É na interconexão de sentidos e motivações, de que nos fala Segato (2005) que situamos
o estudo. O objetivo é compreender, numa perspetiva de gênero, a violência letal, que culmina
no feminicídio, após o exercício de um controle coercitivo, ao qual as mulheres opõem pedidos
de apoio que, aparentemente, não possuem eficácia para impedir o seu assassinato. A
consecução deste objetivo permitirá identificar, a partir de casos julgados, fatores de risco que
atuam de forma isolada ou num processo dinâmico em que o feminicídio ocorre, sem que tivesse
sido possível evitá-lo: nem os agentes aos quais a mulher dirigiu pedidos de apoio tiveram
oportunidade e/ou capacidade para os prevenir; nem os pedidos de apoio foram feitos pela
mulher ao(s) agente(s) adequado(s) e/ou no momento em que ainda seria possível a
oportunidade para a intervenção.

O objeto de estudo é o feminicídio em contexto de intimidade, excluindo-se os demais


feminicídios. O “contexto de intimidade” não abrange apenas as relações mais estáveis,
baseadas em compromisso (Guerreiro et al., 2015), mas também as relações,
independentemente de coabitação, que promovem contatos preliminares para melhor conhecer
o outro (Fernandes, Catarino, & Custódio, 2013) e ainda as relações não necessariamente
assentes em vínculos emocionais e que se caracterizam pela fugacidade, casualidade (Neves,
Pereira, & Torres, 2018).

A dissertação está dividida em duas partes, seguindo uma apresentação clássica do texto.
A primeira parte estabelece o enquadramento do estudo, enquanto a segunda apresenta as
opções metodológicas e os resultados.
11
O primeiro capítulo é dedicado ao conceito de feminicídio e aí procuramos expor a
origem do termo, os motivos para uma denominação específica de mortes de mulheres por
razões de gênero, o tratamento jurídico conferido a esses assassinatos no Paraná e sua
ocorrência em contexto de intimidade, incluindo dados estatísticos para melhor a documentar.
A seguir, e visando ainda fazer o enquadramento do estudo, abordamos a importância de se
analisar as determinações sociais na violência de gênero e a ordem de gênero, que revelam,
ambas, os fundamentos do controle coercitivo e o caráter evitável dos abusos, que sugerem o
enfrentamento de causas estruturais que mantêm e reproduzem a violência de gênero.

Este enquadramento é usado para, de seguida, se apresentar a justificar as opções


metodológicas para a análise dos processos. A adoção do método de análise retrospectiva
favorece a assimilação dos fundamentos e circunstâncias de ocorrência das violências e do
feminicídio, ao mesmo tempo que permite conhecer e observar a interação entre diferentes
perspectivas (dos vários atores envolvidos nos processos). A análise retrospectiva facilita a
reconstituição da linha cronológica das ocorrências, a fornecerem uma sucessão ordenada de
acontecimentos. Tais cronologias têm potencial para revelarem padrões de controle coercitivo,
que se definem, por vezes, considerando as respostas das mulheres submetidas aos abusos e/ou
de mecanismos que tiveram oportunidades de intervenção.

Assim, neste estudo não vamos nos limitar às ações dos perpetradores, integrando na
análise as reações das mulheres submetidas aos abusos daqueles e o mapeamento das agências
e/ou agentes e mecanismos de resposta que tiveram oportunidades de intervenção.

O estudo contém uma finalidade transformadora do funcionamento dos agentes e das


agências de intervenção, no sentido da sua melhoria, contribuindo para prevenir o feminicídio
e o aumento do número de casos. A mudança dos fatores de ordem estrutural depende destas
transformações, mas não decorre apenas delas, como revela a literatura de forma consensual
(Costa, 2017). A relevância social do estudo decorre do contributo para aumentar a
compreensão do risco de letalidade a partir da análise dos comportamentos de controle
coercitivo.

O texto foi redigido usando o português da candidata, embora alguns termos tenham
sido adequados para facilitar a clareza na exposição de ideias e evitar dúvidas que dispersem a
atenção na leitura da dissertação.
12
PARTE I

O feminicídio enquanto forma extrema de violência de gênero

13
Capítulo 1 Mulheres assassinadas por razões de gênero

A maneira encontrada por Segato (2005, p. 279), antropóloga argentina, para destacar a
gravidade do feminicídio foi compará-lo ao genocídio, aproximando-os pela generalidade dos
alvos, pelo foco em uma categoria da população e não em um sujeito específico e afastando-os
por reconhecer no genocídio um ódio ao outro que conduz à sua eliminação, enquanto que a
misoginia atrelada ao ato feminicida assemelha-se ao sentimento de “caçadores por seu troféu”,
envolve o desprezo pela vida da mulher ou a convicção de que seu valor restringe-se à
disponibilidade para a apropriação.

1.1 Feminicídio

Nos anos 90 do século XX, movimentos feministas dos Estados Unidos e México
denunciaram o elevado número de mulheres vítimas de mortes violentas. Dos debates emerge
o termo femicide, divulgado internacionalmente como “the killing of one or more females by
one or more males because they are female” (Russell, 2012, p. 2). Diana Russell é aclamada
pelo pioneirismo do vocábulo (EIGE, 2017; Meneghel & Portella, 2017) que, em verdade, fora
mencionado anteriormente por John Corry em 1801 (Russel, 1992, p.75 apud Bandeira &
Magalhães, 2019, p.31) e Carol Orlock (Neves, 2016). Já para Lagarde (2004) e o feminicídio
faz referência a assassinatos de mulheres em razão do gênero e vinculados à omissão estatal.

Mencionado conceito revela aspecto político ao incluir impunidade e responsabilidade


estatal em sua prática (CLADEM, 2012). Em Portugal, e.g., adota-se a expressão femicídio,
embora resultado de pesquisa de cobertura mediática indique percepção de negligência estatal
em alguns desses assassinatos, ao apresentar como explicação ao evento a “ausência ou a falha
na intervenção por parte do sistema e/ou a dificuldade de resposta” (Neves, Gomes, & Martins,
2016, p. 84). O aspecto linguístico, por sua vez, demonstra que ao se traduzir a expressão
“femicide” do idioma inglês (em que foi formulada) para o “femicídio” em castelhano (idioma
em que se difundiu), obteve-se resultado limitado à expressão homóloga ao homicídio -
“assassinato de mulheres” - justificando a formulação de proposta mais apropriada e que inclui
a motivação de gênero: feminicídio (CLADEM, 2012).

Neste estudo, como o corpus de análise é formado por processos criminais, adotamos o
termo escolhido pela legislação brasileira (Lei n° 13.104, de 09 de março de 2015). Com sua

14
vigência, dispõe o Código Penal Brasileiro: “Feminicídio: Homicídio qualificado por
cometimento contra a mulher por razões da condição de sexo feminino: § 2°-A Considera-se
que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve: I – violência doméstica
e familiar; II – menosprezo ou discriminação à condição de mulher” (Prates, 2020, p.29).

A adoção de um termo específico para assassinatos de mulheres por razões de gênero


combate a neutralidade da lei, permite aperfeiçoar investigações e julgamentos de mortes antes
consideradas acidentais ou suicídios, e também questiona a ordem de gênero e as relações de
poder assimétricas subjacentes e explícitas nessas violências. Pontua Lagarde (2004) que a
tendência em negar características misógina e discriminatória de mortes femininas motivadas
por ódio, desprezo, sentimento de propriedade ou simples prazer, reforça suas causas e
perpetuação.

O conhecimento produzido acerca do tema possibilita a visualização das três vertentes


doutrinárias identificadas por Gomes (2018, p. 2): a genérica, a específica e a judicializadora.
Os estudiosos da primeira analisam todas as mortes femininas em razão de discriminação e
desigualdades de gênero, desde que resultantes de práticas socioculturais atentatórias a direitos
femininos, como os relacionados ao corpo e à saúde. Para Copello (2012), bastariam dois
elementos - morte evitável e discriminação de gênero – para a ocorrência do feminicídio,
incluindo por exemplo, mortes atribuídas à falta de acesso a métodos de prevenção a doenças
sexualmente transmissíveis (AIDS) ou decorrentes de partos e abortos inseguros, de mutilação
genital e de cirurgias estéticas. Gomes (2018) acrescenta o suicídio em contexto de extrema
opressão e Russell e Radfort (1992, apud Meneghel & Portella, 2017, p.307), as mortes
decorrentes de “maternidade forçada, cirurgias psíquicas, experimentação abusiva de
medicamentos, negação de proteínas às mulheres em algumas culturas, cirurgias cosméticas e
outras mutilações em nome do embelezamento”. Esta vertente doutrinária é a mais ampla e
inclusiva de motivações para o feminicídio.

A vertente doutrinária específica, por seu turno, considera assassinatos relacionados a


violência sexual, tráfico sexual ou de pessoas, prostituição, envolvimento em atividades ilegais
e em conflitos armados, além de mortes por conexão (Meneghel & Portella, 2017) e associadas
a acusações de bruxaria em África, Ásia e algumas ilhas do Pacífico (Decreto-Lein°13, 2013).
Neves (2016) cita Laurent et al. (2013) e inclui mortes associadas ao pagamento de dote, defesa
da honra, discriminação por identidade de gênero, infanticídio e “feticídio” (com o fim de

15
seleção sexual). A vertente judicializadora, defende que um tipo penal específico leva ao
(re)conhecimento das causas estruturais subjacentes ao crime, demonstrando que as mortes não
são episódicas. Insere uma “lente de gênero na compreensão do crime de homicídio contra as
mulheres”, incluindo os fatores estruturais que o enquadram (Neves, 2016, p.10). Esta vertente
é a adotada neste trabalho, por um lado por ser adequada à análise de processos criminais e, por
outro lado, por ser base para a inserção legislativa brasileira da Lei n° 13.104/2015, ao criar a
qualificadora de assassinato em razão do sexo feminino, a qual abordaremos adiante.

Perante esta opção, doutrinária, mas também epistemológica, prolongamos este capítulo
situando este tipo penal específico – o feminicídio – no (re)conhecimento das suas causas
estruturais, começando por questionar resistências do direito e dos seus agentes (que o
produzem e aplicam).

Crenças ideológicas e misóginas permeiam categorias profissionais e revelam-se em


trechos de decisões judiciais, como se ilustra: “Uma mulher que comete adultério é uma pessoa
falsa, hipócrita, desonesta, desleal, fútil, imoral. Enfim, carece de probidade moral” (...) “não
terão sido alheias as condutas anteriores da vítima, designadamente os levantamentos bancários,
deixando as contas do casal a zero, a ponto de o arguido ficar sem dinheiro para pagar o almoço;
e talvez isto, o detonador da raiva que conduziu ao homicídio” (Raínho & Caneco, 2019). Ainda
que em relação a crime contra liberdade sexual, mas revelador de violência de gênero também,
Connell e Pearse (2015) referem que vítimas de estupro são julgadas no lugar do agressor,
questionando-se seu comportamento sexual, situação conjugal e motivação para noticiar
formalmente o delito. O preconceito tem início na investigação, quando policiais questionam
as vestes das vítimas, horário que saem sozinhas etc., esquecendo-se da violência sexual contra
bebês e mulheres idosas (Blay, 2014).

O direito brasileiro, a par de outros ordenamentos noutros países, expõe traços de


influência religiosa, como a salvaguarda da “honra familiar”. Stamile (2019, p. 130)
exemplifica a afirmação com o “casamento reparador”, extinção da pena com o matrimônio da
ofendida com o agressor de violação sexual. No Brasil, até 2005, o autor dos superados crimes
contra os costumes não era punido se contraísse matrimônio com a vítima (Santos, Rezende, &
Martins, 2018). O histórico de discriminação feminina em dispositivos legais não pode deixar
de mencionar permissão que vigorou formalmente no Brasil até 1831, com a substituição das
Ordenações Filipinas pelo Código Criminal do Império que referia: “Achando o homem casado
16
sua mulher em adulterio, licitamente poderá matar assi a ella, como o adultero” (Almeida, 1870,
p. 1188). O crime de adultério, considerado consumado para as esposas após único ato de
infidelidade, mas exigia comprovação de estabilidade extraconjugal (ex.: sustento da amante
para manter sua disponibilidade e fidelidade) para punir os maridos (BRASIL, 1830, p. 94).
Ressaltamos que o adultério deixou de ser crime pátrio apenas em 2005, através da Lei
nº11.106/2005; mas, a “fidelidade recíproca” (art. 1566, I, do CCB) ainda é dever dos cônjuges
(BRASIL, 2016, p. 180).

Outras respostas jurídicas “limitadas, conservadoras, seletivas e extremamente


patriarcais” (Gomes, 2015, p.210), potencializam a desconfiança das mulheres na resposta
estatal para solucionar o problema e limitam as denúncias (Franco & Nascimento, 2019). Das
brasileiras que sofrem violências: i) 52% - não tomam qualquer atitude; ii) 22,2% - procuram
órgãos oficiais e iii) 29,6% - recorrem a entidades não oficiais, como família, amigos e igreja
(Bueno et al., 2019, p.17). Esta reflexão é importante porque se sabe, por exemplo, através do
Índice de Igualdade de Gênero, desenvolvido e anualmente calculado para a Europa pelo
European Institute of Gender Equality – EIGE, que o número de violências notificadas é
ampliado diante da confiança nas instituições judiciárias (EIGE, 2016).

No domínio científico e no ativista, feministas questionam a garantia de uma efetiva


justiça social pela aplicação de normas jurídicas neutras, diante de insuficiente igualdade formal
em face às diferenças de gênero. Segundo Limna” (2018, p. 95), há rejeição ao direito penal,
mesmo em busca de maior rigor punitivo, por ser ele “um locus de reprodução de violência, de
conservadorismo e de valores patriarcais”. O sistema jurídico, para a criminologia feminista, é
androcêntrico e produz uma dupla violência contra mulheres: quando vítimas em violações
ocorridas em relações afetivo-familiares ou em âmbito doméstico, são invisibilizadas ou
subvalorizadas; quando são autoras de crimes, revelam “conjunto de metarregras” que ampliam
a punição e/ou agravam a execução das penas (Campos & Carvalho, 2011, p. 152).

A violência de gênero foi introduzida em agendas públicas e no imaginário popular


brasileiros, pela “Lei Maria da Penha”. A Lei nº 11.340/062006 (BRASIL, 2006) é fruto de
recomendações da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, diante de denúncia
formulada por Maria da Penha Maia Fernandes em 1998 (OEA, 2001), contra o Estado por não
ter decidido o seu caso, ocorrido e denunciado em 1983, referente a duas tentativas de
feminicídio, por arma de fogo e, depois, por eletrocussão, sendo que Maria da Penha ficou
17
paraplégica em decorrência do primeiro fato. A Comissão Interamericana acusou o país de
descumprimento de tratados internacionais de que era signatário (Convenção Americana de
Direitos Humanos e Convenção de Belém do Pará) e afirmou em sentença que: “O Brasil não
garantiu um processo justo contra o agressor em um prazo razoável” (Bandeira & Almeida,
2015, p. 506). Referida legislação tem como principais contributos: (i) o combate à impunidade,
ao deixar de considerar a violência que ocorre em relações de base afetiva ou relacionamentos
íntimos como crime de menor potencial ofensivo (Meneghel & Portella, 2017; Santos &
Medeiros, 2017) e (ii) a adoção de uma estratégia que procura tratar de forma integral o
problema da violência de gênero, incluindo proteção e acolhimento à vítima, afastamento e
tratamento do agressor, além de aperfeiçoamento e efetividade da prestação jurisdicional
(Cerqueira, Matos, Martins, & Pinto Junior, 2015).

