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Carolina Maria de Jesus foi uma escritora mineira nascida em 14 de março de 1914. Apesar de ter
apenas dois anos de estudo formal, tornou-se escritora e ficou nacionalmente conhecida em 1960,
com a publicação de seu livro Quarto de despejo: diário de uma favelada, no qual relatou o seu dia a
dia na favela do Canindé, na cidade de São Paulo. Morreu em 13 de fevereiro de 1977. Hoje é
considerada uma das mais importantes escritoras negras da literatura brasileira.
O seu livro Quarto de despejo traz as memórias de uma mulher negra e favelada (como diz o
subtítulo) que via a escrita como forma de sair da invisibilidade social em que se encontrava. Com
seus diários, suas memórias registradas por meio da escrita, Carolina Maria de Jesus deu sentido à
sua própria história e hoje é figura essencial na literatura brasileira.
Em 1937, Carolina Maria de Jesus mudou-se para a cidade de São Paulo, onde trabalhou como
empregada doméstica. Em 1948, foi viver na favela do Canindé, onde nasceram seus três filhos.
Enquanto viveu ali, sua forma de subsistência era catar papéis e outros materiais para reciclar.
Em meio a toda essa difícil realidade, havia os livros. Carolina Maria de Jesus era apaixonada pela
leitura. A escrita literária, portanto, foi uma consequência. Assim, em 1950, publicou um poema em
homenagem a Getúlio Vargas, no jornal O Defensor. Em 1958, o jornalista Audálio Dantas (1929-
2018) conheceu a autora e descobriu que ela possuía diversos cadernos (diários) em que dava seu
testemunho sobre a realidade da favela.
Foi ele quem ajudou a escritora a publicar seu primeiro livro — Quarto de despejo: diário de uma
favelada. Assim, em 1960, o livro foi publicado e transformou-se em um sucesso de vendas. Nesse
mesmo ano, a autora recebeu homenagens da Academia Paulista de Letras e da Academia de Letras
da Faculdade de Direito de São Paulo, além de receber um título honorífico da Orden Caballero del
Tornillo, na Argentina, em 1961.
Depois do sucesso do seu livro, Carolina Maria de Jesus mudou-se da favela do Canindé, gravou um
disco com composições próprias e continuou a escrever. Porém, suas próximas obras não obtiveram
o mesmo êxito da primeira. Em 1977, no dia 13 de fevereiro, Carolina Maria de Jesus morreu em
Parelheiros, distrito da cidade de São Paulo.
Principais obras
A obra de Carolina Maria de Jesus é marcadamente memorialística, uma literatura de testemunho,
em que a autora expõe a realidade em que vive e reflete sobre ela. Nessa perspectiva, seus
principais livros são:
• Quarto de despejo (1960);
• Casa de alvenaria (1961);
• Diário de Bitita (1986);
• Meu estranho diário (1996).
"O livro que fez mais sucesso foi Quarto de despejo, mas isso não se repetiu. Os livros seguintes não
despertaram o interesse nem da crítica nem da imprensa brasileira. A autora começou a cair no
esquecimento. Mas no ano anterior à sua morte, ocorrida em 1977, seu primeiro livro foi relançado
pela editora Ediouro. Em 1986, quase dez anos depois de seu falecimento, sua obra póstuma, Diário
de Bitita, foi publicada no Brasil. No entanto, esse livro já tinha sido publicado, no ano de 1982, em
Paris, com o título: Journal de Bitita.
Foi em 1994 que o livro Cinderela negra: a saga de Carolina Maria de Jesus, de José Carlos Sebe Bom
Meihy e Robert M. Levine, foi publicado e gerou um novo interesse pela escritora. No ano seguinte,
os mesmos autores lançaram, nos Estados Unidos, o livro The life and death of Carolina Maria de
Jesus. Além disso, eles organizaram os livros Meu estranho diário e Antologia pessoal, compostos
por textos deixados pela autora e publicados em 1996.
O livro Quarto de despejo é a obra-prima de Carolina Maria de Jesus. Foi traduzido para vários
idiomas. Atualmente, cerca de 40 países conhecem essa obra. Após a morte da autora, esse livro
continuou a ser editado, Carolina Maria de Jesus virou nome de rua e de biblioteca, teve livros
produzidos sobre ela e muitas dissertações e teses acadêmicas foram escritas, principalmente sobre
a sua primeira obra. A autora, portanto, conquistou lugar de destaque na literatura e na história
nacional.
Segundo Fernanda Rodrigues de Miranda, mestre em Letras: “Carolina Maria de Jesus é precursora
da Literatura Periférica no sentido de que ela é a primeira autora brasileira de fôlego a constituir a
tessitura de sua palavra a partir das experiências no espaço da favela, isto é, sua narrativa traz o
cotidiano periférico não somente como tema, mas como maneira de olhar a si e a cidade. Por isso,
seu olhar torna-se cada vez mais crítico diante do cenário de ilusões que São Paulo projetava com
sua falsa imagem de lugar com oportunidades para todos”.