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Carolina Maria de Jesus

1. Introdução
Carolina Maria de Jesus foi uma escritora, compositora e poetisa
brasileira, mais conhecida por seu livro Quarto de Despejo: Diário de uma
Favelada, publicado em 1960.
Carolina de Jesus foi uma das primeiras escritoras negras do Brasil e é
considerada uma das mais importantes escritoras do país. A autora viveu boa
parte de sua vida na favela do Canindé, na Zona Norte de São Paulo,
sustentando a si mesma e seus três filhos como catadora de papéis. Em 1958,
tem seu diário publicado sob o nome Quarto de Despejo: Diário de uma
Favelada, com auxílio do jornalista Audálio Dantas. O livro fez um enorme
sucesso e chegou a ser traduzido para quatorze línguas. Sua obra e vida
permanecem objetos de diversos estudos, tanto no Brasil quanto no exterior.

2. Vida
2.1. Juventude.
Carolina Maria de Jesus nasceu em 14 de março de 1914, na cidade
de Sacramento, em Minas Gerais, numa comunidade rural, de pais
analfabetos. Era filha ilegítima de um homem casado e foi maltratada durante
toda sua infância. Aos sete anos, sua mãe a obrigou a frequentar a escola,
depois que a esposa de um rico fazendeiro decidiu pagar seus estudos, mas
ela interrompeu o curso no segundo ano, tendo já conseguido aprender a ler e
a escrever e desenvolvido o gosto pela leitura.

2.2. Mudança para a favela do Canindé


Em 1937, sua mãe morreu e ela se viu levada a migrar para a
metrópole de São Paulo. Carolina construiu sua própria casa, usando madeira,
lata, papelão e qualquer material que pudesse encontrar. Saía todas as noites
para coletar papel, a fim de conseguir dinheiro para sustentar a família.

Em 1947, aos 33 anos, desempregada e grávida, Carolina instalou-se


na extinta favela do Canindé, na zona norte de São Paulo, num momento em
que surgiam na cidade as primeiras favelas, cujo contingente de moradores
estava em torno de cinquenta mil. Ao chegar à cidade, conseguiu emprego na
casa do notório cardiologista Euryclides de Jesus Zerbini, médico precursor da
cirurgia de coração no Brasil, o que permitia a Carolina ler os livros de sua
biblioteca nos dias de folga. Em 1949, deu à luz seu primeiro filho, João José
de Jesus, o que fez que perdesse seu emprego. Teve ainda mais dois filhos:
José Carlos de Jesus nascido em 1950 e Vera Eunice de Jesus nascida em
1953.
Ao mesmo tempo em que trabalhava como catadora, registrava o
cotidiano da comunidade onde morava nos cadernos que encontrava no
material que recolhia, que somavam mais de vinte. Um destes cadernos, um
diário que havia começado em 1955, deu origem a seu livro mais famoso,
Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada, publicado em 1960.

2.3. Sua obra: Quarto de Despejo


Publicado em 1960, a tiragem inicial de Quarto de Despejo foi de dez
mil exemplares e esgotou-se em uma semana. Desde sua publicação, a obra
vendeu mais de um milhão de exemplares e foi traduzida para quatorze
línguas, tornando-se um dos livros brasileiros mais conhecidos no exterior.
Depois da publicação, Carolina teve de lidar com a raiva e inveja de seus
vizinhos, que a acusaram de ter colocado suas vidas no livro sem autorização.
A autora relatou que muitos dos moradores da favela chegaram a jogar, nela e
em seus três filhos, os conteúdos de seus penicos. Carolina definiu a favela
como "tétrica", "recanto dos vencidos" e "depósito dos incultos que não sabem
contar nem o dinheiro da esmola."
O professor da USP Ricardo Alexino Ferreira caracterizou a escrita de
Carolina como "direta, nua e crua, mas, ao mesmo tempo, suave."
Em 1962, Quarto de Despejo foi publicado nos Estados Unidos pela
editora E. P. Dutton com o título Child of the Dark. No ano seguinte, como parte
da coleção Mentor, a tradução ganhou uma edição de bolso, publicada primeiro
pela New American Library, depois pela Penguin USA. Segundo o autor Robert
Levine, somente das vendas desta edição, que totalizaram mais de trezentas
mil cópias nos EUA, Carolina e sua família deveriam ter recebido, pelo contrato
original, mais de cento e cinquenta mil dólares. Contudo, não foi encontrado
indício algum de que ela tenha recebido sequer uma pequena parte disto.
Em março de 1961, uma reportagem afirmou que a publicação de
Quarto de Despejo havia rendido a Carolina seis milhões de cruzeiros em
direitos autorais, contudo a quantia exata variava, de acordo com a
reportagem. É certo que Carolina tinha direito a dez por cento do preço de
venda das traduções, com trinta por cento de sua parte reservada a Audálio
Dantas; ela recebia pequenos pagamentos em dólares das editoras
estadunidenses, mas, por força do contrato original, não podia autorizar
traduções de sua obra: este direito fora cedido à editora Paulo de Azevedo,
uma filial da editora Francisco Alves.

3. Morte
Carolina Maria de Jesus morreu aos 62 anos em seu quarto, em
Parelheiros, na Zona Sul de São Paulo, no dia 13 de fevereiro de 1977. Foi
vítima de uma crise de insuficiência respiratória, devido à asma, doença que
carregava desde seu nascimento, e que apesar de realizar tratamento, havia se
agravado.

4. Obras
 Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada (1960).
 Quarto de Despejo: Carolina Maria de Jesus cantando suas
composições (1961).
 Casa de Alvenaria: Diário de uma ex-Favelada (1961).
 Pedaços de Fome (1963).
 Provérbios (1965).
Póstumas
 Um Brasil para Brasileiros (1982).
 Diário de Bitita (1986).
 Meu Estranho Diário (1996).
 Antologia Pessoal (1996).
 Onde estaes Felicidade? (2014).
 Meu sonho é escrever – Contos inéditos e outros escritos (2018).
 Clíris: Poemas recolhidos (2019).
 Casa de Alvenaria - Volume 1: Osasco (2021).
 Casa de Alvenaria - Volume 2: Santana (2021).

Carolina Maria de Jesus autografando seu livro Quarto de Despejo em 1960

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