A lei do feminicídio (Lei n° 13.104/2015), insere na legislação brasileira, com status de


crime hediondo (consequências da Lei nº 8.072/903), a qualificadora de assassinato em razão
do gênero feminino. Existem críticos a afirmarem que tal modificação legislativa foi
desarticulada e aproxima-se de cumprimento de mera formalidade, por não ter uma exposição
de motivos que discuta a assimetria de poderes entre homens e mulheres, não ser acompanhada
de evoluções processuais, nem da criação de iniciativas de combate ao feminicídio e/ou da
implementação de políticas públicas promotoras de igualdade (Marques, 2018). Mesmo com
essas lacunas, são conhecidas intenções do Governo brasileiro reveladoras de tendência de
mudança. Entre estas, destacamos a colaboração entre o escritório das Nações Unidas e a ONU
Mulheres, criando modelo de protocolo que inspirou as Diretrizes Nacionais para investigar,
processar e julgar com perspectiva de gênero as mortes violentas de mulheres (feminicídio)
(UNWomen, 2016). O documento serve de base aos estados para desenvolver estratégias,
protocolos de atuação, regulamentos e capacitações, visando à maior celeridade, eficiência e
eficácia na atuação frente à violência letal. Para Limna (2018), as diretrizes utilizam um modelo
que busca compreender as relações sociais com foco nos fatores estruturais da violência sobre
as mulheres (macrossociais e socioculturais) além dos fatores situacionais (como o alcoolismo,

3
Efeitos da classificação em crime hediondo: i) antes da condenação: o prazo da prisão temporária passa de 10
dias para 30 dias, prorrogável por igual período e ii) depois da condenação: perde-se o direito a indulto, anistia
ou graça; a depender de decisão judicial, o condenado não poderá apelar em liberdade; o início de
cumprimento da pena será sempre em regime fechado; exige-se o cumprimento de 2/5 da pena (condenado
primário) ou de 3/5 (condenado reincidente) para a progressão de regime, sendo o requisito objetivo exigido
nos demais crimes de 1/6 da pena privativa de liberdade e o prazo para livramento condicional aumenta para
2/3, sendo o réu primário (Prates, 2020).
18
desemprego, entre outros). Seguindo tendência semelhante, ainda podemos citar iniciativas
recentes, como: i) a Resolução Conjunta nº 05, de 03 de março de 2020, firmada entre o
Conselho Nacional de Justiça e o Conselho Nacional do Ministério Público, que institui o
“Formulário Nacional de Avaliação de Risco para a prevenção e o enfrentamento de crimes e
demais atos praticados no contexto de violência doméstica e familiar contra a mulher”, que
busca reunir informações para avaliar o risco e atuar de forma preditiva (CNJ/CNMP, 2020) e
ii) a Portaria nº 340, de 22 de junho de 2020, do Ministério da Justiça e Segurança Pública, que
cria o “Protocolo Nacional de Investigação nos Crimes de Feminicídio”, com a finalidade de
subsidiar e contribuir com a padronização e uniformização dos procedimentos aplicados pelas
policias judiciária e científica (BRASIL, 2020).

1.2 Feminicídio entre parceiros íntimos

“(...) deixar andar e ir calando” (Lisboa & Pasinato, 2018, p. 78), é uma expressão de
uma mulher açoriana que ilustra o silêncio de mulheres agredidas em contexto de intimidade,
seja em território português, brasileiro e outros no globo. Este silêncio é agravado pela
inércia/omissão de organismos estatais que, por sua vez, pode ser explicada pela separação entre
os domínios e espaços público/privado (Limna, 2018) e pelo obsoleto entendimento de não
intervenção do poder público em âmbito doméstico. A gradual assunção de responsabilidade
por parte dos Estados, com a consequente definição de políticas públicas, emissão de legislação
protetora de vítimas e sancionadora de perpetradores de crimes por razões de gênero,
reveladores da subalternidade feminina (Costa, 2019), deve-se a ações de movimentos
feministas e organismos internacionais, que inseriram a violência de gênero na agenda política
de muitos países (Mendes, Duarte, Araújo, & Lopes, 2013). Dentre os importantes documentos
internacionais para o reconhecimento dos direitos das mulheres, destacamos a Convenção sobre
a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres (CEDAW), também
por ter antecedido outros documentos igualmente fundamentais e talvez mais conhecidos, como
a Declaração e Plataforma de Ação de Pequim, de 1995. A CEDAW sigla para Convention on
the Elimination of All Forms of Discrimination against Women (Resolução 34/180, de 18 de
Dezembro de 1979) definiu, de forma inovadora uma agenda para a ação: eliminar a
discriminação contra as mulheres; alcançar a igualdade substantiva, na prática do quotidiano;
agir quer no domínio público quer no privado; agir em todas as áreas da vida das mulheres e
agir em prol de todas as mulheres, de todo o mundo (Costa, 2017, p. 51).

19
A violência de gênero é transversal, independe de padrão socioeconômico e apresenta
discretas variações quanto a idade, instrução ou rendimento da vítima (Lisboa & Pasinato,
2018). Pode manifestar-se de forma combinada, reunindo mais de um tipo de violência: física,
psicológica, sexual, patrimonial etc. e, apesar desta diversidade, tende a ser sonegada diante de
negativa de “fracasso” afetivo e velada imunidade usufruída pela esfera privada. No Brasil,
contribuem com a invisibilidade da violência de gênero: a violência urbana e o que Marilena
Chauí (2011) denomina de mito da “não-violência” a coberto do qual se mantêm cenários de
violações, ofuscando a autopercepção (e a de terceiros) sobre a condição estruturalmente
violenta da sociedade brasileira.

Figura 1 – Mecanismos ideológicos da “não violência”

Fonte: adaptado de Chauí, 2011, pp. 382-383.

Mesmo diante da admissão de uma violência, o mito atua na interpretação de seu


significado, construindo explicação para denegá-lo implicitamente (Chauí, 2011, pp. 382-383).
A violência urbana brasileira, por sua vez, atua de maneira diferente para “engolir” a violência
de gênero, ao transmitir a falsa ideia de que índices baixos, quando comparados aos números
das demais violências, são sinônimos de desimportância, não gravidade e não prioridade. Para
melhor situarmos a magnitude da violência de gênero letal frente a outros homicídios,
apresentamos padrão de vitimização dos homicídios por sexo, no Brasil, entre 2008 e 2018, que

20
tem 91,8% de vítimas do sexo masculino, 8% do feminino e 0,2% ignorado (Cerqueira et al.,
2020, p.67), além de citarmos os cinco grupos sugeridos por Feltran (2019):

Figura 2 – Dimensão de mortes violentas intencionais separadas em grupos

Fonte: adaptado de Feltran, 2019, pp. 30-31.

Apesar da percentagem comparativamente baixa, que coloca os feminicídios no terceiro


grupo, o Brasil vive uma “epidemia da violência” (OEA, 2018, p. 25). A cada duas horas uma
mulher foi assassinada no País em 2018, totalizando 4.519 vítimas (Cerqueira et al., 2020).
Dados do Monitor da Violência (Velasco, Caesar, & Reis, 2019) apontam uma diminuição em
6,7%, entre 2017 e 2018, dos homicídios dolosos contra mulheres e um aumento de 12% dos
feminicídios, no mesmo período, tendo ocorrido 1.173 casos entre 2012 e 2017 e, neste período,
a taxa de homicídio de mulheres fora da residência caiu em 3,3% e, dentro de casa, cresceu
17,1% (IPEA, 2019).

21
A distinção de tendência entre esses dois cenários de crimes, também foi observada por
Cerqueira e outros (2020), com redução da taxa de homicídios femininos fora da residência em
11.8%, entre 2013 e 2018, e aumento da taxa de homicídios femininos na residência em 8,3%,
no mesmo período e pelo Anuário Brasileiro de Segurança Pública, conforme ilustração abaixo
(Figura 3):

Figura 3 – Homicídios de mulheres e feminicídios no Brasil entre 2015-2019

Fonte: adaptado de Bueno et al., 2020, p.119.

Uma análise precipitada poderia induzir em erro, quando o Estado do Paraná apresenta
35,1%, figurando entre os três Estados brasileiros com as maiores reduções da violência letal
contra as mulheres no decênio (2008-2018), atrás do Estado do Espírito Santo (52,2%) e de São
Paulo (36,3%). Outras estatísticas mostram, porém, que entre 2017 e 2018, os assassinatos de
mulheres no Paraná diminuíram 21,2% enquanto os feminicídios aumentaram 47,7% (Bueno et
al., 2019).

22
Figura 4 – Homicídios de mulheres e feminicídios no Brasil e no Paraná

Fonte: adaptado de Bueno et al., 2019, p.106.

Destacamos que a diversidade de fontes, conceitos adotados e critérios de análise


escolhidos fazem-nos olhar para a qualidade estatística paranaense e brasileira com ressalvas.
A esses desafios, Cerqueira e outros (2019) acrescentam a novidade da Lei nº 13.104/2015,
acompanhada por processo de aprendizado de agentes de segurança e justiça, que qualificam
ser impossível afirmar se houve um aumento efetivo dos feminicídio ou uma diminuição da
subnotificação.

Para Lagarte (2004) as agressões aumentam diante de violações a outros direitos


humanos, condições sociais e econômicas de marginalização e exclusão social/jurídica/política.
Além da abordagem teórica subjacente a esta análise de correlação entre fatores, assente na
Teoria da desorganização social ou Teoria da Anomia, proposta por Robert Merton, em 1949,
nos EUA, a teoria criminológica do autocontrole pode explicar intensificação da violência
(Amaro, 2019). Além desta abordagem macrossocial, é também conhecido que em países com
altos índices de violência letal por arma de fogo, ampliam-se as chances de mulheres
assassinadas (GenevaDeclaration, 2015). No contexto português, as análises das circunstâncias
de ocorrência dos femicídios, efetuadas pelo Observatório de Mulheres Assassinadas (OMA),
da Associação feminista UMAR (União de Mulheres Alternativa e Resposta), revelam uma
associação entre o recurso a arma de fogo e o homicídio consumado e, por outro lado, o recurso
a arma branca e a tentativa de homicídio (OMA-UMAR, 2020).

As crenças que valorizam “o machismo, o culto à virilidade e o padrão de resolução de


conflitos violento e privado” (Meneghel & Portella, 2017, p. 3080) tendencialmente
predominam e influenciam mais os comportamentos em comunidades caraterizadas por
elevados níveis de desorganização social. O modelo de família assente na divisão sexual e social
de funções, responsabilidades e atribuições, em que o homem é o “ganha pão” e a mulher a

23
cuidadora, também é associado à violência na intimidade (Aboim, 2008, p. 285), na
contemporaneidade por via de perda do estatuto simbólico masculino de provedor. Existem
constrangimentos sociais sobre o homem não provedor, elemento de maior peso na definição
de virilidade, segundo Saffioti (2004).

Johnson e outros (2017), incluem fatores de ordem familiar e pessoal que também
podem contribuir para o feminicídio: histórico de violência masculina no relacionamento,
separação real ou pendente, comportamento obsessivo e depressão por parte do agressor,
escalada de violência, ameaças ou tentativas anteriores de suicídio, ameaças anteriores de matar
a vítima, tentativas de isolar a vítima e sensação de medo das vítimas. O fim ou manifesta
vontade de romper o relacionamento, já citados, também figuram no rol de motivos reunidos
por estudo global (UNODC, 2018) ao lado de ciúme (eg. Lisboa et al., 2009) e constatação ou
suspeita de infidelidade. O que está em causa é a expressão de perda de alguém que se considera
controlar e possuir. Nas palavras de Conceição (2009):

Como o território humano não é meramente físico, mas, também, simbólico, o homem,
considerado todo-poderoso, não se conformava quando sua mulher o abandonava por
não mais suportar seus maus tratos. Qualquer que seja a razão do rompimento da relação,
quando a iniciativa é da mulher, isto se constituiu uma afronta para ele. Na condição de
macho dominador, não pode admitir tal ocorrência, podendo chegar a extremos de
crueldade (Conceição, 2009, p. 116).

Estas considerações chamam a atenção para a dimensão simbólico das masculinidades,


que, ao ser considerada, poderá revelar maior eficiência no planeamento das estratégias de ação.
Por exemplo, o plano australiano para redução da violência sobre as mulheres e seus filhos
(2010-2022) destaca:

(...) o elemento central da violência doméstica é um padrão contínuo de comportamento


que visa controlar um parceiro através do medo, por exemplo, usando comportamentos
violentos e ameaçadores. Na maioria dos casos, o comportamento violento faz parte de
uma série de táticas para exercer poder e controle sobre as mulheres e seus filhos e pode
ou não ser tipificado criminalmente (AUSTRÁLIA, n.d., p. 56).

Outros estudos constatam ampliação da vulnerabilidade feminina ao feminicídio diante


de fatores como disparidade etária entre o casal e superioridade feminina, seja econômica e/ou
social (Agra, Quintas, Sousa, & Leite, 2015).

24
Capítulo 2 Estratégias de domínio e manutenção da subalternidade feminina

Caridade & Machado (2006, p. 485) recorrem à Walter (1994) para reforçarem que “as
mulheres sempre foram maltratadas pelos homens, assumindo um estatuto de subordinação e
subserviência”, chamando a atenção para a persistência do fenômeno ao longo dos tempos,
além da transversalidade, em diferentes sociedades e nas várias categorias da população
sociologicamente criadas, com base na idade, rendimento, escolaridade, entre outros fatores. A
mudança necessária é também analítica e, consideramos neste estudo, está na importância de
aplicar uma lente de gênero, que transcende o foco nos fatores de ordem individual e/ou
relacional para os dotar de sentido e significado em função também das circunstâncias em que
decorrem os abusos. As circunstâncias permitem trazer, numa análise mais complexa e
integrada, fatores macrossociais e estruturais para a análise, sem, no entanto, dispensar os
restantes, suprarreferidos.

Como se referiu anteriormente, as evidências indicam que controle e coerção em


relacionamentos íntimos favorecem agressões, incluindo as letais, cujo risco aumenta em um
fator de nove, diante do elevado nível de controle de mulheres nessas uniões, segundo Glass e
outros (2004) citados por Stark (2012).

As raízes de um padrão de dominação são influenciadas pelo modo como se concebe o


gênero, que tende a reforçar uma divisão entre masculinidades e feminilidades, resultando e,
em simultâneo, reforçando desigualdades estruturais de gênero. A sua manutenção, depende do
que Bourdieu (2002, p. 46) chama de “trabalho incessante de reprodução” da dominação
masculina, exercido pelo controle sobre as mulheres. Dentre os inúmeros privilégios dessa
discriminação, destacamos a falsa imunidade, que autoriza a coerção para “disciplinar” a
mulher que e quando ela desafia o controle (im)posto.

2.1 Influência da ordem de gênero na violência contra mulheres

As categorias de gênero “sustentam a hierarquia dos gêneros e a heterossexualidade


compulsória” (Butler, 2003) e encontram-se disfarçadas sob um manto de correspondência
biológica que as tornam, pretensamente, imutáveis. A naturalização dos papeis sociais apoiados
em atributos físicos serve para manter sistema de privilégios e mecanismos de vantagem (Costa,
2017), o que dificulta questionamentos e iniciativas de reforma.

25
A dominação masculina é sustentada pelo patriarcado que, segundo Saffioti (2005),
evidencia sua força e mecanismos que operaram sem cessar e quase automaticamente. Pierre
Bourdieu, responsável pela disseminação do conceito de dominação masculina, atribui à
dispensa de sua justificação a força da ordem masculina, posto que a “visão androcêntrica
impõe-se como neutra e não tem necessidade de se enunciar em discursos que visem a legitimá-
la” (Bourdieu, 2002, p. 18).

O gênero não expressa realidade preexistente, assim, admite capacidade de agir de


forma subversiva, contrária às lógicas deterministas: “o que se faz também se pode desfazer”
(Torres, 2018, p. 7). No entanto, tal agência não é ilimitada. Inspira-se em ações institucionais,
relações de poder, práticas e discursos, revelando identidades através de ações repetidas (Butler,
1998, apud Dias, 2017). Connell e Pearse (2015) observam não haver liberdade total para
fazermos nosso próprio gênero, sustentando que, ao invés, dependemos da ordem de gênero em
que estamos inseridos.

A ordem de gênero de determinada sociedade cria e recria formas e códigos de


masculinidades e de feminilidades, organizando a relação entre eles; assim, a ordem de gênero
“é um sistema padronizado de práticas ideológicas e materiais, realizado por indivíduos em uma
sociedade, por meio do qual as relações de poder entre mulheres e homens são feitas e refeitas,
como significativas” (Pilcher & Whelehan, 2001, p. 61). Dentre suas possíveis consequências,
a ordem de gênero determina “a ocupação de espaços distintos por homens e mulheres e o seu
acesso diferenciado ao poder, instituindo e legitimando mecanismos de violência, real ou
simbólica, em relações íntimas e/ou institucionais” (Neves et al., 2017, p.xix).

26
Figura 5 – Fatores que contribuíram com a origem da hierarquização/dominação do masculino
sobre o feminino

Fonte: adaptado de Januário, 2016, p. 81.

