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Estudo de Caso

CASO PESSEGHINI

No dia 5 de agosto de 2013 a polícia militar do estado de São Paulo foi acionada para
averiguar uma ocorrência com a alegação de cinco corpos encontrados no interior de uma
casa no bairro Brasilândia, São Paulo – SP. Chegando ao local, os militares se depararam
de imediato com três corpos debruçados sobre um colchão na sala da casa e outros dois
corpos localizados sobre duas camas no quarto de uma segunda casa. Ante a situação, a
polícia técnica-científica da polícia civil de São Paulo foi acionada, e logo de início todos
os cinco corpos foram identificados.

O primeiro corpo estava deitado de bruços em um colchão com as mãos debaixo da cabeça
(como se estivesse dormindo), e ele pertencia ao Sargento Luís Marcelo Pesseghini,
integrante da ROTA da PMESP, que levou um tiro na parte de trás da cabeça enquanto
dormia. O segundo corpo estava ajoelhado com o tronco debruçado sobre o mesmo
colchão e, também, com um tiro na parte de trás da cabeça, o corpo pertencia a Cabo da
PMESP Andréia Regina Bovo Pesseghini, esposa de Luís Marcelo. O terceiro corpo
encontrava-se também sobre o colchão com um tiro no tórax, o corpo pertencia ao filho
do casal, o jovem Marcelo Eduardo Bovo Pesseghini de 13 anos, o qual foi encontrado
com uma pistola calibre .40 SW nas mãos em plena condição de disparo. Os outros dois
corpos foram encontrados em uma casa próxima a da família Bovo Pesseghini, e se tratava
dos corpos de Benedita Oliveira Bovo e Bernadete Oliveira da Silva, avó e tia avó de
Marcelo Eduardo.
Nas primeiras contatações a partir da análise tanatológica preliminar indicavam que o
tempo de morte dos corpos eram próximos, exceto do de Marcelo Eduardo, pois o cadáver
do menino indicava que ele morreu horas depois que o restante da família. Outro fato que
intrigou os peritos era que toda a família estava com trajes para dormir, dado que o
homicídio teria ocorrido durante a madrugada, exceto Marcelo Eduardo que foi
encontrado com o uniforme da escola.

Durante as investigações foi descartado a possibilidade de que a casa tivesse sido invadida
por criminosos, uma vez que não havia sinais de arrombamento nas portas e janelas, as
vítimas não esboçaram nenhuma reação no momento que foram alvejadas e todos os
objetos da casa estavam intactos, o que descartava a possibilidade de um roubo. Portanto,
o homicida era alguém conhecido das vítimas, ou que tinha contato habitual com a
família.

Após o exame necroscópico no corpo das vítimas, foi constatado que Marcelo Eduardo
morreu horas depois em relação ao restante da família. Esse fato, aliado aos trajes com
que o corpo do jovem foi encontrado, despertou a atenção dos investigadores para traçar
uma sequência de acontecimentos que explicavam toda aquela cena. Com isso em mente,
vídeos de câmeras de monitoramento das imediações da escola que Marcelo Eduardo
estudava mostravam que ele havia ido na aula naquela manhã dirigindo o carro da mãe,
ou seja, a família estava morta e Marcelo Eduardo foi a aula normalmente. Tratava-se do
primeiro dia de aula após as férias escolares, diversos funcionários da escola, bem como
colegas de classe prestaram depoimento à polícia no decorrer das investigações. E a
maioria dos colegas apontavam que Marcelo Eduardo falava muito sobre formar um
“grupo de justiceiros” que iria garantir a realização da justiça. Entretanto, para que o
grupo conseguisse lograr êxito, seria necessário eliminar todos aqueles que poderiam
oferecer riscos ao plano, e isso incluía os pais, avós e a diretora da escola. Contudo, os
colegas nunca levaram a sério o plano de Marcelo Eduardo.

Mais tarde, um exame microscópico foi feito em uma amostra de resíduos coletados das
mãos do adolescente. O laudo pericial constatou que estavam presentes na amostra
resíduos de chumbo, bário e antimônio, os quais são resíduos comuns provenientes da
combustão do propelente em um disparo de arma de fogo, logo os peritos chegaram à
conclusão de que Marcelo Eduardo havia disparado uma arma de fogo momentos antes
de morrer. No decorrer das investigações, um exame de micro comparação balística foi
feito com a arma encontrada nas mãos do jovem e os projéteis retirados dos cadáveres da
família. O laudo desse exame evidenciou que a arma encontrada nas mãos do adolescente
era a mesma que produziu os seis disparos encontrados na cena do crime.

No decorrer do inquérito policial, o psiquiatra forense Dr. Guido Palomba foi solicitado
para realizar uma perícia póstuma retrospectiva, com o objetivo de delinear o perfil
psiquiátrico de Marcelo Eduardo. O exame foi realizado a partir da análise de entrevistas
e depoimentos de pessoas próximas ao jovem, e na conclusão foi apontado que o
estudante sofria de uma "encefalopatia hipóxica" (falta de oxigenação no cérebro) que o
fez desenvolver um "delírio encapsulado". O psiquiatra comparou essa perda da noção de
realidade vivida por Pesseghini com a do personagem do jogo Assassin´s Creed, o qual
era caracterizado por ser um “justiceiro”.

Tempos depois, o inquérito foi concluído com a seguinte cronologia dos fatos: Marcelo
Eduardo decide dar início ao seu plano de formar um grupo de justiceiros com os colegas
de classe, e para isso precisa eliminar os que poderiam atrapalhar a concretização de seus
objetivos. Ele, então, pega a pistola de serviço da mãe e primeiro atira contra a nuca do
pai enquanto ele dormia no colchão da sala. Andréia, que havia tomado ansiolíticos para
dormir, levanta ainda atordoada devido os efeitos dos medicamentos e se ajoelha ao lado
do marido para ver o que estava acontecendo. Marcelo Eduardo se esconde próximo da
cozinha da casa e quando Andréia se ajoelha ao lado do corpo de Luís Marcelo, ela, de
costas para o filho, recebe um disparo na nuca. Minutos depois, o adolescente sai em
direção à casa que a avó e a tia moravam, ambas são surpreendidas no quarto da casa,
uma é baleada na cabeça e a outra recebe dois tiros no tórax. Na manhã seguinte, Marcelo
Eduardo se troca e vai para a escola com o carro da mãe (ele foi ensinado a manusear
armas de fogo pelo pai e a dirigir pela mãe), lá comunica aos colegas que daria início ao
seu plano, entretanto é frustrado por não conseguir a adesão dos colegas. Após a manhã
de aula, ele volta para a casa de carona com o pai de um colega, ao chegar em casa se
depara com o corpo do pai e da mãe na sala e, com um imenso sentimento de frustração
por não conseguir concluir o plano de ser um justiceiro, ajoelha ao lado dos corpos dos
pais e atira contra o próprio peito.

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