Com o tempo, a dominação masculina foi-se tornando mais sutil ou sofisticada, até que
a influência dessa ordem de gênero tornou-se tão poderosa a ponto de afetar as escolhas das
mulheres que, por imposição social, têm suas condutas predefinidas e dispõem de
possibilidades comportamentais restringidas (Costa, 2017). Combinação entre ordem de gênero
e binarismo sexual que, destaca “o homem como machista, provedor e com inserção no espaço
público e a mulher como cuidadora, frágil e subalterna” (Rodrigues, Machado, Santos, Santos,
& Diniz, 2016, p. 9), constitui ponto central das violências de gênero (Torres et al., 2018;
Neves, Pereira & Torres, 2018; Ataíde, 2015; Guerreiro et al., 2015; Neves, 2014; Ventura,
Ferreira & Magalhães, 2013; Murta et al., 2010).

27
Apesar de, entre outras/os, Aboim (2008, p. 275) constatar que existe uma combinação
de tradições e modernidades para a construção das masculinidades, numa interpretação que
suaviza dualidade entre masculinidades hegemônicas e não-hegemônicas, considerando que
constituem “um bloco híbrido que incorpora elementos diversos e até contraditórios”, as
transformações das masculinidades, ainda mantêm subordinação de mulheres e de outras
masculinidades.

Embora sejam considerados os efeitos negativos inerentes às masculinidades


tradicionais (como se demonstra para o contexto português e europeu em Torres et al.,2018),
lembramos a advertência de Connell (2016, p. 99): “As desvantagens são, de modo geral, as
condições das vantagens”. Ninguém está constrito a determinada performance, apesar de a
agência restringir-se às práticas sociais normatizadas, lembramos que estas não obrigam o
indivíduo mecanicamente e o determinismo social é um erro (Connell & Pearse, 2015).

2.2 A violência de gênero como uma das táticas de controle coercitivo

As masculinidades constroem um conjunto de prescrições para gerirem emoções e


afetos dos indivíduos (Santos, 2015) e têm a violência como importante instrumento de
controle. Estatísticas apontam para a violência praticada majoritariamente por homens, contra
mulheres e também contra outros homens. Daltoé e Bazzo (2018) justificam tais agressões
como forma de manutenção de poder e, em vítima mulheres, também para a correção de desvios
(desobediência e resistência a modelo social de dominação/exploração). De forma semelhante,
Lagarde (2004) refere que homens são socializados a utilizarem a violência como estratégia de
resposta à contrariedade, impotência e concorrência, bem como para demonstrarem poder e
controle, enquanto mulheres são instruídas a compreenderem, desculparem e aceitarem
desigualdades. Blay (2014) acrescenta que a reação violenta diante de vontades questionadas é
observada em homens socializados a definirem masculinidades como sinônimo de virilidade,
força e dominação.

Para Stark (2009), o controle coercitivo é estratégia (padrão contínuo) de dominação


escolhida por homens para subordinar suas parceiras na esfera pessoal, pela conjugação de
repetidas ações de intimidação, degradação sexual, isolamento e controle, podendo acrescentar
agressões mais graves a tais práticas, como as violências física e sexual, tudo isso para reforçar
performances socialmente esperadas. Assim, o controle coercitivo não se resume a um extremo
28
de um continuum, possui dimensões temporais e espaciais identificáveis, dinâmica típica e
consequências previsíveis (Stark, 2009; 2014). A Organização Mundial da Saúde (OMS, 2012,
p. 2) considera comportamentos controladores os atos para “isolar uma pessoa da família e
amigos/as; monitorar seus movimentos e restringir o acesso a recursos financeiros, emprego,
educação ou assistência médica.

Retomando Stark (2009; 2012; 2014) o controle objetiva isolar, regular e garantir a
obediência indireta, pela privação de recursos vitais e sistemas de apoio, ao explorar a vítima,
ditando escolhas de forma prévia, estabelecendo regras para a vida cotidiana e
microgerenciando seu comportamento. Dentre as táticas usadas, sobressaem: limitação da
autonomia, regulação e monitoramento de atividades associadas a estereótipos femininos como
mães, esposas, mulheres “de bem” e é exercido mesmo diante da ausência física do dominador,
i.e., fazem com que a parceira sinta que o abuso é abrangente e o agressor é onipresente.

A coerção objetiva ferir e intimidar a vítima pelo uso de força ou ameaças para obrigar
ou desestimular uma resposta específica, gerada por meio da dor, sofrimento ou medo de morte
imediata; a longo prazo, a coerção pode gerar consequências físicas, comportamentais ou
psicológicas. Dentre as táticas usadas para coagir, sobressaem: violência, intimidação, ameaça,
perseguição, degradação e vergonha por humilhação (Stark, 2009; 2012; 2014).

Outras referências à obra de Stark (2009; 2012; 2014), permite-nos expor que tal modelo
de opressão, experienciado em relações de intimidade, se vai consolidando num padrão por
meio de táticas adaptáveis, por tentativa e erro, e identificando e manipulando as
vulnerabilidades da parceira e os benefícios e custos percebidos pelo agressor, que vai
percebendo o que parece resultar melhor naquele relacionamento e naquele determinado
momento do relacionamento; as táticas usadas são também influenciadas pela sociedade e pela
cultura.

Em muitos ordenamentos jurídicos das sociedades que reconhecem a violência de


gênero como problema social, as táticas não são tipificadas criminalmente, raramente são
identificadas como abuso e, nesse sentido, quase nunca são alvo de intervenção. Exceção a ser
citada é a legislação inglesa, que, na seção 76, da Lei de Crimes Graves de 2015, passou a
considerar um crime autônomo a ofensa de controle ou comportamento coercitivo em
relacionamento íntimo/familiar cotidiano” (CPS, 2017).
29
Figura 6 Definições governamentais inglesas que inspiraram a tipificação legal

Fonte: Adaptado de Crown Prosecution Service - CPS, 2017.

Anterior a esta proposta programática do Governo inglês, é a proposta teórica de


Johnson (1995, 1998) e Johnson e Ferraro (2000) (Costa, 2011) que identificou a dinâmica
dominadora como parte do padrão que designou “terrorismo íntimo” (Johnson, 2011). A
tipologia, na sua forma mais recente integra: i) terrorismo íntimo - uso de violência e outras
táticas de controle coercitivo, por um dos parceiros, para assumir dominação geral sobre o outro
e que constitui representação popular da “violência doméstica”; ii) resistência violenta -
resposta ao terrorismo íntimo em uma tentativa de administrar a ação do parceiro, sendo mais
utilizada pelas mulheres (entre casais heterossexuais) e iii) violência situacional – evolução de
discussão verbal a agressão física em situações de conflito específico, raiva ou frustração;
demonstrando ou, pelo menos, sugerindo, que ambos os parceiros têm pouca capacidade para
gerir conflitos e/ou para controlar a raiva (Johnson, 2011; Johnson, Leone & Xu, 2014).

Na nossa perspetiva, resultante da revisão de literatura, percebemos inexistir relação


linear entre controle coercitivo e violência física, esta é apenas mais uma das muitas táticas
daquele. Myhill (2017) desaconselha mesmo uma associação entre o nível de controle
coercitivo e o emprego frequente de violência física, sugerindo a análise do contexto da
dominação, isto é, o conjunto de táticas utilizadas, a sua frequência e a sua severidade. Nas
palavras do autor, no excerto abaixo fica, a nosso ver, muito claro a importância do contexto e
a análise dos elementos que o compõem, ilustrando a gravidade e a relevância das táticas de
controle coercitivo, mesmo sem incluir a violência física:

Consider the case of a man who, among other degrading acts of abuse, ejaculates over
his partner while she asleep and forbids her to wash it off before she sees him again.
This man controls most elements of his partner’s life, including her clothing and sleep.
He makes threats to harm her and things close to her, such as her pets. He is sometimes
also physically violent. His partner remains with him because she is scared, he will kill
her if she tries to leave (Myhill, 2017, p. 40).

30
O grave impacto das táticas de controle coercitivo, mesmo sem incluir a violência física
pode ser identificado e dimensionado por seus efeitos duradouro e de onipresença, pois o medo
do perpetrador, referido por mulheres pós relação com controle coercitivo não-violento supera
o temor das que sofriam controle coercitivo violento – como resulta de um estudo que
investigou mães que sofriam controle coercitivo não-violento, mães vítimas de controle
coercitivo violento e mães livres de controle e violência (Crossman, Hardesty, & Raffaelli,
2016). Apesar de o estudo citado não coincidir com o nosso, no objeto, sujeitos, nem objetivo,
é importante analisar melhor os seus resultados (apresentados na Figura 7), pois, admitimos em
tese, que o controle coercitivo não-violento tem elevada probabilidade de ser encontrado na
análise retrospetiva dos casos julgados, e que constituem o corpus de análise do nosso estudo.

Figura 7 – Comparação entre os comportamentos durante o relacionamento íntimo e após seu


término em três grupos de mães

Fonte: adaptado e traduzido de Crossman, Hardesty, & Raffaelli, 2016, p. 463.

A revisão de literatura, incluindo estudos como este, por exemplo, sugere a importância
de incluir controle coercitivo não-violento na triagem, avaliação de risco e durante a pesquisa
criminal, como defendido por exemplo por Nevala (2017); Crossman, Hardesty e Raffaelli

31
(2016) e como sugere também o resultado da análise de feminicídios em contexto de intimidade
sem histórico anterior de violência física (Johnson, Eriksson, Mazerolle, & Wortley, 2017).

Figura 8 – Destaques de Even Stark sobre consequências do controle coercitivo e sugestões de


enfrentamento

32
Fonte: adaptação de Stark, 2019; 2012; 2014.
33
O controle coercivo pode ser entendido como práticas de “um casamento ‘ruim’” (com
episódios interpretados como menos graves), sendo a sua descrição recorrente em serviços de
apoio a vítimas. Limna (2018, p. 122), relacionou a prática do feminicídio ao controle coercitivo
e encontrou, em autos criminais, referências ao “sentimento egoístico de posse”, onde foi
explorado de forma naturalizada, como uma característica biológica masculina, tanto pela
acusação (qualificando-o negativamente) como pela defesa (considerando-o positivo ou
compreensível), sem que houvesse no embate jurídico uma problematização das origens sociais
do controle coercitivo.

A revisão de literatura permitiu estabelecer o quadro teórico-conceitual em que se


questiona o feminicídio como mais uma manifestação de violência de gênero. Além disto,
sugeriu a necessidade social e relevância sociológica de desenvolver um estudo numa
perspetiva de gênero. Assim, na parte seguinte da dissertação, propomos analisar, com recurso
ao método de análise retrospectiva, processos criminais de feminicídios concluídos: (i) nos
quatro anos seguintes à publicação da Lei do Feminicídio; (ii) numa cidade brasileira na qual a
expressão quantitativa do feminicídio é atípica, de tão elevada: Curitiba, no Estado do Paraná.

34
PARTE II

Estudo de casos de feminicídio julgados em Curitiba

entre 10/03/2015 e 11/03/2019

35
Capítulo 3 Opções metodológicas

Este estudo assume natureza exploratória por abordar um tema pouco estudado,
principalmente numa perspectiva de gênero e no domínio ou área dos estudos de gênero,
predominando o domínio dos estudos jurídicos.

O objetivo sugere que se desenvolva um estudo qualitativo analisando


retrospectivamente processos judiciais de feminicídios, julgados entre 10/03/15 a 11/03/2019,
em Curitiba, para identificar a existência de comportamentos de controle coercitivo, entre
outros fatores com capacidade preditiva de feminicídios, distinguir tipos de reação das vítimas
aos abusos, identificar o(s) ator(es) (formais e informais) que tomou/tomaram conhecimento
dos abusos, gerando-se oportunidades de intervenção, eventualmente com capacidade
preventiva de feminicídios.

O objetivo geral do estudo consiste em compreender os fundamentos ou motivos e as


circunstâncias ou contexto de ocorrência do feminicídio. Este objetivo geral integra quatro
objetivos específicos, três procuram aprofundar aquela compreensão a partir de uma
perspectiva – a de cada um dos atores envolvidos nos processos judiciais:

1) Identificar nas cronologias de feminicídios a existência de manifestações de controle


coercitivo;
2) Individualizar regularidades e combinações envolvendo táticas de controle
coercitivo;
3) Verificar a existência ou não, quantificando-a, de reações das vítimas aos abusos e

O quarto objetivo específico consiste em (4) reconstituir a cronologia dos


acontecimentos, voltada a uma sucessão ordenada, para compreender as interações entre
diferentes atores sociais, identificar as oportunidades para a intervenção e os momentos e/ou
circunstâncias mais presentes nos momentos de pedido de ajuda pelas mulheres e que antecedeu
o feminicídio.

O referencial teórico que guiará a análise retrospectiva, apresentado na parte anterior da


dissertação, implica ampliar o conhecimento acerca da influência de razões de gênero na
motivação de homens que assassinam parceiras ou ex-parceiras (Garcia, Freitas, Silva, &

36
Doroteia, 2015) e apurar eventuais manifestações de controle coercitivo, para caracterizar e
melhor conhecer.

O período selecionado para a recolha de processos a analisar corresponde a quatro anos.


A escolha deste período justifica-se pela publicação da lei do feminicídio, Lei nº 13.104/2015,
a 09 de março, iniciando-se a recolha de processos com data subsequente, a partir de 10 de
março de 2015, até igual data do ano mais próximo ao da redação desta dissertação: 2019.
Daltoé e Bazzo (2018), analisaram os feminicídios denunciados durante o primeiro ano de
vigência da lei do feminicídio e Curitiba consignou 11 casos, ocupando uma posição relativa
cimeira, ao ficar à frente dos demais 399 municípios paranaenses. O acesso às fontes e o fator
tempo também influenciaram a escolha de Curitiba, local de atuação profissional da
pesquisadora, como delegada de polícia judiciária.

De acordo com Max Weber, na Sociologia clássica, esta é a “ciência que tem como meta
a compreensão interpretativa da ação social de maneira a obter uma explicação de suas causas,
de seu curso e de seus efeitos” (Weber, 2002, p. 11).

Neste estudo adotamos a sociologia compreensiva weberiana, por facilitar a


compreensão do sentido subjetivo da ação social. A ação, enquanto conduta humana dotada de
sentido subjetivo que norteia o agir, mesmo que tal sentido intencional não seja claro antes e
durante a ação para quem age, admitindo-se que se torne claro em momento posterior; a ação
social inclui a resposta de outrem ao sentido subjetivo do agente, pressupondo possibilidade de
referenciar condutas de terceiros – condutas presentes, futuras e/ou passadas.

Weber entende sermos “capazes de agir propositalmente, levando em conta as múltiplas


possibilidades dos resultados de nossas ações” (Tormin, 2017, p. 94). No entanto, não se trata
de causas deterministas. Weber prevê possibilidades de, em certas condições, determinados
indivíduos tenderem a determinado comportamento (Weber, 1992).

3.1 Cronologias de feminicídios nas relações de intimidade

A delimitação de ordem e sucessão dos acontecimentos anteriores ao feminicídio,


permitem o destaque (e posterior análise) das intenções do agente e das reações, previstas por
ele e/ou efetivamente manifestadas pela vítima.

37
Além de ajudar a compreender esses assassinatos, a elaboração de cronologias de
feminicídios, a partir de assentamentos e narrativas em sede processual, pode contribuir para
melhor calcular o risco de violência letal. Isto, por sua vez, poderá apoiar definição de políticas
públicas adequadas à prevenção do feminicídio e a melhoria da capacitação dos agentes.

3.1.1 Marcadores de risco em feminicídios nas relações de intimidade

A Organização Mundial da Saúde (OMS) é um dos organismos internacionais que há


mais tempo dedica atenção à prevenção e organização da intervenção em casos de violência de
gênero, enquanto violência doméstica contra as mulheres (OMS, 2005). Devido a notoriedade
institucional e a atenção dada ao tema, escolhemos os fatores de risco propostos pela OMS
(2012, p. 4) para iniciar a composição de uma grelha de análise a aplicar a todos os processos.

Uma vez que os processos judiciais são casuísticos, os indicadores disponíveis para
análise são predominantemente de ordem pessoal. Assim, os quatro primeiros fatores de risco
dizem respeito a indivíduos: perpetrador e vítima do crime. O quinto fator de risco.

Figura 9 – Indicadores com potencial para sugerirem risco de prática de feminicídio ou de ser
vítima deste crime

Fonte: Elaboração própria baseada em fatores de risco sugeridos pela OMS, 2012.

Os indicadores de controle coercitivo têm definição inspirada nas oito fases de padrão
comportamental proposto por Monckton-Smith (2019). Esses indicadores traduzem marcos de
possessividade, ciúme extremo, ameaças etc. que, segundo Johnson e outros (2017) são

38
desencadeados por outros marcadores identificáveis da perda de controle, como a separação
iminente ou a infidelidade real ou imaginada.

Para Monckton-Smith (2019) não é a quantidade de marcadores de riscos isoladamente


considerados a melhor forma de se identificar potencial iminência de um feminicídio, mas a
combinação entre eles. Em relacionamentos com controle, violência e separação pós-
convivência, por exemplo, há 900% de aumento do potencial de feminicídios (National Center
for Injury Prevention, 2003 apud Monckton-Smith, 2019, p.3).

3.1.2 Análise retrospectiva de feminicídios

Na maioria das localidades em que foram implantadas, as equipes de análise


retrospectivas de mortes por violência doméstica organizam e descrevem circunstâncias
anteriores aos assassinatos com o propósito de identificar: fatores de risco ambientais e
humanos; histórico de comunicação com os serviços de apoio; potenciais pontos de intervenção;
lacunas ou falhas nas prestações de serviços; inadequações de políticas públicas; além de
oportunidades e estratégias para a reforma legislativa e do sistema de prevenção/combate a
violências (Bugeja, Dawson, McIntyre, & Poon, 2017).

Em Portugal, a Equipa de Análise Retrospetiva de Homicídio em Violência Doméstica


portuguesa (EARHVD, 2017), regulamentada em 2017, avalia casos de homicídio ocorridos
em contexto de violência doméstica e elabora, para cada caso, diagnóstico técnico-científico da
utilização, rejeição ou alheamento das respostas sociais de prevenção da violência doméstica e
de proteção das suas vítimas. Em um segundo nível, formaliza recomendações para melhoria
dos procedimentos em vigor no sistema de justiça criminal e na rede nacional de apoio às
vítimas de violência doméstica (EARHVD, 2019).

Usando o conhecimento acumulado pela equipa portuguesa, que, na preparação do seu


trabalho procedeu a uma recolha e adequação de modelos similares usados noutros contextos
(países europeus e outros), recorremos também ao método de análise retrospetiva. O método
serve o objetivo de estudo e, assim, respeita a opção teórica por centrar a análise retrospetiva
de feminicídios no quadro dos estudos de gênero, mobilizando conceitos como ordem de
gênero, adotando uma perspetiva analítica definida pelo uso de umas “lentes de gênero”, e
mantendo presentes dados estatísticos da violência de gênero contra as mulheres.

39
3.1.3 Modelo de análise

O modelo de análise (representado na Figura 10) descreve a influência da ordem de


gênero no feminicídio, considerando o relacionamento num continuum (representado com uma
linha a azul no centro do diagrama), que se analisa desde o início do relacionamento íntimo até
a tentativa ou a consumação do feminicídio. A cronologia permite identificar e descrever a
ordem e a sequência dos acontecimentos entre estes dois momentos. Para compreender o
processo e as interações entre agentes, situando-as num dado contexto, procuraremos
identificar, no processo judicial e a partir das narrativas dos diferentes agentes, os fatores de
risco e comportamentos de controle coercitivo – de acordo com a grelha de análise composta
por cinco dimensões (que correspondem a fatores, sendo, cada uma delas, constituída por
diferentes indicadores).

As reações da vítima aos abusos e as oportunidades de intervenção (representados


abaixo da linha do relacionamento, usando a cor azul mais escura) são aí representadas pois,
admite-se, influenciam o relacionamento e interagem com o desfecho em feminicídio. Além
deste pressuposto, também se admite que existem trocas, bidirecionais, entre a reação da vítima
e eventuais oportunidades de intervenção. Por um lado, a reação da vítima pode criar ou dar
lugar a uma oportunidade de intervenção; por outro, as oportunidades de intervenção
retroalimentam a reação da vítima. As oportunidades de intervenção podem envolver contatos
com a justiça, forças de segurança, saúde, serviço social e fontes de apoio informal,
representados, em conjunto, também por intervirem, em alguns casos, ao mesmo tempo, embora
podendo não interagir nem trocar dados ou planear a ação entre si. As ameaças ao controle
coercitivo (quadro amarelo localizado mais perto de feminicídio), reúnem eventos com o
potencial de enfraquecer a dominação masculina, como a separação do casal e dificuldades
financeiras. A representação deste elemento perto das oportunidades de intervenção justifica-
se por, em determinados casos, serem as oportunidades para intervir que dão lugar à contenção
do controle coercivo. Quando não é este o efeito, como descreve a literatura e ficou explicado
na primeira parte desta dissertação, as ameaças ao controle coercitivo usado pelo homicida
podem coincidir com disparadores de risco, que intensificam a dinâmica de dominação e
tendem a gerar a mudança de pensamento do controlador, que desiste do relacionamento, decide
matar a vítima e inicia o planejamento para consumar o crime.

40
Figura 10 – Modelo de análise: Dinâmicas de controle coercitivo em processos criminais julgados em Curitiba nos primeiros quatro anos de
vigência da lei do feminicídio

ORDEM DE GÊNERO
ISOLAR REGULAR FERIR INTIMIDAR
(privação de recursos/apoios) (imposição de regras) (agressão) (ameaça/perseguição)
2017

TÁTICAS DE TÁTICAS DE NÍVEL NÍVEL


CONTROLE COERÇÃO INDIVIDUAL AFETIVO/FAMILIAR
(obediência) (dor, sofrimento e medo)

HISTÓRICO RELACIONAMENTO RELACIONAMENTO COM OUTROS


DE PRECOCE CONTROLE COERCITIVO ANTECEDENTES
CONTROLE E VIOLÊNCIAS
COERCITIVO

INDICADORES DE RISCO E DE CONTROLE COERCITIVO


2017
INÍCIO DO cronologia FEMINICÍDIO
RELACIONAMENTO EM CONTEXTO
passado afetivo ÍNTIMO Legenda DE INTIMIDADE

REAÇÃO DA VÍTIMA OPORTUNIDADES AMEAÇAS AO CONTROLE COERCITIVO


Barra preta – Tentativa de homicídio Barra verde – Inicio da relação/nascimento filhos; Barras vermelhas - Antecedentes/fatores de risco; Barra
DE INTERVENÇÃO E POSSÍVEIS DESDOBRAMENTOS

Intervenção da sociedade civil Contactos com a Justiça; Contactos com as Forças de Segurança; Contactos com a LNES - 144
governamentais GATILHO ESCALADA MUDANÇA PLANEJAMENTO
DE TÁTICA
Na RVD-1L foram assinalados 10 fatores de risco – Risco ELEVADO:

O 1.º “O ofensor alguma vez usou violência física contra a vítima? Há quantos anos ocorreu o 1.º episódio? 10 anos”; o 2.º “O ofensor alguma vez usou violência física cont
o 3.º “O ofensor já tentou estrangular (apertar o pescoço), sufocar, afogar a vítima ou outro familiar?” o 6.º “O número de episódios violentos e/ou a sua gravidade tem vi
Legenda
matar ou mandar matar (está convicta de que ele seja mesmo capaz?”; o 9.º “O ofensor já tentou ou ameaçou matar a vítima ou outro familiar?”; o 10.º “O ofensor perse
tenta controlar tudo o que a vítima faz?”; o 11.º “O ofensor revela instabilidade emocional/psicológica e não está a ser acompanhado por profissional de saúde ou n
problemas financeiros significativos ou dificuldade em manter um emprego (no último ano)?”; o 18.º “A vítima separou-se do ofensor, tentou/manifestou intenção de o faz
LEGENDA: Barra preta – Tentativa de homicídio Barra verde – Inicio da relação/nascimento filhos; Barras vermelhas - Antecedentes/fatores de risco; Barras azuis – Oportunidades de intervenção.

DISPARADORES DE RISCO CONTATOS COM A JUSTIÇA CONTATOS COM AS FORÇAS DE SEGURANÇA


CONTATOS COM A SAÚDE CONTATOS COM
Intervenção da APOIO
sociedade civilINFORMAL
ContactosCONTATOS
com a Justiça; COM SERVIÇO
Contactos SOCIAL
com as Forças de Segurança; Contactos com a LNES - 144 Contactos com a Saúde; Conta
governamentais

Na RVD-1L foram assinalados 10 fatores de risco – Risco ELEVADO: Fonte: Criação da discente, 2020.
O 1.º “O ofensor alguma vez usou violência física contra a vítima? Há quantos anos ocorreu o 1.º episódio? 10 anos”; o 2.º “O ofensor alguma vez usou violência física contra outros membros do agregado doméstico?
o 3.º “O ofensor já tentou estrangular (apertar o pescoço), sufocar, afogar a vítima ou outro familiar?” o 6.º “O número de episódios violentos e/ou a sua gravidade tem vindo a aumentar no último mês?”; o 8.º “Acre
matar ou mandar matar (está convicta de que ele seja mesmo capaz?”; o 9.º “O ofensor já tentou ou ameaçou matar a vítima ou outro familiar?”; o 10.º “O ofensor persegue a vítima, intimidando-a intencionalment
tenta controlar tudo o que a vítima faz?”; o 11.º “O ofensor revela instabilidade emocional/psicológica e não está a ser acompanhado por profissional de saúde ou não toma a medicação que lhe tenha sido re
problemas financeiros significativos ou dificuldade em manter um emprego (no último ano)?”; o 18.º “A vítima separou-se do ofensor, tentou/manifestou intenção de o fazer (nos últimos/próximos 6 meses)? Tentou”.

41
3.2 Definição e delimitação da amostra

A amostra, intencional, é composta pelos processos de feminicídios julgados em


primeiro ou segundo graus em Curitiba, durante os quatro primeiros anos de vigência da lei do
feminicídio (de 10 de março de 2015 a 11 de março de 2019), correspondendo a uma amostra
intencional ou de julgamento, cujo critério de seleção dos casos obedeceu à possibilidade de os
analisar de forma comparada por terem, todos, sido julgados durante a vigência da recente Lei.

O acesso aos dados, neste caso, aos processos judiciais, foi facilitado pelo exercício de
funções profissionais da investigadora. O pedido foi efetuado e as devidas autorizações foram
obtidas no fim do ano 2019. A análise dos processos obedeceu a critérios de ética na
investigação implicando, entre outros aspetos, a presença da investigadora em Curitiba,
eliminando a possibilidade de os processos poderem ser vistos por terceiras pessoas.

Sumariamente explicamos de seguida as fases do processo criminal no Estado do


Paraná. O julgamento em primeiro grau dos feminicídios é realizado em Tribunal do Júri, pelos
motivos a seguir e cumpre duas fases:

Figura 11 – Fases do processo e julgamento em Tribunais do Júri

Fonte: Lei Estadual nº 14.277/2003, TJPR, 2003 e Matsuda et al., 2015, p.56.

Optamos por autos processuais de apuração de crimes de feminicídios já sentenciados,


por valorizar a ampla análise do caso, garantida após trâmite processual de primeiro grau. Os
“processos criminais são documentos que consolidam a construção de fatos sociais e cristalizam
percepções dos diversos atores envolvidos” (Matsuda et al., 2015, p.41).

42
O acesso aos processos teve início com um pedido formal identificando os critérios
4
busca encaminhado ao presidente do Tribunal de Justiça do Paraná (TJPR) em
novembro/2019. Obtida a autorização, técnicos do TJPR separaram os processos de interesse e
consolidaram o acesso integral aos autos no PROJUDI5, mediante concessão de chave pessoal
temporária.

As buscas realizadas pelos técnicos do tribunal resultaram em 18 casos disponíveis para


análise. Constatamos que desses, somente 12 apuravam crimes ocorridos após a vigência da lei
do feminicídio, sendo os demais (seis), excluídos por não cumprirem os critérios de inclusão na
amostra. Dentre os remanescentes, outros dois foram descartados por analisarem homicídios de
pessoas do sexo masculino, praticadas por outros homens. Ainda outro processo não foi
incluído na amostra, desta vez por não cumprir o critério de existência de relacionamento
afetivo entre as pessoas envolvidas – tratava-se do assassinato de uma senhora pelo filho. Por
fim, não foi considerado um processo por a sentença ter sido proferida no mês de novembro de
2019. A amostra ficou, assim, constituída por oito processos penais.

Importa ainda referir que o conjunto probatório reunido durante o processo penal é
composto por vários documentos, incluindo os de mero expediente. Estes, não serão objeto de
análise. Por outro lado, para tornar possível e deixar o mais completa possível a construção da
“linha do tempo” dos feminicídios, recorremos a informações complementares. Os dados, fora
do processo, aos quais foi dada primazia na análise para a elaboração da cronologia dos
acontecimentos, foram peças de fase policial, denúncia, resposta à acusação, alegações finais
(da acusação e da defesa), decisão de pronúncia e sentença.

O corpus de análise foi previamente preparado para que cada um dos processos, de
forma autônoma, fosse analisado tendo por referentes a grelha de análise6 construída para o

4
Parâmetros apresentados: processos que tramitaram nos Tribunais do Júri de Curitiba; com sentença de 1º grau
após fase de pronúncia e publicada entre 10/03/2015 e 11/03/2019 e com natureza criminal: feminicídio.

5
O sistema PROJUDI (Processo Judicial Digital) é um software de processo eletrônico que possibilita a
tramitação e comunicação de peças e autos processuais em qualquer grau de jurisdição (TJPR, 2009).

6
Para assegurar o anonimato das pessoas envolvidas e garantir a confidencialidade das informações, as grelhas
de análise, preenchidas para cada caso, não são apresentadas em anexo, embora esteja devidamente
guardadas pela investigadora.
43
efeito e a descrição dos procedimentos metodológicos a adotar na aplicação do método de
análise retrospetiva efetuada pela EARHVD.

Capítulo 4 Características dos assassinatos de mulheres nos processos analisados

Entre março de 2015 a março de 2019, foram iniciadas em Curitiba 73 investigações de


feminicídios (FEMPAR, 2019) – e, sujeitos aos critérios de inclusão na amostra de estudo, oito
casos de feminicídios constituem o corpus da pesquisa. Destes, nenhum apurava a prática de
feminicídio por menosprezo ou discriminação à condição de mulher ou envolvendo relação
homoafetiva feminina. Todos os autores submetidos a julgamento foram condenados; seis
processos judiciais transitaram em julgado e, no conjunto, demoraram, em média, 1.184 dias
para serem concluídos.

Este dado é importante quando se mobiliza para este estudo as caraterísticas de uma
ordem de gênero que mantém a dominação masculina praticamente inquestionada e inalterada.
De acordo com Macedo (2015), a transgressão legal pode ser agravada pela percepção de
impunidade, traduzida pela tardia e/ou baixa taxa de condenação. No contexto do Brasil, do
Estado do Paraná e também na capital Curitiba, concordamos com Monteiro e Domingos
(2013), que explicam a taxa de condenação também através de outros fatores, designadamente,
ineficientes sistemas de segurança/justiça, escassos direitos legais, vertidos nas leis vigentes e
políticas públicas que garantam o acesso e o usufruto às leis.

Além disto, também sabemos que a impunidade pode resultar de legislações omissas
quanto a medidas de prevenção e procedimentos voltados a investigação, processamento e
julgamento das mortes, chegando à quase inaplicabilidade legal, como denuncia uma fundação
alemã (HBS, 2013). Entre tantos argumentos provavelmente ainda é mais fácil de perder de
vista a importância da ordem de gênero e eventuais influências sobre o sistema de justiça e as
práticas profissionais daqueles e daquelas que o integram.

4.1 Caracterização dos feminicídios em Curitiba

A amostra é constituída por oito processos, porém ressaltamos a sua relevância, por
representar a totalidade dos casos julgados em capital de estado brasileiro, nos quatro primeiros
anos de vigência da Lei nº 13.104/2015 (lei do feminicídio) e por servir um estudo qualitativo,

44
com objetivos de compreender o fenômeno de feminicídio, numa análise em profundidade.
Ademais, pesquisa realizada por Bugeja e outras (2017, p. 15), sobre equipes internacionais de
análise retrospectivas de mortes por violência doméstica/familiar, verificou que a maioria delas
revisa entre um e dez incidentes por ano.

Apesar disto, não é de escamotear um possível limite à análise retrospectiva,


designadamente a qualidade das informações disponíveis nos autos dos processos judiciais.
Este é um estudo de narrativas e interpretações anotadas em documentos que compunham
mencionados processos e não recolhidas de fonte primária.

Cerca de metade das mulheres do estudo estavam com 22, 28 (N=2) e 34 anos. As
demais tinham 40, 46, 50 e 59 anos. A literatura, como se mencionou na primeira parte, revela
que o feminicídio acomete mulheres de todas as idades, com predomínio das que estão em idade
reprodutiva (Pereira, Bueno, Bohnenberger, & Sobral, 2019). Os resultados do estudo estão
também em linha com o que se conhece acerca da idade das mulheres vítimas de feminicídio
no Brasil em 2019.

Figura 12 – Faixa etária de vítimas de feminicídio no Brasil em 2019

Fonte: adaptação de Bueno et al., 2020, p.121.

Outra observação a ser feita, refere-se à comparação entre as idades do feminicida e da


mulher assassinada. Dois condenados são 18 anos mais jovens que as companheiras. Esta

45
diferença cai para 13 anos e, depois, 8 anos, sendo os homens mais velhos (diferença de 7 anos)
que as companheiras em dois casos.

Em contexto português, Agra (2015) identificou disparidade etária entre o casal em


23,5% das decisões judiciais por ele analisadas – num resultado aproximado ao de nossa
pesquisa (como se ilustra na figura 13).

Figura 13 – Idades de vítimas e autores nos processos

Fonte: Criação da discente, 2020.

Ao analisar as características dos relacionamentos afetivos da amostra, observamos


haver apenas um casamento formal e de longo período. Quase todos coabitavam na data dos
fatos, com exceção de casal cuja separação ocorreu um dia antes da tentativa de feminicídio.

46
Figura 14 – Relacionamentos íntimos entre feminicida e mulher

Fonte: Criação da discente, 2020.

O contexto de intimidade dificulta a existência de testemunhas presenciais, identificadas


em três processos entre os oito. Majoritariamente, são os membros da família da vítima ou do
agressor quem presencia o feminicídio; encontramos, ainda, vizinhas e pessoas que estavam
presentes, enquanto transeuntes, em situação de rua (morte ocorrida em via pública). Os/As
filhos/as, que por vezes testemunham os abusos, podem presenciar o assassinato, como ocorreu
em um dos casos estudados (criança de 3 anos).

Além da mulher (alvo principal da agressão), os feminicídios podem ocasionar outras


vítimas diretas, i.e., qualquer terceiro que esteja próximo ou tente ajudá-la no momento do
crime, o que se observou em duas situações: um genitor e uma genitora, tendo esta falecido.

47
Em relação à ocupação laboral na época dos fatos, cinco mulheres estavam ativas, uma
auferia renda de imóveis e duas estavam desempregadas. Das mulheres com atividade
econômica, as atividades profissionais eram: assistente administrativa (N=1), atividade
doméstica não remunerada (N=2), autônoma (N=1), catadora de resíduos recicláveis (N=1),
“diarista” (N=2), operadora de caixa (N=1). A escolaridade é baixa, embora uma mulher tivesse
ensino superior incompleto; três, o ensino médio completo; uma ensino médio incompleto; duas
o ensino fundamental completo; e uma o ensino fundamental incompleto.

Situação relativamente distinta das vítimas é a dos autores dos feminicídios, quer em
relação à atividade econômica, quer em relação à escolaridade. Dos oito processos em análise,
sete feminicidas estavam desempregados e um desempenhava uma ocupação profissional ao
mesmo tempo que recebia aposentadoria. Das atividades econômicas exercidas, ativas ou, no
caso destes homens, sem estarem ativas à data dos fatos, um era catador de resíduos recicláveis,
um contramestre/metalúrgico, um frentista, um jardineiro, um pedreiro, um pintor, um repositor
e um autônomo. A maior parte exercia profissões não qualificadas. Em relação à escolaridade,
tendencialmente apresentam níveis de escolaridade baixos: cinco com o ensino fundamental
incompleto, um com o ensino fundamental completo e dois com o ensino médio completo.

Quanto à execução do crime, observamos a utilização de arma branca, na maior parte


dos casos, com cinco a terem usado faca, dois despejaram fluído inflamável no corpo da vítima
e, em seguida, atearam-lhe fogo e uma situação em que o meio ou instrumento não foi
identificado devido à carbonização do corpo. A predominância de uso de armas brancas em
feminicídios, foi identificada em anuário brasileiro de segurança pública – representando 53,6%
do total de meios ou instrumentos usados (Bueno et al., 2020, p.121).

Em sentido convergente, o Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), do


Ministério da Saúde brasileiro identificou o uso majoritário de objeto cortante ou penetrante,
ao mesmo tempo que atribui à violência a principal causa de morte de mulheres na faixa etária
dos 20-29 anos, com recurso ao uso de armas brancas (Santos, Rezende, & Martins, 2018). Os
instrumentos usados nos feminicídios nos processos em análise são, assim, do mesmo tipo dos
instrumentos usados noutros casos, por exemplo, também Fernandes (2018) identificou a faca,
foice e canivete como os instrumentos principais utilizados em 58% dos feminicídios, ao fazer
a análise de 364 denúncias de feminicídios formuladas pelo Ministério Público de São Paulo
entre março de 2016 a março de 2017.
48
Considerando o contexto, em específico, o local da execução do crime, o interior da
residência da vítima, agressor ou casal é o principal ambiente em que ocorrem os feminicídios
(eg. Daltoé & Bazzo, 2018; Fernandes, 2018; Limna, 2018; Santos, Rezende, & Martins, 2018
e Cerqueira, et al., 2019) e foi também a tendência observada nos casos analisados, com seis
nos oito feminicídios a ter sido cometidos em contexto domiciliário ou de residência. As outras
duas mortes ocorreram, uma no interior de um carro de mão para coleta de resíduos recicláveis
e outra na via pública. Porém, é fundamental esclarecer que nestes dois casos, os locais eram
utilizados de forma temporária ou habitual como abrigo para a pernoita dos envolvidos.

Em 2019, no Brasil, a maior parte dos feminicídios ocorreu também em contexto de


residência: 58,9%9, seguido da via pública (25,4%) e noutros locais (15,7%) (Bueno et al.,
2020, p.122).

A análise dos motivos predominantes para a prática dos feminicídios na amostra de


estudo são: inconformismo diante da intenção da vítima de terminar o relacionamento ou face
ao seu efetivo rompimento, em quatro casos; questões financeiras, em dois casos; ciúmes, num
caso e inconformismo por ter sido repreendido pela vítima, que o chamou de covarde, num
caso. Tais justificativas assemelham-se às demais pesquisas, como a de Fernandes (2018), que
encontrou como motivos do crime, indicados em 270 denúncias de feminicídios íntimos
ocorridos no Estado de São Paulo entre março de 2016 a março de 2017, (i) a separação ressente
do casal ou pedido de rompimento, em 122 casos; (ii) o ciúmes, sentimento de posse ou
machismo, em 80 casos; (iii) a discussão, em 46 casos; (iv) o motivo financeiro, em 6 casos e
(v) sem informação na denúncia oferecida pelo Ministério Público, em 16 casos. Manifestando
tendência semelhante nos resultados, o estudo de Daltoé e Bazzo (2018) identificou como
motivos para o feminicídio: ciúmes ou inconformismo com o término da relação (N=78, 50%);
desobediência a ordem proferida pelo agressor (N=16); discussões familiares (N=11); recusa à
prática sexual (N=02); ingresso da vítima à Justiça (N=02); apesar de 39 casos estarem sem
informações.

A influência da ordem de gênero parece evidenciar-se nestes resultados. Como


referimos na primeira parte deste estudo, a “socialização machista” parece conferir ao homem
pretenso direito de lesionar a companheira ou matá-la e busca impor à mulher tendência
submissa aos desejos masculinos, para assimilar “este ‘destino’ como natural” (Conceição,
2009, p. 39).
49
De muito relevo é também agora recuperar uma autora mencionada na primeira parte,
Connell (2016), quando nos permite desmistificar uma espécie de sina das masculinidades
dominadoras, ao referir pesquisas em educação e psicologia que demonstram a existência de
flexibilidade pessoal face aos estereótipos de gênero, que possibilitam o uso estratégico de
definições convencionais de masculinidade, em substituição à rígida dominação por elas.

4.2 O controle coercitivo enquanto fator entre os antecedentes de feminicídios

Nesta parte, a análise é orientada pela grelha construída, de modo inovador, para este
estudo, agregando indicadores inspirados nos fatores de risco identificados pela OMS (2012) e
descritos no capítulo em que se apresenta e justifica as opções metodológicas, e os indicadores
de controle coercitivo – que correspondem a comportamentos. A dimensão simbólica da
violência de gênero é mais difícil de captar em estudos assentes na análise de dados secundários,
todavia, terá ficado manifesta no subcapítulo anterior, em que os resultados também já indicam
manifestações de controle coercitivo por parte dos feminicidas.

4.2.1 Antecedentes de risco encontrados na amostra

Os dados são apresentados num quadro (Figura 15), infra, para tornar mais clara a sua
leitura, com identificação dos indicadores encontrados em cada dimensão; sendo que os
indicadores representam fatores de risco, recordamos.

50
Figura 15 – Fatores de risco para a perpetração de feminicídio

Fonte: Criação da discente, 2020.

Dos fatores de risco, a situação de desemprego, foi identificada na quase totalidade dos
casos; já a notícia de posse de arma de fogo, não foi identificada em nenhum deles, apesar de
ter havido a suspeita, num dos casos, segundo relato de testemunhas, mas sem efetiva apreensão
ou confissão de posse. Histórico de abuso de parceiro íntimo em relacionamento atual e/ou
pregresso foi observado em todos os casos e a ameaça, com o uso de qualquer arma (não
exclusivamente a arma de fogo), na metade das situações, não havendo informações à respeito
nas demais, o que não permite afirmar que não ocorreu.

As manifestações de violência na sexualidade e a saúde mental dos feminicidas são dois


indicadores cuja avaliação é praticamente impossível, por ausência de informações. Esta falta
51
de dados poderá sugerir, por um lado, fragilidade nos registros anteriores; por outro lado, pode
ser indicativo de fragilidade na comunicação de dados entre sistema de justiça e saúde; e, ainda,
pode levar a colocar a hipótese de que os dados não sejam registrados por desconhecimento da
sua relação com o feminicídio, sendo fatores de risco, como indica, com consenso, a literatura.
Não é, também, de escamotear uma quarta hipótese, mais ligada à ordem de gênero e a fatores
estruturais, principalmente no indicador da violência sexual. Referimo-nos a uma eventual
dificuldade em se superar a crença de que o sexo integra rol de deveres conjugais, cujo
consentimento instantâneo e perpétuo é dado no início da união (Messing, Thaller, & Bagwell,
2014).

Como também a literatura sustenta, a culpabilização da vítima é frequente, mesmo em


processos que apuram feminicídios, a defesa costuma culpabilizar a vítima e, quando esses
argumentos não convencem, investem em atribuir o desfecho letal a fatores desencadeadores
de reações violentas, como o consumo de bebida alcoólica ou substância ilícita (Limna, 2018).
Com efeito, na amostra de estudo, seis autores alegaram consumos anteriores ao crime: de
álcool, num caso, de substância entorpecente ilícita, num caso também, ou de ambos, em quatro
casos.

Nenhuma das vítimas de feminicídio dos casos que integram a amostra estava grávida e
os dados referem que três não foram agredidas pelo condenado durante gravidez anterior,
porque não os conheciam na época. Não há informações em outras três situações. Contudo,
agressões intensas em período gestacional foram referidas em dois casos, como se apresenta,
de forma detalhada no quadro infra (Figura 16).

52
Figura 16 – Fatores de risco para ser vítima de feminicídio

Fonte: Criação da discente, 2020.

Em cinco casos existe registro de lesão grave recente. A distância emocional entre o
casal observa-se em cinco casos, apesar de, em dois deles, coincidir com a existência de lesão
grave no mês anterior. Já o processo de ruptura do relacionamento afetivo foi identificado em
todas as situações.

Como se verifica noutras pesquisas, mesmo em contexto distinto do brasileiro (eg.


Johnson, Eriksson, Mazerolle, & Wortley, 2017, p.12) constata-se envolvimento criminal
desses homens, feminicidas, noutros tipos de crime.

Para os processos estudados, existem notícias da participação dos feminicidas em delitos


anteriores. A análise dos seus antecedentes criminais constitui um desafio. Em primeiro lugar
porque pode existir um desfasamento entre as práticas de crime. Nos processos analisados,
apenas três possuíam antecedentes criminais na fase processual. Em segundo lugar, o desafio
coloca-se em termos da necessidade de estratégias preventivas, pois, três indivíduos chegaram
a ser presos por violência doméstica pregressa, praticada contra as mulheres que assassinaram.
Mais, em três situações, a aplicação de medidas protetivas de urgência não evitou o resultado –
o homicídio. De referir que uma medida protetiva de urgência fora revogada 6 meses antes do

53
fato; mas uma estava vigente; e, num terceiro caso, a medida não tinha nem sido comunicada
ao agressor.

Figura 17 – Comparativo entre notícias de envolvimento delituoso e antecedentes criminais


dos feminicidas encontrados na amostra

Fonte: Criação da discente, 2020.

4.2.2 Dinâmicas de controle coercitivo evidenciadas através das cronologias dos casos

As informações existentes nos autos processuais permitem a elaboração de cronologias


dos acontecimentos que antecedem os feminicídios. Usando como instrumento orientador da
análise dos casos, o modelo desenvolvido e testado pela EARHVD (2019), primeiro
apresentamos um breve relato das circunstâncias do feminicídio, seguimos para a representação
gráfica da cronologia dos fatos em cada caso. Posteriormente, organizamos as informações de
acordo com o modelo teórico proposto por Monckton-Smith (2019) para, a partir da sequência
dos eventos em fases se perceba a dinâmica de comportamento de controle coercitivo.

Para manter em sigilo a identificação dos sujeitos envolvidos, em todos os casos a


mulher, vítima do feminicídio, será identificada pela letra “A” e o perpetrador, pela letra “B”.
A distinção casuística, atribuindo a cada caso uma letra distinta, poderia não ser suficiente para
garantir o anonimato, considerando estar identificada a cidade e os casos que constituem a
amostra serem poucos.

54
4.2.2.1 Caso I:

A tinha 28 anos e morava na residência paterna com um filho (3 anos) de outro


relacionamento e com B (27 anos), com quem se relacionava afetivamente há menos de três
anos. Durante a madrugada do dia 03/07/2015, A e B discutem. Quando A está deitada, B
desfere-lhe golpes de faca. Ela tenta defender-se e fugir, mas acaba morrendo na sala da
residência, devido a inúmeras lesões perfuroincisas em face, pescoço e braço. Há notícias de
que o filho de A presenciou o crime, vez que dormia na mesma cama da genitora.

Ato contínuo, B busca uma pá, vai até o quarto do sogro (65 anos) e o golpeia mais de
uma vez na região da cabeça, não o matando por circunstâncias alheias à sua vontade, pois o
idoso é socorrido por vizinhos, após a fuga de B. O agressor leva o enteado consigo e se entrega
à polícia de cidade litorânea próxima, depois de se despedir da genitora e do filho biológico que
residem na região.

O processo criminal transitou em julgado (após 1365 dias de tramitação) e B foi


condenado à pena privativa de liberdade, em regime inicial fechado, de 34 anos, 2 meses e 29
dias de reclusão, pela prática dos crimes de feminicídio consumado e homicídio simples
tentado.

55
Figura 18 – Cronologia do Caso I – representação da “linha do tempo” do feminicídio

Fonte: Criação da discente, 2020.

56
Figura 19 – Indicadores de controle coercitivo identificados na cronologia do Caso I

Fonte: Criação da discente, 2020.

57
4.2.2.2 Caso II

A tinha 46 anos e morava em residência própria com B (28 anos), com quem se
relacionava afetivamente há três anos. Durante a madrugada do dia 26/03/2016, no interior da
residência do casal, B despeja substância inflamável sobre A e a incendeia. Por descuido, B tem
pequena parte do corpo atingida pelas chamas e é encaminhado ao hospital, assim como A. B
se recupera, enquanto A falece (02/05/2016) em ambiente hospitalar, devido a sepse por
broncopneumonia, “lesões corporais graves, caracterizadas por extensas queimaduras de área
de superfície corpórea próximas a 45%, localizadas no rosto, pescoço, face anterior do tórax,
abdômen e nos membros superiores”.

O processo criminal transitou em julgado (após 874 dias de tramitação) e B foi


condenado à pena privativa de liberdade, em regime inicial fechado, de 14 anos de reclusão,
pela prática do crime de feminicídio consumado (acrescido da qualificadora: meio cruel devido
ao emprego de fogo).

58
Figura 20 – Cronologia do Caso II – representação da “linha do tempo” do feminicídio

Fonte: Criação da discente, 2020.

59
Figura 21 – Indicadores de controle coercitivo identificados na cronologia do Caso II

Fonte: Criação da discente, 2020.

60
4.2.2.3 Caso III

A tinha 22 anos e no dia anterior deixou de conviver com B (29 anos), com quem se
relacionava afetivamente há 1 ano e 7 meses e tinha uma filha em comum (nove meses de
idade). Na tentativa de terminar o relacionamento, A vai para a casa da avó e, na manhã do dia
seguinte (20/12/2015, 6h30min), B a procura. Discute com irmão de A e vai embora. Retorna
(às 9h) e consegue falar com A. Insiste para que A, acompanhada pela filha, afaste-se dos
demais para conversarem. Diante de negativa, B mostra faca que porta na cintura e dá prazo de
uma hora para que a A volte para casa. A teme por sua vida e pela de familiares e simula aceitar
a reconciliação para ganhar tempo.

Vencido o prazo (10h), B vai pela terceira vez em busca de A. A progenitora defende a
filha, confronta B ao afirmar que o relacionamento afetivo acabou. A confirma tal afirmação e
B finge aceitar a rejeição. Só que retorna pela última vez (11/12h), armado com faca e barra de
ferro e entra na residência da avó de A. Os familiares fogem, B tenta golpear A no ventre e,
depois, usa a barra de ferro. Para contê-lo, A segura a barra com as duas mãos e é cortada no
rosto. A progenitora sai para o quintal gritando por ajuda, B a alcança e a golpeia duas vezes
no ventre. Horas depois, a mãe de A falece por “feridas perfuroincisas toracoabdominais”. B,
que estava foragido, envia mensagens numa rede social para A, no dia dos fatos, e um dia depois
do crime sobre a mãe dela:

20Dez2015 (15h03min) – “Eu implorei pra sua mae não se mete eu tava cuidando de vc. Vc
deveria ter ido embora agora aguente as conseguencias e a dor da sua própria concienciencia
eu avisei...e nem comecei não era o que vc queria me deixar na rua fantasma aparece quando a
gente menos espera”.

O processo criminal transitou em julgado (após 1505 dias de tramitação) e B foi


condenado à pena privativa de liberdade, em regime inicial fechado, de 22 anos, 9 meses de
reclusão, pela prática dos crimes de feminicídio tentado (acrescido da qualificadora: motivo
torpe) e homicídio qualificado consumado.

61
Figura 22 – Cronologia do Caso III – representação da “linha do tempo” do feminicídio

Fonte: Criação da discente, 2020.

62
Figura 23 – Indicadores de controle coercitivo identificados na cronologia do Caso III

Fonte: Criação da discente, 2020.

63
4.2.2.4 Caso IV

A tinha 40 anos e convivia com B (27 anos), com quem se relacionava afetivamente há
sete anos. Tanto A como B consumiam bebidas alcoólicas de maneira excessiva e B ainda usava
substâncias ilícitas. O casal vivia em situação de rua e abrigava-se em carro de mão para
catadores de resíduos recicláveis em meio urbano. A e B tinham 3 filhos em comum, que não
residiam com eles, assim como os outros 7 filhos de relacionamentos anteriores de A.

Pela primeira vez, a inscrição de A em programa social de transferência direta de renda


(“Bolsa Família”7) é aceita e ela receberá o benefício. Diante de históricos de abusos financeiros
por parte de B, A acautela cartão pessoal referente ao benefício aos cuidados de conhecida e,
um dia antes do pagamento, restitui o documento. Neste mesmo dia, 24/08/2016, por volta das
13h, A e B discutem sobre o destino do benefício pecuniário. B desfere mais de 4 golpes de
faca contra A, que falece em via pública, no interior do carro de reciclagem, devido a “lesões
tóraco-abdominais por instrumento pérfuro-cortante”. B apodera-se do documento para receber
o auxílio social, foge e, no dia seguinte, recebe o dinheiro no lugar de A.

O processo criminal transitou em julgado (após 1024 dias de tramitação) e B foi


condenado à pena privativa de liberdade, em regime inicial semiaberto, de 8 anos e 8 meses de
reclusão, pela prática do crime de feminicídio consumado (acrescido das qualificadoras: motivo
torpe e recurso que dificultou ou tornou impossível a defesa da ofendida).

7
Programa social de transferência de renda.
64
Figura 24 – Cronologia do Caso IV – representação da “linha do tempo” do feminicídio

Fonte: Criação da discente, 2020.

65
Figura 25 – Indicadores de controle coercitivo identificados na cronologia do Caso IV

Fonte: Criação da discente, 2020.

66
4.2.2.5 Caso V

A tinha 28 anos e morava com B (35 anos), com quem se relacionava afetivamente há
mais de dois anos e tinham uma filha em comum de 9 meses. O casal morava em cômodos
anexos à casa da mãe de B. Há tempos A tentava se libertar do relacionamento abusivo. Ela
formalizou denúncia de violência doméstica que manteve B preso por apenas 3 dias. Passados
mais de um mês do regresso de B para casa, A decide fugir para outro Estado. Pede auxílio à
sobrinha de B, para quem entrega documentos pessoais (dela e da filha) e quantia em dinheiro,
esta a ser entregue à mãe de B, para que comprasse as passagens de ônibus, pois elas
manifestaram-se dispostas a ajudar A. Neste mesmo dia 18/10/2016, a progenitora de B não
consegue adquirir as passagens. B persegue A pela casa, com faca enrolada em camiseta, presa
na cintura e tenta criar uma oportunidade para ficar sozinho com ela. Diz para saírem e
procurarem uma casa que seria só deles, pede para A acompanhá-lo até agência bancária e,
diante das negativas, diz aceitar o fim da relação, anunciando que sairá de casa. B reúne
pertences em uma mochila e pede para A acompanhá-lo até as dependências do casal, pois
precisa acessar documentos guardados por ela. A se recusa e eles discutem. Por volta das 18h,
quando A cede e o acompanha, a sogra rapidamente os segue. Esta ouve os gritos de A e, ao
entrar no cômodo, já a encontra lesionada. A sogra socorre A, enquanto B foge. A é
encaminhada a ambiente hospitalar, recebe alta médica no mesmo dia e falece pouco depois,
devido a “lesões torácicas por instrumento perfurocortante” (mais de 5 golpes).

O processo criminal transitou em julgado (após 1469 dias de tramitação) e B foi


condenado em primeira instância à pena privativa de liberdade, em regime inicial fechado, de
19 anos de reclusão, pela prática do crime de feminicídio consumado (acrescido das
qualificadoras: motivo fútil e recurso que dificultou ou tornou impossível a defesa da ofendida).

67
Figura 26 – Cronologia do caso V – representação da “linha do tempo” do feminicídio

Fonte: Criação da discente, 2020.

68
Figura 27 – Indicadores de controle coercitivo identificados na cronologia do Caso V

Fonte: Criação da discente, 2020.

69
4.2.2.6 Caso VI

A tinha 50 anos e morava com B (32 anos), com quem se relacionava afetivamente há
mais de 4 anos. No início do mês em que ocorreram os fatos, A percebeu extravio de dinheiro
reservado ao pagamento de contas. O evento coincidiu com recém estada da mãe de B na
residência, fazendo com que A desconfiasse dela.

Na véspera do Ano Novo, 31/12/2015, por volta das 16h30min, B chega em casa
alcoolizado e o casal discute. Vizinhos ouvem A chamar B de covarde, por agredir mulheres e
não homens, seguindo-se a resposta: “Cala a boca, você não sabe do que eu sou capaz, não sabe
do que eu sou capaz!”. A seguir, fez-se silêncio, até B gritar por socorro, por ter matado A.
Enquanto B fugia, buscou-se ajudar A, porém esta faleceu no local, devido a lesão penetrante
no pescoço. Em situação de fuga, B se abriga na casa de uma ex-companheira, aqui identificada
por X e, em 01/06/2016, a agride. Tal fato sugere que a necessidade de controle coercitivo de
B não cessa mesmo com a morte de A. Vizinhos de X chamam a polícia, que é ludibriada na
abordagem, pois B usa nome falso e o casal alega composição.

O processo criminal ainda aguarda decisão de interposto recurso (após mais de 16738
dias de tramitação) e B foi condenado em primeira instância à pena privativa de liberdade, em
regime inicial fechado, de 16 anos e 4 meses de reclusão, pela prática do crime de feminicídio
consumado.

8
Última consulta ao PROJUDI realizada em 31/12/2020.
70
Figura 28 – Cronologia do Caso VI – representação da “linha do tempo” do feminicídio

Fonte: Criação da discente, 2020.

71
Figura 29 – Indicadores de controle coercitivo identificados na cronologia do Caso VI

Fonte: Criação da discente, 2020.

72
4.2.2.7 Caso VII

A tinha 34 anos e morava na residência materna com três filhos (13, 8 e 6 anos) de outro
relacionamento e com B (26 anos), com quem se relacionava afetivamente há aproximadamente
quatro anos.

Na noite de 21/04/2017, por volta das 22h20min, A e B se preparavam para dormir em


via pública, em colchões no chão ao abrigo de uma marquise. Quando A está deitada, B rega-
lhe o corpo com líquido combustível, despeja uma pequena quantidade em si e usa um isqueiro
para incendiá-los. Quando as chamas começam, B levanta-se e começa a apagar o fogo. A
demora um pouco mais para reagir e tenta livrar-se das chamas, enquanto outras pessoas em
situação de rua vão em seu auxílio. Ambos são conduzidos a estabelecimento hospitalar, mas
A acaba morrendo três dias depois, devido a “septicemia no decurso do tratamento de
queimaduras de segundo e terceiro graus em 65% da área corpórea”.

O processo criminal transitou em julgado (após 869 dias de tramitação) e B foi


condenado à pena privativa de liberdade, em regime inicial fechado, de 22 anos de reclusão,
pela prática do crime de feminicídio consumado (acrescido das qualificadoras: meio cruel,
devido ao emprego de fogo e recurso que dificultou a defesa da vítima).

73
Figura 30 – Cronologia do caso VII – representação da “linha do tempo” do feminicídio

Fonte: Criação da discente, 2020.

74
Figura 31 – Indicadores de controle coercitivo identificados na cronologia do Caso VII

Fonte: Criação da discente, 2020.

4.2.2.8 Caso VIII

A, vítima de feminicídio em contexto de intimidade, tinha 59 anos e morava com B (59


anos), com quem se relacionava afetivamente há aproximadamente 48 anos (sendo 39 anos de

75
casados) e tinha três filhos: uma mulher de 37 anos e dois homens, um de 34 e outro de 21 anos.
A e B discutiam constantemente e A manifestou o desejo de pedir o divórcio. B era contrário à
divisão de bens e ao pagamento de pensão alimentícia e recusava-se a aceitar que, desta vez, A
iria mesmo deixar a família. Dependendo das exigências e queixas de A, B atribuía a elas novos
significados ou as desconsiderava, afirmando que os remédios consumidos pela esposa
distorciam as verdadeiras intenções dela.

No início da manhã do dia 20/01/2017, antes de ir para o trabalho, o filho que reside
com o casal ouve a mãe no quarto, falando ao telefone. B diz ter visto A, pela última vez, por
volta das 12h, quando sai para levar almoço ao filho mencionado. Ele acrescenta que volta para
casa antes das 16h e a mulher já tinha saído, levando consigo uma mala, além de pertences
pessoais. B diz não ter estranhado a ausência de A, primeiro por pensar que ela tinha saído para
vender roupas usadas a conhecidas e, depois, por acreditar que A fora visitar parentes que
residem em outro Estado. No dia seguinte, filhos e demais familiares buscam notícias sobre o
paradeiro de A e B não apresenta muita preocupação. Filha dá notícia a uma unidade policial e
começam as investigações. Traços de sangue humano são encontrados na residência do casal e,
tempo depois, confirma-se que corpo carbonizado (sem cabeça, braços e membros inferiores
abaixo do joelho) encontrado em matagal, um dia após o desaparecimento de A, pertence a ela.

Anos atrás, B fora o principal suspeito de ser o mandante dos assassinatos dos pais
(mortos em um intervalo de 17 dias), pois tinha conhecido interesse no recebimento da herança.
Quanto ao feminicídio em tela, B negou participação durante todo o processo, apesar de
envolver-se em várias contradições e de não conseguir apresentar qualquer explicação ou
palpite para o acontecido. Os próprios filhos atribuem ao pai a culpa pela morte da progenitora.

O processo criminal ainda aguarda decisão de interposto recurso (após mais de 13689
dias de tramitação) e B foi condenado em primeira instância à pena privativa de liberdade, em
regime inicial fechado, de 21 anos e 4 meses de reclusão e 25 (vinte e cinco) dias-multa, pela
prática dos crimes de feminicídio consumado (acrescido da qualificadora: motivo torpe) e
ocultação de cadáver.

9
Última consulta ao PROJUDI realizada em 31/12/2020.
76
Figura 32 – Cronologia do Caso VIII – representação da “linha do tempo” do feminicídio

Fonte: Criação da discente, 2020.

77
Figura 33 – Indicadores de controle coercitivo identificados na cronologia do Caso VIII

Fonte: Criação da discente, 2020.

78
4.3 Reações das vítimas ao comportamento controlador e oportunidades de intervenção
protetora

Um dos objetivos específicos do estudo e uma das propostas ilustrada no modelo de


análise corresponde a uma pergunta que decorre da pergunta de partida: quais foram as reações
das mulheres? As reações descritas nos processos criminais, bem entendido. E, quais foram as
comunicações delas decorrentes? Com quem falaram as mulheres, quando falaram para pedir
apoio? Quando? Que oportunidades para a intervenção são criadas, diretamente pela mulher
vítima de violência ou, de forma indireta? Como veremos neste subcapítulo, a menção a tais
assuntos na fase processual é escassa, porém percebemos que as mulheres buscam administrar
(gerir) as táticas de dominação. Umas vezes, as mulheres confrontam o agressor, outras vezes
parecem submeter-se, como dizem Day e outros (2003, p. 16) “tentam manter a paz”. Alternam
fases de conciliação de conflitos com manifestações mais contundentes de insatisfação,
indicativas de rompimento do compromisso afetivo (mas que permitem futura reconciliação),
como a saída da casa, o pedido para que o agressor deixe o lar e a formalização de denúncia.

Esclarecemos que os agentes e os mecanismos de defesa das mulheres, públicos ou


privados, serão aqui referidos de forma genérica, como apoios formais, e como apoios informais
parentes, conhecidos e colegas de trabalho.

Com base nos autos criminais, observamos que apesar dos constrangimentos a elas
impostos, as mulheres agem. A análise das reações foi feita caso a caso, procurando estabelecer-
se a ligação entre reações e apoios pedidos, como se apresenta na Figura 34.

79
Figura 34 – Reações das mulheres submetidas aos abusos e relação com os apoios formais e
informais acionados e comunicados

Fonte: Criação da discente, 2020.

80
Em apenas um dos oito casos a mulher efetivou, por iniciativa própria e de forma
consciente, denúncia da violência a representante de apoio formal (força de segurança). Na
maior parte dos casos, os apoios acionados e comunicados pelas mulheres foram: amigo/a(s),
em quatro casos; pai (num caso), mãe (num caso), filho/a(s) (em três casos); outro familiar da
vítima (em três casos), familiar do agressor (num caso) e vizinho/a(s) (em dois casos). Em dois
casos, os/as vizinhos/as tiveram ciência da violência, mas não por comunicação voluntária das
ofendidas, sim por ouvirem as agressões e/ou verem os hematomas posteriormente. O mesmo
ocorreu com comerciantes locais e empregadores da vítima (no caso IV).

Sabemos que os atos reiterados de dominação têm o poder de influenciar as reações das
mulheres vítimas de violência. Stark (2012), vai mais longe ao atribuir-lhes mesmo o condão
de desabilitar a capacidade delas para acessarem recursos pessoais, materiais e sociais, tornando
vulneráveis os seus meios de resistência e escape. Em suma, as opções restantes à disposição
da ofendida acabam limitando suas reações (Day et al., 2003).

Em nosso esforço para agrupar as reações das vítimas, elaboramos um mapa (Figura 35)
em que o eixo central (vertical) permite distribuir o nível ou grau de consciência que a mulher
submetida ao abuso tem em relação à sua ocorrência e ao modo como influencia as ações e
omissões dele decorrentes, sobretudo as suas. O outro eixo, horizontal, permite distribuir a
variação da iniciativa e a intenção/vontade manifesta ou explicita da mulher em reagir.

Os agentes acionados ou envolvidos em cada conjunto de reações estão ilustrados no


mapa com recurso a símbolos.

81
Figura 00 – Ilustração: Mapa da(s) reação(ões) das mulheres submetidas aos abusos e de agentes/mecanismos cientificados
Figura 35 – Mapa da(s) reação(ões) das mulheres submetidas aos abusos e de agentes/mecanismos

Resposta consciente 2017 20

Reação constrangida – manifesta-se, sem querer, sobre o abuso Reação protagonista – manifesta-se, por querer, sobre o abuso

Exs.: participação em procedimentos iniciados


Legenda por terceiros ou situação Exs.: violência reativa; denúnciaLegenda à apoio formal/informal; saída
de flagrância; fornecimento de dados sobre situação familiar (para outros da vítima (anunciada ou clandestina); pedido para a saída do
fins); hospitalização, dissimulação frente a apoio informal
Barra preta – Tentativa dee omissão da
homicídio Barra verde – Inicio daagressor
2017 e ocultação
relação/nascimento filhos; de vermelhas
Barras cartão-benefício
Barra preta
- Antecedentes/fatores
– Tentativa de homicídio
de risco; Barra
Barras
verde
azuis
– Inicio
– Oportunidades
da relação/nascimento
de intervenção.
filhos; Bar

denúncia (medo, descrédito etc.)

Intervenção da sociedade civil Contactos com a Justiça; Contactos com as Forças de Segurança; Intervenção daContactos
sociedadecom
civila LNES - 144
Contactos comContactos
a Justiça;com a Saúde;
Contactos com
Contactos
as Forças
comd
Resposta involuntária governamentais governamentais Resposta voluntária
Na RVD-1L foram assinalados 10 fatores de risco – Risco ELEVADO: Na RVD-1L foram assinalados 10 fatores de risco – Risco ELEVADO:

O 1.º “O ofensor alguma vez usou violência física contra a vítima? Há quantos anos ocorreu o 1.º episódio? 10 anos”;
O 1.ºo“O
2.ºofensor
“O ofensor
alguma
alguma
vez usou
vez usou
violência
violência
físicafísica
contra
contra
a vítima?
outrosHámembros
quantos do
anos
agregado
ocorreudoméstico?
o 1.º episódio?
Contra
10 qa
Reação “cega” – não controla manifestação
o 3.º “Oeofensor
ignora influência
já tentou do abuso
estrangular (apertar Reação
o pescoço), sufocar, afogar irreflexiva
a vítima ou outro familiar?” o–6.ºcontrola
“O número manifestação
o 3.º “Odeofensor
episódios
já tentou
violentos e/oue
estrangularignora
a sua
(apertar
gravidade influência
o pescoço),
tem vindo
sufocar, do abuso
a aumentar
afogarno
a vítima
últimoou
mês?”;
outroofamiliar?”
8.º “Acredita
o 6.ºque
“O
matar ou mandar matar (está convicta de que ele seja mesmo capaz?”; o 9.º “O ofensor já tentou ou ameaçou matar mataraou
vítima
mandar
ou outro
matarfamiliar?”;
(está convicta
o 10.º
de“Oque
ofensor
ele seja
persegue
mesmo acapaz?”;
vítima, intimidando-a
o 9.º “O ofensorintencionalmente,
já tentou ou ameaçou
demon
tenta controlar tudo o que a vítima faz?”;Legenda
o 11.º “O ofensor revela instabilidade emocional/psicológica
Legendae não tenta
está acontrolar
ser acompanhado
tudo o que pora vítima
profissional
faz?”;de
o 11.º
saúde“Oouofensor
não toma
revela
a medicação
instabilidade
queemocional/psicológica
lhe tenha sido receitada?”
e nã
Exs.: mudança de comportamento, prostração da saúde; omissão da Exs.: rejeição a investidas sexuais; venda de roupas/bombons;
problemas financeiros significativos ou dificuldade em manter um emprego (no último ano)?”; o 18.º “A vítima separou-se
problemasdofinanceiros
ofensor, tentou/manifestou
significativos ou dificuldade
intenção de
emo manter
fazer (nos
umúltimos/próximos
emprego (no último6 meses)?
ano)?”; Tentou”.
o 18.º “A vítima s

denúncia (não reconhece o ato violento) envolvimento em relação extraconjugal; viagens rotineiras e
Barra preta – Tentativa de homicídio Barra verdeBarra
– Inicio
preta
da relação/nascimento
– Tentativa de homicídio
filhos; Barra
Barras
verde
vermelhas
– Inicio- da
Antecedentes/fatores
relação/nascimentode
filhos;
risco; Barras
Barrasvermelhas
azuis – Op
busca frequente por atendimento médico

Intervenção da sociedade civil Contactos com aIntervenção


Justiça; da sociedade
Contactoscivil
com as Forças
Contactos
de Segurança;
com a Justiça; Contactos
Contactos
com
com
a LNES
as Forças
- 144de Segurança;
Con
governamentais governamentais

Legenda Resposta inconsciente


Na RVD-1L foram assinalados 10 fatores de risco – Risco ELEVADO:
Na RVD-1L foram assinalados 10 fatores de risco – Risco ELEVADO:

O 1.º “O ofensor alguma vez usou violência física contra aO vítima?


1.º “O ofensor
Há quantos
alguma
anosvez
ocorreu
usou violência
o 1.º episódio?
física contra
10 anos”;
a vítima?
o 2.º Há
“O quantos
ofensor alguma
anos ocorreu
vez usou
o 1.º
violência
episódio?
física
10 contra
anos”; outros
o 2.º “Om
Legenda
Barra preta – Tentativa de homicídio Barra verde – Inicio da relação/nascimento filhos;
o 3.º “O ofensorBarras vermelhas
já tentou - Antecedentes/fatores
estrangular (apertar o pescoço),
o 3.º “Ode
sufocar, risco;jáatentou
ofensor
afogar Barras
outroazuis
vítima estrangular
ou – Oportunidades
familiar?”
(apertar oo6.º
pescoço),
“O número de
deintervenção.
sufocar, episódios
afogar a vítima
violentos
ou e/ou
outroafamiliar?”
sua gravidade
o 6.ºtem
“O número
vindo a de
aumeep
Barra verde – Reação voluntária ou involuntária Barras azuis – Reação consciente ou inconsciente matar capaz?”;
matar ou mandar matar (está convicta de que ele seja mesmo ou mandaro 9.º
matar
“O ofensor
(está convicta
já tentou
de ou
queameaçou
ele seja mesmo
matar acapaz?”;
vítima ouo outro
9.º “Ofamiliar?”;
ofensor jáotentou
10.º “Oouofensor
ameaçou persegue
matar aavítim
vítim
tenta controlar tudo o que a vítima faz?”; o 11.º “O ofensor
tenta controlar
revela instabilidade
tudo o queemocional/psicológica
a vítima faz?”; o 11.ºe“O não
ofensor
está a revela
ser acompanhado
instabilidadepor
emocional/psicológica
profissional de saúde e não
ou não
estátoma
a ser aa
problemas financeiros significativos ou dificuldade em manter
problemas
um emprego
financeiros
(no significativos
último ano)?”; ouodificuldade
18.º “A vítima
em separou-se
manter um do emprego
ofensor,
(notentou/manifestou
último ano)?”; o 18.º
intenção
“A vítima
de oseparou-se
fazer (nos últim
do
- Contatos
Intervençãocom apoio informal;
da sociedade civil - Contatos
Contactos com com a Justiça; Contactos
a Justiça; - Contatos com de
com as Forças asSegurança;
Forças de Segurança;Contactos- com
Contatos
a LNES com
- 144 a Saúde; Contactos
- Contatos com Serviços
com a Saúde; Sociais.
Contactos com organizações não
governamentais

Fonte:
Na RVD-1LCriação da discente
foram assinalados 10 fatores de (2020).
risco – Risco ELEVADO: Fonte: Criação da discente, 2020.
O 1.º “O ofensor alguma vez usou violência física contra a vítima? Há quantos anos ocorreu o 1.º episódio? 10 anos”; o 2.º “O ofensor alguma vez usou violência física contra outros membros do agregado doméstico? Contra quem? Outros familiares”
o 3.º “O ofensor já tentou estrangular (apertar o pescoço), sufocar, afogar a vítima ou outro familiar?” o 6.º “O número de episódios violentos e/ou a sua gravidade tem vindo a aumentar no último mês?”; o 8.º “Acredita que o ofensor seja capaz de a
matar ou mandar matar (está convicta de que ele seja mesmo capaz?”; o 9.º “O ofensor já tentou ou ameaçou matar a vítima ou outro familiar?”; o 10.º “O ofensor persegue a vítima, intimidando-a intencionalmente, demonstra ciúmes excessivos e
tenta controlar tudo o que a vítima faz?”; o 11.º “O ofensor revela instabilidade emocional/psicológica e não está a ser acompanhado por profissional de saúde ou não toma a medicação que lhe tenha sido receitada?”; o 16.º “O ofensor tem
problemas financeiros significativos ou dificuldade em manter um emprego (no último ano)?”; o 18.º “A vítima separou-se do ofensor, tentou/manifestou intenção de o fazer (nos últimos/próximos 6 meses)? Tentou”.

19
82
i) Reação protagonista – a ação/omissão é decidida e realizada pela vítima em
resposta consciente ao abuso sofrido. Este quadrante resulta da análise dos casos em
que a mulher: usou violência reativa; saiu de casa de forma anunciada ou clandestina
(fugiu); pediu a saída do agressor; ocultou cartão de benefício social para evitar
violência patrimonial; optou por comunicar o fato a familiares, amigos e demais
apoios familiares e formalizou denúncia.

Neste conjunto foram, nos casos analisados, acionados: apoios informais e o sistema
de segurança.

ii) Reação constrangida – ação/omissão decorrente de exposição fática anterior ou de


decisão e ato de terceira pessoa. Estes antecedentes involuntários dirigem a atitude
da mulher em relação aos abusos, de forma consciente, porém contrariada. Os
exemplos encontrados na amostra ocorreram quando filha de vítima formalizou
denúncia ao sistema de segurança pública, em duas situações em que agentes de
segurança presenciaram a prática dos crimes e quando há hospitalização
compulsória para tratar das lesões decorrentes da violência (mulher
temporariamente sem os movimentos dos membros inferiores, devido a agressões
na cabeça). Encontram-se na mesma classificação, a recusa em formalizar denúncias
(motivada por medo ou descrédito na justiça) e as reações (dissimuladas ou
justificadoras) frente a conhecidos que tiveram contato com as mulheres lesionadas
ou que ouviram os desentendimentos/abusos.

Neste conjunto foram, nos casos analisados, acionados: apoios informais, dos
sistemas de saúde, de segurança e justiça e agentes de serviços sociais.

iii) Reação irreflexiva – neste caso, a ação/omissão da mulher que sofre abuso, apesar
de voluntária, não é percebida como manifestação à dominação, i.e., ela não tem
consciência de que seu ato é influenciado pela violência sofrida. Este quadrante
resulta da análise dos casos que podem envolver a sexualidade da mulher, como a
rejeição sexual e a traição; esforços paliativos econômicos (venda de roupas e
bombons caseiros); viagens sob a justificativa de visitar parentes, mas com o
verdadeiro intuito de conferir felicidade e alívio das dores (físicas e psicológicas) e
a insistente busca por atendimento médico.

83
Neste conjunto foi, nos casos analisados, acionado o sistema de saúde e apoios
informais.

iv) Reação “cega” – nesta última classificação, a mulher não controla as suas
ações/omissões e não parece ter consciência de que são influenciadas pelos abusos
sofridos. Os exemplos encontrados na amostra incluem: mudança de
comportamento, adoecimento e omissão em formalizar a denúncia por não
identificar o ato violento como tal.

Neste conjunto foi, nos casos analisados, acionado o sistema de saúde e apoios
informais.

A intervenção do sistema de saúde, muito presente, pode explicar-se pelo fato de que
violências físicas geram lesões que necessitam de tratamento médico. Além disto, é importante
aprofundar esta proposta de criação de uma tipologia pois, por opção da investigadora, a
hospitalização involuntária foi inserida no conjunto da Reação constrangida e os danos
psicológicos que, por não terem sido reconhecidos como efeitos dos atos de dominação,
integraram a Reação “cega”.

É importante acentuar que não observamos, nos processos, informações de vítimas que
procuraram atendimento médico, de forma voluntária e consciente, para tratar de enfermidades
geradas pelos abusos. Este resultado, aproxima-nos de outras pesquisas que afirmam que a
maioria delas não o fazem (Paiva & Figueiredo, 2004), mesmo diante da magnitude dos danos
à saúde (física e psicológica), que se verificam em média em quase 70% das vítimas (EIGE,
2017). No entanto, importa ainda mais refletir acerca do caso.

No caso VIII, a mulher tinha elevada presença em atendimentos médicos, o que,


segundo o agressor, gerou a sua expulsão de convênio médico. Esta mulher poderia ser
considerada uma “poliqueixosa” – termo que, segundo Day e outros (2003, p. 19), refere-se a
“vítimas de abusos intrafamiliares, frequentadoras assíduas de unidades de atendimento de
saúde com queixas vagas”, que não têm a vitimização diagnosticada por profissionais da saúde.

84
Observamos apenas um caso em que a vítima dos abusos buscou, por iniciativa própria,
órgão policial. As forças de segurança tendencialmente são pouco demandadas, como referem
pesquisas que analisam a generalidade de violências de gênero (Lisboa & Pasinato, 2018; EIGE,
2018; MDH, 2019), como pesquisa específicas, como a que analisou feminicídios em contexto
de intimidade constatando que dos 124 casos estudados, em apenas 4% havia boletim de
ocorrência policial e 3% tinham medida protetiva (Fernandes, 2018).

Capítulo 5 Discussão de resultados

A análise retrospectiva de feminicídios, com dados fornecidos exclusivamente por autos


de processos judiciais, apresentou alguns desafios. O direito penal, em obediência a corolário
do Estado Democrático de Direito, segue lógica individualizante ao punir sujeito específico,
com pena apropriada, pela prática de fato bem delimitado (Limna, 2018). Assim, os dados
disponíveis fundamentalmente restringem-se à situação especifica e pontual violenta, a provas
de materialidade e de autoria, em detrimento de uma busca por histórico de violências e/ou
registro de antecedentes de controle coercitivo.

Além das caraterísticas de um processo penal, é importante referir uma recente


publicação do Conselho Nacional de Justiça referindo que, ânsia por informações rápidas e
diretas das circunstâncias legais a configurarem o delito, acarreta constante (e por vezes
ríspidas) interrupção do depoimento das mulheres, gerando nelas uma frustração pelo exíguo
espaço de fala, impedindo-lhes “de contar suas histórias, de narrar o fio dos acontecimentos que
culminaram na violência e na denúncia que levaram até a Justiça” (CNJ, 2019, p. 15). Este
aspeto é naturalmente importante para ou quando se queira definir uma estratégia de prevenção
do feminicídio considerando os relatos das mulheres em relação a situações de ameaças e
violência, consumos, doença mental e outras identificadas como indicadores de risco de
feminicídio.

A análise dos casos permite identificar outra regularidade, embora relacionada com esta
que se referiu. O motivo imediato do assassinato é o que está registrado. Assim, nas peças
analisadas, o contexto macrossocial de desigualdade estrutural e o contexto de prevalência de
violência contra as mulheres são invisibilizados. Mesmo que possam fazer notar-se, é preciso
usar umas lentes de gênero para o notar, de fato. O registro motivo imediato deixa registrado

85
que a mulher é morta por (suposta) traição, por ter discutido, por “ousar” se separar, por reter o
cartão do “Bolsa Família” ...

Para corrigir tal omissão, à referência explicita de que a mulher é morta em decorrência
de violência de gênero, Lisboa e Pasinato (2018, p. 185) sugerem que a investigação policial se
aproprie das “provas e evidências relativas às circunstâncias, contextos, meios e modos como
o crime foi praticado, fatores associados a históricos pessoais e sociais onde o crime se insere”.
Com isto, se promove que a perspectiva de gênero e as razões de gênero façam-se presentes
também durante o processo, julgamento e decisão (UNWomen, 2016).

Ressaltamos, porém, haver indícios de que razões de gênero não foram totalmente
excluídas durante processo criminal, fazendo-se presentes em debates orais da sessão plenária.
Percebemos que, para evitarem alegação de nulidade processual, representantes do Ministério
Público anexam aos autos pedido de juntada de documentos (matérias da mídia, casos de grande
repercussão, rol com nomes de vítimas etc.) sobre casos pregressos de feminicídios, a serem
explorados nos debates orais. Estes, não são objeto de gravação/arquivo, inviabilizando
integração ao corpus.

O predomínio de registro de acontecimentos mais imediatos e fatuais não nos impediu


identificar marcadores relacionados a comportamentos de controle coercitivo, porém, apenas
três processos criminais trazem informações sobre relações afetivas pregressas dos condenados
e, mesmo assim, estes registros são feitos noutras peças processuais, designadamente, num e
em duas anotações criminais dos feminicidas.

Este resultado, decorrente dos documentos existentes para analisar, sustenta uma
hipótese de tendente desinteresse por aqueles indicadores pelos sistemas de segurança e de
justiça. Isto é corrente, apesar de a literatura, por exemplo, Johnson Leone e Xu (2014, p. 202)
asseverar a importância de se investigar rotineiramente os relacionamentos passados dos
perpetradores de violência, sob pena de acesso, quase que exclusivo, à “violência conjugal
situacional”. Além deste ponto, os mesmos autores também referem os escassos registros em
agências (de saúde, apoio social, educação, entre outras), que nem sempre conferem atenção a
importantes casos de “terrorismo íntimo”.

86
Os dados também traduzem algumas regularidades encontradas noutros estudos, mesmo
os desenvolvidos noutros contextos. Um dos resultados a assinalar é o curto período de tempo
entre a situação inicial de relacionamento e o estabelecimento de compromisso sério encontrado
em seis casos. No caso VIII, o período de relacionamento é de quase dez anos entre namoro,
noivado e casamento. No caso IV, que envolveu um casal em situação de rua, não havia dados
sobre o início da relação, contudo, há pesquisas a indicar serem comuns os relacionamentos
precoces entre pessoas em situação de rua, uma vez que, em tal realidade, as mulheres são muito
disputadas e permanecem sós por curtos períodos (depois de recorrentes separações),
consolidam rapidamente novos laços afetivos, por carência, necessidade de proteção/acolhida
e reduzido número de mulheres nas ruas (Cunha, Garcia, Silva, & Pinho, 2017).

Em todos os casos, as relações afetivas entre as mulheres vitimadas e os perpetradores


de feminicídio eram qualificadas como abusivas, com a presença de táticas de controle e de
coerção e com a prática de violências: verbal e psicológica, em todos os casos analisados;
patrimonial, evidente em três casos – destes, um pela restrição dos valores a serem distribuídos
à parceira e os outros dois pelo confisco dos proventos por elas recebidos.

Estes resultados também vão ao encontro de outros, noutros estudos, que referem ser o
feminicídio revelador da letalidade da violência, anteriormente exercida sobre as mulheres
(Gomes, 2015), num continuum violento e com várias manifestações de controle coercitivo,
i.e., tensões latentes de mal-estar ou conflitualidade entre os parceiros (Agra, Quintas, Sousa,
& Leite, 2015). Insistindo neste ponto, é de acentuar que a violência física foi encontrada
registrada em seis dos oitos casos, persistiu em dois durante o período gestacional das ofendidas
e foi associada a ciúme excessivo/obsessivo. Os dois casos sem registros de histórico de
violência física entre o casal, por sua vez, ressaltam a necessidade de serem revistos os
entendimentos de violência que, por vezes, atribuem mais significado à violência que gera
ferida ou outro dano passível de ser observado e avaliado pela medicina clínica física.

Num dos relatório de análise retrospetiva da EARHVD, acerca da violência verbal e


psicológica, refere Castanho (2020, p. 14): “A esta violência ainda não é, em muitos casos,
atribuída a mesma atenção e importância nem é compreendida e enfrentada com o mesmo nível
de seriedade e firmeza das agressões físicas e sexuais”, apesar de violar direitos humanos das
mulheres e de provocar danos à saúde, além de ser passível de ser observada e avaliada por
especialistas forenses (psiquiatras e/ou psicólogos).
87
Não obstante sejam percebidos relacionamentos que decorrem em violência, em regra,
a sua menção nos autos tendencialmente é descritiva e a violência típica, por ser muito
frequente, é pouco explorada nas alegações finais da acusação e nas peças decisórias, o que
acaba por invisibilizar e naturalizar uma parte dos abusos íntimos. Limna (2018) chega a
conclusão semelhante, ao constatar a rara menção a violências recorrentes entre o casal e, nas
situações em que a menção era feita, era tratada com naturalidade e objetivando o aumento de
pena, suprimindo-se problematização do cenário anterior ao crime e a reconstrução do martírio
vivido pela vítima.

A naturalização das violências foi, neste estudo, igualmente encontrada, quer na


manifestação de feminicidas, que referem discussão normal “assim de casal”; quer da vítima
sobrevivente, que refere ser um pouco de ciúme admissível; quer também por parte de
testemunhas, que classificavam os episódios de violência como “rotina” dos vizinhos, que
ninguém “dava bola”. Assim, como referem Matsuda e outros (2015), verificamos que
episódios violentos, embora condenáveis, passam a ser amenizados e considerados parte das
rotinas habituais e da dinâmica do casal.

A análise dos casos revelou outro ponto comum: a ligação, muito próxima, em termos
cronológicos, e muito estreita, em termos de nexo de causalidade, entre o feminicídio e o
processo atual de separação ou a manifestada intenção de terminar o relacionamento. Outros
estudos, nacionais e internacionais, por exemplo, Lisboa e Pasinato (2018) elegem o fim do
relacionamento afetivo como um fator de risco de violência contra as mulheres. Day e outros
(2003), atribuem ao período pós-separação o maior risco de a mulher ser assassinada pelo,
então, ex-companheiro/marido. Como ficou referido na apresentação dos dados, recorremos à
explicação de Limna (2018, p. 121) quando refere que tal motivação revela crença de que: “as
mulheres são pertenças de seus maridos, ao terminarem um relacionamento, justifica-se a
morte”. No seguimento desta ideia de reprodução de uma ordem de gênero, é importante
destacar um dos resultados do estudo: dos seis homicidas confessos, cinco justificaram o seu
ato por suposta traição. O fato de esse argumento não ter sido mencionado na fase policial,
indica que foi uma tese de defesa. Também Limna (2018) encontrou uma padronização
estereotipada da alegação defensiva, tendo sido considerada por ele, indicativo de
comportamento machista dos perpetradores, reiterado por suas defesas.

88
As raízes dessa tese advêm da legitima defesa da honra, que ainda está presente em
plenários que julgam feminicídios. Decisão proferida em 29/09/2020, pelo Supremo Tribunal
Federal brasileiro, manteve a absolvição por “legítima defesa da honra” de um homem que, em
2016, esfaqueou seis vezes a ex-companheira, devido a suspeita (não confirmada) de traição
(Mota & Idoeta, 2020). Traços desse argumento igualmente foram identificados por Matsuda e
outros (2015, p. 48) em “operação que procura afastar a culpabilidade do réu e legitimar a
violência perpetrada, a partir do comportamento da vítima”.

A análise retrospetiva de feminicídios revelou também neste estudo ser um método útil.
Desde logo, por facilitar a identificação da escalada. A intensidade das violências é aferida
pelo aumento da frequência e intensidade dos desentendimentos e/ou abuso de álcool e drogas
(em três casos), violência física grave duas semanas antes dos fatos (num caso), séria discussão
dois dias antes (num caso), violências verbais e físicas na véspera do crime (num caso) e ameaça
com faca na véspera do feminicídio (em dois casos), sendo que, em um desses casos, o
feminicida tinha sido preso em flagrante por violência doméstica 1 mês antes.

Os dados também suportam a existência da fase da Mudança de tática, em que o


agressor desiste do relacionamento e escolhe matar a parceira. Em seis nos oito casos, é possível
deduzir a mudança de tática, a partir de ações como levar uma faca em tentativa de
reconciliação; repentina mudança de comportamento (ficar mais carinhoso ou concordar com
o divórcio); e, dando outro exemplo, afirmar a profissional de saúde dar dois destinos à vítima:
morrer em decorrência das queimaduras ou por outra ação dele.

No único evento em que não houve a consumação do Feminicídio, a mãe da vítima foi
assassinada no local, tendo o agressor culpado a companheira, conforme a mensagem que lhe
enviou um dia depois referindo: “Eu implorei pra vc voltar sua mae que dize e culpa sua vc
devia te saído pra fala comigo...”.

Em suma, a análise das fases de dinâmica de controle coercitivo revela um padrão em


que três marcadores estão presentes em todos os casos: i) relacionamento com controle
coercitivo e violências; ii) disparador de risco (gatilho) - envolvendo preocupações financeiras
e processo atual de separação ou intenção de separar-se e iii) escalada dos abusos. Ademais, em
relação aos restantes marcadores, os resultados são inconsistentes pois podem estar afetados
pelas lacunas no registro de informações. Ainda assim, apenas um caso não tem informações
89
sobre o planejamento; num dos casos não se trata de um relacionamento precoce e, em dois
casos, a mudança de tática não é explícita.

A análise das reações à violência e ao comportamento controlador, ligada à análise dos


agentes e dos mecanismos acionados pela mulher ou por outras pessoas, permitiu elaborar uma
proposta de mapeamento, com classificação em tipos, das reações das mulheres. A Reação
protagonista; a Reação constrangida; a Reação irreflexiva e a Reação “cega”, sugerem, por um
lado agência das mulheres e, por outro, algum desinteresse, omissão, atraso ou mesmo perda de
oportunidades de intervenção por parte dos sistemas, agentes e mecanismos de proteção das
vítimas e contenção e sanção da conduta de agressores, prevenindo, pelo menos em alguns
casos, o feminicídio.

Em relação à violência reativa, descrita em cinco dos casos, é muito importante recordar
que pesquisas indicam haver significante assimetria quanto às circunstâncias, motivações,
efeitos, intensidade e gravidade das agressões praticadas pelas mulheres (Johnson, Leone, &
Xu, 2014 e Neves, Pereira, & Torres, 2018). Estas reações violentas não geram terror ou riscos
físicos aos homens, em comparação ao que ocorre com elas: “Poucos homens ficam seriamente
feridos ou se sentem verdadeiramente assustados” (Molidor & Tolman, 1998, apud Neves,
2014, p.64).

90
Considerações finais

Impulsionados pela questão inicial, acerca da inclusão do comportamento de controle


coercitivo entre os antecedentes de risco de feminicídios, elegemos objetivo geral voltado à
compreensão dos fundamentos ou motivos e das circunstâncias instalados em contexto de
intimidade onde a morte ocorreu. Para tanto, à luz de quadro teórico dos estudos de gênero e
com inspiração em experiência portuguesa, desenvolvemos estudo qualitativo de análise
retrospectiva de processos de feminicídios julgados, nos tribunais de Curitiba, entre 10/03/15 a
11/03/2019. Ao reconstruir a cronologia dos acontecimentos, foi possível identificar não apenas
os fatores de controle e coerção preditivos de feminicídios, como revelar as correspondentes
reações das vítimas e, assim, distinguir agentes e/ou mecanismos cientificados dos abusos,
gerando-se oportunidades de intervenção.

A análise retrospetiva dos casos revela feminicídios como desfecho da escalada de


abusos e violências, cujo predomínio em relacionamentos íntimos, culminou na morte da
mulher quando o feminicida sente o relacionamento ameaçado, por tentativas de rompimento
ou manifestas intenções de fazê-lo, conjugadas com problemas financeiros. O método de análise
retrospetiva permitiu reconstruir o puzzle cronológico das circunstâncias anteriores a essas
mortes e concluir que peças de padrão comportamental de controle coercitivo são inseridas
periodicamente na dinâmica cotidiana do casal. Estas peças, na analogia com um puzzle, são
indicadores de perigo e anunciam o trágico desfecho. Em todos os casos observamos a
combinação de três marcadores de controle coercitivo: relacionamentos afetivos com histórico
de controle e de coerção; evento recente a ameaçar a dominação do perpetrador e escalada da
intensidade dos abusos.

Os casos analisados também revelam a influência da ordem de gênero. Esta influência


foi observada nos relacionamentos íntimos, através da imposição arbitrária da vontade do
parceiro sobre a parceira, que considera “sua”, objetificando-a e isolando-a, em busca da
expropriação de agência feminina. Os casos analisados neste estudo permitem concluir que
quando ao parceiro-agressor-femicida resta infrutífera a derrota da capacidade volitiva da
mulher, verificando que ela não é receptora passiva das manifestações de poder, ele expressa a
sua frustração em último ato e assassina. Simbolicamente, como afirmam Bandeira e Magalhães
(2019), o feminicida executa o que acredita ser um corpo-objeto a ele pertencente.

91
Mas, a influência da ordem de gênero foi também observada nas lacunas no registro de
dados, no uso de uma aparente escala de gravidade da violência que documenta a violência
física e os danos físicos, mas não documenta a doença mental, nem como motivação, nem como
efeito para/da violência. Aqui, são os agentes formais de apoio que não o prestam a tempo de
prevenir o feminicídio. A estes, acresce uma aparente perceção de normalidade do recurso dos
indivíduos do sexo masculino a violência para se imporem e para se fazerem obedecer, pelas
mulheres. Aqui, são os agentes informais de apoio, acionados pelas mulheres na maior parte
dos casos, que também mantêm inalterada e contribuem para a reprodução e reforço da ordem
de gênero.

Constatamos que apesar de os abusos terem o potencial de restringir oportunidades de


intervenção e meios de respostas, não anulam as reações das mulheres. Nos casos analisados há
mulheres que confrontaram verbalmente os seus parceiros, algumas que usaram força física
reativa, outras que não admitiam certas restrições ou monitoramentos, umas que tentaram
amenizar os efeitos de violências, outras que decidiram romper o relacionamento, e, uma, que
comunicou a força policial. Assim se conclui que a inação de mulheres submetidas a abusos é
aparente, que elas não são vítimas passivas, mas mobilizam a sua capacidade de agência numa
reação que nem sempre encontra respostas com capacidade para prevenir o feminicídio.

Apoios formais comunicados, voluntária ou involuntariamente, consciente ou


inconscientemente, não apresentaram respostas capazes de resguardar a segurança dessas
mulheres. No caso, único, de comunicação a sistema policial e nos casos em que estão
registrados a aplicação e o efetivo cumprimento de período de encarceramento com medidas
protetivas de urgência, nem num, nem nos outros, observamos menção a qualquer
acompanhamento efetivo, a agressor ou vítima, tornando-se, pois, agentes e mecanismos
inaptos à proteção da mulher. De forma semelhante, comunicações feitas a serviços sociais e
de saúde não foram profícuas, sendo que alguns profissionais nem chegaram a identificar a
situação de violência em contexto de intimidade.

Episódios de inércia institucional, de respostas insuficientes ou de ações desqualificadas


podem gerar descrédito na atuação de combate à violência de gênero por parte do Estado e os
resultados deste estudo podem contribuir para qualificar e ampliar oportunidades de
intervenção.

92
Não há como ignorar que apesar da ineficiência demonstrada por parte dos apoios
formais acionados, não encontramos qualquer referência a “mea culpa” nos autos. Em nenhum
momento, se observou anotação a uma autocrítica acerca da omissão e/ou falha estatal na
proteção à vítima específica ou a mulheres em geral. Todas/os e cada um, assim como a Justiça,
não podemos ser cegas/os em questões de gênero e, igualmente, não podemos retirar da balança
reflexões acerca do dever geral de empreender esforços na prevenção e no combate a violências
de gênero, incluindo a fatal.

93
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